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Gestão da Segurança do

Trabalho
3. Sistemas de gestão de segurança e saúde no trabalho

O Sistema de Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho


(SGSST) tem objetivos que vão além do simples cumprimento
da legislação e normas de segurança e saúde do trabalho
(SST), pois consiste num conjunto de ações em prol da
prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho,
redução de perdas e promoção de uma cultura de segurança
em conformidade com valores da organização (ROUSSETE,
2014).

Nesse contexto, a Política de Segurança do Trabalho,


comumente referida como Diretrizes de Segurança do Trabalho
é parte importante do SGSST e orienta os programas, as
rotinas e os procedimentos de trabalho destinados à prevenção
de acidentes e doenças ocupacionais (ZOCCHIO, 2002).

Além disso, os Sistemas Integrados de Gestão (SIG) integra


numa linha de ação comum três eixos fundamentais para a
Administração das Organizações: Sistema de Gestão de
qualidade (ISSO 9000), Sistema de gestão ambiental (ISSO
14000) e o Sistema de Gestão de Responsabilidade Social
(ISO 26000 e AS 8000) (ROUSSETE, 2014).

Nos tópicos seguintes essas temáticas serão abordadas com


mais detalhes.
3.1. Política interna de segurança do trabalho: objetivos e
aplicação

Os objetivos da Política de Segurança do Trabalho consistem


em preservar a saúde e a integridade física dos colaboradores,
bem como promover a cooperação e participação coletiva para
a sua concretização. Para que isso seja viável, ela distribui as
obrigações a respeito do cumprimento das normas e instruções
em matéria de SST por todas as pessoas e equipes
(ZOCCHIO, 2002).

Logo, um dos primeiros requisitos de sua implementação é a


definição das responsabilidades e das atribuições individuais,
que levarão em conta aspectos institucionais, sociais e
econômicos fundamentais para a empresa. Essa distribuição
se dará também de acordo com a função, o cargo e a
especialidade de cada funcionário, assim como o nível
hierárquico que ocupa (ZOCCHIO, 2002).

Outros pontos que devem ser contemplados na Política de


Segurança do Trabalho incluem a comunicação dos acidentes
de trabalho às autoridades públicas, o registro conforme
regulamentado na legislação de SST e, adicionalmente, a
realização de uma investigação, para que sejam adotadas
medidas de neutralização dos riscos que provocaram os
acidentes, prevenindo novas ocorrências (ZOCCHIO, 2002).

Em termos de análise e controle de riscos, deve ser implantado


o acompanhamento preventivo de riscos e perigos por meio de
projetos e processo de trabalho, em conformidade com os
planos e programas em SST (ZOCCHIO, 2002).

No quesito treinamento, a Política de Segurança do Trabalho


deve propor um cronograma de formação dos trabalhadores, a
fim de que desenvolvam métodos seguros de execução de
suas atividades laborais. Para funcionários novatos, a política
deverá prever um plano de integração voltado para a
segurança e saúde no trabalho. Além disso, para funcionários
antigos e/ou que migrem de função, deve prever cursos de
reciclagem, de periodicidade a ser definida de acordo com a
necessidade (ZOCCHIO, 2002).

Acima de tudo é indispensável que a política estabeleça um


plano permanente e contínuo, que tenha sequência
independentemente de mudanças internas, rotatividade de
pessoas e de alterações na estrutura e posição de mercado da
empresa. Isso garantirá que a prevenção de acidentes e
doenças ocupacionais na Organização seja uma prioridade. A
depender da conveniência e do planejamento das ações no
programa, é recomendável que contemple Campanhas para
conscientização focadas no desenvolvimento e na manutenção
de uma cultura de segurança (ZOCCHIO, 2002).

É recomendável também que as Diretrizes de Segurança do


Trabalho estabeleça: um plano de divulgação de informes
preventivos; um plano de emergência, para orientar acerca dos
procedimentos para situações de anormalidade, iminências ou
ocorrências de acidentes de trabalho; reuniões periódicas de
segurança, para delimitar as metas, prioridades e ações de
prevenção em prol da SST no cotidiano administrativo
(ROUSSETE, 2014).

3.2. Requisitos do sistema de gestão da segurança e saúde


do trabalho

O Sistema de Gestão em Segurança e Saúde do Trabalho


(SGSST) foi desenvolvido na década de 1990, com a
publicação de um guia para estruturar sistemas, a British
Standard 8800 (BS 8800), em 1996. Tal norma foi importante
para unificar a linguagem para os sistemas de gestão de
segurança e saúde ocupacional, conduzindo as empresas a
criar uma plataforma universal para tratar e administrar
questões de risco, higiene no trabalho, comportamento e
atitudes para o ambiente laboral (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

A aplicação da BS 8800 se difundiu pelas empresas do Brasil,


só sendo substituída em 1999 pela edição de uma norma
pela Occupational Health and Safety Assessment
Services (OHSAS), a OHSAS 18001:1999 e sua norma de
apoio OHSAS 18002:2000 (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

