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DEREK PRINCE

MARIDOS
E
PAIS

Redescubra o Propósito do Criador para os Homens

DEREK PRINCE PORTUGAL


Originalmente publicado com o título:
“Husbands and Fathers”

Copyright © 2000 by Derek Prince Ministries–International


Todos os direitos reservados

Derek Prince Ministries–International


P.O. Box 19501
Charlotte, North Carolina 28219-9501 – U.S.A.

Portuguese translation “Maridos e Pais” is published by permission.


Copyright ©2019 – Derek Prince Portugal

Tradutor: Eunice Carapeto Silva


Correção: Conceição Cabral
Redação: Christina van Hamersveld
Desenho da Capa: Derek Prince Portugal

A versão bíblica usada neste livro é: Almeida Corrigida Revisada Fiel, sempre que não seja
mencionada informação contrária.
Índice

Prefácio ...........................................................................................5
1. Como Me Tornei Pai .......................................................................7
2. O Casamento é Uma Aliança ........................................................13
3. O Papel do Marido ........................................................................21
4. O Papel da Esposa .........................................................................27
5. O Ingrediente que Falta .................................................................32
6. A Autoridade Espiritual de um Casamento Harmonioso ..............38
7. A Revelação Mais Importante de Deus ........................................44
8. O Pai como Sacerdote ...................................................................53
9. O Pai como Profeta .......................................................................60
10. O Pai como Rei .............................................................................69
11. A Imagem de Dois Pais .................................................................75
12. Quando os Pais Falham .................................................................79
13. Talvez Tenha Falhado ...................................................................88
14. Mas Pode Ter Sucesso! .................................................................95
15. A Paternidade Espiritual .............................................................101
16. Onde Estão os Pais Espirituais ....................................................111
17. Uma Palavra Para Quem não Tem Pai ........................................117

Sobre o Autor ..……………………………………………………… 125


Sobre Derek Prince Portugal ………………………………………… 126
Outros Livros por Derek Prince ………………………………………127
Prefácio

As pessoas ouvem o que dizemos, mas aprendem com aquilo que fazemos/somos. Isto é um
facto quando lemos ou ouvimos Derek Prince. Ele entrelaça a sua vida com o seu trabalho, o que
para nós é excelente.
Derek escreveu o livro para ser lido não só pelo pai, mas para o pai ler a toda a família. Deus
o abençoe por tornar a verdade de Deus tão acessível para todos nós.

Dr. Edwin Louis Cole


Fundador e Presidente da
Christian Men’s Network

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Parte 1

Pessoal

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Como Me Tornei Pai

Ao recordar o período da minha infância e dos primeiros anos da minha vida, fico surpreendido
com o facto de estar a escrever este livro. Há pouca coisa desse tempo que parecesse poder
qualificar-me para esta tarefa!
Nasci numa família militar inglesa e não tenho irmãos nem irmãs. Todos os meus parentes do
sexo masculino têm servido no exército britânico. Aos nove anos, convenientemente vestido com
um fato de tweed e boné inglês, fui enviado para a escola preparatória. Dali fui para Eton e de lá
para King’s College, em Cambrigde. Durante 15 anos frequentei diversos colégios internos e por
ano nunca passei mais de três meses em casa. Depois de cinco anos em Cambridge, escrevi uma
tese, “A Evolução do Método de Definição de Platão”, e fui eleito para a fraternidade da King’s
College.
Durante os meus anos académicos, nunca tive uma única professora. Em Cambridge tive
muitas namoradas, mas os trâmites da personalidade feminina permaneceram um mistério para
mim - um mistério que eu até nem estava particularmente interessado em resolver!
O que prometia ser uma carreira académica sem nada de especial a assinalar, na atmosfera
sóbria de uma das maiores universidades, foi rudemente interrompido pela Segunda Guerra
Mundial. Quando fui chamado para o serviço militar escolhi uma posição de não combatente no
Corpo Médico das Forças Armadas Britânicas. No exército decidi continuar a minha carreira
académica estudando a Bíblia, o que fiz como uma tarefa puramente filosófica. Achei-a muitas
vezes difícil de entender, mas estava determinado a lê-la de ponta a ponta, de Génesis até
Apocalipse. A partir daí, ficaria na posição de poder fazer um julgamento autoritário sobre ela.
Cerca de nove meses mais tarde, já estava algures no livro de Jó, tive um encontro inesperado
com o Autor da Bíblia, que Se me revelou através da Pessoa de Jesus Cristo. Esse encontro mudou
radical e permanentemente o rumo da minha vida. Afinal, recordava-me que o próprio Platão tinha
afirmado, “Não temos uma palavra de Deus,” enquanto a Bíblia claramente alegava que era mesmo
isso, “a Palavra de Deus.” Quanto mais a estudava e a aplicava no meu dia a dia, mais convencido

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ficava de que a sua alegação verdadeira. A Bíblia era realmente a revelação do próprio Deus ao
Homem.
Pouco tempo depois, o exército enviou-me para o Médio Oriente. Depois de passar três anos
nos desertos do Egipto, da Líbia e do Sudão, fui colocado em Jerusalém. Ali, conheci e casei com
uma professora, Lydia Christensen. Lydia tinha sido uma professora com uma carreira de sucesso
no ensino público dinamarquês até Deus a ter chamado a deixar tudo e a ir para Jerusalém onde
abriu um lar para crianças órfãs, sustentado pela sua fé.
Quando Lydia e eu nos casámos, ela trouxe consigo oito meninas sem pais para quem ela era
a mãe adotiva, e sobre quem eu aceitei, a partir dessa altura, a responsabilidade de ser pai. Entre
estas meninas, seis eram judias, uma árabe e outra inglesa de idades compreendidas entre os
dezoito e os três anos.
Da minha vida passada como rapaz sem irmãos ou irmãs, vi-me repentinamente como o único
representante do sexo masculino, responsável por dez indivíduos do sexo feminino - Lydia, as suas
oito meninas e uma empregada doméstica árabe, Jameela. Todos tivemos que fazer muitos
reajustamentos na nossa vida por causa deste novo relacionamento uns com os outros. Houve
alturas em que senti que a responsabilidade que tinha tomado era demasiada para mim. Sem
dúvida, Lydia também deve ter perguntado a si própria muitas vezes, se casar comigo teria sido
uma decisão acertada. No entanto, de alguma forma, o amor e a graça de Deus capacitou-nos a ter
um casamento bom.
Além destes ajustamentos no nosso relacionamento, Lydia e eu enfrentámos muitas pressões
exteriores. Nos primeiros dois anos do nosso casamento, fomos apanhádos na luta armada que deu
origem ao Estado de Israel. Naquela altura, fomos forçados, por duas vezes, a fugir de casa a meio
da noite para salvarmos as nossas vidas. Nunca pudemos voltar a nenhum dos dois locais.
A certa altura, as nossas quatro filhas mais velhas foram separadas de nós, mas Deus manteve-
nos na Sua mão e reuniu-nos a todos, mais uma vez, como uma família unida em Inglaterra.
Mais tarde, depois de todas já serem crescidas, excetuando as duas mais novas, Lydia e eu
passámos cinco anos no Quénia, onde fui reitor de uma Universidade para formação de professores
africanos. Durante este período, adotámos a nossa nona filha, uma bebé africana. A sua mãe tinha
morrido de parto e a bebé tinha sido encontrada abandonada no chão de terra da sua cabana.
Três anos depois do Senhor ter levado a Lydia, eu casei com Rute. Estivemos casados durante
vinte anos até o Senhor também a levar. Rute trouxe à nossa união mais três crianças adotadas,

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todas de origem judaica. Agora eu estou relacionado como pai de, exatamente, uma dúzia de
pessoas!
A personalidade amável e aberta de Rute rapidamente conquistou os outros membros da minha
família. Ela também contribuiu com talentos especiais nas áreas da administração e edição que
complementaram maravilhosamente o meu ministério pessoal de professor da Bíblia. Durante os
nossos vinte anos de casamento, o meu ministério expandiu-se de formas que eu nunca tinha
imaginado. Através dos livros impressos, das cassetes de áudio e vídeo, das transmissões na Rádio
e na Televisão, o meu ensino da Palavra de Deus alcançou todos os continentes, incluindo a
Antárctica. A minha equipa diz-me que estamos a vender o nosso material em todas as nações
alcançadas pelo sistema postal dos Estados Unidos, e que parte do meu material já foi traduzido
em sessenta línguas estrangeiras.
A nossa família continua a aumentar a um ritmo difícil de acompanhar. Incluindo a adição
provocada por casamentos e nascimentos, a família conjunta atualmente é composta por cento e
cinquenta pessoas! Temos, neste momento, membros da família a residir em muitos países
diferentes: Israel, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos e Austrália. Com uma família tão vasta e
tão espalhada, não é possível para todos nós mantermos um contacto tão próximo, tanto quanto
gostaríamos. No entanto, ainda temos a sensação de que somos uma família.
Não tenho sido um marido ou um pai perfeito, longe disso. Apesar de tudo, a minha vida
familiar, no seu todo, tem sido feliz e bem-sucedida, pelo que dou a Deus toda a glória. Tenho
aprendido muitas lições através dela, as quais acredito que Deus quer que eu transmita neste livro.
Houve, entretanto, um período no meu ministério, em que estive perigosamente perto de perder
de vista o plano de Deus para o meu casamento e para a minha família. Naquela altura, viajava
continuamente de reunião para reunião, de conferência em conferência, pregando a grandes
multidões e recebendo uma boa resposta do público. Uma noite numa conferência ouvi o seguinte
comentário feito por outro pregador: “Um perito é um homem longe de casa com uma pasta.”
Aquelas palavras atingiram-me o coração como uma flecha.
Aquele comentário realmente descreve-me, pensei eu para comigo. Eu sou um homem longe
de casa, com uma pasta. Todos me encaram como um perito, mas o que é que está a acontecer na
minha própria casa?
Deus desafiou-me de uma forma completamente nova, na qual eu tinha que ter sucesso, em
primeiro lugar, e principalmente, como marido e pai, antes de poder ter sucesso em qualquer dos

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outros campos.
Assim, comecei a analisar a minha motivação pessoal. Porque é que passava tanto tempo a
viajar? Porque é que me sentia tão estimulado a aparecer naquelas reuniões? Gradualmente
reconheci que entre os meus motivos havia uma forte ambição pessoal. Realmente apreciava
imenso estar no alto de um estrado, em frente de uma vasta audiência. Eu gostava da minha
reputação de pregador “ungido.”
Olhando para os meus anos de ministério público, reconheço que estava, por vezes, mais
preocupado com a minha reputação de pregador, do que com qualquer uma das necessidades
pessoais e emocionais de Lydia. Às vezes estava mais preocupado com o meu sucesso como
obreiro do que com o bem-estar da minha família.
Pela misericórdia de Deus, no meu lar, não houve uma crise séria. De facto, a minha família
foi muitas vezes mais leal comigo do que eu merecia. Hoje, dou continuamente graças a Deus por
eles! Gradualmente, cheguei ao ponto de ver que a ambição pessoal sem olhar o preço pago pela
vida familiar é um problema muito sério na vida de muitos homens. Alguns até seriam
considerados homens de sucesso e eles próprios consideram que têm sucesso na vida. No entanto,
há um cerne de egocentrismo no seu interior que não lhes permite participar no intercâmbio
relacional aberto e caloroso com a sua família, o qual é a essência dos relacionamentos de sucesso
dentro do lar.
Pode não haver uma crise aguda, ou sequer o pensamento de que o casamento se irá desfazer.
No entanto, o lar já não providencia a segurança e a realização pessoal que os membros da família
precisam. Em muitos casos, o pai tem tantos compromissos fora de casa que nem sequer se
apercebe da forma como está a falhar em relação à sua família.
Cheguei à conclusão que muitos homens na nossa cultura contemporânea precisam de encarar
este assunto. Podem ter sucesso em muitas áreas - como presidentes de um banco, ou como
médicos, ou advogados, ou técnicos de informática ou até como jogadores de golfe. Até podem ter
sucesso no ministério cristão. No entanto, são uns falhados no seu próprio lar.
Quero sugerir aqui que ter sucesso em quaisquer outras áreas, mas falhar como marido ou pai
é, para Deus, ser um falhado. Não há nenhum outro sucesso que possa cobrir essa falha na vida.
Muitas vezes tenho referido que o problema número um da nossa sociedade é o de negligentes
do sexo masculino - homens que têm falhado na sua responsabilidade principal como maridos e
pais.

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Pode ler vários livros sobre a família, mas não pode construir uma família de sucesso até
entender estes dois papéis fundamentais: o de marido e pai. Eles são alicerces essenciais sobre os
quais se pode construir um lar verdadeiramente feliz e harmonioso.
O meu objetivo neste livro é o de demonstrar em termos simples e práticos o que é necessário
para se ser um marido e um pai com sucesso. A partir daí pode avançar e alcançar verdadeiro
sucesso em qualquer uma das muitas áreas diferentes. Acima de tudo, será uma bênção para os
que lhe são mais queridos: a sua esposa e os seus filhos.

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Parte 2

Maridos

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2

O Casamento é uma Aliança

Como base para o que tenho a dizer sobre maridos, vou começar por falar sobre o casamento,
pois é só através do casamento que um homem se transforma num marido.
Os três relacionamentos permanentes mais importantes disponíveis aos seres humanos são:

1. O relacionamento do crente com Deus.


2. O relacionamento entre cônjuges.
3. O relacionamento dos crentes entre si.

Os filhos são o fruto da aliança entre um homem e a sua mulher e, por isso, estão incluídos no
âmbito da aliança estabelecida pelos seus pais perante Deus.
A base de cada um destes relacionamentos é uma aliança que é a forma mais solena de
compromisso descrita na Bíblia. De acordo com os princípios bíblicos, nenhum relacionamento
duradouro pode ser construído sem uma aliança.
Há duas passagens principais na Bíblia que demonstram que o casamento é uma aliança.
Primeiro vemos que a sabedoria te livrará da:

“… mulher imoral, da pervertida que seduz com suas palavras, que abandona
aquele que desde a juventude foi seu companheiro e ignora a aliança que fez diante de
Deus.” (Provérbios 2:16-17 com ênfase) (NVI)

Esta passagem refere que a mulher que é infiel ao seu marido esquece ou quebra a aliança que
fez com esse homem perante Deus. Assim, o casamento é uma aliança entre um homem e uma
mulher feita perante Deus.
Mais uma vez, no livro de Malaquias, Deus refere-se à qualidade de aliança que um casamento
tem. Os israelitas tinham estado a queixar-se, “Oramos o tempo todo. Estamos sempre no Templo.
Então Deus, porque é que não respondes às nossas orações?” Deus responde:

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“E dizeis: Porquê? Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua
mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua
aliança.” (Malaquias 2:14, com ênfase)

Nesta passagem, Deus está a falar sobre os maridos que lidam com as suas esposas de forma
“desleal” - em linguagem corrente, que as enganam. Deus está a dizer, “Não importa quantas vezes
tu oras, ou o tempo que passas na igreja. Se não fores fiel ao teu compromisso de aliança com a
tua esposa, Eu não ouvirei as tuas orações.” Tais homens, declara Deus, são quebradores de
aliança.
Tanto para os homens como para as mulheres, a infidelidade ao compromisso do casamento é
quebrar uma aliança. Por esta razão o adultério é um pecado muito mais sério do que a fornicação.
A fornicação - imoralidade entre duas pessoas não casadas - é um pecado, mas não quebra uma
aliança, enquanto que, por outro lado, o adultério é imoralidade que quebra uma aliança. É este
facto que torna o último um pecado muito mais sério.

O Mistério da Aliança
A Aliança é um dos segredos de Deus. Ninguém pode entender uma aliança no sentido bíblico
exceto através da revelação. Só Deus pode permitir através das Escrituras que entendamos o que
é uma aliança. O salmista diz:

“O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua
aliança.” (Salmo 25:14, com ênfase)

Assim, a aliança é um dos segredos de Deus que Ele só revela aos que O temem. Aqueles que
temem a Deus são os que podem apreender e entrar numa aliança.
Em Efésios 5:22-31, Paulo diz que o relacionamento no casamento entre um homem e a sua
mulher é um tipo, ou imagem, do relacionamento entre Cristo e a Sua Igreja. A seguir, acrescenta,
“Grande é este mistério” (vs. 32) “Este é um mistério profundo.” (NVI) Precisamos de
compreender o significado especial da palavra mistério tal como é usada por Paulo nesta passagem.
O povo daquela época tinha o que se chamava “religiões mistério.” Estas religiões ofereciam
segredos especiais só àqueles que tinham passado pelo processo de iniciação que era extremamente

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secreto. A não ser que tivesse sido iniciado, não podia conhecer os segredos. Quando Paulo
descreve o casamento como um “mistério,” está, por isso, a dar a entender que só podemos
compreender a verdadeira natureza do casamento ao termos passado pelo processo de iniciação
apropriado. Este processo tem lugar quando, através da cerimónia do casamento, um homem e
uma mulher estabelecem uma aliança com Deus e um com o outro. Só quando estão dispostos a
estabelecer esta aliança é que podem começar a descobrir a verdadeira natureza do casamento. Os
casais que não estão dispostos a cumprir esta condição podem experimentar o aspeto legal e o
aspeto físico do casamento, mas a sua verdadeira natureza permanece-lhes vedada. Ainda é um
mistério - um segredo.
Precisamos também lembrar que o casamento não é meramente um contrato social a nível
humano. O casamento é, original e primeiramente, um conceito Bíblico. Para se entrar no mistério
do casamento é preciso primeiro entender o que a Bíblia quer dizer com “aliança”. Será, por isso,
muito útil estudar brevemente os princípios que se aplicam a todas as alianças da Bíblia.

Os Princípios da Aliança
Vamos considerar a revelação de Deus acerca da aliança em diversas passagens das Escrituras
que se encontram em Salmos, Hebreus e Génesis.
A passagem seguinte, em Salmos, revela o tipo de pessoas com quem Deus estabelece uma
aliança:

“Chamará [o Senhor] os céus lá do alto, e a terra, para julgar o seu povo.


Ajuntai-me os meus santos, aqueles que fizeram comigo uma aliança com sacrifícios.”
(Salmos 50:4-5 com ênfase).

Quem são os santos de Deus? A Bíblia diz que são os que fizeram uma aliança com Ele com
base num sacrifício. Toda a aliança deve ser baseada num sacrifício.
Em hebraico, dir-se-ia que alguem corta em vez de faz uma aliança. A imagem que a palavra
dá, é a de uma faca afiada e a de derramamento de sangue. É apenas mais um lembrete de que uma
aliança exige um sacrifício e um sacrifício exige sangue derramado - uma vida entregue.
Em Hebreus 9:16-17 o escritor diz que um testamento só é válido no caso de morte de uma
pessoa. No entanto, a palavra grega aqui traduzida por “testamento” é diatheke, que é a palavra

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grega comum para “aliança.” Traduzidos desta maneira estes versículos enfatizam um facto de
grande importância em relação ao conceito de aliança:

“No caso de um testamento [uma aliança], é necessário que comprove a morte


daquele que o fez; pois um testamento [uma aliança] só é validado no caso de morte,
uma vez que nunca vigora enquanto está vivo aquele que o fez.” (NVI, com ênfase)

Ao estabelecermos uma aliança, estamos na verdade assinando a nossa própria sentença de


morte! É um assunto muito solene, o compromisso dos compromissos.
Na vida de Abraão podemos ver o funcionamento de um relacionamento baseado numa
aliança. O Senhor e Abraão tinham um relacionamento pessoal maravilhoso. Uma noite, Deus
mostrou a Abraão que Ele lhe daria a terra de Canaã como herança. Abraão perguntou-lhe, “Senhor
Deus, como saberei que hei-de herdá-la?” (Génesis 15:8). Deus respondeu a Abraão
estabelecendo (cortando) uma aliança com Abraão por meio de um sacrifício.
O compromisso final de Deus em qualquer assunto, é, por outras palavras, uma aliança.
Quando Deus estabelece uma aliança, não há mais nada que Ele precise de fazer.
Ao estabelecer esta aliança com um sacrifício, Abraão foi instruído por Deus a fazer algo muito
habitual naquela época para os povos do Médio Oriente: matar certo tipo de animais para o
sacrifício, depois cortar os corpos em duas partes e colocar essas metades do lado oposto uma da
outra deixando um espaço no meio delas. Então, cada um dos intervenientes na aliança passava
entre as duas metades do corpo do animal. As Escrituras não nos dizem quando Abraão passou
entre essas metades, mas referem quando Deus o fez:

“E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão; e eis um forno de fumaça, e uma tocha
de fogo que passou por aquelas metades.” (Génesis 15:17)

Naquela tocha de fogo o Senhor passou entre as metades dos sacrifícios. Em Hebreus 12:29
somos recordados que “… o nosso Deus é um fogo consumidor.”
O que significa passar entre as metades do sacrifício? Significa que, uma vez que tenha passado
pelo sacrifício e tenha olhado para aqueles corpos mortos se diz, “Essa morte foi a minha morte.
De hoje em diante eu morro para mim mesmo e vivo para aquele com quem estabeleci uma

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aliança.” Abraão renunciou à sua vida para poder viver numa aliança com Deus. No entanto, tenha
em mente que Deus fez o mesmo por Abraão.
Cada um dos intervenientes de uma aliança pode reclamar como seu o que quer que o outro
possua. Por essa razão, mais tarde, Deus na verdade disse a Abraão “Eu quero o teu filho Isaque,
o teu único filho, a quem amas. Oferece-o como sacrifício no lugar que eu te indicar” (ver Génesis
22:2).
Abraão era um homem de guardar uma aliança. Ele não discutiu nem tentou ganhar tempo. Só
respondeu, “Está bem Senhor. Aqui estou eu. Eu vou. Eu vou oferecer o sacrifício.” E no outro
dia, ao romper da manhã, partiu para o lugar indicado.
Precisamente no último momento, quando Abraão tinha o seu braço levantado para cravar a
faca no corpo do seu filho, o Senhor disse-lhe, “Está bem, Abraão. Não precisas de fazer isso.
Agora sei que Me temes, porque não hesitaste em Me oferecer o teu único filho.” Isto é uma
aliança!
No entanto, a história não acaba aqui. Cerca de dois mil anos mais tarde, o Senhor disse:
“Abraão e os seus descendentes precisam de um sacrifício. Só existe uma pessoa capaz de oferecer
este sacrifício - o Meu Filho. Abraão ofereceu-Me o seu filho. Agora Eu vou oferecer o Meu Filho
por ele.” Foi essa a outra metade da aliança que tinha sido iniciado no Monte Moriá. Como
cumprimento do compromisso da aliança que Deus tinha estabelecido ali, Ele ofereceu Seu Filho,
Jesus, no Calvário como o sacrifício final e todo suficiente pelo pecado.
Encarada sob esta perspetiva, a História é o desenrolar das alianças que Deus estabeleceu com
o Seu povo. Não podemos deixar de enfatizar o significado e a solenidade da aliança.
Agora, apliquemos tudo isto à aliança do casamento. Quando dois cristãos, um homem e uma
mulher se casam, passam juntos pelo sacrifício de Jesus na cruz. Cada um deles diz, tal como Paulo
disse:

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim ...”
(Gálatas 2:20)

Depois de se terem comprometido um com o outro, cada um deles volta-se e olha para a cruz.
O marido diz: “Ao passar por aquele sacrifício, eu morri. Eu entreguei a minha vida. Agora vivo
a minha vida na minha companheira. Ela é a expressão da minha vida.” A esposa diz o mesmo:

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“Quando passei por aquele sacrifício, morri. Já não vivo para mim própria. Agora vivo para aquele
com quem estabeleci a aliança.” Cada um entrega a sua vida pelo outro. Essa é a base do casamento
cristão e a única base para um casamento de verdadeiro sucesso.
No entanto, esta atitude é contrária à de muitas pessoas hoje em dia. Por isso tantos casamentos
acabam. Há demasiadas pessoas a casarem-se tendo em mente: “O que é que será que vou ganhar
com isto?” Isso não funciona. A atitude bíblica é: “O que é que vou dar?” Isso é que funciona!

O Objetivo da Aliança do Casamento


Adão não pensava em casamento. Ele nem sequer sabia que precisava de uma mulher. O
casamento teve origem na mente de Deus. Todas as regras para isso assim como o seu propósito
final foram estabelecidos por Ele.
O propósito de Deus para o casamento é a unidade entre companheiros. A Bíblia, porém, torna
muito claro que só há uma base para a verdadeira unidade entre seres humanos, quer sejam homens
ou mulheres: uma aliança. A Bíblia descreve o casamento desta forma:

“Portanto, deixará o varão o seu pai e sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão
ambos uma carne.” (Génesis 2:24, com ênfase)

A chave para o casamento são duas palavras: “deixar” e “apegar-se.” Se não deixar, não se
pode apegar, unir. Quando não se está disposto a sair do passado com os pais e a
começar de novo, nunca se poderá atingir a verdadeira unidade com o cônjuge.
Em algumas culturas, os casamentos acabam porque a cultura ensina que o homem deve ficar
com o seu pai e a sua mãe, em vez de com a sua mulher. Essa lealdade vai colocar-se entre ele e a
lealdade que ele deve ter para com a sua esposa.
É essencial compreender que o casamento, tal como é descrito na Bíblia, não é uma questão
de costumes sociais ou de cultura. Muitos costumes sociais diferentes determinam como se casa
ou como se celebra o casamento. Na terra de Israel, por exemplo, os judeus seguem um conjunto
de costumes sociais para celebrar o casamento, os árabes outro e os arménios outro diferente. Isto
é legítimo, mas a natureza essencial do casamento foi determinada pelo próprio Deus no início da
história humana: um homem deve deixar o seu pai e a sua mãe e unir-se à sua esposa. Esta é a
única base sobre a qual um homem e uma mulher podem alcançar a verdadeira unidade.

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Há mais uma coisa mal compreendida a respeito do casamento nos dias de hoje. Muitos falam
e agem como se o casamento fosse uma experiência. Isso é um erro. O casamento é uma aliança,
não é uma experiência. É uma contradição de termos falar de uma “aliança experimental.” Só
através do comprometimento mútuo é que Deus irá libertar a graça que um homem e uma mulher
precisam para viver em unidade com a sua companheira ou o seu companheiro de casamento.

A Natureza Profética do Casamento


Um facto entusiasmante sobre o Deus da Bíblia é que Ele tem prazer em Se revelar aos seres
humanos. A revelação de Si próprio é um dos tesouros mais preciosos que Deus nos oferece. A
Bíblia é o canal principal através do qual esta revelação é feita. É, porém, um privilégio ainda
maior quando Deus escolhe revelar-Se a Si próprio não só a nós, mas através de nós.
Deus operou frequentemente desta maneira por intermédio dos profetas do Antigo Testamento.
Para avisar Israel sobre o seu cativeiro iminente, Deus disse a Jeremias para pôr um jugo no seu
próprio pescoço (ver Jeremias 27:2). Para descrever a tomada iminente que o exército da Babilónia
faria de Jerusalém, Deus ordenou a Ezequiel que fizesse um buraco numa parede e agisse como
alguém que estava a fugir de uma cidade cercada (ver Ezequiel 12:4-5). Para demonstrar o amor
de Deus cheio de perdão, Deus disse a Oseias que casasse com uma prostituta (ver Oseias 1:2). Há
muitos outros exemplos semelhantes a estes que poderiam ser aqui referidos.
Deste modo, podemos ver que uma das formas de podermos ser proféticos não é apenas
falando, entregando uma mensagem, mas demonstrando-a pelas nossas ações. Encarado sob esta
luz, o casamento cristão toma o caráter de uma bela mensagem profética.
Em primeiro lugar, o relacionamento pessoal entre um homem e a sua esposa demonstra o laço
de unidade que só um relacionamento de aliança pode produzir.
No entanto, há uma segunda mensagem ainda mais maravilhosa que um casamento
verdadeiramente cristão pode produzir. Em Efésios 5:25 Paulo diz:

“…Maridos, amai as vossas mulheres, como, também, Cristo amou a igreja, e a si


mesmo se entregou por ela.”

Um marido cristão tem o privilégio de demonstrar à sua esposa o mesmo tipo de amor
sacrificial e de auto-entrega que Cristo tem pela Sua Igreja. Por outro lado, em Efésios 5:24 Paulo

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afirma:

“De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim, também, as mulheres
sejam sujeitas, em tudo, aos seus maridos.”

Uma esposa cristã tem o privilégio correspondente de demonstrar no seu relacionamento com
o marido o mesmo tipo de amor reverente que a Igreja tem por Cristo, o seu Senhor.
A sociedade contemporânea não tem tempo para atitudes como estas, as quais provêm de uma
vida entregue. Por isso, torna-se ainda mais importante que os cristãos, na relação do seu
casamento, representem fielmente o relacionamento de amor entre Jesus e a Sua Igreja. Às vezes,
o testemunho da nossa vida pode ser mais eficiente do que as palavras que falamos. Tal como os
profetas do Antigo Testamento, podemos ser proféticos não só através das palavras, mas também
através das nossas ações.

