Arquitetos podem ter desistido da ideia de que a 'comunidade' pode ser criada por design, mas a questão de se a

arquitetura pode ter algum efeito social ainda está tão aberta quanto sempre esteve. Após vários anos de pesquisa
financiada pela SERC, Bill Hillier, Julienne Hanson, John Peponis, John Hudson e Richard Burdett da Unidade de
Estudos Arquitetônicos na Bartlett têm uma proposição modesta, mas ainda assim fundamental, em resposta a essa
pergunta. Se for verdadeira, isso poderia ter implicações de longo alcance para o design urbano e o
desenvolvimento. Fotografias por Dougie Firth.

A maioria dos arquitetos hoje acredita que algo

deu terrivelmente errado com o design do espaço
urbano. Não importa o quanto eles tentem, eles
não parecem capazes de recriar a vitalidade
informal que uma vez contribuiu tanto para a
qualidade da vida urbana.

A busca pela 'urbanidade' tornou-se um tema

central na arquitetura, subjacente a uma crescente
variedade de estilos e movimentos concorrentes,
assim como se tornou uma grande preocupação no
aumento do número de investigações públicas
sobre o desenvolvimento urbano. As vilas urbanas
neo-vernáculas (como o Odhams housing em
Covent Garden e o conjunto habitacional Marquess
Road em Islington) e os gestos neo-historicistas
mais grandiosos de Aldo Rossi, Ricardo Bofill e
Robert e Leon Krier estão tão relacionados a isso
quanto as investigações espetaculosas de Coin
Street e Limehouse Basin no rio Tâmisa.

Desaparecimento do design consciente

Para muitas pessoas, o problema não é a

arquitetura, mas a falta dela, e é visto como um
problema institucional. A arquitetura do espaço
urbano foi perdida no intervalo entre arquitetura e
planejamento. Regras e regulamentos
fragmentados tomaram o lugar do design
consciente. A principal culpa, segundo aqueles que
apoiam esse argumento, recai sobre a insistência
dos planejadores em princípios de 'zoneamento' ou
sobre o engenheiro de tráfego e a impossibilidade
de conciliar.

1. (página anterior) Uma reação às falhas

no design urbano pós-guerra é a escola de
design neo-vernacular urbano-vila.
Apesar das boas intenções, o resultado é
essencialmente um deserto urbano.

2. O método de análise urbana

"townscape" de Gordon Cullen é muito
localizado; em outras palavras, visto de
um ponto de vista.

3. Embora o conjunto habitacional

Marquess Road em Islington
provavelmente tenha sido projetado a
partir dessa visão localizada e específica
da cidade, o que deve ser compreendido
são as propriedades globais de cidades
ordenadas de maneira irregular.

4. Com suas técnicas globais de análise

axial e convexa, a sintaxe do espaço,
como método de análise urbana, pode
sugerir algumas razões para as
inadequações de espaços urbanos, como o
conjunto habitacional Marquess Road.

48 AJ | 30 de Novembro 1983
A vida urbana com o automóvel pode, até
certo ponto, ser inegável. No entanto, isso não
pode ser toda a história. Por um lado, estamos
cercados por ambientes urbanos herdados que
se adaptaram perfeitamente bem à vida
moderna, e por outro, parece exatamente onde
a arquitetura fez seus esforços mais intensos
para reinterpretar o espaço urbano que os mais
notórios 'desertos urbanos' são encontrados,
desde as 'ruas no ar' e 'salas urbanas' do
'modernismo social' até as aldeias verdes
desocupadas e becos da vernácula de
brinquedo.
O problema, deve ser admitido, é um
problema de conhecimento - conhecimento
arquitetônico. Há uma lacuna substancial em
nosso conhecimento das implicações sociais
de decisões estritamente formais, e portanto
arquitetônicas. Não há uma descrição e
explicação adequadas de por que certos tipos
de padrões espaciais parecem inevitavelmente
levar àquela sensação curiosa de uma
arquitetura desencarnada, desprovida de
contato e atividade humanos, assim como não
há uma compreensão do porquê do espaço
urbano comum do passado fornecia tão
facilmente um cenário para a vida que hoje
parece frequentemente ausente.
O problema conceitual
Acreditamos que essa falta de conhecimento -
e provavelmente a perda de responsabilidade
também - decorre de uma dificuldade
conceitual. Os designers não têm conceitos e
técnicas que lhes permitam descrever e
investigar os tipos de ordem espacial
encontrados em objetos físicos altamente
complexos, como cidades. É porque os
designers de hoje não compreendem
adequadamente a lógica espacial que não
conseguem desenvolver uma compreensão
adequada de suas consequências sociais.
O problema é um que a arquitetura
compartilha com muitos outros ramos do
conhecimento: o entendimento de padrões de
relações espaciais. Toda arquitetura trata
desses padrões, e é muito difícil até mesmo
descrevê-los de uma maneira que ajude nossa
compreensão. No espaço urbano, um esboço
de Gordon Cullen pode nos mostrar
propriedades de padrões que podem ser
observadas de um único ponto. Mas o espaço
urbano - na verdade, todo espaço arquitetônico
- é algo que deve ser compreendido a partir de
muitos pontos se quisermos entender sua
natureza social e suas consequências.
Representação visual, como a de Cullen, dá ao
designer uma visão muito local, enquanto
argumentamos que as propriedades globais de
padrões espaciais devem ser compreendidas.
Na arquitetura, isso é, como podemos mostrar
agora, uma questão estritamente prática, pois a
principal descoberta de nossa pesquisa sobre o
espaço urbano é que é a organização global do
espaço que atua como o meio pelo qual
cidades e áreas urbanas podem se tornar
mecanismos poderosos para gerar, sustentar e
controlar padrões de movimento das pessoas.
Nossa pesquisa mostrou que a organização
espacial - além de quaisquer efeitos devido à
localização de instalações e densidade
populacional - tem um efeito crucial nas
maneiras como as pessoas se movem por uma
área urbana e, portanto, nas maneiras como as
pessoas se tornam automaticamente
conscientes umas das outras.
Bem-estar social
A consciência dos outros talvez não seja o que
os sociólogos chamaram de 'comunidade'; é
mais como uma comunidade latente ou
'virtual' que passamos a acreditar ser
importante por si só, porque oferece uma
sensação de segurança e pertencimento que
pode florescer em uma comunidade. Qualquer
que seja seu status sociológico, esta
comunidade virtual é, na verdade, a
contribuição distintamente arquitetônica feita
para o bem-estar social.
O problema fundamental do design urbano
recente é que, não importa como seja
disfarçado, ele segue uma filosofia de enclaves
que promove o design de aglomerados de
casas fechados e voltados para o interior. Essa
atitude está tão profundamente enraizada que
muitas vezes é aceita como certa,
especialmente desde que o princípio do
'espaço defensável' de Oscar Newman -
baseado na duvidosa teoria da territorialidade -
persuadiu muitos de que tinha alguma base
científica.
Agora temos certeza de que,
independentemente do design, nenhuma
filosofia arquitetônica de enclaves pode
resolver o problema de recriar a urbanidade.
Toda arquitetura de enclave reflete uma
concepção excessivamente localizada do
design. A forma como os edifícios são
dispostos ao redor de espaços específicos é
importante, mas essa forma de disposição
espacial nunca pode reproduzir a urbanidade.
Como um espaço se encaixa em uma área é
um determinante mais importante. A
urbanidade e a comunidade virtual são
produtos da organização em uma escala maior
do espaço, ou seja, do design global.
O que é a sintaxe do espaço?
A sintaxe do espaço é um método que
desenvolvemos na Unidade de Estudos
Arquitetônicos da Bartlett para descrever e
analisar padrões de espaço arquitetônico, tanto
no nível do edifício quanto no urbano. A ideia
é que, com um método objetivo e preciso de
descrição, podemos investigar como os
ambientes funcionam, relacionando
rigorosamente variáveis sociais às formas
arquitetônicas. Podemos assim simular o
desempenho de esquemas reais e hipotéticos
no computador, para que ele possa ser usado
como uma ferramenta de design sugestiva e
avaliativa.
Obviamente, a eficácia da ferramenta de
design será apenas na medida em que
podemos estabelecer princípios gerais
relacionando a forma espacial aos resultados
sociais, verificando observações em relação às
simulações computacionais.
Efeitos Espaciais
A pesquisa utilizando este método na Bartlett
envolveu a análise e simulação de mais de 100
cidades, áreas urbanas e propostas de design,
além da observação sistemática de 15
exemplos. Claramente, há muito a ser
investigado e explicado. No entanto, nossos
resultados mostram inequivocamente que a
organização espacial de cidades e áreas
urbanas afeta padrões de movimento e uso de
acordo com princípios bem definidos, que se
relacionam com a inteligibilidade do espaço -
ou seja, quão facilmente os habitantes podem
distinguir entre o padrão maior do espaço e as
partes locais; a continuidade de ocupação -
isto é, se existem bolsões de espaço não
utilizado ou subutilizado em uma área; e a
previsibilidade do espaço - quão bem o padrão
potencial de encontro pode ser previsto a
partir do padrão espacial (consulte o Apêndice
na página 63). Todos esses termos podem ser
precisamente definidos e avaliados, mas antes
de fazer isso, devemos explicar o método de
análise.
AJ | 30 de Novembro 1983 49

