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O TOQUE DE UMA BRUXA

BOOK 03

S.E. SMITH

À medida que a escuridão se espalha, a ajuda chega quando ela mais


precisa...
Marina Fae nunca se considerou uma bruxa poderosa, nem sequer
sonhou em ser uma guerreira lutando para salvar seu povo. No entanto, sua
vida muda drasticamente quando a magia negra da Bruxa do Mar invade a
Ilha da Magia, transformando em pedra todos aqueles que resistem ou não
conseguem escapar. Buscando refúgio na densa floresta da montanha,
Marina trava uma batalha para proteger as crianças deixadas para trás pela
onda de destruição de Magna.Enquanto isso, o detetive Mike Hallbrook está
em busca de duas mulheres desaparecidas no Yachats State Park quando se
depara com uma situação inesperada. Ao salvar uma mulher sendo atacada
por uma criatura monstruosa, ele se vê em uma praia desconhecida,
atordoado com a história selvagem que ela conta e as evidências que cercam
o caso. Logo, Mike descobre que a magia existe e que ele não está mais na
Terra. Ele se vê envolvido nas súplicas de Marina por ajuda e sabe que fará
tudo o que puder para ajudar a salvar seu povo.
Marina e Mike unem forças para salvar a Ilha da Magia. Conscientes de
que não podem enfrentar sozinhos o mal da Bruxa do Mar, buscam a ajuda
do Rei Dragão e do Rei do Povo do Mar. Juntos, eles enfrentarão a Bruxa do
Mar de uma vez por todas. Mas o que acontece quando descobrem a
existência de uma entidade ainda mais sombria e oculta…Uma entidade que
só pode ser detida pela pessoa que estão tentando matar?
ESTÁ TRADUÇÃO FOI FEITA
POR FAS E PARA FAS.

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traduzidas para o PORTUGUÊS.
O material a seguir não pertence a nenhuma
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literatura, pode conter erros.

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Sete Reinos/Elenco de Personagens Os Sete Reinos:
Ilha dos Dragões: Governante Drago
Presente da Deusa - O Coração do Dragão
Drago e os dragões foram criados em segundo lugar.
Ilha da Serpente do Mar: Governante Órion
Presente da Deusa - Os Olhos da Serpente Marinha Eles controlam
os oceanos e as criaturas que vivem lá.
Ilha da Magia: Governantes Rainha Magika e Rei Oray Presente da
Deusa—O Orbe da Luz Eterna
Sua magia é a mais poderosa em sua Ilha, mas começa a desaparecer
quando eles a deixam.
Ilha de Gigantes: Rei Governante Koorgan
Presente da Deusa -A Árvore da Vida
Eles são capazes de crescer para tamanhos enormes quando
ameaçados.
Ilha dos Elementais: Governantes Rainha Adriana e Rei Presente Ruger
da Deusa - Gema do Poder
Os primeiros criados, eles têm poder sobre os elementos: terra, vento,
fogo, água e céu.
Ilha dos Piratas: Governante O Rei dos Piratas Ashure Acena
Presente da Deusa - O Caldeirão dos Espíritos
Colecionadores de todas as coisas bem. Feroz e inteligente, eles vagam
pelas Ilhas negociando, barganhando e ocasionalmente se servindo de itens
de interesse.
Ilha dos Monstros: Imperatriz Governante Nali
Presente da Deusa - O Espelho da Deusa
Um refúgio para monstros considerados muito perigosos, raros ou
indesejados em qualquer reino do universo.
Personagens:
Magna: metade bruxa/metade gente do mar. Ela é prima distante de
Órion por parte de pai
Drago: Rei dos Dragões.
Carly Tate: Bancária de Yachats, Oregon: Drago Jr. (DJ): O filho mais
velho de Drago e Carly, 4 anos Stone: Segundo filho de Drago e Carly, 3 anos
Jenny 'Roo': filha de Drago e Carly de 2 anos .
Theron: Capitão da Guarda de Drago
Órion: Rei do Povo do Mar
Jenny Ackerly: professora e melhor amiga de Carly Dolph: filho de 8
anos de Órion de seu primeiro casamento Juno: filho de 5 anos de Órion de
seu primeiro casamento Shamill: primeira esposa de Órion – falecida.
Kapian: Capitão da Guarda de Órion e melhor amiga Kelia: babá idosa
de Órion
Coralus: marido de Kelia, guarda real e mentor de Órion e Kapian Kell:
pai de Magna
Seline: mãe de Magna
Ashure Waves: Rei dos Piratas
Bleu LaBluff: o segundo em comando de Ashure
Nali: Imperatriz dos Monstros
Gema: Princesa dos Elementos
Ross Galloway: Pescador de Yachats, Oregon
Mike Hallbrook: Detetive para Yachats, Departamento de Polícia de
Oregon
Ruth Hallbrook: Contadora e irmã de Mike
Koorgan: Rei dos Gigantes
Marina: Bruxa
Isha: Capitão da Guarda do Rei e Rainha da Ilha da Magia; O irmão
mais velho de Marina.
Magika: Rainha da Ilha da Magia
Oray: Rei da Ilha da Magia
Geoff: irmão mais novo de Marina
Erin: irmã mais nova de Marina
Gant: Capitão da Guarda e amigo de Koorgan
Cyan: Feminino Cyclops: companheiro de Boost
Boost: Ciclope masculino: companheiro de Cyan
Meir: Minotauro
Prólogo

— Eu não posso — o velho murmurou, balançando a cabeça em aflição.


— Minha magia não funcionará contra a Rainha. Estamos ligados. Não, não...
a Rainha é muito poderosa.
— Oray — a rainha chamou da porta de seu escritório particular.
O Rei da Ilha da Magia ergueu os olhos de onde estava sentado atrás da
escrivaninha de madeira esculpida com belos desenhos. Seus olhos estavam
vidrados com uma película preta de tinta.
Com uma carranca, a Rainha entrou na sala escura. Ela acenou com a
mão e as cortinas deslizaram para trás. Oray se levantou de sua cadeira com
um rosnado animalesco. A mão da Rainha congelou no ar ao ouvir o som
inesperado.
— Isha — a Rainha chamou calmamente, sem tirar os olhos do marido.
Ela viu apenas um reflexo de si mesma nos olhos negros dele, não o
homem carinhoso, amoroso e compassivo que antes habitava seu corpo.
—Eu vejo, Sua Majestade — Isha respondeu calmamente.
Oray se abaixou e pegou a caixa preta com a qual ele estava falando.

Segurando o pequeno estojo retangular entre as mãos nodosas, ele


empurrou a cadeira para trás e entrou nas sombras. Suas mãos tremiam
enquanto o poder dentro do recipiente começava a se agitar, faminto por
Magika e a magia de Isha. Ele sabia o que eles estavam olhando - a caixa, sua
caixa. Eles queriam tirá-la dele e destruí-la.
Ele teria dado a caixa a eles se pudesse, mas a magia negra que o
envolvia tornava impossível entregar o pequeno recipiente.
Em vez disso, ele a embalou protetoramente contra seu corpo.
— Eu ordeno que você vá embora — Oray ordenou com uma voz
— Oray, você está doente. Dê-me a caixa, e eu te levarei de volta para
os nossos aposentos para descansar — Magika pediu em um tom gentil,
entrando mais na sala.
— Isto não é para você. É meu presente. Ninguém mais pode tê-lo —
respondeu Oray.
— Quando ela te devolveu, Oray? A Bruxa do Mar está banida da Ilha
da Magia. Você sabe disso. Você prometeu que me contaria se ela voltasse.
Por favor, marido, dê o recipiente para mim. Eu sinto falta de quem você era.
— Seja lá que magia antinatural estiver na caixa, está te matando —
continuou Magika, continuando a se aproximar dele.
Oray estremeceu. Ele queria ceder ao pedido de sua esposa. Ele sentia
falta do toque suave dela, do riso em sua voz, do amor que sentiam um pelo
outro. Ela o completava...
Não, ela está tentando enganá-lo, uma voz sibilou em sua cabeça.
Nosso amor..., Oray começou a discutir antes de estremecer com a dor
intensa que atravessou seu corpo.
... é uma ilusão. Eles estão tentando destruir você. É hora. Chame a Bruxa
do Mar, a voz comandou. Vamos parar o engano da Rainha e seus seguidores.
— Por favor, Oray — implorou Magika, parando a menos de um metro
dele.
Oray piscou para a esposa, trazendo seu rosto para foco enquanto
automaticamente estendia a mão para ela quando ela a estendeu para ele.
Seus lábios se abriram em um silvo e ele deu alguns passos para trás. Oray
parou quando atingiu a estante atrás dele.
— Bruxa do Mar... Ela... me ordenou que chamasse por você — disse
Oray com um tremor na voz. Ele baixou a cabeça, lutando para segurar o
último resquício de sua sanidade.
— Magika… Você precisa escapar. É tarde demais. Não posso mais lutar
contra isso.
Magika deu um passo para trás em choque quando a pequena caixa em
suas mãos começou a se dissolver em uma névoa escura que girava ao seu
redor. Oray ergueu a cabeça para olhar sua esposa em agonia. Sua luta para
impedir que a criatura se apegasse a sua magia estava drenando-o. Seu olhar
se moveu para a jovem guerreira que se aproximava por trás de Magika.
— É tarde demais. Só posso esperar contê-lo tempo suficiente para que
você leve nossa Rainha em segurança — Oray forçou as palavras para fora
apesar da escuridão envolta de sua garganta.
— NÃO! — Magika gritou, estendendo novamente a mão para seu
marido.
—Você deve escapar, Sua Majestade— Isha ordenou, puxando-a para
trás dele.
—Pela magia da minha espada, você libertará o Rei.
Isha brandiu sua espada brilhante contra a névoa negra, mas Oray
sabia que já era tarde demais. A caixa em sua mão tinha mudado e estava se
transformando em uma criatura fantasmagórica determinada a escravizá-lo.
Tentáculos negros se chocavam com a espada de Isha. Faíscas douradas
brilhavam antes que a magia contida na espada de Isha crepitasse e chiasse.
A essência negra absorvia avidamente a magia adicional.
Oray podia sentir a conexão da Bruxa do Mar com a forma de vida
alienígena. Lá no fundo, ele ficou impressionado que a jovem, que ele
conhecia desde o nascimento, tinha conseguido lutar contra a força maligna
contida na essência negra. A ligação que ele tinha com ela permitiu que ele
visse o que havia acontecido com Magna. Os paralelos com a própria situação
dele eram aterrorizantes.
Ela tinha sido dominada, assim como ele havia sido, e ainda estava
presa dentro dela. Contudo, ele ainda conseguia sentir a essência da jovem
escondida por baixo das camadas, escondida, buscando sua liberdade. Por
mais que ele tivesse lutado para entender, resistir e conter a forma de vida
malévola, ela ainda o tinha sugado para sua sufocante prisão.
— Coração frio como gelo, mantenha minha alma segura atrás de sua
parede congelada. Eu ordeno que você me selle agora — Oray sussurrou o
feitiço em uma voz torturada.
— Oray, NÃO! — Magika gritou, lutando para chegar até o marido.
O grito de dor de Magika o perfurou por um momento antes que o feitiço
entrasse em vigor. Oray sabia que a única maneira de proteger seu reino - e
o que restava dele - era lançar um feitiço que só sua rainha ou a morte da
entidade poderiam libertá-lo um dia. Uma camada de gelo se formou sobre
sua pele, tornando-a de cor azul clara. Ele exalou pequenas baforadas de ar
quente antes que cristais brancos se formassem. Por dentro, o sangue em
suas veias diminuiu até mesmo ele não fluir mais.
Ele estava vivo, mas não completamente. Seu corpo estava rígido,
movendo-se como um boneco de marionete controlado por um manipulador
inexperiente quando empurrado pela massa malévola que o cercava. As
emoções de seu último segundo de consciência estavam congeladas em seu
rosto. A última coisa que ele se lembraria seria o rosto angustiado de Magika.
Oray não tinha consciência do que aconteceu em seguida. Em seu
mundo congelado, ele não tinha utilidade para a criatura. Nada poderia tocá-
lo ou controlá-lo agora, nem mesmo os gritos angustiados de sua amada
podiam penetrar o gelo que protegia sua alma.

—Vossa Majestade, fuja! — Isha gritou enquanto balançava sua espada


encantada contra as faixas rodopiantes.

Ele foi forçado a recuar quando a massa negra se solidificou e formou


meia dúzia de pontos afiados e mortais. Ele cortou três delas. Ele cortou três
deles. Sua lâmina faiscou ao passar pela massa que se dissolveu e se
reformou. Ele apertou o cabo da espada com ambas as mãos, tentando
diferentes feitiços e atacando repetidamente na tentativa de descobrir o que
temporariamente deteria a fera.
Atrás dele, ele ouviu a rainha murmurar um poderoso feitiço. Veias de
diamantes se elevaram do chão. As longas bobinas tubulares se torceram e
viraram, criando uma gaiola em torno da criatura. Isha se virou quando viu,
pelo canto do olho, um movimento perto da janela. Das sombras, Magna
apareceu. Vestida com um vestido vermelho-sangue e seu cabelo preto
fluindo como se estivesse preso em ventos de força de vendaval, ela saiu de
uma neblina escura rodopiante.
Isha continuou sua retirada. Atrás dele, ele podia ouvir os passos da
rainha enquanto ela fugia para avisar os outros guardas. Ele já podia ver
finas rachaduras aparecendo na prisão de diamante que a rainha havia
formado em torno da criatura. Estendendo a mão, ele agarrou a maçaneta da
porta com uma mão e segurou sua espada apontada para Magna com a outra.
Seu olhar varreu o rosto da Bruxa do Mar. Sua pele era pálida como a
luz da lua, e seus olhos escuros exibiam uma expressão assombrada que
parecia grande demais para seu rosto magro. Seus lábios tinham a cor de
uma noite sem lua e estavam entreabertos.
Ela o encarou com olhos sem piscar da cor da tinta.
— Chegou a hora de a magia mantida dentro da Ilha pertencer a nós.—
ela disse em uma voz que ecoou estranhamente na sala.
A mão de Isha apertou a espada.
— Eu a verei enterrada nas regiões mais escuras do oceano antes que a
Ilha da Magia pertença a você, Bruxa do Mar — rosnou Isha em um tom
gelado.
Fechando a porta e trancando-a com um feitiço forte, ele envolveu as
duas mãos na espada. Com um grito, ele colocou toda a sua magia na espada.
Levantando-a, ele atacou Magna.
Ela ficou parada, como se esperasse que sua lâmina a perfurasse. As
paredes de diamante explodiram, criando um barulho ensurdecedor. Isha
sentiu a dor das lascas de diamante quando o atingiram, mas a ignorou.
Cortando sua espada pelo ar, ele prendeu a respiração quando a ponta da
lâmina afiada foi parada por um tentáculo grosso e preto a menos de um
centímetro do pescoço delicado de Magna.
Isha gritou de dor quando outra faixa mortal envolveu sua cintura.
A faixa o levantou do chão enquanto outras faixas cercavam seus braços
e pernas.
Sua espada, ainda brilhando com sua magia, caiu de seus dedos
dormentes. Ele lutou, mas as faixas que o agarravam pareciam um punho de
um gigante apertando seu corpo até que ele estava certo de que seus ossos
iriam quebrar.
Ofegante, ele viu Magna avançar e se curvar para pegar sua espada.
Isha tentou retirar sua magia dela, mas a escuridão estava drenando-o. Ele
lentamente enrolou os dedos de sua mão direita em frustração.
— Mag... na — ele engasgou.
— Você não tem ideia do poder com o qual estamos lidando, Isha —
informou Magna.
Isha piscou quando Magna levantou sua espada. Ele abriu os dedos
para se preparar para seu golpe, mas ficou chocado quando ela colocou a
espada em sua mão. A escuridão borrou as bordas de sua visão quando um
sorriso sereno apareceu em seu rosto.
— Durma guerreiro — Magna murmurou.
Os lábios de Isha se abriram em um arquejo. Ele sentiu o feitiço
queimando através de seu corpo como um fogo rápido. Seus traços
endureceram até que ele não era mais uma entidade viva e respirando, mas
uma estátua de pedra na imagem do grande guerreiro que ele já foi.
Marina Fae chutou uma pedrinha ao longo de seu caminho e observou-
a quicar até que parou contra as paredes cobertas de trepadeiras do palácio.
Colocando seu arco nos ombros, um sorriso travesso iluminou seu rosto. Ela
olhou ao redor antes de erguer os braços e mexer os dedos. As trepadeiras
penduradas da árvore do outro lado da parede se espiralaram em torno de
seus pulsos. Um momento depois, ela foi baixada ao chão do outro lado da
parede.

Virando-se para a árvore, ela fez uma breve reverência.


— Obrigada, Sr. Árvore — riu.
Ela virou-se e começou a cortar pelo grande jardim que cercava o
palácio. Tecnicamente, ela deveria ter entrado pelas portas da frente, mas ela
nunca o fazia. Uma vantagem de ser a irmã mais nova do Capitão da Guarda:
todos sabiam quem ela era.
Cantarolando baixinho, ela agarrou seu arco e partiu em uma leve
corrida ao longo do caminho sinuoso que cortava o imenso labirinto de
jardim. Ela estava animada. Isha deveria voltar para a aldeia hoje e ela queria
surpreendê-lo no palácio para se certificar de que ele não tinha se esquecido
de que prometeu voltar para casa.
O Festival das Luzes anual deste fim de semana seria um momento
muito especial em sua aldeia. Como a aldeia ficava mais para o interior do
que o palácio, que era mais perto do mar, as montanhas ganhavam vida uma
vez por ano com o desabrochar das flores Nightstar. As flores se abririam e
as sementes brilhantes dentro delas flutuariam nas árvores, iluminando a
floresta com cores. As vozes dos aldeões se elevariam em canções e
espalhariam sua magia na brisa para se misturar com as sementes
flutuantes. Era realmente uma noite mágica e Marina adorava testemunhar
isso.
Os passos de Marina diminuíram quando ela ouviu o som de gritos e
um grito que foi interrompido. Ela tropeçou quando o chão tremeu sob seus
pés devido a uma explosão alta que rasgou o ar. Para se equilibrar, ela
estendeu a mão e envolveu a mão esquerda ao redor do ramo grosso de um
dos arbustos altos que cercavam o labirinto. Ela estava quase na saída perto
dos jardins principais à direita da entrada principal do palácio.
Soltando o galho, ela sussurrou para seu arco. Ela sentiu a corda ficar
tensa quando acordou a magia dentro do arco. Ela avançou, preocupada,
quando ouviu a voz da Rainha se elevar acima dos gritos, choros e berros.
Um sentimento de preocupação inundou Marina. Ela não pôde deixar
de pensar de uma maneira estranhamente desconectada que nunca tinha
ouvido a voz da Rainha se levantar em raiva antes. Ela havia dado apenas
alguns passos à frente quando prendeu a respiração, surpresa. Espessas
faixas de magia giravam ao seu redor como um rio turbulento, correndo em
direção à área onde ela ouvira a voz da Rainha. A pura beleza e poder das
cores fluindo tiraram o fôlego de Marina.
Espiando a saída do labirinto, Marina acelerou. Ela deslizou até parar
quando passou pela última cerca viva. Seus lábios se abriram em espanto
horrorizado. Nos degraus da frente do palácio estava uma mulher esbelta. Ao
seu redor, uma névoa escura girava e revirava. A mulher parecia ser feita da
essência negra.
— Bruxa do Mar! — Marina sussurrou, seu olhar grudado em Magna.
— Eu ordeno que pare, Magna! Como Rainha da Ilha da Magia, te
sentencio à morte por sua traição e atos traiçoeiros — Magika declarou,
levantando as mãos.
— Você não pode me deter. Agora eu controlo a Ilha da Magia e todos os
poderes deste reino — Magna respondeu, sua voz estranhamente plana.
— Você está errada, Magna. Qualquer que seja a magia maligna que
você convocou, não é deste mundo. Pense no dano que está causando —
respondeu Magika com uma voz fria.
—Magna!
Marina se virou para ver Kell e Sabine, os pais de Magna, aparecerem -
a Rainha deve tê-los convocado. A esperança correu por Marina. Certamente
as súplicas dos pais da Bruxa do Mar seriam capazes de tocar sua filha.
— Pense em sua família, Magna. — disse a Rainha.
O olhar ansioso de Marina voltou-se para a Rainha. Um silvo suave
escapou de seus lábios quando ela percebeu o que a Rainha estava fazendo.
A Rainha Magika estava tecendo um feitiço com suas palavras e usando os
pais de Magna para distrair a Bruxa do Mar.
Marina nunca tinha visto uma magia tão pura e linda tecida com tanta
força... tão precisamente. A capacidade de ver a magia era um de seus
talentos. Ela havia herdado seu dom de sua avó, que a advertiu a manter a
habilidade para si mesma.
— Ninguém mais tem o dom como você e eu, Marina. — sua avó lhe
dissera quando ela tinha apenas dez anos. — Exceto talvez a rainha e o rei.
Não há muito uso para a habilidade de ver magia – exceto quando você precisa.
Guarde este pequeno segredo. Nunca se sabe quando pode ser útil —
acrescentou sua avó com uma piscadela.
Agora, ela observou os fios se estendendo em direção a Magna. A magia
era sutil, tecida nas palavras que a Rainha falava. Marina voltou sua atenção
para Magna novamente. Será que Magna era capaz de ver a magia? Como ela
reagiria aos seus pais?
A boca de Marina se abriu quando a essência negra ao redor de Magna
alcançou avidamente os fios ocultos de magia. A Rainha gritou de dor
enquanto as faixas devoravam os fios mágicos. Marina podia ver a névoa
malévola absorvendo avidamente a magia da Rainha – e ficando mais forte!
— Magna, não!— Kell gritou, dando um passo à frente e colocando-se
entre a Rainha e sua filha. —Deixe-nos ajudá-la. Por favor, eu imploro.
Entregue-se e nós a ajudaremos.
A expressão no rosto de Magna suavizou, seus lábios se separaram, e
por um momento Marina pensou que a Bruxa do Mar cederia. Mesmo a vários
metros de distância, Marina podia ver o conflito no rosto da outra mulher. A
indecisão não durou mais que um segundo antes que sua expressão
endurecesse.
— Cuidado! — Marina gritou, levantando a mão em advertência.
Ela viu a mudança na névoa. Horrorizada, ela assistiu impotente
enquanto dois tentáculos longos dispararam. As faixas envolveram Kell. A
mãe de Magna, Sabine, levantou suas mãos brilhantes enquanto seus lábios
se moviam, tecendo um feitiço mortal para parar o ataque de sua filha. Uma
onda de névoa varreu Sabine, endurecendo suas feições para pedra e
congelando o feitiço incompleto em seus lábios.
Magia diferente de tudo que Marina já tinha visto antes se ergueu ao
redor daqueles que estavam no pátio. Ao seu redor, as feições dos guardas da
rainha e dos poucos servos que haviam fugido para fora começaram a
congelar e endurecer. Mesmo a Rainha Magika não estava imune à névoa
horrível que transformava seu povo em pedra.
Marina varreu freneticamente o olhar pelo mar de rostos, procurando
por seu irmão. Ela precisava encontrá-lo. Certamente Isha podia sentir o
perigo para a Rainha e viria em seu auxílio, a menos que, ela pensou com um
pânico crescente, ele estivesse protegendo o Rei.
— Senhor Bow, preciso de flechas — ordenou Marina, erguendo o Arco
na mão e puxando a corda.
— Isha! — a Rainha gritou, lutando para evitar que a névoa negra a
envolvesse.
— Ele está perdido para você, minha rainha, assim como todos os que
resistem a mim estarão. — A Bruxa do Mar a informou, descendo lentamente
os degraus.
— Que magia é essa? — Magika exigiu, sua voz trêmula enquanto o
círculo ao seu redor ficava cada vez menor.
— Não é magia. É algo muito mais poderoso, mais mortal, mais
horripilante do que qualquer coisa que a magia possa criar. — respondeu
Magna em uma voz que mal se ouvia no vento.
Os dedos de Marina tremeram e ela baixou o arco em sua mão. Seus
olhos se arregalaram quando a dor e a tristeza a varreram. Atrás de Magna,
Marina viu um homem aparecer. Ele caminhou com movimentos rígidos e
bruscos. Seu rosto, brilhando com uma película de gelo na luz, estava
desprovido de qualquer emoção, como se seu corpo estivesse lá, mas isso era
tudo. Atrás do Rei, a estátua de pedra perfeitamente esculpida de seu irmão
Isha, sua espada mágica ainda firmemente em sua mão, flutuou passando
pelo rei em uma onda de névoa negra. Marina soltou um grito quebrado de
negação.
O grito angustiado da Rainha se misturou com o de Marina. A raiva
perfurou a bolha de horror que a cercava e sua mandíbula se apertou com
determinação. Levantando seu arco, ela não hesitou desta vez. Ela lançou a
flecha mágica. O fogo queimando em suas veias aumentou quando ela viu as
faixas pretas girando em torno de Magna subir para devorar sua flecha.
Os olhos de Marina se estreitaram, e ela sibilou em fúria. Alcançando
por cima do ombro, ela puxou uma flecha de sua aljava. Se a criatura se
alimentava de magia, ela veria como ela gostava de elementos não mágicos.
Ajeitando a flecha, ela puxou a corda do arco para trás e sussurrou para seu
arco.
— Que minha mira seja verdadeira, Sr. Bow. — ela murmurou.
Seus dedos se separaram, liberando a corda. A flecha voou pelo ar.
As faixas pretas alcançaram avidamente a haste de madeira, mas a
flecha se curvou, desviando dos tentáculos que tentavam detê-la. Magna
virou no último segundo, a ponta da flecha cortando um corte fino e profundo
ao longo do bíceps de seu braço esquerdo.
A Rainha Magika se virou e a viu.
— Marina, você tem que avisar o reino… — gritou Magika segundos
antes que a névoa escura a cobrisse e seu corpo ficasse rígido.
— Pare ela! — Magna rosnou, agarrando seu braço ferido com a outra
mão.
Marina deu vários passos para trás quando a massa escura começou a
tomar forma. Criaturas enormes cresceram e se solidificaram fora das faixas.
Seus olhos brilhavam em um vermelho assustador, enquanto presas pretas
longas e brilhantes se alongavam de suas mandíbulas superiores. As feras
negras tinham focinhos compridos com uma série de sulcos que paravam
entre os olhos. Espinhos rígidos se erguiam do topo de seus crânios e
percorriam o comprimento de suas costas até suas longas caudas em forma
de chicote. Suas quatro pernas, cada uma com patas enormes e garras
afiadas, cavavam nas áreas gramadas macias do jardim, que estava cheio dos
corpos petrificados dos soldados, servos e da Rainha.
Marina cambaleou de volta para a entrada do labirinto, tirando outra
flecha de sua aljava. Suas mãos permaneceram firmes, mesmo enquanto ela
respirava irregularmente. Estas não eram criaturas de nenhuma magia que
ela já tinha visto antes. Sua mente voltou ao que a Rainha disse a Magna.
'…isso é não deste mundo. Pense no estrago…’ Erguendo o queixo, ela puxou
a corda do arco para trás e respirou fundo quando a fera mais próxima rosnou
e deu um passo à frente.
— Vamos ver se você é real — disse ela.
Ela sussurrou um feitiço. Um filme azul escuro cobriu a ponta de sua
flecha.
Abrindo os dedos, ela soltou a corda quando a besta saltou para frente.
Marina não esperou para ver se a flecha fazia seu trabalho ou não. Ela
se virou e fugiu de volta para o labirinto.
Capítulo Um

Yachats, Oregon

— Mike! Você tem uma visita. — Patty chamou da área de recepção.


Mike fez uma careta e limpou a mancha úmida em sua camisa onde ele
derramou seu café. Seria um daqueles dias; ele podia sentir isso. Começou
com sua irmã, Ruth, ligando em uma hora imprópria para informá-lo de que
ela viria para uma visita. Ele podia agradecer seu aniversário por essa
maravilhosa ocasião.
— Só um minuto. — respondeu Mike, deixando cair a pasta de arquivo
em sua mesa.
Ele colocou a xícara de café que pegou na cafeteria da rua em um papel
toalha dobrado que mostrava a evidência de seu derramamento dos dias
anteriores. Inferno, quem ele estava enganando, a semana inteira tinha sido
um acidente após o outro. Com um aceno de cabeça, ele pegou um
guardanapo amassado do saco de bagels que tinha adicionado ao seu pedido
no último minuto.
— Eu trouxe para você um bagel Everything. — Mike resmungou, sem
olhar para cima quando ouviu os passos pararem do lado de fora da porta.
— Obrigado, mas eu já comi. — uma voz desconhecida respondeu.
— Oh, ei Mike, você se lembrou do cream cheese dessa vez?— Patty
perguntou, olhando ao redor do homem asiático esbelto que o observava com
uma expressão ligeiramente divertida.
— Sim, eu tenho extra. — respondeu Mike, distraidamente enxugando
a mancha molhada em sua camisa azul escura. — Posso ajudar?
Mike correu o olhar sobre o homem, rapidamente selecionando e
armazenando detalhes: início dos 30 anos, aproximadamente cinco pés e dez
polegadas, olhos castanhos, cicatriz fina perto de seu olho esquerdo. As
dobras pressionadas em suas calças sociais, os sapatos pretos polidos e o
corte preciso de seu cabelo indicavam que ele era militar ou ex-militar.
O olhar do homem estava absorvendo tudo sobre Mike e seu escritório,
e Mike imaginou que isso o tornava da Inteligência Militar.
— Sim — veio a resposta curta.
— Esqueci seu cappuccino, Patty. Por que você não vai buscá-lo. Eu
cubro os telefones — sugeriu Mike, estendendo o saco com os bagels.
— Tem certeza? — perguntou Patty, lançando brevemente um olhar
para o homem que havia se afastado para permitir que ela entrasse.
Os lábios de Mike se contraíram quando Patty piscou os olhos como se
tentasse transmitir uma mensagem secreta para ele.
— Tenho certeza. — respondeu em tom seco.
— Oh, tudo bem. Bem, eu ficarei apenas alguns minutos. Se precisar de
mim, é só chamar. — Patty disse, apertando a bolsa contra o peito e virando-
se para olhar para o convidado.
— O café é tipo, bem ao lado. As paredes são finas, muito finas, como
papel de seda fino, se você entende o que quero dizer.
— Patty, vá. — Mike ordenou exasperado.
— Nossa, já estou indo. — Patty murmurou.
Mike permaneceu de pé até ouvir a campainha da porta da frente tocar
antes de acenar com a mão para o assento à sua frente. Ele esperou que o
homem se sentasse antes de tomar o seu lugar. Juntando as fotografias que
haviam caído da pasta de arquivos que ele largou antes, ele as colocou de
volta e a colocou de lado antes de se recostar em sua cadeira.
— Agora, o que posso fazer por você, Sr...— Mike começou.
— Tanaka - Agente Asahi Tanaka, CIA.— respondeu Asahi, alcançando
o bolso interno do seu casaco e retirando sua identificação.
Mike se inclinou para frente e pegou a carteira de couro fina. Abrindo-
a, ele escaneou as credenciais antes de fechar a carteira e devolvê-la.
Asahi devolveu a carteira ao bolso.
— Então, o que traz a CIA para Yachats, Oregon? — perguntou Mike.
— O arquivo que você tem em sua mesa, detetive Hallbrook —
respondeu Asahi.
O olhar de Mike foi imediatamente para a pasta amassada e manchada
de café. Ele precisava substituí-la. Tinha carregado esta pasta por tanto
tempo que estava quase desgastada. Ele apertou os lábios e olhou para o
homem sentado à sua frente.
— O que o desaparecimento de duas mulheres tem a ver com a CIA? —
Mike perguntou, juntando as mãos e formando um campanário com os dois
dedos indicadores. — Eu poderia entender o FBI, mas a CIA? Isso é forçar, a
menos que você pense que Carly Tate e Jenny Ackerly eram espiãs
trabalhando para um governo estrangeiro.
O olhar de Asahi passou de Mike para o arquivo e voltou. Seus lábios se
contraíram por um momento antes de relaxar, e sua expressão tornou-se
ilegível. Mike não tinha dúvidas de que esse homem passava mais tempo no
campo do que empurrando papéis.
— Não posso explicar, mas sim, há um interesse em seu
desaparecimento — disse Asahi com uma leve inclinação de cabeça.
Mike se inclinou para frente, apoiando os braços na mesa. Uma
carranca vincou sua testa enquanto pensava no que as duas mulheres
poderiam ter feito para trazê-las à atenção da CIA. Tudo e todos com quem
ele falava o faziam pensar que Carly e Jenny eram apenas duas cidadãs
americanas comuns que por acaso se conheciam e estavam no mesmo lugar
quando desapareceram.
— Se você não pode me dizer, então por que está aqui? — Mike
perguntou sarcasticamente.
— Você está estudando este caso há algum tempo — disse Asahi.
—Desde que assumi aqui. — Mike respondeu com um aceno de cabeça.
— Você descobriu algo coisa... incomum sobre o desaparecimento delas?
— perguntou Asahi.
Mike não perdeu a forma como os olhos de Asahi se moveram para o
arquivo e vice-versa. O homem queria ver. Mike podia sentir isso em seus
ossos. Curioso, ele colocou a mão esquerda sobre o arquivo e empurrou para
o agente.
— Por que você não me diz? — sugeriu Mike.
Eles trocaram olhares por um breve momento antes de Asahi estender
a mão para pegar o arquivo. Mike segurou o arquivo por tempo suficiente
para Asahi saber que a informação não viria sem um preço. Houve um breve
lampejo de irritação nos olhos de Asahi.
— A informação é apenas necessária. — explicou Asahi em voz baixa.
Mike ergueu uma sobrancelha.
— Eu preciso saber. — ele respondeu com um sorriso irônico.
— Há quanto tempo você mora em Yachats, detetive Hallbrook? — Asahi
perguntou, puxando a pasta em sua direção e abrindo-a quando Mike a
soltou e se recostou na cadeira novamente.
— Há alguns anos — respondeu Mike. — Por quê?
— Você notou algo incomum durante o tempo em que morou aqui? —
Asahi perguntou, perguntou Asahi, folheando lentamente as anotações e
documentos que Mike havia coletado.
— Defina incomum. — Mike disse secamente. — Temos nossa cota de
indivíduos incomuns que vivem na área, mas ninguém que eu classificaria
como perigoso.
— Perigoso não é necessariamente o que estou procurando. —
respondeu Asahi, parando em um documento manuscrito comparando o
desaparecimento de Carly e Jenny.
— Posso ter uma cópia deste arquivo?
— O que diabos está acontecendo, agente Tanaka? — Mike exigiu.
Asahi olhou para Mike. Seu olhar era mortalmente sério. O estômago de
Mike se apertou quando o homem hesitou e fechou o arquivo.
— Aliens. — disse Asahi ao mesmo tempo que a porta da frente soou.
— Mike, estou de volta! Recebemos algum telefonema? Isso é estranho...
Oh, ele ainda está aqui. — Patty disse, parando na porta.
Mike se levantou ao mesmo tempo que Asahi. Eles se olharam por um
momento. Mike se perguntou se tinha entendido corretamente o que o homem
havia dito enquanto Asahi esperava pela resposta de Mike à sua solicitação
de cópias.
— Eu já estava de saída. — afirmou Asahi, estendendo o arquivo.
— Patty pode fazer uma cópia dos arquivos e enviá-los para você. —
disse Mike, perdido em pensamentos enquanto pegava o arquivo.
— Obrigado. Vou deixar minhas informações com ela. — respondeu
Asahi, contornando a cadeira.
Mike olhou para o arquivo em sua mão. Ele sentiu sua cabeça
começando a balançar em descrença. Ele olhou para cima quando Asahi
começou a atravessar a porta.
— Tanaka...— Mike chamou.
Asahi se virou e olhou para Mike. Ele estudou a expressão fechada do
outro homem.
— Sim.
— Você está falando sério? — perguntou Mike.
— Completamente. Tenha um bom dia, Detetive Hallbrook. Tenho
certeza de que nos encontraremos novamente. — disse Asahi antes de se virar
e sair.
Mike ficou parado em frente à sua mesa, seu olhar fixo cegamente na
porta vazia. Não foi até que ele percebeu o retorno de Patty que ele balançou
a cabeça e afundou novamente na cadeira. Ele olhou para cima quando ela
parou na frente da mesa.
— Você está me zoando? CIA? O que diabos está acontecendo? — Patty
exclamou.
Mike balançou a cabeça.
— Quando você descobrir, me avise. — ele retrucou ironicamente. —
Você pode…?
— Sim, ele me deu suas informações. — disse Patty, antecipando o que
ele estava prestes a pedir para ela fazer. Ela pegou o arquivo e balançou a
cabeça com admiração. — Quem teria pensado que haveria tanta emoção
nesta pequena cidade sonolenta!
Mike observou Patty virar-se e sair pela porta. Ele sabia que metade da
cidade saberia da visita do Agente Tanaka até o jantar. O resto saberia pela
manhã. Levantando-se da cadeira, Mike pegou seu café e contornou a mesa.
Era bom que ele não tivesse tirado sua jaqueta esta manhã.
— Patty, sairei um pouco. — ele gritou, indo para a porta dos fundos da
delegacia.
Empurrando a porta, ele saiu. A fina camada de neblina matinal havia
se estabelecido em uma cortina densa. Um sorriso sombrio ergueu o canto de
sua boca.
Sem pesca hoje; parecia um bom dia para visitar alguém que vivera aqui
a vida toda e conhecia as duas mulheres.
Virando à esquerda, Mike decidiu que seria mais seguro caminhar do
que dirigir. Também lhe daria tempo para absorver o que Tanaka havia dito.
O cara perguntou se ele havia notado algo incomum – além do
desaparecimento das duas mulheres.
— Apenas algum agente maluco da CIA que pensa que alienígenas ou
monstros podem realmente existir. — Mike murmurou, balançando a cabeça.
Mike parou na calçada do lado de fora dobar popular entre os
moradores. Estava localizado na entrada de uma das marinas preferidas
pelos pescadores da área. Velhas traineiras se alinhavam nas docas. Elas
eram um forte contraste com as embarcações de recreio mais novas e mais
caras localizadas na marina da cidade.

— Ross Galloway? — Mike perguntou a um velho saindo do bar.


