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SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E SUA IMPORTÂNCIA EM PATRIMÔNIOS

HISTÓRICO-CULTURAIS

Yuri Lima Leite1


Edílson Machado de Assis2

RESUMO

O artigo discute as dificuldades e necessidades específicas que patrimônios histórico-culturais


possuem em relação à segurança contra incêndios, levando em consideração os impactos
sociais e econômicos causados por um eventual sinistro que pode proporcionar riscos a vidas
humanas e danos irreparáveis a valiosos acervos. É feita uma análise do modo como os projetos
devem ser elaborados, levando-se em consideração não apenas as normas regulamentadoras,
mas também as condições específicas dos locais. São abordados também alguns aspectos de
análise de projetos, fiscalização, legislação e combate em caso de ocorrências. E conclui-se que
cada projeto deve ser analisado separadamente, devendo-se avaliar as normas
regulamentadoras e as condições específicas de cada construção.

Palavras-Chave: Segurança; Incêndio; Patrimônios histórico-culturais.

INTRODUÇÃO

Quando se aborda o tema segurança contra incêndio, significa que devem ser envolvidos
os elementos de prevenção e combate a incêndios. A ocorrência de um incêndio independe de
condições políticas, geográficas ou econômicas e pode ter proporções devastadoras causando
danos e perdas irrecuperáveis. Ao se pensar em ações a serem tomadas em caso de incêndios,
nos preocupamos principalmente com as que visam a proteção da vida dos ocupantes do local.
Apesar da proteção da vida dos ocupantes ser indispensável, é necessário proteger também
alguns acervos, edifícios ou construções históricas, sendo algumas de valor inestimável para uma
cidade, país ou até para a humanidade. Um incêndio que causa graves danos a acervos, edifícios
ou construções históricas pode significar um impacto emocional e econômico muito grande para
a comunidade.
Um incêndio destruindo, por exemplo, casarões no Pelourinho, a Igreja do Bonfim, o
Farol da Barra, o Mercado Modelo, é algo que causaria grande impacto à sociedade. Nestes
casos, mesmo que o acervo ou as obras de arte estejam protegidos por seguro, em determinadas
situações nenhum valor em dinheiro poderá repor essas peças.
Temos exemplos de vários acontecimentos. Um deles foi o incêndio no Museu de Arte
Moderna no Rio de Janeiro em 1978, que destruiu 90% da coleção do museu, que tinha
aproximadamente 1000 obras de arte. Em menos de uma hora, o incêndio causou à época uma
perda estimada em 50 milhões de dólares. Não era utilizado no edifício o sistema de detecção e
alarme. O edifício foi totalmente recuperado, mas seu acervo não. Inaugurado em 1958, o Museu
de Arte Moderna tem localização privilegiada e muita história para contar. Com 130m de

1
Graduando em Engenharia Civil pela Universidade Católica do Salvador. E-mail: yuri__leite@hotmail.com
2
2 Professor Edílson Machado de Assis, graduado em Engenharia Civil pela UCSal – Universidade Católica do
Salvador, mestre em Engenharia da Produção pela UFBa – Universidade Federal da Bahia, doutorando em
Engenharia Industrial pela UFBa – Universidade Federal da Bahia/PEI – Programa de Engenharia Industrial e
professor da Escola de Engenharia/UCSal; e-mail:. edilsonassis@gmail.com
comprimento e 25m de largura, o prédio está instalado em meio a jardins no Aterro do Flamengo
junto a Baía de Guanabara e bem próximo do centro da cidade.
Vítima de um grande incêndio no ano de 1978, o Museu de Arte Moderna (MAM) mobilizou a
solidariedade de centenas de pessoas em todo o mundo, o que foi fundamental para a
recuperação de sua sede e de seu acervo. Atualmente, o MAM possui uma coleção com cerca de
1.700 obras, entre pinturas, esculturas e gravuras de artistas brasileiros e estrangeiros, além de
uma biblioteca especializada em artes e uma importante cinemateca, onde acontecem as mostras
mais concorridas da cidade.

Figura 1 - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro


Fonte: www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/rio-de-janeiro/museu-de-arte-moderna-do-rio-de-janeiro.php.

