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1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca


Roberval Bulgarelli
Consultor Técnico – PETROBRAS
Coordenador do Subcomitê SC-31 do COBEI – Atmosferas explosivas

como fontes de ignição dos gases inflamáveis baseados em


Este artigo aborda o histórico de pesquisa e metano, que existem nestes locais, emanados pelo carvão.
desenvolvimento do tipo de proteção por segurança A este tipo específico de gás inflamável que emana do
intrínseca, cujos fundamentos foram estabelecidos como carvão é dado o nome de grisu (firedamp, em inglês).
decorrência de estudos devido a grandes explosões
ocorridas em minas subterrâneas de carvão, no início do 2 Perspectivas históricas de segurança em
século passado, no Reino Unido. atmosferas explosivas

Este artigo aborda também os principais conceitos e Os primeiros locais considerados como áreas de risco a
princípios deste importante tipo de proteção para serem reconhecidos foram as primeiras minas de carvão,
atmosferas explosivas, bem como a sua perspectiva de onde havia a presença de dois fatores de risco: o gás
desenvolvimento futuro, em função de aplicação de novas inflamável composto basicamente de metano, que se
tecnologias e conceitos de circuitos baseados em desprende do carvão em rocha, e da poeira combustível
microprocessadores e circuitos digitais para proteção de proveniente dos trabalhos de escavação e transporte do
equipamentos instalados em áreas classificadas contendo carvão desde o interior da mina até a superfície.
gases inflamáveis e poeiras combustíveis.
A primeira solução proposta para estes problemas foi a
1 Introdução indicação de próprios mineiros para causar a ignição dos
gases explosivos presentes nestas minas, os quais
A proteção de equipamentos e circuitos por “segurança utilizavam um vara muito longa, com uma mecha em
intrínseca” tem, por objetivo fundamental, que seja evitada chama na extremidade. Em função dos elevados riscos
a possibilidade de ocorrência de uma centelha que seja envolvidos neste tipo de “trabalho”, a lista de
capaz de provocar a ignição de uma atmosfera explosiva trabalhadores dispostos a executar esta atividade foi
que esteja presente. rapidamente zerada.

A segurança intrínseca é aplicável a circuitos e A partir de então começaram a ser recrutados prisioneiros
equipamentos que possam operar com baixos níveis de de penitenciárias locais para a execução desta tarefa. Este
potência, tensão e corrente, tais como os circuitos de tipo de solução, entretanto, também não se mostrou ser
instrumentação e automação, de forma que a energia efetivo, uma vez que os prisioneiros “voluntários” também
presente no circuito possa ser limitada a valores da ordem passaram a recusar a executar de tal tipo de serviço, que
de alguns poucos Watts. frequentemente era letal.

Este tipo de proteção “Ex”, cujos princípios teóricos de


segurança e limitação de energia elétrica remontam a 1913,
foi desenvolvido a partir de estudos que foram iniciados
como decorrência de explosões em minas de carvão,
quando os primeiros circuitos elétricos começaram a ser
introduzidos nestas instalações.

Naquela época, por ocasião da revolução industrial, a


demanda por carvão era muito elevada, por representar o
combustível necessário para a alimentação das caldeiras de
geração de vapor para acionamento das máquinas de
manufatura e os navios a vapor. A demanda por vapor
gerado por caldeiras alimentadas por carvão era enorme
antes da I Guerra Mundial, requerida pelos navios de
guerra e cruzadores da Marinha do Reino Unido e países
aliados ao Império Britânico. A extração de carvão no
Reino Unido atingiu o seu pico em 1914, e os proprietários
e gerentes das minas de carvão prosperavam.

No entanto, de forma paralela, uma grande quantidade de Mineiro ou presidiário designado para provocar a ignição de bolsões de
gases inflamáveis presentes nos túneis subterrâneos de minas de carvão
acidentes, explosões e mortes foram sendo registrados por
volta desta data.
Eventualmente pequenas mulas eram também “alistadas”
para esta tarefa, sendo encharcados com água, para a sua
A introdução de circuitos elétricos nestas minas de carvão,
“proteção contra explosão” e equipadas com selas
onde existe a presença de gases inflamáveis, por falta de
especiais, nas quais eram fixadas as velas acesas. Após
conhecimentos técnicos e de percepção do risco, serviu
esta “preparação”, estes animais eram enviados para
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percorrer os túneis subterrâneos das minas, na esperança


de causar a ignição dos bolsões de gases explosivos
eventualmente existentes.

Lâmpada de segurança de Davy, alimentada por querosene e


equipada com uma fina tela de metal que envolvia toda a região do pavio,
Mulas utilizadas para diversos tipos de trabalhos em minas subterrâneas evitando a propagação da chama para o seu exterior
de carvão, inclusive para provocar a explosão dos gases inflamáveis
presentes no tuneis subterrâneos
3 O histórico do gerenciamento do ambiente e de
segurança em minas subterrâneas de carvão
Em 1815, o químico Humphrey Davy, inventor do
processo de eletrólise, contemporaneamente com o Sr.
Nos tempos do império romano, homens trabalhando em
George Stephenson, inventou um tipo de lanterna de
minas subterrâneas já conviviam com ambientes perigosos,
segurança, denominada de Lâmpada de Davy, que
devido à presença de gases nocivos, o que originou os
consistia de uma lanterna com querosene equipada com
primeiros desenvolvimentos de técnicas de monitoração e
uma fina tela metálica que circundava toda a área da
controle. Relatórios datados do Século I DC indicavam
chama do pavio. A tela metálica era fina o bastante para
que “gases provenientes de alumínio ou de enxofre, que
permitir que alguma iluminação fosse emitida para o meio
eram perigosos para os escavadores” às vezes estavam
externo, mas não permitia que a chama se propagasse além
presentes nas minas no subsolo. Estes gases eram
da tela e que eventualmente entrasse em contado com
detectados pela observação do comportamento de cães ou
gases inflamáveis presentes nas minas.
de velas acesas, quando desciam até os túneis
subterrâneos. Os gases eram removidos pelo
Apesar deste tipo de lâmpada de segurança elevar o nível
direcionamento de uma corrente de ar para o local onde
de proteção no início de sua utilização, a quantidade de
estavam os trabalhadores. Esta foi uma das primeiras
acidentes se elevou posteriormente, em função da baixa
aplicações de um sistema rústico de ventilação.
manutenção quer era dada às finas tela de metal, que se
corriam e perdiam a sua função de proteção. No entanto, a
No Reino Unido, as primeiras minas de carvão eram
falsa sensação de segurança fazia com que os mineiros
formadas por poços com escavações rasas, expostas à
tivessem uma menor percepção do risco e se aventurassem
superfície. Às vezes o ar nestes locais se tornava tão
em profundidades ainda maiores. Nas figuras a seguir são
estagnado que os homens não conseguiam respirar e as
mostrados exemplos de uma lâmpada de Davy.
velas utilizadas para iluminação do local não eram capazes
de manter a chama acesa. Tais condições eram atribuídas à
presença de um gás denominado na época de “vapor
negro”, em função de sua emanação em locais contendo
carvão. Atualmente é conhecido que este gás é não
combustível é formado basicamente por dióxido de
carbono, nitrogênio e vapor d’água.

No começo do Século XVII, com o início da revolução


industrial e com a elevação da demanda por máquinas
acionadas a vapor, houve também uma elevação da
demanda por carvão, o que resultou na construção de
minas de porte relativamente grande. Em alguns locais,
dois túneis eram escavados, interligados no subsolo pelos
trabalhadores. Este arranjo era capaz de produzir um fluxo
espontâneo de corrente de ar. Isto reduzia a possibilidade
do aparecimento daquele “vapor negro”.

A partir da metade do Século XVII a presença de outro gás


Exemplo de documento de apresentação da lâmpadas de começou a ser notada em algumas minas mais profundas.
segurança de Davy, introduzida em 1815. Além de evitar que as velas permaneciam acesas, este
“novo tipo de gás”, até então não conhecido, fazia também
com que as chamas fossem maiores Este tipo de gás foi
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denominado de firedamp (ou grisu). O grisu é um gás utilizados sensores de presença de gás que atuam com a
derivado do metano que emana do carvão existente em presença de baixas concentrações de gases. No entanto,
minas subterrâneas. Às vezes, ocorriam violentas naquela época, nenhum destes tipos de dispositivos era
explosões, levando a grandes devastações no subsolo e a existente.
grandes perdas de vidas.
Um dos métodos mais utilizados pelos mineiros para
Uma característica dos riscos dos primeiros “vapores alertar sobre a presença de gases nocivos nas minas
negros” era que se a sua presença levasse a alguma subterrâneas era levar um canário em uma gaiola para o
fatalidade por asfixia, estes casos tendiam a serem poucos, subsolo. Este pequeno pássaro foi, na verdade, um dos
em termos de quantidades de ocorrências. Além disto, primeiros dispositivos de alarme utilizado. Sendo de
praticamente não havia danos estruturais causados às pequeno porte, eles logo faleciam devido aos efeitos da
minas. Consequentemente, estes eventos eram raramente presença de qualquer daqueles gases tóxicos ou
percebidos além das vizinhanças onde a mina se inflamáveis. Enquanto os canários estivessem vivos, então
encontrava. Por outro lado, as explosões decorrentes da o ar era ainda adequado para respirar. Se o pássaro deixava
ignição de grisu, eram muito diferentes. de piar, ou de se mover, ou mesmo morria, então era o
momento para abandonar a mina o mais rapidamente
No início do Século XVIII, os efeitos das devastações possível.
provocadas por estas explosões foram de grande impacto
na comunidade e suficientemente noticiados pela
imprensa, em função de seu acontecimento frequente e
com grandes repercussões. Esta mudança de rumo nos
noticiários de acidentes em minas provocados por
explosões levaram ao surgimento de uma “teoria”
amplamente considerada na época de que tais eventos
eram o único risco em uma mina subterrânea de carvão.

Somente após 1850 é que a ilusão desta “teoria” foi


demonstrada e outros riscos, tais como os
desmoronamentos mostraram estar entre as maiores causas
de perdas de vida dos trabalhadores em minas de carvão.

Independentemente do seu risco relativo em relação a


outros riscos, no final do Século XVIII as explosões de
grisu estavam matando um grande número de mineiros. Mineiro carrega canário para o interior da mina de carvão, como forma de
Envolvidos com estes fatos, alguns proprietários de minas identificar a presença de gases inflamáveis
de carvão simplesmente escolheram o caminho de ignorá-
los.

No entanto, alguns outros proprietários adotaram uma


postura mais proativa, iniciando de forma voluntária,
medidas de prevenção destas explosões. As medidas
iniciais envolveram a utilização de ventilação para diluição
dos gases inflamáveis com ar fresco, ou tentativas de
remoção de todas as fontes potenciais de ignição dos
trabalhos no subterrâneo. Estas remoções de fontes de
ignição resultaram inicialmente na substituição de velas
utilizadas com chamas expostas, para iluminação dos
locais dos trabalhos por outros tipos de lanternas, com
alternativas de fabricação mais seguras.

