Você está na página 1de 124

Os Segredos Para a Independência

Financeira

Guia Do Investidor
de Sucesso no
Longo Prazo

Rob Correa
“O futuro tem muitos nomes.
Para os fracos, é inatingível.
Para os medrosos, é desconhecido.
Para os destemidos, é ideal.”
Victor-Marie Hugo (1802 -1885)
Sumário
PREFÁCIO .................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 10
PARTE 1 – A MENTALIDADE DO INVESTIDOR DE SUCESSO ................................... 16
Psicologia Individual ......................................................................................................... 19
Psicologia das Massas ..................................................................................................... 24
A Influência da Mídia Na Psicologia Das Massas ....................................................... 26
Vieses Emocionais do Investidor .................................................................................. 29
Criando O Psicológico Vencedor Nos Investimentos .............................................. 37
Um Cérebro Dividido em Dois ........................................................................................ 43
5 Ferramentas Práticas Para Um Investidor Com Psicológico Inabalável.......... 48
PARTE 2 – CONSTRUÇÃO DO PATRIMÔNIO ................................................................. 54
Gestão de Risco ................................................................................................................. 57
Alocação de Ativos ............................................................................................................ 59
Ações ..................................................................................................................................... 65
O que Analisar Em Uma Ação? ..................................................................................... 68
Os Principais Indicadores na Análise Fundamentalista ............................................. 77
Imóveis .................................................................................................................................. 81
O Que Analisar em Um Imóvel Para Uso Próprio? ..................................................... 83
O Que Analisar em um Fundo Imobiliário? .................................................................. 86
Renda Fixa ........................................................................................................................... 91
O Que Analisar ao Investir em Renda Fixa? ................................................................ 94
Investimentos Alternativos .............................................................................................. 96
PARTE 3 – A INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA ............................................................... 101
As Diferenças Entre Quem Chega e Não Chega Lá ................................................ 102
As Bases Sólidas da Independência Financeira ...................................................... 104
Os 3 Estágios da Independência Financeira............................................................. 107
O Poder dos Juros Compostos .................................................................................... 111
Gratificação Instantânea x Pensamento de Longo Prazo ..................................... 115
A Necessidade da Educação Contínua ...................................................................... 116
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 121
PREFÁCIO

O que o dinheiro possibilita?


Ele possibilita você ignorar o barulho do despertador logo cedo.
Permite escolher se quer ou não trabalhar.
Viagem para a Europa? Jantar em restaurantes memoráveis? Carros
esportivos? Casas modernas e confortáveis?
O dinheiro te possibilita tudo isso.
Ele é uma ponte. Um instrumento que possibilita fornecer segurança,
conforto, lazer, educação e bons momentos para você e as pessoas que ama.
Existem várias ‘pesquisas’ que dizem que ‘está comprovado que dinheiro
não traz felicidade.’ Com todo o respeito, não consigo concordar.
O dinheiro realmente não vai trazer tudo em sua vida. Mas ele é o
responsável por permitir que você tenha liberdade e tempo. E esses dois são os
ativos mais importantes de sua vida.
Como você se sentiria se não precisasse mais se preocupar em acordar
cedo todas as manhãs, pegar o trânsito para ir até seu trabalho, trabalhar por 8
horas e voltar no mesmo trânsito congestionado até sua casa?
E se você não precisasse mais se preocupar todo mês com dinheiro para
pagar as contas?
Como seria viver a vida de acordo com os seus próprios termos? Como
seria acordar todas as manhãs e saber que o seu dinheiro é o suficiente para
cobrir não apenas suas despesas básicas, mas também seus sonhos mais
extravagantes?
Você realmente acredita que as pessoas passam horas no trânsito, em
trabalhos que não gostam, ao lado de pessoas que não suportam, simplesmente
por mera liberdade de escolha?
É claro que não. Elas não têm liberdade alguma. A fatura do cartão de
crédito não permite que elas digam f0d@-se para o chefe. O financiamento do
veículo é aquele peso que segura elas no escritório, preenchendo planilhas até
altas horas. O financiamento da casa própria é aquilo que impede elas de se
mudarem daquela cidade violenta e caótica, rumo a uma cidade (ou até mesmo
país) com qualidade de vida superior.
Tudo isto são exemplos de passivos. Estes grilhões são verdadeiros.
Talvez não tão visíveis quanto uma bola de chumbo presa aos tornozelos, mas
o impacto na vida das pessoas é semelhante: impede a mobilidade e restringe a
liberdade. Ele torna a vida mais pesada e restrita.
Uma das principais coisas que uma boa quantidade de dinheiro
proporciona é exatamente isso: liberdade. E volto a repetir: a liberdade, ao lado
do tempo, são os dois ativos mais importante de sua vida.
E o dinheiro não é importante?
É claro que sim! Dinheiro compra tempo. E tempo livre compra liberdade.
A verdade é que a maioria absoluta das pessoas levam um estilo de vida
infeliz não porque querem, mas sim porque precisam de dinheiro.
Um dos principais checkpoints da liberdade é trabalhar só se você
realmente quiser, no que você quer, como você quer, onde você quer e com
quem você quer. Trabalhar porque você é obrigado é uma opção fora de
cogitação para ser feliz.
Os Estados Unidos são um símbolo do mundo ocidental. Muito do que
acontece por lá se reflete na América e Europa como um todo.
No início de 2018, 80% dos americanos diziam que estavam
preocupados com suas finanças pessoais e uma boa parte deles não teria 300
dólares para uma despesa emergencial.
Sabe como eu vejo esta situação financeira?
Não apenas com olhos estatísticos. Vejo um pouco mais profundo, além
da casca. Consigo perceber os sentimentos negativos como medo, ansiedade,
incerteza e falta de confiança destas pessoas que mal têm uma reserva de
emergência. É uma espiral devastadora!
O medo é inerente a nós como seres humanos. Em momentos de
desespero, incerteza e ansiedade, as suas emoções rapidamente tomam conta
do seu processo cognitivo e você se torna uma pessoa completamente diferente,
muito distante do que é considerado um ser racional.
As pessoas sabem que, cedo ou tarde, vão precisar se aposentar.
Inevitavelmente o momento vai chegar, mas mesmo assim elas insistem em
negar o óbvio. Não se preparam para o que vai acontecer.
Geralmente este comportamento acontece em períodos de grande
prosperidade, quando as pessoas se tornam preguiçosas e esquecem de usar a
disciplina, a persistência, a energia e criatividade necessária para criar as
barreiras que impedem os desastres de acontecerem.
Você se recorda dos grandes nocautes de Mike Tyson, um dos maiores
pugilistas da história? Se você é mais novo, coloque este nome no YouTube e
veja a máquina de destruir em ação. Ele foi um dos maiores boxeadores de toda
história, ganhando milhões de dólares em prêmios e patrocínios ao longo da
carreira.
Mesmo ganhando quantias enormes de dinheiro, Mike conseguiu perder
todo o dinheiro que conseguiu. E isto não se resume apenas a atletas de boxe.
Também temos inúmeros casos de artistas, atletas de outras modalidades e
cantores que ganham milhões e acabam se dando mal no longo prazo.
Temos também os exemplos de não famosos. Herdeiros e sortudos de
loteria. Recebem quantidades de dinheiro que fazem inveja a qualquer
trabalhador e, em curto espaço de tempo, colocam tudo a perder.
Por qual motivo eles perdem tudo? Um dos principais motivos é a
mentalidade. Eles não desenvolveram uma mentalidade adequada para
entender, compreender e realmente fazer o dinheiro trabalhar a seu favor.
Os esportistas, atores e cantores têm uma agravante. Eles não
desenvolveram outras fontes de renda, senão aquela ligada à sua profissão.
Basicamente toda a renda deles está atrelada a sua performance no esporte, a
uma carreira musical ou ao sucesso de uma série de TV.
Apesar deste comportamento ser admirável do ponto de vista de foco e
concentração de energia, ele é financeiramente equivocado. Estas celebridades
estão colocando todos os ovos na mesma cesta, não diversificando suas fontes
de renda. Se a renda da profissão parar de chegar, todo o sistema vai ruir.
E isto invariavelmente acontece.
É fundamental ter diversas fontes de renda como estratégia de diluir o
risco de sua atividade principal. E isto não é apenas para gente famosa. Também
é válido se você é médico, advogado, engenheiro ou dentista. Pouco importa a
sua profissão. Nunca se sabe o dia de amanhã. A sua profissão pode ser
substituída por alguma mudança de mercado e o seu segmento pode entrar em
crise. A sua única fonte de renda será afetada integralmente.
Um dos passos mais importantes que você pode dar é desenvolver
inúmeras fontes de renda passiva. Mas não confunda renda passiva com renda
semi-passiva.
Se você precisa frequentar seus negócios, participar de reuniões, traçar
estratégias e cuidar pessoalmente de alguma área, definitivamente isto não é
renda passiva. Este é um belo exemplo de renda ativa ou semi-passiva. Você
até tem um certo controle do seu tempo, mas mesmo assim está preso a algumas
responsabilidades.
Renda passiva é aquilo que você definitivamente não precisa fazer nada.
Você pode estar em uma praia tomando drinks com guarda chuva no copo e o
dinheiro vai cair na sua conta.
Você pode estar doente ou no topo do Everest. Tanto faz. O dinheiro vai
estar na sua conta bancária mesmo assim.
Isto soa um pouco diferente do que está acostumado ouvir, certo?
Sim, eu também fiquei surpreso quando descobri que isto era possível.
Esta é apenas uma das descobertas que fui aprendendo ao longo da vida.
Também aprendo que aquela história de estudar muito, passar no
vestibular de uma Universidade Federal, ingressar numa boa empresa ou cargo
público, trabalhar por anos a fio, juntar dinheiro em uma previdência e se
aposentar não existe mais.
As empresas estão cada vez mais automatizando seus processos
produtivos. Empregos que antes eram necessários, hoje já não são mais.
A estabilidade e alta remuneração dos cargos públicos existe não se sabe
até quando. Mas só existem às custas de déficits contínuos nas contas públicas.
Ainda existe um grande equívoco entre os mais jovens. Infelizmente, eles
são ensinados desde cedo, que um diploma vai trazer prosperidade financeira.
Isso era verdade a uns 50 anos atrás. Hoje não mais. O mundo está mais
dinâmico, mais ágil, mais rápido. As mudanças acontecem em um espaço de
tempo cada vez menor.
O mais interessante é que, apesar da tecnologia estar mudando a vida
das pessoas em uma velocidade impressionante, algumas premissas sobre o
sucesso financeiro permanecem as mesmas séculos a fio.
As pessoas altamente bem-sucedidas no campo financeiro não são fruto
da sorte. Elas estão fazendo coisas – e sempre fizeram - que a grande massa
não faz. O sucesso financeiro deixa pistas. E muitas pessoas não tem o olhar e
nem a percepção crítica para juntá-las, como peças de um grande quebra-
cabeça.
Este livro é um guia para aquela pessoa que busca se diferenciar das
massas. Grande parte das pessoas chega em sua idade de aposentadoria
passando várias dificuldades financeiras. Dependem de INSS, filhos, netos,
parentes, amigos e vizinhos.
Um caminho inverso é a jornada percorrida pelos investidores de sucesso.
Eles traçam objetivos financeiros, se preparam psicologicamente para os
reveses do mercado (e da vida), criam proteções contra crises e blindam o
patrimônio. Tudo visando uma construção sólida para usufruir no longo prazo.
Essas bases financeiras sólidas transbordam para outras áreas da vida.
Como disse, os dois ativos mais valiosos são a liberdade e o tempo. E um
patrimônio sólido permite usufruir deles da melhor forma possível.
Este guia é divido em 3 (três partes) principais. A primeira delas aborda a
construção da mentalidade de sucesso para o longo prazo. Antes mesmo de
começar os primeiros investimentos, é necessário desenvolver uma base sólida
de pensamento. Você vai perceber como ele é o que te aproxima (ou te separa)
de atingir seus objetivos financeiros. Ele pode ser seu maior aliado ou seu maior
inimigo.
A segunda parte é a construção do patrimônio em si. Vamos falar sobre a
gestão de risco, a alocação dos ativos dentro de um portfólio além de aprender
o que analisar ao estudar uma ação, imóvel, fundo imobiliário e ativos de renda
fixa.
A última parte do guia é a independência financeira. Quais as contas por
trás? Como saber se você realmente é financeiramente independente? Estas e
outras dúvidas serão abordadas.
Este guia pode ser consultado quantas vezes for preciso. Ele foi dividido
de uma forma que facilite consultas futuras. Quando você se vê em dúvida sobre
algum tema específico, basta ir direto ao tema.
Ele foi construído para se tornar seu aliado na jornada, sempre à
disposição quando você mais precisar.
Por fim, saiba que se você está lendo este livro, algo de diferente você
tem. Pode ser que seu patrimônio ainda não esteja onde queira. Pode ser que
ainda esteja iniciando seus investimentos. Ou talvez apenas deseja aprender
mais sobre a jornada para a construção de um patrimônio de sucesso no longo
prazo.
Mas o que eu tenho certeza é que você tem uma vontade de ser diferente
dos demais.
Ninguém lê um livro sobre investimentos à toa. Apenas o fato de pensar
em investimentos já te separa da maioria.
E o segundo ponto é o pensamento de longo prazo, que também
diferencia das massas. Hoje tudo é instantâneo, todos querem gratificação
imediata. Contudo, como veremos, a construção de um sólido patrimônio não
combina com imediatismo e pensamento de curto prazo.
Se você já tem essa mentalidade de ser diferente da maioria, meio
caminho está andado. A outra metade é adquirir o conhecimento específico para
colocar o plano de sucesso no longo prazo em prática. E é isso que me dediquei
de coração para colocar no papel para você.
Meu objetivo contigo se resume a duas palavras. Duas simples palavras
que devem se tornar o lema de sua vida. Aquilo que deve nortear todas as suas
decisões futuras. A sua bússola deve apontar por estas simples duas palavras.
Seja grande.
Em sua vida pessoal, profissional e financeira. Mire o mais alto possível.
Busque sempre atingir as metas mais ousadas. Não tenha medo de ser taxado
de diferente, estranho ou mesmo ridicularizado.
O mundo pertence aos diferentes, aos que pensam fora da caixa, aos que
fazem aquilo que a grande maioria não faz.
Os que não seguem tendências, os que se sentem desajustados às
modas, os que se sentem bem em ambientes introspectivos com espaço para
reflexão, estudo, questionamento.
O mundo pertence aos livres pensadores. E são esses que escrevem as
histórias mais épicas e se tornam objeto de admiração da sociedade.
Provavelmente você já se sentiu assim. Como um peixe fora d’água. Um
quadrado tentando se encaixar em círculos. É difícil, claro. Não é fácil ser
diferente dos demais. Não é para os fracos. É para que tem confiança no próprio
taco, que sabe, lá dentro de si, que os caminhos previamente traçados para
serem seguidos não costumam a levar a destinos deslumbrantes.
Você se sente assim?
Mas as vezes precisa de algum sinal, alguma confirmação, alguma
resposta de que está no caminho, certo?
Sei bem como é.
O que você verá nas próximas páginas é a resposta para todas estas
grandes perguntas.
E mesmo sem (ainda) me conhecer pessoalmente, vamos nos tornar
grandes parceiros nas próximas páginas. E o seu futuro nunca mais será o
mesmo.
O futuro não pertence aos medrosos, dos acanhados, dos acomodados.
O futuro é a morada predileta dos audaciosos. E esta obra é feita para construir
o seu futuro financeiro com uma base tão forte e sólida, como nossa relação
daqui para frente.
Do seu amigo para o longo prazo,
Rob Correa.
INTRODUÇÃO

“Grandes feitos não são realizados por aqueles que cedem às tendências,
modas e opinião popular.” - Jack Kerouac (1922-1969)

Se você está interessado em ler este livro, é uma pessoa diferenciada. Já


faz parte ou está prestes a fazer parte de uma minoria privilegiada.
Ao final de 2018, o número de pessoas físicas investidoras na bolsa
brasileira era de 740 mil investidores. Elas possuíam, nessa mesma data, uma
riqueza somada de R$ 180 bilhões em ações.
Em contrapartida, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE, a população brasileira neste mesmo período era estimada em 208
milhões de pessoas, ou seja, apenas 0,35% da população brasileira possuía
investimentos na bolsa de valores.

Número de Investidores x População Brasileira


(2018)

Número de Investidores População Total

Este número de investidores na bolsa pode ser ainda menor. A B3 (Bolsa,


Brasil e Balcão) é a única bolsa de valores do Brasil e o método de contagem de
investidores merece uma explicação. Eles contabilizam cada CPF que possui
conta em corretora. Isso significa que uma mesma pessoa pode ser contada
duas vezes. Eu, por exemplo, tenho conta em duas corretoras brasileiras. Então
o meu CPF foi contado duas vezes.
A título de curiosidade, o número de pessoas reclusas no sistema
penitenciário no Brasil é maior que o número de investidores na bolsa. No
relatório de 2018 sobre o Sistema Prisional Brasileiro, o Ministro da Segurança
Pública, Sr. Raul Jungmann, informou que haviam 841 mil presos ao final de
2018. E a tendência, segundo o relatório, era de alcançar a marca de 1 milhão e
500 mil presos até 2025.
Será que o número de investidores será tão exponencial quanto o
crescimento dos detentos?

O baixo número de investidores na bolsa brasileira tem algumas


explicações. Em 2012, o Instituto Rosenfield fez uma pesquisa com mais de
2.000 entrevistados, em 100 cidades brasileiras, tendo sido encomendada pela
bolsa da época (BM&F Bovespa).
A pesquisa trouxe informações importantes sobre o perfil do brasileiro.
44% disse não ter conhecimento para investir, 22% disse que não sobra dinheiro
para os investimentos, 12% disse que investir é coisa de rico, e o restante se
dividiu em respostas que vão de “é muito arriscado” até o “eu não sei porque não
invisto”.
Também foi perguntado a estes 2.000 entrevistados quais investimentos
eles possuíam. E as respostas também apresentaram informações importantes.
40% disseram não ter investimento algum e 45% afirmaram investir na
poupança. Somente 1% afirmou possuir investimentos em ações ou em fundo
de ações. Vale salientar que 40% dos entrevistados afirmaram não conhecer
sequer qual a função de uma bolsa de valores.
Em 2018 houve uma nova pesquisa. Desta vez, a responsável foi a
ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de
Capitais). Foram entrevistadas 3.374 pessoas em diversas cidades brasileiras.
Alguns dados se repetiram de modo preocupante. 57% dos entrevistados não
investem em nada. E 44% deles sequer pretendem começar a investir.
Ao serem questionados para mencionar um investimento (apenas
mencionar um nome), apenas 11% mencionou ações. Lembrando que não
significa que estes 11% possuíam ações, pois a entrevista apenas sugeriu que
eles falassem o primeiro tipo de investimento que viesse a cabeça.
E, por fim, foi feita uma pergunta bem interessante: “-você trocaria o
investimento em poupança por outro investimento?” A resposta foi um sonoro
não em 42% das pessoas que possuíam investimento na caderneta de
poupança.
O brasileiro médio, via de regra, não consegue sequer poupar uma parte
do que recebe. Existe um indicador chamado taxa de poupança, que apesar do
nome, não significa a taxa de rentabilidade da caderneta de poupança. Ele é o
indicador que mede a proporção entre quanto de dinheiro as pessoas recebem
de salários e quanto conseguem poupar ao final do mês.
Segundo dados do Banco Mundial, entre 1970 até 2016, a taxa de
poupança do brasileiro foi de 20%. Lembrando que aqui só entra a minoria da
população brasileira, ou seja, aquelas pessoas que efetivamente conseguiram
guardar alguma coisa após todos os gastos. Para efeitos comparativos, o chinês
tem uma taxa de poupança de 40%.
E entre aqueles que conseguem poupar algo ao final do mês, o principal
investimento é a caderneta de poupança (cuidado para não confundir os termos
taxa de poupança com caderneta de poupança). Então, para muitas pessoas
significa uma conquista, pois elas já fazem parte daquele pequeno grupo que
gastou menos do que ganhou.
Mas afinal, a poupança é realmente boa para o investidor?
A caderneta de poupança foi uma criação da época do Brasil Imperial. Em
1861, Dom Pedro II publicou um decreto criando a caderneta de poupança, que
recebeu este nome porque eram usados cadernos onde eram anotados a
quantia de dinheiro depositada e o total de juros recebidos.
Neste mesmo decreto, o Imperador determinou que a taxa de juros não
poderia ser superior a 6% ao ano. Esta rigidez na taxa de juros só mudou em
1964, quando o governo brasileiro determinou que a rentabilidade seria de 0,5%
ao mês somado a Taxa Referencial (TR), esta última decidida pelo Banco Central
do Brasil.
Ao escrever sobre a importância da poupança para a população brasileira,
o Ministério da Fazenda, em 1926, publicou um livro intitulado Caixas
Econômicas do Brasil, e nele apresentou o seguinte trecho sobre a caderneta de
poupança: “O ‘pé de meia’, a economia de vintém, de tostão a tostão, de mil réis
a mil réis, ou o crescendo dessa escala ascendente de valores da moeda, - tem
sido o segredo de muita fortuna (...)” Hm, interessante. Mas será mesmo?
Apesar das belas e polidas palavras apresentadas pelo Ministério da
Fazenda, existia um ponto interessante sobre a poupança que poucos
conheciam. Segundo o decreto de Dom Pedro II, os valores recolhidos pela
poupança seriam remetidos ao Tesouro e poderiam ser utilizadas em
empréstimos do Monte de Socorro (muito semelhante ao penhor de joias e ouro
hoje existentes na Caixa Econômica Federal). Ou seja, em outras palavras, os
valores depositados pela população de baixa renda (os principais depositantes
da poupança eram escravos recém libertos e a população mais carente),
poderiam ser utilizados pela Caixa Econômica para a concessão de empréstimos
àqueles que realizavam o penhor. Era uma espécie de captação de dinheiro a
baixo custo, visto que a remuneração ao depositante era de apenas 6% ao ano.
Vou explicar melhor. A Caixa Econômica recebia os depósitos na
caderneta de poupança e pagava 6% ao ano para os depositantes. No entanto,
ela utilizava os valores depositados para conceder empréstimos às pessoas que
necessitavam, com taxas de juros muito superiores a 6% ao ano.
E o melhor de tudo é que, quando estas pessoas contraíam empréstimos,
deixavam objetos de valores estimados para oferecer em garantia caso não
cumprissem com suas obrigações. Sem dúvida, foi uma bela forma de negócios
estabelecida pela Caixa Econômica desde a época imperial e, com algumas
mudanças, estabelecida até os dias de hoje. Mas a pergunta principal
permanece: a caderneta de poupança é realmente boa para o investidor?
No momento que escrevo este trecho do livro, em 2019, a poupança
possui dois critérios distintos de rentabilidade: se a taxa básica de juros do Brasil
estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento da caderneta de poupança será de
0,5% ao mês somado a Taxa Referencial (TR). Caso a taxa básica de juros
esteja abaixo de 8,5%, o rendimento é 70% da Taxa de Juros somado a Taxa
Referencial (TR).
“-OK, mas isto é bom ou é ruim? ”
Quando pegamos a inflação brasileira dos últimos anos, percebemos que
a rentabilidade da poupança, em alguns casos, foi inferior a inflação. Em outras
palavras, o investidor que deixou o dinheiro na poupança não ganhou nada em
termos reais, pois sua rentabilidade foi inferior à taxa de inflação do período.
Isto aconteceu em 2015, quando a rentabilidade real da caderneta de
poupança foi negativa em 2,35% ao ano. Já em outros casos, a rentabilidade é
ligeiramente acima da inflação. Vamos ao exemplo de 2017. A caderneta de
poupança rendeu 6,93% ao ano. Porém, quando descontamos a inflação do
período, o resultado real é de 2,95% anual. Um pouco decepcionante, de fato.
Entre 2008 a 2017, a Inflação IPCA acumulada foi de 60,69%, enquanto
o rendimento acumulado da Poupança foi ligeiramente superior, alcançando
68,98%.

Algumas pessoas argumentam que deixam o dinheiro na poupança por


questão de liquidez (acesso imediato ao dinheiro). Quando surge algum
imprevisto, uma despesa médica inesperada, uma demissão, um acidente, ou
até mesmo uma oportunidade de investimento, elas gostam de ter um valor de
acesso rápido e imediato.
E aqui, em minha opinião, é o único motivo que concordo com a
utilização da poupança: uma espécie reserva de emergência. Você deixa
aquele dinheiro paradinho para eventuais surpresas e ele é rentabilizado...
desde que você não o saque antes do aniversário!
“- Aniversário? Você tá falando do meu aniversário? O que isso tem a ver
com a poupança? ”
Estou falando do aniversário da sua poupança! Além da rentabilidade ser
baixa, e em alguns casos a rentabilidade após a inflação ser negativa, você pode
ficar sem rentabilidade alguma se sacar antes da hora. Vamos a um exemplo
prático.
Você depositou R$ 1.000,00 no dia 15 de janeiro. O dia 15 passa a ser a
data de aniversário daquela poupança. Caso você saque o valor em 14 de
fevereiro (antes de completar o aniversário de 30 dias), você simplesmente não
recebe nada de rentabilidade. Não parece muito justo, certo?
Então, como disse anteriormente, vejo apenas uma única hipótese
razoável para a utilização da poupança: reserva de emergência. Você não
espera uma rentabilidade, não pode sequer considerar aquilo um investimento.
É uma conta onde você deixa uma certa quantia de dinheiro para as
eventualidades que ocorrem ao longo da vida – sejam elas positivas, como uma
possibilidade de negócio, ou sejam elas negativas, como uma despesa médica
inesperada.
A caderneta de poupança é um ótimo investimento apenas sob uma
condição: se você está do outro lado da operação. Se você é um banqueiro (ou
sócio de um banco) a poupança é um ótimo produto. Assim como a Caixa
Econômica fazia na época imperial, nos dias de hoje também temos a captação
de dinheiro junto aos poupadores a uma taxa de juros baixa, e consequente
empréstimo ao mercado a taxas mais altas.
Hoje em dia os recursos captados com a poupança devem ser utilizados
para financiamento imobiliário. Então o banco paga uma taxa baixa de
remuneração da poupança e cobra uma taxa mais alta dos clientes que tomam
empréstimos imobiliários. Bom negócio, não?
O que nós vamos aprender ao longo deste livro é que existem outras
formas de você investir o dinheiro que poupou. A poupança, como você
percebeu, já está fora de nossa lista de investimentos, ficando apenas com o
título de ‘reserva de emergência’.
Se você poupa, já sabe que faz parte de uma minoria. Se você poupa e
quer investir em algo que não seja a caderneta de poupança, saiba que é a
minoria da minoria. Então vamos avançar em nossos estudos para se tornar um
investidor melhor, mais capacitado, informado e apto a tomar as melhores
decisões de investimento.
PARTE 1 – A MENTALIDADE DO INVESTIDOR DE
SUCESSO

“Nada neste mundo supera a boa e velha persistência. Talento não


supera. Nada mais comum que talentosos fracassados. Genialidade não supera.
Gênios não reconhecidos é praticamente um clichê. Educação não supera.
Porque o mundo é cheio de tolos educados. Persistência e determinação,
apenas, são poderosas.” – Ray Kroc, transformou o McDonald’s em uma das
maiores empresas do mundo (1902 – 1984).

Quando uma pessoa começa a gastar menos do que ganha, logo se


iniciam os primeiros pensamentos sobre onde investir aquele valor extra. Para
os poupadores da velha guarda, era usual procurar conselhos de outras pessoas
ou através de revistas, jornais e livros. Hoje, com as ferramentas tecnológicas
fazendo parte de nosso dia a dia, além destes materiais impressos em forma
física, dispomos de uma avalanche de informações ao alcance de um clique.
Contudo, a facilidade de acesso à informação não significa que ela venha de
forma organizada.
Percebo que é comum aos investidores iniciantes buscarem inicialmente
material sobre análise técnica/análise gráfica. Talvez seja a facilidade de acesso
ou as inúmeras propagandas que são bombardeadas no YouTube, Instagram e
nas pesquisas do Google. Outros, em menor quantidade, buscam livros sobre
análise fundamentalista, contabilidade e histórias sobre os grandes investidores.
Deixando de lado a eterna guerra entre análise técnica x análise fundamentalista,
percebo que está ausente um tipo fundamental de informação aos iniciantes: o
desenvolvimento da inteligência emocional.
Vejo muitas pessoas dizendo que na bolsa de valores todos podem ser
vencedores. Todos podem enriquecer, sem existir nenhum perdedor.
Honestamente, discordo desta opinião. Ela soa muito bonita, igualitária e
altruísta. Mas, ao analisar anos e anos de dados históricos e também a minha
própria experiência como investidor, vejo que não passa de um argumento
utópico. A verdade nua e crua do dia a dia é bem diferente.
Os mercados funcionam de uma forma que a maioria dos participantes
percam seu dinheiro. E, assim como Roma Antiga necessitava de novas levas
de escravos para sustentar a nobreza romana, os mercados precisam de novas
remessas de investidores iniciantes, ingênuos, incautos...e perdedores. Assim
como os escravos deixavam o fruto de seus trabalhos para os nobres, os
iniciantes deixam na bolsa o dinheiro para os investidores mais experientes.
Alguns declaram que a vontade de ganhar dinheiro é que faz os
investidores iniciantes trocarem os pés pelas mãos. Mas existe alguém que entra
na bolsa de valores com a vontade de perder dinheiro? Este argumento é um
tanto quanto ilógico e desprendido da realidade da natureza humana. Todos que
entram no mercado estão ali para ganhar dinheiro e acreditam, do fundo de
seus corações, que serão vencedores.
Um dos erros primordiais dos iniciantes não é a vontade de ganhar
dinheiro em si, mas o descuido com a sobrevivência. Ir com muita sede ao pote
costuma ser fatal. O primeiro objetivo não deve ser ganhar dinheiro nos
investimentos, e sim sobreviver no mercado. Isto mesmo! Quando você entra na
bolsa, seu objetivo principal número um é sobreviver naquele ambiente.
Como mencionei anteriormente, existe uma bela divisão entre
investidores com viés de longo prazo e investidores com viés de curto prazo, os
chamados traders. Se você ainda não está familiarizado com este termo, trader
é a pessoa que compra e vende ações, fundos imobiliários, índices, commodities
e tudo que possa ser negociado na bolsa de valores. Geralmente eles possuem
um foco de curto prazo, buscando ganhar com as variações de preço que
ocorrem em um pequeno espaço de tempo. Os investidores de longo prazo, por
sua vez, como o próprio nome diz, costumam ter seus investimentos visando um
longo período.
É muito comum que, ao iniciar nos investimentos, os iniciantes optem pela
opção de trader. E aí nós precisamos nos atentar as estatísticas e dados sobre
esta filosofia de investimento voltada para o curto prazo.
Várias pesquisas foram realizadas para verificar a taxa de sobrevivência
de um trader no mercado. Em uma das mais famosas pesquisas realizadas com
traders americanos verificou-se que:
a. 100% deles iniciam no mercado com a esperança de ganhar dinheiro
(isto não deveria ser novidade para ninguém, certo?).
b. 30 dias após, 40% deles desistem. Isso mesmo! Apenas 30 dias após
iniciar a carreira, 4 em cada 10 traders iniciantes desistem do mercado.
c. Após 2 anos 80% deles desistem.
d. Após 5 anos apenas 7% dos traders iniciantes permanecem no
mercado. Permanecer significa sobreviver.
e. Após 5 anos apenas 1% dos traders consegue ter lucros
consistentes após todas as corretagens, taxas, emolumentos e impostos.
Ou seja, para cada 100 traders iniciantes, apenas um realmente consegue
ser bem-sucedido no prazo de 5 anos. Estatística cruel, não?
Uma outra pesquisa foi realizada pelo trader Cory Mitchell no ano de 2018.
Ele trabalhou em empresas de trading de 2005 a 2010, e também questionou
aos seus colegas de outras firmas sobre dados de sobrevivência durante o
período de 2005 até 2015. Foram realizadas uma série de análises em uma base
de dados com 2.000 traders. A conclusão: 90 a 95% dos traders analisados
perderam dinheiro até serem expulsos do mercado ou simplesmente se
aposentarem deste negócio.
Analisando detalhadamente apenas os 400 traders que trabalharam
diretamente com Mitchell durante os anos de 2005 a 2010, ele percebeu que
apenas 14 conseguiram ter algum resultado consistente de longo prazo. Uma
taxa de sucesso um pouco maior do que a pesquisa anterior, certo? Mas existe
um motivo.
Neste último caso, as taxas maiores de sobrevivência se referem a traders
profissionais, ou seja, pessoas que se dedicavam integralmente a compra e
venda de ativos na bolsa de valores. Não estamos falando aqui daquele
advogado, médico, dentista, arquiteto ou engenheiro que usa o horário do
almoço para fazer trades ocasionais. Estamos falando de pessoas que passam
o seu período integral analisando o mercado e fazendo operações.
E aqui vale mencionar conclusão que Mitchell chegou: “se você fizer
trades ocasionais, sua chance de sucesso é próxima de 0%. A estatística de
14 vencedores a cada 400 traders é válida apenas para quem se dedicou
integralmente, colocando esforço, tempo e uma boa quantia de capital em jogo.”
WOW! Que mensagem o Mitchell deixou.
Assim, fica claro que são poucos que conseguem sobreviver neste mundo
competitivo. Não estou trazendo todas estas estatísticas, dados, fatos e opiniões
para te assustar. Só trago estas informações para que você não seja mais um
iludido ao entrar no mercado, que vai ser expulso em poucos meses, sem
dinheiro no bolso e pensando que a bolsa de valores é uma invenção
maquiavélica para te enganar, roubar e deixar mais pobre.
Não é bem assim!
A bolsa pode ser um ótimo instrumento para acumulação de riqueza. E o
primeiro passo é desenvolver um mindset realista, objetivo e próprio para
enfrentar o dia a dia do mercado.

Psicologia Individual

“Eu vejo constantemente que as pessoas que crescem na vida não são
as mais inteligentes, nem as mais diligentes, mas são aquelas verdadeiras
máquinas de aprender. Elas vão para a cama todas as noites um pouco mais
sábias do que quando acordaram. Isso ajuda principalmente quando você tem
uma longa jornada pela frente.” - Charlie Munger, bilionário e sócio de Warren
Buffett (1924 -?)

