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COTEQ 063

RADIOGRAFIA DIGITAL – EVOLUÇÃO DE APLICAÇÃO DA TÉCNICA NA


INDÚSTRIA
Carla Alves Marinho1, Ricardo Lopes2, Davi de Oliveira3, Aline Saddock Silva4

Copyright 2011, ABENDI, ABRACO e IBP.


Trabalho apresentado durante a 11ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos.
As informações e opiniões contidas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do(s)
autor(es).

Sinopse

As técnicas de radiografia digital: digitalização de filmes radiográficos, radiografia


computadorizada e radiografia direta, têm sido progressivamente aplicadas na indústria à medida
que a confiança nos resultados obtidos através delas torna a substituição da radiografia
convencional cada vez mais viável e vantajosa. O presente trabalho objetiva discutir as diferenças
entre cada uma destas técnicas, apresentar seu estado da arte, normalização, aplicações e
perspectivas futuras.

1. INTRODUÇÃO

Apesar do muito que já foi publicado a respeito da radiografia digital, ainda existem alguns
equívocos conceituais quanto às técnicas que fazem parte deste horizonte totalmente amplo em
perspectivas e aplicações. Estes equívocos devem-se também, em parte, à própria literatura
especializada, a qual atribuiu ao termo radiografia digital significados muitas vezes distintos, mais
ou menos abrangentes. Porém, já é de consenso que a radiografia digital não é representada por uma
única técnica, mas ao contrário por três possibilidades totalmente diferentes de geração de
radiografias digitais: uma delas é a digitalização de filmes radiográficos, outra é a radiografia
computadoriza e a terceira é a radiografia direta, a qual tem ganhado cada vez mais destaque nos
últimos anos. Estas técnicas têm evoluído continuamente e sua normalização internacional começou
a partir do ano de 2005, havendo ainda muito trabalho pela frente. A indústria pode contar com
todas elas, a depender de seus interesses e possibilidades, mas o espectro de aplicação,
especialmente da radiografia direta, ainda pode aumentar bastante. Este trabalho revisa brevemente
os princípios de cada uma delas, apresenta seu estágio atual, normalização e futuras aplicações na
indústria.

1 M.Sc., Engenheira Metalúrgica e de Materiais – PETROBRAS - CENPES


2 D.Sc., Físico – UFRJ – Laboratório de Instrumentação Nuclear/LIN
3 D.Sc., Físico – UFRJ – Laboratório de Instrumentação Nuclear/LIN
4 M.Sc., Física – UFRJ – Laboratório de Instrumentação Nuclear/LIN
2. Revisão Bibliográfica

2.1 Digitalização de Filmes Radiográficos


A técnica de inspeção empregada continua sendo a radiografia convencional, mas o armazenamento
das imagens é realizado através de mídias eletrônicas. As radiografias obtidas são digitalizadas
através de um escâner específico para este fim, e a qualidade final das imagens depende da
resolução do escâner (usualmente expressa em pares de linhas por milímetro, pl/mm) e do tamanho
de pixel (expresso em μm).

Um sistema de digitalização de filmes consiste de escâner, monitor e software de análise. Escâneres


usuais para a digitalização de imagens geralmente não atendem aos requisitos normativos vigentes,
apresentando limitações sérias quanto à faixa de densidade ótica de filme radiográfico digitalizável.
A figura 1 apresenta alguns modelos de escâneres radiográficos disponíveis no mercado.

Figura 1– Alguns modelos de escâneres radiográficos disponíveis no mercado (extraído dos


sítios das empresas GEIT, CarestreamHealth e CIT, respectivamente).

A vantagem principal da digitalização reside no fato de dispensar a necessidade de manter um


espaço físico controlado para o armazenamento e conservação das radiografias; somam-se os
benefícios inerentes ao trabalho com imagens digitalizadas.

O custo inicial do investimento (para garantir o atendimento às condições de norma) é moderado e


se torna atraente pelas vantagens mencionadas anteriormente. Dentre as técnicas de radiografia
digital, a digitalização é certamente a mais barata.

