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Universidade São Francisco

Curso de Fisioterapia

QUALIDADE DE VIDA DE ADULTOS AMPUTADOS DE

MEMBRO INFERIOR

Bragança Paulista
2010
1
Adriano Ap. de Brigido
RA: 001200701245

Waldemar de Brigido Junior

RA: 001200701274

QUALIDADE DE VIDA DE ADULTOS AMPUTADOS DE

MEMBRO INFERIOR

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Iniciação e Pesquisa
Cientifica do curso de Fisioterapia
da Universidade São Francisco,
sob orientação do Prof.ª Carolina
Camargo de Oliveira, com
exigência parcial e obtenção da
aprovação da disciplina.

Bragança Paulista
2010
2
BRIGIDO, Adriano Ap., BRIGIDO, Waldemar Jr., Qualidade de vida de
adultos amputados de membro inferior. 2010. Trabalho de Conclusão de
Curso. 2010. Curso de Fisioterapia da Universidade São Francisco. Bragança
Paulista.

____________________________________________________________
Prof.ª Carolina Camargo de Oliveira
USF – Orientadora Temática

_______________________________________________________________
Prof.ª Rosimeire Simprini Padula
USF – Orientadora Metodológica

_______________________________________________________________
Prof.ª Gianna Carla Cannonieri Nonose
USF – Banca Examinadora

3
DEDICATÓRIA

Dedicamos esse trabalho aos nossos pais Waldemar de Brigido e Maria


Rita Aparecida da Silva Brigido que sempre fizeram de tudo para que nós nos
tornássemos pessoas cada vez melhores e por nos mostrarem a cada dia o
verdadeiro amor que devemos ter pela vida e pelo próximo.

4
AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus que sempre guiou nossos passos e


permitiu que nós conseguíssemos desenvolver este estudo com saúde.

Aos nossos pais, Waldemar de Brigido e Maria Rita Aparecida da Silva


Brigido, a quem seremos eternamente gratos por todo apoio e incentivo que
nos foram dados, durante toda nossa caminhada. Tudo que somos devemos a
vocês.

A nossa professora Carolina Camargo de Oliveira por ajudar a


enriquecer este estudo, pois com seu jeito todo especial de professora e amiga
soube nos orientar pelo melhor caminho possível para a realização deste
trabalho.

Ao nosso professor José André de Carvalho que nos apresentou a


disciplina Prótese e Órtese a qual nos encantou em primeiro instante, e
compartilhou de conhecimentos que enriqueceram o estudo. E também por nos
dar a oportunidade de obter dados no Instituto de Prótese e Órtese.

A minha namorada, Natalia, que a cada dia mostra o valor da vida


através de suas atitudes e carinho comigo; por ser uma pessoa maravilhosa e
pelo apoio e compreensão em todos meus momentos de estresse e ansiedade.
(Waldemar de Brigido Junior)

Aos participantes da pesquisa que de muito bom grado preencheram


todo questionário, fornecendo os resultados desse trabalho; sem eles, este
estudo não seria possível.

Ao órgão EDUCAFRO por nos proporcionar uma porcentagem em bolsa


de estudos, o que nos permitiu a realização deste curso de graduação.

A todos que, direta ou indiretamente nos contribuíram de alguma forma,


com a realização deste trabalho.

5
“Faça o bem sem ver a quem
a sua recompensa vem
foi o que Jesus profetizou”

Goiano / Luizinho Rosa

6
RESUMO

Introdução: O termo qualidade de vida relacionada à saúde surgiu no final da


década de 1940, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu
saúde como um estado de bem estar físico, mental e social, mais que
simplesmente a ausência de doença ou enfermidade. Podemos definir o termo
amputação como sendo a retirada, geralmente cirúrgica, total ou parcial de um
membro. É comum ocorrer algumas complicações após amputação o que pode
levar à incapacidade e redução nos níveis de qualidade de vida Objetivo:
Avaliar a qualidade de vida de adultos com amputação de membro inferior
protetizados e não protetizados. Métodos: Trata-se de um estudo transversal,
sendo a amostra composta por 20 adultos de ambos os gêneros, entre 18 e 60
anos de idade, divididos em três grupos, grupo um (G1) amputados de membro
inferior protetizados inseridos em programa de reabilitação, grupo dois (G2)
amputados de membro inferior protetizados não inseridos em programa de
reabilitação e grupo três (G3) amputados de membro inferior não protetizados.
Após esclarecimento dos objetivos e procedimentos, tornaram-se voluntários
deste estudo os que assinaram termo de consentimento livre e esclarecido.
(TCLE), sendo posteriormente convocados para avaliação dos seguintes
aspectos: dados de identificação e da amputação, condições atuais de
protetização, do coxim, do coto e presença de complicações. Em seguida foi
entregue o questionário Whoqol-Bref para avaliar qualidade de vida.
Resultados: A casuística foi composta, em sua maioria, por homens jovens,
vítimas de acidentes de trânsito. A percepção da qualidade de vida demonstrou
que os domínios com scores mais baixos foram os relacionados ao meio
ambiente e à saúde física; e os mais altos estavam ligados à saúde psíquica e
às relações sociais. Nos grupos de pessoas protetizadas (G1 e G2) os scores
mais altos foram encontrados no domínio psíquico; já no G3, os scores maiores
foram no domínio social. Conclusão: De acordo com os objetivos propostos
para o trabalho foi possível concluir que o G1, G2 e G3 obtiveram os scores
mais baixos nos domínios ambiental e físico. No grupos de pessoas
protetizadas (G1 e G2) o mais alto foi o psíquico e no de não protetizadas, o
social.

Palavras chave: Qualidade de vida; amputação; adultos

7
ABSTRACT

Introduction: The term quality of life related to health emerged in the late 1940s,
when the World Health Organization (WHO) defined health as a state of
physical well being, mental and social, rather than simply the absence of
disease or infirmity . We can define the term amputation as the withdrawal,
usually surgery, all or part of a member. It is common after amputation some
complications which can lead to disability and decreased levels of quality of life
Objective: To evaluate the quality of life of adults with lower limb amputation,
not hearing aids hearing aids. Methods: This is a cross-sectional study, the
sample consisted of 20 adults of both genders, aged between 18 and 60 years
of age, divided into three groups, one group (G1) lower limb amputees fitted
with hearing aids placed in a rehabilitation program , group two (G2) lower limb
amputees fitted with hearing aids not included in the rehabilitation program and
group three (G3) no lower limb amputees fitted with hearing aids. After
clarification of the objectives and procedures have become volunteers in this
study who signed a consent form. (IC) and was subsequently summoned to
assess the following aspects: identification data and amputation, current
conditions of fitting, cushion, and stump complications. Then was handed the
questionnaire WHOQOL-Bref to assess quality of life. Results: The sample was
composed mostly of young men, victims of traffic accidents. The perception of
quality of life showed that the domains with lower scores were related to the
environment and physical health, and the highest were related to mental health
and social relationships. In groups of people aided (G1 and G2) the highest
scores were found in the psychic realm, already in G3, the scores were higher
in the social field. Conclusion: According to the proposed objectives for the work
it was concluded that G1, G2 and G3 had the lowest scores in the
environmental and physical. In groups of people aided (G1 and G2) was the
highest in the psychic and the non-aided, the social.