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O Papel do Marido

No princípio da história humana Deus confiou a Adão, o primeiro marido, uma


responsabilidade específica:

“E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o


guardar” (Génesis 2:15)

O significado da palavra “guardar” é “proteger.” A palavra moderna em Hebraico para “o


guarda da noite” deriva desta raiz. Deus deu a Adão a responsabilidade de “guardar” o Jardim.
Guardá-lo de quê? Da entrada de “todo o animal do campo” (Génesis 2:20) que não pertencesse
ao Jardim.
Logo no capítulo seguinte é revelado que Adão não cumpriu a sua responsabilidade. A
serpente, que era um “animal do campo,” conseguiu entrar no Jardim.
Depois, Adão falhou a sua próxima obrigação: proteger a sua esposa do ataque maquiavélico
de satanás. As Escrituras não revelam onde se encontrava Adão nesse momento, mas é claro que
ele tinha deixado Eva sozinha.
Naquela altura, Eva juntou o seu pecado ao do seu marido. Começou a conversar com a
serpente, sucumbiu à mentira e comeu o fruto proibido. Ela também deu parte dele ao marido, e
este também comeu.
Este facto revela que os primeiros dois pecados da história humana foram pecados de omissão.
Adão falhou não no que fez, mas no que deixou de fazer.
Os pecados de omissão levam, depois, aos pecados de comissão. O terceiro pecado foi
cometido por Eva, que foi enganada pela serpente e comeu do fruto proibido. O primeiro pecado
do homem foi um pecado de omissão; ele foi negligente. Depois, o pecado de omissão de Adão
abriu o caminho para o pecado de comissão de Eva.
As pessoas têm a tendência de pensar que os pecados de omissão são menos sérios que os
pecados de comissão. Mas as Escrituras não os representam dessa forma. Em Mateus 25:31-46

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Jesus deixa-nos uma parábola profética em relação ao julgamento das nações de “ovelhas” e de
“bodes” no final dos tempos. Para as nações de bodes Ele profere um dos mais temíveis
julgamentos que já foram ouvidos:

“… Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e


seus anjos;” (Mateus 25:41)

O que é que aquelas nações fizeram para sofrerem um julgamento tão horrível? A resposta
pode ser dada com uma palavra: Nada. Não deram comida, não deram de beber, não deram roupas;
não mostraram compaixão. No entanto, devido a esses pecados de omissão foram condenadas ao
castigo eterno.
O fracasso duplo de Adão e Eva criou um padrão que tem sido repetido por todas as gerações
que lhes sucederam. O primeiro pecado caraterístico dos homens é um pecado de omissão, não de
comissão. Falham na sua responsabilidade - primeiro em relação às suas esposas, depois em
relação às suas famílias. O pecado caraterístico das mulheres é ultrapassar os limites da sua
autoridade e usurpar a função dos homens.
O agressivo movimento feminista é apenas o mais recente numa longa série de consequências
infelizes de fracassos contínuos tanto dos homens como das mulheres. É, porém, importante
observar, que o fracasso inicial dos homens abre o caminho para que as mulheres saiam da sua
posição e usurpem a função dos homens. O problema número um da civilização Ocidental, na
minha opinião, são homens negligentes, tal como o problema número um de filhos marginais é o
terem pais negligentes.
O fracasso de Adão e Eva desfigurou a perfeição do relacionamento que Deus tinha planeado
que tivessem um com outro. No entanto, o fracasso não pôs de lado o princípio básico sobre o qual
Deus tinha inicialmente querido alicerçar o relacionamento. Eu chamo a este relacionamento um
relacionamento de iniciativa e resposta. De acordo com este padrão, Adão, como marido, era
responsável por tomar a iniciativa, e Eva, como esposa, era responsável por responder.
Deixem-me ilustrar isto com um exemplo muito prático: o ato sexual. O homem pode ser lento
e não responder, enquanto que a mulher pode usar todas as suas artes femininas. Mas no final, a
menos que o homem tome a iniciativa, a relação sexual não terá lugar. (É por esta razão que muitas
feministas adotam um estilo de vida homossexual. Recusam depender da iniciativa masculina.).

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Eu creio que o Criador queria que este padrão fosse reproduzido em todas as áreas do
relacionamento entre os sexos: o papel do homem é de tomar a iniciativa e o da mulher o de
responder.
Na nossa cultura contemporânea há, porém, muitos outros aspetos do relacionamento entre os
sexos onde os princípios de iniciativa e resposta foram postos de lado. Os homens fracassaram na
sua responsabilidade básica e as mulheres tomaram como seu, o papel do homem. O que
inevitavelmente sucede, quer seja numa família, numa nação ou numa civilização, pode ser
abreviado numa só palavra: confusão.

As Responsabilidades do Marido
Quais são algumas das principais áreas em que o marido deve tomar a iniciativa? O Novo
Testamento sugere seis responsabilidades principais.

1. Amar a Esposa
Esta não é uma sugestão ou uma recomendação. É um mandamento, claramente enunciado em
Efésios 5:25: “Vós maridos, amai vossas mulheres, …” em termos simples, se não amar a sua
esposa, é desobediente às Escrituras.
O mesmo versículo também nos diz como amá-la: “…como, também, Cristo amou a igreja, e
a si mesmo se entregou por ela.” Notem que este não é um amor que recebe, mas um amor que dá
- um amor de auto-entrega. É o marido quem deve tomar a iniciativa de se entregar a si próprio à
sua esposa e pela sua esposa.
Muitos na nossa cultura contemporânea pensam que o amor é puramente emocional, mas isso
é uma imagem incompleta. O amor genuíno é liberado por um ato da vontade. No Salmo 18:1
David diz: “Eu te amarei, ó Senhor.” David tomou uma decisão. O seu amor pelo Senhor foi
liberado por um ato, da sua própria vontade.
Além disso, a palavra que David usa para amor está relacionada com a palavra hebraica que
pode ser traduzida por “entranhas” ou “ventre.” Era o que, na linguagem atual, podemos traduzir
como um “sentimento interior,” que incluía a vontade e as emoções de David. É este tipo de amor
que o marido deve ter pela sua esposa.
Nos tempos bíblicos a maior parte dos casamentos eram arranjados pelas famílias. A decisão
acerca da pessoa com quem se casava era tomada pelos pais. Ainda é assim em muitas partes do

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mundo de hoje. No entanto, o facto do casamento ser arranjado pela família não significava que
não haveria um amor caloroso e profundo entre o marido e a esposa. De facto, os países onde se
pratica o casamento arranjado pela família, têm uma percentagem mais elevada de casamentos
com sucesso do que os chamados países “livres” ocidentais, onde a taxa do divórcio se aproxima
muitas vezes dos cinquenta por cento.
Não estou a afirmar que defendo os casamentos arranjados pela família. Só quero realçar o
facto de que o sucesso do casamento não depende da forma como se casou, mas da forma como
um marido e uma mulher se comportam depois de se terem casado. Se os dois forem fiéis em
cumprir as suas respetivas responsabilidades, as quais lhes foram atribuídas pelas Escrituras, o
casamento terá sucesso e haverá amor genuíno entre os dois.

2. Receber informação
O marido deve dar sempre oportunidade a que a sua esposa fale livremente e deve ter a
sensibilidade para discernir o que ela está a pensar ou a sentir, mesmo quando ela não o consegue
dizer com palavras. Os seus sentimentos não exteriorizados com palavras são, muitas vezes, os
mais profundos e aqueles a que o marido deve dar mais atenção. O fracasso da comunicação entre
o marido e a esposa é provavelmente o factor mais comum que dá origem ao fim do casamento.
Um marido também precisa de se lembrar que a sua esposa tem a sua própria sabedoria
peculiar, a que se chama, muitas vezes, “intuição.” Ele pode chegar a uma conclusão através de
um processo laborioso de raciocínio, mas quando a comunica à sua esposa, pode ficar surpreendido
quando ela responde: “eu já sabía”

3. Tomar Decisões
Se houve comunicação livre e respeitosa entre o marido e a mulher, os dois já chegaram a um
lugar onde uma decisão prática precisa de ser tomada. Nesta altura é o marido que tem a
responsabilidade de tomar a decisão final. Em muitos casos, se tiver havido boa comunicação, a
esposa não tem qualquer problema em deixar o marido assumir essa responsabilidade.
4. Iniciar a Ação
Geralmente esta segue-se como consequência lógica do processo de tomada de decisão, mas
normalmente o marido é a pessoa responsável por pôr em prática a decisão.
O marido pode precisar de delegar à sua esposa muitas das tarefas práticas diárias, mas deve

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ter cuidado de assumir uma parte razoável das responsabilidades que devem ser partilhadas como
casal, especialmente se são pais. A divisão do trabalho pode até ser baseada, em parte, nos seus
respetivos dons espirituais. Por outro lado, a esposa deve poder contar com o apoio do seu marido
quando se encontrar perante uma crise que não seja capaz de resolver sozinha.

5. Sustentar e Acarinhar
Uma palavra deve descrever a atitude de todo o marido em relação à esposa: “especial.” Todo
o marido deve dizer a si próprio, “a minha mulher é especial. Não há ninguém como ela.” Por esta
razão ele deve relacionar-se com ela de forma diferente da que usa para se relacionar com outras
mulheres. Isto não se aplica meramente ao relacionamento sexual entre eles, mas deve aplicar-se
à maneira como ele pensa sobre ela, à maneira como fala com ela e como a trata. Em Efésios 5:28-
29 Paulo diz que um homem deve amar e acarinhar a sua esposa de uma maneira particularmente
pessoal:
“Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios
corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a
sua própria carne; antes a alimenta e sustenta (apoia e acarinha*), como também o
Senhor à igreja.”

As palavras “alimentar e sustentar” ou ‘apoiar e acarinhar’ sugerem uma atitude de


preocupação profunda onde se inclui a atenção para aquilo que podem parecer pequenos detalhes.
Um marido deve dar atenção à saúde da sua esposa, à sua aparência, à forma como ela se penteia,
ao perfume que ela usa. Tudo o que a ela diz respeito, deve ter a atenção dele. Ela deve ter sempre
a confiança de que para o seu marido é a pessoa mais importante do mundo.
Deixem-me assegurar-vos, maridos: se semearem isto na vida das vossas esposas terão uma
colheita abundante!

6. Elogiar
A última parte do capítulo final de Provérbios descreve e exalta o caráter da esposa “virtuosa”
ou excelente. Enumera todas as suas ações e termina com palavras de louvor:

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“Levantam-se seus filhos e chamam-na bem-aventurada; seu marido também, e ele
a louva. Muitas filhas têm procedido virtuosamente; mas tu és, de todas a mais
excelente!” (Provérbios 31:28-29)

Alguns maridos são avarentos com os seus elogios. Isso é uma economia falsa! Ficariam
surpreendidos ao descobrir como a esposa anseia por ser elogiada, e como responde aos elogios.
Elogiar a esposa é um dos melhores investimentos que um marido pode fazer.
Se um homem tem uma esposa fiel e atenciosa não há forma nenhuma de ele lhe poder pagar
em dinheiro o seu devido valor. Tal como Salomão diz nesta passagem: “O seu valor muito excede
ao de rubis” (vs. 10). O mínimo que um marido pode oferecer à sua esposa são os seus mais
sentidos elogios, vindos do fundo do coração.

Um Desafio Final
Alguém perguntou, certa vez, a um obreiro experiente sobre uma certa pessoa: “Ele é um bom
cristão?” O obreiro respondeu, “Não sei; Não lhe posso responder, ainda não conheci a esposa
dele.” Foi uma resposta muito sábia. O sucesso de um homem pode ser visto na sua esposa.
Porque é que não aplica este teste a si próprio como marido? Talvez precise de dar menos
atenção a si próprio e prestar mais atenção à sua esposa. Faça as seguintes perguntas tanto a si
mesmo—como a ela—para poder avaliar como está a desempenhar o seu papel de marido:

• Ela está segura e realizada?


• Sinto-me orgulhoso dela?

Se as respostas forem positivas, pode ter a certeza de que é um marido de sucesso.


No entanto, se há áreas óbvias na personalidade da sua esposa que estejam incompletas, se ela
mostrar sinais de pressão ou de insegurança, precisa de verificar o seu desempenho como marido.
Talvez fosse melhor ler de novo a lista anterior sobre as suas responsabilidades como marido.
Então, se achar que tem sido negligente, arrependa-se perante o Senhor e peça-Lhe a graça que
precisa para um melhor desempenho.

* nota do tradutor

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4

O Papel da Esposa

O tema principal deste livro são os maridos, mas qualquer descrição do papel do marido ficaria
incompleta sem pelo menos uma curta descrição do papel da esposa. Um casamento só funciona
muito bem quando cada um dos elementos do casal desempenha o seu papel bíblico. Assim, vamos
ver o que a Bíblia tem a dizer sobre a esposa.

1. Ela é uma Ajudadora

“E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma
adjudadora idônea para ele.” (Génesis 2:18)

Também poderíamos traduzir deste modo, “vou fazer-lhe uma ajudadora que o complete,” o
que parece implicar que um homem sem a sua esposa é incompleto. As palavras do Hebraico são
difíceis de traduzir, mas vamos concentrar-nos no ponto principal: Deus destinou a mulher a ser
uma ajudadora.
Muitas mulheres, hoje em dia, pensam, “Se sou ajudadora, sou inferior.” Isso é um erro. No
corpo de Cristo ninguém é superior ou inferior. Cada um de nós é destinado a um lugar e a uma
função. Deus requer de nós que sejamos fiéis no lugar e na função particular que Ele nos destinou.
Em João 14:16,17 Jesus fala da provisão que Ele fará para os Seus discípulos depois de os
deixar:

“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, … o Espírito da verdade”


(ARIB, com ênfase)

Então Jesus descreve o Espírito Santo como outro Ajudador. Isso significa que o Espírito Santo
é inferior? Muito pelo contrário! Ele é Deus!

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Da mesma maneira, uma esposa que cumpra o seu papel designado por Deus como ajudadora,
baseado nisso, não é, de forma alguma, inferior. Eu agradeço a Deus que cada uma das minhas
esposas foi para mim uma ajudadora maravilhosa. Nunca poderia ter chegado a este ponto sem ter
tido a Lydia, a minha primeira esposa, ou Rute, a minha segunda esposa.

2. Ela Submete-se ao Seu Marido


Este conceito tem sido assunto de controvérsia nestes últimos anos, mas o apóstolo Paulo
afirma-o claramente em Efésios 5:22:

“Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor.”

Grande parte desta controvérsia deve-se ao facto de este versículo ter sido retirado do seu
contexto bíblico. O versículo anterior é dirigido a todos os cristãos: “Sujeitando-vos uns aos outros
no temor de Deus.” Este é o primeiro gesto de submissão dentro do Corpo de Cristo - todos os
cristãos uns aos outros. Esta deveria ser a marca para distinguir os cristãos: uma atitude humilde e
mansa em relação aos nossos irmãos.
Dentro deste contexto de submissão mútua, a esposa recebe um privilégio único e especial:
através da sua atitude em relação ao seu marido, ela representa a atitude da Igreja para com Cristo.
Encarada sob este ponto de vista, a submissão não é um dever imposto à esposa, mas um privilégio
que lhe é atribuído.
Tanto Pedro, que era casado, como Paulo, que não o era, começaram o seu ensinamento sobre
ordem no lar pela responsabilidade da esposa se submeter ao seu marido. Há para isso uma razão
muito prática: Se a esposa não cumprir a sua responsabilidade, é quase impossível que o marido
cumpra a dele. A esposa tem a chave para abrir a porta à realização pessoal do seu marido no papel
de chefe da família ou para a fechar sobre ele. Se a esposa não se submeter voluntariamente à
liderança do seu marido, só haverá uma forma de ele poder assumir a sua posição - através do
domínio auto-imposto. Nenhuma esposa sensata iria querer isso!
O que acontece se a esposa escolher não se submeter e o seu marido decidir não ser o cabeça,
o chefe da família? Tal família fica espiritualmente desprotegida. É como um
barco num mar tempestuoso sem o capitão ao leme. Está destinado a sofrer um naufrágio.

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As famílias desprotegidas da nossa cultura atual são a causa primária para a instabilidade social
e a desordem que experimentamos. Só há uma única solução verdadeiramente eficaz: restaurar a
ordem divina para as nossas famílias.
A minha primeira esposa era consideravelmente mais velha do que eu quando casámos. Sendo
já uma missionária experiente, ela tinha tido sucesso num campo de ministério muito difícil. Ela
tinha uma educação sólida e era uma oradora talentosa. Se tivesse querido dominar-me
provavelmente não teria encontrado qualquer impedimento! Mas, ela própria permitiu que este
jovem inexperiente entrasse e fosse o chefe da família.
Ela deve ter-se preocupado imenso com algumas das coisas que fiz! Lembrem-se que eu não
tinho irmãos nem irmãs, e, de repente, vi-me chefe de uma família de oito meninas. Isso envolveu
algum sofrimento por parte de todos nós!
Se Lydia tivesse continuado na sua posição de chefe do trabalho, eu teria ficado a ser conhecido
como “o marido de Lydia.” Mas, graças a Deus, ela deixou-me ocupar o meu lugar.

3. Ela Apoia ou Incentiva


Deus criou o corpo humano de uma forma que a cabeça não se pode sustentar sozinha. Se o
homem é o cabeça do lar, é o corpo que o sustém de pé. E a responsável principal é a esposa.
Nós, os homens, somos seres fracos em muitos aspetos. Precisamos de apoio! Podemos
evidenciar uma aparência exterior machista e de estarmos seguros de nós, mas por dentro somos
muitas vezes como ratinhos. Uma esposa espiritual pode ver as fraquezas do seu marido, mas não
se concentrar nelas. Em vez disso ela irá apoiá-lo e incentivá-lo, com sabedoria e tato, enquanto
ele luta para vencer essas fraquezas.

4. Ela Encoraja
Não há nada mais doloroso do que uma esposa que desencoraja o seu marido. Imaginem um
pregador que acabou de fazer um sermão fraco e teve de encarar a resposta desapontadora da sua
congregação. Se a caminho de casa a esposa lhe disser, “Que pregação horrível!” ele vai sentir-se
tão pequeno, e um trapo! Mas, se a esposa disser, “Já fizeste pregações melhores, mas mesmo
assim eu gostei,” ele vai começar a pensar, “Bem, talvez haja esperança. Talvez um dia eu venha
a conseguir.”

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Já realcei que um dos títulos do Espírito Santo é “o Ajudador,” mas também poderia ser
descrito como “o Encorajador.” Quando uma esposa encoraja o seu marido, nessa ocasião, ela está
a cumprir o papel do Espírito Santo.

5. Ela Intercede Pelo Seu Marido


Por vezes, as esposas caem na armadilha de passar tanto tempo preocupadas com os maridos,
a criticá-los ou a apontar os seus defeitos, que falham em orarem por eles. Uma esposa de joelhos,
agradecendo a Deus pelo seu marido, será aquela que colherá os benefícios.
Rute e eu, a certa altura, conhecemos dois casais que estavam a ter problemas nos seus
casamentos. Em qualquer um dos casos, havia fraquezas e problemas sérios na vida do marido no
casal. As duas esposas, concordaram em encontrar-se todas as manhãs para intercederem pelos
seus maridos. Fizeram isso fielmente durante alguns anos. Hoje, cada um desses maridos é um
sucesso, um está no ministério cristão o outro no mundo secular. Esses homens nunca se teriam
transformado no que são sem a intercessão persistente e fiel das suas esposas.
Interceder produz dividendos melhores do que criticar ou ser queixosa.

O Meu Tributo a Rute


Enquanto estava a escrever este livro, Deus chamou para Si a minha esposa Rute. Durante
vinte anos ela e eu disfrutámos de um casamento feliz, frutuoso e bem-sucedido. Houve, certas
razões para isso.
Primeiro, éramos os dois cristãos comprometidos. Para cada um de nós, o objetivo principal
era servir e glorificar o Senhor Jesus Cristo.
Em segundo lugar, acreditávamos os dois que o facto de estarmos unidos como marido e
mulher tinha sido o plano de Deus.
Em terceiro lugar, estávamos convencidos que o padrão de casamento do Novo Testamento
ainda é válido para os dias de hoje. Nós nunca procuramos descartar as suas exigências como
sendo meramente “culturais” ou “para outra era”.
Em quarto lugar, Rute não era egocêntrica. Ela era uma mulher talentosa, com capacidade, que
poderia ter tido sucesso por direito próprio. No entanto, ela acreditava que Deus lhe tinha atribuído
o papel de, por todas as formas possíveis me auxiliar a conseguir realizar o ministério que Deus
me tinha destinado. Ela era ciosa, não do seu próprio sucesso, mas sim, do meu.

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Devo, no entanto, acrescentar, que o compromisso que Rute tinha comigo e com o meu
ministério nunca a tornou numa mulher servil ou aduladora. Quando ela pensava que eu estava a
fazer qualquer coisa errada ou estava em risco de a fazer ela avisava-me com toda a franqueza.
Assegurava-se particularmente de que eu me vestia da forma que ela considerava apropriada para
o tipo de ministério que Deus me tinha dado. Se achava que eu não tinha sido cuidadoso com a
minha aparência ou vestuário, dizia-me, “Até pareces um homem que não tem uma esposa.”
Durante os nossos vinte anos de casamento, o meu ministério expandiu-se de uma forma
incrível. Quando nos casámos, eu viajava como professor da Bíblia e tinha publicado alguns livros,
tendo acesso a um círculo muito limitado de pessoas no Corpo de Cristo. Quando o Senhor chamou
Rute para Si, os “Derek Prince Ministries” já causavam um impacto global. O meu ministério de
ensino bíblico na rádio, que tinha começado no ano antes de eu e Rute casarmos, já estava a ser
traduzido para pelo menos uma dúzia de línguas, incluindo o Russo, o Árabe e quatro dialetos de
Chinês. Eu tinha publicado pelo menos mais vinte livros, porções dos quais tinham sido traduzidas
em pelo menos sessenta línguas. Rute e eu tínhamos dirigido reuniões em todos os continentes,
com exceção da Antártica. Juntos fizemos quatro viagens à volta do mundo com o ministério. Hoje
há escritórios dos “Derek Prince Ministries” em pelo menos trinta países do mundo.
O meu objetivo ao afirmar tudo isto, além de prestar um breve tributo à memória de Rute, é
realçar um facto sem controvérsia: Nada poderia ter acontecido sem o apoio altruísta,
incondicional e completo de Rute.
Quase todos os dias eu lhe dizia duas coisas: “Tu és a minha amada” e “Acho que tu és
maravilhosa!” É isso que sinto até hoje.
Quando os galardões forem entregues na Glória, Rute irá merecer a sua parte. Eu mal posso
esperar para lá estar a ver!
Nesta altura, provavelmente já deve estar a pensar que, se Derek e Rute puderam desfrutar de
um casamento tão feliz e frutuoso, porque será que tão poucos outros casamentos parecem atingir
este tipo de sucesso.
Bem, uma das razões comuns é que muitos casais não incluíram no seu casamento um
ingrediente essencial. Este é o tema do próximo capítulo.

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O Ingrediente que Falta

Um bem conhecido obreiro evangélico e a sua esposa estavam a falar comigo abertamente
sobre alguns dos problemas que tinham experimentado ao lutarem pelo seu casamento. A certa
altura, a esposa estava a recordar como as tensões interiores deles tinham explodido um dia numa
acesa discussão no quarto.
O marido tinha estado a realçar - tal como os maridos fazem com frequência - o mandamento
bíblico para as esposas serem submissas aos seus maridos. A esposa tinha apontado - tal como as
esposas fazem com frequência - que ela não via porque deveria submeter-se a ele. “Afinal,” disse-
lhe ela, “Tu não tens um bom histórico. Já tomaste algumas decisões bastante estúpidas!”
Naquela altura perceberam os dois que não estavam a agir como cristãos. Espontaneamente
caíram de joelhos de cada um dos lados da cama e começaram a orar.
“Quando fizemos aquilo,” recordou a esposa, “foi como se um vento frio passasse pelo nosso
quarto e imprimisse no nosso coração a frase de Efésios 5:21, “Sujeitai-vos uns aos outros no
temor de Deus.” (com ênfase). Reconhecemos os dois que o nosso relacionamento um com o outro
tinha falta de uma coisa - o temor de Deus. Tínhamos estado a agir como se a nossa relação fosse
só a nível humano e tínhamos deixado Deus de fora.”
Quando se aperceberam desse facto, ambos se arrependeram das suas falhas, pediram perdão
a Deus e também um ao outro. Foi esse o princípio de um novo relacionamento entre eles—um
relacionamento onde cada um deles aceitava a posição especifica que Deus lhe tinha atribuído no
seu relacionamento.
Aquela cena no quarto, que tinha sido tão vividamente descrita pela esposa, voltava à minha
memória com frequência. Gradualmente comecei a encará-la como um diagnóstico que explicava
porque é que muitos casamentos entre cristãos nunca atingem o padrão descrito com clareza no
Novo Testamento. Eles estão deixando de fora um ingrediente essencial: o temor de Deus.
Tanto Lydia como Rute eram excelentes cozinheiras - louvo a Deus por isso! Ambas
colecionavam receitas de culinária. Dessa forma eu cheguei à conclusão que na preparação de um
bolo ou uma tarte, toda a receita, muitas vezes, depende de um único ingrediente para lhe dar sabor.

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Apesar de todos os outros ingredientes lá estarem combinados na proporção correta, sem aquele
ingrediente-chave o bolo ou a tarte nunca terá o sabor esperado.
Há duas versões para o bolo de Natal, por exemplo - uma americana, outra inglesa. Na versão
inglesa o elemento essencial que a distingue é o massapão, uma pasta de amêndoa doce, enquanto
que a versão americana do bolo de Natal é confecionada sem massapão. Para mim, um bolo sem
massapão não é um bolo de Natal. É o massapão que faz a diferença.
Como é que isto se aplica a um casamento cristão? Bem, o “massapão” é o temor de Deus.
Sem esse ingrediente essencial o casamento ficará ao mesmo nível dos casamentos entre os
descrentes. Nunca poderá atingir os objetivos de Deus para o casamento. Terá falta do sabor
especial que deveria distingui-lo dos casamentos entre descrentes.

Respeito, Reverência e Admiração


Infelizmente muitos cristãos do mundo de hoje têm um conceito errado do significado bíblico
do temor de Deus. Encaram-no como ideia antiquada que pertence somente ao Antigo Testamento
e que não tem lugar no Novo Testamento cristão. Não podem estar mais longe da verdade!
Realmente, o temor de Deus ocupa um lugar ainda mais elevado e prioritário nos requisitos do
nosso caráter no Novo Testamento do que aquele que ocupava no Antigo Testamento.
Portanto, precisamos de perguntar a nós próprios o que é que a Bíblia quer dizer com a
expressão “o temor de Deus”? Há três palavras que se relacionam com temor: respeito, reverência
e admiração. Temer a Deus não é uma atitude escravizante e servil. É antes, a resposta apropriada
que o ser criado tem pelo seu Criador - pela Sua omnipotência, a Sua majestade, a Sua glória e a
Sua santidade.
No Salmo 19:9 David diz:

“O temor do Senhor é limpo e permanece eternamente.” (com ênfase)

O temor do Senhor nunca se tornará algo ultrapassado. É absolutamente


puro e purificador - uma coisa que, em qualquer época, Deus procura no Seu povo.
Em Isaías 11:2 o profeta predisse a setúpla unção do Espírito Santo que devia marcar Jesus
como o Messias prometido, o Ungido. Os sete aspetos diferentes da unção são:

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• Espírito do Senhor (O Espírito que fala na primeira pessoa como Deus),
• Espírito de sabedoria,
• Espírito de entendimento,
• Espírito do conselho,
• Espírito da fortaleza,
• Espírito do conhecimento, e finalmente (a coroar a lista)
• Espírito do temor a Deus.

Poderíamos ter assumido que não haveria lugar para o temor a Deus da parte de Jesus, o Filho
amado de Deus. No entanto, Isaías 11:2 revela que o temor a Deus é o selo final marcando Jesus
como sendo o verdadeiro Messias e o Filho de Deus. Se Jesus foi marcado, desta forma, pelo temor
a Deus, como é que nós, seus discípulos podemos sentir que tal temor não tem lugar em nós?

Reconhecendo o Preço da Nossa Redenção


Os cristãos algumas vezes adoptam a atitude de que pelo facto de Deus, pelo Seu amor, nos ter
recebido e feito de nós Seus filhos, que nas nossas vidas não há lugar para o temor a Deus. A
realidade é o oposto. É o próprio facto de Deus nos ter redimido pelo preço incalculável do sangue
precioso do Seu Filho que deve inspirar em nós o sentimento de responsabilidade para vivermos
vidas que Lhe dêem a glória que Lhe é devida:
Em I Pedro 1:17-19, o apóstolo declara que o preço pago pela nossa redenção deve inspirar em
nós o temor santo de não querer falhar para que vivermos vidas que dão a Deus a glória que Lhe é
devida:

“E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra
de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação,
Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados
da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais,
Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e
incontaminado,”

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Longe de sugerir que a nossa redenção não deixa lugar para o temor a Deus na nossa vida,
Pedro realça que essa é a nossa única resposta apropriada!
Ao procurar ter a perspetiva do impacto que o temor ao Senhor deve ter na minha vida,
imagino-me de pé no alto de um precipício íngreme, olhando para um vale rochoso que se estende
a centenas de metros abaixo de mim. Há uma vedação que me mantém longe da borda do
precipício. Essa vedação é para mim a imagem dos avisos bíblicos e dos seus mandamentos para
viver uma vida santa. Depois, pergunto a mim próprio, suponhamos que eu fosse presunçoso
saltasse a vedação e fosse admirar o vale mesmo perto da borda do penhasco? A partir daí, só um
passo me separaria do desastre final e irreversível!
Ao remoer esta ideia na cabeça, os músculos do meu estômago começam a contrair-se
involuntariamente e um arrepio frio atravessa-me a espinha. Lembro-me também das palavras de
aviso escritas para os cristãos hebreus:

“Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hebreus 10:31)

Esta atitude de admiração reverente deve governar não só a nossa atitude para com o próprio
Deus, mas também para com a Sua Palavra, as Escrituras. Em Isaías 66:2 o Senhor diz:

“… A este eu estimo: ao humilde e contrito de espírito, que treme diante da minha


palavra.” (NVI)

Porquê deveriamos tremer perante a Palavra de Deus? Devido ao facto de ser essa a via pela
qual tanto Deus Pai como Deus Filho entram na nossa vida. Em João 14:23 Jesus diz:

“Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos [o
Pai e o Filho] para ele, e faremos nele morada.”

A nossa atitude em relação às Escrituras revela o quanto amamos Jesus e abre o caminho para
que Deus em toda a Sua plenitude possa entrar na nossa vida. Ao lermos, ou ao ouvirmos a Bíblia,
a nossa atitude deve ser a mesma que teríamos se Deus Pai ou Deus Filho estivesse em pessoa
diante de nós.

