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NOME DA FACULDADE

CURSO

O NOVO PAPEL DO ESTADO FRENTE ÀS TRANSFORMAÇÕES


TERRITORIAIS ORIUNDAS DA GLOBALIZAÇÃO

Cidade

2012
II

NOME DA FACULDADE

Isabella

O NOVO PAPEL DO ESTADO FRENTE ÀS TRANSFORMAÇÕES


TERRITORIAIS ORIUNDAS DA GLOBALIZAÇÃO

Trabalho apresentado ao curso de XXXX da


FACULDADE, sob orientação de
XXXXXXXXXXXXXXXXXXX com o objetivo
de ...............................................................

Cidade

2012
III

Isabella

O NOVO PAPEL DO ESTADO FRENTE ÀS TRANSFORMAÇÕES


TERRITORIAIS ORIUNDAS DA GLOBALIZAÇÃO

Trabalho apresentado ao curso de XXXX da


FACULDADE, sob orientação de
XXXXXXXXXXXXXXXXXXX com o objetivo
de ...............................................................

__________________________________________________________
Prof(a).

__________________________________________________________
Prof(a).

__________________________________________________________
Prof(a)
IV

AGRADECIMENTOS
V

DEDICATÓRIA
VI

EPÍGRAFE
VII

RESUMO

Resumo (após conclusão do trabalho)


VIII

ABSTRACT

Abstract
1

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS IV

DEDICATÓRIA V

EPÍGRAFE VI

RESUMO VII

ABSTRACT VIII
2

1. INTRODUÇÃO

O panorama atual do mundo globalizado apresenta feições ainda não

totalmente delimitadas e conhecidas, mas ainda em processo de formação e

esboço. Esse novo momento em que as relações geopolíticas sofrem constantes

modificações, sucinta questionamentos acerca de diversos conceitos já

anteriormente estudados por diversos pensadores e que agora passam a ser

retomados, visto a velocidade das transformações ocorridas. Alguns dos reflexos da

Globalização contribuíram para a reorganização territorial e redefiniram a soberania

dos Estados.

Este trabalho pretende analisar até que ponto a Globalização tem exercido

influência na soberania dos Estados e de que maneira essa influência pode redefinir

novas formações regionais e territoriais.

Corrêa (2006) analisa em uma de suas obras a nova condição do Estado

frente as transformações em curso :

“A globalização, conduzida pelos grandes bancos e

corporações transnacionais, retira do Estado o controle

sobre o conjunto do processo produtivo e afeta a integridade

do território nacional e a autonomia do Estado, afetado

igualmente por nacionalismo separatistas e movimentos

sociais apoiados na afirmação da identidade e na tradição

do lugar. Em outras palavras a soberania é afetada tanto na

sua face externa, questionada pelo poder econômico e

financeiro, quanto em sua face interna pela tendência


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atomizante produzida por enclaves econômicos e

territorialidades políticas diretamente articuladas ao espaço

transnacional”. (CORRÊA, 2006, p. 297)

O papel do Estado-Nação passa a ser questionado e não existe mais um

consenso entre os estudiosos, quanto à imutabilidade de seu papel. Existe sim uma

linha de raciocínio onde é reconhecida a transformação da identidade do Estado,

gerando uma série de novos arranjos espaciais fruto das necessidades de

adequação oriundas principalmente das relações econômicas no mundo globalizado.

Corrêa (2006) avalia esse momento de redefinição do Estado e da estrutura

do poder global:

“O contexto de instabilidade e valorização da dimensão

política do espaço e do território afeta profundamente o cerne

dos pressupostos geopolíticos: o Estado e a estrutura de

poder mundial. Os agentes tanto da lógica da acumulação e

da lógica cultura, gerando novas territorialidades acima e

abaixo da escala do Estado, introduzem ambiguidades quanto

à sua permanência ou não como forma e quanto ao sistema

de estados como estrutura básica da organização política

(CORREA, 2006)”.

No capítulo 1 faremos uma análise de conceitos base para compreensão do

tema proposto. Sendo o objeto deste estudo o Estado e suas relações no mundo

globalizado faz-se necessário a retomada de conceitos como território, soberania,

fronteiras e o próprio Estado.