Nos primórdios da mineração subterrânea, era uma


Exemplo de canário utilizado por um mineiro como sensor da presença de
atividade considerada de alto risco trabalhar como um gases em minas subterrâneas
mineiro de carvão. Havia os riscos de desmoronamentos,
mas o maior risco era, sem dúvida, as explosões. Estas Um dos primeiros métodos de prevenção do acúmulo de
eram causadas pela liberação de gases inflamáveis durante gases nas minas de carvão foi a introdução de sistemas de
o processo de mineração, tanto por perfuração ou por ventilação com ar fresco, de forma a diluir a concentração
picaretas utilizadas para quebrar o carvão do seu veio. Os do gás inflamável para um valor abaixo do seu limite
dois principais gases presentes eram o monóxido de inferior de explosividade. A princípio, crianças com idade
carbono e mais importante, o metano, que era altamente de cerca de 10 anos eram contratadas para ficar
explosivo. movimentando continuamente com as mãos, pequenas
portinholas que faziam com que o ar fosse movimentado
Estes dois gases são incolores e inodoros, de forma que para o interior da mina. Depoimentos destas crianças na
não havia um modo de conhecer se eles estavam presentes. época indicavam que este tipo de serviço era muito
Nos dias atuais é disponível uma grande quantidade de monótono e que, por trabalharem por longos períodos no
minas de carvão a céu aberto e subterrâneas, onde são subsolo, elas não tinham noção se era dia ou noite.
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Comitê Departamental sobre a utilização de eletricidade


Posteriormente, a ventilação mecânica foi introduzida nas em minas, do Reino Unido, em 1905.
minas de carvão, a qual dispersava o grisu a um ponto de
concentração suficientemente baixo, de forma que não A aprovação oficial deste tipo de equipamento foi sugerida
houvesse gás inflamável remanescente suficiente para em 1909/1910 para este Comitê, mas foi rejeitada. Como
causar uma explosão. consequência, alguns fabricantes elaboraram seus próprios
laboratórios de testes, porém a demanda por um organismo
Apesar destas medidas iniciais de segurança e de independente de testes continuou.
prevenção de explosão de grisu, estes acidentes
continuavam a matar muitos mineiros. Em um acidente de Na mesma época campainhas de baixa tensão foram
grande proporção ocorrido em 1812 na mina de carvão utilizadas para avisar ao pessoal de superfície que os
Felling, próxima à localidade de Gateshead, no nordeste do carrinhos já estavam cheios de carvão no subterrâneo, os
Reino Unido, noventa e dois homens e crianças morreram. quais podiam iniciar a operação de puxamento por
Uma ilustre pessoa da região, o reverendo Hodgson, ficou guindastes. Uma vez que estas campainhas operavam a
tão chocado com os devastadores resultados desta uma tensão de cerca de 10 Vcc, era assumido, naquela
explosão que publicou um artigo descrevendo as época, que consistiam em equipamentos seguros.
circunstâncias pré-existentes que levaram ao acidente. Esta Entretanto, em 1912 e 1913, duas grandes explosões em
publicação, segundo ele, foi feita “de forma contrária dos minas de carvão foram originadas por estas campainhas de
desejos dos proprietários da mina”. sinalização.

Quando entrou em contato com os detalhes desta De acordo com o regulamento de segurança em minas de
publicação, um advogado de Londres chamado Wilkinson carvão existente no Reino Unido em 1905, era permitida a
sugeriu que uma sociedade específica para tratar deste tipo instalação nos túneis de transporte subterrâneo de circuitos
de assunto fosse formada, com o objetivo de evitar que constituídos por fios nus para esta função de sinalização
qualquer acidente similar pudesse ocorrer no futuro. sonora na superfície. A instalação deste tipo de circuito
elétrico era permitida desde que a tensão aplicada não
Apesar do aumento da percepção dos riscos associados fosse superior a 15 V em qualquer outro circuito. Uma
com o ambiente das minas de carvão, mesmo durante as isenção no Regulamento sobre minas subterrâneas de
primeiras décadas do Século XX, alguns proprietários de carvão de 1911 permitiu que esta prática continuasse para
minas de carvão operavam suas minas com um completo instalações que estivessem em utilização antes de
desrespeito com a segurança de seus empregados. 01/06/1911.

Mesmo a presença de uma legislação inicial que havia sido Com um projeto mais detalhado destas campainhas e
elaborada não era suficiente para fazer qualquer diferença. circuitos, foi verificado na época que estes componentes
Os requisitos legais eram completamente ignorados. podiam ser considerados seguros com a utilização de
Consequentemente, o risco potencial de ocorrência de técnicas de “segurança intrínseca”, iniciando a utilização
grandes desastres era iminente, como ficou evidente no destes equipamentos elétricos projetados para locais
pior acidente na história britânica da mineração de carvão. contendo atmosferas explosivas.

Esta explosão ocorreu na mina de Senghenydd, em South O sistema de sinalização, composto por um conjunto de
Wales, no sudoeste do Reino Unido, às 8:00 h do dia 14 de baterias e uma campainha, era rusticamente acionado por
outubro de 1913. Nesta grande explosão, 439 pessoas meio de um curto circuito, através do toque da pá metálica
foram mortas, dentre elas 63 crianças e 162 jovens, por de cavar o carvão, em dois condutores nus que eram
volta de 20 anos. Naquela manhã cerca de 950 pessoas instalados ao longo do trajeto de galeria da mina, desde a
estavam trabalhando nos túneis subterrâneos daquela mina sua entrada na superfície até o local da escavação
e devido ao devastador efeito das explosões do metano e subterrânea. Este circuito energizava uma campainha que
da poeira de carvão existente no local, uma grande era instalada na entrada da mina, que fazia soar o sinal,
quantidade de pessoas foi morta mesmo antes de saber o indicando o puxamento da caçamba de carvão. A Figura
que estava ocorrendo. apresentada a seguir representa o sistema de sinalização
sonoro utilizado na época.
O inquérito que foi elaborado revelou que antes do
acidente ocorrer, houve cerca de catorze não Área
classificada
conformidades em relação à legislação existente na época, (Grupo I)
muitas das quais tinham por objetivo justamente evitar tal
tipo de acidente e explosão.

4 O início de utilização da eletricidade em minas de


carvão
Área
Testes com gases inflamáveis para verificar se um
segura
invólucro metálico de um equipamento era efetivo para
evitar a propagação de uma explosão em seu interior, em
uma condição que pudesse evitar a explosão de uma Sistema de sinalização sonora utilizado em 1913, na Inglaterra, em minas
atmosfera explosiva ao seu redor foi sugerida para um subterrâneas de carvão, para aviso do pessoal da superfície que os vagões
de transporte de carvão estavam carregados e prontos para serem puxados
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utilizada em um circuito de sinalização sonora podia ter


atuado como uma fonte de ignição.

Esta comissão recebeu também estudos feitos pelo Prof.


Thornton, do Colégio Armstrong, de Newcastle,
mostrando que tais circuitos podiam ser considerados
seguros com a inclusão de modificações relativamente
simples em seus componentes.

Aquela comissão de investigação debateu em detalhes se a


causa da explosão havia sido originada pelo sistema de
sinalização sonoro que havia sido instalado para avisar o
pessoal da superfície que a caçamba de transporte
contendo carvão estava pronta para ser levada para cima.

Estes novos conceitos chamaram a atenção para o conceito


Sistema de alarme com campainha, utilizado em minas subterrâneas de
de circuitos elétricos intrinsecamente seguros. Por este
carvão, por volta de 1910, utilizando sistema elétrico então considerado motivo é considerado que o tipo de proteção de
“seguro”, alimentado com bateria de 10 V equipamentos por segurança intrínseca tenha surgido neste
ano de 1913, completando o seu primeiro centenário de
Este sistema elétrico foi considerado seguro, a princípio, desenvolvimento neste ano de 2013.
em função dos baixos valores de tensão e de corrente que
estavam presentes no circuito. Testes sobre a segurança destas campainhas de sinalização
sonora para utilização em minas de carvão foram
Os estudos e pesquisas que foram realizados revelaram que realizados em Eskmeals, no oeste do Reino Unido, a partir
o fator mais importante na determinação da segurança de de 1917. Estes trabalhos foram posteriormente expandidos
um circuito elétrico é a energia armazenada no circuito. para incluírem também relés e transferidos para a
Sem a utilização de um sistema apropriado de limitação, a Universidade de Sheffield em 1925.
energia indutiva armazenada na campainha e no circuito de
interligação havia produzido níveis de energia Os certificados de conformidade para sistemas
suficientemente elevados para gerar um arco elétrico, o intrinsecamente seguros ainda não eram emitidos naquela
qual foi capaz de causar a ignição da mistura explosiva época, porém registros completos dos testes de segurança e
metano/ar, causando a explosão fatal. de aceitação foram realizados e devidamente
documentados.
Os equipamentos elétricos e seus circuitos associados
tinham que ser projetados e dimensionados de forma que Em 1921, o Departamento de Minas da Universidade de
pudessem evitar a geração de arcos, centelhas ou efeitos Sheffield, no Reino Unido, iniciou pesquisas sobre
térmicos que pudessem causar a ignição da substância trabalhos com equipamentos denominados flameproof (à
inflamável, tanto em condições normais do circuito como prova de explosão), em colaboração com o SMRB - Safety
em condições de falha, como no caso de curto-circuito ou in Mines Research Board e com a Associação Britânica de
circuito interrompido. Pesquisas da Indústria Elétrica e Relacionada, mais tarde
denominada ERA - Electrical Research Association
Com base nestes requisitos de segurança o primeiro (Associação de Pesquisa Elétrica), atualmente conhecida
certificado de conformidade para sistemas de sinalização como ERA Technology Ltd. Naquele época a ERA tinha o
para minas de carvão foi então emitido. Posteriormente objetivo de preencher a reconhecida lacuna que existia na
foram realizados estudos envolvendo outros dispositivos organização da indústria, por meio de fornecimento de
elétricos, incluindo a utilização de circuitos em corrente pesquisa e inovação tecnológica.
alternada e diversas outras concentrações da mistura
explosiva metano/ar. Em 1922 a Universidade de Sheffield concordou em
iniciar a realização de testes comerciais de equipamentos
O conceito de segurança intrínseca foi posteriormente elétricos resistentes a explosões para diversos fabricantes
aplicado também às indústrias de superfície, onde individuais. O SMRB continuou os trabalhos de pesquisa
atmosferas explosivas compostas por outros tipos de sobre os detalhes de projeto, em conjunto com o ERA. O
substâncias inflamáveis, tais como o acetileno e o primeiro certificado de um equipamento à prova de
hidrogênio, são ainda mais facilmente passíveis de explosão foi emitido por aquela Universidade naquele
sofrerem ignição quando comparados ao metano presente mesmo ano. O primeiro equipamento elétrico que foi
nas minas de carvão. utilizado em minas de carvão foi devido ao advento do
motor à prova de explosão, para acionamento de
Em 14/10/1913, o maior desastre na história das minas de elevadores, ventiladores e equipamentos de mineração. Os
carvão do Reino Unido ocorreu na mina de Senghenydd. A operadores das minas observaram porém que outros
comissão de inquérito que foi instaurada para determinar equipamentos elétricos, além dos motores, podiam ser
as causas daquela explosão recebeu a contribuição de também utilizados no interior de invólucros com juntas
alguns estudos que haviam sido elaborados pelo Dr. reforçadas.
Wheeler (Químico Chefe), mostrando que uma campainha

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A Norma alemã, VDE 0165, denominada “Basic


Principles for Setting up Electrical Systems in Hazardous
Areas” (Proteção de Instalações Elétricas em Áreas
Classificadas) foi publicada em 1935, como um Guia para
a instalação de equipamentos elétricos em atmosferas
explosivas. Após a publicação desta Norma, em 1938 foi
introduzida uma mudança fundamental na abordagem
deste assunto, pela separação, em Normas distintas, dos
requisitos de instalação (VDE 0165) e dos requisitos de
equipamentos para áreas classificadas (VDE 0170 / VDE
0171).