— Lá dentro. — disse o homem.
— Não dirija. — Mike avisou quando sentiu o cheiro de cerveja no hálito
do velho.
— Não posso, o caminhão quebrou. — o homem murmurou.
Mike começou a resmungar. Ainda não eram nem dez horas da manhã.
A maldição em seus lábios morreu quando ele viu uma velha de casaco
vermelho virar a esquina. O velho se animou e cambaleou em direção a ela.
Ele escutou como a mulher amorosamente repreendeu o homem antes
de envolver o braço em volta da cintura dele. Mike observou os dois
desaparecerem na neblina.
Inspirando profundamente e soltando o ar, ele voltou sua atenção para
sua missão. Abriu a porta e entrou no interior quente do bar.
Mesmo que ainda fosse cedo, o lugar já tinha quase uma dúzia de
pessoas sentadas ao redor, conversando entre si, comendo ou jogando
sinuca. O cheiro de bacon fez seu estômago roncar, lembrando-o que ele havia
pegado seu café, mas Patty havia se apropriado do bagel extra que ele
comprara mais cedo.
Olhando ao redor do interior escuro, seu olhar parou em Ross Galloway
sentado em uma mesa perto dos fundos.
Mike atravessou a sala, acenando para aqueles que cumprimentavam.
Ross ergueu os olhos de onde estava sentado e fez uma careta quando
viu Mike vindo em sua direção. Ignorando a carranca, Mike puxou a cadeira
em frente a Ross e se sentou.
— Ei, Mike. O que você comerá? — Dorothy perguntou atrás do bar.
— Dois ovos fritos, bacon, batatas raladas e pão integral ... e um café.
— respondeu Mike antes de voltar sua atenção para Ross.
Ross pegou seu garfo e espetou os ovos mexidos em seu prato.
Ross tinha mais ou menos a mesma idade que Mike, com um corpo
atarracado e musculoso e cabelos escuros desgrenhados que eram tão
selvagens quanto a reputação de Ross. Mike recostou-se na cadeira quando
Dorothy trouxe seu café.
— Obrigado. — disse Mike com um sorriso agradecido.
— Sem problemas. Mais café, Ross? — Dorothy perguntou.
Ross resmungou e empurrou sua xícara para mais perto da garrafa de
café que Dorothy estava segurando. Ele murmurou um agradecimento
baixinho. Mike se inclinou para frente quando Dorothy se afastou. Ele
embalou sua xícara de café entre as mãos, olhando para o líquido marrom
escuro.
— Eu te disse, eu não fiz nada. — Ross finalmente disse.
— Eu sei. — respondeu Mike.
Ross levantou a cabeça e estudou o rosto de Mike por um momento
antes de voltar a comer seu café da manhã.
— Então, por que você está aqui? — ele perguntou em um tom brusco.
— Eu estava com fome. — respondeu Mike.
Ross olhou para Mike de um jeito que deixou claro que ele não
acreditava nele. A diversão tomou conta de Mike quando ele pensou em como
seria a expressão de Ross se ele perguntasse ao homem se ele já tinha visto
algum alienígena por perto. Por mais que quisesse descartar a visita de
Tanaka como uma piada ridícula, não podia. O homem tinha sido muito sério.
— Aqui está, mano. Você precisa de mais alguma coisa? — Dorothy
perguntou, colocando a comida de Mike na mesa à sua frente.
— Não, está bom. Obrigado, Dorothy. — respondeu Mike.
— Vou trazer mais café daqui a pouco. Você está bem, Ross? — Dorothy
perguntou.
—Estou bem. Obrigado, Dorothy. — disse Ross.
Mike esperou que Dorothy se afastasse antes de começar a comer. A
comida estava quente e o café forte. Mike não disse nada a princípio. Ele
muitas vezes descobriu que o silêncio poderia fazer duas coisas: dar a um
homem tempo para pensar ou permitir que o outro homem tempo para ficar
chateado. À medida que o silêncio crescia, Mike decidiu que Ross era um
pensador, o que o surpreendeu. Ele honestamente achava que o outro homem
era mais emocional e mais propenso a reagir do que pensar.
Dorothy veio e encheu os copos de ambos, e os dois homens terminaram
de comer antes que Mike falasse. Pegando sua xícara, ele a segurou entre as
mãos enquanto pensava em como deveria formular sua pergunta. Cada
pergunta que ele fazia soava ainda mais ridícula do que a anterior.
— Se você quer saber alguma coisa, apenas cuspa; isso geralmente
funciona. — sugeriu Ross.
Mike ergueu os olhos de seu café e viu Ross olhando para ele com uma
expressão cautelosa.
— Você já notou algo estranho por aqui? — ele perguntou.
Ross levantou uma sobrancelha e tinha uma expressão que perguntava
a Mike se ele estava brincando. Mike fez uma careta. Isso não era o que ele
planejava perguntar, ou pelo menos, não com essas palavras exatas.
— Bem, veremos. Duas mulheres desaparecem, ambas falaram comigo,
os policiais continuam farejando por aí - não, nada estranho. Por que você
pergunta? — Ross respondeu em um tom seco.
Mike colocou sua xícara de café na mesa antes de passar a mão pelo
rosto. Ele não podia culpar Ross por ser um pouco sarcástico. Inferno, ele
também estaria se estivesse na posição de Ross.
— Você morou aqui a vida toda, certo? — Mike retrucou, sentando-se
para frente e apoiando os cotovelos na mesa.
— E daí? — Ross respondeu.
Mike cerrou os dentes em frustração.
— Então, você já notou algo estranho - bizarro - possivelmente
extraterrestre, até. Quaisquer anomalias, criaturas ou coisas inexplicáveis —
ele falou.
A expressão de Ross mudou de desafiadora para confusa.
— Anomalias - tipo Pé Grande ou uma sereia? — ele perguntou com
uma expressão incrédula.
Uma carranca escureceu o rosto de Mike.
— Não, não estou falando de Pé Grande ou sereias. Bem, talvez. Você
viu alguma coisa que pode não ser normal? — ele pendeu a cabeça e
perguntou em voz baixa.
Ross assentiu e olhou ao redor antes de se inclinar para frente. Os dedos
de Mike apertaram sua xícara de café. Ele lançou um olhar rápido para ter
certeza de que eles não poderiam ser ouvidos antes de se aproximar de Ross.
— Eu ouvi sobre um detetive muito estranho que estava fazendo
perguntas idiotas sobre OVNIs .— Ross murmurou.
Mike deu um pulo quando Ross começou a rir. O lampejo de raiva se
transformou em uma risada de apreciação quando Ross lhe lançou um
sorriso bem-humorado.
Balançando a cabeça, ele levantou o café e o terminou.
— Vocês precisam de mais alguma coisa? — Dorothy perguntou, se
aproximando por trás de Mike.
— Não, diga a Dennis que a comida estava boa como sempre. — Ross
respondeu, tirando a carteira do bolso.
— Você só está dizendo isso para que ele não chute sua bunda daqui —
provocou Dorothy, pegando a nota de vinte que Ross estava segurando.
— Vou pagar minha conta também, Dorothy. — disse Mike.
— Você já descobriu o que aconteceu com aquelas duas mulheres
desaparecidas? Eu tenho que te dizer, me dá arrepios pensar que pode haver
um assassino à solta por aqui. — Dorothy comentou.
— Os casos ainda estão abertos. — disse Mike, pegando o dinheiro para
o café da manhã. — Pode ficar com o troco
— Um cliente do meu coração. — Dorothy respondeu alegremente com
um sorriso rápido para Ross.
Ross se levantou de sua cadeira e lançou um olhar de dor para Mike.
— Fazendo o pobre pescador parecer mal. — disse ele.
Dorothy balançou a cabeça.
— Eu vi seu barco, Ross. Eu quase me sinto culpada por pegar seu
dinheiro – quase. — ela riu enquanto se afastava.
— Sim, me fale sobre isso. — Ross murmurou. — Você tem mais alguma
coisa para me perguntar?
— Não, apenas... se você vir ou ouvir falar de algo incomum, por favor,
me avise. — disse Mike, levantando-se da cadeira.
— Se eu vir o Pé Grande, vou apontar para ele. Se eu ver uma sereia,
pode demorar um pouco para denunciá-la se ela for gostosa. — Ross riu.
— Vou anotar isso. — Mike respondeu secamente.
Mike seguiu Ross para fora do bar. A neblina da manhã havia se
dissipado e ele piscou enquanto seus olhos se ajustavam ao brilho repentino.
Ele observou Ross se virar e caminhar em direção às docas.
Respirando fundo, ele balançou a cabeça. Automaticamente, ele pegou
o celular quando sentiu a vibração em seu bolso traseiro e soltou um gemido
ao ler a mensagem que piscava na tela.
Feliz aniversário, irmãozinho. Estarei aí por volta das sete da noite.
Adoraria alguns de seus espaguetes caseiros, mas como é seu aniversário,
acho que terei que me contentar com meus famosos sanduíches de manteiga
de amendoim e geleia.
Te amo, Rute.
Ele rapidamente digitou uma resposta. A resposta imediata de corações
e rostos felizes encheu a tela. Ele amava sua irmã, mas ela tinha que ser a
pior cozinheira do mundo. Ele nunca teve coragem de dizer a ela que mesmo
seus sanduíches de manteiga de amendoim e geleia não eram tão bons assim.
Parecia que ele teria que fazer uma corrida até o supermercado a caminho de
casa esta tarde.
Ele estava prestes a enfiar o celular de volta no bolso quando ele vibrou
novamente. Desta vez era Patty. Houve um arrombamento relatado em uma
das residências perto da enseada. Seu plano de dar uma volta até o Yachats
State Park hoje teria que esperar mais um dia. Com um suspiro, Mike
começou a caminhar de volta pela calçada em direção à delegacia.
Capítulo Dois

Mais tarde naquela noite, Mike levantou a tampa da panela de molho de


espaguete fervendo, pegou a colher e mexeu. A massa estava pronta, as
saladas feitas e o pão de alho fatiado. Ele olhou para o relógio - seis e
cinquenta e oito. Ruth deveria chegar a qualquer momento.
Com certeza, o som de uma batida rápida na porta lhe disse que sua
irmã mais velha havia chegado para o fim de semana. Ele colocou a colher no
balcão ao lado do fogão e desligou o queimador. Puxando o pano de prato que
ele tinha enfiado no cós da calça jeans, ele o colocou no balcão também. Uma
carranca vincou sua testa quando ouviu Ruth bater novamente, desta vez
mais alto do que antes.
— A porta está destrancada. — ele chamou enquanto saía da cozinha e
atravessava a sala até a porta da frente. Ele agarrou a maçaneta, girou e abriu
a porta. — Desde quando você…
— Feliz aniversário, irmãozinho! — Ruth anunciou com um sorriso
enorme.
— Que porra é essa?! — Mike rosnou, levantando os braços
automaticamente quando Ruth levantou o embrulho balançando em seus
braços.
— Feliz aniversário! — Ruth sorriu, passando por ele. — Eu tenho a
cama e os brinquedos dele no fundo do meu carro. Você pode pegá-los
enquanto eu coloco a mesa. Oh Deus! Isso cheira tão bem. Estou morrendo
de fome.
—Não, não, não, não, n… — Mike estava dizendo antes de acabar com
a língua na boca.
—Você fez….? Sim! Seu molho ranch caseiro. Eu absolutamente adoro
você! — Ruth disse da cozinha.
Mike ficou parado tentando encarar sua irmã. Era difícil fazer isso
quando ele tinha que continuar movendo a cabeça para evitar que a língua
tentasse encontrar um caminho pela garganta. Colocando o filhote de Golden
Retriever debaixo do braço, ele estremeceu quando ele começou a mastigar
seu dedo.
— Rute! — Mike rosnou em frustração. — Por favor, me diga que você
não me comprou um cachorro.
Ruth espiou ao virar da esquina.
— Não, eu não comprei um cachorro para você. — disse ela com um
sorriso doce.
Sua resposta parou Mike em seu caminho. Ele olhou para o corpo
dourado. Um enorme laço azul escuro estava preso à coleira do filhote com
as palavras ‘Feliz aniversário, irmãozinho’ impresso nele. O cachorrinho olhou
para ele com olhos da cor de chocolate derretido, e ele podia sentir o rabo
batendo contra o seu lado.
— Então explique isso. — ele exigiu, distraidamente coçando o queixo
do filhote.
— Eu não o comprei. Ele foi dado a mim, e eu estou dando ele a você.
— Ruth afirmou com um sorriso sereno.
— Semântica. Eu não sou um dos seus documentos legais, droga! Você
sabe o que eu quis dizer. — Mike disse, entrando na cozinha.
— Onde estão os guardanapos? — Ruth perguntou, abrindo os armários
e espiando dentro.
— Use toalhas de papel, elas funcionam muito bem. — respondeu Mike
exasperado. — Eu não quero um cachorro.
Ruth fez uma pausa e olhou para ele. Mike podia sentir sua mandíbula
apertar e sabia que estava prestes a começar a ranger os dentes. Ela tinha
aquele olhar inocente em seu rosto - aquele que significava que ela estava se
preparando para matar
— Ele é meu presente para você. — disse ela em uma voz suave e calma.
— Eu sei... mas, ele…ele….é um cachorro! Pior, ele…ele…é um
cachorrinho! Você sabe o que os filhotes fazem? — Ele demandou.
— Sim, eu sei muito bem o que os filhotes fazem. Na verdade, se eu me
lembro corretamente, eles fazem a mesma coisa que os ratos. — Ruth
respondeu.
Mike se encolheu. Sim, ela estava indo para o golpe final. Um erro! Ele
cometeu um erro há quinze anos e agora estava voltando para mordê-lo na
bunda.
— Você tinha dezesseis anos. Achei que você gostaria deles. —
resmungou Mike.
— Você me deu ratos no meu aniversário de dezesseis anos. — ela o
lembrou. — Não um, mas dois - um menino e uma menina. Seja grato por
você ter apenas um cachorrinho, irmãozinho. Meu amigo tinha mais
quatorze.
— Deus, por que as mulheres têm memórias tão longas? — Mike gemeu,
virando-se e segurando o cachorrinho contra seu rosto.
— Você tem que admitir, os filhotes têm um hálito melhor e são
cheirosos. — Ruth riu.
— Ele cheira a bolo. — retrucou Mike.
— Sim, bem, há uma razão para isso. — Ruth riu.
Mike olhou para o cachorrinho que agora tentava se soltar de seus
braços.
— Pelo menos ela me deu um menino. — ele informou ao cachorrinho
antes de se curvar e colocá-lo no chão. — Isso significa que estamos quites,
certo?
Ruth fez uma pausa e olhou por cima do ombro.
— Ah, não. Não por um tempo longo. Você tem cerca de trinta e dois
revanches antes que eu desfaça esse pesadelo. — ela respondeu.
— Acho que deveríamos estar quites agora. — argumentou, pegando
uma tigela para o molho de espaguete. — Consegui dar doze filhotes de ratos
para amigos e deixar outros dez livres, e você me deu dois peixes no meu
aniversário de quinze anos depois que mamãe e papai nos deram uma lista
de animais de estimação não aceitáveis. Além disso, você sabe que esse
cachorro vai mastigar metade dos meus móveis novos, Deus sabe quantos
pares de sapatos, e deixar poças e cocô suficientes para fertilizar metade do
condado de Lincoln. Eu nem vou mencionar os perigos do tapete da minha
sala de estar até eu o ensinar a fazer as necessidades no lugar certo!
— O tapete é ruim para suas alergias e você estava planejando substituí-
lo de qualquer maneira. Ah, tudo bem. Vou pensar sobre isso. — Ruth
concedeu com um suspiro dramático.
— Eu não tenho nenhum problema com alergias. — Mike fez uma careta
antes de sua expressão mudar. — Eu fiz o molho ranch caseiro e molho extra
para você levar para casa. — acrescentou com um sorriso malicioso.
Ruth mordeu o lábio e contemplou o suborno por um momento.
— Bem, acho que isso vale alguns ratos. Ok, estamos quites. — ela
respondeu de má vontade.
— Obrigado por pequenos milagres! — Mike murmurou, virando-se para
entregar a tigela de molho a Ruth. — A propósito, obrigado por vir no meu
aniversário, mana.
— Nós prometemos que estaríamos lá um para o outro, não importa o
quão longe morássemos. — disse Ruth, olhando para ele.
Mike assentiu. Eles prometeram depois de perder os pais que não
esqueceriam o quanto a família era importante, especialmente porque agora
eram apenas os dois. Mike estremeceu e olhou para o cachorrinho atacando
seu pé coberto de meia.
E se há duas coisas pelas quais sua irmã é muito obstinada, são cumprir
promessas e nunca esquecer nada, ele pensou.
— Vou pegar o macarrão. — disse ele com uma voz rouca.
— E queijo. — Ruth o lembrou, virando-se para a mesa. — Aliás, a razão
pela qual o Charlie Brown aqui cheira a bolo é porque ele comeu o que eu
comprei para você no caminho até aqui
Mike parou com a mão na porta da geladeira e olhou para Ruth com
desânimo. Ele lançou um olhar para o cachorrinho que agora estava atacando
o cabo da vassoura encostado no canto da cozinha antes de olhar para Ruth.
— Por favor, me diga que você comprou uma gaiola para ele. — disse
ele.
Ruth balançou a cabeça.
— Claro que não! Você sabe como eu me sinto sobre enjaular animais.
— ela respondeu.
Excelente! Simplesmente ótimo! Ele pensou com um estremecimento
quando a vassoura caiu com um estrondo e assustou o cachorrinho, que
disparou em direção à sala.

Mais tarde naquela noite, Mike estava deitado na cama olhando para o
teto, distraidamente coçando atrás da orelha de Charlie. O filhote não
choramingou quando ele o colocou sobre a manta dobrada no chão ao lado
de sua cama. Não, a maldita coisa tinha olhado para ele com olhos enormes
e inexpressivos e uma expressão triste e perdida.

Ele tentou rolar de costas para o filhote, mas ele podia sentir os olhos
do cachorro abrindo um buraco entre suas omoplatas. Rolando, ele
finalmente desistiu e rosnou para o filhote se juntar a ele. É claro, levou mais
dez minutos depois disso para fazer Charlie parar de lamber ele e se acalmar.
Mike respirou fundo e o soltou. Ele estava cansado, mas sua mente
estava zumbindo com tudo o que ele e Ruth haviam conversado.
Principalmente, ele pensou em como os planos cuidadosamente traçados
para sua vida haviam mudado.
Fazia quase dois anos desde que ele desistiu de sua comissão na Força
Aérea. Ele havia planejado ficar e servir seus vinte anos antes de se aposentar
e viajar um pouco. Em algum momento, ele imaginou que se casaria se
conhecesse a mulher certa, mas não tinha pressa.
Com oito anos de serviço, ele estava quase a meio caminho de seu
objetivo. Tudo mudou na noite em que recebeu a ligação urgente de Ruth. O
pai deles, um coronel de carreira da Força Aérea, havia desmaiado. Família
precisava de família e quando seu pai foi diagnosticado com câncer cerebral
terminal, ele voltou para casa. O que nem ele nem Ruth esperavam era que
eles estariam sepultando seus pais com duas semanas de diferença, seu pai
do câncer e sua mãe de um derrame, menos de sete meses depois que Mike
tinha voltado para casa.
Mike sabia que Ruth se sentia culpada por ele ter deixado o serviço. A
questão era que ninguém sabia exatamente quanto tempo seu pai iria durar,
ou que sua mãe morreria tão cedo. No final das contas, a decisão foi sua, e
ele percebeu depois que tinha sido a certa. Ele estava tentando seguir os
passos de seu pai, mas, na realidade, ele se cansou dos limites das forças
armadas e estava pronto para uma mudança.
O cargo na Delegacia de Polícia de Yachats foi obtido através de um
amigo no funeral de sua mãe. Duas semanas depois, ele e Ruth terminaram
de empacotar todos os pertences de seus pais e colocaram a casa em
Sacramento, Califórnia, à venda. Depois, ele foi para o norte. Ele considerou
Yachats como um lugar onde ele poderia parar e pensar, uma escala para
onde ele iria em seguida. Com o desaparecimento de Carly Tate e depois
Jenny Ackerly, ele sabia que não iria a nenhum outro lugar, pelo menos não
até descobrir o que havia acontecido com elas. Ele nunca deixou nada
inacabado e tinha prometido a Jenny que traria Carly para casa. Agora, sentia
que devia isso a Jenny.
Rolando na cama, ele envolveu o braço em torno da bolinha de pelo
dourada que agora estava roncando. Uma risada escapou dele. Ele teria
preferido um corpo quente diferente na cama ao lado dele em seu aniversário,
mas, como segunda opção, era melhor do que um travesseiro frio, decidiu.
Coçando a barriga do filhote, ele soltou um enorme bocejo e sentiu a
última tensão deixar seu corpo.
— Boa noite, Charlie Brown. — ele sussurrou no escuro enquanto sua
mente finalmente se desligou o suficiente para que o sono o alcançasse.
Capítulo Três

Quatro meses depois:

— Agora não, Charlie. — resmungou Mike.


Pegando a bola que Charlie havia deixado cair sobre os documentos do
caso que estava revisando, Mike a jogou do outro lado da sala. Ele ignorou o
latido feliz de Charlie e o som das unhas do cachorro contra o piso de
cerâmica recém-instalado.
Inclinando-se para a frente, virou o papel que acabara de reler pela
centésima vez e começou a ler a próxima página.
— Vamos, fale comigo. Onde está você? O que aconteceu com você? —
ele disse com frustração.
Ele virou outra página. Ele sabia que era estúpido falar com algumas
fotos, mas ele não se importava. Não era como se alguém pudesse ouvi-lo,
exceto Charlie. Ele se recostou no sofá e passou a mão cansada pelo cabelo.
Ele estava olhando para o maldito arquivo há mais de duas horas.
Ele queria culpar a ligação do agente Tanaka no final da tarde de ontem.
Ele havia guardado o arquivo do caso nos últimos meses. Agora, estava
de volta à gaveta de arquivos e o incomodando novamente. Tanaka disse que
estava apenas verificando se Mike havia descoberto algo novo.
— Não, eu não descobri nenhuma evidência de alienígenas, sereias, Pé
Grande ou residência de verão do Papai Noel. — ele grunhiu ao telefone.
Tanaka não achou graça. O silêncio seguido de um rígido obrigado tinha
arrancado outro gemido de Mike. Ontem havia sido um dia muito difícil. Dois
adolescentes tinham roubado um dos iates para dar um passeio de alegria,
houve um acidente na mercearia e Charlie regou novamente a falsa árvore de
samambaia de Patty na recepção novamente.
Ele passou quase uma hora lavando-a e esperava que secasse antes de
segunda-feira, para que Patty não notasse nada de errado com sua tão amada
decoração de cinco dólares comprada em um bazar. A vida era mais fácil
quando Patty estava no escritório, pelo menos ela poderia ajudar a manter
Charlie entretido e longe de travessuras por mais de cinco minutos. Decidindo
que já havia suportado o suficiente para o dia, ele pegou Charlie e foi para
casa.
— Droga, Charlie! Eu disse… — Mike começou a dizer antes de fechar a
boca.
Charlie trotou de volta e deixou cair a bola roxa e barulhenta nos papéis
espalhados pela mesa de centro. O filhote ganiu e colocou o queixo no joelho
de Mike. Ele riu do olhar lamentável. Estendendo a mão, ele coçou atrás da
orelha de Charlie, ganhando um rabo abanando.
— Acho que você está tão cansado de ficar preso quanto eu. Que tal
combinarmos trabalho e diversão, rapaz? Poderíamos sair para correr e fazer
um pequeno trabalho de campo. — sugeriu Mike.
Mike caiu de costas contra o encosto do sofá quando Charlie concordou
com entusiasmo. Duas patas grandes e uma língua comprida disseram a
Mike que era melhor se apressar se quisesse evitar que os papéis fossem
espalhados pelo chão da sala depois que o rabo peludo de Charlie eliminou a
maioria deles no primeiro golpe.
Empurrando Charlie de seu colo, Mike se levantou e começou a recolher
todos os papéis. Ele pegou uma das fotos caídas debaixo da mesa de centro.
Em pé, estudou a fotografia. Os rostos sorridentes de Carly Tate e Jenny
Ackerly olharam para ele. Uma estranha sensação de calma o invadiu.
Era quase como se as duas mulheres lhe dissessem que tudo ficaria
bem.
Ele balançou a cabeça com o pensamento louco de que as mulheres
estavam tentando falar com ele. Ele estava perdendo a cabeça. Olhando para
Charlie, Mike decidiu que precisava de ar fresco tanto quanto o cachorro! Ele
se inclinou e empilhou o resto dos papéis e fotos juntos e fechou o arquivo.
Ele olhou para o calendário pendurado na parede. Hoje marcava o
aniversário de um ano do desaparecimento de Jenny. Balançando a cabeça,
ele deslizou o arquivo em um grande envelope. Ele sempre poderia levá-lo com
ele e examiná-lo no local onde os carros das duas mulheres foram
encontrados. Talvez um pouco de ar fresco, um pouco de exercício e estar em
cena fizessem algo funcionar. Não era como se ele tivesse algo mais urgente
para fazer. Ele teve o fim de semana inteiro de folga.
Inferno, se nada mais, ele pensou, vendo Charlie pulando para cima e
para baixo do sofá em emoção, eu posso tentar cansar Charlie um pouco para
que eu possa trabalhar.
Agarrando sua jaqueta e a coleira de Charlie do cabide perto da porta
da frente, ele abriu a porta. Charlie passou por ele, fazendo sons rosnados
curtos e felizes. Mike teve que se esquivar da cauda letal antes que pudesse
fechar e trancar a porta atrás de si.
— Vamos, garoto. — disse Mike, sorrindo quando Charlie pulou os
degraus da frente e correu ao redor da caminhonete uma vez antes de parar
na porta do motorista.
Mike abriu a porta e esperou Charlie entrar antes de entrar atrás do
cachorro. Colocando a chave na ignição, ele apertou o botão para abaixar a
janela do passageiro até a metade. Charlie deixou cair sua bola barulhenta
no assento e enfiou a cabeça para fora da janela.
— Cuidado com o rabo, garoto. — Mike resmungou, empurrando o
traseiro de Charlie para fazê-lo sentar. — Isso é muito melhor.
Saindo da garagem, Mike voltou seus pensamentos para a informação
que estava lendo antes de partirem. Novamente, ele repassou o que sabia
sobre as duas mulheres desaparecidas. Elas eram melhores amigas desde o
jardim de infância e se tornaram colegas de quarto depois de se formarem no
ensino médio. Carly trabalhava no banco local enquanto Jenny era professora
na escola primária. A maior coincidência entre as duas foi quando e onde elas
desapareceram, com dois anos de diferença.
Mike não pôde deixar de se perguntar se alguém estava perseguindo as
duas mulheres. Ele investigou para ver se havia algum andarilho ou residente
que pudesse se encaixar no padrão ou parecer suspeito, mas não havia nada.
Inferno, até mesmo Ross saiu limpo, o que surpreendeu Mike.
Entrando na longa entrada do Yachats State Park, Mike diminuiu a
velocidade no portão. Ele estacionou a caminhonete e tirou a carteira do bolso
da frente.
—Ei, Mike. Como você está hoje? — o guarda disse depois de abrir a
janela.
— Bem, e você, Marty? — respondeu Mike.
— Nada mal, você está aqui a negócios ou é pessoal? — Marty
perguntou, olhando para o Passe Anual do Parque Estadual de Mike.
— Os dois. — Mike respondeu, pegando seu cartão de volta quando
Marty o estendeu para ele.
— Se você precisar de alguma coisa, é só ligar. — disse Marty.
Mike assentiu, então fez uma pausa.
— Você está aqui há um tempo, não é, Marty? — ele perguntou, olhando
para o outro homem.
— Cerca de seis ou sete anos agora — Marty respondeu, apoiando-se
no parapeito da janela.
— Você já viu ou ouviu algo incomum? — perguntou Mike.
Marty deu de ombros.
— Sempre há algo incomum quando você está na floresta. Você pode ser
mais específico? — perguntou com uma expressão confusa.
—Não sei, estranho, inexplicável. — disse Mike.
— Como estranho tipo Pé Grande? — perguntou Marty.
Mike balançou a cabeça.
— O que há com as pessoas e o Pé Grande? — ele zombou com um
suspiro profundo. — Ok, sim, como o Pé Grande.
Marty pareceu pensativo por um momento antes de balançar a cabeça.
— Não. Eu vi luzes dançantes estranhas. Achei que poderia ser algum
tipo de bola de gás metano. Já vi isso antes, nos pântanos, quando trabalhava
no Parque Estadual da Louisiana. Ouvi alguns barulhos estranhos, senti um
ou dois pequenos tremores e as luzes, mas nada como o Pé Grande. Eu
adoraria tirar uma foto dele…
Mike percebeu que a conversa estava se encaminhando para um rumo
estranho junto com as bolas de gás flutuantes, quando Marty começou a
relatar todas as coisas estranhas que ele havia visto.
Felizmente, Charlie decidiu que já tinham parado por tempo suficiente
e começou a choramingar. Mike passou a mão pela cabeça do cachorro
quando Charlie se virou e deu uma lambida nele.
— Obrigado, Marty. Vejo você mais tarde. — Mike disse, cortando o
outro homem.
— Vejo você depois, Mike. Tchau, Charlie. — Marty disse com um aceno.
Charlie latiu no ouvido de Mike. Mike engatou a marcha e soltou o freio.
Puxando para frente, ele acelerou assim que eles passaram pela lombada.
Charlie, feliz por eles estarem se movendo novamente, retomou sua posição
de copiloto. Mike riu com o puro prazer que Charlie estava tendo por pendurar
a cabeça para fora da janela, suas orelhas batendo na brisa, e seu nariz indo
a um milhão de quilômetros por hora.
— Deixe-me saber se você sentir o cheiro do Pé Grande, ok, garoto?—
instruiu Mike.

Dez minutos depois, Mike estava estacionado no estacionamento onde


os carros de Carly e Jenny tinham sido encontrados. Através do para-brisa
de sua caminhonete, ele olhou para a floresta à sua frente. As nuvens vinham
do oceano, tornando outro dia sombrio e nublado, o que era típico do clima
da região. O estacionamento estava vazio, deixando Mike resumir que outros
possíveis visitantes haviam consultado a previsão do tempo antes de decidir
se aventurar. Desligando o motor, ele ficou sentado em seu carro por vários
minutos olhando para a espessa linha de árvores à sua frente.

— Às vezes eu acho que preciso examinar minha cabeça. — ele


murmurou baixinho, mesmo enquanto pegava a jaqueta marrom escura
debaixo de Charlie no assento ao lado dele. Mike sorriu quando um nariz frio
empurrou sua mão. — Eu sei, eu sei. A natureza chama e há apenas um
milhão de árvores para marcar. — disse ele, levantando a mão para coçar
Charlie, que decidiu se deitar ao mesmo tempo em que tentava pegar sua
jaqueta. — Eu prometi a você uma corrida hoje, não importa o quê, então não
desista de mim agora que estamos aqui. Vamos lá.
Mike abriu a porta e deslizou para fora da caminhonete. Charlie
imediatamente se levantou, seu corpo dourado escuro tremendo de excitação.
Mike parou na frente da porta, bloqueando a abertura enquanto vestia a
jaqueta. Alcançando entre Charlie e a parte de trás do assento, Mike agarrou
a coleira retrátil.
Ele fez uma careta quando Charlie passou a língua pela bochecha.
— Obrigado, cara. — Mike murmurou enquanto prendia a coleira na
coleira de Charlie.
Ele esfregou a bochecha contra o tecido macio que revestia a gola de sua
jaqueta.
— Vamos, garoto. Vou soltá-lo assim que chegarmos à praia.
Ele deu um passo para trás para que Charlie pudesse pular e então
fechou a porta. Apertando a fechadura, ele se virou e desceu a trilha com
Charlie trotando entusiasticamente ao seu lado. Ele usou sua mão livre para
levantar a gola da jaqueta quando começou a chover pesado e uma rajada de
vento enviou um fio de água fria por seu pescoço. Mike balançou a cabeça
quando Charlie apenas olhou para cima com a língua de fora e abanou o
rabo.
—Não olhe para mim.— Mike riu baixinho. — Você pode agradecer à
Mãe Natureza. Ela deve saber o quanto você ama a água.
Mike enfiou a mão esquerda no bolso da jaqueta de couro e se
concentrou no caminho à sua frente. Caminhando ao longo da trilha, sua
mente vagava enquanto eles paravam em todas as outras árvores para que
Charlie pudesse cheirar ou deixar sua marca.
Depois da quinta árvore, Mike decidiu que eles nunca chegariam à praia
no ritmo que estavam indo.
Mike suspirou enquanto o navio navegava pela trilha irregular. Seus
pensamentos voltaram para sua conversa com Ruth alguns meses antes. Ele
havia encorajado Ruth a nunca desistir de encontrar alguém. Ele sabia que
sua irmã estava com medo de se envolver novamente depois que seu
casamento acabou. Mike não sabia muito sobre Howard, mas, pelo pouco que
sabia, tinha que admitir que estava surpreso por Ruth ter visto algo no cara.
Ruth tinha uma personalidade poderosa. Ela era direta como seu pai e
teimosa como sua mãe. Quando você junta essas duas características e
mistura um QI alto e um senso de humor espertinho, fica difícil encontrar
alguém que possa acompanhá-la sem se sentir intimidado.
Claro, ela havia apontado que pelo menos ela tentou encontrar alguém.
Isso o calou. Agora, eram apenas Ruth e ele... e Charlie. Seu olhar se
voltou para o cachorro. Charlie tinha parado para cheirar a base de outro
enorme Abeto de Douglas que crescia ao longo do caminho.
— Ok, seis vezes. Esse é o limite. — Mike disse ao filhote com um aceno
de cabeça. — Onde diabos você armazena tanto xixi está além de mim. —
Charlie olhou para ele com um sorriso feliz depois de se certificar de que a
árvore estava devidamente regada. — Não sei por que pensei que poderia
descobrir alguma coisa com você aqui, exceto talvez quantos galões de xixi
um cachorro pode segurar na bexiga.
— Woof — Charlie respondeu antes de puxar a coleira.
—Ok, ok — Mike riu. — Vamos descer para a praia. Talvez perseguir
alguns gravetos faça você se sentir melhor. Juro que é oficial - eu fiquei
maluco. Agora estou falando com o cachorro, e ele me responde. O que vem
a seguir, uma bruxa da floresta ou uma sereia para tentar meu coração?
Um arrepio percorreu sua espinha quando Charlie gemeu. Dando de
ombros, Mike empurrou seu desconforto para longe quando uma súbita
explosão de energia inundou seu corpo. Um sorriso curvou seus lábios
quando ele se abaixou e soltou a coleira.
— Eu vou correr com você— disse ele, embolsando a coleira e descendo
a trilha torta e irregular em uma corrida fácil. — O primeiro na praia tem que
lavar a louça hoje à noite.
Uma risada rouca escapou dele quando Charlie disparou na frente dele.
Inalando profundamente, Mike respirou o ar frio e úmido. Encheu seus
pulmões, energizando-o. Pela primeira vez em mais de um ano, ele sentiu que
sua vida estava começando a fazer sentido novamente.
Espero que seja mais do que limpar os pratos depois que o Charlie os
lamber, ele pensou quando eles atravessaram a abertura nas árvores e
chegaram à costa rochosa.
Dez minutos e 800 metros depois, Mike desacelerou para uma
caminhada. Charlie corria em círculos ao redor dele, um grande pedaço de
madeira na boca. Mike riu das travessuras do cachorro. Era bom sair e correr,
mesmo que fosse apenas uma curta distância.

Respirando profundamente, Mike apreciou a mistura de ar frio e sal.


Típico do clima ao longo da costa, o sol agora brilhava. O ditado apenas espere
cinco minutos e o tempo mudará nunca foi mais verdadeiro do que ao longo da
costa do noroeste do Pacífico.
Mike se inclinou e pegou o graveto das mandíbulas de Charlie. O filhote
imediatamente o soltou e dançou vários passos para trás em antecipação.
Puxando o braço para trás, ele jogou o pedaço de madeira. Charlie foi atrás
dele como uma bala. Um segundo depois, a risada nos lábios de Mike se
transformou em um palavrão murmurado. O latido assustado de Charlie e
seu recuo rápido para se encolher atrás de Mike provaram a ele que não
estava alucinando.
— Que diabos? — Mike disse baixinho.
Na frente dele, onde a praia costumava estar, mudou para um
redemoinho giratório de cores. O choque mudou para uma expressão de
concentração quando o centro do redemoinho começou a ficar claro. O
rosnado profundo de Charlie deu o aviso menos de um segundo depois que o
cabelo na nuca de Mike literalmente se arrepiou da carga elétrica no ar.
Os sinos de alerta internos de Mike começaram a clamar, e ele não pôde
deixar de reconhecer brevemente que a teoria alienígena de Tanaka poderia
ter algum mérito afinal! Com o pensamento, ele instintivamente alcançou a
pistola em seu coldre de quadril. Ele abriu o fecho e rapidamente sacou a
pistola, segurando-a firme com as duas mãos enquanto dava um passo para
mais perto da anomalia. Seus olhos se arregalaram quando viu uma mulher
se contorcendo e caindo no chão. Seu braço se ergueu em um movimento
defensivo. Demorou menos de um segundo para entender por que quando
uma enorme criatura negra com três pernas saltou para atacá-la.
O familiar coice de sua arma disparando reverberou através dele. Ele
apontou para o centro da testa da criatura antes de abaixar a arma para
mirar em seu peito largo. Com cada tiro, ele dava um passo determinado para
mais perto em um esforço para alcançar a mulher e levá-la a um lugar seguro.
O corpo negro se chocou contra a rocha e areia da praia com força
suficiente para que Mike pudesse sentir o chão tremer com o impacto. O corpo
derrapou vários metros antes de parar perto da mulher. A cabeça da mulher
levantou, e ela olhou em choque para a criatura morta.
Mike soltou uma maldição abafada quando Charlie passou por ele em
direção à mulher.
— Charlie, senta! Droga, cachorro. Volte, quer voltar aqui?— ele
ordenou em uma voz afiada.
Ele se aproximou e olhou brevemente para a mulher antes de seu olhar
se mover para escanear a área no caso de haver mais alguma coisa esperando
para atacar. Uma vez que ele estava bastante confiante de que não havia
mais, ele voltou seu olhar para a coisa que ele tinha acabado de atirar.
Inferno, nem parecia que era da Terra!
Abalado, ele olhou para a mulher de cabelos cor de mogno olhando para
ele em choque. Ele não sabia muito sobre a vida selvagem, mas uma coisa ele
sabia – a coisa que ele tinha acabado de matar parecia algo saído de um filme
de ficção científica ou terror.
E a mulher também, pensou ele.
Capítulo Quatro

Uma hora antes, na Ilha da Magia:

