Você está na página 1de 101

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA

CAMPUS PAULO AFONSO

COORDENAÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

CÍCERO WELLINGTON TAVARES SOARES

ESTUDO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA APLICADA A MOTORES DE INDUÇÃO:


OS EFEITOS DE DISTORÇÕES NA QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA NOS
MOTORES DA INDÚSTRIA DE AQUICULTURA NETUNO

Paulo Afonso - BA
Fevereiro, 2023
CÍCERO WELLINGTON TAVARES SOARES

ESTUDO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA APLICADA A MOTORES DE INDUÇÃO:


OS EFEITOS DE DISTORÇÕES NA QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA NOS
MOTORES DA INDÚSTRIA DE AQUICULTURA NETUNO

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao Departamento de
Engenharia Elétrica do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia da
Bahia, Campus de Paulo Afonso como
requisito parcial à obtenção do Título de
Bacharel em Engenharia Elétrica.

Orientador: Prof.º Esp. Arlan Alves Fraga

Paulo Afonso - BA
Fevereiro, 2023
(FICHA CATALOGRÁFICA)
Solicitar elaboração da bibliotecária (o), conforme documento
orientador disponível no site.
TERMO DE APROVAÇÃO

CÍCERO WELLINGTON TAVARES SOARES

ESTUDO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA APLICADA A MOTORES DE INDUÇÃO:


OS EFEITOS DE DISTORÇÕES NA QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA NOS
MOTORES DA INDÚSTRIA DE AQUICULTURA NETUNO.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Engenharia Elétrica do


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Campus de Paulo
Afonso, como requisito à obtenção do título de graduação.

Aprovado em de de 2023.

BANCA EXAMINADORA:

Prof.º Esp. Arlan Alves Fraga


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA
Companhia Hidrelétrica do São Francisco - CHESF
Orientador

Prof. Me. Felipe Freire Gonçalves


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA
Companhia Hidrelétrica do São Francisco - CHESF
Membro Interno da Banca

Prof.º Esp. Renato Barros Gibson Simões


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA
Companhia Hidrelétrica do São Francisco - CHESF
Membro Interno da Banca
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus e a Cristo Jesus, pois em infinita bondade me


concedem muito mais do que mereço.
Agradeço aos meus pais, José e Josefa pela vida e amor, as minhas irmãs,
Erikatia e Cícera, pela cumplicidade, amizade e companheirismo, aos meus sobrinhos
Isaque, Levi e Sophie e a meu cunhado Artur, por serem meu refúgio em diversos
momentos. Essa vitória é nossa, os amo e agradeço muito.
Agradeço a meus amigos em Jacobina, Jeanderson, Bruno, Daianne, Alex,
Milena, Geovanna e Vinicius pelo companherismo e incentivo em todo esse tempo.
Aos meus amigos e companheiros de luta, Cadu, Enéas, William, Vitor, Arnaldo,
Aritan, Sillas, Ananda, Vitoria, Talita e a todos os outros que dividiram comigo o periodo de
graduação, sou eternamente grato a vocês, sobretudo a Cadu, Enéas e William, a amizade
de vocês foi um fator preponderante para que eu chegasse até aqui, vocês foram meu
alicerce.
Aos amigos que fiz em Paulo Afonso fora da faculdade, sobretudo as amizades
em Santa Brígida, e principalmente Ellen, vocês foram muito importantes pra mim, e
lembrarei sempre disto.
Agradeço a professora Brunna por sido uma amiga com a qual pude contar
durante a graduação, ao professor Welber, por me ajudar em diversos momentos
compartilhando seu conhecimento e me incentivando.
Agradeço ao meu orientador Arlan Alves Fraga, por me acompanhar neste
trabalho, sendo sobretudo uma referência de conhecimento e me ensinando muito
sobre o profissional que desejo ser.
Aos membros da banca examinadora, Felipe e Renato, sempre solícitos e
dispostos a me ajudar na pesquisa, agradeço particularmente a Renato por conseguir
o material necessário para que este projeto acontecesse.
A Netuno, na figura de Alex, Wellington, Tiago e Marcelo, os quais me deram
todo o suporte necessário, estando sempre a disposição, colaborando em tudo o que
precisei no período que convivemos.
Enfim, a todos que contribuíram direta e indiretamente em minha graduação e
na elaboração deste projeto, meu muito obrigado!

Cícero Wellington Tavares Soares.


RESUMO

Soares, C.W.T. Estudo de Eficiência Energética Aplicada a Motores de Indução:


Os Efeitos de Distorções na Qualidade da Energia Elétrica nos Motores da
Indústria de Aquicultura Netuno. Orientador (a): Prof. Esp. Arlan Alves Fraga. 2023.
PG f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica) - Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Paulo Afonso-BA, 2023.

Neste trabalho é realizado um estudo das condições elétricas de operação de um


conjunto de sete motores elétricos de indução, pertencentes a indústria de aquicultura
Netuno, localizada em Paulo Afonso-BA. A pesquisa teve como objeto de estudo a
qualidade da energia elétrica aplicada aos motores e eventuais distorções nesta, de
modo que fossem identificados distúrbios elétricos como componentes harmônicas,
desequilíbrios nas tensões de alimentação das máquinas e afins. A coleta de dados se
deu através da utilização de um analisador de qualidade da energia da Fluke, modelo
435 séries-II. Os dados coletados foram então tratados e comparados aos limites
estabelecidos pelo oitavo módulo do PRODIST, com a finalidade de identificar os
desvios existentes, permitindo assim a devida mitigação para estes. Percebeu-se então
que, a presença de um grupo gerador a diesel presente na empresa, possuía íntima
relação com algumas distorções medidas na qualidade da energia, sobretudo na
produção de componentes harmônicas, estando em destaque a 7ª componente
harmônica de corrente, para a qual foi calculado um filtro passivo, monossintonizado e
bifuncional, para a correção do fator de potência da planta e eliminação da referida
componente. Finalmente, os capítulos finais da pesquisa destinaram-se a calcular o
retorno do investimento na produção do filtro harmônico.

Palavras-chave: Qualidade da energia elétrica, Desequilíbrio de tensão, Distorções


harmônicas de corrente e tensão, Máquinas elétricas, Motores de indução.
ABSTRACT

Soares, C.W.T. Estudo de Eficiência Energética Aplicada a Motores de Indução:


Os Efeitos de Distorções na Qualidade da Energia Elétrica nos Motores da
Indústria de Aquicultura Netuno. Orientador (a): Prof. Esp. Arlan Alves Fraga. 2023.
PG f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica) - Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Paulo Afonso-BA, 2023.

In this work, a study of the electrical operating conditions of a set of seven induction
electric motors is conducted. These motors belong to the aquaculture industry Netuno,
located in Paulo Afonso-BA. The research aimed to analyze the quality of the electrical
energy applied to the motors and identify any distortions, such as harmonic components
and voltage imbalances in the machines' power supply. Data collection was done using
a Fluke power quality analyzer, model 435 series-II. The collected data was then
processed and compared to the limits established by the eighth module of PRODIST to
identify existing deviations and facilitate their appropriate mitigation. It was observed that
the presence of a diesel generator set in the company was closely related to certain
distortions measured in the energy quality, particularly in the production of harmonic
components. The 7th harmonic current component stood out, for which a passive, single-
tuned, and bifunctional filter was calculated to correct the power factor of the plant and
eliminate the aforementioned component. Finally, the last chapters of the research
focused on calculating the return on investment in the production of the harmonic filter.

Keywords: Power quality, Voltage imbalance, Harmonic current and voltage distortions,
Electric machines, Induction motors.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Classificação genérica dos tipos de motores elétricos ............................... 19


Figura 2. Circuito elétrico equivalente do motor de indução ...................................... 21
Figura 3. Curvas genéricas de conjugado para diferentes tipos de cargas ...............22

Figura 4. Rotor de gaiola de uma máquina de indução..............................................24


Figura 5. Exemplo de sobreposição de placas em ranhura profunda ....................... 25
Figura 6. Curvas típicas de conjugado versus velocidade para motores de
indução.......................................................................................................................26
Figura 7. Onda quadrada decomposta em componentes harmônicas. ..................... 27
Figura 8. Diagrama simplificado ilustrando a interação sistema-carga...................... 28
Figura 9. Sistema desequilibrado...........................................................................................................................................................37
Figura 10. Sistemas equilibrados equivalentes ao desequilibrado. ........................... 37
Figura 11. Perdas em condutores em função do fator de potência. .......................... 41
Figura 12. Faixas de Tensão em relação à de Referência ........................................ 42
Figura 13. Filtro passivo shunt ................................................................................ 45
Figura 14. Filtros passivos de sintonia (a) simples, (b) e (c) dupla............................ 45
Figura 15. Filtro Ativo para componentes harmônicas ..............................................46
Figura 16. Câmara de compressão de amônia ......................................................... 48
Figura 17. Motores utilizados no processo de compressão da amônia ..................... 48
Figura 18. Dados de Placa Motores 50cv ..................................................................51
Figura 19. Dados de Placa Motores 70cv.................................................................. 52
Figura 20. Qualímetro Fluke 435 Power Quality Analyzer ......................................... 54
Figura 21. Gabinete do Ponto de Conexão Comum .................................................. 55
Figura 22. Esquema de ligação realizada nos terminais do qualímetro. ................... 56
Figura 23. Qualímetro conectado ao PCC................................................................. 56
Figura 24. V+ médio ao longo do período de análise ................................................ 59
Figura 25. V- médio ao longo do período de análise..................................................59
Figura 26. Grau de desequilíbrio médio ao longo do período de análise .................. 59
Figura 27. Valores mínimos, médios e máximos de THDv e THDi para cada linha...62
Figura 28. THDv(%) cronológico das linhas de alimentação dos motores.................64
Figura 29. Período registrado com as maiores elevações do THDv(%).. .................. 65
Figura 30. Espectro Harmônico total de tensão ........................................................ 65
Figura 31. Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑣𝑝 (%).....................................................66
Figura 32. Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑣𝑖 (%)................................................ ..... 66
Figura 33. Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑣3 (%)..................................................... 64
Figura 34. Espectro Harmônico para o THDi(%). ...................................................... 69
Figura 35. Intervalo de destaque do THDi(%) entre os dias 30/03 e 31/03. .............. 69
Figura 36. Intervalo de destaque do THDi(%) entre os dias 02/04 e 03/04...............70
Figura 37. Espectro Harmônico total de corrente.......................................................72
Figura 38. Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑖𝑝 (%). .................................................... 73
Figura 39. Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑖𝑖 (%)......................................................73
Figura 40. Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑖3(%). ................................................ 74
Figura 41. Analise cronológica da 5ª e 7ª harmônicas junto ao THDi(%). ................ 74
Figura 42. Detalhe da fatura de energia exibindo a tarifação por energia reativa. .... 77
Figura 43. Fatura de energia exibindo a tarifação por energia reativa.......................78
Figura 44. Ramal de ligação dos motores ao ponto de conexão comum .................. 86
Figura 45. Filtro Passivo, monossintonizado e bifuncional.........................................89
Figura 46. Orçamento Filtro........................................................................................89
LISTA DE TABELAS

Tabela 01. Indicadores de distorções harmônicas ....................................................... ....49


Tabela 02. Limites das distorções harmônicas totais (em % da tensão fundamental).....51
Tabela 03. Dados de Placa dos MITs........................................................................................52
Tabela 04. Especificações Fluke 435 Power Quality Analyzer...............................................54
Tabela 05. Parâmetros registrados com o Qualímetro............................................................56
Tabela 06. Tensões medidas................................................................ ........... .........................58
Tabela 07. Valores das componentes de sequência das tensões de linha..........................58
Tabela 08. Valores das componentes de sequência das tensões de linha..........................61
Tabela 09. Níveis de distorção harmônica medidos .................................... ...... ...................63
Tabela 10. Espectro Harmônico ímpar obtido L12...................................................................67
Tabela 11. Espectro Harmônico ímpar obtido L23...................................................................68
Tabela 12. Espectro Harmônico ímpar obtido L31....................................................................68
Tabela 13. Teor Harmônico da corrente L12............................................................................70
Tabela 14. Teor Harmônico da corrente L23............................................................................71
Tabela 15. Teor Harmônico da corrente L31............................................................................71
Tabela 16. Espectro Harmônico ímpar de corrente obtido L12...............................................75
Tabela 17. Espectro Harmônico ímpar de corrente obtido L23...............................................75
Tabela 18. Espectro Harmônico ímpar de corrente obtido L31...............................................76
Tabela 19. Fator de Potência Nominal dos motores................................................................76
Tabela 20. Fator de Potência dos motores................................................................................77
Tabela 21. Faixas de Classificação de Tensões de Regime Permanente para Pontos de
conexão em Tensão Nominal inferior a 2,3 kV (380/220).................................................79
Tabela 22. Número medido de transgressões precárias de tensão .......................................79
Tabela 23. Número medido de transgressões crítica de tensão.............................................80
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

DHT Distorção Harmônica Total

PCC Ponto de Conexão Comum

QEE Qualidade da Energia Elétrica

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

PRODIST Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico


Nacional

IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers

FP Fator de Potência

THDI Root Mean Square (Valor eficaz)

THDV International Electrotechnical Commission

NBR Norma Brasileira aprovada pela Associação Brasileira de Normas


Técnicas

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

THD Total Harmonic Distortion

MI Máquina de Indução

CH Componente Harmônica
SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14

1.1 OBJETIVOS ................................................................................................. 16

1.1.1 Geral .......................................................................................................... 16

1.1.2 Específicos .............................................................................................. 16

1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 17

1.3 METODOLOGIA ........................................................................................... 17

2.0 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 19

2.1 MÁQUINAS ROTATIVAS ............................................................................. 19

2.1.1 Máquinas elétricas de indução .............................................................. 20

2.1.1.1 Efeito das condições de operação nas máquinas elétricas de indução . 21

2.2 QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA....................................................... 26

2.2.1 Distorções Harmônicas .......................................................................... 27

2.2.1.1 Classificação das componentes harmônicas .......................................... 29

2.2.1.2 Efeitos das distorções harmônicas ......................................................... 30

2.2.1.2.1 Sobreaquecimento em máquinas rotativas e cabos ........................... 30

2.2.1.2.2 Baixo fator de potência ....................................................................... 31

2.2.1.2.3 Erro de atuação dos dispositivos de proteção .................................... 32

2.2.1.2.4 Sobretensão em banco de capacitores .............................................. 32

2.2.1.2.5 Aumento de perdas por histerese e Focault em transformadores e

motores .............................................................................................. 34

2.2.1.2.6 Redução do conjudado no eixo de máquinas assíncronas ................. 34

2.2.1.3 Indicadores de distorção harmônica ....................................................... 35

2.2.2 Desequilíbrios de tensão ......................................................................... 36

2.2.2.1 Componentes simétricas ........................................................................ 36

2.2.2.2 Efeitos dos desequlíbrios de tensão em motores trifásicos .................... 39

2.2.3 Fator de potência ...................................................................................... 40

2.2.4 Variações de tensão em regime permanente ......................................... 41


2.3 FILTROS HARMÔNICOS ............................................................................. 44

2.3.1 Filtros passivos ........................................................................................ 44

2.3.2 Filtros ativos ............................................................................................. 46

3.0 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 47

3.1 DESCRIÇÃO DA PLANTA DE OPERAÇÃO ................................................ 47

3.2 CONSIDERAÇÕES SOBREA A METODOLOGIA OPERACIONAL


ADOTADA............................ ......................................................................... 49

3.3 DADOS TÉCNICOS DOS MOTORES........................................................... 51

3.4 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS .................................................................... 52

3.5 METODOLOGIA OPERACIONAL ................................................................ 54

4.0 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................... 57

4.1 APRESENTAÇÃO E TRATAMENTO DOS DADOS ..................................... 57

4.1.1 Desequilíbrios de tensão ......................................................................... 57

4.1.2 Componentes harmônicas ....................................................................... 62

4.1.2.1 Componentes harmônicas de tensão ..................................................... 64

4.1.2.2 Componentes harmônicas de corrente ................................................... 68

4.1.3 Fator de potência ...................................................................................... 76

4.1.4 Variações de tensão em regime permanente ......................................... 78

4.2 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO .................................................................. 81

4.2.1 Desenvolvimento do filtro ........................................................................ 81

4.2.2 Cálculo de retorno do investimento ........................................................ 87

5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 92

5.1 CONCLUSÃO ................................................................................................ 92

5.2 TRABALHOS FUTUROS ............................................................................... 93

REFERÊNCIAS................................................................................................ 94

ANEXOS .......................................................................................................... 100


14

1.0 INTRODUÇÃO

As atividades humanas de produção sempre estiveram ligadas à ferramentas e


utensílios que aumentavam a capacidade produtiva e reduziam o esforço físico
daqueles que as operavam (NAVARRO, 2006). Durante séculos, as atividades
utilizaram como meio de tração, animais de grande porte como cavalos e bois, atuavam
como força motriz para o arado, moagem de grãos e meio de locomoção, contudo, com
o crescimento populacional e o êxodo rural motivado pela busca do homem do campo
por melhores condições de vida, surgiram os grandes centros, trazendo consigo novas
demandas produtivas que iam além das necessidades triviais à existência.
A necessidade de se produzir bens diversos e não apenas alimentos, trouxe à
cena a carência de meios que otimizassem as atividades, produzindo mais em menos
tempo, este processo, denominado industrialização, foi o responsável pelo início de
uma lógica produtiva disruptiva na história recente da humanidade, o qual substituiu a
força humana e animal por máquinas e motores, incumbidos de tracionar e movimentar
cargas em diferentes perfis das atividades humanas (SANTOS; ARAUJO, 2011).
A rigidez produtiva e capacidade contínua de exercer trabalho, fizeram das
máquinas motrizes equipamentos indispensáveis às atividades produtivas industriais.
No início de sua inserção nas indústrias, as máquinas eram sobretudo alimentadas por
fontes orgânicas como combustíveis fósseis e carvão, contudo, com os avanços
tecnológicos no campo do eletromagnetismo e eletrodinâmica, os motores movidos por
fontes elétricas passaram a ganhar espaço, ocupando cada vez mais o papel central
nas indústrias (ZANELLA; CAMACHO; MATIAS, 2018).
O desenvolvimento das atividades industriais que demandaram um maior
número de máquinas elétricas, atrelado com o crescimento populacional dos grandes
centros, solicitou uma expansão do setor elétrico, elevando desde a capacidade de
geração, à transmissão e distribuição de energia. As ações para atender o fornecimento
de blocos cada vez maiores de energia, passou pelo robusto desenvolvimento da
eletrônica de potência, a qual introduz, por meio de cargas não lineares e chaveadas,
comportamento não linear na rede elétrica, acarretando em deformações nas formas
de onda da corrente e tensão, o que degrada a Qualidade da Energia (QE) das
instalações e do sistema como um todo (GÓMEZ-EXPÓSITO; CONEJO; CAÑIZARES,
2015).
15

A QE de uma instalação está ligada não somente a fonte supridora, mas


principalmente a natureza das cargas que a constituem, isto é, a planta impõe sobre os
motores as oscilações nos níveis de QE que afetam sua operação. Como afirmam Faria et
al. (2014), quando em presença de harmônicos elétricos, provenientes de cargas não
lineares existentes na instalação, as máquinas elétricas apresentam comportamento
inadequado, reduzindo seu rendimento e vida útil.
Além das deformações na forma de onda, eventuais outras alterações na qualidade
da energia afetam o rendimento dos MI’s, como afirmam Rezende e Samesima (2007),
desequilíbrios de tensão afetam desde o rendimento, aumentando as perdas elétricas no
motor, à ocorrência de drástica redução na vida útil do equipamento.

