Você está na página 1de 17

GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 17, pp.

79 - 94, 2005

REFORMA DO ESTADO, REESTRUTURAÇÕES TERRITORIAIS,


DESENVOLVIMENTO E NOVAS TERRITORIALIDADES

Aldomar A. Rückert1

RESUMO:
O artigo aborda as transformações do Estado Desenvolvimentista, o longo processo de reforma do
Estado e de reestruturações territoriais contemporâneas; os conceitos de território, poder e usos
dos territórios; as diferentes vias de reforma do Estado associadas à políticas de desenvolvimento
local/regional. Ao final o artigo aborda os conceitos de territorialidade e desenvolvimento territorial
trazendo alguns exemplos de pesquisas em curso.
PALAVRAS-CHAVE:
Reforma do Estado; reestruturações territoriais; desenvolvimento territorial; territorialidades
ABSTRACT:
This article deals with transformations of Development State, the long State reform process and
contemporary territorial reestructurations; concepts of territory, power and uses of territory;
differents ways of State reform associated to local / regional development policies. At the end the
article deals with concepts of territoriality and territorial development presenting some examples
being examined.
KEY WORDS:
State reform; territorial reestructurations; territorial development; territorialities

Introdução
Neste artigo aborda-se, a partir das relações clássicas entre o Estado e o território, algumas
das transformações por que passa esta relação bem como tendências contemporâneas de análise
das mesmas. As macro-políticas de desenvolvimento nacional fundadas sobre o nacional
desenvolvimentismo entram em crise no cenário globalizante. Tentar avaliar quais são algumas das
tendências contemporâneas acerca das mudanças por que passa o Estado através de mudanças dos
usos políticos e econômicos do território – sua reestruturação - está no centro do artigo.
Os conceitos de território, de poder e de usos do território é o passo seguinte na exposição à
medida em que se torna necessário expor as relações que se quer estabelecer no momento posterior,
quais sejam aquelas que podemos estabelecer entre a redemocratização recente do país, a
descentralização e os novos papéis da sociedade civil na gestão de problemas de interesse público e
políticas de caráter local/regional de desenvolvimento. Ensaiam-se possíveis novas relações entre
este cenário, políticas de desenvolvimento local / regional e algumas possibilidades de visualizar-se a
emergência de territorialidades relacionadas à gestão deste tipo de políticas.
Para a exposição, apresenta-se em forma seqüencial - a) o processo de reforma do Estado no
Brasil associado às reestruturações territoriais; b) os conceitos de território, poder e usos do território
abordando-se diferentes vias de reforma do Estado e políticas de desenvolvimento associadas à
descentralização político-administrativa, à sociedade civil e a políticas de desenvolvimento endógeno
na escala local/regional; e por fim, c) uma aproximação à territorialidade e ao desenvolvimento territorial
apontando-se exemplos que se encontram em processo de pesquisa.
1
Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo.
Professor Doutor no Departamento de Geografia e nos programas de pós-graduação em Geografia / Análise Territorial e em Desenvolvimento
Rural, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. E-mail:
80 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 17, 2005 RUCKERT, A.

I - O processo de reforma do Estado no Brasil americanos, no século XIX.


associado às reestruturações territoriais A crise do nacional-desenvolvimentismo
No Brasil, o Estado antecede, e do planejamento centralizado; as redefinições
historicamente, a própria nação. A relação da geopolítica clássica que perde seus sentidos
clássica entre Estado e território aponta para a originais; a tendência às economias flexíveis e
implantação das formas estruturantes deste à flexibilização dos lugares, pela alta mobilização
último pelo papel dirigente do poder do capital e a inserção subordinada dos
unidimensional do Estado. No pós-1930, o territórios nacionais periféricos no processo de
Estado Desenvolvimentista consolida as globalização financeira e de mercados, e a
principais infra-estruturas estratégicas nacionais emergência dos processos políticos
e, com isso, assume o papel de principal artífice descentralizantes na face do processo de
da construção da nação. O Estado redemocratização conduzem os Estados do Sul,
Desenvolvimentista brasileiro, de corte cepalino, como um todo e, especialmente os latino-
implementa, a partir de 1940, um núcleo de americanos como o Brasil, a reatualizar em suas
consenso desenvolvimentista análogo ao políticas externas e internas e a requalificar em
keynesianismo europeu. De corte explicitamente suas opções e necessidades de ordenação
geopolítico no pós-1964, o Estado autoritário territorial e de desenvolvimento.
brasileiro enfrenta, a partir dos anos de 1980, o Estes processos acima mencionados
esvaziamento de suas propostas e viabilidades localizam-se em cenários globais
com a crise do Estado Desenvolvimentista. progressivamente mais complexos os quais
A crise do petróleo a partir de 1973 e a imprimem severas incertezas a estes países.
emergência do sistema financeiro internacional Nesses cenários, reconhece-se a necessidade
globalizado provocam, na maioria dos países de se analisar as diferenciações territoriais
latino americanos que adotam modelos emergentes - os novos significados que adquirem
semelhantes de desenvolvimento, modificações os usos políticos do território e as novas formas e
nos campos da economia, das idéias e das conteúdos territoriais - em momento histórico tão
instituições. O Brasil, um dos maiores exemplos pleno de rupturas de paradigmas e de mudanças
do projeto desenvolvimentista de corte cepalino de padrões políticos de desenvolvimento.
chega aos anos de 1990 sem haver mudado tal A flexibilização do Estado relaciona-se
projeto, o qual vinha mantendo o país ainda a múltiplas formas territoriais emergentes cujas
dentro dos moldes do processo substitutivo de diversas determinações podem revelar a riqueza
importações. da análise das totalidades. Nesse sentido, o
O processo de globalização já em curso referencial analítico principal assenta-se
nos anos de 1980, as transformações do sobretudo na hipótese de Lefebvre (Espacio y
sistema capitalista como um todo, a falência do Política, 1976 p. 25-31): a de que o espaço
planejamento centralizado e o fim dos padrões desempenha uma função na estruturação de
tecnológicos dominantes desde o pós-guerra, uma totalidade, como um instrumento político à
associados ao ideário político-econômico liberal, medida em que é apropriado, transformado em
passam a fornecer as grandes linhas em que território. A representação do território está,
passam a se inspirar as ações que visam às assim, sempre a serviço de uma estratégia
reestruturações econômicas e territoriais. A projetada. O Estado Nacional, a sociedade
década de 1990 e a crise dos Estados nacional e a estrutura territorial compõem a
Desenvolvimentistas periféricos representam, totalidade, com múltiplos centros federados de
portanto, rupturas de paradigmas poder, múltiplos núcleos de atores públicos e
socioeconômicos e políticos com significados e privados e uma estrutura territorial que se torna,
alcances tão ou mais profundos do que a própria progressivamente, mais densa – como no
constituição dos Estados Nacionais sul- centro-sul do Brasil – à medida que reflete a
A reforma do estado, reestruturações terriotoriais,
desenvolvimento e novas territorialidades, pp. 79 - 94 81