2.2 Radiografia Computadorizada


Prescindindo do uso de filmes industriais, a Radiografia Computadorizada (RC) se utiliza do
emprego de placas de material fotoluminescente, ditas placas de fósforo ou imaging plates (IP), as
quais armazenam a imagem latente em sua estrutura. Simplificadamente pode-se dizer que este
armazenamento é função da energia da radiação incidente, e proporcional à dose recebida. Durante
a leitura a laser de uma IP, através de um escâner de RC, ocorre emissão de energia na forma de luz
azul, segundo o mecanismo conhecido por PSL -Photostimulated Luminescence- ou Luminescência
Fotoestimulada. O escâner, além de extrair da imagem latente via PSL, converte a resposta emitida
em uma imagem digital, que pode ser prontamente observada na tela de um computador. Ao final
do processo de varredura, a placa deve ser submetida à luz branca intensa, de modo que sejam
eliminados quaisquer resquícios de imagem. Com isso, a placa poderá ser utilizada em uma nova
exposição radiográfica (1)
Um sistema de radiografia computadorizada compreende escâner, placa de fósforo, monitor e
software de análise. O conjunto escâner-placa de fósforo define as principais características de um
sistema e a qualidade final das imagens obtidas. Note-se que um escâner para RC difere totalmente
de um escâner para digitalização de filmes, inclusive no princípio de funcionamento.

A figura 2 apresenta alguns modelos de escâneres para RC disponíveis no mercado.

Figura 2– Alguns modelos de escâneres para RC disponíveis no mercado (extraído dos sítios
das empresas Dürr e CarestreamHealth, respectivamente).

A rapidez na leitura das placas, dispensando os processos usuais de revelação de filmes com uso de
químicos, representa uma das principais vantagens da técnica. Outros pontos fortes seriam o
reduzido de tempo de exposição para aplicações do tipo medição de espessura, inspeção de sede de
válvulas etc., a geração de imagens digitais sem necessidade de digitalização de filmes e a re
utilização das placas de fósforo. Por muito tempo foi veiculada a informação de que para a inspeção
de soldas o tempo e a energia da radiação seriam drasticamente reduzidos. A experiência adquirida
demonstra que a afirmativa não é verdadeira na maior parte dos casos (2), mas as imagens obtidas
podem alcançar a mesma qualidade que radiografias obtidas por filmes industriais (2,3).

O investimento inicial em um sistema de RC é relativamente alto, mas o retorno pode ser rápido em
função do volume de serviço. Existem sistemas de preço mais acessível no mercado, voltados
essencialmente ao segmento odontológico, e que encontraram emprego na indústria em
determinadas aplicações. Porém, sua utilização na inspeção de soldas não é recomendável (1,3),
sendo mesmo vedado por norma (4). Ressalta-se ainda que não se tem notícias da aplicação deste
tipo de sistema para inspeção de soldas na Europa ou nos Estados Unidos (5).

2.3 Radiografia Direta


Na Radiografia Direta (RD) a imagem do objeto inspecionado é formada e apresentada em tempo
real na tela de um computador. Os detectores utilizados em RD são comumente reportados na
literatura como flat panels, ou painéis planos, havendo ainda a denominação de emprego crescente
na atualidade: DDAs (digital detector arrays), a qual também abrange os detectores lineares.

Basicamente a tecnologia da estrutura dos DDAs pode ser descrita em termos da conversão primária
da radiação: conversão indireta (sensores de silício amorfo) e conversão direta (sensores selênio
amorfo ou Cd-Te) e do mecanismo de leitura eletrônica: através de CCDs (Charge Coupled
Detectors), tecnologia CMOS (Complementary Metal Oxide Silicon) e filmes finos de transistores
(TFT) (6).
Os detectores a base de silício amorfo (a-Si) trabalham de forma indireta porque necessitam em sua
estrutura de um material cintilador para conversão da radiação incidente em fótons de luz. Estes
fótons são convertidos em elétrons que podem ser lidos, amplificados, digitalizados e armazenados
como uma imagem (2,7). O a-Si é eficiente para absorção de baixas energias, não tendo
isoladamente aplicação direta nem na área médica nem na área industrial. Porém, o cintilador
acoplado, por produzir luz visível na interação com a radiação, torna este detector eficiente em
qualquer área; característica que tornou esta tecnologia a mais consolidada no mercado (8). DDAs
de a-Si baseadas em estruturas de leitura TFT tem sido disponibilizados comercialmente como
dispositivos com grande área de detecção. A desvantagem é que há perdas na sua resolução espacial
intrínseca, em função da produção de luz no cintilador ser difusa. Nestes detectores, a resolução
espacial média oscila ao redor do valor de 127μm (9).

