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ACTAS COMPLETAS DA 3ª JORNADA VIRTUAL

INTERNACIONAL EM PESQUISA CIENTÍFICA:

SOCIEDADE, CULTURA E PODER


Editora Cravo
Comité Científico

Jorge Chinea
(Wayne State University - EUA)

Keila Grinberg
(Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Brasil)

Leonardo Rosa Ramos


(Università Pontificia Salesiana - Itália)

Marcia Calainho
(Instituto Jurídico Luso Brasileiro - Portugal)

Márcia Maria Menendes Motta


(Universidade Federal Fluminense - Brasil)

Monique Montenegro
(Instituto Ensinar Brasil - Brasil)

Thiago de Souza dos Reis


(Universidade Estácio de Sá/Universidade Veiga de Almeida - Brasil)

Yanina Benitez
(Instituto de Filosofía Ezequiel de Olaso/Centro de Investigaciones Filosoficas - Argentina)
Maria Ferreira
Paula C. Teixeira
(Org)

Actas Completas da 3ª Jornada Virtual


Internacional em Pesquisa Científica:
Sociedade, Cultura e Poder
Copyright © 2022 Editora Cravo

Título: Actas Completas da 3ª Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica:


Sociedade, Cultura e Poder

Direção Editorial: Lou Calainho

Edição e Diagramação: Equipa Editora Cravo

Projeto gráfico e capa: Cida Santos

Grafismo: Sofia Ferreira

ISBN 978-989-9037-26-7

Conselho Editorial
Lou Calainho
Magno F. Borges
Maria Auxiliadora B. dos Santos

Dados para Catalogação da Obra


Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica
(2022 : Porto, Portugal).

Actas Completas da 3ª Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica:


Sociedade, Cultura e Poder [recurso eletrónico] / Maria Ferreira, Paula C.
Teixeira (org.). – Porto : Editora Cravo, 2022.

E-book (pdf): 30Mb

ISBN 978-989-9037-26-7

1. Educação - Congressos. 2. Ensino Superior. 3. Investigação


Científica. 4. Encontro Científico. I. Ferreira, Maria. II. Teixeira, Paula C..
III. Centro Português de Apoio à Pesquisa Científica e à Cultura. IV. Título.

CDD: 370

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização
por escrito dos editores e autores.
3ª Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica:
Sociedade, Cultura e Poder
Comissão de Organização Márcia Calainho
(Instituto Jurídico Luso-Brasileiro – Portugal)
Maria Ferreira
(Universidade do Minho – Portugal)
María Esperanza Rock Núñez
(OTEC Cultura y Territorio – Chile)
Monique Montenegro
(Instituto Ensinar Brasil – Brasil)
Maria Goretti da Costa Tavares
(Universidade Federal do Pará – Brasil)
Thiago de Souza dos Reis
(Universidade Veiga de Almeida / Universidade Estácio de
Maria José de Rezende
(Universidade Estadual de Londrina – Brasil)
Sá / INCT Proprietas – Brasil)

Yanina Benitez Marianna Moraes


(Universidade Portucalense Inf. D. Henrique – Portugal)
(Instituto de Filosofía Ezequiel de Olaso –
Centro de Investigaciones Filosoficas – Argentina)
Morgana Paiva Valim
(UVA/Unyleya/UBM)
Comité Científico Onelia Carmem Rossetto
(Universidade Federal de Mato Grosso – Brasil)
Paula Calainho Teixeira
(Universidade do Porto – Portugal) Patrícia Helena Milani
(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Brasil)
Ana Paula Portella
(Universidade Federal de Pernambuco – Brasil) Pilar Parot Varela
(Universidad Nacional de San Isidro – Argentina)
Claudia Almada Leite
(Universidad de Sevilla – España) Renata Monteiro Garcia
(Universidade Federal da Paraíba – Brasil)
Claudia Vanessa Rodriguez Hidalgo
(Universidad Técnica Particular de Loja – Equador) Rosimar Santos Girão
(GPSEM/Universidade Federal do Rio de Janeiro – Brasil
Denize de Aguiar Xavier Sepulveda e IMAP – Portugal)
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Brasil)
Sônia Regina Romancini
Elis Regina Barbosa Angelo (Universidade Federal de Mato Grosso – Brasil)
(Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Brasil)
Tomás Sebastián Peters Núñez
Elizabeth Torrico-Ávila (Universidad de Chile – Chile)
(Universidad de Atacama – Chile)
Valdenildo Pedro da Silva
Francisco Javier Herrero Gutiérrez (Instituto Federal do Rio Grande do Norte – Brasil)
(Universidad de Salamanca – España)
Valéria Moreira de Pinho
João Batista de Menezes Bittencourt (Universidade do Porto)
(Universidade Federal de Alagoas – Brasil)
Verónica Filardo
Karina L. Pasquariello Mariano (Universidad de la República – Uruguay)
(Universidade Est. Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Brasil)

Leonor Lima Torres


(Universidade do Minho – Portugal)

Lucía Nuñez Lodwick


(Universidad Nacional de San Martín – Argentina)

Marcelino de Andrade Gonçalves


(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Brasil)

Marcelo Nunes Coelho


(Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Rio Grande do Norte – Brasil)
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.............................................................................................................................24

ET 01
ESTUDOS HISTÓRICOS, POLÍTICA, ECONOMIA E RELAÇÕES DE
PODER

SÃO PAULO: HISTÓRIA, PODER E O TRABALHO NA PRIMEIRA REPÚBLICA


Ana Maria Cardachevski...........................................................................................................................26

DA ECONOMIA DA MELANCOLIA À MELANCOLIA DA ECONOMIA: UMA


DIALÉTICA DO CONTEXTO TRABALHISTA CONTEMPORÂNEO
Ariel Campos Pinto | Wilson Camilo Chaves | Elizabeth Fátima Teodoro......................................37

O NACIONALISMO BRASILEIRO, SEUS DISCURSOS AUTORITÁRIOS E EXCLUSÕES


IDENTITÁRIAS: O REFLEXO DA CONJUNTURA POLÍTICA NA LITERATURA
Beatriz Passos Trimer................................................................................................................................50

MIGUEL REALE: INTEGRALISMO, TEORIA DO ESTADO, HISTÓRIA, DIREITO E


FILOSOFIA
Cícero João da Costa Filho.......................................................................................................................61

O PARTIDO PANTERA NEGRA E A LUTA ANTICOLONIAL: TEORIA E PRÁTICA


Edson Mendes Nunes Junior | Luan Cardoso Ferreira........................................................................82

MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS SOB CONTROLE: BASES IDEOLÓGICAS E A


LEGISLAÇÃO CENSÓRIA QUE NORTEARAM A AÇÃO DA CENSURA DURANTE A
DITADURA MILITAR BRASILEIRA (1964-1985)
Emilla Grizende Garcia.............................................................................................................................97

UMA REFLEXÃO METODOLÓGICA PARA A ANÁLISE DE ROMANCES HISTÓRICOS


DO SÉCULO XIX
Erick Oliveira da Silva Santos.................................................................................................................107

HEGEMONIA DE PRESTÍGIO: DIPLOMACIA E PODER NAVAL


Esley Rodrigues de Jesus Teixeira..........................................................................................................116

PÁGINAS NEGRAS E A LUTA ANTIRRACISTA NOS PERIÓDICOS JORNEGRO E


AFRO-LATINO-AMÉRICA DURANTE A DITADURA MILITAR (1977-1981)
Fernanda Aparecida Antunes de Arruda..............................................................................................127

CARLOS LACERDA E SUAS RELAÇÕES COM PORTUGAL: SEU POSICIONAMENTO


NAS GUERRAS COLONIAIS (1961-1974)
Fernanda Gallinari Machado Sathler Mussi.................................................................................139
AÇÕES DE CARÁTER COMO SINAL DO BELO
Filif Nambera...........................................................................................................................................148

MERCADORIA, IDEOLOGIA E PODER: UM ESTUDO DE CASO A PARTIR DE FRIDA


KAHLO
Gabriele Carvalho Jardim Guimarães...................................................................................................154

POLÍTICA E ECONOMIA NA AVENIDA: AS ESCOLAS DE SAMBA DO RIO DE


JANEIRO E SEUS ENREDOS CRÍTICOS NOS ANOS 1980
Guilherme José Motta Faria...................................................................................................................162

O TERRITÓRIO PELA PERSPECTIVA DOS TIPOS IDEAIS DE WEBER: A FORMAÇÃO


SOCIOECONÔMICA DO CARIRI – CEARÁ – BRASIL
Guilherme Sawatani Guedes Alcoforado | Emmanoel de Oliveira Boff.........................................178

CARTAS PESSOAIS DE MARY BUARQUE COMO FONTE HISTÓRICA


Heloisa Amorim Pereira Louro | Soraia Regiane Carlos....................................................................191

REGULAÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS NAS CONSTITUIÇÕES DO BRASIL:


ENTRE A AUTOCRACIA E A DEMOCRACIA, O QUANTO IMPORTAM OS PARTIDOS?
João Paulo Ocke de Freitas.....................................................................................................................205

VISÕES DO PASSADO: AS SANÇÕES PUNITIVAS DE MEMÓRIA E A MEMÓRIA


CULTURAL NA ROMA TARDO-REPUBLICANA (133 A.C. – 44 A.C.)
Jonathan Cruz Moreira............................................................................................................................227

A EDUCAÇÃO ESCOLAR DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL COMO


COLONIALIDADE DO PODER DA CULTURA EUROPEIA CRISTÃ
José Adnilton Oliveira Ferreira | Lívia Freitas Fonseca Borges........................................................233

AS DOCENAS DE LOPE DE VEGA


Karenina do Nascimento Rodrigues.....................................................................................................246

SMITH: MERCADO, ESTADO E OS SENTIMENTOS MORAIS


Lara Demuner das Neves........................................................................................................................252

PENSAMENTO SOCIAL LATINO-AMERICANO: DO DESENVOLVIMENTISMO DA


CEPAL À TEORIA DA DEPENDÊNCIA
Lilian Prado Pereira.................................................................................................................................265

MODERNIDADE E NATUREZA NO BRASIL IMPERIAL: POTENCIALIDADES DE


PESQUISA PARA A HISTÓRIA AMBIENTAL (1854-1889)
Luca Leite...................................................................................................................................................278