A Matriz de Pirenópolis é um dos maiores e tradicionais centros de fé católica para o


povo goiano e foi dedicada à padroeira da cidade. Construída entre 1728 e 1732 no auge da
mineração do ouro. Foi tombada como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1941 e
restaurada entre 1996 e 1999. Um grande incêndio a destruiu em 5 de setembro de 2002.
Sociedade, governo e entidades se mobilizaram para reerguer um dos maiores símbolos
culturais do centro oeste. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
apoiou a restauração e a reinserção do monumento na paisagem. As obras começaram em 2003 e
a Matriz foi reinaugurada em 30 de março de 2006. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário
continua como nasceu, simples, bela e verdadeira. 3

Figura 2 - Igreja de Nossa Senhora do Rosário


Fonte: www.pirenopolis.go.gov.br/patrimonio-historico.html.

A importância da segurança contra incêndio na área científica não é apenas para por em
prática tecnologias avançadas já existentes e incentivar a criação de novos métodos mais
econômicos para construir, mas sim procurar também informar a população dos riscos que a falta
da segurança contra incêndio pode proporcionar a vidas humanas, além de mostrar prejuízos
irreparáveis para a sociedade do ponto de vista histórico-cultural, pois, a depender do dano, é
muito difícil a reconstrução de obras de arte e acervos de diversos artistas, em muitas ocasiões

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feitas há mais de um século. É preciso ter uma preocupação maior com a preservação da cultura
fazendo com que os projetos de segurança contra incêndio sejam executados, visando todos os
aspectos relacionados a patrimônios histórico-culturais. Não basta apenas fazer um projeto
usando normas regulamentadoras, é preciso visualizar a implantação de todos os sistemas e
equipamentos, devido a irregularidades nos locais a serem implantados, como por exemplo, falta
de espaço, estrutura precária e difícil acessibilidade. Dessa forma, faz-se necessário entender a
importância da segurança contra incêndio em patrimônios histórico-culturais, levando a idéia da
prevenção, análise e combate de forma específica.

O FOGO E SUAS CLASSIFICAÇÕES

Segundo Ono, R. (2004 apud Procoro e Duarte, 2006) o fogo é uma manifestação de
combustão rápida com emissão de luz e calor, é constituído por três entidades distintas, que
compõem o chamado "Triângulo do Fogo" (figura 03).

Figura 3 - Triângulo do Fogo


Fonte: www.areaseg.com.

São eles o combustível (material que queima, como a madeira), o comburente (entidade
que permite a queima, como o oxigênio) e o calor. Sem uma ou mais dessas entidades, não pode
haver fogo. Chama-se de fogo ao resultado de um processo exotérmico de oxidação. Geralmente,
um composto orgânico, como o papel, a madeira, plásticos, gás de hidrocarbonetos, gasolina e
outros, susceptíveis a oxidação, em contato com uma substância comburente, como o oxigênio
do ar, por exemplo, ao atingirem a energia de ativação, também conhecida como temperatura de
ignição, entra em combustão. A energia para inflamar o combustível pode ser fornecida por meio
de uma faísca ou de uma chama. Iniciada a reação de oxidação, também denominada combustão
ou queima, o calor desprendido pela reação mantém o processo em atividade. O fogo tem início
e irá durar enquanto houver suprimento contínuo de um combustível, de calor e de um
comburente (oxigênio). O calor de ignição necessário para se iniciar o fogo, na prática é dado
por uma fonte de calor como uma faísca, um fósforo, um raio, etc. Na falta de pelo menos um
dos componentes, didaticamente descritos no triângulo do fogo, o fogo não se inicia, ou se
estiver aceso, apaga-se. Com efeito, pode-se extinguir o fogo retirando-se o calor, por
resfriamento mediante Jato de água ou removendo-se o oxigênio (abafando-se o fogo) ou ainda
retirando-se o combustível (madeira, gasolina, gás, etc.).
Classe de Fogo é uma classificação do tipo de fogo, de acordo com o tipo de material
combustível onde ocorre.
Segundo a NBR – 12693 (1993), o fogo é classificado em função do material
combustível, e se divide em quatro classes:
a) classe A. Denomina-se Fogo Classe A quando ele ocorre em materiais de fácil
combustão com a propriedade de queimarem em sua superfície e profundidade, e
que deixam resíduos, como: tecidos, madeira, papel, fibras, etc.;

