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CAPÍTULO 4

POLARIZAÇÃO CC DO TBJ

Engenharia Elétrica
Profa. Dra. Josiane Rodrigues
SUMÁRIO

vIntrodução;
vPonto de Operação (Quiescente);
4.1 – Circuito de Polarização Fixa;
4.2 - Configuração de Polarização do Emissor;
4.3 - Configuração de Polarização por Divisor de Tensão;
4.4 - Configuração com Realimentação de Coletor;
4.5 - Configuração Seguidor de Emissor;
4.6 - Configuração Base-Comum;
4.7 - Configurações de Polarizações Combinadas.
INTRODUÇÃO

Para a análise ou o projeto de um amplificador com transistor, é


necessário o conhecimento das respostas CC e CA do sistema. É comum
imaginarmos que o transistor é um dispositivo mágico capaz de aumentar o
valor da entrada CA aplicada sem o auxílio de uma fonte de energia externa.
Na verdade,

A análise ou o projeto de qualquer amplificador eletrônico, portanto, utiliza


duas componentes: as respostas CA e CC. Felizmente, o teorema da superposição é
aplicável, e a análise das condições CC pode ser totalmente separada da resposta CA.
Mas deve-se ter em mente que, durante a fase de projeto ou síntese, a escolha dos
parâmetros para os valores CC exigidos influenciará a resposta CA e vice-versa.
INTRODUÇÃO
Uma vez definidos a corrente CC e os valores de tensão desejados, um
circuito que estabeleça o ponto de operação escolhido deve ser projetado. Vários
desses circuitos serão analisados neste capítulo. Cada projeto determinará também a
estabilidade do sistema, isto é, o quanto ele é sensível às variações de temperatura,
outro tópico que será explorado em uma seção deste capítulo.
Embora vários circuitos sejam estudados neste capítulo, há certa
semelhança entre a análise de cada configuração devido ao uso recorrente das
seguintes relações básicas importantes de um transistor:
PONTO DE OPERAÇÃO
(QUIESCENTE)

A operação no corte, na saturação e


nas regiões lineares das curvas características do
TBJ são:
1. Operação na região linear:
Junção base-emissor polarizada diretamente.
Junção base-coletor polarizada reversamente.
2. Operação na região de corte:
Junção base-emissor polarizada reversamente.
Junção base-coletor polarizada reversamente.
3. Operação na região de saturação:
Junção base-emissor polarizada diretamente.
Junção base-coletor polarizada diretamente.
Figura 4.1 – Vários pontos de operação dentro dos limites de
operação de um transistor.
4.1 – CIRCUITO DE POLARIZAÇÃO FIXA

O circuito de polarização fixa da


Figura 4.2 é a configuração mais simples de
polarização CC do transistor. Apesar de o
circuito empregar um transistor npn, as
equações e os cálculos se aplicam
igualmente bem a uma configuração com
transistor pnp, bastando para isso que
invertamos os sentidos de correntes e
polaridades das tensões. Os sentidos das
correntes da Figura 4.2 são os sentidos
reais, e as tensões são definidas pela
notação-padrão das duas letras subscritas.

Figura 4.2 – Circuito de polarização fixa.


4.1 – CIRCUITO DE POLARIZAÇÃO FIXA

Para se ter uma visualização melhor


do circuito de entrada e circuito de saída, é
interessante redesenhar o circuito da Figura
4.2, separando as fontes CC, como ilustrado
na Figura 4.3.
Os capacitores se comportam como
circuitos abertos para fontes CC.

Figura 4.3 – Equivalente CC da Figura 4.2.


4.1 – CIRCUITO DE POLARIZAÇÃO FIXA
Polarização direta da junção base-emissor
Analise primeiramente a malha base-emissor mostrada na Figura 4.4. Ao
aplicarmos a Lei das Tensões de Kirchhoff no sentido horário da malha, obtemos

+VCC – IBRB – VBE = 0

(4.4)

Figura 4.4 – Malha base-emissor.


4.1 – CIRCUITO DE POLARIZAÇÃO FIXA
Malha coletor-emissor
A seção coletor-emissor do circuito aparece na Figura 4.5, com o sentido da
corrente IC e a polaridade resultante através de RC indicados. O valor da corrente do
coletor está diretamente relacionado com IB através de

(4.5)

Aplicando a Lei das Tensões de Kirchhoff no


sentido horário ao longo da malha indicada na Figura
4.5, obtemos
VCE + ICRC – VCC = 0

(4.6)
Figura 4.5 – Malha coletor-emissor.
4.1 – CIRCUITO DE
POLARIZAÇÃO FIXA

Figura 4.6 – Medição de VCE e VC.