Keywords: Quality of life; amputation; adults

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SUMÁRIO

1.INTRUDUÇÃO 10

2.OBJETIVO 14

2.1.Objetivo Geral 14

2.2.Objetivo Especifico 14

3.MÉTODOS 15

3.1.Desenho do Estudo 15

3.2.Sujeito e Material 15

3.3.Critérios de Inclusão 15

3.4.Critérios de Exclusão 15

3.5.Critérios de Descontinuidade 16

3.6.Procedimentos 16

3.7.Materiais 17

4.RESULTADOS 18

5.DISCUSÃO 27

6.CONCLUSÃO 32

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 33

ANEXOS 35

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1. INTRODUÇÃO

Amputação é uma palavra derivada do latim, com o seguinte significado:


ambi = ao redor de/em volta de; e putatio = podar/ retirar. Pode-se definir o
termo amputação como sendo a retirada, geralmente cirúrgica, total ou parcial
de um membro. Para os pacientes menos esclarecidos, o termo “amputação”
está relacionado a terror, derrota e mutilação, trazendo, de forma implícita, uma
analogia com a incapacidade e a dependência (Carvalho. 2003).
Os Indivíduos com deficiências físicas ou motoras enfrentam,
habitualmente, dificuldades em desenvolver uma percepção positiva acerca de
si próprios, principalmente no que diz respeito as suas competências físicas e
sociais (Blinde e McClung. 1997). Esta auto-imagem física resulta,
fundamentalmente, de uma variedade de experiências de socialização
negativas, de restritas oportunidades de participação nas mais variadas
atividades sociais e culturais, e ainda de uma crença enraizada na sociedade
que os identifica como incapacitados, fruto de preconceito, da estigmatização e
descriminação social (Souza, 2009).
Historicamente, as pesquisas associaram constantemente a amputação
de membros com numerosas dificuldades psicológicas, como por exemplo, a
depressão clínica. Nos últimos anos, as pesquisas começaram a mostrar que
longe de uma perspectiva apenas patológica, os autores sugerem diversas
respostas psicológicas positivas associadas à experiência da amputação. E
embora alguns indivíduos possam ver a amputação como uma catástrofe
pessoal, outros vêem nessa experiência uma luz positiva com a oportunidade
para crescimento psicológico (Rybarczyk et al., 2000).
Infelizmente, durante muitos anos as amputações foram consideradas
cirurgias pouco nobres, sendo realizadas apenas por residentes inexperientes
ou iniciantes. Isso fez com que bons cirurgiões se afastassem dessas atuações
e, como conseqüência, os pacientes amputados sofreram por estarem
desprovidos de boas condições cirúrgicas para o processo de reabilitação, o
qual se iniciava durante a cirurgia. Cotos mal acabados externa e internamente
acarretavam complicações, má adaptação às próteses e até mesmo
reamputações com exagerada frequência. O importante é informar aos
pacientes que as amputações, muitas vezes, propiciam uma qualidade de vida
10
relativamente melhor, sem a dor e o sofrimento, antes presentes. Atualmente
experientes cirurgiões ortopédicos e vasculares dedicam-se às amputações
para eliminar tecidos moles e ósseos irremediavelmente lesados e, em um
segundo momento, reconstruir as partes ósseas, musculares e cutâneas,
proporcionando ao coto, capacidade adequada de sustentação e mobilidade
(Carvalho 2003).
Apesar de não existirem informações epidemiológicas precisas estima-se
que 85% das amputações são em MMII e suas causas podem ser de origem
vascular, traumática, neoplásica e ainda por anomalias congênitas. As
indicações mais freqüentes para amputações dos MMII são decorrentes das
complicações crônico-degenerativas e ocorrem com maior frequência em
idosos. A segunda causa mais freqüente é decorrente de lesão traumática e
geralmente, ocorre em pacientes do sexo masculino, com idade inferior a 50
anos, embora também se dê em jovens e crianças de maneira significativa. No
Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (IOT-HC-FMUSP) no período entre
1992 e 1999 foram realizadas 287 amputações de MMII sendo a maioria do
sexo masculino (77,44%), com idade entre 11 e 30 anos (Carvalho 2003).
As indicações para as amputações decorrentes de lesões traumáticas são
aquelas com comprometimento vascular importante, que impeçam a
reconstrução do membro ou o restabelecimento adequado da função (Carvalho
2003).
A reabilitação do paciente amputado deverá ser precoce, objetivando
além da adaptação à prótese, a recuperação funcional, proporcionando
condições para a reintegração profissional e social. O amputado
freqüentemente exige altas demandas dos serviços sociais e de pessoal
especializado em hospitais e na comunidade. Além da adaptação social, o
processo de reabilitação envolve treinamento do paciente para marcha
independente e para o uso de auxiliares de marcha (Lima et.al., 2006).
Reabilitar um amputado não significa necessariamente protetizá-lo.
Porém para pacientes candidatos à utilização de próteses, a reabilitação só
chegará ao fim no momento em que eles já estiverem fazendo uso das
próteses, com total controle e independência nas atividades diárias,
profissionais e recreativas (Carvalho, 2003).

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O fisioterapeuta desempenha papel fundamental quanto à reeducação
funcional, integrando equipe multidisciplinar, acompanhando o paciente em
todos os estágios do programa de reabilitação supervisionando e intervindo
desde o estágio pré e pós-operatório, até a educação de mobilidade pré e pós-
protética e, se necessário, em cuidados de manutenção das funções músculo-
esqueléticas. Nesse sentido, a presença do fisioterapeuta é importante no
processo dinâmico, criativo, progressivo e educativo, com objetivo de
restauração do indivíduo, sua reintegração à família, comunidade e sociedade
(Pastre et.al., 2005).
O custo das próteses, normalmente, é elevado, tornando-se motivo de
preocupação para o amputado, pois é sonho que, muitas vezes, não se
realizará, impedindo o movimento em direção ao mundo (Chini; Boemer 2007).
É comum ocorrer algumas complicações após amputação, como
deformidade em flexão, irregularidades ósseas, excesso de partes moles,
cicatrização inadequada, neuromas dolorosos, complicações cutâneas ou
comprometimento vascular, o que pode levar à incapacidade e redução nos
níveis de qualidade de vida (Pastre et.al., 2005).
O termo qualidade de vida relacionada a saúde, surgiu no final da década
de 1940, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu saúde como
um estado de bem estar físico, mental e social, mais que simplesmente a
ausência de doença ou enfermidade. Em 1948, Karnofsky foi um dos pioneiros
a introduzir no campo médico uma escala para medir a qualidade de vida de
pacientes; chamava-se karnofsky Performance Status Scale (Clapis 1996).
Na OMS, uma equipe de trabalho estuda questões de qualidade de vida
relacionada à saúde. O grupo, conhecido por WHOQOL Group (World Health
Organization Quality of Life Group), considera que a definição de qualidade de
vida deve levar em conta a percepção do indivíduo e suas relações com o meio
ambiente. Para eles: qualidade de vida é definida como uma percepção
individual da posição do indivíduo na vida, no contexto de sua cultura e sistema
de valores nos quais ele está inserido e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações. É um conceito de alcance abrangente
afetado de forma complexa pela saúde física, estado psicológico, nível de
independência, relações sociais e relações com as características do meio
ambiente do indivíduo (Fleck et al., 2000).