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O capítulo 2 trata de enumerar as transformações ocorridas sob a égide da

globalização e quais implicações podem estas carregar consigo, principalmente no

que se refere ao atual papel dos Estados Nacionais, frente aos novos desafios do

mundo globalizado e com o surgimento de novos entes como os Blocos

Econômicos. Estes em especial a União Europeia serão apresentados no capítulo 3,

abordando principalmente a hipótese a que se pretende levantar: Pode este Bloco

Econômico vir a redefinir a soberania dos Estados envolvidos? Pode o território

Europeu sofrer alterações fronteiriças em decorrência do fortalecimento das políticas

conjuntas da União Europeia?

No capítulo 4 encerraremos o nosso trabalho definindo quais os prováveis

rumos que podem adquirir os Estados enfraquecidos a partir da influencia dos

modelos neoliberais e como ficarão as questões geopolíticas na constância da

globalização que se revela um caminho sem volta.

2. CONCEITUAÇÃO

O termo Estado deriva do latim “status”, e foi abordado pioneiramente na obra

“O Príncipe” de Maquiavel, e mencionado na obra do Professor Dalmo Dallari (2005,

p. 51): Estado (do latim status = estar firme), significa situação permanente de

convivência e ligado à sociedade política, aparecendo pela primeira vez em “O

Príncipe” de Maquiavel, escrito em 1513, passando a ser utilizada pelos italianos

sempre ligada ao nome de uma cidade independente, como, por exemplo, stato di

Firenze.
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O nascimento dos Estado moderno é datado do séc. XVI na Europa, em

decorrência do fim do feudalismo. A data oficial em que o mundo ocidental se

apresenta organizado em Estados é a de 1648, ano em que foi assinada a paz de

Westfália.

Esse tratado representa o embrião do Estado Moderno, assinado onde hoje

esta situada a Alemanha, ele coloca fim às guerras religiosas, e delimita claramente

os papéis da Igreja e Estado, desvinculando-os e proporcionando ao governante

mais autonomia em seu território.

Para Dallari (2005), a paz de Westfália, é o momento culminante na criação

do Estado e considerada o ponto de separação entre o Estado Medieval e o Estado

Moderno, e foi a partir desse acordo que foram fixados os limites territoriais

resultantes das guerras religiosas, principalmente da Guerra dos Trinta Anos,

movida pela França e seus aliados contra a Alemanha. Dallari conceitua o Estado

como a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado

em determinado território.

Nesse sentido, para que o Estado se constitua, três fatores são fundamentais:

o fator territorial que significa a instalação das famílias no mesmo solo; o fator

nacional que é a formação de um espírito comum e, por último, o fator capital que é

a decisão de viver em comum de geração em geração e de submeter-se a uma

autoridade soberana (LIMA, 2009).


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O autor que segue, conseguiu reunir em sua conceituação os elementos que

expressam os elementos formadores do Estado definindo-o assim:

“Estado é, na justa definição de Balladore Pallieri, uma

ordenação que se tem por fim específico e essencial à

regulamentação global das relações sociais entre os

membros de uma dada população sobre um dado território,

na qual a palavra ordenação expressa a idéia de poder

soberano, institucionalizado. O Estado, como se nota,

constitui-se de quatro elementos essenciais: um poder

soberano de um povo situado num território com certas

finalidades. E a constituição, como dissemos antes, é o

conjunto de normas que organizam estes elementos

constitutivos do Estado: povo, território, poder e fins.” (Silva,

2005, p.97).

Desta forma, é consensual entre a maioria dos autores, que os elementos

constitutivos de um Estado são, o território, a soberania ou poder e o povo pois

segundo os mesmos, sem esses elementos seria impossível constituir o Estado.

Sendo a Soberania elemento constitutivo e indissolúvel do Estado e a sua

possível transformação estar em andamento frente às mudanças decorrentes do

processo de globalização:

"Sem dúvida, a noção de soberania teve de ser revista,

face aos sistemas transgressores de âmbito planetário, cujo

exercício violento acentua a porosidade das fronteiras.