Nós aprendemos no capítulo anterior que para ser um trader bem-


sucedido é necessário lutar contra as estatísticas de mortalidade. Mas não
podemos negar o fato de que existe uma extrema minoria de traders com lucros
consistentes no longo prazo.
Este livro, como você já sabe ao apenas ler a capa, possui um viés para
investimentos de longo prazo. O objetivo é desenvolver uma mentalidade de
prosperidade financeira no horizonte. Mas o que nos impede de estudar e copiar
alguns elementos que os principais traders de sucesso usam?
Se existe algo que os traders bem-sucedidos no longo prazo têm é o
desenvolvimento emocional avançado. Esta característica também é inerente ao
investidor de foco no longo prazo. Então vamos nos aprofundar nessa habilidade
fundamental para o sucesso nos investimentos!
Paul Tudor Jones II é um exemplo de desenvolvimento emocional a ser
citado. Na faculdade, Paul era um pugilista muito bem colocado nos rankings
nacionais. Inclusive chegou a ser campeão em sua categoria de peso. Talvez
este esporte tenha desenvolvido um grande senso de dedicação e sacrifício em
Paul. Afinal de contas, ninguém se torna campeão devido ao mero acaso da
sorte, ainda mais em uma esfera tão competitiva quanto os esportes
universitários norte-americanos.
Na década de 80, Paul começou sua carreira sendo um corretor de ações.
Em seu segundo ano como corretor atingiu a marca de 1 milhão de dólares
ganhos com comissões de corretagem. Depois de seu sucesso inicial, resolveu
mudar de rumo profissional e buscar novos desafios. Resolveu lutar contra as
estatísticas de alta mortalidade e virar um trader na bolsa de valores de Nova
Iorque.
Durante os próximos 3 anos e meio, operando apenas com seu próprio
dinheiro, Paul teve apenas um mês negativo. Sua dedicação, foco e
incessante vontade de constante aprendizado eram observados por todos
seus amigos, colegas e rivais.
Ele realizou uma série de trades em taxas de juros e câmbio, tendo sido
muito bem-sucedido desde então. O nível de performance de Tudor é digno de
apreciação e objeto de muito estudo. Nos seus primeiros 25 anos operando
nos mercados, Paul teve uma rentabilidade anual média de 19,5%. E o mais
impressionante: sem nenhum ano de rentabilidade negativa.
Quando analisamos o período específico de 1987 até 2009, que conta
com grandes recessões no mercado acionário americano durante o período,
temos uma rentabilidade total de 9048%! Até o momento que escrevo este
trecho, em dezembro de 2018, ele teve apenas dois anos negativos: em 2008 e
2016. São US$ 7 bilhões de dólares sob gestão em sua empresa, a Tudor
Investment Corporation, com escritórios em Nova Iorque, Londres, Singapura e
Sydney. Além disso, ele é o número 153 dos homens mais ricos da lista da
Forbes, com um patrimônio líquido de 4,5 bilhões de dólares.
Ao ser questionado sobre os motivos para ser tão bem-sucedido neste
negócio com taxas de mortalidade extremamente altas, Paul explica: “- no fim do
dia, a coisa mais importante é o quão bom você é no controle de risco. Noventa
por cento dos resultados é sobre controle de risco”.
E aqui nós estamos diante de uma afirmação que é aplicável tanto para
traders quanto para investidores de longo prazo. O controle do risco é um
conceito chave do sucesso para todos os tipos de investidores.
Paul confessa: “- por volta de vinte e poucos anos, realizei alguns trades
por conta própria e tive grandes perdas. Então eu decidi aplicar uma grande dose
de disciplina em meus investimentos. Eu simplesmente decidi me tornar
obsessivamente disciplinado na gestão de risco. ”
Captamos uma mensagem extremamente importante nas palavras de
Paul. Mas será que isto é só uma questão de perfil ou também é inerente a outros
que se arriscaram neste mercado extremamente cruel?
Outro exemplo de sucesso com trades é o Sr. Ed Seykota. Para se ter
uma ideia da habilidade de Ed, o cliente que depositou em 1990 a quantia de
US$1 mil dólares em seu fundo de investimento, teria US$ 351 mil dólares ao
final de 10 anos. Isto significa impressionantes 61% de retorno médio por
ano!
Quando questionado qual o segredo para o seu sucesso como trader,
Seykota não hesita em dizer: “-requer a habilidade de gerenciar suas próprias
ansiedades. A chave para a prosperidade e sobrevivência no longo prazo
tem muito a ver com o gerenciamento emocional e também o do seu
dinheiro. Arrisque apenas aquilo que você pode perder, e somente quando vale
a pena correr o risco. As emoções nos investimentos tendem a ser negativas.
Orgulho, esperança, medo e ganância foram as emoções que me envolveram
em investimentos errados. ”
WOW! Que mensagens incríveis aqui! Tanto Paul Tudor Jones quanto Ed
Seykota, dois traders vencedores em uma área extremamente cruel, passando
mensagens tão similares. Ambos possuem semelhanças muito grandes na hora
de explicar o motivo de seus sucessos.
Mas você deve estar pensando: “– Eu não comprei este livro para ouvir
sobre traders! O que estes caras fazem não se aplica para o investidor de longo
prazo! ”
Realmente! O processo de investimento é completamente diferente! A
forma de investir visando o curto prazo envolve horas e horas por dia em frente
a um computador acompanhando as oscilações de mercado, diferente de um
investidor de longo prazo. Mas será mera coincidência que ambos - um dos
pouquíssimos traders bem-sucedidos no longo prazo - tenham respostas tão
parecidas quando perguntados sobre o motivo de seu sucesso? E será que esta
característica é apenas de traders ou também se aplica para os investidores de
longo prazo bem-sucedidos? Seja trader ou investidor de longo prazo, qual é a
grande diferença entre os vencedores e os perdedores no mundo dos
investimentos?
Aqueles que levam os investimentos a sério, ou seja, realmente lidam isto
com todos os desafios que este desafio intelectual necessita, são aqueles que
conseguem um grau maior de sucesso. Independentemente de você ser um
trader ou investidor de longo prazo, de você utilizar análise técnica ou
fundamentalista, você apenas será bem-sucedido no mercado se lidar com essa
atividade como um desafio intelectual, que exige constante dedicação,
aprendizado e aperfeiçoamento.
Outro ponto importante que notamos ao analisar a resposta de Paul e Ed
é o realismo, pragmatismo e o desapego às ilusões. Apesar de serem
extremamente bem-sucedidos, reconhecem que suas capacidades são
limitadas. Então, ao invés de alimentar ilusões, deixam bem claro que o primeiro
passo não é buscar o lucro e sim fazer um gerenciamento emocional de si
próprio. O dinheiro acaba sendo uma consequência natural.
Então, você que é investidor (ou pretende ser) precisa analisar seus
sentimentos antes de apertar qualquer botão de comprar ou vender. É
necessário realizar uma autoanálise para verificar se a decisão está sendo
racional ou puramente emotiva. Mesmo que você tenha plena confiança de que
está tomando uma decisão racional, é necessário estruturar a gestão do dinheiro
de forma que nenhuma perda completa (ou sequência de perdas) lhe expulse do
mercado com uma mão na frente e outra atrás.
Os investidores iniciantes costumam deixar o mercado influenciar seu
humor. Se o mercado está subindo, eles ficam felizes. Se o mercado está caindo,
eles ficam depressivos, raivosos e até agressivos com as pessoas mais
próximas. Este comportamento é o oposto do perfil encontrado em investidores
bem-sucedidos, que se concentram nos planos de construção de um patrimônio
sólido no longo prazo. Estes últimos não permitem que as oscilações do mercado
determinem seus humores. Tudo é feito com a serenidade, racionalidade,
objetivismo e compreensão de que são seres humanos, e, portanto, passíveis
de vieses e outros comportamentos irracionais.
Quando você reconhece suas limitações como ser humano, você assume
que pode cair nos mesmos erros que seus colegas investidores também caem.
E isso lhe dá uma vantagem competitiva em relação aos investidores que
acreditam que são intocáveis, verdadeiras máquinas racionais e que não são
influenciados por emoções.
Como seres humanos, não fomos feitos para ter sucesso nos mercados.
Isto mesmo, você leu corretamente: nosso cérebro costuma mais atrapalhar do
que nos ajudar. Para ter uma mentalidade de investidor correta é necessário,
primeiramente, estar ciente das fraquezas psicológicas que estamos
passíveis a sofrer.
E, após identifica-las, não é possível exterminá-las completamente. O que
é possível (e até recomendável) é ter a autoconsciência de quando você está
sendo tomado por alguma forte emoção ou comportamento irracional. Assim,
com a ajuda da autoconsciência, você sabe que está sob forte influência
emocional e que qualquer decisão tomada naquele momento muito
provavelmente será prejudicial no futuro.
Como seres humanos, temos uma forte tendência de nos auto
sabotarmos o tempo todo. Quando dizem que o maior inimigo do investidor é ele
mesmo, não penso de outra maneira. Concordo plenamente.
Um importante elemento do amadurecimento do investidor é quando ele
para de atribuir suas perdas a fatos externos (esposa, filhos, chefe, sogra,
colegas, governo, políticos, etc.) e passa a assumir 100% a responsabilidade
pelos próprios resultados. Se fosse analisar um diário escrito por um investidor
bem-sucedido e de outro fracassado, encontraríamos padrões repetitivos de
comportamento – positivos e negativos - em ambos os lados.
O dinheiro ao final de um investimento é apenas o resultado de
processos repetitivos que ocorrem todos os dias. Quem realiza diariamente
padrões perdedores, vai se manter um perdedor. Quem não aprende com os
próprios erros, não assume a responsabilidade sobre o futuro financeiro, e não
reconhece as próprias limitações, está condenado a manter os mesmos
resultados indeterminadamente.
Nada melhor do que o Dr. Alexandre Elder, um russo naturalizado
americano, que se tornou psiquiatra e investidor para nos ajudar a compreender
a importância deste tema.
Dr. Elder é uma figura conhecida pelo seu trabalho com o lado psicológico
dos investidores. Ele tem uma frase fantástica que resume muito bem a interação
entre mercados e comportamentos humanos: “- o mercado é como um oceano,
sobe e desce independentemente de seus desejos. O oceano não quer saber do
seu bem-estar, mas tampouco está interessado em causar-lhe danos. Seus
sentimentos sobre o oceano existem apenas em sua mente. E ameaçam sua
sobrevivência quando tomam o lugar do intelecto e dominam seu
comportamento. ”
Em seus vários anos analisando o comportamento de investidores e
aplicando conhecimentos psiquiátricos, ele chegou a uma série de conclusões
interessantes a respeito do sucesso e fracasso dos seres humanos em qualquer
área: “- depois de praticar psiquiatria por muitos anos, convenci-me de que a
maioria dos fracassos na vida resulta de auto sabotagem. Fracassamos em
nossas atividades profissionais, pessoais e de negócios não por ignorância ou
incompetência, mas para realizar um desejo inconsciente de fracassar.”
Especificamente em relação ao investidor, Dr. Elder enumerou 4
principais pontos que devem ser levados à risca quando se deseja tornar um
investidor bem-sucedido. Pessoalmente, concordo com todos eles.
1. Decida que você está no mercado com propósitos duradouros – ou seja,
quer continuar no mercado daqui a 20, 30, 40, 50 anos.
2. Os vencedores pensam, sentem e agem de maneira diferente dos
perdedores. Você deve olhar para dentro de si mesmo, deixar de lado as ilusões
e mudar as velhas maneiras de ser, pensar e agir. A mudança é difícil, mas se
quiser ser um investidor bem-sucedido, deve se empenhar em mudar sua
personalidade.
3. Seu primeiro objetivo deve ser a sobrevivência no longo prazo; o
segundo objetivo, crescimento constante do capital; e seu terceiro objetivo, gerar
lucros.
4. Aprenda tanto quanto possível. Leia e ouça tudo, mas preserve certo
grau de ceticismo sadio a respeito do que está vendo e ouvindo. Faça perguntas,
e não aceite ao pé da letra tudo que afirmam.
Quantas lições valiosas o Dr. Elder nos ensinou. Mas o mercado não é
composto apenas de uma ou duas pessoas. Ele é composto de uma multidão. E
vamos ver no próximo capítulo que existem comportamentos que ocorrem
somente em multidões e não em indivíduos quanto estes estão sozinhos.

Psicologia das Massas

“O objetivo da vida não é estar ao lado das massas, mas escapar de se


encontrar nas fileiras do insano.” – Imperador Marco Aurélio (121 d.C. - 180 d.C.)

Você já parou para pensar o que significa o mercado? Se nunca fez este
exercício, sugiro que me acompanhe no raciocínio.
Vamos imaginar quem faz parte dele. Aquele investidor iniciante que
acabou de entrar cheio de esperanças de se tornar rico? Sim, ele faz parte do
mercado. Aquele investidor com 50 anos de experiência? Este também. Fundo
de Pensão com 40 analistas à disposição para estudar empresas do mundo
todo? Sim, este também. Hedge Funds, Fundos de Ações, Bancos de
Investimentos, Fundos Soberanos? Todos também fazem parte.
Veja, o mercado é composto de todos estes participantes. Todos! Então
quando você escuta na TV ou lê na internet que “o mercado está com este ou
aquele outro sentimento sobre o futuro”, na verdade você precisa traduzir a
notícia para “a maioria das pessoas ou os principais players estão com este ou
aquele sentimento. ”
Alguns podem mencionar também a existência de robôs e softwares de
investimentos no mercado, e em como eles tiraram o fator humano das
operações. Isto é, até certo ponto, um fato real. Mas uma meia verdade. É fato
que os robôs são responsáveis pela maior parte das negociações nos EUA e,
aos poucos, começam a fazer parte dos pregões aqui no Brasil. Mas estes robôs,
em última instância, servem a seus patrões humanos. Além do que, os robôs
também são programados por homens. Então, de uma forma indireta, há a
influência humana. E se existe uma pessoa envolvida no processo, existem
influências psicológicas, mesmo que de forma indireta.
O mercado nada mais é do que uma imensidão de pessoas e
instituições, e cada um acredita que pode terminar com mais dinheiro do
que entrou. Todos acreditam que são mais inteligentes que os demais. Afinal
de contas, você conhece alguém que se diz mais incompetente que os outros
participantes do mercado e está ali porque quer dar todo seu dinheiro a eles?
Nunca vi tamanho altruísmo!
Quando se fala de sentimentos de mercado, na verdade aborda-se o
comportamento das pessoas que participam dele. E as massas, de certa forma,
costumam ter certos padrões de comportamento, independentemente da cultura,
região, religião e demais variáveis. Existem certos comportamentos que podem
ser considerados como leis universais de tão facilmente identificáveis que são.
Estas descobertas se iniciaram há séculos, com filósofos gregos como
Platão e Aristóteles atribuindo uma série de comportamentos identificáveis aos
seres humanos. Ao longo da História, o tema foi abordado por várias
personalidades relevantes, passando por Shakespeare, Nietzsche,
Schopenhauer, entre outros. Porém, um livro em especial abordou o tema de
forma muito importante para o investidor de longo prazo.
Em 1897, Gustave LeBon, um político e filósofo francês, escreveu o livro
The Crowd (A Multidão). Em tal obra, LeBon abordou o tema da psicologia de
massa. Uma das passagens mais importantes da produção é esta: “não
importam os indivíduos que a componham, nem quão semelhantes ou diferentes
sejam os estilos de vida, ocupações, personalidade e inteligência. O fato de
terem se transformado em multidão, confere-lhes uma espécie de mente
coletiva, que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diversa de seu modo
de sentir, pensar e agir como indivíduos, ou seja, caso tivessem continuado
isolados”.
WOW! Impactante, não? Ou seja, o que Gustave nos ensina é que as
pessoas quando estão sozinhas agem de uma certa forma, e quando elas estão
em multidão agem de forma diferente. Esta espécie de “mente coletiva” é algo
muito presente nos mercados.
Nos tempos modernos, uma das maiores criadoras de opiniões e
sentimentos nestas “mentes coletivas” são os meios de comunicação em massa:
a mídia tradicional e as mídias sociais.
Todos estes meios de comunicação – sejam tradicionais ou modernos -
são empresas. E como empresas, elas têm objetivos de lucratividade. Elas
obtêm a maior parte do faturamento através da disponibilização do espaço para
anúncios e propagandas.
Para ter acesso à fonte do dinheiro que flui das empresas que desejam
anunciar no espaço publicitário é necessário que estes meios de comunicação
alinhem sua agenda com a das empresas. Isso significa que jornalistas,
apresentadores, âncoras, comentaristas, digital influencers, especialistas, gurus,
artistas, atletas e demais celebridades sejam propagandistas desta agenda.
É comum a distorção, a censura e a omissão de certos fatos e
notícias para beneficiar a agenda dos meios de comunicação e das empresas
anunciantes. Toda matéria, notícia ou programa está impregnada com vieses.
E aqui vem um detalhe importante: nada indica que a agenda deles é a
mesma que a sua como investidor com foco no longo prazo. O que eles
desejam que você pense, sinta, faça ou compre nem sempre se alinha com o
seu benefício próprio. No entanto, a mídia exerce um poder incrível nas decisões
das massas como um todo.
Você já deve ter lido sites de notícias financeiras e dos gurus de mercado.
Também já deve ter assistido alguns jornais financeiros. Percebeu como todas
as notícias são permeadas de drama? Todas as informações são elaboradas
sob um verniz emocional. Todas estas emoções fazem com o que o
investidor não consiga pensar claramente. É necessário que você tenha a
ciência disso para remover o máximo possível destas influências emocionais
sobre o seu processo de investimento.
Você está pensando agora: “- mas por qual motivo eu preciso saber de
tudo isso? ”
O motivo é simples! As emoções são o inimigo número um do investidor.
As emoções podem ocorrer em um processo interno, ou seja, da psicologia
individual, ou de um processo externo, criadas pelos meios de comunicação e
por fim direcionadas para a “mente coletiva”.
No fim do dia, somos criaturas emocionais, que têm o dom de fazer
coisas irracionais sob a influência do medo ou ganância. O investidor não
pode vencer o jogo de longo prazo a menos que tenha autoconsciência de tudo
isto que estamos aprendendo.
Um dos pilares para o investidor se tornar bem-sucedido no longo prazo
é justamente o estado de sua mente. Quando ele tem a confiança no processo,
pode atravessar as maiores tempestades, não permitindo que o medo tome
conta. Quando ele está calmo e sereno, sabe que nenhuma previsão sobre o
futuro é realmente relevante, visto que ninguém consegue prever o futuro no
mercado. Quando ele está focado, sabe que o mundo é muito complexo e que
as mudanças ocorrem em uma velocidade que ninguém consegue realmente
acompanhar de perto.
E assim, o investidor bem-sucedido de longo prazo desenvolve a
habilidade de focar sua energia e tempo em controlar apenas aquilo que
realmente pode controlar nesta história toda: suas próprias emoções.

A Influência da Mídia Na Psicologia Das Massas

Agora vamos viajar no tempo.


Em meados de 140 a.C., o poeta romano Juvenal realizou uma sátira,
onde proclamou: panem et circenses – o termo em latim para ‘pão e circo’.
Juvenal identificou que o único interesse dos romanos passou a ser o
prazer imediato, em detrimento do desejo por conquistas. O heroísmo presente
nos primórdios do Império Romano já não era visto na população, que preferia
os prazeres da comida e do entretenimento barato.
Nesta época, havia um político populista chamado Gaius Sempronius
Gracchus, que instigou seus pares a proporcionar o direito ao voto para classes
menos favorecidas. Obviamente que esta manobra não era simplesmente uma
benesse democrática sem segundas intenções. Os políticos romanos
recompensavam a classe desfavorecida com trigo e atrações circenses, como
forma de manter uma dependência, desde que eles votassem nos “políticos
certos”.
Atualmente, as pessoas não consomem espetáculos circenses, mas sim
outras formas de entretenimento da vida moderna: programas de TV, esportes,
filmes, seriados, reality shows e mídias sociais. Os espectadores não apenas se
mantêm entretidos, mas desenvolvem um investimento emocional no
entretenimento em si. Em alguns casos, o investimento emocional beira o limiar
entre o irracional.
Este assunto costuma causar muitas polêmicas, pois invariavelmente
todos nós temos um investimento passional em algum entretenimento: um clube
de futebol, uma série de TV, um filme específico, um reality show que nos faz
prender a atenção. E a indústria das notícias financeiras costuma trabalhar
com primazia a criação de sentimentos e emoções fortes.
Vale a pena entender como que elas funcionam em nosso cérebro para
evitar ser levado pelas ondas emocionais, que já verificamos que são
extremamente prejudiciais ao investidor. Vamos sair de Roma Antiga e viajar no
tempo até o século XIX, e pousar no Império Austro-Húngaro.
Edward Louis Bernays nasceu em Viena, durante o Império Austro-
Húngaro, em 1891. Sobrinho de Sigmund Freud, Edward preferiu trabalhar nos
Estados Unidos e foi um pioneiro no campo das relações públicas e da
propaganda. Seu trabalho se baseava na premissa de que as pessoas são
irracionais e suas decisões são facilmente manipuladas. Inclusive, Bernays
foi nomeado pela revista Times como um dos 100 americanos mais influentes do
século XX.
Bernays alegava que a propaganda é um esforço consistente para
criar ou moldar eventos que influenciam o público referente a certa ideia,
grupo ou empresa. Pequenos grupos de pessoas podem - e fazem - o resto de
nós pensar o que eles querem sobre um assunto. No entanto, existem
proponentes e opositores de toda propaganda, e ambos são igualmente
ansiosos para convencer a maioria.
Já vimos que um grupo tem características psicológicas distintas das
encontradas em um indivíduo. Os grupos são motivados por impulsos e emoções
que dificilmente seriam explicados como normais a um único indivíduo. O
pensamento de grupo não é efetivamente um pensamento no sentido estrito. No
lugar de uma análise racional, o grupo é movido por impulsos, hábitos e
emoções. E são exatamente estes desejos de grupo que fazem o mercado ter
movimentos tão fortes.
A indústria de notícias financeiras utiliza bem estas estratégias. E ela se
baseia em duas premissas fundamentais:
1. A interpretação contínua: quando o meio de comunicação controla
cada abordagem para formar a opinião do público, de tal maneira que as pessoas
recebem a impressão desejada sobre certo assunto sem sequer estarem
conscientes disto.
2. A dramatização por alta visibilidade: a construção de uma atração
vívida para o público sobre algum detalhe ou aspecto típico, como por exemplo
doenças, guerras, crises, riscos, expectativas ou qualquer outro assunto da
moda que seja superexposto ao público.
Um dos principais instrumentos para o sucesso da implementação destas
estratégias é a utilização das emoções. O conteúdo emocional tem alguns
componentes essenciais. Ele deve coincidir, em todos os sentidos, com o
objetivo desejado de comportamento aos grupos de públicos a que se destina.
A verdade é que o conceito de um “bom governo”, “boa política” ou “boa
empresa” pode ser vendido para o público como qualquer outra commodity pode
ser vendida. Toda a base do sucesso de uma propaganda é ter um objetivo e,
em seguida, aplicar todos os esforços para modificar os pensamentos do público.
Eu sei o que você está pensando agora: “- hey! Eu não comprei um livro
de propaganda! Qual o motivo destas explanações para o objetivo deste livro? ”
Para que o investidor se conscientize de que a indústria das notícias
financeiras utiliza várias estratégias – principalmente as emocionais – a fim
de que você se mantenha vidrado em seus conteúdos.
Quanto mais pessoas gastando o tempo consumindo o conteúdo destas
empresas de mídia, mais elas ganham com anúncios de empresas
patrocinadoras. Afinal de contas, no fim do dia, elas são empresas em busca do
lucro.
O sujeito que permanece horas ligado em notícias financeiras ou sites de
informações instantâneas sobre os mercados não percebe o quão comprometido
ele está emocionalmente com o conteúdo.
Dificilmente exista um jornal, programa de TV ou programa de rádio cujas
publicações não beneficiem ou prejudiquem alguém. Essa é a natureza dos
meios de comunicação, e você deve estar ciente disto quando utilizar
informações destas fontes para investir.
Não recomendo que seus investimentos sejam guiados pelas informações
da mídia. Em capítulos adiante irei apresentar o que realmente conta na hora de
investir o seu dinheiro. Estar ligado nas notícias e na mídia em geral não estão
entre as opções.

Vieses Emocionais do Investidor

"Os maiores erros de investimento não vêm de fatores que são


informativos ou analíticos, mas daqueles que são psicológicos." - Howard Marks,
bilionário e fundador da Oaktree Capital Management (1946 -?)

A maior armadinha para o sucesso de longo prazo é o nosso próprio


cérebro. E o conceito é aplicado em qualquer área de nossa vida:
relacionamentos pessoais, amorosos, profissionais e financeiros. Como disse o
Dr. Alexander Elder, nós temos a tendência de nos auto sabotarmos o tempo
todo. O maior inimigo somos nós mesmos.
O lado emocional pode fazer você chegar longe ou te jogar num buraco
sem fim. É necessário reconhecer nossas falhas e fraquezas emocionais,
para desenvolver um sistema que nos proteja de nós mesmos. E para
auxiliar neste processo, vamos falar sobre Daniel Kahneman, o único não-
economista a ganhar um Prêmio Nobel de Economia.
Seu trabalho é uma viagem pela mente humana, e explica os defeitos e
vícios no processo de tomada de decisões. Comportamentos como aversão à
perda, excesso de confiança, dificuldade de projetar o futuro e desafios de
identificar corretamente os riscos são todos moldados através de nossos
julgamentos. O seu trabalho ofereceu diversos insights práticos e
esclarecedores, com técnicas para nos proteger contra falhas mentais e vieses
que nos colocam em apuros. E você sabe o que são vieses?
Um viés cognitivo é a tendência de adquirir e processar informações
filtrando por meio de gostos, desgostos e experiências pessoais. Nossos vieses
influenciam a forma como recebemos e usamos informações ao tomar decisões.
Os preconceitos cultivados desempenham um papel em todos os aspectos de
nossas vidas e, em particular, nossos vieses afetam as decisões de
investimento.
1. Viés da Confirmação. É a tendência que temos de confirmar nossas
crenças ou hipóteses lembrando apenas daquilo que é conveniente. Acabamos
reunindo ou recordando de informações de forma seletiva e tendenciada. Tal
viés costuma ocorrer em questões com forte carga emocional, como por exemplo
um investimento realizado.
Digamos que você tem uma predileção por uma ação em específico. Você
gosta do logotipo, acha o fundador uma pessoa que “pensa fora da caixa” e
consome os produtos e serviços da empresa. Seu cérebro vai procurar
informações que valide todos seus pontos de vista. No fim do dia, nosso cérebro
ama o sentimento de como somos mais espertos do que o resto do mundo.
O problema com este viés é que ele contribui com um excesso de
confiança em crenças pessoais, e pode manter ou reforçar crenças em face de
evidência contrária. Então mesmo que a ação esteja perdendo todos seus
fundamentos, será difícil você assumir que errou.
A ferramenta para evitar este problema é buscar por opiniões contrárias.
Sempre analise o ponto de vista diverso. Não precisa ouvir todo mundo que tem
um pitaco sobre o assunto, mas certifique-se de ouvir pessoas que têm um
histórico de inteligência e de bons resultados. Nem todas as opiniões tem o
mesmo valor.
2. Viés do Recente. Ele ocorre quando as pessoas lembram e enfatizam
mais os eventos e observações recentes do que aqueles no passado. Este
fenômeno acontece com frequência com investidores. Em geral, seres humanos
têm memória curta, especialmente quando se trata de ciclos de investimento.
Durante um mercado em alta, as pessoas tendem a esquecer os
mercados de baixa. Começam a sustentar que o mercado continuará a subir
como subiu semana passada ou mês passado, para todo sempre. Assim os
investidores continuam comprando ações, sentindo-se bem com suas
perspectivas. Com isso, aumentam a tomada de risco e não pensam em
diversificação ou prudência na administração de suas carteiras.
Então surge um mercado em baixa.
Em vez de estarem preparados para isso, os investidores sofrem uma
queda maciça em seus patrimônios e não resistem à tentação de vender as
ações. Vender as ações na baixa obviamente não é uma boa estratégia de
investimento a longo prazo.
Para neutralizar os efeitos deste viés, vale sempre ter em mente que um
grupo de ativos (ação, fundo imobiliário, título público, debênture) que teve
desempenho espetacular nos últimos tempos provavelmente não possuirá a
mesma desenvoltura nos anos subsequentes. Em contrapartida, ativos que
tiveram um desempenho ruim em um passado recente costumam se sair
melhores nos anos futuros.
Como muitos investidores não prestam atenção à natureza cíclica dos
retornos da classe de ativos, vale lembrar que são como um pêndulo: balançam
de um extremo ao outro.
3. Viés do Excesso de Confiança. Os humanos têm uma tendência a
acreditar que são melhores ou mais espertos do que realmente são. Em simples
palavras, superestimamos nossas habilidades, conhecimentos e projeções
futuras. Quantas vezes você ouviu falar de um empresário bem-sucedido que
pensou que também seria fácil alcançar o mesmo sucesso no mundo dos
investimentos?
O excesso de confiança reflete a tendência de superestimar ou exagerar
a capacidade de realizar com sucesso uma determinada tarefa. Embora a
confiança possa ser benéfica, o excesso de confiança é muitas vezes prejudicial.
A distinção entre os dois é sutil e muitas vezes difícil de avaliar.
Uma ferramenta para evitar este viés é ter confiança quando ela realmente
for realista nas suas habilidades. O excesso de confiança implica uma avaliação
excessivamente otimista de seu conhecimento ou de seu nível de controle sobre
uma situação específica.
Se você mantém uma estimativa realista de si mesmo e de suas
habilidades, vai aceitar que os investimentos envolvem um conjunto de desafios
que exigem um constante estudo, aprimoramento, controle emocional e gestão
de risco.
4. Viés Caseiro. É a tendência de investir a maior parte dos ativos dentro
de um único país, apesar dos benefícios da diversificação estrangeira. Pelo fato
de já estar familiarizado com as ações de seu país, o investidor tem uma
parcialidade ao escolher seus ativos e evita estudar os ativos de um país novo.
Outra variação deste viés são aquelas pessoas que investem muito
pesado na ação da empresa que trabalham ou que está inserida no setor em
que trabalham.
Investir além das fronteiras tende a diminuir o risco político,
econômico, cambial, fiscal e jurídico. Os investimentos nos EUA são menos
propensos a serem afetados por mudanças dentro do Brasil.
Além disso, o Brasil tem apenas 1% de todo o mercado mundial de ações.
Ou seja, 99% das ações disponíveis para investir figuram no cenário estrangeiro.
Mesmo assim, a grande maioria dos investidores brasileiros aportam 100% de
seus ativos nacionalmente.
Uma forma de evitar este viés é se lembrar deste dado que acabei de
mencionar, além de fazer um questionamento sincero a si mesmo: será que as
oportunidades de bons investimentos são restritas a nosso território? Um mero
exercício de estatística e probabilidades responderá a pergunta.
5. Viés da Negatividade. Os seres humanos têm uma tendência natural
para recordar experiências negativas de forma mais vívida e intensa do que as
experiências positivas.
Quem nunca sentiu aquela sensação desconfortável no estômago de que
“algo vai dar errado”? Quem já não ouviu aquela voz irritante dentro da própria
cabeça dizendo “isto não vai dar certo”? Quem nunca sentiu aquele aperto no
peito na hora de colocar em prática o que você sabe que tem que ser feito?
O viés da negatividade está presente em nosso dia-a-dia, mas no mundo
dos investimentos ele tem a responsabilidade de criar mais peso nas notícias
ruins do que nas notícias boas. Nosso cérebro tende a reagir aos eventos
negativos com maior intensidade do que os eventos bons. Existe uma teoria
biológica por trás disso, que remonta as épocas mais distantes: o cérebro
sempre está ligado à sobrevivência. Por exemplo, se você está andando na rua
e vê duas pessoas, uma carregando um bebê no colo e outra carregando uma
ripa de madeira, você vai se concentrar nesta última. Afinal, ela é a única que
pode machucá-lo.
No cenário acima, o viés da negatividade é muito bom, pois nos ajuda a
sempre estar prontos para o pior cenário. Mas no mundo dos investimentos, o
viés da negatividade nos leva a atribuir maior peso as más notícias e a
superestimar o risco de ocorrer um evento negativo. Isso pode ser prejudicial
para o seu futuro, especialmente quando se trata de investir visando o longo
prazo. Então, o que você pode fazer para combater o viés da negatividade ao
investir?
Investimentos de longo prazo não são baseados em fofocas, burburinhos,
ruídos, palpites e emoções. É uma estratégia sólida para acumular riqueza ao
longo do tempo. Então procure se focar numa perspectiva de horizonte mais
longo em vez de dar atenção as desesperadoras notícias que pipocam na tela
do seu celular e computador. Sua mente racional sabe que os crashes do
mercado são uma oportunidade maravilhosa para construir riqueza a longo
prazo! Contudo, o viés da negatividade torna difícil para o investidor iniciante agir
com base nesse conhecimento.
6. Viés da Ancoragem. É o viés responsável por usar informações
irrelevantes como referência para avaliar o resultado de um investimento. Por
exemplo aqueles investidores que acreditam que o preço justo de uma ação deve
ser obrigatoriamente um preço maior do que eles pagaram por ela. O fato de
eles terem pagado um preço de R$ X pouco importa ao mercado. Ninguém está
nem aí para o preço que eles pagaram na ação. Mas eles ancoram aquele preço
como se fosse a base para todas as tomadas futuras de decisões. “- Enquanto
não subir acima do meu custo de aquisição, eu não vendo! ” Como resultado
deste viés, os investidores assumem um risco maior mantendo o investimento
na esperança de que retorne ao seu “preço justo. ”
Qual é a melhor solução para este viés?
Lembre-se da frase do Dr. Alexander Elder, que previamente falamos : “o
mercado é como um oceano, sobe e desce independentemente de seus desejos.
O oceano não quer saber do seu bem-estar, mas tampouco está interessado em
causar-lhe danos. Seus sentimentos sobre o oceano existem apenas em sua
mente. E ameaçam sua sobrevivência quando tomam o lugar do intelecto e
dominam seu comportamento. ”
Não tome suas decisões futuras de investimento apenas com base no
preço que você pagou. Esta “marca” existe apenas em sua cabeça. O mercado
não está nem aí para ela.
7.Viés Retrospectivo. É um fenômeno muito comum aos investidores, no
qual os eventos passados parecem facilmente identificáveis olhando sob uma
visão de hoje. Mas não era bem assim durante a época que estavam ocorrendo
os fatos.
Ou seja, o investidor acredita que um evento foi mais previsível do que
realmente foi, e pode resultar em uma simplificação excessiva em causa e efeito.
Bolhas e crashes são frequentemente temas do viés retrospectivo. Me
recordo da Grande Recessão de 2008. Depois que o mercado imobiliário
americano ruiu, analistas e gurus tentaram demonstrar posteriormente como
tudo era tão previsível. A verdade é que se a bolha financeira tivesse sido
tão óbvia para a população em geral, provavelmente teria sido evitada por
completo.
Acreditar que alguém é capaz de prever resultados futuros pode levar ao
viés que já mencionei acima: excesso de confiança. E quando o investidor está
sob este viés de confiança excessiva, pode levar a escolhas de investimento
catastróficas.
8. Viés Efeito Halo. Este viés se aplica a uma ampla variedade de
categorias, incluindo pessoas, empresas, ideias e marcas. Vou mencionar dois
exemplos para uma perfeita compreensão, iniciando pelo exemplo empresarial.
Tudo que a Apple lança é especulado como sucesso, visto que os
produtos iPod e iPhone foram ícones bem-sucedidos no gosto do consumidor.
Então o viés Efeito Halo entra em cena e o investidor acredita que todos os outros
produtos serão também campeões de vendas, mesmo que não tenham
nenhuma relação com estes primeiros.
Um exemplo do Efeito Halo aplicado a pessoas é sobre gestores de
investimentos que tiveram uma performance boa no início de suas carreiras e
mesmo com os números atuais sendo desfavoráveis, permanecem no imaginário
dos cotistas como verdadeiros gênios do mercado.
O Efeito Halo aumenta a lealdade, fortalece a imagem e a reputação da
marca ou da pessoa e se traduz em alto valor aos olhos do público. Profissionais
e empresas usam-no para se estabelecerem como líderes em seus setores e
quando um produto tem feedback positivo, afeta o sucesso de outros produtos
do mesmo produtor ou da imagem que o mesmo tem perante o público durante
um longo período de tempo.
9. Viés da Ilusão de Controle. É a tendência das pessoas pensarem que
têm mais controle do que realmente dispõem sobre os eventos.
Em 1975, o Journal of Personality and Social Psychology publicou um
artigo que concluiu que os seres humanos são propensos a superestimar o
próprio papel nos casos de sucessos, e subestimá-los nos casos de
fracassos, sempre ignorando o papel do acaso.
Um exemplo típico são os apostadores de loteria. Eles sempre escolhem
os próprios números, apesar de uma seleção aleatória de números terem a
mesma chance de sucesso. No entanto, eles acreditam que por estarem
envolvidos na escolha de números, têm maior controle sobre os resultados.
O viés da ilusão de controle quase sempre resulta em decisões ruins de
investimento. Faz com que o investidor concentre seus ativos em setores que
acredita ter algum controle, como por exemplo um funcionário de um banco
investindo pesado no setor bancário. Isso aumenta o risco e expõe o investidor
a perdas que poderiam ter sido mitigadas através de um portfólio mais
diversificado.
Este viés está bem interligado a um que já estudamos: o viés da
confirmação, ou seja, apenas reconhecendo informações que confirmam a
opinião do investidor, ignorando todo o resto. Sempre se lembre destes dois
vieses antes de tomar decisões de investimento.
Diversifique para mitigar esse risco e sempre mantenha a humildade. Sim,
você pode ter feito a escolha certa ao escolher a ação X ou Y, mas a sorte
provavelmente teve um papel importante.
10. Viés da Escalada de Compromisso. Também conhecido como Viés
do Custo Afundado (nome um pouco estranho, certo? Vamos adotar a primeira
opção).
Este viés ocorre quando os investidores aumentam seu aporte com um
investimento perdedor, e continuam comprando mais. A constatação é
frequentemente visualizada em investidores que dizem: “- estou fazendo o preço
médio pra baixo,” entre outras frases que justificam tal comportamento.
Apesar das evidências de que o investimento não vale a pena ser feito,
os investidores irão consistentemente adicionar dinheiro novo ao investimento já
considerado perdido. É comum ouvir frases como: “-mas depois que este
investimento voltar ao preço que comprei, eu vou vender tudo! ”. O problema
deste viés é que o investidor se recusa a aceitar que as perspectivas mudaram,
e ao invés de aceitar a realidade, aumentam o prejuízo na esperança de reduzir
o custo de aquisição das ações.
Este viés está bem relacionado ao referente à ancoragem. Ambos
ocorrem porque o investidor tem o medo da perda financeira e também o medo
de machucar o seu ego, aceitando que estava equivocado. Ele tenta salvar um
investimento, adicionando mais dinheiro nele e se recusando a aceitar que errou.
11. Viés do Efeito Avestruz. Existe o mito que o avestruz quando está
com medo, vergonha ou algum sentimento que faça ele querer sumir, enfia a
cabeça em um buraco embaixo da terra. Quem está olhando de fora, percebe
como é inútil aquela tentativa dele em se esconder. Mas, sob o olhar do avestruz,
está tudo bem agora que ele está com a cabeça escondida em um buraco escuro
e aconchegante, longe dos problemas reais.
Muitos investidores agem como avestruzes. Eles tentam evitar o
desapontamento da realidade, ignorando o resultado de seus investimentos e
fingindo que tudo está bem. Esse comportamento ocorre pelo medo da perda,
medo do arrependimento e da falta de uma estratégia para lidar com
desapontamentos de investimento.
A maioria dos investidores planeja suas estratégias de investimento para
comprar investimentos, mas não para vender. Então em ciclos de alta, eles
investem sem parar. Mas quando o ciclo é de baixa, eles ficam congelados e não
sabem o que fazer. Não estão preparados psicologicamente para os vários
cenários que o mercado apresenta.
12. Viés da Percepção de Risco. É o julgamento que as pessoas fazem
sobre a real possibilidade de ocorrer um risco. E na tentativa de eliminar o risco
imaginado, elas acabam se expondo a outro com maior chance de acontecer.
Ilustremos com um exemplo.
Após os atentados terroristas nas Torres Gêmeas, as viagens aéreas
caíram e as viagens de carros cresceram exponencialmente. Após assistirem as
cenas dos aviões se chocando com as Torres Gêmeas na TV, as pessoas
tiveram a compreensão de que os aviões são mais perigosos que os carros.
Ocorre que, estatisticamente falando, isto é o inverso. O carro é mais perigoso
que o avião.
No livro chamado The Science of Fear, o autor Daniel Gardner
demonstrou através de números que, se existisse um atentado terrorista como o
de 11 de setembro todos os dias, ao longo de um ano inteiro, as chances de
você ser morto seria de 1 em 7.750. No entanto, as chances de você morrer em
um acidente de trânsito normalmente em seu dia a dia são de 1 em 6.500.
Outro ponto curioso sobre os efeitos dos atentados terroristas de 11 de
setembro foi explicado pelo professor alemão Gerd Gigerenzer. Ele pesquisou e
demonstrou através de dados que, devido ao aumento do número de viagens de
veículos após o atentado, ocorreram 1.600 mortes a mais do que se essas
pessoas tivessem continuado a usar os aviões.
Nos investimentos, este viés ocorre quando investidores acreditam que
certos ativos são mais seguros que os outros, e investem pesadamente neles.
Depois de um período, eles percebem que aquela segurança imaginária na
verdade estava sedimentada em castelos de areia.
13. Viés de Sobrevivência. Este viés é muito presente no nicho de fundos
de investimentos. E para explicá-lo, nada melhor do que um exemplo:
Uma gestora de fundos de ações pode lançar um fundo de R$ 100 milhões
ou dois fundos de R$ 50 milhões cada, com diferentes estratégias de seleção de
ações. Após dois ou três anos, a gestora dá uma analisada nos resultados de
ambos.
Se o primeiro fundo for medíocre e o segundo fundo for excelente, então
o gestor pode apresentar ao público investidor o segundo fundo com três anos
de resultados sólidos. Em seguida, o gestor pode optar por fechar o fundo mal-
sucedido, criando um caso de Viés de Sobrevivência.
Numerosos pesquisadores de mercado relataram dois motivos para o
fechamento de fundos. Primeiro, o fundo pode não receber alta demanda dos
investidores e, portanto, os custos não valem a pena o prosseguimento. O
segundo motivo é devido ao desempenho. Fechamentos por falta de
desempenho são geralmente os mais comuns.
Robert Arnott, fundador da Research Affiliates, estudou o desempenho
durante 15 anos de todos os 203 fundos americanos que tinham pelo menos
US$ 100 milhões de dólares sob administração. Conclusão: 96% dos fundos
não conseguiram superar o mercado em um período de 15 anos.
A gestora geralmente oferece duas soluções para o fechamento de um
fundo. A primeira é ser totalmente liquidado e as ações dos investidores são
vendidas. A segunda é a fusão.
O desempenho dos fundos derivados de fusão têm seus resultados
mesclados e também acabam incorrendo no viés de sobrevivência. Isto faz com
que os investidores acreditem que os fundos ativos possuem os resultados
históricos que não são condizentes com a realidade.

