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UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO CASA-ESCRITÓRIO

ARQUITETURA DO
TRABALHAR EM CASA

CLARA PETERS FERNANDA FREITAS JULIA LOURENÇO NATALIA TELENT VICTORIA CORREIA
UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO CASA-ESCRITÓRIO

ARQUITETURA DO
TRABALHAR EM CASA

FAU MACKENZIE
UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO CASA-ESCRITÓRIO

CLARA PETERS FERNANDA FREITAS JULIA LOURENÇO NATALIA TELENT VICTORIA CORREIA
CLARA PETERS
FERNANDA FREITAS
JULIA LOURENÇO
NATALIA TELENT
VICTORIA CORREIA

ARQUITETURA DO TRABALHAR EM CASA


uma análise da relação casa-escritório

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE SEMESTRE PELA


UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
ORIENTADOR(A) : MARIA ISABEL IMBRONITO

São Paulo - arquitetura e urbanismo - 2021/2


Sumário

Introdução.................................................................................11

capítulo 1................................................................................... 15
Casa e Estúdio Vila Romana

Capítulo 2.................................................................................. 25
Casa Antônio Junqueira

capítulo 3................................................................................. 33
Residência e Estúdio Oswaldo Bratke

capítulo 4................................................................................ 41
Casa da Arquiteta Maria Luiza Corrêa

capítulo 5................................................................................ 47
Casa Carapicuíba

Conclusão............................................................................... 56

Bibliografia............................................................................ 57

10
Introdução
Relação Casa-Escritório

O chamado "home office" (escritório em casa), surge nos Estados


Unidos em 1857 com o uso do telégrafo. Mas somente na década
de 1970 durante a crise do petróleo é que ele ganha força, devido
aos gastos relacionados ao deslocamento até o trabalho,
apresenta-se como alternativa viável e interessante. Isso se
estende até hoje, século XXI, em que a internet de alta velocidade
se tornou um item de extrema importância para grande maioria dos
países, e com a facilitação do uso e da transmissão de informações
houve um crescimento no ato de trabalhar em casa.

A relação intrínseca (casa-escritório) tornou-se essencial na


contemporaneidade. Em tempos de isolamento social e prevenção
contra o vírus, houve a necessidade de um espaço de trabalho em
casa. Nesse contexto, mais uma vez a melhor solução foi o home-
office: segundo o IBGE, 11% dos trabalhadores brasileiros frente à
pandemia fizeram seus expedientes em casa.

Entretanto, esta solução muitas vezes vista como libertadora,


confortável e sempre a melhor opção de trabalho precisa ser
analisada com cuidado. Pois uma vez que há a possibilidade de
trabalhar em casa, existe também a possibilidade de passar o dia
todo conectado ao trabalho, sempre disponível para exercer sua
função. Mas até que ponto isto é de fato confortavel e libertador ?
Se as horas de trabalho não existem, é muito improvável que o
trabalho seja separado do lazer e descanso que queremos e
precisamos ter no ambiente em que moramos.

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INTRODUÇÃO - RELAÇÃO CASA-ESCRITÓRIO

Assim sendo, ao combinar casa e escritório , é necessário que


simultaneamente ao conforto e proximidade do lar, tenha-se a
privacidade e profissionalidade de um espaço dedicado ao ofício. E
para isso, o projeto precisa ser executado a partir de uma boa
estratégia que lembre ao morador que deve haver disciplina para
que mesmo no conforto de sua casa ele não desfoque do trabalho.

Uma das concretizações projetuais dessa relação casa-escritório é


o primeiro projeto de Philip Johnson, a Residência Booth Bedford.
Realizado em 1946, Nova York, caracteriza-se por uma estrutura
pavilhonar com elementos principais em alvenaria e vidro. A obra
desenha uma explícita relação com os princípios modernistas, por
meio da planta aberta, circulação contínua, luz em abundância e
integração com o meio natural. Apesar do volume único e
retangular que assume o corpo principal da residência, há uma
composição interessante de formas, contando com um bloco
subterrâneo, paredes circulares na extremidade do retângulo e um
escritório a parte em meio ao jardim.

interior do estúdio

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INTRODUÇÃO - RELAÇÃO CASA-ESCRITÓRIO