EXEMPLO 4.1

Para a configuração de polarização fixa da Figura 4.7, determine o seguinte:


a) IBQ e ICQ
b) VCEQ

c) VB e VC
d) VBC

Figura 4.7 – Circuito de polarização CC fixa para o exemplo 4.1.


SOLUÇÃO
SATURAÇÃO DO TRANSISTOR

O termo saturação é aplicado a qualquer sistema em que os níveis


alcançaram seus valores máximos. Uma esponja saturada é aquela que não é capaz
de reter mais nenhuma gota de líquido. Para um transistor que opera na região de
saturação, a corrente apresenta um valor máximo para um projeto específico.

Figura 4.8 – Região de saturação: (a) real; (b) aproximada.


SATURAÇÃO DO TRANSISTOR

Para a configuração com polarização


fixa da Figura 4.10,
(4.11)

Figura 4.9 – Determinação de ICsat


Figura 4.10 – Determinação de Icsat para uma
configuração de polarização fixa.
Uma vez que ICsat é conhecida, temos uma ideia da máxima corrente de
coletor possível para o projeto escolhido, e o valor deverá ficar abaixo deste se
desejarmos amplificação linear.

EXEMPLO 4.2
ANÁLISE POR RETA DE CARGA
As curvas características do TBJ são sobrepostas a um gráfico da equação de
circuito definida pelos mesmos parâmetros de eixo. O resistor de carga RC para a
configuração de polarização fixa determinará a inclinação da equação de circuito e a
interseção resultante entre os dois gráficos.

(4.12)

Figura 4.11 – Análise por reta de carga: (a) O


circuito; (b) as curvas características do dispositivo.
Definindo a reta de carga:
Da equação (4.12) para
as condições em que IC = 0 mA,
surge a equação (4.13) e para
VCE= 0 V aparece a equação
(4.14).

(4.13)

(4.14)

Figura 4.12 – Reta de carga para polarização fixa.


Se o valor de IB for modificado pela variação do valor de RB, o ponto Q se move sobre a
reta de carga, como mostra a Figura 4.13, para valores crescentes de IB. Se VCC for
mantido fixo e RC aumentado, a reta de carga se deslocará como ilustrado na Figura 4.14.
Se IB for mantido fixo, o ponto Q se moverá como demonstrado nessa mesma figura. Se
RC for fixo e VCC diminuir, a reta de carga se deslocará como mostra a Figura 4.15.
Figura 4.14 – Efeito do
Figura 4.13 – Movimento aumento no valor de RC na
do ponto Q com valores reta de carga e no ponto Q.
crescentes de IB.
Figura 4.15 – Efeito de valores menores de VCC na reta de carga e no ponto Q.
EXEMPLO 4.3

Dados a reta de carga da Figura


4.16 e o ponto Q definido, determine os
valores necessários de VCC, RC e RB para
uma configuração de polarização fixa.

Figura 4.16 – Exemplo 4.3.


SOLUÇÃO
4.2 - CONFIGURAÇÃO DE
POLARIZAÇÃO DO EMISSOR

O circuito de polarização CC da
Figura 4.17 contém um resistor de
emissor para melhorar o nível de
estabilidade da configuração com
polarização fixa. Quanto mais estável for
uma configuração, menos sua resposta
ficará sujeita a alterações indesejáveis de
temperatura e variações de parâmetros.
4.2 - CONFIGURAÇÃO DE
POLARIZAÇÃO DO EMISSOR

O equivalente CC da Figura 4.17 aparece na Figura 4.18 com uma


separação da fonte para criar uma seção de entrada e de saída.
4.2 - CONFIGURAÇÃO DE
POLARIZAÇÃO DO EMISSOR
4.2 - CONFIGURAÇÃO DE
POLARIZAÇÃO DO EMISSOR
4.2 - CONFIGURAÇÃO DE
POLARIZAÇÃO DO EMISSOR

Observe que, independentemente da tensão base-emissor VBE, o resistor RE é


refletido de volta para o circuito de entrada por um fator (β +1). Em outras palavras,
o resistor do emissor, que é parte da malha coletor-emissor, “aparece como” (β
+1)RE na malha base-emissor. Visto que β é geralmente 50 ou mais, o resistor do
emissor aparenta ser muito maior no circuito de entrada.

