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”Pecados e virtudes no mundo contemporâneo”: palestra com os

jovens.
Os 7 pecados capitais

Os sete pecados capitais são os principais erros ou vícios que dão origem às diversas
acções pecaminosas cometidas pelas pessoas. Em outras palavras, pode-se dizer que são a raiz
dos pecados, os "líderes" das más acções e dos maus pensamentos.

A origem dos pecados capitais ( Contextualização)

A origem dos sete pecados está numa lista escrita pelo monge cristão Evágrio Pôntico
(345-399 d.C.) a fim de enumerar os principais maus pensamentos que atrapalham uma rotina de
práticas religiosas. Em vez de sete, a lista era composta por oito pecados. Além dos actualmente
conhecidos, havia a tristeza. Não havia a inveja, mas a vanglória (vaidade).

Mais tarde, a lista foi traduzida para o latim e reescrita pelo Papa Gregório I (540-604
d.C.). Ele excluiu a preguiça, adicionou a inveja e elegeu a soberba/orgulho como o pecado
principal.

No século XIII, o frei Tomás de Aquino (1225-1274) recuperou a lista, incluindo outra
vez a preguiça no lugar da tristeza. Os sete pecados, tais como conhecemos hoje, remontam à
lista de Tomás de Aquino.

Apesar de estarem relacionados à temática bíblica, os sete pecados capitais não são assim
denominados nem listados na Bíblia. Foram criados posteriormente pela Igreja Católica.

Questão 1: Mas qual seria a explicação religiosa para a origem dos pecados na vida das
pessoas?

Resposta: Em Marcos 7:21-23, há uma passagem que lança luz sobre essa questão: pois do
interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos,
os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a
calúnia, a arrogância e a insensatez. Todos esses males vêm de dentro e tornam o homem
impuro. Marcos 7:21-23

Os sete pecados são a soberba (orgulho), a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula e a
preguiça.
Pecados e virtudes no mundo contemporâneo-Psicólogo Patrício José
1. Soberba ou orgulho

A soberba/orgulho é definida como orgulho excessivo. É a tendência de se considerar


melhor, pensar e agir como se estivesse acima de tudo e de todos do que as outras pessoas. O
oposto da soberba é a humildade.

2. Avareza

A avareza, também chamada de ganância, é o apego excessivo aos bens materiais e ao


dinheiro. A pessoa avarenta é mesquinha, isto é, não gosta de compartilhar o que tem e faz de
tudo para ter sempre mais. A avareza é o oposto da generosidade.

3. Inveja

A inveja é a tristeza pelo bem de outra pessoa. O invejoso é aquele que se sente mal pelas
conquistas alheias, e é incapaz de ficar feliz pelos outros, como se a victória da outra pessoa
representasse uma perda pessoal. O oposto da inveja é a caridade, o desapego e o altruísmo.

4. Ira

Ira, raiva ou fúria é uma manifestação intensa de indignação que pode levar a agressões
verbais ou físicas. O oposto da ira é a paciência.

5. Luxúria

A luxúria, lascívia ou libertinagem é o pecado associado aos desejos da carne. Esse


pecado tem a ver com a busca excessiva do prazer sexual. O oposto da luxúria é a pureza.

6. Gula

A gula é o pecado associado ao desejo de comer e beber de maneira exagerada, para


além das necessidades. Esse pecado tem a ver com a perda de controlo em relação ao próprio
corpo. O oposto da gula é a moderação.

7. Preguiça

A preguiça é a falta de vontade ou de interesse em actividades que exijam algum esforço,


seja físico ou intelectual. Ela pode ser definida como a falta de acção, a ausência de ânimo para
o trabalho e outras tarefas do dia-a-dia. O oposto da preguiça é o esforço, a força de vontade, a
acção.

Questão2: Você já pensou como isso tem se transformado?

Questão3: Como ao longo do tempo, pecados e vícios foram sendo ressignificados/


ganhando novos significados?

Pecados e virtudes no mundo contemporâneo-Psicólogo Patrício José


Fundamentação

“O orgulho é a fonte de todas as fraquezas, por que é a fonte de todos os vícios.” S.Agostinho

Hoje, a vaidade parece estar a cada dia mais activa na sociedade, o individualismo passou
a ser meta, valor, fortemente estimulado. Aquele que já foi visto como o maior e o primeiro dos
pecados capitais por seus atributos maléficos – o orgulho – hoje virou virtude disfarçada e
rebaptizada de auto-estima, a vaidade é agora “amor-próprio”. (Leandro karnal).

