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Escola Estadual Frei Rogato – Disciplina: Língua Portuguesa

GÊNERO TEXTUAL CONTO

OS MÚSICOS DE BREMEN
Um homem possuía um burro que o servira durante anos, mas que se achava quase imprestável, sem forças nem para
puxar uma carroça. Resolveu matá-lo a fim de aproveitar a pele. Mas o burro, que de burro não tinha nada, percebeu suas
intenções e deliberou fugir para Bremen. “Lá poderei tornar-me músico”, pensou ele.
O burro fugiu e tomou o rumo de Bremen. No meio da viagem, encontrou deitado na estrada, um cachorro já velho,
abrindo a boca a todo instante.
- Por que bocejas tanto? Perguntou-lhe o burro.
- Ah! – exclamou o cão. – Cada dia que passa me sinto mais velho e débil; como já não posso correr caça, meu senhor
me espancou tanto que me vi obrigado a fugir; e agora estou que não sei onde possa arranjar um pedaço de carne.
- Pois a minha situação não é lá muito diferente – disse o burro. Vou para Bremen ser músico. Se quiser, poderá
acompanhar-me como tambor da minha banda.
O cachorro aceitou o convite e seguiu atrás do burro. Mais adiante encontraram um gato sentado à beira do caminho,
com jeito de quem tivesse levado muitas vassouradas. Perguntando-lhe o burro a razão da tristeza, o bichano respondeu:
- Como posso estar contente depois de tanta paulada? Já sou velho e me falta agilidade para prosseguir um simples
camundongo. Por esse motivo, minha senhora resolveu afogar-me na lagoa. Fugi a tempo, mas agora estou aqui sem saber o
que fazer.
- Vamos para Bremen. Você é músico noturno e pode muito bem fazer parte da nossa banda. O gato aceitou o convite
e seguiu com os dois. Os três vagabundos, depois de muito andar, chegaram a um sítio onde um galo cantava furiosamente.
- Por que canta dessa maneira, galo? – perguntou o burro.
- Quando canto assim é sinal de bom tempo; mas apesar disso a dona da casa deu ordem ao cozinheiro que me
aprontasse para o jantar. Hoje é dia de festa aqui e, como amanhã estarei morto, resolvi cantar até não poder mais.
- É melhor que nos acompanhe. Vamos a Bremen para escapar da morte; você tem boa voz e poderá fazer parte da
nossa banda.
O galo gostou da ideia, juntou-se ao grupo e os quatro tocaram para a frente. Não podiam, porém, alcançar Bremen no
mesmo dia, de modo que de noite pararam numa floresta para dormir.
O burro e o cão deitaram-se sob uma árvore; o galo e o gato subiram para os galhos, ficando aquele no ponto mais
alto. Antes de dormir, porém, o galo pôs-se a olhar em volta e logo descobriu uma luzinha a uma certa distância.
Chamando os companheiros, disse-lhes que não deviam estar longe de alguma casa, pois estavam enxergando luz.
- Se é assim, sigamos para frente, pois o pasto aqui não é dos melhores – disse o burro.
- E eu estou sentindo a falta de alguns ossos – falou o cachorro.
E os quatro tocaram para onde vinha a luz, a qual foi aos poucos aumentando, aumentando.
Por fim, chegaram a uma casa bem iluminada, pertencente a uma quadrilha de ladrões.
O burro, sendo o maior, espiou pela janela.
- Que está vendo? – perguntou o galo.
- Estou vendo uma mesa cheia de doces, bebidas e bons pratos, com grande número de ladrões em volta.
- É do que precisamos – acrescentou o galo.
- Mas como pegar aquilo? Indagou o burro.
Puseram-se todos a estudar o caso e, depois de muita discussão, imaginaram um meio de afugentar os bandidos.
O burro colocou as patas dianteiras sobre a janela, o cão subiu-lhe as costas, o galo encarapitou-se sobre o cão e, por
fim, o galo pousou sobre a cabeça do gato. Feito isso, a um sinal do burro rompeu a música. O burro zurrava, o cão latia, o gato
miava, e o galo cantava, tudo ao mesmo tempo, em tal tom que os vidros das janelas se partiram, tremeram! Apavorados com o
barulho, os ladrões fugiram para a floresta, certos de que se tratava de um bando de almas do outro mundo. Os quatro músicos
sentaram-se à mesa e comeram tudo quanto havia, pois estavam em jejum de mais de uma semana.
Logo que encheram a barriga, cada qual procurou um lugar para dormir. O burro deitou-se sobre um monte de palha; o
cachorro aninhou-se atrás da porta; o gato procurou as cinzas do fogão e o galo empoleirou-se sobre uma viga que atravessa a
sala. Cansados como estavam da longa caminhada, logo ferraram no sono.
Lá pela meia noite, vendo os ladrões as luzes apagadas e tudo em silêncio, o chefe da quadrilha mandou que um de
seus homens fosse investigar a causa da barulhada. Encontrando tudo quieto, o emissário dirigiu-se à cozinha para acender o
fogo; e, tomando os olhos do gato por duas brasas, veio assoprá-las. O gato imediatamente atirou-se lhe ao rosto, arranhando-o
todo e fazendo-o fugir apavorado pela porta dos fundos. Mas o cachorro, que ali estava deitado, ferrou-lhe uma terrível dentada
na perna. O ladrão pula para o monte de palha e lá o burro lhe aplica um formidável par de coices. E para aumentar a esfrega, o
galo ainda lhe prega uma esporada, cantando depois: - Cocoricó!
O ladrão voltou correndo para junto dos companheiros.
- Nem por todo dinheiro do mundo porei aos pés naquela casa outra vez! Está lá uma bruxa que me arranhou o rosto
com suas unhas cumpridas, junto à porta, um homem de faca afiada, que me cortou a perna; logo adiante, um monstro, que me
deu uma formidável bordoada, e, quando ia saindo, além de levar uma espetada na cabeça, ouvia a voz do juiz que dizia: - Pau
nele sem dó.
Ao ouvirem isso, os ladrões não mais ousaram penetrar a casa, de modo que os quatro músicos lá ficaram morando, e
lá estão até hoje, muito contentes da vida a dar boas risadas das peças que pregaram aos antigos moradores.