A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DO RIO DE JANEIRO E OS PROJETOS DE


REORDENAÇÃO GEOPOLÍTICA DO ESPAÇO BRASILEIRO
Luciene Pereira Carris Cardoso....................................................................................................290
OS IMIGRANTES NA REVOLUÇÃO DE 32
Luiz Eduardo Pesce de Arruda..............................................................................................................304

D. BRITTES OU D. BEATRIZ: MULHER, POLÍTICA, PODEROSA E NÃO RAINHA


Luiz José da Silva......................................................................................................................................318

FRANTZ FANON: A IMPORTÂNCIA DE SEUS ESTUDOS EM SOCIEDADES


RACISTAS A PARTIR DA RELAÇÃO ENTRE RACISMO E COLONIALISMO NA OBRA
PELE NEGRA, MÁSCARAS BRANCAS (2008)
Luiza Helena Dias Braga.........................................................................................................................326

A COLÔNIA Z-13 NA PRAIA DE COPACABANA: UM PARADOXO


Luzimar Soares Bernardo.......................................................................................................................335

POLITICS, GENDER AND HUMOR: A DOCUMENTARY ANALYSIS OF CARTOONS


FROM PUNCH MAGAZINE (1918-1945)
Maria Eduarda Fontes da Costa e Silva Merz.......................................................................................350

NOTAS SOBRE A ASCENSÃO DA ELITE COMERCIANTE NA CIDADE DE SÃO


PAULO E O EXERCÍCIO DA CARIDADE OITOCENTISTA
Mirna Brito Santana.................................................................................................................................362

A CONFIANÇA DO CRÉDITO: RELAÇÕES E PRÁTICAS CREDITÍCIAS NO


MARANHÃO COLONIAL (1785 – 1822)
Paulo Juracy Carvalho Neto...................................................................................................................376

SERTÕES E INDÍGENAS DO ESPÍRITO SANTO (1800 - 1822)


Rodrigo da Silva Goularte.......................................................................................................................385

O CONCEITO DE NEOLIBERALISMO NA OBRA DE THEOTONIO DOS SANTOS


Rodrigo Lima............................................................................................................................................397

“O MARFIM DE ANGOLA EM LISBOA”: A HISTÓRIA DA REAL FÁBRICA DOS


PENTES DE MARFIM, CAIXAS DE PAPELÃO E VERNIZES (SÉCULO XVIII)
Rogéria Cristina Alves.............................................................................................................................410

ANÁLISE DO SUJEITO-HISTÓRICO NO PARADOXO DE UMA NARRATIVA


CONCILIATÓRIA ENTRE A JUSTIÇA E O PARTIDO POLÍTICO: CARTA DE
ANTÔNIO PALOCCI AO PT
Sílvio Cesar Masquietto...........................................................................................................................423

ETNOHISTÓRIA NA CONSTRUÇÃO DO REPERTÓRIO SIMBÓLICO NO CAMPO DA


VISUALIDADE APLICADO NA CESTARIA DO POVO KAINGANG
Tadeu do Santos.......................................................................................................................................433

UMA CRISE DO NOSSO TEMPO: REFLEXÕES SOBRE PROBLEMAS DE PÓS-


VERDADE
Wérleson Alexandre de Lima Santos.....................................................................................................446
ET 02
FORMAÇÃO DE PROFESSORES, TRABALHO DOCENTE E NOVAS
TECNOLOGIAS

OS SABERES MUSICAIS E AS TIC NA FORMAÇÃO DOCENTE DO SÉCULO XXI: UM


ESTUDO DE CASO SOBRE O CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA DO
INSTITUTO FEDERAL DO SERTÃO PERNAMBUCANO
Adelson Aparecido Scotti.......................................................................................................................458

ATENDIMENTO PEDAGÓGICO HOSPITALAR E DOMICILIAR: DIÁLOGOS


NECESSÁRIOS COM A ESCOLA REGULAR
Alyne Martins Gomes | Amanda da Silva Romeiro | Patrícia Mara dos Santos Machado | Marilu
dos Santos Borba | Genilda Alves Nascimento Melo........................................................................471

A FORMAÇÃO DOCENTE EM TEMPOS DE PANDEMIA: BASE DE CONHECIMENTO


PARA O ENSINO COM TECNOLOGIAS DIGITAIS A PARTIR DA EXPERIÊNCIA
BRASILEIRA
Braian Veloso...........................................................................................................................................479

AUTOFORMAÇÃO DOCENTE, AUDIOVISUALIDADES E INVENÇÃO DE MUNDOS:


ALGUNS LAMPEJOS NA PANDEMIA DO COVID-19
Bruno Costa Lima Rossato.....................................................................................................................490

ENTREVISTAS NARRATIVAS E O IMEDIATISMO DO COTIDIANO:


DESDOBRAMENTOS DA PANDEMIA SOBRE A PROFISSÃO DOCENTE
Christianne Barbosa Stegmann | Elvira Cristina Martins Tassoni....................................................499

GESTÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA


COMUNICAÇÃO: SOLICITAÇÃO DE APROVEITAMENTO DE DISCIPLINAS (PAD)
NA FATEC DE BAURU
Claudines Taveira Torres | Maria Cristina Gobbi | Anderson Rogério Campana......................509

FECHE A PORTA QUANDO SAIR: MEMÓRIA E AUTORITARISMO EM K.


Danielle Barbosa..........................................................................................................................528

A TRANSCRIAÇÃO COMO BUSCA DE SENTIDO: ANÁLISE, A PARTIR DO OLHAR


DA LOGOTERAPIA DE VIKTOR E. FRANKL, EM UMA DRAMATURGIA
CONSTRUÍDA A PARTIR DO TESTEMUNHO DE VENEZUELANOS REFUGIADOS
NO SUL DO BRASIL
Gabriel Fontoura Motta | Suzi Frankl Sperber...................................................................................540

RELAÇÃO EMPÁTICA PROFESSOR/ESTUDANTE: ELEMENTO


POTENCIALIZADOR DE APRENDIZAGEM EM CLASSE HOSPITALAR
Genilda Alves Nascimento Melo | Alyne Martins Gomes | Marilu dos Santos Borba | Patrícia
Mara dos Santos Machado | Amanda da Silva Romero.....................................................................552

PARTILHANDO EXPERIÊNCIAS DE TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NO ENSINO


SUPERIOR DO BRASIL E DE PORTUGAL: A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
PERANTE OS DESAFIOS DO ENSINO REMOTO
Georgia de Souza Assumpção | Paula Peres........................................................................................561
AS CONTRADIÇÕES DO ENSINO HÍBRIDO: O RECHAÇO À PALAVRA
PROFESSORAL
Isael de Jesus Sena....................................................................................................................................572

FORMAÇÃO PEDAGÓGICA PARA PROFESSORES DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL:


REFLEXÕES SOBRE A DOCÊNCIA DIANTE DAS RECENTES METODOLOGIAS DE
ENSINO
Jonas Severino da Silva | Virgínia Laís de Souza | Valderlei Furtado Leite | Maria do Carmo
Pereira Servidoni......................................................................................................................................581

PROPOSTA DE AULA DE CAMPO PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ENSINO DE


GEOGRAFIA NA ILHA DE PAQUETÁ
Juliene Lemos Saback | Wilson Messias dos Santos Junior...............................................................591

O HOLODOMOR NO ENSINO DE HISTÓRIA SOBRE TOTALITARISMO


Mauricio da Silva Lima............................................................................................................................598

EXERCÍCIO DE ADAPTAÇÃO DO MAGISTÉRIO SUPERIOR AO ENSINO REMOTO:


INTEMPÉRIES PROVOCADAS PELA COVID-19
Mauro Machado Vieira............................................................................................................................606

O MESTRE IGNORANTE NO CONTEXTO DO CENTRO DE MÍDIAS DO AMAZONAS


Regina Ferreira da Costa | Sirley Marques da Silva.............................................................................616

ENTRE O ESCREVER E O VIVER: ESCREVIVÊNCIAS DE TRAJETÓRIAS ESCOLARES


DE MULHERES NEGRAS PELO DIREITO À EDUCAÇÃO
Roberta Dias de Sousa | Adrielle Karolyne de Sousa Lisboa.............................................................625

TECNOLOGIA ASSISTIVA EM UMA ESCOLA ESPECIALIZADA PARA ALUNOS


COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Thiago Sardenberg | Helenice Maia......................................................................................................635

REFLEXÕES SOBRE O MUNDO DO TRABALHO E O TRABALHO DOCENTE


Wellington Félix Cornélio | Helena De Ornellas Sivieri-Pereira......................................................647

ET 03
CORRUPÇÃO, VIOLÊNCIA, SEGURANÇA E DEFESA

A DESUMANIZAÇÃO NA INCITAÇÃO AO LINCHAMENTO: UMA REFLEXÃO


PSICANALÍTICA
Amanda Mont’Alvão Veloso Rabelo....................................................................................................654

ENTRE AMIGOS E INIMIGOS: A REVISTA MILITAR BRASILEIRA E A DISCUSSÃO


DE TEMAS COMO ANTICOMUNISMO E A INDUSTRIALIZAÇÃO – 1946-1950
César Alves da Silva Filho.......................................................................................................................663
ET 04
RELIGIÕES, RELIGIOSIDADES E PRÁTICAS RELIGIOSAS

IGREJA DO ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS: UM ARTEFATO PEDAGÓGICO


SOBRE O PATRIMÔNIO NEGRO EM BELÉM DO PARÁ
Antônia Maria Rodrigues Brioso | Júnia de Barros Braga Vasconcelos...........................................678

“NÃO TENHAS MEDO, EU SOU A GRAÇA”: HISTÓRIAS CONECTADAS ENTRE AS


APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA (BRASIL) E FÁTIMA (PORTUGAL) EM
1936
Carlos André Silva de Moura..................................................................................................................687

OS SUBALTERN STUDIES E A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES: PERSPECTIVAS


HISTORIOGRÁFICAS PARA UM DIÁLOGO INTERDISCIPLINAR
Gabriel Cardoso Bom.............................................................................................................................700

ANCESTRALIDADE E RELIGIOSIDADE PENTECOSTAL NO TERRITÓRIO


QUILOMBOLA
Ione Maria do Carmo..............................................................................................................................713

A CONSTRUÇÃO DAS INTOLERÂNCIAS NAS PREFEITURAS CARIOCAS.