De acordo com Lima et al. (2018) a OHSAS é a “organização


britânica que estabeleceu um padrão de normas e
procedimentos para a área de saúde ocupacional”, fazendo
com que emergisse uma certificação para o estabelecimento
de um sistema de gestão em segurança e saúde do trabalho.
Essa certificação é a OHSAS 18001:1999, cuja sigla pode ser
melhor compreendida como “Série de Avaliação da Segurança
e Saúde no Trabalho”. Ela fornece às empresas detentoras da
mesma uma vantagem competitiva, além de prover o avanço
em gestão da SST (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Desse modo, na prática a BS 8800 contém “o que fazer”, pois


fornece direcionamento de para integrar a gestão de SST ao
gerenciamento do negócio, reduzindo a exposição dos
trabalhadores aos riscos e moldando a imagem de organização
responsável no nicho de sua atuação (MATTOS; MÁSCULO,
2019).

Já as OHSAS 18001:1999 e OHSAS 18002:2000 especificam o


“como fazer” o SGSST. Sua elaboração foi inspirada na ISO
14001:1996, que dispõe sobre o Sistema de Gestão Ambiental
– SGA. Esta última já seguia a trilha da ISSO 9000, que trata
dos Sistemas de Gestão da Qualidade – SGQ, publicada
originalmente em 1987. Tais semelhanças tornaram o
entendimento dessas normas mais simples (MATTOS;
MÁSCULO, 2019; ROUSSETE, 2014).

No Esquema 1 são descritos os componentes de um SGSST


de acordo com a OHSAS 18000.

Esquema 1 – Principais componentes de um SGSST conforme


a OSAS 18000.

BRASIL, 2011 (Adaptado)


Para colocar em prática o SGSST, as organizações costumam
aplicar o ciclo PDCA, que implica no desempenho de quatro
atividades básicas: planejamento (plan) dos objetivos e
processos necessários para alcançar os resultados previstos
na política de SST; implementação e operação (do) desses
processos; verificação (check) e monitoramento do
andamentos dos processos em comparação com a política de
SST e os requisitos legais; ações corretivas (act), visando o
desempenho da SST (MATTOS; MÁSCULO, 2019;
ROUSSETE, 2014).

Como no Brasil não havia entidade responsável pela avaliação


e certificação da OHSAS 18001, num processo de evolução
natural das normas emergiu a ISO 45001:2018, norma
substituta, que trata do SGSST, propiciando ambientes de
trabalho seguros e saudáveis (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

A ISO 19011:2002, que traz as diretrizes para auditoria de


sistemas de gestão, acabou por favorecer a implantação dos
sistemas de gestão de modo unificado nas Organizações,
conforme explicado no tópico a seguir.

3.3. Sistemas integrados de gestão (SIG)

O Sistema Integrado de Gestão (SGI) engloba a gestão


ambiental, da qualidade, da saúde e segurança e a
responsabilidade social. Mattos e Másculo (2019, p. 75)
destacam que:

O SGI é focalizado na satisfação de um conjunto de


interessados pois procura, simultaneamente: a
satisfação dos clientes, a proteção do meio
ambiente, a segurança e saúde das pessoas em
seus postos de trabalho e o controle dos impactos
sociais das organizações.

A ISO 9000 foi importante para os SIG porque teve como


objetivo garantir a qualidade nos processos produtivos por
meio do uso de procedimentos padronizados, que,
consequentemente, impactam no aumento da confiabilidade
dos produtos e serviços (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

A principal vantagem de ter um SIG é gerenciar, ao mesmo


tempo, os resultados desejáveis, seja um produto ou serviço
fornecido; e os resultados indesejáveis, como a geração de
resíduos e efluentes, passíveis de comprometer a saúde dos
trabalhadores, da comunidade vizinha, da sociedade e do meio
ambiente (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

A dimensão da qualidade no SIG tem múltiplas funções, uma


vez que busca confrontar os processos e o produto final com
os padrões pré-estabelecidos, socioambientais e as normas
relacionadas; visa atender às demandas do consumidor de tal
modo que suas expectativas de funcionalidades do produto
sejam atendidas e ele fique satisfeito (MOURA; PANDOLFI,
2020).

A dimensão ambiental do SGI direciona: a adoção de medidas


de racionalização do uso de matéria-prima, de energia e da
água; o descarte apropriado de resíduos; a realização de
tratamento de efluentes para adequá-los aos limites toleráveis
dispostos na legislação antes do seu lançamento no sistema de
esgoto. Todos estes são fatores que reduzem os impactos
ambientais provenientes das atividades, produtos ou serviços
da empresa (MOURA; PANDOLFI, 2020).