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A Chave para a Alegria e para Produzir Fruto
Esta atitude de temor reverente por Deus e pela Sua Palavra, ao contrário do que pudéssemos
esperar, é a chave para se experimentar o tipo de alegria que só Deus pode proporcionar. No Salmo
2:11 o salmista incita-nos “Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor.”
Observamos aqui um equilíbrio maravilhoso. Alegramo-nos na misericórdia de Deus e ao
mesmo tempo trememos perante a grandiosidade dEle.
Este equilíbrio entre o temor e o encorajamento foi reproduzido na Igreja do Novo Testamento.
Em Atos 9:31 lemos sobre a Igreja em toda a Judeia, Galileia e Samaria:

“…e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito


Santo.”

Para uma mente natural esta combinação parece muito estranha - o temor do Senhor e a
consolação do Espírito Santo. Como é que o temor e a consolação se encaixam? No entanto, esta
combinação era a chave para o crescimento explosivo da Igreja do Novo Testamento.
Provavelmente a esta altura já se está interrogando o que tudo isso, relativo ao temor do Senhor,
tem a ver com o relacionamento entre maridos e esposas? Posso responder com uma palavra
simples: tudo! Na minha experiência de um lar cristão e pela minha experiência de aconselhar
muitos cristãos com problemas no seu casamento, cheguei a uma conclusão muito simples: sem o
temor do Senhor tanto no marido como na esposa, um casamento cristão nunca se pode tornar o
que Deus pretende que ele seja.
Este é o ingrediente de que depende todo o sabor do bolo. Tanto o marido como a esposa
podem dizer as coisas certas, tomar todas as decisões corretas e até ir às melhores sessões de
aconselhamento, mas sem o temor do Senhor como força ativa na vida dos dois, o seu casamento
nunca se tornará o que Deus pretende que seja.
Só há uma única base segura para este tipo de atitude tanto no marido como na esposa. Afinal
tudo depende do nosso relacionamento pessoal com o Senhor Jesus. Ele, graciosamente, convida-
nos a ter um relacionamento íntimo Consigo, mas nunca à custa da nossa falta de consciência de
que Ele é a própria revelação do Deus Pai majestoso e merecedor de toda a reverência e temor. Ele
é o nosso Salvador mas também o nosso Juíz a quem teremos um dia de prestar contas. No Novo

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Testamento este facto é vivamente ilustrado pelos seus dois discípulos mais chegados, João e
Paulo.
Na Última Ceia João estava tão perto de Jesus que pôde encostar-se ao Seu peito e sussurrar
ao Seu ouvido. Mais tarde, porém, quando João foi confrontado com a visão do Cristo de Deus
glorioso e ascenso, ele disse: “…caí aos seus pés como morto.” (Apocalipse 1:17)
Posteriormente, também Paulo desfrutando de uma comunhão íntima com o Senhor, nunca
perdeu a consciência de que um dia, tal como qualquer outro cristão, prestaria contas a Cristo da
sua vida, o Qual então estaria sentado no Seu trono do Julgamento. Neste contexto Paulo escreveu
em II Coríntios 5:10-11:

“Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um
receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.
Assim que, sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens à fé…”

Foi a consciência de Paulo sobre a majestade poderosa de Cristo que tornou a sua mensagem
tão persuasiva.
Quando um homem regula o seu relacionamento com a sua esposa pelo envolvente temor a
Deus, e quando a esposa responde no mesmo espírito, então o casamento irá cumprir o plano de
Deus descrito nas Escrituras. Cada um reconhecerá a tremenda responsabilidade que tem. O
marido pela sua conduta em relação à esposa será a imagem da atitude que Cristo tem em relação
à Sua Noiva, a Igreja. Por seu lado, a esposa terá como objetivo responder ao seu marido como a
Igreja responde a Cristo, o Noivo. Claro que haverá falhas e defeitos de ambos os lados. Mas eles
serão resolvidos à medida que cada um se arrepender e procurar o perdão do outro.
Tal como a brisa fresca no fim de um dia poeirento e abafado, o temor do Senhor irá temperar
e dispersar as várias frustrações e desarmonias inevitáveis em qualquer casamento. Tanto o marido
como a esposa irão encontrar a realização pessoal nos papéis que Deus lhes destinou e irão juntar-
se no tipo de harmonia que Deus tinha em mente quando disse:

“E os dois serão uma só carne.”

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6

A Autoridade Espiritual
de um Casamento Harmonioso

Uma das bênçãos mais doces que Deus tem para nos oferecer deste lado do Céu é a de um
homem e a sua esposa vivendo juntos em verdadeira harmonia. No entanto, o casamento é mais
do que isso. É a porta para o reino da autoridade espiritual que poucos cristãos conseguem atingir.
Já vimos o propósito que Deus tinha ao criar uma esposa para Adão. Agora, iremos ainda mais
atrás e ver qual era o propósito original de Deus ao criar o homem / a humanidade:

“E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher
os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a
terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre
todo o animal que se move sobre a terra.” (Génesis 1:27-28)

Deus não deu o domínio da terra só a Adão. Ele estava a falar tanto com Adão como com Eva.
Era sua intenção que o homem e a mulher governassem juntos a terra por Ele.
Quero dizer-lhe que um dos elementos mais fortes na guerra espiritual e no exercício da
autoridade é um casal casado em harmonia e unidade. Essa ainda é a forma de Deus exercer o
domínio. Não o homem sozinho, ou a mulher sozinha, mas o homem e a mulher unidos de acordo
com o padrão de Deus para o casamento. Eles têm o privilégio de exercer o domínio por Deus.
Entendemos a importância vital disso quando percebemos que, como cristãos, somos
apanhados numa luta de vida ou morte contra as forças malignas invisíveis que procuram destruir-
nos. Paulo descreve este conflito em Efésios 6:12:

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os
principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra
as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.”

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Então, em Efésios 6:18, Paulo revela que a nossa batalha é na arena da oração: “orando em
todo o tempo, com toda a oração e súplica no Espírito.” É nesta arena que um casal casado pode
tornar-se invencível — ao preencherem uma condição vital.

A Oração de Concordância
Em Mateus 18:18-20 Jesus explica como nós, cristãos, podemos tornar-nos irresistíveis na
nossa vida de oração:

“Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o
que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós
concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por
meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome,
aí estou eu no meio deles.”

O número mínimo para a concordância em tal oração é de dois ou três. Com esse mínimo
básico, o que quer que liguemos ou desliguemos na terra, será também ligado ou desligado no céu.
Realmente, o sentido deste verbo grego é “terá sido ligado” ou “terá sido desligado”. Assim,
poderíamos dizer que o que quer que nós liguemos ou desliguemos na terra “terá sido ligado ou
desligado no céu.”
Isto é entusiasmante porque significa que o que dizemos na terra determina o que acontece no
céu! Podemos pensar que estamos esperando que Deus se mova, o que é muitas vezes verdadeiro,
mas há alturas em que Deus espera que nós nos movamos. De certa forma a iniciativa é nossa, aqui
na terra. Se preenchermos as condições, então tudo o que declararmos na terra vai ser tão eficiente
como um decreto feito no céu. Se dissermos, em relação a qualquer coisa na terra, “está ligada,”
então nesse mesmo momento estará ligada no céu. Ou se dissermos na terra “está desligado,” então
nesse mesmo momento estará desligado no céu.
Suponhamos, por exemplo, que um casal cristão crê que Deus o está a chamar para O servir
num país que esteja fechado ao evangelho e a qualquer tipo de ministério cristão. Todos os seus
pedidos para vistos de entrada são recusados, sem nenhuma indicação que poderão voltar a fazer
o pedido mais tarde.
Então, o Espírito Santo dirige-os para o texto onde Jesus é retratado como sendo o Único “…

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que tem a chave de David; o que abre e ninguém fecha; e fecha e ninguém abre” (Apocalipse 3:7).
Eles comprometem-se a orar juntos em concordância, para “ligar” as forças espirituais que se
opõem ao testemunho cristão no país do seu chamado e “soltar/desligar” os vistos de que precisam.
Nos meses seguintes, cada um deles passa por um processo de morte do seu “eu.” O marido
recusa uma promoção atraente no emprego porque isso iria significar um compromisso que
impossibilitaria as viagens para fora do país. A esposa concorda em mudar-se para uma casa mais
pequena e menos conveniente de forma a poderem poupar dinheiro para as despesas da mudança
para o país para onde sentem estar a ser chamados. Depois de muitos meses longos, toda a
esperança de responder ao chamado de Deus parece estar perdida, mas tal como Abraão, “o qual,
em esperança, creu, contra a esperança …” (Romanos 4:18), eles continuam a orar.
Então, de repente, o marido recebe uma oferta de emprego para administrar uma empresa
naquele mesmo país para onde Deus os chamou! A porta que estava fechada para ele como obreiro
cristão foi amplamente aberta como representante de uma empresa que pode influenciar a
economia do país do seu chamado.
Esta história, apesar de ser uma mistura de experiências de mais de um casal cristão, ilustra a
eficácia da oração de concordância.
Mas primeiro, claro, temos que preencher as condições. Estas têm dois aspetos:
Em primeiro lugar o nosso foco deve estar no próprio Jesus. Em Mateus 18:20 o texto grego
diz literalmente, “Onde estiverem dois ou três reunidos no/dentro do meu nome…” O próprio Jesus
deve ser o nosso foco. A base para a nossa unidade não pode ser apenas a doutrina ou a
denominação. Deve ser a Pessoa e a obra do próprio Jesus.
A palavra grega que traduz “concordarem” em Mateus 18:19 é ‘sumphoneo’, de onde vem a
palavra ‘sinfonia’. Jesus não estava a falar de um acordo intelectual ou doutrinário. Ele tinha em
mente algo mais profundo e elevado: a harmonia espiritual. Isso requer que duas ou mais pessoas
sejam tão unidas em espírito que pensem e falem e orem como uma pessoa só.
Como já vimos, são incríveis as promessas que Jesus oferece a dois ou mais que possam atingir
este tipo de harmonia:

“tudo o que ligardes na terra será ligado no céu.” Também, “vos digo que, se dois de vós
concordarem na terra, acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que
está nos céus.”

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Estas são promessas realmente maravilhosas e significam que, tal como eu disse, tudo o que
nós dizemos na terra realmente determina o que acontece no céu.
Pode até perguntar, “Como é que isso pode ser verdade?” Deixe-me explicar-lhe o que eu
compreendo disto. A única Pessoa que pode unir duas pessoas em perfeita harmonia é o Espírito
Santo, e Ele pode fazer isso só aos que realmente confiarem n’Ele. O facto de que dois possam
atingir tal harmonia é, portanto, a prova que estão a depender completamente do Espírito Santo.
Isso significa que estão a orar não só em harmonia um com o outro, mas também com Deus. Nessa
base, Deus compromete-Se a ouvir e a responder às suas orações.
Não é fácil atingir harmonia verdadeira. Todos sabemos como é doloroso ouvir cantar dois
cantores que estão quase - mas não exatamente - em harmonia um com o outro. O som que
produzem faz doer os ouvidos, incomoda. E então os casais que estão quase - mas não exatamente
- em harmonia quando oram? Que som será que produzem aos ouvidos de Deus? Deus suporta
pacientemente essas orações, mas não se compromete a responder-lhes.
A chave para a autoridade espiritual na oração é harmonia entre os que oram. Pode haver mais
de duas pessoas, ou podem ser dois crentes que não sejam casados. No entanto, orarem juntos em
harmonia é um desafio que se apresenta de forma única a casais cristãos.
Numa altura em que Rute e eu estávamos sob grande pressão, um querido irmão mais velho -
um servo de Deus mais amadurecido - nos disse, “Estou convencido que a chave para o sucesso
do vosso ministério é a vossa harmonia. Não permitam que nada a perturbe!”
Nunca é fácil atingir tal harmonia. Há um preço a pagar. A harmonia só pode vir àquele que
estiver pronto a colocar a sua vida à disposição de Deus e do outro.
A velha natureza carnal nunca pode atingir tal harmonia, nem mesmo com ela própria. Só há
um remédio: essa natureza tem que morrer. Graças a Deus, essa morte já teve lugar há cerca de
dois mil anos quando Jesus morreu na cruz! “…o nosso homem velho foi com Ele crucificado,”
escreveu Paulo em Romanos 6:6. “Assim,” continua ele no versículo 11, “… também, vós,
considerai-vos certamente mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso
Senhor.”
A Decisão é Sua
A necessidade da morte da natureza carnal faz com que cada um de nós enfrente uma decisão
pessoal: estou pronto a morrer para mim próprio? Estou pronto a chegar ao lugar onde possa
verdadeiramente aplicar a mim próprio as palavras de Paulo em Gálatas 2:20?

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“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a
vida que agora vivo, na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e Se
entregou a Si mesmo por mim.”

Encarada desta forma, a cruz torna-se a porta que possibilita uma vida de verdadeira harmonia
entre marido e mulher. Afinal de contas, o Cristo que vive no marido nunca irá ficar fora de
harmonia com o Cristo que vive na sua esposa.
Além disso, a cruz abre o caminho para uma esfera de autoridade espiritual na oração que de
outra forma seria impossível:

“Também vos digo que, se dois de vós concordarem [se harmonizarem] na terra,
acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que está nos
céus.”

Deus nunca irá rejeitar uma oração que é feita em perfeita harmonia.
Mas existe apenas uma porta para esse tipo de harmonia, quer seja para um casal casado, quer
para qualquer outro relacionamento pessoal. Essa porta é a cruz!

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Parte 3

Pais

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7

A Revelação Irrevogável de Deus

O facto que está por detrás de todos os outros factos é Deus ter criado o universo como Pai.
Ele deixou a Sua marca de Pai em todos os aspetos da criação.
O apóstolo Paulo escreveu:

“Por causa disto, me ponho de joelhos perante o Pai do nosso Senhor Jesus Cristo,
do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome.” (Efésios 3:14-15)

A palavra aqui traduzida por “família” é ‘patria’, que deriva de ‘pater’, a palavra para ‘pai’
em Grego. Assim, a tradução mais direta seria: “me ponho de joelhos perante o Pai, de quem toda
a paternidade nos céus e na terra toma o nome.”
Que facto tão notável! Toda a paternidade do universo não começou na terra, ou no tempo ou
história humana. Começou no céu. Podemos traçá-la até à Paternidade de Deus.
Eternamente Deus é o Pai do nosso Senhor Jesus Cristo; Ele é descrito como tal em muitas
passagens da Bíblia. O relacionamento íntimo e pessoal entre o Pai e o Filho já existia antes da
criação se iniciar.
João 1:1 diz:

“No princípio [antes de tudo] era o Verbo [Jesus], e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus.”

Este facto revela uma coisa única e especial acerca da natureza de Deus. Em Deus não há só
Paternidade, também há relacionamento.
Em I João 4:16 revela-se outro facto sobre a natureza eterna de Deus: “Deus é amor.” Se
pusermos este facto junto com o da Sua Paternidade, chegamos a uma conclusão magnífica: Deus
como Pai criou o universo por amor. De inúmeras maneiras o universo que Ele criou é a
expressão e a obra do Seu amor Paternal.

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Toda a Criação Responde ao Pai
Tudo o que Deus criou responde de forma pessoal e apropriada ao Seu amor. Os corpos celestes
movem-se em harmonia com o Criador:

“Designou a lua para as estações: o sol conhece o seu ocaso.” (Salmo 104:19)

As estrelas respondem pelo nome quando Deus as chama:

“Conta o número das estrelas, chama-as a todas pelos seus nomes.”


(Salmo 147:4)

Não é incrível pensar que cada uma, dos biliões de estrelas do universo seja individualmente
conhecida por Deus pelo seu nome?
Por mais turbulentos que os elementos da natureza estejam às vezes, eles obedecem ao Seu
Criador - “fogo e saraiva, neve e vapores, e vento tempestuoso que executa a sua palavra.” (Salmo
148:8)
O mesmo acontece com a criação animal:

“Os leõezinhos bramam pela presa, e de Deus buscam o seu sustento.”


(Salmo 104:21)

E o salmista descreve:

“Assim é este mar grande e muito espaçoso, onde há seres sem número, animais
pequenos e grandes…. Todos esperam de Ti que lhes dês o seu sustento em tempo
oportuno.” (Salmo 104:25,27)

Jesus diz-nos acerca das aves que:

“O vosso Pai celestial as alimenta.” (Mateus 6:26)


Em Mateus 10:29 Ele diz:

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“Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem
a vontade do vosso Pai [ou sem o vosso Pai].”

E em Lucas 12:6 Jesus diz:

“Não se vendem cinco passarinhos por dois ceitis? E nenhum deles está esquecido
diante de Deus.”

Então, dois passarinhos são vendidos por uma moeda, mas cinco são vendidos por duas
moedas. Isso quer dizer que se alguém comprar quatro passarinhos o quinto é oferta. No entanto,
Deus preocupa-se até com esse passarinho.
Não há nada que Deus tenha criado, de facto, que não o preocupe intimamente. O Seu amor
paternal estende-se a todas as criaturas do Universo, a tudo o que Ele criou.
No século dezanove, o evangelista Dwight Moody escreveu o seguinte texto relatando o modo
como o mundo lhe pareceu ser depois de ter recebido Jesus Cristo como seu Salvador:

“Lembro-me da manhã em que saí do meu quarto depois de ter entregue a minha vida
a Cristo. Pensei que o velho sol estava mais brilhante do que antes—pensei que estava a
sorrir-me; e ao caminhar para Boston e ao ouvir os pássaros a cantar nas árvores pensei
que cantavam uma canção para mim. Sabem, apaixonei-me pelos pássaros. Nunca me
tinham interessado até ali. Parecia-me que eu me tinha apaixonado por toda a Criação.”

O grande Criador tinha-se tornado o Pai de Moody, e Ele deu ao seu filho recém-nascido um
pequeno vislumbre da forma como Ele próprio via o mundo que tinha criado. Toda a Criação, tal
como Moody a via, estava repleta do amor insondável do Seu Criador.
Só há duas espécies de criaturas que estão alienadas e não respondem ao amor de Deus: satanás
e os seus anjos rebeldes; e a humanidade pecaminosa e perdida. Satanás e os seus anjos rebelaram-
se sem qualquer possibilidade de reconciliação. Mas foi para reconciliar Consigo a humanidade
perdida que Deus enviou Jesus.

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Como Jesus Revelou o Pai
Jesus foi enviado pelo Pai para cumprir dois propósitos: o primeiro negativo, o segundo
positivo. O propósito negativo foi pagar a penalidade pelos nossos pecados, para que possamos ser
perdoados e reconciliados com Deus. O propósito positivo foi revelar Deus como nosso Pai e
tornar-nos membros da Sua família.
Em muitas secções da Igreja foi dado um grande realce ao primeiro propósito, o propósito
“negativo” da vinda de Jesus: para expiação dos nossos pecados e para nos reconciliar com Deus.
É verdade que se deve destacar este propósito; é o primeiro passo essencial. No entanto, esta ênfase
nunca deve ser feito à custa do segundo propósito: revelar Deus como Pai e tornar-nos membros
da Sua família.
Em João 17 Jesus proferiu pelos Seus discípulos aquela que se chama a Sua oração de Sumo
Sacerdote. Essa foi, de facto, a Sua última comunicação com eles antes da Sua prisão, do
julgamento e da crucificação. Tanto no princípio como no final desta oração, Jesus fala em ter
dado a conhecer o nome de Deus aos Seus discípulos:

“Manifestei o Teu nome aos homens que do mundo me deste; eram Teus, Tu mos
deste, e guardaram a Tua Palavra.” (João 17:6)

“E Eu lhes fiz conhecer o Teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor
com que me tens amado esteja neles, e Eu neles esteja.” (João 17:26)

Qual foi o nome com que Jesus se fez conhecido aos Seus discípulos? Não era o nome sagrado
de Jeová (ou “Yahweh”). O povo judeu conhecia esse nome há catorze séculos. Era um novo nome
- um nome que tinha sido mencionado superficialmente no Antigo Testamento, mas nunca
abertamente revelado. Esse nome era Pai. Nesta oração Jesus descreveu Deus como Pai seis vezes
e disse: “Manifestei o Teu nome…”
Webster define manifestar como “tornar evidente ou certo através da exibição.” Jesus não
ofereceu aos Seus discípulos apenas uma definição teológica de Deus; Ele manifestou Deus como
Pai através da forma como Ele viveu a Sua vida perante eles - uma vida de comunhão ininterrupta
com Deus e de total dependência dEle. Eles ainda nunca tinham visto ninguém viver dessa forma.

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Em João 14:6, falando do Seu propósito ao vir à terra, Jesus disse: “Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida … .” Estas palavras sugerem uma pergunta: se Jesus é o caminho, é o caminho
para onde? Um caminho nunca é completo em si próprio; pressupõe um destino. Qual era, então,
esse destino? O final do versículo diz-nos: “… ninguém vem ao Pai senão por Mim.”
Falamos bastante do Nosso Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador, nosso Intercessor, nosso
Mediador… Isso é maravilhoso, mas não revela o propósito principal de Jesus: levar-nos ao Pai.
A este respeito há uma diferença importante entre a revelação que Deus deu através dos Seus
profetas no Antigo Testamento e a revelação que Ele deu através de Jesus no Novo Testamento.
Em Hebreus 1:1-2 o escritor diz:

“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais,
pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias pelo Filho…”

Mais literalmente, no entanto, estas últimas palavras deveriam ser traduzidas como “tem-nos
Deus, nestes últimos dias falado num Filho…”
O ponto que o escritor quer realçar é que Deus não meramente acrescentou à mensagem dos
profetas do Antigo Testamento pelo ministério de Jesus. Mais do que isso, o escritor revela que
Jesus era um tipo de mensageiro diferente. Ele não era somente um profeta; Ele era também um
Filho. Portanto, Ele trouxe uma revelação que nunca tinha sido feita antes, uma revelação que só
um Filho poderia fazer: uma revelação do Pai.
Em Mateus 11:27 o próprio Jesus enfatiza que Ele é a única Pessoa que pode revelar Deus
como Pai:

“Todas as coisas me foram entregues por meu Pai: e ninguém conhece o Filho,
senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser
revelar.”

Os Benefícios de Conhecer o Pai


Quando entramos na plenitude da revelação de Deus como Pai, esse facto traz-nos cinco
benefícios que manifestamente faltam à maioria das pessoas, incluindo a muitos cristãos.

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1. Identidade
O homem moderno tem um problema real com a identidade. É significativo que um dos livros
e uma das séries de TV com mais sucesso nos anos 70 nos Estados Unidos foi Raízes, a história
de um afro-americano considerando o lugar de onde tinha vindo.
Tanto as Escrituras como a psicologia concordam que uma pessoa não pode responder por
completo à pergunta “Quem sou eu?” sem saber quem é o seu pai. Devido ao facto de nas duas
últimas gerações os relacionamentos entre pais e filhos se encontrarem tão fracassados /
desagregados, a nossa sociedade contemporânea está a sofrer uma crise de identidade. Multidões
de pessoas sem raízes; com o sentimento de pertencerem a nada.
A resposta do cristianismo para essa crise de identidade é levar homens e mulheres a um
relacionamento direto e pessoal com Deus o Pai através de Jesus Cristo, o Filho. Aqueles que
verdadeiramente conhecem Deus como Pai deixam de ter um problema de identidade. Já sabem
quem são: são filhos de Deus. O seu Pai criou o universo, o seu Pai ama-os e cuida deles. Eles
pertencem ao melhor Pai do universo!

2. Valor Próprio
É incalculável o número de pessoas com quem tenho falado cujo problema principal é não se
apreciarem a si próprias o suficiente. Têm de si próprias uma imagem muito fraca a qual é a causa
de tanta agonia espiritual e emocional. Quando as aconselho, uma das passagens da Bíblia para
onde as encaminho é I João 3:1:

“Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai; que fôssemos chamados filhos
de Deus.”

Ao realmente compreendermos o significado de sermos filhos de Deus, que Deus nos ama
íntima e pessoalmente, que Ele está interessado em nós, que nunca está ocupado demais e que
deseja um relacionamento direto e pessoal connosco, então descobrimos o nosso valor próprio. Já
vi esta transformação ter lugar na vida de muitas pessoas.

3. Saber que Se Tem um Lar no Céu


Desde a minha conversão, tinha acreditado que se continuasse a ser fiel ao Senhor eu iria

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para o Céu quando falecesse, mas nunca tinha encarado o Céu como o meu lar. Então, em 1996,
fui soberanamente visitado por Deus e conheci-O, duma forma direta e pessoal, como meu Pai.
Desde essa altura, tornou-se natural encarar o Céu como o meu lar. Pouco tempo depois eu disse
a Rute: “Quando eu morrer, se quiseres escrever alguma coisa na minha pedra tumular, escreve
só: ‘Foi para casa.’”
Comecei a pensar sobre o pobre pedinte que estava à porta do homem rico. Quando morreu,
foi levado “…pelos anjos para o seio de Abraão…” (Lucas 16:22). Sem dúvida alguma, que um
só anjo seria suficiente para carregar aquele corpo franzino, mas Deus enviou uma escolta de anjos!
O pedinte foi recebido como um rei no seio de Abraão. Deve acontecer isso, creio eu, a todos os
filhos de Deus. O Senhor tem uma escolta de anjos pronta para levar cada um de nós para o nosso
lar eterno.
A certa altura, eu e Rute conhecemos uma preciosa irmã do Havai (chamemos-lhe Maria) que
servira fielmente o Senhor durante anos. Ela costumava dizer aos seus amigos: “Nunca vi um anjo.
Gostava imenso de ver um!”
Enquanto Maria estava no seu leito de morte devido a um cancro, a sua igreja tornou possível
que houvesse sempre uma irmã cristã no quarto com ela. Um dia, a face de Maria ficou radiante
com a glória de Deus. Ela estendeu os braços e disse: “Estou a vê-los. Estou a ver os anjos!” E
então partiu. A sua escolta angelical levou-a para o seu lar.
John Wesley uma vez ouviu que tinha morrido uma irmã cristã metodista que ele conhecia. Ele
perguntou: “Ela foi em glória ou só em paz?” Eu creio que Deus tem uma escolta de anjos pronta
a levar cada um dos Seus filhos para se encontrarem com Ele em glória.

4. Segurança Total
Como é que encaramos a origem do universo? Como uma grande explosão? Bem, se assim for,
quem sabe qual será o tipo de explosão que virá e nos extinguirá a todos! Será que a explosão é só
uma força inanimada que opera sem lógica aparente, sem propósito ou sentimentos? Ou será
que há um Pai?
Todos serão pessoas diferentes a partir do momento em que compreenderem o facto de que
por detrás de toda a vida existe a Paternidade de Deus.
Uma noite, um amigo meu sentiu-se perdido e sozinho no meio das ruas desertas e ventosas de
uma grande cidade. Não tinha a certeza se se lembrava do caminho de volta para o lugar onde ia

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passar a noite. Parado à esquina de uma rua começou a repetir, uma e outra vez, “Pai… Pai…
Pai… Pai…”
Ao fazer isso, voltou a sentir-se seguro. Apesar de tudo ser frio e incerto à sua volta, ele sabia
que era um filho de Deus, no Universo que Deus tinha criado para os Seus filhos. E voltou ao seu
alojamento em segurança.
Imaginem uma criança segura no colo do seu pai com a sua pequena face encostada ao seu
ombro. Pode ser que à sua volta haja confusão e tristeza, pode parecer que o mundo se está a
desintegrar, mas essa criança está em paz, despreocupada com o que está a acontecer ao seu redor.
Ela está segura nos braços do seu pai.
Por sua vez, nós somos tomados, em segurança, pelos braços do nosso Pai. Jesus assegurou-
nos que o Pai é maior do que tudo o que nos rodeia, e que ninguém nos poderá separar, ou arrancar
da Sua mão.
Aos seus discípulos Jesus assegurou-lhes o mesmo:

“Não temas ó meu pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino.”
(Lucas 12:32)

Podemos até ser um pequeno rebanho, rodeado por todo o tipo de feras e predadores, mas se o
nosso Pai se comprometeu a dar-nos o reino, não há poder no Universo que nos possa separar da
Sua promessa!

5. Motivação para a Obra


Em Filipenses 2:3 Paulo avisa-nos como servos de Deus que:

“Nada façais por contenda ou por vanglória…”


Durante anos, tenho observado que um problema persistente e muito difundido na Igreja é a
ambição pessoal dos que se encontram no ministério, que se manifesta ao competirem com outros
obreiros. Deixe-me acrescentar que tenho observado este problema em primeiro lugar na minha
própria vida.
Por vezes cometemos o erro de igualar segurança com sucesso. Se eu construir a igreja maior,
ou tiver a maior reunião, ou uma extensa lista de nomes de pessoas para quem escrevo, então

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estarei seguro. Isso é uma ilusão. De facto, quanto mais tentarmos atingir o sucesso pessoal, menos
seguros nos sentiremos. Sentimo-nos continuamente ameaçados pela possibilidade de alguém
construir uma igreja ainda maior, ter uma reunião ainda maior e uma lista de pessoas ainda mais
extensa do que a nossa.
Quanto a mim, descobri em Jesus o padrão perfeito, quando Ele disse:

“O Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que Lhe agrada.”
(João 8:29, com ênfase)

Sinto-me cada vez menos motivado pela ambição pessoal. Descobri um motivo mais puro e
mais suave: simplesmente agradar ao meu Pai. Estou a treinar-me para enfrentar cada situação e
decisão com uma única pergunta muito simples: como posso agradar ao meu Pai? Em tempos de
frustração ou de fracasso aparente, procuro desviar a minha atenção da resolução do problema e
manter uma atitude que agrade ao Senhor.
Como servos de Cristo, não teremos nenhuma competição entre nós se formos motivados pelo
simples desejo de agradar ao nosso Pai. A harmonia e a preocupação uns com os outros substituirá
a aspiração e o egoísmo.
Tudo isto - e muito mais! - estará à nossa disposição através do conhecimento de Deus como
nosso Pai. Se já encontrámos Jesus como sendo o nosso Caminho, alegremo-nos, mas não nos
vamos contentar a continuar para sempre no caminho, sem nunca chegarmos ao destino: conhecer
Deus como nosso Pai. Perder isso seria frustrar o objetivo de Deus ao enviar Jesus.
A revelação de Deus como nosso Pai celestial leva-nos, naturalmente, ao próximo tema: como
é que os pais humanos podem representar nos seus lares a Paternidade de Deus?