INTERFACE ENTRE RELIGIÃO E POLÍTICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,
BRASIL
Joana Bahia | Camilla Fogaça Aguiar....................................................................................................726

DO MODERNO ESPIRITUALISMO AO ESPIRITISMO


Jorge Vinicius Quevedo da Cruz............................................................................................................738

A IGREJA MEDIEVAL COMO POSSIBILIDADE DE IMPOSIÇÃO DO MITO NA IDADE


MÉDIA CENTRAL
Júlia Guimarães Vilela.............................................................................................................................746

A PSICANÁLISE EVANGÉLICA DA FACULDADE GOSPEL


Milleni Freitas Rocha...............................................................................................................................754

CIRCULAÇÃO DE SABERES E EXPERIÊNCIAS RELIGIOSAS NA ÁFRICA ORIENTAL


DE FREI JOÃO DOS SANTOS (1608)
Moreno Brender Stedile..........................................................................................................................766

“O SENTIDO DO PUDOR”: REPRESENTAÇÃO DO FEMININO SANTIFICADO EM


SANTANA DO CARIRI-CE
Tatiana Olegário da Silva........................................................................................................................779
ET 06
DESENVOLVIMENTO RURAL E QUESTÃO AGRÁRIA

OCUPAÇÃO DA FAZENDA TERRA BELA E A GRILAGEM DE TERRAS NA REGIÃO


DE BURITICUPU: A LUTA DAS MULHERES LAVRADORAS (1987-2001)
Darlene Rodrigues Area Silva.................................................................................................................791

MOBILIDADE: INFLUÊNCIAS PARA O TURISMO EM ÁREAS RURAIS NO BRASIL


Fátima Priscila Morela Edra | Marllon Santos da Silva | Osiris Ricardo Bezerra Marques...........802

QUESTÕES AGRÁRIAS NO DESENVOLVIMENTO RURAL DO BRASIL: RESTRIÇÕES


AO CRESCIMENTO SOCIOECONÔMICO E EQUÂNIME
Kleber Destefani Ferretti........................................................................................................................815

UMA VISÃO PANORÂMICA SOBRE OS CASOS TRATADOS PELA DIRETORIA DA


AGRICULTURA SOB CHEFIA DE MACHADO DE ASSIS
Pedro Parga Rodrigues............................................................................................................................826

ET 07
PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E IMAGINÁRIO SOCIAL

MEMORIAL DA PANDEMIA: O ACERVO DE TODOS NÓS


Pietra Diwan | Alexandre F. S. Teixeira...............................................................................................834

APROPRIAÇÃO URBANA E PATRIMÔNIO CULTURAL: DIÁLOGOS NECESSÁRIOS


PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL
André Araújo Almeida.................................................................................................................842

ANA PAULA MAIA ENQUANTO DOCUMENTO: IMAGINÁRIO SOCIAL NAS


PAISAGENS DOS HOMENS BRUTOS
Andre Luiz Godinho Aguiar..................................................................................................................859

A MÚSICA NA EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DO CENTENÁRIO DA


INDEPENDÊNCIA: MEMÓRIA E MODERNIDADE
Anna Cristina Cardozo da Fonseca.......................................................................................................867

SÃO MIGUEL - DISTRITO DE DIVERSIFICADOS SERVIÇOS AS LOCALIDADES


LIMÍTROFES PERTENCENTE A CIDADE DE BENTO GONÇALVES, RS- BRASIL
Carina De Cesaro | Margit Arnold Fensterseifer................................................................................888

CAPELA SÃO PEDRO E A FAMÍLIA FRIGO: MEMÓRIA E DEVOÇÃO


Cássia Maria Popolin | Sandra de Cássia Araújo Pelegrini.................................................................915

SABERES E FAZERES TRADICIONAIS DAS COMUNIDADES PESQUEIRAS


LITORÂNEAS DA REGIÃO DOS LAGOS A PARTIR DO PROJETO DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL PESCARTE
Giovane do Nascimento | Clara Mara Gonçalves Chaves.................................................................938
HISTÓRIAS E NARRATIVAS: DOS SONHOS JUVENIS EM GRAMADOS
IMAGINÁRIOS AO MARACANÃ DE JULINHO BOTELHO
Felicce Fatarelli Fazzolari........................................................................................................................946

PATRIMÔNIO FLUTUANTE: RELAÇÃO ENTRE RIBEIRINHOS E AS TIPOLOGIAS


ARQUITETÔNICAS VERNACULARES NO LAGO TEFÉ, AMAZONAS, BRASIL
Fernanda Rocha de Oliveira | Karina Nymara Brito Ribeiro | Gabriela Pontes Monteiro.........954

O ACERVO DE MÚSICA RELIGIOSA DO IMPERIAL HOSPITAL DE CARIDADE DE


FLORIANÓPOLIS (SANTA CATARINA, BRASIL): A HISTÓRIA INSTITUCIONAL E OS
GRANDES MOVIMENTOS DO CATOLICISMO REFLETIDOS EM DOCUMENTOS
MUSICOGRÁFICOS
Fernando Lacerda Simões Duarte.........................................................................................................972

O DISEGNO DA CIDADE: O PATRIMÔNIO EDIFICADO DE CAJAZEIRAS – PB (1920


A 1940)
Janaína Valéria Pinto Camilo | Katiana de Sousa Vale.......................................................................988

MEMÓRIA FERROVIÁRIA E O ENSINO EM PATRIMÔNIO: A BICA DA MULATA E


AS ESTAÇÕES DA RIO D`OURO, ACERVOS CULTURAIS DO RIO DE JANEIRO
Joana D`Arc Cesar Viana......................................................................................................................1001

KM2 - UMA VILA REPRESENTATIVA DO PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO DO


TRONCO NORTE NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Margit Arnold Fensterseifer.................................................................................................................1019

NAS ENTRELINHAS DO PINA: A RELAÇÃO DE IDENTIDADE E PATRIMÔNIO DO


MANGUEZAL COM A POPULAÇÃO COMUNIDADE BEIRA RIO
Mariana Medeiros Façanha...................................................................................................................1031

CONTRIBUIÇÕES DE ESTUDO SOBRE CONTEXTUALIDADE DOS ARQUIVOS


PARA A MEMÓRIA SOCIAL
Renata Silva Borges...............................................................................................................................1037

AS MULHERES NAS FESTAS EM HOMENAGEM AO DIVINO ESPÍRITO SANTO, EM


SÃO LUÍS DO MARANHÃO (BRASIL)
Sandra C. A. Pelegrini............................................................................................................................1050

PATRIMÔNIO SEM FRONTEIRAS: O ACERVO RAYMOND CANTEL DE


LITERATURA DE CORDEL E XILOGRAVURA E OS INTERCÂMBIOS CULTURAIS E
ACADÊMICOS ENTRE O BRASIL E A FRANÇA
Sylvia Nemer..........................................................................................................................................1060

PATRIMOINE SANS FRONTIERES: LES FONDS RAYMOND CANTEL DE


LITTERATURE DE CORDEL ET GRAVURE SUR BOIS ET LES ECHANGES
CULTURELS ET ACADEMIQUES ENTRE LE BRESIL ET LA FRANCE
Sylvia Nemer..........................................................................................................................................1066
ACERVO BIBLIOGRÁFICO E DOCUMENTAL DA CATEDRAL METROPOLITANA
DE BELÉM DO PARÁ(BRASIL): ESTUDO EXPLORATÓRIO COM VISTAS A UMA
INVESTIGAÇÃO DAS PRÁTICAS MUSICAIS DO PASSADO
Stherfany Taynara Ribeiro de Sousa | Fernando Lacerda Simões Duarte | Tainá Maria Magalhães
Façanha...................................................................................................................................................1072

REGISTRO DAS TRAJETÓRIAS E VIVÊNCIAS DE TRABALHADORES DA ÁREA DO


TURISMO
Victor Hugo Geovú Esposito | Thayane Trindade Silva | Dalila Rosa Hallal | Valéria Lima
Guimarães...............................................................................................................................................1080

ET 08
DESIGUALDADE, POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL

AÇÕES PARA PROMOVER DIREITO À MORADIA DIGNA ÀS FAMÍLIAS


VULNERÁVEIS EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS ATRAVÉS DA EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA
Bárbara Delazeri | Guilherme Osterkamp | Jamile Maria da Silva Weizenmann | Raiza Betania
Halmenschlager.....................................................................................................................................1089

ENSINO À DISTÂNCIA NA PANDEMIA: DISCUSSÃO SOB A ÓTICA DE PIERRE


BOURDIEU
Bruna Vanti da Rocha | Juliberta Alves de Macêdo | Letícia Rios Dias | Marielly de
Moraes.....................................................................................................................................................1096

A LEI EM CONFLITO COM O ADOLESCENTE: SELETIVIDADE PUNITIVA NO


SISTEMA SOCIOEDUCATIVO DO RIO DE JANEIRO
Fernanda Bottari Lobão dos Santos | Hebe Signorini Gonçalves..................................................1103

MELHORIAS SANITÁRIAS EM HABITAÇÕES SOCIAIS ATRAVÉS DA INTERFACE


ENTRE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E O CONSELHO DE ARQUITETURA E
URBANISMO/RS
Raiza Halmenschlager | Guilherme Osterkamp | Bárbara Delazeri | Jamile Weizenmann.......1118

NA CONSTRUÇÃO DA PERIFERIA URBANA PULSA O CONFLITO: ENTRE A


PRECARIEDADE MATERIAL E A AÇÃO POPULAR
Vivian Prado Pereira..............................................................................................................................1123

ET 10
ESTUDOS DE GÊNERO, FEMINISMO E SUAS CONTRIBUIÇÕES

LOUCA: INDEPENDENTE E VOLUNTARIOSA


Aline Michelli Crestani..........................................................................................................................1136

A EDUCAÇÃO E O FEMINISMO CATÓLICO DEFENDIDO POR ALBA CAÑIZARES


DO NASCIMENTO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA NO BRASIL
Anna Clara Granado.............................................................................................................................1141
A INSERÇÃO DE MULHERES IMIGRANTES NO MERCADO DE TRABALHO
BRASILEIRO: PERSPECTIVAS
Camila Rocha | Odisseia Aparecida Paludo Fontana | Paola Pagote Dall’Omo | Silvia Ozelame
Rigo Moschetta....................................................................................................................................................1157

NOTAS PÓSTUMAS SOBRE A MORTE INFAME DE JOÃO SINHÁ: O CRIME DE


PELOTAS (1897)
Carlos Gilberto Pereira Dias................................................................................................................1170

O SUJEITO IDENTIFICADO: UMA LEITURA PSICANALÍTICA SOBRE AS QUESTÕES


DE GÊNERO
Carolina Dal-col Vianna | Mardem Leandro Silva | Helena de Almeida Cardoso Caversan |
Daniela Paula do Couto | Elizabeth Fátima Teodoro......................................................................1182

A SERBIAN MOVIE: UMA CRÍTICA A PORNOGRAFIA?