Embora sejam equipamentos robustos, as máquinas elétricas possuem


sensibilidades que afetam sua vida útil e rendimento quando aplicadas em situações de
estresse para as quais ele não fora projetado. Os diferentes perfis de cargas e a potência
mecânica por essas requerida norteiam os aspectos construtivos de cada MI, bem como
suas condições ideais de operação. Quando um dado MI é aplicado a um perfil de carga
diferente da que fora projetado, operando sub ou superdimensionado, o rendimento deste
é drasticamente afetado, além de apresentar alterações nas grandezas elétricas que este
solicita e impõe à rede (ALVES et al., 2018).
Como afirmam García-Martínez et al. (2014) e Oliveira et al. (2018), o excesso de
perdas elétricas e baixo rendimento de plantas que detém MI’s superdimensionados afeta
não apenas a máquina em si, mas toda a planta e o sistema sob o qual este está inserido,
exigindo que a geração produza um bloco maior de energia do que o necessário, o que faz
com que o sistema trabalhe ininterruptamente em seu limiar produtivo.
Visando aliviar o sistema elétrico e promover o consumo racional da energia, além
da redução das perdas elétricas, o Ministério de Minas e Energia (MME) criou em 1985 o
Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), responsável por
estimular práticas que diminuam os impactos ambientais causados pela geração de
energia elétrica no Brasil. Sendo o setor industrial o segmento que demanda o maior bloco
energético do país, responsável direto por 32,3% do consumo no ano de 2021, dos quais
aproximadamente 70% são destinados a suprir a alimentação de motores elétricos,
normativas passaram a ser criadas para estimular a industria a promover um consumo
consciente de energia, sobretudo na destinada a os motores elétricos.
Desta forma, este projeto trata de um estudo de caso que analisa as condições de
carregamento e a qualidade da energia elétrica sobre os motores de indução da empresa
de aquicultura Netuno, existente no município de Paulo Afonso, a qual, em seus processos,
16
faz uso de motores elétricos de indução para diversas atividades, desde alimentar
compressores de amônia destinados a resfriar as salas onde é feito o beneficiamento do
pescado por eles produzido, à atividade conjunta com moto bombas responsáveis pelo
encaminhamento de água aos reservatórios onde é feito o cultivo dos pescados.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Geral

Medir e analisar as condições de operação dos motores elétricos e a qualidade da


energia elétrica da empresa de aquicultura Netuno por meio de um analisador de energia
e, posteriormente, realizar um estudo analítico sobre os dados coletados, verificando a
existência de eventuais desvios nos índices de qualidade da energia da planta, seja pela
presença de correntes harmônicas, desequilíbrios de tensão entre as fases ou distorções
no fator de potência de referencia, bem como analisar o carregamento mecânico dos
motores em função de seu carregamento nominal. Com o diagnóstico, será feita a
proposição de adequações técnicas para os problemas de qualidade, por meio de filtros
passivos que sanem os eventuais distúrbios. Para a questão do carregamento do motor,
será aferida indiretamente o ponto de operação destes por meio dos dados de operação
fornecidos pelo fabricante e será proposta eventual substituição ou realocação das
máquinas de modo a operarem em condições de carga mais próximas da nominal.

1.1.2 Específicos

a) Comparar os dados técnicos obtidos in loco com os parâmetros pré-estabelecidos


pelo fabricante para a correta operação dos motores elétricos;
b) Propor rearranjos produtivos para as máquinas, adequando-as ao valor nominal e
perfil de carga sob os quais serão submetidas
c) Identificar e quantificar os níveis da qualidade da energia, bem como caracterizar
as possíveis causas de uma eventual não conformidade, seja pela presença de
distorções harmônicas (DH), desequilíbrios de tensão e desvios acentuados no fator
de potência da planta;
d) Sugerir, em conformidade com as normas vigentes, possíveis adequações após as
análises realizadas de modo a mitigar as eventuais distorções nos parâmetros da
qualidade da energia;
e) Realizar um quantitativo do dispêndio financeiro com a execução das correções
eventualmente sugeridas, bem como a eficiência energética por elas promovida e a
consequente economia nos gastos com energia elétrica, mensurando assim o
retorno financeiro do investimento aplicado.
17

1.2 JUSTIFICATIVA

Com o surgimento de novas tecnologias, sobretudo no pós-revolução industrial,


a demanda energética cresceu vertiginosamente. A sociedade e as demandas por ela
expressadas são indissociáveis das fontes de energia, sobretudo da elétrica, que
alimenta desde a indústria até o comércio e habitações.
Uma vez que a necessidade energética cresce, torna-se importante que se
tomem medidas a fim de minimizar as perdas e melhorar a eficiência dos processos,
de modo a garantir o suprimento energético sem riscos de interrupção no fornecimento
como afirma o PROCEL. Neste intuito, o governo federal elaborou normativas como a
NBR 17094-1 que, uma vez em vigor, recai em padrões de eficiência impostos aos
fabricantes de equipamentos elétricos.
Estando definida a necessidade de exercer um consumo racional da energia
elétrica, é necessário que se garanta a qualidade desta em níveis aceitáveis, de modo
a permitir o correto funcionamento dos equipamentos que a utilizam, de modo que,
não se afete a operação destes, acarretando em manutenções descabidas e gastos
excedentes por perdas, o que iria de encontro com a proposta das ações de estímulo
ao uso eficiente da energia.
Deste modo, a pesquisa aqui apresentada versa sobre o estudo de eficiência
energética dos MI’s de uma indústria de produção de pescados, bem como a
qualidade de sua energia, de modo a levantar dados que sirvam para correção de
desperdícios e desvios na QE da mesma, acarretando em economia para a indústria
e redução de impactos ao meio ambiente.

1.3 METODOLOGIA

O presente trabalho apresenta natureza aplicada com fins exploratórios, uma


vez que o conhecimento adquirido durante a pesquisa será utilizado a fim de buscar
soluções técnicas para a problemática em estudo.
Tomou-se como base teórica para este estudo um conjunto de livros, artigos,
periódicos, sites e os diversos estudos aplicados as áreas da eletrotécnica,
instrumentação, máquinas elétricas e qualidade de energia, assim como normas e
regulamentos voltados para a medição dos distúrbios relacionados a Qualidade da
Energia Elétrica (QEE).
18
A primeira etapa da monografia consistiu no levantamento bibliográfico sobre
regulamentos e normas vigentes voltadas para qualidade de energia elétrica em
âmbito nacional, de modo que fosse possível definir os procedimentos, considerações
e materiais utilizados na implementação prática da metodologia de intervenção
adotada para a planta que é objeto de estudo deste trabalho.
A normativa que guiou a execução da pesquisa foi a do oitavo módulo do
PRODIST (Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico
Nacional), fornecida pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), com foco em
estabelecer os parâmetros mínimos de qualidade da energia elétrica. Contudo, a
fundamentação teórica da pesquisa analisou aspectos mais amplos, fornecidos por
normativas internacionais.
Em seguida, na segunda etapa da pesquisa, mediu-se, in-loco, os níveis da
qualidade da energia elétrica no ponto de acoplamento comum do conjunto de
motores elétricos voltados a compressão de amônia na industra, com o auxílio de um
analisador de energia modelo Fluke 435 Power Quality Analyzer, fornecido pela
Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF).
Na terceira etapa, em posse das medições realizadas, foi realizado o
tratamento dos dados e o levantamento quantitativo e qualitativo dos distúrbios
presentes na planta, de mo do que, feito isto, foram propostas as eventuais
intervenções técnicas para os distúrbios apresentados.
Por fim, calculou-se o dispêndio financeiro com as intervenções técnicas
apresentadas, calculando assim, a provável economia gerada por tais intervenções e o
retorno financeiro dos investimentos realizados na aquisição de equipamentos para a
mitigação de tais distúrbios na qualidade da energia elétrica da planta.
19

2.0 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 MÁQUINAS ROTATIVAS

Uma máquina Rotativa segundo Chapman (2013), é um dispositivo que pode


ser denominado como motor ou gerador, dependendo da ordem com que converta a
energia, sendo denominado gerador quando converte energia mecânica em elétrica e
motor quando faz o processo inverso. Tal conversão se dá através de um elo
eletromagnético onde tensões são geradas em enrolamentos existentes em grupos
de bobinas quando estes giram mecanicamente, imersos um campo magnético
externo, ou quando um campo magnético gira mecanicamente próximo aos
enrolamentos da máquina, ou ainda quando o circuito magnético desta é projetado de
modo que a relutância varie com a rotação de suas partes móveis. Por meio desses
métodos, o fluxo concatenado em uma bobina específica é alterado ciclicamente e
uma tensão variável no tempo é gerada. (UMANS, 2014).
Em se tratando de máquinas elétricas, estas dividem-se em grupos
relacionados a seus aspectos construtivos e operação, sendo estes o de máquinas
CC e CA, e dentro do nicho das máquinas CA, os subgrupos síncronos e de indução
(BRAGA, 2017).

Figura 1: Classificação genérica dos tipos de motores elétricos.

Fonte: WEG (2022)


20
2.1.1 Máquinas elétricas de indução

As máquinas de indução, também chamadas de máquinas assíncronas são


assim denominadas pelas suas características construtivas. Nestes equipamentos, as
relações entre estator e rotor se dão via indução eletromagnética do primeiro sobre o
segundo, não existindo contatos elétricos que alimentem de forma direta o circuito
rotórico (CARNEIRO, 2015).
Uma vez que não há excitação direta no circuito do rotor, para que correntes
elétricas fluam sobre este, faz-se necessário que em sua construção, o rotor produza
sobre si um caminho fechado, similar a um circuito elétrico, de modo que, estando
este sob o efeito de tensões oriundas da circulação de correntes no estator, circulem,
via variação de fluxo magnético, correntes induzidas em seus enrolamentos, as quais,
produzirão seus próprios campos magnéticos variantes (UMANS, STEPHEN D, 2014).
Sendo o campo magnético gerado pelas correntes do rotor, fruto de sua
interação com o estator, este irá girar com um módulo de velocidade mecânica inferior
a velocidade dos campos girantes do estator, sendo o valor síncrono de velocidade,
ou seja, a velocidade dos campos do estator estabelecida por:

120 𝑥 𝑓𝑠𝑒
𝑛𝑠 = (1)
𝑃

Onde 𝒇𝒔𝒆 é a frequência do sistema que alimenta o estator e P é o número de


polos da máquina. A diferença entre a velocidade mecânica do eixo do rotor e a
velocidade dos campos girantes do estator é expressa em um valor percentual da
velocidade dos campos girantes, por uma grandeza adimensional, representada pela
letra “s” e chamada de escorregamento, sendo esta definida por:

𝑛𝑠𝑖𝑛 𝑥 𝑛𝑚𝑒𝑐
𝑠= (2)
𝑛𝑠𝑖𝑛

Ou ainda:
𝑓𝑟
𝑠= (3)
𝑓𝑠

Onde 𝒏𝒔𝒊𝒏 é a velocidade síncrona dos campos girantes do estator, 𝒏𝒎𝒆𝒄 a


velocidade mecânica do eixo do rotor, 𝒇𝒓 a frequência rotórica e 𝒇𝒔 a frequência da rede
de alimentação do motor.
21
O escorregamento é o responsável, dentre outras coisas, por informar ao circuito
do estator o acoplamento de cargas ao eixo do motor (GUEDES, 1993), uma vez que,
ao colocar-se carga no eixo, o motor perde velocidade, aumentando o escorregamento
que, por sua vez, indica uma maior velocidade relativa entre a velocidade do eixo e a
velocidade dos campos girantes, este acréscimo de velocidade relativa faz com que
os fluxos magnéticos entre as duas partes variem mais rapidamente, aumentando
assim o módulo da tensão induzida no rotor, o que eleva a corrente que por este
transita, fornecendo a máquina o conjugado necessário para tracionar a carga, como
afirma Hamzah et al. (2017) e como demonstra a expressão para o conjugado em um
motor de indução:

1 𝑥 𝑚 𝑥 𝑟2 𝑥 𝐼2
𝜏= (4)
𝜔𝑠 𝑥 𝑠

Onde 𝑰𝟐 refere-se a corrente rotórica, demonstrando a proporcionalidade com

o conjugado mecânico 𝝉. A expressão contempla grandezas oriundas do circuito

equivalente monofásico do motor elétrico de indução, o qual é apresentado a seguir:

Figura 2: Circuito elétrico equivalente do motor de indução.

Fonte: CHAPMAN (2013).

2.1.1.1 Efeito das condições de operação nas máquinas elétricas de indução.

Quando as máquinas elétricas operam em condições onde a carga por elas


tracionada é diferente da qual foram projetadas, esta tem seu rendimento comprometido,
contudo, as condições ótimas de operação não se limitam ao conjugado médio solicitado
pela carga, mas também ao perfil destas (BHUJBAL; PADOLE, 2017).
22
A maneira como as cargas solicitam conjugado ao eixo mecânico do motor varia de
acordo com as características de cada atividade por esses desempenhada, de modo que,
cargas que solicitam maior conjugado de operação e menor velocidade, necessitam de
especificações diferentes de motores para tracioná-las que as cargas de conjugado de
operação variável, como os binários solicitados por máquinas responsáveis por mover
fluidos, como motores de ventiladores e de motobombas (GENC; YILDIZ, 2015).

Figura 3: Curvas genéricas de conjugado para diferentes tipos de cargas.

Fonte: WEG (2022).

Em se tratando de motores assíncronos de gaiola de esquilo, estes dependem


da interação entre rotor e estator e, sendo tal relação regida pelas equações (2), (3) e
(4), podemos analisar o comportamento elétrico da máquina durante seu regime de
trabalho.
Uma vez que a velocidade relativa e o escorregamento entre os campos do
estator e o campo induzido do rotor é proporcional a tensão induzida no circuito rotórico,
subentende-se que, no momento da partida, onde a máquina possui a maior velocidade
relativa, a tensão induzida é máxima e por consequência as correntes induzidas e o
conjugado rotórico também, contudo, os estudos com estas máquinas e a experiência
empírica comprovam que tal fato não é verificado (KRISHNAN, 2010).
Embora o máximo escorregamento e a máxima tensão e correntes rotóricas
induzidas ocorram na partida, é interessante atentar-se ao fato de que a máquina
assíncrona opera através de indução eletromagnética e por consequência, esta produz
sobre si uma reatância indutiva representada no circuito equivalente da figura (2) por
𝒋𝑿𝟐 . Quando analisamos a expressão que evidencia os parâmetros que interferem em
uma dada reatância indutiva, temos:

𝑗𝑋 = 2 𝑥 𝜋 𝑥 𝑓 𝑥 𝐿 (5)
23
Para o circuito rotórico tem-se, então:

𝑗𝑋2 = 2 𝑥 𝜋 𝑥 𝑓𝑟 𝑥 𝐿𝑟 (6)

Através do correto uso da equação (3), evidenciando 𝒇𝒓 e substituindo-o na


equação (6), encontramos que:

𝑗𝑋2 = 2 𝑥 𝜋 𝑥 𝑠 𝑥 𝑓𝑠 𝑥 𝐿𝑟 (7)

Sendo praticamente constantes a frequência da rede e a indutância rotórica,


percebe-se que a reatância indutiva sofre efeitos do escorregamento. Quando este
encontra-se máximo, no momento da partida, a reatância indutiva do rotor também se
eleva a seu valor máximo e decai à medida que a máquina ganha velocidade.
Contudo, da análise de circuitos, sabe-se que um circuito elétrico que possui alta
reatância indutiva tem, como consequência, um baixo fator de potência, o que leva à
conclusão de que, no momento da partida, as máquinas de indução possuem um
baixo fator de potência, o qual tende a elevar-se à medida que é obtida velocidade
rotórica, reduzindo assim o módulo de sua reatância indutiva (KRISHNAN, 2010).
O baixo fator de potência na partida do motor e nos instantes que a sucedem,
traz à tona o motivo deste não desempenhar nesses dados instantes o seu conjugado
máximo. Uma vez que a máquina está operando com o fator de potência
comprometido nestes instantes, a conversão de potência aparente, solicitada da rede,
em potência ativa que é transformada em trabalho no eixo do motor, é comprometida,
muito embora, a máquina ainda consiga, na partida desempenhar conjugados entre
100% a 130% do nominal, como afirmam Zhang e Liu (2010).
Na maioria das operações, os motores são incumbidos de tracionar a carga
desde a inercia, de modo que, recai sobre esses equipamentos a necessidade de
vencer os coeficientes estáticos de atrito, que são por vezes maiores que os
coeficientes dinâmicos, como afirmam Seireg e Johnson (1974). Isto posto, Gholami
e Gholami (2018) demonstraram em seu estudo que, a depender do tipo de carga, o
motor necessita, na partida, de um conjugado maior que seu conjugado nominal para
tirar tal carga da inercia, isto é, uma máquina que desempenha, digamos “X” kNm
precisa, na partida, desempenhar um torque superior a “X” kNm para tracionar uma
carga que, em operação, solicite exatamente este valor.
O fato supracitado refere-se às cargas com solicitações constantes de
conjugado, contudo, para outros perfis de solicitação, como os parabólicos, como fora
citado na Figura (3), a demanda por conjugado na partida muda. Percebe-se então,
24
que, para o primeiro caso, onde a máquina vai trabalhar com um conjugado
exatamente igual ao da carga e esta solicita um valor constante de binário desde a
partida, seria em tese necessário superdimensionar a máquina, para que esta
conseguisse tirar a carga de sua inercia inicial, contudo, tal ação iria obrigar o motor a
atuar em regime permanente em uma região fora da nominal, fato que iria impor sobre
este um baixo rendimento operacional, como fora supramencionado.
Uma vez que nos motores de indução via gaiola de esquilo inexiste acesso ao
circuito rotórico, o ato de alterar a reatância indutiva durante a operação, a fim de
elevar o fator de potência da máquina nos instantes de partida, elevando também o
conjugado por esta fornecido, torna-se um tanto complexo. Como alternativa as ações
descritas acima, os fabricantes dos motores de indução desenvolveram tecnologias
que, os permitiam, ao alterar alguns aspectos construtivos das máquinas, contornar
tal problemática.
Sendo o rotor de uma máquina de indução composto basicamente por barras
interligadas nas extremidades por dois anéis, responsáveis por firmar o curto-circuito
entre elas, como demonstra a Figura (4) e, estando tais partes envolvidas em um
material de aço-silício, a única maneira de alterar qualquer característica da operação
deste componente é alterar estes materiais ou sua disposição.

Figura 4: Rotor de gaiola de uma máquina de indução.

Fonte: REFRIGERAÇÃO (2023).

Com a finalidade de melhorar o fator de potência da máquina no inicio da


operação, os fabricantes desenvolveram tecnologias que contornam as circunstâncias
de alta reatância indutiva, utilizando dos conhecimentos do efeito pelicular, que ocorre
quando submetemos uma corrente elétrica alternada, que possui uma determinada
frequência de oscilação, a um condutor ou conjunto de espiras, esta tende a
concentrar-se nas margens do condutor, dado o módulo da reatância indutiva do
condutor ser maior no seu centro, devido as linhas de campo serem mais adensadas
neste ponto e decaírem a medida que se afastam (MOURA; RIBEIRO, 2019).
25
O efeito supracitado torna-se mais evidente a medida que elevamos a
frequência de oscilação do sistema, assim, ao induzir tensões no circuito do rotor, irão
transitar correntes pelas barras de ligação, de modo que, torna-se viável a
possibilidade de alterar os materiais utilizados na composição dessas barras, criando
camadas sobrepostas e curto-circuitadas de diferentes materiais na composição de
cada barra, onde os material possuem diferenças em suas resistividades elétricas e
permissividades magnéticas de maneira gradativa a medida que se sobrepõem, como
demonstrado na figura abaixo:

Figura 5: Exemplo de sobreposição de placas em ranhura profunda.

Fonte: AUTORAL (2023).

Alternando a organização de materiais de diferentes composições na barra,


conseguimos que as características elétricas de cada material contorne o efeito do
baixo fator de potência na partida, bastando-nos submeter de maneira indireta a
corrente à transitar pelos materiais com resistividade elétrica mais elevada nos instantes
iniciais e, a medida que a máquina obtém velocidade, fazê-la redistribuir-se de modo
que ocorra uma comutação do material responsável pela condução, operação similar à
“taps” de um reóstato no circuito do rotor, o resultado são curvas de operação mais
uniformes e adaptáveis às solicitações de conjugado dos diferentes perfis de cargas,
como afirmam Souza, Nascimento e Gomes (2016) e também Khalifa, Abdelmaksoud
e Makkawi (2015).
26
Figura 6: Curvas típicas de conjugado versus velocidade para motores de indução.

Fonte: UMANS (2014).

Com a possibilidade de alterar o perfil da curva conjugado x velocidade de um


motor elétrico modificando a estrutura das barras nas ranhuras deste, torna-se possível
aplicar à cada perfil de solicitação de conjugado das cargas, um motor que irá tracioná-
la sem que este opere em regiões desfavoráveis à sua carga nominal.

