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CADERNO-DE-RESUMOS 2019 11 22 3ed
CADERNO-DE-RESUMOS 2019 11 22 3ed
lacicor.eba.ufmg.br/antecipa
ISBN:
Estabilização das bacias da Catedral Basílica de Betina Abreu, Janainna Araújo, Letícia Estrela
Salvador
A análise de técnicas e materiais para o tratamento de Bárbara Andrade de Oliveira Alves, Marina Furtado
negativos de vidro Gonçalves
Nem tudo o que reluz é ouro: latão aplicado ao papel Marina Furtado Gonçalves, Luiz Antônio Cruz
Souza, Márcia Almada, Isolda M. Castro Mendes
Comportamento mecânico de argamassas de cal com Ana Cristian Magalhães, Rosana Muñoz
adição de cinzas volantes para uso no restauro
Projeto Hans Broos: Pesquisa Aplicada ao Patrimônio Sara C. Santos, Bernardo B. Bielschowsky, Ana
Cultural Paula P. Correa
A Gestão do Sistema Alternativo de Climatização da Christiane Sofhia Godinho Santos, Luiz Antônio da
Reserva Técnica Curt Nimuendajú do Museu Paraense Cruz Souza, Willi de Barros Gonçalves
Emílio Goeldi (MPEG)
Ortofoto como instrumento para diagnóstico e Larissa Corrêa Acatauassú Nunes Santos, Mário
mapeamento de danos de painéis azulejares: o caso Mendonça de Oliveira
da Igreja de Nossa Senhora da Vitória em Salvador
(BA)
Limpeza em cantaria de lioz, realizada na fachada da Angélica Schianta, Janainna Araújo, Letícia Estrela
Basílica Santuário da Conceição da Praia, em
Salvador/BA
The Conservation and Restoration Methods of Ronaldo André Rodrigues da Silva, João Cura
Industrial Heritage:The Case Study of the Steam Road D’Ars de Figueiredo Júnior, Valquíria de Oliveira
Roller of EBA/UFMG Silva
Estação Ferroviária Sapucaí: Um lugar em diálogo Lourenço Kallil Tomaz, Ana Paula Neto de Faria,
Aline Montagna da Silveira
Adequação de ferramenta para avaliação das Bianca C. R. Vicente, Luiz A. C. Souza, Willi B.
condições de conservação de plumárias indígenas em Gonçalves
reserva técnica
Identificação de agentes pesticidas no acervo do Ana Carolina Delgado Vieira, Carlos Roberto
MAE/USP por PXRF Appoloni, Fábio Lopes
A ANTECIPA concluiu o seu registro como pessoa jurídica em maio de 2018 e realiza em
novembro do mesmo ano o seu 1o. Encontro Nacional.
1. Introdução
A Catedral Basílica de Salvador, datada de meados do século XVII, é um dos monumentos mais
antigos da cidade. O edifício se trata de remanescente da antiga Igreja do Colégio dos Jesuítas de
Salvador, sendo essa construção que conhecemos hoje, a sua quarta versão, apresentando uma
feição mais elaborada e suntuosa que as anteriores.
Tombado em 25 de maio de 1938, o monumento apresenta incomensurável importância artística,
histórica e cultural e nos últimos anos passou por intervenção e restauração executada pelo Iphan.
No dia 18 de janeiro de 2018, ocorreu a queda de uma das bacias da sacada, correspondente à
fachada posterior da Catedral Basílica (Figura 01). A empresa de construção/restauração Marsou
Engenharia, que nesta época realizava trabalho de restauração no edifício, requisitou consultoria ao
Professor Arquiteto Mário Mendonça de Oliveira e solicitou para que ele realizasse parecer técnico
com indicação dos procedimentos necessários para estabilização das peças.
Em visita à área, foi observado trabalho de “requalificação” na pavimentação e passeios em local
vizinho ao edifício, onde estavam sendo utilizados equipamentos que podiam produzir vibrações
indesejáveis à Catedral, sendo este um dos principais suspeitos de ter influenciado no colapso da
bacia.
Um conjunto de fatores foram essenciais para a culminação do acidente ocorrido. O envelhecimento
dos materiais, a ação do intemperismo e ação antrópica, estando a última, presente nas vibrações
características de uma grande cidade, principalmente se tratando de Salvador, onde são comuns
ruidosas manifestações populares, em especial em época de carnaval.
2. Metodologia
Com a queda da bacia e solicitação do parecer técnico, foi feita visita ao local para observações e
investigações preliminares de quais situações poderiam ter levado ao colapso da pedra.
Para a realização do projeto de estabilização das bacias das janelas rasgadas da Catedral Basílica de
Salvador, inicialmente fez-se necessário o cadastro da bacia que rompeu, desenvolvido pela equipe
do Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração (NTPR) utilizando o método de
triangulação com trena metálica, escala e registro fotográfico (Figura 02). Nessa mesma etapa do
trabalho, foram coletadas amostras da pedra que compõe esta referida bacia - no caso, um arenito -
para a execução de ensaios no laboratório do NTPR.
Com o desenvolvimento dos ensaios de absorção total (para observar os valores referentes à
absorção de água e porosidade do material), do ensaio de massa unitária (para obtenção da
densidade do material) e de pesquisa bibliográfica sobre os valores de referência para o arenito
(CAPARÓ, Erwic Flores. Os arenitos de cimentação calcífera de antigos edifícios de Salvador -
Origens. Salvador: PPGAU, Dissertação de Mestrado, 1997.), observou-se que o arenito presente na
Basílica, de cimentação carbonática, é atualmente pouco compacto e muito intemperizado,
apresentando-se com uma porosidade muito maior que a esperada, de acordo com os valores de
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referência para o arenito. Assim, essa condição de alta porosidade aliada à baixa densidade do
material, leva à redução da resistência mecânica da pedra e facilita a percolação de água através das
precipitações pluviométricas, contribuindo para a dissolução da sua matriz. Além disso, o material
também pode ter sua matriz cálcica alterada pelos ataques da poluição atmosférica, colaborando
para o enfraquecimento da pedra.
Sabendo que essas características provavelmente estariam presentes nas outras bacias, viu-se a
necessidade de fazer levantamentos individualizados de todo o conjunto de bacias das janelas
rasgadas da antiga biblioteca da Catedral Basílica, analisando cada caso em fichas com proposição
do melhor sistema de estabilização para cada uma.
3. Resultados e discussão
A partir dos resultados dos ensaios laboratoriais, onde foi detectado a diminuição da resistência
mecânica do material lítico, o Professor Mário Mendonça de Oliveira desenvolveu projeto de
estabilização das bacias (Figura 03), onde os procedimentos foram descritos em cada uma das 12
fichas, de acordo com as necessidades específicas das mesmas.
No geral, algumas características podem ser apontadas em comum nas peças analisadas como, a má
resistência das rochas à flexão, o posicionamento das pedras em balanço e sem presença integral de
engastes, a existência de pesado gradil de ferro nas sacadas e o fator das bacia serem divididas em
duas partes, provavelmente para facilitar seu deslocamento, entretanto gerando instabilidade das
mísulas. Além da alta porosidade detectada no ensaio de absorção total, que agrava a fragilidade
dessas peças, evidenciando a importância da estabilização das mesmas.
As intervenções realizadas (Figura 04) foram: remoção das obturações de cimento; retirada de
alguns “gatos” e agrafes colocados no passado; implantação de agrafes longas (mínimo duas por
bacia) de aço inoxidável rebaixada através de um corte, preenchida com epóxi fluido e arrematada
na parte final com arenito pulverizado e Primal; implementação, quando necessária, de argamassa
de cimento de alta resistência; preenchimento das juntas das peças com resina epóxi fluida;
desentupimento de drenos existentes; e aplicação de paralóide por impregnação; assim como a
escarificação do revestimento externo e parede, logo abaixo da bacia, para preenchimento com
argamassa de grauteamento em profundidade de 10 cm, ou até encontrar o paramento de pedra,
terminando o preenchimento com argamassa de cal.
4. Conclusões
Para concluir, gostaríamos de enfatizar a detecção de instabilidade em todas as bacias de pedra,
fruto da dissolução da matriz carbonática ocasionada pela água da chuva ao longo dos anos. Aliado
a isso, a fragilidade do material pode ter sido agravada com as vibrações geradas pelas obras feitas
no exterior da Catedral, portanto foi recomendado a instalação de indicação de isolamento/proibição
no passeio e na parte correspondente à biblioteca do edifício, até ser sanado definitivamente o
problema. Além de sugerido a adoção de medidas preventivas em relação ao período de festa do
carnaval, onde as músicas ultrapassam os 70db legais, gerando indesejada vibração.
Vale salientar igualmente, que a intervenção feita para estabilizar as bacias foi de extrema
importância para manutenção do patrimônio e segurança dos transeuntes, considerando o elevado
peso que a pedra apresenta, podendo causar graves acidentes em caso de queda. Assim como,
destacamos como se mostra valioso o suporte laboratorial nesses tipos de intervenções e louvável o
suporte teórico e conhecimento tecno-prático inegável do Professor Mário Mendonça, para chegar
aos melhores resultados neste processo delicado que é cuidar do patrimônio.
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Figura 01: Imagem aproximada da bacia rompida.
Fonte: Mário Mendonça.
Figura 02: Bacia (G16-12) apresentava presença de “gatos” instalados em intervenção anterior.
Fonte: Equipe NTPR
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Figura 03: Corte Transversal da Bacia G16-12 indicação de intervenção.
Fonte: Equipe NTPR
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Agradecimentos
Agradecemos ao Professor Mário Mendonça e ao Arq. Mestre Elias Machado, por solicitar auxílio
no cadastro e no detalhamento técnico deste trabalho, acreditando na nossa competência. Além de
nos favorecer a oportunidade de acompanhar e visitar as obras da Catedral, que foi de extrema
contribuição para nossa formação como estudantes de graduação em contato com a vida prática no
restauro.
Referências
OLIVEIRA, Mário Mendonça. Tecnologia da conservação e da restauração – materiais e estruturas.
Salvador: EDUFBA, 4ed. 2011.
AYRES-BARROS, Luís. As rochas dos monumentos portugueses – Tipologias e patologias.
Lisboa: IPPAR, 2001.
IPAC-SIC. Inventário de proteção do acervo cultural. Salvador: Secretaria de Indústria e Comércio,
v.1, 1975. p. 23.
CAPARÓ, Erwic Flores. Os arenitos de cimentação calcífera de antigos edifícios de Salvador -
Origens. Salvador: PPGAU, Dissertação de Mestrado, 1997.
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I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio)
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil
1. Introdução
A fotografia, como artefato material, é constituída pelo elemento formador da imagem, por
um suporte e a emulsão ou meio ligante. Dentre os materiais presentes no objeto fotográfico
podemos citar a prata, pigmentos ou corantes como formadores da imagem; o papel, vidro ou
plástico como suportes; e o colódio, albumina e gelatina como emulsão.
Para se obter uma imagem é necessário que o suporte seja revestido por um material
formador, sendo a prata o mais comum, utilizado desde o surgimento da fotografia devido às
suas propriedades físico químicas. Os sais desse metal são compostos por cristais de prata
regulares, apresentando estrutura cúbica, e cada cristal é formado pela ligação entre íons de
prata (positivos) e íons brometo (negativos). O resultado desta interação são os haletos de
prata que, quando colocados em um meio emulsificante que os permita ficar em suspensão e
que possua transparência suficiente para entrada de luz, possibilitam a formação da imagem
no momento da exposição (MOSCIARO, 2009).
Em um primeiro momento, as provas fotográficas eram obtidas com o uso da câmera escura e
a imagem era formada sobre um suporte celulósico coberto com sais de prata. Devido à baixa
qualidade dos primeiros papéis fotográficos, bem como as dificuldades em se fixar os sais de
prata sobre o suporte e a necessidade de se processar imediatamente a imagem, foram
desenvolvidos e lançados, em 1848, os negativos de vidro em emulsão de albumina. Os
negativos de vidro surgem como uma alternativa que tornaria o processo fotográfico mais
viável, uma vez que o suporte em vidro atendia as características necessárias à produção
fotográfica da época que, aliado à evolução dos meios ligantes, diminuiu o tempo de
exposição e as dificuldades em transportar as chapas fotográficas de grande formato. Quando
a gelatina surge como emulsão fotográfica o processo de produção das chapas se difunde,
aumentando a oferta de negativos em gelatina e disseminando o seu uso. Esses negativos
foram usados até o final do século XIX e início do século XX, até serem substituídos, devido
a fragilidade do vidro, pelo rolo de papel fotográfico, lançado por George Eastman em 1885
(REIMERINK, 2001).
As imagens nos negativos de vidro são obtidas através do uso de uma câmera escura e uma
chapa de vidro de tamanhos variados, sendo os mais comuns 9x12cm, 10x15cm, 13x18 cm e
18x24 cm e espessura entre 2 mm e 5 mm, revestidas com sais de prata em emulsão que
garante a fixação dos sais no suporte. A imagem formada apresenta tons e cores invertidas em
relação ao objeto fotografado, o que caracteriza uma imagem negativa (PAVÃO, 1997).
Para além da possibilidade de quebra do suporte dos negativos de vidro, são diversos os
problemas de deterioração deste tipo de artefato. Pode ocorrer o amarelecimento da imagem
causado pela oxidação dos íons de prata e pelo meio ligante, desprendimento da emulsão do
suporte devido a variações climáticas ambientais, oxidação da prata causando um
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2. Metodologia
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3. Resultados e discussão
Segundo Brandi (2004), restaura-se somente a matéria do bem cultural e, dessa maneira, o uso
de técnicas adequadas e suporte científico para a tomada de decisões do conservador-
restaurador, faz-se necessário. Os artefatos são examinados a fim de obter respostas
relacionadas à história da arte técnica e sobre a origem do objeto, ou seja, onde, quando e por
quem a obra foi criada. Os exames científicos que procuram responder tais questões
normalmente exigem a identificação dos materiais e técnicas empregados naquela obra, sendo
que outros estudos visam responder a perguntas básicas sobre a conservação do objeto, seu
estado físico e químico, causas de deterioração e vulnerabilidade às condições de
acondicionamento ou exposição (WHITMORE, 2003).
O equipamento de EDXRF utilizado permitiu que não fosse retirada amostra, configurando-se
como exame não invasivo. O espectro resultante apontou para a presença de prata como
elemento formador da imagem (Figura 1).
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A técnica de EDXRF apresenta limitações para detectar elementos de número atômico baixo,
como o hidrogênio, oxigênio, carbono, entre outros, portanto não costuma ser utilizada para
análise de materiais orgânicos (GONÇALVES, 2015). Desta forma, para identificar a
emulsão, utilizou-se a FTIR. O resultado obtido, após comparação com espectros de
referência, apontou a gelatina como material constituinte da emulsão (Figura 2).
4. Conclusões
Uma vez que o acondicionamento é primordial para a conservação dos negativos de vidro,
confeccionaram-se caixas em formato retangular, de papel neutro com tampa separada, para
cada negativo foi confeccionado um envelope em formato cruz, com papel Canson ® 140g,
neutro e como interface entre o envelope e as peças foi adicionado papel Filifold 200g; os
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negativos foram colocados em posição vertical, mesma posição que as caixas deveriam
permanecer no arquivo. Os artefatos foram devolvidos para a BU/UFMG, juntamente com o
relatório dos exames, diagnóstico do estado de conservação e intervenções realizadas, a fim
de servirem de referência para novos procedimentos e pesquisas futuras.
Embora existam grandes acervos fotográficos nas instituições, foi observado, no que diz
respeito a negativos de vidro, que há pouca demanda de material de referência quanto a
exames para identificar suas técnicas, materiais e atuar em sua conservação e restauração. Os
dados contidos nessa pesquisa visam ajudar instituições e conservadores-restauradores a
encontrarem informações sobre como identificar e tratar estes materiais assim como fontes de
pesquisa que os possibilitem atuar junto a este tipo de acervo.
Referências
PAVÃO, L. Conservação de Colecções de Fotografia. Lisboa: Dinalivro, 1997. 24, 39, 44, 73,
130, 132, 136, 137, 215,280 p.
WHITMORE, Paul M. The scientific examination of works of art on paper. In: Scientific
examination of art: modern techniques in conservation and analysis. Washington, DC:
National Academy of Sciences, 2003. p. 27-39.
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Fotogrametria na documentação da paisagem
Um estudo urbano de Bocaina/SP (1.891-1.929)
Bruna Cristina Bevilaqua
Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
*e-mail brunabevilaquaarq@gmail.com
1. Introdução
A expansão do cultivo do café no Estado de São Paulo e suas consequências econômicas levaram a
um marco de sua ocupação. A porção Centro-oeste assistiu, principalmente entre o século XIX e
início do século XX, às primeiras transformações radicais de seu território: crescimento populacional,
cultivo homogêneo nas lavouras, surgimento de aglomerações urbanas, dentre outras mudanças.
Historicamente, sabe-se que as transformações espaciais mais profundas já sofridas em diferentes
contextos procedem, predominantemente, de razões econômicas. Tais motivos econômicos atuaram
de maneira categórica, através do complexo do café 1, no Estado de São Paulo, transfigurando seu
perfil espacial e agindo explicitamente sobre diversas relações. Essa interferência justifica o empenho
dispensado por pesquisadores para analisar esse período e suas resultantes.
Apesar disto, os estudos acerca deste período no Estado estão longe de serem esgotadas, uma vez que
mitos e imprecisões ainda o cercam. A importância deste empenho contínuo, em especial sobre o que
envolve a produção do espaço na Era do Café, se estabelece na compreensão de que este é “resultado
da geografização de um conjunto de variáveis, de sua interação localizada” (SANTOS, 2.014, pág.
37), o que torna, apesar de coligados pelos motivos de fomento, cada caso único e importante.
1.1 Os agentes de transformação da paisagem: conhecendo a área de estudo
O estudo aborda o território de Bocaina a partir da emancipação sociopolítica do município (1.891).
A cidade, localizada no interior do Estado de São Paulo (a, aproximadamente, 300 quilômetros da
Capital), é um dos testemunhos edificados da soberania econômica exercida pelo complexo do café
no Centro-oeste Paulista. Fundada já no regime político republicano, a cidade respondeu a interesses
dos grandes cafeicultores da região e tem em seu desenvolvimento um exemplo de conformação
urbana em direta consonância com a atividade econômica vigente no local.
Foi apenas entre 1.885 e 1.890 que surgiu o interesse em edificar ali uma capela e um arraial, a fim
de facilitar o movimento religioso e fomentar o desenvolvimento de um comércio local
(FURLANETO, 2.003). Ghirardello (2.002, pág. 125) ressalta o número significativo de cidades que,
fundadas durante o século XIX, tiveram origem em patrimônios religiosos, a partir da doação de terras
rurais à Igreja Católica, de forma que a igreja tutelava o futuro povoado, sob a proteção de um santo.
Em um cenário muito semelhante a esse que teve início a Vila de São João Batista da Bocaina.
Bocaina compõe o projeto territorial do Estado de São Paulo, onde as ocupações se alinham não
apenas à consolidação de espaços urbanos, mas principalmente à infraestrutura relacionada aos
espaços agrários (ZÓLIO, 2.011, pág. 09). A questão não era desenhar o urbano, mas realizar o
planejamento territorial do Estado. “A forma urbana seria uma consequência, estaria muito mais
1 Cano (1.977) chama de complexo cafeeiro uma rede de componentes que possibilitaram o desenvolvimento desta cultura.
Ainda segundo o autor, os aspectos ligados a este complexo eram: a atividade produtora do café (principal dentre todas), a
agricultura produtora de alimentos e matérias-primas, atividade industrial (produção de equipamentos para beneficiamento do
café, indústria de sacaria de juta e demais compartimentos da indústria manufatureira), implantação e desenvolvimento do
sistema ferroviário paulista, expansão de sistemas bancários, atividade de comércio e importação, desenvolvimento de
atividade geradora de infraestrutura e atividades inerentes à urbanização e à atividade do Estado. (CANO, 1.977, apud.
COSTA, 2.003, pág. 55).
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relacionada ao papel dessa cidade na articulação territorial” (COSTA 2003, pág. 51). O escoamento
da produção cafeeira antes do estabelecimento das ferrovias era fator determinante para o
estabelecimento das lavouras. A localização geográfica de Bocaina demonstra que nesse aspecto o
local era privilegiado, por dispor de possibilidade de escoamento por via hídrica. O rio Jacaré-Pepira,
que nasce na cidade de São Pedro, delimita o território de Bocaina – depois de passar por Bariri, ele
deságua na bacia Tietê.
Figura 1. Área urbana de Bocaina, porção proposta para levantamento e destaque para local de teste. Fonte: autora,
2.018.2
A cidade de Bocaina exemplifica como o complexo do café teve interferência irrefutável em aspectos
políticos, sociais e culturais. Tais conexões são clarificadas por Santos (2.002, pág. 29) quando,
primeiramente, classifica a técnica como “conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o
homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço”, sendo que, em um determinado
lugar, não se tem técnicas isoladas e sim uma operação simultânea de várias técnicas socioculturais
que geram a estrutura de um lugar (SANTOS, 2.002, pág. 58).
A produção arquitetônica local, durante o período estudado, refere-se, principalmente, a um estilo
eclético. Segundo Benincasa, (2003, pg. 277) essa associação de estilos, apesar de ter seu repertório
formal muito criticado, foi produto de um período muito criativo e inovador, principalmente em
função das inovações tecnológicas oriundas do desenvolvimento industrial na época.
Os fatos históricos acerca de Bocaina revelam que a cidade vivenciou o apogeu e o declínio da
monocultura cafeeira, responsável pelos principais contornos desta história. Portanto, estudá-la é, em
suma, investigar parte da trajetória do café no Brasil. O recorte final do período investigado foi eleito
devido ao grande impacto que a quebra da Bolsa de Nova Iorque teve sobre a produção da cultura
cafeeira na cidade. Obras como o calçamento das ruas foram paralisadas por mais de 20 anos, de
1.929 a 1.951, quando voltaram a edificar aquele espaço (FURLANETO, 2.003).
2
O levantamento foi realizado com base no mapa da Prefeitura Municipal de Bocaina e atualizado através da
associação ao mapa disponível na plataforma Google Maps, 2.018.
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1.2 Estudo para documentação através da fotogrametria
O presente estudo analisou, aplicando os conhecimentos adquiridos durante a disciplina Mídias
Digitais na Documentação do Patrimônio Histórico Arquitetônico, do Programa de Pós-graduação do
Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, ministrada pelos professores
Márcio Minto Fabricio (IAU-USP), Arivaldo Leão Amorim (UFBA) e Natalie Johanna Groetelaars
(UFBA), a viabilidade de levantamento para fins de documentação das fachadas que compõe a
paisagem urbana de Bocaina, utilizando a fotogrametria3 e o software de processamento
Photomodeler (modelo UAS).
Os cálculos tiveram como base o tempo exigido para a realização das tomadas fotográficas, coleta de
dados gerais sobre a edificação e processamento de dados iconográficos para reconstituição dos
elementos arquitetônicos em análise. A importância do acervo arquitetônico de Bocaina e a ausência
de uma política pública que garanta sua salvaguarda são as razões pelas quais se fez este estudo. O
relatório apresenta as etapas transcorridas durante o levantamento, tanto em campo quanto no
processamento dos dados, as dificuldades encontradas em cada etapa, os produtos obtidos e o tempo
direcionado a realização destas atividades.
2. Metodologia
Devido as dificuldades que se estabelecem em razão da distância do sitio de estudo, os trabalhos de
levantamento de dados em campo foram executados ao longo de um dia, o que foi providencial para
que se pudesse lançar uma estatística a respeito do tempo que se levaria para, futuramente, realizar
documentação de todo o acervo nos mesmos moldes.
Tabela 1. Levantamento de dados em campo – ficha de acompanhamento
3“A Fotogrametria é um técnica que permite extrair das fotografias, as formas, as dimensões e as posições dos
objetos. Para o levantamento preciso dos objetos, são necessários alguns cuidados como, por exemplo, os
parâmetros da câmera, o posicionamento adequado da câmera e a determinação do pontos de controle”
(GROETELAARS 2004, pg. 32).
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As tomadas fotográficas foram realizadas principalmente pela manhã, uma via pública generosa e
ausência de obstáculos físicos foram fatores que propiciaram os melhores registros, sendo que os
mesmos foram tomados com intuito de constituírem a produção de ortofotos. A distância focal da
lente é também fator crucial para a obtenção da fachada completa em uma única tomada ortogonal.
O levantamento métrico foi realizado com trena a laser, e as fotografias realizadas com uma câmera
fotográfica digital Canon (modelo EOS Rebel T6) e objetiva Canon 18mm.
3. Resultados
Realizou-se, ao longo de um dia, tomadas fotográficas e métricas de 44 fachadas. O que significa que,
desconsiderando possíveis e prováveis situações adversas, poderia obter-se o levantamento
fotogramétrico e os dados necessários ao processamento dos 221 imóveis de interesse histórico do
local (contabilizados pela prefeitura municipal) em cerca de uma semana.
Figura 3. Reconstituição do perfil de via a partir de método fotogramétrico. Fonte: Autora, 2018.
A documentação integral do acervo arquitetônico oriundo do período deverá ter potencial para
suscitar a análise sobre os objetos arquitetônicos que ainda compõem a paisagem, sendo possível
ainda auxiliar na implementação de políticas públicas voltadas para salvaguarda deste acervo.
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A realização de modelos a partir do método fotogramétrico poderá estabelecer a separação entre a
forma aparente: aquela percebida por um espectador a partir de certo ponto de vista e a forma real,
que se caracteriza por meio de desenhos precisos e escalonados (GROETELAARS, 2.004, pág. 12),
gerados a partir da fotogrametria terrestre ou de curta distância.
4. Conclusões
O relatório demonstrou que o levantamento através da fotogrametria e o processamento de dados no
software Photomodeler é um alternativa viável na produção da documentação do patrimônio
arquitetônico que compõe a paisagem urbana de Bocaina. Calcula-se, em média, que um pesquisador
possa fazer todo o trabalho de campo e, ainda, processar todos os dados necessários para a geração
dos modelos de fachada dos 221 casarões, provenientes do período áureo da produção cafeeira local,
em cerca de 40 dias. Esta estimativa não conta com prováveis contratempos durante o trabalho,
entretanto, mesmo superestimando os números, não se presume um método de levantamento mais
acessível, que alie menor custos e tempo de trabalho.
Associado ao tempo, a riqueza de detalhes arquitetônico que este tipo de levantamento proporciona
é providencial quando se trata de edificações com densa quantidade de elementos nas fachadas, como
é o caso de algumas edificações da cidade. O trabalho em campo, se planejado, ocorre de maneira
branda. A cidade, que conta com cerca de 12.000 habitantes (segundo estimativas do IBGE), não
detém uma frota significativa de veículos, o que torna o trabalho mais ágil e menos perigoso. É
possível considerar este tipo de levantamento ideal para o contexto estudado, seus fatores respondem
satisfatoriamente às necessidades do sítio e, ainda, seu produto final poderá integrar uma ação pública
organizada para salvaguarda do conjunto arquitetônico local.
Referências
BENINCASA, Vladimir. Velhas Fazendas. Arquitetura e Cotidiano nos Campos de Araraquara.
EduFSCAR; São Paulo, 2003.
COSTA, Luiz Augusto Maia. O ideário urbano paulista na virada do século. O engenheiro Theodoro
Sampaio e as questões territoriais e urbanas modernas (1886-1903). Editora Rima. São Carlos, 2003.
FURLANETO, Walmir. Uma Cidade e um Pouco de sua História. Volume II. 2003.
GHIRARDELLO, Nilson. À Beira da Linha: formações Urbanas da Noroeste Paulista. EDITORA
UNESP. São Paulo, 2002.
GROETELAARS, Natalie Johanna. Um Estudo da Fotogrametria Digital na Documentação de Formas
Arquitetônicas e Urbanas. Dissertação (mestrado) apresentada ao PPG-AU da UFBA. Salvador, 2004.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, razão e emoção. Edusp. São Paulo, 2002.
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1. Introdução
A aplicação de análises espectroscópicas para a caracterização de materiais componentes de
fotografias é recente em comparação às análises realizadas em outros objetos do patrimônio
cultural, abordagens inicialmente conceituadas na primeira metade do século XX com a
estruturação da área de Ciência da Conservação (FRONER, 2016, p.72). A disciplina da
conservação de fotografias se conforma apenas na década de 1970, em paralelo ao
reconhecimento do valor histórico e artístico das fotografias e sua valorização pelo mercado
de arte (KENNEDY, 2010, p.89), com a formação de profissionais em programas
especializados que estabeleceram as bases teóricas e práticas dessa especialização no campo
da conservação de bens culturais.
É notória a diversidade de materiais empregados na fabricação de fotografias: desde o seu
surgimento no século XIX mais de 150 processos fotográficos foram inventados. A
identificação dos seus materiais componentes é uma atividade primordial para o
conhecimento destes objetos, integra as atividades de salvaguarda do ciclo curatorial e
representa um desafio para a sua documentação, diagnóstico do estado de conservação e
definição de parâmetros para armazenamento e exibição. Através da análise da estratigrafia e
materiais componentes também é possível identificar a técnica de produção de uma fotografia
e aspectos materiais que refletem as inúmeras variações e adaptações realizadas por
fotógrafos e estúdios fotográficos.
Este estudo teve como objetivo verificar a aplicabilidade das técnicas de Espectroscopia de
Fluorescência de Raio X por Dispersão de Energia (EDXRF) e Espectroscopia de
Infravermelho por Transformada de Fourier por Refletância Total Atenuada (FTIR-ATR) para
a caracterização dos materiais componentes de fotografias em suporte de papel e assim
fornecer subsídios para pesquisas realizadas no âmbito da cultura material, fundamentar a
escolha de materiais e métodos para tratamentos de conservação e auxiliar no estabelecimento
de medidas efetivas de conservação preventiva.
