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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade de Comunicação e Artes - Curso de Jornalismo

Cristiane Gabriela Cirilo


Marianna Ferry
Mathias Samer Moura Paixão
Milena Rafaela Pereira de Amorim

Os Novos jornalistas Frente aos Novos Conceitos: Uma Avaliação dos


Graduandos da PUC Minas São Gabriel

Belo Horizonte
2022
Cristiane Gabriela Cirilo
Marianna Ferry
Mathias Samer Moura Paixão
Milena Rafaela Pereira de Amorim

OS NOVOS JORNALISTAS FRENTE AOS NOVOS CONCEITO: Uma avaliação


dos graduandos do São Gabriel

Trabalho de Conclusão de Curso ao Curso de


Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Prof. Enaldo Souza Lima Ribeiro

Belo Horizonte
2022
Cristiane Gabriela Cirilo
Marianna Ferry
Mathias Samer Moura Paixão
Milena Rafaela Pereira de Amorim

OS NOVOS JORNALISTAS FRENTE AOS NOVOS CONCEITO: Uma avaliação


dos graduandos do São Gabriel

Trabalho de Conclusão de Curso ao Curso de


Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.

__________________________________________
Prof. Me. Enaldo Souza Lima Ribeiro (orientador) – PUC MINAS

__________________________________________
Prof. Me.Getúlio Neuremberg de Faria Távora (examinador) – PUC MINAS

__________________________________________
Prof. Dra. Lucia Lamounier Sena (examinador) – PUC MINAS

Belo Horizonte _______ de ______________ de __________.


RESUMO

O objetivo deste trabalho é mostrar como o jornalismo e a sociedade interagem e se


sustentam por meio de práticas críticas e democráticas. A monografia versa sobre
os desafios que a prática jornalística está enfrentando na contemporaneidade, bem
como a necessidade de resgatar a função social da atividade, levando em
consideração os cenários sociais, culturais e políticos em que está inserida. De
modo hermenêutico buscou-se ouvir e analisar a perspectiva dos graduandos do
curso de Jornalismo da PUC Minas São Gabriel, acerca do impacto da prática e a
necessidade de cumprir com a sua função social profissional no futuro de forma
crítica. Por meio de pesquisa qualitativa, bibliográfica e levantamento de dados, foi
possível compreender os principais desafios que o jornalismo enfrenta e quais
procedimentos e cuidados devem ser tomados para preservar a função social na
profissão. No decorrer do trabalho foram abordados temas como fake news,
manipulação midiática, aspectos mercadológicos, impacto da globalização e
transformação digital, fenômeno da pós-verdade e fatos alternativos, com a
finalidade de possibilitar uma análise aprofundada do contexto atual e histórico do
jornalismo. Verificou-se também que, para o jornalismo preservar a sua função social
e princípios, apesar das influências das transformações digitais e do cenário de
descrédito, há a necessidade da inserção de mais profissionais com olhar crítico
para a profissão. É necessário que proponham uma ação transformadora na esfera
social e profissional, e, principalmente, corroborar para uma democracia forte no
qual a sociedade consiga discernir o que genuinamente são notícias falsas e o que
são verdadeiras, com o intuito de adquirir valor para o jornalismo. A partir dos
resultados das pesquisas e da compreensão dos principais desafios da profissão,
conclui-se que o jornalismo atual tem dificuldades em cumprir sua função social, seja
por impactos de discurso pós-factual político, seja por problemáticas internas da
atividade profissional. Entretanto o desejo, principalmente da nova classe de
graduandos, é resgatarem a função social e contribuírem para que a profissão
reforce o seu compromisso com a verdade.

Palavras-chave: função social; fake news; credibilidade; democracia; pós-verdade.


ABSTRACT

The objective of this work is to show how journalism and society interact and sustain
themselves through critical and democratic practices. The monograph deals with the
challenges that journalistic practice is facing in contemporary times, as well as the
need to rescue the social function of the activity, considering the social, cultural and
political scenarios in which it is inserted. In a hermeneutic way, we sought to hear
and analyze the perspective of the undergraduates of the Journalism course at PUC
Minas São Gabriel, about the impact of the practice and the need to fulfill their
professional social function in the future critically. Through qualitative research,
bibliographic and data collection, it was possible to understand the main challenges
that journalism faces and what procedures and care should be taken to preserve the
social function in the profession. During the work, topics such as fake news, media
manipulation, market aspects, impact of globalization and digital transformation,
post-truth phenomenon and alternative facts were addressed, to enable an in-depth
analysis of the current and historical context of journalism. It was also found that, for
journalism to preserve its social function and principles, despite the influences of
digital transformations and the discredit scenario, there is a need for the insertion of
more professionals with a critical look at the profession. It is necessary that they
propose a transformative action in the social and professional sphere, and, above all,
to support a strong democracy in which society can discern what are genuinely fake
news and what is true, to acquire value for journalism. Based on the results of the
research and the understanding of the main challenges of the profession, it is
concluded that current journalism has difficulties in fulfilling its social function, either
by impacts of post-factual political discourse, or by internal problems of professional
activity. However, the desire, especially of the new class of undergraduates, is to
rescue the social function and contribute to the profession reinforceits commitment to
the truth.

Keywords: social function; fake news; credibility; democracy; post-truth.


SUMÁRIO

SUMÁRIO 11
1 INTRODUÇÃO 12
2 REFERENCIAL TEÓRICO 14
2.1 A função social do jornalismo 14
2.1.1 A história e a função social do jornalismo 14
2.1.2 A ética jornalística e os valores mercadológicos 17
2.1.3 A importância do jornalismo como forma de conhecimento 19
2.1.4 Precarização da função, fake news e o desafio da credibilidade 22
2.1.5 Manipulação da opinião pública e o Facebook Papers 25
2.1.6 O jornalismo e a checagem dos fatos 31
2.2 A toxicidade e a liberdade de expressão no Brasil 34
2.2.1 Liberdade de expressão e o ódio nas redes sociais 34
2.2.2 Haters, trolls e o cyberbullying 35
2.2.3 A rede social como um instrumento de desinformação em massa 37
2.2.4 Crise epistêmica e as redes sociais 39
2.3 Reputação e legado da moral do jornalismo 39
2.3.1 Incitação à desmoralização do jornalismo 39
2.3.2 Transformação do jornalismo em entretenimento 42
2.3.2.1 Sobrevivência do jornalismo tradicional e o entretenimento como
moeda de engajamento 44
2.3.3 Perspectivas do futuro do jornalismo 47
2.3.4 Motivos para acreditar no futuro do jornalismo 48
3 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ENSINO 50
4 METODOLOGIA 52
5 COLETA E ANÁLISE DE DADOS 55
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 90
REFERÊNCIAS 94
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO 105
1 INTRODUÇÃO

Atualmente, vivemos uma descrença na ciência. É uma coisa impensável,


pois conseguimos avançar tecnologicamente muito rápido. Vacinas foram criadas em
pouco tempo, máquinas que transformam lixo em água como no caso de Bill Gates,
porém ainda nos deparamos com narrativas que descredibilizam esses cientistas
que produzem tanto para a sociedade. Isso acontece também com os jornalistas que
são de grande importância para a mediação da democracia e que acabam sofrendo
descrédito por parte de autoridades políticas. Eles propagam narrativas falsas com o
intuito de beneficiar a si próprios e aos seus parceiros políticos. Além disso, a
sociedade vive em um mundo digitalizado e plataformizado, através das redes
sociais, que têm o poder de muitas vezes replicar conteúdos preconceituosos que
acabam gerando consequências ruins nas vidas das pessoas.
Então, o grupo visualizou como torna-se necessário o combate ao descrédito
profissional da classe jornalística desde o seu aprendizado prático e ético na
academia educacional. Indubitavelmente é importante que não somente os
jornalistas que exercem a profissão há anos, mas, principalmente a nova geração
que irá atuar na área futuramente, tenha consciência dos acontecimentos, do
cenário e da postura que precisarão adotar na atividade, prezando pela função
social, ética e democrática que a profissão defende. Para tanto, além do ensino
básico proposto para os estudantes de jornalismo, é necessário também que os
jornalistas em formação tenham plena consciência da necessidade do bom
desenvolvimento de uma visão crítica, conhecimento de mundo, compreensão das
questões éticas e históricas que a prática jornalística exige no presente momento e o
seu papel social.
A pesquisa torna-se importante diante da análise crítica da esfera social e
profissional presente na atualidade mundial da sociedade e do jornalismo. Em
tempos de ascensão tecnológica, mudanças técnicas na profissão, fake news,
pós-verdade, pautas sobre a confiabilidade do jornalismo, debates sobre o futuro do
jornalismo, entre outros, o valor ético da prática jornalística é colocado em debate.
Diante desse cenário, o presente trabalho teve como objetivo geral buscar
compreender as perspectivas dos alunos do curso de jornalismo do 6°, 7° e 8°
período da graduação da PUC Minas São Gabriel sobre o jornalístico e sua
interação com a sociedade. A intenção foi ouvir e entender de forma crítica as
compreensões dos alunos sobre o cenário atual da prática jornalística, a forma como
se informam e, sobretudo, como assimilam o jornalismo e a sua importância e
interação participativa com a sociedade.
O presente projeto de pesquisa é estruturado em 7 capítulos. Inicia-se na
introdução que aborda sobre a temática discutida neste trabalho, justificativa e
metodologia de trabalho. Neste capítulo introduzimos e contextualizamos o conteúdo
do projeto.
No segundo capítulo apresentamos os referenciais teóricos como a função do
jornalismo, parâmetros da ética jornalística, processos de checagem e como isso
chega e/ou chegou a ser utilizado para criação de narrativas.
No terceiro, quarto e quinto capítulos, há a descrição do local de ensino no
qual é contextualizada a entidade de ensino, suas características, princípios e
valores e, ainda, a metodologia do trabalho que aborda como o trabalho foi
articulado para que cheguemos a resposta final
No quinto capítulo foi apresentada a análise dos dados obtidos, através de
gráficos (forma quantitativa) e comentários (forma qualitativa). Por fim, no último
capítulo compreende as conclusões a respeito da temática abordada e
recomendações para todos que quiserem dar continuidade a este projeto.
2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A função social do jornalismo


2.1.1 A história e a função social do jornalismo

Neste capítulo são apresentados e discutidos historicamente o surgimento do


jornalismo em meados do século XVII, bem como sua função social. Pretende-se
abordar as fases do jornalismo e o impacto das mudanças culturais, econômicas na
forma de se fazer jornalismo na atualidade.
Sabe-se que o jornalismo surgiu com grandes influências da invenção da
prensa móvel, criada pelo alemão Johannes Gutenberg, durante a idade média. A
invenção da prensa possibilitou que a produção de livros, por exemplo, não
precisasse ser em formato manual como ocorria na época e sim por máquinas,
otimizando o tempo, a quantidade e a capacidade produtiva dos conteúdos. Com a
circulação das ideias mais livres e aceleradas, a sociedade passou a ter contato
mais amplo com as mais diversas áreas de conhecimento.
O jornalismo apresentava um teor informativo voltado para informações
mercantis, favorecendo especialmente os comerciantes da época com o que eram
do seu interesse. Não havia exatamente um compromisso social no aspecto de
realização de denúncias sobre questões sociais e nem uma distinção opinativa de
profissionais do jornalismo, como ocorreu tempos depois.
Mas, com o passar do tempo, o jornalismo passou por diversas
transformações, enraizando-se na sociedade de forma profunda. Para o pesquisador
brasileiro Ciro Marcondes Filho, no livro intitulado “A Saga dos Cães Perdidos’’, o
jornalismo em um contexto mundial é composto de quatro fases importantes.
A primeira fase é compreendida entre 1789 e 1830 e foi marcada pelos
conteúdos de cunho político e literário, em uma época histórica marcada por
revoluções sociais. O jornalismo nessa época apresentava características precárias.
A profissão ainda não era valorizada e o lucro não era o principal objetivo das
empresas. Os conteúdos publicados eram controlados, voltados para questões
políticas e havia uma divisão de trabalho deficitária com acúmulo de tarefas no
processo de produção.
Os consumidores dos jornais nesse período eram específicos: grupos
políticos e comerciais, e a população em geral ainda não era o foco dos jornais. Os
valores para aquisição de jornais em uma época que o salário dos proletários era
baixo, tornava o consumo inacessível para a grande maioria da população.
 Com o passar do tempo, os avanços tecnológicos foram capazes de alterar o
estilo de vida do tecido social. E foram esses mesmos avanços que marcaram a
segunda fase do jornalismo, compreendida entre 1830 até 1900. Nesse período,
houve um processo de urbanização que colaborou para um preço mais acessível
dos jornais e aumentou o número de leitores interessados em obter informações.
Logo a prática jornalística começou a ter grandes transformações, trazendo
assuntos com mais liberdade de expressão e menos censura.
Nesse mesmo período, a publicidade começava a se apresentar nos
conteúdos jornalísticos e os jornais já começavam a desenvolver uma visão
capitalista. A informação passou a ser vista como mercadoria e começaram a surgir
o que chamamos de penny press (jornais baratos, com uma produção em massa).
Para se afastar da antiga fase que foi intensamente marcada por conteúdos
políticos, surgiu a importante teoria da objetividade, um pouco polêmica e conhecida
pelo conceito de neutralidade, com a finalidade de compreender e compartilhar um
fato “puro’’, sem nenhuma interferência de inclinação de opinião, com o intuito de
atrair mais anunciantes publicitários. As notícias se tornaram mais padronizadas, as
empresas jornalísticas começaram a ter equipes de redação estabelecidas e houve
maior preocupação com o que poderia atrair o leitor já nas primeiras páginas. Ainda
nessa fase, o trabalho do repórter, do correspondente e de outras áreas de produção
de conteúdo passou a ganhar mais notoriedade e a prestigiada técnica do lead
passou a ser utilizada. Essa técnica, que é utilizada até hoje, consiste no primeiro
parágrafo do texto fornecer ao leitor informações básicas sobre o conteúdo como: o
quê, onde, quando, por que, para quê, a fim de facilitar a leitura.
 Nesse mesmo período, os jornais também passaram a alcançar a
independência financeira. Por fim, a terceira fase do jornalismo se iniciou, datada
entre 1900 e 1960, marcada especialmente pelo controle de monopólio do mercado
de jornalismo por meio de grandes grupos e pela produção de tiragens.
A tecnologia também marcou essa fase, pois os novos avanços tornaram a
captação e circulação de notícia mais acelerada, sendo mais acessível para a classe
empresarial. Houve então a centralização de veículos de notícias, criação de
conglomerados e muitos jornais locais se tornaram afiliados dos grandes grupos. A
imersão das indústrias publicitárias nessa época também foi marcante e muitas
vezes competia com as empresas de jornalismo.
Ainda seguindo a classificação proposta por Ciro Marcondes Filho, a quarta
fase do jornalismo teve início em 1960. Essa etapa foi marcada por diversas
transformações tecnológicas, sociais, políticas, econômicas, culturais e espaciais,
apesar de ser conhecida como a Era Tecnológica. 
A forma de fazer e de consumir a notícia sofreu diversas influências internas e
externas aos meios de produção. A linguagem utilizada nas notícias mudou,
tornando-se mais interativa com o público. Elas foram adaptadas para os meios
eletrônicos e digitais. A hipermídia passou a ser utilizada e a relação entre os
conteúdos de jornalismo e o seu público sofreu grandes alterações. A necessidade
de alcançar as expectativas do público ganhou mais espaço e a informação passou
a circular de forma mais rápida, dinâmica e em maior quantidade para atender esse
novo mercado.
A partir desta breve contextualização histórica, é possível perceber como as
transformações sociais, históricas, culturais, políticas e as evoluções digitais
transformaram o jornalismo. Elas o fizeram ganhar um papel essencial e
imprescindível no corpo social e no imaginário coletivo, com um ideal de
participação, com a função de fortalecer a democracia e possuir como principal
objetivo informar as pessoas, sendo um canal de denúncias eficaz e expositivo,
fornecendo aos cidadãos ferramentas necessárias para o exercício de sua cidadania
na sociedade. (TRAQUINA, 2005).
Atualmente, para pleno exercício de sua função, o jornalismo se apoia em
alguns direitos civis: o Artigo 11 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
de 1789, nos Artigos 5 (incisos IV, IX e XIV) e 220 da Constituição Federal de 1988 e
também na Lei 5250 de 9 de fevereiro de 1967, conhecida por ser a “Lei da
Imprensa”. Em resumo, todos esses “direitos civis” reforçam o direito à informação,
liberdade de expressão e reforçam a responsabilidade por aquilo que se é exposto. 
Coletar, apurar, redigir, editar, publicar e divulgar informações, são algumas
das atividades básicas do profissional de jornalismo. Logo, dada a seriedade do seu
compromisso social, os valores éticos são indissociáveis do exercício da profissão,
selando assim uma responsabilidade com o coletivo humano, conferindo-lhe uma
identidade única em sua função social.
2.1.2 A ética jornalística e os valores mercadológicos

Conforme dito anteriormente, ao longo do tempo foram estabelecidos


princípios que norteiam o jornalismo: a verdade, a independência e a pluralidade de
opiniões. Porém, como é possível ver em sua jornada histórica, diversas mudanças
sociais ocorreram e, consequentemente, influenciaram a prática jornalística,
principalmente em relação à transformação dos seus conteúdos e as técnicas
utilizadas para se fazer notícia. A preocupação mercadológica também trouxe um
dilema para a atividade jornalística valorizar os chamados “fatos reais’’, sendo fiel ao
interesse público e não buscar o sucesso de rentabilidade, ou sobrevalorizar as
“notícias fabricadas’’. De forma crítica, para Ciro Marcondes Filho, essas mudanças
no jornalismo são o reflexo da aventura da modernidade.

O jornalismo reflete muito bem a aventura da modernidade. Ele é a melhor


síntese do espírito moderno. Por esse mesmo motivo, o processo de
desintegração da atividade, seu enfraquecimento, sua substituição, por
processos menos engajados (que já não buscam a ‘’verdade’’, que já não
questionam a política ou os políticos, que já não apostam numa evolução
para uma ‘’sociedade mais humana’’) é um sintoma de mudança dos tempos
e dos espíritos. Mudamos para uma época semelhante àquilo que Nietzsche
atribui a toda a modernidade: o de ser uma época fraca, decadente e niilista.
(MARCONDES FILHO, 2002, p. 15.)

Hoje, fruto da modernidade, o papel social do jornalismo viabiliza qualquer


produção de notícias como mercadoria. Parte das notícias se tornaram artigos do
capitalismo, já que toda a produção diária e informatizada do jornal transformou a
informação em produto, tendendo a triturar fatos e análises. (GIORDANO, 2019). Ou
seja, sem dúvidas, o capital passou a influenciar grandemente a forma como a
produção da notícia acontece.
Dentro dessa mesma perspectiva, podemos perceber que parte dos
conteúdos jornalísticos passaram a compor o conceito da modernidade líquida
proposta pelo filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Segundo o autor, as
relações sociais, econômicas e de produção se tornaram frágeis, maleáveis, como
os líquidos, e a prática jornalística é também influenciada por esse processo, uma
vez que vivemos um tempo de constantes notícias aceleradas e instantâneas, a
necessidade de obter o “furo jornalístico’’, a preocupação com o ranqueamento no
filtro de pesquisa, a apuração veloz, entre outros. Enfim, tudo corrobora para que a
notícia será recepcionada, gerando impactos sinérgicos e cíclicos no consumidor.
No livro A saga dos cães perdidos, de Ciro Marcondes Filho, observa-se que
não existem responsáveis exclusivos pelas transformações que ocorreram na forma
de fazer o jornalismo. 
A civilização humana como um todo que se transforma a partir de uma
variável independente: a informatização. O processo digital, de tempo real,
de comunicação on-line estabelece novos parâmetros sociais. Tudo muda.
O jornalismo, bem como os valores de progresso, evolução e razão foram
emanações de outra época histórica, foram epifenômenos da revolução
industrial e da revolução social burguesa nos séculos 18 e 19.
(MARCONDES FILHO, 2002, p. 37.)

