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O Queijo e os Vermes:

análise do modelo teórico-metodológico


SOBRE O AUTOR
Carlo Ginzburg é historiador, antropólogo e
professor, nasceu em 13 de abril de 1939 em
Turim na Itália, filho de Natalia Ginzburg, e
Leone Ginzburg. Sua jornada acadêmica se
inicia na Escola Normal Superior de Pisa
onde se forma em história e logo após
começa a lecionar na universidade de
Bolonha na Itália.

Crédito: Leonardo Cendamo


Fonte: Hulton Archive
SOBRE O AUTOR
Carlo Ginzburg é historiador, antropólogo e
professor, nasceu em 13 de abril de 1939 em
Turim na Itália, filho de Natalia Ginzburg, e
Leone Ginzburg. Sua jornada acadêmica se
inicia na Escola Normal Superior de Pisa
onde se forma em história e logo após
começa a lecionar na universidade de
Bolonha na Itália.

Mas é na carreira de escritor que ganhou


grande destaque, tendo seus livros
traduzidos para 15 línguas, considerado um
dos fundadores da microhistoria.
Crédito: Leonardo Cendamo
Fonte: Hulton Archive
Klaus Wagenbach
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NOTAS
Essa parte do livro em específico reúne as abreviações dos acervos de arquivos e
bibliotecas de documentos utilizados por Ginzburg para a pesquisa da inquisição
de Menocchio, além de trazer as obras apresentadas nas falas dos interrogatórios
do protagonista. Também é descrito, mesmo que não seja considerado uma tipo
de documentação oficial, uma referência ao enxoval matrimonial da filha de
Menocchio e outros objetos, serve tanto para analisar a situação financeira da
família do moleiro como, a sociedade da época em relação ao dote de
casamento. E também, em vários momentos, é descrita a opinião do autor e a
importância do uso desses objetos em sua pesquisa;
PREFÁCIOS
Ginzburg relata no primeiro prefácio que a ideia para
a obra surgiu derrepente enquanto fazia pesquisas
para o seu primeiro livro "Os Andarilhos do Bem" e
achou uma extensa documentação sobre um
julgamento de um homem chamado Domenico
Scandella que afirmava que o mundo surgiu da
putrefação.
PREFÁCIOS
Durante os dois prefácios o autor deixa claro quais são
suas intenções ao escrever essa obra, reconstruir não
só a vida de Menocchio mas daqueles que viviam ao
seu redor, entender, mesmo que não completamente,
o funcionamento da sociedade naquele período.
Antigo ministro da cultura,
Gilberto Gil.
SOBRE MENOCCHIO
→ Domenico Scandella, conhecido como Menocchio.

→ Nasceu me 1532, em Montereale.

→ Casado, com 7 filhos apesar de 4 já terem morrido.


SOBRE MENOCCHIO
→ Tinha como atividade ser moleiro.

→ Sabia ler, escrever e somar.

→ Administrador da paroquia e magistrado.


DENUNCIADO

Figura questionadora sobre tudo que se tratava no


quesito religioso, e por seus questionamentos, começou
a ser falado e tratado como herege.

Em 28 de setembro de 1583 Menocchio foi denunciado


ao Santo Ofício, sob a acusação de ter pronunciado
palavras “heréticas e totalmente ímpias” sobre Cristo.

Inquisidores – investigação – interrogatórios.


DENUNCIADO

Ninguém estava disposto a admitir ter escutado


com aprovação os discursos de um suspeito de
heresia.

Dom Odorico Vorai e Dom Ottavio Montereale.


“O ar é Deus [...] a terra, nossa
mãe”; “Quem é que vocês pensam
que seja Deus?
Deus não é nada além de um
pequeno sopro e tudo mais que o
homem imagina”;
“O ar é Deus [...] a terra, nossa
mãe”; “Quem é que vocês pensam
que seja Deus?
Deus não é nada além de um
pequeno sopro e tudo mais que o
homem imagina”; “Tudo o que se
vê é Deus e nós somos deuses”; “O
céu, a terra, o mar, o ar, o abismo e
o inferno, tudo é Deus”;
“O que é que vocês pensam, que
Jesus Cristo nasceu da Virgem
Maria? Não é possível que ela
tenha dado à luz e tenha
continuado virgem. Pode muito
bem ser que ele tenha sido um
homem qualquer de bem, ou filho
de algum homem de bem.”
INTERROGATÓRIOS
→ 1 interrogatório acontece entre 4 de fevereiro e
8 de março.

→ Se manteve firme diante das objeções do


vigário, rebateu, fez comentários, negou.

