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— Senhorita? — um elfo alto ofereceu-me o que servia em sua bandeja. Sorri, pegando um
copo de cristal que eu sabia ser um Tom Collins. — Obrigada. A bebida amarelo-limão era
uma das favoritas do casal Crist, logo era a que mais circulava entre os convidados. O elfo
desapareceu por entre a multidão, mas permaneci parada no mesmo lugar, observando o
jardim com os olhos. As folhas das árvores se agitavam, a brisa suave ainda soprava os
vestígios do dia quente; observei todos ao redor em seus elegantes vestidos de festa e
ternos. Tão perfeitos. Tão arrumados. As luzes nas árvores e os empregados vestidos em
seus trajes brancos. O pequeno lago cristalino decorado com velas flutuantes. As joias
brilhantes refletindo nos dedos e pescoços das mulheres.
Tudo ali era tão refinado, mas quando eu olhava para aqueles adultos e a família com quem
cresci ao redor, cheios de dinheiro e vestidos em roupas caras, era como ver uma camada
de tinta que você usa para tentar encobrir madeira apodrecida. Havia atitudes sombrias e
sementes ruins, mas quem se importa se a casa estiver caindo aos pedaços sendo bela por
fora, não é mesmo?
O cheiro da comida permeava o ar acompanhado da música suave tocada pelo quarteto de
cordas, e eu estava na dúvida se devia procurar a Sra. Crist e informar que cheguei, ou ir
embora e inventar alguma desculpa.
Ao invés disso, pressionei o copo de cristal com mais força, sentindo o pulso acelerar
enquanto resistia à urgência de fazer aquilo que mais queria. O que eu sempre fazia.
No topo da imponente mansão dos Crist, eu contemplava com gratidão uma visão
abençoada da Floresta Silvanesti. Um lugar majestoso, cuja beleza ia além das aparências
superficiais. Na minha concepção, quanto mais distante eu admirava o lugar onde nasci e
cresci, mais ele se revelava esplêndido. Todos os dias, ansiava por contemplar minha
amada floresta. E assim o fazia. A cidade, sem dúvida, era muito mais inspiradora à
distância. Como muitas coisas, quanto mais perto nos aproximamos de algo belo, menos
bonito ele se torna. O fascínio reside no mistério, não na mera aparência.
E mesmo após todas as viagens que fiz em minha vida, nada me fascinava mais do que
admirar minha cidade natal. Eu a amava. Não posso dizer que as pessoas eram um
exemplo de inspiração e caráter, pois não eram. Eram corruptas, e isso tornava a cidade
menos bela. Mas eu era parte dela, se eles eram sujos, eu também era.
Subi as escadas enquanto refletia sobre o que diria à mulher que me criou como filha e para
a qual eu estava atrasada para sua festa. A resposta era simples: não diria nada. Sentei-me
em um balanço no último andar daquela imensa casa e vi-me relaxando sob a luz da lua.
Mal conseguia distinguir os elfos que passavam, eram como grãos na distância. Isso era o
que eu mais apreciava. À distância, não importa se somos elfos, anões (embora duvidasse
que conseguiria ver um anão sequer como um grão de areia daquela distância), humanos
ou... meio-elfos. Somos apenas grãos. Relaxei meus músculos, aproveitando os últimos
vestígios da bebida forte em minha taça. Em breve, teria que voltar...
Quando finalmente me rendi e admiti que me atrasaria além do aceitável, vislumbrei uma
luz vermelha escarlate que parecia consumir toda a serenidade de minha visão privilegiada.
As cores vivas da grandiosa Floresta Silvanesti foram tragadas por essa luz. Levantei-me
em alerta e me encostei na cerca de madeira que rodeava a varanda, tentando enxergar
além da cortina de fumaça e das chamas que se erguiam. Meus olhos se arregalaram e
corri do topo da casa. Dirigi-me à entrada principal, onde todos estavam em desespero.
— O que está acontecendo aqui? — perguntei ao elfo que lutava para proteger nossa
cidade.
— Estamos sendo atacados, novamente! É uma guerra! — respondeu ele, com os olhos
arregalados.
Surpreendida, preparei-me para ajudá-lo. Corremos juntos para fora da mansão. Ele era um
bruxo habilidoso, um dos mais talentosos que eu já conheci em minhas viagens.
Os soldados vermelhos. Nós, elfos, estávamos enfrentando uma guerra. Temia pela queda
de nossa floresta e, naquela noite, lutando para proteger meu lar, jurei silenciosamente,
empunhando minha espada, que buscaria ajuda.
"Que Paladine me dê forças para salvar minha casa. Que Paladine me conceda seu poder e
permita que a história dos Silvannesti seja contada", pensava enquanto matava qualquer
um que atravessasse meu caminho. Meu objetivo era resgatar meu povo e levá-los para um
local seguro, longe da floresta. Eu lutava ao lado de meus irmãos e pais, protegendo nosso
povo e enfrentando a tirania daqueles que se consideravam superiores.
— Anne, você precisa levá-los para um lugar seguro. Você precisa ir para Kalaman! —
disse meu irmão mais velho, me empurrando para evitar que um ataque me atingisse.
— Não! Sou mais útil aqui, posso ajudar! — respondi relutante em acatar suas ordens.
Assenti com a cabeça, confiando em meu irmão. Corri, pegando todos aqueles que pude:
anciãos, crianças. No meio do caos, não consegui avistar minha família, mas sabia que eles
estariam seguros. Concentrei minhas forças em levar aqueles que resgatei para um lugar
seguro, mas éramos muitos e estava claro que estávamos perdendo. Estávamos sendo
caçados dentro de nossa própria casa e fugindo pela floresta com um grupo de elfos.