Nesse sentido, novos modelos de financiamento de jornais surgiram para


tentar transformar e ser uma resistência para o rumo atual que o jornalismo está
tomando. Pode-se citar o caso do jornal online The Intercept Brasil, lançado em
2014 pelo ativista Glenn Greenwald, Laura Poitras e Jeremy Scahill, que se
sustentaram por meio do financiamento coletivo e puderam desvincular o valor
monetário da notícia. Isto é, não depender de views ou notoriedade para atrair
publicidade e por consequência investimento, ficando livres para cumprir bem o seu
papel social: estimular a democracia e servir a sociedade civil.
Dentro desse mesmo contexto, o The Intercept Brasil também ganha a
possibilidade de levar ao público uma nova perspectiva nas notícias, uma visão
humanizada em primeira pessoa, para que a sociedade possa de fato ter acesso a
uma notícia com um olhar crítico com bom nível de profundidade.
Entretanto, o aspecto negativo é que geralmente o volume de postagens não
é tão frequente como nos modelos dos veículos tradicionais, que focam no factual e
acabam tendo pressa para dar o furo de reportagem ao invés de dar atenção a sua
investigação, justamente o oposto que o The Intercept Brasil realiza.
Exemplos como esses demonstram que são essas novas formas de produção
de notícias que evitam com que os profissionais violem os princípios
regulamentados pelo código de ética dos jornalistas brasileiros. (GIORDANO, 2019).
Ou seja, esses formatos possibilitam que a real função do jornalismo seja mantida e
evita que a informação se torne mera mercadoria.
Entende-se de que quando o capitalismo ignora a função social do jornalismo,
ocorre o que Bucci (2000) chama de ética do mercado ou ética do egoísmo, em que
o agente – nesse caso as agências de notícias – contribui para o bem comum mas
em segundo plano, ela está focada em realizar os próprios interesses.
A partir desse cenário, analisamos o jornalismo a partir do que ele “deveria
ser” e não de como ele “é”, justamente porque várias de suas premissas esperadas
não são de fato utilizadas na prática. No lugar delas, vemos um cenário com
manipulação de informações, polarização, ausência de evidências de editoria,
sensacionalismo e muito interesse econômico, e várias dessas premissas,
contrariam o código de ética do jornalismo. Karam (2004), em seu livro A ética
jornalística e o interesse público, fala um pouco sobre essa questão da ética no
jornalismo.
Ao não tratar intensa e persistentemente de fenômenos como fome, miséria
e violência (e de suas causas essenciais, que tem fartos exemplos e dados
e fatos), reproduz e reforça comportamentos e saídas individuais. Neste
aspecto, os códigos éticos e a profissão jornalística correm o risco de não
serem mais aquilo que se apregoou tanto durante o século XX e caminhar
em direção à “marquetização” da realidade, a antessala do simulacro do
real, a sala efetiva do marketing da comunicação, a nova retórica. (KARAM,
2004, p. 130.)

Pode-se então concluir que há uma grande diferença entre o que o jornalista
busca exercer por meio de sua função social e o que de fato algumas empresas
jornalísticas buscam justificar para existir. A ética muitas vezes é ignorada em prol
da busca pelo lucro, o entretenimento e o lúdico. E, por consequência, o jornalismo
perde o prestígio e produz menos conhecimento para a sociedade, gerando menos
reflexões e contribuindo com menor intensidade para a democracia.

2.1.3 A importância do jornalismo como forma de conhecimento

É possível compreender que o jornalismo propõe a criação de narrativas dos


acontecimentos da realidade. Essas narrativas são carregadas de conteúdos
informativos que contribuem de forma subjetiva para a formação da visão de mundo
dos consumidores. A linguagem utilizada, o enquadramento selecionado, a
proximidade com o contexto social, o conteúdo em si, entre outras características.
Isso permite que o jornalismo seja uma ponte entre o receptor e o conhecimento
social. O jornalismo tem o poder de transmitir não apenas notícias, mas também de
colocar em foco elementos e discussões sociais. A partir disso, percebemos que o
jornalismo se configura como um agente formador social e que também carrega
responsabilidades qualitativas dos seus conteúdos, contribuindo no aspecto do
conhecimento.
O conhecimento adquirido através do jornalismo pode ser interpretado, de
acordo com Eduardo Meditsch (1997), de duas maneiras: a primeira afirma que o
conhecimento é transmitido pela reprodução. Segundo o autor, a reprodução do
conhecimento que o jornalismo traz se enquadra em três abordagens primordiais:
a) Ciência como voz singular do conhecimento: aqui, entende-se
que o jornalismo em si não é uma fonte confiável de conhecimento já que o
verdadeiro conhecimento precisaria ser passado e estudado por
especialistas ministrantes;
b) O jornalismo enquanto uma ciência menor focada: ou seja, um
modelo que aborda “conhecimento de”, referente ao cotidiano, e não
“conhecimento sobre” numa abordagem acadêmica;
c) Jornalismo como um canal reprodutor do conhecimento: assim,
além de produzir o “conhecimento de”, ele reproduz e afirma o
“conhecimento sobre” de forma a transmitir a informação produzida por
outra instituição (de maneira mais complexa que apenas uma “transmissão”
do conhecimento). (MEDITSCH, 1997, p.27).

Dessa forma, Meditsch considerava que o jornalismo não só produzia


conhecimento, mas também reproduzia o conhecimento oriundo por outras
instituições sociais. Isso ajuda a entender melhor o papel do jornalismo no processo
de cognição social. A segunda forma de interpretar o conhecimento através do
jornalismo segundo Meditsch é a degradação do saber, uma espécie de
contextualização do saber. Por exemplo, observa-se que o “saber” chega às
universidades, aos livros didáticos, ao ensino médio e a população em geral, de uma
forma diferente de como foi produzido no meio científico. Logo foi necessária uma
nova caracterização e de um novo processo de contextualização. Ou seja, uma
espécie de recontextualização, para que o “saber original” tenha significado em um
novo contexto.
Claro que falar de jornalismo como conhecimento possui diversas
complexidades e interpretações, justamente porque definir o jornalismo como forma
de conhecimento traz uma exigência enorme ao profissional que exerce a profissão.
Ele deixa de ser apenas um comunicador que se limita a evidenciar e noticiar os
fatos e é induzido a responsabilidade de se tornar um produtor e reprodutor do
conhecimento e opinião.
Todo texto nasce de um contexto. A produção jornalística ainda é dotada pelo
caráter cultural e histórico do meio em que se está inserido. A subjetividade faz parte
do dia do jornalista e influencia a versão final da matéria apresentada.
 Partindo desse pressuposto, e dos desdobramentos a seguir, acredita-se na
hipótese de que o jornalismo atua como forma de conhecimento. Estudos científicos
apontam que no processo de aprendizagem os aspectos emocionais, cognitivos,
culturais, orgânicos ou até mesmo psicossociais são importantes. A transmissão da
informação fomentada pelo jornalismo não é diferente e passa por todo esse
processo. O saber exato não pode ser transmitido justamente por essas influências,
mas quem recebe a informação tem papel tão ativo quanto quem lhe transmite.
Tendo essa ideia de que o jornalismo atua e contribui para a produção de
conhecimento, a comunicação se torna uma ferramenta que, como método analítico
e como método científico, é frágil. Na prática, o jornalismo não releva menos ou mais
que uma ciência. Por isso, não pode ser equiparado como “conhecimento sobre”
(MEDITSCH, 1997), já que cobre a função de reproduzir o “conhecimento sobre” e
transmitir o “conhecimento de”.
Na comunicação jornalística, os eventos são retratados por ângulo e critérios
da sua singularidade, visando sempre a reconstrução do fato. Entretanto, vale
lembrar que, embora o singular esteja presente em todo processo de comunicação,
requer ser confrontado com o contexto histórico-social, para que, assim, direcione o
jornalismo. Sob esse contexto, a comunicação não deixa de ser uma ferramenta de
conhecimento e contribui para manutenção da democracia e do tecido social.
Na comunicação, em especial no ofício jornalístico, não há revelação maior
ou menor, há simplesmente a abordagem diferente que revela aspetos que outros
modos ou ferramentas não seriam capazes de revelar. Assim como há maneiras
distintas de produzir o conhecimento, o próprio jornalismo, se tratado como
ferramenta e meio, tem uma maneira distinta de revelar algo diferente. E ao revelar
algo diferente, pode mesmo revelar aspectos da realidade que os outros modos de
conhecimento não são capazes de revelar.
Após compreender o fenômeno jornalístico como ferramenta e suporte na
reprodução do conhecimento, torna-se necessário compreender a esfera do
conhecimento e da intelectualidade. Faz-se necessário compreender principalmente
como o jornalismo atua como mediador de consciência e operador da realidade,
justamente, porque é um ofício que nasceu junto ao tecido social, no qual tudo que
vira notícia tem o potencial de construir uma narrativa do imaginário social.
As notícias não levam apenas a produção do fato ou conteúdo, mas também
da consciência. “O jornalista, quando revela os fatos, tendo ou não ciência ou
intenção, produz consciência, portanto dentro de si é de qualquer modo
responsável.” (MENEGHETTI, 2004).

Machado de Assis, escritor brasileiro, considerado um dos maiores críticos


midiáticos e portador do título de maior nome da literatura brasileira, demonstra
indícios da relação direta entre o conhecimento propiciado pelo jornalismo e a
intelectualidade do leitor.

O jornal é a verdadeira forma da república do pensamento. É a locomotiva


intelectual em viagem para mundos desconhecidos, é a literatura comum,
universal, altamente democrática, reproduzida todos os dias, levando em si
a frescura das ideias e o fogo das convicções (MACHADO DE ASSIS, 1859,
apud SILVA, 2005, p. 29).

Estudos científicos apontam a relação entre o processo cognitivo na obtenção


de conhecimento e da intelectualidade. É imprescindível saber sobre essa relação
para aprofundarmos o debate sobre o jornalismo como forma de conhecimento e a
influência que ele exerce na obtenção e construção do conhecimento social. Porém,
a mente humana distorce as coisas. Para Walter Lippmann (1922), “todos nós,
indivíduos, enxergamos a realidade baseada em nossas emoções, preconceito e
hábitos que podem gerar ruídos nessa ponte entre o jornalismo e o conhecimento
transmitido”.

2.1.4 Precarização da função, fake news e o desafio da credibilidade

Entender como o jornalismo atua na produção de conhecimento e ver como


ele influencia o imaginário social, nos permite ter mais clareza e perceber quais são
os desafios atuais da profissão. Hoje, a dificuldade em manter a credibilidade e
combater as fake news está diretamente relacionada à possibilidade de a população
enxergar a realidade baseada nas próprias emoções e preconceitos e isso abre
margem para desafios como precarização da função, fake news, entre outros.
Vale também lembrar que outro fator que influencia e se torna um desafio
para a prática jornalística é a exigência de mercado pressionando que jornalistas
assumam papéis multidisciplinares. Atualmente, um único profissional é responsável
por pautas, apuração, redação e edição. Sendo assim, o jornalismo passou a
apresentar sinais de intensa precarização das condições de trabalho. São visíveis
sinais como jornadas de trabalho além das previstas em lei, vínculos empregatícios
precarizados, enfraquecimento da categoria de forma organizada, entre outros.
Observa-se tanto a precariedade do ponto de vista salarial quanto a insegurança em
relação à saúde (SAMUEL; PANTOJA; LIMA; 2021).
Todos esses efeitos colaterais afetam a produção e a qualidade das notícias,
uma vez que impactam a qualidade e o meio em que são produzidas. Christofoletti
(2019) diz que a crise do jornalismo é complexa, multifacetada e dinâmica e aponta
como ela vem acontecendo nas últimas décadas.

No jornalismo, como em outros universos, a crise é complexa, multifacetada


e dinâmica. Nas últimas décadas, ela tem se materializado na queda das
tiragens dos jornais, extinção de revistas, diminuição das audiências na
televisão, demissão de profissionais e o consequente enxugamento das
redações. Observamos também o desaparecimento de veículos e a falência
de empresas, o abandono de algumas práticas e o desvio de funções antes
consideradas constitutivas do gesto de informar. (CHRISTOFOLETTI, 2019,
p. 16-17.)

E o impacto da precarização vai além, também afeta no combate às fake


news. Com veículos cada vez menores, quebra de tiragem, sobrecarga de
profissionais, e falta de investimentos, é cada vez mais difícil filtrar de forma eficiente
e eficaz o que é informação do que é desinformação.
Com a velocidade das mídias, esse processo fica ainda mais difícil. As redes
se tornam celeiros e fábricas de fake news. Em 2017, o termo fake news foi eleita a
palavra do ano pela editora britânica Collins e a “pós-verdade” pelo Dicionário
Oxford. 
No Brasil, as fake news ganharam ainda mais notoriedade a partir das
eleições de 2018, período que foi marcado por uma grande polarização política e por
diversos compartilhamentos de conteúdos informativos através das redes sociais,
muitas vezes verificados como falsos. Segundo Hannah Arendt (1967),
nunca ninguém teve dúvidas que a verdade e a política estão em bastante
más relações, e ninguém, tanto quanto saiba, contou alguma vez a boa fé
no número das virtudes políticas. As mentiras foram sempre consideradas
como instrumentos necessários e legítimos, não apenas na profissão de
político ou demagogo, mas também na de homem de estado(ARENDT,
1967, p.2).

A circulação de notícias falsas sempre existiu na sociedade, porém, na


internet e com o uso massivo das redes sociais, a reprodução de fake news alcança
números exponenciais.
Segundo dados do IBGE, sobre o uso da “Tecnologia da Informação e
Comunicação – TIC” no Brasil, em 2019, a Internet era utilizada em 82,7% dos
domicílios brasileiros, e ainda em 2019, a pesquisa “Redes Sociais, Notícias Falsas
e Privacidade de Dados na Internet, do DataSenado indicou que entre os brasileiros
que têm acesso à internet, 98% dos entrevistados dizem acessar por meio do
celular. Logo, os dados levantam a hipótese que um dos fatores que ajudam na
propagação de notícias falsas é justamente parte da sociedade de informar e
propagar notícias pelo uso do celular.
A pesquisa realizada pelo DataSenado também trouxe dados relevantes: de
acordo com a metodologia de pesquisa, buscando compreender qual fonte de
informação é a mais utilizada pelos brasileiros,  79% dos entrevistados responderam
que utilizam o WhatsApp sempre e 14% o utilizam às vezes, em seguida teve a
televisão (50% sempre e 36% às vezes), YouTube (49% sempre e 39% ás vezes),
Facebook (44% sempre e 35% às vezes), sites de notícias (38% sempre e 46% às
vezes), Instagram (30% sempre e 30% ás vezes), radio (22% sempre e 40% às
vezes), jornal impresso (8% sempre e 31% às vezes) e Twitter (7% sempre e 13% às
vezes).  Segundo os participantes dessa mesma pesquisa, 50% responderam que é
fácil identificar uma notícia falsa nas redes sociais e 47% responderam que é difícil.
No livro A Máquina do Ódio, Patrícia Campos Mello (2020) relembra uma
importante declaração feita por Samidh Chakrabarti, gerente de produtos para
engajamento cívico do Facebook, em 2018, por meio de uma seção chamada
“Perguntas Difíceis”, reservada pelo blog do Facebook: “Se há uma verdade
fundamental a respeito do impacto das mídias sociais na democracia é que elas
exacerbam as intenções das pessoas — as boas e as más. No seu melhor,
permitem que nos expressemos e tomemos iniciativas. No pior cenário, permitem
que as pessoas disseminem desinformação e corroem a democracia.”
2.1.5 Manipulação da opinião pública e o Facebook Papers

Após comentar sobre as fake news e de como o jornalismo se comporta e


expõe seus traços na atualidade, torna-se necessário entender como funciona a
manipulação da opinião pública e quais são as principais ferramentas utilizadas que,
diretamente, ou indiretamente contribuem para a manipulação social. Mas, antes,
vale aprofundar e compreender o conceito e origem do termo "opinião pública”. O
entendimento sobre o conceito e a história do termo é fundamental para estabelecer
um ponto de vista chave e iniciar as discussões sobre manipulação na opinião
pública. Hannah Arendt (2000) conceitua a opinião pública partindo das concepções
gregas e do seguinte pressuposto: 

O termo “público” significa o próprio mundo, na medida em que é comum a


todos nós e diferente do lugar que nos cabe dentro dele. Este mundo,
contudo, não é idêntico à terra ou à natureza como espaço limitado para o
movimento dos homens e condição geral da vida orgânica. Antes, tem a ver
com o artefato humano, com o produto de mãos humanas, com os negócios
realizados entre os que, juntos, habitam o mundo feito pelo homem.
Conviver no mundo significa essencialmente ter um mundo de coisas
interposto entre os que nele habitam em comum, como uma mesa se
interpõe entre os que se assentam ao seu redor; pois, como todo
intermediário, o mundo ao mesmo tempo separa e estabelece uma relação
entre os homens. (ARENDT, 2000, p. 62).

Isso porque na Grécia os limites entre o que era público e privado eram bem
demarcados. Apenas depois a esfera social foi caracterizada como espaço de
circulação e a opinião pública passou a ser considerada como expressão da
participação popular na sociedade.
Os autores Lazarsfeld, Berelson e Gaudet (1944) e Berelson, Lazarsfeld e
Mcphee (1954) também opinam sobre o assunto. Segundo eles, para existir opinião
pública é preciso exigir mecanismos e centros de formação e informação como
jornais, revistas, clubes, partidos e associações que representam e sejam livres para
opinar. Após compreender a simbologia do termo, é preciso verificar quais são as
principais ferramentas em que a opinião pública é difundida e ganha uma dimensão
exponencial. E não há como negar as forças das redes sociais na sociedade. Elas
que sempre foram palco de repercussão, manifestações e mobilizações, ganham
destaque nas mídias e repercutem instigando a população.
A internet gera efeitos colaterais absurdos, sejam positivos ou negativos. O
compartilhamento de fotos, vídeos e reações em massa influenciam até mesmo as
relações sociais. De acordo com Nogueira (2011, p. 18), as “redes sociais são o
meio onde as pessoas se reúnem por afinidades e com objetivos em comum, sem
barreiras geográficas e fazendo conexões com dezenas, centenas e milhares de
pessoas conhecidas ou não”.