Booth House foto externa

Nesta direção, a casa conta com um elemento que promove os


benefícios de exercer a ocupação em casa. A divisão integrada dos
espaços de habitação e trabalho conforma-se como uma solução
eficiente. O objetivo a ser atingido é que, simultâneo ao conforto e
proximidade do lar, tenha-se a privacidade e profissionalidade de
um espaço dedicado ao ofício. Essa dinâmica porém, envolve um
desafio, já que há duas funções, o indivíduo que usufrui do espaço
deve ter certa disciplina para que mesmo no conforto de sua casa
ele não desfoque do trabalho, por isso embora compartilhem do
mesmo imóvel, exigem uma separação inteligente a partir de uma
boa estratégia projetual.

Diante disso, foi selecionado um conjunto de cinco casas brasileiras


que apresentam esse vínculo casa-escritório a partir de inteligentes
estratégias de projeto, são elas: Casa e Estúdio Vila Romana, Casa
Antônio Junqueira, Residência e Estúdio Oswaldo Bratke, Casa da
Arquiteta Maria Luiza Corrêa e Casa Carapicuíba.

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INTRODUÇÃO - RELAÇÃO CASA-ESCRITÓRIO

Planta Booth Bedford

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Capítulo 1
Casa e Estúdio Vila Romana
clara ralston peters
Capítulo 1 - Casa e estúdio vila romana

Construída no ano de 2006 por MMBB Arquitetos, a Casa e Estúdio


Vila Romana localiza-se na cidade São Paulo e conta com uma área
construída de 290 m². Projetada para um artista plástico, consiste
em um duplo programa, casa e estúdio, dispostos espacialmente
juntos, mas funcionalmente separados: divide-se em dois blocos
posicionados verticalmente; um bloco superior de habitação e um
estúdio inferior e semienterrado, conectados por escada e
separados por uma área de vão livre com pilotis.

maquete "casa e estúdio vila romana" - fotos de nelson kon

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Capítulo 1 - Casa e estúdio vila romana

O terreno de construção corresponde à 435 m² com alta declividade


(10 m de desnível) e vizinhos de grandes encostas sem recuos; é
beneficiado, no entanto, de frentes privilegiadas: ruas calmas e
arborizadas, um largo na esquina e uma ampla vista do vale do Rio
Tietê.

solário e caixa dágua "casa e estúdio vila romana" - fotos de nelson kon

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Capítulo 1 - Casa e estúdio vila romana

Nesse contexto, a solução arquitetônica desenvolveu-se por meio


de uma volumetria regular de concreto maciço, grandes aberturas
horizontais e um vão central entre os blocos, conferindo ao
conjunto um sentido de unidade no contexto da quadra. Quanto à
solução topográfica, a casa foi projetada de forma a ser enterrada,
alinhada e elevada.

maquete "casa e estúdio vila romana" - fotos de nelson kon

O acesso ao edifício encontra-se alinhado com a parte mais alta do


terreno e se dá pelo intervalo entre os blocos, em meio a quatro
pilotis e uma escada em cascata de acesso à parte residencial.

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19
Capítulo 1 - Casa e estúdio vila romana

No contexto do duplo programa, tem-se: a parte residencial (bloco


superior) com planta compactada em um nível, contando com
empenas em balanço sem papel estrutural, grandes janelas em fita
(transparentes ou com brise) para desfruto da vista; de modo a
proporcionar simplicidade e conforto à vida doméstica.

A planta habitacional consiste em uma cozinha comprida separada


da sala de estar, jantar e de T.V (e o quarto de casal em um
cômodo separado) por um nicho retangular contendo uma escada;
por via dessa escada têm-se acesso à cobertura, consistindo em
um solário de concreto aparente resguardado por platibandas
altas.

