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APLICAÇÃO

Os “Velhos e Bons Tempos” (Cap. 29)


Depois de ser assoberbado por calamidades devastadoras, Jó
teve saudades dos “velhos e bons tempos”. Embora suas perdas
tenham ocorrido da noite para o dia, há paralelos entre a
situação de Jó e o processo de envelhecimento de cada ser
humano. Quando envelhecemos, muitas vezes perdemos muito do que
permeava o nosso modo de vida. Quer tenhamos dado valor a cada
dádiva e privilégio, quer tenhamos os ignorado, vamos sentir
saudade dos velhos e bons tempos.
Os filhos e a prosperidade (29:1–6). Jó recordou uma fase
de sua vida em que ele se sentia especialmente próximo de
Deus. Ele a descreveu como “os dias do meu vigor, quando a
amizade de Deus estava sobre a minha tenda” (29:4). Ele se
lembrou dos dias em que seus filhos o cercavam e uma imensa
alegria abrilhantava a sua vida (29:5). No entanto, todos os dez
filhos de Jó morreram em um instante. Jó também recordou as
grandes bênçãos econômicas (29:6). Tudo isso havia ficado no
passado.
Pais que perderam filhos, sem dúvida, experimentam grande
sofrimento. Jamais “superam” essa dor, mas aprendem a achar
consolo nas preciosas lembranças dos filhos que partiram. À
medida que envelhecemos e enfrentamos os anos de aposentadoria,
muitos de nós experimentamos uma diminuição significativa da
renda pessoal. Essa queda pode afetar grandemente nosso padrão
de vida e exigir ajustes difíceis.
O respeito dos outros (29:7–11). Antes das grandes perdas
de Jó, ele ocupava uma posição de liderança em sua
comunidade. Assim que ele se aproximava da porta da cidade, onde
os anciãos se reuniam, os jovens se retiravam, os idosos se
levantavam e os príncipes se calavam (29:8-10). Agora, porém, Jó
era recebido com grande desrespeito e escárnio.
Existem muitos cenários atuais em que um indivíduo pode
perder o respeito dos outros, mas permanecer fiel a Deus. Quando
envelhecemos, podemos perder o vigor mental e, por conta disso,
a posição de liderança. Além disso, um idoso pode viver mais
tempo que seus colegas e ter como companhia uma geração que não
o conhece bem.
A capacidade de oferecer benevolência (29:12–17). Jó tinha
usado sua riqueza e posição de liderança com temor a Deus,
olhando para os pobres, os órfãos e as viúvas (29:12, 13). Ele
serviu os cegos, coxos e necessitados. Jó até agiu como advogado
do estrangeiro, investigando seu caso para descobrir a verdade
(29:15, 16). Ele protegeu os inocentes de serem vitimados pelos
iníquos (29:17). No entanto, Jó perdeu as riquezas e a posição
de liderança que lhe davam condições de oferecer benevolência
aos necessitados.
Quando envelhecemos, pode ser que não tenhamos recursos
financeiros ou capacidade física para servir como costumávamos
nos anos anteriores. Talvez não tenhamos condições de contribuir
com tanto dinheiro para a igreja como antes. Com a saúde em
declínio, pode ser impossível realizarmos atos simples de
caridade.
A esperança de uma morte honrosa (29:18–20). Antes de ser
atingido pela calamidade, Jó pensava que teria uma vida longa e
próspera e depois morreria pacificamente, cercado pelos membros
de sua casa. No entanto, seus filhos morreram e ele ficou com a
saúde debilitada da noite para o dia. A esperança de morrer com
“honra” se fora (29:20).
Alguns cristãos morrem com pouco ou nenhum
sofrimento. Certa cristã idosa tinha tido uma vida longa de
serviço ao Senhor. Raramente ela adoecia e normalmente só
procurava o médico para fazer exames de rotina. Certo Dia do
Senhor, ela participou do culto matutino, de um chá de bebê à
tarde e do culto vespertino. Na mesma noite, essa querida irmã
veio a falecer dormindo. Que maneira de viver e de morrer! No
entanto, para a maioria das pessoas - incluindo os cristãos -
essa não é a realidade. Muitos sofrem dores intensas no fim da
vida; alguns atravessam anos enfrentando problemas de saúde. Não
há “honra” nem “glória” nessas situações em si.
A oportunidade de dar conselhos (29:21–25). Nos velhos e
bons tempos, Jó chamava a atenção dos mais moços aos mais
velhos. Eles ouviam pacientemente seu sábio conselho, que ele
comparou com a refrescante chuva de primavera (29:23). Ele tinha
sido um líder inspirador que incentivava os desanimados a
permanecerem no caminho certo (29:24). Além disso, Jó oferecia
consolo aos que pranteavam (29:25).
Quando envelhecemos, podemos perder a posição de dar tantos
conselhos quanto dávamos antes. Aqueles que servem na capacidade
de presbíteros, pregadores, conselheiros ou professores
frequentemente são procurados para dar conselhos ou dividir seu
conhecimento. A fase de aposentadoria pode exigir desses
ministros muita humildade, pois haverá uma queda brusca no
número de pessoas a pedir-lhes um conselho, uma opinião.
Conclusão. Jó lutou com o seu dilema e com a saudade dos
“bons e velhos tempos”. Hoje, muitos também sentem saudade do
tempo em que eram cercados pela família, desfrutavam de suas
riquezas e de uma saúde melhor e exerciam mais influência na
comunidade. Envelhecer não é fácil.
Nós, cristãos, devemos procurar contentamento em toda e
qualquer situação. Paulo escreveu que ele aprendeu a estar
contente independentemente das circunstâncias. Ele explicou:

Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo


e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto
de fartura como de fome; assim de abundância como de
escassez; tudo posso naquele que me fortalece (Filipenses
4:12, 13).
Paulo encontrou paz na vida servindo a Cristo, independentemente
da situação em que se encontrasse. Ele cria que Jesus o ajudaria
a enfrentar as lutas da vida com coragem e criatividade.
Nós também devemos perceber que este mundo não é o nosso
lar e que esta vida é temporária. As palavras de Paulo nos
asseguram:

Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o


nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem
interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e
momentânea tribulação produz para nós eterno peso de
glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas
coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que
se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.
Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se
desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não
feita por mãos, eterna, nos céus” (2 Coríntios 4:16—5:1).
David Stewart

A PROMESSA DE UMA VELHICE FELIZ E


FRUTÍFERA

Leitura Bíblica: Salmos 92.12-15; Isaías 40.28-31.

"Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes" (Sl 92.14).

INTRODUÇÃO

Na seqüência do estudo das promessas de Deus, veremos nesta aula uma


promessa que, assim como a do lar feliz, está voltada para a “vida debaixo do sol”:
a promessa de uma velhice feliz e frutífera para o justo.
A velhice é uma bênção de Deus aos idosos e neles devemos ver, antes de mais
nada, alguém que alcançou a graça divina e que, pela sua idade avançada, é uma
pessoa ricamente abençoada pelo Senhor. Se enxergarmos o idoso como um ser
abençoado por Deus, certamente, teremos uma visão dele bem diversa daquela
que o mundo costuma oferecer a esta faixa etária, também chamada de terceira
idade. Infelizmente, muitas pessoas nessa faixa etária sofrem abusos e
desrespeito, enquanto outras de maneira equivocada assumem que já nada podem
oferecer. Em razão disso sentem-se inadequadas e inferiorizadas socialmente. Mas
a Bíblia, ao contrário do mundo, ensina que os justos na "velhice ainda darão
frutos; serão viçosos e florescentes" (Sl 92.14).

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A velhice faz parte do processo evolutivo do ser humano. Todos nós


