Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FATOS E FASCISMO
(1943)
Aetia Editorial
São Paulo | Londrina
2020
SUMÁRIO
Capítulo 1 Fascismo à porta de casa 09
Capítulo 2 Lucros com o fascismo: Alemanha 13
Capítulo 3 O Grande Capital foi patrão de Mussolini 37
Capítulo 4 Os cinco donos do Japão 55
Capítulo 5 Quem bancou a Guerra de Franco? 65
Capítulo 6 O plano do cartel Nazi na América 79
Capítulo 7 Os homens que financiam o fascismo americano 97
ConClusão Vitória sobre o fascismo 125
Capítulo 1
Fascismo à porta de casa
9
Capítulo 1
10
GEORGE SELDES
lunáticos do fascismo; também são peixes pequenos, representantes
sem importância, assim como Hitler era quando o Grande Capital
na Alemanha decidiu colocá-lo na ativa.
11
Capítulo 1
12
GEORGE SELDES
É claro que o presidente dos Estados Unidos e demais oficiais
de alto cargo não podem dar nomes a homens, organizações,
lobistas e associações nacionais que possuam registros semelhantes;
eles podem unicamente se referir aos “traidores barulhentos”,
aos Quislings,5 aos derrotistas, ao Clivedent Set6 ou aos Tories
e Royalistas econômicos. E você pode estar certo de que nossa
imprensa nunca nomeará os derrotistas, pois os mesmos elemen-
tos que atingem acima de 9 pontos [nos índices de audiência]
são os principais anunciantes e maiores apoiadores dos jornais
e das revistas. Em muitos casos, até mesmo acusações gerais do
próprio presidente foram suprimidas. Na Alemanha e na Itália,
até a tomada de poder pelos fascistas, a maioria dos jornais foi
corajosa o suficiente para se declarar antifascista, enquanto na
América, curiosamente, uma boa parte da imprensa (Hearst,
Scripps-Howard, McCormick-Patterson) é pró-fascista há anos,
e quase todos os grandes jornais vivem do dinheiro das maiores
corporações Tories e reacionárias, refletindo seus pontos de vista.
5 Pessoa que colabora com uma força de ocupação inimiga; o nome vem
do traidor norueguês Vidkun Quisling, apoiador da ocupação nazista em seu
país durante os anos 40.
6 Durante a década de 1930, atuou como um grupo de elite bastante
influente na Grã-Bretanha.
13
GEORGE SELDES
•
Capítulo 2
Lucros com o fascismo: Alemanha
15
Capítulo 2
16
GEORGE SELDES
Houve, é claro, denúncias sobre Hitler ser uma ferramenta dos
grandes investidores alemães, escritas antes de ele se tornar ditador.
Mas como a publicação delas se deu em pequenos semanários
não-comerciais, que poucas pessoas liam, ou na imprensa radical
(sempre acusada de falsificação pela imprensa comercial, que está
sempre mentindo), o fato é que poucos sabiam de fato o que
estava acontecendo. Essa conspiração de silêncio tornou-se ainda
mais intensa quando grandes instituições americanas e demais
grupos bancários passaram a despejar grandes empréstimos sobre
Hitler — assim como sobre ditadores fascistas de outros países.
17
Capítulo 2
18
GEORGE SELDES
seguida, os partidos políticos da nação começaram a lutar pelo
controle dessa arma.
19
Capítulo 2
20
GEORGE SELDES
“Para desencadear o tal golpe de Estado, Thyssen empregou
dois de seus amigos e agentes políticos: Hugenburg (um dos di-
retores do Truste do Aço de Thyssen) e von Papen. Em meados
de janeiro, um encontro secreto entre Hitler e Papen ocorreu em
Colônia na casa do Barão von Schroeder, parceiro do banco de J.
H. Stein, por sua vez, íntimo de Flick e Thyssen. Entretanto, graças
a uma indiscrição, notícias do encontro acabaram nos jornais, e
alguns dias mais tarde uma conspiração contra Schleicher estava
montada. O grupo aliado, Thyssen-Hitler-von Papen-Hugenburg,
apoiado por toda a força reacionária alemã, obteve sucesso em
trazer para o seu lado o filho do presidente von Hindenburg, o
major Oskar von Hindenburg, que até então permanecera ao
lado de seu velho amigo de regimento, Schleicher. Dessa forma se
deu a queda repentina de Schleicher e a famigerada nomeação de
Hitler. Thyssen vencera e Hitler criara o cenário para seu próprio
dia de São Bartolomeu.
21
Capítulo 2
22
GEORGE SELDES
Umas poucas semanas após a tomada do poder, Hitler se valeu
do antissemitismo para fins comerciais, auxiliando seu principal
suporte financeiro, Thyssen. Oscar Wassermann, do católico-ju-
daico Deutsche Bank, fora o rival número 1 dos banqueiros de
Thyssen. Hitler o forçou a se aposentar “por motivos de saúde”. O
único oponente de Thyssen dentro do Truste do Aço, Kloeckner,
um católico como o próprio Thyssen, foi forçado a se demitir
do Reichstag de Hitler. Uma denúncia de corrupção foi registra-
da contra Otto Wolff, que liderava a batalha financeira contra
Thyssen. Goering apontou Thyssen como representante-chefe do
capital privado do novo Conselho de Estado Prussiano. Por fim,
a Liga Lutadora da Classe Média Comercial10 — pequenos
empresários que juntaram dinheiro e saíram às ruas para matar
e roubar trabalhadores industriais e judeus — foi dissolvida sob
ordens de Hitler no início de 1933, pois eventualmente ofereceria
ameaças à classe dominante.