2.2 QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA

A qualidade de energia elétrica (QEE) de uma instalação ou sistema é definida


como um conjunto de parâmetros que mensuram os níveis de paridade da energia em
relação a padrões pré-estabelecidos, como ideais, no que se refere às suas faces
enquanto produto ou serviço (PRODIST, 2021). No que se refere a faceta da qualidade
da energia enquanto produto, esta analisa o nível de similaridade dos perfis das
grandezas elétricas de tensão e corrente com uma forma de onda de uma senoide com
a amplitude e frequência definidas.
Leão, Sampaio e Antunes (2014), afirmam em seus estudos que a QEE pode ser
interpretada como a condição do sinal elétrico de tensão e corrente que permite que
equipamentos, processos, instalações e sistemas elétricos operem de forma satisfatória,
sem prejuízo de desempenho e de vida útil. De modo que, pode-se estabelecer uma
relação direta entre uma má QEE e a ocorrência de transtornos diversos nos sistemas
elétricos e operação incorreta das cargas a eles ligadas (MATIN; HANNAN, 2020).
27
2.2.1 Distorções Harmônicas

A terminologia “Harmônico”, com origem na área da acústica, assume o significado


de múltiplo inteiro ou componentes de um tom, bem como múltiplos não inteiros
denominados sub e sobretons (LEÃO; SAMPAIO e ANTUNES, 2014). Ou ainda, como
afirmam Paulilo e Teixeira (2013), os harmônicos podem ser definidos, tecnicamente, como
sendo componentes de um sinal periódico que apresentam frequências que são múltiplas
inteiras da frequência fundamental de um determinado sistema.
Embora tenham sido intensificados nas últimas décadas, os estudos da presença
das componentes harmônicas (CH) surgiu junto com a história dos sistemas de potência
em corrente alternada. Steimetz (1916), em seus estudos, devotou considerável atenção a
análise das CH em sistemas trifásicos, com enfoque no que se refere as correntes
harmônicas de terceira ordem.
Nos sistemas elétricos de potência, as componentes harmônicas referem-se às
eventuais correntes ou tensões, com frequência diferente da natural do sistema, que
transitam pelas linhas e alimentam as cargas conectadas a rede (ENJETI, 1995). Contudo,
as cargas ligadas ao sistema não fazem distinção das tensões e correntes que a
alimentam, de modo que, do referencial da carga, o que chega a ela é uma onda de
corrente distorcida, isto é, com forma diferente de uma senoide, como demonstrado na
Figura (7) (McGRANAGHAN; MEIER, 2002).

Figura 7: Onda quadrada decomposta em componentes harmônicas.

Fonte: Adaptado de YERRAMILLI (2015).

Embora, em teoria, as fontes de alimentação forneçam à rede tensões e correntes


com uma frequência padronizada, há contudo, a produção de CH em dois momentos da
atuação dos sistemas elétricos, na geração, a medida que saturações magnéticas e
comportamentos não lineares dos blocos geradores não produzem ondas perfeitamente
senoidais, e na etapa do consumo, onde a não linearidade das cargas distorce as formas
de onda da tensão e corrente, como demonstra a Figura (8) (IEEE-519, 2014).
28

Figura 8: Diagrama simplificado ilustrando a interação sistema-carga.

Fonte: Adaptado de LEÃO, SAMPAIO e ANTUNES (2014).

Diz-se que um elemento possui comportamento não linear quando este, excitado por
uma fonte, não emite uma resposta em proporcionalidade à entrada que recebe
(ADEGBEGE; NWANKPA, 1993). Em se tratando de sistemas elétricos, as presenças de
cargas não lineares produzem distorções nas formas das ondas das correntes que as
alimentam, de modo que, tais distorções se propagam produzindo distorções nas tensões
de alimentação (SINGH; GUPTA; AGARWAL, 2005).
A presença de elevados níveis de distorções oriundas de componentes
harmônicas nos sistemas elétricos, acarreta em diversos transtornos para as
instalações e equipamentos, tais como:

a) Sobreaquecimento de núcleos ferromagnéticos (IRAVANI; YAZDANI,


1998);

b) Elevação dos módulos das correntes transitando nos cabos de


alimentação e por consequência o sobreaquecimento dos mesmos
(KOULOURIOTIS, 2003);

c) Baixo fator de potência na instalação (VOROBEV, 2020);

d) Erro de atuação dos dispositivos de proteção (KHAZRAJY; MOKHTARI,


2015);

e) Sobretensão em banco de capacitores, devido às eventuais condições


de ressonância (PENG; AKAGI, 2003);

f) Aumento de perdas por histerese e Focault em transformadores e


motores (JADHAV; RANGARI, 2017);

g) Redução do conjugado no eixo de máquinas assíncronas


(MATSUMURA, 2002).
29
2.2.1.1 Classificação das componentes harmônicas

Como fora supracitado, do referencial da carga, o que chega a ela é uma onda
distorcida de tensão ou corrente, de modo que, não se faz simples a tarefa de identificar
quais componentes harmônicas estão contidas naquele sinal. Para resolver tal
problemática, utiliza-se dos estudos de decomposição de funções periódicas em séries
trigonométricas convergentes, desenvolvidos Jean Baptiste Joseph Fourier em 1822, em
sua obra "Théorie Analytique de la Chaleur" (Teoria Analítica do Calor).
Em seus estudos, Fourier percebeu que era possível decompor-se qualquer função
em um somatório de “n” parcelas de funções trigonométricas convergentes, sejam elas
senoides ou cossenoides, de diferentes amplitudes e frequências, ao passo que, para tal,
é necessário ter em mãos informações relacionadas apenas a função original.
Através das Séries de Fourier, é possível, a partir de um sinal distorcido de tensão
ou corrente, decompô-lo em um somatório de “n” parcelas dessas mesmas grandezas,
cada uma possuindo uma amplitude especifica e uma frequência múltipla da frequência
natural de oscilação do sistema (SOUTO; NEVES, 2017).
Em se tratando apenas das CH’s com frequência múltipla inteira do sinal
fundamental, isto é, desprezando-se as inter-harmônicas, pode-se dividir as CH em três
grandes grupos, dado o valor da sua frequência de operação e implicações nos sistemas
e cargas, sendo estes o das harmônicas pares, ímpares e múltiplas de três.
Há uma similaridade com as harmônicas impares, pares e múltiplas de três com as
componentes de sequência de um sistema, definindo-se então o pertencimento de uma
determinada CH a um determinado grupo, ao levar em consideração a sequência de fases
da componente fundamental e a sequência de fases da componente harmônica em
questão, ou seja, as componentes de sequência positiva são aquelas onde a ordem de giro
das fases é a mesma da fundamental, as de sequência negativa as que atuam com fases
oscilando no sentido contrário ao da fundamental e as CH de sequência nula aquelas onde
as fases estão alinhadas entre si (NOGUEIRA; FELIPPE DE SOUZA; FERREIRA, 2017).
A correta interpretação das informações acima, permite que sejam feitas
pontuações importantes quando ao comportamento de cada harmônica, seus efeitos,
causas e as suas possíveis soluções. Um ponto importante é no que se refere as
harmônicas de sequência nula, podendo estas ser definidas, também, para um sistema
trifásico, como sendo as componentes que possuem a frequência de oscilação dada por
um múltiplo qualquer de três da frequência natural do sistema, isto é, a 3ª harmônica (𝒉𝟑ª ),
por exemplo, para uma rede que oscila à uma frequência de 60 Hz, possui a parcela
presente na Fase R em fase com as parcelas presentes nas Fases S e T (OLIVEIRA,
2019).
30

2.2.1.2 Efeitos das Distorções Harmônicas

O elevado teor harmônico produzido pelo acumulo de cargas não lineares em


uma determinada instalação ou no sistema, afeta desde o fornecimento de energia
elétrica ao adequado funcionamento dos equipamentos ligados a estas instalações. As
CH’s, sobretudo as de corrente, podem interferir de diversas formas nas atividades dos
equipamentos que compõem o sistema, podendo culminar em aumento de perdas
elétricas, sobreaquecimentos, sobrecargas, além de afetar significativamente desde
redes de telefonia a equipamentos de medição do consumo de energia elétrica (DUGAN
et al., 2012).
Foram supracitados, neste trabalho, alguns dos efeitos das distorções
harmônicas, contudo, será dedicada uma melhor explanação sobre alguns deles,
sobretudo no que se refere ao objeto de estudo desta monografia, que são os efeitos
das CH’s nos motores elétricos de indução.

2.2.1.2.1 Sobreaquecimento em Máquinas Rotativas e Cabos

Sendo as CH’s de corrente, nada mais que, correntes elétricas com uma
frequência distinta, estas, ao transitar por máquinas rotativas ou cabos de
alimentação, tendem, assim como a componente fundamental do sistema, produzir
perdas por efeito Joule.
A isolação dos equipamentos, em geral, é definida de acordo com a operação
destes, de modo que, os enrolamentos das máquinas e os cabos de alimentação,
suportam de maneira adequada o aquecimento proveniente da componente natural
de operação para qual o equipamento foi projetado, contudo, como afirma Lahti
(2015), as distorções harmônicas presentes podem acelerar o processo de
degradação de cabos, geradores e motores, pelo fato da perda de energia harmônica
provocar um aquecimento acima do esperado para a classe de isolação destes
componentes, implicando em um envelhecimento precoce dos mesmos.
Leão, Sampaio e Antunes (2014) afirmam, em seus estudos, que nas
componentes de frequências harmônicas ocorrem como na fundamental, perdas no
ferro e cobre, fato este que contribui para a produção de calor excessivo nas máquinas
elétricas rotativas.
31

2.2.1.2.2 Baixo Fator de Potência

A presença de CH’s afetam também, o Fator de Potência (FP) da planta, de modo


que há acentuada redução destas perturbações. Isto ocorre devido o próprio conceito
de FP, uma vez que este refere-se à relação entre a potência aparente solicitada da
rede e a potência ativa que desempenha trabalho.
Como afirma Vorobev (2020), na presença das CH’s, o FP real da planta deve
refletir não apenas a relação entre potências ativa e aparente da componente
fundamental, mas fazer um balanço que considere também as relações de cada
harmônica, de modo que, com um elevado teor harmônico, o fator de potência da
instalação tende a diminuir drasticamente, como indicam os estudos de Martinho
(2014).
Em se tratando de máquinas rotativas de indução, tal fenômeno produz para a
planta um efeito devastador, uma vez que o FP de operação das máquinas de indução
já é relativamente baixo, sendo para as linhas nacionais IR3 e antecessores, inferior
a 0,85, em média, de modo que, quando em presença das CH’s, o FP global da planta,
reduzido pela presença das máquinas na instalação, sofre uma nova avaria dadas as
componentes presentes na instalação.
Segundo COPEL (2017), um baixo fator de potência representa um mau
aproveitamento de energia pela unidade consumidora, podendo acarretar em diversos
transtornos para a instalação, dentre os quais, destacam-se o aumento de perdas de
energia na instalação, a queima de equipamentos elétricos decorrente da variação de
tensão, o aquecimento decondutores dada a elevação da corrente de fase, a redução
da capacidade de atendimento de transformadores, além de acarretar num aumento
do valor da conta de energia.
De acordo com Fraga (2017), outro problema encontrado em instalações com
o fator de potência afetado por fontes harmônicas, é a impossibilidade de alguns
instrumentos de medição de contabilizar a presença das componentes e assim
demonstrar o correto FP da planta, de modo que o autor relata um caso onde o FP
mostrado pelo equipamento de medição era 0,9, enquanto o correto FP naquele
momento era 0,6, quando consideradas as CH’s. O ponto levantado traz à tona a
necessidade de se corrigir eventuais distorções harmônicas antes de ser feita a devida
correção no fator de potência de uma planta, de modo que, não sendo respeitada esta
ordem de intervenção na planta, os resultados encontrados pelo responsável pela
atividade estarão enviesados e equivocados.
32

2.2.1.2.3 Erro de Atuação dos Dispositivos de Proteção

A ocorrência de um elevado teor harmônico na instalação produz


consequências severas para os sistemas de proteção. Em seus estudos, Carvalho
(2013) relatava a má operação de elementos como disjuntores, fusíveis e relés
eletromecânicos, uma vez que estes operam analisando a corrente total que passa
por seus terminais, isto é, os picos da corrente distorcida.
A operação indevida dos elementos de proteção devido a presença de CH’s
se dá desde os circuitos terminais até as etapas de transformação de energia, uma
vez que os núcleos ferromagnéticos dos transformadores, quando atuando próximos
a saturação, já introduzem no sistema um dado teor harmônico (IEEE, 2018).
Devido o magnetismo residual do núcleo dos transformadores, ocorre que, ao
energizarmos um transformador, no momento onde estão sobre os terminais deste
as tensões elétricas da rede, é induzida uma corrente de magnetização, responsável
por criar o elo eletromagnético entre os enrolamentos primários e secundários do
equipamento (CALVIÑO; OLIVARES, 2002).
Ocorre que, o núcleo magnético possui, devido o magnetismo residual, uma
posição pré-definida no comportamento do laço de histerese do equipamento, de
modo que, ao energizarmos os terminais do transformador, este se vê obrigado em
alinhar seus momentos dipolo magnéticos ao solicitado pela rede, ao passo que, para
tal, faz-se necessário que este varie de forma abrupta seu posicionamento no laço
de histerese, a maneira que a máquina encontra para realizar tal variação brusca no
fluxo, é elevar demasiadamente a corrente de magnetização (DARABIAN; SANAYE-
PASAND; IRAVANI, 2010).
Ao elevar, transitoriamente, a corrente de magnetização, o transformador
atinge a necessidade imposta pelas tensões da rede, contudo, produz um transitório
que faz atuar eventuais equipamentos de proteção eletromecânicos ligados a ele,
sempre que estes analisarem apenas os picos de corrente do sistema. Contudo, ao
analisar a forma de onda da corrente neste momento, percebe-se um elevador teor
harmônico, sobretudo no que se refere à segunda harmônica.

2.2.1.2.4 Sobretensão em Banco de Capacitores

A presença de distorções harmônicas em uma determinada planta, afeta sem


distinção as cargas ali presentes, comprometendo seu funcionamento e podendo,
inclusive, danificá-las.
33
Em se tratando de bancos capacitores, utilizados por exemplo, para correção
do fator de potência de cargas pontuais ou plantas, faz-se necessário avaliar
cuidadosamente o espectro harmônico existente na instalação, sobretudo quando há
a possibilidade de inserção de uma carga geradora de perturbações após a instalação
do referido banco capacitor.
A inserção de cargas geradoras de harmônicos em plantas que possuem bancos
de capacitores presentes, pode acarretar em danos a tais bancos. Como vimos fora
supramencionado neste trabalho, o fator de potência da planta é afetado quando em
presença de componentes harmônicos, de modo que, a própria correção oriunda dos
bancos capacitivos é prejudicada. Contudo, a presença de cargas perturbadoras não
afeta os bancos de capacitores apenas invalidando a correção de fator de potência por
estes promovida, tais perturbações afetam também as células capacitivas em si.
Os capacitores oferecem às CH’s um caminho caracterizado por uma baixa
impedância, fato este que contribui para deixá-los vulneráveis à sobrecargas, além
disto, a existência de harmônicos pode resultar em falhas prematuras dos capacitores
devido a ultrapassagem da tensão máxima de operação do capacitor, causada pela
elevação da tensão através de sua estrutura dielétrica (LEÃO, SAMPAIO e ANTUNES,
2014).
Há, segundo Lopez (2013), outra condição onde a presença de CH’s na planta pode
danificar os bancos de capacitores. Há, para cada frequência especifica, uma condição
de ressonância entre cargas indutivas e capacitivas, condição esta que leva a
impedância resultante da associação destas cargas ser praticamente nula. Quando a
ressonância se dá em frequências harmônicas, estas encontram um caminho de baixa
impedância por onde fluir, contudo, se a a ressonância se der em função do banco
capacitor instalado em uma planta, estas irão fluir para o referido banco, provocando
sobretensões neste, danos e a eventual perda dos mesmos.
Ao instalar-se um banco de células capacitivas, deve-se analisar as condições
de ressonância do banco capacitor com a reatância indutiva da rede a qual o sistema
está condicionado, de modo que, através da potência de curto-circuito, como demonstra
a equação (8), seja possível identificar a frequência que provocaria a ressonância entre
o banco capacitor e a rede e, então, verificar se há a presença de harmônicos na
instalação que oscilem nesta frequência.

𝑆𝑐𝑐
ℎ𝑅 = √ (8)
𝑄 𝐵
34
Onde 𝒉𝑹 é a harmônica que afetaria o sistema na condição de ressonância,
Scc é a potência de curto-circuito no barramento da instalação e 𝑸𝑩 a potência reativa
do banco capacitivo, sendo esta escolhida de acordo com as necessidades das cargas
internas a instalação.

2.2.1.2.5 Aumento de perdas por histerese e Focault em transformadores e motores

O aumento das perdas nos transformadores e motores é uma das


consequências da presença de distorções harmônicas de corrente e tensão, o que
pode reduzir a vida útil e o rendimento dos equipamentos.
Segundo Schneider (2013), as correntes harmônicas elevam as perdas
oriundas das correntes de Foucault, uma vez que estas dependem quadraticamente
da frequência da corrente induzida, como demonstra a equação (9).

𝑃𝐹 = 𝐾𝐹 𝑥 𝐵2 𝑥 𝑓 2 𝑥 𝑡 2 𝑥 𝑉 (9)

Onde 𝑷𝑭 refere-se às perdas por Foucault, 𝑲𝑭 é a constante de Foucault,


dependente do material e da geometria do circuito magnético, B é a densidade de
fluxo magnético, 𝒇 a frequência da corrente induzida, t a espessura do material
condutor e V o volume deste material.
No que se refere às perdas por histerese, as harmônicas de tensão contribuem
de maneira significativa para elevação destas, gerando maiores desperdícios no
núcleo do transformador, como evidencia a equação (10).

𝑃ℎ = 𝐾ℎ 𝑥 𝐵∝ 𝑥 𝑓𝑥 𝑉 (10)

Sendo 𝑷𝒉 referente às perdas por Histerese, 𝑲𝒉 é a constante de relacionada


as perdas por Histerese e “∝” comumente adotado pelos fabricantes com o valor 2.

2.2.1.2.6 Redução do conjugado no eixo de máquinas assíncronas

Em se tratando do trabalho desempenhado pelas máquinas elétricas, a


presença de determinadas componentes harmônicas prejudicam a capacidade destas
em desempenhar, corretamente, as atividades para as quais foram projetadas.
Em motores trifásicos, o sentido do giro mecânico de seu eixo se dá a medida
que oscilam as três fases do sistema de alimentação, de modo que, para uma
determinada sequência A-B-C, o equipamento irá girar mecanicamente em um
35
sentido, ao passo que, invertendo-se à ordem das fases para A-C-B, o sentido de giro
do eixo será alterado.
Quando, distorcidas as correntes de alimentação dos motores, devido a
presença de CH’s, faz-se interessante avaliar o conjugado mecânico fornecido pela
máquina, uma vez que, como afirmam Kunar e Gunabalan (2016), a presença de
componentes que oscilem no sentido inverso de fases, fornece ao rotor da máquina,
através destas componentes, um campo contrário ao de seu movimento direto, de
modo que, tal campo harmônico atua como um freio, reduzindo o torque
desempenhado pela máquina e a sua capacidade de desempenhar trabalho.

2.2.1.3 Indicadores de Distorção Harmônica

Com a finalidade de estabelecer limites para a presença de CH’s no sistema


elétrico e nas instalações, desenvolveram-se regulamentos e normas que, a partir do
uso de indicadores, recomendava parâmetros mínimos de conformidade das formas
de onda da tensão e corrente, bem como o desempenho da instalação (LEÃO,
SAMPAIO e ANTUNES, 2014).
Segundo Paulilo e Teixeira (2013), o indicador comumente utilizado para
quantificar as distorções harmônicas é o de Distorção Harmônica Total (DHT), do
inglês, Total Harmonic Distortion (THD).