Soldados nos perseguiam, lançando flechas e gritos de guerra.
Eles estavam nos alcançando. Ouvi um grito vindo de algumas pessoas que corriam e olhei
para trás. Os soldados já haviam alcançado nosso grupo com suas habilidades de
cavalaria. Sabia que era apenas questão de tempo, mas não esperava que fosse tão rápido.
— Matem todos! — ordenou um soldado, limpando sua espada em suas vestes, com um
sorriso maléfico nos lábios.
E assim começou uma batalha. Quanto mais inimigos eu matava, mais surgiam. Estava
exausta, ferida e sentia minhas mãos doendo. Em um momento de descuido, eles
conseguiram. Chegaram até onde as pessoas que eu resgatei estavam e, num piscar de
olhos, num estalar de dedos, todos foram assassinados. A sangue frio, sem piedade.
— Você não precisava morrer para que tudo aquilo que você inutilmente protegeu fosse
destruído — cuspiu um dos soldados, com deboche, enquanto me segurava pelos cabelos,
forçando-me a assistir à morte de meu povo.
Senti meu corpo queimar de raiva, meus olhos se encheram de lágrimas ao ver o sangue de
meu povo sendo derramado. Por quê? Eu não entendia o que estava acontecendo.
Vivíamos em paz por tantos anos, e agora éramos atacados. Há mais de um ano, vivíamos
o terror de estar encurralados como animais, nosso rei estava cego não queria aceitar
nossa futura derrota, ele era um tolo, o que passava na minha cabeça vendo as cenas de
horror era o quão estúpida eu fui. Quão sem voz eu fui, como eu era uma burra, tudo era
minha culpa, eu tinha que consertar e quando eu arrumasse tudo eu ia pedir ajuda. Por
todos os elfos que hoje perderam suas famílias eu ia lutar, para a recriação da nossa
floresta e para que outros lugares não caíssem . Senti meu corpo ficar leve, flutuando
metros acima do chão, esse pensamento corria pela minha cabeça enquanto eu sentia o
ódio irradiar meu peito. Era como se o poder fluísse por minhas veias, envolvendo-me em
uma áurea de dor e perda. Eu desejava vingança, desejava mudança.
E então tudo explodiu. Minha cabeça nunca tinha ficado em silêncio e a minha volta foi
como todos os gritos tivessem parado por um instante, e meus proprios pensamentos
tivesse sido interrompidos. Uma luz negra irrompeu de meu corpo, e todos ao meu redor
foram consumidos por chamas negras que surgiram da escuridão. Os gritos agonizantes
ecoaram enquanto eu caminhava no meio da agonia de meus inimigos, encarando a morte
de muitos amigos.
Uma flecha acertou meu ombro, mas, mesmo com a dor insuportável, continuei avançando,
olhando para os corpos sem vida de meus companheiros no chão. Eu caminhava
anestesiada entre as árvores, cansada e à beira da morte.
Minha visão estava turva, e aquilo não era nem mesmo metade dos atacantes que
invadiram meu lar. Caminhei e só pararia quando não conseguisse mais ouvir os gritos de
horror de todo meu povo. Chegou um momento em que não sabia se estava escutando os
gritos ou se eles ecoavam apenas em minha mente. "Eles nunca param de gritar". Meu
corpo estava se rendendo, e, mesmo lutando para continuar, minhas pernas fraquejavam.
Não demorou muito para finalmente cair na grama, sentindo o cheiro da terra que antes me
trazia paz, mas agora apenas me fazia chorar. Em um lugar desolado, cercada apenas por
árvores e pela fraca luz da lua, desejei a morte. Não entendia como ainda estava viva. A
vontade de respirar aquele ar impuro era tão pequena quanto um grão de mostarda. Porém,
aqueles gritos agonizantes, os corpos que apareciam em minha mente assim que eu
fechava os olhos, pensando em desistir, me davam um pouco de coragem e força para
continuar vivendo. Ainda ansiava por vingança, meu corpo clamava por isso. Cada
respiração profunda, cada chance de chamar atenção, mesmo sabendo que talvez não
encontrasse ninguém, demonstrava o quanto eu desejava me vingar. Queria o sangue
daqueles que tiraram a paz de meu mundo. Não sabia como, não sabia como unir meu
povo e vingar minha terra, mas sabia que conseguiria. E que levaria o tempo que fosse
necessário para restaurar o que me foi tirado.
Anne Bissoli-Grimmyre
O segundo cavaleiro
Terceiro Cavaleiro
Darius Aranath
O quarto cavaleiro
Durante esse período, Anne percebeu que não era uma boa
líder. Sua família mergulhou em uma cegueira e crueldade
sem precedentes, afastando-se de seu antigo trono de
glória e vagando pelos lugares mais sombrios, matando
qualquer um que cruzasse seu caminho.
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Sir.West
Anne acordou sem muitas lembranças, confusa e ferida. Seu
instinto foi se transformar na figura de seu irmão mais velho, uma
ilusão imperfeita, mas o suficiente para enganar seus perseguidores.
Ela estava fraca e sangrando, e quando a mulher de cabelos
brancos, Edel, a resgatou, Anne não sabia se podia confiar nela. Ela
permaneceu em silêncio, desconfiada e em estado de choque com
tudo o que havia acontecido.
Para Sir West, as únicas pessoas que importavam em sua vida agora
eram Wander e Edel. Eles foram os únicos que estenderam a mão
para ajudá-lo em sua dor e sofrimento, e ele se sentia
profundamente grato por sua presença e apoio. Ele sentia que
nunca poderia retribuir o suficiente o que eles fizeram por ele.