envelheceremos um dia. Esta é uma realidade da qual ninguém pode fugir. As
pessoas que conseguem superar o medo de envelhecer encaram a terceira idade
como qualquer outra fase da vida, repleta de desafios a serem enfrentados.
1. FASES DA VIDA HUMANA - O ser humano passa por três etapas significativas
na sua vida: a infância, a adolescência e a idade adulta. Esta última divide-se
em três fases: o adulto jovem, a meia-idade e a terceira idade.
Como o tema da nossa lição é sobre a terceira idade, vamos nos deter apenas
sobre a fase adulta. A fase adulta divide-se em:
a) Adulto jovem: Esta fase vai dos 20 aos 40 anos aproximadamente e é
considerada a mais importante no que diz respeito ao indivíduo e à sociedade. É,
portanto, uma fase evolutiva caracterizada por uma série de mudanças
significativas. As características dessa fase são:
Idade Reprodutiva - A maioria das pessoas casa-se e tem filhos neste período da
vida.
Fase Criativa - A vida nessa fase se torna, para muitos pessoas, totalmente nova,
fascinante e reprodutiva.
Estabilização - É este o momento em que o indivíduo estabelece os padrões
típicos de comportamento que, em condições normais, o acompanharão pelo resto
da vida.
Isolamento Social - O adulto jovem é também conhecido por certo isolamento
social. Surge a necessidade de dar atenção à própria família.
Mudança no sistema de valores - Nesta fase, o indivíduo atinge o período áureo
da sua existência, caracterizado pela agilidade, rapidez e força. Até os 30 anos, o
tônus muscular e a força atingem o ponto máximo. A partir daí, o ser humano
gradativamente começa a apresentar os primeiros sinais de envelhecimento. Pouco
a pouco o tônus muscular, a força a agilidade, bem como o tamanho do corpo, vão
diminuindo. O indivíduo tende a obesidade e ao excesso de gordura.
b) A Meia-Idade – A meia-idade é um período da vida que vai dos 40 aos 60
anos. Alguns teóricos consideram esta época da vida como a idade da maturidade.
Durante esta fase, especialmente se atentarmos para o sentido psicológico do
termo “maturidade”, em vez de pensar apenas nos aspectos biológicos, o indivíduo
geralmente desenvolve uma visão realista de como vê a si mesmo, de como
gostaria de ser idealmente e de como pensa que os outros o percebem. Neste
período, portanto, maturidade significa assumir uma atitude realista diante das
mudanças que ocorrem interiormente, bem como a respeito dos ideais e objetivos
da vida.
Esta fase também se caracteriza pela época das realizações. A sociedade moderna
pode ser orientada pelos valores jovens, mas é, na verdade, controlada pelo adulto
de meia-idade; é ele quem, de fato, manda na situação. Este também é o período
em que a liderança na indústria, no comércio e na comunidade representa a
recompensa pelas realizações individuais.
c) A Terceira Idade – Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS, a terceira
idade começa entre 60 e 65 anos; para os cientistas, ela começa aos 65; para
outros a aposentadoria deve ser o referencial para determinar o inicio da terceira
idade.
A fixação do inicio desta fase da vida não tem nenhum fundamento cientifico.
Serve, apenas, para orientar as pesquisas cientificas e para a elaboração da política
governamental nas áreas da saúde e social.
Toda dificuldade advém do fato de que as pessoas são muito diferentes entre si. A
questão da idade é mais uma questão psíquica. É possível encontrar
alguém com 80 anos com uma cabeça melhor e uma disposição física
superior a de outra com 50 anos, ou menos; velhos que ainda sonham, que
ainda possuem metas para serem alcançadas, que não se sentem realizados -
velhos com ideais ainda vivos.
Em nossas Igrejas temos muitos exemplos desta natureza. Obreiros que já
ultrapassaram a barreira dos oitenta e que podem fazer suas as palavras de
Calebe: “...e agora eis que já hoje sou da idade de oitenta e cinco anos. E
ainda hoje estou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual a
minha força então era, tal é agora a minha força, para a guerra, e para sair
e para entrar”(Js 14:10-11). A velhice chega quando sepultamos nossos
sonhos.
É possível, outrossim, encontrarmos pessoas com menos de 50 anos, e já
completamente velhos vivendo em plena terceira idade. Pessoas que, por
razões diversas, perderam a motivação para lutar pela vida.
O envelhecimento não é, pois, uma questão de idade cronológica. Ele está
ligado, basicamente, a quatro fatores: biológicos, psíquico, social e econômico.
Estes fatores podem antecipar, ou retardar o inicio da terceira idade.
Muitos acreditam que a velhice é sinônimo de doença e fraqueza. Naturalmente,
com o avanço da idade, a memória começa a falhar e, em face disso, muitos
passam admitir que não conseguem aprender mais nada e que suas habilidades
intelectuais entraram em declínio inevitável. Por conta dessa imagem, o idoso
acredita não mais ser criativo e priva-se de muitas atividades temendo o fracasso
ou a censura. Essa atitude, quase sempre, leva o idoso ao isolamento e à sensação
de ser rejeitado pelas gerações mais jovens.
A velhice não é um distúrbio da criação, nem muito menos um castigo
divino. Em termos de longevidade, é uma grande bênção. Acredite nisso. Se
você alcançou essa idade, é porque Deus achou por bem conservá-lo aqui na terra,
acreditando que você ainda é útil e tem alguma missão a cumprir. Deus é o
Senhor do tempo. Ele tem em suas mãos o cronômetro da vida de cada um
de nós. Creia que a velhice é uma forma de bênção divina. Salomão
acreditava nessa forma de soberania divina. E todas as vezes que expressou essa
sua crença, o fez em termos de bênçãos: ”Porque eles aumentarão os teus
dias, e te acrescentarão anos e vida e paz”(Pv.3.2); “Ouve, filho meu, e
aceita as minhas palavras, e se te multiplicarão os anos de
vida”(Pv.4.10). O único mandamento com promessa, aquele que ordena honrar
pai e mãe, fala do prêmio da longevidade: ”... para que se prolonguem os teus
dias na terra que o Senhor teu Deus de dá”(Ex. 20.12).
2. A BÍBLIA SAGRADA E A TERCEIRA IDADE - “Porque tudo que dantes foi
escrito, para nosso ensino foi escrito...”(Rm 15:4).
Para nós que cremos em Deus, e na sua Palavra, o que está escrito na Bíblia não
pode ser como letra morta. Assim, para sabermos, hoje, como a Terceira
Idade deve ser vista e tratada no seio das Famílias e na Igreja, precisamos
conhecer o pensamento bíblico a respeito dos idosos e como eles sempre foram
tratados, de acordo com a Bíblia.
a) Segundo a Bíblia, o velho, ou idoso, deve ser tratado com honra,
dignidade e respeito. “Diante das cãs te levantarás, e honrarás a face do
velho, e terás temor do teu Deus: eu sou o Senhor”(Lv 19:32). Foi o próprio
Deus quem proferiu estas palavras. Por elas é possível avaliar o pensamento de
Deus a respeito do velho, ou idoso. Tratar bem, e respeitosamente, uma pessoa
idosa é sinal de temor a Deus.
“Cãs”, significa “cabelos brancos”, que antes do uso das tinturas, eram
considerados honrosos e dignos de respeito. Uma verdadeira “coroa de
honra” - “Coroa de honra são as cãs...”(Pv 16:31), um símbolo de beleza - “O
ornamento dos mancebos é a sua força, e a beleza dos velhos, as
cãs”(Pv 20:29).
A Bíblia na linguagem de hoje, na primeira parte de Levíticos 19:32,
diz: “Fiquem de pé na presença das pessoas idosas e as tratem com todo o
respeito...”.
Eram também respeitados pela sua sabedoria e experiência - “Com os
idosos está a sabedoria, e na abundancia de dias o entendimento”(Jó
12:12).
Pelas declarações de Eliú, podemos compreender o respeito que havia
pelos mais velhos. Os jovens permaneciam calados diante deles e só falavam
quando estavam certos de que os mais velhos nada mais tinham para dizer - “ E
respondeu Eliú, filho de Baraquel o buzita, e disse: eu sou menos de idade,
e vós sois idosos; arreceei-me e temi de vos declarar a minha opinião.
Dizia eu: falem os dias e a multidão dos anos ensine a sabedoria”, ou como
diz a Bíblia, na linguagem de hoje: “Eu sou moço, e vocês são idosos. Foi por
isso que não me atrevi a dar a minha opinião. Pensei assim, que fale a voz
da experiência, que os muitos anos mostrem a sua sabedoria”(Jó 32:6-7).
Segundo a Bíblia, o velho, ou idoso, deve ser tratado com honra, dignidade
e respeito. “Diante das cãs te levantarás, e honrarás a face do velho, e
terás temor do teu Deus: eu sou o Senhor”(Lv 19:32Na promessa do
Pentecostes, Deus não se esqueceu dos velhos, ou idosos - “E há de ser que,
depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos filhos e
vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos
mancebos terão visões”(Joel 2:28). Assim, a Família e a Igreja devem, também,
tratar as pessoas idosas com honra, dignidade e respeito.
b) Para a Bíblia, ser velho ou idoso, não significa ser inútil, incapaz, e
descartável. “O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro
no Líbano... Na velhice ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes”(Sl
92:12-14). Isto é possível devido os cuidados do Senhor - “Os jovens se
cansarão e se fatigarão, e os mancebos certamente cairão, mas os que
esperam no Senhor renovarão as suas forças, subirão com asas como
águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se
fatigarão”( Isaias 40:30-31).
Noé tinha seiscentos anos quando Deus enviou o Dilúvio - “No ano
seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês,
naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as
janelas dos céus se abriram”(Gn 7:17).
Entre milhares de famílias com liderança jovem, a Bíblia informa que Noé, embora
com idade avançada foi escolhido por Deus para coordenar a repovoação da nova
Terra - “Noé, porém achou graça aos olhos do Senhor”(Gn 6:8).
Abraão e Sara não eram jovens quando seguiram para a terra que o Senhor lhes
mostraria - “...e era Abraão da idade de setenta e cinco anos quando saiu de
Harã”(Gn 12:4). Sara, ou Sarai, era dez anos mais nova que ele. Deus esperou
que ficassem velhos para dar-lhes o filho prometido - “E era Abraão da idade de
cem anos, quando lhe nasceu Isaque seu filho” (Gn 21:5). Cumpriu-se o que,
muito depois, escreveria o Salmista: “Na velhice ainda darão frutos...”.
Consta ser de Moisés estas palavras: “A duração de nossa vida é de setenta
anos ...”(Sl 90:10). No entanto, quando Deus o chamou para ser o libertador de
seu povo, ele estava já com oitenta anos - “E Moisés era da idade de oitenta
anos e Arão da Idade de oitenta e três anos, quando falaram a Faraó”(Êx
7:7).
Quando Deus quer usar alguém não existe um limite de idade. Deus renova
a força dos cansados - “Dá esforço ao cansado, e multiplica as forças ao que
não tem nenhum vigor”(Is 40:29).
Moisés necessitava de um auxiliar, mas em vez de alguém na faixa entre
trinta e quarenta anos, alguém em pleno vigor físico e mental, Deus lhe deu,
como auxiliar, o seu irmão mais velho, que estava com oitenta e três.
Os homens justos na velhice ainda darão frutos. Embora os velhos,
ou idosos, possam ser vistos pelos homens, com um certo preconceito, às vezes,
até com desprezo, contudo a Bíblia Sagrada afirma que os homens justos “na
velhice ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes”(Sl 92:14). Moisés,
Calebe e Arão confirmam esta verdade bíblica. Calebe, aos oitenta e cinco anos,
considerava-se em plena forma para fazer a obra de Deus, segundo sua
própria declaração – vide Js 14:10-11.
Muitos outros exemplos bíblicos podem ser citados; muitos exemplos atuais,
também. Existem obreiros que já ultrapassaram a barreira dos oitenta anos, e
permanecem à frente de grandes Igrejas, como provas vivas de que homens “na
velhice ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes”. Outros, no entanto,
que ainda poderiam estar realizando a obra do Senhor, foram torpedeados e
descartados por obreiros jovens, e pretensiosos, que não souberam aplicar em suas
vidas aquele principio adotado por Davi, enquanto Saul ocupava o Trono de Israel -
“Esperei com paciência no Senhor...”(Sl 40:1).
Um dos papéis mais importantes da terceira idade é o de promover o
conselho, a orientação. A Bíblia fala-nos da excelência de vivermos junto a
conselheiros (Pv.11:14) e não há melhores conselheiros do que os mais
idosos. As Escrituras registram o caso do rei Roboão, que perdeu quase todo o
seu reino, porque não quis dar ouvido aos conselhos dos mais velhos de sua corte
(I Rs.12:1-15).
Jacó, um velho, abençoador. Jacó, aos147 anos de idade(Gn 47:28), faz a
seguinte declaração: “...o Deus, em cuja presença andaram os meus pais
Abraão e Isaque, o Deus que me sustentou, desde que eu nasci até este
dia”(Gn 48:15). Em gratidão a este Deus, Jacó nos deixou o exemplo de um
homem avançado em idade, porém, um abençoador - “pela fé, próximo da
morte, abençoou cada um dos filhos de José, e adorou encostado à ponta
do seu bordão”(Hb 11:21).
Não importa sua idade, você pode ser um instrumento de bênção para muitos.
Deus quer isto de você. A Bíblia Sagrada afirma que os crentes fiéis “Na velhice
ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes”. Portanto, para Deus, ser
velho, ou ser idoso, não significa ser inútil, incapaz e descartável.
c) Segundo a Bíblia os Anciãos sempre desempenharam um papel de
destaque.
c.1. Biblicamente, Ancião é um homem velho, ou idoso, respeitável. Estes