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman declara que vivemos em um tempo que escorre
pelas mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir. Não há nada tão intenso que consiga
permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo é transitório. Não há a observação
pausada daquilo que experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar,
comprar e comparar…(Hoje, o medo da exposição foi abafado pela alegria de ser notado).

Comentário….

Em tempos de Facebook e WhatsApp não há desagrados, se não gosto de uma declaração


ou um pensamento, apago, desconecto, bloqueio. Perde-se a profundidade das relações; perde-se
a conversa que possibilita a harmonia e também o destoar (). Nas relações virtuais não existem
discussões que terminem em abraços vivos, as discussões são mudas, distantes. As relações
começam ou terminam sem contacto algum. Analisamos o outro por suas fotos e frases de efeito.
Hoje viver é representar…comentário pessoal

A vida é vivida para os outros, e o grande problema do mundo hoje, é a comparação.


Ninguém é tão pobre que não tenha onde se consolar, sempre há alguém mais pobre, mas feio do
que eu, sempre há alguém mais burro, mais pobre, mais infeliz. E para nosso desgosto é que
sempre há alguém acima de nós, mais bonito, mais inteligente e aparentemente mais feliz. A
vaidade nos joga a compararmo-nos com os de baixo e a inveja nos joga a compararmo-nos com
os de cima, diz Leandro Karnal.

Hoje eu prefiro tudo menos não ser visto, porque viver hoje é ser visto, se eu não
fotografar o que eu como, onde fui, então eu não fui, ver é viver e ser visto é a certeza de ter
vivido. Nós não concertamos mais as coisas, nós não concertamos mais a relações humanas, nos
trocamos, e ao trocarmos uma coisa pela outras ou pessoas que amamos por outras, vamos
substituindo a dor do desgaste pela vaidade da novidade. Ao trocar alguém creio imediatamente
que me torno alguém mais interessante e, não percebo que aquele espelho continua sendo o
drama da minha vaidade, que o que não tolero na pessoa anterior é que ela me mostrou o quanto
eu estou decaindo, envelhecendo ou o quanto sou desinteressante e, na nova pessoa eu exploro o
quanto quero ser interessante, instigaste e assim por diante.

Hoje não compartilhamos mais a dor, a tristeza e o fracasso, inundamos nossos status
com felicidades, sorrisos e uma vida linda. É fascinante que o mundo hoje tenha eliminado a

Pecados e virtudes no mundo contemporâneo-Psicólogo Patrício José


humildade como virtude, é fascinante que hoje aceitamos todo e qualquer tipo de elogio porque
dentro de nos há um demónio esperando por isso, o demónio da soberba, o demónio da vaidade,
aquele que acredita no que não pode ser acreditado, como Lúcifer um dia acreditou que podia
ser iguala Deus, mesmo sabendo que um arcanjo criado jamais poderia ser igual a Deus.

A única maneira de eu parar de ser vaidoso é parar de me comparar com os outros ou


apenas pensar em mim…

A avareza

“A avareza é um tirano bem cruel; manda ajuntar e proíbe o uso daquilo que se junta; visita o
desejo e interdiz o gozo” Plutarco

Na tradição judaico-cristã, a avareza foi considerada um dos sete pecados capitais por sua
desconfiança em relação à vontade divina, além de ser contrária à prática da caridade.

Hoje vivemos na sociedade de consumo, o dinheiro é a fonte da felicidade no mundo


contemporâneo.

As pessoas seguem a correnteza, obedecendo às suas rotinas diárias e antecipadamente


resignadas diante da impossibilidade de mudá-la, e acima de tudo convencidas da irrelevância e
ineficácia de suas acções ou de sua recusa em agir. (Zygmunt Bauman).

A inveja

“A inveja dirige todo o nosso olhar para o que o outro tem, o que o outro faz, o que o
outro é, com a comparação nos concentramos sempre no outro e não em nós mesmos, por isso, a
inveja revela a incapacidade de reconhecer o que falta em nós e esse sentimento pode atingir um
tal grau de intensidade que as consequências podem ser imprevisíveis”.

