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Projeto desenvolvido com bolsa PAPq 06/2019 - UEMG
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Aluna voluntária da pesquisa. Estudante do curso de Jornalismo da UEMG – Divinópolis. Email:
brendaribeiro.r@gmail.com
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Bolsista de Iniciação Científica do projeto PAPq 06/2019 – UEMG. Estudante do curso de Jornalismo da
UEMG – Divinópolis. Email: brigomasil@gmail.com
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Orientador. Professor dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UEMG – Divinópolis. Doutor
em Comunicação e Culturas Contemporâneas (UFBA). Email: carlos.sanchotene@uemg.br
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Aluno voluntária da pesquisa. Estudante do curso de Jornalismo da UEMG – Divinópolis. Email:
cristianobm56@gmail.com
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Aluno voluntária da pesquisa. Estudante do curso de Jornalismo da UEMG – Divinópolis. Email:
pardalguadalupe@gmail.com
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Aluna voluntária da pesquisa. Estudante do curso de Jornalismo da UEMG – Divinópolis. Email:
mclararibeiros@outlook.com
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PALAVRAS-CHAVE: tragédia; acontecimento; enquadramento; Brumadinho (MG);
Facebook.
Introdução
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partir de agora, pertence-lhes. Nas nossas sociedades contemporâneas é através deles, e só
através deles, que o acontecimento nos toca e não pode evitar-nos” (NORA, 1997, p. 245).
Dessa forma, percebe-se que o jornalismo atua diretamente na construção do
acontecimento histórico. De acordo com Rodrigues (1993), ao reconfigurar o acontecimento,
isto é, reconhece-lo e interpretá-lo, o jornalismo constrói a própria concepção de
acontecimento tornando-o reconhecível na sociedade. Ou seja, através da mídia, o
acontecimento marca a sua presença na sociedade. Compartilhando das mesmas ideias, Nora
(1997), afirma que os veículos de comunicação vão dar a materialidade necessária para
marcar o acontecimento na história, tornando-o então acontecimento histórico. Nesse sentido,
ao construir um acontecimento factual em acontecimento histórico, a mídia não está apenas
produzindo uma descrição do fato, mas determinando o que deve ou não ter existência
pública. França (2012) argumenta que se fatos ocorrem o tempo todo, elegemos enquanto um
acontecimento aqueles fatos e ocorrências que se destacam ou merecem maior visibilidade.
Para além, França (2012) assevera ainda a importância de um entendimento mais espesso
sobre acontecimento:
Em comum à essas ideias, Rodrigues (1993, p. 27) pontua que acontecimento é “tudo
aquilo que irrompe na superfície lisa da história de entre uma multiplicidade aleatória de fatos
virtuais”. Como na história, na atividade jornalística é preciso saber o que individualiza o
acontecimento para que ele seja digno de ser contado. Entre milhares de fenômenos e fatos, o
jornalista, como agente ativo na construção do acontecimento, seleciona-os a partir de
interesses e critérios, distinguindo o que deve ser nomeado e percebido pela sociedade. Esse
“processo de individualização” diz respeito a capacidade de um acontecimento de revelar
processos em curso, de afetar os sujeitos, na sua capacidade de, pela sua irrupção e força de
sua afetação, gerar uma profusão de sentidos, de práticas e discursos buscando compreendê-
lo, significa-lo, tratá-lo (QUÉRÉ, 1997; 2005). Nesse sentido, essa movimentação de trazer o
fato particular para a cena pública é possibilitado, sobretudo, por meio das fases de
interpretação e narração. Isto é, classificando se é ou não relevante e hierarquizando fatos, em
função de sua importância, abrangência, impacto e interesse (FRANÇA, 2012). Assim, ao
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passo em que França (2012) caracteriza acontecimento enquanto uma situação que interrompe
com o ordinário, ou seja, que rompe com a ordem; logo, entende-se que “acontecimentos não
são simplesmente ocorrências, mas fatos que têm o poder de afetação, que acontece a alguém,
provocam sentidos, convocam o passado, reorientam o futuro” (FRANÇA, 2012, p. 17).
Nesse viés, torna-se elementar a adesão do debate apresentado pelo sociólogo e
pesquisador francês, Louis Quéré, em termos do que permeia o processo de individualização
de um acontecimento. Nessa perspectiva, o autor destaca que os processos de individualização
dos acontecimentos não se circunscrevem apenas ao campo da interpretação, mas que vai
além, sendo intimamente ligado a “uma função de compreensão, que explora ao mesmo
tempo o passado do acontecimento, a situação que ele criou e o horizonte de possíveis que ele
abre e determina, e a uma função de aplicação ou de apropriação” (QUÉRÉ, 2011, p. 24). Se
conectando, então, à ideia de pensar o acontecimento como “um fenômeno de ordem
hermenêutica” (QUERÈ, 2005, p. 60). Dessa forma, podemos deduzir um acontecimento
como algo rico de potencial de esclarecimento, além de invadir na experiência do público,
individual ou coletiva. O poder hermenêutico do acontecimento está associado à sua
capacidade de fazer emergir uma profusão de sentidos, discursos e significações na busca pela
sua compreensão; surge como um fenômeno que cria novas condições para interpretar a
realidade, o contexto no qual se insere, os problemas que cria ou revela (FRANÇA, LOPES,
2016).
