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INTRODUÇÃO AOS ES TUDOS ACERCA DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA CONTRA

INCÊNDIOS E PÂNICO – PARTE 1


Ressalte-se a importância da manutenção periódica dos sistemas de proteção contra incêndio,
haja vista a confiabilidade deste à proteção da edificação, dos ocupantes e do entorno. Também é de
suma importância a educação da população fixa e flutuante da
edificação no que se refere a cultura prevencionista, assim
como procedimentos de evacuação em caso de sinistros.
Essa educação prevencionista pode ser disseminada por
diversos grupos de pessoas que estejam aptas a fazê-la,
preferencialmente aproveitando o princípio da oportunidade.
Podemos elencar alguns grupos: Bombeiros (militar e civil);
Brigadistas; Professores; Lojistas, etc.
A informação pode ser disseminada através de palestras, cartilhas, treinamentos práticos,
visitas, entre outros. Esta talvez seja a medida mais eficaz na obtenção do grau de excelência na
segurança contra incêndio e pânico (CAMPOS; CONCEIÇÃO, 2006).
Sobre o tempo de evacuação de uma edificação em situação de incêndio, podemos dizer que
está diretamente ligada a dois fatores preponderante:
1) Estrutura da edificação (altura, área, saídas, entre outras);
2) Quantidade de pessoas e de sua mobilidade (idade, estado de saúde, entre outros).
Logo, as medidas de segurança necessárias devem ser diferentes:
a) Em edificações altas em relação a edificações térreos;
b) Em edificações com alta densidade de pessoas (escritórios, hotéis, lojas e teatros);
c) Nas edificações com poucas pessoas (depósitos);
d) Nos edifícios construídos para habitação de pessoas de mobilidade limitada (hospitais,
asilos); e,
e) Aqueles com ocupantes saudáveis (complexos esportivos).
Os óbitos em incêndios, geralmente são provocados pela fumaça ou pelo calor. Os ferimentos
graves e/ou riscos de morte devem ser avaliados e/ou comparados levando-se em consideração o a
temperatura no ambiente e o tempo em que a fumaça
e/ou os gases tóxicos ficarão com níveis perigosos e o
tempo de escape dos ocupantes da área sinistrada. Isso
indica a importância de uma rota de fuga adequada, bem
iluminada, bem sinalizada, desobstruída e estruturalmente
segura.
Devem ser tomados os devidos cuidados para
limitar a propagação da fumaça e do fogo, pois afetam a segurança das pessoas em áreas
distantes da origem do incêndio.

A Profissão Bombeiro Civil não é emoção e sim conhecimento técnico refinado! (Manuel Mendes)

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Fatores que influenciam na intensidade e/ou propagação do incêndio:
I. Tipo, quantidade e distribuição da carga de incêndio;
II. Características da ventilação do compartimento;
III. Compartimentação;
IV. Resistência da estrutura ao fogo;
V. Reserva de água para combater o incêndio (RTI);
VI. Sistema de alarme e detecção de calor e fumaça;
VII. Sistema de chuveiros automáticos;
VIII. Sistemas de hidrante e extintores;
IX. Brigada de incêndio bem treinada;
X. Proximidade do Corpo de Bombeiros;
XI. Projeto de Segurança contra incêndio;

ANÁLISES ACERCA DAS ESTATÍSTICAS DOS INCÊNDIOS


De acordo com os estudos de Cuoghi (2006), no Brasil, as estatísticas de incêndio não são
feitas no âmbito nacional e, portanto, não se sabe o quanto se perde, precisamente, com os sinistros
de incêndio e qual é o seu perfil (CUOGHI, 2006).
O Instituto Sprinkler Brasil realiza estatísticas de incêndios em locais construídos e que
poderiam ter sido contornados com o uso de sprinklers, excluídas as residências, a partir da
compilação de dados de notícias sobre os chamados “incêndios estruturais”. Segundo o Instituto, em
2013, ocorreram 1.095 incêndios distribuídos entre galpões, comércio, indústrias, bancos, empresas
públicas, escolas, hospitais, aeroportos, entre outros. Isto representa 91 ocorrências noticiadas, em
média, por mês. Em 2012, foram noticiadas 755 ocorrências de incêndios estruturais, gerando a média
de 40 matérias mensais sobre o tópico (INSTITUTO SPRINKLER BRASIL, 2013).
Sistemas de coleta, tratamento e análise de dados sobre incêndios permitem organizar
programas de proteção, prevenção contra incêndios e educação em nível local e nacional.
O incêndio deixa rastros, tais como: motivos, origem, temperaturas, reações químicas
incompletas, velocidade de propagação, materiais queimados, carga incêndio, entre outros, portanto, a
pesquisa científica e investigativa pode nos levar a uma análise conclusiva dos fenômenos físicos,
químicos e humanos envolvidos no incêndio.
Os incêndios (fortuitos e/ou acidental), em sua maioria,
são causados pelo “comportamento de risco”, isto é, um
conjunto de atos cometidos pelo ser humano, quer seja por
imprudência, imperícia ou negligência. O desconhecimento
dos reais riscos de incêndio e o descaso na previsão de
medidas de segurança são as duas principais causas da
ocorrência de incêndio. (MELO, 1999).