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b) classe B. Denomina-se Fogo Classe B quando o fogo ocorre em produtos
inflamáveis que queimem somente em sua superfície, não deixando resíduos,
como óleo, graxas, vernizes, tintas, gasolina, etc.;
c) classe C. Denomina-se Fogo Classe C quando o fogo ocorre em equipamentos
elétricos energizados como motores, transformadores, quadros de distribuição,
fios, etc;
d) classe D. Denomina-se Fogo Classe D quando o fogo ocorre em elementos
pirofóricos como magnésio, zircônio, titânio, entre outros. Inflamam-se em
contato com o ar ou produzem centelhas e até explosões, quando pulverizados e
atritados.

Contemporaneamente o triângulo do fogo foi acrescido com mais um elemento: a reação em


cadeia, formando deste modo o tetraedro ou quadrado de fogo (figura 4).

Figura 4 - Tetraedro ou quadrado do fogo


Fonte: www.users.femanet.com.br/química/matsemana/MOD_2.doc.

Os combustíveis, após o inicio a combustão, geram mais calor, assim liberando mais gases ou
vapores combustíveis, sendo que os átomos livres são os responsáveis pela liberação de toda a
energia necessária para a reação em cadeia. (NILTON, 1996).

CLASSIFICAÇÃO DO INCÊNDIO QUANTO ÀS CARACTERISTICAS


CONSTRUTIVAS

Quando se avalia a proteção contra incêndio de uma edificação, muitos fatores são
considerados para que se obtenha êxito diante do provável sinistro, sendo eles: o tipo construtivo
da edificação, sua ocupação, materiais que podem vir a queimar, exposições à propagação,
perigos que oferecem métodos adequados de combatê-los e, finalmente, os meios de combate
disponíveis. Vale ressaltar que as idades das construções devem ser consideradas como um fator
primordial neste caso, principalmente porque as edificações mais antigas são constituídas de
materiais que possuem maior potencial incendiário, além do fato de que estas foram construídas
num tempo onde a preocupação com a proteção a incêndio não era tão latente. Para cada tipo de
edificação construída, é necessário que exista um plano de segurança de incêndio, que seja
compatível com as diversas necessidades de cada uma dessas construções. Sejam
estabelecimentos comerciais, edifícios residenciais, industriais ou para outros fins, cada um deles
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precisa contar com as devidas considerações na execução do plano de combate a incêndio.
(Sunamita, 2008).

Segundo a NBR – 9077(1983), as edificações são classificadas quanto à ocupação,


quanto à altura e quanto às suas características construtivas.

Art. 6- Toda e qualquer edificação, excetuando-se as edificações uniresidenciais, deverá


dispor de dispositivos de proteção contra incêndio e pânico e serão classificadas
considerando-se:

I. A ocupação da edificação conforme os grupos da Tabela n°. 1 da NBR 9077/93;


II.A altura, em metros, da soleira do pavimento de acesso à edificação ao piso do último
pavimento tipo:

a. até 12,00 m (doze metros);


b. superior a 12,00 m (doze metros) até 30,00 m (trinta metros);
c. superior a 30,00 m (trinta metros).

III. A sua dimensão em planta:

a. até 750,00 m² (setecentos e cinqüenta metros quadrados);


b. superior à 750,00 m² (setecentos e cinqüenta metros quadrados) e até 5.000,00 m²
(cinco mil metros quadrados) exceto nas atividades do grupo E;
c. superior a 5.000,00 m² (cinco mil metros quadrados).”

MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO

As medidas de segurança contra incêndio podem ser definidas como de prevenção ou de


proteção. Antônio Fernando Berto (1991) trata sobre o assunto afirmando que:

As medidas de prevenção de incêndio são aquelas associadas ao elemento precaução


contra início do incêndio e se destinam, exclusivamente, a prevenir a ocorrência do início do
incêndio, ou seja, controlar o risco de início de incêndio.

