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GeorGe SeldeS

FATOS E FASCISMO
(1943)

Traduzido por Felipe Vale da Silva

Aetia Editorial
São Paulo | Londrina
2020
SUMÁRIO
Capítulo 1 Fascismo à porta de casa 09
Capítulo 2 Lucros com o fascismo: Alemanha 13
Capítulo 3 O Grande Capital foi patrão de Mussolini 37
Capítulo 4 Os cinco donos do Japão 55
Capítulo 5 Quem bancou a Guerra de Franco? 65
Capítulo 6 O plano do cartel Nazi na América 79
Capítulo 7 Os homens que financiam o fascismo americano 97
ConClusão Vitória sobre o fascismo 125

posfáCio "Conte a verdade e saia correndo" 128


George Seldes na era das fake news
anexo Filmografia recomendada 145
GEORGE SELDES

Capítulo 1
Fascismo à porta de casa

C hegará um dia em que as pessoas não acreditarão que foi


possível mobilizar 10.800.000 americanos para combater
o fascismo sem que se lhes contasse a verdade sobre o inimigo.
Ainda assim, foi isso exatamente o que aconteceu em nosso país
na [Segunda] Guerra Mundial.

O Gabinete de Informação Bélica [OWI] publicou mi-


lhões de palavras, milhares de panfletos, pôsteres e outros materiais,
a maioria de grande valor e todos com a intenção de inspirar as
pessoas, aumentando a moral dos soldados na manufatura e dos
soldados no campo de batalha; mas é também um fato que, até
o dia em que estou escrevendo este livro, o OWI não publicou
um único panfleto, pôster, ataque ou jornal dizendo à população
civil, ou aos homens e mulheres de uniforme, o que o fascismo
realmente é; quais são as forças por trás de movimentos políticos
e militares comumente reconhecidos como fascistas; quem entra
com o dinheiro; quem obteve lucros imensos com aquilo que
o fascismo pagou a seus apoiadores na Alemanha, Itália, Japão,
Espanha e outras nações.

9
Capítulo 1

Certamente, quando relacionamos o fascismo estrangeiro ao


fascismo próprio dos americanos, há uma conspiração de silêncio
na qual o OWI, a imprensa americana e todas as forças reacionárias
da América estão unidas. Com exceção de uns poucos livros, uns
poucos panfletos e uns poucos artigos na diminuta imprensa
semanal independente (que só atinge uns poucos milhares de
leitores), não foi impressa uma única palavra sobre este assunto,
e nenhuma palavra sobre isso se fez ouvir em qualquer uma das
grandes estações de rádio comerciais.

O fascismo lá fora foi atacado, exposto e denunciado pelas


mesmas mídias (o Saturday Evening Post por exemplo) que por
anos publicaram artigos louvando Mussolini e seus notáveis apoia-
dores em todos os países. Além disso, os jornais de Hearst,1 que
publicaram de 1934 até Pearl Harbor algumas dúzias de artigos
propagandísticos assinados pelo Dr. Goebbels, Goering e outros
nazistas, agora os insultam. Mas nenhuma mídia que tira dinheiro
de certos elementos do Grande Capital (todos serão nomeados
aqui) ousará mencionar o nome de fascistas locais ou próximos
a nós. Em muitos casos, as próprias mídias são parte de nosso
próprio fascismo.

Não devemos, porém, ser levados a acreditar que o fascismo


americano consiste em umas poucas pessoas, alguns malucos,
outros pervertidos mentais, uns tantos criminosos como George
W. Christians e [William Dudley] Pelly (que neste instante estão na
cadeia),2 ou nos 33 indiciados por sedição. Estes são os resquícios
1 A Hearst Communications, conglomerado administrado por William
Randolph Hearst, controlava desde revistas como Elle, Marie Claire e
Cosmopolitan até jornais como o San Francisco Chronicle, The Telegraph e The
Hour. O clássico do cinema Cidadão Kane (1941) é baseado na vida de Hearst.
2 George W. Christians foi um inventor, preso (por meros 5 anos) em
função de propaganda fascista em 1942.William Dudley Pelley foi jornalista,
defensor de uma vertente mística e miliciana do fascismo conhecida como
Silver Legion of America (às vezes como Milícia Cristã). Em 20 de janeiro
de 1942, a Suprema Corte condenou Pelley a meros 3 anos; não por sedição,
mas por quebra de condicional. Pelley cumpriu a pena parcialmente e
continuou a atuar em organizações paramilitares secretas até sua morte em
1965.

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GEORGE SELDES
lunáticos do fascismo; também são peixes pequenos, representantes
sem importância, assim como Hitler era quando o Grande Capital
na Alemanha decidiu colocá-lo na ativa.

Na imprensa comercial nunca deram nomes aos verdadei-


ros fascistas da América. Eu não vou sequer palpitar sobre o fato
de que há muitos elementos poderosos trabalhando contra uma
democracia maior; contra uma América sem discriminação de
raça, cor ou credo; contra uma América onde nunca um terço
ou mais da população passará um dia sem comida suficiente,
roupa e abrigo; onde nunca mais haverá 12.000.000 de desem-
pregados e muito mais trabalhando por salários de fome, en-
quanto os impérios DuPont, Ford, Hearst, Mellon e Rockefeller
movimentam bilhões de dólares.

Estou chamando estes elementos de fascistas. Você pode não


gostar dos nomes e dos rótulos, mas de um ponto de vista técnico,
jornalístico e moral, trata-se de um rótulo correto. Você pode
substituir o termo por Tories,3 Royalistas econômicos, Lucros
de Investimento ou qualquer coisa que quiser para se referir a
esses antiamericanos de carteirinha, cujos esforços e objetivos
são paralelos àqueles da Liga Industriale que trouxe Mussolini
em 1920, ou aos do sistema industriário e banqueiro renano da
Thyssen-Krupp-Voegeler-Flick, que subsidiou Hitler quando
o nazismo estava prestes a colapsar. Seu objetivo principal foi dar
fim às liberdades civis da nação, destruir os sindicatos, acabar
com a imprensa livre e fazer ainda mais dinheiro às custas de um
país escravizado. Ambos obtiveram sucesso. E na América, uma
organização similar já possui o seguinte recorde histórico:

1. estruturou o Grande Capital como um movimento contra


os trabalhadores;

2. fundou a Liberty League para lutar contra as liberdades civis;

3 Durante o processo de independência dos EUA, os Tories foram o partido


pró-coroa britânica. O termo se tornou uma buzzword para se referir a
arquiconservadores sem muito senso de realidade.