Na Bíblia a inveja foi tratada em parábolas como as de Caim e Abel e a do filho pródigo;
na literatura ela é o tema de grandes tragédias como othelo de sheakspeare. A inveja nos coloca
em constante comparação com os outros que ninguém escuta ninguém, se um diz, estou casado e
o outro diz que também está cansado, se um diz que hoje acordou as 6h o outro responde: eu
acordei as 4h. Se um diz estou com dor de cabeça, o outro responde eu estou com tumor…

Hoje o amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angústia. A
angústia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem
permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos.

A inveja pode ser a porta de entrada para um corajoso mergulho em nós mesmos, para
conhecermos quem somos e o que buscamos.

Pecados e virtudes no mundo contemporâneo-Psicólogo Patrício José


A ira

A ira é vista uma loucura breve; por não se controlar a si mesma, perde a compostura,
esquece as suas obrigações, persegue os seus intentos de forma obstinada e ansiosa, recusa os
conselhos da razão… incapaz de discernir o que é justo e verdadeiro, semelhante às ruínas que
se abatem sobre quem as derruba.”

Nas reflexões de Séneca, filósofo da antiguidade, a ira transforma o ser em fera, portanto
segundo ele “o melhor remédio para a ira é fazer uma pausa”, “ela desaparece se tiver que
esperar”.

 Mas quem nunca se irritou?


 E quantas vezes jogamos a culpa no outro por nossa ira?
 A quem pertence a minha paz, a mim ou ao outro?

Estamos sempre dizendo: o outro me deixou com raiva, alguma coisa me irritou…. a culpa é
sempre de algo que está fora de nós, mas na verdade a ira é algo que brota dentro de nós.

A luxúria

A luxúria, o pecado da carne, ela não traz satisfação e plenitude, ela escraviza a alma e
conduz ao aniquilamento moral ou, nas palavras de Marquês, o escritor libertino: “a paixão da
luxúria quer ser servida… ela exige, ela tiraniza”.

 Sendo luxúria essa maldição, nos resta ainda a esperança do amor, ou seria esta uma
ilusão ainda maior?
 A alternativa seria então a castidade, este ideal tão inalcançável? Entre a luxúria maldita e
a castidade impossível, haverá saída para o nosso desejo?

A gula

Na verdade, quase todos os pecados estão relacionados à falta de moderação. No caso da


gula, trata-se do consumo em excesso de comida e bebida, ao qual se atribuem males físicos e
espirituais, já que pode levar a outros pecados, como a preguiça. A gula é uma manifestação da
busca da felicidade em coisas materiais.

A gula, esse desejo insaciável de querer mais e mais, o pecado que a igreja transformou em
capital na idade média, já foi visto de diversas maneiras. Hoje vivemos um tempo de
contradições: de um lado o culto e o cuidado com o corpo, a ciência, a nutrição trazendo regras
de como se deve comer… e do outro lado, o estímulo gastronómico nas competições do tipo
“quem come mais” … afinal, onde cabe a gula no mundo contemporâneo?

Pecados e virtudes no mundo contemporâneo-Psicólogo Patrício José


Preguiça

Chegou a hora de entender a preguiça: Por que a preguiça é pecado preguiça?

Por que é vergonhosa? Se a preguiça ofende a moral ocidental apoiada na produtividade,


no fazer, preguiça também é fruto da necessidade humana, de entorpecimento diante da ferida da
existência, diante da falta de sentido da vida.

O pecado da preguiça tem a ver com a recusa voluntária ao dever do trabalho (da busca
do pão de cada dia), mas também se relaciona com a falta de ânimo nas práticas de devoção e
na busca da virtude.

 Dentre as passagens bíblicas que falam sobre esse pecado, destacam-se as seguintes: O
preguiçoso deseja e nada tem, mas o desejo dos que se esforçam será atendido.
Provérbios 13:4
 O preguiçoso morre de tanto desejar e de nunca pôr as mãos no trabalho. Provérbios
21:25

Considerações finais

A vida inteira é agora uma longa luta, e provavelmente impossível de vencer, contra o
impacto potencialmente incapacitante dos medos e contra os perigos, genuínos ou supostos, que
nos tornam temerosos.

Desde modo faço as seguintes questões de reflexão pessoal:

1. Quem realmente sou quando o outro não está vendo?


2. O que eu quero?
3. Onde eu quero chegar?
4. Com quem quero chegar?
5. Quais são os meus objectivos de vida?

Pecados e virtudes no mundo contemporâneo-Psicólogo Patrício José

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