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Félix Guattari PSICANÁLISEE

TRANSVERSALIDADE

ensaio_ de anáise
institucional

PREFÁCIO DE
GILLES DELEUZE

EDITORA
|IDEIAS
LETRAS
oon- Thour
oi a partir de 1961, no curso de reuniöes do
G.T.P.S.., que me propus a situar apsicoterapia ins-
titucional como u m caso específico do que denomi-
neianálise institucional". Na época, essa ideia tivera

poucos ecos. Foi fora dos ambientes psiquiátricos,


particularmente nos grupos da F.G.E.R.I., que ela foi
retomada. Os animadores da corrente de psicote-
rapia institucional n o
pensavam em nada mais do
que uma tímida extensão da análise aos domínios
da psiquiatria e, eventualmente, da pedagogia. PSICANÁLISE
A meu ver, tal extensão só poderia levar ao im- E TRANSVERSALIDADE

passe caso não tivesse como alvo o conjunto do cam-


po político e social. Um dos pontos de aplicação
politica essencial dessa análise institucional parecia-
-me ser, em particular, o fenômeno da burocratiza-
ção das organizações militantes, que deveria poder
advir do que denominei "analisador de grupo".
Esses temas fizeram seu percurso; os analisa-
dores, a análise institucional e até a transversalida-
de foram colocados em alguma dose em todos os
molhos; talvez se deva ver nisso a indicação de que,
apesar de seu caráter aproximativo, elas traziam em
si uma problemática um tanto vivida. Longe de mim
a ideia de defender alguma ortodoxia no tocante à
origem desses conceitos! Na época, otrabalho de ela-
boração do G.T.P.S.I. foi coletivo; as ideias jorraram
de toda parte, sem
pertencer a ninguém. Infeliz-
mente, o clima mudou, e me vilevado a acrescentar
esses esclarecimentos.
FÉLIX GUATTARI

PSICANÁLISE
E TRANSVERSALIDADE

Ensaios de Análise Institucional

EDITORA
IDEIAS&
LETRAS
TRADUÇÃO:
Adail Ubirajara Sobral
DIREÇAO EDITORIAL
Carlos Silva
Maria Stela Gonçalves
Ferdinando Mancilio

CoPIDESQUE SUMARIO
COMISSÃO EbITORIAL:
Mônica Guimarães Reis
Avelino Grassi

Roberto Girola
REVISÃO Santos Reis
CoLEÇÃO DIRIGIDA POR: Elizabeth dos
Ab'Sáber
M.
Táles A. DIAGRAMAÇÃO:
Noemi Moritz Kon
Alex Luis Siqueira
Santos Prefácio
Roberto Girola

CAPA médicos (1955) . 2 1


Sérgio Kon Sobre as relações entre os enfermeiros e os

Monografia sobre R. A. 35
iransversalite: Essais d'Analyse Institutionnella
et
Psychanalyse
Titulo original: 2003 Desmoronamento de uma vida ainda não vivida.
Découverte, Paris,
Editions La
ISBN 2-7071-3432-5
Perda do "Eu" (Excertos do diário de R. A.)..
1974, na Coleção Text à l'Appuilsér Psychiatrie, das
vez em
primeira
Esta obra
foi publicada pela
Editions François Maspero.
o Brasil, Senhoras e senhores, o SCAJ.
lingua portuguesa, para
.

direitos em
Todos os
2015.
editora ldeias & Letras,
reservados

Introdução à Psicoterapia Institucional (1962-1963) 9


23 Impressão.
.60
1. O ponto de partida.. *** ****'******** ********

EDTORA 2. O que é um grupo.. ******************


** .62
IDEIAS&
66
LETRAS 3.A instituição.. ****'**''****'************ ***** *** *******

Rua Tanabi, 56 Agua


Branca
-

4. Nova direção da psicanálise .... *********


.69
Cep: 05002-010-São Paulo/SP
38624831
(11) 3675-1319 (11)
Televendas: 0800 777 6004
vendas@ideiaseletras.com.br A Transferência (1964)
www.ideiaseletras.com.br

Reflexões sobre a Terapêutica Institucional e os problemas


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) de higiene mental no meio estudantil (1964) ...
Psicanálise e transversalidade: ensaios de análise institucional
Adail Ubirajara
FélixGuattari 1930-1992; prefácio de Gilles Deleuze; [tradução 101
Sobral, Maria Stela Gonçalves] - Aparecida, SP: ldeias & Letras, 2004 A Transversalidade (1964).
(Coleção Psicanálise Século I)

Titulo original: Psychanalyse et Transversalité:


Essais d'Analyse Institutionnelle Reflexões para filósofos acerca da Psicoterapia
Bibliografia I19

ISBN 85-98239-23-2 Institucional (1966) .


1. Psicanálise 2. Psicoterapia !. Deleuze, Gilles, 1925-1995.
.. 133
I1. Titulo. Iil. Série.
As Nove Teses da oposição de esquerda (1966).
04-7269 CDD-150.195

Indices para catálogo sistemático: 173


1. Psicanálise transversalidade: Psicologia
e De um signo ao outro (1966) . .

150.1195
2. Psicoterapia institucional: Teorias
psicanaliticas: Psicologia 150.195
(balanço
desconexo) (1966)
desconexo) (1966)..
pessoa
.
I99
e a
O grupo

e a História
História (1966-11967)...22 Prefácio
Subjetividade

a
Causalidade,
.
signuif1cante..
A
História e a
determinação ..227 Três problemas de grupo
1.A '''''***''**''*
'*''*'** .
leninista
.....
.239
analítica..
2.A nuptura ..

***'***'°**
da classe operariae
perspectiva
254 odem conviver numa mesma pessoa o militante

3. Integração '''''*'*'****
****
'''**
''**'''***

''''**
267 de permanecerem
politico e o psicanalista, sendo igualmente possível
em vez
que,
*****'********

1967...
4.Viectna,
misturar um conn o outro, de
de se
se aprende (1968 como compartimentos estanques, eles não parem
que 273
Contrarrevolução
é uma ciencia
mnutuamente, de se comunicar entre si,
de se tomar um pelo outro. Desde
A interferir
bastante Pierre-Félix Guattari não se ocupa
(1968)...
Reich, trata-se de um evento raro.

2/5 das coisas


ego. O ego é, antes, parte
Narcisismo

Autogestão
e em absoluto dos problenas da unidade de um

analiticas. A
ataque conjunto das forças políticas
e
que é preciso dissolver, sob o
fim de junho de 1968.. ..

. . 2/9 bem a
qual somos todos grupiúsculos',
marca
afirmação de Guattari, segundo
discussoes: a
Excertos de
deixa
subjetividade, subjetividade de grupo, que não se
enceTTar
busca de uma nova

katanguês (1969). 297 é um supeTEgo,


louco num todo forçosamente pronto a reconstituir um ego, ou, que pior,
e o 0
O estudante, o
mas que em vez disso abarca varios grup0s ao mesno tempo, gnupos divISIV'EIS,
e estrutura (1969) . . . 309
multiplicdveis, comunicantes e sempre revogáveis. O critério para um bom grupo
Máquina
é que ele não se julgue único, imortal e significante, como ium sindicato de detesa
o reverso da anáise (1970)...321
Refexões sobre o ensino ministério de ex-combatentes, raminque num
como ou de segurança, conmo um mas se

321 de não sentido, de morte


fora que o ponha em confronto com suas possibilidades
'**''*''''*''

1.Argumento.
.. 326 ou de esfacelamento "pela razão mesma de sua abertura aos outros grnupos". O
2. Comentários.. ***'***''*''*'''''' '**'****

indivíduo é, por sua vez, um gnupo assim. Guattari encarna da mnaneira mas

Guerrilha em psiquiatria (1970). 337 natural os dois aspectos de um antiego; de um lado, como um pedregulho catatö0
nico, corpo cego e enrijecido, que se penetra de morte sempre que retira os oculos;
Onde começa a psicoterapia de grupo? (1971). . 341 do outro, de
*****"******
resplandecendo mil fogos, pululante de caminhos muiliplos senpre
que olha, age, ri, pensa, ataca. Do mesmo modo, ele chama a si mesmo Pierree

Raymond e o grupo Hispano (1979). * * * * . 345 Félix: potências esquizofrênicas.


Nessa convivência do psicanalista com o militante, destacam-se ao menos
Os "maos-maso", ou o maio impossível (1970).. .355 três ordens de problenas: 1. Como introduzir a
política na
pratica e na
teoria
psicanalíticas (uma vez dito que, de qualquer maneira, d politica está no próprio
Somos todos inconsciente)?
grupúsculos (1970)... 359 2. De que modo é possivel, e se for, introduzir a psicanálise nos
gnupos militantes revolucionários? 3. Como conceber eformar grup0s terapêuticos
Îndice dos
principais nas...... .367 especificos cuja inftluência se Jaria sentir sobre os gnupos politicos, bem como sobre as
estruturas psiquiátricase psicanaliticas? No tocante a esses trés tipos de problemas,
Guattari apresenta aqui certo niúmero de artigos, do periodo que vai de 1955
análise e nsversalidade
Prefacio

uma evolugao,
havendo aidoi des pontos de
marcam
que Como esquecer o papel do Estado em todos os impasses em que a libido vé a s
1970, artigos
as
coperangas-desesperos
libertação
do pós-lh
de construçao
e as
anças-desesperos do mesma, reduzida a ivestir as imagens intimistas da família? Como crer que o
referéncia,
1968 e,
entre os dois, o trabalho
que prepara maio complexo de castração possa algum dia ter uma soluço satisfatória enguanto a
de e r e m o s que Guattari
veremos Guattari teve m1uito cedo
pos-maio
problema, o socicdade lhe confiar um papel inconsciente de regulação e de repressão sociais? En:
ao primeiro
Quanto está antes diretamente vinculadocom
de que o
mconscicnte todo um Suma, a relação s o c i a lj a m a i s constitui u m "além" ou um "depois " dos problem4s

coordenadas
sentimento

econômico
e político
e com as
miticas familiarese
individuais e familiares. Chega a ser curioso o ponto até o qual os conteudos
campo social, Trata-se da hibido propriamente dita,
invocadas pela psicanál sociais, económicos e politicos da libido se mostram ainda melhor quando se está
tradicionalmente
de sexualidade: cla investe e desinveste os fiuvoc diante de síndromes que exibem os aspectos nnais dissocializados, como no caso
snria de desejo e
cortes desses fuxos. blaauet:
o campo soCial, efetua ueios, da psicose. "Para alén do ego, o sujeito se vé desmembrado pelos quatro cantos do
toda natureza que permeiam
há dúvida de que não opera de modo manifesto. à f. eição universo histórico, o delirante se põc a falar linguas estrangeiras, alucina a História,.
E não
fiuoas, retençöcs. .
consciënciae dos encadeamentos da causalidado e os conflitos de classes ou as guerras assumem o estatuto de
instrumentos da
dosinteresses objetivos da
diversos niveis
em vez disso exibe
ui1 desejo latente coextensivo ao campo soial expressão de si mesnno (...); a distinção entre a vida privada e os
tórica, mas "
reud, que só da
de causalidade, emergéncias
de singularidades, tanto pontoc da vida social deixa de ter releváncia. (Comparar com retém

implicando upturas näo qualifcado, ex-


1956' nao e apenas um evento na consciência gucrra unn indeterminado instinto de morte, e um choque
de narada como pontos de fuga. cesso de excitação do tipo explosivo.) Restittuir do inconsciente suas perspectiras
do inconsciente. Nossos amores, nossas escollhas
histórica, mas um complexo
Papai-AMame mitico do que as derivas históricas num cenário marcado pela inquietação e o desconhecddo implica uma

menos os derivados de umm


sexuais são
reversao da psicanalise psicvSe sob as vEstes
duvida, uma redescobert.t da
efeitos de fiuxo investidos pela libido. O
e, sCm

de um real-social, as interferências e os
da neurose. Porque a psicanálise uniu todos os seus esforços aos da psijuiatrid
à morte! Giiattari tem, portanto, condiçõcs de cen-
nos serve ao amor e
que não mais tradicional para sufocar a voz dos loucos, que falam csseTiialmente de_
nos
sistematicamnente todos os conteúdos
surar a maneira como apsicanálise esmaga de revolução. Num artigo recente. JIarcel Jaeger
do inconsciente, conteúdos que, na realidade,
determinam os objetos politica, de economia, de ordem e

sociopoliticos mostra que "as propostas sustentadas pclos loucos não tem sSud espessturd restrit.a
narcisis1no absoluto
do desejo. Apsicanálise, afirma ele, parte de uma espécie de individuais: discurso da loucura se articuld sobre um
a suas desordens psiquicas o

(Das Ding-A Coisa; o Isso) para chegar a um ideal de adaptação social a outro discurso, o da história política, social, religiosa que fals em cad.t un deles
deixa sempre na sombra uma
que da o nome de cura; mas esse empreendimento ..Em certos casos, é o uso de conceitos politicos que proroca un.t siruado de
em vez de
CONstelagão social singular, que é necessário pelo contrário explorar crise no doente, como se trouNesSe à luz o no de contradtdeS no
ji.l o louco

Sacrifucá-la à ivenção de um inconsciente simbólico abstrato. O Das Ding (sic) se acha enredado. (.) Não há lugar do campo social, c sequer de 1silo, cm 21ue
1do ée o horizonte recorrente que funda de modo ilusório uma pessoa individual,
não se inscreva a história do movimento operario." Esas förnulas exprimem a
na
as antes unm
corpo social que serve de base a potencialidades latentes (por que nesma orientação que é a dos trabalhos de Gtuuttri desde seus primeiros artigos,
aqui loucos e acolá a mcg
revolucionários?). São mais importantes do que o pai, o mesmo empreendinnento de unna rearalige ia psicos.
a avo todas
personagens que se fazem presentes nas questões fundannerla
as
E perceptivel a diferemça com relaçio a Reich: niv ha uma ceonomia libi
da
soctedade, como a luta de classes de HOSsa época. Mais importante qie co d eronemid pol1tica,
dinal que viesse por outros nmeios prolongar subjetirumente
O0 a interiorizar d explorag.id ctvnómica e o
soiedade grega um Édipo uma "compietu
belo dia realizou por meio de do há uma epressio sexual que viesse
1 a imensa libido est.á em tod.s parte já
Spaltung (cisão) que ora perpassa o mndo comunsid dsstjeitamento politico. Em vez disso, o desejo como

0
pncipais eventos históricos importantes ocorridos 1a França enn 1936 foi a chegada
"ivlhe pour Flhe". Partisa, tevereiro de 1972.
poucr
do
do Partido
Socialista, com Leon Blum, se à do governo de Pierre lLav 2JAEGER, Marel. "L'Unkegnonund de Li Kolhe".
En:
c
seguiu queda
"governo-tampão'" de Albert Sarraut. N.T. que
Psicanálise lransversalidade
10 11
o campo
social e a ele se une, coincidin Prefácio
exualidade percorre com os
um e os simbolos de
atual. O capitalismo monopolista Estado, longe de ser uma instáncia última,
de
sob os objetos, as pessoas grupo, fuxos
fiuxosque
passam
te e constituição mesma. Esse é o de
recorte em sua
é o resultado de um compromisso. Nessa "expropriação
dos capitalistas no seio
dependenm
estes
em seu

escolhas
escolhas de ol:
caráter domínio do aparato de Estado, mas ao
que
de desejo, que so manifesta se de
objetos com as
sex do capital", a burguesia mantém pleno
da sexualidade cada vez mais por institucionalizar e integrar a classe operária
demasiado evidente que os símbolos são
são conscienter preço de se esforçar
ede seus símbolos (é enquanto tal, a economia de modo tal que as lutas de classe se vejam descentradas
com relação aos lugares

economia politica
a dos fuxos,
sexuais). E, portanto, internacional,
e fatores de decisão reais, que, remetendo economia capitalista
ha duas economias, eo deseia ou
à
aue é inconscientemente libid1nal:
nao desejo bai dibidoo "só
economia "Afinal
da de politica. contas, a econase ultrapassam em muito os Estados. E em virtude desse mesmo principio que
são apenas a Subietividade "E o que exprime a noção de instiie uma estreita esfera da produção é inserida no processo
mundial de reproduço do
da subjetividade. que do Terceiro Mundo,
o lugar mesmo
de fiuxo e de interrupção de fuxo nas capital", permanecendo as outras esferas sujeitas, nos Estados
se define por uma subjetividade a relações pré-capitalistas (arcaísmos atuais de um segundo gênero).
As dualidades objetivo-subjetivo, infraestrutur.
objetinas de um grupo. counld Nessa sit1uação, cunnplicidade dos partidos comunistas nacionais
constata-se a
desaparecem para dar lugar à estritad lemen-
estruturas, produção/ideologia, que militam pela integração do proletariado ao Estado, a tal ponto que "os parti-
da ustifiuigao e o objetoinstitucional. (Seria
taridade entre o sujeito desejante cularismos nacionais da burguesia são em boa parte o resultado dos particaularismos
andlises institucCiOnais de GHattari conm aquelas que Card da
bom comparar essas nacionais do próprio proletariado, e a divisão interior da burguesia, a expressão
Socialisnme ou Barbáriev). divisão do proletariado". Por outro lado, mesmo quando se afirma a necesidade
fazia na mesma época em
de hutas revolucionárias no Terceiro Mundo, essas lutas servemn antes de tudo como
moeda de troca numa negociação, nnarcando a mesma reniúncia a uma estratégia
internacionale ao desenvolvimento da luta de classes nos paises capitalistas. E não
é possivel, e
se for, de que modo, introduzir a psica- vem tudo isso da palavra de ordem defesa das forças produtivas nacionais pela
segundo problema
-

O
nálise nosgupospoliticos?- exclui evidentemente toda "aplicação" da psicanáhse classe operária, luta contra os monopólios e conquista de um aparato de Estado?

fenómenos históricose sociais.


Nessas aplicações, a psicanálise, tendo Edipo A origem de semelhante sitnuação reside naquilo que Gitartari chama de "a grande
aos
na cabeça, já se expós
bastante ao ridículo. E completamente distinta a natu- nuptura leninista" de 1917, que fiaxa para o melhor e o pior as grandes atitudes, os
reza do problema: a situação que faz
do capitalismo a coisa a abater por meio principais enunciados, as inidativas eos estereótipos,
asfantasiaseas interpretações do
História que a sucede, movimento revolucionário. Essa niptura consistiria no seguinte: realizar iuma verdadeira
da revolução, mas que também faz a revolução russa, a
sindicatos nacionais, tudo isso sáo disnupção da causalidade histónica ao "interpretar"a dispersão nilitar, economica,politica
a organização dos partidos comunistas e dos
0 caraler e social comno uma vitória das massas. Enm vez da neessidade de união sagrada de
instâncias incapazes de levar a efeito essa destrnuição. No tocante a isso,
entre o desenvol
centro-esqueda, surgiria a possibilidade da revolução socialista. Mas o preço a pagarpor
proprio do capitalismo, que se apresenta como uma contradição
essa possibilidadefoi erigir o partido, outrora ainda modesta fornmagão clandestina, em
vimento das forças produtivas e as relações de produção, consiste no segte embrião de aparato de Estado capaz de dirigir tudo,; assumir una vocação messidnica
processo de reprodução do capital, de que dependem asforças produtivas norg
e ocupar o lugar das massas. Disso decomeran1 duas consequências de alcance mais ou
divisão munanal
, Cm St mesmo, um fenômeno internacional que implica uma
terior menos longo. Enquanto se opnha aos Estados capitalistas, o novo Estado entrava com
do trabalho; mas o capitalismo pode abalar os quadros nacionais no me
não
aOs quais desenvolve ento *A editora e o tradutor fizeram a opção de usar, na tradução de "tantasme","fantasia", para tornar
suas relações de
produção, nem o Estado como uHstriune o livro compatível com os usos atuais consignados nos dicionários, ef. Vocabulário da Psicanálise,
OL2aao do capital.A intenacionalização do capital é realizada, pu cO de Laplanche - Pontalis, Imago: Dicionário de Psicanálise, de Elisabeth Roudinesco e Michel
Plon, Zahar; Dicionário Enciclopédico de Psicanálise, de Pierre Kaufinann, Zahar. Alertamos
pelas estruturas nacionais e do Estado, que o efreiam ao mesmo te contudo que há autores que usam "fantasma", eque, tal como esse termo, "tantasia" exibe outros

O Oncretiz am, e que desempenham o papel de arcaisnios O fungao usos não especializados (N.E./N.T).
12
Psicanálise cTransveSversalndade
eles em relagoes deforça aujo ideal era uma espécie de status qud 13
:o
tática leninista no momento da N.E.P(Nova Política que tinha
da coexisténcia pacifca e da ompetiço
conônica) mou-se id.
económica. A ideia de ri
sido a
Prefacio

conjuranm as totalidades e hierarquias; são


agentes de
revolucionario. E
de
r ivalidade foi
ideoloa de transversalidade que
clemnentos de criação institucional; por
meio de sua
nara o movimento enquanto se intemadionaliruinosa
encarregava dodo inte. enunciação, suportes de desejo,
não sentido, de sua
no limite de seu próprio
Estado só podia desenmolbver e prática, não param de se confrontar
proletário,
socialista emnalfuinsmo
o novo a nova
de
A lém disso, trata-se menos de dois tipos grupos
dos dados do mercado mundial e de obyetinvOs semelhantes aos do canital :. própria morte ou fragmentação. corre
da instituição, dado que um grup0-sujeito sempre
do que de duas vertentes
disso decorendo uma aceitaçao ainda maor da integração dos partidos ran todo custo
crispação paranoica em que deseja
a
o risco de se deixar sujeitar, numa
a relações capitalistas de produção, sempre em nome da
defesa, pela classe se mantere se eternizarcomo sujeito;
inversamente, "um partido outrora
revolu-
foras produtivas nacionais. Em suma, se nao basta dizer, com os tocso operáñia, ddaas mais ou menos sujeitado à ordem dominante
ainda pode ocupar
atas, que os cionário e hoje
dois tipos de regime e de Estado
convergiami no curso de sua evolução, tamh História, tornar-se, como
aos olhos da massa o lugar deixado vago do sujeito da
suficiente supor, Trotsky,
com a exist¿ncia de um Estado proletário de um discurso que não é o seu, pronto
a

saudável que apesar de si mmesmo, porta-voz


o

sido pervertido pela burocracia, Estado que se poderia restaurar mediante que teria trai-lo tão logo a evolução da relação de forças implicar
uma volta ao normal;
ele
uma
involuntariamente, uma
revohugão política. E na maneira pela qual o partido-Estado reagia às nem por isso deixa de cOnservar de
seu caráter, como que
nagões-Fto!
stado do contexto poderá
do capitalismo, ainda que em relações de hostilidade e de
contrariedade, que iá iosogara se
potencialidade de uptura subjetiva que uma transformação
arcaismos pode1 vira ser
ou se traira tudo. Testemunha disso é
afragilidade da criação institucional na Risia e revelar". Exemplo extremo: o modo como os piores
todos os dom1inios, aujo ponto inidial é a apressada lhquidação dos sovietes revolucionários, os bascos, os católicos irlandeses etc.
(por exempla E verdade que se o problema das funões dos gnipos não for levantado
desde
importando-sefabricas de autormóveis completamente montadas, importam-se tanbém animando
o começo, depois será tarde demais. Muitos são os grnupiúisculos que,
tipos de relações humanas, funções tecnologicas, separaçöes entre trabalho inteletuale tão-somente massas jantasias, já dispoem de uma estrutura de assujeitamento,
trabalho manual, modalidades de constumo
profundamente alheias ao socialisno) com direção, correia de transmissão, base, guprisculos que reproduzem no vazio os
Toda essa análise assume sentido em
função da distinção que Guattari erros e perversões por eles mesmos combatidos. A experiéência de Gtuattari passa
propoe entre rupos-sujeitados) e grupos sujeitos Os grupos sujeitados não pelo trotskismo, pelo entrismo, pela oposição de esquerda (a Via comunista), pelo
Osão menoS no nivel dos senhores que dão a si mesm0s, ou quem aceitam, do a Movimento de 22 de março.Ao longo do caminho, o problema permanece semdo
queno nivel de suas massas; a hierarquia, a organização vertical ou piramidal o do desejo ou da subjetividade inconsciente: como pode um gnipo sustentar seu
que os caracteriza tem por meta conjurar toda
possível inscrição de não sentido, próprio desejo, pó-lo em conexão com os
desejos de outros gnupos e os desejos de
de morte ou de estilhaçamento, impedir o desenvolvimento de
destruições criativas, massa, produzir os enunciados criadores correspondentes e inmplantar as condiçöes,
assegurar mecanismos de autoconservação fundados na exclusão de outros grupos, não de sua unificação, mas de uma multiplicação propida a enunciados de nuptura?
Se centralismo opera por estruturação, totalização, unificação, substitundo as to O desconhecimento e a repressão defenómenos de desejo inspiram as estruturas
aigoes de uma verdadeira "enunciacão" coletiva pela organização de de assujeitamento e de burocratização; o estilo militante erigina o amor odioso
enunclaus
Stereolipados apartados aum sótempo do real e da subjetividade (é nessas anc que toma decisões sobre certo nimero de enunciados dominantes exclusivos. A
ancias que se
produzem fenómenos imaginários de edipianização, superego ação maneira constante pela qual os partidos revolucionários têm traído sua tarefa
rafao de grupo). demasiado conhecida. Eles procedem por separação, extração e seleção residual:
Os grupos sujeitos se definem, ao contrário, por co efncientes
separação de uma vanguarda que supostamente detém o saber; extração de um
Apreferencia por"
do c
história do
história conceitoOS-5ujeltados",
S a

de
em vez de
assujeitados, decorre de duas consiacty 40 texto citado aqui apresenta com relação ao original de Guattari, no texto "A transferència"
O aqui proposto, assujeitados
nas Clas
numanas, que não corresponde proprianienc (neste volume, p. 75), unm número de diferenças que indica tratar-se de duas versòes diferentes.
Vaencla da palavra em fundando-se em teses althusserianos, e a Mantivemos, por unna questio de fidelidade, essas duas versöes, dado que os comentários se
Sujetos",o que nãoque, necesu
alguns contextos, pode sugerir tanto "submetidos" nados
como "tor
ocorre com LOS,Pode sugerir sub baseiam na versão aqui citada. N. T.
nossa
opção. N.I.
14 Psicanálise e Transversalidade

proletariado bem disciplinado, organizado, hierarquizado; seleção residual de m


Subproletariado apresentado como destinado à exchuso ou à reeducação. Ora, essa
divisão tripartite reproduz precisamente as divisões que a burguesia introduziu
no proletariado, e com base nas quaiselafundon seu poder do âmbito de relações
capitalistas de produção. A ideia de lançar tais divisões contra a burguesia está, de
antemão, condenada ao fracasso. A tarefa revolucionaria é a supressão do próprio
proletariado, isto é, desde agora a supressão das distinções correspondentes entre
vanguarda e proletariado, proletariado e subproletariado, a luta efetiva contra toda
operação de separação, de extração e de selegão residual, a fim de produzir, ao con
trário disso, posições subjetivas e singulares capazes de comunicar transversalmente
(g. o texto de Guattari "O estudante, o louco e o katangus", p. 297).
A força de Guattari reside em mostrar que o problema não é de modo algum
uma alternativa entre o espontaneismo e o centralismo. Não é uma alternativa
entre guerrilha e guerra generalizada. De nada serve reconhecer da boca parafora
certo direito à espontaneidade numa primeira etapa e estar pronto a fazer numa
segunda a exigëncia do centralismo: a teoria das etapas é prejudicial a todo mo-
vimento revolucionário. Devemos ser desde o começo mais centralistas do que os
centralistas. E evidente que uma máquina revolucionária não pode contentar-se
com lutas locais e pontuais: hiperdesejante e hipercentralizada, ela deve ser tudo
isso ao mesmo
tempo. Logo, o problema tem a da unifica-
ver com a natureza
gão que deve operar transversalmente, mediante uma multiplicidade, em vez de
verticalmente e de modo tal a esmagar multiplicidade característica do desejo.
a

Em primeiro lugar isso significa que a unificação deve ser a de uma máquina de
guera, não de um aparato de Estado (um Exército Vermelho deixa de ser uma
máquina de guerra à medida que se torna uma engrenagem que determina em
maior ou menor grau um aparato de Estado). Significa, em segundo lugar, que a
unificagão deve ser realizada por meio da análise, deve ter um papel de analisador
com relação ao desejo de gupo ou de massa, em vez de um papel de sínteseque
opere por racionalizagão, totalização, exclusão etc. O que é uma máquina de
guerra em oposição a um aparato de Estado; o que é uma análise ou um
analisador do desejo em oposição às sínteses
pseudorracionais e cientíiticas
eis as duas grandes linhas a
que nos leva o livro de Guattari, linhas que marcam
segundo ele, a tarefa teórica a ser realizada atualmente.
Nessa úlima direçao, certamente não se trata de unna "aplicação da
psicanálise aos
fenómenos de grupo. Tambénm não seria um gnupo terapéutico
15
Prefacio

aue se proporia a Tratar as massas. Trata-se em vez disso de implantar no


interior do grupo as condições de uma análise do desejo, do desejo pessoal e do
dos outros; seguir os fluxos que constituem as tantas linhas da
desejo defuga
disrupções, impor rupturas próprio seio do
ceciedade capitalista e promover ao

determinismo social e da causalidade histórica; criar as condições de surgimento


de agentes coletivos de enunciagão capazes de elaborar novos enunciados do
desejo; constituir, em vez de uma vanguarda, grupos adjacentes aos processos

sociais, grupos que se dediquem apenas a fazer avançar a verdade por caminhos
que ela jamais percorreria em condições normais; em resumo, uma subjetividade
revolucionária com respeito à qual já não cabe perguntar o que vent primeiro,

determinações económicas, politicas, libidinais etc., visto que atravessa as ordens


tradicionalmente separadas; apossar-se do ponto de ruptura em que, precisa-
mente, a economia politica e a economia libidinal são apenas uma. Porque
o inconsciente não é outra coisa senão a ordem da siubjetividade de grupo
introduz máquinas a explosão tanto nas estruturas ditas significantes como
nas cadeias causais, e que asforça a se abrir a fin de liberar suas próprias po-
tencialidades ocultas como real por vir sobo efeito da ruptura. O Movimento
de 22 de março permanece, no tocante a isso, exemplar; porque, ainda que
tenha sido uma máguina de guerra insuficiente, ao menos jiuncionou ddmird-
velmente como grupo analítico e desejante que não só mantinha seu discurso
nos termos de uma forma de associação verdadeiramente livre como também
pode "constituir-se em analisador de uma considerável massa de estudantes
e de jovens trabalhadores", sem pretensões de vanguarda nem de hegemonia,
S1mples suporte a permitir a transferência e a dissipação das inibições. E uma
tal análise em ato, na qual análise e desejo passam finalmente para o mesmo
lado, ou em que finalmente é o desejo que conduz a análise, caracteriza per-
Jeitamente os grupos-sujeitos, ao passo que os grupos sujeitados contintiam
a viver sob as leis de uma simples "aplicação" da psicanálise a um antbiente
Jechado (afamilia como continuação do Estado por eutros meios). O ionteudo

oOmicoe politico da libido propriamente dita, o conteúdo libidinal e sexual


do c
4po político-economico, toda a deriva da História, só vem a ser descvbertos
dnbiente aberto e no dmbito de grupos-stujeites, o lugar em 4ue se mobiliTu
a berdade. Porque "a verdade nio é a teorid nem a orgnizade". Nie é a

U Y A nem o significante, Mlds antes l máquina de guenaeseu nao sentido.


a n t e do surgimento da verdade, nao esta à teoriaed organizaqdo nada
Psicanálise e Transversalidade
16
atrapallhar por completo.
Cabe senipre d teoria e d organização,
mais do que se
autocrítica."
nunca ao desejo,fazer a

Transformar assim a psicanálise em esquiz0-análise implica uma avaliacão


da especificidade da loucura. E esse é um dos pontos nos quais Glattari insiste
unindo-se a Foucault quando anuncia que não é a loucura que vai desaparecer em

bencficio de doengas mentais positivamente determinadas, tratadas, asseptizadas,


mas
ao contrário, são estas últimas que vão desaparecer em beneficio de alguma coisa que
ainda não conseguimos compreender na loucura. Porque os verdadeiros problemas
estão ao lado da psicose (e de modo algum do da neurose de aplicação). E sempre
um prazer suscitar as zombarias do positivismo: Guattari não cessa de reivindicar
direitos a 4m ponto de vista metafisico ou transcendental que conisiste em purgara
louaura da doença mental e não o inverso: "chegará um momento em que estudaremos
com a mesma seriedade e o mesmo rigor com que estudamos as defnições de Deus
de Descartes ou de Malebranche, as do presidente Schreber ou de Antonin Artaud?
Continuaremos por um longo tempo ainda a perpetuar a clivagem entre aquilo que
constitui a provincia de uma critica teórica pura e a atividade analítica concreta das
ciências humanas?" (Compreendamos que as definiçðes tolas são, na verdade, mais
sérias e rigorosas do que as definições racional-doentias mediante as quais os gupos
sujeitados se reportam a Deus sob as espéaes da razão.)
Comeeito,a anáiseinstitucionalcoritica a antipsiquiatrianão por reaIsar toda
da insti-
fungão farmacológica, não só por negar toda possibilidade revolucionaria
tuição, mas, sobretudo, por confiundir no limite a alienação mental com a alienação
social e por suprimir assim a especificidade da loucura. "Com as melhores intenções
do mundo, de cunho moral e político, acaba-se por negar ao louco o direito de ser

louco; dizer é culpa da sociedade pode mascarar uma maneira de suprimir todo
desvio. A negação da instituição se tornaria assim uma denegação do fato singular
da alienação mental, " Isso de modo algum significa quue se tenha de propor algunn

invocar identidade mistica entre o revo-


tipo de generalidade da loucura, nem uma

vai sT
hucionário eo louco. F, sem dúvida, intil escapar a uma eritica que
tentar
d
apenas que nãoéa
loucaura que dew serredu:ida
Jeita de qualquer maneira. Digo
do canpo
o mundo moderno em geral, conjunto
o
ordem do geral, mas, pelo contrário,
hu
Apendice I. Fd. Bras. H i t d
5 FOUCAULT, Michel. Histoire de la l'olic. Paris: Gallinard, (1972),
Loucura. São Paulo: Perspectiva, 2002
Prefãcio 17

social que devem ser interpretados também em função da singularidade do louco em


sua própria posição subjetiva. Osmilitantesrevolucionários não podem deixar de se
preocupar bastante com a delinquência, o desvio e a loucura, não como educadores

ou reformadores, mas como pessoas que não podem ler senão nesses espelhos o rosto
de sua própria diferença. lestemunha-o o seguintefragmento de diálogo com Jean
Oury, no começo desta coletánea: "Há uma coisa que deveria especificar unm grupo
de militantes no dominio psiquiátrico, o fato de estarem engajados na luta social,
é claro, mas igualmente o serem loucos o bastante para ver a possibilidade de estar
com loucos; ora, há pessoas numa excelente posição no plano político que não têm
a mínima condição de fazer parte desse grupo.."
A contribuição especial de Guattari à psicoterapia institucional con-
siste em certo número de noções cuja formação vamos acompanhar aqui:
a distinção de dois tipos de grupos, a oposição entre fantasias degrupo e
fantasias individuais, a concepção de transversalidade. Trata-se, além disso,
de noções com uma orientação prática precisa: introduzir na instifuiçao

militante, criar de "monstro" que não é


espécie
umafunção política uma

nem psicanálise nem prática hospitalar, e menos ainda dinmica de grupo,

algo além disso que deseja ser aplicável em toda parte, seja no hospital, na

escola ou na militância uma máquina de produção e enunciação do desejo.


Eis por que Guattari exigia antes a designação "análise institucional" a
"psicoterapia institucional". No movimento institucional assim comno aparece

introduzia-se, com efeito, uma terceira era da


com Tosquelles e Jean Oury
modelo, para além da lei e do contrato. Se
psiquiatria: a instituição cono

é verdade que o antigo asilo era regido pela repressiva, visto que os loucos
eram considerados "incapazes" e, por isso mesmo, excluidos das relações
contratuais que reuniam seres supostamente razoáveis, ogolpe freudiano foi
grande,
mostrar que, nas famílias burguesas e nas fronteiras dos asilos, um
ser introduzidas nun
grupo de pessoas chamadas de "neuróticos" podiam
ds normas da medi-
Ontrato particular que as levava por meios originais
Cna tradicional (o contrato psicanalítico cono caso particular da relaçio
Nesse percurso, uma importante etapa foi
o
Onlratual médico-liberal).
aDandono da hipnose. Não nos parere que já tenlhamos analisado o Papel

OSeilos do modelo de contrato seguido pela psicanálise; uma das prin-


4 l s consequências disso foi mauter d psicose o horizoite du psicidnalise,
OmO a verdadeira fonte de seu material clinico, sendo, 1o entanto, excluida
Psicanálie e Trarurveralidad
18 19
Prefcno
contratual. Não surpreende que a
considerada fora do campo
dele por ser
principais proposiçðdes
em suas
palavra/fala vazia', instituida, contna a lei ou o comtrato da palavna/fala plena,
institucional tenha implicado
psicoterapia da lei repressiva, à qual fluxo-esquizo nunca deixaram de estimular Guattari a dedicar-
ceto dircito ao
uma critica ao contrato dito liberal, não menos que se ao empreendimento de dernubada das divisões e dos fechamentos hierárquicos
critica seguiria direçõrs
da instituição. Essa
desejava substituir pelo modelo dos gupos, seu u pseudofunionais pedagogos, psiquiatras, analistas, militantes..Todos os textos

bem diversas; tanto é verdade que a organização piramidal desta coletánea são artigos de circunstáncia. Säão marados por uma dupla fovnli
do trabalho repousam em relações
assujeitamento, sua divisão hierárquica dade: a da origem, num dado momento da psicoterapia institucional, naum dado
estruturas legalistas.
polifica militante, um dado aspeto da Escola Frrudiana ou
em
contratuais, não menos que entre enfermeiros
momento da ida
trata das relações
No primeiro texto desta coletdnea, que do ensinamento de Lacan; mas também a de sua funçãs, de seu furcienamento
da sociedade que
diz: "Há um racionalismo
e médicos, Oury, numa intervenção, possivel em iraunstáncias outras que nas suas eriginárias. Este livro dew ser
visão do interior são
da má fe, da maldade. A
é muito mais wma racionalização entendido como uma montagem ou instalagão, aquie ali, de peças e engrenagens
se tenha rompido com
loucos nos contatos cotidianos, desde que de Por vezes, diminutas engrenagens, minisauias mesma,
as relações com os
em certo sentido, que
saber
uma máquina. mas
tradicional. Pode-se então dizer,
certo 'contrato' com o
ser progressista. (...) desordenadas,epor indispensáveis. Máquina de deseja, isto , de
isso mesmo
loucos é ao mesmo tempo
oque é estar cm
contato com os
guerra e de análise. Por esse motivo, podemos conferir particlar importáncia a

termos parte desse contrato


enfermeiro e médico são
Evidentemente, os próprios institucional
dois textos, um deles teórico, em que o próprio prindipio da máquina é gerado a
deveriamos romper". Há na psicoterapia
com que dissemos que
de ter Saint-Just
partir da hipótese da estutura e se afasta dos vínaulos estruturais ("Maguina e

uma espécie de inspiraço psiquiátrica à Saint-Just, no sentido estrutura"); e um texto-esquizo, no qual as noções de "ponto-signo"e de "signo-
muitas instituições e poucas leis (ben
definido o regime republicano como tendo -mancha" se liberam da hipoteca do significante.
abre seu dificil ca-
como poucas relações contratuais). A psicoterapia institucional
minho entre a antipsiquiatria, com sua tendência
a recair em formas contratuais
Gilles DELEUZE
desesperadas (g. uma Laing), e a psiquiatria de setor, com
recente entrevista de
sua triangulação planejada, que
correm
sua inscrição de bairros em quadradinhos,

o risco de cedo nos fazer ter saudade dos asilos fechados de antigamente. Ah! Os
bons tempos, o velho estilo!
a Giuattari no tocante
Ai estão que interessam proprianmente
os problemas
isto
à natureza de grupos curadores-curados capazes de formar grupos-sujeitos,
verdadeira criação loucura
é, de fazer da instituição objeto de uma
a e a
em que
transmitem uma a outra, precisamente, as feições de
confundir-
revolução-
sem se
sua diferença nas posições singulares de uma subjetividade desejante. Por exemplo,

a análise das UTB em terapêuticas de base, no texto "Onde


La Borde, unidades
Como conjurar o assujeitamento a gnupos que
começa a psicoterapia de grupo?
são por sua vez sujeitados, grupos para os quaiscontribui a psicanálise tradicional?
E as associações psicanaliíticas estäão em qual vertente da instituição, pertencem a 0Mot aqui é sempre traduzido por
"palavra", no sentido linguisuico: parole,
(exceto
como tala/palavra
de Guattari antes de maio de 1968foi no caso de "função de fala" e de "tomar a
que gnapos? Grande parcela do trabalho recuperando tanto a
distinção langue/parole
palaVTa" ou outras expreös conagradas).
como o sentido especifico de "disuno" de
"a assunção da responsabilidade pela doença por parte dos próprios doentes, com que é fundamental para
parole.
perspectiva enunciativa do
a
autor. No caso de
"parole vide", as tradu-
da çoes para espanhol preferem "palabra", paso que.
movimento estudantil". Certo sonho do não sentido
o
o
apoio do conjunto do e
"ala". Dai a
ao

opção por manter composto criado. N. T.


o
no Brasl, uu-se tanto
"palavra" como
Sobre as
relações entre os enfermeiros
e os médicos

OURY Podemos começar definindo de


um lado o estatuto social
do médico, do entermeiro, e, naturalmente, do
doente diante do qual os
dois se veem; e, do outro, dizendo enfermeiro
que o fica "imobilizado"
entre o médico e o doente, e até
que tudo é "imobilizado" num sistem
que são o hospital e os estatutos sociais isso é coisa bem sabida. Mas é
preciso recordá-lo ao começar a definir as relações
entre o médico e o
enfermeiro, com todos os
compromissos místicos que isso comporta.
FÉLLX Parece-me que sempre se tem interesse em
de entrar
começar, an-
tes detalhes dessas relações, situando-os de uma
nos
maneira
não geral, mas em seu
conjunto. Mesmo que já se tenha feito isso, é a
partir daií que se compreende direito o que ocorre exatamente. Se,
por
exemplo, considero as relações entre e patrões empregados operários
e
numa fabrica, é preciso partir de dois dados fundamentais, que são: o
que é uma fábrica? O que é um patrão? que é um explorado? De
igual forma, em nosso caso, é preciso começar perguntando: o que é
um médico? O que é um doente?

OURY Isso é, de fato, muito


importante. Há entre o médico e o en-
fermeiro uma relaço mistificada, no sentido de
que o médico representa
mais uma casta do que uma classe. Ainda o e o que médico enfermeiro
estejam do mesmo lado da barreira, no interior dessa barreira há uma
casta, a casta dos médicos, assim como há o mundo dos enfermeiros,
que
cOstuma ser mais sadio.

FÉLIx- E preciso ir mais longe. O


médico continua a ser- mesma
tendo de atender a outras
exigências burocráticas ou capitalistas o supor
*Relato de uma discussão travada La Borde
em
com Jean Oury, em setembro de 1955.
Psicanálise e Transversalidade
Sobre as relações entre os enfermeims e médcos
22

e, enquanto tal, refiete a ideologia como mágica, e, do outro, o corpo de cnfermeiros O que marca esss
te e o responsável pela mistificação, sobre certa relação, imagos é uma espécie de inumanidade, uma maneira de cristalizar cada
classe. A mistificação incide propriamente
desua homem do doente.Acho
fundada em certa concepção do mundo, do e
um em seu lugar, encarregando-se o médico de todo lado espiritual. o
às classes, mas
e.o enfermeiro, da disciplina e coisas do genero. Pode-se faiar da reiação
tocante
o problema não deve ser tão marginal no
que entre o médico e a
aparentes entre médicos e entermeiros como se ela resumise a atutude da sociedade
totalmente fundamental. Se há diferenças
entre a polícia diante da transcendencia, a maneira como a sociedade reage, o modo
parece-me que são
do tipo que distingue
administração,
mas, na verdade, é bem como divide o trabalho, como evita o problema ou foge dele. para não
e a justiça, entre as boas obras e os presídios;
tipo de relações, de enxergar o problema da loucura e da singularidade.
se trata, de um mesmo

de um mesmo suporte que


mesma imagem
do problema. Ou se vai
uma definição, uma
mesma

ou de exigências
de benevolência, ou OURY E de fato preciso situar
falar de exigências psicológicas
no plano histórico, e ao mesmo
o que me parece tempo no transcendente, as relações entre aquilo a que se dá o nome de
em seu sentido pleno,
então se vai colocar o problema
divis o do trabalho e, do outro,
a
loucura, de loucos, e a sociedade. Seria tedioso refazer mais uma vez o
de um lado, a uma singular
remeter,
normalidade. histórico do modo como a sociedade encara os loucos.Vamos nos limitar
uma "anomalia" da
ao que sucede hoje:a sociedade delega a certas
pessoas a tarefa de corviver
determinado para o médico é o de com os loucos, o que cria uma espécie de barreira humana, barreiras de
OURY E evidente que o papel
Estado o incumbe da função de cabeças, de braços e pernas, para se proteger dos loucos. Que os loucos
defensor das instituiçoes do Estado. O
sem intervir em
sua estrutura arrebentem
fazer respeitar o regulamento do hospital
se comoo quiserem, desde que a sociedade fique
tranquila.
economico-social. Esse seu papel implica obrigatoriamente
que ele se Eéforçoso que, nessa espécie de barreira que faz parte da
sociedade,se
faça respeitar, a fim de que apresentese aos enfermos própria imagem
a achem implicadas todas as suas lutas.
respeito, da honra. Há por conseguinte
do
uma espécie de pantomima
sociedade em que trabalha FÉLIX Além
representativa, dado que é a imagem mesma da disso, essa barreira condiciona o quadro de doenças.
o entermeiro. E um fatoinegável, sobretudo nos hospitais psiquiátricos,
investido pelo Estado, e que este último, ao mesmo OURY Por isso falei
aquilo a que se dá o nome de loucos, no
que o médico é
minimo apoio; e se tomar consciência disso o mné- sentido de que essa ou aquela doença existe porque a barreira a en-
tempo, não lhe dá o
e detestado
dico fica numa situaço bem difícil: desprezado pelo Estado cerra. No fundo, as nosologias existem tão-somente para encerrar os
de várias soluções: a de se loucos. Elas são registradas nos livros como se fossem uma coleção
pelo enfermeiro. Ele tem, portanto, diante si,
então a solução ditatorial, horrível, ou ainda de borboletas. Um livro de
psiquiatria não passa disso: quais as carac-
apagar completamente ou
a solução paternalista, todas
elas soluções que respeitam a estrutura na teristicas das borboletas, qual sua classificação... para conservá-los (os
ele vive enfermeiros. doentes mentais) é preciso mergulhá-los em formol: para observá-los,
qual com os
mantè-los em cômodos de janelas hermeticamente fechadas...E vai-
FÉLIX O importante na relação entre médicos e enfermeiros é, -Se longe: agora é necessário ocupá-los, pô-los a operar máquinas,
mais
sobretudo, sua implicação na relação curadores-doentes. Há uma espé- dar-lhes ferramentas, mas tudo isso dá na mesma. Por conseguinte, há
uma espécie de dialética entre as
cie de cisão na maneira como os auxiliares do curador são
apresentados pessoas que vão desempenhar a função
dos tipos que se de loucos e aquelas que terão o papel de vigiar os loucos. e tudo isso
aos médicos. Têm-se de um lado as imagos médicas,

médicos sentida numa sociedade fechada.


apresentam de quando em quando, sendo a ação dos
Psicanálisec Transversalidade
24 Sobre as relaçoes entre os eniermeirose o medicos

fenômeno da loucura
FELIX Acho que podemos considerar o
-

OURY Sim, justo porque essa noção de contrato pernite ver a


a loucura
c o m o u m fenômeno contemporâneo.
E perceptivel que confusão que as pessoas fazem com tanta facilidade entre a alienação
cada vez mais
intervem hoje como fenômeno social,
tendo um papel social e a alienação mental. Elas não são a mesma coisa, e querer confun-
sociedade, mais e mais
universal
cultural, cada vez nmais integrado à dir uma com a outra e uma nova mistificação destinada a fabricar ainda
antropológica. E algo
com que con- outras nesse contexto. Isso se traduz em dizer, por exemplo, em outro
nas preocupações, uma função
administrativas, e o fato de nos plano: "Não é mais um louco; é um doente". Ora. isso é pura estupidez.
Vivemos na forma de dificuldades
uma herança
do século XIX, uma louco...
colocarmos hoje o problema é é claro que é um

para encerrar os
inercia burocrática, um velho estilo da burgues1a
outra maneira: Porque se começa
loucos mas por que quer agir de
se FÉLIX Cumpre distinguir entre as diferentes modalidades de
loucura é um fenomeno
essencial justamente a nossa alienação no complexo hospitalar. Existe com efeito uma interação
a perceber que a
necessário rever os velhos arcabou-
sociedade contemporânea, sendo bastante complicada entre modalidades de alienação. Costumamos
médicos e enfermeiros, ocupar-nos mais particularmente do doente alienado da sociedade. O
Fos de pensamento,
as antigas relações entre

necessidade que tem a sociedade moderna


a fim deresponder a essa que me parece fundamental é que a doença é alienante enquanto tal.
fenômeno da loucura; é justo o que
de uma melhor compreensão do e que ao mesmo tempo o doente é alienado da sociedade porque é
compreender os
podemos considerar uma perspectiva progressista: internado. Mas também é muito interessante considerar o fenómeno
métodos de educação
loucos, sair do racismo, do colonialismo, da alienação do enfermeiro no estabelecimento hospitalar e de suas
com

diferentes etc. condiçoes de trabalho, bem como o do médico, muito mal situado
no âmbito da administração; e, por fim, a alienação da empresa. da
OURY 1sso não está muito claro. Nesse enquadranmento dos loucos, pessoa moral do hospital em seu conjunto, com respeito ao Estado.
pode-se dizer que há uma "visão do exterior", uma "visão do interior", uma conjugação de modalidades de
Existe, portanto, alienação que
além de uma "visão da parte dos loucos". O exemplo da visão exte- tem uma evidente repercussão na própria alienação da loucura: e
rior tradicional é a ideia de que, quanto maior a instrução que se tem, é desse ângulo que se deve poder considerar todos os aspectos do
quanto maior a frequência à escola, tanto maior a compreensão que se
problema.
tem do louco; logo, tem-se de ser médico. Em contrapartida, num nível
inferior da escala, o enfermeiro, em princípio deseducado, nada pode OURY E interessante situar o
problema como problema de epo-
compreender. Há um racionalismo da sociedade que é muito mais uma
ca; em vez de substituir relações racionais de sujeito com objeto e de
racionalização da má-fé, da maldade. A visão do interior são as relações objeto com sujeito, estudam-se relações antropológicas. O que dizenmos
com os loucos nos contatos cotidianos, desde que se tenha rompido com
aqui, por exemplo, não faz o menor sentido para pessoas que viveram
um "contrato" com o tradicional. Pode-se então dizer, em certo sentido, ha cem anos, ou mesmo que vivem hoje, num contexto tradicional. Há
que saber o que e estar em contato com os loucos é ao mesmo tempo
um salto
dado, como aquele de que acabamos de falar, o do roupi-
a ser
ser progressista.
mento do contrato: o de substituir relaçòes administrativas racionais de
Sujeito a objeto por relações existenciais de pessoa a pessoa; a noçio de
FELIX Seria até considerar que a tomada de consciencia
possível alienação só faz sentido no plano antropológico. Tenho a impresio de
com relação a esse "contrato com o tradicional" e a decisão de
rompê-lo quue a alienação marxista é antes de tudo antropológica; seria ridiculo se
constituem condição de
a um acesso
fenomenológico à loucura. fosse uma alienação de objeto. O que nos interessa é a noção basal de
Psicanálise e Transversalidade
26 Sobre as relaçoes eritre os entermeios e os médico

27
enfermeiro e o médico Temos de
relaçao de pessoa a pessoa: unma relação entre o
OURY chegar dizer que o problema das relaçöes entre
a

enfermeiro
relação entre um funcionário
e
nao e semelhante a uma asmédicos e os enfermeiros é um falso problema. Não existe um médico
Falo das
um pouco mais complexo. nem 14m enfermeiro, mas pessoas
um tuncionário médico, mas algo que estão com os loucos, pessoas
entre pessoas; é justo
que
relações entre papéis para diferenciá-la da relação se encontram la, mas nao se acham presentes, mistificadas em seu mito.
ou do médico, que
eles ocultem
E as únicas relações verdadeiras que tem entre si deveriam ser as
a0 desempenhar esses papéis, do louco relações
a relação entre pessoas. E isso
constitui forçosamente algo que reage à técnicas competencias especificas para curar os loucos, loucos
de
de tudo, quais são responsáveis e de que são constituintes.
pelos
o esquizofrënico, apesar
nosologia: sob seu "papel" de louco,
tem relações de pessoa a pessoa.
mas ninguém sabe realmente FELIX- Poderíamos assumir uma posição
Todos podem aceitar o que se disse aqui, paradoxal e nos
perguntar
existem num contexto relações fundamentais com os loucos: são enfermeiros. Ora.
como e onde apreender essas relações que não quem tem os

devido espécie
a uma de falha, de fenda enfermeiros são em sua maioria alienados inaptos para trabalho
dado. Se existem, é por infiltração, Os e o

é a existëncia própria, pessoal. afetivo de aproximação e de compreensão dos loucos. Hi uma corrente
no contexto tradicional, algo
que
modernista que gostaria de transtormar os enfermeiros em
pequenos
de médicos, quando o que estaria mais em questão é a transformação dos
FéLIx A perspectiva central é, portanto, desaparecimento o

como de estereótipos: fazer o


louco que médicos para que eles ao menos alcancem o
certo número de papéis, bem nível dos enfermeiros no
o médico ou o enfermeiro fazem
a fim de chegar a uma promoção de tocante ao contato com os doentes. Os enfermeiros não só deveriam
automaticamente em PPF" de vocés como preferência na admissão.
ter acesso ao
relações humanas que não mais desemboquem alguma coisa
do como o estágio probatório para entrar no Partido Bolchevique, que, se
papeis, em estereótipos, mas em relações fundamentais, relações
tipo metafisico que desta vez façam aparecer as alienações mais radicais não me engano, era de seis meses
para operários e funcionários e bem
e fundamentais na loucura ou na neurose. Acho que é a partir dai que mais longo para os intelectuais.
se precisa conceber todas as especificações técnicas, as proposições de
atendimento ou de socioterapia, situá-las adequadamente nessa perspec- OURY Evidentemente, os próprios termos enfermeiro e médico
tiva que podemos chamar de perspectiva "Tempos Modernos", porque, são parte desse contrato que dissemos que deveriamos romper.
com

uma vez que se veja claramente o que não se deve fazer, os perigos de Senti no entanto alguma resistência, da parte dos mais destacados
um atendimento, se ele deve estar voltado para a produtividade, para a membros do citado PPEjustamente quando solicitei que pessoas não
readaptação ou para a relação social, se vai trabalhar para a ciência, para médicas fizessem parte dele. Portanto, trata-se de algo bem arraiga-
a Psicologia ou para curar o doente. Porque não deve perder de vista a do, mesmo nos melhores dentre eles. Eles dizem: "Em que isso vai
ideia de uma pessoa constituinte, constituída na raiz de uma linguagem, se transformar? Vai degenerar ete.". E é justo nesse ponto que está
uma pessoa que, em vez de se perder em relações sociais e situações o problema: é preciso que haja médicos ai, porque são eles que tèm
médicas estereotipadas, deve se reconstituir no mundo, com um míni- mais a aprender lá
dentro. No fundo precisamos estudar uma espécie
mo de normalidade em termos de linguagem e de comportamento. E de manifesto de todo o grupo de imbecis que são médicos por
acaso
nessas circunstâncias que se poderá manifestar de fato a anormalidade entermeiros por acaso, psicólogos por acaso, que estão por acaso em
de base do sujeito, ou, se se preferir, é então que os Contato com os loucos.
problemas vão se
mostrar de modo mais
flagrante. E assim que entendo o que voce disse
agora mesmo: "Trata-se na verdade de loucos!"
UO PPE era um projeto humoristico de fundação de um "partido psuquiätricofrances
Psicanálhse e Transversalidade
28 Sobre as relaçoes entre os enterimeiros e os médico%

FÉLIx - Sim, há uma questão de fato: ser "eu, tu numa situação


29
zombeteiramente que, aqui, os cronicos
nós., e os doentes são as
somos
estranha, honestamente ou sem vocação.. pessoas que passam, por maior que seja o
periodo durante o qual ficam
aqui. Dizendo isso, revertemos os valores; antes
era o louco
OURY Não damos a mínima para a existència ou não de vocação;
fica". Essa reversão está ligada a um movimento "aquele que
geral da
psiquiatria
o importante é estar lá. Se formos honestos, analisaremos por que estamos advindo da descoberta de metodos de choque.
porque o choque puro,
lá, o que fazemos lá etc., ou então nem começaremos. Mas, voltando o choque absoluto, é o chute no
traseiro que faz o
de observações sobre o sujeito sair de onde
a0 preocupa: seria interessante dispor
que nos está e o manda para outro lugar. E
preciso, falando sério, que ele
num texto. Nós não passe.
comportamento de cada hospital, como imagens e que isso sirva para
alguma cOIsa; pouco importa a estranheza
temos condições de fazer isso, porque nos falta experiencia. que isso
causa nos alienistas alienantes...

FÉLIX Acho que mesmo assim podemos, se quisermos uma ilus- FELIX Portanto, resumindo, é preciso
expor as possibilidades con
tração desse gênero, exemplo Saint-Alban,
dar o de rigor, chamar ou, a
cretas de detonar os papéis cristalizados entre médicos e
entermeiros numa
a atenção para a completa transformação dos enfernmeiros aqui mesmo. equipe, na qual existem naturalnmente trabalhos diferentes, mas trabalhos
Damos-lhes o nome de"monitores" e não fazemos distinções. Como se que acabam por contribuir para uma espécie de unidade do ambiente de
reconhecem os enfermeiros em La Borde? trabalho, no qual todos são diferenciados, não em função de seu estatuto,
do dinheiro que entra em seu bolso nem de seu
prestigio. tendo
mas em
OURY Pode-se dizer que, aqui, basta ser enfermeiro diplomado vista uma repartição de tarefas feita a
partir de considerações estritamente
para ser praticamente expulso da casa;" é uma coisa muito estranha; o técnicas, práticas, com o
objetivo de criar uma atmosfera de tratamento.
mesmo acomtece com os médicos: basta dizer "sou psicólogo, médico etc" de socialização dos doentes.
para ser incluído no Index. Pode-se dizer que apresentamos uma equipe
técnica que amadurece o tempo inteiro, cada qual se especializando em OURY Exato. E necessário distinguir dois problemas: a maneira
seu camp0; e não só em seu
campo, próprio grupo,
mas no plano num como se
pode pôr isso prática, que requer uma revisio geral da admi-
em

de, digamos, "sintalidade" (personalidade). São importantes essas relações nistração, e, do outro lado, aquilo que já foi posto priica quadro
em no

de sintalidade do grupo. Há nele pessoas que se fixam como as plantas tradicional. Tudo o que acabamos de dizer nio passa de specie de uma

herbáceas no vaso, enquanto outras, que são os doentes, passam. Dizemos introdução; talvez devessemos apresentar problema de base: para que
o

serve isso?
Que utilidade tem curar, criar o PPF? Não seria isso mera
imbecilidade, uma espécie de reunião de jovenzinhos impetuosos? Na
2 Trata-se do hospital de Saint-Alban, localizado bem na extremidade da região administrativa de
onde teve qualidade de psiquiatras. já somos considerados jovenzinhos inpetuosos
Lozère, inicioa
corrente de renovação da psiquiatria na França. Sob a liderança do
doutor François Tosqueles revolucionário catalão refugiado na França, inúmeras gerações de por todos os senhores experientes: impetuosos jovens que se eunem.
una excepcional experiència de transformação de um
psiquiatras realizaram hospital tradicional.
Da luta contra a fome em 1941, da transformação material do hospital, até a aplicação de técnicas
uma coisa verdadeiramente adorível! Claro que eles nos estimulam, awim
psicanaliticas na instituição, passando pela aplicação das teorias de Herman Simon acerea da er- Como estimulam a todos, a começar pelos escoteiros, Imas..
goterapia, a organização da vida social, a fundação do primeiro "clube terapéutico", a elaboração
de uma politica local de setor, uma nova abordagem do problema da criança
psicótica e pela
de etc., não há hoje um só dominio na ordem do dia que não tenha sido FÉLIx Os outros já tèm de nós a imagem de um grupo dotado
formação enfermeiros
explorado em Saint-Alban.
de certa particularidade, mas a coisa não para por ai. E preciso aind.a
3
Na época,a
Seguridade Social ainda não exigia o respeito à manutenção de uma porcentagem
de enfermeiros diplonmados em instituições oficiais na composição do corpo de funcionários dos quue o PPE tenha uma posição original no plano da politica psiquiitr ica.

estabelecimentos.
Psicanálise e Transversalidade
30 entre os enfermeiros e os médicos
Sobre as relações
necessidade se faz sentir
Vem à existència política psiquiátrica cuja
uma
aquilo que faz falta nos grupos de esquerda e nos grupos
comunistas da
estalinistas não tëm politica; eles se sentido do PPF pois
precisamente porque os psiquiatras
ser uma psi-
perspectiva psiquiátrica. Esse é o único verdadeiro
alinhanm com a tradição em vez de buscar o que poderia uma franco-maçonaria nos hospitais.
do contrário ele apenas iria criar
o PPF não deve faz-lo
quiatria progressista. Acho que, se deve chocar, Trata-se de uma política que só vai ter de fato
sentido à medida que situar

por seu caráter de grupo de jovenzinhos


impetuosos, mas pelo fato de os problemas psiquiâtricos numa plataforma que não existe atualmente.
numa perspectiva nmarxista-exi_-
ter a responsabilidade de desenvolver, diferenças fundamentais entre a psiquiatria burguesa e a psiquiatria
Não há
de formar a
tencialista-sei-lá-o-que, uma teoria e uma prática capazes dos atuais movimentos de esquerda.A psiquiatria
estalinista é, no tocante

jovem psiquiatria. a seus conceitos


fundamentais, alinhada exatamente com a psiquiatria
marxista com a da loucura,
burguesa. Não se deve confundir a alienação
OURY Ëdelicado dizer coisas disparatadas como
essa,fico cansado ao contrário do que fazem os estalinistas, devendo-se antes retomar o
só de ouvir, que os psiquiatras estalinistas näo têm poliítica etc. Isso não conjunto das contribuições de Marx e de Freud.A compreensão profunda
é verdade: há excelentes psiquiatras estalinistas que témjustamente uma do marxismo e do freudismo impede semelhante confusão.

politica bastante séria, embora não siga nosso caminho, mas bastante séria
do ponto de vista de renovação das atuais bases da psiquiatria. Claro que
OURY Estudar as relações entre enfermeiros e médicos ou as
é dificil admitir psiquiatras filiados a um partido, isso é um problema, no relações entre grupos terapëuticos e loucos, requer estudar antes de
sentido de uma espécie de traição, de fuga. tudo a relação entre o grupo e a sociedade. E isso que torna necessário

introduzir desde o começo aquilo que chamamos de dimensão trans-


a

FELIX Acho que podemos compararisso como movimento Frei- cendental do louco.
net, no qual havia stalinistas que aplicavam os melhores nmétodos atuais
do ponto de vista pedagógico, e que tiveram de deixá-lo por exigência Há diferentes estabelecer: polo metafisico:
FELDX posições a um

do Partido. Parece evidente que, se tivesse sido um movimento bem um polo político, no sentido de uma estratgia contra a administração,
avançado, o movimento Freinet teria tido posições mais claras do ponto contra os grupos sociais constituídos; e um
polo elaboração teórica
de
de vista politico que teriam permitido aos comunistas que faziam parte a
partir de grandes autores; de um lado o
polo Lacan, se você preferir, e
dele não serem obrigados sair. E dos mestres comunistas
a o
conjunto do outro, o polo Tosquelles, que já é mais político.
teria estado envolvido. O mesmo acontece com os
psiquiatras comunistas
os
que tem uma boa posição sâão minoritários, e mesmo alguém como OURY É complicado envolver nomes nisso. Trata-se de consoli-
Le Guillant' está longe de fazer
poder e dizer o que quiser. Não só por dar uma dada ordem, o que é uma coisa dificil, porque parece excluir
causa do estado atual da administração também por
como causa da ati- radicalmente certas posições políticas; é uma espécie de consolidação
tude dos psiquiatras estalinistas. Cada um fazer que puder é uma coisa, o da posição do grupo pela via negativa (grupo é uma palavra melhor do
mas uma verdadeira política é algo bem diferente, é ter uma
perspectiva que partido). Exclui-se um tipo porque ele não "religioso B°"- nio
coerente; duvido que sejam muitos os
psiquiatras que tenham uma, e tem, por exemplo, a visão universal inspirada de Lacan, ou entio o
que seja não somente marxista completa do ponto de vista de
mas
seu pressuposto político do lado Tosquelles... Mas não acredito que se posa
campo de trabalho. Seja como for, trabalho que fazemos é precisanmente
o definir o grupo como trotskista, anarquista, sabe-se lá o què. Acabamos

4O psiquiatra Louis Le Guillant ocupou


importantes cargos de
de falar que é preciso ser, digamos, progresista, ou seja, ter rompideo o

direção de
hospitais psiquiátricos sentido. Até
na
França e teve
grande influência na área. N.T. contrato com as estruturas tradicionais que já perderam o
Psicanáhse c Transversalidade
32 Sobre as relaçòes entre os entetmeri e on médic os

mesmo nossa linguagem vai incompreensível


se tornar
absolutamente
imagem e o reffexo de um objeto reduzido. Criam-se intermináveis
nessas estruturas
e para aqueles que fazem de
para os que permanecem tratados sobre a imagem para depois perceber que ela nào tem a menor
acrescentam gentilmente que ainda
conta que nos entendem, mas que
falar
importancia. O mesmo ocorre com os psiquiatras, que suo de certo
assim deveríamos colocar gravata e começar
uma corretamente a

de originalidade; não devemos ter modo colecionadorex de imagens colecionadores de borbolctas, cles
o francés.Trata-se de uma dimensão
mudar.." colecionaram falsas borboletas que eles mesmos chamaram de loucos, e
medo, mas dizer: "E como é, e não há por que
eu
que eles sequer queriam chamar de loucos, mas de "doentes".

FELIX- Há uma coisa que deveria especificar um grupo de militantes FELIX Cumpre redefinir o objeto da psiquiatria, no mesmo sen-
no domínio psiquiátrico, o fato de estarem engajados na luta social, e
tido em que Politzer tentou redefinir o objeto da Psicologia, de uma
ver a possibilidade
claro, mas igualmente o serem loucos o bastante para Psicologia concreta.
de estar com loucos; ora, há pessoas nunma excelente posiçao no plano

politico que não tém mínima condiço de fazer parte desse grupo. E
a
OURY Poderíamos chamá-lo de grupo da psiquiatria concreta.
eXiste, por outro lado, essa dimensão kierkegaardiana do "religioso B".
Temos ainda de tomar uma posição a respeito dessI grande
FÉLLX
OURY Esta é uma dimensão fundamental no sentido de ser preciso
primeiro passar pela loucura, ter digerido a loucura; é preciso ser louco farsaque éa Psicologia Social, a microsociologia, Moreno e todos eses
assumido, ser nmais louco que os loucos. Essa noção de loucura transcen
tipos que caem justamenteno mesmo circuito mistificado do pequeno
dental é negada de maneira absoluta por certos grupos políticos: "iso é
grupo. Nosso questionamento do estatuto social do hospital deve ser
distinguido, do ponto de vista ideológico, de muitas posiçòes.
um coisismo (materialismo vulgar) ridículo, um desvio do pensamento
de Marx" etc.
OURY Questionar o hospital é algo que deve precisamente de-
finir um grupo que se interessa pelo problema de sua natureza e 1 suas
FÉLIX A
partir do momento em que se percebe essa dimensão relaçoes com a sociedade. E
preciso usar esse grupo cono terrarnenta.
metafisica, principal perigo que se está exposto é ser identificado com
o a
não comno instrumento de pesquisa. Ele ter necessariannente repercus-
os
partidários do idealismo com classe que defende tradicionalmente
e a
soes sobre pesquisa. Mas é necessário
oidealisnmo. Esse
a
apresenti-lo. en pruneiro lugir.
problema coloca para a corrente "Tempos
mesmo se
como ferramenta.
Modernos": pessoal o
esforça para manter uma dimensão nmetafisica
se

minima e
1955
permanecer ao mesmo tempo no interior do movimento
progressista, que é tradicionalmente materialista.

OURY No final das


contas, demos um monte de voltas para não
falar das relações enfermeiros-médicos. E
à medida que as
preciso primeiro definir o louco,
relações enfermeiros-médicos só se definem se houver
loucos. E preciso por
conseguinte fazer loucos, porque os loucos somos
nós que fabricanmos. Como se
fabricam loucos? Podemos
processo com a teoria das comparar o
innagens, podemos dizer, dissenmos, que unia 5 G.
POLITZER. autor da obra eseneial Citu des fundamcnts da Paslyia a ulgtu t dr

hilhse. Piracicaba: UNIMEP 1998.


Monografia sobre R. A

Depois de diversas e inúteis tentat1vas de


integração direta de R.A. ao sistema da terapia ergo-social da clinica, o
doutor Oury e eu chegamos à conclusäo de que era necessário recorrer a
a retomada
uma técnica terapèutica especial para possibilitar a esse doente

de contato com o tentativa recente cujo alcance


real. Trata-se de uma

não temos ainda condições de avaliar claramente. Começamos a usá-la


no momento em que R.A. acabara de empreender uma fuga que, tenho
aos 15 anos de
agora a impressão, "recordava" uma outra que ele fizera
idade, e que se pode considerar como tendo sido o ponto de partida do
agravamento psicótico de sua doença.
Até aquele momento, minhas relações com R.A. eram boas, mas
não sensivelmente distintas daquelas que se espera que um membro
do corpo de funcionários técnicos tenha como conjunto dos doen
tes.A bem dizer, a atitude geral de R.A. tinha tal natureza que ele se
achava um tanto "afastado" de todos os outros: oposição sistemåtica
a tudo aquilo que se faz na clinica
(descer ao refeitório, participar
das atividades, das reuniöes, das conversas de depois do jantar etc.):
respostas estereotipadas e sempre mais ou menos agressivas (coisas do
tipo: "como?", "hein?" "não entendo nada", "não sinto nada". "não
quero", "estou morto"; "foi aqui que me deixaram nesta situação"
etc.) que interrompiam regularmente e desde a primeira palavTa tudo
o
que se pudesse lhe dizer. Ele passava a maior parte do tempo dei-
tado em sua cama e ficava
completamente paralisado quando alguém
vinha ve-lo. Só quando o incitávamos, forçávamos,
possivel por
era
vezes conseguir que ele fizesse alguma
coisa. Minhas relaçöes com
ele começaram a ficar um tanto
diterentes porque, no momento
em que
passei a me
ocupar dele, o acaso, assim como o periodo de
terias, fizeram que se encontrassem reunidos na clinica
vários jovens

*Rclato de um tratamento psicoterapruico de controle mádico 1950.


