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Curso: ARQUITETURA e URBANISMO

PAISAGISMO II

Paisagismo Urbano
& MACROPAISAGISMO

APRESENTAÇÃO

Esta apostila de estudos foi elaborada para ser utilizada


como suporte na disciplina Paisagismo II do Curso de
Arquitetura e Urbanismo da UNIMAR.
Não é o único referencial da disciplina, mas fonte de
referência dos conteúdos abordados.

Prof. Arq. Msc. Walnyce de Oliveira Scalise

Marília/ SP
2013
SUMÁRIO

1. Macropaisagismo

2. Paisagismo Urbano

3. Áreas Verdes Urbanas

Conceitos E Definições

4. A Cidade como Ecossistema

5. As diferentes funções das Áreas Verdes Urbanas

6. O índice de áreas verdes urbanas

7. Hierarquização dos Espaços Livres

8. Manutenção, Conservação e Segurança das Áreas Verdes

9. Planejamento e Legislação

10. O Desenvolvimento Urbano e as áreas verdes

11. Praça

12. Parques

13. Áreas Verdes e Arborização Viária

14. Paisagismo Rodoviário

15. Paisagismo Rural

16. Matas Ciliares

Referências

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MACRO PAISAGISMO

O paisagismo não é apenas a criação de jardins através do plantio desordenado de


algumas plantas ornamentais, é uma técnica artesanal aliada à sensibilidade, que procura
reconstituir a paisagem natural dentro do cenário devastado pelas construções. Requer
conhecimentos de botânica, ecologia, variações climáticas regionais e estilos arquitetônicos,
sendo também importante o conhecimento das compatibilidades plásticas para o equilíbrio
das formas e cores.

A finalidade do paisagismo é a integração do homem com a natureza, facultando-lhe


melhores condições de vida pelo equilíbrio do meio ambiente. Ele abrange todas as áreas
onde se registra a presença do ser humano. Até mesmo nos desertos só é notada a
presença dos seres humanos nos oásis, onde existe vegetação nativa ligada à água. Desde
as áreas rurais até as regiões metropolitanas, o paisagismo deve atuar como fator de
equilíbrio entre o homem e o ambiente.

A manutenção de áreas verdes nas grandes indústrias influencia positivamente para o


aumento da produção, chegando a assegurar uma diminuição nos índices de acidentes de
trabalho. Uma paisagem mais amena nas áreas das fábricas, suavizando a artificialidade
metálica dos maquinários de trabalho, diminui a tensão dos trabalhadores.

O paisagismo urbano tem por objeto os espaços abertos (não construídos) e as áreas
livres, com funções de recreação, amenização e circulação, entre outras, sendo
diferenciadas entre si pelas dimensões físicas, abrangência espacial, funcionalidade,
tipologia ou quantidade de cobertura vegetal.

PAISAGISMO URBANO

Com o aumento do stress urbano das grandes cidades, a necessidade de estar


próximo à natureza tem aumentado consideravelmente. As áreas verdes proporcionam áreas
de lazer, áreas para prática de esportes, meditação, estudo e entretenimento.

Nos últimos anos, houve um incremento na busca de informações sobre como


amenizar o “cinza” dos prédios, do asfalto, como anular o efeito da poluição urbana. As áreas
verdes, os parques, a arborização das ruas, as avenidas, as praças públicas, os clubes, os
jardins públicos ou particulares, passaram de locais com algumas plantas dispostas sem
nenhum cuidado a locais desenhados e com composições de cores, formas e texturas,
proporcionando um visual extremamente amenizador e relaxante.

Para cada projeto de paisagismo, existem fatores a se considerar, como o porquê de


implantar, onde implantar, como implantar, como manter, que estilo, que cores e quais as
características desejáveis das plantas.

Para a arborização de ruas, normalmente cada cidade tem suas regras e modelos
estabelecidos por profissionais da área, que irão avaliar ruas, avenidas, praças, parques,
jardins públicos e, após, implantar seu projeto de forma mais adequada às condições da
cidade.

Quanto a jardins de prédios, de casas, de indústrias ou escritórios, escolas e clubes


particulares, há uma série de outros fatores relevantes, e normalmente há mais
maleabilidade na realização do projeto.

A paisagem nos lotes

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O paisagismo não é um simples jardim e sim um espaço externo que, em harmonia com a
arquitetura, procura proporcionar lazer, convívio social, esporte, cultura, contemplação e
educação ambiental, trazendo dignidade e qualidade de vida a todos. Na residência, no edifício
comercial e nos institucionais, o paisagismo, incluindo os jardins, cria espaços de lazer,
contemplação, valorizam o empreendimento e os visuais, além de outros benefícios em cada
situação.

Aspectos desejados nos jardins


1. Nas entradas das casas ou clubes, uma composição de cores como tapete de boas
vindas.
2. Plantas que emoldurem, contornem algum aspecto como sacadas, estátuas,
mirantes, fontes e piscinas.
3. Plantas que delimitem espaços como, por exemplo, em áreas reservadas para
relaxamento e estudos.
4. Para valorizar a propriedade.
5. Para áreas de recreação, educação ambiental.
6. Para encobrir algum defeito ou algum objeto visualmente estranho na propriedade.
7. Como quebra ventos, cortinas de árvores ou trepadeiras, para proporcionar maior
privacidade.
8. Para atrair pássaros.
9. Para cultivar temperos, ervas ou flores para corte.
Além destes, existem inúmeros outros fatores que estão fazendo com que as pessoas
procurem investir nas suas áreas verdes, desde pequenas até grandes.

A paisagem urbana
A vegetação, como um todo, tem sido de grande importância na melhoria das
condições de vida nos centros urbanos. Com o crescimento populacional das cidades,
depara-se com a falta de um planejamento urbano.

O clima urbano difere consideravelmente do ambiente natural. A amplitude térmica, o


regime pluviométrico, o balanço hídrico, a umidade do ar, a ocorrência de geadas, granizos e
vendavais precisam ser considerados.

Os solos, por sua vez, responsáveis pelo suporte físico das árvores e pelo substrato
nutritivo do qual depende seu desenvolvimento, apresentam-se compactados nas cidades
devido ao grande número de pavimentações que não permitem o escoamento das águas.
Resíduos sólidos, despejos residenciais e industriais poluem e comprometem o solo urbano.

Quanto à qualidade do ar, esta fica comprometida pela combustão de veículos


automotores e pela emissão de poluentes advindos de atividades industriais.
Além da função paisagística, a arborização urbana proporciona benefícios à população
como:
a. Proteção contra ventos
b. Diminuição da poluição sonora
c. Absorção de parte dos raios solares
d. Sombreamento
e. Ambientação à pássaros
f. Absorção da poluição atmosférica, neutralizando os seus efeitos na população
As árvores de ruas, praças, parques, áreas de conservação urbanas e demais áreas livres
de edificação, fazem parte do Paisagismo Urbano.

As árvores em vias públicas e demais áreas livres de edificação são constituintes da


floresta urbana, atuam sobre o conforto humano no ambiente, por meio das características
naturais da vegetação arbórea, proporcionando sombra para pedestres e veículos, redução da

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poluição sonora, melhoria da qualidade do ar, redução da amplitude térmica, abrigo para
pássaros e harmonia estética amenizando a diferença entre a escala humana e outros
componentes arquitetônicos como prédios, muros e grandes avenidas.

ÁREAS VERDES URBANAS


CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Existe uma dificuldade com relação aos diferentes termos utilizados sobre as áreas verdes
urbanas. Similaridades e diferenciações entre termos como áreas livres, espaços abertos, áreas
verdes, sistemas de lazer, praças, parques urbanos, unidades de conservação em área urbana,
arborização urbana e tantos outros, confundem os profissionais que trabalham nessa área. Esse
problema existe nos níveis de pesquisa, ensino, planejamento e gestão dessas áreas, e
conseqüentemente, nos veículos de comunicação. Nesse sentido foi desenvolvido um trabalho
por Lima et all ( 1994 ), na tentativa de definir esses termos, através de consultas a profissionais
que trabalham nessa área e a experiência do grupo que desenvolveu o trabalho. A seguir
seguem algumas definições retiradas desse trabalho:

a. Espaço Livre: trata-se do conceito mais abrangente, integrando os demais e


contrapondo-se ao espaço construído, em áreas urbanas. Assim, a Floresta Amazônica não se
inclui nessa categoria; já a Floresta da Tijuca, localizada dentro da cidade do Rio de Janeiro, é
um espaço livre.

b. Área Verde: onde há o predomínio de vegetação arbórea, englobando as praças,


os jardins públicos e os parques urbanos. Os canteiros centrais de avenidas e os trevos e
rotatórias de vias públicas, que exercem apenas funções estéticas e ecológicas, devem,
também, conceituar-se como área verde. Entretanto, as árvores que acompanham o leito das
vias públicas, não devem ser consideradas como tal, pois as calçadas são impermeabilizadas.

c. Parque Urbano: é uma área verde, com função ecológica, estética e de lazer,
entretanto com uma extenção maior que as praças e jardins públicos.

d. Praça: como área verde, tem a função principal de lazer. Uma praça, inclusive,
pode não ser uma área verde, quando não tem vegetação e encontra-se impermeabilizada (
exemplo, a Praça da Sé em São Paulo). No caso de ter vegetação é considerada Jardim.

e. Arborização Urbana: diz respeito aos elementos vegetais de porte arbóreo, dentro
da cidade. Nesse enfoque, as árvores plantadas em calçadas, fazem parte da arborização
urbana, porém, não integram o sistema de áreas verdes.

f. Área Livre e Área Aberta: são termos que devem ter sua utilização evitada, pela
imprecisão na sua aplicação.

g. Espaço Aberto: traduzido erroneamente e ao pé da letra do termo inglês "open


space". Deve ser evitada sua utilização, preferindo-se o uso do termo espaço livre.