Naquela Norma o projeto dos equipamentos para


utilização em atmosferas explosivas incluía os tipos
básicos de proteção contra explosão, tais como invólucros
à prova de explosão, imersão em óleo e segurança
aumentada. Os componentes eram projetados de forma a
serem protegidos e instalados no interior de invólucros
industriais, que eram vedados para evitar o ingresso de
água.
Aparelho de centelhamento padrão, originariamente desenvolvido a partir
de 1913 para a realização de testes em circuitos intrinsecamente seguros
Este tipo de especificação levou ao desenvolvimento de
componentes à prova de explosão instalados no interior de
invólucros e de equipamentos de segurança aumentada. Os Este tipo de teste foi idealizado em função de relatos dos
equipamentos para atmosferas explosivas projetados de sobreviventes da explosão da mina de Senghenydd terem
acordo com esta Norma eram marcados com o símbolo indicado que as baterias descarregadas do sistema de
“Ex”. campainha terem sido substituídas e conectadas à fiação
exposta do circuito de sinalização sonora, momentos antes
5 Histórico de pesquisas, desenvolvimento e da ocorrência da explosão.
normalização do tipo de proteção por segurança
intrínseca As pesquisas e investigações desenvolvidas por Wheeler e
Thornton mostraram que, apesar de baterias de baixa
Um sistema intrinsecamente seguro pode ser definido tensão não serem capazes de gerar centelhas por si
como aquele que é incapaz de liberar energia, seja na mesmas, este não era o caso quando uma campainha era
forma elétrica ou térmica, suficiente para provocar a incluída no circuito, juntamente com a fiação de
ignição de determinada mistura explosiva que possa estar interligação.
presente no local. A impossibilidade de ignição deve ser
mantida e garantida mesmo em caso de ocorrência de falha A grande cooperação de trabalhos de pesquisas realizados
ou falhas do sistema. entre o Sr. Weeler do Reino Unido e o BVS da Alemanha
provavelmente levou ao fato de que tenha sido incluída na
Em 1886, foram realizados pela Universidade Técnica de Norma VDE 0170, em sua revisão de 1926, referências à
Aachen e reconhecidos pelo Prussian Firedamp possibilidade de existência de equipamentos elétricos cujas
Commission, sobre a ignição do gás metano devido a centelhas não fossem capazes de causar uma ignição.
centelhas elétricas. Estes testes foram também realizados
pelo BVS, Organismo de Certificação da Alemanha em Em 1945 foi publicada pelo BSI (British Standards
1898. Os resultados destes testes concluíram naquela Institution), a Norma BS 1245: Intrinsically Safe Electrical
época (de forma errônea) que toda centelha elétrica era Apparatus and Circuits for Use in Explosive Atmospheres.
capaz de causar uma explosão. Nesta Norma foi pela primeira vez definido o termo
“Intrinsically Safe Apparatus” (Equipamento
Em 1912 foi publicada na Alemanha a Norma VDE 0170 - Intrinsecamente Seguro), com as duas seguintes
Basic Principles for Designing Firedamp Devices on definições:
Electrical Machines, Transformers and Equipment.
1) Aplicado a um circuito, este termo significa que
Os estudos realizados por Wheeler e Thornton a partir de qualquer centelhamento que possa ocorrer em sua
1913, decorrentes da explosão da minha de carvão de operação normal e com os componentes prescritos é
Senghenydd, levaram à construção de um dispositivo de incapaz de causar uma explosão, gás ou vapor
teste, denominado “Dispositivo Centelhador”, elaborado inflamável especificado;
para testar a capacidade de baterias em causar centelhas
capazes de gerar a ignição do grisu. 2) Aplicado ao equipamento, este termo significa que
este é de tal forma construído que quando conectado e
Na Figura indicada a seguir é mostrado um exemplo de um utilizado de acordo com as condições prescritas,
dispositivo Centelhador padrão, utilizado para ensaios de qualquer centelhamento que possa ocorrer em sua
tensão, corrente, capacitâncias e indutâncias máximas que operação normal, tanto do equipamento como do
podem ser conectadas com segurança a circuitos respectivo circuito associado, é incapaz de causar uma
intrinsecamente seguros. explosão, gás ou vapor inflamável especificado.
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No ano seguinte, em 1946, o BSI publicou a Norma Os testes envolviam um contato elétrico que era
BS 229 (Specification of Flame Proof Enclosure of mecanicamente aberto e fechado, comutando o circuito
Electrical Apparatus), com a seguinte definição do termo elétrico sob teste no interior de uma campânula de vidro, a
“involucro à prova de explosão”: Invólucro que é capaz de qual continha grisu em seu interior. O teste indicava que
suportar, sem se danificar, qualquer explosão do gás devido à baixa resistência interna, as baterias, quando
inflamável especificado, que pode ocorrer em seu interior novas, em conjunto com a campainha presente no circuito,
sob condições práticas de operação, dentro de seus limites eram capazes de fazer com que o contato elétrico
nominais (e condições previstas de sobrecarga, se produzisse uma faísca com energia o bastante para causar a
existente, associado com este caso), e que irá evitar a ignição do gás, o que não era possível com as baterias
transmissão da chama resultante de forma a causar a velhas.
ignição do gás inflamável especificado que possa estar
presente na atmosfera circunvizinha. Para equipamentos Com o desenvolvimento das pesquisas, foi verificado que
preenchidos com ar, o interstício entre as juntas das existem dois eventos que podem causar uma centelha de
superfícies e as distâncias diametrais para eixos de origem elétrica em um circuito de baixa tensão.
operação é de, no máximo, 0,020 in (0,508 mm). O
comprimento do caminho de passagem de chama deve O primeiro evento ocorre quanto dois condutores elétricos
também ser especificado. se aproximam um do outro até que a separação entre eles é
pequena o bastante para que uma descarga eletrostática
No princípio do seu desenvolvimento, o conceito da possa ocorrer. Isto pode ocorrer quando dois condutores
segurança intrínseca teve pouco impacto na área de são encostados, ou quando um condutor se solta e toca
detectores de gases e em outros instrumentos utilizados outro condutor vizinho. Este evento é denominado de falha
pelos mineiros. Um dos principais motivos para a no fechamento, porque um contato é feito pelos dois
dificuldade na aplicação deste tipo de proteção residia condutores elétricos. Uma centelha que ocorre durante
principalmente na ausência de componentes elétricos que uma falha no fechamento é denominada de centelha de
pudessem ser utilizados em circuitos de sensores de baixa fechamento.
tensão.
O segundo evento ocorre quando um curto-circuito já
A partir do início da década de 1960 esta situação mudou existente repentinamente abre, resultando em uma alta
rapidamente, com a disponibilidade cada vez maior de concentração de corrente e um grande aquecimento no
dispositivos eletrônicos semicondutores, tais como diodos ponto de contato, bem como uma descarga eletrostática na
e transistores, que eram capazes de operar com baixos separação entre os dois condutores. Este evento é
valores de tensão e corrente. Os dispositivos denominado de falha de abertura, porque um contato está
semicondutores foram utilizados a partir de então para a sendo aberto. Uma centelha que ocorre durante uma falha
fabricação de uma grande quantidade de instrumentos de abertura é denominada de centelha de abertura.
intrinsecamente seguros, incluindo medidores de metano,
especialmente desenvolvidos para utilização em minas de As pesquisas mostraram que as centelhas de abertura
carvão. podem ser consideradas como sendo a causa mais comum
das explosões. Isto é especialmente verdadeiro em
Na Figura indicada a seguir é mostrado um exemplo de um correntes na faixa de 10 A. Por esta razão, o mecanismo de
antigo medidor de metano (metanometer), fabricado com centelhamento de abertura tem sido extensivamente
componentes semicondutores, na década de 1960. pesquisado desde então, tendo sido melhor compreendido
desde o início dos anos 1960.

É importante ressaltar que a ocorrência de uma centelha


não leva necessariamente a ocorrência de uma explosão,
mesmo um ambiente altamente explosivo. De forma que
uma explosão possa ocorrer, deve haver uma energia
suficiente na centelha para causar a ignição da substância
inflamável que estiver presente.

Para melhor entendimento desta característica de


centelhamento, pode ser considerando um circuito
formado por dois fios que estejam em contato, criando um
curto-circuito, e no ponto de início de separação de seu
contato entre si. Este é o estágio inicial de uma falha de
abertura. Durante a separação, o contato entre os
condutores é grandemente reduzido, causando uma
elevação na densidade de corrente e na resistência do
circuito. A elevada densidade de potência nesta pequena
área de contato irá causar a fusão do metal e finalmente a
sua vaporização. Com a separação, a ponte criada pelo
metal fundido irá se abrir.
Metanometer, fabricado na década de 1960, contendo semicondutores,
utilizado em minas de carvão para a detecção da presença de grisu
Bulgarelli – 08/2013 Folha 7/21
1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

Neste ponto, uma centelha ainda não ocorreu; embora se a


corrente for elevada o bastante, o metal pode vaporizar de
forma que a ponte possa ainda se manter, dissipando uma
grande quantidade de energia térmica e causando a ignição
da substância inflamável sem a ocorrência da centelha,
pela ultrapassagem da temperatura de ignição da
substancia inflamável. Assumindo que isto não tenha
ocorrido, a partir do momento que a ponte entre o metal
fundido e vaporizado seja quebrada e que a condição de
curto-circuito não mais exista, a tensão entre os condutores
se eleva rapidamente e a corrente diminui.

Neste ponto, a tensão se eleva por um período típico de


100 ns, embora as características da fonte de alimentação
afete a taxa de elevação de tensão, o que, por sua vez, foi
demonstrado em 1978 que isto afeta os resultados dos
testes de segurança intrínseca. Durante este período inicial
de 100 ns, enquanto a tensão está se elevando, ocorre uma
ionização do ar entre as partes energizadas e uma centelha
pode ser formada.

Metais diferentes possuem diferentes tensões iniciais para


o centelhamento, a qual varia entre 10 V e 20 V, para os
metais que são normalmente utilizados como condutores.
Se a tensão entre os contatos exceder a tensão de
inicialização da centelha, então a centelha é gerada.