Psicanilse e Iransveralidade
sobre R A
Monograta

36 tendo-o "adotado",
o envoj.
transtornos
de caráter que, perspectivas imaginarias que lhe säo correlativas desfaziam se

afetados por fora praticamente


ar: produzia-se uma espécie de objetivaçåo da cituaçao cujo
nos
atividades que
circuito de no
em todo um
voleibol, ténis de
jogar efeito era na maioria das vezes o de desviar, senão de bloqucar,o
veram

aceitar.
Vimo-lo, então,
fazé-lo de datilografia
impossível e a partir de
atelier de desenho, diálogo. Foi c o m eteito apenas alguns meses depois,
e
nadar, ir ao
damas, xadrez, trabalhar c o m o grupo
mesa,
de um filme
amador, um método totalmente diferente, que R. A. conseguiu aceitar a
participar da realização m a i s ou
m e n o s improvisada em
ideia de falar c o m alguém que não e u , ce principalmente redigir
um

marionetes e até
fazer u n n a ponta
de ele foi o um possa ler. Nio há por que nos deternmos
o único papel que
conseguimos para texto que "qualquer
reconhecer,
que, cabe no conteúdo. Nunca o fizemos. por maior que fosse em algumas
falso mudo. alcance da
de um
a recaida que a ela se se- ocasioes a tentação; tinhamos, na verdade. c o m o ao
a aludida fuga e
Foi nese período que
mão, situações edipianas que se estabeleciam
e se destaziam e m
deveras artificial desse tipo de
lado instável e
dias, múltiplas transterèncias c o m relação a membros do
mostraram o
guiu nos
dele. Tendo estado
bem próximo a poucos
no caso
envolvimento, ao menos

tido a oportunidade grupo ("x é meu irmão,"y é meu


pai. "z é minha irma" ctc.)
atividades, tendo
decorrer de todas
essas
ele no
de que desembocavam, que parece., ao em regressðes cada vez mas

e de acompanhá-lo de volta, quando central


de encontrá-lo no bosque notadamente quando de um sonho
profundas, cuja imagem
foi-me bem fácil fazer
por razões
de simpatia, determninar
sua fuga, assim como
era um seio envenenado que R. A. não conseguiu se

diálogo. Foi importante evitar,


com
aceitasse a perspectiva de uim
tinha sugado ou não.
que
instaurasse entre nós uma relação de tipo R. A.
desde o começo, que
se
Restringimos nossa atenção a"reestruturação sinmbólica"|de
sessões de psicoterapia
umas poucas
"transferencial". Primeiro porque
Apresento aqui, de modo bastante sumário, suas etapas:
tres anos antes, por razóes, a propósito,
tinham sido interrompidas
deixado com uma tenebrosa sensação de fracasso, Reconhecimento da voz e do "esquema corporal"
externas, tendo-o
da estrutura da clinica, que implica,
e em segundo lugar
por causa

a necessidade de uma N o curso das primeiras sessões, quando escutávamos a tita - que
membro do corpo de funcionários,
para todo
presença
alternativamente "curativa" e "autoritária","amigável"
etc.,
apagávamos juntos no dia seguinte -, R.A. se encolerizou.Voltou con
teria vida curta, uma
tra si mesmo a oposição que fazia a todos, aqueles "como?". "hein?"
de modo que uma transferëncia psicanalitica
ao final da sessão, o analista seria levado a ter para com o etc. Aquela voz gravada, aquele tom monocórdico, aquelas hesitações,
vez que,
aquelas interrupções, incessantes incoerencias o revoltaram. e ele
atitude completamente distinta.
as
sujeito uma

tomou testemunho do fato de que havia de fato ido "ao tundo


Decidimos então, com a participação do doutor Oury, que as me por
falar A partir disso, toi-me
conversas que eu teria com R. A. Ocorreriam coim um gravador. do abismo" para chegar a daquela maneira.

facilitada a tarefa de levá-lo a reconhecer que também era absurdo


o
Eu iniCiava ostensivamente a gravaçaQ no mO1mento em que doutor
persistir na ideia de considerar responsáveis pela doença o Oury.
diálogo entrava no que eu considerava um impasse, ou, diganmos, Os eletrochoques etc. e que, 1na verdade, ele misturava tudo um pouco.
quando algo me "incomodava". Tudo se passava, portanto, como Observe-se de passagem aapercepçio que ele texe ocasião de ter de sua
se um terceiro aparecesse na sala. A wo bodies psychologe as
unidade comportamental quando da projeçio do tile amador que en

de todo de atividadese qual, apesar de


original: Psicologia de dois corpos, expresão tornada conhecida por Michel
Bal1nt, podemos ve-lo participar tipo no
Km ingles no
de
que a tomou emprestada de John Rickman, analista que contrapós essa Psicologia à de
Freud,
certa lentidão, ele permanece geral deveras brilhante. Depos
em
um

que segundo ce era uma onc body psyhlogy. Psicologa de unm só corpo. N.T.
e r a ponível ve

Curto periodo de epanto,


cle tecomps,declaro que
se
diabs" e ele
Reconhecimento de sua própria situação
u m "probre

ponto cle
se t o r n a r a

aqucle filme a que


que fiquci dese
bem
ladainha: "são os cletrochoques", "foi aqui Dediquei-me a fazer que ele "falasse"sua doença de maneira mai
tal
eomoua
do cércbro" etc.
gravador havia condicionado de
me tircm
uma radiografia coerente. Passado algum tempo, o

Jeto","precio que cspécie


mmais tarde ele virja a passar por uma
mancira nosa situação de diálogo que eu praticamente já nem precisa-
Somente várias semanas

do gelo, apaipando rosto, ele subszituição, anotava num caderno o que


o

de l'estádio do eypelhol. em que,


diante valigá-lo. Desisti dele e, em

de aprecnsão jubilatória de
si mesmo evocado por julgavainteressante naquilo que ele dizia. Eu deixzva esse cadeTnO 2 su2
ICcuperaria o tipo período em
disposição, e dentro de pouco tempo consegui que fosse ele a ecreve
no nesmo
ocorreu

Lacan em "O cstádio do cspelho,Iso


renunciar a sua aparente insensibi- em meu lugar: quer dizer, durante a comveT2 eU Ointerrompi2 e propu-
fazé-lo sair de si niesno e

que, para chorar como


força que ele tanta
por acabou
nha:"Vocé poderia iso.e
anotar repeti2 palzvrTa por palzvTa que
eu o

licdade, c u o belisquei
com

ainda permanecc
ele acabara de dizer (ele, de modo geral, näo se lembrar). Eu
uma
de
criança. Masessa asunção seu
esquCma corporal conseguia

requestionada, (Observemos no asumira em larga medida a função do gravador (ou do espelho).porém


precária, sendo se1pre mais ou menos
tocante a isso as duas tentativas de autocastração:
uma profunda quei de modo mais humano, sendo essa "desautornatização da máquina cor
n1adura de cigarro e um corte na n1a0.) relativa do fato de ser agora ele a máquina que registrava a tala/palzvTa
entre nós.
que circulava
Reconbecimento da linguagem
Reconhecimento do outro

Dei-1me conta de que há anos ele não lia nem escrevia coisa alguma.
haver uma falta de auto- Até aquele momento, permaneciamos. para resumir, reciprocamente
Tal como ocorria em outras áreas, parecia-me
diálogo. O circuito entre nós fechava sobre caderno.
do "eu", e, correlativamente, de comportamentos se o
controle,
uma perda parasitários no

voltados para o real. Fazia-se necessário encontrar um terceiro termo:um sempre mais ou menos ilegivel ou incomunicável. primeira Uma tentatra

exterior a ele.Tentei primeiro fazé-lo de fazer ruir aquela estrutura fechada redundou rapidamente em fracasso.
controle que seria provisoriamente
ler em voz alta, mas isso era materialmente incomodo e como impedi-lo R.A. se apaixonou por uma funcionária da casa. Ele viveu aquilo nurna
de se interromper a qualquer pretexto para dizer "não estou entendendo espécie de oposição mime, naturalmente, a "dura realidade" se nmosrou
a

nada", "foi aqui que fiquei doente" etc.? Propus-lhe então que copiasse a ele por meio de uma amarga consciéncia da inanidade de sua própria

um livro, dizendo-lhe que o importante não era ele entender ou não, mas situação. Do mesmo modo como a fuga parecera recordar o episódio que
apenas que fizesse a cópia. Havia nisso um artificio que ele só mais tarde desencadeara sua doença, esse episódio imaginário recordva um antigo
descobriu. Na verdade, o livro não fora escolhido ao acaso. Tratava-se de fracasso amoroso que se situava nesse mesmo periodo. Toda a organização
Ocastelo, de Kafka. O doutor Oury e eu tinhamos percebido semelhanças de seu comportamento, que fora aos poucos se estabelecendo, se desfez.
entre R.A. Kafka, tanto do ponto de vista psicopatológico, religioso,
e Ele passou alguns dias completamente imobilizado na cama, sem comer
como da aparencia exterior, ao nmenos pelo que nos permite julgar uma nem dizer nada.
simples fotografia. Tanto é verdade que ele "se Recomecei do zero. Contudo. passados alguns dias, a situação voltou
apaixonou" pelo livro,e
hoje já está perto de acabar cópia. a ao "normal": ele retornou ao refeitório, recomeçou o trabalho de dati-
lografia e assim por diante. Tendo aquilo que tizéramos antes mantido
LACAN.J. Écrits. Paris: Seuil, p. 93. [Texto publicado 1966, mas apresentado pela primeira
em certa solidez, manifestou-se certa firmeza naquilo que denominamossu
vez em 1949, no XVI Congresso Internacional de
Psicanálise, realizado em Zurique.)
Psicanáise e Transversalidade
40

aludido episódio teve um feliz resultado:n.


reestruturaçãosimbólica. O na
época, ele se sentiu impelhido a escrever por sua própria conta, e quase
Desmoronamento de vida ainda não vivida.
uma
contra mim. Quando nossas relaçöes voltaram a ser completamente nor
Perda do "Eu"
mais, ele manteve a iniciativa. Por exemplo, escreveu algumas cartas aos
(Excertos do diário de R.
A.)
parentes. Como suas realizações"técnicas" lhe permitiam, empenhei-me
em levá-lo a copiar sistematicamente, e datilografar, o grosso caderno
que nos servira até então. Ele remanejou cOIsas, corrigiu, aprimorou 27 de setembro
selecionou, fez comentários ao que havia al1, alterou a ordem daquilo

que havíamos claborado juntos. O caderno se tornou seu texto. que mais me preocupa é a falta de todos os
Ele continua agora a escrever todo dia e me traz seus textos
já datilo- sentimentos que já tive possibilidade de
a
experienciar. Bref, todos eles
grafados (de vez em quando aceita datilografar minha correspondencia), se partiram ao mesmo tempo em que se foram todos os meus sentidos
Eumesmo mudei de atitude, e tento levá-lo a dar os primeiros passos 1aturais. Em suma, é a
própria morte. Digo bref como se fosse umna
na direçao de verdadeiro reconhecmento do outro. Faço
um
que seus
máquina a vapor viva e ao mesmo tenpo morta que soltasse de vez em
textos sejam lidos por médicos amigos que nos visitam. R.A. os quando um leve ruído de vapor, que fizesse
e
discute o com alguma regularidade
com eles. Até aquele momento, ele se recusava a ter
contatos, dizendo e como ligeiramente despertada por ruído de
se fosse sonhos de um seus

que "não existia","estava morto", "como seu pal, que "nada tinha
era nuvem. E então que ela não mexe, mas, em sobressalto, deixa escapara
se

a fazer aqui" etc. Para dar unm exemplo: há cerca de um mès, palavra bref numa frase, depois duas, depois... Todos em
meus brefs os
propus-lhe
que acendesse minha lareira; ele acabou por vir, não sem certa a seguir tem essa mesma causa
(algo a lembrar quando forem lidos). Uma
Um dia, quando alguém Ihe
satisfação. mocinha entra no escritório.
perguntou se ele o fizera, R.A. reuniu má-
-fë suficiente para negá-lo. -

Atrapalho se ficar aqui dois segundos? -

diz ela.
Hoje situação é outra: ele está Não respondo eu, sem
compreender
-

foi ele nmesmo


e
completamente presente a seu texto tinha dito.
nem un
pouco o
que ela
que aí mergulhou.Tem
agora uma espécie de personali-
dade simbólica, à qual se apega, e que altera o -

Você prefere ficar sozinho -

diz ela.
deixou de ser vivida com o sentimento da
sentido de sua doença; esta Respondo-lhe com um arremedo de sinal que me incomoda, isto é.
R.A.à família, pertinencia quase mágica de naão Ihe
qual, segundo ele,"todo mundo é docnte". Ele já não
na que eu
poderia responder como... FALTA absoluta de contato.
é
completamente "como pai, obsessão contra qual se debatia sem
o
a
contato tanto fisico como moral.
cessar, mas sempre Vendo o sinal, ela me diz:
de seu texto,
malograva.Tem-se clara impressão, a partir da leitura
a

que ele adquiriu uma


-

Para voce é indiferente. Bem, vou deixá-la só foi.


compreensao mais fenomenológica
-

e se

da essencia" de sua doença, e que esse Naquela tarde,joguei voleibol. Digo isso para tentar voltar à realidade.
aencontrar os caminhos éumbom recurso para ajudá-o mas não
quero chegar a ela. Pode uma
que daí podero surgir. nuvem sem cor
jogar? Tudo o
que
sai de mim, preciso
neste momento, não vem do coração. Félix acabou
de me dizer:"Confie em mim". Não posso. Parasita. São "artiticios" tisi-

1955.
T Em trances, bref, toneticannente bret. traz um conjunto de wns que evuca uin supirU, sltat ar.
chamné etc. Daí a nanutençio da palavra cm tranees. Nio hi
so palavra. N.T.
quivalente e n portugucs nun
Psicanálise e Transversalidade
42 lembro agora, isto é, coica
Desmoronamento de uma vida ainda não vvida 43
fazem lembrar da maneira como
oisas
piração, digestão, viso, audição etc.) que tinha antes, Quando
me
cos que um pouco.
que me tocaram naquele momento, coisas que, inconscientemente, digo escrevi tudo isso, não tinha conscièência do que escrevia, mas apenas uma
me encontro.
tem relação com o estado e n que
porque...
espécie de palavra muda (penso em Félix ao dizer isso); isso me faz ter
atitudes, e é só. E n o posso crer que vá sair disso unm dia. Tenho medo
de sugar o polegar, e de andar como se fosse pequeno.
28 de sctembro
30 de setembro
lembrar de todas asideias que devo à insulina. Abro
Queria me

meu artificio... observo a posição em


olhos, vejo M.diante de mim... uso
Não tinha vontade de escrever. E ainda meu organismo que ab-
que estou, tenho a perna um tanto dobrada. E sobretudoo braço, porque Nenhum
solutamente não funciona. Nenhuma impressão. sentimento.
a enfermeira me deu uma picada. Ponho de novo o algodão, pensei que Nada de sensações. Sou um idiota, uma máquina a vapor enferrujada.
ainda não tinha acabado. Nenhum contato com os outros. Muito contente, e até mesmo orgu-
E depois, quando levantei o lençol, vi que não era meu peito. Toda lhoso, no momento em que escrevo, disso que escrevo. Ouvi vagamente
a parte de baixo, o sexo somente, tinha um pouquinho de sentido. Isso minha voz, bastante monocórdica. e de fato sofrível.
a fita na qual estava
me enervava porque é uma coisa animal. Antes de me encontrar nesse
Ainda não escrevi nada de mim mesmo. Isso me lembra quando eu era
estado, o aspecto sexual era forte demais em mim. Dou importânciaà dizia: "Mame, minha comida". Eu
pequeno e, enquanto me balançava,
sexualidade (masturbação) porque estou doente e internado. Foi quan- dizia isso mecanicamente. Ainda não compreendi o que Félix acabou de
do golpeei o rosto da senhora A. que pude perceber isso. Esse "estado me dizer sobre.. nao me lembro mais.
móvel" não é consciente. Mas o "estado imóóvel" precisaria ser mais bem
descrito. Digo a mim mesmo alguma coisa, e depois disso ele vem... é 11 de outubro
um
completo abandono, pior do que quando eu era
criança. Era mais
estacionário. A coisa era feia, mas eu sentia mais do que hoje. A parte de Quando me obrigo a compreender com a cabeça... Felix acabou de
cima se foi, a de baixo ficou, mas... me explicar que sou um bebë. Quando escrevo isso, sinto-me (se posso
dizer isso) entrincheirado em minm mesmo. Ele me disse que houve,
Nunca mais vou deixar este diário de lado. E nele
que tenho de depois que nós dois discutimos isso, diferentes etapas. Houve primeiro
persistir, porque ele é o único lugar em que posso estar.
o silêncio (quando eu dizia"como?".é como se dissesse
(Kafka, 16 de dezembro de
1910)
"Marmäe, minha
comida"), depois as palavras, depois, se isso lhe agrada, a linguagem. De
Isso começou
quando eu era bebe. minha parte, a linguagem só será verdadeira a partir do momento em que
Sou um cretino,
gostaria de escrever
em
papel liso, um papel sem eu conseguir começar a sentir o que ouço dizer uma pessoa na minha
vincos. Estou voltando do
banheiro, pior que podridão. Estou num
é a frente e poder buscar compreender o que essa pessoa me diz (contato
estado pior do que a
morte.Já no tenho sentidos naturais. Nunca tenho fisico e moral ao mesmo tempo... para im).
fome, nem sede,
jamais tenho alguma vontade, nem fisica nem moral,
e Lembro-me de quando "tive" uma fuga aos 15 anos. Antes de ter
e
estou mais
ligado ao fisico porque perdi todas as funções essa fuga, no mesnmo dia, eu estava a ponto de discutir com um tipo de
orgânicas (res- bicicleta (isso aconteceu em Seine-e-Marne, Mitry-le-Neut). Quando
2Trecho dos Diários de Franz Kafka.Várias edições consultadas indicam
acabei de falar, se se pode dizer isso, com ele, entrei de bicicleta em... já
o dia 16. N.T.
Pscanilse c Iransverulidai.

44
à tarde pela estrada, ao cai.
do
Demornametito de uma v1da nda ruan r a

lembro muito bem). Bref. parti


não me
(alemão) -

cu ia a 13 de outur
vontade de ser um
boche toda.
Sol; eu avançava
com

trabalho; talvez eu tenha tido n edo


voltando do
Depois havia pessoas
sem as ver,
tentando deixá-]as ce
com Tinha sempre baralhada de palavras na (se se pole de
uma
as vi, mas eu olhei para elas,
quando partir desse momen
olhar ameaçador. (Foi
a
ento isso) cabeça. Discuti com Félix. Disse a ele que tinha vnto o dutor
medo, lançando-lhes
um
necessário que
Oury sair do quarto quando descia para o cafë da manhi. ) doutor
eu
brutalidade, sendo que
surgiu minha alegada
que
viajei a noite inteira. As seis horas d me perguntou (essa esferográfica me lembra de quando cu estava na
suas origens.) Br:f,
bem todas as
escola Maimonide. quando passava a impo uma dssertaçåo, quando
pouco. Depois continuci meu
m
de arcia; comi ali...
unm
manha vi um monte
Pedi café à senhors escrevia meu nome à margem: no fundo, minha dissertação nunca cra
cidade. Entrei numa casa. ora..
caminho; cheguei a
uma

lembro mais.... no meio de toda aquela confusão. Escrevo t.


boa,jamais fazia sentido para mim; nunca tomei consciencia disso:- cu
não me
-já não a "fazia"):
consciencia do
escrevo e sem
bebé, sem ter
que erer
isso como um
- Vocé ainda não desceu?
de letras... aind.
Nem se trata de palavras, ne se
escrever (não parasita). -
Não -

respondi-lhe.
c o m o u m bebé!
Sabe, agora vocè está melhor cle
as escrevo
-
com uma cara -

me
disse
Olhei para ele fazendo uma cara horrivel. Ele me disse, com jeto
12 de outubro
de quem se divertia:
-Vocé não gosta disso. Vocé não gosta quando ihe dizem 1sso.
Estava um pouco quando começamos a discut1r. Tinha ditoa
nervoso
Ele me pareceu outra pessoa.
deixaran na condição que estou
ele que foram os eletrochoques que me Estou terrivelmente solitário esta tarde.Acabo de guardar o caderno
Deixou-me continuar a dizer várias palavras. (Quando escrevo, ainda sinto o
e apagar a luz que me assusta, e a máquina branca que está ao lado da
me encarregar de explicar adiante)
orgulho que é no fundo estúpido, e vou mesa, porque tem fio pra todo lado (uma confusão). bref. sei lá. Agora
bebe que tem vontade
Quando escrevo, fico bem pequenininho como um tenho medo de tudo. Tenho medo da eletricidade. Vejo que estou voi-
de falar, de bebezar (bébicr), como se aquilo que eu dissesse só pudesse ser
tando a ser totalmente sozinho como antes de nossas discussoes. Tenho
entendido por mim (explicação da palavra muda). No fundo, sempre fui
meu orgulho; só isso me leva a me mexer um pouco. Não, nas tem uma
assim, sozinho no mundo...já não me lembro muito bem. Depois Félix
coisa: sou introvertido porque não tenho mais nada fisicamente. Moral
me pediu para buscar un maço de cigarros e fösforos. Quando voltei ao
mente não sei o que é. Sou unm fragmento de madeira, não uma grossa
pequeno escritório, esperava encontrar Félix sozinho. Mas tive uma surpresa,
tora bem firme, mas um galhinho bem pequeno que vai desaparecer sem
um pequeno golpe no coração, se se pode dizer assim, a senhora A. estava
nem mesmo ter aparecido. Talvez tenha sido sua saída que me deixou
sentada na beira da janela. Não gosto dela, e durante o dia, várias vezes, me assim, mas não acredito nisso, porque estou quase sempre do jeito que
perguntei como o doutor podia gostar. E uma bobagem ficar pensando
acabo de descrever.
isso, pois não entendo nada dessas coisas e sou inex1stente.
O doutor Z. entra bem na hora em que acabo de guardar meu ca-
Estou ficando histérico? E que tentei me apegar
corporalmente a derno e "a" esferográfica; ele se aproximou de mim. O galhinho morto
alguém a quem não posso me agarrar, pois não possuo "braçose pernas" que sou tivera uma espécie de impressão de que ele ia me perguntar o
para fazer isso. Já nao penso, não quero pensar mais. Gostaria de
poder que eu fazia lá, como se me tomasse por um ladrão.
querer viver corporalmente. MAMAE-MINHA-COMIDA. Minha
Veja, Félix, uso o imperfeito para descrever minha pretensa impresio
histeria é um pouco como papai. que não sinto não só porque não tenho a noção do tempo, mas simples
Picanálisec Transversalhdade nàio vvda
47
Desmonamento de uma vida anda

46 teve medo, se me
galhinho
morto
Não entend1 mesno o filme. Mas ce quse
sequer escuto.Agora
o ou comer.
para mim,
porque
terrivelmente,
ele n o viu Z., como e el
vida, um contato. uma luz, um desperur? E
e
entrou; e
conmo
me fez chorar. Quanto
terei uma
sem se
mexer quando Z.
empregou0 imperfeito para verdadeira merda agora. Meu orgaulho nebuloo nio
Neu se
Z.o amedronta,ele verdade que sou uma
não podia vé-lo,como ele não
de uma presença de que tudo vai voltar? Não acred1to que isso vá voltar. Mas-
Z., afastar-se justamente acabou. Mas quando
afastar-se de
afastamento, a mudança de tempo verbal (do turbei-me demais. Não chego a me apegar a voce, Félix, mas
só há mesumo
imediato
se dera conta... o
porque o galhinho nebulosa
voce que pode para mim aqui, porque vocé vé que éuma atciçåo
sobretudo
disso,
presente para
o imperfeito), e, além
que parecia vagamente" dar, sequer consigo chegar a isso.
forte, dura,
consistente,
que tento "me mas
via uma grossa tora, tudo iso, porque no não
analisar). Imagino Vocé diz que só nós dois estamos aí para ter essa coversa, mas

Z. É isso que lhe


deu medo (a me

gallhinho morto gritar? "Não se aceitasse escutar suas palavtas. eu


estar no real. Pode um
posso dizer que seja conversa.porque,
uma
fundo não posso vocé pergunte
me como que paralisado
tive medo, Félix, de que não as escutaria..., é voce que as escuta por mim. Estou
estou nada tranquilo." Sempre
sentimentos que não tive de ninguém. Estou como
esta última
frase. (Medo de Diga-me como posso me curar? Nunca gostei
por que destaquei
iminha comida", quando
mam e e pa- Sou sempre um galhinho morto. Não sou nada,
e que vem
do período "man e que paralisado. Diga-me..
eu cantava
isso me balançando a mim umn monte de merda, porque um monte de merda
é um monte de
riam nos m o m e n t o s em que sequer
pai fundo eu sei que, se nmame ao mundo? Quando viver no mundo, com os
mesmo
abandonado. Mas no
como um
merda. Quando vou ver o vou

tivesse escutado meu apelo, a bem dizer tão frágil, se ela tivesse se outros, ter alegrias, gostar de uma moça, ter um amigo, e tudo o mais que
menos
palavra que fosse, em vez de disse nmuita razão que é preciso que eu
dito uma lhe perguntei ou disse.Vocè me com
mime tivesse nme
aproximado de "eu" mesmo pequeno
que é preCiso que eu tique por nme ver..
contente
me enfiar a boca imediatamente, um
comida na
me veja e

ele n u n c a me disse nada. Para falar a O doutor Oury acaba de entrar no pequeno escritório para ver como
teria se formado. Quanto a papai,
tido pais, mas nuvens mudas.) E verdade vai alguém que está doente há muito tempo. Eu sequer mne dou conta. Nada
verdade, não sinto que tenha
dois atrás eu não teria contado tudo isso. Talvez eu es- tenho de vivo.ANTES da recaída, sentia ao menos que tinha uma cabeça.
que até uns anos

O "eu" existiria, nem além disso, isso no fundo não passava de lixo; agora...
que estou hoje. corpo;
um mas
não em e,
tivesse fraco, mas ao ponto
Neste momento estou muito fraco.Voc me diz que tento me agarrar
menos eu acreditaria que ele existia. Já
que fosse bem pequenino,
ou ao

Pessoalmente, acho que a alguma coisa, mas nem isso eu posso fazer. E verdade que antes, quando
não tenho controle algum sobre mim
mesmo.

excessiva ajudou um pouco a me deixar no estado fisico eu estava na escola, o nada acreditava crer
que era alguma coisa entre os

a masturbação
ele não tinha eles que iam até
companheiros; eramn
em que me encontro. companheiros. Mas
Nenhum "mim". nenhum
ele, e não ele que ia até eles para lhes falar.
eu. Estou agora sempre um pouco agarrado perversamente
às bolh.as de
14 de outubro
fisicarnente.
ar que meus pais representam para mim. Perdi tudo

Sete horas da noite.Acabo de ver o filme Jeuxr interdits'. Fez-me pensar


em muitas coisas. Estou perdido. Minha situação nunca vai mudar."Eu"não 15 de outubro

posso querer. Quando M. C. morreu, pensei que tinha uma


eu também
Revisão do (despertar) causado pela insulina:
congestão cerebral, pois do contrário teria consciência daquilo que (vejo) ou

3 Brinquedo proibide, filme dirigido por René Clément, que ganhou o Oscar de nmelhor filme es
Pela maneira como virei apágina, eu devia estar do outro lado da
trangeiro em 1952.Trata de uma órf adotada por uma familia que, com o filho mais novo, cria pågina (para mim é o outro lado). Falávannos do despertar da insulina.
um mundo infantil todo próprio a que os adultos não tém acesso. N.T.
Psicanálise e Transversalidade
48 Desmoronamento de uma vida ainda nio vivnda 49
dois très minutos me deram uma picada. Sou (despertado)
Há uns ou 29 de outubro
me despertou, eu estava
como nos eletrochoques, isto é, quando a picada
1orto, eu me sentia morto. Estou com Evelyne no escritório. Não vejo mais nada. Jå não

tenho cérebro.Não posso mais andar. Não sinto mais nada fisica-
19 de outubro mente. Não respiro mais. Golpe no coração de Hélène aos 15 anos.
na escola Maimonide. Preciso ser examinado fisicamente. sobretudo
insubina. N o sei se o suguei,
Sonho do seio envenenado causado pela o cérebro. Estou perdido. Nenhum "artificio" fisico (repito isso num
irmão sabe como se entender
Associado com Bernadette, que vi sem ver. Meu ritmo imaginário de "mamae minha comida" quando era pequeno).
com as mulheres, o que é para
mim a mesma coisa que o seio envenenado de Não posso mais. Não há nenhuma glândula que funcione. Nada de
minha me que eu nunca
minha mae. No fundo, estou demasiado ligado a organismo. Analise-me. Foi aqui que virei um morto. Só um pouco
tive uma impressão
tive (nuvem). Não tive pai. No comité do galinheiro, como meu pai.

desagradáel: "E como se falassem de mim quando


diziam que as galinhas Vi Evelyne agora há pouco. Estou com um pouquinho de ciúme.
pöem ovos" (algo a analisar com calma, acho eu). Completa imobilidade Ainda mais porque não posso tazer coisa alguma (como uma vespa presa
(nervosa, corporal e sensitiva). Tudo vem para mim do seio envenenado de no mel, e que nem mesmo se debate).
1ninha màãe, e tenho certeza de que nunca vou ficar curado.

4 de novembro
24 de outubro
Não comi. (ESTOU) sempre nesse buraco negro. Nenhum contato.
Felix me falou da transferència materna para Evelyne. No lugar Adoro Evelyne.Vocè viu Arthur?Viva a França.Tenho medo de vocés. Fiz
de meu pai, é meu irmão desaparecido que eu teria querido. Ele tinha tres linhasimpressas. Não vejo nada. O doutor Oury disse que é preciso
dezesseis anos e meio, Marcel. Ele desenhava bem. Era desenhista indus esperar. Naão compreende. Acabei.
trial. Não havia união em nossa famíilia. Papai e mame brigavam por Sempre temo que vejam quando falo de sexo. Por causa da fa-
qualquer besteira em iídiche. milia, do pai, do irmo A.'As glândulas sexuais. E imaginirio. Sem
Eu ficava com Evelyne. Ela me disse que eu era gentil. Tomei-a contato com Félix. Entre os judeus... O que acontece? A verdade
em meus pequenos braços de bebe. Ela Depois foi
segurou meu rosto.
é que ultimamente estou mais apegado a Félix, como antes de ele
embora. Chamei por mamae abandonado ("mamäe minha
como um partir. Estou voltando do salão grande. Não posso ver os católicos
comida" imaginário). Marcel "se" desenhava bem se olhando no
gelo agora. E culpa de meu pai. Sentimento (se se pode dizer isso) de
(estádio do falso espelho). opressão. Acabo de abraçar Evelyne. Estou como em casa... Como
minha m e.. Fisicamente imóvel e moralmente inerte. Nunea esta-
28 de outubro beleci Isso é
contato. tempo curioso e terrivel. Não gosto
ao mesmo

de J., mas mesmo assim de modo algum o vejo... fazendo "quase"


Sinto-me mais infantil. Sinto-me morto, ainda nào nascido. Não de conta que o
vejo.
tenho nenhum contato. E tudo lunático. Estou inerte. Continuo.
Acho
que nunca saio disso. Fui bom em
ortografia quando era pequeno. Fui
eu
que nme fiz ficar assim... talvez.
+ Nome próprio de R.A., em nmaúsculas.
Psicanalise e iransversal1d1de
Desmoonamerito de tuma vda ainda não vivida 51
50
5 de novembro chorar. Deixei cair umas läágrimas, mas não tinha uma verdadeira vontade
de chorar. "E sobretudo não se contenha; isso vai lhe trazer alivio." Não,
um susto com revólver, E
u Eu
Paris que papai me (deu) iso serviu antes para me esvaziar completamente.
Foi em
acabava de
Maurice.Aconteceu de tarde. Eu entr-
trar
estava com meu
irmão Debato-me, mas não consigo. Näo aceito ese sofrimento porque
dia inteiro. PAPAI gritou atrás de mim
im.
Tinha vendido meus jornais o
ele é terrivel, e principalmente porque não posso accit-lo.
irmãozinho me disse que partisse
não me movi. Meu
Tive medo, mas

via seim o ver. Isso nao durou mais que al 20 de novembro


Eu não via o revólver. Eu o

de nminha irm Rachel e de me..


indo para a casa
guns segundos. Acabei
estava diante de meu
pai, de que
falar. Nio lembro mais de tudo
cunhado. Mas tinha a certeza, quando Minha me nunca me ensinou a me

momento de insensatez.
fazia aquilo num na escola e no não tenho corpo, nem cabeça.
colegio. Já
ele não queria atirar. Ele o que aprendi
coração, mais nada. Meus pais não gostaram de mim como era preciso.

14 novcmnbro Sempre fui um abandonado, eu gostaria de querer poder querer que


bastante
alguém cuidasse de mim (sic). Seria talvez porque Evelyne gosta
de mim? Ou serâ mais porque acredito idiota que ela tem
"E o BREF de minha mae." como um

visita nao me causou efeito piedade de mim? Meu irm o Jacques não se parece pouco
nem um
minha irm veio 1ne ver, sua
Quando
treinando.
algum.Jeannette veio me procurar
no quarto. Certamente quando eu era comigo. Quando dizia "Mame, minha comida!", eu estava

educou. Hoje não posso mais. Outro bebê qualquer apela à vida. Não eu.
pequeno, não sei,
eu... Meu pai não me
precisaria ter tido. Por que? Porque não consi- Acabo de dançar com Jeannette, que me puxou pelo braço. Sou
Não é unm pai como eu
como um pedaço de pau. E necessårio que as damas me convidem para
encher de comida.
Ele nunca me criou. Sempre
go me autocontrolar. minha mie.
A masturbação agiu bastante... a partir
dos 15 anos. Amo muito a mim dançar; é terivel. Nenhum contato. Sou igual a meu pai, a
prazer fisico imaginário... de dançar... nenhum
mesmo porque ainda corro
atrás do seio "duas" vezes imaginário de mi- Isso me incomoda, esse

deste mundo, como teria controle de mim mesmo.


nha (mäe). (Ela) não me ensinou a ver as coIsas
sido necessário para vencer minha fraqueza, como fariam pais normais.
2 de dezembro
NAO. Sempre encher de comida. Era unm verdadeiro bebë, minha me
Meu pai
(namãe nminha comida). Sempre tive problemas de estomago.
coisa sobre... O principal é a fala/palavra. Nunca a tive quando era pequeno. E
trabalhava, 1mas nunca me disse alguma
por escrito e é por
as coisas que me adoro
isso
por isso que sempre vejo
(a analisar). Quando eu dizia "Mamie, minha comida!", ninguém me
19 de novembro
eu me debatia para tentar me
ibertar de meus
respondeu (sic). Será que
e nem mesno a elas consigo
Não tenho mais desejo sexual. Não é porque fosse sedutor, meu pais?Volto sem cessar às (minhas) bolhas de ar,
em nim, era nele mesnoo
irmão, que ele tinha sucesso con as garotas, é porque ele era.. quase.. chegar...corrente de ar. No fundo, se quis atirar
Parecemos muto unn com o outro.
normal. Un dia que fui ao psicanalista, eu estava desse jeito, e isso me que meu pai queria aürar.
irmão? Foi uma coisa automi-
enervava. Ele me disse: "Sente-se". Ele achava que eu tiuha vontade de E quando dei u n soco e n meu

atingir meu irmio, ter contato


tica, e sequer automática; toi para
foi uma batreira para
com ele. Meu punho atravessou a grade, que
5 Nio se trata de "uter unm coup de evoler" ( aturar), mas ale ameayar con un revólver. N.
PsIcanálise e Traverahdade
de uma vida anda nào vTmda
52 Desmoronamento

nem uma barreira moral, mas


nào uma barreira fisica 19 de dezembro
mim, mas
eu sempre
estivesse em lassida
barreira que fez com que
tipo de
todo amolecido. Se estivesse bem, eu julgaria a mocinha simpåtica. E como com os

Félix? Mas... a presença de Evelvne Mas quan-


coisa mais extrovertido agora?
Quero dizer alguma
a
outros companheiros. Será que estou

seio apodrecido, daquela mãe Sou


ou antes de minha mäe real, do que do ela me dise que me dirigisse ao
piano, nio escute1.. um pouco
deu verdadeiro amar
um
ela não me amor ela se aprox1ma de mim. nio consigo talar,
nao pude me apegar porque como meu pai. Quando
abandonado é por causa disso, e denoi. e tico envergonhado.
,
11m.aterno, porque
se sempre sou

e eu no
simplesmente algo tisico, apenas sinto unn pertume
encontro a posso
ao meu lå no fundo. Por que nunca é a voz? Certammente. porque
sobretudo, porque Evelyne vem porque nio sinto
aceitar. Quando escrevo
tudo isso, são bobagens que tento sentir lá em casa nunca
falaram comigo. Quando vocè me disse "Sente à mesa

entrada de Evelyne que interrompeu minha escreva", toi ai que ocorreu a ruptura; é porque meu pai niaginario
Brf. é siuplesmente a e
tive medo das mulheres, porque vivendo sonho.
vontade de falar de mim. Sempre Bref... estou
assim.. um
nunca falou com1go...
se tornou para mim minha tarnilia,
medo da mae real que rapidamente Cada vez que voce me fala da familia, que vocé ataca
senmpre tive
causa da falta de confiança na taz retetir, isso enerva. porque no tundo eu
quando eu era bebe, imaginária, por
me
isso me toca, isso Ime

deu. Essa foi a primeiríssima barreira sensivel


vida que minha mâe nunca me nunca refleti...e porque jamais tive familia. E porque sou m u t o

de fato. E sempre E é como meu pa.


ficar sempre encerrado sem o estar que não chego a ter. como bomba.
a
que me fez a bobagens
E por causa de sua escrita que acho que voce é um pouco com
como se eu mergulhasse na lassidão.
O ruído dos passos de Félix me incomoda. (Isso, sem dúvida, vem Félix. Para mim, escrever é a morte
(palavra nuda). Lembro-me de
eu,
mesmo assim nme chocou estávamos å mesa. a mic. minha
da bomba... que eu sequer ouvi? Mas que que meu pai disse, certa tarde em que

durante a guerra.) Estou voltado para dentro de mim mesmo. Consigo em iídiche, "Como uma vespa no mel". Ele se divertia ao dizer sso.
escrever tudo isso porque a pseudopresença de Evelyne e de Félix me
Perguntei o que ele queria dizer. Ele respondeu que em trancés não me

faz escrever. se pode dizer. Félix diz que nessa cena o pai é um pouco cono
senhor o

Klamm, com quem nunca se pode falar.


3 de dezembro
22 de dezembro
Minha me nunca me fez desenvolver a contiança. Foi sempre fisico.
Neste momento não estou (confiante?), e para tentar estar.. O que digo é Oque me perturbou foi a chegada de M. e da menininha (a irmi
espontaneo. Meus pais me tomam por um monte de trapos sujos. Ponho de M.). e depois... sua mie. A criança, pereebo claramente que ela unu
em meu lugar mame e papai imaginários, porque os reais eu nunca vi do ventre da mae. E, além disso, ela ji é grande. A botetada que dei na
(ritino de "mamae minha comida"). Sou como meu pai. Quando me senhora A. é a mesma coisa para mim. O principal é o choque do gelo
fez com minha mae, acho que ele não fazia com sentunentos, mas com Por que não tive o prazer de me reconhecer? Porque nio me vi. Como
certa fraqueza sexual. é povsivel que eu nunca tenha tome? Tenho uma espécie de npresio de
E como certa tarde em
que saí de casa, estava doente como agora, que nunca suguei esa mamadeira. Enquanto as outras
criatnças connoe
menos fisicamente? Como quando estive com uma prostituta. Eu sequer possivel queeu n0
seja co1110 as outras crianças? Ao menos c o n o meus

via quarto. Não sabia irmios e irmis. Quando acabo de dizet "meus irmios e irmis", sinto a
o o
que fazer. Afundei. Quis abraçá-la... EU não
queria presença de alguma coisa ruim, de alyuma coia que ferve?. lguma
Psicanálise e Transverulhdade

54 alo.
coisa no ventre
(imagino, ao
escrever isso, que
nao sinto
alguma"
"coisa
E estranho. Ca: Senhoras e Senhores, o SCAJ'
não consigo explicar. um
eu sequer respiro); é isso que me destaço (parêntesses
como meu pai. Masturbação... Plut,
eu
de
dia
Félix).

Je suis tout cn circ, Em todas as dependncias de La Borde, com


C'est pourtant pas l'age;
o passar do tempo essa frase, que se tornou o pivo de uma enorme
Que puis-je te dire,
le cire áge." máquina verbal socioteraputica, tende a evocar seja um anúncio de
Je suis dans
feira "Entrem, entrem! Vocés vão ver." ou um ritual religioso, com seu
esta manha. Não fui eu que cortejo de oficiantes e sua tediosa liturgia. De que se trata? Do esquete.
E como quando copiei uma g1rata a
a si mesina, de modo imperfeito do palco? Não, do SCAJ.'
sim a girata que se copiou
copiei, mas
De modo geral, o novo não vai muito longe.pois costuma dentro
e com bastante demora.
de pouco tempo esquecer-se de se questionar como nós, os cronicos,
acerca da natureza dessa subcomissãodesabe-se lá mais o que, a pon-
to de seu proprio genero passar de feminino a masculino. A partir da

proliferação, retrospectivamente inquietante em seu sistematismo, de


instituiçoes até o inverno de 1955, a maioria acabou, como se diz. por

desaparecer ou degenerar, deixando uma espécie de adubo institucional


que só fez enriquecer o SCAJ. Ele se pôs com efeito, a suprir as defici-
éncias dos comitès, do bar, do galinheiro, do rádio, do menu, da limpeza
etc., do secretariado, das comissies de animação e da assembleia geral.
Será porque acontecia todos os dias? Não é de modo algum evidente
que seja mais fácil fazer sete vezes alguma coisa durante a semana do
que uma só vez. Trata-se de uma rotina? Mas como explicar que fosse
uma das atividades que mais atraía os doentes? Em 1955, minha ideia
foi da utilidade de haver quatro ou cinco pessoas
a
para realizar
tecn1-
camente, todos os dias,
um programa de atividades cujas grandes linhas
deveriamser decididassemanalmente no åmbito de uma"comissão de.
animaçãobem ampla.Foi então que vimos as portas dessa reunião
forçadas por um crescente numero de participantes, a ponto de causar
verdadeira surpresa hoje descobrir que estão presentes menos da metade
6Viro pedra de cera,
do efetivo de doentes.
E não se
idade;
acuse a

Digo cosas sem cira,


Por estar na cereidade.
(Possivel referéncia ao uso da cera como
"cosnético" antienvellheccimento
*
Publicado no número 1 do Bulletin du Personnel Soignant dès
Clniques du Loir-et-Cher. 1957.
da pele?) N.T. 1 Sous-Conmision d'Animation
pour la Jourmée. (Subcomissio de Animação do Dia, mas tande
Sous-Commision des Activités Journalières, Subcomiio de Aüvidades
Diärias. N.T.)
Psicanálise eTransversalidade
156 Senhoras e senhores, o SCAJ! 57
papel polivalentede cento
assumiu um
Ao mesmo tempo, SCAJ o
testemunha. E desse modo que nos tornamos amigos, amantes, enpre-
e mesmo de assembleia cn
de organização,
de informação, de discussão, gados, contratados por hora e mesmo inimigos tanto é verdade que a
nele algumas vezes um eutórjco clima'
munitária ou de tribunal, reinando agressividade é sempre estruturada nas sociedades. por mais primitivas
dizer o que quiser. Essa atmosfera de
de cabaré em que cada qual pode
das emissões da Rádio Luxenburoe
que sejam, bastando evocar os ritos da"vendetta" ou o "código de honra
miragem muitas vezes me recordou
dos marginais".
esta presente esta porque quer. Na
que não obrigam a ninguém, quem
e
Qs loucossão justamente pessoas que se afastaram dessas relaçõesde
em que nao se controla coisa alguma
realidade, obriga na nmedida mesma troca socialmente normalizadas. Eles não conseguem mais se encontrar
como as marcas de
dent1fricio ficam girando dentm
e da mesma maneira em seu ambito e, ao mesino tempo, passam a só ver diante de si um
ve acumular-se no vazin
de nossa cabeça, assin também, aqui, o püblico único tipo de pesoa, querecebeu na sociedade um mandato especifico
no qual "disseram"
de seu ócio ou de seu tédio a tentação de ir ao lugar
coisa, envolvendo outraspessoas, qual uma
para se ocupar disso: o psiquiatra. Logo.oúnico contrato que os loucos
que vai ocorrer alguma e vai
têm com a sociedade é a constatação feita pelo psiquiatra de eles de fato
cada um só tem diante
longa fila de carneiros de Panúrgio, em que de já não são parte dela", de que estão fora das relações contratuais com
Si a imagem do outro, visto de trás. a família, o trabalho etc.
Esse fator imaginário, em estado puro no SCAJ. é parece-me um
fator constante que vamos encontrar na base de todas as outras ativida-
Assim expulso dosocial,odoente éacolhido nasociedade do psi
quiatra, cercado porseus"capatazes"e deseus"encarregados de atender
des: reuniðes, ateliès, jogos, porém, tornado menos aparente em função necessidades e realizar diversas tarefas". Esse "senhorio" do
a pequenas
do maior"utilitarismo" destas últimas. Nãotenho a mínima dúvida de psiquiatra o transtorma, numa estrutura tradicional, em "escravo" de seu
que esse é orecurso da "ressocialização localdos doentes/ Com vistas papel de guardião-chefe, ou no "grande feiticeiro" da magia medica-
a
compreender de que maneira devemos levar os doentes a se fazer en- mentosa.
tender literalmente pela terapëutica psiquiátrica,tentemos apreender as O louco, quede modogeral não o é a ponto de ignorar que não é
armadilhas da vidanormalnas quaisnos tornamos o joguete da palavra bom sê-lo, aconmoda-se situação da maneira que pode e,é preciso
a essa
do outro.
reconhecer,mais mal do que bem.
O representante comercial sabe que já ganhou meia partida quando A "voz" do SCAJ e outros artiticios do tipo podem moditicar emparte
consegue entabular uma conversa sobre qualquer assunto que não seja o a rigidez desse edificio. Não se trata de uma vara de condão, e no fundo
de sua mercadoria. O sedutor, para "criar" contato, deve descobrir uma não altera coisa alguma; a troca contratual não se restabelece. pois nada
primeira frase anódina, que nao tenha relação alguma com aquilo que do que se faz aqui é realmente sério. Isso não impede que os "agentes" da
ele tem em mente. Mas só um "louco" se "deixa levar"
por essas palavras
vazias, por essas formalidades preliminares. Passa-se aos assuntos sérioa,
sociedade e da coerència simbóica que são os enfernmeiros se transmutem

inadvertidamente em interlocutores. O diálogo rompido da dureza do real


ou
seja, às transações financeiras ou ao estabelecimento de relações mais se refaz tendo como objeto futilidades adaptadas à fragilidade e à desestru-
ou menos
contratuais, que, embora não sejam todas da ordem da juris- turação do doente. Os enfermeiros passam então, da posição de "feitors de
dição social, como o casamento, não estabelecem menos uma estrutura escravos", à de psicoterapeutas. A tarefa do médico volta a ser a de curar.
de permanencia da relação, residindo a
diferença fo caráter distinto da ntegrar os tratamentos biológicos às ações dos grupos, subgrupos e
indivíduos que lhe cabe "controlar" no sentido psicunalitico.
2"Carneiros de Panúrgio" fazreferència a uma passagen sobre
P'anúrgio, o criado de Gargintua e
Pantagruel, personagens de Rabelais, em que se descreve o hábito
desses animais de seguir oque Na cpoca de elaboraçio do texto, o uso de"primito" não era coniderado improprs NT
estaver na trente e ir
para onde quer que ele vá. N.T. 4Em italiano no
original,"vingança". N. 1.
Psicanálise e Transversalidad

58 de intercämbio são
verbal que são as ins-
ao

ángulo, as redes
Vistas desse
devem ser concebidas
à teição das existentes no Introdução à Psicoterapia Institucional
tjtuiçoes não

normal. Nio se faz


nelas troca alguma.
Não se tala nelas "contra"na (1962-1963)
do doeinte ao e uma roCa contra
a cura
âmbito do GTPSI)
Por exeplo, participação (Excertos de intervenções feitas
no

Ocorre porque"ele assinm o


quer.Ocorre mujtas
Ela não é nad. vezes
com um doente para que ele
participe de um atelia lie.0
de insistirmos
precSO reconlecer que não é para
"
Apresentação
problema, porém, não se altera. E
arbitrario da troca ë necessário 1para
seubem;éo que é. Esse elemento Pode-se situar a origem da corrente de pensamento que desem-
ajudar o doente escapar
a a si seu proprio ritmo, segundo
mesmo, enn
bocou nas formulações atuais da psicoterapia institucional.
um tanto

Sua dialética
inacessível, tora do vazio
em que o lançou sua imcapacidade Se-
arbitrarianmente, no periodo que precedeu a Libertação na França.
de fazer reconhecer e compreender. de
se
ria, sem dúvida, possivel remontar ainda mais longe, pós-guerra ao

O engodo ser sempre na verdade ele que de o primeiro


consiste em
diferentes hospitais psiquiitricos da
1914, conn o desenvolvimento, em
tenhamos preparado tudo de antemao,chegando-se
passo, mesmo que
Vestfälia, da 'terapèutica ativa"|de Herman Simon, ou, mais remoti-
a ponto de pressioná-lo bem para levá-lo a ficar diante de uma folba da mente ainda, à Inglaterra, com os métodos de "no restraint",. "open door
papel e da pintura,
etc. Muitas coisas já haviam por conseguinte sido tentadas no mundo
Essa reunião cotidiana é uma espécie de peneira destinada a juntar
para "hunmanizar o destino dos pobres doentes mentais"; mas o estorço
o que sobra de relativanmente bem integrado na totalidade do discurso
uma espécie de controle barométrico da dissociação da sociedade local sistemático de revolução psiquiátrica nos planos teóricos e
pråiticos só
veio a se estruturar de fato no hospital psiquiitrico de Sant-Alban, cem
Ela é determinada por relações entre forças obscurasentre os que dela
Lozère, pelas mãos das sucessivas equipes que se costituiram em torno
participame os que lá não aparecem, aqueles que talam nela e aqueles
de François Tosquelles.
que se calanm, aqueles que organizam com toda a seriedade e aqueles que,
Quando saíram dos campos de prisioneiros e de concentração, certo.
menos
rigidos, mais integrados, agem nela com flexibilidade, compreen- número de enfermeirose de psiquiatras passaram a abord1r a questio dos
dendo de maneira geral de que se trata, não advindo mais os monitores
hospitais psiquiátricos com um novo olhar. Tendo ficado sem condições
e semimonitores desse
tipo de organismo de ressocialização. de suportar as instituições concentracionárias, empenharun-se em trans-
Em resumo, eu definiria oSCAJ como uma
máquina de falas vazias. formar coletivamente os serviços, derrubando as grades.organizandoa
essencialnnente lugar de trocas
um
desiguais, heterogeneas, provisórias luta contra a fome etc.As coisas foram levadas a eteito com um espir1to
entre
comportamentoS inmaginarios: um estar voltado para dentro de si mes-
ainda mais militante em Saint-Alban, porque o hospital servira, por outro
fmo, um dar-se ares de importância, oposição agressiva, recriminaçao
não reconhecnento do
lado, de abrigo de resistentes. Havia ali intelectuais surrealistas, médicos
desejo do outro etc., e uma integração simbolica: torteniente intuenciados pelo treudhsnno e militantes maristas, e toz
expressão verbal de desacordo, troca de ideias, tomada de consciencia de
uma atividade
nese eadinho que se forjaram novos instrumentos de desalienaçio, como
conjunta, serviçaos prestados à comunidade etc. foi o caso por exenplo do prinmeiro clube terapeutico intra-hospitalar
(o clube Paul Balvet).

iroupe de Travail de pychologie et de Sorolgie lusututiomelles (Cirupo de Trabalho de


Piologia e de Sociologia lovttuconais). N.T
I Em inglès no original (Sem restriçoes; portu aberta). N.T.
Psicanáise e
60
Transversalidad Introduçãoá Psicoterapia Institucional
militante da
uma nova atitude,uma
nova abordagem
da doença
Nasceu habituais e afetar violen ostra
ossível ou most ser
enganoso; pode-se acreditar que se fala à criança.
mental, que iriam abalar os estereótipos
como os Set
amentete neuróticede-se acreditar que eles nos ouvem, mas talvez isso
tanto os
ambientes
reacionários da administração
era ntes
que, antes de levar
levar
setores"de ao

amera ilusão. Apesar das intenções do observador,


seja
surgem efestos de
de ordem proposta a
efeit
esquerda". A palavra "curar área" sugestão. Uma Psicolog1a da adaptaçao poderi obter resultados, mas é um
individual que
tosse, era preciso
a
O a"! de- ela não tem
qualquer cura Cata que condiçoes de atingir verdadeiramente
senvolvimento de
técnicas de "clubes terapëuticos intra-honie.

acerca da agitaçao,
o caráter crônie.
ntra-hospitalares" sujeito. O
registro dÍ
desejos mais fundamentais implica certos desvios,
acesso aos
o

deveria abalar as
ideias recebidas
tradicional viu-se assim que certas mediaçoes. roi nesse contexto que introduzimos o conceito de
doenças etc., e a própria semiologia nstitucionalizaço,0 problema da produção de instituiçòes: quem pro-
entre os doentes e os Curs d
pelo estabelecimento de novas relaçoes
entre os médicos e as farma1
radores, d17 a instituição e organiza seus subconjuntos? Haverá uma maneira de
entre os
cnfermeiros e osmediCOs, alrerar essa produção. A habitual proliferação de instituições na sociedade
solapando os próprios
fundamentos da nsin ,

Foi-se aos poucos ontemporinea não levou senão ao reforço da alienação do individuo:
real aproximação entre
uma
orática
a

como um todo, o que permitiu haverá condições de ocorrer uma transferência de responsabilidade, e de
levando a superaçao de uma antiga ferida.
hospitalar e a psicanálise, -0 que suceda ao burocratismo uma criatividade institucional? Mas com que
Freud da parte de Jung, de Bleuler e do nesa
rompimento com de condições? Haverá técnicas especificas de dar voz ao objeto que se quer
um loingo tempo a psicanálise d
ferida que apartaria por
Zurique , estudar? Com efeito, se implicita ou explicitamente reiticamos oobjeto
psiquiatria. Disso adveio a perspectiva de uma psicoterapia instituci de estudo, se não lhe fornecemos recursos de expressão, mesmo prin-
e
nal".que tornou evidente, por um percurso um tanto paradoxal, quenão
cipalmente quando ele nãq dispõe de meios de comunicação adequados
era possível conceber uma cura psicoterapica para doenças graves sem (podendoesse meio ser o sonho, o tantasma, o mito, a expressão pictórica,
efetuar a análise da instituição.E, reciprocamente,
era
necessário chepr a expressão práxica etc.), acaba-se
pessoalmente afetado por um efeito
à revisão da concepção de curaindividual dando maior atençãoao con- de miragem, por relaçoes projetivas com o objeto
considerado. Trata-se
texto institucional, Em 1960, alguns de nos se reuniram para constituir afinal de um questionamento das antigas categorias mal elaboradas da
um grupo de trabalho, o GTPSI (Groupe de 'Travail de Psychologie et Psicologia universalizante e abstratizante.
de Sociologie Institutionnelles). Em 1965, fomos impelidos a fundar uma Hávárias vias de detinição do psiquiatra: a estrita determinação
sociedade mais ampla: a SPI (Société de Psychothérapie Institutionnelle social,sua relação com o Estado, a situação à qual ela deve integrar-se e
Sociedade de Psicoterapia Institucional). que não lhe deixa como margem de intervenção mais do que a resultante
entre as possibilidades objetivas da instituição, sua
autodeterminação,
pessoal, sua energia, sua idade, seus problemas, sua capacidade de sair de
1.0 ponto de partida dificuldades etc. Apartir disso, seria possível estabelecer uma detiniçio
dopapele da função psiquiátrica, mas seu sentido se altera por intei

Jodas essas tentativas inmplicam unm questionamento metodológico se a considerarmos de ângulo, definindo a loucura como algo que
outro

da pesquisa cm ciências humanas: o acesso dircto ao indivíduo ou nãoe. escapa à determinação social. Se dissemos que o psiquiatra e aquele que
Se ve as voltas com a loucura, vemo-nos diante de uma detinição que
2 Viculados com a Féileration des Croix-Marines. 1110 e tacilnente compatível com a primeira, ticamos diante de uma
(lederação de assoc iaçoes ule prooglo
saúde mental, eada na lrança em 952.
N.T) Cspecie de divisão entre a vocação de apreender as tespostas da loucura
lez-se u considerável trabalho de formaçio de enfernneios psiquiátricos mo quadro do
dentraneent aux néthodes actives (Cento de treinamento de
Vir Suriale et
métodos ativos). Cl, a e o Lato de sernios agentes dainsergio dessaloucura numa estruturade
Trailemeu
Irduc o Puccorrapa frtar ol
U
albenaçào ocial. Temos o direito deperguntar;o que se quer mais? da irrigação do Nilo, temos a impresmio de que a emergencu de ua le
aumentou filosofi2
social do psiquiatra, vem0-nos diant unificadora, de cunho politico e rel1gioso, proxesou-e de maneira qiee
No nível da determinação mecánica. As particulas clementafes parecem estar a*oiadar de xonto
abordou de forma politica: articulação
a de m
daqunlo que Touguelles com leis objetivas, c a superestruturas politicas c ideologpca viram-se
ocicdade plobal. Em contrapartida, se nos colocamos no
organizadas como se a despeito de si mesmas. Seja essa imagrm verda-
grupo ocial
à

cxistenCal de uma dada relaço com a lou


ángulo do aprofundanento deira ou faisa, eu a sug1ro tão-5omente para ilustrar aqunlo que entendo
s o n o n confrontadox pelo
aspecto mais agudo da pesquisa culturst
cura, porgnpos sujeitados grupos cuja lei vem do exterio1, a0 contrario de
freudiunoe todas as
ormas de exploração da práxit'
opológica:o outros grupos,que pretendem fundar-se a partir da assunção de uma le
das sociedades primitivas ctc. Cumpre
iunana,eja o cincma oug estudo interna;estesúltimossiogruposfundadores de s mesmos,grupos cujo
abordar certo problenas conceituais cuja elaboração séria de
núnero de modelo reside antes do lado das sociedades religiosas ou militantes,e cuja
real1zada em funcão
modo algum pode ser executada grupo; cla é em
totalização depende de sua capacidade de encarnar essa le,
é ben raro que se possa adquirir
de dineoes tal ponto pesoais que
a Como reconhecer esses grupos-sintomas? Como reconhecer o fato
culura de bave sinplesmeme se reunindo, trocando monografias etc. de que uma sociedade, num momento dado, traz em si uma mutação?
Ua
discutir talvez tenham sido na
Certo úmeo de conceitos que Como reconhecer uma reviravolta social cujo desenvolvimento objetivo
vamos

ogem conCCtos pessoaIs, 1mas é preciso reclaborá-los, é preciso que se


é ributário de uma demanda social? Já não há ai mecanisno algum. O
tomem coneeitos do GTPSI, que se translormem cm conceito "palavra surgimento numa época dada de uma demanda de transtormação social na
que será
dr ordenn do grupo, conceno operacio11al dessa maneira sociedade feudal francesa não implicou automaticamente o desencadear
dilercntes origens: psicanaliticos, filosó de uma revolução, mas apenas do desejo de outra coisa, uma paixão pela
poivel Anur conceitosde
fi c Qucm sabea atualizaçio, cn particular daqueles que preservem reviravolta perceptivel em mil sintomas.

A atic da auáliss com o campo olitico,ião yenha a jpermitir o


o Quando deseja afirnmar-seno nivel desses grupos,osujeito tem de
develanenlo de uma verdade num esaço cm que a situagão tenderia, reconhecerem primeirolugarquenão hálugarparasinoestado atualda
isaurar uma opaca ileologia? Por cOnseguinte, 11äo se trata do uma
ecanicasocial. Por conseguinte.eleestáobrigado afazer ai umaintrusio
(TCaào buaniMa, mas de saber como se desvencillhar dela quando a atacar o
sistemaexistente. Ejusto à medida que obtém sucesso nessa

t i preoa mdacdo contexto J; a partir de uma tal necessidade, com afirmação que o sujeito vai desempenhar na sociedade o papel de uma
D,I 1 i n i n o de grupos de vanguarda c identuficando um enpre- ruptura subjetiva, papel que ele mesmo poderá, noutras circunstincias.

dnento comuD, nao só cm açOcs mas uma estrategia con]unta, que legar a um segmento mais amplo do socius. A medida que, por exemplo,
loc.uho problema de un controle analítico, politico e ético. se revelasse incapaz de afirmar ou manter sua autonomia comno grupo

cultural, o GTPSI poderia muito bem ser recuperado como falo da


2. 0 que é um grupor psiquiatria progressista francesa, sendo assim literalmente ingerido, com
o risco que isso comporta de se estruturar serialmente.

mperativo distinguir netodologicamete o objeto que se tem em Como se passainn as coisas? E preciso ver como se desloca o eteito
nente ao falar de "grupo", Se concebemos os grupos do ponto de vista glesubjetividade Se a lei constitutiva do grupo tornou-se de tato in-
tencionale explicita, há repercussöes dela no can1po que lhe e exterior.
históro, por da conaituiçio dos primeiros Estados
exenplo, «quando
do Antigo ligito, a asociaçào de uibos de agricultores sedentários em, Canipo com respeito ao qual esse grupo e colocado coo poteC1al,
sLuJeito inconsciente. Somos hoje o sujeto inconciente Psicologia de
da
ddes teritoriais nais anplas para tirar melhor partido daadrenageme
Psicanáisee Transversalidade
Introdução à Psicoterapia Institucional 65
64 psiani.
inconsciente daqueles que
praticarao
amanh sua
siquiatria, absoluta, um narcisismo absoluto(das Ding), para chegar a uma abertura
amanhà, o encaminhar na eção da verda
direçãd
se
condição de
esse grupo hipotética à sociedade em geral, a uma "cura" queimplica, na indeter-
mas c o m a nessas circunstânCiae
nada.E nessas circunstancias que
Sem isso, não
somos
absolutanmente

possibilidade
de entrar
existencia
em exictá. minação, todo género de problemas de integração a grupos sujeitados
ou largar! Há uma Ca escola, os clubes esportivos, a caserna, os sindicatos, os partidos etc.)
digo: é pegar
contrårio, não e preciso
dizer que se

significante nesse plano; do permanecer inserid.


Parte-se,na verdade,deuma singularconstelação social inconsciente para
criado mais uma escola e que se vai ido chegar a trazer á luzo Inconsciente abstrato.
tão-somente

nos circuitos preestabelecidos. Mas para nós há ainda a direção inversa, que leva à xploração dessa
de alternativa do
Para compreender
o jogo de
serialidade e
sujeito
sunio:
estrutura social inconsciente Nesse sentido, a fala/palavra tal como se
mesmo se da, mas inconscientee
lei que ele na
consciente na coloca no grupo jå não tem absolutamente a função de recalque que
-

sujeito tomam - , no se pode perder de vista


vice
os outros
dele lhe reconhecemos quando está em questão a manifestação de instan-
determinação que
desenvolvimento ocorre
a partir da fala/palayra
de algo cujo
trata cias relativas ao das Ding pessoal. Qdas Ding não passa de uma etapa
que se é
da linguagem, de uma fala/palavra que tomada
enointeriordo campo dodesvelamento de potencialidades_significantes_na medida em que
mas que também
taz entrar em sua total1zação aberta
num dado circuito,
capital1za uma determi
podemosdizer:qual asociedadeem que háde um ladoosloucos e,do
certo de informações, fala/palavra que
número outro, os revolucionárioS? Uma sociedadeem que inexiste um grupo-
sobre a total1dade da linguagem posta em
sujeito
para recentrar esses elementos? O das Ding não para de ser um
nada expressão, que se trama
circulação na sociedade em estado código. Usamos noções (instituição,
de
horizonte recorrente Nachträglich (a posteriori) fundador ilusório de
psiquiatria) que já são manejadas no exterior,fazendo delas aqui um
uso uma pess0a individual.
a constituir uma unidade
privado determinado: eis por que tendemos O problema do inconsciente destruidor do grupo é algo
que responde
desviar sentido de conceitos utilizados habitual- à necessidade que este tem de se introduzir em condição de ruptura numn
subjetiva do gnupo ao o

mente. E depende o reconhecimento consistência


dessa unidade que da
mundo social histórico que não lhe pediu. A estrutura é assediada por uma
subjetiva desse diálogo de pessoa social para pessoasocial. Fazemos uma inexistência! Simples afirmação, nesse mundo cego, de unm"por que investir
intrusão nas atuais sociedades psicanaliticas, nas corretes marxista, crist, numa estrutura em vez de em
outra?" ,o instinto de morte do grupo introduz
existencialista, intrusão que é tanto mais radical porque elas nos ignoramn uma noção de violência no caráter iniciático
que assume para os participantes.
por completo no começo, não podendo, por conseguinte, reconhecer -O fato de estarmos no mundo numa condição comum,impelidos a nos casar,
nossas opçoes estratégicas. Não será a forma de intrusão mais descon- a
ingressar no
regunento, ir å missa, sacrificar-nos
a todo
tipo de ritual, é
certante a que consiste em entrar num campo para o qual náo só não algo pelo qual passamos em função dessa sociedade. Em contrapartida, numa
nos chamaram, mas em que somos totalmente inimagináveis, tal como
condição revolucionária, tornamo-nos vidimas da sociedade, postulamos e
o condutor de caravanas Hellzapoppin, que "errou de turma". instituímos um ritual de reuniöes, revelaremos elementos
presentes ao código
Nosso problema consiste
chegar a extrair uma estrutura de
enn
suplementar no grupo violador, que tem valor de transgressio social. (Na
enunciaçio social. Se se permanecer em noções como a de Ego ldeal e primeira vez que me confiaram tarefas numa reunião, tive vontade de me
de Ideal do Ego, val-se considerar um
sujeito que tenta integrar-se, nao a incumbir delas inmediatamente.) Assin1, reforçunos,
repetiunos e assunos
un
camp0 social dado, n1as unicamente, por sua função de fala, a violencia social.

do Outro. Parte-se de uma


a0 campo Fenomenologicamente, desencadeamos processos que
situação inicial marcada por uma contingenc implicam de maneira inediata, para esses grupos, a aceitação do principio
de sua finitude e de sua
Hellzapoppin toi originalmente um usical
humoristico da
dissoluçio, à nedida que eles introduzem uma nova
. 1938 por Ole Osen e Chie Johuson. N.T. Broadway, concebido e realizado en caricteristica da castração, que deixa de ser u a castraçio da ondem di inicia-
Psicanálise cTransversalidade
à Pucoterap1a Inst1tucional
Introdução 67
66 consic,
social dominante.A
iniciaçaão militante siste As relaçoes de cidadania são importantes, pois é apartir delas que
estrutura

humano, a ausência
numa
ção repressiva empreendimento de determinado o crivo da normalidade oticial. Certo número de vias
finitude de todo
na aceitação da e hao mais
a morte
t r a n s c e n d e n t a l , a morte de Deus
e
toda e qualquer garantia
de passagem a significaçoes mais racionais será assumido ou não pelo
castradora da iniciação edipica. Suieito doente. Esse plano pode remeter-nos a outros planos. porém não
ea sanção
culpabilizante do pai pulsão inversa àgnel
"instinto de
morte do grupo"a de maneira automática. Desse ponto de vista, é interessante ter ouvido
Entendo por
indispensável localizar
essa inver a palavra " transferencia no sentido de transporte,' particularmente no
se reunir. E
advém da vontade de da figura
que
em simultaneidade å instauração tiva, sentido em que se entendia transporte no século XVIlI: a noção de
são, que se instajura violencia, implicado na transporte amoroso. O que é transferido,oubloqueado, na forma de
o grau de agressão, de
fim de compreender la dos joven
a

existéncia de um grupo.
Uma análise adequada da demanda

eles demandam a satisfaca


ens significações,é um dado número designificantes numa determinada
perceber que
faz-nos ção Sociedade, visto que um individuo singular só pode articular-se ai, em
vém nos procurar
que como toda pulsão, tende
mortifera em seu objeto, que,
e
condições históricas e em certo contexto dados, a partir de certo en
de uma pulsão
bem como a evitar os desvio
buscar satisfação pelo
caminho mais curto, ontro com uma instituição, que poderá ser, por exemplo,.o médico. Q
a Boa Nova
da sublimação
modelos
em seus
dominantes:"transmita-me

problema desse individuo pode ser o de saber como chegar a ser sujeita
cultura e suas exi
da integração a esta nessas condições| Que fazer para continuar a ser um sujeito falante, e
da salvação"e poderei prescindir com ela. Eis
ou ao menos de
um comprometimento para falar
efetivamente? Osujeito não é torçosamente o indivíduo.e
gencias repressivas estrutura de complexo que
por que,
nessa
da demanda, há uma
pulsg nem mesmo um indivíduo. E preciso det-lo no cerne de sua alienação.
do grup0-sujeito:/a recusa reabrir uma potencialidade de sua história na opacidade de sua situação.
sincretiza antagonicos å emergencia
termos

de se submeter às exigéncias dos grupossujeitados e


um acesso possível fO sujeito doente que vem nos procurar pode estar presente, de corpo e
contudo o risco de alienar-se
nesse mesmo alma diante de nós, mas talvez tenha permanecido prisioneiro de uma
ao desejo, permanecendo
aí uma rearticulaçao com uma totalidade ficha guardada no arquivo do contramestre de sua fäbrica, assim como
nível. E à medida que ocorra
ocorrer identificação dos é possível que o reencontremos permitindo que vá ao bar do clube, no
que extrai sua lei de outro lugar que poderá
fantasmas mortíferos e abertura real.(O instinto de morte do grupo
ao qual outros doentes o acolhero com sucesso bem maior do que pode-
riamos obter....
é assim expresso e conjurado por elementos de ritual, de palavras vazias,
outros elementos da mecanica O que vai fazer que revele
de reuniões tranquilizadoras e todos os se
sujeito inconsciente nesse momento?
o

Um fato de
dos grupos. Esse aspecto é,sem dúvida, inevitável na constituição deum fala/palavra, manifestação, por mínima que seja, de um
a

convergëncia temporária em torno evento que o leve a se recompor. Nessas condiçòes, toda reuniio, todo
grupo, sem ele, haveria apenas uma

medicamento, todo eletrochoque, todo diário, a revolução chinesa, as


de um falo qualquer. Trata-se de conquistas necessárias, especificas dessa
cançonetas, tudo pode produzir efeitos de sentido suscetiveis de intervir
dimensãodo grupo;easestruturas que exprimemessa pulso inconsciente
ameaçam sempre cair num sistema de alienação e de anticultura. de modo decisivo,
título de interpretação, no sentido mais amplo de
a

interpretação", numa situação institucional de vocação psicoterapéutica.


3. A instituição "As energias psíquicas de uma massa caracteristica que acompanha com
excitação uma partida de futebol ou que vibra diante de uma opereta de
que é um doente? Antes de tudo um cidadão, em seguida um
indivíduo, e podemos, além disso, perguntar-nos que relação pode i5s0 lReterencia a um artigo deJ. SCHOTTE, "Le Trawfert dht Fondaniental de Freud Pour Poser le
ter com o fato de ser ele um sujeito falante. Problene: Psychanalyse et lnstitution". Em: Reue de 'yhothénupie Insitutionnelle, n. 1.
Panalse e Trasveruldade
Inst1ttue onal
i Puoterapia
Introdu io
tossem libertas de euss.

ser
contidas
caso
do enfernmeiro, o do doente, todas as
hierarquias internas e outros si-

pacotilha,
não mais poderiam
racionais
do ovimento operário. É
movinme

fantasnmáticos serao reinstaurados e codificados ao mesmo título.


metas remas
orientadas para
as
realizar a
análise da econno-
grilhoes e
se deve o mesmo com as mitologias tradicionais: uma sociedade dotada
de vista a partir do qual
insignificane
Ocorre
contenta coniuma
ante
esse o ponto
psicanalistase de certa estabilidade encontra sempre representantes de sua igrc)a para
mia sexual."* Enquanto
o potencialmen
nente
caracteriza porser reinterpretar seu culto e retormula-lo enm função de novas situaçoes.
a instituiçãose obsr.N
interpretaçöes, individuo. Não
ganmade não
coincide com um nte, Em contrapartida, a part1r do momento em que se consegue
tazer
analisante que ie Do
é que per-
um sujeito nmais comum Estado ou
Oscilar, rachar, o carâter de total1zação de uma instituiçào (do
automatica;
o
maneira
sè-lo de
ela não vem a
no reoi
no
registro
de um partido), esta, em vez de girar em torno de si mesma
conmo estru-
preponderantemente

atua
estrutura cega que
uma
e deixando-.se de
apenas a mesmo pode adquirir uma consistenci subietiva e instiurar todo tipo
maneça si
-
remetido
o sujeito tura.
sendo
da alienação, iodificações e novos questionamentos.E isso que pretendoao acentuar
o statu quo.
impasse,
signitica que se queira a-
individuo no aca.
o
institucional? Isso
-quemsabe exageradamente -a diterençaentreosgruposque sio para
P o r que psicoterapia companl anheiro, cidadão,
bar com
médico e n sua condição de individuo,
"porta--voz" (porte
si mesmos apenas algumna coisa passiva, os grupos sujeitados c aqueley
"tala por.. , o
ser ele aquele que que se propoem a 1nterpretar sua propr11 posicão. os grupoS-S4eItOs
que se proponla a instituição. Na
Grupos religiosos, politicos ou por que nao? - instituiçio que fosse
ser
sujeto que poderia
-

a
do
porta-fala/palavra)
-parole, conhecimento de causa. Nao e o propriomédico ao mesmo tempo psiquiátrica,
analítica politica. Mas, para evitar toda
e
necessariamente com
condiçao de agente do
processo, com
em sua
confusão com uma concepção de estilo psicológico ou boy-scout (escotei-
inconsciente
prisioneiro diante? Toda
opiniões e assimm por ro), insistamos mais na ideia de que um grupo não poderiaser por si só
sua vida conjugal, sua cultura,suas torinar um elemento
dotado de virtudes analíticas! Afora periodos de impeto revoiucionirio.
que
vir a se
se resume a saber se ele pode
questão pessoal encarregado
da cura e há. pelo contrário, toda uma práxis regular, toda uma quimica do grupo
relação de verdade,
ao
articula, numa
se fala lá. Só assim se
se
ao encontro daquilo que e da instituição, necessárias à produçio de "efeitos analiticos". Cumpre
a todos aqueles que vèm
níveis de
repetir: uma tal práxis não pode ser senão o fato de um sujeito coletivo
distintos uma
refundar as diferentes instâncias, os

pode esperar institucional. E esse o requisito - o próprio grupo - em seu projeto ser sujeito não somente para si
uma psicoterapia
cura psicanalitica, ou de
institucionais. mesmo como também para a História!
escrever reais monografias
de toda possibilidade de
comosujeito inconsciente,
Se não se partir da definição dosujeito risco de
coletivo de enunciação corre-se o 4. Nova direção da psicanálise
ou melhor, como jigente

instituição, e, por outro lado, toda


a
fornma de estrut1ura, a
coisificar, na

Como decorrência, há o perigo de se chegar a uma falsa A maneira como o psiquiatra restitui aquilo que será apreendido
sociedade.
dicotomia instituição como fator
entre a
sublimador ou de alienação; como sintoma mostra que a psiquiatria de cultura analiüca tende a sempre
terá como correlato sejam buscar aí uma reterència na história pessoal, a fazer que essa história se
esse desconhecimento da função do sujeito
um projeto, um funcionamento rearticule na forma de uma historicidade imaginária e que cada mito
quais forem intençòes modernistas de
as
-
de individual se vincule a um grande mito de referència. Esse grande mito
invertido de todas as articulações do sistema, par de uma paralisia
a

talvez de encontra sua coesão num sistema totalizado e totalizador. E a reterència


todos os seus enunciados. Recuperar-se-ão inevitavelmente,
os mesmos papéis: o do médico,
o ao grande Outro.Todas as reterèncias imaginárias que serão teitas a partir
uma maneira um pouco mais flexível,
da história individual, os diversos complexos e incidentes pesoais, seto
do fascismo. 2 cd. São Paulo:
6 W. REICH. Psydhologie de Masse du Fascisme. [Psicelagia de massas
remetidos a essa instância mítica fundamenta.
Martins Fontes, 1988.Trad. Maria da Graça M. Macedo.)
Psicanáhse e Tranveralidad

à Pacoterapia Insttuc Konal


Introduçio
70
dessa maneira que
a
sociedade primitiva tentaria explic explicar
E um pouco
mediante a
reterencia a unm m i t o central, pront.
nta a impregnado de um caráter de perenidade, de um tupo de eternidade da

tudo o
acontece
totalidade das manifestac.a. referéncia do ser. E, no final, essa paixão pela etimologa potica n i o
e
que a
apreender a
modificá-lo a fimde melhor
tão simples
de que é necesei.
sário Doderia ter senão uma reduzida clientela. Para dizer a verdade. a anaise
ao desejo
corresponde freudiana original nunca seguiu esse caminho. Para Freud. a interpretaçio
interpretar. Isso particular num car
campo
participação ai,
em

que tudo
isso tenha alguma em função de um:
pro de. por exemplo, um lapso, não segue a via etimológica. Alénm dsso, não
determinada linguageme
territorial dado, numa de escritura AM. parece haver motivo para que o próprio Deus devesse ser prisioneiro de
coletivo que não dispõe
de meios
Mas
de codificação procedime semelhante paixão pela etimologia.
exacerbação desse
cesso

analítica implica uma mento, Em consequència dessa atitude, a psicanálise, mormente a dos
a interpretação
extrema: è preciso que
tudo seja incluid
ido
uma espécie de hegelianização sociedade fechada, sociod. a
lade epigonos, terá por imperativo etetuar uma dupla
seleção: repressora e
reacionário de uma
limitadora desses mitos e, correlativamente, daquilo de que pode se ocu-
quadro idealista
e
no
movimento social tem tal caráter que as clae.
asses
não considera que
o Dar, a saber, certa categoria de neuróticos, bem como de certos aspectos
quejá se destotalizar, que as ideologias tem
cxistem para desaparecer, para dessas neuroses, de um dado numero limitado de doenças mentais, assim
n u n c a haverá uma
meio das outras e que ran-
u m a s por como de categorias sociais bem precisas, de um ambiente cultural bem
para se abolir
ordenm moral. E
lament vel que ideologia freudiana
a

tia em si de uma
delimitado. Poder-se-ia imaginar que, com a evolução da psicanälise,
curso de seu desenvolvimento. n o .
vez mais, no oS psicanalistas não poder o mais pensar em curar doentes, mas apenas
tenha se apoiado cada
mitos contemporâneos são
mitos antigos. Como os
mais célebres e belos burocratas... Poder-se-1a até imaginar que a psicanálise só vá servir para
em busca dos da
considerou-se necessário ir
limitados e degenerados, psicanalizar os psicanalistas; vai-se chegar a um sistema iniciático, a uma

que em função disso, os mitos greoos


sociedade antiga. Não é por acaso sociedade cuja única função será a de fundar outra sociedade idèntica a
tenham por isso merecido destaque. Não podemos de modo algum cen- si, ou a uma sociedade religiosa voltada para si mesma, simples delegação
surar Freud por isso, pois
teria sido necessário que ele inventasse novos social que permite ao mundo meditar, de preferèencia no mais com-
Totem e tabu. Ele pegou o que estava a
mitos, o que ele de resto fez em pleto silèncio, bem como no conforto; é aí que uma comparação com
preciso encontrar a todo custo uma
sua disposição! Seja como for, era
os anacoretas chega a seu limite. Pegar os psicanalistas pelo colete para
referenciação homogenea que fosse convincente, tranquilizadora e gerasse colocá-los no asilo é como pegar um cura da ldade Média para colocar
uma vontade de apego. numa fabrica, ou numa piscina! Ele vai imediatamente tentar sair dali
Isso problema filosófico de fundo: devemos considerar o mediante exorcismos, excomunhòes. Em alguns casos, isso vai
evoca um ter algum
plano de referéncia da linguagem como sendo em si mesmo inteiramente efeito, vai chamar a atenção; depois...
articulado ao plano do próprio ser? Haverá unma correspondencia biuní- Resta a prática que nos impele a descobrir a todo custo alguma cois:
voca entre o ser e a linguagem, de forma tal que a garantia da estabilidade o que se tem de fazer quando se está bloqueado por alguma coisa? Uma
das referéncias se fundasse no próprio ser e, por conseguinte, se avançasse fabrica, um asilo ou um doente, que afição.. Tem-se de procurar.A ordem
na análise rumo a pontos de ancoragem de um ser absoluto? Desem- do dia é abertura à mais
a
completa alteridade da situaçio. Se pretender-
bocamos na filosofia de Heidegger, que faz a elucidação derivar (si) na mos de antemão saber de onde aquilo vem, agiremos como os psiquiatras
direção de uma série de articulações ditas fundamentais, uma espécie de que cochilam na poltrona e ficam definitivamente desligado...
"golpes de cutelo" que incidem sobre as próprias possibilidades de ex- Dito isso, permanece o problema de fundo: qual é a referència? Será
pressão. Uma tal análise regressiva de pretensos pontos de ancoragem da que quando se diz do inconsciente que ele é "estruturado como uma
linguagem pode talvez apresentar certo interesse literário, mas permanece linguagem" se estará querendo dizer que a pertinència a esi estrurura
Psicanálise eTransversalidade Introdugãoà Psicoterapia Institucional
73
72
de permanencia, que se tratade destino do humano? Mas de que
saber, qual é humano? De
o ser ser
caráter de impermeabilidade, a
implica um
idëntica a si mesma
1m real, homem cujos mitos de reterència não são forçosamente com-
a permanecer ou
uma espécie de
túnica que tenderia
estruturas com as
das outras
quais natíveis com os de uma teolog1a em vigor: Há por conseguinte todo
em contradependëncia pernmanente

vinculada? Toda pesquisa,seja ela de cunho etnológico ou uma 1um emaranhado de problemas proscritos da pesquisa analítica que parece
se acha
mostra que as representaçoes, os mitos, tudo o que Ven
impossível não varrer para debaixo do tapete..
psiquiatria viva,
alimentar a segunda cena, todas essas
personagens nao existem neces Alguém acabou de dizer que é preciso devolver o sujeito a seu lu-
monstros Sagrados da Era
Secundária.
aria; O lugar do sujeito, repete-se, ë uma tenda...Certamente, mas uma
sariamente: o pai, a mae, a avo ou gar.
presentes as questoes fundamentais da fenda não é senão o nada do resto, apesar deresto, eo Basta tudo,conta!
essas são igualmente personagens o fundamento
colocar erradamente em sua cabeça alguma coisa do ambiente da fenda
sociedade,istoé,da luta de classes denossa epoca.Se existe,
implica queesta seja igualmente a elucidação dos para que o sujeito
se ache radicalmente descentrado...
filosófico da psicanálise
e sociaiS no seio os quais nos debatemos. Supondo O pequeno sujeito agarrado à mäe, ou o esquizofrènico estupefato
culturais
impasses

que ainda nos


debatemos! que chega, está interamente vinculado com esse ser. Está submetido a ele
E evidente que a resolução de certos impasses neuroticos não pode e, paradoxalmente, só ao longo do caminho é que tudo vai se fazer em
ser realizada na situação face a face com o analista se este desconhecer pedaços, toda essa bola neuróica que vai fazer que num dado momento,
determinados elementos exteriores à situação analítica. As dimensoes mantida dependência
a respeito às determinações exteriores. já no
com

mais graves das neuroses, que os psicanalistas pretendem atingir, são, Ihe reste possibilidade de apegar-se, de articular-se, uma qualquer coisa a

não fantasmática. O problema consiste em abrir para ele artificialmente


pelo contrário, evitadas por eles, pela boa razão de que eles não se veem novas fendas para que se agarre a algo. O recurso à alteridade absoluta
diante delas no consultório. Há elementos interpretativos a ser apreendi-
dos nos elos cambiantes da sociedade. Cruciais problemas fervillham no é algo que, em princípio, deveria permitir que o sujeito permanecesse
eles são mais do que ligado ao fundamento de todo valor. Não obstante, não será essa alteri-
significante em diferentes níveis, e importantes o
dade absoluta uma estátua de pedra, a estátua do Comandante, ou então
fato de repetir que a sociedade grega realizou uma completa reviravolta
por meio do mito de Edipo. E ainda importante no perder de vista, por algo que não é dado de uma vez, alguma coisa que é estruturada como
linguagem isto é, "à maneira de", nada mais que é posta sob
a
uma -
,
exemplo, que uma imensa Spaltung (cisão) se instaurou recentemente no
mundo comunista, o que jurisdição de um deus criacionista que ainda não terá sido ele nmesmo
(sio
complicou todas as nossas estruturas de refe
rencia: há dos criado, ou que, tendo-o feito, perdeu-se no dia seguinte?
a
paranoia chineses, parafrenia dos albaneses, a perversao
a
1962-1963
dos revisionistas etc. Para não
poucas pessoas na sociedade, 1SSO cOnla.
Se for cego para todas as coisas dessa
ordem
pretender que náo faze
e
parte do
campo da análise, é inpossível o psicanalista ter acesso a cert
problemas, não só certos problenmas políticos como também à axiomanca
inconsciente que è comum a
pessoas que vivem na sociedade real.
Temos a
obrigação de
do momento em
nos
pronunciar sobre a questão do ser a partir
que ela foi proposta. Com a loucura, somos obriga ados
a fazer
opções no ämbito de questões
metafisicas e éticas fundament
7Ver a
propóito a teoria freudiana da
seduçio. N.T.
80 autor faz distinção entre "Deus"e "deus". N.
A Transferência (1964)
(Intervenção feita no åmbito do GTPSI)

Schotte agiu com acerto ao valorizar a natureza


fenómenos
das operações signiticantes que nos permitem identificar os
com os fenómenos da fala/palavra e da linguagem. Iso
de transferència
esclarecer questão da transferéncia fora do campo
deveria ajudar-nos a a

refiro-me à transferència no åmbi-


estrito da experiëncia psicanalitica;
to do grupo, à transferência institucional. Na medida em que se pode
considerar que tambem o grupo e "estruturado como uma linguagemn
=para transporumaförmula de Lacan acerca do Inconscientetalvez
se possa propor a
questão de saber como ele fala, e antes de tudo se

legitimo considerar que ele tenha acesso àfala. Um grupo pode ou não
sersujeito de sua enunciação? De modo consciente ou inconsciente:
A quem ele fala? Estará um grupo sujeitado, alienado do discurso de
outros grupos, condenado a permanecer prisioneiro do não sentido de
seu próprio discurso? Haverá para ele uma saída possível que, mesmo
parcialmente,lhe permita certo distanciamento dos enunciados que pro-
fere, enunciados que se pode dizer que, num contexto de assujeitamento,
o grupo é tanto seu sujeito como seu objeto?
A partir de quais condiçöes se pode esperar que de um campo de
fala/palavra vazia possa emergir uma fala/palavza plena - emprestando

mais fórmulas de Lacan? Será possível, por exemplo, conceber de boa


fe e sem trair que haja "ainda assim alguma coisa a fazer" em situações
alienadas como as de um hospital psiquiáirico, de uma escola etc.? Ou
teremos de desistir de tudo, implantar a política do quanto pior melhor
fazer da revolução social o requisito absoluto de toda intervenção dos
"usuários" no funcionamento local das instituições?
Não haverá entre o grupo e seu não sentido uma espécie de
diálogo secreto produtor de uma alteridade potencial? Do próprio
fundo de sua impotência, poderá o grupo ser o portador de um ape-
lo inconsciente à capacidade de tornar possível alguma outra coisa,
Psicanálise e Iransversalidade
76 A Transferéncia (1964)
"O que isso (ca)
a) pensa
dessa impotência:
ainda que seja falar juntos isso serve? Que.. Na outra, a vertente do grupo-Sujeito, não se dispöem dos mes-
redor? Para que
temos ao nosso
de tudo o que nao veriam portar
deveriam portan mos recursos de tranquilzação. Está-seameaçado, em seuimbito.pela
e o grupo-sujeito
l a . . O grupo sujeitado Um partido.
ubmersão num oceano de problemas, de tensöes,de lutasinternas,de
ser considerados
como
mutuamente
exclusivos.

sujeitado á ordem domina.


outrora riscosde divisão, justo como decorrëncia da abertura do grupoa outo
revolucionário e hoje mais ou menos
ante, orupos.O diálogo, a intervenção nos outros grupos, é uma finalidade
vago do
aos olhos da massa, o lugar deixado
sujeito
su
ainda pode ocupar,
como que apesar
de sl mesimo, o "porta-o. aceita pelo grupo-sujeito, algo que o obriga a certa lucidez com relação
da História, tornar-se, a Sua finitude e evidencia para ele o horizonte de sua própria morte, isto
discurso que n o é o seu, pronto
a tão
traí-lo tão logo a evoluçãc é. de seu esfacelamento. A vocação do grupo-sujeito de tomar a paiavra
de um
retorno ao normal.Assi
da relação de forças lhe permita esperar
um
sim,
socioeconômicos ..
tende a comprometero estatuto e a segurança dos membros do grupo:
determinismos

por mais sujeitado que seja aos um


desenvolve-se, assim, uma espécie de vertigem, de loucura especifica do
como que involuntariamente,
uma Doro
tal partido conservará,
transtormação do conter grupo-sujeito; uma crispação paranoica toma o lugar desa vocação de
cialidade de ruptura subjetiva que
uma
exto ser sujeito: grupo passa desejar a todo custo
o a
sujeito, inclusive ser no
em nosso caso, de considerar.
poderá revelar. Não se trata, pois, os
lugar do outro, caindo assim na pior alienação, a que está na origem de
fenomenos de alienação e desalienaçao de grupo como coisas emsi,
todos os mecanismos compulsionais' mortíferos que conhecemos nas
e
e desenvolvidas de manei
duas vertentes, expressas
mas antes como
"igrejinhas" religiosas, literárias ou revolucionárias.
ras distintas, a depender dos contextos situacionais, de um mesma
Quais podem ser os fatores de equilibrio de um grupo entre essas
objeto instituciqnal. ertentes distintas: a externa, do grupo sujeitado, e a interna, na tangente
Na vertente do assujeitamento do grupo, teremos de decifrar louca (sic) do projeto de um grupo-sujeito?
fenômenos que tendem a levar o grupo a voltar-Se para si mesmo Nossa prática hospitalar pode trazer certo esclarecimento, iuminaço
- as leaderships-, as identificações, os efeitOs de sugestão, as rejeições,
a essa questão.V-se efetivamente que a integração de um doente a um
os bodes expiatórios etc., tudo o que tende a promover uma lei
grupo, "socialização", não depende só da boa vontade dos terapeutas.
sua

local e formações idiossincráticas, com seus interditos, seus ritos e Certos pacientes que estão numa instituiço encontranizonas de tolerancu.
assim por diante, tudo aquilo que tende a proteger o grupo, a torná limiarese2onasde mpossibilidade absoluta em suas tentativas de integraçio
-lo infenso às tempestades significantes,tempestades cuja ameaça é a um grupo ou a uma presença de um mecanismo
atividade. Está-se na

sentida como vinda do exterior mediante uma operação especifica similar ao das sociedades primitivas em matéria de acolhimento numa nova
de desconhecimento que consiste em produzir as espécies de falsas classe de idade e de iniciação, com seus rituais de passagem. O que tàz uma
janelas que são as fantasias de grupo. Nesse tipo de grupo, está-se pessoa aceitar ser marcada pelo grupo? Se se forçam as coisas, chea-se a
SSimm empenhado numa espécie de luta perpétua contra toda ins- uma alternativa em que ou o grupo se destaz, ou é a pröpria pesoa que

Ora, é precisamente nos grupos que não cultivam rituamente


seus
crição possível do não sentido: os diferentes papéis são coisificados, o faz.
com o não
falicizados (si), seja no nível do chefe ou no da exclusão. Está-se os grupos-sujeitos que o risco do face a tace
-

Sintomas -

uma resolução
nesse grupo para os fins da recusa coletivá de enfrentar o nada, sentido é bem maior, mas também o é a possibilidade de
enfrentar significação última dos empreendimentos nos quais se
a dos impasses sintomáticos individuais.
está engajado. Trata-se de um sindicato de defesa mútua, um lobby
'c"pulional".Compulional
contra a
solidão, contra tudo« que poderia ter a marca de um ca- ompulsionels, não compuksives. Parece ser composta por"compukio
espanhol inglès, neste úlnmo em textos psianaliticos, sendo aompulirr
ráter transcendental. d e uso comum em e

mais encotradiço em textos psiquiitricos. N.T.


