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RADIOGRAFIA DIGITAL
UMA ÓTIMA REALIDADE
Edson V. Moreira1, Marcelo S. Pereira2, Luis C. Chad3, Marcos Ponciano3,
Ricardo T. Lopes4, Robson P. Manão5.
SINOPSE
O uso da radiografia digital utilizando os DDA´s está agora prestes a ser normalizada para a
aplicação na área de petróleo e petroquímica com a publicação da norma FDIS/ISO 10893-7
(1). São mostrados vários benefícios como: redução do tempo de exposição, melhoria da
saúde e a segurança dos trabalhadores, além de melhorias significativas relativas ao meio
ambiente e a qualidade da imagem radiográfica. Devido às aplicações de produtos em
condições cada vez mais críticas, as especificações e normas utilizadas têm no decorrer dos
últimos anos aumentado os níveis de exigências do produto e reduzido os tamanhos das
descontinuidades aceitas. Para acompanhar esta evolução, os processos de controle da
qualidade das soldas de tubos UOE-SAWL têm aumentado a sua sensibilidade e no caso do
ensaio radiográfico pouco se pôde perceber de evolução dos tão consagrados tradicionais
filmes industriais. Como a técnica digital, em outros seguimentos de produtos e serviços, tem
conseguido bons resultados, a qualidade das imagens digitais em soldas de tubos UOE-SAWL
utilizados em gasodutos e oleodutos foi avaliada utilizando as melhores práticas para
aplicação da radiografia digital de acordo com as normas DNV-OS-F101(2), API 5L(3) e ISO
3183(4), aplicadas mundialmente para a manufatura de tubos. Neste trabalho serão
apresentados resultados das avaliações dos parâmetros fundamentais para verificação da
qualidade das imagens digitais obtidas em corpos-de-prova soldados com defeitos artificiais
utilizando a radiografia direta, que é a mais adequada devido ao alto grau de automação das
linhas de produção de produtos seriados.
1. INTRODUÇÃO
Acompanhando a evolução tecnológica que ocorrem em vários segmentos dos ensaios não
destrutivos, o método radiográfico com a técnica digital tem se mostrado apto às mudanças
que exigem maior nível de qualidade do produto e confiabilidade, melhor produtividade,
segurança e condições de trabalho dos inspetores e operadores. No segmento de petróleo e gás
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1 Doutor em Engenharia de Materiais e Metalurgia – EV&A / UNESP-FEG.
2 Doutor em Engenharia de Materiais e Metalurgia – UNIVERSIDADE ESTADUAL
PAULISTA, FEG.
3 Engenheiro Mecânico - Engenharia do Produto – TENARISCONFAB.
4 Doutor em Ciências – Universidade Federal do Rio de Janeiro.
5 Engenheiro Mecânico – Qualidade END – TenarisConfab.
as características dos tubos de aço, o insumo mais importante dos dutos, estão sendo as mais
afetadas pelas mudanças o que faz com que as técnicas de fabricação e controle destes sejam
aprimoradas. As características técnicas do aço das chapas utilizadas, o processo de formação
e soldagem também está sendo afetados pela busca de melhores praticas. Os processos de
controle da qualidade das soldas dos tubos têm buscado aumentar a sua sensibilidade, visando
à detecção de descontinuidades com a maior probabilidade possível.
O ensaio radiográfico é utilizado durante a fabricação dos tubos e até o momento a técnica em
uso é com filmes, que está em geral no limitado pela sua sensibilidade para suportar novas
exigências não só em termos de qualidade como em perda significativa de produtividade.
Esta, por mais que se possa automatizar, é artesanal e demanda um grande esforço e repetitivo
dos operadores e dos inspetores envolvidos. Atividades dos envolvidas neste tipo de inspeção
vão desde a identificação, colocação do filme, exposição, revelação, fixação, lavagem, laudo
até arquivamento e controle por vários anos fazem parte deste processo.
Uma das técnicas digitais prevista na norma é a radiografia direta (Direct Radiography, DR)
que utiliza detectores planos (Digital Detector Array, DDA), e foi escolhida devido ao alto
grau de automatização e por ser mais adequada às linhas de produção de produtos seriados,
pois as etapas de manuseio e preparação não são necessárias. Este método traz também a
redução do tempo de exposição e do tempo de ciclo de operação, que resulta em benefícios à
saúde e a segurança dos trabalhadores, além de melhorias significativas relativas ao meio
ambiente pela não utilização de filmes e químicos.
Com base nos experimentos realizados que visava avaliar a sensibilidade ao contraste,
resolução espacial básica (BSR), relação sinal ruído (SNR) e comparação de defeitos
artificiais, o método digital mostrou bons resultados e vantagens sobre a técnica convencional.