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O Pai como Sacerdote

Deus não escreve só frases verdadeiras; Ele põe a verdade dentro das pessoas. Temos a Bíblia
e agradecemos a Deus pela Sua Palavra escrita, mas Jesus disse, “EU sou a verdade.” Muitos de
nós reconhecemos que a mera verdade abstrata nunca nos poderá satisfazer. O que nos satisfaz é a
verdade numa pessoa. Precisamos de nos relacionar não só com uma abstração, mas com uma
pessoa.
Quando eu era filósofo profissional, envolvi-me em todo o tipo de teorias entusiasmantes sobre
a vida e o seu propósito e o “estado ideal” de Platão. O problema era que eu não podia viver sempre
naquela atmosfera rarefeita. Metade da semana, passava-a na “lua” envolvido na “teoria das
ideias,” e na outra metade da semana encontrava-me com os pés bem assentes na terra vivendo
uma vida bastante carnal. Nunca estava satisfeito porque a verdade abstrata nunca nos satisfaz. No
entanto, quando conheci Jesus, soube que tinha encontrado a verdade numa Pessoa. Isso satisfez-
me como nenhuma outra verdade abstrata me tinha satisfeito.
Em certo sentido, Deus entregou a cada pai a responsabilidade de personificar, como pessoa,
a principal revelação da Bíblia, a paternidade. Ser um pai verdadeiro é a imagem mais perfeita de
Deus a que qualquer homem pode chegar, porque é a principal revelação do Próprio Deus. De
facto, todos os pais representam Deus para a sua família. Isso não é uma opção! A questão é: você,
como pai, representa Deus de maneira correta ou errada?
A maior maldição da presente época é a dos pais, que representam Deus de forma errada.
Lembro-me de ouvir falar de um homem que testemunhava na rua a jovens. Ele disse a um jovem,
“Deus quer ser o teu Pai.” O jovem respondeu-lhe, “O meu pai é o homem que eu mais odeio na
minha vida.” Em vez de ser um encorajamento, o pai deste jovem era uma barreira! Todos nós
conhecemos pais assim.
Avancemos na imagem do que é ser um pai:

“Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem [o
marido] a cabeça da mulher [a esposa]; e Deus a cabeça de Cristo.” (I Coríntios 11:3)

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Esta cadeia descendente de autoridade pode ser representada pelo diagrama seguinte:

Deus Pai

Cristo

O marido

A esposa

Nesta cadeia encontramos duas pessoas que se relacionam tanto no sentido ascendente como
no descendente. Cristo relaciona-se no sentido ascendente com o Pai e no descendente com o
homem. O homem relaciona-se no ascendente com Cristo e no descendente com a sua esposa e,
por essa via, com a sua família.
Da mesma forma que Cristo é o representante de Deus para o homem, também o homem é
responsável por representar Deus perante a sua família. Essa é uma grande responsabilidade para
um pai!
Há, creio eu, três ministérios principais de Cristo nos quais o pai deve representar Cristo para
a sua família: o sacerdote, o profeta e o rei. Neste e nos próximos dois capítulos iremos estudar
cada um deles.
O sucesso de um pai como sacerdote irá determinar o seu sucesso como profeta e rei. Se ele
for bem-sucedido como sacerdote, provavelmente será bem-sucedido nos outros dois ministérios.
No entanto, se não entender como deve ser o sacerdote da família, ser-lhe-á difícil ser tanto o
profeta como o rei.
Vamos deixar claro, em primeiro lugar, que uma das únicas palavras relacionadas com
sacerdócio é a palavra sacrifício. De acordo com o modelo bíblico, só o sacerdote pode oferecer
um sacrifício. Então o pai, como sacerdote, tem o direito sagrado de oferecer sacrifícios pela sua
família.
Temos a seguir quatro formas principais de como um pai pode oferecer sacrifício pela sua
família:
1. Oferecendo ações de graças
2. Fazendo intercessão
3. Abrindo o caminho para a salvação
4. Exercitando a fé em benefício dos seus filhos

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1. Oferecendo Ações de Graças
O nosso ministério principal como sacerdotes no Novo Testamento é descrito em Hebreus
13:15:
“Portanto, ofereçamos sempre, por Ele [Jesus], a Deus, sacrifício de louvor, isto é,
o fruto dos lábios que confessam o Seu nome.”

O clímax da bênção sacerdotal que Arão e os seus descendentes foram instruídos a pronunciar
sobre o povo de Israel inicia-se com as palavras seguintes:

“Assim, porão o Meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei.”


(Números 6:27)

Frequentemente, as orações mais eficazes que podemos oferecer em benefício de outros são
orações de louvor e ação de graças, invocando o nome do Senhor Jesus sobre eles. Ao colocarmos
o nome de Jesus sobre aqueles por quem oramos, invocamos a bênção de Deus sobre eles.
Poucos de nós se apercebem da forma como podemos elevar o espírito das pessoas
simplesmente pelo facto de louvarmos a Deus por elas. Esta é uma parte fundamental do nosso
ministério como intercessores.
Talvez já tenha ouvido falar de um homem a quem chamavam “O Hyde que ora.” Ele era um
proeminente missionário no Punjab, na Índia, durante o século dezanove quando a Índia ainda se
encontrava sob o domínio britânico. O ministério de Hyde era a oração; tudo o mais era secundário.
Ele conheceu um evangelista indiano que, a princípio, considerou frio e ineficiente. Ao
começar a orar por este homem, Hyde disse, “Senhor, Tu sabes como…”
E ia a dizer, “como o nosso irmão, fulano de tal, é frio.” Mas o Espírito Santo impediu-o de
dizer isso usando Provérbios 30:10: “Não calunies o servo diante do Seu Senhor.”
Então o irmão Hyde mudou de estratégia. Começou a pensar em todas as coisas boas que
pudesse encontrar na vida daquele homem e agradeceu a Deus por ele. Dentro de alguns meses o
outro homem tinha-se tornado um respeitado evangelista cheio de sucesso.
O que foi que o fez mudar? Não o facto de ser acusado em oração, mas o de ser objeto de
ação de graças.

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Eu diria a maridos e pais: passem mais tempo a dar graças a Deus pela vossa família, porque
ao fazê-lo criarão uma atmosfera sob a qual se torna mais fácil todos terem sucesso.
Nos Estados Unidos apareceu um autocolante para carros muito popular: “Já deu um abraço
ao seu filho hoje?” Essa é uma questão muito importante. Mas a questão, “Hoje já agradeceu a
Deus pelo seu filho?”, não é de menos importância.
Deus ensinou-me o seguinte: Se eu não Lhe puder agradecer por alguém, provavelmente não
tenho o direito de orar por essa pessoa. Era melhor não orar de todo, porque a minha oração pode
ser mais prejudicial do que benéfica.

2. Fazendo Intercessão
Vamos considerar a imagem de um homem do Antigo Testamento, Jó, que era o modelo de
um sacerdote para a sua família. Lemos no princípio do livro que Jó era um homem perfeito e justo
perante Deus. Todas as semanas, num certo dia, os seus sete filhos e três filhas se juntavam na casa
de um deles para festejarem e conviverem uns com os outros. No fim de cada semana Jó levantava-
se mais cedo e oferecia sacrifícios por todos os seus filhos, dizendo, “Talvez eles tenham falhado
e não se encontrem bem perante Deus. Vou oferecer um sacrifício por eles.”
Quando Jó oferecia sacrifícios pelos seus filhos estava a reclamar para eles os benefícios do
sacrifício. Essa é a imagem da intercessão: reclamar os benefícios de um sacrifício em benefício
daqueles por quem oramos.
O nosso sacrifício, neste momento da História, é claro, é o sacrifício de Jesus na cruz. A
intercessão pelos nossos filhos, envolve, por isso, reclamar os benefícios do sacrifício da morte de
Cristo para benefício deles.
Mas, poder-se-ia ouvir um comentário cínico, “Bem, no caso de Jó, não lhe adiantou muito…”
É verdade que todos os seus filhos desapareceram num acontecimento trágico. Mas é nesta altura
que temos que ler tudo o que a Bíblia nos diz.
Depois de Jó ter aprendido as suas duras lições, foi gloriosamente restaurado - mas não antes
de ter orado pelos que o criticavam (ver Jó 42:8-10). Aqui fica uma lição para todos nós: não
devemos permitir que os que nos criticam nos deitem por terra. Em vez disso, devemos transformar
as suas acusações contra nós numa escada pela qual subamos. Ao orarmos por eles, Deus libertará
a Sua graça sobre nós.
Repare nos detalhes da restauração de Jó:

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“E assim abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais do que o primeiro; pois
teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil jumentas. Também
teve sete filhos e três filhas.” (Jó 42:12-13)

Jó recebeu exatamente o dobro do número de cabeças de gado que ele tinha antes, mas recebeu
só o mesmo número de filhos e filhas. Porque é que Deus não lhe deu também o dobro dos filhos?
Segundo a minha opinião, as orações de Jó tinham sido respondidas. Apesar do primeiro grupo de
filhos ter sido retirado daquele tempo para a eternidade, ainda se encontravam no lugar onde Deus
mantém os justos que morreram e que aguardam a redenção através de Jesus Cristo. Então, quando
Deus só deu a Jó mais dez filhos, Ele estava, de facto, a dar-lhe o dobro, porque os primeiros dez
só tinham partido primeiro e estariam aguardando o seu pai quando este entrasse na eternidade.
Assim, a intercessão de Jó compensou-o! De facto, mostra como era urgente que ele orasse
pela sua família. Esse homem de Deus não tinha nenhuma ideia do desastre que o aguardava
através do qual todos os seus filhos seriam levados de um momento para outro. Depois do desastre
seria tarde demais para orar. Mas Jó já tinha orado.
Todo o pai, como sacerdote da sua família, precisa de aprender a lição de Jó. Nenhum de nós
tem nenhuma garantia de que alguma tragédia imprevista não irá, num instante, levar um ou mais
dos membros da nossa família para a eternidade. Por isso, todo o pai tem a responsabilidade perante
Deus de fazer intercessão diária por toda a sua família.
Devemos também guardar-nos do erro de procurar as respostas para as nossas orações apenas
aqui na terra e no tempo presente. Só na eternidade saberemos o impacto total que as nossas
orações tiveram.

3. Abrindo o Caminho para a Salvação


Nas ordenanças para celebrar a Páscoa, vemos o tremendo exemplo do pai no seu ministério
como sacerdote. Foi através do sacrifício do cordeiro Pascal, como deve recordar, que Israel foi
libertado da escravidão no Egipto para tornar-se uma nova nação. Os egípcios, que não tinham um
sacrifício, sofreram o julgamento de Deus sobre os seus primogénitos.
As ordenanças para a Páscoa dependiam do pai. Mais ninguém podia fazer o que ele tinha de
fazer. Cada pai era o responsável por providenciar o sacrifício pela sua família, tal como o Senhor
disse a Moisés:

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“Falai a toda a congregação de Israel dizendo: aos dez deste mês, tome cada um
para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada família.”
(Êxodo 12:3)

Para que o sacrifício fosse eficaz, o pai também tinha de dar outro passo. Moisés disse ao povo:

“Então tomai [ou seja cada pai] um molho de hissopo, e molhai-o no sangue que
estiver na bacia, e passai-o na verga da porta, e em ambas as ombreiras, do sangue que
estiver na bacia; porém nenhum de vós saia da porta da sua casa até à manhã. Porque
o Senhor passará para ferir aos egípcios, porém quando vir o sangue na verga da porta,
e em ambas as ombreiras, o Senhor passará aquela porta, e não deixará o destruidor
entrar em vossas casas, para vos ferir.” (Êxodo 12:22-23)

Quem tinha a responsabilidade de selecionar o cordeiro? O pai de cada família. Quem tinha a
responsabilidade de matar o cordeiro? O pai. Quem tinha a responsabilidade de aspergir com
sangue as ombreiras da porta de casa? O pai.
Por outras palavras, o pai tinha um ministério apontado por Deus como sacerdote em benefício
da sua família. Ele era o responsável por verificar que a provisão de Deus para a salvação se
tornasse uma realidade no seu lar.
Hoje em dia, para nós, há um sacrifício diferente, mas a responsabilidade do pai é a mesma.

4. Exercitando a fé em benefício dos seus filhos


O incidente dramático de um rapaz epilético em Marcos 9 dá-nos muitas lições sobre fé. Os
discípulos não tinham conseguido curar o rapaz e então o pai trouxe-o a Jesus. Depois de ouvir o
pai falar sobre os sofrimentos do jovem, Jesus replicou:

“… Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê. E, logo, o pai do menino,


clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade.
(Marcos 9:23-24)

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O que me impressiona nesta história é que o menino podia, ele próprio, não crer, mas o Senhor
responsabilizou o pai por crer pelo seu filho. Este, segundo creio, é um princípio: Deus
responsabiliza os pais por terem fé pelos seus filhos.
Houve um princípio do ministério de Jesus que se tornou muito real para mim quando Deus
me lançou no ministério da libertação. Às vezes, havia pessoas numa reunião que vinham à frente
com uma criança e pediam: “Ore por ela” ou “Ore por ele.” Eu aprendi que devia perguntar, “São
os pais desta criança?” Por vezes a resposta era, “Não, não somos os pais. Os pais não são crentes,
mas nós quisemos trazer esta criança para que orasse por ela.”
Desafio-o a pesquisar o ministério de Jesus. Ele nunca orou por uma criança exceto quando
tinha como base a fé de um ou de ambos os pais. O Seu ministério não abre nenhum precedente
para orar por uma criança sem a presença de pelo menos um dos seus pais. Os pais têm uma
responsabilidade muito maior do que aquela que lhes queremos atribuir.
E uma criança cujos pais não são crentes? Deus, na Sua especial soberania pode dar fé especial
a pessoas que não têm nenhum relacionamento de sangue com a criança. De facto, lembro-me de
casos no meu próprio ministério em que isso aconteceu.
No entanto, o que quero deixar muito claro é o lado positivo e não o negativo: Os pais têm a
responsabilidade atribuída por Deus de exercerem a fé em benefício dos seus filhos.

Deixe-me resumir as quatro responsabilidades do pai como sacerdote na sua família:

1. Oferecer ações de graças


2. Fazer intercessão
3. Abrir o caminho para a salvação
4. Exercer a fé em benefício dos seus filhos

No próximo capítulo vou debruçar-me sobre a segunda responsabilidade principal do pai:


ministrar à sua família como profeta.

59
9

O Pai como Profeta

Vamos agora analisar a responsabilidade do pai como profeta da sua família. A diferença entre
as funções de sacerdote e as de profeta é a seguinte: como sacerdote ele representa a família perante
Deus; como profeta ele representa Deus perante a família. Lembremo-nos, também, que podemos
ser proféticos não só pelo que dizemos, mas também através do nosso comportamento. Há quatro
formas específicas para os pais fazerem isso.

1. Representando Deus pelo Exemplo


Um pai representa Deus para a sua família pelo exemplo. Isso é a representação mais
semelhante a Deus que um homem pode fazer. Há, no entanto, outro lado desta situação: o pai
pode representar Deus na sua família, mas também pode representar Deus de forma errada para a
sua família.
O pai é amoroso, acessível, cheio de compaixão, forte? É fácil uma criança imaginar Deus
desta maneira se o seu pai for assim. Mas, se o pai for amargo, irado, crítico ou simplesmente
ausente e irresponsável, essa criança começará a sua vida com uma ideia negativa sobre Deus. Em
geral essa ideia demora muito tempo para desaparecer depois de ser mal interpretada no início da
vida.
Há pouco mencionei o jovem que disse, “O meu pai é o homem que mais odeio na vida.”
Obviamente, o seu pai tinha representado Deus mal na vida daquele jovem.
Como é que um pai pode funcionar como profeta na sua família para o bem e não para o mal?
Acima de tudo e principalmente, através do amor. Todas as crianças nascem neste mundo com
uma necessidade inata de amor. O amor da mãe é belo e insubstituível, mas não é suficiente. Há
uma qualidade diferente no amor de um pai. Mesmo para um bebé, esse amor transmite uma
sensação de força, segurança, de ser importante, de ser valiosa.
Quando falta este tipo de amor na vida de uma criança o resultado é uma ferida profunda,
descrita provavelmente melhor como rejeição - um sentimento de não se ser importante ou de não
se ser querido por alguém. Foi esta a ferida principal que matou Jesus na cruz: a rejeição do Seu

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Pai. Ele gritou: “… Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” (Marcos 15:34), mas não
recebeu resposta. Então, curvou a Sua cabeça e deu o Seu último suspiro.
Esta foi a consequência terrível e final que Jesus suportou por ter ficado identificado com o
pecado de toda a humanidade. O mal do pecado é tão terrível que Deus Pai teve que fechar os Seus
ouvidos até ao grito do Seu Filho amado. Mas, lembremo-nos que Jesus suportou a nossa rejeição
para que possamos ter a Sua aceitação.
Incontáveis milhões da nossa sociedade contemporânea carregam em si as feridas profundas
da rejeição. Há quem nunca tenha conhecido o amor da mãe ou do pai. Outros conheceram o amor
da mãe, mas não o do pai. Na maior parte dos casos esta ferida da rejeição nunca é realmente
diagnosticada. Aqueles que a suportam passam pela vida sentindo-se incompletos, mas nunca
entendem o que lhes está a faltar.
Os sintomas desta ferida podem ser passivos ou ativos. O lado passivo dos sintomas pode
manifestar-se de uma ou de várias das seguintes formas: depressão, cinismo, falta de motivação,
falta de esperança e, por último, tendências suicidas. Do lado ativo podem tomar a forma de
frustração, raiva, rejeição da autoridade, violência, criminalidade e por último, assassínio. A causa
não diagnosticada de muitos crimes e violência na sociedade ocidental é, segundo o meu ponto de
vista, tão simples e radical como esta: o fracasso dos pais em amar os seus filhos.
Algumas vezes o problema não é que os pais não amem os seus filhos, mas em não saberem
como demonstrar o seu amor. O amor não demonstrado não corresponde à necessidade da criança.
Ao crescer, de muitas formas, cuidaram bem de mim. Mas, a minha família pertencia a
sociedade britânica de pessoas onde mostrar as suas emoções ou falar delas era algo que não se
fazia. Raramente demonstravam algum sinal de calor emocional. Não que não o tivessem no seu
coração, mas estavam restringidos por regras sociais não escritas, e não o demonstravam. Nunca
me lembro, por exemplo, de o meu pai me ter alguma vez sentado no seu joelho. Isto deixou um
vazio na minha personalidade, que só tem podido ser preenchido por um relacionamento mais
profundo com Deus como meu Pai.
Descobri, no entanto, que o amor paternal de Deus não é fraco nem sentimental. Ele não
permite pieguices ou birras dos Seus filhos. Pelo contrário, o Seu amor é expresso através de uma
disciplina firme; veja por exemplo, Hebreus 12:6:

“Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho.”

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Ao longo do Livro de Provérbios, Salomão enfatiza tanto a importância como a urgência da
disciplina de um pai. Por exemplo:

“O que não faz uso da vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga.”
(Provérbios 13:24)

E ainda:

“Castiga o teu filho, e te dará descanso; e dará delícias à tua alma.”


(Provérbios 29:17)

A experiência confirma que o conselho de Salomão era extremamente pertinente. Num lar onde
as crianças não são disciplinadas, não há muita paz.
Como o pai é o chefe da família, toda a disciplina deveria ser encarada como vinda dele. No
entanto, há ocasiões em que a mãe pode ser a pessoa que a aplica. É importante que a disciplina
paternal seja sempre a mesma. Ambos os pais devem seguir um modelo de disciplina com o qual
tenham mutuamente concordado. De outra maneira, é possível que os filhos procurem pôr um dos
pais contra o outro.
Ao exercer a disciplina, proteja-se contra dois perigos opostos. O primeiro perigo é o da
rebelião da criança. Para evitar essa rebelião, certifique-se que a sua disciplina é firme e coerente.
Não permita que as crianças se tornem caprichosas ou irresponsáveis ou que lhe respondam mal-
educadamente. Exija que façam imediatamente e com calma o que lhes é dito.
Deve-se, entretanto, evitar o extremo oposto que é o desencorajamento. Se um pai é
indevidamente / excessivamente severo, crítico e exigente, a criança ficará desencorajada e terá a
atitude de: “Não vale a pena. Nada do que eu fizer vai agradar ao pai. Mais vale nem tentar.”
Paulo diz duas coisas sobre este assunto:

“Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo.”
(Colossenses 3:21)

e ainda:

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“E vós, pais não provoqueis à ira os vossos filhos…” (Efésios 6:4)

Tenho ministrado a muitas pessoas com severos problemas emocionais. Nem posso sequer
enumerar os casos em que a falta de auto-estima de alguém ou o sentimento de ser um falhado se
remonta a um incidente na infância onde receberam um tratamento negativo de um dos pais. Pode
ter sido uma crítica, ou ter sido gozado ou indevidamente repreendido em frente de terceiros - ou
até uma coisa pior. Esse tipo de tratamento deixou uma ferida na alma da criança que não foi
curada durante mais de vinte ou trinta anos.
Um pai, por um lado, deve manter a disciplina, mas por outro não deve desencorajar o seu filho
com exigências injustas ou em excesso.

2. Representando Deus através do Ensino


O exercício da disciplina no lar irá preparar o caminho para a segunda faceta do ministério
como profeta exercido pelo pai na sua família: instruir a família nos caminhos e na Palavra de
Deus.
Uma das coisas que ficou muito clara para mim como diretor da escola de formação de
professores no Quénia foi o facto de que se não se conseguir disciplinar os alunos, também não é
possível ensiná-los. Por isso é que na cultura contemporânea há tantas crianças que não respondem
ao ensino. No entanto, se a disciplina for mantida, o ensino também é possível.
Paulo diz:

“E vós, pais não provoqueis à ira os vossos filhos, mas criai-os na doutrina e
admoestação do Senhor.” (Efésios 6:4)

Quem é que, de acordo com este versículo, é o responsável principal por ensinar aos filhos a
verdade da Palavra de Deus? O pai. Mas quem é que frequentemente o faz? A mãe. É essa a ordem
de Deus? Não. Mas se for assim que a Palavra de Deus é ensinada, quando o Joãozinho tiver cerca
de doze anos poderá dizer: “Quero ser um homem como o pai. Ele não vai à igreja nem lê a Bíblia,
então eu também não tenho que fazer isso.” É por esta razão que em muitas congregações há o
dobro de mulheres em relação aos homens!

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Deus abençoa as mulheres que devem dar instrução à sua família pelo facto de o pai ter falhado!
O problema é que os rapazes ficam com a impressão de que o Cristianismo é uma coisa só para
mulheres. As mulheres que têm a tarefa de instruir os seus filhos precisam pois de se certificar que
há um líder espiritual masculino na vida dos seus filhos.
Moisés dá conselhos incríveis aos pais a respeito da instrução espiritual nos seus lares:

“Ponde [pais], pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-
as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontais entre os vossos olhos.”
(Deuteronómio 11:18)

A Palavra de Deus, por outras palavras, deve ser visível na nossa vida!
Neste versículo em Deuteronómio 11, inseri a palavra “pais” entre parênteses. Fiz isso para
chamar a atenção para um ponto no original hebraico que não é muito claro na nossa língua. Os
verbos e os pronomes em Hebraico têm formas diferentes consoante o género (masculino ou
feminino) da pessoa que fala ou para quem se fala. Na passagem acima citada todas as palavras
são do género masculino. Por outras palavras, Moisés está a dirigir-se principalmente—mas não
exclusivamente—aos pais. Isso não significa que as mães não devem participar no ensino dos
filhos, mas significa que é o pai, em cada família, que deve ser encarado como a autoridade da
qual procede o ensino.
Em Deuteronómio 11:19 Moisés continua:

“E ensinai-as aos vossos filhos, falando delas, assentado em tua casa, e andando
pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te;”

Qualquer situação da vida familiar pode ser uma ocasião para ensinar as Escrituras aos mais
novos. Não confine esse ensino apenas a um cenário religioso um dia por semana.
Ao longo dos anos já ministrei aos filhos de um grande número de obreiros. Para estas crian-
ças a religião muitas vezes era uma roupa especial que vestiam para ir à igreja ao domingo.
Voltavam com ela vestida para casa, despiam-na, penduravam-na no guarda-roupa e não a
tornavam a usar até ao domingo seguinte. A culpa era dos pais - porque a fé, para valer alguma
coisa, deve fazer parte da vida diária na nossa casa.

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No capítulo 1 mencionei o facto de Lydia, antes de nos casarmos, ser mãe de oito meninas
adotivas que ela educou sozinha. Naquela família, tinham muitas vezes falta de dinheiro e
frequentemente não tinham a certeza de terem comida no dia seguinte. Uma das coisas que Lydia
fazia era orar com as meninas. “Meninas,” dizia ela, “não temos nada para o pequeno-almoço. É
melhor orarmos.” Todas oravam e a comida aparecia. Ver a resposta de Deus às suas orações
ensinou mais sobre Ele àquelas crianças do que uma dúzia de lições da Escola Dominical!
Nunca mantenha as crianças fora da sua vida espiritual. Incluam-nas nela. Quando forem de
férias orem juntos sobre o lugar para onde irão e o que irão fazer. Se uma criança tiver um problema
na escola, não lhe dê só a resposta correta, mas diga: “Vamos orar sobre esse assunto.”
Quando as crianças aprendem a orar tornam-se cristãs. Posso dizer isso por experiência. Todas
as nossas meninas foram tentadas. Todas tiveram as suas provações e problemas. No entanto, todas
se lembram das alturas das suas vidas em que Deus respondeu às suas orações.
Quando eu e Lídia servíamos como missionários para a educação no Quénia, levámos a nossa
filha Elizabete, que naquela altura tinha dezoito anos, a uma conferência em Mombaça. Elizabete
sofria de miopia e a sua visão estava a deteriorar-se. Ano após ano tínhamos de lhe comprar óculos
mais fortes. Então, dissemos ao pregador em Mombaça: “Podia orar pelos olhos da Elizabete?”
Ele orou e ela tirou os óculos. Nós não lhe dissemos para fazer isso!
Alguns dias depois perguntámos-lhe como é que ela se sentia:
‘Como estão os teus olhos?’
‘Bem’ respondeu ela, ‘ele orou, não foi?’
Mais tarde a vista de Elizabete foi testada e estava perfeita e ela formou-se em enfermagem
sem usar óculos!
A nossa filha Elizabete passou pelo mesmo tipo de testes que todos os cristãos passam, mas
houve uma coisa da qual ela nunca duvidou: Deus é verdadeiro! Qual era a prova que tinha disso?
A sua visão!
Uma experiência de uma oração respondida é uma âncora quando se está em perigo de se ser
levado pela maré deste mundo. Então, deixemos que se lembrem de qualquer coisa que aconteceu
quando orámos com eles.
Um grande amigo meu ministrava às suas quatro filhas. Elas eram como as filhas de Filipe:
enquanto ainda eram crianças já tinham, cada uma delas, um ministério profético (ver Atos 21:8-
9) e uma responsabilidade especial na oração. Uma orava pelas finanças, a segunda pela cura, a

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terceira por problemas na escola e a quarta por qualquer outra necessidade. Devido ao facto destas
meninas estarem ativas na vida espiritual da família, ficaram também enraízadas em Cristo. Como
resultado disso, a família manteve um relacionamento muito chegado mesmo depois das meninas
se terem casado.
Não se está abençoando as crianças retirando-lhes responsabilidades. Pelo contrário, quanto
mais praticarem mais fortes serão. Mas é necessário fazê-lo gradualmente e com sabedoria.

3. Comunicando em Ambos os sentidos


Para ensinar à família sobre Deus é preciso que se tenham vias de comunicação desempedidas.
Há muitos livros e professores que ensinam a comunicar, mas eu quero deixar- lhe algumas das
minhas observações.
Em primeiro lugar, a maneira mais eficaz de comunicação entre um pai e um filho é aquela
que acontece num cenário não religioso. Se os filhos associam a instrução dada pelo pai com
qualquer coisa rígida, formal e religiosa, no final irão ter a tendência de se ressentirem tanto da fé
como da instrução.
Outro princípio fundamental na comunicação com os filhos é, não falar apenas com eles, mas
deixar que eles falem connosco. A maior parte das pessoas que lidam com jovens caprichosos ou
delinquentes concordam que quase todos têm uma queixa comum: os seus pais nunca os ouviam.
Encoraje os seus filhos a expressarem-se e a explicarem os seus problemas. Não construa uma
atmosfera demasiado religiosa, e não se choque com algumas das coisas que vai ouvir!
Finalmente, as coisas mais importantes que se pode dizer a um filho ou filha, são normalmente
ditas de forma casual e espontânea na altura que menos se espera - a trabalhar no jardim, na quinta,
durante uma pescaria, ao limpar a garagem, ou tentando descobrir porque é que o carro não
funciona. É nestas alturas que pode transmitir aos seus filhos princípios profundos da Palavra de
Deus. Só o facto de ter um “culto de família” não o fará. Muito depende de como a família passa
o resto do tempo. As situações diárias dão origem à comunicação verdadeira.