● As medidas de proteção contra incêndio são aquelas destinadas a proteger a vida


humana e os bens materiais dos efeitos nocivos do incêndio que já se desenvolve no
edifício. São necessárias ao sistema global de segurança contra incêndio, na
proporção em que as medidas de prevenção venham a falhar, permitindo o surgimento
do incêndio. Estas medidas compõem os seguintes elementos do sistema global:
limitação do crescimento do incêndio; extinção inicial do incêndio; limitação da
propagação do incêndio; precaução contra a propagação entre edifícios; evacuação
segura do edifício; precaução contra o colapso estrutural; e rapidez, eficiência e
segurança das operações de combate e resgate.” (Berto, 1991).

Ainda seguindo o entendimento de Berto (1991) as medidas de proteção contra incêndio,


são divididas em dois grupos complementares: proteção passiva e proteção ativa.

Proteção passiva

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A proteção passiva é formada por medidas que fazem parte do edifício e que independem
de uma ação para o seu funcionamento em caso de incêndio, sendo possível a execução de outra
função paralelamente ao longo do seu uso.
A acessibilidade à construção é uma das medidas que é pouco analisada pelos projetistas
em caso de incêndios. As construções são executadas sem a devida preocupação em relação a
implantação e ao desenho de suas fachadas, não facilitando, dessa forma, as atividades de
salvamento e combate do corpo de bombeiros.
A implantação de meios de abandono seguro do edifício (rotas de fuga) pelos seus
ocupantes também é uma medida determinada pela arquitetura, quando se cria as linhas de
circulação no interior do edifício.
O estudo da estrutura, dos elementos constitutivos e dos compartimentos determina a
limitação ou contenção do crescimento do incêndio no interior da construção, bem como o nível
de proteção dos seus ocupantes, sendo também medidas de proteção passiva que devem ser
planejadas no projeto do edifício.
Outro elemento a ser analisado nas medidas de proteção passiva, é o controle das
características e quantidade de materiais combustíveis reunidos tanto no acabamento interno
quanto no conteúdo da construção, pois são elementos decisivos na velocidade da propagação do
incêndio, assim como na sua intensidade e duração.

Proteção ativa

A proteção ativa, ao contrário da passiva, é composta por equipamentos e instalações


contra incêndio que dependem de uma ação para o seu funcionamento, seja manual ou
automática. O objetivo destas instalações é uma detecção rápida do incêndio, para que, dessa
forma, seja mais seguro o abandono dos ocupantes do edifício e tornando possível um combate e
controle mais eficazes do fogo. Destacam-se como os principais sistemas de proteção ativa:

a) Sistema de detecção e alarme automáticos de incêndio (detectores de fumaça,


temperatura, raios infravermelhos, etc. ligados a alarmes automáticos)- NBR - 9441;
b) Sistema de iluminação de emergência – NBR - 10898;
c) Sistema de controle / exaustão da fumaça de incêndio.
d) Sinalização de segurança contra incêndio e pânico - NBR 13434
e) Sistema de alarme manual de incêndio (botoeiras) NBR - 9441;
f) Sistemas de extinção automática de incêndio (chuveiros automáticos – sprinklers, e
outros sistemas especiais de água ou gases) – NBR - 10897;
g) Sistema de hidrantes – NBR 5667
h) Sistemas de proteção por extintores de incêndio - NBR-12693
I) Espuma: é formada a partir da mistura de um determinado agente formador mais a água
e, é lançado com auxílio de um ejetor especial (canhões ou esguichos). Esse tipo de extintor é
utilizado em casos de combate a fogo em inflamáveis, solúveis e derivados do petróleo.
II) Gás carbônico: sua ação de extinção deve-se a rápida substituição do oxigênio do ar, e
dessa maneira, inibe a propagação do fogo. Recomendado em caso de incêndios em centros de
processamento de dados, equipamentos elétricos energizados, cabines de pinturas etc.
III) Pó químico seco: o bicarbonato de sódio é o básico desse produto, feito de modo que
não absorva umidade. Ou pode ser usado o sulfato de potássio, largamente utilizado em
indústria, refinarias, aeroportos etc.
IV) Pó ABC: Um incêndio se caracteriza pelo tipo de material em combustão e pelo
estágio em que se encontra. Existem 3 classes de incêndio mais comuns, identificadas pelas
letras “A”, “B” e “C”. O Pó ABC é um novo tipo de extintor que apaga esses três tipos de classes
de incêndio.
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Além dos sistemas citados podem-se considerar outros sistemas de proteção, sendo eles:

● Portas corta-fogo para Saída de Emergência - NBR 11742/2003;

As portas corta-fogo são próprias para isolamento e proteção das rotas de fuga, retardando a
propagação do fogo e da fumaça.
Elas devem resistir ao calor por 60 minutos, no mínimo (o selo deve estar afixado em
conformidade com a ABNT). Toda porta corta-fogo deve abrir sempre no sentido de saída das
pessoas.