homens não eram descartáveis, ou desprezados. Pelo contrário, a Bíblia, e também
a história, destacam o papel importante que os anciãos sempre desempenharam,
não somente em Israel, como também entre os demais povos, na antiguidade.
Na morte de Jacó, um homem importante, pai da segunda maior autoridade do
Egito, há um destaque sobre a presença dos anciãos em seu sepultamento,
fazendo, inclusive, menção aos anciãos da casa de Faraó - “E José subiu para
sepultar seu pai; e subiram com ele todos os servos de Faraó, os anciãos
de sua casa, e todos os anciãos da Terra do Egito”(Gn 50:7).
Em Números 22:7 temos um destaque sobre os anciãos entre os Moabitas, e
Midianitas, no papel de embaixadores do Rei: “ Então foram-se os anciãos dos
Moabitas e os anciãos dos Midianitas com o preço dos encantamentos em
suas mãos; e chegaram a Balaão, e lhes disseram as palavras de Balaque”.
Entre o povo de Israel, ainda no Egito, a Bíblia destaca a liderança exercida
pelos anciãos, reconhecida pelo próprio Deus: “E Deus disse mais a Moisés...
Vai, e ajunta os anciãos de Israel, e dize-lhes...”(Êx 3:16). Os anciãos
deveriam ser informados, primeiro, sobre o que Deus ia fazer.
No deserto, antes da outorga da Lei, a liderança dos anciãos foi confirmada: “E
veio Moisés, e chamou os anciãos do povo, e expôs diante deles todas
estas palavras, que o Senhor lhes tinha ordenado”(Êx 19:7). Isto ocorreu no
Monte Sinai, três meses após a saída do Egito.
Ainda no Sinai, porém, os anciãos foram chamadas para testemunhar o que
o Senhor tinha a dizer para Israel: “Depois disse a Moisés: sobe ao Senhor,
tu e Arão, Nabade e Abiu, e setenta dos anciãos de Israel...”(Êx 24:1).
Mais tarde, já em marcha através do deserto, por determinação de Deus,
Moisés escolheu setenta anciãos para auxiliá-lo: “E disse o Senhor a
Moisés: ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel... e contigo
levarão o cargo do povo, para que tu só o não leves”(Nm 11:16-25).
c.2. Os anciãos continuam prestigiados por Deus e por Moisés. Nas Planícies
de Moabe, Moisés recebeu de Deus e transmitiu ao povo, diversas instruções sobre
o modo de vida na Terra Prometida, onde, em breve, entrariam. Nestas
instruções destacam-se as funções que seriam exercidas pelos anciãos, em
cada cidade. Eles desempenhariam um papel ativo na administração e aplicação
da Lei de Moisés. Várias atividades foram desempenhadas pelos anciãos, dentre
elas está a aplicação das penas aos filhos desobedientes, ou rebeldes:
“Quando alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedecer à
voz de seu pai e a voz de sua mãe, e, castigando-o eles, lhes não der
ouvidos, então seu pai e sua mãe pegarão nele, e o levarão aos anciãos da
sua cidade, e à porta de seu lugar. E dirão aos anciãos da cidade: este
nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvido à nossa voz; é um comilão
e beberão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão com
pedras, até que morra; e tirarás o mal do meio de ti para que todo o Israel
o ouça e tema”(Dt 21:18-21).
c.3. Os anciãos na Monarquia. Todos os Reis tiveram os anciãos entre os seus
conselheiros. O Reino de Israel foi dividido em dois, exatamente porque o
rei Reoboão não quis dar ouvidos aos anciãos que tinham sido conselheiros
de seu pai, o rei Salomão - “E teve o rei Reoboão conselho com os anciãos
que estavam na presença de Salomão, seu pai, quando ainda vivia,
dizendo: como aconselhais vós que se responda a este povo? E o rei
respondeu ao povo duramente, porque deixara o conselho que os anciãos
lhe haviam aconselhado”(I Rs 12). Em conseqüência o Reino se dividiu em dois:
Reino de Israel, ao Norte, e Reio de Judá, ao Sul.
c.4. Os Anciãos nas Sinagogas. As Sinagogas foram instituídas depois do exílio.
Destinavam-se às reuniões de caráter religioso, mas, também, serviam como
tribunais e como escolas. Eram dirigidas pelos anciãos locais, também
chamados de chefes ou príncipes das sinagogas. Tinham autoridade de impor
castigos, incluindo açoitamento e a excomunhão temporária e permanente.
A Igreja cristã primitiva organizou-se com base na organização das Sinagogas,
incluindo a figura do ancião.
Assim, se segundo a Bíblia, o homem idoso, conhecido por Ancião, ocupou sempre
um lugar de destaque, é certo que, hoje, na Igreja e na Família, o velho, ou idoso,
não pode ser marginalizado, ou desprezado.
c.5. O Ancião na Igreja Primitiva. “E, havendo-lhes, por comum
consentimento, eleito anciãos em cada igreja...”(Atos 14:23).
A Igreja Primitiva organizou-se com base na organização das Sinagogas, incluindo,
portanto, a figura do ancião. Desta forma, certamente, os anciãos eram
escolhidos entre os irmãos mais idosos.
Acredita-se que, no principio, fossem eleitos pelo povo e, depois de aprovados
pelos Apóstolos, eram empossados com oração e imposição das mãos.
No Novo Testamento, os três títulos: Anciãos, no hebraico; Presbítero, no
grego; Bispo, no latim, tinham o mesmo significado: significavam Pastor.
Usava-se as três expressões: Ancião, Presbítero e Bispo, porque na Igreja havia
cristãos judeus, gregos e romanos. Assim foi até por volta do ano 150 d.C, quando,
então, os Presbíteros passaram a ser subordinados aos Bispos.
Desta forma, no Novo Testamento, o ancião passou a ser uma função
ministerial. Na Igreja primitiva eram escolhidos dentre os cristãos, certamente, da
terceira idade. Do contrário não receberiam a denominação de Anciãos.
Em I Timóteo 5:1 temos a figura do ancião, como membro da Igreja - “Não
repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais...”.
Assim, na Igreja Primitiva, os anciãos, quer como obreiros, quer como pais,
ocupavam um lugar respeitoso - “Semelhantemente vós, mancebos, sede
sujeitos aos anciãos...”(I Pe 5:5). A Bíblia, na Linguagem de Hoje, diz: “E
vocês, jovens, sejam obedientes aos mais velhos...”.
Como foi na Igreja Primitiva, assim deve ser, na Família, hoje - “Vós,
filhos, sede obedientes a voossos pais no Senhor, porque isto é justo.
Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa”
(Ef 6:1-2).
3. ANCIÃO, DEUS CUIDA DE VOCÊ. Ao analisar a velhice na Bíblia, constatamos
que o idoso não é abandonado nem rejeitado por Deus, como acontece comumente
a alguns, que são jogados numa instituição por familiares que nem sequer têm a
lembrança de visitá-los, negando-lhes o afeto e o carinho necessário.
No livro do profeta Isaias lemos que Deus permanece como os que lhe pertencem
até a velhice: “Até à vossa velhice, eu serei o mesmo, e ainda até às cães,
eu vos carregarei; já o tenho feito; levar-vos-ei, pois, carregar-vos-ei e vos
levarei”(Isaias 46.4).
O homem, mesmo na velhice, tem o seu valor na Bíblia: “Na velhice ainda darão
frutos; serão viçosos e florescentes”(Salmo 92.14). Lemos sobre homens
como Abraão, Moisés, Simeão e outros que, na velhice, realizaram trabalhos
magníficos que ainda hoje têm grande significado para nós.
4. ACEITE O ENVELHECIMENTO E VIVA FELIZ. Muitas pessoas não aceitam o
fato de estarem envelhecendo. Procuram mudar a aparência; pintam os cabelos,
fazem cirurgias plásticas com o intuito de livrar-se das rugas, principalmente no
rosto; entretanto, chega um momento em que nada disto é capaz de ocultar os
traços da velhice. As pessoas que recorrem a esses métodos comumente se tornam
infelizes e deprimidas. A auto-aceitação é imprescindível para o ajustamento
pessoal.
O velho Salomão entendia a velhice como parte do ciclo natural da
existência humana. Disse ele:”Geração vai e geração vem;mas a terra
permanece para sempre”(Ec.1.4)
É impressionante a maneira como Josué falou a respeito de sua própria
velhice. Para ele, ficar velho é o caminho de todo mortal, nada mais comum:”Já
sou velho e entrado em dias... Eis que já hoje sigo pelo caminho de todos
os da terra...”(Js 23.1-2 e 14).
Davi também pensava assim:”Fui moço e agora sou velho..”(Sl.
37.25). Para Davi, ter sido moço e agora ser velho não significava exatamente
uma mudança com conseqüências drásticas. Era apenas uma experiência a mais,
uma seqüência natural.
Houve uma certa naturalidade em Samuel quando, já idoso, disse ao povo
de Israel:”Já envelheci e estou cheio de cãs...”(I Sm 12.2).
Sem demonstrar inquietude alguma, Paulo aceitou a consciência de sua
velhice, assumiu a sua nova condição, isto é, simplesmente aceitou a
realidade dos fatos:”...sendo o que sou, Paulo, o velho...”(Fm 9).
5. A TERCEIRA IDADE NÃO SIGNIFICA DECADÊNCIA E TRISTEZA . Porque
pensar que aquilo que acontece de ruim com alguns idosos fatalmente acontecerá
também com outros? Tudo depende dos desígnios divinos, de nós próprios, de
nosso temperamento, de nosso otimismo, de nossos objetivos, de nossa confiança
em Deus e daquilo que plantamos a vida toda e agora queremos colher.
Nem todo idoso fica cego e surdo. Um dos belos exemplos disso é Moisés. A
respeito de sua extraordinária capacidade de enxergar, mesmo aos 120 anos de
idade, a Bíblia registra:”Tinha Moises a idade de 120 anos quando
morreu;não se lhe escureceu os olhos.”(Dt.34.7).
Outro exemplo é o de Jacó: “ E Israel disse a José: Morra eu agora, já que
tenho visto o teu rosto, pois que ainda vives”(Gn 46.30).
Outro exemplo é o do homem velho que esperava apresentar Jesus no
Templo(Lc 2.25-30).
Outro exemplo é de Zacarias, pai de João Batista(Lc.2.36-38).
Nem todo idoso fica fraco e incapaz para o trabalho. Calebe, um dos lideres
de Israel durante o êxodo, era homem de 85 anos de idade e ainda se sentia em
plena forma, pronto para qualquer missão que Josué lhe confiasse.
Orgulhosamente, ele se considerava invencível e dizia a todos, em alto e bom
som:”...sou de oitenta e cinco anos. Estou forte ainda hoje como no dia em
que Moisés me enviou; qual era a minha força naquele dia, tal ainda agora,
para o combate, assim para sair a ele, como para voltar”(Js. 14.10-11).
Ana, a velha profetiza de 84 anos, era uma mulher impressionantemente
ativa:”Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e
orações...e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a
redenção de Jerusalém”(Lc.2.36-38).
Nem todo idoso perde totalmente o vigor sexual. Dizem as Escrituras que o
velho sacerdote Zacarias, concluídas as suas tarefas no Templo, voltou para casa,
certamente alegre, feliz e ansioso e, por meio de mímica, contou a Isabel a visão
que tivera no santuário, na qual o anjo lhe dissera que eles teriam um filho. Poucos
dias depois, sua esposa concebeu(Veja em Lc.1.5-24).
Abraão, que pela idade de hoje já poderia ser bisavô, gerou seu filho Isaque
aos 100 anos, tendo Sara aproximadamente 90 anos(G.21.5).
Nem todo idoso perde a capacidade de discernimento. O profeta Eli era
muito velho, mas ainda lúcido o suficiente para perceber que a voz que chamara o
menino Samuel durante a noite era a voz do Senhor(1Sm2.22;3.8-9).
O ancião, autor do Salmo 71, dizia-se ainda forte para lembrar-se dos ensinos
de Deus e proclamar as suas maravilhas:”Sinto-me na força do Senhor Deus, e
rememoro a tua justiça... Tu me tens ensinado, ó Deus, desde a
minha mocidade; e até agora tenho anunciado as tuas maravilhas”(Sl
71.16-17).
O velho Simeão revelou lucidez e raciocínio lógico nas palavras de seu cântico(Lc.
2.28-32).
Salomão, em sua velhice, ainda escreveu o Eclesiastes. E o apóstolo João, já
bem velhinho, o Apocalipse e as três epístolas.
6. A RESPONSABILIDADE DA IGREJA PARA COM A TERCEIRA IDADE . Não
podemos esquecer que a Igreja, sendo corpo de Cristo, é uma comunidade também
de idosos.
Como disse Paulo, a Igreja é um corpo só, mas constituído de muitos membros
com as mais variadas funções. Ela congrega todas as faixas etárias, já
mencionadas anteriormente. Essas faixas etárias estão de tal forma irmanadas que
“não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a
cabeça, aos pés: Não preciso de vós”(1Co.12.21), porque todos membros são
capazes, úteis e necessários, são peças de uma mesma máquina engenhosamente
montada.
Lamentavelmente, por negligência ou distração uma parte importante dos membros
do corpo está sendo esquecida, justamente a que mais necessita de atenção e
carinho, os irmãos e as irmãs da terceira idade. Muitas vezes a Igreja desenvolve
programas para todas as faixas etárias, menos para a ancianidade. E isso, à luz
da Bíblia, no contexto de Igreja como corpo, está errado. Não há razões nem
desculpas para esquecermos os nossos irmãos da terceira idade!
O idoso espera da Igreja um programa urgente de atividades especifica – A
maioria das igrejas cria programas especiais para as crianças, adolescentes, jovens,
senhoras, homens, corais, casais, obreiros, e nada ou pouquíssima coisa para os
irmãos da terceira idade.
Muitas vezes olhamos só para as limitações deles, e com isso decidimos definhar
unilateralmente a capacidade de operacionalização desses irmãos. A igreja deve
fazer um levantamento consciente de suas condições no afã de proporcionar-lhes
um modo de vida consoante com as recomendações bíblicas.
Portanto, a promessa de felicidade e satisfação na velhice não é uma promessa
geral, mas restrita apenas aos justos. Somente homens justos como Jó, Abraão,
Isaque, Gedeão e Davi, puderam desfrutar desta promessa. Ao mencionar a
promessa da velhice, o salmista fala do justo. Mas quem é este justo? O próprio
texto explica: “os que estão plantados na casa do Senhor” (Sl.92:13a).
VELHAS ÁRVORES