√∑ℎ𝑚𝑎𝑥 (𝐼ℎ )2
ℎ=2
THDI(%) = x 100 [%] (11)
𝐼1

Onde THDI(%) é a taxa de distorção harmônica total, 𝒉𝒎𝒂𝒙 é a componente


harmônica presente de maior frequência, 𝑰𝒉 a corrente para uma dada frequência
harmônica e 𝑰𝟏 a corrente presente na componente de frequência fundamental do
sistema.
De acordo com Rocha (2016), os harmônicos também podem ser quantificados
para cada componente harmônica separadamente a partir do indicador Distorção
Harmônica Individual (DHI), transcrito na equação (12), dessa forma, torna-se possível
analisar a contribuição de cada parcela harmônica para a deformação da forma de
onda.

𝐼ℎ
DHI(%) = x 100 [%] (12)
𝐼1
36
2.2.2 Desequilíbrios de tensão

Como afirmam Gosbel, Perera e Smith (2002), assume-se que o desequilíbrio


em um sistema elétrico trifásico é a condição na qual as três fases apresentam
diferentes valores de tensão em módulo ou defasagem angular entre fases diferentes
de 120º elétricos ou, ainda, as duas condições simultaneamente.
A presença de desequilíbrios entre as cargas monofásicas alocadas em cada
fase é, em geral, a principal causa de desequilíbrios nos circuitos terminais das
instalações. Toda via, ocorre que, quando em sistemas desbalanceados e
desequilibrados, os conceitos analíticos básicos do comportamento dos circuitos se
alteram, não sendo trivial o a análise e cálculo de correntes e tensões aplicadas
sobre as cargas.
O desequilíbrio de tensões nos sistemas elétricos possui diversas origens,
dentre as quais podemos destacar:

a) Cargas monofásicas;
b) Fornos de indução;
c) Fornos trifásicos à arco;
d) Máquinas de solda elétrica;
e) Aparelhos de Raios-X;
f) Anomalias no sistema, tais como: abertura de um condutor, curto-circuito,
falha na isolação de equipamentos;
g) Linhas aéreas assimétricas e sem transposição;
h) Correntes de magnetização de transformadores trifásicos, devido às
diferenças magnéticas oriundas da sua própria construção.

2.2.2.1 Componentes Simétricas

A fim de sanar a necessidade de equacionar o comportamento dos sistemas


desequilibrados, utiliza-se uma ferramenta matemática que fraciona o sistema em
estudo em subsistemas, com amplitudes e defasagens pré-estabelecidas para as
fases. O teorema que formula a ferramenta supramencionada é conhecido como
teorema de Fortescue ou ainda, teorema das componentes simétricas.
O estudo das componentes simétricas baseia-se nos comportamentos
fasoriais para representar um sistema desequilibrado como o somatório um grupo
de fasores de sistemas distintos, com sequências de fase distintas, que, ao unir-se,
resultam no sistema desequilibrado que é o objeto de estudo, como elucidam as
figuras (09) e (10), dispostas a seguir:
37
Figura 09: Sistema desequilibrado.

Fonte: Autoral (2023).

Figura 10: Sistemas equilibrados equivalentes ao desequilibrado.

Fonte: Autoral (2023).

Sem perda de generalidade, o teorema das componentes simétricas pode ser


descrito através da afirmação que um sistema desequilibrado composto de “n” fases,
pode ser representado por “n” sistemas equilibrados de “n” fases cada.
Equacionando tal afirmação para um sistema trifásico genérico, temos o seguinte
grupo de operações matriciais, representados nas equações (13) e (14), dispostas a
seguir:

(13)

(14)
38

Onde 𝑽𝑎 , 𝑽𝑏 e 𝑽𝑐 , são as tensões desequilibradas originais, medidas em

cada fase, enquanto 𝑽𝑎0 , 𝑽𝑎+ e 𝑽𝑎− , são as tensões da fase “A” para os três
sistemas equilibrados equivalentes, sendo respectivamente representados pelo de
sequência nula, o de sequência positiva e o de sequência inversa.
De acordo com PRODIST (2021), a partir da definição de cada componente,
torna-se acessível, através da equação (15), quantificar em valores percentuais, o
nível de desequilíbrio do sistema:

𝑉−
FD(%) = x 100 [%] (15)
𝑉+

Onde FD(%) refere-se ao fator de desequilíbrio de tensão percentual, V- é a


magnitude da tensão eficaz de sequência negativa na frequência fundamental e V+,
a magnitude da tensão eficaz de sequência positiva na frequência fundamental.
Como alternativa a equação acima, pode-se calcular o desequilíbrio das
tensões através da equação (16), também citada no PRODIST e baseada no método
desenvolvido pelo Conseil International des Grands Réseaux Électriques (CIGRÉ)
(BEAULIEU, 2002):

1−√3−6𝛽
FD(%) = √ x 100 [%] (16)
1+√3−6𝛽

Sendo β um fator que pode ser calculado com o auxílio da equação (17):

𝑉 4 𝑎𝑏 + 𝑉 4 𝑏𝑐 + 𝑉 4 𝑐𝑎
β= (17)
(𝑉²𝑎𝑏 + 𝑉²𝑏𝑐 + 𝑉²𝑐𝑎 )²

Sendo Vab, Vbc e Vca respectivamente as tensões de linhas medidas entre


as fases do sistema.
Não citado no PRODIST, mas amplamente adotado, o método conhecido
como National Electrical Manufacturers Association (NEMA), analisa o desvio das
tensões de linha, em relação ao seu valor médio.
O fator FD(%) de desequilíbrio é dado por:

∆𝑉
𝐹𝐷(%) = x 100 (18)
𝑉𝑚
39
Onde, ∆V é o máximo desvio das tensões de linha em relação ao valor médio,
e Vm é o valor médio, definidos por:

∆V = max [|Vab − Vm|, |Vbc − Vm|, |Vca – Vm|] (19)

Enquanto que:
𝑉𝑎𝑏 + 𝑉𝑏𝑐 + 𝑉𝑐𝑎
Vm = x 100 (20)
3

Vab, Vbc e Vca são as tensões de linha. O método NEMA é recomendado


pela norma American National Standards Institute (ANSI), a qual determina que os
sistemas elétricos sejam projetados e operados de modo a limitar o máximo
desequilíbrio de tensão em 3% pelo método NEMA (ANSI, 2016).

2.2.2.2 Efeitos dos desequilíbrios de tensão em motores trifásicos

Em se tratando de motores elétricos trifásicos de indução, estudos


demonstram que desequilíbrios de tensão na ordem de 3,5% na alimentação das
máquinas, podem maximizar suas perdas internas em cerca de 20%. Desequilíbrios
de 5%, como afirmam Samesima e Resende, podem danificá-lo rapidamente, uma
vez que, na presença de tais desequilíbrios, a temperatura interna eleva-se
demasiadamente, dadas as correntes desequilibradas transitando pela máquina.
De acordo com NBR 7097/1996, motores de categoria N, quando alimentados
por tensões desequilibradas, devem ter aplicados sobre si, fatores de redução para
a potência disponível em seu eixo, de modo que a elevação de temperatura
admissível para estes não seja excedida. Para outras categorias, como a H e D, é
recomendável consultar o fabricante (ELETROBRÁS, 2004).
Segundo Eletrobrás (2004), alterações significativas nas amplitudes das
tensões de alimentação podem influenciar na eficiência e no fator de potência
desempenhado pelos motores elétricos, uma vez que o comportamento
eletromagnético do equipamento é influenciado, diretamente, pelos valores das
tensões sobre ele aplicadas.
Outra fonte de danos às máquinas elétricas trifásicas de indução, provocada
pelo desequilíbrio das tensões de alimentação, é a perda de conjugado disponível
em seu eixo, em virtude da presença da componente de sequência negativa, que
produz, sobre os componentes rotóricos do motor, campos contrários aos campos
da componente direta do sistema, de tal forma que, é produzido uma parcela de
binário contrária ao torque natural do equipamento.
40

2.2.3 Fator de Potência

Em síntese, e em termos qualitativos, pode-se definir Fator de Potência (FP)


como um índice adimensional que indica a representatividade da energia ativa
perante a energia total absorvida por uma instalação ou equipamento, este varia
entre 0 (zero) e 1 (um) indutivo ou capacitivo, dependendo do perfil das cargas as
quais deseja-se medir o FP. Contudo, de acordo com os estudos da qualidade da
energia, percebe-se que as CH’s de tensão e corrente, dissipam entre si parcelas de
potência, de modo que, não apenas a componente fundamental do sistema possui
influencia no FP.
Quando no sistema circulam CH’s, a definição de FP é dada através da
multiplicidade de dois membros distintos, transcritos a seguir:

(21)

Onde o primeiro membro da multiplicidade, dependente do teor harmônico do


sistema, é definido como Fator de Distorção e o segundo, dependente apenas da
relação entre a potência ativa e aparente da componente fundamental, denomina-se
Fator Deslocamento.
Cargas como motores de indução, não utilizam a energia consumida
plenamente para realização de trabalho, de modo que, parte da energia consumida
destina-se para sua operação própria (manutenção de seus campos magnéticos
internos) e parte para a transformando em trabalho útil e suprimento de perdas
internas.
Na prática, de acordo com Pinto (2014), quando se diz que uma instalação
apresenta baixo fator de potência, isso significa que a energia total consumida pelo
conjunto de seus equipamentos em operação compõe-se por uma parcela de
energia ativa (kW) e por uma parcela de energia reativa (kvar), sendo a relação entre
a primeira e a potência aparente (kva), inferior a 0,92, como estabelecido nas
legislações vigentes no Brasil.

Os problemas clássicos associados a um baixo fator de potência são (CODI,


2004):
41
a) favorecimento à ocorrência de sobrecargas na rede elétrica;
b) aumento das perdas de energia em condutores, em decorrência da circulação
de maiores parcelas de correntes de natureza reativa, como demonstra a
Figura (11);
c) redução dos níveis de tensão, principalmente em pontos mais distantes da
origem da alimentação elétrica, devido às quedas de tensão originadas nos
circuitos pela circulação de maiores níveis de corrente;
d) comprometimento de parcela da capacidade dos transformadores e
alimentadores apenas para suprimento da energia reativa (subutilização do
sistema elétrico);
e) incidência de ônus nas contas de energia.

Figura 11: Perdas em condutores em função do fator de potência.

Fonte: CODI (2004).

2.2.4 Variações de tensão em regime permanente

De acordo com o PRODIST, a conformidade de tensão em regime


permanente refere-se à comparação do valor de tensão obtido por medição
apropriada, no ponto de conexão, em relação aos níveis de tensão especificados
como adequados, precários e críticos, descritos pela mesma normativa.
A tensão em regime permanente, deve ser monitorada e garantida pelas
distribuidoras de energia elétrica em padrões adequados, descritos pela ANEEL, de
modo que esta, ao chegar aos consumidores finais, esteja em níveis seguros e
padronizados para o correto funcionamento dos equipamentos que serão
conectados a rede elétrica.
A fim de classificar a tensão nos níveis mencionados anteriormente, é
necessário realizar uma série de leituras por meio de medição adequada. A partir de
1º de janeiro de 2023, todas as empresas distribuidoras devem ter a certificação do
processo de medição, coleta de dados, apuração de indicadores e compensações
42
relacionadas à tensão em regime permanente. Essa certificação deve seguir as
normas da Organização Internacional para Normalização (International Organization
for Standardization) ISO 9000E.
A normativa divide os índices de referência a ser seguidos de acordo com os
entes envolvidos na negociação, seja entre distribuidoras ou da distribuidora para o
consumidor final, sendo o objeto de estudo desta pesquisa limitado à tensão
fornecida pela concessionária para o usuário final.
Para usuários que contratem o fornecimento de tensão com níveis inferiores
a 2,3 kV, a tensão que a concessionária deverá entregar necessita, obrigatoriamente
possuir os valores nominais contratados, estando a distribuidora submetida a exercer
compensação aos consumidores com tensão de atendimento diferente dos índices
adequados.
A tensão de atendimento associada às leituras realizadas no ponto de
conexão, deve ser classificada segundo faixas em torno da tensão de referência
contratada, conforme o disposto na Figura (12), apresentada a seguir:

Figura 12: Faixas de Tensão em relação à de Referência.

Fonte: PRODIST (2021).

Onde TR é a Tensão de Referência do sistema; A faixa adequada de tensão


de operação está situada no intervalo entre (TR – ΔADINF) e (TR + ΔADSUP);
43

Faixas precárias de tensão: intervalo entre (TR + ΔADSUP) e (TR + ΔADSUP


+ ΔPRSUP) ou intervalo entre (TR – ΔADINF – ΔPRINF) e (TR – ΔADINF); e faixas
críticas de tensão: valores acima de (TR + ΔADSUP + ΔPRSUP) ou abaixo de (TR
– ΔADINF – ΔPRINF).
O PRODIST, em seu módulo 8 define os indicadores individuais de tensão em
regime permanente, sendo estes a Duração Relativa da Transgressão de Tensão
Precária (DRP) e a Duração Relativa da Transgressão de Tensão Crítica (DRC), os
quais devem estar associados a um mês civil.
A composição dos indicadores individuais se dá através do registro de 1.008
leituras válidas obtidas em intervalos consecutivos, denominado período de
integralização, de 10 minutos cada, equivalente a 168 horas ou uma semana. salvo
as que eventualmente sejam expurgadas por erros de leitura.
Para a obtenção das 1.008 leituras válidas, intervalos adicionais devem ser
agregados a leitura para substituir as leituras expurgadas, sempre consecutivamente
a estas. Após a obtenção do conjunto de leituras válidas, devem ser calculados os
indicadores DRP e DRC, de acordo com as seguintes equações:

(22)

(23)

Onde, nlp é o maior valor entre as fases do número de leituras situadas na


faixa precária e, nlc o maior valor entre as fases do número de leituras situadas na
faixa crítica.
Medidos então os indicadores DRP e DRC, compara-se os valores obtidos
aos limites fornecidos pela ANEEL para os mesmos. Os limites para os indicadores
individuais de tensão em regime permanente DRPLimite é 3%, enquanto, o
DRCLimite deve ser inferior à 0,5%.
44
2.3 FILTROS HARMÔNICOS

2.3.1 Filtros Passivos

Compostos por elementos passivos como resistores, capacitores e indutores,


existem diferentes tipos de filtros passivos amplamente utilizados para mitigar os
harmônicos, os quais destacam-se pela simplicidade de construção, baixo custo e
facilidade de dimensionamento.
Os filtros podem ser classificados em série ou paralelo quanto ao modo de
conexão que são ligados a rede. O filtro série atua como um circuito de bloqueio para
uma frequência específica ou uma faixa de frequências. Ele é formado por uma
combinação de indutância e capacitância em paralelo, funcionando como uma bobina
de bloqueio. No entanto, essa solução é pouco utilizada devido ao alto custo e à
necessidade de transportar toda a corrente do sistema.
Por outro lado, o filtro paralelo, também conhecido como filtro shunt, é a solução
mais comumente empregada para evitar que as correntes harmônicas penetrem em
partes específicas do sistema. Esse tipo de filtro oferece um caminho de baixa
impedância para as correntes harmônicas de interesse, impedindo que elas atinjam
determinadas partes do sistema.
Além disso, os filtros passivos paralelos podem ser divididos em dois tipos:
sintonizados e amortecidos. Os filtros sintonizados podem ser de sintonia simples ou
dupla, filtrando assim uma ou duas componentes harmônicas, enquanto, os filtros
amortecidos podem ser de 1ª, 2ª e 3ª ordem ou ainda do tipo C, configurações similares,
divergentes somente no modo de associação dos elementos e a ordem do polinômio
representativo da associação destes elementos no filtro.
Diferente dos filtros sintonizados, os filtros amortecidos são aqueles que
possuem uma baixa impedância ao longo de uma ampla faixa de frequências. Em
outras palavras, eles possuem características de passa-alta, passa-baixa, passa-banda
e rejeita-banda.
Os filtros de sintonia simples são amplamente utilizados comercialmente devido
à sua eficiência. Eles funcionam como filtros passa-faixa ou passa-banda, sendo esses
filtros particularmente eficazes na filtragem de harmônicos de baixa ordem, que
geralmente possuem amplitudes maiores, tornando-os altamente seletivos na
eliminação de uma harmônica específica.
45
A construção de um filtro de sintonia simples baseia-se em construir uma
associação de capacitores, indutores e resistores de tal modo que, na frequência da
componente harmônica que se deseja eliminar, surja, através do filtro, uma condição
de ressonância entre os elementos, criando assim um caminho de baixa impedância
sobre o qual as correntes harmônicas poderão fluir, desviando-as da rede e
encaminhando-as, comumente, ao aterramento, como ilustra a Figura 13.

Figura 13: Filtro passivo shunt.

Fonte: LEÃO; SAMPAIO; ANTUNES, 2014.

O incremento de resistores na composição do filtro, visam dilatar a faixa de


passagem, de modo a expandir a gama de filtragem harmônica, além de reduzir a
tensão sobre o filtro, contudo, a presença destes aumenta as perdas no filtro e
diminui a seletividade com que este atua, sendo assim dispensáveis na maioria das
aplicações de sintonia simples em baixa tensão.
A Figura 14, apresentada a seguir, ilustra as principais configurações de
ligação de filtros passivos.

Figura 14: Filtros passivos de sintonia (a) simples, (b) e (c) dupla.

Fonte: LEÃO; SAMPAIO; ANTUNES, 2014.


46

Figura 15: Filtro Ativo para componentes harmônicas.

Fonte: LEÃO; SAMPAIO; ANTUNES, 2014.

2.3.2 Filtros Ativos

Os filtros ativos utilizam chaves eletrônicas e técnicas de controle para gerar


correntes capazes de anular a presença de harmônicos na rede elétrica.
Existem duas classes de filtros ativos: série e paralelo. O filtro ativo série funciona
como uma fonte de tensão controlada, gerando uma tensão de compensação que
resulta em uma tensão senoidal no ponto de conexão com a carga crítica. Por outro
lado, o filtro ativo paralelo, age como uma fonte de corrente controlada conectada em
paralelo com a carga. Ele produz uma corrente de compensação (Ic) que é somada à
corrente não linear da carga (IL), resultando em uma corrente senoidal na fonte (LEÃO;
SAMPAIO; ANTUNES, 2014).
Os filtros passivos são comumente mais utilizados, dada a simplicidade
construtiva e o custo-benefício dos mesmos quando comparados aos filtros que utilizam
da eletrônica e controle para seu funcionamento. Contudo, os filtros ativos têm a
vantagem de poderem ser adaptados e ajustados de acordo com as características
específicas de cada sistema, tornando-os uma solução eficiente e flexível para a
correção de diferentes componentes harmônicas no sistema.
Outra vantagem da flexibilidade dos filtros ativos é a possibilidade de serem
programados para se adaptar a diferentes cargas e mudanças nas condições de
operação, permitindo uma correção dinâmica e eficaz. Isso é particularmente útil em
ambientes industriais e comerciais, onde as cargas e as demandas de energia podem
variar significativamente ao longo do tempo.
47
3.0 MATERIAIS E MÉTODOS

As considerações e especificações da metodologia de medição e análise


projetadas, bem como uma visão geral do trabalho e a explanação de cada etapa
realizada na elaboração e desenvolvimento da pesquisa serão tratadas neste
capítulo, com o intuito de descrever sequencialmente os procedimentos adotados
durante as diferentes fases deste estudo, bem como esclarecer os equipamentos
empregados nestas etapas e suas características funcionais.

3.1 DESCRIÇÃO DA PLANTA DE OPERAÇÃO

A indústria de aquicultura Netuno, localizada no município de Paulo Afonso - BA,


dedica-se a produção, engorda e revenda de alevinos e tilápias, processados em
diferentes tipos de cortes, além de atuar no beneficiamento do substrato animal
resultante do processo produtivo principal, produzindo a partir deste substrato, rações,
óleos, farinhas e afins.
As culturas produzidas e beneficiadas pela empresa tem origem em criatórios
localizados no município de Petrolândia – PE, os quais são responsáveis por reter as
tilápias até o estágio de corte, onde estas são transportadas até o polo da indústria, em
Paulo Afonso.
A planta interna possui diversos setores distintos, divididos de acordo com o tipo
de beneficiamento ali realizado, contudo, um aspecto comum a todos os setores é a
necessidade de o ambiente estar devidamente climatizado as necessidades de indústrias
que desempenham atividades com alimentos frescos. Há, porém, no setor de
armazenamento dos cortes, a necessidade de que a temperatura seja mantida entre -0,5
°C e -2,0°C, dada a necessidade de preservar o pescado o mais fresco possível.
Analisando o histórico de consumo da indústria, verifica-se uma potência instalada
de aproximadamente 600 KW, de modo que, considerando a potência instalada na
câmara de compressão de amônia como sendo função apenas dos motores elétricos ali
presentes, encontra-se, aproximadamente 318,2kW, de modo que, é possível relacionar
a potência da câmara com a potência total da indústria em uma relação de 53%.
Com a finalidade de manter a temperatura interna dentro dos parâmetros
apresentados, a planta possui um setor responsável pela refrigeração, sendo este
composto por um conjunto de 7 compressores de amônia, tracionados por 7 motores
elétricos, como indicam as Figuras (16) e (17).
48
Figura 16: Câmara de compressão de amônia.