11
Capítulo 1

3. subsidiou a causa antilaboral, organizações fascistas


e antissemitas (vide a investigação de lobby do senador
[Hugo] Black);4

4. assinou um pacto com agentes Nazi para penetração


política e econômica de seus cartéis nos EUA;

5. fundou um esquema de propaganda de US$ 1.000.000/


ano a fim de corromper a imprensa, rádios, escolas e igrejas;

6. interrompeu a passagem de comida, remédios e legis-


lação que visava salvaguardar os consumidores, isto é,
132.000.000 americanos;

7. conspirou, com DuPont na condição de líder, em se-


tembro de 1942 para sabotar o esforço de guerra e assim
manter seus lucros;

8. sabotou o plano de defesa dos EUA em 1940, ao rejeitar


converter fábricas de automóveis e ao congelar capitais contra
a expansão industrial; sabotou os programas de expansão de
petróleo, alumínio e borracha. (Se qualquer um desses fatos
não é conhecido para você, é porque 99% de nossa imprensa,
que está na folha de pagamento desses elementos, suprimiu
os relatórios do Comitê Tolan, Truman, Bone; os relatórios
de Thurman Arnold; os relatórios do TNEC Monopoly e
demais documentos governamentais);

9. atrasou o desfecho da guerra mediante atividades de


homens pagos anualmente, visando lucros presentes e mo-
nopólios futuros, em vez de uma derrota rápida do fascismo
(isso foi documentado na imprensa trabalhista por dois anos,
e mais uma vez na Convenção C.I.O. de 1942).

4 O comitê de investigação do lobby do Senado operou nos EUA


durante as décadas de 1930 e 1940 para investigar lobistas. Hugo Black foi o
primeiro presidente da comissão.

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GEORGE SELDES
É claro que o presidente dos Estados Unidos e demais oficiais
de alto cargo não podem dar nomes a homens, organizações,
lobistas e associações nacionais que possuam registros semelhantes;
eles podem unicamente se referir aos “traidores barulhentos”,
aos Quislings,5 aos derrotistas, ao Clivedent Set6 ou aos Tories
e Royalistas econômicos. E você pode estar certo de que nossa
imprensa nunca nomeará os derrotistas, pois os mesmos elemen-
tos que atingem acima de 9 pontos [nos índices de audiência]
são os principais anunciantes e maiores apoiadores dos jornais
e das revistas. Em muitos casos, até mesmo acusações gerais do
próprio presidente foram suprimidas. Na Alemanha e na Itália,
até a tomada de poder pelos fascistas, a maioria dos jornais foi
corajosa o suficiente para se declarar antifascista, enquanto na
América, curiosamente, uma boa parte da imprensa (Hearst,
Scripps-Howard, McCormick-Patterson) é pró-fascista há anos,
e quase todos os grandes jornais vivem do dinheiro das maiores
corporações Tories e reacionárias, refletindo seus pontos de vista.

Do lado antifascista, infelizmente, não há publicação que possa


se gabar de uma circulação maior do que cem ou duzentas mil
cópias, enquanto a imprensa reacionária tem o New York News com
sua tiragem diária de 2.000.000 de cópias, seu Saturday Evening
Post com 3.000.000 de cópias semanais, e seu Reader’s Digest [no
Brasil, Seleções] com 9.000.000 de cópias mensais, o que significa
mais de 50.000.000 leitores.

É uma situação vergonhosa e trágica o fato de que, na Amé-


rica, com 132.000.000 de pessoas, das quais 50.000.000 leem
propaganda antilaboral e antiliberal no Reader’s Digest, apenas
uma centena de milhares compra e lê publicações inteligentes,
honestas, não-subornadas e não-corrompidas, lançadas em prol
do interesse público.

5 Pessoa que colabora com uma força de ocupação inimiga; o nome vem
do traidor norueguês Vidkun Quisling, apoiador da ocupação nazista em seu
país durante os anos 40.
6 Durante a década de 1930, atuou como um grupo de elite bastante
influente na Grã-Bretanha.

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GEORGE SELDES

Capítulo 2
Lucros com o fascismo: Alemanha

P arece a este autor que a coisa mais importante no mundo


atual, depois da destruição do fascismo no campo de batalha, é
combater aquela ala do fascismo que ainda não se muniu de armas.

Esse outro fascismo se tornará mais ativo — e se enrolará à


bandeira nacional em toda a parte — quando o fascismo milita-
rizado for destruído. No que diz respeito à América, seu primeiro
líder fascista notável, Huey Long, um demagogo muito esperto,
certa vez disse: “claro que teremos fascismo aqui, mas ele virá
como um movimento contrário ao fascismo”.

Para saber o que o fascismo é, de fato, e por que devemos


combater e destrui-lo aqui na América, temos, primeiramente, que
saber contra o que estamos lutando, o que regimes fascistas realmente
são e fazem, quem investe dinheiro e apoia o fascismo em todos os
países (incluindo os Estados Unidos neste exato momento), além de
quem é o dono dos países sob tal regime; por que os nativos de todos
os países fascistas têm de ser levados a executar um trabalho duro,
por pouco dinheiro, com padrões de vida reduzidos, pobreza e de-
sespero, enquanto os homens e corporações que fundam, subsidiam
e possuem o fascismo crescem em riqueza de forma inacreditável.

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Capítulo 2

Foi isso o que aconteceu na Alemanha, Itália, Japão e ou-


tros países; é o caso, em grande medida, da Espanha, Finlândia,
Hungria, Romênia e da suposta República da Polônia. Embora
nem um único jornal padrão ou revista tenha sequer sussurrado
uma palavra a respeito, o mesmo movimento fascista — a marcha
de homens de riqueza e poder, não as ações malucas de duas ou
três dezenas de gente indiciada por sedição — está acontecendo
na América.

Tais assuntos estão intimamente relacionados, tanto com


os sistemas de governo quanto com o mundo dos negócios. É o
propósito deste livro mostrar quem realmente é dono da Inter-
nacional Fascista, quem lucra com ela, e quão longe os Estados
Unidos foram ao longo das fileiras do fascismo.

A verdadeira história da Alemanha de Hitler vale como um


grande indício para a situação em outras partes. Em 1923, após
suas macaquices no Putsch da cervejaria de Munique, Hitler recebeu
a primeira grande soma de dinheiro de Fritz Thyssen. No dia 30
de janeiro de 1933, Hitler tomou o poder após um acordo com
Hindenburg e os grandes senhores de terra prussianos (os Junkers).
Desde então, por todo o vasto território da Europa ocupada, Hitler
vem liquidando a dívida com homens que investiram no fascismo
simplesmente por ser uma máquina de fazer dinheiro. Uma disputa
pessoal pôs Thyssen de lado, mas seu irmão e milhares de grandes
industrialistas e banqueiros da Alemanha tornaram-se milionários
como resultado de financiarem Hitler; a I. G. Farbenindustrie
e demais organizações de cartel tornaram-se bilionárias.

Os grandes faturamentos se consolidaram por completo após a


partida de Fritz Thyssen com suas ideias bastante pitorescas de pôr
limites à corrupção em transações comerciais, com sua repugnância
ante o assassinato de judeus como uma política pública nacional
e outros conceitos éticos antiquados, herdados de seu pai, de
monopólio e exploração — mas que não englobavam roubo e
matança como meios de agressão comercial. Os cartéis marcharam
adiante junto das tropas.

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GEORGE SELDES
Houve, é claro, denúncias sobre Hitler ser uma ferramenta dos
grandes investidores alemães, escritas antes de ele se tornar ditador.
Mas como a publicação delas se deu em pequenos semanários
não-comerciais, que poucas pessoas liam, ou na imprensa radical
(sempre acusada de falsificação pela imprensa comercial, que está
sempre mentindo), o fato é que poucos sabiam de fato o que
estava acontecendo. Essa conspiração de silêncio tornou-se ainda
mais intensa quando grandes instituições americanas e demais
grupos bancários passaram a despejar grandes empréstimos sobre
Hitler — assim como sobre ditadores fascistas de outros países.