(4.18)
4.2 - CONFIGURAÇÃO DE
POLARIZAÇÃO DO EMISSOR
4.2 - CONFIGURAÇÃO DE
POLARIZAÇÃO DO EMISSOR
4.2 - CONFIGURAÇÃO DE
POLARIZAÇÃO DO EMISSOR

Exemplo 4.4
Exemplo 4.4
Solução
POLARIZAÇÃO DE EMISSOR

POLARIZAÇÃO FIXA

Melhoria na estabilidade da polarização


A adição do resistor de emissor ao circuito de polarização CC do TBJ acarreta
uma melhoria na estabilidade, isto é, as correntes e tensões CC permanecem próximas
aos valores estabelecidos pelo circuito quando modificações nas condições externas,
como temperatura e beta do transistor, ocorrem. Uma comparação da melhoria atingida
pode ser obtida como mostra o Exemplo 4.5.
Exemplo 4.5
Prepare uma tabela e compare as tensões e as correntes de polarização dos
circuitos das Figuras 4.7 e 4.23 para o valor de β = 50 e para um novo valor de β
= 100. Compare as variações de IC e VCE para o mesmo aumento de β.
Solução
Nível de saturação
O nível de saturação do coletor ou a corrente de coletor máxima em um projeto
de polarização podem ser determinados utilizando-se o mesmo método aplicado à
configuração com polarização fixa: estabeleça um curto-circuito entre os terminais de
coletor e emissor, como mostra a Figura 4.24, e calcule a corrente do coletor resultante.
Para a Figura 4.24

(4.25)

A inclusão do resistor do emissor leva o


nível de saturação do coletor para um valor
abaixo do obtido com uma configuração com
polarização fixa utilizando o mesmo resistor de
coletor.
EXEMPLO 4.6
EXEMPLO 4.7
EXEMPLO 4.7

Figura 4.27 – Exemplo 4.7.


4.3 - CONFIGURAÇÃO DE POLARIZAÇÃO
POR DIVISOR DE TENSÃO

Nas configurações de polarização anteriores, a corrente ICQ e a tensão VCEQ


de polarização eram uma função do ganho de corrente β do transistor. No entanto,
como β é sensível à temperatura, principalmente em transistores de silício, e o valor
exato de beta geralmente não é bem definido, seria desejável desenvolver um
circuito de polarização menos dependente, ou, na verdade, independente do beta do
transistor. A configuração de polarização por divisor de tensão da Figura 4.28 é um
circuito como esse. Se analisado precisamente, observa-se que a sensibilidade às
variações de beta é bem pequena. Se os parâmetros do circuito forem escolhidos
apropriadamente, os níveis resultantes de ICQ e VCEQ poderão ser quase totalmente
independentes de beta.
4.3 - CONFIGURAÇÃO DE POLARIZAÇÃO
POR DIVISOR DE TENSÃO
4.3 -CONFIGURAÇÃO
DE POLARIZAÇÃO
POR DIVISOR DE
TENSÃO

Lembre-se de que vimos em


discussões anteriores que um ponto Q
é definido por um valor fixo de ICQ e
VCEQ, como mostra a Figura 4.29.
Circuito de entrada

Figura 4.31 – Desenho refeito do circuito de entrada da Figura 4.28.

Figura 4.30 – Componentes CC da


configuração com divisor de tensão.
Circuito de entrada

Figura 4.33 – Determinação de Eth.


Circuito de entrada

Figura 4.34 – Inserção do


circuito equivalente de Thévenin.
EXEMPLO 4.8
Análise aproximada

A seção de entrada da configuração com divisor de tensão pode ser representada


pelo circuito da Figura 4.36. A resistência Ri é a resistência equivalente entre a base e o
terra para o transistor com um resistor de emissor RE.
EXEMPLO 4.9

Repita a análise da Figura


4.35 utilizando a técnica aproximada
e compare as soluções para ICQ e
VCEQ.
Solução
EXEMPLO 4.10

Repita a análise exata do Exemplo 4.8 com β reduzido a 50 e compare as


soluções para ICQ e VCEQ.
SOLUÇÃO
EXEMPLO 4.11

Determine os valores de ICQ e


VCEQ para a configuração com divisor
de tensão da Figura 4.37 utilizando as
técnicas exata e aproximada, e
compare as soluções. Nesse caso, as
condições da Equação 4.33 não serão
satisfeitas, e os resultados revelarão a
diferença na solução se o critério da
Equação 4.33 for ignorado.

Figura 4.37 Configuração com divisor de tensão para o


Exemplo 4.11.
SOLUÇÃO
Saturação do transistor
O circuito de saída coletor-emissor para a configuração com divisor de tensão
tem a mesma aparência do circuito com polarização de emissor analisado na Seção
4.4. A equação resultante para a corrente de saturação (quando VCE é ajustado para 0
V no esquema) é, portanto, a mesma obtida para a configuração com emissor
polarizado. Isto é,

(4.38)
4.4 - CONFIGURAÇÃO COM
REALIMENTAÇÃO DE COLETOR

Podemos obter uma melhoria na


estabilidade do circuito introduzindo uma
realimentação de coletor para a base, como
mostra a Figura 4.38. Apesar de o ponto Q
não ser totalmente independente de beta
(mesmo sob condições aproximadas), a
sensibilidade a variações de beta ou da
temperatura costuma ser menor do que
aquela existente em configurações com
divisor de tensão e emissor polarizado.
Novamente, a análise será refeita, em
primeiro lugar, pela análise da malha base-
emissor e, em seguida, pela aplicação dos
resultados à malha coletor-emissor.
4.4 - CONFIGURAÇÃO COM
REALIMENTAÇÃO DE COLETOR
Figura 4.40 – Malha coletor-emissor
para o circuito da Figura 4.38.
EXEMPLO 4.12
SOLUÇÃO
EXEMPLO 4.13
SOLUÇÃO
EXEMPLO 4.14
SOLUÇÃO
EXEMPLO 4.15

Figura 4.44 – Curvas características de TBJ.