Psicanálise c Transveralidad
A Transferéncia (1964) 9
78
dos outros grupos, o grupo receebe « Freud sobre o signiticante. Não creio que sejam portadoras de uma
permanece objeto
Enquanto si mesmo; pode-se
e-se sempre
sens.
nensagem especifica do inconsciente. Não se deveria, a meu ver, tomar
exterior de
nao sentido, a morte, a partir do
estruturas de ignoräncia.
Mas tão logo o
o
grupor
d a0uilo que Freud pöde utilizar, correta ou erroneamente, da ordem
suas
esperar refúgio em sua própria finitude das mitologias, para traduzir suas distribuições conceptuais ao "pé da
seu destino,
tão logo assume sua
torna sujeito de
se do superego säo alterad
elementos de acolhimento
imagem"(sic).. o"pé da letra", em toda a sua artificialidade, ou mesmo o
própria morte, os social dad
ordem número, que é a chave da interpretação. Isso fica claro, num livro como
o limiar do complexo
de castração, especitico
de uma
dada,
alterado localmente. Está-se no grupo nao para se esconder. do o chiste e sua relação com o inconsciente, no qual se vé que as cadeias sig
pode ser obsee
processo coletivo de nificantes inconscientes, na "palavra de espirito" (mot d'esprit = chiste).
desejo e da morte, comprometido num
ssão,
não portoda eternidade ma
a
mas devido um problema especitico,
a
mas a nor
P
exemplo, não mantëm relações especificas com as leis da eimologia.
chamei de estrutura da transversalidade. podendo a construção tomar igualmente como objeto um fonema, uma
título transitório: é o que
P o d

transferëncia, não havia quase nuncauma jogo sintatico ou um deslocamento semintico. E


Schotte acentuou que, na acentuação, um

importante.A relação mãe-crianca é por acaso que o que toi coisificado por Freud,e quase deificado por
verdadeira relação dual; o que é muitQ
tor o nivel em que a con. seus sucessores, tenham sido as referëncias míticas que lhe vieram ao
por exemplo,
não é uma relação dual, seja qual
ela numa situaçao real, percebemos espirito, um tanto por acaso, no início, como recurso de identificação
siderarmos.Quando refiletimos sobre
menos triangular, que
há sempre um objeto mediador gue da dramatização e dos impasses da família conjugal. Mas não se deveria
que é pelo
serve apoio ambíguo.
de Para haver deslocamento, transterência, lin- fazer do mito um mito! Os mitos antigos de referencia, sobre o tema de
que possa ser cortado, desvinculada Édipo, por exemplo, não tëm nada a ver com os recursos imaginirios
guagem,é necessário que haja algo
Lacan insistiu muito nessa dimensão do objeto, decisiva para não nos e as articulações simbólicas da familia conjugal atual, nem com nosso
transterëncia e de contratransferência.Não sistema de coordenadas sociais!
perdermos nessas questoes de
há deslocamento, na ordem da transferência,seno àmedida que alguna
Coisa podeser deslocada.Algumacoisa quenão é nemosujeito nem o É uma ilusão pensar que haveria alguma coisa a ler na ordem do se
outro. Não há relação intersubjetiva, dual ou não, quesejasuficiente para do lado de um mundo perdido; pensar que se possa instaurar o remontar
fundar um sistema de expressão, ou seja,um_estatuto.da alteridade.O a um ser mítico, aquém de qualquer origem histórica, como propedéutica
face a face com o outro não explica a abertura ao outro, nem funda o psicanalítica ou como maieutica.A referència a esses tipos de reduçòes
acesso a sua compreens o. O que éfundador - por exemplo da metáfora
mítico-linguísticas nãotem utilidadealguma na realizacão concreta de
-
é alguma coisa que está fora do sujeito, adjacente ao sujeito, aquilo que umacurapsicoterápica,ou na institruição de um clube terapuico,a me-
Lacan descreveu com o termo de objeta"a") nos que se caia em sei lá qual sistema divinatório! O importante é chegar
à mensagem singular e ao objeto portador e fundador dessa mensagem.
Mas que é esse "a"? Não seria necessário fazer dele uma chave uni- Esse objeto não poderia encontrar seu sentido a partir de semelhante
versal de essência linguística, ou uma ilusionismo retrospectivo. Não se pode esperar apreender a cspeciticidade
experimentação de um novo tipo,
um forma de turis1no, para, por exemplo, visitar a Gréaa
nova da mensagem freudiana a não ser que a desvinculemos, privemo-la dessa
antiga não
se deslocando a não ser meios paixão do regresso às fontes, mito moderno que encontrou seu rergme
por linguísticos bem pouco dispendiosos;
refiro-me à prática perversa da de pleno florescimento incontidoa partir do romantismo:a busca infinita
etimologia, que virou particularniente
uma moda a de seio
partir Heidegger. Essas espécies de retrospectivas imag- de uma verdade impossível, de um"para-além"da manitestaçãa no
nárias que, no fundo, não têm nada da natureza, no
que ver com o verdadeiro trabalho âmago da noite..
Psicanálisee Trasverulidad
80 A Transferencu (1%4)

em se reorientar no sentido.
O remédio para sair disso consiste da 1 . 1 0c n c o n t r a
esse modelo completamente 1ormado na
diacrónico do real de suas tentatist.
História, no sentido do recorte
e
Seutrabalho é justamente forjar um novo modeo no de tu
provisórias e parciais de totalização. E isso que vou denoninar brie.
- carece de um; por.outro do. de espago e
estruturações sociais. E impossível realizar uma.tal
seu
paciente
uma mancira mas geral.
lagem da História e burguesa e capitalist moderna jinia
sociedad

fizermos antes de tudo a pergunta: onde est


a a tem sua
daspoio
reclassificação se não nos
modelo satisfatório! E para atender a essa carénca que
.

lei? Está ela atrás de nós, atrás da História, aquém


de nossa situação Te
ados seus mitos às sociedades anteriores,
toma emprestado
e
o

é assm
pacanalra
ela diante de
nós, a0 nose.
e, inapreensível por nós? Ou estar
portanto, sso propöe um modelo pulsional, um tipo de
olista nos que o

diz Bachelard, .a subjetuv


de relações fam1liares ao mesmo tempo novo compósto, um urnidade
de recuperação? Como cumpre forCar
alcance, passível e
vai espirito. Quem vai formul.
natureza a ir tão longe quanto o nosso
lar de elementos
arcaicos e elementos totalmente
essa questão? Evidentemente,
não os grupos e sociedades que fundam s
1a
tismo

à ordem social dominante e


que o
modernos.
modelo tenha
O
que
impo
razão de ser em sistemas a-históricos de legitimidade de caráter politico condicóes de
ou religioso. Só o poderão fazer os grupos que aceitam desde o comeco
Ccianar na sociedade atual. E esse o sentido
dessa assunçio requerida
o caráter precário e transitório de sua existencia, aceitando lucidamenta
complexo de
castração - uma especie de ersatz de iniciação para a
nente modernas- comosaída possivel dos
sociedadesm

enfrentar contingéncias situacionais e históricas, o face a face como nada impasses edipianos. E eue
e recusando-se a refundar misticamente e a justificar a ordem existente
ioualmente o sentido do sucessoe da rentabilidade da psicanálise
Hoje em dia, o psicanalista se satisfaz se seu analisando supera suas
Para a questão totalmente distinta: trata-se de saber existe ou
nós, é
se

fixações arcaicas, se ele consegue por exemplo se casar, ter filhos, reconci-
no uma possibilidade de economizar ese recurso aos modelos lienantes
saber se é possivel fundar leis da subjetividade num lugar
liar-se com as contingências biológicas e se integrar à sociedade tal como que não seja
a restrição social nem segundo as linhas mistiticantes desas referéncs
ela é. Sejam quais forem os rumos tomados pelo percurso analítico, perma-
nece implicita a referência a um modelo predeterminado de normalidade.
miticas compósitas. Haver parao ser humano a possib1lidade de ser eie
mesmo o fundador de sua própria lei?
E verdade que o analista não espera em principio que essa normalização Tentemos ressituar outra vez certos conceitos. Se existür urm deus
seja o produto de uma identificação pura e simples do analisando com
totalizador de valores, todos os sistemas de
expressões metatörica per-
ele analista, mas nem por isso deixa de trabalhar, e como que apesar de
manecerão ligados com o grupo sujeitado por meio de uma
si mesmo (que mais não seja do ponto de vista da continuidade da cura, de cordão umbilical fantasmático
espécie
que o vincula com esse sistema de
isto é, com frequência, da capacidade do analisando de continuar a lhe. totalização divina. Forçando
pagar), em favor de um processo de identificação do analisando a um
a
formulação, e.
para evitar a todo cuso
recair numa opção idealista, partamos da ideia de
perfil humano compatível com a lei social existente e da assunção de sua que tambem não e
deve considerar que um tal sistema de
marcação pelas engrenagens da produção e das instituições. O analista totalização deva ser procurado no
nível do"ramo humano", transmitido de
esperma en esperma E veriade
que há aí um suporte de transmissão, mas
que nem por isso constitu uma
verdadeira mensagem. Os
24gencement foi traduzido em livros de Guattari (e não
só) no Brasil como "agenciamento". O espermatozoides não talan1' E todas is ordens
acerca das
sentido de agencement está ligado a organização,
cem mais
disposição, arranjo, estruturação, que nos pare- quais dizemos que são"estruturadas como um lhe linguagem"
adcquados, imormente porque agenciamento é usado tradicionalmente em portugues
na área de
seguros, tendo o sentido de traballho de persuaso feito junto a
escapam do ponto de vista do sentido. A ordem dos valors humunos.
pessoas seguráveis a tim
de que elas firmem a adesäo a uma
proposta de seguros. N.T. tomada como sistenma de referência, está bem
3 G1BACHELARD.
Philosophie duu Non. Edições enm português: Afilosofia do não. Os Pensadores.
próxima de sistemas de
Sao Paulo: Abril Culural, 1978. A posicionalidade divina. O que é transnitido da tëmea grivida ao filho?
filosofia do nào: ensaios de uma filosofia do novo espírite
irntifiro. Lisboa: Presença, 1972. Muitas coisas: alimentos,
anticorpos, mas também. e sobretudo. models
Psicanälse e Trarsveruhd
A Trantereneu (1%4)

de fala/palavra lá
82 dent. 83
Nada tro, mas mito da
da sociedade
industrial.
Evo esse máquma como fito de
desacar o aburdo
fundamentais

mensagem
da
sociedade
industrial, t
mensagem situação.Acaso a calculadora em quetioe Deus Ou terá o
da
Ja uma mensagem,
a
da poSiçao
em que a pessoa vai se
v

prcestabelk essas versôcs sucessivas, tendo próprio Deus


depender
vai diferir a em vista
elas terum
particular que e

se está, por
conseguinte,
no significante, mas.
ainda a todo género de problemas
que
Já transmitida näa de responder mats ou menos
ver n e s s e contexto. io tem
mensagem
linguagem.A os cálculos estrate gicos ineditos sueitados contingentes.
por exemplo,
na
não fala/palavra nem
e da etimologia , por uma nova
na
leis estruturais da linguistica mas, Caerra Fria? Não sera esse mito apear de tudo uma
muita relação com as
heteróclitas que são
drenadas pelo meihor ilustracio
todas as
coisas
rela,e das impasses da atual sociedade do que a devastadora referènca aos con-
em vez disso,com ao ser
humano em sua
elação
humano. Tudo
se refere
de imagens habituais do tamihalismo (si). do
pelo significante. no.tém
o que ntos
dido ramo
marcado regionalsmo e do
demanda mais primitiva
é bem
de uma escen
nacionalismo e que, por outro lado,tém o inconveniente de funcionar
com a
n e c e s s a r i a m e n t e por
um sigmif1cante
que partilhe essencia eid do reforço das formas de neurose
social, à medada que
por
não respondem
menos
universal. Q Seu objeto? Com eteto, esse conjunto tradicional de
a
linguística mais
ou

tenta falar,
n u m nível que
não é o da fala/ la/palavra, tudo im2gens
nareCe capaz de manter-se sem desenvolver incessantemente seu
Tudo o que se caracteriza como passível d
que é
transferência,
transmiss o, troca,
se
halho de desconhecimento, de neurose de civil1zação. princ1paimente
o esse jogo
coisa que permite
articulação de de
a0 expor sempre o sujeito a recorrer compulsivamente a formas abas-
sercortado, como alguma os olhares, cheogam
de transmissão, os gestos, rardadas de demanda -

demanda cega objeto, dirigida


significantes. Se os objetos
e sem
em todos os niveis
a um deus
é por serem, bestiale malévolo.
nutrir uma criança, quese tornou
a tornar possível cadei45 significantes. Qual
sistema de
fundamentados nesse
marcados, Cada vez jogate 14
trocas nesse
nível? Eis uma questão inescapável!
lei das
profunda precariedade territorial
da
isso e se arrisca isso. Há aqui uma

significante que
não está "cristalizado"
trocas, visto
o
estrutura das que
base da sociedade e. em
uma linguagem está efetivamente na
como
leis de todo sistema significante, inclusive o
última análise, na base das

linguístico. sistema de
ordem animal porque o
A fala/palavra não existe
na

ordem põde at agora prescindir dela,0


transmissãoe totalização dessa

ocorre com o
ramo degenerado da Humanidade, estandoas
que não
da transferëncia no ser humano
relaçoes da fala/palavra, da imagem
e

carência fundamental- aquilo que Lacan denomina uma


ligadas a uma

"deiscencia do organismo", que, por outro lado, o obriga a recorrer

sobreviver. No futuro, essa


a formas de divisão social do trabalho para
sobrevivencia vai depender da capacidade de resolução
de problemas das
de
máquinas cibernéticas. Vai ser impossivel reagir à agressão um novo

vírus sem a intervenção de calculadoras cada vez mais aperfeiçoadas.

4LACAN.J. Frits. Paris: Seuil, p. 96.


Reflexões sobre a Terapêutica Institucional e os
nroblemas de higiene mental no meio estudanti

estudo dos problemas de saúde mental


deveria ser parte integrante do conjunto da pesquisa antropológica. Não
obstante, a"coisa mental" é de modo geral considerada como a provincia
exclusiva de certo número de especialistas; essa "tecnicização" coexiste.

por outro lado, com resquicios quase mágicos que obliteram as funçoes
médicas e paramédicas, e cuja origem é de situar no período medieval

ordens dos Medicose Farmacèuticos,


(Exemplos: as o "juramento de
Hipócrates", a "vocação" dos enfermeiros, dos assistentes sociais etc.)

Apsiquiatria parecemarcada,de umamaneirabemespecial,por esses


arcaísmos,tanto em consequencia do enorme peso de suas estruturas
hospitalares, de suas atitudes e de seus atos sociais, a que a loucura serve
de pretexto,como devidoao fato de os problemas cientificos etécnicos
nãoterem modificado atéo momento, a não ser de modo marginal.
essecampo privilegiado dairracionalidade. Pensemos. por exemplo, no
espetacular impulso que vém conhecendo há alguns anos as aplicações
psiquiátricas da quimioterapia. São lançados todos os meses no mercado
novos medicamentos, constituindo alguns deles preciosos meios de in-
tervenção teraputica. Convém contudo que sejam administrados com
discerninmento e em associação com toda uma gama de outras inter
vençoes psicoterápicas, ergoterápicas, institucionais etc. Por infelicidade,
isso não costuma acontecer
frequência! Isso se deve, por um lado,
com

à catastrófica situação da infraestrutura hospitalar, que lança o médico


dos hospitais psiquiátricos na impossibilidade de exercer corretamente
seu papel. Mas advém igualmente de uma atitude bem generalizada entre
Os
praticantes, que consideram dever seu papel restringir-se a investi-
gaçoes e prescrições voltadas exclusivamente para a "parte doente" do

Relatório apresentado à Mutuelle Nationale dés Enadiants de France (MNEF} |Diretório na-
cional dos estudante). titulo de conselho técnico, e publheado revista Reshenhs Unina-
a na

taires, 1964
Psicanálisee Transversalid. a Terapéutica Instirucional
Refiexöes sobre

interessar pelos problemas pessoais, fa


outros 87
sujeito, senm ter de se mi- cuja chave se deve apreender no plano do
desenvolvimento, esta requerconjunto da sociedad
elucidação mostra não oheta nte
mas

liares, profissionais etc., problemas cuja de seu


A cada etapa
ser condição indispensável ao sucesso de todo e qualquer tipo de cura.
manutenção
dolidade particular de alienaçao dos indivíduos com de
a
uma
Paralelamente aos inegáveis efeitos-de cura, as novas medicações têm ao relação ås diversas
1turas da coletividade: tamiliar, escolar, profissional,
que parece
servido de pretexto um reforço dosmecanism de desco-
a
Esses
por diante. Esses fatores gerais de hospitalar e assim
alienação tëm como efeito distorcer
nhecimento,de evitação,de fuga, de racionalizaçao diante dos fenômeno. mascarar significação
a das dimensões individuais da alienação com
essenciais da alienação mental, tendo contribuido, como decorrência damos de maneira mais geral no contato com as
Tomada ne doenças mentais.
uma "coisificação ainda mais acentuada do doente. ao
Dor trás de cada "caso", hà um drama humano
numeroSos agitacão
serviçOS nos quais a
a decifrar. Mas é preci.
letra, a "coisa" manifesta-se em
descobrir instrumentos
os dessa
vencida cede lugar a embrutecimento generalizado à base de pesada decitração,
primeiro lugar, nos em
diferentes níveis de alienaçao soCial em
que
doses de neurolépticos! sujeito se vè de alguma o

maneira "despossuido" de seu problema singular.


Tambémé marginal.no outropolo,a técnicapsicanalitica.que,embo- A noção de "neurose previa" (prëalable),
a vise de modo autêntico chegar ao åmago dos problemas, fica de modo introduzida por Couchner,
nos parece um interessante ponto de
geral aquém de seu objeto no campo da pratica psiquiatrica, decorrência partida, mas que infelizmente se
mantém num plano demastado geral, não permitindo que se avalie aí todo
do fato de haver uma concepção quase aristocrática, senão iniciática, do
o seu alcance, que deveria
oficio do analista. Em nossos dias, éexcepcional a possibilidade de os
desembocar, de nosso ponto de vista, a um
profundo remanejamento da
semiologia e da
nosografia, dos planos de
doentes hospitalizados se beneficiarem de uma cura psicanalítica. No
referência e das práticas terapêuticas atuais. E nesse sentido
momento em que se formarem analistas em número suficientee em que que deveríamos
considerar que a análise não deveria impor a si
estes aceitem trabalhar
em tempo integral nas instituições hospitalares,
limitações de domínio:
cabe-lhe estender-se ao conjunto do campo humano em
surgiráoproblema da feitura de certo número demoditicacoes da téc- suacondicão
de realidade biológica, social, histórica, familiar.
nicada psicanálisee desuas indicações,afim deadeguá-la aos doentes Como alcançar a reorganização dessas fronteiras
imaginária, ética etc.
esclerosadas, inva-
mentais tal comoseapresentam fora doconsultório privado. sivas, sempre prontas a renascer e a esterilizar toda
Deve-se considerar o conjunto da sociedade responsável pelo que pesquisa inovadora:
alternativas dicotômicas entre, por exemplo, o
emerge nesses ambientes privilegiados de estudo dos valores morais e biológico e o psicológi-
co; o neurótico e o
humanos que são os presídios, os campos de concentração, a caserna, os caracterológico; o e o psicótico
entre neurótico; o
conjunto de todo o
precedente
hospitais psiquiátricos etc. Uma verdadeira pesquisa antropológica de-
e o
psicossomático; de um lado "tratar
exclusivamente a base de neurolépticos" e do outro
veria propor-se a
resgatar as regiões mais ou menos "escotomizadas" do
garantir "psico-
a
terapia pura", as diversas psicoterapias analíticas, as de e apoio depois as
campo social do ponto de vista normativo, a fim de reavaliar o sentido do grupo? Como articular
questões com o outro mundo, deveras
essas
da sociedade comogeradora desses "sintomas" com o objetivo de chegar inexplorado, da
readaptação, reclassificação, dos lazeres etc.? Como
da
a uma
conceituação e a uma práxis capazes de modificar, por sua vez, a evitar que os especialistas se encerrem em suas concepções e em suas
situação existente. tecnicas como estivessem numa fortaleza e remetam o doente, por
se
Seria absurdo buscar
repartir responsabilidades entre os diferentes
as causa de todascoisas que lhes escapam, a outros especialistas, sem se
as
grupos sOCiais aos quais concernem as questões de higiene mental. o preocupar muito em saber se elas estão "ao alcance" destes úlamos ou
corpo médico, o pessoal hospitalar, os
organismos sociais, os usuários sao,
cada qual a sua maneira, prisioneiros do Revue des Sciences Médicales: La Psychopathologie des Temps Modernes, janeiro de 1964. Estudo de
mesmo emaranhádo de proble Couchner: a Les
Psychopaties Industrielles, p. 42.
Psicanálise e Transversalidade
88 sobre a Terapéutica Institucional
Reflexoes
se estes terão condições de responder melhor a certas interrogações es
Dara agentes terapeuticos, aceitar assim a circulação, e
todos os
senciais que não são da província de nenhum especialista como tal, mas
ntualmente a contestação,de seu papel, de suas
investigações, meios
de um sujeito "real"? Não correrá esse círculo de especialistas o risco de
nostos e de sua eticacia implica uma radical rediscussão dosdos
estatutos
passar quase largo do sujeito"?
com certeza "ao
tradicionais. A propria existênc de um trabalho de
E a essa preocupação que respondem a pesquisa de uma medicina Or Si uma estrutura privilegiada de acolhimento equipe consti-
de grupo, a realização de reuniões de sintese etc. Não há igualmente o para as doenças
1entais. Os indivíduos modelados por nossa sociedade
habituaram-sea
perigo de perder de vista o essencial, sem que reste dessa vez ao doente
deslocar-se num de
categorias mutuamente exclusivas. Quando
campo
o recurso imaginário de esperar encontrar alhures o "bom especialista"? apresentarem seus problemas a pessoas
que conjugam, sem sentir o
Ocuidadocoletivodeumdoenteésemduvida,emsimesmo,altamente menor incômodo, terapias fundadas ao mesmo tempo no uso de medi-
desejável; mas ainda assim é imperativo que esse cuidado seja o fato de
camentos, do "logos", de uma assunção de responsabilidade, no trabalho,
grupo-sujeito constituído na base de uma prática concertada de análise
no jogo, no estudo etc., já se terá dado um
de pesquisa. Por outro lado, ela não implica renunciar à aço pessoal grande passo. Esse minimo
de busca da cura pelo especialista, mas, bem ao contrário,
de lesmitificação (démythification) das categorizações habituais constitui
a
articulação umaimportante etapa na.-pramoçAo de uma cura gue tenha a
da relação terapeuta-doente a um grupo de referência que reavalie tudo pretensão
o que possa vir a escapar a essa relação dual. de não perder de vista 0 suieito
No entanto, é preciso reconhecer
A que os técnicos en geral säo
formação
de terapeutas é concebida atualmente em termos es-
de transmissão ativos de
tritamente individuais, o que de modo algum
agentes modalidades alienantes de categorização.
predispõe a um futuro Valorizam-se determinadas práticas terapêuticas a ponto de se fazer delas
trabalho equipe. Seria
em
indispensável, numa dada etapa, a formação uma referência tendente a excluir a influência
de qualquer outra forma de
de equipes terapêuticas
propriamente ditas. Em vez de pôr à frente dos intervenço. Há
espécie de hierarquia quase religiosa cuja cúpula
uma
estabelecimentoshospitalares, ao acaso das nomeações, médicos, direto- em

encontramos, por exemplo, os médicos e os


res, economistas sem formação comum, sua administração deveria ser psicanalistas. enquanto os

enfermeiros, os monitores e os assistentes sociais só"alcançam a salvação


garantida a grupos de técnicos que já tivessem estudado longamente à medida que se beneficiam de
os problemas e se conhecessem uns aos outros devido a ter trabalhado alguma maneira de uma delegação parcial
de poder médico. O
juntos en diversas ocasiöes, quando da passagem por certo número de enfermeiro, em vez de cumprir autenticamente seu
estágios práticos. papel com relação ao doente, considera-se com frequencia uma especie
de médico de
Aapreensão da totalidade problenmática de um sujeito doente implica segunda classe, embora seja ele quem detém um poder
não somente uma troca de terapeutico privilegiado e muitas vezes insubstituivel. O doente modela
informações entre os terapeutas como tam-
bém que o ambiente
institucional, as atividades, a atmosfera etc. estejanm Seu"boa
a
comportamento segundo
nova"
do enfermeiro, só esperando ter aceso
o

sob a no curso dos raros instantes em


responsabilidade efetiva do conjunto do que entrevè o "chete de
condição para que haja o mínimo risco de as pessoal
curador. Essa é a TVIÇO. Essa dialética do senhor e do escravo não tem, por comseguinte.
virem ações de uns e de outros Sentido único: a "minimização" do enfermeiro tem epercusöS no mvel
a se contrariar mutuamente. E essa,
que os
prôprios terapeutas fiquem
igualmente, condição para
a
A relação enfermeiro-doente. tornando-se este último mero objeto de
mais seguros de não cair
imaginárias que
nas armadilhas o s . Correlativamente, enfermeiros e doentes tendem a esterilizar
espreitam de modo particular nessas
os

"pessoa" cristalizar-se no papel de umprofissões em papel do à medida que todo um setor da vida cotidiana da
que é habitual ver a médico,
alquimista etc. moderno. mago, xams ã o escapa por completo a este último.
O que dizemos aqui acerca do pessoal curador aplica-se igualmente
Picanálise eTansverulidade sobre a Terapëutica
Insutuciona!

90 Refexoes

estabelecimento hospir unívoca


totalidade dos demais
trabalhadores

motoristas, copeiras
de um

etc. O fato
ospitalar,
de a recuperação
« este
relacão
esteja em relação
disso de
de maneira
com uma

mecanica.
especie de
Pensemos, por
modelo que permitvee
sejam eles cozinheiros, da dar
.n
conta
exemplo, no que
de uma unidade de
cuidados gerar para cada .
hospital do Estad o comite de
totalidade do pessoal um a ontece
num

vig1láncia. direção,
a ox
autenticamente um papel humano perante. 3cmédicos etc.talvez se mostrem relativamente
possibilidade de cumprir
local de trabalho, seu horári
os homogëneos com respeta
a sua maneira seu modo de relação vigente no resto da sociedade industrial, enquanto
doentes, deorganizar ,sua
contatos com os doente
formação ctc.,permitindo-lhe muliplicar seus tes e no
nivel das cozinhas, do cuidado das instalaçòes, da lavanderia e da
dando-lhe ocasião de participar de uma atividade conjunta, constitui um
uma Jecnensa se esteja mais perto de relaçoes do tipo feudal, sem falar do
extraordinária possibilidade de Extensão do campo terapêutico reque reservado aos doentes, que parece, por vezes,
destino reduzir-se pura e
rendo ela, destaquemos, ser estudada e controlada de modo permanent simplesmente à servidão.
em seu conjunto.
pelo coletivo de cuidados tomado Acentuemos de passagem que a moditicação das
situações concre-
Não há dúvida de que as disparidades sociais no ámbito do camno tas existência e a implantação de recursos suscetiveis de facilitar a
mp
social dos curadores não podem ser completamente suprimidas, sendo das
oroanização práticas e estratificações soCiais existentes constituem
porém essencial a reabsorção de seus etfettos patogenicos, particularmente
e não somente uma urgencia para os
hospitais da antiga tradição comno
por meio da organização sistemática de toda uma série de encontros e
uma necessidade para numerosOs estabelecimentos modernos
que sio
reuniðes que ensejem a expressão de problemas que, sem essa providên- cuidadosamente organizados do ponto de vista do conforto, mas afetados
cia, viriam a perturbar a finalidade do conjunto do sistema. Não existe
desde o pelas "doenças" sociais que gangrenam meio. poluem
começo o
"formula" institucionalalguma que se deva considerar
primordial e atmosfera; estabelecimentos que, num contexto mais "asséptico", assu-
recomendável como tal; em contrapartida, éessencial que se adote uma mem por vezes uma infexão ainda mais inumana. Talvez não tenha sido
orientação de conjunto que vise chegar auma profunda reformulação por acaso que a primeira e mais original transfor1mação de um hospital
dos papéis profissionais tais como aceitos comumente, ao menos em psiquiátrico tradicional tenha vindo a ocorrer no mais subdesenvolvido
seuaspecto vivido. Isso exige da parte da equipe curadora um esforco lugar da França: Lozëre. Poderiamos colocar esse fato em paralelo com
contínuo para vencer as resistências de toda
qualquer origem.Trata-se
e
fato de que criação de
o a um novo tipo de relação entre
professor e
poroutro lado menos de uma luta do que de uma espécie de psicoterapia aluno, ao lado da instalação de um novo tipo de atividade escol1r,
degrupo. tenha|
ocorrido em pequenas escolas rurais, ao passo que as poucas
Insistamos no fato de que esse processo de análise do experiencias
ambiente não do gênero que foram teitas nas "escolas-caserna" encontraram "resistèn-
podeser realizado a partir de fora: ele deve estar ligado de corpo e alma cias quase insuperáveis.?
à própria instituição. Claro
que a análise coletiva poderá ser levada a usar E perfeitamente compreensível que os
conceitos elaborados alhures, por problemas de higiene mental
exemplo, na pesquisa psicossociológica, gue dependem, por exemplo, da administração pública de Seine se mos-
mas no essencial ela deverá conquistar por seus próprios esforços, a0 trem mais complexos e envolvam obstáculos de superação mais dhticl
longo das diferentes etapas de seu desenvolvimento, de suas
mesmo dos
realizações, do que em
qualquer outro lugar. E certo que a importincia do contexto
e
fracassos, sua capacidade de conceituar as
assenhorear delas e de modificá-las. situações, dese Justiticaria fazer um esforço deveras particular para tetar moditicar
atiual situação. Não faltam, aparentemente.a nossa sociedade da Libeniade.
Quando afirmamos que existe uma
espécie de chave-mestra que aaldade e Fraternidade, bons sentimentos. porém ela é marcada por uma
"sobredetermina" os processos de
sociais, não
alienação dos diferentes ambientes
estamos dizendo que deveríamos
esperar que cada um deles erand ury e Aida Vasqnez, I is une INdasyie lestinutionele. Pars Masgvr 1 s
Institucional
Psicanálise eTransversalidade sobre a
Tempeunca

93
Retiexoes
92 Em muitas Ocasiões, os organismos sOCiais criados como resultado
realidades humanas concretas

espécie de incapacidade de apreender as de


de um enorme aparato burocrático. Da
esse de conquist
tas ODerárias puderam imprimir reformas estruturais deveras
outra maneira além de através relevantes nas insti ctrituicões hospitalares.
Foi o que ocorreu, em
algumas circulares ministeriais
am
propuser particular,
modo, depois da Libertação, na época da Libertação, em que, por algum tempo, os partidos de esquerda
em matéria de ergoteranis
de diferentesexperièncias a, de
a generalização dispuseram de uma grande liberdade para orientar a Seguridade Social,
de hosptais de dia etc.
serviços públicos, de setorização, em matéria de ação sanitária e social, as concepções
Até o momento, os resultados têm-se mostrado, em seu conit.
anto, investim e
os
instituído reforrmas métodos afazer prevalecer etc. O poder do Estado teve mais facilidade
fato de não se terem as
decepcionantes. Isso se deve
ao
para ecolocar esse domíni sob sua tutela porque as organizações ope-
circulares administrativas, foi em particulan
essenciais apenas por meio de
rárias não foram capazes de aborar objetivos suficientemente claros
à instalação de equipes terapeuticas cuja necesida
que ocorreu quanto
em última anlise da vontade dos ate teriam permitido que a massa de usuários se pronunciasse com
evocamos. Sua existência depende que
conhecimento de causa. A que teriam podido recorrer os beneficiários
e orientaçao. Embora seja verdad
se interessam por sua criação, gestão
da asistência social para lutar: Que diferença fazia para eles aquilo que
social que se desenvolvem nas relações entre
que os tipos de alienação
a Estado administra e aquilo que, por exemplo, propõem os diversos
médicos e enfermeiros, médicos e pacientes, enfermeiros e pacientes não
assistência mútua?
passam de variantes de um modo privilegiado de alienação existente no órgãos de
Isso deveriamos Continua a ser necessária a elaboração de uma perspectiva de con-
nível do conjunto da sociedade, nem por esperar pas-

junto acerca dessas questoes, perspectiva que proponha modificar de


sivamente uma transformação política revolucion ria que se proponha se a

homem para nos modo profundo as atuais instituições, ao tempo em que abra as mentes
alcançar a supressão da exploraço do homem pelo
dedicar à desmistificação dessas relações.Emtodasas situaçõesconcretas a soluções ainda mais radicais no âmbito de uma transformação revolu-
cionária da sociedade.
são possíveis modificações. Mas e preciso tormular corretamente o pro-
Os problemas evocados na MNEP precisariam ser ressituados no
blema: é improvável que uma equipe terapëutica possa desincumbir-se
carência de perspectivas reivindicatórias nível mais
bem de sua tarefa se não tiver uma consciência precisa dos limites de tocante a essa num

do caráter relativamente global. Os dirigentes estudantis discutem com frequência questöes de


suas posibilidades de intervenção e parcial do
requestionamento que lhe é posível fazer no âmbito de uma dada situação cogestão. Não me parece que se tenha esclarecido suficientemente o
social. Se não nos enganarmos com ilusöes reformistas, não poderíamos, caráter deveras superficial do que se acha envolvido na gestão; trata-se,
na verdade, de seus aspectos administrativos. Poder-se-ia quem sabe dizer,
por exemplo, perceber que se podem facilmente criar hoje condições de
trabalho capazes de levar ao radical desaparecimento de tabus inerentes paradoxalmente, que otema a ser posto em questão no campo de que nos

às funçoes hierarquizadase de poresse meio chegar à instalação de um ocupamos é não só a gestão das instituições encarregadas dos cuidados

sistema no qual a aceitação de unma contestação recíproca vem a ser a da seleção, da formação, do modo de trabalhar dos agentes de cura, mas
de seu
regra, que é, por outro lado, a única suscetível de garantir a emergência iguamente a gestão da própria enfermidade, ou, se se preferir,
da verdade no campo da ciência e das técnicas humanas. invólucro psicossocial, à medida que este pode tornar-se um fator do-

As incidencias imaginárias da exploração do homem pelo homem inante, a ponto de nmascarar os verdadeiros problemas psicopatológicos
tem sido menos destacadas do que seus aspectos puramente economicos. do "drama" individual, no sentido a que se referia Politzer.
Não obstante, tocamos aí um ponto nodal a partir do
qual uma pers-
pectiva de revolução social poderia igualmente encontrar uma imensa
nacional dos estudantes fran
Mutuelle Nationale des Etudiants de France (Sociedade mütua
fonte de energia.
ceses).
Psicanálise eTransversalidade Institucional
94 Refexöes
sobre a Terapéutica
95
marcado por dimensões especificas de alienas requentação" dos problemas cientificos, literários, filosóficos
O mundo estudantil é
ou não a transtornos men..
nação.
que chega
à Universidade, sujeito entais, elaborados da Humanidade, são tratados na verdade como sobras.
Ojovem mais
em função das características na da sociedade. O fato de serem "filhos dos
ve personalidade reorganizada
sua
como parentes pobres ricos"
ambiente. Não é po1s absurdo pensar
genicas do conjunto desse numa não
altera fundamentalmente
sua condição "marginal".
escala. Tudo isso permanece bem geral e relativamente facil de fazer enten-
ação preventiva nessa

um modo "transicional" de ser.


A situação de estudante implica ser, nos der. Mas eses problemas se encarnam, em cada caso particular, de uma
diversos planos da maturação biológica, psicossexual, social, intelectual nianeira original que requer uma compreensao e interpretação da parte
adulta esconde o conjunto de Ses
politica etc. A imagem da sociedade seu dos terapeutas. E preci0 alnda que estes tenham de alguma maneira
campo intencional. Ela é vivida como exterior, alienante e ao mes
esmo nhecimento do ambiente estudantil. E preciso ainda que se sensibilizem
de
visto que é o suporte uma série de valores econá.
tempo desejável, e se preocupem por esse aspecto das coisas que é, verdadeiramente, tão
micos e de prestígio. importante quanto as outras dimensões pessoais e biológicas que po-
Reencontramos aqui o formalismo da nuptura dos planos de re
dem influir sobre a condição de um doente. As organizações estudantis
ferência que "avalia" o estudante a partir do papel que ele vai ter de
deveriam ter, a sua maneira, uma "vocação teraputica", no sentido de
desempenhar quando "tiver terminado". Enquanto 1sso não acontece,
reconhecere assumir, à medida de suas possibilidades,as dimensöes de
ele não passa de uma espécie de embrião, um futuro "papel importante"
alienação do ambiente que representam.A higiene mental no ambiente
mal formado, e em todo caso nunca um sujeito "inteiro".Vendo os es estudantil seria assim tanto a organização de dispensários, de BAPUs.
tudantesdesse ângulo,nãoseria possivelseparar os problemas dehigiene de centros de assistência, como de GTUs, de clubes de lazer, de casas de
mental dosproblemasda pedagogia nem do necessário remanejamento estudantes, encarregar-se da animação das cidades universitárias etc.
das atuais práticas universitárias. Toda a estrutura existente implica um As estruturas organizativas do movimento estudantil estão longe de
permanente esmagamento da espontaneidadeindividualdo jovem sujeito
serem perfeitas, mas, em contraste com o espirito de esclerose que cos-
daemergência de suasformas de expressão culturale deseusatallhos.em tuma reinar em outros ambientes, representam uma aquisição que não
certas ocasiðes de dificil entendimento por um adulto que deixou de ser, se deve menosprezar. Não é exagero considerar que sua capacidade de
compreensivo, porém, com frequencia inevitáveis para uma realização formação humana, no sentido de aceitação de uma contestação reciproca.
harmoniosa de seu desenvolvimento. Como separar de modo absoluto
é amplamente superior à existente, por exemplo, nos ambientes médcos e
os mecanismos de passividade)de bloqueio escrupuloso de um neuróüco psicanaliticos. E com esse espírito que seria desejável reorientar as relações
declarado, seus surtos de angústia na época das provas, da parte daqueles entre o movimento estudantil e os diferentes técnicos que sio levados a se
que conhecem os estudantes "normais", problemas que eles superam, com
maior ou menor grau de sucesso, mediante ocupar dahigiene mental do ambiente estudantil.Não se trata de pedir aos
comportamentos estereoti- médicos, psicanalistas, assistentes sociais etc. que militem no movimento
pados de estudar só para"passar", de subserviência diante dos
ou de
oposição sistemática?
professores estudantil! Nem de pedir aos militantes que façam a lição dos terapeuts
O fato de
instituição universitária organizar-se de modo a atender
a Trata-se propriamente de criar organismos capazes de tirar proveito de in=
er-relações sociais que se processam no campo do militantismoestudantil.
a necessidades de promoção
hierárquica tal como definidas pelas empre Com vistas a facilitar a constituição de cquipes terapeuticas.
sas
privadas
estatais sufoca o
e
aspecto cultural e fornmador que deveria
ser o essencial dos
"anos de
assumir as dificuldades de seu
aprendizagem".
Os estudantes,
que têm de uverutiro
prprio desenvolvimento no contexto Biureau d'Aide Psychologique Universitain órgio de auviho puicoligivo
-

5 Groupe de Travail Universitaire - Grupo de tabalho univentärn


Psicanálise eTransversali
lerapeuuca Institucional
96 Reflexoes
sobre a

da Libertação, se dedio.
Os médicos e
enfermeiros que, na epoca
dedicaram
esn Daderiamos ainda tormular esse problema em outro nível.
Paralelamer-
transformar certos hospitais psiquiátricos
passaram por uma
espécie de sIstema, e no âmbito do que ja det1nimos
esse como
adas organizações estudantis, poderia haver, no nívelperspectiva
a
nos albergues da iu
juventude tea pre-"
aos escoteiros,
experiência "iniciática"junto das asociacões
naJuventude
Comunista etc., ou
nos campos de concentração nazic azistas, em ou i tima escala mais limitada, estruturas sociais
que permitissem aos
de defesa do gerais

que os problemas de estruturação, de


organizaçãoe
mbiente
aml

estudantes encontrar-se, recorrer iguais a fim de tentar esclarecere


a seus

prolongamento
dessas poucas iniciativase sem esperar
tinham caráter vital. E que a resolver, seus problemas, que alguns cheguem a um ponto
no
a
modificou de maneira benm
face da psiquiatria França já
na
se
Dra
rofunda. e ó disponham do recurso de dirig1r-se rgãos de aisténcia que,
a

a partir do estudansl
movimento
na atual situação, correm um forte risco de não terem condições de atender
análogo se poderia produzir
Algo
, se
este teve ultimamente ,
levarmos em conta o papel progressista que em
a sua
demand Cabe ao movimento estudantil examinar essa questão; seja
Guerra da Arglia.
Nao e inconcebivel que o mo for, parece-me que ele não a deveria ignmorar. E de todos conhecida
particular durante a omo
mento estudantil venha a formar certo numero de jovens terapeutasque a Derturbação que sofre o estudante ao chegar ao kafkiano mundo da

toram, esperemos, antes pionei


iros Universidade. Sabemos quantos padecimentos ele terá para superar todos
poderiam ocupar o lugar daqueles que
fâtores de resistëncia de um sistema an de inibiçöes.
tipos de dificuldades
e
de uma nova experiência que Os
embrioes dessa instauração de A existência de Grupos de Trabalho Universitário parece estar res-
tigo. Já existem em várias partes equipes
e estudar, detalhadament Dondendo a um aspecto desse problema. Mas serão eles suficientes? Não
terapêuticas, e seria interessante acompanhar
será o campo de seu objeto demasiado restrito aos problemas do trabalho
Suas experiencias.
a atual
fato evidente de que universitário? Não deveriam ser transtormados de modo a atender a
Não vamos aprofundar aqui o campanha
das uma gama mais ampla de necessidades? Ou talvez seja conveniente que
reivindicatória da UNEF em favor da modificação estruturas da
dessa relativa à higiene permaneçamo que são e sejam promovidos paralelamente órgãos que
Universidade tem o mesmo sentido perspectiva

mental, e em certa medida elas se


condicionam mutuamente. Insistamos respondam às outras demandas, devendo estas ser levantadas e estudadas,
mais num aspecto de dificil exposição, à falta de
conhecimento suficiente devendo ocorrer o mesmo com as soluções que lhes podem ser dadas.
neste momento: trata-se da assunção da doença pelos próprios doentes, Seria interessante retomar a análise dos "ersatz" para os quais se voltam
cada individualmente os estudantes: obsessão com o trabalho. perambulação
com o apoioconjunto do ambiente estudantil. A
do unidade de

assistência deveria corresponder uma espécie de "clube" de estudantes


ociosa e pela culpa, o papel dos cafes etc.
marcada
de alguns
estudantes interessados E certo que, por exemplo, o estabelecimento sistemáico
doentes e em convalescença, de que participariam recursos financei-
tipos de casas de estudantes iria exigir consideráveis
-

de
em questoes psicopatológicas (estudantes de Medicina, Psicologia, ros. Isso deveria ser desde já
formulado como reivindicação no plano
de Psicologia social, de Filosofia etc.). Esses clubes teriam objetivo
o
à luta pela obtenção dos
de fornecer aos estudantes um nível de socialização que Ihes permitisse do conjunto do movimento. Mas, em paralelo
uma série de objetivos
ambiente universitário, recursosnecessários, poder-se-ia determinar
salvaguardar o essencial de suas relações com o
suas repercussoes
no plano da
intermediários que, do ponto de vista de
atividades de lazer
o campo de estudos, diversas atividades de formação,
as higiene mental, teria de imediato um grande alcance.
etc. Trata-se de uma estrutura que exigiria uma estreita ligação com tal orientação o risco
com uma
lalvez se objete que correríamos
próprias unidades de assistência. Criaram-se noutros anmbientes experl no movimento estudantil.
ae;voltar a uma perspectiva corporativista não
encias desse tipo que se mostraram positivas. uma tal estruturaçio
medida em que
Iso poderia vir a ocorrer na
verdadeiro
de um
cstvesse estreitamente ligada à implantação profunda
6 Union Nationale des Etudiants de France - União Nacional dos Estudantes Franceses.
Psicanálise eTransversalidade lerapeudca
Institucionad

198 Reflexoes
sobre 3 99
estudantil. Não ha capaz de garantir
vacina
ivindicação de uma
coerente com a
me dos que situasse o estudante como trabalhador em modalidade
movimento sindical que não parece
1gualmente

"reformis1mo". O Estado est

se caia, apesar
das intenções, no
sempre
mais valiosas cono
conquistas:
e recuperar as mais de estu
de
fissional,tal comoestáorganizada para os jovens
pronto a incorporar
a sua maneira
de fábrica, as
formaçãoprofissie

nossibilidade
quase absoluta de acesso a uma
trabalhado-
por exemplo,
Seguridade Social,
a
comitës os
residência de plica uma cultura
de salários, os albergues da juventude etc. manh aprotundada.
res, Também nesse caso seria preciso comparar os resultados.
a escala móvel
jovens,
ele poderá fazer o mesmo com os GTUs e com osalário-estudante D.bde 3papro enesse plano, não estamos totalmente a favor dos estudantes.
Felizmente,nesse

no entanto, imaginar que a existëncia dessas casas", que possihilita- apesardas pretensões de todo tipo de grupos industriais e tecnocráicos
-se,
riam a uma grande massa de estudantes encontrar-se, trabalhar, discuti tido de modelar completamente a Universidade a sua imagem.
no.

distrair-se, venha a favorecer um retorço do movimento estudantil. Mas Vamos ver em outros niveis a existëncia de uma modalidade de

essenciais, de sua real implantação alienação que a sociedade industrial impöe cegamente aos sujeitos in-
isso depende, em seus aspectos e
la
relação de forças concreta. S quais restam apenas as opçoes de submeter-se ao estado
Indo mais longe: não seria possivel considerar que uma tal estrutn
dividuais,
oicas vigente na produção, nas instituições, na Universidade etc., ou
ração do ambiente, realizada em ampla escala, viesse a permitir aos estu- ficar à deriva, mais ou menos mutilados pelos efeitos causados pela recusa
dantes a saída de seu "gueto"? De um lado, eles poderiam ser levados a ,Ou a impossibilidade de "integrar-se. Trata-se de um problema que
debater toda uma série de problemas que podem facimente encontrar em o conJunto das finalidades sociais, em todos os
po em questão níveis.
seu programa universitário e, do outro, forneceriam a si mesmos recursog infes de tudo no do Estado. Seja como for, vemo-nos diante de leis
para entrar em relação com toda uma série de setores da sociedade de inconscientes que regenm as relaçoes entre sujeitos e estruturas sociais

que se acham separados, por exemplo, ao convidar pesquisadores, técni- em função de objetivos inerentes à produção, no âmbito de um sistema
cos, representantes sindicais e politicos de várias extrações e tendências, baseado no lucro e de um poder do Estado dominado por uma classe
escritores, artistas etc. Também seria possível conceber a organização de que deixou há muito tempo de desempenhar um papel progresista na
algum gênero de pesquisas coletivas do tipo que foram introduzidos, no evolução histórica.
ambiente escolar, pelos técnicos dos métodos ativos, como encontros de O surgimento de uma estrutura social que tenda a ter deliberada-
estudantes com trabalhadores de diversos ramos empresariais. Não du- mente a finalidade de responder ás verdadeiras necessidades dos sujeitos
vido de que os primeiros resultados desse tipo de pesquisa permitiriam humanos seria a única coisa capaz de trazer soluções duradouras que
destacar o desejo de inúmeros jovens trabalhadores de manter relações nenhum grupo social teria interesse em questionar. Mais uma vez, as
Continuas com os estudantes.
A necessidade de
reformasue sugiro aquisópoderão tervalidadese estiveremsituadas
princípio de
luta contra a segregação social
uma
numa perspectivarevolucionaria e vinculadas com uma pratica etetivade
que se mantém entre jovens operários e estudantes é facilmente reconhe-
luta de classes: a consciência de sua precariedade constitui mesmo uma
cidapelos representantes estudantis, mas a dificuldade vai se manifestar, garantia de que serão consideradas antes comoetapa da luta do que como
sobretudo, no nível dos meios a empregar. Não obstante, há uma série -

paliativo capaz de servir de "boa consciência" à ordem estabelecida.


de possibilidades, e seria possível explorar desde já experiências parciais. 1964
Enquanto movimento estudantil daria assim o testemunho concreto
o

de sua recusa da situação a


que são submetidos os jovens trabalhadores,
modificando-a dessa maneira, por
pouco que seja, os estudantes, por sua
vez, ganhariam muito com esse
gênero de "frequentação".Essa perspectiva
A Transversalidade

A terapêutica institucionalé uma criança


conveniente acompanhar uidadosamente seu desenvolvimento
igil. E ela muito mal
observar
suas frequências, dado estar
acompanhada. A
e
reside debilidade
mortal que pesa sobre ela congénita.
nao numa
ameaça

em
disso, no
vez
fato de todo
tipo facções de a espreitarem com
mas,

f t o de roubar
seu objeto especifico. Psicólogos, psicossociólogos, e
vo tirar dela algumas lascas a partir da qual farão
mesmo psiquiatras,

"sua coisa", enquanto o rapace ministerial espera o momento em que

a seus textos oficiais. Depois do último pós-guerra.


poderá"incorporá-la"
elementos rejeitados da psiquiatria de vanguarda que
muitos foram os
desses procedimentos precocemente desviados de seu
foram por meio
caminho: a ergoterapla, a social-terapia, a psiquiatria de setor etc.
Proclamemos em primeiro lugar que háum obietodateraputica
institucional.eesse objeto deve ser detendido de todos osquegostariam
defaze-lo derivar fora da problemáticasocial real.Isso implica simult
neamente uma tomada de consciência do nívelsocial mais amplo. por
exemplo, o da orientação da saúde mental na França, e uma tomada de

posição doutrinal nos níveis mais técnicos das terapèuticas existentes.


De certa forma, pode-se considerar que a carència de uma concepção
unitária noatual movVimento ps1quiatrico reffete asegregação, que persiste
em diferentes formas, entre omundo dos loucos e o resto da sociedade.
Essa cisão, no ambiente dos psiquiatras responsåveis pelas instituições de

assistência, entre suas preocupações interiores e os problemas sociais mais


gerais, tende a ser transposta de diferentes maneiras: desconhecimento
sistemático daquilo que acontece fora dos muros do hospital, psicologi-
zação dos problemas sociais, escotomização de seu campo intencional ne
ambito da institnço, e assim
por diante. Ora, o problema da incidenc1a

URelatóio apresentado ao I Congreseo Internacional de INicodrama, realizado cm Paris


em se

tembro de 1964, e publicado no número 1 da Rirue de Psyhothenaie Insninutivnelie


102 Psicanálise eTansversalidade A Tranveruhdade 103

idade da angústia com relação ao recalque: a angústia é causada


do significante social sobre o indivíduoafloraa.todo instante em em
todos e
anteriorida

os níveis; e na perspectiva da terapëutica institucional, a única cois exterior nas esse perigo exterior é ele mesmo
perigo
se pode fazer é reconhecer sua existencia. A relação social não gue
um

e
por
ocado e licionado pelo perigo pulsional interior:"Com efcito, a
condicio

um
problemas individuaise tamiliares, e parece-nos au menininha teme as exigèncias de sua libido; nesse caso específico, ela pasa
"para-além" dos Sua
importància éainda maior quando estamosdiante desíndromespstc8 ticas um profun medo do amor que sente pela mäe"" É,portanto,
ter
a

que se apresentam sob os aspectos mais "dissocializados". ameaça


interior que cria as
condições para o
surgimento do perigo
a
Freud, cuja obrase desenvolveu no essencial em torno da questão da
exterior. A
renúncia ao objeto amado é correlativa,
do real, à no plano
neuroses, não desconhecia o problema, como podemos ver, por exenmpla do membro, mas o "complexo de castração". por sua
aceitação da perda su:
na seguinte citação das Novas conferências de psicanálise:"Ao estudar as si ser quidado" por meio dessa renúncia. Isso ocorre
u- ez,
não poderia
ações de risco, constatamos que a cada período da evolução corresponde ele na verdade implica a operação de um termo suplementar na
porque

uma angústia especifica; o risco do abandono psíquico coincide com os riangulação situacional do complexo de Edipo,de modo que nunca
primeiríissimos momentos de despertar do ego; o risco de perder o objeto esca Dor inteiro essa ameaça de castraç o, que reativará permnanentermente
(ou o amor) coincide com a perda de independência que caracteriza aa denomina "uma necessidade inconsciente de culpa"
aquilo que Freud
primeira infância; o risco da castração, com a fase falica; e, por fim, o sociais vê-se assim vinculada de modo
A engrenagem de significantes
medo do superego, que ocupa um lugar particular, com o período de irreversível com castração
a culpa, enquanto até essa etapa seus esta-
e a

latência. Os antigos motivos de medo deveriam desaparecer no curso em razão do "princípio de ambivalència"
tutos permaneciam precários
da evolução, dado que as situações de risco correspondentes perderam que presidia a escolha
dos diversos objetos parciais. A partir de então, a
seu valor graças ao reforço do ego; mas não é assim, de modo algum, instància dessa realidade social fundará sua persistència na instauração de
que as coisas ocorrem na realidade. Inúmeros indivíduos nunca vêm a moralidade irracional e m que a punição, não podendo ser articulada
uma
sua justificativa numa lei de re-
vencer o medo de perder o amor, sendo para eles um desejo insuperável a uma legalidade ética, só vai encontrar

o sentir-se amados; esses indivíduos persistem, portanto, desse ponto de petição cega. Por conseguinte, não será suficiente buscar reconhecer, por
vista, a comportar-se como crianças. Normalmente, o temor do superego intermédio do impossível diálogo entre o ego ideal e o superego. o efeito
nunca cessa, porque o medo da consciência mostra-se indispensávelà de manutenção da das "situações de risco"atuais. pois ele. na
angústia fora
das relações sociais. Com efeito, o indivíduo salvo raras verdade, implica a pertinência destas últimas a uma "lógica significante" X
manutenção
especifica do nível social considerado, e que convém analisar com as
mesmas
exceções- sempre depende de uma coletividade.Algumas das situações
de risco perduram por vezes até épocas tardias, sendo as causas do medo exigências maiêuticas empregadas n a psicanálise do individuo.
A manutenção é a repetição, é a expressão de u m a pulsão
de morte.
oportunamente modificadas".
emetermos a
chocam motivos de Mascararemos a interrogação que se acha implicada ai se a
Qual o obstáculo contra o qual se os "antigos
medo", obstáculo que os faz recusar-se a desaparecer? Donde provêm uma noção de continuidade. Julgamos normal prolongar a esolucio da
essa persistência, essa manutenção de angústias neuróticas, uma vez complexo de Edipo mediante uma"boa" integraçãoa um ambiente social
penistència di
dissolvidas as situações que sustentaram sua emergência e na "ausència Nao haverå lugar para julgar antes que esses"efeitos de
de toda situação de risco"?? Algumas páginas depois, Freud reafirma a angustiadevam ser articulados a essadependencia evocada por Freud, qus
tem o indivíduo com relação à coletividade.Trata-se do tato=irneNIRI

1 Freud, Nouvclles Confërences sur la Psychanalyse Gallimard, p. 121-122. (Traduzimos o texto orig 3 Norelles Conferenes, p. 119.
nal em francês. Há tradução das Obras Completas de Freud para o portugués. N.T) 4Noaeles Cenferenies, p. 149.
2 1dem, p. 129.
104 P'sicanale e Transvenalidide Trarverulhtadr

até
segunda ordem de que o complexo de castração não poderá
-

agora tem caråter apenas provisório. Trata-se de


derá jamas
encontrar uma solução satisfatória enquanto a soCiedadecontemporán. algumas
O que
proponho

formula ulaçòes que me pareceram úteis para ass1nalar diferentes

persistir em Ihe confiar um papel 1nconsciente de regulação social prática institucional. Julgo haver condições de estabe
pelecer
incon1patibilidade cada vez mais pronunciada entre a funcão Há
de
u m a

uma etupas
de correspondencias cntre os fenomenos de desl1za-
do umaespécie
degrade
pai, enquanto é para o sujeito o suporte de uma possível mediacão mento do sentido entre os cóticos.particularmente os esquizofrenicos
impasses identificatórios inerentes a estrutura da família conjugal, e de mecan1smos
ddec discordancias que se instauram em todos
exigências das sociedades industriais, para as quais um modelo integrado-as e os
da
sociedade suas materializações neocapitalistaae
industrial em
do tipo pai-rei-deus tende a perder toda função planos
efetiva, exceção feita os

alista burocratica, mecanistmos de tal ordem que o


individuo tende a
mistificadora, fato particularmente evidente em fases de
regressão social
sOCi
ideal de
cial, de se identificar com um
maquinas-consumidoras-de-má-
por exenplo, quando regimes fascistas, ditatoriais, de poder pessoal
os ter

quinas-produtivas
.Não será o silncio do catatónico uma interpretação
presidencial, dão origem a fenômenos imaginários de pseudofalicizacão mradora desse ideal? Se o grupo tende a estruturar-se em termos da
coletiva que acabam numa derrisória totemização
publicitária de m da fala/palavra, como lhe responde senão por meio do silèncio?
rerusa
chefe, chefe que por outro lado permanece no essencial sem
esse
Como modificar um Ilugar dessa sociedade de maneira a interromper.
real
controle da máquina significante do aparato
econömico, aparato que esse processo de redução da fala/palavra à lingua-
a o contrário, não por pouco que seja,
para de reforçar seu poder e a autonomia de seu eem? A partir disso, tomaremos o partido da distinção entre a natureza
fun-
cionamento. Os
Kennedy os Kruschev que tentaranm ultrapassar essa
e

lei foram "sacrificados", ainda


que enm cerimônias distintas, no altar, no
dosgrupos se gundo estejam
situados numa ou na outra vertente. com
efeito conveniente desconfiar absolutamente das descrições formais que
primeiro caso o da indústria petrolífera e, no segundo, o dos pilares da
indústria pesada. caracterizamo grupo independentemente de seu grupos de
projeto. Os
que nos ocupamos na terapêutica institucional estão ligados a uma ativi-
A real subjetividade
dos Estados modernos, os verdadeiros
poderes dade concreta, não tendo nada a ver com aqueles que são questionados.
de decisão, sejam quais foram os sonhos
nostálgicos dos defensores da de modo geral, nas pesquisas ditas de dinâmica de grupo.Vinculados a
legitimidade nacional", não se poderiam identificar com encarnação
individual alguma e não mais com a existência de um umainstituição,eles têm de uma ou de outra maneira,uma perspectiva
pequeno Esta- distinta, um ponto de vista sobre o mundo, uma "missão"a cumprir
do-maior esclarecido. Até este momento, essa
subjetividade permanece Esquematizaremos essa primeira distinção. que de resto será diticil de
inconsciente e cega, s e m a esperança de que um Edipo moderno
lhe manter a seguir, emgrupos-sujeitose rupos-sujeitados|Ogrupo-sujeito
possa guiar os passos. Não há dúvida de que não é de esperar que a saída
grupo que tem vocaço de sè-lo-se esforçapor ter controle sobre
ou o
-

venha de u m a invocação e de uma tentativa de


reabilitação de suas formas seu comportamento, tenta elucidar seu objeto e. nesse n1omento,secTeta
ancestrais, precisanmente em razão do fato de a experiência freudiana nos os meios dessa elucidação. Schotte poderia dizer desse tipo de grupo
levar a propor a nós mesmos a questão, de um lado, dessa
persistência
da que é ouvido e ouvinte, e que, por isso. faz afiorar uma hierarquização de
angústia para alénm das
modificações situacionais, e, do outro, dos limites estruturas que lhe vai permitir abrir-se a um "para-além" dos interesses
atribuíveis a esse
processo. Não é
objeto da terapêutica institucional, nad grupo-sujeitado não se presta à ação de umatal
perspectiva
o
do grupo. O
é justamente propor que se realize um
remanejamento de domínios de elepassa poruma hierarquizaçãoquando de seuajustamentoaosoutr
"acolhida" do superego por meio de sua
nova acolhida "iniciática",
transmutaço numa espécie de grupos.Poderíamos dizer do grupo-suicito que cdecuniilguuna cosu
que esvazie de sentido a exigência social
de certo procedimento castrador
cega|
que exclui todo qualquer
e outro? 5 Cir A p. 67.
Psicanálisec Transvervalidade A Trancveralhdade

106
grupo-sujeitado,
diriamos "sua causa é ouvida"" a".E não não p o dem
em mais ser apreendidos e articulados a
partir da interpretção
do
ao passo que,
nem por quem,
numa cadeia serial indefinid. n analista. A fantasia
de um analista.. de grupo e por sua
própria essencia simbólica,
sesabe onde é ouvida, apenas uma prim auais forem as imagens que drena a sua passagem. Sua inércia não
não é absoluta,
constituindo
imeira sejam quais
Essa distinção
indexar o tipo de grupo com que lidam.
mos
e
conhece
regulação.que o reenvio, repetido incessantemente, aos
outra
abordagem que
nos permite
ela funciona à maneira de dois poln.
s de mesmos impasses problemticos. A prätica da terapèutica institucional
em prática. Na realidade,
nossa
mostra quea fantasmatização individual recusa-se sistematicamente a res-
referéncia:todo grupo- porém de modo mais
especial os grupos-suieito.
tos
posiçoes: a de uma subjetividade que a. peitar a especificidade desse nívelssimbölico da fantasia de grupo. Ela tenta,
tendem a oscilar entre estas duas
uma subjetividade aliena asi e recobri-lo de elementos
e a de
a elo contrário, incorporá-lo imaginários
vocação de tomar palavra
a pelo

tem a
Essa reterencia nos servirá de prad. gulares que vêm aninhar-se de modo bem "natural" nos diferentes
perder de vista na
alteridade social.
de proteção capaz de evitar nossa queda no formalismo da análise dos papéis potencialmenteestruturados pela disposição de significantes postos
papéis, e nos levará a
formular a questão do
sentido da participação d
em
e circulação pelo
coletivo. Com o pretexto da organização, da eficácia.
falante, questionando assim o mecanis prestígio, ou, de igual torma, da incapacidade, da no qualificação etc.
indivíduo no grupo enquanto ser
e estruturalistas. Haveria essa "corporificação imaginária" de certo número de ariculações signi-
mo habitual das descrições psicossociológicas a,
maneira de retomar as teorias da burocracia ficantes do grupo leva å cristal1zação do conjunto da estrutura, entrava
sem dúvida aí também, uma

da autogestão, dos "grupos de formação" perdem regularmente


etc., que I1as Capacidades de remanejamento, dá-lhe seu próprio rosto e seu"peso
de vista seu objeto em razão da recusa, de carater cientificista, em nele naquidérmico", limitando na mesma proporção suas possibilidades de
diálogo com tudo aquilo que tenda a questionar suas "regras do jogo
implicar conteúdos de sentido.
Consideramos por outro lado cômodo distinguir, no nível dos gru- em suma, reúne as condições de seu deslizamento rumo àquilo a
que
pos, os "conteúdos manifestos",
constituidos pelo que é dito e
feito, pelas demos o nome de grupo-sujeitado.
atitudes de uns e de outros, pelas dissensöes, a existëncia de lideres, de Odesejo inconsciente de um grupo, por exemplo, de um "grupo
candidatos a líderes, de bodes expiatórios etc., do "conteúdo latente", que missionário" de um hospital tradicional, na qualidade de expressäo de
requer ser decifrado a partir de uma interpretação de diversas rupturas uma pulsão mortitera, provavelmente não pode ser evocado na ordem da
de sentidos que surgem na ordem fenomênica. Definamos essa instância fala/palavra, e fará surgir toda uma gama de sintomas.Ainda que cheguem
latente como desejo de grupo: ela teria de ser articuladaà ordem pulsional de uma dada maneira a ser "articulados como uma linguagem" e descri-
de Eros e de morte específica do grupo. tíveis numa perspectiva estrutural, estes últimos, à medida que tendem a
Freud descreveu a existência, nas neuroses graves, de uma desintri- mascarar o sujeito da instituiço, nunca vão conseguir se exprimir senão
cação das pulsões fundamentais, consistindo o problema analítico em numa frase incoerente a partir da qual restará decifrar o objeto (tótem
chegar a uma reintricação passível de fazer desaparecer, por exemplo, uma Ou tabu), erigido no próprio lugar da impossibilidade de surgimento de
sintomatologia sadomasoquista. A própria estrutura das instituições, cuja uma palavra verdadeira no âmbito do grupo. O desvelamento desse lugar
única corporeidade éimaginária, requer, para tentar semelhante em que o desejo é reduzido a mostrar apenas a ponta de um falso nariz
operação,
a instauração de meios institucionais não
particulares, mas sem perder de vista poderia dar acesso ao desejo propriamente dito, que, enquanto tal
que elas não poderiam fingir constituir algo mais do que mediações permanecerá de qualquer maneira inconsciente e sempre se recusará a
simbólicas que tendem por sua
própria essência a se desfazer em efeito anular-se por meio de uma explicação exaustiva, nos termos do desejo
de sentido. O objeto envolvido não é o mesmo do neurótico. Mas a abertura de um espaço,a preservação de um vacúolo
objeto encontrado na
relação de transferéncia psicanalítica. Os fenômenos de no qual se possa extrair um primeiro plano de referència a essa instancia
captura imaginária
Psicanálise eTransversalidade
108 dade A Transveralhdade

situará de imediato conjunto da problemátic


do desejo de grupo,
o

para nosdiversos Sbconjuntos, suporte das taras sociais clássicax, da sed1menta-


relacionais, lançara uma luz totalmente
além das contingencias
na mesma medid
istinta ção dasenilidade, da agitação, das segregaçoes de todo tupo, mas também
sobre as "questòes de organização ,obscurecendo da as eio de sinais outros como, por
exemplo, o alcoolismo que
e aparentemente racional; na verdad.
P o r

tentativas de descrição formal atinge


nn de enfermeiros,
imbecilidade difusa daquele outro
ou a
a toda tentativa analitica de grupo.
gTuno
vai constituir a prova prévia verdade que, de acordo com uma formula
caminho vai surgir uma distines anto é de Lacan. esta tam-
Desde os primeiros passos nesse de uma paixao. Não sera
e análse de grupo. De
bém é a expressão por isso que, devido a uma
primordial entre desalienação de grupo fato.,o a

espécie de respeito pelos enigmas que as neuroses e


psicoses encarnam
papel de uma análise de grupo não éidentico ao papel de uma oroa gani-
que nosso modernos guardiäes de tumulos se sentem levados a se aviltar
zação do coletivo de inspiração
mais ou
menoS psicossociológica nem ea Teceber dessa maneira negativa
organização. Repitamo-lo: análi
a
mensagem daqueles que, coma o

intervenção de um engenheiro na a
implica toda organizaçao social, aeveriam permanecer desconhecidos?
a
de grupo está aquém e além dos problemas de ajustamento de papé
Nem todos podem, como fazem certos psiquiatras, pagar pelo luxo de
de transmissão de informações e assim por diante. As questões essenciais
se refugiar nas
formas superiores do esteticismo,
surgem aí antes da cristalização das constelações, das repulsas e atracies que assinalam o fato de
aue. para eles, nenhuma especie de questão social poderia ser
no nível enm que jorra uma criatividade de grupo possível, ainda que proposta
no nível do hospital!
esta em geral estrangule a si mesma no filete de nao sentido que se
A análise de grupo não vai estabelecer para si o objetivo de trazer i
recusa a assumir, preferindo o grupo dedicar-se a titubear suas "palavras Juz, por trás dessa sintomatologia, uma verdade estática; vai, em vez disso,
de ordem", obturando todo acesso a uma fala/palavra verdadeira, isto é.
realizar as condições favoráveis a um modo particular de interpretação, que.
articulável às outras cadeias do discurso histórico, científico, estético e
imaneira como Schotte veria as coI5as, ë idëntica à transterència. Trans-
assim por diante.
ferencia e interpretação constituem um modo de intervenção simbölica.
Com base em que espécie de desejo pode viver, por exemplo, um não
mas-insistamos neste ponto -

poderia ser o fato de uma pesoa ou


grupo politico "condenado pela História" exceto num eterno voltar-se
de um grupo que, para a ocasião, fosse batizado como "analisador" (si).
sobre si mesmo? Ele terá de secretar sem cessar mecanismos de defesa, de Pode ser que a interpretação venha do idiota do serviço se ele vier
denegação, de recalque, fantasias de grupo, mitos, dogmas etc. Sua análise
a ter condições de reclamar, nun momento dado. justo o monmento em
só poderá levar à descoberta da natureza do
desejo mortífero de grupo que um dado significante se tornar operatório no nível do conjunto da
de que são expressão em sua relação com as
pulsões históricas ocultas e estrutura, por exemplo, organizar um jogo de amarelinha. Deve-se ir ao
emasculadas das massas, das classes ou das nacionalidades
sujeitadas. Esse encontro da interpretação. Convém assim despojar antes sua escuta de
último aspecto da análise no "nível mais elevado" no
poderia, a meu todo preconceito psicológico, sociológico. pedagógico ou mesmo tera-
juízo,ser separado de outros problemas psicanalíticos de grupo, nem, por péutico. A medida que o psiquiatra ou o enfermeiro detèm uma panela
outro lado, individuais.
de poder, devem eles ser considerados responsáveis pelo apagamento ds
Nohospital psiquiátrico tradicional, por exemplo, há um grupo possibilidades de expressão da subjetividade inconsciente dainstitui, ão.
dominante composto pelo
diretor, pelo ecônomo, pelos médicos, as A transferència rigida, mecanica, insolúvel. por exemplo, a transterencia
mulheres dos médicos etc., formando uma
estrutura opaca que impede dos enfermeiros
o aflorar de
uma do
e doentes paratransferenecia
o médico, a
obrigatória
expressão desejo dos conjuntos humanos constitu- predeterninada,"territorializada". para unapapel, um dado
tivos da instituição. Onde
pôde esse desejo se refugiar? Num primeiro
esterrotuk.e
torma
pior do que uma resistência à análise, configurndo-se como uma
momento, a interpretação deve deixar-se
guiar pelos sintomas manifestos de
interiorização da repressåo burguesa etetuada por meio do retorno
Psicanálisee Tranverulida
110 A Transversahdade
111
repetitivo, arcaico e artificial de fenomenos de casta, com seu rtejo de
de todas as viseiras, e os enundiados manifestos que dela resultam, dependem
e reacionários.
fantasias de grupos, fascinantes maneira quase mecanica do que acontece no nivel do médico-chefe,
Como proteção provisória destinadaa preservar, ao menos por alon
etc. A partir disso, tudo parece
introduzir no lugar na nocs do diretor, do ecônomo repercutir em
tempo,o objeto de nossa prática, proponho noção do topo à base. Claro que pode haver uma "pressão da base", mas
institucional tudo,
demasiado ambígua de transferência um novo
nceito de modo geral essa pressão permanece incapaz de modificar estrutura a

transversalidade gnupo. 1ransversalidade por oposição a:


no
A modificação deve incidir
de cegueira do conjunto. nivel de no uma

-uma verticalidade que se encontra por exemplo nas descrições feitac


as redefinição estrutural função
da de cada de uma reorientação do
um e

pelo organograma de uma estrutura piramidal (chefes, subchefesetc) conjunto. Enquanto se mantem imobilizadas em si mesmas, as pessoas
-
uma horizontalidade como aquela que se pode realizar no pátio só podem ver a si mesmas.

do hospital, na ala dos agitados, ou melhor, a dos


cretinos, isto é, certo dimensão que
transversalidade
A é uma pretende superar os dois
estado de fato que as coisas
em e as pessoas se arranjam como
podemä de uma verticalidade purae de uma simples
impasses, quais sejam o o

situação na qual se encontram. transversalidade tende realizar quando ocorre


horizontalidade; a a se

Ponham-se num campo fechado cavalos conm viseiras ajustáveis, e máxima entre os diferentes níveis sobretudo, nos
uma comunicação e,

digamos que o "coeficiente de transversalidade vai ser justamente esse diferentes sentidos. Isso constitui o próprio objeto de pesquisa de um
ajuste das viseiras. Imagina-se que, quando os cavalos estiverem totalmente diferentes
grupo-sujeito. Nossa hipótese é a seguinte: é possível modificar
impedidos de ver, venha a se
produzir entre eles certo modo traumático "coeficientes de transversalidade" inconsciente nos diferentes niveis de
de contato. A medida
que formos abrindo as viseiras, podemos imaginar uma instituição. Por exemplo, a comunicação existente "em pleno dia"
que a circulação vá se tornando mais núcleo constituído em torno do diretor médico, dos internos, per-
harmoniosa. Tentemos imaginara no
maneira como os homens se manece talvez num plano demasiado formal, e podemos considerar que
comportam uns com relação aos outros, do
ponto de vista afetivo. De acordo coma célebre parábola coeficiente de transversalidade é aí muito baixo. Em contrapartida,
no

na dos
schopenhaueria- o

porcos-espinhos com frio, ninguém suportaria uma proximidade nível do "quartel", o coeficiente de transversalidade latentee reprimido
demasiado íntima semelhantes: "Num dia múuas
com os
de inverno glacial, os poderá mostrar-se superior àquele: os enfermeiros têm relaçöes
porcos-espinhos de rebanho apinharam-se a
um
fim de se proteger do mais autênticas com base nas quais os doentes poderão fazer certo número
frio mediante calor
o
recíproco. Mas, dolorosamente incomodados pelos de transferências dotadas de efeito teraputico. Sempre com caráter de
espinhos, não tardaram em voltara se afastar uns dos
outros. Obrigados hipótese, os múltiplos coeficientes de transversalidade,
ainda que com
a se
aproximar de novo, em razão do frio
persistente, experimentaram intensidades distintas, nem por isso são menos homogèneos.
Com efei-
uma vez mais
ação desagradável dos
a detentor do poder
espinhos, e essa alternância entre to, o nível de transversalidade que existe no grupo
aproximação afastamento perdurou até
e
real determina inconscientemente o ajuste de possibilidades
extensivzs
que descobriram uma distanca
conveniente na qual se sentiam ao Pensemos no rarissimo c a o
em

Num
abrigo dos males". aos demais níveis de transversalidade.
internos
hospital, "coeficiente
o
de
transversalidade" é grau de c o que haja um coeficiente de transversalidade
bem alto entre os
gueira de cada membro do corpo de como esses em geral não detêm poder real algum
sobre a instituiç~o, esse
atentar para o fato de que
funcionários. Deve-se contuao latente e so v a ter
formulamos hipótese de que Torte coeticiente de transversalidade vai permnecer
ajuste o icial
a
Poderiamos dizer dese
o

epercussoes sobre um ambiente bem limitado.


