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MOEDAS FURADAS - Um mistério

histórico mundial
PorBruno Diniz-dezembro 05, 2019

Muitos ficam curiosos em relação ao furo em moedas desde a antiguidade, sejam elas
cunhadas com furo ou com furo provocado por ação humana. Na era moderna observamos
tais furos nas moedas japonesas de 5 e 50 ienes, mas nem mesmo a maioria dos japoneses
saberão explicar. Neste artigo vou explicar o motivo por algumas moedas terem furos
originais de cunhagem e furos provocados, assim, você poderá entender um pouco mais sobre
o tema.

NÃO É SÓ NO JAPÃO - Saiba que não é apenas a moeda japonesas que possui um furo no
meio. Diversos países como Noruega, China, Nova Guiné e Dinamarca já possuíram ou
possuem moedas furadas na era moderna.

No Japão a moeda perfurada de 5 ienes foi originalmente criada em 1948 porque precisavam
economizar os metais que ficaram escassos depois da segunda guerra mundial. Originalmente
a moeda de 50 ienes não tinha nenhum buraco, mas ela era muito parecida com a de 100
ienes. Então fizeram um buraco na moeda de 50 ienes para economizar metal e também ajudar
a identifica-las por meio da diferenciação estética. Os buracos nas moedas japonesas
atualmente servem para auxiliar deficientes visuais na identificação do dinheiro do país.
Apesar de sabermos o principal motivo dos furos em moedas japonesas, ainda ficam muitas
dúvidas com relação a origem dos furos nas moedas. Isso porque a mais de 1300 anos
existiram diversas moedas japonesas com um furo quadrado no meio, até mesmo durante o
período Edo (1603 – 1868). A China foi a influenciadora das moedas furadas do Japão e de
outros países, influenciando grande parte da história e cultura de países do oriente como o
Japão.

Na china antiga o círculo da moeda representava o universo e o quadrado no meio da moeda


representava a terra. Com esta representação e significado do furo os chineses utilizavam as
moedas como amuletos para trazer sorte em diversos rituais da cultura oriental. As moedas
furadas também eram amarradas à cintura daqueles que as transportavam, isso facilitava o
transporte de valores e as protegia dos ladrões durante as longas viagens.

OUTRAS UTILIDADES – As moedas eram furadas para as mais diversas finalidades e


utilidades como servir de botões de roupas ou fazer colares, muitas foram utilizadas para
rituais religiosos de origem africana e como amuletos da sorte ou em simpatias de ciganos
romenos e espanhóis. Também foram utilizadas na fabricação de armas durante a segunda
grande guerra. Antigamente as moedas eram fabricadas de uma maneira que a remoção e
separação delas durante sua fundição era muito trabalhosa, os furos no meio facilitavam o
processo.

No Brasil, alguns comerciantes também utilizavam a moeda furada como pingente em busca
da mesma sorte, prática aprendida pelos portugueses e antes muito utilizada pelos chineses
na antiguidade, romanos e ciganos romenos e espanhóis. Os rituais envolvendo moedas
furadas foram sendo adaptados ao longo do tempo e foram ganhando um contorno folclórico
e muito utilizado como simpatia.

Abaixo, alguns países que tiveram suas moedas furadas em seus projetos originais de
cunhagem ou provocado pela ação de terceiros e suas diversas motivações.
MOEDAS FURADAS – Os furos
desvalorizam as moedas?

100 Réis 1876 - Furada

Hoje vou bater esse martelo e chamar a responsabilidade. Primeiro temos que
contextualizar! Separei alguns momentos da história em que as moedas com furo
são mencionadas, sejam furos originais de cunhagem ou produzidos pelo homem
posteriormente ao processo natural de cunhagem, mas todas com o mesmo
propósito. Era sem dúvida uma tecnologia concebida para o transporte de valores.

Sabemos que a invenção da moeda na China partiu da imitação, em bronze fundido


em moldes, de objetos utilitários como pás e facas, mas também de “cauris” ou
conchas. Após a decisão tomada no Reino de Zhou, no final do séc. VII a.C., de
produzir imitações de pás e outras ferramentas, com peso padronizado para circular
como moeda, vários estados emitiram moedas naqueles formatos do séc. VI ao séc.
III a.C. A partir do final do séc. III a.C., a opção por moedas redondas com um furo
no centro prevaleceu, com os chamados “Ban-liang”, seguidos, em 118 a.C., pelos
Wu-zhu ,ambos com dois caracteres. Estima-se que pelo menos 28 bilhões de Wu-
Zhu circularam de alguma forma.
1 Cash Dinastia Gh'ing 1662-1722

O Anam (Vietnã de hoje) fez parte do Império Chinês do séc. I d.C. até 939, quando
se tornou independente. Nessa região e no sudoeste da China, mesmo depois da
emissão regular de moedas de bronze mais ao norte, conchas continuaram a circular
como moeda durante séculos. No período conturbado da usurpação de Wang Mang
no início do séc. I d.C., cereais e seda também foram aceitos como forma de
pagamento. Do séc. VII até o início do séc. XX, foram emitidos Sapeques ou “cash”,
com um furo no centro, e seus múltiplos, sempre fundidos em moldes, inicialmente
em bronze e no período final também em latão ou em cobre. O “cash” do reino Qian
Long (Ch’ien Lung), do imperador Gao Zong (1736-1795), foi provavelmente a
moeda do mundo emitida em maiores quantidades antes do século XX, em muitos
bilhões de exemplares.