Do ponto de vista Normativo internacional, de forma a


Primeira Edição da Norma IEC 79-11 - Construction and test of
consolidar os resultados, experiências e lições aprendidas intrinsically-safe and associated apparatus publicada pela IEC em 1976
decorrentes das pesquisas realizadas principalmente no
Reino Unido (BSI) e na Alemanha (VDE), foi publicada O desenvolvimento desta Norma envolveu, em grande
pelo TC-31 da IEC, em 1976, a Norma IEC 79-11. A parte, a identificação de que metais deveriam ser utilizados
primeira edição da Norma IEC 79-11 foi publicada pelo para gerar as centelhas do teste e no desenvolvimento de
TC-31 da IEC naquele ano com o título Electrical guias práticos, baseados em informações estatísticas, sobre
apparatus for explosive gas atmospheres - Part 11: os limites de corrente e tensão para a segurança intrínseca.
Construction and test of intrinsically-safe and associated
apparatus A pesquisa científica que tem sido conduzida neste período
foi imensa, particularmente na coleta de dados para a
Algumas das principais entidades que participaram da determinação de limites seguros de corrente e tensão em
elaboração e do desenvolvimento desta Norma uma grande faixa de condições, tais como:
internacional foram o SMRE (Safety in Mines Research
Establishment) do Reino Unido, o Instituto de Física e  Faixa de tensões entre 10 V e 600 V
Metrologia da Alemanha (Physikalisch Technische  Faixa de correntes entre 10 mA e 10 A
Bundesanstalt - PTB) e o Dekra Exam (anteriormente
 Circuitos indutivos, capacitivos e resistivos
conhecido por BVS - Fachstelle für sicherheit elektrischer
 Diferentes tipos de gases, atendendo a todos os tipos
betriebsmittel / DMT – Deutsche Montan Technologie
de Grupos, incluindo Grupo I (grisu), Grupo IIA
GmbH) da Alemanha.
(propano, metano, etc.); Grupo IIB (etileno, etc.);
Grupo IIC (Acetileno, Hidrogênio, etc.).
Na Figura a seguir é apresentada a folha de rosto da
primeira edição desta Norma IEC 79-11, publicada pelo
O advento da vinda de indústrias químicas de origem
TC-31 em 1976.
europeia, principalmente da Alemanha para o Brasil, nas
décadas de 1950 e 1960, serviu de catalizador para a
introdução do tipo de proteção Ex “i” no país. Como
exemplo, pode ser citada a Basf que iniciou a utilização da
segurança intrínseca no final dos anos 1960 e início dos
anos 1970, algum tempo após a publicação da primeira
norma alemã sobre segurança intrínseca, em 1965.

Em 1984 a ABNT publicou a norma brasileira EB-1487,


registrada No Inmetro como NBR 8444 - Equipamentos
elétricos para atmosferas explosivas de segurança
intrínseca - Tipo de proteção “i”. Esta Norma brasileira era
baseada requisitos indicados na IEC 79-11 de 1976.

Bulgarelli – 08/2013 Folha 8/21


1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

Naquela ocasião foram iniciados os trabalhos de Como praticamente toda a malha de instrumentação é
certificação deste tipo de produto no Brasil. alimentada por uma fonte de tensão, que por sua vez
obtém energia de uma rede, não se pode pretender que toda
a malha seja intrinsecamente segura. A fonte e a rede à
6 Os requisitos para os componentes de circuitos qual ela está conectada pode, por sua vez, operar com
intrinsecamente seguros níveis de energia elevados, o que as tornam inadequadas
para instalação direta em áreas classificadas, a menos que
A filosofia da proteção do tipo segurança intrínseca enfoca incorporem outros tipos de proteção “Ex”. Desta forma é
o circuito como um todo e não somente o equipamentos a considerado suficiente que apenas a parte da malha ou
ser instalado no campo, em área classificada, como é o sistema que se localiza na área classificada, apresente
caso dos outros também tradicionais tipos de proteção características intrinsecamente seguras.
“Ex”, como por exemplo, os invólucros à prova de
explosão, a segurança aumentada e imersão em óleo. A parte do circuito constituída pela fonte de alimentação,
juntamente com os controladores digitais do processo, tais
São considerados circuitos intrinsecamente seguros como SDCDs e PLCs, que não são intrinsecamente
aqueles em que existe uma compatibilidade de seguros, são muitas vezes instalados em áreas seguras
características elétricas entre os componentes que o (áreas não classificadas), como por exemplo, no interior de
constituem, incluindo instrumento de campo, interface / uma Sala de Controle Local.
barreira de proteção e fiação de interligação, de forma a
não ser possível o acúmulo de energia suficiente para a A barreira de segurança intrínseca [Ex “i”], inserida no
ocorrência de centelhas, mesmo em casos de falhas dos circuito intrinsecamente seguro como componente
componentes ou na fiação do circuito de interligação. associado, tem por função básica a limitação da energia
que pode ser armazenada na parte do circuito de campo,
Esta técnica de proteção “Ex” tomou ainda maior impulso instalado na área classificada, constituído pelo instrumento
recentemente, com a evolução dos componentes de campo Ex “i” e pela fiação de interligação entre estes
eletrônicos e da tecnologia digital, como por exemplo, os dois equipamentos.
componentes do tipo SMD (Surface Mounted Devices),
que viabilizou o projeto e fabricação de uma grande Nas Figuras apresentadas a seguir são mostrados os dois
quantidade e diversidade de instrumentos, transmissores, tipos mais comuns de barreiras de segurança intrínseca: a
sensores e atuadores de muito baixo consumo de energia. barreira do tipo Zener, sem isolação galvânica entre os
circuitos de entrada e saída e com circuitos ligados ao
Por ser baseada no projeto e no dimensionamento dos sistema de aterramento, e as barreiras com isolação
equipamentos, e não na inclusão de medidas auxiliares de galvânica, a qual também isola os circuitos de entrada e
proteção de invólucro, um sistema intrinsecamente seguro, saída (bem como o circuito de alimentação dos circuitos
uma vez adequadamente projetado, especificado e eletrônicos da barreira), constituindo um circuito flutuante
instalado, apresenta elevados índices de segurança e (não conectado à terra), com maior imunidade a defeitos
imunidade à introdução de falhas humanas, nos causados por descargas atmosféricas.
procedimentos rotineiros de manutenção preventiva e
corretiva, quando comparado com os demais tradicionais
tipos de proteção “Ex”.

As ocorrências de falhas humanas nas atividades de


montagem, inspeção, manutenção e reparo, que podem
introduzir graves riscos de segurança em sistemas que
empregam outras técnicas e tipos de proteção “Ex” (como
por exemplo, a abertura de um instrumento com invólucro
do tipo a prova de explosão, em condições onde haja
presença de atmosfera explosiva ou o fechamento
inadequado da tampa deste invólucro) não constituem Equipamentos associados [Ex i] sem isolação elétrica:
condições de risco na proteção Ex “i”. Além disto, os Barreiras Zener
custos de instalação e manutenção são muitas vezes
inferiores aos de outras técnicas de proteção.

Atualmente diversos tipos e modelos de instrumentos


transmissores de pressão, temperatura, vazão e nível,
apresentam versões com tipo de proteção por segurança
intrínseca. Alguns analisadores, como os de pH e
condutividade, também possuem modelos com este tipo de
proteção “Ex”. Também existem componentes do tipo
solenoides, atuadores, posicionadores, termopares,
instrumentos de medição de nível, instrumentos de
medição e ensaios e computadores de mão (PDA) com este
tipo de proteção “i”. Equipamentos associados [Ex i] com isolação elétrica:
Isoladores galvânicos

Bulgarelli – 08/2013 Folha 9/21


1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

“Gc/Dc”, respectivamente para gases inflamáveis ou


A Figura indicada a seguir, apresenta um diagrama típico poeiras combustíveis.
de instalação de um circuito intrinsecamente seguro,
composto por instrumento de campo intrinsecamente Os equipamentos do nível “ia” devem ser incapazes de
seguro, barreira de segurança (componente associado ao provocar ignição em operação normal, ou em caso de
instrumento Ex “i”) e o sistema digital de controle, tais ocorrência de até duas falhas (defeitos) simultâneas
como SDCD (Sistema Digital de Controle Distribuído) ou quaisquer. Equipamentos com esta característica possuem
PLC (Programmable Logic Controller). em sua concepção de circuitos, componentes eletrônicos
redundantes que garantam a manutenção da baixa energia
no circuito de campo, mesmo em caso da ocorrência de
defeitos ou de erros de ligações. São apropriados inclusive
para instalação em áreas classificadas do tipo Zona 0 ou
Zona 20, ou em áreas que requerem EPL “Ga” ou “Da”.

Os equipamentos com nível de proteção “ib” devem ser


incapazes de provocar ignição em operação normal, ou em
caso de ocorrência de uma falha (defeito) qualquer. São
apropriados para instalação em áreas do tipo Zonas 1,
Zona 2, Zona 21 ou Zona 22 ou em áreas que requeiram
EPL “Gb”, “Gc”, “Db” ou “Dc”.

Os circuitos intrinsecamente seguros em equipamentos


elétricos com nível de proteção "ic" não são capazes de
causar ignição em operação normal, sendo portanto
adequados para instalação somente em áreas classificadas
do tipo Zona 2 ou Zona 22, ou em locais que requeiram
equipamentos com EPL “Gc” ou “Dc”.

As barreiras ativas denominadas isoladores galvânicos


intrinsecamente seguros, permitem o processamento de
sinais por meio de amplificadores e filtros ativos, além de
alimentar os circuitos na saída.

As barreiras são normalmente elementos descartáveis,


encapsulados, não permitindo propositadamente a
substituição de qualquer componente ou de outros serviços
de reparos. Desta maneira, na maioria das vezes, é evitada
a possibilidade da substituição indevida de um
componente por outro com especificações incorretas ou de
confiabilidade insuficiente, alterando e descaracterizando
seu projeto original e anulando a Certificação de
Conformidade.
Exemplo de sistema intrinsecamente seguro contendo instrumento de
campo (instalado em área classificada), barreira de segurança intrínseca e Ao se especificar uma barreira de segurança intrínseca,
Sistema Digital de Controle – SDCD/PLC (instalado em área segura)
além da adequação à malha, deve ser levado em
Um instrumento transmissor de sinal, por exemplo, consideração que os instrumentos envolvidos irão operar
certificado como intrinsecamente seguro (Ex “i”), significa somente com sinal analógico padrão de 4 a 20 mA ou irão
operar também com comunicação digital, já que nem todas
que o instrumento pode ser instalado em área classificada
desde que devidamente associado a outros elementos, as barreiras permitem a passagem dos pulsos. O fabricante
como cabos e barreiras de proteção [Ex “i”], que resultem deve assegurar a comunicação de dados com o protocolo
especificado pelo usuário. Já foram verificados casos onde
em circuito ou sistema intrinsecamente seguro.
a substituição de transmissores puramente analógicos por
Durante a fase de detalhamento do projeto de uma planta outros do tipo digitais microprocessados implicou na
necessidade de troca das barreiras de proteção, em função
industrial, cabe ao pessoal da especialidade de
instrumentação especificar corretamente os instrumentos de incompatibilidade de parâmetros de entidade.
de campo e as barreiras de segurança intrínseca,
Os requisitos para a fabricação, ensaios e instalação de
considerando os seus dados de certificação e os dados de
instalação de campo, tais como o comprimento dos cabos equipamentos, sistemas intrinsecamente seguros são
de interligação envolvidos em cada circuito ou malha de indicados nas Normas ABNT NBR IEC 60079-11 -
controle, alarme ou automação. Equipamentos com tipo de proteção “i” e Conceito de
Fieldbus intrinsecamente seguros e ABNT NBR IEC
60079-25 - Sistemas intrinsecamente seguros. Estas
Dependendo da configuração de redundância de seus
componentes eletrônicos críticos, os equipamentos Normas abrangem os requisitos referentes tanto à
intrinsecamente seguros são enquadrados nos níveis de fabricação e ensaios de equipamentos, quanto aos
proteção de equipamentos (EPL) “Ga/Da”, “Gb/Db” ou
Bulgarelli – 08/2013 Folha 10/21
1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

procedimentos e práticas de projeto e de instalação dos


sistemas.

Estes procedimentos incluem a identificação e a


segregação dos circuitos, cabos e multicabos, as técnicas
de passagem de cabos entre áreas de classificação
diferentes e de uma área classificada para uma área segura
e o aterramento necessário, no caso de instalação de
barreiras passivas do tipo Zener, cujos sistemas requerem
resistência de aterramento muito baixa, da ordem de 1 .