6
Parerga und tolerivel u n a coparaçio
Parabeln Paralipomena ("Acessórios de transversalidade, desde que seja agora
estado
('Alegoria Paräbolas").
e Remanescentes"),
ce
1l parte. isse und em li1nhas de

Psyclhologie Collective etGleicn


Apud FREUD, coisas acontevem
Paris:Payot, p. 112. S.
Analyse u Alou termodinamica nesse dominio em que as
Psicanälise cTransversalidade
112
A Transverulhdade

113
organizacional desemhn.. Se a análise de uma instituição constitui em se atribuir a tarefa de
sua
fortíssima entropia
força sociais, que ro.*
toda qualquer veleidade de sua hri-la à vocação de tomar a palavra, toda pos1bilidade de intervençio
absorção ou enquistamento de
e

postularmos que
Aução
contudo nos enganar:o
fato de
um criadora vai epender da capacidade de
seus iniciadores no
sentido de
local. Não devenios da transversalidade lato
detêma chave da regulagem ente existir no ambiente em que "isso terá podido falar", na modal1dade de
ou vários grupos
não nos indica os grupos
de que se trata arrados pelo significante do grupo, isto é, assumir certo modo de
do conjunto da instituição
coincidem necessariamente com as instanei
ncias Esse despojamento, essa barra, esse
apagamento de
Com efeito, eles não castração. suas
po-
controla apenas suaexpressão mani ialidades imagináias reme por certo å análise dos objetos que o
juridicas do estabelecimento, que
cuidadosamente o poder real do podar freudismo descobrit como
sendo o
suporte de uma assunção possível para
festa.E preciso pois distinguir
da relação de forças reais requer análise: tod
dos oSuieito da ordem simbólica: seio, fezes, pénis etc.,todos eles elementos
manifesto. O problema
lei ministèrios. Ocorre igualmente extirpáveis, ao menos tantasmaticamente; mas remete também à anälise
sabem que o Estado não faz a em seus
nte
de fato escapar aos representantes
de, num hospital psiquiátrico, poder do papel desempenhado pelo conjunto de objetos transicionais que se
o

subgrupos: serviço, chefes à


acham efetivamente articulados
entre diversOs de lavar, à televisão,
patenteados da lei e se repartir máquina numa
ou por que não? - clube inter-hospitalar, associação de funcionários palavra, à "razão de ser" moderna! Por outro lado, a coleção de objetos
etc. Parece eminentemente desejável que os nmédicos e os enfermeiros, a parciais, a começar pela imagem do corpo como suporte da identificação
controle coletivo
curar os doentes,
consigo mesmo não é ela própria lançada ao consumo cotidianamente
assumam o
quem cabe em principio no

sobre a regulagem daquilo que, para além da legalidade comum, con- mercado, cotada na Bolsa oculta dos valores pseudoeróticos, estétücos, es-
trola os fatores suscetíveis de modificar o ambiente, as trocas, o modo
portivos etc.?A sociedade industrial garante assim o controle inconsciente
de funcionamento real da instituição. Mas isso não poderia ser instituído de nosso destino mediante a exigência, satisfatória, do ponto de vista da
mediante uma reforma; as boas intençòes nessa matéria não garantem pulsão de morte, de uma desarticulação de cada consumidor/produtor.
acesso algum a essa dimensão da transversalidade. e de tal maneira que, no limite, a Humanidade poderia decidir-se a tor-
Para que a intenção declarada dos terapeutas tenha um alcance não nar-se um imenso corpo fragmentado que só volta a se juntar segundo
degenerador, é o próprio ser destes, na qualidade de ser do desejo, que a vontade e nos lugares das exigências do Deus economico supremo.
deve estar envolvido e questionado pela estrutura significante diante da Inútil, pois, forçar um sintoma social a se incluir na "ordem das coisas".
qual eles se veem. Isso pode levar a um requestionamento decisivo de toda dado que esta é, em última análise, seu verdadeiro suporte: ocorre com
uma série de dados mais ou menos bem estabelecidos: que interesse tem isso o mesmo que acontece com as manifestações de um obsessvo qu*
Estado de bloquear os créditos? Por que a Seguridade Social encerrainos num quarto em que nào há pia, quando ele lavava as mios
o
persiste
em não reconhecer as psicoterapias de grupo? Não é a Faculdade, de cem vezes por dia, deslocando assim sua sintomatologia para o
panico e

essencia liberal, retrógrada na mesma medida em que o são por outro para uma crise de angústia insuportável.
lado centrais sindicais Somente a atualização de um nível mais ou grande de trans-
as
princípio mais "à esquerda", no tocante
em menos

a, por exemplo, problemas de categorização, de versalidade peritirá que se desencadeie, por algum tempo (porque n e a
hierarquia e assim por
diante? O sujeito da instituição, o materia tudo está sempre em constante questionamento), um proceso
sujeito efetivo, isto é, inconsciente,
aquele que detém o poder real, nunca é dado de uma vez por todas.E ofereça aos individuos uma real possibilidade de
e servirem
analitico que
manitestará
preciso buscá-lo cuidadosamente quando de uma investigação analitica do grupo à feição de um espelho. Nesse caso, o individuo
que por vezes
implica imensos desvios que podero levar a
propor a s
mesmo os
problemas cruciais de nossa época. lomado um sentido mais geral que aquele que lhe é dido por Winnxot
Psicanálisec Transverulidade
115
A Transverulidade

114
é pelo médico desempenha assim o papel de tempo primordial da instalação
ao mesmo tempo o grupo e a si

acolhe, pode o indivíduo


mesmo. Se
se reul
o grupo na
qualidade pelo
de cadeia significante pura que
uo se
revelar a si deuma
estrutura de transversalidade. Sua função, agora"articulada como
mesmo, paraalém de seus inmpasses imaginários icos. Mas se, linguagem", estará ás voltas com o conjunto de significantes e fanta-
choca contra um grupo prorundamentendamente aliena
lienado sias do grupo. Mais do que levar cada qual a representar para si mesmo e
pelo contrário, ele se

deformante de imagens,
fixado em seu próprio conjunto neuróti
o para os outros a comédia da existência, correlativa da reificação do grupo.
terá a ocasião inesperada de um retorço de seu narcisismo, enquanto o a transversalidade mostra-se como exigència da marcação inevitável de
psicótico poderá continuar a se dedicar em silencio a suas sublimes paiv
ixoes estabelecido de maneira
cada papel. Uma vez
duradoura por um
grupo
universais. Possibilitar ao individuo inserir-se no grupo na
modalidade d. aue detenha parcela considerável do poder legal e do poder real, esse
ser ouvido-ouvinte, e ter acesso através disso ao "para-além" do p rupo princípio de contestação e de redefinição de papéis tem todas as opor
mais do que manitesta, eis a alternativa proposta nunidades-se for aplicada numa perspectiva analítica- de repercutir em
que ele interpreta,
intervenção analitica de grupo. todos os outros níveis. Um tal remanejamento de ideais do ego modifica
A consolidação de um nível de transversalidade numa institnir 05 dados de recepção do superego e permite a entrada no circuito de um
novo gënero de diálogo:o delirin
permite que se institua no grupo um ipo de complexo de castração articulado com exigéncias sociais distintas
e todas as outras manifestações inconscientes no seio das quais o doente daquelas que os doentes conheceram antes em suas relações familiares,
ermanecia até então cercado por muros e solitärio, podendo chegar a um profissionais etc.A aceitação de ser"questionado", de ser posto a nu pela
modo de expressão coletiva. A modificaç o do superego supraevocada fala/palavra do outro, certo estilo de contestação reciproca, de humor. de
intervém ao mesmo tempo em que certo modelo de fala/palavra tem eliminação das prerrogativas da hierarquia etc., tudo isso tenderá a fundar
condiçoes de surgir no lugar e local (sic) em que as estruturas sociais só uma nova lei do grupo cujos efeitos "iniciáticos" väo permitir que afore
funcionavam no sentido do ritual. Conceber a possibilidade de terapeutas um dia, digamos ao meio-dia, certo número de signos que presenüticam
intervirem num tal processo traria o problema de um controle analitico aspectos transcendentais da loucura que, até então, tinham permanecido
que iria ele mesmo supor como estando parcialmente resolvida uma recalcados. As fantasias de morte, ou melhor, de estacelamento do corpo
radical transformação do movimento psicanalítico existente, que não se tão importantes nas psicoses, poderão ser reavaliadas num contexto de
preocupa nem um pouco, até o momento, como recentramento de sua calor de grupo quando se chegou a crer que, por sua própria essència.
atividade sobre os doentes reais,
no lugar em que eles de fato estão, isto seu destino era permanecerem cativas de uma neossociedade que tünha
é, no essencial, no campo da psiquiatria hospitalar e de setor. por outro lado a missåo de exorcizá-las.
O estatuto social do médico-chefe subentende uma alienação ima- Dito isso, tanmbém não se deve perder de vista que, mesmo repavi-
ginária que o erige em "estátua de comandante". Como fazê-lo aceitar mentado por boas intenções, o empreendimento terapèutico corre apesar
e como fazë-lo solicitar
que o questionemos, sem o ver recuar diante do de tudo o risco de mergulhar a cada instante na mitologia estupetaciente
medo panico de se desfazer em do "nós". A experiència mostra contudo que a emergència de instincias
pedaços?O médico que renunciaa seu
estatuto imaginário para situar seu papel no plano simbólico tem, pelo pulsionais do grupo constitui a melhor garantia contra ese perigo. Elas
contrário, condições de realizar o necessário esfacelamento da funçao interpelam a todos e a cada um, tanto aos curadores como aos curados, a
médica em múltiplas fim de questioná-los sobre seu ser e seu destino. O grupo torna-* cntão
assunções de controle que implicam diferentes tipos
de grupose de ld Cena ambigua, percebida sobre um duplo planoa um tranquilizador
pessoas. O objeto dessa função aparta-se da"totemizaçao
para se transferir diversos tipos de instituição, cadeias de transmissão e
a
vedado à transcendència. gerador de deteas
protetor, a todo acesso

delegaçòes de poder.A própria assunção dessa fantasia do esfacelamento obsessivas, de um modo de alienação "apesar de tudo revontortante" ,
da
116
Psicanálise e Iransversalidade A Transveral1dade
117
eternidade ao cotidiano, e, o outro, aquele que deixa aflorar por trás
trás dessa proraquepode,
er vivida segundo diversas modalidades que vão do sentimento
imais rematada da
finitude huma. de mutilação,
tranquilidade artificial a imagem humana, e nejeição,
e
mesmo
a uma
acettaçao de estilo iniciático
que pode
acha ai despossuído
uído em nome de
desembocar num remanejans irreversível de sua personalidade.
todo empreendimento intermediário se
minha prôpria morte: a
de uma instância mais implacável que de sua Essa marcação pelo grupo não tem sentido inico, pois confere direitos, confere
captura pela existência do outro, ünica garantia de tudo aquilo que ode poder àquelesa quem atingen; mas, em trapartida, pode levar a modificações
vir por meio da fala/palavra. A diterença do que acontece na psicanái el de toleráncia do grupo com relação aos tipos desviantes individuais, bem
se no ni
dita dual, nenhum recurso imaginário subsiste aqui no nível das dialéticas olver crises capazes de por em causa o destino do gnupo em contextos
como envolver
de senhores e escravos, o que constitui a meu ver uma forma posível de
mistifcados
ultrapassar o complexo de castração.
O napel do analisador de grupo consistiria em trazer à luz essas situacões
elazer com queo conjunto do gupo ndo mais possa apropriar-seindevidamente
A transversalidade no gnupo é uma dimensdo contrária e complementar àe cem maiores dificuldades, das verdades que tais situações ocultam.
estnuturas geradoras de hierarguização piramidal e modos de transmissão aue Nossa hipótese e que a automuniagao burocratica de um grupo-sujeito, seu
ue
csterilizanmn as mensagens. rCurSO inconsciente a mecanismos antagónicos à transversalidade potencial, não
A transversalidade é o lugar do sujeito inconsciente do grnupo, o
"para-alén" são fenómenos inelutáveis, dependendo, em vez disso, num tempo primordial, da
das leis objetis que o fundam, o suporte do desejo do griupo. assunção em seu âmbito do risco, corelativo à emergência de todo fenómeno de
Essa dimensdão só pode ser destacada em certos gnupos que,
deliberadanmente sentido verdadeiro, de vir a ser conrontado peBo não sentido, pela morte e pela
ou não, tentam assumiro sentido de sua práxis e instaurar-se conmo grupo-suwjeito alteridade.
colocando-se assim nunma postiura de vir a ser o agente de sua própria morte. 1964
Em oposigão (relativa) esses grupos missionários, os grupos-suýjeitados
a

recebem passivamente suas determinações do exterior, e, com a ajuda de meca-


nismes de autoconservação, se protegem de maneira mágica de um não setido
considerado cxterior; assim agindo, recusan1 toda possibilidade de enriquecimento
dialético fundado
na alteridade do gnupo.

Parece-nos concebivel uma análise de grupo que se proponha a realizar o


remanejanento de estruturas de transversalidade. Desde que evite os obstáculos
das descrições psicologizantes das relações internas cujo efeito é desprezar as di
mensões fantasmáticas especificas do grupo, descrições comportamentalistas
ou as

que permanecem deliberadamente no


plano grnupos-stujeitados.
dos
A incidéncia do significante do grupo sobre
sujeito é vivenciada por este
o

tiltimo no ivel de um "limiar" de castração, decorrência do


Jato de que, a cada
etapa de stua história simbólica, o grupo possui inalienavclnente um modo de
exigéncia diante de sujeitos individ1uais que implica um reforço relativo das inet
tações pulsionais destes a "estar em
grupo".
Há, ou não, compatibilidade cntre esse descjo, esse Eros de grupo, e s
possibilidades concretas de assunçio, da parte de cada sujeito, de uma tal prova,
Reflexões para filósofos sobre a
Psicoterapia Institucional

V ocês me pedem que situe nossa


experiencia
aterapia institucional com relação as ciëncias humanas, relações as
daqueela a filosofia e assim por diante. Essa pergunta talvez devesse ser
Geita por nós a voces, dado que noSso objeto não é fundamentalmente de

ordem teórica: uma reavaliaç o justa da divisão do trabalho de pesquisa


aderia levar à conclusao de que cabe a voces apreciar a pertinéncia e o
pod
alcance de conceitos que pomos em uso e de seu grau de coeréncia em
relacão a outras disciplinas. Caberia a vocës, além disso, definir em que
re.

a resposta a tais interrogaçoes compete ou não à filosofia, assim como


definir o que isso implica, em contrapartida, para esta última. Não tendo
nem o tempo nem a qualificaçao necessária para me aventurar muito
longe nesse domínio, observo apenas que não se trata do problema tra-
dicional da classificação das cièncias, ainda que adaptado à moda atual

ao ser recentrado sobre as ciências hunmanas.


A filosofia não pode deixar de se pronunciar sobre o estatuto de cada uma
dessas últimas. Mas se Ihe for pedido que não mais se contente em estudar
a partir do exterior, por exemplo, as noções mobilizadas pela experiència
freudiana, vai-se ouvir a objeção de que ela sairá de seu campo, se perderá
no estudo de monografias, praticará a análise por sua própria conta e assin
por diante.Alguns filósofos pensaram superar essa dificuldade preconizando
o desenvolvimento de uma psicanálise puramente teórica. Essa atirude não
deixa de implicar certo desconhecimento, e até certo desprezo, dos proble-
mas concretos da psicopatologia. Na verdade, tal atitude só poderia levar à
esterilidade da própria produção teórica. Está claro que o campo teórico.
ainda que requeira uma exigência de coerência que lIhe seja especifica. não

poderia permanecer apartado do campo pragiaaco.

*
Publicado nos Cahiers de Philosophie, n. 1, revista do Groupe de la Sotbonne
Philosophie de19%6.
(Grupo de Filosofia da Sorbonne), e republicado n o n. 1 da revista Rerhernhes em
Psicanalise cTr.asversaluidade
sobre a Psicoterapia Instutucion.al
120 fevoes para
filosofo

Refie 121
das ciencias experiments
aralelamente ao
desenvolvimento
ntais, ahis. fomos
nomenos,fomos levados a propor o conceito de objeto
habitada pela fantasia da institucional como
tória da filosofia
sendo há muito
vem

completo e definido de conce.


formulaçãoo
eitos capaz
ifico do campo tècnico e cientifico da psicoterapia institu-
2Aesim agindo, no era nossa intenção situar-nos na linhagem das
de um "sistema" homogêneo, cientificas etc.
a todas as disciplinas
de servir de referência
a seu termo.ese
sde inspiração psicOSsociologica. Na verdade, os problemas de
esquisas de
por fim chegou pinamica de grupo despertam
Quando o esforço hegeliano na
prática bem pouca
atenção
um "tempo
de latëncia" fenomenoláoics t de nossa
ficou com mau hálito: arte.A xperiència das instituições hospitalares, dos"clubes terapeuticos".
de saber se, levando-se tudo em con-
tudo
uma nova proposição da questão nicas
das
de psicoterapia de grupo, da
instituição de analisadores do
sideração,a filosofia não deveria considerar positivo "privar-se"ds idei
letivo etc., nos tem permitido adquirir um domínio suficiente que nos
de ter de ser, de uma ou de outra torma, uma "ciencia das ciênciac' de cole

na maioria dos casos, de recorrer a um material


iniciar, no áâmbito de cada uma delas, um estorço específico que ndia a
tend:
dispensa,
obstrutivo; nmas tambem nos levou a perceber a pouca fecundidade de
experimental
todos os pontos perin
faze-la exercer um papel de "ass1stencia" em
Lináteses e métodos dos praticantes da dinamica de grupo. Deslocando-
internos dessas ciências corriam
nos quais os esforços teóricos
isco de os codianamente campo praxico das instituições vivas, acabamos
no
levá-las a sair do caminho correto, na ausencia de suficiente sofisticass
cação por nos aperceber de que a causa última de nossa eficácia ou de nossos
de seus instrumentos conceptuais. fracassos nos escapa, e que as reterencias teoricas que circulam na Univer-
Apresento aqui apenas alguns pontos de referência relativos a Dose
sidade de modo geral passam ao largo dos problemas. Inúmeros"autores"
prática de psicoterapia institucional, a fim de tentar explicar o problena
elaboram seus esquemas explicativos a part1r de una ordem causal que.
com o qual estamos às voltas.
embora qualificada como dinamica, nem por isso é menos mecanicista e
A principal descoberta da psicoterapia institucional, a qual temos irredutível a toda dialëtica da fala/palavra human
sempre de retornar para nos ressituar diante das "heresias", consiste em
Dado o passo de atirmar que existe um "objeto institucional es-
reconhecer que o lugar de existencia, no caso o hospital psiquiátrico,
Decifico a nossa pesquisa, espera-nos um
precipicio teórico: a apreensão
traz uma radical modificação a tudo o que vem a surgir em seu
âmbito. desse objeto ao sabor de uma "subjetividade de grupo",a se distinguir de
seja em que ordem for. Uma técnica terapêutica, exercida no "contexto"
acordo com diferentes "posiçðes subjetivas"' fantasias e ideais de grupo.
de um
hospital psiquiátrico, torna-se essencialmente outra. Por exemplo, mecanismos de resistência e de superego, de derivação, de repetição e
um psicanalista de formaçãotradicional não pode dedicar-se a curas num
de deslocamento, atividades compensatórias, surgunento de
serviço hospitalar sem modificar de maneira radical não apenas sua técnica
uma
pixão
de grupo, erótica e mortífera, assunção em seu seio de uma fala/palavra
como também suas
concepções teóricas em matéria de psicopatologia, que permite sair da totalizaço circular ao se articular com um "para-
algo que ele de modo geral recusa-se a fazer. Isso é sabido, mas o que -além" do grupo e remanejar os princípios de conservação tanto na
consideramos um elemento novo é que nem por isso considerainos as
ordem espaço-temporal e imaginária como na das cadeias signiticantes
técnicas freudianas impossíveis no interior do
hospital. Não posso enu- institucionais e históricas...
merar (só o
poderia fazer de modo demasiado superficial) os efeitos de E assim que, de forma um tanto eclética, fomos levados a retorjar,
"transmutação" que se manifestam correlativamente a toda translação de
para nosso uso institucional, toda una série de noções de várias proce-
indivíduos técnicas
e no campo psiquiátrico. Para dar conta desses fe-

TUma técnica 2 Destaquemos que essa noção é complenentar i de "objeto pareiul"na teoria tieudhana ei
scu
sicossociológica, estudada por exemplo no ámbito do "laboratório social penle
sentido, as leis instauradas de "objeto transicional" no modo derivado da detinição que he deu 1). W Winnicot (et. La
titucional.
se
desvalorizanm, quando as tentamos restituir num anmbiente ins-
bychanalyse, 5,PU.E, 1959).
A expreSs,i0 LIsacla p o r J . Lacan em seu Seninirio, e retomada aqui e n o u t n c o t e t o .
Psicanalise e Tranvveruhda sobre a Pucoterapia InstituConal
para
filósofos
122 Refexoes 123
ea fantasia, têm aí
aí se
serventia, dado de
Algumas delas,como
o superego num momento dad sua
história, sem retorçar mecanismos seriais
os
dencias..
às ambiguidades
da teoria freudiapaudiana, que as usa caue
e alienantes que costumam caracterizar as
coletividades
dificuldades,devido Outras nas sociedades
sem
nível do
individuo e do grupo. Dutras, como Haverá, nível de uma
instituiçãoeque dispenu
no
indiferentemente no
aprofundada; essa
a industriais?
dispensa cuid
cuidados,
transferencia, implicam uma reapreciação
mais
noçãc, posibilidade
de colocar indivíduo numa o
situação radicalmente
verdade irredutivelmente
doutrina analítica
clássica, parece
na
1 a

distin
que marca colóquio singular, os impasses identificatórios
o
na
analista. Em que aspectos poderiam uns
da família conjugal, das relações de
pessoa
ou i fala/palavra do
relação transferencial? Pode
grup correlrelativos ao estatuto

diante?
submissão
suporte de assim por
uma
ser o e
ou uma instituição socioprofissional
unm psicanalista, Interpretar o"materis1 diz"a si mesmo que está
indivíduo que"se
título que , OS
grupo, ao mesmo
se manitestam
em razão de
de tum"com
Será o perturbado pelo
desejo desse ou daquele objeto id ntico ao que faz essa mesma revela-
falhos etc. que ai
sintomas, os atos
de significações inconscie ção à mãe, ao psicanalista ou aos colegas? Se é verdade que a vergonha
vinculado com complexos
teúdo latente"
aceitamos todas as suas implicach. exist r
Trata-se de uma relevante questo; e a culpa
"precedem a a
ponto de levar mais certamente à
toda utilizaçao do termo "transferêne. morte toda outra paixao, e preciso admiir que se trata de vergonha e de
Prontos a ter de renunciar a

estrita e a condenar sua extensão sob as ruhe: nainstitucionais. E um dado tipo de incesto, num dado grupo, que me
fora da "relação do divä"
transteréncia e contratransferene
cas "transferência
lateral" (Slavson), ia Gará morrer de vergonha. Mas, a partir disso, quem sou eu, na condição de
sucessivamente.
e Sivadon), e indivíduo, senão em mim mesmo uma "instituição", interseção de leis, de
institucionais (Tosquelles

Nada há de extraordinário
em desempe-
reconhecer que o
grupo interditos, de defesas, de ideais etc., subconjunto de instituição da famiha.
focaliza certas reações individuais que podem da faixa etária, da classe social e assim por diante? Toda uma tradição
nha um papel de espelho,
do grupo, atenua as disparidades
servir de suporte à expressão das pulsões filosófica teve de agir com imensos rodeios para, a partir da res cogitans
de sugestão etc. Repitamo-lo: não
especificas, reforça os mecanismos individual, fiurtar-se no todo ou em parte à res publica. Se é certo que o
nossa escola de
foram esses fenômenos que motivaram, para psicoterania individuo é o suporte irredutivel da enundiação da palavra, o grupo nio
vocabulos. Nossa preocupação é a
institucional, a introdução de novos deixa por isso de ser o depositario e o iniciador de toda linguagem e de
de determinar as condições que permitem à instituição desempenhar
toda eficiência dos enunciados.
um papel analítico no sentido freudiano. Sabe-se que os psicanalistas não
Seja como for, consideramos que a subjetividade do grupo constitui
têm condições de intervir de maneira corrente nas psicoses e sobretudo um requisito absoluto da emergência de toda subjetividade individual. No
no caso de doentes internados. Do mesmo modo, há alguns anos, toda a tocante à certeza do cogito individual, o estatuto da subjetividade do
nossa atenção se tem voltado para uma reavaliaço de noções analíticas
grupo parece precário. Contudo, se a considerarmos do àngulo da cons-
que forneçam meios para que um coletivo terapêutico' supere seu papel tituição de sistemas de valores, isto é, de estruturas simbóicas polarizadas
de assistência elementar. Por conseguinte, propor a questão da existência pela existência do outro, a subjetividade é a única garantia da apreensio
de um sujeito de grupo (sic), de um inconsciente de grupo, que não seja do sentido dos mais ínfimos gestos e falas/palavras humanas. O individuo
redutivel a uma simples soma de subjetividades individuais, não constitui doente procura no nível da linguagem tal como falada em seu ambiente
um esforço que se esgoa no teórico, tendo antes, para nós, considerável não só os meios de expressão de seu apelo ao outro diante do sotrimento
incidência prática. como também a presentificação somática desse úlimo. Se é verdade que
Como pode um grupo tomar a palavra, numa dada instituição, por trás do "não sentido" sintomático há um inconsciente "estruturado
como uma linguagen". que por trás do absurdo burocritico da insituição
4 Deixamos de lado aqui a questão tão inmportante dos modos de formação, de funcionamento e
de controle desses coletivos.
para doenças mentais há uma cadeia significante e ma interprtação
P'sicoterap1a Institucional
124 Psicanálhse cTansversalidade Relexies
para
filósofos
sobre a
125
articulação de pares sobredetermoi
coletivamente o sentido do
potencial, capaz de remanejara nados: derá não
só a reavaliar empreendimento de
sintoma e sujeito inconsciente, língua fala,
e demanda e deseio. Sut Ae cuidados, a interpretar cada caso particular por intermédio
individual- erego
p r o d

cesso analítico,
responsabilidade mas igualmente, em cada uma
social e dessas ocasiões,
e ideal do ego, personagem de u m p r o c e s s o .

História etc., o domínio analítico tenderá a


ultrapassar o camn esclarecer
os efeitos da sociedade global, em sincronia com uma critica
a
de a
node articul.
articular-se com as outras correntes de pensamento e de
recentradas na assunção do ego.
significações indefinidamente social que
pode
leva à introdução do nri Parece em particular que um reexame dos dados fundamentais da
A instituição tratada c o m o sujeito
de uma "ordenação" do não sentido para alem da sintomatologia ind: incípio lutas
economia política das sociedades industriais, que partiria dessa questão

vidual. A posição singular da psicoterapia


institucional reside no fat de
anhietividade social e que visaria situaro problema do ajuste da pro-

seu ponto de partida, a assisténcia a individuos rejeitados pela socied,


a-
dução da
mercadoria a instituições adaptadas a usuários e
consumidores
de, ou, mais exatamente, individuos cuja histöria e cujos acidentes de toda natureza, permitiria sair do quadro já um tanto estereoipado
de
desenvolvimento tiveram tal natureza que eles nao puderam encontr. dns debates sobre a "fragmentação do trabalho", sobre a emergência de
seu lugar na sociedade, leva-a a questionar o conjunto das instituic n.
"novas classes
operárias" etc.
humanas, suas finalidades proclamadas, suas definições de diversos tipos A subjetividade da sociedade industrial póde encarnar-se, numa

visão de ficção científica,


de individuos, dos papéis, das funçôes sociais, das normas etc. Não há numa enorme máquina de calcular
que detine
dúvida de que essa possibilidade está ligada ao fato de que o espaco
Dara cada tipo de necessidade uma resposta, não só
para os individuos
social reservado à loucura, para não falar de "reserva de loucos", escan vivos, mas também para as próximas gerações! Assim, a meditação
em parteà "racionalidade" das instituições reservadas aos individuos poderia ter sido enunciada da seguinte maneira: "E verdade
cartesiana
normais. Poderemos ler mellhor aí a signiticaçãoeo destino das socieda
que penso, mas, existência, é melhor dirigir-se di-
no que se retere à

des industriais (do capitalismo monopolista de Estado ou do socialismo à


retamente ao sujeito supremo, nmáquina fundadora de meu desejo e
burocrático), na medida em que elas até o momento não conseguiram produtora de toda resposta. Nunca mais poderei, ao pensar que existo.
o que pode ser a existência, e mesmo quando pretendo saber que existo
produzir as instituições econômicas, sociais e politicas capazes de tornar
operatórias a fala/palavra e a criatividade social das massas populares, que pelo fato de dizer que penso existir, não apreendo nada mais do que

permanecem sendo os objetos da máquina econômica. uma ladainha que que fala de mim a propósito de
vem de alhures e

Os hospitais psiquiátricos nos oferecem por certo o melhor exemplo todo tipo de outros artefatos... Nunca mais terei a garantia de existir
de "objetos institucionais"radicalmente desviados de sua finalidade social verdadeiramentenão ser na máquina universal". E nosso homem. ao
a

manifesta; na verdade, esses enormes maquinários concentracionários volante de seu carro, na expectativa do resultado de sua aposta. ou
na companhia de algum outro gênio do mal, se deixaria em seguida
reforçam a opacidade dos problemas, a solido dos doentes, o não sen-
tido de sua existência. Esses maquinários desenvolvem uma espécie de persuadir docemente de que apesar de tudo, sem dúvida possivel, ele
fechar de fato existe e que ninguém lhe poderia provar o contrário, sendo o
patoplastia socials das doenças mentais que as faz endurecer e se

sobre si mesmas. Alienação social que se sobrepõe às instâncias mais Deus econômico supremo deveras incapaz de enganá-lo. prisioneird
insensível toda irrupção do
particulares de uma alienação de ordem psicopatológica. Mas uma justa que e nosso homem de seu universo e a

da sociedade de
medida de sua incidência permite entrever a possibilidade de um outro desejo, da mentira o u da verdade, a partir da expansão
estatuto da instituição terap utica: esta, voltando-se sobre si mesma, ten- consumo e do uso generalizado de neurolépticos.
O conceito de subjetividade de grupo implica a elaboração
de uma

metatoras
e o r a do signiticante no canmpo social, sob pena de recair nas

5 No ternmo de Jean Oury.


126 Puc analre Tranveraldad hkwoin s
wor
obre a Pa oterana Instntuc
Po wmal

Arin
prn 127
de Moreno assim por diante
da alma coletiva de Jung. na "tele" e
te, assiin sonhos? Essas auestoes se põem com tanto mars
acuidade quanto mais
como implica que se proponha o problema de saber se o
vaivém s
.des industriais, em
soCiedad
sua
jornada rumo à
exploração, à morte, i
esboçamos entre a psicanálise, a psiquiatria, as cièncias sociais e iurid que 20 infantilisnio, conservam
infar um dinamismo assustador!
a etnologia.a linguistica etc. pode nos dispensar de responder licas,
der àà questão
loucura
e
Pode-se verificar a existencia de uma correspondéncia cada vez
do estatuto ontológico da referida subjetividade. centuada entre a sintomatologia social e os modos individua
mais
Não mais neste domínio do que em qualquer outro, não se. ocasião da emergencia
alienação mental por
de formas
po de selvagens e
dem dar definições fechadas em si mesmas. Pronunciar-se hoie espontaneas de socialidade. e bem particularmente na constituiçio de
exemplo, sobre o estatuto do Estado na sociedade moderna imnli.por
grupos
de adolescentes que tentam rEsolver, a sua maneira, os
impasses
fazer a análise diferencial de suas formas atuais e de seus diversos gro tificatórios inerentes triangulação edipica, impa«es
à
tipos iden especiticos da
de evolução. Tratar-se-ia de, por meio disso, extrairo termo comuum, a
cantemporanea da familha conjugal. O estudo dewes processox fot
ária que faz que reencontremos a cada vez o objeto "Estado"
do" no cruza-
no cr reavaliação do valor dos mitos da ruina da
oportunic de uma
"função
mento de tentativas, diversas e mais ou menos eficazes, de instaura falhas da ifamília como "causa de todos os nossos
aterna", das
de organismos reguladores que pretendem manter um desenvolvimen..
uraçào Pate

assim por diante. Na ausência de um exército respetavel, de uma igrea


males" e
nto
sem dor das forças produtivas e neutralizar os antagonismos de
chas e de um deus reconheci de um. ordem social estivel, a pasagem à
O Estado torna-se, assim, na condição de objeto institucional, uma m adulidade não poderia ocorrer, portanto, sem outro recurso senão o das
quina significante que reifica sistematicamente os processos sociais Seu drogas da
sociedade de consumo?
de operador da demanda na ordem simbölica tende a
sufocar Um dado tipo de carro, de parceiro ou
de papel que cob1ço deter-
toda representação possível na ordem imaginria, isto é, na ordenm minam o modo sob o qual o "eu" me escapa. Eu é um outro (sic). Mas esc
do
descjo humano descartadas suas formas atipicas: culpabilizadas, perversa Outro não é um sujeito. E uma nmaquina significante que predetermina
Sas,
"patológicas" ou revolucionárias. aquilo que deverá ser bom ou ruim para mim e meus semelhantes nese
Ofato de os atuais sistemas econömicos, å falta de uma avaliacão nauele ambiente potencial de consumo. Mas não estari a única res-
por uma classe social capaz de ir além de seus interesses próprios e im- posta posivel a essa anulação do sujeito no retorno à cireulação de um
por o advento de uma sociedade sem classes, estarem assim, de modo modelo de Pai-Presidente, tótem erigido no cume do Estado i filta da
permanente, prestes a secretar instituições sociais que transformam os possibilidade de refundara legitinmidade religiosa de um Rei castrado de
individuos em engrenagens de uma imensa máquina, esse fato evoca em naneira demasiado radical pela História? Nesse terreno. as construçöes
contrapartida o problema da assunção da subjetividade social como teruio teóricas de Freud conmo as de Tótem e tabu não parecem. à primeira vista.
final inelutável do processo de produção. A tomada do
poder por uma nos fazer progredir muito. Não obstante, é de qualquer maneira para o
força social cujas normas seriam
compativeis com o exercicio minimo freudismo, apesar de seus mitos ou antes por caus1 deles, que devemos
de uma fala/palavra humana é algo concebivel? Toda
evolução social a
nos voltar se quisermos de fato explorar eses problenas. A pesquisa ti-
terá sentido de um esimaganmento cada vez mais acentuado do
o
desejo losófica universitaria permanece årida e espalhando a aridez li em cima
humano? Quando apresentamos conceito de
subjetividade
o
social esta- Ela chegou mesmo a constituir uma espécie de sistema de resistència
mos
prestes reanimar os
a mitos da redenção sujeito perdido daquele
do e ao acesso a esses problemas. Sem falar de certas noçöes cruciis como a
que lhe serve de fiador, o deus morto no real nias sempre causativo nos de"pulsão de morte", que foram simplesmente ignoradas e a peoqui
ha muito lançou enn descrédito noçòes de base como "inconciente"
6 Publhcado nos Cahiers de Philosophic, n. 1, revista do
Groupe de Philosophie de la Sorbonne
(Grupo de Filosofia da Sorbonne), e republicado no n. 1 da revista Recherhes em 1966. e'sujeito inconsciente", este último considerado una aberraçio. uma
18 'acanalret T s o b r e aa
wobr Ps oneTapra Inatuma
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fikon

RAr
ra
129
contradiào em ternmos, um abuso de linguagein, umia impuder. porta-voz? Como fundar a
a m espirito cientuticista e assini por d1ante. A partir de trh devida tomaticament
seu
legt1midade da"pala-
abalhos de ordem" de
um grupo particular na verdade histórica? Nio io a
Jacques l acan,começa a se difundir a ideia de que essas
noçoes poderiam
nocäs.
e o stujeito entidad ssencialmente "coladas"
formula
tala avTa
palanr ao individuo
pelo contTário, esclarecer retrospectivamente as
ulaçðes de filósofo por
dante: So este
profere esta ou. aquela palavra
que,de Descartes a 1Huserl, ocuparam-se de uma fundação MIs. ltemos a assunto,.a linguagem remete nào só à totalidade de
c n

ão do.
do sujeito
Quanto a nós, pensamos que o conceito de subjetividade de i
é dito em
todos os lugares pelo conjunto dos indrviduos, mas
Fretupo Boo
que
esti inserito no prolongamento da teoria freudiana. verdade que tudo o que é articulado pelo conjunto das maquinas económicas.
realiza, com toda a inocencia, um constante deslizamento de nl
lano fala quando
o Ministro das Finanças moditica em um
o faz regularmente perder de vida a realidade social, mas sua cen. que Quem por cento

taxa
básica de juros
e, ao è-lo, mudao poder de compra imediato
um Edipo moderno, leva-nos a pistas talvez mais seguras que toda outra. nus
a
sumidores
onsur
e intertere em milhoes de
projetos indrviduas o
Ele nos legou os meios de definir a relação do sujeito com o ot. dos
aafiiralmente,
ministro, natural ou ao menos
ministerio. Mas o
quem é sujeto
do plano de hipóteses idealistas. Enquanto um Lukacs ainda encont. da cadeia signiticante envolvida? Através de que canats de comunicaçio.
obstáculo do "inconsciente de classe" e do papel da "indetermina tramas de linguagem.
vamo encontrar a chave, a verdade
de
no processo histórico para nunca sair da problemática imaginária de que
da uma
ministerial?Uma fala de ministro não remete
evidente
consciencia, Freud, desde o começo, enfrenta o estatuto do sujeito intimidade da personagem, mas as relações de produção e s
que mente

define como fundamentalmente inconsciente, 1sto é, como aleo ntradições que regem as dades industriais: renmete a alyuma cona
que
escapa, no essencial, às determinaçoes individuais, e como estand. que ocorre talvez entre Mosco Washington, Pequim. Leopoldville
marcado de maneira indelével pelas relações estruturais do grupo social Considerando-se isso, sera abusivo talar de sujeito no nivel de uma classe
e por seus diversos modos de comunicação. O passo seguinte leva a co Ou de um Estado? Vai-se objetar que não se trata de algo transparente a
siderar que essa subjetividade, manifesta no nivel da instituição, tem Suas si mesmo como se juiga ser o Sujeto. A Consciencia de si é, sem dúvnda
próprias leis, seus "intérpretes" grupo ou individuo, seus operadores.aue ma garantia de ser consciencia, mas de modo algum de ser sujeito nos
ela desenvolve sistemas específicos de resistência, de desconhecimenta ambitos em que pode ter sentido ser sujeto, Isto é, no registro do outro
ento,
certo tipo de fantasia relativamente autônoma com respeito à
fantasin fundado pela fala/palavra. No plano social, as coisas talvez sejam menos
individual. Enquanto essa ültima remete a uma ordem estrutural imagi.
garantidas. Um dado grupo. partido ou casta que se pretende sujeito di
nária submetida ao organismo humano, a fantasia de grupo se articula História, depositário de uma missão histórica. pode nio paar. na verdade.
com o conjunto dos significantes e das estruturas sociais. Ele é, de objeto institucional manipulado de fora ao sabor das circunstincias.
por isso,
a sede de toda uma série de entrechoques e impasses entre o indivíduo da conjunção de forças presentes etc. Na ordenm da subjetividade ocal.
eo grupo. nada é dado de antemão. Pusemo-nos a repetir que os tatos soCAIs nio
Se se levar em conta a precaução que tomei de alertar para o fato de eram coisas, e no entanto, eles se apresentan å pruneira vista como tis?
que não sou filósofo, não poderei ser reprovado por não apresentar aqui O fato de poderem sair de seu estatuto de objeto nio depende do ob
nada que nào se funde no simples levantamento de reflexões nascidas no servador humanista.
curso de unma prática institucional. Todo problenma levantado O surgimento da subjetividade social depende de maneira bem
permanece
em suspenso! Que dizer da coisa-sujeito que, de indivíduo ao outro,
um exata da capacidade de grupos, 111stituuçoes, classes e asin por dinte. iio
é considerada encarnação da fala/palavra do grupo? Onde se vai procurar sentido de articular sua totalização em função de tenomenos historicos
interpretagão no nível do grupo? Não é um lider qualquer que se fará e de leis naturais. Toda pesquisa nesse dominio situa-se asin anna en-
Institucional
Psicanálhse eTransversali filósofos
sobre a Psicoterapia
131
130
eTsalidade lexões para.

e sociais que ultrapassam em muito de da


de vista, da ordem social, em vez de partir dela, sobrecar-
problemas politicos
r
cruzilhada de a
perder

especificada. Quando se
trata, Dor busca,
elmente o
campo de referencia médio
dos estudantes
pråtica
exemplo,
a .

o campo de
egaramconsiderav

uma

de ajustar o processo do conu, rega isadores no conjunto das ciencias humanas. De seu lado, a
economia politica,
campo da
e dos pesquisado

no ao da
adequadas, deparamo-nos com arxista", acossada pela esterilidade há décadas, também não
produção mediante instituiçðes
au. "instituiçao marxista"

semelhantes àquelas que tentamos


delimitar a ito da subjetividad
propósito sair das metodolog
a
mecanicistas. Repitamo-lo: não é sóbo
ajudou
social. Uma tal institucionalização
das relaçoes dee produção é

as ce
produção tratada,
Os
juste funcional das diversas ciencias humanas que está em causa; também
1a justa apreciação do estatuto do sujeito da enunciação cientifica
capitalistas c o m o nos "socialistas", seja às
u s e

cegas ou
tanto nos países no o está
de caråter burocrático. Como
Como poderia elação com o desejo individual do pesquisador e com as pulsoes
ambito de um planejamento
nível modelos institucionais articuláveis com u m históricas diante o uais ele se v. Levando em conta que este ou
surgir nesse
aquele
do não sentido"? Quem é que,
na sociedade industrial,
poderia c exemplo, considerara que seu
campo é fechado, sem fron-
vir terapeuta, por
de fiador da existência
humana: As instituiçoes religiosas e hol teira comum co com as outras disciplinas,
reitica a filosofia como e
icas corpo
tradicionais são hoje manitestamente incapazes disso. Cabe à esse sujeito
estranho,esse sujeito da enunciaçao detinira implicitamente o conjunto das
pesquisa
filosófica determinar os conceitos capazes de fundar um campo de,
3nas como devendo permanecer sem acesso à subjetividade
Ciencias

rência que responda, de um lado, ås exigéncias das ciencias obietivc social que, de acordo conosco, estâ implicada no nível de cada subconjunto
e,do
outro, às das "técnicas" da ex1stencia humana concreta. Como não á nstituucional. Isso nos parece aplicavel mesmo ås pesquisas que assumem
essa
a situaç o, tende a ressurgir permanentemente toda uma série de inctaL:
aspecto mais tecnico. Julgamos que nenhuma interpretação (de ordem
lidades doutrinais de todo tipo de forma: teorias do paralelismo. sictoss assim por diante) protege
tema canalitica, psicossociológio e
quem quer que
percepção-consciencia, teorias da forma e seus derivados estruturalicta. tenha de se pronunciar bre as questões cruciais que a História propõe.
as
reflexologia. para não mencionar as tamosas querelas das superestrutur Nenhuma "região" politica tem autonomia com respeito a uma"região"
submetidas às infraestruturas e assim por diante. técnica ou filosófica. Haver uma autèntica pesquisa filosófica que possa
A instituição filosófica desempenha no tocante a isso o papel de emitir um julgamento sobre a existència do sujeito independentemente
curadora-em-chefe do museu de conceitos ultrapassados. Com efeito, ela da natureza da subjetividade historica contemporanea nesta ou
naquela
de modo geral afasta-se de toda inovação, como ainda é em geral o que situação? Postular, como o tazemos, a existència de uma subjetividade
acontece com o freudismo. Não é inconcebivel que tal situação possa se social e de objetos institucionais não equvalerá a formular a questão da
inverter. O problema nào é só de
pôr circulação conceitos novos para
em natureza do objeto filosófico?
fazer sair do impasse as diferentes outras pesquisas; é igualmente o de -o Haverá modo de
um
apercepção tilosótica que se possa permitir
que dá no mesmo - reavaliar sob o crivo de sua verdade os conceitos
legitimamente subjetividade individual? Essa mesma ques
encerrar-se na
fundamentais da filosofia tal como apresentam a nós. De certo ponto
se
tão é posta nos domínios da criação artistica. De
resposta depende sua

de vista, constata-se que o pensamento hegeliano está longe de fecundar, a


possibilidade de realizar verdadeira reconmposição de problemas
una

como seria necessário, a pesquisa antropológica. Por esse motivo, seu sociais, politicos, estéticos morais etc. capaz de faze-los sair de
e
atual sua
desvelamento sistemático permanece como imperativo primordial. De disjunção. Se se considera que a instituição filosófica deve constituir-se
Outra perspectiva, a incapacidade do pensamento filosófico no sentido de em
intérprete- gramática das linguas que se falam nos diterentes caipos
elaborar uma doutrina da existéncia que não seja sujeitada ao individuo, tecnicos, científicos e literários nas diferentes épocas-, talvez seja possivel
que não implique uma "dedução" da existência do outro, e, correlativa- considerar que o objeto da filosofia
gira em torno
precisamente da apre-
mente, a instauração de teorias da intersubjetividade que levaram a uma ensão dessa
subjetividade social que, como dizenos, só se
apresenta por
132 canálhse eTransversalidade
meio de conteúdos manitestos que
precIsam ser decifrados e inter.. .ove
teses da Oposiçao de esquerda
em razão do fato de
escapar aos acidentes históricos, ààs contingencias c pretados As
escola, às especificações técnicas etc.A instituição filosófica serin s de
disso definida como devendo reavaliar uma estrutura
de referene:
sempenhando de alguma maneira o
papel de
"analisador", Dor.
rencia, de- Resuno*

uma maieutica retundaria perpetuamente a partir das


que se de e o Estado
prod capitalismo
conceituais das diversas ciëncias humanas. Ela teria de
reconhecer ações
hecer previa-
s
Tese
1: O
mente que a psicanáise, bem como a terapeutica institucional, etnol a
a
linguística etc., mostra indiretamente a necessidade de uma redefi Na análise do desenvolvimento do capitalismo
da pesquisa filosófica. Resta saber se sua ,convém considerar desde o começo
instituição atual será suscei do
moVimento operário,
de "falar" partir dessa talta, ou se serao necessarias
a
várias gerace
etível da
politica
economicos e politicos como uma totalidade
e
o conyuntodos
dos fenomenos
algumas crises filosóficas antes de se chegar a isso. hegará um e resultado do desenvolvimento histórico
momen.
ento
estruturada,
da todo concreto,
1
um tod
em que estudaremos com a mesma seriedade e o mesmo rigor con um conjunto de relaoes determnadas. Decorrem disso
estudamos as definiçòes de Deus de Descartes ou de finidocono
defin
a recusa de dividir o mundo em
Malebranchee,: teóricas essenciais.; dois,
presidente Schreber ou de Antonin Artaud: Continuaremos por um londo consequencias

capitahsmo ee socialismo;
socia a recusa de considerar 0 capitalismo como a

tempo ainda a perpetuar a clivagem entre aquilo que constitui a longo em que alguns seriam avançados
provinei
incia de capitalismos acionais,
de uma critica teórica pura e a atividade analitica concreta justaposição

usa de considerar que esse avanço de uns não


das ciencie
humanas? Devero os ocasionais prejuizos causados por essa cias e outros, atrasados;

atraso dos outros.


dissociacao uma ligação rganica com o

no seio da antropologia atr1buidos a Circunstancias tenha


ser
similares àquela Lcce Donto de vista marxista tende a desaparecer por completo no

que dividiram o mundo em dois ao redor da Cortina de Ferro? Naa unista, a exemplo,
pretexto de que, por o avolvimen-
movimento
ve esta prestes a se tazer presente em muitas outras
regiões a depender produtivas na Uni: Soviética
exige um estágio superior
to das forças
da natureza do desenvolvimento dos Estados?... E,
precisamente, será a
das relações
de produçao. Por maior que seja a União Soviética, as forças
exame desses esquizos sucessivos do universo contemporaneo provincia produtivas não independentemente das dos países
se desenvolvem nela
exclusiva dos políticos profissionais, dos diplomatas e dos jornalistas do mundo capitalista. Não há um esquema abstrato
cOocialistas e sequer das
especializados? Temos todas as condições de saber que cada
indivíduo este ou aquele pais constituiria o modelo que os
do capitalismo de que
sofre hoje tais tipos de dissociações inmaginário de maneira
num modo
imitar. O esquema geral do capitalismo não é uma
QutrOS tenderiam a
bem mais marcante do que os mitos antigos a que em geral se remetem
estrutura universal a que se sOmariam Singularidades nacionais, mas uma

os complexos psicossexuais.
estrutura que existe nessa diversidade mesma e que é inconcebivel fora
A pesquisa filosófica teria assinm não só de se preocupar com uma
dela. Foi isso que levou Trotsky a criticar a concepção do internacionalis-
constante reorganização conceitual como de elaborar, no "terreno", as
Esas teses foram elaboradas, num primeiro momento, d e maneira bem condensada - umas pou-
condições de estabelecimento e de manutenção de uma lógica do não
um grupo de militantes da Oposição de esquenda, entio em v i s de torma_ão.
sentido na medida de sua irrupço em todos os domínios, isto é, manter caspáginas- por no VIIl Congresso
para serem apresentadas porJ.-C. Polack, em nome da esquerda não trotskysta,
atualizado o registro das possibilidades de significação da existència da UEC (Union des Énudiants Conumunistes - União dos Estudantes Comunists), realizado em
Montreuil enm abril de 1965. Mais tarde, foram desevolvidas por F Guattari para serem apresenta-
humana, aqui, alhures e agora. de
da e discutidas numa reunião da
Oposião de Esquerda realizada em Poisy em outubro 1965.
Os cxcertos apresentados aqui foran selecionados a partir de unma versão completada e desenvolvi-
1966
da por E Fourquet, pretaciada por Gerard Spitzer e publicada em brochura em 196o6.
134 Psc análise de esqrerda

e
Transverta
Tahdade nce t s
da
p o g a o
135
mo proletário: este não se funda nas caracteristicas gerais do cani..
A

do. tornado salvador suprenmo. Este tenta entao


em sua estrutura abstrata, mas em sua forina alismo redordo reorganizar
particular; não na idens: o processo de
s o de valorização do capital c de realização de mais-valia que
das condiçoes de luta, mas na interdependencia entre estas. errompido pela crise. l a s e s e proces5o de "nacionalização do
fora i n t e r r o m p i d o

E n a escala mundial que se deve analisar a contradição com crise, mas sobrevive
fundan. capital no
desaparece
desaparec a e se desenvolve por
tal do capitalismo entre o desenmvolvimento das forças amen-
produtiva vezes co
de expansão correspondentes a u m proCesso contrário.
ces

relações de produção. A finalidade do capital (produção de mais-las nutndialização das relaçöes de produção e de circulação.
valorização do capital) está em contrad1çao c o m os meios dessa s1 valia, 1 1 desses dois movinmentos implica o movimento contrårio.
alo- Cada
rização: o desenvolvimento ilimitado das forças produtivas, a Drod capitalista não é justapOsiçao de varios
dução a
a
capitalismos monopo-
ilimitada de valores de uso. A extensão do capitalismo a todo ol ac de Estado mais ou menos desenvolvidos; e esse tipo de capitalismo
ta
fez surgir uma divisão mundial do trabalho entre as diterentes
nacões.Se monopol1sta que é determinado por seu lugar na divisão nternacional
bem que o processo de reprodução do capital tenha se
tornado : rrabalho, implica esta ultima e nao existe sem ela. Inversamente, a in-
disso unm processo mundial. Quase todas as mercadorias são o rerhacionalização monopolista das forças produtivas implica o capitalismmo
produto
de inúmeros processos de trabalho parciais divididos em vários
es af anopolista de Estado, e não se processa tora dos Estados: é por meio
Do outro lado, porém, o capitalismo não consegue abalar o
ambi destes que seinternacionalização. As relações entre Estados
realiza essa
nacional e o Estado no interior do qual se desenvolveu, e estes
sam Dasca apresentam-se, pois, como expressao
a e o modo de
realização da inter-
doravante a s e r um obstáculo ao desenvolvimento das torças
produtivas nacionalização da vida economica na etapa do capitalismo monopolista
Enquanto a divisão mundial do trabalho exigiria o desaparecimento de de Estado. Mas essas estruturas nacionais e do Estado, mediante as quais
toda barreira aduaneira, unma repartição racional dos meios de
producão se realiza a internacionalização, São justamente aquilo que emperra a
de consumo e um planejamento em escala mundial, o tal
e
só reginme internacional1zaçao, constituindo os Estados precisamente os arcaismos
pode sobreviver mantendo as relações de produção no ämbito nacional. históricos que se opõem ao desenvolviumento das forças produtivas na
graças à intervenção do Estado, transtormado em instrumento da valo- escala internacional.
rização do capital. A manutenção de relações de produção em escala nacional é o re-
O Estado desempenha papel um essencial no processo de circulação sultado de um Marcada por suas tradi_çöes históricas e por
compromisso.
do capital, que permite notadamente acelerar o giro do capital e realizar seu particularismo social, a burguesia não é internacionalista, enquanto o
a mais-valia contida nas mercadorias produzidas."Tanto no domínio da tende
modo de produção capitalista
sè-lo cada dia mais. Ese compro-
a

repartição como no da produção, o Estado toma a seu cargo a parte do misso exige. de um lado. que a burguesia mantenha seu dominio sobre
capital cuja taxa de lucro é pequena, o que permite em compensação de Estado
o aparelho e, do outro. que a sociedade politica
organizada
elevar a taxa de lucro do setor privado dos monopólios. Por múltiplas intitucionalize e integre o máximo posivel a classe operiria.que vè suas
vias, o capital circula entre o setor público e o setor privado: há uma lutas, dessa maneira, descentradas com relação aos locais reats de decisio
Jusao cutre os mon1opólios e o Estado n1um todo orgánico, o
capitalismo nono- da cconomia capitalista. A centralização do capital."a expropriação dos
polista de Estado. O capitalisnmo monopolista de Estado surgiu quando Capitalistas no seio do capital", chegam a tal poto que a burguesia perieu
da ocorrència de crises: a Primeira Guerra Mundial, a crise da Bolsa de todo o poder
que lhe permitisse destruir cstruturas arcaicas, a comear
1929, a Segunda Guerra Mundial. Essas três etapas marcan a conside- pelo proprio Estado.A burguesia tem neceidade do Estado nacionalista
rável reduçio das internacionais de capitais de mercadorias, o
trocas e
ara sobrevIver; é privioneira de sua própria realidade de clase: própria a

fechamento do nercado nacional, uma reconcentração dos capit.iis ao


burguesia é o limite da burguesia.
136 de
esquerda 137
Psicanálise e Transversalidade A nov teses
da
OposiIçao

Pode-se dizer, na instauração das estruturas do capitalismo mo-


resumidanmente, que: E s t a d o
e na

O desenvolvimento do
do
resultado do chauvinismo, do patriotismo da
capitalismo estå na base de dois mo reforço
nopolista de Estado.
E E o

Tudo se passa como se o nacionalismo do


e

tos contraditórios: de um lado, nacional.


mundialização das forças proditi
a
da
detesa

portanto, das relações de produço; do outro, papel


sLIstentação
irio devolvesse à burguesia Os instrumentos de domina-
qualitativass o
movimento
Tal processo tem-se repetido regularmente no
novo do Estado em sua intervenção economica
(mecanismos do
mente deixara
escapar.

talismo monopolista de ão q u e inista, que sempr


sempre sustentou a ideia de que o ímpetoo
Estado). A
contradiço fundanmental do ovimento
c o m n i s t a , que
se mostraria impossível no âmbito do
de produção capitalista (entre relações de o das forças produtivas
produção e
forças produtintivas) inevitavelmente decomposição interna
continuo

numa
exprime-se conmo contradiço entre a estrutura economica e a
e
t e r m i n a r i a

subere italismo
im, os cmunistas tén vivido na expectativa da explosão
trutura de Estado que permite que aquela sobreviva. Essa peres- do sistema. Assim

vai se desenvolver outra vez no seio do


contradic o do capitalismo. ssou ent o a ser dever dos estados-
proprio Estado, impelido de um rise final
uma
revolucionária capaz de perturbar
lado rumo à mundialização das relaçöes
produção e, do outro, rum de
de
PCs
-maiores dos PC: nc sufocar toda veleidade
à necessidade de manter relações de umo .. Se
Se é certo que o desenvolvimento das forças
destino...
produçao no ämbito nacional d ealização
desse

reforçar os mecanismos do capitalis1Ino monopolista de Estado.As relacä


e

envolve a expropriação dos burgueses pelo capitalismo, de


produtivas

institucionais são ultrapassadas pelas relaçoes econonmicas e que os Estados burgueses sejam incapazes de
tendem a modo algum isso significa
desfazer sob se secretar "mecanismos reguladores", permitindo ao capitalismo super
sua
pressão. Não obstante, seu
rompiniento não pode
rer
adaptação no nível do desenvolvimento das forças
espontaneamente, exigindo a criação. pelo proletariado, de suas
próprias suas
dificuldades de
investimentos, de repartiçao de mercados,
dos problemas
instituições, isto é, a intervenço de uma siibjetividade revolucionária cuia arodutivas, dos
não ,da integraçao da classe operária e assim por
emergència histórica está na base da manutenção das
instituicões 1Onetários, do "planismo
burguesas. diante.
modern1stas militam em favor da aceleraç o da in-
As correntes
n o Estado, concebendo u m a aliança entre a
Tese 2: O capitalismo e a estratégia do movimento
operário tegração do proletariado
torças vivas do capitalismo com vistas a neutralizar
internacional classe operária e as

e tazer evoluir progressivamente a sociedade


os burgueses retrógrados
partidos comunistas tiéis à União Soviética
A história do capitalismo é a da luta de classes. Não
cair no se pode capitalista, ao passo que oS

pseudo-objetivismo das atuais análises do movimento comunista oficial, ainda hesitam em seguir esse caminho. Todas as ideologias politicas
que sempre apresenta os fenomenos fisicos e culturais como o resultado do mesmo tipo de erro, consistindo este em agrupar forças
procedenm
centros de decisão econòmicos e
natureza distinta: classes sociais e
de uma necessidade mecânica que se imporia de fora para dentro à luta de
n o plano internacio-
de classes. Esse método o "autoriza" a tirar do movimento operário do Estado. O resultado é frear as lutas de classes
nal e paralisá-las diante de testes de forças capazes de voltar pôr e m
a
toda a responsabilidade histórica pelo desenvolvimento do capitalismo.
questão da burguesia. A classe operária vè-se, e m r e s u m o , diante
poder
Ocapital não é exterior ao proletariado, constituindo antes mais-valia a
o

da seguinte alternativa: ou defender o capitalisnmo moderno, seguindo


produzida pelo trabalho do proletariado; da mesma 1maneira, as estru-
apóstolos da "nova classe operária" o u
se
turas e instituições do capitalismo são o resultado da luta económica e o desejo dos modernistas,
nacionalistas
isso envolve responsabilidade direta de por na vanguarda de uma reunião hipotética de forças
política do proletariado e a suas
dos
retrogradas, reduzindo s e u papel a o de força auxiliar serviço
a
e
organizações. a classe
1nteresses dos pequenos e grandes burgueses. Nos dois casos,
A responsabilidade da social-democracia em 1914 é flagrante no
138 Psicanalise eTramverul 130
esquerda
de
Oposa20
da

operária acha-se condenada, em todas as etapas, a perder d


erahdade er
teses

enTCSC1tar. m
mas
as estruturar
e stn as massas, coordenar suas lutas se-
e vista a nao
rpresentar,

propria finalidade de sua luta. função


ctratégia elaborada coletivamente, transtormar as relações
Bem mais do que antes, os proletarios nao tem patria! A luta co obietivo fundamental de suprimir o modo de
gundo

ol
forças,
Ccom
o
produção
nacionalismo reacionário permanece, para o movimento comunics de e derrubar as burguesias no poder, viu-se bloqueada durante
capitalista e de
, uma
tarefa primordial, inseparável de um remanejament do tipo de iado de hegemonia da cortente estalinista. A situação inter-

pulares.
entre o partido de vanguarda e as massas populares. Com efeito
relações
eteito, quando o
todo o periodo

Ova surgida na esteira da Segunda Guerra Mundial, marcada


n.acion
os
partidos comunistas fazem o jogo do parlamentarismo, da def. pelaextensão do
. n do 'sistema socialista em inumeros Estados da Europa.
interesses nacionais, quando estabelecem como objetivo a luta dos da
sobretudo pela extensão assustador
revolução anti-imperialista a
o
poder dos monopólios, estão favorecendo a reconciliação de todas e
revolução
chi moditicou progressivamente condiçòes
as
s rtir da
classes sociais e fazem do próprio aparato do partido o único rec hanm permitido ao Estado sovietico impor sua hegemonia ao
classe operária. A medida que as lutas e a combatividade se esgotan que
nento comunista internacional. Paralelamente a seus espetaculares
n nos movimento

engodos, reforça-se a onipotencia da armadura burocrática do movin itos com os partidos comunistas iugoslavo. polones, húngaro etc..
to operário. A tática leninista do status quo entre as
imen- confit

forças sociais tis


tatica
taião Soviética desenvolveu novos tipos de relações com o conjunto
adotada em função de uma relação de forças destavoráveis no momen.. da Organizações comunistas, baseados numa relativa independència, ne-
ento
da NEP foi transformada, pela ditadura estalinista, em ideologia do iada em função do interesse d0s partidos representados e. por vezes
tatus
quo.As soluções de compromisso impostas pelos imperialistas no fnal d,
de seu poder respectivo.
guerra civil foram transformadas em filosofia da coexistência e da comn
tição pacifista entre Estados capitalistas e socialistas. A ideologia estalinis.
nista Tese 3: As contradições interimperialistas
abriu assim o caminho ao mito reacionrio de uma defesa necessária a
pela
classe operária, do desenolvimento das jorças produtivas nacionais, contra O tema das contradiçOes interimperialistas ocupa importante lugar
"tmustes cosmopolitas". O proletariado tornou-se, assim, aliado
objetivo da na atual ideologia do movimento comunista. Mas esse é por excelência
capitalismo monopolista em seus estorços de desorganização e liquidacão um tema "ideolog1co, 1sto e. perimanece-se nas aparèncias da realidade.
das economias tradicionais, na verdade, ele contribuiu indiretamente para sem buscar apreender as causas politicas que levan a desenvolver um
a aceleração do processo de subdesenvolvimento, relativo e absoluto,de tal tema.
que é vitima a maioria da populaço do globo. O poder economico dos Estados Unidos é tal que eles aparecem
E nesse contexto objetivo de internacionalizaçao monopolista e como os defensores do sistema capitalista em seu conjunto. Esse poder
de ausencia de toda estratégia internacional das lutas do proletariado se desenvolveu a partir de tatores particularmente tavoriveis: um imenso
que o Estado soviético conseguiu impor o dogma de uma identidade mercado interno seni barreiras altandegárias, abundäncia de capitais e de
necessária entre seus interesses e os das niassas. No limite, o Estado sovi- mão de obra. A Segunda Guerra Mundial, que amuinou Europa, dupli-a

ético tornou-se o defensor internacional das massas


perante burguesia a cou a produçio industrial americana e aumentou as eservas dos Estados
mundial. Na realidade, esse sistema está fundado no principio do toma li Unidos a ponto de torni-los possuidores de 80 por cento das reservas de
dá cá com o imperialismo e da manutenção do status quo: a burocracla ouro do mundo. A criação do Fundo Monetário Internacional consagra
soviética negocia com o capitalismo a influência que conserva sobre o a supremacia do dólar como moeda de reterencia. Ao oferecer capitais á
movimento comunista. Europa desmantelada, os Estados Unidos pöem de joelhos o capitalismo
A reconstituição de uma vanguarda revolucionária, que tem por europeu, ao mesmo tempo em que permitem a sua industr1a, ameaçada
Psicanálise e lransversalidade de rda
esquerda
Oposiçao
da
140 As nove
teses

Eles 141
encontrar canais de desova. se mostram.
omo os O ponto central on fwalé portanto que, na ausencta de
pela superprodução, dos movimentos interna.
uma
estruturação
mundial da
promotores da
liberalização das
trocas e
onais uta r i a do
revolucionária
proletariado, nenhuma força social tem condições
mercadorias. lornam-se os principais agentes da d. uir arcaismos
auac nacio nacionais, regionai5, pre-capitalistas, qiue constituem de des-
de capitais e de ão
um obstáculo
Toda a estrategia económica e politics
ca do ideal capitalista de uma diVIsão
internacional do trabalho. dos à acão
ealização
internacional do
o rumo do aprofundamente trabalho em
Estados Unidos segue por conseguinte
.

da escala mundial.

do trabalho entre as naçoes, o


ampliacão da divisão capitalista que exnlio. Ceé ponto de junçao enre a

estabelecimento de ora
o
internacionalização do capital e a
sistematicamente tavoraveis ao
ifcidade nacional das relaçoes de produção, das lutas de classes ete
que eles sejam especific

um grande mercado atlântico. irui


mercados, notadamente de o Estado
o ponto geometrico das contradições do capitalismo.
Se defendem os interesses do modo de produçao capitalista em seu As contradições interimperialistas vão se acentuar ainda mais à medida
conjunto, os Estados Unidos encontram contradiçoes que resultam da acces. e em primeiro lugaro proletariado, isoladas na carapaça
que
diversidade das situações nacionais das relaçoes de produção, das lutas de de um
nacional
e incapazes ponto de vista
universal, vão levar o Estado
classes etc., e sofrem pesados revezes. Esses revezes, por certo, não se de- a firmar tais compromissos que ele se ver restrito e reduzido a0 imhio
vem a alguma vontade de independencia dos moopolios, pretensamente da nação, ainda que ele se esrorce por caminhar para a internacionali-
ite
nacionais, mas à impossibilidade de a burguesia acabar com a fixação 7aCÃ0. O fato de Os pequenos camponeses e Os pequenos comerciantes
nacional das relações de produço (relações com o proletariado, com a não terem uma vISa0 nternaclonalista nao espanta ninguém: o mais

pequena burguesia, com o campesinato e assini por diante) porque essa real
tranho é
es
a incapacidade burguesa
de acabar com suas estruturas

estruturação nacional é necessâria a sua existëncia de classe. pré-capitalistas. Porem, o que tirara do rumo os estrategistas comunistas
Já se insistiu na responsabilidade histórica das organizações do prole- é o fato de os particularismos nacionais da burguesia serem sobretudo o
tariado pelo ressurgimento da questão nacional em pleno século XX. Mas resultado dos particularismos nacionais do proletariado! As contradições
essaespécie de regressâo histórica acaba por situar a causalidade histórica interimperial1stas nao passam do avesso mist1ticado do fracionamento
em arcaismos como o Estado ou mesmo as estruturas pré-capitalistas. nacional das lutas da proletariado, a expressão aparentemente objetiva do
Não há dúvida de que questão agricola é
a obstáculo å instauração
um que se poderia chamar de as contradições interproletárias. A divisão interna
de grande mercado atdântico. O Partido Comunista Francès destaca
um da burguesia não passa de expressão da divisão do proletariado.
a fraqueza dos monopólios tranceses com relação a seus concorrentes A explicação do mistério dessas contradições é a seguinte: elas tèm
americanos; mas seria preciso ser cego para nao tais uma realidade efetiva, uma objetividade, mas essa realidade efetiva de
ver em
monopolios
o estabelecimento desse grande mercado; eles tem interesse em se livrar modo algum independe da politica do movimento comunista internacio-
de uma
agricultura cara valor da força de trabalho e
que aumenta o nal, que é ela mesma uma realidade objetiva! Encontramos de novo aqui
impede uma divisão internacional do trabalho de cunho mais racional o mesmO mecanismo subjacente à instalação das estruturas do capitalismo
na
produção agrícola. Só
partir de 1958, o Estado francês busca se des-
a
monopoista de Estado: o movimento comunista, integrando-se de fato
fazer desse tardo, a0 sistema estruturado das instituições capitalistas, desenvolve uma poliaca
que por outro lado leva a um êxodo rural acelerado a
partir dos anos 1950. Mas a
burguesia já não tem capacidade histórica, que parte integrante da "realidade objetiva" desse
e sistema; depo1s disso,
a
integração ao mercado mundial veio tarde demais
para desobriga-la mudando de posição, o movimento comunista pretende
tazer a analise
de firmar contr1buiu, com
penosos compromissos com o campesinato e o teorica dessa realidade objetiva esquecendo-se de que
proletariaao,
compromissos a cuja necessidade devem se submeter outros u e n c l a de maneira absolutamente decisiva, para sua exIstencia. to
paises, como realidade
a
Alemanha, que no entanto éé mais orientada comunista que criou, inconscientemente, essa
o para mercado mundial. OVnento
142 Psicanálsee de esqurrda 143
consciencia teorica esqueceu-se por comni
Tasvetalida Ax
nomr
teses
da
Oposg

evplorados e dominados. A noção de subdesevolvimento


objetiva, mas sua
eto disso e,
compreende-la. O sistema das in m2s o .e visto recusar-se a ver a ligação organica entre o atraso de
portanto, não consegue instituuiçoes do é insuticiente.

funciona como uma linguacn. considerar


avanço de outros,
asSim comO se recus2
modo de produção capital1sta em, e o s
certos paises
e o
a o

40 anos
vez que renunciou há 40 mo- do Terceiro Mundo na totalidade
vimento comunista, uma anos a
situar-s dos paises
organica da divisão
ao conjunto do Sistema, constitui doc1 em åmbito do capitalista. O
ruptura com respeito esde então um lugar
nternacional do trabalho no sistema essencial
elemento objetivo das regras de funcionamento dese sistens um
ema. é. com eteito:

Daises do Terceiro Mundo tém uma economia detormada


damos
E precisonotar que a importancia que ao Estad.
stado, àpolítica a) que
os

das organizações comunistas etc. na propria explicitação das plicitaçao das estruturas capitais
são
investidos em esferas de produção determinadas pelos
(os
objetivas do capitalis1mo propoe porsi
mesma a questão do
gra dos paises industrializados);
lidade do nível institucional, do níivel da superestrutura e de suas rel Te2-
monopólios

aue a troca desigual de mercadorias e


capitais é analisada como

com a estrutura economica na conceptualizaçao marxista,. O hei expropriação


da mais-valia produzida nesses paises em
blema
constituiu um verdadeiro dilem
uma
1orme

da realidade das superestruturas sempre do capital


internacional.

proveito
para os teóricos marxistas,
incessantemente idos entre
divididos entre uma um
resulta que so uma estera de produção restriti é inserida no
soluçào Disso
de tipo hegeliano (a superestrutura ea materializaço da
consciencis de undial de reprodução do capital;todo o resto da imensa massa
processo

clase) e uma solução mecanicista (a superestrutura é um refilexo uro da noOs do Terceiro Mundo está submetido a relações de produção pré-
estrutura economica). Alguns pensam resolver a contradição declarand Por outro lado, os Estados do Tercero Mundo o
larando Capitalistas, teudais.
que uma e outra são igualmente reais, mas caracterizando a suneror. controlados pelo capitalismo
internacional. que por isso bloqueia toda
estru-
tura como "real-ideal" e a estrutura como real-material"; estes prowam ao solditicar as estruturas arcaicas, ao
nossibilidade de desenvolvimento

apenas que só superaram a contradiçao de modo imaginário. Repetir com as antigas Castas dirigentes. que ele enche de
firmar compromissos
mil vezes que o Estado e a superestrutura têm uma "realidade obieti" pOsiçao. sua IssO nos leva a examinar as teses do
dólares para consolidar
que possuem "eficácia própria e sucesSivamente, não faz avançar um Comunista Chines. Sua reat1rmação, em termos de principio, da
Partido
c o n 0 motor da derrubada do impe
único passo na solução do problema, pois se esqueceu de propor esse necessidade das lutas revolucionarias
retormistas
problema corretamente, isto é, na relação entre a realidade objetiva ea rialismo constitui um importante questionamento das teor1s

realidade subjetiva das organizações do proletariado. O que equivale a dos dirigentes sovieticos, que abandonarain
a perspectuva de revolução
chineses
dizer que todas as análises que desenvolvemos indicam enfaticamente o internacional. Na real1dade, porem, oposição dos
a comunistas

de não se baseis numa anilise


problema que o marxismo revolucionário deve a qualquer preço resolver a politica de Kruschev e seus sucessores

tanto no niível da teoria como no da práxis, se quiser ir de fato além da marxista; ela surgu da constataçào empirica da ausencia. ni atualidade.
idealismo de lutas revolucionárias tora das regioes margnus do unperial1sino. Essi
alternativa entre o materialismo vulgar e o hegeliano, ou seja.
ecleaca
pseudoteorização de um estado de tato coexiste de maneira
co1
o problema do sujeito.
numa pureza sobretudo
a manutençao de prncipios narxist.as-lemnistas,

todas,
Tese 4: O Terceiro Mundo verbal. O PCC parece ter tomado sua posição, de uma vez por
devido ao tato de nào poder manter a expectativa de
haver nos paises
aux1liares das
A incapacidade do capitalismo no sentido de suprimir as estruturas capitalistas lutas de classes que sejam mais do que toras
é lutas anti-imperialistas da chanmada zona das tennpestades.
pré-capitalistas fHagrante no Terceiro Mundo. O que caracteriza este nio tormulam
ulimo não è Em consequencia, o PCC a corrente pro-chinesa
que os países que o compõem sejam subdesenvolv1do
144 145
Psicanálise eTransvers da
Oposigao
de
esoquerda

estratégia inters. alidade


nenhuma critica teórica nem propoem alguma A
nore
feses

aacional" como tambem aos que estão sob a direção


revolucionária e, embora de maneira diferente dos
volvem
soviéticobs racioml de " d e n o c r a c i a

o
anuInista: os exemplos da China e de Cuba ilustram os
relações desen
partido

suas internacionais segundo as


regras e
modos i de
um

tentativas
mais relevantes quanto a iss
rel
imperialisno (exenmplo: a aliança diplomática m
com De Gaulle
das
partido : ético tem em comum a
superesti-
Gaulle). Olhada e o
imites

chinés
mais de perto, a politica do PC chinës não difere partido

ifere fundamens.
fundamentalmente O
alcance
das
lutas pequeno-burguesas no tocante a

da politica da União do
Soviética. Também tem como obieti.
ela ação
1. Sua
.kria ofensina diante do Estado burguës: è infelizmente in-
talizar e monetizar, por ocasiao de uma capi- Unidos podem recuperar
negoc1ação com om as
as nos?
potëncias as Estados
s c u t i v e lq u e o s
sua inftuéncia nas

imperialistas, anmatéria viva constituida pelas lutas revolucio rias das d s c

regióes que o
nsideram nevralgicas. Quand0 1S5O se mostra impossível,
populaçoes famintas do globo. a mascara de coexistencia pacífica e impõem
os Estados U
I nidos nidos lançam
A medida que o movimento comunista
internacional custo.

maioria das lutas de emancipaçao se desenvolver sob a deixou a Sua


soluçao
a qualquer

dos objetivos pequeno-burgueses das lutas do


direcão alinhanento em
tormd

vimentos de libertação mo- 2.0

tese da união de todas as camadas


pequeno-burgueses,
nao
surpreende voltar .