A CIDADE COMO UM ECOSSISTEMA


E AS ALTERAÇÕES AMBIENTAIS DECORRENTES DA URBANIZAÇÃO

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As cidades, assim como o meio natural, possuem entrada, tocas e saída de matéria e
energia. Nesse sentido, pode ser considerada como um ecossistema. A Ecologia Urbana é a
área do conhecimento responsável pelo estudo das cidades sob a ótica ecológica.

No entanto, o meio urbano não é nem um pouco auto-sustentável. Há uma grande


quantidade de consumo de recursos naturais provenientes de outros sistemas, como os
naturais, os semi-naturais e os agrários. Por exemplo, a água que consumimos, os alimentos
que comemos, são provenientes, originariamente, fora das cidades. Tudo para abastecer uma
única espécie dominante que vive nas áreas urbanas, o homem. Os rejeitos da utilização de
bens e produtos são uma grande fonte de poluição para o próprio ambiente das cidades, seu
entorno e até mesmo de áreas mais distantes. A ciclagem ou reciclagem desses rejeitos ainda é
insignificante. A poluição atmosférica por gases e partículas, a contaminação das águas pelos
esgotos urbanos e industriais, o lixo e entulho gerados são os principais exemplos desses
rejeitos.

Em suma, somos uma espécie que consome bastante recursos naturais, desperdiça
muitos bens e produtos e polui bastante o ambiente que co-habitamos com outros seres vivos.

A urbanização em maior ou menor escala provoca alterações no ambiente das cidades.


Essas alterações ocorrem no micro-clima e atmosfera das cidades, no ciclo hidrológico, no
relevo, na vegetação e na fauna.

A atmosfera se torna mais poluída e aquecida, devido: presença de material particulado (


poeira, fuligem ); .liberação de gases ( CO2, CO, e outros), provenientes de veículos, indústrias
e construções, provocando nuvens produzidoras de sombra; .umidade relativa menor do que no
meio natural e agrário e ; .temperaturas mais altas devido o aquecimento de grandes áreas
concretadas e escassez de vegetação e corpos d’água.

O ciclo das águas é alterado pela impermeabilização do solo, onde a água pluvial escorre
por galerias e sistemas de drenagem, tornando essa água imprópria para uso. Os cursos d’água
são retificados, não respeitando a existência e necessidade das matas ciliares. Assim as águas
atingem os fundos de vale rapidamente e, não tendo condições de vazão suficiente, causam as
enchentes. Além disso, as águas carregam para os rios materiais, como terra, lixo, entulho que
contribuem com o assoreamento dos mesmos.

O maior problema com relação ao relevo são os cortes e aterros de grandes extensões,
causando compactação e erosão dos solos.

A vegetação natural é quase totalmente dizimada e substituída por ruderais ou por plantas
exóticas, muitas vezes com pequena função ecológica.

A fauna original é totalmente dizimada em função da destruição de seu habitat natural.


Algumas espécies de animais se sobressaem nas cidades, devido as condições favoráveis que
encontram para o seu aumento populacional e ausência de seus predadores naturais,
provocando um desequilíbrio inigualável nas cadeias alimentares. Baratas, ratos, pombos,
pardais, escorpiões, formigas, cupins, pernilongos, são os principais exemplos de animais
urbanos. Muitos deles vetores de doenças e indesejáveis devido a sua grande população.

AS DIFERENTES FUNÇÕES DAS ÁREAS VERDES URBANAS

As áreas verdes urbanas proporcionam melhorias no ambiente excessivamente impactado


das cidades e benefícios para os habitantes das mesmas.

A função ecológica deve-se ao fato da presença da vegetação, do solo não


impermeabilizado e de uma fauna mais diversificada nessas áreas, promovendo melhorias no
clima da cidade e na qualidade do ar, água e solo.

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A função social está intimamente relacionada com a possibilidade de lazer que essas
áreas oferecem à população. Com relação à este aspecto, deve-se considerar a necessidade de
hierarquização, segundo as tipologias e categorias de espaços livres, tema que será abordado a
seguir.

A função estética diz respeito à diversificação da paisagem construída e o


embelezamento da cidade. Com relação a este aspecto deve ser ressaltada a importância da
vegetação.

A função educativa está relacionada com a possibilidade imensa que essas áreas
oferecem como ambiente para o desenvolvimento de atividades extra-classe e de programas de
educação ambiental.

A função psicológica ocorre, quando as pessoas em contato com os elementos naturais


dessas áreas, relaxam, funcionando como anti-estresse. Este aspecto está relacionado com o
exercício do lazer e da recreação nas áreas verdes.

No entanto, a serventia das áreas verdes nas cidades está intimamente relacionada com a
quantidade, a qualidade e a distribuição das mesmas dentro da malha urbana. Com relação à
quantidade, a seguir iremos discutir a questão do índice de áreas verdes públicas e outros
índices que mensuram a quantidade de vegetação nas cidades. Com relação à qualidade e
distribuição, pretende-se abordar a questão da hierarquização dos espaços livres e aspectos
relacionados à manutenção, conservação e planejamento dessas áreas.

ÍNDICES DE ÁREAS VERDES URBANAS


Na realidade pode-se falar em diferentes índices para expressar o verde nas cidades.

O índice de áreas verdes é aquele que expressa a quantidade de espaços livres de uso
público, em Km2 ou m2, pela quantidade de habitantes que vive em uma determinada cidade.
Então, neste cômputo, entram as praças, os parques e os cemitérios, ou seja, aqueles espaços
cujo acesso da população é livre. Vale salientar que dever-se-ia trabalhar com um primeiro valor
que é em função da quantidade total das áreas existentes e um segundo, recalculado, que
expresse quantas dessas áreas estão sendo realmente utilizadas, após uma avaliação do seu
estado de uso e conservação. Este índice se refere àquelas áreas verdes que desempenham
todas as funções descritas no item anterior. No entanto, está intimamente ligado à função de
lazer que desempenham ou que podem desempenhar.

Outro índice que pode ser gerado é o índice de cobertura vegetal em área urbana. Para
obtenção desse índice é necessário o mapeamento de toda cobertura vegetal de um bairro ou
cidade e posteriormente quantificado em m 2 ou Km2.Conhecendo-se a área total estudada,
também em m2 ou km2, chega-se posteriormente à porcentagem de cobertura vegetal que existe
naquele bairro ou cidade. Se mapearmos somente as árvores, então esse índice expressará
somente a cobertura vegetal de porte arbóreo. Nucci (1996), em sua tese de doutorado, fez
esse lavamento para o Distrito de Santa Cecília, na cidade de São Paulo. Neste trabalho o autor
mapeou as "manchas de verde", obteve o valor em m2 e depois dividiu pela população residente
naquele bairro, chegando a um índice que ele denominou índice de verde por habitante. Neste
caso ele considerou todo o verde existente no bairro, independente de ser área pública ou
particular e não se preocupando, neste caso, com o acesso da população a essas áreas. Em
seguida o autor diferenciou as áreas verdes públicas, das particulares e obteve também o índice
de áreas verdes.

Oliveira (1997), em sua dissertação de mestrado, fez um levantamento das áreas públicas
de São Carlos e obteve dois índices diferentes. O primeiro, denominado percentual de áreas
verdes (PVA), foi estimado para grandes áreas da cidade que o autor chamou de unidades de
gerenciamento. Neste índice entraram todas as áreas verdes públicas da cidade,
independentemente da sua acessibilidade à população. Diferentes valores foram obtidos para
as diferentes unidades de gerenciamento. Em seguida, o autor calculou o índice de áreas

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verdes (IAV), considerando somente aquelas áreas verdes públicas de acesso livre para a
população. Neste caso os índices foram obtidos para setores da cidade. Também chegou ao
índice de áreas verdes para a cidade como um todo. O valor obtido foi de 2,65 m2/hab. segundo
o autor este último índice é um indicador de qualidade de vida da população, expressando a
oferta de área verde "per capta".