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AS LIÇÕES APRENDIDAS COM OS GRANDES INCÊNDIOS

Os acontecimentos, as tragédias sempre trazem lições e/ou aprendizagens, além de alterar a


forma como encararmos e operamos a segurança contra incêndio da sociedade brasileira. Tais eventos
geraram vontade política para as mudanças.
Vejamos alguns dos incêndios que abalaram o Brasil.
a) Gran Circo Norte-americano (Maior incêndio em
perda de vidas ocorridas em um circo):
Ocorrido em 17/set/1961, em Niterói (RJ).
Causas da tragédia: 20 minutos antes de terminar o
espetáculo, um incêndio tomou conta da lona. Em 3
minutos o toldo em chamas caiu sobre os dois mil e
quinhentos espectadores. Não havia rotas de fuga e nem
pessoas treinadas para atuar no sinistro. Resultado: 250 mortos e 400 feridos.
As pessoas morreram queimadas e pisoteadas. A saída foi obstruída pelos corpos amontoados.
O incêndio foi de origem intencional e criminosa. Seu autor foi julgado e condenado e a
tragédia teve repercussão internacional, com manifestações do Papa e auxílio dos EUA, que
forneceram 300 metros quadrados de pele humana congelada para ser usada no tratamento das
vítimas.
b) Indústria Volkswagen (Esse incêndio motivou a abordagem que o Poder Público e das seguradoras)
Nessa época era senso comum que as construções de alvenaria em área com alta umidade
relativa do ar impediam ou ao menos minimizavam a ocorrência de grandes incêndios.
Ocorreu na Ala 13 da montadora, em São Bernardo do Campo, no dia 18/dez/1970 e consumiu a
edificação inteira. Tendo, felizmente apenas uma morte.
Esse sinistro levou a desmistificar o senso comum da época que preconiza a inexistência de
grande incêndio naquelas construções erguidas em áreas com alta umidade relativa do ar.
Após esse incêndio, iniciaram-se os estudos para a implantação de sistemas de controle de
fumaça (ausentes nas instalações da Volkswagen) que somente começaram a ser realmente exigidos
no Brasil a partir de 2001, na regulamentação do Corpo de
Bombeiros de São Paulo (GILL; NEGRISOLO; OLIVEIRA,
2008).
c) Edifício Andraus (primeiro grande incêndio em
prédios elevados)
Ocorreu em 24/fev/1972, São Paulo. Era um edifício
comercial e de serviços, com 31 andares, estrutura em
concreto armado e acabamento em pele de vidro. Acredita-
se que o fogo tenha começado nos cartazes de publicidade, na marquise do prédio.
Resultou em 352 vítimas, sendo 16 mortos e 336 feridos. Mais pessoas não foram vitimadas
devido ao heliponto na cobertura, que propiciou uma proteção devido a laje e aos beirais existentes.

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O fator complicador foi o edifico não possuir escada de segurança e a pele de vidro
proporcionou uma fácil propagação vertical do incêndio pela fachada.
Características do edifício:
 Não tinha chuveiros automáticos, sinalização das saídas de
emergência, iluminação de emergência, alarme manual;
 Os forros e acabamentos eram combustíveis.
Muitos foram retirados por helicópteros, apesar de a escada do
edifício estar liberada para descida, porem, as pessoas temiam retornar
ao interior do edifício (fator psicológico devido o desconhecimento de
como agir nesses casos).
Essa tragédia gerou Grupos de Trabalho (GTs) no Estado de São
Paulo, porém, com o passar do tempo esses trabalhos foram perdendo o
seu ímpeto inicial e mesmo aqueles que conseguiram levar adiante suas
tarefas, viram seus esforços caminharem para um processo de engavetamento dos estudos e
proposições (poder financeiro e político). No entanto estudou-se a reestruturação do corpo de
bombeiros, criou-se Comandos de Corpo de Bombeiros dentro das Polícias Militares (PM), pois, até
então, com exceção do corpo de bombeiros do Rio de Janeiro e de Brasília, todos eram orgânicos às
PM.
A Prefeitura de São Paulo passou a estudar a reformulação de seu Código de Obras (oriundo
de 1929, e atualizado em 1955).
d) Edifício Joelma(Construído em concreto armado, com fachada tradicional (sem pele de vidro))
Possuía 23 andares de estacionamentos e escritórios, o incêndio ocorreu no dia 1/fev/1974,
vitimou 1709 mortos e 320 feridos.
Características do edifício:
 Não possuía escada de segurança (como no edifício Andraus);
 Não tinha chuveiros automáticos, sinalização das saídas de emergência, iluminação de
emergência, alarme manual, nem plano de evacuação;
 Forros e acabamentos eram combustíveis.
Nesse incêndio as pessoas se jogavam pela fachada do prédio (a
maior parte das pessoas que se projetaram do telhado caiu em um pátio
interno, longe das vistas da população).
Muitos ocupantes do edifício pereceram no telhado, provavelmente
buscando um escape semelhante ao que ocorrera no edifício Andraus.
Devido ao grande semelhança dos incêndios e a proximidade das
ocorrências, iniciou-se um processo de reformulação das medidas de
segurança contra incêndios.
Durante o incêndio, o comandante do corpo de bombeiros da cidade
de São Paulo revela à imprensa as necessidades de aperfeiçoamento da
organização (aquele estudo realizado após o incêndio no Andraus).