Em detectores de selênio amorfo (a-Se) a radiação é convertida diretamente em cargas elétricas,


sem geração de luz. Uma vantagem óbvia neste caso é que as cargas formadoras da imagem podem
ser mais eficientemente direcionadas para a estrutura de eletrodos do que com o processo
envolvendo a formação de luz (2,7). O a-Se tem maior eficiência de absorção que a-Si, requerendo
doses menores no “objeto”, o que o torna a escolha ideal para a área médica (8). No entanto, a
camada de selênio tem que ser consideravelmente espessa para garantir uma boa eficiência de
absorção (9,10). A desvantagem é que o espalhamento da radiação e a divergência do feixe podem
prejudicar a resolução espacial da imagem, que se situa em torno de 150μm (9). Detectores de Cd-
Te como base fotocondutiva apresentam o mesmo conceito dos painéis planos de selênio amorfo, e
têm se mostrado a melhor perspectiva de tecnologia de conversão direta para a área industrial (9).
Isso se deve ao fato de que a espessura do filme de Cd-Te necessária para se obter uma boa
eficiência de detecção é inferior à espessura de a-Se nas mesmas condições (200μm vs 1mm) (10).

Flat panels baseados na tecnologia CMOS têm cada pixel configurado com seu próprio
amplificador, o que representa um enorme ganho sobre a tecnologia CCD, por exemplo, na qual um
amplificador é disponível apenas para cada linha de pixels na matriz. Isso quer dizer que, como os
CCDs, eles são formados por silício cristalino, mas a estrutura de leitura é individualmente
endereçada. O projeto de um sensor CMOS permite, ainda, que o controle eletrônico seja localizado
diretamente em cada pixel, ao invés de utilizar um circuito paralelo para executar esta função, como
no caso dos DDAs de a-Si. Estas particularidades trazem vantagens como: maior robustez do
detector, melhor resolução espacial básica (atinge-se até 80µm), maior capacidade de detecção de
fótons e menor probabilidade de ocorrência de bad pixels (6). CMOS é a melhor tecnologia, mas a
fabricação é mais complexa, e com isso apresenta algumas desvantagens como o fato de
proporcionar detectores de pequena área comparativamente aos DDAs de a-Si (8).

Um sistema de radiografia direta compreende flat panel, monitor e software de análise.

A figura 3 mostra um detector plano à base de a-Si, e todo o sistema de RD associado, além de
alguns modelos CMOS acoplados a detectores a-Si.

Devido à resolução espacial limitada exibida pelos detectores planos, o procedimento de calibração
do flat panel desempenha um papel crucial no desempenho da RD, uma vez que pode compensar
esta deficiência através do aumento na relação sinal ruído das imagens. A qualidade final da
radiografia obtida excede o desempenho de filmes convencionais por um fator de 10 vezes ou
superior; por extensão, conclui-se que a radiografia direta pode superar a computadorizada por um
fator ainda maior (11).
(b)
(a)
Figura 3– (a)sistema de radiografia direta à base de a-Si; (b) modelos
empregando a tecnologia CMOS (9).

Dentre as tecnologias digitais, certamente é a de investimento inicial mais alto, além de ser a mais
delicada para uso no campo, mas apresenta a vantagem de necessitar de um reduzido tempo de
exposição, seja qual for a aplicação, além de poder gerar imagens em tempo real de altíssima
qualidade (12). Porém, o bom desempenho, como mencionado, depende de uma adequada
calibração.