"Ainda em relação aos índices é importante comentar que está difundida e arraigada no
Brasil a assertiva de que a ONU, ou a OMS, ou a FAO, considerariam ideal que cada cidade
dispusesse de 12m2 de área verde/habitante. Nas pesquisas, por carta, que fizemos junto à
essas Organizações, foi constatado que esse índice não é conhecido, como não o é, entre as
faculdades de paisagismo da República Federal da Alemanha. Somos levados a supor, depois
de termos realizado muitos estudos, que esse índice se refira, tão somente às necessidades de
parque de bairro e distritais/setoriais, já que são os que, dentro da malha urbana, devem ser
sempre públicos e oferecem possibilidade de lazer ao ar livre" (Cavalheiro & Del Picchia, 1992).

A falta de uma definição amplamente aceita sobre o termo "áreas verdes" e as diferentes
metodologias utilizadas para obtenção dos índices, dificulta a comparação dos dados obtidos
para diferentes cidades brasileiras e destas com cidades estrangeiras.
Estes índices carregam consigo apenas uma informação quantitativa geral, não
expressando como essas áreas verdes se encontram, como estão sendo utilizadas e nem a
distribuição das mesmas dentro da cidade. Imagine que podemos ter um alto índice de áreas
verdes em uma determinada cidade, mas quando vamos observar onde estão localizadas essas
áreas, constatamos que a grande maioria delas estão nos bairros de classe de alta renda.
Soma-se a isto, o fato de que as pessoas mais pobres, onde há uma carência maior dessas
áreas, não possuem acesso a clubes de lazer particulares e seus quintais internos são
pequenos ou mesmo inexistentes, tendo muitas vezes que praticar esporte ou desenvolver
algum tipo de recreação nas ruas do seu bairro.

HIERARQUIZAÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES


Os espaços livres de construção são classificados segundo:
a) Tipologia ( baseado em Gröening, 1976 apud Escada, 1987 ), em:
Particulares: jardins, quintais, chácaras;
Potencialmente coletivos: clubes, escolas, fábricas, universidades;
Públicos: praças, parques, cemitérios.

b) Categoria e Disponibilidade.

(Segundo Cavalheiro & Del Picchia (1992), os valores são considerados como indicações
quanto à capacidade de suporte para visitação, a quantidade de equipamentos que possam
conter e à maximização de sua manutenção.)

-Os parques de vizinhança, segundo Escada (1992), são de uso localizado, pois são
planejados para servir à uma unidade de vizinhança ou de habitação, substituindo as ruas e os
quintais de casas das cidades menores. São espaços com tamanho reduzido, que devem
abrigar alguns tipos de equipamentos ligados à recreação, vegetação e distar entre 100 e 1.000
m das residências ou do trabalho.

-Os parques de bairro são de maiores dimensões, devendo conter uma gama maior de
equipamentos de lazer. Podem desempenhar função paisagística e ambiental, se dotados de
vegetação, espaços livres de impermeabilização e águas superficiais.

-Os parques distritais são espaços livres de grandes dimensões. Segundo Birkholz, 1983
apud Escada, 1992 são áreas de bosques que contém elementos naturais de grande
significado, tais como montanhas, cachoeiras, florestas, etc. Devem ser concebidos e equipados

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para permitir acampamentos, possuir trilhas para passeios a pé e a cavalo, locais de banho,
natação, esporte e outros.

- Os parques metropolitanos também são espaços livres de grandes dimensões, devendo


possuir os espaços e equipamentos de lazer citados para os parques distritais. A diferença
maior com estes é sua inserção em áreas metropolitanas, servindo como um espaço público
para habitantes de diferentes cidades próximas. Os dois maiores exemplos são o Central Park
de Nova York e o Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

MANUTENÇÃO, CONSERVAÇÃO E SEGURANÇA DAS ÁREAS


VERDES
A disponibilidade de espaços para recreação e prática de esporte nas cidades não
depende exclusivamente da existência de áreas para o desenvolvimento dessas atividades. A
conservação e manutenção de todos elementos que compõem uma praça ou um parque devem
merecer atenção continuada dos órgãos públicos que gerenciam essas áreas e da população
que as utilizam. O uso público de uma área verde está intimamente ligado à manutenção,
conservação e segurança que esta área recebe.

Todo elemento natural constituinte de uma área verde, principalmente a vegetação deve
ser manejada constantemente. Alguns tipos de manejo são citados a seguir:

• podas em árvores com galhos podres, secos ou lascados;

• extrações de árvores com risco de queda ou que apresentam algum problema


fitossanitário irreparável;

• plantio de novas árvores, visando a substituição daquelas extraídas, ou mesmo,


para adensamento da vegetação de porte arbóreo;

• poda de levantamento de copa;

• trato com os problemas de pragas e doenças;

• capina do gramado e poda das arbustivas;

• diversificação das espécies utilizadas e priorização das nativas.

Também deve ser levado em consideração, na fase de planejamento de uma área verde,
a preocupação com espécies que dão maior demanda de manutenção e altos custos de
implantação, como as capinas de gramas exóticas. Em grandes parques é possível utilizar como
substrato as herbáceas existentes na própria área. À medida que as árvores crescem, essas
invasoras tendem a desaparecer dos espaços sombreados. Posteriormente, pode-se pensar em
gramar os espaços expostos ao sol pleno ou mesmo manter a vegetação existente.

Com relação aos equipamentos de lazer e a todo mobiliário urbano que faz parte da área
verde, deve-se reparar todo dano existente e paralelamente, desenvolver campanha educativa
aos usuários para uso adequado e proteção dos mesmos. Um banco quebrado ou uma
luminária que não funcione é motivo suficiente para reprodução desses e de outros tipos de
danos.

Permanecer tranqüilo em uma praça, hoje em dia, é algo difícil de acontecer. Na maioria
das vezes não nos sentimos seguros. O que dá segurança em uma área verde na cidade é o
seu uso constante pela população e uma guarda municipal que seja mais educativa que
punitiva. Esse uso ocorrerá se a praça estiver dotada de iluminação eficiente, equipamentos
funcionando, gramados capinados, árvores de copas altas e muitos outros itens relacionados à
conservação e manutenção dos elementos existentes na área.

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PLANEJAMENTO E LEGISLAÇÃO
O Código de Áreas Verdes e Arborização Urbana de uma cidade é o instrumento legal e
de gerenciamento mais importante que pode existir para assegurar a existência de espaços que
desempenhem funções de melhorias do ambiente urbano e da qualidade de vida dos seus
habitantes.

Com relação ao planejamento, deve-se pensar primeiro na cidade como um todo,


propondo a existência e funcionalidade de um sistema municipal de áreas verdes ou de espaços
livres, considerando a densidade populacional dos bairros ou setores da cidade e o potencial
natural das áreas existentes.

Para cada bairro ou setor, no planejamento e projeção dos espaços livres ou setor deve-
se levar em consideração as faixas etárias predominantes e existentes, a opinião dos
moradores e o potencial de cada área. Guzzo (1991), em sua monografia de graduação,
desenvolveu um trabalho de planejamento dos espaços livres de uso público para um conjunto
habitacional de Ribeirão Preto/SP. Primeiro foi feita uma hierarquização das áreas verdes e
sistemas de lazer existentes no Projeto Urbanístico, segundo as categorias existentes na Tabela
01. As áreas foram classificadas em parques de vizinhança, parques de bairro e verde de
acompanhamento viário. Posteriormente a população foi consultada através de questionário
segundo seus desejos quanto aos elementos que deveriam estar presentes nessas áreas.
Posteriormente, o autor observou quais os tipos de lazer que as crianças desenvolviam nas ruas
do bairro. Com todas essas informações foi feito dois pré-projetos paisagísticos para uma área
categorizada como parque de vizinhança e outra como parque de bairro. Este último, com área
superior a 6,0 hectares se transformou em 1995, através de lei municipal, no Parque de Bairro
Tom Jobim. Porém, até a presente data, ainda não foi totalmente implantado. Apenas alguns
equipamentos esportivos e a arborização externa da área foi implementada.