Já em 1931 Gerhard Hischfeld publicou, em um semanário


literário católico, uma pequena evidência de que Hitler era o
braço político do maior ramo do capitalismo alemão. Ao lembrar
que Hitler jurou que os Krupps, os Thyssens e os Kirdorfs, os
Mannesmanns, os Borsigs e os Siemens (que são os Garys, Schwabs
e Mellons da Alemanha) seriam despojados de sua riqueza e poder,
Hirschfeld fez a observação “é dos escalões da indústria pesada,
porém, que Hitler está tirando o dinheiro suficiente para tornar o
fascismo alemão algo significativo. Hitler recebeu suporte conside-
rável de indústrias pesadas da Bavária, onde começou o movimento
fascista. A Borsig Werke e a Eisenhüttenleute [Associação dos
metalúrgicos] são importantes pilares na estrutura fascista [...] Da
indústria de maquinário [do estado] de Württemberg, além de
muitos outros ramos das indústrias de ferro e aço, marcos alemães
jorram para dentro de cofres inchados. Além disso, vem dinheiro
de fora. Amigos suíços enviaram-lhe 300.000 francos antes do
término das eleições do ano passado. O barão von Bissing, professor
universitário, recolheu muitos milhares de florins na Holanda
[...], e mesmo diretores da Skoda-Works (da Tchecoslováquia,
controlada por franceses), famosa pela manufatura de armamentos,
encontram-se entre os apoiadores de Hitler”.

Não é preciso ter nem integridade, nem coragem, hoje, para


dizer que Hitler foi tornado Führer da Alemanha pelos grandes
industrialistas de seu país. (Mas é preciso, sim, integridade e co-
ragem, mesmo hoje, para relacionar indivíduos e forças alemães
com aqueles na América, apontando as equivalências; é por isso

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Capítulo 2

que nenhum jornal ou revista comercial nunca o fez). Mas já no


verão de 1933, na Week-End Review, uma luz mostrando o fascismo
como nada além de um movimento militar-político-econômico,
visando agarrar todo o dinheiro e recursos do mundo, havia sido
lançada na Alemanha por um homem que escreveu sob o nome
“Ernst Henri”.

Ele renega, antes de tudo, o mito do Nazismo como uma


“rebelião das classes médias”. As classes médias, é verdade, fo-
ram as mais unidas e explícitas em prol de Hitler; elas, de fato,
enviaram-lhe suas contribuições; mas embora “esses filhos de
açougueiros e publicanos, de oficiais de correio e agentes de segu-
ros, de médicos e advogados” imaginassem estar lutando por seu
próprio interesse; embora “eles enxameassem para fora de quartéis
da Sturmabteilung (S. A.) e atacassem trabalhadores indefesos,
judeus, socialistas e comunistas”, não teriam sido capazes de fazê-lo
caso não fossem mobilizados por outras fontes. “Hitler, o ídolo
dessa multidão, ele próprio um mero pequeno-burguês — um
pequeno burguês posando de Napoleão —, na realidade, seguiu
os ditames de um poder superior”.

O segredo, Henri continua, “deve ser buscado na História


oculta da oligarquia industrial alemã, nas políticas pós-guerra do
carvão e do aço [...] Não foi Hitler, mas Thyssen, o grande magnata
[da região] do Reno, a força motora do fascismo alemão”.

O principal empreendimento de Thyssen foi o Truste do Aço


[Vereinigte Stahlwerke], equivalente à U. S. Steel. A Verei-
nigte Stahlwerke Aktien Gesellschaft, incidentalmente, foi
intensamente financiada por bancos americanos — de episcopais,
católicos e judeus — do período pré-Hitler até o regime hitlerista.
O Truste do Aço era a base da economia alemã, e quando se viu
em situação de desespero durante o regime Bruening, precedente
a Hitler, a base da Alemanha se viu ameaçada. Foi então que o
Estado entrou com um apoio nominal ao truste, comprando cerca
de metade das ações da Gelsenkirchener Bergwerke, uma
tributária de holdings que valia 125.000.000 marcos, a um preço
fantástico, estimado em duas vezes o preço de mercado. Logo em

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GEORGE SELDES
seguida, os partidos políticos da nação começaram a lutar pelo
controle dessa arma.

O regime Bruening, católico e favorável ao grupo Otto-Wolff


(do Deutsche Bank), era afiliado a grupos católicos favoráveis.
O grupo Thyssen-Flick-Voegeler lhe era oposto, apesar de o
próprio Thyssen ser católico. Otto Wolff é um católico proemi-
nente, mas um de seus sócios, Ottmar Strauss, é um liberal judeu.
Outro afiliado de Wolff foi o general Schleicher. A rivalidade na
Alemanha era algo como a rivalidade de interesses entre Morgan e
Rockefeller na América, com exceção do fato de que o grupo Wolff
era conhecido como liberal, enquanto o grupo Thyssen englobava
Flick e Voegeler, herdeiros políticos de Hugo Stinnes, pessoa que,
Henri diz, “talvez tenha sido o primeiro Nazi da Alemanha”.

Stinnes, Hugenberg, Thyssen e demais chefões multimilioná-


rios da Alemanha nunca esconderam sua participação em movi-
mentos políticos, tampouco no subsídio a todos os partidos político
reacionários e antitrabalhistas. Esses homens puseram dinheiro
nos partidos da direita e foram sempre poderosos o bastante para
prevenir o Partido Social Democrata (SPD), que tomou posse da
nação com ajuda dos Aliados vitoriosos em 1918. Apesar disso,
acabaram dissuadindo o partido de fazer qualquer coisa para ajudar
a população — ainda que alguns social-democratas sinceramente
tenham tentado fazê-lo.7 Os fatos históricos falam por si só. A
Alemanha sob Ebert e todas as coalisões liberais que precederam
regimes reacionários, as quais naturalmente culminaram no ad-
vento do Grande Negócio Fascismo, nunca fizeram nada além
de gesticular para a classe trabalhadora e permitir o aumento do
desemprego e da pobreza, enquanto os Stinneses e Hugenbergs e
Thyssens cresciam em riqueza e poder.

7 O SPD foi um dos partidos de esquerda ligado ao movimento comunista


original na Alemanha. No período entreguerras, abandonou sua pauta
revolucionária e iniciou uma série de conluios com o capital e teóricos
do social-desenvolvimentismo, chegando até a entregar colegas comunistas
mais radicais (Karl Liebknecht, Rosa Luxemburgo e Wilhelm Pieck) aos
inimigos. A esse respeito, ver o livro recente de Rosa Rosa Gomes (Rosa
Luxemburgo: Crise e Revolução. Cotia: Ateliê Editorial, 2018, p. 41 et seq.).

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Capítulo 2

Thyssen tomou interesse por Hitler no ano do Putsch na


Cervejaria [de Munique], quando Hitler era considerado um
palhaço pistoleiro que acabaria em um hospício, não na cadeira de
chanceler. Mas Thyssen enxergou possibilidades. Em 1927, levou
seu sócio no Truste do Aço, Voegeler, para Roma. Eles entrevistaram
Mussolini e, ao voltarem, o Partido Nazi, de repente, ficou rico e
iniciou sua marcha para o poder.