A fotografia analisada se destaca por seu bom estado de conservação, com a preservação de
detalhes nas áreas de menor e maior densidade. Não apresenta sinais de esmaecimento nem
espelho de prata – resultado da oxidação da prata em cópias com este material formador da
imagem. Apresenta selo no verso com referência ao estúdio londrino dos fotógrafos William e
Daniel Downey e à casa impressora Marion, Imp. Paris. Trata-se de um retrato da rainha
Vitória (1819-1901) do Reino Unido em formato carte de visite. Este formato, inventado e
patenteado por André Adolphe-Eugène Disdéri (1819-1889) em 27 de novembro de 1854, se
popularizou e estimulou a prática colecionista de retratos de personalidades da época, como a
rainha Vitória.
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3. Resultados e discussão
A inspeção microscópica permite identificar se as fibras do suporte primário de papel estão
recobertas ou não por um aglutinante e verificar a presença de uma camada de barita (sulfato
1 Recobrimentos foram amplamente utilizados, eram aplicados na superfície das fotografias em suporte de papel
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Uma das preocupações que nortearam a utilização de certos materiais e técnicas para a
produção de fotografias, ainda no século XIX, foi necessidade de produzir cópias mais
permanentes uma vez que a percepção precoce de que as imagens estavam sujeitas ao
esmaecimento fez com que uma série de fatores extrínsecos e intrínsecos aos objetos
fotográficos fossem identificados como responsáveis pela sua impermanência. Na época, as
pesquisas foram direcionadas à compreensão dos mecanismos e causas da deterioração de
fotografias produzidas com base na fotossensibilidade dos halogênios de prata e na busca por
processos mais permanentes (CARTIER-BRESSON, 2004, p.1). O processo de impressão a
carvão foi apresentada em 1855 como a solução para a conservação das cópias fotográficas e
a impressão Woodburytipo foi um dos primeiros processos fotomecânicos que viabilizou a
reprodução com qualidade das tonalidades de uma fotografia.
4. Conclusões
As análises realizadas comprovam a potencialidade das análises espectroscópicas para
identificação dos materiais componentes de fotografias, ampliando o conhecimento tanto da
substância formadora da imagem quanto do aglutinante utilizados em sua fabricação.
Considerando as características destas técnicas para a análise de fotografias, sua principal
vantagem é oferecer um método objetivo de análise sem que seja necessário obter uma
amostra ou gerar algum dano físico, uma vez que os instrumentos não pressionam a superfície
dos objetos analisados. Entretanto, os resultados devem ser interpretados conjuntamente com
outros aspectos técnicos e históricos. É necessário confirmar a presença de cromo (Cr)
realizando medidas com maior tempo de contagem uma vez que a presença deste elemento é
decisiva para a identificação de impressões a carvão ou Woodburytipos já que ambos
processos apresentam uma pequena quantidade de cromo formado fotoquimicamente. A
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Agradecimentos
Leandro Melo, Solange Ferraz de Lima e Verônica Spnela.
J.B. agradece à CAPES pela bolsa de mestrado e M.A.R. agradece ao CNPq e FAPESP pelos
auxílios financeiros recebidos para desenvolvimento de projetos nesta área de pesquisa.
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1. Introdução
Em seus diversos aspectos, o conhecimento da composição química de bens culturais ou de seus
produtos de decaimento é de vital importância na Ciência do Patrimônio. Pela natureza dos objetos
de estudo pode-se concluir que as ferramentas analíticas ideais sejam aquelas que não afetam de
modo direto ou indireto a integridade química, física ou estética do bem cultural em investigação,
nem no momento da análise, nem após sua realização. As técnicas espectroscópicas atendem esses
quesitos por não haver contato material com o objeto e por seu potencial em fornecer informações
detalhadas e específicas sobre as substâncias químicas presentes.
Desde a década de 1970 havia o manifesto interesse no desenvolvimento de equipamentos Raman
capazes de analisar partículas micrométricas e Hirschfeld em 1973 reporta pela primeira vez a
adaptação de um espectrômetro Raman para essa finalidade (HIRSCHFELD, 1973), sendo seguido
por outros pesquisadores (ROSASCO et al., 1975; DELHAYE; DHAMELINCOURT, 1975). O
instrumento desenvolvido por Delhaye e Dhamelincourt permitia, além do registro de espectros de
microamostras, também a obtenção de imagens Raman das substâncias presentes, ou seja, era capaz
de fornecer a distribuição espacial dessas substâncias em uma amostra heterogênea. A melhoria no
desempenho dos microscópios Raman foi fundamental para que seu uso na investigação de
problemas ligados a bens culturais se disseminasse e microscópios dedicados, com alta eficiência na
captação e detecção da radiação espalhada que começaram a ser comercializados no início da
década de 1990 tiveram e tem o papel central nesse crescimento. No Laboratório de Espectroscopia
Molecular (LEM) do Instituto de Química da USP seu uso nesse tipo de aplicação teve início em
1996, com a aquisição de um microscópio Raman dedicado. Até onde se tem conhecimento, o LEM
teve papel pioneiro na América do Sul nesse tipo de aplicação da microscopia Raman.
Neste texto estão sumarizados alguns dos estudos envolvendo bens culturais que vem sendo
realizados no Laboratório de Espectroscopia Molecular do IQUSP desde a metade da década de
1990.
2. Metodologia
A maioria dos resultados apresentados neste resumo foi obtida de modo não invasivo ou
virtualmente não invasivo e envolveu uma ampla gama de técnicas, apesar das principais
contribuições serem originadas da microscopia Raman, a qual é capaz de fazer a caracterização
química das substâncias presentes no objeto/amostra estudado(a) de modo não destrutivo.
3. Resultados e discussão
A identificação de pigmentos e corantes é o tema mais recorrente quando se trata de aplicações da
microscopia Raman na Ciência do Patrimônio e, efetivamente, a primeira publicação na América do
Sul nesse assunto foi um estudo de uma pintura a óleo de Cândido Portinari (“Retrato de Murilo
Mendes”) publicada em 1998 (DE OLIVEIRA et al, 1998). A esse estudo seguiram-se vários
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outros, podendo ser citados os que envolveram a identificação da paleta de Benedito Calixto (DE
FARIA et al., 1999), a avaliação da autenticidade de um desenho atribuído a Tarsila do Amaral (DE
FARIA e PUGLIERI, 2011) e a caracterização de uma cópia de guache de autoria de Maurice
Utrillo feita pelo atelier de Daniel Jacomet (DE FARIA e PUGLIERI, 2016). A degradação de
policromias com a consequente formação de eflorescências também foi investigada no caso de uma
pintura contemporânea (esmalte sobre alumínio) de autoria de Emanuel Nassar (PUGLIERI et al.,
2016). Também podem ser citados a identificação de pigmentos egípcios antigos presentes em
fragmentos de sarcófago (DAVID et al., 2001; EDWARDS et al., 2004) e de pigmentos em pinturas
murais romano-britânicas da região de Northamptonshire, Reino Unido (EDWARDS et al., 2003).
No caso de pinturas rupestres, foram publicados diversos artigos visando a identificação de
pigmentos (DE FARIA e LOPES, 2011) com a perspectiva de ampliar o conhecimento sobre
práticas e técnicas dominadas por diferentes culturas ou então compreender melhor os processos
associados à deterioração dos pictogramas (DE FARIA e MENEZES, 2011).
A identificação correta de colorantes depende do uso de espectros de referência confiáveis e da
interpretação adequada dos resultados: estudo realizado recentemente mostrou que a literatura
reportava erroneamente o espectro da tartrazina (corante sintetizado pela primeira vez no final do
Século XIX) como sendo do pigmento amarelo da Índia que teria sido usado entre os Séculos XV e
XIX (DE FARIA et al., 2017). Ainda, foi demonstrado que a intensidade da banca em ca. 660 cm-1
no espectro da hematita não pode ser tomada como indicador de que tenha sido produzida por
aquecimento intencional de goethita (DE FARIA e LOPES, 2007) e, como último exemplo, a
espectroscopia Raman foi usada recentemente para demonstrar que a coloração turquesa de
simulantes de azul maia (material híbrido formado por índigo e paligorsquita) não é devida à
formação de dehidroíndigo (DHI), uma forma oxidada de índigo (BERNARDINO et al., 2018).
Outro aspecto importante que vem sendo explorado refere-se às características e propriedades do
pigmento em si, como é o caso do caput mortuum, um pigmento histórico de coloração púrpura
constituído por Fe2O3. Mostrou-se que sua cor não está relacionada ao tamanho das partículas do
pigmento, mas sim a defeitos estruturais que tem impacto em seu espectro de absorção no visível e
infravermelho próximo (SANTOS, 2018).
A questão da identificação de aglutinantes em pinturas rupestres foi abordada em simulações feitas
em laboratório usando as espectroscopias Raman e FTIR e Cromatografia a Gás acoplada a
Espectrometria de Massa (GC-MS), que mostraram que óxido de ferro (III) e de manganês (IV)
aceleram a decomposição de linoleato de metila, empregado para simular o comportamento de
aglutinantes (BERNARDINO et al., 2014). Diversos lipídios de potencial interesse como
aglutinantes e seus produtos de degradação foram investigados por espectroscopia Raman,
Ressonância Magnética Nuclear (NMR) e GC-MS (MAIER et al., 2005).
Estudos sobre têxteis e seus colorantes geralmente tem de contornar a forte luminescência
apresentada pelas amostras, razão pela qual é frequentemente necessário utilizar o efeito SERS
(Surface Enhanced Raman Scattering) para a obtenção de espectros. Foi dessa forma que amostras
de fibras coloridas (vermelhas e verdes) do período pré-Colombiano encontradas no Perú foram
caracterizadas (BERNARDINO et al., 2015).
A corrosão de objetos feitos em metal também é tema de interesse, em especial no contexto da
conservação preventiva. Chumbo é um metal frequentemente encontrado em bens culturais e foram
publicados estudos sobre sua corrosão por compostos orgânicos voláteis (VOCs) emitidos por
fontes naturais ou antropogênicas (DE FARIA e PUGLIERI, 2010; DE FARIA et al., 2013;
PUGLIERI et al., 2014).
Biomateriais tem maior susceptibilidade à deterioração, o que aumenta a complexidade do estudo e
geralmente implica em luminescência, dificultando o uso da espectroscopia Raman. Apesar disso,
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foi possível estudar ossos encontrados em sepultamentos em sambaquis no sul do Brasil (DE
FARIA et al., 2005; EDWARDS et al., 2001) e artefatos de resina usados por indígenas como
adornos labiais perfurantes (tembetás) (DE FARIA et al., 2004; DE FARIA et al., 2005).
Apesar de menos intensamente estudadas, contas são objetos que chamam a atenção pela sua
importância em sociedades antigas. A espectroscopia Raman foi empregada no estudo de contas
encontradas nos sítios arqueológicos de Sipán (Lambaieque, Perú) (DE FARIA et al., 2014).
A preocupação com a conservação preventiva de bens culturais também pode ser encontrada na
publicação que reporta o desenvolvimento de sensores capazes de identificar precocemente a ação
de agentes químicos potencialmente agressivos através de microbalanças de quartzo
(CAVICCHIOLI e DE FARIA, 2006).
4. Conclusões
Neste resumo foram apresentados alguns exemplos de trabalhos realizados no LEM, nos quais a
microscopia Raman teve papel chave na caracterização da composição química local de objetos e
ambientes, contribuindo especialmente nos campos da conservação preventiva, química forense,
história da arte e química de bens culturais.
Agradecimentos
Às agências de fomento (CNPq, Capes e, especialmente, Fapesp), ao auxílio de alunos e pós-
doutorandos, bem como de colegas de outras Instituições de Pesquisa e Museus.
Referências
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1. Introdução
Este resumo apresenta a pesquisa desenvolvida no âmbito do Trabalho de Conclusão de Curso para
a graduação no curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (FERREIRA, 2017)
que investigou o gerenciamento ambiental de coleções empregado no Centro de Arte Popular da
Cemig.
O Centro de Arte Popular da Cemig (CAP), inaugurado em 2012, é um dos espaços integrantes do
Circuito Cultural Praça da Liberdade e está sob a gestão da Superintendência de Museus e Artes
Visuais da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais. As obras que constituem a coleção de
Arte Popular foram elaboradas por artistas mineiros nos mais diversos suportes como madeira,
cerâmica, tecidos e pedras e são originárias, em sua maioria, do Vale do Jequitinhonha, Cachoeira
do Brumado, Divinópolis, Prados, Ouro Preto e Sabará. O espaço conta com salas para exposições
de longa duração e outras de exposição temporária onde são realizadas exposições de artistas de
outras regiões do Brasil.
O edifício que abriga o CAP, localizado na Rua Gonçalves Dias nº 1608, foi projetado pelo
arquiteto mineiro Luiz Signorelli em 1928 originalmente para uso residencial. O uso de edificações
já existentes para abrigar espaços expositivos é comum no Brasil, mas muitas vezes estas não
apresentam certas características relevantes para um funcionamento eficaz. Para a adequação do
edifício às necessidades referentes ao microclima dos ambientes de um museu, podem ser utilizados
recursos e estratégias arquitetônicas de climatização que podem incluir o uso de sistemas ativos de
ar condicionado (como o que é empregado no CAP nas salas de exposição 01 e 02). Porém tal
abordagem nem sempre apresenta bons resultados, uma vez que, equipamentos mecânicos muitas
vezes são danificados ou desligados o que gera flutuações climáticas indesejáveis no ambiente,
potencialmente comprometendo a conservação do acervo.
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2. Metodologia
Para a elaboração do trabalho foi realizado o monitoramento ambiental a partir da coleta, tratamento
e correção de dados climáticos externos e internos.
O dados externos foram obtidos a partir dos dados horários de temperatura, umidade relativa e
precipitação do período de janeiro de 2014 a outubro de 2017 fornecidos pelo INMET(Instituto
Nacional de Meteorologia) da estação de Cercadinho em Belo Horizonte, com base nos quais foram
calculadas as estatísticas descritivas e elaborados climogramas.
Os dados internos foram medidos por registradores (data loggers) que já estavam em
funcionamento no CAP para realizar o monitoramento ambiental de temperatura e umidade relativa
desde outubro de 2014. Os aparelhos da marca Perceptec, modelo DHT 1270 foram configurados
para registrar as variáveis a cada 2 horas e posteriormente a configuração foi alterada para realizar
este registro a cada 1 hora, a partir do dia 01 de julho de 2016. O período de medição interna,
portanto foi de outubro de 2014 a outubro de 2017. Cada data logger foi posicionado em um local
estratégico, de forma a não comprometer a expografia, chamando a atenção do visitante, ou a
confiabilidade dos dados. Por este motivo, foram escolhidos locais acima do mobiliário de
exposição, mais próximos do centro da sala e sem incidência direta de iluminação artificial ou fluxo
do ar condicionado. O monitoramento foi realizado em 4 salas de exposição nomeadas pela
instituição como salas 01, 02, 03 e 04.
Com o intuito de aferir o seu funcionamento, foram instalados junto aos registradores do CAP, no
período de 23 de agosto de 2017 a 22 de setembro de 2017, registradores da marca ONSET modelo
HOBO U10-003, que foram aferidos para medição de UR em outubro de 2016, no Laboratório de
Ciência da Conservação da UFMG (LACICOR), em microclima enclausurado, com utilização de
soluções salinas saturadas para cada faixa de aferição.
Para a análise das condições de conservação do acervo exposto nas quatro salas de exposição de
longa duração, foram derivadas métricas de preservação referentes a mecanismos de deterioração
químicos, físico-mecânicos e biológicos. As métricas de preservação obtidas neste trabalho com
base nos dados registrados por meio do monitoramento ambiental incluem:
a) Deterioração química: isopermas de Sebera (P2/P1) Michalski (LM), índice de preservação (IP).
Para esses índices foram obtidos os valores instantâneos, com base em cada par de valores de T/UR,
e também os valores ponderados pelo efeito cumulativo do tempo, por meio de médias harmônicas
das taxas de deterioração correspondentes a cada valor instantâneo na série. Ressaltando que o
índice de preservação (IP), desenvolvido pelo IPI (Instituto de Permanência da Imagem) “indica
uma estimativa de quanto tempo um material orgânico demoraria para sofrer a mesma deterioração
de 2% ao ano, que um filme de acetato de celulose sofreria em 50 anos, se mantido a 20°C/45%”
(Gonçalves, 2013, p.345).;
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Detalhes sobre a metodologia de obtenção das métricas podem ser consultados em (Gonçalves,
2013).
As métricas foram geradas a partir dos dados médios horários internos de cada uma das salas (já
com a correção citada no item anterior) e pressão atmosférica média horária externa fornecida pelo
INMET.
3. Resultados e discussões
3.1 Métricas de preservação química
A tabela abaixo (Tabela 1) faz uma comparação entre as métricas de preservação química
ponderadas pelo efeito cumulativo do tempo (isopermas de Sebera, isopermas de Michalski e índice
de preservação) nas salas estudadas, considerando o período típico de um ano, com base nas médias
horárias de temperatura interna e umidade relativa interna para o período outubro de 2014 a outubro
de 2017:
Tabela 1: Tabela comparativa com os valores obtidos para cada uma das métricas de
preservação nas salas analisadas.
Para todos os efeitos, a sala 02 se assemelha bastante com a sala 01, em termos de deterioração
química, com a isoperma-T ao fim do período também atingindo 0,6 e o LM-T atingindo 0,7. O
IETP também atinge, no final do período, a marca próxima a 35 anos. Por possuir medidas de
temperatura interna superiores em comparação às salas 01 e 02, o acervo na sala 03 está mais
susceptível a sofrer com a deterioração química. Ao final, a taxa de permanência ponderada pelo
efeito acumulativo do tempo (isoperma-T) atinge valores próximos a 0,25. Ou seja: por essa métrica
a velocidade da deterioração química na sala 03 é aproximadamente 2,5 vezes maior que na sala 01.
Diferente das salas climatizadas, a sala 03 não se aproxima da permanência 1 em nenhum momento
do ano, e como observado anteriormente, chega a níveis inferiores à permanência 0,33. Para o
IETP, os valores permanecem na faixa dos 20 anos, o que demonstra que a deterioração está duas
vezes mais rápida em comparação com a sala 01 e 02 (mesma conclusão obtida ao realizar a análise
das isopermas). Em setembro, mês mais seco no ano, o índice fica em torno de 30 anos.
A sala 04, que também não está climatizada, apresenta condições melhores que a sala 03 com
Isoperma-T chegando a 0,5. Por essa métrica a velocidade da deterioração química na sala 04 é duas
vezes menor que na sala 03. Interpretando a variação das isopermas de Michalski ao longo do ano
pode-se observar que a sala 04 fica um período maior dentro da zona considerada de “risco
mediando” do que a sala 03, denotando portanto um comportamento microclimático melhor com
relação à deterioração química do que na sala 03. Para o IETP, os valores permanecem na faixa dos
30 anos – valor mais alto do que o atingido na sala 03, denotando portanto, um comportamento
microclimático melhor com relação à deterioração química do que na sala 03.
3.2 Métricas de preservação físico-mecânicas
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sala 01. Já o DC total está 0,3% maior em comparação com a sala 01 e 02 o que, a princípio, não
representaria uma diferença significativa no risco de danos físico-mecânicos. DC encontram-se na
faixa “aceitável” segundo os parâmetros seguidos por cada índice. Comparada com a sala 03 a sala
04 apresenta um comportamento microclimático ligeiramente melhor em termos de possíveis danos
físico-mecânicos, atingindo uma DC cumulativa da ordem de 1% comparada com 1,1% na sala 03.
Tabela 2: Valores obtidos de DC cumulativo para as salas analisadas.
Sala DC (%)
Sala 01 0,83
Sala 02 0,65
Sala 03 1,07
Sala 04 1,01
O risco de crescimento de microrganismos derivado para o período analisado foi praticamente nulo
em todas as salas analisadas, uma vez que as médias de URi não ultrapassaram 70%, em nenhum
momento, sendo esta a referência a partir das isopletas de Ayerst (Gonçalves, 2013, p. 371). O
sistema de climatização está controlando satisfatoriamente o risco de mofo.
4. Conclusões
Os resultados obtidos indicam que o sistema de climatização utilizado pelo CAP seria satisfatório
para a conservação das obras em exposição e, que mesmo nas salas onde ele não está funcionando,
o envelope do edifício e os acabamentos expositivos das salas são eficazes no controle de umidade,
em termos de redução da amplitude de variação e valores máximos internos, o que reduz riscos de
danos físico-mecânicos e biológicos. As salas 01 e 02 possuem características bastante semelhantes,
obtendo índices próximos nas métricas de preservação. Entre as salas 03 e 04, pelo contrário, não há
tantas semelhanças. Em termos de predisposição à deterioração química, na sala 03 a taxa de
deterioração seria duas vezes maior em comparação com a sala 04. Estas duas salas apresentam
acúmulo de carga térmica, deixando a temperatura interna superior à externa em alguns momentos
do ano.
Dentro da proposta voltada para a eficiência energética, há pouco a ser dito com as informações
disponíveis, sendo possíveis soluções para a utilização do sistema de climatização nas salas 01 e 02
em épocas do ano ou horários específicos, pois como foi visto as salas 03 e 04 mantém bons índices
de preservação, em alguns momentos, até sem o ar condicionado. Mesmo com poucas informações
sobre o consumo de energia do CAP, o trabalho é relevante, uma vez que, poucas publicações
apresentam estes dados, especialmente no Brasil.
Agradecimentos
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Referências
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1. Introdução
O diagnóstico representa uma etapa inicial de planejamento estratégico, fundamental em qualquer
ação de conservação preventiva. Ele abrange uma análise de como os aspectos
organizacionais/institucionais, de infraestrutura, da materialidade da própria coleção e, de maneira
transversal, de segurança, impactam nas condições de preservação. O diagnóstico envolve ainda
considerações sobre como estes aspectos se relacionam e possibilita estabelecer diretrizes e
prioridades para a gestão da conservação das coleções. Além disso, é uma importante ferramenta
auxiliar para as tomadas de decisões com respeito à gestão das coleções, ajudando a priorizar
investimentos e mudanças necessárias, em conformidade com o cronograma e ciclos de
planejamento de cada instituição.
No cenário internacional, vários países já praticam processos de acreditação por meio de auditorias
qualitativas e quantitativas de seus museus. Tais processos abrangem uma ampla análise da
instituição, sua missão, metas, política, equipe e acervo gerando uma classificação de qualidade e
serviço internacionalmente reconhecida.
2. Metodologia
O desenvolvimento de uma ferramenta para o diagnóstico expedito de condições de conservação de
coleções vem sendo objeto de pesquisa desde 2010, cabendo destacar os trabalhos de Souza (2015)
e Gonçalves (2016). No presente projeto de pesquisa, iniciado em 2016, a metodologia adotada
consiste nas seguintes etapas: (i) Estudo, discussão, comparação de ferramentas de diagnóstico
nacionais e internacionais; (ii) Adaptação do roteiro com incorporação de questões específicas para
coleções armazenadas em reservas técnicas; (iii) Visitas in loco, entrevistas e levantamento
documental, arquitetônico, dimensional, fotográfico nos estudos de caso escolhidos; (iv) Aplicação
da metodologia compilada aos estudos de caso; (v) Processamento, discussão e divulgação de
36
resultados. Cabe ressaltar que a ferramenta de diagnóstico desenvolvida até então, necessita de ser
permanentemente atualizada e adaptada, portanto, não sendo concebida em seu formato final.
Para seu aperfeiçoamento, o roteiro foi aplicado em três dos museus sob gestão da Superintendência
de Museus e Artes Visuais (SUMAV) da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais. Para
cada um dos casos, foi avaliada uma coleção, sendo elas respectivamente, a pinacoteca, coleção de
armas e esculturas de madeira.
O trabalho se iniciou por um estudo minucioso das seguintes ferramentas encontradas na literatura
da área: ICCROM RE-ORG (s.d.), GCI (1999), HCC (1999), NPS (1999), PATKUS (2003) MLA
(2004, 2011), De Tapol (2005, 2011), LOPES (2011), SPECTRUM (2014), HERITY (s.d),
FRONER (2015). O projeto prevê ainda a elaboração de um caderno técnico de referência para
aplicação da metodologia em outros museus mineiros.
Em seguida, o peso de cada seção a ser considerado para o cálculo da pontuação global, é
determinado em função do número total de perguntas respondidas, uma vez que para algumas
coleções, algumas perguntas não se aplicam. Por fim, a pontuação global que representa o resultado
final do diagnóstico das condições de conservação da coleção analisada é obtida como uma média
ponderada positiva ou negativa (Diagrama 01).
Tabela 1: Interpretação/ Diagnóstico. Fonte: Souza (2015)
PONTUAÇÃO INTERPRETAÇÃO/DIAGNÓSTICO
GLOBAL
De -100% a -61% MUITO RUIM- CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃO INADEQUADAS. RISCOS SIGNIFICATIVOS DE PERDA DE VALOR DA COLEÇÃO
De -60% a -21% RUIM- MEDIDAS DE MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃO SÃO IMPERATIVAS
De -20% a 20% REGULAR- SÃO NECESSÁRIAS MEDIDAS PARA MELHORAR AS CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃO DA COLEÇÃO
De 21% a 60% BOM- CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃORAZOAVELMENTE ADEQUADAS, PODENDO SERMELHORADAS
De 61% a 100% MUITO BOM- CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃO APARENTEMENTE ADEQUADAS
37
Diagrama 1: Diagrama resumo da estrutura da ferramenta para diagnóstico.
SEÇÕES
Para cada seção são respondidas perguntas sobre os itens abaixo atribuindo-se pontos positivos e negativos.
Sala da Reserva
Instituição Entorno Edifício Mobiliário Suporte Coleção Segurança
Coleção técnica
Formalização Capacitação
Caracterização Caracterização Infestação Infestacão Acondicioname Controle de Aplicação do
de dos
climática; do edifício; biológica; biológica; nto; inventário; orçamento;
documentos; funcionários;
Distribuição de Qualidade do Infestação Uso apropriado Emissão de Infestação Infestação Plano de Corpo
recursos; ar; biológica; do espaço; poluentes; biológica; biológica; emergência; profissional
responsável;
Profissionais Adequação ao
Vegetação; Estrutura; Estrutura; Controle de Uso dos
capacitados; acervo; Qualidade. Empréstimos;
localização; espaços;
segurança;
Controle de Risco de Políticas de Controle Estado de Controle de
Patologias; Gestão de
pragas. inundação. inspeção; microclimático; conservação; acesso; risco;
Qualidade do Sistemas de Danos por Gestão de Sistemas de
ar; ventilação; iluminação; risco; segurança; Segurança;
Limpeza;
Mobiliário.
Climatização.
FATOR DE PONDERAÇÃO (0 a 1)
Representa o peso de cada seção na pontuação global. É calculado dividindo o somatório dos pontos máximos e mínimos possíveis em cada
seção pelo total de pontos envolvidos no questionário. Em cada caso pode variar o número de questões a serem respondidas e
consequentemente, a pontuação
Suporte
Entorno
Instituição
Edifício
coleção
Mobiliário
Coleção
Sala da
Segurança
Reserva
técnica
38
3. Resultados e discussões
Após a aplicação do questionário nos estudos de casos escolhidos para o desenvolvimento do
projeto, algumas modificações foram necessárias para adequar o roteiro a eles. Com o resultado em
mãos, foi possível realizar o diagnóstico de cada instituição, destacando pontos de vulnerabilidade e
pontos favoráveis para a conservação em cada uma das seções analisadas. Na tabela 2 é possível ver
os resultados obtidos no diagnóstico para o Museu 1, Museu 2 e Museu 3.
Tabela 2: Resumo da Tabela Síntese apresentando as pontuações obtidas em cada caso e em cada seção
Museu 1
Pontuação Normalizada Pontuação Normalizada Pontuação Global
Seções Interpretação
Positiva (%) Negativa (%) (%)
Instituição 69,57 Muito Bom
Entorno -60,00 Ruim
Edifício 12,50 Regular
Sala -24,24 Ruim
Mobiliário 29,16 Bom 14,53(Regular)
Suporte/Embalagem 70,00 Muito Bom
Coleção -24,24 Bom
Segurança 25,00 Bom
Reserva Técnica 20,51 Bom
Museu 2
Instituição 47,62 Regular
Entorno -20,00 Regular
Edifício -12,12 Regular
Sala -33,33 Ruim
2,94(Regular)
Mobiliário 54,16 Bom
Suporte/Embalagem 70,00 Muito Bom
Coleção -14,81 Regular
Segurança -22,85 Bom
Museu 3
Instituição 43,48 Bom
Entorno -10,00 Regular
Edifício 0 Regular
Sala 32,00 Bom
35,07 (Bom)
Mobiliário 70,83 Muito Bom
Suporte/Embalagem 100,00 Muito Bom
Coleção 27,27 Bom
Segurança 30,56 Bom
Pela interpretação dos resultados obtidos com a aplicação do diagnóstico, é possível perceber que o
entorno e o edifício são responsáveis pelos pontos de maior vulnerabilidade nas três instituições
estudadas, demonstrando que é necessário aumentar o investimento nesses setores afim de evitar
maiores danos nas coleções. Já o que diz respeito à segurança, suporte/embalagem, todos os três museus
receberam boas notas, o que implica em condições de conservação aparentemente adequadas.