Space syntax
Definindo o método
Primeiro, devemos definir o que entendemos
por ordem espacial, e aqui nos deparamos com
um problema, a saber, que a maioria das ideias
sobre ordem espacial são, em geral,
geométricas, enquanto muitos ambientes
urbanos não são - frequentemente parecem
estar em uma espécie de desordem. No entanto,
ordem geométrica e ordem espacial não são
necessariamente a mesma coisa; suas
propriedades locais e globais podem ser
bastante diferentes.
Grade deformada
A disposição dos edifícios em Apt, no sul da
França, cria o tipo de arranjo de espaço aberto
público que chamamos de grade deformada,
como visto na figura 6. É a deformação da
grade que traz a diferenciação local - que
distingue as partes umas das outras - e fornece
os meios pelos quais os habitantes podem
reunir as partes em um todo coerente. O que
queremos dizer com uma grade deformada?
Primeiramente, em comparação com uma grade
ortogonal
grade ortogonal, o comprimento das linhas de
visão de espaços específicos - sua extensão
unidimensional - às vezes é restrito e às vezes
estendido, como mostrado na figura 8. Essa
extensão unidimensional é chamada de
axialidade. Em segundo lugar, a largura dos
espaços - sua extensão bidimensional - varia
consideravelmente. Isso é chamado de
convexidade. Em Apt, os edifícios parecem
estar dispostos de maneira a criar um fluxo
contínuo de espaço aberto com seções mais
largas e mais estreitas e perspectivas mais
curtas e mais longas. As "ruas" e espaços mais
largos são sempre alinhados com entradas de
edifícios, deixando poucas áreas com paredes
cegas, conforme ilustrado na figura 12. Além
disso, o layout oferece uma escolha de rotas de
qualquer ponto na cidade para qualquer outro,
com poucos becos sem saída.
Essas descrições um tanto vagas podem ser
formuladas de maneira precisa graficamente,
como mostrado nas figuras 8 a 11. A axialidade
e a convexidade serão demonstradas como
responsáveis pela forma como o espaço - seja
qual for o seu estilo ou forma tridimensional -
estrutura o movimento. Isso não significa que a
terceira dimensão não seja um aspecto
importante de um
apreço arquitetônico pelo espaço urbano, mas
que o movimento das pessoas por uma área
urbana é limitado a duas dimensões.
Organização do Espaço
A ideia de que cada ponto no sistema tem tanto
um aspecto unidimensional quanto
bidimensional difere da ideia de ruas e praças,
onde espaços são esperados para serem
unidimensionais ou bidimensionais. Ver cada
ponto de ambas as maneiras significa que cada
ponto possui tanto uma dimensão local quanto
global. É como essas duas dimensões se unem
que distingue as diferentes características
morfológicas de diferentes tipos de cidades e
áreas urbanas. Tanto a organização convexa
quanto a axial do espaço constituem uma
interface entre o espaço aberto e os edifícios.
Em Apt, é perceptível que quase todo espaço
convexo - e, portanto, cada linha axial - é
diretamente acessível a pelo menos uma
entrada de prédio, como mostrado na figura 12.
Isso, na verdade, é uma propriedade normal de
muitos espaços urbanos tradicionais e o oposto
da maioria dos esquemas neo-vernáculos
recentes, como visto no conjunto habitacional
Marquess Road, figura 13.