Em 1927, Thyssen entrou no Partido Nazi oficialmente,


encetando a cooperação com Hitler que levaria à derrubada da
República [de Weimar] em 1933.

“Hitler”, escreve Henri, “nunca tomou um passo importante


sem antes consultar Thyssen e seus amigos. Thyssen sistematica-
mente financiou todos os fundos eleitorais do Partido Nacional
Socialista. Foi ele quem, por uma decisão majoritária e contra
a oposição mais virulenta por parte de Otto Wolff e Kloeckner,
persuadiu os dois centros políticos da capital do Reno alemão (a
Bergbauverein Essen e o Nordwestgruppe der Eisen- und
Stahlindustrie, a concordarem que todos os interesses ligados
ao carvão e ao aço tinham, mediante um imposto particular e
obrigatório, que depositar certa soma no fundo eleitoral dos
Nacional Socialistas. Para levantar o dinheiro, o preço do carvão
aumentou na Alemanha).

“Somente para as eleições presidenciais de 1932, Thyssen


proveu aos Nazis, dentro de poucos dias, mais de 3.000.000 de
marcos. Sem sua ajuda, as medidas fantásticas às quais Hitler
recorreu nos anos de 1930-1933 nunca teriam sido possíveis. Sem
o dinheiro de Thyssen, Hitler nunca teria alcançado tamanho
sucesso, e o partido provavelmente teria quebrado na altura das
eleições de Papen, no final de 1932, quando perdeu 2.000.000 de
votos e o grupo Strasser anunciou sua cisão. Em janeiro de 1933,
Schleicher se encontrava prestes a golpear o movimento hitlerista
na cabeça e impor seu próprio comando. Porém, pouco antes
disso, Thyssen havia erguido Hitler com a força de seu maquinário
financeiro, para que Hitler pudesse resgatar Thyssen com a força
de seu maquinário político.

20
GEORGE SELDES
“Para desencadear o tal golpe de Estado, Thyssen empregou
dois de seus amigos e agentes políticos: Hugenburg (um dos di-
retores do Truste do Aço de Thyssen) e von Papen. Em meados
de janeiro, um encontro secreto entre Hitler e Papen ocorreu em
Colônia na casa do Barão von Schroeder, parceiro do banco de J.
H. Stein, por sua vez, íntimo de Flick e Thyssen. Entretanto, graças
a uma indiscrição, notícias do encontro acabaram nos jornais, e
alguns dias mais tarde uma conspiração contra Schleicher estava
montada. O grupo aliado, Thyssen-Hitler-von Papen-Hugenburg,
apoiado por toda a força reacionária alemã, obteve sucesso em
trazer para o seu lado o filho do presidente von Hindenburg, o
major Oskar von Hindenburg, que até então permanecera ao
lado de seu velho amigo de regimento, Schleicher. Dessa forma se
deu a queda repentina de Schleicher e a famigerada nomeação de
Hitler. Thyssen vencera e Hitler criara o cenário para seu próprio
dia de São Bartolomeu.

O que sucedeu daí foi um triunfo contínuo de interesses


capitalistas por parte do grupo Thyssen. O governo Nacional
Socialista alemão, hoje, leva a cabo as políticas de Thyssen em todos
os assuntos, como se toda a nação fosse uma parcela do Truste do
Aço. Cada passo levado a cabo pelo novo governo corresponde,
exatamente, aos interesses privados deste clique; os tempos de
[Hugo] Stinnes estão de volta.8

Thyssen tinha seis objetivos principais: (1) assegurar o Truste


do Aço como parte de seu próprio grupo; (2) salvar os grandiosos
sindicatos do carvão e do aço, base de todo o sistema capitalista
monopolista na Alemanha; (3) eliminar grupos rivais católicos e
judeus e capturar toda a máquina industrial da ala extremista-rea-
cionária da indústria pesada; (4) esmagar os trabalhadores e abolir
os sindicatos dos comerciários, de modo a fortalecer a competição
8 Uma geração antes, o industriário Hugo Stinnes garantiu para si e os seus
o monopólio de lucros advindos da venda de armamentos para sustentar a
Primeira Guerra Mundial. Stinnes chegou a trabalhar com Fritz Thyssen
no quadro de diretores da Rheinisch-Westfälisches Elektrizitätswerk
Aktiengesellschaft, empresa no ramo de geração de energia elétrica. Foi
eleito para o Reichstag em 1920 pela plataforma do Deutsche Volkspartei,
falecendo apenas quatro anos mais tarde.

21
Capítulo 2

alemã nos mercados mundiais mediante mais reduções salariais,


etc.; (5) aumentar as chances de inflação para reduzir o valor dos
débitos da indústria pesada (uma repetição da astuta transação
criada por [Hugo] Stinnes em 1923); e, finalmente, (6) iniciar uma
tendência inequivocamente imperialista em política internacional
a fim de satisfazer os fortes instintos expansionistas na capital do
Reno. Todos os itens relativos a esses programas, sem exceção,
foram ou serão agora executados pelo governo hitlerista”. (O leitor
deve se lembrar de que tal previsão foi escrita já em 1933, poucos
meses após o triunfo de Hitler).

Como Hitler compensou Thyssen? Recorrendo tanto a


meios gerais quanto a específicos. Thyssen foi elevado à posição
de subditador da Alemanha (Reichsminister da Economia), com
controle de toda a indústria. O problema da causa trabalhista (para
Thyssen e todos os empregadores da Alemanha) foi resolvido, uma
vez que Hitler aboliu os sindicatos e confiscou os tesouros das
associações [trabalhistas], rebaixando a mão-de-obra a uma espécie
de servidão. Especificamente, Hitler socou centenas de milhões
de dólares nos bolsos de Thyssen por meio da manipulação da
Gelsenkirchener.9 A nova capitalização foi de 660.000.000 de
marcos em vez de 125.000.000. O Estado, que possuía mais de
metade da Gelsekirchener, terminou por ter posse de menos
de 20% da nova corporação, e Thyssen, temendo o colapso de
seu império, saiu mais uma vez como o rei do carvão e aço, e,
portanto, o mais poderoso industrialista do país.
9 Referência à Gelsenkirchener Bergwerks AG, empresa de mineração
sediada na porção norte do Reno (atual Renânia do Norte-Vestfália). Como
resultado de endividamentos durante toda a década de 1920, o grupo foi
inicialmente vendido para o Dresdner Bank em 6 de maio de 1932, tendo
sua compra facilitada, posteriormente, pelos Nazis, para Fritz Thyssen e Emil
Kirdorf. Seldes diz que “o Estado” possuía boa parte da companhia uma vez
que, entre 1933 e 1942, a maioria dos ativos do Dresdner Bank tornou-se
posse do Reich, como parte da política de “arianização dos bens judaicos”.
Isso permitiu casos de compensação dos capitalistas por trás da ascensão do
nazismo, como no caso de Thyssen com a Gelsenberg [na fortuna crítica
o evento é conhecido como Gelsenberg-Affäre]. Ver Alexander Donges.
Die Vereinigte Stahlwerke AG im Nationalsozialismus. Konzernpolitik zwischen
Marktwirtschaft und Staatswirtschaft. Ferdinand Schöningh: Paderborn, 2014,
p. 42 et seq.