Fonte: Autoral (2023).

Figura 17: Motores utilizados no processo de compressão da amônia.

Fonte: Autoral (2023).

Com a finalidade de reduzir custos, ocorre que, na planta, há no período de ponta


do consumo elétrico estabelecido pela concessionária local, à transferência da
alimentação interna geral, da rede para um grupo gerador particular de 700kW de
potência movido a diesel, com fator de potência 0,78 e tensões terminais de 220/380V,
de modo que este permanece como fonte para a planta no período que compreende das
18:00h até, aproximadamente, às 21:00h.
49
3.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A METODOLOGIA OPERACIONAL ADOTADA

Este trabalho é voltado para a medição dos índices de qualidade da energia


existentes na empresa e os impactos destes nos motores utilizados para comprimir
e condensar a amônia utilizada para resfriar as câmaras internas de armazenamento
de pescado.
Sendo um total de 7 motores responsáveis pelo processo descrito acima, as
medições da qualidade de energia serão realizadas no barramento de alimentação
destes equipamentos, de modo que, os eventuais desvios dos índices de referência
para a qualidade ali aferidos, estariam refletidos para os motores.
É oportuno salientar que neste trabalho foram tomados como referência
alguns parâmetros de medição estabelecidos pela NBR IEC 61000-4-30:2011, a qual
consiste na tradução da norma internacional IEC, que foi adotada pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e as condicionantes de instrumentação, bem
como os requisitos mínimos de qualidade definidos a partir do módulo 8 do
PRODIST. Assim, os parâmetros adotados como referência para os níveis da
distorção harmônica presentes no barramento de acoplamento dos motores, foram
os descritos na tabela 01 da referida normativa do PRODIST, transcrita abaixo:

Tabela 01: Indicadores de distorções harmônicas

Fonte: PRODIST (2021).


50
Sendo os indicadores DTT% e 𝐷𝐼𝑇ℎ os equivalentes, respectivamente, das
equações (11) e (12) para tensões, enquanto, os demais indicadores descritos
acima, a texto de norma são calculados de acordo com o conjunto de equações
transcritas abaixo:

(24)

O parâmetro 𝒉𝒑 , que substitui o indicador 𝒉𝒎𝒂𝒙 na equação (24), quando


comparada a equação (11), refere-se à máxima ordem harmônica par, não múltipla
de três medida. Enquanto o índice h refere-se, apenas, às harmônicas pares.

(25)

Analogamente a equação (24), o parâmetro 𝒉𝒊 , presente na equação (25),


refere-se à máxima ordem harmônica ímpar, não múltipla de três medida. Enquanto
o índice h refere-se, apenas, às harmônicas ímpares medidas.

(26)

O parâmetro 𝒉𝟑 refere-se à máxima ordem harmônica múltipla de três


medida. Enquanto o índice h refere-se, apenas, às harmônicas múltiplas de três
encontradas na instalação.
Os resultados do conjunto de medições descritas acima realizados no período
de 1008 leituras válidas de 10 minutos cada, ininterruptas, como indicado pelo
PRODIST, foram então comparados de modo a quantificar-se o número de
transgressões dos valores dos indicadores DTT%, 𝐷𝑇𝑇𝑝 %, 𝐷𝑇𝑇𝑖 % e 𝐷𝑇𝑇3 %, que
foram superados em apenas 5% das leituras realizadas.
Com o número percentual dos indicadores, estes devem ser comparados com
a componente fundamental, de modo que as relações entre estes não superem os
limites indicados pela tabela 02:
51

Tabela 02: Limites das distorções harmônicas totais (em % da tensão fundamental)

Fonte: PRODIST (2021).

3.3 DADOS TÉCNICOS DOS MOTORES

Antes de ser instalado o analisador de energia no barramento de alimentação


da câmara de compressão de amônia, registrou-se os dados de placa dos referidos
motores.
As Figuras (18) e (19), apresentadas a seguir, referem-se, respectivamente,
aos motores de 50cv e 75cv, de modo que, colhidos os dados de placa e os
organizando, elaborou-se a tabela 03, disposta posteriormente as imagens:

Figura 18: Dados de Placa Motores 50cv.

Fonte: Autoral (2023).


52
Figura 19: Dados de Placa Motores 70cv.

Fonte: Autoral (2023).

Tabela 03 – Dados de Placa dos MITs


DADOS MI 1 MI2 MI 3 MI 4 MI 5 MI 6 MI 7
FABRICANTE WEG WEG WEG WEG WEG WEG WEG
POTÊNCIA
50CV 50CV 50CV 50CV 50CV 70CV 70CV
NOMINAL (CV)
TENSÃO NOMINAL 380/660V 380/660V 380/660V 380/660V 380/660V 380/660V 380/660V
CORRENTE
71,2 71,2 71,2 71,2 71,2 101 101
NOMINAL - RP
FATOR DE
0,8 0,8 0,8 0,8 0,8 0,88 0,88
POTÊNCIA
RENDIMENTO 93,2% 93,2% 93,2% 93,2% 93,2% 91,9% 91,9%
ROTAÇÃO (RPM) 1170 1170 1170 1170 1170 1170 1170
Soft- Soft-
ACIONAMENTO Y-∆ Y-∆ Y-∆ Y-∆ Y-∆
starter starter
TIPO N N N N N N N
Fonte: Autoral (2023).

3.4 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS

As características necessárias para os equipamentos de medição das distorções


são descritas em diferentes normativas, as quais estabelecem os procedimentos a
serem adotados nas medições e os parâmetros mínimos que os analisadores de
energia devem possui para que forneçam resultados satisfatórios.
No âmbito internacional, a quarta parte da norma IEC 61000 estabelece técnicas
para os testes e métodos de medição da qualidade da energia, enquanto no Brasil, a
ANEEL, através do PRODIST, define a metodologia de medição utilizada.
53

Na NBR IEC 61000-4-30:2011, a normativa aderida como referência pela ABNT,


são definindo métodos de medição e exigências de desempenho adequado para três
classes de medidores, as quais são classificadas pela ABNT da seguinte forma:

• Classe A: classe usada quando se tem a necessidade de medições com alto


grau de precisão, sendo normalmente empregada em aplicações contratuais,
verificação de conformidade com padrões estabelecidos etc.
• Classe S: esta classe apresenta requisitos de processamento inferior aos
exigidos para a classe A, sendo aplicada para estatísticas, pesquisas ou
avaliação de qualidade de energia.
• Classe B: esta classe é mais voltada para a continuidade de projetos obsoletos
de alguns medidores existentes.

No que diz respeito às distorções harmônicas, a ABNT trata a medição de


tensão e corrente separadamente, para cada classe, determinando especificamente
para cada uma como devem ser efetuadas as medidas, o tratamento dos dados, bem
como os níveis de incerteza de medição em relação ao fundo de escala para os
instrumentos de medição.
O instrumento adotado para a medição da qualidade da energia de alimentação
dos motores em questão é um analisador de qualidade de energia da marca Fluke,
modelo 435 Power Quality Analyzer, fornecido pela Companhia Hidroelétrica do São
Francisco (CHESF), para a realização deste trabalho. O qualímetro em questão é
ilustrado na Figura (20), apresentada imediatamente a seguir, tendo suas
especificações descritas na tabela 04:

Figura 20: Qualímetro Fluke 435 Power Quality Analyzer.

Fonte: Fluke (2023).


54

Tabela 04 – Especificações Fluke 435 Power Quality Analyzer


FAIXA DE
TIPO MODELO RESOLUÇÃO EXATIDÃO
MEDIÇÃO
HARMÔNICAS
Ordem de Harmônicas CC, 1 até 50 agrupamentos: Grupos de harmônicas de
(n) acordo com a norma IEC 61000-4-7
DESLIGADO, 1 até 50 agrupamentos: Subgrupos de
Ordem de Inter-
Harmônicas e Inter harmônicas de acordo com a
harmônica (n)
norma IEC 61000-4-7
F 0,0% a 100% 0,10% ± 0,1% ± n x 0,1%
R 0,0% a 100% 0,10% ± 0,1% ± n x 0,4%
Volts %
Absoluto 0,0 a 1.000 V 0,1 V ±5%1
THD 0,0% a 100% 0,10% ±2,5%
F 0,0% a 100% 0,10% ± 0,1% ± n x 0,1%
R 0,0% a 100% 0,10% ± 0,1% ± n x 0,4%
Amps %
Absoluto 0,0 até 600 A 0,1 A ±5% ±5 contagens
THD 0,0% a 100% 0,10% ±2,5%
f ou r 0,0% a 100% 0,10% ± n x 2%
Depende da
escala da sonda ± 5% ± n x 2% ± 10
Watts % Absoluto —
de corrente e contagens
tensão nominal
THD 0,0% a 100% 0,10% ±5%
Ângulo de fase -360° a +0° 1° ± n x 1°
DESEQUILÍBRIO DE TENSÕES
Volts % 0,0% a 20,0% 0,1% ± 0,1%
Amps % 0,0% a 20,0% 0,1% ± 1%
Fonte: Fluke (2023).

3.5 METODOLOGIA OPERACIONAL

O setor de refrigeração da empresa possui 7 motores com acionamentos como


indicado na Tabela 03, de modo que, embora partam individualmente, existe à
montante destes, um Ponto de Conexão Comum (PCC), que alimenta os quadros de
acionamento de cada motor, logo, para obter-se uma análise qualitativa e quantitativa
que englobe o conjunto dos motores, a medição deve ser realizada nos terminais do
PCC, indicados pela Figura (21).
55

Figura 21: Gabinete do Ponto de Conexão Comum.

Fonte: Autoral (2023).

Embora motores utilizados para a compressão da amônia necessitam de


alimentação trifásicas, há ná planta diversos motores e cargas monofásicas, de modo
que, em decorrência de uma má distribuição das cargas entre as fases, pode haver o
fluxo de corrente pelo neutro. Isto posto, adotou-se para a análise, como método de
ligação do qualímetro, a configuração estrela aterrado, permitindo-se a medição
trifásica e a medição de eventuais correntes e tensões no neutro da instalação.
Para uma correta análise das grandezas medidas, é necessário fornecer ao
qualímetro os parâmetros de referência do sistema ao qual serão realizadas as
medições, logo, para a instalação em questão, as tensões nominais são de 220V/380V
e frequência de operação de 60Hz.
Uma vez parametrizado o qualímetro com as tensões nominais e o esquema
de ligação dos motores conectados ao PCC, foram instaladas as sondas de medição
de corrente e tensão do equipamento no barramento de alimentação. A ligação foi
feita, esquematicamente, em Delta, sendo ilustrada pela Figura (22) e registrada pela
Figura (23).
56
Figura 22: Esquema de ligação realizada nos terminais do qualímetro.

Fonte: Autoral (2023).

Figura 23: Qualímetro conectado ao PCC.

Fonte: Autoral (2023).

A partir da conexão demonstrada pela Figura (22), ajustou-se o qualímetro para


realizar medições dos indicadores transcritos na Tabela (05), com base nas indicações
do PRODIST, em intervalos de 10 minutos, durante o período de uma semana,
compreendida entre os dias 30/03/2023 à 06/03/2023.

Tabela 05 – Parâmetros registrados com o Qualímetro.


PARÂMETROS MEDIDOS
Componentes Harmônicas CC, 2ª até à 20ª componente, THDv%, ângulos de
de Tensão fase
Componentes Harmônicas CC, 2ª até à 20ª componente THDi%, ângulos de
de Corrente fase
Desequilíbrio de Tensão Amplitudes tensões de linha, FD%
Fator de Potência Cos∅1 , FP
Frequência Frequência do sistema
Fonte: Autoral (2023).
57

4.0 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O tratamento dos dados coletados através da medição será realizado nesta


seção, estando organizados e dispostos de acordo com a ordem dos objetivos do
projeto. Será realizada a análise das distorções registradas na qualidade da energia
elétrica, bem como será identificada as possíveis origens para os eventuais desvios
apresentados em relação ao sugerido pelo módulo 8 do PRODIST e, por fim, será
apresentada a sugestão de solução técnica para corrigi-los.

4.1 APRESENTAÇÃO E TRATAMENTO DOS DADOS

Recolhido o analisador, importaram-se os resultados das medições para o


computador via conexão USB do Fluke.
Foram calculadas as médias dos valores medidos para as grandezas em
estudo, de modo a compará-las aos indicadores presentes no PRODIST, contudo,
além destas, a seguir serão apresentados os valores médios, mínimos e máximos
para cada grandeza, além dos gráficos de segmento durante o período de análise,
de modo a tornar possível à identificação de quais intervalos de operação da planta
a destes desvios é mais intensa.

4.1.1 Desequilíbrios de Tensão

Os motores do sistema de compressão de amônia são ligados em Delta, logo,


as tensões medidas no sistema foram tensões de linha. As tensões base do sistema
são 220V/380V.
Para encontrar o valor médio das 1008 leituras das tensões de linha, utilizou-
se o software Microssoft Excel, e por meio da tabela 06, serão apresentados os
valores mínimos, médios e máximos do módulo da tensão em cada linha.
Como o período de amostragem foi de 168 horas, retirou-se uma média dos
valores mínimos, médios e máximos no período para a composição da tabela que
se segue.
58
Tabela 06 – Tensões medidas.
Tensões Medidas
Linha Vmín Vméd Vmáx
L 12 385,34 V 389,08 V 391,35 V
L 23 383,95 V 387,72 V 390,03 V
L 31 380,92 V 385,24 V 387,57 V
Fonte: Autoral (2023).

A fim de quantificar os níveis de desequilíbrio, mediu-se com o qualímetro as


componentes de sequência do sistema, os valores mínimos, médios e máximos,
analogamente à tabela 06, estão dispostos, em síntese, na tabela 07.

Tabela 07 – Valores das componentes de sequência das tensões de linha.


Medições de Componentes
Componente Mín Méd Máx
𝑽+ 313,32 V 316,41 V 318,0 V
𝑽− 1,77 V 1,94 V 2,27 V
𝑽𝟎 0V 0V 0V
FD% 0,56% 0,613% 0,72%
Fonte: Autoral (2023).

Percebe-se que, o valor da componente de sequência nula permaneceu em


0V para os valores mínimos, médios e máximos, durante toda a medição, este fato
é justificado pela escolha de ligação dos motores elétricos da câmara de compressão
de amônia.
As máquinas em questão possuem suas ligações terminais fechadas em
delta, de modo que, para tal ligação, não há a presença de componentes de
sequência nula, uma vez que estas estão associadas a presença do neutro na
instalação e, neste tipo de ligação, inexiste a presença de tal condutor.
Dinamicamente, as grandezas da tabela 07 oscilaram em valores
instantâneos ao longo do período de medição, de modo que, plotou-se os gráficos
presentes nas Figuras (24), (25) e (26), apresentadas a seguir, com os registros das
oscilações de V+, V- e FD(%), respectivamente, durante as medições.
59

Figura 24: V+ médio ao longo do período de análise.

Fonte: Autoral (2023).

Figura 25: V- médio ao longo do período de análise.

Fonte: Autoral (2023).

Figura 26: Grau de desequilíbrio médio ao longo do período de análise.

Fonte: Autoral (2023).


60

A análise do gráfico que registra o perfil da componente de sequência


negativa, retrata um valor médio de V- em torno de 1,94V, contudo, nos dias 30/03,
31/03 e 03/04, no período que compreende das 17:00h às 20:00h ocorreu uma
redução no valor da componente de sequência para níveis médios de 0,4V. Os
referidos intervalos coincidem com o período onde a alimentação da planta é
realizada pelo grupo gerador ali presente, de modo que, neste espaço de tempo, a
fim de manter o equipamento em um ponto de operação confortável, com relativa
folga, são desativadas algumas cargas na indústria, dentre as quais, cargas
monofásicas como pequenos motores, fato que justifica a redução na assimetria
entre as fases, reduzindo também a componente de sequência negativa do sistema.
Os dados apresentados pela Tabela 07 indicam os valores medidos pelo
qualímetro, contudo, foi calculado o FD(%) pelo segundo método indicado no módulo
8 do PRODIST, o qual utiliza das tensões de linha para indicar o grau de desequilíbrio
do sistema.
Por meio da Equação (17), é possível alimentar a Equação (16) de modo a
encontrar o FD(%), quantificando o teor de desequilíbrio do sistema de alimentação
dos motores.
O resultado obtido por este processo pode ser comparado com o indicativo do
PRODIST para os limites percentuais de desequilíbrio.

(389,08)4 + (387,72)4 + (385,24)4


β= = 0,333
[(389,08)2 + (387,72)2 + (385,24)2 ]²

Importando este valor para a equação (16), obtém-se um numerador negativo


na fração existente no interior da raiz quadrada que engloba toda à equação, de
modo que apenas uma raiz complexa satisfaz a equação para FD(%) como disposta
abaixo, dada pelo valor de :

1−√3−6 𝑥 0,333 −0.0009995004993759


FD(%) = √ =√ = 0.0223 i
1+√3−6 𝑥 0,333 2.0009995004993759

O valor complexo apresentado como resultado da equação, sugere que, para


valores de β inferiores à 0,34, a raiz presente no numerador da fração interna à
equação irá resultar em um algarismo maior que a unidade, que, ao ser subtraído de
1, como indica a expressão, resultará em uma raiz complexa, invalidando a
equação para comparação de resultados com os medidos pelo qualimetro.
61

Dada a inviabilidade de cálculo do desequilíbrio via o método indicado


pelo PRODIST, utilizou-se o método NEMA de modo a comparar seu resultado
com o apresentado pelo qualímetro, uma vez que se considera, neste método,
as tensões de linha do sistema como base para o cálculo.

389,08 + 387,72 + 385,24


Vm = = 387,35 V
3

Logo, para ∆V:

∆V = max [|389,08 -387,35|, |387,72 – 387,35|, |385,24 – 387,35|] =

∆V = max [|1,733|, |0,373|, |-2,1|]

Assim, o valor considerado para ∆V é 2,1, de modo que:

2,1
FD(%) = x 100 ≈ 0,544%
387,35

O valor de 0,544%, obtido através do método NEMA, quando comparado aos


0,613% medidos pelo qualímetro, possuem uma diferença ∆FD de,
aproximadamente:

∆FD = 0,00613 – 0,00544 = 0,00069

O erro associado a medição do equipamento, fornecido pelo fabricante, gira


entorno de 0,1%, ponto que justifica a discrepância de 0,069% entre o valore de
FD(%) medido e o calculado via método NEMA.
Constata-se, contudo, que ambos os valores são inferiores ao recomendado
pelo PRODIST como referência para níveis ideais de desequilíbrio em sistemas
trifásicos, de modo que, através da tabela (08), extraída do módulo 8 da referida
normativa, é constatada a conformidade do teor de desequilíbrio do barramento de
alimentação dos motores com o sugerido pela ANEEL.
62

Tabela 08 – Valores das componentes de sequência das tensões de linha.

Fonte: PRODIST (2021).


4.1.2 Componentes Harmônicas

Esta seção destina-se a apresentar os resultados das medições das CH’s


existentes no sistema, bem como seus impactos sobre os motores da câmara de
compressão de amônia, de modo que, o tratamento dos dados se dá em
consonância ao sugerido pelo módulo 8 do PRODIST e os impactos estimados, são
considerados em função do embasamento teórico supramencionado.
Extraído o qualímetro da planta e analisados os dados coletados relativos aos
teores harmônicos de tensão e corrente, foi plotado, em valores percentuais, o
histograma apresentado na Figura (27), o qual demonstra os níveis gerais do THDv
e THDi, bem como os registros dos níveis máximos e mínimos atingidos por estes
indicadores em cada linha do sistema de alimentação dos motores.