oletariado:
trata-se
da antimonopolistas.
o
surgimento de toda uma serie de
particularismos, a sobrevivenei é contra seu imigo real -

os
burgueses no poder em
dai, não
taras coloniais na forma de falsas questoes nacionais, de A partir entam as lutas da classe operåria -, mas contra o que
que entravaus orient

pais, que
possibilidades de superação dos quadros institucionais estabelecidos nhol. as cada
sar de um bolo tanto para os sOvieticos comob para
imperialistas, dificultando ainda mais estabelecimento de uma frens.
o
elos tende a na0

dos opólios. Como se os Estados Unidos, no


o poder
de lutas das torno de
ente os
chineses:
massas em
objetivos revolucionários. exemplo, não agissem em nome e no lugar do conjunto do
Ao Vietna, por
justificar o caráter nacional das Iutas, ao teorizar a
necessidada internaciona
Hoje, o Partido Comunista Francés dá aval
para esses Estados, de ade, italismo
uma etapa intermediaria, dita de
"democrac externa de De Gaulle, a pretexto de que esta permiti1ria tazer
nacional, etapa que constitui na verdade um abandono à politica
voluntário de avançar em
favor.da paz. Como se De Gaulle não agisse como
toda perspectiva de luta de classes, os comunistas chineses ascolsas
não diferem
Gutil defensor dos americanos: Os imperialistas sabem repartir seus papéis!
quanto a isso dos soviéticos. Basta comparar, por exemplo, a atitude da não seria a unica maneira de lutar eficazmente contra a
Não obstante,
PC indonésio de obediencia prô-chinesa, com
aquela, absolutamente ouerra do Vietn, para a classe operaria, retorçar em todo lugar e por
semelhante, de obediencia aos sovieticos pelo PC mdiano; e dos Estados
que se todos os meios seu combate contra cada um burgueses, sem
constate1, nos dois paises, os
magnificos resultados de atastar
sua
política de se deter nas contradiçðes que os podem temporariamente do
colaboração de classes! Para os comunistas chineses, a definição das lutas mperialisnmo americano!
da zona das tempestades como motor da luta de classes em escala inter- Os chineses e os soviéticos escanmoteiam a dificuldade de derrubada
nacional é um álibi para não torna-las revolucionarias. Eles se servem dos bastioes do capitahsmo pelo proletariado revolucionário. E mais do
delas sem fazer a crítica politica de seu carâter espontâneo; vemos aqui o que em sua teoria, no nivel de sua pråtica oportunista, em sua detesa
mesmo mecanisno de realismo e de objetivismo antidialético presente de reivindicações marginas e por vezes reacionárias, que os lideres do
em sua análise da situação da classe operária nos paises capitalistas. A movimento comunista demonstraram ter renunciado a elaborar unma
huta de classes se caracteriza por sua universalidade. O movimento comunista estratégia revolucionária em escala internacional. Eles só se deixam
deve afastar-se das lutas de caráter nacional nos paises subdesenvolvidos, guar pelo tempo, pelas
circunstâncias, pelas divisòes imperialistas, pela
ainda mais que nenhum modelo socialista viável é suscetível de neles se eventualidade de uma guerra mundial. Essa passividade diante do estado
estabelecer. Isso se aplica não apenas aos países dirigidos por uma coalizio de fato, o statu
quo, diante da inelutabilidade dos inmpasses históricos,
146 147
icanál1se eTranversalidade da Oposi ao
de
esquerda

constitui um abandono dos próprios fundamentos da teoria Ac


nose
teses

orient -se, ao menos da boca para fora, rumo


determinante,
e
da prática
marxistas-leninistas. A superestimaço da capacidade dos um
papel cional e regional, concebam a integração das

pequeno-burgueses
socialistas tende
de real1zar satistatoriamente
ter como conclusão lógica a
tarefas demoe vimentos a u mp l a n e j a m e n t o

cionais
onomias nacio
e regionais em grandes mercados internacionais,
paises subdesenvolvidos e
a
liquidação do .Cas e
nlanos
mundiais de sustentaçao dos
comunista tal
(por exemplo, o esmagamento do PC Soviética e seus aliados atenuam
iraas ento
como União
discut.

p o rdiante.Do outro lado, a

a
supressão dos PCs
egipcio e argelino pelos proprios
comunistac Ou assin
ie planejamento
n o s e n t i d o da descentralização, voltando

Se é exato que se pode situar a origem do


conflito sino-s stas). seus sistemas

érios das economias de mercado, à rentabilidade


ogressivamente aos critér.
no esfacelamento da
oposiçao entre estrategias internacionais de prog
lucro c o m o m e i o de incentivo individual e coletivo
dos investimento nentos, ao
provas de força não especificadas de um ponto de vista sovieticos parecem resignados
de classe anrodução etc. Os dir1gentes
reconstituição de uma vanguarda comunista internacional poder: só a umentar

lor da proprie
vallor privada e a aceitar a volta do camn-
o

uma.per
mitir superar contradiçoes a partr de u n a teoria e de
essas
reconhecer

a
rmas
individuais, se não ancestrais, de produção.
revolucionárias que tanto evitem que as utas setoriais caiam práxis pesinato
As contradições interssoCialistas não pararam de se aprofundar. Já
automa.
camente no nati-
particularisnmo como ofereçaim as massas oprimidas obieri. no plano economico, pano de fundo sobre o

e perspectivas inão etivos 1959,constituiam,


recuperaveis pelo inimigo de classe. em

afastamento iugoslavi inaugurou uma crise em cadeia no mo-


o
qual
comunista
i n t e r n a c iional,
s crise cujos efeitos ainda se fazem
Tese 5: Os Estados socialistas yimento
populares. As divergencias Sino-sovieticas foram
sentlotir nas democracias
com Stalin a respeito
económicas: encarniçadas negociaçoes
O Estado soviético não poderia servir meenos de modelo de inicio
e de o estradas de terro, do Sinkiang assim
Manchúria, do traçado das
e
ao movimento comunista internacional, dado que está ele gua da
mesmo nre reso nor diante. Depois da morte de stalin, negociou-se um compromisso
ao jogocontradições politicas economicas impostas em escala in-
das e
deveria trazer uma substancial ajuda economica, mas tudo voltou
que
ternacional pelo modo de produção capitalista.
da grande crise do movimento comunista em
à estaca zero quando
A incapacidade dos Estados socialistas de se orientar no
da construção de uma sociedade sem classes não
caminho 1956. As divergências seguiram, particularmente plano econômico, no

depende só da carência um rumo escandaloso,


com a retirada maciça de técnicos soviéticos, a
ideológica de sua direção nem do modo de relação burocrático entre o
interrupção de planos de desenvolvimento industrial etc. E assim que o
aparelho do poder e massas populares. A economia socialista
as
se de- povo chines pagou um pesado preço pelas divergencias ideológicas que
senvolveu em larga medida em função dos dados do mercado mundial
jamais poderiam ter ocorrido nesse plano se houvesse um verdadeiro
e em torno de objetivos semelhantes aos da economia
capitalista. Os internacionalismo proletário.
antagonismos sociais que persistem nos países socialistas são assim o
De modo geral, as relações econômicas entre a União Soviética e
reflexo indireto das contradições existentes entre as distintos tipos de seus aliados sempre seguiram o modelo das relações internacionais do
sociedades industriais. A ideologia
tição economica -
da coexistência pacífica
palavra de ordem kruscheviniana já formulada por
e da compe capitalismo mundial, sendo regidas pela "lei do mais forte,a mesma quue
presicdiu o desenvolvimento do capitalismo a partir do século XIX. As
faz mais que exprimir essa aceitação da hegemonia do modo
Stalin-não trocas económicas sempre tiveram por base os
principios do mercado
de produção capitalista. Com efeito, certa simetria afeta a evolução das internacional, e com
frequència envolvendo taxas mais destavoraveis para
sociedades industriais capitalistas e socialistas. De um lado, o capitalismo as economias
dependentes. No
periodo estalinista, houve a exploração
e a livre empresa são levados a fazer que o capital e o Estado assumam SIsteimatica das dernocracias populares. A História contemporanea da -
148 149
esquerda
Psicanalise eTransversa da
posiçäo
de

Alemanha Oriental, da Hungria etc. SeTia Tsalidade A


none
teses
permanentes da
n t e s da sociedade sovietica em todos os domínios. E
incompreensivel c volução historica da União Sovietica não
remetèssemos a esa atitude da Uniao SOvietica. O resultado. não as cunento
d evol
fez a partir se

em sido a que
nroblemas nem dificuldades internos! Não obstante.
recuperação maciça de arcaismos religiosos, retorno nacic o
ao
rdade problemas
nem

inismosem não fez


passividade das massas operarias campesinas, uma legitima dec. smo,a
e
to descrito por Trotsk
descrite
surgir as alternativas
doest Inacabado

ça com socialismo, uma incinaçao a se deixar


relação ao processo isso outros aspectos das descriçöes de Trotski
sedti. o eeleprevira.Ne
Nem por
realizaçòese modos de vida dos países capitalistas.. pelas lncomiparaveis
ins entos para interpretar as contradi-
ser
de
Consideremos, por exemplo, a crise croica da deixam soviética do desenvolvimento de sua atual
economia apri. da
öes internas da
economia

União Soviética.A sorte dos trabalhadores agricolas não foi det ola da de reforma em curso; notadamente quando Trotsk
nos termos das normas socialistas de seguir o
princípio a
determininada
cada
dos projetos
a Oposição
entre o
problema da qualidade e da criatividade.
semelhantes aos da eco. 4ndo
desenvolve

seu traballho, mas de acordo com metodos os imperativos de uma burocracia e de um Estado
tecnicasouculturais, e
capitalista: a cada um
segundo seu capital, ou a cada U1 1oma
1do stua situação
segundo dúvida,não querem"morrer".
Sua sie
que,sem
inicial. Dessa forma, há consideraveis diferenças, que estão se as analises de lrotski nos
parecem irre-
agras cma medida em que
entre as
empresas do Estado (sovkhozes) mais favorecidas e as coc wando, futáves no Dlano
110 plano
economicO, as consequencias politicas e sociais que ele
(kolkhozes), e, de outro lado, entre os kolkhozes ricos e os kolkhoze
zes p delas nos parecem
máticas. A burocracia não toi vencida.
problem:
deduz
bres. O resultado é conhecido: produção insuficiente, uma particin se integraram especie de sociedade politica de
a uma
rrahalhadores
cada vez maior das parcelas 1ndividuais para a levados a um impasse que os fizesse rebelar-se
alimentação de cidad. mpromissoe não foram
es
importação de cereais e assinm por diante. Outro resultado é o desestiuul.
comp

stímulo nuassa para realizar a tamosa revolução politica. A burocracia conse-

eo desgosto que atingem grande parte da população soviética, aue i udar progressivamente a natureza de sua inserção na sociedade.
,a0
em que desaprova esse
mesmo tempo reginme, provavelmente condena. mediante o abandono por etapas do sistema de ditadura estalinista. para
própria ideologia comunista.
nassar a um regime em que a tecnocracta e a
ideologia econòmica ten-
Deverenmos concluir a
partir de sua evoluçao atual que aparelho burocracia do
ideologia doutrinária dos
a União dem a substituir a e a

Soviética está prestes a voltar ao capitalismo, como o pretendem os co- epigonos do marxismo. Uma caracteristica fundamental não deixa de
munistas chineses e certos teoricos burgueses: Esse problema já foi hi continuar a ser que, n0 conjunto, quaisquer que sejam as orientaçðes e
muito tempo proposto por Leon Trotski nas admiráveis páginas de d as mudanças, as massas ja nao avançam. Se não seguiram a via trotskysta
revolução traída (1936). Para ele, a União Sovietica estava envolvida num da revolução politica, nem por isso responderam aos apelos liricos dos
processo itnacabado. Caso a classe operaria russa, apoiada por uma classe kruschevinianos: dedicar toda a energia à edificação do Estado de todo o
operária internacional, não conseguisse eliminar do poder a burocracia
povo. Por outro lado, burocracia não manitesta intenção alguma de
a
pra
termidoriana, esta acabaria por se constituir em classe social. De 1925 ticar haraquiri, desenvolvendo em vez disso sua ideologia conservadora:
o

a 1940, data de seu assassinato, Trotski não parou de defender a ideia de defesa do status quo nos planos nacional e internacional, renuncia a toda
que na União Soviética nada chegava a seu termo. Ele a definia como um análise em
função das lutas de classes, reabilitação de mitos pacitistas, do
"Estado proletário" em que o poder político escapara à classe operária, moralisimo pequeno-burguès, desinteresse prático pelas lutas revolucio-
o que implicava da parte desta uma luta encarniçada em favor de uma narias que se desenvolvem mundo
assim por diante. Nada perute
no e

revolução política". Mas considerava burocracia não se revelara contudo pensar ela
que a
que restabeleça o capitalisno no sentido em que
forte o bastante para liquidar as bases do Estado proletário. Toda a sua arx o detiniu: ela
parece capaz de adaptar-se às relaçòes de produçao
análise se apoiava no prognóstico de uma instabilidade e de um cres- atuais e delas se
aproveitar o melhor posSIV'el.
151
150
faixas salariais, de
csqucr

nálise eITansversaliad, Opoufio


de

Os dirigentes soviéticos da de integração das


pensam agora numa
descentralizae T
teses

funç ção
determinante

em uma palavra,
deres de decisão economica.Vai essa 4s
arcaicas,
reforma constituir un ao dos po- outn
lado,
umna

adas burguesas
nas escalas
nacional e
e será ela realizada em favor dos
utro

sso adiante, manutençãodas do capitalismo


trabalhadores? Ë pouco do conjunto de coex União
co coexistencia pacífica da
as reformas que seguem o rumo de uma
atenuação do plana:prová amas relativa
d eregulação r el

parte, a
p o l iítica
tica

Desua economico, sua integração


que lhes são impostas pelas contradiçoes nas internacional
nacional. no plano
quais estão to,e correlativo,
a crise
significam necessariamente os primeiros passos de uma parali.ralisados nàoi
volta
Sovietnca t e m
como

acentuada
tem

ao
mercado
mundial. Por exemplo,

de que ne-
lismo. A condenação pelos comunistas a0 capita-
a.

"alivia", graças as importações


chineses da atu:
tual orientação cada
mais

Soviética
"tensão
economistas soviéticos, que preconizam o da
União
Estados Unidos, e a própria
crônica dos
de estabelecimento de. dos
rentabilidade das empresas, critrios semelhantes
nrodução
cessita, a superproduçãc
gricola

"programar" de
pitalista, permanece dogmatica corre no final risco econo
aos da critérios no
sentido essa simetria,
des. ao

seu alvo. Pensando do


e
de perder o conomia ca-
d.
nternacional/
I"
caminha

nlementar
o setor
industrial piloto, que
constitui para a

fuzis,
de armamentos:
ängulo de uma descriçao tormal dos e vista maneira c o m
Unidos a produção
econômicos, dos mecanismos
mecani e os
Estados

pode-se
admitir a necessidade de todo
sistema de. um
Uniio.
Sovietica

bombas atomicas e t c .
de investimentos, é fazer cessar a
previsóes em materia de rentabilidade etc. Esse. da vanguarda
revolucionária

próprias exigencias e sua propria logica, que Esse sistema


primordia
teria suas A tareta
movimento comunista
vem sofrendo
considerm que o
deraçdes
permanente

ideológicas, quaisquer que sejam elas, nao poderiams omutilação de "defesa do primeiro
substituir.E,
estalinista
a política
quando vem po lhe foi imposta
a se
esquecer de que o valor não passa de desde que
dos interesses superiores do 'campo do
social cristalizado, e de que os preços, a moeda, a hus trabalho
mano e
socialista".
Em nome

rentabilidade
Estado
a cumplicidade do movimento operário social-
do
sOcialismo e da paz",
com

anal1se senao a separaçao entre os produtorescapital


Can:
não traduzem em última instauraram-se no mundo inteiro
comunista-burocratico,

meios de res e os democratae


produção, que
os economistas Ovieticos tavorecem desenvolveu um processo permanente de
mecanismos do tipo vigente na produçao capital1sta de persistèneica
a de classe e se
de compromissos

mercadorins do capitalism0. Disso seaproveitaram os burocratas


na qual, mediante o sistema monetario e as Pforco de estruturas
engrenagens econômicae controle
reforçar
seu sobre os Estados operårios. Os teóricos sovié-
o trabalho social fica à nara
dispos1çao de uma categoria social minoritáris "degenerescência do Estado"
indet1nidamente a necessåria
nicos adiaram
que o utiliza de acordo com seus proprios criterios e
instituições. Nas em proveito do
mito retormista do "Estado de todo o povo"; seu agir é
sociedades industr11ais ocidentais, e um poder de
compromisso entre o sipetrico ao dos modernistas ocidentais que pretendem que o capita-
capitalismo de Estado, os oligopólios burguesia; no sistema soviético,
e a
lsmo desemboque numa expropriaço das burguesias e na instauração
é o de categorias sOCiais burocraticas estruturadas de maneira
original e de uma sociedade neossocialista. Uns e outros "economizam" em seus
que desempenham uma função de "regulação", em seu
próprio proveito, uemas a necessidade de um controle político direto do poder pelos
do processo de produço, circulaçãoe distribuição.
trabalhadores. Eles contornam a dificuldade em nome do realismo, do
Se não é sustentável identificar globalmente as estruturas sociais
mito do amadurecimento da classe
dos
operária, da salvaguarda da paz etc.,
paises social1stas das
potëncias capital1stas, parece pelo contrário
e as
atitude qual
traduzem bem
na fato de terem
interessante constatar a existëncia de certa simetria nas respostas que uns
o
rompido com a análise
marxista das lutas de classes.
e outros dão aos problemas econômicos mundiais. A atual evolução da So a
estruturação da luta de classes em escala internacional
União Soviética encontra de alguma maneira sua contraparte no fato poder
suprimir a base de toda
política de Estado. Essa estruturação só
de que o Estado, nas sociedades capitalistas, já não cumpre da mesmia Ocorrer de uma
pode
maneira realmente
maneira sua função de instrumento da ditadura da burguesia e tem, por tas
antagônica às relações monopolis-
internacionais e que tenda a sua Isso supressão. pressupoe suprimir
152 Psicanális eTransversahdad esqucrda

da
(Oposiça0
de
153
sociedades dade As n o v r tt e s e s
as
politicas que são o
suporte dessas relações noos nara ssalvar
alvar u m
uma burguesia completamente
níveis de sua
diverso 2ssim para desamparada
diferenciaço: nas
metropoles imperialistas, nos tribuindo nde crise. E precisO estabelecer a ligação entre, de um lado.
diante dagrande
subdesenvolvidos, bem como nos Estados socialistas pai
burocriase rente Popular restituir o poder a burguesia, e, do outro, o
Frente
a
desenvolvimento do primeiro estagio do modo de produção socit o
fato
de
desenvolvimento das estruturas do capitalismo monopolista de Estado. O
traz agora, na escala internacionai, a questao da passagem
revolucion. foi essencialmente
movimento comunista. Esse o

a seu segundo estágio pelo proletariado internacional, o


que
cionária
press
ente desse processo

nismo volta agir quando Libertação. A burguesia, que


a da

que movimento revolucionario reavalie sua coesão


o mesm

e sua
finalidade falencia 1940 perde poder
em
o em 1944, é desconsiderada
por
fundamental, que é levar a luta de Classes a Seu termo, a saber, derras. pedira
Partido Comunista, única força politica implantada
destruir os instrumentos do domii0 de classe que rubar e colaboração,
e o

constituem os sua
devolver-Ihe o poder, depois de ter aperfeiçoado
e suprimir as próprias classes. Estados no pais,
apressa-se
em

rumentos. As estruturas do capitalismo monopolista de Estado


Seus

avançamtanto que ixam para trás, mediante certas


realizações suas
Tese 6: O Estado e o modernismo na
França outros prOCessos do mesm tipo em outros paises capitalistas. Setores-

haves da indústria, dos transportes das comunicações, bem do e como


A politica das organizações do movimento operário francês h dito, são nacionalizados. Mais da metade dos investimentos são finan-
COn
tribuiu de maneira decisiva para a i1stalaçao aas atuais
estruturas do das com fiundos públicos. Por fim, criam-se as estruturas do Plano,
ciados
capitalismo monopolista de Estado; ela permitiu à economia firances origem a coordenar os setores de base.
destinadas na

recuperar o atraso que vinha acumulando há décadas. Durante 150: Se as estruturas instauradas ou apO1adas pelo movimento operário
anos,
a burguesia francesa poder firmando alianças com a pe-
manteve-se no
quando da Libertação e utilizadas pela burguesia permitiram que esta
quena-burguesia e com o campesinato, justificando por meio disso um crise politica e economica muito
superasse parcialmente uma grave, em
protecionismo que difere da livre-troca da burguesia inglesa. Em
matéria contrapartida às disparidades, os desequilibrios constituem a principal
de investimentos, a politica da burguesia envolveu um atraso dos investi característica dos resultados obtidos.A agricultura francesa não consegue
mentos industriais a partir do fim do século XIX. No há dúvida de que
superar as estruturas arcaicas, os desequilibrios regionais se acentuam.
os capitais são abundantes, mas os investinmentos se fazem, sobretudo, em
as zonas abandonadas pelo capital privado conhecem um aumento da
fundos do Estado e de modo algum em valores industriais. Alénm disso, miséria; e, por tum, o capital1smo de Estado nào conseue satistazer as
grande parte dos capitais é colocada em fundos estrangeiros.Além do fato de necessidades sociais que, por sua própria natureza, não se podem exprimir
tres quartos desse capital colocado no exterior terem sido anulados pela como demanda solucionável no mercado, o que implicaria uma
completa
Primeira Guerra Mundial, essa saida de capitais provocou uma grande rendação das instituições: habitação, formação protissional e técnica.
redução dos investimentos na França. intra-estruturas sanitárias, urbanismo etc.
Durante a guerra, a intervenção do Estado (controle do comércio O papel específico do Estado no dese volvimento economico da
exterior e das trocas, acordos com os industriais para a repartiç o de rança emvolveu uma diferenciação particular de ideologias economicas.
matérias-primas, aunnento da dívida pública) constitui unma primeira Tres delas foram:
organização de capitalismo monopolista de Estado na direção de una
liquidação do atraso. Contudo, é a poder da Frente Popular
ascensão ao

dando à burguesia a sustentação do proletariado, que vai permitir o


desencadeamento de uma intervenção mais aprofundada do Estado, con" V e l altusio ao Plano M o n e t . d e recuperação da economia tranvesa no Pós-Guerta. N.
154
Psicanalise eTransversalidade da
'pOsiçao
de
csqucrda

155
Na extrema-direita. persiste uma
ideologia A
teses

tradicionalista_I
ionalaisliberdade
ta-burguesa.dos
Dove
familiar agricola e dos pequenos Comerciantes é uma linha
Trata-se do liberalismo do século XIX, que
coniza
preco
do PC a partir de 1936.
mecanismos economicos e financeiros, O retorno ao constante la burguesia, o modernismo é a ideologia que exprime a
funçãoadrão-ouro no
padrão- lado da l
plano internacional,ajuste o
juros em das taxas de
da
Do
io capitalismo monopolista de Estado e a integração do prole-
demanda, e não em função de decisões arbitrárias do
Estado e da acetaç.
1uras desse último. O mito do Estado, do serviço público.
estatismo é nuançado por intervencionisinmo moderado, o que s ln- ariado as est

a e assim por diante està de maos dadas com o mito da


do interesse geral
ponto até o
qual o liberalisimo economico absoluto não
não faz pertencem a um mesmo todo: a
sentido
sens todas as classe nação.
atuais estruturas. nas ião de
adernistmo, sob diversas formas, penetra profundamernte nas
O modernismo, que vai do gaullismo ao PSU Mas o

(Partido S operária. Se pode ser considerada a extrema-direita do


Unificado), abrangendo uma parte da sFIO (Seção Francesa da Socialista Lairas da classe
odernismo, a ideol tecnocr
crática pura marca a esquerda com toda
cional Operária) os cristãos de esquerda, e partidàrio, em
e
InteTna-
primeiro Os tecnocratas de esquerda falam da necessidade
série de nuanças.
da modificação das estruturas do
capitalisimo em funçã da evolucãolugat, uma
mas destacam mais
forças produtivas, e, em segundo, da intervençao do Estado para das e confiaropoder as
competencias a "participa-
"diálogo", a "conciliaçao, o compromisso, isto é, a solução
modifc.
car ção", o diá
esas estruturas, resolver as crises econômicas etc.
nflitos com o
acifica dos confli proletariado. O modernismo recusa todo
Uma terceira ideologia passa principalmente
pelo PC e por u. internacionalismo
concreto, ao mesmo tempo em que aceita as estrururas
na
parte da SFIO, sendo uma espécie de tradicionalismo econômico
da sociedade política burguesa, impele o proletariado a se constituir no
esquerda. Essa ideologia continua a esperar, sem nisso crer de fato.de de pressao 1ntegrado ao sistema e
advento iminente de u 1 a crise economica catastrofica; ela Ambito desta como grupo propõe uma

considera do Estado no interior das relações de produção


escandalosa a concentração e a centralizaçao, e assume a defesa intervenção "progressista
as formas arcaicas da economia francesa.
de todas
odas Capitalistas. Logo, no fundo, o modernismo do PSU não se diferencia de
Nossa apreciaço
unaneira fundamental do modernismo dos altos funcionários e de certos
pode parecer 1ncompativel com o fato de ser patronos da "vanguarda".
o Partido Comunista que contribuiu para estabelecer as grandes
estruturas Os modernistas lançaram o tema da tnova classe operária, que não lutaria
do capitalismo de Estado em 1936 e 1945! Convém
lembrar aqui tanto em nome dos mesmos objetivos que a classe operária tradicional.
fatos históricos esquecidos, ou seja, de que, ao mesmo orientando-se menos para as negociações salariais e mais para os múliplos
tempo em
que instaurava essas estruturas, o PCF sempre se
estorçava por frear aspectos do processo de trabalho e do processo de produção. Essa seria
o alcance delas ao trazer para o
primeiro plano a necessidade politica a classe operária da época da *"sociedade de consumo". E incontestável
de uma aliança com a
pequena-burguesia comerciante e agrícola. Ele que a classe
operária se transformou, mas a formulaço ideológica dessas
Justificava assim sua recusa de aplicar o programa de nacionalizações transtormações pelos modernistas tende a torná-la um novo mito que na
proposto por uma ala da Frente Popular, progranma que terminou reaidade retorça a alienação, dado que não existe una classe operaria moderna
por se reduzir a reivindicações imediatas. São mais conhecidas as e uma classe operária tradicional; há apenas uma classe operária no seio da
reticèncias do Partido Comunista em 1945. Contudo, o programa qual é funecionários, os empregados e os assalariados
preciso integrar os
de nacionalizações proposto pelo modernista Mendés-France ao agricolas. E nessa unidade real que o movinento revolucionario deve
governo provisório em que figuravam os comunistas, sofreu ataques apoiar-se, sem buscar väs alianças com uma pequena-burguesia mori-
desses últimos. Mais tarde, Thorez e Mollet oporiam-se às reformas bunda. Isso não impede que o mito da nova clase operaria permaneça
dos circuitos de de defesa da pro- Operaçao e exprima a inpossibilidade atual de uma real uniticaç :
distribuiço. Vemos que a política
156 157
sicanálisee IransveTalidade
esquer
de
posição

da
teses
a
impotência dos sindicatos em gerar palavras de
ordem ui A
nove
7:A
s o c i e d a d e
política

em
propor u m a imagem na qual o
como totalidade. No movimento sindical, os
modernistas
prolectariado possa rer
fal..
ificadoras
cer-s
Tese

oder dos monopólios?


O gaullismo surge no mo-

m destazZerem o s m e i o s de s e u domínio
e
E o g a u l l i s n

inserção possivel nos "centros de decisão", de "brechas uma que


a
aburguesia v e se

se.máq a
em
uação revolucionaria que Ihe ameaça a
capitalista e assim por diante. Mas o limite fundamental de
nto

representa a tentativa de instaurar u m a


re
estratégia é a aceitação do quadro preestabelecido do Estado
p o l i t i

de
c l a s s e . O O
gaullismo
gaullSmo
e
da existência tipo de dominio político; o que há de
Convé permanecer desconfiado em
relação a tal
gênero de
nacão de Estado, um
novo

cações transitórias"; de "reivind


qualqucr maneira, seu programa só poderi. nOva
forma

nele e o
fato de ter tido sucesso em firmar uma série de
eTia Ser inesperado resultados nao podem ser identificados
elaborado pelos próprios interessados, partir de modos a ucessivos cujos
de ompromissos su

mais estreitamente ligados realidade da clasSea organização


operaria, no seio dan. ilo nplesmente
com uma
tica revolucionária do ponto de vista
politio
e 1944 como em 1958,foi apenas graças
que chamaremos de "unidades subjetivas que dialogam de
pura
que, tanto em

um r
verdade
E
Tamo burgues. no ambito de uma estratégia
industrial para outro. Sem a
reestruturaçao da classe
indireto do
movimento operario,
operaria por si
esma, mes ao apoid De a u l l e teve condições de tentar esta-
o
que implica u m a concepção totalmente distinta da neosstalinista, que
relação sindic. estalinista
ou

dos írculos nos quais estavanm encerradas


partido como "correia de transmissão essas reivindicaçoes transitórias semelhante quadratura
correm o risco de ser esvaziadas de todo conteudo
belecer
da burguesia. E abusivo definir o gaullismo como
revolucionário e de Js
diferentes
facçõDe
os monopólios, com ou
se tornar a
justificativa do mais rasteiro reformismo. SiImplesinente porque
a poder dos monpolios,
de deter por si mesmos o poder. Não há, por
Proponmos aqui nada menos que uma i1nova formulação dos se De Gaulle, não têm condiçoes
de base do marxismo-leninisimo, 1Sto e, dados coerente.
de que nao basta a força social
que classe a trás do gaullismo,
operária disponlha de um partidoe de sindicatos revolucionários, sendo do gaullismo formação de
consiste em aspirar a uma
A estratéégia
decisivo que se possa estruturar em quadros a Nova Repüblica), às o u t r a s formações
organizacionais adaptados no direita, a UNR (União para
nível enm que ela se encontra: coimites, soVietes etc.,
por meio dos quais do tipo Independentes o u MRP (Movimento Republicano Popular),
PC qual é oferecida
poderá exprimir seus desejos profundos, que, por outro lado, propiciario a criar um polo de agrupamento oposto
ao ao

de mordomo da opo-
possibilidade de s e "elevar" condição
às à
organizações de vanguarda o meio adequado de avaliação da combativi- assim a

dade dos diversos setores, de s e u nível de consciencia, de sua como uma verdadeira federação
sição. A UNR busca constituir-se
compreensão descentralizado à americana, não à
de palavras de ordem avançadas etc. Esse tipo de de currais eleitorais, um partido
organização "na situação
nivel central, entre
concreta" constitui igualmente u m antidoto indispensável para as
tentações inglesa. Os compromissos não såo tirmados no

de manipulação dos aparelhos burocráticos e dos estados-maiores politicos, 1nmas nos niveis regionais, municipais,
dirigentes n o movimento os

operário. Num período pré-revolucionário, semelhante rede de comits de possa por isso dizer que
se a UNR seja o representante
sem que
base, nas fäbricas, nos bairros, a juventude, o exército, constitui um enmbrião exclusivo de alguma burguesia local.

de um duplo poder, desenvolvendo uma espéeie de legalidade proletária Os limites do gaullis1mo mostram-se no tato de que, além de supor a

como
substituta, cujo alcance subversivo diante do poder do Estado faz dela uma cumplicidade do novimento comunista, suas soluçòes se restringem,
eo caso de toda solução burguesa, a um quadro nacional. O kennedysmo
arma estratégica insubstituível para a derrubada da burguesia.
escala nternacional,
POderia ter representado unna espécie de gaullismo na

internacio
2A noçio de sujeito, que, por várias razòes, preterimos u s a r aqui e m lugar da de onsiinia deilist,
a s mostra-se sem saída pelo fato de não haver u m a solução
de
nà deve s e r entendhda n o sentido cdo
i obyeto, ou
subjctirismo, m a s e m s e u sentido inicial, isto é, e n oposyao
cm oposiào, por exemplo, à passiridade da base cte.
OSSIVel para o
capitalismo, sendo precisamente ess.a incapacidade
158 Psicanálise eTransversalidad"
chegar a soluções mundiais, de produzir instituiçoes mundiais
iais Can-
capazes
de solucionar os problemas gerados pelo desenvolvimento das
produtivas, o que condena o capitalismo como modo de producão T
iorças
toda
Tanto
o
gaullismo como o kennedysmo -e outra solução desse tino
Jamais passam de expressão de uma burguesia moribunda que dec
acreditar em seus próprios sonhos.
eseja
A contradição elevado grau de "maturidade" das foreas
entre o
rças
produtivas e das relações de produção na França, associada com a ima
turidade da consciencia de classe do proletariado,
produz o problema
do Partido Comunista Frances,
capital para a dos vanguarda militantes
revolucionários. Do desbloqueio dessa
"'sobrematuração da revolução
nos países ocidentais (a ser
comparada com as
revoluções "prematuras"
de 1905 1917,
e na
Rússia) depende
passagem dos processos revolu-
a

cionários, em escala
mundial, a uma etapa superior. Se é verdade
que o
partido desempenhou um papel abertamente contrarrevolucionário em
certos períodos decisivos, como explicar a infuëncia quase
que ele continua a exercer sobre
hegemonica
o movimento
operäri0? Cabe estudar
por meio de que mediações históricas complexas a consciencia de classe
espontânea proletariado viu-se presa à armadilha de uma
do
que a restringe, esteril1za, a desvia
organização
que em favor de
ao
proletariado. Desde objetivos estranhos
seu
surgimento, o PCF se pôs numa situaçao
ambigua na
qual, depois da derrota da
-se de fato revolução alem, estabeleceu-
a
estratégia do socialismo num só
país. O partido nascido em
Tours,que aceitou com reticència as "211
conservou as estruturas
condições" da Internacional.
e os
homens da social-democracia: não era un
nstrumento revolucionário. Essa foi a
opção de
numeroso e
contuso que viria
um Partido Comunista
papel de" pião
desempenhar para Estado sovieticO O
o
diplomático" contribuir para
e
reduzir a intensidade da
pressao dos
intervencionistas sobre a Rússia, ao
trazia a caução da mesno
do fracasso da
revolução de Outubro (na Rússia) aostenmpo C 1ntes
y
social-democracia francesa. sobreviven
Seria
evidentemente sinmplista
parur dessa tara explicar veio em seg uda
o
que
original, ainda mais porque não foi
COmpromisso entre
lnternacional Comunista os
a duradou
taticamente "convencidos", Mas foi com social-deno e ratas

dificuldades que a direlta foi


As nove teses da Oposiçao de esquerda 159

do partido esquerda foi, por sua vez, perseguida e do


expulsa em
que a

qual foi excluída, logo depois da morte de Lenin e isso no åmbito


uma linha politica sectária, aparentemente de ultraesquerda, mas em que
a violencia verbal e fíisica tomava o lugar da perspectiva. Com efeito, a
primeira leva da esquerda comunista, a dos anos 1920, foi rapidamente
apartada da vanguarda operária, e nunca mais pode ser restabelecido o
contato. Quanto ao partido, que se consolidara, a despeito de sua linha
gesticulatória, seu dominio sobre a ala mais revolucionária do movimento
operário, foi-lhe possivel empreender com tranquilidade a virada para a
direita que constituía a politica da Frente Popular. Mas a direção que esse
primeiro movimento comunista torneceu às principais lutas do proleta-
riado não deixou de ter eficácia. Apesar de sua mediocridade teóricae
da degradação do nível dos militantes, o partido conseguiu, ao mesmo
tempo, navegar entre o terrorismo ideológico (defesa da União Soviética,
necessidade de monolitismo) e uma institucionalização política oficial,
quando de periodos de colaboração com os governos, não hesitando em
se aliar, quando oportuno, com forças conservadoras, nem em recorrer a
uma demagogia nacionalistae chauvinista, ao mesmo tempo em que se
apoiava na realidade do movimento operário o suficiente para continuar
a monopol1zar sua expressão.
Passados quase dez anos, as bases dessa hegemonia começam a sofrer
abalos.Os dirigentes do PCF mostram-se inquietos como esfacelamento
da fachada monolitica do movimento comunista internacional, visto
que,
afora o elemento de coesão que poderia constituir a fachada de certa
harmonia entre os partidos na escala mundial, não subsiste mais do que
uma tradição, uma disciplina organizacional vazia, temas de propaganda
totalmente vulneráveis. Por isso explicam-se a impaciencia do PCF na
condenação das heresias, sua preferència pelas excomunhöes, suas hesi-
taçoes em aceitar um policentrismo àitaliana.
Mas toda a história dos grupos de oposição de qualquer natureza
mostra seu desconhecimento da amplitude do implante estalinista no
movimento operário francês. Toda a estratégia desses grupos tem con-
SIstido até o momento em conceber atividade de
a
oposiçao como um
recrutamento de militantes que são, em seguida, organizados a partir de
tora. Em
suma, instalavam-se estruturas capazes de, pensava-se, dirigir
160 Psicanálise eTransversalidade

o movimento no sentido de tirar proveito de crises ou de situac oes


revolucionárias que veriam a hegemonia do partido se
destazer a passos
largos. A construço de uma "organização de quadros destinada a Se
tornar o futuro núcleo de um novo partido revolucionário desembo-
cou numa atividade grupuscular estéril, bem como numa caricatura das
taras da organização que é objeto de criticas. Enquanto a oposição de
esquerda continuar a oscilar entre a crítica abstrata, forçosamente dog-
mática, e não confirmada numa politica militante, e a atividade entrista
subterranea, o monopólio politico do PCF no mundo operario não se
vera ameaçado.

Tese 8:A organização revolucionária

A classeoperária unca poderá modificar espontaneamente as relações capi-


talistas de produção nem transformar o poder do Estado respeitando a
lgalidade
burguesa. A contradição interna decorre do fato de a classe operária não
dispor atualmente de meios para desenvolver suas lutas num ámbito
distinto do predeterminado pelas relações capitalistas de exploração dos
Estados nacionais. O capitalismo, em contrapartida, conseguiu meios
para transfer1r e resolver parcialmente no nivel internacional os pro
blemas cruciais que essas lutas representam no nivel nacional. Por esse
motivo, cada uma das lutas setoriais do proletariado tende a questionar a
armadura internacional do capitalismo, mas, dado que restring1ram suas
lutas ao ámbito do Estado, as organizações operárias estão condenadas
a impotencia.

A internacionalização monopolista não passa de colocaçâo mterna-


cional de capitais, cristalização da mais-valia extraida do trabalho social
do proletariado pelas estruturas de exploração capitalista. Pode-se. por
conseguinte, dizer que é o próprio fruto do trabalho do proletariado,
em sua condição de força produtiva, que se opõe ao desevolviniento
histórico e político do proletariado em sua condição de classe. Ora, o
proletariado detém efetivamente um imenso poder, tendo deixado de set
una maSsa de manobra ntercambiável, e sua vanguarda possui OS neio
de paralisar radicalvente a produção. O proletariado pode contribuur
para gerar crses quc desemboquem em situações revolucionárias. Es
As nove teses da Opos1çao de esquerda 161

potencialidade etáo ameaçadora que os sindicatos aceitaram uma contra-


tualização e uma institiucionalizagão das greves. Mas a revolução socialista,
nos paises industriais grandemente desenvolvidos, só poderá vir a ocorrer
a partir de um novo tipo de organização das massas, sendo suas relações
reciprocas radicalmente modificadas. Até o momento., os comunistas
não reexaminaram cientificamente as normas leninistas de organização.
Alguns acreditaram que o faziame simplesmente voltaram aos métodos
social-democratas, abandonando toda perspectiva revolucionária.
O atual centralismo dos partidos comunistas é tecnicamente um
absurdo. A mesma direção - na verdade, o mesmo punhado de dirigentes

- ve confiadas a si as tarefas complexas e múltiplas de elaborar a linha

politica, supervisaraorganização, a imprensa, as lutas sindicais operárias e


camponesas, as organizações dajuventude etc. Nao nega o papel dirigente
do partido afirmar a necessidade de uma efetiva descentralização da direção das
Iutas das massas em seus diversos níveis setoriais. Só atendida essa condição
poderão elas parar de ser imobilizadas em arcaismos nacionais, regionais,
raciais, corporativistas etc. que a burguesia se estorça por fazer sobreviver
artificialmente no âmbito de relações capitalistas de produção. Trata-se
de voltar à evidência de que não há outro meio para que um"programa
transitório" da classe operária pOssa ser elaborado por ela mesma e de
acordo com os objetivos que ela pode deteriminar para si num monmento
dado. O papel da vanguarda revolucionária é cotribuir para a uniticação
das lutas,interpretarcada etapa destas numa perspectiva de conjunto,propor
palavras de ordem que permitam passar a um superior. Para
nivel de luuta

eXIstir, para "tomar a palavra", a classe operária precisa de um lugar, de


um objeto que lhe seja especitico e a partir do qual tomari seu lugar na
trama significante da História. O elo siguificante insubstituivel é a textura
de sua organização, seu funcionamento nterno, sua expressao publica,
seus metodos de trabalho e tudo aquilo que vem a arca-la como estando
em ruptura radical com a ideologia e as práticas da classe dominante. Só
por meio disso poderá ela ter sucesso em se constituir como sigiftcando
os outros
igunia coisa para si mesma e por si mesma, podera signiticar para
Suas alianças ou seus compromissos.
Nos países industriais desenvolvidos, a classe operária teria perteitas

condiçoes de ocupar a direção de um Estado socialista, mas as palavras de


Psicanáise e Transversalidade
162

moVimento comunista atual nao remetem


ordem sindicais e políticas do
lutas dos trabalhadores senão a sua constituiçao permanente em classe
as

social revolucionária, particularidades n a c i o n a i s . Ha,


a suas
com efeito, uma
e a pratica retormista: tanto
partilha de papéis entre a ideologia burguesa
as taixas etárias
as diferentes faixas salariais,
uns c o m o outros sociologizam
culturais etc. A politica que preten-
os sexos, as condições tecnológ1cas,
as camadas ditas antimonopolistas
de reunir ao redor da classe operaria
de desuni-la, de dispersar sua ação
consiste, na verdade, em uma forma
e neutralizar sua eficácia
revolucionária. Enquanto a pesquisa marxista
deveria participar em todos os dominios da elaboração criadora e da

das soluções burguesas, a "pesqui-


formulação de respostas que vão além
de fórmulas vazias e
sa do PC; por exemplo, reduz-se à proclamação
de promessas imaginárias. O partido revolucionário deveria aprofundar
Os problemas economicos, soCiais e culturais, bem como exprimi-los

por meio de palavras de ordem, de modo tal que sua prâtica cotidiana
nunca rompa a cadeia histórica fundanental em função de objetivos par-
ciais e transitórios. A classe operária não pode nem deve dialogar com a

pequena-burguesia, com o monopoli0s etc., como


campesinato, com os

pretendem fazê-lo em seu nome as direções dos partidos comunistas.


Seu único interlocutor é ela mesma enquanto marcada por sua finalidade
histórica, que faz dela uma classe à parte, a única que não se fecha sobre
si mesmae seus interesses particulares.E por trazer a classe operária emsi
mesma sua própria subversão, por ser ela a única capaz de impor ås outras
o fim da divisão da sociedade de classes, que o partido revoluc1ionario
tem como tarefa primeira protegè-la de toda ideologia exterior, e, como
dever, extrair tudo o que, fora dela, conserve vestíigios de verdade. A classe
operária só pode efetuar o "diálogo" consigo mesma por intermédio das
correntese organizações que lhe são parte intrínseca.
Apesar do desenvolvimento desigual das lutas, há unm consenso so-

bre sua potencalidade de desembocar na revolução mundial. Esse tato


já atraira a atenção de Leon Trotski quando ele desenvolveu, a part1r de

uma indicação de Marx, sua teoria da revolução permanente. Nenhuna


repetição da História pode ser concebida no nível deste ou daquele
pais. Ao sair do feudalismo, o lêmen, por exemplo, não encontra
is de
futuro iarcado pela emergência de uma realeza burguesa, depois
As nove teses da Opos1ção de esquerda 163

uma revolução "a francesa que permita o desenvolvimento harmonioso


de um capital1smo comercial, financeiro e depois industrial e assim por
diante. Hoje, o lemen desemboca diretanmente nos oligopólios "cosmo-
politas e apátridas", para retomar a terminologia estaliniana. A etapa da
revolução burguesa está ausente, ou então não passa de impostura histó-
rica, arcaismo mantido artificialmente, que permite o desenvolvimento

dos oligopólios. O apoio dos comunistas aos Aref (general iraquiano),


aos Ben Bella (lider da Frente de Libertação Nacional da Argélia), aos
Sukarno (presidente indonésio) testemunha a mesma cegueira. E por
isso que a revolução social constitui, em todas as atuais situações de luta
de classes, a única saída possível: as condições objetivas são propícias a que
toda luta democrática e nacional desemboque na etapa de tomada do
poder pelo proletariado industrial e agrícola. Mas isso de modo algum
nos dispensa de analisar com a maior clareza possível em que as condições
subjetivas não permitiriam conceber hoje uma tal evolução revolucionária
do proletariado das potências industriais, atingido por uma espécie de
"imaturidade permanente".
Nós mesmos, ao parecer "liquidar alegremente os fundamentos
históricos da existência dos partidos social-democratas e dos partidos
nacionalistas de libertação, não estaremos tomando nossos sonhos pela
verdade? Não estão esses partidos bem vivos e neutralizados por trás dos
poderes de Estado dos bastiðes do capitalismo e os países submetidos ao
neocolonialismo? Não levará nossa insistëncia em exigir que a classe
erária exprima e funde a verdade do partido revolucionário à reabili-
tação do mito do espontaneísmo e a retormular segundo a moda vigente
temas anarquistas e populistas? Acentuando tais temas sem contrapartida,
corre-se de fato o risco de tornar crível a ideia de que haveria uma "boa
classe operária" (como o "bom selvagem" de Rousseau), cuja natureza
inteligente, revolucionária e pura, cujas inclinações revolucionárias seriam
desviadas de seu fim pelos maus pastores das grandes organizações. Não
há por que duvidar de que a classe operária, em sua grande aioria, está
ais próxima da representação que dela fazem os burocratas de todas as
Categorias do movimento operário do que desse conjunto de imagens!
Os fundamentos de nosso questionamento dos"modelos" de organização
politica e sindical, e de suas relaçöes reciprocas inadequadas à situação
164 Psicanálise eTransversalidade

real dos trabalhadores nos países capital1stas desenvolvidos, devemo


buscados menos numa filosofia da liberdade, ou em considerações hu-
manistas ou psicossociológicas sobre a democracia em geral, do que no

próprio desenvolvimento das sociedades industriais.

Em todoe qualquer regime neocapital1sta ou soCialista burocrático


Co,
não se pode esperar a resoluç o de nenhum problema de base a partir
dos modos de organização e dos tipos de instituições atuais. A única
verdadeira saída é a instauração de um planejamento em escala mundial,
tanto assinm que toda previsão, toda coordenação, toda elaboração e re-
partição de fatores de produção e de meios de financiamento exigem a
possibilidade de realizar uma concentração ininterrupta de meios. Mas
que sentido podem ter as pretensões de planejamento do capitalisnmo
moderno quando se verifica que, por motivas politicos e econômicos,
ele jamais pode encarregar-se de maneira racional do conjunto das zo-
nas "deixadas a si" por parte do imperialismo? O que um planejamento
socialista mundial proporia não é só organizar os setores desenvolvidos
mas, igualmente e a0 mesmo titulo, os setores retardatários arcaicos e assim
por diante. Todos os bolsões de miséria e de não sentido que gangrenam
a sociedade, condenados em nome da "não rentabilidade", serão reavalia-
dos por meio da realização de um plano que remodelará o espaço social
internacional e o modo de vida humano.
Mas a necessidade e o desejo dos seres humanos, num dado momento
e numa dada situação, sua miséria, suas angústias, seus fracassos etc. não
relevam no essencial dessa ordem da racionalidade. Cabe antes de tudo
aos seres humanos ter condiçöes de exprimi-los, e, à sociedade, remediá-
-los da maneira mais coerente e menos alienante posível. A sociedade
política da democracia burguesa não passa de lugar de negoclaçao das
diversas facçoes do
capitalismo. A sociedade política de uma democrack
socialista serå o espaço de diálogo entre as
forças produtivas tecnicas
cientificas, de um lado, as instituiçöes humanas, do outro, à medicda que
e

seJam organizadas para responder permanentemente não só às necessida-


des materiais de cada individuo, mas a suas aspiraçoes profundas e a sula
exigënca de encontrar um sentido para a própria existència. Enquanto
o impeto das forças produtivas tender a levar a uma concentração da
As nove teses da Oposiçcão de esquerda
165

vez maior, nenhum organismo central poderá, algum dia, responder as


demandas sociais diferenCiadas. Veritica-se ser necessårio um acesso a
fala/palavra dos diterentes setores da "massa", para que disponham do
meio de se exprimir de maneiras que não sejam automaticamente as-

sociais, inintegráveis, absurdas e, no final, alienantes. Em outras palavras,


não se trata de considerar o planejamento apenas do ángulo da produção, da
circulação e da distribuição, mas também de planejar a "produção de instituições",
isto é, de todas as formas de organização social capazes de servir de "resposta
à sociedade industrial.
Uma corrente de pretensao sociológica esforça-se em nossos dias
por demonstrar que também a classe operária é marcada pela ideologia
burguesa. No nivel do consumo, apenas tatores quantitativos separariam
um burgues de um proletário; mas, em suas respectivas relaçoes com a
produção, em seu modo de vinculo com o 'enquadramento" profissional.
social etc., no plano cultural, ético e mesmo inconsciente, burgueses e
proletários constituem, sem dúvida, duas raças distintas. A causa da luta
de classes é o fato de a sociedade capitalista estar organizada em tunção
das necessidades particulares de uma classe social moribunda. Apesar
do progresso, a classe operária nunca poderá sentir-se bem no àmbito
dela. Quer se considere a concepço do urbanismo ou dos hospitais, das
universidades, de uma cultura condicionada pela televisâo, encontra-se
esta constante: nada está organizado para propiciar o desenvolvimento
de uma atividade social criadora. Pelo contrário, todas as estruturas são
calculadas para que cada indivíduo seja remetido a sua solidão, à seriali-
dade social, a um gregarismo primário, ao acesso para os trabalhadores
a lazeres "tranquilizantes".
As palavras de ordem do tipo "pão, paze liberdade" tornaran-se
noçöes tão abstratas quanto os emblemas burgueses "liberdade, igualda-
de, fraternidade". O movimento revolucionário pode e deve torular
outro tipo de resposta. Ele deve colocar-se na contracorrente da reduçio
da classe operária a mera função de produção e de consumo. Deverá
deixar sempre em relevo o elemento comum, o objetivo tundamental
da luta, único capaz de trazer coesão aos trabalhadores e reconstitui-los
em classe social revolucionária. Esse elemento comum, esse "objeto ns-
titucional", é o Estado. A chave da situação é sempre e em toda parte a
Psicanálise e Transversalidade
166
necessidade de destruir o poder do Estado. Para o PC o denominador
comum das lutas esparsas é a hidra-monopolista. Esta tem, no entanto

mil cabeças e igual número de respOstas que criam separação. O único

meio de unificação das lutas é a criação de objetivos que confiram aos


trabalhadores a possibilidade de ajustar a mira para o alvo fundamental

a exclusividade da burguesia como detentora do poder de Estado. No


tocante a isso, é evidente a carëncia do PCF e da CGT (Central Geral

dos Trabalhadores).
Tomemos um exemplo: um grupo de militantes revolucionários
no setor das minas tem não so de enfrentar os aspectos organizacionais

e políticos no dia-a-dia, mas também de articular seus problemas aos do


conjunto das regiões de mineraçao nacionais e dos ramos adjacentes,

ter contato com os sindicatos correspondentes da CEE (Comunidade


Economica Europeia) e assim por diante. Se fosse a industria petrolífera
haveria uma série de problemas com relação às organizações populares
dos países produtores etc. Mas a realização de um programa como esse em
escala nacional, regional, bem como internacional, supöe que se realizem
profundas transformações no movimento sindical e, em consequencia,
no movimento comunista.

Talvez se faça a objeção de que o comitë central do PCF ha muito


se acha cercado de comissöes que reúnem camaradas "competentes e
dedicados" em todos os domínios. Fazer um levantamento dos trabalhos
das referidas comissões oferece a melhor confirmação da incapacidade
de um Estado-maior no sentido de fornecer respostas válidas para uma

multiplicidade de problemas. Com uma regularidade raramente verificada,


esses "especialistas" passam ao largo do essencial. Isso ocorre menos por

incompetência do que devido a um "condicionamento" aos métodos de


trabalho da direção do partido, o que faz que a mínima indicação de um

alto dirigente baste para determinar uma dada orientaçãoe mpor unla
completa esterilização de toda e qualquer pesquisa. O mesmo acontece
com os *exercicios" de congresso, que consistem em proferir discursON
Vazios sobre temas estabelecidos de antemão. Nada separa esses metocuo
dos da burguesia tradicional. Mas a vanguarda revolucionária tanoe
deve debruçar-se sobre seus próprios métodos de trabalho, pois, intenes!
mente, nada fica a dever na maioria das vezes às grandes organizagO
As nove teses da Oposição de esquerda
167
O partido revolucionario nao vai surgir por milagre, sendo antes uma
síntese a conquistar, nao no domini0 ideológico, mas pela realidade da
Juta de classes. A nova arma, o protótipo de partido de que precisa a
classe operária para tazer a
revolução nos paises capitalistas, só poderá
ser radicalmente d1stinta das atualmente existentes ou das que existiram
ate nosSOS dias.

A moléstia central1sta dos partidos comunistas decorre menos da ma


vontade de seus dirigentes do que de falsas relações que mantèm com
os movimentos massas.O movimento marx1sta não vive no mesmo
de

ritmo nem tem O mesmo tipo de compreensão dos eventos que tém as
massas. Ora, é primordial tanto para o movimento como para as massas
que seja elucidada permanentemente a signif1cação dos avanços e recuos
da luta de classes. Na ausência disso, uma vitória como a de
de junho
1936 pode converter-se em derrota. Inversamente, unm desastre como
a Comuna de Paris" permitiu classe
que a
operária mundial elucidasse
suas possibilidades futuras. Certos teóricos consideram inevitável que o

partido se transtorme em excrescëncia burocråtica do movimento


operá-
rio, e retornam a concepções libertárias em matéria de organização. Não
obstante, devido å crescente integração da classe operaria, todo SIstema
institucional que se desenvolva em seu seio corre sempre o risco de ser
recuperado" pelo capitalismo.
Só um partido revolucionário de
vanguarda, dedicado a um processo
ininterrupto de análise, de autocrítica, de autoinstitucionalização poderá
desenvolver ação antagònica ao processo capitalista e contribuir para
uma

manter a autononmia
"subjetiva" do movimento operario.
O sindicato não
pode ter a vocação, a pretexto da unidade a todo
custo, de ser o "sindicato do povo" inteiro. O sindicalismo revolucioná
rio não equivale à defesa do consumidor, às cooperativas etc. No último
periodo, assim como o Partido Comunista se integrou ao sistema parla-
1entar burgués, assim também os sindicatos nnostraran a tendencia de

eerenKia a0
grande levante operário frances de 1936 contra o
governo da Frente Popular, que
4ou
cO grandes concessies aos trabalhadores, nos terios do ACondo M.atignon, que tora
IOrporadas à Constituiçao
Fancesa. N. T.
Moviento de classe e de cunho sociaista, iniciado em 1971, que incendiou a lrança, tendo,
cOntudo, durado apenas 72 dias. N.T.
168 Psicanálise e Transversalidade

trair sua vocação fundamental, que é a de reunir as torças vivas da classe


operária, nmodificar suas relações de forças internas em detrimento das
das
correntes reformistas, bem como de retorçar sua coesao contra o patrona-

to. Excepcionalmente, nos períodos de grande luta, o sindicato revela-se


capaz de envolver a totalidade da classe operaria, mas esses são periodos

pré-revolucionários; semelhante objetivo, em periodos normais, só pode


implicar um alinhamento da corrente revolucionaria com o nível médio
das massas, e desemboca inevitavelmente num retorço do reformismo e
da ideologia dominante.
Uma política revolucionária de massa consistiria, por exenmplo, em
ajudar a vanguarda da juventude a gerar para si condições de elaborar ela
mesma sua própria politica, formar seus militantes em cada nível setorial,
dar a ela melhores condições de tomar iniciativas que envolvam grande
parcela da massa de jovens e assinm por diante. Essas juventudes comunistas
poderiam então firmar sem riscos alianças com as outras correntes!
Mas a condução dessa política é inseparável da instalação de um modo
de organização bem distinto do das concepções comunistas-burocráticas
em matéria de organização das massas, que se mostram incapazes de ca-
pitalizar as diversas formas de luta espontânea. Certa politica de unidade
de ação, não contando como apoio das massas, envolve automaticamente
"manipulações" de cúpula, cartéis elaborando às apalpadelas seus com-
promissos na base do "máximo denominador comum"...reformista! Um
último exemplo: na ausencia de uma orientação
sobre a questão correta
do aborto e sem dispor de método de trabalho revolucionário, a UFF
tornou-se um clube de amenidades quando poderia ter desencadeado
uma campanha nacional muito importante em torno do tema da detesa
de centenas de milhares de mulheres
que são obrigadas ano apos anoa
recorrer a0s abortos clandestinos...

Tese 9:A etapa do grupo

Não e parte de nosso


projeto defnir com preciso linhas de açao
as
cO modo de ntervenção politica de um grupo de militantes revolicio-

5 Union des femmes françaises (União das Mulheres Francesas).


teses da Oposição de esquerda
169
As nove

atual da França, nem conceber as formas mediante


nários na situaça0
as quaise o ritmo em que um tal grupo poderia contribuir para fazer
partido revolu-
amadurecerem as condiçoes favoráveis à criação de um

cionario.
Propomo-nos a def1nir em linhas gerais as condiçoes de possibilidade
desse genero. Na etapa atual, os militantes revolucioná-
de um projeto
rios e os grupos que podem formar, por desejáveis e indispensáveis que
constituir de modo algum o embriäo
sejam, nao poderiam pretender
de um partido como esse. Quando uma revolucionária "corrente tiver

começado a se destacar e a dar inicio a seu progresso teórico e politico,


quando essa corrente estiver suficientemente implantada nas organizações

de controladas pelo PC; quando a crise que o partido atravessa


massa

tiver amadurecido, a ponto de os imilitantes comunistas de esquerda

começarem a se atastar dela e a desenvolver sua própria politica, será


conceber etapas ulteriores.
possível as

A febre passional dos grupúsculos de extrema esquerda e sua ceguel


em nada contribuem para esse processo. O estilo "conspirador" dos
militantes da maioria dos atuais grupos de oposição tanmbem náo.

Bastará dizer que o objetivo será alcançado no dia em que a classe

"consciencia de seu poder? Na realidade, a


operária tiver recuperado a

vanguarda da classe operária está de certo modo consciente do impasse


de suas atuais lutas. A maioria dos operários tem a sensação de "andar
em círculos"; ela sabe que as organizações políticas e sindicais não lhe
oferecem alguma alternativa. Não obstante, a classe operária propriamente
dita não tem a seu alcance meios que nao as organizaçoes existentes para

se exprinmir e para ser representada. A falta de alternativas, as massas ope-

rarias sentem-se quase obrigadas a permanecer fieis a essas organizações,


ainda que seja apenas para conservar um minimo de coesão e manter

uma denarcação minima entre elas e o inimigo de classe.

Seria suficiente criar um novo partido e novos sindicatos para es-

clarecer a situação? Todas as tentativas desse tipo fracassaram. Uma orga-


D17ação revolucionária deve estar previamente inserida na classe operária
para poder "catalisar" um fenmeno de transtormação e liquidaçao das
do entrelaçamento destas com o sis-
Organizaçoes existentes. A natureza

tema politico e social atual da burguesia, ao lado do modo como a classe


Psicanálise e Transversalidade
170

a imagem reformista que Ihe é propost


operaria assume passivamente
determinam, em larga medida, os mcios a empregare as etapas intermedidriac

de uma vanguarda revolucionária que não


para chegar à estruturação seja
sentida pelas massas como corpo estranho, e em que elas, pelo contrário
o,
se reconheçam na medida do desenvolvimento de suas lutas. Para que
um partido revolucionári0 seja na classe operaria como um peixe na

água", não basta af1rmar sua necessidade e começar a reunir uns poucos

elementos programáticos. E a própria consciencia da classe operária que

deve ser modificada em correlação com a conduçao, pelo partido de

politica revolucionária, isto é, da criação de situacões


vanguarda, de uma

revolucionárias e da exploração coerente destas. Por conseguinte, algu-


mas condições prévias deverão ser reunidas para que se possa criar um

partido com essas caracteristicas.A decIsão historica de sua fundação não


poderia ser tomada a partir das pretensões "voluntaristas" de um punhado
de militantes revolucionários. (As tentativas desordenadas de ressuscitar
a velha IV Internacional constituem por vezes obstáculos suplementares

à construção de um partido revolucionário como esse. Se já é absurdo


criar com todas as peças um partido revolucionário sem uma
querer
militante de base, tentara mesma operação na escala de um
implantação
partido internacional centralizado constitui uma aberração pura e sinmples,
cujos lamentáveis resultados práticos tênmo efeito de macular, no espírito
de militantes mal-informados, a contribuição teórica de L. Trotski.)
Uma coisa é abrir uma perspectiva de conjunto para a luta, con-

ceber suas etapas possíveis e suas inevitáveis provas, discutir os 1neios

a empregar a curto prazo etc. Outra é compor de imediato o catálogo


de reivindicações que poderiam "atrair " as massas. A depender de

como se arrogar o direito de etetuar uma tal elaboração, que só podera


ter validade se for assumida imediatamente por uma parela ponderável da

vanguarda operária, um dado partido revolucionário vai predeterininar


certo tipo de relação de subjugação entre ele e as massas (por exemplo,
a retomada, como se ocorresse por si própria, da teoria do sindicato
como "correia de transmissão"). Assoberbado por senmelhantes hipo-
tecas, por provas decisivas, esse partido pretensamente revolucioaro
se revelar incapaz de enfrentar sua tarefa histórica. Para contoratr
essa dificuldade, não vai bastar a proclamação de suas "boas resoluçoes
As nove teses da Opos1çào de esquerda 171

antiburocrâticas e jurar fidelidade às normas leninistas do centralismo


democrático.
Os grupúsculos revolucionários, devido a seu desconhecimento da
verdadeira natureza do problema, tendem a se refundar ideologicamente
e a servir indiretamente de caução ås estruturas e ao funcionamento dos
aparelhos politicos e sindicais das "grandes organizações". Na auséncia
de elucidação e de unm requestionamento suficientes, eles acabam por
explicar a burocratização do movimento operário apenas a partir dos
erros politicos e das traições de seus dirigentes ou em razão de certas
circunstâncias adversas, descritas de modo geral a partir de uma filosofia
histórica, reduzindo-se no essencial a duas noções de base: "o periodo
de ascenso", ou "isso faz a base avançar", e o "período de descenso", ou
os revolucionários têm de lutar contra a corrente!
Quando se concretizanm as condições de sua criação, o partido re-
volucionário é de início "reconhecido" por uma ponderável parcela da
vanguarda operária como um instrumento indispensável de sua luta. A
verificação de sua realidade vai ser feita, portanto, no próprio nível da uta de
clases. Pelo simples fato de sua criação, alguma coisa terá mudado na relação
de forças. E a burguesia não deixará de resistir! IDesconhecera necessidade
dessa "contraprova" é perder o essencial do ensinamento científico do mar-
xismo-leninismo.A criação do Partido Bolchevique ocorreu em condições
históricas determinadas ee depois de uma luta politica de fölego longo
seio da social-democracia. Ela fez surgir fornas de organização inteiranmente
novas. O bolchevismo se desenvolveu na base de um tipo particular de lutas
quc, por sua vez, em contrapartida viram modificados seus métodos e seus
objetivos. Pretender hoje criar com todas as peças, e no âmbito de prazos
previsiveis, uma organização revolucionária na França, pretender ter con-
diçoes de nontar agora o núcleo inicial e começar a definir seu prograna,
CIs uma perspectiva utópica que pressupoe uma ignorância caracteristica do

arxismo-leninismo e da história do movimento operário.


Ao lado de inúmeros fatores objetivos, condiçöes das lutas sociais, de
CTIses políticas etc. , serão levados em conta certos fatores internacionais

que poderão ter n papel determinante. O triunfo de uma revolução


SOCialista em qualquer poténcia capitalista vai ter repercussoes em cadeia
sobre a
evolução do movimento De
operário. igual torma, o
ressurgi-
172 Psicanálise e Transversalidade

mento de correntes revolucionárias proletârias nos paises socialistas teria


um efeito incalculável sobre esse processo. leremos de voltar a tratar

em detalhes a análise das possibilidades de intervenção de um grupo


de militantes comunistas revolucionarios nos diferentes setores sociais

e políticos. Mas não desejemos fazë-lo a não ser a partir da produção


de alguns resultados práticos. Queremos evitar o maximo possivel ter
de tomar lugar na lista já muito longa de correntes e organizações de
vanguarda que n0 máx1mo conseguiram formular criticas e promessas.

e que, na pråtica, acabaram por se contentar em girar em círculo de

maneira desoladora.
Supondo que a História nos condene a ter sorte semelhante, prefe-
riremos então, na sequència das coisas, guardar o silenc11o e, quem sabe..
o beneficio da dúvida.
1966
Psicanálise eTransversalid
aludade
3. Integração da classe operaria e perspectiva analitia
ca22

Constituiu-se, a part1r de 1956, uma da


transtormação da sociedade
desembocou n u m a integração das organizações da
organizn.
francesa que
politica
ao sistema capital1sta.
classe operária em situações con:

No começo, as co1sas se
desencadearam

o moVimento
conjunturais
operárin e e
crises dramáticas; mas,progressivamente, inte-
que por outro lado se tor
grou à ordem legal, apesar dos protestos, naram
porta-vozes puderam emitir. "O
cada vez mais timidos, que
seus

mais entre os militantes comun:


espirito
et

abateria ainda
de luta de classes" se
da coexistenCla teoricamente pacífica entre.
os
no contexto ideológico
entre as classes. viostram
os tatos se deivakar-
regimes implicitamente,
e,
mos de lado as declarações de principio dos congressos anuais-,de odo
reivindicatorios permanecerão apartadae
os movimentos
inequívoco que
seriamente o capitalismo
de todo caminho politico que pudesse ameaçar
de torças permitissem conceher
Já em 1936 e em 1945, embora relaçoes
as

uma ação que fosse bem


mais longe, foram as formulas de integracão da
classe operária que guiaram os dirigentes comunistas, e que acabaram
am

ao capitalismo e reforçá-lo.
mesmo a
por dar mais fölego
Com o kruschevismo, transpos-se uma nova etapa: a social-demo-

cratização de fato dos partidos tornou-se uma ideologia de direito. Não


se pode reconhecer explicitamente que os partidos comunistas tenham
se tornado os bons e tieis servidores do capitalismo, mas, em razão

de considerações sobre o interesse nacional, a uniao de todo o povo


incluindo os pequenos capitalistas-, entende-se que são os ministros
Comunistas que se tornar1am os melhores gerentes de um capitalismo
de esquerda", gerentes que, sobretudo, não buscam mudar o que quer
que seja fundamental, como poderia ter ocorrido com a experienca
da reconstrução da economia nacional, do Exército frances e da Unáo
francesa sob o tripartismo da Libertação. O fato de o PCF bem atrás do
PC italiano, tentar agora dar a si um rosto mais liberal, aceitando a idea
de que um pluralismo partidário possa instaurar o socialismo etc., nao

haver incidência então! Ele é liberal, para tms da


poderia tanto mais os

22 Resumo de uma exposição apresentada quando de um estágio da Oposição de Esquet


Bièvres, na Páscoa de 1966.
Causalidade,
a
Subjetividade
e a História
255
A

revolução, quanto menos decidido está, mais do que nunca,


alvorada da
alvorada o

a alcançá-lo.

Está-se ois diante de um processo que leva não somente à dege-


eracão de toda a vida politica da clasSe operaria, mas, por contragolpe,

diante da degeneraçao de toda a vida politica em geral, se permanecer

rerdadeiro que a luta de classes e seu recurso fundamental. Cada vez

sobre a politica, isto é, de alguma coisa passível de


a11e separece discutir
auestionar o poder politico, nao se faz mais que organizar uma pseudo-
narticipação, uma consulta aoS usuarios5, para levá-los a "se interessar" por

questoes de nivel de vida, de normalizaçao de processos econômicos, de


aiustes regionais e nacionais, de investimentos e fHuxos de mão de obra,

do consumo etc., tudo isso manipulado na realidade pelos tecnocratas

e grupos de pressão.
A burguesia pode melhor favorecer essa despolitização uma vez

que importantes de decisão economica já não são


os centros mais

localizáveis nos contextos nacionais existentes, tendo-se deslocado

para outras entidades imperialistas por isso e oligopolistas, que nem

coincidem com os "grandes mercados" do tipo da Comunidade


Econômica Europeia. Esses pontos de convergência internacionais
e cosmopolitas do capitalismo so por si mesmos vestibulos de

despolitização -

no sentido da política tradicional de Estado ; sua

estratégia econômica, fundada na manutenção do lucro, não mais


respeita as barreiras nacionais, mas calculam a longo prazo suas
"aberturas" para o Leste e os países do Terceiro Mundo, na esperança
de também integrá-los. Está-se assim diante de uma evolução geral
das sociedades industriais que tende a liquidar toda necessidade de
uma sociedade política.
A sociedade política burguesa foi indispensável para entrentar uma
etapa da luta de classes. Mas, à medida que as classes operárias, por meio
de suas organizações, tendenm a se autoneutralizar, assiste-se à atenuação

de toda perspectiva de tomada de poder revolucionária das massas. E

quando militam em favor de um governo de esquerda, os nodernistas


a o so nao duvidam da eventualidade de uma participação comunsta,

COno a desejam: é que eles têma certeza de que já não há risco algum
c Fadicalização a esperar do PC e q u e , p e l o c o n t r á r i o , os c o i s t a s
250 Psicanálise e lransversalidade
serão mais eficazes do que os CRS" para conter um eventual me
tual movimer
de massas.
ento
Tudo isso é bem sabido, e essa lembrança pode pareea.

tanto formal quando se trata de introduzir a


questão da
ou não de um empreendimento analitico no nível dos gru
validade
upos po
liticos. Parece-me, não obstante, imperativo partir outra vez
dai
compreender que "traição do PCF nao passa de outra tentas:
a
ativa
desesperada dessa tradicional instituição de se manter no contevto.
de
relacoes de produção que se alteraram radicalmente, o que deveri,
radical transtormaçao dos
métodos, da linha e
ter implicado uma

das de ordem da "belle


palavras epoque (bons tempos) da Frente
Popular. Em vez disso, o PCF tenta a todo custo reanimar o mito
moribundo de uma frente unida com os socialistas, os representante.
presumidos de segmentos ditos antimonopolistas, das classes médias
e dos gerentes etc. Tudo isso, é claro, não tem credibilidade e nio
interessa a quase ninguém, além dos profissionais da propaganda
eleitoral. Trata-se de uma atividade superticial sem nenhum alcance
politico real, mas cuja eficácia, em contrapartida, é certa no nivel
dos sindicatos, cujos membros dirigentes tornaram-se verdadeiros
agentes de integração da classe operaria.
Nessas condições, o PCF acha-se particularmente mal colocado para
combater os mitos da sociedade de consumo, pois na verdade é ncapaz de
propor para ela qualquer alternativa. Diante dele, os grupúsculos esquerdistas
representam indiscutivelmente uma tentativa de manter os temas fundamen-
tais de uma politica revolucionária autonoma da classe operária. Infeliznmente,
o único espetáculo que apresentaméo de seu fracasso.A "travessia do deserto"
que unse outros fizeram do PCF para os grupusculoS nos tera ao enOs

cnsinado que nenhum lugar militante atual escapa a unma total carenca
teórica e pråtica, caracterizada pelo fato de a problenmática que os agita ser
tornada obsoleta em uma média de pelo menos 40 anos!
Quando ocorre ao PCF analisar "objetivanmente uma situaçao, e
para logo depois justificar o oportunismo mais rasteiro, o abandono dox

23 Referencia 0s nenbros da Compagnie républicaine de sécurité, torça polical trinei ue


combate a distúrbios públicos. N.T.
História
A Canaldade,
a Subjetividade e a
257
ranceitos fundamentais do marxismo que permit1riam articular as lutas

thlais numa perspectiva de conjunto de caráter não ilusório. Quando

defendem um programa revolucionario, os grupúsculos fazem-no des-


Drezando as realidades atuais, estando sua visão inteiramente deformada

pelo crivo de sua ideologia.


É assim que, apesar de tudo, o PCF e suas organizaçòes permanecem
os únicos a conservar um minimo de vinculo com a realidade social.

Trata-se de um aparelho cuja missão parece ser captar o reformismo


latente da classe operária. Contudo, ao contrário de Lenin, que analisou
a natureza desse retormismo, o PCF se dedica a adaptar-se a ela e até a
antecipar-se a cada uma de suas etapas, como se manitesta em sua politica
com relação aos quadros. Seria possivel, apesar disso, considerar que tal
aparelho seja um "anal1sador do inconsciente social da classe operária?
Seria possivel considerar, simetricamente, que os
grupusculos sejam hoje
os únicos a encarnar a convocação histórica, feita à classe operária, de ter
de dar à luz a luta de classes de uma nova sociedade em que as classes
estariam abolidas?
Convido-os antes a considerar que esse ponto de ruptura entre
duasmodalidades de subjetividade social a subjetividade
operária
-

reformista, mais ou menos canalizada pelo PCE e a subjetividade


re-
volucionária, mais ou menos encarnada pelos grupusculos -poderia
ponto de convergencia a partir do qual se tormularia a
ser o

de uma atividade analitica, da


questao
açao de tornar organismos de vOca-
ção analitica adjacentes aos
grupos soCioprotissionais e aos
grupos
politicos. experiencia da Oposição de Esquerda e da FGERI nos
A
deu melhores
condições de avaliar as diticuldadese riscos que um tal
projeto comporta. Em particular o de drenar, melhor do
q|ue poder.io
um dia faze-lo o
PCF e o PSU, os mitos modernistas: a centrada
Cena da en
famosa "nova classe
operária", a doce ocupaç ao dos centros
Teals de
decisão", a promoção da "pesquisa unterdiseiplmar, a ue
CSCentamos, para marcar nossa originaidade "e se possivel b.ase.ad.a
u trabalho de nmassa...". "Tudo issoé
muilo belo c, no Computo geral,
func
muito bem! Mas para onde nos leva? Podenos prever, como
o
faria um
püsculo, decdiremos
mudar brusc:amente de quie
nun ou noutto o e n t o

orientag detuindo, para a FGERI, bases


Psicanálise e nsversalidade
258
o todo ou parte desse m
políticas claras, e
numa perspectiva
tentando recuperar

revolucionária.
movimento
mas enquanto mantivermos
Claro que tudo é possivel, um pé no
reformismo,seguindo
o PC,e o outro n u m dogmatismo mal derivado
mal.

do dos grupúsculos,
haverá lugar para pensar que nossos êxitos na EoGERI
progredir a agregação de uma
fazer uma vanguarda vo.

de modo algum poderiam


do movimento operario de seu atual imeL
revolucionária e a retirada
e issO sem
imobilis
em constituir
um grupo, razáo
mo. Já há anos, persistimos
militante clássico. O
O que pomos
válida
s

de um O1

alguma para a lógica


comum
a
unimos uma ponta aqui e outra Há muito tempo
ali! Há muito
perder? Discutimos,
teríamos deixado de existir para
nos integrar individualmente, de
acordo acs.

economias libidinais, nos diferentes gruni


com nossas próprias
de tradição histórica, ou ento voltar ao PCF ou
vegetar no PSUL.nos
inevitável"..
tolices ou "aceitando o
drogando com

Assim, a problemática aberta foi techada de novo: "Era muito Com-

plicado, não era para este momento, nao compreendemos os operárin


etc. Talvez tenhamos permanecido presos a este ponto purulento da
de pretensão analities
contradição: manter de alguma maneira o tipo
perto possivel das massas e sem cec
-operadores analíticos-que, o
mais

problemas políticos fundamentais,


se propoe a
superar a cisão
0,
de evocar os

o Sindical. Oque se traduz, para nós, pelas


perniciosa, entre o politico e
entre uma analise na adjacência
tentativas de criar uma cabeça de ponte
das massas e uma práxis revolucionária para capitalismo.
abater o

Do lado da classe operária, da juventude, dos estudantes, a realidade


é a permanente remissão àprodução, ás mercadorias, aos resultados. aos
sabemos que um empreendimento
índices, aos diplomas etc. (Nesse nível,
crítico como o da FGERI é possível«e eficaz.) Do outro lado, seus únicos

recursos são organizações esclerosadas que pretendem representá-los, mas


na realidade tomam seu lugar. 'Trata-se da manifestação, de caráter
que
sociológico, de uma conservação por inércia de objetos institucionais
nenhuma substância, pura repetição de uma rotina burocrática e de
sem

uma rede de palavra vazia.


Ao mesmo título que o aparelho patronal ou o de Estado, esses

também são instrumentos de alienação da


objetos institucionais vazios
classe operária; so eles que contribuem para mante-la distante de sua
e a História
A Causaldade, a Subjetivid.ade
2591
ahistórica, de sua verdade revolucionaria. Nenhuma varinha má-
henlhum programa revolucionario poderiam dissolver esses
objetos:
les
el constituem as
engrenagens essenciais das relações de antiprodução.
No tocante a eles, Sao possiveis todos os
comportamentos de evitação:
constituição capelas trotskistas, politica entrista... coisa alguma
de a

adianta. Pelo contrario, o fracasso repetido dessas tentativas serve


apenas
nara lhes conterir uma espeCie de
justiticação indireta: "Vejam, nada é
nossivel fora da lgreja, por mais podre que ela seja..." As organizações
staliuistas e social-democratas Sao vividas, por aqueles que as sofrem, como
1uma espécie de mal necessario e, desse ponto de vista, a primeira coisa de
que deveriamos estar convencidos e que a demolição desses edificios e
transformação dos grupusculos esquerdistas implicam a instauração de
referências conceptuais novas, a produção de novas formas de organização
e. portanto, os produtos corriqueiros que nos oterece o atual mercado do
marxismo-leninisnmo nao conseguiriam sequer nos dar a ideia.
Eo desconhecimento, pela vanguarda revolucionária, de processos
inconscientes que coalescem nos determinismos socioeconomicos que
deixou a classe operária sem defesa diante dos mecanismos modernos de
alienação do capitalismo. E no tecido do inconsciente social que fincanm
raizes as organizações burocráticas pretensamente representativas da classe
operária. Enquanto essa vanguarda permanecer desprovida, desorientada,
sem apreender essas estruturas de neurose social, de que o burocratismo
não passa de sintoma, não haverá chance de se ver, por milagre, a de-
sorganização dessas estruturas mortíferas. O "liberalismo" kruscheviano,
longe de ser um passo à frente, longe de alcançar um enfraquecimento
do burocratismo interno, parece, pelo contrário, fadado a reforçá-lo, sob a
mascara benigna, e mesmo casual, de jovens dirigentes que se empurram
para o centro do palco.
capitalismo traz em si o câncer buroerático, precisanente a
medida enm que é incapaz de superar suas contradiçöes institucionais
lundamentais. Ali onde antes era necessária uma república radical-so-
Calista, carece-se agora de um enquadramento dos meios de produção,
C
especialmente dos fluxos de mão de obra. A medida que as orgn
2aCoes da classe operária não só se deixam cair a arnmadilha da politica
participação como também não desenvolvem claramente uma saida
260 1Pcanalse eIransversalhdal
para cwe inmobillsno,nem cTinn nenhum processo de institucio.
Tevoluconária do tipo do duplo poteT,D.A0 1avera grande coisa a e iOnalizaçao
das lutas tiuturas. perar
bolchevismo representou certo potenCial de intervencão cos

burocratismo social-democrata, mas hoJC as cosas são diferentes:trss.


a--se
de aber por que meio se podem contorar, dissipar, destruir esses tmi
as
participacionistas que intoxicarm progressIvamente a classe operária.
de sua eticiencia incidir, no essencia1, sobre a ordem imag1nária em nad
fato
tada
atenua o perigo que representa. Pelo contrario. Suas carèncias teárie
1cas
não impediram que o leninisimo pusesse o dedo no mecanismo a a c
e faz
que a classe operâria, entregue a s1 mesma, tenda a oscilar na direcän d o
sindicalismo, ou seja, rumo ao primado da demanda sobre o deseio
a solução leninista de uma ruptura politica, do isolamento de um obieto
institucional, máquina de consciencia e de açao composta apenas por
revolucionários profissionais, ainda que seja conveniente como o mostrou
a História numa situação catastrófica como a de 1917 na Rússia.näcO nodis
dar à classe operåria os meios de tomar o
poder em
regimes capitalistas
altamente desenvolvidos, isto é, em sistemas em que o
poder já não se
concentra numa oligarquia identificável -

as "duzentas familias"- mas


está apreendido pelos nós de uma rede infinitamente complexa de rela-
çoes de produção, quer se trate de um elemento qualquer da economia
mundial ou do mais ínfimo de nossos gestos cotidianos.
Seja como for, o leninismo nos legou uma direção de retlexòes
para explorar o que chamei de, à falta de melhor termo, a "castração de
grupo, a "ruptura leninista"," ou seja, 11Cidencia do surgmento de
grupos-sujeitos nas relaçòes humanas comuns. O que acontece quando

máquina tão partido de


una coesa quantoo Lenin ação? Todos
entra em
os modos habituais se veem falseados. Parafraseando Arquimnedes, Lenn
pedu um partido para mover a Rúsia. E. para nós agora, que tipo de
naquina revolucionária poderá desmanchar no ar todas as cidadelas
de burocratismo e desencadear a revolução? Nio é às apalpadelas que
Cncontraremos a
resposta. Permanece o problenna teórico da analse

s e n d o a"
tuatsversalidade", atinal,nada mais do que unma tentativade analse dacent
demoratico
e a Hlistória
Cahdade, a
Subyetinvidade
261
Devemos dispor dos meios de demonstrar
disnor do teoricamente, de interpretar
exaustivamente,
mente. qua1s os mecanStnos de identificação dos assalariados
com os artefatos dos explorador quais os recursos da continuidade do
DCE da CGT etc., por que, apesar do desgosto que estes Ihes inspiram
rabalhadores a eles recorrem.. Fora disso, a vanguarda revolucionária
ai ela mesma voltar aos mecanismos repetitivos de que é vítima a classe

operaria.

