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GABARITO DA 1a PROVA DE FUNDAMENTOS DE MECÂNICA - 08:00 - 23/09/2023

Parte A - Questões (22 pontos, 5,5 pontos por questão): Diante de cada pergunta ou afirmação abaixo,
responda ou corrija aquelas que estiverem errado e (mesmo se a afirmativa estiver correta) justifique com
suas palavras (use equações) o seu raciocı́nio.
Q1. Considere um pêndulo constituı́do de uma massa que oscila, pendurada por um fio
sem massa e de comprimento constante. A velocidade da massa é nula nas extremi-
dades do arco (pontos A e B), mas a aceleração se anula no ponto onde a velocidade
é máxima (C).
A afirmativa tem uma parte CORRETA e outra INCORRETA. Está correto afirmar que
a velocidade do pêndulo é nula nas extremidades do arco, pois são os pontos de retorno da
massa. Mas, ao passar pelo ponto de maior velocidade, C, a massa está em um movimento
circular, que possui, no mı́nimo, uma aceleração centrı́peta, não nula. No movimento do A B
pêndulo, a massa está sempre acelerada, inclusive nos pontos onde está parada. C
Q2. Considere dois corpos de mesma forma e mesmo volume, mas com massas diferentes. Considere,
ainda, que para uma determinada forma, a resistência do ar só depende da velocidade, sendo sempre
oposta a ela e aumenta linearmente com ela. Se forem atirados verticalmente para cima com a
mesma velocidade, o de massa menor começa a cair (ou seja para de subir) antes do que o de massa
maior.
A afirmativa está CORRETA. Os dois corpos, de formas e volumes iguais, mg + Fa,i=ma Mg + Fa,i=Ma
mas de massas (e pesos) diferentes, são lançados para cima com a mesma
velocidade. Atuam neles o peso e a resistência do ar, Far , ambas para Fa,i
baixo. Considerando positivo para baixo, a aceleração deles para baixo é mg Fa,i
a = g + Fmar . Como inicialmente a velocidade e Far são as mesmas para Mg
os dois, a aceleração do de massa menor desde o inı́cio é maior em módulo
que a aceleração do de massa maior. Portanto ele diminui de velocidade
mais rapidamente. Sempre que a velocidade dos dois for para cima e igual
em módulo, e Far for igual para eles, o de menor massa vai diminuir de
velocidade mais rápido, Portanto ele vai parar antes que o de massa maior.
Q3. Uma pessoa tem que deslocar uma caixa de massa M por um plano
horizontal com atrito, conforme a figura. Em qual das situações ela
θ
fará força maior? Justifique.
Na caixa atuam (1) a Terra, fazendo o seu PESO, (2) o plano, fazendo (a)
uma força NORMAL e uma força de ATRITO, e (3) a força da pessoa. M
A única dessas forças que não muda nas duas situações é o peso. Na com atrito
situação (a) a força que a pessoa faz na caixa possui uma componente
para cima que, junto com a normal, equilibra o peso (pois a caixa não
acelera na vertical). Como o peso não varia, a normal do plano sobre θ
a caixa é menor na situação (a) que na situação (b). Na horizontal, a (b)
força de atrito irá se opor ao movimento da caixa. O valor máximo da M
força de atrito depende diretamente da força NORMAL existente entre
o plano e a caixa, Com isso, a pessoa terá que fazer uma força maior na com atrito
situação (b) que na (a), para que a componente horizontal dessa força
consiga pelo menos equilibrar o atrito e movimentar a caixa com velocidade constante. O pior é que, na
situação (b), quando mais força a pessoa faz, mais atrito a caixa pode sofrer.
Q4. Sejam ~a, ~b e ~c três vetores não nulos. Se ~a · ~b = ~a · ~c, podemos garantir que os vetores ~b e ~c são
iguais.
A afirmativa está INCORRETA. De acordo com a definição de produto escalar, temos que ~a ·~b = ab cos θab
e ~a · ~c = ac cos θac , onde θab é o ângulo entre os vetores ~a e ~b e θac é o ângulo entre os vetores ~a e ~c.
Então, ab cos θab = ac cos θac e podemos garantir que b cos θab = c cos θac . Se os ângulos não forem iguais,
os vetores ~b e ~c serão diferentes (mas terão a mesma componente ao longo de ~a).
Parte B - Problemas (78 pontos, 26 pontos por problema):
P1– (08:00) Um cineasta filma a erupção de
um vulcão e, num certo instante, ele regis-
tra um bloco de massa m sendo arremes-
sado fazendo um ângulo θ com a horizon-
tal, partindo da boca do vulcão de uma al- θ
tura H a partir do solo. Ele acompanha o
movimento do bloco e o filma batendo no
solo, como na figura, um tempo T após ser
lançado. Despreze a resistência do ar e res- H
ponda em termos de g, m, H, θ, e T .
P1.1– Calcule, o módulo da velocidade do bloco
no momento que ele foi arremessado da boca D
do vulcão e começou a ser filmado, V0 .
P1.2– Calcule, a distância horizontal, D, que o bloco percorreu do instante em que foi arremessado da
boca do vulcão até o momento que se chocou com o solo.
Solução
Trata-se de um movimento de projétil, onde a aceleração é constante, igual a zero na direção horizontal
e igual a g para baixo na direção vertical. As equações que regem esse tipo de movimento são
horizontal : x = x0 + V0,x t e Vx = V0,x (1)
1 2
vertical : y = y0 + V0,y t + 2 ay t e Vy = V0,y + ay t (2)