Ordem inteligível
5. Um esquema altamente geométrico, como a 'nova vila
socialista' de Ricardo Bofill na Argélia, parece uma ordem
inteligível quando visto de cima em duas dimensões, quando
pode ser compreendido como um todo. Mas pode não ser
inteligível quando alguém se move nele porque partes são
repetidas.
6. Em contraste, cidades tradicionais, como Apt, no sul da
França, muitas vezes são caracterizadas por um padrão
irregular não ortogonal, onde a grade urbana é 'deformada'
para gerar uma qualidade espacial rica e variada. É muito
difícil ver qualquer ordem espacial inteligível em tais cidades.
7. Mesmo cidades como Nova York, que à primeira vista
parecem organizadas em um plano de grade, frequentemente
têm a mesma propriedade espacial de Apt, introduzindo um
grau de deformidade na grade urbana.

Ferramentas de análise
8. Qualquer ponto no espaço aberto de uma área urbana pode
ser visto se estendendo linearmente (ou axialmente) em uma
dimensão - a linha de A para B - e também convexamente em
duas dimensões (a área tonal).
9. Por definição, qualquer segmento convexo não conterá
partes côncavas, b. Dois pontos em um segmento convexo
podem ser unidos por uma linha reta que não ultrapassa os
limites do espaço, a.
10. Um mapa axial consistirá nas linhas retas mais poucas e
longas que cobrem toda a superfície de uma cidade, levando
em consideração até onde você pode ver e até onde pode
andar. Como uma maneira de ver e experimentar uma cidade,
um mapa axial oferece a perspectiva mais 'globalizadora', já
que uma linha axial se estenderá enquanto pelo menos um
ponto for visível e diretamente acessível a partir dela.
11. Um mapa convexo será composto pelos maiores e mais
gordos espaços convexos que cobrem toda a área sendo
analisada. Um espaço convexo é o mais 'localizado', pois sua
fronteira é definida por cada ponto que é diretamente
acessível a todos os outros pontos nesse espaço convexo.
12. Uma rua típica em Apt. A tentação para o designer é
imitar a aparente desordem tridimensional sem compreender
um padrão espacial bidimensional mais sutil.
13. (página oposta) Uma visão típica do conjunto habitacional
Marquess Road, que mostra uma superconcentração em uma
desordem visual deliberada.

50 AJ | 30 de Novembro 1983

Space syntax
Comparação urbana
Nesta fase, é útil introduzir uma distinção
fundamental entre os tipos de pessoas que são
afetados pela disposição física do espaço: os
habitantes (que vivem ao lado ou perto de um
grupo específico de espaços) e os estranhos
(que não pertencem a um conjunto específico
de espaços, mas passam por eles a caminho de
outra área).
Habitantes e estranhos
Embora a presença de estranhos seja
geralmente aceita como sendo crucial para criar
consciência dos outros e vivacidade em áreas
urbanas, eles também desempenham um papel
importante na vigilância do espaço. Ao
contrário da teoria do 'espaço defensável' de
Oscar Newman, que enfatiza os habitantes
policiando o espaço e excluindo estranhos,
nossa pesquisa nos levou a concluir que são os
estranhos que vigiam o espaço, e os habitantes
que vigiam os estranhos, gerando assim um
controle 'automático' em uma área sem o uso de
grupos de vigilantes, eletrônicos
supervisão ou simplesmente trancando
estranhos do lado de fora e, assim, reduzindo
certos crimes de rua.
A interação e acessibilidade para estranhos e
habitantes são profundamente influenciadas
pela organização convexa e axial de uma área
urbana e sua interface com os edifícios. A
estrutura axial da cidade permite que estranhos
entrem em uma área, como mostrado na figura
16, ou, inversamente, os mantém fora tornando
difícil a passagem, conforme ilustrado na figura
24. A organização convexa do espaço e a
interface com os edifícios - seja através de
paredes cegas ou barreiras que distanciam os
edifícios do espaço urbano público - podem
afetar igualmente a relação entre habitantes e
seus vizinhos, e entre habitantes e estranhos.
Comparação de grades deformadas
Essas relações podem ser esclarecidas
analisando os mapas axiais e convexos de Apt,
como mostrado nas figuras 14 a 18. Vamos
contrastar esse padrão de layout em Apt com
uma tentativa típica de recriar espaço urbano, o
conjunto habitacional Marquess Road em
Islington, conforme ilustrado nas figuras 22 a
26.
Esse conjunto habitacional, construído no meio
da década de 1970 como habitação de
autoridade local, foi projetado para remediar o
efeito de "deserto urbano" de muitos esquemas
de arranha-céus dos anos 1960. Nossa
experiência cotidiana com esse conjunto
habitacional e a observação sistemática dos
padrões de ocupação confirmaram que ele
difere muito menos do que o esperado dos
ambientes hostis que procurava substituir. Ele é
cronicamente subocupado.
Tradição contrariada
Uma análise cuidadosa da 'sintaxe' de Marquess
Road, como mostrado nas figuras 22 a 26,
revela que o que inicialmente parecia um
padrão morfológico tradicional, na verdade,
contradiz os princípios sintáticos básicos pelos
quais o espaço constrói relacionamentos entre
habitantes e entre habitantes e visitantes.
Ambos os exemplos são grades deformadas,
mas a maior deformação em Marquess Road
leva a um padrão espacial com características
sociais potencialmente diferentes de maneira
fundamental. Assim, a super-fragmentação de
Marquess Road resultou em uma toca de
coelho labiríntica em vez de uma vila urbana.

Apt e Marquess Road Comparados

14. O segmento selecionado para análise em Apt, uma cidade
no sul da França.
15. Um plano detalhado de parte de Apt mostra como as ilhas
de edifícios formam um sistema de espaços abertos que
variam em largura e comprimento; os segmentos de espaço
mais "gordos" são conectados por segmentos "mais longos",
como contas em um cordão. Todo o sistema de espaço aberto
é alinhado com entradas dos edifícios, criando uma interface
direta entre as partes "fechadas" e "abertas" das áreas
residenciais.
16. O mapa axial de Apt mostra como a maioria das áreas
centrais no coração geométrico da cidade é facilmente
acessível a partir do entorno (por exemplo, de A para B).
Apenas uma ou duas mudanças de direção - passos axiais -
são necessárias para chegar ao centro vindo de fora da cidade.
É axialmente raso, o que é típico de muitas cidades
tradicionais, especialmente aquelas cuja existência depende
de atrair visitantes ou transeuntes para as áreas comerciais da
cidade. Além disso, pode-se observar que, embora partes da
cidade sejam facilmente acessíveis, outras são mais difíceis de
alcançar - são necessários mais passos axiais (por exemplo, de
E para D).
17. O mapa convexo desta parte de Apt mostra os segmentos
mais poucos e mais gordos que cobrem esta área. O
comprimento e a largura dos segmentos convexos e sua
variedade são características espaciais de cidades tradicionais.
As entradas dos edifícios se abrem diretamente para cada
segmento convexo de espaço, como mostrado na figura 21.
Apenas alguns espaços são revestidos por paredes cegas.
18. Quando se sobrepõe o mapa axial ao convexo, pode-se ver
que cada linha axial passa por vários - muitas vezes muitos -
segmentos convexos. Isso garante tanto variação local (a
articulação local muito admirada do espaço vernacular),
quanto é o meio pelo qual se percebe como as partes locais
estão integradas à estrutura global da cidade. Isso, somado à
forma como as entradas dos edifícios se relacionam com
todos os espaços convexos, contribui para a formação dessa
qualidade única do espaço urbano.
19. Em contraste com as qualidades espaciais de Apt, as do
conjunto habitacional Marquess Road emanam das teorias de
espaço defensável de Oscar Newman. A sintaxe do espaço
questiona seriamente a base das teorias de Newman.