A título de exemplificação, a Tabela 1 mostra um breve comparativos entre a radiografia


computadorizada e a radiografia direta, no que se refere a resolução e relação sinal ruído atingíveis.

Tabela 1 – Comparativo entre as técnicas de RC e RD: SRb e SNRN


Parâmetro
SRb (μm) SNRN
Técnica

Radiografia
40-300 ≈ até 300
computadorizada

Radiografia direta 80-200 ≈ até 1500

Fonte: referência (9)

3. Estágio Atual de Desenvolvimento

3.1 Digitalização de Filmes Radiográficos


A radiografia convencional não foi totalmente substituída na indústria e nem na área médica, e seria
especulativo tentar prever o momento em que isso se dará, assim sendo, o campo para a técnica de
digitalização de filmes é amplo e tem-se observado a prestação deste serviço em várias frentes de
trabalho, ao menos no caso da PETROBRAS.

A avaliação da qualidade das imagens obtidas por digitalização está bem estabelecida por norma e
se dá basicamente através de dois passos: digitalização do filme padrão de referência, para
avaliação do sistema de digitalização, e comparação das imagens digitais com seus respectivos
filmes industriais escaneados. Após o processo de digitalização todos os indicadores de qualidade
de imagem (IQIs) devem ser visíveis na imagem digital assim como são discerníveis no filme
radiográfico original.
A figura 4 mostra o filme padrão de referência e as características do sistema de digitalização que
podem ser avaliadas através deste.

Desvio de linearidade

Resolução do escâner

Sensibilidade ao
contraste

Mínima faixa dinâmica


do sistema de digitalização

Figura 4– Filme padrão de referência e características do sistema de digitalização que podem


ser avaliadas através deste (9).

As normas vigentes sobre a técnica, em âmbito nacional e internacional, são as que seguem:

-ABNT NBR 15782 - Digitalização de filmes radiográficos industriais, 2010;

-ISO 14096, parts 1 e 2: Non-destructive testing- Qualification of radiography systems, 2005;


-ASME Section V, Art 2, Mandatory Appendix VI, Digital ImageAcquisition, Display, Interpretation
and Storage for Nuclear Applications, 2005.

Os sistemas de digitalização voltados para o segmento industrial são capazes de atender aos
requisitos normativos sem dificuldades, além de apresentar uma abrangente faixa de trabalho.
Alguns modelos são capazes de digitalizar filmes com densidade ótica de até 4,70HD.

Ainda não existe um Sistema Nacional de Qualificação específico para o inspetor de digitalização
de filmes radiográficos, mas se o profissional é qualificado pelo Sistema Nacional de Qualificação e
Certificação de Ensaios Não Destrutivos (SNQC-END) referente à radiografia convencional ele
pode se capacitar através de um treinamento especifico. Este treinamento deverá torná-lo apto para
a operação do sistema de digitalização a ser utilizado. A norma brasileira NBR15782 descreve os
requisitos de qualificação de pessoal no país.

3.2 Radiografia Computadorizada


A área médica foi pioneira no emprego da radiografia computadorizada e as empresas fabricantes
destes sistemas primeiramente direcionaram seus produtos para este segmento. O setor industrial
consagrou esta tecnologia posteriormente, e a maior parte dos esforços empreendidos pelos grupos
de pesquisa, especialmente os europeus, estava focada em estudos sobre classificação e avaliação de
sistemas de RC, bem como em testes experimentais voltados à aplicações do tipo medição de
espessura (13,14,15). Pouco havia sido publicado sobre radiografia computadorizada na inspeção de
soldas. No Brasil surgiam algumas iniciativas pioneiras, mas ainda sem o devido conhecimento das
especificidades da técnica e sua detectabilidade comparada à radiografia convencional. Este
desconhecimento, aliado a carência de literatura técnica, fazia com que o processo de elaboração de
procedimentos de inspeção de soldas se baseasse em tentativas e erros, sem garantias de
confiabilidade dos resultados. Não se conheciam sequer os parâmetros necessários para avaliação
da qualidade de radiografias obtidas pela técnica computadorizada.