Ainda com relação à legislação, cita-se a seguir aquelas que devem merecer atenção para
quem for desenvolver algum tipo de trabalho com áreas verdes e arborização urbana:

- Lei 7.803/89, alterando a Lei 4.771/65 que estabelece o Código Florestal Brasileiro;

- Lei 6.766/79 que dispõe sobre parcelamento do solo urbano;

- Lei Orgânica do Município e;

- Plano Diretor do Município e leis complementares, como Código Municipal de Meio


Ambiente, Lei Municipal de Parcelamento e Uso do Solo Urbano, Plano Viário Municipal, Lei do
Mobiliário Urbano e Lei Municipal de Saneamento.

O DESENVOLVIMENTO URBANO E AS ÁREAS VERDES


Segundo MACEDO (1995) o espaço livre de edificação, como elemento de projeto é
praticamente desconhecido pelos profissionais e pela população, que o vêem como um espaço
residual a ser ajardinado ou simplesmente deixado de lado.

MILANO & DALCIN (2000) citam o surgimento da luz elétrica e a expansão da oferta dos
serviços de abastecimento de água, coleta de esgoto e telecomunicações, trazendo para as
cidades como o Rio de Janeiro, um complexo sistema de cabos, galerias e dutos que tomam
conta do ar e do subsolo. A rede aérea de energia passou a interferir de forma decisiva no plano
de arborização da cidade. Na seqüência, com o advento da era “desenvolvimentista” e da
explosão imobiliária na década de 60 houve a perda dos jardins privados e a impermeabilização

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do solo e o patrimônio das áreas verdes das cidades ficaram cada vez mais restritos à
arborização de ruas, praças, parques e maciços florestais.

Pode-se acrescentar ainda a compactação e baixa fertilidade do solo resultantes dos


processos de movimentação de terra para urbanização de loteamentos. De maneira
semelhante, o processo de evolução da ocupação e uso do solo urbano, especificado no
parágrafo anterior, ocorreu na grande maioria das cidades brasileiras.

Segundo MACEDO (1995), parece então urgente uma revisão no ideário sobre espaços
livres de edificação e ações são fundamentais:

- A afirmação e o aceite da existência formal de um sistema urbano de espaços livres de


edificação, que deve abarcar todos os espaços livres existentes, sejam eles espaços para lazer,
ou circulação, verdes ou azuis, plantados ou não.

- O abandono da idéia do “alcance” de medidas de metros quadrados por habitante como uma
panacéia (incansável) aos problemas urbanos de carência de áreas de lazer e conservação de
recursos ambientais, esquecendo-se definitivamente o malfadado índice de 12 m2/ habitante de
área verde.

- O estabelecimento de critérios de distribuição de espaços livres públicos, que deve ser


delimitado de acordo com carências sociais, acessibilidade e manutenção de recursos
ambientais finitos, como água e florestas nativas e de proteção de solos frágeis.

- O estabelecimento prévio ao crescimento urbano, as expansões das cidades de áreas


prioritárias à construção e/ou efetivação de espaços livres, isto é, a criação e manutenção de
estoques/reservas de futuros espaços livres públicos para lazer e conservação.

- A revisão dos padrões de distribuição dos espaços livres intra-quadras, questionando-se os


modelos oficiais, e seus graus de eficiência redefinindo-se os limites desejáveis (se desejáveis)
de privatização do lazer.

- A idealização de quadras urbanas, especialmente aquelas verticalizadas, são sistemas


complexos, onde flui a vida humana e cujos espaços livres devem ser tratados como sistemas
que são, não como espaços residuais.

- A revisão dos padrões de projeto dos espaços livres, que são extremamente padronizados
para o país, buscando-se adequar cada um deles ao contexto do território nacional em que
estiver situado.

- O reconhecimento do papel da rua como espaço de lazer e uma conseqüente revisão de seus
padrões de desenho e projeto.

- A inclusão das praias e áreas de beira-água (rios, lagos e represas) quando utilizados pela
comunidade como participantes efetivos dos sistemas de espaços livres de edificação urbanos
e/ou como áreas de reserva para lazer e ou conservação.

Estudos recentes sobre espaços livres de edificação foram promovidos procurando-se


avaliar o uso dessas áreas pela população, sua história, seus equipamentos, sua dinâmica,
assim como seu alcance para atender a comunidade local e bairros próximos.

Deve-se ter uma visão macro da cidade de tal forma que o espaço livre, a ser planejado
ou avaliado, esteja inserido nesse contexto, propiciando a continuidade de um sistema de
espaços livres urbanos interligados – parques, praças, hortos, reservas florestais, fundos de
vale, arborização de acompanhamento viário e outros. Não se pode analisar um desses fatores

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sem se considerar a existência dos demais e não cabe aqui determinar-se um número, uma vez
que os índices são contraditórios e dificultam mais o trabalho que auxiliam.

Com o surgimento de outras formas alternativas de lazer e novos locais para o


estabelecimento do comércio, associado ao descaso persistente do poder público frente à
manutenção das praças, essas passaram a constituir-se em um fragmento a mais dentro da
malha urbana.

Com o tempo as mudanças vieram e as praças foram deixando de ser um espaço


prioritário de recreação. Atualmente, a maioria das pessoas tem outras necessidades e sente o
mundo ao seu redor de modo diferente. Isso não significa que os espaços verdes urbanos
precisem cair no esquecimento, pois são ecologicamente importantes, possuem valores
estéticos além de auxiliarem na redução da amplitude térmica e novos usos podem ser
estendidos a eles, com equipamentos adequados. Instigando-se novas formas de percepção do
ambiente urbano, seria possível ampliar as relações positivas da população com a paisagem. O
apreço pelos espaços verdes poderia ser resgatado, mesmo que as pessoas não mais se
utilizassem deles da forma como faziam antes. Dois pontos não devem ser esquecidos: a
constante participação do Poder Público e a conscientização.

Torna-se imperativo repensar o papel que os espaços públicos têm nos dias de hoje.
Nesse contexto toma vulto a questão do desenho urbano, não sendo mais possível planejar a
cidade dissociada da questão social. E ao mencionar-se o desenho urbano, refere-se, inclusive,
às minúcias dos diversos logradouros e, em se tratando das áreas livres de edificação verdes e
praças isso significa o estudo de seu mobiliário, sua tipologia e sua inserção na malha urbana. A
soma desse conhecimento propicia um diagnóstico preciso sobre esses espaços, ao mesmo
tempo em que fornece subsídio na busca de soluções para se fazer frente aos problemas
sociais ocorrentes nesses logradouros e na cidade como um todo.

As praças não são mais usufruídas como em tempos passados. Antigamente, eram o
centro dos acontecimentos políticos e das festividades religiosas, de atos cívicos e sociais. Nos
finais de semana, moradores das zonas urbana e rural dirigiam-se às praças, pois ali havia
diversão, o lazer de outras épocas, os encontros, o início de muitas histórias e o fim de outras
tantas.

Para MACEDO & SAKATA (2002), os parques urbanos brasileiros são figuras que
acompanham a formação das cidades e as transformações da sociedade brasileira e suas
formas de expressão. Ao longo dos séculos XIX e XX, os parques passaram de espaços onde a
elite passeava vestida à européia contemplando a natureza recriada e confabulando com seus
pares para espaços democráticos onde todos podem correr, brincar e divertir-se, onde os
recursos naturais são preservados, onde as cidades brasileiras, cada vez mais densas, respiram
aliviadas. Os parques do passado e os do presente são unidos por uma característica comum:
sua importância como símbolos de nossa capacidade de criar, implantar e manter figuras
urbanas tão valiosas e tão frágeis sob a ação do tempo.

Entre os parques urbanos mais emblemáticos pode-se destacar o Parque do Ibirapuera e


o Parque do Aterro do Flamengo.

As inaugurações desses dois parques em 1954 (Ibirapuera) e 1962 (Flamengo), apesar do


caráter isolado, marcam a ruptura definitiva com a estrutura do velho desenho romântico de
paisagismo, ainda bastante em voga na época. O Aterro do Flamengo, projetado por Afonso
Reidy, Burle Marx e equipe, possui desenho com inovações que buscam e conseguem dar uma
adequação aos usos cotidianos da metrópole do Rio de Janeiro, então em processo de
acelerada modificação urbana, foi planejado para conter e envolver a nova via expressa que
ligava a zona sul (Copacabana, em especial) ao centro da cidade, o Aterro do Flamengo é um
grande Parque linear unindo vários aterros antigos na orla, é uma obra que comporta toda uma
série de jogos, museus, marina e até uma praia artificial, elementos que foram rapidamente
assimilados pela população, utilizados noite e dia,

12
O Parque do Ibirapuera, cujo desenho florestal urbano é de concepção de Otávio Augusto
Teixeira Mendes, era uma área alagadiça, foi estruturado no meio de um bosque de eucaliptos,
com uma série de pavilhões de exposição que, na época de sua inauguração, atraiam um
grande público para as festividades em curso. Esse parque possuía um programa de uso que
atendia ao lazer cultural (museus e exposições), esportivo (quadras, tanques para modelismo de
barcos) e contemplativo,

O Parque do Ibirapuera pela sua localização, ao lado de áreas habitadas pelas elites – os
bairros Jardim América e Jardim Paulista -, o significado simbólico que lhe foi atribuído, sua
centralidade e acesso transformaram-no em principal parque da cidade, capaz de atrair milhares
de usuários todos os dias, tanto para caminhar e correr como para o descanso, os shows ao ar
livre e as exposições (MACEDO E SAKATA, 2003).