23
Capítulo 2
24
GEORGE SELDES
não foi nada do gênero. Tratou-se apenas de uma barganha entre o
Grande Capital e os Junkers. Fortes em termos de dinheiro, poder
e influência, embora questionáveis em termos de apoio popular,
esses interesses manifestos (com o arquiconspirador von Papen
como representante político) foram provocados pela ameaça do
governo Schleicher a expor o pior lado de sua corrupção. Eles ficaram
ainda mais preocupados com a possibilidade de uma guinada para a
esquerda por força de uma coalisão entre Schleicher e os sindicatos.
Foi por isso que o grupo de Papen, tendo virado as costas para o
Partido Nazista por um tempo, se tornou então entusiasta ante uma
aliança capaz de anexar um movimento de massas a seu próprio
poder financeiro e industrial. Foi assim que Hitler conseguiu seu
tão desejado dinheiro para o partido e para sua própria indicação à
chancelaria dentro do governo da nova coalisão”.
25
Capítulo 2
26
GEORGE SELDES
5. Estabelecimento de uma classe média sólida. O nazismo, tal
qual o fascismo italiano, teve um enorme apelo para a grande
classe média, o pequeno homem de negócios, os milhões
rendidos pelas garras do Grande Capital e os proletários. As
grandes lojas de departamento, por exemplo, seriam destruídas.
Essa promessa deliciou todos os pequenos comerciantes na
Alemanha. Certa vez, Bernard Shaw disse que a Grã-Bretanha
era um país dos comerciantes. Isso era igualmente verdadeiro
para o caso da Alemanha — e comerciantes alemães eram
ainda mais enérgicos, politicamente falando. Eles eram, para
o nazismo de Hitler, homens, e supriram números enormes
para as tropas assassinas da S. S. e da S. A.
27
Capítulo 2
28
GEORGE SELDES
coração do Eixo, como uma ‘luta do socialismo alemão
contra as plutocracias’. Goebbels ludibriou milhões de
jovens alemães com essa divisa. E isso não é tudo: a
propaganda Nazi fora da Alemanha, particularmente na
América do Norte e do Sul, obteve êxito em recrutar
seguidores fiéis com essa divisa. [...]
29
Capítulo 2
30
GEORGE SELDES
Bleichroeder (um banco judeu apadrinhado pelo antigo
Kaiser) e a arnhold bros (um banco judeu, um dos melhores
da Alemanha, apadrinhado pela Embaixada dos EUA e
pelos jornais). O deutsChe bank tomou o Mendelssohn bank.
Na CoMpanhia CoMerCial de berliM [Berliner Handelsgesell-
schaft], um importante banco privado, Herbert Goering,
parente do marechal Hermann Goering, substituiu seu
sócio judeu Fuerstenberg. O Warburg bank em Hamburgo
foi tomado pelo deutsChe bank e pelo dresdner bank junto
do Montan CoMbine de Haniel e do truste da sieMens. O tal
truste, além disso, eliminou todas as mãos judaicas
da kabelWerk dr. Cassirer und Co. [...] Enquanto estavam
lucrando com os pogroms, os reis do armamento do
Reno não recuaram. Como resultado da perseguição
judaica de Hitler, aos cuidados de Mannesmann, veio
a companhia de metais de Wolff, Netter & Jacobi, além
da hahnsChen Werke. Enquanto isso, o grande industriário
Friedrich Flick (um dos doze homens que mais puseram
dinheiro no Nazismo), hoje, um dos 20 homens mais
ricos do Terceiro Reich, tomou a companhia de metais
de Rawak e Gruenfeld. Esta lista poderia se expandir
se quiséssemos. Ela ilustra os negócios prósperos
que os trustes alemães, solidamente estabelecidos,
conquistaram como resultado dos infames crimes contra
os judeus. Ao lado dos principais líderes nazistas,
esses magnatas financeiros alemães foram os maiores
beneficiados da perseguição sádica aos judeus. [...]
31
Capítulo 2
32
GEORGE SELDES
— 60% de todas aquelas que se ocupam unicamente de
agricultura — possuem, em conjunto, apenas 1.500.000
hectares. 0,15% dos proprietários possuidores de
5.000 hectares possuem juntos 10.000.000 de hectares
ou quase 40% de toda a terra cultivada. [...] 412
Junkers possuem o mesmo em terras que 1.000.000 de
camponeses (Darré admitiu isso).14
33
Capítulo 2
34
GEORGE SELDES
princípio da estratégia econômica nazista: mantenha intactas,
aperfeiçoe e, acima de tudo, tome para si as indústrias pesadas.
35
Capítulo 2
Bibliografia
Fritz Thyssen. I Paid Hitler. Farrar & Rinehart, 1941. [Em portu-
guês: Eu financiei Hitler, 1942, traduzido por Erico Verissimo;
Eu paguei a Hitler, 1945, traduzido por Carlos Ferrão].
36