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Segurança do trabalho

Caracterização de eventos com alto potencial


de danos e acidentes ampliados

É fato que o Brasil evoluiu muito rapidamente. O processo de urbanização


teve início no século XX – há cerca de 100 anos tínhamos uma sociedade rural e
atualmente ela é predominantemente urbana e industrial. Certamente, essas
transformações ocasionaram um aumento dos riscos de acidentes.

Em razão disso, precisamos conhecer e aprender a partir das experiências


vividas e relatadas para compreendermos a importância da identificação dos
riscos e das ações a serem tomadas ao desenvolver um plano de emergência e
contingência, ou até mesmo ao implementar medidas para programas de
segurança que corroborem para a minimização destes eventos.

Neste material, vamos caracterizar os eventos com potenciais danos à


saúde dos trabalhadores, à comunidade e ao meio ambiente. Os temas serão
abordados em três grandes grupos: incêndios, explosões químicas e
inundações. Nestes grupos, apresentaremos as caraterísticas dos eventos e
serão expostos alguns exemplos que servem de referência para a área de saúde
e segurança.

Incêndio

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A ocorrência de grandes incêndios motivou segmentos da sociedade a alterarem


as condições de segurança contra incêndio, por isso, evidenciamos o quanto estes
incêndios modificam a maneira de encarar e operar a segurança contra incêndio da
sociedade brasileira.

Para abordar esse assunto iniciaremos fazendo um paralelo com os casos


ocorridos nos Estados Unidos da América (EUA), pois encontramos mais facilidade no
acompanhamento de sua evolução pelo fato de existir uma entidade nacional, a National
Fire Protection Association (NFPA), que produz textos básicos indicativos do nível de
segurança contra incêndio.

A partir destas experiências vivenciadas nos EUA, entende-se que elas não se
repetirão em suas características, especialmente a propagação e o combate, já que hoje
existe um cuidado especial com segurança contra incêndio, com a utilização de técnicas
adequadas com ênfase na minimização de vítimas. Para melhor compreender essas
características, apresentaremos alguns cases que demonstram os eventos com grande
potencial de danos.

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Teatro Iroquois, em Chicago

Ocorreu no ano de 1903, pouco mais de um mês após o teatro ter sido inaugurado.
O local era tido como supostamente seguro contra incêndio, e aproximadamente
1.600 pessoas estavam na plateia, das quais 600 foram vitimadas pelo fogo.

Como diversos incêndios já haviam ocorrido em teatros, tanto na Europa quanto nos
EUA, as precauções necessárias contra esse acidente eram conhecidas, mas não
foram tomadas pelos proprietários do local.

O local contava com bombeiros devidamente equipados com extintores, esguichos e


mangueiras etc.. Para prestar o atendimento, havia pessoas aptas a orientar ações
de abandono, uma cortina de asbestos isolando o palco da plateia e saídas
adequadas. Porém, no momento em que foi necessário, algumas destas medidas
não foram adotadas e outras não funcionaram a contento.

Casa de Ópera Rhoads

A Casa de Ópera incendiou em 13 de janeiro de 1908, com a queda de uma


lâmpada de querosene que ficava no segundo pavimento. As saídas estavam fora
de padrão ou obstruídas, além de não serem suficientes para a evacuação das 170
pessoas.

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Escola Elementar Collinwood em Lake View

A maior tragédia ocorrida em ambiente escolar nos EUA aconteceu no dia 4 de


março de 1908 e vitimou 172 crianças, dois professores e uma pessoa que tentou
socorrer as vítimas. Esse incêndio reforçou a consciência americana sobre a
necessidade de melhoria de códigos, normas e exercícios de escape e de combate
ao fogo.

Triangle Shirtwaist Factory

Ocorrido no dia 25 de março de 1911, em Nova York, este incêndio fechou a


sequência trágica, dando início ao processo de mudança. Já que essa indústria de
vestuário, situada em um prédio elevado, causou a morte de 146 pessoas.

Após 25 minutos do início do incêndio, os bombeiros de Nova York o consideraram


fora de controle. Passados mais dez minutos, o incêndio atingia toda a edificação.
Os bombeiros somente atingiram o topo da edificação 1 hora e 50 minutos após o
início do incêndio.