Criando O Psicológico Vencedor Nos Investimentos

"Nunca se engane, e lembre-se: você é a pessoa mais fácil de enganar."


- Richard Feyman, Prêmio Nobel de Física (1918 – 1988)

As pessoas adoram dizer que conhecimento é poder. Mas a verdade é


que isto é uma meia verdade. O conhecimento é apenas poder em potencial. Ele
é inútil se você não age. A execução aliada ao conhecimento que é poder. A
partir deste trecho do livro, você aprenderá a formar a base de uma estrutura
organizada e lógica para melhorar seu jogo mental no mundo dos investimentos.
O mercado é recheado de ciclos de alta e baixa. A turbulência é algo que
assusta a grande maioria. Mas se você quer ser bem-sucedido nos
investimentos, a volatilidade não é algo para se temer. Na verdade, ela é sua
aliada. No mercado, o medo não é recompensado. O preparo mental adequado
é.
Vou falar aqui um pouco do mercado americano, visto que tem uma base
de dados muito mais sólida do que o brasileiro, afinal de contas são mais de 200
anos de dados históricos bem registrados. Mas a essência do que vou abordar
é efetivamente aplicada no Brasil.
De 1900 até 2018, existiram mais de 35 mercados de baixa nos Estados
Unidos. Isso significa que, em média, a cada 3 anos o mercado entrava em
queda. E, na média, o índice S&P 500 – índice mais utilizado na bolsa americana
que corresponde as 500 maiores ações por lá negociadas - caiu 33% durante
cada uma destas baixas. No período dos últimos 20 anos, o S&P 500 teve 14
anos de alta e 6 anos de baixa.
Por qual motivo estou falando isso?
Porque os investidores mais bem-sucedidos tiram proveito de todo esse
medo e tristeza, usando esses períodos tumultuados para investir mais dinheiro
a preços de barganha. Se você vive com medo, você perdeu o jogo antes mesmo
de começar. Como Shakespeare já dizia séculos atrás: “muitas vezes os
covardes morrem antes de suas mortes. Os valentes nunca provam a morte,
exceto uma vez. ”
Você está se perguntando: “ – e como eu faço para me preparar para
esses momentos inevitáveis de quedas? ”
Pode colocar as chances a seu favor se educando, estudando a história de
longo prazo e modelando seu psicológico para tomar as decisões que mais
funcionaram e trouxeram sucesso para os investidores ao longo de décadas. E
se estamos falando de sucesso ao longo de décadas, nada melhor do que falar
sobre Warren Buffett.
Desde criança Buffett já era interessado por investimentos, dinheiro e
negócios. Ele vendia balas, jornais e Coca-Cola de porta em porta em sua cidade
natal, Omaha, capital do estado do Nebraska.
Quando adolescente, Warren vendia bolas de golfe e trabalhava na
customização de carros. Logo em seguida, se tornou um empresário de
máquinas de pinball. Ele e seu amigo compraram uma máquina por US$ 25
dólares e instalaram em uma barbearia. Algum tempo depois, graças ao fluxo de
dinheiro da máquina, compraram outra. E depois, outra. E pouco tempo depois,
já contavam com dezenas de máquinas espalhadas por Omaha.
A partir da década de 50, Buffett começou a trabalhar especificamente no
mercado de ações, ao lado de dois expoentes do mundo dos investimentos na
época: seu tutor, mentor e sócio Benjamin Graham (autor do livro O Investidor
Inteligente) e Walter Schloss.
Após um grande sucesso ao lado de seu professor, Buffett iniciou sua
própria empresa de investimentos, popularizando o “value investing”, ou seja, o
método que busca investir em empresas que possuem valor, através de produtos
e/ou serviços que elas oferecem ao mercado consumidor, mas que se encontram
com preços abaixo do valor intrínseco do negócio. Em outras palavras, é como
se você comprasse uma padaria por R$ 20 mil, mas o negócio vale R$ 50 mil.
Valor é uma coisa, preço é outra.
Em 1962, Warren Buffett alcançou seu primeiro US$ 1 milhão de dólares.
E de lá para cá, seu crescimento patrimonial foi exponencial. Com o patrimônio
de aproximadamente US$ 85 bilhões de dólares ao final de 2018, Buffett é
considerado o investidor de maior sucesso sob o viés fundamentalista de
investimentos. Décadas se passam e Buffett permanece firme na lista da Forbes
como um dos homens mais ricos do mundo.
Um dos principais fatores que auxiliaram Warren Buffet nesta jornada é
sua mentalidade de longo prazo. Confira o que ele falou a respeito de longas
perspectivas no horizonte do investidor: “Pense nos primórdios da Segunda
Guerra Mundial, quando as coisas estavam indo mal para os Estados Unidos na
Europa e no Pacífico. O mercado chegou ao fundo em abril de 1942, bem antes
de os Aliados reagirem e vencerem a guerra. Vamos agora para o início dos
anos 80. O momento de comprar ações era quando a inflação se enfurecia e a
economia estava desmoronando. Em resumo, a má notícia é a melhor amiga de
um investidor. No longo prazo, as notícias do mercado de ações serão
boas”.
Além da perspectiva de longo prazo, Buffett gosta de escolher ações que
estão em seu círculo de competência: “conheça o seu círculo de competência
e permaneça dentro dele. O tamanho do seu círculo não é importante. Mas é
vital saber onde precisamente está sua fronteira”.
Círculo de competência é aquilo que você, através da teoria ou da vivência
prática, possui conhecimento profundo. Por exemplo, digamos que você
trabalhou anos no negócio de padarias. Você sabe quais produtos são
essenciais para gerar interesse nos clientes, quais os preços dos insumos para
as produções diárias, bem como quais são as despesas fixas e também aquelas
não recorrentes, o preço que o cliente está disposto a pagar pelos produtos e
assim por diante. Embora todo negócio - seja ele uma padaria ou não - exija
contabilidade, marketing, jurídico, e vendas, existem aspectos específicos que
são exclusivos de cada nicho.
Warren Buffett aumentou as chances de sucesso na vida de investidor
quando definiu a fronteira do próprio círculo de competência, e investiu em
empresas estritamente dentro dele. Ele nunca foi chegado a empresas de
tecnologia, por não compreender bem o negócio delas. Ele preferia investir em
refrigerantes, doces e ketchup. Apenas após décadas de investimentos é que o
Oráculo de Omaha cedeu aos integrantes mais jovens de sua empresa e
resolveu comprar ações da Apple. Mas, em uma entrevista, Warren disse que
considera a Apple mais como uma empresa de consumo do que uma empresa
de tecnologia. E quando repórteres questionaram sobre esta ou aquela nova
empresa tecnológica que está bombando no mercado, não receou em dizer: “eu
não sei nada sobre ela”. Definir o círculo de competências é uma ferramenta
essencial.
E para nos ajudar a traçar nosso círculo de competência e compreender
também quais são nossas limitações, é preciso falar sobre um profissional que
entende muito bem sobre elas.
Jared Tendler é um dos maiores especialistas em desenvolvimento da
mentalidade vencedora em jogadores de golfe e poker. Ele possui como clientes
mais de 500 jogadores profissionais de alto nível, distribuídos ao redor de 45
países.
“ – Peraí! Qual a relação do golfe, poker e mundo dos investimentos? ”
Toda! As três são atividades que envolvem a utilização da capacidade
intelectual e necessitam de gerenciamento de todas as emoções para ser bem-
sucedido. Quem sucumbe nunca se torna um top player.
Em seu livro The Mental Game of Poker, Jared discorre sobre o Modelo
de Aprendizagem de Adultos (Adult Learning Model – ALM), que é uma teoria
que define os 4 níveis distintos do processo de aprendizagem. Eu a considero
fundamental para o desenvolvimento do aprendizado do investidor e também é
aplicável em outras esferas de nossa vida.
Nível 1 - Incompetência Inconsciente. Este primeiro nível é aquele que
você nem sabe o que não sabe.
Por exemplo, antes de começar a investir, já ouvia sobre investimento na
bolsa de valores e as notícias que pipocavam na tela do celular, TV e PC. Então
você se sentiu tentado a abrir uma conta na corretora e já estava pronto para
clicar no botão e “comprar” e “vender” do Home Broker. Você está pronto para
fazer parte do maravilhoso mercado! Mas você não sabe o que comprar, como
comprar, por quê comprar e nem sequer se aquelas cores verdes e vermelhas
na tela são ou não evidências de uma catástrofe ou céu de brigadeiro.
Nível 2 - Incompetência Consciente. Agora você se tornou consciente
do que não sabe. Você tem a total ciência de que não conhece certo assunto.
Isso significa que sabe quais habilidades precisa melhorar.
Você começou a entender que existem várias formas diferente se investir
na bolsa: day trade, swing trade, buy & hold, e assim por diante. Na hora de
analisar os ativos, também percebeu que pode escolher a análise técnica ou
análise fundamentalista. Você se tornou consciente de sua incompetência. Este
é o Nível 2.
Nível 3 - Competência Consciente. Se você alcançou esse nível, isso
significa que fez algum trabalho e/ou teve repetições suficientes para ganhar
alguma habilidade.
Depois de acumular várias horas estudando e colocando em prática os
conhecimentos, você é capaz de tomar decisões por conta própria, embora
muitas vezes ainda precise reconsultar materiais de estudo, livros, artigos e
opiniões de profissionais para decisões importantes. Embora você seja capaz de
executar o processo de investimento, ele ainda requer um foco e energia imenso.
Este é o Nível 3, ou Competência Consciente.
Nível 4 - Competência Inconsciente. Nesse nível, você aprendeu algo
tão bem que agora é totalmente automático e não requer raciocínio.
A competência inconsciente é o Santo Graal da aprendizagem e, de longe,
o conceito mais importante para um investidor de sucesso no longo prazo. Após
anos de estudo e prática, a capacidade de entender as empresas é uma segunda
natureza para você, como se fosse uma habilidade. Isso é maestria! Este é o
Nível 4, ou Competência Inconsciente.
Portanto, utilizando o Modelo de Aprendizagem de Adultos e adequando
ao mundo dos investimentos, chegamos à conclusão que para crescer e se
desenvolver como um investidor é essencial entender os próprios pontos fortes
e fracos, e também entender em que nível do ALM você se encontra. Pode se
beneficiar se dedicar tempo para considerar suas próprias habilidades e
capacidades através do ALM. Portanto, responda sinceramente a si mesmo as
seguintes perguntas:
1. Quais habilidades e tarefas são exigidas de você na hora de investir em
uma ação, fundo imobiliário ou renda fixa?
2. Como você avalia seus níveis de competência em cada uma dessas
habilidades e tarefas?
3. Qual é o seu plano para aumentar seu círculo de competência, de modo
que você alcance um nível de maestria ou competência inconsciente?
Ignorar suas fraquezas e competências não é a estratégia vencedora no
longo prazo. A consequência de não trabalhar em suas fraquezas e aprender o
novo pode ser a diferença entre ser um perdedor ou um vencedor sólido.
Evitar que isso aconteça é, na verdade, bastante simples: deve manter o
foco em aprender a correção de suas fraquezas até que seja treinado para
o nível de Competência Inconsciente. Fazer isso o mantém humilde, lembra
seus pontos fracos e é a maneira mais eficiente de melhorar.
Já percebemos que é necessária uma franqueza muito grande por parte
do investidor para reconhecer suas próprias limitações e falhas. Através da
aplicação do Modelo de Aprendizagem de Adultos, é possível um auto avaliação
que possibilita um grande avanço. Mas, já que estamos falando de fraquezas,
cabe ressaltar e assumir que temos a tendência de nos auto sabotar, como o Dr.
Alexander Elder sempre relembra.
Uma das formas para evitar que isso aconteça é justamente a adoção e
implementação de um método para o constante desenvolvimento. Tal método é
segmentado em preparação, execução, resultados, avaliação dos
resultados, análise, e novamente a volta para a preparação, execução,
resultados... e este ciclo permanece se retroalimentando.
Preparação. Aqui estão algumas coisas que você pode fazer para se
preparar melhor.
1. Sempre tenha em mente suas metas de longo prazo ao pensar sobre
seus investimentos.
2. Faça uma lista com seus principais erros na hora de investir. Não deixe
seu ego falar mais alto. Escreva os motivos que levaram você a cometer aqueles
erros. E aqui vale a pena ressaltar que podem incluir motivos pessoais também.
Por exemplo, você brigou com sua namorada e alguns minutos depois realizou
operações na bolsa sob o efeito de diversas fortes emoções.
3. Encare de frente a realidade. Leia suas anotações e comece a refletir
o que seria necessário realizar para não os cometer novamente.
4. Remova todas as distrações na hora de realizar um plano estratégico
para seu aperfeiçoamento. Isso inclui deixar seu smartphone longe do seu
alcance de visão, no silencioso. Também inclui fechar todas as abas do seu
navegador. Este momento é seu. Só seu.
Execução. Neste trecho não existe muito segredo. Você vai realizar
aquilo que acredita que deve ser realizado. Não tenha medo de executar. Como
diz o slogan da Nike: “Just Do It!”
Resultados. Esta parte difere da análise por um motivo muito importante:
ela precisa ser feita ou no momento ou logo após a execução. Então você
começa a analisar os resultados das ações que você realizou, e como elas foram
(ou não) compatíveis com o que você esperava.
A título de exemplo, Kobe Bryant, um dos melhores jogadores da história
da NBA, logo após uma partida, assistia todo o vídeo do jogo novamente, para
analisar seus resultados em quadra.
Avaliação dos Resultados. Aqui é a parte que exige uma análise mais
racional, objetiva, ponderada, longe do calor do momento. Você vai observar
todas as decisões difíceis que tomou e por qual motivo optou por elas naquele
momento. Escreva notas referentes a emoções e pensamentos que sentiu ao
tomar suas decisões importantes para ter uma visão mais objetiva sobre si
mesmo.
1. Quanto que os fatores psicológicos foram importantes para influenciar
os seus resultados?
2. Eles foram responsáveis por decisões que, em outro estado emocional,
seriam diferentes?
3. Os seus objetivos e metas estabelecidos na preparação foram
alcançados? Se você ficou aquém, por quê?
4. Em relação as áreas que está tentando melhorar, você viu algum
progresso?
Análise. Esta parte é quando você colhe todas as informações (sinceras)
que fez sobre si mesmo, e volta ao seu “Quartel General” para o próximo plano
de Preparação.
Então começa a analisar e a refletir sobre quais eram seus objetivos, se
os resultados foram de acordo com eles e por quais motivos conseguiu (ou não)
alcançá-los. E tudo aquilo que deu certo, você recoloca no seu novo plano de
preparação. Aquilo que deu errado, compreende quais emoções e fatores
psicológicos fizeram-no se auto sabotar, aceita-os como falhas que precisam ser
consertadas, e inicia um novo projeto com base na correção destes defeitos.
Você consegue imaginar o potencial que esta estrutura tem no seu
sucesso de longo prazo como investidor?
Acredito que você esteja balançando a cabeça positivamente agora. Mas
também está se perguntando: “- como posso reconhecer e trabalhar minhas
emoções de forma que meus investimentos não sejam contaminados pelas
irracionalidades do dia a dia? ”
Está na hora de avançarmos no estudo.

Um Cérebro Dividido em Dois

"A consciência da ignorância é o início da sabedoria." – Sócrates, filósofo


da Grécia Antiga (? - 399 a.C).

Os seres humanos são feitos de razão e emoção. Todavia, a proporção


entre estes dois é muito, muito, muito grande! Apesar de os seres humanos
terem uma capacidade de análise lógica, as emoções são muito mais fortes do
que possa imaginar.
Ouvi uma história muito interessante sobre razão versus emoção nas
pessoas. Infelizmente não me recordo quem foi o autor, mas vamos lá.
A emoção é um dragão enorme, cuspindo fogo pela boca e soltando
fumaça pelo nariz. A razão é um velhinho, corcunda, em cima de um banquinho,
com uma varinha mágica, domando o dragão. Ele consegue controlar o dragão
através de alguns comandos, mas o dragão pode a qualquer momento
simplesmente destruir o velhinho com uma baforada.
O que esta pequena história nos ensina?
Quando o sistema emocional se torna muito ativo, ele desliga o
sistema racional. Ou seja, se suas emoções estão muito altas, você tomará
decisões ridículas, porque seu cérebro desligou o motor racional.
E quais são estas as quatro principais emoções que nós temos? Raiva,
medo, motivação e confiança.
1. Raiva: vai do pequeno grau (uma pequena frustração) até o grau
máximo (um descontrole completo).
2. Medo: vai da incerteza até a fobia.
3. Motivação: vai da preguiça até a alta inspiração.
4. Confiança: vai da total falta de confiança até ao nível do se achar um
deus grego.
Existem inúmeras formas de contornar a influência das emoções.
Importante mencionar que não é para evitar as emoções, pois isso é impossível.
Ninguém consegue evitar de sentir emoções. E quando você busca reprimir
emoções, simplesmente as acumula até chegar ao estado de exaustão e
explosão completa (irritação ao nível máximo), afinal seu ‘copo sentimental’
somatiza o conteúdo emocional negativo até transbordar.
Você pode respirar fundo ou buscar meditação (aqui estou falando da
meditação com base científica e não nas inúmeras variações de meditação
religiosas que existem, apesar de respeitar todas as crenças e credos dos
indivíduos). Mas isto apenas vai amenizar o efeito colateral e não atacar a raiz
do problema.
Uma das principais ferramentas para atacar a raiz do problema
emocional nos investimentos é um pensamento racional sobre o longo
prazo. Afinal de contas, por qual motivo você investe? Por que está poupando
mensalmente? Quais são seus planos daqui a 10, 20, 30 anos? Com resposta
para estas perguntas, conseguirá ver claramente os motivos de estar fazendo o
que está fazendo e não se preocupará com as variações de curto prazo.
Quando estiver irritado com um investimento que não deu certo, com
medo porque o mercado não para de cair, altamente motivado porque uma ação
está subindo 50% em 2 meses ou se achando um deus grego porque sua carteira
está acima do CDI, precisa lembrar do horizonte de longo prazo.
Ela vai ligar novamente o botão da racionalidade, acalmar suas emoções
afloradas – sejam elas positivas ou negativas – e te lembrar o motivo de estar
neste jogo dos investimentos.
Você está se perguntando: “- então sentir emoções é ruim, certo? ”
Bem, eu posso te dizer que não. A emoção é essencial para o
desempenho. É só quando há muita ou pouca emoção que há um problema.
Isso é verdade tanto nas emoções positivas quanto nas emoções negativas. Ter
muita confiança é um problema, uma vez que desliga sua capacidade de pensar.
Estar cansado é um problema porque você não tem energia suficiente para
pensar. E assim por diante.
Para evitar que um problema emocional afete seu investimento, deve ser
capaz de reconhecer que isso está acontecendo. E para que isto aconteça,
existe uma ferramenta a alcance de todos: respiração profunda. O objetivo
principal de uma respiração profunda é criar uma separação entre você e sua
emoção para que possa injetar a lógica em suas ações e sair daquela
tempestade emocional que pode te colocar em problemas profundos.
Se suas emoções estiverem muito baixas - como ocorre quando você está
com sua motivação em baixa - use a respiração profunda para ativá-las. Se suas
emoções estiverem muito altas - como ocorre com problemas de ansiedade -
use a respiração profunda para acalmá-las.
Quando as emoções se acumulam durante longos períodos de tempo, a
intensidade da emoção pode ser tão forte que instantaneamente sobrecarrega
sua mente e capacidade de permanecer no controle.
Mas preciso ser honesto aqui. Quebrar a emoção acumulada exige
mais trabalho do que um simples exercício de respiração. A emoção é tão
intensa que rapidamente supera sua capacidade de pensar e, assim, sua
capacidade de permanecer no controle. A maneira de controlar a emoção atual
é resolvendo as emoções antigas. Quando há menos emoções para conter, tem
uma chance melhor de permanecer no controle. Vamos conhecer melhor
algumas emoções que podem estar na raiz de diversas outras emoções que
você sente.
A raiva, por exemplo, é uma emoção que tem raízes em um conflito.
Conflito nada mais é do que um desacordo entre duas ou mais pessoas. Pode
ser conflito de ideias, ações, ideologias..., mas a raiz da raiva é um conflito.
Quando a raiva não é resolvida, ela é levada para o futuro. Se você já se sentiu
como se fosse uma bomba tivesse explodido, é por causa da acumulação de
conflitos que desencadearam em raiva.
Outro exemplo bom de ser mencionado é o medo, que tem sua raiz na
ansiedade. E, por sua vez, ansiedade é um acúmulo de dúvidas ou
incertezas. Uma das principais ferramentas para lidar com este sentimento é
anotando os pensamentos que o fazem sentir medo. Colocar em um papel o que
está em sua mente permite que você veja os detalhes do seu medo de maneira
desapaixonada, mais objetiva.
Lembra que o lado racional só pode estar em alta, se o lado emocional
estiver em baixa, certo? Escrever é uma das maneiras mais rápidas de progredir
rapidamente. Isso limpa sua mente para que seja mais fácil pensar nas decisões
racionais.
Pegue aquilo que tem medo de acontecer e depois anote as respostas
das seguintes perguntas:
1. O que de pior pode acontecer?
2. Por que isso é ruim?
3. O que eu posso fazer?
4. Como eu me sentiria caso acontecesse?
5. Qual é a solução?
Responder a essas perguntas ajuda você a entender melhor o que está
causando seu medo. Então, se dirija diretamente ao seu medo, dissecando-o em
pedacinhos, encontrando algo produtivo para fazer a respeito.
Isto também lhe dará uma melhor percepção do que efetivamente você
pode e não pode controlar. Ao tentar controlar aspectos que não podem ser
controlados, se prepara para o fracasso. Gastar tempo e energia tentando
controlar as variações do mercado, significa que está menos concentrado em
garantir que esteja investindo em bons ativos.
Os erros são uma parte importante deste processo, por isso, temer os
erros sugere que você também tem medo de aprender.
Mas ainda faltam duas emoções entre as quatro principais. Duas emoções
que, à primeira vista, são semelhantes, porém, apresentam diferenças
importantes: a motivação e a confiança.
Motivação é a emoção ou energia por trás de alcançar seus objetivos.
É o combustível usado para realizá-las. Se está sem motivação, você tem
problemas com seus objetivos ou com a energia que precisa para alcançá-los.
A motivação é essencial para que você permaneça focado em seus
objetivos de longo prazo. Existem várias formas de motivação: lucrar em
investimentos, receber dividendos cada vez maiores, conseguir pagar despesas
pessoais através da renda passiva, perceber a melhora como investidor e
perseguir seus sonhos de independência financeira são ótimos exemplos para
motivação.
Quando você usa estas motivações, está em uma posição privilegiada
para atingir suas metas. Transforme seus sonhos financeiros em objetivos.
Pegue o sonho da independência financeira e faça um plano para torná-lo real.
Identifique o que vai levar, as habilidades necessárias para chegar lá e, talvez,
o que fazer quando a adversidade aparecer.
Já a confiança é aquilo que, na falta dela, faz os investidores
duvidarem de si mesmos, e o excesso dela, faz os investidores acharem
que são imbatíveis. A falta de confiança é muito comum quando os investidores
usam resultados de curto prazo para definir sua capacidade. Para evitar que a
variação de mercado faça você enlouquecer e jogar sua confiança no chão, você
deve fazer o seguinte:
1. Construa uma planilha com o histórico de seu crescimento patrimonial
ao longo dos anos.
2. Ignore ou se dessensibilize dos resultados de curto prazo. A intenção é
evitar que suas emoções passem por ciclos de falta de confiança ao excesso de
confiança à medida que seus resultados flutuam.
O seu nível de confiança determina muitas das suas decisões no mundo
dos investimentos e é importante que a sua confiança seja a mais estável
possível. É por isso que o objetivo é a criar uma confiança estável, nem de mais
nem de menos. Isso não significa que você se sinta robótico ou entorpecido. Na
verdade, é exatamente o oposto. Você está cheio de emoção, mas essa emoção
não está mais ligada a resultados de curto prazo e, ao invés disso, está ligada a
elementos do jogo que controla e com foco no longo prazo.
Como resultado, você acaba investindo melhor, tomando decisões mais
objetivas, mais consciente de seus pontos fortes e fracos, e com a cabeça mais
tranquila para sua vida fora do mundo dos investimentos.
Além disso, evita ficar deprimido ou sem confiança por causa das
variações do mercado, com um pensamento extremamente pessimista e
autodestrutivo, como se você fosse a pior pessoa do mundo. E, na outra ponta,
também evita que você fique eufórico quando lucra em alguma operação,
evitando que fique com a falsa sensação de que fazer dinheiro no mercado é
coisa fácil e não exige preparo.
A confiança deve ser construída em algo mais sólido do que apenas
resultados de curto prazo.
Lembre-se sempre que seus pensamentos racionais são menos
poderosos que suas próprias emoções. Lembra da história do domador e do
dragão? Não importa o quão mentalmente resistente você seja, as emoções
acumuladas podem dominar sua capacidade de permanecer no controle.
Você se recorda do que aprendemos sobre, logo após executar ações,
fazer uma análise dos resultados que derivaram daquelas ações? Isso é muito
importante se você quiser evoluir emocionalmente. É importante que você
catalogue melhorias nos piores aspectos de suas emoções. Se você estiver
progredindo, terá dados sólidos para fazer referência.
As emoções são tão fluidas que, sem ter um registro escrito, pode parecer
que nada melhorou, quando, na verdade, muitos aspectos melhoraram. Muitas
vezes os investidores não percebem que estão fazendo progresso e param de
fazer o que estava funcionando.
Ao ver essas pequenas melhorias, ganhará confiança e motivação extra
para continuar trabalhando em seu desenvolvimento emocional. Além disso, se
você não está melhorando, pelo menos tem provas e pode usar os dados
coletados para fazer ajustes em sua preparação visando se tornar um investidor
com psicológico inabalável.