multiplicidade de poderes específicos e seus anos 50. Mais do que questão da agenda
projetos de desenvolvimento sobre territórios acadêmica, as experiências comunitárias são
determinados. experiências de ricos universos políticos e
O processo de reforma do Estado culturais que tenderão a se consolidar enquanto
apresenta tendências de longa duração. Tais escalas efetivas de poder local, porquanto
tendências devem-se ao fato de que hoje os poder genuíno das populações que constróem
cenários político-econômico-sociais nacionais seus destinos pela via da publicização do
são muito mais densos e complexos do que privado, no sentido da publicização da sociedade
quando da implantação do Estado civil.
Desenvolvimentista, quando nos anos 30-40 do Os lugares que contêm tecnologia e
século XX o Brasil era basicamente rural- riqueza tenderão a aprofundar sua hegemonia
oligárquico e recém iniciava uma experiência que em experiências de desenvolvimento em que o
alcançaria 60 anos de mercado solidamente poder local não será, necessariamente mais
protegido. Nos cenários da globalização sinônimo de governo local, mas sinônimo de
determinados projetos que têm se tornado organizações corporativas com capacidades de
hegemônicos por determinados períodos, até planejamento e de investimento em projetos
o momento, poderão ser substituídos estratégicos em associação com governos
rapidamente, considerando-se os cenários das locais, que podem ser facilmente capturados
incertezas globais, os déficits da balança pelo poderes locais e regionais privados, o que
comercial e o persistente desemprego estrutural. aponta para uma clássica privatização do
Os anos de 1990 e o início do século XXI público. Por outro lado, os empreendedorismos
são tempos de globalização financeira e de de caráter associativo tenderão a implementar,
industrializações crescentemente flexíveis, de com apoio de políticas públicas, possíveis novos
sistemas territorializados de produção, de núcleos de geração de projetos de geração de
capitais sem compromissos com os lugares; de emprego e renda. De uma forma ou de outra,
investimentos e desinvestimentos em mercados tratar-se-ão de novas faces do tecido social e
financeiros voláteis; de ameaças constantes aos político, novos campos de força sobre o qual o
Estados nacionais pela intempéries financeiras; Estado não terá, necessariamente o poder de
pelas desregulamentações unilaterais de ingerência ou de investidor principal, senão o
mercado dos países do Sul e pelos novos de coordenador das macro-estratégias que
protecionismos dos mercados dos países do busquem, por exemplo, inserir regiões desiguais
Norte. Além disso, após o mais longo período em processos de desconcentração da riqueza
da história do Brasil Republicano, o Brasil ainda e nos novos vetores informacionais e de
está emergindo do totalitarismo que assolou reestruturação do território.
gerações e inteligências. A redemocratização Este processo funda-se sobre as novas
prenuncia, efetivamente, que os atores civis das funções dos territórios, consubstanciados à
comunidades locais e regionais saberão, reestruturação da totalidade e de suas novas
crescentemente, desenvolver experiências especificidades, de formas combinadas entre
associativas comunitárias nas quais o poder de pares opostos. Estes pares, os projetos
Estado será respeitado enquanto ordenador nacionais de um lado - que se incorporam à
jurídico político, mas não como interventor dos escala supranacional - e os projetos de caráter
destinos da vida cotidiana das populações. local podem, ao mesmo tempo representar
A valorização do local não será somente fragmentações políticas nos casos de
mais uma novidade dos órgãos de financiamento determinadas regiões onde os principais
internacional, considerando-se que há no Brasil projetos de desenvolvimento são geridos pelo
experiências legitimadas de associativismo e poder hegemônico do empresariado, mas que
construção de identidade cultural e política a podem, contraditoriamente, compor e enriquecer
partir de movimentos sociais que remontam aos
82 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 17, 2005 RUCKERT, A.

a totalidade. Macro e micropolíticas não são se esboça nos meios acadêmicos, mas
excludentes, ao contrário, fundem-se na igualmente nos meios políticos, e desse modo
construção das ricas determinações da podemos esperar que o território, essa
totalidade; macro e micro projetos são realidade esquecida, seja retomado, evitanto
específicos de cada escala de poder sobre o enfraquecimento de uma das ópticas sem
recortes específicos do território. a qual a visão de mundo, dos países, dos
O amálgama das diferenças constrói a lugares, é incompleta e até mesmo irreal”
riqueza das potencialidades e revela, ao mesmo (Santos, 2004, p. 34; 116-117).
tempo, as discrepâncias e as iniqüidades sociais Uma compreensão que tem sido
da nação subdesenvolvida que ainda ensaia a difundida no Brasil é a dimensão do uso do
redemocratização, propostas de reformas do território por Bertha Becker em caráter pioneiro
Estado e que se vê inserida num processo no início dos anos oitenta. Mais tarde, a partir
globalizante sem precedentes que faz acirrar as de meados dos noventa, Milton Santos adere à
múltiplas determinações sobre as diversas utilização do conceito empregando a
escalas de poder que agem sobre e nos lugares. denominação território usado, o que converte
Fundamentalmente, as escalas geográficas de para o emprego comum dos usos políticos e
poder nos ensinam que a totalidade não se econômicos que se faz do território e - pode-se
reduz a nenhuma das partes e que nenhuma adicionar – do processo de construção das
das partes pode representar a totalidade, o que diferentes territorialidades. Assim, Milton Santos
significa afirmar que os territórios são mais vai definir território:
densos e mais complexos do ângulo dos múltiplos “Por território entende-se geralmente a
poderes que nele e sobre ele atuam. extensão apropriada e usada. (...) O uso do
território pode ser definido pela implantação de
infra-estruturas, para as quais estamos
2 - Os conceitos de território, poder e usos igualmente utilizando a denominação
do território sistemas de engenharia, mas também pelo
dinamismo da economia e da sociedade. São
O conceito de território tem retornado às
os movimentos da população, a distribuição
ciências sociais de forma a tornar-se presente
da agricultura, da indústria e dos serviços, o
em importantes políticas públicas nas diferentes
arcabouço normativo, incluídas a legislação
escalas de poder. A recuperação do conceito, por
civil, fiscal e financeira, que, juntamente com
um lado, resgata os fortes traços da dimensão
o alcance e a extensão da cidadania,
política do espaço; por outro, traz confusões
configuram as funções do novo espaço
conceituais tanto no seu debate como na sua
geográfico” (Santos; Silveira, 2003, p.
empregabilidade. Nos termos de Milton Santos
19;21;247. Grifos nossos).
“Uma geografia sem território é uma
contradição que ajuda a explicar a ausência A importância da análise dos usos do
cada vez maior (sic) dessa categoria de análise território circunstancia-se tanto às concepções
e debate aprofundado da nação. Isso constitui clássicas da geografia política – o poder
para o país um retrocesso, e para a disciplina unidimensional do Estado – quanto aos
geográfica pode equivaler a uma espécie de enfoques contemporâneos sobre a
suicídio. Se os geógrafos se ausentam do multidimensionalidade do poder, os múltiplos
debate sobre o território, há um territórios e as múltiplas territorialidades. A
empobrecimento paralelo das ciências concepção de território nos vem da tradição da
políticas, da sociologia e da interpretação própria sistematização da ciência geográfica e
histórica, e, no plano prático, um do processo de construção da unificação do
empobrecimento também da própria vida Estado alemão no século XIX. Ao associar-se o
política da nação. Felizmente, uma forte reação Estado-nação ao território – como boden (solo)
A reforma do estado, reestruturações terriotoriais,
desenvolvimento e novas territorialidades, pp. 79 - 94 83