As primeiras normas sobre RC foram lançadas em 2005 pela Comunidade Européia (16,17) e
apresentaram dois novos parâmetros de qualidade adicionais, além da sensibilidade radiográfica:
resolução básica espacial (SRb) e relação sinal ruído normalizada (SNRN). A resolução básica
espacial de um sistema de radiografia computadorizada está relacionada ao tamanho de pixel efetivo
da imagem, enquanto que a relação sinal ruído (SNR) pode ser descrita como a razão linear entre o
valor médio da intensidade do sinal sobre o desvio padrão do sinal nesta intensidade. Os valores
mínimos de SNRN a serem exigidos para uma radiografia digital foram extraídos a partir das
normas internacionais que tradicionalmente descrevem a prática de radiografia industrial. No
mesmo ano, a ASTM publicou normas análogas às normas européias (18,19). Pouco antes destes
trabalhos, o comitê do ASME já havia se debruçado sobre o tema requisitando apenas o controle da
sensibilidade com o uso de IQIs, o que se mostrou insuficiente para a obtenção de radiografias de
qualidade em soldas (1,20,21).

Para sair do estágio de tentativas e erros, a PETROBRAS conduziu um imenso trabalho de pesquisa
experimental para obter mais informações sobre o desempenho da RC comparativamente a
radiografia convencional. O trabalho contou com a participação da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, de empresas fabricantes de equipamentos e de algumas empresas prestadoras de serviço de
inspeção. Como resultados do empreendimento, as prestadoras de serviço foram capacitadas para
execução da inspeção de soldas com emprego de RC, foram qualificados alguns procedimentos de
inspeção de soldas (somente com uso de aparelhos de raios X como fonte), dentro da faixa de
aplicação da técnica de Parede Dupla Vista Dupla (PDVD), e todos os participantes adquiriam mais
conhecimento, teórico e prático, sobre a radiografia digital, no que diz respeito à técnica
computadorizada (3). Este conhecimento colocou o país em uma posição de vanguarda,
relativamente ao resto do mundo, pois não se encontrava, até então, na literatura técnica registros de
um trabalho de igual porte. Os passos seguintes consistirão no aprofundamento do estudo realizado,
para outras faixas de diâmetro e espessura, bem como em uma nova abordagem do uso de isótopos.
Na mesma diretriz, a técnica de radiografia direta, com emprego de flat panels, merecerá mais
atenção em função de suas potencialidades quanto à detectabilidade e otimização do tempo de
inspeção. Moreira et all conduziu um importante estudo com RD aplicada à inspeção de tubos na
fábrica (12).

Paralelamente, tem-se observado que avançam os textos normativos sobre radiografia digital, em
âmbito internacional, que prestadoras de serviço tem se interessado pela radiografia direta e que
trabalhos análogos aos da PETROBRAS e suas parceiras estão sendo conduzidos em centros de
pesquisa europeus.

Na Europa, a substituição da radiografia convencional pela computadorizada está sendo conduzida


com cautela e, até bem pouco tempo, a maioria dos países membros da Comunidade Européia não
usava a RC na inspeção de cordões de solda (22). Isto se devia ao pequeno número de modelos de
escâner que satisfaziam às rigorosas condições impostas pelas normas européias.

As normas dedicadas à radiografia computadorizada, em âmbito nacional e internacional são as que


seguem:
ABNT NBR 15783 - Ensaios não destrutivos — Radiografia industrial — Medição de Espessura
em Tubulações e Acessórios com uso de Radiografia Computadorizada, 2010;

ABNT NBR 15790 - Ensaio Não Destrutivo - Radiografia Industrial - Inspeção de Soldas por
Radiografia Computadorizada. Técnica de Parede Dupla Vista Dupla, 2010;

ASME Section V, Art 2, Mandatory Appendix VIII, Radiography Using Phosphor Imaging Plate,
2005;
EN-14784 partes 1 e 2 – encontram-se em revisão para transformarem-se em normas ISO (16,17);
ASTM E 2007 Standard Guide for Computed Radiology (Photostimulable Luminescence (PSL)
Method), 2007 – funciona como uma guia do ensaio;
ASTM E 2033 Standard Practice for Computed Radiology (Photostimulable Luminescence
Method), 1999 – aborda a prática de ensaio e encontra-se em revisão;
ASTM 2445 – descreve testes para a verificação da estabilidade de longo prazo de sistemas de RC
(18);
ASTM 2446 – aborda a classificação de sistemas de RC (19).