4. Conclusões
Como aspectos positivos da ferramenta simplificada de diagnóstico apresentada neste trabalho
merecem destaque: (i) trata-se de ferramenta disponibilizada gratuitamente, resultante de projeto de
pesquisa financiado e executado em instituições públicas; (ii) com base na revisão e compilação de
dezenas de referências técnicas relevantes para a área de Conservação-Restauração resulta em um
roteiro em língua portuguesa adaptado à realidade das instituições e coleções brasileiras; (iii) busca
valorizar o trabalho do profissional Conservador-Restaurador na preservação das coleções; (iv)
propõe uma metodologia objetiva para a análise de condições de conservação de coleções, com um
39
resultado global quantitativo, sintético e comparativo; (v) o desenvolvimento em perspectiva
evolutiva ressalta a necessidade da constante atualização, adaptação e aperfeiçoamento. Para
complementar este trabalho, o roteiro foi automatizado em uma planilha eletrônica e está em fase de
desenvolvimento um “selo de qualidade” que ilustrará os resultados obtidos e que futuramente
poderá servir como base para normativas ou embasar rotinas de acreditação. Ao final do projeto
pretende-se elaborar um caderno técnico que sirva como referência da temática investigada. A partir
da avaliação feita nos três museus, apresentada neste trabalho de forma resumida, será feito um
relatório para cada instituição que poderá colaborar em futuras decisões de melhorias necessárias
para a preservação das coleções.
Agradecimentos
Agradecemos à FAPEMIG e à UFMG pelos recursos disponibilizados para a realização deste
projeto de pesquisa e sua apresentação neste evento e à SUMAV/SECULTMG pela permissão de
acesso aos casos estudados e colaboração em todo o projeto. Os autores agradecem ao CNPq -
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio a projeto de pesquisa
que investigou metodologia utilizada neste trabalho.
Referências
DE TAPOL. Herramientas para diagnostico. Disponível em:https://pt.scribd.com/document/50036935/De-Tapol-
Benoit-Herramientas-para-diagnostico-conservacion. Acesso em: 19 de setembro de 2017.
FRONER, Yacy-Ara. Manual de Procedimentos: diagnóstico Sistemas de informação: protocolos de gestão em
Conservação Preventiva de acervos de Arte Contemporânea. Belo Horizonte, Maio, 2015.
GCI - GETTY CONSERVATION INSTITUTE. The Conservation Assessment: a proposed model for evaluating
museum environmental management needs. EUA: GettyConservationInstitute, 1999.
GONÇALVES, W.B. Métricas de preservação e simulações computacionais como ferramentas diagnósticas para
conservação preventiva de coleções. Belo Horizonte: [s.n.]. estudo de caso no sítio patrimônio mundial de Congonhas -
Minas Gerais/Willi de Barros Gonçalves - 2013.Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de
Belas Artes.
GONÇALVES, Naiara. Ferramenta Simplificada de Diagnóstico de Condições de Conservação: Revisão por meio do
estudo do caso das Coleções Especiais e Obras Raras do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. 2016. 125 f.
TCC (Graduação) - Curso de Conservação-restauração de Bens Culturais Móveis, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2016.
HCC – Heritage Collections Council, A best practice model for Conservation and Preservation assessment plans, 1999.
HERITY. Disponível em: http://www.museuarqueologia.pt/ documentos/Herity.pdf Acesso em: 15 de setembro de
2017.(s/d.)
ICCROM RE-ORG (International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property).
Disponível em: www.re-org.info/en/download/243/34/16. Acessado em : 15de setembro de 2017.
KEENE, Maninging Conservation in Museums, Collection condition, cap8. 2002 . KIOUSSI, Anastasia et al.
Integrated documentation protocols enabling decision making in cultural heritage protection. Journal of Cultural
Heritage, v. 14, n. 3, p. e141-e146, 2013.
MLA – Museums Libraries Archives Council – Benchmark in Collections Care 2.0– Londres Colections Trust 2011.
Disponível em : http://326gtd123dbk1xdkdm489u1q.wpengine.netdnacdn.com/wpcontent/uploads/2016/08/Benc
hmarks2_updated__Oct_2014-3.compressed.pdf. Acesso em 26 de janeiro de 2017.
NPS- NATIONAL PARK SERVICE. Museum Handbook, Part I (1999) The “NPS Checklist for Preservation and
Protection of Museum Collections" provides general standards for collection preservation and protection. See Appendix
F: NPS Museum CollectionsManagementChecklists.<http://www.cr.nps.gov/museum/publications/handbook.html
>.Acesso em: 09 de setembro de 2017.
SOUZA, G. M. Ferramenta Para Diagnóstico Simplificado de Condições de Conservação de Conservação de
Coleções: Estudo de Caso. 104 f. Monografia (Especialização em Conservação Restauração de Bens Culturais Móveis)
– Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte: 2015.
SPECTRUM, O padrão para gestão de coleções de museus do Reino Unido/ CollectionsTrust. São Paulo : Secretaria
de Estado de Cultura ; Associação de Amigos do Museu do Café ; Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2014. (Gestão e
documentação de acervos : textos de referência ; v. 2). Tradução de: SPECTRUM 4.0: the UK MuseumCollections
Management Standard”. 256 p. ISBN 9788582560389 disponível em:http://spectrum-pt.org/2014/09/spectrum-4-0-
versao-digital-em-portugues-ja-disponivel/. Acesso em: 11 de outubro de 2016.
PATKUS, Beth. Assessing Preservation Needs: A self-survey guide. Northeast Document Conservation Center, 2003.
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1. Introdução
O uso de materiais metálicos pelo homem data desde a Antiguidade até os dias atuais, entretanto o
desenvolvimento de técnicas de douramento na arte atingiu o seu auge na Idade Média,
principalmente na pintura sobre madeira. O metal mais visado era o ouro, um material nobre e de
valor elevado, porém era comum o emprego da prata, do estanho e ligas metálicas.
O ouro, em obras sobre papel, podia ser aplicado sob a forma de folhas ou macerado, também
chamado de “ouro de concha”. A produção de folhas metálicas dá-se a partir de uma quantidade de
metal que passava por quatro etapas: o refino, a laminação, o entrefolhamento e o batido. O
profissional que reduzia o metal a folhas era chamado de “bate folhas”, uma alusão ao processo de
produção. Já o “ouro de concha” é referido à concha, como recipiente para a maceração mecânica
da folha metálica. De maneira geral, deve-se “pizar folhas de ouro, e amalgamar em huma concha
com mordente” (SEGREDOS, 1794, p. 253), ou seja, a folha era colocada no recipiente e
adicionava-se sal ou areia que funcionavam como um esmeril, além do mel com função deslizante,
materiais esses que eram eliminados após lavagem com água. O pó resultante da maceração era
comumente aglutinado com clara de ovo ou goma arábica, sendo que há também referências quanto
ao uso da cola de esturjão ou de boi (ZAMORA, 2007). Não era incomum a adição de outros
materiais para variar a coloração da mistura formada, como o ácido nítrico, ácido clorídrico e
sulfato ferroso, garantindo nuances diferentes do amarelo dourado.
Até o século XV o emprego excessivo de folhas finas de ouro, aliado à desmonetização que ocorria
em alguns países, propiciou a utilização alternativa de outros metais semelhantes, como o ouro
partido (mistura de ouro e prata ou cobre) e os douramentos com prata velada (prata com veladura
amarela). Tais materiais não apresentavam a mesma estabilidade frente aos agentes atmosféricos de
deterioração, uma vez que se oxidavam rapidamente (ZAMORA, 2007).
O uso de folhas de ouro misturadas a folhas de prata ou cobre podem ter colorações e brilhos
variados, e são chamadas de “parte ouro”. Já o ouro falso é, por excelência, o latão, um material
feito a partir de uma liga de cobre e zinco, podendo conter também pequenas quantidades de
alumínio, ferro, manganês, níquel, estanho e chumbo. Esta liga também é chamada “tombaque”
que, além do cobre e do zinco, podem conter outros ingredientes como resinas, sal amoníaco,
vitríolo verde, limalha de ferro, entre outros (SEGREDOS, 1794).
O processo de produção de folhas de latão é similar ao do ouro, prata e “parte ouro”, apresentando
as etapas de laminação, entrefolhamento e batido. O vapor de zinco é utilizado para dar ao latão o
tom amarelado, assemelhando-se ao ouro (GOOD e GREGORY, 1813). As folhas de latão são
também chamadas de oropel, folha de bronze, folha metálica ou folha holandesa. Tais folhas de cor
amarela pálida aceitam polimento garantindo brilho intenso e possuem a aparência similar a das
folhas finas de ouro, porém apresenta a vantagem do fácil manejo devido à sua maior densidade e
peso, que permitem poder tocá-lo com os dedos previamente desengordurados com álcool
(ZAMORA, 2007).
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Da mesma forma que o ouro e a prata, o latão é possível de ser macerado e de se adicionar um
aglutinante. O uso do latão em folhas ou em pó é observado tradicionalmente na decoração de
ambientes interiores que não estão expostos à umidade, uma vez que pode oxidar e tornar-se escuro.
É também pouco estável ao ar, álcalis e ácidos, sendo que as alterações podem ser minimizadas com
a aplicação de uma resina ou verniz. Um exemplo de uso de “pó de bronze” é encontrado nas
chinesices do altar de Santo Antônio da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Catas
Altas do Mato Dentro, no estado de Minas Gerais, cujo início da sua construção data de 1738
(SOUZA, 1996).
Outros exemplos de aplicação de materiais metálicos podem ser vistos em esculturas em madeira,
mármore, têxteis, peles, pergaminho e papel. O gosto pelo douramento sobre o papel se
desenvolveu principalmente entre os séculos XI e XIII, mas pode ser também encontrado em
documentos posteriores. Nos tratados de pintura, iluminação e caligrafia são exemplificados
diversos tipos de mordentes utilizados na preparação do papel para receber os materiais metálicos,
como o uso do leite de figueira misturado ao açafrão; uma mistura de goma arábica, sulfato ferroso,
açúcar branco e açafrão; goma amoniacal fermentada em vinagre e urina e amassada com clara de
ovo. Há também tratados que indicam o emprego de metal sobre papel da mesma forma encontrada
nas esculturas douradas, aplicando-se camadas de gesso, cola, bolo armênio que, depois de secas,
recebiam uma cobertura de clara de ovo. Os metais poderiam ser aplicados em folha ou em pó
misturados a um aglutinante e, em seguida, estavam prontos para serem brunidos.
Durante pesquisa de mestrado conduzida junto ao Programa de Pós-graduação em Artes da Escola
de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGA/EBA/UFMG) foi possível analisar,
sob os aspectos das técnicas, materiais, histórico e estado de conservação, dois Livros de
Compromisso de irmandades mineiras, de mesma origem, datados de 1725, porém com histórico de
uso e condições de acondicionamento distintas. O primeiro livro, mais deteriorado, está sob a
guarda do Arquivo Público Mineiro (APM), em Belo Horizonte, Brasil. Já o segundo, em melhor
estado de conservação, encontra-se no Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT), em Lisboa,
Portugal. Os dois livros apresentavam materiais metálicos na decoração de vinhetas, capitulares,
títulos de capítulos e volteios caligráficos.
2. Metodologia
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Foram realizadas vinte e três medições e uma quantificação da liga com o espectrômetro calibrado.
Os dados foram tratados utilizando o software Artax.
No Laboratório de Ciência da Conservação (LACICOR) da UFMG foram montados dois cortes
estratigráficos a partir de micro amostras retiradas com o auxílio de um microscópio estereoscópico
e bisturis e documentadas com fotografias digitais (frente e verso), sendo que se escolheu amostras
com estado de deterioração distintos. Cada amostra foi colocada sobre um bloco de resina acrílica
autopolimerizável e fixada. Após a polimerização completa, colocou-se o bloco em um molde de
borracha siliconada, preenchendo-o com resina acrílica autopolimerizável até completar o volume
do molde. O bloco de resina foi deixado em repouso por vinte e quatro horas. Uma vez
polimerizado, o bloco de resina com a amostra foi polido em politriz com lixa de 200 mesh e, em
seguida, lixou-se à mão com lixas metalográficas de 200, 300, 400, 600, 2000 e 4000 mesh. O corte
foi fixado com massa de modelar em uma lâmina, observado em microscópio de luz polarizada e
documentado com fotografias digitais, com aumento de 10 e 20 vezes.
Os resultados dos exames organolépticos, documentação científica por imagem, EDXRF e PLM
foram analisados e são apresentados a seguir.
3. Resultados e discussão
A ornamentação dos livros selecionados apresenta diversos corantes e pigmentos aglutinados com
goma arábica, além da aplicação de materiais metálicos (GONÇALVES, 2015). A partir da
observação visual sob luz direta e microscopia ótica, observou-se que o calígrafo/pintor fazia
primeiramente contornos em grafita para guiar a pintura, aplicando o material metálico sob forma
fluida com o uso de um pincel, sendo encontradas cerdas de pincéis fixadas à “tinta” de aplicação
metálica e, em seguida, aplicava camadas de tinta adjacentes (Figura 1). Nessas áreas, no livro do
APM observa-se uma coloração verde e ocre, com pontos de brilho furtivos, e o aspecto da
aplicação é pulverulento. Já no livro do ANTT, a coloração é de um amarelo escuro brilhante,
porém não apresenta a unidade de uma folha metálica.
Título de capítulo
Contorno carmim
transparente
Contorno preto
opaco
Material metálico
Esboço da letra
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um relevo no verso da folha em que o metal foi aplicado, possivelmente devido ao aglutinante
utilizado.
Através da EDXRF foi possível comprovar a natureza dos metais, apontando para uma liga de cobre
e zinco, o que caracteriza o latão (Figura 2). O cobre e o zinco estão presentes também em diversas
áreas do papel, incluindo o papel limpo, evidenciando uma contaminação ou migração desses
elementos para o suporte. A partir de quantificações obtidas com a EDXRF, o latão encontrado nos
dois Livros de Compromisso é uma liga de 95% de cobre e 5% de zinco.
Amostra Am2851T: frente do fragmento de aspecto Amostra Am2851T: verso do fragmento apresentando
esverdeado e com pontos de brilho. Aumento de 60x. o suporte de papel de trapo. Aumento de 60x.
Estratigrafia:
1 - Suporte (papel de trapo)
2 - Camada verde fina (produto da deterioração do
latão)
3 - Camada fina brilhante (latão)
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4. Conclusões
Dentre a documentação histórica produzida no Brasil até o século XIX merecem destaque os
manuscritos iluminados, sendo exemplos desses objetos os dois Livros de Compromisso
selecionados. O estudo partiu de um procedimento lógico de pesquisa iniciado pela análise visual
dos objetos, seguida pela compilação de toda informação histórica disponível, incluindo a história
recente e informações de qualquer intervenção de conservação-restauração anterior. O próximo
passo foi o diagnóstico de conservação do objeto, buscando identificar as técnicas e materiais
utilizados pelo calígrafo/pintor, tentando relacionar as causas de deterioração. Todo esse
procedimento exigiu o suporte de várias técnicas analíticas cujos resultados apontaram para
materiais e técnicas característicos da época, porém chama atenção a aplicação do latão, sendo esta
a primeira pesquisa que documenta este tipo de material metálico aplicado em manuscritos.
Para a identificação de técnicas e materiais empregados nos manuscritos optou-se por ensaios não
invasivos ou microinvasivos, dependendo da viabilidade e acesso aos equipamentos. A técnica de
EDXRF mostrou-se útil para identificar a liga metálica e o corte estratigráfico permitiu a
confirmação da técnica de aplicação do latão. Esses exames, associados às análises organolépticas e
à documentação científica por imagem, possibilitou a caracterização do uso do latão nos
manuscritos, mostrando serem técnicas complementares.
As áreas que receberam o latão são as que mais se destacam no que diz respeito ao estado de
conservação dos dois manuscritos iluminados. Em alguns locais, sobretudo no livro do APM,
visivelmente mais deteriorado que o livro do ANTT, a camada brilhante do latão não existe mais,
deixando uma cobertura verde, resultado do processo de corrosão do cobre. Além disso, nesses
locais observa-se que o papel é quebradiço, resultado do processo de oxidação das cadeias de
celulose e, por consequência, há a diminuição da resistência mecânica do papel, tornando-o frágil, o
que pode levar a perdas do suporte. Desta maneira, faz-se necessário que novas pesquisas sejam
desenvolvidas a respeito desta técnica visando à estabilidade do processo de deterioração e
possíveis tratamentos.
Agradecimentos
Referências
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Catas Altas do Mato Dentro, um monumento exemplar. 1996. 115 p, enc. Tese [doutorado] –
Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Química.
ZAMORA, Eva López. Estudio de los materiales y procedimientos del dorado através de lãs
fuentes literarias antiguas: aplicación em las decoraciones de pinturas castellanas sobre tabla. 2007,
556p. Tese [doutorado] – Universidade Complutense de Madrid, Facultad de Bellas Artes,
Departamento de Pintura.
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1. Introdução
Concebida como uma das artes clássicas, a Arquitetura só existe quando materializada, por meio da
técnica, no mundo das coisas palpáveis. Para garantir sua solidez e permanência, defendidas por
Vitrúvio como firmitas, são imprescindíveis estudos científicos e interdisciplinares acerca da
durabilidade dos materiais de construção e da estabilidade das estruturas.
O conhecimento científico torna-se ainda mais importante no campo da conservação e da
restauração de edificações históricas, pois é determinante para o sucesso das intervenções que
visam à estabilidade e longevidade dos monumentos, garantindo a segurança de seus usuários e sua
transmissão às gerações futuras. Ciente disto, o francês Viollet-le-Duc, um dos nomes pioneiros da
restauração, buscou, ainda no século XIX, o apoio das ciências físico-químicas para suas obras de
restauro (OLIVEIRA, 2014, p. 6), a fim de alcançar o perfeito estado de integridade defendido por
sua teoria da restauração. No caso do Brasil, porém, o ensino e a prática das intervenções no
patrimônio arquitetônico assumem caráter científico quando da institucionalização do restauro
como campo de pesquisa científica e tecnológica dentro das universidades brasileiras, no que a
Universidade Federal da Bahia (UFBA) teve papel pioneiro e determinante.
Considerando a importância da ciência da conservação e do restauro para a preservação da matéria
que dá suporte aos monumentos de valor cultural, esta pesquisa propõe traçar a trajetória da UFBA
nesta seara a fim de: 1) registrar a história deste processo evolutivo, na qualidade de memória do
conhecimento; 2) ressaltar a validade e importância da ciência e da tecnologia, somadas às teorias
da restauração, para a salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro e 3) comprovar que a UFBA é o
polo brasileiro de pesquisa e capacitação técnica para conservação e restauração de bens imóveis.
2. Metodologia
Considerando a abordagem de história cultural das ciências, defendida por Chartier (2012) e
Shapin (2012), como referencial teórico para a construção deste relato histórico, a metodologia da
pesquisa consiste na coleta de dados em fontes primárias, como relatórios dos cursos de pós-
graduação vinculados à Faculdade de Arquitetura da UFBA e acervo documental do Núcleo de
Tecnologia da Preservação e da Restauração (NTPR), que inclui correspondências, contratos,
projetos, relatórios técnicos, etc.
3. Resultados e discussão
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pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG).
Nessas três universidades, os estudos de viés científico concentram-se, prioritariamente, na
conservação de bens móveis e integrados, muitas vezes considerando, mas não obrigatoriamente,
sua interface com a arquitetura.: na USP com o Centro de Preservação Cultural (CPC) e o Núcleo
de Apoio à Pesquisa de Física Aplicada ao Estudo do Patrimônio Artístico e Histórico (NAP-
FAEPAH) e na UFPE com a linha de pesquisa e grupo de estudo em ciência da conservação
vinculados ao Departamento de Arqueologia e com o Centro de Estudos Avançados da
Conservação Integrada (CECI), parceiro da universidade pernambucana. Já a UFMG desenvolveu a
partir de 1980, em paralelo à UFBA, uma estrutura completa de ensino e pesquisa científica para a
conservação e restauração de bens móveis e integrados, inclusive com curso de graduação
específico1 no Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (CECOR), que conta com o
Laboratório de Ciência da Conservação (LACICOR), vinculados à Escola de Belas Artes da
UFMG.
Tal como as primeiras sedes do CECRE, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também
tem uma linha de pós-graduação em arquitetura voltada para a preservação do patrimônio cultural,
porém em âmbito teórico-crítico; e, assim como a UFMG, também oferta um curso de graduação
específico em conservação e restauração inserido na Escola de Belas Artes, dedicado aos bens
móveis. No entanto, desde 2013 o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura (PROARQ) da
UFRJ conta também com o curso de mestrado profissional em Projeto e Patrimônio, oferecendo a
linha de pesquisa Projeto de Revitalização e Restauração, que adentra os estudos de novas técnicas
de conservação e restauro de edificações, aproximando-se do tipo de estudo que vem sendo feito no
MP-CECRE da UFBA.
Recentemente, a rede de pesquisa que se dedica à ciência da conservação e da restauração, seja de
bens móveis ou imóveis, vem se ampliando com o surgimento do Grupo de Conservação e Restauro
da Arquitetura e Sítios Históricos (GCOR-Arquitetura), sediado no Departamento de Arquitetura e
Construção da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP), e do Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação
(LACORE), vinculado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará
(UFPA), ambos fundados em 2006. Junto ao NTPR, esses dois laboratórios e outros dois da Escola
de Arquitetura da UFMG – Laboratório de Conforto Ambiental (LABCON) e Laboratório de
Pesquisa Tecnológica em Construção (LPT) – são os únicos que tratam especificamente de
arquitetura a integrarem a rede de pesquisa europeia Integrated Platform for the European Research
Infrastructure on Cultural Heritage (IPERION-CH) no Brasil.
Considerando que, até os anos 2000, as principais universidades brasileiras, mesmo as que também
receberam edições do CECRE, não se dedicaram à implantação de cursos, linhas e grupos de
pesquisa especificamente voltados para a ciência da conservação e restauração de arquitetura, cabe-
nos, pois, reconhecer que a UFBA deteve a primazia no estabelecimento de uma estrutura completa
de ensino e pesquisa voltada para a preservação do patrimônio arquitetônico brasileiro e dedicada –
não só, mas principalmente – à seara técnico-científica dos problemas de conservação e do restauro.
Cabe destacar, também, que alguns dos mais recentes grupos e linhas de pesquisa foram inspirados
pela estrutura e experiência gestadas na UFBA, como é o caso da linha de pesquisa em Patrimônio,
Restauro e Tecnologia do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU-UFPA
e do LACORE, cujas primeiras pesquisas foram originadas no NTPR.
1
Em 2009, o curso de graduação em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis foi criado também na
Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e, recentemente, na Universidade Federal do Pará (UFPA), onde a previsão de
ingresso da primeira turma é 2019.
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4. Conclusões
No transcurso desses mais de 30 anos, o pioneirismo e o aparato científico da UFBA no campo da
restauração arquitetônica possibilitaram: no ensino, a atração de pesquisadores e profissionais de
todas as partes do país e inclusive do exterior, que vieram aqui buscar formação específica; na
pesquisa, o desenvolvimento de tecnologias para a restauração de monumentos históricos, bem
como de equipamentos e materiais de restauro junto a fabricantes do mercado da construção civil.
Além de pioneira e ainda única no Brasil, a estrutura de ensino e pesquisa da UFBA, composta pelo
CECRE, NTPR e PPGAU, tornou-se o maior centro de referência em ciência da conservação e da
restauração de arquitetura no Brasil e talvez até na América Latina, tanto pela quantidade e
qualidade de sua produção científica, ensino e aplicação das tecnologias, como pela atuação, por
meio de projetos, consultorias e apoio técnico em diversos estados brasileiros e também no exterior.
Esse reconhecimento tornou-se notório a partir de 2009, quando o ICOMOS Brasil conferiu ao
professor Mário Mendonça de Oliveira, fundador do NTPR, o título de pioneiro da ciência da
conservação no Brasil. Mais recentemente, quando da fundação da ANTECIPA, em 2015, o
professor da UFBA foi novamente reconhecido “por suas destacadas contribuições acadêmicas,
científicas, técnicas e profissionais para a preservação do patrimônio cultural” e nomeado como seu
primeiro associado benemérito.
Considerando que a Universidade é, e deve ser, no Brasil, o maior produtor e propagador do
conhecimento nesse campo de atuação, a UFBA é, portanto, um polo brasileiro de ensino, pesquisa
e difusão no campo da restauração arquitetônica e tal estrutura teve e continua tendo papel
fundamental na salvaguarda do nosso patrimônio cultural.
Referências
CHARTIER, Roger. FAULHABER, Priscila, LOPES, José Sérgio Leite (orgs.). Autoria e história
cultural da ciência. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2012.
OLIVEIRA, Mário Mendonça de. A formação do arquiteto restaurador profissional e a
fundamentação técnica e científica. Anais do III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. São Paulo: ANPARQ, 2014.
SHAPIN, Steven. Nunca Pura. Estudos Históricos de Ciência como se Fora Produzida por
Pessoas com Corpos, Situadas no Tempo, no Espaço, na Cultura e na Sociedade e Que Se
Empenham por Credibilidade e Autoridade. Tradução Erick Ramalho. Belo Horizonte: Fino
Traço Editora e EDUEPB, 2012.
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1. Introdução
No Cemitério São Paulo uma caixa suspensa em mármore se destaca dos mausoléus do
entorno. Ela encontra-se sobre um jardim, rodeado por paredes revestidas em mármore
Travertino. A caixa abriga em seu interior uma Madonna em baixo relevo, cravada em uma
base de granito preto absoluto, e banhado por um rasgo de luz zenital. Sob estes elementos,
estrutura-se a base em granito bruto, com placas dos homenageados daqueles que estão
abrigados ali, logo abaixo.
A descrição acima refere-se ao mausoléu da família Robell, encomendado à Lina Bo Bardi em
1951, pelo húngaro Paulo Ranschburg Robell, fundador, diretor e presidente das Armações de
Aço Probel S.A. Um industrial influente, amigo de Pietro Maria Bardi, que incorporou a arte
de Di Cavalcanti em sua fábrica de colchões; teve Giancarlo Palanti como arquiteto dos seus
salões de exposições, estandes e lojas de móveis. Sua fábrica também contava com o projeto
de interiores da arquiteta italiana, com todos os detalhes e valores documentados em cartas
trocadas entre os dois.
O projeto do mausoléu da família Robell estava entre os desenhos “sem identificação” no
acervo do Instituto Lina Bo e P.M.Bardi. Agora ele passa a fazer parte do conjunto de projetos
construídos da arquiteta, sendo o único e primeiro exemplar de arquitetura funerária na cidade
de São Paulo. O outro mausoléu, de autoria de Lina, é o da família Odebrecht, projetado em
1958 e construído entre 1963 e 1964, localizado em Salvador, Bahia (BIERRENBACH,
2005).
O presente trabalho foi desenvolvido na disciplina de Tópicos Especiais: Tecnologias Digitais
na Documentação do Patrimônio Arquitetônico, apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Arquitetura e Urbanismo, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo, em parceria com a Universidade Federal da Bahia. É o primeiro a abordar o projeto do
mausoléu da família Robell, e tem como principal objetivo documentar o objeto recém
descoberto, realizar o levantamento arquitetônico detalhado para As Built¹ e produção de
mapeamento de danos, por meio de tecnologias digitais de fotogrametria² com
monorrestituição, restituição a partir de várias fotos³ e Dense Stereo Matching - DSM 4.
Dada a dimensão da importância da obra de Lina Bo Bardi, essa pesquisa torna-se essencial
para iniciar a documentação do bem, com o intuito de prosseguir com análises das medidas de
salvaguarda desse patrimônio inédito.
___________________________
¹ “Documentação das alterações ocorridas no projeto durante a construção” (GROETELAARS, 2004, pg. 143).
² “A Fotogrametria é uma técnica que permite extrair das fotografias, as formas, as dimensões e as posições dos
objetos” (GROETELAARS, 2015, pg. 68).
³ “Há dois tipos de restituição: as que trabalham com apenas uma fotografia (monorrestituição) e as que utilizam várias
fotografias (restituição a partir de fotografias convergentes). ” (GROETELAARS, 2004, pg. 157).
4 “
Representa o estado da arte com relação às técnicas fotogramétricas automatizadas para obtenção de modelos
geométricos de formas complexas. O funcionamento da técnica DSM baseia-se na correlação automática de conjuntos
de pixeis homólogos em diferentes fotos para a geração da "nuvem de pontos" ou da malha triangular irregular
(Triangular Irregular Network - TIN), dependendo da ferramenta utilizada. ” (GROETELAARS, 2015, pg. 72).
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2. Metodologia
Com o objetivo de utilizar o método de monorrestituição, restituição a partir de várias fotos e
Dense Stereo Matching a tomada fotográfica foi realizada em um dia ensolarado, no intervalo
das 12:00 ás 13:00 horas, com uma câmera NIKON D3100, objetiva 18-55 mm, fixada em 18
mm. As árvores, fragmentos de vegetação e túmulos vizinhos eram interferências que
poderiam comprometer a exatidão do processamento de dados. Também houve
impossibilidade de fotografar algumas partes do objeto que estavam muito próximas aos
outros mausoléus.
3. Resultados e discussão
Os primeiros ensaios para geração da nuvem de pontos e malha triangular irregular foram
realizados através do Autodesk Recap Photo, no modo object. O tempo de processo da criação
dos modelos foi extenso e apenas o terceiro resultado foi parcialmente satisfatório (Figura 1).
Nele, foi possível documentar a fachada frontal do mausoléu no estado atual com precisão nas
medidas e profundidades, texturas exatas e patologias bem definidas. No PhotoModeler os
resultados com a nuvem de pontos densa foram limitados e insuficientes para gerar um
produto apropriado para o objetivo final do trabalho (Figura 2).