Respirando fundo, Marina observou um dos guardas da Bruxa do Mar


desmontar. Ele se agachou, tocando o chão antes de olhar para cima e rosnar.
Seus dentes afiados se juntaram em uma sequência selvagem de palavras
retorcidas que eram difíceis de entender, mas a mensagem era clara. Ela, seu
irmão e sua irmã foram encontrados.
Marina se levantou e puxou a corda do arco. Uma flecha, brilhando com
energia mágica apareceu. Ela soltou a flecha assim que o ogro se levantou. A
flecha perfurou seu peito, desaparecendo completamente dentro dele. Sem
esperar que seu corpo caísse, ela lançou uma segunda flecha em direção ao
outro guarda e uma terceira, quarta e quinta no Cão do Inferno que estava
ao lado do primeiro guarda.
Os corpos brilharam por um momento enquanto a poderosa magia
embutida nas flechas era descarregada. A explosão ardente de energia criou
rachaduras de linhas vermelhas irregulares ao longo de sua pele antes que
seus corpos se transformassem em cinzas. Todas as evidências de sua
presença desapareceram quando a brisa do final da tarde pegou os flocos que
se desfaziam e os levou embora.
Marina se manteve firme enquanto os Cão do Inferno restantes giravam,
observando as cinzas flutuantes. Ela lançou suas flechas tão rápido quanto
pôde puxar a corda do arco. O medo tomou conta dela. Levou mais três
flechas para matar o segundo Cão do Inferno antes que ela pudesse voltar
sua atenção para o terceiro.
Nesse momento, ele já havia se aproximado de sua posição.
A adrenalina a atravessou quando ela o viu saltar sobre as rochas
abaixo dela. Ela atirou uma flecha no ombro direito da fera, então se virou e
rapidamente passou por cima das grandes pedras para levá-la para longe do
esconderijo de seu irmão e irmã.
Pulando para baixo, Marina dobrou os joelhos quando aterrissou na
rocha irregular abaixo dela e rapidamente deslizou, caindo os últimos dois
metros no chão. Seus pés cravaram no chão, e ela caiu para frente em um
rolo antes de voltar a ficar de pé.
Ela olhou por cima do ombro quando ouviu o rosnado vicioso do Cão do
Inferno, observando enquanto ele girava em uma tentativa de segui-la. Sua
perna dianteira direita havia se dissolvido abaixo do ombro onde ela o havia
atirado. Rolou a pedra, batendo no chão com um baque forte.
Uma onda renovada de adrenalina a inundou quando ela decolou pela
floresta e desceu o caminho. O terreno irregular se dividiu, uma seção levando
de volta à sua aldeia, a outra aos mares turbulentos que cercavam a Ilha da
Magia. Não querendo pôr em perigo os aldeões mais do que já tinha feito,
Marina virou-se para o caminho mais escuro.
Seu coração batia forte quando ela pulou sobre um tronco caído. Ela se
virou quando aterrissou, tropeçando para trás, e disparou outra flecha
encantada. O Cão do Inferno desviou, colidindo com uma árvore enorme
enquanto evitava o poço em chamas.
Marina girou nos calcanhares quando perdeu o equilíbrio novamente.
Mesmo com três pernas, a fera podia correr mais rápido do que ela quando
estivessem em terreno aberto. Ela devia chegar à praia onde ela poderia ter
um tiro certeiro. Um galho baixo na frente dela levantou apenas o suficiente
para impedi-la de rastejar para passar por baixo dele. A besta estava a poucos
segundos atrás dela. Ela podia ouvir o som de madeira se estilhaçando, e o
gemido da árvore quando o Cão do Inferno quebrou o tronco como se fosse
um galho.
— Por favor, que minha mira seja certeira, Sr. Bow — ela sussurrou
enquanto corria.
Protegendo o rosto com o braço, ela empurrou o último véu de
trepadeiras emaranhadas que cobriam a entrada da praia rochosa. Correndo
pela areia e rocha, ela percorreu quase vinte metros quando as pedras soltas
sob seus pés se moveram, desequilibrando-a quando ela tentou olhar para
trás.
Um grito agudo escapou dela quando seu tornozelo torceu nas pedras
soltas e ela caiu com força. Seu olhar voou para onde seu arco pousou a
vários metros de onde ela estava esparramada no chão irregular. Ela se
apoiou no cotovelo, mordendo o lábio quando a dor irradiou de seu tornozelo.
O rosnado alto do Cão do Inferno quando ele irrompeu pela abertura na praia
enviou uma flecha de medo através dela, e ela se torceu até estar de frente
para ele.
Ela observou enquanto escaneava lentamente a praia e bloqueava sua
localização.
Levantando a mão, ela sussurrou um feitiço, pedindo que seu arco
viesse até ela.
Seus olhos se arregalaram, e ela se encolheu quando a besta soltou um
rugido alto enquanto se preparava para atacar. Ela procurou freneticamente
por seu arco quando não o sentiu em sua mão.
O medo a encheu quando ela percebeu que o feitiço que ela havia tecido
abriu um portal atrás dela. Em sua pressa, ela havia pronunciado as palavras
erradas. Esse erro seria a morte dela. Ela chorou em negação quando a besta
saltou em sua direção. Caindo para trás, ela assistiu como se em câmera
lenta o corpo do Cão do Inferno saindo do chão.
Virando a cabeça, ela ficou tensa se preparando para o impacto. Ela não
viu o Cão do Inferno quando ele se sacudiu e caiu para o lado, mas ela ouviu
várias explosões altas encherem o ar. Abrindo lentamente os olhos, ela olhou
em choque para a criatura morta.
Sua respiração soluçou enquanto ela estava torta para o lado. A poucos
centímetros de onde ela estava, os olhos vazios do Cão do Inferno a
encaravam. Ela estremeceu e gritou quando uma coisa fria e úmida
pressionou a pele aquecida de seu pescoço.
Virando a cabeça, ela foi recompensada com uma língua quente em sua
bochecha.
— Charlie, senta! — uma voz profunda ordenou atrás dela. —Droga,
cachorro. Você quer voltar aqui?
Marina se virou, os olhos arregalados de incredulidade quando o rosto
de um homem estranho apareceu de repente. Suas mãos estavam levantadas
enquanto ele cautelosamente andava em direção a ela. No início, ela pensou
que ele estava olhando para ela, mas ela rapidamente percebeu que seus
olhos estavam no Cão do Inferno deitado ao lado dela.
Ela deu um grito quando a criatura de cabelos dourados subitamente
bloqueou sua visão.
Ele gemeu e se deitou ao lado dela, descansando a cabeça em seu peito.
— Oh! EU… bom... animal. — ela gaguejou quando ele levantou a cabeça
e de repente lambeu seu queixo.
Marina voltou sua atenção nervosamente para o homem. Ele olhou para
ela antes de seus olhos piscarem para o Cão do Inferno novamente. Ele se
virou em um círculo lento, estudando a longa praia com uma carranca
confusa no rosto. Ele ficou em silêncio por vários longos segundos, como se
estivesse processando o que acabou de acontecer.
Marina não se importou; sua confusão deu a ela a chance de recuperar
o fôlego e estudar o homem que salvou sua vida.
Ela correu seu olhar sobre seu rosto áspero. Seus olhos eram de um
azul claro, assim como o céu em um dia sem nuvens, e eram emoldurados
por cílios pretos. Seu rosto era magro e bronzeado. Ele estava vestindo um
suéter preto que cobria a firme coluna de sua garganta. A jaqueta de couro
marrom escuro estava aberta na frente, e suas mãos fortes estavam em volta
de uma arma de metal escuro de algum tipo. Ela engoliu em seco quando
moveu seu olhar para baixo para sua barriga lisa e quadris magros envoltos
em material azul escuro.
— O que diabos era aquela coisa? — ele exigiu antes de franzir a testa
para a besta de cabelos dourados lambendo sua mão. — Charlie, venha aqui.
Os lábios de Marina se contraíram em diversão inesperada quando a
criatura chamada Charlie levantou a cabeça e abanou o rabo, mas não se
moveu do lado dela.
Sentando com cuidado, Marina levantou a mão para empurrar para trás
as mechas de seu cabelo escuro de mogno. Ele se soltou da trança durante
sua corrida. Ela fez uma careta quando uma língua longa e molhada roçou
seu queixo, mas ela não empurrou a besta para longe dela. Em vez disso,
seus dedos instintivamente se enfiaram nos pelos longos.
— É um Cão do Inferno. Uma das criações da Bruxa do Mar —
respondeu Marina, apontando para a besta.
— Ouça, você está bem? Eu vi você cair, então aquela coisa pulou e…
— ele perguntou em uma voz profunda, seu olhar se movendo do rosto dela
para o Cão do Inferno e de volta.
—Sim. Obrigada por salvar minha vida. — Marina respondeu,
acariciando a fera de cabelos dourados. — De onde você veio, e que magia
você usou para matá-lo? Os outros precisaram de três das minhas flechas e
um dos meus feitiços mais poderosos para fazer essa tarefa.
— Eu... flechas? Feitiços? — o homem fez uma pausa e balançou a
cabeça em confusão. — Onde diabos eu estou?
Marina inclinou a cabeça para o lado enquanto olhava para ele com uma
súbita sensação de pavor. Algo lhe dizia que o feitiço que ela lançou fez mais
do que abrir um portal, permitiu que algo ou, neste caso, alguém que não
pertencia ao seu mundo entrasse. Ela nunca havia aberto um portal antes -
na verdade, as únicas pessoas que ela conhecia que poderiam ser poderosas
o suficiente para abrir um eram a Rainha e o Rei.
Ela não entendia como poderia ter aberto um portal multidimensional.
Ela rapidamente descartou essa ideia. Embora não houvesse como negar que
um feitiço mais poderoso do que qualquer outro que ela já havia criado antes
havia ocorrido, isso não significava que este homem veio de outro mundo. Ele
provavelmente era de um dos outros reinos.
Qualquer que fosse a causa, Marina estava grata por sua ajuda. Não
havia como negar que ele havia salvado sua vida. Um breve pensamento
passou por sua mente de que talvez esse homem fosse aquele sobre o qual
sua mãe havia falado. Marina olhou para o homem novamente e descartou
essa ideia também. Ela não podia ver nenhuma magia ao redor dele. Mesmo
a arma em sua mão não mostrava uma aura mágica.
Inclinando a cabeça, ela se concentrou na dor em seu tornozelo. Seu
tornozelo direito latejava. Não estava quebrado, mas definitivamente estava
muito torcido. Ela se inclinou para frente, espalhando as mãos acima do
tornozelo. Proferindo suavemente um feitiço simples, ela sentiu o calor
começar a se espalhar pelo tecido danificado. Sua magia de cura não era tão
forte quanto a de sua mãe e irmã, mas teria que servir se ela quisesse voltar
para onde havia deixado seu irmão e irmã antes que a escuridão caísse.
Ela teria que ser cuidadosa. Seu tornozelo ainda estaria fraco e sensível.
Ela não podia se dar ao luxo de torcê-lo novamente ou encontrar mais
guardas de Magna.
Ela suspirou de alívio quando a dor começou a desaparecer.
— Você está na Ilha da Magia.— Marina afirmou, testando seu tornozelo
antes de empurrar Charlie lentamente para trás para que ela pudesse se
levantar. — De qual ilha você é?
Marina soube imediatamente pela expressão vazia no rosto do homem
que algo estava muito errado. Seu olhar correu sobre ele mais uma vez antes
de se mover para a besta olhando para ela com olhos castanhos quentes. A
sensação de incerteza voltou com força total. Ela olhou de volta para o homem
e mordeu o lábio.
— Você não é de nenhuma das Ilhas, é? — ela perguntou com uma voz
suave e hesitante enquanto estudava a mistura de emoções que atravessavam
o rosto dele.
O homem balançou a cabeça em um movimento lento e medido. Ele
retornou seu olhar atento antes de olhar para a praia. Seus olhos pararam
no Cão do Inferno. Ela o viu engolir e baixar a arma em suas mãos. Ele
cuidadosamente o colocou de volta em um coldre preto em sua cintura antes
de estalar os dedos. Charlie imediatamente foi para o lado dele e ganiu. Ela
sentiu seu olhar correr sobre ela novamente e soube que ele não tinha perdido
nada quando olhou de volta para seus olhos roxos escuros.
—Eu acho que você precisa começar a falar - agora. — ele declarou em
uma voz dura. —Eu quero saber onde diabos eu estou, quem você é, e que
diabos é essa coisa.
Marina suspirou e olhou para o céu que escurecia. Com uma maldição
murmurada, ela sabia que não tinha muito tempo ou muita escolha; ele teria
que ir com ela. Virando-se, ela caminhou até seu arco e o pegou.
— Sinto muito, Marina.— disse o arco.
— Não é sua culpa, Sr. Bow. Eu deveria ter segurado você melhor. —
ela respondeu. — Vamos cuidar do Cão do Inferno enquanto ainda podemos.
Virando-se, ela puxou a corda do arco. A corda brilhou com sua magia,
e ela atirou três flechas na criatura morta. Em silêncio, ela observou o Cão
do Inferno brilhar antes de se transformar em cinzas. Só quando ela estava
convencida de que não havia evidência da criatura ou de sua presença, ela se
virou para o homem pálido observando-a.
— Meu nome é Marina Fae. — ela disse. — Sou filha de Ariness e
Cornelia da Aldeia de Raines. Precisamos sair. Vai escurecer em breve, e não
estamos seguros aqui.
Ela girou nos calcanhares e começou a caminhar de volta para a
floresta. Ela olhou por cima do ombro e parou quando viu que o homem ainda
estava parado no mesmo lugar. Ela agarrou o arco com a mão esquerda e
impacientemente empurrou o cabelo para trás quando uma longa mecha
soprou em seu rosto.
— Que porra é você? — o homem perguntou com uma voz rouca.
— Eu sou uma bruxa, é claro. — Marina respondeu com uma
sobrancelha erguida. — Você nunca conheceu uma antes?
Capítulo Cinco

Em choque, Mike olhou para a mulher antes de balançar a cabeça


lentamente.
— Não, não uma bruxa real de qualquer maneira. — ele respondeu
concisamente.
Ela inclinou a cabeça e franziu a testa para ele.
— Que outro tipo de bruxa existe? — ela perguntou.
— Marina, isso é o que você disse que seu nome é, certo? Você poderia,
por favor, me dizer o que diabos está acontecendo? — Mike exigiu.
— Eu vou, mas não aqui. — ela respondeu, dando um passo em direção
a ele. — É perigoso estar ao ar livre assim. Uma das criaturas da Bruxa do
Mar ainda pode estar por aí. — Ela olhou para o céu novamente antes de
olhar para ele. — Também vai escurecer em breve. Precisamos encontrar um
lugar seguro para a noite antes do pôr do sol.
— Pôr do sol? Era de manhã apenas alguns minutos atrás... de onde eu
venho. — Mike respondeu, acenando com a mão atrás dele.
Ele olhou para a praia vazia novamente. Ele estava tentando ignorar o
fato de que o oceano agora era quase da mesma cor dos olhos da mulher.
Deveria ser azul, verde ou quase preto, mas não roxo. Quem já ouviu falar de
um oceano roxo?!
Ele virou a cabeça para ela quando sentiu o toque de sua mão em seu
braço. Marina olhou para ele com um olhar intenso. Seu rosto estava tenso
com determinação.
— Qual é o seu nome? — ela perguntou.
— O quê? Ah, sim, desculpe. Meu nome é Mike Hallbrook. — respondeu
Mike. — Seus olhos são realmente dessa cor?
Uma risada assustada escapou dela. Ela piscou e acenou com a cabeça.
Mike pegou o sorriso divertido em seus lábios antes que ele desaparecesse.
Ela olhou para ele com olhos arregalados e sérios.
— Mike Hallbrook, prometo lhe contar tudo o que sei quando estivermos
seguros. Por favor, confie em mim por enquanto. — ela disse em voz baixa.
Mike hesitou. Ele não pôde deixar de olhar para o local onde aquela
coisa tinha estado apenas alguns minutos antes. Tinha sido diferente de tudo
que ele já tinha visto antes. Ele deu um breve aceno de cabeça.
— Vou segui-la por enquanto, mas espero que você explique tudo no
segundo em que nós pararmos onde você achar que é um lugar seguro. —
ele falou.
— Concordo — disse ela.
Mike a observou ir embora. Seu olhar percorreu sua figura esbelta,
quase juvenil. Não infantil, como uma criança abandonada, ele pensou
enquanto começava a segui-la pela praia rochosa até a linha das árvores.
— Traidor. — Mike murmurou baixinho quando Charlie trotou na frente
dele para caminhar ao lado da mulher.
Mike olhou ao redor, anotando e armazenando detalhes enquanto sua
mente repassava o que aconteceu. Uma rápida olhada por cima do ombro
pelo caminho de onde vieram mostrou penhascos maciços saindo da água,
quase o dobro da altura daqueles em casa. Seu tamanho o lembrava dos
penhascos que ele tinha visto no Big Bend National Park, ao longo do Rio
Grande, no Texas. Ele parou na entrada da floresta e olhou para o céu. A
forma distinta de duas luas podia ser vista, uma mais próxima do planeta do
que a outra, mas definitivamente duas luas.
— Mike, venha. Vai escurecer em menos de uma hora. — Marina
chamou em voz baixa.
— Estou indo — disse ele, virando-se e empurrando as trepadeiras
soltas de seu caminho. — Não sei para onde estou indo, mas estou chegando.

A cena da praia anterior continuava se repetindo na cabeça de Mike


enquanto ele seguia Marina e Charlie. Cada passo parecia aumentar o
número de perguntas que ele tinha e enfatizar a estranheza da situação.

Ele cerrou os dentes de frustração. Mais de uma vez, Marina parou e


ergueu a mão. Ele poderia dizer que ela estava ouvindo os sons ao redor deles
antes que ela começasse a avançar novamente.
Mais adiante na trilha, chegaram a um ponto onde um galho do
tamanho de sua coxa estava torcido e quebrado. Marina passou a mão sobre
a área quebrada. Mike sabia que sua boca tinha se aberto quando os pedaços
destruídos se retorceram e formaram um nó.
— O que você fez? — ele perguntou, curioso.
Marina deu de ombros e continuou descendo o caminho.
— Meu maior dom de magia é com as árvores e plantas. O Sr. Árvore
ajudou a desacelerar o Cão do Inferno o melhor que pôde. Ao fazer isso, ele
foi danificado. Esse dano, se não for cuidado, pode deixar a árvore vulnerável
a predadores que se alimentam das feridas abertas. Na maioria das vezes, a
natureza deve seguir seu curso, e a árvore sobreviverá e se curará. O dano
causado pelo mal de Magna irá apodrecer, e as árvores morrerão a menos que
sejam curadas. Faço o que posso para protegê-las. — afirmou Marina. — Há
uma árvore não muito longe daqui onde podemos encontrar abrigo para a
noite. A escuridão vem rapidamente, e devemos nos apressar.
Mike silenciosamente assentiu em reconhecimento. Seguindo-a em
silêncio, ele não pôde deixar de notar que ela se movia com graça. Ele piscou
várias vezes se perguntando se seus olhos estavam pregando peças nele
porque ela pisava tão levemente que quase parecia que ela estava flutuando
acima do solo.
Seu cabelo era de um mogno escuro, enquanto seus olhos eram de um
roxo escuro.
Algo lhe dizia que ambos eram naturais, especialmente depois da reação
dela mais cedo quando ele perguntou sobre seus olhos.
Ela estava vestida com um longo suéter preto que parava no meio da
coxa. Ela usava leggings pretas e botas pretas que chegavam aos joelhos. Ele
engoliu em seco e viu Charlie se esconder debaixo de um tronco. Era óbvio
que o filhote havia gostado da mulher.
'Marina' ele silenciosamente se corrigiu. Filha de Arine e Cornélia da
aldeia de Raines. Não se esqueça que ela é uma bruxa, claro, idiota!
Ele ainda estava tentando enfiar na cabeça dele que ela havia atirado
flechas mágicas em uma criatura saída de um filme de terror. As flechas
brilharam antes de desaparecer dentro da fera. Então a coisa toda se
transformou em cinzas.
Ele nem ia pensar no fato de que o arco podia falar ou no jeito que ela
fez a árvore fazer aquela coisa estranha de nó.
Inferno, eu ainda estou tentando entender aquele pesadelo na praia, ele
pensou exasperado.
Marina parou na trilha. Ele podia ver sua indecisão. Charlie gemeu e
cutucou sua mão.
— O que é ? — perguntou Mike.
Ela mordeu o lábio. Ela olhou mais adiante na trilha antes de se virar
para olhá-lo. O lampejo de incerteza lhe disse que havia algo mais
acontecendo.
— Deixei meu irmão e minha irmã nas rochas não muito longe daqui.
Eu disse a Geoff que voltaria assim que afastasse os Cães do Inferno. — ela
admitiu.
— Então qual é o problema? Vamos buscá-los e chegar a este local
seguro antes de escurecer. — respondeu ele.
Ela sorriu e uma expressão de alívio cintilou em seus olhos incomuns.
Ela assentiu e continuou pelo caminho. Alguns minutos depois, eles
emergiram da floresta para uma área coberta por grandes rochas. Mike notou
que Marina vasculhava cuidadosamente a área antes de sair.
Ele olhou para as rochas na direção que Marina estava olhando. Ele
piscou quando um menino magro apareceu um momento depois, seguido por
uma jovem esbelta. Pela cor e constituição, ele podia ver a semelhança com
Marina.
Marina levantou a mão e acenou.
— Desçam. Devemos acampar antes de escurecer. — disse ela.
Mike observou as duas crianças menores descerem com cuidado. O
menino virou-se várias vezes para ajudar a menina. Mike instintivamente deu
um passo à frente e estendeu a mão para ajudar a garota a descer da última
pedra. Ele não perdeu o olhar de medo que brilhou em seus olhos enquanto
eles disparavam dele para Marina.
Ele esperou pacientemente que ela percebesse que ele não queria fazer
nenhum mal. Charlie ajudou pulando e colocando as patas na rocha para
alcançar ansiosamente a mão dela com sua língua longa e molhada. A garota
riu baixinho quando sentiu a saudação entusiasmada de Charlie.
— Venha, Erin. — Marina sussurrou tranquilizadora. — Temos que nos
apressar.
Mike gentilmente colocou a garota no chão e se virou a tempo de ver
Marina fazer uma pausa quando o garoto estendeu a mão para segurar seu
braço. Os olhos do menino estavam focados no rosto de Mike, e ele podia
sentir a animosidade mal contida.
— Quem é ele? — Geoff exigiu.
Mike não perdeu o leve movimento da mão do menino. Os dedos de Geoff
estavam em volta do cabo de uma longa faca embainhada em sua cintura. O
olhar em seus olhos deve ter avisado o menino para não puxá-lo, porque sua
mão vacilou por um momento antes de cair ao seu lado.
— Eu não sei, mas ele salvou minha vida. — Marina admitiu em uma
voz calma e hesitante.
Os olhos do menino se arregalaram antes de seu olhar voltar para Mike.
— De qual aldeia você é? Você parece diferente de nós. — Geoff disse
quando uma luz de curiosidade surgiu em seus olhos.
— Não me diga. — Mike murmurou antes de corar quando os lábios de
Marina se contraíram novamente. — Eu não sou daqui... Onde quer que, no
inferno, seja 'aqui'. Seu nome é Geoff, certo?
— Sim. Eu sou Geoff, filho de Ariness e Cornelia. — afirmou Geoff. —
Como você se chama?
— Meu nome é Mike Hallbrook - Detetive Mike Hallbrook e essa bola de
pelos é Charlie. Eu trabalho para o Departamento do Xerife do Condado de
Lincoln e para a Polícia de Yachats, Departamento de Oregon. Ouça, antes de
prosseguir, quero saber o que está acontecendo. O que era aquela... coisa lá
na praia? Por que você está se escondendo, e para onde estamos indo? Acho
que antes de ir mais longe, eu mereço algumas respostas. — ele disse,
cruzando os braços sobre o peito.
Ele viu o queixo de Marina levantar, e ela deu a ele um olhar impaciente
antes de olhar para o céu novamente. Ele podia ver a indecisão em seu rosto
antes que ela soltasse a respiração que estava segurando. Havia uma
sensação de apreensão na rigidez de seus ombros enquanto ela olhava para
ele.
— Nós não temos muito tempo. — disse ela, aproximando-se dele até
ficar de frente para ele. — Não tenho certeza do que aconteceu na praia. Eu
lancei um feitiço e você apareceu. Você sabe que este é meu irmão, Geoff, e
esta é minha irmã, Erin. Eu lhe disse quem eu sou. A coisa na praia era uma
criatura invocada através de magia negra pela Bruxa do Mar. Ela e seus
lacaios são de quem nos escondemos. Devemos buscar segurança antes que
a escuridão desça.
— Por quê? Por que antes de escurecer? — Mike perguntou em um tom
suave.
A expressão de Marina ficou triste antes que ela virasse o rosto para
longe dele.
— Porque a Bruxa do Mar criou um feitiço que drena nossos poderes se
tentarmos usá-los depois de escurecer. Sem nossa magia, seríamos indefesos
contra as criaturas que ela criou. Agora, você vem conosco ou não? Não
podemos mais demorar mais. — ela explicou calmamente antes de olhar para
ele novamente.
Os lábios de Mike se apertaram ao ver a determinação nos olhos de
Marina. Ele sentiu que ela estava dizendo a verdade. Dando-lhe um breve
aceno de cabeça, ele decidiu que era melhor seguir adiante, pelo menos até
que pudesse descobrir como voltar para casa. A última coisa que ele queria
fazer era se encontrar com mais daqueles 'Cães do Inferno' no meio da noite.
Era óbvio que ele não estava mais no Oregon. A pergunta era: onde ele
estava? Ele olhou em volta para a escuridão crescente. Noite em que deveria
ser meio da manhã, a criatura morta na praia, o arco mágico falante de
Marina, luas gêmeas e agora um feitiço que drenava a magia – a lista estava
crescendo.
Inferno, do jeito que as coisas estão indo, tudo que eu preciso fazer é
encontrar uma estrada de tijolo amarelo, mudar o nome de Charlie para Toto,
e encontrar um tornado para fazer isso um pesadelo completo, ele pensou
enquanto ele e Charlie seguiam atrás da jovem chamada Erin.
Capítulo Seis

Mike manteve um olho atento para onde eles estavam indo. Eles
estavam seguindo em uma direção diferente, longe das pedras e da praia. Se
o sol nascia e se punha nas mesmas direções em que voltava para casa, então
eles estavam indo para o leste.
Ele olhou para Marina. Ela os estava conduzindo por uma trilha sinuosa
e íngreme que corria paralela a um rio. Quase meio quilômetro abaixo do
caminho, o rio estreitou. Ele balançou a cabeça em admiração quando ela
escalou as pedras até uma árvore morta gigantesca que criava uma ponte
sobre as águas turbulentas e a pequena cachoeira criada pela constrição de
pedras e galhos mortos que haviam descido pelo rio.
Geoff se virou e levantou Erin na árvore, enquanto Marina estendeu seu
arco para firmar sua irmã e ajudar a puxá-la para cima. Charlie choramingou,
não querendo ficar longe da garotinha de quem ele tinha gostado. Foram
necessárias algumas tentativas, mas com uma pequena ajuda de Geoff, o
cachorro conseguiu subir na árvore.
Era óbvio pelo silencioso trabalho em equipe que os três haviam
trabalhado juntos muitas vezes antes em situações semelhantes. Mike
franziu a testa quando uma emoção estranha e inesperada o invadiu
enquanto estudava o rosto expressivo de Marina. Parecia que alguém tinha
chegado dentro dele e puxado seu coração.
Ele não sabia se era porque estava confuso com tudo o que havia
acontecido ou se era um fenômeno causado por estar nessa realidade
alternativa.
O que quer que estivesse causando a emoção, estava frustrando-o como
o inferno. Claro, ele sempre foi um otário para uma donzela em perigo, mesmo
que esta donzela provavelmente pudesse transformá-lo em um sapo se ele
não fosse cuidadoso.
Balançando a cabeça, ele subiu atrás de Geoff e navegou pelos galhos
secos e quebrados. Geoff virou na frente de Erin, chamando Charlie para
segui-lo. Mike entendeu o motivo quando chegaram ao outro lado e tiveram
que abrir caminho pelo emaranhado de raízes secas até a margem rochosa
do rio. Geoff ajudou Charlie a descer primeiro antes de voltar para ajudar sua
irmã mais nova. Assim que desceram, Geoff foi direto para a floresta. Mike
olhou para as árvores enormes do tamanho das sequoias em casa.
— Depressa. — Marina chamou baixinho.
— Marina, eu...n— Erin começou a dizer.
Mike estendeu a mão e firmou Erin quando ela escorregou nas pedras
lisas do rio e quase caiu. Ele fez sinal para Charlie recuar quando o cachorro
ganiu e empurrou o nariz contra a mão de Erin. Mike podia sentir o calor
irradiando de Erin através do material que cobria seus braços.
— Fique aí. Marina, Erin parece que está com febre. — disse ele.
— Sim, eu sei. É por isso que fomos à aldeia. Ela precisa de ajuda. Eu
esperava que a curandeira ajudasse mais do que fez, mas era muito perigoso.
Tivemos sorte dela ter nos ajudado — Marina respondeu com um aceno
cansado.
— Você não pode torná-la melhor? — Mike perguntou, envolvendo um
braço de apoio ao redor da cintura de Erin antes de levantá-la em seus braços
quando suas pernas cederam. — Eu vi você fazer algo com sua perna na
praia.
Marina balançou a cabeça e tocou a bochecha de Erin com as pontas
dos dedos.
— Não, eu posso me curar de pequenas feridas, mas não funciona em
outros. Eu não tenho o poder de me concentrar na dor deles. Comigo, sei o
que dói e posso me concentrar o suficiente para enviar um toque de cura para
isso. Erin tem o dom de curar, mas tantas crianças estão doentes
ultimamente que ela está fraca. Agora, a doença a atingiu por dentro. — ela
murmurou.
— Por que a curandeira não a ajudou mais? — Mike perguntou com
uma carranca.
— Porque a Bruxa do Mar iria descobrir. — Geoff respondeu
amargamente, coçando a cabeça de Charlie quando o cachorro o rodeou. —
Mal conseguimos escapar como estava. A Bruxa do Mar teria destruído a
aldeia assim como ela destruiu a nossa
— Bruxa do Mar? Você a mencionou antes. Quem é ela, e o que você
quer dizer com destruir a aldeia? — Mike perguntou com uma sobrancelha
levantada. — Você está falando de uma bruxa do mar que vive no fundo do
mar? Como na história da Pequena Sereia?
Erin deu uma risadinha.
— As sereias não gostam dela. — ela sussurrou, descansando a cabeça
no ombro de Mike e fechando os olhos. — O Rei do Mar a mandou para o
fundo do oceano. Eu gostaria que ela tivesse ficado lá.
— Ele deveria tê-la matado quando teve a chance! Isha disse que tentou
prejudicar um dos filhos do Rei do Mar há um ano. Em vez disso, ele a soltou
novamente, e agora ela está aqui. Estamos quase na árvore onde passaremos
a noite. Erin precisa descansar e ela precisa de uma chance de deixar as
pedras de cura ajudá-la.
Marina disse antes de voltar e caminhar em direção à floresta.
— Então, por que essa Bruxa do Mar veio aqui? Ela pode viver fora da
água? Quero dizer, ela não é como essa criatura tipo polvo ou algo assim? —
Mike perguntou, mudando Erin em seus braços.
Geoff resmungou atrás dele.
— Talvez a Bruxa do Mar do seu reino seja assim. — ele disse em um
tom áspero. — Ela é prima do Rei do Mar. Ela pode respirar em terra ou no
mar, assim como todas as pessoas do mar podem.
— Ela veio para forçar nosso povo a ajudá-la a derrubar o Rei do Mar.
Papai disse que ela queria governar todos os Reinos. Eu não sei por que,
parece que seria muito difícil. — Erin sussurrou. Seus olhos se abriram e ela
olhou para Marina. — Diga a ele, Marina. Geoff está certo. Ele pode ser aquele
de quem Isha nos contou.
— Quem é esse Isha, e me dizer o quê? — Mike perguntou frustrado
enquanto eles passavam entre duas grandes árvores.
— Isha é nosso irmão mais velho. — Marina explicou.
— Ele era o capitão da guarda do Rei e da Rainha. — acrescentou Geoff,
subindo em um tronco de árvore.
— Era? — Mike perguntou, manobrando cuidadosamente sobre o tronco
atrás de Geoff.
Geoff fez uma pausa e olhou para Mike.
— A Bruxa do Mar transformou ele, a Rainha e todos no palácio em
pedra. — afirmou.
— Pedra…. — repetiu Mike.
Erin estremeceu em seus braços.
— Todos, exceto o Rei. Seu coração e alma estão congelados. Nada pode
tocá-lo, nem mesmo a Bruxa do Mar. — ela sussurrou.
— Congelados…Tudo bem, acho que definitivamente pousei em uma
realidade alternativa. — Mike murmurou.
— Vamos passar a noite aqui. Charlie, o Sr. Árvore pode não gostar que
você o regue. — Marina avisou quando o filhote começou a cheirar a base da
árvore.
Erin riu novamente enquanto Geoff ria. Mike podia entender totalmente
o olhar confuso de Charlie. Marina havia parado em frente a uma árvore duas
vezes maior que as outras.
Seus braços se apertaram ao redor de Erin quando ela de repente
começou a tremer incontrolavelmente. Seu ceticismo deve ter transparecido
em seu rosto. Marina deu-lhe um pequeno sorriso antes de estender a mão e
tocar o tronco da árvore.
— Por favor, Sr. Árvore, precisamos de abrigo para a noite. — disse ela.
A risada de Geoff avisou a Mike que seu queixo estava caído. Ele o
fechou, mas isso não evitou a admiração de sua expressão. A árvore
estremeceu ao toque de Marina e a costura onde a casca cicatrizara se abriu
para revelar um interior cavernoso. Marina se virou e fez sinal para que
entrassem.
Mike inclinou a cabeça e seguiu Geoff e Charlie pela abertura estreita.
Endireitando-se, ele ficou surpreso ao ver que o interior estava iluminado com
pequenas luzes verdes. Geoff tirou a mochila que estava carregando e a
colocou no chão. Mike girou em torno de si mesmo. Seu olhar percorreu o
interior. Não havia como ele colocar Erin no chão.
— Vou dar uma arrumada para Erin. — Geoff disse, alcançando dentro
de sua mochila.
— Deixe-me pegar os bastões de fogo. — Marina instruiu. Geoff olhou
para cima e fez uma careta.
— Uma fogueira não durará muito. Assim que a noite cair
completamente, o fogo se apagará. — disse ele.
— Sim, mas pelo menos nos dará um pouco de calor. — retrucou
Marina.
Mike olhou para cima. O centro da árvore era oco até o topo. Perto do
topo ele podia ver lugares onde pequenas quantidades de luz brilhavam.
Olhando de volta para Geoff, ele esperou que o garoto estendesse um cobertor
fino pelo chão. Ele gentilmente baixou Erin sobre o cobertor. Charlie
imediatamente se enrolou ao lado da garotinha trêmula. O braço fino de Erin
envolveu o filhote.
Marina estava tirando vários palitos curtos e grossos da sacola. Ela os
empilhou no centro. Em segundos, eles começaram a brilhar, e Mike podia
sentir o calor. Ele ficou chocado quando ela ajustou um pedaço sem queimar
a si mesma.
Ela olhou para cima naquele momento e pegou sua expressão surpresa.
Mais uma vez, a sugestão de um sorriso levantou o canto de sua boca. Ela se
levantou e pegou seu arco.
— Isso nos dará um pouco de calor. Infelizmente, não durará muito. A
magia vai se dissipar à medida que a escuridão da noite cresce, — ela explicou
com uma pitada de arrependimento em sua voz.
—Por que você não faz uma fogueira normal? — perguntou Mike.
Marina olhou brevemente para a abertura antes de se voltar para ele.
Ele viu o arrependimento e a exaustão em seus olhos. Seu olhar se moveu
para Geoff e Erin.
O menino estava tirando vários cobertores da mochila. Mike o observou
ajoelhar-se ao lado de sua irmã mais nova e cobri-la com um deles.
— Levaria tempo para reunir a madeira. Mesmo que tivéssemos
madeira, não tenho pederneira comigo. — disse Marina, caminhando para
se ajoelhar ao lado de sua irmã.
— Isso é minha culpa. Eu deveria ter sido mais atencioso quando fiz as
malas. — Geoff disse com uma voz rouca.
Marina estendeu a mão e tocou o braço do irmão. Ela balançou a cabeça.
Havia uma expressão feroz, quase dura, em seu rosto.
— Foi um acidente. Acidentes acontecem. Nunca se culpe. — ela
respondeu.
Mike podia ver o amor por seu irmão no rosto de Marina. O que quer
que tenha acontecido, era óbvio que o menino sofreu com a perda da
pederneira. Em uma situação como essa, ele podia entender que às vezes um
erro ou um acidente poderia ser a diferença entre a vida e a morte.
— Acho que posso lidar com isso. Você cuida da sua irmã. Eu estarei de
volta em pouco tempo. — Mike disse.
Marina se levantou. Preocupação e uma pitada de pânico varreram seu
rosto.
Ela deu um passo mais perto dele, procurando seu rosto.
— Onde você está indo? Vai escurecer em breve. O feitiço de Magna irá
enfraquecê-lo. Você ficará indefeso. — ela disse, balançando a cabeça.
— Você disse que o feitiço drena a magia, certo? — Mike perguntou,
levantando a mão para tocar uma mecha do cabelo mogno que se soltou.
A confusão piscou em seus olhos.
— Sim. — ela respondeu.
Mike sorriu.
— Eu não acho que terei que me preocupar com o feitiço dela me
deixando mais lento. Sua irmã deve ser mantida aquecida. Charlie é bom,
mas mesmo ele não pode fazer muito. Por que você não a deixa confortável
enquanto eu pegarei um pouco de lenha? — ele sugeriu.
— Mas….
Mike segurou o queixo de Marina com ternura e gentilmente colocou o
polegar em seus lábios. Inclinando-se para frente, ele parou um fôlego longe
de seus lábios. Ele não queria nada mais do que pressionar seus lábios contra
os dela e apagar o olhar de medo em seus olhos.
— Eu tenho minha própria magia, lembra? — ele a lembrou.
Sua cabeça se moveu para cima e para baixo em concordância. Com um
suspiro de arrependimento, Mike se afastou. Ele permitiu a seus dedos o luxo
de deslizar ao longo de sua mandíbula antes de se virar e desaparecer pela
abertura, de volta para a floresta.
O crepúsculo desceu e novos sons começaram a despertar.
— Lembre-se do seu treinamento de escoteiro, Mike. — ele disse para si
mesmo enquanto começava a procurar no chão por lenha adequada.
Capítulo Sete

— Marina. — Geoff disse, puxando-a para fora do transe.