22
GEORGE SELDES
Umas poucas semanas após a tomada do poder, Hitler se valeu
do antissemitismo para fins comerciais, auxiliando seu principal
suporte financeiro, Thyssen. Oscar Wassermann, do católico-ju-
daico Deutsche Bank, fora o rival número 1 dos banqueiros de
Thyssen. Hitler o forçou a se aposentar “por motivos de saúde”. O
único oponente de Thyssen dentro do Truste do Aço, Kloeckner,
um católico como o próprio Thyssen, foi forçado a se demitir
do Reichstag de Hitler. Uma denúncia de corrupção foi registra-
da contra Otto Wolff, que liderava a batalha financeira contra
Thyssen. Goering apontou Thyssen como representante-chefe do
capital privado do novo Conselho de Estado Prussiano. Por fim,
a Liga Lutadora da Classe Média Comercial10 — pequenos
empresários que juntaram dinheiro e saíram às ruas para matar
e roubar trabalhadores industriais e judeus — foi dissolvida sob
ordens de Hitler no início de 1933, pois eventualmente ofereceria
ameaças à classe dominante.

É com interesse redobrado que lemos a conclusão e prognós-


tico de Henri uma década depois de os formular. Ele disse, em
1933: “Os sindicatos foram destruídos. Thyssen pode deliberar
salários através de novas ‘corporações’ e assim reduzir ainda mais
os preços de bens de exportação, tendo em vista a competição
inglesa e americana. Armamentos estão sendo preparados; Thyssen
providencia o aço. Thyssen precisa dos mercados do Danúbio,
onde é proprietário da Alpine Montan-Gesellschaft, a maior
produtora de aço na Áustria. Mas o objetivo central desse novo
sistema alemão ainda não foi alcançado. Thyssen quer guerra, e
parece que Hitler ainda pode lhe arranjar uma”.

Os fatos históricos são: armamentos estavam sendo prepa-


rados, embora os britânicos e franceses fechassem os olhos para
10 No original alemão, Kampfbund des Gewerblichen Mittlestandes.
O grupo participou de boicotes a judeus no início do movimento Nazi,
mas foi criminalizado já em julho de 1933 por decreto de Hermann
Göring sob alegação de conflito de interesses com demais forças de
segurança alemãs. Muitos de seus membros mais tarde debandaram
para a Nationalsozialistischen Handwerks-, Handels- und
Gewerbeorganisationen (uma liga de artesãos e demais trabalhadores pró-
Reich), posteriormente chamada Deutsche Arbeitsfront (a partir de 1935).

23
Capítulo 2

o fato e acreditassem que só seriam usados contra a Rússia. O


exército Nazi marchou, de fato, para dentro da Áustria; e uniu, de
fato, as indústrias da Alpine às suas. Igualmente, de fato, Hitler
arranjou uma guerra, embora foram o irmão de Thyssen, o barão
von Thyssen, e Voegler — parceiro e sucessor como chefe da
Vereinigte Stahlwerke — que colheram seus frutos, e não o
próprio Thyssen. O Nazismo recompensou todos os seus apoiadores
iniciais (com exceção de um homem) e todos os proprietários
presentes com lucros colossais.

A relação entre dinheiro e eleições foi ilustrada com mais


clareza nas eleições alemãs na década de 1923-1933 do que em
quaisquer eleições americanas — embora um livro inteiro possa ser
escrito para provar que, dos partidos Republicano ou Democrata,
quem ganha a cada quatro anos, com pouquíssimas exceções, é o
partido que desembolsa a maior quantidade em milhões de dólares.

“Sete meses antes de ele (Hitler) chegar lá (no assento de


chanceler), foram-lhe apurados um máximo de 13.745.781 votos,
pouco mais do que um terço dos votos registrados. Quatro meses
depois, na vasta eleição constitucional do Reichstag, ele perdeu cerca
de 2.000.000 votos. Isso foi em novembro de 1932. O grande
Partido Nazi estava decaindo rapidamente. Havia sido inchado
por milhões de indivíduos mesquinhos, de mau caráter, vítimas
da recessão, seduzidos antes pelo desespero do que pelo linguajar
loquaz e postura esplêndida de Hitler e,ainda assim, após a lavada
das eleições de novembro, o partido estava completamente falido,
a ponto de parecer indiciar sua dissolução iminente. Hitler, em
um surto de instabilidade, ameaçou se suicidar (e isso não foi nem
pela primeira, nem pela última vez); poucas semanas depois, lá
estava ele no poder”.

A declaração supracitada é da Fabian Society da Grã-Breta-


nha. Ela define a situação de forma verdadeira. Mas como então
explicar o seguinte?

“Como o milagre teria ocorrido? Goebbels, com grandiloqu-


ência, o chamou de ‘Grande Revolução Nacional-Socialista’; mas

24
GEORGE SELDES
não foi nada do gênero. Tratou-se apenas de uma barganha entre o
Grande Capital e os Junkers. Fortes em termos de dinheiro, poder
e influência, embora questionáveis em termos de apoio popular,
esses interesses manifestos (com o arquiconspirador von Papen
como representante político) foram provocados pela ameaça do
governo Schleicher a expor o pior lado de sua corrupção. Eles ficaram
ainda mais preocupados com a possibilidade de uma guinada para a
esquerda por força de uma coalisão entre Schleicher e os sindicatos.
Foi por isso que o grupo de Papen, tendo virado as costas para o
Partido Nazista por um tempo, se tornou então entusiasta ante uma
aliança capaz de anexar um movimento de massas a seu próprio
poder financeiro e industrial. Foi assim que Hitler conseguiu seu
tão desejado dinheiro para o partido e para sua própria indicação à
chancelaria dentro do governo da nova coalisão”.

Toda a história de Hitler é uma história de gastos do Grande


Capital para construir um partido; do Grande Capital para con-
seguir milhões de votos. E quando o dinheiro de seus apoiadores
fracassou em pô-lo no cargo [desejado], ele assinou um acordo
conclusivo com eles, vendendo de uma vez por todas a grande
maioria dos que votaram nele, dando a crer que manteria suas 26
promessas — grande parte delas voltadas ao Grande Capital, aos
Junkers e a demais inimigos do povo.

O partido fascista de Hitler nunca foi um partido majoritário.


Em muitos países, onde diversos partidos existem — e mesmo nos
Estados Unidos atuais, onde três partidos majoritários estão em
campo —, o chanceler ou o presidente eleito representa apenas
uma minoria do eleitorado. Entretanto, é verdade que Hitler obteve
êxito em tempos de razoável honestidade antes de ser capaz de
se valer de matança e terrorismo para suas eleições manipuladas,
que tornaram o seu o maior no rol dos partidos.

Por que ele foi capaz de fazê-lo?

É claro que há muitos motivos — a saber, a desilusão do país,


o egoísmo nacional, o desejo natural de ser uma grande nação, o
momento psicológico em prol de um ditador (de qualquer partido

25
Capítulo 2

que fosse, da direita ou da esquerda), a recessão econômica, a


necessidade por mudança e por aí vai —. O mais importante,
senão o mais importante de todos, foi a plataforma do Partido
Nazi, que prometeu ao povo aquilo pelo qual estava sedento.