na concepção ratzeliana - o Estado territorial Estado como dos múltiplos atores do/no poder,
moderno e seu poder unidimensional estão no na divisão/participação/gestão de políticas pelos
centro da concepção clássica da geografia capitais privados e por segmentos da sociedade
política. Neste sentido, digamos, mais clássico, civil que representam as diferentes regiões do
Moraes entende o território como território. Nos termos de Becker:
“um espaço de exercício de um poder, o qual “Face à multidimensionalidade do poder, o
no mundo moderno se apresenta como um espaço reassume sua força e recupera-se a
poder basicamente centralizado no Estado. noção de território. Trata-se, pois, agora de
Trata-se, portanto, da área de manifestação uma geopolítica de relações multidimensionais
de uma soberania estatal, delimitada pela de poder em diferentes níveis espaciais. (...)
jurisdição de uma dada legislação e de uma o território volta a ser importante, não mais
autoridade. O território é, assim, qualificado apenas como espaço próprio do Estado-
pelo domínio político de uma porção da Nação, mas sim dos diferentes atores sociais,
superfície terrestre” (Moraes, 2003, p. 1). manifestação do poder de cada um sobre uma
Na ótica da geografia política clássica área precisa. O território é um produto
o grande agente da produção do espaço é o “produzido” pela prática social, e também um
Estado, por meio de suas políticas territoriais produto “consumido”, vivido e utilizado como
Ele vinha sendo considerado o dotador dos meio, sustentanto portanto a prática social “
grandes equipamentos e das infraestruturas, o (Becker, 1983, 7-8).
construtor dos grandes sistemas de Giddens (1998), por sua vez, entende
engenharia, o guardião do patrimônio natural e o poder como o uso de recursos, de qualquer
o gestor dos fundos territoriais (Moraes, p. 1). natureza, para assegurar resultados. O poder
No entanto, a concepção clássica da torna-se um elemento da ação e diz respeito à
unidimensionalidade do poder merece, categoria de intervenções de que um agente é
atualmente, algumas observações. A crise do capaz. O poder, em sentido mais amplo, é
Estado-nação de um modo geral, a crise do equivalente à capacidade transformadora da
Estado Desenvolvimentista latino e, ação humana, à capacidade dos seres humanos
especialmente, sul americano em particular tem de intervir em uma série de acontecimentos de
levado analistas a aproximarem-se de um objeto modo a alterar o seu curso. Nesse sentido, o
mais amplo e mais flexível em geografia política, poder está ligado à noção de práxis, porque se
qual seja o da multidimensionalidade do poder e relaciona com as condições historicamente
da gestão do território. constituídas e historicamente mutáveis da
A multidimensionalidade do poder existência material.
(Becker, 1983; 1988; Raffestin, 1993) é Para Mattus (1996), o poder não teria
conceituada no sentido de que diferentes atores expressão concreta, constante, enumerável, em
produzem o espaço, (re)estruturam o território termos abstratos. Poder é todo recurso, ou
através da prática de poderes/políticas/ capacidade, que pode ser utilizado contra um
programas estratégicos, gestão territorial, adversário, ou para cooperar com um aliado em
enfim. A gestão de ações/programas que contêm uma situação concreta. O poder não é algo
um caráter (re)estruturante e/ou com específico; é qualquer aspecto da realidade que
capacidade de alavancagem de desenvolvimento se torna específico por seu uso e resultados; é
endógeno imprime, assim, novos usos do uma potencialidade que abre a possibilidade de
território. acumular força.
Interpretar o poder relacionado ao As formulações de Giddens e Mattus
território significa relacioná-lo à capacidade dos aproximam-se do conceito de
atores de gerir, de implantar políticas multidimensionalidade do poder e da prática
econômicas e tecnológicas, com incidência espacial estratégica de vários atores, em várias
estratégica no território por parte tanto do escalas. Neste sentido o Estado não seria a
84 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 17, 2005 RUCKERT, A.

única unidade de poder, mas uma das unidades, Quando Lefebvre, segundo Raffestin
muito embora o principal 2 . O poder deriva de (1982, p. 167-171), se refere à produção do
múltiplas fontes por se tratar de uma relação espaço, pensa, na verdade, no território, o qual
social difusa, uma “teia presente na sociedade não é um objeto no sentido do espaço, mas
inteira e no espaço inteiro” . A multidimensionalidade um processo em perpétua evolução e
do poder implica na prática espacial estratégica de transformação segundo as escalas temporais
todos os atores sociais e em todos os níveis. No particulares. O território é produto dos atores
território, há processos em curso em todas as sociais: “São esses atores que produzem o
escalas, inclusive local e regional, com a atuação de território, partindo da realidade inicial dada, que
diferentes atores, com poderes locais específicos é o espaço. Há portanto um ‘processo’ do
(Becker, 1988, p. 102-105). território quando se manifestam todas as
À flexibilização do Estado em relação ao espécies de relações de poder, que se traduzem
território (Becker, 1991, p 47-56) corresponde, por malhas, redes e centralidades”
portanto, um processo de emergência de novos (Raffestin,1993, p. 7-8).
usos políticos do território. É seu uso, e não o A apropriação de um espaço, a
território em si mesmo, que faz dele objeto de territorialização como resultado da ação
análise, conforme Milton Santos (1994). Nesse conduzida por um ator coletivo, resulta no fato
processo de transição – das transformações e de que o Estado, a empresa ou outras
da reforma do Estado - convivem, organizações organizam o território através da
simultaneamente, ações do Estado nacional, implantação de novos recortes e ligações
que coordena a implantação de (Raffestin, 1993, p. 143-144;152). O território
macroprogramas de desenvolvimento, com torna-se manifestação de poder de cada um
delegação de poderes e/ou convivência em sobre uma área precisa (Becker, 1983, p. 8).
parcerias com capitais privados e iniciativas da Emerge, assim, uma redefinição do
sociedade civil. Nesse contexto das território advinda de uma definição clássica,
particularidades brasileiras, a transição do como a estrutura territorial do Estado -
Estado Desenvolvimentista geopolítico, de basicamente as redes, circuitos e fluxos a que
conteúdo territorialista, dá lugar, se refere pioneiramente Camile Vallaux (1914)
progressivamente, a um Estado e, depois, Lefebvre (1978) - ou as vertebrações
progessivamente democrático e regulador. do território, interligando regiões centrais e
Os novos usos políticos do território para os pontos nodais do território a regiões e pontos
quais aponta Becker têm em sua formulação periféricos e de fronteira, distantes dos centros
elementos como as concepções de Lefebvre. de decisão política, para uma concepção mais
Dentre os momentos da relação Estado - espaço, abrangente, distinguindo-se o Poder do Estado
para Lefebvre, está: dos diversos poderes presentes na sociedade
“A produção do espaço, o território nacional, (Cox, 1991, p. 5-7). O território, assim, emerge
espaço físico, balizado, modificado, como uma arena de conflitos em áreas
transformado pelas redes, circuitos e fluxos delimitadas. A idéia do político é um momento
que se instalam: estradas, canais, estradas essencial de qualquer relação, não
de ferro, circuitos comerciais e bancários, necessariamente limitada ao Estado.
auto-estradas e rotas aéreas, etc. É, portanto A concepção de gestão territorial não se
um espaço material - natural - no qual se confunde com a produção do espaço; é a prática
inscrevem os atos das gerações, das classes, estratégica, científico-tecnológica do poder. A
dos poderes políticos como produtores de produção do espaço (Lefebvre, 1976, p. 119-
objetos e de realidades duráveis (não só as 120), noção teórica mais ampla, está mais
coisas, os produtos, os utensílios e as próxima das diversas forças produtoras, das
mercadorias) (Lefebvre, 1978, p.259; 261).” relações sociais de produção; do uso da
natureza e da propriedade privada que moldam
A reforma do estado, reestruturações terriotoriais,
desenvolvimento e novas territorialidades, pp. 79 - 94 85