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Capítulo 1 - Casa e estúdio vila romana

Tocante à outra metade do programa, o estúdio, corresponde a um


volume com a maioria das suas empenas cegas, uma entrada
quadrada de iluminação zenital e uma grande porta que
proporciona a integração do ambiente de trabalho com o jardim
térreo.

estúdio da "casa e estúdio vila romana" - fotos de nelson kon

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Capítulo 1 - Casa e estúdio vila romana

Nesse contexto arquitetônico, podem ser estabelecidas


convergências e divergências com casa central do estudo, a
Residência Booth Bedford, construída em 1946 por Philip Johnson.
Apesar de separadas por seis décadas, ambas as residências
trazem o conceito de "home-office": apresentam um escritório em
anexo que, embora separado em funcionalidade, se encontra de
alguma forma integrado ao corpo principal da casa. Nesse caso,
ambos se conectam pela continuidade da linguagem arquitetônica,
integração com o jardim e acesso por meio de escadas, uma vez
que os dois são volumes em um nível abaixo do bloco residencial.
Além disso, os estúdios das casas apresentam algumas
características de projeto próximas, contando com empenas
majoritariamente cegas por exceção de uma grande porta de vidro
e abertura zenital.

elevação conjunto casa e escritório casa e estúdio vila romana - mmbb arquitetos

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Capítulo 1 - Casa e estúdio vila romana

Quanto às divergências, resumem-se à espacialidade e ao partido


arquitetônico adotado pelos arquitetos.
Na Casa e Estúdio Vila Romana, o bloco do escritório e da
habitação estão dispostos verticalmente, integrados por duas
escadas e separados por um vão de pilotis; já na Casa Booth, o
escritório é uma construção posterior à da casa, sendo um anexo
solto e a certo ponto isolado em meio ao jardim. Em quesito de
partidos arquitetônicos, apesar de uma sutil presença do
modernismo na Residência de Johnson (caixilhos grandes e
horizontalidade), na Residência Vila Romana esta é escancarada:
uma clássica arquitetura de Le Corbusier, com formas puras em
concreto aparente, incluindo até mesmo a maioria dos cinco
pontos da "Nova Arquitetura" estabelecidos pelo grande urbanista
e arquiteto do século XX: pilotis, planta livre, fachada livre, janelas
em fita e terraço jardim.

Perspectiva "explodida" da casa e estúdio vila romana - clara peters

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Capítulo 2
CAsa Antônio Junqueira
Fernanda Silva viriato de Freitas
Capítulo 2 - Casa Antônio Junqueira

A Casa Antônio, 1976 à 1980, pelo arquiteto renomado, falecido em


2021, Paulo Mendes da Rocha, localizada na Rua Guaones, n.º 144 -
Jardim Guedala - São Paulo - São Paulo - Brasil, foi construída num
terreno de 1.407 m², ocupando de área construída 677 m².

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Capítulo 2 - Casa Antônio Junqueira

O cliente deste trabalho, advogado e professor da Faculdade de


Direito de São Paulo, Antônio Junqueira, encomendou um projeto
com quais as demandas eram: uma casa “comum” que pudesse
receber sua biblioteca, com um acervo de aproximadamente dez
mil exemplares. Por conta desse requisito, é visto, já nos primeiros
croquis/desenhos da casa que o foco estava voltado a tal
biblioteca.

planta Casa Antônio Junqueira - Croquis

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Capítulo 2 - Casa Antônio Junqueira

plantas Casa Antônio Junqueira - térreo e 1º andar

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Capítulo 2 - Casa Antônio Junqueira

A residência por fora traz um grande pórtico delicado, esbelto,


porém pesado, deslocado levemente da cobertura, de concreto
aparente, suportado por pendurais de aço e um sólido de faces
irregulares no seu vazio. Na fachada há uma parede de concreto
inclinada, pintada de um rosa-lavado, sem aberturas, e ao fundo,
uma curva delicada desenha o núcleo hidráulico e as aberturas
para o teto jardim, que cobre a casa localizada mais abaixo. A
estrutura chama toda atenção para si.

Assim, esse volume dá a errada impressão de ser a própria casa,


que na verdade está em segundo plano nesse projeto, enquanto
no primeiro plano, a volumetria que puxa os olhos do espectador, é
uma biblioteca e um pequeno escritório.

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Capítulo 2 - Casa Antônio Junqueira

Paulo decidiu colocar o corpo


principal da casa em um espaço
que dialoga com o dominante,
porém em um lugar de menor
relevância, a lógica usual foi
invertida. Apesar de ser uma
arquitetura de maior destaque, a
biblioteca/escritório é um anexo
a residência. A morada encontra-
se oculta visualmente e
conceitualmente. Colocada atrás
da entrada e volume da
biblioteca, a casa térrea é
fechada por um prisma de
concreto.