● Rotas de fuga NBR – 9077/1983;

Corredores, escadas, rampas, passagens entre prédios geminados, e saídas, são rotas de fuga e
estas devem sempre ser mantidas desobstruídas e bem sinalizadas.

● Sistema de Proteção Contra Descargas Atmosféricas (Pára-raios.) NBR 5419

Os pára-raios deve ser o ponto mais alto do edifício. Massas metálicas como torres, antenas,
guarda-corpos, painéis de propaganda e sinalização devem ser interligadas aos cabos de descida
do pára-raios, integrando o sistema de proteção contra descargas elétricas atmosféricas. Os
pára-raios podem ser do tipo FRANKLIN ou GAIOLA DE FARADAY. O tipo Radioativo/Iônico
tem sua instalação condenada devido à sua carga radioativa e por não Ter eficiência adequada.

Tratando-se de uma instalação à qual seria desejável que nunca fosse necessário
recorrer e que felizmente quase sempre fica apenas aguardando a eventualidade
de um terrível evento, existe uma tendência a se desprezar a possibilidade do
sinistro – incêndio -, o que, conseqüentemente ou não, tem por efeito procurar
justificar a economia com a execução de instalações inadequadas e o
desatendimento a existência de ordem arquitetônica e construtiva, cuja
importância é primordial (MARCINTYRE, 1996, p.338).

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Uma das normas mais importantes em segurança contra incêndio é a NBR-9077, pois
com essa norma é possível classificar o incêndio e identificar os sistemas e equipamentos que
devem ser utilizados para cada tipo de construção, é possível identificar a partir da área que a
construção ocupa a que se destina a construção, por exemplo, escolas, igrejas bibliotecas entre
outros e, a altura da construção.
Segundo Ono (2004 apud Procoro e Duarte, 2006), a ausência de legislação e
regulamentação de âmbito nacional para proteção a incêndios em edificações no Brasil, a falta de
atuação dos órgãos responsáveis pela fiscalização destes, a fim de que possam garantir o mínimo
de segurança às novas edificações e, àquelas existentes, mostra qual é o cenário do país em
relação à segurança contra incêndios. Não existe uma norma brasileira de prevenção contra
incêndios em edificações. Cada Estado e Município tem sua Legislação própria baseada ou não
em Normas Técnicas existentes, tais como: extintores, hidrantes, acionadores manuais,
detectores automáticos, chuveiros automáticos, iluminação, pára-raios etc. O Comitê brasileiro
possui entre 70 e 80 normas enquanto que, nos EUA, existem mais de 500 normas sobre o
assunto normas da National Fire Protection Association (NFPA). Os Estados Unidos investem
muito em capacitação profissional para o combate a incêndios e em estudos técnicos sobre a
proteção contra o ataque das chamas.

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PRINCIPAIS CAUSAS DE INCÊNDIO

Segundo o caderno técnico do Corpo de Bombeiros de Paraty as causas de incêndio são


divididas em naturais e artificiais:

I. Naturais: são aquelas que decorrem de fenômenos da natureza e que podem ser de ordem
físico-química, a exemplo dos vulcões, raios, meteoros etc., e os de ordem biológica, que são
decorrente do aumento de temperatura devido à fermentação e a ação degradativa das bactérias, a
exemplo do enfardamento da forragem úmida.

II. Artificiais: Os incêndios artificiais são divididos em materiais e humanos.

II. I Materiais

a) De origem física: qualquer fenômeno físico que produz energia calorífica.


Ex: atrito, choque, compressão, condução térmica, eletricidade.
b) De origem química: substâncias químicas que podem gerar calor quando se combinam, ou em
decomposição, produzindo aquecimento, inflamação ou explosão. Ex: materiais piróforos
finamente divididos quando expostos ao ar.
c) De origem biológica: aumento de temperatura provocada pela fermentação e a ação degradativa
das bactérias, obtido em laboratório. Ex: Fermentação do lixo em um biodigestor de gás para fins
domésticos.

