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INSTITUTO DE HISTÓRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL
Rio de Janeiro
2013
1
Rio de Janeiro
2013
2
_______________________________
Prof.ª Dra. Andrea Casa Nova Maia – Orientadora.
_______________________________
Prof. Dr. Paulo Knauss de Mendonça
_______________________________
Prof. Dr. Renato Luís do Couto Neto e Lemos
Rio de Janeiro
2013
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que contribuíram de alguma forma para a elaboração desta Dissertação de
Mestrado. Primeiramente à minha orientadora Prof. Dra. Andrea Casa Nova, que me acolheu
no PPGHIS, apoiou minha pesquisa, me proporcionando a possibilidade de autonomia e
incentivo constante para encontrar o meu caminho através de dicas preciosas.
Ao Programa de Pós-Graduação em História Social, seus professores e funcionárias, à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que financiou o
desenvolvimento da minha pesquisa por um ano com a concessão de bolsa. À Fundação
Biblioteca Nacional e ao Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, e suas equipes.
Ao professor Dr. Paulo Knauss, que sempre solícito contribuiu de forma essencial para a
realização deste trabalho. E ainda compôs a banca de qualificação com o Prof. Dr. Renato
Lemos, que juntos avaliaram e apresentaram apontamentos de grande pertinência.
À Gianne, Moema, Débora e Camilla que dialogaram comigo sobre o trabalho em vários
momentos. À Thaís Santos, Thaís Leal, Hérica, Ana Gabriela, Victor Sabino, Wagner e Bruno
pelo apoio e toda amizade. E especialmente a Maicon, pela contribuição intelectual e que
junto à Fernanda e minha mãe, foi ouvidos, amor e carinho sempre. Por fim, e mais
importante, a meu pai, por tudo e a quem dedico a realização desta Dissertação de Mestrado.
5
RESUMO
Esta dissertação estuda a relação entre as ilustrações apresentadas no jornal Tribuna Popular,
vinculado ao Partido Comunista do Brasil (PCB), e o conceito do realismo socialista soviético
- única forma artística permitida na URSS entre 1934 e 1953. O Tribuna Popular circulou
diariamente no Rio de Janeiro no período em que o Partido se encontrou na legalidade (1945-
1947) . Também é analisada a relação do PCB com os artistas plásticos a ele ligados. Para
estabelecer as relações propostas, discute-se a definição de realismo socialista, como esta
ideia chegou e se desenvolveu no Brasil, configurando, naquela época, um novo espaço
gráfico e conceitual na imagem do jornal. Evidencia-se nesta dissertação, portanto, a força da
expressão que as artes visuais encontram nessa mídia. Na análise histórica, os significados
não são aceitos como dados, mas como construção social em que a experiência artística dos
desenhos deste jornal brasileiro em questão pode ser relacionada aos cartazes do realismo
socialista soviético. Assim, busca-se compreender essas interfaces, analisando e
contextualizando as práticas de fruição que estruturam a interpretação histórica do jornal
Tribuna Popular do PCB no período estudado.
ABSTRACT
This dissertation studies the relation between the illustrations presented on the Tribuna Popular
newspaper, which is linked to Communist Party of Brazil PCB), and the concept of soviet
socialist realism that was the only artistic expression permitted in Union of Soviet Socialist
Republics between 1934 and 1953. The Tribuna Popular was distributed daily in Rio de Janeiro
during the period that the Communist Party of Brazil was considered legal (1945 - 1947). Also, it
is studied the relation between PCB and the artists who were acquainted with it. In order to
establish the relations proposed, the socialist realism definition is discussed, how this idea arrived
and developed in Brazil, modifying, therefore, the newspaper graphical and conceptual space.
This dissertation evinces the power of expression that these visual arts find in this type of media.
In the historical analysis the meanings are not accepted as data, but as a social construction in
which the artistic experience of the Brazilian newspaper illustrations studied can be linked to the
posters of soviet socialist realism. Thus, this dissertation seeks to comprehend these interfaces
through an analysis and a contextualization of the practices fruition that organizes the historical
interpretation of Tribuna Popular newspaper which is related to PCB in the period studied.
Key-Words: Communist Party of Brazil; PCB; socialist realism; URSS; communists visual
artists; Tribuna Popular.
7
LISTA DE IMAGENS
Figura 1........................................................................................................................32
Figura 2........................................................................................................................32
Figura 3........................................................................................................................32
Figura 4........................................................................................................................63
Figura 5........................................................................................................................64
Figura 6........................................................................................................................70
Figura 7........................................................................................................................74
Figura 8........................................................................................................................75
Figura 9........................................................................................................................76
Figura 10......................................................................................................................76
Figura 11......................................................................................................................76
Figura 12......................................................................................................................76
Figura 13......................................................................................................................76
Figura 14......................................................................................................................77
Figura 15......................................................................................................................77
Figura 16......................................................................................................................77
Figura 17......................................................................................................................77
Figura 18......................................................................................................................77
Figura 19......................................................................................................................78
Figura 20......................................................................................................................78
Figura 21......................................................................................................................79
Figura 22......................................................................................................................79
Figura 23......................................................................................................................79
Figura 24......................................................................................................................80
Figura 25......................................................................................................................80
Figura 26......................................................................................................................81
Figura 27......................................................................................................................81
Figura 28......................................................................................................................82
Figura 29......................................................................................................................82
Figura 30......................................................................................................................82
Figura 31......................................................................................................................82
Figura 32......................................................................................................................83
Figura 33......................................................................................................................83
Figura 34......................................................................................................................83
Figura 35......................................................................................................................84
Figura 36......................................................................................................................84
Figura 37......................................................................................................................84
Figura 38......................................................................................................................84
Figura 39......................................................................................................................85
Figura 40......................................................................................................................85
Figura 41......................................................................................................................85
Figura 42......................................................................................................................85
Figura 43......................................................................................................................87
Figura 44......................................................................................................................90
Figura 45......................................................................................................................92
Figura 46......................................................................................................................94
Figura 47......................................................................................................................96
Figura 48......................................................................................................................98
8
Figura 49......................................................................................................................99
Figura 50....................................................................................................................101
Figura 51....................................................................................................................103
Figura 52....................................................................................................................105
Figura 53....................................................................................................................115
Figura 54....................................................................................................................124
Figura 55....................................................................................................................124
Figura 56....................................................................................................................126
Figura 57....................................................................................................................128
Figura 58....................................................................................................................128
Figura 59....................................................................................................................129
Figura 60....................................................................................................................129
Figura 61....................................................................................................................130
Figura 62....................................................................................................................130
Figura 63....................................................................................................................132
Figura 64....................................................................................................................132
Figura 65....................................................................................................................133
Figura 66....................................................................................................................133
Figura 67....................................................................................................................134
Figura 68....................................................................................................................134
Figura 69....................................................................................................................135
Figura 70....................................................................................................................138
Figura 71....................................................................................................................139
Figura 72....................................................................................................................142
Figura 73....................................................................................................................144
Figura 74....................................................................................................................144
Figura 75....................................................................................................................145
Figura 76....................................................................................................................145
Figura 77....................................................................................................................146
Figura 78....................................................................................................................147
Figura 79....................................................................................................................148
Figura 80....................................................................................................................148
Figura 81....................................................................................................................149
Figura 82....................................................................................................................150
Figura 83....................................................................................................................150
Figura 84....................................................................................................................150
Figura 85....................................................................................................................150
Figura 86....................................................................................................................152
Figura 87...................................................................................................................152
Figura 88...................................................................................................................154
Figura 89...................................................................................................................155
Figura 90...................................................................................................................155
Figura 91...................................................................................................................157
Figura 92...................................................................................................................157
Figura 93...................................................................................................................158
Figura 94...................................................................................................................158
Figura 95...................................................................................................................160
Figura 96...................................................................................................................160
Figura 97...................................................................................................................161
Figura 98...................................................................................................................163
9
Figura 99...................................................................................................................165
Figura 100.................................................................................................................165
Figura 101.................................................................................................................170
Figura 102.................................................................................................................170
Figura 103.................................................................................................................171
Figura 104.................................................................................................................173
Figura 105.................................................................................................................174
Figura 106.................................................................................................................174
Figura 107.................................................................................................................177
Figura 108.................................................................................................................180
Figura 109.................................................................................................................180
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................................................11
1- PRIMEIRO CAPÍTULO- E O VERMELHO SE EXPANDE... ................................21
1.1 – União Soviética com Stálin: política cultural e realismo socialista........................22
1.2 – PCB, cultura e artes: uma versão do realismo socialista soviético no Brasil?.......33
1.3 – Três longos anos para o PCB: a legalidade de 1945 a 1947 ..................................44
1.4 – Imprensa Popular: editoras e a rede de jornais e revistas comunistas ...................54
1.4.1 – Os periódicos diários do PCB em dez capitais brasileiras ..................................59
2- SEGUNDO CAPÍTULO: O TRIBUNA POPULAR, AS DORES DO POVO E OS
COMUNISTAS PRESOS DE NOVO.............................................................................62
2.1- Um jornal para o “povo”..........................................................................................63
2.2- Construção do Tribuna Popular ...............................................................................65
2.2.1 - Anunciantes do Tribuna Popular .........................................................................74
2.3 - A estrutura e as sessões do jornal............................................................................88
2.4 - As alegrias, as dores e as lutas do “povo”: os temas tratados no jornal................104
2.5 - A repressão e o fim do jornal: observação, interesse e análise pela polícia
política...........................................................................................................................114
2.5.1- A volta do PCB a ilegalidade: razões, suspensões e empastelamento do
jornal..............................................................................................................................119
3- TERCEIRO CAPÍTULO – AS CORES DO POVO: ARTE E POLÍTICA PARA O POVO
EM BRANCO E PRETO ..................................................................................122
3.1- Os desenhos no Tribuna Popular e as ressonâncias do realismo socialista
soviético.........................................................................................................................123
3.1.1- Os líderes Prestes e Stalin ..................................................................................126
3.1.2- Trabalhadores Rurais ..........................................................................................130
3.1.3- Trabalhadores Urbanos ......................................................................................138
3.1.4- Proletariado, uni-vos em luta!.............................................................................147
3.2 -É noticia! Artes e artistas plásticos são temas no jornal Tribuna Popular ............153
3.3- A exposição: “Os artistas plásticos ao PCB” em 1945 através do Tribuna
Popular..........................................................................................................................173
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................183
REFERÊNCIAS............................................................................................................188
11
INTRODUÇÃO
12
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem por objetivo, portanto, estabelecer aproximações entre as ilustrações
do jornal Tribuna Popular e as imagens do realismo socialista soviético propagadas entre
1
O realismo socialista foi cunhado na URSS na década de 1930 como será visto no Primeiro Capítulo. No
entanto, o Realismo se desenvolveu nas artes plásticas com esta denominação no século XIX, principalmente na
França com artistas como Édouard Manet, Gustave Courbet e Honoré Daumier. O Realismo buscava se
contrapor à idealização estética do belo apresentando uma arte objetiva que procurava obter uma aparência
“realista”, no sentido de uma produção figurativa crível de pessoas e objetos. Mas é importante destacar que
“Hoje em dia sabemos que os críticos da época usavam o termo “realismo” em um sentido mais conceitual do
que formal, para adjetivar as representações com mensagem social nas quais se exaltava, sem idealização, a
miséria de certos grupos humanos, e não particularmente para referir-se à fidelidade plástica com o modelo”.
HERNÁNDEZ, Mariela Brazón. Sobre a historiografia da arte oitocentista e as revisões efetuadas durante as
últimas décadas do século XX. 19&20, Rio de Janeiro, v. V, n. 1, jan. 2010. Disponível em:
<http://www.dezenovevinte.net/ha/brazon.htm>. No século XX houve algumas manifestações de “realismos”,
com variações norte-americanas, brasileiras e europeias e dentre elas o realismo socialista. Cf. HARRISON,
Charles et.al .Arte Moderna Práticas e Debates. Vols. I e III. Cosac e Naify, 1998.
13
1934 e 1953 procurando semelhanças e diferenças nas representações, utilizando para tanto,
sobretudo, os cartazes produzidos neste período. O Tribuna Popular era vinculado ao Partido
Comunista do Brasil2 (PCB) e circulou diariamente (exceto às segundas-feiras) no Rio de
Janeiro entre maio de 1945 e dezembro de 1947. Ao longo destes três anos, o periódico
apresentou cerca de sessenta ilustrações. Eram desenhos que procuravam seguir, como o
conteúdo do jornal, as diretrizes do PCB.
2
É importante explicitar que o PCB era no período de 1945 a 1947, anos aos quais esta pesquisa é
especificamente dedicada, chamado Partido Comunista do Brasil. Esta denominação é original de sua fundação
em 1922, e mostra seu alinhamento com a União Soviética, uma prática comum entre os partidos comunistas do
mundo (PCA – Partido Comunista da Argentina; PCE – Partido Comunista da Espanha; etc.), no entanto, com
as denúncias dos crimes de Stalin(1956) essa vinculação tornou-se problemática. Em 1961 o PCB modificou
suas diretrizes e procurou mostrar seu distanciamento das crueldades praticadas por Stalin. Segundo Ângelo
Segrillo “O Comitê Central do partido procurou “suavizar” e adequar alguns itens de seu programa com vistas à
possível legalização da entidade, inclusive mudando o nome para Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 1962,
João Amazonas e Maurício Grabois liderariam uma dissidência que, discordando dos rumos tomados, sairia da
organização e fundaria (ou “refundaria”, segundo os autores) o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O PCdoB
defendia a herança de Stalin e se alinharia com a China, enquanto o PCB de Luís Carlos Prestes continuaria com
a União Soviética de Khrushchev. Após 1964, o PCB defenderia formas não violentas de resistência política à
ditadura militar, enquanto o PCdoB enveredaria pelo caminho da luta armada” Cf. SEGRILLO, Angelo. Rússia e
Brasil em transformação. Uma breve história dos partidos russos e brasileiros na democratização política. Rio
de Janeiro. 7letras, 2005. P.113 e 114.
3
Importante destacar que o PCB foi posto na ilegalidade em agosto de 1928 e em 1945 voltou à legalidade
permanecendo apenas até 1947.
4
Por uma questão textual foi feita a opção de referir-se ao PCB também como Partido, iniciado por letra
maiúscula, diferenciando a palavra e adotando um recurso usado por alguns historiadores da trajetória do PCB e
também pelos seus membros à época.
14
5
HOBSBAWM, Eric. (org.) História do Marxismo. XII volumes. Paz e Terra, 1989.
6
STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. In: HOBSBAWN, Eric. (org.) História do
Marxismo. Editora Paz e Terra, 1989. Volume IX.
7
STRADA, Vittorio. Do “realismo socialista” ao zdhanovismo. In: HOBSBAWM, Eric. (org.) História do
Marxismo. Paz e Terra, 1989. Volume IX.
8
ARICÓ, José. O marxismo latino-americano nos anos da Terceira Internacional. In: HOBSBAWM, Eric. (org.)
História do Marxismo. Paz e Terra, 1989. Vol. VIII
9
WILLETT, John. Arte e revolução. In: HOBSBAWM, Eric. (org.) História do Marxismo. Paz e Terra, 1989.
Volume IX.
10
BOWN, Mathew Cullerne. Art Under Stalin. Holmes and Meier, Nova York, 1991.
15
autor destaca o culto à personalidade de Stalin e a produção artística vinculada a ele: a arte
oficial soviética pautada nas ideias do realismo socialista.
Os estudos específicos sobre o realismo socialista no Brasil são poucos ainda, mas
existem referências a este tema nos trabalhos desenvolvidos a respeito da trajetória do PCB e
suas políticas culturais. Ou seja, de forma geral, a compreensão destes objetos artísticos têm
se dado a partir da compreensão da conjuntura política do período, com atenção especial às
diretrizes políticas do PCB que abrangem o âmbito cultural. Podemos encontrar
representantes já clássicos desse tipo de abordagem na historiografia brasileira, como Edgar
Carone11 e José Segatto12, que desenvolveram trabalhos de referência sobre o Partido, mas
que apenas mencionam o realismo socialista. Leandro Konder fez, em 1963, um artigo
contundente sobre o realismo socialista com o título de Alguns problemas do realismo
socialista13, no qual se opunha aos fundamentos desta vertente artística e expunha os
pressupostos teóricos e políticos que a orientavam.
Outro estudo relevante é o feito por Dênis de Moraes14, que se destaca por ser um
trabalho dedicado ao realismo socialista com o foco no problema da liberdade de criação dos
artistas, analisando os conflitos gerados em torno da defesa ou do ataque a essa liberdade
criativa. O autor apresenta um panorama sobre a produção artística vinculada ao PCB
abrangendo diversos âmbitos: da música, do cinema, do teatro, da literatura e das artes
plásticas. Este livro traz uma análise da imprensa comunista, do panorama cultural que
envolvia o partido entre os anos de 1947 e 1953 e busca traçar a relação do PCB com o
realismo socialista soviético.
11
CARONE. O PCB- 1943 a 1964. Difel, 1982. Volume 2.
12
SEGATTO. Breve História do PCB. Livraria Ed. Ciências Humanas. SP, 1981.
13
KONDER, Leandro. Alguns problemas do realismo socialista. In: Estudos Sociais. Nº 17, jun-1963.
14
MORAES, Dênis de. O imaginário vigiado. A imprensa comunista e o realismo socialista no Brasil (1947-53).
Rio de Janeiro, José Olympio 1994.
16
Há ainda outros estudos que têm contribuído para uma renovação na historiografia
acerca desta temática. Um trabalho específico sobre o realismo socialista na literatura é a
Dissertação de Mestrado de Mônica da Silva Araujo 15 que se propõe a analisar as propostas
político-culturais do Partido Comunista do Brasil com um enfoque na difusão do realismo
socialista e na aplicação desta vertente artística. Para tanto, a autora recorta o período de 1945
a 1958, considerando as alterações de linha política pelas quais o Partido passou no período.
Seu estudo aborda de forma abrangente a vigência do realismo socialista no Brasil, traçando
um panorama das políticas culturais do PCB ao longo de sua trajetória e resgatando com um
debate mais teórico suas origens soviéticas e os embates com os trotskistas brasileiros que se
opunham ao realismo socialista. Araújo concentra-se especialmente no exame da literatura e
dos literatos que, como Jorge Amado (1912-2001), filiaram-se ao PCB e seguiram a política
cultural oficial do Partido, qual seja, o realismo socialista.
Também sobre a literatura são apresentados, dentre outros, dois artigos em Livros
Vermelhos: literatura, trabalhadores e militância no Brasil, organizado por Marcelo Badaró,
que tratam de obras e escritores específicos da literatura brasileira e a relação com o realismo
socialista16. Estes trabalhos, assim com o de Araújo, enriquecem o debate acerca do realismo
socialista.
15
ARAUJO, Mônica da Silva. A arte do partido para o povo: o realismo socialista no Brasil e as relações entre
artistas e PCB (1945-1958). Dissertação de Mestrado. IFCS-PPGHIS/UFRJ. Rio de Janeiro, 2002.
16
Cf. MATTOS, Marcelo Badaró. Literatura militante entre o modernismo e o realismo socialista: o Parque
industrial de Patrícia Galvão; MELLO, Marisa Schincariol. Encarcerando ideias: Graciliano Ramos, Jorge
Amado e o realismo socialista (1945-1953). In: MATTOS, M.B. Livros Vermelhos: Literatura, trabalhadores e
militância no Brasil. Faperj/Bom Texto, 2010.
17
GIANI, Luiz Antônio Afonso. As trombetas anunciam o paraíso: recepção do realismo socialista na música
brasileira, 1945-1958 (da “Ode a Stalingrado” a “Rebelião em Vila Rica”). Tese de Doutorado. FCL-
PPGH/UNESP. Assis, 1999.
18
Esta relação de músicos brasileiros com o realismo socialista será tratada no Primeiro Capítulo.
17
Por outro lado, esta pesquisa pretende compreender o realismo socialista no Brasil
através do estudo das ilustrações do jornal Tribuna Popular. Procuro tratar o realismo
socialista do ponto de vista das artes visuais, e mais especificamente das artes gráficas
contidas neste jornal. Esta abordagem mostra a relevância desta pesquisa que procura
contribuir para o estudo ainda incipiente do realismo socialista no Brasil, assim como da
imprensa comunista e sua relação com as artes.
19
AMARAL, Aracy. Arte para que? A preocupação social na arte brasileira 1930-1970. Studio Nobel, 2003.
20
GAWRYSEWSKI, Alberto. Arte visual comunista: imprensa comunista brasileira, 1945-1958. (Coleção
História na Comunidade, v. 4) LEDI, Londrina, 2010.
21
GUIMARÃES, Valéria Lima. O PCB cai no samba: os comunistas e a cultura popular 1945-1950. Aperj. Rio
de Janeiro, 2009.
22
KNAUSS, Paulo. O desafio de fazer História com imagens: arte e cultura visual. In: ArtCultura, Uberlandia,
v. 8, n. 12, p. 97-115, Jan.-jun. 2006.
18
imagem a partir do entendimento do figurado. Dessa forma, as imagens surgem como objetos
repletos de significados históricos e culturais. Segundo Knauss, o estudo da construção social
do visual, por um lado, e o da construção visual de um entendimento do social, por outro, são
cada vez mais importantes para as ciências humanas.
23
BAXANDALL, Michael. O olhar renascente: pintura e experiência social na Itália da Renascença. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1991.
24
ARGAN, Giulio. Clássico e Anticlássico. O Renascimento de Brunelleschi a Bruegel. Cia das Letras. São
Paulo, 1999.
19
reconhecimento dos efeitos que a obra causa em nós, devemos fazer inferências sobre as
razões para a imagem nos causar tais efeitos25.
A compreensão dos efeitos de uma imagem está ligada ao entendimento da sua função e
do local onde foi veiculada. Jean Claude Schmitt afirma que:
É pertinente observar o quanto o uso das artes e de imagens em geral pode contribuir
para ampliar as possibilidades de compreensão e estudo historiográfico. Desta forma:
Pois, como diz ainda Schmitt: “Um duplo desafio – analisar a arte em sua
especificidade e em sua relação dinâmica com a sociedade que a produziu – apresenta-se
assim ao historiador da imagem” 28.
25
BAXANDALL, Michael. Padrões de Intenção: a explicação histórica dos quadros. Companhia das Letras.
São Paulo, 2006.
26
SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na Idade Média. Edusc. São
Paulo, 2007. P. 47.
27
SCHMITT. Idem. P. 46.
28
SCHMITT. Idem. P. 33.
20
importância do período de legalidade do PCB e que delimita esta pesquisa entre os anos de
1945 e 1947, assim como a estrutura de imprensa deste Partido e a rede de periódicos diários
da qual o Tribuna Popular faz parte.
PRIMEIRO CAPÍTULO
E O VERMELHO SE EXPANDE...
22
A preocupação com a arte e com sua função social e política se evidenciou na Rússia
com a Revolução Bolchevique em outubro de 1917. A partir de então passou a ser motivo de
debates entre artistas e intelectuais o modo como a cultura deveria servir a Revolução e qual o
controle que o governo deveria exercer sobre a vida intelectual da população 29. No entanto, a
vanguarda cultural russa já vinha criando sua versão de uma arte que rompia com o passado e
com os preceitos da tradição nobre e burguesa: era o futurismo russo, o construtivismo e o
suprematismo.30 O historiador Matthew Cullerne Bown tece as seguintes considerações a este
respeito:
A guinada da Rússia na revolução, em 1917, foi prevista por sua vanguarda cultural - aqueles
escritores e artistas que mantiveram um diálogo com o movimento moderno na Europa
Ocidental e criaram suas próprias versões de sua dinâmica na forma de futurismo russo,
construtivismo e suprematismo. A perspectiva foi um desafio tão intimidante e emocionante
como uma tela recém-preparada: a perceber, de um vazio crescente de um colapso, a visão
indistinta, mas poderosa de uma sociedade radicalmente nova.31
Em fevereiro em 1917, com a chamada revolução burguesa que levou o Czar a abdicar
do seu trono, houve uma efervescência no debate político aparecendo meses depois a
Proletkult, uma forma de organização da arte cujo nome significa “cultura proletária”. Esta
organização foi concebida pelo comunista Aleksandr Bogdanov (1873-1928) que se inspirou
nas teorias estéticas do marxista Georgi Plekhanov (1856-1918), especialmente no seu texto
"O movimento proletário e arte burguesa", elaborado ainda em 1905. O propósito de
Bogdanov era que a arte atendesse as necessidades dos trabalhadores.
29
STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. Op. cit.
30
Kazimir Malevich (1878-1935) é considerado por muitos como o artista mais destacado do período,
produzindo obras que procuravam eliminar tudo que não fosse essencial para elas, desenvolvendo o método
suprematista em 1915.
31
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.19. Tradução minha.
32
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.19. Tradução minha.
23
partidos políticos que disputavam o poder, pois defendiam a ideia de uma arte proletária
independente do controle político direto.
A Revolução trouxe não só uma nova ordem política, mas dentre suas facetas estava a
proposta de uma nova sociedade pautada nas necessidades do proletariado. No período entre o
Outubro de 1917 e 1924 em que Vladimir Lênin esteve na liderança do Partido Comunista, se
evidenciou a ligação de parcela da vanguarda artística russa com o governo. No entanto, a
partir de em 1920 o Proletkult passaria a ser muito criticado pelo governo e o movimento
seria extinto por volta de 1923.
33
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.20. Tradução minha.
34
WILLETT, John. Op. cit.
24
lógico - só pode ser criado a partir da União dos Escritores, o realismo socialista foi
proclamado como o método definitivo artístico soviético"35.
Em 1934 o realismo socialista foi considerado doutrina oficial e deste ano até 1956 se
apresentou como único representante dos interesses da classe trabalhadora contra a arte
burguesa, capaz de mostrar uma arte em favor da revolução e definir a burguesia como
inimiga da classe trabalhadora. Vittorio Strada caracterizou a natureza dúplice do realismo
socialista no seu primeiro momento que seria entre 1934 e 1945, quando a doutrina seria um
instrumento de poder, mas também proclamava a libertação das pessoas. Libertação esta
principalmente em relação à arte considerada burguesa. Desta forma, a verdadeira arte deveria
36
servir aos ideais da revolução estabelecidos pelos grandes líderes soviéticos. Neste
momento já havia certa repressão aos que não estavam de acordo com as proposições oficiais
sobre a arte produzida.
As coisas mudaram, porém, nos anos 30, à medida que o conceito de Realismo Socialista foi
formulado e desenvolvido em detalhes. Na verdade, após a chegada de Hitler ao poder na
Alemanha em 1933, o Realismo Socialista foi amplamente considerado uma doutrina que
permitiria unir os artistas, em todo o mundo, preocupados com a propagação do fascismo.
Como tal, ele pode ser visto como o componente artístico de um movimento mais amplo, a
Frente Popular, que pretendia reunir pessoas de todas as posições sociais numa resistência
comum contra o fascismo. 37
Este termo fora cunhado por Lênin em seu texto de 1905 intitulado “A Organização do
Partido e a Literatura do Partido”, mostrando que as bases do conceito de realismo socialista
podiam ser encontradas nas proposições de Lênin e ainda nas anteriores, como o Proletkult.