Carolina Fernandes Carvalho...............................................................................................................1193

REPRESENTAÇÕES A PARTIR DOS NÃO DITOS: HOMOSSEXUALIDADE


INDÍGENA E SEUS SILENCIAMENTOS ENTRE O POVO BOE-BORORO DA
RESERVA TADARIMANA
Claudinei Caetano dos Santos..............................................................................................................1198

A CANÇÃO DE AUTORIA FEMININA EM BELÉM DO PARÁ, DA BELLE ÉPOQUE


ATÉ A PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX
Dione Colares de Souza | Leonardo José Araujo Coelho de Souza...............................................1211

UM ROMANCE ESCRITO NO FINAL DO SÉCULO XIX, ONDE AS QUESTÕES DE


GÊNERO, RAÇA, CLASSE E FORMAÇÃO EDUCACIONAL MISTURAM-SE E SÃO
EXPOSTAS NA NARRATIVA DE UMA MULHER EM MEIO À UMA SOCIEDADE
PATRIARCAL E OPRESSORA
Euridice Hespanhol Macedo Pessoa...................................................................................................1218

A “MARAVILHOSA” HISTÓRIA DE MARIA UMBELINA DE ALBUQUERQUE


MARANHÃO: RELAÇÕES DE PODER NAS PROVÍNCIAS DA PARAHYBA E DO RIO
GRANDE DO NORTE, BRASIL, NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
Helmara Giccelli Formiga Wanderley.................................................................................................1231

SEXUALIDADE SOB DEMANDA: ONLYFANS E A PLATAFORMIZAÇÃO DO


TRABALHO SEXUAL
Henry Fragel Madeira Peres.................................................................................................................1243

INDIANARAE ALVES SIQUEIRA:UMA TERRORISTA DO GÊNERO QUE ROMPE


COM O CONTRATO SEXUAL DA NORMA
Jessica Tatiane Felizardo.......................................................................................................................1256

LOS CRONOTOPOS DEL HOGAR Y LA CIUDAD EN COMETIERRA (2019) DE


DOLORES REYES
Jimena Bracamonte...............................................................................................................................1263
CENAS DE SANGUE: REPRESENTAÇÕES DOS CRIMES PASSIONAIS NOS PERÍODICOS
CARIOCAS GAZETA DA TARDE, CIDADE DO RIO E GAZETA DE NOTÍCIAS
Mariana Schulmeister Kuhn.................................................................................................................1269

TERTÚLIAS COR-DE-ROSA
Marlene Filipa Rocha Almeida.............................................................................................................1281

CRÔNICA POLICIAL E AS MULHERES NO JORNAL CORREIO PAULISTANO NOS


ANOS 1910
Mônica Diniz..........................................................................................................................................1294

A (SUB)REPRESENTAÇÃO FEMININA NOS CONTEÚDOS DE HISTÓRIA DO BRASIL:


ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO #CONTATO HISTÓRIA (VOL. 1, 2 E 3)
Elloisy Pedroso dos Santos | Debora Queren Santos de Godoi | Paulo Roberto Krüger..........1314

UNIVERSIDADE PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE: MULHERES PAULISTANAS


E SUAS ATUAÇÕES POLÍTICAS NO MOVIMENTO FEMININO PELA A ANISTIA
Samara Regina da C. Santos..................................................................................................................1332

UMA SOCIALISTA PORTUGUESA NO RIO DE JANEIRO DA BELLE ÉPOQUE: O


FEMINISMO DE ANGELINA VIDAL PRESENTE NAS PÁGINAS DO JORNAL
GAZETA OPERÁRIA, DE MARIANO GARCIA. 1902-1903.
Sayonara Faria Sisquim.........................................................................................................................1343

A TRANSEXUALIDADE NO SISTEMA CARCERÁRIO FEMININO DE PEDRINHAS –


MA: À LUZ DO DIREITO DE PERSONALIDADE
Tassiane Sousa Corrêa Branco | Thaisa Viegas de Pinho................................................................1356

A GEOGRAFIA FEMINISTA E A VIOLÊNCIA DE GÊNERO: A VIOLÊNCIA


CORPORIFICADA
Yasmim Silva De Campos Gonçalves Leal | Patrícia Helena Milani..............................................1364

ET 11
ESTUDOS CULTURAIS, ARTES E MULTICULTURALISMO

A RECEPÇÃO DE MITOLOGIAS CLÁSSICAS NO MANGÁ OS CAVALEIROS DO ZODÍACO


Emerson Aparecido dos Santos Bezerra............................................................................................1375

INCIDÊNCIAS AUTOCANIBAIS NA ARTE . VESTÍGIOS NO TERRITÓRIO LATINO


AMÉRICA
Flaviana Benjamin.................................................................................................................................1387

«QUASE INVISÍVEL»: TESTEMUNHO, ENCENAÇÃO E ARQUIVO EM «NAUSICAA»,


DE AGNÈS VARDA
Lucas Manuel Mazuquieri Reis............................................................................................................1394
CULTURA, HISTÓRIA E NARRATIVA: AS COMUNIDADES TRADICIONAIS PESQUEIRAS
DE ARRAIAL DO CABO A PARTIR DO EVENTO TRAUMÁTICO SHANGRI-LÁ
Manuela Chagas Manhães | Sulamita Conceição Ribeiro | Karina Ritter Manhães | Kaio Lucas
Ritter Mota..............................................................................................................................................1411

MEMÓRIA E IDENTIDADE EM LOS ROJOS DE ULTRAMAR, DE JORDI SOLER


Maria Eugênia Morasco Agostinho.....................................................................................................1423

PARTICIPAÇÃO E COLETIVIDADE - DRAMATURGIAS DE FESTA EM SEUS


ASPECTOS POLÍTICOS
Matilde Wrublevski Pereira..................................................................................................................1430

THE FALSE PERFORMANCE: ANALISANDO A NOÇÃO DE “POSER” ENTRE OS


MEMBROS DO HEAVY METAL
Muryel Moura dos Santos.....................................................................................................................1440

DIÁLOGOS ENTRE HISTÓRIA E LITERATURA FANTÁSTICA: J. R. R. TOLKIEN E OS


PARADOXOS DA MODERNIDADE (1917-1949)
Roney Marcos Pavani............................................................................................................................1449

EESERUNPANENPÎRA WAYUUPA EKOKOMAMÎI: PARA ESPANTAR A TRISTEZA


COM A VOZ, A PERFORMANCE DE VOVÓ BERNALDINA
Sonyellen Fonseca Ferreira | Katia Sayuri Fujisawa | Meire Lúcia Ferreira Lemos.....................1458

OTROS VIAJES DE DESCUBRIMIENTO: LA EXPEDICIÓN SURREALISTA A HAITÍ


Xenia Roque Benito | Julio Moracén Naranjo..................................................................................1471

ET 12
MEIO AMBIENTE, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

PRÁTICAS DE CURA COM PLANTAS MEDICINAIS PARA ARBOVIROSES EM


COMUNIDADES TRADICIONAIS DA/NA AMAZÔNIA TOCANTINA- BRASIL
Andrea Silva Domingues | Benedita Celeste de Moraes Pinto | Sherlyane Louzada Pinto........1489

A EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO CONTEXTO


BRASILEIRO: UM PANORAMA SOBRE O CURRÍCULO DE ENSINO DO ESTADO DE
SÃO PAULO
Denis dos Santos Alves | Thais Aparecida Dibbern | Milena Pavan Serafim...............................1499

AGENDA 2030-UNESA: UMA ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AO DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL
Paulo José de Mendonça Ribeiro | Manuella de Azevedo Guedes | Beatriz Santiago
Paganoto.................................................................................................................................................1511

ANTES DO RIO, PORTEIRAS E CADEADOS: APROPRIAÇÕES DA TERRA E


DISPUTAS POR USOS DO MÉDIO RIO IVAÍ NO SÉCULO XXI
Simone Aparecida Quiezi | Vânia Inácio Costa Gomes | Cleiton Costa Denez..........................1524
A CRISE CLIMÁTICA E OS EMBATES POLÍTICOS: O NECESSÁRIO
RECONHECIMENTO LEGAL DOS REFUGIADOS AMBIENTAIS PARA A GARANTIA
DOS DIREITOS HUMANOS
Taynara Gagliano...................................................................................................................................1541

NEXOS ENTRE ODS 3 E ODS 4 NO ENSINAR-APRENDER DA EDUCAÇÃO BÁSICA


DO BRASIL: UMA ANÁLISE DE ESCOPO
Valdenildo Pedro da Silva.....................................................................................................................1558

ET 13
ESTADO, POLÍTICAS EDUCATIVAS E CONSTRUÇÃO DE
IDENTIDADES

ASPECTOS DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE NO CONTEXTO DA


EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Cinara Aline de Freitas | Helena de Ornellas Sivieri-Pereira...........................................................1573

CORPOS NEGROS MASCULINOS NO CURRÍCULO – UM OLHAR SOB A


PERSPECTIVA ÉTNICO-RACIAL
Claudinei Caetano dos Santos..............................................................................................................1586

POSSIBILIDADES DE ABORDAGENS DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E DA