Os incêndios e o aprendizado no Brasil


Até início dos anos 1970, o “problema incêndio” era visto como algo que dizia mais
respeito ao corpo de bombeiros, já que a regulamentação relativa ao tema era esparsa,
contida nos códigos de obras dos municípios, sem quaisquer incorporações do
aprendizado dos incêndios ocorridos no exterior.

O corpo de bombeiros tinha alguma regulamentação, advinda da área seguradora,


indicando em geral a obrigatoriedade de medidas de combate a incêndio, como a
provisão de hidrantes e extintores, além da sinalização desses equipamentos.

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A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tratava do assunto por


intermédio do Comitê Brasileiro da Construção Civil, pela Comissão Brasileira de
Proteção Contra Incêndio, regulamentando mais os assuntos ligados à produção de
extintores de incêndio.

A segurança contra incêndios no Brasil inexistia. Por exemplo, não havia uma
norma que tratasse de saídas de emergência. Toda avaliação e classificação de risco
eram decorrência do dano ao patrimônio, sendo que a única fonte reguladora dessa
classificação era a Tarifa Seguro Incêndio do Brasil (TSIB). Talvez possamos até afirmar
que a situação do país era semelhante à dos EUA em 1911.

Uma conclusão óbvia é a de que nosso país não colheu o aprendizado decorrente
dos grandes incêndios ocorridos nos EUA ou em outros países. Por isso, iniciou-se a
sequência de tragédias no Brasil.

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Gran Circo Norte-Americano, Niterói, Rio de Janeiro

O maior incêndio em perda de vidas, em nosso país, aconteceu em 17 de dezembro


de 1961, em Niterói, no Rio de Janeiro, no Gran Circo Norte-Americano, resultando
em 250 mortos e 400 feridos.

Aproximadamente 20 minutos antes de terminar o espetáculo, um incêndio tomou


conta da lona e o toldo em chamas, em apenas três minutos o toldo, caiu sobre
2.500 espectadores.

Não havia área de escape para os espectadores, como o dimensionamento e o


posicionamento de saídas, bem como não havia pessoas treinadas para conter o
pânico, uma das principais as causas da tragédia. As pessoas morreram
queimadas e pisoteadas, e a saída foi obstruída pelos corpos amontoados.

Figura 1 – Gran Circo Norte-Americano


Fonte: <http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/em-niteroi-incendio-no-gran-
circo-norte-americano-mata-mais-de-500-pessoas-8969092>.

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Incêndio na Indústria Volkswagen do Brasil

Até este fato nenhum grande incêndio em edificações havia impactado a


abordagem que o Poder Público e especialmente as seguradoras faziam do
problema no Brasil.

O incêndio na ala 13 da montadora de automóveis Volkswagen, em São Bernardo


do Campo, São Paulo, ocorrido em 18 de dezembro de 1970, consumiu um dos
prédios da produção, fez uma vítima fatal e ocasionou a perda total da edificação,
além de ser um grande exemplo de um novo tipo de incêndio.

Figura 2 – Incêndio na Indústria Volkswagen do Brasil


Fonte: <http://fuscars.blogspot.com.br/2009/08/mega-incendio-na-volkswagen.html>.

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Incêndio no Edifício Joelma

Esse edifício situado na Avenida 9 de Julho, na capital paulista, tem 23 andares de


estacionamentos e escritórios.

O incêndio ocorreu em 1º de fevereiro de 1974, gerando 179 mortes e 320 feridos.

Devido ao fato de o edifício não contar com escada de segurança, nesse incêndio,
as pessoas se projetaram pela fachada do prédio, gerando imagens fortes e de
grande comoção. Este incêndio causou grande impacto, e deu início ao processo de
reformulação das medidas de segurança contra incêndios.

Figura 3 – Incêndio no Edifício Joelma em São Paulo


Fonte:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Inc%C3%AAndio_no_Edif%C3%ADcio_Joelma>.

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Incêndio na boate Kiss

A boate Kiss era uma casa noturna, de um único pavimento, situada na cidade de
Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Neste local ocorriam festas e eventos com
atrações musicais e grande participação da população jovem. A capacidade
máxima da boate era de 769 pessoas, mas na noite do incêndio havia
aproximadamente mil pessoas no local.