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e) Boate Kiss – Santa Maria (RS)
Incêndio iniciou-se por um artefato pirotécnico que atingiu o forro composto de espuma e
isopor (combinação que causar muita fumaça tóxica), que é de fácil e rápida combustão e
propagação. O agravante maior dessa tragédia foi o não
funcionamento e a inexistência de extintores e outros
equipamentos, somado com o despreparo dos seguranças que
barraram a saída dos primeiros ocupantes que detectaram o
incêndio, além da boate estar superlotada.
A boate tinha apenas um acesso (usado para entrada e
saída de pessoas) e mesmo assim era de tamanho reduzido
(totalmente aberta, chegava a uma largura de 3 metros).
Os sistemas de ar condicionado e de exaustão também contribuíram para o grande número de
mortes, ao propagarem rapidamente a fumaça tóxica em vez de dissipá-la (importância de desligar
ventilação e/ou exaustão). De acordo com a perícia, os dutos de ar da casa noturna operavam de
forma ineficiente e ainda estavam parcialmente obstruídos por janelas basculantes, impedindo que
parte da fumaça saísse para o ambiente externo do prédio.
Sem enxergar. Devido a fumaça, o público acabou se dirigindo para os banheiros, onde a
maioria das vítimas foi encontrada.
Outros sinistros ocorridos no Brasil: Vazamento em Cubatão (SP), em 1984, 93 mortos; Lojas
Renner em Porto Alegre, 1976, 41 pessoas mortas; Edifício Andorinha (RJ), em 1986, 21 mortos;
Edifício Grande Avenida (SP), 1982, 17 mortos; Creche Uruguaiana (RS), em 2000, morreram 12
crianças; Show no Canecão Mineiro (Belo Horizonte - MG), matou 21 pessoas em 2001.
Inúmeros incêndios ocorreram e ocorrem em diversos locais do Brasil, porém acreditamos que
os exemplos acima mostram a importância da preocupação com a prevenção e o combate.
Fora do Brasil podemos citar vários grandes incêndios como: Hotel Royal, Jomtien (Tailândia),
1987 (91 mortes); Clube noturno de Gotemburgo, Suécia, em 1998 (63 mortos); World Trade Center
(EUA), 2001 (de 2146 a 2163 pessoas mortas). Outros vários incêndios relevantes ocorridos em hotéis
(edifícios altos) com vítimas fatais, a partir de 1971: 26/12/71, Seul/Coréia do Sul (166 mortos);
01/09/73, Dinamarca (35 mortos); 25/02/77, Moscou/Rússia (42 mortos); 09/05/77, Amsterdam/Holanda
(33 mortos); 14/11/77, Filipinas (no mínimo 47 mortos); 12/07/79, Zaragosa/Espanha (76 mortos);
20/11/80, Kawaji/Japão (45 mortos); 21/11/80, Las Vegas/EUA (85 mortos); 07/05/83, Istambul/Turquia
(36 mortos); 14/01/84, Pusam/Coréia do Sul (36 mortos); 23/01/86, índia (38 mortos); e 29/01/97, China
(39 mortos) (www.nfpa.org apud ALVES, 2005).

Referências: Material didático Universidade Cândido Mendes - Introdução aos Estudos Acerca Da Engenharia de
Segurança Contra Incêndios e Pânico (Pós Graduação em Engenharia de Segurança Contra Incêndio e Pânico

MANUEL MENDES DO CARMO


Assessor Técnico de Brigada de Incêndio – Reg. CBMCE nº 16E1548
Técnico Segurança do Trabalho – MTPS nº 0022261/CE
Técnico em Mecânica – CREA/CE nº 00326619-2
Educador Físico Pleno – CREF nº 010221-CE
Suboficial Veterano da Marinha do Brasil – RG 460.268
Lato Sensu em engenharia de segurança contra incêndio e pânico (em andamento)

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