Quando comparadas, a
residência Antônio Junqueira e a
casa Booth, se assemelham e se
distinguem em suas
características. Ambas possuem
a relação casa-escritório,
propondo em cada uma, uma
resposta arquitetônica diferente
da outra que funciona para cada
um dos projetos.

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Capítulo 2 - Casa Antônio Junqueira

No esquema da casa Booth, o estúdio/escritório, se relaciona


diretamente com o jardim do terreno, e seu vínculo com o volume
principal é mínimo, se dá pela estrutura modernista, vinda do
próprio precursor do modernismo na América, Philip Johnson, de
um único pavilhão composto pela estrutura, alvenaria e grandes
aberturas de vidro.
Na casa Junqueira, apesar do escritório estar mais inserido no
edifício, ele continua desconectado da área comum da casa, não
há nenhuma ligação de cômodos direta. Para deixar a relação dos
dois volumes mais harmoniosa Rocha criou caminhos, corredores,
passarelas e terraços que motivam o passeio pelo edifício, o que
ajuda na compreensão da proposta que de primeiro momento
pode ser estranha.
Capítulo 3
Residência e estúdio Oswaldo Bratke
Júlia lourenço Silva
Capítulo 3 - Residència e estúdio oswaldo bratke

A residência Oswaldo Bratke, construída no Morumbi em 1951 foi


uma das residências que Oswaldo projetou para si mesmo,
garantindo certa liberdade para experimentar novas composições.
O edifico é um marco pois é visto como a obra que de fato marca o
início da sua produção moderna. E é visível a presença de alguns
pontos da arquitetura moderna como os chamados “pilotis”, uma
vez que o volume está sobre pilares.

Residência Oswaldo Bratke - fonte: archdaily brasil

A residência em si é um único pavilhão que está localizado na parte


mais alta de um amplo terreno de 180.000 m2 e que teve seu piso
térreo organizado em três blocos para dividir cada área da habitação,
um para o setor íntimo, um para o setor social, e o último voltado ao
setor de serviços. E tratando de materialidade, há uma grande
mistura de concreto, aço, vidro e tijolos que se completam de
maneira diferenciada.

34
Capítulo 3 - Residència e estúdio oswaldo bratke

Porém, o projeto de 1951 não foi o resultado final do que existe hoje no
Morumbi. Alguns anos após a construção da residência, Oswaldo projeta
seu estúdio no mesmo terreno, a cerca de 20 metros da residência.
Estúdio esse que também é suportado por pilares e conta com uma
combinação de materiais: madeira e tijolos. E justamente nesse ponto,
nos volumes que foram adicionados posteriormente no terreno para
funcionarem como áreas de trabalho, que a residência de Bratke se
relaciona a Booth House.

Assim como ocorre no projeto da Booth, na residência do Morumb, é


construído um segundo volume, que de forma inteligente adiciona um
local de trabalho no terreno mas ao mesmo tempo separa de forma clara
o ambiente de descanso e lazer do ambiente voltado para o ofício. De
forma a relembrar a importância de manter as funções de cada um
desses volumes separadas mesmo que fisicamente estejam em um
mesmo espaço

Estúdio Oswaldo Bratke - fonte: as casas de oswaldo bratke (laura amaral)

35
Capítulo 3 - Residència e estúdio oswaldo bratke

Portanto, observa-se que mesmo antes do “home-office” ganhar força na


década 1970, em 1946 e 1951, Phillip Johnson e Oswaldo Bratke
adicionaram em seus projetos soluções muito interessantes para a
necessidade que seus clientes tinham. Anteriormente as crises, fossem
elas de combustível ou de saúde, que posteriormente exigiriam esta
adaptação, arquitetos já haviam decifrado um problema que poderia ser
esclarecido rapidamente se estudado de maneira correta.

Estúdio booth house - fonte: wall street journal

Em ambos os casos, há um espaço dedicado ao trabalho. Na residência e


estúdio, trata-se de uma edificação que abrigava um ateliê, um terraço e
uma área para hóspedes, com dormitório e banheiro. Enquanto na Booth
House, o volume é dedicado somente ao estúdio. Então nós dois
projetos, houve uma preocupação em adicionar esse ambiente ao seu lar,
mas de um modo que mantém certa distância de qualquer barulho ou
possível incômodo gerado na casa, de forma que garante privacidade e
conforto para o momento dedicado aos negócios.