5 Ferramentas Práticas Para Um Investidor Com Psicológico


Inabalável

"É mais fácil ficar longe problemas do que sair de problemas." - Warren
Buffett, investidor bilionário e o homem mais rico do mundo em 2008 (1930-?)

1. O Que Entra em Sua Mente Nutre o Que Sai Dela. Tudo é criado duas
vezes. Primeiro o mundo que criamos em nossa mente e depois aquilo que
executamos no mundo real. Se você consome um monte de matéria- prima ruim,
vai criar algo a partir da matéria prima que consumiu. É por isso que sou tão
hesitante em consumir meu tempo com canais de TV sem conteúdo, programas
de rádio sem nada de importante, sites que te tratam como um bobo, canais de
YouTube medíocres, livros ruins, etc.
Já aprendemos as armas que a mídia tradicional utiliza para prender
nossa atenção. E os métodos utilizados não necessariamente significam que são
os melhores para informar, educar e ensinar. Infelizmente, na grande maioria
das vezes, as informações prestam um desserviço financeiro, apenas
trabalhando o seu lado emocional, o fazendo perder o senso de controle.
Quando muda o que consome, você muda a maneira como pensa. O
próximo passo, quase que naturalmente, vai refletir em seus hábitos. Você se
torna mais focado e menos paciente com coisas desnecessárias. Os ruídos e
notícias perdem importância em seu processo de análise e decisões.
O investidor comum toma os limites do mundo de acordo com o material
que consome. Para enxergar mais longe, precisa se apoiar nos ombros de
gigantes. E hoje, no século XXI, os ombros não são apenas livros. Temos
excelentes podcasts, blogs, canais de YouTube com muito conteúdo bom.
Lembre-se que pequenas decisões diárias têm uma alavanca monstruosa
para o sucesso. E ele é alcançando proporcionalmente de acordo com as
oportunidades aproveitadas. Quando você não estabelece um consumo de
matéria-prima boa, não vê as oportunidades.
2. Leia Todos os Dias Suas Metas Financeiras de Longo Prazo.
Quando passa a ser um investidor, sua mente muda. Você deixa de ser
meramente um consumidor e passa a enxergar muitas coisas pelo lado do
criador, do empreendedor, do dono do negócio, do investidor! Isto faz com que
abra mão de algumas coisas relativamente supérfluas, que em nada vão agregar
ao longo do caminho de sua jornada rumo a independência financeira.
Algumas pessoas nunca vão entender este seu comportamento. Vão lhe
taxar de mesquinho, mão-de-vaca, arrogante, e algumas pessoas, em seu íntimo
mais profundo, irão te invejar pela sua força de vontade e dedicação em querer
algo melhor para o futuro. Alguns amigos, colegas de trabalho e familiares te
questionarão, duvidarão do seu sucesso e, em alguns casos, até te
abandonarão. Tudo isso devido a seu pensamento diferente da grande maioria.
Lembre-se: isso não é ruim. Claro que é doloroso e triste no curto prazo,
mas quando você muda de realidade muitas pessoas não vão querer te
acompanhar. Elas não conseguem enxergar os motivos de fazer isto, ou elas
simplesmente querem que seja como sempre foi, não atingindo patamares que
elas não conseguem chegar, devido à falta de dedicação, sacrifício e vontade
interna.
Se estas pessoas não aceitam o ‘novo você’, se elas não respeitam a sua
versão 2.0 que busca ser uma pessoa financeiramente independente no longo
prazo, talvez elas estão pensando mais em si mesmas do que querendo o melhor
para você. Aceitar isto faz parte do processo de crescimento. As pessoas que
realmente te amam sob quaisquer circunstâncias ficarão felizes pelo seu
processo de maturação, de assumir as próprias responsabilidades sobre o futuro
financeiro e te parabenizarão pela sua ousada decisão.
Uma das melhores formas de não se deixar levar pelas pessoas que
acabam te deixando pra baixo ou duvidando de sua nova visão financeira, é
nunca se perder no processo. Sempre pense no longo prazo, afinal a corrida
para o sucesso não é 100 metros rasos, e sim uma maratona.
Ao anotar seus objetivos em lugares visíveis (seu celular, sua agenda,
acima do seu computador, ao lado da sua cama) você sempre vai se lembrar o
porquê você está tomando certa decisão. Ao anotar as metas em um papel, fica
cristalino aos olhos o que é prioridade e onde a energia do dia a dia deve ser
focada. Tudo o que for fazer deve ser em favor dos objetivos. Se não for em favor
dos objetivos, não deve ser feito. Sem questionamentos, sem dúvidas, sem
remorso.
Portanto, faça uma leitura constante de seus objetivos, deixando-os
visíveis para entrar no mais profundo da sua mente. Eles vão se enraizar lá e
você irá a partir de um certo momento tomar todas as decisões voltadas em
direção a eles.
3. Máquina de Questionar, Perguntar e Aprender.
Um dos maiores investidores do mundo, Warren Buffett, junto ao seu sócio
bilionário Charlie Munger, são dois senhores com mais de 85 anos. E eles se
comportam como crianças na pré-escola. Eles têm uma sede de conhecimento
exatamente igual àquela que você tinha aos 5 anos de idade. Acontece que eles
mantiveram esta sede por décadas! Nunca supõem que já sabem o suficiente,
sempre estão dispostos a ler, estudar, ouvir, conversar, questionar.
Você deve sempre estar disposto a estudar mais. Nunca pare. Ao estudar,
aprender, questionar, pois desenvolve-se o senso crítico e evita-se inúmeras
ciladas.
Basicamente, o dinheiro está no conhecimento. Quanto mais você
aprende mais ganha. Então suba as escadas degrau por degrau. Comece
estudando pessoas mais ricas que você. O que elas fazem? Qual é a
mentalidade delas? Quais são as fontes de renda? Como elas planejam o dia a
dia? E a semana? E o mês? E o ano? Depois estude os milionários. Depois
multimilionários. E então os bilionários.
O sucesso financeiro de longo prazo possui pouca relação com o que
estuda no ensino fundamental, médio ou superior. Além dos níveis básicos de
inteligência do sistema tradicional de ensino, desenvolver uma inteligência
acadêmica não vai obrigatoriamente te tornar um investidor de sucesso no longo
prazo. Desenvolver inteligência emocional prática tem muito mais impacto na
qualidade de sua vida e no sucesso financeiro de modo geral.
Existem inúmeros acadêmicos nota 10 que não dispõem de
motivação, iniciativa, resiliência e ambição, fatores necessários para ser
um investidor bem-sucedido no longo prazo. Portanto, não basta as
credenciais acadêmicas para ser bem-sucedido financeiramente. Promover a
própria educação possui uma relação primordial com a sua vida financeira. Ao
investir nela, você incrementa sua capacidade de gerar receita ao longo do
tempo. O seu capital humano é o maior investimento. Se investir nele, ele nunca
te deixará na mão.
Warren Buffett cursou uma universidade. E após formado, durante
algumas fases de sua vida, lia e estudava mais de 100 páginas por dia. Será que
foi o conteúdo da faculdade ou foi o conteúdo desta educação feita por ele
mesmo que fez a diferença em sua vida como investidor?
E aqui não é apenas uma leitura rápida. É uma leitura para absorver o
conteúdo, entender, questionar, e realizar anotações importantes. Não precisa
seguir o ritmo frenético alucinante de Buffett, mas veja como isto foi algo
fundamental para que ele alcançasse o sucesso que alcançou.
Mas se você é uma pessoa ousada como Buffett, mais agressiva na hora
de estudar, eu gostaria de te dar uma dica para se auto motivar nos estudos.
Quero que você mantenha em sua mente uma imagem de um estudante
chinês. Enquanto você toma chope gelado, ele estuda. Enquanto você reclama
da falta de resultados na vida, ele estuda. Enquanto você joga vídeo games, ele
estuda. Enquanto você vê pornô, ele estuda. Enquanto você fica em sua cama
até o meio dia, ele estuda...
Coloque essa imagem deste chinês obsessivo em sua cabeça como se
fosse o seu maior desafiante. Nada contra chineses! Eu apenas os escolhi
porque são um povo muito dedicado ao trabalho, a poupar, investir e crescer! Se
realmente é mais obsessivo com o conhecimento, eu quero que crie este desafio
mental para si. Isto só vai te beneficiar no longo prazo.
Não esqueça que é altamente recomendável que as grandes mudanças
de sua vida sejam lentas, graduais e seguras. Movimentos bruscos costumam
mais causar problemas do que ajudar. Portanto se você não lê nem rótulo de
cereal matinal, não vire o mundo de cabeça para baixo do dia para a noite.
Comece fazendo a transição gradualmente, de forma que você vá se adaptando
a tudo de diferente que vai começar a vivenciar.
Todo dia deve buscar ser melhor do que no dia anterior. Como dizem os
membros da elite da Marinha Americana - Navy Seals: “o dia mais fácil foi
ontem.”
O que deve fazer é uma mudança gradual, consistente, e que prevaleça
no longo prazo.
4. Controlar o Que É Controlável. Vivemos em uma era em que as
pessoas sofrem de síndromes de pânico e ansiedade dos mais diversos tipos.
Não estou falando que estas doenças não existam. Existem e merecem toda a
atenção da psicologia e psiquiatria. São matérias seríssimas!
Mas tenho certeza de que muito do que vejo no campo dos
investimentos poderia ser controlado – e até mesmo eliminado – se fossem
adotadas algumas premissas psicológicas. Estudamos anteriormente que
você não controla o mercado, as variações dos preços das ações, as políticas
econômicas e nem as decisões dos governos. Mas tem o poder de gerir e
canalizar as suas emoções para algo produtivo. Se você se controla,cria um
estado mental positivo. Portanto, focar no que está fora do seu alcance é tão
somente uma ponte para ansiedade e pânico.
Comece a utilizar modelos mentais que já estudamos. Eles são uma fonte
de autocontrole e inteligência emocional. Isso se chama modelagem.
Modelagem é quando percebe alguém que pensa como você gostaria de pensar,
e começa a se educar, pensar e fazer as coisas que ela faz, tomando as atitudes
que aquela pessoa já fez.
Como regra, todos os investidores têm a tendência de se auto sabotar.
Somos nossos principais inimigos na jornada rumo a independência financeira.
Mas se o investidor estudar, ser disciplinado, ter objetivo, foco, e tentar controlar
apenas o que pode ser controlado, ele vai se transformar na exceção. Não é
fácil, e também não é instantâneo. Mas o resultado é incrivelmente
recompensador.
5. Complacência e Soberba: o Início da Queda
Logo que você começa a estabelecer uma rotina diferente, passa a
perceber resultados diferentes. E estes resultados positivos inegavelmente o
farão se tornar confiante.
O mais interessante é que não é apenas os mercados que possuem ciclos
de altas e baixas. O investidor também! O ciclo da vida de um investidor costuma
ter 13 estágios:
1. Ele dá duro nos estudos, controle de risco e preparação psicológica;
2. Uma performance aparece;
3. Começa a sentir o gosto de ser vitorioso;
4. Fica orgulhoso;
5. Mais algumas vitórias aparecem, devido a confiança estar nas alturas;
6. Começa a se sentir imbatível, se torna soberbo;
7. Toma riscos bobos e até alguns idiotas;
8. Algumas derrotas começam a aparecer;
9. Ainda muito confiante, dobra as teses de investimento perdedoras;
10. O mundo desaba em sua cabeça;
11. Vai ao fundo do poço;
12. Entra em estado de choque, negação e depois depressão;
13. Sacode a poeira e resolve mudar.
Então ele começa a se dedicar novamente nos estudos, controle de risco,
e desenvolvimento psicológico. Uma performance aparece. Começa a sentir o
gosto de ser vitorioso. Fica orgulhoso...e o ciclo se repete.
Perceba como funciona o ciclo. O mais importante a compreender aqui
é que é possível evitar a parte da queda, ou pelo menos minimizá-la, se
mantiver uma mentalidade de que é sempre evoluir e crescer. A partir do
momento que você se sente imbatível e insuperável, acaba não trabalhando tão
duro para continuar se desenvolvendo justamente os pilares que o levaram a
alcançar o sucesso.
John Fitzgerald Kennedy, um presidente norte americano, falava aos seus
amigos que quando ficasse tranquilo e sossegasse, estaria vivenciando o
primeiro dia de sua derrota. Olha que mentalidade maravilhosa!
Independentemente de você gostar dele, das políticas e das ideologias de seu
partido, absorva esta mentalidade para sua vida de investidor. Não pare nunca.
Sempre tenha em mente que existe alguém melhor do que você em alguma
coisa. E mantenha uma vontade insaciável de aprender.
Agindo desta forma, o seu ciclo será muito mais promissor do que as
pessoas que sentam nos louros da vitória e precisam de diversos reveses para
acordar para a vida.
PARTE 2 – CONSTRUÇÃO DO PATRIMÔNIO

“Todos os multimilionários que construíram suas próprias riquezas,


fizeram através de um processo orquestrado. Apesar do que você pode ter lido
ou ouvido, a riqueza não é um mero acontecimento. Todos os eventos de riqueza
são precedidos por uma história de análises, riscos, trabalho duro e sacrifício.
Se você ignorar o processo, nunca experimentará a verdadeira riqueza. ” – MJ
De Marco, empreendedor americano multimilionário.

No capítulo anterior você aprendeu as ferramentas necessárias para


desenvolver a base psicológica para enfrentar os altos e baixos do mercado. A
estrutura mental adequada para a construção do patrimônio foi assentada.
A preparação emocional é muito importante, mas ela sozinha não resolve
tudo. É preciso que o investidor também coloque em prática algumas estratégias
e ferramentas que estão ao seu alcance para evitar grandes perdas patrimoniais.
E aqui começamos a falar sobre outro aspecto importante: A preservação
patrimonial.
Os ciclos do mercado invariavelmente apresentam expansões e
contrações, altas e baixas, euforias e depressões. E, intransponivelmente ,
surgem diversos gurus de mercado dizendo para as pessoas o que acontecerá
no futuro com a ação X, o fundo imobiliário Y, com a economia e com o mercado
como um todo.
Ninguém pode prever o futuro. Todo mundo perde. Todo mundo ganha.
Não existe nenhum investidor bem-sucedido que nunca tenha cometido erros. O
sucesso é um processo lento e nem sempre particularmente estável.
Os cérebros dos humanos criam histórias sobre o mundo, sobre eventos
passados e presentes, para dar algum sentido aos eventos excessivamente
caóticos e avassaladores. É por isso que existe uma legião de gurus, analistas,
apresentadores e repórteres criando narrativas um tanto quanto convincentes.
Já aprendemos que se deixar levar pelas narrativas da mídia não é algo
benéfico para o investidor. Deve sempre analisar os fatos e não se focar nas
narrativas. Não fique convencido com o que lhe chega até os olhos e ouvidos.
Analise o que realmente é verdadeiro daquilo que é meramente um exercício de
futurologia.
Em relação especificamente aos gurus de mercado, saiba que a fama
deles tende a durar de 2 a 3 anos e coincide com as principais fases do mercado
de alta. Desde que comecei meus investimentos, percebi o crescimento, auge e
derrocada de inúmeros gurus. Todos os gurus um dia caem. E o início da
derrocada é quando começam a frequentar programas da mídia com alta
audiência. A partir deste momento é questão de tempo que comece a queda.
Mas qual o motivo de eles serem tão requisitados? O público tem
ansiedade sobre o futuro. As pessoas querem que alguém dê conforto a elas,
oferecendo suas previsões sobre o que vai acontecer. A grande massa quer
gurus, e os gurus aparecerão. Mas eu nunca conheci nenhuma pessoa que
construiu um patrimônio no longo prazo seguindo à risca algum guru.
Todos os investidores de sucesso assumiram as responsabilidades pelas
próprias decisões. Isso não significa não ouvir opiniões alheias. Significa apenas
não seguir de olhos vendados a tudo que lhe é apresentado.
Então você deve deixar de se iludir. Pare de acreditar que os gurus vão te
tornar o próximo milionário. Provavelmente eles não estarão mais aí no próximo
ciclo de baixa.
“-Mas então o que eu posso fazer para me proteger do sobe e desce do
mercado? ”
Se quer realmente estruturar um patrimônio sólido, existem algumas
premissas que precisa atender.
1. Decida quais são seus objetivos. Já falamos sobre isso antes, mas é
preciso que tenha traçada as suas metas financeiras. Caso contrário, você será
como um barco à deriva: sem direção e sem propósito.
Um dia ruim, ou semana de queda, um mês de baixa e ano negativo não
são nada no mundo dos investimentos. Um ano pode parecer uma eternidade,
mas os sentimentos que você está nutrindo sobre um ano negativo nada mais
são do que meros sentimentos. E fatores emocionais não são uma estratégia de
investimento.
2. Nunca confie em apenas uma ação ou classe de ativos. Iremos
estudar nos capítulos a frente sobre gestão de risco. Mas posso lhe adiantar que
não há razão para investir pesado em uma única classe de ativos. Apostar seu
futuro financeiro em uma ou duas ações é um risco muito elevado. Você pode
evitar grandes baques se diversificar entre empresas sólidas, com
características que também vamos estudar mais à frente.
Um portfólio de sucesso é aquele que o investidor não sofre grandes
perdas quando uma empresa, fundo imobiliário ou até mesmo uma classe de
ativos sofre baixas consideráveis em épocas ruins do mercado.
3. Aja de uma forma que minimize suas taxas, custos de transações
e impostos. Já estudamos que as emoções, quando não bem gerenciadas,
tornam-se o inimigo número um do investidor. Mas saiba que o inimigo número
dois vem em forma de trio: corretagens, taxas e impostos.
A maior despesa da sua vida serão os impostos. Pagar mais do que o
necessário é insano. Então sempre se deve buscar minimizar – dentro da lei – o
quanto de impostos paga. Vamos estudar mais à frente que quanto mais tempo
ficar com certos investimentos, menor será a alíquota de impostos aplicável.
Todos os investidores bem-sucedidos têm um atributo em comum.
Eles sabem que não é o que ganham que conta. É o que eles mantêm após
as taxas, custos de transações e impostos. Isso é, de fato, o dinheiro real que
eles podem gastar ou reinvestir. Sempre que analisar um investimento, pense
se aquele retorno é líquido, ou seja, após todos os tributos, taxas e demais
custos embutidos.
Outro ponto importante é os gastos com corretagens. Quanto mais você
fizer operações de compra e venda, mais gastará com este item. E adivinhe só?
Agindo desta forma está dificultando sua própria jornada.
Turnover é o termo para a quantidade de “giro” que você tem em seus
investimentos, o famoso e eterno “compro isto”, “vendo aquilo”. Historicamente,
quanto mais turnover você tem, menor será seu desempenho de longo prazo.
Se você compra uma ação ou fundo imobiliário e não pretende ficar pelo menos
pelo prazo de 5 (cinco) anos, provavelmente seu índice de turnover será bem
alto. Busque manter os ativos valiosos por maior tempo possível. Isso possibilita
que as coisas trabalhem a seu favor.
E por fim, temos os custos com as taxas. Existem alguns investimentos
que cobram taxas de administração. O problema não é cobrar um pequeno
percentual, e sim quando estas taxas interferem na rentabilidade futura do
investimento de modo exorbitante.
Cada real que você não gasta com taxas, comissões de corretagem
e impostos é uma fração que pode ser utilizada para investir em mais
ativos. O que parece ser uma pequena quantia de dinheiro todo ano pode custar
centenas de milhares, ou mesmo milhões, de reais em riqueza perdida que você
nunca poderá recuperar.
4. Liquidez. A liquidez é tão importante quanto um bom retorno. Liquidez
é o acesso imediato que você tem a dinheiro para ser utilizado hoje (ou pelo
menos em pouquíssimos dias). Quando surge uma emergência médica ou uma
oportunidade de investimento, é preciso ter liquidez.
Quais são as suas necessidades de liquidez? Alguns investidores seguem
regras como sempre manter pelo menos 10% de seu patrimônio em caixa ou
investimentos com liquidez diária (possibilidade de resgar o dinheiro no mesmo
dia). Outros se sentem mais confortável aplicando 20% em investimentos com
liquidez imediata. A resposta correta depende de seu perfil, das suas
necessidades, do padrão de vida, das responsabilidades e o principal: do teste
do travesseiro. Se você colocar a cabeça nele e ficar pensando muito a respeito,
significa que deve alterar suas proporções porcentuais.
Além destes pilares fundamentais para a construção sólida de um
patrimônio, existe também o controle de risco. Então iremos aprender um pouco
mais sobre este importante tópico nas próximas páginas.

Gestão de Risco

“Meu conceito de risco é diferente do conceito acadêmico. Ele é mais


simples e objetivo. Risco nos investimentos está 100% relacionado ao grau de
impacto no seu padrão de vida. Se não afeta o seu padrão de vida, não tem risco.
Se afeta, tem risco. ” - Robson Correa (isto mesmo, eu acabei de me citar).

Muitos sustentam que as coisas boas da vida são arriscadas. Deixe-me


explicar algo sobre risco. Risco é subjetivo. A velha afirmativa de que
recompensa é proporcional ao risco é razoavelmente correta. Mas, assim como
toda regra, existem exceções. O risco está presente em toda nossa vida. Todas
as decisões apresentam riscos. Ocorre que a recompensa nem sempre é
proporcional ao risco.
Se você tem a chance de ganhar R$ 1 milhão de reais criando postagens
engraçadas e visualmente bonitas no Instagram, o seu maior risco é não fazer
sucesso e perder um pequeno capital investido, comprando um smartphone com
câmera decente e softwares de edição. Qual efetivamente é este risco de
impactar sua vida? Ínfimo. Qual é a recompensa financeira? Grande. Este é o
típico exemplo que foge do tradicional eixo risco proporcional a recompensa.
Vamos a outro exemplo: se você receber uma boa grana apenas para cair
na piscina com o nadador mais vitorioso da história, Michael Phelps, qual seria
o seu maior problema? A menos que saiba fazer o suficiente para não morrer
afogado, o seu maior problema será passar vergonha em perder para … Michael
Phelps!
Um ponto importante para tomar riscos é que eles precisam ser
razoáveis de serem assumidos. Jogar todo o salário na loteria definitivamente
não é um exemplo de risco inteligente. As probabilidades de ganhar na loteria
são as mesmas de ser acertado por um raio durante uma tempestade. Apostar
todo o salário em um bilhete é sinônimo de ousadia? Até pode ser. Mas a ousadia
deve ser combinada com oportunidades de risco assimétrico, ou seja, quando a
recompensa é exponencialmente maior que o risco assumido. Obviamente não
é o caso do trabalhador que apostou todo o salário na loteria.
Durante nossa vida de investidor, existem oportunidades onde o risco é
menor do que a possibilidade de recompensa. E estas, quando ocorrem, tem um
potencial interessante na acumulação de riqueza no longo prazo.
Para evitar os altos e baixos do mercado não é preciso pagar os serviços
de guru. Existe algo muito mais efetivo que é controlar seu risco. Lembre-se que
o primeiro objetivo da gestão de risco é conservar seu patrimônio. É
sobreviver. Você deve evitar riscos que o expulsem do mercado, ou seja, que
dilapidem o seu patrimônio quando um evento X ou Y acontecer.
Para os traders, ou seja, investidor de curto prazo, vários testes
demonstraram que o valor máximo que eles podem perder em uma única
operação, sem danificar suas perspectivas de longo prazo é 2% de seu
patrimônio, incluindo taxas e corretagens. Portanto, caso seu patrimônio seja de
R$ 20.000, você não pode arriscar mais de R$ 400 num único trade. A maioria
dos profissionais bem-sucedidos, por outro lado, considera o limite de 2% muito
alto. Eles não se permitem arriscar mais de 1% ou de 1,5% de seu patrimônio
em uma única operação.
Isso não se aplica apenas aos traders. Também se aplica para
investidores que seguem uma filosofia de menos operações, corretagens e maior
foco no longo prazo. E para ambos existe uma regra muito importante de ser
seguida.
A primeira regra é: nunca dê all-in.
Quem joga poker, sabe o que significa. Quem não joga, vale uma pequena
explicação. All-in é quando o jogador de poker confia tanto em sua mão, que
simplesmente aposta todas as fichas nela. Se ele estiver errado, ele perde tudo
e cai fora do jogo.
Por mais atrativo que isso aparente, não faça isso com seus
investimentos. Independentemente de ser uma ação, fundo imobiliário ou título
de renda fixa. Dimensione seus investimentos deliberadamente e com cuidado.
Investir uma pequena parte do portfólio em alguma ação que soa mais
como uma “aposta maluca” é possível e não há nenhum problema em relação a
isso, desde que isto não altere profundamente o seu patrimônio.
O que é inconcebível (e infelizmente o que muitos iniciantes fazem) é dar
uma grande tacada, ou seja, all-in em uma ação. Caso valorize, aquela ação
pode dar uma reviravolta financeira na vida da pessoa. E na maioria dos casos,
realmente a reviravolta acontece. Mas para pior. É comum ver casos de
investidores que perdem boa parte dos investimentos em uma aposta
equivocada. Um investidor sério com foco no longo prazo nunca deve fazer tais
apostas.
E este conselho também vale para a manias. Desde que o mercado existe,
de tempos em tempos, surgem manias e euforias sobre determinada ação, setor,
país ou tecnologia. Houve uma época, que bastava acrescentar “.com” ao final
de uma empresa, e suas ações disparavam de preço. Muitas pessoas investiram
as economias da vida toda comprando as ações de tecnologia no começo dos
anos 2000, até que inevitavelmente a bolha estourou. Houveram ações que eram
negociadas a mais de US$ 1 mil dólares que se transformaram em US$ 0,80
centavos de dólar. Cruel, não?
Você precisa gerenciar seus riscos antes de precisar, e não somente
quando precisar. É necessário partir da premissa da conservação do patrimônio,
certificando-se que você não vai ser expulso do mundo dos investimentos como
um jogador de poker que perdeu tudo em um all-in. Jamais corra riscos que
possam causar danos irrecuperáveis ao seu capital.
Muitas pessoas quando são expulsas do mercado culpam o próprio
mercado. Não conseguem perceber (ou não querem aceitar) o fato de que foram
as próprias responsáveis pela expulsão e pela perda do capital. O mercado não
pune você, apenas pessoas que possuem uma mentalidade perdedora pensam
assim. O mercado não se importa com você. Se ganha ou perde, ele é
indiferente. Pare de odiar todos que estão à sua volta, comece a olhar para
dentro de si e se permita aceitar que é infalível. Este é o primeiro passo para o
aprendizado produtivo.
Atreva-se a estar errado. Atreva-se a pensar de forma diferente, seja
contrário. Mas faça tudo isto com um controle de risco. Não comprometa seu
patrimônio pensando que é um gênio das finanças. Inevitavelmente você estará
errado de vez em quando, então escolha seus investimentos sob a premissa de
preservação patrimonial. Desafie suas crenças, procure evidências que
contrariem suas convicções atuais. Inevitavelmente estará errado em algumas
situações e sempre deve se precaver dos pontos cegos em sua pesquisa, seus
argumentos e teses de investimentos.
“- E como eu faço para me precaver na prática? ”
É isto que vamos estudar juntos a partir de agora.

Alocação de Ativos

“Ao possuir 15 investimentos não correlacionados, você pode reduzir o


seu risco geral em cerca de 80% e você aumentará a taxa de retorno ao risco
por um fator de cinco. Então, em outras palavras, seu retorno é cinco vezes
maior, reduzindo esse risco. ” – Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates,
o hedge fund que mais retornou lucro aos cotistas na história (1949 -?)
Já percebeu que o princípio número um da gestão de patrimônio no longo
prazo é não perder dinheiro. É claro que uma vez ou outra um investimento irá
performar mal. Em contrapartida, os outros vão compensar aquele que não foi
bem, e no longo prazo a tendência precisa sempre ser do crescimento
patrimonial.
A primeira pergunta que todo grande investidor faz constantemente é:
“como posso evitar perder dinheiro?” Isso é o pensamento oposto da maioria dos
iniciantes: “- como posso ganhar dinheiro”?
Devemos sempre esperar o inesperado. Temos de investir em formas que
nos ajudem a evitar surpresas desagradáveis. A diversificação é uma das
melhores e mais eficientes ferramentas para evitar estes problemas. Diversifique
em diferentes classes de ativos. Evite colocar todo o seu dinheiro em uma classe
única de ativos, sejam eles imóveis, fundos imobiliários, ações, títulos públicos,
CDB ou qualquer classe de investimento.
É importante diversificar entre mercados, países e moedas em todo o
mundo. Vivemos em uma economia global, portanto, não cometa o erro de
investir apenas em seu próprio país. E se o assunto é diversificação, vale a pena
falar sobre Ray Dalio.
Ray cresceu em um bairro de classe média em Long Island, uma ilha
situada no sudeste do estado de Nova Iorque, próximo a ilha de Manhattan. Aos
12 anos de idade trabalhava auxiliando jogadores de golfe no Country Club da
região, e ficava ouvindo eles conversarem sobre ações da bolsa de valores.
Foi nesta idade que Dalio começou se interessar por investimentos. Em
1975, ele criou sua empresa: Bridgewater Associates. A sede ficava em seu
apartamento de dois quartos em Nova York. Hoje, ela é a maior empresa de
fundos de hedge do mundo, administrando US$ 160 bilhões.
Ray Dalio é o criador da Teoria All Weather, que em uma tradução
simplista, é a teoria aplicada aos investimentos para ser utilizada em qualquer
época do mercado. De acordo com Dalio, há 4 fatores que afetam o valor dos
ativos:

Inflação Crescimento econômico crescente


O aumento nos preços de bens e Quando a economia floresce e
serviços - e a queda no valor de cresce.
compra de uma moeda.
Deflação Declínio econômico
A diminuição dos preços de bens e Quando a economia diminui e
serviços. encolhe.
Com base nesses elementos, Dalio diz que podemos esperar quatro
estações diferentes pelas quais a economia pode passar (por isso o nome All
Weather). São elas:
1. Inflação acima do esperado (aumento dos preços).
2. Inflação abaixo do esperado (ou deflação).
3. Crescimento econômico superior ao esperado.
4. Crescimento econômico abaixo do esperado.
Então, a partir destas estações, Ray Dalio construiu um portfólio com
ativos que podem apresentar um bom desempenho em qualquer uma destas
situações. O resultado é um portfólio diversificado que pode consistentemente
preservar seu patrimônio e buscar um crescimento durante o longo prazo.
Ao verificar como que o All Weather Portfolio performou ao longo dos
anos, se verifica que foi uma estratégia que produziu resultados positivos em
85% dos anos durante o período de 1984 até 2013. E nos anos onde houve
retorno negativo, a perda foi, em média, de menos de 2%
Os ativos que Ray costuma colocar no All Weather Portfolio são divididos
desta maneira: Títulos de Renda Fixa de Longo Prazo 40%; Ações 30%;
Títulos de Renda Fixa de Médio Prazo 15%; Ouro 7,5%; Commodities 7,5%.

Mas antes que você feche o livro agora e corra para o seu Home Broker
para comprar os ativos nas proporções indicadas por Ray Dalio, eu quero
mencionar algo bem importante.
Os números porcentuais de cada ativo não são a grande sacada do All
Weather Portfolio e sim a diversificação entre os ativos! Estes números exatos
são os que o Ray Dalio se sentiu confortável em praticar para si, mas nada
impede que você estabeleça porcentuais diferentes. O que é importante ficar
registrado é a diversificação entre os ativos e sua importância para reduzir
os impactos de eventuais crises. Isto, pelo que todas as evidências
demonstram, foi possível com uma filosofia semelhante ao All Weather Portfolio.
E para comprovar que os números do Ray Dalio não são absolutos, vale
a pena conhecer David Swensen, responsável pelo crescimento anual médio de
13,5% do endowment (fundo que recebe e investe as doações) da Universidade
Yale.
Swensen assumiu a gestão do endowment de Yale em 1985, quando o
valor do portfólio da universidade era inferior a US$ 1 bilhão. Sob sua gestão, o
fundo atingiu US$29.4 bilhões em 2018. Ao longo de sua atuação, David criou o
Yale Model e escreveu um livro sobre seu modelo chamado Pioneering Portfolio
Management.
No livro ele afirma que “a verdadeira diversificação significa possuir ativos
que respondam de maneira diferente às forças fundamentais que impulsionam
os mercados. ” Outro ponto muito importante que ele destaca em sua obra é que
“o propósito fundamental está no controle do risco, não na busca pelo
maior retorno. Investidores inteligentes devem ter um saudável senso de
ceticismo. ” Então vamos entender um pouco melhor das estratégias utilizadas
por Swensen.
Segundo ele, quando dois ativos (podem ser ações, fundos imobiliários,
títulos públicos, debêntures, etc.) respondem de maneira oposta, esses ativos
pertencem a classes de ativos diferentes. Então é necessário realizar uma
diversificação entre estes ativos.
“-Mas por quanto tempo essa diversificação deve ocorrer? ”
O prazo para se ter em mente é sempre o longo prazo. Swensen
menciona que a escolha de um período de tempo longo representa
compensações interessantes para quem realiza este tipo de diversificação. Os
prazos mais longos fornecem uma imagem mais robusta dos retornos da classe
de ativos e suas correlações com outras classes de ativos.
Ele inclusive demonstra que, muitos dos endowments das universidades
americanas contam com fundos que não são propriamente diversificados, o que
é um tremendo contrassenso às estatísticas, probabilidades e história dos
mercados. Alguns dados são bem interessantes de se analisar, então vamos a
eles.
1. A maioria dos endowments americanos incluem em seu portfólio muitas
ações norte-americanas. As ações domésticas dominam a maioria das carteiras,
com uma média de 42% dos ativos. Já nos endowments de Yale, Harvard,
Princeton e Stanford (que são aqueles que possuem os melhores retornos na
história) elas representam apenas 15%.