Em elaboração:
ISO 17636 Non-destructive testing of welds — Radiographic testing — Part 2: X and Gamma Ray
Techniques with Digital Detectors;
ISO10893 Non-destructive testing of steel tubes – Part 7: Digital radiographic testing of the weld
seam of welded steel tubes for the detection of imperfections;
CEN TC 138 WI 00138xxx1 Non-destructive testing — Radiographic Inspection of Corrosion and
Deposits in Pipes By X- and Gamma Rays – Tangential Radiographic Inspection;
CEN TC 138 WI 00138xxx2 Non-destructive testing — Radiographic Inspection of Corrosion and
Deposits in Pipes By X- and Gamma Rays — Double Wall Radiographic Inspection

Também não existe ainda um Sistema Nacional de Qualificação específico para o inspetor
envolvido com a técnica de radiografia computadorizada, mas as normas brasileiras NBR15783 e
NBR 15790 descrevem os requisitos de qualificação de pessoal no país.

3.3 Radiografia Direta


Esta é a técnica radiografia digital mais recente e tem demandado muitos trabalhos de pesquisa no
intuito de aprimorar a qualidade das imagens obtidas e desenvolver sistemas de inspeção aplicáveis
ao ambiente industrial.

Características comuns a quaisquer DDAs são a rigidez e a fragilidade, dificultando as aplicações


em campo, assim como em superfícies curvas (na técnica de parede dupla vista simples – PDVS).
Adicionalmente, a maior parte dos detectores empregados na RD degrada-se durante sua vida útil
(7). Alguns artefatos aparecem e criam pseudo-estruturas que podem influenciar na percepção de
defeitos, destacando-se o problema dos pixels ruins-mortos (bad-dead pixels), os quais prejudicam a
aplicação da técnica.

Os painéis planos permitem uma inspeção rápida e eficiente. A maioria deles é usada em cabines de
raios X, e necessitam de condicionamento protegido do meio ambiente. A técnica de RD é
especialmente vantajosa para aplicações em tempo real na radiografia de peças pequenas, leves e
preferencialmente planas, embora seja usada também em soldas longitudinais de tubos de grande
diâmetro (7,12). No caso de inspeções de componentes seriados, sistemas automáticos de
reconhecimento de defeitos podem ser utilizados para aceitação-rejeição de peças de acordo com
um critério pré-estabelecido. A rápida aquisição de dados e a habilidade de permitir o teste com
altos valores de dose (mA) permitem uma inspeção em ciclos muito curtos e sem necessidade de
movimentar a peça em várias posições. Porém, é necessária a inspeção periódica de padrões,
contendo defeitos artificialmente inseridos, para garantir a confiabilidade do sistema e da rotina de
reconhecimento de defeitos (23). Atualmente, abre-se campo para emprego em tomografia
computadorizada.

Algumas empresas prestadoras de serviço têm mostrado interesse no emprego da RD nas condições
de campo, já que os ganhos na otimização do trabalho são consideráveis, porém, a maioria dos
detectores planos apenas devem ser utilizados em conjunto com fontes de raios X, além do fato já
mencionado de serem equipamentos delicados.

Os parâmetros de qualidade exigidos são os mesmos considerados pela radiografia


computadorizada e a detectabilidade da técnica deve ser, no mínimo, equivalente a da radiografia
convencional. A figura 5 mostra um exemplo, para uma mesma amostra, de uma radiografia obtida
por RC, através de um sistema escâner-placa de fósforo de alta qualidade, e outra por RD,
empregando um DDA de a-Si. A qualidade extremamente inferior da imagem obtida por RD deve-
se a um procedimento de calibração inadequado e ao emprego de uma fonte de raios X pulsada. A
figura 6 mostra que a qualidade alcançada por um flat panel (no caso, a-Si) pode superar os
resultados da radiografia computadoriza e convencional com facilidade, desde que o ensaio seja
devidamente conduzido.