Marina virou-se para olhar para o irmão.
— Sim? — ela perguntou.
— Você…? Você acha que ele pode ser aquele de quem Isha disse que
mamãe falou? — perguntou Geoff.
— Eu não sei... mas, espero que sim. — disse ela, voltando-se para o
irmão. — Você pode ver se ainda temos comida na sacola? Vou colocar as
pedras de cura ao redor de Erin.
— Temos um pouco. Eu posso fazer sopa. Isso fará com que dure o
suficiente para todos nós e será bom para a Erin. — disse Geoff.
Marina assentiu, ajoelhando-se ao lado da irmã novamente.
— Depressa antes que os bastões de fogo se apaguem. — ela disse.
Nenhum deles falou enquanto trabalhavam. Geoff trabalhou em fazer
sopa com os ingredientes secos que eles tinham, e ela se concentrou em
colocar as pedras de cura em Erin. Ela teve que assegurar a Charlie que ela
não estava machucando sua irmã. O filhote ficou de olho nela enquanto ela
trabalhava.
Marina fez uma pausa enquanto colocava a última pedra no centro da
testa de sua irmã. Ela podia sentir o calor irradiando da pele de Erin antes
mesmo de tocá-la. A sensação de impotência subiu em sua garganta. E se as
pedras não funcionassem? E se Erin...?
— Eu ajudarei Mike. — Marina disse, colocando a última pedra em Erin
antes de se levantar.
— A escuridão chegou. — Geoff avisou, olhando para ela com surpresa.
Marina se inclinou e começou a pegar seu arco, mas decidiu deixá-lo.
O arco não lhe faria muito bem agora. Ela engoliu a amargura que
ameaçava sufocá-la. Ignorando sua fadiga, Marina se concentrou em manter-
se de pé, caso contrário ela se encontraria de volta no cobertor ao lado de
Erin.
— Eu sei. Tente terminar a sopa. — ela instruiu.
— Tenha cuidado. — Geoff chamou por ela.
Marina agarrou a casca da árvore e deu um aceno rápido antes de
continuar na escuridão. Ela tropeçou quando todo o peso do feitiço de Magna
a atingiu. Um arrepio percorreu seu corpo, e ela quase virou de volta. Em vez
disso, ela cerrou os dentes e continuou. Os bastões de fogo queimariam por
um curto período de tempo mais do que o normal devido à proteção da árvore,
mas mesmo a árvore não poderia protegê-los do feitiço.
Ela parou vários metros fora da árvore e fechou os olhos. Sem o sentido
da visão, sua audição ficou mais aguçada. Ela se concentrou em cada som
diferente. Inclinando a cabeça para o lado, ela virou para a esquerda. O fraco
som de farfalhar e o silêncio dos insetos naquela direção lhe diziam que
alguém ou alguma coisa estava ali.
Marina conteve uma risadinha quando ouviu uma maldição sufocada.
Abrindo os olhos, ela foi na direção de Mike. Ele estava a apenas algumas
centenas de metros da grande árvore que os abrigava. Em um braço, ele
segurava vários galhos longos e finos. Em seu outro braço, ele tinha vários
pedaços de madeira de tamanho decente.
— Deixe-me ajudá-lo. — Marina ofereceu, saindo das sombras.
— Merda! — Mike exclamou, largando as pilhas em seus braços e
enfiando a mão dentro de sua jaqueta. Ele balançou a cabeça para ela. —
Você precisa dar um aviso da próxima vez.
— Acho que metade da floresta sabe onde você está. — ela riu.
— Você tem plantas estranhas aqui. Havia uma que brilhava quando a
tocava. — comentou.
— As Estrelas da Noite. Elas ajudam a iluminar a floresta. Elas ficam
lindas quando soltam suas sementes uma vez por ano. A floresta inteira se
ilumina. — explicou Marina.
Ela se curvou e pegou alguns dos galhos mortos que ele havia deixado
cair. Não foi até que ela se endireitou que a onda de fadiga a atingiu como um
tsunami, tirando a força dela. Seus lábios se separaram em um grito de
frustração quando ela sentiu o mundo começar a girar.
— Ei, calma aí. — disse Mike, envolvendo o braço em volta da cintura
dela.
— É o feitiço de Magna. Eu odeio me sentir tão fraca. — Marina gemeu
baixinho.
— Por que você saiu se sabia que o feitiço iria afetá-la assim? — Mike
exigiu, segurando-a perto.
Marina inclinou a cabeça para frente, descansando a testa no peito de
Mike. Ela não tinha percebido o quão alto ou largo ele era. Ele também
cheirava incrivelmente bem – quente com um toque da floresta tropical. Uma
carranca enrugou sua testa quando outro sentimento a percorreu - ela se
sentiu mais forte - como se sua magia fluísse através dela novamente.
Erguendo a cabeça, ela olhou para ele com uma carranca perplexa. Seus
olhos procuraram seu rosto. Ela não podia ver a aura de sua magia, mas ele
deve ter alguma para fazê-la se sentir assim.
— Que tipo de magia você tem que pode funcionar contra o poder da
Bruxa do Mar? — Marina perguntou com uma voz levemente incrédula.
O braço de Mike apertou ao redor dela, e ele riu.
— O bom e velho tipo Hallbrook. — ele brincou antes de sua expressão
ficar séria, e ele levantou a mão para escová-la contra sua bochecha. — Você
ficará bem?
Marina assentiu.
— As noites são difíceis, mas com os primeiros raios de sol o feitiço se
dissipa. Devemos voltar para Erin e Geoff. — ela disse.
Ela relutantemente se afastou dele. Quase imediatamente, ela podia
sentir um peso ao redor dela enquanto o feitiço de Magna drenava sua magia
mais uma vez.
Os braços de Mike caíram, e ele a estudou por vários segundos antes de
se curvar e pegar uma pilha de galhos. Ele os entregou a ela quando ela
estendeu os braços. Ele terminou de pegar os pedaços maiores e se
endireitou.
Marina voltou-se para a árvore. Ela estava confusa com sua reação a
Mike. Quando ela o tocou, ela se sentiu forte novamente, mas havia algo mais.
Ela também se sentiu perturbada. Seu corpo reagiu a ele de uma maneira
estranha. Agora mesmo, ela realmente queria pressionar seus lábios nos dele!
O desejo nunca tinha sido tão forte antes. Se isso não fosse ruim o suficiente,
ela se sentia quente e formigando por toda parte.
Por um momento, ela se perguntou se estava ficando com a mesma
doença das crianças.
Abaixando a cabeça, ela passou pela abertura estreita na árvore.
Geoff olhou para cima, aliviado. Ela podia ver que os bastões de fogo
mal brilhavam. A pequena panela de sopa tinha espirais finas de vapor
subindo dela.
O olhar de Marina se moveu para Erin que estava deitada calmamente
com Charlie dormindo ao seu lado. As pálpebras de sua irmã se abriram.
— As pedras de cura estão ajudando? — Marina perguntou, colocando
a pilha de galhos no chão.
— Elas ajudaram um pouco, mas sua magia desapareceu com o sol. Eu
estou com frio. — Erin respondeu com uma voz quase inaudível.
— Aqui. — Mike disse, colocando os galhos que carregava ao lado dos
que Marina havia depositado.
Marina se virou e viu Mike tirar a jaqueta. Ele deu um passo à frente e
colocou-o sobre Erin. A pedra que ela havia colocado na testa de Erin
escorregou quando sua irmã virou a cabeça. Mike se inclinou e pegou a pedra.
Marina engasgou quando viu o brilho repentino e poderoso quando ele
gentilmente a colocou de volta na testa de Erin.
Erin deve ter sentido o súbito influxo de poder de cura porque seu corpo
curvou para cima. A mão de Mike recuou e ele se endireitou. Quase
imediatamente, o brilho desapareceu, e Erin afundou contra o cobertor com
um gemido suave.
— Mike, toque a pedra de novo. — disse Marina, aproximando-se do
cobertor antes de afundar ao lado de sua irmã.
— O quê? Eu... O que aconteceu? — ele perguntou, confuso.
— Não tenho certeza. Por favor... toque a pedra novamente. — Marina
implorou.
Ela podia ver a hesitação em seu rosto antes que ele se ajoelhasse ao
lado de Erin. Ele estendeu a mão e tocou suavemente a pedra curativa. Mais
uma vez, brilhou com a magia contida dentro. Os olhos de Erin se abriram e
ela olhou para Mike com os olhos arregalados, cheios de admiração.
— Agora, mova seus dedos até tocar Erin. — Marina ordenou.
Ele olhou para ela antes de voltar seu olhar para o rosto de Erin.
Deslizando os dedos da pedra, ele segurou o rosto da menina com a mão
grande.
Os lábios de Marina se separaram quando ela viu a aura colorida da
magia de Erin girar em torno de sua irmã. Ela não via isso tão forte há meses!
Estendendo a mão, ela agarrou a mão direita de Erin na sua. Marina
fechou os olhos quando sentiu a força de sua magia fluindo através dela. Ela
abriu os olhos e olhou para Erin.
O rosto de sua irmã estava corado, mas não com o calor da febre. Em
vez disso, Marina podia ver o brilho saudável na pele de Erin. Vários minutos
depois, Erin piscou. Um largo sorriso iluminou o rosto da jovem.
— Estou com fome. — Erin disse, olhando esperançosa para Geoff.
A garganta de Marina se apertou com os olhos claros e o sorriso que veio
naturalmente ao invés de ser forçado. Ela estendeu a mão e removeu a pedra
de cura da testa de Erin e a colocou no cobertor ao lado de sua irmã. Erin se
sentou e enrolou o cobertor em volta dos ombros. Charlie gemeu baixinho e
se moveu ao lado dela, ocupando o espaço que Erin tinha feito. Erin deu uma
risadinha e carinhosamente acariciou o cachorrinho.
— Obrigada, Sr. Charlie, por manter meu lugar aquecido. — Erin
brincou.
Marina estendeu a mão e com ternura afastou o cabelo roxo escuro da
bochecha de Erin. O som das provocações de sua irmã aqueceu o coração de
Marina. Mesmo que ela pudesse sentir a atração da magia de Magna sobre
ela, não foi suficiente para diminuir seu alívio ao ver sua irmã se sentindo
melhor.
— Sopa quente chegando. — disse Geoff com um sorriso.
Voltando o olhar para Mike, ela lhe deu um sorriso agradecido.
— Obrigada — ela disse em uma voz suave.
Mike balançou a cabeça.
— Eu não sei o que aconteceu, mas o que quer que tenha sido
funcionou. — disse ele, levantando-se do chão. — Deixe-me fazer uma
fogueira. Não queremos que ela tenha uma recaída.
Geoff removeu os bastões de fogo que não estavam mais brilhando e os
recolocou em sua mochila. Marina pegou a xícara de sopa de Geoff quando
ele a estendeu para ela. Ela mordeu o lábio quando percebeu que havia
apenas o suficiente para os três. Mike olhou para cima e percebeu a expressão
de indecisão no rosto dela. Seu sangue esquentou quando ele lhe deu um
sorriso ligeiramente torto.
— Coma. Charlie e eu tomamos um grande café da manhã algumas
horas atrás. — disse ele.
—Eu... Se você tem certeza. — Marina respondeu com um sorriso
aliviado.
Ele assentiu e continuou trabalhando no fogo.
— Como se chama esse lugar? — ele perguntou.
— O que você quer dizer? A floresta? Chama-se Rindheart. — disse
Marina.
Mike balançou a cabeça.
— Não, quero dizer este mundo. Você chamou este lugar de Ilha da
Magia. Onde exatamente ele está localizado? Venho de um lugar chamado
Terra e de uma cidade chamada Yachats em um estado chamado Oregon e
de um país chamado Estados Unidos da América no continente norte-
americano. — explicou.
Marina pensou na pergunta dele.
— São muitos lugares para vir. Estes são os Sete Reinos. Nosso mundo
é composto de sete ilhas, cada uma um presente da Deusa. — disse ela.
— O que é isso?— Geoff perguntou quando Mike tirou um pequeno
cilindro do bolso e se inclinou para mais perto da madeira empilhada.
— Boa e velha magia chamada isqueiro. — disse Mike, acendendo o fogo.
— Como fez isso? — Geoff perguntou empolgado.
Mike riu.
— Eu só tenho uma ideia básica, mas envolve pressão, butano, ar e uma
bobina catalítica. É muito mais fácil do que o método escoteiro de esfregar
dois gravetos ou usar duas pedras de pederneira. — disse ele.
— Esses escoteiros governam seu mundo? Você já os mencionou antes.
— Marina perguntou com curiosidade.
— Não, é meio difícil de explicar. Então, estes são os Sete Reinos. É
como o nosso mundo, onde temos sete continentes. Cada reino está dividido
em diferentes países? — Mike perguntou, recostando-se enquanto o fogo
começava a queimar.
Geoff franziu a testa em confusão.
— O que são países? — ele perguntou.
Mike ergueu uma sobrancelha.
— Acho que isso é um não. Então, cada reino pertence a uma espécie
de povo. — esclareceu.
—Sim. — Erin disse, sorrindo para ele. — Nós somos a Ilha da Magia.
Cada um de nós possui diferentes tipos de habilidades mágicas. Você também
é curandeiro? Eu me senti mais forte quando você me tocou.
Mike parou para quebrar a longa vara em sua mão. Marina pôde ver um
lampejo de dor antes que ele o escondesse. Ele balançou a cabeça e olhou
para o fogo.
— Eu gostaria, mas não. Eu não diria que tenho habilidades mágicas,
mas sou bom no que faço. — disse ele.
— No que você é bom? — Erin perguntou, lambendo uma gota de sopa
de seu lábio inferior.
— Proteger as pessoas. — ele respondeu.
O calor encheu Marina quando Mike olhou para ela. Ela desviou o olhar
quando Erin riu e a cutucou. Um rubor aqueceu suas bochechas. Debaixo de
seus cílios, ela estudou Mike enquanto ele fazia perguntas e respondia outras
de seu irmão e irmã. Ela gostou de sua paciência com eles e o som de sua voz
suave e rica.
Erin riu quando ele brincou com ela sobre o tamanho de seu bocejo.
Logo, o calor do fogo que Mike construiu, o estresse do dia e o esgotamento
de sua magia estavam atraindo Marina e seus irmãos para dormir. Marina
deslizou ao lado de Erin. Sua irmã estava enrolada ao lado de Charlie e
passou o braço ao redor do filhote. Marina estava deitada com um braço
enrolado sob a cabeça como travesseiro.
— Aqui. — disse Mike, levantando-se e cobrindo as duas com outro
cobertor fino e sua jaqueta.
— E você? — Marina perguntou.
— Eu ficarei bem. — Mike assegurou a ela, voltando a se sentar
novamente.
— Obrigada. — Marina respondeu antes de fechar os olhos.
— Você estará aqui quando acordarmos?— Geoff perguntou, sua
exaustão refletida em sua voz.
Mike assentiu.
— Sim, eu estarei aqui. Descanse um pouco, ficarei de olho nas coisas.
— disse ele.
Geoff deu-lhe um sorriso cansado antes de puxar o cobertor até o
pescoço e adormecer rapidamente. Marina ouviu a respiração de Geoff e Erin
desacelerar e se estabilizar. Ela estava cansada demais para abrir os olhos.
O som do fogo estalando, o calor do corpo de sua irmã contra suas costas, o
calor do fogo na frente dela, e o leve perfume masculino grudado na jaqueta
de Mike deram a Marina uma sensação de segurança que ela não sentia há
mais de um ano.
— Obrigada. — ela murmurou novamente.
— É um prazer, Marina. Durma um pouco. Eu não deixarei nada
acontecer com vocês. — ele respondeu com uma voz suave.
Capítulo Oito

Mike quebrou alguns galhos e alimentou o fogo. Seu olhar se moveu dos
vermes brilhantes que fizeram sua casa na árvore para a mulher dormindo
em frente a ele. Ele estava tentando não olhar para ela, mas percebeu que era
uma tarefa impossível, especialmente no espaço apertado de seu abrigo.
— Marina Fae da Ilha da Magia. Ela é uma bruxa, claro. — Mike
murmurou baixinho. — Uma bruxa! Uma bruxa linda, exótica, ousada e
corajosa.
Ele correu seu olhar sobre seu rosto relaxado. Mechas de seu cabelo
escuro ondulado acariciavam sua bochecha. Sua coloração o lembrou da
floresta. Seu cabelo castanho escuro e dourado e pele bronzeada tinham os
mesmos destaques dos troncos das árvores com o sol brilhando nele. Seus
cílios escuros jaziam como crescentes contra suas bochechas beijadas pelo
sol. Seu nariz era longo e fino, enquanto seus lábios o faziam querer provar
sua plenitude.
Mike balançou a cabeça em sua reflexão. Desde quando eu sou poético?
ele pensou. Eu realmente preciso examinar minha cabeça. Em vez de pensar
em como eu quero beijar Marina, eu deveria estar focando no que aconteceu
hoje, onde estou e como diabos chegarei em casa!
Silenciosamente se levantando, ele decidiu que era melhor pegar mais
lenha.
Ele fez sinal para Charlie ficar quando o filhote levantou a cabeça.
Virando-se, ele silenciosamente contornou Geoff e deslizou pela abertura
estreita na árvore. Ele deu vários passos para longe antes de fazer uma pausa
e inspirar profundamente o ar fresco e limpo. Ele olhou para o céu noturno.
Uma lua estava cheia enquanto a outra parecia uma giba crescente.
Ele manteve a grande árvore à sua direita enquanto caminhava em um
círculo apertado recolhendo vários pedaços grandes de madeira morta.
Enquanto recolhia a madeira, ouvia os diferentes sons da floresta. A cem
metros de distância, um grande pássaro piou de uma das árvores altas.
Parecia muito com uma coruja. Ele podia ver as Estrelas Noturnas acenderem
e desaparecerem. As luzes faziam a floresta parecer mais com algo em um set
de filmagem ou um passeio de parque temático do que uma realidade.
O som de asas batendo e várias sombras escuras bloqueando a luz das
luas chamaram a atenção de Mike para as copas das árvores. Olhando para
cima, ele prendeu a respiração quando viu dezenas de grandes pássaros
voando acima. Em uma estimativa aproximada, ele teria colocado a
envergadura deles em quase seis metros de ponta a ponta. Ele decidiu que
qualquer coisa com asas tão grandes deve ter um bico ainda maior. A última
coisa que ele queria era se tornar sua próxima refeição.
Ele refez seus passos o mais silenciosamente que pôde, estremecendo
toda vez que pisava em um galho. Abaixando a cabeça, ele entrou na árvore
e soltou a respiração que estava segurando sem querer. Ele silenciosamente
empilhou a lenha perto do fogo antes de pegar duas toras e colocá-las sobre
as brasas.
— Achei que tinha sonhado com você.
A cabeça de Mike se ergueu e seu olhar se prendeu ao de Marina. Ela o
estava observando. Ele afundou no chão ao lado de Geoff.
— Você deveria estar dormindo. — ele repreendeu.
— Eu sei. Tem sido difícil dormir bem durante o último ano. Há sempre
um senso de medo de que algo venha nos atacar no escuro, mesmo que eu
saiba que nenhum dos criaturas da Bruxa do Mar pode. – ela admitiu.
— Por que ela não pode atacar à noite? — Mike perguntou com uma
carranca.
Marina respirou fundo e soltou.
— Ela criou um feitiço que drena todas as criaturas mágicas de seus
poderes do anoitecer ao amanhecer. Você pensaria que ela teria percebido
que o mesmo feitiço afetaria ela e as criaturas que ela fez, mas por algum
motivo ela não o fez. Ela – e as bestas não naturais que ela usa, como os ogros
– são tão indefesas quanto o resto de nós. Infelizmente, ainda há coisas que
podem nos prejudicar. — explicou.
— Bem, isso foi um grande erro. — Mike riu, cutucando o fogo com um
graveto.
— Sim, mas pelo menos o erro dela nos dá algum alívio. — Marina
respondeu com um bocejo.
— Durma um pouco. Devemos ter lenha suficiente para durar até de
manhã. — Ele assegurou a ela.
— E você? — ela perguntou, mordendo o lábio.
Mike sorriu e balançou a cabeça.
— Ainda é de manhã para mim. Você não precisa se preocupar comigo
também. Tenho idade suficiente para cuidar de mim mesmo. — respondeu
ele.
Seus lábios se contraíram com seu comentário.
— Sim, você tem. — ela murmurou em um bocejo. — Você é muito…
Mike parou de atiçar o fogo e esperou que ela terminasse a frase. Ele
era muito... o quê? Um gemido silencioso ecoou em sua cabeça quando ele
percebeu que ela havia voltado a dormir. Ele levou um momento para
perceber que ainda estava olhando para ela, e que seu corpo estava duro e
latejante.
Inclinando-se contra o interior da árvore, Mike piscou. O que diabos
estava acontecendo? Seu corpo não reagia a uma mulher assim desde que ele
tinha cerca de quatorze anos e Kylie Mooney sentou na frente dele na aula de
ciências da oitava série.
Ele ansiava por enterrar os dedos em seu cabelo comprido, mas era seu
pênis que ele queria enterrar em outro lugar. Ele inclinou a cabeça para trás
e observou os fios de fumaça subirem do fogo até o topo da árvore. Seria uma
longa, longa noite.

— Venha garoto. Você regou árvores o suficiente. — Mike chamou


Charlie.

Ao lado dele, Mike ouviu Geoff rir. O adolescente havia se tornado sua
sombra desde que ele e suas irmãs acordaram com o sol no horizonte. Mike
não tinha certeza se era porque o menino queria saber mais sobre ele ou se
era para ficar de olho nele. Quando Mike disse que precisava sair um pouco
com Charlie, Geoff também se levantou ansiosamente.
Mike enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta. Ele queria ir com Marina
quando ela disse que encontraria alguma comida para quebrar o jejum, mas,
antes que ele pudesse sugerir, ela havia desaparecido. Erin ficou para
arrumar seus cobertores.
— Ele ouve bem. — comentou Geoff quando Charlie apareceu.
— Quando ele quer. — retrucou Mike com um sorriso irônico.
Mike observou enquanto Charlie vinha trotando em direção a eles com
uma longa vara que ficava presa nas samambaias altas. Claro, Charlie não
veio para Mike.
Geoff se inclinou e deu uma massagem em Charlie quando o filhote
deixou cair o graveto nos pés do menino.
— Cuidado com ele. Ele está te enganando. Se você tentar pegar o pau,
ele sairá correndo. — Mike avisou.
Geoff sorriu e piscou para Mike. Em um segundo, Geoff estava lá, e no
próximo ele havia sumido. Mike tropeçou para trás e piscou - e piscou
novamente e de novo. Ou ele estava tendo problemas com visão dupla ou
agora havia dois Golden Retrievers.
Mike ergueu a mão e esfregou-a nos olhos. Olhando entre os dedos, ele
ainda viu dois cachorros. Eles pareciam idênticos.
— Geoff, pare com isso. — Marina ordenou, passando por eles.
Mike começou e se virou para olhar para ela. Ela carregava várias raízes
grandes e laranja-escuras pelas folhas. Em um piscar de olhos, Geoff estava
de volta à forma de um adolescente e a seguiu de volta para a árvore. Mike
olhou para baixo quando Charlie choramingou. Ele podia ver o olhar do
filhote seguindo Geoff.
— Eu caí na porra do buraco do Coelho! — ele murmurou antes de
balançar a cabeça. — Venha, garoto.

Marina fez uma careta para o irmão. Geoff apenas sorriu para ela,
aumentando sua irritação. Curvando-se, ela pegou o pote e estendeu para
ele.

— Eu preciso de água. — afirmou ela, olhando para ele com uma


sobrancelha levantada.
— O que há de errado? — Geoff perguntou com uma careta, pegando o
pote dela.
Marina abriu a boca para repreender o irmão por assustar Mike. Ela
fechou a boca e apertou os lábios quando Charlie entrou no abrigo um
momento antes de Mike. Virando-se, ela se ajoelhou perto das brasas que
sobraram do fogo e puxou sua faca.
— Charlie! — Erin chamou, abrindo bem os braços.
O filhote não precisou de nenhum outro incentivo. Seu corpo peludo e
agitado quase derrubou Marina em sua pressa de chegar até sua irmã. O fogo
varreu Marina quando ela sentiu um par de mãos fortes firmá-la.
— Desculpe por isso. — disse Mike, ajoelhando-se ao lado dela. — Ele
ainda precisa aprender algumas maneiras.
— Meu irmão também. — Marina retrucou antes de soltar um suspiro e
virar a cabeça para olhar para Mike. Ela se assustou ao ver o rosto dele tão
perto do dela. — Ele... ele não deveria ter assustado você.
Seus olhos se arregalaram quando ele levantou a mão e afastou o cabelo
de sua bochecha. Seus dedos acariciaram o lóbulo de sua orelha enquanto
ele colocava as longas e grossas mechas atrás de sua orelha. Marina se
inclinou mais perto de seu corpo quando seus dedos traçaram a linha de sua
mandíbula.
— Foi até legal - inesperado, mas legal. Você consegue…? — perguntou
Mike em uma voz ligeiramente hesitante.
Marina balançou a cabeça.
— Cada um de nós tem suas próprias forças e fraquezas. Eu tenho uma
afinidade com a floresta... e… — Ela fez uma pausa e balançou a cabeça
novamente. — Geoff pode imitar criaturas vivas. Está sempre colocando-o em
apuros. Se ele não for cuidadoso, um caçador ou animal carnívoro o
confundirá com sua próxima refeição. — disse ela exasperada.
— Então, Erin pode curar, Geoff pode imitar coisas vivas, e você
pode...— Mike encorajou, virando-se para se sentar no chão para ficar de
frente para ela.
— Marina pode falar com as árvores e plantas. — respondeu uma voz.
Marina fez uma careta quando Mike virou a cabeça para olhar o arco
que estava apoiado em um tronco. Erin riu de sua reação enquanto Charlie
se levantou e caminhou para cheirar o arco. Mike riu quando o arco rosnou
para Charlie. O filhote ganiu e correu de volta para deitar ao lado de Erin.
— Isso é real? — Mike perguntou, estudando o arco.
Um sorriso relutante curvou os lábios de Marina ao som de admiração
em sua voz. Ela olhou para seu arco antes de se concentrar em cortar as
raízes que ela trouxe para o café da manhã. Uma vez fervido, faria uma
refeição espessa, cremosa e deliciosa, rica em proteínas e nutrientes.
— Meu pai me deu o Sr. Bow quando completei oito verões. A madeira
veio de uma antiga árvore de sabugueiro. São as árvores mais antigas da Ilha
da Magia. Dizem que as árvores mais velhas foram plantadas pela própria
Deusa e contêm os elementos da magia que nos dão nosso poder. A floresta
é protegida por uma magia tão antiga que nem a maldade da Bruxa do Mar
pode tocá-la. Papai recebeu o dom de um galho depois de curar uma árvore
doente. Meu dom de magia vem dele enquanto o de Erin vem de nossa mãe.
Gostamos de provocar Geoff e dizer que ele foi encontrado, porque ninguém
sabe de onde veio o dom dele. — disse Marina, olhando para cima quando
Geoff entrou com o pote de água.
— Isso não é verdade. Nossa avó é uma metamorfa. Aqui está a água —
Geoff disse, colocando a panela de água fria na cama de brasas do fogo.
— Obrigada. — respondeu Marina, acrescentando as raízes à água.
— Erin, você quer levar Charlie para passear? — Geoff perguntou com
um olhar esperançoso para sua irmã mais nova.
—Sim. — Erin respondeu, levantando-se. — Vamos, Charlie.
Marina olhou para cima com uma carranca preocupada.
— Não vá muito longe e mantenha os olhos abertos. — ela advertiu.
— Nós vamos. — Geoff prometeu.
Ela mordeu o lábio e observou enquanto eles deslizavam pela abertura.
Ambos estavam cientes dos perigos, mas ela não podia deixar de se preocupar
depois de ontem. Erin parecia melhor esta manhã, mas ela ainda estava
pálida e magra demais para sua idade.
Sua irmã havia perdido peso nos últimos meses. O esforço de cuidar de
tantas crianças que adoeceram e depois adoecer deixou Erin com pouco
apetite. Quando eles voltassem ao acampamento mais tarde hoje, ela
colocaria as pedras curativas ao redor de Erin novamente.
— O que é isso? — Mike perguntou com uma fungada.
Marina piscou e virou-se para olhar para Mike. Ela abriu os lábios
enquanto olhava para a boca dele. Ela se perguntou como seriam os lábios
dele contra os seus.
Ele deve ter lido a expressão dela porque ele se inclinou para frente e
segurou seu rosto com a mão. Ela ergueu os cílios e ficou cativada pela
expressão ardente em seus olhos.
— Mike... — murmurou Marina, inclinando-se para ele.
Um gemido suave escapou dela quando seus lábios capturaram os dela.
Ela levantou os braços e os envolveu em volta do pescoço dele quando ele
deslizou as mãos em volta da cintura dela e a levantou o suficiente para puxá-
la para seu colo. Ela enfiou os dedos pelo cabelo curto dele, segurando-o
contra ela.
Suas respirações quentes se misturaram enquanto suas línguas se
entrelaçavam, cada uma procurando satisfazer a fome que havia sido
acendida. Marina sentiu a magia dentro dela subir a um nível que nunca
havia experimentado antes. Seu corpo tremia com a necessidade do homem
que salvou sua vida e se conectou com ela em um nível elementar.
— Uau!
O som do latido de Charlie trouxe Marina de volta à realidade. Ela
relutantemente quebrou o beijo, com os olhos ainda fechados enquanto se
agarrava à onda de emoção que ainda a invadia. Com os cílios estremecendo,
ela olhou para cima quando sentiu Mike enrijecer e ouviu sua respiração
rapidamente inalada.
Seu olhar atordoado encontrou o dele. Sua mão deslizou de sua cintura
para tocar sua bochecha com ternura. Seus dedos deslizaram ao longo de sua
pele corada e aquecida. No reflexo de seus olhos, ela podia ver o brilho que a
rodeava.
— Eu não tenho certeza do que está acontecendo, mas posso prometer
a você, pretendo ver onde isso nos leva. — ele afirmou com uma voz
determinada.
Marina corou de prazer e o soltou. Seu corpo estava brilhando
literalmente. Ela estendeu as mãos na frente dela e as virou. Olhando para
cima, seus lábios se separaram. Ela podia ver a admiração refletida em seu
olhar. Ele podia ver sua aura.
— Marina, a comida está pronta? Estou morrendo de fome. — Erin
chamou.
Marina deslizou do colo de Mike e se ajoelhou na frente do fogo
novamente quando Charlie, seguido de perto por Erin e Geoff, entrou em seu
pequeno abrigo. Ela rapidamente pegou a colher e mexeu o mingau de raiz
que estava cozinhando.
Por sorte, não grudou no fundo da panela nem queimou.
—Está quase pronto. — disse Marina.
Erin fez uma pausa quando começou a se sentar e olhou para ela.
Marina podia sentir as bochechas esquentando e teve que resistir à vontade
de lamber os lábios. Erin afundou o resto do caminho e inclinou a cabeça.
— Você está se sentindo bem? Você parece corada. — Erin perguntou
preocupada.
— Estou bem. Aqui, precisamos comer e sair. Ainda temos um longo
caminho a percorrer antes de voltarmos ao acampamento. — Marina disse,
estendendo uma tigela de mingau para Erin.
Capítulo Nove

Menos de uma hora depois, Mike estava seguindo Marina enquanto eles
navegavam por uma trilha estreita na montanha. De um lado havia uma
parede de pedra, enquanto do outro havia uma queda íngreme e coberta de
árvores. Desta vez, Geoff liderou o caminho com Charlie, Erin, Marina e Mike
seguindo uma fila única atrás dele.
Pela primeira vez, Mike notou que, embora a blusa de Marina parecesse
preta, na verdade era um verde floresta que mudava de cor com a luz do sol.
As cores a ajudaram a se misturar com a floresta ao redor. Ele jurou que às
vezes, ela realmente parecia desaparecer de vista.
Ele tinha que admitir que estava fascinado com tudo sobre essa mulher
que caminhava na frente dele. O beijo compartilhado mais cedo naquela
manhã continuava tocando como um disco quebrado em sua mente. O sabor
dos seus lábios, a sensação do seu corpo quente contra o seu, a paixão em
sua resposta - inferno, até mesmo sua própria reação!
Ele a queria. Não havia como negar, e ele nem ia tentar.
Quando ela se afastou depois de ouvir o latido de Charlie, sua pele
estava brilhando. O vívido arco-íris de cores envolveu sua mão quando ele a
tocou. Houve uma sensação de formigamento, quase como se ele tivesse
tocado uma daquelas bolas de plasma com as quais costumava brincar
quando criança.
Ele queria saber mais sobre ela, e ele queria protegê-la.
Observá-la dormir na noite anterior despertou um forte instinto protetor
dentro dele que o surpreendeu. Ele não havia sentido uma reação tão forte
por ninguém antes, nem mesmo por Ruth. Claro, ele nunca teve que se
preocupar com uma bruxa malvada do mar, Cães do Inferno, ogros, reinos
mágicos, ou coisas assim com sua irmã, apenas um ex-marido fracote.
Um estremecimento passou por ele ao pensar em sua irmã. Ele tinha
que encontrar um caminho de volta. Se não o fizesse, não havia dúvida em
sua mente de que Ruth viraria o Yachats State Park de cabeça para baixo
tentando encontrá-lo. Se havia uma coisa que sua irmã era, era tenaz. Ela
poderia ser pior do que Charlie com um osso para mastigar!
— Estamos quase lá. — Marina comentou por cima do ombro, puxando-
o de volta ao presente.
— Certo. — respondeu Mike.
Quase quinze minutos depois, o caminho fez uma curva para baixo e se
abriu para revelar uma área ampla e plana perto da base da montanha. Mike
fez uma pausa quando viu os abrigos improvisados. Havia meia dúzia de
pequenas fogueiras acesas do lado de fora das estruturas de galhos e folhas
trançadas. Dezenas de crianças de todas as idades pararam para olhar para
eles com medo por um breve momento antes que um grito de alívio e excitação
ressoasse do grupo.
Mike rapidamente se viu cercado por um mar de rostos sujos e cansados
olhando para ele com curiosidade, reserva e um toque de esperança. Ele virou
a cabeça e fixou o olhar em Marina quando ela estendeu a mão e gentilmente
tocou várias das crianças amarrotadas. Uma combinação de amor, tristeza e
determinação se refletiu em sua expressão.
— Quem são eles? Porque eles estão aqui? — ele perguntou. Uma
carranca escura e perplexa vincou sua testa quando ele não viu ninguém
mais velho do que Marina. — Onde estão os adultos?
— Desapareceram. — Marina respondeu tranquilamente enquanto
olhava em volta para o grupo subitamente silencioso. — Seus pais e muitos
de seus irmãos e amigos foram transformados em pedra pela Bruxa do Mar
por se recusarem a se juntar a ela. As poucas aldeias que sobreviveram são
aquelas que prestam homenagem a Magna, na esperança de se salvarem. As
crianças que você vê aqui foram as únicas sortudas o suficiente para escapar
para a floresta antes que o feitiço consumindo suas aldeias pudesse afetá-
las.
Os olhos de Mike se arregalaram quando a devastação em grande escala
do que aconteceu com o povo de Marina o atingiu. Ele estava em um mundo
estranho, entre uma onda de crianças de cabelos mogno e violeta cujos pais
foram transformados em pedra por uma Bruxa do Mar direto de um conto de
fadas. Ele engoliu em seco enquanto observava Charlie movendo-se
ansiosamente de um corpinho para o outro, lambendo-os e consumindo a
atenção. Ele voltou seu olhar para Marina quando ela gentilmente tocou seu
braço.
— Venha, preciso verificar algumas coisas. Eu também quero ter certeza
de colocar as pedras de cura em Erin por um tempo. Antes do pôr do sol, vou
preparar alguma comida para nós. Conheço um lugar onde podemos
conversar em particular. — disse ela em voz baixa.
Mike assentiu.
— O que posso fazer para ajudar? — ele perguntou enquanto a seguia.
Um sorriso agradecido iluminou suas feições.
— Se você puder ajudar Geoff a verificar os abrigos, eu agradeceria. As
crianças estavam construindo quando partimos alguns dias atrás. — disse
ela.
Mike olhou ao redor do pequeno acampamento e assentiu.
— Eu posso fazer isso. — ele respondeu.
Ele se virou para olhar para Marina quando ela tocou em seu braço. Ele
viu um lampejo de incerteza em seu rosto antes que ela respirasse fundo, se
inclinasse e roçasse um beijo em sua bochecha. Ele envolveu seus braços ao
redor de sua cintura, puxando-a com força contra ele.
— Mike! — Marina engasgou surpresa, olhando para ele.
— Isso não é um beijo. — Ele abaixou a cabeça até que estava a um
fôlego de seus lábios. — Agora... isso é um beijo. — ele murmurou.
Ele capturou seus lábios entreabertos. Não havia dúvida em sua mente
de que ele queria esta mulher com uma paixão que quase lhe tirava o fôlego.
A química entre eles imediatamente acendeu um fogo dentro dele, e o beijo
travesso que ele tinha planejado logo se transformou em um tipo de beijo
esqueça-o-mundo-essa-mulher-é-minha. Ele levantou uma mão e enroscou
os dedos em seus cabelos para poder aprofundar o beijo.
Mike literalmente se esqueceu de tudo, menos da mulher suave e quente
em seus braços. Pelo menos, ele fez até sentir um puxão na perna da calça.
Rompendo o beijo com um grunhido impaciente, ele virou a cabeça para ver
o que o havia perturbado.
Sua expressão clareou quando viu uma jovem que não devia ter mais de
três anos olhando para ele com olhos arregalados de um azul cristalino. Suas
bochechas tinham manchas de sujeira nelas, e seu cabelo encaracolado azul-
gelo estava em um rabo de cavalo torto. Mike ouviu o gemido suave de Marina.
— Kacie, onde está seu irmão? — Marina perguntou.
— Toque! — Kacie exigiu, ainda olhando para Mike.
Mike fez uma careta para o olhar penetrante.
— Por que ela está me encarando? — ele perguntou.
— Ela está tentando ler você. Kacie é uma empata. —explicou Marina.
— Uma empata… — Mike balançou a cabeça. — Eu não acho que seria
uma boa ideia para ela me ler no momento.
Marina virou-se para olhá-lo com o cenho franzido.
— Por quê? — ela perguntou.
— Porque o que eu estou pensando e sentindo é definitivamente apenas,
apenas para maiores. — ele admitiu com tristeza.
— Eu não… — Marina começou antes que o entendimento
amanhecesse. Seu rosto ficou vermelho rosado. — Oh!
— Sim, isso resume tudo. — ele riu.
— Kacy! Kacie, onde você está? — um menino chamou de fora de um
dos abrigos.
Mike podia ver o menino procurando freneticamente pela garotinha.
Marina se inclinou e pegou Kacie. O menino virou-se para eles quando viu
sua irmã. Mike podia ver a expressão exasperada do garoto. Um sorriso
curvou seus lábios - Ruth tinha usado a mesma expressão com ele mais de
uma vez.
— Eu encontrarei Geoff. — Mike disse.
— Acho que Kacie e eu vamos checar Erin. — Marina respondeu antes
de se voltar para ele. — Eu te vejo mais tarde?
Mike podia ouvir a ligeira hesitação em sua voz.
— Você pode apostar sua bunda que você vai. — ele retrucou com uma
piscadela.
Virando-se, ele atravessou o acampamento até o abrigo em que Geoff
estava trabalhando. Ele precisava de algo para manter sua mente ocupada –
bem, pelo menos parcialmente ocupada, se não fosse por outra razão, a não
ser para manter seu corpo sob controle. No momento, seu pênis ainda estava
duro, e ele podia sentir o desejo sexual ainda puxando-o.
— Isso não é nada como ter quatorze anos – isso é muito, muito pior.
Estarei entrando em sérios problemas se não for cuidadoso. — ele murmurou
baixinho.

Marina mordeu o lábio enquanto observava Mike trabalhando com


Geoff. O dia havia esquentado e ele havia tirado a jaqueta e o suéter. A camisa
preta de manga curta que ele usava sob o suéter grudava em seu corpo,
destacando seu peito largo e barriga lisa. Um leve rubor aqueceu suas
bochechas quando Mike virou a cabeça como se sentisse seu olhar e a pegou
olhando para ele. Ela sussurrou para uma das outras meninas que vieram se
sentar com Erin enquanto Marina ajudava a preparar a comida para as
crianças mais novas.
— Você gosta dele. — Erin observou.
Marina corou e franziu os lábios quando várias das outras meninas
riram. Ela respirou fundo, soltou um suspiro alto e fez uma careta para as
outras garotas que agora a observavam. Seu olhar voltou para Mike, onde ele
estava amarrando uma parte da parede que ele e Geoff haviam construído.
— Ele não é do nosso mundo. — Marina murmurou, voltando sua
atenção para mexer os vegetais selvagens que duas das outras garotas tinham
coletado, limpado e cortado.
— Por que isso deveria importar? Papai sempre disse que amaria
mamãe, mesmo que ela viesse da Ilha dos Monstros. — Erin respondeu com
uma sobrancelha levantada.
Marina riu.
— Mike não é de nenhum dos reinos do nosso mundo. É natural que ele
queira voltar para o lugar de onde veio. — explicou.
— Então, de que reino ele vem? — Chai, uma jovem da mesma idade de
Geoff, perguntou.
— Ele veio de um lugar estranho com muitos nomes que eu nunca ouvi
falar. — admitiu Marina.
— Podemos ir ao mundo dele? Estaríamos seguros lá? — perguntou
Dara.
O olhar esperançoso da jovem fez com que Marina se sentisse comovida.
Ela balançou a cabeça. Mesmo que ela soubesse como abriu o portal em
primeiro lugar, ela duvidava seriamente que pudesse fazê-lo novamente.
Entregando a colher que estava usando para mexer a grande panela de
sopa para Chai, Marina se levantou e foi até onde sua irmã estava sentada.
Ela passou a mão pela testa de Erin. Ela deu um suspiro de alívio quando
sentiu frio ao seu toque – as pedras curativas tinham feito sua mágica.
— Marina... O que faremos? — Erin perguntou.
— Eu não sei, mas pensarei em alguma coisa. — ela respondeu.
Ela pausou, sua mão ainda contra a bochecha de Erin. As outras
garotas pararam o que estavam fazendo para olhar para ela. Ela podia ver o
cansaço em todos os rostos. Olhando ao redor do acampamento, ela não só
podia vê-lo nos rostos das outras crianças, mas senti-lo no ar. O movimento
constante, a falta de comida regular, a doença que varreu o pequeno grupo e
o medo perpétuo de serem encontrados estava afetando a todos.
Uma vez que seu novo acampamento estivesse terminado, ela deixaria
Geoff no comando do grupo e procuraria a ajuda da única pessoa que poderia
entender como ela havia aberto o portal entre seu mundo e o de Mike. Ela
também pediria ajuda para alcançar os outros reinos. O desespero a encheu
com o pensamento de que os outros reinos a mandariam embora.
— Marina! Terminamos o último abrigo. — Geoff disse com um sorriso
fácil.
Marina tirou a mão da bochecha de Erin. Uma risada escapou dela
quando Charlie apareceu e lambeu a bochecha de sua irmã. Claro, o filhote –
animado com todas as reações das garotas – teve que dar uma lambida em
cada uma. O grito de riso era música para seus ouvidos. Fazia tanto tempo
que não ouvia o som feliz que muitas vezes se perguntava se algum dia o
ouviria novamente.
— Parece que Charlie encontrou algumas vítimas dispostas a amar. —
Mike riu.
Marina sobressaltou-se. Ela estava tão concentrada nas travessuras de
Charlie que não ouviu a aproximação de Mike. Girando, ela se encontrou em
seus braços mais uma vez. Erguendo a cabeça, ela respirou fundo quando
viu o fogo queimando em seus olhos.
— Eu... Sim, ele encontrou. — disse ela com uma voz ligeiramente
ofegante.
— Você precisa de ajuda com mais alguma coisa? — perguntou Mike.
As risadas atrás de Marina lhe diziam que as garotas sabiam
exatamente o que estava acontecendo – bem, pelo menos as mais velhas. Até
Geoff estava olhando para ela de um jeito engraçado. Com um leve grunhido
de aborrecimento, Marina olhou para as crianças que os observavam e
ouviam com tanta atenção. Claro, tudo o que fez foi fazê-las rir ainda mais.
— Senhor Bow, vamos pescar. — Marina chamou.
Em um flash, o arco voou pelo ar até sua mão estendida. Virando-se,
ela jogou sua longa trança por cima do ombro. Ela tinha dado apenas alguns
passos antes de parar abruptamente.
— Você... Você gostaria de me ajudar a pegar alguns peixes para o
jantar? — Ela perguntou, olhando para Mike por cima do ombro.
— Claro que eu adoraria ajudá-la! Que tipo de homem recusa a oferta
de uma viagem de pesca com uma linda bruxa? — ele brincou.
— Um homem inteligente, se ele não quiser ter que limpar aquelas
coisas nojentas e se contorcendo. — Sr. Bow retrucou.
Um olhar surpreso apareceu no rosto de Mike antes que ele explodisse
em uma risada profunda e rica que enviou uma onda de necessidade através
de Marina. Como poderia a risada de um homem fazê-la querer tirar suas
roupas e fazer coisas selvagens com ele? Ela gemeu baixinho quando ouviu o
riso das crianças novamente. Concentrando-se em para onde estava indo, ela
atravessou o acampamento em direção a um caminho que descia até o rio.
— Marina — disse Mike, seguindo-a pelo caminho sinuoso. — Marina,
espere.
Marina parou. Ela manteve as costas rígidas e a cabeça erguida.
Girando sobre o calcanhar, ela encarou Mike. Confusão, frustração e outra
emoção que ela não entendia lutavam dentro dela.
— O que é? — ela exigiu.
Mike parou na frente dela. Levantando a mão, ele gentilmente puxou
um longo pedaço de palha que se enroscou no cabelo dela. Ele o segurou,
girando-o entre os dedos.
— Isso.. .— ele disse antes de se abaixar para roçar um beijo em seus
lábios. — E isso.
Suas pálpebras baixaram para esconder sua confusão. Mais uma vez,
ela sentiu a necessidade crescendo dentro dela, uma necessidade de tocá-lo,
beijá-lo e estar perto dele de uma maneira que ela nunca esteve com um
homem antes. Sua magia estendeu a mão para envolvê-lo. Ela podia ver as
espirais de sua aura se curvando para fora.
— Mike….
A voz dela sumiu. Ela honestamente não sabia o que dizer a ele. Como
ela podia explicar a onda de emoções que a enchia sempre que pensava nele
quando ela mesma não as entendia?
— Eu sei, Marina. Eu sinto isso também. — ele disse, segurando sua
bochecha e se inclinando para escovar outro beijo em seus lábios.
— Pescar - é isso que deveríamos estar fazendo, certo? Ou você estava
planejando usar a minhoca de Mike? — Sr. Bow comentou secamente.
Uma onda de constrangimento varreu Marina, e ela ergueu o arco e o
sacudiu.
— Eu deveria usar você como lenha. — ela ameaçou, segurando seu
arco para que ela pudesse encará-lo. — Como mamãe permitiu que papai me
desse você está além do pensamento racional. Você é completamente
incorrigível!
— Minha personalidade vem naturalmente, é claro. Todas as árvores
mais velhas nascem com um senso de humor seco. — retrucou Bow.
— Eu sinto muito. — Marina disse com uma careta de desculpas para
Mike. —Eu realmente não tenho controle sobre o que o Sr. Bow diz.
Mike riu.
— Posso imaginar que ter o Sr. Bow pode tornar a vida muito
interessante às vezes. — ele respondeu, dando um passo ao lado dela e
enfiando os dedos em sua mão.
— Você não tem ideia. — ela murmurou.
Um calafrio a percorreu quando ele ergueu sua mão e deu um beijo nas
costas dela. Ela fechou os olhos brevemente e respirou fundo. Por pouco
tempo, ela queria esquecer tudo, menos eles.
— Pesca, Marina. Vai escurecer em breve. — Sr. Bow a lembrou.
— Eu sei, Sr. Bow — disse Marina com relutância, soltando o ar com
um suspiro e se afastando de Mike.
Capítulo Dez