Figura 01. Terceiro modelo gerado no Recap e detalhes da definição da patologia obtida no
programa. Fonte: Brunna Heine, 2018.
Figura 02. Nuvem de pontos densa obtida no PhotoModeler. Fonte: Brunna Heine, 2018.
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Com o propósito de representar graficamente os danos do bem, a partir das ortofotos geradas
pelo PhotoModeler de cada face do mausoléu, foi utilizado o programa AutoCAD como
ferramenta de vetorização e codificação das patologias, resultando no mapeamento de danos
(Figura 4).
Por existir uma pequena diferença de medidas entre os desenhos produzidos através de
fotogrametria e dos produtos do levantamento direto, o modelo utilizado para o mapeamento
de danos é resultado da combinação de ambos os métodos.
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4. Conclusões
A utilização de técnicas digitais para documentação se mostrou eficiente na aplicação direta
no patrimônio arquitetônico e principalmente para o mapeamento de danos. Porém, os
métodos tradicionais de levantamento não são dispensáveis e ainda, são necessários para
indicar as possíveis falhas dos programas.
No caso do presente estudo, um dos maiores problemas foi a avaria na lente da câmera, que
levaram a fotos sem uma grande qualidade de definição, e a calibração da câmera, que ficou
abaixo das especificações indicadas para uma precisão exata do modelo. Os obstáculos como
as árvores e resquícios de vegetação, também se apresentaram como problemas incontestáveis
na hora da geração dos modelos digitais. Ao analisar a tomada fotográfica foi possível
verificar falhas no ângulo, no foco, no afastamento do objeto e ausência de atenção no
enquadramento do túmulo.
Este trabalho permitiu a documentação do bem no estado atual com tecnologias atuais e
contribuirá para estudos futuros, relacionados a preservação da memória da arquitetura
funerária de Lina Bo Bardi.
Referências
BIERRENBACH, Ana Carolina de Souza. Lina Bo Bardi e o Mausoléu da Família
Odebrecht, entre o etéreo e o terreno. Minha cidade, Salvador, ano 05, n. 058.02, maio 2005.
Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/05.058/1977. Acesso
em: 02 jul. 2018.
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1. Introdução
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As cinzas volantes são vistas como alternativa interessante para aplicação na formulação de
argamassas e concretos. Trata-se de material formado de fases cristalinas e amorfas,
constituídas, principalmente, por sílica (SiO2), alumina (Al2O3), o que o caracteriza como
adição pozolânica. As fases amorfas reagem com o hidróxido cálcio, em presença de água,
para produzir vários compostos de silicatos de cálcio (C-S-H) e aluminatos de cálcio
hidratado. Essas novas fases formadas modificam a microestrutura da mistura e são as
responsáveis pelo desenvolvimento da resistência mecânica e, portanto, pela melhora no
desempenho do material no estado endurecido.
Entre os compostos formados nas composições de cal com adições com características
pozolânicas, comumente encontrados na literatura, incluem-se os silicatos de cálcio hidratado
(CSH), os aluminatos de cálcio hidratado (C-A-H) e os silicoaluminatos de cálcio hidratado
(GAMEIRO et al., 2014; GRILO et al., 2014; SANTOS SILVA et al., 2014). O estudo das
características mineralógicas das argamassas permite identificar os produtos de reação
resultantes da interação da sílica e da alumina das adições com o hidróxido de cálcio.
Observou-se que, no país, não foram encontradas pesquisas científicas aprofundadas sobre
argamassas a base de cal para conservação e restauro. Destaca-se estudo pontual publicado
sobre avaliação de características de argamassas de cal e areia com adições de pó de tijolo
moído, metacaulim e cinzas volantes (SILVOSO, 2016).
Em seus estudos, as pesquisadoras portuguesas Faria (2004) e Velosa (2006) evidenciaram
resultados satisfatórios, especialmente, no tange ao comportamento mecânico, para
argamassas de cal produzidas com cinzas volantes. Dessa forma, o desenvolvimento de
formulações de cal com adição de cinzas volantes para aplicação em edificações do
patrimônio nacional constitui alternativa particularmente interessante, inclusive para a
redução do impacto ambiental, fato que está associado à destinação final desse resíduo.
Ressalta-se a importância desta pesquisa para a sistematização do conhecimento sobre
argamassas de cal com adições destinadas a intervenções restaurativas, visando a preservação
do patrimônio nacional, assim como para o resgate da memória da Ciência da Conservação e
do Restauro.
2. Metodologia
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aderência, conforme as normas NBR 13279 (ABNT, 2005), NBR 15630 (ABNT, 2009) e
NBR 13528 (ABNT, 2010), respectivamente (Figura 1).
Figura 1: Ensaio mecânicos: a) resistência à tração em corpo de prova e b) de resistência de
aderência em parede da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate.
(a) (b)
3. Resultados e discussão
Os resultados médios dos ensaios mencionados na seção anterior, seguidos dos coeficientes
de variação em percentual, entre parênteses, são apresentados na Tabela 3.
Tabela 3: Resultados de comportamento mecânico aos 90 dias.
Comportamento mecânico aos 90 dias (MPa)
Os resultados dos ensaios de resistência à tração e à compressão, realizados aos 90 dias, estão
dentro dos limites estabelecidos na Tabela 1. No que diz respeito ao módulo de elasticidade,
aos 90 dias, o valor médio apresenta-se superior ao estabelecido por Veiga e Carvalho (2002).
Segundo estes autores, a susceptibilidade à fissuração de argamassas de revestimento está
ligada ao módulo de elasticidade. Valores acima dos especificados inferem aumento da
rigidez, devido a maiores concentrações de tensões internas e à menor capacidade de
deformação.
O elevado valor do módulo de elasticidade poderá estar relacionado a diversos aspectos, entre
os quais podem ser citados: procedimentos relativos ao ensaio de ultrassom, experiência do
operador do equipamento, bem como o incorreto posicionamento dos transdutores no corpo
de prova.
Essas argamassas foram aplicadas na alvenaria da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate,
monumento do século XVII, localizado na região conhecida como Ponta de Humaitá, na
Península de Itapagipe, em Salvador, Bahia. Neste caso, observou-se que nos primeiros seis
meses após a aplicação, a argamassa mostrou ausência de fissuras por retração, sugerindo
amplo potencial para acomodar tensões internas e, portanto, boa capacidade de deformação,
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apesar de o valor do módulo de elasticidade ter sido 13% superior ao estabelecido na Tabela
1.
O valor médio resultante do ensaio de resistência de aderência à tração realizado na parede da
Igreja Nossa Senhora de Monserrate (Figura 1) encontra-se dentro da faixa estabelecida na
por Veiga e Carvalho (2002) apresentada na Tabela 1. Observou-se que a tipologia de ruptura
foi predominantemente coesiva. Em relação ao alto coeficiente de variação encontrado no
referido ensaio (Tabela 3), a literatura recomenda considerar a resistência potencial de
aderência, que corresponde à média dos maiores valores obtidos no ensaio (CARASEK,
1996). Para este caso, o novo valor de aderência calculado foi 0,27 MPa, o que também está
de acordo com o estabelecido na Tabela 1.
4. Conclusões
Referências
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1. Introdução
João Fahrion (1898–1970), artista porto alegrense, destacou-se por seus trabalhos em desenho,
gravura, ilustração (especialmente enquanto integrante da antiga Seção de Desenho da Editora
Globo) e pintura a óleo (com uma preferência por retratos femininos) (RAMOS, 2016). A despeito
desta trajetória focada em desenhos e pinturas de cavalete, o artista também produziu um pequeno,
mas importante, conjunto de pinturas murais.
Em fins dos anos 1950, por ocasião do estabelecimento de uma nova sede para a Reitoria da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fahrion foi convidado a realizar um
conjunto de quatro pinturas murais em um salão de eventos da nova construção –hoje conhecido
como “Sala Fahrion”. Os murais (Figura 1), integrantes da arquitetura, são inscritos nos documentos
de tombamento do Conjunto dos Prédios Históricos da UFRGS, junto ao Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) (BOHMGAHREN, 2013).
Figura 1 – Conjunto de murais de João Fahrion. [sem título], 1957. João Fahrion (1898–1970),
pintura sobre reboco, Sala Fahrion, 2º pavimento do prédio da Reitoria da UFRGS.
Tais pinturas marcam, ainda, o momento de efetiva presença das Artes no contexto universitário,
uma vez que o IBA passa a integrar a UFRGS, efetivamente, em 1962 (SIMON, 2006). Além disso,
as pinturas podem ser discutidas em sua “modernidade possível”, para usar a expressão da
historiadora da arte Annateresa Fabris (FABRIS, 2002).
Não escolhendo seguir “esta ou aquela” vertente, não sendo partidário de nenhum estilo, Fahrion se
alinha com aquilo que Tadeu Chiarelli identifica como capacidade de conciliação de posturas
estéticas bastante distintas, atitude típica dos artistas brasileiros daquele período (CHIARELLI,
2012).
Tendo isso em vista, o presente texto trata de uma parte da pesquisa de doutoramento previamente
intitulada “Percurso material de pinturas murais de Aldo Locatelli e João Fahrion: um estudo da
história da arte técnica no Rio Grande do Sul”, que busca compreender e estabelecer relações entre
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estes dois artistas, contemporâneos entre si, utilizando abordagem da História da Arte Técnica. Trata-
se, aqui, de um relato acerca dos estudos preliminares de investigação material do conjunto de
murais acima descrito, com vistas à compreensão do processo artístico do artista. Para tal, discute-
se a investigação por documentação científica e o processo de coleta e caracterização de amostras.
2. Metodologia
Compreender a manufatura de um objeto artístico exige uma metodologia de abordagem ampla e
interdisciplinar, característica da História da Arte Técnica (AINSWORTH, 2005; ROSADO, 2011).
O entendimento das obras de arte é realizado através da análise e interpretação dos modos de fazer
que são relacionados à questões artísticas e históricas, tarefa que as metodologias disciplinares
clássicas não podem abarcar.
Considerando isso, de forma paralela à pesquisa histórica, as pinturas foram investigadas por
inspeção visual e imageamento, com o auxílio de fontes de radiação visível e ultravioleta (BRITISH
MUSEUM, 2013). As imagens foram captadas fotograficamente por lentes 35 mm e Macro 100
mm, possibilitando, respectivamente, o registro de áreas grandes e de detalhes, como texturas e
traçados subjacentes.
A fotografia padrão no visível também acompanhou o processo de coleta de amostras, com lentes
35 mm e Macro 100 mm. A coleta foi realizada somente em áreas originais da pintura, visto o
interesse específico deste trabalho.
As amostras foram documentadas com auxílio de microscópio óptico, seguindo-se com a
organização de fichas contendo descrições formais e demais observações. Os cortes estratigráficos
foram montados em resinas e analisados, até o momento, por microscopia óptica de luz branca e
microscopia Raman.
Espectroscopia de Absorção no Infravermelho com Transformada de Fourier acoplada a acessório
de Refletância Total Atenuada (FTIR-ATR) foi usada em amostras não embutidas, para a
identificação de aglutinantes.
3. Resultados e discussão
No conjunto das pinturas murais estudado é possível enumerar uma série de operações realizadas
pelo artista no processo de pintura.
Quando observadas as pinceladas, nota-se uma alternância de trabalho com o pincel, com pouca
tinta e impregnado desta. Na primeira das situações, o instrumento parece ter sido utilizado de
forma mais brusca, deixando delimitado o rastro de suas cerdas – rígidas, sem preocupação com a
cobertura completa da camada de tinta subjacente. Em parte das obras, tem-se, inclusive, os esboços
aparentes, feitos possivelmente com material carbonáceo. De maneira oposta, o trabalho com
pinceladas impregnadas de tinta acaba por delimitar áreas mais uniformes, que cobrem a superfície
por inteiro. Entretanto, na terminação de alguns traços, por exemplo, nota-se a existência de camada
subjacente, como na área vermelha do bastão carregado pelo homem a cavalo. Nesse caso, nos
intervalos deixados pelo rastro do pincel, nota-se a presença de cor mais rósea, que pode indicar
uma mudança de percurso no processo de criação; essa observação pode ser vista também no corte
estratigráfico de uma das amostras (Figura 2a).
Em relação aos contornos das figuras, observa-se uma preferência pelo trabalho com o desenho e a
linha. O traçado é, na maior parte da obra, realizado na cor negra, acompanhada por um segundo
traçado colorido – azul, verde, vermelho. Essa opção e a construção do espaço através do elemento
linha deixa mais evidente o fato de que quem construiu esse espaço é, antes de um pintor, um
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desenhista. Essa origem de Fahrion também pode ser evidenciada com a pouca exploração de
texturas nesse conjunto de pinturas.
143
1343
1447
1609
Junto das abordagens técnicas é fundamental também o entendimento dos materiais usados, e
investigações químicas, portanto, encontram-se em curso. Pretende-se, com isso, melhor
compreender não somente questões relacionadas à ideia de modernidade que permeia o trabalho de
Fahrion e a sua construção material, mas também o trânsito existente entre os dois artistas
considerados no projeto.
Como resultados preliminares, pigmentos presentes em regiões de cor vermelha, branca, azul e
preto, bem como base de preparação das pinturas, foram considerados. As Figuras 2a e 2c mostram
cortes estratigráficos obtidos de amostras de regiões com coloração vermelha e branca,
respectivamente.
Da amostra de uma região vermelha, espectros Raman (Figura 2b) indicaram que a camada
vermelha possui anatase (com banda característica em aproximadamente 143 cm-1) e que o
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4. Conclusões
O estudo compreendido até o presente revelou algumas descobertas a serem melhor consideradas e
discutidas no curso da pesquisa, como a construção de áreas negras com o auxílio de pigmentos
coloridos. A partir disso, outras áreas devem ser consideradas para estudo. Os exames realizados até
então também mostram uma necessidade de complementação de resultados, por técnicas como a
Microscopia Eletrônica de Varredura acoplada à Espectroscopia de Raios X por Energia Dispersiva
(SEM-EDS) e Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas (GC-MS), de modo a
evidenciar a natureza química de outros pigmentos e cargas, bem como de aglutinantes.
Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer Laboratório de Materiais Inorgânicos da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM) pela colaboração, ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social e
Patrimônio Cultural da UFPel (PPGMP-UFPel) pelo apoio financeiro, e aos professores e
funcionários do IA-UFRGS e do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS pela colaboração e
acesso aos murais.
Referências
AINSWORTH, M. W. From connoisseurship to Technical Art History- The Evolution of the
Interdisciplinary Study of Art. In: The Getty Conservation Institute Newsletter, v.20,n. 1, 2005.
BOHNMGAHREN, Cíntia Neves. A Modernidade nos murais de Aldo Locatelli e de João
Fahrion na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Cinquentenário do Instituto de
Belas Artes, 1958. 2013. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Curso de Pós-graduação em
Artes Visuais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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Do museu para o laboratório: os cadernos de encomenda de Udo Knoff como fonte de
conhecimento científico sobre o patrimônio azulejar contemporânea brasileiro
Eliana U. C. Mello
1
Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquietura da Universidade da
Bahia (PPGAU-FAUFBA), Salvador (BRA)
eliana.mello@ufba.br
1. Introdução
Esta comunicação coloca em evidência os cadernos de encomenda de Udo Knoff pertencentes ao
acervo do Museu Udo Knoff de Azulejaria e Cerâmica, destacando a sua importância como aporte
referencial para o estudo sobre o revestimento azulejar de autor produzido na região Nordeste, entre
as décadas de 1950 e 1980. A análise final das informações registradas nestes arquivos pretende
consolidar um consistente campo de conhecimento que contribua para com a preservação do
patrimônio azulejar contemporâneo brasileiro.
A modernização da arquitetura nacional iniciada na primeira metade do século XX foi
acompanhada pela renovação da arte e da técnica de fabricação de revestimentos cerâmicos,
principalmente, desde que este material foi utilizado em edifícios que ganharam visibilidade
internacional, tais como o prédio do Ministério de Educação e Saúde, no Rio de Janeiro e a Igreja
de São Francisco de Assis, em Belo Horizonte (Figura 1).
Figura 1: Na imagem da esquerda uma visão frontal do painel de azulejos do MES. No canto superior direito, recortes dos azulejos
do mesmo edifício e, no canto inferior direito, a imagem frontal do painel de azulejos da igreja de São Francisco. Todos os trabalhos
foram realizados na década de 1940 e assinados por Cândido Portinari e pelo Atelier Osirarte. Fotos: Arquivos pessoais da
pesquisadora
Neste período teve início um processo interessante e singular que envolveu a fabricação de azulejos
de autor, ou seja, aqueles que eram elaborados em pequenas oficinas, sob a orientação de um
artista/ceramista. Estes profissionais até então, essencialmente ligados à arte, percebem no
crescimento da indústria de revestimentos, a parceria ideal para a inserção mercadológica de sua
criação artística. Sob esta ótica, param de produzir artesanalmente a base cerâmica, comprando-a já
cozida e, na maioria das vezes, vidrada, para sobre ela pintar, artisticamente, a composição pictórica
(MELLO, 2015). O resultado desta mistura de arte e indústria originou um conjunto de
revestimentos contemporâneos distinto dos seus antecessores de origem europeia, que chegaram ao
Brasil nos séculos anteriores, tanto no contexto material quanto nas relações culturais que,
historicamente, representam, consolidando valores que justificam sua preservação para as gerações
futuras.
67
Udo Knoff (1912-1994), alemão, pintor e ceramista, foi um exímio especialista nesta produção
recente, que desenvolveu, entre as décadas de 1950 a 1980, em seu atelier localizado no bairro de
Brotas, na cidade de Salvador. Ali ele executou inúmeros trabalhos em azulejos, como autor ou
como mestre dos profissionais que, na altura, consolidavam-se no cenário artístico da região:
Carybé (1911-1997), Jenner Augusto (1924 - 2003), Floriano Teixeira (1923 - 2000), Reinaldo
Eckenberger (1938- 2017), Raimundo Oliveira (1930-1966), Lênio Braga (1931 - 1973) e Juraci
Dórea (1944 -), entre outros (MORAIS, 1988; 1990). Mas para além dos painéis figurativos, o
ceramista se destacou, também, na produção de azulejos elaborados para atender uma das premissas
da modernidade: a integração entre arte e arquitetura. Neste perfil ele recebia encomendas de
revestimentos personalizados, do tipo padrão, direcionados, externamente, para fachadas e halls de
edifícios e, internamente, para revestimento de cozinhas, banheiros e varandas. É importante referir
que nesta época a indústria cerâmica não possuía rigor estético na fabricação de revestimentos
decorados, ao contrário dos azulejos de Udo, em base cerâmica industrial, que resultavam de
pesquisas sobre cores e ornamentos e eram pintados, manualmente, um a um, com técnicas variadas
(MELLO, 2017).
Durante cerca de trinta anos o ceramista documentou a sua agenda de trabalho diário, fazendo um
registro meticuloso de cada pedido, começando pelo desenho, reproduzido em cores e tamanho
natural, ao lado do qual anotava os números dos pigmentos a serem utilizados, a técnica de pintura
que seria empregada, a origem da base cerâmica e outros detalhamentos pontuais.
Em noventa e três cadernos que hoje estão sob a guarda do Museu Udo Knoff de Azulejaria e
Cerâmica, suas anotações narraram aspectos visuais de lugares que se tornaram pontos de
referência: a casa de Jorge Amado, a sede baiana do Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB-BA,
projetado por Diógenes Rebouças, as paredes dos corredores do Congresso Nacional, em Brasília
(Figura 2), entre outros.
Figura 2: À esquerda, imagem parcial do registro da p. 43 do caderno de encomendas MUK.93.LE.014 com a atribuição da
encomenda à Oscar Niemeyer, de 250m² de azulejos na cor 1205, pintados em técnica de stencil ida/volta, para a Câmara dos
"Vereadores" e, ao lado direito a imagem do revestimento cerâmico da Câmara dos Deputados, em Brasília (composição artística de
Athos Bulcão e execução cerâmica de Udo Knoff). Fotos: Imagem do caderno de encomendas de Udo Knoff: Arquivo pessoal.
Imagem do revestimento da Câmara dos Deputados, em Brasília: Disponível em https://br.pinterest.com/pin/276056652138148469/.
Mas para além do significativo registro desta memória histórica, estes arquivos constituem,
seguramente, o maior conjunto referencial sobre a materialidade do patrimônio azulejar no país.
Tendo em vista que o sistema de criação era basicamente o mesmo praticado pelas oficinas de autor
68
que atuaram no Brasil durante o século XX, tais como o Atelier Cerâmico Osirarte, em São Paulo, o
Atelier Azularte, no Rio de Janeiro e a Oficina Cerâmica de Domingos Rodrigues e em Recife e,
ainda, considerando que naquele momento as matérias primas industrializadas, necessárias ao
trabalho, eram fornecidas por uma rede comercial reduzida, as anotações de Udo Knoff,
sistematicamente estudadas, irão consolidar um campo de conhecimento até então, obscuro,
revelando aspectos importantes, que devem ser considerados nas intervenções em prol da
preservação deste acervo cultural.
Por esta razão, em 2016 o conjunto se tornou uma das mais importantes balizas do projeto de
doutorado na grande área de Ciência e tecnologia da conservação e do restauro, em
desenvolvimento no Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal da Bahia, que solicitou e obteve a autorização de pesquisa nos cadernos de encomendas de
Udo Knoff (Figura 3), prevendo a investigação in loco, a realização de fotografias pertinentes e,
também, a transcrição dos registros em planilhas pesquisáveis, para favorecer a para a análise de
conteúdo a respeito de técnicas, fórmulas indicativas das cores e composição artística.
Figura 3: Imagem frontal do caderno de encomendas MUK.93.LE.035, p.27. Fonte: Aquivo pessoal da aluna. 2017
Considerando o manuseio intenso do material que se encontra bastante fragilizado por ataques de
insetos xilófagos, já inativos, e sofrendo as consequências da acidificação, constatada nas folhas
amarelecidas e quebradiças, no intuito de contribuir para com a sua integridade física, com apoio
técnico e científico do Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração, NTPR, foi realizada
a documentação por imagem dos noventa e três volumes.
2. Metodologia
A digitalização por imagem dos cadernos de encomenda foi a primeira etapa de trabalho, tendo em
vista que a partir dos arquivos digitalizados o acervo material poderia ser poupado dos manuseios
excessivos. Os procedimentos contaram com a colaboração da equipe que integra o grupo de
investigação do NTPR, que auxiliou nos processos de deslocamento e armazenamento dos bens e
organização da sala, especialmente preparada para a realização das fotos.
Ficou previamente estabelecido que a movimentação do acervo para o centro de pesquisa seria
realizado aos poucos, em função do espaço reduzido para o seu acondicionamento seguro. Cerca de
cinco cadernos embalados individualmente, com materiais macios e livres de acidez, atados, um a
69
um, com corda de algodão, e depositados em caixas compatíveis em largura, altura e espessura,
forradas com placas rígidas de espuma de PVC, eram conduzidos ao centro de pesquisas, guardados
em ambiente com controle de luz e temperatura, sistematicamente documentados, reembalados e
devolvidos ao museu, antes que outro grupo fosse retirado.
Para a tomada fotográfica, cada caderno, que varia entre os tamanhos A2, A3 e A4, foi posicionado
junto a placa de identificação, régua e cartão de cor ColorChecker Passport Photo. Assim,
centralizados horizontalmente, em uma mesa forrada com papel sulfite branco, tamanho A0 e de
modo perpendicular à câmera, Nikon D90, por sua vez, montada com a lente de 18-105 mm, presa
em um tripé fixado a 1,15m, para favorecer a distância focal, todos foram documentados por
imagens. Esta opção de enquadramento, onde o material a ser registrado é posto em sentido
horizontal ao equipamento situado, medianamente, acima dele foi devida à já citada fragilidade de
muitos cadernos que talvez não resistissem à tomada vertical. Portas e janelas foram vedadas para
possibilitar o controle e a qualidade da iluminação no local, fornecida exclusivamente por refletores
LED SMD, 6500k, com 100W de potência e fonte de 8000 lumens e lâmpadas LED A-150, de
bulbo, com 40W de potência e fonte de 3600 lumens cada, colocados nas laterais da mesa com a
face de luz voltada para rebatedores feitos com folhas retangulares de isopor, dispostas em um
plano inclinado, aproximadamente a 45º,em relação à mesa (Figura 4).
As lâmpadas eram ligadas quarenta minutos antes do início dos trabalhos para estabilizar a
frequência.
Figura 4: À esquerda posição da câmera em relação à mesa onde está o caderno para ser documentado. À direita, estação de imagem
montada
3. Resultados e discussão
A documentação por imagem dos cadernos consumiu sete meses de trabalho, tempo que pode ser
considerado relativamente extenso tendo em vista que a proposta não incidia diretamente no
desenvolvimento da pesquisa. Mas a probabilidade real de comprometer a integridade deste acervo
pela manipulação constante não poderia ser vencida de outra forma. Neste momento todo o esforço
está sendo empregado na transcrição das anotações de Udo Knoff, que são armazenadas em uma
planilha com campos de consulta pertinentes ao tema: cores e desenhos utilizados, indicação dos
pigmenos, indústria fornecedora da base cerâmica e locais para a entrega do pedido. A identificação
dos endereços tem se mostrado de grande valor pois permite a verificação in loco pra saber o estado
de conservação dos azulejos e, principalmente, se eles permanecem. As imagens geradas durante o
70
trabalho formalizam, agora, um arquivo com mais de 10 mil fotos em formato JPEG e RAW,
viabilizando o início da elaboração de um banco de dados que, futuramente, poderá ser acessado
por pesquisadores e demais interessados no tema.
4. Conclusões
Os estudos dedicados ao conhecimento armazenado nos cadernos de encomenda de Udo Knoff vão
contribuir, sistematicamente, para com a construção de referenciais que orientem com mais
segurança as condutas para conservação e restauro de azulejos industriais modernos.
Como resultado, esperamos ao final da investigação, disponibilizar um aporte teórico adequado à
natureza material do revestimeno azulejar, em consonância com os princípios destacados nas
recomendações que integram as Cartas Patrimoniais (CURY, 2004) e balizam as práticas
internacionais de preservação do patrimônio cultural.
Agradecimentos
Agradeço ao CNPq pela bolsa de pesquisa e à equipe do NTPR, pelo aporte técnico e científico para
este trabalho.
Referências
BRUAND, Yves. A Arquitetura Contemporânea no Brasil. Ed. Perspectiva. São Paulo, 1981.398p.
CARDOSO, Danielle Luce. Documentação fotográfica de bens culturais utilizando luz visível: um
guia básico. 2016. Monografia (Bacharelado em Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis) –
Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016.
CURY, Isabelle. (org) Cartas Patrimoniais. 3ªed. IPHAN. Rio de Janeiro, 2004.408p
LEMOS, Carlos A. C. Azulejos decorados na modernidade arquitetônica brasileira. In: Revista do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, 1984. p. 166 a 174
MELLO, Eliana U. C. O panorama do patrimônio azulejar brasileiro visto através do seu
inventário: do século XX ao século XXI. 2015, 2 v.,1077 fls. Dissertação (Mestrado em Artes) –
Programa de Pós Graduação da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2015.
MELLO, E. U. C. Museu Udo Knoff de azulejaria e cerâmica: entre o som e o silêncio das coleções. In:
XIII ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvador, 2017
MIMOSO, J.M.; ESTEVES, L. - Vocabulário ilustrado da degradação dos azulejos históricos. LNEC,
Lisboa 2011
MORAIS, Frederico. Azulejaria Contemporânea no Brasil. São Paulo: Editoração Publicações e
Comunicações, 1988, vol.1, 144p.
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1. Introdução
O Brasil sempre dispôs de rochas em abundância, porém, constata-se a importação de pedras, como
o Lioz, vindo de Portugal nos lastros dos navios, sobretudo o de Lisboa. Segundo SILVA (2008,
págs. 9; 11), a presença do Lioz pode ser constatada nas construções baianas, como elementos
arquitetônicos e decorativos, nos revestimentos de pisos e paredes. Porém, não menciona os
túmulos, capelas e mausoléus do séc. XIX, que os Cemitérios de Salvador; principalmente os do
Cemitério do Campo Santo; talhados, esculpidos e importados de Lisboa, Portugal, preservando até
os dias atuais o universo de estilos e técnicas dos sécs. XIX e XX.
Esse patrimônio funerário - cerca de 42 túmulos -, foi produzido por uma Família de canteiros:
Francisco Romano de Sales, Germano José de Sales e José Cesário de Salles, considerados como
pertencentes a segunda maior dinastia de canteiros de Lisboa, Portugal, cujas oficinas de cantaria
funcionaram para além das primeiras décadas do séc. XX, mantendo o predomínio do estilo
Neoclássico.
Para que esses monumentos continuem existindo e dizendo da mentalidade desse povo, num
período de grandes transformações na Bahia, no Brasil e Europa; necessitam de uma política de
preservação. Motivo pelo qual, tem se tornado uma necessidade os estudos na área de Conservação
e Restauro, por estar em curso pesquisas científicas em diversos lugares e campos das ciências,
levando a novas informações sobre os materiais e os mecanismos de deterioração. Bem como,
novos produtos vão sendo introduzidos e formulações têm sido mudadas.
2. Metodologia
Os procedimentos de restauração devem estar fundamentados em princípios básicos, como:
manutenção do substrato original; intervenção mínima; compatibilidade de técnicas e materiais
empregados; intervenções com a marca do seu tempo; materiais empregados reversíveis, evitar-se
acréscimos e falsificações.