Não se deve esquecer que a palavra Nazi significa Partido


nacional-socialista dos trabalhadores alemães, e que Hitler,
enquanto secretamente estava na folha de pagamento dos indus-
trialistas, os mesmos que queriam ver os sindicatos desmontados e
a mão-de-obra transformada em servidão, gabava-se abertamente
de seu partido ser um partido socialista — um socialismo sem Karl
Marx — e, acima de tudo, um partido nacional-socialista, seja
lá o que isso signifique. Mas significava muita coisa para milhões
de pessoas. Os seguidores do socialismo marxista na Alemanha,
divididos em diversos partidos, teriam, se unidos, constituído a
maior força dentro do país, e o socialismo e a causa laboral teriam
sido praticamente sinônimos na Alemanha. Hitler sabia disso. E
disso se beneficiou. Ele roubou o termo.

Hitler foi capaz de angariar treze milhões de seguidores antes


de 1933 para um programa de reforma pseudo-socialista, mediante
enormes promessas de auxílio para a gente comum. Nos 26 tópicos
da plataforma Nazi, adotados em 1920 e nunca desmentidos,
Hitler prometeu ao miserável povo alemão:

1. Abolição de todos os rendimentos não-salariais.

2. Fim da escravidão dos lucros. O que se voltava a todos os


banqueiros, não só aos banqueiros judeus.

3. Nacionalização de todas as empresas de capital coletivo


[isto é, sociedades anônimas]. Isso significava o fim de toda a
indústria privada; não apenas dos monopólios, mas de todo
o Grande Capital.

4. Participação dos trabalhadores nos lucros de todas as corpora-


ções — o empregado do engenho, da mina, da fábrica, da grande
indústria etc. tornar-se-ia proprietário parcial da instituição.

26
GEORGE SELDES
5. Estabelecimento de uma classe média sólida. O nazismo, tal
qual o fascismo italiano, teve um enorme apelo para a grande
classe média, o pequeno homem de negócios, os milhões
rendidos pelas garras do Grande Capital e os proletários. As
grandes lojas de departamento, por exemplo, seriam destruídas.
Essa promessa deliciou todos os pequenos comerciantes na
Alemanha. Certa vez, Bernard Shaw disse que a Grã-Bretanha
era um país dos comerciantes. Isso era igualmente verdadeiro
para o caso da Alemanha — e comerciantes alemães eram
ainda mais enérgicos, politicamente falando. Eles eram, para
o nazismo de Hitler, homens, e supriram números enormes
para as tropas assassinas da S. S. e da S. A.

6. Pena de morte para usurários e agiotas.

7. Distinção entre raffendes e schaffendes Kapital — entre


capital predatório e construtivo. Tal era a tese de Gregor
Strasser: havia dois tipos de dinheiro: usura e dinheiro de lucro
por um lado, dinheiro construtivo pelo outro. O primeiro
devia ser eliminado. Naturalmente, todos os proprietários de
capital que investiram no Partido Nazista foram listados como
capitalistas construtivos, enquanto os judeus (alguns dos quais,
incidentalmente, investiram em Hitler), mais todos os que
se opuseram ao partido, foram listados como exploradores.

A vasta classe média, sempre presa entre as aspirações da


(ainda mais vasta) classe trabalhadora e à ganância da pequena
(mas ainda mais poderosa) classe dominante, possui longo
histórico de cometer a gafe de se aliar à última. Nos Estados
Unidos da América temos a mesma coisa: todos os movimentos
fascistas reais são subsidiados pelo Grande Capital, mas orga-
nizações poderosas como a National Small Business Men’s
Association seguem o programa da NAM,11 na esperança de
11 A National Association of Manufacturers, grupo de desinformação famoso
por fazer ponte entre grandes proprietários e o público, enquanto doava
grandes quantias a quebra-greves e organizações fascistas como os Silver
Shirts. Seu primeiro presidente, aliás, foi Samuel Bush, bisavô do presidente
George W. Bush. Uma fonte bastante completa sobre as operações da NAM,
da Segunda Guerra à administração Bush, é o livro de Glen Yeadon, The

27
Capítulo 2

se beneficiarem financeiramente conforme as famílias no poder


se beneficiam.

Em todos os casos, porém, a História nos mostra que quando


a classe dominante controla um país com um exército fascista,
pode ser que ela dê à classe média privilégios, uma chance de
ganhar mais por certo tempo. Não obstante, no final das contas,
o monopólio sempre triunfa, e o Grande Capital leva o Pequeno
Capital à falência.

Esse é um dos muitos fatos importantes apresentados


por Albert Norden em seu impressionante panfleto The Thugs of
Europe,12 um exposé documental acerca dos lucros do Nazismo
integralmente baseado em fontes dos próprios nazistas. Minha
gratidão ao Sr. Norden — um autor alemão que escapou para os
EUA e que recentemente partiu para trabalhar em uma fábrica
bélica — por permitir-me citar parte dessa evidência. Norden
aborda o assunto do Nazismo e suas promessas para a classe média
da seguinte forma:

“Se o Terceiro Reich fosse do homem comum, a classe


média não teria sido sacrificada para o Moloque do
Grande Capital. Se o Terceiro Reich fosse em prol do
homem comum, os bancos e indústrias e recursos do
subsolo pertenceriam ao povo, não à esfera privada
de uns poucos ricos, antigos e novos [...] Do jeito
que está agora, trata-se do Reich do homem rico. É
por isso que há um movimento clandestino anti-Nazi
tão vasto em meio ao povo alemão.

Esta guerra está sendo travada pelo Terceiro Reich, o


Nazi Hydra in America: suppressed history of a century:Wall Street and the Rise of
the Fourth Reich. Joshue Tree: Progressive Press, 2008 (ver sobretudo as partes
III e IV). Seldes volta a tratar da NAM no final deste volume.
12 Norden, Albert. The Thugs of Europe. New York: German American
League for Culture, 1943. Fac-símile disponível em https://archive.org/
details/TheThugsOfEurope/page/n1

28
GEORGE SELDES
coração do Eixo, como uma ‘luta do socialismo alemão
contra as plutocracias’. Goebbels ludibriou milhões de
jovens alemães com essa divisa. E isso não é tudo: a
propaganda Nazi fora da Alemanha, particularmente na
América do Norte e do Sul, obteve êxito em recrutar
seguidores fiéis com essa divisa. [...]

A teoria Nazi de uma luta entre os destituídos e as


chamadas ‘nações saturadas’ é tão real quanto o mito
de que Goebbels é um ariano e Goering um socialista!
Os seguintes fatos, retirados de estatísticas oficiais
alemãs, provam que o Terceiro Reich é uma ditadura
sem limites dos plutocratas; que um grupo restrito
de magnatas do mundo dos bancos, indústrias e setor
de químicos tomou posse de todo o aparato econômico
às custas de amplas seções de manufatureiros médios
e pequenos, artesãos, comerciantes e trabalhadores,
e está lucrando de modo nunca antes visto.