37
Estúdio oswaldo bratke - perspectiva explodida por julia lourenço

38
Capítulo 3 - Residència e estúdio oswaldo bratke

planta Residência Oswaldo Bratke - fonte: as casas de oswaldo bratke (laura amaral)

planta Residência Oswaldo Bratke - fonte: as casas de oswaldo bratke (laura amaral)

39
Capítulo 3 - Residència e estúdio oswaldo bratke

planta estúdio Oswaldo Bratke - fonte: as casas de oswaldo bratke (laura amaral)

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Capítulo 4
casa da arquiteta maria luiza corrÊa
Natália muchiuti telent
Capítulo 4 - Casa da arquiteta maria Luiza corrêa

Localizada na Barra Funda em São Paulo, a casa da arquiteta e


professora da FAU-USP Maria Luiza Corrêa foi construída a partir
de um galpão de 1920. O plano era reformá-lo completamente, de
forma a trazer mais iluminação natural e ventilação para o
ambiente, mas sem alterar sua memória, já que o visual mais antigo
e rústico do imóvel foi o que chamou a atenção da arquiteta
inicialmente. Foram derrubadas algumas paredes e integrados os
espaços para que coubesse de forma harmônica o carro, a casa e o
escritório.

Diferentemente da Residência Booth Bedford, do arquiteto


modernista Philip Johnson, que tem seu estúdio formado a partir de
um volume construído separado da casa em si, porém no mesmo
terreno, essa casa brasileira tem seu escritório completamente
integrado com os outros ambientes da casa. Isso criou ainda mais
uma proximidade entre o espaço de moradia e o espaço de
trabalho da arquiteta.

fonte: marlene acayaba fonte: casa e jardim - globo

42
Capítulo 4 - Casa da arquiteta maria Luiza corrêa

Tanto a casa estadunidense como a casa brasileira, apresentam


seu escritório construído para o uso específico do morador,
funcionando como um estúdio.

Na casa de Maria Luiza, a área de trabalho, que ocupa a maior parte


do imóvel, fica localizada à frente, e a moradia, que possui sala e
cozinha integradas e um mezanino de 20 metros quadrados para o
quarto e o banheiro construído a partir de uma laje de concreto, é
formada por outro bloco.. Como o galpão tem entrada direta para a
rua, a arquiteta optou por não construir uma garagem, deixando um
espaço para o estacionamento de seu carro junto ao próprio
escritório. Nos fundos do lote há ainda um pequeno pátio e uma
edícula que funciona como moradia independente para o filho de
Maria Luiza.

O escritório conta com duas mesas compridas, algumas cadeiras


espalhadas entre elas, muitos livros e mesinhas para apoio. Seu uso
acabou sendo para o próprio trabalho da arquiteta, que viu a
oportunidade de morar e trabalhar num mesmo espaço como uma
ideia extremamente positiva.

Essa teoria se provou verídica no ano de 2020: com o isolamento


social milhões de brasileiros precisaram se adaptar a trabalhar no
mesmo espaço onde vivem, e muitos se viram desamparados por
não ter um espaço dedicado ao ofício em suas casas. A casa de
Maria Luiza Corrêa, ainda que pequena, oferece isso de forma
prática e objetiva, sem comprometer o espaço de sua moradia.

43
Capítulo 4 - Casa da arquiteta maria Luiza corrêa

No dia 30 de novembro de 2021, a arquiteta Maria Luiza Corrêa


apresentou sua casa na Barra Funda, bairro de São Paulo,
explicando suas ações e escolhas como projetista na reforma da
residência iniciada em 2007. Sua proposta era manter
completamente intactas as paredes externas que têm mais de um
século de existência; já algumas divisões internas foram demolidas,
criando um espaço ampliado.

A maior mudança estrutural feita foi a troca do nível do piso: antes,


havia um pequeno porão para circulação de ar cujo piso foi
retirado, deixando a casa na mesma altura que a rua e criando um
pé direito de 4 metros. As janelas altas foram adaptadas com
puxadores projetados por Maria Luiza e lâmpadas foram
posicionadas estrategicamente voltadas para as paredes, para
assim criar uma iluminação mais natural possível, mesmo depois do
escurecer.