Contudo, durante o período em que Stalin foi Secretário Geral do Partido Comunista da União
35
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.89. Tradução minha.
36
STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. Op. cit.
37
WOOD, Paul. Realismos e Realidades, capítulo 4. In: FER, Briony; BATCHELOR, David; WOOD, Paul. Arte
Moderna: Práticas e Debates. Realismo, Racionalismo, Surrealismo: A Arte no Entre-Guerras. Cosac e Naif,
1998. p.257
38
STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. Op. cit.
39
STRADA, Vittorio. Do “realismo socialista” ao zhdanovismo. Op. cit.
25
Porque a arte era considerada um fenômeno ideológico, tanto refletindo e agindo nos
interesses de um determinado conjunto de atitudes sociais, então o seu maior árbitro não deve
ser o artista ou crítico, ou até mesmo a opinião pública, mas o ideólogo. Assim, Stalin tornou-
se, entre outras coisas, chefe dos críticos de arte da União Soviética. Como Tvorchestvo
colocou em 1939: "As palavras do gênio camarada Stalin sobre arte soviética como uma arte
do realismo socialista representam o pico de todos os esforços progressistas do pensamento
estético da humanidade"40
A teoria que definia o realismo socialista foi elaborada de forma progressiva ao longo
da década de 1930, sendo acrescentada e reinterpretada pelo PCUS e pelos artistas. Isto
demonstra que esta forma artística não esteve paralisada, pois acompanhou o
desenvolvimento da política e da sociedade soviética. 41 Em 1934, ocorreu a “Conferência dos
Escritores”, evento que marcou a oficialização do realismo socialista como linha artística,
especialmente no que concerne à produção literária, mas que logo se estenderia as outras
formas artísticas. Nesta ocasião, o conceito de Partiinost foi resgatado para embasar suas definições
de realismo socialista , para a “ educação dos trabalhadores no espírito do comunismo".
Na Conferência dos Escritores de 1934, Andrei Zhdanov falou em nome do partido. Parte do
conteúdo de seu discurso foi incorporada pela conferência, às vezes literalmente, para a
constituição da União de Escritores, e manteve-se atual ao longo do tempo. Após Zhdanov, a
constituição dos escritores afirmou que o realismo socialista "exige do artista uma
representação verdadeira e historicamente concreta da descrição da realidade no seu
40
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.89. Tradução minha.
41
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.90. Tradução minha.
42
O nome deste membro destacado do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) foi traduzido de formas
diferentes por alguns autores, isso talvez se deva ao modo de pronúncia de seu sobrenome ou por outros fatores.
Desta forma, Andrei Zhdanov, também pode ser referido nas citações como Zdanov ou ainda Jdanov. Por uma
questão textual optei pela forma mais semelhante ao nome original soviético: Andrei Zhdanov.
26
O que surge é uma arte que se concentra em pessoas reais e eventos, que vê-los à luz da
revolução, que está otimista e dedicado à linha do partido. (...) O artista iria incutir o ideal
comunista na consciência Soviética, e para convencer as pessoas de que o valor de qualquer
ideal de realidade. 45
Após o ano de 1924 a União Soviética enfrentaria forte censura e terror com a
progressiva eliminação dos oposicionistas a Stalin, o que culminaria em meados da década de
1930 com os grandes processos de Moscou, e se intensificaria em 1945. A partir de então
seria radicalizada a postura soviética em relação à cultura e à estética46.
Passado este período, ao fim da Segunda Grande Guerra e com os primeiros sinais da
Guerra Fria, as diretrizes estéticas foram enrijecidas e explicitavam que a arte deveria mostrar
a vida do proletário operário ou camponês, ou seja, a arte deveria ser didática e alcançar o
entendimento das massas mostrando sua realidade sofrida e sua superação, idéia fulcral da
Revolução47. O fim da Segunda Grande Guerra aumentou ainda mais o poder que Zdhanov, a
43
BOWN, Matthew Cullerne. Op.cit. P.90. Tradução minha.
44
BOWN, Matthew Cullerne. Op.cit. P.90. Tradução minha.
45
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.90. Tradução minha.
46
STRADA, Vittorio. Do “realismo socialista” ao zdhanovismo. Op. cit.
47
STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. Op. cit.
27
valorização da sua atuação na guerra ajudou a afirmar seu papel como secretário do governo e
deu destaque a sua figura.
O território cultural entrou em convulsão assim que foram assinados os últimos tratados de
rendição do Eixo. Crescera a influência de Jdanov desde que comandara com êxito a ocupação
da Estônia. Temendo que as Repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia) pudessem se
aliar a Hitler, Stalin despachou o Exército Vermelho para derrubar os governos locais e anexá-
las a URSS. Jdanov também se destacara na mobilização de Leningrado durante o cerco
nazista. Já nessa época integrava o birô político, como secretário de organização. Stalin
delegou-lhe poderes para eliminar eventuais focos de dissensão na intelectualidade. 48
A segunda fase do realismo socialista rompeu com a duplicidade, optando pela censura aberta
e pelo terror. O partido assumiu-se radicalmente como único centro produtor de ideias – ou,
nas palavras de Strada, um “sistema de mentira, uma verdadeira educação para a falsidade”. A
criação estética foi confinada em manuais catequéticos providenciados pela força-tarefa de
Jdanov.49
O principal teórico deste segundo momento foi Andrei Zhdanov e podemos notar o
teor de seu discurso em um texto seu em que se refere aos problemas de algumas músicas
produzidas na União Soviética no final da década de 1940:
Todos os nossos compositores devem mudar de posição e voltar-se para o povo. Devem
compreender que o nosso Partido, que exprime os interesses do Estado e do Povo Soviético,
apoiará somente uma tendência sadia e progressista em música: a tendência do realismo
socialista soviético. Se aprecias o título honroso de compositor soviético, deveis demonstrar
que sois capazes de servir ao povo melhor do que haveis feito até agora50.
A partir de então, podemos observar como esta segunda fase do realismo socialista
tornou tenso o ambiente de produção artística na URSS. Fadeiev, também teórico do governo
soviético, acompanhou as mudanças na postura do PCUS a respeito da arte e em 1950 teve
um texto seu publicado defendendo a cultura soviética estava “impregnada de espírito de
48
MORAES, Dênis de. Op. cit.
49
MORAES, Dênis de. Op. cit.
50
ZDHANOV, Andrei. A Tendência Ideológica Da Música Soviética. Problemas - Revista Mensal de Cultura
Política. nº 21 - Outubro de 1949.
28
partido, o que significa que ela se entrega de modo consciente ao serviço do povo e do Estado
socialista e se propõe conscientemente à educação comunista do povo” 51.
De acordo com Bown, não haveria registros de que Stalin teria dito alguma vez
publicamente como as artes visuais deveriam seguir o realismo socialista. Porém, segundo
este autor, na “Conferência dos Escritores” de 1934 havia um artista plástico participando
como delegado no evento. Este artista se chamava Igor Grabar (1871 - 1960) e teria
confirmado a importância de se seguir o “método” proposto, pois seria o “o melhor de todos
os já existentes”. Assim, o apoio deste artista se fazia consonante com as deliberações da
conferência. 52
No âmbito das artes plásticas podemos tentar visualizar o que estas teorias
representavam de fato. Já que se opunham à arte considerada burguesa e vazia, o
abstracionismo estava descartado como possibilidade, assim como o que se assemelhasse. A
arte deveria ser figurativa, e de fácil entendimento. O caráter pedagógico das obras era
fundamental, pois as ideias comunistas deveriam sempre ser reproduzidas e transmitidas às
pessoas. A importância da educação política para o governo soviético era comumente
defendida nos artigos e discursos.
51
FADEIEV, Aleksandr. Sobre a cultura soviética, em Literatura soviética. Nº 2. Moscou, 1950.
52
BOWN, Matthew Cullerne. Op cit. P.91, 92. Tradução minha.
53
MORAES, Dênis. Op. cit. P 122-123.
54
MORAES, Dênis. Op. cit. P. 124.
29
Apesar da clareza da linha do partido, e sua aceitação pela maioria dos artistas soviéticos,
debates envolvidos e amargos sobre a própria natureza formal do realismo socialista foram
endêmicos em toda a década de 1930. Alguns artistas foram felizes para promover o
57
socialismo, mas foram relutantes em dar as liberdades de estilo dos anos 1920.
Enquanto isso se deve atentar para o fato de que o apoio da classe artística não foi tão
espontâneo como pode parecer, pois o incentivo vinha do Estado. Assim como a arte da
partiinost a quase totalidade da arte realista socialista no início foi feita com temas
elaborados por comissões do governo, aprovados pelos líderes políticos e encomendados aos
artistas. Logo em meados da década de 1930 este modelo foi modificado de forma que os
artistas deixaram de ser contratados durante um tempo para desenvolverem determinado
número de obras sobre um tema, e passaram a ser chamados para realizarem obras específicas
sobre assunto apontado. Desta forma, os artistas perdiam gradativamente a mínima liberdade
de criação que poderiam ter, isso era especialmente observado nas artes plásticas.
55
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.92-94. Tradução minha.
56
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.94. Tradução minha.
57
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.94. Tradução minha.
30
Artistas não se sentaram em seus estúdios e pintaram obras exaltando o estado socialista sem
incentivo. A engenharia espiritual que Stalin procurou formar era para ser guiada pelo Estado.
O realismo socialista, como convinha à arte sob o partiinost, foi 99% encomendados sobre
temas elaborados por comissões e aprovado pela liderança política. No entanto, em meados
dos anos 1930, este sistema foi modificado; artistas não eram mais contratados para produzir
certo número de Obras, talvez se sob um tema amplo, durante um longo período de tempo -
digamos um ano, eles seriam contratados para produzir obras específicas, cada um sobre um
determinado assunto - uma diminuição real de liberdade. 58
Para resolver as questões relativas às artes plásticas foi criado em 1936 um comitê
específico submetido diretamente ao Comitê Central do PCUS. Denominado “Comitê para
Assuntos de Arte” (KPDI), este núcleo controlava a seleção de obras para as grandes
exposições, e na primeira exposição após a oficialização do realismo socialista ocorrida em
1938 foi uma mostra de como seria esse controle da liberdade de criação dos artistas plásticos.
O evento foi organizado de forma que os artistas escolheriam um título dentre os oferecidos
em uma lista para só então produzir a obra. Os títulos especificavam com clareza o que
deveria ser representado na obra.
O título "Um trabalhador bolchevique diz a um soldado do exército do czar por que ele
deve ajudar na luta contra a o czar" é um exemplo de quão detalhadas e restritivas eram essas
“opções” de títulos. Bown esclarece que a lista que apresenta como exemplo foi elaborada por
uma comissão formada por militares e por especialistas em arte, o que demonstraria a
estratégia politica de propaganda do governo, configurando uma das propostas essenciais do
realismo socialista.
O KPDI agora supervisionou a colocação de obras para grandes exposições. Para a primeira
grande exposição realizada sob a bandeira do realismo socialista, “20 Anos dos Trabalhadores
e Camponeses do Exército Vermelho e da Marinha de 1938”, os artistas podiam escolher um
título de uma lista de mais de 100 em oferta sob uma variedade de títulos. Na seção intitulada
"O Exército Vermelho foi construído sob um fogo temperado", um artista pode escolher o
título “É necessário entender”, fornecido com o título "Um trabalhador bolchevique diz a um
soldado do exército do czar por que ele deve ajudar na luta contra a o czar." Esta lista em
particular foi elaborada pelo departamento de arte do Comissariado do Povo para Defesa, em
outras palavras, por uma comissão conjunta de especialistas em arte e militares, ou seja, tanto
quanto um ocidental Ministério da Defesa pode planejar uma campanha de publicidade hoje.
59
58
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.94,95. Tradução minha.
59
BOWN, Matthew Cullerne. Op.cit. P.95. Tradução minha.
31
visitava a exposição por conta própria. Com essas estratégias a arte pautada no realismo
socialista efetivamente chegaria a um grande público. A abrangência de público que o
realismo socialista alcançaria não é a medida garantida do quanto era realmente popular.
Os pôsteres foram uma forma encontrada para levar as artes a um público cada vez
maior e através deles promover as ideias do PCUS. A produção destes pôsteres mobilizou
muitos artistas plásticos, independente de suas especialidades. A quantidade dos cartazes que
já era grande durante a Segunda Grande Guerra, aumentou logo quando teve fim o conflito.
Foram milhares de cartazes diferentes que se espalharam pela União Soviética e com o tempo
suas imagens reproduzidas pelo mundo.
Muitos pintores e ilustradores, e até mesmo alguns escultores, alguns dos quais até já tinham
concebido um cartaz antes, agora começaram a trabalhar como artistas de cartaz. Poetas foram
empregados para pensar os slogans, alguns em forma de verso. A partir do final da guerra
cerca de 800 cartazes diferentes haviam sido publicados em Moscou, 700 em Leningrado, e
muitos mais em outras cidades. 61
60
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.95. Tradução minha.
61
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.145. Tradução minha.
32
Figura 1- Autor desconhecido. Fig. 2 - Autor desconhecido. Fig. 3 Autor desconhecido Cartaz
Cartaz Soviético- Venceremos a Cartaz Soviético - A Pátria Soviético - A noite não atrapalha
seca também! S/d. Fonte: mãe nos chama! 1941. Fonte: o trabalho! S/d. Fonte:
http://www.sovietposters.com/in http://www.sovietposters.com/ http://www.sovietposters.com/in
dex.php , acesso em 15-03-2013. index.php , acesso em 15-03- dex.php , acesso em 15-03-2013.
2013.
A função destes cartazes de propaganda era divulgar as ideias do regime stalinista para
o povo. E ainda promover a ideia de uma satisfação com grandes conquistas sociais,
econômico-produtivas, políticas e culturais. A utilização da arte realista socialista pode ter
cabido bem a este propósito, pois os temas eram fechados, no entanto as interpretações e
críticas individuais ao ocorrerem tinham sua divulgação restrita com a censura.
No que concerne às artes gráficas o seu desenvolvimento foi retomado com força na
Segunda Grande Guerra e se configurou em um importante meio de divulgação dos sucessos
comunistas nas batalhas. Os artistas eram enviados para as regiões onde ocorriam os conflitos
e seus desenhos eram usados largamente nos jornais. A preferência aos desenhos em
detrimento das fotografias parecia ser uma estratégia para mostrar uma visão das cenas de
acordo com os interesses em voga, ressaltando as características mais pertinentes.
33
As artes gráficas como um todo retomaram o papel de liderança que tinham durante a
revolução e a guerra civil. Uma oficina de litografia móvel foi enviada para a linha de frente, e
na esteira dos primeiros sucessos militares soviéticos, os artistas foram enviados para as
regiões liberadas para o trabalho. Os desenhos que fizeram eram usados frequentemente em
jornais em preferência a fotografias: um eco, possivelmente, da exigência de evitar o
naturalismo - uma imagem muito crua do mundo - no realismo socialista62.
De acordo com Bown, um texto do Pravda, jornal ligado ao PCUS, declarava que uma
série de doze desenhos que fora publicada neste periódico soviético era otimista diante da
tragédia, pois as vítimas pareciam mais fortes interiormente e moralmente, e ainda superiores
63
aos seus carrascos inclusive espiritualmente. Estas considerações mostram o quão
apropriados poderiam ser esses desenhos à função que lhes cabia: mostrar a versão oficial dos
acontecimentos. E ainda, a importância do realismo socialista na URSS para compreender
como o momento histórico do PCB e sua relação com o PCUS propiciou sua ligação com este
conceito soviético de arte.
1.2 – PCB, cultura e artes: uma versão do realismo socialista soviético no Brasil?
62
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.145. Tradução minha.
63
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.146. Tradução minha.
34
Caymmi (1914-2008), o cineasta Nelson Pereira dos Santos (1928-), o maestro Francisco
Mignone (1897-1986), o pianista Arnaldo Estrela (1908-1980) e o cientista Mário Schemberg
(1914-1990), unindo expoentes das artes, letras e ciência brasileira 64.
O realismo socialista foi importante suporte para a arte produzida por artistas ligados
ao PCB especialmente entre meados da década de 1940 e da de 1950. As suas ideias-força
chegaram ao Brasil em 1945 através do Partido Comunista do Brasil, onde encontraram
artistas que as incorporaram, defenderam e que produziram suas obras a partir das
preocupações sociais trazidas por esta vertente artística.
No entanto, é importante notar que a arte com preocupação social já vinha sendo
produzida no Brasil há tempos e no início do século XX se intensificou por causa da própria
Revolução Russa, da arte muralista mexicana pós-revolucionária que alcançou toda América
Latina65, de movimentos sociais no início do governo de Getúlio Vargas, como a Revolta
Constitucionalista de 1932 e o Levante Comunista em 1935, assim como a organização de
grupos como a Ação Integralista Brasileira (AIB) de cunho fascista e a Aliança Nacional
Libertadora (ANL) de esquerda, e com a qual o PCB mantinha forte ligação.
64
GUIMARÃES, Valéria Lima. Op. cit. P. 94 e 95.
65
A Revolução Mexicana ocorreu em 1910, e o muralismo mexicano foi um movimento artístico que se iniciou
logo após este acontecimento marcante, e se relaciona diretamente com as transformações políticas e sociais
pelas quais o país passava. Eram feitas obras de grandes dimensões com teor social, e os artistas mais destacados
foram Diego Rivera, José Clemente Orozco e Davi Alfaro Siqueiros.
66
AMARAL, Aracy. Op. cit.
67
Sobre este assunto, no que diz respeito ao campo literário cf. MATTOS, Marcelo Badaró (org.). Op. cit.
35
PCB era parte da doutrina de expansão dos ideais políticos comunistas. A apropriação que
este Partido fez do realismo socialista para a sociedade brasileira enfocava a necessidade de a
arte chegar ao que consideravam como classe trabalhadora através de temas brasileiros,
especialmente aqueles que abordassem a vida do trabalhador do campo ou da cidade.
O artista plástico Carlos Scliar (1920-2001) contou em entrevista a Aracy Amaral que
os artistas presentes eram de diversas tendências estéticas, mas que comungavam da mesma
linha política. 69 Dentre estes contemplados observamos a presença bem maior de escritores,
poetas, e jornalistas, além de alguns músicos e uns poucos artistas plásticos dentre os quais se
68
ARAUJO, Mônica da Silva. Op. cit.
69
SCLIAR, Carlos. Depoimento a autora. 30-01-1982. Rio de Janeiro. Apud AMARAL, Aracy. Op. cit. P. 157.
36
No caso das artes plásticas, a diferença de alcance entre obras expostas em museus e
ilustrações de livros e, como no caso deste trabalho, de jornais é considerável. E isso era um
debate recorrente no Partido, pois havia uma preocupação em levar a arte onde estavam as
pessoas e não só esperar sua presença em exposições ou que adquirissem livros.
70
Tribuna Popular, 21-04-1946. Relação dos artistas que receberam em 21-04-1946 “carnet” de membros do
PCB das mãos de Luiz Carlos Prestes no Teatro Ginástico. Rio de Janeiro. Acervo Biblioteca Nacional.
71
No âmbito do jornal Tribuna Popular, podemos ressaltar a contribuição do artista plástico Paulo Werneck.
Este, antes de tudo, militante do PCB produziu ao longo dos quase três anos no qual circulou cerca de 300
ilustrações para o periódico, sendo esta a contribuição de maior destaque do artista em relação ao Partido
Comunista do Brasil. No terceiro capítulo será dedicada maior atenção ao artista plástico Paulo Werneck,
tecendo sobre suas contribuições para o Tribuna Popular e ainda sobre suas outras atividades no período. No
entanto, a partir deste exemplo, podemos notar a grande quantidade de obras feitas especificamente para esse
jornal, e assim, mensurar um pouco a presença constante nas produções vinculadas ao PCB.
37
A determinação de uma data como marco da divulgação das traduções das teses do
realismo socialista no Brasil esconde, de certa forma, o processo que levou ao
estabelecimento desta vertente como caminho a ser seguido. Desde 1945 os elementos dessa
arte já eram disseminados entre os textos do jornal Tribuna Popular. 72 Quando isto ocorreu, o
Tribuna Popular, perseguido, havia já mudado seu nome para Imprensa Popular, mantendo a
sua estrutura e periodicidade.
Os que quiseram fazer dela uma metafísica, algo inacessível, enganaram-se a si mesmos. (...)
A poesia é uma realidade da vida, porque é a flor dos sentidos que captam o jogo de todas as
forças da natureza. Indiscutivelmente, a filosofia materialista nos chama à razão quando
afirma “que nada existe fora do mundo material”. Pensar poeticamente não significa elocubrar
no vazio, mas dentro de uma norma de conduta realista; não é subjetivar fantasmas do mundo
interior, mas a objetivação do mundo exterior, adornado com as roupagens da fantasia. (...)
São as fotografias intimas e diretas que captam a nossa consciência dos objetos materiais que
nos rodeiam na existência. (...) A poesia é o resultado da vida prática do homem, suas relações
sociais e materiais dentro da sociedade. Não é beleza à seco nem tampouco um passatempo
72
Mônica da Silva Araujo apresentou um importante estudo sobre o realismo socialista no Brasil e a relação
entre o PCB e a arte, especialmente no que diz respeito à literatura. Em seu trabalho defendeu esta ideia de que
os pressupostos teóricos do realismo socialista já estavam presentes desde 1945, e que apenas quando o PCB
voltou à ilegalidade em 1947 e radicalizou seu posicionamento político é que divulgou claramente os textos
soviéticos. Cf. ARAUJO, Mônica da Silva. Op. cit.
38
vulgar. A poesia é a técnica da beleza mais a orientação revolucionária, disse Mario Pavón
Flores.73
Desta forma o autor rebatia a ideia de uma poesia, uma arte inacessível, assim como os
artistas que defendiam esse tipo de arte. Para ele a poesia é fruto da realidade por ser a
captação das “forças da natureza” para o mundo material. De tal modo, o pensamento poético
seria feito a partir de uma norma realista e não uma subjetivação dos sentidos e fantasias
individuais. A arte seria, portanto, uma parte da vida social e material, não só beleza em si.
Destarte, esse posicionamento do autor está diretamente ligado à recusa a uma arte desligada
das questões que ocupam a sociedade, assim como está de acordo com a materialização dos
sentidos condizentes com a orientação revolucionária.
Este teor de crítica do autor se repetiria em outros textos, que, para estabelecer o que
seria o ideal de arte procurava se apoiar no que ela não deveria ser. Na coluna Literatura e
Vida da edição de 16 de setembro do mesmo ano, o autor analisa obras literárias de Graciliano
Ramos, Jorge Amado e José Lins do Rêgo, enaltecendo a temática da “miséria do sofrimento
do povo” que seriam o papel mesmo da literatura.
Para tanto, o autor faz uma alusão a autores clássicos que teriam, segundo o autor,
tratado de temas como a miséria e as guerras, assim como das “lutas de classes, as
contradições da vida social baseada na exploração do homem pelo homem”. Assim, o artigo
defendia a ideia de que a literatura teria um papel político importante.
Os temas da miséria do sofrimento do povo foram o poderoso impulso que fez nascer, por
exemplo, “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, “Fogo Morto” de José Lins do Rêgo, “Terras
do Sem Fim”, de Jorge Amado. E não tem sido outro papel da literatura na historia dos
homens, entre escravos e senhores da antiguidade, no mundo feudal e capitalista, o teatro de
Eschylo, a Iliada, o Eclesiastes, D. Quixote, “Ilusões Perdidas”, “Guerra e Paz”, onde a
miséria, as guerras, as lutas de classe, as contradições da vida social baseada na exploração do
homem pelo homem, soltam a sua grande voz, o seu soluço e os seus sonhos. 74
Estes artigos que foram publicados no jornal Tribuna Popular ainda em 1945, assim
como ocorreria nos dois anos seguintes de circulação deste periódico, traziam os pressupostos
nos quais se baseia o realismo socialista soviético. A partir de 1948, esta abordagem mais
73
Tribuna Popular, 05-08-1945. P.10. RJ. Acervo BN.
74
Tribuna Popular, 16-09-1945. Suplemento literatura arte divulgação ciência. P.1. RJ. Acervo BN.
39
dispersa do realismo socialista se delinearia de forma mais clara e as teses soviéticas seriam
divulgadas nos jornais e revistas do PCB a respeito de diferentes campos artísticos. 75
Como foi citado anteriormente, as obras dos escritores membros do PCB Graciliano
Ramos, Jorge Amado 78 e José Lins do Rêgo eram elogiadas e muitos outros escritores
também membros do Partido contribuíram para o Tribuna Popular, como o romancista
paraense Dalcídio Jurandir (1909-1979) entre tantos outros.
75
Este período iniciado em 1948 é marcado pela volta do PCB à ilegalidade e a sua aproximação cada vez mais
forte com o Kominform (Agência de Informação dos Partidos Comunistas que sucedeu em 1947 a Internacional
Comunista extinta em 1943 por Stalin por conta dos acordos de guerra), o posicionamento crítico contra a
burguesia e a adoção da concepção da arte como arma ideológica. Estes fatores vão intensificar a divulgação do
realismo socialista soviético de forma clara.
76
MORAES, Dênis de. Op. cit.
77
Fundamentos, mar-abr, 1949. Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P. 167.
78
Sobre a relação entre Graciliano Ramos e Jorge Amado com o PCB e suas produções artísticas com as
diretrizes artísticas do Partido cf. ARAUJO, Mônica da Silva. Op. cit.
40
Desta forma, a arquitetura também deveria estar a serviço dos interesses da classe
trabalhadora, e outros arquitetos brasileiros eram filiados ao PCB e escreviam sobre a função
social e política do arquiteto. Um deles era Nair Batista que defendeu a ideia de que o
arquiteto contribuiria com o comunismo através do que projetava: “desde as casas de
moradias até os palácios públicos, as usinas e fábricas, desde as cidades operárias e as aldeias
até os grandes centros industriais” 80. Portanto, o trabalho do arquiteto deveria estar
preocupado com o uso do que projetava, para de alguma forma servir a causa comunista.
Também era membro do PCB o arquiteto Oscar Niemeyer e neste período militava no Partido
escrevendo para suas publicações, como o Tribuna Popular, e atuando em funções internas.
Além de sambistas outros músicos se ligaram ao PCB neste período, como o maestro
César Guerra Peixe (1914-1993) e o compositor Claudio Santoro (1919-1989). Posicionando-
se contra o formalismo e a hermética do dodecafonismo ou o atonalismo82 neste momento
procuravam defender novas formas de arte opostas ao que seguiam anteriormente. Por isso, de
acordo com Dênis de Moraes, Guerra Peixe justificou em texto na revista Fundamentos seu
novo posicionamento com três razões:
79
Imprensa Popular, 27-05-1951, Rio de Janeiro Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P.181.
80
Imprensa Popular, 29-04-1951, Rio de Janeiro Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P.181.
81
Sobre a relação do PCB com o samba no período entre 1945 e 1950, especialmente nas páginas do jornal
Tribuna Popular Cf. GUIMARÃES, Valéria Lima. Op. cit.