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Como o número de pacientes amputados que buscam a protetização é
grande; torna-se fundamental obtermos mais informações a respeito da
qualidade de vida dos mesmos. Na revisão de literatura, constata-se que há
poucas publicações sobre o assunto, que é de grande importância para o
melhor atendimento dessas pessoas, sempre por equipe multidisciplinar. Desta
forma, sugerimos interesse em achar a qualidade de vida de adultos que
sofreram amputação, em função de serem ou não protetizados, e estarem ou
não inseridos em programa de reabilitação.

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2. OBJETIVO

2.1 Objetivo Geral

Avaliar a qualidade de vida de adultos com amputação de membro inferior


protetizados e não protetizados.

2.2 Objetivos Específicos

Avaliar etiologia; nivel de amputação; tempo até a protetização; presença


de dor no coto e membro fantasma; qualidade do coto e do coxim e
caracteristica do membro contralateral.
Correlacionar todos os achados entre os grupos de pacientes protetizados
e inseridos em programa de reabilitação protetizados e não inseridos em
programa de reabilitação e não protetizados (em reabilitação ou não).
Correlacionar os resultados deste estudo com dados da literatura.

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3. MÉTODO

3.1 Desenho do Estudo

Trata-se de estudo de corte transversal, com uma única avaliação dos


voluntários.

3.2 Sujeitos e Material

A amostra foi composta por adultos de ambos os sexos, entre 18 e 60

anos de idade, amputados protetizados e não protetizados de membro inferior.

Foram selecionados pacientes da Clínica Escola de Fisioterapia da

Universidade São Francisco – Bragança Paulista – SP; e do Instituto de

Próteses e Orteses (IPO) do município de Campinas-SP.

3.3 Critérios de Inclusão

Os critérios foram: idades de 18 a 60 anos, amputados de membro inferior


protetizados ou não protetizados, que aceitaram participar da pesquisa,
assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

3.4 Critérios de Exclusão

Indivíduos com qualquer complicação de saúde geral ou


comprometimento psiquiátrico, que comprometesse as respostas do
questionário de qualidade de vida.

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3.5 Critérios de Descontinuidade

Indivíduos que assinaram o termo, mas não devolveram o questionário

preenchido ou desistissem de participar, por qualquer motivo.

3.6 Procedimentos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade


São Francisco (USF) e posteriormente, os pacientes foram convidados a
participar da pesquisa. Após todos os objetivos e procedimentos esclarecidos,
quem concordou em participar, assinou Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) (ANEXO I) em duas vias, sendo que uma permaneceu em
poder do voluntário e a outra do pesquisador.
Em um segundo momento os participantes foram divididos em três
grupos, sendo o primeiro de indivíduos amputados protetizados e inseridos em
programa de reabilitação (GI); o segundo de pacientes amputados,
protetizados, mas não inseridos em programa de reabilitação (GII); e o terceiro
de pacientes amputados e não protetizados (GIII).
Posteriormente foram convocados para serem avaliados por uma ficha
de avaliação desenvolvida pelos autores deste estudo, referente a dados de
identificação, amputação e condições atuais de protetização, coxim do coto e
presença de complicações (ANEXO II). Em seguida foi entregue o questionário
WHOQOL - bref (ANEXO III) para avaliar a qualidade de vida, uma única vez,
na Clínica de Fisioterapia da Universidade São Francisco (USF) ou no Instituto
de Prótese e Orteses (IPO) em Campinas-SP, local de preferência do paciente.
Sendo um questionário auto- explicativo e portanto de auto-avaliação na
amostra do presente estudo, os 20 participantes responderam o questionário
de forma independente, após uma breve explicação.
Todos foram avaliados pelos alunos responsáveis por este projeto, sob
supervisão da professora orientadora.

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3.7 Materiais

Papel e caneta
Prancheta
Questionário de dados pessoais, da amputação e condições atuais
(ANEXO II)
Questionário WHOQOL – BREF (ANEXO III)

O Whoqol-Bref é uma versão reduzida do Whoqol-100, que consta de


vinte e seis perguntas, sendo duas gerais e as demais que representam as 24
facetas do questionário, sendo uma pergunta para cada faceta. Dessa forma,
difere do Whoqol-100 por que cada uma das vinte e quatro características
individuais é avaliada a partir de quatro perguntas, enquanto que na versão
abreviada, é avaliada por uma só pergunta. Essa versão abreviada é composta
por quatro domínios: físico, psicológico, social e ambiental, sendo um
questionário auto- explicativo e de auto-avaliação (Fleck, 2000).

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4.Resultados

Foram pré-selecionados inicialmente 24 adultos após rastreamento em


arquivo de pacientes da Clínica Escola de Fisioterapia (CEF) da Universidade
São Francisco (USF); em contato com professores do Curso de Fisioterapia
que atuam na supervisão de estágio nas Unidades Básicas de Saúde e
Programa Saúde da Família; em arquivo de pacientes do Instituto de Prótese e
Órtese Brasil do Município de Campinas – SP; e busca ativa com contatos
familiares e sociais, nos Municípios de Piracaia e Bragança Paulista – SP.
Seguindo os critérios de inclusão e exclusão, 4 não puderam fazer parte
deste estudo, por apresentarem idade superior ao intervalo proposto em
Métodos. Portanto a casuística deste trabalho foi composta de 20 voluntários,
separados nos grupos: G1 com 7 voluntários; G2 com 6 voluntários e G3 com
7 voluntários.
Inicialmente os grupos serão apresentados nas tabelas 1, 2 e 3.
Posteriormente, nas tabelas 4 a 8, estão os dados do questionário de avaliação
das condições atuais e presença de complicações.
Quanto à avaliação de qualidade de vida, foram seguidas as instruções
do próprio instrumento para chegar aos scores e classificação destes, o que
serão apresentados nos gráficos 1 a 4.

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As tabelas 1, 2 e 3 apresentam dados de identificação e relacionados à
amputação (etiologia, nível e tempo de pré-protetização) dos grupos G1, G2 e
G3 respectivamente.