4. Salvando a Sua Família nos Últimos Dias


Já ensinei esta passagem muitas vezes:
“E como aconteceu nos dias de Noé, assim será, também, nos dias do Filho do
homem.” (Lucas 17:26)

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Sempre apontei que as coisas malignas dos dias de Noé estão hoje perante os nossos olhos.
Mas um dia vi a mensagem positiva na história de Noé:

“Pela fé, Noé, divinamente avisado das coisas que ainda se não viam, temeu, e, para
salvação da sua família, preparou a arca…” (Hebreus 11:7)

Deus avisou Noé, um homem justo, sobre o desastre que se esperava e ele preparou-se e salvou
a sua família.
Os dias em que vivemos hoje estão a tornar-se cada vez mais como os dias de Noé. Há um
aspeto particular dos dias de Noé que era o facto da “terra estar cheia de violência” (Génesis 6:13).
Isto certamente acontece na terra de hoje! Crimes violentos estão a tornar-se cada vez mais banais.
Tendo nascido na Inglaterra entre as duas guerras mundiais, ainda me posso lembrar quando
arrombar um carro ou assaltar uma senhora seriam os títulos dos jornais. Hoje os crimes violentos
são tão comuns que nem merecem ser noticiados. Muitos podem, com certeza, lembrar-se ainda
do tempo em que não era necessário entrar num avião passando por uma revista pessoal. Mas hoje
não!
Deixe-me contar-lhe brevemente dois incidentes nos quais a sensibilidade de um pai salvou de
morte certa, um ou mais membros da família.
Um dos meus netos estava a conduzir a carrinha da família. Nela viajavam a sua esposa, e três
crianças. Normalmente a esposa iria sentada no lugar do passageiro ao lado do condutor,
mas por alguma razão ela estava sentada atrás com as crianças.
Ao passar por baixo de um viaduto, alguém atirou à carrinha um grande pedaço de cimento. O
pára-brisas em frente do lugar do passageiro estilhaçou-se e todos os passageiros ficaram cobertos
de pó de vidro, mas ninguém se feriu. Só nessa altura é que os pais perceberam porque é que
tinham sido impedidos de sentar alguém à frente, ao lado do condutor. Se alguém viajasse à frente,
o resultado teria sido completamente diferente.
O segundo incidente aconteceu com um amigo meu, a quem chamarei Malcolm. Ele teve o
pressentimento, uma noite, que algum perigo estava a ameaçar um membro da sua família.
Na manhã seguinte, quando a sua filha se arranjava para sair para o trabalho no automóvel da
mãe, tal como fazia todos os dias, Malcolm disse-lhe, “É melhor hoje levares o meu carro e não o
da tua mãe.”

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Ao volante do carro do pai, a jovem chegou a uma parte da estrada que tinha óleo derramado.
O carro derrapou, ela perdeu o controle e teve um acidente, mas foi poupada de ficar severamente
ferida devido ao air-bag que se encheu de ar. Se ela tivesse levado o automóvel da mãe, que não
tinha air-bag, provavelmente o acidente teria sido fatal.
Nos dias em que vivemos precisamos de pais com um espírito profético como Noé: pais que
sejam sensíveis ao perigo que as suas famílias enfrentam, e que possam agir de forma a protegê-
las.

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10

O Pai como Rei

Vamos rever as três principais funções de um pai. Como sacerdote ele representa a sua família
perante Deus. Como profeta ele representa Deus para a sua família. Finalmente, como rei, ele
governa a sua família em nome de Deus.
Afinal o que significa para um pai ser um rei?
Em I Timóteo 3:4-5 Paulo discute as qualificações necessárias para um homem que queira ser
um líder na igreja. A área mais importante de todas, diz ele, é a condição em que se encontra o lar,
ou a família daquele homem. Deve ser um homem “que governe bem a sua própria casa, tendo
seus filhos em sujeição, com toda a modéstia;” (I Timóteo 3:4). Ele deve exercer autoridade e fazer
com que os seus filhos sejam respeitadores, obedientes e que estejam sob o seu controle.
A palavra grega que traduz “governe” significa literalmente “ficar em frente de” ou “ser o
cabeça de.” Contém várias ideias relacionadas, incluindo “governar,” “proteger” e “controlar.”
Essencialmente, a palavra significa que o pai fica à frente do seu lar. Ele coloca-se entre a sua
família e todas as pressões e perigos da vida. Ele também os encabeça e dá o exemplo de um modo
de vida como agrada a Deus.
Uma liderança de sucesso no lar, continua Paulo a defender, é essencial para a liderança na
igreja. “Porque se alguém não sabe governar a sua própria casa,” pergunta ele “terá cuidado da
igreja de Deus?” (versículo 5). Por outras palavras, se um homem não conseguir atingir uma
liderança de sucesso no seu próprio lar não poderá esperar ter sucesso como líder na igreja de
Deus.
Houve uma época em que desfrutei de um breve conhecimento com Lewi Pethrus, um sueco,
que pastoreava a maior igreja Pentecostal da Europa durante o período da Segunda Guerra
Mundial. Ele era um homem que levava muito a sério os requisitos bíblicos para se ser pastor.
A certa altura, apresentou-se perante a sua congregação e comunicou-lhes que se demitia da
posição de pastor.
‘As Escrituras dizem que devo manter os meus filhos sob sujeição,’ explicou ele, ‘mas os meus
filhos não estão a seguir a Deus. Por essa razão tenho de demitir-me.’

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‘Não faça isso!’ responderam todos. ‘Vamos orar pelos seus filhos para que eles sejam salvos.’
Todos oraram, os filhos do pastor foram salvos e o Pastor Pethrus não se demitiu.
Infelizmente há muitos homens no ministério divino, hoje em dia, que não levam muito a sério
este requisito das Sagradas Escrituras.
Há uma razão lógica para que o sucesso como pai seja requerido para se ser pastor. O lar é
realmente uma igreja em miniatura.
Numa igreja do Novo Testamento havia três elementos principais:

1. O pastor (normalmente no plural - que também se chamavam anciãos)


2. Diáconos ou ajudantes
3. A congregação ou rebanho

A estes correspondem os três elementos principais no lar:

1. O pai, que tem a responsabilidade de pastor


2. A esposa, que foi criada para ajudar o marido tal como o diácono ajuda o pastor
3. Os filhos, que são a congregação ou o rebanho

Deus construiu dentro da família todos os elementos básicos que formam uma boa igreja do
Novo Testamento. Deus, de facto, diz ao pai de família: “Faz com que a tua pequena igreja tenha
sucesso - aquela que Eu te entreguei no teu lar - e então ficarás qualificado para ser promovido
para a Igreja de Deus.”

Seguindo os Passos de Abraão


Vamos debruçar-nos sobre Abraão como uma imagem de um pai que aceitou e cumpriu a sua
responsabilidade para governar ou ser o rei da sua família.
Já alguma vez pensou qual a razão por que Deus escolheu Abraão entre as centenas de milhares
de homens que viviam na Terra naquela altura? Porque é que Abraão foi privilegiado
em iniciar uma nova raça que traria a salvação a toda a humanidade?
Primeiro olhe para o significado do nome de Abraão. Originalmente era Abrão, que significa
“pai elevado/exaltado.” Depois, quando Deus fez a Sua segunda e eterna aliança com este homem,

70
Ele mudou o seu nome para Abraão, que significa “pai de uma multidão.” Em ambas as formas
podemos ver que a ideia principal deste nome era o facto de significar “pai.” Isso tem um
significado tremendo. Deus escolheu Abraão como pai.
Depois, vejamos uma coisa muito importante que Deus disse sobre Abraão:

“E disse o Senhor: Ocultarei eu a Abraão o que faço, visto que Abraão certamente
virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra?
Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa
depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para agir com justiça e juízo; para
que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado.” (Génesis18:17-19)

A versão King James Atualizada diz: “Porquanto Eu o escolhi, para que instrua seus filhos
…” (versículo 19). A palavra traduzida aqui como “instrua” no Hebraico é “comandar/ordenar.”
Também é usada dessa forma nos mandamentos de Moisés. Em qualquer tradução que sigamos o
facto é que, Abraão é qualificado para a escolha de Deus porque Deus pode confiar nele para
comandar/ordenar os seus filhos e a sua casa.
A palavra “comandar/ordenar” é uma palavra muito forte, quase um termo militar. Algumas
esposas e mães poderão dizer: “Está falando sobre o homem ser um ditador?” Não. No entanto, há
algumas situações na qual o homem deve ter a responsabilidade de dizer: “Para agradar a Deus e
sermos abençoados esta é a forma como vamos fazer estas coisas na nossa família. Não vamos
fazer dessa maneira, mas desta.”
Um pai tem o direito, creio eu, de determinar algumas das regras básicas da sua casa: a que
horas comerão juntos, a que horas as crianças vêm para casa, o tipo de passatempos que podem
ter, o uso da televisão e assim por diante. Não é um privilégio do pai, é o seu dever.
Claro que o pai não deve tomar decisões deste tipo sem antes consultar a sua esposa e procurar
saber se ela está de acordo. Apesar de tudo, a responsabilidade final da ordem na casa recai sobre
o pai. É ele quem deve responder perante Deus em relação à sua família.
Em Romanos 4:11-12 podemos ler que Abraão é o pai de todos os que seguem os seus passos.
Isso significa que eu não posso apenas dizer: “Já nasci de novo, e por isso Abraão é o meu pai.”
Eu tenho que seguir os passos de Abraão. Não há área onde isso seja mais importante do que na
família.

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Ordem na Família Celeste
Para conhecermos o padrão perfeito da autoridade na família precisamos de observar a família
divina no Céu. Como é que a autoridade se distribui no relacionamento entre Deus Pai e Deus
Filho?
A forma como Jesus falou sobre o Seu relacionamento com o Seu Pai desafia muitas das teorias
contemporâneas sobre a educação de crianças:

“Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém
ma tira de mim, mas eu, de mim mesmo, a dou; tenho poder para a dar, e poder para
tornar a tomá-la. Este mandamento recebi do meu Pai.” (João 10:17-18)

Por aqui fica muito claro que Deus Pai dá os mandamentos e Jesus, o Filho, cumpre-os.
Mais uma vez, em João 12:49-50, Jesus disse:

“Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, Ele me deu
mandamento sobre o que hei-de dizer e sobre o que hei-de falar. Eu sei que o Seu
mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai me tem dito.”

Portanto, em todos os seus ensinamentos Jesus estava a obedecer ao mandamento que Ele tinha
recebido de Deus, Seu Pai.
Além disso, em João 14:31, enquanto Jesus se preparava para sair da sala da Última Ceia e
enfrentar o encontro que levaria ao Seu julgamento e execução, disse:

“Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o pai me mandou.
Levantai-vos, vamo-nos daqui.”

Então Jesus foi para a cruz em obediência ao mandamento de Seu Pai. Esse foi o mais difícil
teste de obediência!
Em Hebreus 5:8 o escritor faz um resumo de tudo isto numa simples frase:

“Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu.”

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Aqui temos o padrão, das duas Pessoas divinas - o Pai e o Filho. O Pai deu os mandamentos e
o Filho aprendeu obediência ao obedecer aos mandamentos. A Sua obediência custou-Lhe a vida.
Na Bíblia não encontramos modelo para o desleixo, a desobediência ou a falta de cuidado. Deus é
um Deus preciso. Ele diz-nos exatamente o que quer que façamos e espera que nós o façamos.
Este é o modelo que deve ser reproduzido na família humana. Nós, na terra, não temos
liberdade para melhorar o padrão que o Céu nos deu.

Disciplina no Lar
Em Hebreus 5:8, acabámos de ver que Jesus teve de aprender a obediência. Isso indica que a
obediência precisa de ser ensinada. O ensino da obediência chama-se disciplina. Se mesmo Jesus
precisou de se submeter à disciplina, quanto mais precisamos nós de disciplina, bem como os
nossos preciosos—mas imperfeitos—filhos!
Se quiser ser um sucesso ao educar os seus filhos precisa de combinar o amor com a disciplina.
Por outro lado, uma forma para os filhos serem pessoas infelizes e frustradas é estragá-los com
mimos - dar-lhes tudo o que pedirem, fazer tudo o que quiserem, ceder a todas os seus pedidos. As
crianças que são educadas dessa forma irão, ao crescerem, esperar que a vida as trata como os pais
as trataram. Todavia, a vida não joga esse jogo com as mesmas regras! A vida é bastante dura - e
está a ficar cada vez mais dura. Já observei as vidas das pessoas cujos pais as trataram com
indulgência anti-bíblica e posso dizer que, em graus variados, todos têm tido vidas difíceis.
Mimar as crianças não é bondade. Muitas vezes até é a expressão da preguiça. Exige muito
menos esforço mimar uma criança do que discipliná-la.
Os filhos mais infelizes são aqueles que não conhecem a disciplina na vida. Também são os
mais inseguros - porque uma criança precisa de ter fronteiras / limites que lhe tragam segurança.
Lembro-me quando a minha filha africana, Jesika, tinha cerca de dezasseis anos e estava a
passar pelos problemas normais dos adolescentes. Apesar de ser cristã sincera, ela queria, a certa
altura, fazer alguma coisa que não estava certa nem era uma coisa sábia para se fazer.
‘Posso fazer isso?’ perguntou ela. ‘Deixa-me fazer isso?’
‘Não, não deixo,’ disse eu, ‘porque isso vai ser mau para ti.’
Esperava que a Jesika ficasse zangada, mas vi nos olhos dela um alívio pelo facto de eu ter
estabelecido um limite. Ela não tinha força suficiente, em si própria, para criar aquela fronteira,
mas estava grata que eu a tivesse criado por ela.

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É injusto deixar as crianças completamente à solta - especialmente no mundo de hoje - sem
barreiras. Essas barreiras deviam ser simples, práticas e deviam ser explicadas às crianças:
‘Porque é que não podemos ver esse programa na televisão?’
‘Porque mostra um mau exemplo e te encoraja a fazer coisas que não são boas para tu fazeres.’
Pode também haver algumas situações para as quais a resposta ao “Porquê?” seja apenas
“Porque o Pai [ou a Mãe] estão a dizer para fazeres isso.” Para as crianças mais pequenas pode ser
complicado compreender a razão para certas regras. E apesar de tudo, o nosso Deus Pai muitas
vezes faz regras para o Seu povo sem nos dar todos os Seus motivos. Duvido, por exemplo, que a
maior parte dos Israelitas entendessem todas as razões para as regras relacionadas com a sua dieta
de Levítico 11. No entanto, Deus esperava que eles Lhe obedecessem!
Enquanto os nossos filhos estavam a crescer, uma passagem das Escrituras que Lydia e eu lhes
demos para decorar foi I Samuel 15:22:

“… obedecer é melhor do que sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura dos


carneiros.”

Anos mais tarde, fiquei admirado ao descobrir que alguns dos meus filhos estavam a ensinar
aos seus filhos a mesma passagem!
No capítulo seguinte vou continuar o nosso estudo sobre a paternidade contrastando dois pais
descritos no livro de Génesis.

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11

Uma Imagem de Dois Pais

Houve um homem que desempenhou um papel significativo na vida de Abraão. Foi o seu
sobrinho, Ló. Os dois homens tinham passado por muita coisa juntos. Sem dúvida que Ló tinha
observado a maneira como Deus lidava com Abraão e tinha iniciado o seu próprio relacionamento
pessoal com Deus. Apesar disso, chegou a altura em que os dois homens tiveram de se separar
porque:

“E não tinha capacidade a terra para poderem habitar juntos; porque os seus bens
eram muitos; de maneira que não podiam habitar juntos.” (Génesis 13:6)

Abraão permitiu que Ló escolhesse para onde queria ir. O ato de separação entre os dois
mostrou uma diferença decisiva entre eles - uma diferença de visão.
A visão de Abraão prolongava-se para além das coisas relacionadas com o tempo - estendia-
se para além deste mundo até a um futuro eterno:

“Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é


Deus.” (Hebreus 11:10)

Abraão fez as suas escolhas na vida com o olhar fixo num destino eterno.
Ló, por seu lado, não via para além do que o cercava no presente, (Génesis 13:10-12):

“E levantou Ló os seus olhos, e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem
regada, antes do Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra, e era como o jardim do
Senhor, como a terra do Egito, quando se entra em Zoar. (Isso foi antes do Senhor
destruir Sodoma e Gomorra). Então Ló escolheu para si toda a campina do Jordão, e
partiu Ló para o oriente, e apartaram-se um do outro. Habitou Abrão na terra de Canaã
e Ló habitou nas cidades da campina, e armou as suas tendas até Sodoma.”

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No versículo seguinte o escritor bíblico acrescenta, quase entre parênteses:

“Ora eram maus os homens de Sodoma, e grandes pecadores contra o Senhor.”


(Génesis 13:13)

A visão de Ló determinou o curso que tomou. Ele estava a ser irresistivelmente atraído para a
riqueza e fertilidade de Sodoma e cego em relação ao pecado e à perversão extremos dos habitantes
daquela cidade.
Alguns anos mais tarde, Deus enviou dois anjos a Sodoma para proclamar o Seu julgamento
iminente sobre aquela cidade. Naquela altura Ló não tinha só a sua face voltada para Sodoma, ele
já estava dentro da cidade, realmente “estava assentado à porta” (Génesis 19:1). Isto indicava que
Ló já tinha atingido uma posição de autoridade naquela comunidade. Apesar de não ter seguido as
práticas pecaminosas do povo, ele tinha-se tornado um deles.
Os anjos avisaram Ló para com urgência juntar todos os membros da sua família - “teu genro,
teus filhos, e tuas filhas e todos quantos tens na cidade” (Génesis 19:12) - e fugir com eles antes
da cidade ser destruída.

“Então saiu Ló, e falou a seus genros, aos que haviam de tomar as suas filhas, e
disse: Levantai-vos, saí deste lugar, porque o Senhor há de destruir a cidade. Foi tido
porém por zombador aos olhos de seus genros.” (Génesis 19:14)

Como a ideia do julgamento de Deus parecia ridícula para os seus genros, Ló acabou por levar
com ele apenas a sua esposa e as suas duas filhas solteiras. Mesmo nessa altura, fora da cidade, a
sua esposa voltou-se para olhar com pesar, pela última vez, para tudo aquilo que ela estava a deixar
para trás e foi transformada numa estátua de sal.
Mais tarde, posso imaginar Ló—em segurança nas montanhas para onde tinha fugido - olhando
para as ruínas fumegantes daquilo que tinha sido Sodoma, e para o pilar de sal em que tinha ficado
a sua esposa. “Fui eu que levei toda a minha família para aquele lugar,” deve ter ele pensado, “mas
as duas únicas pessoas que me seguiram foram estas minhas filhas.” (Note que mesmo elas se
envolveram num relacionamento incestuoso com o seu pai.)

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Será que Ló se sentia destruído por um sentimento de culpa avassalador ao perceber como
tinha deixado de cumprir a sua responsabilidade para com a família? As Escrituras não nos dão
resposta a essa pergunta, mas deixe-me sugerir que, se é pai, ponha-se por um momento no lugar
de Ló. Pode imaginar-se a pensar: “Se eu tivesse feito uma escolha diferente! Se eu tivesse ficado
mais perto de Abraão!”
Agora faça a si próprio estas perguntas essenciais:

• Que tipo de exemplo é que tenho dado à minha família?


• Estou a transmitir-lhes padrões e exemplos eternos para a vida? ou
• Estou a comprometer os meus padrões e compromissos devido à prosperidade material
ou ao sucesso mundano?

Cada um destes dois homens, Abraão e Ló, tinha uma visão. A visão de Abraão estava voltada
para a cidade eterna que Deus tem preparado para os Seus servos que O seguirem de coração. A
visão de Ló, voltada para a prosperidade material e para uma cidade mundana, cegou-o para o
pecado dos seus habitantes. A visão de cada homem determinou não só o rumo da vida que ele
seguiu, mas também o destino da sua família.
Muitos séculos depois este princípio ainda é verdadeiro: um pai estende à sua família a visão
que dirige a sua própria vida. Portanto, cada pai precisa de fazer a si próprio as seguintes perguntas:

• Qual é a visão que estou a estabelecer para a minha família?


• Estou incutindo valores eternos que os dirijam para vidas de serviço para Jesus Cristo?
ou
• Estou mais preocupado com o sucesso do mundo - uma carreira, conforto material,
independência financeira, e posição social na comunidade?

Uma vez ouvi um discurso do presidente de uma bem conhecida escola bíblica. A maioria dos
pais que enviam os seus filhos para esta escola são cristãos professos, mas o presidente disse
isto:

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‘Quero deixar claro que mais cedo ou mais tarde pergunto a cada um dos meus alunos,
“Quando os seus pais o enviaram para esta escola, o que é que lhe disseram que seria o mais
importante para o seu futuro? Era ser um servo fiel de Jesus Cristo?”
‘Até agora’, continuou o presidente, ‘nenhum dos meus alunos respondeu que sim, que era isso
que lhe tinham dito.’
Se o seu filho ou filha entrassem para essa escola, o que é que responderiam?

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12

Quando os Pais Falham

Nos capítulos anteriores sublinhei três responsabilidades entregues por Deus a cada pai
relacionadas com a sua família: como sacerdote, interceder pela família; como profeta, representar
Deus perante eles; como rei, governar a família de acordo com os padrões de justiça de Deus.
No último capítulo vimos como o fracasso de Ló em cumprir os seus deveres como pai trouxe
o desastre à sua família inteira. Em contraste, observámos como Deus escolheu Abraão devido ao
facto de poder confiar nele, pois era fiel aos seus deveres como pai, nos quais Deus baseou a Sua
promessa de fazer dele uma grande e poderosa nação.
Isto sugere uma questão importante: se a paternidade fiel produz uma nação abençoada e
próspera, o que é que acontecerá à nação cujos pais fracassam nas suas principais obrigações? Em
Deuteronómio 28 Moisés deixa-nos uma imagem viva do que podemos esperar.
Este capítulo de Deuteronómio inclui duas secções. Nos primeiros catorze versículos Moisés
enumera todas as bênçãos que virão sobre o povo de Deus se Lhe obedecerem. Nos restantes 54
versículos Moisés enumera as maldições que virão sobre eles se desobedecerem a Deus.
Um versículo nesta última secção descreve uma das maldições que virá sobre uma nação cujos
pais ignorem o seu dever para com a sua família:

“Filhos e filhas gerarás; porém não serão para ti; porque irão em cativeiro.”
(Deuteronómio 28:41)

Estas palavras hebraicas indicam que Moisés estava a falar para os homens. A palavra “gerar”
indica sobretudo o papel do pai na conceção do filho. Então, este versículo refere-se principalmente
(mas não exclusivamente) aos pais.
Um dia, percebi em choque que não poder desfrutar os filhos, era uma maldição. Comecei a
perguntar a mim próprio, quantos pais hoje em dia desfrutam os seus filhos? Não muitos, concluí.
E qual será a razão disso? Creio que é a maldição devida à desobediência. Deus fez dos filhos a
maior bênção que Ele poderia dar aos homens e às mulheres. Quando pais e mães - mas

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especialmente os pais - não seguem o Senhor, os seus filhos e filhas deixam de ser uma bênção
para serem uma maldição.
Nesta versão das Escrituras lemos literalmente: “Filhos e filhas gerarás; porém não serão para
ti…” Isto também se está a cumprir nos dias de hoje. Em incontáveis famílias destruídas os filhos
já não pertencem aos seus pais e mães. Os pais e os filhos são alienados uns dos outros. É também
o resultado de uma maldição.
Moisés avisou que os filhos iriam “em cativeiro” (versículo 41). Desde 1960, nós, no mundo
ocidental temos visto milhões de filhos entrarem em diferentes tipos de cativeiro satânico—drogas,
sexo ilícito, ocultismo e vários tipos de seitas. Os que se encontram escravizados por eles estão em
cativeiro tão certo como se um exército inimigo tivesse invadido o país e levado todos prisioneiros
para o exílio.
Porque é que tantos milhões se encontram em cativeiro? Temos a resposta em Deuteronómio
28: a rejeição persistente das justas exigências de Deus, especialmente no lar e na família.
Tal como sublinhei no capítulo 9, os verbos e os pronomes hebraicos tomam formas diferentes
segundo se referem ao masculino ou ao feminino. Em Deuteronómio 28 todos os verbos aparecem
na forma masculina. Deus coloca a responsabilidade principal sobre os homens. Isto não quer dizer
que as mulheres não tenham a sua cota de responsabilidade. Claro que têm. No entanto, é o fracasso
da liderança masculina que abre o caminho para todos os outros males que se seguem.
É o modelo do mal do Jardim do Éden que tem repetido inúmeras vezes na história humana
subsequente. Adão foi negligente na sua responsabilidade de guardar o Jardim, o que abriu
caminho para que satanás seduzisse e tentasse Eva. Da mesma forma, a negligência dos homens
tem aberto o caminho para uma inundação do mal que agora ameaça engolir a civilização ocidental.
Em Malaquias 2:7 o profeta aponta uma das principais responsabilidades do pai como
sacerdote da sua família:

“Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca


devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do Senhor dos Exércitos.”
O sacerdote é o responsável pelo conhecimento da lei do Senhor e pela sua interpretação para
o povo de Deus. Isto aplica-se, também, ao pai como sacerdote. Os seus filhos e família deviam
procurar o conhecimento da Palavra do Senhor através da boca do pai.
O que é que acontece se o sacerdote falhar na sua função? Deus declara:

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“O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste
o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim;
visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei dos teus filhos.”
(Oseias 4:6)

Palavras poderosas! Deus está a dizer aos israelitas: “Esperava que vocês fossem sacerdotes,
mas rejeitaram o conhecimento que precisavam.” Não tinha sido o conhecimento secular que fora
rejeitado, mas o conhecimento do caminho e da palavra de Deus. Como resultado disso Deus já
não os aceita como sacerdotes - e até promete esquecer os seus filhos.
Como sacerdote na sua família, cada pai tem o privilégio de fazer o que Jó fez—levar
continuamente os seus filhos a Deus em oração. Ao fazer isso, irá mantê-los sob o cuidado e
proteção do Todo-Poderoso. Todavia, ao fracassar no seu ministério intercessório pela sua família,
como sacerdote, Deus diz: “Esquecerei os teus filhos.” Na tradução NVI: “Também ignorarei os
teus filhos” (com ênfase adicionada). Ou seja, “Os teus filhos já não se encontrarão sob o meu
cuidado especial.”
Este aviso solene de Deus tornou-se vívido para mim, hoje em dia. Algumas vezes, ao observar
as multidões de jovens que se aglomeram nas ruas das cidades, pergunto a mim mesmo, quantos
há que são esquecidos por Deus - ignorados por Deus - porque não têm pais que intercedam por
eles?
Esta situação terrível exige um exército, de intercessores comprometidos e empenhados, que
se manterá na brecha em favor dessas famílias. Mas a oração intercessória de um pai em benefício
da sua família é única. Mais ninguém pode preencher completamente o lugar do pai. O seu
privilégio único acarreta consigo responsabilidades únicas.

O Diagnóstico de Malaquias
Cronologicamente, Malaquias é o último livro do Antigo Testamento e, além disso, a última
palavra deste último livro é, maldição. Se Deus não tivesse mais nada para dizer à humanidade
depois do Antigo Testamento a Sua última palavra teria sido uma maldição. Graças a Deus pelo
Novo Testamento, o qual nos mostra a saída da maldição!
É isto que Deus nos diz nos últimos dois versículos do Antigo Testamento:

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“Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do
Senhor; E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus
pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição.” (Malaquias 4:5-6)

Há mais de dois mil anos, Deus revelou a Malaquias, através de uma visão profética o problema
maior e mais urgente dos nossos dias: pais negligentes e filhos que não têm pais.
Os economistas e legisladores sociais indicam todo o tipo de diagnósticos e soluções. A
verdadeira raiz do problema, no entanto, está na família. Os pais renegaram as suas
responsabilidades em relação aos filhos. É frequente tanto o pai como a mãe serem culpados, mas
a responsabilidade principal recai sobre o pai.
Devemos reconhecer que o movimento de libertação feminino de alguma forma, tem sido
contraproducente. Enquanto defendiam e seguiam em direção a um salário igual para um trabalho
igual, as mulheres foram libertas do seu compromisso de honrar e obedecer aos seus maridos. O
marido, por sua vez, foi libertado do seu compromisso de ser fiel a uma mulher. Assim, o homem
fica cansado da esposa e vai-se embora. Depois disso ele já não tem mais obrigações, enquanto
que a mulher fica lutando por educar sozinha um ou mais filhos. Em muitos casos ela fica pior do
que estava antes.
Tenho-me preocupado profundamente com as mães que educam os seus filhos sozinhas. Em
muitos aspetos, parece-me que a igreja contemporânea não está a fazer tudo o que deveria por estas
mães e pelos seus filhos.
Em Tiago 1:27 a Bíblia dá-nos uma definição do que Deus considera a verdadeira religião:

“A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as
viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo.”