PRAÇA

Em uma definição bastante ampla, praça é qualquer espaço público urbano livre de
edificações e que propicie convivência e/ou recreação para seus usuários. Normalmente, a
apreensão do sentido de "praça" varia de população para população, de acordo com a cultura
de cada lugar. Em geral, este tipo de espaço está associado à idéia de haver prioridade ao
pedestre e não acessibilidade de veículos, mas esta não é uma regra. O termo também pode,
no contexto militar, se referir a uma categoria de sargentos.
No Brasil, a idéia de praça normalmente está associada à presença de ajardinamento,
sendo os espaços conhecidos por largos correspondentes à idéia que se tem de praça em
países como a Itália, a Espanha e Portugal. Neste sentido, um largo é considerado uma "praça
seca".
Tipologias
De acordo com cada sentido que a palavra praça assume, estes espaços podem ser
classificados das seguintes formas:

• Praça-jardim. Espaços nos quais a contemplação da formação vegetal e a


circulação são priorizadas.

• Praça seca. Largos históricos ou espaços que suportam intensa circulação de


pedestres.

• Praça azul. Praças nas quais a água possui papel fundamental. Alguns belvederes
e jardins de várzea possuem tal característica.

• Praça amarela. Praias em geral.

13
Piazza San Marco- Veneza

TRAJETÓRIA HISTÓRICA

A Ágora grega e o Foro romano


Talvez os primeiros espaços urbanos que tenham sido intencionalmente projetados para
cumprirem o papel que hoje é dado às praças sejam a ágora, para os gregos, e o forum, para os
romanos. Ambos os espaços possuíam, no contexto das cidades nas quais se inseriam, um
aspecto simbológico bastante importante na cultura de cada um dos povos: eram a
materialização de uma certa idéia de público.

A ágora grega era o espaço no qual a limitação da esfera pública urbana estava
claramente decidida: aí se praticava a democracia direta, sendo o lugar, por excelência, da
discussão e do debate de idéias entre os cidadãos. A ágora normalmente se delimitava por um
mercado, uma stoa e demais edifícios, sendo que dela era possível ver a acrópole, a morada
dos deuses na mitologia grega. Já o fórum romano representava em si mesmo a
monumentalidade do Estado, sendo que o indivíduo que por ele passasse estava espacialmente
subordinado aos enormes prédios públicos que o configuravam. Diferenciava-se da ágora na
medida em que o espaço de discussão não mais era a praça pública, aberta, mas o espaço
fechado dos edifícios, nos quais a penetração era mais restrita.
Praças européias
Até meados do século XVIII o projeto de praças estava normalmente restrito ao tratamento
paisagístico de grandes palácios, nem sempre inseridos no contexto urbano. Os espaços livres
existentes nas cidades configuravam-se de forma não ordenada, em geral devido à existência
de mercados populares ou às entradas de igrejas e catedrais.

As praças que historicamante se formaram nas cidades européias normalmente estão


relacionadas com a configuração natural de um espaço livre a partir dos planos de edifícios que
foram sendo construídos ao redor de construções importantes, como igrejas, catedrais e prédios
públicos.

Durante o século XIX, com o trabalho de determinados profissionais (como Olmested) e o


desenho urbano promovido por urbanistas como Hausmann em Paris e Cerdá em Barcelona, o
desenho específico de praças passa a constituir matéria própria, em paralelo à constituição
formal da profissão de arquiteto paisagista (simultaneamente ao trabalho de Law Olmsted no
desenho de sistemas de espaços libres em Boston e Nova Iorque).

14
Praças no Brasil
No Brasil, o conceito de praça é popularmente associado às idéias de verde e de
ajardinamento urbano. Por este motivo, os espaços públicos similares às praças européias
medievais, que normalmente se formaram a partir dos pátios das igrejas e mercados públicos,
são comumente chamados de adros ou largos. Também por este motivo, uma série de jardins
urbanos que surgem devido ao traçado viário das cidades (como as rotatórias e canteiros
centrais de grandes avenidas) acaba recebendo o título legal de praça, ainda que sejam
espaços de difícil acesso aos pedestres e efetivamente desqualificados como praças.

A não ser pelas praças em regiões centrais das grandes cidades, a típica praça na cidade
brasileira se caracteriza, portanto, por ser bastante ocupada por vegetação e arborização.
Quando ela recebe um maior tratamento, ou quando foi resultado de um projeto, ela também
costuma possuir equipamentos recreativos e contemplativos (como playgrounds, recantos para
estar, equipamentos para ginástica e cooper, bancos e mesas, etc).

Praça da Sé- São Paulo

PARQUES URBANOS

Os parques Urbanos, outra categoria de áreas verdes que pode contribuir para a
sustentabilidade urbana, são objeto de estudo importante para o entendimento de
procedimentos que levem a uma melhoria da qualidade de vida nas cidades.

Os Parques Urbanos, como os conhecemos hoje, têm sua origem no século XIX nos
Parques Europeus destinados a atender a necessidade das massas das metrópoles de então.
Seu congênere brasileiro surge não com esta mesma finalidade, sendo que o Brasil do século
XIX não possuía uma rede urbana expressiva e nem mesmo a capital, o Rio de Janeiro, tinha o
porte de qualquer grande cidade européia. O Parque Urbano no Brasil é criado mais como um
cenário complementar para as elites emergentes de então (Macedo e Sakata, 2003).

No Século XX a necessidade de se oferecer espaços públicos para o lazer nas grandes


cidades cresce no Brasil. O Parque urbano, tendo seu nascimento mais ligado a função de

15
recreação, passa, na atualidade, a incorporar outras funções tais como a esportiva, a de
conservação de recursos naturais, nos parques denominados ecológicos e também as de lazer
sinestésico, oferecidas pelos parques denominados temáticos (Macedo e Sakata, 2003).

Segundo SPIRN (1995) poucas cidades se adaptaram engenhosamente à natureza ao


longo da história, entre estas cita Zurick e Frankfurt que possuem florestas urbanas para a
exploração de madeira e para recreação da população.

Segundo Macedo e Sakata (2003) os Parques Urbanos multiplicam-se no Brasil somente


a partir do final da década de 1960 quando se inicia um processo sistemático de criação de
parques não mais voltados somente as elites. Este processo se dá após quase quarenta anos
sem grandes investimentos públicos nesta área. Cita como exemplo de cidades que criaram
sistemas de Parques ao longo das ultimas décadas São Paulo e Curitiba.

Segundo Hildebrand et al (2001) que realizou um estudo sobre as dist Segundo


Hildebrand et al (2001) que realizou um estudo sobre as distâncias para deslocamentos de
freqüentadores dos Parque urbanos de Curitiba, a importância das áreas verdes urbanas é
inegável, não só para os moradores ao redor das mesmas, mas também para a população da
cidade como um todo e para o turismo local. Acrescentou ainda que em Curitiba, embora tenha
sido expressiva a implantação de parques, nas últimas duas décadas, pouco se sabe quanto
aos efeitos desta política sob a ótica de um sistema integrado de áreas verdes e a efetiva
mudança de hábitos e opinião da população urbana.

Os Parques urbanos exercem nas cidades uma série de funções ecológicas e sociais que
ainda não tem sido aproveitadas por planos diretores urbanos e regionais

O debate sobre os parques urbanos na atualidade no Brasil perpassa por algumas


questões importantes abaixo discriminadas:

a) A questão do cuidado, não somente com a questão ambiental, mas também com outras
questões urbanas como o conforto, a mobilidade, o clima e a questão da violência. A respeito
desta última propostas recentes sugerem a criação de Parques da Paz, referindo-se a utilização
destes espaços de forma ampliada, inserindo-se entre suas funções a questão da aproximação
entre povos (Peixoto et. all., 2005).

b) A função ecológica dos parques urbanos pode ser reforçada sugerindo-se na verdade
um sistema de áreas verdes, que, em conjunto com Praças, Jardins e Contínuos formados por
PPs e pela arborização urbana, possam oferecer as funções ambientais necessárias ao
equilíbrio ambiental urbano tais como: a manutenção da qualidade dos sistemas hídricos, a
proteção de solos em encostas, além da qualidade atmosférica, do controle de ruídos e outros.

c) Os conflitos no gerenciamento e na manutenção de parques urbanos não são menores


os encontrados para o gerenciamento de Unidades de Conservação no Brasil.