Nas Figuras indicadas a seguir são mostrados exemplos


típicos de instrumentos e equipamentos intrinsecamente
seguros certificados, instalados em atmosferas explosivas,
tais como instrumentos de sinalização de campo,
transmissores de sinais de processo (pressão, vazão, nível e
Exemplos de instrumento transmissor e sensor de nível intrinsecamente
temperatura), atuadores de válvulas de controle e sensores seguros.
de proximidade indutivos.

Sistema de monitoração de válvulas de controle, incluindo sinalização


visual e sensores intrinsecamente seguros.

Transmissores intrinsecamente seguros instalados em áreas classificadas


É importante ressaltar que a segurança intrínseca abrange o
sistema constituído por todas as partes componentes deste
circuito como um todo e não somente o instrumento de
campo isoladamente. A Figura indicada a seguir mostra
um exemplo de componente associado [Ex i] para
instalação em área não classificada, do tipo barreira de
segurança intrínseca com isolação galvânicas.

Componente associado com isolação galvânica, intrinsecamente seguro,


por exemplo, dos tipos conversor de célula de carga, conversor de
temperatura e repetidor analógico para transmissor “inteligente”.
Atuador intrinsecamente seguro para válvula de controle de processo
Marcação Ex [ia].
instalada em área classificada (durante montagem)
Bulgarelli – 08/2013 Folha 11/21
1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

estudo de risco adicional tiver definido um EPL


Em uma situação em que um transmissor intrinsecamente específico para as características de um projeto em
seguro for erroneamente conectado a um cabo cuja elevada particular;
capacitância possa permitir o armazenamento de uma
quantidade de energia suficiente para provocar uma 5. Equipamentos e sistemas intrinsecamente seguros são
ignição, o sistema não apresentará segurança por não normalmente especificados para áreas classificadas do
atender os requisitos dos conceitos de interconexão segura. Grupo IIC, o que assegura que os equipamentos sejam
também compatíveis com todos os tipos de gases
Como elementos indutivos e capacitivos armazenam inflamáveis. Ocasionalmente sistemas e equipamentos
energia elétrica, existem limitações tanto para os valores para o Grupo IIB são especificados, uma vez que este
de capacitância como para de indutância máxima em critério permite que um nível mais elevado de potência
circuitos intrinsecamente seguros. e energia possa ser utilizado.

O conceito de entidade permite a interligação de 6. Uma classe de temperatura de T4 (temperatura máxima


instrumentos de campo com barreiras (componentes de superfície de 135 ºC) é normalmente atingida por
associados) sem que os mesmos tenham sido certificados equipamentos Ex “i”, o que atende aos requisitos da
em conjunto. quase totalidade dos gases utilizados em aplicações
industriais, exceto para o dissulfeto de carbono
7 Vantagens e benefícios da utilização da segurança (utilizado em processos muito restritos e específicos);
intrínseca em sistemas de instrumentação,
controle e automação industrial 7. De forma frequente, os equipamentos e os sistemas
onde são utilizados podem ser fabricados com
A maior vantagem da utilização do tipo de proteção por marcação Ex ia IIC/IIIC T4 Ga/Da a custos baixos. Isto
segurança intrínseca reside no fato desta fornecer uma reduz ou dispensa preocupações especiais com relação
solução para a maioria das aplicações relacionadas com a estudos de classificação de áreas, grupos de gases ou
atmosferas explosivas, para equipamentos que requeiram poeira, classes de temperatura e EPL requeridos pelos
baixa energia. equipamentos a serem instalados em praticamente
todas as circunstâncias, tornando-se uma solução
Além disto, o tipo de proteção Ex “i” possibilita a segura e padronizada de projeto, de instalação, de
instalação de sistemas baseados em baixos índices de equipamentos e de sobressalentes;
energia em qualquer tipo de Zona (0, 1, 2, 20, 21 ou 22) ou
de Grupo (IIA/B/C ou IIIA/B/C) de área classificada, seja 8. A segurança intrínseca permite a utilização de cabos de
de gases ou de poeiras. instrumentação convencionais, reduzindo os custos da
instalação. Embora os requisitos de capacitância e
Os principais fatores nos quais residem as vantagens da indutância dos cabos sejam frequentemente tidos como
aplicação do tipo de proteção por segurança intrínseca em um possível problema, na verdade, isto representa uma
atmosferas explosivas são os seguintes: preocupação geralmente para cabos com comprimentos
acima de 400 m, em sistemas instalados em Zona 0 ou
1. As normas aplicáveis sobre segurança intrínseca 1, onde gases do Grupo IIC sejam a fonte de risco
apresentam orientações detalhadas sobre o projeto e a presente, em função dos seus requisitos mais rigorosos
instalação de equipamentos e sistemas intrinsecamente de baixa energia de ignição. Nos demais casos gerais
seguros em um nível que não é atingido por qualquer de Grupos IIA e IIB, os cabos não representam nenhum
outro tipo de proteção “Ex” normalizado na série de tipo de limitação;
Normas ABNT NBR IEC 60079;
9. O conceito de equipamentos “simples” permite que
2. O mesmo equipamento intrinsecamente seguro muitos componentes, tais como chaves, termopares,
normalmente satisfaz tanto os requisitos para gases RTDs, células de cargas e caixas de junção possam ser
inflamáveis como para poeiras combustíveis, podendo utilizadas em sistemas intrinsecamente seguros sem a
apresentar marcações de certificação para estas duas necessidade de serem submetidos aos processos de
aplicações no mesmo equipamento; certificação “Ex”. Este conceito representa uma
significativa flexibilidade na especificação destes
3. Equipamentos intrinsecamente seguros adequadamente componentes, que frequentemente fazem parte de
especificados podem ser instalados em todos os tipos sistemas de instrumentação;
de zonas. Em particular, estes possuem um
desempenho histórico satisfatório para instrumentação 10. A técnica de proteção por segurança intrínseca é um
instalada em locais críticos do ponto de vista de risco e tipo de proteção que permite que sejam realizados
de segurança, tais como em áreas classificadas do tipo serviços de manutenção dentro de áreas classificadas
Zonas 0 e 20. sem a necessidade de obtenção de permissões de
trabalho específicas para áreas que tenham sido
4. A aplicação criteriosa das três categorias de proteção avaliadas e consideradas seguras, como sendo livres de
da segurança intrínseca (“ia”, “ib” e “ic”) assegura que gases para o período de realização dos trabalhos
sejam utilizados os equipamentos adequados para cada requeridos. Esta característica apresenta uma
nível de risco. Neste caso, normalmente “ia” é aplicado importância particular para o pessoal da
em Zona 0 ou 20, “ib” é aplicado em Zona 1 ou 21 e instrumentação, uma vez que se torna muito difícil a
“ic” é aplicado em Zona 2 ou 22, a menos que um identificação de falhas em equipamentos e circuitos
Bulgarelli – 08/2013 Folha 12/21
1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

eletrônicos que necessitem ser desenergizados para


manutenção; Quando diversos circuitos intrinsecamente seguros forem
conectados em conjunto, o atendimento dos requisitos de
11. Os requisitos de instalação para equipamentos e segurança e dos parâmetros de interligação deve ser
sistemas intrinsecamente seguros são bem verificado por cálculos, de acordo com os requisitos
documentados e consistentes, independentes do seu indicados na ABNT NBR IEC 60079-25.
nível de proteção. Isto contribuir para a redução de
quantidade de treinamento do pessoal envolvido, Os cabos ou condutores isolados de circuitos
quando comparado com outros tradicionais tipos de intrinsecamente seguros e não intrinsecamente seguros não
proteção “Ex”, como por exemplo os invólucros à devem ser encaminhados em conjunto em um mesmo
prova de explosão; cabo, multicabo, eletroduto ou sistema de bandejamento,
de forma a evitar que falhas no isolamento dos cabos ou
12. Pela sua simplicidade de instalação e manutenção, esta que a indução devida a campos eletromagnéticos possam
técnica de proteção é a que contribui para diminuição gerar o acúmulo de energia em circuitos intrinsecamente
da possibilidade de introdução de falhas que podem seguros acima dos níveis seguros permitidos para cada tipo
gerar riscos na instalação, pelo pessoal envolvido em de gás ou poeira.
montagem, manutenção e reparos.
A Figura apresentada a seguir ilustra um exemplo possível
Desta forma, a segurança intrínseca pode ser considerada de segregação de circuitos intrinsecamente seguros e não
como sendo uma escolha natural para todos os problemas intrinsecamente seguros, em sistemas de bandejamento
relacionados com equipamentos e sistemas de diferentes. No caso de sistemas de bandejamento ou
instrumentação, controle e automação industrial eletrodutos metálicos, estes devem ser aterrados, de forma
envolvendo equipamentos que podem operar com baixos a evitar a circulação de correntes induzidas parasitas entre
níveis de energia em áreas classificadas. Existem soluções os dutos de cabos.
adequadas que são compatíveis nesta área com todos os
tipos de gases, poeiras e tipos de classificação de áreas.

Estes fatos, combinados com sua utilização flexível,


utilizando equipamentos convencionais de mercado e a sua
capacidade de trabalho a quente tende a tornar a proteção
Ex “i” como a opção básica para sistemas industriais de
instrumentação e automação em atmosferas explosivas
para as indústrias do setor químico, petroquímico, de óleo
e gás, farmacêutico, alcooleiro e de alimentos, entre
outros.

8 Requisitos de projeto e de instalação de


equipamentos e sistemas intrinsecamente seguros
Exemplo de separação física entre circuitos intrinsecamente seguros (à
A instalação de equipamentos e sistemas intrinsecamente esquerda, na cor azul) e circuitos não intrinsecamente seguros (à direita,
seguros deve atender os requisitos indicados nas Normas não em cor azul), por meio de bandejas ou eletrocalhas distintas
ABNT NBR IEC 60079 – Parte 14 (Instalação em áreas
classificadas) e Parte 25 (Sistemas intrinsecamente
seguros) e na Norma ABNT NBR IEC 61892-7
(Instalações elétricas marítimas – Áreas classificadas).

De uma forma geral, circuitos intrinsecamente seguros


para Zona 0/20 e Zona 1/21 devem ser instalados de forma
isolada, isto é, livres do potencial do sistema de terra.
Quando o aterramento for requerido por razões de
segurança, os requisitos sobre este tipo de instalação
indicados nos certificados de conformidade devem ser
seguidos. É permitido o aterramento de circuitos
intrinsecamente seguros, se isto for um requisito de
segurança e de operação.

Quando os circuitos intrinsecamente seguros são aterrados,


isto deve ser feito em um único ponto, através da conexão
do circuito Ex “i” ao condutor equipotencial. Nestes casos,
o condutor de equipotencialização necessita ser
encaminhado através de toda a área por onde o circuito
estiver instalado. Para circuitos intrinsecamente seguros
instalados em Zona 0/20, o ponto de conexão com o
condutor de equipotencialização deve ser efetuado no Exemplo de instalação de equipamentos e circuitos intrinsecamente
interior ou na fronteira da área de Zona 0/20. seguros em áreas classificadas
Bulgarelli – 08/2013 Folha 13/21
1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

comunicação de dados. São mostrados nesta figura desde


Da mesma forma, de acordo com os requisitos indicados os sistemas tradicionais ponto-a-ponto (Sistema de
na ABNT NBR IEC 60079 - Partes 14 e 25 e ABNT NBR Controle / Barreira / Instrumento), passando
IEC 61892-7 devem ser asseguradas que, quando cabos de posteriormente pelas redes de comunicação em área segura
circuitos intrinsecamente seguros e não seguros forem até os atuais I/O remotos, com os dispositivos associados
instalados, não haja interferências eletromagnéticas que instalados em atmosferas explosivas.
possam afetar a segurança dos circuitos com proteção
Ex “i”.