(b)
(a)
Figura 5– Radiografia de um corpo de prova de Ø3” sch80: (a) radiografia computadorizada
(W11, SRb 100μm, SNRN 125) ; (b)radiografia direta (W9, SRb 200μm , SNRN 85).

Não existem normas nacionais aplicáveis à radiografia direta, e em âmbito internacional os


documentos publicados são relativamente recentes:

ASTM E 2597 Standard Practice for Manufacturing Characterization of Digital Detector Arrays ,
2007 - focada na inspeção de qualidade e caracterização do produto por parte do fabricante de
DDAs;
ASTM E 2698 Standard Practice for Radiological Examination Using Digital Detector Arrays,
2010 – aborda a prática do ensaio;
ASTM E 2736 Standard Guide for Digital Detector Array Radiology, 2010 - funciona como uma
guia do ensaio;
ASTM E 2737 Standard Practice for Digital Detector Array Performance Evaluation and Long
Term Stability, 2010 - descreve testes para a verificação da estabilidade de longo prazo de sistemas
de RD.
(a) (b)

(d)
(c)

Figura 6– (a)Filme classe I digitalizado- contraste W14 D=2,5HD. (b)Sistema de RC


de alta definição (W14, SRb 80μm, SNRN=299); (c)Flat Panel a-Si (W15, SRb 160μm,
SNRN=181); (d)Detalhe ampliado da figura anterior onde se percebe a presença de
defeitos não detectados pelas outras técnicas de radiografia (2).

As normas em elaboração, mencionadas no item anterior, ISO 17636-2 e ISO10893-7, contemplam


o emprego de flat panels na inspeção de cordões de solda.

A PETROBRAS conta com normalização específica para digitalização de filmes e radiografia


computadorizada desde 2007, mas não dispõe de qualquer norma que abranja o emprego de flat
panels. No entanto, a Companhia dispõe de especificações técnicas para inspeção de estruturas
offshore as quais contemplam o emprego da radiografia direta.

Devido ao restrito emprego que a radiografia direta ainda encontra no país, acredita-se que a
elaboração de um Sistema Nacional de Qualificação específico para o inspetor envolvido com a
técnica é um processo a ser implementado em longo prazo.

Até o momento, ainda não foram implementados sistemas de qualificação de pessoal para as
técnicas de radiografia digital em outros países.

4. Perspectivas Futuras

Novas tecnologias em equipamentos para digitalização de filmes, sistemas de radiografia


computadorizada e radiografia direta têm sido continuamente disponibilizadas no mercado, como
pode ser visto em uma visita aos sítios das empresas CarestreamHealth, CIT, DÜRR, GEIT, FUJI,
YXLon, dentre outras.

A técnica de digitalização de filmes não parece vislumbrar um potencial de aplicação tão


abrangente quanto o das outras duas, mas sua utilização pode aumentar bastante se for considerado
o imenso número de radiografias armazenadas nos arquivos de diversas empresas. Somam-se as
radiografias obtidas diariamente pela técnica convencional, a qual não deixou de ser praticada em
obras de campo ou no controle de produto de determinadas indústrias.

A radiografia computadorizada encontra campo na inspeção tradicional de soldados, fundidos,


forjados e laminados, sendo seu emprego continuamente ampliado na medida em que a radiografia
convencional é substituída. Há outras aplicações nas quais a radiografia com filmes não apresenta
ganho de produtividade, como é o caso da medição de espessura (de tubulações, bocais de pequeno
diâmetro, drenos e vents), determinação da localização e mensuração de depósitos (em tubulações e
dutos), inspeção de sede de válvulas e inspeção de linhas elétricas energizadas. Nestes casos a RC
apresenta uma relação custo benefício inegavelmente superior, especialmente pela redução do
tempo de exposição e pela rapidez e praticidade na extração da imagem latente.