O rio era raso ao longo das margens antes de se aprofundar


gradualmente no centro. Grandes pedregulhos, arrastados da montanha ao
longo do tempo, criaram pequenas piscinas paradas. A água era cristalina
aqui, o que facilitava a visão dos peixes que gostavam de nadar em águas
mais calmas.
Eles trabalharam em silêncio. Mike observava com espanto enquanto
Marina ficava em cima de uma das pedras e puxava a corda do arco para trás.
Uma flecha brilhante apareceu. Ela ficou firme - observando e esperando -
antes de soltar a corda do arco.
Mike decidiu que teria sido mágico apenas assistir Marina sem o Sr.
Bow. Uma corda dourada estava presa à flecha, e ela puxava o peixe e o jogava
para ele. Usando a faca que Geoff lhe dera mais cedo, Mike limpou o peixe,
filetando e colocando-os em cestos de trepadeiras que Marina havia criado.
Cada peixe tinha quase o dobro do tamanho do Salmão Selvagem que ele
costumava pescar no Alasca, e eles rapidamente encheram duas grandes
cestas de tecido.
Ele havia terminado o último quando um som incomum o fez olhar para
cima. Ele congelou com a mão no ar. Do outro lado do rio havia uma criatura
enorme e peluda que parecia um cruzamento entre um King Kong em
miniatura e um búfalo. Cabelos desgrenhados, castanho-escuros e pretos
cobriam seu corpo. Do pescoço para baixo, parecia e andava como um
macaco. Ele tinha um focinho longo e chifres que se curvavam ao longo de
seu crânio, que davam voltas em ambos os lados, terminando em pontas
afiadas.
A besta levantou a cabeça e cheirou o ar. Uma sensação de desconforto
tomou conta de Mike quando a criatura abaixou a cabeça e olhou para ele.
Respirando fundo, ele manteve seu olhar na criatura.
— Marina... Temos companhia. — ele chamou suavemente.
— Eu sei. — ela respondeu.
O olhar de Mike piscou para Marina onde ela estava na pedra, sorrindo.
Ele se virou para olhar para a criatura que agora estava atravessando a
água. Mike deu um passo instintivo para trás quando chegou ao meio do rio.
— Eu não sei se devo congelar, correr como um louco ou me beliscar. —
disse ele.
A risada de Marina encheu o ar. Era quente, sexy e o fez pensar em
todos os tipos de coisas, o que ele não deveria fazer no momento. Do canto
do olho, ele a observou se agachar e deslizar para baixo da pedra. Ela
caminhou até a beira da água e esperou.
— Venha aqui, meu amigo. — Marina murmurou, levantando a mão
direita.
Mike assistiu incrédulo enquanto ele terminava de cruzar o rio e
caminhava lentamente até a borda rochosa. O macaco d'água, como ele
decidiu chamá-lo por falta de um nome melhor, parou e abaixou a cabeça
para a mão de Marina. Ele cheirou sua palma antes de lambê-la.
— O que ele está fazendo? — Mike perguntou com uma voz curiosa.
Marina olhou para ele por cima do ombro e sorriu.
— As Bestas do Rio adoram peixes. Eles são normalmente criaturas
solitárias e geralmente só descem das árvores para se alimentar. Este devia
estar por perto e sentiu o cheiro do peixe que você estava limpando. —
explicou ela.
— Ah... Tipo um coala gigante, só que não. — respondeu ele.
— Eu não sei o que é esse coala, mas eles normalmente são criaturas
muito gentis para seu tamanho. — ela disse, coçando a testa da Besta do Rio.
— Você poderia trazer os restos de um dos peixes para mim, por favor?
Mike cuidadosamente se abaixou e pegou um dos restos descartados de
um peixe. Ele se endireitou e caminhou lentamente em direção à Besta do
Rio. O animal tinha uma cabeça do tamanho de um táxi e tinha quase seis
metros de altura. Segurando o peixe, ele ficou surpreso quando a criatura
estendeu uma mão e apertou o rabo entre o indicador e o polegar.
Ele soltou o peixe quando a Besta do Rio o levantou. A criatura parou
para olhar para ele por um momento antes de inclinar a cabeça para trás e
abrir a boca. A carcaça do peixe desapareceu em uma mordida. Mike
cambaleou para o lado quando a Besta do Rio passou lentamente por ele em
direção à pilha de restos de peixes.
— Ei, não… — Mike começou a protestar quando a fera parou perto de
uma das cestas.
— Está tudo bem. Ele não vai pegar o peixe na cesta. Ele sabe que
precisamos deles. — ela murmurou.
Ele virou a cabeça quando sentiu Marina tocar seu braço. Ela lhe deu
um sorriso encorajador antes de acenar para a fera. Com certeza, a criatura
virou a cabeça de volta para a pilha de restos mortais. O chão tremeu um
pouco quando a Besta do Rio de repente sentou-se sobre as patas traseiras.
Estendendo a mão, a criatura lentamente começou a comer as carcaças de
peixe, uma de cada vez.
— Tem sido difícil para eles desde que a Bruxa do Mar criou seus Cães
do Inferno. No ano passado, encontrei os restos de três Bestas do Rio. — disse
Marina com uma voz triste antes de balançar a cabeça e olhar para o céu. —
Estará escuro em pouco mais de uma hora. É melhor voltarmos para o
acampamento.
Mike assentiu. Ele observou enquanto Marina caminhava até a criatura.
Ela gentilmente acariciou a Besta do Rio antes de murmurar algo para ela.
Um sorriso levantou o canto de sua boca quando a criatura bufou e pegou o
último peixe. Ele deu um passo para o lado quando passou por ele, dirigindo-
se mais uma vez para o rio. Ele acompanhou a partida da criatura até que ela
desapareceu na floresta do outro lado.
Virando-se, Mike notou que Marina havia pegado uma das cestas e
estava esperando por ele. Ele se aproximou e pegou a outra. Eles caminharam
de volta para a aldeia em silêncio, cada um perdido em seus próprios
pensamentos mais uma vez.

Quase uma hora depois, o cheiro de peixe grelhado fresco e sopa rica
enchia o ar em torno da aldeia, juntamente com os suspiros felizes de
crianças saciadas. Marina ficou impressionada que Mike a ajudou e as
crianças mais velhas a preparar pratos para as crianças mais novas primeiro.
Somente quando todos os outros haviam terminado de comer e começaram a
se acomodar é que Marina e Mike prepararam uma refeição para si mesmos.

Com um sorriso incerto, Marina fez sinal para que Mike a seguisse
enquanto ela saía da cabana. Por hábito, seus olhos examinaram a área para
se certificar de que tudo estava como deveria estar. As crianças mais velhas
estavam limpando e conversando baixinho enquanto as mais novas já
começavam a se acomodar para a noite. O peso do feitiço da Bruxa do Mar
drenava a energia das crianças mais novas mais rapidamente do que as mais
velhas.
Marina podia sentir o feitiço puxando seu próprio corpo. Por um breve
momento, seu olhar encontrou o de seu irmão. Ele estava deitado perto de
uma das fogueiras ao ar livre com Charlie enrolado ao seu lado. Geoff deu a
ela um olhar preocupado. Ela sorriu em segurança. Ela sabia que ele ainda
estava preocupado com Erin. Satisfeito, ele deitou a cabeça para trás.
— Há um lugar não muito longe daqui que eu gosto de ir à noite. Fica
perto o suficiente do acampamento para que eu possa ouvir se alguém
precisar de mim, mas longe o suficiente para que possamos conversar em
particular. — murmurou Marina.
Ele inclinou a cabeça, deixando-a saber que ele a ouviu. Marina abriu
caminho pelo pequeno acampamento e seguiu em direção a um caminho que
cortava as rochas do lado oposto do outro caminho que levava ao rio.
Ambos caminharam em silêncio até que emergiram por uma abertura
estreita em uma larga saliência que dava para a ilha. Deste ponto de vista,
uma pessoa podia ver quase tudo.
— Uau!— Mike exclamou em voz baixa. — Isto é incrível.
Marina riu e fez sinal para que ele se sentasse ao lado dela enquanto ela
se sentava em uma pedra plana. Havia uma brisa leve, e ela levantou a cabeça
para inspirar profundamente o ar fresco. Apesar de sua exaustão, ela não
podia deixar de apreciar a beleza de sua casa.
— Experimente uma dessas. — ela sugeriu em voz baixa, acenando para
uma grande semente verde. — O líquido dentro é muito refrescante e bom
para o corpo.
Mike pegou uma das vagens verdes. Ele estudou por um momento antes
de dar uma mordida. Ela sorriu quando seus olhos se arregalaram de
surpresa antes de devorar a vagem nutritiva.
— Isso é delicioso! — ele exclamou, pegando outra.
— Eles são e, felizmente, são abundantes se você souber onde procurar.
— respondeu ela.
Marina equilibrou o prato no colo. De onde estavam sentados, tinham
uma visão perfeita do vale e do litoral. Comeram em silêncio, observando as
luas gêmeas se erguerem e iluminarem o vale lá embaixo. Ao longo da costa,
as ondas quebrando contra a costa rochosa e o brilho das algas
bioluminescentes faziam a água parecer um rio de estrelas azuis.
— Conte-me sobre o seu mundo, Mike. — Marina calmamente
encorajou, não olhando para ele, mas olhando para o vale. — Como é?
Como... é sua vida lá?
— É diferente. — admitiu Mike. Ele se virou para ficar de frente para a
mulher incomum sentada ao lado dele. — As coisas sobre as quais você fala
pertencem aos contos de fadas do meu mundo. Sou detetive do Gabinete do
Xerife do Condado de Lincoln. Eu estava investigando o desaparecimento de
duas mulheres que sumiram nos últimos dois anos...
Marina se virou para olhá-lo quando sua voz sumiu. Ela estudou a onda
de expressões que cruzaram seu rosto enquanto ele olhava para o prato em
suas mãos. Uma carranca escura vincou sua testa. Ele colocou seu prato
vazio na rocha ao lado dele e se levantou para caminhar até a borda. Marina
colocou seu prato em cima do dele e se levantou. Ela silenciosamente
caminhou até ficar ao lado dele. Ele estava olhando para a Ilha da Magia.
— O que é? — ela perguntou, inclinando a cabeça.
Ao longe, ela mal conseguia distinguir as torres que faziam parte do
Palácio. Elas se erguiam acima das árvores como uma mão sombria
alcançando as luas. Um calafrio a percorreu, e ela colocou os braços em volta
da cintura.
Tanta alegria tinha acontecido lá. Agora, apenas a tristeza e o mal viviam
dentro das outrora magníficas paredes de pedra.
— Eu me pergunto...— ele sussurrou, sua voz fraca como se ele
estivesse imerso em pensamentos.
— Eu me pergunto se elas encontraram um caminho para o seu mundo.
— Quem encontrou um caminho? — Marina perguntou, confusa.
— As duas mulheres que eu estava investigando…— ele respondeu, sua
voz desaparecendo novamente.
— Não houve mulheres estranhas aqui. Se houvesse, Isha teria contado
a papai e mamãe. A notícia de tal evento teria se espalhado rapidamente. —
ela disse, mordendo o lábio e franzindo a testa. — Mas... Isha mencionou algo.
Ele virou para encará-la. Ele estendeu a mão e agarrou seus braços em
um aperto leve, mas firme. Imediatamente, ela podia sentir a explosão de
energia correndo por ela.
A força disso era tão poderosa que por um momento ela perdeu o fôlego,
e ela esqueceu do que eles estavam falando.
— Ele mencionou… — ele perguntou quando a voz dela sumiu.
Ela olhou para ele.
— Eu ouvi Isha conversando com papai e mamãe sobre como Drago, o
Rei Dragão, havia acordado. Deve ter sido uns dois anos atrás. Isha disse que
a Rainha acreditava que coisas boas aconteceriam. Os dragões eram
magníficos de se ver e nenhum era mais poderoso que Drago. Eu não era
muito mais velha que Erin quando Drago desapareceu. Diz-se que ele ficou
tão triste com a perda de todo o seu povo, que a Ilha dos Dragões desapareceu
em uma névoa de tristeza. Havia apenas duas coisas que Pai disse que
poderiam despertar o Rei dos Dragões - uma era o retorno de seu povo e a
segunda era alguém tentando roubar o tesouro do dragão. — Um sorriso
confuso curvou seus lábios. — Isha disse que uma mulher estranha havia
roubado algo de extremo valor; ela havia roubado o coração de Drago. Isha
disse a Pai que o Rei e a Rainha enviaram um presente de paz e parabéns...
E pouco antes da Bruxa do Mar tomar posse da Ilha da Magia, eu estava
conversando com uma amiga minha da Ilha da Serpente do Mar. Karin me
disse que o Rei do Mar havia tomado uma noiva que enfrentou a Bruxa do
Mar - uma estranha de outro mundo com cabelos da cor do coral de fogo.
— Cabelo da cor do coral de fogo…. Ela tinha que estar falando sobre
Jenny Ackerly. — Mike sussurrou, olhando para ela com espanto. — Tem que
ser elas. Carly Tate tinha uma queda por dragões. Todos que entrevistei
falaram sobre sua obsessão por eles. Jenny Ackerly tem cabelo ruivo. Elas
devem ter encontrado um caminho para este mundo de alguma forma.
— Você quer dizer que as mulheres vieram do seu mundo também? —
Marina perguntou, seus lábios se abrindo quando a esperança começou a
brilhar dentro dela. — Se o fizeram, talvez se você falasse com elas, elas
falariam com seus companheiros. Elas poderiam convencer Drago e o Rei do
Mar a nos ajudar! O poder do Rei dos Dragões e do Rei do Mar certamente
seria demais para a Bruxa do Mar. Mike, você tem que falar com elas. Você
tem que pedir a ajuda delas. — ela implorou, agarrando seus braços. — Por
favor... pelo meu povo, pelos meus pais, pelos aldeões... e pelas crianças. Você
tem que nos ajudar.
Capítulo Onze

O pedido de ajuda de Marina o tocou profundamente. Os sentimentos


de descontentamento com sua vida que ele vinha lutando nos últimos anos
tinham desaparecido desde que ele a viu pela primeira vez. Inferno,
descontentamento era uma palavra que ele não associaria com Marina. Seu
corpo ganhou vida quando ele a tocou, fazendo-o se sentir energizado! Mesmo
as cores estranhas que giravam ao redor dela estavam agora fluindo ao redor
dele como se estivessem derretendo ao seu toque.
Sua mão esquerda subiu pelo braço dela, como se tivesse vontade
própria, para entrelaçar na trança grossa em seu pescoço. Ele espalmou seus
dedos contra a pele lisa e pálida dela. Ele ouviu sua respiração leve e rápida
quando ele capturou seus lábios suavemente entreabertos com os seus.
Mais uma vez, no momento em que seus lábios se conectaram, ele sentiu
a explosão familiar no fundo de seu estômago que se espalhou para fora,
lentamente envolvendo-o nos chicotes ardentes de suas chamas. Ele fechou
os olhos e jurou que podia ver uma explosão de luz brilhante como se uma
estrela tivesse acabado de explodir e se abrir diante dele, espiralando para
fora em uma massa de gases coloridos formando as galáxias. A intensidade
por trás desse beijo estava além de sua crescente atração física. Era como se
os fios prateados que compunham o tecido do universo estivessem tecendo
em torno deles e unindo duas metades de uma alma como uma só.
Então é isso que a magia faz, ele pensou atordoado quando um choque
de energia se derramou através dele em uma explosão após a outra.
Ele gemeu quando os lábios de Marina se separaram sob os dele,
enviando uma onda de fogo através dele. Um estremecimento o percorreu
quando ela timidamente tocou a ponta de sua língua em seu lábio inferior.
Seu corpo reagiu como um garoto de escola recebendo seu primeiro beijo
atrás das arquibancadas - apenas amplificado mil vezes.
Marina gemeu baixinho quando ele deslizou a outra mão pelo braço dela
e ao redor de sua cintura para puxá-la para mais perto. Deslizando a mão
que segurava seu pescoço ao redor de sua mandíbula, ele acariciou
delicadamente a linha forte enquanto aprofundava o beijo. Ele sabia que não
ia durar muito quando uma das mãos de Marina deslizou por seu peito e a
outra envolveu seu pescoço para segurá-lo contra ela. Um estremecimento o
percorreu quando a mão dela deslizou sob a barra de sua camisa até sua pele
aquecida. Quebrando o beijo, ele descansou sua testa contra a dela e respirou
fundo.
— Isso é loucura. Se não pararmos, estarei levando você aqui e agora.
— ele murmurou, fechando os olhos por um momento enquanto lutava para
controlar seu desejo. Ele abriu os olhos e recuou. A expressão vidrada de
Marina lhe disse que ela estava experimentando a mesma reação intensa que
ele havia sentido. — O que diabos acabou de acontecer? Quero dizer... eu sei
o que aconteceu, mas... o que diabos aconteceu?
Uma risada suave escapou de Marina enquanto ela olhava em seus
olhos atordoados.
— Dizem que quando uma bruxa toca aquele destinado a ser seu
companheiro, o universo se abre para eles por um momento para que possam
ver todas as maravilhas contidas nele e entender de onde vieram seus
poderes. — ela sussurrou. — Eu vi. Você viu?
— Se você quer dizer que vi fios de prata, o universo em cores vivas e
uma explosão que me deixou mais duro do que um… — ele amaldiçoou
suavemente e acenou com a cabeça. — Sim, eu vi. Mas o que isso significa?
Marina deslizou a mão para tocar sua bochecha.
— Isso significa que você é meu. — ela sussurrou.

Mike gemeu baixinho em seu sono. A sensação de calor contra sua


bochecha puxou sua consciência. Ele estava preso em um sonho que o fez
pulsar com mais do que uma típica ereção matinal. As palavras suavemente
murmuradas de Marina da noite passada ecoaram em sua mente junto com
a sensação de seus lábios contra os dele.

Você é meu... Você é meu... Você é meu...


— Marina.
O nome dela escorregou de seus lábios, e sua cabeça automaticamente
se virou para o hálito quente que roçou sua pele. Ele abriu a boca para
murmurar o nome de Marina novamente quando uma língua molhada,
seguida por sons de risadinhas infantis, o acordou.
Os gemidos rapidamente se transformaram em uma maldição sufocada
quando ele afastou o rosto peludo e a língua ansiosa de Charlie. Sentando-
se, ele passou as costas da mão pela boca e olhou furiosamente para o filhote
animado que agora estava sentado na frente dele com o rabo indo para trás e
para frente como um pêndulo em esteroides.
— Droga, Charlie. É melhor você não ter lambido suas bolas ou bunda
antes de enfiar essa maldita coisa na minha boca. — Mike rosnou.
Claro, isso era como agitar um osso suculento na frente do filhote.
Charlie se inclinou para frente e lambeu a mão que Mike havia levantado para
proteger sua boca. Ele virou a cabeça quando uma risada suave e feminina
se juntou às do grupo de crianças ajoelhadas ao seu redor. Corando, ele
deixou cair a mão no colo quando viu Marina parada atrás de sua curiosa
plateia. Ele levantou a outra mão instintivamente para bloquear Charlie
quando o filhote tentou chamar sua atenção novamente.
— Bom dia. — disse ele com uma voz rouca.
— Bom dia. — respondeu Marina. Ela se virou para o irmão com um
brilho malicioso nos olhos. — Geoff, você se importaria de levar a besta
dourada e o primeiro grupo de crianças ao rio para se lavarem? Não se
esqueça de montar guardas desta vez. — ela instruiu.
Geoff assentiu e se levantou.
— Sim. Vamos, Charlie. Você pode nos ajudar a proteger as crianças
mais novas.
Mike observou em silêncio enquanto o grupo caminhava lentamente
pelo acampamento com Geoff e Charlie na liderança. Ele se virou e rolou para
ficar de pé. Ele sentiu como se tivesse acabado de se deitar no estrado fino
no chão. Já era tarde quando ele finalmente adormeceu. Parte de sua falta de
sono veio do cansaço, mas a maior parte veio do que aconteceu entre ele e
Marina na noite passada.
Ele conteve um gemido quando seus músculos protestaram por dormir
no chão duro.
É por isso que os colchões de ar foram inventados, ele pensou com um
sorriso irônico enquanto esticava lentamente seus músculos doloridos. Ele
definitivamente estava ficando velho demais para acampar.
— Eu acho que Charlie adotou seu irmão. — ele comentou.
— Sim, eu acho que você está certo. — disse ela, olhando para todos os
lugares, menos para ele.
Ele observou enquanto ela timidamente empurrou para trás uma mecha
de cabelo que tinha soprado contra sua bochecha. Ele não podia suportar o
olhar de incerteza em seus olhos.
Eles ficaram conversando até depois das duas da manhã. Foi só quando
percebeu que Marina estava lutando para manter os olhos abertos que ele
insistiu que voltassem ao acampamento e descansassem um pouco. Ainda
assim, ele não resistiu ao desejo de beijá-la mais uma vez, pouco antes de ela
desaparecer no abrigo onde Erin dormia. Não tinha sido fácil, mas ele se
obrigou a se virar e ir até o catre que Geoff havia preparado para ele.
Quando ele chegou lá, ele teve que empurrar Charlie para fora de sua
cama como de costume. O Golden estava roncando quase tão alto quanto
Geoff. Depois de vários minutos empurrando, Charlie finalmente se levantou
e se deitou ao lado do menino. Em segundos, os dois estavam enrolados um
no outro, roncando.
Mike se viu olhando para as estrelas, tentando decifrar o turbilhão de
informações que Marina lhe contara sobre seu mundo e a Bruxa do Mar.
Outra hora se passou antes que seu cérebro finalmente se rebelasse.
Exausto, ele caiu em um sono inquieto.
Afastando seus pensamentos, ele instintivamente alcançou Marina,
puxando-a em seus braços. Ela endureceu no início antes de relaxar contra
ele e enterrar o rosto contra sua camisa. Segurando-a perto, ele deu um beijo
no topo de sua cabeça.
— Eu pensei muito sobre o que você me disse ontem à noite. Eu quero
que você saiba que eu farei o que puder para ajudá-la. — ele disse,
descansando sua bochecha contra seu cabelo.
Ela se afastou e olhou para ele com olhos arregalados e esperançosos.
— Você verá se as mulheres são do seu mundo e implorar para elas
buscarem a ajuda do Dragão e do Rei do Mar? — ela sussurrou, segurando
os lados de sua camisa em seus punhos com força.
Mike assentiu.
— Inferno, se nada mais, eu posso pelo menos fechar os dois casos em
que estava trabalhando. Eu prefiro descobrir que elas são casadas com
algumas criaturas mágicas de contos de fadas do que encontrar seus ossos
espalhados na floresta no Oregon. — ele respondeu.
— Mike… — Marina começou a dizer antes de se sacudir de horror
quando ouviu os gritos altos vindos do rio próximo. — As crianças!

O coração de Marina batia forte no peito enquanto ela segurava


firmemente o Sr. Arco e corria pelo caminho irregular. O medo e a auto
repreensão ameaçavam sufocá-la.
Ela estendeu a mão, quebrando o galho baixo e morto em pé que pendia.
Atrás dela, ela podia ouvir a respiração constante de Mike enquanto ele a
seguia.
Ela começou a gritar de raiva e frustração quando Mike de repente
colocou a mão em seu braço e a puxou para parar. Virando-se para ele, seu
protesto morreu em seus lábios quando ele balançou a cabeça em advertência
e levou um dedo aos lábios. Ela percebeu que ele estava certo; investindo
contra o que quer que estivesse à frente apenas os faria serem pegos ou
mortos. Ela engoliu seu protesto e assentiu, observando enquanto ele puxava
sua arma prateada e preta brilhante de sua bainha.
Ela estremeceu quando ele se colocou na frente dela, suas mãos
firmemente segurando a arma brilhante. Ele se moveu com um propósito
mortal que falava de um guerreiro habilidoso. O latido frenético de Charlie
ecoou pelo ar, misturando-se aos gritos de algumas das crianças.
Eles silenciosamente se moveram ao longo de uma linha de pedregulhos
que davam para o rio.
Mike parou no topo, examinando a situação abaixo. Marina se ajoelhou
na pedra áspera ao lado dele. Ela procurou freneticamente por seu irmão.
Impulsionada pelo medo quando não o viu, ela se levantou sem pensar e
ergueu seu arco enquanto um baixo grito de fúria escapava dela.
Atirando o mais rápido que podia, ela enviou flecha após flecha nas feras
que cercavam as crianças. Ao lado dela, Mike se levantou e disparou sua
arma em um Cão do Inferno que derrubou Charlie de lado e prendeu o filhote
no chão. A criatura rolou para o lado antes de ficar imóvel na água rasa do
rio. Marina não hesitou, ela disparou três flechas flamejantes na criatura para
se certificar de que ela estava morta. O corpo brilhou brevemente antes de se
transformar em cinzas.
Deslizando pela rocha, ela pousou levemente no chão rochoso.
Escaneando rapidamente a área, ela procurou nas sombras escuras por mais
criaturas. Mike pousou ao lado dela, virando-se para que eles ficassem de
costas um para o outro enquanto se dirigiam para o pequeno grupo de
crianças amontoadas.
Marina virou a cabeça para olhar para a criança mais próxima.
— Onde está Geoff? — ela exigiu.
— Eles o levaram. — respondeu uma das crianças com a voz trêmula.
— Haviam três deles. Eles vieram do outro lado do rio e nos pegaram de
surpresa. Geoff nos disse para correr quando os viu, mas um dos Cães do
Inferno bloqueou nosso caminho. Ele matou um antes que um dos homens
da Bruxa do Mar o deixasse inconsciente e o levasse embora. O... O ogro que
levou Geoff ordenou que o Cão do Inferno nos matasse.
— Não. — o choro suave de Marina ecoou quando ela caiu de joelhos.
A dor a atravessou. Marina sabia o que a Bruxa do Mar faria com seu
irmão - transformá-lo em pedra se ele não lhe desse informações sobre o
paradeiro de outros que se opusessem a ela. Marina inclinou a cabeça, fechou
os olhos e respirou profundamente.
— Marina — a voz rouca de Mike atravessou a dor e a raiva que
ameaçavam dominá-la.
Marina abriu os olhos lentamente, piscou para conter as lágrimas
ardentes e olhou para Mike enquanto ele se ajoelhava na frente dela. Seus
olhos começaram a arder novamente quando viu a preocupação e a
compaixão em seus olhos. Engolindo em seco, ela assentiu e virou o rosto em
sua palma quente quando ele a colocou contra sua bochecha.
— Eu tenho que ir atrás dele. — ela sussurrou.
— Nós iremos atrás dele. — Mike respondeu com uma voz dura. —
Juntos.
Marina assentiu lentamente e colocou a mão na palma estendida de
Mike.
Ambos se levantaram. Ela moveu seu olhar para as crianças que
estavam agora acariciando Charlie. As orelhas do filhote estavam caídas e
havia vestígios de sangue em seu pescoço, onde o Cão do Inferno o prendeu.
Ele choramingou baixinho quando os viu olhando para ele.
— Leve Charlie de volta ao acampamento e cuide de seus ferimentos. —
Marina instruiu em voz baixa. — Diga a Erin o que aconteceu e que vamos
atrás de Geoff.
— E os outros que foram buscar comida e madeira? — uma jovem
perguntou com uma voz trêmula.
— Erin e Chia saberão o que fazer. — Marina assegurou a garota com
uma voz calma e firme que desmentia o que ela realmente estava sentindo.
As crianças assentiram e se viraram. Marina esperou até que estivessem
fora de vista antes de se virar para olhar para Mike. A expressão em seu rosto
fortaleceu sua crença de que tudo daria certo. Qualquer que fosse a força da
natureza que o trouxera ao mundo dela, fosse por um feitiço mal feito ou pela
intervenção do destino, ela estava feliz por ele estar ao seu lado. Ela esperou
enquanto ele rapidamente ejetava algo da arma em sua mão e verificava antes
de deslizá-la de volta.
— Eles vão levá-lo de volta ao palácio. Há muitos deles para lutarmos.
— disse Marina com um sentimento de certeza.
— Você disse que este Drago e o Rei do Mar podem ajudar. — Mike disse.
— Se nada mais, o Rei do Mar é parcialmente responsável por essa bagunça.
Você pode entrar em contato com ele?
Ela deu uma sacudida dura em sua cabeça.
— Sou jovem e ainda estou aprendendo a magia do nosso povo. Isso
exigiria um poder que não possuo, mas conheço alguém que pode nos ajudar.
— respondeu ela.
— Você pode confiar nessa pessoa? — Mike perguntou com uma voz de
aço.
—Sim. Levaremos algumas horas para chegar ao nosso destino. — disse
ela.

Mike observou enquanto Marina girava nos calcanhares e cruzava


cuidadosamente o caminho de pedra que criava uma ponte natural sobre o
rio raso. Tocando a arma pressionada contra seu lado, ele se certificou de que
estava segura enquanto a seguia.

Ele tinha três balas sobrando no pente. Embora ele tenha treinado para
ser um soldado da Força Aérea, seu campo de especialização era investigações
internas, não combate. Ainda assim, ele continuou seu treinamento e
condicionamento físico quando deixou o exército e ingressou na força policial.
Ele passou facilmente nos requisitos físicos para o Departamento de Polícia e
foi bem treinado para a maioria das situações. Claro, ele com certeza não teve
treinamento durante seu tempo no exército para lidar com criaturas mágicas
e coisas tiradas diretamente de um filme de terror, ele pensou com um suspiro
descontente enquanto respirava fundo. Inferno, o que eu preciso é de algum
treinamento dos Homens de Preto, embora eles nunca tenham lidado com
magia, apenas com aliens insanos. Ainda assim, uma parte de sua mente
argumentou enquanto ele olhava para a mulher à sua frente, se eu tiver que
lutar, não poderia pensar em ninguém melhor para estar ao meu lado do que
Marina. Embora eu não me importaria de ter alguns caras da força aqui
também.
Capítulo Doze

Mike observou enquanto Marina passava a mão no rosto. O suor


brilhava em sua testa, mas ele sabia que a umidade que ela limpou vinha das
lágrimas perdidas que ainda escapavam. Instintivamente, ele pegou seus
dedos trêmulos e os apertou em encorajamento.
— Nós vamos trazê-lo de volta. — Mike prometeu a ela em voz baixa. —
Falta muito?
— Não muito longe. — ela respondeu, dando-lhe um sorriso agradecido
antes de se concentrar em percorrer o caminho.
Mike assentiu e soltou seus dedos. Ele olhou para a floresta densa em
cada lado do caminho. Eles haviam percorrido muito terreno nas últimas
duas horas, descendo com firmeza a alta montanha até o vale lá embaixo. Ele
ficou surpreso quando Marina saiu da estrada principal e entrou em um
caminho estreito que mais parecia uma trilha de animais. Eles não
conversaram durante a viagem, em vez disso conservaram suas energias para
se moverem habilmente e silenciosamente ao longo do caminho difícil. Eles
pararam duas vezes para esperar que alguns dos ogros da Bruxa do Mar
montados em Cães do Inferno passassem. Cada vez, Marina tinha sussurrado
um feitiço para ocultar sua presença. Ela disse que era um dos feitiços que
seu pai lhe ensinou quando percebeu o que a Bruxa do Mar estava fazendo.
— Aqui. — ela murmurou, parando e olhando para a esquerda.
Mike franziu a testa enquanto olhava na mesma direção que Marina
estava olhando.
Tudo o que viu foram árvores grossas e samambaias altas. Ele estava
prestes a perguntar se ela tinha certeza quando ela acenou com a mão direita,
como se puxasse uma cortina. Ele sabia que sua boca estava aberta quando
as árvores gemeram e começaram a se separar.
— Santo...— a voz de Mike morreu quando ele viu um caminho bem
cuidado, coberto de seixos, cercado por uma exibição brilhante de flores. No
final do caminho havia um pequeno chalé pitoresco saído diretamente de uma
pintura de Thomas Kinkade. Se as árvores "andantes" não foram suficientes
para atordoá-lo, o choro das plantas ao cumprimentar Marina o fez sentir
como se tivesse caído na toca do Coelho Branco, sido arrastado por um
tornado e depositado no meio de um clássico animado. — O que vem agora?
O Gigante do pé de feijão, junto com sua harpa mágica, e a galinha que põe
ovos de ouro? — ele murmurou com um aceno de cabeça.
— Os Gigantes moram em outra ilha. — Marina comentou, olhando por
cima do ombro. — Venha, a vovó está esperando por nós.
— Sua avó — Mike repetiu, assustado quando ele rapidamente entrou
no caminho. Ele tropeçou quando olhou por cima do ombro. As árvores
estavam mais uma vez se movendo, desta vez fechando a lacuna que haviam
criado. — Você está falando sério sobre os gigantes?
Marina franziu a testa e assentiu.
— Claro. — ela respondeu. — Eu nunca os vi pessoalmente, mas papai
e mamãe viram. Ambos disseram que os gigantes são muito legais, mas um
pouco rudes.
— Marina! Venha, criança. Venha para dentro. — uma voz idosa
chamou da sombra da porta.
Mike ficou paralisado por um momento enquanto tentava entender a
aceitação casual de gigantes por parte de Marina. Talvez eles não fossem
iguais aos gigantes fictícios de sua terra natal. Talvez eles fossem apenas
pessoas muito altas, ele pensou com uma careta. Com sua sorte, eles
provavelmente eram tão reais quanto este Drago, o dragão e o tritão do Rei
do Mar!
— Eu realmente precisarei de uma bebida quando esta aventura acabar.
— ele murmurou baixinho antes de seguir Marina para o abrigo.

Marina corou quando sua avó olhou para ela com os olhos nublados.
Ela não tinha perdido o olhar curioso ou o sorriso conhecedor quando sua
avó inclinou a cabeça na direção de Mike. Pela milionésima vez, Marina se
perguntou como sua avó parecia ver tudo, mesmo sabendo que a outra
mulher era cega.

No ano passado, ela só pôde vir aqui duas vezes para se certificar de que
sua avó estava segura. Marina suspirou de arrependimento enquanto olhava
ao redor do lindo e pitoresco jardim e da pequena cabana. Embora ela
adorasse criar algo assim para as crianças, ela não tinha o poder mágico de
escondê-lo do jeito que sua avó fazia. Também não havia como trazer todas
as crianças aqui para se esconder. Criar uma área grande o suficiente para
todos teria sido demais para o jardim encantado e a capacidade da magia de
sua avó de esconder.
— Vovó, este é Mike Hallbrook. Ele…. — Marina começou a dizer antes
de parar quando sua avó se aproximou de Mike e lhe deu um beijo nas duas
bochechas. Mike sorriu e ergueu uma sobrancelha quando sua avó apertou
seus braços.
— Eu sei, eu sei. Ele é um estranho para o nosso mundo. Ele é forte,
criança, e fofo também! Você é uma bruxa muito sortuda. Agora, vocês dois
entrem. Eu estava prestes a comer alguma coisa. — Ladonna Fae riu.
— Mike, posso apresentar minha avó, Ladonna. Devo adverti-lo de que
ela pode ser um pouco direta. — acrescentou Marina baixinho quando Mike
se aproximou para entrar no chalé atrás de sua avó.
— Bobagem. Eu sou muito franca. Na minha idade, não preciso mais
ser socialmente educada. — retorquiu Ladonna, apoiando-se na bengala.
— Olá, Sra. Cane. — Sr. Bow cumprimentou.
— Oh, não... Você o trouxe de volta. — Sra. Cane gemeu.
Marina fez uma careta. Ela apoiou o Sr. Bow contra a parede perto da
porta.
Virando-se, ela viu a expressão questionadora de Mike.
— Mesma floresta, árvores diferentes. Outro presente do meu pai. — ela
explicou rapidamente.
Ela fechou a porta e caminhou até sua avó, que estava colocando uma
grande panela de ensopado no centro da mesa. Já havia três talheres sobre a
mesa. Sua avó sabia que eles estavam vindo.
Marina pegou o jarro de água da bancada de pedra polida e o colocou
na mesa. Ela olhou surpresa quando Mike puxou a cadeira para ela.
Murmurando seus agradecimentos, ela deslizou para o assento de madeira
escura. Seu olhar o seguiu quando ele fez o mesmo para sua avó.
A avó de Marina emitiu um som satisfeito, indicando que estava
impressionada com a educação de Mike. Ele puxou a cadeira à direita dela e
se sentou.
— Poderemos conversar sobre o motivo de você estar aqui enquanto
enchemos nossas barrigas. — disse Ladonna com um aceno de mão.
As tigelas na frente deles flutuaram até a panela de ensopado. Ladonna
continuou a conversar sobre as novas flores surgindo em seu jardim
enquanto a concha enchia suas tigelas com o delicioso ensopado cheiroso.
Marina cortou fatias grossas de pão enquanto as tigelas cheias pousavam na
frente de cada pessoa.
— Eu realmente deveria ter plantado as flores naquele lado do quintal
mais cedo. Não sei por que não pensei nisso antes. — Ladonna suspirou.
Marina esperou até que sua avó terminasse de falar. Ela olhou para
baixo em sua tigela, subitamente sem fome. A ideia de Geoff estar nas mãos
da Bruxa do Mar a deixava enjoada. Fechando os olhos, tentou afastar a
imagem de Isha e dos outros congelados no pátio de sua mente.
Ela abriu os olhos e ergueu o olhar para Mike. Ele apertou os dedos dela
sob a mesa em apoio. Ela deu-lhe um sorriso agradecido antes de voltar sua
atenção para sua avó que havia ficado em silêncio.
— Vovó, um dos ogros da Bruxa do Mar levou Geoff. — ela calmamente
informou a mulher mais velha.
— Sim, eu sei, criança. — respondeu Ladonna. — É por isso que você
está aqui.
— Sim.
Marina piscou para conter as lágrimas em seus olhos. Sua avó estendeu
a mão e deu um tapinha na mão de Marina. A mulher mais velha suspirou e
acenou para eles comerem.
— Coma primeiro. Você precisará de sua força na jornada que tem pela
frente. — instruiu Ladonna.
— Vim pedir sua ajuda. Criei um portal entre nosso mundo e o de Mike.
Eu... eu não sei como eu fiz isso, mas se houver uma maneira de fazer isso
de novo - desta vez para a Ilha da Serpente do Mar - nós esperamos pedir a
ajuda do Rei do Mar — Marina explicou.
— Os portais podem ser complicados. Para sua sorte, eu sei uma coisa
ou duas sobre eles.
Agora, não se preocupe, criança. Tudo dará certo. — disse sua avó
enquanto soprava a mistura quente.
— Como você pode ter tanta certeza? — Marina perguntou.
Ladonna virou a cabeça para Mike.
— Seu jovem tem uma magia poderosa, mas será necessária a força
combinada do Rei do Mar, do Rei dos Dragões e da própria Magna para
derrotar o mal que controla nosso reino. — explicou ela.
— Do que você está falando? Por que Magna ajudaria a se derrotar?
Marina perguntou confusa.
— A Bruxa do Mar cometeu um erro vital quando lançou seu feitiço ou
o fez de propósito. — disse Ladonna.
Marina franziu a testa.
— Eu sei que ela se retira para o palácio todas as noites por causa do
feitiço que nos drena. Eu suspeitava que era por isso que ela desaparecia
todos os dias antes do pôr do sol. — disse Marina com um aceno impaciente
de sua mão. — Qual é a utilidade disso se estamos muito cansados e fracos
para fazer qualquer coisa? Mesmo o Rei do Mar e o Drago provavelmente
sofrerão os efeitos!
— Sim, o feitiço de Magna a afeta tanto quanto o resto de nós, exceto
por seu jovem. Magna é tanto um produto da magia da nossa Ilha quanto do
mar. Ela precisa de ambos para sobreviver, mas a criatura que a possuiu só
pode sobreviver dentro dela ou dentro de outra pessoa.
Marina franziu a testa e pousou a colher.
— Que criatura? Sobre o que você está falando? — ela exigiu.
— Eu vejo, embora seja cega, Marina, muitas coisas que os outros não
veem. Isha veio me visitar antes de ser transformado em pedra. Minhas visões
muitas vezes não são tão claras quanto eu gostaria. Eu disse a ele a mesma
coisa que lhe digo agora. A Bruxa do Mar não é tudo o que parece. Há algo
mais sombrio vivendo dentro dela - algo estranho ao nosso mundo. Ainda vejo
a jovem garota que ela costumava ser trancada lá dentro. Magna luta da
melhor forma possível contra o mal que a aprisiona. Você nunca se perguntou
por que Magna criaria um feitiço que a enfraqueceria, assim como aos outros?
Um que a forçaria, aos Cães do Inferno e aos ogros a voltarem para o palácio
quando a escuridão cai? — perguntou Ladona.
— Eu…eu pensei que era apenas para protegê-la quando ela estava mais
fraca. Eu estava apenas tão grata que isso nos desse algum alívio da ameaça
constante de ataques. —admitiu Marina.
Ladonna balançou a cabeça.
— O feitiço que ela lançou sobre os ogros desaparece, e ela deve prendê-
los para que não possam escapar. Os Cães do Inferno são bestas não
naturais. Eles são feitos da magia mais escura que se alimenta dela. Eles a
guardam à noite quando ela está indefesa. — explicou ela.
— Você se importa se eu perguntar como você pode ter certeza dessa
informação? — Mike interveio quando viu Marina refletindo sobre esses
detalhes.
— Porque eu tenho um dos ogros. Eles são animais bastante falantes
quando você os conhece. Eu o encontrei preso no poço de piche e tive pena
dele quando a escuridão caiu e ele voltou ao seu estado normal. — explicou
Ladonna com um sorriso irônico no rosto. — Sempre tive um fraquinho pelas
criaturas. Ninguém pode cultivar cogumelos como eles.
— Vovó, você poderia ter sido capturada ou pior! Onde ele está agora?
— Marina perguntou horrorizada, inclinando-se para frente e colocando a
mão no braço da avó. — Durante o dia ele ainda pode te machucar.
Ladonna balançou a cabeça, seus olhos nublados rodando com cor.
— Magna não é a única bruxa poderosa nessa Ilha. — ela disse com
um aceno de cabeça. — Embora eu não seja tão forte quanto costumava ser,
ainda posso proteger minha casa e jardins.
Marina recostou-se na cadeira.
— É por isso que precisamos de sua ajuda. Apenas o Rei e a Rainha
juntos teriam sido fortes o suficiente para derrotar Magna. Se ela não tivesse
enganado o Rei e aprisionado a Rainha com seu engano, nada disso teria
acontecido.
— Não, criança, nem mesmo eles poderiam tê-la detido. Será preciso
mais do que magia para derrotá-la. Você será capaz de ver o mal que está
dentro dela. Você não deve deixá-lo escapar. Se isso acontecer, ele só passará
para outro. Há algo que é mais poderoso do que Magna. Você deve se certificar
de que o mal dentro de Magna não toque o Guardião das Almas Perdidas. —
Ladonna sussurrou, olhando para frente, como se ela pudesse ver o futuro.
— Almas perdidas? — Mike perguntou, inclinando-se para frente e
apoiando os cotovelos na mesa. — Marina mencionou o Rei do Mar e Drago.
Eles podem derrotar Magna?
— Derrotar, não, mas eles podem libertá-la e libertar o resto dos Sete
Reinos com a ajuda de vocês e Marina. — disse Ladonna.
— Então, temos que falar com eles. — insistiu Marina.
Ela se afastou de sua refeição pela metade e se levantou. Suas mãos se
apertaram em determinação. Ela faria o que fosse preciso para libertar sua
família e seu povo.
Ladonna suspirou e assentiu. Com um aceno de sua mão enrugada, os
pratos na mesa desapareceram e um conjunto de brilhantes pedras verdes e
azuis apareceu.
Ladonna levantou-se lentamente, a cadeira atrás dela rapidamente
recuando para fora de seu caminho, e acenou para Marina pegar as pedras.
— Eu guardo um pouco da minha magia nas pedras. Lembre-se, você
deve convencer o Rei dos Mares e Drago a atacar antes do amanhecer de um
novo dia. Assim que o feitiço de Magna acabar, ela será muito poderosa e terá
os exércitos dos ogros e Cães do Inferno para protegê-la. Tenha cuidado, no
entanto. Se a criatura dentro dela se sentir ameaçada, pode destruir as
estátuas de pedra mantidas prisioneiras. Se isso acontecer, o Rei e a Rainha
estarão perdidos para sempre. Pegue as pedras e coloque-as em um círculo e
repita comigo. — instruiu Ladonna.
Marina acenou com a cabeça. Ela pegou as pedras em suas mãos.
Carregando-as, ela rapidamente se moveu para ficar na frente da lareira.
Entregando algumas das pedras para Mike, eles cuidadosamente as
colocaram em um círculo no tapete gasto e entraram nele. Marina estendeu
uma mão para Mike. Ele colocou a mão sobre a dela, e ela a agarrou com
firmeza. Virando-se, ela chamou o Sr. Bow para vir até ela. Depois que ela
segurou tanto Mike quanto seu arco, ela murmurou para sua avó que
estavam prontos.
— Fique segura, criança, e lembre-se, eu sempre estarei em seu coração.
— Ladonna sussurrou antes de começar a cantar em voz baixa.
O olhar de Marina saltou para o rosto de sua avó. Ela separou os lábios
em protesto, mas nenhuma palavra saiu. O olhar sereno no rosto de sua avó
ficou gravado em sua memória quando sua avó começou a tecer seu feitiço.
Através das cores rodopiantes da magia, ela podia ver sua avó começar
a desaparecer.
Ela estremeceu enquanto a pitoresca casa brilhava, envelhecendo e
desmoronando diante de seus olhos. Os jardins exteriores tornaram-se
visíveis. Perto do riacho, o ogro que sua avó salvara ergueu os olhos de onde
estava cuidando de um pequeno canteiro de cogumelos. A tristeza profunda
escureceu seus olhos quando suas feições começaram a mudar. A proteção
da magia de sua avó desapareceu, e ele foi novamente enfeitiçado pela
maldição da Bruxa do Mar. Sua avó deu o resto de sua magia para Marina.
— Eu te amo, criança. Salve nosso reino e diga a seu pai que sentirei
sua falta, mas sempre estarei presente em seu coração. — sussurrou
Ladonna.
— Avó….
O suave grito de protesto de Marina se desvaneceu com o último jardim
mágico que sua avó havia criado. Ela fechou os olhos e se concentrou na
magia girando em torno de Mike e ela mesma. Ela sentiu a mão dele apertar
a dela enquanto as cores da magia começavam a mudar para as de madeira
e pedra ricas.
Um soluço rouco ficou preso em sua garganta, e ela se forçou a ficar
forte enquanto a onda de dor a varreu. Lágrimas silenciosas escorriam por
suas bochechas, e ela teve que piscar para clarear a visão. Seu olhar varreu
a sala antes de voltar para Mike quando ele balançou e se inclinou para apoiar
as mãos nos joelhos. Descansando a mão nas costas dele, seu olhar fixo em
um par de olhos azuis claros brilhantes.
— O Rei do Mar. — ela sussurrou.
Capítulo Treze