52 AJ | 30 de Novembro 1983
22. Um segmento do conjunto habitacional Marquess
Road foi analisado; a parte mostrada aqui foi examinada
em detalhes.
23. À primeira vista, o plano do conjunto habitacional
Marquess Road em Islington parece reproduzir a
disposição informal de uma vila vernacular, com ruas
estreitas, caminhos e praças de vila. Note que a
disposição dos jardins da frente geralmente distancia as
portas da frente dos espaços públicos, como mostrado na
figura 20.
24. O mapa axial do conjunto destaca um dos equívocos
mais comuns sobre formas urbanas tradicionais
encontradas entre designers contemporâneos: a
organização axial é muito fragmentada, com uma alta
porcentagem de linhas axiais curtas dispostas
ortogonalmente entre si. Não há linhas axiais que
permitam penetrar no centro geométrico do esquema a
partir dos arredores. O resultado é um sistema que é
axialmente profundo desde o exterior e outras partes do
conjunto. Para chegar ao ponto 8 a partir do ponto A -
uma distância semelhante à mesma jornada em Apt, 16 -
são necessários pelo menos oito passos axiais em
Marquess Road, aumentando assim a profundidade geral
do sistema. Isso torna mais difícil para estranhos - ou
outras pessoas que vivem no conjunto - passar,
aumentando assim a segregação do esquema em relação
aos arredores. Em vez de criar um ambiente
aconchegante e íntimo, argumentamos que a organização
do espaço contribuiu para seu isolamento e desolação.
25. O mapa convexo revela problemas igualmente
difíceis: as portas da frente das casas estão concentradas
ao redor de alguns espaços convexos, dificultando para
os habitantes reconhecerem onde vivem seus vizinhos.
26. Quando se sobrepõem o convexo ao mapa axial,
parece que os espaços convexos, em vez de serem
enfiados ao longo de uma linha axial, são frequentemente
tão longos quanto as próprias linhas axiais, de modo que
a inteligibilidade do todo não é evidente no nível local.
Essa propriedade espacial peculiar pode explicar por que
muitas pessoas no conjunto parecem perdidas e por que
existem muitas praças pequenas e aberturas de difícil
acesso de qualquer outra parte do esquema. Isso também
pode explicar o surgimento repentino de pessoas (para
grande surpresa dos habitantes) devido à fragmentação
axial do layout.

AJ | 30 de Novembro 1983 53

Space syntax
Testando a análise
Para compreender adequadamente a relação
entre o espaço e as pessoas, e a fim de poder
testar nossas hipóteses, precisamos de
ferramentas mais poderosas e precisas. Os
conceitos que introduzimos podem levar a
maneiras simples de obter certas propriedades-
chave do espaço em forma numérica, de 27 a
31.
Padrão de profundidade
O conceito de profundidade é uma das
propriedades relacionais mais importantes na
sintaxe do espaço. A profundidade existe onde
é necessário passar por uma série de espaços
intermediários - axiais ou convexos - para
alcançar um espaço. A superficialidade é
quando a rota entre espaços é mais direta. Por
exemplo, os mapas axiais de Apt e Marquess
Road demonstram dois extremos de
profundidade, de 82 a 35.
Para esclarecer o ponto de que a profundidade
pode ser vista e experimentada de qualquer
ponto dentro ou fora de um sistema de espaços,
o mapa axial (ou convexo)
pode ser transformado em um gráfico. O
sistema específico pode então ser representado
como um diagrama de profundidade a partir de
qualquer ponto escolhido, por exemplo, da
praça da cidade ou áreas periféricas, $0,31.
Essa diferença pode ser calculada
numericamente para fornecer um índice preciso
de profundidade ou superficialidade relativa de
qualquer sistema espacial, visto de um ponto
específico (consulte o Apêndice).
Se diferentes áreas urbanas podem ser
comparadas graficamente e numericamente,
então o mesmo sistema pode ser analisado a
partir de diferentes espaços dentro dele. Isso
indicará uma diferença muitas vezes
inesperadamente grande, em termos de
estrutura de profundidade, no mesmo sistema
visto de pontos diferentes. O mapa axial de Apt
parece muito diferente da linha axial 29 (uma
das áreas residenciais mais tranquilas) com
uma profundidade relativa maior (RD = 1,48)
do que da linha axial 1, a área do mercado (RD
= 0,56). O ponto crucial é que cada espaço
pode receber um valor que caracteriza sua
relação com todos os outros espaços no
sistema, proporcionando assim um índice
global para cada espaço.
A média de todos esses valores de
profundidade representará então a
profundidade ou superficialidade do sistema
como um todo, possibilitando a comparação
dos padrões de profundidade de diferentes
cidades e áreas urbanas.
Integração e segregação
Somente ao comparar numericamente os
valores de diferentes espaços podemos revelar
uma das propriedades fundamentais da
organização espacial de cidades e áreas
urbanas: sua estrutura de integração. As
cidades são organizadas de maneira a dar
prioridade a certos espaços: a praça principal
ou a rua principal comum tenderá a ser mais
rasa e, portanto, mais geralmente acessível do
que áreas mais isoladas, mais profundas e
tranquilas. Instalações comerciais e públicas
importantes estarão ao alcance fácil de outras
partes da cidade. Embora hoje em dia
possamos, até certo ponto, superar tanto a
distância métrica quanto a sintática usando
transporte moderno, nossa pesquisa sugere que
a diferença-chave na qualidade urbana entre
espaços reside parcialmente em quão bem os
espaços estão integrados com seu entorno.
Ao analisar a profundidade relativa 59