Isto pode também ser obtido pela utilização de cabos de


instrumentação do tipo trançado ou com malha, ou através
de uma separação física entre os circuitos de tensão mais
elevada e os cabos dos circuitos de segurança intrínseca.

Os requisitos essenciais de projeto de um sistema


intrinsecamente seguro podem ser resumidos nos
seguintes:

- O sistema dever ser projetado de maneira a assegurar


a sua operação da forma requerida pelo processo, de
modo seguro;
- Os equipamentos e componentes utilizados no sistema
devem ser certificados Ex “i” ou [Ex “i”] ou serem
componentes “simples”;
- A compatibilidade dos parâmetros de entidade dos
equipamentos Ex “i” e dos dispositivos associados
[Ex “i”] deve ter sido determinada, verificada e
documentada;
- O nível de proteção do sistema Ex “i” deve ser
estabelecido de acordo com os requisitos da Exemplos de diferentes arquiteturas para instalação de sistemas
classificação de áreas ou com os requisitos do EPL intrinsecamente seguros, com a instalação de interfaces de segurança
intrínseca em área segura ou em área classificada
requerido para o local da instalação;
- A classe de temperatura do equipamento ou
componente utilizado no sistema deve ser especificada
Deve ser ressaltado que, mesmo neste tipo de instalação,
no projeto de instalação;
onde a barreira de proteção não se encontra mais instalada
- Os requisitos dos cabos dos circuitos de interligação
em área segura, como ocorria nos casos tradicionais de
entre instrumentos intrinsecamente seguros e
instalação de circuitos intrinsecamente seguros, continuam
dispositivos associados devem ser estabelecidos no
válidos e aplicáveis todos os requisitos de conceitos de
projeto.
entidade e de critérios de interconexão. A diferença, nestes
casos, é que as barreiras de proteção [Ex “i”] associadas
9 Instalação de barreiras de proteção em áreas
aos circuitos e equipamentos Ex “i” agora se encontram
classificadas (I/Os “remotos”)
instaladas também em área classificada, em local mais
próximo aos instrumentos de campo.
Mais recentemente, com a evolução da tecnologia de
componentes eletrônicos e dos processos de
encapsulamento, das barreiras de segurança intrínseca e
Neste tipo de arranjo de equipamentos, apropriado para
com a incorporação de diferentes tipos de proteção “Ex” a
instalação mesmo em áreas classificadas do tipo Zona 1, as
um mesmo dispositivo, foram desenvolvidas novas
fontes de alimentação são instaladas no interior de
gerações de equipamentos associados Ex “i”, os
invólucros (plásticos) do tipo à prova de explosão e as
denominados I/O “Remotos” ou Unidades Terminais
barreiras, junto com módulos de CPUs e de Gateways são
Remotas, onde as próprias barreiras de segurança
conectadas aos backplanes através de conectores do tipo
intrínseca, fontes, CPUs e os cartões de comunicação de
segurança aumentada. Na Figura apresentada a seguir é
rede são adequados e certificados para instalação no
mostrado um exemplo de instalação de uma Unidade
campo.
Terminal Remota de circuitos intrinsecamente seguros em
uma refinaria de petróleo.
Estes dispositivos associados, desta forma protegidos
passaram a poder ser diretamente instalados em atmosferas
explosivas, incorporando, para isto aos equipamentos
associados, diversos tipos de proteção, tal como “d”, “e” e
“m”.

Na figura apresentada a seguir são mostrados exemplos de


três diferentes arquiteturas para instalação de sistemas
intrinsecamente seguros, as quais incorporam os
desenvolvimentos da eletrônica e das redes de
Bulgarelli – 08/2013 Folha 14/21
1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

permitindo a operação normal de tráfego de dados na rede


de comunicação de campo FISCO.

Os terminadores de linha necessários ao sistema devem ser


compostos por uma combinação resistor/capacitor que
apresente em seus terminais um circuito equivalente a um
resistor de 90  em série com um capacitor de, no
máximo, 2,2 F (incluindo tolerâncias). Os terminadores
devem estar situados nas extremidades do circuito da rede
de dados de campo (cabo tronco).

A fonte de alimentação deve ser posicionada a menos de


60 m de uma das extremidades do cabo tronco. Quando a
fonte de alimentação é conectada via uma derivação, então
o comprimento da derivação é limitado a 60 m. Os
terminadores podem ser incorporados nos dispositivos de
campo ou nas fontes de alimentação.

Unidade Terminal Remota contendo módulos de I/O remotos Caixas de conexões e/ou distribuidores podem ser
intrinsecamente seguros, fonte de alimentação e Gateway certificados, adicionados a um sistema FISCO sem modificar ou
instalados em áreas classificadas do tipo Zona 2
comprometer seus parâmetros de certificação de
conformidade. Outros tipos de equipamentos “simples”,
Nestes tipos de aplicação industrial, a comunicação de compatíveis com as limitações de tensão e corrente
dados entre o campo e o os controladores do tipo PLC ou indicados na ABNT NBR IEC 60079-11, podem ser
SDCD, instalados na Sala de Controle é feita através de conectados a uma sistema FISCO, desde que a indutância e
uma rede de comunicação de dados redundante, através de capacitância de cada equipamento “simples” seja inferior a
diversos protocolos de comunicação disponíveis no 10 µH e 5 nF respectivamente, e o número total de
mercado. equipamentos simples mais os dispositivos de campo não
exceda a um total de 32.
Neste tipo de arquitetura e configuração de sistemas de
instrumentação de campo instalados em atmosferas O GRUPO de sistema FISCO (IIA, IIB ou IIC) é
explosivas, são mantidas todas as características de determinado pelo grupo da fonte de alimentação do
proteção e segurança dos circuitos de segurança intrínseca, sistema, indicado no processo de certificação daquele
incorporando-se também os benefícios da grande redução dispositivo.
da quantidade de circuitos e fiação entre instrumentos,
Junction-Boxes, Multicabos, Armários de Rearranjo e Na Figura apresentada a seguir é representado um exemplo
cartões de entrada e saída dos controladores. de sistema FISCO, com fonte de alimentação segura
instalada em área não classificada. Com esta topologia, o
10 Requisitos de sistemas de redes de comunicação de sistema mostrado é composto por fonte de alimentação do
dados de campo intrinsecamente seguros - FISCO sistema, circuito da rede Fieldbus de campo (cabo tronco),
Os recentes desenvolvimentos em eletrônica e terminadores e instrumentos intrinsecamente seguros
equipamentos digitais tornam cada vez mais baixos os interligados ao Fieldbus.
níveis de corrente, tensão, potência e energia requeridos
para a operação dos equipamentos e instrumentos Terminador Rede de dados de Fonte de alimentação
aplicáveis aos sistemas de instrumentação de processo campo (Fieldbus) do sistema FISCO

industrial. U

T T U
I
Desta forma, a recente elevação dos casos de
desenvolvimento e aplicação das redes de comunicação de
Derivação
dados de campo (Fieldbus) em áreas classificadas Terminador

representa um fundamental fator motivador para o Rede de dados do


sistema de controle
desenvolvimento e novas edições da Norma NBR IEC Terminal
(SDCD/PLC)

60079-11, incorporando estudos e práticas de sucesso Dispositivos de campo


portátil
intrinsecamente seguros
apresentadas por diversos fabricantes e usuários em ÁREA CLASSIFICADA ÁREA NÃO CLASSIFICADA
diversos países do mundo.
Sistema típico de uma rede Fieldbus para área classificada baseada no
A categoria de proteção (“ia”, “ib” ou “ic”) de um sistema conceito FISCO, contendo fonte de alimentação segura (neste exemplo
FISCO é determinada pelo menor nível de proteção dos instalada em área não classificada), terminadores, instrumentos e
dispositivos de campo interligados ao circuito da rede de dispositivos de campo Ex “i” e rede de comunicação de dados em área
dados de campo (Fieldbus). classificada

Os terminadores possuem a função de igualar a Os sistemas FISCO incorporam em seu dimensionamento


impedância da rede e, para isto, devem ser instalados em os recentes estudos de capacidade de ignição causados por
todas as extremidades da rede (tronco). Desta forma, o uma fonte de corrente constante. Assim sendo as fontes de
efeito de reflexão do circuito pode ser eliminado, alimentação destes sistemas são projetadas de modo a

Bulgarelli – 08/2013 Folha 15/21


1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

operarem de forma a apresentar níveis de risco aceitáveis 11 Certificação de oficinas de serviços de reparos e
para os valores de corrente, potência e energia admissíveis de competências pessoais “Ex”
nestas redes de comunicação de dados em áreas
classificadas. Em instalações elétricas e de instrumentação em
atmosferas explosivas, o nível geral da segurança das
Os níveis de energia são determinados pelo subgrupo das instalações e das pessoas envolvidas pode ser comparada
substâncias explosivas presentes no local da instalação, com uma “corrente”, onde a resistência total do sistema é
indicadas nos respectivos estudos de classificação de áreas. determinada pelo seu “elo” mais fraco. Portanto, não basta
Por exemplo, podem ser utilizados níveis mais elevados de para a segurança das instalações e das pessoas envolvidas,
potência em áreas classificadas com a presença de que os equipamentos “Ex” a serem instalados em áreas
atmosferas explosivas dos Grupos IIA e IIB, o que classificadas tenham sido devidamente fabricados,
representa a maioria dos casos encontrados na indústria ensaiados em fábrica e certificados por Organismos de
petroquímica e do petróleo, em relação aos casos mais Certificação de Produtos (OCP).
rigorosos de aplicação em áreas do Grupo IIC, onde os
níveis de energia capazes de gerar ignição são bastante A segurança destas instalações e pessoas depende
baixos. principalmente e em escala muito maior e mais
abrangente, da correta realização dos serviços de projeto,
São mostradas nas Figuras apresentadas a seguir, exemplos seleção, especificação, instalação, inspeção, manutenção e
de instrumentos de campo e de distribuidores de circuitos reparos, dos quais dependem as devidas e necessárias
com tipo de proteção intrinsecamente seguro competências pessoais dos profissionais envolvidos na
desenvolvidos para serem conectados em forma de rede de execução destas atividades.
comunicação de dados.

A certificação de equipamentos “Ex” não é suficiente para garantir a


segurança das pessoas e das instalações contendo áreas classificadas. Este
é somente um dos “elos” da corrente de segurança envolvida, que inclui
também as etapas de projeto, montagem, inspeção e reparos de
equipamentos e instalações “Ex”

Em 2008 foi publicada pela ABNT a Norma NBR


IEC 60079-19 - Atmosferas explosivas - Parte 19: Reparo,
revisão e recuperação de equipamentos, inédita na
normalização brasileira até então.