Mas vale lembrar que as ferramentas devem ser abordadas quando se trata
de manipulação. De acordo com um estudo sobre tempo em redes sociais e que
reuniu dados da Hootsuite e WeAreSocial sobre o uso dessas mídias mundialmente,
constatou-se que o Brasil é o terceiro país que mais usa redes sociais no mundo,
com uma média de mais de três horas por dia. 
E não é por menos, as plataformas digitais começaram a ter cada vez mais
importância, com o surgimento de redes como LinkedIn, Instagram, WhatsApp,
Facebook, YouTube, Twitter, Spotify e Netflix. As empresas detentoras dessas
plataformas criam e gerenciam mecanismos para que o usuário se mantenha mais
tempo possível na plataforma.
Referente ao controle, gerenciamento e manipulação, o documentário O
Dilema da Redes (2020), documentário disponível na Netflix, expõe que por meio da
coleta de entrevistas de ex-funcionários de grandes empresas de tecnologia, é
possível ver como a lógica das redes sociais podem servir como instrumento de
manipulação. De acordo com o documentário, todas as funcionalidades das
plataformas, como notificações, recomendações personalizadas foram desenhadas
para manipular e induzir o comportamento humano. O filme é um alerta sobre
análise dos dados e tecnologia na vida social. 
Pautamos essa temática com a finalidade de compreender que, na era da
comunicação em massa, assim como a televisão já foi identificada por manipular
ações dos telespectadores e os induzindo a ações de compra, as mídias sociais e
seus algoritmos têm potencial para difundir ideias e amplificar ações de manipulação
à opinião pública. Severo fala um pouco sobre como a evolução das mídias tem
cada vez mais o poder de manipular as pessoas.

Ao longo da história da sociedade, o jornal, o rádio, a televisão e a internet


foram se sucedendo, sem que o aparecimento de um novo meio de
comunicação de massa excluísse o outro. Nunca o volume de notícias foi
tão grande, nem sua propagação tão rápida. Da mesma forma, nunca foi tão
grande o poder de manipulação da mídia, que muitas vezes seleciona ou
distorce os acontecimentos divulgados, segundo os próprios interesses
políticos e econômicos do proletariado privado, que detém sua concessão, e
não como os fatos realmente aconteceram (SEVERO, 2012)

O jornalismo e os veículos de comunicação também não estão isentos de


terem o potencial de manipulação na opinião pública. Toda elaboração de
mensagem e na sua transmissão tem, mesmo que indiretamente, interesses que são
transferidos aos seus receptores. Geralmente no jornalismo a transferência de
intenções ocorre de forma sutil por meio das chamadas, títulos das mensagens e
matérias. Daí a importância do senso crítico para discernir o material apresentado. 
Skinner (1981) observava que, em nossos dias, o indivíduo que não detém o
poder em suas mãos, mas que, por outro lado possui a capacidade de discernir os
fatos com inteligência e com base em conhecimentos adquiridos, não apenas
através dos meios de comunicação de massa, é capaz de evidenciar o elo entre o
mundo da informação e o poder. 
Referente às principais estratégias utilizadas para realizar a manipulação
pública, o francês Sylvain Timsit (2002) elaborou uma lista com dez principais
estratégias de manipulação das massas, e que são utilizadas por elites sociais, na
cultura, na religião, no esporte ou qualquer estrutura de poder, são elas: 

1. Distração: Essa estratégia consiste em desviar a atenção do


público do que realmente importa, fornecendo uma série de informações
secundárias que tire o foco. Como uma grande fumaça que esconde os
focos do incêndio.
2. Método problema-reação-solução: Quando se cria um problema
ou uma situação de emergência na mídia para despertar uma reação na
opinião pública, e com base nessa reação criam-se as medidas desejadas.
Outro aspecto que ocorre neste tipo de estratégia, é criar uma crise para
fazer a população reagir e que como solução aceitem como “males
necessários” um possível retrocesso dos direitos sociais.
3. Estratégia da gradualidade: Como um conta gotas, pega-se uma
ideia que não é popularmente aceitável e aplica devagar por meio de ideias,
posts, notícias, exemplos e histórias, o foco é flexibilizar e manipular a ponto
de normalizar a opinião pública.
4. Estratégia de diferir: Aqui, vão ser disparadas notícias, fatos e
decisões que são apresentadas como é preciso implementar medidas
dolorosas agora, mas necessárias para um bom futuro.  A tendência é que o
público se espera que “amanhã tudo irá melhorar” Essa estratégia faz com
que, aos poucos, o público se acostume com a ideia a ser implementada.
5. Dirigir-se ao público como criança: Quando se infantiliza o
público e há o uso de um discurso infantil, quando o público adulto é tratado
de forma mais afetuosa como se ele ainda fosse criança observa-se uma
tendência de uma resposta igualmente infantil.
6. Sentimentalismo e temor: Quando se faz uso do aspecto
emocional, essa é uma técnica clássica para influenciar e impactar com
mais facilidade ideias, medos e temores, ou induzir comportamentos.
7. Valorizar a ignorância e a mediocridade: Quando a ideia é manter
em alta a popularidade de determinadas pessoas aumentando sua
visibilidade na mídia, para que muitas vezes o vulgar e o inculto sejam o
exemplo a ser seguido e tome o centro das atenções.
8. Desprestigiar a inteligência: Quando se apresenta cientistas,
profissionais qualificados de determinada área como vilão, ou como
pessoas ineptas do ponto de vista social e como um exemplo a não ser
seguido.
9. Reforçar a auto culpabilidade: Fazer o público crer que é
responsável pelo acontecimento de determinada situação, assim, em vez de
se criticar e ir contra o sistema econômico, o indivíduo aceita a culpa, o que
gera a inibição da ação do indivíduo. E sem ação, não há questionamento.
10. Monitoramento: Por meio do uso de técnicas e pesquisa de
opinião, análise de dados em redes sociais, os detentores de determinado
poder conseguem conhecer melhor o comportamento do indivíduo mais do
que ele mesmo e esses dados aperfeiçoam o seu modelo psicossocial,
oferecendo informações que facilitam o controle e a manipulação da opinião
pública.
(TIMSIT, 2002, p.2).

Por fim, essas são algumas das estratégias utilizadas por mecanismos de
poder para influenciar e manipular parte da opinião pública e política da sociedade.
A manipulação da opinião pública é um fato histórico e social, assim como as
notícias falsas. Os grupos de poder e de influência sempre se aproveitaram da
oportunidade para se estabelecer, ditar e impactar a opinião pública, sempre diante
do seu interesse em questão.
Atualmente, com o grande número de redes sociais e com o amplo acesso ao
círculo digital, as formas de se comunicar ganharam outras complexidades e os
métodos de manipulação se tornaram ainda mais vastos. Engana-se quem pensa
que todo processo é feito de forma imprevista ou não pensada: muitas estratégias
são extremamente analisadas antes de serem colocadas em prática, e com o passar
do tempo essas observações são cada vez mais exploradas com a finalidade de se
tornarem eficientes. Segundo Eugênio Bucci (2021),

só o que a internet trouxe foi um grau de concentração de capital e de poder


jamais visto na indústria dos meios, com algoritmos que extraem os dados
mais íntimos de cada pessoa e depois monitoram seus comportamentos. A
massa segue sujeita às piores manipulações, que, para alguns
observadores, lembram os tempos do fascismo e do nazismo. (BUCCI,
2021, p. 47.)

Segundo a matéria “Brasil tem ‘tropa cibernética’ de desinformação política,


diz estudo’’, publicada no dia 3 de fevereiro de 2021 pelo veículo jornalístico Estado
de Minas, existem tropas promovidas profissionalmente por agências
governamentais e outros atores institucionais ou privados que promovem ações
“para manipulação de mídia social” por meio de ações de “propaganda
computacional” e “desinformação industrializada” sobre temas políticos. A
pesquisadora Antonella Perini, que integra o Projeto de Pesquisa de Propaganda
Computacional do Oxford Internet Institute (OII), afirmou que “na indústria da
desinformação global, o Brasil está posicionado como um país com ‘tropas
cibernéticas’ de capacidade média”. “As mais utilizadas estratégias no Brasil foram
mensagens pró-governo, ataques à oposição e polarização.” (PERINI, 2021).
Joseph Paul Overton, ex-vice-presidente do Centro de Políticas Públicas de
Mackinac, Michigan, Estados Unidos da América, em meados da década de 1990,
criou a teoria da Janela de Overton (1990): um conjunto de processos de ideias que
a população pode tolerar ou aceitar em um dado momento histórico. Uma ideia
compartilhada precisará passar pela “janela social’’ de aceitação. Para exemplificar
melhor esse processo de tolerância, Overton (1990) estabeleceu 5 etapas: 1-
inaceitável. 2- verossímil (talvez pense nisso). 3- neutralidade (sem opinião
formada). 4- provável (é possível concordar) e 5- inevitável (ou aceitável).
As etapas não são fixas, portanto, é possível que uma ideia transite de uma
etapa para outra, tudo dependerá da capacidade de manipular ou transformar a
opinião pública sobre determinado tema, levando pessoas a aceitação ou
reprovação de algo. As influências podem ser tanto positivas como negativas e isso
acontece muito no cenário político.
Para o filósofo Michel Foucault, no livro Microfísica do Poder, as relações de
poder também podem usar a linguagem como detentora da verdade:

Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade,
isto é, os tipos de discurso que aceita e faz funcionar como verdadeiros...,
os meios pelo qual cada um deles é sancionado, as técnicas e
procedimentos valorizados na aquisição da verdade; o status daqueles que
estão encarregados de dizer o que conta como verdadeiro. (FOUCAULT,
1979, p. 12.)

Atualmente, os principais influenciadores que conseguem mobilizar e transitar


opiniões através dessas etapas são os “think tanks”, grupo composto por pessoas
independentes, semigovernamentais, políticos, institutos de pesquisa, filiados a
partidos políticos, empresas, imprensa, agências de lobby, entre outros.
Em épocas de grandes acontecimentos, como crises sociais, econômicas,
sanitárias, entre outros, o poder de manipulação em um momento de insegurança e
incerteza pode se tornar muito maior, pois o desespero e a emotividade podem levar
pessoas a mudarem as suas opiniões sobre determinados pontos de vista. Opiniões
começam a ser introduzidas por meio de canais de comunicação ou entretenimento,
mídias sociais (..) e as ideias começam a ser politizadas. Atualmente essas
estratégias são muito utilizadas para fins políticos e socioeconômicos, mas também
estão presentes em diversas áreas.

Com as revoluções liberais, as técnicas de comunicação social nunca


interromperam seu crescimento, ora aos saltos, ora em gradações mais ou
menos contínuas. O que no século XVIII era um amontoado de jornaizinhos,
sem periodicidade definida e sem expressão econômica, eclodiu em
indústria gráfica no século XIX, transubstanciou-se em meios de massa no
século XX e, agora, no século XXI, assumiu o centro do capitalismo com as
big techs e o mercado global das imagens que entretém. Durante esse
percurso, a comunicação social atuou para manipular a opinião pública.
Desde o tempo dos folhetos de opinião no século das luzes, tem sido
assim.  (BUCCI, 2021, p. 198).

Muitas redes sociais não ficam de fora e já sofreram e ainda sofrem diversas
denúncias com relação à coleta e uso indevido de dados para uso de manipulação
de informação. O Facebook é um exemplo que constantemente está ligado a
polêmicas dessa vertente. Em 2021, uma ex-funcionária, que trabalhava em um
setor de pesquisas internas, Frances Haugen, apontou que a empresa utilizava de
mecanismo de coleta de dados para venda com o intuito de lucrar independente se
precisasse ir contra regras morais, éticas, de segurança e bem-estar dos usuários. A
denúncia foi repassada para parlamentares do Congresso dos Estados Unidos e
para a Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador das empresas
listadas na bolsa de valores dos EUA. e elo alto número de conteúdos vazados,
foi-se criado um consórcio internacional de veículos de comunicação. Até o
momento, algumas principais revelações do Facebook Papers (ano) são: 

1. A empresa sabe que suas plataformas desencadeiam efeitos negativos


em adolescentes com relação à aparência;  
2.Manipulação do algoritmo para aumento de discussões, polarizações
políticas e cancelamentos;
3. As regras do uso da rede eram desiguais, pois favorecem maior liberdade
na rede social para políticos e autoridades;
4. Inteligência Artificial da empresa é ineficiente, pois só conseguiu remover
entre 3% e 5% de materiais com discurso de ódio e apenas 0,6% com
violência. Muitos conteúdos sérios foram moderados de forma errada e
classificados erroneamente;
5. Rede social utilizada por aliciadores para tráfico de mulheres do sudeste
asiático para trabalharem no Oriente Médio; 
6. A rede social demorou a conter posts que incentivaram o ataque ao
Capitólio pelos apoiadores de Donald Trump; 
7. Reserva de orçamento para utilizar no marketing com fins de atrair
menores de idade (18 anos), como forma de concorrer usuários com outras
plataformas digitais;
8. Rede social como fonte para conteúdos de política e desinformação;
9. Concentração de conteúdo cívico para pessoas específicas; 
10. Diversos países à mercê de conteúdos de incitação à violência e
discursos de ódio. Entre os principais países estão o Brasil, Índia, Egito,
Turquia e Filipinas;
11. O Brasil foi analisado como um território de grande alcance de conteúdo
tóxico e de baixa qualidade;
12. Rede social conta com um algoritmo racista ao rotular negros como
primatas e não conseguiu identificar os discursos de ódio produzidos em
árabe, ou seja: conteúdos não foram moderados e contidos;
13. A rede social disseminou fake news em período de eleições. Apesar do
alerta dos funcionários, aparentemente esses conteúdos foram mantidos
para gerarem interações e interesse entre os usuários;
14. Plataforma intensificou a desinformação, discurso de ódio e incentivo à
violência na Índia; 
15. Prioridade à política de lucro mesmo tendo ciência sobre os efeitos
nocivos da plataforma;
16. Ação tardia da plataforma com relação à intervenção de comentários
antivacina durante a pandemia.

(FACEBOOK PAPERS, 2011)

Em uma de suas declarações, Marck Zuckerberg afirmou que o objetivo do


Facebook é conectar pessoas, criando um mundo mais transparente. A partir dessas
revelações, podemos analisar como o Facebook, uma rede social que era utilizada
pelos usuários para gerar aproximações, interações, trocas, conexões, diversão e
entretenimento, tornou-se um meio de processo complexo de dominação e
manipulação entre os seus usuários.

2.1.6 O jornalismo e a checagem dos fatos

Depois de compreender as estratégias de manipulação, é hora de analisar


sobre a importância da checagem dos fatos. O fato sempre foi uma das bases
indispensáveis do jornalismo. Analisar e apurar as informações para transmitir
notícias precisas é um compromisso e um princípio do exercício ético do jornalismo,
colaborando com o desenvolvimento de uma sociedade justa, pautada na ética de
seus profissionais.
No entanto, conforme as transformações no jornalismo a partir da sua
presença marcante no meio digital, com as rotinas organizacionais aceleradas, a
competitividade e outros fatores ditos anteriormente, os fenômenos da
desinformação e as fake news no tempo da pós-verdade, os fact checking
tornaram-se um método inovador dentro do jornalismo e foram criados a fim de
complementar a execução da prática jornalística. Como foi dito anteriormente, as
fake news na atualidade ganham cada vez mais força.
A Academia Brasileira de Letras conceitua a pós-verdade como uma
informação ou asserção que distorce deliberadamente a verdade, ou algo real,
caracterizada pelo forte apelo à emoção, e que, tomando como base crenças
difundidas, em detrimento de fatos apurados, tende a ser aceita como verdadeira,
influenciando a opinião pública e comportamentos sociais.
Esse fenômeno apesar de já ser um objeto de estudado há anos, ganhou
mais destaque quando foi chamado de “fatos alternativos’’ em 2017, por Kellyanne
Conway, conselheira do presidente Donald Trump, em uma entrevista a uma
emissora de televisão norte-americana. Ela utilizou o termo para se referir à forma
que o governo Trump trabalhava quando houve um questionamento da adulteração
dos dados sobre o público que participou da cerimônia de posse dele quando ele
ganhou as eleições de 2016, pelo Partido Republicano, nos Estados Unidos.
A ideia de checar os fatos surgiu na década de 1990 pelo jornalista americano
Brooks Jackson, que foi incumbido pela CNN de verificar se realmente tudo que
eventuais candidatos que disputavam as eleições diziam a verdade. A partir dessa
incumbência, foi criada a primeira equipe de jornalistas focada em analisar a
veracidade das notícias em propagandas eleitorais e após o sucesso do trabalho, foi
criado o primeiro site que seria independente de checagem.
Posteriormente, com o decorrer do tempo, novas plataformas foram sendo
desenvolvidas utilizando a prática jornalística como intervenção, como exemplo a
Agência brasileira Lupa, considerada a primeira agência de “Facts Check” do Brasil.
A prática da checagem é congruente à função social básica do jornalismo que
consiste em apurar, examinando cada declaração, e a lógica da checagem é
composta por três parâmetros modelos: 

Fase 1 fact-checking (checagem de fatos): quando o profissional seleciona


o fato que pretende analisar e mede sua relevância. Perguntas como: por
que essa notícia impacta a sociedade e qual o impacto dessa notícia caso
seja fake? Depois de analisar o impacto e relevância, atestam seu grau de
veracidade.

Fase 2 Debunking (desmistificação): Quando se analisa de onde o boato


surgiu. Seria de um site? grupos de WhatsApp? redes sociais? Aqui, se
examina a origem do conteúdo fabricado.
Fase 3 Verificação: Na última fase, o foco é examinar os conteúdos digitais,
há fotos? vídeos? eles foram adulterados? Todos esses questionamentos
são feitos a fim de determinar se é fato ou fake.
(FIRST DRAFT, 2017)

Ainda assim, definir se uma notícia é falsa ou não, há uma seriedade e


responsabilidade de impacto, logo, as agências de checagem fazem uso de políticas
de revisão para chegar à verdade, um dos indicadores criados o “truth-o-meter”
método criado com intuito de medir a verdade, ou melhor a sua precisão, os critérios
são:

Verdadeira: quando a declaração está certa e não há nenhuma informação


importante faltando;

Majoritariamente verdadeira: a declaração está correta, mas necessita de


informações complementares ou esclarecimentos;

Parcialmente verdadeira: declaração está correta, mas omite alguns


detalhes ou tirar informações do contexto;

Majoritariamente falsa: a declaração tem algum fundo de verdade, mas


deixa de inserir fatos importantes que distorce o contexto;

Falsa: a declaração não é verdade; Declaração não é verdadeira e faz uma


“alegação ridícula”.

(HOLAN, 2018)

Ao analisar as estruturas e o modo como as checagens são feitas, pode-se


aferir a sua importância na construção da notícia e na prática jornalística e o modo
como ela complementa o modo de se fazer jornalismo e contribui para a cobertura
noticiosa.
2.2 A toxicidade e a liberdade de expressão no Brasil
2.2.1 Liberdade de expressão e o ódio nas redes sociais

Os discursos de ódio não foram inventados pelas redes sociais. Eles já


existiam antes delas. A diferença é que hoje as redes sociais criam condições e
facilitam a proliferação dessas ideias. A anonimidade e a capacidade de se ser
invisível (não acontecendo a presença física do agressor e da vítima) facilita a
agressão (ESTADO DE S. PAULO, 2021). Além disso, os algoritmos utilizados são
programados para promover mensagens que geram mais visibilidade, totalmente
diferente das mídias tradicionais, que teriam que gastar tempo e dinheiro para
publicar algo.

Entretanto, vamos primeiro conceituar o que é discurso de ódio. Segundo o


Guia de análise de discurso de ódio produzido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas)
em parceria com o CONIB (Confederação Israelita do Brasil) em 2020, discurso de
ódio seria,
manifestações que avaliam negativamente um grupo vulnerável ou um
indivíduo enquanto membro de um grupo vulnerável, a fim de estabelecer
que ele é menos digno de direitos, oportunidades ou recursos do que outros
grupos e indivíduos membros de outros grupos, e, consequentemente,
legitimar a prática de discriminação ou violência. (LUCCAS; GOMES;
SALVADOR, 2020, p. 4).