Algumas vezes faço a mim próprio a pergunta do que é que aconteceria se todas as famílias
cristãs, que seguem a Bíblia seriamente, aceitassem esta responsabilidade, nem que fosse só por
uma criança que é, de facto, ainda que não de nome, órfã? Isso inclui qualquer criança sem cuidado
correto ou provisão paternal ou maternal. Certamente que iria requerer o sacrifício, de certo modo,
de algum conforto e conveniência. Talvez houvesse até algum sacrifício financeiro. No entanto, se

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isto fosse realizado num espírito de amor cristão iria aliviar a medida de sofrimento tão vasto em
que a maior parte de nós nem sequer pensa.
Infelizmente, a nossa recusa em pensar nisso não torna a necessidade menos real e urgente.
Quase contra a minha vontade recordo as palavras de Jesus em Mateus 25 ditas às nações
consideradas “bodes”: “Em verdade vos digo que quanto não o fizeste…” (versículo 45). Como
cristãos no mundo ocidental, seremos julgados não tanto pelo que fizemos, como pelo que não
fizemos.
A mensagem de Malaquias era dirigida a um povo extremamente zeloso nas suas práticas
religiosas e que, no entanto, se queixava que o Senhor não respondia às suas orações da forma
como esperavam. Em resposta o Senhor apontou o seu fracasso como maridos e pais:

“Ainda fazeis isto outra vez, cobrindo o altar do Senhor de lágrimas, com choro e
com gemidos; de sorte que ele não olha mais para a oferta, nem a aceitará com prazer
da vossa mão. E dizeis: Porquê? Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da
tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da
tua aliança.” (Malaquias 2:13-14)

Deus olhava para além de toda a religiosidade externa e via votos de casamento desfeitos e
maridos que abusavam das suas esposas. Em linguagem de hoje a mensagem de Malaquias poderia
ser resumida assim: “Nada do que fizerem na igreja poderá pagar pelo que deixam de fazer em
casa.”
Deus continua explicando um dos propósitos principais de um casamento monógamo tal como
Ele ordenou que fosse desde o princípio:
“E não fez ele somente um, ainda que lhe sobrava o espírito? E por que somente
um? Ele buscava uma descendência para Deus…” (Malaquias 2:15, com ênfase)

Quando um marido e esposa vivem juntos em harmonia de acordo com os princípios das
Escrituras, estão qualificados para educar filhos, justos e tementes a Deus. Ao desfazer um
casamento são os filhos os que mais sofrem.
Deus continuou a avisar todos os maridos:

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“… Portanto guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja infiel para com a mulher
da sua mocidade.” (Malaquias 2:15)

Ele seguiu estas palavras com uma afirmação da Sua atitude intransigente em relação ao
divórcio:

“Porque o Senhor, O Deus de Israel diz que odeia o repúdio…” (ACF)


“‘Eu odeio o divórcio’, diz o Senhor, o Deus de Israel…” (NVI) (Malaquias 2:16)

Como Vai Responder?


Em todas as repartições do governo de Inglaterra onde se podem registar casamentos existe
uma definição de casamento afixada bem à vista de todos: “Segundo a lei deste país, o casamento
é a união entre um homem e uma mulher para a vida, com exclusão de todos os outros.” Durante
o período em que o povo inglês se tem afastado cada vez mais deste padrão, o país tem
progressivamente decaído em quase todas as áreas da vida nacional. Poucas pessoas, hoje em dia,

se preocupam em colocar o Great (Grande) em frente de Britain1 (Bretanha)!


A Palavra de Deus confronta não só a Inglaterra, mas toda a civilização ocidental com apenas
duas alternativas: podemos restaurar o relacionamento da família e sobreviver, ou podemos
permitir que o relacionamento da família continue a deteriorar-se e seguir o mesmo caminho que
tem seguido nas últimas décadas. Se não optarmos pela restauração, pereceremos sob a maldição
de Deus.
O resultado final desta crise será decidido pela resposta dos pais. Eles são os que Deus
considera responsáveis. Na mensagem de Deus através de Malaquias, Ele exige que em primeiro
lugar o coração dos pais se volte para o dos filhos. Só depois disso o coração dos filhos se voltará
para os pais.
Os que de entre nós pertencem às gerações mais antigas podem queixar-se da geração X ou da
Próxima geração, ou do que quer que lhes chamemos. Podem apontar-lhes todos os defeitos e
fracassos, mas a crise não começou com eles. A culpa é das gerações mais antigas. Foi a nossa
geração que os traiu, que fracassou ao apresentar-lhes a verdade, que falhou quando não lhes
ensinou a disciplina divina. Agora Deus está a julgar-nos através dos nossos filhos.

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Há vozes que clamam que a Igreja hoje precisa de se tornar socialmente relevante. Não há
outra área na sociedade em que a Igreja tenha maior oportunidade de se tornar socialmente
relevante do que na área da vida familiar. Ao fazer isso iremos responder à crise mais urgente da
nossa era.
A igreja hoje precisa de uma mensagem clara e atual que mostre a família cristã como Deus a
criou - uma mensagem que defina o papel dos maridos, mulheres e filhos. Porém, precisa de ser
uma mensagem que seja fiel aos grandiosos e imutáveis princípios estabelecidos nas Escrituras
desde Génesis. Não deve haver nenhuma cedência às forças humanas que se infiltraram na Igreja
nestas últimas três ou quatro gerações.
No sermão da Montanha Jesus avisou os Seus discípulos acerca de que o seu compromisso em
O seguir iria atrair sobre eles as atenções de todos:

“Vós sois a luz do mundo: não se pode esconder uma cidade edificada sobre um
monte.” (Mateus 5:14)

continuando:

“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras e glorifiquem a vosso pai, que está nos céus.” (Mateus 5:16)

Jesus não estava só a dizer aos Seus discípulos que Ele esperava que eles fossem uma fonte de
luz num mundo em trevas. Ele também lhes estava a mostrar como a luz que irradiavam devia
brilhar: através das suas boas obras tornadas visíveis para todos.
Nos capítulos anteriores vimos que Deus pretende que a família cristã seja uma fonte de luz
nas trevas do mundo, e isso dá-se de duas formas. Primeiro, os maridos e esposas, pela maneira
como se relacionam entre si, devem demonstrar o relacionamento entre Cristo e a Sua Igreja. Em
segundo lugar, os pais devem construir famílias que demonstrem o amor que Deus como Pai tem
pelo Seu povo que n’Ele crê. A Bíblia também revela uma boa obra principal que Deus espera do
Seu povo: cuidar dos órfãos e das viúvas. Este mandamento é afirmado em muitas passagens do
Antigo Testamento e torna a ser sublinhado no Novo Testamento.

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Tudo Se Resume numa Palavra
Os mandamentos de Deus podem ser resumidos numa só palavra de imenso significado:
AMOR. Este amor é manifestado em três dimensões principais:

1. O amor íntimo entre o marido e a sua esposa


2. O amor protetor dos pais pelos seus filhos
3. O amor dos crentes que se estende àqueles que não têm mais ninguém que os ame - os
órfãos e as viúvas.

Se a Igreja Ocidental Contemporânea for uma “cidade… edificada sobre um monte [que] não
se pode ocultar,” precisamos de perguntar: qual é a imagem que a Igreja dá aos descrentes de todo
o mundo? Em particular, será que o mundo vê que a Igreja está a cumprir a sua responsabilidade
em demonstrar o amor divino entre Cristo e a Sua Igreja e o amor Paternal de Deus pela Sua
família? Também precisamos de perguntar: Será que o mundo acha que a Igreja está a ser um
exemplo pela forma como cuida dos órfãos e das viúvas?
Estas são perguntas que exigem uma resposta. Não podemos encolher os ombros e ignorá-las.
Provavelmente cada pessoa tem que apresentar a sua própria resposta.
A minha resposta baseia-se numa longa e ampla experiência em muitas nações. Já tive a
cidadania dos Estados Unidos e da Inglaterra. Já ministrei a Palavra em mais de cinquenta nações,
incluindo todas as nações europeias, exceto na Finlândia e na Bulgária, e nas principais nações de
língua inglesa. A minha conclusão franca e pessoal é a de que a Igreja contemporânea é negligente.
Graças a Deus, há maravilhosas exceções, mas a maior parte da Igreja não tem demonstrado o
amor de Deus, quer nas relações familiares básicas, quer no cuidado com os órfãos e as viúvas.
Várias organizações cristãs estão a procurar confrontar o fracasso contemporâneo da liderança
masculina e a resultante destruição da família - organizações como Focus on the Family, sob a
liderança do Dr. James Dobson, e, mais recentemente, Promise Keepers. Precisamos de perguntar
a nós próprios porque é que estes e outros grupos não sediados em igrejas se têm multiplicado na
última metade do século. A resposta é de que estão a procurar chamar a si responsabilidades que
Jesus encarregou à Igreja originalmente.
Apesar de admirarmos e apoiarmos estes grupos, não acredito que Jesus, o Cabeça da Igreja,
aceite a transferência da responsabilidade. Ele ainda exige que a Igreja reconheça a sua

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responsabilidade e espera que ela a cumpra. Obviamente isso requer uma grande revolução na
Igreja devido à forma como presentemente funciona. Se essa revolução fracassar creio que Jesus
porá de lado a Igreja contemporânea e erguerá em seu lugar uma Igreja que seja digna de se tornar
a Sua noiva.
Há muita conversa e oração hoje em dia sublinhando a necessidade de um reavivamento. Uma
marca de um reavivamento de verdade será a de que a Igreja como um todo reconhece e aceita a
sua responsabilidade de desempenhar as tarefas que são, nos dias de hoje, com frequência
transferidas para as organizações.
Tenho a certeza de uma coisa: Jesus não irá voltar para uma organização. Ele voltará para a
Sua noiva que “já…se aprontou” e está vestida “linho fino, brilhante e puro". O linho fino são os
atos justos dos santos.” (Apocalipse 19:7-8). Os cristãos que o professam ser e que não realizam
“os atos justos” que lhes foram atribuídas, não terão tecido para a sua veste nupcial e por isso não
serão elegíveis para participar no casamento.
Ao encarar a Igreja contemporânea no mundo ocidental continuo a recordar as palavras que
Jesus proferiu para as nações “bodes” acerca de uma eternidade perdida: “Em verdade vos digo
que quanto não o fizeste…” Precisamos de nos recordar que a maldição foi proferida não pelo que
fizeram, mas pelo que deixaram por fazer.

1 Nota do tradutor: Referência ao nome Grã-Bretanha (Grande Bretanha)

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13

Talvez Tenha Falhado?

Agora que já leu até aqui, estará na altura de fazer uma pausa e refletir. Possivelmente
encontrou-se pela primeira vez cara a cara com a imagem bíblica do que Deus espera que um pai
seja e faça - e isso chocou-o!
Não reaja precipitadamente. Tire tempo para pensar - e ore - sobre este assunto. Peça a Deus
para lhe tornar essa imagem mais real. Talvez seja útil ler outra vez os últimos cinco capítulos.
Recorde a definição que Paulo dá para o pecado em Romanos 3:23:

“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.”

O pecado não é necessariamente fazer alguma coisa maligna. Na sua essência é agir ou viver
de forma que Deus não receba através das nossas vidas a glória que Lhe é devida. Recordemos
também que o homem é muitas vezes culpado de pecados de omissão - pecando pelo que não faz.
Há momentos na nossa vida quando precisamos de nos julgar a nós próprios. Ao fazer isso,
podemos proclamar a misericórdia prometida em I Coríntios 11:31:

“Porque se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.”

Considere os três ministérios principais do pai em relação à sua família: sacerdote, profeta e
rei. Verifique o seu desempenho em cada uma destas três áreas e coloque a si próprio questões
relevantes:

• Como sacerdote da minha família, sou fiel na minha intercessão diária e regular por
cada um deles? Quão regularmente agradeço a Deus por eles?
• Como profeta, como é que tenho representado Deus perante a minha família? Tenho-
lhes apresentado uma imagem de um Pai celeste cheio de amor? Ou devo reconhecer

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que a imagem que eu lhes tenho dado do nosso Deus e Pai é realmente uma caricatura
nada atraente?
• Como rei, será que tenho dirigido os meus filhos com uma disciplina que combine amor
e firmeza e que os prepare para tomarem o seu lugar na sociedade como cidadãos
responsáveis? Tenho estabelecido limites que protejam os meus filhos das forças do
mal ativas no mundo de hoje?

Qual foi a sua resposta a estas perguntas? Reconhece, de facto, que “pecou e destituído está
da glória de Deus”? Não há razão para ficar desencorajado ou para desistir. Deus convence-nos
dos nossos pecados não para nos condenar, mas para nos dirigir à solução que Ele providenciou
para nós através do sacrifício de Jesus Cristo na cruz.

Dois Passos Simples


A exigência simples que Deus nos faz encontra-se em I João 1:9:

“Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados,
e nos purificar de toda a injustiça.”

Quando sinceramente reconhecemos e confessamos os nossos pecados a Deus, Ele não só nos
perdoa, como também nos purifica de toda a sensação de culpa e de fracasso e restaura em nós
consciências puras.
A fim de completar a cura, há mais um passo que precisamos de dar. Os nossos
relacionamentos pessoais são como as duas vigas de madeira que formam a cruz: uma vertical, a
outra horizontal. A viga vertical significa o nosso relacionamento com Deus; a viga horizontal
representa o nosso relacionamento com os outros seres humanos. Para recomeçar, o primeiro passo
é ter em conta o nosso relacionamento com Deus confessando-Lhe os nossos pecados e recebendo
o Seu perdão. O segundo passo é recomeçar com os outros seres humanos confessando-lhes os
nossos pecados.
Esta exigência encontra-se em Tiago 5:16:
“Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis;
a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.”

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Na Igreja contemporânea há muito pouco dito sobre a confissão dos nossos pecados uns aos
outros. Como consequência a atmosfera em muitos grupos cristãos encontra-se envenenada pelos
pecados que não foram confessados e pelas atitudes de ressentimento e de amargura que nunca
foram resolvidas. Isso inibe a obra do Espírito Santo.
John Wesley registou no seu diário que uma das sociedades dos primeiros Metodistas que teve
mais sucesso veio de um grupo de cerca de dez pessoas que concordaram em se encontrar
semanalmente para confessarem os seus pecados uns aos outros.
Em I João 1:7 o apóstolo afirma que a principal exigência é a contínua pureza espiritual:

“Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros,
e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.”

‘Andar na luz’ significa sermos honestos e abertos uns com os outros. Todos os verbos deste
versículo estão no tempo presente: “se andarmos na luz continuamente… temos comunhão
continuamente… e o sangue de Jesus nos purifica continuamente…” por outras palavras, João está
a descrever um estilo de vida contínuo.
Esta exigência aplica-se a todos os cristãos vivendo em comunhão, mas primeiro, e acima de
tudo, à família cristã. Isso coloca uma grande responsabilidade sobre o pai de cada família.

Um Pai Que Confessou


Vamos supor que já deu o primeiro passo e confessou os seus pecados a Deus. Agora é
necessário dar o passo seguinte e confessar os seus pecados aos membros da sua família—em
primeiro lugar à sua esposa, e depois então, aos seus filhos.
É bastante provável que já tenha a certeza de alguns dos pecados que deve confessar, mas até
agora tem estado como que a escondê-los debaixo do tapete. Deixe-me ser franco consigo: Não há
tapete que possa encobrir esses pecados!
Ao trabalhar neste mesmo capítulo do manuscrito para este livro, recebi uma inesperada carta
de um casal cristão, a quem já conheço há vários anos. Vamos chamar-lhes David e Rosemary.
Há meses o David tinha decidido fazer um tipo especial de jejum - abster-se não só de todo o
tipo de comida, mas também de outras distrações que nos tornam insensíveis à voz do Espírito. Na
sua lista incluíam-se a televisão, os filmes e vários tipos de música.

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Na carta Rosemary referia algo do que o jejum tinha trazido às suas vidas. Vou citar abaixo
alguns excertos do que ela disse:

Parece que agora aquilo que Deus começou - e continua a fazer - é a mostrar-nos a
quantidade de sujidade e imundície que temos tido nos nossos corações. Tenho a certeza
de que se Ele me tivesse mostrado todo o meu pecado duma só vez eu tinha morrido logo
ali. Mas na Sua maneira gentil e misericordiosa de proceder Ele tem-nos mostrado,
pouco a pouco, aquilo que não Lhe agrada. E tem sido tanto. Sinto como se tivesse
confessado pecados meses a fio…e o David sente o mesmo.
No princípio do jejum, o Senhor mostrou a David, de forma muito clara, que o jejum
não valeria nada se houvesse algum pecado não confessado na sua vida. Assim, ele
confessou tudo a Deus e arrependeu-se. Depois, o Senhor disse-lhe: “Agora confessa à
tua esposa!” E, com muita dor, humilhação e tristeza, ele despejou todos os pecados
escondidos dos quais eu nunca tinha sabido ou suspeitado. Deus claramente trouxe-nos
a este lugar e apoiou-nos maravilhosamente com as Escrituras e trouxe-nos paz.
A confissão de David foi realmente um verdadeiro alerta para cada um de nós, e
para alguns dos amigos a quem contámos um pouco do que se passou. Deus usou esta
situação para nos mostrar com que facilidade a maneira do mundo pensar modifica a
nossa perspetiva, e com que facilidade deixamos o pecado penetrar-nos até nos ter
tomado por completo, e como confiamos em nós próprios em vez de em Deus. Vezes sem
conta Deus tem-nos mostrado que não temos protegido os nossos corações. Deus tem-
nos mostrado aos dois as coisas que se tornaram ídolos para nós. David desfez-se de
quase toda a sua bastante extensa coleção de música. Isso era uma coisa que eu nunca
poderia tê-lo convencido a fazer, então eu sabia que tinha sido Deus.
Em três palavras podia descrever o que nos aconteceu: dor, purificação,
reavivamento. Agora compreendo o que é o reavivamento. Não acontece num edifício,
ou a uma multidão ao mesmo tempo, mas a um coração que confia no Seu amor glorioso
e que responde ao Seu chamado e à Sua correção. Tenho ficado maravilhada, e
agradecida, pela forma gentil como Deus tem lidado comigo. A Sua correção é
misericordiosa e restauradora.

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Há algumas coisas maravilhosas que nos têm acontecido desde o princípio desta
história. Há alguns meses David pediu a um grupo de homens para tomarem com ele o
pequeno almoço de duas em duas semanas à segunda-feira. O objetivo seria orarem uns
pelos outros e falarem das suas vidas. Deste grupo, desde que David lhes contou o que
nos estava a acontecer, quase todos já foram ter com as suas esposas para lhes
confessarem algum aspeto de um pecado escondido. Deus está a realizar a mesma
purificação em todos!
Agora, as esposas dos maridos deste grupo começaram a reunir-se para orar pelos
seus maridos. Tem sido a mais maravilhosa e natural unção do Espírito Santo que já
experimentei. Com ‘natural’, quero dizer: nenhum de nós vai à mesma igreja. Esta
unção não está a acontecer num edifício; é simplesmente o corpo de Cristo no Seu
ministério mútuo uns pelos outros. Tem sido incrível! Além disso, como não
frequentamos todos a mesma igreja, estamos a compartilhar o que nos aconteceu com
os que pertencem às nossas igrejas, e está a espalhar-se!

O que está a passar-se nesta família precisa de acontecer a milhões de famílias onde há pecado
não confessado na vida do pai. Muitos cristãos têm consciência dos seus pecados não confessados,
mas adotam a atitude de que “se ignorar tempo suficiente, irá embora.” Isso é um engano! Só há
uma forma de lidar com eficiência com o pecado - arrependimento do fundo do coração seguido
de confissão:
“O que encobre as suas transgressões, nunca prosperará; mas o que as confessa e
deixa, alcançará misericórdia.” (Provérbios 28:13)

Isso leva-nos à verdadeira barreira ao lidarmos com o pecado: o orgulho. “Se eu confessar
esses pecados,” dizemos a nós mesmos, “serei humilhado.” Não, isso é outro engano! Se
confessarmos esses pecados, seremos feitos humildes. Se recusarmos confessá-los, no final
seremos humilhados.
Deus nunca se oferece para nos tornar humildes. Invariavelmente o mandamento é: “Humilhai-
vos” (ver por exemplo, I Pedro 5:6). É uma coisa que só nós podemos fazer. Ninguém mais pode
tornar-nos humildes - nem mesmo Deus! Porém, ao recusarmos humilhar-nos, mais cedo ou mais
tarde chegará a hora de sermos humilhados.

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A escolha é: ser humilde e confiar em Deus, na Sua misericórdia e graça, ou recusar ser
humilde e, a seu devido tempo, será humilhado por circunstâncias que estão fora do seu controle.

A Quem Confessar
Poderá perguntar: a quem devo fazer a minha confissão? Alguém deu a seguinte resposta: a
confissão deve ser tão ampla como a transgressão. Faça a sua confissão a todos os que foram
prejudicados pelo seu pecado.
Todo o pecado é principalmente e acima de tudo contra Deus. Apesar do rei David ter
prejudicado duas pessoas com o seu pecado – Bate-Seba, a quem ele seduziu para cometer
adultério, e Urias, seu marido, a quem assassinou premeditadamente –, disse a Deus,

“Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista...” (Salmo 51:4)

Na luz penetrante do Espírito Santo, David percebeu que o seu pecado era, principalmente,
uma afronta contra um Deus santo e omnipotente.
Lembre-se, ao fazer a confissão a Deus, não está a dizer-Lhe nada sobre si próprio que Ele
ainda não saiba. O propósito da confissão não é o de O informar, mas o de trazer o pecado para a
luz, onde se pode lidar com ele. Deus não perdoa nas trevas. Se desejarmos o seu perdão, devemos
expor o nosso pecado à maravilhosa luz da Sua face.
Se ainda se sentir hesitante em confessar-se a Deus, deixe-me recordar-lhe a exigência simples
de Deus:
Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados,
e nos purificar de toda a injustiça.” (I João 1:9)

Estas palavras de encorajamento também são palavras de aviso. Se fizer a sua confissão Deus
compromete-Se a perdoá-lo. Mas Ele nunca Se comprometeu a perdoar o pecado que não
quisermos confessar.
Note, também, que quando Deus perdoa, Ele nos purifica de toda a iniquidade ligada ao nosso
pecado. Se tiver sido perdoadotambém está purificado da iniquidade. Se o seu coração não
tiver sido purificado, provavelmente isso indica que não foi perdoado. Talvez não se tenha
verdadeiramente arrependido.

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Se o pai de uma família pecar, o seu pecado provavelmente afetará toda a família, de uma
forma ou de outra. A primeira pessoa a quem ele deverá normalmente confessar o pecado será à
sua esposa. Se os seus filhos forem ainda imaturos e jovens, ele deverá ter cuidado em não falar
sobre o seu pecado de forma que possa ferir as suas consciências delicadas.
Antes de fazer a sua confissão, o pai deve pedir a Deus, honestamente, que prepare os corações
da sua família. Ele deve pedir a Deus que o guie tanto na oportunidade como na forma como fará
a sua confissão.
Se for sincero e aberto ao Espírito Santo, Ele irá mostrar-lhe os pecados específicos que precisa
de confessar. Alguns pecados que os pais manifestam de forma mais ou menos geral são a
impaciência, a irritabilidade e descontrole da ira. Os pais, tal como todos os homens, são
frequentemente tentados para alguma forma de impureza sexual, quer em atos, quer em
imaginação. Um pecado que escraviza multidões de homens nos dias de hoje é o pecado da
pornografia.
A Bíblia nunca fala de pecados ‘menores’. Em I João 5:17 o apóstolo recorda-nos que: “toda
a iniquidade é pecado.” Não há meio termo entre a justiça e o pecado. Tudo o que for iníquo é
pecaminoso.
Por outro lado, a Bíblia categoriza alguns pecados como maiores ou “capitais.” José, por
exemplo, ao ser tentado a cometer adultério com a esposa de Potifar, exclamou: “Pois como faria
eu, tamanho maldade, e pecaria contra Deus?” (Génesis 39:9, com ênfase). Tal como David, José
reconheceu que ele estaria pecando principalmente, e acima de tudo contra Deus.

Fora da Zona Cinzenta


Multidões de cristãos nos dias de hoje estão a viver no que se chama “uma zona espiritual
cinzenta.” Não andam nem na luz do favor de Deus numa vida de obediência a Deus sem reser-
vas, nem estão a caminhar na escuridão noturna do pecado declarado.
Mas o evangelho não deixa lugar para a neutralidade espiritual. Se o seu propósito for ser o
tipo de pai que Deus procura, então deve ter a vontade de Lhe abrir o seu coração e a sua vida. Ao
permitir-Lhe que Ele exponha o pecado e que faça dentro de si a Sua obra de purificação, sairá da
zona cinzenta para a luz brilhante do favor de Deus. É aí que começará a entender tudo o que
significa ser pai.

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Mas PodeTer Sucesso!

Ao ler os capítulos anteriores, foi confrontado com áreas em que falhou na sua vida. Já
reconheceu que não tem sido o tipo de pai que Deus procura - e de que a sua família
desesperadamente necessita.
Está na hora de tomar uma decisão. Arrependa-se dos seus fracassos e entregue-se a Deus para
o ministério de pai. Se estiver pronto para fazer isso, aqui ficam quatro passos que precisa de
seguir.

1. Ocupe o Seu Lugar Como Chefe da Sua Família


Isto exige uma decisão e entrega. Pode orar mais ou menos assim: “Senhor, reconheço que sou
responsável perante Ti por ser o Chefe ou o Cabeça da minha família. Por decisão da minha
vontade aceito agora a responsabilidade que essa posição me dá. Comprometo-me Contigo a
cumprir esta tarefa.”
Logo que se tenha comprometido desta maneira, Deus começará a fornecer-lhe a autoridade
que um pai precisa para ser o Cabeça da sua família. Este é o resultado de um princípio que se
pode ver por toda a Bíblia: Deus nunca dá responsabilidade sem autoridade, e Ele nunca dá
autoridade sem responsabilidade.
A certa altura no ministério de Jesus, um centurião romano enviou mensageiros para Lhe pedir
para vir curar um dos seus servos, que se encontrava às portas da morte. Como resposta Jesus
partiu para a casa do centurião com os mensageiros. Porém, antes de lá chegar, o centurião enviou-
Lhe os seus amigos dizendo:

“Senhor não te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu
telhado; E, por isso, nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize, porém, uma
palavra, e o meu criado sarará. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e
tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: Vai; e ele vai; e a outro: vem; e ele vem;
e a meu servo: faze isto; e ele o faz.” (Lucas 7:6-8)

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Este centurião romano reconheceu que a autoridade de Jesus no reino espiritual era análoga à
sua no reino militar. Ele resumiu numa curta frase o requisito essencial para se ter autoridade em
qualquer reino: estar sob autoridade. A autoridade é sempre transmitida de cima para baixo através
de uma fonte superior.
No final do Seu ministério terreno, Jesus disse aos Seus discípulos:

“Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.” (Mateus 28:18) (NVI)

Portanto, toda a autoridade no universo vem de Deus Pai e passa através de Jesus Cristo o
Filho.
Em I Coríntios 11:3 Paulo descreve como esta cadeia de autoridade passa para cada uma das
famílias da terra:

“Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça
da mulher; e Deus a cabeça de Cristo.”

Isto pode ser representado no seguinte diagrama:

Deus Pai

Cristo

O homem (marido)

A mulher (esposa)

A sua autoridade como marido e pai, depende, por isso, de estar em submissão a Jesus. Se
estiver verdadeiramente submisso a Ele como sua Cabeça, toda a autoridade do céu irá fluir do
alto através de si para a sua família, e você funcionará com eficiência como Cabeça da família. Por
outro lado, se não estiver em sujeição a Jesus, pode até esforçar-se grandemente na carne - pode
gritar e bater o pé; pode zangar-se e ser violento - mas ainda lhe faltará uma coisa: a autoridade
genuína dada por Deus, que é a única que o pode tornar eficiente como Cabeça da sua família.

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2. Confie em Deus Para a Graça que Precisar
Ser pai é um chamado de Deus tão sagrado como ser evangelista ou ser pastor. Se Deus o
tivesse chamado para qualquer um desses ministérios, não iria depender apenas da sua habilidade.
Seria preciso procurá-Lo para encontrar a graça especial que seria necessária para ter sucesso. Da
mesma forma, é preciso confiar em Deus para obter a graça necessária para se ser um pai de
sucesso.
Aqui ficam algumas palavras de Hebreus 4:16 para o encorajar:

“Cheguemos, pois, com confiança, ao trono da graça, para que possamos alcançar
misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.”

Reconheça que através de Jesus se tem acesso direto ao trono de Deus, que é Quem governa
sobre todo o universo e tem todas as situações e pessoas sob o Seu controle. Tome nota, também,
que é um trono da graça, do qual é dispensado o favor imerecido de Deus a todos os que vierem
através do sacrifício de Jesus na cruz. É convidado a entrar com confiança, não com hesitação ou
com dúvida. Não é um suplicante indefeso, mas um filho de Deus, seu Pai, na presença de Quem
é sempre bem-vindo.
Ao chegar a Ele desta forma, Deus oferece-lhe duas coisas: misericórdia e graça. Nenhuma
delas pode ser merecida ou ganha de alguma forma. Devem ser recebidas como dádivas gratuitas
de Deus.

Misericórdia Para o Passado


A misericórdia toma conta do passado. Cobre todos os erros e fracassos que o fazem sentir-se
incapaz. Depois de confessado e se ter arrependido de todos os pecados que tenha cometido, eles
já não serão mais usados contra si.
A sua memória pode ainda encontrar-se assombrada pelas cenas do passado que podem ser
recordadas de forma muito vívida - alturas em que agiu, ou reagiu contrariamente à forma como
um pai deve agir. Porém, ao arrepender-se e ao confessar esses pecados, a maravilhosa mensagem
do Evangelho é a de que Deus jamais se lembrará deles.
Encontramos esta verdade expressa de forma muito clara e maravilhosa em Miqueias 7:18-19:

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“Quem é Deus semelhante a ti, que perdoa a iniqüidade, e que passa por cima da
rebelião do restante da sua herança? Ele não retém a sua ira para sempre, porque tem
prazer na sua benignidade. Tornará a apiedar-se de nós; sujeitará as nossas
iniqüidades, e tu lançarás todos os seus pecados nas profundezas do mar.”

Ao cumprir as condições de Deus, Ele lançará os seus pecados para trás de Si, para dentro das
profundezas do oceano do Seu esquecimento. Foi Connie ten Boom quem disse: “E quando Deus
põe os nossos pecados no mar, Ele põe lá um aviso a dizer: ‘Proibido pescar!’” Se o Deus poderoso
esqueceu os seus pecados, porque haverá de tentar lembrar-se deles?