Tabela1: Dados de identificação, etiologia, nível e tempo pré-protetização do


G1
Grupo Paciente Gênero Idade Etiologia Nível Tempo Pré
Protetização
G1 1 M 27 Acidente Transfemoral 3 meses e 20
Motociclistico dias
G1 2 M 47 Vasculopatia Transtibial 5 meses e 17
Diabética dias
G1 3 M 26 Acidente Transtibial 43 meses e 14
Motociclistico dias
G1 4 M 23 Acidente Transtibial 2 meses e 2
Motociclistico dias
G1 5 M 34 Acidente Transtibial 3 meses e 29
Motociclistico dias
G1 6 M 47 Vasculapatia Transfemoral 19 meses e 5
Diabética dias
G1 7 M 19 Acidente Desarticulação 31 meses e 2
Motociclistico de Joelho dias
G1= Grupo 1; M= Masculino

Todos os participantes eram do sexo masculino, a idade média dos


integrantes foi de 31,8 anos, as etiologias encontradas foram acidente
motociclistico (6)e vasculopatia diabética (2), já os níveis encontrados foram
transtibial (3) transfemoral (2) e desarticulação de joelho (1). O tempo até
protetização foi de menos de um ano (4), após um ano (3).

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Tabela 2: Dados de identificação, etiologia, nível e tempo pré-protetização do
G2
Grupo Paciente Gênero Idade Etiologia Nível Tempo Pré
Protetização
G2 1 M 28 Acidente Desarticulação 8 meses e 22
Motociclistico Joelho dias
G2 2 M 32 Acidente Transtibial 8 meses e 13
Motociclistico dias
G2 3 M 30 Acidente Transtibial 3 meses e 22
Motociclistico dias
G2 4 M 26 Acidente de Transfemoral 7 meses e 5
Trabalho dias
G2 5 M 27 Acidente Transfemoral 8 meses e 16
Automobilistico dias
G2 6 M 44 Acidente Transtibial 186 meses e
Motociclistico 5 dias
G2= Grupo 2; M= Masculino

Todos participantes também são do sexo masculino, a idade média dos


integrantes foi de 31,1 anos, as etiologias encontradas foram acidente
motociclistico (4), acidente automobilístico (1) e acidente de trabalho (1) e os
níveis foram, transtibial, transfemoral e desarticulação de joelho. O tempo até
protetização foi menos de um ano (5), após um ano (1).

Tabela 3: Dados de identificação, etiologia, nível e tempo pré-protetização do


G3.
Grupo Paciente Gênero Idade Etiologia Nível Tempo
amput-
avaliação
G3 1 F 34 Acidente Transtibial 22 meses e
Motociclistico 14 dias
G3 2 M 45 Acidente Desarticulação 10 meses e
Motociclistico Joelho 22 dias
G3 3 M 20 Acidente Transfemoral 4 meses e 4
Automobilistico dias
G3 4 M 47 Atropelamento Transfemoral 4 meses e 1
dia
G3 5 M 25 Acidente Transfemoral 2 meses e 9
Motociclistico dias
G3 6 M 28 Acidente Desarticulação 21 meses e
Motociclistico Quadril 27 dias
G3 7 M 46 Acidente de Desarticulação 247 meses e
Trabalho Quadril 2 dias
G3= Grupo 3; F= Feminino; M= Masculino; amput-avaliação = período da amputação até a
presente avaliação.

20
Na tabela 3, referente ao G3, 85,7% dos participantes são do sexo
masculino e 14,3% do sexo feminino, a idade média dos integrantes é de 35
anos, as etiologias encontradas foram acidente motociclistico (4), acidente
automobilístico (1), acidente de trabalho (1) e atropelamento (1), e os níveis
encontrados foram transtibial, desarticulação de joelho, transfemoral e
desarticulação de quadril. O tempo até protetização foi menos de um ano (4),
após um ano (3).

A tabela 4 apresenta a média de idade dos voluntários e porcentagem


da ocorrência de dor, membro fantasma, presença de contração isométrica ou
deformidades do coto.

Tabela 4: Idade média e dados pessoais do coto de amputação.


Grupos Idade Média Dor M Fantasma Contr. Deformidade
Isom.
G1 33,28 57,10% 57,10% 85,71% 14,28%
G2 31,16 20,58% 50,00% 50,00% 16,66%
G3 35 14,29% 57,14% 71,42% 14,29%
M = membro; Contr. = contração; Isom. = isométrica

Foi constatado que a média de idade entre os grupos analisados é de


(33) trinta e três anos, sendo o grupo G1 com média de 33,28 anos, G2 com
média de 31,16 anos e G3 com média de 35 anos. A ocorrência de dor no coto
do G1 foi superior aos outros grupos, 57,10%; no G2 20,58% afirmaram ter dor
e no G3 14,29% afirmaram ter dor. As causas de dor relatadas foram; dor ao
deambular ou por esforço; dor quando está sem prótese ou o coto
desenfaixado. No quesito membro fantasma, mais da metade dos integrantes
da pesquisa afirmaram ter a sensação que ainda tem o membro que foi
amputado, sendo que a porcentagem de afirmação dos grupos foram G1
57,10%, G2 50% e G3 57,10%. Os relatos foram: “Tenho a sensação que ainda
tenho o membro”;” tenho a sensação que levo umas pontadas no membro que
foi amputado”. A porcentagem de integrantes com boa contração isométrica em
cada grupo foi, G1 85,71%, G2 50,0% e G3 71,42%. Poucos indivíduos
apresentaram deformidades no coto, sendo G1 com 14,28%, G2 com 16,66%

21
e G3 com 14,29%. As deformidades encontradas foram: Flexão de joelho;
flexão de quadril; abdução de quadril.

A tabela 5 apresenta a situação do membro contra lateral, avaliando


força e ADM adequadas para deambulação; se faz uso de órtese ou se
apresenta falha em qualquer outra região do corpo.

Tabela 5: Força e ADM, uso de órteses e amputação em qualquer região do


corpo.
Força e ADM Uso de órtese Amputação
G1 Adequada Não Ausente
G2 Adequada Não Ausente
G3 Adequada Não Ausente
ADM=Amplitude de Movimento

O membro contra lateral de todos os integrantes da pesquisa tinha força


e ADM adequadas para deambulação; ninguém fazia uso de qualquer tipo de
órtese e nem apresentava amputação de qualquer outra parte do corpo.