O Japão, o Anam (Vietnã atual) e a Coréia começaram a ter moedas próprias em


708, 970 e 996 respectivamente, e adotaram durante séculos o modelo chinês de
moedas fundidas, com furo no centro. No Japão, entre o séc. X e o séc. XVI, não
foram emitidas oficialmente moedas, recorrendo-se à importação de moedas
chinesas de bronze para a circulação corrente. A partir do final do séc. XVI, foram
retomadas as emissões de bronze e produzidas peças em metais preciosos, como
os “mameitagin” (círculos de prata com motivos estampados) e os Kobans (placas
de ouro com assinaturas a tinta). Por volta de 1800, os Xoguns recorreram a moedas
fundidas de latão ou ferro, e reduziram o tamanho e a qualidade das moedas oficiais
de ouro. Depois foram emitidas peças retangulares de prata de diversos valores.
Podemos concluir que na Ásia as moedas furadas eram moldadas desta forma para
facilitar o transporte de valores por todo o domínio chinês. Mas no restante do mundo
acontecia algo bem diferente. Alguns povos e sociedades furavam as moedas de
maneira rudimentar, quando estas não possuíam furos. Os furos foram percebidos
de forma artesanal entre os romanos, por uma razão de crendice, de proteção contra
o mal. Objetos como moedas e conchas eram tidos como verdadeiros "amuletos".
Estes eram pendurados no pescoço por tiras de couro. Mais uma vez podemos
confirmar os furos em moedas como tecnologia e até mesmo crendice.

Claro que existem furos que são feitos para denegrir ou deturpar a figura estampada
na peça, esses furos entram para a categoria das "alegorias políticas" de uma
época, tais como os que furavam Napoleão III após perder uma guerra contra a
Prússia.

No Brasil podemos citar os açorianos, povoadores do Rio Grande do Sul, pregavam


uma moeda no cabo da enxada para uma colheita mais produtiva. No Sertão de
Pernambuco os sertanejos penduravam moedas no pescoço de suas crianças para
evitar doenças.

Depois de algum tempo pude perceber que existem quatro tipos de motivos para
furos:

Religioso: feitos para uso pessoal por motivo de crendices. Possui relevância
histórica
Deturpador: feitos para denegrir a imagem de alguma autoridade. Com relevância
histórica em moedas comprovadamente circuladas em períodos de guerra.
Vandalismo: Muito comum nos tempos atuais e sem qualquer relevância histórica.
Funcionais: feitos para guardar moedas ou transportá-las

Vale lembrar que todos os tipos de furos precisam ser pesquisados, identificados e
possivelmente respeitado diante do contexto em que foi gerado.

Em todas as moedas que tenho visto nos últimos tempos, os furos, aparecem em
maior quantidade nas moedas de cobre, chumbo, latão e também em prata ,
especialmente , usadas pelas classes mais baixa (servos), as classes protegidas
usavam moedas de ouro envolvidas em argolas igualmente de ouro, que os ourives
confeccionavam para os mais abastados. Em moedas de ouro vou confessar que
ainda não vi furos, noto na maioria das moedas de prata e ouro, sinais de solda pela
colocação de pequenas argolas para transformar as moedas em pingentes usados
como adorno como citei anteriormente. Pode até parecer um pouco rude minha
afirmação, mas os furos de cunho supersticioso e que entra na categoria “religioso”
nos oferecem um panorama do habito de uma parcela da sociedade. Como não
pude ver moedas de ouro furadas (pode ser que exista) só me resta concluir que a
classe econômica de uma determinada parcela da sociedade ditava este costume,
pois a miséria sempre estava à porta dos mais humildes e com recursos limitados,
fazendo com que as crendices fossem bem mais utilizadas do que nas classes mais
altas e abastadas da sociedade nesta época.
Reprodução de como eram utilizadas as moedas furadas em crendices.

Possuo em meu acervo algumas moedas furadas, apesar de muitos colocarem


estas peças na seara da desvalorização numismática, alegando a perda de valor.
Eu possuo uma visão mais histórica e investigativa de costumes de uma
determinada época e não me deixo levar por opiniões comerciais. Talvez passem
mais 100 anos sem que os numismatas possam reconhecer que é salutar e
importantíssimo o estudo destas peças. As moedas furadas nos levam a
pessoalidade de agentes da história que falam conosco por meio destes furos. Estes
agentes da história nos transmitem a mensagem de seu precário modo de vida e
sua esperança e a virtude em sonhar com dias melhores, nos mostrando seu estado
real de penúria financeira e nos levando a enxergar muito além.

NO FIM DAS CONTAS - A moeda furada existe a milhares de anos e isso é inegável. Ainda
irão pairar dúvidas sobre quem, como e onde a ideia de furar a moedas surgiu, até mesmo o
porquê? Será que teria sido somente por causa do custo e dificuldade de fabricação? Pela
praticidade em transportar? Ou por motivos religiosos? Não podemos cravar as reais
intenções ou motivações, mas podemos recontar e remontar períodos que nos apresentam os
furos como um fato histórico cultural diverso e com aplicações ainda mais variadas do que
podemos imaginar.

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