Este efeito de “tornar-se notável” se dá através de uma análise segundo um parâmetro
chamado de “valor notícia” ou “critérios de noticiabilidade” (WOLF, 2003), que surge através
de uma convenção proposta pela própria comunidade midiática, segundo um conjunto de
técnicas para identificar a relevância de um fenômeno/evento. Como, por exemplo,
previsibilidade, imprevisibilidade; repercussão junto ao leitor; atualidade e comunicabilidade.
A partir disso, entende-se acontecimento como uma representação social do fato,
materializado na forma de notícia. Assim, partindo dessa ideia, um acontecimento é
construído e materializado se este possui caráter de importância para “fazer saber”.
Acontecimento, então, há de ser, citando Rebelo (2006), o que há “potencial de atualidade e
pregnância”. E em acordo com Rodrigues (1993, p. 29), “o acontecimento é imprevisível,
irrompe acidentalmente à superfície epidérmica dos corpos como reflexo do inesperado, como
efeito sem causa, como puro atributo”. Nota-se, então, que o acontecimento não é idêntico ao
evento/fenômeno, mas um recorte selecionado de partes específicas do mesmo. Para ser
noticiado, então, um evento precisa passar por um processo de filtragem e refinamento, em
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um processo interpretativo que busca transformar uma experiência absolutamente complexa,
em um quadro observável. Patrick Champagne (1997) aborda que qualquer questão social
somente ganha uma existência visível, uma vez que representada pela mídia. Da mesma
maneira, qualquer fenômeno notável pode ou não ganhar existência a partir da abordagem
midiática acerca do evento, podendo se tornar uma verdadeira calamidade ou, ao contrário,
ser abafado e desaparecer.
Nesse sentido, entender quais acontecimentos se destacam frente à esfera pública é
entender, na mesma medida, quais valores movimentam, como pano de fundo, os atores
sociais que o estão narrando. Por essa razão, é necessário articular ao debate a perspectiva de
que o “acontecimento afeta aqueles a quem acontece, mas também interpela, em graus e de
formas diversas, aqueles que dele tomam conhecimento, o integram em seu campo de
experiência e eventualmente lhe respondem” (BABO, 2013, p. 223). Logo, os públicos –
abrangendo também como públicos os sujeitos que narram o acontecimento – se articulam
enquanto “intérpretes ativos” (BABO, 2013, p. 221) dos fatos e situações, uma vez que os
fatos são postos em confronto com suas respectivas subjetividades.
Assim sendo, Babo (2013) define que os públicos se formam em situações de recepção
e podem se constituir por sentimentos de empatia e pertença, por exemplo. Em suma, sendo
entendidos como comunidades que geram interpretação e significação a um dado fato e se
organizam não só enquanto corpo social físico, mas se articulam, sobretudo, através das redes
de sociabilidade virtuais (BABO, 2013). Frente a isso, a compreensão acerca de quais
acontecimentos emergem para existência pública incorpora, portanto, o campo da recepção e
o papel dos públicos, ao passo em que é na recepção que se atribuem os sentidos e valores
socialmente partilhados a um respectivo fato ou situação.
Desta forma, lidar com a tradução da complexidade da realidade experienciada exige
uma competência de transcrição interpretativa de símbolos e indícios. Queré (2011) apresenta
uma noção fenomenológica da construção do acontecimento, que sugere a experiência
subjetiva. Ou seja, a experiência “modifica e é modificada” pelo agente receptor através de
um repertório semiótico, uma espécie de matriz inconsciente, que dá forma ao conhecimento,
expressão e o desenvolvimento da psique. Assim, o autor apresenta o conceito de
“semiotização do fenômeno” (mise en signes ou “colocar em signos”), que postula uma forma
abrangente e qualitativa de descrever, ou mesmo experienciar, um fenômeno. Essa
semiotização está muito mais relacionada à percepção do que à reflexão, ou seja, carrega uma
componente quase instintiva da produção de sentido. Nesse sentido, manipular este referencial
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semiótico é uma condição inerente ao sujeito social, para absorver informação no mundo real
- “ser no mundo”. E para conseguir descrever um fenômeno são necessárias estratégias que
fazem parte de uma tradução em signos do evento em si, o que o torna “legível”. O conceito
de “hermenêutica dos acontecimentos” está diretamente ligado a um aspecto tridimensional
desta estruturação - o “meio”, o “sujeito” e a “interpretação” - na medida em que se pode
trespassar o nível do informativo e atingir um nível analítico do próprio contexto sócio-
histórico no curso do acontecimento. Arendt (2014) dá a este aspecto o nome de “poder
revelador” do acontecimento, que seria uma forma de interpretar não só o fato, mas a própria
conjuntura do momento analisado. Surge com o acontecimento uma noção de “campo
problemático” que rende ramificações e abordagens a serem exploradas.