Graça Para o Futuro


Depois de ter lidado com o seu passado, pode olhar para o futuro, procurando a graça que
precisará para ter sucesso no seu chamado como pai. A graça, tal como a misericórdia, nunca pode
ser merecida; só pode ser recebida pela fé.
A graça tem sido definida como “o favor imerecido dado por Deus aos que não o merecem.’’
Devido ao seu relacionamento com Deus através de Jesus Cristo, Deus olha para si com favor. Ele
tem prazer em si. Ele quer o melhor para si. Ele deseja que tenha sucesso sob todas as
circunstâncias - particularmente como pai.
O apóstolo Paulo suportou provações e pressões tremendas. A certa altura ele implorou alívio
a Deus, mas a resposta de Deus foi: “A minha graça te basta.” (II Coríntios 12:9) Esta graça
também lhe bastará a si. Provavelmente não terá de passar por tudo o que Paulo passou, mas
qualquer que seja a sua situação ou experiência, a mensagem de Deus para Paulo ainda é verdadeira
nos dias de hoje: “A minha graça te basta.”
A graça leva-nos além da nossa capacidade e habilidade natural. Quando já esgotámos os
nossos próprios recursos, podemos olhar para Deus e pedir a Sua graça - a sua capacidade
sobrenatural que nos torna capazes. A graça começa onde a nossa capacidade termina.
Isto aplica-se a si como pai. Haverá ocasiões quando não se sentirá à altura da responsabilidade.
Será nessas ocasiões que irá precisar de receber a graça de Deus. Reconheça francamente perante
Ele que esgotou todos os seus recursos humanos, e diga-Lhe: “Senhor, estou dependente de Ti para
poder ser e fazer aquilo que de outra forma me seria impossível.”

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Nessa altura perceberá, tal como Paulo percebeu, que ao chegar ao fim dos seus recursos,
começará a descobrir o que a graça de Deus pode fazer. Nessa altura, tal como o apóstolo, poderá
dizer: “Porque quando estou fraco, então sou forte” (II Coríntios 12:9).

3. Saiba o que se Espera do Seu Trabalho/Chamado


Talvez necessite de ler os capítulos 8, 9 e 10 mais uma vez, pois descrevem as
responsabilidades de um pai como sacerdote, profeta e rei da sua família. Anote as áreas em que
tenha fraquezas. Depois ore e peça a Deus para lhe mostrar como poderá melhorar.
No entanto, lembre-se: Deus está do seu lado. Ele alegra-se com a sua decisão de aceitar a
responsabilidade como chefe da sua família. Não se esqueça também que quando dependermos
d’Ele completamente, descobriremos que podemos confiar completamente n’Ele!

4. Dedique ao Seu Trabalho/Chamado Todo o Tempo que for Necessário


Uma das formas de descobrirmos as nossas verdadeiras prioridades é analisarmos a
distribuição do nosso tempo. Certamente essa é uma das formas dos nossos filhos determinarem o
seu valor para nós. Na sociedade contemporânea ocidental encontramo-nos cada vez mais sujeitos
a pressões crescentes. Temos a tendência de medir o nosso sucesso através da rapidez com que
executamos certas tarefas. Porém, essa não é a forma de medir o sucesso nos relacionamentos -
muito menos no relacionamento com os nossos filhos!
Li uma história sobre um pai e uma mãe, ambos com sucesso nas suas carreiras. Um deles era
advogado, o outro tinha um negócio qualquer. O seu objetivo, tal como o de muitos pais nos dias
de hoje, era dispensar aos seus dois ou três filhos uma porção relativamente pequena do seu tempo,
mas certificando-se que lhes dedicavam “tempo com qualidade.” Por outras palavras, durante o
“tempo com qualidade” concentravam-se intensamente nos seus filhos.
Não tive uma impressão clara do que faziam exatamente com as crianças durante este “tempo
com qualidade.” A minha reação pessoal foi a de que, se eu fosse criança, não iria ficar satisfeito
com uma quantidade racionada do chamado “tempo com qualidade.” O que eu iria querer - e penso
que todas as crianças querem - era sentir que os meus pais estavam disponíveis para mim, que
estavam lá sempre que eu precisasse deles.
Alguns de nós que somos pais e mães - especialmente os pais - deveríamos fazer a nós próprios
a pergunta de como nos iríamos sentir se Deus, o nosso pai celestial, só nos dedicasse uma porção

99
racionada do Seu tempo, durante a qual Ele estivesse disponível para nós. Como me sinto grato
em saber que o nosso Pai celestial não age assim! Ele está sempre disponível, noite e dia. A Sua
promessa é:

“Antes que clamem Eu responderei; estando eles ainda falando, Eu os ouvirei.”


(Isaías 65:24)

Obviamente, nós pais, também temos muitas limitações. Algumas são puramente físicas;
outras são devidas a exigências do nosso tempo que não podemos ignorar. O que é realmente
decisivo não é o número de horas que podemos passar por dia com os nossos filhos, mas se eles
sentem que estamos disponíveis para eles, e que quando falam, realmente ouvimos o que dizem.
Podemos assegurar-lhes, tal como Deus nos assegura: “Enquanto ainda estão falando, eu ouvirei”?
Há muitos anos, enquanto Lydia e eu ainda tínhamos quase todos as nossas filhas connosco
em casa, estávamos sentados à mesa, em família, falando informalmente das coisas de Deus. Uma
das minhas filhas, de dez anos, estava sentada no meu colo. De forma inesperada -sem ninguém
orar por ela -ela recebeu uma visita sobrenatural do Espírito Santo e começou a louvar o Senhor
numa nova língua que o próprio Espírito lhe deu.
Mais tarde perguntei a mim próprio, porque é que foi naquele momento em particular que ela
se abriu ao Espírito Santo? Concluí que foi por naquele momento estar ao meu colo, que se sentiu
perfeitamente segura e aceite. Todas as barreiras para o Espírito Santo tinham sido quebradas.
Como pais precisamos de perguntar a nós próprios: será que a atmosfera em casa respira
aceitação e segurança? Demorará mais do que breves períodos de “tempo com qualidade” para
criar esse tipo de atmosfera no seu lar. Pode até envolver algum sacrifício da sua parte. Poderá ter
de desistir - temporariamente, pelo menos - de algum passatempo ou desporto de que gosta muito.
Porém, ao fazer isso, estará a comunicar com o seu filho numa linguagem sem palavras. Estará a
dizer: “É assim tão importante, que acho que és para mim.”

100
15

Paternidade Espiritual

Comentei no capítulo 8 que um pai de verdade é a imagem de Deus mais perfeita a que o
homem pode chegar, pois a paternidade é a revelação principal do próprio Deus. Alguns poderão
sentir-se ofendidos com esta ideia. “Eu não sou casado,” pode um homem dizer. Ou, “Sou casado,
mas não tenho filhos. Quer dizer que eu nunca poderei ser conforme a imagem de Deus?”
Graças a Deus que a resposta é não! Pode nunca chegar a ser pai de forma natural ou física,
mas há uma outra forma de paternidade que permanece disponível para si: a paternidade espiritual.
Estou a referir-me a uma forma de paternidade que vem de uma relação espiritual e não física. Esta
não é, de forma alguma, um tipo de paternidade inferior ou em segunda mão. De facto, alguns dos
personagens mais pertinentes da Bíblia foram exemplos da paternidade espiritual.
O primeiro exemplo, e o mais significativo, é Abraão. Ele foi o pai natural de filhos de Agar,
de Sara e, por último, de Ketura. Para além desses, as Escrituras falam de Abraão como exemplo
da paternidade espiritual.
Em Romanos 4:13 Paulo diz-nos que:

“Porque, a promessa que havia de ser herdeiro do mundo, não foi feita pela lei a
Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé.”

Continuando:

“Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja
firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que
teve Abraão, o qual é pai de todos nós, (Como está escrito: Por pai de muitas nações te
constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos, e chama
as coisas que não são como se já fossem. O qual, em esperança, creu contra a esperança,
tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será
a tua descendência.” (Romanos 4:16-18)

101
Portanto, no sentido espiritual, Abraão tornou-se o pai de muitas nações. Em que base lhe foi
atribuída essa honra? Com base numa fé inabalável expressa através da obediência de todo o
coração que encontrou a sua expressão máxima na resposta que Abraão deu à exigência de Deus
de Lhe oferecer o seu filho Isaque em sacrifício.
Desta forma, Abraão marcou um caminho para os crentes seguirem. Em Romanos 4:20 Paulo
enfatizou a fé inabalável de Abraão:

“E não duvidou da promessa de Deus, por incredulidade, mas foi fortificado na fé,
dando glória a Deus;”

O Exemplo de Paulo
Outro exemplo marcante de paternidade espiritual é o do apóstolo Paulo. Em I Coríntios 4:14
-16 ele escreveu aos crentes de Corinto:

“Não escrevo estas coisas para vos envergonhar; mas admoesto-vos como meus
filhos amados. Porque ainda que tivésseis dez mil aios em Cristo, não teríeis, contudo,
muitos pais; porque eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo. Admoesto-vos,
portanto, a que sejais meus imitadores.”

Em Corinto, Paulo foi pai de uma multidão de filhos espirituais através da semente do
Evangelho, a qual ele tinha semeado no coração de cada um deles. Assim, um servo de Deus que
pregue a Palavra de Deus com fidelidade poderá ser pai de muitos filhos espirituais.
Porém, precisamos de ter em mente o princípio enunciado por Deus no princípio da criação
em Génesis 1:29:

“E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre
a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para
mantimento.”

É no fruto da árvore que se encontra a semente. Um sermão pregado através de uma vida sem
frutos não contém semente que possa produzir frutos em outras pessoas. Essa é uma das razões

102
por que tanta pregação recebe uma resposta emocional e temporária, mas não deixa fruto
permanente.
Em Filipenses 2:20-22 Paulo ilustrou outra forma de paternidade espiritual. Ele disse do seu
jovem colaborador Timóteo:

“Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso


estado; Porque todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus. Mas bem sabeis
qual a sua experiência, e que serviu comigo no evangelho, como filho ao pai.”

Parte do relato da segunda viagem missionária de Paulo em Atos 16:1-3 indica que quando
Paulo conheceu Timóteo na região de Derbe e Listra, Timóteo já era cristão, e tinha um bom
testemunho confirmado pelos líderes da igreja local. Percebendo o potencial espiritual deste
jovem, Paulo convidou-o a juntar-se a ele para as suas viagens futuras. Desde aquela altura
Timóteo tornou-se o colaborador em que Paulo mais confiava, num relacionamento que durou até
à morte de Paulo.
Neste caso Paulo tornou-se o pai espiritual de Timóteo não por o ter ganho para Cristo através
do Evangelho, mas através de um relacionamento pessoal o qual levou Paulo a confiar em Timóteo
como seu colaborador de eleição. Desta forma, Timóteo não só recebeu instruções espirituais de
Paulo, como também o seguiu ao longo das muitas diferentes fases do ministério contínuo do
apóstolo. Ele foi testemunha ocular de como Paulo realmente praticava o que ensinava, na sua vida
diária, sob muitos tipos diferentes de pressão.
Perto do final da sua vida Paulo escreveu a Timóteo:

“Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé,
longanimidade, amor, paciência, perseguições e aflições, tais quais me aconteceram em
Antioquia, em Icónio e em Listra; quantas perseguições sofri, e o Senhor de todas me
livrou; E também, todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus, padecerão
perseguições.” (II Timóteo 3:10-12)

A instrução que Timóteo tinha recebido de Paulo não fora sob a forma de sermões na sala de
aula, mas através dos altos e baixos de uma vida cheia de pressões. Timóteo não tinha só ouvido

103
as pregações de Paulo. Muito mais do que isso, ele tinha assistido em primeira mão à forma como
Paulo praticava realmente aquilo que pregava. Foi através do seu relacionamento pessoal que
Paulo se tornou o pai espiritual de Timóteo.
Houve alguns outros jovens com quem Paulo manteve um relacionamento semelhante ao que
tinha com Timóteo, mas talvez não tão chegado. Neste grupo incluem-se Tito, Sopater de Bereia,
Aristarco e Segundo de Tessalónica, Gaio de Derbe, Titíco e Trofímos da Ásia. (ver Atos 20:4)
Uma das coisas mais necessárias na Igreja de hoje são homens que possam desempenhar o
papel que Paulo desempenhou na vida de Timóteo. Já apontei a necessidade desesperada que a
nossa sociedade tem de homens que sejam verdadeiros pais. A necessidade não é menor na Igreja.
Temos homens que podem organizar, que podem pregar, administrar e realizar todo o tipo de
funções religiosas, no entanto, quantos deles se relacionarão com homens mais jovens dando-lhes
a conhecer tanto os seus sucessos como as suas angústias nos altos e baixos do dia a dia da vida
cristã? Quantos estarão dispostos, se necessário for, a falar dos seus momentos de fraqueza e de
desapontamento?
Em I Tessalonicenses Paulo apresenta o que podemos chamar “a terceira geração” da
paternidade espiritual. Paulo falou sobre Silas, Timóteo, e também de si próprio:

“Assim como bem sabeis de que modo vos exortávamos e consolávamos e


testemunhávamos, a cada um de vós, como o pai a seus filhos;
Para que vos conduzísseis dignamente para com Deus, que vos chama para o seu reino
e glória.” (1 Tessalonicenses 2:11,12.)

Timóteo foi aqui associado a Paulo e Silas desempenhando o papel de pai espiritual no
relacionamento com os cristãos de Tessalónica. Assim, o filho espiritual de Paulo figurava naquele
tempo como o pai espiritual dos Tessalonicenses. Aqui encontra-se um total de três gerações: Paulo
como pai de Timóteo, que por sua vez foi pai dos Tessalonicenses. Podemos representar tudo da
seguinte forma:
Paulo
Timóteo
Os Tessalonicenses

104
Uma Vida de Fé e de Obediência
No capítulo 7 apontei que Jesus não revelou aos Seus discípulos o Pai como um conceito
teológico. Ele “manifestou” o nome do Pai a cada um deles pela forma como Ele viveu a Sua vida
perante eles. Foi uma vida de comunhão contínua com o Pai, de dependência do Pai a cada
momento e de obediência completa e sem falha à vontade do Pai.
Da mesma forma, a paternidade espiritual não poderá ser apenas um rótulo ou um conceito
teológico. Ela é expressa através de uma vida vivida em fé e obediência que se torna um exemplo
para outros seguirem.
Um pai espiritual deve ser capaz de dar o mesmo mandamento que Jesus deu aos Seus
discípulos: “Sigam-me”, ou como Paulo disse aos cristãos de Corinto:

“Sede meus imitadores, como também eu de Cristo.” (I Coríntios 11:1)

No exército israelita moderno foi estabelecida a seguinte regra: Um comandante não comanda
as suas tropas a “Avançar!” mas diz, “Atrás de mim!” O mesmo se aplica ao exército do Senhor.
É na área do caráter que Deus sujeita os Seus servos aos testes mais severos. Por isso,
precisamos perguntar, quais são os requisitos de caráter para um homem que deseje seguir o papel
de um pai espiritual. Em prol de uma resposta podemos resumir abreviadamente as caraterísticas
principais do caráter de homens que reconheçamos como pais espirituais.

Abraão
Os aspetos principais que ressaltam do caráter de Abraão, no meu entender, são a sua fé
inabalável e a sua pronta e total obediência a tudo o que Deus lhe exigiu. Isso foi demonstrado de
forma maravilhosa quando Deus lhe pediu para sacrificar o seu filho Isaque.
Sem dúvida que Isaque era o que Abraão mais amava na sua vida. Da mesma forma, tal como
o escritor de Hebreus realça, Isaque seria o canal através do qual Abraão iria receber todas as
bençãos que Deus lhe tinha prometido. Apesar de tudo, Abraão nem pestanejou. Ele não só
obedeceu, como o fez prontamente, sem hesitação:

105
“E então se levantou Abraão pela manhã, de madrugada, e albardou o seu jumento,
e tomou consigo dois dos seus moços e Isaque, seu filho; e cortou lenha para o
holocausto, e levantou-se e foi ao lugar que Deus lhe dissera.”
(Génesis 22:3, com ênfase)

Paulo
Através da mensagem do Evangelho, Paulo tornou-se pai de muitos cristãos em Corinto, por
duas razões.
Em primeiro lugar, na sua pregação, Paulo não ofereceu, ao contrário de muitos pregadores
dos nossos dias, uma resposta fácil e simplista para os problemas da vida. A sua mensagem aos
Coríntios focava na cruz. Em I Coríntios 2:1-2 Paulo realça que:

“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não
fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber, entre
vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.”

Paulo também não se concentrou na cruz só para a sua pregação. Mais do que isso, ele tinha
experimentado a cruz na sua própria vida, tal como escreveu em Gálatas 6:14:

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz do nosso Senhor Jesus
Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo.”

Em Corinto nasceram, então, filhos espirituais a Paulo, devido à sua mensagem que se tinha
concentrado na cruz e porque a cruz fora testada na sua própria vida, na qual ele tinha sujeitado a
ambição pessoal e egoísta a um processo duro de auto-crucificação.
Uma mensagem sem a cruz pregada por um pregador não crucificado, por outro lado, não
produzirá o tipo de filhos espirituais que Deus concedeu a Paulo em Corinto.

Paulo, Silas e Timóteo


Já vimos que Paulo, Silas e Timóteo são apresentados em I Tessalonicenses como pais
espirituais. Paulo escreveu sobre os Tessalonicenses:

106
“Vós e Deus sois testemunhas de quão santa, e justa, e irrepreensivelmente nos
houvemos comportado para convosco, os que crestes, assim como bem sabeis de que
modo vos exortávamos e consolávamos e testemunhávamos, a cada um de vós, como o
pai aos seus filhos, para que vos conduzísseis, dignamente para com Deus, que vos
chama para o seu reino e glória.” (I Tessalonicenses 2:10-12)

Paulo enfatiza dois aspetos da conduta destes três homens. Primeiro, o exemplo. As suas vidas
pessoais eram “irrepreensíveis.” Em segundo lugar, tinham um coração de pai pelos
Tessalonicenses. Ao manterem perante estes um padrão elevado, desafiavam continuamente e
exortavam os seus discípulos a atingir esse padrão. Tal como um pai natural tem orgulho no
sucesso dos seus filhos, também estes três homens tinham prazer em ver os seus discípulos
amadurecer até serem cristãos de sucesso e cheios de fruto.

Quais São as Caraterísticas?


Se resumíssemos os pontos principais do caráter dos homens mencionados chegaríamos a uma
lista como a seguinte:

• Fé inabalável
• Obediência total e imediata
• Mensagem concentrada na cruz
• A cruz aplicada às suas vidas
• Conduta cristã irrepreensível
• Afeição paternal por jovens crentes
• Preocupação genuína com o verdadeiro sucesso de cada um deles
• Paternidade prática: a adoção

Há um outro tipo de paternidade que se encontra algures entre a paternidade natural e física e
o tipo de paternidade espiritual que acabei de descrever. Estou a referir-me à adoção legal de
crianças cujos pais não possam ou não queiram cuidar delas.
Neste contexto, sou continuamente recordado da definição de Tiago sobre o tipo de religião
aceitável para Deus:

107
“A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as
viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo.” (Tiago 1:27)

Observem a distinção entre religião e salvação. A salvação é o que Deus faz pelo homem. A
religião é o que o homem faz, por sua vez, para Deus.
Recentemente a minha mente tem recordado continuamente este versículo da epístola de Tiago.
Acho verdadeiramente incrível que milhões de cristãos que acreditam na Bíblia nunca tenham
ouvido o que Tiago diz neste versículo. Ao descrever o tipo de atividade religiosa que agrada a
Deus, ele começa com o positivo - ou seja, as coisas que Deus espera que façamos. A primeira
coisa que Tiago refere é visitar - tomar conta, cuidar, ajudar - os órfãos e as viúvas. No final ele
continua com os aspetos negativos, concluindo com uma exortação aos seus leitores para se
manterem afastados “da corrupção do mundo.”
Por mais de cinquenta anos que tenho escutado sermões de uma grande variedade de
pregadores. Já ouvi muitas mensagens, frequentemente pregadas com grande fervor, sobre a
necessidade de nos mantermos longe da corrupção do mundo. Não me lembro de ter alguma vez
ouvido um sermão sobre a nossa obrigação de cuidar dos órfãos e das viúvas.
No entanto, a nossa responsiblidade de cuidar dos órfãos e das viúvas é enfatizado
continuamente através de toda a Bíblia, quer sob a Antiga Aliança, quer sob a Nova. Ao analisar
a mensagem dos profetas do Antigo Testamento, concluí que há três pecados principais que
ofendem Deus. O primeiro é a idolatria; o segundo, o adultério; o terceiro, a falta de cuidar dos
órfãos e das viúvas. Parece-me que Deus coloca todos ao mesmo nível.
É verdade que os dois primeiros pecados são cometidos por ação e o terceiro por omissão.
Porém, isso não torna o terceiro menos sério. Somos tão culpados devido às coisas boas que não
fazemos, como em relação às coisas más que fazemos.
Certamente não é devido à falta de oportunidade que deixamos de cuidar dos órfãos e das
viúvas. Eles estão a multiplicar-se em todo o mundo. Na altura da publicação deste livro, só no
Uganda já há vários milhões de órfãos da SIDA. E esse país é um dos mais pequenos no vasto
continente de África. Quando a praga da SIDA tiver impacto total no sub-continente da Índia, o
número será ainda mais elevado e terrível do que em África.
Há cristãos ocidentais que poderão adotar a atitude “é um problema de nações antiquadas e
sem civilização. Não temos que nos responsabilizar por elas.”

108
Não concordo. Creio que sou o guardião do meu irmão, seja qual for a cor da pele ou o país
onde ele viva. E, apesar de tudo, o problema dos órfãos e das viúvas não se encontra confinado às
nações do mundo em desenvolvimento. O problema é igualmente sério, mas de forma diferente,
nas nações ocidentais. No capítulo 12 apontei o facto de estarmos a ser confrontados com um
número crescente de milhões de jovens sem pais - crianças que foram “para o cativeiro” devido
aos seus pais terem falhado na sua responsabilidade. Pela definição do dicionário estas crianças
poderão não ser tecnicamente considerados órfãos, mas as suas necessidades são tão reais como
as dos outros órfãos.
A destruição progressiva da família no Ocidente está a produzir cada vez mais pais solteiros.
Na maior parte dos casos são mães e não pais. Sugere-se por vezes que as dificuldades que têm
tenham sido o resultado da sua conduta pecaminosa. É verdade que, que algumas destas crianças
foram concebidas fora do relacionamento do casamento. No entanto, onde é que nos evangelhos
Jesus nos proíbe de ter misericórdia para com os pecadores? Além disso, os que sofrem mais são
as crianças sem pais - e não foram elas que pecaram. E também há multidões de mulheres que são
mães que estão sozinhas sem terem tido culpa no processo. Elas são legalmente casadas, deram
aos seus maridos um ou mais filhos, e foram abandonadas sem uma razão válida.
No entanto, a Igreja contemporânea está a dar pouca atenção, na sua maioria, ao vasto número
de pais solteiros. Posso acreditar que o Senhor nos iria dizer, tal como disse a Israel nos dias de
Isaías:
“Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade dos vossos atos de diante dos meus olhos:
cessai de fazer mal: Aprendei a fazer bem; praticai o que é justo; ajudai o oprimido;
fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas.” (Isaías 1:16 -17)

Alguns cristãos de hoje não concordariam que as primeiras palavras se aplicassem a eles, mas,
tal como disse, somos tão culpados pelo bem que deixamos por fazer como pelo mal que fazemos.
Devemos entender que Isaías se dirigia a um povo extremamente religioso. Deus tinha acabado de
lhes dizer:
“Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas
novas, e os sábados, e a convocação das assembléias; não posso suportar iniqüidade,
nem mesmo a reunião solene. As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha
alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer.” (Isaías 1:13-14)

109
Em Lucas 6:46 Jesus apresentou uma acusação semelhante contra o povo religioso dos Seus
dias. Ele não os reprovou pelo que faziam, mas pelo que não faziam:

“E porque me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?”

Muitos na nossa sociedade moderna tornaram-se cínicos acerca do cristianismo, considerando-


o uma irrelevante tradição vinda das gerações anteriores. Sentem que não pode oferecer nada aos
problemas que hoje enfrentamos. Estas pessoas não se impressionam com sermões. Querem antes
ver o Evangelho produzir resultados práticos e positivos.
Uma das contribuições visíveis e objetivas que a Igreja poderia dar era uma demonstração
prática da paternidade sob as várias formas que descrevi. Multidões de jovens da nossa sociedade
de hoje percebem que há qualquer coisa que falta na sua vida. Estão a procurá-la em vários lugares:
no álcool, nas drogas, em gangs, no ocultismo, em religiões e filosofias bizarras ou nos jogos
violentos de computador.
O que realmente estão a procurar, apesar de não o saberem, é um pai.

110
16

Onde Estão os Pais Espirituais?

Nas últimas duas décadas do século vinte, dois evangelistas mundialmente famosos fizeram
análises cuidadosas das pessoas que tinham respondido à sua pregação através das suas cruzadas
para multidões e que tinham sido registadas como convertidos. Muitos auxiliares foram
contactados e grandes quantias monetárias foram gastas na apresentação e organização das
campanhas evangelísticas e no seguimento dos convertidos. Pode dizer-se que não se pouparam
esforços ou despesas. No entanto, os resultados das suas análises foram assombrosos. Um dos
evangelistas concluiu que apenas cinco por cento dos seus convertidos se tinham realmente tornado
cristãos comprometidos; o outro evangelista concluiu que só tinha atingido os três por cento.
Deixe-me realçar aqui que estes números não me chegaram às mãos através de qualquer
agência mundana interessada em prejudicar o evangelismo. Em cada um dos casos as pesquisas
foram levadas a cabo pela própria organização dos evangelistas. Preciso de enfatizar, também, que
não estou a criticar nenhum destes evangelistas. Eles são homens de integridade provada a quem
altamente estimo como meus irmãos no Senhor.
No entanto, não precisamos de perguntar o que aconteceria no mundo se qualquer negócio
recebesse apenas cinco por cento ou menos do seu lucro previsto para um projeto no qual tivessem
feito um enorme investimento. Quase certamente tal negócio acabaria em bancarrota. Seria justo
concluir que a Igreja de hoje, tal como está representada por estas estatísticas, está espiritualmente
na bancarrota?
A falta de resultados duradores não poderá ser atribuída a nenhum defeito da mensagem
evangelística pregada, porque cada uma delas enfatizava a necessidade do novo nascimento e
incluía uma apresentação clara da salvação. Houve, talvez, um ponto no qual a mensagem não
satisfez o padrão do Novo Testamento: houve pouca ênfase no julgamento de Deus sobre o pecado.
Mas só por isso não se poderia explicar a falta permanente de fruto.
A razão principal para resultados tão desconcertantes, creio eu, reside na condição da Igreja
contemporânea como um todo. Numa altura, enquanto era pastor de uma igreja, fiquei envolvido
como conselheiro dos novos convertidos numa campanha evangelística massiva na minha área da

111
qual se esperavam resultados impressionantes. A nossa responsabilidade como conselheiros era
não só a de responder às perguntas das pessoas durante as reuniões, mas também a de manter
contacto com cada uma das pessoas que aconselhávamos - quer telefónico, cartas, ou oferecendo
a nossa hospitalidade.
Pela minha parte aconselhei 22 pessoas, das quais mantive um registo cuidadoso. No final,
depois de usar todos os meios ao meu dispôr para fazer o seu seguimento, concluí que só duas
pessoas se tinham realmente tornado cristãos verdadeiros. Ambos se tornaram membros da minha
congregação. Eu segui as suas vidas por muitos anos. Ambos amadureceram como cristãos estáveis
e cheios de fruto.
Qual foi a razão para o sucesso destes dois? Certamente não foi a de eu pastorear uma grande
congregação que impressionasse pelo seu tamanho. O número dos nossos membros naquela altura
não ultrapassava o cinquenta! Acabei por concluir que o factor decisivo tinha sido o facto de,
apesar de imperfeito, eu ter oferecido a ambos um tipo de paternidade espiritual.
Em relação às outras vinte pessoas que aconselhei, determinei que a sua falha de se tornarem
cristãos verdadeiros tinha sido devida a uma ou a duas outras causas: ou nunca se tinham envolvido
com uma congregação, ou tinham-se envolvido com uma congregação que não lhes tinha oferecido
paternidade espiritual. Referindo-se a esta situação naquela altura, um comentador religioso
observou: “Não faz sentido nenhum colocar um pinto vivo debaixo de uma galinha morta!”

Cristianismo ou Igrejaismo?
Já passaram perto de vinte séculos desde que Jesus ordenou e enviou os seus primeiros
apóstolos. Durante esse tempo houve uma tremenda mudança no mundo cristão, que passou, a
maior parte das vezes, despercebida. Substituímos o cristianismo por igrejaismo. O igrejaismo
produz membros de igreja; o cristianismo produz discípulos. O igrejaismo pede o conformismo, o
cristianismo pede entrega. A grande maioria dos cristãos professantes de hoje não está ciente do
seu afastamento do padrão e norma original do Evangelho. Simplesmente formaram o seu próprio
conceito de cristianismo através do que observam na Igreja dos nossos dias.
Quando Jesus enviou aqueles primeiros apóstolos, as Suas instruções foram perfeitamente
claras:
“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações…” (Mateus 28:19, com ênfase)

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Anteriormente Ele tinha dado uma definição inequívoca do que envolvia tornar-se Seu
discípulo:

“Muito povo acompanhava Jesus. Voltando-se, disse-lhes: Se alguém vem a mim e


não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua
própria vida, não pode ser meu discípulo. E quem não carrega a sua cruz e me segue,
não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14:25-27) (versão católica)

Esta passagem faz um vívido contraste entre dois tipos de pessoas: as grandes multidões, por
um lado, que O acompanhavam, e o único indivíduo, por outro lado, que vinha até Ele. O
igrejaismo satisfaz-se com as grandes multidões que acompanham Jesus. O cristianismo
concentra-se principalmente em cada indivíduo que vem a Jesus. Importa não produzir
companheiros de viagem, mas sim seguidores comprometidos.
Através da minha experiência como conselheiro, que já descrevi, e de outras circunstâncias
semelhantes, acabei por ver que é preciso paternidade espiritual para transformar novos
convertidos em cristãos comprometidos. É raro o convertido que consegue ultrapassar o nível
espiritual da igreja onde assiste. Onde não há paternidade espiritual eficaz, a maioria dos novos
convertidos permanecem como órfãos espirituais, nunca se transformando em membros maduros
e frutíferos da família de Deus.
No capítulo 12, “Quando os Pais Falham”, descrevi as condições que prevalecem entre os
jovens que nunca tiveram pais verdadeiros: falta de disciplina, falta de objetivo claro,
vulnerabilidade a todo o tipo de engano e armadilha satânica. Condições que na Igreja de hoje são,
em muitos aspetos, muito paralelas às do mundo. Muitos jovens que dizem que são salvos
demonstram a mesma falta de objetivo que os seus colegas do mundo. São levados de um lado
para o outro, atrás de cada mudança de linguagem, da moda, da diversão, e mesmo do tipo de
adoração. Para estes jovens, a adoração é uma forma de auto-expressão religiosa. Raramente a
encaram como um encontro pessoal com o Deus santo e magnífico. Durante a maior parte da sua
vida faltam-lhes duas coisas: estabilidade e objetivo claro e definido.
Na nossa cultura contemporânea há três caraterísticas comuns à juventude, quer seja a do
mundo, quer seja a da Igreja.