Algumas pessoas também conceituam o discurso de ódio como uma espécie


de “cancelamento”, ou seja, atacar uma pessoa para que ela perca visibilidade e/ou
patrocínios, entre outras coisas. Para tentar controlar esse fenômeno, algumas
medidas foram tomadas para tentar diminuir a propagação desse tipo de fala nas
redes sociais. Entre as medidas estão: limitação de alcance, contradiscurso,
remoção, censura prévia, indenização, além de sanções criminais, administrativas e
privadas. Todas essas sanções estão presentes nas diretrizes e no termo de uso das
redes sociais.
Vale ressaltar que, mesmo que haja esse combate, não podemos nos
esquecer que ainda existe o direito à liberdade de expressão, mesmo que ele não
seja absoluto. O que acontece então é que as relações entre o direito de expressão
dos sujeitos e dos discursos de ódios não são sempre claras e esbarram em
diversos entendimentos. (RUEDIGER et al., 2021). Logo, não se pode simplesmente
censurar tudo, porém expressões que atentem contra a própria liberdade não podem
ser toleradas (ESTADO DE SP, 2021). 
Atualmente, o método para coibição desse tipo de discurso, segundo o estudo
Discurso de Ódio em Ambientes Digitais da FGV, acontece através das análises de
denúncias de outros usuários. O processo é que o usuário ao se deparar com uma
publicação ou comentário que viole em algum aspecto as Diretrizes de Comunidade
que são estabelecidas pelas redes sociais, pode denunciar o conteúdo, que
posteriormente será analisado de forma contextual por moderadores da plataforma. 
Logo a percepção e a cultura é um elemento muito importante na detecção correta
de discursos de ódio. (RUEDIGER et al., 2021).
Entende-se, então, que o discurso de ódio não é homogêneo, as práticas
estão relacionadas diretamente aos contextos sociais e políticos que são
expressados.

2.2.2 Haters, trolls e o cyberbullying

Um termo comum, que se usa na internet por pessoas públicas, é a palavra


“hater” (EU SEM FRONTEIRA, 2021). De origem da língua inglesa - em tradução
literal significa "odiador'' e define uma pessoa ou grupos de pessoas que tem como
objetivo disseminar discursos de ódio, ofender ou oprimir por meio das mídias
sociais. Muitas vezes, os praticantes se escondem pelo anonimato e perfis fakes.
Geralmente os haters ofendem e atacam qualquer postagem que esteja em
desacordo com as suas próprias ideias, e por ódio, ou até mesmo por inveja. A
consequência mais comum desse tipo de atitude é o fenômeno cyberbullying (EU
SEM FRONTEIRA, 2021). Isso corresponde à prática de agressão moral organizada
contra determinada pessoa ou grupos via internet O cyberbullying é a extensão da
prática do bullying do ambiente físico para o plano virtual, e como a internet tem
poucos limitadores, os haters se aproveitam das lacunas e criam alternativas para
utilizarem ataques.
Porfírio (2022), explica o que as ações consideradas cyberbullying podem
ser: 

Exposição de fotografias ou montagens constrangedoras, críticas à


aparência física, à opinião e ao comportamento social de indivíduos
repetitivamente. Além desses comportamentos, podem ocorrer também
ameaças por conta de algum conteúdo publicado. (PORFÍRIO, 2022).
Apesar dos haters se sentirem confortáveis na internet para praticar essas
ações, eles estão cometendo crimes que são passíveis de punição por meio do
Código Penal Brasileiro. Quando o crime é contra a honra da pessoa, se enquadra
no Artigo 138, quando é crime de injúria racial se enquadra no Artigo 140 e quando o
crime é relacionado a exposição de imagens íntimas, se enquadram no Artigo
218-C. As punições previstas para todos os casos são de até quatro anos de
reclusão. Além disso, os praticantes podem ser condenados a pagar indemnizações
e quando os agressores forem menores de idade os seus responsáveis respondem
pelos crimes.
Já o receptor que sofre o cyberbullying, começa a ter o emocional afetado, e
ficam passiveis de desenvolver sintomas como baixa autoestima, isolamento,
tristeza, depressão, transtornos de ansiedade, síndrome do pânico e em casos
extremos, o suicídio. (PORFÍRIO, 2022). Logo, combater esse tipo de discurso é
fundamental e a prática jornalística é uma excelente ferramenta para isso. Com a
sua função social de informar e como auxiliar na produção de conhecimento, o
jornalismo consegue expor tais fatos, mobilizar e impactar a sociedade para que
com que os índices diminuam.
Agora vamos falar dos trolls. Afinal, onde entram nessa história? É
considerado um troll uma pessoa que publica ou diz mensagens inflamatórias,
insinceras, fora do tópico online ou na vida real, com a intenção de provocar outras
pessoas a exibir respostas emocionais ou manipular a percepção dos outros. Esse
fenômeno gera movimentação em páginas, canais de TV, em comentários e
comunidades nas redes sociais, em jogos e vários outros lugares, com o intuito de
reconhecimento ou de pertencimento a um grupo. Algo como fazer um narrador de
uma partida de futebol ler um nome engraçado ao vivo se configura como uma
“trollagem” por parte desse grupo.

Compreender os elementos haters, trolls, cyberbullying é importante. Eles


utilizam as mídias, plataformas e o simbólico para disseminar discursos de ódio e,
consequentemente, contribuem diretamente para a exposição e intensificação dos
estigmas sociais nesses ambientes e também para a propagação de fake news e,
mais uma vez, intensificam os desafios do jornalismo.
2.2.3 A rede social como um instrumento de desinformação em massa

Falando ainda sobre redes sociais, uma pesquisa levantada pela Doutora em
Comunicação pela Universidade Federal Fluminense, Thaiane Moreira de Oliveira
em 2019, expôs os hábitos corriqueiros da troca de informação entre integrantes de
grupos virtuais.
OLIVEIRA (2019) afirma que com a pesquisa foi possível identificar que em
um discurso ou situação de debate, a maioria dos usuários procuravam sustentar
suas opiniões com vídeos e com links, independente se eram frutos de informações
fidedignas ou não. Ela afirma que

em dez dias inserida no grupo, do dia 09 a 19 de fevereiro de 2019, foi


possível observar que vídeos e links alimentam o compartilhamento de
pontos de vista como forma de comprovar seus argumentos. Geralmente, os
vídeos circulam tanto na própria plataforma, mas direcionam também
direcionam para plataformas externas ao WhatsApp, principalmente o
YouTube. Dos 43 vídeos compartilhados no período, 06 eram
encaminhamentos de WhatsApp e 36 links para o YouTube e 01 vídeo para
o Facebook. Notícias de jornais, como Uol, Veja e Jornal do Brasil, e
revistas especializadas em Ciência e Tecnologia, como Revista Galileu, tem
um especial destaque entre os links compartilhados no grupo e em nenhum
momento o conteúdo dessas matérias é questionado. (OLIVEIRA, 2019, p.
6).

A partir dessa percepção, Oliveira (2019) expõe a noção de que há uma


cultura social dos indivíduos buscarem evitar a deslegitimação das próprias teorias
levantadas. É muito comum o uso de vídeos e textos argumentativos defendendo
um ponto de vista baseado em distorção a partir de perspectiva (OLIVEIRA, 2019), e
isso é grave, pois se misturam fatos, argumentos e crenças no ato de veicular a
informação.
Ainda nesse contexto, outro fator que gera mais desafios ao jornalismo. É o
que o Instituto Reuters (2021) indica. Há a predisposição da busca das redes sociais
como fonte de informação pela população a partir do entendimento de que as mídias
tradicionais não os representam de maneira justa. Observa-se, por exemplo, que
países de primeiro mundo como Estados Unidos da América, Reino Unido e
Alemanha se dividem politicamente e cada parte da divisão não se sente
representada o suficiente. A partir do levantamento do The Reuters Institute Digital
News Report 2021 (p.20), é possível observar a facilidade com o que a parcialidade
da informação influencia diretamente no consenso sobre onde buscar informação.
Já no Brasil, o estudo apresenta mais preocupação com a desinformação a
partir de personalidades políticas. Por exemplo, mais de 900 informações falsas
foram disseminadas pelo presidente Jair Bolsonaro em 2020 (THE REUTERS
INSTITUTE DIGITAL NEWS REPORT, 2021, p. 22) e isso influencia e confunde
muito a população. O estudo também aponta que cerca de 82% da população
brasileira está preocupada com a quantidade de desinformação espalhada pela
mídia (social ou tradicional).
OLIVEIRA (2019) afirma que há muita "celebrização" de pessoas com títulos
(autodenominados ou não) que produzem vídeos e conteúdos argumentativos.
Muitos abusam da autoridade-científica que lhes atribuída para convergir opiniões e
prometer revelar a “verdade”. Só que essa “verdade” passa a ser apenas uma visão
parcial e banal embasada por reflexões não-comprováveis que se sustentam com o
título científico atribuído (professor, doutor ou mestre), viés partidário político ou o
uso da religião como fato.

A transmissão da informação torna-se a partir da noção de que a sociedade busca o


conhecimento naquilo que lhe é favorável, um tortuoso direcionamento para o jornalismo
(MEDITSCH, 1997), visto que a propagação do conhecimento pode ser realizada a partir de
cientistas e pesquisadores por meio das próprias redes sociais. Todavia, apela-se ao fato de
que a informação se encontra em estado de vulnerabilidade se considerada a relevância da
perspectiva para sua interpretação (OLIVEIRA, 2019). É apontada, então, uma incoerência
da averiguação de fonte informacional.

Para comprovar pontos de vista que contestam a ciência, pesquisas


científicas são acionadas, sobretudo aquelas publicadas em canais
tradicionais de produção de informação midiática, como jornais e revistas
especializadas em Ciência e Tecnologia. Parece haver uma legitimação da
mídia e da ciência como reforço de autoridade, mesmo sendo entendidos
como parte de uma grande conspiração mundial. (OLIVEIRA, 2019, p.32).

Esse cenário do uso de títulos e autoridades que contestam a ciência e até mesmo
as informações publicadas pelos grandes veículos de comunicação são mais desafios que a
profissão enfrenta e que dificulta a realização da sua função social
2.2.4 Crise epistêmica e as redes sociais

A crise epistêmica é uma expressão que surgiu em meados de 2016 e está


cada vez mais presente nas discussões políticas sobre democracia e dentro do
jornalismo (derivada do termo epistemologia criado por James Frederick Ferrier
durante o século XIX para referir-se à filosofia do conhecimento) esse termo ganhou
destaque com o apoio das mídias sociais e ao fenômeno de compartilhamento entre
as massas, links para manchetes chamativas nas quais cerca de 59% dos indivíduos
que compartilharam sequer clicaram para de fato ler e compreender o conteúdo,
conforme estudo levantado por MAKSYM et al (2016).

A partir deste contexto em que parte da população tem inúmeros acessos e


utilizam parte dessas informações para tomar decisões, é possível entender a
facilidade em que um mesmo fato pode ser modificado para comportar determinada
perspectiva (OLIVEIRA, 2019) e o quanto a função do jornalismo é fragilizada por
várias situações ímpares de parcialidade da informação com objetivos de lucros e
subornos, dentre outras situações.
Em questões políticas, por exemplo, um fato pode ser contado de várias
maneiras com o objetivo de desmoralizar o partido opositor, como MELLO (2020)
menciona o caso de fake news e desvio de fatos envolvendo as campanhas políticas
de Jair Bolsonaro. Fato é que todos esses fatores contribuem para o fortalecimento
da desconfiança na informação jornalística (BALDACCI; BUONO & GRASS, 2017) e
faz com que a busca por informação a partir de redes sociais aumente (OLIVEIRA,
2019), mesmo que 82% dos brasileiros, segundo a (REUTERS INSTITUTE DIGITAL
NEWS REPORT, 2021), desconfie da veracidade da informação encontrada em
redes sociais online.

2.3 Reputação e legado da moral do jornalismo


2.3.1 Incitação à desmoralização do jornalismo

Após falarmos da crise do jornalismo, é hora de perceber como se dá seu


processo de desmoralização e quais desafios precisam ser combatidos nos dias de
hoje. Sabe-se que historicamente, o jornalismo estabeleceu uma relação de
confiança com a população a partir dos meios de comunicação, e se tornando
mediador de transmissão de notícias para os consumidores e um defensor da
democracia. No livro “Desinformação e fact-checking’’, as escritoras Marli dos
Santos e Ana Carolina Rocha Pessoa Têmer destacam que as relações entre o
jornalismo e o público são mediadas por um pacto de credibilidade.
Nos últimos anos, diversas mudanças dentro da prática jornalística e
contextos políticos levaram a uma forte desmoralização do jornalismo, colocando-o
em um cenário de descrédito e de desvalorização perante o olhar social. Os fatores
políticos se constituem em uma das principais áreas que geram impactos no que
tange à desmoralização do jornalismo.
A busca pelo poder é algo incessante e cada vez mais as pessoas utilizam
artigos de caráter depreciativo e mal-intencionados para alcançar os objetivos
pretendidos. Temos, como exemplo, o ano de 2017 uma época marcada por fake
news, propagação de desinformação, fatos alternativos, ataques à imprensa, entre
outros, na busca pela conquista política.
A expansão dos veículos de notícia para as plataformas de mídia, como a
transmissão das notícias pelas redes sociais em grande escala, por exemplo,
também colaboraram para o fenômeno acontecer, reforçando uma crise que já
estava atacando o jornalismo, adquirindo para o leitor uma recepção com
características líquidas, conforme conceitua o sociólogo polonês Zygmunt Bauman
para fazer referência aos fatores voláteis e fluidos que compõe o período
pós-moderno em que vivemos. Assim como destacam os autores do livro
“Comunicação e Ciência reflexões sobre a desinformação’’,
as fake news ganham importância devido à perda de credibilidade dos
agentes políticos e midiáticos tradicionais e à ascensão de outros agentes
que se aproveitam da crise para se colocar no papel de antissistema
enquanto defendem o sistema. (BASTOS; FIGUEIREDO; SCHNEIDER,
ano, p.209).

As eleições dos Estados Unidos da América também foram um marco nas


discussões sobre as notícias falsas. As ações realizadas nesse período, como o
trabalho com o pós-fato, geraram uma lesão na luta de informações democráticas,
deixando hematomas que se perpetuam e reproduzem até os dias atuais dentro dos
conteúdos de jornalismo e do processo de divulgação das notícias.
Nesse contexto, vivemos um momento marcado pelo fenômeno da
“pós-verdade’’ e, se o trabalho de apurar informações fazia parte naturalmente da
essência do jornalismo, o combate às fake news se apresentou como mais uma
demanda de trabalho específica, tornando-se uma prática rotineira e comum.
No Brasil, outro acontecimento que reforçou a desmoralização do jornalismo
foi a Medida Provisória em 11 de novembro de 2019, no qual O Programa Verde
Amarelo revogou a exigência de registro de algumas profissões, dentre elas está a
de jornalista. Essa medida abriu um questionamento sobre a seriedade da
valorização da prática profissional e o espelho da sua reprodução nas demais
camadas sociais.
Além disso, essas questões abriram brechas para um caminho de descrédito
“silencioso’’ da profissão. Em 2001, Ciro Marcondes Filho já tinha uma ideia
extremamente crítica e bem fundamentada sobre essa realidade. Em seu livro “A
Saga dos Cães Perdidos’’, Ciro realiza uma forte abordagem sobre o tema.

O jornalismo é a síntese do espírito moderno: a razão (a ‘’verdade’’, a


transparência) opondo-se diante da tradição obscurantista, o
questionamento de todas as autoridades, a crítica da política e a confiança
irrestrita no progresso, no aperfeiçoamento contínuo da espécie. Mas, por
incorporar tão energicamente esse espírito, ele se viu órfão quando
balançaram os alicerces da modernidade (falência do discurso humanista
depois de Auschwitz e Hiroshima) e desorientado quando esta (‘’o
progresso do homem’’) começou a perder terreno diante da sedução
mediática irracional e mágica (TV) e da hegemonia das técnicas no fim do
século. (MARCONDES FILHO, 2001, p.9).

E não para por aí. Ao realizarmos uma análise de crítica midiática, é possível
entender como questões relacionadas à adoção ao modelo de fabricação de
notícias, gatekeepers (que hoje em dia podem ser feitos tanto por pessoas como por
algoritmos), o uso de enquadramentos, o sensacionalismo, precarização do
trabalho, entre outros, são questões que tornaram os participantes ativos do fazer
jornalístico e que trouxeram um outro olhar para a prática, desviando assim a sua
capacidade de dialogar com a sociedade e sua função de orientar o público, bem
como promover uma cidadania participativa.
Esse fenômeno é um reflexo da reprodução da industrialização e dos
movimentos de urbanismo. Segundo pesquisas do Reuters Institute, apesar da
confiança das pessoas nas notícias terem crescido na pandemia, a maioria das
pessoas deseja que os veículos de comunicação sejam mais imparciais e objetivos.
Além disso, cabe destacar a introdução do cidadão como colaborador e
consumidor, no jornalismo isso gerou um enorme impacto, principalmente em
conteúdos da internet (notícias rápidas, diversos veículos) e redução do poder da
imprensa. Por exemplo, desde 2018, no Manual de Redação da Folha de São
Paulo, o leitor passou a ser chamado é visto como “consumidor de notícias’’. Para
cativar seus consumidores, o jornal acredita que os seus conteúdos não apenas
oferece uma notícia, mas também uma análise para os leitores e isso se por um lado
é positivo, por outro, apresenta um aspecto negativo pois dependendo do veículo a
informação pode ser usada como mercadoria e até mesmo como ferramenta de
manipulação, conforme discorremos nos capítulos anteriores.
Atualmente já há estudos abordando a necessidade do retorno e manutenção
da credibilidade jornalística, já existem artigos, capítulos e até mesmo matérias
universitárias que chamam a atenção para a necessidade de analisar a imprensa a
partir de um olhar crítico, bem como a checagem de notícias de forma mais apurada
com o trabalho das agências de checagem. No livro “Comunicação e Ciência
reflexões sobre a desinformação,” os autores abordam o processo de conexão e
confiança nas informações. “Além disso, a confiabilidade ou credibilidade atribuída a
uma informação qualquer reside, em grande medida, na confiança que se deposita
na fonte da informação” (BASTOS; FIGUEIREDO; SCHNEIDER, ano, p. 215).

Ciro Marcondes Filho elucidou todo esse cenário de descrédito para o


jornalismo ainda em 2001. Anos se passaram e até o presente esse tema é uma
realidade que ganhou acréscimos. A luta por um retorno da qualidade do jornalismo
é uma forma de resistência à desmoralização da prática. Isso retrata como o
caminho para o jornalismo retomar com a sua imagem de credibilidade ainda é muito
longo e extensivo perante os acontecimentos sociais, políticos e midiáticos, e o
quanto esse processo conta a geração dos novos profissionais para ajudar no
resgate da moralização. Essa reflexão foi fundamental para que o enfoque desse
trabalho fosse também entender as perspectivas de alunos que estão graduando a
profissão.

