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AGRICULTURA DE

PRECISÃO
Introdução à
agricultura de
precisão
Renata Bruna dos Santos Coscolin

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Diferenciar agricultura convencional de agricultura de precisão.


> Demonstrar as diferentes tecnologias envolvidas na agricultura de precisão.
> Descrever as implicações e potenciais da agricultura de precisão.

Introdução
De modo a aumentar a eficiência dentro dos setores agrícolas, a evolução da
informática, das tecnologias em geoprocessamento, de sistemas de posiciona-
mento global e de outras tecnologias vêm para apoiar a agricultura e enxergar a
propriedade com outros olhos. Uma nova forma de gerenciar a propriedade agrícola
transforma cada vez mais o produtor rural em um empresário, por meio do controle
cada vez maior da linha de produção. Partindo da ideia de que a propriedade não
é homogênea, para que se possa atuar conforme as suas necessidades, o produtor
precisa ter um conhecimento detalhado de cada seguimento da linha de produção
ou de cada metro quadrado da sua propriedade.
Neste capítulo, você vai estudar a agricultura de precisão e suas diferenças
com relação à agricultura convencional, as tecnologias envolvidas e os principais
envolvimentos da agricultura de precisão na expansão agrícola no território
brasileiro.
2 Introdução à agricultura de precisão

Agricultura de precisão e agricultura


convencional
Para dar início a esse tópico, vamos apresentar as bases da agricultura con-
vencional e da agricultura de precisão. Entendemos como práticas agrícolas
convencionais operações agrícolas em que máquinas, implementos (arados,
grades, escarificadores, etc.), defensivos e fertilizantes são usados em larga
escala nas plantações, considerando, basicamente, aspectos produtivos da
cultura. Essa prática estimula o uso excessivo de agrotóxicos, transgênicos
e prioriza a monocultura (TÔSTO et al., 2014). Embora seja o modelo que
mais atende às demandas econômicas do mercado pela alta produtividade,
custos reduzidos e maximização dos lucros, esse modelo acelera o processo
de erosão, compactação do solo, desperdício e contaminação da área (YANG;
WILLIS; MUELLER, 2008). Na Figura 1, veja a diferença da necessidade de
calagem entre os modelos de agricultura convencional e de precisão.

Taxa fixa Taxa variável


1 amostra 2,5 ha 1 1 amostra 7,0 ha 1

Consumo Consumo
40 t. 28 t.

Figura 1. Agricultura convencional versus agricultura de precisão: necessidade de calagem.


Fonte: Adaptada de Cropman (2021).

Os avanços tecnológicos e computacionais, no entanto, permitiram o


desenvolvimento de soluções inteligentes para o setor agropecuário, por
meio de um sistema de gerenciamento agrícola que leva em consideração
a variabilidade espacial e temporal da propriedade. Nesse contexto, a pro-
dutividade, a análise das características físicas e químicas do solo (pH, teor
de nutrientes, capacidade de troca iônica, nível de compactação do solo), o
gerenciamento de máquinas (tratores, pulverizadores, adubadoras e plan-
Introdução à agricultura de precisão 3