Um grande armário ocupa a parede mais extensa do bloco que


funciona como moradia, e a escada que leva ao mezanino,
inspirada nos trabalhos do arquiteto Paulo Mendes da Rocha (1928-
2021), foi construída de forma que não atrapalhe a circulação de
pessoas.

desenho do armário da casa - fonte: maria luiza corrêa

44
Acima, fotos que mostram o galpão antes de ser reformado. É possível notar como a estrutura antiga foi
preservada pela arquiteta. - fonte: maria luiza corrêa

45
planta da casa, feita à mão por maria luiza

planta com foco no escritório

planta com foco na moradia

planta com foco no pátio

fonte: maria luiza corrêa


46
Capítulo 5
Casa Carapicuíba
Victoria Correia da silva
Capítulo 5 - Casa Carapicuíba

A Casa Carapicuíba, construída em 2007, foi exatamente pensada


de acordo com a necessidade exigida pelos proprietários no qual
seria um espaço para morar e trabalhar, mas que uma atividade
não interferisse diretamente na outra. A forma que os Arquitetos
responsáveis pela obra, Angelo Bucci e Álvaro Puntoni
encontraram, foi contrastar um volume suspenso por dois pilares
(visivelmente parece isolado do restante da estrutura da
residência) e assim criaram duas funções: Moradia e Escritório.

casa CARAPICUÍBA: FONTE ARCHDAILY BRASIL

A casa possui um grande desnível, que da rua não se vê


claramente o nível do terreno porque um dos planos se encontra
no subsolo. Sendo assim, ao ver a construção do nível da rua só é
possível perceber o escritório que está suspenso e dá a impressão
de uma curiosa leveza estrutural e do volume estar “flutuando”.
Também se Destaca a arborização posterior como um plano de
fundo desta paisagem.

48
CAPÍTULO 5 - CASA CARAPICUÍBA

casa CARAPICUÍBA: FONTE ARCHDAILY BRASIL

49
CAPÍTULO 5 - CASA CARAPICUÍBA

Os materiais mais utilizados foram o concreto armado e vidro. O


uso do concreto armado, são complementados pelas folhas de
vidro, que integram o interior e exterior da casa, ao mesmo
tempo em que a delimitam. A transparência também está
presente principalmente na área de moradia, que mesmo
estando subterrada há grande captação de luz, enquanto
algumas paredes, pilares, piso e teto deixam à mostra o
concreto aparente.

casa CARAPICUÍBA: FONTE ARCHDAILY BRASIL

50
CAPÍTULO 5 - CASA CARAPICUÍBA

o nível suspenso onde se localiza o escritório é formado por duas


lajes estruturadas por uma grande viga sobre a laje da cobertura,
apoiada em dois pilares. A construção tem a dimensão de 3 m x
25 m, é revestida com telhas onduladas e envolve duas grandes
aberturas, uma na parte da frente (Vista para rua) e a outra para
os fundos (Vista para a mata).

casa CARAPICUÍBA: FONTE ARCHDAILY BRASIL

51
CAPÍTULO 5 - CASA CARAPICUÍBA

O nível da rua foi completamente preservado e ampliado através


da pequena praça de acesso, no nível térreo, que se estende sobre
a cobertura da casa por meio de uma ponte de aço (a única entrada
do edifício). Dela se vai à casa ou ao escritório por percursos que
exploram as possibilidades espaciais da situação topográfica do
projeto.

casa CARAPICUÍBA: FONTE ARCHDAILY BRASIL

O design da casa Carapicuíba lembra muitas construções da


Escola Paulista que incorpora recuos laterais aos pátios
longitudinais, o Térreo livre, ocupação acima e abaixo
conectadas por passarelas, escadas e vazios e principalmente
pelo uso do concreto aparente e grandes aberturas
características do movimento modernista do século XX. E tudo
isso faz com que a Casa utilize formas simples e cria uma
edificação que não passa despercebida.