P1.1– Considerando o eixo y positivo para cima e o eixo x positivo para a direita na figura, podemos
usar a primeira das Eqs. (18), para y. Sabendo que, ao chegar ao solo, o bloco possui y = 0, ao partir da
boca do vulcão, possui y0 = H, que ficou um tempo T no ar, sob uma aceleração ay = −g e que partiu
com sua velocidade fazendo um ângulo θ com a horizontal:
1 2
1 1 2 gT −H
0 = H + V0,y T + (−g)T 2 = H + V0 sen θT − gT 2 ou V0 = (3)
2 2 (sen θ)T

P1.2– Durante o tempo T em que ficou no ar, a aceleração horizontal do bloco foi nula e sua velocidade
constante, como nas Eqs. (1). Nesse tempo, seu deslocamento foi x − x0 = D. Então,
1 2
2 gT
−H 1 2
 
x − x0 = D = V0,x T = V0 cos θT = cos θT = gT − H cot θ (4)
(sen θ)T 2

P2– (08:00) Considere o sistema da figura ao lado. O bloco


de forma triangular possui massa M e o que está sobre µ2 m
ele, m. A rampa do bloco de baixo faz um ângulo θ
com a horizontal. O coeficiente de atrito cinético entre F
µ1
o bloco de massa M e a superfı́cie do piso é µ1 . Existe M
atrito entre os dois blocos, de coeficiente µ2 (estático θ
igual ao cinético), mas este é pequeno e insuficiente 1111111111111111111111111
0000000000000000000000000
para manter o bloco de massa m parado sobre o de baixo, se o de baixo estiver parado. Uma força F
é aplicada sobre o bloco de baixo, como na figura, para acelerá-lo de tal forma, que o bloco de cima
não deslize sobre o de baixo, enquanto o conjunto se movimenta sobre o piso. Uma força F é feita de
forma que o conjunto se movimente sobre o piso, mas o bloco de cima continue sem se movimentar
sobre o de baixo, com a força de atrito estático entre os blocos estando em seu limite máximo (o
bloco de cima está na iminência de começar a SUBIR sobre o de baixo). Dê suas respostas em
termos de g, M , m, µ1 , µ2 e θ.

P2.1– Faça o diagrama de forças nos dois blocos, enquanto há movimento, mas o de cima não se move
sobre o de baixo. Marque quais dessas forças são pares de ação e reação. Faça outro desenho e
separe os blocos para maior clareza.
P2.2– Calcule o valor da normal entre os blocos nessa situação.
P2.3– Calcule a aceleração máxima do conjunto.
P2.4– Determine o valor máximo da força F . θ
Solução
P2.1– Ao lado está o diagrama de forças em cada um dos
N θ
corpos. Com exceção da força F , do enunciado do proble-
ma, todas as forças são mostradas em azul. No de massa Fa2
m atuam seu peso, mg (reação na Terra, não mostrada na mg
figura), a normal N com o bloco de baixo, que possui a
reação N que atua no bloco de baixo (mostrada na figura
entre as forças que atuam em M e ligada com uma linha
N1
tracejada vermelha). Finalmente, atua no bloco m uma F
força de atrito. Coloquei essa força de atrito para baixo, já
Fa2
θ Fa1
que a tendência do bloco m é de subir sobre o bloco maior,
friccionando-o para cima. Essa força, Fa2 , é causada pelo N
bloco M , que sofre a reação (também mostrada na figura
entre as forças que atuam em M e ligada com uma linha Mg
tracejada vermelha). Não há mais forças atuando em m.
No bloco maior, de massa M , além das forças N e Fa2 , causadas pela interação com o bloco de cima, e
da força F do enunciado (única em preto). atuam ainda: o seu peso, M g (reação na Terra, não mostrada
na figura), a normal N1 causada pelo piso (reação no piso, não mostrada na figura), e a força de atrito
cinético com o piso, Fa1 (reação no piso, não mostrada na figura).
P2.2– Analisando o enunciado do problema, verificamos que o bloco de massa m se movimenta somente
na horizontal, sem subir ou descer sobre o bloco de massa M . Com isso, podemos garantir que sua
aceleração na vertical é nula. Usando o sistema de coordenadas desenhado na figura acima, podemos
escrever:
N cos θ + (−Fa2 sen θ) + (−mg) = 0. (5)
O enunciado do problema diz para calcular o valor da normal na situação limite, quando o bloco menor
está na iminência de subir sobre o maior. Nesse caso, a força de atrito aponta para baixo da rampa de
M e seu valor vale µ2 N . Substituindo esse valor na Eq. (5),
mg
N cos θ − µ2 N sen θ = mg ou N (cos θ − µ2 sen θ) = mg e N= (6)
cos θ − µ2 sen θ