tadoras) e o controle de pragas (aplicação de agrotóxicos) são considerados


para o desenvolvimento de ferramentas utilizadas nas práticas agrícolas
de precisão.
Essa forma de gestão, que agrega tecnologia aos novos processos de
cultivo, vem sendo usada nas principais commodities agrícolas, como a do
café, do milho, da soja e da cana. Com isso, o êxito alcançado pelo uso dessas
práticas permitiu a expansão da agricultura de precisão para outros setores
agrícolas, como a fruticultura, a pecuária e a irrigação (MOLIN, 2002).
Sabendo que os perfis das zonas agrícolas são distintos e podem ser
influenciados por um conjunto muito grande de variáveis e de naturezas
diversas, dependendo do método utilizado para estimar essa realidade com-
plexa, é difícil de se atentar a todos os detalhes para compreensão dos fatores
elementares que afetam a produção agrícola. Ainda, as áreas agrícolas não
são uniformes em sua produtividade, assim como os fatores que influenciam
na produção, como fertilidade do solo, topografia e clima não o são.
Dessa forma, cada porção da lavoura necessita de um manejo específico
para otimizar a rentabilidade do agricultor e, simultaneamente, impedir im-
pactos ambientais. Em razão disso, a agricultura de precisão leva em conta
as heterogeneidades das lavouras e traz ao produtor um mapeamento da
produtividade, um dentre os diversos métodos para se estimar a heteroge-
neidade de uma lavoura (MOLIN, 2002).
Zhang, Yamasaki e Nanzyo (2002), citam alguns dos principais fatores de
variabilidade que afetam a produção agrícola: variabilidade da produção,
variabilidade do campo, mudanças nos atributos de fertilidade do solo resul-
tantes da aplicação de adubos, variabilidade da cultura densidade de plantio
e, por fim, variabilidade no manejo da cultura.
Acredita-se, portanto, que a implementação da agricultura de precisão se
inicia com a investigação dessa variabilidade, tanto da produtividade quanto
dos fatores de produção anteriormente citados, tendo disponíveis técnicas
de sensoriamento remoto aos produtores, à medida que essa investigação
não se limita a apenas uma simples análise química da fertilidade do solo
por amostragem. Assim, é possível unir a análise química e física a outras
variáveis que influenciam essas características do solo, como, por exemplo,
relevo, clima, cultura, etc. (MOLIN et al., 2002).
Desse modo, a gestão da heterogeneidade existente nas lavouras pode ser
realizada constantemente por meio de quatro etapas, as quais são ilustradas
na Figura 2, conhecidas como o ciclo da agricultura de precisão.
4 Introdução à agricultura de precisão

Amostragem Mapeamento
do solo

Sensoriamento Mapas de
remoto e proximal produtividade
Coleta
de dados

Processamento
de imagens
Hardware
Adubação
Análise e
Processamento
Cultivo Aplicação filtragem
de dados de dados
Plantio
Software

Tomada
Pulverização
de decisão

Especialista
na área
Mapas de
Interpretação
prescrição
de resultados Produtores
de insumos

Figura 2. Ciclo da agricultura da precisão.


Fonte: Pusch, Machado e Amaral (2019, documento on-line).

Para definir qual é a melhor ferramenta da agricultura de precisão a ser


utilizada em sua propriedade é necessário saber que tipo de informações se
pretende extrair, por exemplo, atributos físicos, químicos ou biológicos de
um solo. Além disso, é preciso saber quais os recursos que o produtor tem
disponível. Após essas definições, é preciso determinar quais formas de
amostragem, tipos de sensoriamento e equipamentos serão empregados e
qual é o mapeamento mais adequado para essa área, considerando a melhor
época, a forma como serão coletadas as amostras, quantas amostras por
hectare serão necessárias, etc. (TÔSTO et al., 2014).
Com relação à amostragem dentro da agricultura de precisão, quanto maior
o número de amostras em uma área, maior será a sua representatividade
e, por consequência, melhor será a detecção da variabilidade existente ao
longo da lavoura (MOLIN, 2002). A amostragem pode ser em grade (divisão
do terreno em pequenos polígonos regulares, que têm, na maioria das vezes,
formato quadrado ou retangular), por ponto ou células, ou de forma dire-
cionada quando se tem o conhecimento prévio da área por meio dos mapas
de produtividade ou de sensoriamento, o que pode promover um melhor
entendimento sobre as causas da variabilidade.
Introdução à agricultura de precisão 5