113
Desilusão
Em primeiro lugar, estão desiludidos - sobre o estado da sociedade, sobre a condição do
planeta, sobre a falta de justiça social e de falta de provisão para os membros mais fracos da
sociedade. As gerações anteriores falharam, sentem eles, e transmitiram-lhes os seus problemas,
para os quais não encontram uma solução.
Tenho que reconhecer, falando como membro da geração anterior, que, pelo menos a esse
respeito, os jovens têm razão. Passámos-lhes uma cultura e uma sociedade que, de muitas formas,
são o resultado dos nossos próprios pecados—ganância, egoísmo, indiferença pelos fracos e
desfavorecidos. Embora muitos de nós nos consideremos cristãos, temos falhado em cumprir o
primeiro dever da “religião pura e imaculada”: tomar conta dos órfãos e das viúvas. Se
instigarmos a geração futura a aumentar a sua fé cristã, eles poderão muito bem responder-nos:
Primeiro pratiquem o que pregam; depois ouviremos o que têm para nos dizer.”

Procurando o Ouro Puro


A segunda marca da juventude de hoje é a de procurarem o que é genuíno. Se lhe oferecermos
ouro, irão raspar com uma faca até bem abaixo da superfície a fim de verem se é tudo ouro, ou se
é simplesmente um metal coberto de ouro.
Das sete igrejas representadas no Apocalipse 2 e 3, provavelmente a mais próxima da Igreja
contemporânea ocidental é a de Laodiceia. Foi a essa igreja, recorde, que Jesus disse: “Aconselho-
te que de Mim compres ouro, provado no fogo,” (Apocalipse 3:18). Há muito ouro na Igreja dos
nossos dias que nunca passou pelo teste do fogo. Pregamos sermões eloquentes e fazemos
afirmações sonantes, mas frequentemente, quando o fogo é aplicado, o ouro não passa no teste.

Uma Resposta Radical


A terceira marca dos jovens de hoje é a de serem radicais. Não procuram respostas
superficiais e fáceis. Não se impressionam com a ordem estabelecida ou com as tradições
enraízadas. Em certo sentido, nada é sagrado para eles. Se uma árvore está a produzir fruta podre,
ou não produz fruta nenhuma, a sua resposta é simples: “Cortem-na!” (Eles teriam respondido à
pregação de João Baptista!). A sua condição é a de um clamor desesperado e mudo pela realidade
da paternidade espiritual.

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Da Fraqueza Feitos Fortes
Por esta altura posso imaginar alguém responder, “Mas o modelo que descreveu para um pai
espiritual é elevado demais! Eu nunca poderia ser um Abraão ou um Paulo.”
É verdade, o padrão de Deus é elevado. E Ele também nunca o diminui. Porém, também é
verdade que a graça de Deus é sempre suficiente. Para cada tarefa que Ele nos entrega, dá a graça
necessária para a levar a cabo.
Abraão e Paulo são descritos nas Escrituras não como modelos a atingir, mas como exemplos
a seguir. Em Romanos 4:12 Paulo disse que Abraão é pai para os que “andam nas pisadas daquela
fé [do Abraão]” Abraão marcou um caminho de fé que todos os cristãos são chamados a percorrer.
Já notámos a exortação de Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu de Cristo.” (I
Coríntios 11:1). Se a graça de Deus pôde transformar Saulo, o grande perseguidor dos cristãos,
num imitador de Cristo, então a graça de Deus pode também transformar-nos em imitadores de
Paulo. O apóstolo afirmou em I Timóteo 1:16 que esse era o verdadeiro propósito para o qual ele
tinha sido salvo:

“Mas, por isso, alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus
Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer Nele
para a vida eterna.”

Em linguagem mais simples Paulo queria dizer que “Se Deus me conseguiu transformar a mim,
Ele pode transformar qualquer um!”
Recorde-se, também, que tanto Abraão como Paulo tiveram os seus momentos de fraqueza.
Abraão cometeu erros muito sérios. A certa altura, estava tão desesperado por ter um filho e
herdeiro da sua esposa Sara que acabou por ter um filho da serva de Sara. Mais tarde, para proteger
a sua própria vida, disse a Abimeleque, rei de Gerar, que Sara era a sua irmã, e permitiu que ela
fosse levada para o harém de Abimeleque. Só a intervenção sobrenatural de Deus salvou Sara de
se tornar uma das mulheres de Abimeleque (ver Génesis 20).
No entanto, Deus nunca desistiu de Abraão. E assim, pela graça de Deus, ele acabou por se
tornar no que Deus tinha declarado que ele seria.
Paulo, por sua vez, também teve os seus momentos de grande fraqueza. Em II Coríntios 1:8-9
Paulo disse, referindo-se a si próprio e aos seus companheiros:

115
“Porque não queremos irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia,
pois que fomos sobremaneira agravados, mais do que podíamos suportar, de modo tal,
que até da vida desesperámos. Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte,
para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos.”

Deus permitiu que Paulo chegasse a um ponto de total fraqueza para que ele pudesse deixar de
confiar em si próprio, mas somente n’Ele, Aquele que pode até ressuscitar os mortos.
Mais tarde, na mesma epístola, Paulo relata como aprendeu que a força de Deus se torna
perfeita na nossa fraqueza. Finalmente ele chegou à conclusão:

“Porque quando estou fraco, então sou forte.” (II Coríntios 12:10)

Tanto Abraão como Paulo - é verdade - são apresentados como exemplos de pais espirituais.
No entanto, só se tornaram pais espirituais quando chegaram ao fim da sua capacidade e confiaram
na graça sobrenatural de Deus. Isso é verdade ainda nos dias de hoje. Os homens podem tornar-se
pais espirituais apenas quando respondem ao desejo que o próprio Deus colocou no seu coração,
e quando chegam ao final dos seus próprios recursos e confiam na Sua capacidade sobrenatural.
Em Mateus 4:19 Jesus disse a Pedro e a André “Vinde após Mim e Eu vos farei pescadores de
homens.” O mesmo princípio é verdadeiro hoje. O que é importante nas nossas vidas não é o
que nós próprios somos, mas o que Jesus pode fazer de nós quando O seguirmos.
À sua volta, encontra jovens cujas vidas instáveis e sem direção são um grito mudo por ajuda?
Já percebeu que eles necessitam de um pai espiritual? Anseia por ajudá-los? Então precisa de
perceber que é o próprio Deus que tem colocado esse desejo no seu coração. Ele quer fazer de si
um pai espiritual.
Ao perceber que esse é o plano de Deus para si, então aquilo que for não será importante. O
que é importante é o que Deus pode fazer de si, desde que se submeta completamente a Ele. Ao
seu modo e com as suas próprias palavras, diga simplesmente a Deus que está à Sua disposição.
Ele fará o resto!

116
17

Uma Palavra para Quem Não Tem Pai

Ao ler os capítulos anteriores talvez se tenha apercebido que nunca conheceu um pai tal como
eu descrevi. Se assim for, deixe-me dizer-lhe que no mundo de hoje há milhões de pessoas na
mesma condição.
Cada um de nós tem um pai biológico que foi, logicamente, uma das fontes de onde veio a
nossa vida física. Mas isso não garante de forma alguma que tenhamos tido um pai tal como foi
apresentado nas Escrituras e como tenho tentado descrever neste livro. De facto, os pais que
correspondem a essa descrição são muito raros nos nossos dias!
Se não tiver tido esse tipo de pai, então existe dentro de si, lá no fundo, um buraco - um vazio
que nunca foi preenchido. Pode estar tão fundo, e pode existir há tanto tempo que nem sequer se
tenha consciência da sua presença. No entanto, está lá, e devido a ele é uma pessoa incompleta.
Não estou a sugerir que é preciso ter tido necessariamente um bom pai. Realmente, só há um
pai perfeito—Deus, o Pai do Céu. Porém, um pai terreno que corresponda à descrição bíblica,
apesar de poder ser imperfeito, de muitas formas, vai mesmo assim preencher o vazio que se
encontra em si. Consequentemente, você não é um órfão; tem uma experiência pessoal do que é
ter um pai.
Mas, tal como referi, há milhões que não têm essa experiência.
Será que seria útil eu falar da minha experiência pessoal? O meu pai, tal como qualquer outro
dos membros da minha família do sexo masculino, que conheci, era oficial do Exército Inglês. Era
um homem honesto, de boa moral, fiel aos seus deveres, um soldado de sucesso. Devido a ele ter
servido no Exército Inglês na Índia, foi nesse país que eu nasci, na cidade de Bangalore.
Quando eu nasci, o médico disse à minha mãe que ela não podia ter mais filhos. O que
significava que eu iria crescer sem irmãos ou irmãs. Por isso, os meus pais decidiram que a melhor
maneira de colmatar essa falta seria o meu pai começar a relacionar-se comigo como um irmão
mais velho, e não como meu pai. Aparentemente, consideravam que era mais importante eu ter um
irmão do que ter um pai. O resultado foi eu nunca lhe ter chamado pai, ou paizinho, mas apenas
Peter, o seu nome próprio. Não duvido do seu amor por mim, mas ele nunca me mostrou afeição

117
e carinho. Não me lembro de ele me ter alguma vez sentado ao colo ou de me ter feito uma festa
com a mão.
Na Segunda Guerra Mundial, aos 25 anos, tive um encontro pessoal com Jesus Cristo numa
caserna do Exército Inglês. Como resultado, tornei-me um cristão comprometido. Essa experiência
abriu-me a perceção para forças espirituais das quais, até aquela altura, não me tinha apercebido.
Em particular percebi que a Índia, a minha terra natal, é o lugar de um redemoinho de uma
enorme massa de poderes espirituais, todos não cristãos. Tive a impressão de que algumas daquelas
forças espirituais da Índia me tinham seguido ao longo da vida, tentando controlar-me. Nunca
foram bem-sucedidas, mas eu também nunca tinha estado completamente fora da sua influência.
Antes de me converter e de me tornar um cristão comprometido, tinha na verdade, por algum
tempo pensado em me tornar um iogue.
Ao estudar a Bíblia, já como cristão, aprendi que através do novo nascimento Deus se tinha
tornado o meu Pai. De facto, mais tarde preguei uma série de três mensagens em cassete, sobre o
tema “Conhecer a Deus como Pai.” Várias pessoas já me disseram que estas mensagens as
ajudaram e, no entanto, naquela altura, sem me aperceber, eu estava só a pregar uma teoria. Eu
entendia a doutrina claramente, mas ainda não tinha nenhum conhecimento ou experiência de Deus
como o meu Pai. Nem sequer sabia o que me faltava na vida.

Uma Revelação Pessoal


Então, em 1996, mesmo depois de ter celebrado cinquenta anos no ministério cristão, Deus
interveio na minha vida. Uma manhã Rute e eu estávamos sentados na cama, orando juntos, tal
como fazíamos normalmente, quando fui soberanamente tocado pelo poder sobrenatural. Eu estava
a ser o campo de batalha de duas forças espirituais opostas.
Estendido sobre mim, vindo de trás, estava um braço invisível, que segurava qualquer coisa
como um capacete preto que tentava pressionar sobre a minha cabeça. Ao mesmo tempo o poder
do Espírito Santo começou a mover-se no meu corpo. Começando nos meus pés, moveu-se para
cima através do meu corpo e comecei a tremer violentamente. Rute disse-me mais tarde que fiquei
com a face completamente vermelha. Eu tinha a impressão de que estas duas forças espirituais
estavam uma contra a outra. O poder do Espírito Santo a mover-se através de mim estava a
combater o braço que se estendia sobre mim e que tentava colocar o capacete na minha cabeça.

118
O Espírito Santo acabou por prevalecer. O braço com o capacete foi forçado a recuar e
desapareceu. Ao mesmo tempo o Espírito Santo tomou controle absoluto do meu corpo, e eu tive
uma maravilhosa sensação de relaxamento e de paz.
Simultaneamente, sem nenhum processo de racionalização consciente, descobri, pela primeira
vez na minha vida, que me apercebia de um relacionamento íntimo e direto com Deus como meu
Pai. Imediatamente foi absolutamente natural chamar-Lhe Pai. Já não era uma afirmação teológica,
mas a expressão espontânea de um relacionamento pessoal.
Ao meditar sobre aquela experiência, concluí que o braço com o capacete era uma
manifestação de Shiva, um dos três principais deuses indianos (que claro, não são deuses, mas
poderes satânicos dos ares).
Compreendi melhor o que se tinha passado quando, dois anos depois, estava a ler uma
descrição dos principais deuses do Hinduísmo. Shiva era descrito como uma força espiritual que
desce sobre a cabeça de uma pessoa e a bloqueia da realidade do reino celestial. Esse foi
exatamente o que aquele braço estendido sobre a minha cabeça tinha tentado fazer-me. Como
fiquei grato de, num momento de crise, o Espírito Santo ter vindo em meu auxílio desbaratar o
poder das trevas que tentava controlar-me!
Desde essa experiência em 1996, o meu relacionamento com Deus, como meu Pai, tem-se
fortalecido constantemente e tem-se tornado mais íntimo.

Um Novo Relacionamento
O meu novo relacionamento pessoal tem tido um efeito profundo e contínuo na minha vida.
Eu tinha estado a servir a Cristo com o melhor da minha capacidade há mais de cinquenta anos,
tempo em que Deus me tinha concedido muito fruto no meu ministério. Porém, ao entrar neste
novo relacionamento com Deus como Pai, comecei a experimentar uma intimidade no meu
relacionamento com Ele, e um grau de segurança, que nunca antes tinha sentido.
Este novo relacionamento não me isenta dos testes que aparecem em toda a vida cristã, mas
permite-me enfrentar esses testes com uma maior medida de força e confiança interior. Além disso,
os meus testes não se interpuseram entre Deus e eu; simplesmente me fizeram chegar mais perto
d’Ele.
Cerca de três anos depois da experiência que descrevi, suportei uma das mais duras provas de
toda a minha vida cristã. Depois de mais de um mês de permanência na unidade de cuidados

119
intensivos, Deus levou a minha preciosa esposa, Rute, para morar com Ele no Céu. A minha
sensação de perca foi indescritível. No entanto, no meio de tudo, nem por um momento perdi a
perceção da presença do meu Pai amoroso ao meu lado.
No culto fúnebre, ao olhar para a urna que continha o corpo de Rute, senti-me compelido a
gritar na presença de todos os que a choravam “Pai eu confio em Ti. Obrigado por Tu sempre seres
bondoso, justo e cheio de amor. Tu nunca cometes um erro. Tu fazes sempre o que é melhor.”
Só a minha perceção íntima de Deus como Pai me permitia fazer tal confissão. Várias pessoas
que tinham estado presentes, mais tarde, confessaram-me que o que eu dissera as tinha afetado de
forma muito poderosa.
Não vos quero deixar com a impressão que para conhecer a Deus como Pai, de forma pessoal,
precisamos de passar pelo mesmo tipo de experiência. Deus lida connosco individualmente. Não
há procedimentos padrão que tenhamos de seguir. No entanto, há certos princípios das Escrituras
que se aplicam a todos nós.
Em Mateus 11:27 Jesus descreve os princípios que se aplicam a conhecê-Lo primeiro como
Filho de Deus, para depois conhecer a Deus como Seu Pai:

“Todas as coisas me foram entregues por Meu Pai; e ninguém conhece o Filho,
senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser
revelar.”

O Pai e o Filho agem em cooperação mútua um com o outro. Primeiro o Pai revela o Filho.
Este é o primeiro passo, pois é apenas através do Filho que podemos chegar a conhecer o Pai. Em
João 14:6 Jesus diz: “Ninguém vem ao Pai senão por Mim.” Depois vem o segundo passo, quando
Jesus revela o Pai - mas só à medida da Sua soberana vontade. Jesus enfatiza que a revelação do
Pai é dada somente “a quem o Filho o quiser revelar” (Mateus 11:27).
Jesus está a falar aqui acerca de uma revelação que só Ele pode dar. É importante notar a
diferença entre conhecer as Escrituras como uma doutrina e conhecê-las por revelação. Durante
mais de cinquenta anos honestamente aceitei a doutrina de que Deus era o meu Pai, no entanto, foi
muito diferente quando recebi a Sua revelação pessoal e direta.

120
Através do Filho Para o Pai
Talvez depois de ler até aqui, já se tenha apercebido que não tem pai. Que nunca soube o que
significa ter um pai verdadeiro. Agora o seu coração está agitado - sentindo a falta de um pai.
Pode ser que devido às circunstâncias do seu passado, nenhum ser humano na sua vida se possa
tornar um pai verdadeiro para si. Tanto mais terá razão para agradecer a Deus o facto de Ele ser
um Pai celestial a quem possa conhecer! Porém, primeiro precisa de conhecer Jesus como seu
Salvador pessoal, através de Quem recebeu o dom da vida eterna.

1. Receba Jesus como Seu Salvador


Se ainda não tiver esta garantia bíblica, o primeiro passo será receber Jesus como seu Salvador
pessoal. Isso é afirmado com toda a clareza em João 1:11-13:

“Veio [Jesus] para o que era seu, e os seus não O receberam. Mas, a todos quantos
O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu
nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do
homem, mas de Deus.”

Nesta altura, se desejar, pode fazer uma oração muito simples, como por exemplo:

Senhor Jesus Cristo, reconheço-Te como o Filho de Deus e como a única forma de
chegar a Deus. Creio que Tu morreste na cruz para pagar a penalidade pelos meus pecados,
e que Tu ressuscitaste dos mortos. Peço-Te para perdoares todos os meus pecados, e
recebo-Te pela fé como meu Salvador pessoal. Entra no meu coração e dá-me o dom da
vida eterna. Amém.

Ao orar esta oração com fé, Deus promete dar-lhe uma segurança interior de que Ele o recebeu
como Seu filho. Em I João 5:10 o apóstolo diz-nos que “Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo
tem o testemunho”. Mais uma vez, em Romanos 8:16, Paulo diz-nos “O mesmo Espírito [ou seja,
o Espírito Santo de Deus] testifica com o nosso espírito, que somos filhos de Deus.”

121
Comece agora em fé a dar graças a Deus por o ter recebido e por o ter feito Seu Filho. Quanto
mais Lhe agradecer, mais real se tornará para si que verdadeiramente se tornou filho de Deus. O
Espírito Santo testificará com o seu espírito que isto é verdade.

2. Chegue-se a Deus como Pai


Agora Jesus tornou-se para si a porta pela qual pode aproximar-se de Deus sem rodeios. Está
aberto a receber a revelação pessoal de Deus como seu Pai celestial, que só lhe poderá ser feita
através de Jesus.
Já referi que vivi como cristão nascido de novo por mais de cinquenta anos antes de ter recebido
a revelação pessoal de Deus como meu Pai. Não estou sequer a sugerir que qualquer outro cristão
necessite de esperar tanto tempo! Um dos propósitos principais ao escrever este livro foi, de facto,
auxiliar os cristãos a entrarem nessa revelação mais cedo do que eu.
No entanto, cada um de nós depende totalmente de Jesus para obter essa revelação. Foi Ele
próprio quem realçou:

“… e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser


revelar.” (Mateus 11:27)

É extremamente saudável para cada um de nós chegar ao ponto onde reconheçamos a nossa
completa dependência de Deus.
Algumas das versões modernas do Evangelho descrevem Deus como uma máquina de venda
automática de bebidas. Quando se põe moedas na ranhura e se toca no botão correto, recebemos
d’Ele o que queremos. Porém, Deus não é uma máquina de venda automática de bebidas. Ele é o
Pai que disciplina os Seus filhos e que determina certos padrões para o comportamento. Uma das
Suas exigências é que nos humilhemos perante Ele:

“Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (I Pedro 5:5)

Outra das exigências que precisamos de seguir é a de esperar em Deus. O nosso tempo nem
sempre é o tempo que Deus determinou.

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“Os que esperam no Senhor renovarão as forças.” (Isaías 40:31)

Mais de uma vez me dispus a contar todas as promessas que as Escrituras oferecem aos que
estão dispostos a esperar no Senhor, mas nunca cheguei ao fim. São inúmeras!
No meu caso posso crer que Deus me privou da revelação até Ele saber que eu estava pronto
para a receber. Certamente quando ma concedeu, eu recebi-a como um tesouro pelo qual tinha
valido a pena esperar!

Pede, Procura, Bate


Pode ser que já tenha recebido este conhecimento íntimo e pessoal de Deus como seu Pai, o
qual só Jesus pode conceder. Eu não tenho nenhum método para saber se isso já lhe aconteceu ou
se ainda não lhe aconteceu. Mas, mais uma vez, pode ser que esteja nas mesmas condições em que
eu me encontrava. Sabe, sem sombra de dúvida que nasceu de novo. Com o melhor da sua
compreensão e habilidade está sinceramente a servir o Senhor. Porém, tem uma fome de algo para
além da sua experiência presente—um relacionamento profundo, íntimo e permanente com Deus
como seu Pai.
Quero encorajá-lo a perseguir aquilo que Deus tem guardado para si. Passe tempo na presença
de Jesus. Abra o seu coração e pensamentos para Ele e dê-Lhe a conhecer os mais íntimos desejos
do seu coração. Peça-Lhe para lhe mostrar se existe algum impedimento escondido que esteja entre
si e Ele. Esteja preparado para que Ele o leve por caminhos que nunca percorreu. Mantenha-se
perto d’Ele e confie n’Ele sem reservas.
Ao mesmo tempo não tente imaginar e não tenha ideias pré-concebidas sobre a forma como
Deus se revelará. No meu caso a revelação da Paternidade de Deus veio através de uma experiênica
sobrenatural poderosa. Mas Deus pode lidar consigo de forma totalmente diferente. Pode ser como
Elias no monte Horebe, esperando por ouvir de Deus (ver I Reis 19:11-18).
Primeiro houve três demonstrações do poder sobrenatural: vento, um terramoto e fogo. Mas
Deus não estava em nenhum deles. Seguiu-se “uma voz mansa e delicada” (verso 12), a versão
NVI traduziu como “um murmúrio de uma brisa suave.” Foi dessa forma calma e pouco dramática
que Deus veio até Elias. Mas, quando Elias O ouviu, cobriu a face com o manto de forma reverente.
Há mais poder no murmúrio de Deus do que no vento tempestuoso, ou no tremor de terra ou
no fogo! Pode ser assim que Deus se revelará.

123
Além disso, deixe-me encorajá-lo com algumas palavras de aconselhamento de Jesus. Em cada
caso a forma do verbo que Ele usa indica que está a falar de ação repetida ou contínua:

“Pedi [e continuai a pedir] e dar-se-vos-á; buscai [e continuai a buscar], e


encontrareis; batei [e continuai a bater] e abrir-se-vos-á.” (Mateus 7:7)

Lembre-se: ser-lhe-á dado; irá encontrar; abrir-se-lhe-á.


No versículo seguinte Jesus continua com mais palavras de segurança e encorajamento:

“Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e ao que bate, se abre”

A palavra “aquele” refere-se a si!

* * *

Antes de fechar este livro, reveja em sumário o seu tema principal.

A revelação mais completa de Deus através dos seres humanos é feita pela instituição da
família. O amor entre marido e mulher é o espelho do relacionamento entre Jesus e a Igreja. O
amor de um pai pela sua família é o espelho do amor que Deus tem por tudo o que criou. É através
do plano de Deus para a família que o Seu bem mais elevado fica à disposição do Homem. Mas,
através da rejeição do plano de Deus para a família, a miséria humana alcança o seu clímax.
Esta é uma questão ao qual a nossa cultura contemporânea deve determinar como irá responder.
Também é uma questão à qual terá de responder, pessoalmente.

124
SOBRE O AUTOR

Derek Prince (1915 – 2003)

Derek Prince nasceu na Índia, filho de pais britânicos. Douto em Grego e Latim no Eton College e na
Universidade de Cambridge, Inglaterra, lecionou em filosofia antiga e moderna no King’s College. Dedicou-
se ainda ao estudo de várias línguas modernas, incluindo hebraico e aramaico nas Universidades de
Cambridge e na Universidade Hebraica em Jerusalém.

Enquanto servia no Exército Britânico, durante a Segunda Guerra Mundial, ele começou a estudar a Bíblia
e experimentou um encontro com Jesus Cristo que mudou a sua vida. Em consequência deste encontro
ele chegou a duas conclusões:

1º Jesus Cristo está vivo;

2º a Bíblia é um livro que traz a verdade, sendo por isso relevante e sempre atual.

Tais conclusões alteraram todo curso de sua vida, a qual ele então dedicou ao estudo e ensino da Bíblia.

O principal dom de Derek de explicar a Bíblia, e o seu modo de ensinar de forma clara e simples, ajudou a
construir um fundamento de fé em milhões de vidas. A sua abordagem não sectária e não
denominacional, tornou o seu ensino tanto relevante quanto de grande ajuda para pessoas de todas as
origens, quer raciais, quer religiosas.

Ele é o autor de mais de cinquenta livros, quinhentos áudios e cento e sessenta videocassetes de ensino,
muitos dos quais têm sido traduzidos e publicados em mais de sessenta idiomas. O seu programa diário
de rádio O Legado de Derek Prince é traduzido em árabe, chinês (dialetos amoy, cantonês, mandarim,
shangai e swatow) croácio, alemão, malásio, mongol, russo, samoano, espanhol e tonganês e mais. O
programa de rádio continua a tocar vidas por todo o mundo. Em setembro de 2003 depois duma vida
longa e frutífera, Derek Prince faleceu com a idade de 88 anos. Derek Prince Ministries, continuará a
distribuir por todo o mundo o ensino dele através dos diversos meios que dispõe, entre os quais: livros,
cartas de ensino, cartões de proclamação, áudio, vídeo e conferências.

Existem, no entanto, objetivos bem definidos no DPM:

- Fazer chegar estes meios a locais onde ainda não conhecem a Palavra de Deus

- Contribuir para o fortalecimento da fé dos cristãos por todo mundo e mais especificamente para dos
que vivem em países mais fechados ao evangelho de Jesus Cristo e o Seu Reino.

125
SOBRE DEREK PRINCE PORTUGAL

Se não conseguires explicar um princípio duma maneira simples


e em poucas palavras,
então tu próprio ainda não o percebes suficientemente.

Esta frase de Derek Prince carateriza o seu ensino bíblico. Estudos simples e claros que pretendem
direcionar o leitor para os princípios de Deus, tornando assim possível uma maior abertura para reflexão
e tomada de posição perante a vontade de Deus revelada na Sua Palavra.

Os estudos de Derek Prince têm ajudado milhões de cristãos em todo mundo, a conhecerem Deus mais
intimamente e a porem em prática os princípios da Bíblia no dia-a-dia das suas vidas.

O objetivo do Derek Prince Portugal resume-se em:

Mateus 28:19-20 Mateus 24:14 Efésios 4:12-13

e…

Achamos que o ensino do Derek Prince é uma ferramenta preciosa de usar neste sentido, daí que
procuramos disponibilizar cada vez mais do ensino dele (cartas,
livros, cartões de proclamação, áudios e dvd’s) na língua
portuguesa para ajudar os discipulos de Jesus o Cristo na sua caminhada da fé.

Em mais de 100 países o DPM está ativo, dando a conhecer o maravilhoso e libertador evangelho de Jesus
Cristo. Esperamos também que se sinta envolvido e encorajado na sua fé através do material por nós
(Derek Prince Portugal) fornecido.

Deseja saber mais sobre o nosso trabalho, os materiais disponíveis ou deseja envolver-se de alguma
forma com o que estamos fazendo, contata-nos:

Derek Prince Portugal


Caminho Novo lote X,
9700-360 Feteira AGH

Tel: (+351) 295 663738/ 927992157


E-mail: derekprinceportugal@gmail.com
Blog: www.derekprinceportugal.blogspot.pt

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Outros livros por Derek Prince (em Português):

Livros: Cartões de proclamação:


. Bênção ou Maldição . A Troca Divina

. Como passar da maldição para Bênção . Digam-no os remidos

. O Plano de Deus para o seu dinheiro . Somente o Sangue

. Curso Bíblico autodidata . O Poder da Palavra de Deus

. Proteção contra o engano . O meu Deus proverá

. O Remédio de Deus para a rejeição . Eu obedeço à Palavra

. Expulsarão demónios . Emanuel, Deus Connosco

. Maridos e pais . Graça, a Imerecida Prenda

. A Troca Divina . O Espírito Santo em mim

. O Poder da Proclamação

. Quem é o Espírito Santo? Livros somente em pdf:


. A Chave para um casamento duradouro. . A Palavra Final sobre o Médio
Oriente
. Graça ou Nada.
. Moldando a História com
. O Fim da Vida terrena… e AGORA?
Oração e Jejum
. Os Dons do Espírito.

. Guerra Espiritual

. Orando pelo governo

. Os Alicerces da Fé Cristã (uma série de três volumes)

. Os Dons do Espírito

. Arrependimento e Novo Nascimento

. A Redescoberta da Igreja de Deus

. O Destino de Israel e da Igreja

. A Cruz é Crucial

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