o território. O Estado é uma dessas forças municípios passem a ter maiores atribuições, e
produtoras, enquanto ator político. O mesmo se a da relação entre o Estado e o mercado a
pode dizer com relação às empresas privadas partir do governo Collor, com aprofundamento
e, em alguma proporção, à sociedade civil. a partir de 1995 com o Governo Fernando
Nesse sentido, porém associando a Henrique Cardoso. As linhas não são coerentes
sociedade, o Estado e o território, Costa alerta entre si, podendo apresentar contradições. No
que não podemos atribuir às políticas entanto, estão presentes no cenário da gestão
territoriais, a exclusividade como força motriz política do território.
nas mudanças ao nível da formação e da Ao processo de reforma do Estado,
estruturação do território nacional. Entretanto pelas vias dessas grandes linhas, corresponde
alguns dos principais processos de construção do um processo de reestruturação territorial. A
espaço nacional tiveram e ainda têm a sua esta reconceitualização do território
inspiração e mesmo algum tipo de concretização correspondem a abertura econômica e a
a partir das iniciativas estatais para o setor reestruturação produtiva; a descentralização
(Costa, 1988, p. 73). territorial de competências e funções e o ajuste
O território continua sendo a base das políticas internas, antes de características
material e um dos fundamentos do Estado- basicamente nacionais, às atuais condições da
Nação. Afirmar, como faz Santos (1994, p. 15), competição no mercado mundial (Restreppo,
que o Estado territorial tomava o território como 1994, p.325-346). Este conjunto de interfaces
sua base estratégica, ao mesmo tempo em que leva a inscrever as sociedades nas hierarquias
o moldava, não significa afirmar que, dos espaços de desenvolvimento (Levy, 1994,
contemporaneamente, o Estado deixe de p. 221-232), a uma nova organização do
continuar a fazê-lo. Se, por um lado, a noção território em diferentes escalas, os novos
de Estado territorial tornou-se antiquada, por cenários multiescalares (Ciccolella, 1997, p.55-
outro, a noção contemporânea de 60; Dowbor, 1995, p 3-5).
transnacionalização do território não é uma II.I.I- A descentralização político-
realidade completa, no sentido de que os administrativa
territórios nacionais se encontram globalizados As transformações político-institucionais
e comandado por forças unicamente exógenas. recentes do Brasil, do final da década de 1980
em diante, inscrevem-se no quadro de reforma
do Estado, consolidada inicialmente na
II.I- As diferentes vias de reforma do Estado Constituição de 1988, e no resultado do
e políticas de desenvolvimento processo de disputa entre atores sociais que
A flexibilização do Estado, na transição caracterizou o período Constituinte.
do Estado geopolítico e desenvolvimentista A nova Constituição, ao consagrar um
para um Estado mais democrático emerge com novo pacto social, invertendo, na Lei, a clássica
a revigoração das teses liberais. A questão que relação entre Estado e sociedade e o
se coloca, a partir do início dos anos 90 no desenvolvimento econômico e o
Brasil, é o sentido da flexibilização do Estado e desenvolvimento social, incluindo estados e
qual a relação que se estabelece com o municípios como entes federativos plenos,
território. culminou com a descentralização fiscal e
Este sentido pode ser apreendido a administrativa. A descentralização, no entanto,
partir de três grandes vias da reforma do conforme a crítica oriunda principalmente dos
Estado. As vias da descentralização político- meios municipalistas, por exemplo, não se
administrativa e da inserção da sociedade civil concretizou na prática, tendo em vista ocorrer
na reforma do Estado, advindas das diferentes um repasse crescente de atribuições e não dos
aspirações da sociedade brasileira à recursos correspondentes. Considerando-se
redemocratização, que faz com que estados e
86 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 17, 2005 RUCKERT, A.

essas críticas, torna-se necessário compreender dicotomia sociedade civil/Estado. Nos termos
a descentralização como tentativas de de Bobbio (1986, p. 33-49) “pode-se dizer que
redistribuição de poder, como o fazem Silva e a sociedade civil é o lugar onde surgem e se
Costa. Para os autores a descentralização desenvolvem os conflitos econômicos, sociais,
significa: ideológicos, religiosos, que as instituições
“um processo de redistribuição de recursos, estatais têm o dever de resolver ou através da
espaços de decisão, competências, mediação, ou através da repressão”. As forças
atribuições e responsabilidades; enfim, poder que modelam a sociedade civil são, em parte,
político-econômico, em cada formação social econômicas, as quais distinguem as
específica. Trata-se [...] de examinar as coletividades e contribuem para a tomada de
tentativas que vêm ocorrendo em face da crise consciência que esboçam classes; estas
dos Estados-Nação centrais e dos Estados procuram exercer pressão sobre as
Desenvolvimentistas periféricos. Essa organizações para proteger seus interesses.
redistribuição pode ocorrer entre instâncias Jogos múltiplos de poder passam a ocorrer pela
governamentais, entre poderes estatais e articulação da sociedade civil através do poder
entre o Estado e a sociedade” (Silva e Costa, das organizações.
1995. p 263). A participação ampla da sociedade civil
A luta pelo fim do Estado autoritário e nas políticas públicas é um outro componente
de seus mecanismos e arranjos de poder da reforma política do Estado. “A dimensão
fortemente centralizadores fez com que a social da gestão, excluída pela modernização
descentralização se tornasse, para muitos, conservadora, constitui hoje um desafio básico
sinônimo de democracia. Especialmente na área da sociedade civil na redefinição do papel do
social, o perfil da intervenção estatal Estado” (Becker, 1991, p. 54).
prevalecente no período autoritário induziu à A redefinição do espaço da cidadania
crença de que a descentralização levaria, por si num Estado democrático aponta para um dos
só, à maior eqüidade na distribuição de bens e desafios mais importantes da reforma do
serviços e à maior eficiência na operação do Estado, qual seja o de transferir ao sistema
aparato estatal (Silva e Costa ,1995. p 264). político parcelas do papel central atribuídos até
A relação da descentralização com a então ao Estado desenvolvimentista e
democracia estaria, para Affonso (1994, p.331), centralizador. O fortalecimento das instituições
no mecanismo de redistribuição do poder democráticas intermediárias, na escala
político; na estratégia de deslocamento da mesorregional, traz, à luz de experiências
alternativa de participação popular para o plano latino-americanas, um novo papel e um novo
local e microeconômico, enquanto as decisões conteúdo político às regiões, apontando, numa
macropolíticas seriam centralizadas com lógica estreita relação entre democracia e território,
transnacional. Isto não impediu que o aumento para a constituição de espaços públicos-não
da participação dos estados e municípios nas estatais de caráter democrático participativo.
receitas problematizasse a gestão
macroeconômica do governo federal nos moldes
da tradicional centralização. A crise econômica II.I.III- Políticas de desenvolvimento
e fiscal passa a acirrar as disputas entre as endógeno na escala local/regional
unidades federadas. As políticas de desenvolvimento
endógeno na escala local-regional ganham força
no Brasil principalmente a partir das
II.I.II- A sociedade civil transformações político-institucionais recentes,
O conceito sociedade civil é geralmente do final da década de 1980, inscrevendo-se no
empregado como um dos termos da grande quadro de reforma do Estado proposto pelas
A reforma do estado, reestruturações terriotoriais,
desenvolvimento e novas territorialidades, pp. 79 - 94 87