Mike engoliu a onda de náusea que revirou seu estômago. Aquele


maldito portal deveria vir com uma etiqueta de aviso que dizia 'Cores intensas
e rodopiantes podem causar náusea e desorientação'. Ele respirou fundo
quando sentiu a mão de Marina em suas costas.
— Eu estou bem. — ele murmurou, respirando fundo e lentamente se
endireitando.
— O Rei do Mar. — Marina murmurou.
— Ah, merda. — Mike disse, congelando quando viu que eles não
estavam sozinhos. Não só eles não estavam sozinhos, eles estavam cercados
por um grande grupo de pessoas.
Ele revirou os ombros, estremecendo quando sentiu seu estômago
revirar em protesto por um momento.
— Marina…
— Eu sei. — ela respondeu com uma voz suave. Ela enxugou a umidade
de suas bochechas e se virou até ficar de frente para a figura alta de pé na
plataforma acima deles. — Vossa Majestade, peço perdão por me intrometer
em seu reino sem aviso, mas meu povo precisa de sua ajuda.
— Detetive Hallbrook?! — uma voz feminina surpresa disse.
— Merda, ela está aqui! — Mike sussurrou, olhando para a ruiva ao lado
do homem na plataforma. — Jenny Ackerly.
— Quem é você? — o macho exigiu quando ele entrou na frente de
Jenny.
— Vossa Majestade, por favor... peço um momento de seu tempo. Eu
sou Marina Fae, uma bruxa da Ilha da Magia. Nossa visita aqui veio a… a um
grande custo. Por favor, precisamos da sua ajuda — disse Marina.
Mike viu uma lágrima escorrer lentamente pelo rosto de Marina. Ele
passou o braço ao redor dela e a puxou para perto dele. Seu olhar afiado
encontrou o do homem que os observava.
— Meu nome é Mike Hallbrook. Precisamos falar com você sobre um
assunto urgente. — acrescentou ele, desviando a atenção de todos para ele
quando sentiu que Marina precisava de um momento para conter sua dor.
Pessoalmente, Mike não dava a mínima para quem era o homem, desde
que pudesse ajudá-los. Ele podia sentir Marina tremer sob seu toque. Algo
tinha acontecido quando eles estavam saindo. Ele ouviu o grito estrangulado
de Marina e viu tudo mudando ao redor deles enquanto as cores se
intensificavam.
— Kapian, esvazie a sala. — o Rei do Mar ordenou.
Mike observou quando outro homem deu um passo à frente. Ele ouviu
as portas se abrirem atrás dele e as vozes animadas das pessoas que saíam
da sala. Ele voltou seu olhar para a mulher que descia lentamente os degraus.
Era óbvio pela maldição sufocada do rei que ele não estava feliz com a decisão
dela.
—Jenny. — o Rei do Mar rosnou exasperado.
— Está tudo bem, Órion. O detetive Hallbrook não é uma ameaça. —
disse Jenny.
Mike esperou até que ela parou na frente dele. Ele soltou Marina e pegou
a mão estendida de Jenny. Ela o segurou por um momento, estudando sua
expressão.
— Você realmente está aqui. — ela respirou.
— Sim. Precisamos da ajuda do Rei do Mar e de um homem chamado
Drago. É importante. — respondeu Mike.
— Órion, acho que devemos ter essa discussão em algum lugar mais
confortável. — disse Jenny, soltando a mão de Mike e olhando com
preocupação para o rosto perturbado de Marina.
Os lábios de Órion se torceram em desaprovação.
— Você é do mundo da minha esposa. — ele afirmou mais do que
perguntou.
— Sim. — respondeu Mike, apertando a mão do outro homem em um
forte aperto de mão.
— Como você chegou aqui? — ele exigiu.
—É uma longa história, mas muito interessante. — respondeu Mike.
Órion olhou atentamente para Mike, tentando lê-lo, e deve ter ficado
satisfeito com o que viu. O outro homem deu um breve aceno de cabeça e
soltou sua mão.
— Estou ansioso para ouvi-la. Mas saiba disso: Jenny fica aqui. Se você
tentar levá-la de volta com você, eu vou matá-lo. — Órion avisou.
Mike ergueu uma sobrancelha com a ameaça.
— Meu trabalho é encontrá-la e garantir que ela esteja segura. Cabe a
ela decidir se quer ficar. — ele respondeu com um encolher de ombros.
Órion assentiu.
—Me siga.
Mike passou o braço pela cintura de Marina novamente. Ela se inclinou
contra ele e fungou. Eles esperaram até que Órion e Jenny estivessem vários
passos à frente antes de segui-los. O homem que Órion chamou de Kapian
seguiu a uma pequena distância atrás deles.
— O que aconteceu? — Mike perguntou baixinho.
Marina respirou fundo antes de soltá-lo em um suspiro trêmulo. Ela
enxugou as lágrimas frescas que escaparam. Preocupado, ele desejou que
eles parassem por um momento para que ele pudesse abraçá-la.
— Vovó... nos deu o resto de sua magia. Ela... ela passou para a próxima
vida. — ela disse com uma voz hesitante.
Arrependimento passou por ele. Sem se importar com o que Órion ou os
outros pensavam, ele parou e puxou Marina em seus braços, segurando-a
com força contra ele.
Pressionando os lábios no topo de sua cabeça, ele gentilmente acariciou
suas costas.
— Perdi muitos da minha família. Quando isso parará? — ela engasgou.
— Em breve. Vamos convencer este Rei dos Mares e Drago a nos ajudar.
Vamos libertar seus irmãos e pais. Eu não pararei até que eles estejam livres.
— Mike prometeu.
Ele ergueu o olhar e olhou fixamente para Órion. O outro homem se
virou para ver por que eles pararam. A expressão sombria no rosto de Órion
e o de compaixão no de Jenny lhe disseram que eles ouviram o apelo
apaixonado e sufocado de Marina.
Marina tremeu antes de respirar fundo e se recompor.
Mike enxugou com ternura a umidade das bochechas dela com os
polegares e se inclinou para dar um beijo leve e gentil em seus lábios. Ela lhe
deu um sorriso vacilante de agradecimento. Virando-se para olhar para Órion
e Jenny, ela curvou a cabeça brevemente.
— Peço desculpas, Majestades. — disse ela.
— Não são necessárias desculpas. Sou eu quem deveria me desculpar.
— Órion olhou para o homem parado em silêncio atrás deles. — Kapian, envie
uma mensagem para Drago. Diga a ele que chegou a hora. Ele entenderá.
Desta vez, não vamos parar até que minha prima seja derrotada.
— Imediatamente, Majestade. Também vou montar uma equipe de
guerreiros de elite. — disse Kapian antes que ele girasse nos calcanhares e se
afastasse.
Mike observou o homem chamado Kapian desaparecer no longo
corredor.
Ele se virou para Órion e Jenny. Jenny se aproximou para segurar a
mão de Marina.
— Mal posso esperar para saber como você conheceu o detetive
Hallbrook e como ele veio parar aqui. — Jenny disse com um sorriso.
— Me chame de Mike. Confesso que também estou um pouco curioso.
Você sabe se Carly Tate está aqui?— perguntou Mike.
Jenny assentiu.
— Oh, sim. Ela é casada com Drago. — disse ela com um enorme sorriso.
— Vamos nos retirar para uma área mais confortável para discutir o que
aconteceu. — Órion sugeriu, envolvendo o braço em volta da cintura de
Jenny.
— Obrigado. — respondeu Mike.
— Eu acho que você estava procurando por mim, além de Carly, desde
que eu desapareci. — Jenny disse enquanto entregava uma bebida para Mike.

— Sim. Tenho que admitir que este foi um dos eventos mais estranhos
da minha vida. — disse Mike.
— Fala sério! Se alguém me dissesse que eu acabaria em um mundo
mágico e me apaixonaria por um tritão, eu teria apontado para a porta mais
próxima ou talvez para um hospício. — Jenny respondeu, sentando-se na
cadeira em frente a ele.
Seus olhos se desviaram para onde Marina e Órion estavam
conversando baixinho. Ele podia ouvir a conversa deles e entendeu que o Rei
do Mar queria ouvir o que havia acontecido no ano passado. Seu estômago se
apertou quando Marina compartilhou os horrores de tentar manter a si
mesma e ao grupo de crianças em segurança.
— Então, ele é realmente o Rei do Mar? Quero dizer, é apenas um nome
ou ele é realmente um…você sabe….— Mike acenou com a mão como se
estivesse nadando.
— Sim, ele realmente é um tritão. — Jenny respondeu, olhando para
Órion com uma expressão que mostrava seu amor pelo homem. — Eu
também sou, agora.
Mike voltou a olhar para Jenny com um olhar assustado.
— Ele transformou você em uma sereia? — ele perguntou surpreso.
— Bem, minhas pernas não se transformam em um rabo; mas sim, eu
posso nadar e respirar debaixo d'água como uma sereia assim como Carly
pode se transformar em um dragão e voar. — Jenny disse com um sorriso,
seus olhos brilhando com diversão. — Ontem, um de seus filhos pegou um
resfriado, e Drago insistiu que eles voltassem para casa, ou você os teria
conhecido hoje.
Mike tomou um grande gole de sua bebida antes de colocar o copo na
mesa. Sereias, dragões, bruxas, Cães do Inferno, ogros e a lista não parava
de crescer. Ele estudou as feições brilhantes de Jenny quando ela se inclinou
para pegar o bebê que estava deitado no berço e começava a chorar.
Ele não precisava perguntar se ela estava feliz aqui. O sorriso satisfeito
em seus lábios era uma resposta mais que suficiente. Do pouco que ela havia
mencionado Carly, parece que a outra mulher desaparecida estava
igualmente feliz.
Ele moveu seu olhar para onde Marina estava parada perto das portas
da varanda.
Um brilho quente se espalhou por seu corpo. Ele agora percebia que a
atração que sentia por Marina era mais profunda do que paixão. Ele estava
se apaixonando por ela.
— Você acha que Órion nos ajudará? — ele perguntou em voz baixa.
Jenny assentiu, olhando para Órion enquanto ouvia Marina com uma
expressão tensa.
—Sim. — ela respondeu em um tom confiante. — Sim. Ele sabe que
Magna é sua responsabilidade. Ele me disse que ela mudou anos atrás,
quando eles eram adolescentes. Ele não entende o porquê, mas percebe que
é sua responsabilidade detê-la.
— Eu não ia perguntar, mas bem... Este mundo é tão diferente do nosso.
Como você soube com certeza que seria feliz aqui? — perguntou Mike.
Seu olhar permaneceu em Marina. Sua expressão relaxou, e ela
assentiu enquanto ouvia Órion. Ele podia ver o alívio em seus olhos e um
pouco da tensão desaparecer de seu corpo.
— Nós realmente sabemos até tentarmos? — ela perguntou com uma
sobrancelha levantada. — Sim, este mundo é diferente, mas se apaixonar e
ter uma família é o mesmo - contanto que você possa superar o fato de que
seus novos sogros podem ser sereias, dragões, bruxas ou até mesmo
monstros. Eu não consigo imaginar voltar ao nosso mundo - especialmente
agora. — Jenny respondeu, olhando para sua filha. — Eu pertenço a este
lugar. E você? Eu vejo o jeito que você olha para Marina e o jeito que ela olha
para você. A vida é muito diferente para as pessoas aqui. Alguém como Órion
nunca poderia sobreviver em nosso mundo. Seria muito perigoso.
— Sinceramente, nunca pensei em Marina vindo para o nosso mundo.
Inferno, eu ainda não entendo como cheguei aqui. — Mike admitiu.
— Magna foi fundamental para eu estar aqui. Um dia depois de falar
com você, voltei ao Yachats State Park para procurar pistas sobre o
desaparecimento de Carly. Não encontrei nada, é claro. Eu tinha decidido que
era hora de deixar ir. — Ela balançou a cabeça e virou-se para olhar para
Órion. — Sempre amei a água. Desci até a praia e, pouco tempo depois, ouvi
Dolph, o filho mais velho de Órion, rindo. — Ela se virou para olhar para
Mike, um sorriso suave curvou seus lábios. — Mais tarde, ele disse que quase
desistiu de encontrar uma mulher de cabelos cor de fogo para ser sua mãe
quando me viu andando pela praia. Quando ele correu para a água, eu o
segui. Eu estava com medo que ele se afogasse. A próxima coisa que eu soube,
eu estava neste mundo. — ela terminou.
— Você sabe se há um caminho de volta? — perguntou Mike.
Jenny deu de ombros.
— Suponho que se há um caminho pra cá, há um caminho de volta.
Carly me disse que estava caminhando pela trilha quando foi pega por uma
tempestade. Havia uma rachadura na lateral da montanha que se abria no
que parecia ser uma pequena caverna. Ela se espremeu através dela. A
próxima coisa que ela sabia, ela tinha tropeçado no tesouro de Drago. —
Jenny riu e balançou a cabeça. — Carly é a única pessoa que conheço que
podia acabar em uma caverna cheia de ouro e ver apenas o dragão. Ela me
disse que Drago disse a ela para escolher seu tesouro com sabedoria e não
sabia o que pensar quando perguntou se poderia ficar com ele.
— Você acha que a Bruxa do Mar teve alguma coisa a ver com Carly
estar aqui? — perguntou Mike.
— Não sei. Sinceramente não sei o que pensar da mulher. É como se ela
tivesse duas personalidades diferentes. Uma parte dela é boa, ela ajudou
Juno em um momento, enquanto outra parte dela é pura maldade. — disse
ela.
— Vou ajudar Marina e seu povo. Se Drago ajudará, ele estará aqui ao
amanhecer. — Órion disse.
— Lembre-se do que Nali disse. — Jenny avisou.
Órion assentiu.
— Eu lembro. É por isso que estou enviando pedidos também para os
outros governantes. — disse ele.
— Outros governantes? — Mike perguntou, confuso.
Marina se aproximou e se sentou na cadeira ao lado de Mike. Ela ainda
segurava o Sr. Bow com força em suas mãos. Mike se inclinou e pegou uma
das mãos dela.
— O Rei do Mar vai pedir ajuda ao Rei dos Gigantes, à Imperatriz dos
Monstros, ao Rei dos Piratas e aos Elementais. — explicou Marina.
— A Imperatriz dos Monstros…. Mal posso esperar para ver quem mais
aparece.
Mike repetiu com um aceno de cabeça.
Capítulo Quatorze

— Espero que você fique confortável. Se precisar de alguma coisa, é só


pedir. — a jovem chamada Karin disse com um sorriso.
Marina assentiu. Ela engoliu em seco quando a mulher fechou a porta,
sentindo-se subitamente perdida e muito sozinha. Sem saber o que fazer, ela
se virou para olhar para o quarto grande e elegante que lhe foi dado. Marina
nunca estivera em uma sala tão ornamentada. Uma lareira quase grande o
suficiente para ficar em pé estava centralizada em uma parede. Na lareira,
um fogo mágico crepitava e estalava alegremente, enviando um calor de boas-
vindas.
Do outro lado da lareira havia uma enorme cama de dossel. Cada poste
foi elaboradamente esculpido para parecer coral. Marina notou uma longa
camisola e um roupão no pé da cama e um par de chinelos de seda no chão.
Havia um conjunto de portas duplas, abertas, e que davam para a
varanda. De cada lado das portas, uma coluna de janelas se erguia do chão
ao teto, dando ao ocupante uma vista magnífica das luzes cintilantes da
cidade abaixo. A uma curta distância da cidade as ondas do mar batiam
contra as falésias, o som era calmante. Havia outra porta no lado oposto do
quarto que Marina suspeitava levar ao banheiro.
Com um suspiro alto, ela caminhou até a lareira e olhou para as chamas
dançantes. Ela abraçou o Sr. Bow com força contra o peito e mordeu o lábio
em incerteza.
— Sabe, se você continuar me segurando com tanta força, eu posso
pensar que você está sonhando que eu sou Mike. — Sr. Bow declarou
secamente.
— O quê? Oh, desculpe-me, Sr. Bo. — Marina murmurou, afrouxando
seu aperto.
— Por que você não vai até ele? — Sr. Bow perguntou.
Marina balançou a cabeça.
— E fazer o quê? Dizer que quero sentir seus lábios nos meus? Que
quero sentir seus braços envolvendo-me e....— Ela corou e colocou o Sr. Bow
na mesa perto da lareira. Ela fechou os olhos quando uma onda de desejo a
percorreu com tanta intensidade que causou uma dor física. Talvez ela
devesse dizer a ele que o desejava de uma maneira que nunca havia sentido
antes. Ela sabia que Mike a queria. A evidência de sua atração por ela tinha
sido óbvia quando ele a beijou e ela sentiu seus quadris pressionados contra
os dela.
— E ... o quê?
Os olhos de Marina voaram abertos, ela arfou e se virou rapidamente ao
som da voz profunda de Mike. Seu olhar se prendeu ao dele. Ele estava na
porta aberta que levava para a varanda.
— Eu.. .— a voz de Marina sumiu quando ela viu o desejo ardente em
seus olhos.
— E o quê, Marina? — ele perguntou novamente.
A necessidade áspera em sua voz a invadiu. Mais uma vez o desejo
penetrante a percorreu, fazendo com que a dor crescesse até um calor
pulsante entre suas pernas. Ele era seu par, a outra parte de si mesma, ele a
completava.
— Você pode ver minha magia. Você pode sentir isso. — ela disse,
esperando que ele entendesse o que ela estava dizendo.
— Eu vejo as cores que a cercam me envolvendo. — Ele levantou a mão
e deu um passo em direção a ela. Ele virou a mão, olhando para ela. Marina
podia ver as cores de sua magia, desinibidas pelo feitiço de Magna, girando
em torno dele. — Eu posso sentir a conexão com você. — ele murmurou,
voltando seu olhar para ela.
— Eu preciso de você, Mike. Eu quero você de uma maneira que nunca
quis estar com outro. — ela confessou, dando um passo em direção a ele.

Eles se moveram lentamente um em direção ao outro. Conforme a


distância entre eles diminuía, a magia de Marina se expandia, envolvendo-os
no calor de sua aura. Mike inspirou profundamente ao sentir o poder
incomum fluir através dele. Isso era diferente de uma sensação de euforia de
um corredor, era como ver o universo se abrir diante de você e poder caminhar
entre as estrelas.

Um silvo suave escapou dele quando Marina finalmente o tocou. Suas


mãos se moveram para cima de seu peito para cobrir suas bochechas. Ele
podia ver a incerteza e um traço de vulnerabilidade em seus olhos. Com um
gemido suave, ele abaixou a cabeça e capturou seus lábios.
A faísca que havia surgido antes entre eles explodiu em um incêndio
avassalador. Mike podia sentir as mãos de Marina deslizando por sua pele
até seus cabelos. Seus dedos se espalharam, mantendo-o perto enquanto
seus lábios e língua exploravam sua boca.
Um gemido suave escapou dele quando as mãos dela desceram ao longo
de seu pescoço e sobre seus ombros. Ele tentou se afastar, mas toda vez que
o fazia, ela o seguia. Suas mãos o estavam deixando louco. Elas correram
para cima e para baixo em seus braços antes de se moverem para suas costas.
Ela não parou por aí. Ele inspirou profundamente quando ela puxou
ambas as suas camisas e deslizou suas mãos sobre sua pele quente.
Agarrando seus pulsos, ele recuou enquanto seus olhos brilhavam com o fogo
ardente que queimava dentro dele.
— Eu preciso de um banho ou qualquer coisa que você tome aqui. — ele
murmurou frustrado.
Os olhos de Marina brilharam. Seus dedos se curvaram ao redor dos
dele, e ela o puxou em direção a uma porta no lado oposto da sala. Mike sabia
que estava com problemas quando ela abriu a porta do banheiro. Sua
determinação de ser um cavalheiro estava desaparecendo rapidamente. Se
ela fizesse o que ele esperava, não haveria como parar ou voltar atrás.
— Marina. — ele tentou avisá-la.
Ela olhou para ele com uma expressão feroz.
— Você disse que precisa tomar banho. Eu desejo tomar banho com
você. — ela disse, parando na porta.
— Querida, se entrarmos lá, posso garantir que haverá muito mais do
que banho acontecendo. — alertou Mike.
— Espero que haja. — Marina suavemente admitiu, começando a se
virar para entrar.
Mike a puxou para parar. Ela se virou, uma leve expressão de dúvida
rastejando em seus olhos. Ele estendeu a mão e segurou sua bochecha.
— Isso não será um caso de uma noite - ou até mesmo de duas noites.
Se fizer amor com você, Marina, será para sempre. — disse ele.
— Eu... eu nunca pedi para ficar com um homem antes, Mike Hallbrook.
— Marina admitiu, corando e olhando por cima do ombro dele.
Mike engoliu a maldição que quase escapou. Ele suspeitava que Marina
era inexperiente, mas não tinha percebido que ela poderia ser virgem.
Engolindo em seco, ele deixou cair a mão ao seu lado e cerrou o punho.
Este ia ser um verdadeiro teste de sua força de vontade.
— Viemos de dois mundos diferentes. — disse Mike.
O olhar de Marina voltou para seu rosto.
— Isso te incomoda que sejamos diferentes? — ela perguntou.
Ele balançou sua cabeça.
— Não, mas eu quero que você tenha certeza. Eu quis dizer o que disse,
Marina, especialmente agora. Se eu te levar esta noite, isso é sério. — ele
disse, enfatizando a última palavra.
— Quando você me levar esta noite, estaremos juntos como um. — ela
retrucou em voz baixa.
— Maldita mulher, você me levará ao limite. — Mike amaldiçoou,
envolvendo sua mão ao redor de sua trança e capturando seus lábios
novamente.
Ele não resistiu ao puxão desta vez quando ela o puxou para o banheiro.
Sua mente passou por todas as maneiras que ele queria fazer amor com
ela.
Sabendo que esta era sua primeira vez, ele faria tudo o que pudesse
para garantir que ela gostasse. Isso incluía garantir que ela soubesse que ele
gostava de se divertir um pouco. Ele sempre foi um amante intenso, mas
seletivo.
Algo lhe dizia que Marina, mesmo inexperiente como era, não teria
problemas para acompanhá-lo.
Quebrando o beijo, ele deu um passo para trás. Seus olhos brilhavam
com a promessa, e seu pau parecia que poderia cravar pregos com ele. Fazia
muito tempo desde que ele esteve tão excitado. Se ele não tomasse algum
controle da situação logo, poderia rapidamente se transformar em sexo cru e
primitivo.
— Tire suas roupas. — ele ordenou.
— Somente se você também tirar as suas. — ela respondeu, levantando
o queixo.
Mike ergueu uma sobrancelha ao ouvir o tom ousado dela. A curva de
seus lábios provava que ela poderia ser inocente do ato real, mas ela sabia o
que estava prestes a acontecer. Sua suspeita prossegue sendo correta quando
os olhos dela brilharam com malícia, e ela começou a desabotoar a blusa.
— Posso morar em uma pequena aldeia, mas visitei a capital muitas
vezes. O que eu não vi durante minhas viagens, minha mãe e minha avó
fizeram questão de acrescentar à minha educação quando eu tivesse idade
suficiente e curiosidade o suficiente para perguntar. Vovó foi um pouco mais
esclarecedora do que minha mãe. — ela explicou com um sorriso malicioso.
— Quão esclarecedora? — Mike perguntou, seu olhar hipnotizado por
seus dedos enquanto ela continuava a se despir.
— Muito. — ela o informou com um olhar convidativo.
Marina desabotoou o último botão e virou as costas para ele antes de
lentamente tirar a blusa de um ombro. Ela parou para olhar para ele com um
sorriso provocante antes de tirá-lo do outro ombro. Ele engoliu em seco
quando viu que ela não usava nada por baixo do top. Seus dedos se moveram
para o cinto, e ela lentamente o puxou para fora de suas calças.
Quando ela o ergueu no ar, Mike estendeu a mão e pegou o cinto,
envolvendo-o na mão. Ela virou a cabeça para olhar para ele novamente por
cima do ombro.
— A vovó me disse que para receber uma grande paixão e prazer, você
precisa desfrutar da mesma maneira que desfruta de um bom vinho. — ela
murmurou.
Mike engoliu em seco. Seus dedos estavam se movendo para baixo ao
longo de seu lado para suas leggings. Ele podia ver a curva de seu seio
cremoso, mas não o mamilo tentador que fazia sua boca salivar quando ele
pensou em como seria a ponta dura quando ele o chupasse.
— E como você... aprecia um bom vinho? — ele perguntou com uma voz
áspera.
— Provocando seu paladar, tendo o prato certo para acompanhar e
saboreando-o para que dure a noite toda. — ela sussurrou.
O suave murmúrio de aprovação de Mike ecoou pelo banheiro quando
Marina tirou cada bota enquanto falava antes de abaixar a legging.
Ela deslizou por suas longas pernas formando uma piscina em seus
tornozelos. Ela levantou um pé e puxou-o livre antes de chutar a outra perna.
— Kelia preparou meu banho. Você vai se juntar a mim, Mike? — Marina
perguntou.
Mike a observou caminhar até a plataforma elevada. Ela entrou na
banheira e se virou, permitindo que ele a visse pela primeira vez.
Ela estava magra devido aos desafios do último ano, mas ainda
completamente feminina. Seus seios eram pequenos e firmes. Ela tinha uma
cintura curta, mas pernas longas que faziam seus quadris se sacudirem ao
pensar nelas em volta dele. Seu olhar viajou para o pedaço de cabelo castanho
escuro encaracolado entre suas pernas.
Sua boca encheu de água com todas as coisas maravilhosas que ele
planejou para aquela parte de seu corpo. Ele rapidamente tirou suas camisas,
desamarrou e tirou suas botas e meias, e despiu suas calças. Seu sorriso
perverso iluminou seus olhos quando ouviu a respiração ofegante dela ao ver
seu pau pulsante pela primeira vez.
— Acho que é hora de começar a desfrutar do meu vinho. — brincou ele,
subindo na plataforma.
— Sim... Sim, é. — ela concordou, afundando de volta na água.
— Quão quente você gosta, Marina? — Mike perguntou, entrando na
água.
— A... a água? — ela murmurou, seus olhos colados em seu pau.
Mike riu, afundou na água e estendeu a mão para ela.
— O sexo. — ele murmurou, pressionando os lábios contra o pescoço
dela.
Um gemido suave ecoou no quarto.
— Quente... muito, muito quente. — ela disse, sem perceber nada além
dos lábios dele contra sua carne quente.
Capítulo Quinze

Marina suspeitava que sabia o que Mike queria dizer com quente. Se
suas suspeitas estivessem corretas, ela estava pronta. Seu corpo parecia
estar pegando fogo. Ela nunca esperou que provocá-lo do jeito que ela fez faria
com que seu corpo reagisse do jeito que reagiu.
Ela inclinou a cabeça para trás e estremeceu apesar da água quente
girando em torno deles. Ela separou as pernas para montar Mike quando ele
a puxou para ele. Quando ela sentiu seu pau roçando contra sua
feminilidade, um pico de intenso desejo a atravessou, começando entre as
pernas e passando por todo o corpo com uma rapidez que a deixou ofegante.
Instintivamente, ela agarrou os ombros dele e se ergueu de joelhos para
se unir a ele. Um gemido de frustração escapou dela quando ele estendeu a
mão e envolveu as mãos em sua cintura - efetivamente impedindo que ela se
empalasse nele. Em uma nota positiva, o movimento alinhou seu seio com a
boca dele.
— Você faz minhas entranhas derreterem. — ela choramingou.
Ele virou a cabeça e trancou os lábios em torno de seu mamilo tenso.
— Sim! — ela gritou.
A sensação de seus lábios puxando seus bicos endurecidos era muito
melhor do que quando ela usava os dedos. Inclinando a cabeça, ela o viu rolar
a língua sobre a crista tensa e rosada.
— O outro... Está se sentindo negligenciado. — ela ordenou com a voz
rouca.
A respiração suave e quente de Mike acariciou sua carne fria quando ele
a soltou.
— Você é uma coisinha mandona. Eu gosto disso. — ele rosnou antes
de capturar seu outro mamilo.
— Oh! Isso está fazendo coisas entre minhas pernas. — ela disse, suas
unhas se curvando contra seus ombros.
— Vamos ver quais outras sensações eu posso te fazer ter. — ele
murmurou contra seu peito.
— Outras… — ela engasgou com um soluço.
A outra era a mão dele movendo-se de sua cintura para o monte entre
suas pernas. Seus dedos a provocaram, correndo ao longo das dobras macias
que a protegiam.
Quando ele roçou sua protuberância inchada, ela estremeceu.
— Vou lavar você, Marina. Eu quero levar meu tempo explorando você.
— Mike disse contra sua pele úmida.
— Podemos... não podemos esperar para explorar mais tarde? — ela
respirou com uma voz instável.
— Oh, não, minha bruxinha impaciente. A primeira vez é tudo sobre
tortura pelo prazer. — ele riu, virando-a em seus braços. — E eu pretendo
torturá-la até você gritar.
Marina agarrou a lateral da banheira grande e segurou quando ele
passou as mãos pelos braços dela e os pressionou na borda da banheira.
Suas mãos deslizaram de volta para baixo e ele agarrou seus quadris,
puxando suas nádegas para cima e espalhando suas pernas. Seus dedos se
curvaram quando ele correu as duas mãos sobre as bochechas de sua bunda.
— Eu sempre fui um homem de peito e bunda. — ele a informou.
— Eu... Isso é bom... bom... saber… — ela respondeu. — O que você
fará? — ela perguntou, lambendo os lábios depois que ela ouviu o barulho da
água quando ele se levantou.
— Você vai confiar em mim? — ele perguntou.
Os olhos de Marina se encontraram no espelho da parede oposta. Ela
podia ver tudo o que ele estava fazendo. Havia algo extremamente erótico em
observar o que estava acontecendo enquanto o experimentava. Ela o seguiu
com os olhos enquanto ele pegava uma barra do sabonete levemente
perfumado. O aroma de sempre-vivas frescas a alcançou quando ele
umedeceu a barra e começou a esfregá-la entre as mãos.
Ele recolocou a barra e virou aquelas mãos hipnotizantes para ela em
seguida.
Arrepios subiram sobre sua pele antes de desaparecer rapidamente
quando ele começou a passar as mãos ensaboadas por baixo dela, de seus
quadris ao longo de seu estômago e até seus seios, onde ele os provocou
novamente. Um suspiro escapou dela quando ele os beliscou.
— Às vezes, um pouco de dor leve pode levar a muito prazer. — explicou
ele.
— Como pode a dor…? Oh! É assim…— ela exclamou quando ele os
beliscou novamente antes de beliscar seus mamilos e rolar os dedos.
Marina mordeu o lábio para não gritar quando Mike continuou seu
ataque sensual em seu corpo. Suas mãos correram ao longo de seus braços,
lavando-a do ombro até os dedos antes de puxá-la de volta contra seu corpo
para enxaguá-la. Ela relaxou contra ele quando ele pegou o sabonete
novamente. Desta vez ela estava sentada em seu colo. Ele tinha seus pés
enganchados em torno de seus tornozelos, segurando as pernas dela. Foi a
sensação de seu pênis pulsando contra sua bunda que a fez mexer os quadris.
Ela jogou a cabeça para trás contra seu ombro quando ele começou a
lavar seu peito e estômago. Seus dedos pausaram, levando tempo para se
certificar de que seus mamilos permaneciam duros e latejantes. Ela se
levantou quando ele apertou os mamilos firmemente entre seus dedos, e ele
se levantou com ela, pressionando seu pênis ao longo de sua bunda.
— Você pode sentir o quanto eu quero você? — ele murmurou, roçando
um beijo ao longo de seu ombro enquanto suas mãos desciam para seus
cachos macios.
— Eu quero você — ela choramingou.
Querer era um eufemismo, ela decidiu. Ela o desejava. Seu corpo
parecia que não lhe pertencia mais. Cada centímetro era supersensível e
lugares que ela não sabia que poderiam doer, doíam - de uma forma muito
prazerosa.
Ela abriu as pernas quando ele começou a acariciá-la. Ele estava
esfregando contra sua protuberância enquanto brincava com seu seio. O
calor que a percorria não tinha nada a ver com a água morna e tudo a ver
com o que Mike estava fazendo com ela.
— Mike... Mike... Ah!!! — sua voz se elevou e seu corpo enrijeceu.
Ela já havia sentido essa adrenalina antes, mas nunca com tanta
intensidade. Os livros que sua avó lhe dera sempre mencionavam o brilho das
luzes atrás dos olhos fechados e o prazer entorpecente, mas ela sempre achou
que o autor havia escrito um exagero grosseiro dos sentimentos que se podia
sentir.
Quando seu corpo se derreteu contra o dele, ela decidiu que era ela
quem estava errada. Os sentimentos eram muito mais intensos. Ela gemeu
quando os dedos dele deslizaram de seu clitóris ainda latejante, e ele a virou
em seus braços.
— Este é apenas o começo. — ele prometeu quando ela olhou para ele
com uma expressão atordoada.
— Isso significa que é minha vez de lavar você? — ela ronronou, tocando
seu cabelo na parte de trás de sua cabeça enquanto se esfregava contra seu
pau duro.
— Filha de uma….
Marina capturou o palavrão suave de Mike com os lábios. Se as
histórias que ela leu fossem verdadeiras, ela poderia dar tanto prazer a ele
quanto ele havia dado a ela. Ela planejava explorar um pouco por si mesma
para descobrir.
Mike respirou fundo quando Marina passou as mãos para cima e para
baixo em seu peito. Ela enrolou os dedos em seu cabelo escuro e áspero e
gentilmente o puxou.
Ele baixou as pálpebras quando ela as moveu sobre seus mamilos. Eles
eram duros e extremamente sensíveis.
Ele soltou o fôlego que estava segurando quando ela os beliscou com a
unha. Seu pênis empurrou sob seus quadris rolando. A sensação de sua
carne macia esfregando ao longo de seu longo eixo o fez cerrar os dentes.
Ela se inclinou para frente e roçou os seios para frente e para trás contra
o peito dele. Os lábios dela pararam um pouco longe dos dele, e seus olhos
brilharam com desejo feroz. Por um momento, Mike se perguntou se havia
morrido na praia e de alguma forma acabou neste perfeito paraíso após a
morte.
— Eu quero te lavar. — ela murmurou contra seus lábios. — E provar
você.
— Droga!— Mike praguejou, fechando os olhos quando ela se abaixou
entre eles e colocou a mão ao redor de seu pênis ingurgitado de sangue.
Sua cabeça caiu para trás enquanto ela o acariciava. Ele podia ouvi-la
pegando a barra de sabão. Segundos depois, ela passou a barra em seu peito
e ombros.
Enquanto ela o lavava com uma mão, ela continuava a deslizar da ponta
de sua cabeça ultrassensível até a base de seu saco duro como pedra com a
outra.
Ele levantou o braço quando ela passou a mão por baixo dele antes de
deslizar pelo seu estômago. Seus quadris se moveram para cima e para baixo,
não parando quando ela brevemente o segurou com um aperto de duas mãos.
Ele gemeu e abriu os olhos quando ela recuou, liberando seu pênis e
deslizando as mãos ao longo de suas coxas afastadas. Ela sorriu para ele com
confiança construída sobre o conhecimento de que o tinha completamente
fascinado.
Lambendo o lábio inferior, ela fez sinal para ele se virar e ficar de pé.
Mike fez o que ela pediu. Ele se certificou de que seu pênis roçasse seus
lábios entreabertos. Esse movimento acabou sendo um grande erro quando
sua língua saiu e ela passou a ponta nele.
— Marina...— ele avisou, cerrando os punhos.
— Ainda não. — ela respondeu com um sorriso secreto. — Você também
merece sentir o prazer.
Ele rosnou baixinho e se virou quando ela se levantou e colocou as mãos
em seus quadris. Mike olhou para baixo, seguindo a mão dela enquanto ela
pegava o sabonete mais uma vez. Ele desejou que houvesse um espelho na
parede que ele estava encarando como havia do outro lado. Tudo o que ele
podia fazer era fechar os olhos e imaginar como ela era parada atrás dele,
esfregando as mãos sobre seus ombros e descendo pelas costas até as
nádegas. Ele enrijeceu quando sentiu os dedos dela percorrerem a fenda.
— Acho que posso me sentir atraída por sua bunda também. — ela
disse, pressionando os seios contra as costas dele e passando as mãos
ensaboadas entre suas bochechas.
— Maldita mulher! Eu não vou aguentar se você continuar assim. — ele
murmurou com uma voz rouca.
— Temos a noite toda. — ela murmurou.
A noite toda não seria suficiente para ele. Ela deslizou as mãos
ensaboadas em torno da cintura dele e segurou seu pau com as duas mãos.
Ele inclinou a cabeça e abriu os olhos, observando com prazer enquanto ela
deslizava as mãos para frente e para trás.
A ponta de seu pênis estava tão cheia que gotas de pré-sêmen escoavam
da ponta bulbosa roxo-azulada. Um estremecimento o percorreu quando os
dedos dela roçaram a pequena fenda.
— Não vou aguentar. — ele exclamou com uma voz áspera, descendo e
agarrando seus pulsos. Ele se virou em seus braços, o rosto tenso enquanto
lutava pelo controle. — Enxague e se incline sobre o lado.
Marina afundou na água. Mike a seguiu, enxaguando o sabonete de seu
corpo. Sua mão agarrou seu pênis. Ele apertou seu pênis latejante, esperando
adiar sua necessidade de gozar para que pudesse fazê-la gozar novamente.
Essa esperança desapareceu quando ela se levantou e puxou a toalha
estendida para o lado o suficiente para que ela pudesse apoiar os cotovelos
nela. Sua bela bunda estava levantada no ar e ele podia ver as dobras
inchadas se separarem.
Ajoelhando-se atrás dela, ele abriu seus lábios e pressionou dois dedos
nela, esticando-a enquanto usava o polegar para brincar com seu clitóris
úmido. Ele se inclinou para frente e beliscou sua bochecha esquerda. Como
ele esperava, a umidade escorregadia guiou seus dedos mais fundo.
Acariciando-a, ele empurrou cada vez mais fundo até sentir a barreira de
membrana fina.
Ele removeu os dedos e se levantou atrás dela. Ele guiou seu pau para
sua entrada, o filme de seu pré-gozo se misturando com a sua umidade.
Ambos estavam mais do que prontos. Ele deslizou a ponta de seu pênis dentro
dela, fazendo uma pausa para dar-lhe tempo para se ajustar.
Suas pernas tremiam enquanto observava seu pau desaparecer
lentamente. Ele podia sentir seu canal apertado envolvendo-o. Deslizando as
mãos para seus quadris, ele segurou seus quadris balançando ainda para lhe
dar tempo para recuperar o controle.
—Vou tentar não te machucar. — disse ele com uma voz tensa, travando
os olhos com os dela no espelho.
— O prazer pode ser doloroso às vezes. — ela sussurrou, olhando para
ele com olhos sem piscar enquanto ela empurrava para trás.
— Droga, Marina. — Mike gritou, sentindo seu pau deslizar mais fundo
dentro dela.
O fio de controle dele se rompeu quando ele sentiu a barreira que os
separava se romper, e ele se inclinou para frente, prendendo-a debaixo dele.
Ele soltou os quadris dela para segurar seus seios enquanto começava a
balançar com uma necessidade primitiva de marcar e reivindicar a mulher
como sua.
Ele beliscou os mamilos dela, observando o flash de dor se transformar
em prazer imediato enquanto investia nela. Ele soltou um seio para deslizar
a mão entre as pernas dela. Ele encontrou o ponto sensível que procurava e
começou a acariciá-lo no mesmo ritmo intenso de suas investidas.
Seus dedos se abriram ao redor do azulejo liso que cercava a banheira,
e ela empurrou os quadris para trás, encorajando-o a tomá-la sem restrições.
Quando ela gozou, seu grito longo e alto ecoou pela sala. Seu canal apertou
seu pênis com tanta pressão que ele jurou que não eram mais duas pessoas,
mas uma.
Ele balançou os quadris cada vez mais rápido, apesar da resistência do
corpo dela em permitir que ele se afastasse. A ponta bulbosa afundou
profundamente, e ele sentiu a força poderosa de sua semente derramando
dele. Ele apertou seus quadris contra suas nádegas, empurrando tão fundo
quanto seu pênis podia ir. Atrás de suas pálpebras fechadas, ele viu as faíscas
brancas se conectando com fios de cores brilhantes. Os fios arquearam para
fora, envolvendo seus corpos.
Caindo para frente, ele colocou as mãos em ambos os lados do corpo de
Marina, segurando-a presa sob ele. Seu corpo ainda estava preso ao dela.
Ambos estavam respirando com dificuldade, e ele podia sentir que ela tremia.
— Será sempre assim? — ela sussurrou, com a cabeça baixa e os olhos
fechados.
— Algo me diz que será ainda melhor. — ele murmurou, dando um beijo
no ombro dela.
— Eu gostaria disso. — ela respondeu com um suspiro.

