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Introdução à Ciência Polí ca LPES – 1ºAno

Adaptação da obra de Niccolò Machiavelli aos


desafios complexos do Séc. XXI
Trabalho escrito de Introdução à ciência política

Docente: Cláudia Araújo

0394 – Política, Economia e Sociedade

Índice

I. Introdução....................................................................................2
II. Análise da complexa realidade do Séc. XXI..............................3
III. Adaptação de Maquiavel à complexa realidade do Séc. XXI
1. Ética e confiança na política................................................................4
2. Relações internacionais saudáveis......................................................4
IV. Conclusão .....................................................................................5

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João Pedro Silva Mata
Introdução à Ciência Polí ca LPES – 1ºAno

I. Introdução

Niccolò Machiavelli foi um autor político nascido no século XV, conhecido pela sua visão
pragmática acerca da política. Para entender esta visão de Maquiavel, há que entender
primeiro o contexto em que viveu.

Nasceu e viveu em Florença, atualmente pertencente à Itália, que na altura era uma cidade
estado, governada por elites comerciais e fundiárias (os Médici)

“Existia em Florença uma instabilidade constante, com lutas internas pelo poder, lutas
externas com cidades-estado vizinhas e com Estados-Nação imperialistas, declínio
comercial e agitação social.” O Estrugido perfeito que ajudou a formular as ideias de
Maquiavel.

Maquiavel é frequentemente considerado o pioneiro do realismo político, ao se afastar de


abordagens idealistas para oferecer uma visão pragmática e baseada na observação
empírica dos eventos políticos. A Sua obra mais conhecida, "O Príncipe," é um guia
pragmático para governantes sobre como manter e consolidar o poder. Maquiavel aborda
a política de maneira objetiva, destacando que os governantes se devem focar em
resultados eficazes, mesmo que isso envolva métodos controversos. Desafia, também, as
noções tradicionais de moralidade na política. Ele argumenta que, em alguns casos, os
líderes devem agir imoralmente para garantir a estabilidade e a segurança do Estado. A
sua intemporal máxima "os fins justificam os meios" reflete essa abordagem. Para
Maquiavel, a estabilidade e a ordem eram fundamentais para a governabilidade. A visão
de Maquiavel sobre a política interna passa muito pela segurança: “os princípios básicos
são as boas leis e as boas armas”; “Não pode haver boas leis onde não haja boas armas”
sendo as boas armas, exércitos de cidadãos leais ao príncipe; e as boas leis, leis criadas
pelo príncipe para assegurar manutenção do poder. Já no que toca à política externa, a
visão de Maquiavel exprime-se muito através de conflitos armados “Um príncipe não
deve ter outro objetivo ou pensamento, nem selecionar qualquer outra coisa para seu
estudo, do que a guerra e suas regras e disciplina … não há nada proporcional entre o
armado e o desarmado; e não é razoável que aquele que está armado deva obedecer
voluntariamente àquele que está desarmado, ou que o homem desarmado esteja seguro
entre os servos armados ... O Príncipe nunca deve, portanto, ter fora dos seus
pensamentos este assunto de guerra…”. Esta visão de Maquiavel é um mero reflexo do

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contexto de constante perigo de invasão que a cidade de Florença vivia, fazendo com que
a escalada armada fosse uma solução útil naquele contexto.

II. Análise da complexa realidade do Séc.XXI

É cada vez mais crescente a desconfiança nos órgãos políticos, o que causa uma reação
em cadeia perigosa para a democracia. A desconfiança gera fadiga democrática que por
sua vez tem dois resultados ameaçadores à democracia, a abstenção em massa e a
ascensão de partidos populistas / com tendências antidemocráticas.

Figura 1 - Eleitores nas eleições para a Assembleia da República: total, votantes e abstenção. Dados: PORDATA

Figura 2 - Resultados eleitorais do Par do CHEGA nas Eleições Legisla vas.