Comparando padrões espaciais

27. Se todas as linhas do mapa axial de Apt forem codificadas
numericamente, é possível desenhar um gráfico justificado ou um
diagrama de profundidade usando um computador. Pode-se
escolher qualquer ponto em uma linha axial. Em Apt, um diagrama
de profundidade desenhado a partir de um ponto na linha axial 29
[ver figura 31), uma área residencial tranquila, quando comparado
com um diagrama de profundidade desenhado a partir de um ponto
na linha axial 1 (ver figura 30), a área do mercado, mostra valores
de profundidade relativa (RD) muito diferentes. (Os pontos 1 e 29
são colocados na linha de base do gráfico; todos os espaços (neste
caso, linhas axiais) a um passo axial desses pontos são colocados
uma linha acima no nível de profundidade 1; todos os espaços a
dois passos axiais de profundidade são colocados duas linhas
acima, e assim por diante, até que todos os espaços da cidade
tenham sido incluídos. Em seguida, as estruturas de profundidade
de diferentes cidades e áreas urbanas podem ser comparadas.) 28
Plano de Marquess Road com linhas axiais codificadas
numericamente. 29 Este diagrama de profundidade é desenhado a
partir do ponto de entrada para a propriedade Marquess Road.

Integração e segregação

30. Uma linha axial que é rasa de todos os pontos (como exibido
pelo computador ao comparar todos os diagramas de profundidade
de todos os pontos no sistema) é integrada, enquanto uma que é
profunda, 31, será segregada da cidade ou área urbana.
32, 33 O conjunto das linhas axiais mais integradas, as 10% mais
integradas em Apt (o núcleo de integração), pode ser desenhado no
mapa das linhas axiais (em linhas vermelhas grossas). A
porcentagem de espaços selecionados para definir tal núcleo varia
de acordo com o tamanho. As 10% das linhas axiais mais
integradas claramente destacam a estrutura subjacente da
integração global, enquanto em áreas urbanas maiores é suficiente
observar as 5% das linhas axiais mais integradas. O conjunto dos
espaços mais segregados - neste caso, 50% do total - é selecionado
a partir da impressão do computador e sua distribuição pela área
urbana indicará a posição das áreas segregadas, ou mais
inacessíveis, na cidade (veja linhas pretas espessas). Com esse
conhecimento, podemos avaliar quaisquer ajustes ou adições à
cidade. Quanto mais um espaço é integrado, mais ele pode
aproveitar o padrão existente de movimentos populacionais.

54 AJ | 30 de Novembro 1983
e atribuindo um valor numérico a cada espaço,
podemos ter uma ideia da integração relativa de
cada espaço. Uma linha axial que é rasa de
todos os pontos será integrada, 30, enquanto
uma que é profunda será segregada, 31.
Avaliando a integração
Isso nos permitirá não apenas entender a
estrutura existente de uma área identificando
suas partes mais integradas e segregadas, mas
também permitirá que uma proposta de design
seja encaixada no local existente para que
possamos avaliar seu efeito no padrão total de
integração. Simplesmente, se for proposta uma
nova rua comercial, será possível calcular se o
espaço será bem integrado ao seu entorno.
Claramente, quanto mais um espaço for
integrado, mais ele poderá explorar o padrão
existente de movimento de pessoas causado
pela disposição do espaço.
Depois que os valores relativos de
profundidade ou integração forem calculados
(manualmente para sistemas pequenos ou por
computador para sistemas maiores), os
resultados mostrarão a distribuição dos espaços
mais integrados ou segregados em uma cidade,
32-35.
Vamos comparar novamente Apt e a
propriedade Marquess Road. Apt possui um
núcleo integrado que forma um padrão em
forma de cruz que atravessa a cidade, ligando o
centro ao exterior, 33. Isso confirma a natureza
global do arranjo espacial porque o núcleo
integrado liga as ruas e praças centrais
comerciais ao exterior, facilitando o acesso. As
áreas segregadas tendem a formar aglomerados
contínuos de espaços nos quatro quartos ou
interstícios do núcleo de integração. Esses
espaços são, na verdade, os bairros residenciais
de Apt.
O delicado equilíbrio entre a posição dos
espaços orientados globalmente (o núcleo de
integração) contendo lojas, escritórios, etc., e as
áreas residenciais locais (as zonas segregadas)
cria a variação sutil na intensidade espacial das
cidades tradicionais: não há distinções
grosseiras em espaço semi-privado, semi-
público e público encontradas em cidades
modernas. Em vez disso, a diferenciação
'social' é alcançada por meio do arranjo do
espaço.
Qualquer padrão espacial produzirá um
conjunto de espaços mais integrados ou
segregados. Uma grade perfeita fornecerá os
mesmos valores para cada espaço, enquanto
uma grade deformada produzirá uma
distribuição não uniforme que distingue as
diferentes partes de uma cidade. É como essas
propriedades são distribuídas e como se
relacionam com a organização convexa e a
interface que deve ser compreendido na
investigação da estrutura de uma determinada
área, 36.
Controle local
Embora a integração possa representar a
relação global de um espaço, as propriedades
sintáticas locais podem ser encontradas
considerando as relações entre um espaço e
seus vizinhos.
A relação entre essas medidas locais e
globais - tão importantes na teoria quanto na
prática - nos permitiu construir um modelo
teórico e sugestivo de espaço urbano que define
as principais características espaciais de
inteligibilidade, continuidade de ocupação e
previsibilidade (consulte o Apêndice).

34, 35 Em Marquess Road, o núcleo integrado não é

contínuo e concentra-se nas bordas do conjunto
habitacional em vez de conectar as partes centrais ao
exterior. Isso explica outra descoberta de nossas
observações sobre o conjunto, a saber, que a maioria das
pessoas foi vista nas áreas periféricas, e também explica a
desolação da maioria das áreas internas, que geralmente são
muito segregadas. O layout fragmentado do conjunto
habitacional - resultante da filosofia de enclave - produz
espaços amplos e inacessíveis que estão distantes dos
espaços integrados no núcleo, criando assim uma fortaleza
na paisagem urbana pode aproveitar o padrão existente de
movimentos populacionais.

Comparando exemplos
36a. Este é um exemplo de um núcleo globalmente
integrado: os espaços mais integrados (em vermelho)
conectam o centro ao exterior, formando um padrão
semelhante a uma roda. Os espaços mais segregados (em
preto) formam aglomerados nos interstícios da roda. Na
maioria dos tipos de cidades tradicionais, são os espaços
mais integrados que são alinhados com as principais
instalações comerciais e passam pelos principais espaços
convexos ou praças da cidade para maximizar o movimento
de pessoas pela cidade. As áreas segregadas tendem a ser
áreas residenciais tranquilas, que não são hierarquicamente
separadas dos movimentados espaços públicos, mas estão
sempre próximas ao "núcleo integrado".