Este trabalho foi realizado com base na especificação ISO/DIS 10893-7.
2. REVISÃO
Além dos controles dos parâmetros essenciais definidos para garantia de uma boa radiografia
digital que já foram apresentados em algumas publicações e eventos (5,6,7,8,9,10) é
destacado a seguir algumas vantagens extras.
Algumas vantagens já têm sido comprovadas para motivação da radiografia convencional pela
digital. Uma delas é o aumento da probabilidade de detecção dos defeitos (Probability of
Detection, PoD) que é devido a grande melhoria sensibilidade da técnica e também da
facilidade, ou seja, recursos de melhoria de imagem que não são encontrados na técnica
convencional. Pode-se observar na Figura 1 um exemplo de estudo envolvendo as técnicas
radiográficas feito no seguimento aeroespacial em juntas soldadas de aços especiais. A curva
correspondente à radiografia digital mostra que uma falha de 0,05 mm2 é detectada com a
mesma probabilidade de 94% que uma falha de 0,12 mm2 com filme (PD-VS), que tem mais
do dobro do tamanho. Como pode ser observada a radiografia digital obteve um desempenho
acima das outras técnicas o que pode levar a uma melhoria significativa da confiabilidade das
inspeções realizadas.
Outra grande vantagem que é destacada é a do ambiente digital que abre a possibilidade da
integração total do ambiente com as imagens das radiografias digitais, e assim agregar
melhorias da eficiência dos processos e da gestão de todas as imagens. O sistema pode ser
idealizado de forma a criar uma rede local e com acesso remoto via intranet e internet (12).
Um ambiente totalmente digital começa com as aquisições das imagens, seguido de avaliação
e arquivo pelo inspetor nível 2 das imagens das radiografias digitais, incluindo o uso de
gráficos estatísticos de controle e imagens fotográficas de irregularidades superficiais visíveis.
O sistema permite o compartilhamento das imagens para utilização nas análises do progresso
de soldagem, pesquisa e desenvolvimento, nas reuniões, palestras e conferência em qualquer
parte do mundo, além de um monitoramento remoto pelo inspetor nível 3 (13). Permite ainda
que o engenheiro de solda prepare os planos para reparos e avaliações dos defeitos, além do
acesso das imagens pelos inspetores do cliente, auditores, laboratórios, servindo de apoio para
discussão dos especialistas.
Na Figura 2 está mostrado esquematicamente um ambiente integrado de trabalho com
imagens geradas pela radiografia digital.
O detector plano que é considerado uma potencial solução para ser utilizado em radiografias
digitais na área industrial é o detector digital de matriz (DDA ou Digital Detector Array). Na
Figura 3 é possível visualizar uma foto de um DDA.
(a) (b)
Figura 4 – (a) Matriz de sensores de silício amorfo. (b) Fotomicrografia de um pixel.
Um cintilador é um composto que absorve os raios X e converte a energia em luz visível. Um
bom cintilador produz muitos fótons de luz para cada fóton de raios X recebido, ou seja, de 20
a 50 fótons visíveis são produzidos por 1 kV de energia de raios X.
Cintiladores normalmente são compostos por um material de alto número atômico, que tem
alta absorção de raios X, e um ativador de baixa concentração para facilitar a emissão de
fótons visíveis. Cintiladores podem ser granulares como o fósforo ou o iodeto de césio (CsI,
Cesium Iodide).
3. MATERIAIS E MÉTODOS
As amostras foram feitas de chapas fabricadas de acordo com as normas API 5L e a ISO 3183
no grau X65, nas quais foram introduzidos defeitos críticos dos seguintes tipos:
- Trincas;
- Falta de fusão e de penetração;
- Escórias; e
- Porosidades.
3.2 Técnicas
Técnica convencional usando filmes industriais classe 1, de acordo com a ASTM 1815. RX
MG 320, 320kV, 4x4 mm de foco. Para a técnica digital foram utilizados: Detector plano
Varian PaxScan 2520V, mostrado na Figura 6a abaixo, RX Y.TU 225 D04: de 225 kV, 1mm
de foco com Maximo de 1.8 kW, 4mm de filtro de Alumínio na janela do tubo. O arranjo
utilizado na técnica digital é mostrado na Figura 6b abaixo.
(a) (b)
Figura 6. (a) Detector plano Varian PaxScan 2520V (b) Arranjo da exposição.