P2.3– Para calcular o valor da aceleração nessa situação, vamos analisar a direção horizontal das forças
que atuam em m
N sen θ + Fa2 cos θ + 0 = ma. (7)
Substituindo o valor de Fa2 =µ2 N ,

N sen θ + µ2 N cos θ = N (sen θ + µ2 cos θ) = ma. (8)

Utilizando o valor de N encontrado na Eq. (6),


mg sen θ + µ2 cos θ
   
(sen θ + µ2 cos θ) = ma ou a=g . (9)
cos θ − µ2 sen θ cos θ − µ2 sen θ

P2.4– Para calcular o valor da força F , no caso do sistema ter a aceleração encontrada pela Eq. (9),
temos que analisar o corpo de massa M (veja a figura com as forças). Como acontece com o corpo de
massa m, não há aceleração na direção vertical para M . Considerando positivo para cima:

N1 + (−M g) + Fa2 sen θ + (−N cos θ) + 0 + 0 = 0 (10)


ou, lembrando que Fa2 =µ2 N e usando o valor de N encontrado na Eq. (6),
!
cos θ − µ2 sen θ

N1 = M g + N (cos θ − µ2 sen θ) = g M + m = (M + m)g. (11)
cos θ − µ2 sen θ

Como seria de se esperar, uma vez que o bloco menor não se movimenta verticalmente sobre o maior,
a normal N1 sustenta o peso dos dois blocos. Na horizontal, por sua vez, temos, considerando positivo
para a esquerda,
0 + 0 + (−Fa2 cos θ) + (−N sen θ) + (−Fa1 ) + F = M a (12)
ou
F = M a + N sen θ + Fa2 cos θ + Fa1 . (13)
Como antes, Fa2 =µ2 N e N é dado pela Eq. (6). O valor de Fa1 é µ1 N1 , onde N1 é dado pela Eq. (11).
Finalmente, o valor de a foi encontrado na parte anterior e é dado pela Eq. (9):

F = M a + N (sen θ + µ2 cos θ) + µ1 N1 , (14)

que, usando as Eqs. (9), (6) e (11),

sen θ + µ2 cos θ sen θ + µ2 cos θ


   
F = Mg + mg + µ1 (M + m)g (15)
cos θ − µ2 sen θ cos θ − µ2 sen θ
que, agrupando e simplificando, resulta em
" #
sen θ + µ2 cos θ

F = (M + m)g + µ1 (16)
cos θ − µ2 sen θ

P3– (08:00) Você está na gôndola de um balão de gás, quando percebe que ele começa a descer com
aceleração constante a(< g). A massa do balão com toda sua carga (inclusive você) nesse instante é
M . A carga possui alguns blocos de chumbo de lastro. Supondo que o empuxo do ar sobre o balão,
Far , não se altere, calcule (em termos de M , a, Far e g) qual carga de lastro que deve ser jogada para
fora do balão para que ele passe a se acelerar para cima com aceleração de mesmo módulo a.
Solução
Quando o balão está descendo com aceleração a, atuam no conjunto as seguintes forças: o peso do
balão, M g, e o empuxo do ar sobre o balão, Far . Pela segunda Lei de Newton, considerando positivo
para cima,
Far − M g = −M a. (1)
Uma certa massa m de lastro deve ser jogada para fora do balão, de modo que ele inversa sua aceleração.
As forças que atuam no balão continuam sendo seu peso, agora modificado pela perda de massa, (M −m)g,
e o empuxo do ar sobre o balão, Far , que permanece inalterado. A segunda Lei de Newton agora é (ainda
considerando positivo para cima e lembrando que a massa do balão diminuiu)

Far − (M − m)g = (M − m)a. (2)

Subtraindo a Eq. (2) da Eq. (1), temos

Far − M g − [Far − (M − m)g] = −mg = −M a − [(M − m)a] = −2M a + ma,

que pode ser resolvida para m, a massa de lastro a ser jogada fora, pois conhecemos a, M e g:
2M a
m(g + a) = 2M a −→ m= .
g+a

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