II.II Humanas

a) Culposas: São incêndios no qual o homem é o principal causador, porém sem intenção de
provocá-lo, que ocorrem devido a três situações distintas: Imprudência, negligência, imperícia.
b) Dolosas: São incêndios provocados com intenção do homem. Quem provocou o incêndio tinha
plena ciência das suas conseqüências e assumiu os riscos de produzi-las.

Segundo Sunamita (2008) fica claro que a maior ou menor propagação do incêndio
depende sempre da ação direta ou indireta do homem e, é a este que cabe também o dever de
criar mecanismos eficientes que sirvam como proteção contra esses ataques.

ERROS FREQUENTES EM PROJETOS

Para que um projeto de proteção contra incêndio obtenha êxito deve seguir os seguintes
parâmetros, já expostos anteriormente: disponibilidade de proteção passiva - que é a contenção
da propagação vertical e horizontal -, a proteção ativa - que são os equipamentos para combate -,
sistema de alarme, profissionais treinados e principalmente atenção às saídas de emergência que
devem estar com a devida iluminação de segurança.
Segundo Graton (2001), alguns erros de projeto podem trazer dificuldades numa situação
de perigo de sinistros, tais como: sistema de iluminação de emergência (NBR10898), sistema de
alarme (NBR 9441) entre outros operados de maneira incorreta. A seguir algumas considerações
foram feitas a respeito dos sistemas de hidrantes, tais como:

a) Localização de registro de recalque dentro do pátio interno de empresas, sendo


que deveria estar no passeio público próximo à portaria;

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b) Falta de tubulação de retorno de 6 mm de diâmetro da expedição da bomba à sua
introdução, para evitar superaquecimento quando funcionar sem vazão - é exigido
somente para vazões superiores a 600 l/min;
c) Falta de botoeira liga-desliga alternativa quando for projetado sistema
automatizado de acionamento das bombas;
d) O acionamento nesse caso é automático, mas a parada da bomba principal dever
ser exclusivamente manual - tal procedimento visa evitar que uma pessoa que possa estar
combatendo um incêndio seja prejudicada pelo desligamento acidental;
e) Não consideração de cotas altimétricas no dimensionamento da bomba de
incêndio;
f) Não localização de hidrantes próximos às portas, sendo que em alguns casos, uma
pessoa teria que passar pelo incêndio para chegar até um hidrante, que se supôs utilizar
para combater o mesmo.

PRINCIPAIS LOCAIS DE PRESERVAÇÃO

As principais construções que são ou abrigam patrimônio histórico destacam-se:


● Museus;
● Centros históricos;
● Bibliotecas;
● Igrejas

Para a segurança da população que ocupa essas construções históricas é imprescindível a


implantação dos equipamentos determinados no projeto e a utilização de saídas de emergência
específicas para cada caso, além de medidas auxiliares, garantindo, desse modo, a inteira
proteção do ocupante, como, por exemplo, orientação, alarmes, sistemas de detecção, etc.
Em se tratando de museus numa montagem de uma exposição, é necessária a análise de
diversas características de segurança contra incêndio. É importante dar atenção especial ao tipo
de material usado para revestir, conservar ou sustentar objeto. É fundamental a especificação do
material para que não ajude de forma significativa para a propagação do incêndio e alcançar o
próprio objeto que deveria estar sendo protegido.
A diversidade de objetos que podem fazer parte do acervo de um museu é enorme, sendo
necessária uma compreensão das particularidades de medidas de proteção contra incêndios, para
que sejam aplicadas as mais adequadas para cada caso.
No que diz respeito às bibliotecas, seus acervos possuem características bem especificas,
sendo compostos de materiais, em sua grande parte, combustíveis conservados em estantes,
formando áreas compactadas com material extremamente susceptível ao incêndio. Em casos
onde o acesso do público é permitido, o risco de incêndio pode ser muito alto, por isso, é
essencial o desenvolvimento de um projeto de segurança que permita o controle intensivo das
áreas do acervo.
Em edifícios e centros históricos é preciso levar em consideração os componentes
específicos, além das alterações as adaptações trazidas ao longo dos anos. Pisos e estruturas de
madeira são muito freqüentes em construções antigas. No projeto original dessas construções não
foram previstos qualquer equipamento de proteção contra incêndios ou instalações elétricas. Os
edifícios e centros históricos possuem características marcantes, e de grande preocupação, no
âmbito da proteção dificultada, muitas vezes, por ocupar áreas de difícil acesso. Assim, é
importante que sejam observados cuidados especiais de prevenção contra incêndio, pois a ação
dos órgãos externos auxiliares (corpo de bombeiros, por exemplo) pode não acontecer a tempo
em razão da localização do edifício, terrenos acidentados ou ruas estreitas, dentre outra
dificuldades encontradas, como, por exemplo, o tempo de construção e a forma rudimentar de
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algumas construções, a forma desordenada de suas reformas e ampliações ao longo dos séculos
tornam a ação do fogo ainda mais rápida podendo ocasionar até um desmoronamento a depender
do grau de intensidade do incêndio.