Uma hora depois, Mike gentilmente deitou Marina na cama grande. Ela
se virou e se aconchegou contra ele quando ele deslizou ao lado dela. Ele
passou um braço ao redor dela e a puxou para perto. Ele correu sua mão com
ternura para cima e para baixo na pele nua do braço dela, depois que ela
soltou um suspiro satisfeito e envolveu sua perna ao redor dele. Ele olhou
para o teto, perdido em pensamentos, enquanto seu corpo saciado relaxava.
Eles ficaram no banho até que o frio da água os expulsou.
Mike esperava que a água morna aliviasse qualquer dor que Marina
pudesse sentir, dando-lhe tempo para recuperar o controle de seu corpo
trêmulo.
Ele jurou que tinha visto fogos de artifício explodindo em sua cabeça
quando eles fizeram amor.
Para alguém tão inexperiente como Marina, ela tinha que ser a mulher
mais sexy que ele já conheceu. Ela não tinha congelado ou resistido a
nenhum de seus toques. Sua confiança era um presente precioso que ele não
queria que ela nunca se arrependesse de lhe dar.
Tendo sua cota de amantes ao longo dos anos, especialmente da
adolescência aos vinte e tantos anos, nenhuma havia tocado seu coração
como Marina. Os últimos anos tinham sido diferentes. Ele percebeu que havia
saído do estágio em sua vida onde estava apenas buscando prazer irracional
para querer algo mais profundo. Inquieto, ele não sabia o que estava
procurando até conhecer Marina.
— Eu te amo, Marina. — ele murmurou, virando a cabeça e dando um
beijo na testa dela.
Seus braços se apertaram ao redor dela quando ela enrijeceu
brevemente. Ele esperou. Este era um território novo e muito desconhecido
para ele. Ele nunca havia dito a uma mulher que a amava antes.
— Eu também te amo, Mike. — disse ela, inclinando a cabeça para
trás. Ele podia ver a felicidade em seus olhos. — Juntos, fazemos uma magia
forte.
Mike riu.
— Me dê algumas horas, e eu mostrarei o quanto podemos fazer. — ele
brincou, relaxando contra os travesseiros.
Um sorriso ergueu os cantos de seus lábios, mesmo quando suas
pálpebras caíram de exaustão. Seu corpo ainda estava zumbindo de seu
orgasmo e a sensação da mulher em seus braços. Ele daria a ambos algumas
horas para se recuperar antes de acordá-la.
Nós dois temos muito mais a explorar, ele pensou, caindo em um sono
profundo e reparador.

Marina sorriu na escuridão e aconchegou-se mais perto do corpo quente


de Mike. Seus braços a seguravam perto dele, mesmo quando ela sentiu seu
corpo relaxar ao adormecer. Inclinando a cabeça, ela estudou seu rosto forte.
Ela levantou a mão e traçou as linhas tênues perto do canto da boca com os
dedos. Seus lábios se separaram, e ele soltou um suspiro em seu sono.
Ela decidiu que ele tinha um rosto forte. Sua pele era bronzeada pelo
sol como a dela, e ele tinha cabelos castanhos escuros e grossos. Seus olhos
azuis vívidos a lembravam do céu em um dia claro. Havia uma leve
protuberância no centro do nariz, como se tivesse sido quebrado uma vez, e
uma cicatriz perto do lábio superior que era tão tênue ela acabara de notar.
Com os dedos, ela traçou o início áspero de uma barba se formando ao
longo de sua mandíbula. Ela não pôde deixar de lembrar suas conversas com
sua avó enquanto o estudava. Ela pensou que sua avó estava brincando
quando a velha lhe contou como era dar prazer a um homem e ser satisfeita
por um. Sua mãe havia passado por cima dos detalhes, corando e gaguejando
enquanto tentava explicar. Houve muita gagueira, murmúrios e suspiros.
A mãe de seu pai, Ladonna, por outro lado, gargalhou e compartilhou
histórias fantásticas com Marina sobre seus diferentes amantes e quem tinha
sido o melhor dos melhores. Sua avó havia entrado em tantos detalhes que
Marina não sabia se deveria acreditar na metade do que Ladonna estava
dizendo ou não. No final, Marina decidiu seriamente que poderia viver o resto
de sua vida como uma eremita na floresta Elder cuidando das árvores. Parecia
mais seguro.
Uma pequena parte dela estava grata por nunca ter conhecido o pai de
seu pai.
Ela achava que nunca seria capaz de olhar o homem nos olhos se o
tivesse feito. Ao que parece, a única razão pela qual sua avó sabia qual de
seus amantes tinha sido seu avô era por causa do tempo entre seus casos.
Após a partida prematura de seu avô, sua avó explorou os reinos - e
além, segundo ela - em busca de novas aventuras.
Se isso não fosse informação demais para Marina, sua avó havia dado a
ela livros para ler que ela disse ter recuperado de um mundo distante.
— Eles são chamados de romances. — Ladonna riu. — Eles deixam você
molhada.
Marina tinha sido muito ingênua aos dezoito verões. Ela sempre estivera
mais interessada em conversar com as árvores do que em conversar com os
meninos da aldeia.
Ladonna havia lhe entregado seis desses livros e lhe dito para lê-los.
— Eu lancei um feitiço para traduzi-los. Estes são os meus favoritos,
então não deixe de trazê-los de volta. E não deixe seus irmãos lerem! —
Ladonna a instruíra.
Marina tinha levado os livros. Ela os sacudiu, abriu-os e inspecionou-
os, mas para a vida dela não conseguia descobrir como eles deveriam deixá-
la molhada. Então, ela leu um - e entendeu. Pelo sexto livro, ela tinha
aprendido como cuidar não apenas da umidade que causavam, mas do
desconforto que a deixavam sentindo após devorá-los.
Até Mike, ela nunca tivera o desejo de permitir que outra pessoa
cuidasse dos sentimentos desconfortáveis que a deixavam inquieta e mal-
humorada. Agora, ela não só entendia o que aquelas mulheres nos livros
estavam sentindo, mas ela nunca queria que isso acabasse.
Contanto que seja com Mike, ela pensou enquanto descansava a mão
sobre o coração dele e fechava os olhos.
Capítulo Dezesseis

No início da manhã seguinte, Mike e Marina estavam nos degraus da


entrada do palácio. Mike manteve o braço em volta de Marina protetoramente.
Depois da noite passada, ele sabia que ela pertencia a ele, assim como ele
pertencia a ela.
Era mais do que fazer amor. A conexão deles os fundiu em um nível que
ele nunca percebeu ser possível. Era como se os dois tivessem se tornado um
- pensando, sentindo e trabalhando em uníssono. Ele não pôde deixar de se
perguntar se sua mãe e seu pai tinham sentido esse mesmo tipo de conexão
durante seus muitos anos de casamento. Era estranho como ele de repente
se lembrava deles terminando as frases um do outro, sabendo quando o outro
precisava de algo, e a dolorosa solidão que sentiam quando estavam
separados.
Ele olhou brevemente para Órion e Jenny onde eles estavam esperando,
junto com seus dois filhos, Dolph e Juno. Órion tinha o braço em volta da
cintura de Jenny. Depois de conversar com Jenny e ver como ela estava feliz,
ele se sentiu confiante de que o que quer que a trouxe aqui, fosse a Bruxa do
Mar ou o destino, era a coisa certa. Desviando o olhar, ele olhou em volta e
franziu a testa quando percebeu que todos estavam olhando para o céu.
— Você tem certeza de que eles estão vindo? — perguntou Mike.
— Eles virão. —. respondeu Órion com confiança.
— Espero que tragam DJ e Ston. — disse Juno, mal contendo sua
empolgação enquanto esperava.
Mike se inclinou para Marina para poder falar perto de seu ouvido.
— Por que todos os adultos parecem um pouco tensos? — ele
murmurou.
— Cada governante é extremamente poderoso à sua maneira. Muitos
anos atrás, houve uma grande guerra que dividiu nossos reinos e colocou um
contra o outro. Mais tarde soube-se que a guerra foi instigada pela Bruxa do
Mar. — Marina explicou.
Mike lutou contra a vontade de revirar os olhos.
— Por que não estou surpreso? — ele murmurou.
— Você não deve se surpreender com nada que minha prima faça. —
afirmou Órion.
— Ela transformou todos os dragões em pedra. — Ele fez uma careta
quando ouviu um rugido alto e que sacudiu o chão. — Exceto, é claro, por
Drago, o Rei dos Dragões. Eu não sei por que ele insiste em fazer uma entrada
dramática toda vez que eles chegam. — Órion acrescentou com um aceno de
cabeça.
Os olhos de Mike se arregalaram e ele deu um passo para trás. Sua mão
se soltou da de Marina, e ele automaticamente começou a pegar a arma
debaixo da jaqueta. Marina colocou a mão no braço dele e balançou a cabeça.
— Eu só vi o Rei dos Dragões de longe no palácio quando eu estava
visitando Isha. — ela respirou com admiração.
A primeira coisa que Mike viu foi um enxame de pássaros brancos
incomuns. Eles passaram por cima do muro do palácio e pela entrada da
frente. Ele observou enquanto eles passavam pelos guardas antes de subirem
em espiral.
Um momento depois, uma sombra escura apareceu no alto. Os olhos de
Mike seguiram o enorme dragão enquanto ele circulava o pátio. As escamas
do dragão, negras como a meia-noite, brilhavam intensamente na luz da
manhã. O dragão investiu contra alguns dos guardas de Órion enquanto ele
descia. Os guardas se abaixaram, mas não se moveram até que Kapian gritou
uma ordem para dar mais espaço a Drago.
— O que é isso nas costas dele? — Mike perguntou, tentando decifrar
os movimentos bruscos.
— Tudo bem! Eles vieram! — Dolph exclamou.
Mike observou os dois garotos ao lado de Jenny descerem correndo para
o pé da escada para esperar empolgados. Ele voltou a olhar para o céu. Drago
circulou mais uma vez antes de pousar no centro do pátio.
O grande dragão girou em um círculo apertado, mordendo e rosnando
para os guardas mais próximos a ele antes que ele parasse e abaixasse sua
asa direita. As cabeças de dois pequenos dragões apareceram entre suas
asas. Mike observou com admiração enquanto eles deslizavam pela asa até o
chão e se transformavam em dois meninos um pouco mais jovens que Juno.
Os quatro garotos riram e correram em direção um ao outro.
O dragão macho virou seu olhar para o céu. Mike seguiu seu olhar. Um
dragão menor apareceu, protegido por todos os lados pelo enxame de
pássaros. Ela varreu a parede, oscilando um pouco e quase acertando o topo.
Dois guardas tiveram que mergulhar para o lado para não serem derrubados.
Drago bufou e balançou a cabeça. Mike ouviu Órion rir.
— Vejo que ela não melhorou muito. — disse Órion.
— Órion— Jenny repreendeu. — Carly nunca foi graciosa quando
andava. Não consigo imaginar o quão difícil deve ser voar, especialmente
carregando a pequena Roo.
Levou um momento para Mike se lembrar do que Jenny disse a ele sobre
Carly ser capaz de se transformar em um dragão. Seu olhar se moveu para o
pequeno dragão agarrado ao peito do dragão. Este era menor do que os dois
primeiros que estavam nas costas de Drago. Mesmo de onde estava, Mike
podia ver dois laços cor-de-rosa presos ao par de chifres minúsculos na
cabeça dela.
— Laços? — Mike riu, maravilhado com a visão.
— Ela é adorável! — Marina respirou em deleite.
Mike olhou para o rosto sorridente de Marina antes de se virar para o
dragão que estava pousando ao lado de Drago. Um desejo repentino de ver
Marina segurando seu filho o atingiu forte. A imagem o abalou.
Desde quando eu penso em ter filhos? ele pensou surpreso.
Ele respirou fundo quando viu o dragão brilhar antes de mudar para
uma mulher cujo rosto ele só tinha visto em fotografias. Ele deu um passo à
frente, depois mais dois, parando três passos abaixo quando teve certeza de
que a mulher era realmente quem ele pensava que era.
— Carly Tate! — ele exclamou.
Carly virou-se para olhar para ele surpresa quando ouviu seu nome.
Infelizmente, o mesmo aconteceu com o grande dragão macho. Sua
cabeça virou e ele deu um passo em direção a Mike. O dragão mostrou os
dentes e moveu seu corpo na frente de Carly e do pequeno dragão que ela
estava segurando.
— Drago! — Órion avisou, descendo um degrau e se posicionando entre
Drago e Mike.
— Quem é ele, e como ele conhece minha companheira? — Drago exigiu
com um rosnado.
— Ele é do mundo de Carly e Jenny. Ele está procurando por elas. —
disse Órion.
Os lábios de Drago se curvaram e um longo e retumbante grunhido de
advertência reverberou pelo ar. Os dedos de Mike se contraíram. Ele se
sentiria muito melhor se tivesse sua arma na mão, embora não tivesse certeza
de que seria muito eficaz.
— Bem, ele a encontrou. Agora, ele pode retornar ao seu mundo. Se ele
tentar levar minha Carly, eu o matarei. — Drago ordenou.
Um pequeno riso tenso escapou de Mike diante da ameaça familiar, e
ele balançou a cabeça.
— Esse é um tema bastante comum por aqui. — ele comentou, olhando
diretamente nos olhos brilhantes de Drago. — Vou lhe dizer a mesma coisa
que disse a Orion. Meu trabalho é garantir que as mulheres desaparecidas -
neste caso, Carly Tate e Jenny Ackerly - foram encontradas e estão seguras.
Se elas quiserem voltar para o nosso mundo, isso é inteiramente com elas. Só
preciso saber se elas não estão sendo mantidas contra a vontade ou precisam
de ajuda.
Drago se movimentou. Mike decidiu que o homem alto e forte com
cabelos pretos compridos e olhos dourados penetrantes, que tinham o
tremeluzir de chamas dançando neles, era tão ameaçador quanto o maldito
dragão! Encarando o homem sem piscar, esperou que ele respondesse.
— Você é o policial que Jenny me contou! Eu sou a Carly. — a mulher
disse, estendendo o dragão em seus braços para Drago enquanto ela passava
por ele.
— Carly… — disse Drago exasperado, pegando sua filha.
— Detetive… — Mike corrigiu com um sorriso tranquilizador. — Carly
Tate, é bom ver que você está viva e... bem, viva.
Carly riu.
— Não sei se é bem assim. A pequena Roo está com dentes nascendo.
Achamos que ela estava resfriada, mas descobrimos outro dente ontem à
noite quando ela mordeu o Drago. Quando o Drago recebeu o convite para
vir, não tinha como eu ficar para trás. — disse ela.
— Eu não teria deixado você sozinha de qualquer maneira. — Drago
respondeu. — Você esqueceu que deveria ficar atrás de mim até que eu
garantisse que tudo estava seguro?
Carly revirou os olhos para Drago.
— Claro que é seguro! Já estivemos aqui dezenas de vezes, e você vê
falta de guardas em algum lugar? — ela exigiu com um aceno de sua mão.
Drago começou a rosnar, mas o som morreu quando o pequeno dragão
em seus braços pegou sua mão entre suas garras dianteiras e começou a
mastigar em seu dedo. O rosnado se transformou em uma careta. Ele puxou
o dedo livre e o inspecionou.
— Sem mordida, Jen. — Drago disse.
— Grrr. Eu não Jen, eu Roo agora. — o pequeno dragão rosnou antes
de mostrar seu novo dente brilhante.
Carly balançou a cabeça.
— Nós a chamamos pelo nome do meio desde que descobri que Jenny
estava aqui. Isso nos salva da confusão, e ela adora. — disse ela.
Jenny riu.
— Que tal levamos os meninos para a sala de jogos. Dolph e Juno estão
animados que os meninos estão de volta e Roo pode brincar com Lucy depois
que eu a alimentar. — ela ofereceu.
— Comida!— Roo exigiu, de repente mudando para uma garotinha
gordinha com grandes olhos dourados.
— Vamos esperar os outros chegarem. — disse Órion com um aceno de
cabeça.
— Outros? O tio Ashure está vindo? — Stone perguntou com um olhar
esperançoso.
— Ele não é seu tio. — Drago começou antes de Carly lhe dar uma
cotovelada, e ele grunhiu. — Bem, ele não é. Ashure nem é um dragão.
Mike apertou os lábios quando viu Drago fazer careta e uma expressão
teimosa se instalar em seu rosto. Parecia que Carly Tate não estava nem um
pouco intimidada pelo homem grande. Drago entregou Roo para Carly
quando ela estendeu as mãos.
— Ele é um pirata! — DJ, o filho mais velho de Drago, exclamou,
puxando uma espada de madeira de seu lado. — Atacar, companheiros!
— Vamos, seus cães trapaceiros.— Carly ordenou antes de se inclinar e
roçar um beijo nos lábios de Drago. — Seja gentil com Ashure.
Mike virou-se e se afastou para permitir que Carly, Roo e o grupo de
meninos, que agora estavam planejando criar um navio pirata, entrassem na
sala de jogos atrás dele. A conversa animada rapidamente morreu quando
Jenny, Carly e as crianças desapareceram lá dentro. Caminhando lentamente
até os degraus para ficar ao lado de Marina, Mike sentiu mais uma vez que
havia acordado em uma espécie de mundo bizarro.
— Eu não sei por que os meninos pensam que ser um pirata é melhor
do que ser um dragão. — Drago murmurou.
— Dolph e Juno pensam a mesma coisa. — Órion admitiu.
— Eu poderia transformá-lo em um pirata queimado com uma
respiração. — afirmou Drago.
— Bem, não. Por alguma razão desconhecida, Jenny e Carly gostam do
homem. — Órion disse com um longo suspiro. — Falando nisso, ele chegou.
Mike observou a chegada de uma grande carruagem sendo puxada por
uma dúzia de criaturas parecidas com cavalos que fariam um Clydesdale em
casa parecer um pônei Shetland. As criaturas eram azuis com tiras pretas.
Seus olhos vermelhos brilharam enquanto eles balançavam a cabeça.
Armaduras de prata ornamentadas cobriam suas testas e peitos.
— Aquele fogo está saindo de suas narinas? — perguntou Mike.
— Nali vai matá-lo. — Drago e Órion disseram exatamente ao mesmo
tempo.
— Nali? — repetiu Mike.
Mike engoliu em seco quando sentiu os cabelos de sua nuca se
arrepiarem de repente. Ele jurou que podia sentir a eletricidade no ar. O
pensamento mal tinha passado por sua mente quando ele ouviu o estrondo
de um trovão.
Olhando por cima dos cavalos cuspidores de fogo, ele franziu a testa
quando tudo o que viu foi o céu azul.
— Só ouvi falar dela e dos míticos Thunderbirds1 que alimentam seus
navios. — Marina murmurou.
Mike podia sentir sua mandíbula lentamente se abrir enquanto um
navio futurista entrava em vista. Havia quatro pássaros maciços em cada
canto do navio. Fios de eletricidade corriam por suas asas, estalando e
fazendo barulho.. Na proa, segurando uma corda comprida, uma mulher alta
de pele escura vestindo uma blusa vermelha sangue e calças pretas
descansava um pé calçado na grade baixa e olhava para baixo para eles.
— Puta merda… — Mike começou a dizer quando ela mergulhou do
navio voador quase trinta metros no ar.
Asas longas apareceram de repente de suas costas, e ela voou para
baixo.
Ela parou de subir antes de chegar à carruagem e pousou no teto. As
asas em suas costas dobraram e desapareceram quando ela se ajoelhou em
um joelho e apoiou a mão no teto da carruagem.
— Eu vou adorar assistir isso. Aposto meia moeda de ouro que Nali
ganha!
Drago disse, esfregando as mãos.
— Quem é aquele? — Marina perguntou, protegendo os olhos e olhando
para o navio quando uma corda caiu.
— Koorgan. — Órion respondeu.
— Ele é um grande filho da puta. — Mike murmurou.
— Ele deveria ser. Ele é o Rei dos Gigantes. — Drago respondeu.

1 O Thunderbird ou Pássaro do Trovão é uma criatura lendária da cultura dos povos


indígenas da América do Norte. É considerado um ser sobrenatural de poder e força.
— Só Nali poderia tirar aquele gigante cabeça-dura pra fora de sua Ilha.
— Órion comentou.
— Ele se recusou a nos ajudar quando a Rainha enviou um ofício. —
retrucou Marina amargamente.
Mike enfiou os dedos nos de Marina e apertou a mão dela para
tranquilizá-la. O homem olhou para baixo e acenou com a mão para um grupo
de guardas.
Kapian se virou e gritou uma ordem. Os guardas recuaram
rapidamente, limpando uma área do tamanho de uma quadra de basquete.
— O que ele está fazendo? — perguntou Mike.
Órion franziu os lábios.
— Arruinando meu pátio. — ele retrucou.
Mike franziu a testa para Órion e olhou para cima. Sua respiração ficou
presa quando o homem casualmente desceu do navio voador. Uma queda
daquela altura mataria um homem normal. O protesto que começou em seus
lábios mais uma vez desapareceu quando o homem começou a crescer e
crescer e crescer e crescer….
— Preparem-se. — disse Órion.
Mike passou o braço ao redor de Marina e a puxou com força contra seu
corpo. O homem alto havia se tornado um gigante com quase 18 metros de
altura.
O homem dobrou os joelhos quando seus pés finalmente tocaram o
chão. Mike esperava que o impacto criasse um terremoto estrondoso. O chão
tremeu, mas foi mais o efeito rolante de um terremoto de 3,0 em vez da
catástrofe que ele esperava.
Koorgan se levantou e sorriu. Nali ficou de pé no teto da carruagem e
colocou as mãos nos quadris enquanto outro homem elegantemente vestido
se inclinou para fora da carruagem e bateu palmas em aplauso.
— Bravo, Koorgan, bravo. Esplêndida entrada, meu amigo. — o homem
na carruagem chamou da janela.
A risada de Koorgan soou como um trovão. Os cavalos que cospem fogo
dançavam e chutavam nervosamente seus cascos empinados. Mike observou
Nali estalar os dedos e os cavalos se acalmaram instantaneamente.
— Nali, minha linda Imperatriz. Eu posso explicar… — o homem
começou cautelosamente, virando-se para olhar para a mulher de pé no teto
de sua carruagem.
— Eu juro Ashure, eu deveria cortar sua garganta de ladrão e acabar
com isso.
Nali ameaçou.
— Ela não vai. — Órion assegurou a Mike.
Drago olhou por cima do ombro.
— Eu quase pagaria uma moeda de ouro para ver isso. — ele disse,
focando sua atenção na cena na frente dele.
— Isso seria ouro de dragão ou ouro marinho? — Ashure perguntou.
Mike balançou a cabeça enquanto Marina ria das palhaçadas entre os
diferentes governantes. Ele estava muito fascinado vendo o gigante Koorgan
encolher para um homem grande e o gracioso salto de Nali do telhado para
prestar atenção em qualquer outra coisa. Ashure fez uma careta e estendeu
as mãos quando Nali abriu a porta da carruagem e sacudiu o dedo para ele
em uma forma de repreensão.
— Eu os estava trazendo para você, Nali. Eu os roubei de um navio indo
para os confins do nosso mundo. As pobres coisas estavam em péssimas
condições, e eu…
A voz de Ashure morreu quando Nali o prendeu ao lado de sua
carruagem com uma mão.
— Você tem sorte que eu amo o conhaque que você tem, Ashure. Duas
caixas- entregues dentro de uma semana. — ela exigiu.
— Duas garrafas e uma recompensa por salvar seus garanhões das
garras de patifes que teriam prejudicado essas feras magníficas. — Ashure
respondeu.
Nali deu a Ashure um olhar desconfiado antes de soltá-lo.
— Uma caixa e eu não vou te cobrar pelo uso de meus garanhões. —
ela disse, soltando-o.
— Dapier. — Ashure chamou.
—Sim, Majestade. — respondeu Dapier.
Mike pôde apreciar como Ashure ajustou casualmente as mangas de
sua jaqueta marrom escura. O homem estava frio e calmo, considerando que
uma mulher com asas o havia segurado pelo pescoço com uma mão. Mike
decidiu que ele teria que ser muito cauteloso sobre quem ele irritaria aqui. Se
eles não o queimassem ou pisassem em você, eles poderiam rasgá-lo com
uma mão.
—Por favor, descarregue minha bagagem, devolva a carruagem ao meu
navio e informe o capitão LaBluff para que três garrafas do meu melhor
conhaque sejam entregues a…— Ele fez uma pausa e ergueu uma
sobrancelha para Nali.
—Vou enviar vários dos meus ciclopes para recuperar os garanhões e a
'caixa' de conhaque — disse ela.
—Você está me matando, Nali — Ashure gemeu.
—Sim, Sua Majestade. Os garanhões e uma caixa do seu melhor
conhaque.
Dapier respondeu, descendo.
Capítulo Dezessete

Marina estava perto da parede da grande sala. Órion havia escoltado o


grupo para a sala depois de determinar que ninguém mais chegaria. Nali
balançou a cabeça quando Órion perguntou baixinho se ela estivera em
contato com o Rei e a Rainha dos Elementais.
— Não. Ou eles encobriram sua Ilha ou algo mais aconteceu. Não
consegui localizá-los. — explicou Nali.
— Eu disse que Ruger tinha flutuado seu reino para longe. — disse
Ashure, balançando os dedos.
Marina deu uma risadinha e se inclinou para perto de Mike.
— Eu gosto dele. Ele é engraçado. — ela murmurou.
— Ele é um pirata. — Mike retrucou com um aceno de cabeça. — Fale
sobre estereótipos! Ele poderia ter saído direto dos filmes. A única diferença
é que ele é muito mais limpo.
Marina mordeu o lábio quando o Rei dos Piratas se virou e piscou para
ela. Ela apertou a mão de Mike quando ele lançou a Ashure um olhar de
advertência. Mike virou-se para olhar para ela com um sorriso irônico.
— Outra experiência nova para mim. — confessou.
— O que é? — ela perguntou, inclinando a cabeça para olhar para ele.
— Ciúmes. — ele murmurou.
Marina respirou fundo quando ele se curvou e capturou seus lábios em
um beijo possessivo. Ela se virou para ele e enfiou os dedos pelo cabelo dele
enquanto retribuía o beijo.
— Parece que você perdeu outra, Ashure. — Nali comentou.
Ashure sorriu.
— É a história da minha vida. Eu encontro uma mulher encantadora, e
ela já está conquistada, exceto por você, minha linda Imperatriz. — ele
retrucou com um sorriso malicioso.
— Oh, Deusa me ajude. — Nali gemeu, virando-se para olhar para Órion
e Drago. — Por favor, diga-me onde posso encontrar uma mulher que aguente
esse ladrão.
Koorgan riu.
— Existe uma mulher assim? — ele perguntou.
Ashure deu ao grupo um olhar de dor e caminhou até o bar. Ele pegou
várias garrafas e as examinou antes de escolher uma e voltar para a mesa
com ela. Tirando a rolha de vidro, ele se serviu de um copo antes de se sentar.
— Acredito que fomos convidados a participar de uma reunião aqui para
algo mais sério. — ele incitou com um levantamento de seu copo em direção
a Órion. — Eu odiaria vir até aqui só para perder minhas bestas de fogo e
uma excelente caixa de conhaque.
Órion acenou com a cabeça em resposta, virou-se e fez sinal para
Marina e Mike se adiantarem. Cada governante se acomodou ao redor da
mesa. Drago se inclinou, pegou a garrafa de licor na frente de Ashure e serviu
dois copos. Ele então os empurrou para Marina e Mike.
— Marina, por favor, explique aos outros o que você compartilhou
comigo.
Órion encorajou, acenando para eles se sentarem.
Mike puxou uma cadeira para Marina. Ela lhe deu um sorriso
agradecido antes de se sentar e envolver nervosamente as mãos ao redor do
copo de líquido âmbar. Ela respirou fundo e soltou o ar antes de estudar
lentamente o rosto de cada pessoa na mesa.
— Meu nome é Marina Fae. Eu sou uma bruxa da Ilha da Magia, e vim
implorar por sua ajuda. — ela começou.
Durante a meia hora seguinte, ela compartilhou tudo o que havia
acontecido com seu povo e ela mesma. Mike estendeu a mão e agarrou sua
mão enquanto ela impacientemente enxugava uma lágrima que escorria pelo
seu rosto enquanto ela lhes contava sobre o que aconteceu com Geoff e o
sacrifício que sua avó fez para que eles estivessem lá.
— Por favor, nos ajude. Rei Drago, você sabe como é perder aqueles que
você gosta. Ela está lentamente matando meu povo do jeito que matou o seu.
— Marina forçou com uma voz trêmula.
Um músculo se contraiu na mandíbula de Drago. Sua expressão era
dura e seus olhos frios. Marina não tinha certeza se deveria ter mencionado
a perda do povo de Drago, mas queria que ele entendesse a desesperança que
estava sentindo.
Drago virou-se para olhar para Órion.
— Eu matarei aquela cadela.— ele anunciou.
— Drago... lembre-se do que eu te disse antes. — Nali advertiu.
Drago deu um soco na mesa. A madeira estalou sob a força.
Uma longa rachadura apareceu e os copos e garrafa de bebida
começaram a deslizar para o centro quando a mesa começou a ceder. Marina
espalmou as mãos sobre a madeira e falou com ela. Sua magia fluiu através
dela, curando a madeira fraturada. Cada um dos governantes se levantou
quando a mesa começou a desmoronar.
Mike colocou a mão nas costas dela. Uma onda de poder mágico fluiu
através dela, mais forte com seu leve toque, embora sua magia não fosse
impedida neste reino.
— Eu amo o poder da magia. — Ashure respondeu com um suspiro.
Marina piscou e olhou ao redor dos que estavam ao lado da mesa.
— Meus poderes são principalmente com madeira. — disse ela.
Órion fez uma careta para Drago.
— Na próxima vez que houver uma reunião, teremos na Ilha dos
Dragões. Entre Koorgan colocando pegadas gigantes no meu pátio e você
quase quebrando uma mesa de mil anos, estou prestes a banir vocês dois da
minha casa. — ele retrucou.
— E Ashure? — Koorgan disse com uma sobrancelha levantada.
— O que eu fiz? — Ashure exigiu, olhando para Koorgan.
— A adaga de prata na bandeja. — Koorgan riu.
Ashure fez uma careta e puxou a adaga de prata, que ele pegou de uma
bandeja no balcão da sala de reuniões, do bolso. Ele a equilibrou em seu dedo
por um momento antes de girá-la e colocá-la sobre a mesa. Um sorriso torto
curvou seus lábios na expressão exasperada de Órion.
— Eu não teria roubado. — Ashure retrucou.
— Rapazes! Juro que nenhum de vocês cresceu desde que os conheci
quando crianças. — Nali disse com um aceno de cabeça antes de se virar
para olhar para Marina. — Eu a ajudarei a libertar seu povo. O mal negro
dentro da Bruxa do Mar tem se espalhado em busca de outros hospedeiros.
Devemos pará-lo antes que seja bem-sucedido.
— Você continua dizendo que há algo dentro de Magna. A única coisa
que vi foi seu coração negro. — Drago rosnou. — Eu digo que a matarei e
cortarei o coração dela do peito.
— Dragões sempre foram bestas sanguinárias. — Ashure comentou.
Drago se virou, seus olhos dançando com chamas, e deu a Ashure um
sorriso ameaçador.
— Que tal eu te mostrar em primeira mão o quão sanguinário eu posso
ser? — Ele ofereceu.
O olhar de Ashure endureceu, e sua boca se apertou. Os olhos de Marina
se arregalaram quando ela viu o brilho de magia em torno de Ashure. Sua
aura, que era fraca, mas leve e colorida, de repente se transformou em um
preto espesso e ameaçador, diferente de tudo que ela já tinha visto antes, até
mesmo Magna. A frieza ameaçou sufocá-la. Quando a cor turbilhante se
voltou para ela, como se soubesse que ela podia vê-la, ela viu rostos e mãos
gananciosas se estendendo em sua direção.
Assustada, ela soltou um grito assustado e rapidamente se levantou da
cadeira, pegando Mike enquanto se afastava.
— Marina, o que é? — Nali perguntou preocupada.
O olhar aterrorizado de Marina travou com o de Ashure. A expressão do
Rei dos Piratas mudou. Ele respirou fundo. Houve um olhar de advertência
para Marina guardar o que viu para si mesma. Sua cabeça inconscientemente
subiu e desceu em um aceno curto e brusco. Ela segurou em Mike, seu corpo
tremendo, mesmo quando os rostos torturados presos na aura de Ashure
desapareceram.
— Eu... Nada.. .— ela sussurrou, desviando o olhar de Ashure.
— Por favor... eu preciso de um momento sozinha.
— Marina — disse Mike, observando-a se virar e sair correndo da sala.
Marina balançou a cabeça. Ela precisava de alguns minutos sozinha
para se recompor. Enquanto ela crescia, contavam-se histórias de que os Reis
e Rainhas das Ilhas não eram o que pareciam ser. Ela tinha aprendido hoje
que as histórias eram verdadeiras, mas algumas delas eram muito
subestimadas.

O som da porta se fechando silenciosamente atrás de Marina ecoou alto


na sala de repente silenciosa. Mike se virou e deu a cada pessoa na sala um
olhar frio e duro de advertência. Aproximando-se da mesa, ele apoiou as mãos
nela e falou em uma cadência lenta e medida.