constituições federal e estadual. A endógeno refere-se ao processo decisional dos


descentralização político-administrativa e seus atores presentes na malha social do território.
mecanismos de redistribuição do poder político Os atores individuais são indivíduos que ocupam
trouxe a possibilidade de estímulo às assim espaços na estrutura de poder; os corporativos
denominadas vocações r egionais e locais. A são as instituições que representam interesses
interiorização do desenvolvimento passa a ser setoriais, de grupo e os coletivos são os
assumida pelos lugares e regiões distantes do movimentos sociais, territoriais ou regionais. O
poder central, através de novos atores locais e segundo fator do desenvolvimento endógeno são
regionais que emergem neste cenário. Nos as Instituições: os organismos de governo, as
anos noventa, com a fragilização financeira do universidades e centros científicos, os serviços
Estado e seu debilitamento político tem-se o públicos, as empresas públicas, a imprensa, as
retorno da questão regional com ênfase em associações de caráter associativo, os
novos discursos sobre a descentralização e a a municíipios e as ONGs. O terceiro fator é a cultura
regionalização (Cano, 1994). no sentido da capacidade para produzir uma
Este retorno da questão regional à agenda autoreferência, isto é a capacidade para
política nacional passa a dar-se no âmbito, produzir a identificação da sociedade com seu
principalmente, do que Dulong e Frémont próprio território. O quarto fator são os
conceituam como o vivido territorial (Dulong, R. procedimentos utilizados pelas diferentes
apud Raffestin, 1993, p. 182; Frémont, 1980). A instituições da área. O quinto fator são os
aspiração a uma vida regional pelas recurso materiais, humanos, conhecimentos e
comunidades implica na recuperação de uma psicossociais com que conta o território.
malha territorial que possa permitir o exercício Finalmente, o sexto fator é o entorno - meio
desse poder (Raffestin, 1993) o que externo, onde há uma multiplicidade de
corresponde, no Brasil (Becker, 1983) ao organismos sobre os quais não se tem controle.
processo de substituição da região sub-nacional O geógrafo português João Ferrão
pela região na escala local. A partir de meados (1996, p. 97-104) por sua vez, aponta que a
da década de 80 a questão de, se a comunidade aposta na inteligência coletiva abre uma nova
territorial local conteria potencialidades para o frente analítica - a região inteligente - que
poder, abre espaço para a multiplicidade de permitirá aos especialistas em desenvolvimento
organizações interessadas no fortalecimento da regional e local contribuir, de forma original, para
comunidade local e na política de uma matéria socialmente reconhecida como
descentralização de decisão (Wilson, 1995). relevante. “À imagem das organizações, também
as regiões devem adoptar a capacidade coletiva
Os espaços locais, tidos como novas
de produzir, acumular e consumir informação e
unidades de análise, são entendidos numa nova
conhecimento como preocupação estratégica se
lógica de articulação dos espaços, privilegiando-
quiserem construir vantagens sustentadas num
se o aproveitamento dos recursos endógenos
mundo em crescente globalização.”
para diversificar o crescimento, criar emprego e
novas formas de gestão pelos agentes locais, As organizações presentes no
em contraposição ao desenvolvimento território, tanto públicas como privadas, podem
centralizado autoritário que teve vigência ser indicadas sob uma determinada densidade
recente em vários países, em diferentes regiões organizacional através das articulações entre
do mundo. organizações e instituições. A densidade
organizacional é conceituada como “a
Uma proposição metodológica para
combinação de fatores, incluindo suas
investigar-se os diversos fatores do
interações inter-institucionais e sinergia, uma
desenvolvimento endógeno nos vem do
representação coletiva por muitos corpos, um
economista chileno Sérgio Boisier. Conforme
objetivo (...) comum e normas culturais e
Boisier, o primeiro fator do desenvolvimento
valores compartilhados”(Amin;Thrift apud Kirat;
88 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 17, 2005 RUCKERT, A.