AÇÃO E ESTRUTURA DO CORPO DE BOMBEIROS PARA COMBATE

Segundo Sunamita (2008) o Corpo de Bombeiros em Salvador vive um momento


delicado, pois a maioria dos equipamentos utilizados pelos combatentes está em estado precário
e em quantidade insuficiente. Vale ressaltar que esse é um fator que afeta diretamente a
qualidade das operações de combate.
Em um sinistro tem que se verificar a veracidade deste, devido à quantidade de trotes
(70% das chamadas), além disso, outros fatores acabam fazendo com que os bombeiros não
cheguem a tempo no local, pois, após verificação do pedido de socorro, estes saem do quartel e
se deparam com alguns obstáculos tais como, trânsito congestionado e ruas estreitas
(dificultando a passagem do caminhão ABT – Auto Bomba Tanque). Desta forma a Brigada
acaba chegando ao local tardiamente, depois de muito tempo do inicio das chamas, o que pode
no mínimo impedir a ação de controle eficaz dos profissionais.
Outra dificuldade no combate aos incêndios está atribuída aos cones fixos, além dos
calçadões, que dificultam a passagem dos carros do Corpo de Bombeiros.
Em visita ao quartel do corpo de bombeiros só foi permitido acesso ao pátio principal,
impossibilitando a realização de registros fotográficos e, em conseqüência, a citação de
documentos, dados e nomes dos profissionais presentes no local.

ATUAÇÃO DO IPAC

De acordo com Sunamita (2008) o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) é


uma entidade estatal, vinculada à Secretaria da Cultura, que tem como finalidade a promoção e
execução da preservação dos bens culturais do estado, pesquisando, documentando, restaurando
e difundindo a produção técnica e cientifica necessária a essa preservação.
Essa instituição é responsável por boa parte das obras de restauração que estão ocorrendo
no Pelourinho (museus, casarões e igrejas). Esse processo de restauração demanda algumas
realizações importantes, além da recuperação do patrimônio histórico, com todas as exigências
em relação à conservação do padrão original, às preocupações com a segurança das edificações
são também essencialmente levadas em consideração. Quanto ao projeto de proteção contra
incêndio, segundo o órgão, existe uma preocupação continua nesse sentido, porém nem sempre
existe a possibilidade de construção de reservatórios exclusivos para o combate nos prédios,
devido ás características construtivas das edificações. Apesar das dificuldades nesse sentido, o
setor afirma que sempre é deixada uma reserva no próprio reservatório que abastece a edificação
para um possível evento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os órgãos fiscalizadores da segurança contra incêndio deveriam sempre adotar um


comportamento de verificação da implantação das medidas de segurança adequadas a cada tipo
de uso e ocupação das construções sob sua competência. Contudo, mesmo que este
comportamento seja adotado, as medidas escolhidas podem não suprir totalmente a necessidade
do projeto ou, até mesmo, não ser possível a aplicação de tais medidas, não garantindo a
proteção da edificação que abriga patrimônios histórico-culturais devido às suas características
muito especificas.