52
CAPÍTULO 5 - CASA CARAPICUÍBA

perspectiva explodida : victoria correia da silva

53
CAPÍTULO 5 - CASA CARAPICUÍBA

planta casa carapicuíba térreo - fonte: archdaily brasil

planta casa carapicuíba nível superior - fonte: archdaily brasil

54
CAPÍTULO 5 - CASA CARAPICUÍBA

planta casa carapicuíba nível 1° inferior - fonte: archdaily brasil

planta casa carapicuíba nível 2° inferior - fonte: archdaily brasil

55
Conclusão
Relação Casa-Escritório

Sob um olhar para o conjunto de casas brasileiras apresentadas, é


interessante reparar a peculiaridade e as questões intrínsecas à
relação casa-escritório.
É evidentemente essencial a execução de uma boa estratégia
projetual em ordem para possibilitar uma boa vivência por parte do
morador. Isto é, como pressuposto para a arquitetura é
imprescindível o estudo da vida e rotina do cliente: independente
do escritório ser integrado ou à parte da casa, a circulação deve ser
bem pensada em relação à rotina do morador, de modo a resultar
na conformação melhor possível.
Tal preocupação projetual é evidente nas casas expostas. A
associação casa-escritório desenvolve-se de diferentes porém
inteligentes formas: com volumes separados (seja por pavimento
seja por bloco a parte), como presente nas residências "Casa e
Estúdio Vila Romana", "Casa Antônio Junqueira", "Rêsidencia e
Estúdio Oswaldo Bratke", "Casa Carapicuíba"; ou mesmo com um
único volume integrado, tal como na "Casa da Arquiteta Maria Luiza
Correa", na qual o escritório localiza-se na garagem da residência
(entrada da casa).
Para além de uma estratégia projetual inteligente, para que a
dinâmica casa-estúdio seja efetivamente concretizada, é
necessário que o morador tenha uma responsabilidade com o uso
dos ambientes, de forma que trabalho, lazer e descanso não se
misturem e sejam prejudicados.

56
Bibliografia
“The Booth House Modern Home em Bedford, Nova York por
Philip Johnson” Dwell

"Casa Thompson Hess/Felipe Hess Arquitetos" por Matheus


Pereira, 10 de dezembro de 2020;

"Casa Thompson Hess foi restaurada a partir de peças do projeto


original" por Redação, Casa Cor, 27 de janeiro de 2021;

Junqueira House, São Paulo Paulo Mendes da Rocha , por


Arquitectura viva;

Residência Antônio Junqueira de Azevedo, por Arquivo ARq Br;

PROJETO ARQUITETÔNICO E A RELAÇÃO COM O LUGAR NAS


OBRAS DE PAULO MENDES DA ROCHA 1958-2000, TESE DE
DOUTORAMENTO APRESENTADA COMO REQUISITO PARA A
OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTORA EM ARQUITETURA, por
Ana Elisa Moraes Souto, 2009.

Desenho e espaço construÍDo: relações entre pensar e fazer na


obra De Paulo Mendes Da rocha, tese apresentada a faculdade de
arquitetura e urbanismo da universidade de São Paulo para a
obtenção do título de doutor em arquitetura e urbanismo. Por
Catherine Otondo, fevereiro de 2013.

“Restauração com ar moderno”, por Danilo Costa e Eliana Medina,


CASACLAUDIA, 21 de dezembro de 2016

“A casa da Maria Luiza”, por Marlene Acayaba, 09 de dezembro de


2011

57
"Galpão de 1920, na Barra Funda, transformado em loft”, por
Gabriel, PreservaSP, 20 de novembro de 2008

“As casas de Oswaldo Bratke: uma análise gráfica da obra” por


Laura Regina Amaral, Tese de mestrado de 201"9

"Clássicos da Arquitetura: Residência no Morumbi / Oswaldo


Bratke", por Igor Fracalossi, 12 de fevereiro de 2014 (Archdaily)

"Casa e Estúdio Vila Romana / MMBB" por Archdaily

"Casa e Estúdio Vila Romana - São Paulo - SP" por Danilo Matoso, 11
de junho de 2009

"Residência na Vila Romana" - site do escritório MMBB Arquitetos

"Casa Carapicuíba / Angelo Bucci + Alvaro Puntoni" [Carapicuiba


House / Angelo Bucci + Alvaro Puntoni] 29 Dez 2011. ArchDaily
Brasil. Acessado 13 Out 2021.

“Casa Carapicuíba”, por Gabrielle Victoriano, galeria da arquitetura

58

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