Este incêndio teve início por volta das 3 horas da manhã do dia 27 de janeiro de
2013 e deixou 241 vítimas fatais, sendo todas as mortes por asfixia decorrente da
inalação da fumaça do incêndio, além de aproximadamente 123 feridos e de várias
pessoas intoxicadas pela fumaça.

Esta tragédia teve uma grande repercussão e efetivamente modificou os protocolos


de atendimento e de combate a incêndios, o que tornou a fiscalização e as vistorias
para liberação de alvarás mais rígida.

Figura 4 – Incêndio na Boate Kiss


Fonte: <https://noticias.uol.com.br/album/2014/01/25/incendio-na-boate-kiss-em-
santa-maria-rs-completa-um-ano.htm>.

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Ao caracterizar esses eventos, vamos percebendo o aprendizado que foi ocorrendo


ao longo dos anos para que hoje pudéssemos tratar com mais rigor clareza as medidas
de proteção contra incêndio, dentre as quais estão:

Prevenção de incêndio: medidas de segurança contra incêndio que


objetivam “evitar” os incêndios.

Proteção contra incêndio: objetivam dificultar a propagação do incêndio e


manter a estabilidade da edificação.

Combate a incêndio: tudo o que é usado para se extinguir incêndios,


como, por exemplo, os planos de auxílio mútuo – PAMs.

Meios de escape: são medidas de proteção, tais como escadas seguras,


paredes, portas corta-fogo, sistemas de pressurização de escadas, entre
outros.

Gerenciamento: medidas administrativas como o treinamento e a


reciclagem das equipes de resposta a emergências, a existência de um
plano e um procedimento de emergência, a manutenção dos equipamentos
instalados, entre outros.

Explosões químicas

Emergências ou acidentes tecnológicos são todos aqueles derivados ou com


origens nos diversos segmentos oriundos da atividade tecnológica desenvolvida pelo
homem, como, por exemplo: incêndios em tanques de armazenamento e unidades de
vasos pressurizados, vazamento de substâncias químicas, entre outros.

A frequência desse tipo de acidente tem aumentado significativamente devido à


proliferação dos processos industriais, a desenvolvimentos tecnológicos, a novas fontes
de energia, à utilização de diversos produtos químicos e à alta concentração
demográfica em centros urbanos. Logo, precisamos estar atentos a essa realidade e às
necessidades com relação à área de segurança do trabalho.

Para tanto, deve-se assegurar a adoção de medidas apropriadas para prevenir


acidentes maiores, reduzir os perigos de acidentes a assim reduzir as consequências
dos eventos que ocorrerem, levando em consideração causas, erros de organização,

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fatores humanos, falhas de componentes, desvios das condições normais de


funcionamento, interferências externas e fenômenos naturais.

A Organização Internacional do Trabalho aborda esse tema, suas especificidades e


características durante a Convenção 174, cujo objetivo é a prevenção de acidentes
químicos ampliados e a minimização de suas consequências, de maneira que se deve
atentar para os efeitos imediatos ampliados no espaço, levando em consideração
quantas pessoas foram atingidas dentro e fora da planta. O objetivo é identificar qual a
extensão destes danos efetivamente e quais são seus efeitos em médio e longo prazo.

No intuito de esclarecer essas situações vamos caracterizar dois exemplos de


explosões químicas que demonstram a proporção e as consequências destes acidentes:

Porto de Santos, Brasil, 2015

Um dos maiores incêndios ocorridos em áreas de armazenamento de produto


químicos no Brasil começou no final da manhã de uma quinta-feira, dia 2 de abril de
2015, e se encerrou no dia 9 de abril de 2015. Os números dessa ocorrência refletem a
sua magnitude e complexidade, como mostra a figura 5.

Para se ter noção da dimensão do mencionado acidente, apresentamos alguns


dados:

334 horas (nove dias de operação direta)

966 bombeiros militares (homens e mulheres)

373 bombeiros privados e industriais

100 viaturas (públicas e privadas)

2 aeronaves (helicópteros)

8 embarcações

Aproximadamente 360.000 litros de LGE (líquido gerador de espuma)

19 organismos públicos e privados

36 organismos/entidades privadas envolvidas

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Figura 5 – Incêndio no Porto de Santos – Brasil, 2015


Fonte: <https://fotospublicas.com/equipes-dos-bombeiros-seguem-trabalhando-em-
incendio-na-alemoa-em-santos/>.