Fases do ciclo da agricultura de precisão


A fase de coleta dados por meio do seu processamento e interpretação, a
partir da análise de imagens, filtragem de dados, etc., fornece informações
sobre a lavoura que possibilitam a tomada de decisão para aumentar a efi-
ciência do uso de insumos de acordo com as características particulares de
cada área. Entre as aplicações em agricultura de precisão, a amostragem
representa uma das principais formas de levantamento de dados do campo.
Essa etapa passa por duas alterações principais em relação àquela utilizada
nas práticas convencionais, sendo elas: a quantidade de amostras — que deve
ser significativamente maior — e o georreferenciamento — que deve ter a sua
posição no espaço conhecida (TÔSTO et al., 2014).
A partir de uma boa amostragem, busca-se as ferramentas que ofere-
cem otimização do uso de insumos, evitando perda ou excesso durante a
aplicação de fertilizantes, corretivos e agrotóxicos. Isso gera o aumento da
produtividade, pois, por meio da gestão especializada, os fatores limitantes
são corrigidos à medida que são detectados. Além disso, o acompanhamento
em tempo real da lavoura permite tomadas de decisões rápidas e assertivas,
elevando o potencial produtivo (SOARES FILHO; CUNHA, 2015). Por fim, melhora
na qualidade do produto colhido, à medida que esse uso otimizado de insumos,
de forma localizada, com uso de métodos de gestão mais assertivos e ágeis
geram, a cada vez, produtos com qualidade superior.
As diversas tecnologias disponíveis na agricultura de precisão permitem,
por exemplo, reduzir a competição entre plantas, monitorar o desenvolvi-
mento da lavoura, identificando os focos de infestação de pragas e doenças,
bem como o desenvolvimento vegetativo para obtenção de um produto com
maior qualidade. Nesse contexto, a chamada agricultura 4.0 funde análise de
dados, maquinário autônomo (conectado a sistemas de gestão) e inovações
em biotecnologia para aumentar o volume da colheita.
6 Introdução à agricultura de precisão

Agricultura de precisão versus agricultura 4.0

Sabemos que a integração do cultivo com o sistema tecnológico


aplicada aos setores agrícolas proporciona maior precisão e produtividade nos
seus processos de cultivo. Entretanto, existe uma diferença entre a agricultura
de precisão e a agricultura 4.0. Enquanto a agricultura de precisão faz a coleta
de informações e dados do solo, realizando análises sobre a localização do
cultivo e sugerindo as quantidades mais adequadas de insumos para alcançar
as produções desejadas, a agricultura 4.0 trata das ferramentas digitais e tec-
nológicas utilizadas para os processos produtivos. São equipamentos digitais
de ponta e que se conectam a softwares que atuam no processo de otimização
do sistema de produção agrícola.

Principais tecnologias envolvidas na


agricultura de precisão
A utilização de sensores tem sido uma das principais ferramentas para a
difusão da agricultura de precisão. Por meio de diferentes técnicas auxiliadas
por esses sensores é possível obter uma maior quantidade de dados sobre
uma área em relação aos métodos tradicionais, geralmente baseados em
amostragem (MOLIN; RABELLO, 2011).
Conhecidos como parte da “agricultura digital”, esses sensores são cada
vez mais empregados pelos grandes, médios e até pequenos produtores para
monitorar as lavouras e seus dados. Após serem processados, os dados são
utilizados para tomada decisões automáticas (BRASIL, 2013).
No entanto, apesar de todo esse desenvolvimento, são poucas as técnicas
de sensoriamento que têm como foco a investigação especializada da lavoura.
Nesse sentido, destacam-se as técnicas de sensoriamento remoto e proximal.
Sensores proximais correspondem a sensores que obtêm os dados a partir
do contato direto com o alvo ou muito próximo. Eles são utilizados no campo,
conduzidos de forma manual ou embarcados em máquinas agrícolas, o que
torna possível medir em tempo real.
Atualmente, esses sensores proximais são destinados à coleta de dados de
solo e do dossel das plantas. Para identificação das variedades encontradas
no solo, destacam-se os sensores que registram a condutividade elétrica
aparente (CEA) (MOLIN; RABELLO, 2011). Na Figura 3, estão ilustrados três
tipos de sensores.
Introdução à agricultura de precisão 7

A
B

Figura 3. (a) Sensor de refletância de dossel (Crop spec); (b) sensor de medição de clorofila
(Clorofilômetro); (c) sensor de condutividade elétrica do solo, umidade e temperatura do
solo (Shenzhen).
Fonte: a) TOPCON (2021, documento on-line); b) Silveira, Gonzaga e Sarmento (2017, documento
on-line); c) Condutividade... (2021, documento on-line).