2. Os títulos públicos americanos correspondem por 20% da carteira dos


endowments americanos, enquanto que nos endowments de Yale, Harvard,
Princeton e Stanford eles correspondem por 11%.

3. As participações em Venture Capital, imóveis, REITs (fundos


imobiliários americanos), empresas privadas não negociadas em bolsa, start ups
e demais ativos não tradicionais correspondem a 40% da carteira dos
endowments de Yale, Harvard, Princeton e Stanford. Já nos fundos das outras
universidades correspondem a 10%.

Um dos principais motivos para Swensen gostar de investimentos


alternativos é justamente porque eles não possuem correlação significativa
com os investimentos tradicionais (ações e títulos públicos, por exemplo).
Então quando existe uma queda no mercado de ações, a carteira como um todo
não sofrerá grandes impactos.
Mais uma vez estamos diante de um exemplo da importância da
diversificação e alocação de diferentes ativos no portfólio. Saliento que você não
precisa executar à risca as estratégias de David Swensen. Até mesmo porque
ele tem US$29.4 bilhões para gerir em seu fundo, e conta com muitos
funcionários e analistas sob seu guarda-chuva para estudar inúmeras
oportunidades de investimento alternativo ao redor do planeta. Este cenário não
é a realidade do investidor pessoa física. Então, como sempre diz o Ray Dalio:
“devemos encarar a realidade como ela é.”
Mas você pode extrair a essência das lições apresentada por Swensen e
Dalio. A diversificação é um dos principais pilares para a construção de um
patrimônio sólido, à prova das grandes crises e recessões que invariavelmente
atingem os mercados.
O que mais nós aprendemos analisando estas duas lendas da gestão de
investimentos? Também percebemos que eles têm a mesma preocupação
número um de todo investidor bem-sucedido: proteger o patrimônio antes de
pensar em crescê-lo. As técnicas e estratégias podem ser diferentes, mas o
modelo mental é o mesmo: conservar o patrimônio e evitar grandes perdas
através de uma boa gestão de risco.
-“Mas como que eu faço para escolher especificamente quais ativos incluir
em meu portfólio? ”
É isso que nós vamos aprender um pouco mais a partir dos próximos
capítulos.

Ações

"O truque não é aprender a confiar nos seus sentimentos, mas sim se
disciplinar a ignorá-los. Mantenha suas ações desde que a história por trás dos
fundamentos da empresa não tenha mudado". - Peter Lynch, gestor do fundo de
ações Magellan, que produziu uma rentabilidade anual de 29,2% durante os 13
anos em que ele geriu o portfólio (1944 -?)

Os investidores mais bem-sucedidos do mundo gostam de alocar uma


boa parte de seus portfólios em ações. Mas existe alguma base sólida para isto?
As evidências estão a favor ou contra o investimento em ações? O primeiro
grande estudo que vale a pena apresentar é do professor Jeremy Siegel, da
Universidade da Pensilvânia.
Ele compilou dados e retornos históricos de várias classes de ativos dos
Estados Unidos de 1800 até 2003. Nesse interim, os Estados Unidos passaram
por 3 períodos. De 1800 a 1870, o país era extremamente agrário e iniciou uma
transição para uma economia industrializada. O segundo período abrange 1871
até 1925, em que os EUA se tornaram a principal força política e econômica do
mundo. O terceiro estende-se de 1926 até os dias de hoje, e abarcam fases
muito significativas para os investimentos: a Grande Depressão em 1929, a 2ª
Guerra Mundial, a bolha das empresas de tecnologia e a Grande Recessão em
2008.
Siegel analisou os seguintes ativos: ações, títulos do governo, ouro e dólar
americano. O retorno total inclui juros e dividendos, e presume que os
rendimentos recebidos são automaticamente reinvestidos ao longo do tempo.
Qual foi a conclusão do estudo?
Durante os 2 séculos de dados, o retorno das ações predominou sobre
todos os outros ativos. O valor de US$1 investido em uma carteira ponderada
de ações no ano de 1802 teria alcançado US$ 13,5 milhões ao final de 2012.
Se um investidor investisse US$ 1,33 milhões de dólares no mercado
acionário em 1802, e reinvestisse os dividendos, ele teria em 2012 nada menos
do que US$ 18 trilhões de dólares, ou seja, o valor global de todas as ações
americanas ao final daquele ano. Em outras palavras, ele teria a mesma
quantidade de dinheiro do que o valor de todas as empresas somadas da bolsa
americana.

Classe de Ativos Retorno Anualizado Sem Inflação


Ações 8,1%
Títulos Públicos de Longo Prazo 5,1%
Títulos Públicos de Curto Prazo 4,2%
Ouro 2,1%
Dólar Americano 1,4%

Classe de Ativos Retorno Anualizado Com Inflação


Ações 6,6%
Títulos Públicos de Longo Prazo 3,6%
Títulos Públicos de Curto Prazo 2,7%
Ouro 0,7%
Dólar Americano -1,4%

O foco dos investidores de longo prazo é aumentar o poder aquisitivo, ou


seja, através dos seus investimentos sempre gerar riqueza superior aos efeitos
da inflação. O retorno real anual composto das ações gira em torno de 6,6%,
após a inflação. Vale ressaltar mais uma vez: o retorno real das ações presume
que todos os dividendos são reinvestidos comprando mais ativos acionários.
Quero que fique claro a importância de reinvestir os dividendos
durante a fase de formação e acumulação de patrimônio! E não digo isso a
título de opinião pessoal. Existem inúmeros estudos que comprovam isso.
Em 2003, Robert Arnott publicou um estudo chamado Dividends and the
Three Dwarfs (Dividendos e os Três Anões). Ele descobriu que os dividendos
pagos pelas ações foram responsáveis pela maior parte dos retornos no
longo prazo. Arnott – assim como Siegel - analisou um período de 200 anos, e
verificou que as ações renderam na média 7,9% ao ano. Deste total de retorno,
impressionantes 5% vieram dos dividendos.
“- Ah, mais isso é nos Estados Unidos! Lá é o mercado de ações mais
bem-sucedido da história! Quero ver como seriam os retornos em países que
não tiveram a mesma potência dos americanos. ”
Então vamos a outro estudo!
Em 2002, foi publicado o livro Triumph of the Optimists: 101 Years of
Global Investment Returns, dos autores Elroy Dimson e Paul Marsh, dois
professores da London Business School.
Eles realizaram estudos sobre os retornos históricos das ações e títulos
públicos em 16 países, desde 1900. Durante todo o período de análise
houveram:
a. Guerras;
b. Hiperinflações;
c. Depressões econômicas;
d. Crises econômicas;
e. Golpes políticos;
f. Embargos econômicos;
g. Desastres naturais;
h. E tudo mais que se possa imaginar.
E mesmo assim, conforme verificamos na tabela abaixo, temos o retorno
das ações de vários países com os mais variados perfis políticos, culturais,
históricos e econômicos.

País Retorno Ações Anualizado Com


Inflação
África do Sul 7,2%
Austrália 7,2%
Suécia 6,1%
Nova Zelândia 5,8%
Canadá 5,7%
Irlanda 3,8%
Japão 3,7%
Espanha 3,6%

Os autores do livro concluíram que “os desempenhos superiores das


ações sobre as demais classes de ativos ocorreram em todos os 16 países
analisados, e não apenas nos Estados Unidos. Em todos os países o
desempenho das ações foi melhor do que dos títulos públicos. Embora os
Estados Unidos tenham de fato tido um bom desempenho, não há nenhuma
indicação de que eles estejam desalinhados com outros países. ”
Portanto, o retorno real anual de uma carteira diversificada de ações
tende a ser a melhor classe de ativos para um investidor,
independentemente de sua nacionalidade.
É claro que nem todas as ações são um investimento bom, afinal de
contas os retornos delas dependem da qualidade da empresa, de sua
capacidade para gerar lucros, de sua produtividade e da competência de seus
gestores. Além disso, é necessário que o investidor, em sua fase de acumulação
de patrimônio, reinvista os dividendos recebidos comprando mais ações dentro
de um portfólio diversificado.
As oscilações, flutuações e notícias influenciam o comportamento das
ações no curto prazo. Mas, quando o investidor foca no longo prazo, as
ações são os ativos que mais fornecem retornos aos seus proprietários.
“- Mas como eu sei qual ação é boa para o longo prazo? ”

O que Analisar Em Uma Ação?

Existem inúmeras abordagens para analisar uma ação. Alguns


investidores utilizam a ótica macroeconômica, analisando as perspectivas
futuras da economia e traçam diversos cenários que podem ou não beneficiar
certas empresas.
O grande investidor Warren Buffett não utiliza esta abordagem e prefere
uma análise fundamentalista. Eu, pessoalmente, sigo o mesmo que Buffett na
hora de analisar minhas ações. Prefiro estudar a empresa e evito qualquer
exercício de futurologia sobre o futuro da economia, política e elementos que
estão completamente fora do meu controle.
O primeiro ponto que o investidor com tal viés fundamentalista deve
analisar é o Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE). Logo na primeira
linha ele vai encontrar o termo Receita Bruta, que é a receita total da venda de
bens e serviços da empresa.
Logo abaixo, o investidor vai se deparar com o termo Receita Líquida,
que significa a Receita Bruta menos Descontos Comerciais, Devoluções de
Vendas e Impostos sobre Vendas.
A próxima linha é o Custo dos Produtos Vendidos (CPV), que significa
o quanto a empresa gastou nos insumos para a produção dos produtos vendidos
(matéria-prima, embalagens, energia elétrica entre outros).
Um exemplo seria uma empresa que vende calçados. Seu CPV é
relacionado a óleos plastificantes, resina de PVC, energia elétrica, as
embalagens que empacotam o produto, e assim por diante. Já no caso de um
supermercado, os produtos já estão prontos. Então o Custo dos Produtos
Vendidos no caso dos varejistas é o quanto que eles pagaram aos
fornecedores/fabricantes pelos produtos que irão revender posteriormente.
E agora chegamos ao nosso primeiro ponto de parada: o Lucro Bruto,
que é a diferença entre o a Receita Líquida e o Custo dos Produtos Vendidos
(CPV) e o custo de fazer o produto ou prover o serviço.

Receita Bruta R$ 1.880.827


Descontos Comerciais - R$ 100.000
Devolução de vendas - R$ 162.385
Impostos sobre Vendas - R$ 71.859
Receita Líquida R$ 1.546.583
Custo dos Produtos Vendidos - R$ 812.675
Lucro Bruto R$ 733.908

O indicador de Lucro Bruto é expresso não apenas em números, mas


também em porcentuais. No caso do exemplo, a diferença entre Receita Líquida
(R$ 1.546.583) e Custos dos Produtos Vendidos (-R$ 812.675) totaliza o
Lucro Bruto de R$ 733.908. Portanto, quando fazemos a divisão Lucro Bruto
(R$ 733.908) / Receita Líquida (R$ 1.546.583) chegamos a Margem Bruta de
47,5%.

Margem Bruta (%) = Lucro Bruto / Receita Líquida

Margem bruta é conhecida no jargão do mercado como a margem que


mensura a “produtividade do chão de fábrica”. Essa métrica ajuda a entender
a lucratividade da empresa em relação aos seus custos variáveis.
Warren Buffett costuma gostar de margens brutas acima de 60%. No
entanto, este indicador não deve ser levado a ferro e fogo. Cada indústria tem a
sua margem bruta. Comparar a margem bruta de uma empresa como o
Facebook (86%) com a do Walmart (25%) é comparar maçãs com bananas. O
modelo de negócios do Facebook é muito diferente de uma empresa varejista
como o Walmart. O mais indicado é fazer comparações entre ações do mesmo
setor.
Prosseguindo com o Demonstrativo de Resultados, a próxima linha são
as Despesas Operacionais, que são aquelas despesas necessárias à atividade
e manutenção da empresa. Aqui existem as Despesas com Vendas
(comissões, salário dos vendedores, propaganda e publicidade) e Despesas
Gerais e Administrativas (salários do pessoal administrativo, honorários de
escritórios de advocacia, honorários da contabilidade, custo com consultorias,
seguros, material de escritório, luz, água, internet e aluguel).
E quando somamos as Despesas com Vendas, Gerais e
Administrativas e subtraímos do Lucro Bruto chegamos a um indicador muito
importante: o Lucro Operacional ou, como é mais conhecido na sigla de
EBITDA.

Lucro Bruto R$ 733.908


Despesas com Vendas - R$ 255.550
Despesas Gerais e Administrativas - R$ 200.000
Lucro Operacional (EBITDA) R$ 278.358

O indicador do Lucro Operacional também não é expresso somente em


números. No nosso caso do exemplo, fazemos a divisão Lucro Operacional (R$
278.358) / Receita Líquida (R$ 1.546.583), e chegamos a Margem
Operacional (Margem EBITDA) de 18%.

Margem Operacional (%) = Lucro Operacional / Receita Líquida

Uma Margem Operacional considerada “boa” também é subjetiva e varia


de acordo com a indústria que a empresa está inserida. Assim como no caso do
Facebook e Walmart, aqui não devemos comparar maçãs com bananas. O mais
sugerido é comparar empresas do mesmo setor.
O investidor não é obrigado a aceitar margens naturalmente baixas. Por
exemplo, o varejo é um setor com Margem Bruta e Operacional baixa. Se não
está confortável com elas, é sugerido que não compre ações de empresas
daquele setor específico.
Warren Buffett costuma dar prioridade para empresas com Margem Bruta
e Operacional alta, mas isto não impede ele de comprar algumas empresas com
margens baixas. Tudo é uma questão de se sentir confortável com a ação em
questão.
Um outro ponto importante a destacar é a Depreciação e Amortização,
que entra no Demonstrativo de Resultados de qualquer empresa. Inclusive, a
sigla EBITDA significa “Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and
Amortization”, ou seja, "Lucros antes de juros, impostos, depreciação e
amortização."
Depreciação é a perda da capacidade produtiva dos bens. Como a maior
parte dos ativos tem sua vida útil limitada no tempo, o custo correspondente é
distribuído ao longo da vida útil.
O quadro abaixo aponta as taxas de depreciação segundo a Secretaria
da Receita Federal do Brasil.

BENS TAXA ANUAL VIDA ÚTIL


Edifícios 4% 25 anos
Máquinas/Equipamentos 10% 10 anos
Instalações 10% 10 anos
Móveis/Utensílios 10% 10 anos
Veículos 20% 5 anos
Sistemas/Softwares 20% 5 anos

Já a Amortização tem uma similaridade muito grande com a


Depreciação, mas a diferença é que ela envolve a perda do valor de um ativo
intangível ao longo do tempo. Por exemplo, uma concessão pública para
exploração de uma mina de ouro é um ativo intangível (ele não é palpável). Esta
concessão tem um prazo de validade. Quanto mais tempo passa, menos a
concessão vale, até o dia de expiração, em que ela vai valer R$ 0. Vamos a outro
exemplo para fixar bem.
Se uma empresa consegue a concessão de um espaço público para fazer
publicidade por um período de 10 anos, passados 05 anos, este direito vai valer
apenas a metade do que foi efetivamente gasto, pois restará menos tempo para
usufruí-lo.
Vale ressaltar que todos os valores de Depreciação e Amortização
entram no Demonstrativo de Resultados ANTES de passar para a linha das
Receitas e Despesas financeiras.
Prosseguindo, passamos para as Receitas e Despesas Financeiras.
Vamos começar pelas Receitas Financeiras, que são juros recebidos por
pagamentos dos clientes realizados com atraso, juros recebidos de aplicações
financeiras e também o resgate destas aplicações financeiras.
Caso a empresa tenha posições em moeda estrangeira (através de
derivativos ou moeda em espécie), a variação cambial positiva entra aqui. Caso
ela seja negativa, ela entra como Despesa Financeira. Já que entramos no
assunto de despesas, cabe mencionar que Despesa Financeira são os juros
que a empresa paga por empréstimos bancários contraídos, juros pagos por
atraso no pagamento a fornecedores ou o custo das debêntures que ela emitiu
no mercado.
Logo em seguida, temos as linhas do Imposto de Renda e da
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.
E assim, finalmente, chegamos a última linha do Demonstrativo de
Resultados: o Lucro Líquido.

Lucro Operacional (EBITDA) R$ 278.358


Receitas Financeiras R$ 241.993
Despesas Financeiras - R$ 50.152
Imposto de Renda - R$ 43.928
Contribuição Social - R$ 15.795
Lucro Líquido R$ 410.476

O indicador do Lucro Líquido é extremamente importante e muito


utilizado por inúmeros investidores renomados. No nosso caso do exemplo,
fazemos a divisão Lucro Líquido (R$ 410.476) / Receita Líquida (R$
1.546.583), e chegamos a Margem Líquida de 26,5%.

Margem Líquida (%) = Lucro Líquido / Receita Líquida

Margem Líquida é a porcentagem de cada real de venda que restou


após o desconto de TODOS os custos e despesas. Uma Margem Líquida
considerada “boa”, segundo Warren Buffett, é acima de 20%. No caso de nosso
exemplo, uma Margem Líquida de 26,5% atenderia a tal critério. Sempre
lembrando que cada indústria tem a sua margem líquida padrão, e é impossível
esperar tal indicador tão alto assim em setores como o varejista. O Wal Mart tem
margem líquida histórica de 3%, enquanto o Facebook 38%.
Cabe mencionar que as margens são apenas os primeiros indicadores
que devemos analisar, mas ainda assim existem outros que o investidor deve
levar em conta na hora de realizar uma análise de uma empresa. Vamos ao
Balanço Patrimonial.
O Balanço Patrimonial é dividido entre Ativos e Passivos. Nos Ativos as
contas são agrupadas de acordo com a rapidez de conversão em dinheiro, em
ordem decrescente de liquidez. Ou seja, de acordo com a capacidade de se
transformar em dinheiro mais rapidamente. Nos Passivos as contas estão
agrupadas em ordem decrescente de exigibilidade. Ou seja, de acordo da
obrigação exigível em tempo mais curto para a obrigação exigível em tempo mais
longo.
Outro aspecto importante é que os Ativos e Passivos são subdivididos
em Circulante (exigíveis em até 12 meses) e Não Circulante (exigíveis acima
de 12 meses). Os exemplos abaixo vão ilustrar e esclarecer de forma muito mais
detalhada.
1. Ativo Circulante. As contas que já são dinheiro (caixa, aplicações
financeiras com liquidez imediata) e aquelas que podem se converter em
dinheiro no prazo de 12 meses (estoques, contas a receber de clientes). Este
grupo contém elevado grau de liquidez.
2. Ativo Não Circulante. São subdivididos em Realizável a Longo Prazo
(contas a receber acima de 12 meses); Investimentos (títulos públicos, CDBs,
ações de outras empresas, imóveis para investimento, etc); Imobilizado
(máquinas, equipamentos, ferramentas, plantas industriais, caldeiras, edifícios,
imóveis, etc); Intangível (os ativos que não tem existência física, como por
exemplo os direitos de exploração cedidos pelo governo para a exploração de
uma mina de ouro).
3. Passivo Circulante. Dívidas e obrigações que devem ser pagas em
até 12 meses (salários, impostos, empréstimos, financiamentos, fornecedores,
etc.)
4. Passivo Não Circulante. Dívidas com terceiros que vencem no longo
prazo (financiamentos, debêntures emitidas, etc.)
Antes que você comece a achar tudo muito complicado, vamos aos
exemplos.

ATIVO
Circulante
Caixa R$ 30.119
Aplicações financeiras R$ 1.537.477
Contas a receber de clientes R$ 850.345
Estoques R$ 279.267
Não circulante
Aplicações financeiras R$ 213.049
Imobilizado R$ 422.361
Intangível R$ 243.390
Total do Ativo R$ 3.576.008

Caixa: o dinheiro que a empresa literalmente tem em conta corrente.


Aplicações financeiras (circulante): investimentos financeiros com alta
liquidez e/ou com prazo de vencimento em até 12 meses.
Contar a receber de clientes: valores que os clientes estão devendo
para a empresa com vencimento em até 12 meses.
Estoques: os produtos que a empresa tem estocados e que estão prontos
para serem vendidos. Se os estoques estão se acumulando é um sinal de que a
empresa não está conseguindo vender seus produtos, o que se refletirá nos
lucros. Por outro lado, se os estoques estão começando a diminuir cada vez mais
rápido, pode ser um sinal de que a empresa está se recuperando.
Aplicações financeiras (não circulante): investimentos financeiros com
prazo de vencimento acima de 12 meses.
Imobilizado: bens necessários à manutenção das atividades da empresa,
e se apresentam de forma tangível, como por exemplo edifícios, máquinas,
plantas industriais, etc.
Intangível: são marcas e patentes, direitos autorais adquiridos, softwares,
etc. Por exemplo, a marca Skol é um ativo intangível da Ambev.

PASSIVO
Circulante
Empréstimos e financiamentos R$ 99.666
Fornecedores R$ 56.542
Comissões a pagar R$ 41.622
Impostos, taxas e contribuições R$ 37.597
Salários e encargos a pagar R$ 79.942
Outras contas a pagar R$ 6.705
Não circulante
Empréstimos e financiamentos R$ 33.961
Provisão para riscos trabalhistas e R$ 452
tributários
Outros débitos R$ 1.912
Total do Passivo R$ 358.399

Empréstimos e financiamentos (circulante): linhas de crédito de


bancos para capital de giro geralmente costumam estar presentes aqui. Também
financiamentos que tem vencimento em até 12 meses.
Fornecedores: os débitos que a empresa deve pagar aos fornecedores
de insumos/materiais/produtos/prestadores de serviços.
Comissões a pagar: as comissões devidas aos vendedores dos
produtos/serviços oferecidos pela empresa.
Impostos, taxas e contribuições: basicamente os tributos e demais
encargos que a empresa deve pagar no prazo de 12 meses.
Salários e encargos: o montante de salários e demais benefícios
trabalhistas relacionados aos trabalhadores da empresa.
Empréstimos e financiamentos (não circulante): empréstimos
bancários e financiamentos com vencimentos no longo prazo. Debêntures, Notas
Promissórias e linhas de créditos com grandes bancos costumam estar
presentes aqui.
Provisão para riscos trabalhistas e tributários. Os valores
provisionados para eventuais perdas de processos judiciais realizado ao Direito
do Trabalho e Tributário. Algumas empresas também colocam aqui casos de
Direito Civil, como por exemplo indenizações ao consumidor.
Por fim, temos o quadrante do Patrimônio Líquido, que são os recursos
dos proprietários/acionistas aplicados na empresa. Basicamente significam o
capital social e o seu rendimento (lucros ou prejuízos acumulados).

PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital social R$ 1.231.302
Reservas de capital R$ 8.385
Ações em tesouraria - R$ 134
Reservas de lucros R$ 1.965.609
Lucros (Prejuízos) Acumulados R$ 12.447
Total do Patrimônio Líquido R$ 3.217.609

Capital social. Aplicação de recursos na empresa realizada pelos


proprietários.
Reservas de capital. Os valores que entram na empresa, mas não como
receitas. Eles têm o único objetivo de reforçar o capital.
Ações em tesouraria. Ações da própria empresa que ela adquiriu. Muito
comum nos Estados Unidos e ainda realizado por poucas empresas no Brasil.
Quando a empresa compra as próprias ações no mercado, o acionista acaba
aumentando sua participação na empresa sem desembolsar dinheiro.
Reservas de lucros. São os valores constituídos de lucros da empresa e
que ainda não foram distribuídos aos acionistas.
Lucros (Prejuízos) acumulados. Soma dos resultados positivos e/ou
negativos das Demonstrações de Resultados de Exercício ao longo da história
da empresa.
Por fim, chegamos ao Demonstrativo de Fluxo de Caixa. Ele é o
oxigênio de qualquer empresa. Sua função é revelar a origem e aplicação de
todo o dinheiro que transitou pelo caixa de uma empresa em um determinado
período. Em outras palavras, sua principal função é demonstrar as entradas e
saídas do caixa de uma companhia.
O Fluxo de Caixa é muito parecido com é parecida em muitos aspectos
com a Demonstração de Resultado do Exercício (DRE), que já estudamos
anteriormente. Elas possuem algumas diferenças, apesar de se
complementarem na hora de realizar uma análise da empresa.
Enquanto a DRE fornece o lucro ou prejuízo da empresa, o Fluxo de Caixa
mostra o reflexo desse lucro ou prejuízo no caixa da empresa. As principais
funções do Fluxo de Caixa é analisar:
1. O resultado do DRE está (ou não) se convertendo em caixa para a
empresa?
2. O caixa gerado é positivo? Ou seja, tem capacidade de pagamento de
dívidas, distribuição de dividendos e investimentos?
3. O caixa é suficiente para saldar as obrigações da empresa? A empresa
tem capacidade de solvência?
Dentro do Demonstrativo de Fluxo de Caixa, existem 3 (três) elementos
principais:
a. Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais (FCO), é basicamente
Caixa Gerado nas Operações da empresa.
b. Fluxo de Caixa das Atividades de Investimento (FCI), que informa a
quantidade de dinheiro que a empresas gastou em investimentos, ou seja, quais
foram os gastos com ativo imobilizado (propriedades, plantas, equipamentos),
que também é chamado de CAPEX. Esses gastos são necessários para
manter a empresa funcionando e competitiva no mercado.
c. Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento (FCF), que mostra
os recursos que foram obtidos para a empresa. Por exemplo, aqui entra o valor
recebido de empréstimos. Em resumo, o FCF inclui qualquer atividade
relacionada aos credores da empresa.
Agora que já aprendemos o que significa cada um dos principais itens do
Demonstrativo de Resultados, Balanço Patrimonial e Demonstrativo de Fluxo de
Caixa, vamos então entender como utilizar estas informações para uma análise
fundamentalista visando identificar uma boa ação para investimento de longo
prazo.
Os Principais Indicadores na Análise Fundamentalista

A análise fundamentalista tem como objetivo avaliar alternativas de


investimento a partir do processamento de informações das empresas. A análise
do Demonstrativo de Resultados e do Balanço Patrimonial permite ao investidor
conhecer em detalhes a estrutura da empresa, observando os principais dados
contábeis, como por exemplo as contas a receber dos clientes, o nível dos
estoques, contas a pagar, faturamento, custo dos produtos vendidos, etc.
Vamos iniciar pelos indicadores relacionados ao Balanço Patrimonial.
1. Liquidez Corrente = Ativo Circulante / Passivo Circulante.
Indica quanto a empresa tem a receber no prazo de 12 meses, e se
compara com o quanto a empresa tem a gastar no mesmo período. Warren
Buffett gosta de empresas com Ativo Circulante polpudo.
2. Liquidez Geral = Ativo Circulante + Ativo Não Circulante / Passivo
Circulante + Passivo Não Circulante.
Oferece não apenas o indicativo da Liquidez Corrente, mas também no
período de longo prazo. De modo geral, é o indicativo global de Liquidez da
empresa.
3. Endividamento Geral = Passivo Circulante + Passivo Não
Circulante / Patrimônio Líquido.
Indica o quanto a empresa tem de capital de terceiros (empréstimos,
dívidas, pagamentos pendentes) em relação ao seu capital próprio. Buffett não
gosta de empresas que tenham o Passivo Total maior do que 50% do Patrimônio
Líquido.
Quanto menor o total da dívida em relação ao patrimônio, melhor.
Significa que a empresa tem condição de pagar o que deve e ainda pode investir
em sua expansão.
4. Rentabilidade do Patrimônio Líquido = Lucro Líquido/Patrimônio
Líquido.
É a taxa de retorno dos acionistas. Este índice mede o quando de lucro
retornou em relação ao capital próprio. Warren Buffett diz que se este indicador
for consistentemente acima de 20%, é um sinal de que a empresa tem algo
de diferente em relação as concorrentes.
Agora vamos analisar indicadores que são obtidos ao analisar o
Demonstrativo de Resultados da empresa e Demonstrativo de Fluxo de Caixa.
1. Cobertura de Juros = Lucro Operacional (EBITDA) / Despesas
Financeiras.
Este índice confronta o Lucro Operacional (EBITDA), que nada mais é do
que o resultado das atividades empresariais da companhia, com as despesas
financeiras (juros de empréstimos). Quanto MAIOR o índice, mais confortável
é a situação da empresa em relação aos encargos financeiros.
2. Cobertura da Dívida = Empréstimos e Financiamentos – Caixa /
Lucro Operacional (EBITDA)
Este índice possibilita analisar a capacidade de pagamento da empresa
em relação a dívida líquida. Dívida líquida é basicamente todos os Empréstimos
e Financiamentos (de curto e longo prazo) menos o valor disponível em Caixa.
Este índice é utilizado para saber em quantos anos de Lucro Operacional
seria necessário para pagar a integralidade da Dívida Líquida. Warren Buffett
gosta de empresas que tenham dívidas líquidas de três, ou no máximo quatro
vezes, o EBITDA anual.
3. Fluxo de Caixa Livre = Fluxo de Caixa Operacional – CAPEX
Este é um indicador muito importante, pois representa tudo aquilo que
sobrou do caixa operacional da empresa após os gastos com investimentos
necessários para manter a competitividade da empresa. Em outras palavras, ele
representa o dinheiro disponível depois de serem feitos os pagamentos
obrigatórios. O que sobrar pode ser utilizado para pagar dividendos aos
acionistas, ou pagar as dívidas que a empresa possui.
Existem empresas que seus negócios crescem sem a necessidade de
muitos investimentos adicionais em CAPEX. Este tipo de empresa é bem
provável que seja uma bela distribuidora de dividendos. Warren Buffett gosta de
empresas com baixa necessidade de CAPEX justamente por isso.
Tais indicadores são muito importantes para analisar uma empresa. Mas
existem também outros pontos que o investidor deve se atentar, que não estão
disponíveis nos documentos. Eles precisam ser verificados mediante outros
meios. E para lhe auxiliar, fiz uma lista com os tópicos.
1. Quem são os principais administradores/gestores da empresa? É
importante que o investidor analise a administração e gestão de uma companhia.
Eles são responsáveis pelo futuro da empresa. As principais decisões sobre os
negócios, investimentos e posicionamento da empresa no mercado serão deles.
Então você precisa ver o histórico de gestão de uma empresa, ou seja, se ela
historicamente apresenta bons resultados e toma decisões acertadas.
2. Os membros do Conselho de Administração e os Diretores estão
comprando as ações da empresa? Um indicativo de que eles estão
comprometidos com o negócio é quando eles investem o patrimônio pessoal
dentro da empresa, comprando as ações. Isso é um alinhamento de interesses
muito grande e Warren Buffett se atenta a empresas em que os executivos estão
arriscando o próprio capital junto com ele.
3. Qual é o desempenho histórico de resultados? As empresas boas
tendem a permanecerem boas, enquanto as empresas medíocres tendem a
permanecerem medíocres. O verbo “tender” não significa obrigatoriamente “ser”.
Algumas companhias ficam ruins e outras boas. Mas, na prática, as exceções
apenas confirmam a regra. Investidores com visão de longo prazo gostam mais
de empresas que possuem um histórico de bons resultados do que aquelas que
apenas estão prometendo bons resultados no futuro. Os investidores iniciantes
são atraídos por empresas que estão passando por reestruturações. Isto
aumenta muito o risco do investimento e são poucas as empresas que
conseguem sair do princípio da falência para o lucro consistente.
4. Os produtos/serviços vendidos podem ser facilmente
substituídos? As empresas que vendem produtos/serviços que podem ser
copiados ou se tornar obsoletos em um curto período de tempo não são as
preferidas de um investidor de longo prazo. Eles investem em empresas cujos
os produtos são oferecidos ao mercado por vários e vários anos.
5. O modelo de negócios da companhia é compreensível? O investidor
de longo prazo não investe em empresas que não compreende. Assim como
Warren Buffett, eles costumam ficar em um círculo de competência, não
alocando o capital em negócios que não conseguem entender. Quanto maior o
grau de compreensão do negócio, maior a chance de sucesso. A maioria dos
investidores iniciantes não tem a menor noção de como a empresa funciona e
focam tão somente nas oscilações da cotação no curto prazo.
6. A empresa pode fixar o preço do produto/serviço? Existem
empresas que estão sujeitas a excessivas regulamentações. Elas não podem
estabelecer o preço de seus próprios produtos, ficando à mercê do que o
governo decide ser o preço justo. Isso é um risco muito grande, pois os custos
podem subir acima do reajuste de preços permitido pelo governo. Além disso, há
o caso das empresas que trabalham com commodities, que têm o preço fixado
pelo mercado através das bolsas de valores. A empresa que trabalha neste
segmento não pode fixar os preços de seus produtos, pois os mesmos são
feitos via mercado.
7. A empresa possui marcas, patentes e outros diferenciais
intangíveis? Existem empresas que possuem grandes marcas, produtos
patenteados, capital intelectual diferenciado e outros ativos intangíveis (aqueles
que não são palpáveis). E também existem companhias que vendem produtos
sem nenhuma diferenciação, e ela é indistinguível de suas concorrentes. Neste
último caso, a única diferença entre os produtos é o preço. Todas as empresas
que entram em guerra de preços podem ter sérios problemas no longo prazo.
Esta é uma estratégia com tempo limitado.
8. A Administração da empresa faz um bom uso do dinheiro? Analisar
o histórico de como a gestão utiliza o dinheiro é fundamental. Administrações
competentes, quando percebem que não podem fazer um melhor uso do dinheiro
dentro dos negócios das empresas, distribuem eles aos acionistas em forma de
dividendos. A decisão entre reinvestir os lucros ou distribuí-los deve ser racional
e sempre visando o benefício dos acionistas, seja de uma forma ou de outra. O
problema é quando a gestão começa a utilizar o dinheiro para fazer aquisições
caras e desnecessárias de outras companhias, apenas para que os executivos
se beneficiem de maiores salários, premiações e bônus. Aqui a regra é simples:
se o dinheiro for gerar mais vantagens ao acionista ao ser reinvestido na própria
empresa, é isto que a gestão deve fazer. Se reinvestir na própria empresa ou
adquirir outras empresas gera um retorno menor, a empresa deve retornar o
dinheiro aos acionistas através de dividendos.
9. A Administração é transparente? Uma das principais formas do
investidor aferir é através da comunicação da empresa com os acionistas. As
informações, apresentações e documentos apresentados devem ser francos e
honestos, relatando de fato a situação atual da empresa e as perspectivas de
futuro. Existem empresas cujos gestores admitem os acertos e principalmente
os erros. Já outras são comuns por esconderem os erros.
10. Qual é a previsibilidade de lucros da empresa? Existem negócios
que são mais fáceis de se realizar uma previsão futura de resultados. O fluxo de
vendas é relativamente estável, o que possibilita uma projeção mais certeira. O
mesmo não ocorre com empresas com volatilidade de vendas, o que faz com
que qualquer modelo de previsão futuro de caixa perca completamente a
relevância.
11. A empresa apresenta forte geração de caixa? Investidores de longo
prazo gostam de empresas que literalmente nadam no dinheiro. Uma forte
geração de caixa significa que elas podem usar uma boa parte para reinvestir no
próprio negócio e ainda distribuir aos acionistas através de dividendos. Warren
Buffett mencionava o exemplo da Coca-Cola. A empresa tem uma geração de
caixa enorme. Como ela não precisa reinventar a fórmula do refrigerante a cada
ano que passa, basta utilizar uma parte do fluxo de caixa para pagar os
investimentos e o resto pode ser dividido para os acionistas.
12. Você está comprando realmente para o longo prazo? No curto
prazo, não existe relação entre os resultados operacionais da empresa e suas
cotações na bolsa de valores. Porém, no longo prazo, existe uma clara tendência
de que a cotação segue o lucro. Se a empresa está apresentando lucros
consistentes, a cotação vai seguir. Se a empresa está tendo prejuízos, a cotação
também vai seguir. Certifique-se que você está investindo em um negócio para
o longo prazo. Ser paciente é uma das chaves do sucesso.
13. Você está apaixonado pela empresa? Se os resultados da
companhia começaram a piorar, você não deve hesitar em se desfazer do
investimento. Você deve vender as ações quando os fundamentos deterioram.
Investidores iniciantes vendem as ações por causa de notícias ou previsões
catastróficas de gurus, mas não vendem quando os resultados da empresa
desabam.
Analisando os dados do Demonstrativo de Resultados, do Balanço
Patrimonial, aplicando os principais indicadores da análise fundamentalista e
respondendo a todas as 13 perguntas do check list acima, você está apto a
escolher as melhores ações para sua carteira visando o longo prazo.
Lembre-se que erros irão ser cometidos. É impossível acertar todas as
ações. O mais importante é você escolher empresas com resultados de lucro
consistente, margens boas, dívida controlada, administração transparente e
nunca esquecer dos conceitos de diversificação e gestão de risco que
aprendemos anteriormente.