Outro acidente que teve uma repercussão mundial e que vitimou inúmeras pessoas
foram as explosões ocorridas em dois depósitos de produtos químicos na China, como
veremos a seguir.

Porto de Tianjin, China, 2015

Na noite de 12 de agosto de 2015, duas grandes explosões ocorreram nos


depósitos de produtos químicos e provocaram uma gigantesca destruição no porto de
Tianjin, região nordeste da China.

Uma das explosões foi equivalente a 21 toneladas de trinitrotolueno (TNT),


provocando centenas de mortos e feridos. As avaliações posteriores ao acidente
indicaram a presença de grandes quantidades de cianeto de sódio, nitrato de amônia e
nitrato de potássio, além de outros 40 tipos de produtos químicos.

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Existe a suspeita de que as ações dos bombeiros, mesmo que de maneira


involuntária, tenham causado a explosão, até porque eles não sabiam que naquele local
eram armazenados alguns produtos acima do limite legal permitido. A imagem a seguir
representa a grande destruição deste acidente, que ocasionou:

173 mortos

8 desaparecidos

797 feridos

Figura 6 – Explosão no Porto de Tianjin – China, 2015


Fonte: <http://sinec.com.br/blog/?p=1036>.

Inundação
Inundações e enchentes são cada vez mais frequentes, e essas catástrofes
ambientais trazem danos à saúde das pessoas e ao patrimônio. Na maioria das vezes,
as enchentes estão ligadas a fatores como a ocupação inadequada das cidades, a
impermeabilização das áreas urbanas, o assoreamento do leito de rios e, o que é muito
comum nos dias de hoje, a poluição.

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Esses fenômenos hidrológicos, como mostra a figura 7, não são possíveis de


serem evitados, mas são potencialmente perigosos, dependendo da sua extensão, da
velocidade com que progridem e da frequência com que ocorrem. Para que essas
situações sejam consideradas de riscos, são necessários alguns elementos, como:
população, propriedades, estruturas, infraestruturas, atividades econômicas.

Figura 7 – Transbordamento de rio e inundação em cidade.


Fonte: <http://www.pensamentoverde.com.br/atitude/inundacoes-nao-jogue-o-lixo-na-
rua/>.

Nos dias de hoje, o homem tem contribuído e muito para que esses eventos sejam
desencadeados, já que o despejo e o acúmulo de lixo em áreas impróprias têm sido os
principais responsáveis pelas inundações em áreas urbanas. Os resíduos descartados
em vias públicas são arrastados pela força das águas da chuva, causando o entupimento
de bueiros e galerias, impedindo o escoamento da água, sem contar a influência que
essas ações representam para o aquecimento global.

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No entanto, as consequências das ações do homem potencializam os impactos


ambientais, uma vez que os resíduos contaminam a água e servem de abrigo e alimento
para animais e insetos, que são vetores de doenças como leptospirose, cólera, febre
amarela, dengue, entre outras tantas doenças que normalmente surgem após um período
de enchente em que as pessoas entram em contato com as águas.

Evidentemente, a empresa trabalhará para que as situações não ocorram, mas


deve estar apta a responder a essas situações.

O profissional técnico de segurança do trabalho de uma empresa pode, em


conjunto com um grupo multidisciplinar, definir as medidas necessárias para controle e
minimização das consequências de um acidente ampliado.

Encerramento

Para encerrar esse tópico de conhecimento, concluímos que, ao caracterizar


esses eventos com o potencial de danos ampliados, aprendemos com as experiências
anteriores, mas principalmente sabemos da importância de mantermos fiscalização e
treinamento para situações de emergências.

A utilização correta de metodologias, procedimentos padronizados e estudos de


análise de riscos podem fazer toda a diferença frente aos eventos emergenciais,
colaborando para salvar vidas, preservar o meio ambiente e a integridade do patrimônio.

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