A tabela 6 apresenta o percentual das etiologias das amputações de


todos os participantes deste estudo, em cada um dos grupos.
Tabela 6: Etiologias das amputações encontradas no estudo.
Grup Acidente Acidente Vasculopati Acident Atropelament
o Automobilistic Motociclistic a Diabética e de o
o o trabalho
G1 0% 71,42% 28,58% 0% 0%
G2 16,67% 66,66% 0% 16,67% 0%
G3 14,28% 57,16% 0% 14,28% 14,28

Nos três grupos, a etiologia mais frequente foi acidente motociclistico,


sendo no G1 a maior percentagem (71,42%), seguida do G2 (66,66%) e a
menos no G3 (57,16%). Com a segunda maior freqüência estão os acidentes
automobilísticos e de trabalho, com maior incidência no G2 (16,67%).
Vasculopatia diabética foi a terceira mais freqüente com o G1 com
porcentagem de (28,58%), e atropelamento foi o menos frequente, com
ocorrência apenas no G3, de (14,28%). Em relação aos grupos, no G1, a causa
mais frequente das amputações foi a de acidente motociclistico, seguida de
vasculopatia diabética. No G2 foi, em ordem da maior para a menor freqüência,

22
acidente motociclistico, e empatados acidente automobilístico e acidente de
trabalho. E no G3 foi acidente motociclistico, e também empatados acidente
automobilístico, acidente de trabalho e atropelamento.

A tabela 7 apresenta a freqüência dos níveis de amputação em cada


grupo.

Tabela 7: Níveis de amputação encontrados no estudo.


Grupos Transtibial Transfemoral Desarticulação Desarticulação
de Joelho de Quadril
G1 57,14% 28,58% 14,28% 0%
G2 50% 33,4% 16,6% 0%
G3 14,28% 42,87% 14,28% 28,57%

Considerando todos os grupos o nível mais freqüente de amputação foi


o transtibial, com G1 chegando a 57,14% dos casos, o segundo maior índice foi
do transfemoral com o G3 chegando há 42,87%, em terceiro lugar ficou a
desarticulação de joelho com o G2 chegando há 16,6 % e em quarto lugar ficou
a desarticulação de quadril sendo que o G3 teve 28,57% dos casos. Em
relação aos grupos, no G1 o nível de amputação mais frequente foi o transtibial
(57,14%), seguido por transfemoral (28,58%) e desarticulação de joelho
(14,28%). No G2 o mais frequente foi transtibial (50%), transfemoral (33,4%) e
desarticulação de joelho (14,28%). E no G3 foi transfemoral (42,87%),
desarticulação de quadril (28,57%) e empatados transtibial e desarticulação de
joelho (14,28%).
A tabela 8 apresenta dados referentes à qualidade do coxim do membro
amputado (se firme, escasso, volumoso por edema ou por mioplastia
inadequada), em cada grupo.

Tabela 8: Tipos de coxim encontrados no estudo.


Grupos Firme Escasso Volumoso Volumoso
(Edema) (mioplastia
inadequada)
G1 42,85% 14,27% 0% 42,85%
G2 66,6% 16,7% 0% 16,7%
G3 42,85% 42,85% 14,28% 0%

23
No G1 42,45% dos voluntários apresentaram coxins firmes, 14,27%
escassos e 42,85% de coxins volumosos por miodese inadequada. No G2
66,6% apresentou coxins firmes; 16,7% escassos e 16,7% coxins volumosos
por mioplastia inadequada. No G3 foram encontrados 42,85% de coxins firmes,
42,85% escassos e 14,28% volumosos por edema.

O gráfico 1 apresenta a média de cada domínio do Whoqol-Bref para


todos os participantes do estudo.

90

80 83
80
70
72
60
61
50
%

40

30

20

10

0
FISICO PSIQUICO SOCIAL AMBIENTAL
DOMINIOS

Gráfico 1: Médias de cada domínio do Whoqol-Bref de todos participantes.

Constata-se que o domínio mais bem pontuado, ou seja, o que os


participantes consideraram mais adequado, foi o social com 83%, seguido do
psíquico com 80%, físico com 72%; e o que obteve pontuação mais baixa, foi o
ambiental com 61%.

24
O gráfico 2 apresenta as médias de cada domínio do Whoqol-Bref
aplicado ao G1.

100
90
80
82
70 78
73
60
63
50
%

40
30
20
10
0
G1 Fisico G1 Psiquico G1 Social G1 Ambiental
Dominios

Gráfico 2 : Médias de cada domínio do Whoqol-Bref aplicado ao G1.

Constata-se que o domínio mais bem pontuado, ou seja, o que os


participantes consideraram mais adequado, foi o psíquico com 82%, seguido
do social com 78%, físico com 73%; e o que obteve pontuação mais baixa, foi o
ambiental com 63%.

O gráfico 3 apresenta as médias de cada domínio do Whoqol-Bref


aplicado ao G2.

90
80
81 78
70 74
60
60
50
%

40
30
20
10
0
G2 Fisico G2 Psiquico G2 Social G2 Ambiental
Dominios

Gráfico 3: Médias de cada domínio do Whoqol-Bref aplicado ao G2.

25
Constata-se que o domínio mais bem pontuado, ou seja, o que os
participantes consideraram mais adequado, foi o psíquico com 81%, seguido
do social com 78%, físico com 74%; e o que obteve pontuação mais baixa, foi o
ambiental com 60%.

O gráfico 4 apresenta as médias de cada domínio do Whoqol-Bref


aplicado ao G3

100
90
80 86
70 77
60 68
50 60
%

40
30
20
10
0
G3 Fisico G3 Psiquico G3 Social G3 Ambiental
Dominios

Gráfico 4: Médias de cada domínio do Whoqol-Bref aplicado ao G3.

Constata-se que o domínio mais bem pontuado, ou seja, o que os


participantes consideraram mais adequado, foi o social com 86%, seguido do
psíquico com 77%, físico com 68%; e o que obteve pontuação mais baixa, foi o
ambiental com 60%.

26
5.DISCUSÃO

Neste estudo, foi constatada a prevalência do sexo masculino (95%),


media de idade de 33 anos e etiologia da amputação mais freqüente por
acidente motociclístico, principalmente no G1 (71,42%), mas também no G2
(66,66%) e G3 (57,16%).
Segundo Santos et al (2008), esse predomínio do envolvimento do
gênero masculino em acidentes de trânsito é atribuído a uma maior exposição
em comparação com o gênero feminino, devido a alta freqüência de condução
de carro, maior número de habilitação e início da condução com menor idade.
Em relação à faixa etária, diversas pesquisas nacionais afirmam que cerca de
70% das vítimas de acidente de trânsito têm idades entre 10 e 39 anos, por
conseguinte, pertencentes ao grupo de adolescentes e adultos jovens.
As amputações traumáticas acometem principalmente adolescentes e
adultos jovens, os quais estão mais expostos a acidentes por meio de
transportes e acidentes de trabalho (Carvalho 1999).
Na presente pesquisa, foi detectada maior prevalência de dor no coto
em pessoas do G1 (protetizados e inseridos em programa de reabilitação), este
grupo por estar inserido em programa de reabilitação teve maior exposição a
atividades com as próteses. A dor no coto é uma dor que se origina da parte
residual do coto, diferente da dor fantasma, a qual é sentida na parte ausente
do corpo. Geralmente, ela é aguda, do tipo pontada ou pressão que, embora
seja difusa, é localizada na extremidade do coto. A causa mais comum da dor
do coto é originária da prótese, a qual implica em um ajuste inadequado da
mesma (Magee 2005).
A dor quando em situação de deambulação pode ter ocorrido devido a
alta frequência de indivíduos do G1 que estavam com cartucho provisório, o
que implica em um possível ajuste inadequado devido a maturação do coto.
A ocorrência de membro e dor fantasma foi evidenciada em media em
54,4% dos voluntários, com os seguintes relatos: “sensação que tenho o
membro” “sensação de pontadas no membro amputado”.
Segundo Magee (2005), a dor fantasma é descrita como uma sensação
dolorosa sentida na parte ausente do corpo, sendo que 80% dos amputados