GRIMM, Jacob; GRIMM, Wilhelm. Os músicos de Bremen. In: Clássicos: contos de Grimm. Trad. Monteiro Lobato. São
Paulo: IBEP, 2012.
ESTUDO DO TEXTO
1) Quem são os personagens do conto? Como cada um deles estava no momento em que resolveram
fugir?
2) Onde a história se passa?
3) Aproximadamente, em que período de tempo os fatos principais ocorrem?
4) Qual é o conflito/problema vivenciado pelos personagens?
5) Quando se dá o clímax, ou seja, o momento de maior expectativa no conto?
6) A história é narrada
( ) por um narrador-observador, que não participa da história e narra tudo a partir do que observa.
( ) por um narrador-personagem, que participa da história e narra os fatos.
Copie um trecho do texto que justifique sua resposta.
7) Todos os animais tinham fugido dos donos. Responda:
a) Por que decidiram fugir?
b) O que acaba por unir esses personagens? Explique.
8) Após se encontrarem, todos decidiram seguir para Bremen. Com base nessa afirmação, responda:
a) O que os impediu de chegar a Bremen no mesmo dia?
b) O que o galo avistou? Por que decidiram seguir adiante?
9) Após chegarem a uma casa iluminada, ocorre um fato que, mais uma vez, modifica o rumo de suas
vidas. Responda:
a) Quem habitava a casa?
b) O que o burro viu no interior da casa, pela janela?
c) Qual é a decisão tomada pelo grupo? Como executaram seu plano?
d) Qual é a decorrência da decisão que tomaram?
e) Os ladrões sabiam quem os atacara? Explique.
f) Os quatro músicos chegaram a Bremen? Por quê?
10) Em sua opinião, por que os personagens conseguiram enfrentar os bandidos, mas não conseguiram
lutar contra seus donos?
11) Produza um reconto do texto, narrando, com suas palavras, os principais acontecimentos. Seu texto
deve ter início, meio e fim, como no texto lido.
12) Observe: “O galo gostou da ideia, juntou-se ao grupo e os quatro tocaram para a frente”. Os verbos
destacados nesse trecho expressam
( ) uma ação totalmente concluída no passado.
( ) uma ação inacabada no passado.
13) Leia com atenção:
Nos textos narrativos, pode-se empregar dois tipos de discurso:
Discurso direto – No discurso direto, as falas dos personagens são indicadas por dois-pontos e
introduzidas por travessão. Esses sinais de pontuação também podem ser substituídos pelas aspas ( “ ”).
A fala dos personagens aparece na 1ª pessoa (eu, nós) e os verbos estão predominantemente no pretérito
perfeito do indicativo.
Discurso indireto – O narrador não dá voz aos personagens. Ele conta, com suas palavras, o que
aconteceu e introduz a fala dos personagens com as palavras “que” e “se”. A fala dos personagens
aparece na 3ª pessoa (ele/ela, eles/ elas) e os verbos estão predominantemente no pretérito imperfeito.
Com base nessas informações, observe o seguinte trecho e responda:
“Perguntando-lhe o burro a razão da tristeza, o bichano respondeu:
- Como posso estar contente depois de tanta paulada?”
( ) Nesse trecho, foi empregado do discurso direto.
( ) nesse trecho, foi empregado o discurso indireto.
Explique sua resposta.
13)Nos trechos abaixo, identifique as palavras ou expressões a que os termos destacados se referem
a)“[...] o galo e o gato subiram para os galhos, ficando aquele no ponto mais alto”.
b)“[...] o chefe da quadrilha mandou que um de seus homens fosse investigar a causa da barulhada.
Encontrando tudo quieto, o emissário dirigiu-se à cozinha.
c) “[...] tomando os olhos do gato por duas brasas, veio assoprá-las”.
d) “Ao ouvirem isso, os ladrões não mais ousaram penetrar a casa, de modo que os quatro músicos lá
ficaram morando, e lá estão até hoje, muito contentes da vida a dar boas risadas das peças que pregaram aos
antigos moradores”.
14) Observe: “O ladrão pula para o monte de palha e lá o burro lhe aplica um formidável par de coices”. O
termo destacado nesse trecho evitou a repetição de qual(is) palavra(s) mencionada(s) anteriormente?
15) No trecho abaixo identifique os adjetivos empregados para caracterizar os substantivos
“ Está lá uma bruxa que me arranhou o rosto com suas unhas cumpridas, junto à porta, um homem de faca
afiada, que me cortou a perna; logo adiante, um monstro, que me deu uma formidável bordoada...”
16) Observe o contexto em que foram empregadas, pesquise no dicionário se preciso, e reescreva as frases
abaixo, substituindo a palavra ou expressão destacada por outra que tenha o mesmo significado.
a) “Mas o burro, que de burro não tinha nada, percebeu suas intenções e deliberou fugir para Bremen”.
b)” [...] logo adiante, um monstro, que me deu uma formidável bordoada...”
c) “Encontrando tudo quieto, o emissário dirigiu-se à cozinha”.
d) “[...] o cão subiu-lhe as costas, o galo encarapitou-se sobre o cão...”.
e) “[...] depois de muita discussão, imaginaram um meio de afugentar os bandidos”.
f) “E para aumentar a esfrega, o galo ainda lhe prega uma esporada...”

