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Capítulo 9
A CIDADE NEOLIBERAL
NA AMÉRICA LATINA:
desafios políticos1
Introdução
O continente latino-americano vive um momento especial, que
impõe refletirmos sobre os paradigmas com os quais temos analisado
as nossas particularidades como semiperiferia da economia mundo
capitalista e também as nossas possibilidades históricas para encontrar
caminhos alternativos na atual fase de crise da “virada neoliberal”,
que aconteceu no mundo a partir dos anos 1970. De certa maneira, há
fortes similitudes entre o presente momento e aqueles frutíferos anos
1950-1970, período no qual o encontro do pensamento cepalino com
o marxismo latino-americano produziu uma autêntica teoria crítica,
com capacidade de influenciar simultaneamente o debate intelectual
e os projetos políticos de desenvolvimento para o continente. A tarefa
agora é construir as bases para a compreensão do neoliberalismo
historicamente específico na América Latina, incorporando nossas
raízes ideológicas, doutrinais e, sobretudo, as marcas e as condições
da nossa trajetória na expansão global da economia mundo capitalista.
Após a recessão dos anos 1980 e as políticas neoliberais dos
anos 1990, observa-se em vários países crescimento econômico com
diminuição das desigualdades de renda, embora, de modo geral,
os coeficientes de Gini permanecem muito mais elevados do que
a média mundial. Trata-se da combinação de efeitos pró-ciclos do
crescimento econômico impulsionado por dinâmica exportadora
de commodities e pela expansão do mercado interno. Simultanea-
mente, surgiram em vários países políticas sociais de transferência
de renda, ao mesmo tempo em que os Estados retomam seus antigos
compromissos com os direitos sociais, notadamente na educação e
1
Este capítulo foi originalmente apresentado no I Seminário Internacional Relateur: “A Cidade
Neoliberal na América Latina: desafios teóricos e políticos”. IPPUR, Rio de Janeiro, novembro
2013.
Parte III – Os D esafios Metropolitanos 255
1. A CIDADE LATINO-AMERICANA
NO CAPITALISMO HISTÓRICO
O desenvolvimento desigual é interpretado como um processo
diferenciado de difusão a partir de um centro que deixa para trás
resíduos de eras precedentes ou se encontra com áreas de resis-
tência para o progresso e modernização que o capitalismo promove.
Adotamos, aqui, o conceito de capitalismo histórico, como proposto
por Wallerstein (2001; 2006), para identificar o arcabouço apresentado
a seguir.
Parte III – Os D esafios Metropolitanos 261
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na fase atual, no continente latino-americano, estaríamos no
momento de retomada da força do movimento liberal-internacio-
nalizante na expansão do capitalismo – hipótese que pode parecer
contraditória com a retórica nacionalista, estadista e desenvolvimen-
tista das atuais elites governantes e com as políticas sociais anunciadas
como constituidoras de uma rede de proteção social. Porém, devemos
pensar essa contradição compreendendo o processo de neoliberali-
zação como uma nova rodada de mercantilização da sociedade, na
qual a cidade pode exercer papel central na construção do consenti-
mento político e ideológico de uma nova virada neoliberal.
A seguir, apresentamos questões que devem orientar a
compreensão do processo de neoliberalização da cidade a partir do
enfoque histórico-institucional que orientou a nossa reflexão.