Olha estas velhas árvores, mais belas


Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas


Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!


Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,


Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
(Olavo Bilac)

COMENTÁRIO SOBRE OS TÓPICOS PROPOSTOS

I. A TERCEIRA IDADE - TEMPO DE FRUTIFICAÇÃO

1. Tempo da maturidade. A primeira grande bênção do período da velhice é


a maturidade, sobretudo quando se floresce plantado na Casa do Senhor
(Sl 92.13,14). Duas figuras de linguagem dão a dimensão exata do que
isso representa: a palmeira e o cedro. Em ambas vemos a lição de
utilidade, perenidade, firmeza e robustez. São assim os que envelhecem
seguindo os princípios ditados por Deus: têm raízes profundas, que
suportam os ventos da tempestade, são longevos, robustos e de presença
acolhedora.
É verdade que, como exceção à regra, alguns idosos não amadurecem, por
não saberem aplicar os princípios de vida tão claros nas Escrituras. Os
princípios de vida ensinados na Bíblia levam à maturidade, à prudência, à
sabedoria para o ser humano viver acertando e errar o mínimo. Como diz a
Bíblia, a maturidade com o seu modo de ser e de agir não cabe na infância,
mas na vida daqueles que já são experimentados nos embates da vida
material e espiritual (1 Co 13.11; Hb 5.13,14).
2. Tempo da colheita. A terceira idade é, também, um tempo de colheita.
Esse fato, decorrente de semeadura no passado, implica que a semente
plantada cumpra, pelo menos, três fases distintas: brotar, crescer e
frutificar. Esta última só ocorre quando a planta chega à fase adulta. A
terceira idade é a época em que os frutos são colhidos como resultado
daquilo que se plantou na infância, na juventude e nos primeiros ciclos da
vida adulta (Ec 12.1).
Temos, aqui, duas importantes lições: a) saber plantar, isto é, fazer boas
escolhas sob a direção de Deus nos verdes anos da juventude é condição
essencial para que se faça uma boa colheita no período da terceira idade; e
b) aquilo que colhemos na terceira idade, inclusive certas doenças, é o
resultado direto das escolhas que fizemos no tempo da semeadura (Gl 6.7-
9). A Bíblia é o livro de Deus que nos ensina como andar diante de Deus
em santidade, e diante dos homens em justiça e retidão.
3. Tempo de compartilhar. Mas não fica só por aí a frutificação na terceira
idade. Esta é também uma época de compartilhamento. Não é bom reter
somente para nós, em nossos celeiros, aquilo que Deus amorosamente nos
concedeu durante toda a nossa vida. A menção aos frutos, no Pentateuco,
sempre traz implícita essa idéia (Dt 26.1-11 cf. 16.11). O que Deus pôs em
nossas mãos, como fruto da nossa colheita, é para também abençoar
àqueles que nos cercam e, sobretudo, contribuir com a expansão do seu
Reino na Terra. Alguém que chegou à terceira idade após uma boa
semeadura ainda tem muito a contribuir nos átrios da casa de Deus e a
compartilhar com os que o cercam.

