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Linearização e Polinômio de Taylor

Pedro Lucas Noleto

1 Linearização
Seja uma função f : I ∈ R → R e um ponto A(x0 , f (x0 )), a equação de uma
reta que passa por A é da forma y = f (x0 ) + m(x − x0 ). Se o coeficiente angular
m da reta é igual ao coeficiente da reta tangente de f em x = x0 . Assim, a reta
pode ser representada por

P1 (x) = f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 )

P1 (x) será, então, uma aproximação para f (x) em x = x0 . Para verificar se


P1 (x) é realmente a melhore reta, considere

E1 (x) = f (x) − P1 (x)


E1 (x) f (x) − (f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 ))
=
x − x0 x − x0
E1 (x) f (x) − f (x0 ) f ′ (x0 )(x − x0 )
= −
 x − x0
 x − x 0 x − x0
E1 (x) f (x) − f (x0 )
lim = lim − lim (f ′ (x0 ))
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0 x→x0
 
E1 (x)
lim = f ′ (x0 ) − f ′ (x0 )
x→x0 x − x0
 
E1 (x)
lim =0
x→x0 x − x0

Como, quando o erro x → x0 , E1 (x) vai mais rápido para 0 do que x − x0 ,


P1 (x) é a melhor reta de aproximação de f (x).
Podemos notar, também, que se x = x0 , temos P1 (x) = f (x). Contudo, a
medida que x se distancia da vizinhança de x0 , a aproximação de P1 (x) para
f (x) se distancia também. Podemos definir, então, uma função erro E1 (x),
onde E1 (x) = f (x) − P1 (x) que determina os erros da aproximação da função
linear P1 (x) em relação a função original f (x). Graficamente, temos
A função E1 (x) não está representada na figura, mas podemos perceber que
se tomarmos x mais distantes de x0 , a diferença entre o valor real da função e
o valor da aproximação, dado por P1 (x) fica maior.
Figura 1 – Representação de f (x) e P1 (x)

Exemplo: Determine uma aproximação, utilizando linearização, de f (0, 2)


em f (x) = e2x .

Solução

Para aproximar a função, considere x0 = 0 na função linear P1 (x) = f (x0 ))+


f ′ (x0 )(x − x0 ). Temos, então

f (x0 ) = e2·0 = 1
f ′ (x) = 2 · e2x ⇒ f ′ (x0 ) = 2 · e2·0 = 2

Assim, P1 (x) = 1 + 2 · (x − 0) ⇒ P1 (x) = 2x + 1. Fazendo x = 0, 2, temos


que T (0, 2) = 1, 4. Logo, f (0.2) ≈ 1, 4

2 Polinômio de Taylor
Muitas vezes, uma reta não representa a melhor aproximação para uma função.
Assim, precisamos de uma outra função para isso. Considere, então o teorema
abaixo.
Teorema: Seja f uma função derivável até a segunda ordem no intervalo
aberto ]x0 , x[∈ I, então existe pelo menos um x̄ em I, tal que:

f ”(x0 )
P2 (x) = f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 ) + · (x − x0 )2
2
Onde E2 (x) = f (x) − P1 (x), e se x = x0 , E2 (x0 ) = 0. Assim, queremos
f ”(x0 )
mostrar que E2 (x) = (x − x0 )2
2
Demontração:

E2 (x) E2 (x) − E2 (x0 )


= onde g(x) = (x − x0 )2 é uma função auxiliar
g(x) g(x) − g(x0 )
E2 (x) − E2 (x0 )
E2 (x) x − x0 E2′ (c)
= = ′ Pelo Teorema do Valor Médio
g(x) g(x) − g(x0 ) g (c)
x − x0
E2 (x) E2 (c) − E2′ (x0 )

= ′ ′
Pois, E2′ (x0 = 0 e g ′ (x0 ) = 0
g(x) g (c) − g (x0
E2 (x) E2′′ (x̄)
= ′′
g(x) g (x̄)
E2′′ (x̄) · g(x)
E2 (x) =
g ′′ (x̄)
f ′′ (x̄)(x − x0 )2
E2 (x) = 2
2
f ”(x0 )
Como querı́amos provar, E2 (x) = (x − x0 )2 .
2
Para um aproximações com um Polinômio de ordem variadas, temos

1. Ordem 1, onde P1 (x) = A + B(x − x0 )

f (x) = P1 (x) em x = x0
f (x0 ) = P1 (x0 )
f ′ (x0 ) = P1′ (x0 )