Em seu programa, Hitler prometeu dar preferência à


classe média em todos os cargos governamentais; pro-
meteu a abolição de lucros nos empréstimos, rompendo
com o poder dos trustes e cartéis, além de desmontar
as lojas de departamento. Cada um desses itens só
poderia ser seguido às custas do capital financeiro
ao qual Hitler se comprometeu incontestavelmente, e
que, por sua vez, significa a ruína da classe média
e dos trabalhadores [...] A liga lutadora da Classe Média
CoMerCial [Kampfbund des Gewerblichen Mittlestandes],
uma organização Nazi [...] fora treinada para destruir
o marxismo. Em toda a parte, mataram socialistas e
comunistas, demoliram centrais trabalhistas e escri-
tórios de sindicatos. Então, quando Hitler triunfou,
eles também quiseram colher seus frutos. Mas os
líderes nazistas lhes ofereceram umas poucas glórias,
contra suas expectativas — glórias que não agradaram
nem suas mentes, nem pesaram em seus bolsos [...]

29
Capítulo 2

Até agora, em nenhum momento da História, a classe


média, apoiando-se unicamente em si própria e sem
aliança com outros estratos sociais, teve um papel
independente ou triunfou na luta social com sucesso.
[...] Os líderes nazistas não hesitaram sequer um
instante em sua decisão tão logo os grandes indus-
trialistas e banqueiros começaram a fazer reinvindi-
cações. Um após o outro, Hitler, Goering e Hess — em
maio, junho e julho de 1933 — publicaram alertas
incisivos acerca de ‘ataques contra o comércio’. Além
disso, Hess ordenou que todas as atividades contra
lojas de departamento cessassem. [...] Já em agosto
de 1933, as esperanças exaltadas que milhões entre
a gente pequena puseram em Hitler foram rudemente
dilaceradas. [...] Líderes da luta da classe média
contra os trustes [...] foram enviados para campos de
concentração. Antes de o mês terminar, a liga lutadora
da Classe Média já não existia mais. [...] O massacre de
toda a liderança da sturMabteilung (S. A.), sob pretexto
de homossexualidade, fechou o breve capítulo da ação
independente por parte da classe média com vitória
política esmagadora por parte do Grande Capital.
[...] A loja de departamentos do proprietário judeu
Tietz foi cedida a um consórcio que consistia em
três grandes bancos: o deutsChe bank, o dresdner bank e o
CoMMerz- und privatbank. [...] A grande loja de departamento
karstadt [...], da qual quatro dos oito gerentes são
grandes banqueiros; um deles um grande exportador e
um sexto, uma figura influente no deutsChe bank [...]13

Quanto mais os judeus eram arrastados para fora de


casa e assassinados em campos de concentração, mais
ricos os magnatas da Alemanha se tornavam. Eles dei-
xaram multidões da S. S. e da S. A. destruir e piso-
tear com suas botas todas as leis humanas — enquanto
isso, o dresdner bank adquiriu o banco berlinense de

13 Seldes não fechou a oração que começou a citar no texto original.


Mantivemos seu equívoco.

30
GEORGE SELDES
Bleichroeder (um banco judeu apadrinhado pelo antigo
Kaiser) e a arnhold bros (um banco judeu, um dos melhores
da Alemanha, apadrinhado pela Embaixada dos EUA e
pelos jornais). O deutsChe bank tomou o Mendelssohn bank.
Na CoMpanhia CoMerCial de berliM [Berliner Handelsgesell-
schaft], um importante banco privado, Herbert Goering,
parente do marechal Hermann Goering, substituiu seu
sócio judeu Fuerstenberg. O Warburg bank em Hamburgo
foi tomado pelo deutsChe bank e pelo dresdner bank junto
do Montan CoMbine de Haniel e do truste da sieMens. O tal
truste, além disso, eliminou todas as mãos judaicas
da kabelWerk dr. Cassirer und Co. [...] Enquanto estavam
lucrando com os pogroms, os reis do armamento do
Reno não recuaram. Como resultado da perseguição
judaica de Hitler, aos cuidados de Mannesmann, veio
a companhia de metais de Wolff, Netter & Jacobi, além
da hahnsChen Werke. Enquanto isso, o grande industriário
Friedrich Flick (um dos doze homens que mais puseram
dinheiro no Nazismo), hoje, um dos 20 homens mais
ricos do Terceiro Reich, tomou a companhia de metais
de Rawak e Gruenfeld. Esta lista poderia se expandir
se quiséssemos. Ela ilustra os negócios prósperos
que os trustes alemães, solidamente estabelecidos,
conquistaram como resultado dos infames crimes contra
os judeus. Ao lado dos principais líderes nazistas,
esses magnatas financeiros alemães foram os maiores
beneficiados da perseguição sádica aos judeus. [...]

Ademais, o imposto sobre renda bruta de grandes


negócios foi reduzido a 0,5% em todos os produtos,
enquanto para os pequenos negócios foi aumentado para
2%. O decreto estabelecendo limites de preços foi
eliminado, de forma que o Grande Capital sob Hitler
foi capaz de aumentar preços em diversas ocasiões.
Assim, nos dois anos imediatamente anteriores ao
início da presente guerra, dezenas de milhares de
pequenos empresários foram capazes de vender a preços
que mal cobriam suas próprias despesas, e às vezes

31
Capítulo 2

nem isso. É por isso que os pequenos negócios foram


liquidados em grande escala na Alemanha. [...] O
governo do Terceiro Reich, muito antes do início da
guerra, declarou sentença capital a mais de um milhão
de membros da classe média e a levou a cabo, provendo
lucros, assim, aos setores mais abastados do capital
financeiro alemão. [...] O resultado é invariavel-
mente o mesmo: um banho de sangue sem paralelos e
pauperização no decorrer de todo o processo. O regime
hitlerista de ‘comunidade popular’ e eliminação da
luta de classes avançou, como nenhum regime anterior
pôde, a cristalização de classes na sociedade alemã,
desferindo terríveis golpes contra a classe média e
favorecendo os dez mil da classe superior de maneira
impactante. Em 10 anos de regime nazista, a classe
média baixa na Alemanha estava mais falida e desti-
tuída do que nos 50 anos anteriores.

Em 1932, um escândalo tremendo explodiu na Alemanha.


Dizia respeito às chamadas osthilfe, subsidiárias go-
vernamentais destinadas a agricultores em necessi-
dade. [...] Entre os beneficiários estava a Casa dos
Hohenzollern e o presidente da república, o marechal
de campo Hindenburg, cuja propriedade ao leste da
Prússia, em Neudeck, estava envolvida em fraudes de
impostos. Hitler prometeu suprimir todo o escândalo
caso se tornasse chanceler do Reich. Coincidiram os
interesses da aristocracia e dos reis da munição,
cujos apetites por guerra foram aguçados pela nomeação
de Hitler. Assim, Hindenburg cobriu seu escândalo
de corrupção com a nomeação desgraçada de Hitler ao
cargo de chanceler.