A partir dessas ideias, compreendemos a complexidade do conceito de acontecimento
e o entendemos como construção noticiosa. Para Leidiane Vieira dos Reis e Marta Regina
Maia (2011), o fato não está dado, ele é construído através da seleção de jornalistas, de fontes
que venham a ganhar voz no processo de apuração, de editores e editorias das mídias e de
empresários que possam ter interesses em abordar tal ou tal-outro ponto de relevância. Dessa
forma, o acontecimento jornalístico, durante o período de sua gestação e de sua duração,
adquire vários formatos, níveis de profundidade e podem omitir ou iluminar aspectos
específicos ao passo que amadurece. Sendo, então, impossível construir um ambiente sensível
ao receptor sem a seleção de significantes específicas para construção da narrativa.
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exercidos pelos mass media, do que um modelo de pesquisa definido e estável
(WOLF, 2006, p.62).
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Uma das premissas da agenda setting diz respeito à hierarquia obedecida para a
produção de cada agenda (publica/pessoal, midiática e política). E a agenda de maior patente
dentro do agendamento é a agenda pública, ditando o rumo dos debates, seguida pela agenda
midiática e em seguida pela agenda política, que acaba esperando o momento oportuno para
se manifestar sobre qualquer tema. Segundo a tese de Solesbury (1976) apud Souza (2007,
p.10), “os governos tendem a responder aos temas polêmicos somente depois de os mesmos
mobilizarem a atenção pública”.
Apesar do poder de persuasão dos mass media, pelo discurso eloquente, linguagem
acessível e informação “mastigada” para facilitar a compreensão, os meios ainda precisam
competir com outras agendas para construir o senso comum: a agenda pública/pessoal e a
agenda política. Dessa forma, é notório o movimento retroalimentativo das agendas, mas é
importante ressaltar a relevância das relações interpessoais para a formação da agenda pública
o que repercute na agenda midiática e, posteriormente, na agenda política. Um dos
pressupostos do agendamento diz respeito à demanda por conteúdo ou o que se chama nos
estudos de agendamento de “ordem do dia”. Ou seja, os assuntos/temas mais comentados nos
círculos interpessoais, que vão dar condições para o desenvolvimento da agenda midiática e
vice-versa. À medida que a agenda - midiática ou pública - deixa de se ocupar de
determinados assuntos, estes assuntos se tornam “frios” e podem vir a saírem da “ordem do
dia”, não sendo mais abordados ou sendo abordados de maneira secundária, pela mídia.
Em relação ao itera-agendamento da agenda pública para com a agenda midiática,
podemos tomar como exemplo o caso de agendamento de pautas ambientais, especialmente
sobre os problemas ambientais. Jorge Sousa (2008) assevera que uma das razões para o
agendamento constante dos problemas ambientais nas várias agendas, se dá em razão de
muitos desses problemas serem diretamente vivenciados pelas pessoas (SOUSA, 2008, p. 14)
e, por óbvio, estarem relacionados a elas. O autor avalia que “os problemas ambientais,
amplificados pelos meios de comunicação, desceram aos fóruns público e político, o que lhes
garante uma dimensão social que extravasa a dimensão natural, ou seja, bio-físico-química,
dos mesmos” (SOUSA, 2008, p. 5). Diante dessa perspectiva, a mídia, por meio do
agendamento, fomenta a relevância das pautas ambientais para composição da agenda
pública, se caracterizando enquanto meio de orientação e promovendo a “eco-alfabetização”
(SOUSA).
Diante de tais exposições acerca do agendamento público e midiático, conclui-se como
elementar que o jornalismo, com vista a promover debates relevantes para a esfera pública, se
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encarregue de suas responsabilidades, assim como exposto por Sousa (2008, p.31) “na difusão
de uma informação rigorosa e a mais independente e balanceada possível”. No agendamento
de pautas ambientais, por sua vez, o jornalismo e mais especificamente o jornalista, se
encarrega de reivindicar por seções fixas e estáveis no seio das redações (SOUSA, 2008)
dedicadas a pormenorizar as questões ambientais e propor discussões fomentando sobre sua
devida importância. Além de, como recapitulado por Sousa (2008), refletir sobre quem
determina ou procura determinar o agendamento e que articulam como espaços públicos
enquadramentos que são para si convenientes.
Nesse sentido, o agendamento é somado a outros critérios relativos à produção
jornalística e construção noticiosa, como os critérios de noticiabilidade. Já que, marcado pela
responsabilidade profissional jornalística, esse agendamento midiático vai tentar corresponder
àquilo de interesse social.
Enquadramento jornalístico
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Para Robert Entman (1993), enquadrar uma notícia consiste em selecionar certos
aspectos da realidade e os tornar mais salientes no conteúdo da mídia, de tal forma a
promover um problema, uma interpretação, uma avaliação moral, ou a recomendação de
tratamento para o tema descrito. O autor apresenta maneiras de identificar o framing de uma
reportagem: 1) definição do problema, observando se é político, econômico, jurídico etc.; 2)
identificar os atores envolvidos e ouvidos; 3) solução ou avaliação moral do problema.