A
mentalidade sindical e integracionista està profundamente arrai-
cada nos espíritos. Espera-se que as questöes sejam postas na urgência, no
gada i

e chndalo. Na verdade, espera-se do patrao ou do ministro que "assumam


escand

suas
responsabilidades. Nunca se poe em questão a legitimidade de seu
noder. Como conseguir que uma
pode
olítica analítica abra uma brecha e
se dote de pontos de apolo extrassetorial para consolidar-se? "Que as

pessoas se reúnam, diSCutam livremente com o máximo de sinceridade

ibertando-se dos artiticios ilegitumos.. No fundo, não encontramos


grande coisa a mais! Mas esse descentramento, essa ruptura da enunciação.
não é o que constitui a essencia da clivagem do político em sua diferença
em relação à demanda? De uma politica outra, uma politica da alteridade,
política revolucionária?

O trabalho feito até agora na FGERI não pode ser


superestimado.
No essencial, ele só tocou setores pouco marcados pelo stalinismo, e,
por outro lado, setores relat1vamente poupados pelo capitalismo (ensino,
urbanismo,saúde etc.). Digo relativamente porquue as coisas evoluemeo
estatuto respectivo das classes médias e da classe operária também evolui,
não na direção da constituição de uma "nova classe operária", mas na de
uma classe operária inserida numa nova situaçao e que tende a absorver
o conjunto do setor terciário.

Pensemos, por exemplo, no setor da psiquiatria, em que pudemos


apreciar diretamente a carencia de federaçoes sindicais para detunir um
programa reivindicatório coerente para os entermeiros psiqunatricOs.
Lomo sabe, tal profissão é trabalhada por remanejamentos protundos
se

do fato da evolução das técnicas médicas e das


inovaçoes instittucionais.
Carcereiros que eram, os enferneiros tenden a se tornir tecncos
Lente
qualificados, podendo ser lev.dos, no tuturo, a cuuiprir grade
PArte do
papel tradicionalmente atribuido ao psiquiatra (politica de setor
202 Psicanalise eTransversalid.
visitas en domicílio e assim por diante). Mas os sindicatcos
sahdacde
atos não querer
ouvir nada disso. Para eles,conta apenas a defesa dos beneficios Tem
SIstema dos "trës oito" 25
dquido
dos.
Nada de questionar. por exemplo,0
a organização da vida na instituiçao; eles defendem encarnicad. paralisa
uma hierarquia absurda e rejeitada pela maioria do pessoal. Sän nente e
rejeitados certos dirigentes tederais que, najuventude, foram enfertambém
e que estão agora completamente longe da protissão. Uma tenea entermeTOS,
intervenção - a organização de uma associaçao de funcionários-
tentativa de
nos
mostrou que, nesse nível, os burocratas diticimente tiveram como n
uma
resposta, afora - o que não deixaram de fazer-a calúnia e a amen
a de
exclusão da CGT:"Vocès são gaullistas, agem contra os sindicatos
não
têm o direito de passar por cima de seus dirigentes..". Exigiu-se
mente
o direito de se reunir e discutir o trabalho, deixando de lado as categori
e diplomas, e convidando tanto os chefes de setor como os burocr
Cratas,
psiquiatras, internos, o pessoal de serviço etc. Em algumas semanas, mai1s

de 15 hospitais tinham sua associaçao, houve um começo de federacão


encontros nacionais, visitas interestabelecimentos, intercâmbios e incr
veis indiscrições sobre o que ocorria de fato nos serviços. A federacäo
CGT conseguiu pagando um alto preço-liquidaro movimento. Mas
alguma coisa deve ter ficado nas cabeças.
Está claro que um tal empreendimento, de incontestáveis efeitos ana-
liticos -

seria
preciso, para demonstrá-lo, examinar as coisas em detalhes
encontraria por si seus limites devid a seu isolamento, à ausência de
uma coordenação que permitisse fazer alcançar em certa escala seu im-
pacto politico e teórico e estabelecer uma melhor relação de forças para
defende-la. Uma coisa é esterilizar localmente o
aparelho burocrático,
mas outra serå neutralizar o conjunto de seu desenvolvimento. E evidente

que esse trabalho não poderia ir muito longe partindo de


experiencias
desse tipo, ou mesmo de intervenções bem mais
continuas, como a que
fazem h camaradas do grupo Hispano." Só uma
anos os
complexa
interação de numerosas intervenções poderia chegar a uma abertura do
limiar contra o
qual chocamos
nos
regularmente. Mas -

e preciso repenr

25 O revezamento de tres
equipes diferentes a cada 24 horas para o mesnno servigo.
26 Ouniers Face aux
Appareils. Maspero, 1970, p. 266 ss.
A
Caralhdade,
a Subyetividade e a llistória
263
ruDOs de pesquisa e de intervenção analiticas que conseguimos

com maior ou
Imenor grau de sucesso, em diversos setores.
implantar,
risco de nos iludir profundamente enquanto não se puderem
carrel o

multiplicar os grupos do tip0 Hispan0, ou seja, grupos que trabalhem


setores-chaves da produção.
nos

Creio que é oportuno permanecer leninista, ao menos no tocante ao


Donto exato
do que se pode esperar da espontaneidade e da criatividade

implantar de maneira duradoura grupos de caráter analí-


das massas para
é se dizer ainda leninista quando se considera que
tico se permitido
e a promoção de um partido altamente
o objetivo do momento ja não
assumam o controle
centralizado, mas de um meio para que as massas
de seu destino.

A análise seria, em última instancia, a detecção dos vestígios de con-

todas as suas zonas secretas de "recaidas"


taminação do capitalismo em

Uma política revolucionária seria algo que decompusesse a demanda, a


compreensão "natural" das coisas, e a partir das mais simples situações; a
revolução"azendo histórias"a partir de eventos que.para o senso comum
não valem a pena, histórias de donas de casa e de armários de cozinha.
a humilhação cotidiana de uma hierarquia abusiva... E aos poucos, mas
também por meio de atalhos fulgurantes, que se pode realizar o rastre-

amento dessas situações até os significantes-chaves do poder capitalista.


Essa transição seria também uma transtormaçao, porque a passagem ao

politico marca uma clivagem: o conceito politico não está no simples prolon-
gamento da demanda.
A análise da demanda é como um ácido que tira as impurezas do

factual para amolar seu gume, de tal nmaneira que ele posa abrir a sub-

Jetividade social desejo e que, por outro lado, não pare de reinjetar a
ao

discurso
Singularidade, o imprevisto, e até o no sentido, na coerencia do
pOntico. Deste ponto de vista, a análise não ten fun; e o que a taz diterir

de um programa fechado sobre si mesno. Se nao tor a "revoluçao perna-


hente", será a "análise interminável"! O conceito politico e questionado
retundado ex nihil;
PCTpetuamente pelo trabalho analítico, sempre a ser

O
abalho analitico o renova permanentenente, ao teipo cm quc
n t e m a certa distância da adesão sem reserv.as. Nada a i s perigoso do

cicntiticidade do conceito
T COnliar na promoção de uma pretensa
Psicanálise cTransversal1dade
204
politico que poderia ser obtida por um tratamento filosofico aproDri.

do! Nesse domínio, nunca havera uma garantia abSoluta. Cone. absoluta. Conceitos
teórico-políticos aparentemente bem organizados nao podem garans:.
ntir
revolucionaria coerente. O racionalismo mórhid.
por si uma práxis ido,
apropriando-se da máscara de uma releitura Cientifica de Marv.pode
levar às mais espetaculares mistificaçoes e desvios politicos. A pulsãn de

morte que essas tentativas veiculam hes assegura por outro lado certo
sucesso ijunto a inúmeros militantes que ainda nao se recuperaram do

crepúsculo dos ídolos e dos dogmas stalinistas. Não se trata de pregar


o oportunismo, mas de situar com exatidaoo lugar da teoria, isto é a

ordem simbólica e não na eficiencia real imediata. Quer se queira


ou
não, o saber politico permanecera a beira do vacuolo analítico. Inversa.
mente, esse vacúolo analitico é - deve ser - Circundado integralment.
nte
pela práxis revolucionária. No campo soCial, a análise só é concebivel
na medida em que seus enunciados sao o fato de uma enunciação e de

uma ruptura politicas atuadas.


So um grupo engajado numa praxis revolu ionaria pode funcionar

a título de vacúolo analítico, adjacente a processos sOCiais, sem vocação


hegemonica, sem outra pretensão que a de fazer avançar a verdade por
caminhos em que habitualmente há o empenho para que ela jamais se
manifeste. Só um empreendimento analitico contra o fundo de uma
práxis revolucionária poderia pretender realizar uma verdadeira explo-
ração do inconsciente pela simples razão de que o inconsciente não é
senão o real por vir, o campo transtinito das potencialidades abrigadas
nas cadeias significantes abertas, ou que esperam ser abertas e articuladas
por um agente real de enunciação e de atuação.
Isso equivale a dizer que rupturas significantes, incluídas as mais
"intimas" e, por que não, a da pretensa "vida privada'", poderianm revelar-
-Se como nós decisivos da causalidade histórica. Vá saber se a revolução
que nos espera não declinará seus princípios a partir de algo enunciado
por Lautreamont, Katka ou Joyce? Não tém os regimes imperialistas c

Os regimes ditos socialistas conmo barreira atual instituições e arcaisnios

2/ Uma
Nem em
qualquer outro, isso não estí
mas
questão aqui. Como esereveu Laecan:
em
cenca económica inspirada em O Capital não leva necessarianente a usá-lo como tora dee
volução, e a História parece exigir recursos (que não uma dialética predicativa.(tnts. oS69,)
Causalidade, a Subjetividade e a História
A
265
Como, por exemplo, os relativos à família e ao consumo? Ocorre ainda
a pele
de o lucro se apegar do
capitalismo como uma túnica de Nesso.
nas Como aceitar que envolva tambemo que foi rejeitado pela Revo-
lução de Outubro?

É sincronicamente, em todos os planos da fenomenologia do sujeito


e da História, que se operam os bloqueios e brechas potencialmente re-
volucionários. Na escala internacional, contradiçoes irreversíveis afetan
eauilíbrio mundial à medida que os regimes sociais existentes mani-
festam sua impotencia quanto a promoçao de um sistema de relações

internacionais que lhes permitisse exprimir diplomaticamente e mediar


as rupturas signiticantes, os pontos de parada singulares da História con-
temporânea. Esses "acidentes" se chamam: a longa marcha, que deveria
desembocar na tomada do poder (contra a opinião de Stalin) dos stalinistas
na China; o titismmo, consequëncia da tomada do poder pela Resistência
dos acordos de Yalta que Stalin assinara;
iugoslava, também ali apesar a

primeira guerra de libertação do Vietn e sua irrupção quase acidental que


os dirigentes comunistas tudo fizeram para evitar; a luta da FLN argelina,
iria desembocar no desmoronamento
que, apesar do começo precârio,
forma clássica; as investidas
do colonialismo francês, ao menos em sua

dos revolucionários cubanos, que instalou um abscesso crônico


romanescas

estratégico do Pentágono... Acidente também,


ou
no cerne do sistema

melhor, artificio, o transplante de uma


colònia israelense que, longgo no

do povo árabe-ao passo que


prazo, se torna fator de revolucionarização
fez que os sionistas aceitassemo
foi por pouco que Max Nordeau" no
"nova pátria" judia... em Uganda!
princípio da implantação da
domina a cena mundial,
No momento, é a Guerra do Vietn que
oferecendo-nos o espetáculo de uma escalada ininterrupta da estupidez
norte-americana. Mas, na origem, também essa questão
e da barbárie
coisa local. Os eventos desenvolveram-se
a partir da
nao passava de uma

minoria nacional, a partir de levantesespontâneos contra


revolta de uma

o fascismo de Diem, e também nesse caso a hierarquia do partido opós-se


aos acordos de Gene-
e mostrou-se favorável ao respeito
a insurreição

de
Max Nordeau
-
escritor húngaro, ex-partidário
28 Por pouco" é modo de dizer, dado que Herzl toi funda-
de Herzl-Theodor
-acabou assassinado por um
partidário
Herlz, 1849-1923
dor do sionismo político (1860-1904)!
266 Psicanálise eTransversalida
bra.. Mais tarde, as coisas vieram a tomar a torma de uma verda.
guerra que mobilizou gigantescos recursoS e girou em torno de rdadeira
questão crucial: um pequeno povo decidido a lutar até a morte ne uma
liberdade pode não enfrentar sua
ou
impunemente o imperialismo? Até.
ponto podemos nos recusar a nos alinhar Com uma ou a outra nolt.que
dos dois"grandes do socialismo?O Pentagono poderia no final politica
um
compromisso com Moscou Pequim
deveria ele resignar.
e ou
gociar
ar-se s
exigèncias de um governo que se esconde na selva? Quais os limitec
de
semelhante escandalo? Pode-se esperar esmagar tal precedente
anunciador
or
de um possível desmoronamento dos "dominós" asiáticos?
Por infelicidade, a pouca diligëncia com que os dois "grandes" em
questão foram em socorro do povo martir deixa
augurar que eles acabarão
por sentar-se à nmesa com os norte-americanos para arranjar as coisas nac
1as
costas do povo vietnamita. E ainda que devesse ser assim, nem por isso
Iss
a História deixaria de
registrar que o que move hoje o essencial de seu
curso não são mais os
"grandes problemas-devidamente repertoriados
pelos estados-maiores e pelos diplomatas- mas brutais irrupções revolu-
cionárias que destroçam as previsoes e as
estrategias dos atuais blocos.
Os parceiros stalinistas e social-democratas do
imperialismo terão
cada condições representar os povos oprimidos e as massas
vez menos de
exploradas para negociar em seu nome. Cada vez menos..., mas, não
obstante, ainda não se produziu nada decisivo que conseguisse imobilizar
a máquina infernal do "substitucionismo". O
processo que restituirá às
massas revolucionárias o controle direto de seu destino histórico mal teve
início. Enquanto não chegarmos a isso, deveremos esperar que mensas
carnificinas, como as do Vietn, da Indonésia - à inmagem das da Comuna
de Paris,continuem a dar testemunho do monstruoso
impasse em que
se acha paralisado o movimento revolucionário internacional. Exaltar os
méritos do heroico povo vietnamita não deve mascarar a verdade: esse
holocausto tem algo de sacrificial, sendo sua monstruosidade simetrica
ao caráter criminoso da política dos estados-maiores do movimeno
operario internacional, que deixa isolada a luta do povo vietnamita t
como deixou da
antes a
República espanhola...
29
BURCHETT, Wilfred. Vietnam, la Seconde Résistance, NRF 1966. (Ngo Dinh Die
to
ditador vietnamita anticomunista e
pró-norte-americano).
Sulbyetividade e a História
A Causalhdacle, a 267
Apelo ao imenos que se aprenda a liçao de que, a tal preço, se encare

rdade de frente, isto e, que e preCiso recomeçar tudo do zero, seguir


tTA Orientação, encerrar uma epoca ultrapassada da estratégia e da teoria
do m o v i m e n t o c o m u n i s t a .

4.Vietna, 1967 (excertos)0

NoVietn, o imperialismo norte-americano tentou fazer a demons-


tracão de que sempre era capaz de impor sua lei e seus métodos quando

bem o entendesse. Ele mobilizou seus enormes recursos econômicos e


humanos com vistas a alcançar esse objetivo. Aceitou comprometer seu
prestígio autoatribuido de "grande nação-irm protetora do mundo
livre". O status quo internacional, mantido a duras penas a partir da II
Guerra Mundial, viu-se perturbado por isso. O povo vietnamita lançou-se
de corpo e alma å luta contra a agressão. Seu heroismo e sua inteligência
não têm comparaço na História. Ele combate por sua sobrevivência, sua
independëncia nacional, sua unidade, sua soberania. E consciente de que

sua causa é tambem a da emanc1pação das classes oprimidas e das nações


sujeitadas. A opinião püblica trancesa, de sua parte, considera-se em seu
conjunto pouco atetada por esse conflito. Não obstante, os interesses do
povo vietnamita väo fundamentalmente ao encontro dos interesses dos
trabalhadores, dos intelectuais e de todos aqueles que estão ameaçados
de ver se reforçarem, no futuro, as diversas formas de repressão usadas nas
sociedades capitalistas, por mais modernistas que sejam. Será necessário
lembrar que a defesa da verdade está na base de toda luta emancipatória,
que as tormas mais sutis e nmais eficazes de alienação så0 as que parecem

naturais, aquelas de que não se consegue, sem mediaçáo, tomar consci


encia, e que impregnam o próprio cotidiano da existència?
E assim que uma espécie de comportamento coletivo de evitação
levou a um verdadeiro "desconhecimento sistemático" da real natureza

E S t e texto deveria servir de introdução a um núnmero especial muito importnte de Revherches

dedicado às consequèncias da agressão norte-america1.a ao Vietnì para o conjunto dos paises


do sudeste asiático. Esse volumoso dossiè, a cuja elaboração se dedic.aran grupos de trabalho

tormados por especialistas e militantes, não pode ser publieado em razio dos events dde mao
de T968, tendo o atraso que sofreu sua impressão tornado obsoletos os artigos n.an unportantes

que se somou o fato de seus participantes estarem dispeTsOs.


268 Psicanalise c Transvers

do dranna que se procesa no Victna. Ate certo ponto, é cabivel


a
pensar
nem os mais lúcidos escapam completamente esses m e c a n i .
que 1Smos.
Eis, pensamos inÓs, uma questa0 1mportante que precisa ser elucida.
Consideramos, com efeito, que a sclvageria da agressão norte-ameri
cana
a um povo do Terceiro Mundo nao deve Ser tida como a manifestac
aberrante de um "acidente histórico sem maior significação. Esse ner
ação
delo requer uma interpretaçao numa perspectiva de conjunto. Com
ele
se inaugura uma nova "virada da Historia. Em outras palavras, pensamo.

que não é só como cidadão ou militante desta ou daquela organizaec:.


ção
que tenmos de tomar uma posiçao sobre O que acontece lá, mas 1gual-
mente visto que temos uma pesquisa especirica a realizar em diferentes

domínios das ciencias humanas.


Com a Guerra do Vietn , reforça-se nos Estados Unidos uma
ideologia da raça dominante, com seus correlatos de puritanismo,
seus mitos exterminadores do "mau objeto": tudo o que é outro
tudo o que pretende escapar ou de fato escapa ao annerican way of life.
Os piores atos de barbárie cometidos diariamente pelo corpo expe-
dicionário americano, pelas tropas fantoches de Saigon e seus aliados
são metodicamente afastados da consciència de uma opinião pública
moldada pelas "máquinas da informação". Diante disso, chegamos a
pensar no fascismo. Está claro que o hitlerismo se desenvolveu num
contexto histórico totalmente distinto. Mas isso não deveria impedir-
-nos de refletir sobre o processo de degeneração moral que conhece
a nação mais poderosa do mundo - à parte as minorias ativas que

lutam na contracorrente sem ter obtido até agora resultados decisivos.


Freud, depois de Marx, nos forneceu o meio de melhor abordar essa
função de desconhecimento e de defesa da ideologia. As relações de

produção das sociedades ditas de consumo são mobilizadas de tal


maneira que as classes dominantes tenham aí um controle crescente
das determinações inconscientes dos indivíduos. Os modos de vida e

de informação, as instituições, tudo nos predispoe a aceitar sem maior

reflexão sistemas de coerção de todo gênero, a par de um assujeita-


mento quase absoluto às engrenagens economicas. Enm contrapartida.
assistimos ao fato de serem essas sociedades de consuno cada Ve
mais geradoras de perversões coletivas do tipo que conhecemos ha
História
A
Causalidade, a Subjetividade e a
269
1111 bon tempo Com nazismo, ha um pouco menos de tempo com

e hoje com a guerra do Vietn .


a guerra da Argelia
Em que um tal drama - tomando-se a palavra como eco de sua

accpção politzeriana- se inscreve no fundamento da existência de cada

1um de nós? Que tipo de repercussao inconsciente pode ter sobre as ins-
tituiçoes com as quais lidamos: Em que o estudo de eventos políticos e

como esse pode constituir um objeto de interesse das diferentes


sociais
ciências humanas? Em que condiçoes de estruturas SOCiais, aparentemente

mais ou menos fechadas em si mesmas, sao suscetiveis de se abrir a um


uma atualizaço de novas formas de
processo analitico que implique
subjetividade social e de assunção da História?

A decifração psicanalítica, ao querer desconhecer que os objetos de


amor ou de repulsa, os modelos identificatórios, em suas relações mais
intimas com o sujeito, incidem diretamente sobre os processos históricos,
exclui de imediato, de seu campo de elucidação, determinismos incons-
cientes de primordial importância. No nível do sujeito inconsciente, a
verdade é indivisa: a distinção entre a vida privada e os diversos níveis da
vida social deixa de vigir; nessas condições, a eficiência dos sistemas de
valor não depende do grau de consciência que se pode adquirir por meio
da educação, da informação e da cultura. Assim, a viol ncia conquistou
seus direitos" no curso da História, elaborou seus evangelhos e ate sua
jurisprudência internacional. O fascismo produz1u uma torma nedita
e extremamente perturbadora de violència. A agressão norte-amer1-
cana nos traz hoje outra. Tendemos a nos tranquilizar, a desconhecer a
originalidade de semelhante processo, a nos dizer que no funal as coisas
acabam bem, as regras do bom-senso reassumirão as rédeas, que a nação
norte-americana vai voltar a si... Na verdade, há boas razðes para cre
que esse tipo de raciocínio procede de um dos mecanisnos de detesa
que evocamos e que são instaurados para protegero sono da coletividade.
Essa recusa em levar a sério toda perspectiva histórica que se pertila u n

norizonte de desconhecimento e inquietude, essa tendeCia irreprimivel


a remeter todo de
evento novo a um sistema imaginário remniscenei
histórica poderíamos atribuí-las àquilo que Freud desereveu no registr
da pulsao de morte? Repuga à boa conscicnca racionalist.a e progressista

abordar essa dimensão do problema. Os mais militntes entre nos estão


Psicanáise e Transversalidade
270
um otimismo a prion no que se r e f .
a ere a
bem especialmente expostos

evoluçãodas sociedades industriais.


Um simples exame superticial da Historia recente revela, contiud
forma das relações internacionais
inúmeros indícios de que a atual e
incapaz de encontrar um ponto de equilibri0. Poderemos imaginar que
os paises do lerceiro Mund
alguma estabilização seja possivel enquanto ndo
O mito econömico?
permanecerem num desesperador impasse antes
universal, da "coexistência pacitica"-lembremo-nos do "espírito de

perdeu todo o sentido: em nossos dias, há apenas uma


Bandoeng"31 -

coexistencia de fato entre as potëncias industriais dominantes,e odestino


das nações pobres só é levado em conta em funçao de sua importância
estratégica e econömica, bem como de sua submissao neocolonialista.

Como as relações de produção capitalistas nao passaram no essencial

por modificações decisivas e como os Estados social1stas mostraram-se


incapazes de impor outra lei internacional que nao a da selva, o Estado

líder do imperialismo mundial dedica seus esforços a reajustar as relações


de forças em seu proveito e a estabelecer um sistema de "policiamento"
internacional. Mais uma vez, isso desembocou nesse outro"pós-guerra",
que também poderia ser simbolicamente representado pelos organismos
internacionais cuja missão de arbitragem deveria permitir garantir a ma-
nutenção de uma paz perpétua. Um outro sistema de valores, ainda em
busca de legitimidade, est prestes a sucede-lo: basta pensar, por exemplo,
na inacreditável noção de "droit de suite" (direito de perseguição), que
parece hoje natural, e que pode justificar qualquer forma de agressão.
Diante dessa evolução, as palavras de ordem tradicionais de luta anti-im-
perialista perderam o sentido; as análises, as estratégias propostas pela
esquerda clássica permanecem contradependentes das do imperial1smo.
uma vez que ele mesmo integrou toda uma parcela da própria bagagemm
de adversários. Tudo em
ideológica seus se passa como se os parceiros
atividade respeitassem a mesnma regra do jogo, na incapacidade eni que
estão de se apossar das alavancas de uma verdadeira transformaçao s

atn
31 Bandoeng é uma localidade da ilha deJava em que se realizou em 1955 uma conterenu
lereeiro
asiática, na época enm que Alfred Sauvy e Georges Ballandier inventaran a expresu
Mundo" para designar os países economicamente subdesenvolvidos. N. T.
Subjetividade e a História
A Causalidade,
a
271
relacoes de produçao em escala internacional. Che Guevara, em sua últi-
ensagem, falava da tragica solidao do Vietn . Mas não é igualmente
trágica a solidão das classes oprimidas no seio das sociedades opulentas2
Seria tambem necesario olnar de trente o desespero secreto e paradoxal

dos revolucionários ocidentais, seu sentimento de impotência diante


do crescente controle economico que faz que os trabalhadores aceitem
seu destino sem reclamar, e quem sabe até levá-los a amá-lo na medida
mesma de sua repugnante banalidade. Considerando-se as coisas poor
contraste, a heroica soidão do povo vietnamita, sua criatividade, a riqueza
das relaçoes sociais que construiu através de sua luta, a originalidade dos
organismos estabelecidos pela Frente Nacional de Libertação afiguram-se
um verdadeiro canto de esperança.

Leibremos que este texto foi eserito na véspeta de mao de 19%68


A Contrarrevolução é uma ciência
que se aprende'

A ação especifica do Movimento de 22 de


marco não noderia reduz1r-se ao enfrentamento direto com o poder do
Fstado, à redescoberta de formas violentas. Esse movimento não foi a
rota que fez transbordar o vaso, 0 catalisador etc. O que quer que pen-

cem deles alguns espiritos sociologizantes, a "sociedade de consumo" de


modo algum reduziu as potencialidades de violencia na sociedade atual.
Ela simplesmente as atenuou, parcelizou, integrou.
A ação especifica do 22 de março toi ter desteito politicamente
métodos de canalização a quem recorrem instituições do Estado, dos
sindicatos e do partido.
"Normalmente quando os tiras barram a passagem para um predio
como a Sorbonne, há negociaçoes, vai-se embora, protesta-se, fazem-se mo-
cões."Normalmente", há pessoas a postos para tazer o jogo dessa negociação:
representantes da União Nacional dos Estudantes Franceses, dos sindicatos, os
eleitos etc. No caso em tela, o mecanismo não funcionou. Coudray,' em seu
texto,parece considerar que a massa dos trabalhadores - exceção feitaa uma

vanguarda de jovens-éfundamentalmente cúmplice da burocrmcia sindical.


Na realidade, não há a seu alcance outra solução. A ocupação das fäbricas
seguiu a ocupação ilegal da Sorbonne e de outras edificações públicas.
A carencia de interlocutores legitimados do movimento estudantil
fez eco o fato de inúmeros operários recusarem o protocolo de acordo
de Séguy (dirigente da CGT).
Hoje, os maníacos da "fase de ascenso"e da "tase de descen
decretaramo fechamento geral e começam a contar suas notas de di-

nheiro, disso decorrendo os apelos à disciplina recuperada, i organi7.iy.10,

verdade, movimeto de luta de


*perspectivas de longo prazo... Na o

C0
que vem seguir foram publicados em L Joumal de la Comm14ne tndiaite, Fal. de
E a

i , p p . 5ll e 598. Foram extraicdos da"Tribune du 22 Mars", junho de o


feas
1968: Li Brehe, IHmeres KR stur ks

4Y Jean-Marc, Claude lLetort e Eduar Moriu, MLi


véne nents. Paris: Fayard, 1968. N.T
274
Psicanálise eTransversalidade
modo algum está em retirada, buscando antes novos meios e novas ars
armas.
Os grupúsculos que pretendem "capitalizar a vanguarda" têm no
final
das contas um comportamento semelhante ao dos caes de guarda
das
burocracias sindicais. Desejam canalizar um moVimento para quadros de

de seu fracasso. Ja se ve o renascimes


organização que deram prova
Comite Centeal
da ideologia reacionária da organização piramidal: o ,0o
Birò Politico, o secretariado, o partido de vanguarda, as organizações de

massa como "correias de transmissão etc.


Uma forma original de organ1zaçao revolucionaria està à procura de

si mesma através da luta, bem como no estorçO por destazer as manobras

dos "especialistas estabelecidos" da organizaçao revolucionária, aqueles

pretendem dispor de um capital ideologico, de um saber absoluto de


que
tudo teriam a esperar. O controle dos comites de acão nor
as massas
que
esses militantes esclerosados, que se mostraram incapazes de compreender

a luta em seu desenvolvimento, militantes que, em vârias ocasiões, e a

diversos pretextos, tentaram contrariá-la, um tal controle significaria uma


recuo.
desorganização e, passar do tempo, um
com o

Não apenas o 22 de março não deve ceder à chantagem da integra-


democrática" dos comitês de base, como
ção pretensamente "centralista
também defender o direito de estes últimos permanecerem independentes
de todas as estruturas que pretendem manter sob seu jugo.

Criar uma confederação de comites de base só teria sentido numa


estivesse em questão estabelecer
etapa bem ulterior, no momento em que
estruturas de tomada de poder nos níveis regional e nacional. Hoje, os
comitès de base realizam sua ação à feiço da guerrilha; querer unificá-los
demasiado cedo seria com certeza esterilizá-los. Uma coisa bem distinta
é a estrutura de coordenação que deixa aberta a possibilidade de umna

plena extensão de comites e sobretudo de uma liberdade de expressao,


de uma criatividade na base, que permanece como a arma esserncial ao

movimento revolucionário.
5 de junho de 1968
Autogestão e Narcisismo

Aautogestão.como toda palavra de ordem.ode


ser ingrediente de qualquer molho. LDe Lapasade a De Gaulle. da CFDT
a0s anarquistas. Autogestao de que? Falar de autogestão em si. independen-
temente do contexto.é uma mist1ticaç0. lorna-se uma espéde de principio
moral. o envolvimento assume um que de si mesImo. pOr si msmo, sugr
que se gerará o si mesmo deste ou daquele grupo ou empresa. A eticáia
dessa palavra de ordem depende. sem dúvida, de seu efeito de autoseducão.
A determinação, em cada siruação, do objeto institucional corspondente
é um critério que deveria permiar esclarecer a questãa.
A autogestão de una escola ou universidade é linnitada por sua
dependencia objetiva do Estado, do modo de tinanciamento, do engaja-
mento politico dos usuários etc. Ela só pode ser uma palavra de ondem de
agitação transitória e que no final corre o risco de permanecer passavel-
mente confusionista se não for articulada a uma perspectiva evolucionária
coerente.A autogestão de uma fabrica, de uma oticina, corre também o
risco de ser recuperada pela ideologia retormista psicossociológica que
considera dever o domínio "inter-relacional" ser tratado por técnicas
de grupo, por exemplo, o training group (grupo de treinamento) entre
técnicos, dirigentes, patrões etc. (Para os operårios, essas tecnicas são

demasiado"caras").
Contesta-se", no imaginário, a hierarquia. Na realidade. nào só
esta não é tocada, como se encontra para ela um tundanmento moder-
nista, dando-lhe um estilo e uma moral, rogeriana ou outra. O recurso
de autogestão de uma empresa implica o controle etetivo da produção,
Pogramas: de investimentos, de organização do trabalho, de relaçoeCs
comerciais etc. Assim, um coletivo de trabalhadores que se "envolvesse
em autogestão" numa fåbrica teria de resolver inúmeros problema8 com

*Ver nota na 273


p.
Contedération Française Démocratique du Travail (Confederaão Francesa Denmocratia da
Trabalho). N.T.
Psicanáe e'Trasveraldade
270
tamb
o exteri1or. Isso só seria
duradouro e
Viavel se esse exterior
mbém es-
de autogestao.
Uma unidade isolad, .

em termos
tivesse organizado
cm autogestao
C, na verdade, o coniunto
das
sobreviveria muto tempo
das centrais telefani.
engrenagens produtivas
se 1nterpenetra
a maneira
onicas.
durante as greves, o remanejamento .

As experiencias de autogestao
fábrica para atender
as necessidades dos gresic
yistas,
setores de produçao de uma

autodetesa, da são experienei.


de subsistencia, cias
a organização dos meios
Mostram possibilidades de ir além d
indicativas deveras importantes.

níveis reivindicativos das lutas.


Indicam um caminho de organização de
durante um periodo transitório. Mas é eui
evi-
uma sociedade revolucionária
claras e satisfatorias aos tipos de
dente que não poderiam dar respostas
de estruturas adaptados a uma sociedade
relações de produção, aos tipos
os poderes económicos e politicos da bureuesia
que tenha expropriado
numa economia bastante desenvolvida.
Na verdade, o controle operário traz problemas politicos fundamen-
tais, uma vez que se refere a objetos institucionais que poem em questão

a infraestrutura economica. Um antiteatro em autogestão é uma solução

dúvida excelente. Um ramo industrial controlado dire-


pedagógica sem

tamente pelos trabalhadores traz de imediato todo um conjunto de pro-


blemas economicos, políticos e sociais em escala nacional e internacional.
Se os trabalhadores não cuidarem desses problemas de uma maneira que
vá além dos quadros burocråticos dos partidos e dos sindicatos atuais, a

autogestão económica pura corre o risco de transtormar-se em mito e

acabar em impasses desmobilizadores.


Falar de autogestão política talvez seja também uma fórmula geral e
enganosa, dado que a política é fundamentalmente ajuste de um grupo
com relação a outros grupos numa perspectiva global, explicitada ou naa

A autogestão tomada como palavra de ordem política não é um tim em

s1 mesmo. O problema é definir em cada nível de organização o upo

de relações e formas a promover e o tipo de poder a instituir. A palavra


de ordem da autogestão pode tornar-se uma palavra de ordem vazia se

substituir amplamente respostas diferenciadas para níveis diterentes


diferentes setores em função de sua complexidade real.
A transtormação do poder de Estado, da gestão de um ramo it
dustrial, organização de um anfiteatro, a contestação do
a
sinne
Autogest o e Narcisismo

277
Crático são coisas inteiramente distintas que devem ser consideradas
em separado. E de temer que a palavra de ordem autogestão, que se re-
.olou justa nas lutas de contestaçao das estruturas burocráticas no
plano
niversitário, seja recuperada pelos ideólogos e políticos reformistas.
AJA há uma "filosofia geral" da autogestão que a torne aplicável em
toda parte e em todas as situaçoes, em particular daquelas que relevam
do estabelecimento de um duplo poder, da instituição de um controle
democrático revolucionário, da perspectiva de um poder operário, do
estabelecimento de sistemas de coordenação e regulação entre os diversos
setores de luta.

Se não se real1zar a tempo um esclarecCimento teórico do alcanc


dos limites da autogestão, essa "palavra de ordem" ver-se-á comprome-
tida por acepções reformistas e será rejeitada pelos trabalhadores talvez
em beneficio de formulações do tipo "centralista democrático", que são
imediatamente recuperáveis pela dogmática profissional do movimento
comunista.

8 de junho de 1968
Excertos de discussões: fim de junho de 1968

1 Parte

F-.Admitindo-se que se possa dizer das massas


a1e elas são "estruturadas como uma linguagem", poder-se-ia conside-
rar também que aquilo que é expressão consciente das organizações é
estruturado como uma neurose! Seja como for, é essa noção de massa
que é idiota, e é ela que e preciso fazer desmanchar no ar.
EE-O que marcou a noite das primeiras barricadas, o 10 de maio,
é que a estratégia das barricadas, a estratégia da defesa, nada tinha de
racional; pode-se mesmo dizer que, se havia alguma coisa irracional a
tentar, isso foi feito imediatamente. Surgiu um elemento fantasmático,
mas surgiu justamente se apossando em massa da totalidade do pessoal
que lá estava. Refiro-me a toda a tradição mítica do proletariado francês
a partir da Comuna: as barricadas, a bandeira vermelha, a bandeira negra,
a Internacional... Percebe-se que não se tratava de uma minoria anarquista
ou trotskista que retomava a bandeira dos temas tradicionais da classe
operária, porém de uma "posse em massa" imediata e brutal. Duas horas
antes, ninguém pensava nisso, nada havia de organizado e, de um só
golpe, a "multidão" achava-se estruturada, não em bases organizacionais
clássicas, mas em bases puramente fantasmádicas.
Eai que encontramos a ideia de que uma organização hierarquizada
e incapaz de exprimir a racionalidade dos processos economicos. O

esboço que vocè faz das "unidades subjetivas", para retomar a expres-
sao das Nove Teses (p. 133), elas se articulam umas com as outras numa

relação de fala/palavra, não se devendo interpretar isso como uma


especie de racionalidade simbólica que seria realmente recalcada e que
S0
apareceria na superficie. Acho que a função das unidades subjetivas
precisamente exprimir a irracionalidade, isto é, permitir a expressão
ae elementos fantasmáticos tão irracionais quanto aquele que se ma-

estou ao longo da noite das barricadas. Parece-me que a fantasia,


a o mais na escala individual, mas, digamos, na escala da História, é a
PsIcanilse e Transversaldade
280
racionalidade dos processos inconscin
única forma de expressão da nsCientes.
nclusive econonicos.
nao me agrada, porque, vista de ou.
P-O termo "irracionalidade utro
com todos os Seus aspectos institnci..
angulo, a fase das barricadas, justo 10-
extraordinariamente racional, no sens:a
ido
nais, se inscreveu num processo
tenha sido irracional com relar.
racionalidade do inconsciente. lalvez
da
insurrecional, mas quando vemos a mane
a empreendimento
certo
como isso se articulou com um empreendimento de revelação, de auto-

um reconhecimento de todas as formae


pedagogia, de autoformação para
conclui-se que um empreendimento de atacs
das instâncias repressivas,
comandos do tipo mao1sta- pequenas guerrilhas
por meio de pequenos
dia o fim do moVimento.Isso
de rua-talvez tivesse signiticado naquele
de uma progressão do tipo fantasmático:
teria bloqueado as possibilidades
de ser atacadas e nao de atacantes. E muit
as massas estavam em posiçao

essa fase tenha sido respeitada. Geismar


-

dirigente
importante que
do sindicato nacional do ensino superior e m seu discurso durante

a construção das barricadas, teve geniais intuiçoes. Ele disse: "Fazemos


barricadas, mas isso é tudo; evidentemente, se elas forem atacadas, teremos

de defende-las". Ele criou uma situação tantasmatica eminentemente

dialética. Por fim, os progressos de certa exigencia e consciencia política


entre os manifestantes estavam subordinados ao desvelamento de certo
nível da repressão da parte do Estado. As barricadas representavam uma
situação estratégica, um modo de interpretação possivel, a possibilidade
de desvelar esse aspecto repressivo. Uma estratégia otensiva teria sido
completamente prematura e teria fechado o movimento. Ora, acho que
há aí uma racionalidade e não alguma coisa irracional, uma racionalidade
de outra ordem.
F-De fato, não penso que se tenha de ficar prisioneiro da alterna-
tiva entre racionalidade, de um lado, e tantasnmatização como expressão
irracional, do outro. Coisas completamente racionais podem ennerg1r
através das fantasias. Coisas delirantes podem advir de uma construçio
racional! A contribuição do freudismo é mostrar que também há una
super-racionalidade do lado da fantasia, do ato falho, do lapso, do sonho,
do sintona, cuja razão a análise descobre, ao passo que o raciocínio habr-
tual não poderia dar conta dela. Mas, na escala das mass.as, essa decitraio
de discussoCs: fim de junhode 1968
ENcertos 281

nOde efetuar-se a
partir do acumulo de coisas
que só abrangessem
indivíduos e pequenos grupos. A transgressão ateta cadeias significantes
preestabelecidas, constitutiva do conjunto do sistema.
Depois de certo limiar, o individuo e o pequeno grupo são por assimn
dizer manipulados pela História. Os significantes históricos trabalhanm,
nOr sua vez, apoiando-se neles. Seguindo as declarações de Cohn-Bendit
de Geismar na noite de 10 de maio, pode-se pensar que faziam tudo
Dara evitar o desencadeamento de conHitos diretos em particular, aquele
esforço retardatário de Cohn-Bendit junto ao reitor para alertá-lo do risco
de uma possível degradação da situação. Além disso, a logica da situação
uas hesitações. A atitude do mesmo Cohn-Bendit na Bastilha, pri-
sioneiro da vanguarda oficial do cortejo grandioso, e esforçando-se para
evitar a dispersão da manitestaçao pelos burocratas, teve um resultado
totalmente distinto.
No primeiro caso, a transgress o partiu da base, da exasperação dos
estudantes, do poder do mito das barricadas; no outro, foi o respeito,
por parte da maioria dos manitestantes, ao acordo feito na cúpula com
o PC que prevaleceu e bloqueou a transgressão. No final, o poder do
mito do "grande partido", do "partido da classe operária", das grandes
centrais operárias... No primeiro caso, Cohn-Bendite Geismar não eram
mais do que frágeis porta-vozes aqueles que falavam ao microfone;
no segundo caso, eram os representantes legitimos de suas organizações
que tinham feito acordos, de quem se esperava a responsabilidade pela
condução das operações..
Bem no começo do 22 de março, em sua breve existëncia de produ-
tor de fantasias transicionais, seus ocas1onais porta-vozes tinham de tato
contas a prestar ainda que ao mesmo tempo ninguém pudesse pretender
"representar" de fato o 22 de março. Ninguém inha um real mandato
para transgredir ou não a lei conmum.Já não era a economia do indivíduo
e das pessoas que marcava as decisões, porém uma aquiescenca coletiva

surgia a despeito do peso das pessoas. Era impossível, nessa fase, ser*"mais
esquerdista" do que alguma outra pessoa! Ninguém podia "reiviundicà-
-lo", porque todas as iniciativas eram permitidas e, de qualquer nmaneira.
ninguém tinha de seguir"em nome" de uma disciplina interna, nnguem
tinha condições de procurar o caminho do meio para manter a coesio do
282 Psicanálise eIransversalidade
grupo. O que é excepcional no 22 de março nao e quue um grupo tenl

podido sustentar assim seu discurso na modalidade da livre associan

mas que ele tenha podido se constituir em "analisador" de uma m ação,


considerável de estudantes e de jovens trabalhadores.
Outra transgressão -

dessa vez por duplicidade foi o


fato,aindarnes-
se primeiro período, de Cohn-Bendit e Geismar terem feito as autoridada
des
crerem que eram de fato porta-vozes do mOVimento. Não há dúvida de
de
que esse nunca foi o desejo dos dois, mas de qualquer maneira as coisac

evoluíram de modo tal que, mesmo que isso não tivesse acontecido
Os
problemas não mais poderiam ser formulados nesses termos. Quem quer
que tivesse decidido ir negociar com um reitor seria simplesmente ridi

cularizado. Mesmo os simulacros de representatividade acabariam or se


desfazer quando Cohn-Bendit saiu de circulação. Todos os mecanismos de
regulação se desfizeram. Os grupúsculos mergulharam no vazio deixado
pela incapacidade do 22 de março no sentido de entrentar a situação em
escala nacional. O PCFG se aproveitou disso para iniciar sua campanha
contra os esquerdistas, os irresponsáveis, os grupos à Geismar"..
Por sua parte, o próprio 22 de março se transformou num grupús-
culo; sua livre expressão interna, sua criatividade se atenuaram talvez por
causa de uma brutal tomada de consciência de suas "responsabilidades
históricas". Acho que o que ocorreu foi algo que eu há muito tempo pro-
pusera com o termo transversalidade: certa abertura ou refechamento do
acolhimento coletivo dos investimentos superegoicos, uma modificação
dos fatores edipianos habituais do complexo de castração, algo que restitui
ao grup0 um poder coletivo em detrimento das inibições individuais,
uma atenuação do medo de ser massacrado, asfixiado, em razão de uma
transgressão que se passa no nível das cadeias significantes inconscientes.
Foi esse mesmo sistema de transgressão que atingiu - de modo relativo

-a noção de propriedade, com as ocupações; a noção burguesa de pessoa,


com as interpelações; a linguagem coloquial usada sistematicamente; o
respeito a objetos veneráveis como a Sorbonne, a CGT etc.
E a partir de um ponto nodal de transgressão que as outras camadas
se contaminaram, e isso tanto na ordem social como na das outras regiöcs
da subjetividade.A cena primitiva dessa transgressão aconteceu sem dúvida
em Nanterre, quando uns sujeitos disseram ao professor:"Cale-se, voce nos
1968s
de
heues: tint
de junho de 283
Euernw

deina irritados, deixe os outros talar,c quando disseram a Juquin' que


se ndasse ou quando ombaram publicamente de seu ministro, quando
invadiram prédios ministrativos... Os primeiros a serem sobrepujados
fram os que se viram paralisados.. Do mesmo modo. foi o abandono dessa
henica de subversão, uma perda de humor e uma retomada do controle
da parte dos grupúsculos que marcaram o declinio do verdadeiro poder
do 22 de março. Lembremos o espirito de seriedade aterrorizando pre

sidentes de sessòes das AG (Assembleias Gerais) do 22 de março, quando


foram transteridos para Paris - o resto de h u m o r ainda aceito não passava

de caretas! Os grupúsculos, que antes de maio mal existiam em Nanterre


Tessurgiram ou teleguiaram inconscientemente seus antigos militantes.
Um de meus amigos particularmente envolvido com as barricadas
- chegou ao desespero tentando persuadir os estudantes a eleger Fouchet

presidente da UNEF por "serviços prestados à Causa Revolucionária".


Nada sério tudo isso! Não obstante, ele estava cheio de ideias sobre a orga-
nização de destituídos de modo triuntal, festas na rua etc. Nem se pensava
nisso nos tamosos serviços de ordem da UNEF - nmais uma nmonumental

enganação; nunca a UNEF enquanto tal, teria conseguido reunir mais


de dez militantes para semelhante
engano; deve ter sido sinmplesmente
um amontoado de tiras e de cretinos! Os tiras recorrendo à UNEF uma

interiorização de tiras, o medo de fazer mal, de não ser compreendido,


a
retrataço dos katangueses.. e, no fundo, o respeito à lei e à proprie-
dade privada -

exceção feita, e a titulo simbólico, de bens de consuno


como o automóvel e a
ocupação de lugares publicos. E preciso notar que
Se, em
1936, houve
ruptura uma dos signiticantes da propriecdade com
aocupação de fäbricas, seu sentido foiinverso do de 1968: os oper.aros o

uparam as täbricas para protegé-las do exterior. A palavTa de ordenn de


greve ativa, isto é, de uso das fäbricas para retorçar o
poteneial dlas lutas
Ogrevistas e revolucionários, teve a oposição bem etic:az dos bo120s
lcas. Era preciso ver os burocratas do IPN e da RTS detendendo

Puctte
2In Juquin, deputado comuni expuso de Nanterte cn 1968 NT
scolate ggque national de la rue d'Uu (lustututoPrdagoguNaonl) R.ato Teesion
utes daFGERI (Rdo-lelevinão
Escolar),cm Ivry A desio de ocupur lP'N tou tunda pelon prote o

reundos
upaoes ss0ATA cm asemblenu geral. Os utuacionstan do"romute pel1 muuten io das
t t all-se num segundo omento a esi o cu a y i o , o meno coICno con

ptodessorc da egio de Paris euma part idos tuncionarios do estubeleemento.


Psicanálise e Transversalidade
284

seu instrumento de trabalho" contra uma minoria favorável aos intru

SOS esquerdistas...
Uma vez que os significantes universitários estavam paralisados, cabia
aos reformistas e aos revisionistas prolongar a neutralização das outras
cadeias contaminadas... E o resultado naão se fez esperar. Porem, essa greve
ativa, essa autogest o que se exigia nas fäbricas, como terá acontecido
de ela nunca ter tomado forma na Sorbonne e nas faculdades? Em lugar
disso, instalou-se um espetáculo folclórico derrisório e desolador que
em nada podia favorecer uma junção entre os estudantes e os operários
que se aventuravam nesses locais. Primeiro transgressao e enm seguida

reinibição...
P.- Esa transgressão foi de fato tão nodal que não concerne
apenas ao "discurso social"', visando também ao tipo de organização de
todos os grupúsculos. Para mim, é com a História da convivência entre
alunos e alunas nas cidades universitárias que isso começou. Parece-
me que a primeira transgressão, a transgressão originária, ocorreu nos
dormitórios. Se isso nunca avançou em outro lugar, nem em Antony,
nem em Nantes, nenm em Nice, é porque o Partido
grupúsculos
ou os

eram fortes. Estavanm prontos


para sentir nesse tipo de reivindicação
uma ameaça a suas
próprias organizações. E a transgressão generalizada.
O estado de não organização grupuscular de Nanterre permitiu que
o fenomeno se manifestasse com suficiente liberdade para que, nu
momento dado, ele representasse uma real transgressão. Os sujeitos na
janela do pavilhão das moças foram autores das
primeiras ocupaçoes
"

a
significante ocupação" foi contemporânea de uma transgressao
de caráter sexual que foi o ponto de partida de uma linguagem. AA

transgressao visava a tal ponto as organizações, fossem quais tossen,


que só póde tomar corpo justo onde não as havia.
M. R.-Eu me
pergunto por que tudo eclodiu França, e nao
na
em Berlim ou na
Inglaterra, onde começaram importantes disturbios:
Acho que o Partido
representou um fator suplementar de transgres.
Ela representava, ina
França, um obstáculo bem maior.
J.P.M.- Há up ano, enm Roma, o partido comunista
reagIl
diatamente as manifestaçöes
estudantis, não como o PCE nmas danlo"
Juventudes comunistas a palavra de ordenn de integrar todos os
quc
1968
de
discussoes: tim
de Junho de 285
Excertos

anifestassem, de entrar em dialogo com eles, de recuperá-los. E isso

do movimento.
levou à total parada
F Se tivéssemos Leroy e uma corrente pró-italiana na direção
do partido francès, talvez estivéssemos hoje com um governo Men-
des-Mitterand, o pessoal se teria feito recuperar numa super UJRF3
etc. Para mim, a recuperaçao teve dois momentos: a manifestacão de
Denfert-Rochereau (13 de maio) e a manifestação dos gaullistas. Foi o
mesmo cortejo! A partir do momento em que o Partido pôde provar
que podia drenar todos aqueles desconhecidos, a coisa se acabou: ele
foi confirmado em sua missão de "interlocutor legitimo", na pessoa de
Séguy. A estupidez fantástica, ulcerante, foi ainda a da JCR,' que se pôs
ao serviço, também ela, da ordem e da disciplina. Todo mundo se inibiu
diante da majestade da coisa reunificada. Alguns atrasados da prefeitura
ainda puderam fazer o que queriam com aquela bela festa religiosa! O
22 de março se desesperou. Ninguém tomava a iniciativa. Sem controle,
mesmo localmente, a manifestaçâão de um nmilhão de sujeitos poderia
trazer o desastre parao Partido e, talvez, fazer o regime oscilar. Em vez
disso, todos se puseram sob o estandarte: "Nada de muito barulho; a
Classe operária, com C maiúsculo, vai nos seguir.. E preciso voltar a ser
bem sábios e educados".
Claro que, em certo número de empresas, o movimento se desen-
volveu em bases revolucionárias, mas em toda parte em que a CGTeo
Partido controlavam as coisas, a ação só servia para fragmentar as lutas!
ns negociações dos esquerdistas para entrar"se for do agrado do senhor,

Seu delegado" nas fábricas, os cortejos simbólicos diante da Citrocn

cda Renault, tudo isso foi uma execrável mistiticação. E como se os

CStudantes negociassem com os tiras! E todos, da FER (Federation des


ctudants révolutionnaires- Federação dos Estudantes Revolucionirios)
M L (Union de lajeunesse communiste marxiste-léiste -Uniio
4Juventude Comunista Marxista-Leninista), puseram-se a atirmr, cOn
*loridade de"velhos conhecedores";- Não é no Quartier L.atin que

3
Unon de la
Jeunes Républic
aine de Fraee (Uniào da Juvenuude Repubic auna Frn ena) ong
lit uventude instituida na época da Libertaçio pelo PCE para traguentar o N Inento
uitàrio da
juventude entio exIstente.
Jeunesse Conmuns
i s t e Révolutionnaire (Juventude Comusta Revolu tonara). N. 1.
286
Psicanálise Tran
e

issoacontece;é no seio da classe operaria. Como se eles nsversalidade


tivessem verponh
desse afastamento da História, como se isso vergon
Jamais devesse ocorrer no sein
da classe estudantil!
Quando, na verdade, isso pode ocorrer em outro
precisanmente porque tinha lugar
começado no sei da classe estudantil!
Para os
embrutecidos dos grupúsculos, é como se fosse oc

vergonhoso pensar que


os
operários pudessem ter-se mobilizado seguindo os
estudantes, isto e,
é
pequenos-burgueses etc. Em suma, uma infraçao à moral de
classe!
P.- Isso jáera característico antes das
barricadas, quando da mani
festação de Saint-Denis. Para a UJCML, não ir para là era
cometer um
ato
pequeno-burguês opositor da revolução. Eles foram de fato Saint- a
-Denis, onde não havia nada, greve nenhuma..
F- Em Flins,
parei sujeitos bem jovens. Discutimos: "O que é
vocês fazem?" que
"Somos estudantes." "Estudantes onde?" Eles
"Bem...
hesitam.
na Sorbonne." Eram jovens operários, talvez
era
aprendizes. Não
para enganar que se diziam estudantes, mas
porque só podiam atri-
buir a si a
dignidade de se mobilizar como o taziam se se
considerassem
estudantes.
L. -

Enm Flins, neste momento, os


garotinhos dizem, quando se
pergunta a eles "O que vocé
quer fazer quando crescer?", "Queremos
ser estudantes".

F-Submetemos a novo
questionamento a noção de massa, e agora
o fazemos com a de classe. No final das
contas, se se
parar falar de classe
sOciolögica, a clase operåria toi essencialmente encarnada, representada
pelas pessoas que combateram no
Quartier Latin. A classe operária re-
constituiu-se progressivamente por meio dessa luta.Antes, havia fâbricas,
sindicatos, uma classe operária petrificada de ideologia
pequeno-burguesa,
manipulada pelas organizações. A classe operária, se não a tomarmos
como dado
sociológico, estatístico, eleitoral, não é algo que se encarne
como consciencia de classe permanente.
L.Produziram-se espontaneamente fenômenos de
-

transgressa0:
houve gente que roubou
papel para nós nas
empresas,o que para a Cul
era impensável.
P-No começo do partido bolchevique,
houve uma institucional1za-
ção do roubo. Foi justo Stalin o encarregado de organizar comandos..
E- Rimos disso, mas entre os temas do movimento operário ha
1968
de
discussoes:
fim
de junho de 287
ENcertos

a 1 S , o direito à preguiça, os atentados individuais,a 'recuperação",


olência etc. eram fatos corriqueiros da consciencia da classe operária.
a
Não havia vergonha nisso, que era, pelo contrario, simplesmente objeto
o discussão sobre a eficácia dos procedimentos. A perspectiva legalista
co consolidou de fato em 1936.Já na Segunda Internacional houve uma
se
crítica sistemática aos atentados individuais, particularmente dos grupos
rerroristas da Rússia. Mas isso veio sobretudo dos reformistas, que eram
bastante prejudicados pelos atentados individuais. Depois esses atentados

foram condenados pelos stalinistas, embora eles tenham continuado a


comete-los contra os "esquerdistas da época, durante a guerra da Espa-

nha, a Resistência etc.

2 Partee

E-Devemos interpretar senm dúvida ao contrário o sentido que cos-


tumamos atribuir à greve geral de 13 de maio:foi o estabelecimento de um
sistema de resistência diante da falha inconsciente aberta pelas primeiras
lutas, a busca de uma normalização fantasmáica - a greve geral é algo

quejá se conhece, cujo fim se sabe na ausência de uma normalização


institucional para a crise. Depois da transgressão revolucionária, a busca de
um mínimo de normalização. Mas a hemorragia fora forte, sendo preciso
pôr na balança não só os administradores à Grappin e a tropa de choque,
mas também toda a máquina do Estado e o próprio De Gaulle!
Essa hemorragia significante foi absolutamente imprevista, nenhum

movimento revolucionário estava preparado para enfrentá-la. Talvez seja


S5O O que explique que se tenha tido de recorrer apressadamente aos

velhos mitos da Revolução Francesa e da Comuna... Em 1936, a greve


com ocupação representou uma real transgressão, tanbem ela recupe-
rada pelo governo da Frente Popular. Em maio, fez-se de tudo para não
g r a 1sso. Tudo aconteceu na surdina, quando a CGT conseguiu
que se liberassem gentilmente os diretores sequestrados e, de maneira
t e , quando os operários se tornaram cúmplices, e vital dize-l0, ie

C T a c i a ao aceitar que a fábrica não podia abrir-se aos militantes

Cxteriores, estudantes e outros.


288 Picanáli eTrarveral

O movinnento de greve acabou por contribuir para interromner :

marcha do movimento revolucionário mediante sua canalização para


cenários ritualizados. A partir dai, houve uma especie de entorpecimen
to das forças revolucionárias. Ficou-se contente por ter Cohn-Bendi

desfilado com Séguy!


No fundo, o mais significativo são tenomenos como Flins e So-
chaux: ali houve uma prova de força direta com o poder de forma bem
original. Pode-se conceber uma continuidade desse tipo de confronto.e
mesmo o desenvolvimento, a partir diss0, de formas de luta totalmente
novas. Se a greve geral não se tivesse desencadeado com tanta rapidez.
um apagamento preventivo, talvez outros bastiðes revolucionários como
Flins e Sochaux tivessem podido se desenvolver e assumir a importància
das lutas revolucionárias do Quartier Latin.Ter-se-1a assim saído de certa
fraternidade revolucionária de fachada, com o respeito ao "instrumento"
o isolamento da fäbrica com relação ao exterior etc.
Em Flins e Sochaux, a CGT e os tiras estavam com problemas: de-
nunciaramjuntos os"elementos incontroláveis". Era preciso fazer aqulo
parar a todo custo. Sobretudo que os maus exemplos não se disseminassem,
pois as desordens do Quartier Latin já eram suficientemente lamentàves
tolerasse da
para que não se sua extensão a outros setores importantes
classe operária. O preconceito em favor da unidade sindical agiu contra
o desenvolvimento de formas selvagens de luta, e no fundo permanece a

questão de saber como uma organização revolucionária poderá secretar


seus meios de autodefesa, não só contra os tiras, mas sobretudo contra
ela mesma, contra sua própria interiorização da repressão. Isso evoca ae

novo a questão de comitês de ação que não sejam nem especificaniente


sindicais nem politicos, mas as duas coisas ao mesmo tempo, e por ou

lado capazes de servir de ambiente de vida aos militantes.


.-Parece-me que em Flins as coisas não foram tão claras cou
voce diz. Não se tinha iniciativa,nem se participava da determinaçao
objetivos politicos, sendo-se antes o braço armado da classe operara,
suma, os katangueses dos operários.
-Talvez a questão não seja de saber se havia objetivos con
zueses.
se os estudantes, enn Flns, tivessem sido percebidos como katang
pleta-
Como vocë, sou nuito a favor da existência de clementos cop
de junhode
1968
Excertos
de discussOCS: fim 289

ente
me heterodoxos, eruptivos, como elementos de disjunção do sistema.
É muito importante que eles tenham sido tolerados e sobretudo que se
renham unido à luta. Mas mesmo que a ação em Flins só tivesse estado
nas mãos de katangueses, nada mudaria! No sistema imaginário de castas
em que vivem as pessoas, e que é diferenciado ao infinito, um movimento
insurrecional, um moviment revolucionário estudantil fica ele mesmo
lançado firmemente no imaginario, mesmo que o vejamos com olhos
simpáticos. Ou seja, a greve criou unma situação que fez os operários
dizerem implicitanmente: "Se se tem de fazer a revolução, seremos nós a
faze-la, e não voces, estudantes. A prova disso é que fizemos a greve geral
com ocupações de fábricas..."

Mas em Flins foi muito diferente. Houve uma espécie de melting pot
lugar de encontro de elementos dispares) em que se tinha ao mesmo tempo
a população local que tomou parte, as autoridades locais incapacitadas de
resolver os problemas e os operários, que até aquele momento só haviam tido
à disposição organizações tradicionais. Ocorreu ali um evento: enquanto emn
toda parte houvera a recusa de um diálogo signiticante, ocorreu dessa vez ali
um encontro no
próprio
das lutas operárias. Esta é a diferença com
terreno
relação às barricadas: os operários foram para as barricadas dos estudantes, o
que e importante, mas relativamente menor, porque eles apareceram como

individuos que deslocavam no


se terreno dos
passo que os estudantes, ao

estudantes é que se deslocaram no terreno em Flins, algo que moditica


por
COmpleto a situação. A meu ver, o que se desenrola diretamente na ordem
S1gnificante não é amplitude das lutas nem o resultado destas, mas o tato de
a

que alguma coisa se


despedaçou como ocorre na mutaçio de uma religiao
-

primitiva-,alguma coisa de outro tipo se abriu.


ara tal
que um fenômeno se
reproduzisse, seria necessario quuc os
grupusculos desfizessem eles mesmos a
CSSa dimensão
ideologia que os impede de alcan-
imaginária das lutas. Os lambertistas' em Saint-Nazaire
Cn
Certamente sido contra um movimento
O
com essas caracteristicas.
vo-los daqui: "Os estudantes não
devem ir... as células estudantis
l deven se
misturar cOm os grupos operarios etc.
n d o da "bolchevização" do
partido, em 1928-1930, as células
Conente tiokist Irnces.a.
N.
Psicanálise e Transversalidade
290

sedistribuíam de nmaneira bem


e
distinta: um intelectual, por exemplo era
enviado a uma célula de terroviarios, nunca se era remetido à prónpria

fábricas sao estanques entre si, e cada fäbrica


imagem. Hoje, os setores das
das fäbricas a todo o campo e
é fechada a todas as outras, o conjunto
cadeia continua, ao infinito.
Há igualmente o plano vertical: a hierarquização. Tudo parte da-

jovens trabalhadores ouviram, conservaram, daquilo que se


quilo que os
desencadeou na Universidade: o fato de os professores e alunos estarem

de insultar Grappin, de se negar a autoridade... De


agindo juntos, se

vem isso? De pessoas que nao tëm voz, dos


que parte da classe operár1a
nem estão sufocados nem
jovens e dos não sindicalizados, daqueles que
cristalizados. Tudo o que ocorreu foi um problema de linguagem, um

problema de tomada da palavra.


F-Se tivéssemos outros meios para nos fazer ouvir, deveriamos ter
denunciado a greve geral e dizer: "A greve de vocès no tem nada a ver
conosco nessas condições, não é nada disso que queremos fazer. E preciso
não somente colocar a bandeira vermelha, prender o patråo, não apenas
ocupar a fábrica, porém, mais do que isso, colocá-la em funcionamento,
ervir-se dela como baluarte para investir o bairro, fazer virem as tamilias,
organizar a vida, a autodefesa etc.". Teria sido interessante desenvolver
certo protótipo da luta operária.
EE-Na HS, foram os companheiros que nos pediram que tössemos
manifestar nossa oposição a uma intervenção em massa dos operarios

não especializados diante da fábrica. Percebemos rapidamente que um


impressionante número de operários, alguns deles desconhecidos dos
companheiros, se opunha ao aparelho da CGT. O pessoal que estava lá.
diante da fäbrica, exigia que se discutisse por assim dizer "institucional-
mente", isto é, dentro da fábrica. Firmou-se um compromisso com relaça0
ao anexo da fäbrica, a sede da Comissão de Fábrica. Entrou-se entao, para
uma reunião presidida pelo presidente da Comissão de Fábrica, coni a
presença de cerca de 30 estudantes, bem como um pessoal desconhecdo.
Eles começaram a falar com uma violència e uma intensidade que delN
ran
completamente atrapalhados os caras do aparelho. No dia seguinc
foi a meSIna coisa, mas
naquilo em que se empenharanm, eles agira
modo a transforar o se
quue mostrava como uma possibilidade de
Excertos de
discussoes: tium de junho de 1968
291

trabalhadores terem voz num dialogo entre representantes dos operá-


rios eles, quer dizer, o pesSoal do aparelho - e os representantes dos
estudantes. Os operarios não especial1zados e alguns companheiros do
22 de março se deixaram seduzir pelo engodo desse reconhecimento
de representação, embora no tinal uns sujeitos do aparelho tivessem a
coragem de dizer:"Tudo bem, discutimos bastante, deixamos todo mundo
falar". Esse foi um momento decisivo. Todos sentimos que era preciso
fundar, impor a continuidade disso num ambiente em que os próprios
operários questionassem o aparelho de maneira violenta. Mas tudo isso
acabou; os sujeitos do aparelho disseram: "E preciso recuar para voltar
a atacar". E ficamos como estávamos antes: os estudantes na frente da
fabrica etc. Tentamos de tudo: os camponeses foram discutir com os
operários, pensamos que isso iria desencadear alguma coisa iniciatica..

Foi assustador, a transgressão estava presente, bastava desencadeá-la para


que todo o mecanismo começasse a funciona...
J.-O que permite que isso se inscreva na realidade? Discutir durante
dias como fazem os operários não especializados não adianta nada, ésó
uma paródia de transgressão.
Uma coisa que os operários não especializados tèm dificuldade para
compreender, e que aJ.C.R.não entende mesmo: onde então se situa o 22 de
março? Um dia, eles nos propuseram "uma coordenaço dos movimentos de
massa"; mas não somos um movimento de massa. Então uma "coordenação
das vanguardas"? Não, não somos uma vanguarda. Mas qual o lugar de voces?
Não estamos nessas duas categorias. Por fim, eles propuseran o conceito de
vanguarda espontânea". Foi isso que eles apresentaram, eles tentarm nos
definir, o que é importante no nível de sua evolução. Mas resta descobrir o
conceito:o que permitea fala/palavna ou o fomentador de atos de tnansgressao. Os tiras
na verdade, compreenderam.A partir do interrogatório a que subneterun um

cOmpanheiro, fica claro que, para eles, o maior perigo é o 22 de nmurço.


-Elaboramos uma categoria como essa: o grup0 analitico nterpre-
tante, nunn dado momento, a situação; qualquer que seja a torma assumda,
de dcling out, de provocação... Se os companheiros da H.S. funcionaram

COmo grupo analitico e não cono grupo de vanguarda opositiva, cles


eTaO de inicio analisado sua própria frouxidão, seu proprio terror diante

de uma transgreao.
Psicanálise e Transversalidade
292
3 Parte

P - Quando escrevemos as Nove Teses (neste volume), tendíamos


a situar-nos com relação a duas problematicas essenciaiS: a denúncia da
falsa problemática do conflito sino-soVietico e a refutaçao da estratégia
g
de coexistência pacifica e da estrategia chinesa. Um segundo grupo de
teses se vinculava com o problema mais geral das oposiçoes no seio do
Partido e dos grupos controlados pelo Partido. E o capitulo que seria

o mais interessante, que é o da organizaçao revolucionária, é justo


agora
o que toi feito um tanto apressadamente. Seria oportuno reescrever as

Nove Teses privilegiando esse aspecto.


F -Acho que se deveria sobretudo Situar de novo certo número
de ideias sobre o conjunto de problemas que foram evocados: crise do
movimento comunista internacional, problemas do Terceiro Mundo, da
Guerra do Vietn, e vinculá-los com os problemas de maio de 1968 na
França. Para evitar que volte esse movimento de constante oscilação que

taz que todos os sujeitos mergulhem numa analise de temas de autoges-


tão e outros, do mesmo modo com0, na época da Guerra da Argélia, os
análise terceiro-mundista etc.
sujeitos mergulharam numa

A concepção de conjunto das "teses" se assentava efetivamente numa


visão um tanto pessimista das possibilidades revolucionárias nos paises

capitalistas desenvolvidos, apesar de algumas aberturas. Criticamos a con-


cepção tradicionalista do Partido, assim como criticamos os modernistas.
A terceira análise política particular tinha por objeto os grupúsculos de
extrema-esquerda, havendo ainda o questionamento da linha chinesa, que
ainda não se havia engajado na revolução cultural. Em suma, para voltar
a ótica que se tinha naquele momento- essa e a características das teses,

seu limite -, mostramos de um lado o impasse em que se achavaim todas

as organizações politicas e sindicais sem cair na análise modern1sta. Mas

apenas formulamos a ideia de que permanecia uma série de contradiços


fundamentais na sociedade francesa e nos diferentes países capitalistas
o
europeus, e sobretudo não noção de crise
evocamos a
generalizllu,
sendo a crise económica nmais do que um aspecto de uma crise que
poderia implicar várias outras. Por outro lado, dizíamos que, em razao
do caráter fictício das tentativas de constituição de grandes mercados, s
de discussoes: tim
de junho de 1968 293
Excertos

analisamos o Mercado Comum (Europeu) commo


Crises iriam agravar-se:
pois é evidente que o
falsa soluça do ponto de economico,
vista
11a

futuro da economia europeia- tanto no plano econômico como no


depende na apenas da constituição de um grande
mer-
recnológico
cado, mas igualmente
da constituição de unidades de produção dotadas
de uma grande capacidade produtiva.
Em resumo, ficamos mais do que tudo excessivamente prudentes
revolucionarias a curto prazo, e continuamos a
quanto às perspectivas
considerar, sem dizer com todas as letras, a guerrilha opositiva organi- às

zações do movimento conmunista como uma espécie de requisito... Talvez


as coisas, mas é melhor forçar na crítica.
eu force um pouco
A partir do abandono do esquema de uma classe operária pura,

dura e consciente que se taz mecanicamente seguir por todas as outras


é,
camadas, é necessário talvez chegar à seguinte equação: o economico
da subjetividade. E justo a falha
no final das contas, a própria província
graduações sucessivas
no nível econômico que vai desembocar, não por
de só vez, no
de reivindicações e de tomadas de consciencia, mas uma

de uma existenci1a
questionamento das perspectivas de luta, à perspectiva
radicalmente distinta. Há aí um vínculo entre o freudismo e o marxismob

a ser apreendido. QQuando as pessoas se veem embrutecidas pela sociedade


escala social, o raciocinio tradicional
dita de consumo, neurotizadas na

embrutecidas cúmplices do sistema


pensar que são de fato
e
Consiste em

elevação de seu nível de vida inter-


porque se beneficiam dele, e que a
contudo,
Vem efetivamente em seu nível de consciência. Na realidade,
mediante a
a medida que há um aumento da alienação, da integração,
se acentua
contradiçåo
nvasao de certo tipo de objetos de consumo, a

dessa nio como


subjetividade inconsciente, mas
vez
Se abate sobre a

de grupo que, por m e o


Sujeito individual, mas, na verdade, como sujeito
revndica
ac um ideal
coletivo, através de fantasias de grupo, postula,
Subjetividade institucional como a única saida posSIvel.
diversOes, o rctor-
que vem à consciência são as tolices, a TV, as

da repressao, cde
1o. Não obstante, por trás desse sobreinvestimento
IClpaçao, de denegacão, há nos níveis dos signiticantes-clhaves, um
consistisse
potencalidade. Nio se trata de uma potencialidade que
nivel ainda maior

esse sobreinyestimento, em exigir um


entar
294 Psicanalise e Iransversalidade

de consumo (tudo isso pertence ao mecanismo da resistencia), mas, Delo


contrário, uma "potência", uma potencialidade de repor em questäo
esquemas institucionais no nível familiar, no nivel das relações de gru
do ramo industrial, no nível nacional etc.
O que há de muito interessante do ponto de vista sintomatológico
no movimento de nmaio é que, enquanto a partir de 1936 toda a ideologia
oficial e do movimento operário formou sistematicamente as pessoas
no ambito da defesa da nacionalidade, os significantes internacionalistas
ressurgiram com toda a natural1dade sem que isso criasse qualquer difi-
culdade para alguém. Isso mostra que os esquemas inconscientes e seus
referentes institucionais reemergiram em total ruptura. Uns escreveram à
máquina palavras do A Internacional para levá-las consigo, o que prova bem
que não o tinham aprendido em seus grupusculos! Em outras palavras.,
se se
pegar essa 1deia: o pessoal mais proximo das rupturas no campo
economico pode ser considerado por hipótese os mais bem situados, no
plano inconsciente, para dar uma justa interpretação da "revolução ins-
titucional", com todo o aspecto mistico que isso
possa assumir, ou seja,
a
contestação massiva daquilo que Alain Medan chamou de"a revolução
por meio da produção"
Há, não obstante, uma
profunda carencia movimento
no
quando
está em
questão descobriro que poderia ser uma frmula institucional
viável.Vè-se claramente o
que se passa comits de
nos
ação que se tor-
nam "a organização massa hipotética de
de uma
hipotética organ1zaçao
de vanguarda: como poderiam os comitês de ação se manter quando
tendem acentralizar-se etc.? Há na etapa atual uma confusão absoluta.
Se se abordar o problema no nível em certas que
o isto pessoas fazem,
é, psicoSsOCiologicamente (como organizar a coisa para que comun
que...), corre-se o risco de ficar girando indefinidamente em circulos.
Na verdade, a förnmula institucional está no
seria uma solução na escala
prolongamento daquilo que
economica mais desenvolvida. Em outras
palavras, como podem o automóvel, a circulação, por exemplo,
tuncion
na
Europa segundoa lógica do desenvolvimento das
forças produtivas,
par do máximo de respeito aos interesses e ao
desejo das partes:
"A propos de la circulation
monétaire", Rechenhes, n.
1
Excertos de discussòes: fim de junho de 1968
295
Elaboremos uma hipótese utopica: o funcionamento desse
setor
da produção sera garantido por uma
espécie de partido comunista do
automóvel, ao menos europeu, que, enquanto tal, entraria em
diálogo,
em contestação, com outro partido comunista
siderurgia. Sindicato e da
partido completamente integrados. Ou seja, numa
perspectiva socialista
europeia, articulada a conjuntos socialistas nos países do Terceiro
Mundo,
haveria negociaçoes com, por exemplo, um
partido do algodão, outro
partido massa internacional. Nesse momento, seria
de
possível imag1nar
que o ajustamento dos diversos
aspectos reivindicatórios, dos diferentes
aspectos institucionais locais, chegasse à instauração de políticas
regionais,
nacionais, internacionais, em todos os niveis, e que se
pudesse assim chegar
a uma
regulação das diferentes relações de investimento, das normas, da
fixação de preços, da distribuição, dos salários, da formação etc.
Hoje, a regulação, em seus aspectos essenciais, é feita por meio de
mecanismos de ajustamento ligados ao capital e às políticas de Estado.
Ocorre numa relação cega com as
subjetividades sociais envolvidas. Só
uma
subjetivação, por exemplo na escala dos ramos industriais articula-
dos a
grandes mercados, permitiria chegar a unm planejamento dotado
de maior eficácia em suas finalidades sociais e mais rentável, inclusive
no plano economico.
Uma vez que o poder continua a
escapar a unica classe que tem
vocação de propor um modelo institucional, um"respondente" subjetivo
as forças
produtivas, são os modelos institucionais existentes que subsistem
e se
impoem arcaicamente. E por isso que a concepção do modelo de
organização, a axiomática da organização da luta da classe operária, não
estão num estudo intrínseco da classe operária, mas na tundaçào a partir
da
capacidade potencial da classe operaria revolucionaria de responder à
demanda inconsciente de uma revolução institucional, de modo que um
retorno
organização embrionária que ele cria para si nas lutas de classes
a

nediatas lhe pernnita esclarecer e abrir suas


perspectivas a longo prazo.
Com efcito,
surpreendi-me no 22 de março com o subito gosto
u stgu pelas expediçoes ao campo e a remessa de viveres às tibricas:
stntivanmente, com me passado grupuscular, pensei em ergoterapia,
C escotusnno. Mas por que não? Era vital instaurar algo que desse uma
ustraçao imediata de outnd coisa. Pouco importa o lado ridiculo: o mpor-
296 Psicanálise e Transversalidade

tante é propor certo modelo de ação que VIsa global e aprox1mativamente


a massa dos trabalhadores de empresa, e que seja antes de tudo uma es-

pécie de ilustração, de prefiguração significante quase inconsciente do que


poderia ser certo tipo de relações entre o campesinato e este ou aquele

ramo da indústria. Enfim, outro campesinato e outra classe operária!