Estes, são sobretudo, a informação e a finança, cuja fluidez


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se multiplica graças às maravilhas da técnica

contemporânea." (SANTOS, 2004. pg. 77)

Para notarmos as modificações a que se refere o autor citado acima é

necessário elencarmos o conceito clássico de soberania.

Segundo MALUF (1995):

“Soberania é parte do elemento governo, que junto com

população e território, constitui o Estado. A soberania é uma

autoridade superior que não pode ser limitada por nenhum

outro poder” (MALUF, 1995: 29).

Miguel Reale (1960) conceitua soberania da seguinte forma:

“o poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer

dentro de seu território a universalidade de suas decisões

nos limites e fins éticos de convivência” (Reale apud Dallari,

2000, p.80).

Segundo Dallari o que se verifica é que a noção de soberania está sempre

ligada a uma concepção de poder, pois mesmo quando concebida como o centro

unificador de uma ordem está implícita a idéia de poder de unificação.

Dallari afirma ainda que quanto às características da soberania, praticamente

a totalidade dos estudiosos a reconhece como una, indivisível, inalienável e

imprescritível.
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“Ela é una porque não se admite num mesmo Estado a

convivência de duas soberanias. Seja ela poder

incontrastável, ou poder de decisão em última instância

sobre a atributividade das normas, é sempre poder superior

a todos os demais que existam no Estado, não sendo

concebível a convivência de mais de um poder superior no

mesmo âmbito. É indivisível porque, além das razões que

impõem sua unidade, ela se aplica à universalidade dos

fatos ocorridos no Estado, sendo inadmissível, por isso

mesmo, a existência de várias partes separadas da mesma

soberania”.

Bodin define a Soberania como “o poder absoluto e perpétuo da República”

(Bodin apud Bobbio, 2000, p.96). A soberania segundo Jean Bodin, é o poder

absoluto do Estado, o qual não aceita que exista acima de si poder maior, ou seja, é

o poder ilimitado do Estado.

Até onde podemos ver a Soberania é o poder do Estado exercido em seu

território e de fazer valer as suas decisões frente aos demais Estados. Mas diante

das inovações advindas da era da globalização a Soberania continua a ser atributo

indissociável do Estado, porém agora de maneira flexível, visto os interesses que

envolvem as novas relações.

Esta flexibilização já estava prevista na teoria de Vitoria como podemos

observar no trecho que segue:

“A teoria de Vitoria se sustenta no nascimento do Direito

Internacional, pois a soberania se transforma em força


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oposta ao Direito Internacional, já que as novas relações

dos Estados passam de uma relação de coordenação e

coexistência para uma de cooperação e subordinação, o

que faz necessário uma desconstituição dos conceitos de

soberania que não aceitam essa subordinação”. (Aguiar,

2004, p.119)

O que podemos notar e que o conceito acerca do tema soberania pode ser

analisado sob diversos prismas, o aspecto politico bastaria se não levássemos em

conta as relações entre os Estados principalmente no campo econômico.

“Os problemas econômicos já ultrapassam os limites

nacionais, já são problemas internacionais. Nenhum país

pode se isolar dentro dos princípios de sua economia; não

há economia interna isolada; as economias são,

evidentemente internacionais”. (Tavares, 2003, p.48)

O estudo da soberania extranacional é fundamental para o entendimento da

renovação acerca do conceito de soberania, a velocidade dos fluxos na era da

globalização, podem transformar diversos aspectos de um Estado em um curto

prazo, podendo ser estas modificações estar ligadas à economia, a política e a

cultura.
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Para Kelsen (1990) o território nada mais é que a esfera territorial de validade

da ordem jurídica chamada Estado. Limita-se assim o território do Estado a esfera

territorial onde ele exerce seu poder. (Kelsen, 1990, p.300)

Para Rosendhal (2005) a formação do território se dá a partir de um dado

segmento do espaço, delimitado por fronteiras e normas, da apropriação e controle

por parte de um grupo social, uma empresa ou uma instituição. O território é, em

realidade, um importante instrumento da existência e reprodução. Nele podemos

observar além do caráter político, um claro cunho cultural, especialmente quando os

agentes sociais são grupos étnicos, religiosos ou de outras identidades.