Portanto, os enquadramentos diagnosticam, avaliam e prescrevem os conteúdos das notícias.
Ao contrário dos critérios de noticiabilidade, que em muitos casos são involuntários, os
enquadramentos nem sempre são relacionados às rotinas produtivas e frequentemente
resultam de uma subordinação a determinadas ideologias, justificadoras das representações
instauradas pelos framings.
Os enquadramentos dominantes tendem a obscurecer as informações que não
interessam e não corroboram a ideologia do grupo que controla a mídia, apesar da inevitável
polissemia dos textos jornalísticos. “Isso significa fazer uma parte da informação mais
noticiável, significável, ou memorável para as audiências” (ENTMAN, 1993, p.53). Um
enquadramento dominante pode obscurecer totalmente alguma informação que seja oposta ao
que o framing quer veicular como verdade dos fatos. O enquadramento consiste em uma
propriedade específica das narrativas jornalísticas que estimulam determinadas compreensões
ou pensamentos sobre os eventos descritos para desenvolver entendimentos particulares sobre
eles. Isto significa que o framing pode ser identificado através da observação de imagens
visuais e palavras repetidas insistentemente em um texto midiático para tornar algumas ideias
mais aparentes que outras.
Desse modo, Entman (1993) sustenta que o enquadramento ofereceria um caminho
para o entendimento do “poder” dos textos midiáticos. Essa afirmação está relacionada à ideia
de que a concretização da prática jornalística também é definida pela linha editorial, própria
de cada veículo, selecionando quais e como os acontecimentos comporão o noticiário. Assim,
explica Carvalho (2009), o enquadramento está centrado em reflexões acerca dos modos de
identificação e intepretação de cada situação.
No caso do jornalismo, o framing pode ser detectado por meio da análise de palavras
ou fotografias que aparecem na narrativa, ou daquelas suprimidas do texto jornalístico. Nesse
caso, essa negligência somente pode ser detectada com precisão quando houver comparação
com outros textos jornalísticos referentes aos mesmos temas, que servem como elementos
contextualizadores e referenciais. Contudo, a omissão de um fato, negligenciado da cobertura
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ou que tenha um mínimo destaque, também é um tipo de enquadramento. O enquadramento
pode ser caracterizado pela omissão (negligenciar a cobertura de certos temas), a cobertura
intencionalmente modesta ou intencionalmente expandida. Entman (1993) aconselha recorrer
à comparação quando o pesquisador procede a análise, a fim de evitar que os enquadramentos
pareçam espontâneos. Assim, a comparação dos discursos de mais de um meio de
comunicação auxilia a perceber os fatos negligenciados, o que foi veiculado por um veículo e
omitido por outro.
As noções de enquadramento da atividade jornalística são uma dimensão complexa,
que inclui além das relações com o social e as institucionalizações envolvidas. Carvalho
(2009) aborda sobre a relação das mediações, que estão nas formas como a própria linguagem
jornalística é construída. Isto é, fatores como gêneros textuais (notícias, reportagens,
entrevistas, artigos etc.) e os próprios suportes (impresso, televisão, rádio, internet etc.) vão
interferir no enquadramento jornalístico. Assim, longe de esgotar a temática, as conceituações
anteriores trazem a reflexão sobre que construções estão imbricadas em determinado produto
midiático.
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sentido, a compreensão da instância da recepção é modificada nesse cenário de transformação
do sujeito-receptor passivo para um sujeito-ativo. Anteriormente, o trabalho jornalístico era,
praticamente, monólogo, tendo uma participação do público mínima, e, então, que
pressupunha uma audiência homogênea, isolada e sujeita as sugestões dos meios de
comunicação. Posteriormente, quando o leitor conquista um espaço na participação produtiva,
os pesquisadores compreendem os receptores como agentes que interpretam ativamente os
discursos. Isto é, de acordo com Barbero (2008), entende-se a recepção midiática como um
processo de interação, pois esse espaço é “preenchido por experiência e complexidade de
conteúdos que ditam os modos como a mensagem será absorvida pelo receptor”
(SANCHOTENE, 2015, p. 90). Dessa forma, Wilson Gomes (1997) afirma que é na recepção
que se produz a comunicação, já que, as mensagens vão ser decodificadas a partir da
complexidade e singularidade cultural de cada indivíduo ou grupo, tendo em vista que, se há
essa singularidade cultural, as mediações também o são. “Essas mediações podem ser
determinadas pela capacidade de produção de sentidos de cada indivíduo e a apropriação dos
bens culturais que é singular, pode ser definido pela sua história de vida, hábito, costume,
tradição, etc.” (SANCHOTENE, 2015, p. 91). Assim, “o processo de recepção passa por
diversos ‘cenários’ que acabam negociando as mensagens, produzindo sentidos ou não”
(SANCHOTENE, 2015, p. 90). Portanto, os discursos produzem sentidos através do contato
com outros sujeitos produtores de sentido, como a família, escola, igreja, ambiente de
trabalho, refletido também pelas relações de poder.