II. A TERCEIRA IDADE - TEMPO DE RENOVAÇÃO ESPIRITUAL

1. Renovação pela comunhão com Deus. Mas a terceira idade é, ainda, um


tempo de renovação espiritual pela comunhão íntima com Deus. O texto de
Isaías, na Leitura Bíblica em Classe, fala que até os jovens se cansam (v.
30). Isso acontece por ser a juventude uma época de bastante ativismo,
nem sempre com bons resultados. No entanto, aos que esperam
firmemente no Senhor há uma promessa de renovação espiritual e de alçar
vôos como os da águia, mesmo na terceira idade, sem cansaço, nem fadiga
(v. 31).
Conquanto nossa comunhão com Deus seja algo para ser buscado e
mantido em toda a dimensão do nosso tempo e circunstâncias, a Bíblia
deixa claro que devemos em todos os momentos aprofundar esse
relacionamento, com a provisão do Espírito Santo, fundamentados na fé
em Cristo e na Palavra de Deus. A velhice enseja essa oportunidade, pois
nessa faixa etária as pessoas geralmente dispõem de mais tempo diário
para a oração e à leitura da Bíblia. Vale lembrar, inclusive, que a nossa boa
saúde espiritual contribui diretamente para a saúde física.
2. Renovação pelo senso do serviço cristão. Outra área que traz renovação
espiritual no tempo da velhice é a do serviço cristão. Existem muitas áreas
de trabalho nas igrejas apropriadas para as pessoas da terceira idade. É
óbvio que elas não correrão como as pessoas mais jovens, não terão o
mesmo ativismo, mas poderão ter o conhecimento e experiência
necessárias para realizarem certas atividades que requerem a maturidade
que só os idosos possuem. O povo de Deus necessita da energia dos
crentes mais jovens, mas não pode jamais abrir mão da experiência dos
santos mais idosos.
Lembremos-nos de que devemos cumprir todo o propósito dado por Deus à
nossa existência até que ele nos chame ao lar celestial (Ec 9.10; Is 46.4;
At 20.24).

III. A TERCEIRA IDADE - TEMPO DE CUIDAR DA HERANÇA

1. A herança do exemplo. A terceira idade, queiramos ou não, traz também


a perspectiva sobre que tipo de herança espiritual e ética será deixada
para as próximas gerações. Acima de qualquer bem material, uma de
nossas grandes heranças será o exemplo de fé, serviço e testemunho
legados aos que nos sucederem (Sl 71.5-9; Pv 13.22). Ainda hoje muitos
personagens da história cristã são referenciais como modelo de vida
temente a Deus, honesta, altruísta, patriótica, por serem compromissados
com Deus e sua Palavra.
2. A herança da fé. Cuidar da herança da fé é também outra grande
responsabilidade da terceira idade. Que contribuição estaremos deixando
nessa área vital de nossas relações com Deus? Que perspectivas nossos
filhos e netos terão da fé ao olharem a nossa história? Eles nos verão como
pessoas que sempre souberam confiar em Deus e viverem inteiramente
para Ele, ou como incrédulos, sem nenhum legado espiritual, cristão e
humano?
A fé é o maior patrimônio que podemos passar às gerações seguintes. Veja
que o apóstolo Paulo, ao final da carreira, fez menção dela como algo
zelosamente guardado no coração. Era a sua preciosa herança para os que
viriam depois (2 Tm 4.7).

CONCLUSÃO

Muitos têm esperado uma “velhice feliz”, entendendo esta como sendo a obtenção
de uma aposentadoria condigna (algo cada vez mais difícil), com saúde física, que
permita não depender de ninguém e desfrutar dos momentos de ócio, merecidos
após uma longa existência. No entanto, o que Deus promete é algo bem diverso: é
a possibilidade de usar a experiência de vida para testemunhar e anunciar a justiça
e o poder de Deus. Ainda que haja dificuldades econômico-financeiras, ainda
que haja, mesmo, problemas de saúde, o fato é que o servo do Senhor que
chega à terceira idade é uma testemunha viva da retidão de Deus, é alguém
que, com sua vida e experiência, tem, na sua existência, a oportunidade de
proclamar que Deus é a nossa rocha e que nEle não há injustiça, o que trará uma
satisfação, um gozo, uma alegria espiritual que dinheiro ou saúde física alguma
poderão dar.
---

Leitura Bíblica: Mateus 22.34-40; 24.10,12.

"E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará" (Mt


24.12).
INTRODUÇÃO
Na lição anterior estudamos sobre a mornidão espiritual, e a falta de amor,
característica dos últimos tempos, anda de lado com essa situação. Jesus foi claro
quando declarou que “por se multiplicar a iniqüidade o amor de muitos
esfriará”. A iniqüidade é o maior sinal da vinda de Cristo, e a falta de amor é a
sua principal conseqüência. Na verdade é a principal característica do mundo sem
Deus e se alastrará, nos dias imediatamente anteriores à vinda do Senhor, por
causa da multiplicação do pecado, invadindo os corações daqueles que um dia
serviram a Deus.
Deus é amor e é impossível que quem O sirva não tenha este mesmo amor, amor
que se demonstra não só por palavras, mas, principalmente, por obras (I Jo.3:18).
Numa das mais profundas definições de Deus na Bíblia o apóstolo João, que é
chamado de "apóstolo do amor", disse que Deus é amor (I Jo.4:8b). Ora, se Deus
é amor, como pode gerar filhos que não tenham o mesmo amor? Como
sabemos, os filhos têm a mesma herança dos seus pais. Jamais alguém que
seja feito filho de Deus (Jo.1:12), que tenha sido gerado da água e do Espírito
(Jo.3:5), que seja participante da natureza divina (II Pe.1:4), não tenha, pois, o
amor divino.
A prova de que alguém é, realmente, um filho de Deus está, precisamente,
em ter este amor (vide 1Jo 4:7). Jesus deixou-nos isto muito claro ao dizer
que Seus discípulos seriam reconhecidos pelo amor(Jo.15:12; I Jo.2:10,11;
3:10,11). Ele é o pressuposto, é o elemento primeiro e indispensável para que
alguém seja um cristão e possa ser um vaso de bênçãos nas mãos do Senhor. O
resultado do novo nascimento é a criação do amor divino no homem e a sua
demonstração aos semelhantes e a todo o Universo. Logo, a falta de amor na vida
de um crente é uma prova contundente de que o mesmo está fora do plano da
salvação que Deus nos proporcionou pela força do seu divino amor.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