EFETIVAÇÃO DA LEI 10.639/03 NAS AULAS DE QUÍMICA
Higor Lopes Gonçalves | Giordano Barbin Bertelli.........................................................................1598

ACESSO À EDUCAÇÃO NO BRASIL: DIREITO DA CRIANÇA IMIGRANTE


Julia D’Avila Santa Catarina | Odisséia Aparecida P. Fontana | Silvia Ozelame R. Moschetta.............1612

A POLÍTICA DE AÇÕES AFIRMATIVAS PARA INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR


PÚBLICO BRASILEIRO: CONSIDERAÇÕES ACERCA DE DESAFIOS PARA SUA
EXECUÇÃO
Miriam Maria Coelho | Maria Cristina Piana.....................................................................................1624

A PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS NO PLANEJAMENTO DA EDUCAÇÃO


INFANTIL: UM INVENTÁRIO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA – BRASIL (2010-
2020)
Raquel Bernardes Correa | Solange Aparecida de Oliveira Hoeller................................................1633

ET 14
MOVIMENTOS SOCIAIS, POLÍTICAS PÚBLICAS, CONFLITO E
DIREITOS HUMANOS

UNIVERSIDADE PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE: ATUAÇÃO POLÍTICA


DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
MARANHÃO (1995-1999)
Ana Beatriz Ferreira de Oliveira..........................................................................................................1642
A PANDEMIA DA COVID-19 E AS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE NO BRASIL
Vanessa Pereira Corrêa | Bruna Vanti da Rocha | Roger Flores Ceccon | Ione Jayce Ceola
Schneider................................................................................................................................................1658

MOVIMENTO ESTUDANTIL DE 1968: QUEBRANDO PARADIGMAS


Edmilson José Zanin.............................................................................................................................1667

POPULISMO DIGITAL: A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO BOLSONARISTA DENTRO


DO TWITTER PARA AS MANIFESTAÇÕES DO SETE DE SETEMBRO DE 2021
Felipe Santino de Araujo Silva | Rafael Braz da Silva.......................................................................1677

HANNAH ARENDT E O MOVIMENTO NEGRO NORTE-AMERICANO


Isaac José da Silva..................................................................................................................................1685

A VELHICE E O DIREITO NATURAL NO PENSAMENTO DE SIMONE DE


BEAUVOIR
Lúcia Helena da Silva.............................................................................................................................1693

DIREITOS HUMANOS E LIBERDADE DE EXPRESSÃO: OS DEVIRES DO ÓDIO E A


INTIMIDAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE IMPRENSA DURANTE A COVID-19
Luís Delcides Rodrigues da Silva.....................................................................................................................1705

A SOCIEDADE INFORMACIONAL E A ERA DIGITAL: O PERÍODO PRÉ-ELEITORAL


BRASILEIRO NO ANO DE 2018 E O FENÔMENO DA PÓS-VERDADE
Mayara Paula Atanásio Soares da Silva | Paloma Rayana França da Silva......................................1715

VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL:


CONSIDERAÇÕES NECESSÁRIAS
Mayara Simon Bezerra | Cirlene Aparecida Hilário da Silva Oliveira | Maria Cristina Piana.....1725

CARTOGRAFIA DE PROTESTOS: MEMÓRIA E HISTORICIDADE NAS


PERFORMANCES DE MOVIMENTOS SOCIAIS
Nádia Maria Weber Santos...................................................................................................................1736

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO E INTERFACES PÚBLICO-PRIVADAS


Raiza Monteiro Poggiali........................................................................................................................1744

ET 15
RELAÇÕES ENTRE ESTADOS, CIDADANIA, TRABALHO E
SUSTENTABILIDADE

“A VIDA É UMA ENTREGA”: O TRABALHO POR PLATAFORMAS DIGITAIS DE


ENTREGA E SUAS RESSONÂNCIAS NEOLIBERAIS
Ester Almeida.........................................................................................................................................1750

VÍNCULO DE EMPREGO PARA MOTORISTAS DE APLICATIVO: TEMAS DE UM


DEBATE AINDA EM ABERTO
Guilherme Saraiva Grava......................................................................................................................1763
ANÁLISE DISCURSIVA DAS PLATAFORMAS DIGITAIS DE PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS: MATERIALIDADES E SUBJETIVIDADES
Mônica de Oliveira Pasini.....................................................................................................................1774

ET 16
CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

A IMPORTÂNCIA DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL: PROBLEMAS E


DESAFIOS
Maria Luiza Nogueira Rangel | Remi Castioni..................................................................................1789

A INFORMAÇÃO COMPARTILHADA DA ASTRONOMIA: CONHECIMENTO E


PRAZER
Maria Veronica Silva Vilariño Aguilera...............................................................................................1799

ENCONTRABILIDADE DA INFORMAÇÃO: UMA ANÁLISE DO SITE DA


BIBLIOTECA NACIONAL
Paloma Rayana França da Silva | Mayara Paula Atanásio Soares da Silva......................................1809
EESERUNPANENPÎRA WAYUUPA EKOKOMAMÎI: PARA
ESPANTAR A TRISTEZA COM A VOZ, A PERFORMANCE
DE VOVÓ BERNALDINA

Sonyellen Fonseca Ferreira1


Katia Sayuri Fujisawa2
Meire Lúcia Ferreira Lemos3

Neste trabalho, analisamos a performance de um tukui realizado por Bernaldina José Pedro,
Meriná, em Makuusi Maimu (na língua Makuxi), e, como afirma o artista também Makuusi Jaider
Esbell (FIOROTTI; PEDRO, 2019) que a considerava mãe de afeto, foi uma sobrevivente do
holocausto perpetuado contra os povos originários desde a chegada dos colonizadores. Moradora
da região das serras, da comunidade Maturuca, na bastante conhecida Terra Indígena Raposa Serra
do Sol, em Roraima, Vovó Bernaldina como era afetivamente conhecida, passou a realizar suas
performances na Galeria de Arte Contemporânea fundada pelo seu filho de afeição, Esbell. Em
uma dessas performances conheceu Devair Fiorotti, professor que coordenava o então projeto
de Pesquisa Panton Pia’, cuja produção, entre outras, é a publicação impressa dos textos literários
registrados pelo projeto, que, além de trazer à tona a memória coletiva e a presença individual de
cada cantor, narrador, artista, visibiliza a “presença contemporânea das possibilidades literárias

1458 indígenas” (FIOROTTI; SILVA, 2019, p. 39-40).


Do encontro entre Meriná e Fiorotti, começou a nascer a obra “Cantos e encantos: Meriná
eremukon” (FIOROTTI; PEDRO, 2019). Nesse livro, são reunidos cantos pertencentes a
distintos gêneros do povo Makuusi: tukui, cantos da homologação, parixara, more’erenkato, areruia e
simiitin. Dentre os gêneros, escolhemos, para análise, um tukui que conta com um vídeo em que
Vovó Bernaldina o interpreta4. A partir da letra do canto e da performance de Bernaldina tecemos
algumas considerações acerca da forma com que os povos indígenas, em especial o Makuusi
(Makuxi), ao qual pertencia a artista, percebem a arte. A relação dessa arte com a literatura e a
presença das mulheres têm tido um papel importante, tanto na defesa da vida, quanto na
valorização das culturas originárias.
Para tanto, compreendemos que as produções verbo-artísticas dos povos indígenas exigem de
quem se debruça sobre elas um grande exercício de mudança de perspectivas. A primeira talvez
seja a de assumir que a pedra de base, que fundamenta essa literatura outra, não está assente no
mesmo suporte nem no mesmo material gráfico que os sacramentados pelas literaturas

1 Indígena Makuusi, doutoranda do Póslit/UFF, mestre em Literatura, artes e cultura regional pelo PPGL/UFRR,
professora substituta do curso de Licenciatura Intercultural do Instituto de Formação Superior Indígena Insikiran da
UFRR. E-mail: sony.ferseck@gmail.com
2 Doutoranda no programa de pós-graduação do Departamento de Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da

Linguagem/UNICAMP. Bolsista Capes. E-mail: sayuri.kat@hotmail.com


3 Indígena Makuusi, mestranda em Letras/Literatura pelo PPGL-UFRR.Email: lemosmeire17@gmail.com
4 Tal vídeo está disponível no site do projeto Panton Pia’: https://pantonpia.com.br/.

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consideradas ocidentais, ou seja, pelo livro e pela letra. Vale lembrar que Finnegan (2016)
menciona uma inclinação, nas sociedades de cultura escrita, por pensar que a literatura é sempre
escrita, especialmente, quando se ignora a existência de outros povos. Fiorotti (2012, p. 240), nesse
sentido, também ressalta que ainda há quem não aceite "a possibilidade de uma literatura oriunda
da oralidade". Porém, Finnegan (2016) afirma que as culturas orais, sem tradição escrita, possuem
formas não escritas comparáveis ao que se conhece como literatura e têm sido descritas por
estudiosos como lírica, panegírico poético, canções de amor, narrativa em prosa ou drama.
Segundo a autora, também se nota, nas obras orais, um “distanciamento” artístico literário, como
forma de contemplar o mundo e, inclusive, também pode haver um distanciamento psíquico com
o uso de máscaras, como na Grécia antiga, entre povos africanos (FINNEGAN, 2016) e povos
indígenas. Dessa forma, lidar com essas literaturas nos obriga a assumir a palavra literatura
enquanto uma relação que parte da metonímia trazida pelo radical latino ao qual está ligada litterae,
letra, mas que não se reduz a ela.
Assim, nesse gesto aproximativo em direção às artes verbais indígenas, suas literaturas, assumimos
que a menor unidade de significado e de materialização da arte verbal para os povos indígenas é a
palavra, seja ela cantada (cantos), contada (narrativas) ou encantada (palavras de cura, rezas) ou
mesmo a estabelecida através das relações entre as diversas gentes dos cosmos e possibilitadas
pela arte, de forma que para o povo Makuxi, o termo mai e a sua forma possessiva maimu tanto
podem significar “língua” quanto palavra ou mesmo voz (AMODIO; PIRA, 2007; RAPOSO;
CRUZ, 2016; ARMELLADA; SALAZAR, 2007). Palavras que podem se diferenciar da
comunicação comum por fórmulas verbais, pela linguagem poética, pelo embelezamento por

1459
meio da música (tons e instrumentos musicais), pela vestimenta do artista, de maneira a expressar
sentimentos em forma literária, o que implica certo afastamento próprio da literatura
(FINNEGAN, 2016). Também nessa esteira de pensamento, recorremos a um estudioso das
poéticas orais, Paul Zumthor, para quem palavra é “linguagem vocalizada, realizada fonicamente
na emissão da voz” (ZUMTHOR, 2010, p. 11). Tornaremos a seus estudos mais adiante.
Além do mais, pensar as literaturas indígenas implica considerar um ponto comum entre os
diferentes povos (no Brasil, há mais de 300 povos) e que orienta “a construção do ser pessoal e
que cria uma relação de resistência que vai além do desejo individual”, a Memória
(MUNDURUKU, 2012, pp. 17-18).