Quando, x = x0

a) f (x0 ) = A + B(x0 − x0 ) ⇒ f (x0 ) = A


d
b) f ′ (x0 ) = [A + B(x − x0 )] ⇒ f ′ x0 ) = B
dx
Logo, P1 (x) = f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 )
2. Ordem 2, onde P2 (x) = A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2

f (x) = P2 (x) em x = x0
f (x0 ) = P2 (x0 )
f ′ (x0 ) = P2′ (x0 )
f ′′ (x0 ) = P2′′ (x0 )

Quando, x = x0

a) f (x0 ) = A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 ⇒ f (x0 ) = A


d 
b) f ′ (x0 ) = A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 ⇒ f ′ (x0 ) = B

dx
′′ d2  
c) f (x) = 2 A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2
dx
′′ f ′′ (x0 )
⇒ f (x0 ) = 2C ⇒ =C
2
f ”(x0 )
Logo, P2 (x) = f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 ) + · (x − x0 )2
2
3. Ordem 3, onde P3 (x) = A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3

f (x) = P2 (x) em x = x0
f (x0 ) = P3 (x0 )
f ′ (x0 ) = P3′ (x0 )
f ′′ (x0 ) = P3′′ (x0 )
f ′′′ (x0 ) = P3′′′ (x0 )

Quando, x = x0

a) f (x0 ) = A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3


⇒ f (x0 ) = A
d 
b) f ′ (x) =

A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3
dx
⇒ f ′ (x0 ) = B
′′ d2  
c) f (x0 ) = 2 A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3
dx
′′ f ′′ (x0 )
⇒ f (x0 ) = 2C ⇒ =C
2
′′′ d3  
d) f (x0 ) = 3 A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3
dx
′′′ f ′′ (x0 )
⇒ f (x0 ) = 6C ⇒ =D
6
′ f ′′ (x0 ) 2 f ′′ (x0 )
Logo, P3 (x) = f (x0 ) + f (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 ) + (x − x0 )3
2 6
4. Ordem 4, onde P4 (x) = A+B(x−x0 )+C(x−x0 )2 +D(x−x0 )3 +E(x−x0 )4

f (x) = P2 (x) em x = x0
f (x0 ) = P2 (x0 )
f ′ (x0 ) = P2′ (x0 )
f ′′ (x0 ) = P2′′ (x0 )
f ′′′ (x0 ) = P2′′′ (x0 )
(4)
f (4) (x0 ) = P4 (x0 )

Quando, x = x0

a) f (x0 ) = +B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3 + E(x − x0 )4


⇒ f (x0 ) = A
d 
b) f ′ (x0 ) =

A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3 + E(x − x0 )4
dx
⇒ f ′ (x0 ) = B
′′ d2  
c) f (x0 ) = 2 +B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3 + E(x − x0 )4
dx
′′ f ′′ (x0 )
⇒ f (x0 ) = 2C ⇒ =C
2
d3 
d) f ′′′ (x0 ) = 3 +B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3 + E(x − x0 )4

dx
f ′′′ (x0 )
⇒ f ′′′ (x0 ) = 6D ⇒ =D
6
d4  
e) f (x0 ) = 4 A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3
4
dx
4 f 4 (x0 )
⇒ f (x0 ) = 24E ⇒ =E
24
′ f ′′ (x0 ) 2 f ′′′ (x0 )
Logo, P4 (x) = f (x0 )+f (x0 )(x−x0 )+ (x−x0 ) + (x−x0 )3 +
2 6
f 4 (x0 )
(x − x0 )4
24
Até a 4° ordem de derivadas, podemos perceber um padrão em relação à
ordem, potência e divisão dos termos no polinômio.
Potência e derivada 1, dividimos por 1
Potência e derivada 2, dividimos por 2 · 1
Potência e derivada 3, dividimos por 3 · 2 · 1
Potência e derivada 4, dividimos por 4 · 3 · 2 · 1
Potência e derivada n, dividimos por n!
De maneira geral,
f ”(x0 ) f (n) (x0 )
Pn (x) = f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 ) + · (x − x0 )2 + ... + · (x − x0 )n
2 n!
n  (n)
f · (x − x0 )n
X 
Pn (x) =
i=0
n!