Assim, foram realizadas ações exploratórias, de análise e intervenção em 02 túmulos: o de n° 212,
da Quadra 05, e, o de n° 198, da Quadra 09. Medição da temperatura ambiente e umidade relativa;
determinação semi-quantitativa de Sais Solúveis: Nitrato, Sulfato e Cloreto. Aplicação da Pasta
Aquosa: Bentonita + EDTA, fórmula de limpeza do monumento, elaborada pelo Prof. Mário
Mendonça de Oliveira (2014). Após a aplicação da Pasta Aquosa, foi repetida a determinação dos
sais solúveis, com a aplicação de resina acrílica para impermeabilização.
3. Resultados e discussão
As principais operações de tratamento inerentes à conservação da consolidação e proteção das
cantarias foram: limpeza e reconstituição. Sendo que, nem sempre foi necessário executar todas as
etapas, posto que, o estado de conservação da cantaria definiu os tratamentos necessários.
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Foram observadas temperaturas e umidades relativas diferentes nos dois túmulos aqui apresentados,
devido à localização de cada um deles. O túmulo de n° 212, da Quadra 05, localizado na lateral da
Capela, está inserido num ambiente de muita umidade, devido à existência de inúmeras árvores no
seu entorno. O recomendável para esse túmulo é a criação de uma vala de ventilação, em torno de
sua fundação, permitindo a evaporação da umidade antes da chegada às paredes do túmulo. Esse
procedimento diminui a quantidade de água absorvida pela parede, reduzindo os danos ocasionados
pela umidade.
O túmulo de n° 198, da Quadra 09, localizado em área aberta, sem existência de árvores, com
bastante incidência de luz solar, com temperatura muito alta, 30° e umidade baixa. Esse túmulo por
ser o mais antigo da necrópole, apresenta-se enegrecido pelo tempo e não apresenta coliformes
fecais.
4. Conclusões
As ações realizadas tanto no Cemitério do Campo Santo, quanto àquelas realizadas no NTPR/
UFBa; tiveram como objetivo, identificar a matéria-prima, e, conhecendo as suas características e
comportamento, remover as substâncias que efetivamente causassem o processo de deterioração do
lioz, como: sais solúveis, incrustações insolúveis, infestação de vegetação, dejetos de animais -,
respeitando-se a textura e a cor originais, buscando-se intervir no processo de deterioração dos
túmulos.
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Segundo Pierre Nora (1978), será, portanto nos cemitérios extra-muros, que os costumes, tradições,
atitudes e práticas serão reveladas em meio à imposição de um novo lugar de memória. Tanto os
espaços quanto as representações serão escolhidos de acordo as posses do morto, dos familiares ou
amigos (NORA, 1978, p. 9).
O lugar de memória é um marco de transição entre dois eixos. Em dimensões concretas, tais lugares
vão remeter a museus, arquivos, cemitérios, tratados, entre outros signos de rememoração. Assim,
no momento em que uma tradição de memória enquanto processo experimentado e vivenciado
coletivamente começa a se esvair, é preciso criar marcos para ancorar essa nova memória (NORA,
1978, p. 83).
Segundo Le Goff (1984, p. 535), a memória coletiva pode ser estudada por meio de dois tipos de
materiais: os documentos e os monumentos. Os monumentos estão relacionados com a vontade de
perpetuar os testemunhos da sociedade e legados da memória coletiva de um povo. Os monumentos
são os materiais produzidos por uma dada cultura, eles são também documentos. A própria origem
da palavra monumento já representa o sentido de memória.
Os túmulos, capelas e mausoléus, além da sua materialidade, constituem-se fontes de conhecimento,
devendo ser evidenciados, pois contribuem na ação de preservação (em sentido amplo), como:
seleção, conservação e promoção do patrimônio cultural. Essa afirmação advém do entendimento de
que a arquitetura da cidade, não é autônoma, mas reflete acontecimentos históricos, sociais,
econômicos artístico-culturais, respondendo às exigências de uma dada época.
A noção de documento/ monumento, no tocante à teoria do restauro, está implícita na definição de
Valor Histórico, desenvolvido por Alois Riegl (1999), que já define entre outras, uma valoração
específica relacionada aos bens culturais, é o que melhor relaciona o estudo dos túmulos, capelas e
mausoléus, como monumentos intencionais, erigidos para marcar ou vangloriar fatos ou pessoas.
Na visão de Dominique Poulot (2008), o valor histórico é atribuído aos objetos na medida em que
são entendidos como fonte de conhecimento para a compreensão da evolução histórica de
determinado ramo da atividade humana. Assim, é possível identificar que o valor histórico é um
pressuposto da noção de documento/ monumento. A fundação de museus e centros culturais
regionais disseminam ações e iniciativas em favor dos diferentes patrimônios. Mudanças essas
positivas para a preservação do patrimônio no Brasil.
Referências
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio: Ed. UNESP. São Paulo, 2001.
FONSECA, M. Para além da pedra e cal: por uma concepção ampla de patrimônio cultural. In:
ABREU, R; CHAGAS, M. (orgs.) Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos: DP&A. Rio de
Janeiro, 2003.
LE GOFF, Jacques. História e Memória: Ed. Unicamp. São Paulo, 1984.
MUÑOZ, Rosana. Levantamento Cadastral de um Mausoléu do Cemitério do Campo Santo.
Trabalho realizado como requisito parcial para conclusão da disciplina Leitura e Documentação de
Monumentos, ministrada pelo Prof. Dr. Mário Mendonça de Oliveira. Programa de Pós-Graduação
em Arquitetura e Urbanismo. Doutorado em Conservação e Restauro: PPGAU/ UFBA, 2006,
Salvador.
NORA, P. Leslieux de lamémoire1: Seuil. Paris, 1978.
OLIVEIRA, M. Mendonça de. Tecnologia da Conservação e da Restauração: Materiais e
Estruturas. 8ª. Ed.: EDUFBA – PPGAU. Salvador, 2014.
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1. Introdução
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2. Metodologia
3. Resultados e discussão
Com base nos dados catalogados de 130 projetos buscou-se analisar a relação percentual entre
as vertentes ensino, pesquisa e extensão dos projetos executados entre os anos de 2008 a 2018
no curso supracitado. A análise retornou gráficos comparativos aonde se observa a incidência
das vertentes, a quantidade de projetos segundo o período de duração e a quantidade de
suportes abrangidos em âmbito técnico ou prático.
A relação proporcional entre os projetos (gráfico 1) aponta que aproximadamente metade
deles configura-se como extensão, um terço como pesquisa e menos de 20% como ensino. A
partir desses dados numéricos, é possível inferir que a preferência por projetos de extensão
pode decorrer da grande demanda presente na comunidade local e da imprescindibilidade do
aluno ter contato e experienciar a realidade vivida pelas instituições e a forma como procedem
a salvaguarda dos bens, aonde um dos teóricos mais utilizados dentro da academia, Bárbara
Appelbaum (2007), difunde a necessidade em se avaliar as condições da instituição de guarda,
a avaliação do estado ideal de conservação do bem, fazendo uma ponderação e estabelecendo
metas realísticas de tratamento de acordo com as tais condições.
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Gráfico 1 - Percentual de Projetos Executados entre Gráfico 2 - Relação entre Projetos de Ensino,
2008-2018 de acordo com sua natureza Pesquisa e Extensão
30
25
14%
20
15
51% 10
35% 5
0
até até até até até até até até até
1 2 3 4 5 6 7 8 9
78
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3% 10
9
8
7
Quantidades de Projetos
14% 6
5
34% 4
3
2
1
0
Pintura
Misto
49%
Arqueologia
Madeira
Papel
Gesso
Cerâmica
Faiança
Pétreo
Vidro
Argamassa de Cimento
Diagnóstico
Documentação
Etnográfico
Luz
Reserva Técnica
Científico Evento
Humanístico Técnico/Prático
4. Conclusões
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intrínsecas, estado de conservação bem como a difusão do conhecimento gerado por estes
procedimentos são de extrema importância em vista da interdisciplinaridade deste campo. O
presente trabalho buscou analisar como essa interdisciplinaridade é abordada pelos docentes
através dos projetos, a princípio realizando um levantamento para então avaliar o impacto
gerado por ela no âmbito do curso. Com a possibilidade de no futuro propor novas
abrangências nos estudos e suas aplicações.
Referências
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1. Introdução
O Laboratório de Ciência do Patrimônio (LACIPA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel),
desde novembro de 2015, tem por intenção o desenvolvimento de projetos de pesquisa, ensino e
extensão contextualizados na Ciência da Conservação e/ou na Ciência do Patrimônio, em níveis de
graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado).
Durante um encontro do International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of
Cultrual Property (ICCROM) em 2013 – ICCROM Forum on Conservation Science,
“O Fórum concluiu que ciência da conservação é um domínio da ciência
interdisciplinar aplicada, da qual o propósito primário é apoiar a preservação, o
entendimento, e o uso sustentável do patrimônio cultural, com o objetivo de promover
um envolvimento mais amplo da sociedade com o patrimônio para gerações atuais e
futuras. O escopo da ciência da conservação abrange tanto a preservação dos
aspectos materiais do patrimônio quanto de seus valores intangíveis, para os quais as
ciências naturais, sociais e formais têm uma contribuição a dar” (HERITAGE E
GOLFOMITSOU, 2013, p.S2-3) – tradução minha.
O termo Ciência do Patrimônio, por sua vez, tem um significado mais amplo e vem unificar campos
das ciências aplicadas inter-relacionadas. Ela inclui a Ciência da Conservação, mas não se limita a
tópicos de preservação (HERITAGE E GOLFOMITSOU, 2013, p.S2-5).
Entende-se, particularmente, que programas dessas Ciências idealmente devem abarcar questões
que vão além da materialidade e das pesquisas realizadas pelas ciências naturais puras e
disciplinares, incluindo questões como significado, uso, transformação e apropriação social desse
patrimônio. Esse entendimento mais amplo carrega a intrínseca interdisciplinaridade, a ser
construída não apenas entre as ciências naturais ou entre as ciências culturais, mas especialmente
entre as naturais e culturais, considerando conjuntamente aspectos como matéria, memória e
esquecimento. Entende-se, além disso, que abordagens puramente científicas não são suficientes
para resolver questões de tal magnitude, sendo necessário integrá-las a projetos de, por exemplo,
extensão universitária.
Com base nisso, desde 2015 o LACIPA vem desenvolvendo projetos de pesquisa integrados a um
projeto de extensão/pesquisa, e neste trabalho busca-se trazer um compartilhamento de seus
resultados.
2. Metodologia
Com o objetivo de apoiar a preservação, o entendimento e o uso do patrimônio cultural,
considerando um mais amplo envolvimento social com esse patrimônio e com a sua preservação, os
projetos de pesquisa e de extensão do LACIPA, de cunho inter/transdisciplinar, vêm sendo
desenvolvidos de forma integrada por profissionais e estudantes das áreas da Química, Arqueologia,
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I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio)
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil
3. Resultados e discussão
Dos projetos de pesquisa até então desenvolvidos ou em desenvolvimento no LACIPA, tem-se a
investigação de cerâmicas arqueológicas (de cerritos do Pampa gaúcho – PUGLIERI et al, 2018),
pinturas murais (de João Fahrion e Aldo Locatelli), suportes metálicos históricos de iluminação
pública (da cidade de Pelotas) e pinturas sobre madeira (de imagens Jesuítico-Guaranis do Museu
das Missões). Além desses projetos, em 2017 o coordenador do Laboratório trabalhou como não-
membro da UFPel em projeto para a investigação material de objetos pertencentes ao acervo do
Museu Carmen Miranda, cujos resultados deverão ser utilizados no projeto de extensão/pesquisa
para o ano de 2019.
Nos anos de 2016 e 2017 o tema de corrosão metálica foi escolhido para se trabalhar com os alunos
do ensino médio, utilizando-se de resultados do projeto de pesquisa que envolvia suportes metálicos
82
I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de
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de iluminação pública. No ano de 2018 o tema de materiais inorgânicos foi escolhido, trabalhando-
se com os resultados do projeto de imagens Jesuítico-Guaranis.
No caso dos suportes metálicos estudados, muitos encontram-se na Praça Coronel Pedro Osório da
cidade de Pelotas, ou no entorno da Praça, sendo que a atividade foi realizada nesse espaço museal.
No caso das imagens Jesuítico-Guaranis, as mesmas não se encontram na cidade de Pelotas, sendo
que a atividade, embora tenha sido realizada no Museu do Doce como espaço museal, contou com
uma etapa de imersão cultural contextualizada, com o preparo de receitas de tintas históricas. Tanto
em 2016 quanto em 2017 e 2018, as atividades contaram com etapas de discussões sobre história da
arte, patrimônio e química, respeitando conceitos específicos de, por exemplo, contextualização no
cotidiano (WARTHA, SILVA E BEJARANO, 2013) e alfabetização científica (SASSERON E
CARVALHO, 2011, p.75-76). Considerou-se ainda, visitas a cursos de graduação da UFPel,
contextualizando-se suas atividades na investigação patrimonial, como os cursos de Museologia,
Química Forense, Engenharia de Materiais, Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis,
e Arqueologia e Antropologia. De acordo com cada ocasião, visitas guiadas ao Museu do Doce e/ou
aos casarões tombados presentes no entorno da Praça Coronel Pedro Osório também foram
realizadas. A presença e participação de professores do ensino médio foi fundamental em todas as
edições.
Como exemplificação dos impactos dessas atividade, tanto para o aluno como indivíduo quanto
para o patrimônio como objeto desse trabalho, destacam-se as respostas de duas questões do
questionário de 2016: 1) O patrimônio cultural é importante para você? Por quê?; 2) Como você
mesmo pode preservar um bem cultural?
Após a atividade, as respostas mais destacadas para a primeira pergunta foram: 1) “Sim, pois é uma
característica histórica, da minha cidade, meu país, meu estado.”; 2) “Sim, porque é simbólico, é
uma identidade da nossa região.”; 3) “Sim, com ele conseguimos descobrir coisas novas sobre o
passado, sobre a história de seus artistas, de como as pessoas viviam antigamente, além de
embelezar um determinado lugar.”. Nota-se, claramente, que esses alunos se apropriaram não
somente do patrimônio, mas também de termos específicos da área patrimonial e da pesquisa na
área do patrimônio cultural.
Da segunda pergunta, de destaque tem-se que os alunos apontaram a denúncia dos atos de
depredação, a promoção da manutenção e o ato de não vandalizar. Além disso, depois da atividade
apontaram a necessidade de conscientizar outras pessoas, de se conduzir procedimentos de
restauração por profissionais especializados (conservador-restaurador), de se evitar a poluição
(relacionando-a com a chuva ácida), de ter respeito pela cultura, de promover educação e de
conduzir a vigilância. Nota-se, neste nível, que os alunos não só ampliaram seus conhecimentos,
mas assumiram responsabilidades sociais, culturais e ambientais frente ao patrimônio.
4. Conclusões
Abarcar os entendimentos mais amplos das Ciências da Conservação e do Patrimônio é um desafio
por diversas razões. Dentre elas, destaca-se a efetivação da interdisciplinaridade entre as ciências
naturais e culturais em programas universitários, que envolve uma série de atributos que permitem
uma interação efetiva e harmoniosa entre os envolvidos1. Outro desafio de destaque é o
desenvolvimento de metodologias eficazes para se aplicar de modo direto os resultados científicos
obtidos em laboratórios no contexto e envolvimento social.
1
Abordagens de soft skills, embora no contexto de Conservação Preventiva, podem ser obtidas, por exemplo,
em The impact of soft skill development in preventive conservation practice and training (WICKENS E
NORRIS, 2018).
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I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio)
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Os resultados aqui apresentados mostram, contudo, que esforços e tentativas de alcançar essa maior
amplitude com o uso de metodologias similares às aqui apresentadas, por exemplo, podem gerar
resultados promissores. Integrando-se projetos de pesquisa com abordagens de extensão
universitária torna-se possível despertar, por exemplo, o interesse em disciplinas exatas naqueles
alunos com maior afinidade com as ciências humanas, e vice e versa. Pode-se não apenas envolver a
sociedade, mas, quando utilizando-se de rigor metodológico, ajudar a transforma-la, motivando
futuros profissionais e cientistas da área do patrimônio e motivando a sociedade a se apropriar e a
buscar a preservação patrimonial.
Agradecimentos
Aos colaboradores e parceiros da UFPel, USP, UFMG, UFRGS, UFSM e TUM, ao Programa de
Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da UFPel, aos parceiros das escolas
públicas envolvidas em nosso projeto de extensão/pesquisa e aos parceiros das demais instituições
envolvidas tanto no projeto de extensão/pesquisa quanto nos de pesquisa.
Referências
HERITAGE, Alison; GOLFOMITSOU, Stavroula. Conservation science: Reflections and future
perspectives. Studies in Conservation, v. 60, n. sup2, p. 2-6, 2015.
PUGLIERI, Thiago S. et al. Ensino em ciências e educação para o patrimônio: uma fusão
metodológica para o ensino de química, a preservação patrimonial e a alfabetização
científica. Ciência & Educação, Submetido, 2019.
PUGLIERI, Thiago S. et al. Multi-technique investigation of potshards of a cerrito (earthen mound)
from southern Brazil. Spectrochimica Acta Part A: Molecular and Biomolecular Spectroscopy,
v. 206, p. 48-56, 2019.
SASSERON, Lúcia H.; CARVALHO, Anna M. P. Alfabetização científica: uma revisão
bibliográfica. Investigações em Ensino de Ciências, v. 16, n. 1, p. 59-77, 2011.
WARTHA, Edson J.; SILVA, Erivanildo L.; BEJARANO, Nelson R. R. Cotidiano e
contextualização no ensino de Química. Química Nova na Escola, v. 35, n. 2, p. 84-91, 2013.
WICKENS, Joelle D. J.; NORRIS, Debra H. The Imperative of Soft Skill Development in
Preventive Conservation Practice and Training. Studies in Conservation, v. 63, n. sup1, p. 301-
306, 2018.
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Projeto Hans Broos:
Pesquisa Aplicada ao Patrimônio Cultural.
Sara C. Santos¹ , Bernardo B. Bielschowsky ² , Ana Paula P. Correa³
1 IFSC/DACC/Câmpus Florianópolis/scdsantos40@gmail.com
2 IFSC/DACC/Câmpus Florianópolis/bernardo.brasil@ifsc.edu.br
3 IFSC/DACC/Câmpus Florianópolis/ana.pupo@ifsc.edu.br
1. Introdução
O projeto “Hans Broos: da formação técnica ao conjunto da obra”, que se encontra em
andamento, tem como principal objetivo fomentar a conscientização do patrimônio histórico
cultural, com ênfase nas obras do Engenheiro-Arquiteto Hans Broos, que estão inseridas no
contexto do Movimento da Arquitetura Moderna em Santa Catarina. Trata-se de uma
pesquisa de caráter transdisciplinar, feita por uma equipe multidisciplinar, dos cursos
tecnológicos, que procura sistematizar informações para as instituições de preservação
patrimonial e disseminar esse conhecimento para o público em geral.
A motivação para a realização do projeto foram as recentes demolições de algumas
das principais obras em Santa Catarina, demonstrando o recorrente descaso com a questão da
valorização patrimonial. Como exemplo, podemos trazer à tona a demolição da Residência
Zipser (projetada em 1959) na cidade de Florianópolis/SC que foi demolida em 2012 e
também a demolição da Residência Gottardi (projetada em 1960) na cidade de Rio do Sul/SC
demolida em 2018 (WITTMANN, 2018). Além dessas obras demolidas, podemos notar a
falta de conscientização dos proprietários dos imóveis projetados por Hans Broos na hora das
modificações, onde algumas das obras sofreram descaracterização e perderam a sua essência.
Com os processos constantes de renovação urbana sinalizando para essas obras, corre-
se o risco de desaparecimento, ocasionando perda irreversível as cidades e as gerações
futuras. Essa modernização urbana tende a ser cada vez mais intensa, substituindo obras de
grande valor cultural e histórico e que se encontram inseridas em um contexto urbano da
cidade por edifícios cada vez mais padronizados e fora de um contexto seguindo apenas a
lógica padronizada do mercado (HARVEY, 1998). A globalização impõe a substituição
dessas obras, sem se preocupar com a história do lugar, substituindo conjuntos urbanos
adaptados aos sítios físicos e apropriados culturalmente, por um acumulo de não lugares
(AUGÉ, 1994). Porém o indivíduo só toma consciência daquilo que é através dos lugares que
vive, das paisagens que lembram a construção do passado e dos elementos que o animam
para o futuro (CLAVAL, 1999). As cidades brasileiras conhecem rápidos processos
substitutivos - decorrente da fraqueza da legislação urbanística, que permite uma acelerada
dinâmica do capital imobiliário - que transforma o tempo numa variável determinante para a
manutenção deste legado patrimonial (BIELSCHOWSKY, 2017).
O projeto busca inserir os alunos, professores e profissionais da área da construção civil,
tanto do Instituto Federal de Santa Catarina como de outros lugares, nesta discussão,
possibilitando a conscientização sobre a relevância dos patrimônios históricos para as cidades
contemporâneas. A partir dessa problemática, o projeto será levado também para dentro da
sala de aula para debater com os alunos a importância desses bens patrimoniais. Através de
aulas expositivas e práticas, os alunos vão redesenhar alguns dos projetos de Hans Broos.
85
Os alunos participantes do projeto receberam a tarefa de redesenhar alguns dos
principais projetos do Hans Broos pelo estado de Santa Catarina. Essa atividade é muito
importante para os alunos, que aprendem sobre a concepção arquitetônica, técnicas
construtivas e detalhamento de projeto, entre outras questões técnicas, a partir do redesenho
dessas edificações. Entre as obras escolhidas, que vamos apresentar nesse artigo, estão o
Edifício da Celesc, atual Fórum do Desembargador, projetado em 1967, localizado na cidade
de Florianópolis/SC e a Residência do Julio Zadrozny, projetada em 1955, localizado na
cidade de Blumenau/SC. Essa atividade será utilizada também como forma de extensão, pois
os arquivos pesquisados e os desenhos técnicos elaborados pelos alunos serão
disponibilizados para as instituições responsáveis pelo patrimônio cultural catarinense e para
os proprietários poderem fazer possíveis adequações.
2. Metodologia
A metodologia para a pesquisa iniciou com uma revisão bibliográfica dos principais
conceitos associados às políticas públicas patrimoniais, passando pela evolução do debate
conceitual e chegando à abordagem atual, que passa de um objeto isolado de uma edificação
para conjuntos arquitetônicos. Nesse contexto, destaca-se a inserção e o reconhecimento da
própria Arquitetura Moderna catarinense como um legado de valor patrimonial que está em
plena fase de reconhecimento.
A partir do material existente foi elaborada uma lista de obras mais significativas.
Com esse material foi possível realizar os redesenhos de algumas edificações e propor
atividades de ensinos. As informações obtidas serão levadas para a sala de aula, para que
ocorram debates sobre a valorização do patrimônio em aulas teóricas e práticas.
Após a realização das revisões bibliográficas e das pesquisas em campo, foi feito o
levantamento de dados sobre as edificações, sistematização destes dados e em seguida será
repassado para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), através das
fichas de inventários que estão sendo elaboradas. Serão feitas visitas in loco para a
verificação do estado atual das edificações que possuem valor patrimonial. Esse trabalho de
campo que está sendo registrado com fotos dos locais e das condições que se encontram as
obras mapeadas, para um maior conhecimento das instituições, visto que será uma forma de
extensão do conhecimento obtido nesta pesquisa.
3. Resultados e discussão
Os primeiros resultados obtidos com as revisões e as visitas in loco, é que as
edificações passaram por inúmeras alterações importantes, tanto nos espaços internos e
externos, como nas áreas do seu entorno, o que nos leva a concluir que a problemática em
relação às condições que se encontram esses imóveis é bastante significativa.
Para ilustrar a presente situação, pode-se verificar o estado de conservação dessas
obras projetadas por Broos, como a Residência Julio Zadrozny, que além das abundantes
alterações no seu interior e exterior, está recebendo em seu terreno a construção de um novo
edifício. Em prol de compreender os projetos e as propostas originais do arquiteto Hans
Broos, a equipe obteve acesso ao acervo, às plantas originais e as fotos registradas dessas
obras após a sua construção. A partir deste material, foi possível fazer uma análise mais
ampla do que seria o partido arquitetônico original proposto por Broos.
86
A partir do material obtido no acervo, principalmente as plantas e as fotos históricas,
conseguimos redesenhar as edificações com o principal objetivo de mostrar o seu valor
patrimonial. Os projetos realizados pelos alunos auxiliaram também para a comparação entre
a proposta original do arquiteto e o estado atual em que se encontra. Com os desenhos
prontos, será possível restabelecer o partido arquitetônico original, caso haja um interesse em
fazer uma restauração do imóvel.
Outra edificação projetada por Hans Broos e que teve o seu ambiente
consideravelmente modificado foi o edifício originalmente projetado para receber a primeira
sede da Celesc (Figura 1). Pode-se notar que foram feitas várias alterações na sua última
reforma, principalmente no seu ambiente interno. Porém, também foram feitas alterações nas
suas fachadas e no seu paisagismo. A perda mais significativa foi a retirada dos brises, que
além de garantir o conforto térmico do ambiente, dava uma leveza à fachada da edificação.
Também foi realizada uma análise criteriosa das plantas originais, que foram
encontradas bastante deterioradas e dificultaram a leitura das mesmas. Mesmo assim, foi feito
um grande esforço no sentido de compreender as mesmas para o processo de redesenho de
todo o projeto, incluindo plantas baixas, cortes e fachada.
O redesenho desta obra emblemática para Santa Catarina (Figura 2) é de importância
significativa para um possível trabalho de restauro e de referência ao partido arquitetônico
original, caso as instituições julguem que o valor desse bem patrimonial deva ser ainda mais
evidenciado através da recuperação da proposta original.
87
Para atingir o objetivo geral, que é fornecer instrumentos para a instrução do processo
que visa o tombamento do “Conjunto da Obra do Arquiteto Hans Broos em Santa Catarina”
(IPHAN), foi feito, além da reprodução das plantas em 2D, o projeto em software específico
BIM, que proporcionam a espacialização dos projetos desses edifícios em 3D (Figura 3).
Figura 3 - Redesenho em 3d do Edifício originalmente projetado para a Celesc
4. Conclusões
As obras escolhidas para o debate e o redesenho, exemplificadas aqui neste artigo
através da Residência Julio Zadrozny (Blumenau, 1955) e do edifício da Celesc
(Florianópolis, 1967), são estruturas fundamentais tanto para a compreensão da importância
histórica dessas obras para o legado arquitetônico de Hans Broos, como nos revelam também
a importância de sua localização e de seus usos no contexto contemporâneo.
O Sr. Julio Zadrozny foi um industrial muito importante em Blumenau, sua família
era proprietária da empresa Artex, a sua residência fica localizada em um ponto estratégico,
onde está sendo construído o Distrito de Inovações de Blumenau, exatamente no terreno do
projeto de nossa pesquisa, o que acaba tornando a obra ainda mais importante. Ele também
foi primeiro presidente da Celesc e convidou Hans Broos para projetar a primeira sede da
empresa, o edifício em questão na nossa pesquisa.
Da mesma maneira que a residência de Blumenau tem um marco significante
histórico e atual, o edifício da Celesc tem uma estrutura importante no contexto industrial e
político da Capital catarinense. Primeiramente, pelo edifício ter sido idealizado para receber a
sede da Celesc, posteriormente por ter sediado o palácio do Governo a partir da década de
1980, quando o governo do Estado deixa o Palácio Cruz e Souza e decide ocupar este prédio.
Em 2005, o prédio que estava sob responsabilidade do Banco Central do Estado de Santa
Catarina, foi vendido para o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, onde atualmente é o
Fórum do Desembargador.
O objetivo desse projeto foi promover a conscientização patrimonial, através da
utilização da pesquisa e extensão aplicada ao ensino, utilizando as obras do engenheiro-
arquiteto Hans Broos, para instrumentar o processo de tombamento no Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A importância deste projeto está também
na introdução da temática da valorização patrimonial no IFSC, através de um processo em
andamento, demonstrando na prática as situações recorrentes com relação à temática, como
por exemplo, qual o papel do egresso que vai trabalhar na construção civil.
88
Neste sentido, vale enfatizar o diferencial na formação técnica do engenheiro-
arquiteto Hans Broos, onde ao mesmo tempo em que aprendeu os trabalhos técnicos e
manuais (os mesmo ensinados nos nossos cursos técnicos e tecnológicos), tomou consciência
do seu papel na sociedade para além da reprodução dos antigos conhecimentos, pois tratou de
ser um representante de um período específico da história das cidades e conseguiu criar um
olhar diferenciado para a relação entre o antigo e o novo. Com seu conhecimento técnico e
sua conscientização cultural, conseguiu elevar a construção civil para um novo patamar, onde
as inovações das novas técnicas construtivas e dos novos materiais disponíveis superaram a
mediocridade da simples reprodução alienada.
Agradecimentos
Ao Instituto Federal de Santa Catarina pelo financiamento desta pesquisa através do Edital
41/2017/PROPPI/PROEX/Campus Florianópolis.
Referências
AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas, SP:
Papirus, 1994.
BIELSCHOWSKY, Bernardo B. Paisagens urbanas em áreas centrais. Políticas municipais,
preservação patrimonial e espaços públicos em Blumenau/SC. Florianópolis, 2017. Tese
(Doutorado em Geografia). Universidade Federal de Santa Catarina.
CASTRIOTA, Leonardo. Patrimônio Cultural: Conceitos, Políticas e Instrumentos. São Paulo,
SP: Annablume, 2009.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo, SP: Estação Liberdade: Unesp, 2003.
CLAVAL, Paul. A geografia cultural. Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 1999.
DAUFENBACH, Karine. A modernidade em Hans Broos. São Paulo, 2011. Tese (Doutorado em
Arquitetura e Urbanismo). Universidade de São Paulo.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo, SP: Vértice, 1990.