O conceito de território não pode erroneamente ser confundido com o de

espaço ou de lugar, estando sim muito ligado à concepção de domínio ou de gestão

de uma determinada área. Deste modo, o território se relaciona à ideia de poder, de

controle, quer seja ao poder público, estatal, quer ao poder das grandes empresas

que estendem os seus tentáculos por grandes áreas territoriais, ignorando as

fronteiras políticas. (ANDRADE, 1995, p. 19).

O território é todo espaço definido e delimitado por e a partir de relações de

poder é um território, do quarteirão aterrorizado por uma gangue de jovens até o

bloco constituído pelos países membros da OTAN (CORRÊA, 2006, p.111).

A seguir uma visão abrangente que engloba elementos ainda não

mencionados sobre território e que visa abordar a vasta dimensão a que podemos

correlacionar o termo território:


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“... a linguagem cotidiana frequentemente confunde território

e espaço. [...] Para uns, o território viria antes do espaço;

para outros, o contrário é que é verdadeiro. Por território

entende-se geralmente a extensão apropriada e usada. Mas

o sentido da palavra territorialidade como de pertencer

àquilo que nos pertence [...] esse sentimento de

exclusividade e limite ultrapassa a raça humana e prescinde

da existência do Estado. Assim, essa ideia de

territorialidade se estende aos próprios animais, como

sinônimo de área de vivência e de reprodução. Mas a

territorialidade humana pressupõe também a preocupação

com o destino, a construção do futuro, o que entre os seres

vivos, é privilégio do homem. Num sentido mais restrito, o

território é um nome político para o espaço de um país.”

(SANTOS, 2001, p.19)

Para Haesbaert (2002), a política global fortemente influenciada pelas

grandes corporações são capazes de forjar resistências menores, mas não menos

importantes, onde surgem territórios alternativos que sustentam sua própria ordem,

e surge como embrião de uma nova forma de ordenação territorial. A ideia de

desterritorialização passa a ser defendida por alguns autores como o

enfraquecimento das fronteiras Estatais. Para Corrêa (2006) não se trata do fim do

Estado, mas de uma mudança em sua natureza, em sua história fazendo-nos

entender que ele esta sofrendo constantes modificações. O autor completa ainda

que sua permanência depende do ajustamento espacial em curso.


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3. O ESTADO E A GLOBALIZAÇÃO

Nos anos 1980, e especialmente após o fim da Guerra Fria, o sistema

internacional baseado na lógica da bipolaridade desintegrou-se dando lugar a uma

nova ordem mundial. Essa mudança trouxe em seu início uma série de incertezas

quanto ao modo como esse sistema reencontraria seu equilíbrio e quais seriam as

novas regras que regulamentariam a relação entre os Estados. Alguns aspectos

ficaram claros desde o início: com o fim da bipolaridade, as organizações

internacionais ganharam maior importância, assim como as iniciativas de

cooperação entre os países (entre elas os processos de integração regional); os

Estados Unidos tornaram-se o principal ator do sistema internacional – embora no

final dos anos 1980 ainda não fosse possível avaliar a extensão de seu papel

hegemônico – e as relações entre os Estados seriam influenciadas pelo fenômeno

da globalização.

A globalização é um conceito que gerou intenso debate, desde que não há

um consenso quanto ao seu significado e impactos. Alguns autores preferem

analisar esse fenômeno a partir dos chamados aspectos materiais: fluxos de

comércio, de capital e de pessoas facilitados por um contexto de avanço na

comunicação eletrônica que parece suprimir as limitações da distância e do tempo

na organização e na interação social.