Imóveis

"É tangível, é sólido, é lindo. É artístico, do meu ponto de vista, e eu adoro


imóveis.” – Donald Trump, bilionário e investidor de imóveis (1946 -?)

Existe no Brasil um número considerável de investidores no mercado


imobiliário. Ter um ativo real, de concreto e tijolo, é algo considerado essencial
por muitas pessoas. A necessidade de ter uma propriedade palpável é algo bem
natural em nosso país. Apesar das tradições culturais, o investimento em imóveis
tem seu espaço no portfólio de grandes investidores mundiais e merece um
detalhamento especial.
O investimento imobiliário pode ser definido como a compra de um fluxo
de renda futuro proveniente daquela propriedade. Quando o investidor compra
um imóvel, ele pode esperar o retorno de duas maneiras:
1. Dos aluguéis pagos pelos inquilinos e/ou;
2. Da valorização do imóvel no mercado imobiliário.
O investimento em imóveis costuma ter uma maior estabilidade de preços
do que as ações. O principal motivo que vejo para isso é que não há na bolsa de
valores milhões de anúncios de imóveis particulares para serem objetos de
propostas de compra e venda. Então, o proprietário fica mais confortável ao ver
o preço de seu imóvel “mudar” poucas vezes ao longo de um período anual.
A baixa volatilidade do setor imobiliário é o resultado de transações
imobiliárias não frequentes e, além disso, porque os valores das propriedades
são determinados por avaliações de terceiros e não através de cotações em
bolsas de valores. As transações e avaliações pouco frequentes resultam em
uma suavização das oscilações de preço e isso exerce um fator psicológico
muito grande nos investidores.
Um ótimo benefício de investir em imóveis é o seu potencial de
diversificação. O setor imobiliário costuma ter pouquíssima correlação com
ações e títulos de renda fixa. Isso significa que a adição de imóveis a uma
carteira de ativos diversificados pode reduzir a volatilidade do portfólio e
proporcionar um retorno interessante, como aprendemos com David Swensen.
Outro ponto importante a se destacar é a capacidade de cobertura que os
imóveis fornecem contra a inflação. Geralmente, existe uma relação positiva
entre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de um país e a demanda por
imóveis. À medida que a economia se expande, a demanda por imóveis
aumenta. Consequentemente, sobem os preços dos imóveis e dos aluguéis.
Portanto, os imóveis tendem a manter o poder de compra do capital, transferindo
o peso da inflação para os inquilinos e incorporando parte da pressão
inflacionária na forma de valorização do imóvel.
Tudo na vida tem prós e contras, e com imóveis não é diferente.
A principal desvantagem de investir em imóveis é a falta de liquidez,
ou seja, a relativa dificuldade em converter um ativo imobiliário em dinheiro. Ao
contrário da compra e venda de uma ação, que é realizada em milissegundos,
uma transação imobiliária pode levar meses para ser concluída. Mesmo com a
ajuda de um corretor, simplesmente encontrar alguém para comprar ou vender
pode exigir algumas semanas de trabalho. Falando em corretagem, este custo
costuma ser muito mais alto nas transações imobiliárias do que nas transações
de ações na bolsa de valores.
“- Mas para que investir em imóveis se as ações são a classe de ativos
que mais dão retorno no longo prazo? ”
Pois bem, porque nunca sabemos quais ativos irão performar melhor
no futuro. Além disso, a diversificação entre ativos é algo utilizado pela maioria
dos investidores bem-sucedidos. Existem alguns períodos em que os imóveis
superam o desempenho das ações. E como nunca saberemos quando e qual
ativo performará melhor do que o outro, muito melhor ter ambos em um portfólio.
Em um período de 1978 até 2016, os retornos dos REITs (fundos
imobiliários americanos) foram maiores do que as ações que compõem o índice
Russell 3000 (o índice mais amplo do mercado de ações americano). Durante
este período, o retorno dos REITs foi de 12,8% ao ano, enquanto as ações foram
de 11,6%.
Mas quando comparamos um período menor, que vai de 2013 até 2016,
as ações do Russell 3000 retornaram 11,15%, e os REITs ficaram com 9,85%.
É muito mais recomendável ter ambos em um portfólio, do que tentar
adivinhar qual classe vai render mais em um futuro próximo.

O Que Analisar em Um Imóvel Para Uso Próprio?

Uma confusão que as pessoas costumam fazer é confundir os imóveis


para investimento e os imóveis para moradia própria. Esse equívoco costuma
ser corriqueiro, então cabe um detalhamento maior.
Seja solteiro ou casado, homem ou mulher, no início da vida adulta ou no
final dela, é uma vontade muito particular do povo brasileiro em querer ter um
imóvel próprio. Um lugar para se sentir dono. Um pedaço de tijolo e concreto sob
suas rédeas. Mas será que todas as pessoas do mundo pensam assim? Todas
elas têm a necessidade de realmente adquirir um imóvel próprio?
É impossível agradar gregos e troianos. Também é impossível ter uma
resposta única para o mundo todo. Para se ter uma ideia, segundo o Relatório
de 2018 do Bank Of America Merrill Lynch Global Research, na China 90% das
pessoas são proprietárias (ou estão pagando o financiamento) da casa onde
moram. Em contrapartida, na Alemanha são apenas 50%. Qual motivo explica
tal disparidade?
A cultura chinesa tem uma forte tendência a valorizar pessoas que
possuem imóveis próprios como status social. Inclusive, basta uma pequena
pesquisa na internet para encontrar reportagens e depoimentos de homens
chineses que alegam enfrentar um alto preconceito devido ao estigma social de
não serem proprietários de um imóvel. Já na Alemanha não existem fatores
culturais tão fortes no sentido de incentivar a compra de propriedades para se
viver. E qual o cenário no Brasil?! É mais parecido com a China ou com a
Alemanha?
O Brasil tem uma forte cultura de adquirir imóveis, como já
desconfiávamos. Acontece que a maioria absoluta das pessoas financiam os
imóveis onde vivem. Financiamento imobiliário geralmente significa um
compromisso de longo prazo. São poucas as pessoas que têm condições de
comprar imóveis à vista. Então quando você está pensando em firmar um
compromisso tão longo, sugiro que faça uma lista de prós e contras. Então
vamos abordar os principais pontos que merecem atenção na hora de elaborar
sua lista.
Financiar um imóvel por 30 anos é um compromisso bem arriscado. Este
prazo costuma ser crucial para tornar regiões boas em decadentes e regiões de
matagais em verdadeiros centros urbanos. A valorização de seu imóvel depende
de três fatores essenciais: localização, localização e localização. É isso mesmo!
A localização é fundamental para que o seu ativo imobiliário valorize ao longo do
tempo.
Outro ponto importante a ser analisado são suas ambições pessoais.
Quando você financia um imóvel, acaba psicologicamente se prendendo ao local
onde ele está localizado. É fato que você pode negociá-lo, ou seja, o famoso
“passar o financiamento pra frente”. Mas também é inegável que o lado
psicológico do imóvel financiado conta na hora de tomar inúmeras decisões
sobre o seu futuro. Não entendeu muito bem? Irei explicar com exemplos.
Quando você é jovem, existe um risco real de se ver preso em decisões
que envolvem mudanças de cidade, justamente por conta do financiamento.
Algumas oportunidades profissionais envolvem mudança de cidade, estado e até
país. Muito difícil você aceitar se mudar e continuar pagando as parcelas de um
financiamento.
Já que estamos falando do lado profissional, outro ponto importante é o
risco do desemprego. Com a economia mais dinâmica e as empresas cada vez
mais automatizando funções, existe cada vez menos segurança nos empregos
tradicionais. Nunca se deve levar como garantido o emprego que tem hoje,
principalmente em um horizonte de longo prazo.
“-Quer dizer então que o aluguel é a coisa mais inteligente? ”
O aluguel, assim como tudo na vida, tem suas vantagens e desvantagens.
Quando você aluga um imóvel, uma parte do seu orçamento fica comprometida
com o pagamento dos valores, mas mantém-se uma liquidez pessoal. Esta
liquidez lhe auxilia para aproveitar as oportunidades de investimento que
invariavelmente aparecem em sua vida. Aquela oportunidade de negócio, aquela
ação que caiu 70% e você vê valor nela, aquele fundo imobiliário que lhe paga
um rendimento mensal, aquele título do tesouro que está pagando 10% + IPCA…
Uma vantagem do aluguel é justamente esta: preservar boa parte do
capital do inquilino, que pode utilizar as reservas para investimentos e,
consequentemente, aumentar o capital no longo prazo. Não é à toa que os
bancos não são proprietários dos imóveis onde suas agências são localizadas.
O capital imobilizado para os bancos é um desperdício, visto que eles
conseguem empregar este capital nas atividades de empréstimo e ter um retorno
sobre o capital muito maior.
Mas nem tudo são flores. Ao ser inquilino é necessário um fiador ou o
pagamento adicional de seguro fiança. Além disso, os contratos de aluguel são
reajustados pelo IPCA ou IGPM - índices ligados a inflação. Isso significa que
quando passamos por épocas de altas inflacionárias o seu contrato será
reajustado automaticamente para cima, o que ocasiona em maiores custos
arcados pelo inquilino.
Você já percebeu que existem muitos critérios subjetivos para ser inserido
na sua planilha comparativa entre Comprar x Alugar um imóvel. Muitas das
respostas são extremamente pessoais e em nada a ver tem com os critérios
objetivos, como por exemplos gastos de manutenção e impostos. Mesmo que os
fatores iniciais sejam subjetivos, não significa que não existem premissas
objetivas. Então vamos a um checklist para ajudar a tomar uma decisão final.
1. Coloque no papel o pagamento mensal de aluguel + condomínio + IPTU
x valores mensais a serem desembolsados no financiamento imobiliário (demais
taxas, custos e impostos inerentes).
2. Não se esqueça de colocar o Custo Efetivo Total do financiamento
imobiliário na sua planilha, para que você veja claramente o custo real do
financiamento.
3. Os custos de manutenção do imóvel também devem ser colocados no
papel. Isto inclui os gastos com luz, água, gás, internet, pinturas, trocas
emergenciais e pequenas reformas essenciais.
Em média, estima-se que o custo com manutenção e reparos varia entre
1 – 2% do valor do imóvel por ano. Por exemplo, o custo de uma troca de telhado
de uma casa de 120 m² varia entre R$ 8 – 12 mil reais, incluindo madeira, telhas,
manta térmica e calhas.
4. O custo real de moradia depende de onde você vive. Não apenas a
cidade, mas o bairro. Não é somente o custo inerente ao imóvel que conta, mas
também o custo de transporte, e dos produtos/serviços nas redondezas. Um
bairro nobre invariavelmente aumentará todos os outros gastos com
produtos/serviços. Em contrapartida, um bairro mais afastado aumentará os
gastos com transporte.
As razões para alugar ou comprar estão intimamente ligadas a objetivos
pessoais de vida.
Você precisa de mobilidade para avançar em sua carreira?
Precisa de flexibilidade para estar apto a alterar os rumos de sua vida,
incluindo uma mudança de bairro, cidade e até mesmo país?
Você tem uma aplicação mais vantajosa ao seu capital e não quer
imobilizá-lo em um ativo por 30 anos?
Então o aluguel é recomendado.
Você quer fazer o que bem entender na sua casa?
Quer ter a liberdade para reformar, ampliar e decorar do seu jeito?
Acredita que a região irá se valorizar fortemente no longo prazo?
Precisa ter uma escritura pública e matrícula de imóvel dizendo que você
é proprietário de um imóvel para se sentir bem e satisfeito?
Então a compra de um imóvel é recomendada.

O Que Analisar em um Fundo Imobiliário?

Já estudamos o que analisar para comprar ou alugar um imóvel para uso


próprio. Agora vamos falar sobre imóveis para investimentos.
Hoje existe uma estrutura que permite que qualquer pessoa com uma
pequena quantidade de dinheiro possa investir em imóveis. O que antes era
restrito apenas a quem detinha uma grande quantia de capital, hoje pode se
tornar investidor imobiliário através de R$ 100 ou R$ 1000.
Os Fundos de Investimentos Imobiliários (FIIs) são fundos que adquirem
participações em ativos imobiliários (prédios comerciais, galpões logísticos,
shoppings, imóveis de varejo, hospitais, etc).
Tais fundos são divididos em várias cotas. É muito parecido com uma
empresa que é dividida em ações. Os FIIs existem no Brasil desde 1993, mas
foi apenas a partir de 2012 que começaram de fato a cair no gosto do investidor
brasileiro.
Uma das principais características dos FIIs é que eles são obrigados a
distribuir aos cotistas 95% do resultado semestral via proventos. Ou seja, se o
Fundo Imobiliário ganhar R$ 11 milhões em aluguéis, gastar R$ 1 milhão com
despesas, precisará distribuir R$ 9,5 milhões aos cotistas.
Mas como escolher qual FII é o mais apropriado?
Quais são os critérios para a escolha?
É o que vamos estudar juntos a partir de agora.
1. Localização, localização, localização. Considero uma premissa
fundamental para o investimento em imóveis, seja da forma tradicional ou
através de FIIs: a localização dos ativos. Você compraria um imóvel sem nunca
ter visitado a região? É claro que não. Então por qual motivo faria isto ao adquirir
um FII?
É claro que a maioria dos investidores não mora próxima aos imóveis dos
FIIs, que majoritariamente estão no eixo Rio – São Paulo. Mas a tecnologia nos
permite maravilhas. Qualquer investidor com uma conta em uma corretora tem
acesso à internet, ou seja, o Google Maps está disponível ao alcance de todos.
Digite o endereço dos empreendimentos e faça um passeio virtual em
torno da região. O mais recomendável é sempre uma visita física, mas o Google
Maps é a segunda opção mais vantajosa. Custo zero de transporte, estadia e
afins.
Recomendo que, caso você queira de fato se desenvolver como um
investidor em imóveis via FIIs, que visite pessoalmente os empreendimentos,
externamente e internamente. Frequente os shoppings, entre dentro dos
hospitais, percorra o interior dos prédios comerciais. Isso vai fazer você ter muito
mais segurança na hora de investir seu dinheiro.
Quando você investe em um certo ativo imobiliário, está apostando que
aquela região será mais atrativa ao longo dos anos e que a demanda por
espaços ali localizados será cada vez maior (ou seja, o preço por m² será maior,
ocasionando a valorização do seu imóvel como um todo).
2. Quantos Ativos e Quantos Inquilinos? Um jargão para FIIs com
vários imóveis e vários inquilinos é “multi Imóvel / multi Inquilino. ”
Estes FIIs possuem mais do que um ativo imobiliário e também mais do
que um locatário. Isso reduz o risco do negócio. O que acontece quando você
tem apenas uma sala comercial locada para um inquilino? Se ele for embora,
você fica a ver navios até a chegada de um próximo inquilino. Durante esse
tempo, além de ficar sem o pagamento mensal do aluguel, vai ter que arcar com
as despesas de condomínio, IPTU, manutenção, luz, etc.
Quando adquire FIIs com vários imóveis e vários inquilinos este risco cai
bastante, pois enquanto alguns imóveis estão vagos, outros estão ocupados. O
seu fluxo de dinheiro dos aluguéis sofre um impacto pequeno quando um
locatário resolve ir embora.
Aos iniciantes, ainda em fase inicial de construção de patrimônio de longo
prazo, é sugerido que optem por FIIs multi imóveis / multi inquilinos.
3. Fundo de Tijolo x Fundo de Papel. Existem 2 tipos de FIIs. Os mais
tradicionais são os chamados fundos de tijolos, porque eles são compostos de
imóveis físicos. Já os fundos de papel são compostos de recebíveis imobiliários.
Neste caso, não há um imóvel gerando receita diretamente, e sim uma operação
de empréstimo lastreada em um imóvel.
Prezo muito pelo conceito “Skin In The Game”, que é basicamente falar o
que faz, ou seja, colocar a opinião apenas quando coloca o dinheiro junto.
Pessoalmente não tenho Fundos de Papel, então não posso dizer algo com
propriedade a respeito deles.
Ambos são válidos, mas prefiro ter meus Fundos Imobiliários de Tijolos e
diversificar entre outros ativos (ações, moedas, outros países, etc).
4. A qualidade do imóvel. Muitas pessoas confundem qualidade do
imóvel com beleza. Fundos imobiliários não são concurso de beleza!
É claro que um imóvel com características de prédio comercial de alto
padrão necessita de um visual moderno, bonito e atrativo para atrair inquilinos
de primeira linha. Mas será que isso é válido para um galpão industrial?
Cada tipo específico de imóvel (shopping, hospital, prédio comercial,
galpão logístico, etc) tem suas características próprias. Irei exemplificar com o
caso dos galpões logísticos.
Eles são necessários para estocar e distribuir produtos das empresas de
forma eficiente, rápida e com o menor custo possível. Enfeites, adornos e
decorações são completamente dispensáveis. O que as empresas procuram
nestes imóveis são, por exemplo:
a. A altura do pé direito (altura entre o piso e o forro de um
compartimento ou pavimento). A altura influencia diretamente na capacidade de
armazenamento. Ele é utilizado contabilizando o pé direito e a capacidade do
piso, para entender o aproveitamento real do imóvel.
b. Capacidade do piso. Qual é o peso que é suportado em certa área do
imóvel. As empresas analisam isto para saber se o preço por m² será vantajoso
ou não para elas.
c. Quantidade de docas por m². Quanto maior número de docas, maior
possibilidade de operações de carga e descarga ao mesmo tempo. Quanto mais
docas por m², melhor avaliado será o empreendimento.
d. Área Útil x Área Total. Se você mora em um apartamento, está
acostumado com esta métrica. Ao analisar a Matrícula do seu apartamento,
estará escrito quantos m² de área total e quantos m² efetivamente privados tem
a sua disposição. O mesmo vale para os imóveis logísticos. Nem toda a área
pode ser utilizada para estocar produtos. Áreas como mezanino e docas não são
úteis para armazenagem.
e. O tamanho do Pátio de Manobras. Centros logísticos possuem uma
grande entrada e saída de caminhões. Um pátio de manobras grande e bem
estruturado possibilita cargas e descargas simultâneas, facilitando o fluxo de
material e veículos.
Vale ressaltar que estas características são inerentes aos imóveis
logísticos. O mesmo não vale para prédios comerciais ou shoppings. São outros
critérios. Cada setor tem os seus próprios.
5. Qualidade dos inquilinos. Se você buscou ativos imobiliários bem
posicionados, bem estruturados e com boa qualidade, então a chance de atrair
bons inquilinos é muito maior.
A maioria dos inquilinos dos FIIs são grandes empresas negociadas em
bolsa de valores. Então, para você ter acesso a saúde financeira delas, basta
você analisar o Demonstrativo de Resultados e Balanço Patrimonial (que nós já
aprendemos a analisar juntos, olha como uma coisa leva a outra!).
Diversificação é algo importante em qualquer portfolio, e protege o
investidor de fatores inesperados. É interessante analisar a lista dos
inquilinos principais para ter certeza de que nenhum deles corresponde a um
grande percentual das receitas do FII. Pense, por exemplo, se uma empresa
corresponde a 80% das receitas. Caso ela rescinda o contrato ou entre com uma
revisional na justiça, o fluxo de caixa pode passar por períodos de apuros.
6. Vacância. Este é o termo utilizado para saber quanto do imóvel está
sem nenhum inquilino. Vamos a um exemplo. O FII possui 1.000 m² para alugar,
sendo que 700 m² estão locados e 300 m² estão vagos. Neste caso, a taxa de
vacância é de 30%.
Imóveis com vacâncias altas e prolongadas custam caro ao FII, pois é
necessário arcar com todas as despesas inerentes ao imóvel, além de deixar de
auferir a renda dos aluguéis. Por isso que é necessário que o gestor do FII seja
ativo, eficiente e com um histórico de bons resultados no mercado imobiliário,
para que o FII não tenha que cortar a própria carne para bancar os gastos.
7. FFO. Quando se trata de avaliar FIIs, existem algumas métricas
específicas que são importantes saber. E o FFO é uma delas. Esta sigla é do
termo Funds From Operations, e passa uma imagem muito mais realista de
quanto dinheiro efetivamente o FII está produzindo.
Já aprendemos que imóveis se depreciam. E quando você analisa um
Demonstrativo de Resultado de um FII, a depreciação está inclusa. Ocorre que
aquela “desvalorização” do imóvel não significa efetivamente que o FII teve que
“gastar” aquele dinheiro. Vamos a um exemplo.
Você tem uma casa de R$ 500.000,00. Todo ano ela deprecia, mas isto
não significa que você tirou dinheiro do seu bolso para gastar com a
“depreciação”. O mesmo raciocínio vale para o FII.
Então, para apresentar um quadro mais realista, é utilizado o FFO, pois
ele não contempla a depreciação e também faz algumas adições e subtrações
específicas do FII para dar aos investidores uma imagem melhor.
8. Cap Rate. Outro termo em inglês, e outra métrica importante para
investimentos imobiliários. Cap Rate significa “taxa de capitalização”, ou seja,
quanto que um imóvel está rendendo de aluguéis ao longo de 12 meses em
relação ao custo de aquisição.
Em outras palavras, se um FII adquire uma propriedade por R$ 10
milhões, e o inquilino paga R$ 700 mil anuais de aluguel, isto significa que o Cap
Rate do imóvel tem uma taxa de 7%.
9. Liquidez. Os Fundos Imobiliários possuem uma vantagem em relação
ao investimento direto em imóveis. Caso você queira se desfazer de um FII,
basta abrir o seu Home Broker e emitir uma ordem de venda.
Não é necessário ir atrás de um corretor (que cobra 6% do valor do imóvel
a título de corretagem), não é preciso ir até o Cartório de Imóveis para averbar
na matrícula a mudança e não é preciso pagar o Imposto de Transferência de
Bens Imóveis (ITBI). Basta clicar em vender e pronto.
Esta é uma das principais vantagens de possuir FIIs. No entanto, cabe
ressaltar que nem todos possuem o mesmo grau de liquidez. Existem casos de
menos de 10 negócios por mês. Certifique-se de adquirir FIIs que possuam
vários negócios por dia.
Utilizo como linha de corte, no mínimo 300 negócios por mês para FIIs
menores (em termos de patrimônio líquido) e 1000 negócios por mês para FIIs
maiores.
10. Comprar FII não é apenas o ativo em si. É importante que você não
pense em Fundos Imobiliários apenas como um ativo em si. Você precisa olhar
o setor em que ele está inserido.
Por exemplo, os shoppings centers estão sendo desafiados a inovarem
cada vez mais para que o consumidor não troque as lojas físicas pelas lojas
virtuais. Portanto, é comum que os shoppings mais preparados desenvolvam
atrações que a internet não consegue copiar (ao menos por enquanto).
Então eles promovem eventos, atividades, atrações, shows, enfim, uma
série de experiências que fazem o consumidor permanecer frequentando o local.
Verifique se os shoppings do seu FII estão preparados para tal mudança de
tendência.
Outro exemplo é o setor hoteleiro. Investir neles é investir na indústria de
viagens, seja de férias ou a trabalho. Muitos hotéis possuem o foco voltado para
o primeiro, enquanto outros são focados exclusivamente em receber os viajantes
a negócios. As companhias, cada vez mais, estão buscando reduzir os custos
com viagens, realizando conferências on-line e outras formas tecnológicas mais
baratas de realizar suas reuniões.
O hotel em que você investe pode ser impactado por esta medida? O
quanto? O que ele está fazendo para se posicionar em relação a esta tendência?
São essas perguntas que o investidor deve fazer ao investir em certo
segmento de FIIs.
11. FII não é renda fixa. Esta confusão é muito comum aos investidores
iniciantes. Você precisa encarar o FII como ele realmente é: renda variável.
Apesar de possuir uma volatilidade menor do que as ações, eles não são
ativos de renda fixa. Quando for investir, não considere como um título do
tesouro direto. Os rendimentos podem sofrer mudanças, e quem investe só
focando no rendimento mensal, considerando aquilo como direito líquido e certo,
pode sofrer quando alguns imprevistos ocorrerem: inquilinos não renovando os
contratos, outros pedindo rescisão, obras de emergência inesperadas etc.
12. A gestão é o combustível do FII. Como qualquer combustível, ele
pode ser utilizado para mover um veículo para frente ou para incendiar e destruir
tudo.
O futuro do FII está nas mãos do gestor. Ele é o responsável por projetos
de aquisições futuras de imóveis, novas emissões de cotas em momentos
oportunos de mercado, vender os imóveis que já não fazem sentido para o FII,
enfim, ele funciona como um CEO de uma corporação imobiliária. É preciso que
o investidor, ao selecionar um fundo, analise o histórico do gestor.
Leia na internet os comentários de outros investidores mais experientes,
troque uma ideia com quem tem mais experiência em FIIs. Investidores mais
experientes já viram muitas decisões boas e ruins dos gestores, e podem lhe
fornecer informações valiosas na hora de decidir qual casa tem um histórico bom
e qual ainda precisa melhorar muito para fazer valer a confiança.
13. Dívidas. Os fundos imobiliários não podem contrair dívida. Eles
podem realizar aquisições de imóveis a prazo mediante um financiamento, mas
a legislação brasileira e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) impõem uma
série de regras e normativas sobre o que o empréstimo deve estar vinculado.
Existem FIIs que usam a “alavancagem”. Nestes casos, é importante que
o investidor verifique se os projetos em que estão sendo financiados estão
trazendo retorno ao fundo. Estude qual o tamanho da dívida, qual o custo de
juros, e como aqueles ativos estão contribuindo para o retorno total de receitas.
Não adianta fazer um financiamento extremamente caro de um ativo que
está quase completamente vago. Os custos acabam sendo muito grandes e isso
acaba corroendo o dinheiro do fundo. É preciso investir de forma consciente,
ponderada e racional na hora de usar a alavancagem.

Renda Fixa

“Se investir é divertido, se você está se divertindo, provavelmente não está


ganhando dinheiro. Um bom investimento é entediante. ” – George Soros,
investidor bilionário (1930 -?)
A renda fixa tem este nome porque sua rentabilidade é previsível.
Inclusive, justamente pelo fato de ser menos volátil do que ações e fundos
imobiliários, recomenda-se para quem nunca investiu que comece pela renda
fixa.
O que está por trás da renda fixa são empréstimos. Quando você compra
uma aplicação de renda fixa, está emprestando seu dinheiro para um governo,
banco ou empresa. Em troca do dinheiro que você cede, eles te pagam juros.
Os juros têm prazos pré-acordados. Eles podem ser pré-fixados (definidos
no ato da aplicação) ou pós-fixados (a taxa de juros oscila de acordo com o
mercado). Como eu disse anteriormente, a renda fixa deve ser utilizada por quem
está iniciando a construção de patrimônio e não tem contato algum com
investimentos. As suas rentabilidades são relativamente previsíveis e totalmente
previsíveis no vencimento dele. Em outras palavras, você receberá exatamente
o que foi combinado na hora do investimento.
Muitos investidores sustentam que renda fixa não oferece risco. Não
existe investimento sem risco! E se alguém que lhe oferece um “sem risco”, veja
se sua carteira ainda está no bolso. Tudo na vida tem risco, e renda fixa não é
diferente.
Mas antes de falar especificamente sobre os riscos, vamos analisar
alguns dos principais investimentos nesta modalidade. Algumas pessoas estão
acostumadas com a poupança e com CDB. Mas existem outras opções de renda
fixa no mercado brasileiro.
1. Letra de Crédito do Agronegócio (LCA). Título associado a linhas de
crédito no agronegócio.
2. Letra de Crédito Imobiliário (LCI). Título associado a créditos
imobiliários, que são garantidos por hipoteca.
Os dois tipos de linha de crédito (LCI e LCA) são garantidos pelo Fundo
Garantidor de Crédito (FGC) até o valor de R$ 250 mil. FGC é uma entidade que
administra uma proteção aos correntistas e investidores, que permite recuperar
até R$ 250 mil em depósitos ou créditos em instituições financeiras em caso de
falência, intervenção ou liquidação. Os associados são a Caixa Econômica
Federal, os bancos privados, sociedades de crédito, financiamento, investimento
e crédito imobiliário, companhias hipotecárias e associações de poupança.
3. Certificado de Depósito Bancário (CDB). É um título com prazo
predeterminado e com rentabilidade definida no ato da negociação, podendo ser
prefixada ou pós-fixada. Funciona como uma espécie de depósito a prazo fixo.
4. Debêntures. São títulos de dívida, de médio e longo prazo, emitidos
por sociedades anônimas. Boa parte das empresas negociadas na bolsa emite
debêntures no mercado. Algumas chegam inclusive a contar com isenção de
Imposto de Renda para pessoa física.
5. Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI). São lastreados em
direitos creditórios imobiliários.
6. Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Estão vinculados
a direitos creditórios de produtores rurais ou de cooperativas rurais. Este crédito
está relacionado ao financiamento da atividade agropecuária.
Tanto o CRI quanto o CRA não contam com a garantia do Fundo
Garantidor de Créditos (FGC).
7. Títulos Públicos. São os empréstimos do governo. Os títulos públicos
são uma forma do governo captar dinheiro. Em 2002, o governo brasileiro
instituiu o Tesouro Direto, que proporcionou que milhares de pessoas físicas
tivessem acesso aos títulos públicos via internet.
Existem os títulos públicos prefixados, que possuem taxa de
rentabilidade fixa. Digamos por exemplo que ele pague 9% ao ano.
Independentemente do que acontecer no mercado, esse será o rendimento que
você receberá. Tais títulos são recomendados para quem precisa de um valor X
após determinado período, e não pode se dar ao luxo das flutuações inerentes
aos títulos públicos pós fixados.
Os títulos pós fixados tem a sua rentabilidade atrelada a algum índice,
como por exemplo a Taxa Selic. Como este índice oscila com o tempo, também
oscilará a sua rentabilidade. Nesse caso, você não sabe exatamente o quanto
vai receber após um período, e sim uma estimativa do valor.
Por fim, existem os títulos públicos híbridos, ou seja, sua rentabilidade
é composta por uma parte pré-fixada e uma parte pós fixada. No Tesouro Direto
um dos principais títulos desta modalidade é aquele que reúne uma taxa de juros
pré-fixada somada ao índice do IPCA (índice da inflação). Estes títulos são
recomendados para os investidores que desejam se proteger da inflação e ainda
ganhar algum rendimento real após ela.
Abaixo menciono os títulos públicos disponíveis ao investidor através do
Tesouro Direto enquanto escrevo este trecho do livro. Lembrando que
futuramente as datas de vencimento mudarão, mas os títulos e suas respectivas
características permanecerão as mesmas.
Prefixados

Título Vencimento Taxa de Rendimento


(% a.a.)
Tesouro Prefixado 2021 01/01/2021 7,30
Tesouro Prefixado 2025 01/01/2025 8,91
Tesouro Prefixado com 01/01/2029 9,05
Juros Semetrais 2029

Pós Fixados

Título Vencimento Taxa de Rendimento


(% a.a.)
Tesouro Selic 2023 01/03/2023 Taxa Selic

Híbridos

Título Vencimento Taxa de Rendimento


(% a.a.)
Tesouro IPCA+ 2024 15/08/2024 4,25 + IPCA
Tesouro IPCA+ 2035 15/05/2035 4,59 + IPCA
Tesouro IPCA+ 2045 15/05/2045 4,69 + IPCA
Tesouro IPCA+ com 15/08/2026 4,25 + IPCA
Juros Semestrais 2026
Tesouro IPCA+ com 15/05/2035 4,49 + IPCA
Juros Semestrais 2035
Tesouro IPCA+ com 15/08/2050 4,56 + IPCA
Juros Semestrais 2050

Vale ressaltar que os rendimentos e no momento do resgate do título


incide o Imposto de Renda. Quanto mais tempo ficar com o investimento, menor
a alíquota de imposto que você vai pagar.
Veja no quadro abaixo o prazo e as respectivas alíquota regressivas do
IR.