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.
São Paulo, SP: Loyola, 1998.
JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das cidades. Rio de Janeiro, RJ: Casa da Palavra, 2005.
WITTMANN, Angelina. Arquitetura - Projetos de Hans Broos - Rio do Sul/SC. 2018. Disponível
em: <https://angelinawittmann.blogspot.com.br/2018/02/arquitetura-projetos-de-hans-broos-
rio.html>. Acesso em 26/02/2018.
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1. Introdução
A Reserva Técnica de Etnografia (RT) do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) teve seu início
associado aos princípios de criação da própria instituição, no ano de 1867 através do recolhimento
de objetos do interior do estado (BENCHIMOL, 2009), passou então o acervo etnográfico do
MPEG por diferentes ambientes e armazenamentos desde o acumulo das primeiras peças ao que
hoje compõem a reserva técnica (ARNAUD, 1981; BENCHIMOL, 2009; BENCHIMOL,
PINHEIRO, 2010; OLIVEIRA, FURTADO, 1995; VELTHEM et. al., 2004).
A atual RT, chamada pelo nome do pesquisador que contribuiu as suas coleções, Curt Nimuendajú,
contabiliza mais de 14.000 peças tombadas, catalogadas de mais de 150 povos indígenas da
Amazônia brasileira e peruana num total de 110 coleções com exemplares de diferentes categorias
artesanais como: cerâmicas, trançados, adornos plumários, armas e objetos ritualísticos, cordões e
tecidos, etc. (BENCHIMOL, 2015; MPEG, s/d; OLIVEIRA, FURTADO, 1995; VICENTE, 2016).
Após as mudanças de ambientes de armazenamento ao longo de séculos, atualmente o acervo do
MPEG encontra-se armazenado no Campus de Pesquisa do Museu Goeldi, na região periférica da
cidade de Belém do Pará, em uma área construída especificamente para abrigar tais peças. A atual
Reserva Técnica foi construída em 1995, contudo, entre 2001 e 2003 após análises de especialistas
o edifício foi submetido a mudanças estruturais que permitiram a inclusão de armários de metal
deslizantes (onde se encontra quase todo o acervo) e um sistema de climatização para controle
ambiental (BENCHIMOL, 2009; MAEKAWA, 2007; MAEKAWA, TOLEDO, 2010; MAEKAWA
et. al., 2015; VELTHEM et. al., 2004).
O Museu Goeldi, como uma das maiores instituições de história natural do país, têm no seu acervo
etnográfico uma importante fonte de estudo principalmente para as ciências humanas, sendo
relevante então conhecer todos os fatores que podem vir a causar danos ao processo natural de
degradação dos acervos. Considerando as especificidades climáticas de tal região – altos índices de
Umidade Relativa (UR) e Temperatura (T) boa parte do ano - e as questões de sustentabilidade e
gerenciamento ambiental, o The Getty Conservation Institute (GCI)1 estabeleceu no Brasil e em
outros países, após testes e projetos anteriores, o Alternative Climate Controls for Historic
Buildings (2003-2010) que previa desenvolver sistemas alternativos de climatização que
permitissem uma intervenção mínima nas edificação e proporcionassem uma diminuição de custos
com sistemas mais robustos e tecnologicamente mais simples (MAEKAWA, VALENTIN, 2003).
Considerando que a maior preocupação dos responsáveis pelo acervo e o GCI era a proliferação de
micro-organismos, o sistema implantado no interior da RT previu manter baixos índices de UR
1 O Instituto Getty de Conservação é uma instituição privada que trabalha internacionalmente promovendo
práticas de conservação através de pesquisa científica, educação, treinamento, projetos de campo e divulgação
de suas pesquisas. (http://www.getty.edu/conservation/about/overview.html)
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Porém, transcorridos mais de 10 anos da implantação do projeto de climatização pelo GCI, não
houve um registro histórico contínuo do comportamento do sistema que possibilitasse a
compreensão de todos os impactos microclimáticos ocorridos no acervo desde 2003 e da gestão
coordenada pelos curadores do acervo do equipamento em si.
As produções voltadas aos processos de gestão em museus, principalmente relacionados a geração
de documentos, concentram-se nos acervos diretamente, a gestão das práticas administrativas
ligadas ao acervo permitem que o museu “tenha domínio de seu acervo, de suas técnicas, das
atividades institucionais, entre outros” (PADILHA, 2014, p. 23), de acordo com Ladkin (2004)
“A gestão do acervo é o termo aplicado aos vários métodos legais, éticos, técnicos e
práticos pelos quais as colecções do museu são formadas, organizadas, recolhidas,
interpretadas e preservadas. A gestão do acervo foca-se na preservação das colecções,
preocupando-se pelo seu bem-estar físico e segurança, a longo prazo. Preocupa-se com a
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Visto isso, foi relevante neste trabalho responder a uma questão fundamental, como funcionou a
gestão do Sistema Alternativo de Climatização implatado pelo The Getty Conservation Institute na
Reserva Técnica Curt Nimuendajú ao longo de 14 anos desde a sua construção?
2. Metodologia
A pesquisa realizada foi qualitativa, de caráter documental, bibliográfico e descritivo, para tal,
foram realizados levantamentos de referencial bibliográfico que incluiu livros, artigos, periódicos,
revistas, publicações em eventos, produção acadêmica, atas de reuniões, relatórios de
monitoramento climático atuais e antigos, relatórios de gestão, documentos institucionais como
editais, políticas de uso das coleções e de dados referente as mesmas, disponibilizados no site do
MPEG e pela curadoria, planos de direção desde 2006, planos de logística, regimento da instituição,
relatórios de gestão desde 2002, termos de compromisso de gestão, além de relatórios de avaliação
anual. Tais documentos possibilitaram compreender o funcionamento da instituição e o percurso
histórico da gestão da mesma.
Para traçar o ciclo do funcionamento do Sistema Alternativo de Climatização, além da literatura, foi
realizado o levantamento dos relatórios de registro de umidade relativa e temperatura no período da
instalação e monitoramento do sistema pelo The Getty Conservation Institute (GCI). A
fundamentação teórica sobre como foi elaborado o Sistema Alternaivo de climatização e suas
propostas para a Reserva Técnica Curt Nimuendajú foi embasado em publicações principalmente de
Maekawa e Toledo (2002); Maekawa e Valentin (2003); Maekawa e Beltran (2004); Maekawa
(2007); Maekawa e Toledo (2010); Maekawa et. al. (2015), mas também foram considerados os
relatórios de gestão de 2002/2003/2004 disponibilizados no site do MPEG, Velthem et. al. (2004) e
Benchimol (2015).
3. Resultados e discussão
A partir da analise da documentação disponibilizada pela curadoria do MPEG, os artigos publicados
principalmente pelo The Getty Conservation Institute, o diálogo com os atuais funcionários da RT e
o processo de trabalho direto executado entre 2016 e 2018 dada a realização da pesquisa de
mestrado “ Histórico e Avaliação Crítica do Sistema de Climatização da Reserva Técnica Curt
Nimuendajú no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)”, observamos que houve uma inadequação
no processo de gestão do Sistema Alternativo de Climatização, pelos seguintes fatores:
(i) Não houve um acompanhamento continuo do funcionamento dos equipamentos, o que
inviabilizou determinar mudanças do ambiente climático propostas inicialmente pelo
GCI em 2003, sendo relevante a inclusão de um livro de ocorrências para observar o
andamento do sistema;
(ii) No corpo de funcionários da RT não há alguém com formação especifica em
conservação que possa realizar a leitura crítica dos dados de UR e T que atualmente são
coletados no ambiente de armazenamento e os que estão salvaguardados com a curadoria
do acervo;
(iii) Não foi estabelecido pelo GCI nem pelo MPEG um protocolo de gestão do sistema que
permitisse o constante acesso as informações acerca do funcionamento dos
equipamentos, ficando o conhecimento limitado aqueles que estavam presentes e
acompanharam o processo de instalação e gestão de 2003 a 2008;
(iv) A gestão de pessoal desconsiderou que dentro da instituição MPEG há rotatividade de
profissionais, sendo assim, nem todos os funcionários que acompanharam a execução do
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projeto ainda permanecem trabalhando na RT e nem todos que hoje trabalham nela
acompanham diretamente a atuação do sistema;
(v) Houve a quebra do dialogo entre o GCI e o MPEG após o fim da implantação do projeto
e com a perda de Shin Maekawa (executor do projeto) e a consultora Franciza Toledo,
gerou-se um desconhecimento sobre algumas particularidades do sistema;
(vi) A curadoria da Reserva Técnica não tem salvaguardados os dados que foram gerados
pelo Instituto Getty sobre o sistema de 2003 a 2008, o que acaba limitando os
funcionários as informações divulgadas em publicações pelo GCI, ao dialogo com
aqueles que estavam presentes durante a instalação e os documentos que são
salvaguardados pela curadoria do período de 2003 a 2008, principalmente relatórios e
anotações manuais.
4. Conclusões
Observando todos os levantamentos realizados durante este trabalho a respeito do Sistema
Alternativo de Climatização implantado na Reserva Técnica Curt Nimuendajú do Museu Paraense
Emílio Goeldi em Belém do Pará pelo The Getty Conservation Institute desde 2003, podemos
inferir que tecnicamente o sistema implantado realiza aquilo que seu proponente previu, porém, a
gestão dos equipamentos e do pessoal tem apresentado falhas. A elaboração de mais registros dos
processos técnicos efetivados na RT é fundamental, um protocolo de gestão do sistema no momento
da instalação do mesmo que ensinasse como gerir o mesmo teria sido fundamental para reduzir o
risco de problemas vinculados ao funcionamento do sistema, estabelecendo medidas preventivas em
caso de falhas nos componentes.
Observamos a importância do levantamento histórico e análise crítica do sistema de climatização da
RT para a conservação de seu acervo, e para além dos objetos, a compreensão de todos os
elementos construtivos e ambientais aos quais os mesmos estão expostos. Mais adiante, perceber
que não basta registrar as características ambientais de um determinado local de salvaguarda, é
necessário realizar a leitura crítica dos resultados coletados para determinar que influencia estes
terão na permanência do acervo a longo prazo.
É fundamental que haja o acompanhamento de um conservador-restaurador na instituição e o
constante estudo e aprimoramento do pessoal considerando as práticas de Conservação Preventiva,
que ainda é uma metodologia de ação recente e necessita ser constantemente revisada de forma a
alcançar as especificidades de cada acervo e do ambiente que o rodeia. A partir da construção deste
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histórico e da leitura crítica, é importante dar continuidade ao estudo do comportamento dos objetos
para determinar a viabilidade deste sistema de climatização a longo prazo.
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nivel Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. Os autores agradecem ao
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio a projeto de
pesquisa que investigou metodologia utilizada neste trabalho.
Referências
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148, 1981.
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Emílio Goeldi. 2009. [Mestrado]Niterói: Universidade Federal Fluminense e Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia, 2009. 126 p.
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Museologia e Transdisciplinaridade, v. IV, n. 8, p. 50–70, 2015.
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social: questões contemporâneas da informação. Anais...Rio de Janeiro: 2010
BRASIL. Museu Paraense Emílio Goeldi. Relatório
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Disponível em: <https://www.museu-goeldi.br/assuntos/pesquisa-e-
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2017.
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PADILHA, Renata Cardozo. Documentação Museológica e Gestão de Acervo. Coleção Estudos
Museológicos, volume 2. Florianópolis: FCC, 2014.
VELTHEM, L. H. VAN et al. A coleção Etnográfica do Museu Goeldi: memória e conservação. Revista
Brasileira de Museologia, v. 1, n. 1, p. 182, 2004.
VICENTE, B. C. R. Conservação Preventiva na Reserva Técnica Curt Nimuendajú -
Monitoramento de macro e microambiente. [Monografia] Universidade Federal do Pará, 2016.
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1. Introdução
Este trabalho tem como finalidade demonstrar como a utilização de ortofotos digitais podem
auxiliar na análise do estado de conservação e do mapeamento de danos dos painéis de azulejos da
Igreja de Nossa Senhora da Vitória, situada em Salvador – BA, onde existem lápides da antiga
igreja, como aquela da neta de Caramuru, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional – IPHAN. Os painéis de azulejos policromos datam século XIX e estão
assentados na Capela-Mor até a altura aproximada de 2,80 metros no presbitério e de 1,90 metros
no Altar-Mor, enfatizado por um supedâneo trabalhado em calcário lioz e outras pedras
ornamentais. Os azulejos foram atribuídos à Francisco de Paula e Oliveira e confeccionado na
Fábrica do Rato, em Portugal.
O diagnóstico elaborado, após o mapeamento de danos e análise dos resultados, baseou-se em
estudos científicos, atendendo a Nota Técnica nº 03/2010, do IPHAN/BAHIA, que orienta quanto à
elaboração de projetos de intervenções físicas sobre o patrimônio azulejar. Segundo essa norma, as
intervenções restaurativas sobre o patrimônio azulejar devem ser precedidas de cinco etapas, entre
elas do “mapeamento gráfico de danos, preferencialmente realizados através de levantamento
fotogramétrico (ortofoto), com registro detalhado do estado de conservação das peças (perdas,
fraturas, desprendimentos e outros)” (BAHIA, 2010). Tal nota foi inspirada nos estudos do NTPR.
Essa Nota Técnica, redigida pelo IPHAN/BAHIA, fundamentou-se na eficiência da metodologia
desenvolvida e empregada na elaboração de projetos de restauração de painéis de azulejos
utilizando como base os recursos da fotogrametria digital, coordenados pelo professor Mário
Mendonça de Oliveira. Essa metodologia foi pioneiramente utilizada na Matriz de Nossa Senhora
do Rosário, na cidade de Cachoeira (BA), tombada IPHAN, e posteriormente aplicada na Igreja da
Misericórdia, em Salvador (BA), inserida na área delimitada pelo “Centro Histórico de Salvador”.
Sabe-se que na elaboração de um bom projeto de restauro, a fase de levantamento cadastral e
documental, do bem de valor cultural, deve ser executada com rigor. Musso (2006) destaca que
cada projeto nasce do conhecimento do seu objeto e daquilo que se pretende conservar, juntamente
com o material e com os valores atribuídos a eles e deve, antes de tudo, saber reconhecer,
inventariar e difundir os dados relacionados à sua consistência e às condições atuais.
Podemos considerar o cadastro como a etapa primordial de reconhecimento do objeto de estudo,
responsável por fornecer os subsídios necessários para a elaboração do diagnóstico e do projeto de
restauração, bem como assegurar a memória do estado do objeto antes do restauro. De acordo com
Le Goff (1996) “a memória, onde nasce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o
passado para servir o presente e o futuro”, sendo assim, a representação cadastral torna-se
instrumento importante para a preservação da memória individual ou coletiva (OLIVEIRA, 2008).
No caso dos acervos azulejares, que por princípio são considerados como obra de arte (BAHIA,
2010), compostos por diversas peças dispostas ordenadamente para formarem elementos
figurativos, o rigor na etapa de levantamento aumenta, considerando a necessidade de registrar e
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referenciar cada azulejo isoladamente, mapeando sua localização exata e seu estado de conservação
antes da intervenção.
2. Metodologia
O diagnóstico foi elaborado a partir do levantamento cadastral fotogramétrico realizado utilizando,
simultaneamente, medições diretas de pontos de referência pré-estabelecidos e imagens digitais
retificadas, a qual prevê a transformação de uma imagem em perspectiva em imagem
ortogonalizada, correspondente a uma projeção ortogonal (MUSSO; GARELLO, 2006), que são
geometricamente confiáveis. Estas ortofotos foram inseridas no arquivo CAD (Computer Aided
Design), correspondente às vistas lateral direita (Figura 1) e esquerdas da capela mor (Figura 2) e
do arco cruzeiro que resultaram na representação fidedigna do painel de azulejo em meio digital e
em plantas impressas.
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O mapeamento de danos foi elaborado utilizando, como base, o levantamento cadastral
fotogramétrico. A identificação dos danos foi efetivada no local e registrada no levantamento
impresso, que foi posteriormente desenhado no programa CAD, sobre a imagem retificada do painel
em tons de cinza, para destacar, com cores distintas, os danos observados.
A aderência dos azulejos ao substrato foi analisada, ao longo de toda a extensão do painel,
utilizando-se martelo de fibra e, durante as visitas, amostras de argamassa foram coletadas para
ensaios laboratoriais de modo a fundamentar cientificamente a intervenção proposta. A retirada de
amostra privilegiou as camadas mais profundas, evitando rebocos superficiais, que muitas vezes
haviam sido substituídos por cimento.
A existência de lacuna no painel, resultante da ausência de dois azulejos, possibilitou a retirada da
amostra P1, coletada a 0,53 m do piso do supedâneo e correspondente à argamassa de assentamento
do elemento cerâmico. Duas outras amostras foram coletadas nas paredes laterais da capela-mor
que, diante da impossibilidade de retirá-las pela face onde estão assentados os azulejos, foram
obtidas na sua face oposta, pelos ambientes da Sacristia (amostra S1) e Museu (amostra M1), a 1 m
do piso.
O ensaio simples de argamassa, realizado no Núcleo de Tecnologia da Preservação e da
Restauração – NTPR, identificou o traço provável da argamassa de assentamento baseando-se na
determinação da proporção dos componentes da argamassa de cal: o ligante transformado em
carbonato, os finos (argila e/ou silte) e os grossos (areia).
3. Resultados e discussão
A análise do mapeamento de danos (Figura 3 e 4) indicou a ausência de grandes extensões de
danos, sugerindo apenas a necessidade de intervenções pontuais. Os principais danos observados
foram representados na ortofoto com hachuras e cores diferentes e no mapeamento foram
identificados: restauros anteriores marcados pelo preenchimento inadequado de lacunas e perdas
superficiais de fragmentos de vidrado (vermelho); lacuna de profundidade que atingem o vidrado e
o biscoito (laranja); ausência de azulejos (Roxo); fraturas superficiais e profundas (verde claro);
sujidades observadas em locais pontuais ao longo de toda a extensão do painel, em especial nas suas
extremidades (amarelo); azulejos que não pertencem ao conjunto (magenta); oxidação de elementos
metálicos incrustados na alvenaria (azul); azulejos em desprendimento (lilás); pintura mimética
sobre argamassa na parede do arco cruzeiro que mantém a legibilidade do conjunto azulejar (ciano);
furos (verde) e vestígios de tinta branca, tipo látex PVA (marrom).
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A presença destes sais solúveis na argamassa causa tensões de cristalização e eflorescência que
pode degradar os azulejos. Neste caso, os sais identificados, possivelmente, são originários da
utilização de material construtivo contaminado, principalmente a areia. O baixo percentual de
umidade (1,13%) registrado na argamassa de assentamento do painel nos dá certa tranquilidade,
porque indica que não está ocorrendo movimentação desses sais e consequentes eflorescências, que
justificassem, naquele momento, a remoção dos azulejos. Entretanto, como foi identificada a pouca
aderência de grande parte das peças azulejares no substrato da parede, a Superintendência do
IPHAN optou pela remoção do painel para que o mesmo fosse fixado em placas de fibrocimento,
segundo técnica desenvolvida pelo NTPR, para evitar que, na eventual infiltração de água, os
azulejos pudessem ser danificados, devido a presença de sais solúveis identificados nas amostras.
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A argamassa de assentamento dos azulejos é provavelmente composta de cal e areia, com reduzida
quantidade de solo (possivelmente impureza da areia), dedutível em função do pequeno percentual
de finos e pela coloração gray do material obtida pela tabela de Munsell (Tabela 2).
Tabela 2 - Traço provável
Amostra Ligante (%) Finos (%) Areia (%)
P1 1,00 0,04 0,75
4. Conclusões
A elaboração do projeto de restauração de azulejos utilizando os recursos da fotogrametria digital
como base, possibilita o registro fidedigno dos painéis tornando-se em importante documento do
momento anterior à intervenção. Ortofotos em alta resolução, quando inseridas em programas CAD
podem ser impressas em escala conhecidas e com dimensões suficientes que permitam serem
impressas em grande formato, sem perda de qualidade, podem ser utilizadas como cadastro
documental, além auxiliar no mapeamento de danos do painel, pois torna mais rápido a
identificação do dano no conjunto do mesmo. É importante também considerar a facilidade em
mapear os danos em plantas digitalizadas possibilitando ainda a quantificação destes para
elaboração do orçamento.
Esse mapeamento de danos, identificado e registrado com precisão, fornecem subsídios importantes
para a elaboração do diagnóstico, fundamentado em dados científicos fornecidos pelos ensaios
laboratoriais, que caracterizam o material das peças de azulejos e identificam o seu estado de
conservação, bem como do seu suporte, que deverá fundamentar a proposta de restauração do
acervo azulejar.
Referências
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03/2010. Salvador, 2010.
GROETELAARS, Natalie Johanna. Um estudo da fotogrametria digital na documentação de
formas arquitetônicas e urbanas. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Faculdade
de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. Bernardo Leitão [et al.]. 4. ed. Campinas: Ed. da
UNICAMP, 1996. (Coleção Repertórios).
MUSSO, Stefano F. Introduzione. In: MUSSO, Stefano F. Recupero e restauro degli edifici storici:
Guida pratica al rilievo e alla diagnostica. II Edizione. Roma: EPC Libri, 2006, p. 23-68.
MUSSO, Stefano F.; GARELLO, Gabriella. Concetti e nozioni di base: cosa occorre sapere. In:
MUSSO, Stefano F. Recupero e restauro degli edifici storici: Guida pratica al rilievo e alla
diagnostica. II Edizione. Roma: EPC Libri, 2006, p. 87-112.
OLIVEIRA, Mário Mendonça de. A documentação como ferramenta de preservação da
memória: cadastro, fotografia, fotogrametria e arqueologia. Brasília, DF: IPHAN / Programa
Monumenta, 2008. (Cadernos Técnicos; 7).
SANTOS, Larissa Corrêa Acatauassú Nunes; OLIVEIRA, Mário Mendonça de. Ortofotos dos
Painéis de Azulejo da Matriz de Nossa Senhora do Rosário, em Cachoeira, e da Igreja da
Misericórdia, em Salvador In: Seminário Nacional Documentação do Patrimônio Arquitetônico
com o Uso de Tecnologias Digitais - ARQ.DOC, 2010, salvador. Anais.... Salvador: FAUFBA,
2010.
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1. Introdução
Monumento que se entrelaça com a história da fundação da cidade de Salvador/BA,
localizado na parte baixa da escarpa, na interseção da ligação entre a cidade alta e a cidade
baixa, sendo, portanto uma das primeiras edificações levantada, em 1549, por Tomé de
Souza, juntamente com a implantação planejada da pequena cidade murada. Já designada em
1623, por Matriz da Nova Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Praia, quando em
1736, as Irmandades do Santíssimo Sacramento e da Imaculada Conceição da Praia
empreenderam a construção de uma nova edificação. Idealizada pelo Cel. Engº Manoel
Cardoso de Saldanha, o projeto, é iniciado em Portugal, em cantaria de Lioz. As obras da
nova igreja foram finalizadas em 1849, apesar de o seu início ter sido em 1765.
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limpeza em sua fachada em cantaria de Lioz (um tipo raro de calcário), pois se acumularam
em sua superfície: biofilmes; manchas de ferrugem e de água; poluição atmosférica; aerossóis
marítimo; e briófitas;
Convidado pela Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição da
Praia, e apoiada pelo Governo do Estado da Bahia, para promover essa intervenção, o Núcleo
de Tecnologia da Preservação e da Restauração – NTPR, coordenado pelo Professor Mário
Mendonça de Oliveira, compôs um projeto de limpeza para as fachadas e os elementos
arquitetônicos, - todos em calcário de Lioz, inicialmente, para a remoção de sujidades,
excrementos de insetos e aves, resíduos de argamassas e de respingos de pinturas, e posterior
limpeza em profundidade. Visto que, trata-se de grande responsabilidade a limpeza do
revestimento lítico desta importante basílica, título, aliás, concedido pela bula papal, que
também reúne papel de destaque no aspecto imaterial de suas celebrações religiosas, sendo
Nossa Senhora da Conceição da Praia, a padroeira do Estado da Bahia.
2. Metodologia
A proposta de intervenção preliminar é uma medida conservativa que visa minimizar os danos
derivados da poluição, por ações climáticas, de sujidades e vegetação existentes na fachada da
edificação.
A primeira ação é a remoção da vegetação, se de pequeno porte, com ferramentas de
jardinagem. Se de grande porte, - herbicida para exterminar o arbusto, pois assim evita-se a
grave ruptura do Lioz ao se remover a raiz das briófitas; matéria orgânica, resíduos de obra e
excrementos de pássaros deve-se remover cuidadosamente com uma espátula. Recomenda-se
a aplicação de uma solução a 2% de Sulfato Cúprico diluído em água para prevenir novo
ataque de microrganismos.
Na sequência fez-se a limpeza com água e sabão neutro, esfregados com uma escova macia
de nylon, sendo a intervenção minimamente invasiva, realizada pela empresa licitada através
do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural – IPAC, pois assim, evitam-se perdas ou
desgastes à superfície lítica. Água com pouca pressão, - nebulizada, aditivada com 5% de
amoníaco, na sequência enxaguar abundantemente para eliminar vestígios da solução à base
de amoníaco.
Para a limpeza superficial está vetada terminantemente o uso de abrasivos ou ácidos,
notadamente Ácido Muriático, em razão dos graves danos que esses produtos podem causar à
pedra de Lioz.
Contudo, tendo-se removido, mesmo que parcialmente algumas manchas decorrentes do
biofilme. Obviamente que o resultado não atendeu às fiscalizações do IPAC, do IPHAN, e à
Irmandade, tanto quanto à existência de manchas de ferrugem decorrentes da oxidação das
grades e dos pinos em ferro, tão sumariamente afetados, em razão do clima costeiro de
Salvador.
A larga experiência do NTPR já superou que lavagens, simplesmente, não suprimem esses
problemas convenientemente, fazendo-se necessário elaborar métodos pragmáticos e
específicos para a remoção de manchas. Sendo importante citar que a limpeza de um
monumento ou um bem móvel protegido, não é e nem será para deixá-lo novo, já que a
antiguidade que se dá ao bem é a sua pátina, não sendo tolerada a sua remoção total.
Obviamente, poderia-se propor a limpeza, em suas zonas necessitadas, por microjateamento
monitorado (air blasting), sendo o seu abrasivo, a alumina micronizada ou a microesfera de
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vidro. Contudo trata-se de processo oneroso, a sua substituição foi sugerida para emplastros
de limpeza e absorção. A formulação Mora, do Istituto Centrale del Restauro, de Roma,
Italia, inspirou o Núcleo de Tecnologia, o NTPR, adaptando a sua composição à nossa
conjuntura nacional, trocando-se carboxmetilcelulose por bentonita, que tem grande potencial
de absorção e de troca catiônica abrangente, potencializando a limpeza, do mesmo modo que
os elementos químicos da fórmula original. Essa, portanto, foi a recomendação técnica
passada pelo Professor Mário Mendonça para a remoção das maculas.
Quanto à previsão do quantitativo necessário para a elaboração da pasta, elaborou-se o mapa
de danos, (vide figura 2), que representa graficamente as áreas pigmentadas, para então
calcular-se a área em m², com os respectivos totais manchados.
Os testes de aplicação do emplastro foram realizados sobre diversos tipos de manchas, (vide
figuras 3 a 6). As tais camadas espessas sobre superfícies lavadas, livres de qualquer tipo de
engorduramento, os espaços foram delimitados com fita crepe, aplicados com uma espátula,
foram cobertos com plástico para que a sua evaporação fosse lenta e, consequentemente a
absorção prolongada e potencializada dos sinais. O tempo de ação do produto sobre a cantaria
para a remoção das manchas foi de no mínimo de 24 horas.
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3. Resultados e discussão
Os testes realizados demonstraram a eficiência do sistema de remoção de manchas com o uso
de emplastros, (vide figuras 7 a 9). Em razão da obra licitada de limpeza da fachada não ter
previsto o uso de emplastros, mas sim de limpeza através de enxagues ensaboados,
atualmente a Irmandade está pleiteando uma nova licitação para retomar os trabalhos e
finalizar a limpeza total das manchas.
4. Conclusões
Fez-se inclusive a proposição de um verniz quimicamente estabilizado de conservação,
harmônico com o tipo de material e do sítio, que assim, almeja um caráter durável da cantaria
isolando-a de agentes nocivos e alongando as qualidades do material lítico.
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Referências
LIVROS CONSULTADOS:
BAUER, I. A. Falcão. Materiais de Construção, volume 2. Coordenador L.A. Falcão Bauer:
revisão Técnica João F. Dias – 5. Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011.
VERÇOSA, Enio José. Patologia das Edificações. Porto Alegre: Sagra, 1991.
<https://www.google.com.br/search?q=ALENTEJO&oq=ALENTEJO&aqs=chrome..69i57j6
9i60l2j0l3.3176j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8> (acessado em 01/11/2018).
<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/401> (acessado em 01/11/2018).
105
The Conservation and Restoration Methods of Industrial Heritage:
The Case Study of the Steam Road Roller of EBA/UFMG
1. Introduction
This proposal is a course of action for the preservation and conservation of industrial and
cultural heritage. The object of intervention is a German Schwartzkopff road roller. The steam
roller was built in the 1920s and was operational throughout the decades of 1940/1950 at the
Pampulha Campus construction works of the Federal University of Minas Gerais (UFMG),
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil. The presentation of the industrial heritage as cultural
asset seeks to represent the diversity and complexity of its origin. Its need for preservation arises
linked and integrated to the conservation and restoration field, in which occurs an expanding of
the perception and an enhancement of the understanding about the field of action, particularly
about the industrial metallurgical heritage. The research aims to acknowledge industrial
heritage not only as historical heritage asset, but also as cultural one; and introduce science and
technology as identity and representativeness factors for individuals, groups and society.