O amor é uma característica indispensável para quem diz ser filho de Deus, é como
se fosse o próprio DNA espiritual do cristão sincero e verdadeiro, devemos
observar que este amor não é apenas a essência da comunhão entre Deus e o
homem, o próprio núcleo da vida espiritual, mas é, como afirma Paulo, a primeira
característica do fruto do Espírito (Gl.5:22), ou seja, necessariamente este amor
tem de se traduzir em atitudes, em ações, tem de se manifestar fora do indivíduo.
Amar a Deus significa submeter-se à vontade do Senhor, fazer aquilo que
Ele nos manda na Sua Palavra. Significa renunciar à vontade própria, ao ego, à
sua individualidade para fazer aquilo que o Senhor determinou que fizéssemos. Não
é possível que alguém ame a Deus e não seja um observador da Palavra do
Senhor.
O amor mencionado nas Escrituras como sendo a essência divina é o
chamado amor "agape", assim denominado pela palavra grega utilizada em o
Novo Testamento para esta espécie de amor. Este amor é diferente do amor que
tem nascimento no homem. O amor que nasce do homem é egocêntrico, ou
seja, busca os seus próprios interesses. Amamos porque o ente amado nos faz
bem, nos traz algum benefício. Amamos aquelas pessoas cuja companhia nos é
agradável; amamos as coisas que nos trazem satisfação. Por isso, por
exemplo, muitos amam o dinheiro, porque ele traz aos que o possuem coisas
agradáveis, permitem a satisfação de suas necessidades. Quem busca a Deus
única e exclusivamente para ter benefícios desta comunhão vive este amor
humano. Ama a Deus porque Ele lhe proporciona saúde, riqueza,
prosperidade, mas, se vierem as dificuldades, as lutas e as provações, estas
pessoas deixam de amar o Senhor, precisamente porque este amor não é o
verdadeiro amor divino, o amor "agape", mas apenas um amor emocional,
sentimental, nascido na natureza carnal.
O amor proveniente de Deus, o amor peculiar à natureza divina é o amor que
leva em consideração o outro, não a si próprio. Deus não ama o homem porque
tenha o homem algum valor diante de Deus. O homem e toda a sua justiça,
como bem descreveu o profeta, não passa de trapo de imundícia (Is.64:6).
Diante do Senhor, o homem é como um vapor, é como a erva do campo (Tg.5:14;
I Pe.1:24). Apesar disto tudo, Deus nos ama e nos quer bem a todo instante e,
neste amor, humanizou-se e se fez maldito para nos proporcionar o
restabelecimento da comunhão perdida por causa do pecado e, assim, tornar
possível que voltemos a viver eternamente na Sua companhia.
A busca e o desenvolvimento deste amor no nosso ser é o caminho a ser
seguido pelo cristão. Formar Jesus em nós (cfr. Gl.4:9) nada mais é que
conseguirmos amar como Jesus nos amou (Jo.15:9,10,12). Por isso, Paulo insistiu
tanto com os coríntios para que trilhassem o caminho mais excelente, que é,
precisamente, o da aquisição e prática do amor (I Co.12:31).
"…É impossível ter esse amor a menos que Deus nos ajude a colocar nossos
próprios desejos naturais de lado, de forma que possamos amar a não
esperar nada em troca. Desse modo, quanto mais nos tornarmos
semelhantes a Cristo, mais amor mostraremos para com os outros." (BÍBLIA
DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, nota a I Co.13.4-7, p.1602).
A falta de amor que paira sobre as pessoas que não são salvas, que realmente é
uma característica dos que não temem a Deus, tem, infelizmente, se alastrado em
muitos que se dizem ser cristão. A crescente onda do mal tem distorcido a visão
das pessoas de tal forma que aquilo que é malévolo parece banal. Isso está
ocasionando a insensibilidade e o esfriamento do amor, infelizmente, até mesmo
entre os cristãos.
O mundo não tem amor, nunca no teve, mas o fato é que, nos dias trabalhosos,
veremos a perda do amor no meio do povo de Deus. Muitos cristãos, muitos filhos
de Deus que eram depositários deste amor o perderão. Jesus foi claro quanto a
este fato dos últimos tempos: “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de
muitos esfriará” (Mt.24:12). Já tivemos ocasião de aludir, na aula anterior,
que a falta de amor é um dos principais fatores da mornidão espiritual que
avança no meio dos que cristãos se dizem ser.
Quando aceitamos a Cristo, o amor de Deus é derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5); das virtudes cristãs, é a mais
importante (I Co.13:13). Assim, não podemos, em hipótese alguma,
permitir que esta virtude, esta disposição de caráter, esta força que nos
impulsiona a tomar as atitudes do dia-a-dia, desapareça de nossas vidas, por
causa da multiplicação do pecado.
Como o amor divino é um comportamento mais do que um
sentimento, precisamos verificar se temos agido conforme a vontade do
Senhor, pois a falta de amor se traduz em atitudes que não correspondem
ao parâmetro estabelecido nas Escrituras Sagradas. Precisamos vigiar para
saber se estamos a agir com amor, se a maldade reinante no mundo não nos tem
contaminado e feito com que percamos o amor. Para tanto, o apóstolo Paulo
ensinou-nos quais são as características deste amor, a fim de que, pela sua
descrição, verifiquemos se estamos, ou não, a agir com amor, se o amor de
Deus ainda permanece em nós.
O amor é sofredor(I Co.13:4), ou seja, quem tem o verdadeiro amor
proveniente de Deus não se importa com o sofrimento, com o padecer. Quem
ama, sofre se este sofrimento representa o bem do ente amado. O amor divino é
altruísta, ou seja, vê o benefício do outro e vive em função do outro, não de si
mesmo.
Nos dias em que vivemos, ninguém quer sofrer, nem admite fazê-lo, muito menos
quando o sofrimento é motivado pelo gesto de alguém. Vivemos os dias em que
“ninguém leva desaforo para casa”, em que não se pensa duas vezes para
prejudicar alguém que causou algum aborrecimento ou prejuízo para nós. Nesta
conduta contrária ao sofrimento, muitos têm se desviado da fé. Jesus é mostrado,
no livro do profeta Isaías, como o Servo sofredor (Is.42:1-4; 49:1-6; 50:4-9;
52:13-53:12) e nós devemos seguir-Lhe as pisadas (I Pe.2:21).
O “amor de si mesmo”, o individualismo, o egocentrismo são características dos
tempos trabalhosos e não podem ser adotados, como infelizmente o têm sido na
vida de muitos dos que cristãos se dizem ser.
O amor é benigno(I Co.13:4), ou seja, quem tem o verdadeiro amor proveniente
de Deus não é malicioso, não tem má-fé, más intenções (ou, como se diz,
"segundas intenções"). Quem ama sempre é movido pela boa-fé, pela pureza de
propósitos, de intenções e de pensamentos.
O amor não é invejoso (I Co.13:4), ou seja, quem tem o verdadeiro amor não
cobiça o que é do próximo, não se incomoda com o sucesso, o êxito e o bem-estar
do seu semelhante. A inveja, diz-nos a Escritura, é a podridão dos ossos
(Pv.14:30b) e, em razão dela, ocorreu o primeiro homicídio. Queiramos o
progresso e o sucesso do próximo, alegremo-nos com a alegria do outro, não
cobicemos as suas bênçãos, nem a sua posição. Jesus, sendo o próprio Deus, fez
questão de prometer e destinar aos seus servos maior êxito e maior sucesso
ministerial do que o dEle próprio (Jo.14:12). Se não agüentamos o bem do
próximo, o sucesso do nosso vizinho, do nosso irmão, do nosso companheiro de
trabalho, cuidado, este é um sinal evidente da falta de amor, logo não é um
verdadeiro filho de Deus.
O amor não trata com leviandade (I Co.13:4), ou seja, não busca a
vanglória, não tem o objetivo de alcançar a vaidade, o poder pelo poder, a
satisfação pela satisfação. Muito pelo contrário, o verdadeiro amor sempre tem uma
finalidade: o de obter a glorificação de Deus. Jesus tudo fez neste mundo para que
o nome do Senhor fosse glorificado (Jo.17:4) e deve ser este o comportamento de
todo verdadeiro cristão (Mt.5:16).
O amor não se ensoberbece (I Co.13:4), ou seja, o amor não gera orgulho. O
amor proveniente de Deus não cria uma auto-suficiência no homem, não o faz
sentir melhor do que os outros, não faz nascer um senso de superioridade em
quem ama. O orgulho só aparece quando se acha iniqüidade no ser orgulhoso,
exatamente do mesmo modo que ocorreu com o diabo (Is.14:12-14 c.c. Ez.28:15).
O amor não se porta com indecência(I Co.13:4), ou seja, quem ama não é
indecente, segue os bons costumes, demonstra pudor, compostura e respeito.
Quem ama é puro, tem autoridade moral, sendo transparente e de excelente
reputação. Será, sim, criticado, mas as críticas que lhes forem feitas, apenas
servirão para evidenciar o seu bom testemunho e o bom porte apresentado diante
de Deus e dos homens (I Pe.2:12).
O amor não busca os seus interesses (I Co.13:5). Como já dissemos, o amor
proveniente de Deus é altruísta, leva em conta o outro, não está interessado
em si mesmo, nem em seu próprio benefício, mas antes quer o benefício do
outro.
O amor não se irrita (I Co.13:5), ou seja, o amor apresenta uma
mansuetude, uma tranqüilidade, irradia uma paz que é diferente das promessas
de paz oferecidas pelo mundo. A paz daquele que ama é, precisamente, a paz de
Cristo (Jo.16:33), a paz verdadeira. O amor não é irritante, não provoca
contendas, divisões, nem se envolve em competições e em tarefas de destruição
do próximo. O amor tudo suporta (I Co.13:7).
O amor não suspeita mal (I Co.13:5), ou seja, quem ama não faz suposições
maldosas contra o próximo, não é preconceituoso, não julga precipitadamente pela
aparência, não se acha superior aos demais. Jesus determinou que não devemos
julgar com base na aparência, mas de acordo com a reta justiça (Jo.7:24). Jesus
nunca suspeitou os outros mal, a ponto de, mesmo sabendo que estava sendo
traído, ter chamado Judas de amigo (Mt.26:50).
O amor não folga com a injustiça(I Co.13:6), ou seja, o amor não compactua
com a injustiça, nem a admite ou tolera. Quem ama, não pratica a injustiça, pois
o filho de Deus é um praticante da justiça (I Jo.3:10). Jesus, a quem devemos
imitar, é justo (At.3:14). Somente quem pratica a justiça poderá habitar no
tabernáculo do Senhor (Sl.15:1,2).
O amor folga com a verdade (I Co.13:6), isto é, o amor sempre opta pela
verdade, jamais se manifesta através ou por intermédio da mentira ou do engano.
Por isso, Deus, que é amor, também é verdade (Jr.10:10). Jesus, como Deus que
é, também é a verdade (Jo.14:6). A Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17) e, por
isso, quem ama tem prazer em obedecer aos mandamentos do Senhor.
Como podemos perceber, o amor divino não é uma teoria, não é um estado mental,
mas é um conjunto de ações concretas, de atitudes efetivas que devem ser feitas
pelos servos de Deus, não apenas faladas, pensadas ou meditadas.

AS TRÊS DIMENSÕES DO AMOR

Deus ao entregar a Moisés a lei, estabeleceu que o resumo de todos os


mandamentos fosse “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e
de toda a tua alma, e de todo o teu poder.”(Dt.6:5). Só assim poderia haver a
guarda de todos os mandamentos e, por conseguinte, temor a Deus e vida (cfr.
Dt.6:1,2), mandamento que foi endossado por Cristo, quando indagado a respeito
do que era mais importante na lei (Mt.22:37).
Na lei de Moisés foi bem especificado que o fundamento, a essência do
relacionamento de Deus com o homem é o amor e que este amor não se
limitava tão somente ao interior do homem que aceita Cristo, mas que se
espraia aos semelhantes, tanto que Jesus fez questão de complementar a
inquirição do doutor da lei com uma afirmação extremamente relevante: “e
o segundo, semelhante a este, é: amarás o próximo como a ti mesmo”
(Mt.22:39).
Deste modo, vemos que o amor divino, quando passa a existir no ser
humano, o que somente é possível mediante a salvação, gera uma fonte de
água que jorra para a vida eterna (Jo.4:14). Se é fonte de água que jorra, é
água em movimento; se é água em movimento, é água que atinge outros lugares;
se é água que atinge outros lugares, é água que leva a vida eterna até estes outros
lugares. O homem salvo possui amor que se manifesta: Em direção a Deus –
Dimensão Vertical; Em direção aos outros homens – Direção Horizontal;
Em direção a si mesmo – Direção Interior.