Prazo Alíquota (%)


Até 180 dias 22,5
De 181 a 360 dias 20,0
De 361 a 720 dias 17,5
Acima de 720 dias 15,0

O Que Analisar ao Investir em Renda Fixa?

Algumas modalidades de renda fixa possuem carência, ou seja, você não


pode resgatar o dinheiro antes de certo prazo. E caso realmente precise sacar,
terá que pagar taxas, multas e impostos com alíquotas altas.
Ao emitir dívidas, as empresas, bancos ou governos recebem um selo de
“rating”, ou seja, uma instituição faz a análise de capacidade de pagamento do
emissor da dívida.
Um rating é uma opinião sobre a capacidade de um emissor de fazer
pagamentos pontuais da dívida. Ratings não são recomendações de compra ou
venda, nem são uma garantia de que um default (calote) não irá ocorrer. Não se
deve confiar cegamente em tais análises, mas em boa parte dos casos elas
servem como um bom parâmetro.
John Moody introduziu ratings no mercado norte-americano de títulos em
1909, quando ele publicou os primeiros ratings de dívida em seu Manual de
Títulos de Dívida Ferroviários.
Desde então, a Moody’s se tornou uma empresa gigantesca de análise de
risco, e é uma das três maiores agências de classificação de risco de crédito, ao
lado da Standard & Poor's e da Fitch Ratings.
Ela tem uma tabela de classificação muito importante para quem deseja
conhecer melhor o universo da renda fixa.
Ratings de Títulos de Dívida de Longo Prazo (acima de 12 meses)

Aaa O mais alto grau


Aa1, Aa2, Aa3 grau alto
A1, A2, A3 grau médio-alto
Baa1, Baa2, Baa3 grau médio
Ba1, Ba2, Ba2 elementos especulativos
B1, B2, B3 carece de características de um
investimento desejáveis
Caa1, Caa2, Caa3 papéis de fraca condição
Ca altamente especulativo
C o mais baixo rating

Historicamente, a taxa de calotes para títulos Aaa é baixa. Entre 1970-


2000, foi de 0,67%. A medida que o investidor vai descendo a escala em direção
ao grau especulativo, a taxa de calote aumenta bastante. Para se ter uma ideia,
títulos com rating B apresentaram taxa de calote de 45%.
É claro que a renda fixa apresenta menor “risco” do que a renda variável,
mas isto não significa que eles não existam. Os principais riscos são:
a) Risco de Crédito. Quando o investidor (credor) compra um título de
renda fixa, e o emissor (devedor) não realiza o pagamento por quebra ou
inadimplência.
b) Rentabilidade. As taxas da renda fixa oscilam. Se você manter até a
data do vencimento, vai receber o que foi acordado. Mas se você precisa vender
antes, pode perder dinheiro devido as condições de mercado.
c) Liquidez. Os títulos de renda fixa podem ser negociados. Mas o
mercado costuma ser bem ilíquido, ou seja, com poucos compradores e
vendedores. Isto pode ser prejudicial para quem quiser sair antes do vencimento.
A exceção seria o Tesouro Direto, programa implementado pelo Tesouro
Nacional do Brasil, com o objetivo de tornar popular o acesso ao investimento
em títulos públicos, possibilitando sua compra por pessoas físicas pela internet.
“- Mas qual investimento em renda fixa é o melhor em termos de
rentabilidade? ”
Não existe nenhuma garantia e certeza de qual título público, LCI, LCA,
CDB, enfim, de nenhum investimento de renda fixa que será mais vantajoso no
futuro.
O que pode ser feito é uma diversificação para garantir que você esteja
exposto a vários cenários econômicos diferentes (alta de juros, baixa de juros,
inflação); emissores diferentes (governos, empresas, bancos); prazos diferentes
e taxas acordadas diferentes.
Vejamos como se saíram diversas modalidades de investimentos ao
longo dos últimos anos.

Ano Poupança Tesouro CDB LCI/LCA


Direto*
2017 3,54% 6,12% 6,18% 5,32%
2016 8,30% 14,20% 15,50% 13,25%
2015 8,07% 13,27% 14,59% 12,48%
2014 7,08% 10,90% 11,90% 10,20%
2013 5,81% 8,22% 8,86% 7,61%
2012 6,48% 8,49% 9,24% 7,93%
2011 7,45% 11,62% 12,83% 10,98%
* índice que corresponde a uma média ponderada de vários títulos públicos

Investimentos Alternativos

Recorda-se de quando estudamos sobre Ray Dalio e seu All Weather


Portfolio? Você se recorda da divisão entre ativos? Títulos de Renda Fixa de
Longo Prazo 40%; Ações 30%; Títulos de Renda Fixa de Médio Prazo 15%; Ouro
7,5%; Commodities 7,5%.
E do David Swensen, o gestor de Yale? Aquele que possuía 40% da
carteira em Venture Capital, imóveis, REITs (fundos imobiliários americanos),
empresas privadas não negociadas em bolsa, start ups e demais ativos não
tradicionais. Você se lembra desses conteúdos, certo?
Por qual motivo estou relembrando esses dois consagrados investidores
e suas estratégias? Porque os portfólios também têm espaço para investimentos
alternativos e diversificação internacional.
-“ Peraí! Investir em outros países? Isso é permitido? O que eu ganho com
isso? ”
Exatamente, investir em outros países é perfeitamente legal. E evita que
você coloque “todos os ovos em uma única cesta. ”
Quando você coloca todos os seus investimentos em um único país,
acaba dependendo 100% da estabilidade econômica, monetária, política e
jurídica daquele país. E basta uma pequena análise na história moderna das
civilizações para perceber que até mesmo os grandes impérios passam por
turbulências inimagináveis.
Já aprendemos que os humanos têm uma capacidade bem limitada em
prever o futuro. E existem alguns eventos que podem mudar drasticamente
nossas vidas. Será que os habitantes da Venezuela esperavam, no início dos
anos 2000, que passariam pela situação culminou em um verdadeiro estado de
calamidade pública?
Uma das melhores formas de se proteger do desconhecido é se
tornar preparado para o inesperado.
Um dos melhores estudiosos sobre como se proteger dos acasos do
futuro é Nassim Taleb, um estatístico e analista de riscos nascido no Líbano, que
fez carreira nos Estados Unidos trabalhando em instituições financeiras.
Taleb escreveu várias obras sobre a incerteza e o caos do futuro. Uma
das principais é Black Swan (A Lógica do Cisne Negro), onde ele demonstrou
que os fatos imprevisíveis na verdade são fruto da nossa visão estreita. Aqueles
investidores que estão menos conscientes das possibilidades de um
evento improvável são aqueles que mais sofrem com as consequências
extremas.
Para compreender melhor, Taleb conta uma história.
Muito tempo atrás, as pessoas acreditavam que só haviam cisnes
brancos. Até que, ao colonizarem a Austrália, descobriram a existência de cisnes
negros! Ninguém esperava por isso! Mas as pessoas não esperavam justamente
porque nunca cogitavam a existência de cisnes negros e já presumiam – com
toda a certeza do mundo - que apenas haviam cisnes brancos no planeta.
O mesmo cenário vale para os investimentos. Crises são inerentes ao
sistema capitalista. Se você deixa uma margem de segurança para caso ela
aconteça, não será pego de surpresa.
Um investidor que investe 100% dos seus ativos em apenas ações
brasileiras está totalmente protegido do desconhecido? Claro que não.
-“Mas você ensinou que as ações sempre proporcionaram um ótimo
retorno, com histórico sólido! ”
Sim, é verdade. Mas este investidor 100% investido em Brasil certamente
ficará arrasado se nosso país passar por governos que não são afeitos ao
capitalismo, que possam intervir demasiadamente na economia e até estatizar
algumas propriedades privadas.
-“Ah, mas isso nunca aconteceu no Brasil! ”
Você acabou de ler a frase mais utilizada para analisar riscos. E também
a mais equivocada.
Utilizar o termo “- mas isso nunca aconteceu antes” para justificar uma
tese é a pior forma de se proteger de um cisne negro. Não se protege do risco
justificando o fato dele nunca ter ocorrido, e sim se protegendo para caso ele
ocorra.
No exemplo acima, um cisne negro político, jurídico ou econômico pode
simplesmente destruir o portfólio de nosso investidor 100% alocado em Brasil.
Um dos maiores equívocos que os investidores cometem é a tendência em
buscar prever o futuro usando o passado como explicação.
Eles se baseiam apenas nos fatos que já aconteceram no passado,
criando uma narrativa que faça sentido e que o futuro passe a se tornar “menos
desconhecido.”
Vamos a outra história para nunca mais esquecer o conceito.
Por um momento você não é mais um ser humano. Agora é um peru. Sim,
isso mesmo. Um peru. Sabe aquele peru de Natal? Então, este mesmo.
Você é pequenininho e está em uma granja. Um ser humano se aproxima
e te dá comida. No dia seguinte, acontece a mesma coisa. Um ser humano se
aproxima e te dá comida. Inacreditável! Você não fez nada o dia inteiro e um ser
humano bondoso e atencioso apareceu e encheu sua barriga!
No dia seguinte é a mesma coisa. Na semana seguinte, a mesma coisa.
No mês seguinte, adivinhe só? A mesma coisa!
Então, você raciocina com o seu cérebro de peru: "- esta belezinha aqui
vai ser assim para sempre. Já estou nessa granja alguns meses, e todo santo
dia aparece um ser humano maravilhoso e me alimenta. Ele não pede nada em
troca. Não preciso trabalhar, não preciso fazer nada! Que vida esplendorosa!"
Então chega o dia 23 de dezembro e você já aguarda ansioso sua refeição
diária. O mesmo humano bondoso aparece, mas desta vez não tem nenhuma
comida com ele.
Hm, estranho.
Ele se aproxima de você, e te leva dar um passeio. Em poucos minutos
você já não é um peru vivo, e está sendo preparado para um delicioso assado
de Natal.
O que esta história nos ensina?
Um dos maiores erros em nosso comportamento é a tendência em
buscar prever o futuro usando o que aconteceu no passado. Construímos
uma narrativa que faz sentido em nossa cabeça e esperamos que o futuro siga
de acordo com o script que temos em nosso cérebro.
Entre 2002 até meados de 2008, os americanos acreditavam que os
preços dos imóveis iriam subir para sempre. Afinal eles haviam subido no último
mês, no último trimestre, no último semestre, no último ano...
A conclusão lógica era: os imóveis continuarão subindo e eu não vou ficar
de fora desta onda! Até que o ano de 2008 apresentou a pior crise da história
desde a Grande Depressão de 1929.
Algumas coisas realmente têm a tendência de permanecer como estão.
Por exemplo, uma empresa boa tende a permanecer boa e uma empresa
ruim tende a permanecer ruim. Veja que estou utilizando a palavra “tende” e
não qualquer outra palavra que signifique certeza.
Existe um problema em guiar as decisões com base no passado.
Conhecemos apenas alguns fatores que podem influenciar no futuro. E a grande
maioria dos fatores que realmente importam é completamente desconhecida
para nós.
Veja alguns exemplos de completa imprevisibilidade: a segunda feira
negra em 1987, quando o Dow Jones caiu 22% em um único dia. A bolha das
ações de tecnologia da Nasdaq nos anos 2000. A crise do subprime americano
em 2008. O impeachment da Dilma apenas 2 anos após ser reeleita. A delação
do Joesley Batista que causou o circuit breaker na B3 em maio de 2017.
A mensagem central de Taleb ao contar a história do peru é que nós
somos muito ruins em tentar prever o futuro. E como somos ruins nisso,
não conseguimos medir o impacto de eventos improváveis em nossa vida.
Uma das soluções para a imprevisibilidade do futuro é justamente deixar
espaço para o que não sabemos. Como não sabemos qual ação vai valorizar,
qual fundo imobiliário vai subir ou qual título do Tesouro Direto vai render mais,
devemos montar uma carteira que seja sólida em qualquer cenário. Nunca
devemos investir com base em um único cenário, um único ativo, um único
setor da economia ou em um único país.
Com todo o material que foi passado até agora, você tem conhecimento
suficiente a seu dispor para montar uma carteira sólida, diversificada entre ativos,
com foco no longo prazo e que será sua fiel escudeira em busca do objetivo
maior: independência financeira.
PARTE 3 – A INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA

“A vida, em parte, é como um jogo de pôquer, em que você tem que


aprender a desistir algumas vezes ao segurar uma mão que gostava - você deve
aprender a lidar com erros e fatos novos que mudam as chances. ” - Charlie
Munger, bilionário e sócio de Warren Buffett (1924 -?)

Você é despertado pela sua antiga música favorita– hoje odiada – em seu
smartphone. Ainda com a visão um pouco embaçada, seus dedos deslizam sob
a tela, buscando acabar o mais rápido possível com aquele som infernal.
Respira fundo, desejando um superpoder de congelar o tempo. Nem que
seja por 30 minutos, tempo suficiente para um cochilo. Tão rápido esta fantasia
vem, e ela vai. Você sabe que o relógio continua a girar. E suas fantasias podem
custar um atraso logo na segunda-feira.
Dúvidas ecoam em sua cabeça enquanto se dirige até a cozinha.
Enquanto abre a geladeira, se pergunta: “- Até quando isto vai ser minha rotina?
Quando vou conseguir viver a vida em meus termos? Por mais quantos dias vou
precisar fazer isto? ”
É hora de escovar os dentes e partir.
O trânsito é ideal para abrir o WhatsApp, Instagram, Facebook e Twitter.
A multidão de carros que se aglomera é o cenário ideal para uma montanha
russa de emoções: raiva, excitação, medo, inveja, depressão, melancolia,
felicidade… quantas mudanças emocionais você pode experimentar ao observar
a vida dos outros e compará-las com a sua.
Eis que um estalo ocorre.
Todas aquelas pessoas ao seu redor, engarrafadas junto com você.
Quem são estas pessoas que estão sete horas da manhã presas juntas no
trânsito? O que faz estas pessoas participarem da mesma rotina por cinco dias
ao longo de uma semana? Estas pessoas estão fazendo isto por vontade própria
ou por obrigação?
Olhe para estes rostos!
Alguém aparenta estar satisfeito e completamente feliz pela vida que
está levando?
Então a realização da epifania ocorre. Estas pessoas não estão ali porque
querem. Não é livre arbítrio, é um instinto condicionado. Se elas não estão felizes
e vivendo a vida que você gostaria de viver, por que seguir o mesmo caminho?
Quais normas, regras, costumes sociais e normas culturais você seguiu
sem questionar? Elas lhe deram a vida que você sonhou?
A sabedoria convencional direciona para uma vida convencional. O
sistema tradicional de ensino nunca te ensinou isto – e nem vai ensinar. Portanto
cabe a você ir atrás da informação que favoreça suas chances de vitória nesta
jornada de longo prazo que chamamos de vida.
Afinal quem é seu proprietário? Quem tem a propriedade sobre você?
Quem é seu real dono? Uma pilha de empréstimos no banco? As faturas do
cartão de crédito? O financiamento da sua casa? O financiamento do seu carro?
A gasolina, o IPVA e o Seguro?
A maioria das pessoas vive, seguindo a frase memorável de Henry David
Thoreau, em um desespero silencioso. Cabe a você decidir se quer seguir esta
ou outra opção.
-“E qual é a outra opção? ”

As Diferenças Entre Quem Chega e Não Chega Lá

"Dar ouvidos a pessoas desinformadas é pior do que não ter nenhuma


resposta". - Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, o hedge fund que
mais retornou lucro aos cotistas na história (1949 -?)

Se tem uma palavra da moda, esta palavra é mindset. O conceito


tradicional de mindset é uma série de crenças, concepções, métodos e ideias,
que uma pessoa tem, que estabelecem os incentivos para realizar certos
comportamentos, escolhas e ações.
Pense em um computador. O processador é o hardware, mas sem os
softwares você não consegue fazer nada. O seu cérebro é o hardware e o seu
mindset são os softwares. Um dos grandes revolucionários, ou melhor,
revolucionária no campo do mindset foi a Dra. Carol Dweck, que escreveu
“Mindset: The New Psychology of Success.” Ela identificou que a diferença entre
o sucesso e o fracasso tem muito mais relação com o tipo de mindset que a
pessoa tem do que talento, sorte ou algo parecido.
A Dra. Dweck dividiu os seres humanos em dois grupos. Growth Mindset
e Fixed Mindset. O primeiro grupo é composto por pessoas que têm a crença de
que qualquer dificuldade é uma oportunidade para crescer. O último grupo é
composto por pessoas que acreditam que suas habilidades e inteligência são
rígidas, e a forma de lidar com os problemas é limitado.
A escolha entre um Growth Mindset pode ser traduzida como um mindset
de abundância e o Fixed Mindset como escassez. Quando você desenvolve uma
mentalidade de abundância, assume que o mundo é ilimitado em possibilidades.
Caso você tenha uma mentalidade de escassez, assume a condição de que
nada pode mudar. Nada do que você fizer na verdade importa. Você nunca será
bom o suficiente.
Se o mindset é uma escolha inteiramente pessoal, você prefere adotar
uma visão de que existem inúmeras oportunidades ou de que a vida é
extremamente limitada?
Um dos principais pontos de virada na sua vida é quando você muda o
seu mindset. Ele é uma escolha.
A maioria das pessoas desiste porque todo mundo as diz que o caminho
é muito arriscado e que é melhor permanecer na zona de conforto. Então elas
se sentem bem em aceitar isso, se sentam no sofá e ficam contemplando
aqueles que estão correndo atrás dos próprios sonhos.
Acontece que se não fizer a sua escolha, uma escolha será feita para
você. Simples assim! Se você não assumir a responsabilidade de mexer as
peças do tabuleiro, os outros irão mexê-lo.
O sucesso é sobre lidar com a realidade, encarando seus medos. Se você
precisa de alguém dando tapinhas em suas costas e falando “- Hey, você está
no caminho certo para a construção de um patrimônio sólido no longo prazo!”
então não terá muito sucesso ao longo da jornada. Porque precisa ter muita
confiança em si mesmo para encarar a realidade como ela é e fazer as coisas
funcionarem em seu favor e não contra você.
Sugiro que faça o seguinte. Sabe aquela história clichê de copo meio
cheio, meio vazio? Esvazie-o completamente. Ou melhor, pegue outro copo
limpo e vazio. Esqueça tudo o que pensou, tudo o que acreditou, todas as
opiniões que você teve. Comece sua jornada rumo a independência financeira
agora.
Copo novo. Copo vazio. Você acaba de jogar fora todas as barreiras
mentais que estão o segurando de ser imbatível. Vamos começar algo
completamente novo.
Observar o mundo com um olhar realista não é nenhum sistema religioso,
filosófico ou algo parecido. É apenas olhar o mundo como ele realmente é. Se
você se agarra em ideias bonitas e reconfortantes, acaba olhando o mundo como
gostaria que ele fosse e não realmente como ele se apresenta diante dos seus
olhos.
Existem culturas que possuem doses exageradas de fantasias e outras
que são um pouco mais realistas, mas a essência do ser humano é a mesma no
planeta todo. A maioria absoluta das pessoas precisa de um escape, de uma
fantasia, de algo para se apegar e tentar fugir da realidade.
Você não pode sozinho enfrentar a maré de ilusão e fantasia em que está
inserido, mas pode ser um indivíduo atento a todas estas armadilhas e adotar
uma postura poderosa para si mesmo. A consciência lógica e racional é a maior
arma contra as fantasias que tentam lhe enfiar goela abaixo.
Quando as coisas são muito reluzentes, dê um passo para trás, deixe o
seu lado racional entrar em cena. Cave até chegar a raiz. Jamais se contente
com a primeira impressão. Não se deixe levar por aquilo que chega diante dos
seus olhos.
É através da intensa relação com a realidade que a vida começa a se
encaixar. Busque deixar de lado suas fantasias sobre o mundo e veja com as
lentes da objetividade e racionalidade humana. Você não irá se desapontar no
longo prazo.
A definição que você tem de si mesmo é o que determinará suas ações e
conquistas. Estabeleça metas altas e objetivos grandes. O valor que você
atribui a si mesmo depende apenas de uma pessoa: você.
Quando começa a se destacar em algo, algumas pessoas tentam te
colocar de volta ao lugar que elas querem que você fique. Ciúmes e inveja fazem
parte desta mistura. As próprias pessoas que dizem lutar contra o sistema
acabam sendo aquelas que tentam te puxar para baixo, limitando sua
personalidade e podando seu comportamento ambicioso. Mas tudo é com o
interesse de proteger a elas mesmas.
Não dependa da opinião dos outros para formar o seu próprio juízo de
valor. Porque na jornada rumo a independência financeira, a maioria não
entenderá o que você faz e não irá te apoiar. Pelo contrário, duvidarão do que
está fazendo, questionar a sua insanidade e até virar motivo de chacotas
daqueles que não entendem os seus motivos.
Você precisa viver sua vida de forma corajosa, libertadora. É necessário
você dar um FUCK THAT SH!T para a opinião dos outros. Aqueles que ficam
muito preocupados com a opinião alheia, não avançam a lugar nenhum.

As Bases Sólidas da Independência Financeira

“Se você sempre tomar a decisão que a maioria das pessoas faz, você
será o mesmo que todas elas. ” - Paul Arden, escritor inglês (1940 – 2008)
Para construir qualquer empreendimento sólido é necessária uma base
forte, bem estruturada. Para a independência financeira não é diferente. E o
primeiro pilar é a renda. Esta renda que antes era apenas proveniente do seu
trabalho, na independência financeira será proveniente de seus dividendos e
proventos. É claro que pode-se permanecer trabalhando, mas apenas fará isto
se realmente quiser.
Quanto mais diversificado você for em relação a suas fontes de rendas,
melhor para sua segurança no longo prazo. Por exemplo, se depender apenas
do seu salário, o dia que você for demitido, sua renda cai para R$ 0.
E o mesmo vale se você é um autônomo (médico, advogado, etc). Se ficar
doente ou a demanda pelos seus serviços cai, sua renda vai também cair. Não
há uma estabilidade no fluxo da renda.
O mais importante é alcançar um fluxo de caixa que permita você ter a
liberdade. É o famoso fazer o que quiser, quando quiser, com quem quiser e
como quiser. Por exemplo, se estiver bem diversificado em Fundos Imobiliários,
Ações e Renda Fixa, seu fluxo de rendimentos (e vencimentos das aplicações)
te proporcionará a liberdade para utilizar o seu tempo da forma que bem
entender.
Quando receber mensalmente o suficiente para cobrir o seu aluguel (ou
financiamento do imóvel), condomínio, água, luz, gás, IPTU, internet, gastos com
transporte, alimentação, vestuário, saúde, educação e lazer, está vivenciando os
primeiros passos da independência financeira. O fluxo de caixa proveniente dos
rendimentos é o que te permite ter maior tranquilidade no longo prazo. Mas antes
de que tudo isso vire realidade, é preciso construir outro pilar muito sólido.
E este segundo pilar é o colchão de segurança. Aqui é onde você
constrói toda sua confiança para enfrentar dias ruins. Invariavelmente passamos
em nossas vidas por momentos de surpresa. Um processo inesperado que
devemos arcar. Um acidente. Um filho que não estava nos planos. Um divórcio.
Uma doença grave. Enfim, são vários os exemplos de surpresas que podem nos
pegar desprevenidos financeiramente.
Quando você tem cerca de 6 a 12 meses de seus gastos mensais
recorrentes em uma conta corrente ou poupança, você inconscientemente se
sente mais seguro para enfrentar o desconhecido. O seu medo de ser demitido
e ficar completamente perdido é minimizado quando se recorda do colchão de
segurança. O seu receio de que seu empreendimento vá por terra é amenizado
quando se lembra do valor que tem guardado para dias chuvosos.
Nada é mais confortante do que saber que um infortúnio financeiro pode
ser contornado imediatamente, porque você tem grana disponível para isso, sem
mudar em nada o seu dia-a-dia.
Para construir o colchão de segurança é necessário que abra mão de
pequenos prazeres imediatos para ter um futuro com felicidade mais
duradoura. Não é preciso abrir mão de todos os prazeres da vida, mas é
necessário desenvolver um senso de evitar a gratificação instantânea em todos
os momentos.
As pessoas perguntam qual é o percentual do salário que deve ser
poupado. Algumas respondem 10%, outras 20%, e alguns 30%. A grande
verdade é que quanto maior a sua taxa de poupar, mais rápido criará o seu
colchão de segurança, e consequentemente os seus investimentos para a
independência financeira. Fica a seu critério decidir o quanto você vai poupar de
acordo com o seu objetivo.
Independentemente de qual seja a sua resposta, uma coisa é garantida.
Enquanto você viver de salário em salário, dificilmente será uma pessoa tranquila
no longo prazo. O estresse e a pressão sob seus ombros fazem muito mal à
saúde em períodos longos. Busque abrir mão de alguns prazeres imediatos e
comece a poupar para ter um futuro melhor.
O terceiro pilar são os investimentos. A grande diferença entre o
colchão de segurança e os investimentos, é que o primeiro você não deve se
preocupar com o retorno. A rentabilidade do colchão de segurança pouco
importa, o que realmente conta é a facilidade de acesso ao dinheiro. Já nos
investimentos, o que é importante é o retorno de longo prazo que ele pode trazer,
seja pela valorização, seja pela distribuição dos proventos.
Aqui é o famoso “colocar o dinheiro para trabalhar para você. ” E o fator
mais importante aqui não é a rentabilidade em si, mas o tempo que você
permanece com bons investimentos. No longo prazo, nada bate o tempo.
Rentabilidade é importante? Claro! Mas o fator primordial para um investimento
é o foco no longo prazo. E quanto mais cedo começar, melhor.
“- E quando eu sei que sou financeiramente independente? ”
Bem, quando todos os seus gastos para viver uma vida realmente boa
são cobertos pelo fluxo de caixa constante e previsível de seus rendimentos,
então pode se considerar independente. A sua habilidade de suprir o seus
desejos essenciais e extravagantes não é mais restrita ao seu antigo trabalho do
dia a dia.
Lembrando que independência financeira significa liberdade e não
necessariamente uma aposentadoria para viver jogado em um sofá. É claro que
pode fazer o que quiser da sua vida, mas pessoas que chegam neste nível
aproveitam o tempo livre para fazer o que realmente apreciam, gostam e
valorizam.
A transição também não é binária: um dia você é um trabalhador por
completo e no dia seguinte é financeiramente independente. A transição é
gradual, com uma redução constante do tempo de trabalho. O poder não está
em sair do seu trabalho. O poder está em saber que você pode sair a qualquer
momento.
Construir uma estrutura que seja bem-sucedida, possibilitando a
independência financeira requer a habilidade para planejar e executar, de
maneira que as receitas passem a ser recorrentes. E tudo isto passa por um
princípio básico: processos.
O princípio do processo é a consciência plena e cristalina de que
resultados extraordinários exigem ações extraordinárias. Isto significa a
implementação de hábitos, rotinas e sacrifícios diários.
Você se lembra do Michael Phelps? Em 2008, nas Olimpíadas da China,
este nadador americano conquistou nove medalhas de ouro. Toda a imprensa
destacava-o no pódio, mencionando como Michael era um ser humano fora do
padrão, sortudo, abençoado, escolhido entre outras definições.
A mídia focava apenas os holofotes no resultado final. O que é deixado
de lado nas reportagens é o processo. Michael Phelps treinou rigorosamente por
anos, desde sua infância até a idade adulta, em um processo de
desenvolvimento que envolveu muitos sacrifícios.
Quando uma capa da revista Forbes é estampada com o mais novo
bilionário do momento, o que é enfatizado são apenas glórias do mais novo rico
do momento. Mas não é abordado o processo que ele criou, ao longo de anos,
para tornar o sonho em realidade. E sabe por qual motivo isto não é
mencionado? O esforço, as dificuldades, a batalha diária e o sacrifício não
vendem tão bem quanto a ilusão de que tudo isto pode ser alcançado em
um estalar de dedos.

Os 3 Estágios da Independência Financeira

“A chave para buscar a excelência é adotar um processo de aprendizado


orgânico e de longo prazo, e não viver em uma concha de mediocridade estática
e segura. Normalmente, o crescimento vem à custa do conforto ou segurança
anteriores”. - Josh Waitzkin, enxadrista americano (1976 -?)

Já percebemos que atingir a independência financeira necessita de uma


sólida estrutura. Mas é preciso também abordar que existem vários estágios, de
acordo com o quanto deseja usufruir de bens materiais e também de
experiências pessoais.
Ao contrário do que muitos pensam, não se trata apenas de dinheiro. Se
trata de quanto dinheiro recorrente é necessário para você gastar o seu tempo e
liberdade de forma mais compatível com seus interesses.
A independência financeira é o que abordei anteriormente: quando você
não é mais obrigado a trabalhar para cobrir todas as suas despesas mensais
recorrentes. E aqui existem dois métodos básicos para se considerar
independente financeiramente:
a. Os seus rendimentos são superiores a seus gastos mensais ou
b. O seu patrimônio líquido total é maior do que os anos que você tem de
vida pela frente multiplicado pelo valor de suas despesas anuais.
Por exemplo, digamos que você tem 55 anos de idade e espera viver até
aos 85 anos. Você tem 30 anos pela frente. Digamos que gasta R$ 100.000,00
(cem mil reais) por ano, em despesas obrigatórias e também prazeres
supérfluos. Isto significa que você vai alcançar sua independência financeira
quando alcançar R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais) em seus investimentos.
Particularmente não sou muito fã desta última opção. Primeiro, porque
não sabe quanto tempo de vida tem pela frente. Temos várias estatísticas para
se basear, mas nada impede de você viver até os 90, 95, 100 anos! O que vai
fazer se o dinheiro acabar antes?
Segundo, esta conta não leva em consideração a inflação. E, em um
país como o Brasil, sempre é importante levar em consideração o aumento do
custo de vida.
“-Ah, mas você não está levando em consideração a eventual valorização
e o aumento na distribuição de dividendos! ”
Exato, não estou. Estou adotando uma postura conservadora aqui. É claro
que existe a possibilidade de valorização. Mas também de desvalorização! O
que você vai fazer aos 65 anos se seu patrimônio cair 50% em uma crise severa
quanto a de 2008? Voltar a trabalhar? Isto definitivamente não é um plano para
independência financeira. Neste caso, nada melhor do que adotar uma postura
conservadora para evitar “cisnes negros”.
Então vou focar na opção “a”, ou seja, quando os rendimentos de suas
ações, fundos imobiliários e renda fixa são superiores a seus gastos mensais.
O primeiro estágio da independência financeira é quando você
alcança R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) por ano de rendimentos. Isto dá cerca
de R$ 3.333,33 por mês. Este primeiro estágio varia de região para região do
país. Por exemplo, se você mora no Norte do Brasil este valor mensal é suficiente
para pagar todas suas despesas obrigatórias e ainda sobra para alguns
pequenos luxos. Já em São Paulo capital, este valor fica bem no limite para
pagar somente as despesas obrigatórias, em uma região de classe média, sem
espaço para grandes luxos.
Apesar de colocar um número, o que facilita para uma visualização, você
pode adaptar o valor exato de acordo com a sua idade, seus gastos pessoais,
familiares e a região onde mora. Ao invés de se focar no número, leve em
consideração todas as suas despesas obrigatórias. Quando você chegar a um
número, é este que você deve ter em mente na hora de alcançar o primeiro
estágio.
Eu sempre gosto de utilizar dados conservadores para se projetar
rendimentos futuros. O Dividend Yield das ações do índice Ibovespa, de 2002
até 2018, oscilaram de 5,20% até 2,21% ao ano. Então, vamos utilizar a média:
3,66%

Então, levando em consideração proventos e dividendos de 3,66% ao ano


sobre o valor de sua carteira de investimentos, vai precisar cerca de R$
1.100.000,00 (um milhão e cem mil reais) em investimentos, para que lhe
paguem R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) anuais - R$ 3.333,33 por mês.
O segundo estágio da independência financeira é quando você alcança
R$ 85.000,00 (oitenta e cinco mil reais) por ano de rendimentos. Isto dá cerca de
R$ 7.083,33 por mês. Agora você já pode se dar ao luxo de pagar todas as suas
despesas obrigatórias e ainda pode se dar ao luxo de comprar alguns itens para
satisfazer seu prazer.
“- Ah, mas R$ 7 mil por mês é pouco. Este valor não dá para fazer viagens
a cada 2 meses e nem para bancar o carro importado que eu quero ter.”
Isso é verdade. Lembre-se que nós estamos falando dos vários estágios
da independência financeira. Este aqui é o estágio em que você não apenas
paga todas suas despesas obrigatórias, mas também se permite em viver (em
quase) qualquer região do Brasil, com uma vida confortável. E o melhor: sem ter
que trabalhar em algo que não gosta, podendo fazer o que bem quiser com a
sua liberdade e o seu tempo.
Levando em consideração proventos e dividendos de 3,66% ao ano sobre
o valor de sua carteira de investimentos, irá precisar cerca de R$ 2.300.000,00
(dois milhões e trezentos mil reais) em investimentos, para que lhe paguem R$
85.000,00 (oitenta e cinco mil reais) anuais - R$ 7.083,33 por mês.
Por fim, temos o terceiro estágio da independência financeira, que é
quando você alcança R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais) por ano de
rendimentos. Isto dá R$ 15.000,00 (quinze mil por mês). Levando em
consideração proventos e dividendos de 3,66% ao ano sobre o valor de sua
carteira de investimentos, precisará cerca de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões)
em investimentos, para que lhe paguem R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais)
anuais - R$ 15.000,00 por mês.
Vale lembrar que atingir o terceiro estágio não significa que você não
possa evoluir mais ainda. Não existe valor máximo para receber de rendimentos
anuais. Estes três estágios são checkpoints que são observados na jornada da
independência financeira, mas quando atinge o terceiro não significa que parou
ali. Tudo depende de sua vontade em prosseguir e almejar mais (ou não).
A fase bônus é a fase da abundância financeira. Quando você
conquista não somente a independência financeira, mas sim em um fluxo que
lhe permite viver em abundância – seja de bens materiais ou de experiências.
Você acumulou uma riqueza além da necessidade de suas despesas, seus
desejos e luxos do dia a dia.
Também vale ressaltar que estes três estágios são para o método de viver
apenas dos rendimentos e não consumindo os próprios ativos. Como eu
mencionei anteriormente, o método de consumir o valor dos ativos (gastar os
próprios investimentos) conta com variáveis que fogem do nosso controle, como
por exemplo o tempo de vida que a pessoa vai ter, inflação e crise financeira.
Então todos os estágios acima são construídos com base na opção de viver
apenas dos rendimentos, sem tocar no principal!
Caso a pessoa queira optar pela opção de estimar o tempo de vida futuro
e gastar mensalmente os valores de seu patrimônio até a exaustão, ela pode
fazer. Para gastar R$ 15.000,00 (quinze mil reais) por mês – que é o mesmo
valor de rendimentos que ela recebe mensalmente ao atingir um patrimônio
líquido investido de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) – ela precisa ter
R$ 5.400.000,00 (cinco milhões e quatrocentos mil reais) para poder usufruir ao
longo dos próximos 30 (trinta) anos. Aqui não estou levando em consideração
os dividendos, proventos e a inflação. Apenas utilizando o valor do patrimônio
em si, sem considerar nenhuma destas variáveis, para facilitar a compreensão.
Valor do Patrimônio em Valor Mensal de Proventos
Investimentos
R$ 1.100.000,00 R$ 3.333,33
R$ 2.300.000,00 R$ 7.083,33
R$ 5.000.000,00 R$ 15.000,00

Outro ponto importante a destacar é que a carteira de investimentos neste


caso está levando em consideração apenas o Dividend Yield das empresas do
índice Bovespa. Historicamente, os Fundos Imobiliários apresentam um Yield
maior do que as empresas. Então, vale ressaltar que caso a carteira seja
composta de FIIs, o valor recebido mensalmente de proventos é maior quando
comparado apenas a ações. Isto significa que para atingir o mesmo valor de
proventos mensais na tabela acima, é possível ter menos patrimônio investido
(pois a distribuição através dos proventos é maior).