36b. Exemplo de uma área urbana em que os espaços mais

integrados estão distribuídos ao redor das bordas e não
penetram no coração geométrico da área. Ao contrário, os
espaços mais segregados formam um núcleo inacessível no
centro.

36c. Exemplo de uma área em que o núcleo integrado está

envolto firmemente ao redor do centro, criando um núcleo
integrado voltado para dentro que é inacessível do exterior.
Os espaços segregados formam uma faixa ao redor da
borda da área.

36d. Exemplo de uma área que tem um núcleo integrado

que forma um padrão semelhante a uma árvore por toda a
cidade - ligando assim o centro ao exterior - mas deixando
duas grandes zonas de espaços segregados inacessíveis em
ambos os lados do núcleo integrado.

AJ | 30 de Novembro 1983 59

Space syntax
O estudo de caso de
Limehouse
Com a sintaxe espacial, é possível abordar de
maneira inovadora o design urbano. Ao
compreender a estrutura da organização da área
circundante a um local específico, pistas
valiosas serão fornecidas sobre a "natureza
espacial" de qualquer esquema proposto. Um
arquiteto pode optar por integrar ou não um
novo projeto com o entorno e aproveitar os
padrões existentes de movimento e ocupação.
No entanto, a sintaxe espacial permite que uma
proposta seja inserida no tecido urbano
existente, para que as pessoas possam avaliar o
impacto do esquema em toda a área e vice-
versa. Essa nova abordagem, passível de teste e
avaliação, chamamos de 'design global’
Sintaxe espacial em ação
A polêmica investigação sobre o século XX e pelo declínio da indústria e
desenvolvimento da Bacia de Limehouse nas
docas de Londres fornece um bom estudo de
caso (AJ 21.4.82) porque há várias propostas
que afirmam contribuir para a integração social
da área com a comunidade existente. A
variedade de soluções formais e argumentos
sociais se presta a uma análise precisa,
conforme segue.
Análise da Limehouse
agora
37. A área ao norte da Bacia de Limehouse é
organizada no padrão tradicional de blocos
habitacionais e ruas. Existe uma grade
'deformada' na organização do espaço público
aberto, com os edifícios abrindo diretamente
para ele. Em contraste, a área a leste da bacia
contém diferentes tipos de habitação -
experimentos arquitetônicos desde o início do
século até a década de 1970 - que são
invariavelmente edifícios isolados cercados por
espaço vazio [ao contrário dos padrões
tradicionais de ruas ao norte]. Os blocos
pontiagudos dos anos 1960, 41, não possuem
qualquer estrutura urbana ao nível do solo, e os
principais edifícios comerciais estão
posicionados longe das habitações. A Narrow
Street ao sul da bacia, 40, a antiga Fore Street
do século XVIII, ainda possui alguns edifícios
atraentes e sugere a escala e qualidade da área
urbana antes da 'destruição' causada pelas
intervenções habitacionais.
60 AJ | 30 de Novembro 1983
• A área de West India Dock Road a leste,
Salmon Lane ao norte, Cable Street a oeste e
o Tâmisa ao sul foi analisada e simulada..
• As estruturas axiais de três propostas de
design, de R. Seifert & Partners, Shepheard,
Epstein & Hunter e do Limehouse
Development Group, foram analisadas. Cada
'rede' foi então inserida na área existente para
avaliar as propriedades sintáticas e simular os
padrões de movimento produzidos pelos
esquemas.
• Os núcleos de integração dos quatro sistemas
(o sistema existente e as três propostas)
foram calculados e comparados
graficamente. Os resultados podem ser
resumidos da seguinte forma. A área,
conforme está, é dominada em demasia por
seus espaços periféricos (o Tâmisa, a Bacia
de Limehouse e a Commercial Road) e
carece de foco local e padrões bem
estruturados de movimento pela área. Muito
espaço é mal utilizado, e uma carga excessiva
é suportada por espaços periféricos muito
restritos. A inteligibilidade da área é fraca e
foi piorada por grande parte da habitação do
comércio locais.
• A melhor maneira de integrar a área parece
ser fornecendo um ponto de foco a leste da
Bacia de Limehouse, conectado à Narrow
Street ao sul e às casas a leste, talvez ao
longo da linha do viaduto existente. Sem tais
alterações, qualquer desenvolvimento da
bacia permanecerá isolado e contribuirá
pouco ou nada para o entorno.
38. A disposição em forma de grade do espaço
a oeste e ao norte da bacia torna-se mais
fragmentada à medida que se avança para leste
em direção à habitação entre Narrow Street e
Newell Street, 39. Há poucas rotas diretas
conectando a área de norte a sul - desde os
edifícios comerciais da Saimon Lane até a
Narrow Street e a habitação. O acesso à beira
d'água é difícil, não apenas devido aos limites
de propriedade existentes, mas também pelas
vias públicas e caminhos quebrados.
Atualmente, Limehouse é espacialmente
dominada pela Commercial Road. A maioria
dos espaços integrados se conecta à
Commercial Road e envolve - mas não
circunda - a bacia, estendendo-se da
Commercial Road, Salmon Lane e Newell
Street até a Branch Road. Esses espaços
tendem a ter o tráfego de pedestres (e veículos)
mais intenso. O lado sul da bacia e a área a
sudeste, incluindo grande parte da habitação,
são bastante inacessíveis em comparação com
toda a área. Isso implica que um grande
agrupamento contínuo de espaços no coração
da área está isolado de seu entorno e, portanto,
tenderia a ser subutilizado ou
O principal efeito da proposta de Seifert será
criar uma faixa de zonas relativamente
segregadas e inacessíveis ao redor da bacia, 42-
44. Apesar de parecer mais com um sistema de
ruas concebido globalmente do que a pseudo-
vila de Seifert, o esquema de Shepheard,
Epstein & Hunter terá efeitos semelhantes, 45-
47. O esquema do Limehouse Development
Group concentra-se em um novo mercado local
a leste da bacia, com ligações diretas à Narrow
Street por uma nova estrada, 48-50.
De maneira geral, a proposta do Limehouse
Development Group cria uma estrutura positiva
para a área, que deve desempenhar um papel
importante ao utilizar padrões cotidianos de
movimento para dar vida a uma área urbana
estagnada. Em um nível local, ainda existem
alguns problemas, pois alguns espaços
importantes permanecem supersegregados e
subutilizados. O desenvolvimento adicional
desse esquema deve eliminar esses problemas,
uma vez que a organização global do espaço foi
bem resolvida.
Conclusão
As análises numéricas e gráficas demonstram
um princípio importante: adicionar novo
desenvolvimento compacto ao centro de uma
área não melhorará sua integração com o
entorno. Com todos os seus problemas,
Limehouse está melhor integrada com a bacia
não desenvolvida do que com a proposta de
Siefert & Partners ou de Shepheard, Epstein &
Hunter.
até mesmo não utilizado. A simulação
computacional do movimento pela área
confirma que as bordas do local tenderiam a ser
intensamente utilizadas, enquanto a maioria das
seções centrais seria cronicamente subocupada.
A partir do exposto, fica claro que qualquer
esquema que tente revitalizar a área e reintegrar
a bacia à comunidade existente deve, no
mínimo, levar em consideração a distribuição
da estrutura de integração.
À esquerda, Bacia de Limehouse, objeto de
inquérito público, propostas e análise
espacial.
 Análise do Projeto 1
R. Seifert & Partners