The road roller was an important road engineering equipment in the city of Belo Horizonte
between 1950th. and 1960th. constitute an important instrument for the leveling and preparation
of roads in the state capital on the road modernization process with the exchange of stone
coating for asphaltic coating. A similar situation occurred in the University Campus Pampulha
UFMG in the 50s and 60s when it constituted one of the equipment used for compacting the
open roads for the installation of the administrative and academic units on site. The relationship
between the study equipment and the Federal University of Minas Gerais back the
implementation process of the Campus Pampulha, once installed in the area of Old Farm Dalva
which was urbanized in the expansion of the capital Belo Horizonte process in the 1940th.
The steam roller understood at the time, one of earthmoving equipment and opening of access
routes to the Campus and interconnection routes between units. The use of the object of study
equipment has developed over the years of Campus structure with contributions to the
compression processes and leveling of streets and installation areas of the buildings that made
up the university infrastructure.
106
2. Methodology
A compositional technical specification of the structure of said road roller (almost entirely
composed of iron alloy), a study of its characteristics and the identification of the main physical-
mechanical, chemical or biological agents which contribute to its degradation and deterioration
were adopted as methodology. From such approach were defined the analyses, techniques and
procedures to be carried out based upon micro-sample collection points.
Technical analyses of preventive conservation (normal climatological variables), laboratory
micro-chemical analyses (X-ray fluorescence spectroscopy and infrared vibrational
spectroscopy) and microbiological analyses (mycology) were applied. The results confirmed
the main deterioration and degradation factors in the object of intervention.
The micro samples were collected from the identification of nine points of interest identified in
the steam engine. (Figure 1a and 1b)
107
3. Preliminary Results
The normal climatological variables were considered from the models of the IPCE (Spanish
Cultural Heritage Institute – Spain), IPCE (2011) and the CCI (Canadian Conservation Institute
– Canada), according to the adoption Risk Model of Michalski (2011).
The resume analyses are in the table below. (Table 1)
Table 1 – Agents of Deterioration Diagnosis
Source: Rodrigues da Silva, 2016, p. 77.
Spanish Canadian Variables of Analyses - Deterioration Process
Model Model
Physical - Fatigue of the structure as a function of human action and environmental
Forces variables.
- Fragility of the structure to the physical degradation (human action),
chemical (corrosion processes), and biological (microorganism action).
- Object characteristics (alloy parts subjected to external forces).
- Sensitivity (climate and environmental variables).
Thieve and - Culpable and intentional (human action, graffiti and vandalism).
Vandals - Amateur and professional (lack of variability of the cultural heritage of
the University).
- Visitors and UFMG Community (ignorance of the historical value).
- Various materials (disposal area of several materials).
Fire - Purposeful (small fires around).
Atmospheric - Smokers (deposit cigarette butts inside and around).
Conditions Water - Rain (direct action for not having coverage).
- Mechanical installations (corrosion of the structure).
Biological Pests - Insects, Animals (possibility of provisional nests).
Conditions - Micro-organisms (lichens and fungi attack).
- Environs (increased humidity due to the presence of vegetation).
Luminosity - Food (discharge area).
Conditions Pollutants - Physical states (degradation of the metal structure).
- Urban pollution by particulate natural (environmental condition).
Materials - Paints (graffiti).
Conditions Light, - Visible Light Radiation, IR and UV (natural light)
Ultraviolet and - Overhead lighting and insolation levels (lack of protection in place
Sounds Infrared external environment).
Conditions Incorrect - Levels; Fluctuation; Amplitude; Sunstroke (conditions imposed by the
Temperature site) and other climate variables (microclimate).
- Thermal property of materials (different levels of corrosion)
Incorrect - Levels; Fluctuation; Amplitude;
Relative - EMC - moisture content in equilibrium conditions
Humidity - Ventilation and other climatic variables (microclimate).
- Fungi (proliferation conditions)
- Ascending humidity and infiltrations (local conditions and lack of
protection area).
Dissociation - Loss of information and / or associated value (loss of accessories and
missing pieces to the equipment structure)
- Mismanagement or inadequate protection practices, preservation,
conservation and restoration
- Inventory and deficient documentation.
108
Microchemical Analyses
A summary on the principal elements found from the analysis and techniques applied to the samples
can be seen in Table 2 below and realized in the Conservation Science Laboratory (LACICOR) of
the Conservation and Restoration of Cultural Goods Center (CECOR) School of Fine Arts of the
Federal University of Minas Gerais (EBA / UFMG). The crystal structures of clays based on
hydrated silicates of Na, K, Ca and other minerals compound the other elements were encountered
in the microsamples, but not interfered in the corrosion process studded. Other structures have Fe
and Mg in the composition and can replace Al and Si. (RODRIGUES DA SILVA, FIGUEIREDO
JÚNIOR; SILVA, 2017).
This characteristic associated to the external conditions (outdoor without protection) contribute to
the degradation and deterioration processes. Regarding the metal in equity, encrustations whose
composition these elements corroborate the deterioration of the metal heritage.
Table 2 - Elements of the microsamples by X-Ray Fluorescence
Source: Figueiredo Jr. – LACICOR Laboratory, 2015i.
Samples Identification Elements
1 Al, Si, Fe, Cu, Zn
2 Blue Fe
2 White Ca, Ba, Fe, Zn, Pb, Sr
3 Concretion Ca, Fe, Cu, Zn
3 Metal Fe
4 Concretion Fe, Zn, Pb
6 Red Fe, Zn, Pb
7 Fe
The material of the main structure of the machinery is formed by an aluminum alloy containing
other alloying elements, such as Si (silicon), Fe (iron), Cu (copper) and Zn (zinc).
Microbiological Analyses
The identification analysis of fungal morphotypes as the species were determined from the
verification of specific characteristics of each type. The macromorphological factors of isolated
cultures led to the identified sample analysis. The types identification occurs for the appearance,
color, center, border, verse and peculiarities. All analyzes were carried out at the Mycology
Laboratory (LM) of the Institute of Biological Sciences, Federal University of Minas Gerais (ICB
/ UFMG). The group of thirteen (13) identified species, it is noted that eight (08) are made up of
fungi and yeasts with typology five (05) with type filamentous. Thus, from the analysis and
monitoring of temporal changes obtained were recorded data. (Table 3).
Table 3 – Micro-organisms – pH Variation/time
Source: Silva & Stoianoff – Mycology Laboratory, 2016ii.
Sample Type Day 1 Day 8 Day 14 Day 17
5A Drechslera sp 1. 6,79 7,00 7,96 7,82
5B Aureobasidium sp1. - 7,34 6,50 6,13
5C Aureobasidium sp2. - 7,90 7,95 7,74
5D Rhodotorula sp. - 7,90 7,97 8,36
5E Drechslera sp 2. 3,51 3,31 3,34 3,33
8A Micelia Sterila sp. 6,72 6,50 7,11 6,62
8D Micelia Sterila sp. 4,89 4,94 5,28 5,70
8H Verticillium sp. 6,75 7,00 6,18 4,54
9A Levedura Branca - 5,25 6,80 6,80
9C Cunninghamella sp. 4,4 4,38 4,25 4,05
This characterization from the identification and properties of each fungal morphological type was
analyzed their behavior as the pH change by the environment in which it is. To this end we carried
out a culture test in which they observed the changes over a period of 21 (twenty-one) days. The
results of a left pH value of the medium in which the values were between 5.6 to 5.8.
109
For the results observed in a special way, the 5B samples, 5E, 8H and 9C that determined a bio-
corrosive action of fungi since they possess physic-chemical reaction with the medium in which
they are which determine one interaction with the environment and trigger processes that lead to
metal oxidation and its consequent deterioration. One of the processes that determine the link
between acid (carbonic, nitric, acetic, and others) produced by microorganisms and metals is called
acidolysis that can occur between microorganisms and equity in metal and stone.
4. Conclusions
The conservation analyses determined the development of the intervention process consists of pre-
established steps: advance fixing, cleaning and neutralization of cleaning, desalting, drying,
corrosion inhibition and application of protective films. However, it should be considered that the
steps were determined by the tests previously conducted which determined the main agents of
corrosion and led to the choice of instruments and products to be used in the conservation process.
The stages of the intervention process should be considered depending on the particular object and
environmental conditions in which it is whose main variables are the advance fixing parts where
conditions are unstable; cleaning processes, neutralization and drying; evaluation of fouling;
inhibition of corrosion processes; and the application of protective films.
A necessary observation regarding preventive conservation conditions refers to the need for a
minimum environmental control, for example, propose a covering and a side protection to natural
weathering due to exposure conditions. The location of the object in the external area, is subject to
natural environmental conditions that determine significant changes in the object as the
climatological normal, in addition to conditioning the preservation and conservation related to
human, social, cultural and historical variables.
Based on these results, it is sought to formulate a package of proposals for the preservation and
conservation of the road roller. The aim is to emphasis the value of such industrial piece of
machinery and make the existing historical relationship between the University and the city in
question visible to the academic community and society. The preservation and conservation of said
industrial vehicle lead to a broadening of the conception of heritage and justify its inclusion in the
concept of cultural heritage. Such conservation reveals a concern and an understanding of industrial
machinery from the perspective of the contribution to social memory and history, and to society’s
cultural formation.
References
INSTITUTO DEL PATRIMONIO CULTURAL ESPAÑOL. Plan nacional de emergencias y gestión de riesgos
en el patrimonio cultural. Madrid, IPCE, 2011.
MICHALSKI, Stefan. Reference manual for the CCI-ICCROM-ICN. Risk management method, Ottawa, CCI,
2011.
RODRIGUES DA SILVA, Ronaldo André. A (In)Visibilidade do patrimônio industrial e cultural: Uma
proposta de preservação e conservação. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Conservação e Restauração de
Bens Culturais Móveis, Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2016.
RODRIGUES DA SILVA, Ronaldo André; FIGUEIREDO JÚNIOR, João Cura D'Ars de; SILVA, Valquíria de
Oliveira Silva. Conservação e restauração, ciência e arte: Preservação do Patrimônio Industrial, o caso do rolo
compactador a vapor (EBA/UFMG/BrasiL). IN: ÁLVAREZ ARECES, Miguel Ángel (ed.). Pensar y actuar sobre
el patrimonio industrial en el territorio. Colección Los Ojos de la Memoria, n.º 19. Gijón: CICEES/INCUNA, p.
613-624, 2017.
i Laboratorial tests were performed in the LACICOR/UFMG under the supervision of Prof. PhD. João Cura D’Ars de
Figueiredo Junior. (RODRIGUES DA SILVA, 2016, p. 64).
ii Laboratorial tests were performed in the Mycology Laboratory/UFMG under the supervision of Prof. PhD. Maria Aparecida
de Resende Stoianoff and analyses of Ms.C. Valquíria de Oliveira Silva. (RODRIGUES DA SILVA, 2016, p. 72-73).
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1. Introdução
As edificações históricas que compõem o patrimônio arquitetônico tombado da cidade do Salvador
foram produzidas por diversas técnicas construtivas tradicionais. Algumas, são amplamente
conhecidas, mas outras, entretanto, carecem de investigações.
Com o intuito de atender essa demanda, e resguardar o nosso patrimônio cultural, este trabalho
pretende apresentar estudos sobre os ladrilhos hidráulicos que integram as edificações em área
histórica soteropolitana, através de abordagem dos aspectos históricos e tecnológicos da matéria.
Trata-se de pesquisa em desenvolvimento dentro do Núcleo de Tecnologia da Conservação e da
restauração (NTPR), vinculado a Universidade Federal da Bahia.
Os ladrilhos hidráulicos são peças artesanais que têm diversas características, dentre elas:
resistência e beleza. Sua produção foi viabilizada graças a descoberta do cimento Portland como
material de construção aglomerante, ainda no século XIX.
Na Bahia, além de Salvador, outras cidades do Recôncavo como: Cachoeira e Santo Amaro,
possuem esses elementos construtivos que revestem e ornamentam os espaços. Eles estão nas
edificações de diversos períodos: desde exemplares da arquitetura Colonial, substituindo as velhas
tijoleiras desgastadas, passando pela produção eclética e chegando até a moderna.
Nesse contexto, encontram-se as referidas peças decoradas em diversos locais, como exemplo, é
possível citar: Convento da Lapa e Instituto Geográfico Histórico da Bahia (IGHB), ambos no bairro de
Nazaré, Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) - Pelourinho e etc.
2. Metodologia
A limitação espacial da área de estudo corresponde a região de maior densidade histórica,
localizada no Centro Antigo de Salvador. Nesta zona da cidade existe grande concentração desse
material integrado às edificações de interesse cultural.
Como delimitação temporal, a investigação compreende o período que corresponde a chegada dos
ladrilhos hidráulicos, até o declínio de sua produção em Salvador, ou seja, parte dos séculos XIX e
XX. Assim, espera-se registrar sua trajetória de utilização no espaço edificado de Salvador.
Para tanto, estão sendo desenvolvidos procedimentos metodológicos agrupados em quatro etapas,
são elas: revisão bibliográfica, pesquisa de campo, documentação e investigação laboratorial.
A revisão bibliográfica compreende a pesquisa de publicações anteriores sobre a temática abordada,
bem como consultas nas fontes primárias, através de arquivos da Associação Comercial da Bahia,
Junta Comercial da Bahia e biblioteca Pública do Estado da Bahia.
Através da pesquisa de campo, foram e serão realizadas visitas as edificações com possivel
presença do referido material de revestimento. Em seguida, investiga-se a matéria-prima base do
elemento construtivo. Para isso, são considerados como elementos determinantes para identificação
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in loco: tamanho das peças, padrão da camada decorada e teste da presença de material
carbonático.
Para o processo de documentação, é fundamental apropriar-se dos instrumentos de medição direta
como as réguas, a realização do registro fotográfico com câmera semiprofissional, retificação e
vetorização das imagens através de processos fotogramétricos.
A investigação laboratorial visa possibilitar o conhecimento sobre a espessura das camadas que
compõem o ladrilho, principalmente a parte decorada e pigmentada que está exposta às ações do
tempo e de uso.
3. Resultados e discussão
A análise empreendida até o momento por este trabalho possibilita afirmar que os pisos hidráulicos
documentados possuem padrão decorativo, em sua maioria, do tipo geométrico. Esses, conforme
Vong apud Vasconcelos (2014, p.157), são compostos por formas que podem ser construídas
matematicamente. Como exemplo representativo da pesquisa, serão evidenciadas peças cimentícias
que revestem e ornamentam o IGHB (Figura 1).
Os motivos que conduziram à escolha desta edificação neste trabalho estão atrelados à sua
relevância história, arquitetônica e pela variedade de padrões decorativos em seus ambientes
(Figura 2). Observa-se que determinadas composições presentes na camada de decoração são
resultantes de uma mesma fôrma e que existe somente modificação na distribuição e na alteração
das cores.
O edifício que abriga o nosso Instituto Geográfico e Histórico da Bahia é considerado como
destacado representante da arquitetura eclética produzida em Salvador e possui no seu entorno
imponentes edificações, de diversos períodos da história da Bahia. Erguido em 1923, com o intuito
abrigar a sede da Casa da Bahia, esta construção deveria “ter os padrões de modernidade
encontrados em São Paulo e Minas Gerais”, conforme documentação do arquivo da instituição.
Tal registro, serve para corroborar quanto o material de revestimento em evidência era considerado
sinônimo de requinte naquele momento.
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A edificação encontra-se, de modo geral, em bom estado de conservação. Assim, como os ladrilhos
que revestem os pisos na parte interna. O material recebe proteção adequada que contribui para
redução da porosidade e consequente minimização de abrasão. A camada de decoração apresenta
boas condições (Figura 3) em parcela significativa do piso.
Entretanto, nos locais de maior trafego, existem evidências do processo de abrasão. Outras zonas
possuem alterações na composição e danos diversos. É importante registrar que o objetivo deste
trabalho não é apresentar um mapeamento de danos da edificação. Para isso seria necessário estudo
especifico. Busca-se realizar uma pequena abordagem sobre o estudo em andamento.
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27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil
No primeiro pavimento da edificação, existe uma área que está parcialmente exposta as intempéries
e a poluição atmosférica. Tais fatores, ao longo dos anos, contribuem para degradação considerada
como química, característica dos materiais carbonáticos. Percebe-se ainda, a interrupção da
composição através da reintegração do elemento construtivo faltante com matéria de possível base
cimentícia, e outra situação onde a peça foi inserida com orientação diferenciada (figura 4).
4. Conclusões
O objeto maior deste trabalho consiste em registrar a utilização dos ladrilhos hidráulicos,
revestimentos moldados em cimento, com o intuito de valorizar a técnica e conservar o patrimônio
arquitetônico.
Desse modo, conhecer as características físicas e visuais destas peças é premissa básica para sua
correta conservação. A escolha dos elementos construtivos que compõem os planos horizontais da
edificação em questão contribuiu para perceber com maior clareza a porosidade, alta resistência ao
desgaste e a possibilidade de compor padrões diferenciados com cores variadas e um mesmo molde
de desenho.
Neste sentido, ainda que a pesquisa esteja inconclusa, o exemplo abordado neste trabalho demonstra
a necessidade de estudo e registro da temática. Acredita-se que não há como pensar em conservação
arquitetônica sem que sejam consideradas as especificidades de seus materiais constituintes.
Agradecimentos
A autora agradece a FAPESB pela bolsa concedida, ao professor Mário Mendonça de Oliveira pela
supervisão do grupo de pesquisa, a Janainna Araújo, pelo apoio na vetorização dos padrões e aos
funcionários do IGHB pela atenção e informações dispensadas.
Referências
BEOVIDES, Alberto et al. Ladrilho hidráulico no Centro Histórico de Salvador. In: NAJJAR,
R. Arqueologia no Pelourinho. Brasília, DF: IPHAN/ Programa Monumenta, 2010.
CAMPOS, Claudia. Trajetória e significado do ladrilho hidráulico em Belo Horizonte, 2011.
Dissertação (Mestrado em ambiente construído e patrimônio sustentável) - Programa de pós
graduação em arquitetura, Belo Horizonte.
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1. Introdução
As ações de preservação do patrimônio têm sua gênese no reconhecimento de valores que uma obra
carrega em si (CUNHA, 2012). Essa valoração era compreendida, baseada na teoria do restauro
crítico e na teoria brandiana, em relação à relevância histórica e mensagem estética de determinada
obra. Hoje, além desses aspectos, o valor da obra é estendido à importância da sua inserção nas
dinâmicas urbanas e sociais e de suas dimensões intangíveis. Essa compreensão é decorrente da
ampliação contemporânea do conceito de patrimônio cultural, entendido na discussão atual como
conjunto integrado por bens materiais, imateriais e naturais que configura paisagens culturais
complexas e dinâmicas e que requer respostas específicas e estratégias integradas de tutela e
salvaguarda para a sua preservação (CASTRIOTA, 2013). Nessa perspectiva, as estratégias de
preservação devem ser orientadas pela leitura do objeto, do lugar e das suas particularidades
históricas, estéticas, culturais e sociais, de modo que a intervenção proposta seja uma resposta
coerente com os valores que se deseja preservar. O estabelecimento de uma postura crítica diante do
bem passível de intervenção deve ser também ação política, em vista de propor continuidade no
tempo para a manutenção da vida no lugar. A preservação como política pública permite antes
mesmo da sua contínua preservação evitar a sua degradação, ruína e desaparecimento, sendo essa a
finalidade do tema da preservação patrimonial.
No entanto, uma obra que já se encontra no estado de ruína, ou em arruinamento, configura um caso
limite para a ação de restauração, uma vez que a sua composição estético-figurativa se apresenta
fracionada e até mesmo ilegível, na qual a imagem da obra se encontra insuficiente para a sua
reintegração (BRANDI, 2004).
Quanto a sua relevância histórica, as ruínas são simultaneamente documentos para registro de
tipologias arquitetônicas e técnicas construtivas do passado e documentos do próprio processo de
destruição da arquitetura. No que se refere ao aspecto imagético e simbólico, as ruínas transmitem
ideias relacionadas à fragilidade e finitude da ação humana diante da passagem do tempo e da
natureza (RODRIGUES, 2017). A degradação e o arruinamento de um bem são ocasionados por
diversos fatores ou fontes como a ação antrópica ou de intempéries, mau uso ou abandono, ou
simplesmente a sua passagem natural pelo tempo. É possível a atuação de mais de um ou mesmo de
todos esses fatores na degradação da edificação, como no caso que será apresentado. Para o estudo
realizado, entendeu-se como ruína a edificação em abandono e com avançado grau de degradação.
Este trabalho relata o caso da Estação Ferroviária Sapucaí (objeto de estudo para projeto de
intervenção arquitetônica realizado pelo autor como Trabalho Final de Graduação na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, sob orientação da professora Doutora
Ana Paula Neto de Faria). A Estação é composta por duas edificações e apresenta duas situações
quanto ao estado de conservação: uma das edificações apresenta suficiente integridade edilícia para
a completude na leitura do objeto e a outra em avançado estado de arruinamento. Desse modo, fez-
se necessário a definição de uma postura de intervenção que fosse capaz de dialogar e estabelecer
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relações entre as duas realidades encontradas na Estação, reconfigurando a ambiência e resgatando
o seu caráter de espaço em comum.
Este trabalho se limitará a apresentar e refletir sobre a postura adotada no caso em ruína,
compreendida como parte integrante da paisagem cultural em questão.
2. Metodologia
O projeto de intervenção, que propõe a implantação de uma Cooperativa de Alimentos de
Agricultura Familiar na Estação, se desenvolveu através das etapas de investigação histórica,
estudos do objeto e do lugar em que está inserido, bem como o seu contexto socioeconômico e
cultural, definição de postura intervencionista e de diretrizes de preservação e, por fim, da proposta
arquitetônica.
A Estação Sapucaí (Figura 1) se localiza na zona rural do município de Jacutinga, no sul do estado
de Minas Gerais e em região limítrofe com o estado de São Paulo. A Estação é composta por dois
terminais de tipologia linear, paralelamente dispostos em meio aos mares de morros mineiros. Foi
construída entre 1926 e 1927 em decorrência da prosperidade cafeeira da região, e funcionava como
ponto de entroncamento entre as companhias férreas mineira e paulista, fazendo o escoamento do
café e demais produtos agrícolas para os portos do Rio de Janeiro e de Santos. Na década de 30 a
região foi cenário da Revolução Constitucionalista, tendo a estação funcionado como enfermaria
militar e posto de comando do Exército durante a revolução. Nos anos seguintes, com o declínio das
exportações de café, as ferrovias foram se tornando obsoletas até o início da desativação dos ramais.
A Estação encontra-se em abandono desde 1991.
A inexistência de políticas públicas municipais de preservação patrimonial e a falta de
reconhecimento do monumento por órgãos de preservação contribuíram para a sua mutilação, uma
vez que não está sob tutela para a sua conservação.
Figura 2: Fachada principal do Terminal de Cargas da Estação em ruína. Fonte: do autor, 2016.
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3. Resultados e discussão
A forma de compreensão do objeto no seu meio e a identificação de valores e significados
intrínsecos à edificação em situação de ruína orientou a postura de intervenção, a qual admitiu o
estado da obra resultante da sua submissão ao tempo e ao contexto rural. O aspecto pictórico e
incompleto do bem foram características definidoras para a postura de intervenção e se tornaram
premissas a serem preservadas como registro de uma etapa da vida da obra.
Com relação às propostas espaciais e formais, utilizou-se o aspecto resultante do arruinamento
como partido para soluções projetuais que reforçam a identidade e a memória do lugar para a sua
preservação.
A fragmentação da ruína relativiza as relações espaciais e de percepção entre espaços internos e
externos. Essa característica foi incorporada no projeto utilizando o espaço central da ruína como
pátio externo para as atividades que se desenvolvem nos ambientes ao seu redor na nova proposta
arquitetônica (Figura 3).
A ocupação pela natureza do ambiente construído em ruína, devido ao abandono e ao contexto de
fácil proliferação e reprodução de espécies animais e vegetais, foi também uma característica
preservada na intervenção. Essa relação entre ambiente natural e ambiente construído foi traduzida
na intervenção pelos modos de conexão entre a nova arquitetura e a arquitetura preexistente, através
de intersecções de planos e volumes que se permeiam e encaixam além do resgate cromático e
material de elementos naturais da região e a sua aplicação em superfícies da arquitetura.
Figura 3: Átrio criado como elemento articulador da nova proposta espacial para o lugar. Fonte: do
autor, 2017.
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4. Conclusões
O estudo de caso de intervenção arquitetônica em um edifício com a complexidade encontrada na
Estação Sapucaí permitiu a discussão e a elaboração de propostas projetuais para duas situações
distintas em uma mesma obra. Apesar de possuírem materialidades com diferentes estados de
degradação, as soluções projetuais partiram de um entendimento único da obra e do juízo crítico
necessário para o estabelecimento de diretrizes de intervenção, pautadas na reflexão acerca dos
preceitos da teoria de restauro de Cesare Brandi. A viabilidade de utilização desses preceitos de
preservação para situações distintas em uma mesma obra mostrou-se válida, e com resultados
passíveis de contemplar a salvaguarda do objeto estudado.
A proposta evidenciou a importância da definição do que se deseja preservar e de qual mensagem se
deseja transmitir com a preservação do bem. Nesse sentido, destaca-se a importância da
contextualização da obra, tanto do ponto de vista puramente formal e compositivo como do ponto
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de vista de preservação integrada de valores culturais, naturais e imateriais, na perspectiva do que se
entende hoje como Paisagem Cultural.
Referências
BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. Cotia: Ateliê, 2004.
CASTRIOTA, Leonardo. Paisagem cultural: novas perspectivas para o patrimônio.
Arquitextos, São Paulo, ano 14, n. 162.02, Vitruvius, nov. 2013. Online. Disponível em:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/14.162/4960
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP, 2000.
CUNHA, Claudia dos Reis. Teoria e método no campo da restauração. Pós. Revista Do Programa
De Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Da FAUUSP, 19 (31), p. 98-115, 2012.
Disponível em: http://www.revistas.usp.br/posfau/article/view/48070. Acesso em 18 de agosto de
2018.
KÜHL, Beatriz Mugayar. Cesare Brandi e a teoria da restauração. Pós. Revista do Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, 21, p.197-211, 2007. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/posfau/article/view/43516/47138. Acesso em 18 de agosto de 2018.
RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem Cultural e Patrimônio. Brasília: Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – Iphan, 2007.
RODRIGUES, Angela Rosch. Ruína e patrimônio cultural no Brasil. Tese (Doutorado em
História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. doi:10.11606/T.16.2018.tde-12062017-085725.
Acesso em: 2018-08-18.
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1. Introducción
En la actualidad el patrimonio edificado se encuentra
vulnerable1 por una serie de elementos de origen político,
cultural y de educación. Estos factores se ven amplificados con
la presencia de desastres naturales, como sucede al sur de
México, zona enmarcada por el cinturón de fuego2, cuyo
movimiento tectónico es constante y representativo, por lo
tanto, es necesario actualizar el protocolo de actuación en caso
de siniestros, para lograr disminuir el riesgo de colapso y
pérdidas humanas.
A través de un modelo estandarizado se puede lograr, siempre
y cuando las variables humanas se mantengas calificadas.
Del mismo modo que ocurre con el léxico y los términos
aplicados a la conservación y estudio del patrimonio, debemos
apropiarnos de los desarrollos tecnológicos pensados
originalmente para otros campos, pero que son de ayuda en el
cuidado del Patrimonio.
1
Se debe entender el concepto de vulnerabilidad “como la falta de capacidad de anticipar y resistir el impacto de
uno o más fenómenos peligrosos” (APARICIO, 2011, pág. 37)
2
“El Cinturón de Fuego del Pacífico, cuyo nombre se debe al alto grado de sismicidad que resulta de la
movilidad de cuatro placas tectónicas: Norteamericana, Cocos, Rivera y del Pacífico.” (CENAPRED, 2007, pág.
3)
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27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil
A más de un año del sismo se analizan las opciones y herramientas para mejorar la actuación
inmediata, como principal herramienta se plantea la revisión, actualización y estandarización
del protocolo de actuación en caso de siniestros para el patrimonio.
Se parte del trabajo interdisciplinario (previo al siniestro) entre las instituciones de gobierno
encargadas de la gestión, resguardo, difusión y educación del patrimonio; de modo que a
través de programas y actividades la sociedad se acerque a los monumentos, es decir,
“conocer para querer”.
En un segundo paso, ya acontecido el siniestro, se plantea la creación de cuadrillas de
arquitectos, ingenieros civiles y miembros de protección civil para diagnosticar de forma
inmediata a los monumentos e implementar las medidas de intervención que se puedan llevar
acabo, por ejemplo, apuntalamiento preventivo. Aquí es donde entra el uso de la tecnología,
en primer lugar, al fallar las telecomunicaciones será necesario valerse de GPS, para que a
través de señal satelital se identifique la localización del objeto con coordenadas UTM3.
Por supuesto la propia intervención estará plagada del uso de la tecnología, una vez realizada
esta se continua con el proceso de documentación, volviendo al uso de la fotografía, se captan
imágenes a través de un método estructurado, con el uso del tripie, para después unirlas en el
ordenador, de forma que sea posible crear una imagen de 360° que permita ser consultada en
un momento inmediato por la población y en caso de presentarse otro siniestro, como
herramienta de consulta para proponer el proyecto de restauración.
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Ilustración 2. Vista 360° de la biblioteca del Templo del Carmen en Puebla, después de la Intervención post sismo. Fuente:
Del Autor.
La información analizada será integrada a una aplicación digital que en siniestros futuros
permita tener acceso a la información de manera inmediata a través de un mapa digital.