I. O MAIOR DOS MANDAMENTOS

1. Amar a Deus de todo o coração. "Mestre, qual é o grande mandamento


da lei?" (Mt 22.36). Respondendo a um fariseu, Jesus disse: "Amarás o Senhor,
teu Deus, de todo o teu coração..." (Mt 22.37a). A dimensão deste amor é o
que chamamos de direção vertical, pois é apontado em direção a Deus.
A primeira prova que temos de que alguém realmente se tornou um filho de Deus é
o fato de que ele passou a amar a Deus e amar a Deus é simples de ser verificado.
“Vós sereis meus amigos se fizerdes o que Eu vos mando” (Jo.15:14).
“Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, este é o que Me
ama.” (Jo.14:21-a).
Amar a Deus de todo o coração é um grande desafio para o ser humano, porquanto
este foi gerado em pecado (Sl 51.5). Jesus não aceita que o amemos parcialmente;
Ele requer que o amemos de todo o nosso coração: "Quem não é comigo é contra
mim; e quem comigo não ajunta espalha" (Mt 12.30). O amor a Deus deve ser
prioritário no coração de quem procura servi-Lo (Mt 10.37).
2. Amar a Deus de toda a alma e pensamento. Complementando o primeiro e
grande mandamento Jesus disse que o amor deve ser de toda a alma, ou
seja, toda a nossa personalidade, toda a nossa individualidade tem de ser
sujeita ao Senhor e à Sua vontade. Como sabemos, a alma humana é a
sede dos pensamentos, das emoções, da personalidade, é o elemento que nos
faz distintos uns dos outros e cujas principais faculdades são a vontade, o
intelecto e o sentimento. Ora, é a submissão de tudo isto a Deus que
significa o nosso amor ao Senhor. Quando amamos a Deus, colocamos nosso
sentimento, nosso intelecto e nossa vontade a serviço do Senhor. Somente assim
realmente demonstraremos que amamos a Deus.
Quem reserva algo de seu ser para si, não entregando ao Senhor, não
procede bem e não será uma pessoa que estará em perfeição diante de
Deus. A Bíblia registra-nos o exemplo do rei Amazias que serviu a Deus, mas
não com coração inteiro (II Cr.25:2). No inicio de seu reinado, demonstrou
misericórdia com relação aos familiares dos servos que haviam assassinado o seu
pai, em que provou ser obediente a Deus e dispensou parte do exército que havia
arregimentado, tendo sido honrado por Deus com a vitória militar, mas, como a
maioria dos reis de Israel, acabou sucumbindo à idolatria, precisamente
porque não servia a Deus de coração inteiro. Não tinha o amor de Deus em
toda a sua plenitude na sua vida e, como reservara algo para si, acabou
sendo iludido pelo adversário e sucumbindo na vida espiritual.
Muitos têm fracassado na fé, têm deixado de frutificar porque não amam
de toda a alma, porque querem dar um espaço para o “eu”, quando deveriam
renunciar a si mesmos(Mt.16:24) e deixar Cristo viver neles. Sigamos o exemplo
do apóstolo Paulo e não mais vivamos, mas deixemos que Cristo viva em nós
(Gl.2:20). Lembremo-nos de que, para Israel viver na Terra Prometida, era
necessário que eliminasse os “eus” (amorreus, heteus, ferezeus, cananeus,
heveus e jebuseus - cfr. Ex.23:23).
A obediência a Deus, que é a medida do amor a Deus que temos, não se
apresenta apenas em atitudes externas, mas, o exterior deve revelar um
interior obediente. O exemplo de Amazias revela que a exterioridade
desacompanhada de um interior totalmente comprometido com Deus, cedo ou
tarde, sucumbe e dá lugar à verdadeira falta de comunhão e de amor a
Deus. Jesus provou o Seu amor para com Deus na obediência, obediência que
não era apenas externa, mas interna, como se verifica claramente na agonia
sofrida no jardim do Getsêmane.
Devemos servir a Deus para agradá-lO, não para agradar aos homens.
Devemos fazer o que Deus nos manda com alegria, de coração, não para obtermos
vantagens ou louvores da comunidade a que pertencemos. O fariseu, da
parábola do fariseu e do publicano, saiu do templo com a glória dos
homens, mas sem qualquer justificação. Que não nos iludamos e que
apresentemos este amor a Deus nas nossas vidas. Quem não ama a Deus, diz o
apóstolo, de forma alguma poderá frutificar, pois não tem como avançar
nas dimensões seguintes, a saber, em direção ao próximo ou a si mesmo (I
Jo.4:20,21).
O exemplo de Jesus – Jesus deixou-nos o maior exemplo de como praticar o
amor “ágape”. É o amor que Ele ensinou e viveu –“ Aquele que tem os meus
mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama
será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele”(Jo 14:21).

II. O SEGUNDO GRANDE MANDAMENTO

Neste tópico falaremos das duas outras dimensões do amor: a dimensão


horizontal: o amor ao próximo ; e a dimensão interior: o amor a si mesmo.
1. Amar o próximo como a si mesmo. Jesus complementou a resposta ao
fariseu, afirmando que o segundo mandamento, semelhante ao primeiro, é amar ao
próximo como a si mesmo (Mt 22.39). O amor ao próximo é determinado pelo
Senhor, é seu mandamento –“ O meu mandamento é este: Que vos ameis
uns aos outros, assim como eu vos amei.”(Jo.15:12). Quando amamos o
próximo da forma determinada na Palavra de Deus, melhoramos sensivelmente o
ambiente em que vivemos.
Deus fez o homem um ser social, por isso não é bom que esteja só
(Gn.1:18). Em sendo assim, o amor divino que se encontra no salvo não se
limita apenas ao relacionamento entre Deus e o homem, mas também se
manifesta em direção às demais pessoas que estão à volta do salvo. Por
isso, Jesus, ao responder à indagação daquele doutor da lei, fez a devida
complementação, para mostrar que um bom relacionamento entre Deus e o salvo
redunda num bom relacionamento entre o salvo e os demais seres humanos.
O amor a Deus é pressuposto para que se tenha amor ao próximo. Quem
ama a Deus, ama o próximo(1Jo 4:21). Não é possível amar o próximo sem
que antes se ame a Deus. Daí porque não podermos confundir o amor ao
próximo com o mero exercício de filantropia, com dó ou qualquer outro
sentimento que tenha em vista a ajuda circunstancial a outrem, como, aliás,
defendem aqueles que acham que as boas obras de alguém ocasionam a este
alguém algum progresso espiritual.
Amar o próximo não é apenas ajudar alguém do ponto-de-vista
material, mas, sobretudo, levar este alguém a uma vida de comunhão com
Deus, a um equilíbrio em todos os aspectos da sua vida. Medidas
emergenciais serão necessárias, como nos mostra a parábola do bom
samaritano, mas é extremamente necessário que levemos o próximo a entender
que deve, sobretudo, amar a Deus, para que também ame o próximo, como nós o
amamos.
Amar o próximo não é dizer a alguém que o ama, mas um amor que se
mostra por atitudes concretas, por ações efetivas, por obras. Amor ao
próximo não é amor de palavra nem de língua, mas amor por obras e em verdade
(I Jo.3:18).
Amar o próximo é sentir compaixão por ele, ou seja, sentir a sua dor, como se
fosse nossa e, assim, suprir as necessidades imediatas do nosso semelhante,
lembrando que ele é tão imagem e semelhança de Deus quanto nós. O
individualismo e o egoísmo têm dificultado, e até impedido, gestos de amor
ao próximo, até mesmo entre cristãos. Quem é o nosso próximo? É
qualquer ser humano, como bem nos explicitou Jesus na parábola do bom
samaritano(Lc 10.30-37), e este amor supera todo e qualquer preconceito,
toda e qualquer barreira, toda e qualquer tradição.
O próximo é o carente ou excluído social. No mundo, há muitos pobres e
miseráveis. Eles estão por aí, nas periferias das cidades e metrópoles. Para os
excluídos, não adianta pregar apenas com palavras. É necessário demonstrar-lhes
amor através de palavras e obras, prestando-lhes o socorro imediato e, mais
adiante, levando-os a se inserirem no meio social como membros produtivos deste.
Tiago diz que a fé sem obras é morta (Tg 2.14-17). Não estamos falando de um
evangelho meramente social, mas do evangelho que transforma e reabilita o ser
humano por completo. Este é um dos maiores desafios do amor.
O exemplo de Jesus - A Lei de Moisés contemplava o principioo da vingança
pessoal, sendo que uma ofensa deveria ser paga com outra ofensa – “Olho por
olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por
queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe”(Ex 21:24-25).O Senhor Jesus,
contudo, em seu Reino, implantou uma nova Lei: a Lei do Amor, que instituiu
o Princípio do Perdão – “Ouvistes que foi dito, olho por olho, e dente por
dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te
bater na face direita, oferece-lhe também a outra. E ao que quiser pleitear
contigo, e tirar-lhe o vestido, larga-lhe também a capa. E, se qualquer te
obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas... Ouvistes que foi dito:
Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo:
amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que
vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem”(Mt 5:38-44).
Podemos imaginar o espanto dos Judeus ao ouvirem este ensino! Eles teriam que
aplicar tudo isto em relação aos Romanos. Do ponto de vista humano, isto é
impossível. O homem natural não tem condições de cumprir as Leis do Reino de
Deus.
Amar nossos inimigos; bendizer os que nos maldizem; fazer bem aos que
nos odeiam; orar pelos que nos maltratam e nos perseguem – isto é
demais. Se esta é a condição, e esta é a condição, então é certo que o
homem natural jamais poderá chegar no Céu; jamais poderá viver a vida
cristã como ela deve ser vivida; jamais poderá ser filho de Deus. Para ser filho de
Deus é preciso viver conforme o Senhor Jesus ensinou: “Para que sejais
filhos do vosso Pai que está nos céus...”. O Pai, que está no céu, ama e
abençoa os seus inimigos – “...porque faz que o seu sol se levante sobre
maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos”(Mt 5:45). Perceba
que os maus e os injustos devem suas vidas a Deus e foi, também, por eles que
Deus deu o seu Filho – “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu
o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna” (João 3:16).
Nunca houve Reino sem prisões cheias de inimigos, sem pena de morte para
quem se levantasse contra o Rei.Todavia, o Senhor Jesus fundou o seu Reino
em bases nunca vistas antes. Em lugar de mandar prender, espancar,
matar seus inimigos e opositores de seu Reino, ele ordenou aos seus
súditos, como um dever, dizendo-lhes: “amai a vossos inimigos...”. Jesus é,
pois, um Rei diferente de todos os demais reis e seu Reino em nada se assemelha a
qualquer outro reino. Ele também exige que seus súditos não sejam como os
súditos dos outros reinos. O amor é o fundamento do seu Reino.
A DIMENSÃO INTERIOR: AMOR A SI MESMO - O “amor a si mesmo” reflete
o amor de Deus em nós - Ao proferir o segundo grande mandamentoo, Cristo faz
uma observação extremamente importante: “amarás o próximo como a ti
mesmo”.
O amor divino, implantado no coração do homem pelo Espírito Santo, após o
arrependimento dos pecados, não gera apenas uma fonte que jorra em direção a
Deus, estabelecendo a comunhão entre o salvo e o Senhor, nem somente em
relação ao próximo, que é qualquer outro ser humano, mas também estabelece um
canal que gera amor no próprio salvo.
Entretanto, não podemos confundir amar a si mesmo com “ser amante de si
mesmo”, que é uma característica do ímpio e não do salvo (cfr. II Tm.3:2). Ser
amante de si mesmo é colocar-se no lugar de Deus, passar a querer tirar
vantagem de tudo para si, é se relacionar com os outros buscando tão somente o
bem próprio, a satisfação própria, é idolatrar a si mesmo. Quem, por exemplo,
pratica boas obras para “crescer”, “evoluir” espiritualmente está sendo
amante de si mesmo, pois não visa o bem do outrem, mas o próprio bem. Usa o
outro como meio para atingir o fim, que é o benefício próprio. É a atitude
popularmente conhecida como “venha a nós, vosso reino nada”.
O pecado impede que a pessoa ame a si mesma - O homem, ao pecar, perdeu
a capacidade plena de poder amar. Na medida em que se foi aprofundando no
lamaçal do pecado, o homem foi, proporcionalmente, perdendo a capacidade de
amar – de amar a Deus, de amar a si mesmo, de amar ao próximo.Todavia, o amor
nunca foi eliminado, de forma total e absoluta da vida do homem, porque o amor
faz parte de sua própria natureza, visto ter sido ele criado à imagem de Deus.
Por mais primitivo que seja o homem, por mais estúpido, por mais mau
caráter, mesmo assim existe uma centelha de amor, por mais que alguns
procurem escondê-la. Todo homem ama alguém, ou alguma coisa. Daí o
adágio que diz que “os brutos também amam”.
Amar-se é procurar o melhor para si. Amar-se é buscar o que há de mais
excelente para si. Amar-se é criar condições para que haja o mais pleno
desenvolvimento de seu ser, de sua essência e isto só é possível no ser humano
quando eliminamos o fator que faz com que a natureza humana decaia e seja
distorcida: o pecado.
Amar-se é, portanto, separar-se do pecado, conservar-se irrepreensível, espírito,
alma e corpo até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (I Ts.5:23).
Damos prova de que nos amamos quando nos santificamos, quando buscamos a
santidade, quando nos separamos do pecado: “sabemos que todo aquele que é
nascido de Deus não peca, mas o que de Deus é gerado conserva-se a si
mesmo”(I Jo.5:18a).
III. A MARCA DO CRISTÃO