42. Proposta de Seifert para a Bacia de Limehouse.

43. O plano do bloco revela que a imagem acolhedora e
enganadora de tijolos e árvores do plano corre o risco de
reproduzir a disposição não estruturada de edifícios
cercados por espaço vazio, característica da habitação a
leste.
44. A grade deformada de toda a área é radicalmente
alterada pela intervenção de Seifert. O número de linhas
axiais aumenta. O grande número de linhas axiais curtas
contribui para criar uma espécie de labirinto em vez de uma
área urbana. Tal disposição, como mostrado na análise da
Marquess Road (p52), aumenta a desorientação e funciona
como uma barreira para viagens informais pela área.
Dificilmente há espaços que conectam diretamente a
habitação a leste com a beira d'água; em vez disso, a maior
fragmentação do layout espacial tornará mais difícil, além
das fronteiras de propriedade e barreiras, chegar à bacia e às
instalações no esquema proposto a partir do entorno. A
análise confirma que a proposta de Seifert faz pouco ou
nada para melhorar a integração geral da bacia na área. Na
verdade, embora os espaços integrados sejam
aproximadamente os mesmos que na área existente, o
esquema consegue criar um agrupamento de espaços
altamente inacessíveis e segregados ao redor da bacia. As
áreas segregadas, na verdade, mudaram do sudeste da bacia
para ao redor da bacia. Os espaços mais inacessíveis de
todos são aqueles ao longo da borda leste da bacia, o que
invalida a alegação de Seifert de que a água se tornará parte
do domínio público. A análise revela que a proposta de
Seifert vira as costas para a comunidade ao introduzir um
layout estranho.

AJ | 30 de Novembro 1983 61
 Análise do Projeto 2
Shepheard, Epstein & Hunter
45. A análise mostra que Shepheard, Epstein &
Hunter tentaram recriar uma disposição
semelhante a uma rua, com rotas lineares e
instalações mais amplamente distribuídas.
46. O plano do bloco revela como o esquema não
reproduz o padrão tradicional do tecido urbano
circundante, mas, assim como o esquema de
Seifert, é percebido como uma intrusão eficaz na
área. O acesso ao esquema é limitado,
dificultando a chegada à beira d'água. O esquema
proposto mostra uma preocupação com a
organização 'local' do espaço, que não leva em
consideração as propriedades espaciais globais da
área.
47. O mapa axial confirma como o esquema
interrompe a disposição em forma de grade do
entorno. Essa ilha de ruas serpenteantes não se
relaciona com a habitação a leste, e quase todas as
conexões para o norte são interrompidas. A parte
sul da bacia está melhor conectada perto da
Limehouse Gallery, enquanto grande parte das
áreas norte e oeste da bacia é de difícil acesso a
partir do entorno. Como resultado, uma grande
parte do esquema ao norte da bacia é bastante
inacessível. A parte sul da bacia e a beira d'água a
sudeste se integram, mas há uma faixa contínua
de espaços segregados que produzirá o mesmo
efeito de gueto que o esquema de Seifert. As
atividades nas bordas norte e oeste da bacia
tenderão a ser mais introvertidas e exclusivas e
não atenderão às pessoas que vivem a leste. A
análise mostra que este esquema não tem sucesso
na integração da bacia com seu entorno.

Análise do Projeto 3
Limehouse Development Group
48. A análise da proposta do Limehouse
Development Group demonstra que Limehouse
pode ser melhorado e que os outros dois
esquemas não esgotam a gama de possibilidades
arquitetônicas para a área.
49. Este layout diagramático conecta a Bacia de
Limehouse à Narrow Street e ao Tâmisa ao sul,
reconstituindo o tecido urbano nas áreas
habitacionais e ao redor delas. O esquema
também incorpora um mercado a nordeste da
bacia, que atua como foco para a comunidade a
leste e ao norte. A beira d'água da bacia é mantida
o mais acessível possível para ser utilizada pela
comunidade existente.
50. O mapa axial mostra que o número de linhas
axiais foi reduzido e que muitas das ruas
existentes foram estendidas para conectar
habitações e a parte sul do local à bacia e ao
mercado. A estrutura axial do esquema proposto
reproduz as propriedades espaciais gerais do
entorno, de modo que as novas propostas não são
percebidas como uma interrupção, mas como uma
continuação do tecido urbano existente. Os
espaços integrados se estendem da Commercial
Road à Narrow Street, passando pelo mercado
proposto e pela beira d'água da bacia. A habitação
se integra à área e não forma grandes espaços
inacessíveis e desagradáveis. As áreas destinadas
a maximizar o fluxo de pessoas - o mercado
comercial e as ruas de compras - serão mais
movimentadas devido à disposição espacial. Por
outro lado, os escritórios e a habitação de alto
padrão ao norte e oeste da bacia permanecerão
relativamente tranquilos e separados.