Pioneiros como Olmsted assinalaram que os parques urbanos podem ter funções muito
mais abrangentes do que apenas a de oferecer lazer à população urbana (Franco, 2001). Estes
equipamentos devem ser projetados para a cidade sob uma perspectiva de sustentabilidade.

Os parques urbanos são ecossistemas compostos pela interação entre sistemas naturais
e sistemas antropogênicos (NOWAK et al 2001).

16
Parque do Ibirapuera- São Paulo

Parque Barigui- Curitiba

Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro

17
ÁREAS VERDES E ARBORIZAÇÃO VIÁRIA
Desde a Antiguidade a árvore, como imagem mítica, foi utilizada como símbolo do
crescimento espiritual do ser humano. Existe entre o ser humano e as árvores uma afinidade
estrutural psíquica, intimamente associada ao crescimento e realização de potenciais. A árvore
adulta já está contida na semente. O ser humano também carrega em estado germinal, no fundo
do inconsciente, aquilo que poderá vir a ser (MILANO & DALCIN, 2000).

As cidades, hoje, já abrigam mais ou menos a metade da população do planeta e, em


vários países, entre os quais o Brasil, mais de 80% da população (IBGE, 2002). Tanto por este
motivo, a concentração populacional, quanto pela forma como surgem, crescem e são
organizadas, as cidades tornam-se também, de maneira geral, os extremos da ação humana
nos sistemas naturais (MILANO & DALCIN, 2000).

Segundo MILANO & DALCIN (2000), existem aspectos positivos das árvores nas cidades
os quais podem ser mensurados, avaliados e monitorados, caracterizando benefícios e,
conseqüentemente, objetivos que passam a ser estabelecidos no planejamento:
- estabilização e melhoria microclimática;
- redução da poluição atmosférica;
- diminuição da poluição sonora;
- melhoria estética das cidades;
- ação sobre a saúde humana;
- benefícios sociais, econômicos e políticos.

Pode-se citar também a absorção da radiação ultravioleta, dióxido de carbono e a redução


do impacto da água de chuva e seu escorrimento superficial. A vegetação arbórea pode ser
entendida como um mobiliário urbano, um equipamento essencial para o bom funcionamento
dos espaços livres de edificação.
Plano Diretor de Arborização Urbana
O Plano Diretor de Arborização Urbana é o conjunto de métodos e medidas adotadas para
preservação, manejo e expansão das árvores nas cidades, de acordo com as demandas
técnicas e as manifestações de interesse das comunidades locais.

A partir de um inventário das árvores da cidade, foram traçadas diretrizes de


planejamento, produção, implantação, conservação e administração das árvores públicas,
constituindo-se no Plano Diretor de Arborização Urbana.

18
-Manual de Arborização CEMIG

http://www.cemig.com.br/SalaDeImprensa/Documents/Manual_Arborizacao_Cemig_Biodiv
ersitas.pdf

-Manual Técnico de Arborização Urbana – São Paulo

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/manual_arborizacao_125320225
6.pdf

PAISAGISMO RODOVIÁRIO
Paisagismo rodoviário é a integração da estrada à paisagem a qual ela atravessa.
A vegetação proporciona maior estabilidade aos terrenos das faixas de domínio,
diminuindo a movimentação de partículas do solo e facilitando obras de drenagem que
regularmente são assoreadas por ocasião das chuvas.

O termo arborização de estradas é empregado de forma genérica para designar


não só a arborização propriamente dita, mas também os demais revestimentos de suas
margens, taludes e terrenos adjacentes. A arborização poderá ser implantada ou
melhorada, incrementando-se a vegetação existente com o manejo da faixa de
domínio.

O manejo da faixa de domínio consiste num conjunto de práticas que visam a


execução do manejo adequado da vegetação restante, selecionando as espécies
paisagisticamente interessantes e colocando-as em locais de destaque e protegendo
as espécies remanescentes.
As espécies devem ser selecionadas considerando-se fatores como:
• solo
• clima

• luminosidade

• persistência da folhagem

• sistema radicular e características plásticas decorativas da folhagem

• tronco, copa e coloração


Devido aos trabalhos de terraplanagem das faixas de domínio, há uma grande
dificuldade em se estabelecer espécies rasteiras, quanto mais árvores. Por isto, a
escolha recai sobre nativas rústicas adaptadas à região. Recomenda-se como
época adequada para o plantio o período de chuvas da região.

PAISAGISMO RURAL
As funções do paisagismo rural não estão limitadas ao embelezamento estético da
paisagem, mas também às práticas preservacionistas, indispensáveis à manutenção
dos elos essenciais ao equilíbrio do ecossistema nas áreas de sua implantação. É
exercido de forma plena, integrando-se perfeitamente à natureza.

Para atingir bons resultados existem fatores que devem ser conhecidos:
1. Clima - determina as possíveis espécies a serem introduzidas na área.
2. Relevo - norteará o traçado geral do projeto em consonância homogênea com a
paisagem natural.

19
3. Vegetação nativa - funciona como orientação na seleção de espécies e servirá
de base para a continuação das mesmas características das espécies vegetais ou
ponto de referência a uma mudança de características a fim de proporcionar
contrastes ou motivos de atração.
4. Solos - verificada a constituição física do solo, pode-se prever quais espécies se
adaptarão, quais as dimensões das covas para plantio e a adubação requerida para
um bom desenvolvimento.
5. Ventos - o conhecimento das rotas dos ventos predominantes na área do projeto
possibilita designar os locais mais favoráveis para o plantio de determinadas
espécies.
6. Monumentos naturais – qualquer produção da natureza que por suas
qualidades constituam motivos de excepcional interesse, como elementos
paleontológicos (fósseis), elementos geomorfológicos (grutas, sumidouros, jazidas
minerais), elementos topográficos (quedas d’água, paisagens), elementos florísticos
ou botânicos (florestas, plantas raras), elementos zoológicos (fauna), elementos
etnográficos (indígenas, inscrições rupestres, ruínas).
7. Água – fator de importância funcional e estética. Funcional porque a
sobrevivência e o sucesso da composição dependerão da água, e estética porque a
água é um elemento decorativo e atrativo.
8. Atividade principal da propriedade - determinará as características do projeto,
como:
• Arborização de estradas vicinais.
• Reflorestamentos heterogêneos ecológicos.

• Implantação de vegetação protetora de nascentes, mananciais e cursos d'água.

• Criação de áreas verdes em clubes de campo, condomínios de chácaras, casas de


campo, pousadas, estações termais, sítios.

• Revestimento vegetal protetor e/ou reconstituinte de solos instáveis (taludes,


voçorocas). Uma das mais desastrosas conseqüências do rompimento dos elos
naturais reflete-se no solo, causando seu enfraquecimento biológico e,
posteriormente, a desagregação física, levando à erosão de suas camadas, das
superficiais até as profundas. Com o emprego de espécies vegetais adequadas, há
uma diminuição destes danos.

• Causa maiores problemas em estufas do que em casas e no exterior.

Componentes auxiliares no paisagismo rural


1. Gramados - além do embelezamento da paisagem, os gramados têm a
importante função de proteger o solo da ação direta dos raios solares, evitando sua
esterilização superficial. Outra função extremamente importante é a proteção contra
a erosão. O revestimento vegetal sobre o solo evita que as enxurradas de água e a
ação dos ventos retirem parcelas da superfície.

2. Lagos - sua presença propicia uma variação visual intensa e atrativa na


paisagem; além de decorativo, o lago influencia marcantemente o ecossistema, quer
pela sua capacidade em manter o equilíbrio da umidade atmosférica quer por
favorecer a manutenção do sistema hídrico.

3. Renques corta vento - destacam-se a ação dos ventos livres, quase constantes
em determinadas épocas do ano, em algumas regiões. As plantas submetidas à sua
ação intermitente sofrem graves perdas de líquido, apresentando queimaduras em
suas folhas, outras ficam tortuosas e envergadas pelas correntes. As espécies
indicadas devem se integrar à paisagem tanto visualmente quanto funcionalmente,
para não prejudicar a paisagem.

20
4. Maçicos Florais - são indicados no projeto paisagístico, sempre em locais por
onde passam as pessoas ou ao alcance da vista. Para este fim, são indicadas
espécies de plantas que produzam floradas fartas e vistosas, podendo-se alterná-
las de acordo com a estação, o que torna o visual dinâmico interado com as
mudanças naturais. Quanto ao formato dos canteiros, a preferência é por formas
sinuosas ou amebianas, pela leveza.