Já com relação aos sensores utilizados no dossel das plantas, destacam-


-se os sensores de refletância, também conhecidos como sensor de verde
ou de clorofila. Esses sensores conseguem identificar implicações sobre a
variação do acúmulo de biomassa da parte aérea da cultura e, consequente,
possibilitam direcionar a aplicação de insumos. Também podem ser usados
para identificar a presença ou a ausência de plantas, o que permite, por
exemplo, guiar a aplicação de herbicidas ou a investigação de falhas na
cultura (SOARES FILHO; CUNHA, 2015).
8 Introdução à agricultura de precisão

O uso de sensores na agricultura de precisão contribui para que a


produção seja mais eficiente, impactando positivamente em questões
ambientais. Ao implantar sensores em campos para mapeamento, os agricultores
podem entender suas culturas com mais detalhes. Esses sensores se dividem em:
„ sensores de localização: utilizam sinais de satélites GPS e determinam altitude,
longitude e altitude, permitindo a representação topográfica do terreno, a
elaboração de mapa de rendimento, de limites do terreno, de áreas úmidas
— informações úteis ao planejamento agrícola;
„ sensores ópticos: utilizam a refletância do solo e das plantas, geralmente
são utilizados para identificar características das plantas e propriedades
físicas do solo;
„ sensores eletroquímicos: fornecem informações essenciais, tais como pH e
níveis de nutrientes do solo. São dotados de GPS em conjunto com máquinas
agrícolas;
„ sensores mecânicos: utilizam uma sonda que penetra no solo e registra a
força usada pelas raízes na absorção de água e são úteis para intervenções
de irrigação;
„ sensores capacitivos: utilizado, principalmente, para avaliar os níveis de
umidade do solo e medir a constante dielétrica — uma propriedade elétrica
que muda dependendo da quantidade de umidade presente no solo.

Resumidamente, os sensores captam o comportamento espectral dos


alvos, o que permite tirar algumas conclusões sobre eles. Esses sensores
são instalados em satélites, aeronaves e em veículos aéreos não tripulados
(VANT) — também conhecidos como drones. Na Figura 4, veja diferentes
plataformas para os sensores remotos.
Introdução à agricultura de precisão 9

A B

C D

Figura 4. Diferentes plataformas para os sensores remotos: (a) satélite; (b) avião; (c) drones
(d) sensor proximal embarcado em trator.
Fonte: a) Orbemapa (2021, documento on-line); b) DJI-Agras/Pixabay.com; István Asztalos/Pixabay.
com; c) Molin (2014, documento on-line).

A vantagem desse tipo de sensoriamento de forma remota é a coleta de


dados sem a necessidade de adentrar a lavoura, o que também permite a
cobertura de grandes áreas de forma simples e rápida.
Outra ferramenta muito utilizada na agricultura de precisão é a aplicação
de taxa variável de insumos como: fertilizantes, corretivos e agrotóxicos
(Figura 5). Isso permite o manejo localizado desses insumos e visa a aplicá-
-los de forma correta e eficiente, garantindo que cada porção do solo receba
a dose necessária do insumo para o correto desenvolvimento das plantas.
10 Introdução à agricultura de precisão

Figura 5. Equipamentos que variam a taxa de distribuição de sólidos e pulverização de líquidos:


(a) aplicador a lanço — Lancer 12000 Jan; (b) pulverizador — M4025 John Deere.
Fonte: Copagril (2021, documento on-line).

Amostras de solo georreferenciadas também têm sido empregadas para


obter o conhecimento da variabilidade do solo dentro da propriedade e são
consideradas durante a elaboração dos mapas de fertilidade e a recomen-
dação para adubação. A partir desses mapas, é possível realizar a aplicação
localizada de fertilizantes (Figura 6).

Necessidade de insumo Taxa fixa Taxa variável

Auster Tecnologia, 2019

Figura 6. Representação de um mesmo tralhar de acordo com: a necessidade real de insumo


obtida por mapeamento de solo, uma aplicação a taxa fixa e uma aplicação e taxa variável.
Fonte: Copagril (2021, documento on-line).
Introdução à agricultura de precisão 11

Também existem ferramentas que permitem o plantio e a semeadura


em população variável, para isso, é necessário obter conhecimento da va-
riabilidade a partir das regiões com diferentes disponibilidades de recursos
para desenvolvimento da cultura, como textura do solo ou qualquer outro
fator limitante à produtividade. Com isso, em regiões onde os recursos são
limitantes, a população de plantas recomendável é menor, de forma a garantir
adequadas condições de crescimento às plantas. Por outro lado, em regiões
onde os fatores de produção são abundantes, o solo pode comportar maior
quantidade de plantas, aumentando a produtividade final.