62 AJ | 30 de Novembro 1983

Space syntax
Epílogo
Então, tudo isso importa tanto assim?
Certamente, todo mundo agora acredita no que
os sociólogos têm dito aos arquitetos há anos:
que o espaço não importa muito porque as
relações sociais são construídas pelas pessoas,
não pela arquitetura, e elas farão o que
quiserem, independentemente do design.
Nossa resposta a tudo isso está em três
partes. Primeiro, acreditamos que a presença
não forçada de pessoas (ou seja, elas não são
atraídas por ímãs sociais grosseiros) que pode
ser afetada pelo layout espacial é
sociologicamente importante, mas que a
sociologia ainda não nos apresenta conceitos
que permitam formular isso facilmente.
Acreditamos que o desejo e a preocupação dos
arquitetos em garantir que os espaços urbanos
que criam sejam totalmente ocupados e
simplesmente bem utilizados é um objetivo
social valioso. A sensação de ter pessoas ao seu
redor é, acreditamos, tão importante para a vida
bem-sucedida na cidade quanto são as relações
pessoais que ocorrem na maioria dos casos
independentemente, e às vezes por causa, de
juxtaposições e formas específicas de espaços
públicos e edifícios.
Em segundo lugar, acreditamos que sentir-
se seguro em uma cidade depende em grande
parte de áreas estarem em ocupação e uso
contínuos - a sensação de que, mesmo em áreas
urbanas ou suburbanas levemente povoadas,
nunca se está caminhando sozinho.
Space syntax
Apêndice
Inteligibilidade
A inteligibilidade de um sistema é definida
como a correlação entre a integração global e o
controle local. Intuitivamente, isso significa
que a estrutura em grande escala de um sistema
é inteligível para as pessoas que se movem
dentro dele na medida em que as informações
que recebem sobre o espaço em que estão - a
conectividade local e o controle - também
permitem que compreendam a estrutura como
um todo. Isso parece capturar a maneira como
as pessoas podem aprender sobre padrões
amplos a partir de sua experiência com
pequenas partes, ou falhar ao fazer isso quando
a correlação é fraca. Áreas urbanas típicas ou
cidades tenderão a ter uma correlação de
inteligibilidade de cerca de 0,45, enquanto
sistemas não inteligíveis terão valores de 0,2 ou
até menos, onde um valor de 1 é forte e 0 é
aleatório
Previsibilidade
A previsibilidade global é a correlação entre o
valor de integração de um espaço e sua
densidade simulada ou observada de uso e
movimento. Ao tomar a correlação média para
todos os espaços, temos uma figura que
caracteriza a previsibilidade geral de uma área
ou cidade. Isso confirma a intuição cotidiana de
que alguns espaços são silenciosos e outros
movimentados por causa de sua posição no
padrão geral, e isso deve estar relacionado à
posição de diferentes instalações. A
previsibilidade global média do ambiente de
amostra. Uma área urbana em Londres tem
uma previsibilidade média de cerca de 0,8,
enquanto sistemas menos previsíveis ficarão
abaixo de 0,6.
Em terceiro lugar, acreditamos que há uma
relação sutil entre a organização do espaço urbano
e os tipos de sociedade que os ocupam, e de
alguma forma, essa relação é explicada pelo oposto
da teoria da territorialidade. Essa teoria assume que
os indivíduos precisam se expressar espacialmente
por meio da privacidade; as cidades são explicadas
como hierarquias de agrupamentos, expressas em
territórios discretos e relativamente inacessíveis.
Pelo contrário, a teoria e prática da sintaxe espacial
demonstram que as cidades parecem ser
explicáveis em sua forma principalmente como
estruturas espaciais que trabalham contra a
sociedade:o que a sociedade separa, o espaço junta
novamente.
A previsibilidade local será a correlação entre
os valores de controle dos espaços e a densidade de
uso e movimento. Um sistema eficaz de
previsibilidade local terá correlações de cerca de
0,7, o que significa que grandes padrões de
ocupação em uma área podem ser inferidos a partir
da parte visível do sistema em que o indivíduo está.
Continuidade de ocupação
A continuidade em uma estrutura urbana será
indexada pelo viés estatístico da distribuição de
pessoas no espaço. Um sistema altamente
tendencioso ou estruturado será aquele em que
poucos espaços atraem muitas pessoas, enquanto
muitos espaços permanecem vazios ou têm poucas
pessoas para contribuir significativamente para a
vida urbana: é essa condição que caracteriza muitos
ambientes urbanos contemporâneos.
Em geral, áreas urbanas com núcleos de
integração globalmente orientados - que ligam as
áreas internas ao entorno - tenderão a se sair bem
em todas as contagens acima. Mas o núcleo não
deve ser muito forte, ou atrairá movimento demais
em detrimento de outras partes e, portanto,
interromperá o princípio de ocupação contínua.
Poucos espaços superfortes podem drenar a vida
do restante do sistema e concentrar o movimento
em um número limitado de espaços. O princípio do
núcleo forte, mas não superforte, parece bem
confirmado pela observação. Um programa mais
extenso de estudos de simulação sugeriu uma
correlação mais forte entre a inteligibilidade e a
integração do sistema. Quanto mais segregada for a
área, mais fraca será a previsibilidade local - será
mais difícil ler o potencial de encontro de uma área
a partir de suas partes constituintes, e o padrão
geral de encontros parecerá mais desconcertante.
A sintaxe espacial é, portanto, tanto um
método quanto uma mensagem, e parece abrir
novas perspectivas para o design urbano. Ela
oferece uma abordagem racional para abordar o
design urbano "de cima para baixo", para que
qualquer pessoa possa participar do processo
de tomada de decisão "de baixo para cima". A
sintaxe espacial permite que a estrutura da área
sugira novas possibilidades. Acima de tudo, é
uma maneira de abordar o problema mais
antigo de todos no design urbano: como
adicionar o novo ao antigo.
A previsibilidade global da área, no
entanto, é influenciada mais pela força da
correlação entre as propriedades locais e
globais - o que chamamos de inteligibilidade. A
simulação por computador mostrou que não
apenas essa relação crucial entre a estrutura
local e global de uma área influencia a
inteligibilidade psicológica de alguém em
movimento, mas também desempenha um
papel fundamental na estruturação do
movimento - mesmo em um computador que
não tem concepção de inteligibilidade.
Profundidade Relativa
A fórmula para calcular a profundidade relativa
(RD) é RD = 2(MD - 1) / (k - 2), onde MD é a
profundidade média de um sistema (obtida
dividindo a profundidade total por k, o número
de espaços no sistema). Este valor de
profundidade relativa pode ser ajustado para
eliminar o efeito do tamanho, fornecendo uma
figura que varia em torno de 1 (a média para
uma seção transversal de sistemas urbanos),
com valores baixos indicando sistemas rasos ou
integrados, e valores mais altos para sistemas
profundos ou segregados, permitindo
comparações entre cidades e áreas urbanas.
Valor de Controle
O valor de controle é calculado atribuindo um
valor de 1 a cada espaço ou linha axial,
somando então o recíproco das valências dos
espaços vizinhos. Isso resultará em valores
acima de 1 para espaços mais conectados do
que seus vizinhos e valores abaixo de 1 para
espaços menos conectados.
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