Figura 27: Valores mínimos, médios e máximos de THDv e THDi para cada linha.

Fonte: Autoral (2023).


63

O histograma apresentado na Figura (27), possui os dados organizados de


modo que, os valores mínimos e máximos para o THD(%) de cada linha, estão
representados, respectivamente, por triângulos verdes e vermelhos, acompanhados
do valor numérico percentual o qual representam.
Os dados apresentados para o teor de distorção harmônica do sistema, acima
representados em formato de histogramas, estão dispostos a seguir na Tabela (09)
de modo a mensurar precisamente seus números absolutos.
Percebe-se que, a cerca do erro embutido no equipamento, há a presença,
para os valores mínimos de cada medição, a presença de teor harmônico negativo,
dado por -0,01%. De modo a simplificar a análise dos dados, considerando apenas
os algarismos significativos para este trabalho, estabeleceu-se que seria
considerado para a análise apenas o valor até o seu primeiro algarismo no que se
sucede a virgula, em equivalência ao apresentado nas tabelas de referência do
PRODIST.

Tabela 09 – Níveis de distorção harmônica medidos.


Distorções harmônicas
Indicador THDv(%) THDi(%)
Linha Vmín Vméd Vmáx Vmín Vméd Vmáx
L 12 0,0 2,3 3,7 0,0 6,2 22,8
L 23 0,0 2,2 3,9 0,0 7,5 27,6
L 31 0,0 2,1 4,2 0,0 6,2 22,0
Fonte: Autoral (2023).

A ANEEL por meio da normativa para qualidade da energia, fornece tabelas


que exemplificam os máximos teores harmônicos permitidos levando em
consideração as componentes de tensão, de modo que, neste trabalho, serão
considerados os mesmos limites para as componentes harmônicas de corrente.
Ao analisar a origem das harmônicas em um sistema, percebe-se que as
componentes de corrente tem origem em não linearidades das cargas, seja pelo
funcionamento chaveado das mesmas ou por saturações em núcleos de máquinas
eletromagnéticas, enquanto que, as componentes de tensão se originam pelas
mesmas saturações magnéticas e como produto do efeito das componentes de
corrente no sistema.
64
4.1.2.1 Componentes Harmônicas de Tensão

Quando comparados os valores apresentados na Tabela (09) com os índices


de referência, em relação aos valores componente fundamental, constata-se a
conformidade do indicador THDv(%), em seus valores mínimos, médios e máximos
com os limites sugeridos pelo PRODIST para a distorção total em níveis de tensão
inferiores à 2,3kV, como indicado pela Tabela (02), que limita o THD geral em 10%.
De modo à analisar o comportamento do nível de THDv(%) ao longo do
período de operação diária da planta, é apresentado através da Figura (28), com a
finalidade de identificar cronologicamente, elevações ou reduções de tal indicador,
possibilitando corelacionar estas alterações à variações no regime operacional da
indústria.
Na Figura observa-se, respectivamente, o valor cronológico do THDv(%) nas
linhas 12, 23, 31.

Figura 28: THDv(%) cronológico das linhas de alimentação dos motores.

Fonte: Autoral (2023).

O perfil da curva de comportamento demonstra que há intervalos onde o


THDv(%) eleva-se abruptamente e, passado este intervalo, regride ao valor próximo
de sua média operacional na planta.
Com a finalidade de identificar as prováveis atividades na planta que
ocasionaram na elevação momentânea do valor do indicador, analisou-se em
específico o intervalo compreendido por um dos dias, de modo facilitar a atividade de
mensurar o início e fim da fração de tempo onde ocorreu este desvio. A análise mais
precisa tomou como base o intervalo que se deu entre as 15:00 e às 23:00 do dia
03/04. O resultado está expresso na Figura (29), apresentada a seguir.
65
Figura 29: Período registrado com as maiores elevações do THDv(%).

Fonte: Autoral (2023).

A partir da Figura (29), é possível identificar o intervalo hachurado,


compreendido entre as 17:00h e às 20:10h, como sendo o período onde há uma
elevação percentual no THDv da planta. Tal intervalo, como fora supracitado, possui
a peculiaridade de ter a alimentação geral das instalações transferida da rede da
concessionária local para o grupo gerador a diesel, de propriedade da empresa.
Com base na ocorrência da elevação do teor harmônico de tensão em paralelo
à atuação do grupo gerador, pode-se levantar a hipótese que, eventuais saturações
presentes no ponto de operação em que este atua, provocam tal agravação nos níveis
do THDv(%) da indústria, seja diretamente, nas eventuais distorções que este impõe
à tensão em seus terminais de saída dada a saturação, ou ainda como produto de
distorções causadas nas correntes de linha. Embora coincida com atuação do grupo
gerador, apenas a análise das distorções presentes nos terminais de saída deste pode
afirmar com clareza a corelação do mesmo com a produção de tensões e correntes
harmônicas no sistema da indústria em estudo.
Foram medidas as 50 primeiras componentes harmônicas de tensão, como
demonstrado por meio da Figura (30), toda via, dada a compressão de informações
no histograma, haverá diferenças visuais de escala entre as componentes
apresentadas, de modo que, para uma melhor compreensão, a figura estará
disponível no anexo A1.

Figura 30: Espectro Harmônico total de tensão.

Fonte: Autoral (2023).


66

Ao analisar o espectro harmônico que compõe o THDv(%) geral do sistema,


torna-se possível decompô-lo em conjuntos de componentes pares e ímpares não
múltiplas de três e, das componentes que possuem o 3 como multiplicador comum.
Fora então o qualímetro configurado para apresentar, no espectro harmônico,
as contribuições percentuais de cada componente para o THD(%) total apresentado.
As Figuras (31), (32) e (33), apresentadas a seguir, demonstram o espectro das
tensões harmônicas pares, ímpares e múltiplas de 3, respectivamente, contudo, são
apresentadas as de valores representativos para este trabalho, não sendo
consideradas as de amplitude inferior as apresentadas nas imagens.

Figura 31: Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑣𝑝 (%).

Fonte: Autoral (2023).

Figura 32: Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑣𝑖 (%).

Fonte: Autoral (2023).


67
Figura 33: Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑣3 (%).

Fonte: Autoral (2023).

Ao analisar os histogramas das Figuras (31), (32) e (33), percebe-se que as


componentes ímpares se destacaram no período de amostragem, sendo a 5ª e a 7ª
harmônicas, as que apresentaram os maiores valores médios e máximos medidos de
influência sobre o sistema.
Os dados referentes aos valores médios das componentes harmônicas
ímpares estão dispostos, quantitativamente, nas Tabela (10), (11) e (12). Percebe-se,
contudo, que embora as componentes ímpares possuam destaque, situam-se dentro
dos limites toleráveis indicados na Tabela (2), de modo que, uma eventual intervenção
no sistema para correção de componentes harmônicas se dará em função de
eventuais componentes de correntes distorcidas.

Tabela 10 – Espectro Harmônico ímpar obtido.


Espectro Harmônico Ímpar Medido – L12
Componente THDV% méd Componente THDV% méd
5ª 1,137 29ª 0,0
7ª 1,865 31ª 0,0
11ª 0,167 35ª 0,0
13ª 0,073 37ª 0,0
17ª 0,023 41ª 0,0
19ª 0,017 43ª 0,0
23ª 0,012 47ª 0,0
27ª 0,0
Fonte: Autoral (2023).
68
Tabela 11 – Espectro Harmônico ímpar obtido.
Espectro Harmônico Ímpar Medido – L23
Componente THDV% méd Componente THDV% méd
5ª 1,075 29ª 0,0
7ª 1,752 31ª 0,0
11ª 0,204 35ª 0,0
13ª 0,069 37ª 0,0
17ª 0,026 41ª 0,0
19ª 0,023 43ª 0,0
23ª 0,011 47ª 0,0
27ª 0,0
Fonte: Autoral (2023).

Tabela 12 – Espectro Harmônico ímpar obtido.


Espectro Harmônico Ímpar Medido – L31
Componente THDV% méd Componente THDV% méd
5ª 1,241 29ª 0,0
7ª 1,557 31ª 0,0
11ª 0,15 35ª 0,0
13ª 0,073 37ª 0,0
17ª 0,028 41ª 0,0
19ª 0,017 43ª 0,0
23ª 0,01 47ª 0,0
27ª 0,0
Fonte: Autoral (2023).

4.1.2.2 Componentes Harmônicas de Corrente

No que se refere a qualidade da energia elétrica, a presença de cargas não


lineares ou saturações magnéticas em núcleos de transformadores e motores,
provocam distorções, sobretudo, nas formas de onda da corrente, esta, por sua vez,
distorce a tensão. Em acordo com a afirmação anterior, espera-se distorções mais
acentuadas para as correntes do sistema do que para as tensões do mesmo.
Analisando as informações contidas na Tabela (09), verifica-se que, o
THDi(%) total médio das linhas encontra-se dentro dos padrões indicados pelo
PRODIST, contudo, próximos aos limites toleráveis, sobretudo na linha 31.
69
Os níveis do THDi(%) das linhas, próximos aos limiares permitidos,
apresentaram, durante o período de leitura, valores máximos que superaram 20%,
teor que supera os permitidos pelo PRODIST.
Analogamente ao realizado na Figura (25) para o THDv(%), registro do
comportamento dos níveis de THDi(%) durante a medição, é apresentado,
cronologicamente, através da Figura (34).

Figura 34: Espectro Harmônico para o THDi(%).

Fonte: Autoral (2023).

Percebe-se, ao analisar os perfis das curvas do comportamento cronológico do


THDi(%) que, durante dado intervalo da operação da planta, no período compreendido
entre, aproximadamente, às 16:00 horas até às 05:00 horas, os níveis de distorções
harmônicas na corrente excedem os 10% limítrofes indicados no PRODIST.
Analisando em perspectiva adequada de escala, o recorte dos intervalos que
excedem os limites recomendados estão dispostos nas Tabela (13), (14) e (15), sendo
ilustrado nas Figuras (35) e (36) apresentadas a seguir:

Figura 35: Intervalo de destaque do THDi(%) entre os dias 30/03 e 31/03.

Fonte: Autoral (2023).


70
Figura 36: Intervalo de destaque do THDi(%) entre os dias 02/04 e 03/04.

Fonte: Autoral (2023).

Tabela 13 – Teor Harmônico da corrente L12.


Picos do Teor Harmônico de Corrente

Intervalo THDi(%)
Data Interv/Oper THDi(%) máx
excedente méd
29/03 à
22:30 à 01:00 15% 12% 13%
30/03
30/03 à
22:00 à 01:30 15% 10% 12%
31/03
31/03 à
23:00 à 01:00 8% 10% 12%
01/04
01/04 à
22:00 à 03:30 23% 10% 12%
02/04
02/04 à
15:30 à 02:00 44% 17% 23%
03/04
03/04 à
22:00 à 01:30 15% 11% 12%
04/04
Fonte: Autoral (2023).
71
Tabela 14 – Teor Harmônico da corrente L23.
Picos do Teor Harmônico de Corrente

Intervalo THDi(%)
Data Intervalo/Op THDi(%) máx
excedente méd
29/03 à
20:30 à 01:30 21% 11% 13%
31/03
30/03 à
17:00 à 01:30 35% 10% 13%
31/03
31/03 à
23:00 à 01:00 8% 10% 11%
01/04
01/04 à
22:00 à 03:30 23% 13% 14%
02/04
02/04 à
15:30 à 02:00 44% 20% 28%
03/04
03/04 à
22:00 à 01:30 15% 12% 12%
04/04
Fonte: Autoral (2023).

Tabela 15 – Teor Harmônico da corrente L31.


Picos do Teor Harmônico de Corrente

Intervalo THDi(%)
Data Intervalo/Op THDi(%) máx
excedente méd
29/03 à
20:30 à 02:00 23% 12% 13%
31/03
30/03 à
22:00 à 01:30 15% 10% 11%
31/03
31/03 à
23:00 à 01:00 8,3% 10% 10%
01/04
01/04 à
22:00 à 03:30 23% 11% 13%
02/04
02/04 à
15:30 à 02:00 44% 17% 22%
03/04
03/04 à
22:00 à 01:30 15% 11% 12%
04/04
Fonte: Autoral (2023).

De acordo com as Tabelas acima, é elucidado o período onde o teor harmônico


de corrente da planta supera as determinações da ANEEL, contudo, no intervalo dado
entre as 16:00 horas e às 05:00 horas do dia subsequente, há uma elevação
expressiva no teor harmônico da planta, como fora ilustrado nas Figuras (35) e (36).
72
O período da operação da planta onde há a elevação quantitativa do THDi(%),
coincide com a atuação do grupo gerador interno a instalação. Como fora relatado, os
níveis de THDv(%), em concordância com o THDi(%), eleva-se neste período, como
resultado das quedas de tensão e campos distorcidos provocados pelas correntes
distorcidas transitando no ponto de acoplamento comum dos motores da câmara de
compressão de amônia.
Percebe-se, então, a relação direta do acionamento do grupo gerador com a
produção de distorções harmônicas de corrente na planta, de modo que estas
produzem, por sua vez, distorções harmônicas de tensão, embora atenuadas quando
comparadas com as primeiras.
Eventuais desvios no ponto de operação do grupo gerador, submetendo este a
realização de trabalho em regiões de saturação indevida de seu núcleo magnético,
podem ser a causa para a produção das correntes distorcidas. Há ainda a
possibilidade de avarias mecânicas ou a falta de manutenção devida ser a causa da
produção de correntes com a forma de onda distorcida por parte do gerador, contudo,
identificar a origem dos desvios não é o objeto de estudo deste trabalho, estando o
mesmo limitado à influência que estes desvios provocam nos motores e como reduzir
tal impacto.
De modo similar ao realizado para o estudo da tensão, foram medidas as 50
primeiras componentes harmônicas da corrente. O resultado está expresso em
valores percentuais por meio da Figura (37), toda via, ressalta-se que, dada a
compressão de informações presentes no histograma, haverá diferenças de escala
entre as componentes apresentadas, estando o espectro apresentado na integra no
anexo A2.
Figura 37: Espectro Harmônico total de corrente.

Fonte: Autoral (2023).


73
Examinando o espectro harmônico que compõe o THDi(%), esta seção destina-
se a apresentar os resultados mais expressivos obtidos, individualmente, pelas
componentes pares e ímpares não múltiplas de três e das componentes que possuem
o 3 como multiplicador comum, respectivamente, através das figuras apresentadas a
seguir, estando os resultados organizados quantitativamente nas tabelas que
sucedem as figuras.

Figura 38: Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑖𝑝 (%).

Fonte: Autoral (2023).

Figura 39: Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑖𝑖 (%).

Fonte: Autoral (2023).


74
Figura 40: Espectro Harmônico para o 𝑇𝐻𝐷𝑖3(%).

Fonte: Autoral (2023).

De acordo com os histogramas das Figuras (38), (39) e (40), as componentes


harmônicas ímpares destacaram-se no período de amostragem, sendo a 5ª e a 7ª
harmônica, as que apresentaram os maiores valores médios e máximos medidos. A
relevância destas duas componentes para a composição do THDi(%) pode ser
ilustrada ao analisarmos as curvas temporais do THDi(%) em reflexo do
comportamento cronológico das duas componentes.
A Figura (41), apresentada abaixo, ilustra a afirmação anterior, onde o THDi(%),
a 5ª e 7ª harmônicas, são representadas respectivamente, pelas curvas nas cores
preto, vermelho e verde:

Figura 41: Analise cronológica da 5ª e 7ª harmônicas junto ao THDi(%).

Fonte: Autoral (2023).


75
Examinando as curvas plotadas na figura, percebe-se a íntima influência da 5ª
e 7ª harmônica com os valores do THDi(%) da câmara de compressão de amônia,
sobretudo na interferência acentuada que a 7ª componente produz.
Típicas de saturações presentes nas operações de motores e geradores, as
componentes com frequência 300Hz e 420Hz, são responsáveis na planta, por
produzir a elevação do THDi(%) durante o período de operação do grupo gerador,
contudo, as contribuições percentuais de cada componente medida estão
apresentadas, de maneira qualitativa e quantitativa, nas tabelas (16), (17) e (18), a
seguir:

Tabela 16 – Espectro Harmônico ímpar de corrente obtido.


Espectro Harmônico Ímpar de Corrente Medido – L12
THDV% THDV% THDV% THDV%
Componente Componente
méd máx méd máx
5ª 2,0% 9,51% 29ª 0,00% 0,00%
7ª 5,34% 20,8% 31ª 0,00% 0,00%
11ª 0,51% 1,44% 35ª 0,00% 0,00%
13ª 0,25% 0,70% 37ª 0,00% 0,00%
17ª 0,20% 0,56% 41ª 0,00% 0,00%
19ª 0,10% 0,28% 43ª 0,00% 0,00%
23ª 0,10% 0,22% 47ª 0,00% 0,00%
27ª 0,00% 0,00%
Fonte: Autoral (2023).

Tabela 17 – Espectro Harmônico ímpar de corrente obtido.


Espectro Harmônico Ímpar de Corrente Medido – L23
THDV% THDV% THDV% THDV%
Componente Componente
méd máx méd máx
5ª 2,20% 9,22% 29ª 0,00% 0,00%
7ª 6,40% 25,49% 31ª 0,00% 0,00%
11ª 0,80% 1,98% 35ª 0,00% 0,00%
13ª 0,27% 0,98% 37ª 0,00% 0,00%
17ª 0,21% 0,55% 41ª 0,00% 0,00%
19ª 0,17% 0,41% 43ª 0,00% 0,00%
23ª 0,15% 0,35% 47ª 0,00% 0,00%
27ª 0,00% 0,00%
Fonte: Autoral (2023).
76
Tabela 18 – Espectro Harmônico ímpar de corrente obtido.
Espectro Harmônico Ímpar de Corrente Medido – L23
THDV% THDV% THDV% THDV%
Componente Componente
méd máx méd máx
5ª 1,96% 8,64% 29ª 0,00% 0,00%
7ª 5,00% 21,02% 31ª 0,00% 0,00%
11ª 0,72% 1,83% 35ª 0,00% 0,00%
13ª 0,38% 0,99% 37ª 0,00% 0,00%
17ª 0,08% 0,28% 41ª 0,00% 0,00%
19ª 0,10% 0,24% 43ª 0,00% 0,00%
23ª 0,10% 0,22% 47ª 0,00% 0,00%
27ª 0,00% 0,00%
Fonte: Autoral (2023).

Como fora supracitado e, sendo chancelado pelas Tabelas (16), (17) e (18), as
componentes harmônicas com frequência de 300Hz e 420Hz, presentes no ponto de
conexão comum da sala de compressão de amônia, apresentam-se como as maiores
responsáveis pelo THDi(%) existente.
Os índices de distorção medidos e as consequências destes na produção e
perdas dos motores em estudo, podem ser estimados de acordo com o conjunto de
teoremas e equações mencionados no referencial teórico deste estudo, de modo que,
a seção a seguir destina-se à estimar de maneira quantitativa tais valores.

4.1.3 Fator de Potência

Os motores do sistema de compressão, possuem fatores de potência


individuais apresentados na Tabela (19), apresentada abaixo.

Tabela 19 – Fator de Potência Nominal dos motores.


MIT Fator de Potência
1 0,8
2 0,8
3 0,8
4 0,8
5 0,8
6 0,88
7 0,88
Fonte: Autoral (2023).
77
Em contraste com os fatores de potência individuais dos motores, o fator de
potência geral, considerando as componentes harmônicas, o fator deslocamento e
o fator de distorção do ponto de conexão comum dos motores, em valores mínimos,
médios e máximos para as três linhas, estão apresentados na Tabela (20), disposto
a seguir. A tabela foi confeccionada utilizando-se das médias dos dados obtidos ao
longo do período de medição para cada indicador nela apresentado.

Tabela 20 – Fator de Potência dos motores.


Indicador
Fator de Potência Fator deslocamento Fator distorção
Mín Méd Máx Mín Méd Máx Mín Méd Máx
0,86 0,87 0,89 0,90 0,91 0,94 0,955 0,956 0,947
Fonte: Autoral (2023).