Neste cenário globalizado, o Estado-nação ganha novos contornos e os

conceitos de soberania e legitimidade adquirem novos significados, uma vez que o

Estado perde a capacidade de responder isoladamente aos desafios do sistema


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internacional, assim como a de prover bens e serviços à sua população sem contar

com a cooperação internacional (Krasner, 2000; Sassen, 2001). O fenômeno da

globalização tem uma relação direta e dinâmica com a lógica da regionalização, ao

transformar o contexto e as condições da interação e da organização social, levando

a um novo ordenamento das relações entre território e espaço socioeconômico e

político. Este contexto pós-Guerra Fria significa para a lógica do Estado um desafio,

no sentido de estabelecer mecanismos de controle para o fenômeno da globalização

e seus efeitos sobre as sociedades e economias. Nesse período, houve forte

aumento no número de organizações e coletividades internacionais e transnacionais

– governamentais e não-governamentais – que incitam novos comportamentos por

parte dos Estados, no que se refere à sua capacidade de produzir decisões políticas

(Rosenau, 2000).

Como apontam David Held e Anthony McGrew (2001), a globalização

promoveu uma mudança cognitiva, na qual a população cada vez mais se

conscientiza de que os acontecimentos distantes podem afetar os destinos locais, e

que o inverso também é verdadeiro.

Os Estados, em vez de desaparecer, adquirem uma nova lógica de operação,

onde seu poder é limitado frente à expansão das forças transnacionais que reduzem

a capacidade dos governos de controlarem os contatos entre as sociedades, e que

impulsionam essas relações transfronteiriças. Nessa perspectiva, os problemas

políticos nem sempre podem ser resolvidos adequada e nem satisfatoriamente, sem

a cooperação com outras nações e agentes não-estatais (Keohane e Nye, 1989).


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Essa situação desafiadora não é diferente para os países da América Latina.

Por um lado, estes tinham – e ainda têm – a preocupação de superar sua posição de

marginalização política evidente desde a Guerra Fria e, ao mesmo tempo, sentem a

necessidade de criar uma estratégia de inserção bem-sucedida neste cenário

globalizado, atendendo às diversas pressões e demandas provenientes da

sociedade e seus grupos organizados. De modo geral, pode-se dizer que a

estratégia dos países latino-americanos com esse propósito seguiu um plano

comum, embora aplicado de forma diferenciada: na esfera política optaram pela

democratização dos regimes; na econômica, adotaram um receituário neoliberal,

marcado por um novo papel para o Estado e pela liberalização econômica (para

nações como o Brasil, isso representou abandonar a sua política de

desenvolvimento baseada no protecionismo e na substituição de importações); e no

âmbito internacional, impulsionar projetos de integração regional. Esta não é apenas

um processo de redução tarifária entre nações ou um mecanismo de inserção

comercial num mundo globalizado, mas sim um aspecto dessa nova configuração

do Estado. Isto é, o processo de integração regional passa a fazer parte da nova

forma de funcionamento dos governos que alguns autores (Held e Mcgrew, 2001;

Castells,1999; Dicken, 1998; Rosenau, 2000; entre outros) identificam com a ideia

de uma governança global.

O termo globalização gera intenso debate quanto ao seu significado e suas

características centrais. Seus impactos são locais e regionais, impulsionando

mudanças que se desenvolvem de diferentes formas e com intensidade variada.

Como resultado, a nova ordem internacional marcada pela globalização gera

distintos comportamentos nos Estados.


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Essa constatação é parcialmente verdadeira para a América Latina, onde

cada nação buscou estabelecer uma estratégia própria dentro desse novo cenário

mas, ao mesmo tempo, constata-se um comportamento similar entre os países:

redemocratização, adoção de políticas de caráter neoliberal, reestruturação do

Estado e participação em processos de integração regional. A explicação para a

semelhança seria que essas alternativas foram impostas desde fora por meio das

grandes instituições financeiras internacionais, como o FMI (Fundo Monetário

internacional) e o Banco Mundial.

Os anos 1980 são singulares para os analistas de relações internacionais

latino-americanos porque, economicamente, essa foi considerada uma década

“perdida”, uma vez que a região passou por um período de estagnação e forte

recessão, embora na esfera política tenha se iniciado o processo de

redemocratização. Mesmo no caso de países como o Brasil, que na década anterior

vivenciaram um forte crescimento econômico, a crise representou uma ameaça para

a possibilidade de sua inserção internacional e para a promoção de seu

desenvolvimento. Ao mesmo tempo, esse foi um período rico e de grandes

mudanças no cenário internacional.