A Memória é um vínculo com o passado sem abrir mão do que se vive no presente. É ela quem
nos coloca [os indígenas] em conexão profunda com o que nossos povos chamam Tradição.
[...] Tradição não é algo estanque, mas dinâmico, capaz de obrigar-nos a ser criativos e a
oferecermos respostas adequadas para as situações presentes. (MUNDURUKU, 2012, p. 18)

Essa Memória é transmitida pela palavra cujo “dono”, de acordo com Munduruku (2012), é a
anciã e o ancião, o avô e a avó, que sempre tiveram como meio preferencial para tal transmissão
a oralidade, que engloba muito mais que o signo verbal por envolver diversas manifestações
culturais como a dança, o canto, o grafismo, as preces e as narrativas tradicionais, preservando a
sabedoria dos ancestrais por meio da dinamicidade da Tradição. Por exemplo, é o “dono” da
palavra que conta “aos pequenos e pequenas que somos parte da natureza e que devemos nos

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comportar dignamente com ela para que a harmonia prevaleça e todos possamos viver a alegria
da fraternidade.” (MUDURUKU, 2012, p. 19)
Assim sendo, neste trabalho, assumimos a possibilidade que o termo palavra também represente
a potencialidade que as artes verbais indígenas têm tanto para a literatura quanto para o canto, já
que mesmo a chamada literatura ocidental e canonizada guarda em suas origens, no chamado
berço da cultura ocidental, Grécia, uma relação próxima com a música e a melodia, uma vez que,
como menciona Rocha:

Ainda sobre o termo “lírica”, gostaria de frisar que os poetas do período arcaico não usavam
essa palavra para designar aquilo que eles produziam. Esse adjetivo passou a ser usado,
provavelmente, a partir do período helenístico (que se estendeu, grosso modo, de 323 a 146 a.
C.), quando os gramáticos alexandrinos, principalmente Aristófanes de Bizâncio (circa 257 a
185-180 a. C.), precisaram classificar e organizar os textos que estavam armazenando na
Biblioteca de Alexandria. Ao invés de poesia “lírica”, os autores anteriores ao período
helenístico chamariam suas criações de poesia “mélica”, termo derivado de mélos, ou seja,
“canção”, ou mesmo mousiké, ōidé ou áisma, todas palavras que remetem à ideia do “canto”.
Sendo assim, talvez fosse melhor chamar a poesia lírica grega arcaica simplesmente de poesia
“mélica”, inclusive para evitar a confusão com a poesia lírica moderna, que tem suas
características próprias e bem diferenciadas. (ROCHA, 2012, p. 86)

Sobre literatura e canto, é interessante acrescentar que estudiosos de sociedades de cultura oral
ressaltam que a literatura se faz real quando é performada, ou seja, no momento em que o
contador de histórias, o cantor, ou ainda o artista performista expressa os textos literários para
uma audiência (FINNEGAN, 2012; SCHIPPER, 2016), de maneira a haver uma estreita conexão
entre a transmissão e a exata existência, fazendo com que essa literatura quando impressa perca o

1460 todo da expressão estética e poética (FINNEGAN, 2012). Tal expressão é caracterizada pela sua
variabilidade, que depende da audiência presente e também de seu enunciador, que, conforme a
ocasião, pode fazer inserções pertinentes, embelezar as palavras com música, com danças etc.
(FINNEGAN, 2016). Uma variabilidade, dependente da ocasião e da criação individual, não
encontrada na literatura escrita (fixada em suportes vários), mas que é característica marcante da
oralidade, o que gera questionamentos sobre a expressão estética, embora muitos pesquisadores
identifiquem o uso de técnicas e estilos complexos, que podem envolver padrões rítmicos,
metrificações, técnicas tonais, aliterações etc. (FINNEGAN, 2012, 2016). Em consonância, nos
estudos no circum-Roraima, em relação aos gêneros parixara e tukui, que “são ritmos intimamente
ligados à dança” (FIOROTTI, 2019, p. 23), Fiorotti (2019) afirma encontrar variações musicais e
em intercalamentos de versos e mesmo estrofes, muito mais que na letra do canto, conforme cada
cantor; variações essas perdidas no impresso.

O tukui iii

Retomada a relação entre canto e literatura para a chamada ocidentalidade, partimos para os
eremukon, produção verbo-artística Makuxi em cantos, e mais especificamente ao tukui. Fiorotti
(2019) discorrendo sobre a poeticidade dos cantos indígenas do circum-Roraima, região que
circunda o Monte Roraima, irá afirmar que

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[o] tukui ou tukuxi (como presente em algumas músicas, um uso mais antigo da palavra), significa
beija-flor, e são cantos em geral relacionados à sabedoria dos pajés, para se fazer intervenções na
natureza, como chamar chuva, acalmar trovões, e vale acrescentar que também eram dançados
coletivamente. Armellada e Salazar dizem que se formam duas rodas concêntricas, em que o tukui
era dançado por fora enquanto o parichara por dentro, além de se usar tambor e pitos de taquara
(2007, p. 148 e 203). O tukui está relacionado à flora, à floração, e pertencia principalmente aos
guerreiros e pajés sua dança. (FIOROTTI, 2019, p. 30)

Fiorotti ainda enfatiza que o tukui foi o gênero mais oprimido quando da chegada das religiões
cristãs às comunidades do circum-Roraima, justamente por estarem relacionados à figura do pajé
(ou do xamã, para outros povos), que tinha função tanto ligada à espiritualidade quanto à
organização social e política das comunidades indígenas. Além disso, Fiorotti relembra que muitos
dos interlocutores do projeto Panton Pia’ negaram-se a falar sobre o tukui, deixando subentendido
que as interdições relativas aos conhecimentos do pajé causadas pela chegada das religiões de
matriz judaico-cristãs foram de certo modo introjetadas no imaginário dos povos indígenas.
Há, entretanto, nesses cantos, algumas possibilidades de interpretação que deixam entrever parte
do que se tratava não apenas dos conhecimentos do pajé, mas uma forma diferenciada de
percepção dos mundos, das pessoas e, no limite, da arte para esses povos. Isso porque o tukui
também é um gênero dedicado a todas as aves e todos os peixes, além de estarem intimamente
relacionados às narrativas Makuxi (FERNANDES, 2015). Dentro das poéticas indígenas, em
especial, das registradas pelo projeto Panton Pia’, há um intenso jogo de multiplicidades e
potencialidades que se estendem indefinidamente pelos espaços e através das pessoas, não raro,
possibilitado pela arte. Artes essas, indígenas, como afirma Velthem (2010, p. 23), nas quais
também ousamos incluir as literaturas orais, são um campo que se expressa de diferentes formas

1461 e sua “experiência estética constitui elemento fundamental na transmissão de conhecimentos e de


valores sociais, por meio das quais pode ser definida sua especificidade, ou seja, a natureza ou a
essência de sua própria humanidade”.
Finnegan (2012, 2016) lembra ainda, acerca da literatura oral, que ela não se reduz à função de
ordem prática, mas mesmo que haja uma função social clara, não se exclui o interesse estético.
Assim, nesse jogo de multiplicidades e potencialidades, palmilhando o pensamento de Viveiros
de Castro (2015) com o multinaturalismo ou o perspectivismo ameríndio, admitimos para o tukui,
a possibilidade de que:

todos os animais e demais componentes do cosmos são intensivamente pessoas, virtualmente


pessoas, porque qualquer um deles pode se revelar (se transformar em) uma pessoa. Não se
trata de uma mera possibilidade lógica, mas de potencialidade ontológica. A “personitude” e a
“perspectividade” – a capacidade de ocupar um ponto de vista – são uma questão de grau, de
contexto e de posição, antes que uma propriedade distintiva de tal ou qual espécie. (VIVEIROS
DE CASTRO, 2015, pp. 45-46)

Com essa breve introdução do gênero tukui, canto de dança (SANTOS, 2018), passamos a analisar
tukui iii, presente em “Cantos e encantos: Meriná eremukon” (FIOROTTI, PEDRO, 2019). Tal
canto, como os outros da obra, cantados principalmente em Makuusi Maimu (língua Makuxi), “não
são de autoria de Meriná, mas são aqueles que aprendeu durante a vida, sendo a força interpretativa
e política na região das serras. Pertencem a uma produção coletiva ou cantos que se tornaram de
uso coletivo dos povos do circum-Roraima” (FIOROTTI; PEDRO, 2019, p. 9).