Era algo totalmente não formulado pelo 22 de março, mas, finalmente
no inconsciente dos protagonistas do intercambio, parece-me claro que
estava em questão justo essa cadeia signiticante.
o estudante, o louco e o
katanguês

sismo institucional do mes de maio não


poupou
o mundo da psiquiatria. Alguns de seus efeitos deixaram marcas persistentes:
auestionamento da hierarquia em certos serviçoS, estabelecimento de colégios
de psiquiatria, separaçao entre ensino de psiquiatria e de neurologia etc. Por
infelicidade, há boas razões para crer que as coisas foram vivenciadas mais à
maneira de do que ass1miladas e
um trauma
integradas à teoria e à práuca.
A corrente de "psicoterapia institucional estava em principio mais
bem preparada para compreender semelhantes eventos, sendo sua carac-
teristica justamente a vontade de nunca separar a doença mental de seu
contexto institucional e social e, correlativamente, a vontade de realizar
uma análise institucional a partir da decifração dos efeitos
imaginários,
simbólicos e reais da sociedade sobre os indivíduos. Não obstante. é-se
obrigado a constatar que essa corrente, sem ter ficado apartada desses
eventos, só participou deles de maneira marginal. Essa é a consequenca
pensamoS nós - de certa imaturidade teórica e de unma fixação nos

arcaismos da profissão médica: neutralidade, apolitismo etc,


Parte da crise da Universidade, a revolução institucional de maio
rouxe rapidamente os problemas para a escada da sociedade como um

Opegou de surpresa quem sótinha visto esses problemas no nivel de


u
nospital ou de seu setor de higiene mental Essa evidente inibição dos

ctor0 apresentado ao II Congresso luternacional de Psicodrama, Sociodr.una e ieta


f l , Tealizado em Baden, em setembro de 1968, e publicado en Parts.as ('Carte
0 , levereiro-março de 1969. (Katangués é o atural da provineia congolest de Altangl.
C o u famosa em razão de numerosos conflitos etuicos en prol de sua autonom, etkto
Usado
aqui metaforicamente. N.T)
C l e contestação do ensino oticial, lguns dos uuis, enn Nantes, ALarvelha e
a
Tegião do
2 Centro, reúnem
tanto enfermeiros como psiqu.atras, Ioogs c
Futendemos por os r as instituiçoes e equipanientos extra-hospitalares que em pt ne

altes h hecessidades, em matéria de higiene mental,de unna populayo


f p i t a i s de l i b u l a t ó r i o s , residencias, oficinas protegidas, readaptaçio ao annbiente

Ailiar, visitas Ocilio, etc.) Ct. n. especial de Rechenhes: "Ptogrunmation, Architeetoure ce


sychiatu ie, junho de 1967.
298
Psicaná e Tansversalidade
promotores da psicoterapia institucional nao deveria
mascarar.
aproblemática que tem sido a sua o ultimo decênio tinha no ofato de
que
incidència" sobre os fenomenos socais extraordinários cialmente
que vivem
1962 até 1966,alguns deles, a pedido da
Cooperativa Mútua emos. De Nacin.
Estudantes e da UNEF foram levados a estudar Os ional dos
problemas esbecif.
higiene mental do ambiente estudantil. No curso de
inúmeras dices.
com os dirigentes estudantis, foram propostas questões de ordem maic
que concerniam às caracteristicas desse ambiente, a carencia de instits:
cões universitárias, ao absurdo dos metodos
i-
pedagogicos, aos projetos de
constituição de Grupos de Trabalho
universitarios, clubes pedagógicos.o
funcionamento de consultórios universitarios de ajuda
A
psicológica etc
corrente de psicoterapia institucional que, na epoca, ainda não tinha mais
que uma voz relativa nos ambientes psiquiatricos, encontraria, pelo contrário.
junto aos
responsáveis estudantis do period0, uma escuta atenta.
Veio-nos a
ideia de que o ambiente estudantil sofria os efeitos da segregação social de uma
maneira talvez comparável ao
que vem vivenciando há muito tempo o mun-
do psiquiátrico. Tivemos o sentimento de estar na intersecção de "ambientes
residuais que a máquina de Estado tecnocrática não podia integrar.
Ao contrário dos psiquiatras e psicanalistas clássicos, julgamos que
há uma interação fundamental entre os problemas psicopatológicos in-
dividuais e o ambiente social, profissional e político. Logo, os problemas
presentes no nível do movimento estudantil podiam ser concebidos de
duas maneiras: como fenômenos aberrantes ou marginais, ou como sin=

tomas anunciadores de uma crise social bem maior, algo que alguns deles,

naquela época, intuíam. Mais tarde, outros militantes chegaram å direçao


do movimento estudantil, militantes bem menos preocupados comesi
questoes, e, aos poucos, a corrente de psicoterapia institucional distanc z

-se dessa problemática, à qual talvez não seja inútil voltarhoc


Insistimos na época no papel das fantasias de gnupo, 1a e a n a
sO-
l"

que podem marcar a inserção particular de diferentes geraçoes*"barbudos


fant.asia dos
Cedade e sua
articulação entre si. Por exemplo, a d
dc 14-1 anos" fazia eco ao dos bolcheviques de 1917, Js tanta
I.1ZIs0,

nova belle époque de 1936 e da guerra civil espanhola, as


repro

autgo J t
tep
noso
Rechienhes u v r r s i t a e s , j4lneiro de 1964, d e d i c a d o a essas q
qqliestoes,
uestocs, C
c
"CS5.s

duzido (p. 85)


loucO c o k.itangues
O
estudate,
o
299
as da
depois as da Libertação, da Guerra Fria e assim por diante. Não conviria
i a r O "respondente fantasmatico das barricadas de maio a partir do
e Que que foi seu suporte toi também a que esqueceu
a geração
afrocidades francesas durante a guerra da Argéliaea da condenação
itante. num contexto de unanimidade bem-pensante, da agressão

americana ao Vietna?

As contradiçóes sociais nao sao vividas pelas massas como uma


nroblemática teórica: sao apreendidas numa ordem imaginária, massi
ficadas em alternativas simplificadoras, sendo por intermédio de uma
fantasmática de grupo que se presentiticam as pulsões sociais de morte

ou as perspectivas de progresso (as "cidades futuras", os "amanhas que


cantam etc.).
A partir do fim da guerra da Argélia, tornou-se manifesto que
grande número de estudantes buscava uma reconversão militante, uma
perspectiva mobilizadora que lhes permitisse sair, ainda que só no plano
imaginário, do gueto universitário. De 1963 a 1966, as correntes de
esquerda que assumiram a direção da UNEF tentaram orientar o mo-
vimento estudantil para uma assunção de problemas do meio estudantil
enquanto tal. A questão do controle estudantil foi evocada no nível das
estruturas da Universidade e no nível pedagógico. Os estudantes foramn
chamados a tomar consciência da especificidade de sua condição, de seu
papel na sociedade, de suas responsabilidades com relação à produção, à
luta de classes etc. (Lembremos que já em fevereiro de 1964 se tentou
uma primeira ocupação da Sorbonne.)
O poder do Estado foi então empregado para sabotar sistematica-
mente tudo o que seguisse essa direção (recusa de diálogo com a UNEF
da qual foram retiradas todas as subvenções, em beneticio da FNEF- Fe-
deration Nationale des Etudiants de France - Federação Nacio

Studantes da França). O movimento operário, por sua vez, inanmpulou


Ou pura e simplesmente ignorou o movimento estudantil (liqjundaçao
da U E C - U n i ã o dos Estudantes Comunistas p e l o PCE; c o t r o l e pelo

d o biró nacional da UNEF). As correntes de esquerda dda UNE

disp
persaram-se, a organização perdeu progressivainente sua substact
c1O1 a alguns grupúsculos de extrema esquerda que coube continuar a

n t i r um mínimo de animação política nesse ambiente.


300
Psicanálise eTransversalidade
Essa situação teve duas
consequencias: o abandono de todo verda
deiro programa de
transformação da Universidade e o retorno a Certo
desconhecimento dos problemas especificamente estudantis; e os
esque
mas de explicação política sempre remetem ao nivel da sociedade global
e as relações internacionais,que isso implica de formalizacão
com o

dogmática e de modo sectârio e burocratico de organizaçao. Mas, no


final, isso ainda assim forneceu os recursos para que alguns estudantes
tivessem uma formação politica, ampliassem sua visão das coisas e evitas-
sem o imobilismo. Mesmo assim, os militantes e professores que haviam
tentado desenvolver uma forma original de compreensão sociopsicológica
do meio estudantil viram ento infiuéncia completamente liquidada
sua

(Millebergue, Lapassade, Bourdieu, Passeron etc.)


O começo da reconversão militante só veio a acontecer com a
organização de lutas de massa contra a agressão americana ao Vietn e
com a atividade de solidariedade anti-imperialista com os movimentos
revolucionários da Asia, da América Latina e da Africa. Na época, as-
sistiu-se ao desenvolvimento de uma nova forma de mobilização que
implicava um permanente envolvimento militante, como aconteceu, em
particular, com os comités Vietn de base. Mas esse problema internacio-
nal em que a França não tinha envolvimento direto só podia tocar, não
obstante, uma pequena minoria de vanguarda. A luta contra a agressão
americana só tinha, por força das circunstancias, um alcance metafórico,
trazendo apenas uma resposta bem distante à dúvida angustiada que
afetava diariamente a massa de estudantes que errava sem perspectivas
num mundo absurdo.
Nanterre, no começo de 1968,é o resultado, o símbolo dessa falenca

geral, tanto da política governamental como do sindicalismo estudant1l.


A arquitetura da coisa já cria o clima: uma simples visita aos lugares
de um
permite sentir a angústia. Aquele campus é a própria imagem
mundo estudantil apartado do resto da sociedade, apartado do mundo
do trabalho e - c o m o para m e l h o r marcar a coisa p o r contraste - aqueu

Universidade está situada justanente no coração de uma das nais antgso

municipalidades comunistas.
subjetiva, singular e radical, que
Foi alh que se produziu uma ruptura
desenvolveu
Se e n c a r n o u em "açoes exemplares". A juventude de maio
louco eo katangués
O estudante, o 301
artir disso uma consideravel atividade imaginaria que nos propomos
situar no reg1stro daquilo que denominamos fantasias transicionais, fantasias
aute voltam à realidade por meio de uma atividade projetiva - cabe dizer
de enorme alcance. A ação exemplar dos militantes do 22 de
março
em Nanterre 1nstaurou-se a maneira de uma interpretação da parte de

nessoas que se achavam em posiçao de transterencia, ou, para dizer tudo,


totalmente entregues á praia, na qual o ministro aconselhou Cohn-Bendit
a mergulhar, à guisa de resposta a perguntas que Ihe tinham sido feitas
sobre os problemas sexuais no meio estudantil.

A partir de Nanterre, formou-se uma cadeia significante, uma es-


calada ininterrupta chegou quase a ponto de quuestionar o conjunto da
sociedade francesa, e que teve repercussoes igualmente consideráveis no
plano internacional. Os dois tipos de poderes dominantes: o poder do
Estado e o poder das organ1zações operârias viram seus fundamentos
ameaçados, um novo esclarecimento foi aplicado a uma crise latente do
conjunto das sociedades industriais. Por algum tempo, o próprio poder
se viu sob o efeito de Medusa, fascinado; o efeito de surpresa fora total
e sem dúvida esse momento nunca mais vai se repetir, porque mais tarde
a burguesia atribuiu o devido valora esses fenomenos e se empenha em
secretars1stemas repressivos e antitoxinas de todo tipo. Há ai, fenome-
nologicanmente, uma caracteristica de irrupção revolucionária: surge algo
que era inimaginável no dia anterior, a imaginação se viu liberta e tem
vOcação de tomar o poder. Terá sido um delírio? Como interpretar o
ressurgimento de temas hátanto tempo ocultados? E nesse ponto quese
poderia tornar operatório o conceito de fantasia transic1onal. Ele auto-
T174 um modo de representação de algo que é por sua propria essenca

rTepresentável: a ruptura radical, um outro estado de coOIsas powivel,


uma diferença absoluta, o engajamento revolucionariO sen gar.antias

C
em gestação. Os tenas "anarquistas" ue tinhan sulo Iecalcaos pela
Antasnatica bolchevique; as barricadas, a fraternidade, a generositale,
4 lbertaçào do individuo, a recusa de toda torma de hieranjund e de

Cstia), a exaltação coletiva, a poesia permanente, o soulo, pareCLn


citivanente enterrados e não mais relevar A nio ser de unna espeche le

gressao, de infantilismo coletivo:"Aquelas pobres crinçs t1ao passav.an,


Para resumir, de mal-compreendidos, nal-amados,cTiArai para si u .
302 Psicanálise eTransversalidade

espécie de psicodrama..."; não havia pois razão de se ingquietar demais,


estava-seapenas diante de um processo de autocura, no final das contas o
meio mais seguro de amanh chegar a uma melhor integração. Não
resta
dúvida de que alguma coisa desse tipo estava presente na
"compreensão"
de tecnocratas da estirpe de Edgar Faure Ministro da Educação.
A metodologia psicanalítica nos poderia levar a ver as coisas de outra
maneira. Não seria esse retorno do recalcado de antes do bolchevismo
O Sintoma de que os meios de defesa secretados pela sociedade não mais
Conseguem responder a suas pulsões profundas?
Estabeleceu-se uma espécie de cumplicidade, de longa data, entre a
social-democracia, as organizações comunistas, de um lado, e o poder do
Estado, do outro. Viu-se claramente que, sem o apoio das organizações
sindicais, o governo gaullista e os patrões jamais teriam como recupe-
rar o controle da situação; teria bastado que a greve dos ferroviários se
prolongasse ou que estourasse uma verdadeira greve na EDF (empresa
de geração de energia) forças da ficassem
para que as
repressão comple-
tamente paralisadas e que se desencadeasse de maneira irreversível uma
prova de força revolucionária. Todas as engrenagens institucionais que
eram as da sociedade francesa, digamos que a partir de 1934, para usar
uma data correspondente a uma importante virada do Partido Comunista
Francés, revelaram sua carência. Para decifrar essa imensa rachadura, os
militantes revolucionários dispunham apenas de sistemas
imperteitos
de formalização. Alguns grupúsculos tinham elaborado, é verdade, seu
esquema de explicação, mas ele permanecia programático e só atinga
uma minoria de militantes. Nessas condições, carencia de
a conjuntos
institucionais foi sentida expressa, no essencial, de modo imaguario.
e

Para isso, usaram-se os recursos à mão. Uma imensa massa de estudantes,


mas também de operários, de professores, de intelectuais, expriuu-Se
a sua maneira, por meio de atos simbólicos, de lutas exenmplares, do
ressurgimento de temas históricos, do questionamento da sociedade de
consumo, numa espécie de testa, e mesmo de potlatch- dádivas quc
incidirann seletivanente sobre os autonmóveis etc. O caráter de arcaisnos
que puderam assumir certas formas de luta ou modos de organizagi
é algo vinculado ao fato de não haver recurso senão
às formulaçoes
magens antigas cOmo material significante de novas situaçoes.
o loucO e o katangues 303
O estudante,

A evolução das forças produtivas trouxe à luz, de maneira cada

vez mais imperativa, um modelo particular de indivíduos produtores e

cansumidores da imagem de si mesmos. Ou seja, essa imagem se tornou

uma engrenagem essencial da maquina econômica. Por isso,


propria a

da "existencia de si passa menos por instituições como a


legitimidade
família,a profissão,o grupo OCial, a lgreja, a påtria, e bem mais pelo lugar

Ocupado no seio das estruturas economicas. O papel primordial que o

consumo ocupa, na qualidade de elemento regulador da produção, supõe


a determinação prvia de uma imagem estereotipada de todos os tipos

de indivíduo título de modelo normalizado. Não obstante, de maneira


a

essas mesmas forças produtivas requerem antes


de tudo "fa-
antagônica,
tores humanos", é menos a força de trabalho medida em tempo do que
estrutural instrumento de
a qualidade de seu trabalho e sua posição no

produção que especifica o trabalhador da


soCiedade contemporânea. CD
que importa, para resumir, é a produção de signiticante, e produção de
a

significante é inseparável da produção de unidades subjetivas, isto é, da


produção de instituições.A contradição reside no fato de as forças produtivas
tenderem de um lado a assujeitar os individuos em modelos estereoti-

pados e, do outro, exigir (com organização do trabalho, a formação


a

inovações tecnológicas, a reciclagem, a pesquisa etc.)


a
profissional, as

produção de unidades subjetivas cada vez mais elaboradas.


A instituição precedia a produço na época em que era a instituição que
legitimava a existência por meio das corporações, da hierarquia, da religião
etc. Essas instituições não eram articuladas à produção tal como são hoje;
ao
em geral, herdavanm sua estrutura relações de produção anteriores
de
marcadas
periodo do capitalismo, e algumas delas ainda permaneciam
pela epoca feudal. (Foram por outro lado estas últimas as particularmente
VISadas pelo movimento de maio: a ordem dos arquitetos, dos advogados,.
a existir pOr st
medicos etc.) As instituições legitimadoras tendiam
aos
CSas, como fundamento da ordem estabelecida:participar dessa orden
inconscientes
C Una cOIsa emsi, sendo a Ordem o suporte de descjos
ou
podia traduzir-se nun juraniento
Pa culares, desejos cuja expressão
D C a s cono a beca, a toga, a cátedra etc.A
revoluçio ndustrial
a iustitungúo;
C p e l o contrário a fazer que a máquina de produção precedd

" l . i a tornou-se o suporte por excelência


do sujeito nstitucional.
304 canalise e Transversalidade

A revolução industrial tende a expropriar as instituiçoes, a privá-las


de
sua substância metafisica. Só a evolução das maquinas produtivas e
das
estruturas de referencia económica não
apreendida diretamente pela e

consciencia. As classes sociais continuam a banhar-se numa espécie


de
ambiente natural imaginário; estão sempre em busca de uma estabilidade
fantasmática; resulta disso um atastamento
marcado com cada vez mais
relação às transformações das forças produtivas. Certa representação
clássica da nação ou da classe operária não tem hoje outro suporte
que
não os políticos, os militantes e as
organizaçoes que, qual um clero, con
tinuam para ela
a encarnar o
"respondente tantasmatico. O deputado
que, "do fundo da alma e da consciencia", declama em nome do interesse
geral faz rir. Mas o mesmo ocorre com o militante que busca fundar a
legitimidade de sua ação presente em sua participaçã na Resistência
ou em sua fidelidade a certa
imagem que faz para si da classe operária.
Por mais ridículo que seja, o "teatro militante" animado por
dirigentes
das diversas butiques politicas
não constitui menos para estas o mundo
oficial da representação, inevitável e restritivo. Há, felizmente,
ambientes
residuais, como o meio estudantil ouo mundo psiquiatrico, ambientes que
resistem à integração geral. Esses dois ambientes,
por outro lado, ocupam
uma posição particular que se refere
no à produção significante.
No mundo universitário, a
produço de
significantes è cada vez mais
"desassujeitada", apartada da sociedade; isso é especialmente sensivel no
domínio literárioe artíistico. A
produção de uma pesquisa autentica difi-
cilmente é consumível, uma vez
do consumo de
que questiona a ordem social.A essencia
massa consiste, pelo contrário, em contornar a verdade,
evitar o face a tace com o
sujeito, com o
desejo, com a singularidade.
No limite, a
posição dos estudantes e dos universitários com
respeito a
produção signiticante aprOxima-se da dos doentes mentais. A neurose.
a loucura como
suporte da verdade padecem de uma
perimanente Te-
pressão. Freud, por ter descoberto função de verdade do sintoma, teve
a
de defender sua obra de unm
amplo empreendimento de recuperaçao.
O objetivo era e continua a ser reduzir a
tal que não
doença, redefini-la de modo
ameace em nenhum aspecto boa consciencia cotidian1. A
a
meu ver, os militantes revolucionários
para que, seja qual for o àngulo, se
acham envolvidos com a loucura, com a neurose, com a delinquenca C
loucoeo katangués
O estudante, o
305
mais, conm ajuventude, a infancia, a
d a veZ
criação, aflora o
problema de
ender o alcance sintomatico do desvio como recurso
de interpretacão
da conjunto do campo social. INao se trata
aceitar passivamentepois de
singularidade
sver A
condição intelectual ou do louco reduzida
como do
à ordem do geral, mas, pelo contrario, ler o mundo
moderno a da
singularidade de sua posiçao subjetiva. Paradoxalmente, quantopartir
menos
respondem ao desnudamento da angustia do sujeito
as instituições da soCiedade
desejante, tanto mais
capitalista contemporânea voltam a confe-
rir uma vitalidade artificial a
fundamento mais arcaico. A
seu

nacional, questão
o
regional1smo, o rac1smo, o culto da família conhecem uma
extraordinária revivescencia que se apoia em imensos recursos
rios. Contudo, isso não passa de recurso
publicitá-
precário, que não tem verdadeira
incidencia no nível inconsciente.
Ve-se com clareza, por exemplo, que o internacionalismo de fato
das forças produtivas torna
completamente absurda a política patriótica
de um De Gaulle. Está na mesma linha desse
fascínio recuperado pela
família, a província ou a
pátria, o culto ao indivíduo. Reavaliar a verdade
do sujeito não é necessariamente valorizar o papel de indivíduo.
Querer
furtar o sujeito à hidra social não implica necessariamente
çoes individuais. No plano do urbanismo,
chegara solu-
por exemplo, a alternativa aos
grandes conjuntos não é fatalmente a
pequena residencia individual. A
Serialidade egoica dos individuos tomados
àmbito da massa, conviria
no
opor a articulação significante de
sujeitos inconscientes e de gnupos-sujeitos
Capazes de marcar uma
ruptura nos processos de identiticaçao.
Nese
sentido, talvez se possa considerar o Movimento de 22 de
arço em seus
primórdios como o protótipo de um grupo-sujeito: tudo
8TOu enn torno dele sem que ele se tenha constituído numa totalizaçao
c O
Techasse e o tornasse presa de outros movinnentos politicos. C
Mov de 22 de
esforcou-se por interpretar a siti.içao, n 0
março
TUnçao de uma perspectiva
programática tixa ao longo de sesis
gressOs, mas na medida mesma em que lia a situaçao en seu
dese nroi.at
diacronico. Aatitude do poder de Estado, dla policia, Ihe dizia, na tornla
de
ac
mensage
22 de
invertidas, o que lhe convinha articular. O Movmento
março recusou-se a encarnar em si a situação,inio tendO sicdo
q u e permitisse à massa operar a transferència de suas inibiçoes.
306 Psicanálise c Transversalidade

A ação exemplar desse grupo de vanguarda abriu o caminho, afastou


interditos, criou as condições de possibilidade de uma compreensão, uma
nova articulação lógica, sem a fixar numa dogmática.
E, sem dúvida, a primeira vez que um movimento de caráter político
integrou a esse ponto elementos psicanalíticos. Os limites que encontrou
nesse domíinio são certamente imputáveis aos próprios limites da teoria
psicanalitica ou ao menos daquela que mais o impregnou. O culto da
espontaneidade, certo naturalismo, procede sem dúvida do retorno mas-
sivo da angústia diante do desconhecido; é certamente o que concedeu
a0 partido comunista, aos grupúsculos e ao próprio Movimento 22 de
março a possibilidade de uma localização mais tranquilizadora do feno-
meno, a saber, o conformismoanarquista.Tudo contribuía para fechar a
questão. Contudo, não resta dúvida de que o futuro do movimento ope-
rário depende de sua capacidade de integrar certo número de elementos
identificáveis na teoria freudiana. De nada serve denunciar o burocratismo
das organizações tradicionais se só se tiver condições de remeter sua
causa a um ou outro erro estrat gico ou tâtico, a um ou outro momento

de virada da história do movimento operário. Na verdade, é toda uma


lógica significativa que leva ao piramidismo organizacional em que as
organizações de massa, os nmilitantes de base, o Partido, o comitè central,
o birò político e o secretariado são presa de uma articulação serial que
não deixa lugar algum à expressão autentica das massas e dos individuos.
Uma economia libidinal de carâter homossexual impregna em geral
as organizações militantes, impedindo-lhes todo acesso verdadeiro ao
outro que pode ser tanto o jovem, a nulher como a outra raça, o outro
povo. O piramidismo das organizações políticas não passa de "respondente" da
organização social dominante.
Com certeza, solução
não há de ser buscada nas recetas psi
a

cossociológicas; a alienação no nivel do grupo provavelmente na0


é reabsorvível enquanto
tal. Nenhuma
psicanálise de grupo poderia
"curar um grupo. O que porém parece ter sido esboçado na 1nstau-
ração dos comités de açáo é que seja possível uma espécie de ativi-
dade analítica no nível das próprias massas. Essa atividade analitica
não pode ser concebida como o fato de o objeto apartado das massas
que se consideraria sua vanguarda, nas antes conmo un sisteina cu
loucO eo katangués 307
O cstudante, o

interação permanente, adjacente a expressao das massas. Os militantes

estudantis que foram para klins tiveram condições de se integrar às


lutas dos operários e da população sem ser sentidos como um corpo
estranho. A atividade analitica do grupo não tinha por objetivo ajus-
tar os indivíduos ao grupo, mas, pelo contrário, fazer que o grupo,
como estrutura opaca, não se substituisse à problemática significante
do movimento de massas; ela corta a cadeia significante a fim de
abri-la a outras potencialidades. A atividade do grupo militante não
se destinava a fornecer uma resposta pronta, a enxertar de logos uma
demanda suposta, mas, pelo contrário, destinava-se a aprofundar a
problemática, destacar a singularidade de cada etapa do processo his-
tórico. E precisamente por ter conseguido preservar, durante todo um
periodo, a mensagem singular de que era portador que o Movimento
de 22 de março pôde ser entendido em ambientese paises totalmente
diferentes entre si. (Por exemplo, o temor de um movimento similar
iria precipitar muitas coisas na Checoslováquia.)
O dilema, no meio psiquiátrico, é com frequência elaborado
em termos de transformação interna ao hospital ou de intervenção
preterencial no setor; talvez houvesse uma simetria a estabelecer
entre a fantasia de uma revolução no interior do asilo e aquela outra
tantasia que sustenta a legitimidade da"revolução num só país". Em
contraposição a isso, toda uma corrente anglo-saxä de psiquiatria so-
C1al, de "antipsiquiatria", se propõe hoje a intervir na sociedade para
Teabsorver de alguma maneira o problema psiquiátrico no seio do
Campo social, reduzindo assim a alienação mental à alienação social
Ketornamos sempre ao mesmo ponto: a loucura é sentida como um

sCandalo, sendo conveniente negá-la


ac manifestação. Os psiquiatras e o
e reprimir todas
conjunto dos
as suas
trabalhadores
formas
da

u a t r l a tem por certo muito a fazer para transtormar, human-


a b r i r suas instituições. Mas talvez sua real responsabilidade deva

S para além disso. Sua inserção particular nesse ambiente re-


eIxa-1nos em condições de contestar radicaluente o estatuto
etodologia das ciências humanas, da economia politica e do
t de referentes institucionais em sua qualidade de estrutura
esconhecimento
d das posiçôes subjetivas de todas as categorias ae
Psicanálise e Transversalidade
308
irrecuperáveis - os "katangueses" de todOs os horizontes-e protóti

nesse sentido, do militante revolucionario autèntico, bem como


pos,
do "homem novo" da futura sociedade socialista. A psiquiatria e as

ciencias humanas parecem dever ser por definiçao apartadas do do-


minio político; outra psiquiatria, articulada a outra politica, ao estilo
da que vimos surgir no ms de maio, talvez venham a estar no futuro

no prolongamento uma da outra.

1969
Máquina e estrutura

A distinção aqu1 proposta entre


maquina e
só tem como fundamento O uso que Ihe daremos; julgamos

ce trata de
de um "artiticio de escritura do tipo daquele que se é le-
se trata
que
ado a introduzir no curso do tratamento de um problema matemático
vade
ou de um axioma, que pode ser questionado numa ou noutra etapa do

desenvolvimento, ou entao do tipo de mâquina de que aqui se tratará.

Logo, é deliberadamente que colocamos entre parênteses o fato de


na realidade, uma måquina nao ser separável de suas articulações estru-
turais e, inversamente, toda estrutura contingente ser visitada - e é isso
que queremos estabelecer - pelo espectro de um sistema de máquinas,

no mínimo por uma máquina lógica. Se nos parece indispensável, num


primeiro momento, estabelecer essa distinção, o motivo é esclarecer a
localização de posições particulares da subjetividade em sua relação com
o eventoe a História.
Digamos da estrutura que posiC1ona seus elementos mediante um
SIstema de relações em que uns remetem aos outros, e de tal maneira que
possa ela mesma ser remetida- a título de elemento a outra estrutura.
O fato subjetivo de que a definição aqui dada não ultrapassa esse
principio de determinação recíproca está incluído na estrutura. O pro-
Cesso estrutural de totalização destotalizada encerra o sujeito, nao tolera

ExpOSiçao destinada inicialmente à Escola Freudiana de Paris, 1969. Publicada em (Chuige , n.


12, Seuil.
re d o as categorias introduzidas por Gilles Deleuze, a estrutura, no sentido aqui con-
everla
ser atribuída da generalidade caracterizada por uma posiçao e
o
Cond dos particulares, ao passo que a máquina relevaria da ordem da repetigio "con

COmo ponto de vista referente a uma singularidade imutável, insubstituivet (ee


, 1969, p. 7). 1Das três condições mnimas de uma estrurura cm geral estabeleiklas
eleu7e, conservamos apenas as duas primera
h a v e r pelo menos duas séries heterogeneas enn que uma sera determinada cono
icante e a outra como
2" signiticado. tan-
tem uns eCOistituida de termos que só existem a partir das relaçoes que
Om os

tercena outros
condição,"as
gue é series
heterogéneas que convergem para un elemento patadoxat
cono um seu u s exclusivamente a ordenm
da" deveria, pelo contririo, ser remetida
náquina" (Logique
eeiCiante
du Sens, Minuit, I1969, 6.3).
p.
310 Psicanalise e'Iransversalidade
perde-lo enquanto tiver condiçoes de recuperá-lo no seio de outs
utra
determinação estrutural.
A máquina, em contrapartida, permanece por sua essencia excentrica
ao fato subjetivo. O sujeito, nela, sempre se acha alhures.A temporalizacãn
penetra a máquina por todos os lados e so pode situar-se com relacão a
ela à maneira de um evento. O surgimento da maquina marca uma data
um corte, não homogeneo a uma representação estrutural.
A História da tecnologia é datada pela existência, em cada fase, de
um tipo dado de máquina, aflorando a História das ciências no presente,
para cada um de seus ramos, no lugar em que cada teoria científica pode
ser tomada como máquina e não como estrutura, o que remete à ordem
da ideologia. Toda máquina é negação,
assassinato por incorporação (a
ponto de deixar praticamente só um residuo) da máquina a que subs-
titui. Em termos potenciais, entretém o mesmo tipo de relações com a
máquina que a vai suceder.
máquina de antes, a máquina de hoje e a maquina de amanhà
não entretèm entre si relações estruturais: só um processo de análise
histórica, o recurso a uma cadeia significante extrinseca à máquina, um
estruturalismo histórico, digamos, permitiria reapreender globalmente os
efeitos de continuidade, de retroação e de encadeamento que a naquina
é suscetível de representar.
O sujeito da História está, para a máquina, em outro lugar, na estru-
tura.A bem dizer,o sujeito da estrutura, considerado em sua relação de
alienação com um sistema de totalização destotalizada, deveria antes ser
remetido a um fenômeno de "metade" (sic), opondo-se aqui o ego ao
sujeito do inconsciente na medida em que responde ao principio enun-
ciado por Lacan: um significante o representa para outro signiticante. o
sujeito inconsciente como tal estará por sua vez do lado da máquina, ao
lado da máquina, digamos. Poto de ruptura da máquina. Corte aquc
e alem dela
O individuo, em sua
relação com a máquina, foi descrito pelos so
ciólogos daestirpe de (Georges) Frieduman como estando numa relaga
fundamental de alienação. Isso é exato se se consicderar o individuo omo

estrutura de totalização imaginária. Mas a dialética do


mestre e do aPic
diz, as 1magens corriqueiras do "roteiro turístico francès dos oticios etc.
Máquna e cstrutura 311

perderam t o d o
tado o sentido diante do maquinismo moderno, que, a cada
recnológica, ex1ge de seus especialistas que voltem a partir do zero.

Aas mã0 deve -justo essa Votta ao 2ero sCr Situada no principio mesmo

1 n f l r a essenC1almente que marca o sujeito inconsciente?

A iniciação no oficio, a cooptação no corpo profissional, não mais


nassa por mediaçoes institucionais, a0 menOS do tipo que respondiamn a

11 Drincípio que poderia ser enunciado da seguinte maneira: "O oficio

nrecede a máquina". Com o capitalismo industrial, a evolução espasmó-


corta e recorta a atual ordem dos oficios.
dica do maquinismo
Nesse sentido, a alienação do trabalhador com relação à máquina
o expele de todo equilíbrio estrutural, transfere-o a uma proximidade
máxima com um sistema radical de ruptura, de castração, digamos, que
Ihe tira todo o fôlego, toda segurança "sustentante (moisante), que lhe
nega a legitimidade de um "sentimento de pertencimento a um corpo
profissional. As ordens profissionais que ainda subsistem, como a dos
médicos, dos farmacêuticos, dos advogados etc. não passam de residuos
das relações de produção anteriores ao capitalismo.
E certo que essa ruptura éinsuportável; também a produção ins
titucional se dedica a mascarar seus efeitos mediante a instalação de
SIstemas equivalentes, de ersatz, cujo"respondente ideológico não deve
Ser buscado apenas do lado paternalista, de tendencia fascista, com seus

Iemas a respeito do trabalho, da família e da pátria, mas igualmente no


O das diterentes versões de socialismo (incluídas as que podeni parecer
derais, como em Cuba, por exemplo), com sua opressora apologia
orabalhador modelo,sua exaltação da máquina, cujo culto tuneiona
como o do herói
antigo..
NO tocante ao trabalho da mnáquina, o trabalho bumano nada
' s mporta. Digamos antes que mporta o trabalho do "nada" como

trabalho moderno, ao i e n o s em termos de tendencia, o


trabalho Jerdback
do feed
,

(retroalimentacão): (reduzido a) pressionar


o botao

venelho ou u negr0 a depender dess.a ou daquela ocorrencia, p o outro

lado pro **ll.lda, O trabalho huu.ano nio pass.a de residuo a n a a


tegrado do traballho da
O máquina.
traballho Odo opCrario, do técnico, do cientista vai ser recuperado,
of
orporado *Chgrenagens
às eng da máquina de amanh, eo gesto repetido
312 Psicanálise e Transversalidade

não mais oferece hoje garantia ritual. Já não se pode identificar a repetica
do gesto humano "o augusto gesto do semeador" como da ordem natural
tomada como fundamento da ordem 1moral das cOisas.A repetição do gesto
não mais funda um "ser-para-a-profissão". O trabalho humano moderno
é mero subconjunto residual do trabalho da máquina. O gesto humano residual
não é mais que processo adjacente e parcial do processo subjetivo
um

secretado pela ordem da máquina. Com efeito, a máquina transferiu-se para


o cerne do desejo, não sendo o gesto humano residual coisa alguma além do
Iugar de maraço da máquina sobre a totalidade imaginária do individuo
(cf. a função do: (1 - a) de Lacan)2

Toda descoberta nova, por exemplo, no dominio da pesquisa cien-


tifica, atravessa o campo estrutural da teoria a maneira
máquina de uma
de guerra, perturbando-a por inteiro e remanejando-a até
impor-lhe
uma radical transformação. O próprio pesquisador é arrebatado pelas
consequencias desse processo. Sua descoberta vai além dele em todos os
aspectos, arrebatando em seguida ramos inteiros de pesquisas, perturbando
inteiramente o estado anterior da árvore de implicações das ciencias e
das tecnicas. Mesmo no caso em uma descoberta é batizada
que com o
nome de seu autor, "o efeito" considerado, longe de se "personalizar"
tende pelo contrário a tazer desse
nome próprio um nome comum.
Affora a questão de saber se essa
abolição do indivíduo com relaçao
a sua
produção vai ser algo com tendencia a generalizar-se nas outras
ordens de produção.
Se é verdade que essa
subjetividade inconsciente, na qualidade de
corte sobreposto de cadeia
uma
significante, se
acha transferida, tora do
indivíduo das coletividades
e
humanas, para a ordem da máquina, neu
por isso deixa ela de ser não
representável no nível especifico da naquina.
E um significante
apartado da cadeia estrutural inconsciente que vu
funcionar a titulo de da
representante representação da máquina.
A essenCia da
máquina é
precisamente a operação de apartar
Sigutficanle como representante, como "diferenciante"', como corte causal.
heterogeneo à ordem de coisas estruturalmente estabelecida. E essa ope
2 1.a an
popoe du.as funçoes com esses termos, Ita
(o UD ei)
a
partir da rela( ão entre o un e o
out
Conjunga0) coni objeto "a") e|- (o a
N.T
um cm
disjunào com
respeito eg
Maquna cestrututa

313
11e liga
rao quie a
maquina ao
registro de
dupla face do
seu estatuto de raiz ruiidadora das sujeito desejante
diferentes ordens
1lhcOrresponde1. A 1maquina, como repetiçao do estruturais que
1odo, e mesmo o unico modo possivel, de singular, constitui
Aas diversas formas de
representação unívoca
subjetividade na ordem do geral sobre o
individual ou coletivo. plano
Se se quiser considerar a
questao sob o
angulo inverso, "a partir"
do geral, ter-se-a a ilusao de um
apoio poSSivel num
espaço estrutural
preexistente ao encontro
contingente como corte da parte da máquina.
Essa cadeia signif1cante "pura, "basal, uma
espécie de paraíso perdido
do desejo ou dos "bons velhos de antes do
tempos maquinismo", po-
deria então ser considerada uma
metalinguagem, referencial absoluto
que sempre poderia ser
produzido no
lugar e em
lugar de um evento
contingente ou de uma marca singular.
Chegar-se-ia assim a situar indevidamente a verdade do corte, a
verdade do sujeito, no nível da representação, da informação, da comu-
nicação, dos códigos sociais e de todos os outros modos de determinação
estrutural.

A voz, como máquina de fala/palavra, corta e funda a ordem es-

trutural da lingua/linguagem, e não ao contrário. O individuo assunne,


no plano de sua corporeidade, as consequèncias do entrecruzamento de

Cadeias Significantes de toda ordem que o atravessam e o dilaceram. O


Ser numano é presa do entrecruzamento entre a maquna e a estrutura.

OSgrupos sociais não dispõem de semelhante superticie de pro-


Jao, mas apenas de modos de decifração e de localizaçio suceivos e

raditórios, aproximativos e metafóricos, a partir de diterentes orgaos


estru
mitos Cada ruptur.a produzuda pela
por exemplo, trocas, etc.

a de um fenómeno de máquina vai ver-se ai en conjungao cO

tabelccimento do que vamos denominar um sistemu de ittprolligle


1nodo Tepresentativo especifico da estrutura.
a en
d i z e r que a producão advém da ordem da maqunt
fase aqu é posta sobre seu arater ade corte subjetivo como elemento
distintivo Oda ordem de produção. Trata-se assin de dispor de un

meio de localizaçao
l Z a 0 que evite a pass.agem mágica de un plano ao
outro.
314 Psicanálise e Transversalidade

Trata-se, por exemplo, de remeter ao mesnmo sistema de produção aquilo


que ocorre na ordem da indústria, no nível da oficina ou do gabinete
de estudos, e que está em questão na pesquisa cientifica, e até na ordem
literária, poética, onirica etc.
A antiprodução vai ser, entre outras cOisas, aquilo que foi colocado
sob o registro das "relações de produção.A antiprodução terá de rea-
lizar uma espécie de reequilibrio imaginário, não necessariamente no
sentido da inércia e do conservadorismo porque ela também pode levar
à generalização, no âmbito de uma dada atmosfera social, de um novo
modo dominante de relações de produção, de acumulação, de circulação,
de distribuição ou de qualquer outra expressão superestrutural de um
novo tipo de máquina econômica. Seu modo de expressão imaginária
é, portanto, o da fantasia transicional.
Voltemos ao outro extremo da cadeia, ao plano da produção onírica
Identifiquemos a antiprodução coma elaboraço de um conteúdo mani-
festo dosonho, em oposição às produções latentes articuladas às máquinas
pulsionais constituídas pelos objetos parciais. O objeto "a" descrito por
Lacan como raiz do desejo, umbigo do sonho, também irrompe no seio
do equilíbrio estrutural do indivíduo à maneira de uma máquina infernal.
O sujeito se vê rejeitado de si mesmo. De modo proporcional ao corte
que o objeto-máquina "a" modula no campo estrutural da representação,
dispõem-se para ele registros de alteridade que se posicionam de forma
específica a cada etapa do processo. A fantasmatização individual corres-
ponde ao modo de localização estrutural por meio de uma lingua singular,
articulada às instâncias repetitivas das "maquinações" do desejo.
A existência desse objeto-máquina *a", irredutível, não assimilável as
referencias estruturais, esse "mesmo para si mesmo que náo se vincula
com os elementOs da estrutura modo do corte e da metonl-
exceto no
mia, desemboca no fato de a representação de si mesmo por meo dos
filtros da linguagem levar apenas a um
impasse, a um ponto de ruptura
e de apelo de uma alteridade repetida. O objeto do desejo descentra o
ndividuo para a imargem de si mesno, para o limite do outro; encarna a
impossibilidade de um
refúgio absoluto de si mesmo em si mesino, assi
Como a
impossibilidade de uma passagem radical ao outro. A tantista
individual representa esse impossivel deslizamento de planos; é niSSO
Miquina e estrutura

315
distingue da fantasmatizaçao de grupo, que não dispõe desses pontos
a amarração do desejo a superticie do corp0, desses pontos de chama-
da à ordem das verdades singulares que são as zonas erógenas, as zonas
fronteiriças, de passagem e de adjacência.
A fantasia de grupo sobrepõe os planos, altera-os, os substitui. Está
condenada a girar em torno de si mesmo. Esse efeito de circularidade o

Jeva a determinar zonas de impasse, de interdito, vaciúolos intransponíveis


toda uma "no man's land" (terra de ninguém) dosentido.Apreendido
no campo do grupo, a fantasia remete à fantasia, à maneira de uma moeda
de troca, mas de uma moeda sem padrão corporificado, sem ponto de
consistência que lhe permita ser remetida, ainda que de maneira parcial,
a uma coisa que não uma topologia que advenha unicamente da ordemn
do geral. O grupo - na condição de estrutura-"fantasmatiza" (fantasme)

o evento através de um perpétuo e irresponsável vaivém entre o geral e o


particular. Um ider qualquer, algum bode expiatório, cisão, ameaça imagi-
nária sentida a partir de outro grupo são o equivalente da subjetividade do
grupo.Todo evento, toda crise, é substituível por outro evento, por outra
crise, que inauguranm outra sequência, também ela marcada pelo selo da
equivalencia e da identidade. A verdade do dia vai ser "remissível" à do
dia anterior em função de uma reescritura sempre possível da História.
A experiència psicanalítica, o acionamento da máquina psicanalítica, traz
a luz a impossibilidade, para o sujeito desejante, da manutenção desse

SIStema de homologia e de reescritura: a transferência só tem aqui um


papel de revelador da repetição, funcionando, ao contrário de um efeito
de
grupo, à maneira de uma máquina.
Sistema pulsional do grupo, não podendo apegar-se à máquina
desejante - por
orque os objetos "a'" se remetem à superficie do corpo
atico, está condenado a multiplicar os modos imaginários da
17Aao. Cada un deles estrutura-se em si mesmo, mas permanece
Orrespondéncia equívoca com relação aos outros. O fato de não
isporem do elemento "diferenciante" (diférenciant) de que fala Gilles
eleuze condena-os a um perpétuo sistea de deslizaniento. ) corte
é
forcluído, só sendo localizável entre os planos estruturais. O corte já
SSmido em sua essência. A carência de unn modo singular de
localizaçãco as estruturas
4o das estruturas tem o efeito de torná-las "traduzíveis" uns
316 Psicanálise e Transversalidade

com relação aos estabelecendo assim uma especie de continuUm


outros,
logico indefinido que é especialmente satisfatório para os obsedados. A
1dentificação do senmelhante e a despistagem da diferença ocorrem no
nivel do grupo segundo uma lógica imag1nária de segundo grau. a

representação imaginária do outro grupo, por exemplo, que funcionará


como maquina "posicionante". Em certo sentido, é um excesso de lógica
que a reduz ao impasse.
Esse contato direto das estruturas poe em funcionamento uma
máquina louca, mais louca que o mais louco dos loucos, representação
tangencial de uma lógica sadomasoquista em que tudo equivale a tudo,
em que a verdade é sempre excèntrica.Trata-se do regime da irresponsa-
bilidade política, da ordem do geral seccionada radicalmente da ordem do
ético. O termo último da fantasia de grupo é a morte em si, a destruição
sem suporte, a abolição radical de toda verdadeira baliza, um estado de
coisas em que a questão da verdade não só desapareceu desde sempre,
como jamais existiu, mesmo a título de interrogação.
Essa estrutura de grupo vai representar aqui o sujeito para uma outra estrit
tura como fundação de uma subjetividade empastada, opaca, "entravada
(moisée). Enquanto para o indivíduo era o objeto do desejo inconsciente

que funcionava como sistema de corte ou de máquina, no nivel do


grupo, o que vai assumir essa função são os subconjuntos contingentes
e transitórios do grupo, ou um outro grupo. O canmpo de equvale-
cia estrutural assim instalado terá, portanto, como função fundamental
mascarar, abolir, toda irrupção de um objeto singular representado sea
no plano do sujeito lumano, mediante o desejo inconsciente, ou no plan

mais geral das cadeias significantes incomscientes, mediante a ruptura opeta


pelo sistema fechado das máquinas. A ordem estrutural do grupo, a
consciencia, da comunicação, é assim circunscrita por todos os l

por sistemas de maquinas sobre os quais jamais terá controle, scj1nn ci


objetos "a", comomáquina inconsciente do desejo, ou fenoncnos d.
ruptura vinculados com máquinas de diferentes generos. A essene
do
maquina, como fato de ruptura, como fundação atópica dea Ordei
geral, desemboca t inpossibilidde de distinguir, com o passar do temyo,
o sujeito iconscientle do desejo r a próprid ondem da máquina. Além ou q

de todas as determnaçOes estruturais, o sujeito da economa, o


Maquna c Cstrutur.

317
aSuieito
O sujeito dda cieinCla encOntram esse
da História, mesno objeto "a" como
te
fundador do desejo.
estrutura que finciOa coln0 sujeito para outra
LL1a
estrutura seria
asla. o fato de a comunidade negra dos
por exenpl
Estados Unidos repre-
a nonto de reterencia de uma ordem branca das
coisas. Face
1CO.absurdo, indecifravel para uma consciencia modernista. Uma
roblemática inconsciente poe em causa ai a recusa de
uma alteridade
mais radical que estaria em Conjunçao, por exemplo, com uma recusa da
lteridade economica.O evento do assassinato de Kennedy "representa"

a impossível reconhecimento da alteridade economica e social dos países


Terceiro Mundo, como o testemunha o fracasso da "Aliança para o
Progresso, o empreendimento de destruição do Vietn etc. Ca
marcar aqui os pontos de junça0 e de continuidade entre a economia

libidinal e a economia política.


Nesta ou naquela etapa da História surge uma focalização do desejo
no conjunto das estruturas; propomo-nos a reconhecè-la sob o termo
geral "máquina, quer se trate de uma nova arma, de uma nova técnica
de produçáão, de uma nova axiomática religiosa, de grandes descobertas
- a descoberta das Indias, da relatividade, da Lua, da China etc. Para en-
frentá-la, a antiprodução estrutural se desenvolve até seu próprio ponto
de saturação, enquanto a ruptura revolucionária também desenvolve por
Sua vez, em contraponto, outro campo descontinuo de antiprodução

que tende a reincorporar o insuportável corte subjetivo, tudo o que taz


que ela continue a escapar à ordem antecedente. Digamos da revoluçio, do
periodo revolucionário, que são o tempo em que a máquina represtenta a subje
d e 30C1al para a estrutura, e que o faz em oposição à fase de opressão, de

aao, Cm que as superestruturas se impöem como representaçao mupossivet


dos efeitos de máquina. O referente comun desses tipos de escrituras ho

vel da História seria a instalação de um espaço puro do signitiecante em


que uina representaria o sujeito para outra mdquina. Mas nao se pOderla
Cont
a c n t a o a dizer da Tistória, como lugar do mconsciente, que
ela "estruturada que 1.10 CxSte td

u u r a d a como u n a linguagem" a vez

ona
escritural possivel de uma tal lnguagem.
real, a
E com discurso historico
efeito mj
Lo
inpossivel econonizar o

característica O gente que faria que una dada etapa, que


um dado
Psicanálise e Transversalidade
318
significante vá ser representado por um dado eventO, ou por um dado
grupo social. pela irrupção de um individuo, de uma descoberta etc.

Nesse sentido, deveríamos considerar que os arcaismos historicos são em

principio lugares de escolha da verdade; a História não funciona segundo


um processo contínuo: os fenomenos estruturais se distr1buem aí segundo
sequenCias particulares para exprimir e marcar as tensoes significantes

1nconscientes atéseu ponto de ruptura, ponto singular de descontinuidade

localizável na tríplice dimensão da forclusão, da insistència e da ameaça.


Os arcaísmos históricos exprimem o reforço do eteito estrutural em vez

de sua fragilização.
Se A. Malraux pôde dizer do século XX que foi o século das nações,
em oposição ao século XIX, que teria sido o do internacionalismo, é que
o internacionalismo, não dispondo de uma expressão estrutural adequada,
articulada aos maquinarios economicos e sOCiais que o "trabalham", fe-
chou-se no nacionalismo e, abaixo deste, no regional1smo e nas diterentes

formas de particularismo que hoje se desenvolvem, inclusive no seio do


movimento comunista pretensamente internacional.

A questão da organização revolucionária é a da instalação de uma


distintivos seriam uma axiomática
máquina institucional cujos traços
e uma prática que lhe garantissem não se techar sobre as diferentes
estruturas sociais, e bem especial1mente sobre a estrutura do Estado,
fundamento aparente das relações de produç o dominantes, ainda que

não mais corresponda aos meios de produção. A armadilha imaginária, o


artificio sedutor, é que nada parece hoje articulável fora dessa estrutura.
O projeto revolucionário socialista, que se dera por objeto a tomada do
do
poder politico de Estado, identiticado como o suporte instrumental
domínio de uma classe sobre outra, à garantia institucional da posse dos

meios de produç o deixou-se apanhar por ese engodo. Estruturou-se

aSi mes1))o Como um engodo, na medida em que esse objeto, narcante


economicas e
para a consCiencia soCial, não mais correspondia às pulsoes
soCiais. C Estado tal como o conhecemos acha-se hoje completamente
A
descentrado no que se retere aosprocessos economicos tundamentais.

instituciOnalizaçao de "grandes mercados", a perspectiva da nstauraçao


de superestados, reforça esse engodo, do mesnmo modo como o projeto
cadi Vez
do reformismo modernista, de um controle "popular", retorça
M a q u n a ee s t r u t u t a
319
economicos e sociais... A consistência subjetiva da
aic
mais
SUubconjuntos
sociedade, talcomo estase articula em todos os níveis econômicos, sociais,
anlturais e assim por diante, na0 e em nossos dias localizável, nem dispõe

de mais do que traduções equívocas.Vimo-lo


institucionais no momento

da revolução de maio na França, em que a unica coisa que se aproximou

autêntica organizaçao de lutas só apareceu na forma da experi-


de uma
tardia e täo contestada, dos comites de ação.
encia balbuciante,
O projeto maquinação de uma subversão
revoluCionário, como

a cada
institucional, teria de revelar essas potencialidades subjetivas e,
de sua "estruturalização".
etapa das lutas, protegë-las
sobre
Mas semelhante reavaliação permanente dos efeitos de máquina
contentar-se apenas com uma "prática teórica",
as estruturas não poderia

implicando a promoção de uma práxis analítica específica adjacente a

cada nível da organização das lutas.


Uma tal perspectiva permitiria, em contrapartida, situar a responsabi-
têm condições de se articular
lidade que, a este ou àquele título
daqueles
luta de classes
à letra do discurso teórico no contexto em que ela marca a
no cerne do desejo inconsciente.
1969
Reflexoes sobre o ensino como
o reverso da análise

1. Argumento

ensino da psicanálise deveria consistir em


saber que, no que se refere a0 exercicio da verdade, estamos. em
levar a

circunstancia, sempre demais. Sempre cedo demais ou


toda e qualquer
rarde demais,' o "saber do analista, c o m o dispOsitivo do gozo - que,

nestes tempos, "anda com desenvoltura =, resiste a toda interpretação,

massifica, leva impasse, intersubjetiv1za (intersubjetive) a transferència.


ao
com respeito a "estar ao
Digo "levar a saber para marcar a diferença
corrente. Porque, é claro, na prâtica, Os anal1stas são rapidamente atua-

lizados pelos próprios neuroticos. Esse e inclusive, a meu ver, um traço

o ensino. Bem ou mal ensinado, o


de delimitação entre a formação e

analista forma-se rapidamente no tocante prudencia, chegando m e s m o


à
ele nao
a fechar-se nela, e por bastante tempo! Quanto à interpretação,
de caminhar
Esta tem antes a tendencia
tem senao que ai permanecer.

Sozinha! E do interesse do analista se meter com ela o menos possivel se


contestaçao que,
nao quiser correr o risco de passar pela prova de uma

do nteiz
em nossos dias, sabe Deus aonde pode levar! (Lembrem-se
nas colunas de lCnips
dnansta treinado por gravador que apareceu até
Modernes )
gente se arranja
portanto, tudo é simples, a
dito a formação, radioso.
futuro e
enquanto Lacan existir,o
POde. Quanto ensino, ao
começo
tentativas de fazè-lo calar-se, desde o
Cnuma das incessantes
ele deve ser

de sua a dizer que


abatè-lo, O que leva
carreira,COnseguiu
de abril de 1970,cyo
de Paris, 17
Congresso da Escola
Freudiana Pans, n. 8,
apresentada de l'Eole Frudienne de
CaçAo ao
Publicada em Lettres
CCntrava no ensino d psicanálise.
JATICTo de 1971. "um aindla
n sem mais": "l'un sans plus Psychanalyse
liião do "um a mais": "T'un en
plus"-"um
"Situation de la
LACAN, Erits,
encore""un demais": "l'un de trop".
1956"p. 48).
2 Phestigion revista fundad enm 1945 pela cditora Gallimand.
322 Psicanálise eTransversalidade

imortal... E a gente se instala numa espécie de sentimento coletivo de


eternidade que cada qual aproveita a sua maneira.
E de fato necessário reconhecer que as poucas "tomadas de palavra
de diversas "asas" de Lacan de modo algum foram conclusivas. Como
explicar, nessas condições, que Lacan pareça sempre tão ligado a esses
estranhoS sujeitos que ele lançou sob a designação "cartéis"?4
Pelo que sei, não se fez relatório de seu funcionamento. Mas será
possivel que, na verdade, este não ex1sta? De que se trataria precisamente?

De uma panaceia singular, de uma maiéutica do "um a mais"... Para ver


aí com mais clareza, proponhomarcar as diterenças de funcionamentodo
"um a mais" na formação e no ensino (o desempenho e a competencia).
De um "um a mais"a outro, se disso não resultar dois, talvez resulte "a"
Quando se são dois, aparentemente, o analista + o analisando, o
"um a mais" será antes menos do que se deve contar. O analista se reduz
tendencialmente à condição pouco invejável de encarnar o objeto "a
e encontrará pouco auxilio na evocação da lembrança de seus mestres
ou na relembrança de seu saber.
Mas quando se é quatro ou mais ((3+ 1+ 1),tudo muda.
O saber sobre uma verdade sem medo nem censura, quero desejemos
ou não, retoma então seus direitos. Estamos "entre colegas", e ento isso
circula, o objeto "a"! Com um pouco de hábito, sempre se pode remeté-
-lo docemente ao olho ou a outro lugar qualquer do vizinho!
Através da bruma de minha lembrança, creio distinguir que o cartel
foi proposto justamente para evitar isso! Uma propedêutica do "um a
mais". Logo, o trabalho do cartel poderia ser o reverso topologico do
trabalho analítico, uma
decifração "achatante(uniforme) um "novo
arquivismo".
Nada de transferència no cartel, sobretudo lateral e menos ainda

3A bem dizer, Lacan jogava com o som de "T, com a imagem gráfica, aqui presente, ailes ( y
mas que pode ser "ala"
partidária) e com a imagem acústica "delas" (d'ailes), assinn como, et
alguns casos, com "aile, elle (ela) el'.Ver, por exemplo, LEMAIRE, A. Jacques Lacan - Vma hi
dução. Rio de Janeiro: Campus, 1979.Trad.: 1Durval Checchinato et al. N.T.
4 Grupos de trabalho internos da Escola Freudiana de Paris, em relação aos quais Lacan, na ata
fundação da Escola Freudiana de Paris (junho de 1964), precisa que serio compostos por re
pessoas no minimo, Cinco no náxino, sendo quatro a justa medida. Mais uma encarregaeta
seleção, da discussäo e da questio a reservar para o traballho de cada um (Anmaire l:.:7, 0
Na verdade, os "cartéis" existentes estão longe da medida e da formula!
sobe o
ensino ommo o Teverso d.i analise
Retlevies

323
sical
hierarquica Quando fareja transterencia no se

tamo-la, à1aneira
mane
conpartimento,
dos agentes de estrada de ferro acha-
nde campanha de exterminio de moscas.
chineses, quando da
No fundo, o
prototipo do Cartel
seminário de Lacan em sua e o

et arqueológ1ca anteriora sainte-Anne, quando,


imagino, ele ainda
dtaa $Ó ou quase iSsO. Um sujeito, do genero
Descartes, quebra o silêncio
THseu discurso enganoSO, para ater-se ao texto.
No caso, ao texto de
Freud. Mas, para o cartel, poderia ser tanto um texto teórico como
um
estudo clínico, um "controle" etc.
Em suma,o ensino da psicanlise algo que Lacan conseguiu fazer seria

cozinho (sozinho com 300 pessoas numa sala), mas que, até
hoje, não deu
certo em grupo." Uma escola que seria composta de cartéis e somente de
cartéis... De trabalho... Era essa mesma a ideia? De trabalho, isto é, não de
trabalho analitico, ou entao, se se quiser, de uma anáise ao contrário. Fim
das boas maneiras, dos""quanto a mim", dos imaginários de todos os matizes,
um retorno sem ir, sempre um retorno ao texto, à letra das coisas.

Sonha-se com o que poderå ser um dia um congresso da Escola em


que se de contas de semelhante tipo de atividade.
Aprofundemos ainda mais a distinção. Do lado da análise,o desejo,o
objeto"a", no fio de discurso sempre pronto a deslizar de uma articulação
a outra: monemática, imaginária, fonemática, simbólica..
Do lado do cartel: uma máquina de leitura que não mais deseja
conhecer o saber deste como gozo do outro, que perversão à Enésima
poténcia se propõe a apanhar o dito saber, não mais pela cauda, porém
pela letra em sua própria substância. Mas que peso, nos, pobres apos-
tolos, teríamos diante da perversão solitária, fanática, de um Lacan pela
referencia transfinita, o livro raro, e até, creio eu, o caråter de impressao,
a Justificação e, quem sabe, o cheiro de tinta?

A dois, seríamos uns Bouvard e Pécuchet.' A tres, é o Edipo, o que

não é bom, como é bem sabido!

P n e i g eminário hebdomadário do Dr. Jacques Lacan toi realizado no Hospital Sainte-


Anne
v O C e pode s a b e r , é este o sentido deste t i t u l o . V o c e pode saber agora que tracavet nut

tres prmeuas linhas do n


auajte 12 anos s se dugu a psICanalistas.." Estas s.io as

de
Siliuet, a 1evista da F.EP
) Pers
CIs do jomane holO o de Gustave llaubert, marcadas pela nhet.ite
324 Psicanalise e Transversalidad

A partir de quatro, portanto, temos o cartel e, para além dele, a Es


cola. Um programa completo. O ensino seria a perversão da letra contra
o pano de fiundo de uma cscola pcla mediação dos cartéis.
De um lado, a análise, o curso louco do objeto "a",o enfrentamento
fantomático do*"um a mais", a produção de uma subjetividade outra,

Do outro lado, um trabalho que diferencia do"um a mais uma dessub-


jetivação das relaçoes, uma despersonalização dos analistas, no sentido
em que se fala de personalidade forte, ego forte etc.
Essa "desimaginificação" (désinmaginification) do ensino, que implica uma
vigilância contínua de ter de romper com as miragens da profissao (a posição
do analista cujo encanto descrevemos num congresso), se abriria a outros ho-
rizontes. Que é feito hoje das castas e classes, de suas desordenadas imbricações
fantasmáticas, das vias e meios novos da apropriação do trabalho excedente...e
sei lá o que mais?! A que caminho nos poderia levar essa pista de uma tomada
ao pé da letra do dizer e do escrito psicanalítico em nossos dias?
Há muito tempo, em maio de 1968, uma interpelação social, de
que se esquivaram habilidosamente os psicanalistas, visava inabilmente
confusamente, mas ainda assim visava, a uma relação potencial entre o
freudismoea revolução social.Haveráainda pertinencia em lembrar aqui
que muitas são as pessoas da extrema-extrema-esquerda que esquentam
a cabeça com a velha questão da construção do Partido Revolucionário?
Como evitar que um grupo focalize, como se isso lhe trouxesse prazer,
a perversão do saber - os militantes, os quadros -, evitar que subjugue,

esmague a "verdade sem o saber" das massas?


Como evitar que o"unma mais" do partido, da organização, obture toda
produção institucional, toda tomada de palavra verdadeira "na base"
"Que se abram as bocas!": esse apelo ouvido quando de nossas últi-
mas sessoes plenárias ressoa e talvez eu seja o único a te-lo ouvido assini
com o que Maurice Thorez" lançou em 1936, creio eu, a um partido
fechado, sufocado, fascinado, pervertido, que vivia apenas por delegaç:o
ca partir dos fatos e gestos de seus chefes. Certas ênfases, certa ma-te,
certas manobras no seio da Escola me lembram o stalinismo; será neces
sário dizer essas cOIsas?

8 Fantomatique, não Jantasmatigue, lembra syuptomatique, sintonnático. N.T


9 Secretário geral do PCF de 1930 a 1904. N.T.
sobre o ensino con10 o reverso da análise
Relexdes
325
No fundo, não e a0 redor d0 mesmo
problema que giram a Escola
e os movimentos revolucionários?

Dizer, por exemplo, do ensino da psicanálise


que ele deve ser di-
ferente do ensino universitario ainda e nao dizer coisa
alguma sobree o
a e ele deveria ser no seio da Escola e,
por que não, na Universidade ou
em qualquer outro lugar!
Oue condições
deveriam concretizar para
se
que um organismo
como a Escola pudesse funcionar, para seus membros e exteriormente a
ela, como uma máquina de decitração analitica, sem falsa equiparação à
Telação psicanalitica? Mas nao tera essa pergunta um alcance mais geral?
Não seráela concernente a toda tentativa, que não fosse mais tolamente
sociológica, de decodificação de um segmento social, seja ele qual for, da
familia conjugal ao oligopólio, de uma etnia "primitiva" ao Estado?
Correlativamente, não chegaríamos a considerar que um terceiro
sistema de articulação institucional deve necessariamente ser estabelecido
para autorizar a justa localização dos diversos modos de fantasmatiza-
ção?
Será concebivel desenvolver um ensino que, para voltar à letra - aqui-

lo que Oury chamaria de "ensino positivo"-para recusar toda"perversão


paradigmática", instaurasse uma cena "arraigada ao significante" em que
pudessem vir agir e se reduzir as fantasias de grupos, de onde quer que
venham, como aquele que enunciei sobre o "stalinismo" na Escola...

Que garantias deveria criar para si a Escola para evitar fechar-se


Sempre sobre si mesma, só se oferecendo aos outros com sujeito supos=
to do saber psicanalítico, encarnação de um gozo suprem0, quando na

Tealidade não passa de lugar em que cada um se compraz ás escondidas


Cm estar num "grupo de ponta", por trás de um Mestre. Prazer por ou-

em
ado pouco exigente meios: um encontro de vez
no tocante aos
de
"leitura de Lacan", a ausencia
um
grupos heterogêneos de
boletim de informações.
Talta da instauração de uma estrutura
radicalmente distinta cda do
ou mesino do gupo
po corporativo, de uma associacão profissional,
de Lacan, que não é
o
de pressao0, a Escola se todo ensino exceto o
proibe dihunde macetes
30ola, desenvolvendo u u u pedagogia do minmetisno, e isso que me
e
analise, relança, a partir das fileiras lacanianas
-

d
326 Psicanálise e Transversalidade

parece particular1mente grave , o nmodelo sifilitico de uma transposicão

da relação analítica verdadeira com uma interpretaçao dos grupos, das

instituições, e até da sociedade...


Por fim, a questão do ensino se reduziria à definição das condições
de uma produção significante para além do seminário de Lacan, para
além do prazer de o estar seguindo, ao estabelecimento, å articulação e
ao controle dos cartéis na Escola.

2. Comentários

Desejando que se possa instaurar de imediato uma discussão, mais do


que retomar meu texto introdutório, prefiro partir daquilo que Nassif nos
propos, para tentar articulá-lo a minha proposta. Em primeiro lugar, em
poucas palavras e pedindo desculpas do mau tratamento a que submeto
seus textos, aquilo que deles retive: se o entendi bem, o discurso psicanalitico
- que "produz a partir de todas as peças" o objeto "a"- estaria articulado

ao discurso das ciências pela mediaço do discurso do analista, mas desde que
se desfaça a operação científica do discurso universitário que consiste em
hipostasiar um sujeito sob o saber.
O psicanalista, para realizar seu trabalho de verdade sobre o saber
indecidível dos nomes próprios, encontraria assim apoio num discurso da
psicanálise, discurso constituído de modo tal que esse saber jamais possa
ser"capitalizado em proveito do arquivo" e da "função de autor" mas.pelo
Contrari0, que possa constituir-se como outra extremidade do recorte cons-
titutivo da ciencia, perpetuamente dividida que é entre o que deve excluir
de si no real como "impossível de um discurso dado" e a função de autor
rejeitada na ordem simbólica, passando por unma espécie de"desrealização
nome proprio na terceira pessoa, nome de nome".. **

Tendo de "dar conta de todos os recortes", de "conhecer


metáforas",a instituição-psicanalítica instituição de todas as outras ins-
tituiçoes- não deveria,segundo Nassif,privilegiar conceito algum. Não
sendo o trabalho da cura mais do que uma filtragem de tudo aquilo que

10 Oberve-se que "nom de on" é uma das expressoes eufenic.as para certas exelanmaçoesP
Jorativas. N.T
sobre o ensino coim0 o reverso da análise
Retlexoes 327
Telacaão com a fantasia, e Sendo o trabalho de cura da teoria freudia-
1 a filtragem do discurso das
cienCias "teitas para que a questão do
desejo jamais seja poSta ou que o saber pSicologico a que ele é remetido

nermita fugir a ele" (Letres de P' Ecole, março de 1970, p. 17).


A função especitica desse discurso da análise, apoiado que é no discurso
ncicanalitico produtor de um "contradiscurso", de um "outro discurso",
Doderia assim ser comparada a de uma estinge postada nos portões dos
iardins das ciëncias, encarregada de vigiar os riscos de contaminação ide-
ológica por meio de uma especie de contador Geiger antinome próprio,
puro índice de eventos que se recusam a só saber deles sua repetição.
Para psicanalistas, esse seria um imenso trabalho suplementar! Mas
penso que haveria ai, não obstante, alguns "para jogar esse jogo pro
posto por Nassif, desde que lhes seja garantido que não se virá depois
P
importuná-los com as coisas do mundo, exceto, é claro, as questões de
nome próprio.. Tenho menos certeza do que Nasif de que aí não há
"nada de novo seno na e por meio da ciência", e temo que se caia numa
miragem, a do imperialismo e do poder absoluto da ciência sobre o real,
outro procedimento radical para esquivar-se ao desejo, o qual, na forma
de objeto "a", nem por isso deixa de permanecer na raiz fundadora
de todas as maquinações científicas. Essa promoção, a partir da práxis
analitica, de uma pura máquina teórico-analítica, " cena e instrumento"

da extração do evento singular e de sua resolução em pura repetição,

parece-me,portanto, ter sobretudo o inconveniente de liberar os analistas


sem cobrar muito, de suas responsabilidades políticas. Nassif, a meu ver,
Intui esse perigo quando se recusa a dar o último passo, o que o levaria
a declarar sem hesitação que não existe saber analitico.

a reserva - que talvez não seja mais que resultado de um mal-

Cntendido diante de textos dificeis - não me parece dever condenar


Seus desenvolvimentos. Porque seu trabalho de"esvaziamento" do nome

proprio isto é, do Édipo - deveria, muito pelo contrário, ser desen-

VOVido. Não só é justo afirmar que a psicanálise tem algo a tazer con,

da matemática, como e tambem


CXCmplo, o objeto da lógica ou o
C h t e marcar de modo concreto sua relação com o conjunto dos

Ontextos politicos contemporîneos. A única reprovação que eu faria


POTEanto, a Nassif, é que me parece que ele tende implicitamente a re-
328 Psicanálise e Transversalidade

duzir a ordem da História à da ciência, tendencia que, num Althusser, vai


se retorçar por reduções suplementares da ciencia a teoria e da prónria
teoria a uma atividade literária que por outro lado não deixa de ter seus

encantos!
Retomemos a bateria de conceitos proposta por Nassif: lembramos
que ele nos ameaçou com uma perda sem recurso dos beneficios da
cientificidade e de uma queda no inferno da ideolog1a no caso em que

um dominio deixaria de ser defiunível num campo de saber mediante a es-


truturação de um discurso ele mesmo produtor do objeto do dito saber.
O mesmo ocorreria no caso em que viesse a faltar qualquer dos

quatro termos desse círculo -

domínio, saber, discurso ou objeto -

ou

uma das très relações que o constituem - detinição, estruturação ou

produção - e às quais Nassif evitou acrescentar uma quarta: a pertinência


do objeto produzido ao saber, temendo precisamente ver suas fórmulas
se fechar em circulo. Mas o objeto do saber lhe escapa precisamente num
histórica.
aspecto essencial, que é o de sua realidade
Considerar a realidade do envolvimento da psicanálise com o discurso
politico nos levaria a ver, ao lado do discurso do analista em seu desempenho
cotidiano no nível, por exemplo, da transferència e da interpretação, outro

discurso que também define um domínio distinto, a saber: o contradesem-


taz
penho constituido pelo discurso institucional sobre a psicanálise, e que
eco, até o cerne da práxis analitica, à imensa e
interminável tagarelice sobre a
psicanálise, às ideias recebidas sobre a matéria tanto na Radio-Luxembourg
como no åmbito das diversas sociedades credenciadoras. Polarizada entre
verdade da
esses dominios antagonicos, a formação analítica não passa na

resultante desses desempenhos vetorizados em sentido contrário, enquanto


ensino, encarregado de emitir, de acordo conm este ou aquele procedimeto,
certificados de competëncia, continua conm toda a quietude a sacritiCar

parte essencial dO campo psicanalítico no altar das divindades dounintes


do pensamento médico e psicologizante.
A questao que se poe a nós é a de saber em que condiçoes efetivnis poder
rede
o discurso apartar aomesmo tempo da inextricável
psicanalitico se
"
tenden
titucional de que pernanece prisioneiro e dos diversos mitos que
elo
ideal de conformidade aos modeto
assujeitar Sua produção a um compósito
etc.
sociais dominantes na ordem moral, religiosa, politica, cientitica
Rettexocs sobn o ensino cOn1o o reverso da análise
329
Que tipos de efeitos e contraefeitos tem-se o direito de esperar
a13do da estruturação de uma escola nesse novo domínio assim defini-
do? De modo algum se deve esperar que a resposta nos venha do "discurso
sem arquivos que hoje ocupa a posiçao reterencial dos outros discursos,
e que não poderia senao contar os golpes sem poder faze-los funcionar
em termos de verdade, como o observa com tanta justeza Nassif.

Nem o proprio Lacan poderia fazer falar


"discurso sem fala/pa-
esse
lavra" a respeito do qual, diga-se de passagem, todos na Escola esperam
que ele acabe por nos talar um pouco mais longamente? Não poderia
ele nos servir ja pronta alguma verdade carregada de diretri1zes precisas
sobre essas questóes do ensino? As coisas têm tal natureza, infelizmen-
te, que nem mesmo a ciência feita homem poderia proporcionar um
envolvimento coletivo, um projeto político comum. E é sem dúvida à
Escola que se atribui a temível responsabilidade de ter de se transformar
nesse"templum institucional, para transpor o termo de Nassitf, no qual
poderá enfim se inscrever, a título de insígnia, e pela mediação de alguns
operadores estruturais, a assunção de um recorte repetido no lugar e em
lugar da separação tradicional entre o ensino e a formação, fazendo-os
suturar-se um ao outro numa extensão reciproca, e de modo tal que o
ensino setorne o reverso topológico do trabalho analítico.O funcio
namento da análise segundo uma modalidade do tipo do "esquema de
axioma e como repetição pura de um "discurso sem arquivos não
poderia acautelá-la de uma ascendencia sobre o conjunto dos dominios
científicos, políticos, institucionais etc. Pelo contrário, ela seria levada a
um trabalho de expulsão, no âmbito desses diversos dominios, de todas
as formas de intrusão do "diz-se" sobre a psicanálise, de toda a compulsäo
a0 arquivismo universitário, de todo finalismo médico-social, de todo

função de do objeto "a", em toda


TVIsionismo que impeça a corte

manifcstar incidencia do deseJO em seu


C em
que venha a se a

apelo de verdade.

leibr.a
cinsno, e esengne, insigma, que
, SEnehança parcial das fonnas lseignemet,
lc disso uma das formas do verbo ruseigner, cnsnr. N.l
se denonina
decla:". Oque
Cnas Leltres, p. 42, a propósito do texto de NIsif, Lacan algun1.s
emb.as.amento perletamente redutivel
a
analitico depende na verdade de um

articulaçoes essenciais e formalizáves


Psicanálise e Transversalidade
330
O minimo que se pode dizer é que, nesse caminho, a Escola ainda

tem um bom trecho a percorrer! E para ter uma medida deste, propo-

nho-me a examinar a situação atual à luz do axioma suplementar, que

poderia ser tormulado da seguinte maneira: o ensino de Lacan não é


ensino da Escola.
A Escola, com efeito, n o poderia contentar-se com um saber so-

bre o ensino, sobre o escrito de Lacan. Uma coisa e o ensino de Lacan.


outra coisa o ensino que deveria ser o da Escola. Sobre essas questões, e
ainda que não posa tomar o lugar do trabalho da própria Escola, Lacan
deu algumas indicações sobre o tema dos cartéis, indicaçoes pelas quais
(ou ao lado das quais) passamos um tanto rapidamente. A co1sa parece

de uma
assegurada, mas os membros da Escola ainda estão bem longe
apreensão c o m u m do que poderia ser a função do cartel como modo de
estruturação do campo do saber psicanalítico. Escutam-se com frequencia
fórmulas que propõem o cartel como nível intermediário para "aceder"
às dificuldades do ensino de Lacan (); isso me fez dizer em particular a
meu vizinho que se tratava em suma de pôr em circulação uma vacina,
uma linhagem atenuada do lacanismo. Há ainda "grupos de leitura de
Lacan", mas, até que me provem o contrário, continuo a pensar que se

permanece aí numa espécie de nivelamento por baixo dos escritos e


dos seminários; ou se produz um Lacan simplificado, um Lacan popular,
espécie de fermentação de fórmulas sem real respeito a sua textura, ou se
tende ao ideal último de Bouvard e Pécuchet: a cópia pura e simples
O que se aplica aos textos de Lacan se aplica a fortiori a todas as
outras formas de ensino, de leitura de textos teóricos, dos "controles"
etc. Como desenvolver modo de produção nesse domínio que
um outro
constituísse uma ação de "por em pratos limpos" do texto, aquilo que
propus sob a rubrica de um "novo arquivismo "? Pôr em pratos limpos.
mas também "colocar tudo na balança" no que se refere à extensão da
análise aos fenomenos de grupo, em particular no seio dos carteis, com
o
objetivo de neutralizar as famosas "transferencias laterais" e todo tipo

13 Há en comum, nas
expressoesoriginais,"plat":"mise à plat"", csclarecimento, e "nnise des
dans Je plat" (tocar sem reservas em assuntos sensiveis, pôr o dedo na terida), o que expliea pinosi
escolha tradutória. N.T
o
ensino
comO O
reverso da análise 331
sobre
Refevoes

texto do objeto a.E, precisamente no tocante a isso,


"tora.do
.fora
deuso
a n i r i a distinguir melhor o modo de funcionamento do objeto
e no ensino. No primeiro caso, o analista se
1a Dráxis psicanalitica
aa Dotencialmente em condiçoes de ser ele mesmo esse objeto "a"; a
na relaçao dita dual antes como um"um
"um a mais opera
Ancão do
da aboliçao narcisica. No segundo caso, o "a"
menos", na tangente
nas identiticações e papéis, sempre
funcionará como "diferenciaçao
de de sociedade, de
ameacado de ver seu eteito impedido pelo tipo jogo
iogo de intersubjetivo que multiplica ao infinito as complacências
lugares
tascinios alienantes etc.
mútuas, hierarquias secretas, os
as
Estou convencido de que essa incidencia do imaginário de grupo

sobre o ensino requer a instauraçao de uma prática analitica, especifica


técnica, que constitua estritamente talando o reverso do trabalho
em sua

do psicanalisante" no div. Reverso da psicanálise porque, dessa vez, já


não se trata de um processo que, ao final de uma serie de transtormações,
do objeto "a" no nivel daquilo a literatura
desemboca na apreensão que
psicanalítica localizou ao redor dos objetos parciais, das zonas erógenas
e de toda a dimenso de corporalidade tão agraciada pelos analistas de
disso desemboca na extensão de
crianças e de psicóticos, mas em vez

seu efeito, por meio das fantasias de grupo, ao conjunto de segmentos


do campo soCial, sem poupar sequer a perversão solitaria da letra que

evoquei em minha discussão introdutória.