O papel do Estado transforma-se: é crescentemente um instrumento de

adaptação das políticas domésticas à realidade internacional e, portanto, de

decisões tomadas em outras esferas de poder, sejam elas regionais,transnacionais

ou internacionais (Herz, 1999).


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Essa mudança representa um desafio às tradicionais noções de soberania e

legitimidade do Estado. Este vê seu poder diminuído porque a “(...) expansão das

forças transnacionais reduz o controle que cada governo pode exercer sobre as

atividades de seus cidadãos e dos outros povos” (Held e McGrew, 2001). A

interdependência crescente, dentro dessa nova realidade, questiona a legitimidade e

a soberania porque diminui a capacidades dos Estados de oferecerem bens e

serviços às suas populações sem apelarem para a cooperação internacional

(Krasner, 2000). Os problemas políticos já não podem ser solucionados

satisfatoriamente sem a cooperação com outras nações ou mesmo com outros

agentes não-estatais (Keohane e Nye, 1989). Essa afirmação pode ser constatada

pelo aumento no número de instituições, de regimes e de ONGs (Organizações Não-

Governamentais) internacionais que surgiram no final do século XX, assim como

pelo aumento de atividades nos foros internacionais de formulação de políticas.

Alguns autores, como David Held, por exemplo, consideram esse crescimento

como um indício da emergência de um sistema de governança global, que

representaria um conjunto de leis regionais e internacionais que o regulamentariam

(Rosenau, 2000). A noção de governança global desafia os analistas de relações

internacionais que adotam o conceito de soberania como um dos pilares normativos

do sistema internacional, mas que, ao mesmo tempo, lidam com uma nova realidade

marcada pela globalização, pelo aumento da interdependência e pela inserção dos

novos atores no cenário mundial, os quais questionam esse conceito e sua validade.

É importante ressaltar que a idéia de governança global não significa a

criação de um governo mundial ou supranacional. Rosenau enfatiza esse aspecto


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em sua argumentação, ressaltando que a governança não implica uma autoridade

formal, sendo um sistema de regras ou mecanismos de controle que

sistematicamente liga esforços dos controladores para a submissão dos controlados,

por meio tanto de canais formais quanto informais. Portanto, é possível a

governança sem governo, sem uma autoridade legal ou política estabelecida.

De acordo com essa perspectiva, o Estado não desaparece enquanto ator do

sistema internacional, pois ainda conserva a capacidade de formular as orientações

políticas nos planos doméstico e externo. Tampouco é correto afirmar que se

enfraquece, porque na verdade passa por uma transição ou transformação

impulsionada pelas restrições e limites à decisão política impostos pela globalização.

A globalização está provocando uma alteração nos Estados, na qual os

limites entre o doméstico e o internacional tornam-se menos nítidos, devido ao

crescimento das redes mundiais de interdependência. Outra mudança significativa

é que “[...] a ordem internacional atual caracteriza-se ao, mesmo tempo, pela

persistência do sistema de Estados soberanos e pelo desenvolvimento de estruturas

plurais de autoridade” (Held, 1991: 183). No plano mundial, o direito internacional

reconhece poderes e limitações que transcendem os Estados-Nação, e, ainda que

sejam garantidos por instituições sem poder coercitivo, sua presença tem acarretado

consequências importantes para as relações entre as nações. Para os países

constituintes do sistema internacional contemporâneo, a conjugação desses fatores

representa perda de poder e de legitimidade dos governantes frente aos seus

cidadãos. Essa consequência, no entanto, não é percebida e nem sentida com a

mesma intensidade por todos os Estados, mesmo porque a globalização não


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pressupõe homogeneização nem equidade. De qualquer forma, como resposta a

essa perspectiva política apresentada pela globalização, os Estados buscam

fortalecer as articulações intergovernamentais. “Em vez de imaginar um governo

mundial hierárquico, deve-se conceber redes de governança que se entrecruzem e

coexistam com um mundo formalmente dividido em Estados soberanos” (Nye JR,

2002: 174).

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