2.3.2 Transformação do jornalismo em entretenimento

Um outro desafio dificilmente associado ao jornalismo, mas que é importante


destacarmos é a noção do jornalismo como entretenimento. O entretenimento é uma
ferramenta para distração e que se torna problemática quando associada à função
de informar corretamente tópicos de um jornalismo de seriedade (TUCHMAN, 1983
p. 59 apud DE OLIVEIRA, G. P., 2011, p.2). Tudo isso pois o entretenimento tem a
função de divertir, distrair ou propor um momento de “evasão” para a rotina da
sociedade¹, e a função do jornalismo desde os primórdios e conforme dito nos
capítulos anteriores, não é esse, o jornalismo não nasceu para ser leve ou evitar a
realidade, mas informar e cumprir sua função social.
Segundo KARAM (2004), é possível verificar que há uma tensão entre o que
se quer do jornalismo e os reais limites políticos, econômicos e mercadológicos
impostos a ele”. (KARAM, 2004, p. 94). Também é possível que o entretenimento no
jornalismo seja vislumbrado como uma forma de obter atenção do público.
Entretanto, não se pode negar que por mais que o âmbito de entretenimento
seja percebido como uma banalização daquilo que está sendo informado e pouco
credibilizado em contextos políticos, econômicos e mercadológicos. Oliveira (2011)
traz a reflexão da possibilidade de o entretenimento ser um alicerce para
complementar a função do jornalismo. Benedeti (2009) afirma que

A importância da informação jornalística nas sociedades modernas


extrapola a sua finalidade democrática de possibilitar aos cidadãos a
formação de um juízo qualificado sobre as questões públicas. A informação
produzida pelo jornalismo também orienta, emociona, diverte, mobiliza,
rompe preconceitos e expõe curiosidades, além de informar. (BENEDETI,
2009, p.25).

É curioso o paralelo estabelecido por Benedeti já que os valores do


jornalismo, de acordo com Perdomo (2015), evidencia a veracidade, independência
e pluralidade de opiniões (PERDOMO, 2015, p.16) e, em uma perspectiva de
seriedade e intenção de passar credibilidade da informação, o entretenimento
contrapõe a intenção mencionada. A autora questiona, ainda, os efeitos da quebra
dos valores em busca da fidelização de um público estimado. Em outras palavras, é
possível questionar até onde a ética jornalística prioriza o valor-notícia sobre
audiência e vendas, e como esse “desvio” moral se associa ao entretenimento.
Segundo Oliveira (2011), a ideia unitária de que o jornalismo de
entretenimento foi desenvolvido especificamente para atingir um público
desqualificado ou uma cultura de massa nem sempre é coerente e abre a reflexão
de que embora o público aparente estar em busca de distração. Isso não implica que
o entretenimento não possa ser usado como ferramenta de disseminação da
informação sem ferir os valores e a função social do jornalismo. O desafio dessa
prática consiste mais especificamente naquilo que Oliveira (2011) afirma: o problema
do entretenimento no jornalismo está na maneira como vem sendo utilizado ao invés
da sua existência em geral. Justamente porque o uso do entretenimento de forma
desqualificada contribui mais uma vez para a banalização da informação e da
credibilidade jornalística.

2.3.2.1 Sobrevivência do jornalismo tradicional e o entretenimento como moeda de


engajamento

A perspectiva de que o jornalismo digital está substituindo o jornalismo


tradicional (OLIVEIRA, 2007), implica no questionamento referente à forma de
sobrevivência do jornalismo tradicional atual. A disponibilidade da informação como
produto rentável, permite a desburocratização do acesso à informação em diferentes
classes da sociedade moderna (OLIVEIRA, 2007), já que no contexto atual é
possível acessar diferentes plataformas informativas de maneira gratuita, mesmo
que por meio de redes sociais ou sites próprios de notícia, como o G1, R7, O Tempo,
entre outros.
E tudo faz questionar a sobrevivência do jornalismo tradicional. Entretanto, a
perseverança do jornal tradicional se dá pelo consumo ainda existente do produto e
outros fatores. Oliveira (2007) questiona e impõe o jornalismo impresso como em
uma categoria diferente e paralela ao jornalismo digital, comparando a relação com
o dilema da possibilidade dos vídeos e filmes substituírem as fotos, tornando o
trabalho do fotógrafo banalizado e até obsoleto. Como percebe-se na circunstância
moderna, a informação não se comprova fato. Ou seja, fotografia e filme, quando
não complementares, se trata de duas áreas artísticas diferentes e ricas cada uma a
sua maneira.
Robert Park (1979) estabelece que a função principal do jornalismo é de
auxiliar na formação da opinião pública (PARK, 1979, p.61 apud SIMÕES, 2016,
p.9). Em outras palavras, integrar a responsabilidade de disseminar informação
factual em prol da democracia. O tradicionalismo ligado ao jornal impresso não está
diretamente ligado ao efeito ou desfeito dessa função praticada também no
jornalismo digital, portanto não impede que ambos coexistem. (OLIVEIRA, 2007).
Por outro lado, a existência de uma plataforma digital de acesso generalizado,
em que qualquer indivíduo tem a capacidade de inserir uma informação e narrativa
de acordo com discernimento próprio, impõe insegurança na construção fidedigna
de opinião pública, ferindo o princípio do jornalismo. (PARK, 1979).
A disputa pela capitalização da atenção pública pode ser o fator primordial
que fomenta a desinformação e sensacionalismo, colocando em risco a democracia
por meio da manipulação de narrativas das informações disponibilizadas. É possível,
exemplo garantir, que um trecho removido de um discurso político somado da
descontextualização resulte em uma distorção factual do que está sendo propagado.
Questionamos, então, se o paralelo citado por Oliveira (2007) pode ou não ser
inconsequente entre o jornalismo tradicional e o jornalismo digital.
No que se refere ao meio online, por se tratar de uma pauta tão recente, a
desinformação digital (também conhecida como fake news) está, somente nos
tempos atuais, se submetendo a algum tipo de regulamentação legal. A principal
fonte da fake news, as redes sociais, está sendo imposta a obrigatoriedades para
combater a desinformação através do gerenciamento inteligente de engajamento
(RÁDIO USP, 2020).
Em se tratando da descontextualização para gerar publicidade, é possível
ainda que o processo de desinformação esteja majoritariamente alinhado ao
engajamento popular e debate de massas sobre o que está sendo pregado. Isto é,
pode ser usado como uma forma de distração na cultura de massa em prol do
controle de uma narrativa, significando uma forte relação ao entretenimento como
meio de engajamento e cortina de fumaça sobre narrativa. Por exemplo, utilizar
memes para banalizar uma discussão e desviar a atenção do público criando a
ilusão de ainda estarem olhando para um mesmo fato. A tentativa de fidelizar a
audiência por meio de maneiras inadequadas de entretenimento, é exemplo fiel de
um jornalismo de entretenimento de má qualidade. Patias (2005) irá afirmar, então,
que o uso do sensacionalismo televisivo como no programa “Brasil Urgente” vai em
direção oposta ao que a ética jornalística prevê. Sendo, assim, é uma forma
banalizada, exagerada e provocativa de entregar a informação. Sobre a importância
da narrativa e o mau uso do entretenimento no jornalismo, Patias (2005) diz que

tudo o que a televisão mostra tem uma força excepcional e a imagem tem a
particularidade de fazer tudo parecer extremamente real. Pode-se duvidar de
uma notícia lida num jornal ou revista ou do que se ouve no rádio, mas diante
das telas, sob o selo do ao vivo e acentuado pela narração do repórter ou do
apresentador (que repete com frequência, você está vendo imagens ao vivo),
não há contestação, tudo adquire uma aparência de verdade absoluta.
(PATIAS, 2005, p.56).

A busca por divertir ou entreter dentro do jornalismo pode desvincular a


função primordial da profissão, pendendo para o exagerado ou falso representado
por esse tipo de entrega de informação. Isso coloca em prova a qualidade do
jornalismo (PATIAS, 2005, p.10). Questionamos, então, a possibilidade de o
entretenimento dentro do jornalismo ser comparável com o sensacionalismo. Patias
(2005) explica o sensacionalismo como “o gênero que foge aos padrões normais do
jornalismo sério, objetivo, iluminista”, reiterando, ainda, a possibilidade de o termo
estar aberto à interpretação já que

de certa forma, podemos dizer que todo o processo comunicacional é


sensacionalista pois ele mexe com sensações tanto físicas (sensoriais)
como psíquicas (emocionais). A primeira etapa do processo de
comunicação é justamente despertar atenção, provocar sensações para
preparar a recepção da mensagem. A própria técnica do título chamando a
atenção, resumida e enfaticamente, bem como o lead, podem ser
considerados recursos sensacionalistas, pois resumem de forma palpitante
e introduzem o receptor a se interessar pelo restante da história. (PATIAS,
2005, p.40).

Mesmo com diversas controvérsias para entender os limites do


entretenimento no jornalismo, cabe o discernimento do profissional na forma como
um elemento tão fundamental para fidelizar a atenção do público possa
complementar a formação da opinião pública. Sobre o afirmado, ao entender o
jornalismo como um meio de comunicação adaptável para diferentes mídias (online
ou offline), Dejavite (2007) considera que
A visão do entretenimento para o público é simplesmente o que entretém.
Sendo assim, a separação de informação e entretenimento não faz sentido
para o receptor, já que o oposto do entretenimento veiculado pela mídia não
é conteúdo informativo e sim o conteúdo que não lhes agrada, as matérias
que não chamam a atenção. (DEJAVITE, 2007, p. 9 apud CARVALHO,
2014, p.21).

Devido ao proposto, é evidente a relevância de uma narrativa fidedigna aos


elementos da ética jornalística para que, dessa maneira, seja possível alcançar os
objetivos propostos pela função social do jornalismo e definição do entretenimento.
Caso contrário, percebe-se uma inclinação ao desvio moral apoiado pela intenção
de manipular a opinião pública e desviar da proposta da profissão de incentivar o
pensamento democrático por meio da veracidade e imparcialidade na entrega de
informações factuais.

2.3.3 Perspectivas do futuro do jornalismo


Após refletirmos sobre os inúmeros desafios inerentes à profissão, reputação,
democratização, fake news e precarização da função, dentre todos os temas
trabalhados anteriormente, é hora de refletir sobre as perspectivas do futuro do
jornalismo.
Como dito anteriormente, com o advento da internet e da globalização,
diversos temores e rumores surgiram sobre o fim do jornalismo. A desconfiança
quanto à continuidade da produção jornalística e, principalmente, do modelo
impresso dos jornais afetou grande parte da população e também os estudantes que
outrora cogitaram exercer a profissão.
Durante muito tempo, várias teorias surgiram com a finalidade de colocar em
discussão o futuro do jornalismo, mas o que foi percebido, ao longo do tempo e
também na história, é que o surgimento de novos formatos e produtos não precisam
necessariamente decretar o fim dos antecessores e práticas atuais.
Sabe-se que a redução de veículos de comunicação e dos jornais tradicionais
mudou significativamente nos últimos anos, mas também possibilitou que a prática
jornalística acompanhasse as novas tendências tecnologias e aderisse aos novos
formatos de conteúdos.
A prática jornalística mudou acompanhando as mudanças na cultura e na
forma de se consumir notícias. No entanto, o enfoque do jornalista deve se manter
ainda o mesmo, como foi abordado no primeiro capítulo: coletar, apurar, redigir e
divulgar informações, sempre preservando os valores éticos que são indissociáveis
do exercício da profissão e zelar também pela responsabilidade com o coletivo,
colocando em prática a função social da atividade.
De acordo com o publicitário Washington Olivetto (2012), a internet
“democratizou a escrita, mas ainda não o jeito de escrever, com isso a credibilidade
do jornal ainda é muito maior, e continuará sendo, do que a da internet”. O que o
autor quis dizer com tal afirmativa é que mesmo com a popularização do on-line e
ascensão tecnológica dos últimos tempos, o jornalista encontra-se em vantagem
competitiva visto o olhar jornalístico, os critérios, e os parâmetros de escrita que são
bem diferentes do senso comum.
O jornalista treinado, instruído, possui capacidade aguçada, técnica e ética.
Em um cenário onde qualquer um pode escrever ou até mesmo se considerar um
pouco jornalista, ainda faltam as competências básicas para ser capaz de produzir
um material aprofundado e de qualidade como os jornalistas exercem.
Tal perspectiva também foi constatada na pesquisa qualitativa que o grupo
realizou com os estudantes do curso de Comunicação Social - Jornalismo na PUC
Minas Unidade São Gabriel, em que quase 90% dos entrevistados relataram que o
profissionalismo, profundidade e confiabilidade são os fatores que os fazem
consumir e acreditar em determinado veículo em detrimento de outro.
Nesse sentido, percebe-se que embora a maioria das pessoas consumam
informação na web em geral e tenham acesso a várias fontes de informação, o
público continua recorrendo aos veículos que remetem à credibilidade.
Uma notícia bem apurada, uma matéria bem feita com qualidade e
profundidade são responsáveis por sustentar o sucesso da prática jornalística.
Também não se pode esquecer de que da mesma maneira que a inovação
tecnológica afeta o jornal tradicional, a rádio e a televisão, ela também afeta as
próprias mídias sociais.
Pensando em todos esses impactos e mudanças culturais bem como sociais
na prática jornalística, houve a criação de iniciativas que surgiram em prol de realizar
a manutenção da prática e credibilidade jornalística como os The Trust Project -
Projeto Credibilidade, que é uma iniciativa que nasceu com o intuito de promover
transparência e auxiliar a sociedade a avaliar a qualidade e a credibilidade do
jornalismo, por meio de ferramentas e técnicas.
A iniciativa surge como defensora do jornalismo e em parceria com os
principais veículos de comunicação do país e de modo colaborativo foi-se definido
um Sistema Indicador de Credibilidade, que ajuda com que as notícias e a prática
jornalística sejam pautadas pelos princípios éticos e com profundidade.

2.3.4 Motivos para acreditar no futuro do jornalismo


Apesar do olhar crítico proposto sobre o futuro e atualidade na prática
jornalística, a incerteza sobre a difusão entre jornalismo e mídias sociais, entre
outros, é necessário também analisarmos as motivações para continuar acreditando
e buscando exercer o papel jornalístico da melhor forma possível:

A sociedade precisa se informar - Conforme relatado nos capítulos


anteriores, a sociedade precisa estar a par dos principais acontecimentos e
se preparar para eles, a informação é um direito básico e fundamental para
a sociedade, e protegido por lei, o acesso à informação é um direito
fundamental previsto no ordenamento jurídico brasileiro.

Combate a desinformação e fake news - Não é novidade que as notícias


falsas tomaram proporções ainda maiores com o advento das mídias
sociais, logo, o papel do jornalista se faz mais necessário ainda, visto que
cabe a esse profissional auxiliar na checagem de fatos e apresentar ao
público a verdade que condiz aos fatos.

Senso crítico - A informação liberta e estimula o senso crítico, o jornalismo


pode ser considerado como aquele que tudo vê, logo o uso da informação
para evidenciar a população os casos de corrupção, desvios e outras
regularidades tende a fornecer ao cidadão a possibilidade de pensar, refletir
e construir seu próprio posicionamento. Uma sociedade que pensa
criticamente precisa ter em mãos informações e dados fidedignos.
(CALDAS, 2002. p.17)

Entretanto, embora haja motivos para se acreditar e exercer, sabe-se que os


desafios do jornalismo tendem a se intensificar ainda mais com o passar dos anos.
Em meio às fake news, desinformações, precarização da profissão, o compromisso
em preservar a função social e as checagens dos fatos se torna ainda mais
evidente. Se pudéssemos classificar a prática jornalística com uma palavra,
“adaptação” seria uma boa descrição.
Com o consumo de transmissão de informações em massas, poucos veículos
de checagens, o desafio de reter atenção do leitor e claro, e fazer um jornalismo
responsável, força os novos profissionais a se adaptarem aos novos cenários e se
adaptarem sem negociar a verdade.
3 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ENSINO

Nesta parte do presente trabalho será contextualizada a entidade de ensino,


suas características, princípios e valores e, ainda, o perfil da amostra pesquisada.
A entidade na qual se faz presença na pesquisa é uma instituição de ensino
privada e possui 7 campi em Minas Gerais, sendo eles: Belo Horizonte, Betim,
Contagem, Arcos, Poços de Caldas, Serro e Uberlândia. Foi fundada em 12 de
dezembro de 1958 por Dom Antônio dos Santos Cabral, o Dom Cabral. A
Universidade oferece cursos de graduação em bacharelado, licenciatura e
graduação tecnológica. Em seu portal na internet, a PUC MINAS diz que sua missão
é Promover o desenvolvimento humano e social, contribuindo para a formação
humanista e científica de profissionais competentes, que tenha como base valores
da ética e da solidariedade e compromisso com o bem comum, mediante a produção
e disseminação das ciências, das artes e da cultura, a interdisciplinaridade e a
integração entre a Universidade e a sociedade.
A Universidade se baseia em princípios como:

Fidelidade à doutrina cristã e respeito aos princípios da Igreja Católica, em


seu compromisso missionário para com a educação superior.

Promoção do bem comum e da dignidade da pessoa humana.

Promoção da formação solidária, interdisciplinar e humanística, orientada


por uma perspectiva ética, cristã e católica, respeitadas a autonomia
universitária e a liberdade acadêmica.

Compromisso com a inclusão e a justiça social.

Integração e pluralismo na articulação e nas concepções de ensino,


pesquisa e extensão, respeitados os projetos pedagógicos e as diretrizes
fixadas pelos órgãos de deliberação superior.

Valorização do mérito acadêmico. (PUC MINAS, 2022).

Já a sua visão diz que a Universidade quer ser uma instituição católica de
educação cada vez mais reconhecida pela capacidade de gerar conhecimento e
inovações, bem como promover a inclusão social e consolidar alianças nacionais e
internacionais, atuando nas diversas áreas de conhecimento com eficiência, com
agilidade e com adequada dimensão em sua estrutura acadêmico-administrativa,
assegurando a sua contemporaneidade, qualidade e sustentabilidade.
Para tal assume alguns valores, como:

Igualdade – de valor dos seres humanos e garantia de igualdade de direitos


entre eles.
Liberdade – de criação, de expressão do pensamento e de produção de
conhecimento.
Autonomia – capacidade de formular leis em liberdade e se reger por elas.
Pluralidade – expressão de igualdade e diferença entre pessoas, iguais
porque humanas e diferentes porque singulares.
Solidariedade – adesão à causa do outro, fundada no respeito mútuo e na
interlocução entre sujeitos da sociedade.
Justiça – orientada pela igualdade de direitos e pelo respeito às diferenças.

(PUC MINAS, 2022).