82
MORAES, Dênis. Op. cit. P. 172. O dodecafonismo se relaciona ao formalismo no uso das notas musicais, e o
atonalismo a falta de regras, ligado de certa forma a um “abstracionismo” da música.
83
MORAES, Dênis. Op. cit. P. 173 e 174.
41
Guerra Peixe procurava então defender uma arte que realçasse sua nacionalidade
brasileira e que tivesse uma linguagem acessível. O nacionalismo seria o melhor caminho
para o compositor, que deveria se inspirar em “fontes populares”. Desta forma, valorizava
uma “reação” ao “formalismo da arte pela arte” para ser um artista, um revolucionário. A
virada do artista ocorreu em 1949 quando, segundo Luiz Giani, resolveu “documentar o
folclore nordestino” 84.
Por outro lado, Cláudio Santoro afirmava que “o progresso em música deve ser a
representação dos ideais do proletariado, porque o desenvolvimento de qualquer arte, como
uma superestrutura, se faz através do conteúdo e não da técnica”. 85 A valorização do
conteúdo em relação à técnica, é importante no posicionamento contrário a uma arte
considerada pura, sem preocupação com função social ou política, apenas estética. Assim, o
crítico H. Galdeman analisaria a produção de Claudio Santoro e a utilização da cultura
nacional, dizendo que: “o que Santoro e os compositores do realismo socialista desejam é
fazer uma música que seja um hino de fé nos destinos do homem, não um refúgio de sofismas
e recalques”. 86
Desta forma, a ligação com o realismo socialista ficava explícita, e a intenção de uma
música que estimulasse as pessoas era reconhecida pelo crítico. Claudio Santoro teria
reconhecimento no meio artístico do Leste Europeu e de Moscou, onde fez turnês e regeu
orquestras sinfônicas. Assim como ele, o solista Arnaldo Estrela, também membro do PCB,
ganhou reconhecimento na União Soviética, fazendo cerca de sessenta recitais em uma
viagem. 87
84
GIANI, Luiz. Op. cit. P. 126.
85
Para Todos, março de 1951. Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P.174
86
Para Todos, março de 1952. Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P.174.
87
MORAES, Dênis. Op. cit. P. 175.
88
Entre suas produções musicais pode-se destacar Ode a Stalingrado de 1946-7, Zé Brasil e Canto de Amor e
Paz de 1950. Cf. GIANI, Luiz. Op. cit. p.430.
42
A respeito da arte cinematográfica, o PCB contava com diversos nomes deste campo
como seus membros e defensores do tipo de arte promovida pelo Partido. Eram cineastas
como Nelson Pereira dos Santos, Alex Viany (1918-1992), Carlos Ortiz (1910-1995), Walter
da Silveira (1915-1970), Nilo Antunes, Rodolfo Nanni (1924-), Plínio Morais, Oduvaldo
Vianna (1892-1972) e Ruy Santos (1916-1989). As produções cinematográficas deveriam
destacar um “herói positivo” e que fosse um exemplo para os expectadores. A afirmação deste
posicionamento era feito principalmente através da crítica aos filmes da Companhia
Cinematográfica Vera Cruz, recém criada com apoio financeiro de uma elite financeira
paulista e com pretensões de organizar um aparato grandioso como os europeus ou o norte-
americano, com estúdios espaçosos e com estrutura técnica avançada, e mesmo diretores
estrangeiros. Ao contrário, os cineastas ligados ao PCB buscavam um cinema com temas e
condições mais populares. 90
A Vera Cruz era, então acusada por cineastas como Nelson Pereira dos Santos de
servir aos interesses “imperialistas norte-americanos”, pois era questionada sua dita ligação
com a Universal Pictures, grande companhia cinematográfica de Hollywood, apesar de
estudos recentes defenderem que a Vera Cruz criada em 1949 procuraria seguir o modelo do
cinema europeu92. Discussão à parte, o molde estrangeiro e não nacional era o ponto alvo de
críticas dos comunistas.
89
GIANI, Luiz. Op. cit. P. 179,180.
90
MORAES, Dênis. Op. cit. P. 182.
91
Fundamentos, julho de 1951. Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P. 183.
92
Cf. MARTINELLI, Sérgio. Vera Cruz - Imagens e História do Cinema Brasileiro. Abooks. 2002.
43
na forma: está, antes de tudo, no assunto e no seu tratamento” 93 E continuava suas críticas a
respeito dos temas tratados nas produções da Vera Cruz dizendo que: “Os temas que nelas
encontramos são farrapos dos temas surradíssimos do cinema internacional e, especialmente,
de Hollywood.” Isto porque não tratavam do cotidiano proletário e não se preocupava com
suas causas. 94
Portanto, o cinema deveria ser feito com o intuito de conscientizar as pessoas sobre as
contradições da sociedade capitalista e de educá-las para uma sociedade comunista . Esta ideia
era compartilhada por outros cineastas, que acreditavam que além de suprir as “necessidades
do ‘povo’ deveriam elevar seu conhecimento, enriquecendo e desenvolvendo seus gostos. O
que se daria de acordo com os preceitos comunistas e contra a dominação norte-americana e
sua “influência imperialista sobre as massas desprevenidas”. 96
93
Fundamentos, janeiro de 1951. Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P. 183.
94
MORAES, Dênis. Op. cit. P.183.
95
RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luis Felipe. Enciclopédia do Cinema Brasileiro. (org.) São Paulo.
SENAC, 2004. P.496.
96
MORAES, Dênis. Op. cit. P.184.
44
relativos ao crime, ódio, vingança, maldade e não ao amor à vida ou sentimentos positivos e
de confiança em um futuro melhor. Assim, a exaltação dos heróis norte-americanos era
motivo de insatisfação dos membros do PCB que propunham que houvesse histórias com
conteúdo nacional, com “heróis” realistas e humanos, que levassem o leitor a ter contato com
histórias educativas e que inspirassem o proletariado a lutar por melhorias em suas vidas. 97
Havia também membros do PCB ligados ao teatro como Jackson de Souza (1917-
1996) e Antônio Bulhões que expressavam seu posicionamento contra o modelo francês no
qual se baseavam as produções nacionais. Assim, a crítica destes comunistas era direcionada
às comédias de costumes representadas sem “conteúdo revolucionário”. 98
A partir de 1942, o PCB começou a reaparecer na cena política nacional. Eram novos
tempos nos quais o Partido iniciou sua reestruturação após a derrota no Levante Comunista de
1935, quando foi desarticulado e posto na ilegalidade. Neste episódio a repressão ao Partido
97
MORAES, Dênis. Op. cit. P.198
98
MORAES, Dênis. Op. cit. P.186.
99
MORAES, Dênis. Op. cit. P.186-7.
45
levou vários de seus membros à prisão, e mesmo depois de sete anos, muitos ainda estavam
encarcerados, entre eles grandes líderes comunistas. Dada esta situação, podemos
compreender a dificuldade de o PCB se rearticular. Entretanto, neste momento alguns antigos
membros do PCB já estavam articulando movimentos que fortaleceriam o Partido. O
historiador José Antônio Segatto aborda alguns fatores que ajudaram o Partido a se reinserir
nas questões pertinentes à população naquele ano de 1942.
No inicio eles combatem a ditadura, mas com a guerra e a invasão da Rússia, a palavra de
ordem é a da União Nacional. Ela, no entanto, é compreendida diferentemente: 1) a Comissão
Nacional de Organização Provisória (CNOP) a entende como esforço de guerra e
consequentemente apoio a Getúlio Vargas; nenhuma critica ao estado atual, nada que desvie as
preocupações fundamentais da luta contra o nazi-fascismo, pois as liberdades advirão com a
derrota do inimigo comum, como consequência inevitável das novas condições que virão com
o fim da guerra; 2) a posição de Fernando Lacerda, que concorda com as conclusões gerais da
CNOP, é mais radical num ponto: ela pede a extinção do Partido Comunista, numa
demonstração de boa vontade dos comunistas para com os aliados democráticos, num
momento em que Stalin fecha a Internacional Comunista; 3) afinal, existe uma corrente
paulista; que concorda no esforço de União Nacional, mas acha que se deve criticar e
combater a ditadura interna de Getúlio Vargas. 102
100
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.45
101
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.46.
102
CARONE, Edgar. O Estado Novo (1937-1945). DIFEL. Rio de Janeiro. 1976. P. 232.
46
Nada disto era ignorado, ou esquecido, mas os comunistas da CNOP estavam convencidos de
que esta era a proposta politicamente adequada porque favoreceria o avanço das lutas sociais,
do pensamento progressista e da organização das esquerdas e do Partido Comunista em
particular.104
No ano de 1945 toda a conjuntura internacional passou por uma grande transformação
com o fim da Segunda Grande Guerra em maio deste ano os nazistas foram finalmente
103
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.46.
104
FILHO, Daniel Aarão Reis. Entre reforma e revolução: a trajetória do Partido Comunista no Brasil entre 1943
e 1964. In: RIDENTI, Marcelo; FILHO, Daniel Aarão Reis (Org.). História do Marxismo no Brasil. Unicamp,
2002.p. 70.
105
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.48.
47
derrotados pelos Aliados e o papel da União Soviética havia sido decisivo. Um turbilhão de
ideias e debates sobre a humanidade, direitos humanos, liberdades, democracia, entre muitos
outros, tomaram conta de grande parte do mundo. Assim como as ideias e a experiência
comunista soviética ganhavam respeito por conta da participação na guerra ao lado dos
Aliados e a efetiva derrota alemã através dos exércitos soviéticos em Berlim. Ideias que
proclamavam esse momento de mudanças e pregavam a democracia chegaram com força ao
Brasil e pressionavam o governo a mudar determinadas posturas de caráter ditatoriais.
Assim, quando o ano de 1945 se abriu, nas ruas e entre as elites, cresciam e eram já imensos o
prestígio e a força política dos comunistas – evidenciados nas lutas sociais que repontavam,
nos comícios e manifestações pela Anistia e pela democratização do país, no I Congresso dos
Escritores, nas multidões em festa nas praças e nas ruas, saudando a vitória contra o nazi-
fascismo, afinal formalizada pela rendição incondicional, assinada em 8 de maio de 1945. 106
Prestes foi um dos libertados e quando saiu da prisão encontrou novos ares de
mudança e luta pelas liberdades democráticas:
106
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 71.
107
Luís Carlos Prestes (1898- 1990) cursou engenharia na escola militar do Rio de Janeiro e participou das
reuniões preparatórias das revoltas tenentistas em 1922, logo em seguida foi transferido para o Rio Grande do
Sul e saiu do exército em 1924 para participar de movimento revolucionário contra a presidência da República,
formando a conhecida Coluna Prestes que percorreu por dois anos cerca de 25 mil km pelo interior do Brasil, e
que apesar de não sofrer nenhuma derrota para as forças legalistas não obteve êxito na derrubada do presidente,
levando Prestes a se retirar para a Bolívia em 1927. Esta empreitada gerou grande prestígio político e militar a
Prestes e que ficou conhecido como Cavaleiro da Esperança. Depois viveu ainda na Argentina, Uruguai e URSS,
quando se dedicou ao estudo do marxismo-leninismo e em 1934 tornou-se membro do PCB, e dirigiria o Levante
Comunista de 1935, permanecendo preso desde o ocorrido até 1945. Cf. ABREU, Alzira Alves de (coord.); et al.
Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Ed. FGV. Rio de Janeiro, 2001.
108
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Comunicação, cultura de esquerda e contra-hegemonia: o jornal Hoje
(1945-1952). Tese de doutorado. PPGCOM da ECA- USP. São Paulo, 2006. P. 23.
48
Foi esta atmosfera que envolveu Prestes ao sair da prisão. Foi ela que potencializou de forma
extraordinária sua liderança, confirmada nos comícios monstro que ritmaram seu triunfo
popular: no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Recife, os maiores estádios de futebol de então
se enchiam para saudar e aplaudir o Cavaleiro da Esperança, agora livre. 109
Luís Carlos Prestes, libertado neste contexto, foi líder e o porta-voz dessas ideias
antinazistas, e os resistentes às mudanças dentro do PCB provocariam uma cisão, chegando a
se afastarem do mesmo. Em seus discursos, Prestes, que se tornou chefe do Partido
Comunista do Brasil, deixava clara a intenção do PCB de ampliar suas frentes. A moderação
neste momento atraiu milhares de novos filiados e simpatizantes especialmente quando, a
partir de 1945, o PCB retornou à legalidade e pôde organizar centenas de grupos pelo país,
ampliando a ação, mobilização e número de membros: Em pouco tempo, passa de poucos
milhares de membros para quase duzentos mil. Simultaneamente, organiza 500 células no Rio
de Janeiro; 361 células, 22 núcleos em diversos Estados.112
109
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. p. 72.
110
SEGRILLO, Angelo. Op. cit.
111
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.49.
112
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.51.
49
que viriam. José Antônio Segatto pontua que: “No segundo semestre de 1945, o PCB irá se
preparar para as eleições de dois de dezembro. São lançados candidatos em quase todo o pais,
um grande esquema de agitação e propaganda”. 113
Os comunistas batiam na tecla que assegurara o sucesso durante a guerra: manter e aprofundar
a união nacional, liquidar os restos de fascismo existentes na sociedade e no Estado. Por outro
lado, na ânsia de obter credibilidade, numa sociedade trabalhada à exaustão por campanhas
que os apresentavam como sanguinários, assassinos e impatriotas, os comunistas tentaram se
apresentar como paladinos da ordem política e da paz social. Queriam mudanças, mas não a
desestabilização do país. 114
Essa era a postura do Partido que manteria sua aceitação e abertura na sociedade para
suas propostas. No entanto, antes que as eleições se realizassem o então presidente Getúlio
Vargas foi deposto e, apesar do impacto desta notícia, o Partido Comunista do Brasil manteve
sua posição e suas estratégias políticas que puderam ser confirmadas nas eleições que
ocorreram logo em seguida, como Daniel Aarão Reis Filho explicita: “A deposição de Vargas,
em 29 de outubro de 1945, foi um susto- e uma ameaça -, mas não alterou qualitativamente a
113
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.54.
114
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P.72.
115
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P.73.
50
proposta política geral dos comunistas. Os resultados positivos vieram com as eleições
nacionais, em dezembro daquele ano(...).116
O ano de 1946 começaria com um novo presidente eleito: o General Eurico Gaspar
Dutra. Era o fim do Estado Novo. Todos esperavam mudanças e o PCB tinha razões para estar
otimista com seus resultados eleitorais e com o aumento progressivo de seus membros por
todo o país. Todavia, o novo governo presidencial traria grandes mudanças na política
nacional.
No curso do ano seguinte [1946], entretanto, o quadro político geral começou a mudar em
profundidade. A eleição do general Dutra à presidência da Republica entronizou no poder uma
coligação de forças comprometida com um projeto de desenvolvimento que pretendia destruir
as bases lançadas por Vargas durante o Estado Novo. Em vez do nacional-estatismo, uma
perspectiva internacionalista liberal. No lugar da ambição autonomista, a aliança
incondicional com os Estados Unidos. Em vez da ênfase industrialista, a nostalgia agrário-
exportadora. Em relação aos trabalhadores, não mais as propostas de integração e conciliação,
mas a repressão bruta aos sindicatos e às lutas sociais. 118
Os impactos da Segunda Grande Guerra ainda seriam sentidos por muitos anos, e se o
período em que durou a guerra determinou alianças, esforços e modificações nas políticas
internacionais, o fim desta guerra tão terrível traria ainda muitas transformações. Ainda
durante a guerra começaram os sinais de que a aliança entre Estados Unidos e União Soviética
tinha seus limites, e passado o primeiro momento de vitória sobre o nazi-fascismo, e definidas
as punições aos perdedores, estes limites se evidenciariam ainda mais. Uma oposição clara e
definitiva seria imposta entre estas duas potências mundiais, e os efeitos ainda não poderiam
116
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P.73.
117
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.54.
118
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P.73.
51
ser dimensionados. O historiador Aarão Reis Filho ressalta que este período inicial da Guerra
Fria pressagiava tensões maiores 119.
O ano de 1946 que prometia paz após seis anos de guerra trazia o peso de novas
tensões mundiais. Mas eram só os primeiros sinais. Novas eleições estavam marcadas para
janeiro de 1947, só que desta vez no âmbito estadual. Assim como os outros partidos o PCB
se preparou com candidatos e forte propaganda dentro de suas possibilidades. De acordo com
José Antonio Segatto os bons resultados das eleições anteriores se mantiveram, o que mostrou
que a força do Partido Comunista do Brasil também não havia alterado.
Nas eleições estaduais de janeiro de 1947, o PCB confirma sua votação anterior, elegendo um
numero razoável de deputados às Assembleias dos Estados, além de obter uma grande votação
nas eleições municipais, especialmente em alguns municípios como Santos, Santo André,
Distrito Federal e outros.121
Um balanço dos estudos sobre esse período compreendido entre 1945 e o início de
1947 mostra que nesses dois anos o Partido Comunista do Brasil obteve conquistas muito
importantes. O prestígio da URSS na Segunda Grande Guerra e de Luís Carlos Prestes como
líder tenentista contribui para o crescimento organizativo e êxito eleitoral do PCB.
O objetivo de alcançar “as massas” proclamado por Prestes em seus discursos parecia
estar sendo alcançado, pois o número de membros aumentava exponencialmente. O PCB
ressurgia dos próprios destroços e se reestruturava. Outro fator que demonstra essa expansão
do Partido é o número de candidatos eleitos nos dois processos eleitorais pelos quais
119
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P.73.
120
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 74.
121
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P. 55.
52
participou terem sido significativos, assim como o percentual de votos dos candidatos que não
se elegeram.
O caso já citado de Yeddo Fiúza pode ser um bom exemplo, já que ele foi candidato
do PCB à presidência da república e alcançou quase 10% do total de votos, alcançando o
terceiro lugar. Esse resultado foi de grande importância, especialmente se lembrarmos de que
a ação do Partido ainda era muito detida às grandes capitais nacionais, especialmente Rio de
Janeiro e São Paulo, onde obteve a maior parte dos votos.
Em apenas dois anos o PCB tornou-se um partido de massas, com um quadro de filiados
estimado em 150 mil a 200 mil, e uma expressiva representação parlamentar: um senador, 16
deputados federais 7 , 46 deputados estaduais em 15 Estados. A tendência de crescimento dos
comunistas como força política seria confirmada nas eleições estaduais majoritárias e
proporcionais de janeiro de 1947, nas quais o PCB teve decisiva participação na eleição de
Adhemar de Barros, o candidato do Partido Social-Progressista (PSP) ao governo de São
Paulo. 122
O PCB não mudou sua postura de pregar a União Nacional, que segundo o
pesquisador Daniel Aarão Reis Filho: “Talvez por estas razões as eleições realizadas em
janeiro de 1947, para governos e assembleias estaduais, tenham mostrado os comunistas com
um prestígio relativamente intacto.”123
Todavia, esse crescimento do Partido e a imagem estável que parecia manter não
foram suficientes para evitar que fosse novamente cassado seu registro. Daniel Aarão Reis
Filho afirma a armadilha: “Entretanto, apesar do prestígio eleitoral reafirmado e da ostentada
moderação política, os comunistas foram surpreendidos por uma armadilha: a cassação de seu
registro legal como partido político .” 124
Durante o Estado Novo todos os partidos haviam sido proibidos e apenas em 1945 a
livre organização partidária foi permitida novamente, como foi visto. Contudo, desta vez, em
125
1947 apenas o PCB teve seu registro cassado no Brasil. Os motivos são vários. A
eminência da Guerra Fria formava uma atmosfera de temor aos comunistas pelo mundo que
se opunha a eles. A aliança do governo brasileiro com os Estados Unidos da América
sustentava o incômodo que o crescimento do Partido Comunista já causava e impulsionava
122
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Op. cit. P. 26.
123
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 74.
124
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 75.
125
Em outros países da América Latina, outros partidos comunistas também foram perseguidos devido ao
anticomunismo incitado pelo início da Guerra Fria. Cf. BETHEL, Leslie e ROXBOROUGH, Ian. (Org.) A
América Latina entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1996.
53
ações contra a ascensão dos comunistas. O apoio interno Dutra encontrou entre seus aliados
reacionários e liberais. Aarão Reis Filho explicita as questões que determinaram a volta do
PCB à ilegalidade:
No entanto, não houve escapatória, o Partido Comunista do Brasil teve seu registro
cassado e voltou à ilegalidade em 1947. Acabava o período que parecia tão promissor, toda a
estrutura partidária, a rede de imprensa, nada resistiria à investida das forças repressivas
amparadas na decisão judicial. As sedes foram fechadas, assim como os núcleos e os jornais.
No ano de 1948 o impacto foi ainda maior, pois os membros do PCB que haviam sido eleitos
de forma direta tiveram seus mandatos cassados. O Partido retrocedia e suas conquistas iam se
126
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 75.
127
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 75.
54
esvaindo em poucos meses. Muitos protestos, e denúncias das arbitrariedades foram feitas,
mas foram em vão.
Foi um estupor. Correrias para salvar arquivos. Sedes fechadas pela polícia. Jornais
empastelados. Imprecações, protestos, denúncias. Meses mais tarde, em janeiro do ano
seguinte, outra violência: a cassação do mandato dos parlamentares eleitos pelo PCB. Uma lei
aprovada pelo Congresso consolidava o arbítrio votado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Os
comunistas não somente não poderiam mais se eleger, os já eleitos perdiam os direitos – e os
mandatos – conquistados. A lei fazia retroagir seus efeitos, ferindo o principio consagrado do
direito adquirido.128
Este momento (de 1943 a 1947) é considerado pelo historiador Daniel Aarão Reis
como a “aurora de todos os sonhos” para o Partido Comunista do Brasil. 130 Neste período, o
PCB mudou seu posicionamento político e traçou novas diretrizes na Conferência da
Mantiqueira, realizada em agosto de 1943, encontro que marcou uma virada na história do
PCB. Este breve período de dois anos se mostrou formado por longos e ricos anos na história
do Brasil e do PCB, Partido que foi o primeiro deste país.131 Se mostra, portanto de grande
importância a compreensão mais detalhada de sua estrutura e estratégias que o levou a crescer
em número de filiados, de candidatos eleitos e de publicações periódicas, disseminando suas
perspectivas políticas e também sua política cultural.
128
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 76.
129
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 76.
130
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 69.
131
O PCB foi o primeiro partido do Brasil, fundado no ano de 1922 na cidade de Niterói no Rio de Janeiro.
55
estrutura complexa de imprensa. Neste momento o Partido Comunista do Brasil ainda está na
ilegalidade, contudo, quando começa a reestruturar seus núcleos e comitês também começa a
organizar editoras para publicação de obras políticas que divulguem suas bases ideológicas
marxistas, leninistas e stalinistas, principalmente.
Além de que, ‘a partir de 1942 ressurge toda uma linha de publicações e de editoriais, e ao
lado das publicações panfletárias ilegais aparecem livros e revistas de caráter permanente e
legal. É natural que o processo seja lento, metódico e cauteloso, mas muitas das casas
editoriais da época da legalidade do PCB (1945) nascem nestes anos obscuros e difíceis. ’ 132
(...) um jornal comum, empresa única e regular para toda a Rússia, que resumirá as mais
variadas atividades e incitará as pessoas a progredir constantemente por todos aqueles
numerosos caminhos que conduzem à revolução, da mesma forma e todos os caminhos levam a
Roma. (...) E o jornal mostrará prontamente os contornos gerais, as proporções e o caráter dessa
obra; as lacunas que se fazem sentir mais fortemente na ação conduzida em escala nacional, os
lugares onde a agitação é deficiente e onde a ligação é precária, as engrenagens do imenso
mecanismo comum que o círculo poderia reparar ou substituir por outras melhores. 134
132
CARONE, Edgar. O Estado Novo (1937-1945). Op. cit. P. 238.
133
LENIN, Vladimir. Que fazer? Huicitec. São Paulo, 1979.p. 94.
134
LENIN, Vladimir. Op. cit. p. 98.
56
propagação da sua política e das atividades do Partido. A preocupação era com a melhoria do
nível técnico empregado e com o conteúdo político a ser divulgado.
Para os leitores comuns e setor de massas, existia o jornal Imprensa Popular (antes chamado
Tribuna Popular); para o simpatizante e militante, Voz Operária; e para o militante, A Classe
Operária; o primeiro era diário, com notícias da cidade, do mundo e do partido, o segundo
semanário, com noticias sobre o movimento agrário, operário e sobre os partidos comunistas
do Brasil e do mundo, o último ‘[...] era só doutrinário, cada tijolo desse tamanho, ninguém
lia’ Também existia Gazeta Sindical, editada pela Frente Sindical. Enfim, nada ficava de fora
desta construção e luta ideológica.137
econômicas nacionais e sobre as ações por ele promovidas em diversos âmbitos. Estes
periódicos tinham um caráter de divulgar, especialmente, informações sobre as atividades do
PCB.
Os periódicos não diários, como a Voz Operária e A Classe Operária, adquiriram um sentido
mais programático. Possuíam muitos artigos da direção do PCB e os mais diversos possíveis,
mas com conteúdo político e cultural. As lutas cotidianas dos trabalhadores, as greves, postura
contra as políticas econômicas e trabalhistas do governo aí encontravam espaço
privilegiado. 138
Havia ainda as revistas de caráter político e cultural que eram publicadas mensalmente
e tinham um caráter específico no que concerne a divulgação teórica das ideias marxistas,
leninistas e stalinistas. Mas não eram apenas artigos destes grandes teóricos comunistas.
Muitos eram artigos de intelectuais soviéticos ou alguns de outros partidos comunistas do
mundo que eram traduzidos e publicados nestas revistas. Os dirigentes e intelectuais de
destaque do Partido Comunista do Brasil publicavam também textos de sua autoria, suas
interpretações de assuntos gerais da economia ou política nacional pautadas nas bases teóricas
que seguiam.
As revistas políticas e culturais como Fundamentos, Seiva e Horizonte entre outras, seguiam a
linha de propagação do ideário marxista-leninista-stalinista. Artigos dos dirigentes do partido e
de intelectuais com eles afinados, transcrição de artigos de pensadores estrangeiros, em
especial da URSS, lá eram encontrados. Propostas de políticas culturais a serem produzidas
138
GAWRYSEWSKI, Alberto. Op. cit. P. 16.
58
pelos artistas comunistas estavam ali posicionadas. Análise da situação econômica e política
nacional, das condições de vida no campo e cidade, informes do partido e orientação política
eram também os temas tratados, bem como elogios ao governo de Stálin e sua organização. 139
O Partido Comunista do Brasil também mantinha ativas algumas editoras, das quais se
destacavam a Editorial Vitória, a Editora Presença, Editorial Calvino e as Edições Horizonte.
As publicações de livros eram de frequência intensa e os títulos eram tanto para um público
mais restrito quanto para um grande público. Muitos livros eram traduções especialmente de
Stalin e Lênin, mas alguns também de Marx e outros teóricos marxistas; além de membros do
PCB como Prestes. Esses livros se dirigiam a um público mais limitado, mas eram divulgados
nos jornais para alcançar cada vez mais leitores. Havia ainda uma grande leva de títulos
literários também de autores estrangeiros traduzidos, geralmente soviéticos, mas também
nacionais, como o caso de Jorge Amado, que a esta altura produzia romances que se
coadunavam com as diretrizes promovidas pelo Partido, do qual era inclusive militante.
Os livros impressos por estas editoras do PCB passavam pelo crivo do Partido e
deveriam estar de acordo com as proposições que eram defendidas para a literatura. A
seleção era feita pelos dirigentes e seus critérios se pautavam em diretrizes compartilhadas por
outros partidos comunistas do mundo e que eram definidas a partir das diretrizes do Partido
Comunista da União Soviética. A literatura deveria, então, também servir às questões
pertinentes aos trabalhadores, deveria divulgar o caminho do comunismo como o único
possível para vencer os problemas que enfrentavam em regimes capitalistas.
O PCB não fazia diferente. Os temas que eram escolhidos ou encomendados estavam
pautados nestas proposições, mas adaptados às questões presentes no cotidiano do trabalhador
brasileiro. As editoras controladas pelo Partido estavam de acordo com as diretrizes definidas
por este e eram mais um meio de expressar e educar as pessoas. Cabia a essas casas editoriais
um papel e um público também específicos, e para isso mantinham um perfil delineado:
Os romances e títulos publicados pelas editoras do PCB (Vitória, Presença etc.) tinham um
caráter político-pedagógico de extrema importância na luta empreendida por este partido, pois
era mais uma forma de divulgar seu ideário. Muitos títulos publicados em formato popular e
em papel jornal se destinavam ao grande público. Romances de autores brasileiros vinculados
ao partido eram encomendados. Os temas escolhidos pelos dirigentes do PCB referiam-se aos
problemas da classe trabalhadora (luta dos pescadores, mineiros etc.) Produções que passavam
pelo controle cultural do partido corriam o perigo de serem engavetadas se não atendessem os
139
GAWRYSEWSKI, Alberto. Op. cit. P. 16.
59
seus objetivos. Por fim, encontramos traduções de romances estrangeiros que também estavam
dentro dos interesses culturais do PCB. 140
A Imprensa Popular era uma forte rede de imprensa que abrangia diferentes públicos
e se apresentava para diferentes perfis de leitores. Neste conjunto heterogêneo, porém
articulado, um viés pode ser destacado: o dos periódicos diários. A estrutura de imprensa
diária montada abrangia dez capitais de Estados brasileiros a começar pelo Rio de Janeiro
com o Tribuna Popular que começou a circular em maio de 1945. Logo teria jornais de
caráter semelhante em São Paulo, no Espírito Santo, na Bahia, em Pernambuco, no Ceará, em
Alagoas, em Goiás, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, totalizando dez capitais nacionais.
Esta atividade seria essencial para a afirmação do Partido Comunista do Brasil e difusão do
movimento que propunha para os trabalhadores.
O jornal Tribuna Popular começou no Rio de Janeiro o que depois constituiria uma
rede de publicações periódicas que dialogaria e faria contribuições numa esfera local. Assim o
PCB investia em periódicos, como o Hoje em São Paulo, uma das capitais que se destacavam
e se mostravam estratégicas:
140
GAWRYSEWSKI, Alberto. Op. cit. P. 16.
141
Fundo Policias Políticas do Rio de Janeiro (PPRJ). Setor Político. Pasta 3B. P. 468 até 471. Arquivo Público
do Estado do Rio de Janeiro (APERJ).
142
BUONICORE, Augusto. Comunistas, Cultura e Intelectuais entre os anos de 1940 e 1950. Disponível em:
http://www.espacoacademico.com.br/032/32cbuonicore.htm . Acessado em 25-09-2010.
143
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Op. cit. P. 38.
60
Com esse forte arcabouço o Partido Comunista do Brasil pôde apresentar publicações
periódicas em diversos Estados brasileiros. Formava uma rede que primava por um perfil de
jornais semelhantes com um objetivo em comum. Pomar enfatiza que: “Essas publicações
representaram em seu conjunto um impressionante esforço dos comunistas, de natureza
financeira e política, no sentido de garantir-lhes uma inserção na política nacional em pé de
igualdade com as demais forças partidárias.” 145
De acordo com Antonio Rubim, em 1946 eram dez os jornais diários que alcançavam
dez respectivas capitais de Estados brasileiros, levando a linha política do Partido às “massas
populares”.
Além de Tribuna Popular e Hoje, surgem em 1945 Folha Capixaba, em Vitória, lançada em
maio; Folha do Povo, em Recife, em novembro; Tribuna Gaúcha, em Porto Alegre; O
Democrata, em Fortaleza; Voz do Povo, em Maceió. O Momento passa a ser diário em março
de 1946. Aparecem também em 1946 O Estado de Goiás, em Goiânia, e o Jornal do Povo, em
Belo Horizonte. 146
Podemos notar que alguns explicitavam no nome ou uma identificação com o povo,
com o popular, ou uma identidade local, fosse gaúcha, capixaba ou de Goiás, ou ainda uma
referência à permanência no cotidiano das pessoas, como nos casos do Hoje, de O Momento.
Todos buscam uma identificação dos trabalhadores leitores de alguma forma, e tinham a
144
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Op. cit.
145
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Op. cit. P. 39.
146
RUBIM, Antonio Albino Canelas. Marxismo, Cultura e Intelectuais no Brasil. In: MORAES, João Quartin
(org.). História do Marxismo no Brasil. Unicamp. Campinas, 1988- vol. III. P. 43.
61
intenção de se inserir no dia-a-dia destas pessoas. Um dos motes desses jornais era abordar
temas do cotidiano para também se aproximar e se fazer parte integrante da vida das pessoas.
Pedro Motta Lima era diretor do Tribuna Popular em 1946; e no dia 02 de outubro
deste ano publicou um artigo intitulado “Nossa Imprensa, a melhor arma do povo”. No
primeiro parágrafo de seu texto podemos notar a importância dada ao A Classe Operária,
considerado órgão central. Ainda é possível observar que Pedro Motta Lima considera apenas
sete jornais diários que circulam pelo país, provavelmente são os principais ou os existentes
nesta linha até então. Além disso, podemos ressaltar a ideia de que estes diários pretendiam
estar presentes em diversos âmbitos da vida das pessoas e faziam parte de “um programa de
união nacional, de progresso, liberdade e defesa do Brasil”, como diz o autor em questão:
Uma das mais altas contribuições do Partido Comunista à causa da democracia foi a criação e
manutenção da Imprensa Popular em todo o país. Além d’ “A Classe Operária”, seu órgão
central, que ressurgiu à legalidade após tantos anos heroica vida subterrânea, sete diários e
muitos periódicos circulam a serviço do povo, no Rio, em São Paulo, na Bahia, em
Pernambuco, no Rio Grande do Sul, no Cear ‘1á, no Espírito Santo e em outros centros
importantes, nas principais cidades, em bairros, locais de trabalho, setores fundamentais das
nossas atividades econômicas, políticas e culturais. Não são órgãos estritamente partidários.
Sustentam um programa de união nacional, de progresso, liberdade e defesa do Brasil147.
147
LIMA, Pedro Motta. Nossa Imprensa, a melhor arma do povo. In: Tribuna Popular. 02-10-1946. P.3. RJ.
Acervo BN.
62
SEGUNDO CAPÍTULO
Fig. 4- Tribuna Popular. 22-05-1945, Capa (detalhe). Rio de Janeiro. Acervo Biblioteca Nacional.
Pedro Mota Lima e seus dignos companheiros de direção, Aydano do Couto Ferraz, Alvaro
Moreyra, Dalcídio Jurandir, Carlos Drummond de Andrade, são democratas comprovados,
homens honrados, inteligências lúcidas que saberão fazer da TRIBUNA POPULAR o jornal
novo, da nova época, de desenvolvimento pacífico, que se inicia no mundo com a derrota
militar do nazismo. Os restos mortais de um regime caduco serão agora mais facilmente
enterrados150.
148
Tribuna Popular, 22-05-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
149
Tribuna Popular, 22-05-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
150
Tribuna Popular, 22-05-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
64
Prestes dizia ainda que o jornal teria um papel político de ação contra o integralismo e
outros braços do nazismo no Brasil. Desta forma, de acordo com o Secretario Geral do PCB,
este jornal seria o que o povo já esperava para expor suas reclamações e para discutir as
questões nacionais. Por fim, pedia que acompanhassem o jornal para que ele crescesse.
151
Tribuna Popular, 22-05-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
152
Tribuna Popular, 22-05-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
65
A partir de então, é possível notar neste número inicial do Tribuna Popular que logo
na primeira página era apresentada a recomendação de Prestes e algumas manchetes de
impacto que mostravam o posicionamento político e o tom que teria o jornal. É possível
perceber, então, como o jornal mostrava-se de grande importância para o Partido Comunista
do Brasil, visto que pretendia ser o representante do “povo” e de seus anseios e ainda divulgar
as ações e posições políticas do PCB para um público maior do que de suas publicações
teóricas153.
Chama atenção o uso da palavra “povo” que é recorrente no jornal e tem diferentes
usos e significados. Por vezes transmite uma ideia de nacionalidade – “povo filipino”, “povo
brasileiro”, “povo chinês”. Em outros momentos, se refere às camadas sociais menos
favorecidas, aos trabalhadores. Esta palavra acaba tendo usos que modificam seu significado,
portanto estas variações vão depender do contexto utilizado. O “povo brasileiro” pode ser
tanto uma referência a totalidade das pessoas de nacionalidade brasileira, ou aos
trabalhadores, ao proletariado de um modo geral.
Todavia, será visto adiante como se construiu o novo periódico do PCB para
compreender os esforços empregados em sua elaboração, investimentos e retornos
financeiros, assim como o alcance que seus números tinham no público leitor. Esta análise
será a abordagem de mais um aspecto que pretende dimensionar a importância do jornal para
o Partido.
153
No Primeiro Capítulo desta Dissertação apresento estas publicações teóricas, assim como as outras que
compunham o conjunto de publicações do PCB denominado Imprensa Popular, e que circulou neste período de
legalidade.
154
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
66
Desnecessário é encarecer a importância que tem para os comunistas e para o povo em geral a
aquisição do prédio e oficinas próprias para a nossa “TRIBUNA POPULAR”. Pela disputa nas
bancas de jornais vemos que além dos militantes do PCB, milhares de leitores veem na
155
“TRIBUNA POPULAR” o legítimo defensor do proletariado e do povo .
No entanto, poucos sabem à custa de que sacrifícios sai cada número do nosso querido jornal.
Certamente que não é pela vontade de seus diretores que os leitores de “TRIBUNA
POPULAR” vão de madrugada disputar os seus exemplares; nem é por sua vontade que
frequentemente deixam de sair diversas notícias e até anúncios. O fato concreto é que só se
consegue um número reduzido de exemplares por um preço escorchante, que, combinado
inicialmente a... Cr$ 200,00 por página já está em Cr$ 800, 00 sem direito a aumento de
tiragem, o que é inconcebível, pois enquanto à inúmeros jornais faltam leitores à “TRIBUNA
POPULAR” falta somente OFICINAS 157.
Outrossim a prática comprova que com oficinas próprias teremos um matutino compacto, de
grande tiragem , solucionando o problema do democrata sincero que frequentemente vê-se
obrigado a mudar de jornal, pois os fatos provam que os jornais adotam em principio uma
linguagem democrática até se firmar com a nossa preferência, fugindo depois ao cumprimento
dos mais elementares deveres para com o povo158.
155
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
156
O Cruzeiro (Cr$) esteve vigente de 1942 a 1966. Para uma noção da equivalência destes valores vale mostrar
uma comparação entre o Cruzeiro e o Real (R$), vigente atualmente no ano de 2013. Entre janeiro de 1945 e
janeiro de 1948, período em que circulou o Tribuna Popular, o salário mínimo brasileiro era de Cr$ 380,00;
atualmente, em janeiro de 2013, o salário mínimo brasileiro é de R$ 678,00. Visto ainda que no padrão Dólar ($)
a equivalência Cruzeiro-Dólar era de cerca de Cr$ 5500,00 para $ 1,00 e a equivalência Real-Dólar é de cerca de
R$ 1,99 para $1,00 em 2013. Estes dados dão suporte para uma noção dos montantes apresentados neste
Segundo Capítulo com base na moeda circulante no período: o Cruzeiro. Em:
http://www.fazenda.gov.br/portugues/salariominimo/salario_evolucao.asp acesso em 20-03-2013, acesso em 20-
03-2013 e http://www.bcb.gov.br/?PADMONET acesso em 20-03-2013.
157
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
158
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ
67
Logo em seguida ainda era detalhado o procedimento legal pelo qual foi transformado
o jornal em uma sociedade anônima e como Luiz Carlos Prestes contribuiu adquirindo a
maior parte das ações e como estas ações seriam repassadas para outros membros e amigos do
PCB. Desta forma, esta circular acaba elucidando como foi o procedimento para a formação
de sociedade anônima que possibilitaria maior entrada de capital para o jornal.
159
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
160
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
161
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. p. 82. APERJ.
68
Para que os camaradas do Partido compreendam a importância e urgência desta tarefa, basta
dizer que a direção da “TRIBUNA POPULAR EDITORA S/A” já entabolou negociações para
a compra de um prédio, para a qual já deu sinal de Cr$ 180.000,00 (cento e oitenta mil
cruzeiros), e que encomendou as oficinas cujo pagamento breve terá de iniciar-se. São
compromissos sérios e inadiáveis que atingem a milhões de cruzeiros e que estão a exigir de
todos os militantes e amigos do Partido uma dedicação que, por certo, não faltam à nossa
gloriosa “TRIBUNA POPULAR”162.
Cada militante deve atribuir-se a tarefa de adquirir, dentro de suas possibilidades, ações da
“TRIBUNA POPULAR EDITORA S/A”, bem como mobilizar rapidamente o maior número
possível de pessoas que queiram adquiri-las, encaminhando os interessados ao Corretor
escolhido por sua Célula ou ao próprio companheiro Agildo Barata. Por tudo isso, o Comitê
Metropolitano determina que cada Célula credencie um companheiro, si possível possuindo
conhecimentos de corretagem para comparecer à Travessa Gustavo Lacerda, nº 19 (Secretaria
de Organização), afim de ser encaminhado ao companheiro Agildo Barata, que dará instruções
detalhadas que possibilitarão o desempenho de tão urgente e importante tarefa163.
162
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
163
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
164
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
69
Ainda vale destacar a determinação das funções das células do Partido e a convocação dos
membros para adquirir ações do Tribuna Popular.
Raimundo Alves Sousa165, linotipista conhecido como Raimundão, foi responsável por
algumas gráficas do PCB durante sua militância e uma delas foi do Tribuna Popular.
Raimundo Sousa diz que no início da circulação do jornal , quando ainda estavam na
campanha da Constituinte, a tiragem era de 90 mil exemplares por dia, e que aos domingos
alcançava 150 mil. O gráfico destaca ainda que à época a população carioca era cerca de dois
milhões de pessoas, e que o jornal seria lido, então, por mais de 10% da população.
Alberto Gawryszewski, em seu livro Arte Visual Comunista 166 procura caracterizar a
imprensa comunista nas décadas de 1940 a 1960 e a partir de então, busca traçar a tiragem do
jornal Tribuna Popular referindo-se a diversos autores, e ainda às palavras de Agildo Barata,
que durante a circulação deste jornal, foi o responsável pelas finanças do PCB. De acordo
com Agildo Barata167, o jornal foi recebido pelo público leitor com curiosidade, alcançando
grandes tiragens, mas que com o passar do tempo da novidade, foi caindo o número de
exemplares de forma vertiginosa.
165
SOUSA, Raimundo Alves de. Os desconhecidos da história da Imprensa Comunista. Fundação Dinarco Reis.
Rio de Janeiro, 2005. P. 17.
166
GAWRYSEWSKI, Alberto. Op. cit.
167
BARATA, Agildo. Vida de um revolucionário. Editora Melso S/A. Rio de Janeiro. p. 350.
70
Através de documentos do Partido deste período (1945 a 1947) poderíamos ter uma
ideia mais exata do volume da tiragem. Todavia, devido à perseguição sofrida pelo PCB e
consequentemente pelo Tribuna Popular, os documentos do Partido e do jornal foram, muitos
deles, apreendidos ou perdidos.
Por outro lado, felizmente, alguns documentos podem nos fazer entender o destaque
que o jornal Tribuna Popular tinha na gama de jornais do PCB. Na Previsão Orçamentária
do PCB para maio de 1947169 podemos ver que o documento era dividido em setores como:
Secretaria de Organização, Secretaria Geral, Secretaria de Educação e Propaganda, Secretaria
168
Para uma dimensão da importância da quantidade de exemplares do jornal Tribuna Popular apresentada, é
necessária a comparação com outros jornais vespertinos diários que circularam no mesmo período no Rio de
Janeiro. Com dados de 1947 e de 1949 pode-se estimar que os jornais diários cariocas com as maiores tiragens
eram O Globo com 105 mil exemplares, Correio da Manhã com 56 mil, Diário de Notícias com 54 mil, O
Jornal com 46 mil, Jornal do Brasil com 45 mil, Folha Carioca com 40 mil. HONS, André de Seguin des. Os
diários do Rio de Janeiro, 1945-1982. Rio de Janeiro, IFCS/UFRJ, 1982. Dissertação de Mestrado. P. 234. No
entanto, estes índices se referem à média de um dia útil, já que aos domingos as tiragens eram maiores, sendo
provável que a informação referente à tiragem do Tribuna Popular seja especificamente de domingos, até por a
imagem apresentada que se refere a 132 mil exemplares ter sido divulgada neste dia da semana. Ainda deve-se
destacar que mesmo assim o número de exemplares do jornal durante os outros dias não deveria ser muito menor
que a metade deste índice.
169
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. P. 451 a 461. APERJ.
71
Havia ainda os setores: Interpress, Classe Operária e Tribuna Popular; o que nos
mostra o peso que tinham no orçamento do Partido, e, portanto, a relevância no plano
nacional do Comitê Central. Para a Interpress, a previsão orçamentária destacava a dívida de
três meses de aluguel do espaço de funcionamento, e que o Comitê Central forneceria o valor
necessário para quitação (Cr$ 4.000) e ainda para outras despesas (Cr$ 8.000), o que
totalizaria uma ajuda financeira referente a 80% da receita atual.
170
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. P. 451 a 461. APERJ.
171
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ.
172
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ
72
era de grande importância para o Partido. O Tribuna Popular, assim como nos casos já
citados apresentava um déficit, mas bem maior. Na previsão orçamentária as despesas do
jornal foram orçadas em Cr$ 623.805,50, e o déficit previsto de Cr$ 154.410,00:
substancialmente maior que a Interpress e a Classe Operária. Isto pode ser um fator de
comparação para mensurarmos o destaque do Tribuna Popular em relação principalmente à
Classe Operária.
A previsão orçamentária do PCB para o mês de maio já contava com a ajuda para o
Tribuna Popular e analisava as despesas do jornal, citando por exemplo, o aumento de Cr$
62.000, 00 com pessoal da oficina em relação ao balancete anterior no mês de fevereiro e
ainda solicita esclarecimentos acerca deste acréscimo. No entanto, o auxílio vinha
acompanhado de um controle e uma análise do direcionamento destes recursos por parte do
Comitê Central. Desta forma, eram feitas sugestões e questionamentos quanto à administração
financeira do jornal.
No final desta sessão sobre o Tribuna Popular, é chamada a “atenção para o fato do
déficit não ter diminuído quando o cisto de impressão e composição diminuiu em cerca de
Cr$30.000,00 (Cr$ 153.754,00 - Cr$ 40.000,00 = Cr$ 113.754,00)”173. Os gastos altos para
manutenção do jornal eram questionados, principalmente por haverem acompanhado a
diminuição dos custos de impressão e composição do jornal. Provavelmente o aumento se
deve aos maiores gastos com pessoal, o que pode denotar um investimento na qualidade das
174
contribuições ao completar já um ano de circulação do jornal. .
173
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ.
174
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ.
73
Como já foi tratado anteriormente a Imprensa Popular do PCB era formada por oito
jornais diários que circulavam em todo país nas principais capitais dos Estados. No entanto, o
Tribuna Popular circulava no Rio de Janeiro que era a capital do Brasil de então e se
destacava diante dos outros jornais assim como o Hoje que circulava em São Paulo. Estes dois
jornais geravam entradas de Cr$ 2.600,00 mensais cada, enquanto os outros geravam em
torno de 300,00 cada com exceção da Tribuna Gaúcha no Rio Grande do Sul, O Momento na
Bahia, O Democrata em Fortaleza que geravam em torno de Cr$ 1000, 00 mensais, menos da
metade do que o Tribuna Popular e o Hoje 176. Novamente, isso demonstra o destaque e a
importância deste jornal para o PCB.
Este periódico iniciou sob a direção de Pedro Motta Lima e com Aydano do Couto
Ferraz como redator-chefe. A direção ainda era composta por Álvaro Moreyra, Dalcídio
Jurandir e Carlos Drummond de Andrade (fig.7). Eram membros importantes do PCB e
atuavam na direção do jornal assim como outros membros do Partido que também escreviam
textos para o periódico. Nomes como Brasil Gerson, Dalcídio Jurandir, Astrogildo Pereira,
Rui Facó, Rui Santos, Ary de Andrade, João Amazonas, Euclides da Cunha, Jorge Amado
entre muitos outros, contribuíram para o Tribuna Popular com artigos sobre temas diversos.
Esta formação da direção se manteve, assim como Paulo Motta Lima, filho de Pedro
Motta Lima como Secretário, exceto por Carlos Drummond de Andrade que permaneceu por
poucos meses no cargo.
175
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ.
176
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ
74
No início do ano de 1947 a direção do jornal foi passada para Pedro Pomar, importante
militante do Partido enquanto Aydano do Couto Ferraz se manteve como Redator-Chefe. 177 A
saída de Pedro Motta Lima pode ser ligada à suspensão do jornal, e a prisão do jornalista. No
entanto, em documento elaborado em 03 de dezembro de 1947 do Serviço de Informação da
Divisão de Polícia Política e Social, há uma série de históricos de membros do PCB, entre
eles os de parlamentares ligados ao Partido e o de Agildo da Gama Barata Ribeiro. Este
histórico de atividades começava descrevendo a prisão de Agildo Barata em 1932 e o
desenrolar da sua vida a partir de então, e termina citando sua atuação como vereador e “líder
da bancada vermelha na Câmara Municipal” e como diretor do Tribuna Popular 178.
Como foi visto, esta questão financeira teve impacto na constituição, manutenção e
crescimento do periódico. Isto pode ser relacionado ao uso do espaço do jornal para a
propaganda de variados segmentos. O conteúdo diversificado e a abrangência de temas do
jornal atraíam estes anunciantes, como será mostrado a seguir.
O Tribuna Popular se mantinha não apenas com a ajuda do Comitê Central e pelas
vendas das suas ações e dos exemplares como já explicitado acima. Este jornal, assim como
outros do PCB, contava com um número considerável de anúncios em suas páginas. Estes
anúncios eram variados, podendo ser desde profissionais como médicos, passando por lojas e
produtos e até por instituições públicas, como a Loteria Federal. Isto demonstra que o
177
Tribuna Popular, 15-01-1947. Capa. RJ. Acervo BN.
178
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 23. Dossiê 3. Maço 1. Pág. 14. APERJ.
179
Estas ilustrações serão analisada mais detidamente no Terceiro Capítulo.
75
Tribuna Popular era, para muitos destes anunciantes, mais um veículo de divulgação de seus
produtos ou serviços. E que independente de sua orientação política era válida a sua utilização
sem necessariamente apoiar a causa comunista.
Na figura 8 podemos ver um detalhe de uma página do jornal com um apelo para que
os leitores dessem preferência aos estabelecimentos que anunciavam no Tribuna Popular.
Esta chamada se localizava na altura do meio da página à direita, e media cerca de dez
centímetros.
Adiante vemos mais alguns pequenos anúncios que são exemplos do modelo de
publicidade que era feita por estabelecimentos menores ou prestadores de serviços. Podemos
ver de uma sapataria (fig.12) e uma tamancaria (fig.13), em seguida uma manufatura de
guarda-chuvas (fig.14) e uma loja de flores (fig.16). Todos estes são anúncios simples, com
nome do empreendimento, especialidade e endereço, assim como o anúncio de um médico
anteriormente.
Os anúncios de algumas lojas maiores eram regulares. A Nobreza (fig.20) era uma loja
especializada em roupas femininas e fazia anúncios com certa frequência no jornal. Neste
caso, havia anúncios diferentes entre si, com outros dizeres, e destacando promoções distintas.
Era difícil ver anúncios desta loja se repetir. No entanto, os anúncios da loja A Nobreza
mesmo frequentes e diferentes entre si eram muito mais simples do que da loja A Capital e da
A Exposição que veremos mais adiante. Estes anúncios eram médios ou pequenos, com cerca
de cinco a três centímetros, ganhando pouco destaque nas páginas em que foram veiculadas.
lojas no centro do Rio de Janeiro como diz os anúncios: Avenida (na então Avenida Central,
hoje Avenida Rio Branco, na esquina com Rua São José) e Carioca (no Largo da Carioca).
Em uma pequena série de propagandas esta loja anunciou um show do cantor Orlando
Silva em uma de suas lojas. Nesse período, Orlando Silva já tinha um grande reconhecimento
do público e era conhecido como o cantor das multidões. Na figura 25 podemos ver um
desses anúncios, com um desenho do rosto do cantor, e uma pequena descrição do artista,
citando algumas canções e como seria o show dele na loja. Percebe-se assim, que esta loja
tinha uma preocupação em elaborar seus anúncios e ainda de divulgar o estabelecimento com
diversas estratégias de atração de consumidores. Na figura 26 e na figura 27, vemos a
divulgação de uma liquidação e de preços de alguns artigos desta rede de lojas.
81
de tipos de anunciantes no jornal. São casas tradicionais, mas que encontravam seus
consumidores, ou procurava atraí-los, no Tribuna Popular.
Era possível encontrar no jornal, ainda, anúncios de produtos que poderiam ser
comprados em diferentes locais. Era o caso dos anúncios das Sardinhas Neptuno (fig.30) que
vemos abaixo, e que traz desenhos de uma sardinha que parece dançar balé e dizer
“conservemos a nossa linha”, pois se refere a sardinhas enlatadas do que parece ser Netuno,
deus romano dos mares. Ao lado podemos ver o anúncio de um produto para alisar os cabelos,
e que descreve suas funções e destaca o nome do produto: Bom Cabelo (fig.31).
Eram comuns também produtos com função farmacêutica, como vemos o Elixir Dória
(fig.32) para má digestão, azia e cólicas, e o Dinamogenol (fig.33), que prometia dar força e
revigorar o corpo. Estes produtos também mantinham seus anúncios sem variação do modelo
gráfico, mas eram frequentes nas páginas do Tribuna Popular.
Logo a seguir, o anúncio do creme dental Atlas (fig.34) que destaca a presença de uma
substância e que mantém seus anúncios também no mesmo modelo, com um desenho de um
tubo de pasta de dente. A não alteração do modelo de anúncio era comum a alguns
anunciantes por não investirem neste tipo de divulgação dos seus produtos e manter uma
referência a sua marca. Este anúncio do Creme Dental Atlas era também recorrente no jornal.
Um exemplo peculiar é o do Sabão Russo (fig.35, fig.36, fig. 37, fig.38) que além do
nome que se destacava em um jornal comunista, visualmente trazia anúncios simples, apenas
com o nome do produto e alguma breve frase que explicitasse suas funções. No entanto, a
variedade de aplicações para o produto era mostrada separadamente em cada anúncio. O
Sabão Russo anunciava que: “torna os cabelos macios, sedosos e brilhantes”(fig.35), “contra
rugas, cravos e imperfeições cutâneas”(fig.36), “eficaz contra eczemas e dartros”(fig.37), e
ainda a recomendação de que “prefiram vidros maiores, grande economia”(fig.38). Nestes
84
Eram comuns também alguns anúncios em formato menos extensos, mas com texto
um pouco mais detalhado. Na figura 39 e na figura 40 vemos dois exemplos de anúncio
deste sabão, só que mais abrangente. Traziam após o nome do sabão dizeres como: “sólido,
líquido e para barba – 117 anos a serviço da HIGIENE, SAÚDE E BELEZA. O GRANDE
PROTETOR DA PELE. INDISPENSÁVEL EM TODOS OS LARES” (fig.39). E “SABÃO
RUSSO (SÓLIDO, LÍQUIDO E PARA A BARBA). LABORATÓRIO FUNDADO EM
1830. Antissético e desodorizante. Conserva a pele macia, juvenil, higienizada e perfumada.
INDISPENSÁVEL EM TODOS OS LARES” (fig.40), mas com semelhança no modelo
gráfico.
85
A partir de então, podemos ver que este produto era já bastante antigo quando
começou a fazer propaganda no Tribuna Popular. Alguns anunciantes tradicionais ou já
bastante conhecidos do leitor por outros meios podiam mostrar a credibilidade do jornal, ou
apenas demonstrar que o jornal atingia um grande público e por isso era um veículo
interessante para divulgação.
Os anúncios da Loteria Federal mostravam os altos valores dos prêmios para chamar a
atenção dos apostadores, e ainda algumas ilustrações que atraiam o olhar do leitor ao anúncio,
86
que podia ser de grandes ou pequenas dimensões. Importante notar que instituições públicas,
como a Loteria Federal, não encontraram problemas a princípio em divulgar em um jornal
vinculado ao Partido Comunista do Brasil, talvez por causa da situação do Partido, de
legalidade e de participação nas eleições, e em campanhas democráticas neste período. No
entanto, a publicidade feita por esta instituição trazia imagens de homens de cartola, com
centenas de moedas, vestidos com roupas que denotavam a condição de burgueses e por vezes
com feições gananciosas.
A Tribuna Popular, no ano de 1947, ainda teve propaganda de agências oficiais (Caixa
Econômica Federal, Institutos de aposentadorias e pensões, por exemplo), mas com o
acirramento das críticas ao governo Dutra e a perseguição ao comunismo empreendida por
este governo, perdeu-se praticamente todos os anunciantes, os que se prontificaram a usar este
veículo de comunicação a partir deste momento eram médicos, dentistas, advogados e de
empresas de militantes e simpatizantes do PCB 180 .
180
GAWRYSEWSKI, Alberto. Op. cit. P.19.
87
Destarte, o Tribuna Popular mostrava que sua atuação política poderia valer-se destas
estratégias de captação de recursos financeiros, ampliando a capacidade de investimento na
sua elaboração e permitindo maiores tiragens. Assim como adotou uma estrutura e disposição
das sessões do jornal de forma semelhante a outros jornais que circulavam à mesma época,
procurando se diferenciar no conteúdo, mas sustentar-se e atrair o leitor como outros jornais-
empresas.
Vale ressaltar que no ano seguinte, 1947, o PCB passaria por perseguições políticas e
o Tribuna Popular seria fechado algumas vezes, o que veremos mais atentamente adiante,
perdendo anunciantes do tipo destacado, pois a ligação com o jornal passaria a ser
desinteressante para alguns.
O Tribuna Popular era uma publicação diária através da qual o PCB pretendia passar a
um grande público o que considerava essencial sobre política nacional e internacional. No
entanto, havia também notícias sobre esportes, programações de cinemas e teatros, e eventos
do Partido. Havia também espaço para notícias e artigos sobre cultura e a arte através da
versão do próprio PCB para o realismo socialista soviético. 181 Portanto era um jornal bastante
variado, e convidativo ao leitor.
181
Este assunto do realismo socialista foi desenvolvido no Primeiro Capítulo desta Dissertação.
89
O jornal Tribuna Popular tinha grande importância política para o Partido Comunista
do Brasil. Sua configuração era estratégica e abrangia uma larga gama de temas. Este jornal
era publicado diariamente na cidade do Rio de Janeiro (exceto às segundas- feiras), entre os
anos de 1945 e 1947. Este periódico também era assinado por pessoas de outras cidades e
estados do Brasil. Os exemplares eram enviados para esses assinantes, como demonstram os
arquivos da polícia política no período de circulação deste jornal.
O periódico em questão era composto na maior parte de sua existência de oito páginas,
em alguns períodos contou com até doze páginas. Para uma análise mais apurada deste jornal,
será apresentada uma edição do Tribuna Popular de 10 de fevereiro de 1946 para representar
o modelo de jornal que circulou na maior parte do período entre maio de 1945 e dezembro de
1947. A seguir, na primeira página da edição selecionada (fig.44) veem-se manchetes de
destaque político e algumas fotografias e uma ilustração do perfil de Stalin feita pelo artista
membro do PCB Paulo Werneck. Os temas eram, geralmente, referentes à política nacional ou
internacional, e ainda algumas notícias sobre o Partido.
Nesta imagem de capa (fig.44) há matérias sobre a União Soviética, e muitas outras
com seus textos apenas iniciados, pois continuariam nas páginas seguintes. Desta forma, esta
é uma estratégia para chamar a atenção do leitor aos temas, iniciando a leitura na capa e
levando-o a concluí-la em página posterior, como era comum a outros jornais da época Assim
como a chamada “Mobiliza-se o povo contra a carta fascista de 37” a matéria “Um comício
monstro contra a Carta de 37”, havia outras duas com grande relevo, a primeira sobre eleições
na União Soviética e a segunda sobre reunião de banqueiros e bancários no Ministério do
Trabalho. São temas de âmbito internacional e nacional, que são os grandes destaques da capa
e, portanto, do jornal. Importante destacar que no interior do jornal encontram-se variados
temas, como será visto a seguir. Deste modo, a capa do jornal não resume o seu conteúdo,
mas evidencia temas que parecem ser principais no conjunto do Tribuna Popular e o que ele
representa para o Partido.
90
Nas páginas seguintes, páginas dois e três, havia artigos mais longos ou continuações
das matérias da capa. Na segunda página desta edição do jornal (fig.45), que vemos a seguir,
há a continuação da matéria sobre Stalin e o processo eleitoral que estava ocorrendo na União
Soviética, mostrando um texto que reproduz um discurso do dirigente do Partido Comunista
da União Soviética no qual este relata as melhorias que promoveu em diversos âmbitos do
governo, os planos econômicos, os dados de aumento de produção agrícola e industrial.
Ao lado há a continuação de uma matéria sobre Diógenes Arruda Câmara (que era
membro do Comitê Central do PCB) e sua ida a um congresso formado por organizações
sindicais em Cuba (que passaria pela Revolução somente em 1959). Neste evento foi debatida
a ação imperialista dos Estados Unidos da América diante da América Latina e a permanência
de tropas norte-americanas em diversos países, inclusive no Brasil, mesmo já findada a
Segunda Grande Guerra. Ao final do texto baseado em depoimento de Arruda Câmara,
destaca-se o interesse de participantes do congresso em Carlos Prestes afirmando sua
importância política para o Partido.
O destaque é dado, no entanto, às continuações das matérias da capa, e fazem com que
mais ideias sejam veiculadas na primeira página com destaque e possam ser acompanhadas na
íntegra na segunda página. Ao mesmo tempo, nesta segunda página, há anúncios de lojas,
remédios, médicos, farmácia, notas sobre documentos pessoais perdidos, de oferta de
emprego, etc. Desta forma, observamos que havia matérias sobre questões internacionais
relativas à URSS e áreas de influência como a Indonésia, mas também sobre questões
nacionais como as relativas aos banqueiros, grevistas, a ação política do PCB, à participação
em congresso internacional, entre outros.
92
Na terceira página (fig.46) eram comuns artigos de membros do Partido de todo o país,
mas principalmente dos membros que constituíam a direção do jornal, como Pedro Mota
Lima e outros nomes conhecidos, como o escritor Jorge Amado ou Leôncio Basbaum. Alguns
artigos de outros membros de Partidos Comunistas do mundo eram traduzidos e publicados
esporadicamente no jornal.
Estes artigos traziam temas mais teóricos sobre política, economia, incluindo análises
de textos marxistas. Mas também abrangiam o papel social da literatura e da arte em geral. Os
textos costumavam ser longos e ganhavam certo destaque nas páginas internas do jornal. Na
imagem a seguir, vemos a terceira página da edição em questão do jornal. A seguir discorrerei
sobre os textos que se destacam nesta página.
A coluna “Através das Américas” assinada por M.Z. não permite identificar o autor,
mas os textos tratam das condições políticas de países da América Latina, no caso desta
edição fala da Argentina e do Uruguai. Esta coluna durou algum tempo, mas não se manteve
fixa em toda a existência do jornal.
Desta forma, nota-se que esta terceira página era destinada a textos mais elaborados,
artigos que discutiam temas de caráter político ou que inseriam o Brasil em pautas
internacionais de discussão. Assim, trazer autores comunistas de outros países acabava por
mostrar que o jornal apresentava debates acerca de temas pertinentes para os brasileiros e
também fora do Brasil.
94
Na quarta página (fig.47) havia ainda publicações referentes aos Comitês Populares do
PCB, como resoluções e datas importantes a serem divulgadas. Estes comitês eram células do
Partido em diversos bairros e regiões das cidades. No caso do Tribuna Popular eram
mostradas noticias dos comitês do Estado do Rio de Janeiro. Nestes Comitês Populares eram
feitas reuniões periódicas para discussão das ideias do Partido e atração de novos membros.
Nesta edição esta coluna se encontra na quarta página do periódico, mas em outros números
foi transferida para a sexta ou sétima páginas.
O entanto, no final da página há um espaço para uma notícia esportiva, que não era o
mais adequado, visto que fugia da composição da página. A página destinada aos esportes era
apenas a sétima página, portanto esta matéria sobre o clube de futebol carioca Vasco da Gama
e sua vitória no campeonato interestadual no dia anterior parece ter sido encaixada nesta
página por uma falta de espaço na outra e sobra nesta. Ou algum equivoco editorial.
Na quinta página (fig.48), há uma coluna chamada Tribuna Sindical que apareceu em
algumas edições, mas que perdeu espaço dando lugar a pequenas notas sobre os temas
tratados aqui. Assim aconteceu com outras colunas da página anterior, onde algumas
ganharam maior destaque e outras perderam espaço. Esta coluna tratava das notícias
referentes aos sindicatos e suas reuniões.
Na página posterior, a sexta página (fig.49), eram mostradas algumas colunas que se
mantiveram ao longo da existência do jornal como: “Sociais” na qual eram divulgadas datas
de aniversários, nascimentos, noivados, colações de grau e outras datas comemorativas.
Outra coluna que permaneceu foi “O povo de diverte”, onde eram divulgados eventos, festas e
neste número do jornal tratava do Carnaval da Vitória, como foi chamado o Carnaval do ano
de 1946 por ser posterior a Segunda Grande Guerra. A coluna mostrava ainda a programação
de festas que ocorreriam em alguns clubes, escola de samba e praças.
Na sétima página (fig.50) o espaço foi todo dedicado aos esportes com fotografias que
podiam ocupar quase a metade da página. Eram publicados resultados de jogos de futebol,
especialmente de times do Rio de Janeiro. Estas páginas, que no caso desta edição são a
antepenúltima e a penúltima, ganhavam destaque e pareciam chamar a atenção do público
leitor, pois o espaço que por vezes foi dividido com matérias sobre assuntos diversos, com o
tempo se restringiu a assuntos desportivos.
Nesta edição, havia fotografias dos perfis de cada jogador da seleção brasileira que
disputaria uma partida de futebol por um campeonato na Argentina. Assim, como havia
matérias sobre o certame, trazidas por um correspondente do jornal enviado a Buenos Aires.
Isto mostra o destaque que os temas esportivos tinham para o jornal.
Desta forma, o espaço que foi destinado aos esportes nesta edição com o tempo se
ampliou e passou a ocupar duas páginas inteiras e sequenciais, mostrando a importância
estratégica destas notícias esportivas. Podendo ser um dos maiores atrativos para o leitor
adquirir o periódico. A permanência e até mesmo ampliação do espaço para este tipo de
temática, ratifica a ideia de que funcionava esta estratégia de inserir temas esportivos no
jornal.
Entretanto, foi possível observar que nos últimos meses de existência do Tribuna
Popular este espaço se reduziu novamente e até mesmo o número total de páginas do jornal
foi reduzido chegando a seis. A sessão destinada aos esportes parecia ser estratégico para
atração de leitores, pois sua permanência e investimento em jornalistas especializados e
fotógrafos trazia um caráter profissional a estas páginas. A continuidade e aumento do espaço
dado indicam ainda que foi uma estratégia bem sucedida dos editores.
101
Na oitava página (fig.51) havia também matérias com teor de denúncia social, e
destacavam o sofrimento das pessoas. Nesta última página, eram comuns matérias e
ilustrações desse tipo, pois chamavam atenção do leitor ao tema desenvolvido no texto. Nestes
textos as “dores do povo” eram ressaltadas num teor de crítica política. Este gênero de
matérias tinha destaque no jornal, não eram textos muito longos, mas era comum que os
principais virem com alguma imagem: ou fotografia ou ilustrações.
Outro fator que chama atenção a esta matéria é a presença de uma ilustração que
mostra um casal a frente de uma casa simples em ambiente rural. Esta ilustração é assinada
pelo artista plástico Paulo Werneck, membro do PCB e produziu cerca de cinquenta
ilustrações para as 791 edições do jornal Tribuna Popular. Esta ilustração é produto do
processo de clicheria, através do qual a ilustração era passada do desenho para uma chapa de
metal em um procedimento de gravura. Em seguida passava por uma impressão à quente,
formando um clichê. Cada página do jornal era montada e passava por uma prensa tipográfica
para produzir um clichê, que era uma espécie de carimbo por ser em alto relevo, no qual além
das ilustrações, as fotografias e os textos formavam uma base para a reprodução. A partir
desta técnica eram produzidas muitas ilustrações. A relação destas ilustrações produzidas para
este periódico e a conceituação do realismo socialista soviético é assunto que será discutido
no próximo capítulo.
103
A análise das páginas e conteúdos do jornal Tribuna Popular, portanto, mostra que a
sua função era de orientar e esclarecer as dúvidas dos leitores, defendendo-os ao oferecer-lhes
informações, discussões e denúncias. E ainda mostrando-lhes possibilidades de alcançar
soluções para os seus problemas, estimulando a organização das categorias profissionais e a
participação nos comícios, pleitos e iniciativas do Partido Comunista do Brasil.
Os temas desenvolvidos no jornal eram variados, portanto pretendo mostrar qual o teor
destas temáticas utilizando como exemplo novamente a edição de 10 de fevereiro de 1946
(fig.44, fig.45, fig.46, fig.47, fig.48, fig.49, fig.50, fig.51), que já teve analisada sua estrutura
anteriormente. O Tribuna Popular procurava se aproximar do leitor e do seu cotidiano, uma
forma de atração era a promoção e divulgação de eventos sociais, culturais, esportivos, enfim,
as razões para as alegrias do “povo”.
Alegrias
182
Sobre a “Escola do Povo” e a “Universidade do Povo” Cf. CARREIRO, Wagner Sant’ Anna do Valle.
Universidade do Povo: Projeto Educacional ou Político? Monografia de Graduação em História. Orientador:
Sydenham Lourenço Neto. FFP-UERJ. 2009.
105
183
No livro “O PCB cai no Samba”, Valeria Guimarães faz um estudo sobre a relação do PCB com o samba, e as
escolas de samba no Rio de Janeiro, muitas que exaltavam a figura de Luís Carlos Prestes em seus sambas-
enredo. Cf. GUIMARÃES, Valéria Lima. Op. cit.
106
disputas. Esta página formava uma continuidade com a seguinte, a sétima página (fig.50), na
qual também eram encontradas notícias sobre esportes.
Ainda nesta página havia uma imagem com os rostos de quatorze jogadores brasileiros
que compunham a seleção principal e três que ficariam na reserva. Acima da imagem era
divulgada a grande procura de ingressos para a disputa que ocorreria na Argentina, e em
seguida outro texto intitulado “Uma despedida triunfal a grande aspiração dos brasileiros” que
procurava mostrar o ambiente das ruas da cidade do jogo, a expectativa e o receio dos
argentinos em relação aos jogadores brasileiros e o entusiasmo dos brasileiros que estariam
confiantes na vitória. Sob o subtítulo “Desfilam impressões os ‘cracks’ patrícios sobre a
batalha com os argentinos”, são trazidas pequenas frases de alguns jogadores brasileiros
concentrados na Argentina para o jogo e suas expectativas para o certame.
Ao lado direito havia um espaço para o chamado Placard no qual era apresentado um
resumo das principais notícias do campeonato, permitindo ao leitor se atualizar apenas lendo
esta breve coluna do jornal. Assim, o autor discorre sobre a partida final, mas também sobre a
107
semifinal entre as seleções do Paraguai e do Uruguai, e ainda sobre os times brasileiros que
estavam em recesso das disputas nacionais, alguns mantendo o treinamento, outros em
descanso. E ainda sobre a aposentadoria de um jogador corintiano. E abaixo, uma matéria
sobre a atuação paraguaia no campeonato intitulada “Jogo rápido e de passos largos”, na qual
o autor explicita a atuação dos paraguaios que os levou a vitória e o terceiro lugar na
classificação. Enquanto o quarto lugar foi disputado por Bolívia e Chile, em jogo
desinteressante e que a seleção boliviana teria jogado menos mal.
Havia nesta sétima página ainda uma coluna chamada “Notícias de toda parte” onde
eram apresentadas pequenas notas sobre jogadores de times brasileiros. Destaca-se, porém,
uma divulgação da loja “A Exposição” que transmitiria naquele mesmo dia o jogo de futebol
que seria realizado entre as seleções brasileira e argentina e convidava os leitores a assistir os
“90 minutos de emoção” na própria loja. Como mostra a imagem, o jogo seria transmitido as
18h45min horas, mostrando um atraso de quinze minutos, que deve ser por conta das
condições de transmissão. Vale mencionar que a esta altura os jogos de futebol eram
transmitidos principalmente por rádio e um número reduzido da população possuía televisão,
ainda assim, uma partida de importância como esta parecia ser interessante para reunir as
pessoas em torcida.
Desta forma, é possível notar que as notícias sobre esportes tinham um espaço
importante no jornal, assim como o teatro, o rádio e os eventos sociais locais. Esse espaço
para as “alegrias do povo” era estratégico para o jornal, pois aliviava a tensão dos problemas
do mundo e do cotidiano apresentados e as condições dos trabalhadores questionadas.
Dores
Na segunda página (fig.45) desta edição – 10-02-1946 – vemos na parte mais central o
título “O PCB é o Partido mais ligado ao povo de Pernambuco”, que se refere ao texto sobre a
ação do Partido neste Estado do Nordeste brasileiro e a formação de células pela repercussão
das ações de Prestes. Em menor destaque há uma matéria sobre a insatisfação de moradores
da Rua Aracari no Leblon – Rio de Janeiro – que mudaria para o nome de um jurista,
causando mobilização dos residentes da localidade e outra sobre a reunião de grevistas de
duas empresas.
108
Na quarta página (fig.47) é apresentada ainda uma pequena nota com uma denúncia de
um morador do “Parque Proletário nº 1” na Gávea, que teria sofrido ameaças de outro homem
com funções administrativas. Nota-se o caráter específico dos temas abordados, estabelecendo
uma conexão estreita com o leitor. Na quinta página (fig.48), ao lado esquerdo, há uma
matéria intitulada “Desemprego e fome entre os trabalhadores de calçados do Recife”,
ilustrada com uma fotografia em que está o presidente do sindicato dos trabalhadores de
calçados do Recife quando falava ao redator do Tribuna Popular. O texto denuncia as
condições destes trabalhadores e mostra a burocracia que os sindicatos enfrentam para terem
acesso ao Ministério do Trabalho e que a Justiça do Trabalho acaba favorecendo os patrões e
não aos direitos dos empregados.
Ao lado esquerdo desta mesma página, abaixo do nome do jornal há uma matéria de
grande destaque da página do jornal. O texto é uma reportagem assinada por Ernesto Sousa e
intitulada “Cresce a miséria nos campos da Zona da Mata” e com o subtítulo “As
reivindicações mais urgentes: aumento de salários, diminuição de horas de trabalho, escolas e
liberdade de venda dos produtos da terra”, explicitando do que trataria o texto. Há ainda um
quadro que novamente ironiza a situação para criticar as más condições em que vivem as
pessoas referidas dizendo que “Aos camponeses é assegurado um direito: morrer livremente –
Os meninos, sem instrução, pertencem ao senhor, o seu legado é o que recebem dos pais: o
trabalho de sol a sol, a choça, a fome”.
O texto trata da situação dos trabalhadores rurais da Zona da Mata mineira, que
cultivavam em sua maioria o fumo, contando com nenhum apoio e grandes despesas com
adubação. A questão da moradia também seria crítica, conforme descrição detalhada dos
pequenos espaços mal estruturados e nos quais se apertariam as famílias a mercê de doenças e
do frio. As roupas também são precárias, assim como os recursos. Segundo o autor, esses
trabalhadores e suas famílias passariam toda a vida descalços, as crianças trabalhavam nas
109
piores condições, impedidas pela situação de irem a escola. Sem instrução escolar eram
subjugados aos mandos decisões e contas feitas por seus patrões. O sistema de trabalho era
comparado ao feudalismo, com o pagamento de aluguel das terras por parte dos colonos e a
cessão de dias de trabalho para as terras do latifundiário.
Mas não só de denúncias e relatos das “dores do povo” eram feitas as matérias e
artigos do jornal. A mobilização e organização dos trabalhadores era um dos principais pontos
da publicação. O incentivo promovido pelo jornal estimulava o leitor a participar das “lutas”
por melhorias na vida do trabalhador.
Lutas
1934 e 1945, teria dito que os comunistas brasileiros são um perigo à democracia e o artigo
procura argumentar contra essas considerações.
À direita nesta página há uma nota intitulada “O problema dos subúrbios” na qual trata
da ação dos comitês pela limpeza e recolhimento de lixo por parte da prefeitura. Abaixo a
divulgação das discussões realizadas na “Grande Assembleia do Comitê Popular do Centro da
Cidade”, que era situado na Av. Rio Branco, e apresentando os principais temas relativos à
campanha pela autonomia do Distrito Federal e pela instalação de um curso de alfabetização.
Por fim, esta página apresentava outra coluna chamada Noticiário Geral que mostra
atividades de quatro Comitês Democráticos do PCB, que eram células do Partido que atuavam
112
Logo na parte central da quinta página (fig.48), há uma fotografia que registrou a
visita de uma comissão de grevistas de duas firmas à redação do Tribuna Popular. A matéria
explicava que os grevistas reivindicavam aumento de salário, e encontro com políticos que
prometeram apurar suas queixas. O texto mostra o posicionamento do jornal apoiando a
greve, e que o PCB promoveu o encontro da comissão de greve com um Ministro falou sobre
a condição dos trabalhadores que não estão respaldados pela “Carta de 1937” a promoverem
paralizações, mas que o governo naquele ano já procurava não coagir os grevistas e sim
buscar acordo das partes.
Na oitava e última página (fig.51) havia uma nota de convocação para advogados
membros ou simpatizantes do PCB para comparecerem a uma reunião da categoria. Logo
abaixo, em uma nota maior denominada “Amanhã as eleições suplementares em São Paulo”
sobre a ocorrência de novo pleito em alguns municípios do Estado de São Paulo onde foram
anuladas as urnas por alguma irregularidade.
Sindicato, isto é, da bolsa dos próprios grevistas – insolências, insultos à massa e outras
‘recordações do policiamento estadonovista’ ”.
Apenas através destas palavras já é possível estar a par do que a matéria procurava
transmitir ao leitor. O texto relata uma assembleia que promoveu encontro entre o então
Ministro do Trabalho Negrão de Lima, e o comando de greve chamado “Resistencia do Cais
do Porto”. O ministro teria indicado que os grevistas voltassem ao trabalho para uma
negociação posterior, e o presidente do sindicato teria declarado que deveriam seguir estas
recomendações. O autor explicita sua oposição a estes posicionamentos, apoiando a
manutenção da greve até um acordo efetivo. Desta forma, o autor conclui dizendo que os
debates foram acalorados e com influência do “velho estilo policial e estadonovista”,
ressaltando que os trabalhadores encerrariam a greve, e o sindicato pagaria o aumento de
cinquenta por cento aos associados, e mostrando ironia ao dizer que isto ocorreria “até que o
Ministro Negrão de Lima se dê o incômodo de resolver o caso”. Assim, o texto apontava o
apoio à greve e a insatisfação com os rumos da assembleia, com uma critica ao Ministro e ao
presidente do sindicato que estariam a favor dos empregadores e não dos trabalhadores.
Abaixo desta matéria havia um texto menor com duas fotografias a respeito de uma
reunião dos associados aos sindicatos da Companhia Cantareira e Viação Fluminense. Nestas
fotografias eram mostradas a mesa e a plateia que acompanhava a reunião, enquanto o texto
tratava do dissídio compartilhado por ambas as categorias profissionais por conta do processo
judicial para atendimento de suas reivindicações e que passava por contestação da
Companhia. A reunião era para atualizar os associados do andamento do processo. E ainda
havia duas notas de convocação para assembleias de sindicatos, de empresas telefônicas do
Rio de Janeiro e de têxteis.
Por fim, na conclusão da referida matéria que denunciava que “Cresce a miséria nos
campos da Zona da Mata”, o autor propunha a organização destes trabalhadores para
alcançarem estas conquistas, pois juntos poderiam reivindicar melhorias que seriam essenciais
para o que considera o “progresso” do país. Assim, com o objetivo do desenvolvimento
nacional, e da democracia, o autor justifica a união dos trabalhadores. O caminho seria ouvir
as palavras de Prestes para “acordá-los para a luta organizada contra a miséria e a exploração
do senhor”.
114
2.5 - A repressão e o fim do jornal: observação, interesse e análise do jornal pela polícia
política
184
REZNIK, Luís. Democracia e segurança nacional: a polícia política no pós-guerra. FGV. Rio de Janeiro,
2004.
185
Pasta Comunismo. Delegacia de Segurança- RJ, 1946. Acervo de Imagens. APERJ.
186
REZNIK, Luís. Op. Cit.
115
Fig.53-Autor Desconhecido. Fotografia. Pasta Comunismo, Notação 671. Delegacia de Segurança- RJ,
1946. Acervo de Imagens APERJ.
187
Fundo PPRJ. Setor Administração. Pasta 1M. P. 1 e 97. APERJ.
116
mostrando a data da edição do jornal, a página, coluna, título e linha onde aparece o nome do
referido coronel. É uma pesquisa longa e precisa que expõe o trabalho dedicado a analisar as
páginas do Tribuna Popular em busca do conteúdo lhes fosse interessante.
Outro exemplo foi uma mensagem a Luís Carlos Prestes publicada no jornal no dia 14
de maio de 1947 por motivo dos discursos pronunciados pelo Secretário Geral do PCB nos
dias 22 e 24 de abril e 1º de maio, respectivamente no Rio, em São Paulo e no Recife. Esta
mensagem mostrava como seus signatários uma longa lista formada por 263 nomes.
Esta lista foi importante para a formação de um dossiê sobre o PCB 188 no qual
relacionavam pessoas ligadas ao Partido e dividiam-nas por categorias. A lista apresentada
mostrava 46 nomes classificados como “cientistas e técnicos”, 114 entre “escritores e
jornalistas”, e 103 “artistas plásticos, atores e músicos” A seguir podemos acompanhar
reprodução da lista constante no dossiê da polícia política referente à última categoria de
artistas plásticos, atores e músicos:
José Pancetti, Oscar Niemeyer, Francisco Mignone, Candido Portinari, Alcides Rocha
Miranda, Jose Siqueira, Honório Peçanha, Clovis Graciano, Jose Pedrosa, Eros Gonçalves,
Eduardo de Guarnieri, Athos Bulcão, Arnaldo estrela, Aldo Bonadei, Claudio Santoro, Carlos
Scliar, Paulo Werneck, augusto Rodrigues, Santino Partinelli, Werther Politano, Hans Briting,
Sady Cabral, Ytalia Fausta, Eugenia Álvaro Moreira, Aurora Aboim, Ely Sherrer, Rosina
Bessa, Marino Milone, Paulo de Oliveira, Severino de Souza Delgado, Waldomiro Alves, Ary
Paulo da Silva, Ranulfo de Oliveira Lins, Miguel Azevedo, Castelo Branco, Joaquim
Wanderley, Jose Lages da Rocha, M. Benzaquem, Geraldo Gomes, Pascoal Perrota, J.
Pinheiro, Gomercindo Melo, Otavio Canabrava, J. Waschitz, Lima Siqueira, David Dias de
Paiva, Siegfried Presner, Mario de Alencar Vale, Oscar Meira, Iberê Camargo, Monteiro de
Barros, Ruy Santos, Salomão Scliar, Vitor Menechise, Silvia Leon Chalreo, Sostens
Gonçalves, Durval Serra , Telon Pereira, Guimarães Ferreira, Manoel Cantanhede, Fernando
Pereira, Quirino Campofiorito, Raul Devezza, Wilson Tibério, Pereira Ramos, Angenor Costa,
Eugenio Sigaud, Inimá de Paula, Milton Ribeiro, Vanberto Jarone, Hugo Leite, Amerino
Vanique, Orlando Campofiorito, Ozon Schalau Deveza, Santos Araujo, Dea Pereira, :Norka
Schmit, Paulo Renol, José Guimarães, Rosane Galvão, Mario Cabral, Hilda Campofiorito,
Cândida Menezes, Ana Stela Shic, Berço Uder, Eunice Catunda, Daria Garcia, Vilanova
Artegas, Catulio Branco, Marcelo Grasman, Luis Sacilotto, Otavio Araujo, Manoel Martins,
Alfredo Rizzoti, Bernardo Bationi, Vasco Prado, Carlos Petrucci, Jose Maraes, Jose Luis
Calasans, Francisco Aquarone, Jordão de Oliveira e leda Aquarone189 .
Estas informações fariam parte das fichas destes comunistas190, e esta ligação
estabelecida com o PCB e mostrada no jornal seria um dado presente durante décadas nos
188
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Maço 3. Folhas 401 a 520. Dossiê 1. APERJ.
189
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Maço 3. Dossiê 1. P. 437 a 440. APERJ.
190
Nestas fichas constavam dados dos investigados como: filiação, local de residência, traços físicos como cor
de pele e se usava bigode, por exemplo. Mas também eram listadas as vezes em que foram presos e os motivos,
assim como ligações com grupos suspeitos ou com o PCB e seus órgãos, como o Tribuna Popular. Estas fichas
117
arquivos das polícias políticas. Documentos das décadas de 1950, 1960 e 1970 mostram que
quando eram solicitadas informações de algum desses nomes, por motivo de investigação,
processo, ou detenção, a informação oferecida contava com a descrição desta ligação com a
mensagem a Prestes divulgada na referida edição do jornal Tribuna Popular, assim como
outras referências com fonte neste periódico.
oficial reformado, escritor, ,residente a Av. Atlântica 66-9 andar, conforme divulgação do
órgão comunista Tribuna Popular de 14/06/1947, foi signatário de um manifesto protestando
contra o fechamento do PCB. Segundo ainda este jornal em 21/06/1947, foi signatário de um
memorial, em que vários militares e figuras de profissões liberais, lançaram, contra o projeto
de reforma dos militares por delito de opinião191.
O documento seguia com outras informações de anos seguintes, mas mostrando como
a Polícia Política e Social recorria a informações do jornal Tribuna Popular para elaborar
históricos de pessoas e apontar a ligação que tinham com o PCB. A ligação com o Tribuna
Popular era um importante dado para os repressores. Assim, documentos que provassem
relação com o jornal entravam para o histórico policial destas pessoas. Em documento de 03
de dezembro de 1947 foi apresentado o histórico de Iguatemy Ramos da Silva, descrito como
militante comunista desde 1927 e também vereador teria posto a disposição do PCB suas
oficinas gráficas inclusive para impressão do Tribuna Popular quando este foi “empastelado
192
pelo povo”, segundo palavras no documento. O uso destas oficinas no período do
empastelamento no final do ano de 1947 fazia parte da investigação e acompanhamento
constante deste jornal pelo Serviço de Investigação.
eram usadas para consultas rápidas sobre as pessoas, mas baseadas nelas e em processos fazia-se relatórios mais
detalhados sobre investigados específicos, vale ressaltar a dificuldade de compartilhamento de informação e
arquivos datilografados entre delegacias devido as tecnologias deste período.
191
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 70. P. 20. APERJ.
192
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 23. Dossiê 3. Maço 1. Página 17. APERJ.
193
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 23. Dossiê 3. Maço 3. APERJ.
118
Preso pela policia da ditadura o vereador João Massena Melo” , que citava a ação da polícia
política e fazia uma crítica dura as arbitrariedades do governo.
O caráter de denúncia desta edição do jornal interessava aos repressores, e este número
contribuía para o entendimento do que estava sendo dito a respeito da cassação de mandatos
de comunistas. O Tribuna Popular era um dos principais órgãos da imprensa comunista e sua
observação mostrava-se importante para as investigações instauradas.
Considerando o matutino A Tribuna Popular, que se edita nesta capital, tem continua e
ostensivamente, pregando a luta de classes, com o objetivo de provocar ambiente de agitação e
intranquilidade publicas;
Considerando que, em campanha sistemática, o referido órgão tem injuriado os poderes
públicos e os agentes que os exercem , incitando ao desprezo pelas instituições democráticas
que nos regem, acoimado a magistratura brasileira de venal, os membros do Poder Legislativo
de estarem a soldo de Estados estrangeiros e o Poder Executivo de traidor nacional; (...)
Considerando que assim o faz, o jornal em foco, obediente a linha internacional de
comunismo, cuja doutrina prega em todos os seus números, visando a preparação do clima
adequado ao uso de processos violentos para subverter a ordem política e social194.
194
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 5. Dossiê 5. APERJ.
119
De acordo com José Antônio Segatto desde o início da presidência de Eurico Gaspar
Dutra já havia a intenção do governo e das classes dominantes de isolar o Partido Comunista
do Brasil, cessar seu crescimento e finalmente fechá-lo. Isto seria comprovado pelo
pesquisador através de um documento do Arquivo Nacional dos Estados Unidos em
Washington D.C. que mostra um telegrama de um funcionário da embaixada estadunidense
no Brasil que comunicava ter recolhido no Rio de Janeiro informações da polícia política a
respeito da elaboração de um decreto que tornaria o PCB ilegal. Este telegrama era de março
de 1946 e o Partido só voltaria a ilegalidade em maio de 1947. O comunicado mencionado
teve um trecho reproduzido por Segatto que dizia:
A polícia política já elaborou uma lista dos mais proeminentes comunistas e seus endereços, e
já recebeu instruções para fazer preparativos para prendê-los imediatamente após a
promulgação do decreto – se ele vier a ser assinado (documento 832.00 B33-746, National
Archives, Washington 195.
São indícios que coincidem com informações de documentos das forças repressivas
brasileiras que mostram o intuito do ministério da Guerra em fechar o PCB, enquanto o
general Góis Monteiro achava o momento inadequado, pois as alianças contra o fascismo no
tempo da guerra em que os partidos comunistas e a URSS foram considerados aliados, não
poderiam ser desfeitas ainda por conta das relações internacionais estabelecidas. Em 1946 o
governo começou a cercar a ação do Partido, suspendendo as eleições sindicais e intervindo
neles196. Seguiriam acusações ao PCB de ser um braço internacional no Brasil.
Em 1947 se iniciaria a Guerra Fria entre os Estados Unidos da América e a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas. Em maio de 1947 o Partido Comunista do Brasil teria seu
registro político cassado e as sedes do Partido seriam fechadas, seus arquivos e fichários
apreendidos. Em outubro deste ano o Senado aprovou a demissão de todos os funcionários
públicos suspeitos de serem comunistas, e o governo rompeu as relações diplomáticas com a
URSS. Em seguida, o governo interviria em 143 sindicatos e em 400 até o final do governo de
195
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.57.
196
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P. 58.
120
Eurico Gaspar Dutra, e no dia 7 de janeiro de 1948 os parlamentares do PCB teriam seus
mandatos federais, estaduais e municipais cassados. 197
Voltamos hoje a circular, em virtude de decisão judiciária preliminar, depois de dez dias de
arbitraria e ilegal suspensão imposta pela ditadura – o Tribunal Federal de Recursos mandou
sustar o efeito da nossa suspensão por 30 dias cominada em portaria do Sr. Adroaldo, baseada
na nefanda lei de segurança do Estado Novo. 198
Esta suspensão foi contornada pela Tribuna Popular que conseguiu voltar a circular
por mais um tempo. No entanto a perseguição estava cada vez mais acirrada. Uma nota
denunciava o sumiço de um correspondente do periódico “Folha Capixapa” do PCB em
Vitória no Espírito Santo. Este é um exemplo do caráter das denúncias que o jornal estava
fazendo e que eram acompanhadas pelas forças repressivas do governo. Não havia mais
espaço para a imprensa do período da legalidade, a intensificação da perseguição atingiu
grande parte da estrutura periódica do Partido.
Era o fim dos três longos anos de legalidade do PCB, e o jornal Tribuna Popular
resistiria efetivamente até o final do ano de 1947, com sua última publicação em 28 de
dezembro deste ano. A estratégia do Partido foi manter a estrutura básica do periódico,
197
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.58.
198
Tribuna Popular, 18-12-1947. RJ. Acervo BN.
199
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 5. Dossiê 5. APERJ.
121
alterando seu nome para Imprensa Popular e aos poucos o teor do seu conteúdo, já que não
poderia mais divulgar as atividades de um partido que não estava mais na legalidade.
TERCEIRO CAPÍTULO
200
A partir de tal método, os linotipistas – gráficos que organizavam os linotipos das páginas do jornal – reuniam
os textos dispondo-os no formato da página, assim como os desenhos e as fotografias; a partir de então
“imprimiam” à quente um clichê, espécie de carimbo em alto relevo em chapas de metal usando prensas
tipográficas, para cada página do jornal e que serviria de base para a reprodução destas.
201
Este conceito de realismo socialista é desenvolvido no Primeiro Capítulo.
202
A única referência encontrada de um artista plástico membro do PCB neste período e chamado Milton é do
artista Milton Ribeiro na edição de 14-05-1946, o que provavelmente se refere ao artista Milton Martins Ribeiro
nascido em 1922.
203
Quirino Campofiorito (1902-1993) foi pintor, desenhista, gravador, crítico e historiador da arte, ilustrador,
caricaturista e professor. Pintou cenas urbanas e naturezas-mortas, na década de 1940 apresenta obras
figurativas. Cf. HILDA e Quirino Campofiorito: Vida e Obra. Fundação de Arte de Niterói, 2002. .E
124
http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_bio
grafia&cd_verbete=3083&cd_item=1&cd_idioma=28555 .
204
Tribuna Popular. 22-05-1947. RJ. Acervo BN.
205
Sobre vida e obra de Candido Portinari Cf. BENTO, Antônio. Portinari. Léo Christiano Editorial Ltda. Rio
de Janeiro, 2003.
125
para o jornal que o sucedeu, o Imprensa Popular (1948-1958). Paulo Werneck é, portanto,
ilustrador mais importante para o jornal Tribuna Popular, seu traço pode ser reconhecido em
sua particularidade nos mais de cinquenta desenhos que fez para este periódico.
Importante perceber que fora do PCB Paulo Werneck desenvolveu outras atividades
206
que não a de ilustrador: o artista produzia murais, trabalho que se destacou em sua carreira.
Seus murais em nada se assemelhavam com seus desenhos. Em alguns murais, mesclava o
abstrato com o figurativo, mas o abstrato prevalecia. Paulo Werneck foi pioneiro no Brasil no
uso de pastilhas cerâmicas em murais, e ele se destacou ainda por projetar e produzir os
ladrilhos, além de executar os murais. Neste período, era comum os artistas apenas projetarem
a obra.
206
Paulo Werneck (1907-1987) iniciou sua carreira profissional em 1927, publicando desenhos em uma revista
universitária carioca. A partir de então faria ilustrações para diversas revistas e jornais, e conciliaria essa
atividade com a preparação de desenhos de arquitetura. Na década de 1930 sua produção acabaria refletindo suas
preocupações sociais e como na revista Movimento, organizada com Tomas Santa Rosa (que circulou apenas no
ano de 1935), e no livro Lenda da Carnaubeira, publicado em 1939 pelo Ministério da Educação. O artista se
dedicaria a ilustrações, mas não se desligaria dos trabalhos de arquitetura. No período do Estado Novo (1937-
1945), houve grande incentivo a novas construções civis e públicas. Em 1942, Paulo Werneck foi convidado
para realizar painéis decorativos para a cobertura do edifício do Instituto de Resseguros do Brasil, no Rio de
Janeiro. Seria o início da atividade muralista do artista. Cf. MARTINS, Carlos. (coord.). Catálogo Paulo
Werneck muralista brasileiro. Paço Imperial, 2008.
126
Luís Carlos Prestes era figura referencial para o PCB entre os anos de 1945 e 1947 207.
Era o líder para além do cargo maior de Secretário Geral que ocupava, era uma liderança
nacional, uma referência para muitas pessoas que o admiravam por seus feitos, sobretudo,
suas lutas na Coluna Prestes. No PCB, Prestes foi razão de união interna, como afirma Edgar
Carone:
207
Período de circulação do Tribuna Popular, onde eram vinculadas estas ilustrações. No entanto Prestes já era
uma figura admirada nacionalmente antes e principalmente durante a Coluna Prestes que liderou. Ver nota nº104
no Primeiro Capítulo.
208
CARONE, Edgar. O Estado Novo (1937-1945). Op. cit. P. 245.
127
No terceiro plano, fora da interação direta entre o primeiro e o segundo, há uma cena
que representa a atuação do líder comunista na Coluna Prestes, quando atravessou o país a
cavalo acompanhado de seguidores de suas propostas. A imagem mostra Prestes à frente
montado em seu cavalo com outros homens junto a ele também a cavalo. O ambiente com
árvores de galhos secos faziam referência à passagem da Coluna por áreas rurais pelo interior
do Brasil.
O traço próprio do artista Paulo Werneck marca as feições das pessoas, de forma que o
preto predomina e os centros dos rostos e dos tórax são iluminados chamando a atenção do
olhar do observador. São traços bem definidos, que buscam um entendimento claro da obra, e
com temas que recorrem à identificação do público do jornal com o conteúdo do desenho.
Como diz o autor, a presença de Prestes atraia grande público e isso era de grande
importância para a reestruturação do PCB. Prestes era, portanto figura essencial para o Partido
e sua imagem era utilizada como símbolo do PCB. Sua imagem pode ser comparada a de
Josef Stalin para o Partido Comunista da União Soviética. Stalin que foi Secretário Geral do
PCUS de 1924 a 1953, quando faleceu, tinha sua imagem reproduzida em diversos meios
revelando-se a principal referência da União Soviética, admirado e seguido na URSS e por
comunistas de todo o mundo.
209
CARONE, Edgar. O Estado Novo (1937-1945). Op. cit. P. 245.
128
A figura do líder soviético, exaltado por seus seguidores se repetia no âmbito nacional
brasileiro com Prestes. Contudo, a composição de Prestes pode ser comparada a de Stalin, em
sua forma e elementos. A seguir (fig.57) há uma imagem de pessoas reunidas carregando
cartazes com dizeres ao fundo e ao centro um cartaz maior com o perfil de Prestes. A figura
do líder sendo levada por seus seguidores, não era incomum, pois representa uma prática das
manifestações populares reais. Desta forma, afirmava-se a figura de Prestes como um líder
nacional e contribuía-se reforçando esta imagem.
A semelhança das imagens está além da cena retratada. É importante destacar ainda os
braços erguidos das pessoas, e o tom de exaltação da figura da liderança. As características
129
No entanto, vale ressaltar a expressão facial nas duas representações. O olhar não é
chapado, nem direcionado para frente. Seu olhar é altivo, como de quem vê além. O uso do
uniforme, também recorrente em suas representações, denota a sua posição militar e traduz
sua postura de líder. Em ambas as imagens de Stalin, ele apresenta olhar firme e sério, de
forma a configurar-se em uma marca de sua imagem. As duas representações não deixam
dúvidas de quem é a personagem, até por sua figura ser muito reproduzida no período e de
forma quase sempre semelhante.
130
O traço de Paulo Werneck procura ser fiel a fotografias de Stalin, assim como o faz o
cartaz. Novamente, as diferenças entre as duas obras está no colorido e precisão de detalhes
devidos à técnica de desenho utilizada e ao modo de reprodução dos cartazes, enquanto no
desenho o artista recorre a menor detalhamento, mas nem por isso a reprodução se compõe de
modo menos realista.
O trabalhador rural brasileiro era representado nas páginas do Tribuna Popular usando
roupas simples, chapéu e geralmente com uma enxada em mãos. No plano de fundo
costumava haver referências à paisagem rural. Nas imagens acima vemos exemplos disso, na
primeira (Fig.61) um homem utilizando a enxada e uma vegetação à sua frente. Na página do
jornal em que estava este desenho havia um texto intitulado “Apelo dramático” que
denunciava a iminência do abandono das lavouras por esses homens, principalmente, devido
ao “preço elevado dos materiais agrícolas” 210, como também exigia medidas a serem tomadas
pelo governo.
Na segunda imagem (Fig.62) há um lavrador com uma enxada em mãos, e outro mais
ao fundo também com o instrumento principal de seu trabalho em uma paisagem rural. Este
desenho fazia parte da campanha eleitoral do PCB para o ano de 1945 em uma página do
jornal, onde foram apresentadas diversas propostas. Próxima a esta imagem dizia-se que os
eleitos defenderiam “a entrega das terras abandonadas à massa camponesa” 211.
210
Tribuna Popular. 10-05-1947. RJ. Acervo BN.
211
Tribuna Popular. 2-12-1947. RJ. Acervo BN.
131
O tipo era uma alusão ao trabalhador, de um modo geral, que vivia em condições
humildes nas áreas rurais, enfrentando diversos problemas, com dificuldades de se manter em
sua pequena propriedade, muitas vezes trabalhando para grandes latifundiários e sofrendo
exploração recebendo menos que o suficiente para sobreviver com dignidade.
O título da matéria que acompanha este desenho define o tom de denúncia do texto:
“Terras para os fascistas estrangeiros, despejo e escravidão para milhões de camponeses,
nossos irmãos” 212. O objetivo era denunciar as péssimas condições dos trabalhadores rurais
brasileiros, enfatizando que eles viviam de modo semelhante à escravidão, e ressaltar ainda o
despejo a que estavam sujeitos em muitos dos casos. A matéria destaca ainda que as
condições de pobreza e de exploração dos trabalhadores e suas famílias eram tão graves que
eles acabavam abandonando as zonas rurais. Em contraposição, grandes latifundiários
encontravam facilidades do governo para adquirir terras e para cultivar nessas mesmas
regiões.
212
Tribuna Popular. 18-05- 1945. RJ. Acervo BN.
132
O desenho expressa o sofrimento de uma família que passa por grandes necessidades e
ainda com duas crianças nesta situação. As pessoas pobres e o estado de quase escravidão,
como dizia a matéria relacionada, eram uma representação habitual da condição do
trabalhador rural brasileiro. Os problemas destas pessoas eram relatados pelo jornal. A
imagem faz essa denúncia e sua legenda reafirma a cena representada: “fugindo à escravidão
e à miséria, os camponeses vêm para a cidade onde o pior acontece: tornam-se mendigos.
Enquanto isso, fascistas têm todas as regalias em nossa Pátria” 213.
Eram pessoas que iriam procurar uma vida melhor nas cidades, mas que acabariam
como mendigas. Ou seja, nem nas áreas rurais nem nas urbanas tinham possibilidades:
traçava-se assim o perfil do trabalhador rural brasileiro. Por outro lado, o cartaz soviético ao
lado (Fig.64) mostra uma criança feliz, rodeada por uma paisagem rural e com a chamada: “O
trabalho no campo não espera!”.
Este cartaz mostra o perfil oficial do trabalhador rural soviético: feliz, ciente da
importância do seu trabalho e satisfeito com sua “função” revolucionária. A menina sorrindo
213
Tribuna Popular. 18-05-1945. RJ. Acervo BN.
133
parece chamar a família de dentro de casa para o trabalho. Ao fundo uma casa em boas
condições, bem estruturada, assim como deve ser a casa na qual a menina bate à janela com
cortina aberta.
Ambas as imagens são de trabalhadores rurais, no entanto seus perfis são praticamente
opostos, pois as condições apresentadas dos soviéticos e dos brasileiros são distantes.
Portanto, o que o realismo socialista soviético procurava passar dos seus camponeses eram
condições positivas, na visão do governo.
A primeira (Fig.65) mostra uma casa simples, bem diferente das casas apresentadas no
cartaz soviético anterior, uma mulher de pé na porta e um homem sentado à frente da casa de
chapéu, roupas simples e cabeça baixa. A paisagem rural é composta por montanhas, uma
árvore e vegetação que compõem o ambiente rural e a sua simplicidade. Já na outra imagem
(Fig.66), a situação é outra: o casal de roupas simples é o destaque
Fig.65- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 10- Fig.66- Paulo Werneck. Tribuna
02-1946. RJ. Acervo BN. Popular. 09-04-1946. RJ. Acervo
BN.
134
O traço do artista é mais fino no primeiro desenho, com linhas retas e próximas
preenchendo as formas com tons acinzentados. O tom de toda a imagem é quase uniforme.
Enquanto na segunda apenas o fundo da paisagem tende para o acinzentado devido aos traços
finos. O primeiro plano tem tons fortes em preto contrastando com o branco. As personagens
têm o desenho do corpo escuro e as roupas claras apenas com os contornos e dobras, o que dá
ideia de movimento pelo vento às roupas.
A personagem central da obra está sorrindo e sua felicidade contrasta com os desenhos
do jornal Tribuna Popular anteriormente apresentados. Enquanto nos desenhos do jornal
havia a simplicidade, a falta de condições de trabalho, o abandono das áreas rurais, nos
cartazes há prosperidade e alegria. O homem que dirige o trator (Fig.67) acena diante dos
135
campos cultivados, e em um desenho anterior do jornal, outro homem abaixa sua cabeça à
frente de sua casa (Fig.65).
No segundo quadro há uma família com dois homens, uma mulher e um menino
carregando uma trouxa denotando o abandono da área rural. Ao fundo novamente as
montanhas mostrando o ambiente rural. Apenas com a imagem já é possível compreender a
questão que se apresenta. A legenda, porém, especifica a situação desta família, como
214
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
136
exemplo de muitas outras. Desta forma, mostra a instabilidade da vida desta família, como de
outras tantas que não têm garantias de moradia ou trabalho:
Que aconteceu com esta família camponesa? Moravam num cantinho de terra do grande
fazendeiro e trabalhavam como roceiros. Por um atraso qualquer foram expulsos e procuraram
a cidade, onde vão também ganhar salários de fome 215.
Este homem tem um pedaço de terra. Mas cadê enxada nova para trabalhar? Quem lhe
empresta dinheiro? As dificuldades aumentam. Um dia vencerá a hipoteca. Mais um camponês
será arrastado para a cidade216.
No quinto quadro vê-se à frente há um menino negro, sem camisa e com a barriga
sobressalente. Ao fundo há uma casa simples com uma mulher à porta, semelhante a uma casa
rural vista anteriormente em outra imagem do jornal (Fig.65). A simplicidade do local, e a
paisagem rural também são características comuns a este tipo de representação no jornal. A
partir da legenda pode-se compreender melhor a situação:
215
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
216
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
217
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
137
De tal modo, o quadro denunciava a falta de serviço de saúde e educação nas áreas
rurais e o menino representaria as crianças que não recebem esta assistência pública. O texto
atenta ainda para o esforço de Prestes em prol de melhorias para estas condições através do
fim da concentração de terras com poucos proprietários.
Com medidas como a entrega das terras aos camponeses, dando-lhes crédito e assistência,
haverá fartura e riqueza. Para isto é indispensável que eles se organizem e reclamem ao
governo, às assembleias estaduais e ao parlamento federal219.
O texto mostra, então, que a organização das pessoas pode resolver as questões
relativas à concentração da propriedade rural. E por fim, observa-se que esta tira de quadros é
complementada pelas legendas, no entanto, pessoas que se identificam com os problemas
apresentados poderiam compreender as imagens por si mesmas. Porém, assim como nos
cartazes suas legendas ou falas são importantes para a mensagem que pretendem passar, neste
caso o texto apresenta semelhante importância.
Os desenhos são bem claros, como os outros do jornal, mas a sequência de quadros é
exemplo da reunião dos problemas do trabalhador rural e a apresentação da solução que o
jornal, e, portanto, o Partido propõe ao leitor. Sua função é claramente de educar o leitor do
jornal, levando a visão do Partido em relação ao tema, e de forma que as legendas apenas
complementem o que as imagens já demonstram. O traço do artista é fino e mantém o tom de
cinza dos quadros por não preencher os espaços, mas apenas traçar linhas paralelas. O
entendimento das imagens e a atração do olhar são o ponto principal da importância destes
desenhos para o Tribuna Popular.
218
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
219
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
138
O proletariado urbano era representado pelo jornal com homens simples, que
passavam por muitas dificuldades nos diferentes âmbitos de suas vidas. Na imagem
acima(Fig.70) há três homens sentados no chão preparando alguma refeição em um fogareiro
improvisado e um deles comendo. Este desenho estava relacionado a uma matéria de
denúncia das condições em que os 14 mil ferroviários da companhia ferroviária Leopoldina
Railway trabalhavam, incluindo o espaço destinado para a alimentação. A matéria denunciava
outros problemas, como a falta de possibilidade de licença médica e até mesmo demissão no
caso de doenças como a tuberculose, comum a esses empregados devido à insalubridade do
ambiente de trabalho.
Estes trabalhadores, assim como muitos outros, sofriam com as péssimas condições
em que trabalhavam, sem muitos direitos que lhes assegurassem o essencial. O desenho
mostra homens com os olhares tristes que se alimentavam sentados no chão. Essa era a
imagem do trabalhador urbano passada no jornal. O traço do artista dá noção das feições, dos
movimentos do corpo e das roupas. São linhas finas na maior parte, que dão o tom realista do
desenho.
139
No segundo quadro o desenho mostra dois homens fazendo uma refeição, com uma
marmita na mão, mal acomodados, sem as condições adequadas. A questão do espaço
destinado para a alimentação no ambiente de trabalho foi levantada na figura anterior. Na
legenda há uma crítica a essa falta de estrutura para a refeição, denunciando o problema de
conservação dos alimentos que são comidos frios, podendo estragar e causar danos à saúde.
220
Tribuna Popular. 04-03-1947. RJ. Acervo BN.
140
Depois do trabalho em condições tão penosas, eis a refeição. Comem à beira da sarjeta: em
cima de velhos caixotes, uma comida fria e sem gosto apenas para enganar o estômago. Claro
que esse almoço em nada estimula o operário para aumentar a produtividade do seu
trabalho221.
Ao final, o autor da legenda diz que a falta de uma alimentação adequada desestimula
o trabalhador e diminui a produtividade, argumentando de forma a convencer os
empregadores de que seriam beneficiados também, como já sugere o título da sequência de
quadros.
E agora a condução, Deus do céu! E isto todo dia! Depois do batente, sai cansado e faminto
da fábrica e se consegue pegar uma condução, vejam que tormento! Milhares e milhares de
trabalhadores sofrem, todos os dias, o mesmo drama que lhes parece cada vez pior 222.
Há ainda uma referência aos baixos salários que levam a uma má alimentação, e
provavelmente também um dos motivos de não ser possível uma estrutura melhor de
habitação. Os fatores alimentação e habitação contribuiriam para a suscetibilidade ao
adoecimento destas pessoas. No texto há ainda o questionamento se seriam mesmo casas,
afirmando que seriam barracos:
Chega enfim a casa. Casa? Nada mais, nada menos do que um velho barraco sem higiene,
onde a tuberculose, que muitas vezes o operário adquire na oficina, na fábrica, ou devido aos
baixos salários que geram a subalimentação, vai desenvolver-se e contagiar toda a família. 223
221
Tribuna Popular. 04-03-1947. RJ. Acervo BN.
222
Tribuna Popular. 04-03-1947. RJ. Acervo BN.
223
Tribuna Popular. 04-03-1947. RJ. Acervo BN.
141
No quinto e último quadro há o desenho de um homem e uma mulher com uma sacola
em uma feira. O casal parece olhar para alguns produtos expostos nas bancas, mas não os
pegam. Ao fundo há uma placa com o preço de algum produto, provavelmente um preço alto.
No rol de denúncias, esta parece se referir ao pequeno poder de compra dos trabalhadores, e a
gravidade disso no que se refere aos gêneros alimentícios.
E, por cima, a alarmante carestia da vida. Cumpre ao governo e aos empregadores tomar
medidas para mudar estes tristes quadros. E que os trabalhadores se organizem em seus
sindicatos e comissões de salário na luta por melhores condições de vida e por uma
produtividade maior224.
companhia que operava os bondes, denunciando o aumento das passagens, o alto lucro e a
manutenção do número da frota, mesmo com o aumento da população. Além disso, fala da
falta de conforto e segurança do transporte. Assim, a imagem do bonde lotado é
complementada pela legenda que explicita a questão.
Fig.72- Paulo Werneck e Milton Ribeiro. Tribuna Popular. 31-01-1947. RJ. Acervo BN.
A legenda critica a depreciação da instituição escolar pelo Estado Novo, que seria o
responsável pelo alto índice de analfabetismo no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. O
143
PCB reivindicava melhorias, ampliação da rede escolar nos bairros e subúrbios, assim como
ensino noturno, secundário, profissional e normal ampliados. Os problemas da educação e as
propostas do Partido são apresentados diante da imagem de uma escola degradada. O desenho
transmite uma ideia clara do cenário que o Partido pretendia passar do sistema educacional
carioca.
O terceiro quadro mostra em primeiro plano um homem deitado no chão de uma rua
ou estrada, e uma mulher abaixada ao seu lado. Outro homem, ao fundo, corre com o braço
levantado provavelmente em busca de ajuda. Na legenda o autor denuncia a insuficiência na
assistência médica à população e propostas de prontos socorros nos bairros, para suprir as
necessidades das localidades mais distantes do centro.
Os três primeiros quadros da esquerda para a direita são do artista Paulo Werneck,
como os outros tantos apresentados. No entanto, o quarto quadro, no canto inferior direito, é
assinado pelo artista Milton Ribeiro. 225 Este último desenho difere-se dos outros pelo traço
curvilíneo do artista, mas que também transmite uma imagem compreensível de mulheres
com latas ao chão e em suas cabeças, em fila para pegar água em uma torneira coletiva, ao
que tudo indica por faltar distribuição pública deste recurso na localidade onde residem.
As curvas e certa indefinição de alguns traços não impedem que fique clara a cena
representada. Os rostos tristes, a mulher de braços cruzados em espera, outra com uma menina
no colo e de mãos dadas a um menino chamam atenção ao sofrimento que envolve a questão.
A temática é pertinente ao conjunto de quadros, e ainda trata de um assunto caro ao
trabalhador urbano.
Este problema da falta de água foi tratado outras vezes no jornal e com desenhos
diferentes entre si. A seguir (Fig.73) há um desenho com traços finos e claros. São duas
mulheres, uma carregando uma lata de água em sua cabeça, e a outra com um recipiente
225
Este desenho de Milton Ribeiro é o único do artista em contribuição ao jornal e foi utilizado de modo a
complementar os outros quadros da sequência. Este desenho foi publicado novamente no dia 21 de junho de
1947, cinco meses depois, de forma individual e com uma matéria sobre a falta de água, luz e higiene em um
morro da cidade do Rio de Janeiro.
144
provavelmente com a mesma função. Estão vestidas com roupas simples, uma delas com um
lenço prendendo os cabelos. Os traços do artista procuram uma forma próxima à realidade,
produzindo uma obra com elementos compreensíveis e que compõem uma cena que mostra
um problema social importante que é a falta de água em localidades mais pobres da cidade.
Fig.73- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 04-02- Fig.74- Paulo Werneck. Tribuna
1947. RJ. Acervo BN. Popular. 18-01-1946. RJ. Acervo BN.
Fig.75- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 21-01- Fig.76- Paulo Werneck. Tribuna
1947. RJ. Acervo BN. Popular. 21-12-1947. RJ. Acervo BN.
A cena à direita (Fig.76) poderia ser até o mesmo lugar da outra imagem, no entanto
as casas estão desabadas, apenas poucos móveis estão de pé. As duas mulheres e o garoto
olham para a situação e uma delas levanta os braços como quem clama ajuda. A matéria se
refere às remoções de favelas de áreas urbanas pelo governo municipal e denuncia a falta de
cuidado com as pessoas que desavisadas perderam tudo o que tinham. A miséria e desatenção
do poder público com essas famílias eram apontadas pelo jornal. A temática dos dois
desenhos é relativa ao sofrimento destas pessoas com a falta de moradia digna. O traço do
146
artista mostra a composição simples das residências e se remete aos “barracos”, buscando a
identificação e sensibilização do observador à causa.
condições mostradas são de satisfação, de acordo com o que o PCUS pretendia transmitir. A
versão brasileira está de acordo com a soviética no que concerne a temática em que o
trabalhador é a personagem principal e pode se identificar com a cena representada, assim
como na forma estética que permite a compreensão do desenho, assim como transmite uma
mensagem educativa da visão partidária das questões. Para tanto, a versão brasileira mantinha
características soviéticas de passar uma visão de mundo da luta de classes com a oposição
maniqueísta entre burguesia e proletariado.
Neste momento, o país seguia a Constituição de 1937, conhecida como “Carta de 37”.
Elaborada durante o Estado Novo, era acusada de impedir a democracia real. Em 1946 a
Constituinte foi formada e a nova constituição elaborada com participação de bancada do
PCB. 226
O desenho de Paulo Werneck tem destaque na capa da edição e mostra nove homens
diferentes entre si, cada um com uma expressão, com feições individuais. O artista apresenta
226
BRAGA, Sergio Soares. Quem foi quem na Constituinte de 1946 – um perfil socioeconômico e regional da
Constituinte de 1946. Câmara dos Deputados. Brasília, 1998. Vol. 1 e 2.
148
um traço detalhado, um sombreamento que dá movimento aos braços. O olhar de cada homem
é particular, alguns olham para frente outros entre si. A função é a identificação do observador
com a mobilização para pressionar o governo a forma a Constituinte, e este recurso de
estímulo através da imagem de pessoas unidas em luta por um objetivo comum se repetiria em
outros desenhos.
Nas duas imagens a seguir se repete o recurso de apresentar pessoas manifestando seu
apoio a alguma causa para estimular o leitor a participar. No desenho à esquerda (Fig.79), um
homem a frente de outros dois aponta para uma chamada para um comício no centro do Rio
de Janeiro em que Prestes e outros políticos falariam posicionados contra a “Carta de 37”, o
que seria uma exigência do “povo” que representavam. A imagem é uma convocação aos
leitores, e o desenho de um homem de terno e gravata, que trabalha e chama o “povo” a
comparecer procura ser representativo do trabalhador que lê o jornal. O traço do artista traz
uma expressão facial detalhada, o olhar sério está de acordo com a seriedade do tema deste
comício, assim como de outros.
Fig.79- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 23- Fig.80- Paulo Werneck. Tribuna Popular.
02-46. RJ. Acervo BN. 11-7-1945. RJ. Acervo BN.
À direita (Fig.80), a imagem se difere pela falta de detalhamento das feições das
pessoas, há os contornos de homens e mulheres, com algum movimento de corpo e ao fundo
uma faixa escrita “vida dos comitês populares”. Esta imagem intitulava uma coluna que
tratava das ações dos “Comitês Populares”, que eram núcleos de divulgação e discussão das
diretrizes do PCB em bairros, e que tinham entre seus objetivos atrair mais membros ao
Partido. O desenho mais simplificado era reproduzido diariamente na coluna e sua função era
associar os “Comitês” à reunião de pessoas lutando por seus ideais.
A imagem adiante (Fig.81) mostra o início de uma multidão reunida a perder de vista
no horizonte, muitos estão com os braços levantados em protesto. A ocasião era o Dia do
Trabalho, que seria comemorado com manifestações já programadas tradicionalmente pelo
PCB. No entanto, neste ano o governo proibira as manifestações públicas na véspera da data,
149
o que causou insatisfação e levou o jornal a publicar textos que criticavam a ação do governo
e esta imagem que foi preparada para ilustrar a comemoração do 1º de Maio. O jornal
indicava ainda que a programação s transferiria para locais fechados, como sindicatos e outros
organismos.
Com faixas com dizeres diferentes entre si, mas que se complementam. Homens e
mulheres mostram as palavras de ordem: “Abaixo o imperialismo”, “União Nacional”, “Paz”,
“Unidade”, “1º de maio de luta”, “Basta de Guerra”, “Unidade Proletária”. O desfile de
comemoração mostrava uma enorme aglomeração, e as faixas representariam as principais
propostas do PCB sendo carregadas pelos trabalhadores que o apoiam.
Fig.82- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 26- Fig.83- Paulo Werneck. Tribuna Popular.
03-1946. RJ. Acervo BN. 01-05-1947. RJ. Acervo BN.
Fig.84- Paulo Werneck. Tribuna Popular. Fig.85- Paulo Werneck. Tribuna Popular.
18-10-1946. RJ. Acervo BN. 23-05-1947. RJ. Acervo BN.
151
Na imagem à direita (Fig.85), o perfil das pessoas é bastante diferente das outras
imagens. O traço do artista procura evidenciar os lábios, os narizes, os olhos e os braços. A
mulher mais à frente, usa camisa de manga curta e a mão ao peito, e o homem negro, logo
depois, usa terno. Ambos apresentam um olhar semelhante para o alto e parecem cantar. Dois
punhos cerrados se destacam ao fundo e ao lado direito do desenho, denotando disposição e
convite à luta. As outras pessoas, homens e mulheres, também possuem particularidades no
olhar e nas feições faciais. É uma imagem diferente das outras, mas a temática e a força
expressada são semelhantes.
Nestas imagens de artes gráficas do jornal Tribuna Popular podem ser reconhecidas
semelhanças com os cartazes soviéticos adiante. São cartazes que circularam entre o período
de 1935 e 1945, quando o nazismo ganhava força na Europa e seria combatido ao longo da
Segunda Grande Guerra (1939- 1945). O embate que a URSS promoveu, que resultaria na
derrota nazista em 1945, se fortalecia com campanha pelo apoio à causa da luta contra o nazi-
fascismo.
Fig.86- Autor desconhecido. Cartaz Soviético. Fig.87- Autor desconhecido. Cartaz Soviético -
Fascismo é o pior inimigo da Mulher. Todos juntos Não ao fascismo! Entre 1935-1945. . Fonte:
em luta contra o fascismo! Entre 1935 e 1945. . http://www.sovietposters.com/index.php , acesso
Fonte: http://www.sovietposters.com/index.php , em 15-03-2013
acesso em 15-03-2013.
A imagem à direita (Fig.87) mostra apenas o rosto de uma mulher jovem que diz
“não” ao fascismo erguendo seu punho fechado e expressando dureza no olhar. O desenho de
sua boca sugere que estivesse gritando as palavras de ordem com firmeza. As imagens
mostram a força das personagens, e o movimento dos braços é um elemento importante na
função de convocar as pessoas para aderirem a causa proposta. O mesmo ocorre nos desenhos
do jornal Tribuna Popular ¸nos quais a força e a luta representada nos olhares e movimentos
dos braços convocam o proletariado a unir-se com os demais em favor da luta proposta.
3.2 – É noticia! Artes e artistas plásticos são temas no jornal Tribuna Popular
O jornal Tribuna Popular, como foi visto, possuía um caráter específico entre os
periódicos diários que circulavam também no Rio de Janeiro. Esta especificidade é inerente
ao seu papel de divulgador das propostas do Partido Comunista do Brasil para um público
mais amplo e popular e abarcando assuntos diversificados, de vários âmbitos do cotidiano da
população. Destarte, este periódico não poderia deixar de fora as proposições do Partido no
tocante às artes de um modo geral e ainda às artes plásticas.
Esta matéria mostrava a intenção de afirmar a importância dessa mostra para o Partido
e vinha na capa com certo destaque era acompanhada de duas fotos da exposição. Estas
fotografias eram pouco detalhadas e destacavam duas grandes bandeiras com as insígnias
integralistas, não era possível identificar quais outros elementos a exposição trazia.
Esta matéria era ilustrada por uma fotografia na qual mostrava as alunas e alunos da
Escola de Belas Artes que empunharam, em protesto, seus cavaletes e telas em plena calçada
227
Tribuna Popular. 23, 24, 29 e 31 de maio e 05, 07,09 e 13 de junho de 1945. RJ. Acervo BN.
156
em frente ao histórico prédio que hoje figura o Museu Nacional de Belas Artes localizado no
entorno da Praça da Cinelândia no centro do Rio de Janeiro (Fig.90).
Nestes anos de publicação do jornal podemos observar que “Os artistas plásticos do
PCB” tornaram-se uma categoria. A mudança na forma como eram reconhecidos foi se
modificando rapidamente, o que pôde ser acompanhado pelas páginas do jornal Tribuna
Popular. Nos primeiros meses do jornal, as referências eram dadas aos “artistas, escritores,
intelectuais”, ou ainda aos artistas de modo particular: Picasso, Portinari, Carlos Scliar, por
exemplo. Contudo, os artistas continuaram a ser referenciados de modo individual, pois
escreviam textos sobre arte ou sobre o comunismo, faziam exposições, enfim, seus nomes
eram importantes para o Partido Comunista do Brasil.
228
Tribuna Popular. 29-05-1945. P.2. RJ. Acervo BN.
229
Tribuna Popular. 28-11-1945. Com o candidato do Povo, os artistas plásticos do Brasil. P.3. RJ. Acervo BN.
230
Tribuna Popular, 15-12-1945. Aos artistas plásticos – convite à reunião da classe. P.2. RJ. Acervo BN.
157
diversos artistas que participavam deste esforço para organização do grupo. Eram artistas
como: Raul Deveza (1891-1952), Candido Portinari, Tomás Santa Rosa (1909-1956), Quirino
Campofiorito, Percy Deane (1921-1993), Paulo Werneck, Francisco Landa e Silvio Chalrú 231.
231
Tribuna Popular, 16-12-1945. Criarão os artistas plásticos o seu sindicato de classe. Capa e p.2. RJ. Acervo
BN.
232
Tribuna Popular, 19-12-1945. Artistas plásticos pró-sindicato. RJ. Acervo BN.
233
Tribuna Popular, 17-04-1946. Comitê dos Artistas Plásticos. RJ. Acervo BN.
234
Tribuna Popular, 22-11-1946. Artistas Plásticos. RJ. Acervo BN.
158
Podemos notar que a permanência ao longo do ano destas reuniões mostra que elas se
mantiveram e assim, que chegou a funcionar de alguma forma. Mesmo que fossem notinhas
discretas, tinham mais destaque do que outras reuniões de outros sindicatos ou associações
que eram divulgadas em uma lista comum a todos, e com certa frequência, atualizando os
leitores das reuniões seguintes. Desta forma, podemos notar ainda uma especificidade desta
categoria profissional dos artistas plásticos e a atenção especial que o Partido Comunista do
Brasil e que era passado no jornal Tribuna Popular.
Essa matéria era para divulgar uma conferência sobre arte que ocorreria no auditório
da ABI e contaria com palestras de artistas como Portinari, Santa Rosa, Bruno Giorgi (1905-
1993) , Anna Levy e Carlos Scliar. Esse último contou com uma foto sua em destaque e
deixou um breve depoimento veiculado na matéria no qual dizia da importante missão que
considerava ser a de levar a arte para o povo (Fig.94).
235
Tribuna Popular, 26-03-1946. Os artistas à disposição do povo. RJ. Acervo BN.
159
Três dias depois outra matéria era divulgada ainda sobre esta conferência que estava
para ocorrer na semana seguinte. Nela era vista a frase: “Pintura que se desliga do povo não é
arte”, que fazia parte de um posicionamento sobre a arte engajada nas questões políticas e na
importância da conscientização dos artistas quanto a essa questão.236
A partir de então, podemos notar que não é só um destaque que era dado aos artistas,
mas havia um reconhecimento nacional e também um prestígio, e por isso era interessante
vincular estes nomes ao partido. As mobilizações da categoria pareciam dar mais visibilidade
ao movimento como um todo para a arrecadação pró-Imprensa Popular, como foi chamada.
Nas imagens seguintes é possível verificar uma destas matérias com a fotografia do artista
Quirino Campofiorito (Fig.95, Fig.96).
236
Tribuna Popular. 29-03-1946. O novo na arte, ciência ou política, na 4ª na ABI. RJ. Acervo BN.
237
O artigo se refere a Augusto Imbassaí, então diretor da Divisão de Polícia Política e Social (DPS), e a José
Pereira Lira, então chefe de polícia do Departamento Federal de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Tribuna
Popular, 14-04-1946 e 21-06-1946. Os artistas plásticos contra o imperialismo e Protestam os artistas plásticos
contra a violência de Imbassaí e Pereira Lira. RJ. Acervo BN.
238
Tribuna Popular, 10, 12, 25, 27 e 29-10-1946. RJ. Acervo BN.
160
Fig.95- Tribuna Popular, 25-10- Fig.96- Tribuna Popular, 25-10-1946. P.8 (detalhe). RJ.
1946. P.8. RJ. Acervo BN. Acervo BN.
239
Tribuna Popular, 23-09-1945. Clóvis Graciano, um artista do povo, de Rui Facó e Rui Santos. p.9.
Suplemento de domingo: Literatura e Arte. RJ. Acervo BN.
161
A origem do artista era valorizada, seus ofícios e seu talento revelado como um
exemplo para todos. O autor explicitava qual deveria ser a função dos artistas, e a importância
em destinar as obras ao “povo” e que fosse sobre o “povo”, afirmando que:
Clóvis Graciano, cuja arte vem do povo, inspira-se no povo e destina-se ao povo, concorrerá
dentro do Partido de Prestes, para elevar o nível cultural do nosso povo, pois ele sabe que toda
arte isolada do povo é uma arte em decadência, é o epitáfio de uma classe que morre 240.
Pouco menos de dois meses depois, no dia 11 de novembro do mesmo ano, o mesmo
modelo de homenagem foi empregado em tributo ao artista plástico Candido Portinari
(Fig.98). O título era semelhante: “Candido Portinari, o artista do Povo” e assinada por Rui
Facó e Rui Santos. Também foi veiculada num domingo no mesmo suplemento intitulado
“literatura e arte”.
O texto destaca que apensar de diversas revistas de arte na Europa, Estados Unidos da
América e América do Sul falarem de Candido Portinari, e algumas editoras estrangeiras
publicarem biografias dele, no Brasil uma “insignificante minoria” conhece seu trabalho. No
Brasil especialmente não faltariam “conservadores, reacionários e fascistas” que criticassem
as obras de Portinari, pois segundo o autor:
240
Tribuna Popular, 23-09-1945. Clóvis Graciano, um artista do povo, de Rui Facó e Rui Santos. p.9.
Suplemento de domingo: Literatura e Arte. RJ. Acervo BN.
241
Tribuna Popular, 11-11-1946. Candido Portinari artista do povo. p.9. Suplemento de domingo: Literatura e
Arte. RJ. Acervo BN.
163
O autor prossegue o texto relatando obras do artista e a melancolia presente nelas, que
por não mostrar alegrias estariam apenas representando a realidade brasileira.
A seriedade da obra de Portinari, esse tom quase trágico da maioria de seus trabalhos, é outra
reminiscência do campo brasileiro, de uma terra devastada pelo abandono em que vive tudo, a
começar pelo homem, e principalmente o homem.(...) Não é atitude, não é intencionalismo do
pintor. É a realidade brasileira que o pintor reflete(...).242
Abaixo do título e dos subtítulos havia ainda uma fotografia grande com legenda para
explicar que era o próprio pintor flagrado na entrevista com o redator do jornal (Fig.100). A
entrevista continuava na página 04 e tomava cerca de metade da página. Com essa entrevista
parecia que não queriam deixar dúvidas de que o artista era mesmo membro do PCB e quais
seus objetivos em relação ao Partido 245.
242
Tribuna Popular, 11-11-1946. Candido Portinari artista do povo. p.9. Suplemento de domingo: Literatura e
Arte. RJ. Acervo BN.
243
Tribuna Popular, 11-11-1945. Candido Portinari, o artista do Povo, de Rui Facó e Rui Santos.. p.9 e 10.
Suplemento de domingo: Literatura e Arte. RJ. Acervo BN.
244
Tribuna Popular, 09-01-1946. Mais um notável artista ingressa no partido do povo. Capa. RJ. Acervo BN.
245
Tribuna Popular, 09/01/1946. Mais um notável artista ingressa no partido do povo. Capa. RJ. Acervo BN.
165
Fig.99- Tribuna Popular, 09-01- Fig.100- Tribuna Popular, 09-01-1946. Capa (detalhe).
1946. Capa. RJ. Acervo BN. RJ. Acervo BN.
Desde então a presença de Quirino era destacada em notícias de alguns eventos, como
na visita de um embaixador soviético à Escola de Belas Artes, 246 e na campanha pró-Imprensa
Popular para a qual os artistas plásticos do PCB se mobilizaram. Uma matéria de 12 de
outubro de 1946 era anunciado: “Falam à Tribuna Popular os pintores Quirino Campofiorito e
Raul Deveza”. 247 A opinião de artistas como Quirino pareciam dar respaldo às matérias e
chamar atenção a elas.
Alguns artistas escreviam para o jornal Tribuna Popular e não só temas sobre as artes
plásticas. Carlos Scliar, por exemplo, serviu como expedicionário da FEB (Força
Expedicionária Brasileira), na participação do Brasil na Segunda Grande Guerra. Quando
voltou em agosto de 1945, apoiou a Casa do Expedicionário, instituição de auxílio aos que
haviam servido na FEB. O artista leiloou um desenho de sua autoria e recebeu destaque do
jornal com matéria que noticiava esta mobilização, ressaltando o que foi considerado ato de
patriotismo na participação e luta contra o nazifascismo 248.
246
Tribuna Popular, 16/05/1946. O embaixador soviético visitou ontem a escola de Belas Artes. RJ. Acervo BN.
247
Tribuna Popular, 12-10-1946. Grande Contribuição dos artistas plásticos para a campanha Pró-Imprensa
Popular. p.8. RJ. Acervo BN.
248
Tribuna Popular, 21-08-1945. Em benefício da casa do expedicionário. p.8. RJ. Acervo BN.
166
Na capa do domingo seguinte foi publicada uma entrevista que Scliar concedeu ao
jornal. O depoimento recebeu grande destaque, pois além de estar na capa da edição de
domingo, era composta por uma foto do artista e tinha um tamanho médio que realçava o
título: “Fala à Tribuna Popular, o pintor Carlos Scliar, como expedicionário e como
artista.”249 Essas palavras mostram o teor da imagem que buscam promover de Scliar:
expedicionário e artista. Em seu depoimento, Carlos Scliar conta sua experiência na FEB,
ressaltando a importância da participação do Brasil na guerra. Contudo, também destaca os
cartazes que viu em Milão que teriam uma qualidade admirável. Desta forma, há um apelo à
identificação e admiração a Carlos Scliar a partir de seu depoimento, no qual também é
ressaltado o valor que o jornal conferia a ele por suas qualidades e contribuições.
Pouco menos de um mês depois, foi publicado outro texto de Pablo Picasso, desta vez
no suplemento Literatura e Arte, que era publicado aos domingos. Era intitulado: “Picasso
251
fala de arte e de política” e novamente o artista expunha sua opinião com base em sua
posição política e ganhava destaque no jornal. A arte deveria ter um suporte político, e este
249
Tribuna Popular, 28-08-1945. Fala à Tribuna Popular, o pintor Carlos Scliar, como expedicionário e como
artista. Capa. RJ. Acervo BN.
250
Tribuna Popular, 15-07-1945. Como me tornei comunista, por Pablo Picasso. P.9 e 10. RJ. Acervo BN.
251
Tribuna Popular, 05-08-1945. Picasso fala de arte e política, por Jerome Seckeler. P.10. RJ. Acervo BN.
167
era o papel do artista. Essa era a posição de Picasso, apoiada pelo PCB e divulgada pelo
jornal.
Artistas como Picasso, de renome internacional e noticias gerais sobre outros artistas
comunistas do mundo, que pudessem interessar a edição tinham espaço no jornal. Eram
comuns algumas notas, algumas pequenas matérias com fotos de obras ao longo do jornal,
podiam não ter grande destaque, mas eram presentes.
Algumas notas apenas diziam “sobre o gosto estético” na União Soviética, contando
um pouco de como era a relação da arte produzida com as questões políticas 254. Outras
menores procuravam resumir as “Artes plásticas na União Soviética” 255,porém o mais curioso
eram notícias que a princípio só deveriam interessar aos soviéticos, como ocorre com a
pequena nota: “Ensino de artes e ofícios” 256, na qual anuncia a abertura de 30 cursos de artes
e ofícios, como de entalhamento, em Moscou. O interessante é que não é uma matéria, mas
um anúncio, informando que estão abertas as inscrições, inclusive.
Determinadas notas seguiam esta linha e anunciavam exposições como, por exemplo,
as que estavam abertas em Moscou257, ou uma de cartazes soviéticos na União Eslava 258 ou
252
Tribuna Popular, 08-12-1945. Picasso reclama auxilio para os republicanos espanhóis que estão na França.
RJ. Acervo BN.
253
Tribuna Popular, 22-08-1945. Os artistas que ajudaram a libertar a França. P.4. RJ. Acervo BN.
254
Tribuna Popular, 01-07-1945. Sobre o gosto estético. P. 9 e 10. RJ. Acervo BN.
255
Tribuna Popular, 05-08-1945. Artes plásticas na União Soviética. P. 10 e 11. RJ. Acervo BN.
256
Tribuna Popular, 26-09-1945. Ensino de artes e ofícios. P.4. RJ. Acervo BN.
257
Tribuna Popular, 11-11-1945. Exposições de arte na URSS. P.12. RJ. Acervo BN.
258
Tribuna Popular, 22-12-1945. Cartazes soviéticos serão expostos na União Eslava. P. 2. RJ. Acervo BN.
168
notas sobre a restauração do Museu de Arte Moderna na URSS 259. Há ainda o caso de uma
pequena nota na qual era reconhecida a memóia do artista Isaac Levitas, que o autor do texto
afirma que seria o maior interprete da paisagem russa 260.
Outra ocasião foi a da visita do embaixador da URSS que veio ao Brasil, e, entre
outros compromissos e encontros seus noticiados, estava uma matéria intitulada: “O
262
embaixador soviético visitou ontem a Escola de Belas Artes” . Esta matéria vem
acompanhada de uma foto do evento, e no texto é informado que o embaixador proferiu uma
palestra e contou com a presença de artistas como Quirino Campofiorito, já membro do PCB.
Assim, podemos destacar a visita do embaixador à Escola de Belas Artes como um ponto
interessante do seu roteiro, e esta notícia acompanha a importância que é dada também pelos
editores desse jornal a tal circunstância. As artes plásticas estavam definitivamente no roteiro
do Tribuna Popular e eram notícia relevante em suas edições.
Em outubro de 1945, pouco depois do fim da Segunda Grande Guerra, uma edição do
Tribuna Popular apresentava em sua capa uma notícia de uma exposição promovida por
poloneses sobre as prisões e trazia o título: “Recordando as torturas do Cárcere”. Era ilustrada
por uma foto que estaria na mostra, e o texto se referia ao sofrimento pelo qual passaram os
poloneses e que seria exposto em fotografias. Além de noticiar uma exposição esse era um
espaço para denunciar e divulgar os crimes que foram cometidos263.
Outra oportunidade para enfatizar a imagem negativa dos nazistas se deu quando
foram encontradas obras de arte que teriam sido roubadas pelos alemães durante a guerra.
259
Tribuna Popular, 04-10-1946. União Soviética. P.8. RJ. Acervo BN.
260
Tribuna Popular, 30-01-1946. Em memória do maior interprete da paisagem russa- Isaac Levitas. P. 4. RJ.
Acervo BN.
261
Tribuna Popular. 30-09-1945. Depoimento do embaixador do Uruguai em Moscou sobre a vida cultural e
artística na URSS. P.9. RJ. Acervo BN.
262
Tribuna Popular, 16-05-1946. O embaixador soviético visitou ontem a escola de Belas Artes. p.8. RJ. Acervo
BN.
263
Tribuna Popular, 11-10-1945. Recordando as torturas do Cárcere. Capa. RJ. Acervo BN.
169
Seriam obras de Van Dick, Donatello, etc, que acentuavam as acusações aos alemães, por
serem, de acordo com o texto, de grande importância para o mundo 264.
No que diz respeito às artes produzidas no Brasil também era destacada a atenção.
Exposições de membros do PCB eram anunciadas, como ocorria com José Pancetti (1902-
1958) e com Candido Portinari. Uma exposição de Pancetti em Copacabana foi divulgada
pelo jornal com uma fotografia de uma obra e a indicação de que seriam 30 quadros
apresentados na Galeria Montparnasse.
O breve texto ressaltava que Pancetti já havia exposto em vários países, o que era
indício de sua qualidade e reconhecimento internacional 265. No dia seguinte foi publicada uma
matéria grande com mais detalhes sobre ele e a exposição, esta trazia uma foto do artista 266.
Em julho deste ano saiu uma matéria numa edição de domingo que explicitava o prestígio que
teria alcançado no mundo e o compara a Rousseau e a Matisse. Junto ao texto podemos ver a
obra “Maré Vasante” feita no ano anterior por Pancetti267.
Candido Portinari teve também suas exposições largamente divulgadas pelo jornal
Tribuna Popular, como foi o caso da exposição que realizou em São Paulo e de outra sua em
Paris, como pode ser visto a seguir (Fig.101, Fig.102, Fig.103):
Em dezembro foi anunciado na capa do jornal que a exposição havia sido impedida
pelo prefeito da cidade 269(Fig.101), o que gerou a manifestação de outros artistas em apoio a
Portinari270. Na referida página (Fig.102), é possível ver fotografia do artista com um
264
Tribuna Popular, 19-08-1945. Retornam as obras de arte. P.12. Ano I. RJ. Acervo BN.
265
Tribuna Popular, 28-05-1946. Exposição de Pancetti na Galeria Montparnasse em Copacabana. P.3. RJ.
Acervo BN.
266
Tribuna Popular, 29-05-1946. A exposição de Pancetti em Copacabana. P.2. RJ. Acervo BN.
267
Tribuna Popular, 28-07-1946. Pancetti, o genial pintor brasileiro, cuja obra é hoje mundialmente conhecida.
P.3. RJ. Acervo BN.
268
Tribuna Popular, 16-11-1945. Exposição em São Paulo. Capa e p.2. RJ. Acervo BN.
269
Tribuna Popular, 05-12-1945. Impedida pelo prefeito paulista a exposição de Portinari. Capa e p.2. RJ.
Acervo BN.
270
Tribuna Popular, 13-12-1945. Protestam os pintores mexicanos contra uma atitude antidemocrática do
prefeito paulista. Capa e p.2. RJ. Acervo BN.
170
jornalista do jornal e com uma das obras que exporia. A matéria mostrava a indignação com
essa proibição.
Fig.101- Tribuna Popular, 13-12-1945. Capa. RJ. Fig.102- Tribuna Popular, 13-12-1945.
Acervo BN. Capa (detalhe). RJ. Acervo BN.
No início de 1946 já era anunciada uma nova exposição de Portinari, mas em Paris.
Desta vez, era destacado o prestígio que o artista tinha fora do Brasil. Tal acontecimento foi
exaltado com uma matéria que ocupou toda a última página da edição de 24 de março deste
mesmo ano e era assinada por Aydano do Couto Ferraz e Rui Santos (Fig.103).
271
Tribuna Popular, 24-03-1946. Candido Portinari vai expor em Paris, por Aydano do Couto Ferraz e Rui
Santos. P.8. RJ. Acervo BN.
171
sua obra reflete o que ele é. Um artista que põe a nu em seus quadros as injustiças sociais.
Não é de hoje que a obra de Portinari, ao lado de seu elevado valor artístico, tem um profundo
conteúdo social272.
272
Tribuna Popular, 24-03-1946. Candido Portinari vai expor em Paris, por Aydano do Couto Ferraz e Rui
Santos. P.8. RJ. Acervo BN.
172
Por fim, observa-se que o texto procurava ressaltar o volume e importância das obras
de Portinari, e de seu reconhecimento na França, justificando a exposição de 150 obras do
artista em Paris. Assim, defendia-se que suas obras deveriam ser mais conhecidas no Brasil,
pelo “povo”, como afirma o próprio Portinari na matéria.
Os artigos traduzidos para o Tribuna Popular exaltavam um artista que pintava com
preocupação política e social, e seu engajamento o tornaria uma voz do povo brasileiro. Esse
273
Tribuna Popular. 28-09-1946. Portinari expõe em Paris- na galeria Charpentier. . Capa. RJ. Acervo BN.
274
Tribuna Popular. 08-10-1946. A exposição de Portinari. Capa. RJ. Acervo BN.
275
Tribuna Popular. 8-10-1946. Um pintor, um homem: Portinari, por Anatole Jakovsky. P.3. RJ. Acervo BN.
276
Tribuna Popular, 13-10-1946. Portinari, pintor do povo brasileiro, por Léopold Duvand. P.3. RJ. Acervo
BN.
277
Tribuna Popular, 07-11-1946. Portinari e a verdadeira arte: na sua exposição não há quadros ornamentais,
por Sally Swing. Capa e P.2. RJ. Acervo BN.
278
Tribuna Popular, 10-09-1946. Portinari, um Amigo da França e da Humanidade, por J.B. P.3. RJ. Acervo
BN.
279
Tribuna Popular, 23-10-1946. Prefácio ao catálogo da Exposição Portinari, por Jean Cassou. P.3. RJ.
Acervo BN.
173
3.3 – A exposição: “Os artistas plásticos ao PCB” em 1945 através do Tribuna Popular
gravadores – para fazerem entrega de seus trabalhos até o dia 18 próximo” 280. Esta exposição
se configuraria em um acontecimento de grande importância para o Partido, visto sua larga
divulgação no jornal.
No dia 16 de outubro de 1945, cinco dias após a nota citada, foi veiculada na capa uma
matéria intitulada “Grande exposição de artistas plásticos em benefício do Partido Comunista”
(Fig.105) que era ilustrada por uma fotografia do encontro de Portinari com o pintor
colombiano Jaramillo e um redator do jornal (Fig.106). O resumo divulgava a participação de
artistas de renome na exposição, e ainda que o texto traria as “palavras cheias de entusiasmo
de Candido Portinari”. 281
Na matéria, não assinada, o jornalista procurava mostrar o prestígio que o PCB tinha
entre intelectuais, artistas, comerciários além do proletariado urbano ou rural. E a exposição
dos “artistas plásticos do PCB” seria uma prova disto, principalmente por ser a reunião de
artistas de tendências variadas em prol de uma ideia em comum promovida pelo Partido
280
Tribuna Popular, 11-10-1945. RJ. Acervo BN.
281
Tribuna Popular. 16-10-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
175
Jornalistas do Tribuna Popular foram até a residência do pintor Candido Portinari para
entrevistá-lo a respeito da exposição, foram tecidos elogios a sua obra e a sua receptividade e
entusiasmo com a realização do evento artístico. O artista destacou a importância da iniciativa
de reunir os artistas plásticos do Partido enquanto a oposição reacionária estaria desesperada
e com sua fúria voltada para o PCB e Prestes. Portinari diria que:
Sei de artistas que nunca participam de exposições coletivas e que desta vez vão figurar com
diversos trabalhos na ‘Artistas Plásticos do PCB’. Estou certo de que este vai ser um grande
acontecimento no mundo artístico, e, como apresentação, será a melhor que já se fez no Brasil,
pois está a cargo de um time de gente de primeira ordem, onde figuram valores como Oscar
Niemeyer, o nosso grande arquiteto.(...) Está claro que eu não poderia deixar de contribuir
com trabalhos meus para uma exposição em benefício do Partido Comunista. Eis ali o que eu
282
vou mandar .
Neste instante, o artista teria apontado para uma obra sua descrita pelo jornalista
como: “um belíssimo quadro em que foi fixada uma ‘roda’ infantil, as crianças brincando de
mãos enlaçadas”. Em seguida o autor diz ter buscado ouvir a Comissão Organizadora que
finalizava os preparativos para o evento na sede nacional do PCB no centro do Rio de Janeiro,
onde já estariam diversos quadros de artistas de vários Estados brasileiros. Um dos
organizadores, o arquiteto Oscar Niemeyer declarou que:
A Exposição será inaugurada no próximo dia 20, na Casa do Estudante do Brasil, e é grande o
entusiasmo que reina em torno da mesma. O êxito está garantido pelo número de figuras da
maior projeção em nosso mundo artístico se se vem interessando e que, além de contribuírem
com vários trabalhos, têm estimulado e auxiliado a organização desta iniciativa em benefício
283
do Partido .
282
Tribuna Popular. 16-10-1945. RJ. Acervo BN.
283
Tribuna Popular. 16-10-1945. RJ. Acervo BN.
176
Esta é a primeira vez em que os artistas vão se reunir numa exposição coletiva, sem brigas e
sem discórdias, pois não haverá divisão entre modernos e clássicos, todos com o mesmo
objetivo e um ideal comum, que é o de contribuir para o Partido Comunista do Brasil, servindo
artisticamente ao povo. Todos têm aderido e dados trabalhos com toda boa vontade. Aí estão
Guttmann Bicho, Francisco Mamma, Quirino Campofiorito, Gilda Gelmini, E. P. Sigaud e
muitos mais. 284
Desta forma, a exposição seria a união de artistas modernos e artistas mais ligados às
concepções artísticas acadêmicas em prol de um mesmo objetivo de contribuir para o PCB,
“servindo artisticamente ao povo”, como disse Devezza. A partir do depoimento do escultor
Honório Peçanha, que também era membro da organização da Exposição, o jornalista
procurou demonstrar que assim como a união dos artistas foi possível, a União Nacional,
também poderia ser. Isto, pois, de acordo com Peçanha:
Nela estão representados os artistas acadêmicos das mais variadas nuances, juntamente com os
representantes das diversas tendências modernas, e se tal é possível no campo específico da
arte, com mais razão o será no terreno político, onde estão em jogo os sagrados interesses
fundamentais do povo. 285
O autor conclui a matéria reafirmando que esta Exposição era um esforço de todos em
benefício das finanças do PCB, mas que também era uma manifestação cultural de interesse
de todo o Brasil, pois a quantidade e a qualidade das obras determinavam o sucesso desta
iniciativa.
No dia 26 de outubro do corrente ano, seis dias após a inauguração da Exposição foi
divulgada uma matéria que ocupava com destaque a parte de baixo da capa da edição
(Fig.107). Com o título “Uma exposição sem exemplo na história artística do país” 286. Com
três fotografias do evento, a matéria iniciava-se na primeira página e continuava na segunda
página do jornal.
Na imagem (Fig.107) pode-se notar que o destaque é dado ao título “Uma exposição
sem exemplo na história do país”, ao subtítulo “Uma contribuição dos artistas plásticos ao
Partido Comunista do Brasil – Luiz Carlos Prestes compareceu ontem à solenidade da
284
Tribuna Popular. 16-10-1945. RJ. Acervo BN.
285
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286
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inauguração, na Casa do Estudante” e às fotografias que mostravam, como diz a legenda: “Da
esquerda para a direita a Comissão Organizadora da Exposição; Luiz Carlos Prestes,
momentos depois da inauguração, palestrando com pessoas presentes no ato; finalmente
Prestes, ao lado de um grupo de artistas, contemplando um dos quadros expostos” 287.
287
Tribuna Popular. 26-10-1945. RJ. Acervo BN.
178
De acordo com o autor a Comissão Organizadora do evento era formada por artistas
ligados ao PCB: Oscar Niemeyer, Sampaio Lacerda, Raul Devezza, Rocha Miranda, Paulo
Werneck, João de Oliveira, Honório Peçanha, José Morais, Salomão Scliar e Euzman
Cavalcanti. Estes membros da comissão teriam acompanhado Prestes no exame de cada
trabalho exposto, o que procura mostrar que o líder do PCB prestigiou a iniciativa do evento e
também cada obra ali exposta.
O texto segue procurando definir a importância desta exposição para as artes plásticas
no Brasil, pois contam com a participação de grandes artistas que se coadunam com a ideia de
que a arte não deve se restringir a poucos observadores. Diz ainda que estes artistas buscam
na vida inspiração para sua arte, e, sendo a vida sinônimo de trabalho, os artistas sentem a
necessidade de transformá-lo em arte, mesmo que não seja “belo”. Fazem isto, segundo o
autor, porque seriam sinceros e artistas, o que seria demonstrado pelos temas escolhidos.
Este fato singularíssimo na história das artes plásticas brasileiras vem demonstrar que os
nossos melhores artistas compreendem, já, perfeitamente, que a arte não pode ficar confinada
entre os estreitos limites de uma Torre de Marfim. Seu talento criador sente necessidade de
‘algo nuevo’. E saem então pela vida afora em busca desse alimento para seu espírito. E
constatam, enfim, que a vida é o trabalho e o trabalho, nas condições em que o encontram,
nada tem de ‘belo’, mas sentem a necessidade imperiosa de transformá-lo em arte. E assim o
fazem porque são sinceros e porque são, na verdade, artistas290.
este o jornalista daria outros exemplos da variedade de obras, como a contribuição do escultor
288
Tribuna Popular. 26-10-1945. RJ. Acervo BN.
289
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290
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Lélio Landucci com a obra de uma cabeça em granito reconstituído, e com suas
considerações sobre o evento dizendo que “apesar de sua heterogeneidade, o nosso ‘salão’
chega a ser harmonioso, em virtude do sentimento comum de todos os artistas que o
compõem.”
Notam-se alí, trabalhos de Pancetti, Burle Marx, Quirino Campofiorito, Bonadei, Durval
Serra, Manuel Serra, Iberê Camargo, Honório Peçanha, Landa, da Bessarábia, autor de ‘Mãe’,
da série ‘Refugiados’; Scliar, Inima; F. Blanco, italiano; Alípio Jaramillo, colombiano, autor
de ‘Alfarera’; Rubem Cassa; Worms; Santa Rosa; José Guimarães; Bruno Giorgi. Este artista,
brasileiro, esteve preso durante quatro anos na Itália fascista; Ceschintti, com um bronze
intitulado ‘Expulsão do Paraíso’; Pedrosa, com o seu ‘Atleta’, em bronze; Joaquim Tenzeiro,
português; Iberê Camargo, Poty, Haroldo Barros, Raul Devezza, Augusto Rodrigues, Silvia
Chairco e tantos e tantos outros. 291
Por fim, relata a palestra de Prestes, que falou sobre assuntos artísticos e políticos,
com destaque a questões da atualidade e com a apreciação dos presentes que, segundo o autor
do texto, o cercaram para ouvir. A importância dada à presença e ao prestígio de Luiz Carlos
Prestes é reiterada com a informação de que os pintores Quirino Campofiorito e Haroldo
Barros apresentaram retratos de Prestes, assim como o fotógrafo e cineasta Rui Santos
contribuiu com uma fotografia deste líder do PCB, obra esta descrita como expressiva e que
teria dominado o salão da exposição.
291
Tribuna Popular. 26-10-1945. RJ. Acervo BN.
180
No dia 11 de novembro de 1945, o jornal Tribuna Popular publicou mais uma matéria
sobre a Exposição intitulada “Artistas plásticos de todas as correntes homenageiam o Partido
Comunista” (Fig.108, Fig.109). O subtítulo dizia: “Uma grande exposição no Salão da Casa
do Estudante do Brasil – Trabalhos de mais de uma centena de expositores – Completo êxito
da inédita e proveitosa iniciativa”Abaixo, há uma fotografia com a legenda “Flagrante da
visita de Prestes a exposição da Casa do Estudante do Brasil”, e na imagem, está Prestes e
outros três homens.
Em seguida, foram listados os nomes dos artistas que apresentaram trabalhos, mas são
acrescentados muitos nomes em relação a listagem da matéria de 26 de outubro, parecendo ser
181
a composição completa dos participantes da exposição. Eram quase noventa nomes em ordem
alfabética e sem a especificação da obra, mas que mostravam a grandiosidade do evento.
Aldary Toledo, Alcides da Rocha Miranda, Alfredo Ceschiatti, Aldo Bonadei, A. R. Risotti,
Aldemar Martins, Alípio Jaramillo, Antônio Augusto Gonçalves, Antônio Bandeira, Athos
Guicão, Augusto Rodrigues, Berco Udler, Bruno Giorgi, Bustamante Sá, Carlos Scliar,
Candido Portinari, Casimiro Ramos, Chiau Deveza, Clóvis Graciano, Darwin, Durval Serra, E.
P. Sigaud, Erico Blanco, Eduardo Canabarro Barreiros, Gilda Gelmin, G. Landa, Guttman
Richo, Hilda E. Campofiorito, Iberê Camargo, Inimá José de Paula, José Pancetti, José Alves
Pedrosa, Jorge de Lima, José Moraes, Jordão de Oliveira, Joaquim Tenreiro, J. Carvalho, José
Guimarães, José Menezes, Lélio Landucci, Lopes d’Azevedo, Maria de Lourdes, Mario
Zanini, Manoel Martins, Maria Leontina, Manoel Serra, M. Correa, Manoel Gaspar, Mario
Basbaum, Manoel Loureiro, Murilo de Souza, Oscar Meira, Osvaldo de Andrade Filho,
Otavio, Pedro Mandarino, Percy Deame, Poty, Quirino Campofiorito, Raul Devezza, Randolfo
Barbosa, R. M. Grimen, Roberto Burle Marx, Rubem Cassa, S. Pinto, Silvia Leon Chalreo,
Solano Trindade, Tomaz Santa Rosa, Théa, Ubi Bava, Virgínia Artigas, Wamberto Jacome,
Valdemar Aor, Zaque, Peçanha, Rui Santos, G. Vormis, Monoel Queiroz, Edíria, Heitor dos
Prazeres, F. Salgado, Haroldo Barros, Fernando B. , Luiz Jardim, Thiré e Paulo Werneck. 292
É a primeira vez – ressaltou Oscar Niemeyer – que vejo tão numeroso contingente de
artistas se reunir com tanta vontade e sem outros objetivos que o de mostrar sua solidariedade
ao povo por intermédio de seu legítimo representante que é o Partido Comunista. 293
É preciso não esquecer a contribuição da Casa do Estudante para o êxito desta exposição. Sua
cooperação foi decisiva. É uma organização que está sempre pronta para apoiar
empreendimentos de caráter democrático, como o que ora estamos realizando 294.
O jornalista ressalta um ponto que lhe parece importante, que seria a existência de
trabalhos confeccionados por operários, dentre os quais destacaria: “entre outros os nomes de
Randolfo Barbosa, Heitor dos Prazeres e José Pancetti, os dois últimos figuras de grande
292
Tribuna Popular. 11-11-1945. RJ. Acervo BN.
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projeção em nosso meio de arte.” Contudo, mesmo sendo artistas de “grande projeção” 295, a
característica que sobressaía era a origem operária destas figuras.
Afirmava-se ainda o sucesso do evento ao dizer que a aquisição das obras estaria em
um ritmo acima do comum, o que reforçava a ideia de que esta exposição se destacou no meio
artístico brasileiro. Por fim, o texto é encerrado com o que seria a explicação do “sentido real
da exposição”, que estaria escrito no dístico na parede acima da mesa de assinaturas dos
visitantes:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
184
CONSIDERAÇÕES FINAIS
era o suporte de ilustrações que seriam analisadas mais adiante. Para tanto, fez-se necessária a
compreensão de sua estrutura, configuração e importância da publicação para o PCB. Desta
forma, foi feita uma apresentação da formação do jornal e de sua proposta através,
principalmente, do discurso de Luiz Carlos Prestes no primeiro número do Tribuna Popular.
De modo mais detido foi analisado um exemplar do Tribuna Popular com o intuito de
investigar os tipos de temáticas tratadas no jornal de um modo geral. A partir de então, pode-
se notar a recorrência de temas tanto ligados às alegrias quanto às dores e lutas dos
trabalhadores.
Por fim, foi tratada a repressão sofridas pelo PCB e o fim do jornal mostrando como
isso ocorreu, as invasões da polícia política na redação e os empastelamentos que sofreu. Foi
analisada ainda as razões para a volta do Partido à ilegalidade relacionando este processo ao
fim do jornal.
Através desta pesquisa pode-se perceber que no contexto artístico soviético o realismo
socialista serviu como arte oficial que mostrava o êxito da revolução, sem evidenciar as
contradições sociais, onde o trabalhador não era explorado por outra classe, a burguêsa. Esta
visão de mundo que procurava-se transmitir pautava-se no maniqueismo entre o proletariado e
a burguesia, idealizando os proletários como de boa moral, dignos e corretos, enquanto os
burgueses eram caracterizados como o extremo oposto, produzindo estereótipos.
A análise das ilustrações do Tribuna Popular permitiu mostrar que são exemplos da
adaptação do realismo socialista ao contexto brasileiro. Neste período de análise (1945-1947)
o PCB se reestruturava e se apresentava como opositor do governo vigente. O Brasil não vivia
sob o comunismo como a URSS, o PCB era um partido atuante e que mostrava sua
insatisfação com a política nacional e com as condições de trabalho, miséria, moradia,
transporte, educação e saúde da maioria da população rural e urbana. O papel político
desempenhado pelo Partido Comunista no Brasil era de denúncia dos problemas do
trabalhador.
Ainda neste Terceiro Capítulo foi tratada a relação do PCB com as artes e os artistas
plásticos através das páginas do Tribuna Popular . Obsrvando-se que a participação de
artistas no Partido eram valorizadas pelo jornal, assim como as exposições e declarações
sobre arte destes e outros artistas comunistas do mundo.
Por fim, foi analisada a exposição “Os artistas plásticos ao PCB” através do Tribuna
Popular. Este evento ocorreu em 1945 e sua análise foi importante para compreender como se
187
deu o envolvimento de artistas que organizaram e contribuíram com obras de arte, assim
como a forma que o jornal divulgou e apoiou a realização do evento, mostrando a sua
relevância para o PCB.
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