A partir desse contexto, as instituições jornalísticas vão estipular uma variedade de
estratégias para contatar seus leitores em um cenário de desterritorialização e midiatização, já
que, há uma dinâmica interacional própria nas redes socias, pautado pela diversidade e
multiplicidade de canais midiáticos. Nesse sentido, “a convergência tecnológica instaurou
uma nova plataforma de circulação, assentada em diversidades técnicas e de dispositivo,
alterando as configurações e relações dos campos de produção e recepção” (SANCHOTENE,
2015, p. 103). Isto é, a partir dessa nova arquitetura comunicacional, as instâncias de
produção e recepção são dinamizadas e merecem destaque a partir de uma zona de
interpretação compreendida entre as gramáticas de produção e reconhecimento (VÈRON,
2005). Assim, podemos entender as redes sociais também como “um gigantesco dispositivo
que transforma as condições de acesso aos discursos (...) que comportam também uma
mutação nas condições de acesso aos atores individuais” (VÈRON, 2012, p. 14).
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Este contato direto, atual, nos mostra que existem vários tipos de receptores, que
podem ser definidos, por exemplo, como os leitores: amigo, ofensivo, editor, exigente,
migratório, espalhador, desiludido, entre outros (SANCHOTENE, 2015). Precisamos aqui
estabelecer como concreto o conceito de que esta zona de contato é interpenetrável
(SANCHOTENE, 2015), pois a interação com as máquinas, com os outros e com os produtos
se dá através das interfaces.
Nesse contexto, os termos audiência e consumidor parecem inadequados à medida que
remetem ao sentido de passividade, além de que, conforme Veròn (2007), as práticas de
consumo também se alteram, visto que, além das diferentes interpretações, há diferentes
formas de consumir o conteúdo. Um usuário pode, por exemplo, ler as informações publicado
por um jornal digital a partir do seu computador ou por meio de seu smartphone ou
dispositivos como tablets”. Segundo Sanchotene (2015), o termo audiência encontra-se
ultrapassado pois carrega uma ideia de público passivo que apenas recebe determinada
mensagem dos meios de comunicação. O mesmo acontece com o termo “consumidor”, pois
faz referência a indivíduos que recebem mensagem de outros grupos que são produtores e
encontram-se numa posição de superioridade. Essa mudança semântica situa-se junto a
evolução da internet (SANCHOTENE, 2015). A partir da movimentação do conceito de
públicos, é válido propor um alargamento desse conceito e passar a entendê-lo como
hiperaudiências, isto é, audiências interconectadas e com habilidades comunicativas
adquiridas a partir de suas experiências no ambiente midiatizado (SANCHOTENE, 2015).
Com base nesse conceito, é possível ampliar o entendimento do papel dos públicos e de como
esses se envolvem no processo de significação das notícias.
Através dessas ideias e conceituações, compreende-se o papel da audiência como
coprodutor nas redes sociais digitais. “Utilizamos o termo leitor coprodutor para designar os
indivíduos que estão nas redes socais interagindo, produzindo ou compartilhando conteúdos
provindos de seus contatos e dispositivos com os quais interage (SANCHOTENE, 2015, p.
97). Diante disso, o leitor coprodutor, dotado de suas possibilidades discursivas em ambiente
digital, acaba por coparticipar dos processos de significação dos conteúdos com os quais ele
interage, tendo em vista que são inúmeros os espaços em que emergem a discursividade desse
leitor, como os comentários das notícias no Facebook (SANCHOTENE, 2015). Além disso,
as coparticipações se dão através da publicação não apenas de comentários sobre o produto
jornalístico, mas com a publicação de sugestões, críticas, contrapontos, interpretações
divergentes e contestações semânticas, que possibilitam a negociação de sentidos por parte da
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esfera da recepção. A exemplo de tais interações que ocorrem em ambientes virtuais,
Anselmino (2014, p.45) lembra que:
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Nesse viés, a partir dos desdobramentos provocados pela interatividade dos públicos,
há o acionamento do que Braga (2006) apud. Sanchotene (2015) nomeia como sistema de
resposta social, entendido como a atribuição de significado e sentido social às ações e
produtos oriundos dos meios de comunicação. Assim, interessa não o que a mídia veicula,
mas sim, o que, tendo sido veiculado pela mídia, em um momento posterior, veicula na
sociedade (SANCHOTENE, 2015).
Problematizando essa questão, Borelli (2016) indaga se tal abertura possibilitada pelas
redes sociais digitais legitima, efetivamente, os públicos enquanto coenunciadores ou se o fato
de tal abertura não passa de uma estratégia mercadológica, enunciando possibilidades não
contempladas pelo próprio sistema de funcionamento de tais plataformas. Borelli (2016)
afirma ainda que a crescente abertura por partes de jornais para participação dos públicos
pode decorrer de demandas dos próprios usuários, de estratégias mercadológicas, pelo avanço
tecnológico, ou em razão do protagonismo dos sujeitos.