3 Exemplos
Determine o Polinômio de Taylor de Ordem 2 das funções abaixo no x0 deter-
minado.

1. f (x) = ln(x), x0 = 1
Solução
Para aproximar a função com P2 , teremos que encontrar f (x0 ), f ′ (x0 ) e
f ′′ (x0 ).
f (x0 ) = ln(1) = 0
1 1
f ′ (x) = ⇒ f ′ (x0 ) = = 1
x 1
′′ −1 ′ −1
f (x) = 2 ⇒ f (x0 ) = 2 = −1
x 1
(−1) 2 (x − 1)2
Assim, P2 (x) = 0 + 1 · (x − 1) + (x − 1) ⇒ P2 (x) = x − 1 − .
2 2

π
2. f (x) = cos(x), x0 =
4
Solução
Para aproximar a função com P2 , teremos que encontrar f (x0 ), f ′ (x0 ) e
f ′′ (x0 ).
Figura 2 – Representação gráfica de f (x) = ln(x) e P2 (x) em x0 = 1

π  √
2
f (x0 ) = cos =
4 2 √
π − 2
f ′ (x) = −sen(x) ⇒ f ′ (x0 ) = −sen ⇒
4 2√
π  − 2
f ′′ (x) = −cos(x) ⇒ f ′′ (x0 ) = −cos ⇒
4 2
√ √ √
2 − 2  π 1 − 2  π 2
Assim, P2 (x) = + · x− + · x−
√ 2√  2 √ 4 2 2 4
2 2 π 2 π 2
⇒ P2 (x) = − x− − x− .
2 2 4 4 4

π
Figura 3 – Representação gráfica de f (x) = cos(x) e P2 (x) em x0 =
4

x
3. f (x) = e 2 em x0 = 0 e x0 = 1
Solução para x0 = 0
Encontrando f (x0 ), f ′ (x0 ) e f ′′ (x0 ).
0
f (x0 ) = e 2 = 1
1 x 1 0 1
f ′ (x) = · e 2 ⇒ f ′ (x0 ) = · e 2 ⇒ f ′ (x0 ) =
2 2 2
′′ 1 x ′′ 1 0 1
f (x) = · e 2 ⇒ f (x0 ) = · e 2 ⇒
4 4 4

1 1 1 2 x x2
Assim, P2 (x) = 1 + · (x − 0) + · (x − 0) ⇒ P2 (x) = 1 + + .
2 4 2 2 8

x
Figura 4 – Representação gráfica de f (x) = e 2 e P2 (x) em x0 = 0

Solução para x0 = 1
Encontrando f (x0 ), f ′ (x0 ) e f ′′ (x0 ), temos
1 √
f (x0 ) = e 2 = e √
1 x 1 1 e
f ′ (x) = · e 2 ⇒ f ′ (x0 ) = · e 2 ⇒ f ′ (x0 ) =
2 2 2√
1 x 1 1 e
f ′′ (x) = · e 2 ⇒ f ′′ (x0 ) = · e 2 ⇒ f ′′ (x0 ) =
4 4 4
√ √
√ e 1 e
Assim, P2 (x) = e + · (x − 1) + · · (x − 1)2
√ 2 √ 2 4 2
√ e · (x − 1) e(x − 1)
⇒ P2 (x) = e + + .
2 8

1
4. f (x) = em x0 = 0 e x0 = 1
1+x
Solução para x0 = 0
Encontrando f (x0 ), f ′ (x0 ) e f ′′ (x0 ).
x
Figura 5 – Representação gráfica de f (x) = e 2 e P2 (x) em x0 = 1

1
f (x0 ) = =1
1+0
−1 −1
f ′ (x) = 2
⇒ f ′
(x 0 ) = 2
⇒ f ′ (x0 ) = −1
(1 + x) (1 + 0)
2 2
f ′′ (x) = 3
⇒ f ′′
(x 0 ) = 3
⇒ f ′′ (x0 ) = 2
(1 + x) (1 + 0)
1
Assim, P2 (x) = 1 + (−1) · (x − 0) + 2 · (x − 0)2 ⇒ P2 (x) = 1 − x + x2 .
2

1
Figura 6 – Representação gráfica de f (x) = e P2 (x) em x0 = 0
1+x

Solução para x0 = 1
Encontrando f (x0 ), f ′ (x0 ) e f ′′ (x0 ), temos
1 1
f (x0 ) = =
1+1 2
−1 −1 1
f ′ (x) = ⇒ f ′
(x 0 ) = ⇒ f ′
(x0 ) = −
(1 + x)2 (1 + 1)2 4
2 2 1
f ′′ (x) = 3
⇒ f ′′ (x0 ) = 3
⇒ f ′′ (x0 ) =
(1 + x) (1 + 1) 4
1 (−1) 1 1
Assim, P2 (x) =+ · (x − 1) + · (x − 1)2
2 4 4 2
1 1 − x (x − 1)2
⇒ P2 (x) = + + .
2 4 8

1
Figura 7 – Representação gráfica de f (x) = e P2 (x) em x0 = 1
1+x

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