27
sentem dor fantasma algumas vezes durante o processo de cicatrização. A dor
fantasma é relativamente comum, mas ela é imprevisível em termos de fatores
predisponentes, gravidade, freqüência, duração ou característica, agravamento
por estímulos internos ou externos, ou o tipo de dor sentida. Muitos amputados
descrevem a dor como sendo do tipo facada, queimação, pontada, picada,
latejante, câimbra, compressão, “como se alguém estivesse tentando arrancar
minha perna” ou algum tipo de fenômeno elétrico.
No presente estudo poucos indivíduos apresentaram deformidades no
coto de amputação, sendo a porcentagem de indivíduos que apresentaram
deformidade no G1 foi (14,28%), G2 (16,66%) e G3 (14,29%). As deformidades
encontradas foram flexão de joelho em um amputado transtibial, flexão e de
quadril em um desarticulado de joelho e abdução de quadril em um
transfemoral, estes dados podem ser explicados pelo fato que o individuo do
G1 que estava com deformidade foi inserido em um programa de reabilitação
após a ocorrência de deformidade e os outros dois indivíduos não estavam
inseridos em um programa de reabilitação.
O coto é denominado membro residual, sendo considerado um novo
membro responsável pelo controle da prótese durante o ortostatismo e
deambulação. É comum ocorrer algumas complicações após amputação, como
deformidade em flexão, irregularidades ósseas, excesso de partes moles,
cicatrização inadequada, neuromas dolorosos, complicações cutâneas ou
comprometimento vascular, o que pode levar a incapacidade e redução nos
níveis de qualidade de vida. (Pastre, et. al 2006).
Neste estudo, os participantes do G1 apresentaram a maior freqüência
de indivíduos com boa contração isométrica do coto (85,71%), provavelmente
por estarem frequentando programa de reabilitação alem de serem
protetizados, o que também representa melhor evolução.
Segundo Carvalho (1999), a orientação de exercícios de contração
isométrica dos músculos dorsiflexores, extensores de joelho, extensores de
quadril e adutores deve ser dada, respectivamente, aos pacientes amputados
parciais de pé, transtibiais e transfemorais.
Os membros contra-laterais de todos os integrantes da presente
pesquisa apresentavam força e ADM adequadas para deambulação e nenhum
fazia uso de ortese ou apresentava outra amputação.

28
Segundo Magge 2005, a força, a resistência e a amplitude de movimento
ADM do membro oposto saudável devem ser avaliadas uma vez que um maior
estresse será imposto sobre o mesmo, especialmente no amputado de membro
inferior.
Os níveis de amputação são um fator importante, pois dependendo do
nível pode-se ajudar ou atrapalhar na funcionalidade da prótese, assim
interferindo na qualidade de vida. Nesta pesquisa foram encontrados os níveis:
transtibial, desarticulação de joelho, transfemoral e desarticulação de quadril.
Houve uma prevalência do nível transtibial no G1 (57,14%) e no G2 (50%). O
segundo maior índice de amputação foi o transfemoral no G3 (42,47%). O nível
transtibial foi o mais frequente no G1 e G2 pelo fato que a etiologia mais
frequente ser o acidente motociclistico e a média de idade que é de 33 anos.
Segundo Pastre et al. (2006) a maior frequência de amputação
transtibial ocorre em adultos jovens que tem uma maior exposição ao trânsito.
Segundo Carvalho (1999), a amputação transtibial é uma amputação
realizada entre a desarticulação tibiotársica e a de joelho, já a amputação
transfemoral refere-se a toda amputação realizada entre a desarticulação de
joelho e a de quadril.
O nível pode interferir na qualidade de vida, por exemplo, em uma
amputação transtibial foi feita em uma região muito distal da tíbia, pois com
isso o coxim certamente ficará escasso por ser uma região com muito pouco
tecido muscular e o aporte sanguíneo pode ser ineficiente o que pode levar a
ulcerações. O espaço entre o coto e o solo é diminuído dificultando uma boa
protetização.
Outro exemplo que podemos citar na própria amputação transtibial é o
inverso, quando é realizada uma amputação muito proximal, o que também não
possibilita uma boa protetização, pois no intuito de salvar o joelho o coto ficar
muito curto, diminuindo o apoio do cartucho da prótese que assim dificultando
sua fixação e diminuindo o braço de alavanca para movimentação e controle
sobre a prótese.
A situação do coxim é outro fator muito importante para uma boa
protetização. Na presente pesquisa o G2 foi o grupo com maior índice de
coxins firmes chegando a 66,6% dos indivíduos, dado positivo para uma boa
protetização. Coxins escassos ou volumosos podem prejudicar em uma boa

29
protetização, o G3 obteve 42,85% de indivíduos com coxim escasso e o G1
obteve 45,85% de indivíduos com coxim volumoso por processo de mioplastia
inadequada.
Segundo Carvalho (1999), o coxim é o resultado de mioplastia, na qual
os músculos antagonistas serão fixados aos agonistas, e também a miodese,
em que a musculatura será reinserida em um ponto ósseo. Um coto escasso
seria quando os tecidos subcutâneos e musculares da região resultam em um
coxim não satisfatório, que não protegem corretamente a região óssea distal; já
um coxim volumoso por mioplastia incorreta é quando tecidos subcutâneos e
musculares estão em excesso no coto de amputação.
Os resultados do presente estudo, em relação à qualidade de vida,
considerando todos os participantes e também os grupos 1, 2 e 3
separadamente, evidenciaram que os domínios meio ambiente e saúde física
obtiveram os scores mais baixos; 61% e 72%, respectivamente. Isso pode ter
ocorrido, devido à relação direta da amputação com as limitações físicas e
conseqüentemente às dificuldades em lidar com o meio ambiente. O domínio
saúde física, engloba questões referentes à capacidade para o trabalho,
atividades da vida cotidiana e mobilidade, que foram os aspectos e com maior
comprometimento neste estudo.
Segundo Dornelas (2010), fatores negativos para o baixo retorno de
amputados ao trabalho, conhecidos pelos centros de reabilitação, são os
atrasos no encaminhamento e na inclusão do amputado em programas de
reabilitação e dificuldades socioeconômicas. Pacientes admitidos
precocemente para reabilitação tendem a retornar ao trabalho em menor
intervalo de tempo.
Segundo Diogo (2003) a visão da sociedade a respeito uma pessoa
portadora de deficiência muda drasticamente, quando esta apresenta um bom
nível de independência na realização de suas atividades de vida diária. O
individuo mostrando-se independente poderá apresentar potencial para exercer
seu papel social e produtivo diante da sociedade, deixando de representar um
peso social e financeiro. Dessa forma não é difícil imaginar as relações
psicológicas e de comportamento desses indivíduos, pois alem de ter que
aprender a aceitar sua nova condição de vida, tem que lidar com a aceitação
por parte da sociedade.