Foi Jesus quem definiu a marca distintiva do verdadeiro cristão: "Um novo
mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a
vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão
que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" (Jo 13.34,35). “O
amor é o cartão de identidade do cristão”. É o sobretudo do cristão. No rol
das virtudes do fruto do Espírito, descrito em Gl 5:22, que representa o caráter de
Cristo e do cristão, o amor é o primeiro a se apresentar.
A marca do cristão também envolve um comportamento, uma conduta diferente
dos demais homens, porque tem uma natureza diferente. Enquanto o crente é
filho de Deus, o ímpio é filho do diabo (Jo.8:44); enquanto o crente é luz, o
ímpio é treva; enquanto o crente tem vida, o ímpio está morto. Portanto, não
pode, mesmo, haver comunhão entre o crente e o descrente. Assim, não podemos
admitir o discurso de que o crente deve assumir a forma do descrente para “ter
maior facilidade na evangelização”. Não temos, em absoluto, que tomar a forma do
mundo. A Bíblia diz que não devemos nos conformar com o mundo (Rm.12:2), mas
buscar transformá-lo.
Não devemos nos impressionar com a aparência, mas, sim, com a reta justiça
(Jo.7:24). Devemos analisar as pessoas pelos frutos que produzem, ou seja,
devemos verificar quais são as suas atitudes, qual é o seu caráter, não
simplesmente o que está aparecendo em torno delas.
Não nos preocupemos com os sinais, prodígios e maravilhas que alguém venha a
fazer, mas, sim, com a presença do caráter cristão na sua vida.
Não nos preocupemos com a vestimenta que alguém está usando, mas com a
presença do caráter cristão na sua vida, e o sobretudo deste caráter é o amor. É
pelos frutos que reconheceremos quem é crente e quem não o é, pois Jesus disse
que aquele que não produzisse fruto seria lançado fora da videira verdadeira.
1. Cristãos que odeiam? Infelizmente, há cristãos que aborrecem e odeiam uns
aos outros. Tal comportamento é inaceitável aos olhos de Deus. A "síndrome de
Caim", que é o ódio homicida contra o irmão, tem dominado o coração de muitos
que se dizem nascidos de novo. Jesus previu isso: "Nesse tempo, muitos serão
escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão" (Mt
24.10).
Ao dar a ilustração da videira verdadeira, Jesus fez questão de enfatizar em Seu
mandamento que nós deveríamos amar uns aos outros (Jo.15:12). A vida
espiritual não é uma vida isolada, a vida de um solitário, mas a vida de
alguém que leva em consideração o outro, uma vida que leva em conta o
próximo. Por isso, o primeiro e grande mandamento, que diz respeito ao
relacionamento entre o indivíduo e Deus, é complementado pelo mandamento do
amor ao próximo. É impossível que um ramo da videira verdadeira frutifique
se não levar em conta os outros ramos, pois os ramos se originam de botões
compostos, botões que não são isolados, mas que são um conjunto. O corpo de
Cristo é formado de mais de um membro necessariamente e a presença de
Deus exige a presença de dois ou três reunidos em seu nome (Mt.18:20). Não é
outra a razão pela qual a marca da verdade na lei de Moisés somente se dava
quando houvesse duas ou três testemunhas concordes (Dt.19:15;
Mt.18:16). Desta forma, é um fator indispensável para a frutificação que
amemos o próximo como a nós mesmos, que levemos em conta o próximo,
ou seja, o outro, principalmente os nossos irmãos na fé.
2. Quem aborrece seu irmão é homicida! É uma terrível e assustadora
advertência de João, o apóstolo do amor: "Qualquer que aborrece a seu irmão
é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a
vida eterna" (1 Jo 3.15). Quem se diz crente, mas se deixa dominar pelo ódio ou
amargura contra o seu irmão, não é filho de Deus, pois Deus é amor.
A Bíblia é claríssima: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão,
é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a
Deus, a quem não viu”(1 Jo 4:20). Portanto, quem ama a Deus, ame a seu
irmão e que quem aborrece a seu irmão e diz que ama a Deus é mentiroso e, logo
é filho de Deus, por isso não morará eternamente com o Senhor na cidade santa,
mas ficará do lado de fora pela sua mentira (Ap.21:8).
3. O distintivo do verdadeiro cristão. O amor fraternal é, pois, o distintivo
fundamental no relacionamento do crente com Jesus – “Amai, pois, a vossos
inimigos, e fazei o bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande
o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo.” (Lc 6:35).
Ser “evangélico” pode ser fácil, mas, ser um crente salvo é difícil, é
impossível para o homem natural. Talvez seja esta uma das causas que muitas
denominações, ditas como evangélicas, preferem não ensinar, no seu todo, a
Palavra de Deus. Preferem esconder a Cruz e manter o povo em ritmo de festa,
envolvendo-o mais e mais com a busca das coisas da terra.
Ensinar sobre o negar-se a si mesmo, amar os inimigos, fazer bem aos que nos
aborrecem, bendizer os que nos maldizem, orar pelos que nos caluniam, oferecer a
outra face, entregar a capa e também a túnica, caminhar a segunda milha – este
ensino somente os que nasceram de novo, somente os verdadeiros
cristãos, somente os cidadãos do Céu, somente os discípulos de Jesus,
somente os filhos de Deus, somente os detentores do amor agapê podem
aceitar. E, só podem aceitar, porque, conforme afirmou Paulo: “porque o amor de
Cristo nos constrange...” (2Co 5:14).
Portanto, o amor é o que nos distingue como filhos de Deus. Não é o dom de
profecia, o poder de falar em nome de Deus ou de realizar curas. Jesus deu poder
aos seus discípulos, enviou o Consolador, mas deixou claro que seríamos
conhecidos como seus discípulos se amássemos uns aos outros(Jo 13:35). Deus
sabe que somos todos diferentes, física e psicologicamente falando. Havia diferença
também entre os discípulos, mas o Senhor ordenou que amassem uns aos outros.
O novo mandamento – de demonstrar o amor - é a diferença cristã em um mundo
egoísta e vingativo.

CONCLUSÃO

Concluímos esta aula afirmando que a falta de amor é uma característica


condizente com os procedimentos do mundo, por isso nunca deve fazer parte da
vida do servo de Deus, que tem como única esperança a vida eterna com Cristo
Jesus. Infelizmente esta conseqüência da iniqüidade tem causado muitas “baixas”
na Seara do Senhor, como, por exemplo, divisões entre igrejas, principalmente aqui
no Ceará, usurpações de domínio denominacional e até mesmo impedimento do
avanço do trabalho interno da Igreja local por achar que outrem não deve ocupar
espaços. Isto tem causado o afastamento de muitos dos caminhos do Senhor. É
realmente o final dos tempos!
O amor cristão precisa ser demonstrado, no dia-a-dia, para que possamos levar
muitas almas ao Senhor Jesus. Lembre-se: O amor entre irmãos é o distintivo de
uma vida transformada pelo poder de Deus.
Repetimos: a prova de que alguém é, realmente, um filho de Deus está,
precisamente, em ter o amor de Deus dentro de si (vide 1Jo 4:7). Jesus foi
claro ao dizer que Seus discípulos seriam reconhecidos pelo amor(Jo.15:12;
I Jo.2:10,11; 3:10,11).
Conforme profetizado pelo Senhor Jesus (Mt 24.12), o esfriamento progressivo do
amor não se dá somente por causa da guerra, luta, disputa ou coisas afins. Ele
vem também da inércia, apatia e banalização de coisas que deveriam nos indignar.
Isso não só no contexto político-social, mas também na igreja. Situações e atos
piores do que aqueles pelos quais os reformadores se indignaram - venda de
indulgências, justificação pelas obras, venda de terrenos no céu, ocorrem no
contexto evangélico. Contudo, a maioria dos cristãos simplesmente encolhe os
ombros e diz: "É assim mesmo, Jesus disse que haveria essas coisas". Essa
irresponsável "justificativa" escusa nossa consciência já acostumada pela omissão,
mas não acoberta a nossa inércia perante o Senhor.
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