Lung, 1999, p. 31). territorialidades. A simples participação da


A densidade organizacional corresponde, sociedade civil na gestão da República não
portanto, às articulações entre as instituições produz, por si só, novos territórios. Para que
e as organizações: as secretarias de governo isto ocorra é necessário que se visualize, ainda
estadual e local, as universidades e centros que de forma embrionária, por exemplo, as
científicos, os serviços públicos, as empresas diferentes e múltiplas novas hegemonias ou
públicas, as organizações de caráter contra-hegemonias que emergem em torno de
associativo. A freqüência de convênios entre fóruns regionais, universidades comunitárias
as instituições e organizações indica o estágio regionais associadas ou não às diferentes
de construção e/ou de consolidação de ações escalas de poder de Estado.
de implementação de vantagens competitivas Afirmar que um grupo busca afirmar
locais controle sobre um área delimitada, um território
portanto conforme Sack, não significa, da
III- Territorialidade e desenvolvimento mesma forma, que haja novas territorialidades.
territorial: alguns exemplos É possível mesmo que a conceituação de Sack
seja insuficiente tendo em vista que não parece
Neste terceiro e último tópico busca- contemplar, por exemplo, as relações de poder
se visualizar alguns pontos fundamentais associadas às identidades ou a projetos de
expostos até aqui. Aborda-se, sumariamente, desenvolvimento que se quer afirmar como de
em exemplos de pesquisas em curso, a caráter territorial. Entretanto, pode-se tomar
preocupação conceitual da empregabilidade dos do autor que a tentativa de controle pode estar
conceitos território e territorialidade associados associada às diversas propostas de
a processos de desenvolvimento. desenvolvimento local-regional enquanto estas
De acordo com Sack, pode-se adotar, atingirem alguma forma-conteúdo
ainda que de forma provisória, o conceito de territorializada que produza resultados
territorialidade como a tentativa por indivíduos socialmente mensuráveis. Neste sentido será
ou grupos para afetar, influenciar ou controlar quase que inevitável que associemos os
pessoas, fenômenos e relações, pela poderes das hegemonias locais-regionais às
delimitação e estabelecimento de controle suas dimensões territoriais, confirmando a
sobre uma área geográfica. Esta área será acepção clássica de que espaço é poder.
chamada território. Diferentemente de muitos
outros lugares comuns, territórios requerem Talvez, neste sentido, a contribuição de
constante esforço para estabelecer e manter. Raffestin seja mais útil. De acordo com a
Eles são os resultados de estratégias para perspectiva do autor,
afetar, influenciar e controlar pessoas, “a territorialidade adquire um valor bem
fenômenos e relações (Sack, 1986, p. 19-20). particular, pois reflete a multidimensionalidade
O que o conceito de Sack nos permite do “vivido” territorial pelos membros de uma
apreender, enquanto se tem como intenção coletividade, pelas sociedades em geral. Os
associar reforma do Estado, reestruturações homens “vivem”, ao mesmo tempo, o processo
territoriais contemporâneas e a emergência de terrritorial e o produto territorial por
novas territorialidades? O processo de intermédio de um sistema de relações
descentralização política tem dado espaço às existenciais e/ou produtivistas. Quer se trate
escalas de poder local e à emergência de novas de relações existenciais ou produtivistas,
formas de poder regional, consubstanciadas em todas são relações de poder, visto que há
diferentes formas de organização da sociedade interação entre os atores que procuram
civil. Neste sentido, seria útil verificar em que modificar tanto as relações com a natureza
sentido a contribuição de Sack pode ser como as relações sociais” (Raffestin, 1993,
adequada para entender estas novas 158-159).
A reforma do estado, reestruturações terriotoriais,
desenvolvimento e novas territorialidades, pp. 79 - 94 89

A visão do autor reafirma a Desenvolvimento chamada Instituto Saga, com


multidimensionalidade não só do vivido territorial referência no município de Chapecó; b) Fórum
mas dos vários poderes presentes no tecido da Mesorregião Grande Fronteira Mercosul,
social e político do território. Quer seja no estimulado pelo Ministério da Integração
âmbito existencial, quer seja no econômico, a Nacional; c) Programa Fortalecer, resultado da
dimensão territorial do poder com “p” minúsculo articulação institucional de organizações não
está presente. O conceito de desenvolvimento governamentais e movimentos sociais
territorial, por sua vez, conforme Boisier (1995) populares em 15 municípios e universidades; d)
é uma expressão ampla que inclui o Programas municipais de Desenvolvimento Local
desenvolvimento de micro-localidades, tais Integrado e Sustentável (PMDLIS) organizados
como comunidades e de meso-localidades, tais por orientação do Programa Comunidade
como províncias ou regiões. O conceito refere- Solidária do Governo Federal, gestão FHC; e)
se agora a processos de mudança sócio- Conselhos de Desenvolvimento Regional
econômica, de caráter estrutural, delimitados criados a partir de 2003 com a posse do novo
geograficamente e inseridos num marco governo do estado de Santa Catarina.
configurado por sistemas econômicos de Os Fóruns têm características diferentes
mercado, ampla abertura externa e entre si. Mas, de forma geral caracterizam-se
descentralização dos sistemas de decisão. por serem compostos de agências, institutos e
No sentido do conceito de centros de estudos de desenvolvimento
territorialidade e desenvolvimento terrritorial territorial e regional; organizações da sociedade
talvez possamos compreender a contribuição de civil de interesse público; gestão regional do
pesquisas em curso que adotam o conceito de Consórcio de Segurança Alimentar – CONSAD;
território e territorialidade associados a articulações com universidades comunitárias
processos descentralizados de gestão territorial regionais e representação descentralizada
bem como um exemplo da análise da micro-regional da Secretaria de Desenvolvimento
empregabilidade do conceito de Regional do Estado de Santa Catarina.
desenvolvimento territorial pela Secretaria do Olivo (2004, p. 39-52) por sua vez,
Desenvolvimento Territorial do Ministério do examina a construção de alternativas de
Desenvolvimento Agrário. desenvolvimento da Quarta Colônia 4 na região
Rover (2004, p. 2-30) aborda a relação de Santa Maria. Na década de 1980 quando
entre o desenvolvimento territorial local e a esgota-se o modelo de desenvolvimento com
democracia, através da análise da formação e base na “modernização da agricultura” , no
atuação de novas configurações institucionais 3 município de Silveira Martins é lançado o Projeto
que se constituem visando coordenar processos Identidade (PROI) , como um projeto inovador
de desenvolvimento micro-regional através da de desenvolvimento loco-regional. Com o
integração de atores sociais, políticos e projeto, dá-se início ao desenvolvimento de
econômicos no oeste catarinense. Essas novas trabalhos e ações sistemáticas de resgate e
configurações institucionais são Fóruns, valorização dos recursos cultural, natural e
Conselhos e Consórcios que aglutinam atores histórico da região, articulando uma prática de
de setores diversos com o papel de realizar a ações em parceria.
gestão social do desenvolvimento. Isto põe em Com a escolha da Quarta Colônia
questão, particularmente, a problemática da pelo Conselho Nacional do Consórcio Mata
democracia na gestão do desenvolvimento local/ Atlântica para ser a Segunda Área Prioritária
regional, fazendo menção à existência de cinco da Reserva da Bioesfera da Mata Atlântica no
novas configurações institucionais diferentes. RS em 1994, em 1995 foi criado o Projeto de
Os Fóruns são: a) Fórum de Desenvolvimento Desenvolvimento Sustentável da Quarta
Regional Integrado e sua Agência de
90 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 17, 2005 RUCKERT, A.

Colônia – PRODESUS. A ênfase do projeto volta- conceitual.