Além disso, existe uma espécie de “perigo” em meio a democracia da comunicação
pelas redes sociais, principalmente no Facebook, em que é imprescindível a regulação,
atenção e vigilância de espaços abertos, como os comentários e ferramentas de
compartilhamento. Pois, existe uma linha tênue entre a liberdade de expressão, espaço
concedido ao público, e a ofensa ou atividades negativas, que podem colocar a vida de alguém
em risco ou gerar outros problemas, mais relacionados aos tipos de leitores já tratados.
Portanto, utilizar-se do Facebook demanda dos jornais algo a mais do que somente divulgar
acontecimentos, matérias e reportagens, cabendo aos administradores estarem atentos às
várias reações possíveis e a fiscalizar aquilo que os algoritmos não conseguem notar
(BORELLI, 2016).
Por conseguinte, conclui-se que, apreende-se uma nova forma de entender a
comunicação à medida que, através dos avanços tecnológicos e eclosão das redes sociais
digitais, os papeis de emissor e receptor são alterados. “A midiatização crescente de práticas
sociais tem afetado, especialmente, o trabalho enunciativo da produção jornalística bem como
o trabalho enunciativo realizado pelos leitores” (SANCHOTENE, 2015. p. 2620. A instituição
jornalística, como emissora, precisa cativar o leitor, oferecer conteúdo personalizados e
multimidiáticos, além de estar vigilante na participação da audiência com o discurso. E o
público-leitor, como receptor ativo, participa da construção de sentido do acontecimento,
ultrapassa os limites de consumo antes impostos pela mídia tradicional interagindo e
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participando do processo discursivo, além de fazer circular ciberacontecimentos. Ou seja,
alterou as relações de produção e consumo de notícias.
Após esse amplo percurso teórico, apresentamos a seguir a metodologia da pesquisa.
Metodologia
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Fonte – elaboração própria.
Para contemplar a fase de análise dos jornais, optamos por selecionar um veículo de
cada região, tendo como critério a principal cidade da região e o jornal com maior número de
seguidores no Facebook. A partir desse recorte, os jornais selecionados foram: BHAZ, de
Belo Horizonte; Moc News, de Montes Claros; Sistema MPA de Comunicação, em
Divinópolis; Diário de Uberlândia, da cidade de Uberlândia; Tribuna de Minas, em Juiz de
Fora; e, por fim, Diário do Rio Doce, de Governador Valadares, como mostra a tabela 2
abaixo.
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Através dessa categorização, identificamos no total 172 matérias sobre a tragédia de
Brumadinho, no período de seis meses, como catalogado na tabela 3 a seguir. Após essa
identificação, além dos elementos principais de cada matéria, como título, legenda na rede
social, valor-notícia, coletou-se os comentários de cada publicação e o número de curtidas e
reações em cada uma. Para, então, ser possível categorizar o material e analisar os
enquadramentos noticiosos de cada notícia, identificando definições, atribuição de causas,
consequências e proposição de soluções (COLLING, 2001). Além disso, a análise dos
comentários dos leitores (SANCHOTENE, 2015) a partir de conceitos de gramáticas de
reconhecimento (VERÓN, 2005, 2013) e Marginálias (PALACIOS, 2012), que vai permitir
compreendermos os espaços de intervenção dos leitores e suas ressignificações no contexto
das notícias sobre a tragédia.
Nesse sentido, é preciso levar em consideração a singularidade de cada veículo, na
qual cada um produz o seu acontecimento com base em características próprias, nas
“pressões”, nos discursos de suas fontes, da constituição e projeção de seu leitor, cultura e
valores jornalísticos. Como também, o contexto geográfico de cada veículos irá refletir
significativamente em cada produção.
Para contemplar os objetivos da pesquisa, utilizamos a metodologia elaborada por
Entman (1993). Para o autor, “enquadrar é selecionar alguns aspectos da realidade percebida e
torná-los salientes em um texto comunicativo, de modo a promover uma definição particular
de um problema, interpretação causal, avaliação moral ou recomendação de tratamento para o
item descrito” (ENTMAN, 1993, p. 52).
A partir desses aspectos, Entman (1993) propôs algumas categorias e subcategorias
para sistematizar os enquadramentos para entendimento dos processos de construção do texto.
No entanto, o texto não precisa necessariamente apresentar todas as sentenças. Além disso,
conforme o autor, o frame pode se dar a partir do emissor, a mensagem, o receptor, e a
cultura, que funciona como um estoque dos enquadramentos mais comuns. Desse modo, a
cada categoria proposta por Entman (1993), estabeleceremos subcategorias acerca do objeto
de estudo, que orientaram as análises.