Figura 4.43 – Circuito para o Exemplo 4.15.


SOLUÇÃO

Figura 4.45 – Definição do ponto Q para a configuração


de polarização por divisor de tensão da Figura 4.43.
4.5 - CONFIGURAÇÃO SEGUIDOR
DE EMISSOR

As seções anteriores apresentaram


configurações em que a tensão de saída é
normalmente retirada do terminal coletor
do TBJ. Esta seção examinará uma
configuração na qual a tensão de saída é
retirada do terminal emissor, como mostra
a Figura 4.46. A configuração dessa
figura não é a única em que a tensão de
saída pode ser retirada do terminal
emissor. Na verdade, qualquer uma das
Figura 4.46 – Configuração do coletor-comum configurações já descritas pode ser usada,
(seguidor de emissor). desde que haja um resistor no ramo
emissor.
4.5 - CONFIGURAÇÃO SEGUIDOR
DE EMISSOR
EXEMPLO 4.16

Determine VCEQ e IEQ no circuito da Figura 4.48.

Figura 4.48 Exemplo 4.16.


SOLUÇÃO
4.6 - CONFIGURAÇÃO BASE-COMUM

A configuração base-comum é única na medida em que o sinal aplicado é ligado ao


terminal emissor e a base está no potencial do terra, ou ligeiramente acima dele. Trata-se
de uma configuração comumente usada porque, no domínio CA, ela tem uma impedância
de entrada muito baixa, uma impedância de saída alta e um bom ganho.
Uma típica configuração base-comum aparece na Figura 4.49. Note que duas
fontes são usadas nessa configuração, e que a base é o terminal comum entre o emissor
de entrada e o coletor de saída.

Figura 4.49 – Configuração base-


comum.
4.6 – CONFIGURAÇÃO BASE-COMUM

Figura 4.50 – Equivalente CC de entrada


da Figura 4.49.
4.6 – CONFIGURAÇÃO BASE-COMUM

Figura 4.51 – Determinação de VCE e VCB.


4.6 – CONFIGURAÇÃO BASE-COMUM
EXEMPLO 4.17

Determine as correntes IE e IB e as tensões VCE e VCB para a configuração base-


comum da Figura 4.52.
SOLUÇÃO
4.7 - CONFIGURAÇÕES DE
POLARIZAÇÕES COMBINADAS

Existem diversas configurações de polarização de TBJ que não se enquadram


nos modelos básicos analisados nas seções anteriores. No entanto, o principal objetivo
aqui é enfatizar as características do dispositivo que permitem uma análise CC da
configuração e estabelecer um procedimento geral para a solução desejada. Para cada
configuração discutida até o momento, o primeiro passo tem sido a obtenção de uma
expressão para a corrente de base. Uma vez conhecida a corrente de base, é possível
determinar diretamente a corrente de coletor e os valores de tensão do circuito de
saída. Isso não implica que todas as soluções seguirão esse caminho, mas sugere um
roteiro possível, caso uma nova configuração seja encontrada. O primeiro exemplo
trata simplesmente de um circuito em que o resistor de emissor foi retirado da
configuração com realimentação de tensão da Figura 4.38. A análise é bastante
semelhante, mas requer que RE seja retirado da equação aplicada.
EXEMPLO 4.18

Para o circuito da Figura 4.53:


a) Determine ICQ e VCEQ.
b) Determine VB, VC, VE e VBC.

Figura 4.53 Realimentação de coletor com


RE = 0 Ω.
SOLUÇÃO
EXEMPLO 4.19

Determine VC e VB para o circuito da Figura 4.54.

Figura 4.54 Exemplo 4.19.


SOLUÇÃO
EXEMPLO 4.20

Determine VC e VB no
circuito da Figura 4.55.

Figura 4.55 Exemplo 4.20.


SOLUÇÃO

Figura 4.56 Determinação de RTh.

Figura 4.57 Determinação de ETh.


Figura 4.58 Substituição do circuito equivalente de Thévenin.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOYLESTAD, Robert L.; NASHELSKY, Louis. Dispositivos


Eletrônicos E Teoria de Circuitos. Prentice Hall. 11a Ed. 2013

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