A tecnologia de taxa variável (VRT, do inglês variable rate technology)


veio para tornar possível a atuação localizada sobre as mais diversas
variáveis do campo, permitindo a uniformização da capacidade produtiva do
talhão. Esse método funciona baseado no princípio de que, em vez de se aplicar
uma taxa média fixa estipulada, a vazão do produto é ajustada conforme as
alterações nas necessidade locais. Essa tecnologia deve ser aliada a uma correta
metodologia de análise e aplicação.

Já a unidade de gestão diferenciada (UGD) é uma ferramenta que permite


a separação da propriedade em sub-regiões ou zonas de manejo, onde cada
área forma uma UGD, para a qual é recomendado um manejo específico. Para
a delimitação das UGDs é indispensável a produção de mapas de produtivi-
dade ou de dados que mensurem indiretamente a variabilidade dos cultivos,
obtidos com sensoriamento proximal ou remoto, por várias safras, para
garantir a tomada de decisão à medida que os dados se estabilizam. Outros
fatores de produção que devem ser considerados são as propriedades do
solo e do relevo, por meio dos dados topográficos e sensores de CEA, a fim
de encaminhar as intervenções necessárias de cada UGD (Figura 7).
12 Introdução à agricultura de precisão

Figura 7. Zonas de manejo (UGDs).


Fonte: Quirós et al. (2017).

Apesar de ser um conceito antigo e desejado por muitos, a definição das


UGDs ainda é complexa. Envolve muito conhecimento técnico para seleção
das informações importantes a serem levadas em conta, assim como as me-
lhores formas de análise dos dados para chegar na quantidade e no tamanho
adequados de UGDs dentro de uma mesma lavoura (QUIRÓS et al., 2017).
Outra ferramenta diferenciada é o sistema de direcionamento de má-
quinas, que, por meio da utilização de receptores GNSS (Global Navigation
Satellite System), permite que as máquinas agrícolas sejam direcionadas
automaticamente por um caminho pré-estabelecido, conhecido como “piloto
automático”, sendo talvez a tecnologia de agricultura de precisão mais utili-
zada atualmente. A vantagem dessa ferramenta se dá a partir da otimização
das operações agrícolas em situações de baixa visibilidade (p. ex., operações
noturnas). Isso aumenta o rendimento operacional das máquinas e reduz o
dano às plantas e ao solo, sendo capaz de auxiliar o plantio, passando pelos
tratos culturais até a colheita (MOLIN, 2002).
Uma das ferramentas utilizadas na agricultura de precisão que identifi-
cam a variabilidade de fatores de fertilidade do solo é a formação de grids,
ou seja, amostras georreferenciadas realizadas pela divisão em pequenos
talhões (3 a 5 ha) de acordo com a necessidade de cada agricultor, respeitando
a geoestatística e a qualidade de amostragem feita com equipamentos de
controle automático. Essas amostras são pontos pré-determinados e georre-
ferenciados dentro da área de cultivo utilizando equipamentos GPS, os quais
são essenciais para a criação dos mapas de fertilidade do solo (COELHO, 2005).
Por fim, os mapas de colheita (Figura 8) são feitos por meio de sensores
acoplados nas colheitadeiras e informam a quantidade de produto colhido em
cada porção da lavoura. As informações de produtividade de cada área são
Introdução à agricultura de precisão 13

especializadas, auxiliando os gestores nas investigações das variabilidades


apresentadas e melhoram o entendimento das relações causa-efeito de zonas
de alta ou baixa produtividade (COELHO, 2005).

NDVI Estimación

Rinde
kg/ha
2000 4500

Real Rinde
kg/ha
2000 4500

Rinde estimado: 3350 kgs/Ha


Rinde real: 3185 kgs/Ha

Figura 8. Mapas de produtividade.


Fonte: Magalhães (2017, documento on-line).