Em 2009, o Brasil ingressou como membro do IECEx


(IEC System for Certification to Standards relating to
Equipment for use in Explosive Atmospheres), o sistema
internacional da IEC para certificação de oficinas de
serviços de reparos de equipamentos “Ex” e de
competências pessoais para serviços em atmosferas
explosivas, além do já “tradicional” sistema de certificação
de equipamentos “Ex”.
Sistema Fieldbus intrinsecamente seguro (FISCO) contendo instrumentos
Ex “i” interconectados a fontes de alimentação e barreiras instaladas no Decorrente destes dois eventos, muitas oficinas de serviços
campo, com tipos de proteção Ex “d” e Ex “e” de reparos de equipamentos industriais existentes no Brasil
começaram a adequar seus processos, no sentido de
Os instrumentos de campo podem ser instalados até evidenciarem que atendem aos requisitos técnicos, de
mesmo em áreas classificadas do tipo Zona 0. Existem gestão e de competências pessoais requeridos na Norma
modelos de barreiras de segurança intrínseca ABNT NBR IEC 60079-19 e em Documentos
(componentes associados com isolação galvânica) para Operacionais do IECEx sobre este assunto.
interligação com a rede Fieldbus FISCO apropriadas para
instalação em áreas seguras e para instalação direta em Também as empresas usuárias deste tipo de serviços
áreas classificadas dos tipos Zona 2 e Zona 1. começaram a buscar identificar e contratar no mercado
aquelas oficinas que pudessem evidenciar o atendimento
aos requisitos desta Norma da ABNT e aos requisitos de
certificação de oficinas de reparos indicados pelo IECEx.
Bulgarelli – 08/2013 Folha 16/21
1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

serviços de reparo e de competências pessoais, baseados


Esta certificação engloba um processo visando a nos documentos operacionais elaborados pelo IECEx.
preparação das oficinas de serviços para serem submetidas
a avaliações e auditorias, com o objetivo de possibilitar a
emissão de uma posterior certificação de conformidade 12 A nova dimensão e o futuro da segurança
com os requisitos da ABNT NBR IEC 60079-19 e dos intrínseca – Power-i
documentos operacionais IECEx OD 014 e IECEx OD
015. Neste campo da segurança intrínseca, um Grupo de
Trabalho do TC-31 da IEC está trabalhando na elaboração
A existência no mercado de oficinas certificadas para a de uma nova Norma Técnica, a IEC TS 60079-39, com o
realização de serviços de reparos, revisão e recuperação de título Sistemas intrinsecamente seguros com limitação de
equipamentos "Ex" pode ser considerado como um duração de centelha eletronicamente controlada: Power-i.
importante passo no sentido de elevação dos níveis de
qualidade, segurança e conformidade das instalações e Esta nova Norma, a ser inicialmente publicada na forma de
pessoal envolvido com instalações industriais em áreas uma Especificação Técnica, se encontra em processo de
classificadas contendo atmosferas explosivas de gases elaboração, tendo previsão de ser publicada em 2014. De
inflamáveis ou poeiras combustíveis. acordo com as regras da IEC, uma Especificação Técnica
pode ser publicada se a tecnologia estiver ainda em
Até o presente momento 31 oficinas de serviços de reparos desenvolvimento ou se, por outras razões, existe a
já se encontram certificadas no Brasil, por parte de possibilidade futura de obtenção de um entendimento para
diversos OCP, abrangendo diversos tipos de equipamentos a publicação de uma Norma.
“Ex”, tais como motores, rádios intrinsecamente seguros e
equipamentos para CFTV. O respectivo Grupo de Trabalho conta com a presença do
Sr. Giovanni Hummel Borges, brasileiro especialista em
O IECEx possui também um sistema de certificação de segurança intrínseca, membro da Comissão de Estudo CE
competências pessoais em atmosferas explosivas. As 03:31.04 do Subcomitê SC-31 do COBEI. Esta Comissão
pessoas que buscam a certificação de seus conhecimentos, de Estudo, que participa de todo o processo de elaboração
habilidades e experiências são certificadas em suas desta nova Norma, já iniciou os trabalhos de elaboração
competências pessoais de acordo com as Unidades de das respectiva Norma Brasileira NBR IEC 60079-39.
Competência Ex 001 a Ex 010 estabelecidas no
documento operacional IECEx OD 504, A energia que é transmitida durante o período de
internacionalmente aprovado e reconhecido. Estas chaveamento é controlado para um valor abaixo daquele
Unidades de Competências pessoais obtidas por parte de valor mínimo de energia para o gás considerado, de forma
cada pessoa são então indicados nos respectivos que o sistema Power-i requer a utilização de componentes
certificados de competências pessoais “Ex”. com atuação muito rápida, que ainda não têm sido
avaliados nos últimos anos para esta aplicação.
Unidades de competências pessoais para
atmosferas explosivas A aplicação do conceito de Power-i possibilita uma
elevação significativa dos níveis de energia efetiva
disponível no circuito, levando em consideração os
Unidade de
competência
Título da unidade de competência pessoal princípios de proteção da segurança intrínseca.

Aplicação dos princípios básicos de proteção em Este novo tipo de proteção Power-i, que atua
Ex 001
atmosferas explosivas
Ex 002 Execução de estudos de classificação de áreas
dinamicamente em sistemas intrinsecamente seguros
Instalação de equipamentos com tipos de proteção permite um considerável aumento da energia que pode ser
Ex 003 manipulada pelo circuito, quando comparada à atual
“Ex” e respectivos sistemas de fiação
Manutenção de equipamentos em atmosferas solução de segurança intrínseca
Ex 004
explosivas
Reparo e revisão de equipamentos com tipos de
Ex 005
proteção “Ex” Os valores máximos permitidos para um sistema Power-i
Ensaios de equipamentos e instalações elétricas podem estar muito acima dos valores atualmente indicados
Ex 006
em, ou associadas a atmosferas explosivas nas Normas ABNT NBR IEC 60079 – Partes 11 e 25.
Execução de inspeções visuais e apuradas de
Ex 007 equipamentos e instalações em, ou associadas a
atmosferas explosivas
O conceito do Power-i é destinado para os níveis de
Execução de inspeções detalhadas de proteção EPL Gb e Gc e podem, após o amadurecimento e
Ex 008 equipamentos ou instalações elétricas em, ou estabilização desta nova tecnologia, representar uma
associadas a atmosferas explosivas possível extensão da atual Norma ABNT NBR IEC 60079-
Projeto de instalações elétricas em, ou associadas a 11.
Ex 009
atmosferas explosivas
Execução de inspeções de auditoria ou de
Ex 010 avaliação das instalações elétricas em, ou Os primeiros conceitos deste tipo de proteção de segurança
associadas a atmosferas explosivas intrínseca eletronicamente controlada, para aplicação em
circuitos com energia mais elevada foram inicialmente
No presente momento o Inmetro, atendendo a solicitações desenvolvidos em 1991 e implantados a partir de 2004,
da Petrobras, da ABROC e do COBEI está elaborando então sob a designação de DART - Dynamic Arc
Requisitos de Avaliação da Conformidade (RAC) para os Recognition and Termination, patenteada pela empresa
novos programas brasileiros de certificação de oficinas de alemã P+F.
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1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

O tipo de proteção Power-i consiste de um sistema


Em 2011 foi proposto pelo Comitê Técnico de intrinsecamente seguro no qual o nível de proteção do
Normalização Elétrica da Alemanha, sob a coordenação do equipamento (EPL) é proporcionado pela limitação de
PTB, a elaboração de uma nova Norma Técnica sobre tensão e corrente e, adicionalmente, pela limitação
atmosferas explosivas, a IEC TS 60079-39, sob o título de eletronicamente controlada da duração da centelha.
Intrinsically Safe Systems with electronically controlled
spark duration limitation: Power-i. Um sistema Power-i é composto por dispositivos Power-i e
por um circuito Power-i, incluindo circuitos elétricos que
Sistemas intrinsecamente seguros com duração da centelha operam com valores de tensão, corrente e potência bem
eletronicamente controlada permitem que um nível muito maiores que aqueles atualmente indicados na Norma
mais alto de energia seja disponível em circuitos ABNT NBR IEC 60079-11.
intrinsecamente seguros, mesmo mantendo os níveis de
proteção “ia” e “ib”. Além de limitar os valores de corrente
e tensão no circuito (de forma similar aos circuitos O conceito de segurança do Power-i
“tradicionais” de segurança intrínseca), a duração da
centelha é limitada, o que contribui significativamente para A pré-condição geral para a ocorrência de uma ignição é a
a redução da energia disponível para causar uma ignição. necessidade de que seja excedida uma temperatura de
ignição definida de uma determinada mistura explosiva.
Os requisitos gerais para a instalação de equipamentos Para esta ignição, é necessário que seja atingida uma
intrinsecamente seguros são também aplicáveis para determinada densidade de energia para esta mistura. Como
circuitos Power-i. Esta nova tecnologia permite uma a densidade de energia deriva da potência consumida
considerável ampliação na área de aplicação industrial para dentro de um determinado período de tempo, pode ser
o tipo de proteção “i”. Esta tecnologia, entretanto, requer entendido que o fator “tempo” fortemente influencia o
uma nova e mais detalhada abordagem do tipo de proteção comportamento da ignição. A Norma ABNT NBR IEC
Ex “i”. 60079-11 não leva em consideração esta característica,
uma vez que a fonte de alimentação do circuito (barreira
A nova especificação técnica a ser publicada é aplicável de proteção) permanece sempre operacional (ligada)
para sistemas intrinsecamente seguros que contenham durante as ocorrências de uma falha no circuito. Isto reduz
limitação de duração de centelha por controle eletrônico, bastante os níveis de energia que podem ser manipulados
com o objetivo de proporcionar mais energia elétrica, pelos circuitos intrinsecamente seguros “tradicionais”.
mesmo que mantendo os níveis de proteção requeridos
para atmosferas explosivas.
O princípio de operação do Power-i: Chaveamento
Esta nova especificação técnica é aplicável a equipamentos rápido, ao invés de limitação de energia
com fonte de alimentação entre 20 e 30 Vcc para
instalação em áreas do Grupo IIC e entre 20 e 40 Vcc para Tradicionalmente, a fim de evitar, de forma segura, a
instalação em áreas dos Grupos IIB e IIA. Requisitos de ocorrência de uma centelha que seja capaz de provocar
aplicação em equipamentos que estejam fora destas faixas uma ignição, a potência disponível no circuito é limitada a
especificadas podem ser introduzidos no futuro do um valor de aproximadamente 2 W. Assim sendo, o tipo
desenvolvimento desta nova tecnologia. de proteção Ex “i” é tipicamente limitado a áreas de
instrumentação e alimentação de sensores, transmissores e
Esta nova especificação técnica especifica os requisitos de atuadores, com baixas cargas conectadas.
fabricação, ensaios, instalação e manutenção de
equipamentos Power-i, destinados para instalação em Em um circuito protegido pelo Power-i, os dispositivos de
atmosferas explosivas e engloba componentes campo, instalados em atmosferas explosivas, com um
intrinsecamente seguros, equipamentos associados, que consumo de potência de até 50 W podem ser alimentados
são destinados para a conexão a circuitos intrinsecamente sob os requisitos da segurança intrínseca. Sob condições
seguros que adentram tais atmosferas. normais de operação do circuito, a corrente elétrica circula
sem restrições. O sistema Power-i detecta a ocorrência de
Este novo tipo de proteção é aplicável a equipamentos uma falta no circuito elétrico logo no seu início e o desliga
elétricos nos quais os circuitos elétricos sejam incapazes antes da energia atingir um nível crítico de segurança.
de causar a ignição de uma atmosfera explosiva em seu
redor. A base para esta abordagem é fornecida pelo fato de que
toda formação de uma centelha leva à ocorrência de uma
A especificação técnica é também aplicável a característica muito específica e, desta forma, em uma
equipamentos elétricos ou partes destes localizados fora de alteração conhecida na corrente de um circuito elétrico.
áreas classificadas ou protegidos por outro tipo de
proteção, quando a segurança intrínseca do circuito De forma diferente de um simples sistema de chaveamento
elétrico em atmosfera explosiva depende do projeto e rápido ou de sistemas que simplesmente desligam o
fabricação de tais equipamentos elétricos. circuito em casos de ocorrência de uma baixa tensão, o
sistema Power-i reage dinamicamente à alteração do valor
Caso os equipamentos associados sejam instalados em da corrente quando um nível crítico de variação é
áreas classificadas, estes devem também ser protegidos por detectado no circuito.
tipos de proteção “Ex” apropriados.