Em caráter pioneiro a PETROBRAS executa o serviço de inspeção com gamagrafia submarina


assistida por mergulhadores. As técnicas utilizadas têm sido a radiografia convencional, para
inspeção de soldas, e a radiografia computadorizada para medição de espessura (24,25). Na medida
em que os sistemas de RC forem se aprimorando em termos de resolução espacial e relação sinal
ruído atingível, a técnica poderá substituir completamente a radiografia com filmes na inspeção
submarina.

A radiografia direta pode ser utilizada em todas as aplicações descritas para a RC, além do emprego
em tomografia computadorizada e sistemas de inspeção do tipo in-motion. Os principais fatores
limitantes para que a técnica cresça no mercado são a sensibilidade destes sistemas às severas
condições de umidade, calor e poeira que predominam nas frentes de trabalho de campo, o alto
custo dos detectores planos e a necessidade de contratação de uma mão de obra altamente
especializada. Porém, a RD representa o que de melhor existe na atualidade em termos de
radiografia digital e muito provavelmente o futuro convergirá para as soluções que proporcionam
imagens em tempo real.

5. Conclusões

O termo radiografia digital abrange três técnicas distintas entre si: digitalização de filmes
radiográficos, radiografia computadorizada e radiografia direta.

A digitalização de filmes é o método mais simples dentre as técnicas digitais. Suas vantagens
principais consistem na otimização do armazenamento de imagens radiográficas, o qual se dá
através de mídias eletrônicas, e na possibilidade do emprego de ferramentas computacionais para
análise das radiografias. O escopo de aplicação da técnica não é tão amplo quanto o das demais,
porém há um considerável número de clientes em potencial, já que a radiografia convencional ainda
não foi completamente substituída.

A radiografia computadorizada não requer o uso de filmes, e com isso elimina as etapas trabalhosas
de fixação/revelação e a geração de resíduos químicos. O processo é bastante similar ao da
radiografia convencional, porém a imagem latente é armazenada em placas de fósforo e extraída por
varredura laser através de um escâner específico. A técnica pode ser utilizada na inspeção
tradicional de soldados, fundidos, forjados e laminados, além de outras aplicações nas quais
apresenta elevada relação custo benefício como: medição de espessura, localização e mensuração de
depósitos, inspeção de linhas elétricas energizadas etc. A qualidade alcançada pode ser equivalente
àquela obtida por filmes industriais.
A radiografia direta proporciona imagens em tempo real graças ao emprego de detectores planos,
conhecidos como flat panels ou DDAs (digital detector arrays), eliminando assim a etapa de
revelação ou escaneamento. Pode ser utilizada em todas as aplicações possíveis para a radiografia
computadorizada, além do emprego em tomografia computadorizada e sistemas de inspeção do tipo
in-motion. As grandes limitações da técnica são o alto custo dos detectores, sua sensibilidade às
severas condições de campo e a necessidade de mão de obra altamente especializada.

A normalização das técnicas digitais já está bem avançada para as técnicas de digitalização de
filmes e radiografia computadorizada, embora para esta última ainda haja textos em elaboração.
Estes textos contemplarão também a radiografia direta, a qual já conta com alguns documentos
específicos. No Brasil, apenas a radiografia direta não foi normalizada, inclusive pelo emprego
restrito desta tecnologia na atualidade.

A certificação de pessoal em radiografia digital não foi implementada no Brasil ou em qualquer


outro país, mas, a médio prazo, as iniciativas que começam a se concretizar serão concluídas.

6. Referências Bibliográficas

(1) Marinho, C.A., Rabello, J.M.B., Mello, M.A., Iguchi, E.T., Lopes, R.T., Oliveira, D.F.;
“Radiografia Computadorizada – O Estado-da-Arte”, Revista Abende, ano IV, nº 23, Dez (2007);

(2) Marinho, C.A., Lopes, R.T., Rebello, J.M.A.; “Film Replacement by Digital Techniques in Weld
Inspection”, Materials Evaluation, pp529-539, July (2008);

(3) Marinho, C.A., Rabello, J.M.B., Mello, M.A., Iguchi, E.T., Lopes, R.T., Oliveira, D.F., Silva,
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