5. Bosques - devem sempre existir, pois os benefícios são extremamente


significativos ao ambiente. Bosques heterogêneos propiciam uma integração com a
fauna e a flora local. Podem conter, por exemplo, essências florestais, essências
ornamentais, árvores frutíferas. Devem proporcionar uma sensação de “leveza”,
além de, em alguns casos, servirem como local para educação ambiental. Neste
caso é comum colocar placas pequenas nas árvores com o nome científico, o vulgar
e algumas características importantes.

MATAS CILIARES
As matas ciliares são sistemas vegetais essenciais ao equilíbrio ambiental e,
portanto, devem representar uma preocupação central para o desenvolvimento rural
sustentável. A preservação e a recuperação das matas ciliares, aliadas às práticas de
conservação e ao manejo adequado do solo, garatem a proteção de um dos principais
recursos naturais: a água.

As principais funções das matas ciliares são:

• controlar a erosão nas margens dos cursos d´água, evitando o assoreamento dos
mananciais;

• minimizar os efeitos de enchentes;

• manter a quantidade e a qualidade das águas;

• filtrar os possíveis resíduos de produtos químicos como agrotóxicos e fertilizantes;

• auxiliar na proteção da fauna local.

Um dos principais objetivos do Programa é contribuir para a proteção das nascentes


e dos mananciais, por meio da recomposição da cobertura vegetal no Estado de São
Paulo.

Os objetivos do reflorestamento nas microbacias hidrográficas selecionadas


são:

• contribuir para conscientização dos produtores sobre a necessidade de


conservação dos recursos naturais;

• incentivar o reflorestamento, através da doação de mudas de essências florestais


nativas aos produtores;

• contribuir para aumentar a proteção e vazão das nascentes e dos mananciais


hídricos;

• contribuir para melhorara a qualidade da água; contribuir para reverter processos


de degradação ambiental;

• contribuir para a preservação da biodiversidade e do patrimônio genético da flora e


da fauna; buscar um equilíbrio biológico duradouro, essencial a uma melhor
qualidade de vida.

21
Os passos para o reflorestamento nas micro bacias são:

• identificação de áreas críticas de desmatamento na micro bacias;

• identificação das áreas prioritárias a serem reflorestadas dentro da lógica de


corredores biológicos;

• motivação dos produtores para a adoção de práticas conservacionistas, visando à


recuperação das áreas degradadas;

• distribuição gratuita de mudas aos beneficiários e prestação de assistência


Técnica.

Os incentivos do Programa para a conservação de matas ciliares são:

• doação de mudas de essências florestais nativas para reflorestamento de áreas de


preservação permanente;

• apoio á construção de cercas para proteção de mananciais, através de concessão


de subvenções econômicas aos produtores rurais;

• apoio na execução de outras práticas conservacionistas, visando ao manejo


integrado dos recursos naturais na micro bacia.

Recuperação de Matas Ciliares

O processo de ocupação do Brasil caracterizou-se pela falta de planejamento e


conseqüente destruição dos recursos naturais, particularmente das florestas. Ao longo
da história do País, a cobertura florestal nativa, representada pelos diferentes biomas,
foi sendo fragmentada, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as pastagens e as
cidades.

A noção de recursos naturais inesgotáveis, dadas as dimensões continentais do


País, estimulou e ainda estimula a expansão da fronteira agrícola sem a preocupação
com o aumento ou, pelo menos, com uma manutenção da produtividade das áreas já
cultivadas. Assim, o processo de fragmentação florestal é intenso nas regiões
economicamente mais desenvolvidas, ficando a vegetação arbórea nativa
representada, principalmente, por florestas secundárias, em variado estado de
degradação, salvo algumas reservas de florestas bem conservadas. Este processo de
eliminação das florestas resultou num conjunto de problemas ambientais, como a
extinção de várias espécies da fauna e da flora, as mudanças climáticas locais, a
erosão dos solos e o assoreamento dos cursos d'água.

Neste panorama, as matas ciliares não escaparam da destruição; pelo contrário,


foram alvo de todo o tipo de degradação. Basta considerar que muitas cidades foram
formadas às margens de rios, eliminando-se todo tipo de vegetação ciliar; e muitas
acabam pagando um preço alto por isto, através de inundações constantes.

Além do processo de urbanização, as matas ciliares sofrem pressão antrópica por


uma série de fatores: são as áreas diretamente mais afetadas na construção de
hidrelétricas; nas regiões com topografia acidentada, são as áreas preferenciais para a
abertura de estradas, para a implantação de culturas agrícolas e de pastagens; para os
pecuaristas, representam obstáculos de acesso do gado ao curso d'água etc.

Este processo de degradação das formações ciliares, além de desrespeitar a


legislação, que torna obrigatória a preservação das mesmas, resulta em vários
problemas ambientais. As matas ciliares funcionam como filtros, retendo defensivos
agrícolas, poluentes e sedimentos que seriam transportados para os cursos d'água,

22
afetando diretamente a quantidade e a qualidade da água e conseqüentemente a fauna
aquática e a população humana. São importantes também como corredores
ecológicos, ligando fragmentos florestais e, portanto, facilitando o deslocamento da
fauna e o fluxo gênico entre as populações de espécies animais e vegetais. Em regiões
com topografia acidentada, exercem a proteção do solo contra os processos erosivos.

Apesar da reconhecida importância ecológica atual, em que a água vem sendo


considerada o recurso natural mais importante para a humanidade, as florestas ciliares
continuam sendo eliminadas cedendo lugar para a especulação imobiliária, para a
agricultura e a pecuária e, na maioria dos casos, sendo transformadas apenas em
áreas degradadas, sem qualquer tipo de produção.

É necessário que as autoridades responsáveis pela conservação ambiental adotem


uma postura rígida no sentido de preservarem as florestas ciliares que ainda restam, e
que os produtores rurais e a população em geral sejam conscientizada sobre a
importância da conservação desta vegetação. Além das técnicas de recuperação é
fundamental a intensificação de ações na área da educação ambiental, visando
conscientizar tanto as crianças quanto os adultos sobre os benefícios da conservação
das áreas ciliares.

A definição de modelos de recuperação de matas ciliares, cada vez mais


aprimorados, e de outras áreas degradadas que possibilitam, em muitos casos, a
restauração relativamente rápida da cobertura florestal e a proteção dos recursos
hídricos, não implica que novas áreas possam ser degradadas, já que poderiam ser
recuperadas. Pelo contrário, o ideal é que todo tipo de atividade antrópica seja bem
planejado, e que principalmente a vegetação ciliar seja poupada de qualquer forma de
degradação.

As matas ciliares exercem importante papel na proteção dos cursos d'água contra o
assoreamento e a contaminação com defensivos agrícolas, além de, em muitos casos,
se constituírem nos únicos remanescentes florestais das propriedades rurais sendo,
portanto, essenciais para a conservação da fauna. Existe um grande aparato de leis,
decretos e resoluções visando sua preservação.

O novo Código Florestal (Lei n.° 4.777/65) desde 1965 inclui as matas ciliares na
categoria de áreas de preservação permanente. Assim toda a vegetação natural
(arbórea ou não) presente ao longo das margens dos rios e ao redor de nascentes e de
resevatórios deve ser preservada.

De acordo com o artigo 2° desta lei, a largura da faixa de mata ciliar a ser
preservada está relacionada com a largura do curso d'água. A tabela apresenta as
dimensões das faixas de mata ciliar em relação à largura dos rios, lagos, etc.
Largura Mínima da Faixa Situação
30 m em cada margem Rios com menos de 10 m de largura
50 m em cada margem Rios com 10 a 50 m de largura
100 m em cada margem Rios com 50 a 200 m de largura
200 m em cada margem Rios com 200 a 600 m de largura
500 m em cada margem Rios com largura superior a 600 m
Raio de 50 m Nascentes
Lagos ou resevatórios em áreas
30 m ao redor do espelho d'água
urbanas
Lagos ou reservatórios em zona rural,
50 m ao redor do espelho d'água
com área menor que 20 ha
Lagos ou reservatórios em zona rural,
100 m ao redor do espelho d'água
com área igual ou superior a 20 ha
100 m ao redor do espelho d'água Represas de hidrelétricas

Um ecossistema torna-se degradado quando perde sua capacidade de recuperação

23
natural após distúrbios, ou seja, perde sua resiliência. Dependendo da intensidade do
distúrbio, fatores essenciais para a manutenção da resiliência como, banco de
plântulas e de sementes no solo, capacidade de rebrota das espécies, chuva de
sementes, dentre outros, podem ser perdidos, dificultando o processo de regeneração
natural ou tornando-o extremamente lento.