A medição de fator de potência indica um fator médio de 0,87 para os motores


elétricos da planta de compressão de amônia, que, dada a potência dos mesmos,
indica a ocorrência de tarifação por excesso de consumo reativo, uma vez que o
fator de potência real do ponto de conexão comum dos motores diverge do FP
referência, normatizado em 0,92, em aproximadamente 10%.
Analisando o histórico da empresa e, solicitando junto a distribuidora de
energia elétrica o fator de potência medido no barramento geral da indústria,
percebe-se que, a mesma possui acentuado desvio no fator de potência de
referência, como indica a Figura (42), extraída da fatura de energia elétrica da
referida empresa, apresentada na Figura (43), de modo que, através da análise de
viabilidade técnico-econômica, a correção do fator de potência geral da planta torna-
se mais atrativa.

Figura 42: Detalhe da fatura de energia exibindo a tarifação por energia reativa.

Fonte: Autoral (2023).


78
Figura 43: Fatura de energia exibindo a tarifação por energia reativa.

Fonte: Autoral (2023).

4.1.4 Variações de Tensão em Regime Permanente

Estando o qualímetro parametrizado para registrar os níveis de tensão na


alimentação do ponto de conexão comum dos motores, colheram-se os dados das
1008 leituras indicadas pelo procedimento sugerido pelo PRODIST e foram
calculados os indicadores de Duração Relativa da Transgressão de Tensão Precária
(DRP) e de Duração Relativa da Transgressão de Tensão Crítica (DRC).
Em posse da tabela 5 registrada no anexo 8.4 do módulo 8 do PRODIST, a
qual refere-se aos níveis limites utilizados para designação da leitura de tensão como
sendo pertencente a níveis precários ou críticos, realizou-se a quantificação de
amostras que atingiram tais índices, de modo a compara-las com a quantidade
integral de leituras.
A tabela (21), transcrita abaixo, trata-se da adaptação da tabela fornecida em
norma, de modo que esta servirá de referência comparativa para o presente estudo.
79

Tabela 21 – Faixas de Classificação de Tensões de Regime Permanente para Pontos


de conexão em Tensão Nominal inferior a 2,3 kV (380/220).

Fonte: Adaptado de PRODIST (2023).

Como fora supracitado, a conexão do ponto de acoplamento comum dos


motores é dada na composição em delta, de modo que as tensões medidas referem-
se a valores de linha, sendo assim comparados com a referência de 380V.
A quantidades de transgressões da tensão a índices precários e críticos, em
intervalos inferiores e superiores aos delimitados pela Tabela (21), para as linhas de
alimentação, estão dispostos quantitativamente na Tabelas (22), apresentada a
seguir, de modo que, sucedendo-se a esta, está apresentado o cálculo do indicador
DRP.

Tabela 22 – Número medido de transgressões precárias de tensão.


Linha Limite Inferior Limite Superior Total
L12 2 94 96
L23 2 67 69
L31 2 23 25
Fonte: Autoral (2023).

Em posse dos dados expostos na tabela, podemos calcular o indicador DRP


para cada uma das linhas.
96
𝐷𝑅𝑃12 = X 100% = 9,2%
1008

69
𝐷𝑅𝑃23 = X 100% = 6,8%
1008

25
𝐷𝑅𝑃31 = X 100% = 2,48%
1008
80
Analogamente ao realizado para o DRP, a Tabela (23) apresenta os valores
registrados para as tensões no que refere-se ao DRC no ponto de medição:

Tabela 23 – Número medido de transgressões crítica de tensão.


Linha Limite Inferior Limite Superior Total
L12 3 36 39
L23 3 33 36
L31 3 49 52
Fonte: Autoral (2023).

Em posse dos dados expostos na tabela, podemos calcular o indicador DRP


para cada uma das linhas.

39
𝐷𝑅𝑃12 = X 100% = 3,87%
1008

36
𝐷𝑅𝑃23 = X 100% = 3,57%
1008

52
𝐷𝑅𝑃31 = X 100% = 5,16%
1008

Comparando o resultado obtido com os valores limítrofes oferecido pelo


PRODIST, estabelecidos em 3,5% e 0,5%, respectivamente, para as os indicadores
DRP e DRC, verifica-se a não conformidade das tensões de alimentação da sala de
compressão de amônia com os limites de variação de tensão em regime
permanente.
Em uma eventual análise aprofundada, considerando as tensões entregues
pela concessionária à planta, deve-se expurgar, além das medições indevidas, as
medições que contemplem o período de atuação do grupo gerador, substituindo-as
por leituras válidas de tensões fornecidas pela distribuidora.
Realizado o procedimento supracita e, constatando-se a permanência dos
indicadores DRP e DRC em níveis que excedem os limites permitidos nos
procedimentos de distribuição de energia, a indústria de aquicultura pode solicitar
compensação financeira por parte da concessionária de energia, sendo o valor da
compensação estipulado de acordo com a Equação (25), apresentada a seguir:
81

(24)

Sendo:
• k1 = 0, se DRP ≤ DRPlimite; k1 = 3, se DRP > DRPlimite;
• k2 = 0, se DRC ≤ DRClimite; k2 = 7, para consumidores atendidos em Baixa
Tensão, se DRC > DRClimite; k2 = 5, para consumidores atendidos em Média
Tensão, se DRC > DRClimite;
• DRP = valor do DRP expresso em percentual, apurado na última medição;
DRPlimite = 3%;
• DRC = valor do DRC expresso em percentual, apurado na última medição;
DRClimite = 0,5%; e
• EUSD = valor do Encargo de Uso do Sistema de Distribuição correspondente
ao mês de referência da última medição.

Há, contudo, a avaliação de que, a elevação da tensão de alimentação


quando em atuação do grupo gerador, não afeta em fins práticos o objeto de estudo
deste trabalho, uma vez que a isolação e vida útil dos equipamentos somente estaria
comprometida caso fossem apresentadas subtensões, elevando assim as correntes
em circulação para as máquinas, dadas as características de potência
aproximadamente constante que esses equipamentos apresentam.

4.2 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

4.2.1 Desenvolvimento do Filtro

Como fora visto anteriormente, a atuação do grupo gerador existente na


planta produz perturbações na qualidade da energia, elevando os índices de THD%
da indústria, elevando perdas e reduzindo o fator de potência dada a presença das
componentes harmônicas.
Este capítulo versa sobre a elaboração de um filtro utilizando elementos
passivos para atuar como caminho de baixa impedância para a componente
harmônica de 420Hz, enquanto que, na frequência da componente fundamental do
sistema, a capacitância do filtro atuará na correção do fator de potência do ponto de
conexão comum, elevando-o ao índice de referência normatizado.
82
Fisicamente o filtro liga ao aterramento o sistema o qual deseja-se filtrar
determinada componente harmônica, de modo que, este atue como cum circuito
aberto para a frequência fundamental e um caminho de baixa impedância para a
frequência harmônica.
A elaboração de um filtro monossintonizado que atua como compensador
reativo, consiste inicialmente em dimensionar o capacitor a ser utilizado para
correção do fator de potência e, em seguida relacionar a este um indutor ressonante
na frequência da componente harmônica que se deseja filtrar.
O dimensionamento do capacitor é feito relacionando a potência reativa
consumida atual com a desejada, a qual, para este estudo irá considerar o fator de
potência 0,92. A potência reativa consumida pela câmara de compressão de amônia,
em presença do referido fator de potência é dada por:

𝟓𝟎 𝐱 𝟕𝟑𝟓,𝟓
𝑷𝟓𝟎𝒄𝒗 = = 39,7 kW
𝟎,𝟗𝟑𝟐

𝟕𝟎 𝐱 𝟕𝟑𝟓,𝟓
𝑷𝟕𝟎𝒄𝒗 = = 59,85 kW
𝟎,𝟗𝟏𝟗

De modo que a potência ativa total consumida pelos motores é:

𝑷𝑻 = 𝑷𝟓𝟎𝒄𝒗 x nº de motores + 𝑷𝟕𝟎𝒄𝒗 x nº de motores

𝑷𝑻 = 39,7kW x 5 + 59,85 x 2 = 318,2kW

A potência aparente consumida em um sistema de potência é dada através


da soma das parcelas de potências aparentes existentes no sistema, de acordo com
a expressão (27) a seguir:

𝑺 = 𝑺𝟏 + 𝑺𝑵 (27)

Onde 𝑺𝟏 é a potência aparente da componente fundamental e 𝑺𝑯 é a potência


aparente não fundamental, dada pela soma de três parcelas, transcritas abaixo na
equação (28):

𝑺𝑵 = 𝑺 𝑽 + 𝑺𝑰 + 𝑺𝑯 (28)
83
Sendo 𝑺𝑽 a potência distorcida de tensão, 𝑺𝑰 a potência distorcida de corrente
e 𝑺𝑯 a potência aparente harmônica, calculadas respectivamente pelas equações
(29), (30) e (31):
𝑺𝑽 = 𝑺𝟏 𝒙 𝑻𝑯𝑫𝒗 (29)

𝑺𝑰 = 𝑺𝟏 𝒙 𝑻𝑯𝑫𝒊 (30)

𝑺𝑯 = 𝑺𝟏 𝒙 𝑻𝑯𝑫𝒗 𝒙 𝑻𝑯𝑫𝒊 (31)

Contudo, de acordo com a definição do PRODIST para o fator de potência, os


cálculos desenvolvidos neste trabalho, adotarão a relação direta entre a potência
aparente e ativa do sistema, como sugerido pela expressão (32) a baixo:

P = S x FP (32)

318,2kW = S x 0,87

𝟑𝟏𝟖,𝟐𝒌𝑾
𝑺𝟎,𝟖𝟕 = = 365,75kVA
𝟎,𝟖𝟕

A energia reativa demandada pelo sistema é então obtida através das


expressões a seguir:

𝑺𝟎,𝟖𝟕 = √𝑷𝟎,𝟖𝟕 𝟐 + 𝑸𝟎,𝟖𝟕 𝟐

𝑸𝟎,𝟖𝟕 = √𝟑𝟔𝟓, 𝟕𝟓𝟐 − 𝟑𝟏𝟖, 𝟐𝟐

𝑸𝟎,𝟖𝟕 = 180,33kVAr

Para o fator de potência 0,92, o procedimento para a potência reativa é o


mesmo, de modo que:

318,2kW = S x 0,92

𝟑𝟏𝟖,𝟐𝒌𝑾
𝑺𝟎,𝟗𝟐 = = 345,86kVA
𝟎,𝟗𝟐
84

A energia reativa demandada pelo sistema é então obtida através das


expressões a seguir:

𝑺𝟎,𝟗𝟐 = √𝑷𝟎,𝟗𝟐 𝟐 + 𝑸𝟎,𝟗𝟐 𝟐

𝑸𝟎,𝟗𝟐 = √𝟑𝟒𝟓, 𝟖𝟔𝟐 − 𝟑𝟏𝟖, 𝟐𝟐

𝑸𝟎,𝟗𝟐 = 135,55kVAr

A energia reativa fornecida pelo banco capacitor é dada pela subtração entre
as energias reativas consumidas pelo sistema para os fatores de potência atual e
desejado.
𝑸𝑪 = 𝑸𝟎,𝟖𝟕 - 𝑸𝟎,𝟗𝟐

𝑸𝑪 = 180,33kVAr - 135,55kVAr

𝑸𝑪 = 44,78kVAr

O filtro a ser desenvolvido necessita de parâmetros próprios, uma vez que,


associado a um conjunto de indutores, terá reduzida a potência reativa que fornece
ao sistema, de modo que o cálculo da reatância capacitiva se dá, então,
considerando a frequência de ressonância para a harmônica se deseja filtrar, como
afirmam (LEÃO; SAMPAIO; ANTUNES, 2014).

𝑽² 𝒉²
𝑿𝑪𝟏 = 𝒙 (33)
𝑸𝒇𝟏 𝒉𝟐 −𝟏

Considerando os indutores ressonantes com o banco capacitor, a reatância


total do filtro é encontrada através da seguinte expressão:

𝑽²
𝑿𝒇𝟏 = (34)
𝑸𝒇𝟏
85
O projeto de elaboração de um filtro passivo, consiste em uma de suas etapas
iniciais de resguardar os componentes deste de condições intempestuosas. Uma
das condições as quais deseja-se evitar, ocorre quando, por exemplo, há a perda de
algumas das células capacitivas, alterando a reatância do filtro à características
capacitivas. Quando o filtro assume esta característica, há a possibilidade de haver
ressonância do filtro com a reatância indutiva do sistema de distribuição ou industrial.
Com a finalidade de evitar a condição supracitada, projeta-se o filtro para uma
frequência de 3% à 15% menor do que a frequência da harmônica desejada, de
modo que, ao haver a perda de algumas células, não ocorra a condição de
ressonância entre o filtro e o sistema. Tal ação, denominada dessintonia, será
utilizada neste estudo, sendo adotado 10% de desvio. Logo, o cálculo da reatância
do filtro é dado por:
𝑿𝑪𝟏
𝑿𝑳𝟏 = (35)
(𝒉 − 𝒅)²

Assim, através das devidas manipulações, calcula-se o capacitor do filtro


através da seguinte expressão:

𝑸𝑪 (𝒉 − 𝒅)𝟐 − 𝟏
𝑪𝒇 = 𝒙 (36)
𝑽𝟐 𝒙 𝝎 (𝒉 − 𝒅)²

Inserindo variáveis em estudo neste projeto, calcula-se o valor do capacitor:

𝟒𝟒,𝟕𝟖 𝒙 𝟏𝟎³ (𝟕 − 𝟎,𝟕)𝟐 − 𝟏


𝑪𝒇 = 𝒙
𝟑𝟖𝟎𝟐 𝒙 𝟐 𝒙 𝝅 𝒙 𝟔𝟎 (𝟕 − 𝟎,𝟕)²

𝑪𝒇 = 801,87µF

Uma vez dimensionado o banco de capacitores do filtro, pode-se levantar o


valor dos indutores ressonantes associados, considerando a frequência da
harmônica que se deseja filtrar, através da equação (37).

𝟏
𝑳𝒇 = (37)
𝑪𝒇 𝒙 𝝎²𝒔
86
𝟏
𝑳𝒇 =
𝟖𝟎𝟏,𝟖𝟕𝒙𝟏𝟎−𝟔 𝒙 [𝟐 𝒙 𝝅 𝒙 (𝟕 − 𝟎,𝟕)𝒙 𝟔𝟎]²

𝑳𝒇 = 𝟐𝟐𝟏, 𝟎𝟖𝟐µ𝑯

A Figura (44), apresentada a seguir, ilustra a disposição dos elementos


conectados ao ponto comum da sala de compressão de amônia, após a inserção do
filtro projetado.

Figura 44: Ramal de ligação dos motores ao ponto de conexão comum.

Fonte: Autoral (2023).

Como sugerido pela Figura (44), percebe-se a inserção do filtro harmônico em


paralelo com as cargas apresentas, garantindo assim a configuração mais usual de
filtros do gênero.
Será conectado a saída do banco dessintronizado o sistema de aterramento
da instalação, de modo este sirva como destino para as correntes harmônicas que
fluirão na ressonância entre os estágios capacitivo e indutivo do filtro harmônico
sugerido.
87
4.2.2 Cálculo do Retorno do Investimento

Analisando a fatura de energia da concessionária local, apresentada na


Figura (42), percebe-se a presença da tarifação por energia reativa sobretudo no
horário de pico do consumo, no período onde a alimentação da indústria se dá
majoritariamente pelo grupo gerador.
A presença da tarifação por reativos excedentes apenas no período de ponta
indica, em prévia análise que, embora haja a transferência do consumo ativo de
potência da rede para o grupo gerador, a solicitação reativa das cargas se mantém
vinculada a rede, de modo que, reduzindo o consumo ativo e mantendo o reativo
aproximadamente uniforme, o fator de potência global da indústria tende a cair,
expondo a mesma a tarifação a isto vinculada.
O fator de potência global da planta, embora não seja o objeto de estudo desta
pesquisa, pode ser corrigido pela implantação de bancos dinâmicos de capacitores,
os quais, devem ser conectados a rede apenas no horário de pico e, by-passados
durante restante do período de operação.
Embora esteja em vitude das cargas de toda a planta, o fator de potência
global é fortemente influenciado pelo fator de potência do ponto de conexão comum
dos motores, o qual apresentou como média, durante o período de amostragem, o
valor aproximado de 0,87, apresentado na Tabela (20), supramencionada.
Em posse do fator de potência apresentado acima e, considerando relevante
apenas a tarifação existente no período de ponta com base no registro da Figura
(42), é possível estimar os custos com reativos excedentes produzidos pelos
motores da câmara de compressão de amônia.
Em concordância com a análise, realizada anteriormente, da fatura de
energia, a qual demonstra que a tarifação por reativos excedentes se dá apenas no
horário de ponta, o cálculo das multas oriundas pelo baixo fator de potência do ponto
de conexão comum dos motores, deverá considerar a tarifa deste período e a
quantidade de horas de funcionamento, uma vez que, a empresa não é tarifada pelo
consumo reativo no restante do dia, em virtude, dentre outros fatos, pela elevação
de consumo ativo da rede no período fora de ponta. Logo, o consumo reativo em
kVArh mensal é dado por:

Consumo = 180.330 x ∆T

Consumo = 180.330 x (21:00 – 18:00) x 30


88

Consumo = 16.229,7 kVArh

Os custos com energia reativa excedente são dados considerando-se a tarifa


extraída da fatura expressa na Figura (42), através da seguinte expressão:

Custo = 16.229,7 x Tarifa

Custo = 16.229,7 x R$ 0,34468254

Custo = R$ 5.594,09

A inserção do filtro harmônico proposto no subtópico anterior irá acarretar na


redução na tarifação por energia reativa no valor apresentado acima, de modo que,
tal economia será utilizada como base para calcular o tempo de retorno do
investimento realizado.
Ferreira (2016) diz que a partir da economia nos gastos com energia é possível
obter o tempo de retorno do investimento (TRI). O cálculo de TRI, segundo o autor,
pode ser simples ou composto (payback simples ou composto). A diferença entre os
dois métodos está em associar a taxa básica de juros ao cálculo composto e desprezá-
la no cálculo simples.
Neste trabalho serão realizados os dois tipos de TRI propostos pelas equações
(38) e (39), apresentadas na sequência.

𝑷𝑹𝒏𝒐𝒗𝒐 − 𝑷𝑹𝒂𝒕𝒖𝒂𝒍
𝑻𝑹𝑰𝒔𝒊𝒎 = (38)
𝑬𝒄𝒐𝒏𝒐𝒎𝒊𝒂

𝑬𝒄𝒐𝒏𝒐𝒎𝒊𝒂
𝒍𝒐𝒈 ((𝑬𝒄𝒐𝒏𝒐𝒎𝒊𝒂 ) − 𝒊 𝒙 (𝑷𝑹 )
𝒏𝒐𝒗𝒐 − 𝑷𝑹𝒂𝒕𝒖𝒂𝒍 )
𝑻𝑹𝑰𝒄𝒐𝒎𝒑 = (39)
𝒍𝒐𝒈 (𝟏 + 𝒊)

Onde, 𝑷𝑹𝒏𝒐𝒗𝒐 refere-se ao custo de implantação do filtro harmônico, 𝑷𝑹𝒂𝒕𝒖𝒂𝒍 os


custos com um eventual filtro existente e, i a variação de valor da moeda utilizada para
a aquisição do filtro no período.
89

Orçou-se então, um filtro com as características desejadas para atender este


projeto em uma empresa especializada na fabricação de filtros similares. A DICEL
engenharia, localizada em Porto Alegre – RS, atua a aproximadamente uma década na
confecção e instalação destes equipamentos, como exemplificado na Figura (45),
apresentada a seguir.

Figura 45: Filtro Passivo, monossintonizado e bifuncional.

Fonte: Cortesia de Dicel Engenharia (2023).

O orçamento enviado pela empresa, para um filtro com as características


desejadas neste projeto, teve custo total de R$ 19.918,50 incluindo o frete e os impostos
incididos, como indicado na Figura (46).

Figura 46: Orçamento Filtro.

Fonte: Cortesia de Dicel Engenharia (2023).