Análise
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Para realizar a análise da pesquisa, estabelecemos algumas subcategorias conforme as
proposições de Entman (1993). Para a definição do problema, primeira categoria proposta,
foram identificadas nove subcategorias:
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Assim, buscamos identificar percentualmente o aparecimento das mesmas em cada um
dos jornais, independente se há diferenças no número total de matérias veiculadas em cada
jornal. É importante destacar que as subcategorias se relacionam e há padrões que se repetem,
de forma que as matérias se encaixaram em mais de uma subcategoria e todas de maneira
diversa.
Como mencionado anteriormente, a primeira categoria identificada é definição para o
problema, na qual identificamos nove subcategorias. Como mostra o gráfico 1 a seguir:
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DEFINIÇÃO DE PROBLEMAS
0 5 10 15 20 25 30
27
matéria é “Presidente Jair Bolsonaro se pronuncia sobre tragédia em Brumadinho”, como
mostra a imagem 1 abaixo:
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Gráfico 2 – Causas dos problemas
JULGAMENTOS MORAIS
Esperança de encontrar alguma vítima
Defesa da Vale
Condenação da Vale
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
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Fonte: elaboração própria.
De acordo com o gráfico 3, observa-se que a subcategoria com maior presença é “Luto
pelas vítimas perdidas” e “Homenagem aos profissionais envolvidos”, presente em quase
todos os jornais mineiros. Além disso, subcategorias que discorrem sobre uma esperança na
punição dos envolvidos e indenização das vítimas não apareceram de forma direta, apenas nos
comentários dos leitores, que será discutido posteriormente.
Em “Condenação da Vale”, subcategoria presente nos jornais, temos como destaque a
matéria “Há exatas duas semanas, às 12h28, a barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho,
se rompia. Entre mortos e desaparecidos, há mais de 300 pessoas. Histórias que trazem um
déjà-vu de Mariana 812 dias depois. Contamos estas histórias neste documentário.
Compartilhe!”, que foi qualificada nessa subcategoria em razão das hashtags escolhidas pelo
veículo, como “#crime” e “#crimeambiental”, como mostra a imagem 2 abaixo:
30
Já as outras matérias relacionadas nessa subcategoria, não fazem menção, nem
condenação direta à empresa. Mas, sim, expõem os andamentos judiciais.
Por fim, destacamos a última categoria, que diz respeito às soluções para o desastre,
com seis subcategorias. Nos jornais analisados, elas estiverem presentes como mostra o
gráfico 4 abaixo:
Reconstrução de Brumadinho
0 2 4 6 8 10 12 14 16
31
atividade mineradora no país. Além dessa matéria, apesar de relevância do tema, não houve
outras que debateram o tema.
Em relação às subcategorias mais presentes nas quatro categorias, percebemos a
correlação entre “Esperança de encontrar alguma vítima”, em julgamentos morais,
“Continuidade das buscas pelos desaparecidos”, em solução para os problemas, “Busca das
vítimas”, em causa para os problemas, além de “Atuação dos profissionais”, em definição
para os problemas, e “Trabalho das equipes”, em causa para os problemas.
A partir disso, destacamos as semelhanças no tratamento e escolha das categorias e
número semelhante de aparições entre os jornais. Além da correlação entre os códigos e
repetição de padrões em todas as matérias, percebemos que os jornais focaram mais na
divulgação de atualizações sobre a busca das vítimas da tragédia e os trabalhos das equipes
envolvidas do que discussões acercas das investigações, envolvimentos políticos e o
envolvimento da Vale no ocorrido. Assim, os enquadramentos veiculados ao longo de seis
meses do desastre evidenciam as principais preocupações dos jornais, mais focados nas
consequências da tragédia do que nas correlações políticas e econômicas. Havendo destaque
para os critérios de morte, impacto, emoção, proximidade e atualização.
Em relação aos comentários dos leitores – ferramenta que possibilita uma interação
mais horizontal - tendo em vista que os leitores atuam como “coprodutores dos processos
comunicativos” (SANCHOTENE, 2015) a partir de sua intervenção e participação no próprio
processo jornalístico, percebemos um engajamento maior em matérias que geram revolta e/ou
comoção do público. Como, por exemplo, em anúncio de mortes e desaparecidos, casos de
estelionato e condenação da Vale.