se para a estimulação do projetos agro- Segundo ainda o autor, considerando a
ecológicos; recuperação de áreas degradadas; política de desenvolvimento territorial da SDT,
criação de roteiros integrados de turismo rural, há questões preocupantes como 1) continua
cultural e ecológico e programas de educação existindo uma ação municipalista, em vista das
patrimonial e ambiental. O Consórcio de demandas individuais e repartidas que os
Desenvolvimento Sustentável da Quarta “territórios” apresentam; 2) é inevitável que
Colônia (CONDESUS) tem a finalidade de ocorra em campo uma influência da escala de
articular e fomentar projetos de intervenção em ação sobre a dinâmica das organizações locais,
parcerias entre os municípios de forma pois lideranças e aprendizagens dos conselhos
intersetorial. municipais estão sendo descartadas, e ao
A autora entende que o referencial mesmo tempo, novos mediadores são
sobre novos significados e usos do território demandados, seja para representar as ONGs
contêm elementos conceituais peculiares para ou Associações de Municípios.
identificar essa nova dinâmica de
desenvolvimento. “Nesse processo de
construção de parcerias entre municípios da
Quarta Colônia há um movimento de criação e
recriação das fronteiras entre os oito municípios
que a constitui, configurando uma nova
terrritorialidade.”
Em terceiro e último lugar, é muito
oportuna uma avaliação da empregabilidade do
conceito de desenvolvimento territorial da
Secretaria do Desenvolvimento Territorial do
Ministério do Desenvolvimento Agrário por
Perondi (2004, p. 5-27). A política federal de
territórios rurais sustentáveis vem sendo
empregada no país em parceria com
movimentos sociais e organizaçõe não-
governamentais a partir de 2003, em vários
“territórios” previamente delimitados pelo poder
executivo federal.
Perondi examina conseqüências do uso
do adjetivo “territorial” na tentativa de uma
melhor designação para o desenvolvimento
rural. O autor entende que a noção de
desenvolvimento territorial rural realizado pelas Considerações finais
instituições multilaterais não reproduz o debate
da Geografia sobre território, principalmente no Afirmamos que, em cenários globais que
que concerne à delimitação territorial e na imprimem incertezas aos territórios periféricos,
conformação das escalas de poder. Segundo ele, é necessário que se aprofunde a análise das
não existe uma suficiente justificativa para que diferenciações emergentes – os novos
o adjetivo que simboliza o foco de combate à significados que adquirem os usos políticos do
pobreza seja o “territorial”. Isto faz com que território e as novas formas e conteúdos
haja uma expectativa não atendida entre territoriais. O território enquanto uma totalidade
desenvolvimento e território que impede que que contém uma estrutura complexa é composto
este termo conjunto assuma um status
A reforma do estado, reestruturações terriotoriais,
desenvolvimento e novas territorialidades, pp. 79 - 94 91

por múltiplos atores inseridos num processo rincões distantes. Entretanto, talvez seu mérito
longo de reforma do Estado. A seja, contraditoriamente, provocar uma reflexão
redemocratização, as descentralizações que sobre as nossas potencialidades locais/
focam os estados e os municípios, a valorização regionais. A ativação permanente de nossas
do local e as diferenças dos diversos poderes sociabilidades democráticas, a construção de
estão no centro das atenções na análise dos novas densidades organizacionais e
múltiplos territórios e da construção das institucionais de múltiplos corpos de reflexão,
múltiplas territorialidades sociais. investigação e ação remetem-nos,
O uso do território, talvez melhor os usos inegavelmente à uma nova aventura : a de
dos territórios , amalgamados em múltiplas entendermos que as antigas terras do interior
escalas de poder e gestão nos evocam tanto a) (as hinterlands ) hoje podem não mais ser,
as questões clássicas da geografia política no necessariamente, territórios periféricos e
que tange às construções e reestruturações distantes dos grandes centros de poder.
contemporâneas dos territórios antes Não há como negar que o meio técnico
basicamente nacionais quanto b) reacendem a científico informal possibilita as novas redes de
retomada de uma democracia e suas íntimas solidariedade. Entretanto, difícil negar
relações com os micro e os meso territórios igualmente que as múltiplas organizações
onde as populações vivenciam os seus sofram pesada concorrência das velhas
cotidianos. Entender o território como produto hegemonias regionais metamorfoseadas agora
dos atores sociais é não somente uma pelas novas formas do empresariado nacional
concepção mais generosa que insere a high tech global. Pode-se talvez afirmar que há
sociedade civil e suas práticas estratégicas na novas formas de controle de territórios e que
gestão pública mas também uma possibilidade eles estão submetidos às múltiplas
de reconhecer processos novos que tendem a determinações do capitalismo global e, ao
construir novas territorialidades. mesmo tempo, das ativações das
As referências às teorias de potencialidades e das riquezas dos recursos
desenvolvimento endógeno, territorial, local, escassos, das identidades das populações nos
regional parecem, num primeiro momento, mais vastos rincões do país e das ricas
uma importação de modelos exógenos territorialidades que elas nos demonstram. Eis
chamados à luz da ocasião a iluminar as aí, talvez, alguns dos desafios às nossas
realidades territoriais periféricas de nossos análises contemporâneas.

Notas

2
O Estado é a maior organização, mas não a única.
3
O autor entende por novas configurações
Os atores coletivos realizam programas , institucionais aquelas que não são nem
manifestando, com precisão, a idéia de processo instituições políticas stricto sensu , nem
e de articulações sucessivas no seu interior. Todas organizações da sociedade em geral, mas
as organizações, da família ao Estado, partidos, espaços organizativos compostos por
Igrejas e empresas são atores coletivos. O organizações sociais, políticas e econômicas que
Estado é um ator sintagmático por excelência orientam a construção de políticas públicas para
quando empreende ações que organizam o territórios específicos.
território. A empresa, por sua vez, é outro ator 4
A origem do nome Quarta Colônia deve-se ao fato
sintagmático que articula momentos diferentes
de ter sido a Quarta colônia imperial de imigração
da realização de seu programa pela integração
italiana, a Quarta área onde foram distribuídas
de capacidades múltiplas e variadas. terras para italianos que imigraram, no final do
92 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 17, 2005 RUCKERT, A.

Bibliografia

AFFONSO, Rui de Brito Álvares. A crise da Públicas e Federalismo. Porto Alegre, (15) 2:
federação no Brasil In: Ensaios FEE, Porto 312-320, 1994.
Alegre, v.15, n. 2, p. 321-337, 1994.
CICOLELLA, Paulo. Redefinicion de fronteras,
BECKER, Bertha K. O uso político do território: territorios y mercados en el marco del capitalismo
questões a partir de uma visão do terceiro de bloques In: Castello, Iara R. et al. (Orgs).
mundo. In: Becker, Bertha K.; Costa, Rogério H. Fronteiras na América Latina. Espaços em
da.; Silveira, Carmen B.. (Orgs). Abordagens transformação. Porto Alegre: Ufrgs/FEE, 1997,
políticas da espacialidade. Rio de Janeiro: UFRJ, p.55-67.
1983. p. 1-8.
COSTA, Wanderley M. da. O Estado e as políticas
____. A crise do Estado e a região- a estratégia territoriais no Brasil. São Paulo: Contexto, 1988.
da descentralização em questão In: Becker,
Bertha. (org). Ordenação do território: uma COX, Kevin. Redefining “territory”. Political
questão política? Exemplos da América Latina. Geography Quarterly, v. 10, n. 1, p. 5-7, jan. 1991.
Rio de Janeiro: UFRJ, 1984, p. 2-15.
DOWBOR, Ladislau. Da globalização ao poder
____. A geografia e o resgate da geopolítica. local. A nova hierarquia dos espaços. São Paulo
Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, em perspectiva, São Paulo, v. 9, n 3, p. 3-10
v. 50, t.2, p. 99-125,1988. Número especial. jul./set. 1995.