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tukui iii

eeserunpanenpîra wayuupa ekokomamîi


eeserunpanenpîra wayuupa ekokomamîi
eeserunpakî wayaura
eeserunpakî wayaura
eeserunpakî wayaura
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1462 eeserunpakî wayaura


eeserunpakî wayaura
eeserunpakî wayaura
óóóó
(FIOROTTI; PEDRO, p. 18)

a casa está triste


sem música triste
encontrei uma casa
canta wayaura
passarinho
(FIOROTTI; PEDRO, p. 19)

Vale destacar que a escrita desse tukui foi realizada por Fiorotti de maneira artística, introduzindo
uma disposição do texto na página que busca novos efeitos poéticos, tendo o objetivo de dialogar
com o mundo de movimento da dança e da música, no qual tal gênero tem origem (FIOROTTI;
PEDRO, 2019). Além disso, as repetições dos versos são registradas conforme a artista a
executou, já a tradução busca apresentar a imagem poética condensada (FIOROTTI; SILVA,
2019). Especialmente, a disposição do tukui iii pode aludir ao movimento do pássaro, à
transformação da casa/corpo, que está deixando a tristeza graças a presença do pássaro cantado.
Em uma visada ligeira, o canto diz de uma casa encontrada por um eu que pede ao passarinho
Wayaura (corrupião) que cante para alegrá-la. Porém, como mencionado anteriormente sobre o
perspectivismo ameríndio, podemos admitir uma extensão do eu tanto enquanto o sujeito da
poesia presente no verbo encontrar (encontrei), como poderíamos também relacionar esse sujeito

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com casa e passarinho, de forma que teríamos os desdobramentos: eu-sujeito, eu-casa, eu-
passarinho. Essa forma de extensão do eu é uma característica que se repete em outros ritmos dos
eremukon Makuusi, proporcionados pelo paralelismo sintático e semântico típicos dessas artes
verbais indígenas como Cesarino (2001) e Fiorotti (2018). já apontaram e como podemos ver no
canto a seguir:

Uweyupe wei tapi’se


[...]
Uipi sirîrî paapa
[...]
Tiwiyupe wei tapi’se
[...]
Kesera’ uyepî paapa
[...]
Uweyupe wei tapi’se
(FIOROTTI; SILVA, 2019, p. 96)

Estou vindo agarrado na luz do sol


Venho agora meu deus

Ela vem agarrada na luz do sol


A maniva está vindo meu deus

Venho agarrado na luz do sol


A maniva está vindo.
(FIOROTTI; SILVA, 2019, p. 97)

Quando analisamos o canto, os primeiros dois versos “Uweyupe wei tapi’se/ [...] Uipi sirîrî paapa

1463 – Estou vindo agarrado na luz do sol/ Venho agora meu deus” sugerem que o eu estaria
estabelecendo um deslocamento em que a luz do sol seria aquilo que o conduz de volta,
provavelmente num movimento descendente à terra, mas também sugere que mais que um
deslocamento poderia (re)estabelecer a relação de parentesco entre o eu e o sol, uma vez que “vir
agarrado” também pode ser interpretado enquanto nascer, como a expressão sinonímica “dar à
luz”, de certo modo reforçada pelo termo paapa, papai ou Deus, Senhor. Já o terceiro e quarto
versos o sujeito passa a ser a maniva que vem com a luz do sol e não podemos deixar de lado que
a raiz é uma planta exigente de sol pleno, ideais e vastamente cultivadas para o clima equatorial de
Roraima. Por último, os dois últimos versos realizam o paralelismo semântico de maneira mais
bem acabada, em que o desdobramento talvez seja melhor elucidado, pois que o eu e maniva
encontram-se então equalitariamente. Assim, esse eu do canto poderia ser compreendido tanto
como um eu sujeito humano como a própria maniva entoando o canto, fazendo com que essa
relação tanto solar quanto telúrica seja (re)estabelecida e mesmo (re)afirmada pelo canto, uma vez
que a cada execução do canto essa (re)conexão se atualiza através dos tempos.
O sol que pode também equivaler a “meu deus” ou na língua Makuusi, paapa, papai. De modo
que o indígena, o sol e maniva estabeleceriam uma aliança afetiva (COHN; KRENAK, 2015) que
sustém a vida e ressona através dos cantos pelos mundos e que desenvolve através dessa aliança
um sem fim de potencialidades para o humano e para o próprio mundo, o que leva o considerado
modo de pensar e fazer ocidental, inclusive a literatura, a realizar uma atualização conceitual, pois
a partir do canto podemos entrever uma multiplicidade que amplia tanto o eu.

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A performance de Vovó Bernaldina

Assim retomar o complexo de jogos do eu promovidos pelo tukui iii de Vovó Bernaldina e também
de como a aliança afetiva que sua execução se estabelece junto ao público que o presencia,
tornamos ao vídeo de sua performance disponibilizado no site Panton Pia’ (em Vídeos, “Eren
Macuxi – Koko Bernaldina”). Nele, ao longo de 03:05 minutos, Vovó Bernaldina realiza sua
performance (https://player.vimeo.com/video/296024578?h=451fc97eee). Por performance,
seguimos Paul Zumthor, para quem

a performance é a ação complexa pela qual uma mensagem poética é simultaneamente, aqui e
agora, transmitida e percebida. Locutor, destinatário, circunstâncias (quer o texto, por outra
via, com a ajuda de meios linguísticos, as represente ou não) se encontram concretamente
confrontados, indiscutíveis (ZUMTHOR, 2010, p. 31).

A despeito de tratar-se de uma gravação, ou seja, distancia-se espaço e temporalmente do


momento de sua execução originária, presentifica-se a gestualidade vocal e corporal de Vovó
Bernaldina, assim como apresenta-se sempre inédita ao público que nunca teve a oportunidade
de presenciar as performances de Vovó Bernaldina quando em vida.
Bernaldina inicia e termina o vídeo falando em Makuusi maimu, em língua Makuxi. Faz uma breve
apresentação acerca do que irá cantar e então inicia sua performance, munida de seu kewei, longo
chocalho, cujas sementes de aguaí - conforme uma visão de mundo outra e os conhecimentos que
lhe são próprios - somente são recolhidas do chão após o pedido de permissão à floresta e passam

1464 por uma defumação para adquirirem a sonoridade desejada (SANTA RITA, 2016) e, assim, são
amarradas em uma espécie de cajado de pau-pereira, segurado, nesta performance, por uma mão
enegrecida pela tintura de jenipapo (karutuke) feita por ela mesma mais cedo e com a qual também
desenhou grafismos no rosto, a cabeça ornada com um diadema de plumas vermelhas, amarelas
e pretas, colares de miçangas cruzados no peito. Assim, inicia seu canto cuja marcação do ritmo é
acompanhada pelo chocalho e que vai num crescente tanto na altura da voz de Vovó Bernaldina
quanto nas batidas do chocalho. Essa passagem de altura também é acompanhada pela frequência
e vigor com que ela dá as batidas do chocalho, alternando quando da emissão de cada uma das
palavras que compõem a poesia.
Neste ponto, vale ressaltar o que Zumthor (2010), discorrendo acerca das performances de povos
africanos que elegem como percussão primordial o tambor, afirma sobre a relevância desse tipo
de acompanhamento instrumental. Para ele, a percussão constitui, estruturalmente, uma
linguagem poética, em que a voz humana e o instrumento se relacionam de maneira indissociável,
“com vistas a uma obra comum significante” (ZUMTHOR, 2010, p. 211). Isso pode ser percebido
de maneira análoga quando nos voltamos à performance de Vovó Bernaldina. A cada repetição,
embora a frase geradora seja a mesma, o conjunto resultante entre voz, percussão e a própria
poesia ganham novas nuances aos sentidos de quem presencia a performance. Algo se cria e se
mobiliza no cerne dos sentidos do público, que é invadido pelas vibrações da voz e do
instrumento, no mesmo crescente da execução do canto, que subindo de altura o eleva de igual
maneira, tornando-se a si mesmo e ao público também corrupião que espanta a tristeza da casa,

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do corpo, essa arquitetura que abriga as potencialidade dos espíritos, tanto dela, Vovó Bernaldina,
quanto de quem a ouve, criando um complexo de afetos e afeições bem próximo do que Zumthor
identifica na passagem:

Na vibração da voz se estende, no limite da resistência, o fio que liga ao texto tantos sinais ou
índices retirados da experiência. O que resta ao poema de força referencial diz respeito à sua
focalização, no contato entre os sujeitos corporalmente presentes na performance: o portador
da voz e quem a recebe. A intimidade desse contato bastaria para estabelecer um sentido, como
no amor (ZUMTHOR, 2010, p. 178).

E não seria o canto uma forma de Vovó Bernaldina também provocar afeições, ou alianças
afetivas (COHN; KRENAK, 2015) em quem a ouve? Ou nos termos de Zumhtor de estabelecer
contato e intimidade, no limite amor, passando-se para dentro de nossa própria interioridade
através da voz e da arte? Podemos afirmar com menos dúvidas e mais sentidos que sim.

O corpo, a voz e a presença feminina: a mulher indígena que resiste pela voz

Falar sobre culturas indígenas na contemporaneidade traz uma reflexão de como canto, danças,
hábitos, costumes, crenças, oralidade, vestimenta, alimentação se faz necessária para que essas
culturas sejam disseminadas e reconhecidas pela sociedade. Neste sentido, os povos indígenas ao
mesmo tempo que acompanham a globalização e as mudanças da atualidade, percebem que se faz
necessário preservar suas culturas para mantê-las avivadas e alcançar as futuras gerações. Diante
desse esforço as mulheres indígenas assumem o protagonismo e a responsabilidade de disseminar

1465
esses conhecimentos por meio de sua oralidade, cantos, poesia e todas as formas de artes que
foram criadas ao longo dos anos ocupando o seu espaço dentro da literatura indígena.
No Brasil, a partir das décadas de 1960 e 1970, as lutas sociais emergem em defesa dos direitos
indígenas, tendo como foco a publicização das singularidades étnico-culturais, buscando enfatizar
como era a vivência indígena e a sua exclusão diante da sociedade, realizando denúncias acerca da
marginalização e violência, mas também defendendo que as culturas dos povos indígenas têm
muito a contribuir com as ciências, ressaltando que os saberes indígenas são conhecimentos
gerados através da prática em comunidade.

[...] [O] caso do contato cultural entre índios e brancos, o silenciamento produzido pelo Estado
não incide apenas sobre o que o índio, enquanto sujeito, faz, mas sobre a própria existência do
sujeito índio. E quando digo Estado, digo Estado brasileiro do branco. Estado que silencia a
existência do índio enquanto sua parte e componente da cultura brasileira. Nesse Estado, o
negro chega a ter uma participação. De segunda classe é verdade, mas tem uma participação, à
margem, o índio é totalmente excluído. No que se refere à identidade cultural, o índio não entra
nem como estrangeiro, nem sequer como antepassado (ORLANDI, 1990, p.55).