30
Conseqüentemente, no domínio meio ambiente os participantes
declararam maior prejuízo nos aspectos financeiro, acesso aos serviços de
saúde e acesso a atividades de lazer.
“Art. 7° - As pessoas deficientes têm o direito ao tratamento médico,
psicológico e funcional, inclusive aparelhos protéticos e ortóticos, à reabilitação
física, à reabilitação social, à educação, ao treinamento e a reabilitação
profissionais, à assistência, ao aconselhamento, aos serviços de colocação e a
outros serviços que lhe possibilitarão desenvolver suas capacidades e
habilidades ao máximo e acelerarão o processo de sua integração ou
reintegração social.” (ONU, Declaração dos direitos das pessoas deficientes,
1975).
Cidadão é o individuo que possui obrigações e direitos perante a
sociedade da qual é parte integrante e dela participa. Possui como principais
direitos o acesso à moradia, à saúde, à educação, ao trabalho, ao lazer e a
circulação (BRASIL ACESSÍVEL).
Os domínios mais bem pontuados considerando todos os participantes
foram o Social, seguido do Psíquico. Entretanto, nos grupos 1 e 2 o domínio
com maior pontuação foi o Psíquico e apenas no G3 o Social. Isso pode ser
explicado pelo fato dos grupos 1 e 2, que são grupos protetizados,
apresentarem maior probabilidade terem auto estima elevada, aceitação da
imagem corporal e aparência, diminuição dos sentimentos negativos. E no G3
melhores aspectos como relações pessoais (amigos, parentes,conhecidos,
colegas) e apoio social.
Acredita-se que a prótese torne possível a realização de qualquer
atividade, melhorando a auto estima e, portanto, minimizando os efeitos
negativos (físicos e psicológicos) resultantes da amputação (Chini, 2005).
Segundo Ramacciotti et. al., (2002), a aceitação da amputação sofrida e
um processo complexo tanto para o paciente quanto para a família, devendo,
sempre que possível, o suporte psicológico anteceder a fase de cirúrgica da
amputação, ocorrer durante a fase de preparo para a protetização e manter-se
na reabilitação até a reintegração social e laboral do paciente.

31
6.CONCLUSÃO

Com a realização deste trabalho de pesquisa, foi possível concluir:


Considerando todos os participantes, o domínio de qualidade com
pontuação mais baixa foi o de saúde ambiental seguido do físico.
Considerando todos os participantes o domínio de qualidade de vida
com maior pontuação foi o social seguido do psíquico.
Houve predomínio do gênero masculino (95% ao total); idade média de
33 anos; etiologia da amputação de acidente motociclistico; nível de amputação
transtibial; tipo de coxim firme; tempo de pré protetização menor que 12 meses;
membro contra lateral com força e ADM adequadas para deambulação e
ninguém fazia uso de órtese ou era amputado de qualquer outra parte do
corpo.
O G1 (protetizados e inserido em programa de reabilitação) apresentou
maior score para o domínio psíquico seguido do social e mais baixo do domínio
ambiental seguido do físico; maior índice de dor no coto, de boa contração
isométrica, de etiologia por acidente motociclistico e de nível transtibial.
O G2 (protetizados não inseridos em programa de reabilitação)
apresentou maior score para o domínio psíquico seguido do social e mais baixo
do domínio ambiental seguido do físico; obteve o maior índice de coxins firmes.
O G3 (amputados não protetizados) apresentou maior score para o
domínio social seguido do psíquico e mais baixo do domínio ambiental seguido
do físico; Nível de amputação transfemoral e coxins escassos.

32
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL ACESSÍVEL, Programa brasileiro de acessibilidade urbana. Pag. 39.


www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/transporte-e-mobilidade/arquivos/Brasil

CARVALHO, J. A. Amputações de Membros Inferiores. 2ª edição, São Paulo: Manole,


2003.

CARVALHO, J. A. Amputações de Membros Inferiores. 1ª edição, São Paulo: Manole,


1999.

CHINI G. C. O. BOEMER M. R. A Amputação na Percepção de quem a Vivencia: Um


Estudo sob a Ótica Fenomenológica, 2007.

CLAPIS MJ. Qualidade de Vida de mulheres com câncer de mama: uma


perspectiva de gênero [dissertação]. Ribeirão preto, Universidade de São
Paulo; 1996.

DIOGO MJD. Satisfação global com a vida e determinados domínios entre idosos
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DORNELAS L.F. Uso da prótese e retorno ao trabalho em amputados por acidentes de


transporte. Acta Ortop Bras. [periódico na internet]. 2010; 18(4); 204-6. Disponivel em
URL: http://www.scielo.br/aob

FLECK MPA, LOUZADA S, XAVIER M, CHACHAMOVICH E, VIEIRA G,


SANTOS L, et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de
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LIMA K. B. B., CHAMLIAN T. R., MASIERO D. Dor fantasma em amputados de


membro inferior como fator preditivo de aquisição de marcha com prótese, 2006.

MAGEE J. DAVID, Ph.D, B.P.T. Avaliação Musculoesquelética. 4° edição, São Paulo:


Manole, 2005.

PASTRE C.M., SALIONI J.F., OLIVEIRA B.A.F., MICHELETTO M, NETTO J.J.


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REMACCIOTTI, O; LUCCIA N. de; FREITAS, M. A. da S. Amputação de membros


inferiores. In: MAFFEI, F. H. A. et al. Doenças vasculares periféricas. 3° ed., Medsi,
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33
RESENDE M. C., CUNHA C. P. B, SILVA A.P., SOUZA S.J. Rede de relações e
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RYBARCZYK, B.D.; SZYMANSKI, L. e NICHOLAS,J.J. (2000) Limb amputations,


Handbook of rehabilitation psychology. American Psychological Association., 2000.

SANTOS, A.M.R; MOURA, M.E.B; NUNES, B.M.V.T; LEAL, C.F.S; TELES, J.B.M.
Perfil das vítimas de trauma por acidente de moto atendidas em um serviço público de
emergência, 2008.