RESUMO DA MATÉRIA
Gênero textual - Conto
Os contos caracterizam-se por serem, de modo geral, narrativas curtas de um único episódio. Neles, os personagens são,
normalmente, em número reduzido e o espaço e tempo são reduzidos. No conto moderno, o narrador relata fatos fictícios e se
detém em um momento especial, ou seja, a ação se concentra num único ponto de interesse, um conflito maior vivido pelo(s)
personagem(ns).
Estrutura do conto:
Introdução ou situação inicial – Constitui o início da história a ser narrada. Nesta parte, o narrador apresenta os fatos iniciais,
os personagens e, na maioria das vezes, o tempo e o espaço.

Desenvolvimento ou complicação – Representa a parte em que se desenvolve o conflito. O conflito é o momento em algo
novo acontece, mudando a situação inicial.

Clímax – é o momento mais tenso, de maior expectativa da narrativa.

Desfecho ou conclusão – Revela o final da história e/ou a solução para o conflito, que pode ser triste, alegre, surpreendente,
engraçado, trágico, etc.

No conto, há ainda o Enredo ou Trama que são os acontecimentos organizados numa sequência, de modo que um fato
provoque o outro. Quem conta os fatos é o narrador, que pode ser:
narrador-personagem - aquele que narra a história, mas também participa dela.
narrador-observador – aquele que narra a história, mas não participa como personagem.

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