Foi utilizado o programa Isee! (14), Para obter os valores de SNRN se utilizou uma janela de
medição de 1100 (20 x 55 amostras) distribuídos em 06 pontos próximos da solda toda a
extensão dos corpos-de-provas avaliados. Um exemplo de medição pode ser observado na
Figura 7a cujo valor obtido foi de 498. Para o valor da resolução espacial básica utilizado é o
obtido experimentalmente, ou seja, o diâmetro do fio duplo obtido, utilizando o mesmo
software. Na Figura 7b pode ser visualizado um exemplo de medição do valor
experimentalmente e que se obteve a resolução espacial básica de D10, cujo diâmetro do
arame é de 0,100 mm.
(a) (b)
Figura 7. (a) Leitura dos valores de SNRN. (b) Medição da resolução espacial.
4. RESULTADOS
A SNRn obtida de um DDA é função do numero de telas integradas durante a exposição, este
fator é uma diferença básica dos filmes expostos que ficam limitados a faixa de densidade de
1,8 < D < 4,0 limitado a sensibilidade da classe do filme escolhido. Na figura 8 pode-se
observar algumas curvas do SNRn em função do tempo de integração em diferentes pontos
para uma espessura de parede de tubo de 32,3mm. Para tempo de integração maior que 3 s o
valor de 100 é obtido.
O tempo de integração, com 1 tela por segundo, foi variado de 1 s até 512 s. O arame 11 que é
o observado para valores de SNRn de 100, como é exigido pelo critério mais rigoroso da ISO
10893-7.
Os testes realizados se obtiveram, para todas as espessuras o arame duplo de 10D mostrando
que a resolução espacial desta técnica é dependente do tamanho do pixel do DDA e do
tamanho focal da fonte de Raios X. Na Tabela 1 abaixo se pode observar os valores já
ajustados pelo principio da compensação.
De posse destes dados são mostrados nas Figuras 10a e 10b o desempenho da radiografia
digital em termos de sensibilidade ao contraste in função do tempo de integração de 1, 2, 4, 8,
16 e 32 segundos em relação às exigências da ISO 10893-7, linha azul.
(a) (b)
Figura 10 – Sensibilidade IQI de arame (a) de 4,9 a 9,7 mm. (b) de 19,2 a 32,3 mm.
A Figura 11a mostra que com um tempo de integração de 4s foi obtido o arame W18
(diâmetro 0,063 mm), com 2s o W17 (diâmetro 0,080 mm) e com 1s arame W15 (diâmetro
0,13 mm) para as espessuras de 4,9 mm, 6,4 e 9,7 mm respectivamente.
Na Figura 11b se observa que com tempo de integração de 1s se obteve o arame W14
(diâmetro 0,16 mm), para 2s o arame W12 (diâmetro 0,25 mm) e com 4s o arame W11
(diâmetro 0,32 mm) para as espessuras de 19,2 mm, 25,3 e 32,3 mm respectivamente.
Avaliando de acordo com as normas DNV, API 5L e ISO 3183 se pode observar que para as
espessuras mostradas com 1 s de tempo de integração as exigências das normas citadas são
atendidas.
Figura 11 – Sensibilidade IQI de arame (a) de 10,8 a 15,3 mm. (b) de 36,1 a 36,6 mm.
Neste item comparamos as imagens radiográficas obtidas pela radiografia digital e as imagens
de filmes digitalizados. Para melhor comparação, todas as imagens mostradas nas Figuras 12
e 13 foram geradas no programa “ISee!” e são resultantes do uso de um filtro passa alto para
melhoria dos detalhes, sem ajuste de qualquer parâmetro.
Na Figura 12 são mostradas, para a espessura de 9,7 mm, as imagens geradas pela radiografia
digital com tempo de integração de 2 s e 32 s que são melhores quando comparadas com o
filme D4 AGFA.
Figura 12 – Espessura de 9,7 mm – (a) Filme D4, (b) 2s e (c) 32s.
Na Figura 13 são mostradas, para a espessura de 25,3 mm, as imagens geradas pela
radiografia digital com tempo de integração de 1 s e 32 s que são melhores quando
comparadas com o filme D4 AGFA. Notar que independente do ruído gerado na radiografia
digital é possível ver mais detalhes nas imagens (a) e (b) que na imagem (c).
É importante notar que os tempos utilizados na radiografia digital são pequenos quando
comparados com os praticados usando os tradicionais filmes. Quando testamos espessuras
maiores, por exemplo, para a espessura de 25 mm são obtidos mais de 80% de redução dos
tempos.
5. CONCLUSÕES
Pode-se afirmar que o uso desta técnica digital é uma ótima realidade e certamente irá tomar
espaço da técnica convencional em alguns anos.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS