Você está na página 1de 196

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE HISTÓRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL

AS DORES E AS CORES DO POVO: O REALISMO SOCIALISTA NAS


ILUSTRAÇÕES DO TRIBUNA POPULAR (1945 A 1947)

KARINA PINHEIRO FERNANDES

Rio de Janeiro
2013
1

AS DORES E AS CORES DO POVO: O REALISMO SOCIALISTA NAS ILUSTRAÇÕES


DO TRIBUNA POPULAR (1945 A 1947)

KARINA PINHEIRO FERNANDES

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa


de Pós-graduação em História Social (PPGHIS) do
Instituto de História da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre História Social.

Orientadora: Prof. Dra. Andrea Casa Nova Maia

Rio de Janeiro
2013
2

AS DORES E AS CORES DO POVO: O REALISMO SOCIALISTA NAS


ILUSTRAÇÕES DO TRIBUNA POPULAR (1945 A 1947)

Karina Pinheiro Fernandes


Orientadora: Prof. Dra. Andrea Casa Nova Maia

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em História Social


(PPGHIS) do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em História Social.
Aprovada por:

_______________________________
Prof.ª Dra. Andrea Casa Nova Maia – Orientadora.

_______________________________
Prof. Dr. Paulo Knauss de Mendonça

_______________________________
Prof. Dr. Renato Luís do Couto Neto e Lemos

Rio de Janeiro
2013
3

Fernandes, Karina Pinheiro.


As dores e as cores do povo: o realismo socialista nas ilustrações do
Tribuna Popular (1945 a 1947) / Karina Pinheiro Fernandes. Rio de
Janeiro: UFRJ/IH – PPGHIS, 2013.
Orientadora: Prof. Dra. Andrea Casa Nova Maia
Dissertação (mestrado) – UFRJ/PPGHIS, Programa de Pós-Graduação em
História Social, 2013.
1. Partido Comunista do Brasil. 2. PCB 3.Realismo Socialista. 4. URSS
5.Artistas plásticos comunistas 6. Jornal Tribuna Popular.
4

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que contribuíram de alguma forma para a elaboração desta Dissertação de
Mestrado. Primeiramente à minha orientadora Prof. Dra. Andrea Casa Nova, que me acolheu
no PPGHIS, apoiou minha pesquisa, me proporcionando a possibilidade de autonomia e
incentivo constante para encontrar o meu caminho através de dicas preciosas.
Ao Programa de Pós-Graduação em História Social, seus professores e funcionárias, à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que financiou o
desenvolvimento da minha pesquisa por um ano com a concessão de bolsa. À Fundação
Biblioteca Nacional e ao Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, e suas equipes.
Ao professor Dr. Paulo Knauss, que sempre solícito contribuiu de forma essencial para a
realização deste trabalho. E ainda compôs a banca de qualificação com o Prof. Dr. Renato
Lemos, que juntos avaliaram e apresentaram apontamentos de grande pertinência.
À Gianne, Moema, Débora e Camilla que dialogaram comigo sobre o trabalho em vários
momentos. À Thaís Santos, Thaís Leal, Hérica, Ana Gabriela, Victor Sabino, Wagner e Bruno
pelo apoio e toda amizade. E especialmente a Maicon, pela contribuição intelectual e que
junto à Fernanda e minha mãe, foi ouvidos, amor e carinho sempre. Por fim, e mais
importante, a meu pai, por tudo e a quem dedico a realização desta Dissertação de Mestrado.
5

RESUMO

AS DORES E AS CORES DO POVO: O REALISMO SOCIALISTA NAS


ILUSTRAÇÕES DO TRIBUNA POPULAR (1945 A 1947)

Esta dissertação estuda a relação entre as ilustrações apresentadas no jornal Tribuna Popular,
vinculado ao Partido Comunista do Brasil (PCB), e o conceito do realismo socialista soviético
- única forma artística permitida na URSS entre 1934 e 1953. O Tribuna Popular circulou
diariamente no Rio de Janeiro no período em que o Partido se encontrou na legalidade (1945-
1947) . Também é analisada a relação do PCB com os artistas plásticos a ele ligados. Para
estabelecer as relações propostas, discute-se a definição de realismo socialista, como esta
ideia chegou e se desenvolveu no Brasil, configurando, naquela época, um novo espaço
gráfico e conceitual na imagem do jornal. Evidencia-se nesta dissertação, portanto, a força da
expressão que as artes visuais encontram nessa mídia. Na análise histórica, os significados
não são aceitos como dados, mas como construção social em que a experiência artística dos
desenhos deste jornal brasileiro em questão pode ser relacionada aos cartazes do realismo
socialista soviético. Assim, busca-se compreender essas interfaces, analisando e
contextualizando as práticas de fruição que estruturam a interpretação histórica do jornal
Tribuna Popular do PCB no período estudado.

Palavras-Chave: Partido Comunista do Brasil; PCB; realismo socialista; URSS; artistas


plásticos comunistas; Tribuna Popular.
6

ABSTRACT

AS DORES E AS CORES DO POVO: O REALISMO SOCIALISTA NAS


ILUSTRAÇÕES DO TRIBUNA POPULAR (1945 A 1947)

This dissertation studies the relation between the illustrations presented on the Tribuna Popular
newspaper, which is linked to Communist Party of Brazil PCB), and the concept of soviet
socialist realism that was the only artistic expression permitted in Union of Soviet Socialist
Republics between 1934 and 1953. The Tribuna Popular was distributed daily in Rio de Janeiro
during the period that the Communist Party of Brazil was considered legal (1945 - 1947). Also, it
is studied the relation between PCB and the artists who were acquainted with it. In order to
establish the relations proposed, the socialist realism definition is discussed, how this idea arrived
and developed in Brazil, modifying, therefore, the newspaper graphical and conceptual space.
This dissertation evinces the power of expression that these visual arts find in this type of media.
In the historical analysis the meanings are not accepted as data, but as a social construction in
which the artistic experience of the Brazilian newspaper illustrations studied can be linked to the
posters of soviet socialist realism. Thus, this dissertation seeks to comprehend these interfaces
through an analysis and a contextualization of the practices fruition that organizes the historical
interpretation of Tribuna Popular newspaper which is related to PCB in the period studied.

Key-Words: Communist Party of Brazil; PCB; socialist realism; URSS; communists visual
artists; Tribuna Popular.
7

LISTA DE IMAGENS

Figura 1........................................................................................................................32
Figura 2........................................................................................................................32
Figura 3........................................................................................................................32
Figura 4........................................................................................................................63
Figura 5........................................................................................................................64
Figura 6........................................................................................................................70
Figura 7........................................................................................................................74
Figura 8........................................................................................................................75
Figura 9........................................................................................................................76
Figura 10......................................................................................................................76
Figura 11......................................................................................................................76
Figura 12......................................................................................................................76
Figura 13......................................................................................................................76
Figura 14......................................................................................................................77
Figura 15......................................................................................................................77
Figura 16......................................................................................................................77
Figura 17......................................................................................................................77
Figura 18......................................................................................................................77
Figura 19......................................................................................................................78
Figura 20......................................................................................................................78
Figura 21......................................................................................................................79
Figura 22......................................................................................................................79
Figura 23......................................................................................................................79
Figura 24......................................................................................................................80
Figura 25......................................................................................................................80
Figura 26......................................................................................................................81
Figura 27......................................................................................................................81
Figura 28......................................................................................................................82
Figura 29......................................................................................................................82
Figura 30......................................................................................................................82
Figura 31......................................................................................................................82
Figura 32......................................................................................................................83
Figura 33......................................................................................................................83
Figura 34......................................................................................................................83
Figura 35......................................................................................................................84
Figura 36......................................................................................................................84
Figura 37......................................................................................................................84
Figura 38......................................................................................................................84
Figura 39......................................................................................................................85
Figura 40......................................................................................................................85
Figura 41......................................................................................................................85
Figura 42......................................................................................................................85
Figura 43......................................................................................................................87
Figura 44......................................................................................................................90
Figura 45......................................................................................................................92
Figura 46......................................................................................................................94
Figura 47......................................................................................................................96
Figura 48......................................................................................................................98
8

Figura 49......................................................................................................................99
Figura 50....................................................................................................................101
Figura 51....................................................................................................................103
Figura 52....................................................................................................................105
Figura 53....................................................................................................................115
Figura 54....................................................................................................................124
Figura 55....................................................................................................................124
Figura 56....................................................................................................................126
Figura 57....................................................................................................................128
Figura 58....................................................................................................................128
Figura 59....................................................................................................................129
Figura 60....................................................................................................................129
Figura 61....................................................................................................................130
Figura 62....................................................................................................................130
Figura 63....................................................................................................................132
Figura 64....................................................................................................................132
Figura 65....................................................................................................................133
Figura 66....................................................................................................................133
Figura 67....................................................................................................................134
Figura 68....................................................................................................................134
Figura 69....................................................................................................................135
Figura 70....................................................................................................................138
Figura 71....................................................................................................................139
Figura 72....................................................................................................................142
Figura 73....................................................................................................................144
Figura 74....................................................................................................................144
Figura 75....................................................................................................................145
Figura 76....................................................................................................................145
Figura 77....................................................................................................................146
Figura 78....................................................................................................................147
Figura 79....................................................................................................................148
Figura 80....................................................................................................................148
Figura 81....................................................................................................................149
Figura 82....................................................................................................................150
Figura 83....................................................................................................................150
Figura 84....................................................................................................................150
Figura 85....................................................................................................................150
Figura 86....................................................................................................................152
Figura 87...................................................................................................................152
Figura 88...................................................................................................................154
Figura 89...................................................................................................................155
Figura 90...................................................................................................................155
Figura 91...................................................................................................................157
Figura 92...................................................................................................................157
Figura 93...................................................................................................................158
Figura 94...................................................................................................................158
Figura 95...................................................................................................................160
Figura 96...................................................................................................................160
Figura 97...................................................................................................................161
Figura 98...................................................................................................................163
9

Figura 99...................................................................................................................165
Figura 100.................................................................................................................165
Figura 101.................................................................................................................170
Figura 102.................................................................................................................170
Figura 103.................................................................................................................171
Figura 104.................................................................................................................173
Figura 105.................................................................................................................174
Figura 106.................................................................................................................174
Figura 107.................................................................................................................177
Figura 108.................................................................................................................180
Figura 109.................................................................................................................180
10

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...............................................................................................................11
1- PRIMEIRO CAPÍTULO- E O VERMELHO SE EXPANDE... ................................21
1.1 – União Soviética com Stálin: política cultural e realismo socialista........................22
1.2 – PCB, cultura e artes: uma versão do realismo socialista soviético no Brasil?.......33
1.3 – Três longos anos para o PCB: a legalidade de 1945 a 1947 ..................................44
1.4 – Imprensa Popular: editoras e a rede de jornais e revistas comunistas ...................54
1.4.1 – Os periódicos diários do PCB em dez capitais brasileiras ..................................59
2- SEGUNDO CAPÍTULO: O TRIBUNA POPULAR, AS DORES DO POVO E OS
COMUNISTAS PRESOS DE NOVO.............................................................................62
2.1- Um jornal para o “povo”..........................................................................................63
2.2- Construção do Tribuna Popular ...............................................................................65
2.2.1 - Anunciantes do Tribuna Popular .........................................................................74
2.3 - A estrutura e as sessões do jornal............................................................................88
2.4 - As alegrias, as dores e as lutas do “povo”: os temas tratados no jornal................104
2.5 - A repressão e o fim do jornal: observação, interesse e análise pela polícia
política...........................................................................................................................114
2.5.1- A volta do PCB a ilegalidade: razões, suspensões e empastelamento do
jornal..............................................................................................................................119
3- TERCEIRO CAPÍTULO – AS CORES DO POVO: ARTE E POLÍTICA PARA O POVO
EM BRANCO E PRETO ..................................................................................122
3.1- Os desenhos no Tribuna Popular e as ressonâncias do realismo socialista
soviético.........................................................................................................................123
3.1.1- Os líderes Prestes e Stalin ..................................................................................126
3.1.2- Trabalhadores Rurais ..........................................................................................130
3.1.3- Trabalhadores Urbanos ......................................................................................138
3.1.4- Proletariado, uni-vos em luta!.............................................................................147
3.2 -É noticia! Artes e artistas plásticos são temas no jornal Tribuna Popular ............153
3.3- A exposição: “Os artistas plásticos ao PCB” em 1945 através do Tribuna
Popular..........................................................................................................................173
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................183
REFERÊNCIAS............................................................................................................188
11

INTRODUÇÃO
12

INTRODUÇÃO

A proposta do realismo socialista1me provocou curiosidade desde as primeiras vezes


que vi menções sobre esta concepção comunista de arte. Ao buscar trabalhos que suprissem
esta demanda pessoal encontrei uma lacuna na historiografia brasileira, especialmente no que
concerne às artes visuais. Os poucos trabalhos sistemáticos sobre o realismo socialista tratam
de sua origem na URSS e mostram a dificuldade de defini-lo em sua complexidade. No que
diz respeito às suas ressonâncias no Brasil têm aparecido estudos específicos relativos à
literatura e música, o que me estimulou ainda mais a conhecer e pesquisar esta temática.

O desenvolvimento desta pesquisa percorreu diferentes estágios desde a sua concepção


até sua materialização escrita. A partir da elaboração do projeto pretendi compreender como
se estruturava o realismo socialista e a relação entre seu desenvolvimento na URSS e nas
ilustrações do jornal Tribuna Popular (1945-1947), vinculado ao PCB. No entanto, no
decorrer das pesquisas pude descobrir diferentes possibilidades que poderiam ser exploradas,
principalmente em relação ao jornal Tribuna Popular. Sua estrutura e seu conteúdo se
mostraram muito ricos assim como seus textos e imagens, o que mereceu atenção especial.

Em busca de documentos relativos à organização partidária do PCB e deste jornal, tive


contato com o vasto acervo das polícias políticas do Rio de Janeiro pertencentes ao APERJ.
Este material mostrou-se também muito variado e acabou contribuindo para além do que se
buscava. Portanto, a pesquisa possibilitou um trabalho que superou o projeto inicial,
agregando elementos, questões e fontes que acrescentaram a esta pesquisa, mas também
abriram espaço para pesquisas futuras.

Esta pesquisa tem por objetivo, portanto, estabelecer aproximações entre as ilustrações
do jornal Tribuna Popular e as imagens do realismo socialista soviético propagadas entre

1
O realismo socialista foi cunhado na URSS na década de 1930 como será visto no Primeiro Capítulo. No
entanto, o Realismo se desenvolveu nas artes plásticas com esta denominação no século XIX, principalmente na
França com artistas como Édouard Manet, Gustave Courbet e Honoré Daumier. O Realismo buscava se
contrapor à idealização estética do belo apresentando uma arte objetiva que procurava obter uma aparência
“realista”, no sentido de uma produção figurativa crível de pessoas e objetos. Mas é importante destacar que
“Hoje em dia sabemos que os críticos da época usavam o termo “realismo” em um sentido mais conceitual do
que formal, para adjetivar as representações com mensagem social nas quais se exaltava, sem idealização, a
miséria de certos grupos humanos, e não particularmente para referir-se à fidelidade plástica com o modelo”.
HERNÁNDEZ, Mariela Brazón. Sobre a historiografia da arte oitocentista e as revisões efetuadas durante as
últimas décadas do século XX. 19&20, Rio de Janeiro, v. V, n. 1, jan. 2010. Disponível em:
<http://www.dezenovevinte.net/ha/brazon.htm>. No século XX houve algumas manifestações de “realismos”,
com variações norte-americanas, brasileiras e europeias e dentre elas o realismo socialista. Cf. HARRISON,
Charles et.al .Arte Moderna Práticas e Debates. Vols. I e III. Cosac e Naify, 1998.
13

1934 e 1953 procurando semelhanças e diferenças nas representações, utilizando para tanto,
sobretudo, os cartazes produzidos neste período. O Tribuna Popular era vinculado ao Partido
Comunista do Brasil2 (PCB) e circulou diariamente (exceto às segundas-feiras) no Rio de
Janeiro entre maio de 1945 e dezembro de 1947. Ao longo destes três anos, o periódico
apresentou cerca de sessenta ilustrações. Eram desenhos que procuravam seguir, como o
conteúdo do jornal, as diretrizes do PCB.

No período de circulação do jornal, o Partido Comunista do Brasil esteve na


legalidade3 e procurava seguir as diretrizes da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS), inclusive em relação às artes. Na URSS o realismo socialista era a arte oficial desde
1934, o que permaneceu até 1956 quando das denúncias dos crimes do governo de Stalin
(1925-1953). Desta forma, o período em que o jornal Tribuna Popular circulou coincide com
a vigência do realismo socialista soviético e com a proximidade entre o PCB e a URSS,
sustentando o objetivo central desta pesquisa.

O estudo deste periódico do PCB é importante visto a falta de um trabalho


aprofundado sobre sua configuração, estrutura e conteúdo. Esta pesquisa pretende, ainda,
contemplar este jornal que se destacou no Partido4 e que é mencionado em diversos estudos
sobre o Partido Comunista do Brasil e sua imprensa. Já a comparação entre as ilustrações do
jornal Tribuna Popular e os cartazes soviéticos no que concerne às artes visuais é relevante
ainda devido à lacuna na historiografia de um trabalho sistemático acerca das ressonâncias do
realismo socialista soviético nas artes visuais brasileiras.

2
É importante explicitar que o PCB era no período de 1945 a 1947, anos aos quais esta pesquisa é
especificamente dedicada, chamado Partido Comunista do Brasil. Esta denominação é original de sua fundação
em 1922, e mostra seu alinhamento com a União Soviética, uma prática comum entre os partidos comunistas do
mundo (PCA – Partido Comunista da Argentina; PCE – Partido Comunista da Espanha; etc.), no entanto, com
as denúncias dos crimes de Stalin(1956) essa vinculação tornou-se problemática. Em 1961 o PCB modificou
suas diretrizes e procurou mostrar seu distanciamento das crueldades praticadas por Stalin. Segundo Ângelo
Segrillo “O Comitê Central do partido procurou “suavizar” e adequar alguns itens de seu programa com vistas à
possível legalização da entidade, inclusive mudando o nome para Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 1962,
João Amazonas e Maurício Grabois liderariam uma dissidência que, discordando dos rumos tomados, sairia da
organização e fundaria (ou “refundaria”, segundo os autores) o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O PCdoB
defendia a herança de Stalin e se alinharia com a China, enquanto o PCB de Luís Carlos Prestes continuaria com
a União Soviética de Khrushchev. Após 1964, o PCB defenderia formas não violentas de resistência política à
ditadura militar, enquanto o PCdoB enveredaria pelo caminho da luta armada” Cf. SEGRILLO, Angelo. Rússia e
Brasil em transformação. Uma breve história dos partidos russos e brasileiros na democratização política. Rio
de Janeiro. 7letras, 2005. P.113 e 114.
3
Importante destacar que o PCB foi posto na ilegalidade em agosto de 1928 e em 1945 voltou à legalidade
permanecendo apenas até 1947.
4
Por uma questão textual foi feita a opção de referir-se ao PCB também como Partido, iniciado por letra
maiúscula, diferenciando a palavra e adotando um recurso usado por alguns historiadores da trajetória do PCB e
também pelos seus membros à época.
14

Os estudos sobre o realismo socialista soviético, suas origens e embasamentos


teóricos têm sido bastante desenvolvidos, principalmente, de uma forma anexa ao estudo das
políticas soviéticas e dos desdobramentos das ideias marxistas. O trabalho de Eric
Hobsbawm, 5 é uma referência substancial para estudos que envolvam esta temática com
debates atuais e bem aprofundados acerca da política cultural soviética no mundo e
especialmente na União Soviética, de onde se propagou o ideal de uma arte socialista que
retratasse a realidade dos proletários.

O crescimento da importância no cenário artístico do realismo socialista até se tornar


arte oficial soviética na década de 1930 é tratada por Vittorio Strada 6, desenvolvendo um
debate em relação à liberdade do artista e à sua função, de acordo com a idéia de partiinost
que remete ao espírito de partido ou partidarismo. Em outro artigo, Strada mostra o
desenvolvimento e enrijecimento do realismo socialista sustentando uma práxis do dever
histórico do Partido Comunista de dirigir toda a vida cultural do país 7.

Sobre o realismo socialista na literatura há os trabalhos de José Aricó8 e John Willet 9


se desenvolvem através do estudo da literatura. Aricó discorre a respeito do realismo
socialista fora da União Soviética como na América Latina, encontrando especificidades na
sua apresentação e contexto. O artigo de Willet retorna aos caminhos da ligação direta entre
vanguarda política e a vanguarda artística soviéticas considerando os teóricos da arte do
regime revolucionário e seus propósitos, quanto à funcionalidade da arte, fazendo ainda um
paralelo com a arte social desenvolvida na Europa e o caso da arte mural mexicana
representada principalmente pelos artistas José Orozco e Diego Rivera.

No entanto, a respeito do realismo socialista nas artes visuais há poucos trabalhos,


como o de Matthew Cullerne Bown intitulado Art Under Stalin10, um estudo sobre a arte
desenvolvida na União Soviética desde o período de governo de Vladimir Lênin (1917-1924)
até o que considera a apoteose do governo de Josef Stalin (1945-1956). Neste último ponto, o

5
HOBSBAWM, Eric. (org.) História do Marxismo. XII volumes. Paz e Terra, 1989.
6
STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. In: HOBSBAWN, Eric. (org.) História do
Marxismo. Editora Paz e Terra, 1989. Volume IX.
7
STRADA, Vittorio. Do “realismo socialista” ao zdhanovismo. In: HOBSBAWM, Eric. (org.) História do
Marxismo. Paz e Terra, 1989. Volume IX.
8
ARICÓ, José. O marxismo latino-americano nos anos da Terceira Internacional. In: HOBSBAWM, Eric. (org.)
História do Marxismo. Paz e Terra, 1989. Vol. VIII
9
WILLETT, John. Arte e revolução. In: HOBSBAWM, Eric. (org.) História do Marxismo. Paz e Terra, 1989.
Volume IX.
10
BOWN, Mathew Cullerne. Art Under Stalin. Holmes and Meier, Nova York, 1991.
15

autor destaca o culto à personalidade de Stalin e a produção artística vinculada a ele: a arte
oficial soviética pautada nas ideias do realismo socialista.

Bown destaca a arquitetura monumental feita neste período, esculturas, pinturas e as


temáticas desenvolvidas nas obras. O autor faz um importante trabalho que é permeado por
questionamentos em relação à perseguição aos artistas que não se subordinaram às diretrizes
impostas pelo governo de Stalin. Bown desenvolve um trabalho acerca das artes visuais e
contempla, inclusive, as artes gráficas, mostrando a abrangência de seu trabalho no tocante à
cultura visual sob o realismo socialista na União Soviética.

Os estudos específicos sobre o realismo socialista no Brasil são poucos ainda, mas
existem referências a este tema nos trabalhos desenvolvidos a respeito da trajetória do PCB e
suas políticas culturais. Ou seja, de forma geral, a compreensão destes objetos artísticos têm
se dado a partir da compreensão da conjuntura política do período, com atenção especial às
diretrizes políticas do PCB que abrangem o âmbito cultural. Podemos encontrar
representantes já clássicos desse tipo de abordagem na historiografia brasileira, como Edgar
Carone11 e José Segatto12, que desenvolveram trabalhos de referência sobre o Partido, mas
que apenas mencionam o realismo socialista. Leandro Konder fez, em 1963, um artigo
contundente sobre o realismo socialista com o título de Alguns problemas do realismo
socialista13, no qual se opunha aos fundamentos desta vertente artística e expunha os
pressupostos teóricos e políticos que a orientavam.

Outro estudo relevante é o feito por Dênis de Moraes14, que se destaca por ser um
trabalho dedicado ao realismo socialista com o foco no problema da liberdade de criação dos
artistas, analisando os conflitos gerados em torno da defesa ou do ataque a essa liberdade
criativa. O autor apresenta um panorama sobre a produção artística vinculada ao PCB
abrangendo diversos âmbitos: da música, do cinema, do teatro, da literatura e das artes
plásticas. Este livro traz uma análise da imprensa comunista, do panorama cultural que
envolvia o partido entre os anos de 1947 e 1953 e busca traçar a relação do PCB com o
realismo socialista soviético.

11
CARONE. O PCB- 1943 a 1964. Difel, 1982. Volume 2.
12
SEGATTO. Breve História do PCB. Livraria Ed. Ciências Humanas. SP, 1981.
13
KONDER, Leandro. Alguns problemas do realismo socialista. In: Estudos Sociais. Nº 17, jun-1963.
14
MORAES, Dênis de. O imaginário vigiado. A imprensa comunista e o realismo socialista no Brasil (1947-53).
Rio de Janeiro, José Olympio 1994.
16

Há ainda outros estudos que têm contribuído para uma renovação na historiografia
acerca desta temática. Um trabalho específico sobre o realismo socialista na literatura é a
Dissertação de Mestrado de Mônica da Silva Araujo 15 que se propõe a analisar as propostas
político-culturais do Partido Comunista do Brasil com um enfoque na difusão do realismo
socialista e na aplicação desta vertente artística. Para tanto, a autora recorta o período de 1945
a 1958, considerando as alterações de linha política pelas quais o Partido passou no período.
Seu estudo aborda de forma abrangente a vigência do realismo socialista no Brasil, traçando
um panorama das políticas culturais do PCB ao longo de sua trajetória e resgatando com um
debate mais teórico suas origens soviéticas e os embates com os trotskistas brasileiros que se
opunham ao realismo socialista. Araújo concentra-se especialmente no exame da literatura e
dos literatos que, como Jorge Amado (1912-2001), filiaram-se ao PCB e seguiram a política
cultural oficial do Partido, qual seja, o realismo socialista.

Também sobre a literatura são apresentados, dentre outros, dois artigos em Livros
Vermelhos: literatura, trabalhadores e militância no Brasil, organizado por Marcelo Badaró,
que tratam de obras e escritores específicos da literatura brasileira e a relação com o realismo
socialista16. Estes trabalhos, assim com o de Araújo, enriquecem o debate acerca do realismo
socialista.

No tocante à música, Luiz Antônio Afonso Giani desenvolve em sua Tese de


Doutorado17 importante pesquisa sobre os músicos brasileiros que aderiram e produziram
obras com base no realismo socialista. São tratados com destaque os casos de Francisco
Mignone (1897-1986), Cláudio Santoro (1919-1989), César Guerra Peixe (1914-1993), entre
outros18. Este trabalho se destaca por contemplar as trajetórias e depoimentos dos músicos
ligados ao PCB além de uma abordagem sobre suas produções e sobre o desenvolvimento da
música soviética sob o realismo socialista.

15
ARAUJO, Mônica da Silva. A arte do partido para o povo: o realismo socialista no Brasil e as relações entre
artistas e PCB (1945-1958). Dissertação de Mestrado. IFCS-PPGHIS/UFRJ. Rio de Janeiro, 2002.
16
Cf. MATTOS, Marcelo Badaró. Literatura militante entre o modernismo e o realismo socialista: o Parque
industrial de Patrícia Galvão; MELLO, Marisa Schincariol. Encarcerando ideias: Graciliano Ramos, Jorge
Amado e o realismo socialista (1945-1953). In: MATTOS, M.B. Livros Vermelhos: Literatura, trabalhadores e
militância no Brasil. Faperj/Bom Texto, 2010.
17
GIANI, Luiz Antônio Afonso. As trombetas anunciam o paraíso: recepção do realismo socialista na música
brasileira, 1945-1958 (da “Ode a Stalingrado” a “Rebelião em Vila Rica”). Tese de Doutorado. FCL-
PPGH/UNESP. Assis, 1999.
18
Esta relação de músicos brasileiros com o realismo socialista será tratada no Primeiro Capítulo.
17

De modo mais amplo, Aracy Amaral19 desenvolve um panorama da “preocupação


social” retratada nas artes plásticas brasileiras no período entre 1930 e 1970. E em meio a este
estudo procura mencionar a importância do realismo socialista localizando-o no cenário
artístico e nos debates recorrentes entre os artistas em torno de suas relações com a sociedade
e seu comprometimento político. Porém, a autora apenas tangencia o realismo socialista neste
campo artístico.

A historiografia não contempla o jornal Tribuna Popular com trabalhos específicos ou


detalhados sobre a publicação. No entanto, ele é usado como uma das principais referências
nos trabalhos de Alberto Gawrysewski20 e Valéria Lima Guimarães21. Em ambos são
utilizadas ainda outros periódicos do PCB, mas o Tribuna Popular se destaca, mostrando a
importância do jornal para o Partido e como fonte rica de possibilidades.

A temática do trabalho de Gawrysewski é a analise deste e outros periódicos


comunistas no intuito de analisar as artes visuais de um modo geral na imprensa comunista
das décadas de 1940 e 1950. O estudo de Guimarães procura tratar especificamente do samba
e como foi abordado neste jornal, mas também partir de outras fontes que a permitiram
compreender a relação do PCB com o “mundo do samba”, como a autora se refere.

Por outro lado, esta pesquisa pretende compreender o realismo socialista no Brasil
através do estudo das ilustrações do jornal Tribuna Popular. Procuro tratar o realismo
socialista do ponto de vista das artes visuais, e mais especificamente das artes gráficas
contidas neste jornal. Esta abordagem mostra a relevância desta pesquisa que procura
contribuir para o estudo ainda incipiente do realismo socialista no Brasil, assim como da
imprensa comunista e sua relação com as artes.

O desenvolvimento do presente trabalho faz necessária a compreensão da importância


do uso de imagens para a construção de um entendimento sobre o passado e como objetos de
investigação e intelecção. Há entre os historiadores, distintas formas de entendimento daquilo
que pode ser chamado de cultura visual segundo discussão apresentada por Paulo Knauss 22.
O debate historiográfico em torno desta categoria tende a levar a uma compreensão da

19
AMARAL, Aracy. Arte para que? A preocupação social na arte brasileira 1930-1970. Studio Nobel, 2003.
20
GAWRYSEWSKI, Alberto. Arte visual comunista: imprensa comunista brasileira, 1945-1958. (Coleção
História na Comunidade, v. 4) LEDI, Londrina, 2010.
21
GUIMARÃES, Valéria Lima. O PCB cai no samba: os comunistas e a cultura popular 1945-1950. Aperj. Rio
de Janeiro, 2009.
22
KNAUSS, Paulo. O desafio de fazer História com imagens: arte e cultura visual. In: ArtCultura, Uberlandia,
v. 8, n. 12, p. 97-115, Jan.-jun. 2006.
18

imagem a partir do entendimento do figurado. Dessa forma, as imagens surgem como objetos
repletos de significados históricos e culturais. Segundo Knauss, o estudo da construção social
do visual, por um lado, e o da construção visual de um entendimento do social, por outro, são
cada vez mais importantes para as ciências humanas.

A partir destas considerações é importante destacar que a utilização de imagens como


fonte historiográfica pode proporcionar uma larga gama de possibilidades, mas há de se
atentar para a problemática que envolve esta opção. Ao analisar imagens torna-se necessário
abranger o seu entorno: as circunstâncias sociais e artísticas. Desta forma, procura-se
compreender o que Michael Baxandall chama de olhar de época, que seria a forma de se
aproximar dos distintos ambientes de feitura de uma obra. Este autor observou que as
circunstâncias sociais têm efeito particular nas decisões sobre a composição visual das obras:
elas envolvem expectativas da crítica, a lógica particular do mercado da arte e o mosaico
sociocultural a partir do qual as obras de arte são dotadas de significado. Ele não propunha
uma metodologia amplamente generalizável a outros estudos de história da arte, mas convida
os estudiosos dos objetos visuais a uma reflexão sobre o caráter sociocultural da produção de
arte visual23.

Entretanto, deve-se ressaltar que não é possível a apreensão total e o descortinamento da


obra, no entanto, fazem parte do esforço que se pretende aqui e de modo geral ao historiador
24
que se vale da arte como fonte historiográfica, como afirma Giulio Argan. Este autor
observa ainda que não basta identificar os elementos da obra e relacioná-los ao que ele
representa na realidade deve-se atentar ao que se apresenta na obra, mas também como se
apresenta ao expectador e como este a percebe.

Esta questão do efeito da imagem no expectador é relevante, pois promove o dialogo


entre a intenção do artista que a produziu e a recepção. No caso das ilustrações do jornal
Tribuna Popular e dos cartazes soviéticos que serão analisados nesta pesquisa, se mostra de
grande importância compreender qual a intenção na produção das imagens, e como elas
alcançavam o público, seu alcance e seu impacto. Baxandall sugere que logo após o

23
BAXANDALL, Michael. O olhar renascente: pintura e experiência social na Itália da Renascença. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1991.
24
ARGAN, Giulio. Clássico e Anticlássico. O Renascimento de Brunelleschi a Bruegel. Cia das Letras. São
Paulo, 1999.
19

reconhecimento dos efeitos que a obra causa em nós, devemos fazer inferências sobre as
razões para a imagem nos causar tais efeitos25.

A compreensão dos efeitos de uma imagem está ligada ao entendimento da sua função e
do local onde foi veiculada. Jean Claude Schmitt afirma que:

Na relação entre a forma e a função da imagem, encontra-se expressa a intenção do artista, do


financiador e de todo o grupo social envolvido na realização da obra; nesta se inscrevem de
antemão o olhar do ou dos destinatários e os usos, por exemplo litúrgicos, da imagem. Devem
ser levados em conta não somente o gênero da imagem, mas o lugar ao qual era destinada
(bem diferente do museu ou da biblioteca onde na maior parte das vezes encontra-se hoje), sua
eventual mobilidade (ela podia, por exemplo, ser levada em procissão) assim como o jogo
interativo dos olhares cruzados que as figuras trocam entre si no interior da imagem e com os
espectadores fora da imagem26.

É pertinente observar o quanto o uso das artes e de imagens em geral pode contribuir
para ampliar as possibilidades de compreensão e estudo historiográfico. Desta forma:

Recolocar as imagens no conjunto do imaginário social, com suas implicações de poder e de


memória, sem negar a contribuição específica dos historiadores da arte ao conhecimento das
obras e das tradições artísticas, eis qual deve ser atualmente nossa tarefa comum.” 27

Pois, como diz ainda Schmitt: “Um duplo desafio – analisar a arte em sua
especificidade e em sua relação dinâmica com a sociedade que a produziu – apresenta-se
assim ao historiador da imagem” 28.

A partir deste ponto de vista teórico-metodológico pretendo desenvolver esta pesquisa.


Assim este estudo se pautará no uso das imagens e das problemáticas que as envolvem. A
disposição dos capítulos procura dar conta do objetivo central de compreender a relação do
realismo socialista soviético com as ilustrações contidas no jornal diário Tribuna Popular
(1945-1947) vinculado ao PCB.

Para tanto, no Primeiro Capítulo pretende-se mostrar o realismo socialista no contexto


da URSS, sua formulação, seus fundamentos e como se apresentou nas artes visuais. Em
seguida será analisada a relação do PCB com as artes e os diferentes âmbitos artísticos, bem
como com o desenvolvimento de produções artísticas pautadas nas ideias do realismo
socialista soviético. Também se mostra importante o entendimento da peculiaridade e

25
BAXANDALL, Michael. Padrões de Intenção: a explicação histórica dos quadros. Companhia das Letras.
São Paulo, 2006.
26
SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na Idade Média. Edusc. São
Paulo, 2007. P. 47.
27
SCHMITT. Idem. P. 46.
28
SCHMITT. Idem. P. 33.
20

importância do período de legalidade do PCB e que delimita esta pesquisa entre os anos de
1945 e 1947, assim como a estrutura de imprensa deste Partido e a rede de periódicos diários
da qual o Tribuna Popular faz parte.

No Segundo Capítulo a atenção é voltada para as especificidades do jornal Tribuna


Popular, sua importância para o Partido, sua construção e como se mantinha financeiramente.
Assim como sua estrutura editorial, seus variados conteúdos referentes, inclusive, às artes. E
por fim, a repressão que o jornal sofreu por sua ligação com o PCB, passando pelos interesses
da polícia política em seu conteúdo e como o jornal foi empastelado pouco tempo após o
retorno do PCB à ilegalidade em 1947.

No Terceiro Capítulo procura-se analisar as ilustrações contidas no Tribuna Popular e


compará-las aos cartazes soviéticos buscando as semelhanças e diferenças em seus elementos,
afim de estabelecer as ressonâncias do realismo socialista nas artes gráficas do jornal. Isto é
feito a partir de uma sistematização das imagens, classificando-as por suas temáticas o que
promove a comparação de suas características. Em seguida busca-se compreender como as
artes e os artistas plásticos eram tratados nos textos do jornal, analisando as matérias que
atentavam para esta temática e o posicionamento do jornal diante das artes plásticas. Por fim,
é feito um estudo da forma como a exposição “Os artistas plásticos ao PCB” de 1945 foi
noticiada pelo jornal Tribuna Popular, de sua importância para o Partido, da participação dos
diversos artistas e de como esta exposição pode ser representativa da relação destes artistas
com o PCB.
21

PRIMEIRO CAPÍTULO

E O VERMELHO SE EXPANDE...
22

PRIMEIRO CAPÍTULO- E O VERMELHO SE EXPANDE...

1.1 – União Soviética com Stálin: política cultural e realismo socialista

A preocupação com a arte e com sua função social e política se evidenciou na Rússia
com a Revolução Bolchevique em outubro de 1917. A partir de então passou a ser motivo de
debates entre artistas e intelectuais o modo como a cultura deveria servir a Revolução e qual o
controle que o governo deveria exercer sobre a vida intelectual da população 29. No entanto, a
vanguarda cultural russa já vinha criando sua versão de uma arte que rompia com o passado e
com os preceitos da tradição nobre e burguesa: era o futurismo russo, o construtivismo e o
suprematismo.30 O historiador Matthew Cullerne Bown tece as seguintes considerações a este
respeito:

A guinada da Rússia na revolução, em 1917, foi prevista por sua vanguarda cultural - aqueles
escritores e artistas que mantiveram um diálogo com o movimento moderno na Europa
Ocidental e criaram suas próprias versões de sua dinâmica na forma de futurismo russo,
construtivismo e suprematismo. A perspectiva foi um desafio tão intimidante e emocionante
como uma tela recém-preparada: a perceber, de um vazio crescente de um colapso, a visão
indistinta, mas poderosa de uma sociedade radicalmente nova.31

Em fevereiro em 1917, com a chamada revolução burguesa que levou o Czar a abdicar
do seu trono, houve uma efervescência no debate político aparecendo meses depois a
Proletkult, uma forma de organização da arte cujo nome significa “cultura proletária”. Esta
organização foi concebida pelo comunista Aleksandr Bogdanov (1873-1928) que se inspirou
nas teorias estéticas do marxista Georgi Plekhanov (1856-1918), especialmente no seu texto
"O movimento proletário e arte burguesa", elaborado ainda em 1905. O propósito de
Bogdanov era que a arte atendesse as necessidades dos trabalhadores.

Para tanto, os proletkults formavam núcleos em diferentes cidades e incentivavam o


proletariado a participar da produção artística. Segundo Bown, o acesso aos proletkults era
livre, e cresceu de tal forma que “Em 1920 havia cerca de 400.000 membros dos Proletkults,
incluindo 80.000 ativos em estúdios de arte e clubes, e cerca de 20 revistas do Proletkult”. 32
Contudo, esta forma de organização da expressão artística procurou manter-se afastada dos

29
STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. Op. cit.
30
Kazimir Malevich (1878-1935) é considerado por muitos como o artista mais destacado do período,
produzindo obras que procuravam eliminar tudo que não fosse essencial para elas, desenvolvendo o método
suprematista em 1915.
31
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.19. Tradução minha.
32
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.19. Tradução minha.
23

partidos políticos que disputavam o poder, pois defendiam a ideia de uma arte proletária
independente do controle político direto.

Os proletkults promoveram a idéia de proizvodstvennoe iskusstvo, a arte de produção - isto é, a


arte de produção em massa e da técnica de fábrica - como uma essencialmente forma de arte
proletária. Eram, portanto, em clara oposição às instituições antigas, como a elitizada Imperial
Academia de Artes, criada pela Imperatriz Elizabeth, em São Petersburgo em 1757, mas, ao
rejeitar o antigo regime, não estavam vinculados a nenhum partido político. Bogdanov pregou
a independência da arte ao controle político direto, ele acreditava que uma arte proletária
levaria o seu próprio caminho em direção ao comunismo. 33

A Revolução trouxe não só uma nova ordem política, mas dentre suas facetas estava a
proposta de uma nova sociedade pautada nas necessidades do proletariado. No período entre o
Outubro de 1917 e 1924 em que Vladimir Lênin esteve na liderança do Partido Comunista, se
evidenciou a ligação de parcela da vanguarda artística russa com o governo. No entanto, a
partir de em 1920 o Proletkult passaria a ser muito criticado pelo governo e o movimento
seria extinto por volta de 1923.

Com a morte de Lênin em 1924 ocorreram modificações profundas na direção política


do governo revolucionário e na sua postura diante da produção cultural. Em 1929, Alexander
Fadeiev (1901-1956) intelectual ligado ao governo, formularia a essência filosófica do que
viria a ser o realismo socialista: a idéia de que o artista teria a função de servir
conscientemente à causa da transformação do mundo. Tratar-se-ia da submissão da arte à
política partidária34.

Na década de 1930 o governo de Josef Stalin (1924-1953) alcançava êxito no


desenvolvimento industrial, o que lhe fortalecia no poder. Stalin se cercou ainda de um
aparato ideológico em que o arrocho das liberdades e o controle da produção artística eram
essenciais. Em 1932 já não havia mais espaço para associações ou instituições de artistas, e as
existentes foram fechadas. Artistas eram excluídos de exposições e ainda neste ano seria
cunhada a expressão realismo socialista, estabelecendo um caminho cada vez mais estreito
em direção a uma arte única e oficial.

O termo realismo socialista, provavelmente ocorreu pela primeira vez na imprensa em um


artigo na Gazeta Literária em maio de 1932. Afirmando que: "A massas demandam de um
artista honestidade, veracidade e um revolucionário, realismo socialista na representação da
revolução proletária". Em 1933, Máximo Gorki publicou um artigo importante, "No realismo
socialista", falando de "uma nova direção essencial para nós - o realismo socialista, que - é

33
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.20. Tradução minha.
34
WILLETT, John. Op. cit.
24

lógico - só pode ser criado a partir da União dos Escritores, o realismo socialista foi
proclamado como o método definitivo artístico soviético"35.

Em 1934 o realismo socialista foi considerado doutrina oficial e deste ano até 1956 se
apresentou como único representante dos interesses da classe trabalhadora contra a arte
burguesa, capaz de mostrar uma arte em favor da revolução e definir a burguesia como
inimiga da classe trabalhadora. Vittorio Strada caracterizou a natureza dúplice do realismo
socialista no seu primeiro momento que seria entre 1934 e 1945, quando a doutrina seria um
instrumento de poder, mas também proclamava a libertação das pessoas. Libertação esta
principalmente em relação à arte considerada burguesa. Desta forma, a verdadeira arte deveria
36
servir aos ideais da revolução estabelecidos pelos grandes líderes soviéticos. Neste
momento já havia certa repressão aos que não estavam de acordo com as proposições oficiais
sobre a arte produzida.

Desde a década de 1930, no entanto o realismo socialista já havia conquistado espaço


pelo mundo por causa desta questão, como Paul Wood explica:

As coisas mudaram, porém, nos anos 30, à medida que o conceito de Realismo Socialista foi
formulado e desenvolvido em detalhes. Na verdade, após a chegada de Hitler ao poder na
Alemanha em 1933, o Realismo Socialista foi amplamente considerado uma doutrina que
permitiria unir os artistas, em todo o mundo, preocupados com a propagação do fascismo.
Como tal, ele pode ser visto como o componente artístico de um movimento mais amplo, a
Frente Popular, que pretendia reunir pessoas de todas as posições sociais numa resistência
comum contra o fascismo. 37

Vittorio Strada38 acompanhou em seu estudo o crescimento da importância no cenário


artístico do realismo socialista até se tornar arte oficial trazendo os problemas que encontrou
em relação à liberdade do artista e a sua função de acordo com a idéia de partiinost que
remete ao espírito de partido ou “partidarismo” e guia a partir da década de 1930 sustentando
uma práxis do dever histórico do Partido Comunista de dirigir toda a vida cultural do país 39.

Este termo fora cunhado por Lênin em seu texto de 1905 intitulado “A Organização do
Partido e a Literatura do Partido”, mostrando que as bases do conceito de realismo socialista
podiam ser encontradas nas proposições de Lênin e ainda nas anteriores, como o Proletkult.
Contudo, durante o período em que Stalin foi Secretário Geral do Partido Comunista da União
35
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.89. Tradução minha.
36
STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. Op. cit.
37
WOOD, Paul. Realismos e Realidades, capítulo 4. In: FER, Briony; BATCHELOR, David; WOOD, Paul. Arte
Moderna: Práticas e Debates. Realismo, Racionalismo, Surrealismo: A Arte no Entre-Guerras. Cosac e Naif,
1998. p.257
38
STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. Op. cit.
39
STRADA, Vittorio. Do “realismo socialista” ao zhdanovismo. Op. cit.
25

Soviética estas concepções seriam apropriadas e reinterpretadas em favor da elaboração das


teses do realismo socialista. De acordo com Matthew Cullerne Bown, Stalin seria o chefe dos
críticos de arte, pois sua opinião era a que afinal importava:

Porque a arte era considerada um fenômeno ideológico, tanto refletindo e agindo nos
interesses de um determinado conjunto de atitudes sociais, então o seu maior árbitro não deve
ser o artista ou crítico, ou até mesmo a opinião pública, mas o ideólogo. Assim, Stalin tornou-
se, entre outras coisas, chefe dos críticos de arte da União Soviética. Como Tvorchestvo
colocou em 1939: "As palavras do gênio camarada Stalin sobre arte soviética como uma arte
do realismo socialista representam o pico de todos os esforços progressistas do pensamento
estético da humanidade"40

A teoria que definia o realismo socialista foi elaborada de forma progressiva ao longo
da década de 1930, sendo acrescentada e reinterpretada pelo PCUS e pelos artistas. Isto
demonstra que esta forma artística não esteve paralisada, pois acompanhou o
desenvolvimento da política e da sociedade soviética. 41 Em 1934, ocorreu a “Conferência dos
Escritores”, evento que marcou a oficialização do realismo socialista como linha artística,
especialmente no que concerne à produção literária, mas que logo se estenderia as outras
formas artísticas. Nesta ocasião, o conceito de Partiinost foi resgatado para embasar suas definições
de realismo socialista , para a “ educação dos trabalhadores no espírito do comunismo".

Durante este encontro muitos teóricos do PCUS se pronunciaram, e tiveram


importante papel na formulação das teses que definiriam o realismo socialista. Andrei
Zhdanov42 foi um deles, e se destacaria, principalmente, por sua trajetória nos anos
posteriores como representante das ideias do partido e com papel importante no enrijecimento
da postura oficial m relação às artes. Após seu discurso na “Conferência dos Escritores”, a
ideia de exigir que os artistas fizessem representações verdadeiras da descrição da realidade e
que adotassem a função de “educar os trabalhadores no espírito do Comunismo” foi
incorporada.

Na Conferência dos Escritores de 1934, Andrei Zhdanov falou em nome do partido. Parte do
conteúdo de seu discurso foi incorporada pela conferência, às vezes literalmente, para a
constituição da União de Escritores, e manteve-se atual ao longo do tempo. Após Zhdanov, a
constituição dos escritores afirmou que o realismo socialista "exige do artista uma
representação verdadeira e historicamente concreta da descrição da realidade no seu

40
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.89. Tradução minha.
41
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.90. Tradução minha.
42
O nome deste membro destacado do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) foi traduzido de formas
diferentes por alguns autores, isso talvez se deva ao modo de pronúncia de seu sobrenome ou por outros fatores.
Desta forma, Andrei Zhdanov, também pode ser referido nas citações como Zdanov ou ainda Jdanov. Por uma
questão textual optei pela forma mais semelhante ao nome original soviético: Andrei Zhdanov.
26

desenvolvimento revolucionário... combinado com a tarefa de educar os trabalhadores no


espírito do Comunismo".43

O realismo socialista se constituiria, então, a partir da concepção de que a realidade


deveria ser representada pelos artistas de forma verdadeira; no entanto, esta verdade partiria
da determinação e visão do PCUS. Desta forma, a interpretação tenderia a favor da revolução
bolchevique e seus feitos. Como defende Matthew Cullerne Bown:

A exigência de realidade a ser representada "no seu desenvolvimento revolucionário"


implicava uma interpretação tendenciosa dos acontecimentos do ponto de vista bolchevique,
isolando-os em sua relevância para a revolução. A partir desta última estipulação resultou um
traço particular do realismo socialista: o seu otimismo obrigatório. A equação era simples:
tudo estava a ser descrito a partir do ponto de vista da revolução bolchevique, a revolução
bolchevique foi uma inequívoca coisa boa e prometeu um futuro glorioso, portanto um evento
retratado a partir deste ponto de vista deve ser uma imagem otimista. 44

Havia, então, uma equivalência entre a arte e a propaganda do Partido Comunista da


União Soviética que se concentraria nos eventos e pessoas reais, mostrando o otimismo em
relação à sua linha. A tarefa do artista seria a de convencer as pessoas dos ideais
revolucionários.

O que surge é uma arte que se concentra em pessoas reais e eventos, que vê-los à luz da
revolução, que está otimista e dedicado à linha do partido. (...) O artista iria incutir o ideal
comunista na consciência Soviética, e para convencer as pessoas de que o valor de qualquer
ideal de realidade. 45

Após o ano de 1924 a União Soviética enfrentaria forte censura e terror com a
progressiva eliminação dos oposicionistas a Stalin, o que culminaria em meados da década de
1930 com os grandes processos de Moscou, e se intensificaria em 1945. A partir de então
seria radicalizada a postura soviética em relação à cultura e à estética46.

Passado este período, ao fim da Segunda Grande Guerra e com os primeiros sinais da
Guerra Fria, as diretrizes estéticas foram enrijecidas e explicitavam que a arte deveria mostrar
a vida do proletário operário ou camponês, ou seja, a arte deveria ser didática e alcançar o
entendimento das massas mostrando sua realidade sofrida e sua superação, idéia fulcral da
Revolução47. O fim da Segunda Grande Guerra aumentou ainda mais o poder que Zdhanov, a

43
BOWN, Matthew Cullerne. Op.cit. P.90. Tradução minha.
44
BOWN, Matthew Cullerne. Op.cit. P.90. Tradução minha.
45
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.90. Tradução minha.
46
STRADA, Vittorio. Do “realismo socialista” ao zdhanovismo. Op. cit.
47
STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. Op. cit.
27

valorização da sua atuação na guerra ajudou a afirmar seu papel como secretário do governo e
deu destaque a sua figura.

O território cultural entrou em convulsão assim que foram assinados os últimos tratados de
rendição do Eixo. Crescera a influência de Jdanov desde que comandara com êxito a ocupação
da Estônia. Temendo que as Repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia) pudessem se
aliar a Hitler, Stalin despachou o Exército Vermelho para derrubar os governos locais e anexá-
las a URSS. Jdanov também se destacara na mobilização de Leningrado durante o cerco
nazista. Já nessa época integrava o birô político, como secretário de organização. Stalin
delegou-lhe poderes para eliminar eventuais focos de dissensão na intelectualidade. 48

Dênis de Moraes explicita a mudança no posicionamento do governo de Stalin em


relação à produção artística na União Soviética. Moraes reafirma a idéia de Vittorio Strada de
que a partir do fim da Segunda Grande Guerra o realismo socialista começa uma segunda
fase, na qual a censura, a repressão e perseguição aos artistas se deu de forma ostensiva.
Muitos artistas desapareceram de forma suspeita ou foram presos e exilados, por serem
considerados traidores da revolução por produzir obras que não estavam totalmente de acordo
com o julgamento dos encarregados do PCUS de acompanhar seus trabalhos.

A segunda fase do realismo socialista rompeu com a duplicidade, optando pela censura aberta
e pelo terror. O partido assumiu-se radicalmente como único centro produtor de ideias – ou,
nas palavras de Strada, um “sistema de mentira, uma verdadeira educação para a falsidade”. A
criação estética foi confinada em manuais catequéticos providenciados pela força-tarefa de
Jdanov.49

O principal teórico deste segundo momento foi Andrei Zhdanov e podemos notar o
teor de seu discurso em um texto seu em que se refere aos problemas de algumas músicas
produzidas na União Soviética no final da década de 1940:

Todos os nossos compositores devem mudar de posição e voltar-se para o povo. Devem
compreender que o nosso Partido, que exprime os interesses do Estado e do Povo Soviético,
apoiará somente uma tendência sadia e progressista em música: a tendência do realismo
socialista soviético. Se aprecias o título honroso de compositor soviético, deveis demonstrar
que sois capazes de servir ao povo melhor do que haveis feito até agora50.

A partir de então, podemos observar como esta segunda fase do realismo socialista
tornou tenso o ambiente de produção artística na URSS. Fadeiev, também teórico do governo
soviético, acompanhou as mudanças na postura do PCUS a respeito da arte e em 1950 teve
um texto seu publicado defendendo a cultura soviética estava “impregnada de espírito de

48
MORAES, Dênis de. Op. cit.
49
MORAES, Dênis de. Op. cit.
50
ZDHANOV, Andrei. A Tendência Ideológica Da Música Soviética. Problemas - Revista Mensal de Cultura
Política. nº 21 - Outubro de 1949.
28

partido, o que significa que ela se entrega de modo consciente ao serviço do povo e do Estado
socialista e se propõe conscientemente à educação comunista do povo” 51.

De acordo com Bown, não haveria registros de que Stalin teria dito alguma vez
publicamente como as artes visuais deveriam seguir o realismo socialista. Porém, segundo
este autor, na “Conferência dos Escritores” de 1934 havia um artista plástico participando
como delegado no evento. Este artista se chamava Igor Grabar (1871 - 1960) e teria
confirmado a importância de se seguir o “método” proposto, pois seria o “o melhor de todos
os já existentes”. Assim, o apoio deste artista se fazia consonante com as deliberações da
conferência. 52

As propostas do realismo socialista traziam uma preocupação com o proletariado em


virtude de suas lutas e conquistas, a intenção de se fazer uma arte preocupada com questões
sociais e não apenas com beleza e decoração. As teses divulgadas eram sedutoras,
conquistavam pela ideia de uma arte engajada, comprometida com causas dos trabalhadores.

A arte deveria transcrever a atitude do proletariado em face da realidade, refletindo as suas


aspirações, e clarificar a luta que se travava na sociedade entre o “belo e o sublime” projeto
socialista e o “feio e vil ” sistema capitalista. O ‘novo’ provinha das conquistas das massas
trabalhadoras. 53

No âmbito das artes plásticas podemos tentar visualizar o que estas teorias
representavam de fato. Já que se opunham à arte considerada burguesa e vazia, o
abstracionismo estava descartado como possibilidade, assim como o que se assemelhasse. A
arte deveria ser figurativa, e de fácil entendimento. O caráter pedagógico das obras era
fundamental, pois as ideias comunistas deveriam sempre ser reproduzidas e transmitidas às
pessoas. A importância da educação política para o governo soviético era comumente
defendida nos artigos e discursos.

A expressividade do realismo socialista ligava-se ao gênero figurativo. Não se toleravam o


abstracionismo e o subjetivismo. A herança do realismo crítico seria interpretada conforme os
princípios do partidarismo. Os artistas tinham que buscar uma ‘representação nítida dos
sentimentos e das emoções dos homens’. Mas nada que lembrasse o expressionismo burguês,
que transmitia ‘o desespero, o pessimismo, o descrédito nas pessoas e no futuro e, por
conseguinte, acaba por deturpar a vida.’54

51
FADEIEV, Aleksandr. Sobre a cultura soviética, em Literatura soviética. Nº 2. Moscou, 1950.
52
BOWN, Matthew Cullerne. Op cit. P.91, 92. Tradução minha.
53
MORAES, Dênis. Op. cit. P 122-123.
54
MORAES, Dênis. Op. cit. P. 124.
29

O “método” do realismo socialista era considerado o mais facilmente compreensível


pelas “massas”, e por isso o melhor meio de propaganda. A recomendação era que os artistas
55
retratassem os “típicos representantes dos grupos sociais”. A ênfase no realismo não foi
apenas uma exigência do Partido Comunista da União Soviética, também representou a
maioria dos artistas soviéticos.

Em um encontro de artistas em 1932, na seção de pintura onde compareceram mais da


metadedos membros de todo o país foi notória a aprovação do realismo como melhor via a ser
seguida. De acordo com Bown: “a imposição sobre a arte soviética de tal estilo não era
simplesmente uma decisão autocrática do partido, mas refletiu as preferencias da maioria dos
artistas.” 56

Não obstante o apoio da maioria dos artistas soviéticos e a determinação do PCUS


para o desenvolvimento da arte, durante toda a década de 1930 houve intensos debates acerca
da natureza formal do realismo socialista. A produção artística para promover o comunismo
teve apoio dos artistas, no entanto, eles se opunham a liberdade criativa que esteve em vigor
nos anos 1920.

Apesar da clareza da linha do partido, e sua aceitação pela maioria dos artistas soviéticos,
debates envolvidos e amargos sobre a própria natureza formal do realismo socialista foram
endêmicos em toda a década de 1930. Alguns artistas foram felizes para promover o
57
socialismo, mas foram relutantes em dar as liberdades de estilo dos anos 1920.

Enquanto isso se deve atentar para o fato de que o apoio da classe artística não foi tão
espontâneo como pode parecer, pois o incentivo vinha do Estado. Assim como a arte da
partiinost a quase totalidade da arte realista socialista no início foi feita com temas
elaborados por comissões do governo, aprovados pelos líderes políticos e encomendados aos
artistas. Logo em meados da década de 1930 este modelo foi modificado de forma que os
artistas deixaram de ser contratados durante um tempo para desenvolverem determinado
número de obras sobre um tema, e passaram a ser chamados para realizarem obras específicas
sobre assunto apontado. Desta forma, os artistas perdiam gradativamente a mínima liberdade
de criação que poderiam ter, isso era especialmente observado nas artes plásticas.

55
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.92-94. Tradução minha.
56
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.94. Tradução minha.
57
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.94. Tradução minha.
30

Artistas não se sentaram em seus estúdios e pintaram obras exaltando o estado socialista sem
incentivo. A engenharia espiritual que Stalin procurou formar era para ser guiada pelo Estado.
O realismo socialista, como convinha à arte sob o partiinost, foi 99% encomendados sobre
temas elaborados por comissões e aprovado pela liderança política. No entanto, em meados
dos anos 1930, este sistema foi modificado; artistas não eram mais contratados para produzir
certo número de Obras, talvez se sob um tema amplo, durante um longo período de tempo -
digamos um ano, eles seriam contratados para produzir obras específicas, cada um sobre um
determinado assunto - uma diminuição real de liberdade. 58

Para resolver as questões relativas às artes plásticas foi criado em 1936 um comitê
específico submetido diretamente ao Comitê Central do PCUS. Denominado “Comitê para
Assuntos de Arte” (KPDI), este núcleo controlava a seleção de obras para as grandes
exposições, e na primeira exposição após a oficialização do realismo socialista ocorrida em
1938 foi uma mostra de como seria esse controle da liberdade de criação dos artistas plásticos.
O evento foi organizado de forma que os artistas escolheriam um título dentre os oferecidos
em uma lista para só então produzir a obra. Os títulos especificavam com clareza o que
deveria ser representado na obra.

O título "Um trabalhador bolchevique diz a um soldado do exército do czar por que ele
deve ajudar na luta contra a o czar" é um exemplo de quão detalhadas e restritivas eram essas
“opções” de títulos. Bown esclarece que a lista que apresenta como exemplo foi elaborada por
uma comissão formada por militares e por especialistas em arte, o que demonstraria a
estratégia politica de propaganda do governo, configurando uma das propostas essenciais do
realismo socialista.

O KPDI agora supervisionou a colocação de obras para grandes exposições. Para a primeira
grande exposição realizada sob a bandeira do realismo socialista, “20 Anos dos Trabalhadores
e Camponeses do Exército Vermelho e da Marinha de 1938”, os artistas podiam escolher um
título de uma lista de mais de 100 em oferta sob uma variedade de títulos. Na seção intitulada
"O Exército Vermelho foi construído sob um fogo temperado", um artista pode escolher o
título “É necessário entender”, fornecido com o título "Um trabalhador bolchevique diz a um
soldado do exército do czar por que ele deve ajudar na luta contra a o czar." Esta lista em
particular foi elaborada pelo departamento de arte do Comissariado do Povo para Defesa, em
outras palavras, por uma comissão conjunta de especialistas em arte e militares, ou seja, tanto
quanto um ocidental Ministério da Defesa pode planejar uma campanha de publicidade hoje.
59

O público dessas exposições era consideravelmente grande, isso porque o PCUS


promovia formas de incentivo. Para tanto, organizavam excursões nas quais iam a maioria do
público, outra grande parte ia organizada nas indústrias, e apenas uma pequena parcela

58
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.94,95. Tradução minha.
59
BOWN, Matthew Cullerne. Op.cit. P.95. Tradução minha.
31

visitava a exposição por conta própria. Com essas estratégias a arte pautada no realismo
socialista efetivamente chegaria a um grande público. A abrangência de público que o
realismo socialista alcançaria não é a medida garantida do quanto era realmente popular.

Para ajudar o público a colher benefícios do realismo socialista, o partido organizou


incentivos. Diretores de museus e suas equipes receberam belos bônus por exceder o número
previsto de visitantes em uma exposição individual ou em um ano completo. De 160.000
viitantes a grande exposição de 1939, “A Indústria do Socialismo”, durante seus primeiros
nove meses, 96.000 vieram em excursões organizadas e 23.000 nas visitas em massa
organizadas com interesses industriais (ou seja, apenas cerca de um quarto veio sob seu
próprio ânimo). O realismo socialista estava sendo projetado de forma abrangente como uma
arte de massas. O quanto era genuinamente popular é difícil de dizer. A evidência disponível
em cartas para a imprensa, livros de visitas e assim por diante só pode dar uma visão limitada
e arriscada do assunto. No entanto, a familiaridade com as atitudes populares na URSS hoje
sugere que, assim como no Ocidente, existe um grande corpo de opinião conservadora entre o
público em geral cujos pontos de vista sobre a arte, tais como elas são, pode muito bem ter
sido servido por políticas culturais de Stalin. 60

Os pôsteres foram uma forma encontrada para levar as artes a um público cada vez
maior e através deles promover as ideias do PCUS. A produção destes pôsteres mobilizou
muitos artistas plásticos, independente de suas especialidades. A quantidade dos cartazes que
já era grande durante a Segunda Grande Guerra, aumentou logo quando teve fim o conflito.
Foram milhares de cartazes diferentes que se espalharam pela União Soviética e com o tempo
suas imagens reproduzidas pelo mundo.

Muitos pintores e ilustradores, e até mesmo alguns escultores, alguns dos quais até já tinham
concebido um cartaz antes, agora começaram a trabalhar como artistas de cartaz. Poetas foram
empregados para pensar os slogans, alguns em forma de verso. A partir do final da guerra
cerca de 800 cartazes diferentes haviam sido publicados em Moscou, 700 em Leningrado, e
muitos mais em outras cidades. 61

Os cartazes soviéticos apresentavam um “povo feliz”, que lutou e venceu a Revolução


de Outubro de 1917 e a Primeira Grande Guerra ou um povo forte que ainda lutava na
Segunda Grande Guerra. Trabalhadores que teriam ainda conquistado o regime comunista.
Portanto, os soviéticos são representados como pessoas satisfeitas com o regime, que seria o
“representante do povo” e de suas vontades políticas e culturais. As personagens nestes
cartazes mostram o apoio ao governo de Stalin, ora felizes com as conquistas, ora firmes em
apoio às lutas que propunham (figura 1; fig. 2; fig. 3).

60
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.95. Tradução minha.
61
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.145. Tradução minha.
32

Figura 1- Autor desconhecido. Fig. 2 - Autor desconhecido. Fig. 3 Autor desconhecido Cartaz
Cartaz Soviético- Venceremos a Cartaz Soviético - A Pátria Soviético - A noite não atrapalha
seca também! S/d. Fonte: mãe nos chama! 1941. Fonte: o trabalho! S/d. Fonte:
http://www.sovietposters.com/in http://www.sovietposters.com/ http://www.sovietposters.com/in
dex.php , acesso em 15-03-2013. index.php , acesso em 15-03- dex.php , acesso em 15-03-2013.
2013.
A função destes cartazes de propaganda era divulgar as ideias do regime stalinista para
o povo. E ainda promover a ideia de uma satisfação com grandes conquistas sociais,
econômico-produtivas, políticas e culturais. A utilização da arte realista socialista pode ter
cabido bem a este propósito, pois os temas eram fechados, no entanto as interpretações e
críticas individuais ao ocorrerem tinham sua divulgação restrita com a censura.

Assim como nas pinturas, os cartazes se restringiam a determinadas temáticas como a


representação dos líderes Lênin e Stalin, juntos ou separados – apesar de notar-se que durante
o auge do poder de Stalin de 1945 a 1956, o culto a sua figura foi feito destacadamente
através de estátuas monumentais. E ainda do Exército Vermelho, das batalhas, da indústria
soviética e de retratos de personalidades ligadas ao PCUS. Além ainda de uma versão oficial
da história, ou de belas paisagens do campo. As pessoas eram retratadas nos moldes
estabelecidos, e em geral mostrando o êxito do método coletivo de trabalho, ou o novo
soviético: pessoa positiva e com o espirito revolucionário comunista, além de crianças felizes,
ou de mães com seus filhos.

No que concerne às artes gráficas o seu desenvolvimento foi retomado com força na
Segunda Grande Guerra e se configurou em um importante meio de divulgação dos sucessos
comunistas nas batalhas. Os artistas eram enviados para as regiões onde ocorriam os conflitos
e seus desenhos eram usados largamente nos jornais. A preferência aos desenhos em
detrimento das fotografias parecia ser uma estratégia para mostrar uma visão das cenas de
acordo com os interesses em voga, ressaltando as características mais pertinentes.
33

As artes gráficas como um todo retomaram o papel de liderança que tinham durante a
revolução e a guerra civil. Uma oficina de litografia móvel foi enviada para a linha de frente, e
na esteira dos primeiros sucessos militares soviéticos, os artistas foram enviados para as
regiões liberadas para o trabalho. Os desenhos que fizeram eram usados frequentemente em
jornais em preferência a fotografias: um eco, possivelmente, da exigência de evitar o
naturalismo - uma imagem muito crua do mundo - no realismo socialista62.

De acordo com Bown, um texto do Pravda, jornal ligado ao PCUS, declarava que uma
série de doze desenhos que fora publicada neste periódico soviético era otimista diante da
tragédia, pois as vítimas pareciam mais fortes interiormente e moralmente, e ainda superiores
63
aos seus carrascos inclusive espiritualmente. Estas considerações mostram o quão
apropriados poderiam ser esses desenhos à função que lhes cabia: mostrar a versão oficial dos
acontecimentos. E ainda, a importância do realismo socialista na URSS para compreender
como o momento histórico do PCB e sua relação com o PCUS propiciou sua ligação com este
conceito soviético de arte.

1.2 – PCB, cultura e artes: uma versão do realismo socialista soviético no Brasil?

Na década de 1940 o Partido Comunista do Brasil procurou estabelecer uma relação


com a cultura e com artistas de diversas esferas, assim como membros da intelectualidade
brasileira. Esta ligação foi benéfica principalmente no que diz respeito ao modo como o
Partido era visto na sociedade. Artistas já reconhecidos socialmente e que tinham suas
declarações posicionamentos divulgados por diferentes meios de comunicação, ao se filiarem
ao PCB amenizavam a visão que se poderia ter de uma radicalidade do Partido. Ao mesmo
tempo estes artistas e intelectuais colaboravam levando os ideais e propostas comunistas aos
meios nos quais se inseriam.

Assim, o PCB alcançou muitos militares, estudantes, intelectuais e artistas ainda na


década de 1930, demonstrando o entusiasmo despertado nestas categorias sociais em relação
ao Partido. Nestes anos filiaram-se escritores como Patrícia Galvão (1910-1962), Jorge
Amado (1912-2001), Graciliano Ramos (1892-1953), Raquel de Queiroz (1910-2003),
Rubem Braga (1913-1990), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e Monteiro Lobato
(1882-1948); e ainda o intelectual Caio Prado Jr. (1907-1990), o arquiteto Oscar Niemeyer
(1907-2012), o artista plástico Cândido Portinari (1903-1962), cantor e compositor Dorival

62
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.145. Tradução minha.
63
BOWN, Matthew Cullerne. Op. cit. P.146. Tradução minha.
34

Caymmi (1914-2008), o cineasta Nelson Pereira dos Santos (1928-), o maestro Francisco
Mignone (1897-1986), o pianista Arnaldo Estrela (1908-1980) e o cientista Mário Schemberg
(1914-1990), unindo expoentes das artes, letras e ciência brasileira 64.

O realismo socialista foi importante suporte para a arte produzida por artistas ligados
ao PCB especialmente entre meados da década de 1940 e da de 1950. As suas ideias-força
chegaram ao Brasil em 1945 através do Partido Comunista do Brasil, onde encontraram
artistas que as incorporaram, defenderam e que produziram suas obras a partir das
preocupações sociais trazidas por esta vertente artística.

No entanto, é importante notar que a arte com preocupação social já vinha sendo
produzida no Brasil há tempos e no início do século XX se intensificou por causa da própria
Revolução Russa, da arte muralista mexicana pós-revolucionária que alcançou toda América
Latina65, de movimentos sociais no início do governo de Getúlio Vargas, como a Revolta
Constitucionalista de 1932 e o Levante Comunista em 1935, assim como a organização de
grupos como a Ação Integralista Brasileira (AIB) de cunho fascista e a Aliança Nacional
Libertadora (ANL) de esquerda, e com a qual o PCB mantinha forte ligação.

Neste período, artistas como Tarsila do Amaral (1886-1973), Quirino Campofiorito


(1902-1993), Eugenio Sigaud (1899-1979), Lívio Abramo (1903-1993), Lasar Segall (1891-
1957) e Cândido Portinari pintavam obras que demonstravam sua preocupação com a política
e o social, adotando como temática central a vida dos trabalhadores.66 Alguns autores
defendem o posicionamento de que o realismo socialista já era considerado por artistas
brasileiros de diferentes campos desde pelo menos a década de 1930 67, no entanto a ampla
divulgação e defesa do estilo e do seu conteúdo só ocorreriam oficialmente através do PCB
em 1945, como será visto a seguir.

Na década de 1940, com o desenrolar da Segunda Grande Guerra e o reerguimento do


PCB houve o desenvolvimento de uma interpretação do realismo socialista soviético
promovida pelos artistas militantes do Partido Comunista do Brasil. A política cultural do

64
GUIMARÃES, Valéria Lima. Op. cit. P. 94 e 95.
65
A Revolução Mexicana ocorreu em 1910, e o muralismo mexicano foi um movimento artístico que se iniciou
logo após este acontecimento marcante, e se relaciona diretamente com as transformações políticas e sociais
pelas quais o país passava. Eram feitas obras de grandes dimensões com teor social, e os artistas mais destacados
foram Diego Rivera, José Clemente Orozco e Davi Alfaro Siqueiros.
66
AMARAL, Aracy. Op. cit.
67
Sobre este assunto, no que diz respeito ao campo literário cf. MATTOS, Marcelo Badaró (org.). Op. cit.
35

PCB era parte da doutrina de expansão dos ideais políticos comunistas. A apropriação que
este Partido fez do realismo socialista para a sociedade brasileira enfocava a necessidade de a
arte chegar ao que consideravam como classe trabalhadora através de temas brasileiros,
especialmente aqueles que abordassem a vida do trabalhador do campo ou da cidade.

A partir de 1945 o PCB começou a divulgar no Brasil as bases do realismo socialista


através do jornal Tribuna Popular. Deste momento em diante outros periódicos como
Fundamentos, Problemas e Para Todos serviriam a este fim, além de publicarem os debates
acerca dos propósitos desta vertente artística travados entre intelectuais, artistas, membros e
não membros deste Partido.

No Brasil, o PCB, assim como outros partidos comunistas do mundo, se alinhou às


diretrizes stalinistas e adotou o realismo socialista como única via artística capaz de traduzir
as ideias do Partido. O estudo desta apropriação do realismo socialista soviético por parte do
PCB é importante para a compreensão de sua política cultural, de sua atuação no contexto
político nacional e para compreender o que se assemelha e o que se distingue da política
cultural soviética da qual buscou se apropriar 68.

A aproximação do Partido com o debate sobre a arte social é importante para


entendermos seu posicionamento. No entanto sua linha já estava bem definida, pelo menos no
seu interior e cercando as atividades diretamente relacionadas a eles, como publicações e
produções oficiais. Poderiam ser jornais, revistas, filmes, cartazes, livros, enfim: a estética
deveria seguir os princípios estabelecidos pelo PCB, e estes se baseavam no realismo
socialista.

Em ato público no Teatro Ginástico do Rio de Janeiro em 1946, Prestes concedeu a


sessenta e um artistas e intelectuais um carnê de membro do PCB, um ato simbólico, mas que
registrava homenagem do Partido a estes membros. Desta forma era mostrado o interesse na
participação de artistas no Partido e procurava conseguir repercussão.

O artista plástico Carlos Scliar (1920-2001) contou em entrevista a Aracy Amaral que
os artistas presentes eram de diversas tendências estéticas, mas que comungavam da mesma
linha política. 69 Dentre estes contemplados observamos a presença bem maior de escritores,
poetas, e jornalistas, além de alguns músicos e uns poucos artistas plásticos dentre os quais se

68
ARAUJO, Mônica da Silva. Op. cit.
69
SCLIAR, Carlos. Depoimento a autora. 30-01-1982. Rio de Janeiro. Apud AMARAL, Aracy. Op. cit. P. 157.
36

destacavam: Candido Portinari, Clóvis Graciano, Quirino Campofiorito, Paulo Werneck e o


própio Carlos Scliar (1907-1988) 70.

As contribuições destes artistas para o Partido Comunista do Brasil são diferenciadas,


entretanto, colaboraram para a aproximação entre o Partido e um público mais amplo, em
especial através de exposições e ilustração de periódicos, pois tinham maior abrangência. A
partir da imprensa do PCB, os textos dos intelectuais do Partido e as bases do realismo
socialista também alcançaram um grande público.

No caso das artes plásticas, a diferença de alcance entre obras expostas em museus e
ilustrações de livros e, como no caso deste trabalho, de jornais é considerável. E isso era um
debate recorrente no Partido, pois havia uma preocupação em levar a arte onde estavam as
pessoas e não só esperar sua presença em exposições ou que adquirissem livros.

O público de museus e exposições diversas é de modo geral restrito a um número bem


mais reduzido. Assim como o número de pessoas que são atingidas, especialmente no caso do
jornal Tribuna Popular, o alcance é maior por ser um periódico diário e com grande tiragem
71
para a época. Contudo, os outros meios também eram aproveitados pelo PCB: como
editoras, revistas mensais ou quinzenais, outros jornais além de filmes, músicas, teatro, etc.

A filiação de intelectuais no PCB aumentou exponencialmente no período entre 1945 e


1947, quando o Partido esteve em breve período de legalidade e se fortaleceu no cenário
político nacional alcançando grande número de filiados de outras categorias sociais. Neste
período se evidenciou a ligação do Partido Comunista do Brasil com as resoluções soviéticas
inclusive no que diz respeito à cultura e a atração de membros ligados às artes foi importante
para o Partido na medida em que seu prestígio atraía mais membros e era uma forma de
divulgar as propostas políticas do PCB.

A partir da segunda metade da década de 1940 artistas de diferentes campos se


envolveram com o PCB e procuraram alinhar suas produções às concepções políticas

70
Tribuna Popular, 21-04-1946. Relação dos artistas que receberam em 21-04-1946 “carnet” de membros do
PCB das mãos de Luiz Carlos Prestes no Teatro Ginástico. Rio de Janeiro. Acervo Biblioteca Nacional.
71
No âmbito do jornal Tribuna Popular, podemos ressaltar a contribuição do artista plástico Paulo Werneck.
Este, antes de tudo, militante do PCB produziu ao longo dos quase três anos no qual circulou cerca de 300
ilustrações para o periódico, sendo esta a contribuição de maior destaque do artista em relação ao Partido
Comunista do Brasil. No terceiro capítulo será dedicada maior atenção ao artista plástico Paulo Werneck,
tecendo sobre suas contribuições para o Tribuna Popular e ainda sobre suas outras atividades no período. No
entanto, a partir deste exemplo, podemos notar a grande quantidade de obras feitas especificamente para esse
jornal, e assim, mensurar um pouco a presença constante nas produções vinculadas ao PCB.
37

comunistas. Ainda em 1945 os elementos que compunham as diretrizes do realismo socialista


soviético começaram a aparecer nos textos do jornal diário Tribuna Popular.

A determinação de uma data como marco da divulgação das traduções das teses do
realismo socialista no Brasil esconde, de certa forma, o processo que levou ao
estabelecimento desta vertente como caminho a ser seguido. Desde 1945 os elementos dessa
arte já eram disseminados entre os textos do jornal Tribuna Popular. 72 Quando isto ocorreu, o
Tribuna Popular, perseguido, havia já mudado seu nome para Imprensa Popular, mantendo a
sua estrutura e periodicidade.

Deste modo, ao analisar as edições do Tribuna Popular é possível perceber que os


textos que traziam um debate teórico sobre arte, especialmente sobre literatura que encontrava
espaço cativo no jornal, apresentavam os pressupostos do realismo socialista. Estes textos
faziam parte principalmente da coluna Literatura e Vida que foi publicada no suplemento
Literatura, Arte, Divulgação, Ciência quando este circulou, e, quando não, diretamente no
interior do jornal.

Na edição de 03 de agosto de 1945 foi publicado o artigo “Materialismo e poesia”


assinada por Miguel Bastos Cerecedo. O texto discorria sobre a poesia e defendia a ideia de
que não deveria ser algo inacessível, mas existente dentro do “mundo material”. Desta forma,
pensar poeticamente significaria fazê-lo “dentro de uma norma de conduta realista” e
objetivar o mundo exterior ao indivíduo. O autor ainda cita o escritor e membro do Partido
Comunista do México Mario Pavón Flores que teria afirmado que a poesia seria a soma da
técnica da beleza com a orientação revolucionária.

Os que quiseram fazer dela uma metafísica, algo inacessível, enganaram-se a si mesmos. (...)
A poesia é uma realidade da vida, porque é a flor dos sentidos que captam o jogo de todas as
forças da natureza. Indiscutivelmente, a filosofia materialista nos chama à razão quando
afirma “que nada existe fora do mundo material”. Pensar poeticamente não significa elocubrar
no vazio, mas dentro de uma norma de conduta realista; não é subjetivar fantasmas do mundo
interior, mas a objetivação do mundo exterior, adornado com as roupagens da fantasia. (...)
São as fotografias intimas e diretas que captam a nossa consciência dos objetos materiais que
nos rodeiam na existência. (...) A poesia é o resultado da vida prática do homem, suas relações
sociais e materiais dentro da sociedade. Não é beleza à seco nem tampouco um passatempo

72
Mônica da Silva Araujo apresentou um importante estudo sobre o realismo socialista no Brasil e a relação
entre o PCB e a arte, especialmente no que diz respeito à literatura. Em seu trabalho defendeu esta ideia de que
os pressupostos teóricos do realismo socialista já estavam presentes desde 1945, e que apenas quando o PCB
voltou à ilegalidade em 1947 e radicalizou seu posicionamento político é que divulgou claramente os textos
soviéticos. Cf. ARAUJO, Mônica da Silva. Op. cit.
38

vulgar. A poesia é a técnica da beleza mais a orientação revolucionária, disse Mario Pavón
Flores.73

Desta forma o autor rebatia a ideia de uma poesia, uma arte inacessível, assim como os
artistas que defendiam esse tipo de arte. Para ele a poesia é fruto da realidade por ser a
captação das “forças da natureza” para o mundo material. De tal modo, o pensamento poético
seria feito a partir de uma norma realista e não uma subjetivação dos sentidos e fantasias
individuais. A arte seria, portanto, uma parte da vida social e material, não só beleza em si.
Destarte, esse posicionamento do autor está diretamente ligado à recusa a uma arte desligada
das questões que ocupam a sociedade, assim como está de acordo com a materialização dos
sentidos condizentes com a orientação revolucionária.

Este teor de crítica do autor se repetiria em outros textos, que, para estabelecer o que
seria o ideal de arte procurava se apoiar no que ela não deveria ser. Na coluna Literatura e
Vida da edição de 16 de setembro do mesmo ano, o autor analisa obras literárias de Graciliano
Ramos, Jorge Amado e José Lins do Rêgo, enaltecendo a temática da “miséria do sofrimento
do povo” que seriam o papel mesmo da literatura.

Para tanto, o autor faz uma alusão a autores clássicos que teriam, segundo o autor,
tratado de temas como a miséria e as guerras, assim como das “lutas de classes, as
contradições da vida social baseada na exploração do homem pelo homem”. Assim, o artigo
defendia a ideia de que a literatura teria um papel político importante.

Os temas da miséria do sofrimento do povo foram o poderoso impulso que fez nascer, por
exemplo, “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, “Fogo Morto” de José Lins do Rêgo, “Terras
do Sem Fim”, de Jorge Amado. E não tem sido outro papel da literatura na historia dos
homens, entre escravos e senhores da antiguidade, no mundo feudal e capitalista, o teatro de
Eschylo, a Iliada, o Eclesiastes, D. Quixote, “Ilusões Perdidas”, “Guerra e Paz”, onde a
miséria, as guerras, as lutas de classe, as contradições da vida social baseada na exploração do
homem pelo homem, soltam a sua grande voz, o seu soluço e os seus sonhos. 74

Estes artigos que foram publicados no jornal Tribuna Popular ainda em 1945, assim
como ocorreria nos dois anos seguintes de circulação deste periódico, traziam os pressupostos
nos quais se baseia o realismo socialista soviético. A partir de 1948, esta abordagem mais

73
Tribuna Popular, 05-08-1945. P.10. RJ. Acervo BN.
74
Tribuna Popular, 16-09-1945. Suplemento literatura arte divulgação ciência. P.1. RJ. Acervo BN.
39

dispersa do realismo socialista se delinearia de forma mais clara e as teses soviéticas seriam
divulgadas nos jornais e revistas do PCB a respeito de diferentes campos artísticos. 75

A discussão sobre o realismo socialista em vários âmbitos da arte brasileira foi


apresentada por Dênis de Moraes em livro que procura estabelecer a relação da imprensa
comunista com esta vertente artística soviética no Brasil no período entre 1947 e 1953. 76 A
partir deste livro foi possível traçar um panorama do posicionamento dos artistas ligados ao
PCB e ao realismo socialista em relação às outras formas de arte divulgadas ou produzidas no
Brasil neste período citado.

Desta forma, a respeito da literatura mantinha-se a defesa de obras com protagonistas


proletários e que desempenhassem papel positivo e fossem empenhados na justiça social.
Citando revistas do PCB, Dênis de Moraes se remete a palavras do historiador Jacob
Gorender sobre como deveriam ser estas personagens: “Das entranhas do regime capitalista,
surgiu um novo tipo de herói – o homem comunista –, reclamando, com a força da sua
77
soberba realidade, o lugar de protagonista no mundo da arte” . O “herói” dos romances
deveria ser, então, “o homem comunista”, e seu lugar de protagonista nas artes se coadunava
com seu lugar político na sociedade. Este era um importante fundamento do realismo
socialista.

Como foi citado anteriormente, as obras dos escritores membros do PCB Graciliano
Ramos, Jorge Amado 78 e José Lins do Rêgo eram elogiadas e muitos outros escritores
também membros do Partido contribuíram para o Tribuna Popular, como o romancista
paraense Dalcídio Jurandir (1909-1979) entre tantos outros.

No campo da arquitetura a ideia era de construções que servissem à revolução e às


necessidades da maioria da população. O arquiteto filiado ao PCB, Demétrio Ribeiro (1916-
2003) escrevera que a arquitetura soviética era revolucionária por conseguir “reproduzir ‘o

75
Este período iniciado em 1948 é marcado pela volta do PCB à ilegalidade e a sua aproximação cada vez mais
forte com o Kominform (Agência de Informação dos Partidos Comunistas que sucedeu em 1947 a Internacional
Comunista extinta em 1943 por Stalin por conta dos acordos de guerra), o posicionamento crítico contra a
burguesia e a adoção da concepção da arte como arma ideológica. Estes fatores vão intensificar a divulgação do
realismo socialista soviético de forma clara.
76
MORAES, Dênis de. Op. cit.
77
Fundamentos, mar-abr, 1949. Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P. 167.
78
Sobre a relação entre Graciliano Ramos e Jorge Amado com o PCB e suas produções artísticas com as
diretrizes artísticas do Partido cf. ARAUJO, Mônica da Silva. Op. cit.
40

gosto e os sentimentos do povo’. Na URSS, orgulhavam-se os arquitetos que contribuíam


para o ‘progresso das massas e a própria transformação da sociedade’” 79

Desta forma, a arquitetura também deveria estar a serviço dos interesses da classe
trabalhadora, e outros arquitetos brasileiros eram filiados ao PCB e escreviam sobre a função
social e política do arquiteto. Um deles era Nair Batista que defendeu a ideia de que o
arquiteto contribuiria com o comunismo através do que projetava: “desde as casas de
moradias até os palácios públicos, as usinas e fábricas, desde as cidades operárias e as aldeias
até os grandes centros industriais” 80. Portanto, o trabalho do arquiteto deveria estar
preocupado com o uso do que projetava, para de alguma forma servir a causa comunista.
Também era membro do PCB o arquiteto Oscar Niemeyer e neste período militava no Partido
escrevendo para suas publicações, como o Tribuna Popular, e atuando em funções internas.

Em relação à música, as diretrizes soviéticas eram de valorização da música popular,


O PCB adotava este posicionamento e procurava se ligar, por exemplo, com o mundo do
samba carioca. Esse envolvimento pode ser acompanhado através do jornal Tribuna Popular
no qual eram divulgados eventos de Escolas de Samba, e até a promoção de competição de
enredos em homenagem a Prestes para o carnaval de 1946.81

Além de sambistas outros músicos se ligaram ao PCB neste período, como o maestro
César Guerra Peixe (1914-1993) e o compositor Claudio Santoro (1919-1989). Posicionando-
se contra o formalismo e a hermética do dodecafonismo ou o atonalismo82 neste momento
procuravam defender novas formas de arte opostas ao que seguiam anteriormente. Por isso, de
acordo com Dênis de Moraes, Guerra Peixe justificou em texto na revista Fundamentos seu
novo posicionamento com três razões:

1) a impossibilidade de realçarem em suas obras “a nacionalidade a que muito prezo


pertencer”; 2) “a incomunicabilidade de sua curiosa linguagem”, 3) “a covardia de que eu era
presa, fugindo aos problemas da criação de uma música necessariamente brasileira”. (...)
Ressaltou que “o caminho mais acertado para um compositor contemporâneo brasileiro é
trilhar a senda do nacionalismo baseado diretamente nas fontes populares”. Para selar a sua
conversão cunhou uma frase de efeito. “O ser revolucionário deve surgir da reação contra o
esotérico fi-ri-fi-fi do formalismo da arte pela arte”. 83

79
Imprensa Popular, 27-05-1951, Rio de Janeiro Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P.181.
80
Imprensa Popular, 29-04-1951, Rio de Janeiro Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P.181.
81
Sobre a relação do PCB com o samba no período entre 1945 e 1950, especialmente nas páginas do jornal
Tribuna Popular Cf. GUIMARÃES, Valéria Lima. Op. cit.
82
MORAES, Dênis. Op. cit. P. 172. O dodecafonismo se relaciona ao formalismo no uso das notas musicais, e o
atonalismo a falta de regras, ligado de certa forma a um “abstracionismo” da música.
83
MORAES, Dênis. Op. cit. P. 173 e 174.
41

Guerra Peixe procurava então defender uma arte que realçasse sua nacionalidade
brasileira e que tivesse uma linguagem acessível. O nacionalismo seria o melhor caminho
para o compositor, que deveria se inspirar em “fontes populares”. Desta forma, valorizava
uma “reação” ao “formalismo da arte pela arte” para ser um artista, um revolucionário. A
virada do artista ocorreu em 1949 quando, segundo Luiz Giani, resolveu “documentar o
folclore nordestino” 84.

Por outro lado, Cláudio Santoro afirmava que “o progresso em música deve ser a
representação dos ideais do proletariado, porque o desenvolvimento de qualquer arte, como
uma superestrutura, se faz através do conteúdo e não da técnica”. 85 A valorização do
conteúdo em relação à técnica, é importante no posicionamento contrário a uma arte
considerada pura, sem preocupação com função social ou política, apenas estética. Assim, o
crítico H. Galdeman analisaria a produção de Claudio Santoro e a utilização da cultura
nacional, dizendo que: “o que Santoro e os compositores do realismo socialista desejam é
fazer uma música que seja um hino de fé nos destinos do homem, não um refúgio de sofismas
e recalques”. 86

Desta forma, a ligação com o realismo socialista ficava explícita, e a intenção de uma
música que estimulasse as pessoas era reconhecida pelo crítico. Claudio Santoro teria
reconhecimento no meio artístico do Leste Europeu e de Moscou, onde fez turnês e regeu
orquestras sinfônicas. Assim como ele, o solista Arnaldo Estrela, também membro do PCB,
ganhou reconhecimento na União Soviética, fazendo cerca de sessenta recitais em uma
viagem. 87

Santoro88. contribuiu ao Partido principalmente com suas músicas e reflexões se


destacando na defesa da música a serviço da “causa revolucionária” e na difusão da doutrina
partidária através de suas criações, participando de conferências e congressos internacionais,
principalmente em países comunistas. Claudio Santoro escrevia artigos para a imprensa
comunista e realizou concertos e divulgou a música soviética. A aproximação de Santoro com
o realismo socialista pode ser relacionado ao seu interesse no marxismo e princípios como o

84
GIANI, Luiz. Op. cit. P. 126.
85
Para Todos, março de 1951. Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P.174
86
Para Todos, março de 1952. Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P.174.
87
MORAES, Dênis. Op. cit. P. 175.
88
Entre suas produções musicais pode-se destacar Ode a Stalingrado de 1946-7, Zé Brasil e Canto de Amor e
Paz de 1950. Cf. GIANI, Luiz. Op. cit. p.430.
42

papel revolucionário do proletariado, o papel utilitário da música que o levaram a filiar-se em


1946 ao PCB89.

A respeito da arte cinematográfica, o PCB contava com diversos nomes deste campo
como seus membros e defensores do tipo de arte promovida pelo Partido. Eram cineastas
como Nelson Pereira dos Santos, Alex Viany (1918-1992), Carlos Ortiz (1910-1995), Walter
da Silveira (1915-1970), Nilo Antunes, Rodolfo Nanni (1924-), Plínio Morais, Oduvaldo
Vianna (1892-1972) e Ruy Santos (1916-1989). As produções cinematográficas deveriam
destacar um “herói positivo” e que fosse um exemplo para os expectadores. A afirmação deste
posicionamento era feito principalmente através da crítica aos filmes da Companhia
Cinematográfica Vera Cruz, recém criada com apoio financeiro de uma elite financeira
paulista e com pretensões de organizar um aparato grandioso como os europeus ou o norte-
americano, com estúdios espaçosos e com estrutura técnica avançada, e mesmo diretores
estrangeiros. Ao contrário, os cineastas ligados ao PCB buscavam um cinema com temas e
condições mais populares. 90

Desta forma, o posicionamento de Alex Viany era em prol de produções


independentes, democráticas e preocupadas com as necessidades do “povo”. Carlos Ortiz
(1910-1995), por exemplo, afirmava: “Temos que lutar pela preservação da grande tradição
popular e democrática de nossa história, seu desabrochar numa resplandecente cultura
orgulhosa do homem”91

A Vera Cruz era, então acusada por cineastas como Nelson Pereira dos Santos de
servir aos interesses “imperialistas norte-americanos”, pois era questionada sua dita ligação
com a Universal Pictures, grande companhia cinematográfica de Hollywood, apesar de
estudos recentes defenderem que a Vera Cruz criada em 1949 procuraria seguir o modelo do
cinema europeu92. Discussão à parte, o molde estrangeiro e não nacional era o ponto alvo de
críticas dos comunistas.

Nelson Pereira dos Santos, que se destacou no âmbito cinematográfico nacional


escrevia sobre o que achava das produções nacionais e como acreditava que deveria ser o
cinema brasileiro. Assim, chegou a afirmar que: “O verdadeiro realismo não se acha somente

89
GIANI, Luiz. Op. cit. P. 179,180.
90
MORAES, Dênis. Op. cit. P. 182.
91
Fundamentos, julho de 1951. Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P. 183.
92
Cf. MARTINELLI, Sérgio. Vera Cruz - Imagens e História do Cinema Brasileiro. Abooks. 2002.
43

na forma: está, antes de tudo, no assunto e no seu tratamento” 93 E continuava suas críticas a
respeito dos temas tratados nas produções da Vera Cruz dizendo que: “Os temas que nelas
encontramos são farrapos dos temas surradíssimos do cinema internacional e, especialmente,
de Hollywood.” Isto porque não tratavam do cotidiano proletário e não se preocupava com
suas causas. 94

Esta crítica trazia as concepções soviéticas do realismo socialista, que eram


defendidas assim como a produção cinematográfica da URSS. O cineasta Walter da Silveira
defendia uma indústria estatal para tal finalidade e tomava o exemplo soviético como modelo
a ser seguido, pois acreditava que assim a produção seria “livre e popular” e não presa aos
interesses capitalistas que se posicionariam contra manifestações de artistas e de
trabalhadores.

Ruy Santos foi fotógrafo e cineasta do PCB na década de 1940, dirigindo


documentários e curtas com temáticas ligadas ao Partido. Junto com o arquiteto Oscar
Niemeyer formaram a produtora Liberdade Filmes com o intuito de registrar e divulgar as
atividades comunistas. Assim foram realizados os documentários Vinte e Quatro Anos de
Luta, sobre a história do PCB e o Comício de Prestes no Pacaembú, ambos de 1945. Estes
dois filmes são exemplo da preocupação com a conjugação da arte com a reflexão a partir do
ponto de visa comunista, explicitando o intuito de dar uma função educativa a obra
cinematográfica. O papel de Ruy Santos foi fundamental, pois dirigiu e fez a fotografia destes
e muitos outros filmes, entre longas e curta metragens, documentários e de ficção. 95

Portanto, o cinema deveria ser feito com o intuito de conscientizar as pessoas sobre as
contradições da sociedade capitalista e de educá-las para uma sociedade comunista . Esta ideia
era compartilhada por outros cineastas, que acreditavam que além de suprir as “necessidades
do ‘povo’ deveriam elevar seu conhecimento, enriquecendo e desenvolvendo seus gostos. O
que se daria de acordo com os preceitos comunistas e contra a dominação norte-americana e
sua “influência imperialista sobre as massas desprevenidas”. 96

A crítica em relação à produção nacional de histórias em quadrinhos se pautava


também na crítica à influência norte-americana e ao que eles transmitiam que seriam temas

93
Fundamentos, janeiro de 1951. Apud MORAES, Dênis. Op. cit. P. 183.
94
MORAES, Dênis. Op. cit. P.183.
95
RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luis Felipe. Enciclopédia do Cinema Brasileiro. (org.) São Paulo.
SENAC, 2004. P.496.
96
MORAES, Dênis. Op. cit. P.184.
44

relativos ao crime, ódio, vingança, maldade e não ao amor à vida ou sentimentos positivos e
de confiança em um futuro melhor. Assim, a exaltação dos heróis norte-americanos era
motivo de insatisfação dos membros do PCB que propunham que houvesse histórias com
conteúdo nacional, com “heróis” realistas e humanos, que levassem o leitor a ter contato com
histórias educativas e que inspirassem o proletariado a lutar por melhorias em suas vidas. 97

Havia também membros do PCB ligados ao teatro como Jackson de Souza (1917-
1996) e Antônio Bulhões que expressavam seu posicionamento contra o modelo francês no
qual se baseavam as produções nacionais. Assim, a crítica destes comunistas era direcionada
às comédias de costumes representadas sem “conteúdo revolucionário”. 98

A condenação que faziam era ao domínio que a burguesia exerceria sobre as


produções teatrais que impediriam que obras de real importância ao “povo” fossem
representadas a um grande público. Deixavam claro em seus textos que o teatro era uma
“tribuna artística” através da qual poderiam ser levados temas relacionados às causas
proletárias, que retratassem temas brasileiros e exaltassem os trabalhadores. Para tanto, os
artistas deveriam se espelhar no “teatro de massas soviético” que servia à revolução e atraía
pessoas que lotavam as plateias. 99

Desta forma, o teatro e também o cinema, os quadrinhos, a música, a literatura e as


artes plásticas tinham no PCB defensores de uma arte ligada aos preceitos do realismo
socialista e que mostravam que os diferentes campos artísticos poderiam – e deveriam – ser
um meio de levar ao “povo” os ideais revolucionários, a consciência de se fazer parte de uma
classe operária. A partir deste panorama é possível compreender um pouco do alcance do
PCB nas artes e o envolvimento dos artistas com a causa do realismo socialista, com uma arte
que tivesse um papel educativo, como poderá ser visto nas páginas do jornal Tribuna Popular
no próximo capítulo.

1.3 – Três longos anos para o PCB: a legalidade de 1945 a 1947

A partir de 1942, o PCB começou a reaparecer na cena política nacional. Eram novos
tempos nos quais o Partido iniciou sua reestruturação após a derrota no Levante Comunista de
1935, quando foi desarticulado e posto na ilegalidade. Neste episódio a repressão ao Partido
97
MORAES, Dênis. Op. cit. P.198
98
MORAES, Dênis. Op. cit. P.186.
99
MORAES, Dênis. Op. cit. P.186-7.
45

levou vários de seus membros à prisão, e mesmo depois de sete anos, muitos ainda estavam
encarcerados, entre eles grandes líderes comunistas. Dada esta situação, podemos
compreender a dificuldade de o PCB se rearticular. Entretanto, neste momento alguns antigos
membros do PCB já estavam articulando movimentos que fortaleceriam o Partido. O
historiador José Antônio Segatto aborda alguns fatores que ajudaram o Partido a se reinserir
nas questões pertinentes à população naquele ano de 1942.

Ao lado disso, intensificam-se os movimentos reivindicatórios, como o combate à carestia, à


falta de produtos vários, etc. Ainda em 1942, o Brasil entra na guerra ao lado dos aliados
(URSS, EUA, Inglaterra) contra o nazi-fascismo (...). É nesse contexto, de luta pelas
liberdades democráticas, que o PCB irá se reorganizar e voltar a agir e influenciar na vida
política brasileira. 100

É neste período em que os núcleos do Partido que estão reaparecendo começaram a


tentar definir as estratégias de sua ação política central. Contudo, as dificuldades iam além da
dispersão dos membros diante da ilegalidade do PCB. Havia grandes divergências que
geraram tendências e posicionamentos distintos entre si. 101 Os impactos da Segunda Grande
Guerra trouxeram a oportunidade de mostrar a importância da ação do PCB no âmbito
nacional, mas também exigiam um posicionamento decisivo no tocante à contradição que se
apresentava ao apoiar a entrada do Brasil na guerra ao lado dos Aliados contra o nazi-
fascismo, e para isso apoiar o Estado Novo de Getúlio Vargas em uma União Nacional.

A questão que trazia divergências era justamente em relação à posição autoritária e


ditatorial do governo de Vargas. Alguns grupos colocavam em debate a contradição de se
combater o nazi-fascismo e estar ao lado do governo no qual foram reprimidos e presos tantos
membros do PCB.

No inicio eles combatem a ditadura, mas com a guerra e a invasão da Rússia, a palavra de
ordem é a da União Nacional. Ela, no entanto, é compreendida diferentemente: 1) a Comissão
Nacional de Organização Provisória (CNOP) a entende como esforço de guerra e
consequentemente apoio a Getúlio Vargas; nenhuma critica ao estado atual, nada que desvie as
preocupações fundamentais da luta contra o nazi-fascismo, pois as liberdades advirão com a
derrota do inimigo comum, como consequência inevitável das novas condições que virão com
o fim da guerra; 2) a posição de Fernando Lacerda, que concorda com as conclusões gerais da
CNOP, é mais radical num ponto: ela pede a extinção do Partido Comunista, numa
demonstração de boa vontade dos comunistas para com os aliados democráticos, num
momento em que Stalin fecha a Internacional Comunista; 3) afinal, existe uma corrente
paulista; que concorda no esforço de União Nacional, mas acha que se deve criticar e
combater a ditadura interna de Getúlio Vargas. 102

100
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.45
101
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.46.
102
CARONE, Edgar. O Estado Novo (1937-1945). DIFEL. Rio de Janeiro. 1976. P. 232.
46

Em agosto de 1943 foi organizada a Conferência da Mantiqueira em Engenheiro


Passos no Rio de Janeiro. Neste evento se definiriam as diretrizes que o Partido seguiria dali
em diante, e desta forma o Partido Comunista do Brasil se reorganizaria. Nesta ocasião a
posição do grupo que formava a Comissão Nacional de Organização Provisória (CNOP) foi
ratificada como vencedora. A partir de então o apoio ao governo de Getúlio Vargas seria um
“esforço de guerra” e de grande importância por ser parte de um objetivo maior que era a
derrota do nazi-fascismo, que quando alcançado traria novos ares democráticos ao mundo e,
portanto, ao Brasil103. O historiador Daniel Aarão Reis reafirma esta intenção da CNOP com a
instauração da União Nacional, a despeito desta abstenção às críticas ao Estado Novo:

Nada disto era ignorado, ou esquecido, mas os comunistas da CNOP estavam convencidos de
que esta era a proposta politicamente adequada porque favoreceria o avanço das lutas sociais,
do pensamento progressista e da organização das esquerdas e do Partido Comunista em
particular.104

Destarte, a partir do ano de 1942 o PCB foi crescendo em poder de influência e em


número de militantes. Nos anos seguintes, e com as estratégias que começaram a ser traçadas
principalmente a partir da Conferência da Mantiqueira, o Partido conseguiu conquistar mais
apoio às suas ideias e multiplicar o número de seus militantes. De acordo com Segatto, apenas
no curto período entre os anos de 1942 a 1945 de cerca de cem militantes, o Partido passou
para cerca de cinquenta mil:

Acompanhando o crescimento do movimento democrático, do qual era parte importante, o


PCB, nos anos que vão de 1942 a 1945, terá um rápido desenvolvimento. De cem militantes
na ativa em 1942 passa a quase três mil em 1942/43, indo para cinquenta mil em 1945 e quase
duzentos mil no ano seguinte. 105

Durante a Segunda Grande Guerra (1939-1945) grande parte do mundo temia e


buscava combater a ameaça nazista. Seguindo a orientação soviética, o PCB se posicionava a
favor de uma União Nacional de apoio ao governo brasileiro contra o Eixo e pela entrada do
Brasil nesta guerra. O Estado não pôde, assim, ir contra as movimentações e campanhas
comunistas, pois elas se configuravam como uma voz antinazista.

No ano de 1945 toda a conjuntura internacional passou por uma grande transformação
com o fim da Segunda Grande Guerra em maio deste ano os nazistas foram finalmente

103
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.46.
104
FILHO, Daniel Aarão Reis. Entre reforma e revolução: a trajetória do Partido Comunista no Brasil entre 1943
e 1964. In: RIDENTI, Marcelo; FILHO, Daniel Aarão Reis (Org.). História do Marxismo no Brasil. Unicamp,
2002.p. 70.
105
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.48.
47

derrotados pelos Aliados e o papel da União Soviética havia sido decisivo. Um turbilhão de
ideias e debates sobre a humanidade, direitos humanos, liberdades, democracia, entre muitos
outros, tomaram conta de grande parte do mundo. Assim como as ideias e a experiência
comunista soviética ganhavam respeito por conta da participação na guerra ao lado dos
Aliados e a efetiva derrota alemã através dos exércitos soviéticos em Berlim. Ideias que
proclamavam esse momento de mudanças e pregavam a democracia chegaram com força ao
Brasil e pressionavam o governo a mudar determinadas posturas de caráter ditatoriais.

Este foi o momento estratégico no qual os comunistas do PCB encamparam


campanhas nacionais privilegiando as questões relacionadas aos direitos sociais, liberdades
várias e ainda a Anistia dos presos políticos. Isso só fez aumentar o prestígio que vinha
alcançando com a União Nacional desde 1942 até então:

Assim, quando o ano de 1945 se abriu, nas ruas e entre as elites, cresciam e eram já imensos o
prestígio e a força política dos comunistas – evidenciados nas lutas sociais que repontavam,
nos comícios e manifestações pela Anistia e pela democratização do país, no I Congresso dos
Escritores, nas multidões em festa nas praças e nas ruas, saudando a vitória contra o nazi-
fascismo, afinal formalizada pela rendição incondicional, assinada em 8 de maio de 1945. 106

Com a reorganização do PCB e determinação das diretrizes, bases e estratégias na


Conferência da Mantiqueira em 1942, Luís Carlos Prestes107 foi escolhido chefe do Comitê
Central do Partido mesmo estando preso. A Campanha da Anistia teve participação
fundamental dos comunistas do PCB e em 1945, enfim, obteve resultados positivos.

As principais lideranças comunistas foram libertadas por decisão de Vargas, interessado em


reorientar o regime, diante do contexto internacional de declínio e depois derrota do fascismo,
e em face do grande prestígio da União Soviética (com a qual o Estado Novo reatou relações
diplomáticas em 1945) e dos Estados Unidos, visto este último país como “guardião da
democracia”. O ditador também precisou convocar eleições gerais. 1080

Prestes foi um dos libertados e quando saiu da prisão encontrou novos ares de
mudança e luta pelas liberdades democráticas:

106
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 71.
107
Luís Carlos Prestes (1898- 1990) cursou engenharia na escola militar do Rio de Janeiro e participou das
reuniões preparatórias das revoltas tenentistas em 1922, logo em seguida foi transferido para o Rio Grande do
Sul e saiu do exército em 1924 para participar de movimento revolucionário contra a presidência da República,
formando a conhecida Coluna Prestes que percorreu por dois anos cerca de 25 mil km pelo interior do Brasil, e
que apesar de não sofrer nenhuma derrota para as forças legalistas não obteve êxito na derrubada do presidente,
levando Prestes a se retirar para a Bolívia em 1927. Esta empreitada gerou grande prestígio político e militar a
Prestes e que ficou conhecido como Cavaleiro da Esperança. Depois viveu ainda na Argentina, Uruguai e URSS,
quando se dedicou ao estudo do marxismo-leninismo e em 1934 tornou-se membro do PCB, e dirigiria o Levante
Comunista de 1935, permanecendo preso desde o ocorrido até 1945. Cf. ABREU, Alzira Alves de (coord.); et al.
Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Ed. FGV. Rio de Janeiro, 2001.
108
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Comunicação, cultura de esquerda e contra-hegemonia: o jornal Hoje
(1945-1952). Tese de doutorado. PPGCOM da ECA- USP. São Paulo, 2006. P. 23.
48

Foi esta atmosfera que envolveu Prestes ao sair da prisão. Foi ela que potencializou de forma
extraordinária sua liderança, confirmada nos comícios monstro que ritmaram seu triunfo
popular: no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Recife, os maiores estádios de futebol de então
se enchiam para saudar e aplaudir o Cavaleiro da Esperança, agora livre. 109

Logo no início do ano de 1945, em fevereiro, o governo de Vargas decretou a


marcação das eleições para presidente, governador dos Estados e para a Assembleia
Legislativa. Esse era um sinal das modificações que começavam a aparecer no país. Em
seguida, no mês de abril, foi decretada a Anistia dos presos políticos com a restrição de não
poderem reaver seus cargos, nos casos de serem funcionários públicos ou militares na ocasião
da prisão. Contudo, o fato que marcaria esse período seria a liberdade de organização
partidária, direito esse que foi suspenso durante o Estado Novo e nesse momento abriria
caminho para a aparição de dezesseis partidos e um deles era o Partido Comunista do Brasil,
que finalmente estaria de novo na legalidade. 110

No ano de 1945, o movimento democrático chega no auge. Em 28 de fevereiro o governo


decretou o Ato Adicional nº 9, fixando prazo de noventa dias para a marcação das eleições
presidenciais, para os governos dos Estados e para as legislativas. Em 18 de abril é
conquistada a anistia que, embora limitada pois os anistiados não conseguiram ser
reincorporados às suas antigas funções civis ou militares, libertou todos os presos políticos e
possibilitou a volta dos que se encontravam no exílio; sendo conquistada plena liberdade de
organização partidária, inclusive para o PCB.111

Luís Carlos Prestes, libertado neste contexto, foi líder e o porta-voz dessas ideias
antinazistas, e os resistentes às mudanças dentro do PCB provocariam uma cisão, chegando a
se afastarem do mesmo. Em seus discursos, Prestes, que se tornou chefe do Partido
Comunista do Brasil, deixava clara a intenção do PCB de ampliar suas frentes. A moderação
neste momento atraiu milhares de novos filiados e simpatizantes especialmente quando, a
partir de 1945, o PCB retornou à legalidade e pôde organizar centenas de grupos pelo país,
ampliando a ação, mobilização e número de membros: Em pouco tempo, passa de poucos
milhares de membros para quase duzentos mil. Simultaneamente, organiza 500 células no Rio
de Janeiro; 361 células, 22 núcleos em diversos Estados.112

Neste período de reestruturação do PCB, muitos membros do Partido e outros


expoentes da esquerda que foram presos a partir do levante de 1935 tiveram sua liberdade
decretada. Este fator foi de grande importância para a reorganização do Partido Comunista do
Brasil e ainda formar uma estrutura partidária capaz de participar com relevância das eleições

109
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. p. 72.
110
SEGRILLO, Angelo. Op. cit.
111
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.49.
112
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.51.
49

que viriam. José Antônio Segatto pontua que: “No segundo semestre de 1945, o PCB irá se
preparar para as eleições de dois de dezembro. São lançados candidatos em quase todo o pais,
um grande esquema de agitação e propaganda”. 113

O objetivo de Prestes e também do PCB de ampliar o Partido às massas foi definido


nas diretrizes traçadas no Congresso da Mantiqueira e ficava claro também nos discursos
proferidos nos grandes comícios ou textos de Luís Carlos Prestes. Esta intenção de ampliar
suas frentes estava sendo conquistada nos últimos anos e o número de militantes do PCB
aumentava exponencialmente.

O grande aumento no número de membros do Partido Comunista do Brasil foi


determinante para o bom desempenho nas eleições, mostrando sua força política e garantindo
sua participação no governo. A eleição de tantos representantes do PCB para cargos políticos
assegurava também sua postura legalista e que tranquilizava muitos que temiam uma
radicalidade revolucionária que poderia ser inerente aos comunistas. No caso do PCB a
estratégia política estava pautada nas conquistas sociais e políticas por vias legais.

Os comunistas batiam na tecla que assegurara o sucesso durante a guerra: manter e aprofundar
a união nacional, liquidar os restos de fascismo existentes na sociedade e no Estado. Por outro
lado, na ânsia de obter credibilidade, numa sociedade trabalhada à exaustão por campanhas
que os apresentavam como sanguinários, assassinos e impatriotas, os comunistas tentaram se
apresentar como paladinos da ordem política e da paz social. Queriam mudanças, mas não a
desestabilização do país. 114

Em nome da estabilidade do país e da paz social, o Partido Comunista do Brasil


apoiou Getúlio Vargas no poder. Esse apoio, como disse o historiador Daniel Aarão Reis
Filho foi “em consequência e contrariamente a diversas correntes liberais e a outras
tendências de esquerda, apoiaram a permanência de Getúlio Vargas no comando do país até
que as eleições, previstas para dezembro de 1945, se realizassem”. 115

Essa era a postura do Partido que manteria sua aceitação e abertura na sociedade para
suas propostas. No entanto, antes que as eleições se realizassem o então presidente Getúlio
Vargas foi deposto e, apesar do impacto desta notícia, o Partido Comunista do Brasil manteve
sua posição e suas estratégias políticas que puderam ser confirmadas nas eleições que
ocorreram logo em seguida, como Daniel Aarão Reis Filho explicita: “A deposição de Vargas,
em 29 de outubro de 1945, foi um susto- e uma ameaça -, mas não alterou qualitativamente a

113
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.54.
114
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P.72.
115
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P.73.
50

proposta política geral dos comunistas. Os resultados positivos vieram com as eleições
nacionais, em dezembro daquele ano(...).116

Os resultados foram positivos e animadores, pois uma quantidade considerável de


membros do Partido foi eleita. Isso mostrava a força que o PCB alcançava com a volta a
legalidade neste momento de redemocratização do país:

O Partido Comunista terá um desempenho extraordinário nas eleições. Seu candidato à


Presidência da República, Yeddo Fiúza, obtém quase 600 mil votos em pouco mais de cinco
milhões (cerca de 10% do total), ficando em terceiro lugar. Prestes é eleito senador pelo
Distrito Federal, deputado por Pernambuco, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, ficando
como suplente no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. O PCB elegeu ainda 14 deputados
federais. 117

O ano de 1946 começaria com um novo presidente eleito: o General Eurico Gaspar
Dutra. Era o fim do Estado Novo. Todos esperavam mudanças e o PCB tinha razões para estar
otimista com seus resultados eleitorais e com o aumento progressivo de seus membros por
todo o país. Todavia, o novo governo presidencial traria grandes mudanças na política
nacional.

No curso do ano seguinte [1946], entretanto, o quadro político geral começou a mudar em
profundidade. A eleição do general Dutra à presidência da Republica entronizou no poder uma
coligação de forças comprometida com um projeto de desenvolvimento que pretendia destruir
as bases lançadas por Vargas durante o Estado Novo. Em vez do nacional-estatismo, uma
perspectiva internacionalista liberal. No lugar da ambição autonomista, a aliança
incondicional com os Estados Unidos. Em vez da ênfase industrialista, a nostalgia agrário-
exportadora. Em relação aos trabalhadores, não mais as propostas de integração e conciliação,
mas a repressão bruta aos sindicatos e às lutas sociais. 118

Os impactos da Segunda Grande Guerra ainda seriam sentidos por muitos anos, e se o
período em que durou a guerra determinou alianças, esforços e modificações nas políticas
internacionais, o fim desta guerra tão terrível traria ainda muitas transformações. Ainda
durante a guerra começaram os sinais de que a aliança entre Estados Unidos e União Soviética
tinha seus limites, e passado o primeiro momento de vitória sobre o nazi-fascismo, e definidas
as punições aos perdedores, estes limites se evidenciariam ainda mais. Uma oposição clara e
definitiva seria imposta entre estas duas potências mundiais, e os efeitos ainda não poderiam

116
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P.73.
117
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.54.
118
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P.73.
51

ser dimensionados. O historiador Aarão Reis Filho ressalta que este período inicial da Guerra
Fria pressagiava tensões maiores 119.

Não obstante a essas modificações na conjuntura internacional o PCB manteve suas


propostas políticas, inclusive a referente à União Nacional. Se após as eleições de dezembro
de 1945 o Partido Comunista do Brasil aspirava tempos promissores para suas novas
perspectivas legalistas, Aarão Reis Filho destaca as permanências e uma leve alteração na
postura do Partido:

Os comunistas revelaram grandes dificuldades em analisar as mudanças, extrair delas as


eventuais consequências políticas. Assim, não abandonaram a proposta de união nacional, nem
deixaram de cultivar a imagem de partido comprometido com a ordem e a paz. Por outro lado,
não seria razoável afirmar que permaneceram completamente inertes. Com efeito, e
respondendo à pressão dos movimentos sociais, muito ativos desde os primeiros meses de
1946, passaram a adotar, é verdade que de forma bastante cautelosa, uma atitude mais
combativa, embora dentro dos parâmetros da legalidade existente. 120

O ano de 1946 que prometia paz após seis anos de guerra trazia o peso de novas
tensões mundiais. Mas eram só os primeiros sinais. Novas eleições estavam marcadas para
janeiro de 1947, só que desta vez no âmbito estadual. Assim como os outros partidos o PCB
se preparou com candidatos e forte propaganda dentro de suas possibilidades. De acordo com
José Antonio Segatto os bons resultados das eleições anteriores se mantiveram, o que mostrou
que a força do Partido Comunista do Brasil também não havia alterado.

Nas eleições estaduais de janeiro de 1947, o PCB confirma sua votação anterior, elegendo um
numero razoável de deputados às Assembleias dos Estados, além de obter uma grande votação
nas eleições municipais, especialmente em alguns municípios como Santos, Santo André,
Distrito Federal e outros.121

Um balanço dos estudos sobre esse período compreendido entre 1945 e o início de
1947 mostra que nesses dois anos o Partido Comunista do Brasil obteve conquistas muito
importantes. O prestígio da URSS na Segunda Grande Guerra e de Luís Carlos Prestes como
líder tenentista contribui para o crescimento organizativo e êxito eleitoral do PCB.

O objetivo de alcançar “as massas” proclamado por Prestes em seus discursos parecia
estar sendo alcançado, pois o número de membros aumentava exponencialmente. O PCB
ressurgia dos próprios destroços e se reestruturava. Outro fator que demonstra essa expansão
do Partido é o número de candidatos eleitos nos dois processos eleitorais pelos quais
119
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P.73.
120
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 74.
121
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P. 55.
52

participou terem sido significativos, assim como o percentual de votos dos candidatos que não
se elegeram.

O caso já citado de Yeddo Fiúza pode ser um bom exemplo, já que ele foi candidato
do PCB à presidência da república e alcançou quase 10% do total de votos, alcançando o
terceiro lugar. Esse resultado foi de grande importância, especialmente se lembrarmos de que
a ação do Partido ainda era muito detida às grandes capitais nacionais, especialmente Rio de
Janeiro e São Paulo, onde obteve a maior parte dos votos.

Em apenas dois anos o PCB tornou-se um partido de massas, com um quadro de filiados
estimado em 150 mil a 200 mil, e uma expressiva representação parlamentar: um senador, 16
deputados federais 7 , 46 deputados estaduais em 15 Estados. A tendência de crescimento dos
comunistas como força política seria confirmada nas eleições estaduais majoritárias e
proporcionais de janeiro de 1947, nas quais o PCB teve decisiva participação na eleição de
Adhemar de Barros, o candidato do Partido Social-Progressista (PSP) ao governo de São
Paulo. 122

O PCB não mudou sua postura de pregar a União Nacional, que segundo o
pesquisador Daniel Aarão Reis Filho: “Talvez por estas razões as eleições realizadas em
janeiro de 1947, para governos e assembleias estaduais, tenham mostrado os comunistas com
um prestígio relativamente intacto.”123

Todavia, esse crescimento do Partido e a imagem estável que parecia manter não
foram suficientes para evitar que fosse novamente cassado seu registro. Daniel Aarão Reis
Filho afirma a armadilha: “Entretanto, apesar do prestígio eleitoral reafirmado e da ostentada
moderação política, os comunistas foram surpreendidos por uma armadilha: a cassação de seu
registro legal como partido político .” 124

Durante o Estado Novo todos os partidos haviam sido proibidos e apenas em 1945 a
livre organização partidária foi permitida novamente, como foi visto. Contudo, desta vez, em
125
1947 apenas o PCB teve seu registro cassado no Brasil. Os motivos são vários. A
eminência da Guerra Fria formava uma atmosfera de temor aos comunistas pelo mundo que
se opunha a eles. A aliança do governo brasileiro com os Estados Unidos da América
sustentava o incômodo que o crescimento do Partido Comunista já causava e impulsionava

122
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Op. cit. P. 26.
123
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 74.
124
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 75.
125
Em outros países da América Latina, outros partidos comunistas também foram perseguidos devido ao
anticomunismo incitado pelo início da Guerra Fria. Cf. BETHEL, Leslie e ROXBOROUGH, Ian. (Org.) A
América Latina entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1996.
53

ações contra a ascensão dos comunistas. O apoio interno Dutra encontrou entre seus aliados
reacionários e liberais. Aarão Reis Filho explicita as questões que determinaram a volta do
PCB à ilegalidade:

No entanto, prevaleceram as razões políticas. O ambiente já pesado da Guerra Fria. O


reacionarismo das forças que haviam empalmado o poder com Dutra. O antidemocratismo
básico dos liberais brasileiros. O visceral anticomunismo das elites bem pensantes, intoxicadas
pelas próprias campanhas caluniosas. O medo de um crescimento ainda mais acentuado dos
comunistas num futuro próximo, o que inquietava até mesmo os aliados trabalhistas, além de
outras forças de esquerda. 126

A tensão no mundo só aumentava com o clima de Guerra Fria que se espalhava. O


anticomunismo tomava conta de muitos países, com campanhas e perseguições. No Brasil o
Partido Comunista do Brasil havia conquistado prestígio justamente por sua moderação e
quando estourou a Guerra Fria o Partido se manteve sem aparentemente oferecer uma
“ameaça revolucionária”. No entanto, a sua ação política e de lutas sociais se intensificou e
com ela o teor de suas críticas, trazendo a tona um pouco de sua essência.

Não podemos afirmar se o anticomunismo norte-americano foi um motivo ou um


pretexto, mas o PCB parece ter ou subestimado os novos tempos de Guerra Fria, ou
acreditado que se sustentaria por conta de sua moderação e espaço que obtivera no governo.
Daniel Aarão Reis Filho diz que apesar dos indícios, os comunistas do PCB pareciam agir
normalmente, reunindo-se em um novo congresso do Partido e publicando novas teses. De tal
modo, teria feito um julgamento equivocado da situação e pagado o preço:

Os comunistas cometeram o grave erro de subestimar todas estas considerações. Em fins de


fevereiro, discutiam tranquilamente a convocação, na legalidade, do IV Congresso do Partido,
para maio de 1947. As teses para discussão chegaram a ser, efetivamente, publicadas, em 25
de março. Neste mesmo mês, o Comitê Nacional insistia na idéia de que as circunstancias
então prevalecentes não autorizavam o retorno da sombra do fascismo e do autoritarismo. Nas
vésperas ainda da cassação, as lideranças comunistas mostravam-se confiantes e
despreocupadas – o julgamento não poderia ser, e não seria, desfavorável. 127

No entanto, não houve escapatória, o Partido Comunista do Brasil teve seu registro
cassado e voltou à ilegalidade em 1947. Acabava o período que parecia tão promissor, toda a
estrutura partidária, a rede de imprensa, nada resistiria à investida das forças repressivas
amparadas na decisão judicial. As sedes foram fechadas, assim como os núcleos e os jornais.
No ano de 1948 o impacto foi ainda maior, pois os membros do PCB que haviam sido eleitos
de forma direta tiveram seus mandatos cassados. O Partido retrocedia e suas conquistas iam se

126
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 75.
127
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 75.
54

esvaindo em poucos meses. Muitos protestos, e denúncias das arbitrariedades foram feitas,
mas foram em vão.

Foi um estupor. Correrias para salvar arquivos. Sedes fechadas pela polícia. Jornais
empastelados. Imprecações, protestos, denúncias. Meses mais tarde, em janeiro do ano
seguinte, outra violência: a cassação do mandato dos parlamentares eleitos pelo PCB. Uma lei
aprovada pelo Congresso consolidava o arbítrio votado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Os
comunistas não somente não poderiam mais se eleger, os já eleitos perdiam os direitos – e os
mandatos – conquistados. A lei fazia retroagir seus efeitos, ferindo o principio consagrado do
direito adquirido.128

Novamente o Partido Comunista do Brasil estava na ilegalidade e neste momento suas


possibilidades já não eram mais as vias legais. Uma nova postura seria adotada, com mais
radicalidade e novas estratégias de ação política. É um período no qual outras diretrizes serão
traçadas e outras bases sustentarão a sobrevivência do Partido. Porém é importante pontuar
esse rompimento que ocorre na passagem do não de 1947 e o ano de 1948, quando o perfil do
PCB passa a ser outro.

De volta aos subterrâneos da sociedade. Os comunistas reagiram com a radicalização


revolucionária. Dois textos políticos, entre muitos outros, exprimiram de modo mais completo
o novo curso político adotado: o manifesto de janeiro de 1948 e, principalmente, o de agosto
de 1950.129

Este momento (de 1943 a 1947) é considerado pelo historiador Daniel Aarão Reis
como a “aurora de todos os sonhos” para o Partido Comunista do Brasil. 130 Neste período, o
PCB mudou seu posicionamento político e traçou novas diretrizes na Conferência da
Mantiqueira, realizada em agosto de 1943, encontro que marcou uma virada na história do
PCB. Este breve período de dois anos se mostrou formado por longos e ricos anos na história
do Brasil e do PCB, Partido que foi o primeiro deste país.131 Se mostra, portanto de grande
importância a compreensão mais detalhada de sua estrutura e estratégias que o levou a crescer
em número de filiados, de candidatos eleitos e de publicações periódicas, disseminando suas
perspectivas políticas e também sua política cultural.

1.4 – Imprensa Popular: editoras e a rede de jornais e revistas comunistas

No período de reorganização do PCB, ainda em 1942, começa a se reestruturar uma


rede de publicações periódicas e editoriais mostrando os primeiros passos do que seria uma

128
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 76.
129
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 76.
130
FILHO, Daniel Aarão Reis. Op. cit. P. 69.
131
O PCB foi o primeiro partido do Brasil, fundado no ano de 1922 na cidade de Niterói no Rio de Janeiro.
55

estrutura complexa de imprensa. Neste momento o Partido Comunista do Brasil ainda está na
ilegalidade, contudo, quando começa a reestruturar seus núcleos e comitês também começa a
organizar editoras para publicação de obras políticas que divulguem suas bases ideológicas
marxistas, leninistas e stalinistas, principalmente.

Além de que, ‘a partir de 1942 ressurge toda uma linha de publicações e de editoriais, e ao
lado das publicações panfletárias ilegais aparecem livros e revistas de caráter permanente e
legal. É natural que o processo seja lento, metódico e cauteloso, mas muitas das casas
editoriais da época da legalidade do PCB (1945) nascem nestes anos obscuros e difíceis. ’ 132

Para Lênin as publicações periódicas tinham um papel fundamental para o Partido,


pois através delas seria possível divulgar os objetivos políticos, educar ideologicamente as
pessoas em um esforço de conscientização política e promover a coesão interna dos membros
do Partido. A organização dos diferentes setores sociais em prol da ação promovida e a
propagação das ideias propostas são outros fatores que tornam a imprensa um meio de grande
importância para o crescimento do Partido. De acordo com Vladimir Lênin “(...) não se pode
começar o "trabalho político vivo" senão através de uma agitação política viva, o que é
impossível sem um jornal para toda a Rússia, que apareça frequentemente e seja difundido de
133
forma regular. Desta forma, um jornal periódico, frequente e regular seria o caminho para
organizar as “massas” e educa-las. E ainda segundo seu texto de 1902, Lênin explicita a importância
prática de um jornal para toda a Rússia e o grande alcance necessário, além da temática estratégica a
ser tratada.

(...) um jornal comum, empresa única e regular para toda a Rússia, que resumirá as mais
variadas atividades e incitará as pessoas a progredir constantemente por todos aqueles
numerosos caminhos que conduzem à revolução, da mesma forma e todos os caminhos levam a
Roma. (...) E o jornal mostrará prontamente os contornos gerais, as proporções e o caráter dessa
obra; as lacunas que se fazem sentir mais fortemente na ação conduzida em escala nacional, os
lugares onde a agitação é deficiente e onde a ligação é precária, as engrenagens do imenso
mecanismo comum que o círculo poderia reparar ou substituir por outras melhores. 134

Em 1945, quando da legalidade do Partido, já era grande a rede de publicações


impressas por essa organização política. A linha que seria perseguida se inspirava nas
proposições de Lênin. Se Vladimir Lênin proclamava essas importantes funções para a
imprensa, o PCB corroborava este caminho com a apresentação de uma estrutura de imprensa
bem planejada. A atenção que o Partido Comunista do Brasil deu à questão da imprensa
aumentava ao passo que percebiam a importância que deveriam empregar nesse meio de

132
CARONE, Edgar. O Estado Novo (1937-1945). Op. cit. P. 238.
133
LENIN, Vladimir. Que fazer? Huicitec. São Paulo, 1979.p. 94.
134
LENIN, Vladimir. Op. cit. p. 98.
56

propagação da sua política e das atividades do Partido. A preocupação era com a melhoria do
nível técnico empregado e com o conteúdo político a ser divulgado.

O pesquisador Edgar Carone fez uma análise da imprensa do Partido Comunista do


Brasil a partir de seu ressurgimento na década de 1940 e ressaltou que no ano de “1946, a III
Conferência Nacional do PCB reafirmou que ‘o maior elemento para fazer a propaganda da
nossa política e da atividade do partido é a sua imprensa’. E recomendou esforços para
melhorar consideravelmente o nível político e técnico dos jornais.” 135

A estrutura de imprensa do PCB era chamada de Imprensa Popular, e abarcava todas


as publicações periódicas do Partido. Com a Imprensa Popular o PCB procurava atingir
variados setores sociais diversificando também o enfoque de suas publicações. Hélio
Benévolo Nogueira afirma ainda que “no mundo jornalístico e cultural, tínhamos um jornal
para cada setor mais importante de atividades”136 Este autor foi jornalista do Partido
Comunista do Brasil para o jornal Imprensa Popular que circulou entre os anos de 1948 e
1958. Hélio Benévolo em entrevista concedida a Alberto Gawrysewski em 2003 alegou que:

Para os leitores comuns e setor de massas, existia o jornal Imprensa Popular (antes chamado
Tribuna Popular); para o simpatizante e militante, Voz Operária; e para o militante, A Classe
Operária; o primeiro era diário, com notícias da cidade, do mundo e do partido, o segundo
semanário, com noticias sobre o movimento agrário, operário e sobre os partidos comunistas
do Brasil e do mundo, o último ‘[...] era só doutrinário, cada tijolo desse tamanho, ninguém
lia’ Também existia Gazeta Sindical, editada pela Frente Sindical. Enfim, nada ficava de fora
desta construção e luta ideológica.137

Gawrysewski explicita ainda o caráter destas publicações com programas tão


específicos, destacando características dos conteúdos, dos temas tratados e de quem as
escrevia. Cada publicação tinha um perfil e um público bem definido, como vimos, e para isso
a densidade do conteúdo e a variedade seguiam uma linha específica para cada um traçados de
acordo com as estratégias do Partido para cada setor que pretendia atingir.

Podemos considerar grupos de publicações específicas como os periódicos que


circulavam semanalmente, mensalmente e ainda os que passavam por períodos de
irregularidade. Podiam apresentar um caráter de divulgação programática, com textos de
membros da direção do Partido Comunista do Brasil, sobre temas diversificados, mas que
mostravam de forma clara o posicionamento do Partido em relação às questões políticas e
135
CARONE, Edgar. O PCB: 1943- 1964. Op.cit.
136
BENÉVOLO, Hélio. Relembranças. Rio de Janeiro, Edição do autor, 2003. p. 133.
137
NOGUEIRA, Hélio Benévolo Entrevista ao autor, na cidade do Rio de Janeiro, 20/10/2003. In:
GAWRYSEWSKI, Alberto. Op. cit. P. 17.
57

econômicas nacionais e sobre as ações por ele promovidas em diversos âmbitos. Estes
periódicos tinham um caráter de divulgar, especialmente, informações sobre as atividades do
PCB.

Dois exemplos são os periódicos A Classe Operária, publicado semanalmente no Rio


de Janeiro entre os anos de 1925 e 1952, mas com períodos consideráveis de interrupções.
Com a volta do PCB à ilegalidade em 1947 A Classe Operária enfrentou forte repressão e foi
fechado em 1949, foi quando o Partido lançou a Voz Operária, publicado no início
semanalmente, logo em seguida passou a ser mensal. Também era editado no Rio de Janeiro
regularmente até 1959. Depois voltou por curtos períodos entre 1964 e 1975, depois no
exterior e com poucos números na década de 1980. Alberto Gawrysewski se refere à década
de 1940, a partir da legalidade do PCB e traça um perfil de Voz Operária e A Classe
Operária.

Os periódicos não diários, como a Voz Operária e A Classe Operária, adquiriram um sentido
mais programático. Possuíam muitos artigos da direção do PCB e os mais diversos possíveis,
mas com conteúdo político e cultural. As lutas cotidianas dos trabalhadores, as greves, postura
contra as políticas econômicas e trabalhistas do governo aí encontravam espaço
privilegiado. 138

Havia ainda as revistas de caráter político e cultural que eram publicadas mensalmente
e tinham um caráter específico no que concerne a divulgação teórica das ideias marxistas,
leninistas e stalinistas. Mas não eram apenas artigos destes grandes teóricos comunistas.
Muitos eram artigos de intelectuais soviéticos ou alguns de outros partidos comunistas do
mundo que eram traduzidos e publicados nestas revistas. Os dirigentes e intelectuais de
destaque do Partido Comunista do Brasil publicavam também textos de sua autoria, suas
interpretações de assuntos gerais da economia ou política nacional pautadas nas bases teóricas
que seguiam.

As revistas que seguiam este perfil eram a Fundamentos, publicada mensalmente no


Rio de Janeiro entre 1948 e 1955; Seiva, que circulou em Salvador; e Horizonte, que circulou
em Porto Alegre entre os anos de 1949 e 1956. E ainda havia a revista Problemas, publicada
mensalmente no Rio de Janeiro entre os anos de 1947 e 1956, com um perfil teórico e denso.

As revistas políticas e culturais como Fundamentos, Seiva e Horizonte entre outras, seguiam a
linha de propagação do ideário marxista-leninista-stalinista. Artigos dos dirigentes do partido e
de intelectuais com eles afinados, transcrição de artigos de pensadores estrangeiros, em
especial da URSS, lá eram encontrados. Propostas de políticas culturais a serem produzidas

138
GAWRYSEWSKI, Alberto. Op. cit. P. 16.
58

pelos artistas comunistas estavam ali posicionadas. Análise da situação econômica e política
nacional, das condições de vida no campo e cidade, informes do partido e orientação política
eram também os temas tratados, bem como elogios ao governo de Stálin e sua organização. 139

O Partido Comunista do Brasil também mantinha ativas algumas editoras, das quais se
destacavam a Editorial Vitória, a Editora Presença, Editorial Calvino e as Edições Horizonte.
As publicações de livros eram de frequência intensa e os títulos eram tanto para um público
mais restrito quanto para um grande público. Muitos livros eram traduções especialmente de
Stalin e Lênin, mas alguns também de Marx e outros teóricos marxistas; além de membros do
PCB como Prestes. Esses livros se dirigiam a um público mais limitado, mas eram divulgados
nos jornais para alcançar cada vez mais leitores. Havia ainda uma grande leva de títulos
literários também de autores estrangeiros traduzidos, geralmente soviéticos, mas também
nacionais, como o caso de Jorge Amado, que a esta altura produzia romances que se
coadunavam com as diretrizes promovidas pelo Partido, do qual era inclusive militante.

Os livros impressos por estas editoras do PCB passavam pelo crivo do Partido e
deveriam estar de acordo com as proposições que eram defendidas para a literatura. A
seleção era feita pelos dirigentes e seus critérios se pautavam em diretrizes compartilhadas por
outros partidos comunistas do mundo e que eram definidas a partir das diretrizes do Partido
Comunista da União Soviética. A literatura deveria, então, também servir às questões
pertinentes aos trabalhadores, deveria divulgar o caminho do comunismo como o único
possível para vencer os problemas que enfrentavam em regimes capitalistas.

O PCB não fazia diferente. Os temas que eram escolhidos ou encomendados estavam
pautados nestas proposições, mas adaptados às questões presentes no cotidiano do trabalhador
brasileiro. As editoras controladas pelo Partido estavam de acordo com as diretrizes definidas
por este e eram mais um meio de expressar e educar as pessoas. Cabia a essas casas editoriais
um papel e um público também específicos, e para isso mantinham um perfil delineado:

Os romances e títulos publicados pelas editoras do PCB (Vitória, Presença etc.) tinham um
caráter político-pedagógico de extrema importância na luta empreendida por este partido, pois
era mais uma forma de divulgar seu ideário. Muitos títulos publicados em formato popular e
em papel jornal se destinavam ao grande público. Romances de autores brasileiros vinculados
ao partido eram encomendados. Os temas escolhidos pelos dirigentes do PCB referiam-se aos
problemas da classe trabalhadora (luta dos pescadores, mineiros etc.) Produções que passavam
pelo controle cultural do partido corriam o perigo de serem engavetadas se não atendessem os

139
GAWRYSEWSKI, Alberto. Op. cit. P. 16.
59

seus objetivos. Por fim, encontramos traduções de romances estrangeiros que também estavam
dentro dos interesses culturais do PCB. 140

1.4.1 – Os periódicos diários do PCB em dez capitais brasileiras

A Imprensa Popular era uma forte rede de imprensa que abrangia diferentes públicos
e se apresentava para diferentes perfis de leitores. Neste conjunto heterogêneo, porém
articulado, um viés pode ser destacado: o dos periódicos diários. A estrutura de imprensa
diária montada abrangia dez capitais de Estados brasileiros a começar pelo Rio de Janeiro
com o Tribuna Popular que começou a circular em maio de 1945. Logo teria jornais de
caráter semelhante em São Paulo, no Espírito Santo, na Bahia, em Pernambuco, no Ceará, em
Alagoas, em Goiás, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, totalizando dez capitais nacionais.
Esta atividade seria essencial para a afirmação do Partido Comunista do Brasil e difusão do
movimento que propunha para os trabalhadores.

No “Plano de Trabalho da Secretaria de Educação e Propaganda” do PCB, eram


estabelecidas as tarefas centrais desta secretaria: “o levantamento do nível ideológico e
político de todo o Partido, e traduzir para a massa a nossa linha política, mobilizando-as para
141
a luta”. Uma das estratégias para alcançar as massas populares, e aumentar desta forma o
número de filiados e ampliar o acesso das pessoas às suas propostas foi a estruturação de uma
imprensa engajada forte, ativa e que chegasse às pessoas de forma fácil e no seu dia-a-dia. 142

O jornal Tribuna Popular começou no Rio de Janeiro o que depois constituiria uma
rede de publicações periódicas que dialogaria e faria contribuições numa esfera local. Assim o
PCB investia em periódicos, como o Hoje em São Paulo, uma das capitais que se destacavam
e se mostravam estratégicas:

Tribuna Popular e Hoje começaram a circular em ambiente no qual os jornais tradicionais já


vinham atuando com grande desenvoltura, apesar da atividade inibidora do Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP). A influência da imprensa na fase final do Estado Novo pode ser
medida pela repercussão da “sensacional” entrevista concedida por Monteiro Lobato ao Diário
de S. Paulo, em que o escritor defende Prestes, a União Soviética e o socialismo: uma semana
a edição correspondente foi reimpressa. 143

140
GAWRYSEWSKI, Alberto. Op. cit. P. 16.
141
Fundo Policias Políticas do Rio de Janeiro (PPRJ). Setor Político. Pasta 3B. P. 468 até 471. Arquivo Público
do Estado do Rio de Janeiro (APERJ).
142
BUONICORE, Augusto. Comunistas, Cultura e Intelectuais entre os anos de 1940 e 1950. Disponível em:
http://www.espacoacademico.com.br/032/32cbuonicore.htm . Acessado em 25-09-2010.
143
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Op. cit. P. 38.
60

A estrutura de publicação periódica era uma preocupação do Partido, e a criação da


Interpress, agência de notícias do PCB sediada no Rio de Janeiro, foi estratégica. Esta agência
possibilitava a grande demanda para as publicações diárias em todo país, além de suprir as
outras categorias da imprensa comunista. A Interpress possuía papel de grande importância,
pois era preciso papel e maquinário adequado, funcionários qualificados e assalariados para
operar as máquinas, por exemplo, além dos jornalistas organizados para abarcar as variadas
colunas e temáticas abordadas nos jornais. Pedro da Rocha Pomar explicita esta idéia quando
se refere à viabilização do esquema de produção periódica diária:

Tratava-se de dirigir-se às massas populares por meio de jornais relativamente estruturados, de


periodicidade regular, produzidos por redações formadas por jornalistas profissionais e com os
requisitos técnicos que se fizessem necessários. Jornais diários — o que exigiria aportes
financeiros consideráveis para a compra de papel e maquinário, instalações, pagamento de
salários, bem como a mobilização de pessoal qualificado. Importante complemento dessa rede
de jornais seria a criação da agência de notícias Interpress, sediada no Rio de Janeiro. 144

Com esse forte arcabouço o Partido Comunista do Brasil pôde apresentar publicações
periódicas em diversos Estados brasileiros. Formava uma rede que primava por um perfil de
jornais semelhantes com um objetivo em comum. Pomar enfatiza que: “Essas publicações
representaram em seu conjunto um impressionante esforço dos comunistas, de natureza
financeira e política, no sentido de garantir-lhes uma inserção na política nacional em pé de
igualdade com as demais forças partidárias.” 145

De acordo com Antonio Rubim, em 1946 eram dez os jornais diários que alcançavam
dez respectivas capitais de Estados brasileiros, levando a linha política do Partido às “massas
populares”.

Além de Tribuna Popular e Hoje, surgem em 1945 Folha Capixaba, em Vitória, lançada em
maio; Folha do Povo, em Recife, em novembro; Tribuna Gaúcha, em Porto Alegre; O
Democrata, em Fortaleza; Voz do Povo, em Maceió. O Momento passa a ser diário em março
de 1946. Aparecem também em 1946 O Estado de Goiás, em Goiânia, e o Jornal do Povo, em
Belo Horizonte. 146

Podemos notar que alguns explicitavam no nome ou uma identificação com o povo,
com o popular, ou uma identidade local, fosse gaúcha, capixaba ou de Goiás, ou ainda uma
referência à permanência no cotidiano das pessoas, como nos casos do Hoje, de O Momento.
Todos buscam uma identificação dos trabalhadores leitores de alguma forma, e tinham a

144
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Op. cit.
145
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Op. cit. P. 39.
146
RUBIM, Antonio Albino Canelas. Marxismo, Cultura e Intelectuais no Brasil. In: MORAES, João Quartin
(org.). História do Marxismo no Brasil. Unicamp. Campinas, 1988- vol. III. P. 43.
61

intenção de se inserir no dia-a-dia destas pessoas. Um dos motes desses jornais era abordar
temas do cotidiano para também se aproximar e se fazer parte integrante da vida das pessoas.

Pedro Motta Lima era diretor do Tribuna Popular em 1946; e no dia 02 de outubro
deste ano publicou um artigo intitulado “Nossa Imprensa, a melhor arma do povo”. No
primeiro parágrafo de seu texto podemos notar a importância dada ao A Classe Operária,
considerado órgão central. Ainda é possível observar que Pedro Motta Lima considera apenas
sete jornais diários que circulam pelo país, provavelmente são os principais ou os existentes
nesta linha até então. Além disso, podemos ressaltar a ideia de que estes diários pretendiam
estar presentes em diversos âmbitos da vida das pessoas e faziam parte de “um programa de
união nacional, de progresso, liberdade e defesa do Brasil”, como diz o autor em questão:

Uma das mais altas contribuições do Partido Comunista à causa da democracia foi a criação e
manutenção da Imprensa Popular em todo o país. Além d’ “A Classe Operária”, seu órgão
central, que ressurgiu à legalidade após tantos anos heroica vida subterrânea, sete diários e
muitos periódicos circulam a serviço do povo, no Rio, em São Paulo, na Bahia, em
Pernambuco, no Rio Grande do Sul, no Cear ‘1á, no Espírito Santo e em outros centros
importantes, nas principais cidades, em bairros, locais de trabalho, setores fundamentais das
nossas atividades econômicas, políticas e culturais. Não são órgãos estritamente partidários.
Sustentam um programa de união nacional, de progresso, liberdade e defesa do Brasil147.

Estes jornais mostravam a intenção de serem veículos que privilegiariam a mediação


entre o Partido, os intelectuais, artistas e o “povo”. No próximo capítulo, será tratado o caso
particular do Tribuna Popular, pretendendo-se analisar o formato, estrutura e ideias
presentes, demonstrando a importância da publicação para o Partido na busca pela ampliação
de suas frentes.

147
LIMA, Pedro Motta. Nossa Imprensa, a melhor arma do povo. In: Tribuna Popular. 02-10-1946. P.3. RJ.
Acervo BN.
62

SEGUNDO CAPÍTULO

O TRIBUNA POPULAR, AS DORES DO POVO E

OS COMUNISTAS PRESOS DE NOVO


63

2- SEGUNDO CAPÍTULO: O TRIBUNA POPULAR, AS DORES DO POVO E OS


COMUNISTAS PRESOS DE NOVO

2.1- Um jornal para o “povo”

Fig. 4- Tribuna Popular. 22-05-1945, Capa (detalhe). Rio de Janeiro. Acervo Biblioteca Nacional.

O jornal Tribuna Popular foi lançado no Rio de Janeiro em 22 de maio de 1945 e


nesta edição foi publicada uma carta de saudação de Luís Carlos Prestes que era Secretário
Geral do Partido Comunista do Brasil neste momento. As palavras de Prestes foram
apresentadas da seguinte forma:

A saudação de Prestes: A propósito do aparecimento de TRIBUNA POPULAR, o grande líder


nacional, Luís Carlos Prestes, enviou a saudação que se segue, traçando rumos para uma
imprensa realmente posta a serviço do povo e das suas causas. Nada de mais honroso e grato
para um jornal que inicia as suas atividades como objetivo de pugnar pela unidade,
democracia e progresso do povo brasileiro. Damos abaixo o documento firmado por Luís
Carlos Prestes 148.

Apenas em seguida foi transcrito o referido documento de saudação, datado e


assinado. Através das palavras de Prestes é possível entender parte do papel que teria este
jornal para o Partido: “Saúdo, neste primeiro número da TRIBUNA POPULAR, o advento
em nossa terra de uma nova imprensa – a imprensa popular capaz de esclarecer, orientar e
unir o nosso povo no caminho da democracia e do progresso”149.

O líder do PCB anunciava, então, os componentes da direção do novo jornal. Além


disso, Prestes os qualifica enquanto profissionais, militantes e seres humanos capazes de
desenvolver um jornal de acordo com os novos tempos.

Pedro Mota Lima e seus dignos companheiros de direção, Aydano do Couto Ferraz, Alvaro
Moreyra, Dalcídio Jurandir, Carlos Drummond de Andrade, são democratas comprovados,
homens honrados, inteligências lúcidas que saberão fazer da TRIBUNA POPULAR o jornal
novo, da nova época, de desenvolvimento pacífico, que se inicia no mundo com a derrota
militar do nazismo. Os restos mortais de um regime caduco serão agora mais facilmente
enterrados150.

148
Tribuna Popular, 22-05-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
149
Tribuna Popular, 22-05-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
150
Tribuna Popular, 22-05-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
64

Prestes dizia ainda que o jornal teria um papel político de ação contra o integralismo e
outros braços do nazismo no Brasil. Desta forma, de acordo com o Secretario Geral do PCB,
este jornal seria o que o povo já esperava para expor suas reclamações e para discutir as
questões nacionais. Por fim, pedia que acompanhassem o jornal para que ele crescesse.

E o novo jornal há de ajudar o povo a completar a vitória de nossas gloriosas Forças


Expedicionárias com a derrota moral e política, definitiva e total, do integralismo, da 5ª coluna
e demais agentes do inimigo em nossa terra. O povo terá enfim o seu jornal a tribuna popular
que reclamava e de onde poderá expor suas e os grandes problemas nacionais que só ele pode
de fato resolver. Congratulo-me por tudo isso com o nosso povo e peço-lhe que acompanhe
com carinho a vida do seu jornal, que precisará do apoio e da ajuda populares para crescer e
prosperar. Rio, 22-V-1945. Luís Carlos Prestes 151.

Junto a este texto de saudação havia a reprodução de um trecho do manuscrito original


e uma foto de Luís Carlos Prestes (fig.5). Através dessas palavras, Prestes procurava mostrar
que este novo jornal poderia ser “capaz de esclarecer, orientar e unir” o povo “no caminho da
democracia e do progresso”. Desta forma, a figura de Prestes era usada com a pretensão de
buscar uma credibilidade ao jornal. Em seu discurso, o líder do PCB procurou qualificar os
diretores do periódico e logo em seguida pedir ao público leitor e às pessoas que o admiravam
que acompanhassem “com carinho a vida do seu jornal, que precisará do apoio e da ajuda
populares para crescer e prosperar” 152.

Fig. 5 - Tribuna Popular. 22-05-1945, Capa. RJ. Acervo BN.

151
Tribuna Popular, 22-05-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
152
Tribuna Popular, 22-05-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
65

A partir de então, é possível notar neste número inicial do Tribuna Popular que logo
na primeira página era apresentada a recomendação de Prestes e algumas manchetes de
impacto que mostravam o posicionamento político e o tom que teria o jornal. É possível
perceber, então, como o jornal mostrava-se de grande importância para o Partido Comunista
do Brasil, visto que pretendia ser o representante do “povo” e de seus anseios e ainda divulgar
as ações e posições políticas do PCB para um público maior do que de suas publicações
teóricas153.

Chama atenção o uso da palavra “povo” que é recorrente no jornal e tem diferentes
usos e significados. Por vezes transmite uma ideia de nacionalidade – “povo filipino”, “povo
brasileiro”, “povo chinês”. Em outros momentos, se refere às camadas sociais menos
favorecidas, aos trabalhadores. Esta palavra acaba tendo usos que modificam seu significado,
portanto estas variações vão depender do contexto utilizado. O “povo brasileiro” pode ser
tanto uma referência a totalidade das pessoas de nacionalidade brasileira, ou aos
trabalhadores, ao proletariado de um modo geral.

Todavia, será visto adiante como se construiu o novo periódico do PCB para
compreender os esforços empregados em sua elaboração, investimentos e retornos
financeiros, assim como o alcance que seus números tinham no público leitor. Esta análise
será a abordagem de mais um aspecto que pretende dimensionar a importância do jornal para
o Partido.

2.2- Construção do Tribuna Popular

No dia 27 de junho de 1946 o Comitê Metropolitano do Partido Comunista do Brasil


enviou uma circular para suas células e núcleos com o objetivo central de explicitar, como
intitulado, “O que representa a aquisição de prédio e oficinas para a Tribuna Popular” 154. Para
tanto, o secretariado, ao assinar a circular, procurou justificar este investimento. Este
documento se inicia dizendo que os números do jornal são disputados nas bancas não somente
por militantes do PCB, mas também por leitores que se identificam com ele por serem
proletários e do “povo”.

153
No Primeiro Capítulo desta Dissertação apresento estas publicações teóricas, assim como as outras que
compunham o conjunto de publicações do PCB denominado Imprensa Popular, e que circulou neste período de
legalidade.
154
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
66

Desnecessário é encarecer a importância que tem para os comunistas e para o povo em geral a
aquisição do prédio e oficinas próprias para a nossa “TRIBUNA POPULAR”. Pela disputa nas
bancas de jornais vemos que além dos militantes do PCB, milhares de leitores veem na
155
“TRIBUNA POPULAR” o legítimo defensor do proletariado e do povo .

Em seguida, procurou-se salientar a dificuldade de produção desse jornal, dizendo que


os diretores gostariam de produzir mais jornais, mas que os custos eram muito altos. Isso
porque sem oficinas próprias, o Tribuna Popular era produzido em oficinas de outros jornais,
que cobravam pelo uso do maquinário. No texto há uma reclamação de que o preço
combinado teria aumentado de Cr$ 200,00 para Cr$ 800,00 por página do jornal, e sem direito
156
a aumento da tiragem. Novamente é destacada a disputa dos leitores por exemplares do
jornal.

No entanto, poucos sabem à custa de que sacrifícios sai cada número do nosso querido jornal.
Certamente que não é pela vontade de seus diretores que os leitores de “TRIBUNA
POPULAR” vão de madrugada disputar os seus exemplares; nem é por sua vontade que
frequentemente deixam de sair diversas notícias e até anúncios. O fato concreto é que só se
consegue um número reduzido de exemplares por um preço escorchante, que, combinado
inicialmente a... Cr$ 200,00 por página já está em Cr$ 800, 00 sem direito a aumento de
tiragem, o que é inconcebível, pois enquanto à inúmeros jornais faltam leitores à “TRIBUNA
POPULAR” falta somente OFICINAS 157.

Ao insistir na necessidade de obter oficinas próprias para aumento da tiragem do


jornal, o texto caracterizava o leitor como um democrata sincero, e que pela escassez do
Tribuna Popular nas bancas acabaria procurando outro matutino. E caracterizava os outros
matutinos como jornais que quando começaram a circular mostravam uma linguagem
democrática e depois de um tempo mostraram que não cumpriam seus compromissos com o
“povo” e seus interesses:

Outrossim a prática comprova que com oficinas próprias teremos um matutino compacto, de
grande tiragem , solucionando o problema do democrata sincero que frequentemente vê-se
obrigado a mudar de jornal, pois os fatos provam que os jornais adotam em principio uma
linguagem democrática até se firmar com a nossa preferência, fugindo depois ao cumprimento
dos mais elementares deveres para com o povo158.

155
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
156
O Cruzeiro (Cr$) esteve vigente de 1942 a 1966. Para uma noção da equivalência destes valores vale mostrar
uma comparação entre o Cruzeiro e o Real (R$), vigente atualmente no ano de 2013. Entre janeiro de 1945 e
janeiro de 1948, período em que circulou o Tribuna Popular, o salário mínimo brasileiro era de Cr$ 380,00;
atualmente, em janeiro de 2013, o salário mínimo brasileiro é de R$ 678,00. Visto ainda que no padrão Dólar ($)
a equivalência Cruzeiro-Dólar era de cerca de Cr$ 5500,00 para $ 1,00 e a equivalência Real-Dólar é de cerca de
R$ 1,99 para $1,00 em 2013. Estes dados dão suporte para uma noção dos montantes apresentados neste
Segundo Capítulo com base na moeda circulante no período: o Cruzeiro. Em:
http://www.fazenda.gov.br/portugues/salariominimo/salario_evolucao.asp acesso em 20-03-2013, acesso em 20-
03-2013 e http://www.bcb.gov.br/?PADMONET acesso em 20-03-2013.
157
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
158
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ
67

No momento posterior, eram destacados outros pontos positivos da aquisição de


oficinas próprias. Um seria a estabilização financeira do jornal com anúncios regulares e o
aumento dos existentes e a utilização do espaço físico para edição de outras publicações das
editoras do Partido. Outro ponto importante era em relação a aquisição de um prédio no
mesmo condomínio do Comitê Metropolitano do PCB, o que resolveria questões de espaço
para outras atividades partidárias.

Acresce que a aquisição de oficinas aumentará em muito a afluência de anúncios e portanto a


estabilização definitiva da situação financeira do nosso jornal e finalmente a facilidade que
todas as editoras democráticas terão em editar suas publicações. Com a aquisição de Prédio
que será em condomínio com o Comitê Metropolitano, outros problemas serão solucionados,
como sejam, auditório, biblioteca popular, sala de conferências, etc., etc.159.

Posteriormente procura-se explicitar a transição através da qual o jornal passaria a ser


uma editora com propriedade de sociedade anônima, dividida em cinquenta mil ações
nominais. O mais interessante é que o documento tinha o objetivo de defender a aquisição de
um prédio e oficinas para o jornal, e ainda prestava contas dos valores do capital inicial da
Tribuna Popular Editora S/A e de cada ação referente a ela.

Afim de tornar-se a “TRIBUNA POPULAR” um jornal independente com a aquisição de


prédio e oficinas próprias, foi organizada a “TRIBUNA POPULAR EDITORA S/A com o
capital inicial de Cr$ 5.000.000,00 (cinco milhões de cruzeiros) divididos em 50.000 ações
nominais ordinárias de valor nominal de Cr$ 100, 00 (cem cruzeiros) cada uma 160.

Logo em seguida ainda era detalhado o procedimento legal pelo qual foi transformado
o jornal em uma sociedade anônima e como Luiz Carlos Prestes contribuiu adquirindo a
maior parte das ações e como estas ações seriam repassadas para outros membros e amigos do
PCB. Desta forma, esta circular acaba elucidando como foi o procedimento para a formação
de sociedade anônima que possibilitaria maior entrada de capital para o jornal.

Para facilitar e apressar as indispensáveis exigências legais, figuraram de início, com


acionistas, camaradas da maior responsabilidade e confiança do Partido , apenas em número
de 7, número mínimo de lei para organização de uma sociedade anônima. Das 50.000 ações
que constituem o capital total da ”TRIBUNA POPULAR EDITORA S/A, 30.000 ações
pertencentes ao companheiro Luiz Carlos Prestes, como Secretário do PCB, irão ser
transferidas de preferência para os membros e amigos do Partido. Tais transferências estão a
cargo do companheiro Agildo Barata que, para esse fim, dispõe da devida procuração161.

Mais adiante mostrava-se que além da formação da sociedade anônima outros


procedimentos já estavam encaminhados. Para a compra do prédio já havia sido dado um sinal

159
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
160
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
161
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. p. 82. APERJ.
68

e as oficinas já estavam encomendadas só faltando o pagamento. Desta forma, a


responsabilidade pelo pagamento era compartilhada com todos os membros do PCB, pois a
importância já teria sido defendida anteriormente.

Para que os camaradas do Partido compreendam a importância e urgência desta tarefa, basta
dizer que a direção da “TRIBUNA POPULAR EDITORA S/A” já entabolou negociações para
a compra de um prédio, para a qual já deu sinal de Cr$ 180.000,00 (cento e oitenta mil
cruzeiros), e que encomendou as oficinas cujo pagamento breve terá de iniciar-se. São
compromissos sérios e inadiáveis que atingem a milhões de cruzeiros e que estão a exigir de
todos os militantes e amigos do Partido uma dedicação que, por certo, não faltam à nossa
gloriosa “TRIBUNA POPULAR”162.

Ao final do documento mostrava-se que esta responsabilidade acarretava obrigações


aos membros do PCB que deveriam adquirir ações da Tribuna Popular Editora S/A e
incentivar outras pessoas a tal investimento. Logo em seguida era explicado qual o
procedimento, especialmente para as células regionais, e o encargo de Agildo Barata neste
procedimento.

Cada militante deve atribuir-se a tarefa de adquirir, dentro de suas possibilidades, ações da
“TRIBUNA POPULAR EDITORA S/A”, bem como mobilizar rapidamente o maior número
possível de pessoas que queiram adquiri-las, encaminhando os interessados ao Corretor
escolhido por sua Célula ou ao próprio companheiro Agildo Barata. Por tudo isso, o Comitê
Metropolitano determina que cada Célula credencie um companheiro, si possível possuindo
conhecimentos de corretagem para comparecer à Travessa Gustavo Lacerda, nº 19 (Secretaria
de Organização), afim de ser encaminhado ao companheiro Agildo Barata, que dará instruções
detalhadas que possibilitarão o desempenho de tão urgente e importante tarefa163.

Para concluir o documento eram apresentadas as seguintes frases, em caixa alta e


sublinhadas que resumiam a proposta da circular, e ainda destacava a frase de efeito: “Tudo
pela independência da ‘tribuna popular’” e “não cederemos um passo na defesa da
democracia!!!” 164.

A partir deste documento, podemos observar algumas questões bastante importantes


no sentido de fornecer elementos sobre a mobilização em torno do crescimento do jornal. O
primeiro é a preocupação em ampliar a tiragem do jornal, o que é um sinal de que o jornal
Tribuna Popular era bem vendido, e provavelmente chegava a esgotar nas bancas. Outro
ponto é o detalhamento no esforço de esclarecer e prestar contas da transformação do jornal
em uma editora de sociedade anônima e do papel dos dirigentes do Partido neste processo.

162
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
163
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
164
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.
69

Ainda vale destacar a determinação das funções das células do Partido e a convocação dos
membros para adquirir ações do Tribuna Popular.

Esta busca pela independência do jornal em relação a oficinas alheias, ressalta as


dificuldades para publicar este periódico. No início de sua publicação circulavam cerca de
doze páginas, sendo logo em seguida reduzidas para oito, como foi na maior parte da
existência deste jornal. Em raros momentos, foi reduzida a publicação para seis páginas,
demonstrando as dificuldades enfrentadas em situações especiais como o último mês no qual
circulou – dezembro de 1947.

Esta questão da tiragem e vendagem do jornal gera dúvidas, pois a bibliografia


referente não possui consenso. Parece que a tiragem oscilou durante o período de circulação e
ainda variava dos dias de semana para os domingos. Algumas estimativas foram baseadas em
depoimentos de antigos membros do PCB que fizeram uma avaliação que pode ser referente a
pequenos períodos, tanto quando defendem que o jornal era muito vendido quanto quando
dizem que dava prejuízo.

Raimundo Alves Sousa165, linotipista conhecido como Raimundão, foi responsável por
algumas gráficas do PCB durante sua militância e uma delas foi do Tribuna Popular.
Raimundo Sousa diz que no início da circulação do jornal , quando ainda estavam na
campanha da Constituinte, a tiragem era de 90 mil exemplares por dia, e que aos domingos
alcançava 150 mil. O gráfico destaca ainda que à época a população carioca era cerca de dois
milhões de pessoas, e que o jornal seria lido, então, por mais de 10% da população.

Alberto Gawryszewski, em seu livro Arte Visual Comunista 166 procura caracterizar a
imprensa comunista nas décadas de 1940 a 1960 e a partir de então, busca traçar a tiragem do
jornal Tribuna Popular referindo-se a diversos autores, e ainda às palavras de Agildo Barata,
que durante a circulação deste jornal, foi o responsável pelas finanças do PCB. De acordo
com Agildo Barata167, o jornal foi recebido pelo público leitor com curiosidade, alcançando
grandes tiragens, mas que com o passar do tempo da novidade, foi caindo o número de
exemplares de forma vertiginosa.

165
SOUSA, Raimundo Alves de. Os desconhecidos da história da Imprensa Comunista. Fundação Dinarco Reis.
Rio de Janeiro, 2005. P. 17.
166
GAWRYSEWSKI, Alberto. Op. cit.
167
BARATA, Agildo. Vida de um revolucionário. Editora Melso S/A. Rio de Janeiro. p. 350.
70

Na edição de 12 de janeiro de 1947 do Tribuna Popular, em um domingo, havia uma


propaganda que exaltava a tiragem de 132 mil exemplares naquele dia. E ainda afirmava que
seria a maior tiragem de todo o país. Vale destacar que a tiragem representa o número de
exemplares produzidos, que podiam ser vendidos ou distribuídos, como era comum 168.

Fig. 6-Tribuna Popular, 12-01-1947. P. 3 (detalhe). RJ. Acervo BN.

Através de documentos do Partido deste período (1945 a 1947) poderíamos ter uma
ideia mais exata do volume da tiragem. Todavia, devido à perseguição sofrida pelo PCB e
consequentemente pelo Tribuna Popular, os documentos do Partido e do jornal foram, muitos
deles, apreendidos ou perdidos.

Desta forma, o acesso a essa documentação é feito essencialmente no Arquivo Público


do Estado do Rio de Janeiro (APERJ), onde estão os arquivos das polícias políticas que
atuaram no Rio de Janeiro no período de circulação do Tribuna Popular, onde reunia-se o
Comitê Central do Partido Comunista do Brasil. Estes arquivos serão analisados mais
detidamente adiante neste Segundo Capítulo. Por hora, é importante compreender que a
imprecisão das informações é devida a lacunas na documentação.

Por outro lado, felizmente, alguns documentos podem nos fazer entender o destaque
que o jornal Tribuna Popular tinha na gama de jornais do PCB. Na Previsão Orçamentária
do PCB para maio de 1947169 podemos ver que o documento era dividido em setores como:
Secretaria de Organização, Secretaria Geral, Secretaria de Educação e Propaganda, Secretaria

168
Para uma dimensão da importância da quantidade de exemplares do jornal Tribuna Popular apresentada, é
necessária a comparação com outros jornais vespertinos diários que circularam no mesmo período no Rio de
Janeiro. Com dados de 1947 e de 1949 pode-se estimar que os jornais diários cariocas com as maiores tiragens
eram O Globo com 105 mil exemplares, Correio da Manhã com 56 mil, Diário de Notícias com 54 mil, O
Jornal com 46 mil, Jornal do Brasil com 45 mil, Folha Carioca com 40 mil. HONS, André de Seguin des. Os
diários do Rio de Janeiro, 1945-1982. Rio de Janeiro, IFCS/UFRJ, 1982. Dissertação de Mestrado. P. 234. No
entanto, estes índices se referem à média de um dia útil, já que aos domingos as tiragens eram maiores, sendo
provável que a informação referente à tiragem do Tribuna Popular seja especificamente de domingos, até por a
imagem apresentada que se refere a 132 mil exemplares ter sido divulgada neste dia da semana. Ainda deve-se
destacar que mesmo assim o número de exemplares do jornal durante os outros dias não deveria ser muito menor
que a metade deste índice.
169
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. P. 451 a 461. APERJ.
71

da Fração Parlamentar, Secretaria do IV Congresso (que tratou da organização deste evento


que ocorreria no mês de abril de 1947, mobilizando membros do PCB de todo o país).

Havia ainda os setores: Interpress, Classe Operária e Tribuna Popular; o que nos
mostra o peso que tinham no orçamento do Partido, e, portanto, a relevância no plano
nacional do Comitê Central. Para a Interpress, a previsão orçamentária destacava a dívida de
três meses de aluguel do espaço de funcionamento, e que o Comitê Central forneceria o valor
necessário para quitação (Cr$ 4.000) e ainda para outras despesas (Cr$ 8.000), o que
totalizaria uma ajuda financeira referente a 80% da receita atual.

No documento é explicitado ainda que “as entradas de dinheiro dos jornais


relacionados na previsão são custeadas pelo C.N., que paga pelos mesmos com exceção do
Tribuna Popular e do Hoje” 170. Ou seja, a Interpress passava por dificuldades financeiras, e
não era autossustentável, necessitando de ajuda do Comitê Central. A Interpress era mantida
por ser fundamental a estratégia político-editorial do Partido, mesmo que não fosse lucrativa.

Contudo, havia um esforço de equilibrar as despesas do PCB com as entradas, e o


orçamento levantava pontos para redução de gastos, e de meios para um retorno financeiro
maior. No documento em questão, é mencionado que o investimento na publicidade para os
jornais dos Estados seria revertido em resultados para a Interpress e para os próprios
jornais171.

No que se refere ao Classe Operária, publicação semanal do Partido, a previsão


orçamentária mostra que a tiragem é maior que a vendagem, sendo necessária a diminuição do
número de exemplares: de 80 mil para 60 mil. Desta forma, a diminuição da tiragem,
diminuiria ainda a despesa com papel, composição e impressão. No documento há a indicação
de que a despesa com o jornal é maior do que a receita deste, mostrando um déficit de nove
mil cruzeiros. Porém, é ressaltado que o Comitê Nacional Financeiro “deve garantir à ‘Classe’
o necessário para atender às suas despesas, ou seja, o déficit verificado (...)”172.

A partir de então, podemos observar que o investimento do Partido era mais


direcionado aos resultados políticos desta publicação e da manutenção da Interpress, do que
com lucros que poderiam gerar. Assim, o esforço para sustentar os veículos de comunicação

170
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. P. 451 a 461. APERJ.
171
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ.
172
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ
72

era de grande importância para o Partido. O Tribuna Popular, assim como nos casos já
citados apresentava um déficit, mas bem maior. Na previsão orçamentária as despesas do
jornal foram orçadas em Cr$ 623.805,50, e o déficit previsto de Cr$ 154.410,00:
substancialmente maior que a Interpress e a Classe Operária. Isto pode ser um fator de
comparação para mensurarmos o destaque do Tribuna Popular em relação principalmente à
Classe Operária.

Devido, no entanto, ao grande déficit o documento propõe um melhor aproveitamento


das receitas de publicidade na edição de aniversário de um ano em maio de 1947, e ainda na
transferência de ações do jornal, e nas obras da oficina. A ajuda do Comitê Nacional seria de
Cr$ 500.000,00, como constava na previsão, o que mostra a falta de autossuficiência do
Tribuna Popular. Os gastos para manutenção do jornal eram altos e o retorno financeiro não
era suficiente para mantê-lo em circulação. Era necessária uma ajuda mensal do Comitê
Nacional do PCB.

A previsão orçamentária do PCB para o mês de maio já contava com a ajuda para o
Tribuna Popular e analisava as despesas do jornal, citando por exemplo, o aumento de Cr$
62.000, 00 com pessoal da oficina em relação ao balancete anterior no mês de fevereiro e
ainda solicita esclarecimentos acerca deste acréscimo. No entanto, o auxílio vinha
acompanhado de um controle e uma análise do direcionamento destes recursos por parte do
Comitê Central. Desta forma, eram feitas sugestões e questionamentos quanto à administração
financeira do jornal.

No final desta sessão sobre o Tribuna Popular, é chamada a “atenção para o fato do
déficit não ter diminuído quando o cisto de impressão e composição diminuiu em cerca de
Cr$30.000,00 (Cr$ 153.754,00 - Cr$ 40.000,00 = Cr$ 113.754,00)”173. Os gastos altos para
manutenção do jornal eram questionados, principalmente por haverem acompanhado a
diminuição dos custos de impressão e composição do jornal. Provavelmente o aumento se
deve aos maiores gastos com pessoal, o que pode denotar um investimento na qualidade das
174
contribuições ao completar já um ano de circulação do jornal. .

De acordo com a Previsão Orçamentária para o mês de Maio do PCB, os gastos do


Partido superavam suas entradas, gerando um déficit alto. Além disso, a despesa com a então

173
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ.
174
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ.
73

empresa Tribuna Popular superava as da Secretaria de Educação e Propaganda em mais de 10


vezes (Cr$ 500.000,00 e Cr$ 36.000,00 respectivamente).

O investimento no Tribuna Popular também oferecia um retorno na cobertura do


déficit que contava com a venda de ações do Tribuna (Cr$265.000,00), além de um
empréstimo feito (Cr$200.000,00) e contribuições extras (Cr$200.000,00). Destaca-se o valor
das ações do jornal como superiores as outras fontes de renda, mas de todo modo o déficit do
PCB se manteria. Os investimentos do PCB em propaganda incluíam cartazes e folhetos,
publicações de boletins, etc. A assinatura de jornais estrangeiros também constava no
planejamento, mas era em torno de Cr$ 2.500,00 anuais 175.

Como já foi tratado anteriormente a Imprensa Popular do PCB era formada por oito
jornais diários que circulavam em todo país nas principais capitais dos Estados. No entanto, o
Tribuna Popular circulava no Rio de Janeiro que era a capital do Brasil de então e se
destacava diante dos outros jornais assim como o Hoje que circulava em São Paulo. Estes dois
jornais geravam entradas de Cr$ 2.600,00 mensais cada, enquanto os outros geravam em
torno de 300,00 cada com exceção da Tribuna Gaúcha no Rio Grande do Sul, O Momento na
Bahia, O Democrata em Fortaleza que geravam em torno de Cr$ 1000, 00 mensais, menos da
metade do que o Tribuna Popular e o Hoje 176. Novamente, isso demonstra o destaque e a
importância deste jornal para o PCB.

Este periódico iniciou sob a direção de Pedro Motta Lima e com Aydano do Couto
Ferraz como redator-chefe. A direção ainda era composta por Álvaro Moreyra, Dalcídio
Jurandir e Carlos Drummond de Andrade (fig.7). Eram membros importantes do PCB e
atuavam na direção do jornal assim como outros membros do Partido que também escreviam
textos para o periódico. Nomes como Brasil Gerson, Dalcídio Jurandir, Astrogildo Pereira,
Rui Facó, Rui Santos, Ary de Andrade, João Amazonas, Euclides da Cunha, Jorge Amado
entre muitos outros, contribuíram para o Tribuna Popular com artigos sobre temas diversos.

Esta formação da direção se manteve, assim como Paulo Motta Lima, filho de Pedro
Motta Lima como Secretário, exceto por Carlos Drummond de Andrade que permaneceu por
poucos meses no cargo.

175
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ.
176
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. p. 451 a 461. APERJ
74

Fig. 7- Tribuna Popular, 14-07-1945. Capa (detalhe). RJ. Acervo BN.

No início do ano de 1947 a direção do jornal foi passada para Pedro Pomar, importante
militante do Partido enquanto Aydano do Couto Ferraz se manteve como Redator-Chefe. 177 A
saída de Pedro Motta Lima pode ser ligada à suspensão do jornal, e a prisão do jornalista. No
entanto, em documento elaborado em 03 de dezembro de 1947 do Serviço de Informação da
Divisão de Polícia Política e Social, há uma série de históricos de membros do PCB, entre
eles os de parlamentares ligados ao Partido e o de Agildo da Gama Barata Ribeiro. Este
histórico de atividades começava descrevendo a prisão de Agildo Barata em 1932 e o
desenrolar da sua vida a partir de então, e termina citando sua atuação como vereador e “líder
da bancada vermelha na Câmara Municipal” e como diretor do Tribuna Popular 178.

Esta é uma publicação da qual participavam diversos artistas, escritores, jornalistas


com suas singularidades que acabavam transparecendo, no tocante aos textos, matérias e
ilustrações que elaboravam179. Entretanto, estas personagens que participavam da elaboração
do jornal mantinham convicções em comum que davam coerência ao Tribuna Popular.

Como foi visto, esta questão financeira teve impacto na constituição, manutenção e
crescimento do periódico. Isto pode ser relacionado ao uso do espaço do jornal para a
propaganda de variados segmentos. O conteúdo diversificado e a abrangência de temas do
jornal atraíam estes anunciantes, como será mostrado a seguir.

2.2.1 - Anunciantes do Tribuna Popular

O Tribuna Popular se mantinha não apenas com a ajuda do Comitê Central e pelas
vendas das suas ações e dos exemplares como já explicitado acima. Este jornal, assim como
outros do PCB, contava com um número considerável de anúncios em suas páginas. Estes
anúncios eram variados, podendo ser desde profissionais como médicos, passando por lojas e
produtos e até por instituições públicas, como a Loteria Federal. Isto demonstra que o

177
Tribuna Popular, 15-01-1947. Capa. RJ. Acervo BN.
178
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 23. Dossiê 3. Maço 1. Pág. 14. APERJ.
179
Estas ilustrações serão analisada mais detidamente no Terceiro Capítulo.
75

Tribuna Popular era, para muitos destes anunciantes, mais um veículo de divulgação de seus
produtos ou serviços. E que independente de sua orientação política era válida a sua utilização
sem necessariamente apoiar a causa comunista.

Na figura 8 podemos ver um detalhe de uma página do jornal com um apelo para que
os leitores dessem preferência aos estabelecimentos que anunciavam no Tribuna Popular.
Esta chamada se localizava na altura do meio da página à direita, e media cerca de dez
centímetros.

Fig.8- Tribuna Popular, 02-06-1946 (detalhe) RJ. Acervo BN.

É importante sublinhar que a publicidade comercial não tinha uma orientação


ideológica partidária explícita pelo jornal. Eles apareciam geralmente nas páginas internas do
jornal, principalmente a segunda e a quarta, salvo raras exceções que apareciam na última
página, que deveria ser mais custoso, pois apenas grandes estabelecimentos o fizeram.

Alguns anunciantes de serviços apareciam de vez em quando no jornal, alguns eram


pequenas empresas, ou profissionais que ofereciam serviços. Eram pequenos os espaços que
utilizavam também. Alguns eram bastante simples e descreviam suas atividades, outros eram
mais diretos e havia os que traziam imagens de seus produtos. A seguir podemos ver a Casa
Império que vendia rádios (fig.9), um anúncio de um médico ginecologista (fig.10) que
explicita sua especialidade de tratamento de casais estéreis e outro que faz e conserta
dentaduras (fig.11). O anúncio da Casa Império e o das dentaduras traziam imagens simples,
mas que os encareceriam em relação aos que apresentavam apenas texto.
76

Fig.9-Tribuna Popular, Fig.10-Tribuna Popular, 16-03-1947 Fig.11-Tribuna Popular,


10-08-1947 (detalhe). RJ. (detalhe). RJ. Acervo BN. 02-06-1946 (detalhe). RJ.
Acervo BN. Acervo BN.

Adiante vemos mais alguns pequenos anúncios que são exemplos do modelo de
publicidade que era feita por estabelecimentos menores ou prestadores de serviços. Podemos
ver de uma sapataria (fig.12) e uma tamancaria (fig.13), em seguida uma manufatura de
guarda-chuvas (fig.14) e uma loja de flores (fig.16). Todos estes são anúncios simples, com
nome do empreendimento, especialidade e endereço, assim como o anúncio de um médico
anteriormente.

Fig.12-Tribuna Popular, 16-10-1945 (detalhe). RJ. Fig.13-Tribuna Popular, 02-06-1945


Acervo BN. (detalhe). RJ. Acervo BN.
77

Fig.14- Tribuna Popular, 08- Fig.15-Tribuna Popular, Fig.16-Tribuna Popular, 16-


09-1946 (detalhe). RJ. 16-10-1945. (detalhe). 10-1945 (detalhe). RJ. Acervo
Acervo BN. RJ. Acervo BN. BN.

O anúncio de um alfaiate (fig.15) trazia também uma imagem que mostravam o


produto vendido e aumentavam os custos da veiculação. Contudo, os anúncios apresentados
até então, eram de tamanho médio, cerca de cinco centímetros e, portanto, com pouco
destaque. Abaixo vemos outros dois que parecem ainda mais simples, são de fundo preto e
com as letras brancas de fogões (fig.17) e de rádios (fig.18), de tamanhos pequenos, com
cerca de dois e um centímetros, respectivamente. Em seguida, outro anúncio de rádio
diferente e mais elaborado, com a figura do produto e especializada em uma marca, a
Roadstone (fig.19). O anúncio trazia ainda letras estilizadas, balões que especificam as
vantagens do produto, e outros desenhos que chamam a atenção para a imagem, que apresenta
tamanho grande, e ocupava quase toda metade inferior da página.

Fig.17-Tribuna Popular, 21-01-1947 Fig.18-Tribuna Popular, 21-01-1947 (detalhe). RJ. Acervo


(detalhe). RJ. Acervo BN. BN.
78

Fig.19-Tribuna Popular, 31-01-1947 (detalhe). RJ. Acervo BN.

Os anúncios de algumas lojas maiores eram regulares. A Nobreza (fig.20) era uma loja
especializada em roupas femininas e fazia anúncios com certa frequência no jornal. Neste
caso, havia anúncios diferentes entre si, com outros dizeres, e destacando promoções distintas.
Era difícil ver anúncios desta loja se repetir. No entanto, os anúncios da loja A Nobreza
mesmo frequentes e diferentes entre si eram muito mais simples do que da loja A Capital e da
A Exposição que veremos mais adiante. Estes anúncios eram médios ou pequenos, com cerca
de cinco a três centímetros, ganhando pouco destaque nas páginas em que foram veiculadas.

Fig.20-Tribuna Popular, 16-10-1945 (detalhe). RJ. Acervo BN.

A loja A Capital e A Exposição trabalhavam com roupas masculinas, principalmente


ternos e alguns acessórios para compor o traje. Em relação a loja A Capital é possível
observar que as propagandas eram bem detalhistas quanto aos produtos e aos preços (fig.21,
fig.22, fig.23). Traziam imagens das roupas e descrevia os modelos. Enquanto isso a loja A
Exposição (fig.24, fig.25), parecia trabalhar com tipos parecidos de artigos masculinos que a
anterior, mas o investimento em sua propaganda parecia acompanhar o tamanho de suas duas
79

lojas no centro do Rio de Janeiro como diz os anúncios: Avenida (na então Avenida Central,
hoje Avenida Rio Branco, na esquina com Rua São José) e Carioca (no Largo da Carioca).

As imagens a seguir, eram de grandes dimensões, ocupando posições de destaque nas


páginas em que se apresentavam. A loja A Exposição mostrava imagens de produtos que
vendia nas lojas, seus anúncios costumavam ocupar quase meia página do jornal.
Destacavam-se pelo tamanho e também pelos desenhos que chamavam atenção do olhar do
leitor.

Fig.21- Tribuna Popular, Fig.22-Tribuna Popular, Fig.23-Tribuna Popular, 03-08-1947


13-07-1947 (detalhe). RJ. 10-08-1947 (detalhe). RJ. (detalhe). RJ. Acervo BN.
Acervo BN. Acervo BN.
80

Fig.24-Tribuna Popular, 16-10-1945 Fig. 25-Tribuna Popular, 16-10-1945


(detalhe). RJ. Acervo BN. (detalhe). RJ. Acervo BN.

Em uma pequena série de propagandas esta loja anunciou um show do cantor Orlando
Silva em uma de suas lojas. Nesse período, Orlando Silva já tinha um grande reconhecimento
do público e era conhecido como o cantor das multidões. Na figura 25 podemos ver um
desses anúncios, com um desenho do rosto do cantor, e uma pequena descrição do artista,
citando algumas canções e como seria o show dele na loja. Percebe-se assim, que esta loja
tinha uma preocupação em elaborar seus anúncios e ainda de divulgar o estabelecimento com
diversas estratégias de atração de consumidores. Na figura 26 e na figura 27, vemos a
divulgação de uma liquidação e de preços de alguns artigos desta rede de lojas.
81

Fig.26-Tribuna Popular, Fig.27-Tribuna Popular, 24-08-1947 (detalhe). RJ. Acervo BN.


20-03-1946 (detalhe). RJ.
Acervo BN.

Cafeterias e confeitarias famosas como Bomboniere Manon (fig.28) e Café Predileto,


que ainda hoje são conhecidos, já tinham suas portas abertas no centro da cidade do Rio de
Janeiro, e também divulgavam seus estabelecimentos no jornal. Seus anúncios eram mais
simples, como vemos abaixo, porém reincidiam pelas páginas do Tribuna Popular fixando
seu nome pela repetição. O Café Predileto (fig.29) era anunciado com mais destaque, e
geralmente no formato apresentado a seguir: mais alongado na horizontal. Assim, se
localizava ou na parte mais superior ou mais inferior das páginas, muitas vezes ocupando toda
a largura da folha. É importante destacar esses estabelecimentos, pois mostram a variedade
82

de tipos de anunciantes no jornal. São casas tradicionais, mas que encontravam seus
consumidores, ou procurava atraí-los, no Tribuna Popular.

Fig.28- Tribuna Popular, 06-07-1946 (detalhe). RJ. Acervo BN.

Fig. 29-Tribuna Popular, 29-05-1945 (detalhe). RJ. Acervo BN.

Era possível encontrar no jornal, ainda, anúncios de produtos que poderiam ser
comprados em diferentes locais. Era o caso dos anúncios das Sardinhas Neptuno (fig.30) que
vemos abaixo, e que traz desenhos de uma sardinha que parece dançar balé e dizer
“conservemos a nossa linha”, pois se refere a sardinhas enlatadas do que parece ser Netuno,
deus romano dos mares. Ao lado podemos ver o anúncio de um produto para alisar os cabelos,
e que descreve suas funções e destaca o nome do produto: Bom Cabelo (fig.31).

Fig.30- Tribuna Popular, 26-08- Fig.31-Tribuna Popular, 10-10-


1945(detalhe). RJ. Acervo BN. 1946 (detalhe). RJ. Acervo BN.
83

Eram comuns também produtos com função farmacêutica, como vemos o Elixir Dória
(fig.32) para má digestão, azia e cólicas, e o Dinamogenol (fig.33), que prometia dar força e
revigorar o corpo. Estes produtos também mantinham seus anúncios sem variação do modelo
gráfico, mas eram frequentes nas páginas do Tribuna Popular.

Fig. 32-Tribuna Popular, 21-01- Fig.33-Tribuna Popular, 25-11-1945


1947(detalhe). RJ. Acervo BN. (detalhe). RJ. Acervo BN.

Logo a seguir, o anúncio do creme dental Atlas (fig.34) que destaca a presença de uma
substância e que mantém seus anúncios também no mesmo modelo, com um desenho de um
tubo de pasta de dente. A não alteração do modelo de anúncio era comum a alguns
anunciantes por não investirem neste tipo de divulgação dos seus produtos e manter uma
referência a sua marca. Este anúncio do Creme Dental Atlas era também recorrente no jornal.

Fig.34-Tribuna Popular, 19-07-1945 (detalhe). RJ. Acervo BN.

Um exemplo peculiar é o do Sabão Russo (fig.35, fig.36, fig. 37, fig.38) que além do
nome que se destacava em um jornal comunista, visualmente trazia anúncios simples, apenas
com o nome do produto e alguma breve frase que explicitasse suas funções. No entanto, a
variedade de aplicações para o produto era mostrada separadamente em cada anúncio. O
Sabão Russo anunciava que: “torna os cabelos macios, sedosos e brilhantes”(fig.35), “contra
rugas, cravos e imperfeições cutâneas”(fig.36), “eficaz contra eczemas e dartros”(fig.37), e
ainda a recomendação de que “prefiram vidros maiores, grande economia”(fig.38). Nestes
84

anúncios em formato de tiras, as frases são curtas e diretas e costumavam se posicionar no


topo ou no pé da página ocupando toda a extensão horizontal desta.

Fig.35-Tribuna Popular, 05-05-1946 (detalhe). RJ. Acervo BN.

Fig.36-Tribuna Popular, 02-06-1946 (detalhe). RJ. Acervo BN.

Fig.37-Tribuna Popular, 22-09-1946 (detalhe). RJ. Acervo BN.

Fig.38-Tribuna Popular, 24-03-1947(detalhe). RJ. Acervo BN.

Eram comuns também alguns anúncios em formato menos extensos, mas com texto
um pouco mais detalhado. Na figura 39 e na figura 40 vemos dois exemplos de anúncio
deste sabão, só que mais abrangente. Traziam após o nome do sabão dizeres como: “sólido,
líquido e para barba – 117 anos a serviço da HIGIENE, SAÚDE E BELEZA. O GRANDE
PROTETOR DA PELE. INDISPENSÁVEL EM TODOS OS LARES” (fig.39). E “SABÃO
RUSSO (SÓLIDO, LÍQUIDO E PARA A BARBA). LABORATÓRIO FUNDADO EM
1830. Antissético e desodorizante. Conserva a pele macia, juvenil, higienizada e perfumada.
INDISPENSÁVEL EM TODOS OS LARES” (fig.40), mas com semelhança no modelo
gráfico.
85

Fig.39-Tribuna Popular, 03-08-1947 Fig.40-Tribuna Popular, 10-08-1947


(detalhe). RJ. Acervo BN. (detalhe). RJ. Acervo BN.

A partir de então, podemos ver que este produto era já bastante antigo quando
começou a fazer propaganda no Tribuna Popular. Alguns anunciantes tradicionais ou já
bastante conhecidos do leitor por outros meios podiam mostrar a credibilidade do jornal, ou
apenas demonstrar que o jornal atingia um grande público e por isso era um veículo
interessante para divulgação.

A Loteria Federal, por exemplo, anunciava frequentemente nas páginas do Tribuna


Popular. Eram comuns anúncios como os que vemos adiante (fig.41, fig.42), mostrando os
prêmios oferecidos na semana. Como o jornal era uma publicação diária, era possível
anunciar o prêmio que estava sendo oferecido pela Loteria até no dia anterior ao sorteio.

Fig.41-Tribuna Popular, 25-01-1946 Fig.42-Tribuna Popular, 15-06-1945


(detalhe). RJ. Acervo BN. (detalhe). RJ. Acervo BN.

Os anúncios da Loteria Federal mostravam os altos valores dos prêmios para chamar a
atenção dos apostadores, e ainda algumas ilustrações que atraiam o olhar do leitor ao anúncio,
86

que podia ser de grandes ou pequenas dimensões. Importante notar que instituições públicas,
como a Loteria Federal, não encontraram problemas a princípio em divulgar em um jornal
vinculado ao Partido Comunista do Brasil, talvez por causa da situação do Partido, de
legalidade e de participação nas eleições, e em campanhas democráticas neste período. No
entanto, a publicidade feita por esta instituição trazia imagens de homens de cartola, com
centenas de moedas, vestidos com roupas que denotavam a condição de burgueses e por vezes
com feições gananciosas.

Em relação a alguns estabelecimentos comerciais e produtos, pode-se observar que os


nomes não fazem relação a questões da política comunista, sendo possível observar que
alguns nomes acabam sendo curiosos como “Casa Império” (fig.9), “A Nobreza” (fig.20), que
se opõem à ideias condizentes com o comunismo.

No entanto, em 1947, último ano de circulação deste jornal, a perseguição política se


acirrou, assim como as críticas feitas ao governo por parte do Tribuna Popular. Desta forma,
muitos anunciantes se afastaram, especialmente os de empresas públicas e outros de grandes
empresas que temiam a vinculação da marca com uma publicação comunista neste momento
político.

A Tribuna Popular, no ano de 1947, ainda teve propaganda de agências oficiais (Caixa
Econômica Federal, Institutos de aposentadorias e pensões, por exemplo), mas com o
acirramento das críticas ao governo Dutra e a perseguição ao comunismo empreendida por
este governo, perdeu-se praticamente todos os anunciantes, os que se prontificaram a usar este
veículo de comunicação a partir deste momento eram médicos, dentistas, advogados e de
empresas de militantes e simpatizantes do PCB 180 .

Ao tomar a quinta página da edição de 10 de fevereiro de 1946 (fig.48) como


exemplo, é possível ver pequenos e médios anúncios de uma loja de fogões e materiais
elétricos, de serviços de venda de livros e de produtos medicinais. Há anúncios de
estabelecimentos comerciais que eram recorrentes no Tribuna Popular que foram
apresentados, como “A Nobreza” de artigos para vestuário, “Sapataria Ribeiro” e da loja do
“Café Predileto”.

180
GAWRYSEWSKI, Alberto. Op. cit. P.19.
87

Fig.43- Tribuna Popular, 10-02-1946 (detalhe). RJ. Acervo BN.

No entanto o anúncio mais destacado é o de um carro da empresa automobilística


norte-americana Ford Motor Company Exports, Inc.(fig.43). Este anúncio traz a imagem do
modelo de 1946 e uma listagem com suas vantagens, promovendo sua exposição em cinco
estabelecimentos revendedores na cidade. Destacado pelo tamanho, mas também pela
elaboração, com imagens ilustrativas, detalhamento do produto, frases de efeito como “Há um
Ford em seu futuro”, destoavam dos outros anúncios, o que podia ser explicado pelo grande
porte desta empresa estrangeira, mas de alcance internacional.

Chama atenção ainda, o anúncio de um produto como este, norte-americano e de alto


custo para o consumidor, em um jornal comunista. Porém, o Tribuna Popular parecia aceitar
diferentes tipos de anunciantes, como foi visto. Neste momento, instituições públicas como a
Loteria Federal também anunciava no jornal. Isto pode ser explicado pela necessidade de
fundos para manutenção do periódico aliada à boa aceitação do jornal pelas empresas e à
vendagem considerável do jornal que o tornava um veículo interessante para divulgação.

A propósito, causa um estranhamento o descompasso entre este tipo de propaganda de


bens de consumo duráveis e de alto custo (fig.43), assim como de supérfluos ligados á estética
pessoal (fig.31) e outros produtos ligados a grandes empresas ou rede de lojas. A estranheza é
88

causada pelo incentivo ao consumo ligado ao enriquecimento de pequenas e grandes


empresas, ou seja, de uma burguesia.

Unidade, democracia e progresso são os objetivos do jornal proclamados em suas


capas junto ao nome Tribuna Popular (fig.4). A ideia de progresso faz parte do esforço de
inserção e ganho de espaço na sociedade capitalista brasileira. Não era porque este periódico
era do PCB que ele deixava de agir como os outros: captando recursos com anúncios
quaisquer. As críticas ao governo e à instituições de serviços públicos como a Light
(Companhia de distribuição de energia elétrica), não impediam a publicação de propagandas
da Loteria Federal.

Destarte, o Tribuna Popular mostrava que sua atuação política poderia valer-se destas
estratégias de captação de recursos financeiros, ampliando a capacidade de investimento na
sua elaboração e permitindo maiores tiragens. Assim como adotou uma estrutura e disposição
das sessões do jornal de forma semelhante a outros jornais que circulavam à mesma época,
procurando se diferenciar no conteúdo, mas sustentar-se e atrair o leitor como outros jornais-
empresas.

Vale ressaltar que no ano seguinte, 1947, o PCB passaria por perseguições políticas e
o Tribuna Popular seria fechado algumas vezes, o que veremos mais atentamente adiante,
perdendo anunciantes do tipo destacado, pois a ligação com o jornal passaria a ser
desinteressante para alguns.

2.3 - A estrutura e as sessões do jornal

O Tribuna Popular era uma publicação diária através da qual o PCB pretendia passar a
um grande público o que considerava essencial sobre política nacional e internacional. No
entanto, havia também notícias sobre esportes, programações de cinemas e teatros, e eventos
do Partido. Havia também espaço para notícias e artigos sobre cultura e a arte através da
versão do próprio PCB para o realismo socialista soviético. 181 Portanto era um jornal bastante
variado, e convidativo ao leitor.

181
Este assunto do realismo socialista foi desenvolvido no Primeiro Capítulo desta Dissertação.
89

O jornal Tribuna Popular tinha grande importância política para o Partido Comunista
do Brasil. Sua configuração era estratégica e abrangia uma larga gama de temas. Este jornal
era publicado diariamente na cidade do Rio de Janeiro (exceto às segundas- feiras), entre os
anos de 1945 e 1947. Este periódico também era assinado por pessoas de outras cidades e
estados do Brasil. Os exemplares eram enviados para esses assinantes, como demonstram os
arquivos da polícia política no período de circulação deste jornal.

O periódico em questão era composto na maior parte de sua existência de oito páginas,
em alguns períodos contou com até doze páginas. Para uma análise mais apurada deste jornal,
será apresentada uma edição do Tribuna Popular de 10 de fevereiro de 1946 para representar
o modelo de jornal que circulou na maior parte do período entre maio de 1945 e dezembro de
1947. A seguir, na primeira página da edição selecionada (fig.44) veem-se manchetes de
destaque político e algumas fotografias e uma ilustração do perfil de Stalin feita pelo artista
membro do PCB Paulo Werneck. Os temas eram, geralmente, referentes à política nacional ou
internacional, e ainda algumas notícias sobre o Partido.

Nesta imagem de capa (fig.44) há matérias sobre a União Soviética, e muitas outras
com seus textos apenas iniciados, pois continuariam nas páginas seguintes. Desta forma, esta
é uma estratégia para chamar a atenção do leitor aos temas, iniciando a leitura na capa e
levando-o a concluí-la em página posterior, como era comum a outros jornais da época Assim
como a chamada “Mobiliza-se o povo contra a carta fascista de 37” a matéria “Um comício
monstro contra a Carta de 37”, havia outras duas com grande relevo, a primeira sobre eleições
na União Soviética e a segunda sobre reunião de banqueiros e bancários no Ministério do
Trabalho. São temas de âmbito internacional e nacional, que são os grandes destaques da capa
e, portanto, do jornal. Importante destacar que no interior do jornal encontram-se variados
temas, como será visto a seguir. Deste modo, a capa do jornal não resume o seu conteúdo,
mas evidencia temas que parecem ser principais no conjunto do Tribuna Popular e o que ele
representa para o Partido.
90

Fig.44-Tribuna Popular, 10-02-1946. Rio de Janeiro. Capa. RJ. Acervo BN.


91

Nas páginas seguintes, páginas dois e três, havia artigos mais longos ou continuações
das matérias da capa. Na segunda página desta edição do jornal (fig.45), que vemos a seguir,
há a continuação da matéria sobre Stalin e o processo eleitoral que estava ocorrendo na União
Soviética, mostrando um texto que reproduz um discurso do dirigente do Partido Comunista
da União Soviética no qual este relata as melhorias que promoveu em diversos âmbitos do
governo, os planos econômicos, os dados de aumento de produção agrícola e industrial.

Ao lado há a continuação de uma matéria sobre Diógenes Arruda Câmara (que era
membro do Comitê Central do PCB) e sua ida a um congresso formado por organizações
sindicais em Cuba (que passaria pela Revolução somente em 1959). Neste evento foi debatida
a ação imperialista dos Estados Unidos da América diante da América Latina e a permanência
de tropas norte-americanas em diversos países, inclusive no Brasil, mesmo já findada a
Segunda Grande Guerra. Ao final do texto baseado em depoimento de Arruda Câmara,
destaca-se o interesse de participantes do congresso em Carlos Prestes afirmando sua
importância política para o Partido.

O destaque é dado, no entanto, às continuações das matérias da capa, e fazem com que
mais ideias sejam veiculadas na primeira página com destaque e possam ser acompanhadas na
íntegra na segunda página. Ao mesmo tempo, nesta segunda página, há anúncios de lojas,
remédios, médicos, farmácia, notas sobre documentos pessoais perdidos, de oferta de
emprego, etc. Desta forma, observamos que havia matérias sobre questões internacionais
relativas à URSS e áreas de influência como a Indonésia, mas também sobre questões
nacionais como as relativas aos banqueiros, grevistas, a ação política do PCB, à participação
em congresso internacional, entre outros.
92

Fig.45-Tribuna Popular, 10-02-1946. Rio de Janeiro. Pág. 2. RJ. Acervo BN.


93

Na terceira página (fig.46) eram comuns artigos de membros do Partido de todo o país,
mas principalmente dos membros que constituíam a direção do jornal, como Pedro Mota
Lima e outros nomes conhecidos, como o escritor Jorge Amado ou Leôncio Basbaum. Alguns
artigos de outros membros de Partidos Comunistas do mundo eram traduzidos e publicados
esporadicamente no jornal.

Estes artigos traziam temas mais teóricos sobre política, economia, incluindo análises
de textos marxistas. Mas também abrangiam o papel social da literatura e da arte em geral. Os
textos costumavam ser longos e ganhavam certo destaque nas páginas internas do jornal. Na
imagem a seguir, vemos a terceira página da edição em questão do jornal. A seguir discorrerei
sobre os textos que se destacam nesta página.

Os textos internacionais traduzidos para o português também se destacavam e


mostravam que eram trazidos ao Brasil pela agência de notícias Interpress do PCB. É o caso
de “Catolicismo e Socialismo” de Rev. Eliot White com direitos adquiridos pela Interpress,
de “O povo soviético e as eleições de hoje” de Lev Jvat especial para a Interpress, e “Unem-
se as forças reacionárias contra o povo filipino” de autoria de Manila, também um texto
especial para a Interpress. Estes autores internacionais podiam ser soviéticos ou de Partidos
Comunistas do mundo, não sendo possível identificá-los mais precisamente, apenas foi
possível deduzir que eram membros de outros partidos comunistas do mundo ligados à URSS
através da constatação de uma prática comum ao jornal e da agência de notícias Interpress.

A coluna “Através das Américas” assinada por M.Z. não permite identificar o autor,
mas os textos tratam das condições políticas de países da América Latina, no caso desta
edição fala da Argentina e do Uruguai. Esta coluna durou algum tempo, mas não se manteve
fixa em toda a existência do jornal.

Desta forma, nota-se que esta terceira página era destinada a textos mais elaborados,
artigos que discutiam temas de caráter político ou que inseriam o Brasil em pautas
internacionais de discussão. Assim, trazer autores comunistas de outros países acabava por
mostrar que o jornal apresentava debates acerca de temas pertinentes para os brasileiros e
também fora do Brasil.
94

Fig.46-Tribuna Popular, 10-02-1946. Rio de Janeiro. P. 3. RJ. Acervo BN.


95

Na quarta página (fig.47) havia ainda publicações referentes aos Comitês Populares do
PCB, como resoluções e datas importantes a serem divulgadas. Estes comitês eram células do
Partido em diversos bairros e regiões das cidades. No caso do Tribuna Popular eram
mostradas noticias dos comitês do Estado do Rio de Janeiro. Nestes Comitês Populares eram
feitas reuniões periódicas para discussão das ideias do Partido e atração de novos membros.
Nesta edição esta coluna se encontra na quarta página do periódico, mas em outros números
foi transferida para a sexta ou sétima páginas.

A coluna intitulada Vida dos Comitês Populares, divulgava as diferentes atividades


promovidas por estas células do Partido. Portanto, observamos que esta página era
direcionada a temas de caráter local e específicos, noticiando sobre assuntos que deveriam ser
tratados de modo imediato, pois ou ocorreram recentemente ou avisavam de algo que estava
acontecendo ou que aconteceria em breve. Assim, o caráter diário do jornal dava condições de
se manter uma página que atualizava os leitores cotidianamente de atividades promovidas
pelo Partido ou instituições ligadas a ele.

O entanto, no final da página há um espaço para uma notícia esportiva, que não era o
mais adequado, visto que fugia da composição da página. A página destinada aos esportes era
apenas a sétima página, portanto esta matéria sobre o clube de futebol carioca Vasco da Gama
e sua vitória no campeonato interestadual no dia anterior parece ter sido encaixada nesta
página por uma falta de espaço na outra e sobra nesta. Ou algum equivoco editorial.

Junto às notícias e matérias há alguns anúncios de oculista, clínica médica, remédios,


laboratórios de exames médicos, advogado, enciclopédia, fábrica de escadas, de clubes sociais
e colégios particulares. Assim como a divulgação de três notas de sindicatos, anúncios de
empregos e de espetáculo “Carnaval da Vitória – O grito de Carnaval de 1946” no Teatro
Recreio. Promovendo produtos, serviços e eventos em meio às noticias.
96

Fig.47-Tribuna Popular, 10-02-1946. Rio de Janeiro. P. 4. RJ. Acervo BN.


97

Na quinta página (fig.48), há uma coluna chamada Tribuna Sindical que apareceu em
algumas edições, mas que perdeu espaço dando lugar a pequenas notas sobre os temas
tratados aqui. Assim aconteceu com outras colunas da página anterior, onde algumas
ganharam maior destaque e outras perderam espaço. Esta coluna tratava das notícias
referentes aos sindicatos e suas reuniões.

Nesta página há duas fotografias e matérias que relatam a ação específica de


determinados sindicatos frente a determinados problemas. Este é o caso da matéria:
“Desemprego e fome entre os trabalhadores de calçados do Recife”. Abaixo havia a coluna
“Noticiário Geral”, que apresentava notas sobre as atividades de sindicatos, anunciando a
adesão ou não a greves, realização de homenagens e reuniões. Havia ainda um artigo de uma
delegada de um sindicato eleita para representa-lo no Congresso Sindical que estava por
ocorrer. Assim como alguns anúncios diversos ao longo da página.

Na página posterior, a sexta página (fig.49), eram mostradas algumas colunas que se
mantiveram ao longo da existência do jornal como: “Sociais” na qual eram divulgadas datas
de aniversários, nascimentos, noivados, colações de grau e outras datas comemorativas.
Outra coluna que permaneceu foi “O povo de diverte”, onde eram divulgados eventos, festas e
neste número do jornal tratava do Carnaval da Vitória, como foi chamado o Carnaval do ano
de 1946 por ser posterior a Segunda Grande Guerra. A coluna mostrava ainda a programação
de festas que ocorreriam em alguns clubes, escola de samba e praças.

Há um espaço para as “Notícias da Prefeitura” em que chamavam professores


municipais que deveriam comparecer ao serviço de informações da prefeitura para reclamar a
contagem dos quinquênios se estivesse errada a remuneração proporcional, e ainda sobre as
feiras livres do dia, locais e horários de funcionamento, assim como números de cadastro das
pessoas que receberiam empréstimos ou extranumerários. Assim, esta coluna fazia um serviço
aos leitores informando-os sobre resoluções, chamadas, e divulgações do Município.
98

Fig.48-Tribuna Popular, 10-02-1946. Rio de Janeiro. P. 5. RJ. Acervo BN.


99

Fig.49-Tribuna Popular, 10-02-1946. Rio de Janeiro. P. 6. RJ. Acervo BN.


100

Na sétima página (fig.50) o espaço foi todo dedicado aos esportes com fotografias que
podiam ocupar quase a metade da página. Eram publicados resultados de jogos de futebol,
especialmente de times do Rio de Janeiro. Estas páginas, que no caso desta edição são a
antepenúltima e a penúltima, ganhavam destaque e pareciam chamar a atenção do público
leitor, pois o espaço que por vezes foi dividido com matérias sobre assuntos diversos, com o
tempo se restringiu a assuntos desportivos.

Nesta edição, havia fotografias dos perfis de cada jogador da seleção brasileira que
disputaria uma partida de futebol por um campeonato na Argentina. Assim, como havia
matérias sobre o certame, trazidas por um correspondente do jornal enviado a Buenos Aires.
Isto mostra o destaque que os temas esportivos tinham para o jornal.

Desta forma, o espaço que foi destinado aos esportes nesta edição com o tempo se
ampliou e passou a ocupar duas páginas inteiras e sequenciais, mostrando a importância
estratégica destas notícias esportivas. Podendo ser um dos maiores atrativos para o leitor
adquirir o periódico. A permanência e até mesmo ampliação do espaço para este tipo de
temática, ratifica a ideia de que funcionava esta estratégia de inserir temas esportivos no
jornal.

Entretanto, foi possível observar que nos últimos meses de existência do Tribuna
Popular este espaço se reduziu novamente e até mesmo o número total de páginas do jornal
foi reduzido chegando a seis. A sessão destinada aos esportes parecia ser estratégico para
atração de leitores, pois sua permanência e investimento em jornalistas especializados e
fotógrafos trazia um caráter profissional a estas páginas. A continuidade e aumento do espaço
dado indicam ainda que foi uma estratégia bem sucedida dos editores.
101

Fig.50-Tribuna Popular, 10-02-1946. P.7. Rio de Janeiro. RJ. Acervo BN.


102

Na oitava página (fig.51) havia também matérias com teor de denúncia social, e
destacavam o sofrimento das pessoas. Nesta última página, eram comuns matérias e
ilustrações desse tipo, pois chamavam atenção do leitor ao tema desenvolvido no texto. Nestes
textos as “dores do povo” eram ressaltadas num teor de crítica política. Este gênero de
matérias tinha destaque no jornal, não eram textos muito longos, mas era comum que os
principais virem com alguma imagem: ou fotografia ou ilustrações.

Na parte inferior da página apresentava-se uma coluna intitulada “Através do Mundo”.


Esta coluna variou sua localização no jornal, mas durante a maior parte do tempo de
circulação deste esteve nas paginas internas do periódico. Nesta coluna eram apresentados em
tópicos notícias de diversos países do mundo, a listagem variava mas o tom das noticias era
de caráter político. Na edição em questão eram apresentadas notícias sobre a China, Espanha,
Estados Unidos, Filipinas, França, Índia, Inglaterra e Japão e URSS e eram assinadas apenas
pelas siglas A.P., U. P. e A. F.P. Eram noticias sobre articulações políticas nestes locais e
alguns desdobramentos do fim da Segunda Grande Guerra.

Na parte lateral direita há um quadro de divulgação dos exemplares recentes das


Edições Horizonte, uma das editoras do PCB que se apresentava como “uma editora a serviço
do povo, apresenta suas ultimas publicações autorizadas pelo Partido Comunista do Brasil” e
em seguida são apresentados livros de Karl Marx, Josef Stalin e Friedrich Engels, E. Tarle e
Batizki traduzidos para o português; de membros do PCB como Brasil Gerson, João
Amazonas e Luís Carlos Prestes, além de texto literário de Jorge Amado.

Outro fator que chama atenção a esta matéria é a presença de uma ilustração que
mostra um casal a frente de uma casa simples em ambiente rural. Esta ilustração é assinada
pelo artista plástico Paulo Werneck, membro do PCB e produziu cerca de cinquenta
ilustrações para as 791 edições do jornal Tribuna Popular. Esta ilustração é produto do
processo de clicheria, através do qual a ilustração era passada do desenho para uma chapa de
metal em um procedimento de gravura. Em seguida passava por uma impressão à quente,
formando um clichê. Cada página do jornal era montada e passava por uma prensa tipográfica
para produzir um clichê, que era uma espécie de carimbo por ser em alto relevo, no qual além
das ilustrações, as fotografias e os textos formavam uma base para a reprodução. A partir
desta técnica eram produzidas muitas ilustrações. A relação destas ilustrações produzidas para
este periódico e a conceituação do realismo socialista soviético é assunto que será discutido
no próximo capítulo.
103

Fig.51-Tribuna Popular, 10-02-1946. P.8. RJ. Acervo BN.


104

Na estruturação do jornal, era comum a veiculação de ilustrações na última página,


geralmente ligadas a temas relativos ao cotidiano do proletariado, assim como as matérias
publicadas neste espaço. Por vezes, ilustrações foram apresentadas na capa do jornal, mas
representando figuras políticas de destaque, como Prestes e Stalin, ou de conclamações para
manifestações ou comícios. Isto se devia a organização temática do jornal, como pode ser
vista. A permanência de ilustrações ao longo de todo o período em que o jornal circulou é
indício da sua eficácia, enquanto estratégia editorial e de construção de uma cultura visual
comunista.

A análise das páginas e conteúdos do jornal Tribuna Popular, portanto, mostra que a
sua função era de orientar e esclarecer as dúvidas dos leitores, defendendo-os ao oferecer-lhes
informações, discussões e denúncias. E ainda mostrando-lhes possibilidades de alcançar
soluções para os seus problemas, estimulando a organização das categorias profissionais e a
participação nos comícios, pleitos e iniciativas do Partido Comunista do Brasil.

2.4 - As alegrias, as dores e as lutas do “povo”: os temas tratados no jornal

Os temas desenvolvidos no jornal eram variados, portanto pretendo mostrar qual o teor
destas temáticas utilizando como exemplo novamente a edição de 10 de fevereiro de 1946
(fig.44, fig.45, fig.46, fig.47, fig.48, fig.49, fig.50, fig.51), que já teve analisada sua estrutura
anteriormente. O Tribuna Popular procurava se aproximar do leitor e do seu cotidiano, uma
forma de atração era a promoção e divulgação de eventos sociais, culturais, esportivos, enfim,
as razões para as alegrias do “povo”.

Alegrias

Ao centro da segunda página da referida edição do jornal (fig.45) há uma propaganda


de eventos no Teatro João Caetano chamada: “Chang – os mistérios de Pekin”, dividida em
quadros intitulados: “Uma Viagem ao Inferno” e “Paraíso Oriental Encantado”. Na quarta
página (fig.47), na parte inferior, há uma nota de divulgação de atividade artística da
Universidade do Povo182 anunciando que: “A Escola Moderna da Arte de Representar levará a
cena amanhã duas comédias”. Este evento era parte de uma série de espetáculos no Teatro

182
Sobre a “Escola do Povo” e a “Universidade do Povo” Cf. CARREIRO, Wagner Sant’ Anna do Valle.
Universidade do Povo: Projeto Educacional ou Político? Monografia de Graduação em História. Orientador:
Sydenham Lourenço Neto. FFP-UERJ. 2009.
105

Fênix no Rio de Janeiro, promovida pela instituição de ensino chamada “Universidade do


Povo” organizada pelo PCB e da qual a “Escola Moderna da Arte de Representar” fazia parte.
O texto descreve as peças que serão representadas e escritas por alunos (“O réu Misterioso”
de Enrico Seretta e “O Poeta” de Dário Niovere) e da apresentação musical dos estudantes
Nazira Mansur e Mário Cavalcanti no intervalo do espetáculo teatral.
Ainda na quarta página, há uma nota sobre uma prova de resistência com o título
“Excursionismo”. Este evento contaria com a participação de clubes esportivos que
percorreriam em grupos o percurso entre Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, até Petrópolis,
consistindo em uma competição anual. Na sexta página (fig.49) havia colunas como Social,
onde mostravam datas comemorativas, como aniversários, casamentos, etc. E ainda a coluna
O povo se diverte (fig.52) que divulgava eventos promovidos ou não pelo jornal ou o PCB.
Assim, neste número o “Carnaval da Vitória” e festas que estavam atreladas ao primeiro
carnaval após a Segunda Grande Guerra contavam com o apoio e por vezes com a promoção
de eventos em clubes, escolas de samba e praças. 183

Fig.52-Tribuna Popular, 10-02-1946. Rio de Janeiro. P. 6 (detalhe). RJ. Acervo BN.

Nesta página havia ainda as programações do rádio, teatro e, posteriormente a


programação do cinema acompanharia estas em outras edições do jornal. À esquerda eram
divulgados “Os melhores livros sobre a Rússia Soviética e o Marxismo”, onde listavam as
publicações da Editorial Calvino Limitada, uma das editoras do PCB. Os títulos eram em sua
maioria traduções de obras de Lênin, Stalin, Marx ou sobre eles e suas obras. Estas
divulgações mostram a variedade que o jornal proporcionava ao leitor, e o espaço que os
eventos culturais ocupavam no jornal.

O turfe (corrida de cavalos) também tinha seus resultados publicados diariamente no


jornal, além de notícias sobre os cavalos e os jóqueis. No lado direito acima, havia uma parte
destinada as notícias do Turf, os resultados das corridas de cavalo e o programa das próximas

183
No livro “O PCB cai no Samba”, Valeria Guimarães faz um estudo sobre a relação do PCB com o samba, e as
escolas de samba no Rio de Janeiro, muitas que exaltavam a figura de Luís Carlos Prestes em seus sambas-
enredo. Cf. GUIMARÃES, Valéria Lima. Op. cit.
106

disputas. Esta página formava uma continuidade com a seguinte, a sétima página (fig.50), na
qual também eram encontradas notícias sobre esportes.

No alto da sétima página encontra-se um texto com as escalações das seleções de


futebol do Brasil e da Argentina que disputariam na tarde do dia de publicação do jornal a
disputa final do Campeonato Sul-Americano. Assim começava a página e logo abaixo a
manchete “Para a vitória brasileiros”, intitulando a matéria que detalhava o jogo e ocupava
lugar de destaque na página. O texto, de autoria do jornalista esportivo do Tribuna Popular
José Luiz Pinto que esteve com os jogadores em Buenos Aires, tratava das condições das
seleções para o jogo, a importância do mando de campo e da presença da torcida para os
argentinos e da capacidade técnica dos brasileiros. E ainda mostrava a escalação dos
jogadores de ambos os grupos com as devidas modificações para a partida.

Ainda nesta página havia uma imagem com os rostos de quatorze jogadores brasileiros
que compunham a seleção principal e três que ficariam na reserva. Acima da imagem era
divulgada a grande procura de ingressos para a disputa que ocorreria na Argentina, e em
seguida outro texto intitulado “Uma despedida triunfal a grande aspiração dos brasileiros” que
procurava mostrar o ambiente das ruas da cidade do jogo, a expectativa e o receio dos
argentinos em relação aos jogadores brasileiros e o entusiasmo dos brasileiros que estariam
confiantes na vitória. Sob o subtítulo “Desfilam impressões os ‘cracks’ patrícios sobre a
batalha com os argentinos”, são trazidas pequenas frases de alguns jogadores brasileiros
concentrados na Argentina para o jogo e suas expectativas para o certame.

Compondo esta página que se dedicava basicamente ao acontecimento desta disputa


final do campeonato uma fotografia de cinco jogadores argentinos de destaque em sua seleção
com o título “confiam os argentinos na reabilitação” no qual se procurava brevemente mostrar
o otimismo do técnico e de alguns jogadores para a partida, mostrando a ida do jornalista do
Tribuna Popular à concentração dos argentinos e as entrevistas que lhe foram concedidas. Ao
lado esquerdo em um quadro relativo ao “movimento técnico do Sul-americano” no qual
mostra-se as atualizações da classificação final das outras seleções no campeonato, e ainda os
jogadores que se destacaram como artilheiros.

Ao lado direito havia um espaço para o chamado Placard no qual era apresentado um
resumo das principais notícias do campeonato, permitindo ao leitor se atualizar apenas lendo
esta breve coluna do jornal. Assim, o autor discorre sobre a partida final, mas também sobre a
107

semifinal entre as seleções do Paraguai e do Uruguai, e ainda sobre os times brasileiros que
estavam em recesso das disputas nacionais, alguns mantendo o treinamento, outros em
descanso. E ainda sobre a aposentadoria de um jogador corintiano. E abaixo, uma matéria
sobre a atuação paraguaia no campeonato intitulada “Jogo rápido e de passos largos”, na qual
o autor explicita a atuação dos paraguaios que os levou a vitória e o terceiro lugar na
classificação. Enquanto o quarto lugar foi disputado por Bolívia e Chile, em jogo
desinteressante e que a seleção boliviana teria jogado menos mal.

Havia nesta sétima página ainda uma coluna chamada “Notícias de toda parte” onde
eram apresentadas pequenas notas sobre jogadores de times brasileiros. Destaca-se, porém,
uma divulgação da loja “A Exposição” que transmitiria naquele mesmo dia o jogo de futebol
que seria realizado entre as seleções brasileira e argentina e convidava os leitores a assistir os
“90 minutos de emoção” na própria loja. Como mostra a imagem, o jogo seria transmitido as
18h45min horas, mostrando um atraso de quinze minutos, que deve ser por conta das
condições de transmissão. Vale mencionar que a esta altura os jogos de futebol eram
transmitidos principalmente por rádio e um número reduzido da população possuía televisão,
ainda assim, uma partida de importância como esta parecia ser interessante para reunir as
pessoas em torcida.

Desta forma, é possível notar que as notícias sobre esportes tinham um espaço
importante no jornal, assim como o teatro, o rádio e os eventos sociais locais. Esse espaço
para as “alegrias do povo” era estratégico para o jornal, pois aliviava a tensão dos problemas
do mundo e do cotidiano apresentados e as condições dos trabalhadores questionadas.

Dores

Na segunda página (fig.45) desta edição – 10-02-1946 – vemos na parte mais central o
título “O PCB é o Partido mais ligado ao povo de Pernambuco”, que se refere ao texto sobre a
ação do Partido neste Estado do Nordeste brasileiro e a formação de células pela repercussão
das ações de Prestes. Em menor destaque há uma matéria sobre a insatisfação de moradores
da Rua Aracari no Leblon – Rio de Janeiro – que mudaria para o nome de um jurista,
causando mobilização dos residentes da localidade e outra sobre a reunião de grevistas de
duas empresas.
108

Na quarta página (fig.47) é apresentada ainda uma pequena nota com uma denúncia de
um morador do “Parque Proletário nº 1” na Gávea, que teria sofrido ameaças de outro homem
com funções administrativas. Nota-se o caráter específico dos temas abordados, estabelecendo
uma conexão estreita com o leitor. Na quinta página (fig.48), ao lado esquerdo, há uma
matéria intitulada “Desemprego e fome entre os trabalhadores de calçados do Recife”,
ilustrada com uma fotografia em que está o presidente do sindicato dos trabalhadores de
calçados do Recife quando falava ao redator do Tribuna Popular. O texto denuncia as
condições destes trabalhadores e mostra a burocracia que os sindicatos enfrentam para terem
acesso ao Ministério do Trabalho e que a Justiça do Trabalho acaba favorecendo os patrões e
não aos direitos dos empregados.

Em destaque na oitava página (fig.51) estava o título “Trágico desmoronamento de um


edifício em Copacabana” e logo abaixo o subtítulo explicitando que “cinco operários
pereceram soterrados nos escombros – a ação dos bombeiros – serão apuradas as causas do
desastre”. O texto narrava um acidente ocorrido no dia anterior em edifício em construção
atingindo operários e transeuntes. A matéria mostrava a ação de resgate e como escaparam os
sobreviventes, a apuração dos responsáveis com a prisão dos responsáveis pela obra, e ainda
uma fotografia do local do desmoronamento flagrando os trabalhos de retirada dos escombros.

Ao lado esquerdo desta mesma página, abaixo do nome do jornal há uma matéria de
grande destaque da página do jornal. O texto é uma reportagem assinada por Ernesto Sousa e
intitulada “Cresce a miséria nos campos da Zona da Mata” e com o subtítulo “As
reivindicações mais urgentes: aumento de salários, diminuição de horas de trabalho, escolas e
liberdade de venda dos produtos da terra”, explicitando do que trataria o texto. Há ainda um
quadro que novamente ironiza a situação para criticar as más condições em que vivem as
pessoas referidas dizendo que “Aos camponeses é assegurado um direito: morrer livremente –
Os meninos, sem instrução, pertencem ao senhor, o seu legado é o que recebem dos pais: o
trabalho de sol a sol, a choça, a fome”.

O texto trata da situação dos trabalhadores rurais da Zona da Mata mineira, que
cultivavam em sua maioria o fumo, contando com nenhum apoio e grandes despesas com
adubação. A questão da moradia também seria crítica, conforme descrição detalhada dos
pequenos espaços mal estruturados e nos quais se apertariam as famílias a mercê de doenças e
do frio. As roupas também são precárias, assim como os recursos. Segundo o autor, esses
trabalhadores e suas famílias passariam toda a vida descalços, as crianças trabalhavam nas
109

piores condições, impedidas pela situação de irem a escola. Sem instrução escolar eram
subjugados aos mandos decisões e contas feitas por seus patrões. O sistema de trabalho era
comparado ao feudalismo, com o pagamento de aluguel das terras por parte dos colonos e a
cessão de dias de trabalho para as terras do latifundiário.

Complementando esta situação miserável, a assistência aos trabalhadores também era


deficitária. Os postos de saúde não dariam conta e em caso de doença deveria ser solicitada
permissão do proprietário das terras para ter acesso a algum atendimento ou remédio. Diante
destas graves denúncias a respeito das condições de vida e trabalho na região da Zona da
Mata mineira, o autor apresenta as propostas dos comunistas para a solução de problemas
como estes a partir da formulação da nova Constituição que seria votada ainda neste ano de
1946. As propostas eram em prol da entrega das terras dos latifundiários aos colonos que
delas viviam, assim como a abolição dos impostos. Ainda apoiavam o aumento de salários, a
diminuição da jornada de trabalho, escolas e liberdade para venda do que produziam.

Mas não só de denúncias e relatos das “dores do povo” eram feitas as matérias e
artigos do jornal. A mobilização e organização dos trabalhadores era um dos principais pontos
da publicação. O incentivo promovido pelo jornal estimulava o leitor a participar das “lutas”
por melhorias na vida do trabalhador.

Lutas

A capa da edição em questão (fig.44) trazia em destaque a frase “Mobiliza-se o povo


contra a carta fascista de 37” que se coadunava com a matéria intitulada “Um comício
monstro contra a Carta de 37” na qual era divulgado um grande comício promovido pelo PCB
com o intuito de promover a oposição ao documento instituído por Getúlio Vargas no ano
mencionado e que cerceava direitos políticos, e o exercício da democracia. A campanha pela
Constituinte se encorparia e tornando-se um grande esforço do Partido que pode ser
acompanhado através do Tribuna Popular.

À direita da segunda página (fig.45), vemos o texto que complementa o tema da


manchete de capa sobre o problema causado pelos banqueiros que não atendiam às
reivindicações dos bancários de Belo Horizonte (MG). Os bancários protestavam por
melhores salários e enquadramento e a matéria relata o apoio de outras pessoas que passavam
pelas ruas aos manifestantes com aplausos, inclusive. Abaixo desta matéria há a continuação
do texto de capa explicando que a falta de fundos de alguns bancos fez com que recusassem o
110

resgate de cheques, o que demonstra a deflagração da crise destas instituições em vistas à


greve dos bancários.
Há ainda nesta segunda página uma matéria sobre lutas na Indonésia em defesa dos
interesses petrolíferos entre outras pequenas notas sobre assuntos diversos, mas que compõem
a página. Já na terceira página da edição (fig.46), encontra-se o artigo “O PCB e as eleições
complementares” de Pedro Pomar, importante membro do Comitê Central do Partido, no qual
expressava seu posicionamento diante das eleições complementares que ocorreriam nas
seções eleitorais brasileiras em que as urnas foram impugnadas no processo eleitoral. Pomar
analisou o cenário eleitoral e os candidatos do PCB argumentando que era um importante
momento da democracia brasileira. Mostrando assim, a importância de participação neste
processo complementar e destacando os candidatos do PCB e quantos votos eram necessários
para serem eleitos.

Nesta mesma página, no artigo “Catolicismo e Socialismo” é discutido se é possível


uma relação entre os dois, apresentando os argumentos que desassociam imediatamente por
incompatibilidade teórica e prática. No entanto o autor questiona esse distanciamento e
procura mostrar que são termos que podem estar próximas. Enquanto isso, no artigo “O povo
soviético e as eleições de hoje”, o autor discorreu sobre a eleição para o chamado “Soviet
Supremo” da URSS, e detalhou todo o processo: a divisão por distritos, o número médio de
pessoas que votavam nos colégios eleitorais, a forma como eram escolhidos os membros das
comissões regionais eleitorais pelos órgãos ligados ao governo, a presença de colégios
eleitorais nos pontos mais longínquos para que valesse o voto universal, entre outros pontos.

Ainda na terceira página, o artigo “Unem-se as forças reacionárias contra o povo


filipino” tratava da reação da classe dominante filipina com apoio dos Estados Unidos da
América para suprimir o movimento popular que tomara vulto no país. O chamado “Exército
do Povo” havia alcançado muitas conquistas e ganhado força confiscando latifúndios. O texto
destacou a doação de 15 mil metralhadoras para o governo filipino por parte do exército
norte-americano, mostrando sua intervenção e os caminhos que as negociações tomaram,
levando a um conflito que se intensificava.
Dentre os artigos desta página, havia alguns mais breves e que ou não eram assinados,
ou o eram por nomes abreviados. Dos não assinados estavam: “O foco fascista espanhol” que
tratava da situação política da Espanha sob o governo de Francisco Franco, e “A intriga de La
Guardia” sobre o Sr. Fiorello La Guardia (1882-1947), que foi prefeito de Nova Iorque entre
111

1934 e 1945, teria dito que os comunistas brasileiros são um perigo à democracia e o artigo
procura argumentar contra essas considerações.

Na quarta página (fig.47) deste número do periódico há a coluna “As atividades do


Comitê Popular de Vila Pereira Carneiro” mostrando a formação de uma escola de corte e
costura, teatro, campanha para saneamento local, para alfabetização de adultos e as pauta para
as reuniões do comitê. Junto há uma nota com os dizeres: “Ajude a Campanha de
Alfabetização do Povo” na qual explica como o leitor pode contribuir com dinheiro nas listas
espalhadas nos comitês populares para a impressão de cartilhas ilustradas pelos artistas Carlos
Scliar e Hudson Machado.

À direita nesta página há uma nota intitulada “O problema dos subúrbios” na qual trata
da ação dos comitês pela limpeza e recolhimento de lixo por parte da prefeitura. Abaixo a
divulgação das discussões realizadas na “Grande Assembleia do Comitê Popular do Centro da
Cidade”, que era situado na Av. Rio Branco, e apresentando os principais temas relativos à
campanha pela autonomia do Distrito Federal e pela instalação de um curso de alfabetização.

Encontra-se ainda na quarta página a matéria: “O povo de Capão Bonito contra a


rearticulação integralista”, enviada por um correspondente do jornal e na qual mostra um
documento de grupo integralista que se apresentava com nomes como “Cruzada Brasileira de
Civismo” e “União de Resistência Nacional”. No documento o grupo divulgava suas ideias
com caráter fascista, e o texto trazia uma denuncia de pessoas de Capão Bonito contra o que
seria uma rearticulação integralista e ao final trazia o nome de muitas pessoas que assinariam
o protesto.

À esquerda há um quadro intitulado: ...e a caravana passa...., destacando frases que


foram divulgadas em jornais, mostrando a referencia do autor e local onde foi divulgado.
Junto havia títulos que mostravam o olhar do jornal sobre as citações. Geralmente eram frases
de opositores do PCB em jornais do Rio de Janeiro. Assim, o Tribuna Popular mostrava sua
desaprovação com certa ironia as afirmações que contrariavam o que defendia o PCB e o
jornal. Abaixo desta nota há uma divulgação do “Grande Comício Pró-Congresso Sindical no
dia 20” no Largo da Carioca (Rio de Janeiro), que seria um dos trabalhos preparatórios de
organização e propaganda do grande congresso que se realizaria no mês seguinte.

Por fim, esta página apresentava outra coluna chamada Noticiário Geral que mostra
atividades de quatro Comitês Democráticos do PCB, que eram células do Partido que atuavam
112

no âmbito local em diversos bairros da cidade, promovendo comícios, fiscalizando e


denunciando a ação do governo nas localidades que abrangiam e promovendo reuniões com a
população local.

Logo na parte central da quinta página (fig.48), há uma fotografia que registrou a
visita de uma comissão de grevistas de duas firmas à redação do Tribuna Popular. A matéria
explicava que os grevistas reivindicavam aumento de salário, e encontro com políticos que
prometeram apurar suas queixas. O texto mostra o posicionamento do jornal apoiando a
greve, e que o PCB promoveu o encontro da comissão de greve com um Ministro falou sobre
a condição dos trabalhadores que não estão respaldados pela “Carta de 1937” a promoverem
paralizações, mas que o governo naquele ano já procurava não coagir os grevistas e sim
buscar acordo das partes.

À direita nesta página há uma nota de convocação da Confederação Nacional dos


Marítimos para uma reunião dos trabalhadores deste seguimento. E abaixo um “Noticiário
Geral”, que assim como na página anterior apresenta pequenas notas, mas neste caso sobre as
atividades de quatro sindicatos, anunciando a adesão ou não a greves, homenagens e reuniões.

Na parte superior à direita encontra-se um artigo intitulado “A participação da mulher


no Congresso Sindical” escrito por Odila Schmidt, funcionária da Companhia Telefônica e
delegada eleita pelo seu sindicato para o Congresso Sindical que estava por ocorrer. No texto,
ela procura relatar a importância da sua participação em tal evento, representando não apenas
o sindicato do qual faz parte, mas também as milhares de mulheres que como ela ingressaram
no trabalho em fábricas, empresas, comercio, etc. A sindicalista destaca ainda a importância
do Congresso dos Sindicatos para todas as categorias profissionais.

Na oitava e última página (fig.51) havia uma nota de convocação para advogados
membros ou simpatizantes do PCB para comparecerem a uma reunião da categoria. Logo
abaixo, em uma nota maior denominada “Amanhã as eleições suplementares em São Paulo”
sobre a ocorrência de novo pleito em alguns municípios do Estado de São Paulo onde foram
anuladas as urnas por alguma irregularidade.

Na parte central da página se encontra uma matéria sobre a greve de trabalhadores do


Cais do Porto do Rio de Janeiro que apresentava o título “Os grevistas da Resistência voltarão
ao trabalho” e o subtítulo “Voltarão à greve caso sejam enganados. Confiaram numa
promessa do Sr. Negrão de Lima – durante 10 dias o aumento pleiteado sairá dos cofres do
113

Sindicato, isto é, da bolsa dos próprios grevistas – insolências, insultos à massa e outras
‘recordações do policiamento estadonovista’ ”.

Apenas através destas palavras já é possível estar a par do que a matéria procurava
transmitir ao leitor. O texto relata uma assembleia que promoveu encontro entre o então
Ministro do Trabalho Negrão de Lima, e o comando de greve chamado “Resistencia do Cais
do Porto”. O ministro teria indicado que os grevistas voltassem ao trabalho para uma
negociação posterior, e o presidente do sindicato teria declarado que deveriam seguir estas
recomendações. O autor explicita sua oposição a estes posicionamentos, apoiando a
manutenção da greve até um acordo efetivo. Desta forma, o autor conclui dizendo que os
debates foram acalorados e com influência do “velho estilo policial e estadonovista”,
ressaltando que os trabalhadores encerrariam a greve, e o sindicato pagaria o aumento de
cinquenta por cento aos associados, e mostrando ironia ao dizer que isto ocorreria “até que o
Ministro Negrão de Lima se dê o incômodo de resolver o caso”. Assim, o texto apontava o
apoio à greve e a insatisfação com os rumos da assembleia, com uma critica ao Ministro e ao
presidente do sindicato que estariam a favor dos empregadores e não dos trabalhadores.

Abaixo desta matéria havia um texto menor com duas fotografias a respeito de uma
reunião dos associados aos sindicatos da Companhia Cantareira e Viação Fluminense. Nestas
fotografias eram mostradas a mesa e a plateia que acompanhava a reunião, enquanto o texto
tratava do dissídio compartilhado por ambas as categorias profissionais por conta do processo
judicial para atendimento de suas reivindicações e que passava por contestação da
Companhia. A reunião era para atualizar os associados do andamento do processo. E ainda
havia duas notas de convocação para assembleias de sindicatos, de empresas telefônicas do
Rio de Janeiro e de têxteis.

Por fim, na conclusão da referida matéria que denunciava que “Cresce a miséria nos
campos da Zona da Mata”, o autor propunha a organização destes trabalhadores para
alcançarem estas conquistas, pois juntos poderiam reivindicar melhorias que seriam essenciais
para o que considera o “progresso” do país. Assim, com o objetivo do desenvolvimento
nacional, e da democracia, o autor justifica a união dos trabalhadores. O caminho seria ouvir
as palavras de Prestes para “acordá-los para a luta organizada contra a miséria e a exploração
do senhor”.
114

Portanto, é possível observar a abrangência do jornal, que percorria temas relativos a


diversão e aprendizado, mas atravessava o campo das denúncias aos problemas sociais
propondo e estimulando a organização dos trabalhadores. Desta forma, o leitor tinha acesso a
um jornal que procurava acompanhar diferentes âmbitos da vida do trabalhador, não apenas
os percalços, mas também as alegrias.

2.5 - A repressão e o fim do jornal: observação, interesse e análise do jornal pela polícia
política

A Polícia Política do Rio de Janeiro acompanhou de perto os passos do PCB, de seus


membros e das suas publicações mesmo no período em que o Partido esteve na legalidade
entre o início de 1945 e o de 1947184.

Em meio a diversas fotografias que fazem parte do acervo de imagens do APERJ, há


cerca de quarenta com a mesma característica: são flagrantes de casas feitos por
investigadores da polícia política. Destas, cinco fotografias foram feitas em 1946 e uma delas
tem a especificação de ser de uma casa de propriedade de Luís Carlos Prestes, flagrada
durante uma reunião em que o Secretário Geral do Partido estaria presente 185.

Este é um exemplo do que era o trabalho de investigação estabelecido pela Polícia


Política do Rio de Janeiro sobre o PCB e seus membros. A fotografia, como todas as outras
não possui identificação da autoria, muitas faziam parte de processos ou inquéritos e foram
desligadas dos documentos originais por arquivamentos descuidados, reorganizações e
transferências pelas quais os arquivos passaram ao longo dos anos 186.

A imagem a seguir (fig.53) mostra uma casa reservada de vizinhança próxima,


simples, e localizada no Rio de Janeiro, portanto em algum bairro menos populoso que os dos
bairros mais centrais da cidade. Muito possivelmente na Zona Norte, pois muitos documentos
indicam casas nesta área em que havia reuniões ou oficinas de publicações do Partido. Ainda
se destaca o perfil do ambiente do entorno da residência. É importante notar a distância em
que a fotografia foi feita, mostrando o caráter discreto da observação e a constante observação
pela qual passavam os membros do PCB, mesmo enquanto o Partido esteve na legalidade.

184
REZNIK, Luís. Democracia e segurança nacional: a polícia política no pós-guerra. FGV. Rio de Janeiro,
2004.
185
Pasta Comunismo. Delegacia de Segurança- RJ, 1946. Acervo de Imagens. APERJ.
186
REZNIK, Luís. Op. Cit.
115

Fig.53-Autor Desconhecido. Fotografia. Pasta Comunismo, Notação 671. Delegacia de Segurança- RJ,
1946. Acervo de Imagens APERJ.

Os arquivos documentais do Fundo das Polícias Políticas do Rio de Janeiro mostram o


grande volume das apreensões de material do PCB neste período, e o número de prontuários
ou dossiês do Serviço de Informações referentes aos membros do Partido, inclusive os
responsáveis e contribuidores do jornal Tribuna Popular. Em meio a inúmeros dossiês sobre
instituições públicas e empresas particulares e a ligação de seus funcionários como
comunismo, assim como de membros de sindicatos e clubes, havia denúncias sobre a relação
que pessoas teriam com o jornal Tribuna Popular formando listas de comunistas perigosos ao
regime.

O periódico Tribuna Popular era atentamente acompanhado pela polícia política.


Através dele eram coletadas informações que seriam utilizadas para compor relatórios,
dossiês, processos e prontuários individuais assim como faziam com documentos apreendidos
nas sedes do Partido.

Um exemplo é um relatório datado de 3 de julho de 1946 enviado pelo Chefe de


Polícia para o Ministro da Justiça e Negócios Interiores sobre as “referências feitas a pessoa
do Ilmo. Senhor Coronel Augusto Imbassahy, então diretor do DPS, insertas no jornal
Tribuna Popular” entre 28-04-1946 até 14-06-1946.187 Este relatório foi elaborado a partir da
análise atenta destes exemplares e apresenta uma lista com 268 citações ou referências ao Sr.
Coronel Imbassahy. São dez páginas de relatório com a catalogação das referências

187
Fundo PPRJ. Setor Administração. Pasta 1M. P. 1 e 97. APERJ.
116

mostrando a data da edição do jornal, a página, coluna, título e linha onde aparece o nome do
referido coronel. É uma pesquisa longa e precisa que expõe o trabalho dedicado a analisar as
páginas do Tribuna Popular em busca do conteúdo lhes fosse interessante.

Outro exemplo foi uma mensagem a Luís Carlos Prestes publicada no jornal no dia 14
de maio de 1947 por motivo dos discursos pronunciados pelo Secretário Geral do PCB nos
dias 22 e 24 de abril e 1º de maio, respectivamente no Rio, em São Paulo e no Recife. Esta
mensagem mostrava como seus signatários uma longa lista formada por 263 nomes.

Esta lista foi importante para a formação de um dossiê sobre o PCB 188 no qual
relacionavam pessoas ligadas ao Partido e dividiam-nas por categorias. A lista apresentada
mostrava 46 nomes classificados como “cientistas e técnicos”, 114 entre “escritores e
jornalistas”, e 103 “artistas plásticos, atores e músicos” A seguir podemos acompanhar
reprodução da lista constante no dossiê da polícia política referente à última categoria de
artistas plásticos, atores e músicos:

José Pancetti, Oscar Niemeyer, Francisco Mignone, Candido Portinari, Alcides Rocha
Miranda, Jose Siqueira, Honório Peçanha, Clovis Graciano, Jose Pedrosa, Eros Gonçalves,
Eduardo de Guarnieri, Athos Bulcão, Arnaldo estrela, Aldo Bonadei, Claudio Santoro, Carlos
Scliar, Paulo Werneck, augusto Rodrigues, Santino Partinelli, Werther Politano, Hans Briting,
Sady Cabral, Ytalia Fausta, Eugenia Álvaro Moreira, Aurora Aboim, Ely Sherrer, Rosina
Bessa, Marino Milone, Paulo de Oliveira, Severino de Souza Delgado, Waldomiro Alves, Ary
Paulo da Silva, Ranulfo de Oliveira Lins, Miguel Azevedo, Castelo Branco, Joaquim
Wanderley, Jose Lages da Rocha, M. Benzaquem, Geraldo Gomes, Pascoal Perrota, J.
Pinheiro, Gomercindo Melo, Otavio Canabrava, J. Waschitz, Lima Siqueira, David Dias de
Paiva, Siegfried Presner, Mario de Alencar Vale, Oscar Meira, Iberê Camargo, Monteiro de
Barros, Ruy Santos, Salomão Scliar, Vitor Menechise, Silvia Leon Chalreo, Sostens
Gonçalves, Durval Serra , Telon Pereira, Guimarães Ferreira, Manoel Cantanhede, Fernando
Pereira, Quirino Campofiorito, Raul Devezza, Wilson Tibério, Pereira Ramos, Angenor Costa,
Eugenio Sigaud, Inimá de Paula, Milton Ribeiro, Vanberto Jarone, Hugo Leite, Amerino
Vanique, Orlando Campofiorito, Ozon Schalau Deveza, Santos Araujo, Dea Pereira, :Norka
Schmit, Paulo Renol, José Guimarães, Rosane Galvão, Mario Cabral, Hilda Campofiorito,
Cândida Menezes, Ana Stela Shic, Berço Uder, Eunice Catunda, Daria Garcia, Vilanova
Artegas, Catulio Branco, Marcelo Grasman, Luis Sacilotto, Otavio Araujo, Manoel Martins,
Alfredo Rizzoti, Bernardo Bationi, Vasco Prado, Carlos Petrucci, Jose Maraes, Jose Luis
Calasans, Francisco Aquarone, Jordão de Oliveira e leda Aquarone189 .

Estas informações fariam parte das fichas destes comunistas190, e esta ligação
estabelecida com o PCB e mostrada no jornal seria um dado presente durante décadas nos

188
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Maço 3. Folhas 401 a 520. Dossiê 1. APERJ.
189
Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Maço 3. Dossiê 1. P. 437 a 440. APERJ.
190
Nestas fichas constavam dados dos investigados como: filiação, local de residência, traços físicos como cor
de pele e se usava bigode, por exemplo. Mas também eram listadas as vezes em que foram presos e os motivos,
assim como ligações com grupos suspeitos ou com o PCB e seus órgãos, como o Tribuna Popular. Estas fichas
117

arquivos das polícias políticas. Documentos das décadas de 1950, 1960 e 1970 mostram que
quando eram solicitadas informações de algum desses nomes, por motivo de investigação,
processo, ou detenção, a informação oferecida contava com a descrição desta ligação com a
mensagem a Prestes divulgada na referida edição do jornal Tribuna Popular, assim como
outras referências com fonte neste periódico.

Em um relatório do Departamento Federal de Segurança Pública do Ministério da


Justiça e Negócios Interiores sobre um oficial, o general Arthur Carnaúba, em que
descreviam-no como:

oficial reformado, escritor, ,residente a Av. Atlântica 66-9 andar, conforme divulgação do
órgão comunista Tribuna Popular de 14/06/1947, foi signatário de um manifesto protestando
contra o fechamento do PCB. Segundo ainda este jornal em 21/06/1947, foi signatário de um
memorial, em que vários militares e figuras de profissões liberais, lançaram, contra o projeto
de reforma dos militares por delito de opinião191.

O documento seguia com outras informações de anos seguintes, mas mostrando como
a Polícia Política e Social recorria a informações do jornal Tribuna Popular para elaborar
históricos de pessoas e apontar a ligação que tinham com o PCB. A ligação com o Tribuna
Popular era um importante dado para os repressores. Assim, documentos que provassem
relação com o jornal entravam para o histórico policial destas pessoas. Em documento de 03
de dezembro de 1947 foi apresentado o histórico de Iguatemy Ramos da Silva, descrito como
militante comunista desde 1927 e também vereador teria posto a disposição do PCB suas
oficinas gráficas inclusive para impressão do Tribuna Popular quando este foi “empastelado
192
pelo povo”, segundo palavras no documento. O uso destas oficinas no período do
empastelamento no final do ano de 1947 fazia parte da investigação e acompanhamento
constante deste jornal pelo Serviço de Investigação.

A análise do jornal é demonstrada pela presença de um exemplar completo da Tribuna


Popular de 18 de dezembro de 1947 em meio aos documentos relativos ao dossiê intitulado
193
“Cassação de Mandatos” da série Comunismo da polícia política. Algumas matérias
encontram-se assinaladas pelos repressores, mostrando a leitura que era feita da publicação.
Neste caso foi marcada uma matéria de capa intitulada “Brutal ofensa ao legislativo carioca.

eram usadas para consultas rápidas sobre as pessoas, mas baseadas nelas e em processos fazia-se relatórios mais
detalhados sobre investigados específicos, vale ressaltar a dificuldade de compartilhamento de informação e
arquivos datilografados entre delegacias devido as tecnologias deste período.
191
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 70. P. 20. APERJ.
192
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 23. Dossiê 3. Maço 1. Página 17. APERJ.
193
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 23. Dossiê 3. Maço 3. APERJ.
118

Preso pela policia da ditadura o vereador João Massena Melo” , que citava a ação da polícia
política e fazia uma crítica dura as arbitrariedades do governo.

O caráter de denúncia desta edição do jornal interessava aos repressores, e este número
contribuía para o entendimento do que estava sendo dito a respeito da cassação de mandatos
de comunistas. O Tribuna Popular era um dos principais órgãos da imprensa comunista e sua
observação mostrava-se importante para as investigações instauradas.

A atenção prestada a este periódico possibilitou embasamento para as denúncias


descritas na “Portaria 667 de 14 de fevereiro de 1948”, elaborada com o intuito de suspender
por seis meses a circulação do Tribuna Popular, que não voltaria mais às ruas. As
considerações apresentadas são representativas da visão que as forças repressivas tinham
deste jornal. As acusações são referentes o conteúdo que provocaria um “ambiente de
agitação e intranquilidade” por pregarem a “luta de classes”. Além disso, o documento mostra
que haveria constantemente injúrias às instituições públicas e aos agentes do governo ligados
a elas, assim como incitaria os leitores a se oporem a órgãos públicos, acusando de corruptos
os magistrados, de vendidos a Estados estrangeiros o Poder Legislativo, e de traidor nacional
o Poder Executivo.

Considerando o matutino A Tribuna Popular, que se edita nesta capital, tem continua e
ostensivamente, pregando a luta de classes, com o objetivo de provocar ambiente de agitação e
intranquilidade publicas;
Considerando que, em campanha sistemática, o referido órgão tem injuriado os poderes
públicos e os agentes que os exercem , incitando ao desprezo pelas instituições democráticas
que nos regem, acoimado a magistratura brasileira de venal, os membros do Poder Legislativo
de estarem a soldo de Estados estrangeiros e o Poder Executivo de traidor nacional; (...)
Considerando que assim o faz, o jornal em foco, obediente a linha internacional de
comunismo, cuja doutrina prega em todos os seus números, visando a preparação do clima
adequado ao uso de processos violentos para subverter a ordem política e social194.

O texto segue apontando o jornal Tribuna Popular como subordinado a linha


internacional do comunismo, e ainda mostrar em todos os seus números essa ligação. Desta
forma, o jornal serviria para preparar o ambiente para a subversão da ordem política e social
através de métodos violentos. A partir de tal documento, é possível notar que as investigações
pautadas na observação deste jornal, resultaram em objeto para acusações que justificariam a
repressão a este órgão do PCB.

194
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 5. Dossiê 5. APERJ.
119

2.5.1 – A volta do PCB a ilegalidade: razões, suspensões e empastelamento do jornal

De acordo com José Antônio Segatto desde o início da presidência de Eurico Gaspar
Dutra já havia a intenção do governo e das classes dominantes de isolar o Partido Comunista
do Brasil, cessar seu crescimento e finalmente fechá-lo. Isto seria comprovado pelo
pesquisador através de um documento do Arquivo Nacional dos Estados Unidos em
Washington D.C. que mostra um telegrama de um funcionário da embaixada estadunidense
no Brasil que comunicava ter recolhido no Rio de Janeiro informações da polícia política a
respeito da elaboração de um decreto que tornaria o PCB ilegal. Este telegrama era de março
de 1946 e o Partido só voltaria a ilegalidade em maio de 1947. O comunicado mencionado
teve um trecho reproduzido por Segatto que dizia:

A polícia política já elaborou uma lista dos mais proeminentes comunistas e seus endereços, e
já recebeu instruções para fazer preparativos para prendê-los imediatamente após a
promulgação do decreto – se ele vier a ser assinado (documento 832.00 B33-746, National
Archives, Washington 195.

São indícios que coincidem com informações de documentos das forças repressivas
brasileiras que mostram o intuito do ministério da Guerra em fechar o PCB, enquanto o
general Góis Monteiro achava o momento inadequado, pois as alianças contra o fascismo no
tempo da guerra em que os partidos comunistas e a URSS foram considerados aliados, não
poderiam ser desfeitas ainda por conta das relações internacionais estabelecidas. Em 1946 o
governo começou a cercar a ação do Partido, suspendendo as eleições sindicais e intervindo
neles196. Seguiriam acusações ao PCB de ser um braço internacional no Brasil.

Em 1947 se iniciaria a Guerra Fria entre os Estados Unidos da América e a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas. Em maio de 1947 o Partido Comunista do Brasil teria seu
registro político cassado e as sedes do Partido seriam fechadas, seus arquivos e fichários
apreendidos. Em outubro deste ano o Senado aprovou a demissão de todos os funcionários
públicos suspeitos de serem comunistas, e o governo rompeu as relações diplomáticas com a
URSS. Em seguida, o governo interviria em 143 sindicatos e em 400 até o final do governo de

195
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.57.
196
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P. 58.
120

Eurico Gaspar Dutra, e no dia 7 de janeiro de 1948 os parlamentares do PCB teriam seus
mandatos federais, estaduais e municipais cassados. 197

Durante a legalidade do PCB o jornal Tribuna Popular sofreu perseguição política e


pedidos de suspensão de sua circulação. Com a ilegalidade do PCB no início do ano de 1947
o periódico encontraria ainda mais empecilhos até ser definitivamente fechado. Na edição de
18 de dezembro de 1947, o Tribuna Popular voltava a circular depois de dez dias. Com o
título “Todo apoio a reconstrução da Tribuna Popular” o jornal publicava um esclarecimento:

Voltamos hoje a circular, em virtude de decisão judiciária preliminar, depois de dez dias de
arbitraria e ilegal suspensão imposta pela ditadura – o Tribunal Federal de Recursos mandou
sustar o efeito da nossa suspensão por 30 dias cominada em portaria do Sr. Adroaldo, baseada
na nefanda lei de segurança do Estado Novo. 198

Esta suspensão foi contornada pela Tribuna Popular que conseguiu voltar a circular
por mais um tempo. No entanto a perseguição estava cada vez mais acirrada. Uma nota
denunciava o sumiço de um correspondente do periódico “Folha Capixapa” do PCB em
Vitória no Espírito Santo. Este é um exemplo do caráter das denúncias que o jornal estava
fazendo e que eram acompanhadas pelas forças repressivas do governo. Não havia mais
espaço para a imprensa do período da legalidade, a intensificação da perseguição atingiu
grande parte da estrutura periódica do Partido.

A perseguição ao jornal tinha o objetivo de fechá-lo, o que só foi alcançado


definitivamente nos primeiros dias de 1948. No entanto, até este desfecho o “o matutino em
causa já foi suspenso duas vezes, pelos prazos de 15 e 30 dias, conforme consta das Portarias
ns. 11.875, de 13 de agosto de 1946, e 12.706, de 5 de dezembro de 1947, deste Ministério”,
como informa documento assinado pelo Ministro de Estado da Justiça e Negócios Interiores.
199
Este documento é uma portaria instaurada pelo referido Ministério e que procura justificar
a suspensão por seis meses do jornal Tribuna Popular a partir da data seguinte a sua
publicação em 14 de fevereiro de 1948. Esta portaria apenas ratificava o fechamento do
periódico, que já estava fora de circulação.

Era o fim dos três longos anos de legalidade do PCB, e o jornal Tribuna Popular
resistiria efetivamente até o final do ano de 1947, com sua última publicação em 28 de
dezembro deste ano. A estratégia do Partido foi manter a estrutura básica do periódico,

197
SEGATTO, José Antônio. Op. cit. P.58.
198
Tribuna Popular, 18-12-1947. RJ. Acervo BN.
199
Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 5. Dossiê 5. APERJ.
121

alterando seu nome para Imprensa Popular e aos poucos o teor do seu conteúdo, já que não
poderia mais divulgar as atividades de um partido que não estava mais na legalidade.

Destarte, a compreensão de como o Tribuna Popular se estruturou e suas estratégias


permitiu abrir espaço para entender como a arte atravessava as tópicas de política nas suas
páginas. No próximo capítulo, será visto mais detidamente a importância da presença das
imagens no jornal. Além disso, será percorrida a forma como as ilustrações particularmente
contribuíam para a afirmação de uma determinada cultura visual que apresentava as “dores do
povo”, mas também que propunha meios de luta para que os trabalhadores unidos pudessem
conquistar vidas melhores.
122

TERCEIRO CAPÍTULO

AS CORES DO POVO: ARTE E POLÍTICA PARA

O POVO EM BRANCO E PRETO


123

3- TERCEIRO CAPÍTULO – AS CORES DO POVO: ARTE E POLÍTICA PARA O


POVO EM BRANCO E PRETO

3.1 – Os desenhos no Tribuna Popular e as ressonâncias do realismo socialista soviético

O jornal Tribuna Popular apresentou ao longo de sua duração (1945-1947) cerca de


cinquenta desenhos em suas páginas. Estes desenhos tinham a função de ilustrar as matérias
às quais se referiam. Eles eram reproduzidos pelo processo de clicheria200 e se destacavam
nas páginas do jornal. No entanto, também se mostravam como atrativos à leitura dos textos, e
ainda apresentavam um sentido próprio.

Eram desenhos com personagens e cenas realistas, ou seja, contundentes com a


realidade, que se coadunavam com a visão do jornal, e, portanto, do PCB. Traziam
características realistas que facilitavam o entendimento do observador e suas temáticas ligadas
aos trabalhadores urbanos e rurais, suas atividades e problemas cotidianos, lutas e conquistas
conduzidas pelo Partido além de suas lideranças comunistas. Deste modo, essas características
de forma e conteúdo se aproximavam do conceito que constitui o realismo socialista201
soviético.
Os desenhos eram feitos por artistas membros do Partido, principalmente Paulo
Werneck que fez a maioria deles e serão analisados mais adiante neste capítulo. Mas há
também outros artistas como Quirino Campofiorito (1902-1993) e Cândido Portinari, que
fizeram contribuições especiais, como ocorreu com um desenho assinado por Milton,
provavelmente o artista Milton Martins Ribeiro (1922-)202.

Quirino Campofiorito contribuiu com um desenho do perfil de João Amazonas,


membro do Comitê Central do PCB (fig.54). Era um desenho que procurava se assemelhar ao
então candidato do Partido às eleições de 1947. O traço de Quirino se adaptava ao modelo
adotado no jornal, mas suas atividades fora dele foram diversificadas 203.

200
A partir de tal método, os linotipistas – gráficos que organizavam os linotipos das páginas do jornal – reuniam
os textos dispondo-os no formato da página, assim como os desenhos e as fotografias; a partir de então
“imprimiam” à quente um clichê, espécie de carimbo em alto relevo em chapas de metal usando prensas
tipográficas, para cada página do jornal e que serviria de base para a reprodução destas.
201
Este conceito de realismo socialista é desenvolvido no Primeiro Capítulo.
202
A única referência encontrada de um artista plástico membro do PCB neste período e chamado Milton é do
artista Milton Ribeiro na edição de 14-05-1946, o que provavelmente se refere ao artista Milton Martins Ribeiro
nascido em 1922.
203
Quirino Campofiorito (1902-1993) foi pintor, desenhista, gravador, crítico e historiador da arte, ilustrador,
caricaturista e professor. Pintou cenas urbanas e naturezas-mortas, na década de 1940 apresenta obras
figurativas. Cf. HILDA e Quirino Campofiorito: Vida e Obra. Fundação de Arte de Niterói, 2002. .E
124

Candido Portinari (1903-1962) também se filiou ao PCB e foi candidato a deputado


em 1945 e a senador em 1947, não conseguindo se eleger, mas mostrando seu envolvimento
com o Partido. Um de seus trabalhos em contribuição do Partido foi publicado no jornal
(fig.55). A legenda explicita que a “A gravura reproduz um dos trabalhos oferecido por
Candido Portinari para a campanha de ajuda à TRIBUNA POPULAR (...)” 204, portanto, é um
trabalho do artista feito para o Partido. O traço de Portinari ganha formas específicas, que
difere esta obra de suas outras205. A temática coaduna-se com tantas outras do jornal, pois se
refere a problemas pelos quais passava o trabalhador. Na imagem um homem agride outro de
joelhos com chibatadas, enquanto outro de cartola assiste a cena. O homem que apanha
ajoelhado chora, a cena é representativa das agressões sofridas no ambiente de trabalho
brasileiro.

Fig.54- Quirino Campofiorito. Tribuna Fig.55- Cândido Portinari. Tribuna


Popular. 12-01-1947. RJ. Acervo BN. Popular. 22-05-1947. RJ. Acervo BN.

A predominância , no entanto, é de desenhos de Paulo Werneck, artista membro do


PCB que contribuiu pra o Tribuna Popular ao longo de sua duração e continuou produzindo

http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_bio
grafia&cd_verbete=3083&cd_item=1&cd_idioma=28555 .
204
Tribuna Popular. 22-05-1947. RJ. Acervo BN.
205
Sobre vida e obra de Candido Portinari Cf. BENTO, Antônio. Portinari. Léo Christiano Editorial Ltda. Rio
de Janeiro, 2003.
125

para o jornal que o sucedeu, o Imprensa Popular (1948-1958). Paulo Werneck é, portanto,
ilustrador mais importante para o jornal Tribuna Popular, seu traço pode ser reconhecido em
sua particularidade nos mais de cinquenta desenhos que fez para este periódico.

Importante perceber que fora do PCB Paulo Werneck desenvolveu outras atividades
206
que não a de ilustrador: o artista produzia murais, trabalho que se destacou em sua carreira.
Seus murais em nada se assemelhavam com seus desenhos. Em alguns murais, mesclava o
abstrato com o figurativo, mas o abstrato prevalecia. Paulo Werneck foi pioneiro no Brasil no
uso de pastilhas cerâmicas em murais, e ele se destacou ainda por projetar e produzir os
ladrilhos, além de executar os murais. Neste período, era comum os artistas apenas projetarem
a obra.

Seu trabalho com mosaicos acabou ganhando reconhecimento, e as encomendas


cresceram. Seus murais permaneceram em obras arquitetônicas conhecidas, como a Igreja da
Pampulha, em Belo Horizonte, mas também em casas particulares e prédios com menor
destaque. Houve ainda os murais que se perderam em reformas, como os do estádio do
Maracanã e de edifícios residenciais no Rio de Janeiro. Entretanto, devido ao fato de, à época,
estas obras estarem fora do circuito de exposições e galerias, a exposição em murais as fez
adquirir o caráter de arte pública alcançando um grande número de pessoas.

Desta forma, as ilustrações contidas no jornal Tribuna Popular foram feitas


principalmente por Paulo Werneck, que procurou seguir as diretrizes do realismo socialista
soviético, como será visto adiante. Este trabalho, com as ilustrações, se diferenciava da sua
outra atividade com os murais, mostrando que o artista podia se adequar às proposições do
Partido e exercer outra atividade com sua marca autoral, assim como o fez Portinari no
desenho apresentado (fig.55).

206
Paulo Werneck (1907-1987) iniciou sua carreira profissional em 1927, publicando desenhos em uma revista
universitária carioca. A partir de então faria ilustrações para diversas revistas e jornais, e conciliaria essa
atividade com a preparação de desenhos de arquitetura. Na década de 1930 sua produção acabaria refletindo suas
preocupações sociais e como na revista Movimento, organizada com Tomas Santa Rosa (que circulou apenas no
ano de 1935), e no livro Lenda da Carnaubeira, publicado em 1939 pelo Ministério da Educação. O artista se
dedicaria a ilustrações, mas não se desligaria dos trabalhos de arquitetura. No período do Estado Novo (1937-
1945), houve grande incentivo a novas construções civis e públicas. Em 1942, Paulo Werneck foi convidado
para realizar painéis decorativos para a cobertura do edifício do Instituto de Resseguros do Brasil, no Rio de
Janeiro. Seria o início da atividade muralista do artista. Cf. MARTINS, Carlos. (coord.). Catálogo Paulo
Werneck muralista brasileiro. Paço Imperial, 2008.
126

3.1.1- Os líderes Prestes e Stalin

Luís Carlos Prestes era figura referencial para o PCB entre os anos de 1945 e 1947 207.
Era o líder para além do cargo maior de Secretário Geral que ocupava, era uma liderança
nacional, uma referência para muitas pessoas que o admiravam por seus feitos, sobretudo,
suas lutas na Coluna Prestes. No PCB, Prestes foi razão de união interna, como afirma Edgar
Carone:

A saída de Prestes da cadeia leva o partido a se aglutinar mais e, neste momento, os


elementos divergentes de São Paulo – Caio Prado Júnior e outros – e do Rio –
Astrogildo Pereira – retornam ao PCB208.

Fig.56- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 16-09-1945. RJ. Acervo BN.

O perfil de Prestes era veiculado com frequência no jornal, e a imagem da figura 56 é


peculiar e representativa das outras tantas. Isto porque traz três planos de desenho com
elementos que caracterizam o imaginário em torno da figura de Prestes. Em um primeiro
plano há o perfil do líder comunista, altivo com o olhar para adiante, de acordo com sua figura
de condutor do proletariado. Em segundo plano, as pessoas que aparecem de frente parecem
admiradores e seguidores de Prestes, atentos a ele e representando homens brancos e negros,
mulheres e crianças que o admiravam.

207
Período de circulação do Tribuna Popular, onde eram vinculadas estas ilustrações. No entanto Prestes já era
uma figura admirada nacionalmente antes e principalmente durante a Coluna Prestes que liderou. Ver nota nº104
no Primeiro Capítulo.
208
CARONE, Edgar. O Estado Novo (1937-1945). Op. cit. P. 245.
127

O desenho vem acompanhado de um texto intitulado “Canto heroico ao Partido de


Prestes”, com palavras de exaltação a ele e seus feitos, principalmente na Coluna Prestes, e da
importância da sua atuação como Secretário Geral do PCB e então líder comunista. As
pessoas do segundo plano parecem estar ainda, portanto, entonando este “canto heroico”.

No terceiro plano, fora da interação direta entre o primeiro e o segundo, há uma cena
que representa a atuação do líder comunista na Coluna Prestes, quando atravessou o país a
cavalo acompanhado de seguidores de suas propostas. A imagem mostra Prestes à frente
montado em seu cavalo com outros homens junto a ele também a cavalo. O ambiente com
árvores de galhos secos faziam referência à passagem da Coluna por áreas rurais pelo interior
do Brasil.

O traço próprio do artista Paulo Werneck marca as feições das pessoas, de forma que o
preto predomina e os centros dos rostos e dos tórax são iluminados chamando a atenção do
olhar do observador. São traços bem definidos, que buscam um entendimento claro da obra, e
com temas que recorrem à identificação do público do jornal com o conteúdo do desenho.

A figura de Prestes atraía novos membros e seus discursos reuniam milhares de


pessoas que lotavam praças e estádios. Carone ressalta o crescimento do Partido e considera a
liderança de Prestes como um “trunfo”:

A unidade e a pujança se demonstram no primeiro comício público a que comparece Luís


Carlos Prestes, o do Estádio de São Januário, do Vasco da Gama, no Distrito Federal, em 23
de maio de 1945. Uma apoteótica multidão de mais de 100.000 pessoas lota o Estádio, o
mesmo se dando no comício do Pacaembu, em São Paulo, em julho de 1945. O PCB, pela
primeira vez na história do Brasil, aparece com sua própria roupagem e como movimento
legal de massa (...) A instalação das sedes em todos os Estados (a partir de julho) e do Comitê
Nacional, em agosto de 1945, mostra a pujança partidária. O PCB passa, então, a se confrontar
em igualdade de condições com os outros partidos burgueses e da pequena burguesia, só que
agora representa um trunfo que não pode ser mais desprezado, como antigamente. 209

Como diz o autor, a presença de Prestes atraia grande público e isso era de grande
importância para a reestruturação do PCB. Prestes era, portanto figura essencial para o Partido
e sua imagem era utilizada como símbolo do PCB. Sua imagem pode ser comparada a de
Josef Stalin para o Partido Comunista da União Soviética. Stalin que foi Secretário Geral do
PCUS de 1924 a 1953, quando faleceu, tinha sua imagem reproduzida em diversos meios
revelando-se a principal referência da União Soviética, admirado e seguido na URSS e por
comunistas de todo o mundo.

209
CARONE, Edgar. O Estado Novo (1937-1945). Op. cit. P. 245.
128

A figura do líder soviético, exaltado por seus seguidores se repetia no âmbito nacional
brasileiro com Prestes. Contudo, a composição de Prestes pode ser comparada a de Stalin, em
sua forma e elementos. A seguir (fig.57) há uma imagem de pessoas reunidas carregando
cartazes com dizeres ao fundo e ao centro um cartaz maior com o perfil de Prestes. A figura
do líder sendo levada por seus seguidores, não era incomum, pois representa uma prática das
manifestações populares reais. Desta forma, afirmava-se a figura de Prestes como um líder
nacional e contribuía-se reforçando esta imagem.

Fig.57- Paulo Werneck. Fig.58- Autor desconhecido. Cartaz Soviético. Querido


Tribuna Popular. 21-04- Stalin- alegria nacional! S/d. . Fonte:
1946. RJ. Acervo BN. http://www.sovietposters.com/index.php, acesso em 15-03-
2013.

No entanto, ao lado direito há a imagem de um cartaz soviético (Fig.58) com a figura


de Stalin discursando ao público que empunha bandeiras vermelhas representativas do
comunismo e cartazes com a imagem do líder. Os cartazes costumavam vir com legendas,
assim como os desenhos vinham com matérias.

Neste caso, o desenho de Paulo Werneck no jornal acompanhava um chamado para


um comício de grandes proporções no Largo da Carioca, no centro do Rio de Janeiro.
Enquanto o cartaz trazia a legenda “Querido Stalin – alegria nacional!”, que o exaltava através
da ideia de que as pessoas que estavam diante dele o considerariam razão de alegria.

A semelhança das imagens está além da cena retratada. É importante destacar ainda os
braços erguidos das pessoas, e o tom de exaltação da figura da liderança. As características
129

temáticas, a ligação com as diretrizes do comunismo soviético e o traço realista enquadram as


duas obras no conceito do realismo socialista. Porém, há algumas diferenças que devem ser
observadas como o uso da cor no cartaz soviético, e o trato com o contraste entre o preto e o
branco do desenho do jornal. Esta opção é devida aos diferentes suportes do jornal e do
cartaz, e às técnicas empregadas em cada um, no entanto, ambos são desenhos feitos para a
larga reprodução gráfica. Adiante há duas representações de Stalin, a primeira do jornal
Tribuna Popular (Fig.59) e a segunda de um cartaz soviético (Fig.60).

Fig.59- Paulo Werneck. Tribuna Fig.60- Autor desconhecido. Cartaz Soviético- O


Popular. 10-02-1946. RJ. Acervo BN. grande Stalin é a luz do comunismo! S/d. Fonte:
http://www.sovietposters.com/index.php, acesso
em 15-03-2013.

Nas duas ele é representado de farda e com condecorações. A imponência do


uniforme, o penteado com o cabelo para trás e o bigode entre outros detalhes característicos
da representação do líder soviético são semelhantes nos dois casos.

No entanto, vale ressaltar a expressão facial nas duas representações. O olhar não é
chapado, nem direcionado para frente. Seu olhar é altivo, como de quem vê além. O uso do
uniforme, também recorrente em suas representações, denota a sua posição militar e traduz
sua postura de líder. Em ambas as imagens de Stalin, ele apresenta olhar firme e sério, de
forma a configurar-se em uma marca de sua imagem. As duas representações não deixam
dúvidas de quem é a personagem, até por sua figura ser muito reproduzida no período e de
forma quase sempre semelhante.
130

O traço de Paulo Werneck procura ser fiel a fotografias de Stalin, assim como o faz o
cartaz. Novamente, as diferenças entre as duas obras está no colorido e precisão de detalhes
devidos à técnica de desenho utilizada e ao modo de reprodução dos cartazes, enquanto no
desenho o artista recorre a menor detalhamento, mas nem por isso a reprodução se compõe de
modo menos realista.

3.1.2- Trabalhadores Rurais

Fig.61-Tribuna Popular. 10-05-1947. RJ. Fig.62-Tribuna Popular. 02-12-1945. RJ.


Acervo BN. Acervo BN.

O trabalhador rural brasileiro era representado nas páginas do Tribuna Popular usando
roupas simples, chapéu e geralmente com uma enxada em mãos. No plano de fundo
costumava haver referências à paisagem rural. Nas imagens acima vemos exemplos disso, na
primeira (Fig.61) um homem utilizando a enxada e uma vegetação à sua frente. Na página do
jornal em que estava este desenho havia um texto intitulado “Apelo dramático” que
denunciava a iminência do abandono das lavouras por esses homens, principalmente, devido
ao “preço elevado dos materiais agrícolas” 210, como também exigia medidas a serem tomadas
pelo governo.

Na segunda imagem (Fig.62) há um lavrador com uma enxada em mãos, e outro mais
ao fundo também com o instrumento principal de seu trabalho em uma paisagem rural. Este
desenho fazia parte da campanha eleitoral do PCB para o ano de 1945 em uma página do
jornal, onde foram apresentadas diversas propostas. Próxima a esta imagem dizia-se que os
eleitos defenderiam “a entrega das terras abandonadas à massa camponesa” 211.

210
Tribuna Popular. 10-05-1947. RJ. Acervo BN.
211
Tribuna Popular. 2-12-1947. RJ. Acervo BN.
131

Ambas traziam um traço de contorno definido, e o primeiro um preenchimento que


dava forma mais clara às roupas e aos pés. Os braços eram fortes, e até um pouco maiores que
proporcionalmente seria, mas não deixavam dúvidas de quem eram as personagens e qual sua
atividade, pois enfatizava a força física do trabalhador braçal.

O tipo era uma alusão ao trabalhador, de um modo geral, que vivia em condições
humildes nas áreas rurais, enfrentando diversos problemas, com dificuldades de se manter em
sua pequena propriedade, muitas vezes trabalhando para grandes latifundiários e sofrendo
exploração recebendo menos que o suficiente para sobreviver com dignidade.

Havia, contudo, outras formas de representação do trabalhador rural. Adiante, em


outro desenho do jornal (Fig.63), vê-se uma família em situação paupérrima com feições
tristes e que denotam sofrimento. Suas vestimentas são humildes e em péssimo estado, apenas
o senhor que está à frente usa calçados, os outros estão descalços. A mulher traz um prato
vazio, e isso nos remete à fome que estas pessoas deviam padecer.

O título da matéria que acompanha este desenho define o tom de denúncia do texto:
“Terras para os fascistas estrangeiros, despejo e escravidão para milhões de camponeses,
nossos irmãos” 212. O objetivo era denunciar as péssimas condições dos trabalhadores rurais
brasileiros, enfatizando que eles viviam de modo semelhante à escravidão, e ressaltar ainda o
despejo a que estavam sujeitos em muitos dos casos. A matéria destaca ainda que as
condições de pobreza e de exploração dos trabalhadores e suas famílias eram tão graves que
eles acabavam abandonando as zonas rurais. Em contraposição, grandes latifundiários
encontravam facilidades do governo para adquirir terras e para cultivar nessas mesmas
regiões.

212
Tribuna Popular. 18-05- 1945. RJ. Acervo BN.
132

Fig.63- Paulo Werneck. Tribuna Fig.64- Autor desconhecido. Cartaz Soviético. O


Popular. 18-05-1945. RJ. Acervo trabalho no campo não espera! 1954. . Fonte:
BN. http://www.sovietposters.com/index.php , acesso
em 15-03-2013.

O desenho expressa o sofrimento de uma família que passa por grandes necessidades e
ainda com duas crianças nesta situação. As pessoas pobres e o estado de quase escravidão,
como dizia a matéria relacionada, eram uma representação habitual da condição do
trabalhador rural brasileiro. Os problemas destas pessoas eram relatados pelo jornal. A
imagem faz essa denúncia e sua legenda reafirma a cena representada: “fugindo à escravidão
e à miséria, os camponeses vêm para a cidade onde o pior acontece: tornam-se mendigos.
Enquanto isso, fascistas têm todas as regalias em nossa Pátria” 213.

Eram pessoas que iriam procurar uma vida melhor nas cidades, mas que acabariam
como mendigas. Ou seja, nem nas áreas rurais nem nas urbanas tinham possibilidades:
traçava-se assim o perfil do trabalhador rural brasileiro. Por outro lado, o cartaz soviético ao
lado (Fig.64) mostra uma criança feliz, rodeada por uma paisagem rural e com a chamada: “O
trabalho no campo não espera!”.

Este cartaz mostra o perfil oficial do trabalhador rural soviético: feliz, ciente da
importância do seu trabalho e satisfeito com sua “função” revolucionária. A menina sorrindo

213
Tribuna Popular. 18-05-1945. RJ. Acervo BN.
133

parece chamar a família de dentro de casa para o trabalho. Ao fundo uma casa em boas
condições, bem estruturada, assim como deve ser a casa na qual a menina bate à janela com
cortina aberta.

Ambas as imagens são de trabalhadores rurais, no entanto seus perfis são praticamente
opostos, pois as condições apresentadas dos soviéticos e dos brasileiros são distantes.
Portanto, o que o realismo socialista soviético procurava passar dos seus camponeses eram
condições positivas, na visão do governo.

Enquanto no Brasil, a temática semelhante e o realismo dos desenhos denotam uma


versão à brasileira do realismo socialista, com denúncias sociais e a não exaltação da
satisfação das pessoas. Isso ocorre ainda por o PCB ser um partido de oposição ao governo,
ao contrário do caso soviético, onde o comunismo está no poder. A seguir há duas imagens
com temática semelhante aos desenhos anteriores do jornal, mas em situações específicas.

A primeira (Fig.65) mostra uma casa simples, bem diferente das casas apresentadas no
cartaz soviético anterior, uma mulher de pé na porta e um homem sentado à frente da casa de
chapéu, roupas simples e cabeça baixa. A paisagem rural é composta por montanhas, uma
árvore e vegetação que compõem o ambiente rural e a sua simplicidade. Já na outra imagem
(Fig.66), a situação é outra: o casal de roupas simples é o destaque

Fig.65- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 10- Fig.66- Paulo Werneck. Tribuna
02-1946. RJ. Acervo BN. Popular. 09-04-1946. RJ. Acervo
BN.
134

A mulher de pé e o homem abaixado como na anterior, só que aqui, a mulher carrega


uma trouxa aludindo à ideia de o casal estar deixando sua casa. Os olhares se direcionam ao
horizonte que denota a saída do ambiente rural onde estão em busca de outro lugar para morar
e trabalhar. A pequena trouxa também traz a ideia de poucos pertences o que reafirma a
pobreza destas pessoas. As matérias às quais estão relacionadas no jornal são relativas às
condições ruins em que vivem os trabalhadores rurais, como nos casos anteriores.

O traço do artista é mais fino no primeiro desenho, com linhas retas e próximas
preenchendo as formas com tons acinzentados. O tom de toda a imagem é quase uniforme.
Enquanto na segunda apenas o fundo da paisagem tende para o acinzentado devido aos traços
finos. O primeiro plano tem tons fortes em preto contrastando com o branco. As personagens
têm o desenho do corpo escuro e as roupas claras apenas com os contornos e dobras, o que dá
ideia de movimento pelo vento às roupas.

Já nas imagens soviéticas, o trabalhador é representado dirigindo um trator, à esquerda


(Fig.67), mostrando o desenvolvimento tecnológico das áreas rurais e à direita (Fig.68) uma
mulher em primeiro plano erguendo grãos que são despejados com fartura logo atrás dela. Há
ainda outras pessoas na imagem e assim como a mulher principal estão bem vestidas,
mostrando que a boa colheita traz melhorias para a vida destas pessoas.

Fig.67- Autor desconhecido. Cartaz Soviético. Fig.68-Autor desconhecido. Cartaz Soviético.


Desenvolva as terras virgens! S/d. Fonte: Será grande a colheita nas terras virgens! S/d..
http://www.sovietposters.com/index.php , Fonte: http://www.sovietposters.com/index.php,
acesso em 15-03-2013. acesso em 15-03-2013.

A personagem central da obra está sorrindo e sua felicidade contrasta com os desenhos
do jornal Tribuna Popular anteriormente apresentados. Enquanto nos desenhos do jornal
havia a simplicidade, a falta de condições de trabalho, o abandono das áreas rurais, nos
cartazes há prosperidade e alegria. O homem que dirige o trator (Fig.67) acena diante dos
135

campos cultivados, e em um desenho anterior do jornal, outro homem abaixa sua cabeça à
frente de sua casa (Fig.65).

O contraste é claro. A representação do cenário soviético é positiva e a do brasileiro é


triste. No entanto, os dois representam o mesmo tipo de ambiente, as mesmas personagens: o
trabalhador e suas condições de vida nas áreas rurais. A clareza também está em todos os
desenhos, da arte gráfica do jornal aos cartazes. As bases do realismo socialista, por trás da
elaboração dos cartazes, podem ser vistas também nos desenhos do jornal.

Na próxima imagem (Fig.69) o modelo de desenho se repete, as características


mostram um tom de denúncia e são semelhantes aos outros desenhos do Tribuna Popular. A
diferença está na formação de seis quadros sequenciais com legendas que explicam o que
cada um pretende representar. No entanto, apenas observando as imagens é possível
compreender as situações que são representadas.

Fig.69- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.

No primeiro quadro há uma cerca separando um homem de chapéu que olhapara o


outro lado com terras de vegetação alta. Ao fundo há uma cadeia de montanhas caracterizando
o ambiente rural. Na legenda há a seguinte descrição: “Próximo das grandes cidades há vastas
áreas de terras abandonadas. É a propriedade do senhor feudal, banqueiro e dono de arranha
céus. A cerca de arame farpado afasta o camponês daquilo que mais deseja: terra para
produzir.”. 214
Ou seja, mostrava o problema de haver terras improdutivas enquanto
trabalhadores estavam sem ter onde trabalhar.

No segundo quadro há uma família com dois homens, uma mulher e um menino
carregando uma trouxa denotando o abandono da área rural. Ao fundo novamente as
montanhas mostrando o ambiente rural. Apenas com a imagem já é possível compreender a
questão que se apresenta. A legenda, porém, especifica a situação desta família, como

214
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
136

exemplo de muitas outras. Desta forma, mostra a instabilidade da vida desta família, como de
outras tantas que não têm garantias de moradia ou trabalho:

Que aconteceu com esta família camponesa? Moravam num cantinho de terra do grande
fazendeiro e trabalhavam como roceiros. Por um atraso qualquer foram expulsos e procuraram
a cidade, onde vão também ganhar salários de fome 215.

No terceiro quadro há um homem mexendo em uma enxada, caracterizado com um


chapéu e roupas simples e com uma paisagem composta de montanhas como os outros
quadros da tira. A imagem mostra um homem humilde, a legenda detalha a sua situação e traz
à tona outros problemas do trabalhador rural já que mesmo possuindo terras, passava por
dificuldades inclusive para cultivá-la, o que poderia levá-lo a perder sua pequena propriedade
e ter que migrar para as áreas urbanas.

Este homem tem um pedaço de terra. Mas cadê enxada nova para trabalhar? Quem lhe
empresta dinheiro? As dificuldades aumentam. Um dia vencerá a hipoteca. Mais um camponês
será arrastado para a cidade216.

No quarto quadro há uma cena de um homem em um pequeno comércio rural de


alimentos. Ao observar o tom de denúncias de problemas dos outros quadros pode-se supor
que este pretende mostrar a dificuldade do trabalhador rural em comprar alimentos, por sua
condição financeira precária. A legenda explicita a situação: “Quando trabalha a salário nunca
vê a cor do dinheiro. Recebe em vales que troca por mercadorias ordinárias no armazém do
patrão, que impõe os preços. O camponês fica sempre devendo.” 217. Desta forma, a legenda
procura complementar a questão trazida pela imagem, no intuito de não deixar dúvidas sobre
o assunto tratado.

No quinto quadro vê-se à frente há um menino negro, sem camisa e com a barriga
sobressalente. Ao fundo há uma casa simples com uma mulher à porta, semelhante a uma casa
rural vista anteriormente em outra imagem do jornal (Fig.65). A simplicidade do local, e a
paisagem rural também são características comuns a este tipo de representação no jornal. A
partir da legenda pode-se compreender melhor a situação:

215
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
216
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
217
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
137

Na roça não há hospitais, nem há escolas. As crianças crescem analfabetas e doentes. É o


latifúndio que vem causando toda esta desolação. Por isso, Prestes já afirmou no Parlamento
que a solução está na abolição do monopólio da terra 218.

De tal modo, o quadro denunciava a falta de serviço de saúde e educação nas áreas
rurais e o menino representaria as crianças que não recebem esta assistência pública. O texto
atenta ainda para o esforço de Prestes em prol de melhorias para estas condições através do
fim da concentração de terras com poucos proprietários.

No sexto e último quadro, um homem caracterizado como trabalhador rural, está em


primeiro plano com uma saca em mãos. Ao seu lado um monte formado de algum produto de
colheita, e algumas frutas que parecem mamões. Ao fundo a paisagem rural se repete, mas
não há cercas separando o homem da vegetação. A legenda confirma a impressão de uma
situação positiva:

Com medidas como a entrega das terras aos camponeses, dando-lhes crédito e assistência,
haverá fartura e riqueza. Para isto é indispensável que eles se organizem e reclamem ao
governo, às assembleias estaduais e ao parlamento federal219.

O texto mostra, então, que a organização das pessoas pode resolver as questões
relativas à concentração da propriedade rural. E por fim, observa-se que esta tira de quadros é
complementada pelas legendas, no entanto, pessoas que se identificam com os problemas
apresentados poderiam compreender as imagens por si mesmas. Porém, assim como nos
cartazes suas legendas ou falas são importantes para a mensagem que pretendem passar, neste
caso o texto apresenta semelhante importância.

Os desenhos são bem claros, como os outros do jornal, mas a sequência de quadros é
exemplo da reunião dos problemas do trabalhador rural e a apresentação da solução que o
jornal, e, portanto, o Partido propõe ao leitor. Sua função é claramente de educar o leitor do
jornal, levando a visão do Partido em relação ao tema, e de forma que as legendas apenas
complementem o que as imagens já demonstram. O traço do artista é fino e mantém o tom de
cinza dos quadros por não preencher os espaços, mas apenas traçar linhas paralelas. O
entendimento das imagens e a atração do olhar são o ponto principal da importância destes
desenhos para o Tribuna Popular.

218
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
219
Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.
138

3.1.3- Trabalhadores Urbanos

Fig.70- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 17-05-1946. RJ. Acervo BN.

O proletariado urbano era representado pelo jornal com homens simples, que
passavam por muitas dificuldades nos diferentes âmbitos de suas vidas. Na imagem
acima(Fig.70) há três homens sentados no chão preparando alguma refeição em um fogareiro
improvisado e um deles comendo. Este desenho estava relacionado a uma matéria de
denúncia das condições em que os 14 mil ferroviários da companhia ferroviária Leopoldina
Railway trabalhavam, incluindo o espaço destinado para a alimentação. A matéria denunciava
outros problemas, como a falta de possibilidade de licença médica e até mesmo demissão no
caso de doenças como a tuberculose, comum a esses empregados devido à insalubridade do
ambiente de trabalho.

Estes trabalhadores, assim como muitos outros, sofriam com as péssimas condições
em que trabalhavam, sem muitos direitos que lhes assegurassem o essencial. O desenho
mostra homens com os olhares tristes que se alimentavam sentados no chão. Essa era a
imagem do trabalhador urbano passada no jornal. O traço do artista dá noção das feições, dos
movimentos do corpo e das roupas. São linhas finas na maior parte, que dão o tom realista do
desenho.
139

Este perfil do trabalhador se repetiria. Na imagem a seguir (Fig.71) há uma sequência


de quadros com denúncias das condições de trabalho e propostas para melhorias. São
desenhos que também fazem o contraste entre o traço preto e o fundo branco, mas passam
imagens próximas da realidade das cenas que representam despertando a identificação do
leitor do jornal com as questões levantadas. No título há a argumentação de que as melhores
condições de trabalho serviriam à melhor produtividade das empresas, um apelo não só ao
combate aos problemas que acometiam o trabalhador e prejudicavam sua saúde, mas passava
a ideia de que uma pessoa melhor amparada produziria mais. Desta forma, a arguição era em
favor de ambas as partes, justificando nas imagens e nas respectivas legendas as péssimas
condições oferecidas.

Fig.71- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 04-03-1947. RJ. Acervo BN.

No primeiro quadro há três homens trabalhando em um local fechado, com pouco


espaço e com algumas ferramentas. Trabalham com a força e em um ambiente pouco
iluminado. Na legenda há uma crítica às condições insalubres dos ambientes de trabalho:

O trabalhador neste local de trabalho, primitivo e anti-higiênico, não pode, na verdade,


produzir com entusiasmo e melhor rendimento. Aos poucos sua saúde vai se consumindo e
amanhã será mais um chefe de família sem forças para lutar contra a maior miséria 220.

No segundo quadro o desenho mostra dois homens fazendo uma refeição, com uma
marmita na mão, mal acomodados, sem as condições adequadas. A questão do espaço
destinado para a alimentação no ambiente de trabalho foi levantada na figura anterior. Na
legenda há uma crítica a essa falta de estrutura para a refeição, denunciando o problema de
conservação dos alimentos que são comidos frios, podendo estragar e causar danos à saúde.

220
Tribuna Popular. 04-03-1947. RJ. Acervo BN.
140

Depois do trabalho em condições tão penosas, eis a refeição. Comem à beira da sarjeta: em
cima de velhos caixotes, uma comida fria e sem gosto apenas para enganar o estômago. Claro
que esse almoço em nada estimula o operário para aumentar a produtividade do seu
trabalho221.

Ao final, o autor da legenda diz que a falta de uma alimentação adequada desestimula
o trabalhador e diminui a produtividade, argumentando de forma a convencer os
empregadores de que seriam beneficiados também, como já sugere o título da sequência de
quadros.

No terceiro quadro traz um desenho com cerca de sete pessoas no entorno de um


bonde com parte da palavra subúrbio escrito na parte da frente. Estas pessoas formam um
aglomerado que parece pretender subir no bonde. A imagem mostra que há muita gente para
pouco espaço no bonde. O problema da insuficiência de transporte público para os
trabalhadores que residem no subúrbio. A legenda trata deste problema: a dificuldade das
pessoas que todo dia após o trabalho precisavam dele para voltar para suas casas.

E agora a condução, Deus do céu! E isto todo dia! Depois do batente, sai cansado e faminto
da fábrica e se consegue pegar uma condução, vejam que tormento! Milhares e milhares de
trabalhadores sofrem, todos os dias, o mesmo drama que lhes parece cada vez pior 222.

No quarto quadro há algumas casas humildes, um varal improvisado, e uma mulher ao


fundo. É um ambiente residencial, mas em péssimas condições, provavelmente onde habitam
os trabalhadores dos centros urbanos. A legenda se refere ao problema da moradia urbana nas
chamadas favelas. O texto aborda a insalubridade das residências que, assim como nos locais
de trabalho, fazem com que os trabalhadores estejam passíveis de adquirir alguma doença.

Há ainda uma referência aos baixos salários que levam a uma má alimentação, e
provavelmente também um dos motivos de não ser possível uma estrutura melhor de
habitação. Os fatores alimentação e habitação contribuiriam para a suscetibilidade ao
adoecimento destas pessoas. No texto há ainda o questionamento se seriam mesmo casas,
afirmando que seriam barracos:

Chega enfim a casa. Casa? Nada mais, nada menos do que um velho barraco sem higiene,
onde a tuberculose, que muitas vezes o operário adquire na oficina, na fábrica, ou devido aos
baixos salários que geram a subalimentação, vai desenvolver-se e contagiar toda a família. 223

221
Tribuna Popular. 04-03-1947. RJ. Acervo BN.
222
Tribuna Popular. 04-03-1947. RJ. Acervo BN.
223
Tribuna Popular. 04-03-1947. RJ. Acervo BN.
141

No quinto e último quadro há o desenho de um homem e uma mulher com uma sacola
em uma feira. O casal parece olhar para alguns produtos expostos nas bancas, mas não os
pegam. Ao fundo há uma placa com o preço de algum produto, provavelmente um preço alto.
No rol de denúncias, esta parece se referir ao pequeno poder de compra dos trabalhadores, e a
gravidade disso no que se refere aos gêneros alimentícios.

A legenda faz referência à carestia de vida, este era um problema constantemente


denunciado. As altas dos preços e a falta de produtos alimentícios nos mercados eram
questões recorrentes no período de circulação desse jornal. O texto tem ainda um caráter
conclusivo, pois são exigidas providências do governo e dos empregadores para resolver as
questões apresentadas ao longo dos cinco quadros da tira.

Por fim, a legenda procura estimular os trabalhadores a se organizarem para


reivindicar as devidas melhorias, e incentiva o esforço que resultaria também em uma maior
produtividade.

E, por cima, a alarmante carestia da vida. Cumpre ao governo e aos empregadores tomar
medidas para mudar estes tristes quadros. E que os trabalhadores se organizem em seus
sindicatos e comissões de salário na luta por melhores condições de vida e por uma
produtividade maior224.

Esta sequência de quadros mostra cinco situações que denunciam a precariedade da


vida do trabalhador urbano em seu oficio e no seu dia-a-dia. Os desenhos procuram mostrar
os rostos tristes diante dos problemas, os ambientes inadequados e tudo isso com o traço do
artista que detalha determinados pontos para passar a mensagem reafirmada pela legenda
escrita por Pedro Motta Lima.

A seguir, há uma imagem semelhante (Fig.72), com quatro quadros numerados


formando uma continuidade temática e uma sequência das legendas. O título resume a ideia
geral, destacando que se tratava de “quatro coisas práticas que os vereadores da Chapa
Popular farão pelo povo carioca”, resumindo o programa mínimo do PCB. Desta forma, os
quatro quadros elegidos referenciam as quatro principais propostas do Partido para a cidade.

No primeiro quadro há um bonde com o letreiro indicando o destino para a Taquara,


bairro do Rio de Janeiro. No entorno havia algumas pessoas, e no bonde muitos trabalhadores
que chegam a ficar pendurados para fora da condução. O desenho detalha o bonde, e as
pessoas têm traços simples, sem mesmo as feições faciais. Na legenda há uma critica à Light,
224
Tribuna Popular. 04-03-1947. RJ. Acervo BN.
142

companhia que operava os bondes, denunciando o aumento das passagens, o alto lucro e a
manutenção do número da frota, mesmo com o aumento da população. Além disso, fala da
falta de conforto e segurança do transporte. Assim, a imagem do bonde lotado é
complementada pela legenda que explicita a questão.

Fig.72- Paulo Werneck e Milton Ribeiro. Tribuna Popular. 31-01-1947. RJ. Acervo BN.

No segundo quadro há duas meninas em primeiro plano, dois meninos em segundo


plano conversando. Atrás deles há uma escola pública, com uma placa indicativa, e ao fundo
um morro com algumas casas. Tudo na imagem é simples, a escola é pequena, tem os vidros
quebrados, e reboco caindo deixando os tijolos aparentes e as crianças estão descalças. O
traço do artista parece ter sido rápido, não há muitos detalhes em cada elemento, mas cada um
é facilmente identificável. A cena mostra a precariedade de uma escola, que representaria
tantas outras em mesmo estado de abandono do poder público.

A legenda critica a depreciação da instituição escolar pelo Estado Novo, que seria o
responsável pelo alto índice de analfabetismo no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. O
143

PCB reivindicava melhorias, ampliação da rede escolar nos bairros e subúrbios, assim como
ensino noturno, secundário, profissional e normal ampliados. Os problemas da educação e as
propostas do Partido são apresentados diante da imagem de uma escola degradada. O desenho
transmite uma ideia clara do cenário que o Partido pretendia passar do sistema educacional
carioca.

O terceiro quadro mostra em primeiro plano um homem deitado no chão de uma rua
ou estrada, e uma mulher abaixada ao seu lado. Outro homem, ao fundo, corre com o braço
levantado provavelmente em busca de ajuda. Na legenda o autor denuncia a insuficiência na
assistência médica à população e propostas de prontos socorros nos bairros, para suprir as
necessidades das localidades mais distantes do centro.

O desenho é dramático, pois mostra um homem ao chão sem socorro, e outro


desesperado correndo por ajuda em uma rua sem hospital ou posto à vista. A cena é triste e
busca a identificação de pessoas que passam por situações semelhantes, a legenda detalha
problemas do sistema de saúde pública o que acrescenta ao entendimento da imagem.

Os três primeiros quadros da esquerda para a direita são do artista Paulo Werneck,
como os outros tantos apresentados. No entanto, o quarto quadro, no canto inferior direito, é
assinado pelo artista Milton Ribeiro. 225 Este último desenho difere-se dos outros pelo traço
curvilíneo do artista, mas que também transmite uma imagem compreensível de mulheres
com latas ao chão e em suas cabeças, em fila para pegar água em uma torneira coletiva, ao
que tudo indica por faltar distribuição pública deste recurso na localidade onde residem.

As curvas e certa indefinição de alguns traços não impedem que fique clara a cena
representada. Os rostos tristes, a mulher de braços cruzados em espera, outra com uma menina
no colo e de mãos dadas a um menino chamam atenção ao sofrimento que envolve a questão.
A temática é pertinente ao conjunto de quadros, e ainda trata de um assunto caro ao
trabalhador urbano.

Este problema da falta de água foi tratado outras vezes no jornal e com desenhos
diferentes entre si. A seguir (Fig.73) há um desenho com traços finos e claros. São duas
mulheres, uma carregando uma lata de água em sua cabeça, e a outra com um recipiente

225
Este desenho de Milton Ribeiro é o único do artista em contribuição ao jornal e foi utilizado de modo a
complementar os outros quadros da sequência. Este desenho foi publicado novamente no dia 21 de junho de
1947, cinco meses depois, de forma individual e com uma matéria sobre a falta de água, luz e higiene em um
morro da cidade do Rio de Janeiro.
144

provavelmente com a mesma função. Estão vestidas com roupas simples, uma delas com um
lenço prendendo os cabelos. Os traços do artista procuram uma forma próxima à realidade,
produzindo uma obra com elementos compreensíveis e que compõem uma cena que mostra
um problema social importante que é a falta de água em localidades mais pobres da cidade.

Fig.73- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 04-02- Fig.74- Paulo Werneck. Tribuna
1947. RJ. Acervo BN. Popular. 18-01-1946. RJ. Acervo BN.

No texto próximo ao desenho, há o relato da visita dos vereadores eleitos do PCB às


favelas para pedir sugestões e organizar as pessoas. Logo, o desenho mostra a função de
representar essa parcela da população que reside nestas áreas da cidade e passam por muitas
dificuldades.

À direita há outro desenho (Fig.74) com elementos semelhantes: mulheres carregando


latas de água em suas cabeças. No entanto, o traço do mesm o artista se difere: é menos suave,
fazendo um contraste maior entre o preto e o branco. Enquanto o da esquerda é composto de
linhas finas dando um tom acinzentado, o desenho da direita é preenchido com preto
escurecendo a obra e deixando as feições e os traços mais intensos e duros.

Os adultos e a criança que carregam latas na imagem à direita se destacam pela


intensidade da cor, pelos contornos mais escuros e as feições faciais mais enrijecidas. Cada
145

traço é reforçado, enfatizando os movimentos, as curvas e dobras das roupas e as linhas de


expressão. O efeito nas duas imagens é diferente, mas o traço do artista em ambos os
desenhos traz a nitidez e definição necessária para mostrar cada elemento e compor uma cena
compreensível. O efeito difere assim como cada obra tem sua particularidade e sua intensão
do artista. Em uma suavidade, em outra rigidez, a causa no olhar do observador também deve
ser diferente.

As moradias nas favelas também foram representadas e as dificuldades enfrentadas


com falta de infraestrutura e ameaças de remoção das casas pelo governo. Muitos textos do
jornal se referem às residências em favelas como barracos, pois são casas improvisadas com
materiais sem resistência. À esquerda (Fig.75) é representada uma casa humilde e uma mulher
abaixada em alguma atividade. Há varais, telhados improvisados e finas coberturas com
pedras segurando-as.

Fig.75- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 21-01- Fig.76- Paulo Werneck. Tribuna
1947. RJ. Acervo BN. Popular. 21-12-1947. RJ. Acervo BN.

A cena à direita (Fig.76) poderia ser até o mesmo lugar da outra imagem, no entanto
as casas estão desabadas, apenas poucos móveis estão de pé. As duas mulheres e o garoto
olham para a situação e uma delas levanta os braços como quem clama ajuda. A matéria se
refere às remoções de favelas de áreas urbanas pelo governo municipal e denuncia a falta de
cuidado com as pessoas que desavisadas perderam tudo o que tinham. A miséria e desatenção
do poder público com essas famílias eram apontadas pelo jornal. A temática dos dois
desenhos é relativa ao sofrimento destas pessoas com a falta de moradia digna. O traço do
146

artista mostra a composição simples das residências e se remete aos “barracos”, buscando a
identificação e sensibilização do observador à causa.

A pobreza era representada sob vários aspectos, e o apelo à sensibilidade do


observador era feito com imagens como a do menino a seguir. Uma criança descalça, com
roupas rasgadas, sem camisa, em um ambiente sujo, com casas humildes ao fundo e duas
mulheres catando alguma coisa no chão. O olhar do menino é desolado e sua tristeza
representa a miséria de muitas outras crianças que viviam em situação semelhante.

Fig.77- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 16-02-1946. RJ. Acervo BN.

O desenho tem traços escuros, e o preenchimento e sombramento em preto nas dobras


das roupas e linhas de contorno do menino contrastam com o fundo branco. A magreza dele
também é destacada com suas costelas marcadas na pele e o suspensório que sustentam as
calças largas. A matéria relacionada ao desenho é referente ao excesso de lixo nas favelas que
não são recolhidos pelo poder público, denunciando o abandono dessas áreas. A miséria e
falta de condições de habitação são temas constantes no jornal pois são pertinentes à vida de
muitos leitores, e na perspectiva do PCB deveriam ser conhecidas pelos tantos outros.

O realismo socialista que aparece nestes desenhos está no conteúdo e na forma,


embora o conteúdo mostre os problemas do trabalhador, esta temática está de acordo com as
condições brasileiras e com o que o PCB pretendia passar. Ao contrário, na URSS as
147

condições mostradas são de satisfação, de acordo com o que o PCUS pretendia transmitir. A
versão brasileira está de acordo com a soviética no que concerne a temática em que o
trabalhador é a personagem principal e pode se identificar com a cena representada, assim
como na forma estética que permite a compreensão do desenho, assim como transmite uma
mensagem educativa da visão partidária das questões. Para tanto, a versão brasileira mantinha
características soviéticas de passar uma visão de mundo da luta de classes com a oposição
maniqueísta entre burguesia e proletariado.

3.1.4- Proletariado, uni-vos em luta!

Fig.78- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 22-07-1945. RJ. Acervo BN.

O jornal Tribuna Popular promovia e apoiava a mobilização do proletariado em prol


de melhorias de condição de vida e trabalho, e em campanhas nacionais como a pela
formação da Constituinte. Imagens com cenas de pessoas unidas como em marcha eram
comuns. Acima, a imagem é de um desenho com nove homens juntos com duas bandeiras e
um cartaz ao fundo pedindo a formação da Constituinte.

Neste momento, o país seguia a Constituição de 1937, conhecida como “Carta de 37”.
Elaborada durante o Estado Novo, era acusada de impedir a democracia real. Em 1946 a
Constituinte foi formada e a nova constituição elaborada com participação de bancada do
PCB. 226

O desenho de Paulo Werneck tem destaque na capa da edição e mostra nove homens
diferentes entre si, cada um com uma expressão, com feições individuais. O artista apresenta

226
BRAGA, Sergio Soares. Quem foi quem na Constituinte de 1946 – um perfil socioeconômico e regional da
Constituinte de 1946. Câmara dos Deputados. Brasília, 1998. Vol. 1 e 2.
148

um traço detalhado, um sombreamento que dá movimento aos braços. O olhar de cada homem
é particular, alguns olham para frente outros entre si. A função é a identificação do observador
com a mobilização para pressionar o governo a forma a Constituinte, e este recurso de
estímulo através da imagem de pessoas unidas em luta por um objetivo comum se repetiria em
outros desenhos.

Nas duas imagens a seguir se repete o recurso de apresentar pessoas manifestando seu
apoio a alguma causa para estimular o leitor a participar. No desenho à esquerda (Fig.79), um
homem a frente de outros dois aponta para uma chamada para um comício no centro do Rio
de Janeiro em que Prestes e outros políticos falariam posicionados contra a “Carta de 37”, o
que seria uma exigência do “povo” que representavam. A imagem é uma convocação aos
leitores, e o desenho de um homem de terno e gravata, que trabalha e chama o “povo” a
comparecer procura ser representativo do trabalhador que lê o jornal. O traço do artista traz
uma expressão facial detalhada, o olhar sério está de acordo com a seriedade do tema deste
comício, assim como de outros.

Fig.79- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 23- Fig.80- Paulo Werneck. Tribuna Popular.
02-46. RJ. Acervo BN. 11-7-1945. RJ. Acervo BN.

À direita (Fig.80), a imagem se difere pela falta de detalhamento das feições das
pessoas, há os contornos de homens e mulheres, com algum movimento de corpo e ao fundo
uma faixa escrita “vida dos comitês populares”. Esta imagem intitulava uma coluna que
tratava das ações dos “Comitês Populares”, que eram núcleos de divulgação e discussão das
diretrizes do PCB em bairros, e que tinham entre seus objetivos atrair mais membros ao
Partido. O desenho mais simplificado era reproduzido diariamente na coluna e sua função era
associar os “Comitês” à reunião de pessoas lutando por seus ideais.

A imagem adiante (Fig.81) mostra o início de uma multidão reunida a perder de vista
no horizonte, muitos estão com os braços levantados em protesto. A ocasião era o Dia do
Trabalho, que seria comemorado com manifestações já programadas tradicionalmente pelo
PCB. No entanto, neste ano o governo proibira as manifestações públicas na véspera da data,
149

o que causou insatisfação e levou o jornal a publicar textos que criticavam a ação do governo
e esta imagem que foi preparada para ilustrar a comemoração do 1º de Maio. O jornal
indicava ainda que a programação s transferiria para locais fechados, como sindicatos e outros
organismos.

Fig.81- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 01-05-1946. RJ. Acervo BN.

Com faixas com dizeres diferentes entre si, mas que se complementam. Homens e
mulheres mostram as palavras de ordem: “Abaixo o imperialismo”, “União Nacional”, “Paz”,
“Unidade”, “1º de maio de luta”, “Basta de Guerra”, “Unidade Proletária”. O desfile de
comemoração mostrava uma enorme aglomeração, e as faixas representariam as principais
propostas do PCB sendo carregadas pelos trabalhadores que o apoiam.

O traço do artista é detalhado, as pessoas à frente têm feições particulares,


movimentos diferentes do corpo e os homens de terno e gravata, repetindo um perfil traçado
do trabalhador urbano. As expressões faciais são visíveis, o que destaca a individualidade de
cada um. A imagem é um convite à participação do leitor, mas também uma documentação do
que seria, na visão do Partido e do artista, esta série de eventos do Dia do Trabalho.
150

As duas imagens a seguir seguem o mesmo modelo temático da anterior, mas


apresentam particularidades. Na imagem da esquerda (Fig.82), homens e mulheres têm seus
movimentos mais expansivos, seus rostos são menos detalhados. Já a imagem à direita
(Fig.83) tem os traços mais finos, e um detalhamento dos rostos mostrando linhas de
expressão e passando uma individualidade maior de cada pessoa. O efeito de multidão é usado
dando profundidade ao desenho. As duas imagens têm faixas com palavras de ordem pela
democracia, e pessoas à frente em manifestação pela causa.

Fig.82- Paulo Werneck. Tribuna Popular. 26- Fig.83- Paulo Werneck. Tribuna Popular.
03-1946. RJ. Acervo BN. 01-05-1947. RJ. Acervo BN.

As imagens seguintes se diferem das outras anteriores na forma, na sobreposição do


branco sobre o preto, ao contrário das anteriores. Esta predominância da cor preta destaca
ainda mais a imagem no jornal e ilumina em branco apenas alguns pontos dos rostos e os
centros dos tórax.

Fig.84- Paulo Werneck. Tribuna Popular. Fig.85- Paulo Werneck. Tribuna Popular.
18-10-1946. RJ. Acervo BN. 23-05-1947. RJ. Acervo BN.
151

A imagem à esquerda (Fig.84) mostra um homem lançando panfletos a outros que se


aglomeram. O homem a frente usa terno e gravata se assemelhando ao perfil dos outros
trabalhadores urbanos das imagens anteriores, o punho fechado, a mão a frente do peito
também é uma característica que se repete. Pode –se notar, porém, que os rostos são distintos
entre as imagens e em cada uma delas, mostrando a preocupação do artista em dar
individualidade a cada pessoa além da força.

Na imagem à direita (Fig.85), o perfil das pessoas é bastante diferente das outras
imagens. O traço do artista procura evidenciar os lábios, os narizes, os olhos e os braços. A
mulher mais à frente, usa camisa de manga curta e a mão ao peito, e o homem negro, logo
depois, usa terno. Ambos apresentam um olhar semelhante para o alto e parecem cantar. Dois
punhos cerrados se destacam ao fundo e ao lado direito do desenho, denotando disposição e
convite à luta. As outras pessoas, homens e mulheres, também possuem particularidades no
olhar e nas feições faciais. É uma imagem diferente das outras, mas a temática e a força
expressada são semelhantes.

Nestas imagens de artes gráficas do jornal Tribuna Popular podem ser reconhecidas
semelhanças com os cartazes soviéticos adiante. São cartazes que circularam entre o período
de 1935 e 1945, quando o nazismo ganhava força na Europa e seria combatido ao longo da
Segunda Grande Guerra (1939- 1945). O embate que a URSS promoveu, que resultaria na
derrota nazista em 1945, se fortalecia com campanha pelo apoio à causa da luta contra o nazi-
fascismo.

Os cartazes a seguir mostram mulheres de vermelho e dizeres contra o fascismo,


incentivando a luta contra a disseminação da sua área de dominação. Eles tinham essa função,
e faziam parte do processo de convencimento e de convocação das pessoas para apoiarem este
luta. As mulheres usando vermelho fazem referência ao comunismo do Estado, mas também
denotam força.

A imagem à esquerda (Fig.86) mostra uma mulher de vestido e lenço na cabeça,


feminina, mas com a expressão facial dura, assim como seus movimentos firmes. Ao fundo a
destruição pelo fogo, em uma alusão à destruição causada pelo nazi-fascismo. A legenda
convoca as mulheres a se unirem contra o fascismo que seria o pior inimigo da mulher.
152

Fig.86- Autor desconhecido. Cartaz Soviético. Fig.87- Autor desconhecido. Cartaz Soviético -
Fascismo é o pior inimigo da Mulher. Todos juntos Não ao fascismo! Entre 1935-1945. . Fonte:
em luta contra o fascismo! Entre 1935 e 1945. . http://www.sovietposters.com/index.php , acesso
Fonte: http://www.sovietposters.com/index.php , em 15-03-2013
acesso em 15-03-2013.

A imagem à direita (Fig.87) mostra apenas o rosto de uma mulher jovem que diz
“não” ao fascismo erguendo seu punho fechado e expressando dureza no olhar. O desenho de
sua boca sugere que estivesse gritando as palavras de ordem com firmeza. As imagens
mostram a força das personagens, e o movimento dos braços é um elemento importante na
função de convocar as pessoas para aderirem a causa proposta. O mesmo ocorre nos desenhos
do jornal Tribuna Popular ¸nos quais a força e a luta representada nos olhares e movimentos
dos braços convocam o proletariado a unir-se com os demais em favor da luta proposta.

Os traços dos cartazes e dos desenhos têm elementos semelhantes, e a proposta e


função também. Apensar do suporte se diferenciar dos pôsteres às artes gráficas, ambos os
tipos são baseados em desenhos que buscam representar a realidade de modo realista e com o
proletariado como personagem principal e único, de acordo com as bases do realismo
socialista. Ao optarem pelo desenho em detrimento da fotografia, mostravam o objetivo de
ressaltar determinados elementos como estratégia para transmitir uma visão de acordo com os
interesses do Partido em questão. Novamente, o realismo socialista se evidencia e fica
destacada a diferença dos contextos artísticos soviético e brasileiro. O primeiro com intuito de
promover o sucesso da URSS, enquanto no Brasil o objetivo de denunciar a exploração do
trabalhador.
153

3.2 – É noticia! Artes e artistas plásticos são temas no jornal Tribuna Popular

O jornal Tribuna Popular, como foi visto, possuía um caráter específico entre os
periódicos diários que circulavam também no Rio de Janeiro. Esta especificidade é inerente
ao seu papel de divulgador das propostas do Partido Comunista do Brasil para um público
mais amplo e popular e abarcando assuntos diversificados, de vários âmbitos do cotidiano da
população. Destarte, este periódico não poderia deixar de fora as proposições do Partido no
tocante às artes de um modo geral e ainda às artes plásticas.

O uso da imagem no jornal tinha um papel estratégico, e muitos artistas plásticos


estavam vinculados ao Partido neste momento de reestruturação. Desta forma, mostrou-se
iminente o exame do lugar das artes e artistas plásticos no jornal e ainda do debate sobre o
que era desenvolvido e apresentado aos leitores.

Desde sua fundação em 22 de maio de 1945, o Tribuna Popular destacava as artes


plásticas em suas páginas de forma bastante significativa. Numa pesquisa mais atenta ao
conteúdo do jornal foi possível observar o destaque que era dado aos artistas plásticos,
exposições, obras entre outras atividades relacionadas ao PCB.

De modo peculiar, nesse jornal podemos encontrar notícias e matérias referentes a


artistas plásticos de grande renome nacional e internacional e às artes plásticas de modo geral
que recebiam grande destaque. A seguir será possível compreender como essa atenção ao
tema específico das artes encontrava importância e espaço no jornal Tribuna Popular.

Logo em seu segundo dia de publicação já começava a divulgar uma exposição de


temática anti-integralista que ocorreria no início do mês seguinte. Foram seis textos de
divulgação entre notas e matérias em apenas dezesseis dias antes da exposição, que
explicavam a importância do tema e o apoio da categoria dos empregados de hotéis à
exposição. Eram avisos e apelos para a presença das pessoas na mostra, no entanto não eram
nas capas das edições do jornal, estavam em páginas diferentes e com destaque diferente em
cada número. Na última matéria antes da exposição era finalmente anunciada a data – 8 de
junho de 1945 – e o local onde ocorreria: na passagem subterrânea do “tabuleiro da baiana”,
no centro da cidade.
154

As notas e matérias recorrentes culminaram em uma matéria maior no dia seguinte ao


da inauguração da “Exposição Anti-Integralista” e era intitulada “Demonstração popular
contra a rearticulação integralista” (Fig.88).

Fig. 88-Tribuna Popular, 09-06-1945. P.8. RJ. Acervo BN.


155

Esta matéria mostrava a intenção de afirmar a importância dessa mostra para o Partido
e vinha na capa com certo destaque era acompanhada de duas fotos da exposição. Estas
fotografias eram pouco detalhadas e destacavam duas grandes bandeiras com as insígnias
integralistas, não era possível identificar quais outros elementos a exposição trazia.

As matérias enfocavam mais a ameaça do integralismo do que os detalhes da mostra,


apenas em uma há referência aos “objetos que falam”. No dia 13 de junho, cinco dias depois
da exposição que ocorreu no dia 8 de junho de 1945, saiu apenas uma nota sobre a exposição
que ainda estava em cartaz, o que findava o assunto nas páginas do jornal227.

Eventualmente eram dadas notícias que davam destaque a participação de artistas


plásticos m eventos. Esse foi o caso curioso do dia 29 de maio de 1945 no qual foi noticiado o
“Singular protesto das alunas da Escola de Belas Artes por condições de estrutura” (Fig.89,
Fig.90).

Fig.89-Tribuna Popular, 29-05-1945. Fig.90-Tribuna Popular, 29-05-1945. P.2 (detalhe).


P.2. RJ. Acervo BN. RJ. Acervo BN.

Esta matéria era ilustrada por uma fotografia na qual mostrava as alunas e alunos da
Escola de Belas Artes que empunharam, em protesto, seus cavaletes e telas em plena calçada
227
Tribuna Popular. 23, 24, 29 e 31 de maio e 05, 07,09 e 13 de junho de 1945. RJ. Acervo BN.
156

em frente ao histórico prédio que hoje figura o Museu Nacional de Belas Artes localizado no
entorno da Praça da Cinelândia no centro do Rio de Janeiro (Fig.90).

Os alunos protestavam contra as condições estruturais do prédio que dificultaria o


aprendizado. Eram problemas de espaço, de iluminação natural e artificial que diminuíram a
qualidade do ensino no local e exigiam que fossem feitas modificações no espaço. A matéria
no jornal mostrava o apoio às reivindicações, exaltava a manifestação das mulheres e ainda
dava importante destaque na contracapa do jornal à matéria acompanhada de uma fotografia,
como foi descrita, em cerca de dez centímetros de texto 228.

Nestes anos de publicação do jornal podemos observar que “Os artistas plásticos do
PCB” tornaram-se uma categoria. A mudança na forma como eram reconhecidos foi se
modificando rapidamente, o que pôde ser acompanhado pelas páginas do jornal Tribuna
Popular. Nos primeiros meses do jornal, as referências eram dadas aos “artistas, escritores,
intelectuais”, ou ainda aos artistas de modo particular: Picasso, Portinari, Carlos Scliar, por
exemplo. Contudo, os artistas continuaram a ser referenciados de modo individual, pois
escreviam textos sobre arte ou sobre o comunismo, faziam exposições, enfim, seus nomes
eram importantes para o Partido Comunista do Brasil.

Apenas em outubro de 1945 começou a aparecer a denominação “artistas do povo”, e


logo em seguida “artistas plásticos do PCB”. No fim de novembro desse ano foi publicada
uma nota na terceira página do jornal intitulada “Com o candidato do Povo, os artistas
plásticos do Brasil”. Eram as vésperas da eleição de dois de dezembro para a qual o PCB
lançava Yedo Fiuzza como candidato à presidência da República e esta nota destacava o
apoio dos artistas plásticos a este candidato. 229

Em 15 de dezembro do mesmo ano foi publicada uma notinha na contracapa que


começava com as seguintes palavras: “Aos artistas plásticos – convite à reunião da classe”.
Começava o esforço para a organização do que já era considerada uma categoria
profissional. 230 No dia seguinte ganhou a capa da edição de domingo e ainda se estendeu para
a contracapa a noticia: “Criarão os artistas plásticos o seu sindicato de classe” (Fig.91,
Fig.92). Todo esse destaque era acompanhado por uma foto e eram destacados os nomes de

228
Tribuna Popular. 29-05-1945. P.2. RJ. Acervo BN.
229
Tribuna Popular. 28-11-1945. Com o candidato do Povo, os artistas plásticos do Brasil. P.3. RJ. Acervo BN.
230
Tribuna Popular, 15-12-1945. Aos artistas plásticos – convite à reunião da classe. P.2. RJ. Acervo BN.
157

diversos artistas que participavam deste esforço para organização do grupo. Eram artistas
como: Raul Deveza (1891-1952), Candido Portinari, Tomás Santa Rosa (1909-1956), Quirino
Campofiorito, Percy Deane (1921-1993), Paulo Werneck, Francisco Landa e Silvio Chalrú 231.

Fig.91-Tribuna Popular, 16-12-1945. Fig.92-Tribuna Popular, 16-12-1945. Capa


Capa. RJ. Acervo BN. (detalhe). RJ. Acervo BN.

A formação de um sindicato consolidaria a organização do grupo e ainda afirmava os


artistas plásticos membros do PCB como uma classe organizada. A esta matéria se seguiram
algumas notas nas quais eram divulgadas o esforço pela formação de um sindicato, e reuniões
que promoviam. No dia 19 de dezembro saiu uma notinha intitulada “Artistas plásticos pró-
sindicato”,232 depois em 17 de abril do ano seguinte outra notinha divulgando uma reunião e
promovendo o “Comitê dos Artistas Plásticos”233, em 22 de novembro outra notinha chamava
os “Artistas Plásticos” para a Assembleia da Associação Profissional dos Artistas Plásticos do
Rio de Janeiro. 234

231
Tribuna Popular, 16-12-1945. Criarão os artistas plásticos o seu sindicato de classe. Capa e p.2. RJ. Acervo
BN.
232
Tribuna Popular, 19-12-1945. Artistas plásticos pró-sindicato. RJ. Acervo BN.
233
Tribuna Popular, 17-04-1946. Comitê dos Artistas Plásticos. RJ. Acervo BN.
234
Tribuna Popular, 22-11-1946. Artistas Plásticos. RJ. Acervo BN.
158

Podemos notar que a permanência ao longo do ano destas reuniões mostra que elas se
mantiveram e assim, que chegou a funcionar de alguma forma. Mesmo que fossem notinhas
discretas, tinham mais destaque do que outras reuniões de outros sindicatos ou associações
que eram divulgadas em uma lista comum a todos, e com certa frequência, atualizando os
leitores das reuniões seguintes. Desta forma, podemos notar ainda uma especificidade desta
categoria profissional dos artistas plásticos e a atenção especial que o Partido Comunista do
Brasil e que era passado no jornal Tribuna Popular.

Em meio a essa organização setorial, a expressão “os artistas plásticos” enquanto


sujeito das ações e das frases ganhou espaço e se estabeleceu, fortalecendo a formação da
categoria e a identificação do leitor da real existência de um grupo. Esse é o caso de uma
matéria de 26 de março de 1946 com o título: “Os artistas à disposição do povo”235 (Fig.93,
Fig.94).

Fig.93- Tribuna Popular, 26-03- Fig.94- Tribuna Popular, 26-03-1946.


1946. P.3. RJ. Acervo BN. P.3 (detalhe). RJ. Acervo BN.

Essa matéria era para divulgar uma conferência sobre arte que ocorreria no auditório
da ABI e contaria com palestras de artistas como Portinari, Santa Rosa, Bruno Giorgi (1905-
1993) , Anna Levy e Carlos Scliar. Esse último contou com uma foto sua em destaque e
deixou um breve depoimento veiculado na matéria no qual dizia da importante missão que
considerava ser a de levar a arte para o povo (Fig.94).

235
Tribuna Popular, 26-03-1946. Os artistas à disposição do povo. RJ. Acervo BN.
159

Três dias depois outra matéria era divulgada ainda sobre esta conferência que estava
para ocorrer na semana seguinte. Nela era vista a frase: “Pintura que se desliga do povo não é
arte”, que fazia parte de um posicionamento sobre a arte engajada nas questões políticas e na
importância da conscientização dos artistas quanto a essa questão.236

“Os artistas plásticos” do PCB também tomavam posicionamentos como um grupo,


que mesmo que deixasse muitos outros artistas de fora, eram identificados pelo jornal como
“os” artistas plásticos do povo e do Brasil. Desta forma, “os artistas plásticos” era expressão
que podíamos ver em notas como a que diz “Os artistas plásticos contra o imperialismo” e
“Protestam os artistas plásticos contra a violência de Imbassaí e Pereira Lira”. 237 Essas notas
eram parte de um conjunto de matérias que já estavam desenvolvendo determinado assunto no
jornal e em algum momento era trazida a posição deste grupo destacado.

Apenas na campanha Pró-Imprensa Popular promovida pelo Partido Comunista do


Brasil e encampada pelo jornal Tribuna Popular foram veiculadas, nesse periódico, seis
matérias238 que destacavam a contribuição dos artistas plásticos à causa de arrecadação de
dinheiro para o desenvolvimento e consolidação da Imprensa Popular, rede de jornais, revistas
e editoração do PCB de âmbito nacional.

A partir de então, podemos notar que não é só um destaque que era dado aos artistas,
mas havia um reconhecimento nacional e também um prestígio, e por isso era interessante
vincular estes nomes ao partido. As mobilizações da categoria pareciam dar mais visibilidade
ao movimento como um todo para a arrecadação pró-Imprensa Popular, como foi chamada.
Nas imagens seguintes é possível verificar uma destas matérias com a fotografia do artista
Quirino Campofiorito (Fig.95, Fig.96).

236
Tribuna Popular. 29-03-1946. O novo na arte, ciência ou política, na 4ª na ABI. RJ. Acervo BN.
237
O artigo se refere a Augusto Imbassaí, então diretor da Divisão de Polícia Política e Social (DPS), e a José
Pereira Lira, então chefe de polícia do Departamento Federal de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Tribuna
Popular, 14-04-1946 e 21-06-1946. Os artistas plásticos contra o imperialismo e Protestam os artistas plásticos
contra a violência de Imbassaí e Pereira Lira. RJ. Acervo BN.
238
Tribuna Popular, 10, 12, 25, 27 e 29-10-1946. RJ. Acervo BN.
160

Fig.95- Tribuna Popular, 25-10- Fig.96- Tribuna Popular, 25-10-1946. P.8 (detalhe). RJ.
1946. P.8. RJ. Acervo BN. Acervo BN.

Em 23 de setembro de 1945 foi feita uma homenagem ao artista plástico Clóvis


Graciano (Fig.97). Era domingo e neste período circulava um suplemento chamado “literatura
e arte” no qual a matéria foi exibida. Além de ser domingo e estar em um suplemento
especial, tomava uma página inteira e era excepcionalmente assinada por Rui Facó e Rui
Santos.

A página continha muitas fotografias do artista trabalhando em suas obras, dispostas


de lado a lado e espalhadas pela página. O texto em si não era extenso e esta homenagem
ganhava bastante destaque nesta edição de domingo com o título “Clóvis Graciano, um artista
do povo”, mostrando qual o teor da homenagem. 239 No texto, o autor dizia as qualidades do
pintor comumente destacadas pelos “entendidos da pintura”, que seria então “profundamente
humano e original”. No entanto, enfatizava “sua identidade com o povo e com o seu tempo” e
em seguida diz que: “Sua pintura é profundamente social, destina-se ao povo, a esse mesmo
povo de onde veio esse pintor(...)”.

239
Tribuna Popular, 23-09-1945. Clóvis Graciano, um artista do povo, de Rui Facó e Rui Santos. p.9.
Suplemento de domingo: Literatura e Arte. RJ. Acervo BN.
161

Fig.97-Tribuna Popular, 23-09-1945. P.9. RJ. Acervo BN.


162

A origem do artista era valorizada, seus ofícios e seu talento revelado como um
exemplo para todos. O autor explicitava qual deveria ser a função dos artistas, e a importância
em destinar as obras ao “povo” e que fosse sobre o “povo”, afirmando que:

Clóvis Graciano, cuja arte vem do povo, inspira-se no povo e destina-se ao povo, concorrerá
dentro do Partido de Prestes, para elevar o nível cultural do nosso povo, pois ele sabe que toda
arte isolada do povo é uma arte em decadência, é o epitáfio de uma classe que morre 240.

Pouco menos de dois meses depois, no dia 11 de novembro do mesmo ano, o mesmo
modelo de homenagem foi empregado em tributo ao artista plástico Candido Portinari
(Fig.98). O título era semelhante: “Candido Portinari, o artista do Povo” e assinada por Rui
Facó e Rui Santos. Também foi veiculada num domingo no mesmo suplemento intitulado
“literatura e arte”.

As fotografias que ilustravam a matéria eram também do artista homenageado, com


uma obra sua, ou em situações que parecessem espontâneas. A disposição das fotografias era
similar a da página de homenagem a Clóvis Graciano, a diferença seria que esta foi um pouco
maior e precisou continuar na página seguinte. No entanto o caráter e a aparência eram muito
próximos.

O texto destaca que apensar de diversas revistas de arte na Europa, Estados Unidos da
América e América do Sul falarem de Candido Portinari, e algumas editoras estrangeiras
publicarem biografias dele, no Brasil uma “insignificante minoria” conhece seu trabalho. No
Brasil especialmente não faltariam “conservadores, reacionários e fascistas” que criticassem
as obras de Portinari, pois segundo o autor:

(...) a “diferença” de Portinari é a criação artística revolucionária em ascenso irreprimível, a


técnica superior a serviço duma concepção cujo supremo subjetivismo é a lancinante e terrível
realidade da nossa existência social. 241

240
Tribuna Popular, 23-09-1945. Clóvis Graciano, um artista do povo, de Rui Facó e Rui Santos. p.9.
Suplemento de domingo: Literatura e Arte. RJ. Acervo BN.
241
Tribuna Popular, 11-11-1946. Candido Portinari artista do povo. p.9. Suplemento de domingo: Literatura e
Arte. RJ. Acervo BN.
163

Fig.98- Tribuna Popular, 11-11-1946. P.9. RJ. Acervo BN.


164

O autor prossegue o texto relatando obras do artista e a melancolia presente nelas, que
por não mostrar alegrias estariam apenas representando a realidade brasileira.

A seriedade da obra de Portinari, esse tom quase trágico da maioria de seus trabalhos, é outra
reminiscência do campo brasileiro, de uma terra devastada pelo abandono em que vive tudo, a
começar pelo homem, e principalmente o homem.(...) Não é atitude, não é intencionalismo do
pintor. É a realidade brasileira que o pintor reflete(...).242

Esses elementos demonstrariam a preocupação política do artista ao elaborar suas


obras, e acabavam por afirmar algumas das bases do realismo socialista, assim como na
homenagem a Clóvis Graciano (Fig.97). A partir de então, o autor procura relacionar essas
características da produção artística de Portinari com sua ligação ao comunismo,
argumentando que esses elementos já estavam presentes antes mesmo de sua filiação o
Partido, como a crítica já o “denunciaria” (Fig.98). Isto demonstraria uma “inerência” do
comunismo em Portinari, mesmo antes de ele assumir esse posicionamento político.

Toda esta semelhança na estrutura da matéria em homenagem a estes artistas poderia


sugerir uma série que homenagearia outros artistas membros do PCB em outros números. No
entanto, isso não chegou a se repetir nem ao fim do ano de 1945, nem mesmo nos anos
seguintes. Porém, mostrou a importância que o jornal e o Partido davam a estes artistas,
exaltando suas obras, sua trajetória artística e enquanto militante do partido. 243

A entrada de Quirino Campofiorito no PCB foi comemorada e no dia 09 de janeiro de


1946 o jornal trazia a notícia na capa (Fig.99) e com grande destaque: Mais um notável artista
ingressa no partido do povo. O pintor Quirino Campofiorito acaba de entrar no PCB e fala à
Tribuna Popular. Vêm do povo as razões de inspiração da arte244.

Abaixo do título e dos subtítulos havia ainda uma fotografia grande com legenda para
explicar que era o próprio pintor flagrado na entrevista com o redator do jornal (Fig.100). A
entrevista continuava na página 04 e tomava cerca de metade da página. Com essa entrevista
parecia que não queriam deixar dúvidas de que o artista era mesmo membro do PCB e quais
seus objetivos em relação ao Partido 245.

242
Tribuna Popular, 11-11-1946. Candido Portinari artista do povo. p.9. Suplemento de domingo: Literatura e
Arte. RJ. Acervo BN.
243
Tribuna Popular, 11-11-1945. Candido Portinari, o artista do Povo, de Rui Facó e Rui Santos.. p.9 e 10.
Suplemento de domingo: Literatura e Arte. RJ. Acervo BN.
244
Tribuna Popular, 09-01-1946. Mais um notável artista ingressa no partido do povo. Capa. RJ. Acervo BN.
245
Tribuna Popular, 09/01/1946. Mais um notável artista ingressa no partido do povo. Capa. RJ. Acervo BN.
165

Fig.99- Tribuna Popular, 09-01- Fig.100- Tribuna Popular, 09-01-1946. Capa (detalhe).
1946. Capa. RJ. Acervo BN. RJ. Acervo BN.

Desde então a presença de Quirino era destacada em notícias de alguns eventos, como
na visita de um embaixador soviético à Escola de Belas Artes, 246 e na campanha pró-Imprensa
Popular para a qual os artistas plásticos do PCB se mobilizaram. Uma matéria de 12 de
outubro de 1946 era anunciado: “Falam à Tribuna Popular os pintores Quirino Campofiorito e
Raul Deveza”. 247 A opinião de artistas como Quirino pareciam dar respaldo às matérias e
chamar atenção a elas.

Alguns artistas escreviam para o jornal Tribuna Popular e não só temas sobre as artes
plásticas. Carlos Scliar, por exemplo, serviu como expedicionário da FEB (Força
Expedicionária Brasileira), na participação do Brasil na Segunda Grande Guerra. Quando
voltou em agosto de 1945, apoiou a Casa do Expedicionário, instituição de auxílio aos que
haviam servido na FEB. O artista leiloou um desenho de sua autoria e recebeu destaque do
jornal com matéria que noticiava esta mobilização, ressaltando o que foi considerado ato de
patriotismo na participação e luta contra o nazifascismo 248.

246
Tribuna Popular, 16/05/1946. O embaixador soviético visitou ontem a escola de Belas Artes. RJ. Acervo BN.
247
Tribuna Popular, 12-10-1946. Grande Contribuição dos artistas plásticos para a campanha Pró-Imprensa
Popular. p.8. RJ. Acervo BN.
248
Tribuna Popular, 21-08-1945. Em benefício da casa do expedicionário. p.8. RJ. Acervo BN.
166

Na capa do domingo seguinte foi publicada uma entrevista que Scliar concedeu ao
jornal. O depoimento recebeu grande destaque, pois além de estar na capa da edição de
domingo, era composta por uma foto do artista e tinha um tamanho médio que realçava o
título: “Fala à Tribuna Popular, o pintor Carlos Scliar, como expedicionário e como
artista.”249 Essas palavras mostram o teor da imagem que buscam promover de Scliar:
expedicionário e artista. Em seu depoimento, Carlos Scliar conta sua experiência na FEB,
ressaltando a importância da participação do Brasil na guerra. Contudo, também destaca os
cartazes que viu em Milão que teriam uma qualidade admirável. Desta forma, há um apelo à
identificação e admiração a Carlos Scliar a partir de seu depoimento, no qual também é
ressaltado o valor que o jornal conferia a ele por suas qualidades e contribuições.

Outro ponto importante é o sentimento de interligação com as causas dos artistas


plásticos de outros países, especialmente aos que tinham uma ligação com o comunismo. Um
caso que merece destaque é o de Picasso. Alguns textos de Pablo Picasso chegaram a ser
traduzidos e divulgados no jornal. Esses textos pareciam ser valorizados, pois eram longos, e
às vezes continuavam em outra página ou edição. Além disso, pareciam ter o objetivo de
respaldar as ideias do Partido Comunista do Brasil com um autor de grande reconhecimento
internacional.

Em 15 de julho de 1945, um longo texto de Picasso foi publicado em duas páginas.


Seu título tinha forte apelo: “Como me tornei comunista” 250. Logo abaixo vinha a indicação
de que foi escrito por Pablo Picasso. Era um depoimento, mas também uma espécie de
manifesto. O teor do texto coadunava-se com os artigos publicados por jornalistas e outros
intelectuais do partido e que frequentemente escreviam sobre a importância do comunismo.
Desta forma, a impressão que se poderia ter era de que as ideias proclamadas no jornal eram
compartilhadas por Picasso, o que não seria nada mal.

Pouco menos de um mês depois, foi publicado outro texto de Pablo Picasso, desta vez
no suplemento Literatura e Arte, que era publicado aos domingos. Era intitulado: “Picasso
251
fala de arte e de política” e novamente o artista expunha sua opinião com base em sua
posição política e ganhava destaque no jornal. A arte deveria ter um suporte político, e este

249
Tribuna Popular, 28-08-1945. Fala à Tribuna Popular, o pintor Carlos Scliar, como expedicionário e como
artista. Capa. RJ. Acervo BN.
250
Tribuna Popular, 15-07-1945. Como me tornei comunista, por Pablo Picasso. P.9 e 10. RJ. Acervo BN.
251
Tribuna Popular, 05-08-1945. Picasso fala de arte e política, por Jerome Seckeler. P.10. RJ. Acervo BN.
167

era o papel do artista. Essa era a posição de Picasso, apoiada pelo PCB e divulgada pelo
jornal.

Outras questões mostravam o posicionamento de Pablo Picasso, como na matéria que


divulgava que Picasso pedia auxílio para os republicanos espanhóis que estavam na França,
252
eram comunistas e haviam lutado na guerra. Picasso era um ícone internacional, e o
Comitê Democrático Progressista dos Artistas Plásticos de São Paulo parecia assim o
reconhecer quando enviou através dele uma saudação aos artistas plásticos que ajudaram na
libertação da França ao fim da Segunda Grande Guerra. 253

Artistas como Picasso, de renome internacional e noticias gerais sobre outros artistas
comunistas do mundo, que pudessem interessar a edição tinham espaço no jornal. Eram
comuns algumas notas, algumas pequenas matérias com fotos de obras ao longo do jornal,
podiam não ter grande destaque, mas eram presentes.

Outro ponto importante e peculiar é a divulgação de notícias sobre as artes e os artistas


da União Soviética, afinal era uma importante referência para o PCB e para os artistas
vinculados ao Partido. Assim como em relação a outros assuntos, o que era feito na URSS em
relação às artes mostravam a admiração e o respeito ao que vinha de lá.

Algumas notas apenas diziam “sobre o gosto estético” na União Soviética, contando
um pouco de como era a relação da arte produzida com as questões políticas 254. Outras
menores procuravam resumir as “Artes plásticas na União Soviética” 255,porém o mais curioso
eram notícias que a princípio só deveriam interessar aos soviéticos, como ocorre com a
pequena nota: “Ensino de artes e ofícios” 256, na qual anuncia a abertura de 30 cursos de artes
e ofícios, como de entalhamento, em Moscou. O interessante é que não é uma matéria, mas
um anúncio, informando que estão abertas as inscrições, inclusive.

Determinadas notas seguiam esta linha e anunciavam exposições como, por exemplo,
as que estavam abertas em Moscou257, ou uma de cartazes soviéticos na União Eslava 258 ou

252
Tribuna Popular, 08-12-1945. Picasso reclama auxilio para os republicanos espanhóis que estão na França.
RJ. Acervo BN.
253
Tribuna Popular, 22-08-1945. Os artistas que ajudaram a libertar a França. P.4. RJ. Acervo BN.
254
Tribuna Popular, 01-07-1945. Sobre o gosto estético. P. 9 e 10. RJ. Acervo BN.
255
Tribuna Popular, 05-08-1945. Artes plásticas na União Soviética. P. 10 e 11. RJ. Acervo BN.
256
Tribuna Popular, 26-09-1945. Ensino de artes e ofícios. P.4. RJ. Acervo BN.
257
Tribuna Popular, 11-11-1945. Exposições de arte na URSS. P.12. RJ. Acervo BN.
258
Tribuna Popular, 22-12-1945. Cartazes soviéticos serão expostos na União Eslava. P. 2. RJ. Acervo BN.
168

notas sobre a restauração do Museu de Arte Moderna na URSS 259. Há ainda o caso de uma
pequena nota na qual era reconhecida a memóia do artista Isaac Levitas, que o autor do texto
afirma que seria o maior interprete da paisagem russa 260.

No entanto, no dia 30 de setembro de 1945, é publicada uma matéria no suplemento


Literatura e arte com o título: “Depoimento do embaixador do Uruguai em Moscou sobre a
vida cultural e artística na URSS”. Nesse texto, o embaixador uruguaio elogia e caracteriza a
música soviética e fala dos quadros que viu quando lá esteve. O destaque é dado por uma foto
do embaixador ao lado da matéria.261

Outra ocasião foi a da visita do embaixador da URSS que veio ao Brasil, e, entre
outros compromissos e encontros seus noticiados, estava uma matéria intitulada: “O
262
embaixador soviético visitou ontem a Escola de Belas Artes” . Esta matéria vem
acompanhada de uma foto do evento, e no texto é informado que o embaixador proferiu uma
palestra e contou com a presença de artistas como Quirino Campofiorito, já membro do PCB.
Assim, podemos destacar a visita do embaixador à Escola de Belas Artes como um ponto
interessante do seu roteiro, e esta notícia acompanha a importância que é dada também pelos
editores desse jornal a tal circunstância. As artes plásticas estavam definitivamente no roteiro
do Tribuna Popular e eram notícia relevante em suas edições.

Em outubro de 1945, pouco depois do fim da Segunda Grande Guerra, uma edição do
Tribuna Popular apresentava em sua capa uma notícia de uma exposição promovida por
poloneses sobre as prisões e trazia o título: “Recordando as torturas do Cárcere”. Era ilustrada
por uma foto que estaria na mostra, e o texto se referia ao sofrimento pelo qual passaram os
poloneses e que seria exposto em fotografias. Além de noticiar uma exposição esse era um
espaço para denunciar e divulgar os crimes que foram cometidos263.

Outra oportunidade para enfatizar a imagem negativa dos nazistas se deu quando
foram encontradas obras de arte que teriam sido roubadas pelos alemães durante a guerra.

259
Tribuna Popular, 04-10-1946. União Soviética. P.8. RJ. Acervo BN.
260
Tribuna Popular, 30-01-1946. Em memória do maior interprete da paisagem russa- Isaac Levitas. P. 4. RJ.
Acervo BN.
261
Tribuna Popular. 30-09-1945. Depoimento do embaixador do Uruguai em Moscou sobre a vida cultural e
artística na URSS. P.9. RJ. Acervo BN.
262
Tribuna Popular, 16-05-1946. O embaixador soviético visitou ontem a escola de Belas Artes. p.8. RJ. Acervo
BN.
263
Tribuna Popular, 11-10-1945. Recordando as torturas do Cárcere. Capa. RJ. Acervo BN.
169

Seriam obras de Van Dick, Donatello, etc, que acentuavam as acusações aos alemães, por
serem, de acordo com o texto, de grande importância para o mundo 264.

No que diz respeito às artes produzidas no Brasil também era destacada a atenção.
Exposições de membros do PCB eram anunciadas, como ocorria com José Pancetti (1902-
1958) e com Candido Portinari. Uma exposição de Pancetti em Copacabana foi divulgada
pelo jornal com uma fotografia de uma obra e a indicação de que seriam 30 quadros
apresentados na Galeria Montparnasse.

O breve texto ressaltava que Pancetti já havia exposto em vários países, o que era
indício de sua qualidade e reconhecimento internacional 265. No dia seguinte foi publicada uma
matéria grande com mais detalhes sobre ele e a exposição, esta trazia uma foto do artista 266.
Em julho deste ano saiu uma matéria numa edição de domingo que explicitava o prestígio que
teria alcançado no mundo e o compara a Rousseau e a Matisse. Junto ao texto podemos ver a
obra “Maré Vasante” feita no ano anterior por Pancetti267.

Candido Portinari teve também suas exposições largamente divulgadas pelo jornal
Tribuna Popular, como foi o caso da exposição que realizou em São Paulo e de outra sua em
Paris, como pode ser visto a seguir (Fig.101, Fig.102, Fig.103):

Em novembro de 1945 o jornal começava a noticiar a exposição que Portinari faria em


São Paulo. No dia 16 deste mês foi publicada uma matéria na qual o artista falava da
importância “da pintura a serviço de ideal um político” e uma foto dele com obras que exporia
na capital paulista destacavam a notícia 268.

Em dezembro foi anunciado na capa do jornal que a exposição havia sido impedida
pelo prefeito da cidade 269(Fig.101), o que gerou a manifestação de outros artistas em apoio a
Portinari270. Na referida página (Fig.102), é possível ver fotografia do artista com um

264
Tribuna Popular, 19-08-1945. Retornam as obras de arte. P.12. Ano I. RJ. Acervo BN.
265
Tribuna Popular, 28-05-1946. Exposição de Pancetti na Galeria Montparnasse em Copacabana. P.3. RJ.
Acervo BN.
266
Tribuna Popular, 29-05-1946. A exposição de Pancetti em Copacabana. P.2. RJ. Acervo BN.
267
Tribuna Popular, 28-07-1946. Pancetti, o genial pintor brasileiro, cuja obra é hoje mundialmente conhecida.
P.3. RJ. Acervo BN.
268
Tribuna Popular, 16-11-1945. Exposição em São Paulo. Capa e p.2. RJ. Acervo BN.
269
Tribuna Popular, 05-12-1945. Impedida pelo prefeito paulista a exposição de Portinari. Capa e p.2. RJ.
Acervo BN.
270
Tribuna Popular, 13-12-1945. Protestam os pintores mexicanos contra uma atitude antidemocrática do
prefeito paulista. Capa e p.2. RJ. Acervo BN.
170

jornalista do jornal e com uma das obras que exporia. A matéria mostrava a indignação com
essa proibição.

Fig.101- Tribuna Popular, 13-12-1945. Capa. RJ. Fig.102- Tribuna Popular, 13-12-1945.
Acervo BN. Capa (detalhe). RJ. Acervo BN.

No início de 1946 já era anunciada uma nova exposição de Portinari, mas em Paris.
Desta vez, era destacado o prestígio que o artista tinha fora do Brasil. Tal acontecimento foi
exaltado com uma matéria que ocupou toda a última página da edição de 24 de março deste
mesmo ano e era assinada por Aydano do Couto Ferraz e Rui Santos (Fig.103).

No texto falavam de arte e da importância das obras de Portinari. Ilustrando a página


estavam fotografias do artista e de obras da série de quadros intitulada Retirantes271. No texto
destaca-se que:

271
Tribuna Popular, 24-03-1946. Candido Portinari vai expor em Paris, por Aydano do Couto Ferraz e Rui
Santos. P.8. RJ. Acervo BN.
171

sua obra reflete o que ele é. Um artista que põe a nu em seus quadros as injustiças sociais.
Não é de hoje que a obra de Portinari, ao lado de seu elevado valor artístico, tem um profundo
conteúdo social272.

Fig.103-Tribuna Popular, 24-03-1946. P.8. RJ. Acervo BN.

272
Tribuna Popular, 24-03-1946. Candido Portinari vai expor em Paris, por Aydano do Couto Ferraz e Rui
Santos. P.8. RJ. Acervo BN.
172

Enfatizando o caráter de denúncia social de muitas de suas obras, e novamente


realçando a importância deste posicionamento do artista. Define-se ainda, a importância do
Partido como “vanguarda do proletariado e do povo” assim como a obra que têm como
“educadores do povo”, apesar de não haverem conseguido ainda levar todo o conhecimento
das obras de Portinari às “massas”.

Por fim, observa-se que o texto procurava ressaltar o volume e importância das obras
de Portinari, e de seu reconhecimento na França, justificando a exposição de 150 obras do
artista em Paris. Assim, defendia-se que suas obras deveriam ser mais conhecidas no Brasil,
pelo “povo”, como afirma o próprio Portinari na matéria.

O reconhecimento em Paris superava o ocorrido em São Paulo. Alguns artigos eram


trazidos prontos pela Interpress (órgão internacional de notícias do PCB), mas também
notícias editadas no Brasil, como: “Portinari expõe em Paris na galeria Charpentier.” 273, ou
ainda sobre o prestígio do evento: “A exposição de Portinari - Madame Bidault e os Duques
de Windsor compareceram à grande mostra de arte” 274.

Portinari recebeu homenagens de jornais franceses e alguns artigos foram traduzidos e


publicados no Tribuna Popular. Esse é o caso de “Um pintor, um homem: Portinari”, escrito
por Anatole Jakovsky, identificado como crítico do jornal La Marseillaise275; de “Portinari,
pintor do povo brasileiro” de Léopold Duvand, crítico do L’Humanité276; e ainda do artigo :
“Portinari e a verdadeira arte – na sua exposição não há quadros ornamentais” assinado por
Sally Swing, um correspondente de Paris 277; e “Portinari, um Amigo da França e da
Humanidade”, acompanhado apenas da sigla J. B. 278. Foi divulgado ainda o “Prefácio ao
catálogo da Exposição Portinari” assinado pelo ensaísta francês Jean Cassou 279 que coroava a
série de homenagens a Portinari pela exposição em Paris.

Os artigos traduzidos para o Tribuna Popular exaltavam um artista que pintava com
preocupação política e social, e seu engajamento o tornaria uma voz do povo brasileiro. Esse
273
Tribuna Popular. 28-09-1946. Portinari expõe em Paris- na galeria Charpentier. . Capa. RJ. Acervo BN.
274
Tribuna Popular. 08-10-1946. A exposição de Portinari. Capa. RJ. Acervo BN.
275
Tribuna Popular. 8-10-1946. Um pintor, um homem: Portinari, por Anatole Jakovsky. P.3. RJ. Acervo BN.
276
Tribuna Popular, 13-10-1946. Portinari, pintor do povo brasileiro, por Léopold Duvand. P.3. RJ. Acervo
BN.
277
Tribuna Popular, 07-11-1946. Portinari e a verdadeira arte: na sua exposição não há quadros ornamentais,
por Sally Swing. Capa e P.2. RJ. Acervo BN.
278
Tribuna Popular, 10-09-1946. Portinari, um Amigo da França e da Humanidade, por J.B. P.3. RJ. Acervo
BN.
279
Tribuna Popular, 23-10-1946. Prefácio ao catálogo da Exposição Portinari, por Jean Cassou. P.3. RJ.
Acervo BN.
173

posicionamento era compartilhado pelo PCB e transparecia no discurso promovido no jornal


com a publicação destes artigos e de textos sobre o artista escritos por intelectuais do Partido
Comunista do Brasil. Candido Portinari teve ainda textos seus publicados no jornal, e textos
sobre ele e sua candidatura ao Senado, mostrando a importância desta figura para o Partido.

Estas matérias e notas procuravam, portanto, divulgar as artes plásticas produzidas na


União Soviética e por artistas ligados a Partidos Comunistas do mundo, assim como ao PCB.
Desta forma, mostra-se a importância do apoio de artistas à causa comunista defendida no
jornal, principalmente pelo prestígio destas figuras na sociedade.

3.3 – A exposição: “Os artistas plásticos ao PCB” em 1945 através do Tribuna Popular

Fig.104-Tribuna Popular, 11-10-1945. Capa. RJ. Acervo BN.

Em 20 de outubro de 1945 foi inaugurada a exposição “Os artistas plásticos ao Partido


Comunista do Brasil” no Rio de Janeiro. Mas dias antes já era anunciada na capa do Tribuna
Popular a data, horário e local, visto que ocorreria na “Casa do Estudante” na Rua Santa
Luzia no Centro da cidade. Esta nota publicada em 11 de outubro de 1945 (Fig.104)
convidava “todos os artistas plásticos – pintores, desenhistas, escultores, decoradores e
174

gravadores – para fazerem entrega de seus trabalhos até o dia 18 próximo” 280. Esta exposição
se configuraria em um acontecimento de grande importância para o Partido, visto sua larga
divulgação no jornal.

No dia 16 de outubro de 1945, cinco dias após a nota citada, foi veiculada na capa uma
matéria intitulada “Grande exposição de artistas plásticos em benefício do Partido Comunista”
(Fig.105) que era ilustrada por uma fotografia do encontro de Portinari com o pintor
colombiano Jaramillo e um redator do jornal (Fig.106). O resumo divulgava a participação de
artistas de renome na exposição, e ainda que o texto traria as “palavras cheias de entusiasmo
de Candido Portinari”. 281

Fig.105-Tribuna Popular, 16-10-1945. Fig.106-Tribuna Popular, 16-10-1945. Capa


Capa. RJ. Acervo BN. (detalhe). RJ. Acervo BN.

Na matéria, não assinada, o jornalista procurava mostrar o prestígio que o PCB tinha
entre intelectuais, artistas, comerciários além do proletariado urbano ou rural. E a exposição
dos “artistas plásticos do PCB” seria uma prova disto, principalmente por ser a reunião de
artistas de tendências variadas em prol de uma ideia em comum promovida pelo Partido

280
Tribuna Popular, 11-10-1945. RJ. Acervo BN.
281
Tribuna Popular. 16-10-1945. Capa. RJ. Acervo BN.
175

Comunista do Brasil: “a união nacional dos brasileiros para a Democracia e o Progresso de


nossa Pátria.”.

O texto destacava a participação de pintores famosos fora do país, ilustradores,


escultores e gravadores, muitos deles expoentes das artes plásticas brasileiras, e que já teriam
oferecidos obras para a exposição e que enviavam seus trabalhos do Rio de Janeiro, São
Paulo, Belo Horizonte, entre outras cidades brasileiras. Este evento seria a oportunidade de
estar presente em um acontecimento artístico importantíssimo. O autor sublinhava que a
exposição teria grandes proporções e que seria em benefício das finanças do Partido.

Jornalistas do Tribuna Popular foram até a residência do pintor Candido Portinari para
entrevistá-lo a respeito da exposição, foram tecidos elogios a sua obra e a sua receptividade e
entusiasmo com a realização do evento artístico. O artista destacou a importância da iniciativa
de reunir os artistas plásticos do Partido enquanto a oposição reacionária estaria desesperada
e com sua fúria voltada para o PCB e Prestes. Portinari diria que:

Sei de artistas que nunca participam de exposições coletivas e que desta vez vão figurar com
diversos trabalhos na ‘Artistas Plásticos do PCB’. Estou certo de que este vai ser um grande
acontecimento no mundo artístico, e, como apresentação, será a melhor que já se fez no Brasil,
pois está a cargo de um time de gente de primeira ordem, onde figuram valores como Oscar
Niemeyer, o nosso grande arquiteto.(...) Está claro que eu não poderia deixar de contribuir
com trabalhos meus para uma exposição em benefício do Partido Comunista. Eis ali o que eu
282
vou mandar .

Neste instante, o artista teria apontado para uma obra sua descrita pelo jornalista
como: “um belíssimo quadro em que foi fixada uma ‘roda’ infantil, as crianças brincando de
mãos enlaçadas”. Em seguida o autor diz ter buscado ouvir a Comissão Organizadora que
finalizava os preparativos para o evento na sede nacional do PCB no centro do Rio de Janeiro,
onde já estariam diversos quadros de artistas de vários Estados brasileiros. Um dos
organizadores, o arquiteto Oscar Niemeyer declarou que:

A Exposição será inaugurada no próximo dia 20, na Casa do Estudante do Brasil, e é grande o
entusiasmo que reina em torno da mesma. O êxito está garantido pelo número de figuras da
maior projeção em nosso mundo artístico se se vem interessando e que, além de contribuírem
com vários trabalhos, têm estimulado e auxiliado a organização desta iniciativa em benefício
283
do Partido .

O pintor Alcides Rocha Miranda, também membro da Comissão Organizadora falou


do apoio que recebeu dos diferentes setores artísticos nacionais, que enviaram suas

282
Tribuna Popular. 16-10-1945. RJ. Acervo BN.
283
Tribuna Popular. 16-10-1945. RJ. Acervo BN.
176

contribuições. O artista destacou a participação de artistas conhecidos, e ainda que Portinari


contribuiria com um quadro e vários desenhos, cujos valores não precisavam ser
mencionados. O pintor Raul Devezza, também foi interpelado sobre a exposição e relatou
que:

Esta é a primeira vez em que os artistas vão se reunir numa exposição coletiva, sem brigas e
sem discórdias, pois não haverá divisão entre modernos e clássicos, todos com o mesmo
objetivo e um ideal comum, que é o de contribuir para o Partido Comunista do Brasil, servindo
artisticamente ao povo. Todos têm aderido e dados trabalhos com toda boa vontade. Aí estão
Guttmann Bicho, Francisco Mamma, Quirino Campofiorito, Gilda Gelmini, E. P. Sigaud e
muitos mais. 284

Desta forma, a exposição seria a união de artistas modernos e artistas mais ligados às
concepções artísticas acadêmicas em prol de um mesmo objetivo de contribuir para o PCB,
“servindo artisticamente ao povo”, como disse Devezza. A partir do depoimento do escultor
Honório Peçanha, que também era membro da organização da Exposição, o jornalista
procurou demonstrar que assim como a união dos artistas foi possível, a União Nacional,
também poderia ser. Isto, pois, de acordo com Peçanha:

Nela estão representados os artistas acadêmicos das mais variadas nuances, juntamente com os
representantes das diversas tendências modernas, e se tal é possível no campo específico da
arte, com mais razão o será no terreno político, onde estão em jogo os sagrados interesses
fundamentais do povo. 285

O autor conclui a matéria reafirmando que esta Exposição era um esforço de todos em
benefício das finanças do PCB, mas que também era uma manifestação cultural de interesse
de todo o Brasil, pois a quantidade e a qualidade das obras determinavam o sucesso desta
iniciativa.

No dia 26 de outubro do corrente ano, seis dias após a inauguração da Exposição foi
divulgada uma matéria que ocupava com destaque a parte de baixo da capa da edição
(Fig.107). Com o título “Uma exposição sem exemplo na história artística do país” 286. Com
três fotografias do evento, a matéria iniciava-se na primeira página e continuava na segunda
página do jornal.

Na imagem (Fig.107) pode-se notar que o destaque é dado ao título “Uma exposição
sem exemplo na história do país”, ao subtítulo “Uma contribuição dos artistas plásticos ao
Partido Comunista do Brasil – Luiz Carlos Prestes compareceu ontem à solenidade da
284
Tribuna Popular. 16-10-1945. RJ. Acervo BN.
285
Tribuna Popular. 16-10-1945. RJ. Acervo BN.
286
Tribuna Popular. 26-10-1945. RJ. Acervo BN.
177

inauguração, na Casa do Estudante” e às fotografias que mostravam, como diz a legenda: “Da
esquerda para a direita a Comissão Organizadora da Exposição; Luiz Carlos Prestes,
momentos depois da inauguração, palestrando com pessoas presentes no ato; finalmente
Prestes, ao lado de um grupo de artistas, contemplando um dos quadros expostos” 287.

Fig.107-Tribuna Popular, 26-10-1945. Capa. RJ. Acervo BN.

287
Tribuna Popular. 26-10-1945. RJ. Acervo BN.
178

A inauguração da exposição foi descrita na referida matéria que, assim como a


anterior, não foi assinada. O texto relatava a expectativa dos que aguardavam a chegada de
Luiz Carlos Prestes, que segundo o jornalista, contava com “grande número de artistas,
expositores e não expositores, estudantes das Escolas Superiores, escritores, jornalistas,
operários, militantes comunistas, etc, etc.” 288. Segundo o autor do texto, havia a inscrição que
denominava o evento: “Os artistas plásticos, ao Partido Comunista do Brasil”, seguida de uma
placa com a dedicatória: “Os artistas plásticos oferecem ao Partido Comunista do Brasil a sua
contribuição, afirmando assim sua solidariedade na luta que o mesmo vem sustentando pela
democratização do país e melhoria do povo brasileiro”. 289

De acordo com o autor a Comissão Organizadora do evento era formada por artistas
ligados ao PCB: Oscar Niemeyer, Sampaio Lacerda, Raul Devezza, Rocha Miranda, Paulo
Werneck, João de Oliveira, Honório Peçanha, José Morais, Salomão Scliar e Euzman
Cavalcanti. Estes membros da comissão teriam acompanhado Prestes no exame de cada
trabalho exposto, o que procura mostrar que o líder do PCB prestigiou a iniciativa do evento e
também cada obra ali exposta.

O texto segue procurando definir a importância desta exposição para as artes plásticas
no Brasil, pois contam com a participação de grandes artistas que se coadunam com a ideia de
que a arte não deve se restringir a poucos observadores. Diz ainda que estes artistas buscam
na vida inspiração para sua arte, e, sendo a vida sinônimo de trabalho, os artistas sentem a
necessidade de transformá-lo em arte, mesmo que não seja “belo”. Fazem isto, segundo o
autor, porque seriam sinceros e artistas, o que seria demonstrado pelos temas escolhidos.

Este fato singularíssimo na história das artes plásticas brasileiras vem demonstrar que os
nossos melhores artistas compreendem, já, perfeitamente, que a arte não pode ficar confinada
entre os estreitos limites de uma Torre de Marfim. Seu talento criador sente necessidade de
‘algo nuevo’. E saem então pela vida afora em busca desse alimento para seu espírito. E
constatam, enfim, que a vida é o trabalho e o trabalho, nas condições em que o encontram,
nada tem de ‘belo’, mas sentem a necessidade imperiosa de transformá-lo em arte. E assim o
fazem porque são sinceros e porque são, na verdade, artistas290.

Como exemplo é citada a obra de Eugênio Sigaud, presente na exposição e descrita

como eloquente e de inspiração “no cruento trabalho de um operário da construção civil.” A

este o jornalista daria outros exemplos da variedade de obras, como a contribuição do escultor

288
Tribuna Popular. 26-10-1945. RJ. Acervo BN.
289
Tribuna Popular. 26-10-1945. RJ. Acervo BN.
290
Tribuna Popular. 26-10-1945. RJ. Acervo BN.
179

Lélio Landucci com a obra de uma cabeça em granito reconstituído, e com suas
considerações sobre o evento dizendo que “apesar de sua heterogeneidade, o nosso ‘salão’
chega a ser harmonioso, em virtude do sentimento comum de todos os artistas que o
compõem.”

O jornalista ressalta que o objetivo da exposição é a solidariedade ao Partido


Comunista do Brasil, o que superaria qualquer incompatibilidade estética ou divergência
artística, pois este partido seria o “mais poderoso instrumento de que dispõe o povo para o
completo esmagamento do nazi-fasci-integralismo.” A relação entre arte e política é
reforçada com a citação da seguinte frase atribuída a Portinari: “Não se pode mais separar a
arte da política”. Frase esta que é complementada com a seguinte afirmação “Um pincel, um
escopro, um buril, numa época como esta que vivemos, podem ser tão mortíferos como uma
metralhadora de mão...”, ratificando a importância de uma arte preocupada e atrelada às
questões políticas.

O autor encerra a matéria dizendo que a contribuição de Portinari com um quadro


intitulado “Roda”, foi vendido em minutos e lista a participação de diversos artistas, e citando
alguns dos trabalhos expostos.

Notam-se alí, trabalhos de Pancetti, Burle Marx, Quirino Campofiorito, Bonadei, Durval
Serra, Manuel Serra, Iberê Camargo, Honório Peçanha, Landa, da Bessarábia, autor de ‘Mãe’,
da série ‘Refugiados’; Scliar, Inima; F. Blanco, italiano; Alípio Jaramillo, colombiano, autor
de ‘Alfarera’; Rubem Cassa; Worms; Santa Rosa; José Guimarães; Bruno Giorgi. Este artista,
brasileiro, esteve preso durante quatro anos na Itália fascista; Ceschintti, com um bronze
intitulado ‘Expulsão do Paraíso’; Pedrosa, com o seu ‘Atleta’, em bronze; Joaquim Tenzeiro,
português; Iberê Camargo, Poty, Haroldo Barros, Raul Devezza, Augusto Rodrigues, Silvia
Chairco e tantos e tantos outros. 291

Por fim, relata a palestra de Prestes, que falou sobre assuntos artísticos e políticos,
com destaque a questões da atualidade e com a apreciação dos presentes que, segundo o autor
do texto, o cercaram para ouvir. A importância dada à presença e ao prestígio de Luiz Carlos
Prestes é reiterada com a informação de que os pintores Quirino Campofiorito e Haroldo
Barros apresentaram retratos de Prestes, assim como o fotógrafo e cineasta Rui Santos
contribuiu com uma fotografia deste líder do PCB, obra esta descrita como expressiva e que
teria dominado o salão da exposição.

291
Tribuna Popular. 26-10-1945. RJ. Acervo BN.
180

No dia 11 de novembro de 1945, o jornal Tribuna Popular publicou mais uma matéria
sobre a Exposição intitulada “Artistas plásticos de todas as correntes homenageiam o Partido
Comunista” (Fig.108, Fig.109). O subtítulo dizia: “Uma grande exposição no Salão da Casa
do Estudante do Brasil – Trabalhos de mais de uma centena de expositores – Completo êxito
da inédita e proveitosa iniciativa”Abaixo, há uma fotografia com a legenda “Flagrante da
visita de Prestes a exposição da Casa do Estudante do Brasil”, e na imagem, está Prestes e
outros três homens.

Fig.108-Tribuna Popular, 11-11-1945. P.8. RJ. Fig.109-Tribuna Popular, 11-11-1945. P.8


Acervo BN. (detalhe). RJ. Acervo BN.

No texto o autor destacava a atração de visitantes e amigos do PCB à exposição, que


segundo ele se manteve grande. Novamente era enfatizado o ineditismo da mostra de arte pela
qualidade e quantidade de artistas expositores de quadros, esculturas, desenhos, gravuras e
fotografias, que o autor da matéria dizia serem de todas as correntes.

Em seguida, foram listados os nomes dos artistas que apresentaram trabalhos, mas são
acrescentados muitos nomes em relação a listagem da matéria de 26 de outubro, parecendo ser
181

a composição completa dos participantes da exposição. Eram quase noventa nomes em ordem
alfabética e sem a especificação da obra, mas que mostravam a grandiosidade do evento.

Aldary Toledo, Alcides da Rocha Miranda, Alfredo Ceschiatti, Aldo Bonadei, A. R. Risotti,
Aldemar Martins, Alípio Jaramillo, Antônio Augusto Gonçalves, Antônio Bandeira, Athos
Guicão, Augusto Rodrigues, Berco Udler, Bruno Giorgi, Bustamante Sá, Carlos Scliar,
Candido Portinari, Casimiro Ramos, Chiau Deveza, Clóvis Graciano, Darwin, Durval Serra, E.
P. Sigaud, Erico Blanco, Eduardo Canabarro Barreiros, Gilda Gelmin, G. Landa, Guttman
Richo, Hilda E. Campofiorito, Iberê Camargo, Inimá José de Paula, José Pancetti, José Alves
Pedrosa, Jorge de Lima, José Moraes, Jordão de Oliveira, Joaquim Tenreiro, J. Carvalho, José
Guimarães, José Menezes, Lélio Landucci, Lopes d’Azevedo, Maria de Lourdes, Mario
Zanini, Manoel Martins, Maria Leontina, Manoel Serra, M. Correa, Manoel Gaspar, Mario
Basbaum, Manoel Loureiro, Murilo de Souza, Oscar Meira, Osvaldo de Andrade Filho,
Otavio, Pedro Mandarino, Percy Deame, Poty, Quirino Campofiorito, Raul Devezza, Randolfo
Barbosa, R. M. Grimen, Roberto Burle Marx, Rubem Cassa, S. Pinto, Silvia Leon Chalreo,
Solano Trindade, Tomaz Santa Rosa, Théa, Ubi Bava, Virgínia Artigas, Wamberto Jacome,
Valdemar Aor, Zaque, Peçanha, Rui Santos, G. Vormis, Monoel Queiroz, Edíria, Heitor dos
Prazeres, F. Salgado, Haroldo Barros, Fernando B. , Luiz Jardim, Thiré e Paulo Werneck. 292

Adiante, o autor apresenta o que seriam as “impressões da exposição”, relatando que


ao chegar ao Salão da Casa do Estudante do Brasil os artistas Paulo Werneck, Raul e Chlau
Devezza, Oscar Niemeyer e Alcides Rocha Miranda, membros da Comissão de Organização,
o recepcionaram e travaram uma rápida conversa sobre detalhes do evento. Os artistas
expuseram suas impressões ressaltando que os contribuidores ofereceram espontaneamente
suas obras, e a maioria apresentou mais de um trabalho. A exaltação do evento foi reforçada
pelo depoimento de Oscar Niemeyer:

É a primeira vez – ressaltou Oscar Niemeyer – que vejo tão numeroso contingente de
artistas se reunir com tanta vontade e sem outros objetivos que o de mostrar sua solidariedade
ao povo por intermédio de seu legítimo representante que é o Partido Comunista. 293

E ainda Paulo Werneck, teria frisado a importância da Casa do Estudante que


contribuíra com o espaço para a exposição:

É preciso não esquecer a contribuição da Casa do Estudante para o êxito desta exposição. Sua
cooperação foi decisiva. É uma organização que está sempre pronta para apoiar
empreendimentos de caráter democrático, como o que ora estamos realizando 294.

O jornalista ressalta um ponto que lhe parece importante, que seria a existência de
trabalhos confeccionados por operários, dentre os quais destacaria: “entre outros os nomes de
Randolfo Barbosa, Heitor dos Prazeres e José Pancetti, os dois últimos figuras de grande

292
Tribuna Popular. 11-11-1945. RJ. Acervo BN.
293
Tribuna Popular. 11-11-1945. RJ. Acervo BN.
294
Tribuna Popular. 11-11-1945. RJ. Acervo BN.
182

projeção em nosso meio de arte.” Contudo, mesmo sendo artistas de “grande projeção” 295, a
característica que sobressaía era a origem operária destas figuras.

Do mesmo modo, destacava ainda o interesse que operários tinham na exposição


compondo uma “apreciável percentagem dos visitantes”, o que demonstra a intenção de
valorizar a presença de pessoas que foram ou que ainda eram operárias, pois assim mostrava-
se a estreita ligação do operariado com a exposição, e com o PCB, que a promovia.

Afirmava-se ainda o sucesso do evento ao dizer que a aquisição das obras estaria em
um ritmo acima do comum, o que reforçava a ideia de que esta exposição se destacou no meio
artístico brasileiro. Por fim, o texto é encerrado com o que seria a explicação do “sentido real
da exposição”, que estaria escrito no dístico na parede acima da mesa de assinaturas dos
visitantes:

Os artistas plásticos oferecem ao Partido Comunista do Brasil sua contribuição, afirmando


assim sua solidariedade na luta que o mesmo vem sustentando pela democratização do país e
melhoria da vida do povo brasileiro296.

Para o autor, não restariam dúvidas a respeito do significado da exposição, pois o


dístico dispensaria mais esclarecimentos. Confirmava-se a importância dos artistas plásticos
para o Partido, mostrando que eram atuantes e estavam dispostos a contribuir com a exposição
e com as causas encampadas pelo PCB.

A participação e presença destes artistas no Partido eram valorizadas pelo Tribuna


Popular, pois o retorno da sociedade era positivo para a organização partidária. Esta
exposição foi um evento articulador de vários artistas que reunidos confirmavam o grande
apoio recebido pelo Partido por parte da classe artística. Desta forma, mostra-se a importância
de ressaltar esta relação que reafirma o papel das artes visuais para o PCB, no que concerne à
presença das ilustrações, assim como das matérias sobre as artes e os artistas e culminando na
promoção desta exposição dos “artistas plásticos ao PCB”.

295
Tribuna Popular. 11-11-1945. RJ. Acervo BN.
296
Tribuna Popular. 11-11-1945. RJ. Acervo BN.
183

CONSIDERAÇÕES FINAIS
184

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa procurou-se desenvolver uma análise comparativa entre as ilustrações


do jornal Tribuna Popular e o realismo socialista soviético. Para tanto foi feito no Primeiro
Capítulo um estudo da relação que o Partido estabeleceu com as artes nos seus diversos
âmbitos e os artistas que se filiaram ao PCB. Desta forma, foi possível perceber que havia
defensores da aplicação dos preceitos do realismo socialista no campo do teatro, do cinema,
da música, da literatura, das histórias em quadrinhos e das artes plásticas. A partir do
panorama traçado, pôde-se compreender um pouco de como cada forma de expressão artística
poderia contribuir com o objetivo do Partido de levar os ideais comunistas para o maior
número possível de pessoas, que se configuravam na chamada classe trabalhadora.

Em seguida, procurou-se definir o realismo socialista , entender como surgiu e se


desenvolveu na União Soviética, percorrerendo diferentes expressões das artes plásticas nas
quais se aplicaram estes preceitos. Pôde-se observar que as artes gráficas soviéticas
mostravam pessoas felizes com o trabalho, vitoriosas nas guerras, dispostas a seguir a favor
da situação em que viviam. Foi dada atenção especial à produção de artes gráficas , como
cartazes e ilustrações de jornais, pois este tipo de arte seria analisado nos capítulos seguintes.

Após a compreensão do estado da arte na URSS e da configuração política que a


propiciou procurou-se mostrar a conformação política do PCB no período específico em que
esta pesquisa se desenvolveu: de 1945 a 1947. Compreendendo, portanto, três anos que o
Partido esteve na legalidade, e que apesar de parecerem breves se mostraram de grande
efervescência política e cultural. Este momento foi antecedido por dez anos de ilegalidade e
sucedido por quase quarenta anos, o que mostra a importancia destes três anos na história do
PCB.

Ainda foi apresentada a rede de publicações do PCB conhecida como Imprensa


Popular. Esta rede compreendia desde editoras até revistas teóricas mensais ou quinzenais,
jornais semanais e diários que apresentavam conteúdo de acordo com as diretrizes do Partido.
Foi dada maior atenção aos jornais diários que circularam com modelo semelhante em dez
capitais de Estados brasileiras, apresentando linguagem mais acessível e com conteúdo que
procurava se aproximar do dia a dia das pessoas.

O jornal Tribuna Popular se enquadrava nesse grupo de jornais diários, e circulava no


Rio de Janeiro, então capital federal. No Segundo Capítulo buscou-se analisar este jornal que
185

era o suporte de ilustrações que seriam analisadas mais adiante. Para tanto, fez-se necessária a
compreensão de sua estrutura, configuração e importância da publicação para o PCB. Desta
forma, foi feita uma apresentação da formação do jornal e de sua proposta através,
principalmente, do discurso de Luiz Carlos Prestes no primeiro número do Tribuna Popular.

Em seguida foi analisada a construção do jornal, seu corpo editorial e as formas de


sustentação financeira mostrando as campanhas de arrecadação de fundos e a venda de ações
como estratégia. Foi dada atenção aos variados anunciantes do periódico e observado que não
eram necessariamente comunistas e seus anúncios não faziam referência a causa do PCB.

A estrutura e as sessões do jornal foram analisadas observando-se a ocorrência d um


padrão. Mesmo este padrão sofrendo pequenas modificações ao longo dos três anos de
circulação do periódico, ele se manteve semelhante neste período. Sua organização mostra
que era feito por profissionais que o projetaram estrategicamente. A disposição dos temas
segue uma ordem que atrai o leitor e ao mesmo tempo mescla assuntos do cotidiano e de
lazer com temas da ação do Partido, da política nacional e internacional.

De modo mais detido foi analisado um exemplar do Tribuna Popular com o intuito de
investigar os tipos de temáticas tratadas no jornal de um modo geral. A partir de então, pode-
se notar a recorrência de temas tanto ligados às alegrias quanto às dores e lutas dos
trabalhadores.

Por fim, foi tratada a repressão sofridas pelo PCB e o fim do jornal mostrando como
isso ocorreu, as invasões da polícia política na redação e os empastelamentos que sofreu. Foi
analisada ainda as razões para a volta do Partido à ilegalidade relacionando este processo ao
fim do jornal.

No Terceiro Capítulo objetivou-se compreender as ilustrações per si, comparando-as


com um material de aplicação direta das diretrizes do realismo socialista para o
desenvolvimento artístico na URSS: os cartazes soviéticos. Estas ilustrações foram analisadas
compreendendo as suas similaridades e distinções com os cartazes, e foram separados por
temas que facilitaram a visualização destas características, tornando possível observar a
relação estabelecida entre as ilustrações e o realismo socialista soviético. Desta forma,
mostrou-se que estas ilustrações exemplificam as ressonâncias do realismo socialista no
Brasil através deste periódico do PCB, o Tribuna Popular.
186

Através desta pesquisa pode-se perceber que no contexto artístico soviético o realismo
socialista serviu como arte oficial que mostrava o êxito da revolução, sem evidenciar as
contradições sociais, onde o trabalhador não era explorado por outra classe, a burguêsa. Esta
visão de mundo que procurava-se transmitir pautava-se no maniqueismo entre o proletariado e
a burguesia, idealizando os proletários como de boa moral, dignos e corretos, enquanto os
burgueses eram caracterizados como o extremo oposto, produzindo estereótipos.

A análise das ilustrações do Tribuna Popular permitiu mostrar que são exemplos da
adaptação do realismo socialista ao contexto brasileiro. Neste período de análise (1945-1947)
o PCB se reestruturava e se apresentava como opositor do governo vigente. O Brasil não vivia
sob o comunismo como a URSS, o PCB era um partido atuante e que mostrava sua
insatisfação com a política nacional e com as condições de trabalho, miséria, moradia,
transporte, educação e saúde da maioria da população rural e urbana. O papel político
desempenhado pelo Partido Comunista no Brasil era de denúncia dos problemas do
trabalhador.

Desta forma, os desenhos no jornal apresentaram características do realismo socialista


em relação à forma e ao conteúdo mas congruentes com a realidade brasileira e com a
mensagem que o PCB queria passar. Além disso estavam de acordo com técnicas da vertente
soviética como traços realistas, contrastes entre branco e preto, sombreamento para a ideia de
movimento. Demonstra-se assim, que houve no Brasil uma versão das propostas do realismo
socialista, e a possibilidade de se desenvolver esta vertente fora da URSS. No entanto, a
adaptação às condições brasileiras proporcionaram particularidades à esta versão de acordo
com a conjuntura política nacional explicitada. Enquanto na URSS se exaltava as condições
de vida e as conquistas comunistas, no Brasil o posicionamento não poderia ser outro senão
de crítica. Desta forma, o realismo socialista soviético não poderia ser apenas transposto para
o Brasil, ele precisava ser adaptado.

Ainda neste Terceiro Capítulo foi tratada a relação do PCB com as artes e os artistas
plásticos através das páginas do Tribuna Popular . Obsrvando-se que a participação de
artistas no Partido eram valorizadas pelo jornal, assim como as exposições e declarações
sobre arte destes e outros artistas comunistas do mundo.

Por fim, foi analisada a exposição “Os artistas plásticos ao PCB” através do Tribuna
Popular. Este evento ocorreu em 1945 e sua análise foi importante para compreender como se
187

deu o envolvimento de artistas que organizaram e contribuíram com obras de arte, assim
como a forma que o jornal divulgou e apoiou a realização do evento, mostrando a sua
relevância para o PCB.

A relação do Partido Comunista do Brasil com as artes e mais especificamente com o


realismo socialista apresenta muitas possibilidades para a historiografia. O desenvolvimento
desta pesquisa procurou contribuir no que concerne às artes visuais. Portanto, esta pesquisa
leva ao entendimento de que havia uma cultura visual comunista materializada nas ilustrações
do Tribuna Popular, e ainda que os artigos publicados no jornal sobre arte, artistas e
exposições procuraram construir uma visão sobre as artes. Os desenhos que ilustraram este
jornal contribuíram para a construção de um olhar comunista nas artes plásticas e
apresentaram uma iconografia do trabalhador de um modo geral. De tal modo, o PCB
promoveu a construção desta cultura visual comunista no Brasil, para a qual o Tribuna
Popular teve papel fundamental.

O estudo destas ilustrações e o entendimento do que as cercava é importante, inclusive


para trazer à tona a problemática em torno das ressonâncias do realismo socialista no Brasil,
do jornal Tribuna Popular no qual eram veiculadas e da relação de artistas com o PCB.
Destaco ainda o estudo de um lado ainda pouco conhecido da produção artística do artista
Paulo Werneck que realizou a maioria das ilustrações do Tribuna Popular.
188

REFERÊNCIAS

Periódicos

Tribuna Popular. 18-05-1945. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 22-05-1945. Capa. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 29-05-1945. p.2. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 23, 24, 29 e 31 de maio e 05, 07,09 e 13-06-1945. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 01-07-1945. Sobre o gosto estético. P. 9 e 10. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 15-07-1945. Como me tornei comunista, por Pablo Picasso. P.9 e 10. RJ.
Acervo BN.

Tribuna Popular, 05-08-1945. P.10. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 05-08-1945. Artes plásticas na União Soviética. p. 10 e 11. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 05-08-1945. Picasso fala de arte e política, por Jerome Seckeler. P.10. RJ.
Acervo BN.

Tribuna Popular. 19-08-1945. Retornam as obras de arte. P.12. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 21-08-1945. Em benefício da casa do expedicionário p.8. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 22-08-1945. Os artistas que ajudaram a libertar a França. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 28-08-1945. Fala à Tribuna Popular, o pintor Carlos Scliar, como
expedicionário e como artista. Capa. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular, 16-09-1945. Suplemento literatura arte divulgação ciência. P.1. RJ. Acervo
BN.

Tribuna Popular. 23-09-1945. Clóvis Graciano, um artista do povo, de Rui Facó e Rui
Santos. Suplemento Literatura e Arte. p.9. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 26-09-1945. Ensino de artes e ofícios. p.4. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 30-09-1945. Depoimento do embaixador do Uruguai em Moscou sobre a


vida cultural e artística na URSS. P.9. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 11-10-1945. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 11-10-1945. Recordando as torturas do Cárcere. Capa. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 16-10-1945. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 26-10-1945. RJ. Acervo BN.


189

Tribuna Popular. 11-11-1945. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 11-11-1945. Exposições de arte na URSS. P.12. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 16-11-1945. Exposição em São Paulo.Capa e p.2. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 28-11-1945. Com o candidato do Povo, os artistas plásticos do Brasil. P.3.
RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 05-12-1945. Impedida pelo prefeito paulista a exposição de Portinari. Capa
e p.2. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 0 8-12-1945. Picasso reclama auxilio para os republicanos espanhóis que
estão na França. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 13-12-1945. Protestam os pintores mexicanos contra uma atitude


antidemocrática do prefeito paulista. Capa e p.2. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 15-12-1945. Aos artistas plásticos – convite à reunião da classe. p.2. RJ.
Acervo BN.

Tribuna Popular. 16-12-1945. Criarão os artistas plásticos o seu sindicato de classe. capa e
p.2. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 19-12-1945. Artistas plásticos pró-sindicato. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 22-12-1945. Cartazes soviéticos serão expostos na União Eslava. P. 2. RJ.
Acervo BN.

Tribuna Popular. 09-01-1946. Mais um notável artista ingressa no partido do povo. capa.
RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 30-01-1946. Em memória do maior interprete da paisagem russa- Isaac


Levitas. P. 4. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 24-03-1946. Candido Portinari vai expor em Paris, por Aydano do Couto
Ferraz e Rui Santos. P.8. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 26-03-1946. Os artistas à disposição do povo. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 29-03-1946. O novo na arte, ciência ou política, na 4ª na ABI. RJ. Acervo
BN.

Tribuna Popular. 17-04-1946. Comitê dos Artistas Plásticos. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular, 21-04-1946. Relação dos artistas que receberam em 21/04/1946 “carnet”
de membros do PCB das mãos de Luiz Carlos Prestes no Teatro Ginástico. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 16-05-1946. O embaixador soviético visitou ontem a escola de Belas Artes.
RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 16-05-1946. O embaixador soviético visitou ontem a escola de Belas Artes.
p.8. RJ. Acervo BN.
190

Tribuna Popular. 28-05-1946. Exposição de Pancetti na Galeria Montparnasse em


Copacabana. P.3. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 29-05-1946. A exposição de Pancetti em Copacabana. P.2. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 14-04-1946 e 21-06-1946. Os artistas plásticos contra o imperialismo e


Protestam os artistas plásticos contra a violência de Imbassaí e Pereira Lira. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 28-07-1946. Pancetti, o genial pintor brasileiro, cuja obra é hoje
mundialmente conhecida. P.3. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 10-09-1946. Portinari, um Amigo da França e da Humanidade, por J.B.


P.3. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 28-09-1946. Portinari expõe em Paris- na galeria Charpentier Capa. RJ.
Acervo BN.

Tribuna Popular. 04-10-1946. União Soviética. p.8. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 8-10-1946. A exposição de Portinari. Capa. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 8-10-1946. Um pintor, um homem: Portinari, por Anatole Jakovsky. P.3.
RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 12-10-1946. Grande Contribuição dos artistas plásticos para a campanha
Pró-Imprensa Popular. p.8. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 13-10-1946. Portinari, pintor do povo brasileiro, por Léopold Duvand.P.3.
RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 23-10-1946. Prefácio ao catálogo da Exposição Portinari, por Jean Cassou.
P.3. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 10, 12, 25, 27 e 29-10-1946. RJ. Acervo BN..

Tribuna Popular. 07-11-1946. Portinari e a verdadeira arte: na sua exposição não há


quadros ornamentais, por Sally Swing.Capa e P.2. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 11-11-1946. Candido Portinari artista do povo. Suplemento Literatura e


Arte. p.9. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. Artistas Plásticos. 22-11-1946. Rio de Janeiro. Acervo Biblioteca Nacional.

Tribuna Popular, 12-01-1947. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular, 15-01-1947. Capa. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 04-03-1947. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 16-03-1947. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 10-05-1947. RJ. Acervo BN.


191

Tribuna Popular. 22-05-1947. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular, 21-06-1947. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular. 02-12-1947. RJ. Acervo BN.

Tribuna Popular, 18-12-1947. RJ. Acervo BN.

Arquivos

Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ)

Fundação Biblioteca Nacional (BN)

Documentos

Fundo Polícias Políticas do Rio de Janeiro (PPRJ). Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3.
p. 451 a 461. APERJ.

Fundo PPRJ. Pasta Comunismo. Delegacia de Segurança- RJ, 1946. Acervo de Imagens.
APERJ.

Fundo PPRJ. Setor Administração. Pasta 1M. P. 1- 97. APERJ

Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 23. Dossiê 3. Maço 3. APERJ

Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 23. Dossiê 3. Maço 1. P. 14. 3-12-1947. APERJ.

Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 23. Dossiê 3. Maço 1. P. 17. 03-12-1947. APERJ.

Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 2L cont. APERJ.

Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 5. Dossiê 5. APERJ.

Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 5. Dossiê 5. APERJ.

Fundo PPRJ. Setor Comunismo. Pasta 70. P. 20. APERJ.

Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Dossiê 1. Maço 3. P. 451 a 461. APERJ.

Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Maço 3. Dossiê 1. P. 437 a 440. APERJ

Fundo PPRJ. Setor Político. Pasta 3B. Maço 3. Folhas 401 a 520. Dossiê 1. APERJ.

Fundo PPRJ.Setor Político. Pasta 3B. P. 468 até 471. APERJ.


192

Bibliografia

ABREU, Alzira Alves de (coord.); et al. Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930.
2ª ed. Ed. FGV. Rio de Janeiro, 2001.

AMARAL, Aracy. Arte para que? A preocupação social na arte brasileira 1930-1970.
Studio Nobel, 2003.

ARAUJO, Mônica da Silva. A arte do partido para o povo: o realismo socialista no Brasil e
as relações entre artistas e PCB (1945-1958). Dissertação de Mestrado. UFRJ/IFCS-
PPGHIS. Rio de Janeiro, 2002.

ARGAN, Giulio. Clássico e Anticlássico. O Renascimento de Brunelleschi a Bruegel.


Companhia das Letras. São Paulo, 1999.

ARICÓ, José. O marxismo latino-americano nos anos da Terceira Internacional. In:


HOBSBAWM, Eric. (org.) História do Marxismo. Paz e Terra, 1989. Volume VIII.

BADARÓ, Marcelo. (org.) Livros Vermelhos: Literatura, trabalhadores militância no Brasil.


Faperj/Bom Texto. Rio de Janeiro, 2010.

BARATA, Agildo. Vida de um revolucionário. Editora Melso S/A. Rio de Janeiro, s/d.

BAXANDALL, Michael.O olhar renascente: pintura e experiência social na Itália da


Renascença. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1991.

BENÉVOLO, Hélio. Relembranças. Edição do autor. Rio de Janeiro, 2003.

BENTO, Antônio. Portinari. Léo Christiano Editorial Ltda. Rio de Janeiro, 2003.

BETHEL, Leslie e ROXBOROUGH, Ian. (Org.) A América Latina entre a Segunda Guerra
Mundial e a Guerra Fria. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1996.

BOWN, Mathew Cullerne. Art Under Stalin. Holmes & Meier. Nova York, 1991.

BRAGA, Sergio Soares. Quem foi quem na Constituinte de 1946 – um perfil socioeconômico
e regional da Constituinte de 1946. Câmara dos Deputados. Brasília, 1998. Volumes 1 e 2.

BUONICORE, Augusto. Comunistas, Cultura e Intelectuais entre os anos de 1940 e 1950.


Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/032/32cbuonicore.htm , acessado em
25-09-2010.

CARONE, Edgar. O Estado Novo (1937-1945). DIFEL. Rio de Janeiro. 1976.

CARONE. O PCB- 1943 a 1964. Difel, 1982. Volume II.

CARREIRO, Wagner Sant’ Anna do Valle. Universidade do Povo: Projeto Educacional ou


Político? Monografia de Graduação em História. Orientador: Sydenham Lourenço Neto.
FFP-UERJ. 2009.

FADEIEV, Aleksandr. Sobre a cultura soviética. Literatura soviética, nº 2, Moscou, 1950.


193

FILHO, Daniel Aarão Reis. Entre reforma e revolução: a trajetória do Partido Comunista no
Brasil entre 1943 e 1964. In: RIDENTI, Marcelo; FILHO, Daniel Aarão Reis (Orgs.) História
do Marxismo no Brasil. Unicamp, 2002.

GAWRYSEWSKI, Alberto. Arte visual comunista: imprensa comunista brasileira, 1945-


1958. Coleção História na Comunidade. Volume IV. LEDI. Londrina, 2010.

GUIMARÃES, Valéria Lima. O PCB cai no samba: os comunistas e a cultura popular 1945-
1950. APERJ. Rio de Janeiro, 2009.

HARRISON, Charles et. al. Arte Moderna Práticas e Debates. Cosac e Naify, 1998. Vols. I e
III.

HERNÁNDEZ, Mariela Brazón. Sobre a historiografia da arte oitocentista e as revisões


efetuadas durante as últimas décadas do século XX. 19&20. Rio de Janeiro, v. V, n. 1, jan.
2010. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/ha/brazon.htm>. Acesso em 04-02-
2013.

HILDA e Quirino Campofiorito: Vida e Obra. Fundação de Arte de Niterói, 2002. e


http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_
bio grafia&cd_verbete=3083&cd_item=1&cd_idioma=28555 .

HOBSBAWN, Eric. (org.) História do Marxismo. XII volumes. Paz e Terra, 1989.

HONS, André de Seguin des. Os diários do Rio de Janeiro, 1945-1982. Dissertação de


Mestrado. IFCS/PPGHIS- UFRJ. Rio de Janeiro, 1982.

KNAUSS, Paulo. O desafio de fazer História com imagens: arte e cultura visual. In:
ArtCultura, v. 8, n. 12. Jan.-jun. Uberlândia, 2006. P. 97-115.

KONDER, Leandro. Alguns problemas do realismo socialista. In: Estudos Sociais. Nº 17, jun-
1963.

LENIN, Vladimir. Que fazer? Huicitec. São Paulo, 1979.

LIMA, Pedro Motta. Nossa Imprensa, a melhor arma do povo. In: Tribuna Popular. 02-10-
1946. 4ª feira, p.3. nº 408, Ano II.

MARTINELLI, Sérgio. Vera Cruz - Imagens e História do Cinema Brasileiro. Abooks. 2002.

MARTINS, Carlos. (coord.). Catálogo Paulo Werneck muralista brasileiro. Paço Imperial,
2008.

MATTOS, Marcelo Badaró. Literatura militante entre o modernismo e o realismo socialista: o


Parque industrial de Patrícia Galvão; MELLO, Marisa Schincariol. Encarcerando ideias:
Graciliano Ramos, Jorge Amado e o realismo socialista (1945-1953). In: MATTOS, M.B.
Livros Vermelhos: Literatura, trabalhadores e militância no Brasil. Faperj/Bom Texto. Rio
de Janeiro, 2010.

MORAES, Dênis de. O imaginário vigiado. A imprensa comunista e o realismo socialista no


Brasil (1947-53). José Olympio. Rio de Janeiro, 1994.
194

NOGUEIRA, Hélio Benévolo Entrevista ao autor, na cidade do Rio de Janeiro, 20/10/2003.


In: GAWRYSEWSKI, Alberto. Arte visual comunista: imprensa comunista brasileira, 1945-
1958. Coleção História na Comunidade, v. 4. LEDI. Londrina, 2010.

POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Comunicação, cultura de esquerda e contra-hegemonia: o


jornal Hoje (1945-1952). Tese de doutorado. PPGCOM da ECA- USP. São Paulo, 2006.

RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luis Felipe (org.). Enciclopédia do Cinema Brasileiro.
SENAC. Rio de Janeiro, 2004.

REZNIK, Luís. Democracia e segurança nacional: a polícia política no pós-guerra. Cap. 3.


FGV. Rio de Janeiro, 2004.

RUBIM, Antonio Albino Canelas. Marxismo, Cultura e Intelectuais no Brasil. In: MORAES,
João Quartin (org.). História do Marxismo no Brasil. Unicamp. Campinas, 1988. Volume III.

SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na Idade
Média. EDUSC. São Paulo, 2007.

SCLIAR, Carlos. Depoimento a autora. Rio de Janeiro, 30-01-1982. Apud AMARAL, Aracy.
Arte para que? A preocupação social na arte brasileira 1930-1970. Studio Nobel, 2003.

SEGATTO, José Antonio. Breve História do PCB. Editora Ciências Humanas, São Paulo.
1981.

SEGRILLO, Angelo. Rússia e Brasil em transformação. Uma breve história dos partidos
russos e brasileiros na democratização política. 7letras. Rio de Janeiro, 2005.

SOUSA, Raimundo Alves de. Os desconhecidos da história da Imprensa Comunista.


Fundação Dinarco Reis. Rio de Janeiro, 2005.

STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. In: HOBSBAWM, Eric.


(org.). História do Marxismo. Paz e Terra, 1989. Volume XI.

STRADA, Vittorio. Do “realismo socialista” ao zdhanovismo. In.: HOBSBAWM, Eric. (org.)


História do Marxismo. Paz e Terra, 1989. Volume XI.

WILLETT, John. Arte e revolução. In: HOBSBAWM, Eric. (org.) História do Marxismo. Paz
e Terra, 1989. Volume IX.

WOOD, Paul. Realismos e Realidades. Capítulo 4. In: FER, Briony; BATCHELOR, David;
WOOD, Paul. Arte Moderna: Práticas e Debates. Realismo, Racionalismo, Surrealismo: A
Arte no Entre-Guerras. Cosac e Naif, 1998.

ZDHANOV, Andrei. A Tendência Ideológica Da Música Soviética. In: Problemas - Revista


Mensal de Cultura Política nº 21 - Outubro de 1949.
195

Sites:

http://www.fazenda.gov.br/portugues/salariominimo/salario_evolucao.asp acesso em 20-03-


2013, acesso em 20-03-2013.

http://www.bcb.gov.br/?PADMONET, acesso em 20-03-2013.

http://www.sovietposters.com/index.php , acesso em 15-03-2013

Você também pode gostar