Uma floresta ciliar está sujeita a distúrbios naturais como queda de árvores,
deslizamentos de terra, raios etc., que resultam em clareiras, ou seja, aberturas no
dossel, que são cicatrizadas através da colonização por espécies pioneiras seguidas
de espécies secundárias.

Distúrbios provocados por atividades humanas têm, na maioria das vezes, maior
intensidade do que os naturais, comprometendo a sucessão secundária na área
afetada. As principais causas de degradação das matas ciliares são o desmatamento
para extensão da área cultivada nas propriedades rurais, para expansão de áreas
urbanas e para obtenção de madeira, os incêndios, a extração de areia nos rios, os
empreendimentos turísticos mal planejados etc.

Em muitas áreas ciliares, o processo de degradação é antigo, tendo iniciado com o


desmatamento para transformação da área em campo de cultivo ou em pastagem.
Com o passar do tempo e, dependendo da intensidade de uso, a degradação pode ser
agravada através da redução da fertilidade do solo pela exportação de nutrientes pelas
culturas e, ou, pela prática da queima de restos vegetais e de pastagens, da
compactação e da erosão do solo pelo pisoteio do gado e pelo trânsito de máquinas
agrícolas.

O conhecimento dos aspectos hidrológicos da área é de suma importância na


elaboração de um projeto de recuperação de mata ciliar. A menor unidade de estudo a
ser adotada é a micro bacia hidrográfica, definida como aquela cuja área é tão pequena
que a sensibilidade a chuvas de alta intensidade e às diferenças de uso do solo não
seja suprimida pelas características da rede de drenagem. Em nível de micro bacia
hidrográfica é possível identificar a extensão das áreas que são inundadas
periodicamente pelo regime de cheias dos rios e a duração do período de inundação.

Estas informações são extremamente importantes na seleção das espécies a serem


plantadas, já que muitas espécies não se adaptam a condições de solo encharcado, ao
passo que outras só sobrevivem nestas condições.

Técnicas de Recuperação de Matas Ciliares

1. Regeneração Natural:

Através da regeneração natural, as florestas apresentam capacidade de se


recuperarem de distúrbios naturais ou antrópicos. Quando uma determinada área de
floresta sofre um distúrbio como a abertura natural de uma clareira, um desmatamento
ou um incêndio, a sucessão secundária se encarrega de promover a colonização da
área aberta e conduzir a vegetação através de uma série de estádios sucessionais,
caracterizados por grupos de plantas quer vão se substituindo ao longo do tempo,
modificando as condições ecológicas locais até chegar a uma comunidade bem
estruturada e mais estável.

A sucessão secundária depende de uma série de fatores como a presença de


vegetação remanescente, o banco de sementes no solo, a rebrota de espécies
arbustivo-arbóreas, a proximidade de fontes de sementes e a intensidade e a duração
do distúrbio. Assim, cada área degradada apresentará uma dinâmica sucessional
específica. Em áreas onde a degradação não foi intensa, e o banco de sementes
próximas, a regeneração natural pode ser suficiente para a restauração florestal.

24
Nestes casos, torna-se imprescindível eliminar o fator de degradação, ou seja, isolar a
área e não praticar qualquer atividade de cultivo.

Em alguns casos, a ocorrência de espécies invasoras, principalmente gramíneas


exóticas como o capim-gordura (Melinis minutiflora) e trepadeiras, pode inibir a
regeneração natural das espécies arbóreas, mesmo que estejam presentes no banco
de sementes ou que cheguem na área, via dispersão. Nestas situações, é
recomendado uma intervenção no sentido de controlar as populações de invasoras
agressivas e estimular a regeneração natural.

A regeneração natural tende a ser a forma de restauração de mata ciliar de mais


baixo custo, entretanto, é normalmente um processo lento. Se o objetivo é formar uma
floresta em área ciliar, num tempo relativamente curto, visando a proteção do solo e do
curso d'água, determina as técnicas que acelerem a sucessão devem ser adotadas.

2. Seleção de Espécies:

As matas ciliares apresentam uma heterogeneidade florística elevada por ocuparem


diferentes ambientes ao longo das margens dos rios. A grande variação de fatores
ecológicos nas margens dos cursos d'água resultam em uma vegetação arbustivo-
arbórea adaptada a tais variações. Via de regra, recomenda-se adotar os seguintes
critérios básicos na seleção de espécies para recuperação de matas ciliares:

• plantar espécies nativas com ocorrência em matas ciliares da região;

• plantar o maior número possível de espécies para gerar alta diversidade;

• utilizar combinações de espécies pioneiras de rápido crescimento junto com


espécies não pioneiras (secundárias tardias e climáticas);

• plantar espécies atrativas à fauna;

• respeitar a tolerância das espécies à umidade do solo, isto é, plantar espécies


adaptadas a cada condição de umidade do solo.
Na escolha de espécies a serem plantadas em áreas ciliares é imprescindível levar
em consideração a variação de umidade do solo nas margens dos cursos d'água. Para
as áreas permanentemente encharcadas, recomenda-se espécies adaptadas a estes
ambientes, como aquelas típicas de florestas de brejo. Para os diques, são indicadas
espécies com capacidade de sobrevivência em condições de inundações temporárias.
Já para as áreas livres de inundação, como as mais altas do terreno e as marginais ao
curso d'água, porém compondo barrancos elevados, recomenda-se espécies
adaptadas a solos bem drenados.

A escolha de espécies nativas regionais é importante porque tais espécies já estão


adaptadas às condições ecológicas locais. Por exemplo, o plantio de uma espécie
típica de matas ciliares do norte do País em uma área ciliar do sul, pode ser um
fracasso por causa de problemas de adaptação climática. Além disso, no planejamento
da recuperação deve-se considerar também a relação da vegetação com a fauna, que
atuará como dispersora de sementes, contribuindo com a própria regeneração natural.
Espécies regionais, com frutos comestíveis pela fauna, ajudarão a recuperar as
funções ecológicas da floresta, inclusive na alimentação de peixes.

Recomenda-se utilizar um grande número de espécies para gerar diversidade


florística, imitando, assim, uma floresta ciliar nativa. Florestas com maior diversidade
apresentam maior capacidade de recuperação de possíveis distúrbios, melhor ciclagem
de nutrientes, maior atratividade à fauna, maior proteção ao solo de processos erosivos
e maior resistência à pragas e doenças.

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Em áreas ciliares próximas a outras florestas nativas, e quando não se tem
disponibilidade de mudas de muitas espécies, plantios mais homogêneos podem ser
realizados. Nestas situações, deve ocorrer um enriquecimento natural da área
recuperada, pela entrada de sementes vindas das florestas próximas. Entretanto,
salienta-se que o aumento da diversidade nestes plantios homogêneos tende a ser
muito lento, podendo ser necessários posteriores plantios de enriquecimento ou até a
introdução de sementes.

A combinação de espécies de diferentes grupos ecológicos ou categorias


sucessionais é extremamente importante nos projetos de recuperação. As florestas são
formadas através do processo denominado de sucessão secundária, onde grupos de
espécies adaptadas a condições de maior luminosidade colonizam as áreas abertas, e
crescem rapidamente, fornecendo o sombreamento necessário para o estabelecimento
de espécies mais tardias na sucessão. Várias classificações das espécies em grupos
ecológicos têm sido propostas na literatura especializada, sendo mais empregada a
classificação em quatro grupos distintos: pioneiras, secundárias iniciais, secundárias
tardias e climáticas. A tolerância das espécies ao sombreamento aumenta das
pioneiras e climáticas. Para facilitar o entendimento das exigências das espécies
quanto aos níveis de luz, adotou-se apenas dois grupos: pioneiras e não-pioneiras. O
grupo das pioneiras é representado por espécies pioneiras e secundárias iniciais, que
devem ser plantadas de maneira a fornecer sombra para as espécies não pioneiras, ou
seja, as secundárias tardias e as climáticas.

REFERÊNCIAS

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história das praças. Jaboticabal, 2001, 52p.
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LIMA, A.M.L.P.; CAVALHEIRO, F.; NUCCI, J.C.; SOUZA, M.A.L.B.; FIALHO, N.O ; DEL PICCHIA,
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verdes e correlatos. In: Congresso Brasileiro sobre Arborização Urbana, II, São Luiz/MA, 18-
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MACEDO, S.S. Espaços livres. Paisagem e Ambiente ensaios, São Paulo. n. 7, 1995.
MACEDO, S.S. & SAKATA, F.G. Parques Urbanos no Brasil. São Paulo, Editora da Universidade
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1996.
SPIRN, Anne Whiston. O jardim de Granito: a natureza no desenho da cidade. São Paulo: EDUSP,
1.995.

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