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OS PRINCIPAIS MOMENTOS
O ano de 1944 foi difícil para Chico, talvez o mais acerbo com a mídia ao
longo dos anos. Enfrentou o processo movido pela família do escritor
Humberto de Campos e a reportagem desairosa produzida pelo repórter
David Nasser na revista O Cruzeiro.
Chico temia pelo pior. Consta que num desses momentos de tristeza o
espírito Emmanuel o “consola” dizendo: “O Cristo foi para a cruz e você
para o Cruzeiro!”...
Após esses episódios Chico Xavier se manteve arredio com a mídia e dela
afastado por muito tempo.
Era uma vez um moço ingênuo e feliz, vivendo numa cidadezinha ingênua
e feliz, perto de Belo Horizonte. O moço se chamava Francisco Cândido
Xavier e não desmentia o nome. A cidadezinha, Pedro Leopoldo, arrastava
suas horas de doce paz, entre as missas de domingo e a chegada do trem
da capital. Não se sabe como, numa noite ou num dia, Chico se mostrou
inquieto e desandou a escrever. Terminando, disse, apenas, à família
assustada: - "Não fui eu. Alguém me empurrava a mão". Desce êsse dia ou
essa noite, Chico Xavier perdeu o sossêgo e também o de sua cidade.
Turistas chegavam, atraídos pela fama do moço-profeta. Pedro Leopoldo ia
crescendo e Chico Xavier ia ficando importante. Nunca mais teve paz.
Nunca mais pôde sair pela rua, sem ouvir um pedido de saúde ou uma
prece de gratidão. Se ao menos fôsse só isto. Era mais, muito mais. Eram
os curiosos do Rio, de São Paulo e de Belo Horizonte, pedindo consultas ou
detalhes pelo telefone interurbano. Era a legião de repórteres em busca de
novas mensagens. O representante da editôra insistindo por outros livros.
Os centros espíritas de todo o país solicitando pormenores. Uma vida
infernal, agitada, barulhenta sacudia o pobre rapaz.
Chico, perto de nós, não está ouvindo a palestra. Conversa com Jean
Manzon. Devemos esclarecer que não dissemos qual a organização
jornalística em que trabalhávamos. Queríamos ver se o espírito adivinhava.
Não houve oportunidade.
Chico parecer ser um bom sujeito. Suas ações, mesmo fora do terreno
religioso pròpriamente dito, são ações que o recomendam como alma pura
e de nobres sentimentos. Vão dizer, os espíritas, que é natural: todo o
espírita dever ser assim. Sei de um que não teve dúvida em abandonar a
espôsa, o lar, sete filhos, um dos quais doente do pulmão.
- "Na rua, entre seus irmãos de seita, - disse-me um dos filhos - êle se
mostrava esplêndido, generoso, cordial. Em casa, por pouco não botava
fogo nas camas, à noite. Parecia um verdadeiro demônio. Guardava até
alface no cofre-forte”.
- Chico!
- Você lê muito?
- O outro disse...
-Disse o quê.
- Nada.
- Não namora?
- Nunca.
- Por que?
- Que é?
- Chico...
- Que é?
- Êle dita?
- Chico...
- Que é?
- Homens célebres?
- Peregrinos?
- Mais ou menos. Não posso deixar de recebê-los, pois fico pensando que
vieram de longe e necessitam de consôlo. Isto leva tempo, toma tempo.
Como se não bastassem essas preocupações, o telefone interurbano não
pára dia e noite. - "Chico, Rio está chamando... Chico, Belo Horizonte está
chamando... Chico, São Paulo está chamando... Chico, Cachoeira está
chamando..." Evito atender, mesmo constrangido. Meu Deus! Eu não quero
nada, senão a paz dos tempos antigos, o silêncio de outrora. Quero ser de
novo aquêle Chico sossegado e tranqüilo que apenas se preocupava com as
coisas simples...
Êle segura com trinta mãos, cheio de cuidados, o bebê e o bebê faz um
berreiro dos diabos, agita as pernas, sacode as pernas dentro da prisão dos
braços de Chico. Êle sorri e devolve o menino à mãe.
- Meu sobrinho - explica o profeta Chico - é nervoso e fica dêste jeito. Sabe
por que? Êle sofre de paralisia infantil.
- Não temos recursos. Já deixei claro que não recebo um centavo pelas
edições dos livros que me chegam do além. Assino um documento
autorizando a livraria da Federação Espírita Brasileira a editá-los e,
sòmente após ficarem impressos, recebo uns cinco ou dez exemplares,
para dar aos amigos.
- Alguns espíritos?
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