No tocante à Segurança e Saúde do Trabalho, vale destacar o


papel e o comprometimento não apenas da administração, dos
membros do Serviço Especializado em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), da Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA); mas de todos os
envolvidos na execução das atividades inerentes ao processo.
Assim, conscientiza-se e capacita-se todas as pessoas para
que reconheçam os riscos e que contribuam com o
gerenciamento dos mesmos (MOURA; PANDOLFI, 2020).

A ISO 2600, que estabelece as Diretrizes sobre


Responsabilidade Social, em conjunto com a AS 8000, que
determina os Requisitos de responsabilidade social nas
empresas; direcionam a dimensão da responsabilidade social
do SIG. Esta última norteia a execução de práticas
responsáveis de produção, utilização de recursos, descarte de
materiais; o não envolvimento e não utilização de mão de obra
escrava e infantil; o combate a toda e qualquer forma de
discriminação; a manutenção de carga horária e remuneração
de seus empregados em conformidade com o que assevera a
Constituição Federal; dentre outras premissas.

3.4. Gestão de riscos

Independentemente do seu tamanho, do que produzem e da


posição no mercado, as Organizações são atingidas por fatores
internos e externos que, que podem causar alguns desvios em
relação ao alcance de objetivos. Esses fatores geram
incertezas e, por isso, caracterizam-se como riscos. Nesse
contexto, as organizações gerenciam os riscos de acordo com
as seguintes etapas: identificação, análise, avaliação,
tratamento e controle (ABNT, 2009).

A norma ISO 31000 estabelece os princípios que, se


cumpridos, tornam a gestão de riscos eficaz e fornece aporte
para que as organizações implementem e melhorem
continuamente a sua gestão de riscos na governança, assim
como aspectos como estratégia, planejamento, políticas,
valores e cultura (ABNT, 2009).

De acordo com a ISO 31000, a identificação de riscos


compreende a detecção das fontes de risco, suas causas,
consequências e danos potenciais. A análise dos riscos visa
esmiuçar a natureza e o nível ou magnitude do risco, bem
como verificar as probabilidades de elevação dos níveis de
risco. A avaliação de riscos é a etapa subsequente, consistindo
no procedimento de comparação dos resultados da análise de
riscos com os critérios de referência (legislação, normas,
políticas internas e externas à organização). Vale a busca pelo
equilíbrio entre os benefícios possíveis de serem obtidos e os
resultados adversos passíveis de ocorrerem. Com base na
avaliação ocorre a tomada de decisões a respeito de como os
riscos serão “atacados”, na etapa de tratamento de riscos
(ABNT, 2009).

O tratamento de riscos visa modificá-los e pode se dar pela


definição de uma ação para evitar o risco, por exemplo a
eliminação do equipamento que lhe dá origem ou a substituição
de um método de trabalho por outro que neutralize o risco,
manipulação das consequências (mitigação de riscos). O foco
é aumentar os benefícios potenciais e reduzir os custos
prováveis. Porém, é preciso ter cautela, uma vez que o
tratamento de riscos pode acabar inserindo fontes de novos
riscos ou modificar os já existentes de forma inesperada
(ABNT, 2009).

Por fim, o controle de riscos é conduzido por meio de


processos, práticas e ações intencionalmente estabelecidas
para modificar o risco ao longo do tempo, a fim de reduzir as
suas consequências. Corresponde ao monitoramento do
cumprimento das medidas de tratamento de riscos adotadas e
sua efetividade, a fim de promover a melhoria contínua (ABNT,
2009).

Atividade extra
Assista ao vídeo do TEDx intitulado “O que é essa tal de
sustentabilidade?”, apresentado por Saulo Chielle. Essa é uma
abordagem do tema Sustentabilidade para além da visão de
promoção da consciência ambiental. Ele discute a
sustentabilidade no que tange à sobrevivência, foco da
administração das organizações e da própria vida das pessoas
em sociedade. (Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=tBr6GvbeJvo>).

Referência Bibliográfica
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS
(ABNT). ABNT NBR ISO 31000. 2009. Disponível em:
<https://gestravp.files.wordpress.com/2013/06/iso31000-gestc3
a3o-de-riscos.pdf>. Acesso em: 23 de fev. de 2021.

CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. de. Introdução à


segurança e saúde no trabalho. 1. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2016.

LIMA, E. R. et al. Sistema de segurança do trabalho. São


Paulo: Érica, 2018.

MATTOS, U. A. de O. M.; MÁSCULO, F. S. Higiene e


segurança do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.

MOURA, A. B. de; PANDOLFI, A. C. Sistema integrado de


gestão: qualidade, meio ambiente, segurança esaúdeno
agronegócio. Interface Tecnológica, v. 17, n. 1, p. 456-466,
2020.

ROUSSETE, Celso Augusto. Segurança e Higiene do


Trabalho. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014.

ZOCCHIO, A. Prática da prevenção de acidentes: ABC da


segurança do trabalho. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

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