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Deste modo, todas as possíveis falhas que podem levar à


formação de uma centelha são detectadas com a rapidez
necessária e com segurança e são devidamente
controladas.

Os fenômenos físicos que embasam este tipo de operação


podem ser considerados simples e conhecidos:

 O sinal elétrico característico de formação de uma


centelha; Exemplo de um sistema Power-i com arquitetura simples
 A velocidade de mais de 160 000 km/s na qual este
sinal é transmitido através dos cabos de alimentação
do circuito;
 A eletrônica requerida para os circuitos eletrônicos de
chaveamento, a qual possui tempos de comutação da
ordem de microssegundos.

Vantagens do Power-i em relação ao Ex “i” tradicional

A principal vantagem da tecnologia Power-i em relação à


segurança intrínseca “tradicional” é que uma potência ativa
muito mais elevada pode ser utilizada em atmosferas
explosivas, mantendo todas as características de proteção
da segurança intrínseca.
Exemplo de um sistema Power-i com arquitetura em rede Fieldbus
(FISCO)
Isto significa que, por exemplo, os serviços de manutenção
e montagem podem ser realizados com um nível bem mais
elevado de energia durante operação normal do circuito,
sem a necessidade de elaboração e emissão de uma
permissão de trabalho em circuitos desenergizados. A figura indicada a seguir mostra um diagrama de blocos
de uma fonte de alimentação Power-i, incluindo os
Com o Power-i também alguns tipos de proteção que circuitos de limitação de tensão e de corrente e os circuitos
apresentam elevados requisitos de competências pessoais e de detecção de variação de corrente e chaveamento
recursos de instalação e manutenção, tais como o Ex “d” (à rápidos.
prova de explosão) e Ex “e” (segurança aumentada) podem
ser substituídos em muitas aplicações, pelo Ex “i”. Isto
abre novas perspectivas de aplicação deste tipo de proteção
na indústria de processo, como por exemplo: sistemas de
pesagem, sistema de iluminação LED, atuadores de
válvulas de controle e redes de comunicação de campo do
tipo Fieldbus intrinsecamente seguro (FISCO).

Este conceito de proteção pode ser facilmente integrado às


tecnologias novas e já existentes, bem como tornar as
aplicações existentes mais simples para os fabricantes e
para os usuários de equipamentos e instalações “Ex”.

A arquitetura dos componentes e do circuito Power-i

Em um sistema Power-i uma fonte de alimentação ativa


deve ser conectada através de um circuito para alimentar Diagrama de blocos básico de uma fonte Power “I” com limitadores de
um ou mais dispositivos de campo também Power-i. A tensão e corrente (U-I)
forma mais simples de um circuito Power-i consiste de
uma fonte ativa, de um circuito de campo e de um
dispositivo de campo Power-i. Sistemas Power-i são
adequados também para a implantação de circuitos mais Na Figura a seguir é apresentado um exemplo típico de
complexos, tais como as redes de campo Fieldbus. dispositivo de campo, construído de acordo com os
requisitos do Power-i

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1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

e automação industrial que possam operar com baixos


níveis de energia em áreas classificadas.

Estes fatos, combinados com sua utilização flexível, com


equipamentos convencionais de mercado e a sua
capacidade de trabalho a quente tende a tornar a proteção
Ex “i” como a opção básica para sistemas industriais de
instrumentação, controle e automação em atmosferas
explosivas.

O tipo de proteção Ex “i” é internacionalmente aceito,


existindo ainda uma aceitação progressiva de certificados
de conformidade internacionais emitidos pelo IECEx, o
que faz com que este tipo de proteção seja cada vez mais
difundido e aplicado nos recentes projetos e
empreendimentos das indústrias das áreas químicas e
petroquímicas, entre outras.

Apesar dos elevados níveis de segurança proporcionados


pelos equipamentos e sistemas Ex “i”, para assegurar que
estes continuem apresentando os requisitos de proteção e
segurança para os quais foram fabricados e certificados há
Exemplo de um dispositivo geral de campo Power “i” a necessidade de que haja um sistema de inspeções
periódicas e de manutenção, ao longo de todo o tempo em
que estes instrumentos, equipamentos, dispositivos e
Na Figura a seguir é apresentado um exemplo de aplicação sistemas permanecem instalados em áreas classificadas,
de um circuito completo Power-i, contendo a fonte Power- aos longos dos anos ou décadas de operação das plantas
i e o dispositivo de campo Power-i, representado neste industriais.
exemplo por uma válvula solenoide.
Cada vez mais se torna evidente que somente a existência
de um programa de avaliação da conformidade para a
certificação de equipamentos Ex “i” não é suficiente para
assegurar os elevados níveis de segurança requeridos
nestas instalações industriais com atmosferas explosivas de
gases inflamáveis e poeiras combustíveis.

Os elevados níveis de não-conformidades que são


constantemente verificados nas inspeções periódicas
realizadas nestes tipos de instalações industriais
demonstram falhas nas competências pessoais dos
empregados e empresas prestadoras de serviços de
instalação, inspeção e manutenção de instalações elétricas
e de instrumentação em áreas classificadas. Esta situação é
Exemplo de aplicação de Power “i” para uma válvula solenoide agravada pelo elevado nível de rotatividade de mão de
obra em empresas terceirizadas, as quais normalmente não
investem na formação de seu pessoal ou de um plano de
carreira, preferindo muitas vezes canibalizar o mercado,
13 Conclusões sobre sistemas intrinsecamente buscando profissionais “experientes” de outras empresas.
seguros
Para que os sistemas intrinsecamente seguros possam ser
devidamente projetados, instalados, inspecionados,
O tipo de proteção por segurança intrínseca oferece um mantidos e reparados, há a necessidade que as pessoas
dos mais elevados níveis de segurança para instalações em envolvidas nestas atividades possuam os devidos
áreas classificadas contendo atmosferas explosivas. De treinamentos, conhecimentos, habilidades, qualificações e
forma consistente e defensável, este tipo de proteção competências para a realização das funções para as quais
Ex “i” pode ser considerado como sendo um dos mais estas sejam responsáveis.
seguros e o menos propenso a erros ou falhas humanas,
quando comparado com os outros tradicionais tipos de No presente momento, com o desenvolvimento de
proteção “Ex”, tal como os equipamentos à prova de microprocessadores e de circuitos digitais, a segurança
explosão. intrínseca tem seus horizontes abertos para alcançar uma
nova dimensão, elevando de forma significativa a
A segurança intrínseca pode ser considerada como sendo atratividade do tipo de proteção Ex “i”. Com a introdução
uma escolha natural para todas as aplicações relacionadas do conceito do Power-i, os valores de potência podem ser
com equipamentos e sistemas de instrumentação, controle elevados até cerca de 50 W, aumentando a possibilidade de
aplicação deste tipo de proteção para sistemas de
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1913/2013: Os 100 primeiros anos da segurança intrínseca

iluminação LED e mesmo para o acionamento de Experimental Station Report, l June 1916, HMSO,
pequenos motores em áreas classificadas. London
[10] Certificate of test of electrical apparatus in
Longa vida à segurança intrínseca, em homenagem àquelas inflammable atmosphere. No. 2, Evershed - Midworth
pessoas que morreram na explosão de uma mina Distant Repeater, for mixtures of coke-oven gas and
subterrânea de carvão em 1913, na Inglaterra, bem como air, HM Chief Inspector of Factories, 16 August 1936
àquelas pessoas que desde então tem trabalhado para o [11] Intrinsically Safe Electrical Apparatus and Circuits for
desenvolvimento, aperfeiçoamento e evolução deste Use in Explosive Atmospheres, BS 1259/1945, British
importante e dinâmico tipo de proteção “Ex”. Standards Institution, London
[12] Coal Mine Monitoring for Safety and Health, Ian D.
Certamente os níveis de segurança das instalações Unwin, M. Phil
contendo atmosferas explosivas e das pessoas que nelas [13] A History of Mine Safety Research in Great Britain,
trabalham foram bastante elevados, com o advento e com a Health and Safety Executive Report, The fife miners
evolução da segurança intrínseca desde então. A depender [14] Black Diamond, A Pictorial History of Coal, John
do presente desenvolvimento deste tipo de proteção, o Dorian Evans
futuro parecer proporcionar uma segurança ainda maior. [15] Explosion Protection Manual, H. Olenik, H.
Rentzsch, W. Wettstein, Brown Boveri Company
(BBC), Second Edition
14 Referências Bibliográficas [16] A Users Guide To Intrinsic Safety, Application Notes
AN 9003, Measurement Technology Ltd. (MTL)
[1] ABNT NBR IEC 60079-11: Atmosferas explosivas – [17] Intrinsic Safety for Applications with High Power,
Parte 11: Proteção de equipamentos por segurança Pepperl+Fuchs (P+F)
intrínseca “i” [18] Manual de Instalações Elétricas em Indústrias
[2] ABNT NBR IEC 60079-14: Atmosferas explosivas – Químicas, Petroquímicas e de Petróleo, Dácio de
Parte 14: Projeto, seleção e montagem de instalações Miranda Jordão, 3ª Edição
elétricas [19] Manual de Segurança Intrínseca Ex “i’’: Do projeto à
[3] ABNT NBR IEC 60079-19: Atmosferas explosivas – instalação, Giovanni Hummel Borges
Parte 19: Reparo, revisão, recuperação e modificação [20] IECEx: IEC System for Certification to Standards
de equipamentos elétricos relating to Equipment for use in Explosive
[4] ABNT NBR IEC 60079-25: Atmosferas explosivas – Atmospheres
Parte 25: Sistemas intrinsecamente seguros [21] Intrinsic safety and high frequency - The ignition
[5] ABNT NBR IEC 61892-7: Unidades marítimas fixas behaviour of electrical circuits at frequencies above
e móveis - Instalações elétricas - Parte 7: Áreas industrial alternating currents, W. Dill & R. Hauke,
classificadas 2003
[6] Test regarding to the ignition possibilities of firedamp [22] Innovative intrinsically safe concepts open up new
mixtures and whirling up coal dust by electrical perspectives in explosion protection, Dr. U. Gerlach,
effects, Heise & Thiem, 1898 Dr. U. Johannsmeyer
[7] VDE 0170: Basic Principles for Designing Firedamp [23] IEC TS 60079-39: Intrinsically Safe Systems with
Devices on Electrical Machines, Transformers and electronically controlled spark duration limitation:
Equipment, 1ª Edição, 1912 Power-i. (CD, Draft 2012)
[8] Wheeler, R. V., “Battery-Bell Signalling Systems as
regard the danger of ignition of firedamp-air mixtures
by the break flash at the signal-wires”, Home Office 15/08/2013
01/09/2013
Experimental Station Report, January 1915. HMSO,
London
[9] Wheeler, R. V. and Thornton, W M. “Electric
Signalling with Bare Wire so far as regards the danger
of ignition of inflammable gaseous mixtures by the
break flash at the signal wires”, Home Office

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