Os mapas de produtividade são vitais para o entendimento da variabi-


lidade dos talhões, pois têm uma grande quantidade de dados (COELHO,
2005). Por meio dos mapas de produtividade, pode-se dar os passos iniciais
na utilização de técnicas de agricultura de precisão nas fazendas e otimizar
a aplicação de insumos.
O processo de amostragem do solo e os mapas de fertilidade criados
ocupam uma importância significativa na gestão da lavoura porque auxiliam
e qualificam a tomada de decisões quanto aos procedimentos de correção e
fertilização que serão aplicados no solo. Dessa forma, a eficiência na utilização
de um fertilizante ou corretivo é melhorada, tendo como consequência o
aumento do potencial de produtividade das áreas que recebem esse trata-
mento (BRASIL, 2013).
14 Introdução à agricultura de precisão

A análise de imagens associada à quantidade de luz recebida e refle-


tida pelas plantas tem importância na agricultura e vem crescendo
por meio da utilização de Vant’s pela alta capacidade de obtenção de imagens.
O uso dessas imagens, desde o cálculo e levantamento da área de plantio ao
monitoramento vegetativo das plantações. Esse monitoramento utiliza-se dos
chamados índices vegetativos. Esses índices auxiliam na avaliação da sanidade
das plantas, deficiência nutricional, reconhecimento de áreas com pragas ou
plantas invasoras e podem servir para o cálculo do potencial produtivo do
cultivo analisado.
O primeiro a ser utilizado foi o NDVI (Normalized Difference Vegetation Index),
proposto em 1973 por Rouse et al. O NDVI pode ser calculado tanto em imagens
com a banda do infravermelho quanto por sensores que fornecem seu valor de
acordo com a luz refletida pela planta. Ainda, existem outros índices, como o
MPRI (Modified Photochemical Reflectance Index), proposto por Yang, Willis e
Muller (2008) e validado como indicador vegetativo por Linhares et al. (2013).

Potencial produtivo e econômico da


agricultura de precisão
A agricultura de precisão é um assunto de grande interesse para a atividade
no campo, pois a sustentabilidade na agricultura tem se destacado à medida
que o setor é impactado pelo aumento dos custos de produção, flutuação
de custos e preços e pela procura por produtos mais saudáveis e de melhor
qualidade. Enfrentar esses desafios faz com que empresas agrícolas cortem
custos, aumentem a produção e se tornem mais eficazes, embora essa tarefa
seja impossível sem detalhes precisos. Percebe-se que o destaque da agricul-
tura de precisão se deve ao alto controle e monitoramento. Isso porque, no
geral, quanto maiores forem as propriedades, maiores são as variabilidades
inerentes aos fatores de produção.
Conforme visto anteriormente, por meio de ferramentas de automatização,
a agricultura de precisão permite que tarefas sejam realizadas de forma
mais apurada e eficiente com a utilização de tecnologias e equipamentos
que realizam um maior número de tarefas com mais eficiência e em menor
tempo. Um indício desse benefício é a redução do uso de fertilizantes (alvo
principal dos impactos gerados pelo uso das técnicas da agricultura de pre-
cisão). Além disso, uma importante característica da agricultura de precisão
é a mobilidade, em que câmeras, sensores e mecanismos de automação
permitem que o produtor tenha controle em tempo real da sua fazenda de
qualquer lugar do mundo.
Introdução à agricultura de precisão 15

Ademais, o principal fator para o sucesso na implementação da agricul-


tura de precisão é o grau de variabilidade, em que maiores graus facilitam
a implementação. Esses aspectos abordados pela agricultura de precisão
podem ser estendidos para pecuária e irrigação em apoio às ações de defesa
agropecuária, rastreabilidade e monitoramento dos impactos ambientais.
Dessa forma, o mercado aponta para a inovação e a incorporação da
tecnologia como ferramentas fundamentais para a competitividade e sus-
tentabilidade em resposta à produção crescente de alimentos. Concluindo-se
que agricultura de precisão auxilia a melhoria da gestão da propriedade rural
ao tornar as práticas agropecuárias cada vez mais precisas em contraponto à
agricultura convencional. As tecnologias mediante integração com máquinas
agrícolas, informática e geoestatística tornam cada vez mais assertivas as
decisões, refletindo em um bom gerenciamento agrícola das áreas.
Entretanto, no Brasil, os produtores menores e menos capitalizados não
conseguem investir em insumos que aumentem a produtividade das suas
lavouras, indicando que os efeitos benéficos dessas práticas estão mais
restritos a grandes áreas de lavouras (BRASIL, 2013).

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Introdução à agricultura de precisão 17

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