Estes dados (figura 1) são relativos ao número total de eleitores, votantes e abstenção, nas
eleições para a assembleia da república, uma das mais, senão a mais, relevante eleição no
nosso regime semipresidencial. Como é possível observar, por mais que o número total
de eleitores esteja em constante crescimento, a abstenção está a convergir com o número
de votantes, tendo ultrapassado em 2019. Já na figura 2, é possível observar o rápido

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crescimento do partido CHEGA, um partido com uma estratégia populista, e muitos


fundamentos ideológicos considerados antidemocráticos por muitos, que conseguiu nas
últimas eleições legislativas um 3º lugar, na segunda eleição legislativa do partido. Vale
ressaltar que Portugal não é um caso isolado, a elevada abstenção e a rápida ascensão de
partidos e políticos populistas e com tendências antidemocráticas tem se observado ao
redor do mundo, como nos EUA, com a vitória de Donald Trump, o Brasil com o
Bolsonaro, a Polónia com o governo do PiS, a Hungria com o Órban, e até recentemente
os Países Baixos com a vitória do PVV de Wilders. O possível motivo para isto é a fadiga
democrática, resultante da falta de confiança na comunidade política, desconfiança essa
causada muitas vezes por escândalos de corrupção, ou pelo facto da maioria dos políticos
de sucesso serem inspirados fortemente pelas obras de Maquiavel.

III. Adaptação de Maquiavel à complexa realidade do Séc. XXI

A adaptação da obra e das ideias de Niccolò Machiavelli ao nosso Séc.XXI que farei
passará essencialmente por 2 objetivos fundamentais da política atual:

1. Ética e confiança na política


2. Relações internacionais saudáveis

1. Ética e confiança na Política

A obra de Maquiavel é, até à atualidade uma espécie de “guia político” não direcionado
ao desenvolvimento da sociedade, mas sim à durabilidade dos governantes. Este aspeto é
fundamental para perceber o que adaptar.

A máxima “os fins justificam os meios” e a mentalidade de manter o poder a qualquer


custo, separando a ética e a moral da ação política são estratégias boas para manter um
governo muito tempo no poder, mas são ameaçadoras à democracia, ao desenvolvimento
sustentável das sociedades e a gestão eficaz de recursos.

2. Relações internacionais saudáveis

Os ideais de Maquiavel no que toca às Relações Internacionais são focados na defesa


nacional e na escalada ao armamento e militarização, dado o contexto onde estava
inserido Maquiavel e Florença. Maquiavel justifica esta posição dizendo que “os

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princípios básicos são as boas leis e as boas armas (...) Não pode haver boas leis onde
não haja boas armas”.

Por mais que a posição de Maquiavel acerca das R.I. seja totalmente justificada devido
às más relações entre os estados vizinhos a Florença, atualmente existe, principalmente
no mundo ocidental, uma realidade totalmente paralela à do povo Fiorentino, o mundo
mais globalizando em que vivemos proporcionou vários acordos de paz e um sentimento
generalizado de complacência e entreajuda, tentando evitar ao máximo conflitos armados,
com o objetivo de crescimento económico generalizado. Por isto mesmo, uma boa
estratégia na área das R.I. para todas as partes envolvidas é a cedência de interesses em
negociações, tal como o encorajamento de trocas comerciais, de forma a produzir um
desenvolvimento sustentável das comunidades globais.

IV. Conclusão

Em síntese, a obra de Maquiavel, apesar de sua origem no Renascimento italiano,


permanece como uma bússola útil para navegar pelos complexos desafios políticos
modernos. É realista dizer que as obras do escritor florentino são intemporais, e até hoje
são uma referência para os governantes mundo a fora. Maquiavel tem como um dos seus
grandes méritos, saber quase como ninguém, como funciona o ser humano, explorando
todos os pontos negativos incluídos nessa análise de forma perfeita, o que explica o
tamanho alvoroço causado na sua época, tal como a intemporalidade da sua obra. Pelo
seu trabalho ser ainda tão influente e incisivo, é necessária esta atualização para a
realidade complexa dos dias de hoje, para conseguirmos usar esta – quase extinta, mas
sobretudo necessária – visão pragmática de Maquiavel.

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João Pedro Silva Mata

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