4 METODOLOGIA
Este estudo tem a classificação de ser uma pesquisa exploratória. Segundo
Gil (1999), estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com
o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se
dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou
a descoberta de intuições. Os nossos objetos empíricos são os alunos do 6º, 7º e 8º
período do curso de jornalismo da PUC Minas São Gabriel e queremos explorar o
que esses alunos opinam sobre o jornalismo em geral, jornalismo político, sua
interação com a atmosfera social e sua relação com a imprensa e a mídia.
Dito isso, são necessárias algumas etapas para que a descoberta aconteça.
Na iminência de se obter os resultados e respostas a respeito da problematização
apresentada neste trabalho, os métodos de revisão bibliográfica, elaboração de
questionário de pesquisa, elaboração e aplicação de questionário, coleta e
processamento dos dados. A seguir serão explicados cada um dos métodos.
Primeiro abordaremos a revisão bibliográfica que segundo é o método que
segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 183) pode ser definida como: contribuições
culturais que já foram realizadas anteriormente sobre determinado assunto, tema e/
ou problema que possa ser estudado e que a partir de um material já elaborado,
constituídos de livros e artigos científicos - neste trabalho também se inclui
reportagens e materiais jornalísticos - possa ser levantado informações básicas
sobre o tema (VERGARA, 2007).
Já a entrevista estruturada, é um método de entrevista em que as perguntas
já são pré-estabelecidas e aplicadas para todos os candidatos igualmente. O
objetivo da entrevista estruturada é avaliar os entrevistados de forma criteriosa e
justa (GUIMARÃES, 2022). O principal motivo deste zelo é a possibilidade de
comparação com o mesmo conjunto de perguntas e que as diferenças devem refletir
diferenças de pensamentos e não diferenças nas perguntas. (QUARESMA e BONI,
2022).
Apesar da possibilidade desse tipo de entrevista ser feita através de
questionários na internet, neste trabalho elas serão realizadas ao vivo para que
fatores externos não interfiram nas respostas dos entrevistados. A utilização do tipo
fechada se faz necessária, pois permite criar uma estrutura para comparação de
respostas e resultados, além de que nos permite compreender ações e relações
humanas. Os selecionados para essa entrevista responderam um questionário que
foi elaborado contendo 17 perguntas divididas em 2 blocos grandes: bloco de
interesse e bloco de opinião. Dentro desses blocos, existem outras subdivisões com
temas que abrangem e abordam todo o referencial teórico deste trabalho -
questionário disponível no Apêndice A -.
Para a definição dos entrevistados escolhemos utilizar o método amostra por
conveniência. A amostragem por conveniência é uma técnica de amostragem não
probabilística e não aleatória usada para criar amostras de acordo com a facilidade
de acesso, tendo em conta a disponibilidade de pessoas para fazer a parte da
amostra em um determinado intervalo de tempo (QUESTIONPRO, 2022).
É um tipo de técnica muito comum em pesquisas exploratórias quando não há
critérios que devam ser considerados para que uma pessoa faça parte da amostra.
Uma das maiores vantagens desse tipo de escolha é que é um método muito rápido
para coleta de dados, econômico ao criar amostras e as amostras são coletadas
facilmente.
Neste trabalho, o nosso público-alvo foi: 15 estudantes do curso de
Jornalismo da PUC Minas São Gabriel, sendo: 5 alunos do 6º período, 5 alunos do
7º período e 5 alunos do 8º período. A escolha foi realizada tendo em vista que os
alunos do 7º e 8º períodos estudam em conjunto em algumas disciplinas, pois
ingressam na mesma turma quando o semestre letivo se inicia no segundo semestre
do ano, que corresponde ao período de agosto a setembro.
Durante esse processo, alguns estudantes ainda não tiveram acesso ao
conteúdo completo do curso programado na definição curricular. Simultaneamente,
os alunos do 6º período estão em outras turmas e não estão nos períodos finais do
curso, podendo apresentar outros pontos de vista de acordo com as disciplinas
estudadas.
A aplicação do questionário de entrevistas foi realizada ao vivo de forma
remota via vídeo e áudio conferência, para que fatores externos, como pesquisa de
temas na internet não modificasse o resultado. Também optamos por não citar os
nomes dos alunos nas respostas por sigilo de informações, já que algumas
respostas podem abordar questões envolvendo a própria universidade.
Todo o material coletado foi processado e examinado através da análise
descritiva, que é um método que consiste em compreender se por trás de um ou
mais fenômenos que se repetem, existem tendências ou padrões que possam ser
mapeados a partir de dados reais (HENRIQUE, 2022). O objetivo principal da
análise descritiva é servir como um suporte para explicar o objetivo de uma
pesquisa, com isso neste trabalho a utilização deste método se torna necessário.
5 COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Diante do tema proposto, os alunos do curso de Jornalismo da Faculdade de


Ciências e Arte da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Unidade São
Gabriel, participaram de uma entrevista na qual as respostas estão apresentadas a
seguir. O objetivo central das entrevistas foi compreender o que os alunos de
jornalismo da PUC Minas São Gabriel do 6°, 7° e 8° período assimilam sobre o
jornalismo político e a sua interação com a sociedade de forma crítica, a partir dos
conceitos abordados ao decorrer do trabalho.
A pesquisa foi realizada por videoconferência e audioconferência. As
escolhas dos modelos de entrevistas foram feitas levando em conta a
disponibilidade dos participantes e a coleta de respostas sem interferências externas
ou terceiras que pudessem impactar a análise final do trabalho. A carência de
equipamentos tecnológicos não permitiu que fosse realizado um padrão de
entrevista com todos os participantes, por isso optamos pelas opções de vídeo e
áudio.
A pesquisa compreendeu um total de 15 alunos. Destes 15 alunos, 5 eram do
6º período, 5 eram do 7º período e 5 eram do 8º período. Participaram da pesquisa 9
homens (60%) e 6 mulheres (40%), vale salientar que essa diferença ocorreu pelo
número de aceitação dos alunos para participar da pesquisa.
Foram realizadas 17 perguntas separadas em dois blocos distintos: o bloco
de opinião e o bloco de interesse. Esses blocos foram subdivididos em várias
categorias que compreenderam os temas que foram abordados ao decorrer dos
capítulos de todo o trabalho, como a relação do jornalismo e a sua função social,
questões éticas, críticas à mídia, entre outros.
É importante ressaltar que todas as opções que estão caracterizadas como
‘’respostas dos alunos’’ são resultados da análise conjunta dos integrantes do grupo
idealizador deste trabalho, para que se fosse possível compreender como os
estudantes responderam às questões e quais são as suas compreensões acerca
dos temas abordados. Para analisar as respostas foi realizada uma hermenêutica
com base nos conceitos, termos associados e dados científicos a cada pergunta
feita e conhecimentos teóricos provenientes da elaboração do trabalho. A partir
disso, classificamos as respostas diante de uma análise de discursos que
possuíssem uma correlação de ideias.
Figura 3 – Pergunta 1

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

A maioria dos alunos responderam que o principal impacto da polarização


política no jornalismo é negativo, sendo 11 respostas de 15, um total de 73,3% de
todos entrevistados, seguido da vilanização da imparcialidade do jornalismo que
obteve 7 repostas de 15, um total de 46,6% do total de entrevistados.
Nesse cenário, pode-se interpretar que os alunos acreditam que a polarização
política, principalmente entre dois extremos, prejudicam diretamente o profissional
de jornalismo e a profissão em si. Essa imparcialidade pode ser caracterizada como
tendenciosa por alguns receptores da notícia quando são propostos argumentos ou
informações contrárias à narrativa de um dos lados políticos. Também pode-se
analisar que os alunos de Jornalismo compreendem que essa polarização pode
trazer um olhar negativo para a profissão dos jornalistas, gerando uma
descredibilização para os profissionais.
Essa problemática da polarização política não é muito recente. Desde 2018 já
era objeto de estudo e de pautas para jornais independentes como o The Intercept,
que publicou uma matéria a respeito de um estudo sobre como a polarização política
nos Estados Unidos da América tem uma mentalidade de torcida. A reportagem
mostra como um estudo feito pela professora Liliana Mason, da Universidade de
Maryland publicado em março de 2018, utilizando dados de 2016 dos institutos de
pesquisa Survey Sampling International e American National Election Studies e
entrevistas com pessoas, mostrou como a identidade política adotada pelos
indivíduos a partir de suas crenças ideológicas impactaram essa polarização.
Atualmente essa polarização se intensificou, principalmente a partir do ano de
2017, iniciando nos Estados Unidos e tendo um efeito cascata em países como o
Brasil. Como consequência, o jornalismo foi fortemente impactado. A jornalista do
The Intercept Brasil Fabiana Moraes, na matéria ‘’A imprensa que insiste na
polarização é cúmplice na barbárie’’, comenta que ’’parte de nossa imprensa
continua a tropeçar nas próprias platitudes ao se negar a trabalhar com a
complexidade lá fora. Assim, constrói mitos e heróis, vilões e desgarrados, tudo a
depender das suas necessidades econômicas e políticas no momento.’’, em um
trecho. Na matéria, Fabiana critica fortemente o conceito de objetividade e os
veículos de imprensa que mantém uma polarização em seus conteúdos por
objetivos ligados à política e à economia e como isso reflete no contexto social.
Segundo o jornalista e professor da USP Carlos Eduardo Lins da Silva, em
uma entrevista fornecida para a rádio USP em 2021, atualmente um cenário que
aconteceu com muita frequência nos Estados Unidos da América se repetiu no
Brasil. Para Carlos, a polarização política influencia muito o consumo das fontes a
partir de suas ideologias políticas e complementou fazendo uma crítica aos veículos
da imprensa. Em suas palavras, “Veículos e profissionais do jornalismo vão se
posicionar de um lado e de outro, com a tendência de isso ser bastante extremado e
radicalizado”. Para o professor, essa situação para o jornalismo é preocupante, pois
coloca em xeque a credibilidade, a reputação e o futuro do jornalismo.
É interessante analisar que os alunos desde o sexto período já possuem um
senso totalmente crítico e analítico a 062+ respeito da realidade da polarização
política e os impactos que ela pode gerar na atuação do jornalismo no cenário social
contemporâneo, que começa no contexto social e político, reproduz na redação e
reflete na opinião social, se destacando como uma forte crítica aos veículos
midiáticos atuais, por trazerem consequências graves ligadas ao descrédito do
jornalismo.
Figura 4 - Pergunta 2

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Nesta pergunta, foi realizada a tentativa de extrair qual a opinião dos


entrevistados acerca do entendimento crítico deles sobre o cenário que o jornalismo
político se encontra na atualidade. Das 11 categorias de respostas nas quais as
respostas foram encaixadas, 3 respostas obtiveram além do maior, o mesmo
número de adesão dos participantes. Os alunos em sua maioria, responderam que o
despreparo/falta de responsabilidade, excesso de parcialidade e a negligência de
práticas que correspondem à função social do jornalismo estão bem presentes no
estado atual em que o jornalismo político se encontra e que isso pode afetar
bastante a qualidade do jornalismo para o presente e também para um futuro.
A opinião dos alunos foi de encontro com as pesquisas do Instituto Reuters,
centro de pesquisa da Universidade de Oxford que acompanha as tendências da
mídia, por meio de um estudo anual realizado em 2021.
A pesquisa indicou que atualmente a maioria das pessoas querem notícias
confiáveis e desejam que os veículos de comunicação sejam imparciais, objetivos e
neutros. Além disso, a entrevista também mostrou como a maioria das pessoas
gostariam que os meios de comunicação refletissem sobre variados pontos de vista
em suas abordagens.
Ainda na pesquisa é citado que após a derrota de Donald Trump nas eleições
de 2020 a demanda por notícias diminuiu, pois as pessoas passaram a desconfiar
mais das notícias do que confiar nelas e que os americanos com uma visão política
inclinada para a direita sentiram que a mídia foi injusta com eles. O relatório indicou
que as pessoas querem notícias mais imparciais e que querem o direito de decidir
por si mesmas.
O professor e jornalista da USP Carlos Eduardo Lins da Silva, em sua
entrevista para a rádio USP citada anteriormente, também aborda a preocupação do
leitor com as fontes e como o jornalismo atual não recorre às fontes e autoridades
nos assuntos em suas produções e as consequências que isso pode trazer, como a
falta de credibilidade.
Essa resposta chama a atenção por trazer uma visão de crítica interna aos
profissionais de jornalismo, com associações éticas e técnicas da profissão. Os
alunos demonstraram uma relação de complementação entre as respostas e uma
perspectiva de conexão entre a primeira pergunta, que aborda sobre os impactos da
polarização política na credibilidade do jornalismo, que podemos analisar sob o
ponto de vista de consequência da polarização política e da parcialidade. Ademais,
podemos observar a defesa dos alunos da necessidade da imparcialidade e ética
que são fundamentais para a profissão. Eles inclusive criticam a parcialidade
excessiva que alguns jornalistas cometem e acreditam que isso também contribui
para a descredibilidade e vilanização da profissão.
Figura 5 Pergunta 3

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Essa pergunta foi realizada com o intuito de explorar como os alunos de


jornalismo se informam e o porquê de ser daquele modelo. Uma de nossas
hipóteses era de que os estudantes se informavam mais através das redes sociais
do que por outros meios, o que acabou sendo comprovado a partir das respostas.
Vale ressaltar que para a análise de dados se considerou cada rede social como um
parâmetro individual, já que cada uma possui affordances e governanças próprias.
Os alunos entrevistados, em sua maioria, escolheram os portais de notícias
na internet como resposta. A justificativa dada pelos alunos se baseou em análises
pessoais de que os portais acompanhados compartilham de mais credibilidade no
processo de apuração e publicação, por exemplo. Em segundo lugar, os alunos
responderam a rede social Twitter e em suas justificativas foram motivadas pela
dinâmica acelerada da rede social e como ela se atualiza muito rapidamente,
principalmente em comparação a outros meios.
O Instituto Reuters, em uma pesquisa feita em 2021, identificou que a
revolução tecnológica gerou o impacto de levar 73% das pessoas a acessarem
notícias por meio de um smartphone, contra 69% em 2020. O TikTok inclusive foi
citado, atingindo 24% das pessoas com menos de 35 anos. O Facebook, no entanto,
ainda segue na liderança, sendo considerado a principal plataforma para
disseminação de informações falsas.
Segundo uma pesquisa feita de 11 a 13 de outubro de 2021, realizada pelo
PoderData, 43% dos entrevistados declararam que se informam primariamente pela
web, 22% por redes sociais, 21% por sites e portais 40% pela televisão, 7% pela
rádio, 8% outros meios e 2% preferiram não responder. Diversas pesquisas mais
recentes, além da realizada pelo PoderData demonstram como a população possui
uma tendência para se informar por meios digitais.
Como citado anteriormente pela pesquisa da Reuters, as plataformas de
redes sociais como o Facebook podem ser um grande disseminador de fake news.
Esse fenômeno também está fortemente vinculado à polarização política, uma vez
que as eleições de 2016 realizadas nos Estados Unidos da América e em 2018 no
Brasil, foram marcadas com intensidade pelo compartilhamento de notícias falsas
através das redes sociais.
A partir do crescimento tecnológico, é indubitável a relação da população com
a busca de notícias rápidas pela internet, pois a forma de consumir notícias passou
por uma revolução. No entanto, é importante ter uma consciência dos ruídos que
podem existir nas informações e também na contribuição da divulgação de notícias
falsas. Por ainda ser uma dificuldade para grande parte da população distinguir e
identificar as notícias falsas, são existentes algumas agências de checagem de
notícias, como o The Trust Project, que desenvolve padrões de transparência que
ajudam as pessoas a avaliar a qualidade e a credibilidade do jornalismo.
Como futuros profissionais, é necessário ter uma análise crítica para
compreender a necessidade de apuração das notícias, principalmente se forem
publicadas e consumidas em plataformas como as redes sociais. Apesar do conflito
do problema social nas formas de consumo de notícias no contexto social como um
todo, os alunos entrevistados souberam pontuar que sempre realizam a análise das
informações antes de confiar ou reproduzi-las em suas contas midiáticas, apesar de
ainda consumirem muitos conteúdos por meio de redes digitais como Twitter e
Instagram.
Figura 6 - Pergunta 4

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Ao questionarmos qual jornalista o entrevistado tem preferência ou costume


de acompanhar, buscamos entender qual segmento da profissão é mais procurado
levando em conta as rotinas ou referências de credibilidade dos alunos.
Por meio da liberdade de indicar o nome de qualquer jornalista, independente
de uma área específica, conseguimos perceber uma tendência para algumas
editorias que se sobrepõe a outras.
Conforme indicado no gráfico, foi possível identificar que, dos entrevistados, 8
acompanham profissionais da linha de área editorial jornalística de política, assim
como 8 acompanham jornalistas que trabalham com temas variados, 3 acompanham
profissionais da área editorial jornalística do esporte e 4 não acompanham um
jornalista em específico.
Dividimos os jornalistas mencionados nas entrevistas em editorias de atuação
para termos uma base hermenêutica lógica e racional com a finalidade e
possibilidade de compreender quais são as principais fontes de interesse dos
alunos.
Percebemos, todavia, uma repetição de um nome em específico, a jornalista
Renata Lo Prete, que atualmente se desenvolve em assuntos gerais, principalmente
ligados à economia e política. Além disso, o comentarista de esportes, Marcelo
Bechler, também foi citado por duas pessoas entrevistadas.
Ao que fomos capazes de notar com base nas respostas e explicações
oferecidas, o motivo se dá pelo interesse na área, remetendo à credibilidade por
identificação com os dois profissionais citados.
Referente aos quatro entrevistados que não indicaram um profissional em
específico como resposta ao questionado, foi concluído pelo nosso grupo por meio
das justificativas apresentadas, que isso se deve ao fato de estarem mais atentos
em consumir de diferentes veículos e não se prender a um jornalista em específico.
Segundo o professor da Escola de Jornalismo da Universidade Columbia
Michael Schudson, no artigo ‘’Como saber se uma notícia é falsa’’, publicada pela
revista Columbia Journalism Review, em suas palavras "um jornalista responsável
não produz notícias falsas, nem notícias exageradas ou notícias corrompidas. Não
subordina o relato honesto à coerência ideológica ou ao ativismo político. Não tenta
agradar anunciantes ou se ajustar aos interesses comerciais do veículo — nem às
preferências do público."
No livro A Imprensa e o Dever da Liberdade do jornalista Eugênio Bucci, o
acadêmico aborda a importância do jornalista ouvir todos os lados de uma história,
buscar a verdade e fazer perguntas incômodas para as suas fontes em busca da
verdade. É de pleno entendimento que não são todos os profissionais que seguem
as condutas éticas e indispensáveis da profissão. Por isso, a escolha da fonte de
profissionais de jornalismo não é somente importante para toda a sociedade como
um todo, mas também para o processo de formação dos futuros jornalistas, tendo
em vista que a capacidade crítica e análise de credibilidade dos profissionais de
imprensa precisam estar bem construídas e estruturadas.
A análise dessa pergunta foi essencial para compreender sobre as escolhas e
abrangências de variedade dos alunos a respeito das fontes profissionais de
preferência, tendo em vista a necessidade do acompanhamento de jornalistas que
compreendam a função social da profissão e que possua abordagens éticas em
seus conteúdos. Acreditamos que a pergunta obteve respostas bastante aceitáveis,
tendo em vista os profissionais citados e as motivações para serem acompanhados
com mais frequência a partir dos seus conteúdos e editorias.
Figura 7 - Pergunta 5

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Nesta pergunta, abordamos quais seriam os jornais/canais de notícia que os


entrevistados mais acompanham. O objetivo era entender como eles se informavam.
Os jornais que mais ganharam destaque foram o G1, Folha de São Paulo,
Jornal Nacional e Itatiaia.
No referencial teórico deste trabalho, falamos sobre o The Trust Project, que é
um projeto de credibilidade para o jornalismo e que visa proporcionar a reflexão
sobre a fragmentação da narrativa noticiosa no meio digital e desenvolver
ferramentas e técnicas para identificar e promover um jornalismo confiável e de
qualidade principalmente na internet, distinguindo-o do ruído de informações.
As escolhas esperadas antes da entrevista eram de que os estudantes
escolheriam veículos noticiosos que participavam desse projeto e/ou apoiavam um
jornalismo criterioso, já que durante o curso de jornalismo os estudantes são
estimulados a procurarem fontes confiáveis.
Segundo uma entrevista concedida pelo pesquisador e professor Bruno
Souza Leal, do Departamento de Comunicação Social da UFMG, para a Rádio
UFMG Educativa em 2020, a concentração dos veículos de imprensa tradicionais no
Brasil detidos por grupos muito específicos propõe uma visão tendenciosa, e gera
descrédito para os veículos tradicionais. A informação passa a não compreender
uma diversidade que atenda todo o território e diversidade cultural do Brasil. Por
isso, cabe a importância de acompanhar diversos veículos de imprensa, em especial
aqueles que apoiam projetos de checagem e que contam com uma apuração
criteriosa.
O cenário pós entrevista indica que os estudantes de fato escolheram
algumas entidades que participam do projeto citado, o The Trust Project.
Consideramos uma resposta bastante satisfatória dos entrevistados para o nosso
objetivo de trabalho, tendo em vista suas capacidades críticas como futuros
jornalistas de escolher com cautela os jornais acompanhados e que atendam aos
critérios de indicadores credibilidade, confiança e qualidade que levam em conta a
análise da missão dos veículos, seus compromissos éticos: diversidade na equipe
de reportagem/edição e de vozes, precisão e política para correções, entre outros
padrões.