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No caso da cidade de Salvador, o órgão responsável pela análise de projetos e
fiscalização das obras é a Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo
(SUCOM), ficando sob a responsabilidade do Corpo de Bombeiros o combate em caso de
sinistros. Em grandes capitais do País como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Santa
Catarina, o órgão responsável pelo combate do incêndio e análise dos projetos é o Corpo de
Bombeiros, fazendo com que o mesmo possa ser mais influente, identificando em projeto alguns
fatores que possam ajudar no combate.
Dessa forma, é importante uma integração entre os órgãos envolvidos no projeto, na
execução, na fiscalização e na manutenção da segurança contra incêndio dos patrimônios
histórico-culturais, o que se pode dizer que, na maioria das vezes não acontece.
Existe também uma falta de recursos materiais para manutenção e segurança do
patrimônio histórico-cultural e de mão-de-obra qualificada, principalmente nos patrimônios
históricos que estão em poder dos órgãos públicos, devido ao não conhecimento das
consequências que a falta do sistema ou equipamento especifico de incêndio pode ocasionar,isso
pôde ser verificado observando-se a situação das construções histórico-culturais em Salvador.
Elaborando um projeto com as devidas especificações técnicas e utilizando um conjunto
de equipamentos baseados em normas que especificam seu tamanho, forma, dimensão, validade
e utilização para prevenir e combater o incêndio de forma física, utilizando para uma grande
eficiência o uso de recursos como energia, água, materiais, entre outros. Reduzindo assim o
impacto sobre a construção, defendendo vidas humanas, protegendo a estrutura do local,
preservando seus bens, acervos e até mesmo sua importância cultural.
Projetos de segurança contra incêndio são realizados para prevenir o acontecimento e
reduzir o impacto do incêndio na construção e na saúde humana através de sistemas de proteção
ativa e passiva. Levando à idéia de prevenção, análise e combate de forma específica para
patrimônios histórico-culturais, foi visto que cada projeto deve ser analisado separadamente,
levando em consideração as normas regulamentadoras e as condições específicas de cada
construção como materiais que compõem a construção, análise de sua estrutura e dificuldades de
acessibilidade, fazendo com que a construção fique devidamente protegida, evitando dessa forma
que em primeiro lugar se coloque em risco a vida dos ocupantes do local, protegendo-se também
os acervos que possuem valores inestimáveis, construções vizinhas e a própria construção, bem
como também não trazendo impactos à economia das cidades já que, muitas vezes essas
construções tem grande importância no turismo das mesmas.

REFERÊNCIAS

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12693: Sistemas de


proteção por extintores de incêndio. Rio de Janeiro, 1993.

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9077: Saída de


emergência em edifícios. Rio de Janeiro, 1983.

BERTO, A. F. “Medidas de proteção contra incêndio: aspectos fundamentais a serem


considerados no projeto arquitetônico dos edifícios’’. São Paulo, 1991. Dissertação (Mestrado) –
FAUUSP.

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<http://www.26gbm.cbmerj.rj.gov.br/clacificacaodosincendios.htm>. Acesso em 16/03/09.
09:22am.

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<http://www.manualdepericias.com.br/PrevencaoIncendios.asp>. Acesso em 11/05/09. 14:33pm.

MACINTYRE, Archibald Joseph. Instalações Hidráulicas: Prediais e Industriais. 3ª edição. Rio


de Janeiro, Livros técnicos e científicos editora, 1996.

NILTON, J. Santos. Teoria do fogo, 1996. Disponível em


<users.femanet.com.br/quimica/matsemana/Mod_2.doc>. Acesso em 12/01/09. 10:45 am.

ONO, R. Proteção do Patrimônio Histórico- Cultural Contra Incêndio em Edificações de


Interesse de Preservação. Palestra apresentada na Fundação Casa Rui Barbosa, Rio de Janeiro,
2004.

PROCORO, Andreza, DUARTE, Dayse. Uma nova maneira de pensar sobre gerenciamento de
riscos de incêndios em espaços urbanos históricos, 2006. Disponível em
<http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2006_TR500338_7943.pdf>. Acesso em
15/01/09. 08:36 am.

SUNAMITA, J. Condição de funcionamento dos hidrantes públicos no Centro Histórico de


Salvador, 2008. Monografia, Curso de Engenharia Civil, Universidade Católica do Salvador.

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