90

Considerando que o filtro será ligado em paralelo com as demais cargas, sua
instalação poderá ser realizada pelos profissionais técnicos da própria indústria.
O cálculo para o retorno financeiro do investimento no filtro se dá considerando
a economia de energia por ele provocada, para tal, será considerado o filtro atuando
com uma eficiência estimada entre 96% e 98% segundo os fornecedores, de modo que,
o cálculo do payback, com o tempo de retorno simples e composto se dão como
apresentado a seguir.
Considerando o montante de R$ 5.594,09 como custo mensal oriundo da
tarifação por excesso de reativos na câmara de compressão de amônia, podemos
utilizar um valor médio de 97% de rendimento do filtro para encontrar o custo estimado
que será abatido após sua implantação.

Economia = Custos com reativos x Eficiência do filtro

Economia = R$ 5.594,09 x 0,97

Economia = R$ 5.426,27

A economia média estimada com a implantação do filtro proposto é de


aproximadamente R$ 5.426,27, de modo que, com tal economia, é permito calcular o
tempo de retorno simples do investimento.

𝑹$ 𝟏𝟗.𝟗𝟏𝟖,𝟓𝟎 − 𝟎
𝑻𝑹𝑰𝒔𝒊𝒎 =
𝑹$ 𝟓.𝟒𝟐𝟔,𝟐𝟕

𝑻𝑹𝑰𝒔𝒊𝒎 = 3,67 meses

A partir do tempo de retorno simples, é estimado o payback do investimento com


o filtro harmônico em 3,67 meses aproximadamente, ou 3 meses e 20 dias. Ou seja, ao
final de quatro faturas de energia, a empresa teria economizado em multas por excesso
de consumo reativo o montante investido na aquisição do filtro.
No que refere-se ao tempo de retorno composto, considerando a taxa de juros
incidida atualmente no país, o cálculo será feito como apresentado abaixo. Contudo, é
salientado que, no momento de realização desta pesquisa, a taxa básica de juros
nacional, está em patamares elevados, fora das médias históricas da mesma.
91

Considerando-se a taxa básica de juros atualmente praticada em,


aproximadamente, 13,75% ao ano, faz-se necessário que o valor da economia mensal
seja também convertida a índices anuais, de modo que haja uma compatibilidade entre
os dados, assim:

𝑬𝒄𝒐𝒏𝒐𝒎𝒊𝒂𝒂𝒏𝒖𝒂𝒍 = 𝑬𝒄𝒐𝒏𝒐𝒎𝒊𝒂𝒎𝒆𝒏𝒔𝒂𝒍 𝒙 𝟏𝟐

𝑬𝒄𝒐𝒏𝒐𝒎𝒊𝒂𝒂𝒏𝒖𝒂𝒍 = R$ 5.426,27 x 12

𝑬𝒄𝒐𝒏𝒐𝒎𝒊𝒂𝒂𝒏𝒖𝒂𝒍 = R$ 65.115,24

Aplicando a economia anual à equação para o cálculo do tempo de retorno


composto do investimento, obtemos o seguinte resultado.

𝑹$ 𝟔𝟓.𝟏𝟏𝟓,𝟐𝟒
𝒍𝒐𝒈 ((𝑹$ 𝟔𝟓.𝟏𝟏𝟓,𝟐𝟒 ) − 𝟎,𝟏𝟑𝟕𝟓 𝒙 (𝑹$ 𝟏𝟗.𝟗𝟏𝟖,𝟓𝟎 − 𝟎))
𝑻𝑹𝑰𝒄𝒐𝒎𝒑 =
𝒍𝒐𝒈 (𝟏 + 𝟎,𝟏𝟑𝟕𝟓)

𝒍𝒐𝒈 (𝟏,𝟎𝟒𝟑𝟗𝟎𝟕𝟓)
𝑻𝑹𝑰𝒄𝒐𝒎𝒑 = = 0,3335 anos
𝒍𝒐𝒈 (𝟏,𝟏𝟑𝟕𝟓)

Partindo do resultado obtido em anos com o cálculo do tempo de retorno


composto, podemos realizar a conversão e identificar em quantos meses se dá o PAY-
BACK do investimento.

𝑻𝑹𝑰𝒄𝒐𝒎𝒑,𝒎𝒆𝒏𝒔𝒂𝒍 = 0,3335 anos x 12

𝑻𝑹𝑰𝒄𝒐𝒎𝒑,𝒎𝒆𝒏𝒔𝒂𝒍 = 4 meses

Percebe-se então uma convergência entre o tempo de retorno simples e o tempo


de retorno composto para o investimento no filtro harmônico, de modo que, através da
presente análise, sugere-se então a implantação de tal componente na planta da
câmara de compressão de amônia, a fim de reduzir os custos mensais da empresa com
energia e preservar a vida útil e o correto funcionamento dos motores elétricos ali
contidos.
92

5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 CONCLUSÃO

Considerando as normativas nacionais, este trabalho voltou-se a medir os


parâmetros pertinentes à qualidade da energia e eficiência energética dos motores de
compressão de amônia da empresa de aquicultura Netuno.
Uma vez aferidos os índices das grandezas em estudo, notou-se a presença
inconveniente de distúrbios na qualidade da energia, que, dentre outros efeitos, elevam
as perdas, prejudicam o funcionamento e reduzem a vida útil de equipamentos e
máquinas elétricas.
Verificando-se o horário de elevação das distorções na qualidade da energia, foi
possível traçar uma causalidade entre as perturbações e a transferência da alimentação
da empresa para um grupo gerador à diesel existente na empresa. O referido grupo
gerador, assume a planta no horário de ponta, a fim de suprir a demanda energética da
empresa, contudo, a atuação deste provoca, como registrado nesta pesquisa, elevados
níveis de distorção na qualidade da energia.
As principais consequências das alterações provocadas pelo grupo gerador são
a produção de 7ª harmônica, oscilando na frequência de 420Hz e, a redução no fator
de potência global da empresa, uma vez que há a transferência da potência ativa do
sistema para a geração própria, mantendo a rede como fonte vindoura de reativos.
Aferido com o qualimetro o fator de potência no ponto de conexão comum dos
motores, verificou-se que o fator deslocamento, referente à relação entre as potências
ativa e aparente da componente fundamental, estava dentro dos limites indicados em
norma, contudo, quando em presença do fator distorção oriundo dos níveis de THDv%
e THDi%, o fator de potência era reduzido a 0,87, provocando a empresa multas por
consumo excessivo de reativos.
A intervenção proposta, baseada num filtro harmônico passivo,
monossintonizado, bifuncional para correção de reativos, ligado em paralelo as cargas
em estudo, baseou-se na análise qualitativa e quantitativa dos fenômenos
supramencionados. O filtro descrito, servirá de caminho de baixa impedância para filtrar
a 7ª componente harmônica, levando esta até o aterramento da instalação, enquanto
que, o mesmo servirá para elevar o fator de potência da planta, reduzindo a tarifação
incidida sobre a indústria.
93

A análise energética e econômica realizada nesse trabalho é de grande


importância para a empresa, pois servirá como guia para o aperfeiçoamento e
modernização dos seus processos, trazendo benefícios ao funcionamento e vida útil
das máquinas em estudo, bem como a redução de dispêndios financeiros com multas
por excesso de reativos em aproximadamente R$ 5.594,09/mês.
Torna-se válida, então, a importância deste trabalho para a academia, para a
indústria de aquicultura e para comunidade local, por fornecer diretrizes e acervo
acadêmico a pesquisas sobre qualidade da energia elétrica e eficiência energética, com
procedimentos e métodos aplicáveis e reproduzíveis, possibilitando a posterioridade,
julgar conjuntamente se as propostas técnicas e comerciais apresentadas são de fato
compensatórias.

5.2 TRABALHOS FUTUROS

Abaixo são apresentadas algumas sugestões de trabalhos a serem elaborados a


posterioridade, com base na pesquisa aqui elaborada:

• Avaliar os perfis das cargas mecânicas (bombas e compressores) e verificar


se os motores ali empregados possuem curvas de conjugado adequadas a
essas atividades, evitando sobredimensionamentos;
• Analisar, nos terminais do grupo gerador, a qualidade da energia que este
fornece, verificando eventuais distúrbios elétricos por este provocados e suas
prováveis causas, mecânicas e elétricas;
• Analisar a qualidade da energia elétrica nos terminais de entrada de energia
da planta, realizando um estudo que aborde toda a indústria, levantando e
corrigindo variações na qualidade da energia elétrica da empresa como um
todo;
• Realizar a analise técnico-econômica do comparativo com dispêndios
financeiros da utilização do grupo gerador em detrimento do consumo via
distribuidora de energia, pontuando os gastos vinculados à utilização do GGM
(diesel, manutenções, multas por reativos excedentes).
94

REFERÊNCIAS

ADEGBEGE, A. O.; NWANKPA, C. V. Characterizing Nonlinear Loads in


Distribution Systems. IEEE Transactions on Power Delivery, [s.l.], v. 8, n. 2, p. 689-
697, 1993. DOI: 10.1109/61.221661.

ALVES, G. C.; CHAVES, A. L.; KAGAN, N.; PISSOLATO FILHO, J. Energy efficiency
and economic analysis of electric motors in industrial systems. International
Journal of Energy Economics and Policy, v. 8, n. 1, p. 178-185, 2018.

BEAULIEU, ET AL., Power Quality Indices and Objectives Ongoing Activities in


CIGRE WG 36-07"IEEE Power Engineering Society Summer Meeting, 2002.

BHUJBAL, H. M.; PADOLE, P. M. Design and Implementation of High Performance


Induction Motor Drive for Different Load Torque. International Journal of Science,
Engineering and Technology Research (IJSETR), v. 6, n. 9, p. 1536-1542, 2017.
Disponível em: http://www.ijsetr.org/wp-content/uploads/2017/09/IJSETR-VOL-6-
ISSUE-9-1536-1542.pdf. Acesso em: 12 mar. 2023.

BOLLEN, M. H. J. Effects of harmonic distortion on electronic equipment. IEEE


Transactions on Power Delivery, v. 15, n. 2, p. 719-725, Apr. 2000. DOI:
10.1109/61.851905. Acesso em: 15 mar. 2023.

BRAGA, A. C. B. (2017). Máquinas elétricas: análise de desempenho, construção e


aplicações. Editora Érica.

CARNEIRO, J. R. O.; MARTINS, J. F. Simulação de máquinas elétricas trifásicas


utilizando o software MATLAB/Simulink. Revista de Ensino de Ciências e
Matemática, v. 6, n. 1, p. 65-80, 2015.

CALVIÑO, J.L.; OLIVARES, J.C. Origem e análise da corrente de magnetização


em transformadores de potência. Electric Power Systems Research, v. 61, n. 3, p.
159-167, 2002.
95

(CODI, 2004) CODI - COMITÊ DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Manual


de Orientação aos Consumidores: Energia Reativa Excedente. CODI, 2004. 13 p.
ANSI, NEMA MG 1-2016 - Motors and Generators, National Electrical Manufacturers
Association, 2016.

DARABIAN, M.; SANAYE-PASAND, M.; IRAVANI, M. R. Transient Analysis of Inrush


Currents in Power Transformers. IEEE Transactions on Power Delivery, [S.l.], v. 25,
n. 4, p. 2574-2582, out. 2010.

ENJETI, Prasad N. Harmonic Analysis of Power System. IEEE Industrial Electronics


Society, [s.l.], v. 42, n. 2, p. 125-142, 1995. DOI: 10.1109/41.372314.

FARIA, F. A. P.; NASCIMENTO, M. L. F. Impact of non-linear loads on power quality


and on the performance of induction motors. IEEE Latin America Transactions, v.
13, n. 3, p. 867-872, 2015.

FERREIRA, C. A. Motor elétrico premium. Rio de Janeiro: Eletrobras, 2016.

GANAPATHY, V. Power Quality - A Review. International Journal of Engineering


Research and Applications, v. 3, n. 5, p. 2045-2052, set.-out. 2013.

GARCÍA-MARTÍNEZ, F. J., BERNAL-AGUSTÍN, J. L., GARCÍA-SÁNCHEZ, J. L., &


MOLINA-GARCÍA, A. (2021). Impact of Oversized Motors on the Energy Efficiency
of a Manufacturing Plant. Energies, 14(3), 1-23.

GENC, I.; YILDIZ, A. Comparison of induction motor types D, N and H by FEM for
different load conditions. International Journal of Electrical and Computer
Engineering (IJECE), v. 5, n. 4, p. 735-743, 2015. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/280801269_Comparison_of_Induction_Mot
or_Types_D_N_and_H_by_FEM_for_Different_Load_Conditions. Acesso em: 12 mar.
2023.

GHOLAMI, Aliakbar; GHOLAMI, Mohsen. Performance Analysis of Induction Motor


Starting under Different Loading Conditions. In: 2018 3rd International Conference
on Electrical and Electronics Engineering (ICEEE). IEEE, 2018. p. 1-6.
96

GOSBELL, V., PERERA, S., SMITH, V. (2002). Voltage Unbalance. Technical Note
06, Integral, Energy Power Quality Centre, University of Wollongong, School of
Electrical, Computer & Telecommunications Engineering.

HAMZAH, N. R.; YAHYA, M. F.; RAHIM, N. A. Analysis of rotor current influence


on the performance of an induction motor. International Journal of Electrical and
Computer Engineering, v. 7, n. 2, p. 812-820, 2017.

IEEE TRANSACTIONS ON POWER DELIVERY. Impact of Transformer Core


Saturation on Harmonic Generation in Power Systems. Nova York, v. 33, n. 2, p.
749-758, abr. 2018. Acesso em: 16 mar. 2023.

IRAVANI, M. R.; YAZDANI, A. Effect of harmonic currents on iron losses in


transformer cores. IEEE Transactions on Power Delivery, v. 13, n. 2, p. 536-542, Apr.
1998. DOI: 10.1109/61.660882. Acesso em: 15 mar. 2023.

ISLAM, T. M. Jahirul; OO, Amanullah M. T.; MAHBUB, Rubayyat. The Prevalence of


Induction Motors in Industrial Applications. Journal of Clean Energy Technologies,
v. 4, n. 4, p. 269-273, July 2016. Disponível em: http://www.jocet.org/papers/387-
CET2016-142.pdf. Acesso em: 04 mar. 2023.

JADHAV, S. D.; RANGARI, V. T. Harmonic Losses in Three-Phase Induction


Motors: A Comprehensive Analysis. International Journal of Emerging Electric
Power Systems, v. 18, n. 3, p. 237-249, 2017. DOI: 10.1515/ijeeps-2016-0033. Acesso
em: 15 mar. 2023.

KHALIFA, Mohamed B.; ABDELMAKSOUD, Mohamed S.; MAKKAWI, Yasser A.


Comparative analysis of torque-speed characteristics of squirrel cage induction
motor with different rotor bar designs. International Journal of Electrical Power and
Energy Systems, v. 63, p. 774-780, mar. 2015.

KHAZRAJY, A.; MOKHTARI, A. Harmonics impact on the operation of protective


relays in power systems. International Journal of Electrical Power and Energy
Systems, v. 64, p. 116-124, May 2015. DOI: 10.1016/j.ijepes.2014.07.036. Acesso em:
15 mar. 2023.
97

KOULOURIOTIS, T. N. Effects of harmonics on power cables. IEEE Transactions


on Power Delivery, v. 18, n. 4, p. 1385-1392, Oct. 2003. DOI:
10.1109/TPWRD.2003.817952. Acesso em: 15 mar. 2023.

KRISHNAN, R. Starting performance of induction motors. IEEE Industry


Applications Magazine, v. 16, n. 5, p. 31-39, set./out. 2010. DOI:
10.1109/MIA.2010.936764.

KUMAR, K. Vinoth; GUNABALAN, R. Impact of Harmonic Distortion on Induction


Motor Performance. International Journal of Electrical, Electronics and Computer
Systems, v. 32, n. 1, p. 1-8, 2016. Disponível em:
http://ijeecs.iaescore.com/index.php/IJEECS/article/view/5825. Acesso em: 19 mar.
2023.

MATIN, Mohammad; HANNAN, M. A. Power Quality Problems and Mitigation


Techniques: A Review. IEEE Access, [s.l.], v. 8, p. 31709-31726, 2020. DOI:
10.1109/ACCESS.2020.2971962.

MATSUMURA, T. Effects of Voltage Harmonics on Torque Characteristics of


Induction Motors. IEEE Transactions on Energy Conversion, v. 17, n. 4, p. 485-491,
Dec. 2002. DOI: 10.1109/TEC.2002.805202.

McGRANAGHAN, Mark; MEIER, Alan. Power System Harmonics: A Primer. IEEE


Industry Applications Magazine, [s.l.], v. 8, n. 5, p. 18-29, 2002. DOI:
10.1109/MIA.2002.802491.

MOURA, Fábio A.; RIBEIRO, Daniel A. Understanding Skin and Proximity Effects
in Power Frequency Cables. IEEE Transactions on Power Delivery, v. 34, n. 1, p. 92-
101, Feb. 2019.

NOGUEIRA, M. A. K.; FELIPPE DE SOUZA, J. A. M.; FERREIRA, L. A. F. M.


Classificação de componentes harmônicas em sinais de corrente trifásica usando a
Transformada de Fourier. Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 16, n.
2, p. 1-8, 2017.
98

OLIVEIRA, M. J. J. Harmônicas de sequência zero: definição, origem e efeitos em


sistemas elétricos de potência. Revista Brasileira de Energia Solar, v. 9, n. 2, p. 122-
133, 2019.

OLIVEIRA, R. S., AMARAL, M. M., & CARDOSO, R. B. (2018). Impact of Over-


Dimensioned Motors on Energy Consumption in an Industrial Plant. IEEE Latin
America Transactions, 16(1), 26-32.

PENG, F. Z.; AKAGI, H. Harmonic resonance in power capacitors: mechanisms


and mitigation strategies. IEEE Transactions on Power Electronics, v. 18, n. 6, p.
1292-1301, Nov. 2003. DOI: 10.1109/TPEL.2003.818609. Acesso em: 15 mar. 2023.

SEIREG, A. A.; JOHNSON, D. E. Friction and Lubrication in Mechanical Design.


2nd ed. New York: Marcel Dekker, 1974.

SINGH, B.; GUPTA, R.; AGARWAL, V. Effects of current harmonics on voltage


harmonics in power systems. International Journal of Emerging Electric Power
Systems, v. 6, n. 2, 2005. Disponível em: https://doi.org/10.2202/1553-779x.1161.
Acesso em: 15 mar. 2023.

SOUSA, A. L.; MARQUES, A. C. A comparative study of different induction motor


types for various load profiles. International Journal of Electrical Power & Energy
Systems, v. 111, p. 1-8, 2019. DOI: 10.1016/j.ijepes.2019.03.031.

SOUTO, T. S. S.; NEVES, F. A. S. Identificação de harmônicas em sistemas elétricos


utilizando a Transformada de Fourier. Eletricidade Moderna, v. 46, n. 520, p. 52-57,
2017.

SOUZA, Edison R.; NASCIMENTO, Warley A.; GOMES, Raimundo C. L. Comparison


of torque-speed curves of three-phase induction motors using different
electrical supply systems. IEEE Latin America Transactions, v. 14, n. 3, p. 1292-
1297, mar. 2016.

TSILI, M. A. The impact of harmonic distortion on electric machines performance:


An overview. Electric Power Systems Research, v. 110, p. 94-103, 2014.
99
VOROBEV, P. Power factor correction in electrical power networks under non-
sinusoidal conditions. Journal of Physics: Conference Series, v. 1584, n. 1, p.
012086, Aug. 2020. DOI: 10.1088/1742-6596/1584/1/012086. Acesso em: 15 mar.
2023.

ZANELLA JR., Mauro; CAMACHO, João Batista; MATIAS, Jorge Eduardo Fouto.
Electric Motors in Industry: An Overview of the Main Applications, Advantages,
and Challenges. Energies, v. 11, n. 7, p. 1-19, jul. 2018. Disponível em:
https://www.mdpi.com/1996-1073/11/7/1772. Acesso em: 04 mar. 2023.

ZHANG, Yue; LIU, Xiangdong. Induction Motor Starting Torque Estimation Using
an Adaptive Observer. In: 2010 International Conference on Electrical and Control
Engineering (ICECE). IEEE, 2010. p. 5827-5830.
100
ANEXO A – HISTOGRAMAS FLUKE.

Anexo A1 – Espectro Harmônico THDv(%).

Fonte: Autoral (2021).


101
Anexo A2 – Espectro Harmônico THDi(%).

Fonte: Autoral (2021).

Você também pode gostar