Figura 8 - Pergunta 6

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.


Nessa pergunta, o objetivo central era compreender se os alunos tinham
domínio sobre o conceito de pós-verdade ou fatos alternativos: fenômenos que têm
exercido um impacto muito grande na contemporaneidade e que afetam diversas
áreas sociais de forma negativa, com destaque para o jornalismo.
A pós-verdade refere-se às circunstâncias nas quais os fatos objetivos têm
menos influência em moldar a opinião do que apelos às emoções e crenças
pessoais.
Os fatos alternativos compreendem a manipulação de um fato para apoiar
uma narrativa.
Utilizamos 3 tipos de classificação através da análise de clareza e
objetividade nas respostas: não domina quando a resposta não possui associação
ou relação com o significado dos conceitos, resposta imprecisa quando não
conseguimos identificar se o entrevistado domina pouco ou não domina o conceito e
domina parcialmente quando o entrevistado compreende parcialmente os
fenômenos, mas ainda não possui o domínio total do conceito.
Contamos com 4 entrevistados que dominam parcialmente o conceito, 5 que
forneceram uma ideia imprecisa e 6 que não dominam os conceitos.
A pós-verdade foi eleita a palavra do ano de 2016 pelo Dicionário Oxford.
Dada a relevância do significado, o dicionário elege todos os anos palavras que
atraíram grande interesse, que possui um potencial duradouro e significância
cultural. O conceito ganhou muita popularidade por meio das campanhas do Brexit,
que foi a saída do Reino Unido da União Europeia e durante o processo eleitoral
vencido por Donald Trump, nos Estados Unidos da América. Esses dois momentos
da história política foram marcados por intensas disseminações de fake news nas
redes sociais, além do uso acentuado de questões classificadas como pós-factuais e
são dois grandes exemplos para analisar como o fenômeno se comporta no meio
social.
O pós-fato foi um conceito criado pelo sociólogo e jornalista norte americano
Farhad Manjoo no livro True Enough: Learning to Live in a Post-Fact Society para
definir a possibilidade de escolha de realidades que as pessoas querem acreditar,
uma verdade ‘’particularizada’’ e que faz parte do novo meio.
Os termos abordados foram complexos e são participantes ativos do
dicionário da desinformação, uma vez que ela é conceituada como uma arte de
manipular multidões. As informações difundidas dentro do contexto da pós-verdade
também são um ponto forte para a reprodução da descredibilidade do jornalismo.
O The Trust Project também possui um protagonismo no combate à
desinformação gerada por notícias que se categorizam nesses conceitos, uma vez
que lutam para identificar e promover um jornalismo confiável e de qualidade na
internet, distinguindo-o do ruído.
Muitos alunos entrevistados possuem conhecimento do que são os conceitos
e os seus impactos negativos para o jornalismo, mesmo que de forma parcial. Isso
torna o resultado importante por se tratar de uma abordagem delicada
principalmente para o jornalismo, que é extremamente prejudicado pela
desinformação e acaba sofrendo ataques de descrédito, por exemplo.

Figura 9 - Pergunta 7

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Para esta pergunta, buscamos entender se os estudantes de jornalismo do 6º,


7º e 8º períodos da PUC Minas São Gabriel compreendiam com clareza o conceito
da desinformação.
Levamos em consideração o conceito de desinformação baseado na
definição de ruído ou ausência de informação, como instrumento de alienação
coletiva e dominação, e como meio de logro e engano arquitetado por alguém.
Para a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), desinformação não é
sequer considerada jornalismo. Na publicação de uma matéria em outubro de 2022,
o veículo enfatiza a ideia de que mesmo que um conteúdo possua características
parecidas com a de uma notícia, não deve ser tratada como jornalística por não ter
nenhum compromisso com a verdade. A publicação também reforça que essas
práticas são ruins para o jornalismo e também para a população, tendo em vista o
papel do jornalismo na sociedade.
Segundo a jornalista e professora da ECA/USP, Daniela Ramos, em uma
entrevista ao Jornal da USP sobre ‘’Credibilidade, desinformação e isenção: como a
Internet mudou o jornalismo?’’, o jornalismo está inserido no contexto do cenário de
desinformação em virtude do cenário polarizado, em que o conteúdo informativo se
relaciona com a linha editorial que o profissional de jornalismo trabalha.
Ainda na entrevista ao Jornal da USP, para Rodrigo Ratier, jornalista e
professor de jornalismo digital da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP,
para resolver a credibilidade da informação na era digital, uma boa possibilidade
para os jornalistas é a de assumir um papel educativo que auxilie as pessoas a
consumir as informações corretas, combatendo por fim a desinformação.
Um exemplo de atividade que busca apoiar a população é o The Trust
Project, também já mencionado, que conta com uma série de indicadores que
fornecem padrões consistentes que auxiliam também mecanismos de pesquisa e
plataformas de mídia social a distinguir notícias de qualidade dos ruídos
informacionais. Temos também plataformas de checagem no Brasil como a Agência
Lupa e Aos Fatos, que se dedicam na verificação de afirmações e dados
relacionados a temas de interesse público.
Diante dessa abordagem, torna-se nítido como é importante que os atuais
jornalistas e os jornalistas em formação tenham essa visão crítica sobre a profissão
e sobre a desinformação, com o intuito de combater esses ruídos comunicacionais
na profissão. Ficou evidente, ao analisarmos as respostas, que todos os
entrevistados associaram o que entendiam do conceito de desinformação com
política. Ou seja, ao explicarem seu entendimento do termo, usaram analogias
referentes a cenários políticos ou notícias do editorial de política.
Tendo em vista que os futuros jornalistas possuem o conhecimento do que é
desinformação e os seus danos para o jornalismo e para a sociedade,
principalmente no contexto atual, consideramos isso positivo para o objetivo do
nosso trabalho, observando que 7 dominam o tema parcialmente e 8 dominam o
tema completamente, já que, dentre os três períodos, todos parecem entender o
conceito de maneira satisfatória e crítica.
Figura 10 - Pergunta 8

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Para a pergunta 8, decidimos dividir a resposta em duas partes. A primeira,


buscamos analisar se os entrevistados dominavam ou não os conceitos
apresentados. Para isso, levamos em consideração a definição de haters como uma
pessoa ou um grupo de pessoas que tem como objetivo disseminar discursos de
ódio, ofender ou oprimir pessoas ou grupos de pessoas; trolls como movimentação
em páginas, canais de TV, em comentários e comunidades nas redes sociais, em
jogos e vários outros lugares, com o intuito de reconhecimento ou de pertencimento
a um grupo; cyberbullying como prática da intimidação, humilhação, exposição
vexatória, perseguição, calúnia e difamação por meio de ambientes virtuais, como
redes sociais, e-mail e aplicativos de mensagens.
Segundo Renato Rovai, professor de Jornalismo Digital da Faculdade Cásper
Líbero, em depoimento para o site Eu Sem Fronteiras, as mensagens e comentários
provenientes de haters contém um fundamentalismo ideológico e possui como
consequência impedir que essas pessoas ou haters estejam abertos a ouvir e
aceitar opiniões que sejam diferentes do que acreditam. Essa ação promove uma
falta de liberdade de expressão de certa forma, provocando uma polarização
ideológica, o que é extremamente danoso e foi abordado nas análises das respostas
acima.
Tendo em vista o alto nível de seriedade do tema, podemos analisar como é
importante a identificação, debate e contenção desse fenômeno.
Com isso foi possível definir que, dos entrevistados, 3 dominam os conceitos,
9 dominam parcialmente os conceitos, 3 deram respostas imprecisas para
estabelecer se compreendiam de fato ou não os termos apresentados.

Figura 11 – Pergunta 8 (segunda parte)

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Na segunda parte da pergunta, analisamos as principais formas que haters,


trolls e cyberbullying, impactam o conteúdo do jornalismo. Para isso, analisamos as
respostas e categorizamos em diferentes temas objetivos para, ao fim, compilamos
as conclusões. Dessa maneira, foi possível determinar 7 diferentes temas citados
como impactos para o jornalismo. Os termos apresentados: acentuam o discurso de
ódio; estabelecem o controle de narrativas; geram clickbait; afetam a credibilidade;
afetam a repercussão da notícia; acentuam a polarização; afetam a imparcialidade.
Conforme representado no gráfico acima, entendemos que os dois principais pontos
de impacto dos haters, trolls e uso do cyberbullying, no jornalismo, são o fato de
acentuarem o discurso de ódio por meio de interações com o conteúdo postado nas
plataformas digitais (com comentários e ataques por meio de redes sociais), assim
como afetam a credibilidade do veículo de notícia.
O Internetlab, centro independente de pesquisa interdisciplinar que promove o
debate acadêmico e a produção de conhecimento nas áreas de direito e tecnologia,
sobretudo no campo da Internet, publicou um guia em formato de cartilha que ajuda
jornalistas e criadores de conteúdo na Internet a identificar trolls e ataques online. A
cartilha possui conceitos e dados extremamente relevantes. Um deles é que, de
acordo com a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), em
2020, ocorreram em média 7 mil ataques por dia contra profissionais da
comunicação. Os dados da Abraji também mostram que até novembro de 2020, dos
registros de ataques, 56% foram direcionados a jornalistas mulheres.
Os ataques foram verbais, violações ou interceptações de mensagens instantâneas,
furto de senhas, monitoramento de navegação em tempo real e exposição de dados
privados. Ainda segundo a cartilha, esses ataques reforçam desigualdades e criam
um ciclo vicioso de impactar na confiabilidade dos conteúdos jornalísticos.
Com isso, percebemos que a relação entre os dois temas existe quando
entendemos que os três conceitos contribuem para a segregação e fomentação de
discursos de ódio como motivo para desconsiderar fatos apresentados por irem
contra uma crença particular específica.
Como nos foi exemplificado de diferentes maneiras dentre os entrevistados, é
possível que um indivíduo ou grupo de indivíduos identifiquem um canal de notícia
como imparcial e, assim, atacam o lado que considera que o jornal esteja apoiando
como uma forma de protesto motivado por suas crenças ideológicas. A perspectiva
dos alunos nesta pergunta também possui uma análise positiva, pois se conectam
com os dados e fontes de pesquisas citadas acima.
Figura 11 - Pergunta 9

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.


Estabelecemos a pergunta 9 como uma forma de buscar compreender as
fontes de notícia dos alunos entrevistados para formar uma opinião política e o nível
de qualidade optado a partir de critérios de confiabilidade e credibilidade.
Percebemos que as respostas variaram entre específicas e variações, já que 7
entrevistados afirmaram buscar sempre diferentes maneiras de encontrar fontes e
pesquisas antes de estabelecer uma opinião política. Sem conseguirem indicar
algum veículo ou forma que se destacasse como mais frequente para o entrevistado.
Trazendo um panorama a nível nacional, a política ainda é um tema muito
pouco explorado pelos brasileiros. Segundo uma pesquisa quantitativa realizada
pelo Datasenado, há 10 anos, 63% dos brasileiros tinham interesse em política e o
percentual agora caiu para 53%. Conforme retratou a pesquisa, para os
entrevistados, o baixo conhecimento sobre o sistema político é um dos motivos do
desinteresse.
A pesquisa também mostrou que os principais meios de comunicação na
busca de informações sobre política são televisão (37%), redes sociais (24%) e
páginas na internet (23%). Há ainda uma crítica a respeito da televisão ser a mais
consumida pela população e a sua capacidade de ser caracterizada como
tendenciosa.
Entre as respostas, identificamos uma busca, de acordo com a maioria, por
fontes com experiências acadêmicas específicas em áreas relacionadas à política, e
também fontes que compilam perspectivas plurais e fogem do círculo tradicional de
notícias.
Podemos analisar como o jornalismo ainda possui um impacto muito grande
na atividade para informar a sociedade, especialmente sob o ponto de vista político,
conforme é discutido nesta questão. Compreendemos a partir das respostas dos
entrevistados que existe uma preocupação dos alunos em se informar com
qualidade e variedade. Essa perspectiva é ótima levando em conta que os futuros
jornalistas procuram ter conhecimento na área política e buscam isso de maneira
confiável, pois podem futuramente exercer a transmissão de notícias que precisem
de um teor crítico e ou político, o que irá gerar um bom impacto pela recepção da
população pelas notícias veiculadas.

Figura 12 - Pergunta 10

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

A pergunta 10 também foi dividida. Divididos em três partes, a primeira


buscou entender se os entrevistados promovem debates/diálogos políticos ou não.
Na segunda, tentamos identificar onde promovem esses debates/diálogos, caso
promovam; e na terceira, procuramos compreender a periodicidade dos
debates/diálogos políticos promovidos.
Parafraseando Aristóteles, o homem é um ser naturalmente político e precisa
da comunidade para alcançar a completude. Dessa forma, a política é um assunto
que vai além de políticos: ela está extremamente ligada à vida das pessoas mesmo
que elas não percebam ou optem por não se envolver nos temas e debates. Por
abranger questões coletivas sobre educação, saúde, trabalho, direito, entre outros,
torna-se extremamente importante a promoção do conhecimento e debate em
sociedade.
Segundo o jurista brasileiro e membro da Academia Mineira de Letras Celso
Lafer, no artigo A reconstrução dos direitos humanos: a contribuição de Hannah
Arendt, em um trecho, Celso diz que ‘’Sem o direito à informação, não se garante a
sobrevivência da verdade factual — a verdade da política —, na qual se baseia a
interação e o juízo político, abrindo-se uma margem incontrolada para a mentira e os
segredos conservados pelos governantes nas arcana imperii [segredos de estado].
Tanto as mentiras quanto os segredos corrompem o espaço público. A transparência
do público através de uma informação honesta e precisa é, portanto, condição para
o juízo e a ação numa autêntica comunidade política.” A partir disso, é importante
observar como a educação no Brasil é precária e o jornalismo muitas vezes serve de
forma instrumental como uma ponte educativa para a população em diversos
assuntos.
Para a primeira parte, 11 entrevistados responderam que promovem debates
ou diálogos políticos de alguma forma e com alguma frequência, e 4 responderam
que não. No caso das respostas negativas, foi possível identificar que a motivação
pode ser pelo desconforto de incitar conflitos.
Tendo em vista que a maioria dos alunos entrevistados realizam a promoção
ou participação de diálogos políticos mesmo diante do cenário delicado, em especial
para a imprensa, analisamos que a resposta foi positiva, pois eles possuem a
consciência da importância desse debate em nossa sociedade para defesa e
manutenção da democracia.
Figura 13 – Pergunta 10 (segunda parte)

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Dos 11 entrevistados que disseram que promovem debates ou discursos


políticos, 8 afirmaram ser em círculos sociais. Como círculos sociais, entendemos
debates entre amigos, colegas de trabalho ou familiares; 3 exemplificaram contextos
cotidianos, como conversas com passageiros no ônibus ou debates com pessoas
desconhecidas que entraram de alguma forma no dia a dia; 2 não especificaram
onde promovem os debates; 1 declara suas opiniões em redes sociais; 1 fez uma
série de episódios de podcasts abordando o tema; 1 busca desenvolver debates
políticos por meio do jornalismo.

Figura 14 - Pergunta 10 (terceira parte)


Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.
Para a periodicidade, identificamos que 9 abordam política ocasionalmente,
ou seja, em momentos oportunos e não planejados; 3 buscam dialogar sobre o tema
diariamente; 2 não especificaram a frequência; 1 estabeleceu que promove
conversas sobre política em períodos específicos e situações específicas, como
eleição ou grupo de debate sobre questões raciais/políticas.
Com isso, entendemos que a maioria se preocupa em promover conversas
sobre política e expressarem suas opiniões da forma que cada um julga mais efetiva
onde julgam necessário. Por exemplo, alguns consideraram importante dialogar
sobre política para conscientizar familiares sobre a realidade do cenário político
atual. Também ficou evidente que, de maneira geral, os debates costumam ocorrer
devido a algum gatilho, como notícias, mudanças na legislação ou acontecimentos
de impacto pessoal do grupo afetado.

Figura 15 - Pergunta 11
Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Nesta pergunta, buscamos entender a motivação pela escolha da profissão


de jornalista de cada entrevistado. A intenção da pergunta é analisar se terem
optado por jornalismo está ligado à motivação para exercer a função, além de
relacionarmos o objeto de incentivo com as noções de ética profissionais.
O artigo 1º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros diz que ‘’O Código
de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem como base o direito fundamental do cidadão
à informação, que abrange seu o direito de informar, de ser informado e de ter
acesso à informação’’. O artigo 4º defende que ‘’O compromisso fundamental do
jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu
trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação’’. Dessa forma, é de
pleno conhecimento que a principal função social do jornalismo é informar tendo
como base um compromisso com a sociedade e com a verdade.
Alguns entrevistados forneceram respostas amplas e que se encaixam em
mais de uma opção, mas mesmo assim a maioria citou o anseio por informar,
demonstrando entusiasmo pela comunicação e como afeta a sociedade. Além disso,
foi possível observar interesses com gostos pessoais, como no caso de esportes ou
identificação étnico-racial, e formas de contribuir com a sociedade, seja como uma
fonte eticamente confiável ou como uma voz ativa.
As respostas no geral foram positivas e acreditamos que, a partir das
respostas, os jornalistas em formação possuem o conhecimento da função social do
jornalismo e apoiam a natureza ética da profissão, que defende o direito da
população de se informar.

Figura 16 - Pergunta 12

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.