→ Espírito maligno
MENOCCHIO

→ Menocchio fazia → Critica, também, a


críticas a opressão aos riqueza da igreja, dizia
pobres, dizia que com que ela largasse
estavam sendo esse privilégio e se
enganados pela igreja. fizesse pobre com os
pobres, livre de
exigências
dogmáticas.
MENOCCHIO

→ Recusava → Negava-se a
sacramentos, inclusive acreditar que cristo
o batismo, por serem, tinha morrido para
invenção dos homens, redimir a humanidade.
ou seja, mercadoria.
LOCAL ONDE MENOCCHIO ESTÁ INSERIDO
→ Na segunda metade do sec XVI era uma sociedade
profundamente arcaica.

→ Com a dominação de Veneza do sec XVI, houve


retaliação entre facções nobres, inclusive, muito
violenta.
LOCAL ONDE MENOCCHIO ESTÁ INSERIDO
→ Na segunda metade do sec XVI era uma sociedade
profundamente arcaica.

→ Com a dominação de Veneza do sec XVI, houve


retaliação entre facções nobres, inclusive, muito
violenta.

→ E claro, isso criava-se, passadas de décadas após


décadas, uma contraposição fundamental entre
“superiores” e “homens pobres”.

→ Acusação ao padre de arruinar os pobres.


RELIGIÃO

Anabatista e luterano.

A cosmogonia de Menocchio era inaceitável.


LIVROS
→ Nicola da Porcia – uma das pessoas que
emprestavam livros pra Menocchio.

→ Cunho religioso.

→ Formava suas opiniões próprias sobre o assunto.


LIVROS
→ Nicola da Porcia – uma das pessoas que
emprestavam livros pra Menocchio.

→ Cunho religioso.

→ Formava suas opiniões próprias sobre o assunto.

→ Cultura oral.

→ Bíblia.

→ A leitura de Menocchio era, evidentemente, parcial e


arbitrária
CAPÍTULO 19-35:
•"Acho que amar o próximo é um preceito mais importante
do que amar a Deus."(pg.85)

• O descobrimento fascinante de outras culturas por


Menocchio;
CAPÍTULO 19-35:
•"Acho que amar o próximo é um preceito mais importante
do que amar a Deus."(pg.85)

• O descobrimento fascinante de outras culturas por


Menocchio;

•"Diga-me quais eram seus companheiros de ideias.”

• Um tolerante religioso a frente de seu tempo;

• A contribuição da cultura oral na circularidade cultural;


CAPÍTULO 19-35:
• "Como está dito, Deus no princípio fez
uma grande matéria, a qual não tinha
forma, nem feição, e fez tanta que
podia dali tirar ou fazer o que quisesse;
dividiu-a e distribuiu-a e dela retirou o
homem formado pelos quatro
elementos."(pg. 104);

• Santíssima Majestade e sua


densidade metafórica;

• "O evangelho segundo Jesus Cristo";


Crédito: Editora Companhia de Bolso
Fonte: Amazon.com
CAPÍTULO 36-47
• "Morto o corpo, morre a alma, mas o espírito
continua."

• Uma vida após a morte


CAPÍTULO 36-47
• "Morto o corpo, morre a alma, mas o espírito
continua."

• Uma vida após a morte.

• Um mundo novo - Uma nova forma de viver.

• Uma carta de culpa?


"Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Eu, Domenego Scandela, cognominado Menocchio de
Montereale, sou cristão batizado, sempre vivi como
cristão, fiz sempre obras de cristão, sempre fui
obediente aos meus superiores e aos meus pais
espirituais tanto quanto eu podia...
Eu disse isso por vontade do falso espírito, o qual me
cegara o intelecto, a memória e a vontade, fazendo-me
pensar, acreditar e falar no falso e não na verdade e
assim eu confesso ter pensado, acreditado, dito o falso
e não a verdade, e assim dei a minha opinião, mas não
disse que ela é a verdade."
(p. 140).
UMA CARTA DE CULPA?
• Letras;
•Leitura - memória;
•Menocchio afirma que sempre viveu como um bom
cristão e estava sob influência do falso espírito;
UMA CARTA DE CULPA?
• Letras;
•Leitura - memória;
•Menocchio afirma que sempre viveu como um bom
cristão e estava sob influência do falso espírito;
•Compara os juízes a Cristo e imploram pelo seu
perdão;
•Simetrias;
•Compara-se a José.
PÓS CONDENAÇÃO
Um dos testemunhos do período confirma que o
prestígio de Menocchio que continuava intacto.
Permanecia tendo um certo peso na sociedade, até
mesmo sendo confiável o suficiente para que fizessem
empreendimentos e aluguéis. Os primeiros anos
foram sólidos e ele participava integralmente da
sociedade.
PÓS CONDENAÇÃO
Entretanto, o cenário começou a
mudar quando o estigma do antigo
condenado tornou-se ainda mais
pesado e explícito pelo hábito
penitencial que lhe era imposto pela
sentença e pela instabilidade
financeira.