Assim, na luta pelo reconhecimento do direito à terra, na década de 1970 em Roraima, um


movimento surgiu revelando a articulação feminina no fortalecimento da luta indígena: o “Vai ou
racha”. Segundo a historiadora Elisangela Martins:

No ano de 1977, na comunidade do Maturuca, região das serras ao norte de Roraima, ocorreu
uma manifestação organizada pelas mulheres indígenas que ficou conhecida como “Vai ou
Racha”, documentada, pelo Padre Vincent Carelli no vídeo “Vai ou Racha! 20 anos de lutas”,

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de 1998. Segundo o vídeo, as mulheres indígenas, preocupadas com a desagregação familiar
resultante do alcoolismo, identificaram que este era causado sobretudo pelo contato cada vez
maior dos homens das aldeias com bebidas alcoólicas trazidas por garimpeiros. A manifestação
foi marcada pela mobilização feminina que, protestando com firmeza, pretendeu impedir a
entrada de garimpeiros e bebidas alcoólicas em sua comunidade. (MARTINS, 2014, p. 4)

Maturuca é a comunidade considerada coração político da Terra Indígena Raposa Serra do Sol,
que é uma das maiores em extensão territorial do Brasil e que obteve bastante publicidade com
sua homologação em área contínua já na primeira década dos anos 2000, em razão das discussões
sobre a desintrusão dos não-indígenas e dos produtores de arroz da região. Em tal comunidade,
Vovó Bernaldina residiu por muitos anos até seu falecimento.
Se de um lado os homens saíam para realizarem as assembleias em que iriam traçar estratégias
para tratar das negociações com as entidades políticas, as mulheres acabavam ficando em casa
cuidando das crianças, dos idosos e da roça como fica evidente na fala de dona Zenita Lima,
mulher indígena do povo Wapichana e falante de língua Makuxi, em entrevista ao Projeto Panton
Pia’ (no prelo):

ZL: Pra mim o acontecimento que eu não esqueço, hoje eu falo pro meu, pras minhas filhas
que, quando meu marido trabalhava por aí, que eu ficava abandonada, né, assim, eu sentia
abandono junto com meus filhos, mas eu entreguei a Deus.
DF: Mas na época ele tava no CIR, né?
ZL: Ele morou muito tempo, quatro ano fora daqui, né?
DF: Ahã!
ZL: Eu fiquei, mas eu nunca fiquei triste não.
DF: E como foi esse período?
ZL: Esse aí, porque ele gostava de trabalhar, gosta, agora não, que ele já tá nessa idade, ele não

1466 tem mais condição. Já é sempre eu falo que ele já tá cansado, né? Mas na época, quando ele era
novo assim, ele só vinha passar um dia comigo e voltava, então aí que eu achava assim, triste
dentro de mim, triste assim, aí meus filhos também passavam, né?
DF: Ahã!
ZL: E ele vinha passava um dia e voltava. Então, mas fora do que em casa, mas aí eu até hoje
nós estamos juntos ainda, né? Que é minha vida, que eu tô falando da minha vida.
DF: Justamente.
ZL: Que foi, é essa. Eu fui mãe, eu fui pai, graças a Deus, Deus abençoou a gente! Criei meus
filhos, resto dos filhos, em casa, da casa pra roça, meus filhos ia pra escola eu nunca deixei
faltar aula, tudo meus filhos sabe ler e escrever!
[...]
ZL: Ah, meu alimento, caso que, quando eu tava em casa, é farinha mesmo, farinha, beiju,
galinha que a gente criava, porco que a gente criava. A gente matava um porco, galinha. A gente
viveu com esse alimento que eu nunca, eu sou uma mulher que nunca fiquei assim com
dificuldade, eu sempre já corri atrás, eu nunca esperei pelo homem, né? Eu mesmo ia atrás e
conseguia, comia, eu nunca passei fome não.

O CIR (Conselho Indígena de Roraima) protagonizou um dos grandes movimentos que balizaram
as discussões que resultaram no reconhecimento da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e
posterior homologação. Zenita Lima e seu esposo Terêncio Luiz Silva, indígena Makuxi, foram
fundadores do CIR e em seguida do Alidecirr (Aliança de Integração e Desenvolvimento das
Comunidades Indígenas em Roraima), sendo ele, por isso, uma das lideranças indígenas no vórtice
do movimento indígena em Roraima. Na fala de dona Zenita é perceptível que o tempo dedicado
pelos homens à luta, acabava tendo de ser suprido pelas mulheres no ambiente doméstico e talvez
isso tenha feito com que elas tenham conseguido manter o contato com os falantes das línguas,

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notadamente os anciãos, e com os conhecimentos ditos tradicionais que em boa medida
alimentam os modos de conceber os mundos por parte dos indígenas. De forma que as mulheres
passaram a se articular inclusive em uma organização, a OMIR (Organização das Mulheres
Indígenas de Roraima), a partir de 1999 e bastante atuante ainda hodiernamente.
Nesse contexto social e político, ainda é importante ressaltar que em Roraima os índices de
homicídios praticados contra as mulheres atingiram os primeiros lugares em 2013, segundo dados
coletados pelo Mapa da Violência 2015 (WAISELFISZ, 2015). É importante esclarecer que a
partir do ano 2000 o IBGE, passou a considerar a população, por autodeclaração como branca,
preta, amarela, parda e indígena. Contudo, no Mapa da Violência 2015, são inseridas apenas duas
categorias: branca e negra, sendo esta última resultante da somatória de mulheres pretas e pardas.
De maneira que as mulheres indígenas estariam incluídas nessas estatísticas enquanto negras. De
toda forma, analisando o período entre 2003 e 2013, os dados do Mapa da Violência 2015 -
Homicídio de Mulheres no Brasil ainda revela o grande número de mulheres negras brasileiras
vítimas da violência de gênero. Durante o período analisado o número de homicídios de mulheres
brancas caiu de 1.747 vítimas, em 2003, para 1.576, em 2013, representando o decréscimo de 9,8%
no total de homicídios do período. De outra mão, os homicídios perpetrados contra mulheres
negras aumentam 54,2% no mesmo período, passando de 1.864 para 2.875 vítimas.
Embora se reconheça que houve avanços significativos na prevenção e no enfrentamento das
situações de discriminação e violência contra as mulheres indígenas acometidas pelos não
indígenas, todavia, no contexto intraétnico, não houve a mesma modificação, seja nas relações
conjugais ou familiares (CASTILHO, 2008). Na análise ilustre de Marilyn Strathern (2006) em o

1467
Gênero da Dádiva as desigualdades entre os sexos têm sido interpretadas como um fenômeno
universal. Comparando questões da dominação masculina entre as culturas, Strathern enfatiza que
todas as categorias de coisas ou pessoas são determinadas pelo gênero. Os homens controlam as
mulheres com uma suposta forma de poder e dominação.
Em 2009 uma menina indígena Sateré-Mawé no Estado do Amazonas foi violentada sexualmente
e assassinada pelo próprio pai também indígena. Levando em consideração as trajetórias das
mulheres indígenas dessa etnia em relação às evidências de violência doméstica que sofrem e as
formas de enfrentamento, Milena Fernandes Barroso (2012) realizou uma abordagem perceptiva
de algumas delas. Embora desconheçam o significado jurídico de violência física, psicológica e
sexual, os casos são constantes, seus relatos exprimem as consternações vivenciadas no cotidiano
da comunidade.
Diante desse panorama, a presença de uma mulher indígena e idosa executando seu canto na
língua indígena de seu povo, como é o caso de Vovó Bernaldina, que possuía em seu repertório
“Cantos da homologação” relacionados à finalização do processo de demarcação da Terra
Indígena Raposa Serra do Sol, revela a resistência na luta não apenas pelo direito à terra, mas pelo
direito de existir, de fazer arte e o direito à diferença em si, não somente na forma de perceber o
mundo, mas os mundos e as gentes em toda sua multivalência e que que lhes foram violentamente
negados desde a invasão dos colonizadores. Nesse conjunto, a literatura, a arte verbal, o direito a
fazer arte, a seus modos, junto com a palavra foi um desses direitos negados. Márcia Kambeba,
indígena do povo Omágua-Kabemba, poeta e geógrafa enfatiza:

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Na literatura indígena, a escrita, assim como o canto, tem peso ancestral. Diferencia-se de
outras literaturas por carregar um povo, história de vida, identidade, espiritualidade. Essa
palavra está impregnada de simbologias e referências coletadas durante anos de convivência
com os mais velhos, tidos como sábios e guardiões de saberes e repassados aos seus pela
oralidade. Não quero dizer aqui que a prática da oralidade tenha se cristalizado no tempo. Essa
prática ainda é usada, pois é parte integrante da cultura em movimento. À noite o indígena
sonha com o que vai ser escrito ou com a música a ser cantada com os guerreiros da aldeia.
Acredita-se que quem escreve recebe influências de espíritos ancestrais, dos encantados, por
isso a literatura dos povos da floresta é percebida com um valor material e imaterial.
(KAMBEBA, 2020, p. 40)

Kambeba deixa claro que os valores espirituais e rituais estão presentes na literatura,
demonstrando seu potencial cognitivo e ressaltando os seus valores espirituais e rituais da
literatura, atravessada pelo potencial simbólico dos sonhos e das orientações dos ancestrais. A
geógrafa enfatiza também sobre alguns indígenas que vivem atualmente de forma diferente, que
buscaram estar em sintonia com o que a sociedade exige:

Hoje, temos indígenas que se utilizam das redes sociais, blogs e páginas de cunho literário que
são visualizadas todos os dias. Nasce outra ferramenta, se bem usada, de divulgação do
pensamento indígena. Aos poucos vai-se ganhando um público leitor nas redes virtuais para
uma literatura virtual, com o mesmo peso que a literatura publicada em papel. (KAMBEBA,
2020, p. 42)

Nesse sentido, observa-se que a literatura indígena passa a ser conhecida de uma forma mais
ampla, quando existe essa divulgação por meio das tecnologias digitais de informação e
comunicação. Nota-se que aos poucos os indígenas estão ocupando o seu espaço e o que era

1468 somente de conhecimento dos indígenas e de alguns estudiosos passam a ser percebido por
pessoas que buscam conhecer a realidade e os costumes indígenas e como diz Ailton Krenak
(2019), buscam algumas ideias para adiar o fim do mundo e estender nossa breve passagem por
essas terras.

Referências

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