Na pergunta 12 das entrevistas, procuramos entender mais sobre a
perspectiva do aluno quanto ao mercado de trabalho e o curso em formação. Todos
os 15 entrevistados estão nos semestres finais da graduação, por isso consideramos
relevante entender seu preparo para exercer a função levando em conta o cenário
atual e todos os pontos levantados sobre ambições, ética e perspectivas para o
futuro da função do jornalismo. Dos entrevistados, 7 declararam-se aptos
plenamente para exercer a profissão, 6 consideraram-se inaptos, 2 declararam
estarem prontos parcialmente.
De acordo com as justificativas, os que optaram por responder que não estão
aptos ou que estão aptos parcialmente, justificaram que o peso da questão da
dinamização da profissão, que sempre propõe aos profissionais abordagens novas,
novas pautas e cobertura de assuntos delicados são questões que influenciaram no
sentimento e resposta de não estarem preparados, o que podemos associar a
fatores de exploração do campo mercadológico e psicológico da profissão.
Atualmente existem diversas teorias que explicam as rotinas do jornalista
dentro de uma redação. Temos a teoria do newsmaking, que aborda a questão dos
processos de produção do jornalismo estarem associados às rotinas industriais, a
teoria organizacional, que acredita na hierarquização dentro da redação, temos a
precarização da profissão, a necessidade de informações rápidas, a desvalorização
da profissão, ameaças à imprensa, entre outras.
Segundo o ranking de liberdade de imprensa criado pela ONG Repórteres
Sem Fronteiras, em 2022 o Brasil ocupa a 110° colocação entre os países que a
imprensa mais sofre restrições no mundo. Segundo a Associação Brasileira de
Jornalismo Investigativo (Abraji), entre o período de janeiro e abril de 2022, foram
identificados 151 episódios de agressão física e verbal ou outras formas de
prejudicar o trabalho jornalístico, como restrições de acesso à informação, ataques
de negação de serviço na internet, exposição de dados pessoais, processos civis ou
penais, assassinato, assédio sexual e uso abusivo do poder estatal. O discurso
estigmatizante continua sendo a agressão mais comum.
É possível analisar que todo esse cenário de violência e precarização
enfrentada pela categoria dos jornalistas atualmente no Brasil propõe uma atmosfera
de incertezas nos futuros profissionais, o que justifica as respostas motivadas por
fatores principalmente emocionais.

Figura 17 - Pergunta 13
Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Nesta questão, nossa intenção foi entender o alinhamento da ética, legislação


e profissionalização de jornalismo.
Com 93,33% das respostas completamente positivas e analisando as
justificativas, entendemos que a maioria dos alunos entrevistados associam a falta
de regulamentação da atividade jornalística no Brasil com a precariedade da
profissão.
De diferentes maneiras, foram indicados pelos entrevistados que a
regulamentação é uma forma exigir a ética e proteger a informação, além de
remediar desinformação e narrativas manipulativas.
O entrevistado que enquadramos como parcialmente, ressaltou a importância
do cuidado com a censura e, por acreditar que a mídia deve ser livre, entende que
existe a possibilidade de uma regulamentação ser aval para autoritarismo midiático.
Em 2009, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram que o
diploma de jornalismo não é obrigatório para exercer a profissão no Brasil. Essa foi
uma decisão séria e grave, uma vez que a profissão já sofre com a desvalorização
no país.
O jornalismo precisa contar com profissionais que entendam conceitos éticos,
multidisciplinares e multiculturais, compreendam a função social do jornalismo e o
compromisso com a verdade. Para o professor da Escola de Comunicação e Artes
(ECA), da USP Laurindo Leal Filho, em uma entrevista concedida para o Jornal
UEM, da Universidade Estadual de Maringá, durante a aula inaugural do curso de
Comunicação e Multimeios, a decisão do Supremo Tribunal Federal provocou a
formação de profissionais de acordo com as expectativas do mercado de trabalho
sem formação crítica que incentive pesquisas e a carreira acadêmica na área da
comunicação.
Podemos concluir que a falta de um código para regulamentar a atividade
jornalística no país pode sim afetar a credibilidade da profissão. A resposta dos
alunos entrevistados torna-se satisfatória pois compreendem a necessidade da
regulamentação da profissão no país e as consequências que a falta dela estão
trazendo para a profissão, uma vez que propõe uma série de problemáticas para a
categoria dos jornalistas.

Figura 18 - Pergunta 14

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Levamos em consideração na pergunta 14 que “fonte” se refere a qualquer


meio usado para se informar, seja um veículo, pessoa ou plataforma.
Conforme o gráfico 14 apresenta, 8 entrevistados indicaram a identificação
como principal fator para considerar uma fonte crível. Determinar a identificação
como reafirmação de credibilidade, foi justificado por ser uma forma de aceitar
narrativas que favorecem uma determinada crença pessoal.
Outro termo indicado como motivação para a credibilidade de uma fonte é a
relevância para a sociedade, com 4 indicações pelos entrevistados. Nesse caso,
entendemos que a carreira ou histórico da pessoa ou veículo noticioso tem
significativa importância para conquistar a confiança a longo prazo das pessoas,
fazendo com que a veracidade daquilo que informa não seja tão questionado quanto
outro veículo ou pessoa com uma carreira ou histórico menor ou pouco confiável.
Como foi citado anteriormente, o The Intercept publicou uma matéria a
respeito de um estudo abordando o tema de como a polarização política nos
Estados Unidos da América tem uma mentalidade de torcida. A reportagem mostrou
como um estudo feito pela professora Liliana Mason, da Universidade de Maryland
publicado em março de 2018, utilizando dados de 2016 dos institutos de pesquisa
Survey Sampling International e American National Election Studies e entrevistas
com pessoas, mostrou como a identidade política adotada pelas pessoas a partir de
suas crenças em fatores ideológicos impactaram essa polarização.
Segundo o pesquisador de pós-doutorado do Instituto Reuters Craig T.
Robertson para o relatório anual do instituto em 2021, as pessoas estão apoiando
fortemente o ideal de notícias imparciais. Isso leva em conta os fatores ideológicos,
uma vez que as notícias e veículos são escolhidos a partir de crenças.
É possível refletir sobre a relação de polarização nos conteúdos do jornalismo
e as crenças sociais motivadas por ideologias pelas pessoas. Por isso foi analisado
como os alunos entrevistados demonstraram dominar a perspectiva crítica dos
fatores que motivam as pessoas a darem credibilidade para uma fonte específica,
que tende a ser conceituada pela identificação das ideologias do indivíduo com a
notícia. Também foi possível compreender que os alunos acreditam que apesar das
pessoas se guiarem pelas suas convicções ideológicas para acompanhar as notícias
e darem credibilidade a elas, precisam ser mais questionadoras e se informar em
fontes confiáveis que tenham o cuidado com a checagem dos fatos.
Figura 19 - Pergunta 15

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

A pergunta 15 foi dividida em duas partes. A primeira parte da pergunta tem


como objetivo observar se os entrevistados concordam ou não que a democracia é o
melhor sistema de governo existente. Como está indicado no gráfico 15, 80% dos
entrevistados concordam e 20% concordam parcialmente.
Atualmente no mundo, pelo ponto de vista político, existem três formas de
governo existentes: presidencialismo, semi presidencialismo e parlamentarismo. O
Brasil se enquadra no modelo de presidencialismo e somos uma República
federalista.
A oportunidade de a população participar da escolha de chefes de governo
legitimam e reforçam a democracia, que pode ser conceituada como a participação
dos cidadãos nas escolhas do poder político. Esse modelo político está tão
enraizado em nossa cultura que qualquer ação que fira o Estado Democrático de
Direito é considerada censura ou ataques antidemocráticos.
Para a imprensa, a liberdade de expressão está totalmente conectada com a
democracia, uma vez que ela reforça a perspectiva de direitos políticos iguais para
todos os cidadãos, como o direito à informação.
Foi possível compreender que os alunos possuem plena consciência de que a
democracia é essencial para a sociedade, tendo em vista o seu papel como
reguladora social de liberdade e direitos do corpo social. Além disso, o próprio
jornalismo é um defensor da democracia.
Figura 19 – Pergunta 15 (segunda parte)

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Apesar de muitos concordarem, foi levantada a contrapartida de que apenas


concordam ou concordam parcialmente porque é, atualmente, a melhor opção
apesar de não ser ideal. Dentre as justificativas, compreendemos que questões
sociais e de conhecimento, além de questões políticas, afetam a habilidade de
algumas classes terem acesso justo à informação apurada se tratando dos meios
políticos. Por exemplo, é possível observar como a desinformação vem
acompanhada da falta de noção por parte das pessoas que perpetuam fake news
por elas desconhecem formas de averiguar notícias e separar a realidade das
crenças pessoais. Outro exemplo é o desconhecimento acadêmico da população
mais humilde, levando a ingenuidade de credibilizar fatos narrados de maneira
manipulativa que podem provocar efeito alienado na democracia, visto que, para
uma democracia funcionar plenamente, é necessário que todos os cidadão
envolvidos tenham conhecimento e clareza sobre diferentes aspectos sociais,
políticos e gerais. Somente assim é possível pensar como coletivo e exercer o direito
do voto em função da sociedade e não em função de benefício pessoal.

Figura 20 - Pergunta 16

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Essa pergunta teve como objetivo explorar se a democracia é um valor


importante para os entrevistados. De certa forma compreende-se que a democracia
é de fato um considerável valor para a sociedade, já que é o único sistema de
governo em que as pessoas experimentam a liberdade de expressão.

O artigo Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III
- a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa; (Vide Lei nº 13.874, de 2019) e o V - o pluralismo político. Parágrafo único.
Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição.

A resposta dos entrevistados evidencia que o pensamento deles se alinha a


um dos valores do que se é proposto pela função social do jornalismo que seria a
manutenção da democracia.

Os alunos entrevistados ‘’não’’, citaram valores que para eles são mais
importantes dentro do contexto da democracia, como por exemplo, a equidade de
oportunidades, melhoria da qualidade de vida e experiências plurais. São 3 valores
que não são contra os princípios da democracia, porém corroborariam para uma
melhor sociedade na perspectiva dos alunos, o que de alguma forma também torna
a pergunta com questionamentos interessantes para se observar dentro de uma
democracia.

Figura 21 - Pergunta 17

Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

A pergunta 17 foi uma forma de tentar compreender a relação entre a política


e a ética. Dividimos a questão em três partes para essa análise, sendo a primeira, se
consideram viável um ato totalitário, e a segunda e terceira justificando a escolha da
primeira. Conforme o gráfico 17, observamos que 12 dos 15 entrevistados não
admitiriam um ato totalitário em qualquer circunstância. E 3 responderam que
admitiriam.
Historicamente o totalitarismo se fundamentou em épocas de crises, como a
causada pela Primeira Guerra Mundial. O caos gerado durante essas fases fez com
que as sociedades adotassem o regime, que propõe a detenção do controle total da
vida pública e da vida privada.
Segundo Hannah Arendt no livro Origens do Totalitarismo, as ações de
totalitarismo são resultados do medo e do terror.
O totalitarismo anula as individualidades e historicamente até hoje não existe
um exemplo positivo de grandes movimentos que ocorreram no mundo que obteve
um bom resultado. Como as regras são ditadas pelo responsável do Estado, a vida
das pessoas podem ser gravemente impactadas, pois a linha tênue do respeito à
ética é muito fácil de ser ultrapassada tendo em vista a falta do controle
democrático. O escritor inglês George Orwell, no livro A Revolução dos Bichos
retrata uma realidade sob o ponto de vista crítico e pessimista a partir do uso de
metáforas com animais. O leitor se sente desconfortável em cada página, o que
pode ser utilizado para compreender como é um sistema totalitário.

Figura 22 – Pegunta 17 (segunda parte)


Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Foram apresentados dois possíveis motivos para que os três entrevistados


que concordariam com um ato totalitário aceitassem: se fosse a última e única opção
para salvar vidas em risco; como argumento para acusar um político autoritário. De
maneira geral, ambos os votos positivos para o autoritarismo em algum caso
apontam que vêem o ato como uma opção sensata caso o bem da maior parte da
população seja o motivo.
Os alunos entrevistados optaram por uma resposta pensando em questões
éticas de certa forma, pautados pela valorização da vida.
.

Figura 23 – Pergunta 17 (terceira parte)


Fonte: questão elaborada pelos autores deste trabalho.

Em contrapartida, os principais motivos apontados para os entrevistados não


apoiarem de forma alguma uma ato totalitário, relacionam-se com a possibilidade do
bem para a maioria ser afetado. Sendo assim, indicados como um ato
antidemocrático privatizador da liberdade pessoal de cada indivíduo. Também foi
apontado por alguns entrevistados que um ato totalitário precisa ser controlado por
alguém e/ou algum veículo/instituição, o que implica um poder muito grande que
pode sair do controle e flertar com interesses pessoais de quem controla o ato
totalitário, o que vai de encontro com a obra que citamos anteriormente, ‘’A
Revolução dos Bichos’’, de George Orwell, em que o poder fica desequilibrado e
prejudica principalmente a liberdade da sociedade.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A origem da proposta do nosso trabalho se deu pelo questionamento
referente ao impacto dos veículos de comunicação para o conhecimento da
sociedade, levando em consideração contextos baseados em fact checking e
pós-verdade, primordialmente. Conforme nossa compreensão de tudo que foi
abordado no referencial teórico, levantamos a possibilidade de existirem diferentes
motivações em contraposto da hipótese inicial.
A princípio, buscamos entender a possibilidade da posição sócio-econômica
ter influência no nível de conhecimento da população e como ela interpreta notícias.
Ao analisarmos estudos diversos por profissionais como Karam, Christofoletti, entre
outros, entendemos que a ética da profissão e a imparcialidade podem estar
relacionadas com a parte fundamental da compreensão da sociedade em relação ao
que é noticiado.

A afirmação fica evidente quando, ao esclarecer sobre precarização da


função, fake news e o desafio da credibilidade, abordamos os efeitos claros que a
precarização do mercado jornalístico por meio da falta de preparo para
acompanhamento da modernidade e rapidez com que a desinformação intoxica o
meio de notícias. Por mais que Christofoletti afirme a complexidade do efeito
colateral que os fatores de fake news e precarização da profissão trazem,
objetivamos entender melhor a raiz do problema. O que, de fato, poderia motivar
essa crise e impactar a forma como a população recebe e interpreta as informações.

Em vista disso, optamos por uma série de entrevistas com os futuros


jornalistas, os graduandos de jornalismo da PUC Minas. Como uma forma de obter
respostas sem influências ou impactadas pela estrutura do enredo das perguntas,
encontramos nosso primeiro grande desafio ao estabelecermos nosso primeiro
contato com uma pesquisa científica desse porte.

Por meio de entrevista, conversamos com 15 alunos da graduação em


Jornalismo pela PUC Minas. A princípio, nos organizamos para descobrir a
perspectiva dos alunos sobre o assunto e montar um panorama geral do que
diagnosticamos como verdadeira problemática em torno das questões envolvendo
interpretação dos fatos e fact checking. Realizar uma pesquisa nesse calibre se
provou desafiador. Uma série de perguntas que precisavam compor um contexto
específico neutro e uma clareza suficiente para compreensão sem demais
explicações. Somente assim seria possível obter respostas sinceras e não
influenciadas pelo enredo das perguntas propostas. Além disso, analisar as
respostas, após desenvolver a tabulação, se tornou uma tarefa surpreendentemente
complexa quando precisamos diagnosticar o que todo aquele material indica como
respostas para nossas hipóteses.
Ficou evidente, para nós, que os alunos desde o sexto período já possuem
um senso crítico analítico mais apurado em relação aos pontos levantados durante
as entrevistas, como polarização da mídia e impacto da desinformação para a
credibilidade dos veículos. Ficou claro, também, o grande peso da mídia se tratando
de abordagens, debates e posicionamentos políticos e os efeitos da pós-verdade e
desinformação no modelo atual de transmissão de informações. Todos os
entrevistados demonstraram interesse por perpetuar os valores éticos do jornalismo,
principalmente por indicarem a responsabilidade como um grande fator para mediar
os fatos nos veículos informativos. Inclusive, foi levantada uma crítica em relação à
parcialidade excessiva que alguns jornalistas cometem e acreditam que isso
também contribua na descredibilidade e vilanização da profissão.

Observamos, também, que os alunos acusam reconhecer a gravidade da


situação atual da àrea, pontuando, ainda, a necessidade dos profissionais reverem
as condutas sobre o que a função do jornalismo propõe e o que pode ser feito para
nortear a situação atual de abuso de ideologias ou parcialidade vedadas por
narrativas distorcidas, seja por quem emite a notícia ou por quem a recebe e
interpreta. Tendo como base as fontes de referência dos alunos, podemos
considerá-las seguras e confiáveis no sentido de que se informam em busca de
construir uma opinião política baseada em diferentes perspectivas e fontes das quais
grande parte participa do Projeto Credibilidade, do The Trust Project, como o Folha
de São Paulo, que buscam promover um jornalismo confiável e de qualidade na
internet, distinguindo-o do ruído.

Positivamente, foi possível entender que a relevância do jornalismo se prova


ascendente e a importância da profissão é, certamente, eminente e fundamental
para o desenvolvimento de uma sociedade democrática crítica. É de plena
consciência dos alunos que a democracia é essencial para a sociedade, e, apesar
de ter os seus defeitos, se trata de um modelo de governo que é uma reguladora
social de liberdade e direitos, além disso, o próprio jornalismo em si é um defensor
da democracia.

Entretanto, com novas informações e respostas, vieram novos


questionamentos. Agora, colocamos em pauta dúvidas relacionadas à tendência das
desinformações ocuparem espaços maiores caso não seja aplicado uma
regulamentação da profissão. Visto nossa compreensão dos efeitos da pós-verdade
na sociedade. Além disso, pode ser interessante para o âmbito desse objeto de
pesquisa, entender o quanto a desconfiança da população nos veículos de notícia
irá crescer e/ou afetar questões político-sociais como escolaridade, eleição, direitos
humanos e democracia.

O fator central do nosso trabalho focou em compreender o status atual do


impacto do jornalismo como meio informativo e como a sociedade lida com fatores
de credibilidade. Com isso, esperamos que este trabalho possa ser um indicativo
para novas pesquisas nesse âmbito, norteando uma proposta de interrogação do
padrão atual e incentivando a continuação do trabalho por meio da coleta de
informação e verificação dos impactos jornalísticos no conhecimento geral social da
população.
REFERÊNCIAS
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combate e contexto, 2020. Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil, 2020.
Disponível em
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Voting: a study of opinion formation in a presidential campaign / Bernard R. Berelson,
Paul F. Lazarsfeld, William N. Mcphee.
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO
Democracia:
1. Na sua opinião qual o impacto da polarização política na credibilidade do
jornalismo?

Papel do jornalismo:

2. Qual a sua perspectiva sobre o jornalismo político de hoje? Por quê?

Fonte de informação:
3. Como você se informa (através de qual plataforma)? Por quê?
4. Quais jornalistas você acompanha com mais frequência? Por quê?
5. Qual jornal você acompanha mais? Com que frequência? Por que você gosta
de acompanhar mais esse jornal do que os outros?

Pós verdade:
6. Com a sua formação acadêmica, você sabe o que é, ou domina os conceitos
de pós-verdade ou fatos alternativos? Quais? Como você os descreveria?
7. Você compreende o conceito da desinformação? Como você o descreveria?
8. Em sua concepção, o que são haters, trolls e cyberbullying? Como eles
impactam os conteúdos jornalísticos?

Política:
9. Quais são suas fontes de pesquisa ao desenvolver uma opinião política?
10. Você costuma participar ou promover diálogos sobre política (local ou
nacional)? Em qual espaço? Qual a periodicidade? E como é o formato?

Carreira:
11. Por que você escolheu Jornalismo?
12. Você acha que sairá da faculdade pronto para exercer esse papel?
13. Há necessidade de um código para regulamentar a atividade jornalística no
Brasil?

Impacto social:
14. Para você, quais são os fatores que levam as pessoas a darem credibilidade
a uma fonte específica de notícia?
Democracia como valor:
15. A democracia é o melhor sistema de governo existente? Concorda ou
discorda? Discorra
16. A democracia é o maior valor de uma sociedade?
17. Você admitiria em alguma circunstância um ato totalitário? Por quê?

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