Hoje os príncipes e seus sectários na nobreza per-


sistem sendo os maiores proprietários de terras na
Alemanha. Três mil aristocratas possuem 2.630.000 de
hectares de terrenos lavrados e aráveis. Em contrapar-
tida, 3.000.000 de famílias de pequenos fazendeiros

32
GEORGE SELDES
— 60% de todas aquelas que se ocupam unicamente de
agricultura — possuem, em conjunto, apenas 1.500.000
hectares. 0,15% dos proprietários possuidores de
5.000 hectares possuem juntos 10.000.000 de hectares
ou quase 40% de toda a terra cultivada. [...] 412
Junkers possuem o mesmo em terras que 1.000.000 de
camponeses (Darré admitiu isso).14

Os representantes do Reichstag, em seus uniformes da


S. S., da S. A. e do exército, ergueram as mãos e
saudaram Heil por muitos minutos, como Hitler ordenou,
quando a guerra começou em setembro de 1939: ‘ninguém
fará dinheiro com esta guerra’. Uma mentira a mais ou
a menos não faz diferença para Hitler. O fato é: os
lucros dos 10.000 alemães no topo atingiram proporções
astronômicas com esta guerra. Para detectar tais
lucros, porém, é preciso saber ler nas entrelinhas
dos relatórios empresariais. [...] A indústria alemã
declarou ‘entre meio e um bilhão de marcos’ acima
da quantia habitual para reservas, etc., durante o
período imediatamente anterior ao início da guerra.
Este é um caso evidente de encobrimento de lucros.
[...]

Exatamente 24 horas antes de os exércitos de Hitler


atacarem a União Soviética, os jornais nazistas pu-
blicaram um decreto cuja intenção era pôr à prova
o caráter socialista do Terceiro Reich, incitando
soldados alemães a combaterem a ‘conspiração mun-
dial bolchevique-plutocrática’. Esse decreto exigiu
um pagamento compulsório destinado a dividendos do
Estado que excediam a 6%. Como por um passe de mági-
ca, as agências de ações imediatamente começaram a
aumentar seu capital. Elas não tiveram de reivindicar
créditos bancários, apenas converter seus lucros

14 Possivelmente Erich Darré (1902-1946), funcionário da imprensa ligado


à S. S. Dirigiu duas importantes casas editoriais nazistas: a Reichsnährstand
Verlags GmbH de Berlim e a Blut und Boden Verlag GmbH de Goslar.

33
Capítulo 2

acobertados, suas reservas secretas e explícitas, em


capital adicional. Assim, os dividendos diminuíram
em porcentagem, embora permanecessem os mesmos em
termos de lucros reais. Em maio de 1942, 883 socie-
dades de ações já haviam aumentado seu capital de
4.900.000.000 para 7.800.000.000 de marcos ao fazer
uso dos próprios lucros encobertos. [...] O barão
von Thyssen-Bornemisza, irmão mais velho de Fritz
Thyssen, [...] aumentou o capital de uma de suas
companhias, a düsseldorfer press und WalzWerk, três vezes
em comparação à quantia anterior. Assim, quando paga
5% de dividendos, eles correspondem então a 15% em
dinheiro vivo.”

Outro panfleto que expõe os lucros no nazismo é The Eco-


nomics of Barbarism de J. Kuczynski e M. Witt, que após mostrarem
como os alemães, mediante violência e meios ilícitos, tomaram
as riquezas da Europa ocupada, chegam à conclusão de que “o
continente europeu nas mãos do monopólio alemão significa o
fim dos Estados Unidos como um grande poder econômico. É o
primeiro passo em direção à escravização das Américas”.

O plano nazista, após tomar toda a Europa, era usar o


capital de monopólio para reduzir importações permanentemente,
aumentando o volume de exportações baratas com rapidez. O
monopólio alemão excluiria bens americanos de todos os mercados,
exceto das duas [outras] Américas em um primeiro momento.
Mas então adentraria os mercados sul-americanos e da América
Central como um competidor formidável e, eventualmente, com
auxílio do Japão, excluiria os EUA e a Inglaterra dos mercados
asiáticos e do Império Britânico. Tudo isso, é claro, baseado em
uma eventual vitória da Internacional Fascista.

Os três princípios da estratégia econômica fascista, de acordo


com esses autores, são:

1. Subjugar economicamente uma nação conquistada é es-


sencial para o controle de sua indústria pesada. O primeiro

34
GEORGE SELDES
princípio da estratégia econômica nazista: mantenha intactas,
aperfeiçoe e, acima de tudo, tome para si as indústrias pesadas.

2. A economia fascista se centra na produção de guerra. Uma


vez que não tem interesse no bem-estar das multidões de pessoas
e prefere diminuir os salários dos trabalhadores e agricultores,
atrofiando seu padrão de vida; os bens de consumo popular são
de importância secundária. Já que todos os grandes industria-
listas estão ligados ao fascismo, é uma diretriz deste conferir aos
produtores de bens de consumo monopólio por toda a Europa.
Há, portanto, uma tendência em direção à descentralização
nas indústrias pesadas, com centralização, na Alemanha, da
indústria de bens de consumo. O princípio nazista é: destrua
as indústrias de bens de consumo fora da Alemanha.

3. O terceiro princípio é aumentar os números de milhões que


dependem da agricultura com um acréscimo correspondente
de títulos nas mãos de grandes proprietários de terras. Com
isso, reembolsa-se os Junkers que financiaram Hitler, provendo
materiais para a indústria química e lucros para a mesma na
venda de fertilizantes artificiais, além de levar adiante a política
de plena independência ou autarquia.

Esses princípios de barbarismo, concluem os autores, caso


fossem levados a cabo, colocariam “a estrutura técnica e econômica
de certas partes da Europa cem ou mais anos no passado, ao passo
que retardariam a economia em demais partes do continente”.

O panfleto, escrito antes de os EUA terem sido atacados


pelo Japão, alerta nosso país para o fato de que o fascismo é uma
doença epidêmica, e o de que não podemos nos esconder dele.

Até onde este autor sabe, a única publicação de qualquer


natureza — seja livro, panfleto, artigo de jornal, declaração no
rádio, etc. — que mostra a relação entre o Grande Capital na
América e o sistema fascista internacional encontra-se nas obras
do Prof. Robert A. Brady. Um estudante sério do fascismo deve
ler ambos os livros listados [na bibliografia] abaixo.

35
Capítulo 2

A relação entre o sistema do Grande Capital e o partido fascista


em si se deixa demonstrar com mais clareza no que aconteceu
na Itália do que em qualquer outro lugar. Olhemos para o outro
lado dos Alpes.

Bibliografia

Fritz Thyssen. I Paid Hitler. Farrar & Rinehart, 1941. [Em portu-
guês: Eu financiei Hitler, 1942, traduzido por Erico Verissimo;
Eu paguei a Hitler, 1945, traduzido por Carlos Ferrão].

Week-End Review, London, 5 e 12 de agosto de 1933.

Fabian Society, London, Tract Series No. 254, p. 5.

Albert Norden. The Thugs of Europe. New York: German American


League for Culture, 1942.

J. Kucyznski; M. Witt. The Economics of Barbarism. NY: Interna-


tional Publishers, 1942.

Robert A. Brady. The Spirit and Structure of German Fascism.


NY: Viking Press, 1937; Business as a System of Power. NY:
Columbia University Press, 1943.

Paul M. Sweezey. The Theory of Capitalist Development. Oxford


University Press, 1943.

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