Em matérias cujo enquadramento foi “Luto pelas vítimas perdidas”, os comentários
dos leitores também acompanham essa subcategoria com lamentações, comoção e palavras de
oração e aclamação à divindade. Como por exemplo, na matéria veiculada no jornal Moc
News, intitulada: “Corpo de norte-mineiro que morreu em Brumadinho é enterrado”. Nessa
publicação, foram 35 comentários seguindo esse sentido, inclusive com o uso expressivo de
emoticons de tristeza e mãos orando, como mostra imagem 3 abaixo:
32
Imagem 3 – Comentários de leitores denotam comoção
33
Imagem 4 – Comentários que denotam julgamentos morais
Uma outra matéria que gerou comentários e polêmica em geral nos veículos em que
foram divulgados é o caso que envolveu estelionato na tragédia: “Ex-candidata a deputada se
passa por vítima de Brumadinho e é presa”. Os comentários caminham por condenação à
pessoa que cometeu o crime e, inclusive, com piada e humor envolvendo política, como no
comentário: “Eu aposto que ela era candidata a deputada do PT ” ou
“Tinha de ser do MDB, partido do Tener, Cabral e Eduardo Cunha”, além de questionamentos
sobre os processos de indenização, como “E as verdadeiras vítimas de Brumadinho,
receberam já ,alguma indenização?? As que ficaram vivas???”:
34
Imagem 5 – Comentários que denotam ironia
35
Imagem 6 – Comentários que denotam crítica
Por fim, de forma geral, observamos que os comentários também giram em torno
dessas subcategorias, principalmente as relacionadas aos julgamentos morais. Como já citado,
as que geram comoção ou revolta do público são as que captam maior engajamento, enquanto
as outras há um número menor ou nenhum comentário. Além disso, é importante destacar que
com a evolução das redes digitais, o consumidor dessas notícias participa desse processo não
apenas através dos comentários, mas também com as ferramentas de compartilhamento e
“likes”, através das reações. Dessa forma, então, deixando suas próprias marcas e inferências
sobre o conteúdo divulgado.
Considerações finais
36
dando a materialidade necessária para marcar o acontecimento na história (NORA, 1997). Isto
é, o jornalista reconhece e interpreta o acontecimento, construindo a própria concepção do
fato e tornando-o reconhecível na sociedade (RODRIGUES, 1993).
Desse modo, a mídia determina o que deve ou não ter existência pública, visto que
elegemos um acontecimento àqueles fatos e ocorrências que se destacam ou merecem maior
visibilidade (FRANÇA, 2012). Ainda conforme essas ideias, destacamos os conceitos teóricos
de agendamento (WOLF, 2003) e enquadramento (COLLIING, 2001), que são
fundamentações que participam do processo do que deve ou não ser noticiado sob
determinadas perspectivas. Agendamento (TRAQUINA, 2000) em relação à ideia de que os
consumidores de notícia consideram mais importante os assuntos que são veiculados com
maior destaque na cobertura midiática. Já enquadramento no sentido do processo de
selecionar alguns aspectos da realidade percebida e dar a eles um destaque maior no texto
comunicativo (COLLING, 2001). Isto é, produzir um recorte que não apenas refletem a
realidade, mas trazem uma perspectiva singular sobre cada aspecto divulgado do fato.
Diante disso, desastres industriais, humanitários e ambientais são acontecimentos que
ganham destaque na imprensa e a tragedia em Brumadinho (MG) é um dos maiores desastres
com rompimento de barragem de minério do mundo que teve ampla cobertura midiática. A
partir disso, buscamos entender quais enquadramentos foram realizados sobre o
acontecimento.
Através da análise conseguimos evidenciar o destaque e a intensa cobertura que o caso
ganhou nas diversas regiões mineiras. Nessa perspectiva, identificamos quatro subcategorias
diferentes (ENTAMAN, 1993), que evidenciam os principais enquadramentos realizados. A
primeira subcategoria envolve a definição do problema, como por exemplo, o envolvimento
político no caso, a impunidade da Mineradora Vale, o futuro da cidade, os efeitos ambientais
da tragédia e na vida dos envolvidos, entre outros. Já em relação à causa dos problemas,
segunda categoria, identificamos impunidade da empresa, estelionato, futuro ambiental e
econômico, busca das vítimas, o trabalho das equipes etc. A terceira categoria se enquadra em
julgamentos morais, como ceticismo à participação da Vale, esperança na punição dos
envolvimentos e na indenização das vítimas, condenação e defesa da empresa, homenagem e
luto pelas vítimas perdidas. Por fim, identificamos a quarta categoria entendida como
soluções para os problemas identificados, como agilidade na punição e indenização,
campanhas de solidariedade, decisões judicias, reconstrução da cidade e redução ambiental,
além da busca pelos desaparecidos.
37
Assim, a partir dessa análise, constatamos também que essas subcategorias se
envolvem e que há padrões que se repetem nas matérias veiculadas, evidenciando, então, o
caráter de agendamento e enquadramento já mencionado anteriormente. Já em relação aos
comentários de leitores percebe-se um engajamento maior em matérias que geram revolta
e/ou comoção do público como anúncio de mortes e desaparecidos, casos de estelionato e
condenação da Vale.
A partir disso, destacamos a relevância da pesquisa, visto que o acontecimento
impactou um número expressivo de pessoas não apenas em território nacional, mas em
diversos outros países do mundo. Assim, a proporção do caso, que envolve questões
ambientais, econômicas e políticas, fez com que o ocorrido tivesse valor-notícia destaque,
refletindo o papel dos veículos de comunicação na cobertura desse tipo de caso. Apontando,
então, para a compreensão das dinâmicas entre jornalismo e leitores no âmbito das redes
digitais e o modo como o campo do jornalismo pensam as causas, consequências e soluções
para um acontecimento dessa grandeza.
Referências bibliográficas:
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