A promoção desse "novo arquivismo" no seio dos carteis e algo

denominou narrativa: seu objeto é a


que releva daquilo que Oury a

advento
recuperação de escritos da literatura analitica como evento ou

de um recorte repetido, o efeito de recorrència, para dar um exeniplo,


do discurso de Anna O. no de Freud, ou então do discurso de Aimee no
e Lacan, mas também a repetição de eventos que marcaram a historia

dOVnento psIcanalitico, a reiteração das cisoes, das exclusOCs, das

VISOes,e desde os primeiros empreendimentos de Freud. Um contronto

DCrad com o "real impossível" nnanifesto por recortes, repetidos


OC eco, inclusive na história do lacanismo e na historia recente aa

14O uso do"s" aqui busca cvitar conlus. entre o substantivo


evitar a confusão usado e o adjetivo "psicanalisan-
te", emgeral
Dusc
pejorativo, de ser fiel a Lacan. N. T
além
332 Psicanálise e lransversalidade

Escola Freudiana, deveria constituir um ponto de ancoragem primordial


de todo ensino.
Recuperar o texto em seu sentido de recorte repetido sem remeté
-lo sujeito da enunciação, sem personalizá-lo, constitui um obstáculo
ao

à proliferação daquilo que chamei de perversao parad1gmatica... Há,


no
tocante a isso, um problema que nao poSSo desenvolver
aqui, mas que me
parece particularmente agudo numa ala do lacanismo: a ambiguidade es-
piritualista que faz que a letra seja ai pensada como podendo estar inscrita
no
corpo, o "corpo erógeno, corpo que e ele mesmo considerado uma
espécie de substância linguística unívoca. Contudo, a essencia da letra não
é o ser inscrita no corpo, mas, pelo contrario, o inscrever o
tuncionamento
do objeto "a" em outros suportes, outras cadeias bem mais
"desterrito-
rializadas" do que o demasiado famoso "esquema corporal"..
Se, portanto, trabalho do analisante" é bem
o
recuperação, essa
essa

redução fantasmática do funcionamento do objeto"a"no seio da relação


psicanalítica, o que pelo contrário vai ser questionado no campo do ensino
é uma extensão,
para alem e um para aquem, do imaginario em sua
um

relação com o corp0 e a pessoa. E por certo a talha de funcionamento da


Escola máquina de leitura, máquina analitica nos níveis do ensino
como

e da fornmação, que favoreceu a eclosãoe a


persistencia em seu seio de
algumas correntes 1deológ1cas que nada tëm a fazer com o treudismo.
A Escola funcionará, um dia, como
do
estrutura-mediação entre o dis-
curso
psicanalisante e o das ciencias, o da ação revolucionária e dos
diversos dominios que está
enm
mplicado o objeto "a", ou deverá ela ser
Considerada, 1no final, ao mesmo titulo que as outras oficinas
como obstáculo suplementar ao desenvolvimento
psicanalitic:as
do freudo-lacanisnmo
secretando com relação a ele uma
espécie, talvez ainda mais virulenta, de
"doença de
desconhecimento", justo em razão de ela
mais do
ter se
aproxunado
perigo da
verdade? Esa fina flor de farinha evocada
por Nass1t
vai fmalnente cessar de ser transfornmada
pelos moinhos das diverNas
soCiedades especializadas na espécie de pasta endurecida que tem servilo
para fazer o
påo cotidiano dos psicanalistas até a
intervenção, inteliznente
excepcional, de Lacan?
Digamos que fica em EsCOld,
suspenso, para a

15 Terno
proposto por Lacan para
desIgnar paciente
o
na cura
psicanalitica.
Retexirs vtre o eriitit, C o rever da ználte

33
A demonstraça que estabeleça na0 ter essa
questão mergulhado ja.
definitivamente, no.. indecidível!
Entrementes, dois objetivos de trabalho deveriam
-laboração, de lado, da teoria do
um
ser
distinguidos: a

fantasma a partir da práxis psicanalitica


e. do outro, da teoria do
fantasma de grupo a partir dos discursos ideológi-
cOs dos diterentes estratos do sociuS
Aa que a anal1se pode ter acesso. bem
como partir conquista, descoberta, da invenção de uma
a da da
práxis no
nível de instituiçoes capazes de recusar esse
"arquivismo do saber em
todos os níveis em
que se manifeste, seja na Universidade, nos hospitais,
no movimento operário etc.
E, para voltar aos textos de Nassif, creio que a
distinção que ele
propöe entre o discurso da praxis psicanalitica e o dscurso da teoria
só terá real interesse se nOS fornecer os me1os de situar de modo mais
preciso a
responsabilidade do movimento
psicanalitico com
respeito
aos diversos domínios em
que ele vá ter de intervir, desde que, é claro.
o movimento psicanalitico comece a se moditicar por completo. Temo
que, em vez disso, nao se trate senao de um
pressuposto epistemolog1co
cuja função seria apenas reservar a0 marxismo o privilegio exclusivo
de uma intervenção critica no
conjunto dos dominios soCiais.
Julgo
em particular que Nassif se apressa um pouco ao reduzir o "terreno do
discurso psicanalitico" ao da psiquiatria e quando declara que o freudis-
mo não realizou um recorte
epistemológico com respeito à ideologia
médica! Isso se justifica, de acordo com ele, pelo fato de o fantasma, que
traz em si um princípio de corte/recorte, dispensaria o domínio a que
Constitui de ter de expulsar a ideologia dominante senão por meio dos
Cortes/ recortes repetidos que constituem a essencia da praxis analitica: a
Cada cura, o discurs0 psicanalítico partiria mais uma vez do zero, como
SC nada houvesse Ocorrido, reduzindo-se o anal1sta, sucessivame1nte, a ser

apenas un Charcot, depois um Jackson, um Bernlheim etc," Assin, se

renstalaria a cada vez uma pura teoria em que os nomes de autores se*

Teduziriam a simples indices contingentes; uma pura teoria da repetiça0,


hpereável as contingencias e aos ícones históricos, aqueles que tazem

.harcot (1825 1893), nnédico frances criador da hipnose, com quein retl traDalnu,
.191), neurologista ingles (que influene iou a psicanilise; 1. 1Bernheim (l840-1919), pro
e o r Irancés de clinica médica, com quem Freud teve contato. N. .
334 Psicanálise e Transversalidade

que o psicanalisante de nossos dias - amplamente informado como é de

CO1sas sobre a psicanálise não seja de modo algum o mesmo que o de

Freud, de Breuer," de modo que. pela força da História, a prática da cura


tenha passado por uma radical transformação, reduzindo-se o trabalha
do analista, por vezes, a não mais que uma luta obstinada para servir de
contrapeso a um processo antianalítico que tende a se desenvolver como
se a partir de si mesmo.
Tenho a impressão de que Nassif não considera um problema o
fato de a revolução poder ter atribuidas a si duas cabeças teóricas, tendo
o marxismo de dar conta do discurso das ciencias e a ps1canálise, do
"impossível real".8 Esse casamento tranquilizador me parece fundado
numa topologia do encaixamento de dominios - que Nassif escolha a

imagem de acordo com seu humor-, do genero das caixas chinesas ou


das bonecas russas.
De minha parte, considero mais claro, porém também mais inquie-
tante, reconhecer ao mesmo tempo:primeiro, que o treudismo permanece
impregnado da ideologia dominante, que ele se presta ao uso integracionista
que dele faz o capitalismo, bem como å denegação que, em contraponto,
se desenvolveu no tocante a ele nos países ditos socialistas (é por outro
lado mais pelas questões que evita do que por suas posições explicitas
que ele autoriza essa contaminação); segundo que, por outro lado, ele
constitui indiscutivelmente uma nova teoria, que ele traz conceitos novos
que implicam uma ruptura epistemológica radical não só no que se retere
ao discurso das ciências como também a toda teoria e toda prática das
instituiçoes sociais, a começar, naturalmente, pelo marxis1no -a penúlima
teoria verdadeira até este imomento-, que se acha na gestaçáo de outro

corte que deverá, com o tempo, proporcionar ao movimento operario


armas que o ajudem a sair da desordem burocrática em cujo interior
continua a se aprofundar, precisamente devido a sua carència no tocante
a questão do desejo.
Nessas condiçoes, não ne parece oportuno preparar algun balsanno
teórico capaz de aplacar a inquietude de que se tem ocupado, a partir de

17 Josef Breuer (1842-1925), nédico e lisiologista vienense, considerido o "avo la paa

nálise. N.T.
18 Páginas antes, o autor fala de "real mpossível". N.T
Retexies sobe
o ensino como o reverso da anilise 335

maio de 1968, uma parte dos meios psicanaliticos. Entendam-nme bem:


dizer do discurso psicanalitico que ele deve se situar no prolongamento
do discurso revolucionário não significa, na etapa atual, que ele tenha
condições de remediar, como se por milagre, na atual etapa, a incapacidade
ea recusa do movimento operário no sentido de levar em consideração
o desejo na escala das lutas de classes, o que se manifesta por sua tenden-
cia irreprimível à burocratização interna e ao desconhecimento da real
natureza das aspirações das massas, por sua intervenção repressiva contra
a forma de lutas ditas selvagens etc. O que se exige dos psicanalistas não
éo engajamento cego ou "votar na esquerda", imas tazer que o dominio
do discurso psicanalítico deixe de constituir um obstáculo à necessária
implicação dos outros discursos e que, pelo contrário, contribua para
a formulação de uma teoria do desejo que permita que a construção
do objeto "a" possa enfim fazer sentir seu pleno efeito de estrutura no

conjunto que o desejo constitui objeto. Tratar-se-á, na


de dominios em

prática, da promoção de grupos analiticos em contraponto, adjacentes


às diversas instituições, da análise do imaginário de casta, da análise da
instância da letra" no burocratismo em todos os niveis, das relaçöes
entre os fenomenos da burocracia e a pulsão de morte etc. Tudo o que

se poderia fazer avançar atualmente nessas diversas d1reções sao màos

estendidas ao exterior suscetíveis de serem tomadas com bemn mais ra-

pidez do que se pensa.


a uma
Julgo ainda ser necessårio evitar toda imprudencia quanto
definição restritiva do interior e do exterior da análise como limites do
particular, deveriam
Campo de intervenção da Escola. Os cartéis, em

pernanecer abertos todos os dominios, na expectativa de unm trabalho


a

de verdade sobre o desejo. Além de sua tarefa de arquivisno, de leitura


Ou de releitura, é do interesse dos cartéis ter contato com a analise insti-

uconal, quer dizer, em úlima instancia, conma analse poliica


1970

Vez enm
de l1 Lettne dauns ' i i i e i t la Rai on Dput ud (publau ado pela prmer
.ishaut u
detune
3, 1957, "Psychanalyse lI'T o e " , 1957, p 47-8),Lacan
Sieney de
hihilyr, n et
au langage (o suporte
Ce
suppot miténel que le dseous on tet cnpr unte
li) iN.
ateiialque diseusO COneto cnpresta lugua/lunguag).
o i
Guerrilha em psiquiatria

em termos de luta militante


que nos e narra-
da, numa quinzena de testemunhos registrados, de resumos de
discussões.
excertos de diarios pessoaise de
artigos, o tipo de guerra de
libertação que
vem sendo movida hâ dez anos para "reverter a
instituição tradicional.
E sem o minimo pedantismo. Desde o
começo, uma violenta recusa de
toda pseudoneutralidade cientifica nesse domínio, que é, para os autores,
eminentemente político.
As coisas tiveram início 1961.A
em nova direção do hospital -

a
instâncias do doutor Basaglia - real1zou "uma brusca ruptura da soli-

dariedade funcional no seio do pessoal, a alteração do estatuto de uma


vanguarda que vai se recusar a assumir por mais tempo o "mandato
de cura e de vigilancia" confiado sociedade
pela repressiva. Progressi-
vamente, todos os serviços vão ser abertos: são instituidas assembleias
gerais abertas a todos, intensificam-se as comunicações, a organ1zação
de atividades de lazer de
e
socioterapia..
No começo, "ninguém abria boca", veio
a mas depois o
degelo,
todos os serviços passaram a exibir um intenso dinamismo, real1zan
de 50 reuniðes semanais para
ais o conjunto do hospital, obtem-se
espetaculares melhorias, doentes são mandados para casa depois de 10
15 20 de
ou anos
hospital.
Basaglia e Minguzzi decidem então fazer uma pesquisa aprofundada
SODre da
experiéncias semelhantes na França, as corrente da psicotera-
P4 1stitucional, e na Inglaterra, as das comunidades terapèuticas (enm
ngeton, sob a direção de Maxwell Jones). Eles vão progressivanmente
eehvolvendo suas próprias concepções, distanciam-se dessas outras
dVas, que julgan demasiado reformistas, e rediscutem suas PrOprias
IniCativas inicials.

*Análise de 1BASAGLIA, Frco.1.i4itiitin


| Nlion . cdd Seul, 1979. Em Li (Quin:ne,
n.94, maionAIA,
en

de 1970 1985)
d1 (A institaiio nrvid.. Rio de Jneno: (iril,
Psicanálise eTransversalidadle
338

Até entào, era a equipe drigente a vanguarda que "concedlia


edia pri-
vilegios" doentes. Os dados
aos Basaglia e sua eausi
estavam viciados.

decidem, em 1965, desenvolver de maneira mais profunda a "cultr


comunitária". que. pouco a pouco, ganha terreno e modifica as relaca
de torças reais entre o pessoal e os doentes. As concepçoes de Maxwell
tecnicas de reaching a
Jones sào criticadas: eles consideram que
as consencue
SuS
(chegar a um consenso) nåo passam no final de um novo método de

integração do doente à sociedade que tem como parametro "o ideal de


panorganização da sociedade neocapital1sta (Lucio Schiter, p. 149). A
tamosa "terceira revoluçáo psiquiatrica nao seria, segundo os autores
nada mais que "uma adaptação tardia de modalidades de controle social do com
portamento patológico aos métodos de produção aperfeiçoados no curso dos últimos
40 anos pelos sociólogose técnicos da comunicaço de massas (p. 149).
Assim, recusam toda política de melhoria e de consolidação de
hospitais, a política que, na França, levaria as correntes psiquiátricas mais
inovadoras a entrar em estreita colaboração com o Ministério da Saúde,
a elaborar, ao lado dos altos funcionários, as circulares de reforma dos
hospitais psiquiátricos etc. Experiència a longo prazo decepcionante e
amarga. que levou ao desespero alguns dos melhores psiquiatras franceses.
E ainda, recentemente, a reforma do ensino da psiquiatria, realizada pelos
serviços de Edgar Faure, iria semear a confusão nas fileiras da contestação
psiquiatrica posterior a maio de 1968. A própria Sociedade de Psicotera-
pia Institucional recuperou-se mal do movimento de maio, com certos
psiquiatras estimando "que nada aconteceu em maio'", ao menos nada
que pudesse interessar à psicoterapia institucional. Posições violentamente
contraditórias se enfrentam quando de um congresso internacional em
Viena, no ano de 1968, congresso que Basaglia acabaria por abandoar
batendo a porta a sua saída.
Na Itália, sendo dos hospitais e da legislação, sem sono
a
situação
de dúvida, uma das mais arcaicas da Europa, essas ilusoes de modo
algu
poderian encontrar acolhida - violação infamante da folha corrida ao

nternado, suspesao dos direitos civis durante cinco anos, tortutd


estrangulamento:" HI pedaço de pano, o mais das ezes molhado, part pedir
d
respiragao, qiue se aperta com força ao redor do pescoço:a perda dos
sent
imediata" (Basaglia, p. 164).
Guerrilha em pstquiatria
339
Basaglia não se ilude com a experiencia de Gorizia: seu futuro esta
fadado ao tracasso; na melhor das hipóteses, as coisas vão evoluir ali como
nas comunidades teraputicas de Maxwell
Jones em Dingleton, isto é, num
envolvinmento didâtico e terapeutico mais amplo no nível do estafe, mas
que se techa na estera particular dos interesses
Ao contràrio do que acontece
institucionais (p. 100).
alhures, a
"revoluçao psiquiatrica
de Basaglia e sua equipe nao e "de rir. Ano
após ano, assiste-se a uma
verdadeira escalada, que por outro lado criou graves dificuldades
para seus
promotores. O open door (regime aberto), a ergoterapia, a socioterapia, a
setorização, tudo i1sso é instalado, mas não se consolida satisfatoriamente.
Será o contexto do "maio indeciso italiano que envolve essa recusa
permanente de toda autossatistação? Ou será a indiferença do Estado
italiano e sua incapacidade de promover reformas que desestimulam toda
tentativa de renovação? Seja como for, a "vanguarda" de Gorizia já não
dava importancia a isso: a meta comum era agora a "reversão instituci10-
nal", a "negação da instituição",o equivalente italiano da antipsiquiatria
de R. Laing e D. Cooper na Inglaterra."
A própria honestidade desse livro leva-nos a nos perguntar sobre
o caráter desesperado dessa tentativa. Não é ela habitada secretamente
por um desejo de ver as coisas ruirem? Não estará o processo dialético
prestes a se transformar numa fuga para a frente, e, em certo sentido, de
trair a si mesmo? Para a antipsiquiatria, a intervenção política constitui
o requisito de toda terapéutica. Mas a palavra de ordem "negação da
instituição/instituição negada", que só tem sentido se for assumida por
uma vanguarda real e solidamente situada na realidade social, não estará
em risco de servir de trampolim a uma nova forma de repressão social,
dessa vez no nível da sociedade global e voltada para o estatuto mesno
da loucura?
Basaglia declara que, com os medicamentos que administra, "o médico
aplaca sua própria ansiedade diante de um doente com quem não sabe en-

LAING, Politique de 'Eixpériene Paris: Stock (A politica du experiènia: a ave do puraiso - Tit.

orig. The Politics of Iixperience and the Bird of Paradise. "Trad. Aurea B. Weissenberg. Vozes
Petrópolis 1978-e Rechenhes, "Spécial entancealiénée",n. 11, dezembro de 1968; D. COOPER,
syhiatrie et utipsydiatnie, Paris: Seuil, 1970 | Psiquiatriae Autipsiquiatia. São Paulo: Perspectiva, 1989).
Psicanalise e Transversalidade
340
trarem contato nem encontrar uma l1nguagem comum (p. 11/). Fórmul
ambigua e talvez demagógica, pois a psicotarmacologia não é em si uma
Ciencia reacionária. O que deve ser questionado eo contexto de seu uso
Também a nosografia talvez seja desprezada um tanto apressada-

mente. Os caminhos da repressão são por vezes Sutis! Mais eficazes do

que os policiais podem se tornar os detensores de uma normalidade a

qualquer preço! Com as melhores intenções do mundo, morais e políticas


acaba-se por recusar ao louco o direito de ser louc0, e o ditado:"é culna
da sociedade", pode mascarar uma maneira de reprimir todo desvio. A

negação institucional tornar-se-1a assim


uma denegaçao
-

Verneignung, no
sentido freudiano - do fato singular da alienação mental. Antes de optar

pela nosografia, Freud dedicou-se a dar de fato a palaVra aos neuróticos, a


deixá-los livres de todo efeito de sugestão. Renunciar a sugestão médica

cair na sugestão coletiva so constituiria um benefício ilusório.


para
Creio que Basaglia e seus camaradas serao levados a ultrapassar algu-
mas de suas formulações atuas, que são um tanto radicais em demasia, e
Aexibilizarão sua própria escuta da alienaçao mental sem a reduzir sis-
tematicamente à alienação social. As cosas sao relativamente simples e são
necessariamente violentas quando se trata de negar a instituição repressiva.
São porém bem mais dificeis quando o objeto é entender a loucura.Aigu-
mas fórmulas de nspiraçao sartreana ou maoista nao sao suticientes.

De igual forma, a causalidade política não rege diretamente a causali-


dade da loucura. Talvez seja, inversamente, certa dispos1ção signiticante un
consciente, na qual se aloja a loucura, que predeterimina o canpo estrutural
n0 qual se apresentam as opçoes politicas, as pulsoese as mibiçoes revolu-
cionárias, a0 lado, para alem dos determnismos sOCiais e economcos.
Muito felizmente, o empreendimento de Basaglia não caiu um

dogmatismo estéril. Esse livro é precioso porque taz mil interrogaçoes


os doutos da pSiquiatria contemporanea evitam cuidadosamente.
que
1970

2 As úlinnas linhas deste artigo, cortadas arbitraiaiente por La (uinzai, atirnav.m que. per s
todas as divergenc1as, inmpunha-se uma solidariedade militante. Creio reatirnmar esse ponteo n0 no-

mento em que a luta de l'ranco Basaglia contra a repressio italhana deu esejo a um hipocritu

ataque da parte da colunista médica do jornal 1e Monde, a senhora Escoffier-Lambotte, que, atraVCS
desse episódio, visa ating1r o conjunto das tentativas de renovação e de inovação em psiquatrht
Onde começa a
psicoterapia de grupo?

TNem todas
fazem em grupo
as coisas que se

são necessariamente melhores! Do contrário, transtorma-se o grupo en


religião! A vida em grup0 pode ter efeitos nocivos: toma-se o outro
como pretexto para deixar que as co1sas ocorram sem nossa intervençao
enquanto nos fechamos docemente em nós mesmos. E possível regredir
em grupo. Trata-se da diviso do trabalho ao contrário. Trabalhar em
grupo é uma coisa sobremodo complexa.

Bem, tudo isso para dizer que cumpre desconfiar e não cair na
armadilha dos grupistas de todo gênero, e sabe Deus quem nela está no
momento atual, especialmente em nosso
campo. Não obstante, servimo-
-nos o tempo inteiro de grupos em La Borde!
Estaremos usando o mal para nos opor ao mal? Os individuos estão
prisioneiros de si mesmos, incapazes de se reencontrar, de se
recompor,
de se
autoperceber. Aspiram a
algo que os
transcenda, algo em que pos-
sam se inscrever e a
partir de que poderiam localizar a si mesmos. Em
vez de deixar que se
queixem ao intinito, paciencia, proporcionar-lhes
grupos à saciedade! E é certo que funciona, porque a maioria deles fica
bem contente. E pede mais. Já não desejam ir enmbora. Voltam. Falanm
disso em toda parte.
Não há, contudo, por que se
agitar com isso! E, no final, o mínimo
que se
pode fazerpelas pessoas.
Dar de comer, educar, ensinar boas maneiras, dar
vitaminas, vacinar,
proporcionar o lazer... do grupo è uma coisa perteitamente noral! Faz
parte das necessidades do mundo moderno. Como o diz com
trequencia
Oury a esse respeito, se chamamos isso de
psicoterapia, e preciso sem
dúvida ad1mitir que
qualquer padeiro de quialquer esquina, de qualquer
rua, se sai nielhor do
que nós e sem tanta historia, tantos
tantas reVistas..
cOngressos,

*Em:Bulletin du personel de Ll lhonle


342 Psicanálise eTransversalidade
Assim, paro por aqui! Nada mais a dizer?
Pensei que poderíamos introduzir uma nova
noçao para melhor nos
encontrarmos ai, a de consisténcia subjetiva.
A dois, a psicoterapia, a coisa não anda o
bastante, vezespor anda
mas em casos
particulares, sendo necessarios sujeitos dotados de
certa
conformação especifica. Freud af1rmou que e preciso ter certo nível
-

e
poderia ter acrescentado, certa standing (condiço de vida)- para se
deixar psicanalisar. Em La Borde, naturalmente, é
nunca se
totalmente
dois, há sempre outros conosco, o que e normal, desde que não
fiquem
escutando atrás das portas!A mil, a cOIsa tambem nao avança muito: mil
pessoas no vão principal da estação Saint-Lazare...
Ou então, em caso de revolução, anda bem. Mas é raro... E, além
disso, não dura muito.
Deve haver um nível intermediario, uma encruzilhada, e é esse meu
alvo com a noção de consistencia.
No caso da familia, não e que o numero
seja forçosanmente ruim,
mas nela as coisas não andam por outros motivos: a família não se com-
poe de pessoas que possam falar umas com as outras. Trata-se de uma
miscelanea em que reina a confusão. Algo fala nela, mas nunca se sabe
de onde vem essa voz: todoS são porta-vozes de todos, e no tinal talvez
seja simplesmente a voz dos ancestrais que continua a se incrustar. Não
isso não é saudável! Seja como
tor, raramente e psicoterapico.
Em La Borde, tentamos de tudo. Mas, até agora, senmpre foram cOisas
grandes demais: os quatro grupos;' ou então pequenas demais: os tratamen-
tos individuais. Com as"unidades terapeuticas de base" (UTB), buscamos
encontrar a justa medida, constituir um tipo de famílias artificiais." Nio
há questão de emprego do tempo individual, decisoes sobre a admissão
a alta, lugares à mesa, medicamentos etc. sem consultar prioritarianente
a UTB.A pessoa da UTB suplanta os indivíduos que a compöen. E isso

1O conjunto da clinica era entio dividido em quatro grupos.


2As UTBs compöem-se em édia de 8 t ou -2 pensionist.as e 2 ou 2 + I nonitores, que com-
partilham o máximo de coisas,A clinica de La Borde é gerida em parte por comissòes fimctona
paritárias entre "curados" e "curadores". A originalidade das UTBs reside no fato de em seu
mbito ser abolida ao máximo a dilerenç:a entre "curado" e "curador": seja qual for 0 asstinto, 1
instáncias exteriores não se dirigem às pessoas "normais e säs", e sim ao conjunto da UTB em sla

condição de grupo-sujeito. Evidentemente, a consisténcia da UTB não depende de seu nuneto,


mas, sobretudo, dos fantasmas que seus menbros põem na balança.
Onde começa a psicoterapia de grupo?

de modo algum anula os indivíduos enm questão e, pelo contrário. parece


revigorá-los. Por que seria psicoterapëutico esse recurso?
Bem. devido ao que acabei de dizer: trata-se de uma superticie de
localização, mas com relação à qual, ao contrário de outras, tem-se menores
possibilidades de desertar. A partir do momento em que já não se cai na
armadilha do grupismo, passa-se a ver com desconfiança seus efeitos noci-
vos. Suponhamos que vocé esteja no meio de uma multidão, por exemplo,
que defende uma barricada contra os tiras. Se não conhece muito bem as
pessoas, vocè sempre pode desertar. Isso não tem importância. Se vocè está
em sua UTB, a coisa toda muda. Desertar pode ter em seguida todo tipo de
consequências: vai-se falar isso ou aquilo... Esse recurso é cheio de exigèncias!
Corre-se o risco de ser apanhado no ato. De ser menosprezado.A fala/palavTa
não mais flui. E a palavra empenhada, a aposta feita, o acordo cumprido.
Também nisso vemos a diferença com relação à fanmilia. Nela, diz-se
uma dada coisa e mais tarde se diz o contrário. Recriminamos uns aos
outros, e 1sso não leva a nada:
Voce disse que... Disse ainda que... etc.
Vocé está dizendo que sou mentiroso?
E não é?
Bom, se é assim, não falo mais, não vou mais tomar a sopa etc.

Sabemos o que vem depois.


Totalmente sozinho, o individuo não centra bem sua fala/palavra.
Sua fala/palavra está em toda parte e em lugar algum. E, por vezes, ela

parámetros, fala apenas de si para si. E esse o fundameuto do


perde os

famoso" discurso interior.


A psicanálise clássica, a do div, quando funciona, funciona, longe de
mim negar. O sujeito que fala demais é contido pelo outro. O problema
e que há demasiados casos nos quais não vai adiante porque ele nada

tem a dizer ou então não quer dizer nada.


Com a UTB, todos são em algum momento psicanalistas. Alem dissO,
nao propriamente o psicanalista, pode ser o recurso que se pretende usar,

O Sujeito que encontramos: ir esquiar, ir ver o padeiro. A tala/palavra


Circula num campo localizável, um campo fnit0, n1as aberto, camp0 que

tem, digamos, certa consisténcia subjetiva.


1971
Raymond e o grupo Hispano

O "Grupo de Jovens" da Hispano e alguns

o animavam representaram uma tentativa de


dos militantes politicos que
de
implantação no ambiente operario, excepcional pelo sucesso alcançado,
em relação as
um modo de vida militante, de ruptura marcada e consciente
e social-democratas em matéria de ação dita de "massa"
práticas stalinistas
Os trotskistas do pÓs-guerra dispunham de certos pontos de apoio
entanto, de militantes isolados, visados, e, em
empresas. Tratava-se,
no
nas
de realizar um trabalho em
razão das circunstäncias, sectários, incapazes
na detensiva, eram polemistas
rematados,
profundidade; estavam sempre
admirável coragem física. Um verdadeiro
tendo com frequencia uma
do
de de ódio, quase
temor e paranoa, de separava os stalin1stas
muro
lúbricas" trotskistas.
PCF e da CGT das "víboras
ativa nos vestibulos dos albergues da
Na época, minha participação
do PCI (o partido trotskista
Juventude me aproXimara pouco pouco
a

anterior à grande ciso de 1951).


Porém minha atividade era sobremodo

ambivalente: de um lado, havia o pelos pequenos cenáculos en-


fascinio

fumaçados, as discussões estratégico-mundiais ("Aqui nao conseguimos


os camaradas estão quase chegando
nada, mas no Ceilão e na Bolivia,
vei0 o anuncio de uma cisáo e as esperanças
a0 poder...!), e depois

voltavam a
"companheirinhos ajistas",os
fenecer... Do outro, havia os

Courbevoie, Suresnes, Puteaux


tão dinámicos círculos de La Garenne,
e, na verdade, uma coexistència mais que pacifica, até amigável, com os

razão de que
UJRF e do lCE pela boa
nos
Jovens militantes locais da
eram mistos e de que
Conhecíamos desdeo colégio, de que os albergues
havia entre nós nneninas nuito bonitas, ao passo que na UJ.

1970, livro co-


aux appureils, Paris: Maspero,
.arta publicada noapéndice do livo Ouriers lur
militantismo na fibrca Hnpano-SulzA.A
carta
constitu
relata uma expericncia de
cuvo que iniciador da experiencia e
coredator do livTo
gualmente una homenagem a Rayniond Peit,
da obra.
que acabara de morrer no momento de publicaçio
Parti Communiste lnternationaliste (Partido Comunista Intern.acionalsta). N.T.
I.
Ajiste é derivado da abreviatura AJ, auberges de jeunesse,
albergues da juventude. N.
ou mas Em
carzvzn2 para 2 s 2
Todo ano izmos rum p o d: 50
2 naturez2. percorriamos a Europa
de caromz. As zs, os encontros
absoluta. Erz de tato uma coisa agrzdi
fraternos de um diz. 2 confiança
extraordinárias perambulações pelos
vel Raymond.depois de máliplas e
carninhos da Libertação. tinha na época uma reaçio alergica particular às
diz inteiro n2s tabricas Hispano-Suiza.Mesmo
2ruelzs que perscrutzv2 o traziz consigo
n2 oficina. ele traziz um perume dzs iores de gesta que
de JOvens da empresa
dos fins de semana de acampamento... Dezen2s
da Hispano. que teve
ligaram-se 2 cle. e isso formou o Grupo de jrens
de imedizto um começo fulminante.
No inicco. o PCF local nada vi2 de mal niso. Não era esse o pens2-
caravana, organizada no ms
mento da direção da fbrica desde a primeiz
de agosto,fora de todo quadro insitucional.já se fizera saber 20"agitado
um2 rapida promoção) ou de
gue preciso recuperar (propondo-ihe
era

querm era preciso se


livTar o mais rápido posivel (tornando insuportável
suz vida n2 oficina). Rzymond não deixava de ver com reservas o "apa-
relho". mas não tinha escolha, e assim aceitou tornar-se permanente da
Comissão de Fábrica para cuidar do lazer dos jovens da fabrica.
Discutimos então todo um emaranhado contraditório de lutas de
infuéncia no seio do aparelho a fim de preservar a autonomia desse
Grupo de Jovens com seu exuberante dinamismo. A CGT interveio no
nível dos créditos, dos locais; o Partido quis criar um grupo UJRF para
recuperar o controle das operações... Em segredo, velhos militantes do
partido apoiaram a experiéncia. No tendo tido éxito em suas iniciativas,
o aparelho do Partido cedeu: Raymond foi reenviado à base e recupe-
rou sua "máquina" e os companheiros de oficina. Pouco tempo depois,
tornou-se delegado do pessoal. Normalmente, as coisas teriam parado
por ail Mas, pelo contrário, elas viriam a evoluir!
De minha parte, aluno do colégioe mais tarde estudante trotskista,
por vezes me era dificil aceitar as prudencias táticas de Raymond... Por
que tantas precauçòes? Só aos poucos comecei a entender a natureza das
extraordinárias resisténcias, do egoismo, do "cuismo" que dominavam
o aparelho local do Partido e da CGT, e que era preciso contornar e
superar.Tive inúmeras vezes a oportunidade de discutir diretamente com
esses "metidos a
importantes". Em particular, quando
de um em estágio
Raymond eogrupo Hispano 347

Baillet em que eu propusera aos participantes, na forma de um jogo,


uma espécie de pesquisa de opinião que, uma vez computada, tornaria
claras as reivindicaçóes e os anseios de matéria de organização, algo dia-
metralmente oposto å pråtica da CGT (especialmente quanto à questão
das reivindicações de aumento linear de salários).
Ocorreu-me por vezes de manifestar oposição mais ou menos dire-
tamente a Raymond, em especial no ano de 1950, quando os trotskistas
fizeram o maior estardalhaço em favor do envio de "brigadas" à lugoslávia.
Iriamos investigar e dizer "a verdade sobre a lugoslávia",que, do dia para
a noite, os stalinistas qualificaram como "fascista". ("Vai lá ver", disse-me
um militante da seção do PCF de Courbevoie, veterano das Brigadas
Internacionais. "Vai ver que os americanos instalaram bases lá, vou dar
um mapa dos locais onde foram implantadas. Na volta, você nos dirá o
que viu. Contiamos em vocè. Se voce fosse trotskista, a coisa mudaria de
figura, não iriamos discutir, cortaríamos seu pescoço!"). Eu acabara de
receber minha carteira do Partido Trotskista, depois de um longo estágio
probatório e um teste junto à MRJ (Mouvement révolucionnaire de
la jeunesse - Movimento Revolucionário da Juventude). Houve uma

tremenda confusão, eu me lembro, porque eu convencera o filho do ex-


prefeito comunista de La Garenne a ir para a lugoslávia. Os militantes
do Partido começaram a me lançar olhares estranhos, "Vão denunciar
voce na imprensa local." Com toda a naturalidade, eu levara minha pro-
paganda das "brigadas" para o Grupo de Jovens da Hispano. Raymond,
imediatamente depois de minha passagem, retirara os cartazes, pruden-
temente, do local.. Mais tarde percebi que ele tinha toda razão. Haveria
necessidade de provocar em função desse objetivo uma prova de força?
Raymond iria consumar publicamente a ruptura com o aparelho, mas a
prova de força seria, dessa vez, uma manifestação de rua dos operários da
fabrica, inmposta pelos jovens aos burocratas contra a guerra da Argélia e,
verdade, contra os poderes especiais. Para dizer a verdade, praticamos,
antes de ser formulada, uma política de "entrismo". O ponto até o qual
OS resultados de nossas ações terão inspirado os teóricos trotskistas do

entrismo sui generis" só eles podem dizer.


Com a cisão do PCI, acabaram-se todas as minhas esperanças. O
grupo Pablo-Frank-Privas, favorável ao entrismo no PC; ficara isolado.
Psicanálise e Transversalhdade
348
O entrismo tornou-se uma ficçao, com os meihores militantes seguindo
Lambert-Bleibtreu e, com eles, meus melhores companheiros do MRI
Votei, com a morte na alma, a favor do grupo Pablo. Na época, eu era
responsável pela tendéncia trotskista nos Albergues da Juventude (CLA-

JPA). Bruscamente, acabei com tudo! Em pleno Congresso Nacional


dos AJ, desisti. Fui discutir durante centenas de horas com Jean Oury

que dirigia então a Saumery, no Loir-et-Cher. Ali acontecia


clinica de
de tudo: política, psicanálise, psiquiatria, literatura...A partir dali, eu dei-
xaria minha família, reorientaria meus estudos, e foi entao que, a partir

dos fatos, Raymond e eu iniciamos a constituição de um grupo politico

autonomo, digamos "entrista".

O grupo compunha-se de tres tipos de elementos:


os veteranos dos grupos ajistas locais
o núcleo dos animadores do Grupo de Jovens da Hispano;

estudantes da Sorbonne: essencialmente,


membros da "célula fi-
losofia" do PCF (a que se iria unir mais tarde Lucien Sebag, antropólogo

discípulo de Lévi-Strauss).
A partir de 1951, desenvolvemos uma ação original em diversos
"Fraternidades Franco-Chinesas" (Raymond foi
setores, no Partido, nas

um dos primeiros franceses a visitar a China, em 1953), e m organizações


Trabalho" etc. Fo1 possivel levar a efeito toda uma
como "Turismo e
militantes
disparidade, entre estudantes jovens
e
da
integração, apesar
da 6" (subprefeitura), os da Hispano
operários. Mas os burocratas da seção
Maison des
e os das células
locais (por exemplo, dirigentes, na época, da
- Casa da Juventude - de Courbevoie) estavanm alertas: era pre-
Jeunes
ciso acabar com uma coisa dessas. Na verdade, fomos ultrapassados pelo
evento da vinda de novos estudantes e de novos operários. Ainda que
do grupo
com bastante reticencia, aproximamo-nos progressivamente
travailleurs A Verdade dos Trabalhadores).
(La Vérité des
-

Franck-PCI
Mestre Corvin realizaram sua
que Michèle
e
Foi justo no monento em
de
Communiste. Lançanmo-nos enm "estágios
minicisao para fundar Le
Deixamo-nos levar! Para
fornaçao"e por fim aderios todos ao PCI.

estágio probatório! Os camaradas operários de nosso


mim, foi um nov0

isolados dos estudantes em células distintas.


cuidadosamente
grupo foram PC-T ente
ao

(Foi na esteira disso que viram a aderir poralgum tempo


Raymond eo grupo Hispano 349

des travailleurs, Gaby Cohn-Bendit, irmão de Dany, Lucien Sebag e. por


sua vez, mas com duração bem menor... os irmãos Krivine.)
Enquanto pouco tempo antes nos sentíamos esmagados pelas respon
sabilidades de nosso grupo autônomo, agora estávamos livres e um tanto
desamparados. Com alguns camaradas estudantes entre os quais Lucien
do PCI,
Sebag e tomando todo o cuidado de no deixar que a direço
interno de
de quem desconfiávamos, o percebesse, fundamos u m órgão
Na época,
oposição ao PCF: Tribune de discussion (Tribuna de Discussão).
caluniado e, de
só existia Unir, mas esse boletim era muito injustamente
um total sucesso! De-
modo geral, principalmente malvisto por todos. Foi
zenas de intelectuais do Partido
adeririam a essa Tribune (Henri Lefebvre

Sartre deu seu apoio...A Tribune era respeitada:


as pessoas
por exemplo),
de que ela era dirigida por militantes operários,
o
estavam persuadidas
existência do
também um eteito de contaminação da
que talvez fosse
grupo Hispano!
1956:esse foi o ano em que as coisas se encadearam;o XX Congresso
URSS), a guerra da Argélia e a votação dos
(do Partido Comunista da
francës para enviar tropas à colonia) pelo
poderes especiais (do governo do Canal
de Suez (a crise provocada pela nacionalização
PCFa expedição
incêndio da
(a invasão soviéiica da Hungria), o
por Nasser), Budapeste
refuxo...
(jornal do partido comunista),
o
sede de L'Humanité
Eles tinham fundado L'Etincelle (A
Outros opositores despertaram.
dos trotskistas, instalou-se
Centelha -

comSpitzer). Com a ajuda


Gerard
comunista acabou por se fragmentar.
uma tremenda
confusão:a oposição
communiste (Via Comunista), primeira
O PCI levou consigo uma Voie
continuidade" L'Etincelle-
em subtítulo, "dar
fórmula, que pretendia, efemera fusão
fruto de uma

Tribune de discussion (n. 1,janeiro de 1958), nouvelles


desses dois boletins. La Voie
communiste pretendia enfrentar Voies
militantes
era aninada principalmente pelos
(Novos Caminhos), que tanmbém ua Tribune
da célula "Sorbonne-Lettres" do Partido. Houve
se assOCiaria ao PSU em

(Tribuna do Comunismo), que


au communisme

construção. os canaradas de
manifestamente acabado!
Raynond,
Tudo estava
Estávamos mais do que saturados!
nosso e eu decidimos sair do PCI.
grupo inverossímil mascarada
de mo-
houve uma
No dia 13 de maio de 1958,
Psicanálise e Transversalidade
350

bilização do PCI com vistas à organização da... resistencia. Desejávamos


salvar o máximo possível o que restava da corrente de oposição: voltamos
à força à redação de La Voie communiste e nos dedicamos abertamente a

trotskistas que infestavam. Alguns dirigentes do PCI nos


expulsar os a

estimulavam por baixo do pano, mas foram bem poucos os que nos

La Voie conimuniste eram assinados


seguiram na (Meus artigos
cisão. em

por Claude Arrieux.)


Não sei se todos os camaradas do grupo Hispano tiveram a consci-
ência do fato de que, sem seu apoio e, sobretudo, sem o precedente que
foi a existència de seu grupo, La Voie communiste nunca teria tido condiçöes
de tornar-se independente. Há muito tinhamoso desejo nostálgico de
reconstituir um grupo aberto e não sectário, pois nunca nos pudéra-
mos adaptar às obsessões centralistas dos trotskistas. Por outro lado, se a
maioria dos estudantes trotskistas (exceção feita aos irmãos Krivine) nos
seguiu, ao menos por algum tempo, em torno da nova Voie comnuniste,
parte da razão foi o prestígio que tinha para eles o grupo militante da

Hispano-Suiza.
Claro que havia aí algo de eficiência mítica. Mas assim são as coisas!
Alguns militantes responsáveis pela seção de Montreuil do PCF também
iriam se juntar a nós, um grupo de comunistas libertários, Gérard Spitzer
e dezenas de militantes anticolonialistas, cuja confiança obtivéramos em
decorrència de nosso rompimento público com os trotskistas.
Foi uma verdadeira epopeia a saída daqueles 49 números de La Voie
communiste (de novembro de 1958 a fevereiro de 1965)! Foi o único mo-
Vimento nmarxista dotado de um mínimo de público que sustentou sem
preconceitos nem reticéncias a luta da FLN (O apelo dos 121, condenado,
iecemo-nos, pela maioria do PSU,incluindo Claude Bourdet - herói

da Resistencia , foi publicado


por La Voie, imediatamente apreendida).
Com La Voie communiste, a "sustentação" perdeu seu caráter romäntico-
-delirante e se viu vinculada às lutas da vanguarda revolucionária francesa.
Nesse combate, os camaradas da Hispano não foram os últimos! Houve
apreensöes continuas do jornal e difusão clandestina, prisão por varios
anos de dois diretores sucessivos,
organização de fugas espetaculares...
Raynond, demitido da Hispano em 1958 (ao lado de vários outros).
acusado de "trotskista pelos burocratas da CGT, que o tinham acom-
Raymond eogrupo Hipano 351

panhado de perto, viu-se privado de qualquer possibilidade de trabalho


militante em fabricas. lornou-se então, de fato, permanente de La Voie

communiste. Suportou ali um trabalho enorme, sempre com a mesma


fleuma e o mesmo rigor.
Atora as assembleias gerais, s grupos militantes viviam cada qual

em seu canto. Havia, na verdade, bem poucos contatos com os parcei-


ros da Hispano (que se chamava "Grupo Simca" para despistar, o que
levaria a algumas discussões bastante divertidas!). Contudo, esse grupo,
que no essencial continuava respeitado no PCF e na CGT, distribuía
clandestinamente na fäbrica várias dezenas de exemplares de La Voie
communiste.

Com o fim da guerra da Argélia, ocorreu a debandada.As mixórdias


das willayas (coordenações regionais da Argélia), a fundação do PRS' de
(Mohamed) Boudiaf., o isolamento. Três quartos dos militantes de La
Voie tornaram-se "benbellistas", entoando loas à revolução pela autogestão
à maneira dos "pablistas", ou então se dispersaram na natureza. Ficamos
de novo sozinhos. Foi um inferno!
Raymond e eu mantivemos distância do núcleo ativista que con-
trolava a orientação do jornal e que começava a alimentar não poucas
ilusoes sobre as "posibilidades" abertas pela nova orientação do Partido
Comunista Chins (*Déclaration em 25 points" Declaração enm 25
Pontos). Isso levou à fundação da efëmera Association populaire franco-
-chinoise (APFC-Associação Popular Franco-Chinesa) no final de 1963,

logo condenada pelos dirigentes chineses.


De minha parte, minha ligação era sobretudo com militantes da
UNEF e da UEC, que se debatiam em crises de que suas organizações
jamais se recuperariam.
Esvaziada de sua substância e de qualquer perspectiva, La Voie com-
muniste acabaria por se extinguir.
Um movimento mais amplo, mais aberto, iria se constituir sob a
rubrica da Oposição de Esquerda, reunindo militantes vindos da UEC
de La Voie communiste, da UNEF etc. Além de seu trabalho no meio estu-
dantil, a "*OE" iria intervir na luta contra a guerra do Vietn, trabalhando

3 Parti de la Révolution Socialiste (1Partido da Revolução Socialista, da Argélia). N.T.


352
Psicanálise e Transversalidade
notadamente com o Mouvement du milliard (Movimento do
Bilhãol
e no
apoio às lutas na América Latina, com a fundação da
de solidarité à la révolution Organisation
latino-américaine (OSARLA -Organizacão
de Solidariedade à
Revolução Latino-Americana). por instancias de um
antigo militante de La loie communiste, Michele Firk, morto em
na Guatemala.
combate
Desenvolveram-se paralelamente a Federação dos Grupos de
de
Estudos
e
Pesquisas Institucionais (FGERI) e sua revista, Recherches.
Depois de um esclarecimento politico, o grupo Hispano decidiu
dar continuidade trabalho em ligação com essa nova
a seu
Oposição de
Esquerda e participou da discussão de uma declaração política coletiva:
As Nove Teses da
Oposição de Esquerda, publicada em brochura no começo
de 1966.
Por lado,
camaradas da Hispano animaram, no âmbito da
outro os

FGERI,o Groupe d'études et de travail sur le mouvement ouvrier


MO- Grupo de Estudo e (GET-
Trabalho sobre Movimento
o
Operário).
Essa foi, na verdade, a primeira vez em
que se
pode estabelecer um
real diálogo entre todos
aqueles militantes operários, professores, estu-
dantes, trabalhadores do setor de saúde... os
quais, contudo, se conhecian1
de longa data. Mas, com essa
reorientação, é como se se tivesse proibido
falar de qualquer coisa
que não a politica! Uma nova barreira
fora ronmpida, e essa imag1naria
ruptura prefigurou, de certo modo, o que ocorreria
em maio de 1968.

Ofato de os membros do Birô Nacional da UEC,


por exemplo,
terem podido trabalhar enm
constante ligação com um
grupo como o da
Hispano deve por certo ter sido determinante em sua
verdade que, mais tarde, em maio de
E
evolução.
1968, fomos todos ultrapas-
sados, ainda que todos os militantes dessa
corrente estivessem em pé de
igualdade com o Movimento de 22 de março e os Comitès de Ação (a
partir de tevereiro de 1968, os contatos foram feitos pelos estudantes de
Nanterre).A ida às AG do 22 de março emNanterre, a partir do começo
de maio, de militantes do
grupo Hispano talvez tenha contribuido tam-

IAts, 1.este vlune p T3


Ranodeo grupo Hispano
353
hém para tazer avançar as cO1sas. Mais uma vez, sei que se trata de algo

t1e age Ssobretudo na ordem psicologica. Mas por quue não?


No geral, não foi uma espécie de trabalho psicanalitico de desmis-
ificação o que realizamos durante tantos anos: explorar, abalar e superar,

na medida do posivel, os tiques e maneirismos do militantismo revolu-


cionário tradicional: Raynmond e alguns outros militantes operários do
grupo Hispano eram apaixonados pela psicanálise e pela psiquiatria. Os
militantes sérios" vindos de fora sempre que descobriam isso ficavam
estupefatos. Antes de ser julgado por suas ideias e por seu programa, o
militante era avaliado por sua seriedade, e a partir de critérios, para ser
franco,psicanaliticos. Discutir os problemas psicossexuais do grupo e dis-
cutir sua orientação politica tinham a mesma importância. Os militantes
formados assim tinhamo dom de enervar e desorientar os interlocutores
dos aparelhos políticos e sindicais tradicionais. Mas também tinham o
dom de atrair os jovens militantes ainda não deformados.
A meu ver, a razão do sucesso do grupo Hispano foi o fato de ele ter
sido o lugar de uma ruptura deliberada da textura habitual das relações
militantes. O que lhe conferiu importància foi o fato de essa ruptura ter
ocorrido no interior de uma importante metalirgica. Esse grupo foi como
um osso que ninguém conseguia roer. Algo que, em nossa formulação
privada, chamamos de "grupo analitico". Um grupo que atravessa a or-
dem "normal" das coisas. Um "grupo-lapso", que deixa que se exprimat
os desejos profundos dos jovens trabalhadores: desejo de acabar com o
formalismo, com o dogmatismo, com os modos burocráticos de agir,
de acabar com as reuniðes tediosas que só servem de cenário teatral às
exibiçoes narcísicas dos burocratas, desejo de conseguir a todo custo falar
de coisas verdadeiras - portanto, revolucionárias , o que leva os sujeitos

a ficar incomodados, a querer que a cOisa mude..

Pode ser que a História-uma História capaz de abordar o inconsciente


um dia reconheça o legíitimo lugardo trabalho do grupo Hispano.
1970
Osmaos-maso ou o maio impossível:

Relendo sua autocrítica propósito de um livro


a
a
encito de maio - Vers la guerre a i l e , dois dirigentes da Esquerda Proletária

niuderam constatar que sua propOsta derrapou desatortunadamente num ' s "
pu
Denois de execução sumária, à Jdanov, em três linhas, de suas
uma

errancias freudo-guevaristas escórias pequeno-burguesas


,celebram,nos
termos a seguir, as virtudes salvadoras da vassoura-mao, que é passada sobre
todo esse pó:"O que o varreu efetivamente foi o reconhecimento, através da

GP' do maoísmo em sua universaidade e sem (sans) sua realidade na


França,
bem como o trabalho de edificação da GP em sua luta de massas"2
Caro camarada revisor de L'Idiot, verifique
cuidadosamente, eu lhe
suplico,se o que leu foi um "s" e não um"d"3
Recusando-se a partir de agora todo recurso à teoria freudiana do ato
falho, do lapso e do cochilo, cabe a nós, autores, propor a deles
para dar conta
do fenômeno. Esse cochilo não nos
escapou, pois que eles acrescentaram
uma
pequena folha impressa para retificá-lo. Fazendo isso, naturalmente,
eles chamaram ainda mais a
atenção para o que vinha adiante. Boa ocasio
para aplicar a formula enunciada na página 31 do mesmo
opúsculo: "Se há
resistëncia, consciente ou inconsciente, devemos
Ao pé
quebrá-la".
daletra, apropostaesclarece:o maoísmo ésem realidade na França.
se
Ee bem disso queele extrai todo o seu poder de
convicção. Trata-se de um
engodo capaz de mobilizar a libido e de levar os mais
acomodados a batalhar
artdorosamente contra aquilo que Lacan chama de o "real
impossivel.
n:Lldiot Intemational, n. 8 e n. 9, julho-agosto de 1970. (Maos= maoistas; maso=toma abrevIacll
de masoquista. N.T.)
1Gauche Prolétarienne (Esquerda
Cahiers de la Gauche Prolétarienne, n.Proletária).
2, maio de
NT.
1970,
4O.Se retere ao fato de o texto citado trazer
108.
p. (= sem) em vez de "dans" (=em). N. 1.
"sans"
radas da GP
poderiam refletir acerca da seguinte frase de Kierkegaard:
he n cochilo dotado de consciência que "supoih.anmos
no fundo talvez nio o fosse, Inas. para ver
O s e antes parte integrante do conjunto e que, revoltdo contra o autor, o np'* tud
rei gl-lo, e lhe lançasse um desafio absundo: Não! Voce não vai ne suprnur,
um 2
ator omo testemunha contra vocé, como uma testemunha de que voce nao fad
nediocre!" (Tiaité du désespoir, Paris: NRE P153)
356 Psicanálise eTransversalidade

A revolução
França é manifestamente impossivel. E o que pensam
na

todas as pessoas sérias, do estúpido juiz do processo de Le Dantec e


de
Le Briss aos doutos cretinos da Liga Comunista Os
trabalhadores em
sua maioria não se dispõem nem um
pouco a lançar-se num movimento
de conjunto..", declara Weber, especialista em massas, que, antes de maio
de 1968, fizera exatamente o mesmo
diagnóstico!).
A evidencia
manifesta é a revolução impossivel. Como, a partir dela,
decifrar um real latente, um inconsciente social da
revolução? Duas ma-
neiras de proceder; ou confiar nos 600 milhões de chineses e investir de
cabeça baixa por entre os vapores imaginários, Os sonhos históricos... ouu
tirar proveito desse"real
impossível" e construir, com toda a lucidez, peça
a
máquina revolucionária. Mas sem se enganar, sem se iludir com
peça, a
respeito à missão histórica de que se seria o portador, o
Justo serviço ao
povo e toda a catolicidade de má cepa.
E preciso reconhecer que,
partir de maio de 1968, a primeira
a

opção foi suficiente. Só os mais viajados "maos" franceses


tiveram a
audácia de perseverar em sair do
gueto estudantil, estabelecer relações
de luta com
jovens trabalhadores e, por fim, começar a
as lutas revolucionárias desbloquear
em 1970. Tudo isso numa confusão e numa
logomaquia incríveis, e que seus camaradas não teriam conseguido
suportar, é de crer, se se considera por contraste
que inibições permaneceram bloqueados
em que paralisia, em
zados e os
intelectuais
os
anarquistas, os desorgani-
esclarecidos.Assim são as coisas! Quanto maior
a
imbecilidade, tanto melhor funciona!
da Resistência na Desterra-se o mito apodrecido
França! E por que não a Frente Nacional Unida
em
que se está?
Transpoem-se sem adaptação frases que
pronunciou há mais de 30 anos na China presidente Mao Tsé- lung
o

como uma despótica e descreve-se a Fran


planicie cheia de madeira
seca que logo vai se
centelha não há de tardar em incendiar. n
incendiar a planície". Fala-se de
grandes marchas da juventude na "pequenas
bairro miserável de direção das fäbricas", o levante
e
Argenteuil se tornao "Naxalbari
frances
5Michel Le Bris
e Jean-Pierre Le Dantec eram
do
Povo),. public agio que fora diretores la revist.a Iu Cause du
proibuda. N.T. Peupe ns
,Reteree ia à
revltu
canmpoine'sa ocorriula em
engala no ao de 1967 (25 de nu.ao).
N.
impostivel
Os"maos-mao ,oo
ma1o
357
Em suma, estå-se em pleno delirio e mesmo assim a coisa vai. Não
virá a eficieëncia desse movimento precisamente de seu caráter artificial?
O artificio da escuta "ao pé da letra" permanecera, com o freudismo, nos
limites da psicopatologia e, com O surrealismo, nos limites das belas letras.
Mas, no caso dos pseudomaoistas da GP, tem-se a sensação de estar diante
de um freudo-surrealismo de massa. Talvez seja esse mesmo fenómeno
que torne igualmente fascinantes movimentos como a Zengakuren
(Federação Japonesa dos Estudantes), os Black Panthers (movimento
negro norte-americano), os Weathermen (movimento revolucionário
norte-americano) etc.A revoluç o nos países capitalistas vai precisar, em
sua axiomática, de uma dose considerável de paradoxo, de humor negro,
de espetáculo, de provocação, de violéncia desesperada.
O extraordinário mérito da GP na França é o de ter tido a coragem
de aprovar publicamente as sabotagens, de ter lançado a palavra de ordem
"E certo sequestrar os patrões", de apelar a pintá-los com mercúrio-
-cromo enquanto se espera enforcá-los, lançar seus destacamentos para
atacar seu próprio peso morto e em expedições que, por serem menos
mortíferas que as de um Che Guevara, nem por isso merecem menos
respeito.
E como se a Revolução Cultural chinesa tivesse posto em circulação
certo modelo da luta espontânea, luta que durante algum tempo escapou
em maior ou menor medida ao controle do aparelho do PC chines.
Começam hoje a se desenvolver em vários países capitalistas, sob
o estandarte do maoísmo, formas novas de luta que constituem, com
eteito, uma volta às fontes da revolução violenta, que vinha de longa
data sendo reprimida pelos grilhões ideológicos dos grandes teóricos
do marxismo-leninismo.
En resumo, trata-se da Revolução Cultural senn Mao, e mesmo
cCOntra Mao! Se é propriamente isso que está prestes a se desewolver,

Pode-se prever que se farão presentes muitos amadores! Pouco importa


a n o aspecto caricatural do retorno ao stalinisno, do gosto pelo Lado

litar das coisas, das diretrizes, do espirito de escoteiro, do "desprezo pela


1adiga", do estilo "urabalho bravura", "vida sinples e árdua luta"..
e o combate iniciado pela GiP se desenvolve,as contradiçoes obje-
VIS gue vão narcá-lo lhão de liquidar todas essas manias centr.alistas, que
Psicanáli: e nsversalidade

358
que da abjeçao burocrática.Afora OS sacerdotes
do
advem mais da angüstia esfaro
desses camaradas, em seu
habituais,o
conjunto ateante
ento de luta revolucioná
perversos

construção de
um novo
instrumento
revolucionária, serão
pela vez essas formulações absolutas
questionar mais
uma essas
levados a
burocráticas que sao objetivamente opostas ao ímnets
atitudes rígidas e peto
da luta de massas.
viveu ate agora c o m base em teorias que
O movimento operário
levar em conta o desejo. Endossando a ideologia da clas
se recusavam a

dominante em matéria de repressao moral eorganizacðes


sexual, as
se
tormas de perversão burocrática, A
operárias suscitaram suas próprias
fracasso das instituições burguesas, da
evolução das forças produtivas, o
o despedaçamento desse
familia ao Estado, tudo concorre para
conjugal
superego.
as diversas formas
O maoísmo neosstalinista (que não é o da GP),
de revisionismo, são os últimos baluartes de certa imagem da pessoa,
injetada no movimento operário, de uma metodologia maniqueistae
de uma introjeção inconsciente da repressão policialesca burguesa sob
os imperativos da boa conduta: "Esses militantes devem ser os melhores
operários, crianças sábias, militar pelo beme pela felicidade do povo".
Para dizer a verdade, o desejo, o das massas revolucionárias, não se

preocupa nem um pouco com o bem e o mal! Ele pede, em primeiro


lugar e antes de tudo, a destruiço das relações de produção, inclusive
vertente de alienação imaginária.
Em maio, racharam--se as últimas barreiras do stalinismo e da moral
burguesa. Elas estão sempre em seu lugar, porém não mais se acredita
nelas.
Os simulacros do tradicionalismo militante tentaram em vao oltar
voita
como vellhas rameiras: isso não
funciona mais! "Nunca mais o P.r de
Maurice Thorez!" Acabou-se a teoria dos de
sindicatos corte.
como
transmissão entre o
partido e as massas. E preciso encontrar out cOsa
Se
possivel, uma coisa totalmente outra! Alguma coisa que
cony
cficiencia revolucionária e o
desejo.
1970
Somos todos grupúsculos

Militar é agir. Não estamos nem aíi


para as palavras; o que desejamos säo atos. Fácil de dizer, sobretudo em

as torças materiais são cada vez mais dependentes das


países em que
desenvolvimento das ciências.
máquinas técnicase do
Reverter o czarismo, o que implicou a transformação numa massa
de dezenas de milhões de explorados e sua mobilização contra a atroz

máquina repressiva da sociedade e do Estado russos, traduziu-se emn

fazer que as massas tomassem consciència de sua força irresistível diante


da fragilidade do inimigo de classe; uma fragilidade a ser exposta, a de-
monstrar na prova de força.
Para nós, dos países "ricos", as coisas são distintas; nem se tem certe-
za se não teremos de enfrentar nada mais que um tigre de papel. O inimigo
está infiltrado em toda parte, tendo secretado uma imensa interzona
pequeno-burguesa para atenuar o máximo que puder os contornos de
classe. A própria classe operária está profundamente infiltrada; não só
por meio dos sindicatos pelegos, dos partidos traidores, sociais-demo-
cratas ou revisionistas..., mas infiltrado também em decorrência de sua
participação materiale inconsciente nos sistemas dominantes do capitalismo
monopolista de Estado e do socialismo burocrático. Participação ma-
terial em primeiro lugar em escala planetária: as classes operárias dos

paises economicamente desenvolvidos estão objetivamente implicadas.


que mais não seja pela crescente diferença dos níveis relativos de vida.
na
exploração internacional dos antigos países coloniais. Enm seguida.,
vem a participação inconsciente, e de todas as maneiras: os trabalha-

dores endossam de maneira mais ou menos passiva os modelos sociais


dominantes, as atitudes e os sistemas de valor mistiticadores da burgue-
Saamaldiçoamo roubo, a preguiça, a doença etC. =, reproduzindo
Sa
própria conta objetos institucionais como a tamilia conjugal

*
Em: 1diot
Liberté, n. 1, dezembro de 1970.
360 Pscanálse e Tranvversal1dade

eo que ela implica de repressão intratamiliar entre Os sexos e as faixas

etárias, ou então apegand0-se à pátria, com seu inevitàvel sentimento


racista (para não imencionar o regional1smo ou os particularismos de
toda natureza: profissionais, sindicais, esportivos etc., bem como todas
as outras barreiras imaginárias que são artificialmente erigidas entre os
trabalhadores, como se faz particularmente visivel com a organização,

em grande escala, do mercado da competição esportiva).


Desde a mais tenra idade, e por certo em decorréncia do que
ler dos pais, as vítimas do capitalismo e do "so-
aprendem a no rosto

cialismo" burocrático são atormentadas por uma angústia e uma culpa


inconscientes que constituem uma das engrenagens essenciais do bom
funcionamento do sistema de autoassujeitamento dos indivíduos
à produção. O tira e o juiz interiores talvez sejam mais eficazes do
que os dos ministérios do Interior (que reúnem na França o corpo

policial) da Justiça. A obtenção desse resultado se apoia no desen-


e

volvimento de um antagonismo reforçado entre um ideal imaginário,


e uma realida-
que se inculca nos indivíduos por sugestão coletiva,
de totalmente outra que os espera na hora da revanche. A sugestão
audiovisual, os mass media, produzem milagres! Consegue-se assim
uma valorização enlouquecida de um mundo imaginário maternal
e familiar entrecortado por valores pretensamente viris que tendem
a negação e ao rebaixamento do sexo feminino e, acima de tudo, à

de ideal de amor mnítico, uma magia do conforto e


promoção um
da saúde que mascara uma negação da finitude e da morte; no final,
trata-se de todo um sistema de demanda que perpetua a dependência
inconsciente com respeito ao sistema de produção, trata-se da técnica
da "participação nos lucros".
O resultado desse trabalho é a produção em série de um individuo
que sejao mais mal preparado possivel para enfrentar as provas decisivas
de sua vida. É completamente desprovido de condições e ele vai entrentar
a realidade, sozinlho, sem recurso, paralisado por toda a moral e todo o

ideal estúpidos com que o impregnaram e de que é ncapz de se liVTr.


Esse indivíduo foi, de algunma nmaneira, fragilizado, vulnerabiliz.audo, est.ino
pronto a aderir a todas as abjeçöes institucionais que toram estabeleci-
das para acolhé-lo: a escola, a hierarquia, o exército, o aprendizato la
Sonmos todos grupúsculos 361
fidelidade, da submissão, da modéstia, o gosto pelo trabalho, a família, a
pátria, o sindicato etc. Hoje, toda a sua vida permanecerá envenenada em
algum grau devido à incerteza de sua condição diante dos processos de
produção, de distribuição e de consumo, devido à preocupação quanto
a seu lugar, e de seus próximos, na sociedade. Toda e qualquer coisa se-
rão um problema para ele: um novo nascimento, o "ele não vai bem na
escola", o "os maiores se entediam e se comportam mal", as doenças, os
casamentos, a moradia, as férias, tudo é causa de chateação..
Assim, torna-se inevitável um mínimo de ascensão pelos escalôöes
da pirâmide das relações de produção. Não há necessidade de fazer
um desenho nem uma lição. Ao contrário dos jovens trabalhadores, os
militantes de origem estudantil que väo trabalhar na fábrica recebem a
garantia de "encontrar alguma coisa" se aceitarem mudar; queiram ou
não, eles não podem escapar à potencialidade que os marca com uma
inserção hierárquica "que poderia ser bem melhor". A verdade dos tra-
balhadores é uma dependência de fato e quase absoluta da máquina de
produção; é o esmagamento do desejo, exceto de suas formas residuais
e"normalizadas, o desejo bem-pensante ou bem-militante; ou então
o refúgio numa ou noutra droga para não enlouquecer ou se suicidar!
Quem vai determinar a porcentagem de "acidentes de trabalho"
realidade não passaram de suicídios inconscientes?
O capitalismo pode sempre arranjar as coisas, consertá-las local-
mente, mas, no conjunto e no essencial, tudo vai sempre cada vez pior.
Em 20 anos, alguns de nós terão 20 anos a mais. A Humanidade, porém,
terá quase se duplicado. Se os cálculos dos especialistas na matéria foremn
exatos, a Terra terá cinco bilhoes de habitantes em 1990. Isso deverá
trazer em algum momento alguns problemas suplementares! E como
nada nem ninguém pode prever ou organizar alguma coisa para acolher
esses recém-vindos exceto alguns excentricos nos órgãos nacionais,
que não resolveram nenhum problema político relevante nos 25 anos
de sua existência - pode-se imaginar que, com certeza, vão ocorrer não
poucas coisas nos anos vindouros. Coisas de todas as cores, verdes e nào
maduras, revoluçoes nmas, também, com certeza, abjeções do tipo fascismo
e companhia. E o que se deve fazer diante disso? Esperar e ver acontecer?
Agir? Sim, agir, mas onde agir, o que fazer e conmo? Dar tiros ao acaso.
Psicanálise e Transversalidade
| 362
está prevista, organizada
Mas isso não é to simples, pois a reação vigorosa
do Estado. Estou convencido de aue
calculada pelas máquinas dos poderes que
outro maio de 1968já
foram programadas na
todas as variantes possíveis de
eles são demasiado mortos de fome e ao
IBM.Talvez não na França, porque
saber esse tipo de tolice não constitui
mesmo tempo bem pagos para que
nada sério para substituir os
que ainda não conseguiu
se
uma garantia e
exércitos de tiras e de burocratas. Seja como for, seria o momento de os
revolucionários reexaminarem os programas familiares, pois há alguns deles
seriamente datados! Seria o momento de abandonar
que começam a ficar
todo triunfalismo que se deveria escrever com dois "T'"-para se dar
conta de que não só se está no fundo do poço, mas quue o mal penetra em
cada um de nós, em cada uma de nossas "organizações".
A luta de classes não passa mais simplesmente por uma frente deli-
mitada entre os proletários e os burgueses, facilmente identificável nas
cidades e lugarejos; ela também está inscrita em inúmeros estigmas na pele
e na vida dos explorados, pelas marcas da autoridade, do nível hierárquico,
do nível de vida; é preciso decifrar essa frente a partir do vocabulário de
uns e de outros, de sua maneira de falar, das marcas de seus veículos, da
moda que seguem naquilo que vesteme assim por diante. E um nunca
acabar! A luta de classes contaminou, qual um vírus, a atitude do pro-
fessor com seus alunos, a dos pais com seus filhos, a do médico com se1
doentes; penetrou no íntimo de cada pessoa com seu ego, com o ideal
de standing que julgamos dever nos proporcionar. Seria o momento de
nos organizarmos em todos esses níveis a fim de enfrentar essa luta de
classes generalizada. Seria o momento de elaborar uma estratégia para
cada um desses níveis, dado que há entre eles uma relação de mútuo
condicionamento. A quem aproveitaria, por exemplo, propor às massas
um programa de revolução antiautoritária contra os chefetes e compa-
nhia se os próprios militantes permanecem sendo portadores de vírus
burocráticos superativados, se eles se comportam com os militantes de
outrosgrupos, no interior de seu próprio grupo, com as pessoas próximas
ou então uns aos outros, como perfeitos canalhas, perfeitos santarröes.
Que beneficio há em afirmar a legitimidade das aspirações das massas

1 Remissäo à forma phallus, falo. N.T.


Somos todos grupúsculos 363

se se nega o desejo em todo lugar em que ele quer aflorar na realidade


cotidiana? Os fins políticos são seres desencarnados. Eles julgam que se
pode, que se deve, atastar todas as preocupações nesse domínio a fim de
mobilizar toda a energia para os objetivos políticos gerais. Isso é um erro!
Portanto, na ausência do desejo, a energia se consome a si mesma na
forma de sintoma, de inibição e de angústia. Não obstante, como passar
do tempo, não lhes há de faltar os momentos, as ocasioes, de perceber
essas coisas por si mesmos!
O emprego de uma energia capaz de modificar as relações de
força não cai do céu, não nasce espontaneamente do programa certo
ou da pura cientificidade da teoria. E determinado pela transforma-
ção de uma energia biológica -a libido - para os objetivos de luta
social. E sempre muito fácil remeter toda e qualquer coisa às famosas
contradições principais. Eis algo demasiado abstrato. E até um recurso
de defesa, um artificio que ajuda a desenvolver fantasias de grupo, es-
truturas de desconhecimento, um artificio típico do burocrata: sempre
anular-se por trás de alguma coisa que está sempre atrás, sempre er
outro lugar, que é sempre mais importante e nunca estå ao alcance da
intervenção imediata dos interessados; trata-se do princípio da "causa
justa", que serve para tornar palatáveis todas as pequenas safadezas,a
perversão burocrática das pequenas coisas, o prazerzinho que se tem
de impor aos outros "pela boa causa"- sujeitos que vão encher a
paciencia, obrigar a praticar ações puramente sacrificiais e simbóli-
cas que não interessam a ninguém, a começar pelas próprias massas.
Trata-se de uma forma de satisfação sexual desviada de suas metas
habituais. Esse tipo de perverso não teria importància alguma se
seu objeto não fosse a revolução - mas inem por isso deixa de existir!

q u e espanta é que os monomaniacos da direção revolucionaria


Conseguem, com a cumplicidade inconsciente da "base", nnobilizar
1nvestimento militante em impasses particularistas. E meu grupo,
minha tendéncia, meu jornal, nós é que temos razio, minha linha é
hinha vida, minha existéncia é marcada pela oposiçao a outra linha,
CTiamos uma pequena identidade coletiva encarnada em nosso lider
local... Não havia todo esse tornnento em nmaio de 1968! Seja conmo
IOr, tudo ia bem até que os "porta-vozes" disto ou daquilo conse-
364 Psicanálise e Transversalidade

guiram ressurgir. Como se a palavra (voz) precisasse ser portada.2 Ela


se porta muito bem sozinha e com uma louca rapidez no seio das
massas, quando é verdadeira. O trabalho dos revolucionários não é
portar a palavra, fazê-la dizer coisas, transportá-la, transferir modelos
e imagens; seu trabalho é dizer a verdade onde estiverem, nada mais
nada menos do que a verdade, sem nada acrescentar, sem tergiversar.
Como reconhecer esse trabalho da verdade? E muito simples, havendo
um macete infalível: a verdade revolucionária se manifesta quando
as coisas deixam de incomodar, quando se tem vontade de entender,
quando se deixa de ter medo, quando as forças nos voltam, quando se
está pronto a ir até o fim, aconteça o que acontecer, quando se está
disposto a morrer por isso. Vimos a verdade agir em maio de 1968:
todos a entenderam imediatamente. A verdade não é a teoria nem
a organização. E depois do surgimento da verdade que a teoria e a
organizaço têm de sair da m situação em que ficam. Elas sempre
acabam por se reencontrar nela e por recuperar as coisas, prontas a
deformá-las e a mentir. A autocritica deve sempre ser feita pela teoria
e
pela organização, nunca pelo desejo.

O que está em jogo neste momento é o trabalho da verdade e do


desejo em toda parte em que as coisas se ligam umas às outras, se inibem,
se bloqueiam. Os grupúsculos de fato e de direito, as comunas, as tur-
mas e tudo quiser
o que se no
esquerdismo, têm um trabalho analítico
a realizar consigo mesmos, a0 mesmo
que têm um trabalho
tempo em
político a fazer no exterior. Se não for assim, correm o risco de cair no
tipo de loucura da hegemonia, de mania de grandeza, que leva alguns a
alimentar excelso sonho de reconstituir "o
o
partido de Maurice Tho-
rez", ou o de Lenin, de Stalin ou de Trotski, todos tão tediosos e fora de
propósito quanto Jesus Cristo ou De Gaulle, ou qualquer desses sujeitos
que nunca acabam de morrer.
A cada um seu
pequeno congresso anual, seu pequeno CC (Comite
Central), seu
grande BP (Birô Político), seu secretário e seu
general-
-secretário, bem como seus militantes de carreira, com sua
antiguidade,
2 Em francés, "porta-voz" é literalmente
"porta-palavra" (= porte-parole). N. T.
Sornon tods grupúwulos 365
e, na versão trotski1sta, todo o mesmo conjunto em escala internacional
(congresso mundial, comité executivo internacional, SI -Secretário

Internacional-etc.).
Por que os grupúsculos, em vez de comer uns aos outros, não se
multiplicam ao infinito? A cada um seu grupúsculo! Em cada fábrica, cada
rua, cada escola. Finalmente o reino dos comités de base! Mas grupúsculobs
que aceitassem ser o que são no lugar em que são. E, se possível, uma
multiplicidade de grupúsculos que tomariam o lugar das instituições da
burguesia: a família, a escola, o sindicato, o clube de esportes etc. Gru-
púsculos que não temessem organizar-se, além de para seus objetivos de
luta revolucionária, para a sobrevivencia material e moral de cada um de
seus membros e de todos os desamparados que os cercam..
Teríamos então, é claro, a anarquia! Nada de coordenação, de cen-
tralização, de estado-maior... Ao contrário! Pensemos no movimento dos
Weathermen nos Estados Unidos: eles se organizam em tribos, em gan-
gues etc., mas isso não os impede de se coordenar e muitíssimo bem.
Há profundas alterações quando a quest o da coordenação é evoca-
da, em vez de entre indivíduos, com respeito a grupos de base, familias
artificiais, comunas... O indivíduo, tal como modelado pela máquina
social dominante, é demasiado frágil, demasiado exposto a todo tipo de
sugestoes: a droga, o medo excessivo, a família etc. Num grupo de base,
pode-se esperar a recuperação de um minimo de identidade coletiva,
mas sem negalomania, com um sistema de controle ao alcance da mão;
assim, o desejo em questão talvez possa fazer valer melhor sua fala/pala-
vra, ou quem sabe tenha mais condições de respeitar seus engajamentos
militantes. Ë preciso antes de tudo acabar com o respeito à vida privada:
esse é o começo c o fim da alienaçäo social. Om grupo analitico, u a
unidade de subversão desejante, näo ten1 vida privada: está voltado a um só
tempo para o interior e o exterior, para sua contingencia, sua finitude,
cseus objetivos de Juta. O movimento revolucionário tem, portanto, de
cOnstruir para si uma nova forma de subjetividade que nao mais repouse
no indivíduo e na família conjugal. A subversão dos modelos abstratos
Secretados pclo capitalsnno, c que continuan a ser aprovados, .até o ino-

nento, pcla maioria dos tcóricos, é uma condiçao prévia absoluta para
O reinvestimento pelas assas da luta revolucionária.
Psicanálise e Transversalidade
366
No momento presente, tem pouca utilidade elaborar um plano sobre

o que deverão ser a sociedade do futuro, a produção, o Estado ou a ausên-


ausência
família
Estado, o Partido ou a ausência do Partido, a
ou a
cia do
em cima para servir
da família, quando não há, na verdade, ninguém lá
enunciados continuarão
de suporte à enunciação de qualquer coisa. Os
a flutuar no vazio, indecidíveis, enquanto agentes coletivos de enunciação

não tiverem condições de explorar as coisas na realidade, enquanto não


dispusermos de algum meio de nos afastarmos da ideologia dominante
mesma em nós mesmos, que,
que impregna nossa pele, que fala de si
tendendo
apesar de nós, nos conduz às piores tolices, ås piores repetições,
a fazer que sejamos derrotados nas mesmas rotas já percorridas.
1970
167'8T7°E1z'IT°SOT'LII-ZII'TOL '96'98 '08-9L'99-S9
8S-LS *vON vp ouniqur 'odnua ou oydusun) ogdeinseo 'oybeiotu
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LSE THE 'SOs 'S9T *917 6L TL 'oDgnry
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G9E CE 9¢E '90E 'L67 'L67'T8T '897 '8S7-+ST
6Z7 617-9Iz'661 7Sl i'LIl'801-LOI'06-L8'OL-89 1opesyeuy
(13 OApajoo op 'aNuorquue/o1ou op 'odna op 'reuoonsun) 3seuy
seua] sediouud sop 3oipuj
Institucionalização (produção de instituição para além do indivíduo
e da familia). 60-67, 102, 123, 136, 161, 165, 206, 212, 219, 243, 260,
294,303,311,359-366.
Interpretação, intervenção, 60-62, 109, 161,212,216, 239,247, 280,
301-305, 321.
Máquina (máquina desejante e estrutura), 37-40, 41, 43, 57, 83,
105. 125-128, 185-190,215, 232-235,247, 253, 260, 303-304, 309-319,
356.
Objeto institucional, falicização do grupo, 64-66, 76, 104, 120,124-
125, 161, 165, 188, 209, 216-218, 259-260, 275-276, 325, 359.
Recuperação, 98, 145-146, 167, 241, 277, 285-287, 304, 310.
Repressão (interiorização da repressão), 66, 109, 212, 222,253,259-
260, 268, 280, 282, 288, 293, 301, 304.
Resto, residuo, dejeto (objeto "a"lacaniano), 78, 173, 206, 217, 219,
230, 310, 311,315, 317.
Sentido, não sentido (palavra vazia, ponto-signo não significante,
efeito de sentido etc.), 38,42,45,53,56-57,67-68,75-83, 107, 123, 130,
181. 186,228,316.
Territorialidade, desterritorialização, 62, 70, 109, 215, 223, 332.
Transferência institucional, 36, 49, 68, 75-83, 122, 219, 305, 322.
Transversalidade (domínios de acolhida do superego), 78, 101-117,
181, 199, 202. 253, 260, 282.
Vacúolo (grupos vacuólicos), 107, 198, 217, 264, 315.

Esta obra foi composta


em ClcP
Capa: Supreno 250 Miolo: Pólen 5oft 8og
-

Impressàoe acabamento
Gráfica e Edltora Santuárlo
Assim, pareceu-me que eles escaparam a certo
número de pessoas que se interessam hoje pela
evolução dessa corrente de pensamento. Para pre
encher a lacuna em suas recordações ou sua fal-
ta de informação, bem como, para ser completa-
mente preciso, lembro,portanto, que ninguém ha-
via falado ou escrito sobre "a análise institucional"
e"os analisadores" antes das diferentes versões que
apresentei em meu relatório sobre "A transversali-
dade" (Publicado em 1964 no número UM da Revue
de Psychothérapie Institutionnelle).
Félix Guattarí

FELIX GUATTARI (1930-1992) participou da


equipedeanimação da clínica de La Borde,em Cour
Cheverny, que redefiniu e m termos práticos e
institucional.
teóricos as bases da psicoterapia
Discípulo de Lacan, fundador da Sociedade de
Psi-

coterapia Institucional, em 1965, Félix Guattari,


de Pa-
psicanalista e membro da Escola Freudiana
revista Chi-
ris, publicou várias obras e fundou a

mères.
Nn
ESTE LIVRO, PUBLICADO INICIALMENTE EM 1974,
Félix Guattari apresentou o resultado de
quinze anos
de reflexão sobre as incidencias da
Psicanálise, tanto
no
campo psiquiátrico como no político.
Um tema central percorre estes textos: a
promoção
de um método de análise institucional
que deveria ir
além de cada um dos estratos distintos
que consti-
tuem as ciências sociais e humanas. Para Guattari, a
problemática da revolução tem ligação necessária
com a do remanejamento radical das concepções e
métodos correntes no campo da Psicanálise. E, por
conseguinte, um princípio de transversalidade que
deve aproximar e unificar a função do analista e a do
militante.

DECULOl

5-827 EDITORA
IDEIAS&
LETRAS
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