SOUZA, A.I.C.A. A experiência vivida da pessoa com a amputação atravéz do corpo –


influencia da pratica de actividade física, 2009

The WHOQOL Group. The development of the World Health Organization quality of
life assessment instrument (the WHOQOL). In: Orley J, Kuyken W, editors. Quality of
life assessment: international perspectives. Heidelberg: Springer- Verlag; 1994. p. 41-
60.

34
ANEXOS

Anexo I

ROTEIRO DE ANAMNESE E AVALIAÇÃO

_________________, ____ de ____________ de 2010.

I) IDENTIFICAÇÃO

Nome: __________________________________________Sexo: M ( ) F ( )
Endereço:
______________________________________________________________
Data de nascimento: / /
II) DADOS DA AMPUTAÇÃO

Etiologia da amputação: _________________________________


Data da amputação: / /
Nível de amputação: ____________________________________
Data de protetização: / /
III) CONDIÇÕES ATUAIS

Em que situação encontra-se atualmente:


( ) Amputado não protetizado.
( ) Amputado protetizado, mas não inserido em programa de
reabilitação.
( ) Amputado protetizado e inserido em programa de reabilitação.
Qual a situação do coxim:
Coxim Firme ( )
Coxim Escasso ( )
Coxim Volumoso (por edema) ( )
Coxim Volumoso (por mioplastia/miodese inadequada) ( )
Tem força de contração isométrica? Sim ( ) Não ( )
Tem alguma deformidade? Sim ( ) Não ( )

35
Caso positivo, qual é a deformidade? R.
________________________________________
Sente dor no coto? Sim ( ) Não ( )
Caso positivo, por que e em qual situação? R.
___________________________________
Sente o membro ou dor fantasma? Sim ( ) Não ( )
Caso positivo, qual a
sensação:_______________________________________________
Qual a situação do membro contra lateral?
Força e ADM adequadas para deambulação: Sim ( ) Não ( )
Faz uso de órtese: Sim ( ) Não ( )
Amputado: Sim ( ) Não ( )

36
Anexo II

WHOQOL - ABREVIADO
Versão em Português

PROGRAMA DE SAÚDE MENTAL


ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE
GENEBRA

Coordenação do GRUPO WHOQOL no Brasil


Dr. Marcelo Pio de Almeida Fleck
Professor Adjunto
Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre – RS - Brasil
Instruções

Este questionário é sobre como você se sente a respeito de sua qualidade de vida, saúde
e outras áreas de sua vida. Por favor, responda a todas as questões . Se você não tem certeza
sobre que resposta dar em uma questão, por favor, escolha entre as alternativas a que lhe parece
mais apropriada. Esta, muitas vezes, poderá ser sua primeira escolha.
Por favor, tenha em mente seus valores, aspirações, prazeres e preocupações. Nós
estamos perguntando o que você acha de sua vida, tomando como referência as duas últimas
semanas
. Por exemplo, pensando nas últimas duas semanas, uma questão poderia ser:

nada Muito médio muito completamente


pouco

Você recebe dos outros o apoio de 1 2 3 4 5


que necessita?

Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você recebe dos outros o apoio
de que necessita nestas últimas duas semanas. Portanto, você deve circular o número 4 se você
recebeu "muito" apoio como abaixo.

37
nada Muito médio muito completamente
pouco

Você recebe dos outros o apoio de 1 2 3 4 5


que necessita?

Você deve circular o número 1 se você não recebeu "nada" de apoio.


Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número e lhe parece a
melhor resposta.
muito ruim nem ruim boa muito
ruim nem boa boa

1 Como você avaliaria sua qualidade 1 2 3 4 5


de vida?

muito Insatis- nem satisfeito satisfeit Muito


insatis- feito nem o satisfeito
feito insatisfeito

2 Quão satisfeito(a) você está com 1 2 3 4 5


a sua saúde?

As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas duas
semanas.
nada muito mais ou Bastan- Extrema-
pouco menos te mente

3 Em que medida você acha que sua 1 2 3 4 5


dor
(física) impede você de fazer o que
você precisa

4 O quanto você precisa de algum 1 2 3 4 5


tratamento médico para levar sua
vida
diária?

38
5 O quanto você aproveita a vida? 1 2 3 4 5

6 Em que medida você acha que a 1 2 3 4 5


sua vida tem sentido?

7 O quanto você consegue se 1 2 3 4 5


concentrar?

8 Quão seguro(a) você se sente em 1 2 3 4 5


sua vida diária?

9 Quão saudável é o seu ambiente 1 2 3 4 5


físico
(clima, barulho, poluição,
atrativos)?

As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de
fazer certas coisas nestas últimas duas semanas.
nada muito médio muito completament
pouco e

10 Você tem energia suficiente para 1 2 3 4 5


seu dia-a-dia?

11 Você é capaz de aceitar sua 1 2 3 4 5


aparência física?

12 Você tem dinheiro suficiente para 1 2 3 4 5


satisfazer suas necessidades?

13 Quão disponíveis para você estão 1 2 3 4 5


as
informações que precisa no seu
dia-a-dia?

14 Em que medida você tem 1 2 3 4


oportunidades de atividade de
lazer?

39
As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de
vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas.
muito ruim nem ruim bom muito
ruim nem bom bom

15 Quão bem você é capaz de se 1 2 3 4 5


locomover?

muito Insatisfei- nem satisfeito Satisfei- muito


insatis- to nem to satisfeito
feito insatisfeito

16 Quão satisfeito(a) você está 1 2 3 4 5


com o seu
sono?

17 Quão satisfeito(a) você está 1 2 3 4 5


com sua
capacidade de desempenhar as
atividades do seu dia-a-dia?

18 Quão satisfeito(a) você está 1 2 3 4 5


com sua
capacidade para o trabalho?

19 Quão satisfeito(a) você está 1 2 3 4 5


consigo
mesmo?

20 Quão satisfeito(a) você está 1 2 3 4 5


com suas
relações pessoais (amigos,
parentes,
conhecidos, colegas)?

21 Quão satisfeito(a) você está 1 2 3 4 5


com sua vida sexual?

21 Quão satisfeito(a) você está 1 2 3 4 5

40
com o apoio que você recebe de
seus amigos?

23 Quão satisfeito(a) você está 1 2 3 4 5


com as
condições do local onde mora?

24 Quão satisfeito(a) você está 1 2 3 4 5


com o seu
acesso aos serviços de saúde?

25 Quão satisfeito(a) você está 1 2 3 4 5


com o seu
meio de transporte?

As questões seguintes referem-se a com que freqüência você sentiu ou experimentou certas
coisas nas
últimas duas semanas.
nunca algumas freqüentemen muito sempre
vezes te freqüente-
mente

26 Com que freqüência você tem 1 2 3 4 5


sentimentos negativos tais
como mau
humor, desespero, ansiedade,
depressão?

Alguém lhe ajudou a preencher este questionário?..................................................................

Quanto tempo você levou para preencher este questionário?..................................................

Você tem algum comentário sobre o questionário?

OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO

41

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