____. Modernidade e gestão do território no FERRÃO, João. Educação, sociedade cognitiva


Brasil: da integração nacional à integração e regiões inteligentes: uma articulação
competitiva. Espaço e Debates, São Paulo, n. promissora. Inforgeo, 11, Dez. 1996, pp 97-104.
31, p. 47-56, 1991.
FRÉMONT, Armand. A região, espaço vivido.
____. A geopolítica na virada do m ilênio: Coimbra: Livraria Almedina, 1980.
logística e desenvolvim ento sustentável, In:
Castro, Iná E. de et al. (Orgs). Geografia: GIDDENS, Anthony. Política, sociologia e teoria
conceitos e tem as. Rio de Janeiro: Bertrand social. São Paulo: Editora da Unesp, 1998.
Brasil,1995.p.271-307.
KIRAT, Thierry; Lung, Yannick. Innovation and
BOISIER, S. et alii . Sociedad civil, actores proximity. Territories as loci of collective learning
sociales y desarrollo regional. Santiago de Chile: processes. European Urban and Regional Studies,
Ilpes/Cepal, 1995. London, v. 6, n.1, p. 27-38, 1999.

BOBBIO, Norberto. Estado, governo e LEFEBVFRE, Henri. Espacio y política. Barcelona:


sociedade: Para uma teoria geral da política. Ediciones Península, 1976. 159 p.
4. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.173 p.
_____. De L’Etat. L’ État dans le monde
CANO, Wilson. Perspectivas para a questão moderne. Paris: Union Génerale d’Editions,
regional no Brasil. Ensaios FEE. Estado, Políticas 1978. v.1. 390 p.
A reforma do estado, reestruturações terriotoriais,
desenvolvimento e novas territorialidades, pp. 79 - 94 93

Desarrollo Regional/Consejo Nacional de


LEVY, Jacques. Entre a sociedade civil e Investigaciones Científicas, 1994. p 325-346.
sociedade política In: Santos, Milton et al.
(Orgs.). Território. Globalização e fragmentação.
SACK, Robert D. Human territoriality: its theory
São Paulo: Hucitec/Anpur, 1994. p. 221-232.
and history. Cambridge: Cambridge University
Press, 1986.
MATUS, Carlos. Planejamento estratégico:
Chipanzé, Maquiavel e Ghandi. São Paulo:
SANTOS, Milton. O retorno do território In:
Fundap, 1996. 294 p.
Santos, Milton et al. (Orgs.). Território:
Globalização e fragmentação. São Paulo:
MORAES, Antonio Carlos R. de. Ordenamento
Hucitec/Anpur, 1994, p. 15-28.
territorial: uma conceituação para o
planejamento estratégico. Brasília: Ministério
______; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil.
da Integração Nacional. Oficina sobre a Política
Território e sociedade no início do século XXI.
Nacional de Ordenamento Territorial. Nov 2003.
Territorios en transformación . Análisis y
5 p. (Não publicado).
propuestas. Madrid: Fondo Europeo de
Desarrollo Regional/Consejo Nacional de
OLIVO, Vânia F. O discurso como prática social
Investigaciones Científicas, 1994. p 325-346.
no processo de desenvolvimento da Quarta
Colônia-RS. Porto Alegre: Ufrgs, 2004. (Não
publicado).
____; Silveira, Maria Laura. O Brasil. Território
e sociedade no início do século XXI. 5ª ed. Rio
PERONDI, Miguel A. Oportunidades e problemas
de Janeiro/São Paulo: Editora Record. 473 p.
de “território” no desenvolvimento rural. Porto
Alegre: Ufrgs, 2004. (Não publicado).
____. Testamento intelectual. São Paulo:
Editora da Unesp, 2004.
RAFFESTIN, Claude. Remarques sur les notions
d’espace, de territoire et de territorialité.
SILVA, Pedro Luis Barros; Costa, Vera Lucia
Espaces et Societés , Paris, Juin-Décembre,
Cabral. Descentralização e crise da Federação
p.167-171, 1982.
In: Affonso, Rui de Britto Álvares; Silva, Pedro
Luis Barros (Orgs.). A federação em perspectiva.
_____. Por uma geografia do poder. São Paulo:
Ensaios selecionados. São Paulo: Fundap-
Ática, 1993. 269 p.
Unesp, 1995. p. 261-283.

ROVER, Oscar J. Novas configurações WILSON. Patricia A. Reconociendo la localidad


institucionais para o desenvolvimento territorial en el desarrollo economico local. Revista
local/regional em contextos essencialmente Interamericana de Planificacion. SIAP, voc. XXVII,
rurais . Porto Alegre: Ufrgs, 2004. (Não n. 110, abr-jun 1995.
publicado).
VALENCIANO, Eugênio. La frontera: un nuevo
RESTREPO, Dario. Aspectos espaciales de la rol frente a la integración - la experiência en el
reestructuración: descentralización y apertura. Mercosur. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 1 n. 1,
In:Territorios en transformación. Análisis y p.185-205, 1996.
propuestas. Madrid: Fondo Europeo de
94 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 17, 2005 RUCKERT, A.

RESTREPO, Dario. Aspectos espaciales de la ____; Silveira, Maria Laura. O Brasil. Território
reestructuración: descentralización y apertura. e sociedade no início do século XXI. 5ª ed. Rio
In:Territorios en transformación. Análisis y de Janeiro/São Paulo: Editora Record. 473 p.
propuestas. Madrid: Fondo Europeo de
Desarrollo Regional/Consejo Nacional de ____. Testamento intelectual. São Paulo:
Investigaciones Científicas, 1994. p 325-346. Editora da Unesp, 2004.

SILVA, Pedro Luis Barros; Costa, Vera Lucia


RESTREPO, Dario. Aspectos espaciales de la Cabral. Descentralização e crise da Federação
reestructuración: descentralización y apertura. In: Affonso, Rui de Britto Álvares; Silva, Pedro
In:Territorios en transformación. Análisis y Luis Barros (Orgs.). A federação em perspectiva.
propuestas. Madrid: Fondo Europeo de Ensaios selecionados. São Paulo: Fundap-
Desarrollo Regional/Consejo Nacional de Unesp, 1995. p. 261-283.
Investigaciones Científicas, 1994. p 325-346.
WILSON. Patricia A. Reconociendo la localidad
SACK, Robert D. Human territoriality: its theory en el desarrollo economico local. Revista
and history. Cambridge: Cambridge University Interamericana de Planificacion. SIAP, voc. XXVII,
Press, 1986. n. 110, abr-jun 1995.

SANTOS, Milton. O retorno do território In: VALENCIANO, Eugênio. La frontera: un nuevo


Santos, Milton et al. (Orgs.). Território: rol frente a la integración - la experiência en el
Globalização e fragmentação. São Paulo: Mercosur. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 1 n. 1,
Hucitec/Anpur, 1994, p. 15-28. p.185-205, 1996.

______; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil. VALLAUX, Camilo. Geografia social. El suelo y el
Território e sociedade no início do século XXI. Estado. Madrid: Daniel Jorro, Editor, 1914. 429
Territorios en transformación . Análisis y p.
propuestas. Madrid: Fondo Europeo de
Desarrollo Regional/Consejo Nacional de
Investigaciones Científicas, 1994. p 325-346.

Trabalho enviado em janeiro de 2005.

Trabalho aceito em fevereiro de 2005.

Você também pode gostar