O Poder dos Juros Compostos

"Considere os índios de Manhattan, que em 1626 venderam todas as suas


propriedades para um grupo de imigrantes por US$ 24 (vinte e quadro dólares)
em bugigangas e miçangas. Durante 362 anos os índios foram sujeitos a piadas
cruéis por causa disso - mas acontece que eles podem ter feito um acordo
melhor do que os compradores da ilha. Aplique 8% de juros em 24 dólares
durante todos esses anos e os índios teriam acumulado um patrimônio líquido
de US$ 30 trilhões, enquanto os últimos registros fiscais do bairro de Manhattan
mostram que todos os imóveis valem juntos US$ 30 bilhões(...) que diferença os
juros compostos podem fazer." Peter Lynch, gestor do fundo de ações Magellan,
que produziu uma rentabilidade anual de 29,2% durante os 13 anos em que ele
geriu o portfólio (1944 - ?)

Imagine que você está caminhando por uma rua movimentada do centro
da sua cidade, enquanto passa os olhos pelas vitrines de algumas lojas. Eis que
se depara com uma pequena multidão aglomerada em volta de um sujeito.
Ao chegar mais perto para entender o que está acontecendo, se depara
com um homem de terno abarrotado, gravata afrouxada e um semblante
psicótico. Ele começa a tirar notas de dinheiro do bolso e rasgar na frente de
uma multidão estarrecida. “ – Mas que loucura! Este cara está rasgando dinheiro
mesmo?!” Aparentemente ele sofreu de um surto psicótico, burnout ou algo
parecido.
Ver alguém desperdiçando dinheiro é premissa para chamar aquela
pessoa de louca. Isso nos incomoda, afinal o dinheiro tem valor. Desperdiçá-lo
parece maluquice. Ao contrário da reação previsível que temos ao ver alguém
desperdiçar dinheiro, nós não pensamos o mesmo quando é uma pessoa
desperdiçando o tempo.
Enquanto escrevo este livro, a quantidade de dinheiro físico e on-line ao
redor do planeta é estimada em 81 trilhões de dólares. A vida de um ser humano,
em média, é estimada em 2.3 bilhões de segundos. Qual dos dois é mais
escasso? Qual dos dois é finito? Qual pode ser criado com um simples toque de
dedos no teclado de algum Banco Central? O mais interessante é que, no caso
do tempo, não podemos sequer recuperá-lo, o que torna ainda mais insano
desperdiçá-lo.
Na vida e nos negócios, as pessoas que admiramos são aquelas que têm
forte controle sobre como gastam seu tempo. O tempo é um dos ativos mais
subestimados e o mais onipresente. Quando empregado corretamente, o uso
inteligente do tempo torna-se um amplificador da nossa satisfação de vida e
sucesso financeiro. Quando gasto sem consideração, torna-se uma fonte de
arrependimento.
O tempo é invisível, por isso é fácil gastar de modo despretensioso. É
apenas perto do final da nossa vida que a maioria de nós perceberá o valor do
tempo. Ter a consciência de que o tempo é um bem escasso e finito pode fazer
você vê-lo de outra forma.
Ao admitir que ele é limitado e irrecuperável, pensará duas vezes antes
de cogitar em desperdiçá-lo. Rasgar dinheiro em frente a dezenas de pessoas é
um sinal de loucura. O que dizer daqueles que fazem o mesmo com um ativo
ainda mais valioso do que umas notas de papel?
E uma das principais forças na construção de um patrimônio é a junção
destes dois ativos tão valiosos: os juros compostos. É a capitalização do dinheiro
durante o tempo.
Albert Einstein uma vez disse que a força mais poderosa do universo era
o princípio aplicável ao juro composto. Benjamin Franklin disse que utilizam os
juros compostos a seu favor estão utilizando o melhor caminho para a construção
da riqueza.
Em termos simples, juro composto significa que você ganha juros sobre
juros, resultando em um crescimento dos seus investimentos em velocidade
acelerada. Se você tem R$ 500,00 (quinhentos reais) e ganha 10% de juros,
você passa a ter R$ 550,00 (quinhentos e cinquenta reais). Se você ganhar
novamente 10% de juros, então você passa a ter R$ 605,00 (seiscentos e cinco
reais). E assim por diante. Se dissecar e estudar como grandes fortunas são
construídas, a maioria absoluta delas se beneficiam deste princípio. Existem 3
coisas que determinam o seu retorno dos juros compostos:
1. A taxa de retorno que você ganha sobre seu investimento. Por
exemplo, se investe em ações é o quanto a ação (des)valorizou somado aos
dividendos recebidos.
2. A taxa de imposto. Existem duas certezas na vida: a morte e os
impostos. Nos investimentos não é diferente. Para fins de acumulação de
patrimônio, quanto menos imposto é obrigado a recolher aos cofres públicos,
maior é a soma total de dinheiro disponível para investir.
3. O tempo. E este é o fator crucial para a atuação dos juros compostos.
Muitas pessoas esquecem deste ponto ao investir. Quanto mais tempo mantiver
um investimento bom, maior será seu patrimônio. Não é diferente do que plantar
uma árvore. Você prepara a terra, semeia, rega, e então as primeiras folhas
aparecem. Depois, permanece regando e cuidando. Ela começa a ganhar uma
estrutura sólida, mas ainda não dá frutos. Após um tempo, os primeiros frutos
começam a aparecer. Naturalmente, uma árvore com 30 anos passa a ser
admirada. Com 50 anos ela é assustadoramente grande. E aquelas que chegam
a 100 chegam a atrair turistas só para tirar fotos, visto a sua majestosa robustez
e imponência.
A fundação dos juros compostos é estabelecida em cima desses três
pilares. Mas existe um componente que poucas pessoas se atentam, que é o
fator psicológico necessário para desenvolver esta mentalidade. É necessário
que as pessoas compreendam que R$ 100,00 hoje podem valer R$ 1.000,00 em
um futuro não muito distante. E é exatamente esta necessidade de gratificação
instantânea que faz muitas pessoas não permitirem que os juros compostos
atuem de maneira correta. Mas vou abordar o tema da gratificação instantânea
e como trabalhar ela a seu favor mais à frente. Por enquanto, permaneceremos
com os juros compostos.
A tabela abaixo lhe mostra uma visão de juros compostos ao longo do
tempo, de acordo com diversas taxas de retorno ao investir somente R$
10.000,00 (dez mil reais) de uma só vez, e deixar os juros compostos fazerem o
seu trabalho.

4% 8% 12% 16%
10 R$ 14.802,00 R$ 21.589,00 R$ 31.058,00 R$ 44.114,00
Anos
20 R$ 21.911,00 R$ 46.610,00 R$ 96.463,00 R$ 194.608,00
Anos
30 R$ 32.434,00 R$ 100.627,00 R$ 299.600,00 R$ 858.500,00
Anos
40 R$ 48.010,00 R$ 217.245,00 R$ 930.510,00 R$ 3.787.212,00
Anos
50 R$ 71.067,00 R$ 469.016,00 R$ 2.890.022,00 R$ 16.707.038,00
Anos

Juros compostos atuam de maneira extraordinária. E para você aproveitar


todos os benefícios, é necessário que reinvista os ganhos dos dividendos e
proventos.
Se investisse US$ 10.000,00 no índice S&P 500, através de um fundo
como o Vanguard 500, em 28/02/1997, após 20 anos, na data de 28/02/2017,
teria US$ 42.650,00, desde que reinvestisse todos os dividendos recebidos de
volta no fundo. Sem reinvestir os dividendos, o valor final seria de US$
29.548,00, ou seja, 30% a menos do que se tivesse reinvestido.
“-Ah, mas eu gosto de selecionar as minhas próprias ações! Isso também
funciona para quem faz stock pick?”
Um investimento inicial de US$ 10.000,00 na Apple em 31/12/1980 teria
crescido até US$ 2.709.248,00 na data de 28/02/2017. Isso significa um retorno
médio anual de 16,75%. A Apple começou a pagar dividendos apenas em 2012,
então se não tivesse reinvestido os dividendos na ação, o valor final seria de
US$ 2.247.949,00, ou seja, 17% a menos do que se tivesse reinvestido.
É claro que a Apple é um ponto fora de curva. Nem todas as empresas
terão uma performance estelar como ela. Mas o que precisa ficar claro aqui é
que não é necessário acertar em cheio em qual ação será a próxima Apple,
Google ou Facebook. O ponto principal é quanto mais cedo você começa a
investir. O tempo é rei nos juros compostos.
Um jovem de 25 anos de idade que deseja acumular R$ 1.000.000,00 (um
milhão de reais) até os 60 anos, precisa investir R$ 880,21 a cada mês,
assumindo que terá uma rentabilidade média de 5% ao ano em seus
investimentos.
Uma pessoa de 35 anos de idade que deseja acumular R$ 1.000.000,00
(um milhão de reais) até os 60 anos, precisa investir R$ 1.679,23 a cada mês,
assumindo que também terá uma rentabilidade média de 5% ao ano.
Uma pessoa de 45 anos de idade que deseja acumular R$ 1.000.000,00
(um milhão de reais) até os 60 anos, precisa investir R$ 3.741,27 a cada mês,
assumindo a rentabilidade média de 5% ao ano.
Percebe como o tamanho do aporte para a pessoa de 45 anos é quatro
vezes a quantia do aporte da pessoa de 25 anos? Começar cedo é essencial
para aproveitar os grandes benefícios dos juros compostos.
Gratificação Instantânea x Pensamento de Longo Prazo

"O mercado de ações é um dispositivo para transferir dinheiro do


impaciente para o paciente". - Warren Buffet, investidor bilionário e o homem
mais rico do mundo em 2008 (1930-?)

A dopamina é o neurotransmissor responsável pelo controle da


recompensa e prazer. Ela é liberada sempre que realizamos atividades que
proporcionam uma recompensa. O cérebro aumenta o desejo para realizar tal
atividade, criando um loop em busca do prazer. Ela está muito ligada a
gratificação instantânea.
Gratificação instantânea é tudo aquilo que nos traz prazer imediato, tudo
aquilo que nos faz trocar as ações que são importantes no longo prazo para
realizar um prazer momentâneo.
Em tempos não muito distantes, descargas de dopamina eram limitadas
a certos eventos: procriação, caças bem-sucedidas etc. Era liberada
naturalmente em resposta às atividades de gratificação que se concretizavam.
Hoje não é preciso. As tecnologias proporcionaram acesso a picos maciços por
longos períodos de tempo. E é exatamente aí que mora o perigo.
A superabundância de dopamina no cérebro é excitante no curto prazo,
mas leva a quadros de depressão e desmotivação no longo prazo. Isso ocorre
porque os receptores de dopamina se tornam dessensibilizados por conta do
excesso experimentado. Quando o estimulo é removido, tais receptores ficam
dessensibilizados, portanto o cérebro precisará de mais e mais dopamina
apenas para se sentir normal. Este é o mecanismo da dependência.
O acesso imediato aos picos de dopamina é contraproducente. Quando
somos capazes de uma recompensa neuroquímica na ponta dos dedos,
acabamos nos recompensando por fazer nada. Este ciclo vicioso de sentir
recompensa por nada é desastroso em nossa capacidade de fazer qualquer tipo
de planos, estratégias, projetos, trabalhos e atividades.
A solução é progressivamente eliminar os super estímulos neurológicos
que liberam níveis elevados de dopamina. Esses estímulos são propensos de
abuso devido a sua extrema facilidade de acesso. Não estou falando que não é
para ter momentos de prazer, mas sim que os sucessos financeiros de longo
prazo vêm somente mediante o domínio de um processo e que, por sua vez,
depende de muita disciplina, suor e dedicação.
Durante o longo período que necessitamos para atingir uma meta, são
oferecidas mil distrações e tentações que parecem ser mais interessantes. E
aquele que está na jornada rumo a independência financeira se depara com
inúmeras.
Boa parte das pessoas tem a característica de buscarem acesso imediato
pela gratificação instantânea. A geração millennial trouxe isto a novos patamares
até então nunca visto. Afinal de contas, quem consegue viver feliz sem muitos
seguidores e as fotos mais descoladas nas redes sociais, com muitas curtidas,
não é mesmo?
Esta nova geração cresceu se acostumando a ter o que quer, quando
quer. Isto cria um grande problema não apenas na vida pessoal e profissional,
mas também financeira. O que dá mais recompensa imediata? Guardar e investir
o dinheiro ou umas férias internacionais em um destino que gera muitas fotos
para colocar nas mídias sociais? A verdade inconveniente é que o desejo pela
gratificação instantânea irá ditar o futuro financeiro desta pessoa.
Até agora vimos que o meio mais efetivo para construir riqueza é poupar
dinheiro, investir em ativos de valor, diversificar, fazer uma gestão de risco e
deixar os juros compostos agirem.
Este plano é sexy? Não. Este plano dá muitas curtidas? Não. Este estilo
de vida é considerado entediante pelas massas? Sem dúvidas. Este plano é
efetivo para quem deseja construir riqueza no longo prazo? Absolutamente.
Nada disso acontecerá se você não tiver um fogo interno falando: “- vá e
faça”. Este sentimento de querer ir para cima e buscar os objetivos é justamente
sua ambição dizendo para parar de percorrer o caminho inóspito e insosso e ir
em busca do que realmente quer no fundo de seus pensamentos.
Se você não for uma pessoa com ambição, então comece a reprogramar
todas as suas crenças limitantes para se tornar uma. A menos que se contente
com sua posição atual, é claro.

A Necessidade da Educação Contínua

“O investimento em conhecimento sempre paga os melhores juros.”


Benjamin Franklin, político, escritor e um dos líderes da Revolução Americana
(1706 – 1790)

Conheci pessoalmente inúmeras pessoas com graduação, pós, mestrado,


doutorado que não tinham nenhum conhecimento em finanças pessoais. Não
estou dizendo que os conhecimentos acadêmicos não sejam importantes... eles
são! Mas muito da teoria não funciona exatamente como os especialistas
acreditam, e a prática te ensina a ser humilde. Um investidor de longo prazo bem
sucedido é o que muitos acadêmicos se acham no direito de não ser. “- Se eu já
tenho pós-doutorado ninguém mais pode me ensinar. Eu sei tudo!”
Não posso cometer a injustiça de generalizar, pois existem pessoas no
mundo acadêmico que vivem muito bem conectadas com a realidade e oferecem
um valor incrível ao mundo ao apresentar conceitos trabalhados na academia e
com aplicabilidade no mundo real. Mas posso afirmar que a grande maioria dos
estudantes acadêmicos – seja de pós, mestrado, doutorado e pós doutorado –
não têm conhecimento profundo do mundo real, e acabam trocando o pé pelas
mãos em diversas decisões práticas.
Sugiro que você seja um eterno aluno. Absorva todo o conhecimento
disponível referente a um certo tema. Comece a usá-los e chegue as próprias
conclusões do que funciona e do que não funciona. Não seja preconceituoso.
Absorva o conhecimento de todos os lados, coloque em prática e depois veja o
que realmente tem aplicabilidade prática.
Você irá se enganar várias vezes. Você vai errar inúmeras outras. Mas
você não pode parar nunca. Não desanime porque algo falhou, estava errado,
era besteira ou mentira. Aprenda com isso e utilize a seu favor. No longo prazo
seu cérebro estará alimentado com um material incrível que alavancará e muito
sua possibilidade sucesso.
Uma das principais falhas do sistema tradicional é desenvolver a rotina
que possibilita os alunos alcançarem o sucesso. As mensagens que são
enviadas pelos professores e material didático é de que o sucesso é fruto do
talento, sorte e apenas trabalho duro. Não é.
O sucesso é um hábito, é algo que é construído todos os dias. O trabalho
duro é importante, mas desde que ele seja inteligente. Existem inúmeros
milionários e bilionários que não fazem esforço extra além das pessoas de classe
média baixa. A propósito, existem muitos garçons e pedreiros que trabalham
muito mais pesado do que eles.
“ - Mas como eu sei se o que estou estudando está tendo resultados
práticos? E como eu faço para transformar meus resultados em matéria de
estudo, para analisar e melhorar os pontos fracos? ”
Desenvolvido pelo estrategista e Coronel da Força Aérea dos EUA, John
Boyd, o OODA é um conceito prático. OODA significa Observe, Oriente, Decida
e Aja.
1. Observe. Pegue suas ideias sobre determinado assunto e coloque
todas elas no papel. Tudo bem se você estiver chutando, errado ou fazer uma
vaga ideia do que estiver escrevendo.
Depois que escreveu todas suas ideias, teses e suposições. Analise e
retire tudo aquilo que é meramente ruído e desnecessário. Às vezes nossos
pensamentos quando passados ao papel ficam meio desconexos, caóticos.
Então você vai deixar apenas aqueles que fazem sentido.
É necessário separar a informação que é relevante daquela que não é.
Por exemplo, em uma sala de emergência, um médico precisa reunir o máximo
de informações possíveis: a pressão sanguínea, batimentos cardíacos, idade,
etc. Ao mesmo tempo, ele precisa descartar informações irrelevantes. Somente
juntando as peças, ela pode tomar uma decisão sobre a melhor maneira de tratar
o paciente.
2. Oriente. Comece a construir o plano de ação em torno das ideias que
foram escritas ali, mas deixe de lado as divagações e sonhos intangíveis que
não têm aplicabilidade prática.
Orientar é principalmente reconhecer as barreiras que podem interferir na
sua tomada de decisão. Sem a consciência dessas barreiras, a decisão pode ser
irracional. Orientar é estabelecer a conexão com a realidade, não com uma falsa
versão de eventos filtrados através da lente de preconceitos, vieses cognitivos e
atalhos.
Coronel Boyd acreditava que quatro barreiras principais nos impediam de
ver a realidade:
I. Nossas tradições culturais
II. Nossa herança genética
III. Nossa capacidade de analisar e sintetizar
IV. O fluxo constante de novas informações (afinal é difícil dar sentido às
coisas quando a situação continua mudando)
Existe uma metáfora brilhante para isso. Presta atenção, porque tenho
certeza que você nunca mais vai esquecer deste conceito! Eu particularmente
sempre lembro deste exato exemplo.
Uma moto de neve (snowmobile) é um verdadeiro Frankenstein. Ela é
composta de partes de diversos objetos diferentes: a lagarta de um tanque de
guerra, esquis de patinação no gelo, motor de um barco e o guidão de uma
bicicleta. Cada um desses elementos é inútil sozinho, mas combiná-los cria um
veículo funcional: o snowmobile.
Embora Boyd seja um Coronel, ele não se limitou a nenhuma disciplina
particular. Suas teorias abrangem ideias extraídas de várias disciplinas, incluindo
matemática, biologia, psicologia, termodinâmica, teoria dos jogos, antropologia
e física. Ou seja, ele deixou de lado todas as tradições e cultura que poderia
influenciar nas suas decisões, e sempre analisou o quadro como ele realmente
era, sem nenhum preconceito ou viés devido ao seu histórico militar.
3. Decida. Desta construção inicial irão brotar as suas primeiras atitudes.
As primeiras ações nem sempre serão como você imagina. Na verdade, você vai
errar. E bastante! O importante é errar o mais rápido possível. Quando menos
tempo para cometer os erros, maiores são suas chances de focar o tempo futuro
definitivamente pavimentando sua estrada para o sucesso financeiro.
Portanto, coloque suas teses e ideias sobre investimentos e construção
patrimonial o quanto antes, para colher o feedback e ajustar as velas de acordo
com os resultados. Tendo reunido informações sobre os resultados, devemos
tomar uma decisão. As duas etapas anteriores devem ter gerado uma infinidade
de ideias, então este é o ponto em que escolhemos as opções mais relevantes
de acordo com nossos objetivos.
Coronel Boyd adverte contra o viés da primeira conclusão: não podemos
continuar a tomar a mesma decisão sempre. Você deve ser flexível e aberto à
atualização, sempre em consonância com a mudança apresentada na realidade.
Devemos sempre testar as decisões que tomamos, observando suas
falhas e acertos, incluindo e corrigindo quaisquer problemas para decisões
futuras.
4. Aja. Este é um dos principais pontos onde os investidores acabam
falhando. Eles criam inúmeras teorias, diversas teses, estudam horas e horas,
para ao final não tomar nenhuma decisão.
É preciso ser forte o suficiente para assumir as responsabilidades sobre
as próprias ações, e a maioria das pessoas não se sente bem com isso. Mas se
você realmente quer ser um investidor de longo prazo bem-sucedido, é preciso
ter estômago para enfrentar as pancadas que surgirão (e serão muitas!).
Lembre-se que a execução é tão importante quanto a teoria. Suas ações,
quando ficam apenas em sua cabeça, não são efetivamente ações. São meros
sonhos, desejos, que não são traduzidos para o mundo real dos investimentos.
5. Repete. Colha os dados, seja humilde o suficiente para compreender
que seu processo de investimento precisa de melhoras. Aprenda cada vez mais
com o feedback dos resultados que teve e então volte ao início do ciclo.
Embora tecnicamente seja um processo de tomada de decisão, o OODA
tem como o objetivo final a tomada de uma ação. A grande diferença deste
modelo é sua capacidade de agir sobre decisões racionais. A maioria das
pessoas começa com a ação para depois iniciar uma análise. Fracasso na certa!
Após a tomada da ação, também conhecido como o estágio de teste, é
quando experimentamos para ver se nossas decisões foram efetivamente boas:
I. Observamos as informações certas?
II. Utilizamos os melhores modelos mentais possíveis?
III. Fomos influenciados por preconceitos e outras barreiras?
IV. Podemos refutar a hipótese anterior?
Seja qual for o resultado, voltamos para a primeira parte do OODA e
começamos a observar novamente. O OODA nunca se encerra. Ele se repete
em inúmeros ciclos! E este é o grande diferencial daqueles que tem sucesso no
mundo dos investimentos: nunca param de aprender e executar, aprender e
executar, aprender e executar…
CONCLUSÃO

Aprendemos nos capítulos anteriores os pilares fundamentais para a


construção de um patrimônio sólido ao longo do tempo.
Descobrimos a importância de um bom preparo psicológico e como ele
aumenta suas chances de sucesso no mundo dos investimentos.
Aprendemos como selecionar ações, fundos imobiliários e ativos de renda
fixa para proporcionar um portfólio bem diversificado e que possa se sair bem
em qualquer cenário.
E por fim, toda a mentalidade necessária para usufruir da independência
financeira de longo prazo, vivendo através dos rendimentos que os
investimentos proporcionam.
Mas, antes de nos despedirmos, vou deixar uma lista que resume bem
tudo isso que aprendemos neste livro. Uma lista que você pode consultar quando
precisar de uma motivação, de um direcionamento, de uma luz nos dias difíceis.
Ou apenas para se certificar que está no caminho certo.
Então, sem mais delongas, vamos a ela.
1. Tenha um ceticismo saudável a respeito de tudo que lê ou ouve. A
informação está disponível a todos, mas nem toda informação é considerada
conhecimento. Conhecimento é aquilo que te proporciona habilidade para filtrar
a informação desnecessária da informação importante. Conhecimento te dá
poder para agir sobre a informação. Conhecimento é o que vai te fazer chegar
mais longe e não a informação. Além disto, lembre-se que conhecimento sem
execução não é nada. Ao contrário da sabedoria popular, conhecimento não é
poder, é apenas poder em potencial. Execução do conhecimento é poder.
2. A empresa que você trabalha não é SUA empresa. Nunca tome
como garantido. Pode amar o seu trabalho, mas você nunca sabe quando sua
empresa vai parar de amá-lo. Então se trabalha 8 horas para alguém, tire
algumas horas do seu dia para trabalhar em si mesmo. O melhor investimento
sempre será em si.
3. Risco financeiro está relacionado com o impacto que ele pode
causar em seu padrão de vida. Se ele não impacta, não é arriscado. Quem tem
R$ 10.000,00 e investe R$ 9.000,00 em uma única ação, está assumindo um
grande risco. Quem tem R$ 10.000.000,00 e investe R$ 9.000,00 nesta mesma
ação, definitivamente não está correndo riscos de impactar o padrão de vida.
4. Investidores são seres humanos. E seres humanos raramente se
mantém objetivos, racionais e em posições estáveis. Eles oscilam entre alto
grau de otimismo para o mais extremo grau de pessimismo. Enquanto todos
estão lendo notícias pessimistas, se concentre apenas em ler os relatórios das
empresas. São eles que proporcionarão conhecimento – de fato – para se
preparar para as crises.
5. Disciplina é fundamental. Durante sua jornada, vai precisar se abster
de várias modinhas, esquemas para “enriquecimento rápido” e outras manias.
Diversas serão as tentações apresentadas. É nessa hora que sua paciência,
persistência e foco no longo prazo entram em cena. E sem a disciplina para se
abster desses momentos e focar no que importa, nada é possível.
6. Ir dormir mais sábio do que acordou. Se você quer ser bem-sucedido
nos investimentos – que é uma área competitiva – irá precisar adquirir,
desenvolver e praticar o conhecimento diariamente. Como Charlie Munger nos
ensina, não é o mais esperto nem o mais diligente que obtém o sucesso, e sim
aquele que é uma verdadeira máquina de aprender.
7. Ignore as notícias. Leia um jornal de 6 meses atrás. Quanto daquilo
ali realmente mudou sua vida? Zero. Não se preocupe em ler todas as notícias
diariamente para ter sucesso nos investimentos. Nenhuma informação de jornal
ou site vai realmente ser importante. Afinal de contas, se você recebeu ela outros
milhares também receberam. Não há vantagem alguma. Leia aquilo que
realmente respeita o seu tempo. Aquilo que acrescenta valor em sua vida. Que
fazem você pensar por si mesmo. Leia menos notícias e mais livros.
8. Ser medíocre é uma escolha. Medíocre significa aquela pessoa que
está na média. Ser parte da média é uma opção. Por exemplo, há 0% de chances
de você fazer parte da média se estudar e executar o conhecimento em seus
investimentos de forma constante, diariamente, ao longo de anos. A curva de
juros compostos de conhecimento vai trabalhar ao seu favor. Deixe-a acontecer.
9. Ensino formal é limitado. Na faculdade você irá aprender a seguir
regras, regurgitar teses e doutrinas de outras pessoas e memorizar conteúdos
(muitas vezes completamente defasados). Fora do ambiente acadêmico, o que
importa para seu sucesso financeiro é ter conhecimento de finanças pessoais,
investimentos e principalmente pensamento independente. As condições
ensinadas no ensino tradicional é boas notas, credenciais e reconhecimento
acadêmico. Ou seja, tudo aquilo que é fruto de ser um conformista obediente.
Se você fizer o mesmo na vida real, vai se machucar feio.
10. Fuja da manada. “Todo mundo está fazendo isso! ”. Esse nunca é um
bom argumento para fazer algo. Se todas as pessoas estão fazendo A, pense
seriamente em fazer o B. Se seguir todos os passos da multidão, não pode
reclamar futuramente de terminar como os integrantes dela.
11. Se você não entende incentivos, não entende sobre pessoas. No
mercado financeiro sempre há alguém que vai se beneficiar. Quando estiver em
dúvida, se questione: quem vai ganhar com isso?
12. O futuro pertence àqueles que são fluídos, rápidos e não-lineares.
A história não anda em linha reta. Muito menos nossas vidas. As mudanças
disruptivas da tecnologia ocorrem em períodos cada vez menores. Empregos
que existiam ano passado, talvez não existam mais este ano. Indústrias estão
morrendo. Outras florescendo. E ninguém poderia prever com exatidão isso 10
anos atrás. É importante que você seja fluído como a água, que se a adapta a
qualquer condição de temperatura e pressão.
13. A popularidade é efêmera e superficial. Como seres humanos
temos a tendência de nos deixar levar pelo que todo mundo aprecia e gosta. Por
pessoas que estão constantemente na mídia tradicional e redes sociais. Mas, o
que poucas percebem, é que a maioria destes ícones populares apresentam um
conteúdo ao público extremamente supérfluo. Dificilmente você irá adquirir
conhecimento valiosos ali.
14. Não perca tempo em coisas que você não controla. Existem
inúmeros fatores que estão completamente além de nosso controle. Gastar
energia e tempo tentando controlar o incontrolável é besteira. Apenas vai lhe
causar irritação, stress e desânimo.
15. Aceite que suas emoções são mais fortes que sua razão. Todos
os seres humanos são emocionais. Estão sob constante influência de alegria,
tristeza, fadiga, frustração, irritação... aprenda a identificar essas emoções, para
canalizá-las para o lugar certo, antes de qualquer decisão de investimento.
Reconhecer nossas limitações e fraquezas é um grande passo para se tornar
um investidor bem-sucedido.
16. Não se contente com o que programaram para você. Seja
audacioso em seus objetivos de longo prazo. É sempre melhor sonhar grande
do que se contentar com uma realidade medíocre feita sob medida para as
massas.
17. Você será taxado de egoísta. Investidores são acusados de
egoísmo. Pessoas que focam no desenvolvimento pessoal e financeiro são
vistas com maus olhos pela sociedade. Mas sempre se lembre: quando alguém
te acusa de ser egoísta, ela está irritada porque não está fazendo o que ela
egoisticamente gostaria que você fizesse.
18. Assuma a responsabilidade sobre sua própria vida. As pessoas
dificilmente encaram e buscam a solução para seus próprios problemas.
Solucionar dói, machuca o ego, e realiza desconstruções que nem sempre estão
dispostas a arcar. É mais fácil colocar a culpa na família, nos amigos, na
humanidade e nos governos.
19. Tempo é o ativo desvalorizado pelas pessoas pobres, e
valorizado pelas pessoas ricas. O tempo é um ativo limitado e escasso. E
poucas coisas são tão importantes para a qualidade de sua vida como as
escolhas de como você gasta seu precioso tempo. Warren Buffett já ensinava
que a diferença entre pessoas bem-sucedidas e o resto é que as primeiras dizem
não para quase tudo. A partir do momento que obter um auto grau de estima e
respeito de si próprio, vai começar a dizer não para coisas que limitam o seu
potencial e sim para tudo aquilo em direção aos seus maiores objetivos.
20. Nossos momentos mais difíceis são os mais importantes. Quando
nos confrontamos com algo doloroso, temos a escolha entre uma verdade feia e
dolorida ou uma ilusão maravilhosa. Muitos optam pela última opção. Ao invés
de fugir da dor, identifique o motivo, aceite-o e aprenda como usá-lo a seu favor
no desenvolvimento pessoal. É mais fácil e confortável convencer a si mesmo
que o mundo deveria ser diferente de como ele é. As pessoas preferem viver
numa ilusão do que furar a bolha de onde vivem e começar a encarar a realidade.
Geralmente, as pessoas que tomam o caminho mais fácil têm uma vida difícil,
enquanto aquelas que tomam os caminhos mais duros têm uma vida fácil. Para
ter resultados diferentes da maioria, você não pode seguir o mesmo caminho
que elas. Nós obtemos na vida aquilo que toleramos. Se tolera desculpas a si
mesmo, crenças limitantes sobre seu potencial e o que os outros escolhem para
o seu futuro, não pode reclamar depois quando o resultado não for o que
gostaria. Ouse viver os sonhos que sonhou para si. Uma das melhores coisas
da vida é ser 100% compromissado com seus sonhos e objetivos. Ao final do
dia, o melhor investimento que você pode fazer é em si mesmo.
Espero que este livro se torne um grande companheiro seu no longo
prazo. A chave para alcançar a excelência é uma orientação de aprendizado
visando o longo prazo. O crescimento – seja ele pessoal, profissional ou
financeiro – só vem quando deixamos de lado o conforto e a falsa sensação de
segurança.
Sócrates ensinava que a consciência da ignorância é o início da
sabedoria, enquanto Heráclito lecionava que nada perdura, somente a mudança.
Se você juntar estes dois ensinamentos e aplicar a sua vida, tenho certeza
absoluta que vai se tornar um dos maiores investidores de todos os tempos.
Lembre-se sempre que um homem é aquilo que pensa durante todo o dia.
E nossos pensamentos são frutos da matéria prima que consumimos através
dos ouvidos e olhos. Certifique-se de, daqui para frente, consumir a melhor
matéria-prima possível.

Você também pode gostar