Crédito: Lebrecht History


Fonte: Alamy Stock Photo
VIDA NA PRISÃO
•Pena promulgada no dia 17 de maio;
•Pena quatro/cinco vezes maior que outras;
•2 anos preso;
•Seu carcereiro, Giovan Battista, depõe a seu favor;
•Sinais de uma autentica conversão.
MARCAS DOS INTERROGATÓRIOS
Mesmo ao recomeçar a defender suas opiniões em voz
alta, tinha aprendido a mudar de tom. Como Carlo
apresenta, não havia mais um tom de insolência na
fala de Menocchio, mas ruminação.

Pequenas investigações foram feitas durante o


intervalo entre os julgamentos, mas as testemunhas
agiam a favor de Menocchio.
MARCAS DOS INTERROGATÓRIOS
“Eu o considero cristão porque o vejo confessando e
comungando”, diz o escrivão da cidade, mas
acrescenta também que o moleiro tem posturas e
ideias estranhas, que logo são suprimidas, mas que,
em certos momentos, parecem irromper a garganta
dele sem que tivesse controle.

As investigações do inquisidor foram interrompidas e,


ao apontar o motivo, Ginzburg discorre: no fundo, o
moleiro fora reduzido ao silêncio.
MARCAS DOS INTERROGATÓRIOS
O silenciamento e o ostracismo que o moleiro sofreu
são prelúdio de páginas repetitivas na história. Como,
por exemplo, o episódio chamado de Holocausto
Brasileiro.

Antônio Gomes da Silva, sessenta e oito anos, foi um


dos pacientes encaminhados para o hospital, aos
vinte e cinco anos. Ele comenta:
MARCAS DOS INTERROGATÓRIOS
— Não sei por que me prenderam. Cada um fala uma
coisa. Mas, depois que perdi meu emprego, tudo se
descontrolou. Da cadeia, me mandaram para o
hospital, onde eu ficava pelado, embora houvesse
muita roupa na lavanderia. Vinha tudo num
caminhão, mas acho que eles queriam economizar.
No começo, incomodava ficar nu, mas com o tempo a
gente se acostumava. Se existe inferno, o Colônia era
esse lugar.
Antônio fala baixo, quase como se
não quisesse lembrar. Tem o rosto
apoiado às mãos, e, apesar da
estatura alta, parece querer esconder-
se de si mesmo. Dentro da unidade,
manteve-se calado durante vinte e
um dos trinta e quatro anos em que
ficou internado. Considerado mudo,
soltou a voz, um dia, ao ouvir a banda
de música do 9º Batalhão da Polícia
Militar.

Fonte: Holocausto Brasileiro


EM CÁRCERE, NOVAMENTE
Por bastante tempo, Menocchio viveu escondido pela
sombra do anonimato novamente, mas, quando os
ecos das blasfêmias dele começaram a se reverberar
para além dos limites de Montereale, ele se tornou
mais uma vez uma ameaça.

No entanto, o ponto principal se voltava novamente


para o desafio às autoridades. Aquele foi o estopim e,
por volta do fim de junho de 1599, Menocchio foi preso
e confinado no cárcere de Aviano.
CULTURA ORAL

Ginzburg aponta interligações entre esse radicalismo


camponês.

Inicia com um desconhecido camponês de Lucca, que


se escondia sob o pseudônimo de Scolio, falou de suas
próprias visões num longo poema de argumento
religioso e moral

Pellegrino Baroni, que negava a interferência dos santos,


a confissão, os jejuns prescritos pela Igreja, e fora
processado em 1570 pelo Santo Ofício.
EM CÁRCERE, NOVAMENTE
O processo de Menocchio estava concluído, mas o caso
ainda não tinha sido encerrado, talvez por uma
misericórdia do inquisidor. No entanto, quando Roma
começou a se interessar pelo caso e cartas foram
trocadas, chegando até mesmo ao conhecimento do
papa Clemente VIII, resistir a pressões tão fortes era
impossível e depois de pouco tempo Menocchio foi
executado.
EM CÁRCERE, NOVAMENTE
Carlo Ginzburg, ao final, retorna de maneira bastante
melancólica à frase que abre o livro, “Tudo o que é
interessante acontece nas sombras. Nada sabemos
sobre a verdadeira história dos homens.”
MENOCCHIO- O HEREGE.
POSFÁCIO
Escrito por Renato Janine Ribeiro: antigo ministro da
educação do Brasil. Cientista e escritor.

Considerado herói.

Menocchio, além da opressão vivida, sofria com a


solidão.

Suas experiências e sede de conhecimento.


P. 216

Nem toda confissão é


uma vitória da tortura;
porque às vezes a pior
tortura é ter a voz
silenciada.

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