Para realizar la consulta en la interfaz del mapa, se traza una circunferencia de estudio, este de
manera simultánea arroga datos de vital importancia como el número de habitantes, la
clasificación de edificios vitales como: hospitales, escuelas, albergues, etc. y evidentemente la
lista de bienes patrimoniales inscritas en el área.
Dentro de esta información estará incluido el inventario de los bienes a proteger, esto sirve
para determinar que tipo de especialistas son necesarios en la intervención. También se
propone que dentro de los datos desplegados se pueda encontrar de forma breve el origen
histórico del inmueble, el año de ejecución, el estilo arquitectónico, las intervenciones, entre
otras cosas.
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Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio)
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil
Ilustración 3. Captura de pantalla de la Interfaz del Atlas de Riesgo digital implementado por CENAPRED después del
sismo de 2017 Fuente: CENAPRED
El objetivo es agilizar el análisis de variables de un edificio a otro para poder distribuir los
recursos de forma eficaz y equitativa, para así garantizar la permanencia de los bienes
patrimoniales que nos representan y que forman la base de nuestras tradiciones y
conocimientos.
A medida que el banco de información crezca, se mejorara el protocolo y la forma de
intervenir el patrimonio. Todo esto se reinventa y evoluciona paralelo a que los siniestros
ocurren y depende directamente de la capacitación y preparación del capital humano.
3. Resultados
4. Conclusiones
En conclusión, una vez implementado el protocolo, con la ayuda de la tecnología, se habrá
generado el dictamen inmediato que ponga a resguardo el inmueble, para después realizar el
Dictamen Técnico Integral que garantice la viabilidad del proyecto de intervención, con el
único fin de proteger a los monumentos y la sociedad que hace uso de estos.
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I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio)
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil
Afortunadamente existen desarrollos tecnológicos diseñados para otros campos que pueden
ser utilizados en la conservación. Entre las ventajas, está la disminución del riesgo para los
especialistas al momento del primer acercamiento.
Referencias
APARICIO, A. T. (2011). Protección civil, población, vulnerabilidad y riesto en Santiago Miltepec,
Toluca. Investigaciones Geograficas, 35-47.
CENAPRED. (2007). Sismos. Centro Nacional de Prevención de Desastres . Mexico: Secretaria de
Gobernación.
GASCA, D. A. (1990). El registro de Materiales. En La documentación de Arquitectura Historica
(págs. 69-82). Puebla, Mexico : Dirk Bühler.
NACIONAL, S. S. (2017). Sismo del dis 19 de Septiembre de 2017, Puebla-Morelos (M 7.1). Mexico
: Geofisica UNAM.
125
Adequação de ferramenta para avaliação das condições de conservação de
plumárias indígenas em reserva técnica:
Estudo aplicado à reserva técnica Curt Nimuendajú do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Bianca C. R. Vicente1, Luiz A. C. Souza2, Willi B. Gonçalves3,*
1
Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Pará (BR)
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Belas Artes, Belo Horizonte (BR)
3
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Belas Artes, Belo Horizonte (BR)
*biancacristinarv@gmail.com
1. Introdução
A necessidade aprimorar as possibilidades para a conservação de acervos etnográficos é cada vez
mais urgente nos museus que os abrigam. Neste tipo de acervo é muito comum a presença de objetos
de composição híbrida, contendo principalmente materiais orgânicos como madeira, tecido, diversos
tipos de fibras vegetais. Em objetos indígenas, é usual encontrar penas de aves, presentes em adornos
plumários, material considerado como extremamente frágil, porém, igualmente pouco estudado no
que diz respeito a sua preservação dentro dos museus.
Recentemente, um dos estudos mais aprofundados acerca deste assunto foi o de um grupo
interdisciplinar de pesquisadores norte-americanos que analisou a fotosensibilidade em relação a
formação de cor nas penas (RIEDLER et al, 2014; PEARLSTEIN et al, 2015). Porém, além desse
aspecto, diferentes trabalhos foram realizados voltados para a conservação das plumárias. Pearlstein
(2017), por exemplo, desenvolveu um modelo de avaliação intitulado feather identification and
condition, sendo esse a base para o desenvolvimento do atual trabalho que buscava alternativas para
a conservação das plumárias presentes no acervo etnográfico da Reserva Técnica Curt Nimuendajú
(RT), que abriga as coleções etnográficas do Museu Paraense Emílio Goeldi.
2. Metodologia
Partindo dos estudos bibliográficos e da prática dentro da reserva técnica, optou-se por utilizar a
ferramenta desenvolvida por Pearlstein (2017) como base, adequando-a para atender as demandas do
ambiente e acervo de etnografia do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), situado em Belém. O
Museu Goeldi, criado em 1866, é uma instituição de fundamental importância para os estudos de
História Natural, Arqueologia e Etnografia na Amazônia.
Foi desenvolvido um modelo intencionalmente simplificado com campos de preenchimento
reduzidos, para ser facilmente preenchido e analisado, de maneira viável para a Reserva Técnica Curt
Nimuendajú do MPEG. O modelo de avaliação aqui apresentado envolve análises quantitativas e
qualitativas para conhecer as condições atuais de conservação das peças analisando o objeto e as
condições de infraestrutura na qual ele se encontra.
3. Resultados e discussão
O modelo intitulado “Modelo de avaliação das condições de conservação de adornos plumários na
Reserva Técnica Curt Nimuendajú” (MACCAP) foi subdividido em cinco seções: (I) identificação,
(II) técnicas, (III) materiais, (IV) mapeamento de danos e (V) condições de infraestrutura.
Na identificação estão presentes os critérios de: número de registro; item (termo utilizado para
designar a denominação atribuída a peça); etnia; procedência; coletor/doador; ano; pássaros e tipos
de penas utilizados. Estas informações não se enquadram nos critérios de avaliação geral do acervo
126
que é feito após a coleta total dos dados, mas são importantes para documentar as características
específicas de cada peça que está sendo estudada, pois, mesmo fazendo parte de um todo cada objeto
produzido artesanalmente é único.
As técnicas são divididas em emplumação (tab. 1) e de transformação, apresentadas em opções a
serem assinaladas. Todas as alternativas são baseadas nos textos de referência para classificação dos
objetos de procedência indígena, mais especificamente o Dicionário de Artesanato Indígena
(RIBEIRO, 1988) e o Tesauro de cultura material dos índios no Brasil (MOTTA, 2006). Na ficha de
aplicação não estão expressas todas as técnicas, apenas as observadas como mais frequentes durante
o desenvolvimento deste trabalho, sendo assim, há espaço para inclusão de outras técnicas não
mencionadas, mas que podem ser encontradas nas peças.
Tabela 1: Listagem das técnicas de emplumação
Amarração Colagem
( ) Em fieira ( ) Mosaico
( ) Roseta ( ) Placa
( ) Embricada ( ) Arminhada
( ) Borlas ( ) ___________
( ) Trama
( ) Encadeamento de penas
( ) ____________________
A seção destinada a materiais busca conhecer quais outros tipos de matéria-prima além das penas
compõem a peça. A quase totalidade dos adornos plumários é composta por mais de um tipo de
material, sendo importante conhecer quais estes elementos para saber reconhecer a possibilidade de
danos recorrentes em determinadas combinações ou riscos associados a elas. Como alternativas base
apresentadas no MACCAP estão: fibras vegetais; metais; tecido; papel; sementes; cabelo humano;
pelos de outros animais; madeira; ossos e alternativa de acrescentar outros. As descrições de materiais
foram colocadas de forma simplificada para serem mais facilmente reconhecidas por não
especialistas. Caso o preenchimento seja feito por alguém que sabe reconhecer os diferentes tipos de
fibras, de tecido e dos outros materiais, pode acrescentar estas informações no espaço destinado a
observações.
Logo em seguida é pedido o mapeamento dos danos, que deve preferencialmente ser feito de acordo
com a tipologia da peça. Peças maiores de grande a médio porte ou com grande número de penas
podem ser mapeadas por áreas (A), enquanto que peças menores e com menor quantidade de penas
podem ter cada uma de suas penas numeradas e analisadas individualmente (P). Os dois tipos de
mapeamento podem estar em uma mesma peça (fig.1).
127
Figura 1: Exemplo de mapeamento por numeração de pena e por área. Fonte: Bianca Vicente.
Coleção Etnográfica Reserva Técnica Curt Nimuendaju. MCTI/Museu Paraense Emílio Goeldi.
2017.
Para o mapeamento foram listados alguns possíveis danos que são assinalados na ficha e localizados
de acordo com a área selecionada de acordo com os exemplos acima. Os termos utilizados para
designar os danos não buscam ser uma listagem completa, tendendo a ser complementada em
diferentes situações. Uma das dificuldades encontradas foi de utilizar termos já estabelecidos na
literatura, porém, por ser ainda uma área em expansão não há uma terminologia oficial para os danos
em plumária. Os termos aqui apresentados foram traduzidos livremente e adaptados do Feather
identification and condition de Pearlstein (2017) e alguns acrescentados de acordo outros danos
encontrados nas peças analisadas e que se considerou pertinente de serem incluídos. No modelo há
espaços em branco para que podem ser preenchidos por outros danos além dos listados. A lista é
apresentada conforme a tabela 2:
Tabela 2: Lista de danos
128
A última seção é correspondente as condições de infraestrutura de conservação das peças, dividindo-
se em localização, acondicionamento e iluminação. Com relação a localização, deve ser assinalada a
opção do tipo de mobiliário em que se encontra a peça. Também é questionado acerca da facilidade
de localizar a peça, haja visto ter sido observada a mudança de localização de algumas peças em
relação ao que consta em seu registro.
Sobre o acondicionamento são feitos três questionamentos. Primeiramente sobre o espaço em que se
encontra a peça, podendo ela estar sozinha em uma gaveta ou prateleira como também pode estar com
outras peças com ou sem contato entre elas, sendo assim listadas algumas opções para serem
assinaladas. O segundo questionamento é sobre a suporte/embalagem em que a peça está, pois há
algumas formas diferentes de acondicionar dentro da RT, podendo estar em moldes de polietileno,
sem moldes sobre TNT ou mesmo diretamente sobre a gaveta. Estas e outras possibilidades
observadas foram listadas neste item. O último questionamento é referente as condições que se
apresentam os suportes e superfícies, condições de limpeza e mesmo vestígios de peças danificadas.
Por último é feito o questionamento sobre a iluminação. Por, na ocasião da pesquisa, ainda não haver
um luxímetro e um medidor de UV que nos permitiriam afirmar em que parâmetros se encontra a
radiação luminosa do local, foi pensada uma questão mais ampla que não nos permite inferir sobre
os danos que a iluminação local possa ter causado, mas que nos permitem refletir sobre o
posicionamento atual das peças em relação a luz visível. A questão parte da consideração de que a
iluminação na Reserva Técnica Curt Nimuendajú é feita por lâmpadas fluorescentes sem filtro UV e
que as peças não recebem incidência de iluminação natural, logo, indica-se marcar apenas se a peça
recebe ou não alguma incidência luminosa em seu local de guarda quando as luzes estão acesas.
Considerando que o “Feather identification and condition” (PEARLSTEIN, 2017), foi o único
modelo de avaliação encontrado como referência específica para materiais plumários, este foi a base
para se desenvolver o MACCAP. O modelo apresentado por Pearlstein é de aplicação e avaliação por
peças individuais, sendo este um dos fatores repensados para o MACCAP, que mantem a aplicação
individual, porém a leitura dos dados é feita através da compilação dos resultados obtidos por etnia.
Além disso, o modelo Pearlstein é voltado para a conservação, mas preza em vários aspectos pela
documentação que não é o enfoque deste trabalho, portanto, foram excluídos alguns critérios por
serem considerados como não fundamentais para uma avaliação das condições de conservação ou,
caso necessário, foram direcionados para a área de identificação da peça, como, por exemplo, a
tipologia de pena e pássaros.
Algumas adaptações referentes aos termos de classificação de plumária também foram necessárias,
considerando que o modelo de Pearlstein não define o que é intitulado como featherwork,
entendendo-se então que sejam os artefatos que tenham a pena como matéria prima. Entretanto, o
referencial utilizado no modelo aqui proposto é Ribeiro (1986; 1988), portanto, ele aplica-se apenas
ao que é classificado como adornos plumários, caracterizados pela funcionalidade e matéria prima.
Da mesma maneira, as técnicas também diferem das apresentadas por Pearlstein (2017), pois para o
desenvolvimento do MACCAP também foi utilizada uma literatura que se refere especificamente
sobre a produção de plumária brasileira (SCHOEPF, 1985 e RIBEIRO, 1986, 1988).
Com relação aos itens excluídos, destacam-se as informações referentes a autoria que não foram
incluídas, pois não há esses registros no museu para a quase totalidade de peças, bem como serem
informações relacionadas ao já comentado viés documental. Optou-se também por não incluir a
análise de perda de cor por falta de materiais adequados e pelo curto período de tempo para realizar
uma análise adequada em todas as peças selecionadas. Quando oportuno e possível de identificação,
o desvanecimento de cor das penas é destacado no mapeamento de danos. Por outro lado, houve a
inclusão de uma nova seção, a de condições de infraestrutura, haja vista ser um modelo de avaliação
desenvolvido especificamente para a Reserva Técnica Curt Nimuendajú. Portanto, os itens como
localização, mobiliário, acondicionamento e iluminação foram pensados considerando o cenário
local.
129
Uma característica do MACCAP, comum a outras ferramentas de diagnóstico de condições de
conservação de coleções, é que ele avalia apenas o que as peças apresentam atualmente, sem fazer
conjecturas sobre o que causou os danos, pois não é possível fazer esta ligação pela falta de
documentação, em especial fotográfica, do estado de conservação anterior da maioria das peças.
O MACCAP busca assim suprir a ausência de uma ferramenta de acompanhamento do estado de
conservação das peças, específica para avaliação de coleções com objetos contendo plumária. Além
disso, os resultados serão analisados com fins de encontrar os principais danos que já fragilizaram as
peças para registro a ser utilizado na tomada de decisões acerca de ações futuras com os objetos como
empréstimos, exposições e mudanças de local, bem como identificar situações de riscos que possam
ser sanadas eventualmente por planos de curto, médio e longo prazo a serem desenvolvidos pela
curadoria.
4. Conclusões
Tratando-se de plumária, os estudos desenvolvidos por Pearlstein e o grupo de pesquisadores em que
ela se insere é de extrema importância. Entretanto, não podemos aplicar as pesquisas estrangeiras sem
considerar as necessidades e realidades dos museus e dos acervos brasileiros. Sendo assim, o modelo
de avaliação adaptado aqui apresentado é uma alternativa ao Museu Paraense Emílio Goeldi e sua
coleção de plumária, bem como pode ser readequado a diferentes outras instituições que possuam
acervos semelhantes.
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Os autores agradecem ao CNPq -
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio a projeto de pesquisa
que investigou metodologia utilizada neste trabalho.
Referências
PEARLSTEIN, Ellen (Ed.). The Conservation of Featherwork from Central and South America.
Londres: Archetype Publications. 2017.
PEARLSTEIN, Ellen; HUGHS, Melissa; MAZUREK, Joy; MCGRAW, Kevin; PESME, Christel;
RIEDLER, Renée; GLEESON, Molly. Ultraviolet-induced visible fluorescence and chemical
analysis as tools for examining featherwork. Journal of the American Institute for Conservation,
vol. 54, n. 3, 2015. p. 149-167.
RIBEIRO, Berta G. Bases para uma classificação dos adornos plumários dos índios do Brasil. In:
RIBEIRO, Darcy (ed.). Suma Etnológica Brasileira. Vol. 3. Petrópolis: Vozes/FINEP, 1986.
RIBEIRO, Berta G. Dicionário do artesanato indígena. Ilustrações: Hamilton Botelho Malhano.
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
RIEDLER, Renée; PESME, Christel; DRUZIK, James; GLEESON, Molly; PEARLSTEIN, Ellen. A
review of color-producing mechanisms in feathers and their influence on preventive
conservation strategies. Journal of the American Institute for Conservation. Vol. 53, n 1. 2014. p.
44-65.
SHOEPF, Daniel. La plumasserie indigène: inventaire matériel et technique. In: MUSÉE
D’ETHNOGRAPHIE. L’Art de la plume Brésil. Genève: Musée d’ethnographie/Muséum National
d’Histoire Naturelle de Paris, 1985.
MOTTA, Dilza Fonseca da. Tesauro de cultura material dos índios no Brasil. Rio de Janeiro:
Museu do Índio, 2006.
130
I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio)
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil
1. Introdução
Um objeto musealizado é capaz de revelar mais do que marcas de seu passado. Este objeto, antes de
ingressar em museu, possui uma trajetória própria de usos e significados. Entretanto, ainda após a
sua entrada no museu, este objeto continua construindo sua trajetória. Para salvaguardá-lo, todos os
esforços são concretizados para a garantia de sua longevidade. Estas ações também fazem parte da
contínua trajetória viva do objeto, mesmo que em um contexto diferente da sua origem.
Tratamentos químicos preservativos são exemplos de ações de salvaguarda de grande parte de
acervos museológicos espalhados pelo mundo. Fórmulas caseiras, produtos de alta toxicidade e
múltiplas receitas garantiam a preservação dos objetos e foram aplicadas em longa escala ao longo
de mais de três séculos de história.
Tais tratamentos, muitas vezes aplicados por coletores antes mesmo do ingresso do objeto no
museu, foram pouco documentados. Mesmo depois da entrada destes objetos nos museus,
tratamentos químicos rotineiros foram executados sem um rigor sistemático do registro destas
ações.
Como resultado, temos coleções que passaram por processos químicos diversos e poucos registros
oficiais que nos relatem estas histórias. Ainda que não existam evidências documentais do tipo,
quantidade e frequência do pesticida aplicado, alguns objetos revelam parte deste passado: cores
esmaecidas, resíduos de substâncias suspeitas, rigidez excessiva, etiquetas pouco esclarecedoras,
manchas indeléveis e objetos históricos aparentemente imunes à ação do tempo.
Figura 1 a 4: Manchas e enrijecimento do couro, etiqueta com aviso de “veneno” em acervo, esmaecimento de cores e
objetos muito preservados
Identificar a presença de pesticidas ainda remanescentes nestes objetos torna-se importante tanto
quanto para compreender processos químicos de degradação que provocam alterações irreversíveis,
assim como também para se definir protocolos de acesso, guarda e manuseio para que
131
I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio)
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil
2. Metodologia
A metodologia das análises realizadas seguiu as seguintes etapas:
a) Cada objeto foi examinado, descrito, fotografado e medido. Evidências de ataques
biológicos nos objetos foram registradas em fichas individuais;
b) Foram escolhidas áreas para a realização das medições pela PXRF e estas áreas foram
registradas através de marcas realizadas nas fotografias;
c) Foram realizadas as medidas de PXRF no MAE usando um sistema com detector do tipo
SSD, tubo de raios X com anodo de Ag e o software PMCA para a aquisição de dados;
d) Após as medições, os espectros de raios X das amostras foram analisados e interpretados
quali-quantitativamente com o software AXIL.
3. Resultados e discussão
O American Museum of Natural History (AMNH) não possui registros sobre os tratamentos
químicos realizados em seu acervo anteriores à década de 1950. Entretanto, os resultados das
análises de PXRF mostram a presença de Cl, Br e metais pesados como As, Hg, Pb nestes 19
objetos. Compostos de matérias-primas diversificadas, a presença destes elementos em superfícies
policromadas ou em objetos com contas de vidro deve ser interpretada, já que alguns destes
elementos podem fazer parte da manufatura destes itens decorativos. Mesmo com esta possibilidade
de fonte endógena, as análises apontam que a maior parte dos metais pesados encontrados é
originária de tratamentos químicos ainda realizados no AMNH ou ainda pelos coletores destes
artefatos, antes da entrada destes objetos no museu.
4. Conclusões
O método de Fluorescência de Raios X mostrou-se bastante adequado para a detecção de elementos
químicos indicativos de pesticidas nestes objetos. Esta técnica é não-invasiva, multielementar, não
requer amostragem e pode identificar os elementos com muita rapidez.
Os resultados iniciais desta pesquisa apontam alguns caminhos para discussões. A interpretação dos
dados é fundamental para se distinguir as substâncias endógenas e exógenas dos objetos. É
importante lembrar que elementos tais como Pb, As e Hg podem ser inerentes de matérias-primas e
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27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil
pigmentos diversos, portanto, a pesquisa sobre o processo de manufatura destes objetos e de seus
grupos culturais é fundamental para uma melhor interpretação dos resultados.
Na continuidade deste trabalho, os espectros foram analisados quantitativamente para uma
comparação quali-quantitativa entre as peças, assim como para determinar a quantidade relativa dos
prováveis agentes pesticidas presentes nas peças. Também serão programadas medidas
de Espectroscopia Raman Portátil para a análise da composição molecular dos materiais.
Como futuros estudos, pretende-se estabelecer protocolos para quantificar os elementos
identificados nos objetos. Uma análise quantitativa é essencial para a interpretação dos dados, pois
ela nos revela se uma substância encontrada é inerente à composição de um determinado material
ou se é resultado de adições de produtos químicos preservativos. A interpretação quantitativa dos
dados também permitirá uma escala de identificação dos níveis de pesticidas para os profissionais
de museus, assim como a elaboração de protocolos de acesso, regras de manuseio e empréstimos de
objetos.
Ainda como estudos futuros, discutiremos estratégias para mitigação das substâncias químicas
encontradas nestes objetos. Ainda que em uma fase inicial, acreditamos que a identificação da
presença destes pesticidas é uma importante etapa para a garantia de níveis de segurança de trabalho
mais adequados, assim como também é um importante resgate da história não revelada destes
objetos.
Agradecimentos
Ao CNPq e ao projeto INCT/FNA.
Referências
CLAVIR, M., Preserving what is Valued : Museums, Conservation, and First Nations,
University of British Columbia Press, Vancouver, 2001.
CONSERVE O Gram, Hazardous Materials Health and Safety Update, Conserve O Gram
2/1, National Park Service, 1993.
CONSERVE O Gram, Arsenic Health and Safety Update, Conserve O Gram 2/3, National
Park Service, 2000.
ODEGAARD, N. & SADONGEI, A., Old Poisons, New Problems: A Museum Resource for
Managing Contaminated Cultural Materials, Alta Mira Press, Walnut Creek, 2005.
OGDEN, Sherelyn (ed.). Caring for American Indian objects: a practical and cultural guide. St.
Paul: Minnesota Historical Society Press, 2004.
133
Hyperspectral Imaging based on a Birefringent Interferometer Applied to
the Analysis of Artworks
1. Introduction
Spectral imaging systems have been widely employed in the study of cultural
heritages mainly because they are non-destructive powerful tools (KUBIK, 2007). It gives
access to a rich dataset, a three dimensional data-cube (x,y,λ) where x and y are spatial
dimensions and λ is the wavelength. The potential of this noninvasive technology provides the
possibility for identification and characterization of pigments, inks, substrates of paintings,
drawings, manuscripts and for conservation/restoration purposes (DANIEL, 2016). Recent
advances in the development in hyperspectral imaging and similar techniques allowed high
spectral and spatial resolution, low cost and more compact devices (POLAK, 2017; LIANG,
2012).
In this contribution, we propose a new hyperspectral system, capable of acquiring a
complete full continuous spectrum of the light from each point of a scene with unprecedented
stability The hyperspectral system is based on the Fourier-transform approach and employs a
novel ultrastable common-mode interferometer. We propose two different configurations: a
camera for macroscopic imaging and a microscope device. The first one enables the remote
examination of large areas, whereas the second allows the acquisition of spectral images at
microscopic levels. Both can be applied to cultural heritage..
2. Methodology
Our hyperspectral imaging system is based on a Fourier transform (FT) spectrometer.
Differently from the frequency-domain spectrometers, that use dispersive elements, the
Fourier transform spectrometers are based on an interferometer. Our system is equipped with
TWINS (Translating-Wedge-based Identical pulses eNcoding System), a novel birefringent
interferometer (BRIDA, 2012; ORIANA, 2016), which demonstrated exceptional stability and
reliability. We present two setup configurations that allow macroscopic and microscopic
imaging. A camera for macroscopic imaging (PERRI, 2018), illustrated in Figure 1(a), and a
microscope device, shown in Figure 1(b). The TWINS is composed of two birefringent blocks
134
A and B, and two polarizers P1 and P2. P1 polarizes the input light at 45° with respect to the
optical axes of the birefringent materials; block B introduces a fixed phase delay between the
two orthogonal projections that propagate along the fast and slow axes of the material. Block
A has optical axis normal to the one of block B (see green arrows and circle in Fig. 1(a)), thus
introducing a phase delay with opposite sign. The overall phase delay ranges from positive to
negative values according to the relative thickness of the two blocks. To enable fine tuning of
the phase delay, block A is shaped in the form of two wedges with the same apex angle, one
of which is mounted on a motorized translation stage. Interference between the two replicas is
guaranteed by P2, which is set at 45° and projects the two fields to the same polarization. The
camera lens collects the light and creates an image on a 12-bits silicon monochrome CMOS
camera. The microscope is composed of an infinite-corrected objective, located before the
birefringent interferometer, a tube lens and a monochrome CCD camera with a lens.
(b)
A
B
Figure 1: (a) Schematic setup of the hyperspectral camera; P1 and P2: wire grid polarizers at angle of +/- 45°
with respect to the optical axes of A and B; A (wedges) and B (plate): α-BBO birefringent blocks; (b) Schematic
setup of the hyperspectral imaging microscope; the polarizers and the birefringent blocks are the same as panel
(a); Obj: 40X objective with NA = 0.6; Tube lens: Nikon zoom lens with adjustable focal length; Camera:
monochrome CCD with 12 bits and sensitivity in the 290-1000 nm range with a Nikon camera lens.
135
(a 450 (b
) μm )
Figure 2: (a) Hyperspectral microscope image of a smartphone digital display; the colored image (587x587
pixels) is generated from the measured spectra of the R, G, B emitters. (b) Spectra of the R, G, B emitters,
measured by the hyperspectral microscope (solid line) and a commercial dispersive spectrometer (dashed line).
Hyperspectral imaging is also a common tool for preliminary analysis of large painted
surfaces of properties such as luminescence and reflectance. To provide an experimental proof
of the capability of the ultraspectral camera we performed a measurement in a model painting.
(a) (b)
2
4
5
1
3
6
Whit
e
Figure 3: Hyperspectral imaging of the model painting. (a) RGB image synthesized from the hyperspectral data.
(b) Reflectance spectrum of each point indicated in the painting.
Figure 3(a) shows the hyperspectral measurement of a model panel painting (90 mm x
130 mm in size) by Aviva Burnstock, with traditional pigments from a local supplier, bound
in an egg-based binding medium. It was made on a wooden panel with a gypsum (CaSO4)
ground layer and a second preparation layer containing lead white (2PbCO3-Pb(OH)2)
(MOSCA, 2016). Visible light diffusely reflected from the model painting was collected using
the hyperspectral camera, described in the Figure 1(a). It was illuminated by a xenon lamp
and 400 images were acquired by scanning the position of the wedges to ±1mm around the
ZPD; the exposure was 190 ms per frame. Our results are in a great agreement with the
literature.
136
4. Conclusion
In conclusion, we demonstrate hyperspectral imaging devices based on a birefringent
FT spectrometer; the devices respectively enable spectral imaging at macroscopic and
microscopic level, and are powerful tools for artwork analysis. We present images with, broad
spectral coverage and high spectral resolution.
Acknowledgements
We acknowledge financial support from the Brazilian funding agencies: Fapemig,
CNPq, and Capes.
References
(KUBIK, 2007) Kubik, M., “Hyperspectral imaging: a new technique for the non-invasive
study of artworks”, In Physical techniques in the study of art, archaeology and cultural
heritage,Vol. 2, pp. 199-259 Elsevier (2007)
(DANIEL, 2016) Daniel, F., Mounier, A., Pérez-Arantegui, J., Pardos, C., Prieto-Taboada, N.,
de Vallejuelo, S. F. O., and Castro, K., “Hyperspectral imaging applied to the analysis of
Goya paintings in the Museum of Zaragoza (Spain)”, Microchemical Journal, 126, 113-120
(2016).
(POLAK, 2017) Polak, A., Kelman, T., Murray, P., Marshall, S., Stothard, D. J., Eastaugh, N.,
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aid for artwork authentication”, Journal of Cultural Heritage, 26, 1-11 (2017)
(LIANG, 2012) Liang, H., “Advances in multispectral and hyperspectral imaging for
archaeology and art conservation”, Applied Physics A, 106(2), 309-323 (2012)
(BRIDA, 2012) D. Brida, C. Manzoni, and G. Cerullo, “Phase-locked pulses for two-
dimensional spectroscopy by a birefringent delay line,” Opt. Lett. 37, 3027-3029 (2012)
(ORIANA, 2016) A. Oriana, J. Réhault, F. Preda, D. Polli, and G. Cerullo, “Scanning Fourier
transform spectrometer in the visible range based on birefringent wedges”. Journal of the
Optical Society of America A 33, 1415 (2016)
(PERRI, 2018) Perri, A., de Faria, B. E. N., Ferreira, D. C. T., Polli, D., Comelli, D.,
Valentini, G., and Manzoni, C. “A Hyperspectral Camera for Remote Sensing based on a
Birefringent Ultrastable Common-Path Interferometer”, In Hyperspectral Imaging and
Sounding of the Environment (pp. HM3C-4), Optical Society of America, (2018, November)
(MOSCA, 2016) Mosca, S., Alberti, R., Frizzi, T., Nevin, A., Valentini, G., and Comelli, D.,
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paintings”. Applied Physics A, 122(9), 815 (2016)
137
2ª