— Eu não dou a mínima para o que vocês são. — ele começou,


capturando o olhar de cada pessoa novamente. — Eu não dou a mínima se
vocês têm problemas um com o outro. O que me importa é o que está
acontecendo com Marina e seu povo. Meu trabalho é servir e proteger. Eu
farei isso. Não é para ir com a intenção de vingança, mas com a intenção de
libertar aqueles que estão presos por esta Bruxa do Mar. Não sei se o feitiço
que ela criou afetará vocês da mesma forma que afeta Magna e os outros com
magia. Se isso acontecer, vocês podem esperar se sentirem fracos. Agora,
vocês vão trabalhar conosco ou não?
— Eu disse que vou. O feitiço afetará cada um de nós. Terei que manter
meus ogros longe, mas os Ciclopes e Minotauros que são membros da minha
tripulação devem estar seguros. — disse Nali.
— Você me pegou. Não há outros dragões que possam lutar, mas eu
lutarei - e tentarei não matá-la, se puder. — Drago respondeu.
— Eu vou lutar também. Eu deveria ter cuidado dela há muito tempo.
— disse Órion.
Koorgan assentiu.
— Deveria ter ido à Rainha Magika quando ela pediu pela primeira vez.
— ele respondeu com um suspiro de arrependimento. — Eu ficarei com vocês.
O olhar de Mike se moveu para Ashure. A expressão perturbada do
homem clareou e ele assentiu. Mike não perdeu a forma como o olhar de
Ashure continuou indo para a porta pela qual Marina havia escapado.
— Um pirata nunca recusa uma boa luta. — ele respondeu em um tom
leve que desmentia o olhar de aço em seus olhos. — Claro que vamos lutar.
Mike assentiu e deu a todos um sorriso sombrio.
— Alguém tem um mapa da Ilha, especificamente do palácio? — ele
perguntou com uma sobrancelha levantada.
— Sim. — disse Marina baixinho, voltando para a sala.
Mike se virou e viu que sua expressão estava determinada, mesmo que
seus olhos estivessem levemente vermelhos. Ela ergueu o queixo e retornou
seu olhar. Ela tinha recuperado o Sr. Bow de seu quarto. Levantando o braço,
ele estendeu a mão para ela.
— Você está bem? — ele murmurou baixinho.
Marina assentiu enquanto segurava sua mão e apertava seus dedos. Ele
notou que ela manteve seu olhar focado em Ashure.
— Obrigada por ajudar meu povo. — Marina finalmente disse.
— Agora, isso é o que faremos.. .— Órion começou.
Capítulo Dezoito

— Você é uma mulher muito incomum, Marina Fae da Ilha da Magia. —


Ashure comentou casualmente mais tarde naquela noite.
Marina ergueu o queixo e se virou ao som da voz de Ashure. Suas costas
estavam pressionadas contra o corrimão de pedra da varanda. Atrás dela, os
belos jardins do palácio estavam ganhando vida com luzes cintilantes
enquanto as flores noturnas se abriam para capturar os raios da lua que
brilhavam do quase luar cheio.
Ela saiu para se deleitar com a beleza da noite e o fato de que ela não
se sentia esgotada pelo feitiço horrível de Magna. Parecia uma vida inteira
desde que ela tinha sido capaz de aproveitar o dia, muito menos o cansaço
sufocante do anoitecer. Mike ainda estava lá dentro, conversando com Carly
e Jenny. Ela escapuliu silenciosamente, com medo de que ele falasse sobre
retornar ao seu mundo.
Marina estudou a aura de Ashure. Era novamente o matiz fraco, porém
colorido e não ameaçador. Ao fundo, ela podia ouvir os outros conversando
em voz baixa. A porta aberta e as vozes a tranquilizavam que ela não estava
sozinha. Ainda assim, ela não conseguiu evitar que seus dedos coçassem para
chamar Mr. Bow. Seu olhar se moveu para onde ele estava pendurado perto
da porta da sala de jantar.
— Sou apenas uma simples bruxa, Vossa Majestade. — Marina
respondeu, virando-se para olhar para o jardim.
— Não é tão simples, eu diria. — ele disse, vindo para ficar ao lado dela.
Ele estendeu a mão e agarrou o corrimão. Seu olhar se moveu sobre o
jardim, observando como as flores se iluminavam em uma ampla e vívida
exibição de cores. Ele respirou fundo.
— Eu não sei o que você quer dizer. — ela mentiu.
Ashure riu e olhou para ela antes de voltar sua atenção para o jardim.
— Você nunca deve mentir para um pirata, minha querida. Somos
dotados da capacidade de cheirar uma mentira. — disse ele, tocando
brevemente o nariz com um dedo.
— Eu posso ter certos talentos. — ela finalmente admitiu.
— Poderosos que são muito perigosos para algumas pessoas. — ele
murmurou com um leve fio de aço em sua voz.
Marina não respondeu. Embora suas palavras pudessem soar
ameaçadoras, nem sua aura, que ela podia ver com o canto do olho, nem seu
tom a faziam sentir como se ele fosse um perigo para ela. Ainda assim, ela
não conseguiu apagar a memória de rostos torturados e mãos suplicantes
estendendo-se para ela.
— Como... Como você pode suportar isso? — ela se perguntou em voz
alta, sem saber como terminar sua pergunta.
Ashure riu secamente.
— Nem sempre nos é dada uma escolha sobre o que acontece conosco
em nossas vidas. É como lidamos com o que nos é dado que define quem
somos e quem devemos nos tornar. — respondeu ele.
Marina pensou no que Ashure havia dito. Para um homem que gostava
de parecer alegre e despreocupado, sua resposta foi perceptiva. Ela podia
apreciar sua visão. Ao crescer, ela pensou em sua capacidade de ver a magia
de outras pessoas como um fardo.
— Vovó me avisou para me certificar de que o mal dentro de Magna não
toque o Guardião das Almas Perdidas. Você é o Guardião, não é? — ela
perguntou calmamente, virando a cabeça para olhar para o rosto de Ashure.
Seu rosto endureceu por um momento antes de relaxar.
— Sou muitas coisas, Marina. Alguns podem me chamar de guardião.
Alguns me acusam de mantê-los prisioneiros, enquanto outros me chamam
de ladrão. — ele respondeu com um encolher de ombros.
— Como você se chamaria?— ela perguntou, incapaz de conter sua
curiosidade.
Ashure lhe deu um breve sorriso.
— Todos os itens acima e um grande amante. — respondeu ele. Ele disse
a última parte um pouco mais alto e se virou ao mesmo tempo. Marina ficou
parada quando ele pegou sua mão e deu um beijo nas costas antes de soltá-
la. — Se você se cansar de seu humano, eu ficaria feliz em consolá-la se você
precisar de uma diversão, minha poderosa e nobre bruxa.
Marina piscou surpresa e puxou a mão. Ashure acenou para Mike e
murmurou que era uma noite bonita antes de desaparecer de volta para
dentro. Seu olhar seguiu o Rei Pirata. Ele era um homem muito complexo sob
seu elegante casaco.
— O que foi aquilo?— Mike perguntou, seguindo seu olhar.
—Aceitar os presentes que recebemos da Deusa, mesmo que pareçam
mais uma maldição. — ela respondeu com uma voz distraída.
***
Sozinha mais tarde naquela noite, Marina estava sentada na
penteadeira escovando o cabelo.
Colocando a escova sobre a mesa, ela dividiu o cabelo em quatro seções
e começou a trançar. No espelho, ela podia ver Mike sentado na ponta da
cama, inspecionando a arma de seu mundo.
— O que você fará se sobrevivermos a isso? — ela perguntou baixinho,
amarrando a ponta do cabelo e deixando as mãos caírem no colo.
Mike olhou para ela e franziu a testa. Ele balançou a cabeça e sorriu.
Seu olhar estava mortalmente sério quando ele respondeu.
— Não se, quando libertarmos seu povo, eu não tenho certeza.
Sinceramente, não pensei tão longe com tudo o que está acontecendo. — ele
confessou, levantando-se da cama e recolocando sua arma no coldre de
couro.
— Você voltará para o seu mundo? — ela perguntou.
A expressão de Mike ficou pensativa. Ela podia ver que ele não tinha
certeza de como responder. Virando o banco, ela se levantou e caminhou em
direção a ele. A dúvida cresceu dentro dela em seu silêncio contínuo.
— Marina… — ele começou a dizer.
Ela parou na frente dele e procurou seus olhos, vendo a frustração e
indecisão neles. Mordendo o lábio, ela colocou a mão em seu peito sobre seu
coração.
— Você sabe que eu te amo, e eu sei que você me ama, mas nosso amor
é suficiente para você ficar no meu mundo? — ela perguntou, tocando os
botões da camisa dele.
Mike pegou a mão dela. Levando-o aos lábios, ele deu um beijo na ponta
dos dedos dela. O desejo puxou Marina quando ele estendeu a outra mão e a
deslizou ao longo de sua cintura.
— Eu me importo com você. Inferno, eu mais do que me importo, eu
quis dizer isso quando eu disse que eu te amo. — ele respondeu com uma voz
áspera.
Marina deslizou os braços ao redor da cintura dele e descansou a cabeça
no peito dele. Fechando os olhos, ela respirou fundo, amando o calor do corpo
dele contra o dela. No entanto, a dúvida continuou a atormentá-la mesmo
com suas palavras. Se ele a amava, por que hesitaria em dizer se planejava
ficar ou deixá-la?
— Mas... você ainda planeja retornar ao seu mundo, não é? — ela
murmurou.
Mike se afastou e levantou as mãos para segurar o rosto dela. Ela
retornou seu olhar firme. Havia uma intensidade nele, uma determinação que
lhe dizia que ele planejava partir. Um grito abafado de negação escapou antes
que ela pudesse contê-lo. Afastando-se, ela balançou a cabeça e recuou vários
metros.
Tremendo, ela lutou para controlar seu pânico crescente.
— Eu tenho que voltar. — disse ele em um tom sombrio.
Marina passou os braços em volta da cintura. Seus olhos ardiam, mas
ela recusou-se a permitir que quaisquer lágrimas caíssem. Ela não tentaria
segurá-lo se ele não quisesse estar lá. Infelizmente, ela não conseguia
esconder a angústia em seu rosto por suas palavras sombrias.
— Então, você deve ir antes de partirmos. — disse ela com a voz trêmula.
Mike piscou surpreso.
— O quê?
Marina deixou cair os braços para o lado e cerrou as mãos em punhos
apertados. Erguendo o queixo, ela se valeu da força que havia desenvolvido
no ano passado. Ela não permitiria que ele visse o quanto isso a estava
despedaçando.
— Eu disse que você deveria sair agora. Vou perguntar a Órion se ele
pode criar um portal para que você possa retornar ao seu mundo. Se ele não
puder, tenho certeza que um dos outros pode. Eles são muito poderosos,
muito mais do que eu. Você não deve arriscar sua vida por pessoas que você
não conhece. — afirmou.
Mike a olhou como se ela tivesse perdido a cabeça. Marina não se
importou. Ela preferia que ele fosse embora antes que houvesse uma chance
de algo acontecer com ele. Pelo menos, se ele voltasse para o seu mundo, ela
saberia que ele estava seguro. Não havia necessidade de ele permanecer de
qualquer maneira. A força combinada dos governantes restantes e seus
exércitos certamente era forte o suficiente para derrotar Magna e suas
criaturas, especialmente se eles atacassem antes do amanhecer, quando sua
magia era fraca.
— Não. — ele respondeu entre os dentes cerrados.
Marina piscou.
— Como assim não? Esta não é a sua luta, Mike. Você já fez o suficiente.
Não há necessidade de você arriscar sua... vida. — Ela apertou os lábios e
balançou a cabeça quando sua voz falhou na última palavra.
Inclinando a cabeça, ela fechou os olhos. Ela tinha que sair do quarto.
O frágil domínio que ela tinha sobre suas emoções estava se dissolvendo
rapidamente. Se ela não partisse agora, faria papel de boba e imploraria que
ele lhe dissesse por que não queria ficar com ela se a amava.
— Eu pretendo voltar, Marina. — Mike disse, dando um passo para mais
perto dela. — Tenho que voltar, mas só para me despedir.
Marina levantou lentamente a cabeça e abriu os olhos. Lágrimas
brilhavam neles, penduradas em seus cílios inferiores, mas não caindo.
Levantando a mão, ela a passou pela bochecha pálida.
— Se despedir? — ela repetiu.
A expressão de Mike suavizou em sua palavra sussurrada. Ele segurou
seu rosto novamente. Seus olhos procuraram seu rosto. Ele deve ter visto a
incerteza, medo e desespero em seus olhos, porque ele abaixou a cabeça e
deu um beijo áspero em seus lábios. Afastando-se, ele se certificou de que ela
entendesse o que ele estava dizendo.
— Contei um pouco sobre minha vida lá atrás e sobre minha irmã Ruth.
Eu sei que ela provavelmente está ficando frenética. Ela vai despedaçar o
Parque Estadual Yachats, pedra por pedra, se eu a conheço. Eu sou toda a
família que ela tem, e até eu conhecer você, Geoff e Erin, ela era toda a família
que eu tinha - bem, exceto por Charlie, mas essa é uma história diferente. —
ele murmurou.
— Eu entendo. Sinto o mesmo pelos meus pais e irmãos. — respondeu
ela.
— Eu preciso que ela saiba que estou bem. Isso... diabos, não sei o que
direi a ela; mas essencialmente, a deixarei saber que ela não precisa se
preocupar comigo. Eu sei que não é seguro levar você de volta comigo. Não
arriscarei que nada aconteça com você, mas com certeza voltarei. Eu te amo,
porra. Eu te amo.
Marina encontrou seus lábios quando ele inclinou a cabeça para beijá-
la novamente. Suas respirações vinham em ofegos ásperos e irregulares à
medida que o calor dentro deles aumentava. Ela se afastou com um suspiro
quando sentiu o ar frio em seus seios. Durante o beijo, Mike estava ocupado
desfazendo os fechos da blusa verde floresta que Kelia lhe dera esta manhã.
— Eu quero você. — disse ele, pressionando beijos ao longo de sua
mandíbula.
Um gemido suave escapou de seus lábios quando ele segurou seus seios
em suas mãos. Ela freneticamente se atrapalhou para abrir sua camisa. Um
gemido de frustração ressoou pela sala quando ela percebeu que os botões só
iam até a metade da frente. Ela precisaria puxar sua camisa sobre sua cabeça
para tirá-la dele.
Ele se abaixou, agarrou a barra de sua camisa e puxou-a sobre a cabeça.
Seus músculos ondularam quando ele a jogou para o lado. Ele habilmente
tirou a blusa e o sutiã preto por baixo.
— Parece justo. — ele brincou, segurando seus seios.
Marina baixou as pálpebras e gemeu enquanto ele brincava com seus
mamilos endurecidos.
— Como é que você me afeta assim? Já posso sentir o calor entre minhas
pernas enquanto meu corpo se prepara para você. — ela confessou.
Mike parou por um breve segundo antes de xingar.
— Droga, mulher, você diz as coisas mais sexys. — disse ele em uma
voz profunda.
— Sexys? — ela repetiu.
Inclinando-se para frente, ele começou a desabotoar suas calças quando
ela não se moveu rápido o suficiente.
— Você me faz desejar ter trazido minhas algemas. Eu adoraria amarrar
você. — ele murmurou, empurrando suas calças para baixo.
— Eu não sei o que são algemas, mas um cinto funcionaria? — ela
perguntou, olhando para o roupão jogado sobre a cadeira.
Mike congelou. Ele não quis dizer isso em voz alta. Ele havia planejado
trabalhar em algumas das maneiras mais ousadas de fazer amor depois que
ele se sentisse confiante de que Marina estava pronta. Ele não gostava das
coisas hardcore de bondage, mas não se opunha à se divertir um pouco no
quarto.
Ele seguiu seu olhar e viu do que ela estava falando. O calor queimou
dentro dele, e ele sabia que desta vez seria rápido, sujo e muito prazeroso.
Curvando-se, ele a varreu do chão.
— Mike!
Ele deu a ela um olhar feroz antes de caminhar até a cama. Ele estava
grato que as cobertas já estavam abaixadas para a noite. Colocando um joelho
na cama, ele gentilmente a deitou sobre os lençóis azuis claros.
— Fique assim. — ele ordenou em uma voz suave e firme.
Marina assentiu. Ele podia sentir seus olhos nele enquanto ele se
despiu. Colocando suas calças na cadeira, ele soltou o cinto da seda do
roupão. Ele fez uma careta quando sentiu a reação imediata de seu corpo.
— Uh, Mike… — Marina chamou, interrompendo seus pensamentos.
Ele virou a cabeça para olhá-la. Ela permaneceu onde ele tinha
mandado, mas seu olhar continuava se movendo em direção à mesa perto
das portas da varanda. Ele franzia a testa e olhou para lá. Ele sorriu
lentamente, entendendo e acenando em compreensão ao pedido silencioso
dela.
Agarrando o cinto com uma mão, ele caminhou até onde o Sr. Bow
estava, em cima de uma pequena mesa, emitindo um som baixo. Ele pegou o
arco e o segurou em sua outra mão, virou-se e atravessou o quarto. Um
gemido baixo escapou do arco.
— Eu estava sendo bom — reclamou o Sr. Bow. — Eu estava cuidando
da minha vida.
— Não importa. Marina está desconfortável. — Mike riu.
— Você tem alguma ideia de quanto tempo eu estava por aí antes de ser
um arco? Eu vi coisas que você e Marina só poderiam sonhar em fazer! Se
você quiser um conselho, eu posso te dizer…
Mike se inclinou, colocou o arco no armário e fechou a porta, cortando
as palavras de sabedoria do Sr. Bow. Seria um dia frio no inferno antes que
ele deixasse uma árvore lhe dizer como fazer amor com sua mulher. Ele voltou
para a cama.
— Obrigada. — disse ela, corando.
Mike subiu na cama e montou em sua cintura. Seus olhos se
arregalaram quando ele estendeu a mão e permitiu que o cinto se
desenrolasse de seus dedos. Ele lhe deu um sorriso malicioso e fez sinal para
ela levantar os braços.
—Você pode me agradecer depois. — ele a informou.
Se ele pensou que ela ficaria intimidada, ele estava errado. Em vez disso,
ela levantou os pulsos e rolou os quadris sob as nádegas dele. Inclinando-se
para frente, ele pegou seus pulsos e enrolou a seda ao redor deles.
Estendendo a mão, ele enrolou a outra extremidade ao redor da cabeceira da
cama. O que ele não previu foi que o ângulo alinharia seu pênis com os lábios
dela.
No momento em que sentiu seu hálito quente e sua língua úmida contra
a ponta de seu pênis, soube que havia perdido o controle da situação. Seus
planos para provocá-la, fazê-la gozar e provocá-la novamente se dissolveram
em prazer irracional quando ela de repente envolveu os lábios ao redor da
ponta de seu pênis, levantou a cabeça e deslizou ainda mais em sua boca.
Ele agarrou a cabeceira da cama, a ponta do cinto ainda em suas mãos
e olhou para baixo. Marina era linda enquanto o chupava. Ele moveu seus
quadris para frente e para trás em uníssono. Abaixando-se ao lado dela, ele
puxou um travesseiro sob sua cabeça.
Ele curvou os dedos enquanto deslizava lentamente seu pênis para
frente e para trás. A sensação hipnotizante e a visão de seus lábios ao redor
dele eram cativantes. Ele terminou de amarrar o cinto para que os braços
dela ficassem acima da cabeça. Uma vez que ele terminou, ele abaixou as
mãos atrás das costas e encontrou seu clitóris inchado.
Ela gemeu em torno de seu pênis, e ele jurou que a vibração viajou em
uma linha direta para suas bolas. Percebendo que estava muito perto de
gozar, ele se soltou.
Suas palavras suaves de protesto ecoaram pela sala. Ele as ignorou
enquanto deslizava para baixo de seu corpo e entre suas pernas.
— Mike. — ela choramingou, torcendo-se contra as cobertas.
O cinto estava solto o suficiente para que ela pudesse soltar as mãos se
quisesse, mas não o fez. Em vez disso, ela agarrou a alça, seu corpo
arqueando em necessidade. Levantando as pernas dela, ele colocou uma
sobre cada um de seus ombros, dando um beijo no interior de cada uma
enquanto fazia isso.
Seu corpo arqueou novamente, levantando seus cachos macios em sua
direção em convite, mesmo enquanto seus calcanhares pressionavam contra
suas costas. Abaixando suas dobras, ele se curvou para frente e prendeu o
pequeno nó entre seus lábios e começou a chupar. Ela se enrijeceu, seu corpo
arqueado e sua cabeça jogada para trás enquanto suas mãos se torciam e
lutavam para controlar o intenso prazer que a envolvia.
— Goze para mim, baby. — ele murmurou, provocando seu clitóris com
a língua. — Goza em toda a minha boca.
Os gemidos barulhentos de Marina aumentaram. Seus seios
balançaram, e seu corpo tremeu quando ele aumentou seu ataque em seu
núcleo com uma combinação de foder com os dedos, lamber e chupar forte.
Seus lábios se separaram e ela virou o rosto em seu braço, soltando um grito
quando gozou com força.
Mike lambeu sua liberação, dando-lhe uma série de miniorgasmo. Ele
podia sentir seu canal apertando seus dedos. A necessidade de sentir o
mesmo aperto em torno de seu pênis o fez cair de joelhos. Suas pernas
escorregaram de seus ombros, e ele as pegou em seus braços enquanto se
preparava para penetrá-la.
Ainda preso no rescaldo de seu orgasmo, Mike empurrou seu pênis o
mais fundo que pôde antes de puxar para fora e fazê-lo de novo e de novo.
Ele manteve suas pernas presas em seus braços, seus quadris levantados, e
seu olhar fixo no êxtase irracional que ela estava experimentando.
Ele podia sentir a mudança em seu corpo quando ela percebeu que ele
ainda não tinha terminado com ela. Marina lutava para soltar os pulsos, mas
acabou torcendo-os com mais força. Mike balançou seus quadris para frente
cada vez mais forte com cada impulso enquanto seu controle frágil estalava.
O corpo de Marina começou a brilhar com as cores de sua magia. Mike
podia sentir o formigamento de sua aura contra sua pele, envolvendo-o. Ele
caiu para frente quando ela finalmente soltou seus pulsos e o alcançou.
Envolvendo as pernas em torno de seus quadris quando ele se inclinou sobre
ela, ela puxou sua cabeça para baixo e capturou seus lábios. O gosto
combinado de seu ato de amor misturado em sua respiração enquanto eles
se beijavam.
Mike podia sentir seu orgasmo se acumular até um ponto de ruptura.
Deslizando os braços por baixo dela, ele dirigiu seus quadris com força
suficiente para que a enorme cama tremesse. Ele quebrou o beijo e enterrou
o rosto em seu pescoço quando gozou. Ele estremeceu com força e lutou para
recuperar o fôlego. Cada músculo se esticou para segurar Marina mais perto
e se enterrar mais fundo dentro dela. Seus quadris se uniram enquanto seu
pênis pulsava sua semente profundamente em seu ventre.
Eles ficaram assim, ainda conectados um ao outro, o rosto dele
enterrado contra o pescoço dela. Com toda a honestidade, ele não achava que
poderia ter se livrado dela. Seu pênis ainda estava massivamente duro e
grosso e seu canal o segurou em um aperto firme.
Respirando pesadamente, ele pressionou beijos em sua pele úmida de
paixão. Incapaz de resistir, ele beliscou seu pescoço. Ele queria deixar sua
marca nela.
— Você me faz querer fazer coisas malucas. — ele finalmente
murmurou.
— Mm... Como o quê? — ela perguntou com uma voz sonolenta.
Ele se afastou e olhou para ela com uma expressão séria.
— Tipo pedindo que você seja minha esposa. — disse ele.
Marina virou a cabeça e olhou para ele. O olhar sonolento e saciado
desapareceu e seus olhos clarearam. Ele podia ver sua confusão.
— O que você está dizendo, Mike? — ela perguntou.
Mike deu um beijo nos lábios dela antes de inclinar seu peso para o lado
direito e pegar a mão dela. Ele o levou aos lábios e deu um beijo em seus
dedos.
— Marina Fae da Ilha da Magia, estou perguntando se você me daria o
prazer de se tornar minha esposa. — ele repetiu.
Os olhos de Marina brilharam com lágrimas antes que ela lhe desse um
sorriso trêmulo.
— Sim, Mike Hallbook. Minha resposta é sim. — ela sussurrou antes
de puxar sua cabeça para baixo e capturar seus lábios novamente.
Capítulo Dezenove

Na tarde seguinte, o pátio do palácio na Ilha da Serpente do Mar parecia


uma área de preparação para uma grande força de ataque. Mike nunca tinha
visto uma mistura tão grande de guerreiros em sua vida. Ele não conseguia
imaginar como a guerra entre cada uma dessas espécies deve ter sido travada.
Inferno, mesmo com apenas um dragão, era o suficiente para assustá-lo.
Ele olhou para o céu. Uma dúzia de aero navios de Nali, completas com
os Thunderbirds, pairavam acima deles. Anteriormente, ele tinha visto o
mesmo número de navios piratas. Quase uma centena de gigantes
apareceram, chegando em grandes feras voadoras que se pareciam muito com
os hipogrifos que ele desenhava quando criança.
— Isso é incrível. — Marina suspirou, chegando para ficar ao lado dele
nos degraus da frente.
— Eu tenho que concordar. — ele respondeu com um sorriso.
Mike assistiu enquanto Marina abraçava o Sr. Bow em seu peito. Ele
podia sentir o nervosismo e a empolgação dela pelo seu povo. Ele estendeu a
mão e acariciou suas costas para confortá-la.
— Certamente com tanta força, a Bruxa do Mar pode ser derrotada. —
acrescentou ela, nervosamente mordendo o lábio inferior.
— Nós não vamos parar até que seu povo esteja livre, Marina. — Órion
prometeu, chegando ao lado deles.
— Como o feitiço de Magna afetará todo mundo? — perguntou Mike.
— É possível que afete alguns de nós mais do que outros. Planejamos o
ataque de forma que nossos poderes sejam minimamente impactados se o
feitiço nos afetar fortemente. Não planejamos dar tempo para que Magna
utilize sua magia. — explicou Órion.
— Todo mundo está pronto. Do meu povo, eu poderia ser a única afetada
pelo feitiço de Magna. Meus monstros vão me proteger até o amanhecer se for
esse o caso. — Nali disse, subindo os degraus.
— Permanecerei na minha forma de dragão. O feitiço não deve me afetar
tanto assim. — Drago respondeu.
Mike estava cauteloso enquanto Ashure subia os degraus de dois em
dois. Ashure acenou para os outros antes de voltar seu olhar para Mike e
Marina. Mike puxou Marina para mais perto de seu lado quando o pirata deu
uma risadinha.
— Você é um homem inteligente, meu astuto guerreiro humano. Vale a
pena ficar de olho nela. — comentou Ashure.
— Seus homens estão prontos, Ashure? — perguntou Drago.
— É claro! Eles vivem para uma boa luta, especialmente uma onde eles
provavelmente morrerão ou serão transformados em pedra como seu infeliz
clã. — Ashure respondeu secamente.
Drago foi em direção a Ashure, mas Carly deu um passo à frente e
colocou a mão no peito de Drago. Puxando suavemente sua barba, ela o fez
olhar para ela. Mike assistiu com espanto como Carly habilmente distraiu o
dragão gigante.
— É melhor você não se machucar, ou eu levarei as crianças e meus
pássaros de papel de volta para o Oregon. — ela ameaçou com uma voz
instável que quebrou na última palavra.
O estrondo do rosnado de Drago foi facilmente ouvido por todos que
estavam por perto. Drago varreu Carly em seus braços. Ele fez uma careta
para todos eles.
— Eu preciso falar com minha companheira. — disse ele em um tom
áspero antes de se virar e desaparecer no palácio.
— Eu nunca esperei isso. — Ashure comentou com os olhos arregalados.
— Todos se preparem para sair em duas horas. — disse Órion, seu olhar
fixo em onde Jenny estava pensativamente parada em um dos pilares.
— Preciso falar com meus homens. — afirmou Koorgan.
—Bem, eu poderia tomar uma bebida. Ashure, vamos lá. Você pode
servir. — Nali ordenou em um tom que dizia que ela queria ter uma conversa
com ele.
— O que eu fiz dessa vez? — gemeu Ashure, que rapidamente se
transformou em uma maldição alta quando Nali envolveu seu braço em torno
da cintura dele. Mike piscou e deu um passo para trás quando as asas de
Nali de repente apareceram em suas costas e ela saltou para o alto. — Unhas
da deusa, Nali! Você sabe que eu odeio quando você faz isso sem aviso! —
Ashure gritou.
Mike balançou a cabeça e observou enquanto eles desapareciam pela
lateral do navio de Nali. Balançando a cabeça, ele olhou para Marina. Ele
podia ver a maravilha em seus olhos também.
— Estou feliz por não ser o único que pensa que isso é loucura. — ele
brincou.
— Eu nunca pensei que a realeza pudesse ser tão divertida. — ela
confessou com um sorriso.
— Você sabe, nós temos algumas horas que poderíamos matar fazendo
algo muito mais interessante. — murmurou Mike.
Os olhos de Marina se arregalaram antes que ela olhasse para ele com
um brilho perverso em seus olhos.
— Posso amarrar você desta vez? — ela perguntou com um sorriso
sugestivo.
— Oh, por favor! Me coloque no armário de novo. — Sr. Bow murmurou
com um suspiro.

Duas horas depois, Marina chamou Mike quando ele terminou de calçar
as botas. Ele se sentiu estranho vestido como os locais. As botas de cano alto
em tom marrom escuro combinavam com as calças justas da mesma cor. A
camisa bege e o colete preto completavam sua roupa. Ele sentiu como se
estivesse se vestindo para encontrar tesouros perdidos. Tudo o que ele
precisava era de um chapéu de aro largo e um chicote!

— Mike, é hora de ir embora. — Marina chamou da outra sala.


— Estou pronto. — ele respondeu, afivelando o coldre da arma em seu
peito antes de pegar sua jaqueta.
— Você…. Merda, Marina. — Mike disse, parando na porta entre o
quarto deles e o banheiro.
— O que é? — ela perguntou, girando em um círculo e franzindo a testa.
Mike vestiu sua jaqueta e caminhou em direção a ela. Ele passou o braço
em volta da cintura dela e a puxou contra ele. Ela inclinou a cabeça para trás
e ficou na ponta dos pés para beijá-lo.
— Você é tão linda, e estou morrendo de medo de que algo possa
acontecer com você. — ele admitiu em uma voz ligeiramente trêmula.
Seu olhar se suavizou, e ela levantou a mão, passando-a pela bochecha
dele. Mike virou a cabeça e deu um beijo na palma da mão dela. Ele desejou
que houvesse uma maneira de deixá-la aqui com Jenny e Carly.
— Eles são meu povo, minha família. Eu lutei para protegê-los, e
continuarei a fazê-lo. Erin e as outras crianças estão lá. Já estive fora por
muito tempo. E se algo também aconteceu com elas? — ela se afligiu.
— Eles são espertos. Você os ensinou bem - apenas, tome cuidado. —
disse ele.
— Eu vou. Eu prometo. — respondeu ela.

Sua promessa não apagou completamente o sentimento de desconforto


de Mike. Ele estava indo contra criaturas diretamente de um romance de
horror. A lembrança do Cão do Inferno que ele havia matado na praia passou
pela sua mente. Ele só o havia ferido até Marina atirar suas flechas. Agora,
ele tinha apenas algumas balas restantes. Quando seu pente estivesse vazio,
ele estaria desarmado contra tais criaturas.
Uma batida na porta chamou a atenção deles para o fato de que era
hora de partir. Acenando para Marina, ele a seguiu até a porta. Marina
prendeu o Sr. Bow em seu lado e respirou fundo antes de abrir a porta. Jenny
estava do outro lado da porta parecendo pálida, mas composta. Ela deu-lhes
um sorriso trêmulo antes de murmurar que Órion e os outros estavam
esperando por eles nos degraus da frente.
Seguindo Jenny pelo grande corredor, Mike não pôde deixar de pensar
na jovem que conhecera há mais de um ano. Sua admiração por ela cresceu
quando ele percebeu tudo o que ela deve ter passado depois de se encontrar
neste mundo estranho.
— Jenny.
Jenny diminuiu a velocidade e olhou por cima do ombro para ele. Eles
pausaram a uma curta distância das portas dianteiras abertas. Mike pôde
ver que Jenny estava tendo dificuldade em manter seus olhos afastados de
Orion.
— Sim, Mike. — ela disse, virando-se para olhar para ele.
— Você já teve alguma dúvida de que você pertencia aqui? — ele
perguntou, ciente de que Marina tinha endurecido ao lado dele.
A expressão tensa de Jenny suavizou, e ela balançou a cabeça.
— Nunca. — disse ela. — Você? — Mike balançou a cabeça.
— Não, é estranho, mas parece certo estar aqui. — ele finalmente
admitiu.
— Está tudo bem? — Órion perguntou, atravessando a porta para se
juntar a eles.
Mike assentiu.
— Você não tem uma faca extra ou uma bazuca em você, não é? — ele
meio que brincou.
Jenny riu enquanto Marina e Órion olhavam para ele com uma
expressão vazia. Limpando a garganta, Mike torceu os lábios em diversão
sardônica.
Obviamente eles não tinham bazucas nos reinos mágicos. Claro, quem
precisava deles quando você tinha dragões cuspidores de fogo e monstros
assustadores?
— Eu poderia usar uma faca, se você tiver uma para emprestar. —
esclareceu Mike.
— Ah, sim, claro. — disse Órion com um aceno de cabeça. — Kapian,
Mike precisa de uma lâmina.
—Sim, Majestade. — Kapian disse, com um estalar de dedos.
Um minuto depois, Mike estava amarrando uma espada em seu quadril.
Ele teria feito um comentário sarcástico de que era um exagero, mas sentiu
que, antes que a noite terminasse, ficaria grato por tê-la em vez da faca de
caça.
— Meus homens estão prontos. Chegaremos por mar como planejado.
— disse Órion enquanto Mike segurava sua espada.
— Tem certeza que Magna não saberá que estamos chegando? — Mike
perguntou, estudando o homem.
Orion devolveu o olhar de Mike com um olhar determinado.
— O feitiço de Magna não deve nos afetar como afeta aqueles que vivem
na Ilha da Magia. Nossa magia é diferente e todos os feitiços não funcionam
da mesma forma. Além disso, não seremos afetados por tanto tempo quanto
os da ilha. — explicou. — Drago virá do ar enquanto nos aproximamos do
mar. Como havíamos planejado anteriormente, Marina e você nos
encontrarão na praia do norte, pois fica perto do rio e mais isolada. Não há
razão para nenhuma das criaturas de Magna estar lá, já que não há aldeias
ao longo dessa seção da ilha, de acordo com Marina.
— Guiaremos você até o rio, Rei Orion. Drago patrulhará os céus até
que você chegue ao lago. Nali e suas criaturas descerão sobre o palácio vindo
da cidade. Um lembrete, Rei Orion, o rio que passa sob as paredes do palácio
para o norte e aparece do outro lado no lago é muito profundo e traiçoeiro. —
alertou Marina.
Órion deu um sorriso sardônico.
— Para aqueles que não conseguem respirar debaixo d'água. — ele
interveio. — Vou levar vários dos meus homens comigo e abrir os portões para
os guerreiros de Nali.
— Ela será capaz de proteger as estátuas no jardim? Ela pode estar fraca
por causa do feitiço de Magna. — Jenny comentou com uma carranca.
— Nali me informou há pouco tempo que ela encontrou uma solução
para o problema. Ela não estará em uma forma que será afetada pelo feitiço.
— Órion assegurou a Jenny.
— Dentro do palácio, o Rei Drago protegerá aqueles que ela transformou
em pedra e destruirá os Cães do Inferno enquanto Mike e eu localizamos o
Rei e o libertamos.
Marina continuou, contando seus planos anteriores.
— Eu lidarei com Magna de uma vez por todas. Não podemos arriscar
que ela prejudique a Rainha e o Rei.— Órion afirmou.
— É hora de sair. Nos veremos em três horas. — Mike respondeu com
um aceno de cabeça para os outros.
— Nós nos encontraremos em três horas na praia do norte. — confirmou
Órion.
— Estará escuro e Magna deverá ter se retirado para o palácio até então.
Mike observou enquanto Orion alcançava e puxava Jenny em sua
direção. Eles se abraçaram por um momento antes que Orion recuasse.
Virando-se, o Rei do Mar ergueu a mão e sinalizou aos outros que era hora
de partir.
Mike passou o braço pela cintura de Marina. Ele apertou o rosto em
resignação quando ela lhe entregou as pedras coloridas de sua avó.
Ele lhe deu um sorriso irônico antes de se curvar e colocá-los no chão.
Endireitando-se, ele olhou para ela, feliz por estarem sozinhos.
— Pelo menos eu terei tempo para superar o enjoo antes que todos
cheguem. — disse ele com uma expressão triste.
Marina balançou a cabeça ao entrar no círculo ao lado dele.
— Tenho uma ideia. — respondeu ela.
Mike se assustou quando ela enrolou os braços em volta do pescoço
dele. Instintivamente, ele desceu as mãos para a cintura dela e apertou seus
quadris, puxando-a para si. Inclinando a cabeça até que seus lábios
estivessem quase tocando os dela, ele não resistiu a fechar a distância final.
Ele pressionou um beijo breve e intenso em seus lábios.
— Que ideia é essa? É algo como um par de horas atrás? — Mike
brincou.
Marina suspirou.
— Se ao menos pudesse ser. Vou te distrair. Não preciso dizer o
encantamento em voz alta para funcionar. — ela murmurou antes de fechar
os olhos e beijá-lo novamente.
O gemido baixo de Mike ecoou pela sala enquanto as cores rodopiantes
os engoliam. Ele fechou os olhos, esperando manter a náusea longe desta vez.
Ele podia sentir a magia fluindo ao seu redor - através dele. Ele estava
familiarizado com a sensação agora e não resistiu ao puxão invisível enquanto
Marina lançava seu feitiço.
Calor o percorreu, e ele jurou que podia ver os fios prateados
conectando-os, embora seus olhos estivessem fechados. Ele aprofundou o
beijo quando os lábios de Marina se separaram sob os dele e sua língua o
provocou, lembrando-o dos outros prazeres que ela lhe dera há pouco tempo.
No que me diz respeito, ela pode me distrair a hora que quiser, ele pensou
enquanto a sala ao redor deles desaparecia, e ele se viu parado em uma praia
de areia macia.
Levantando a cabeça, ele piscou em desorientação. O luar brilhava na
água a uma curta distância de onde eles estavam. À esquerda, as árvores
balançavam com a brisa como se estivessem comemorando o retorno de
Marina.
— Isso não foi tão ruim. — murmurou Mike, seus olhos se ajustando
rapidamente à escuridão. Ele se virou para olhar para Marina no momento
em que ela revirava os olhos. — Marina!
Os braços de Mike se apertaram protetoramente em volta de Marina
quando suas pernas cederam. Seus olhos tremularam por um momento
enquanto ela lutava para mantê-los abertos, mas era impossível. O peso do
feitiço de Magna havia atingido Marina, drenando toda a energia de seu corpo
mesmo com o toque de Mike.
Ele a pegou nos braços e a carregou até uma árvore próxima, onde
gentilmente a colocou sobre uma macia camada de grama que crescia
embaixo. Ele desenganchou Mr. Bow e o colocou de lado antes de deslizar a
mão ao longo da bochecha de Marina e acariciá-la. Sua mão tremia
ligeiramente enquanto esperava até que ela abrisse os olhos. Ele precisava se
certificar de que ela estava bem.
— É o feitiço de Magna e o esgotamento de criar o portal. Minha magia
não é feita para esses feitiços. — ela sussurrou, forçando seus olhos a
abrirem. — Me dê alguns minutos.
Mike deu um suspiro de alívio.
— Tome todo o tempo que você precisar. — disse ele.
Ele tirou sua jaqueta e a colocou sobre ela. Em seguida, sentou ao lado
dela e levantou delicadamente a cabeça dela para que ela pudesse usar seu
colo como travesseiro. Ele colocou a trança dela para o lado.
Tremendo, Marina rolou para o lado e puxou a jaqueta dele ao redor
dela.
— Eu posso sentir o poder dentro de você. — ela sussurrou com um
suspiro. — Está me dando força. Já me sinto mais forte do que eu sentia.
— Pegue toda a energia que você precisa, querida. — Mike ofereceu,
recostando-se contra a árvore e olhando para o oceano. — Aqui é lindo.
— Um dia eu gostaria de te mostrar o quão bonito é realmente. — Marina
murmurou em uma voz quase inaudível.
Mike apertou ainda mais o abraço em torno de sua figura esguia. Ele
podia sentir sua fadiga. O feitiço tirou muito dela. Antes, sua avó a ajudava.
Desta vez, Marina usou tudo para transportá-los aqui.
Ele se inclinou e pegou o Sr. Bow, colocando-o ao lado dela. Ele sorriu
quando ela puxou o arco sob a jaqueta e o abraçou perto dela. Movendo-se
um pouco mais, ele se moveu até que ele pudesse endireitar as pernas.
Inclinando a cabeça para trás, ele olhou para as estrelas. Sem obstruções, ele
podia ver o centro do sistema estelar correndo de sul para norte como um rio
largo.
— Durma. — ele instruiu, passando a mão ao longo de seu cabelo
sedoso. — Eu vou acordá-la quando os outros chegarem.
Marina começou a balançar a cabeça antes de suspirar.
— Eu não deveria, mas estou tão cansada. — ela resmungou
A mão de Mike parou.
— Descanse um pouco. Nós precisaremos que você esteja pronta. — ele
ordenou com uma voz rouca.
Ela ficou em silêncio por vários segundos. Mike pensou que ela tinha
adormecido até que ela virou a cabeça e deu um beijo na perna dele.
— Você é um bom homem, Mike Hallbrook. — ela suspirou. — Estou
feliz que você esteja aqui.
Mike sentiu o peito apertar com a confissão falada em voz baixa. Ele
escutou enquanto a respiração dela se estabilizava e sabia que ela tinha
adormecido. Relaxando, ele se recostou na árvore e olhou para o oceano
cintilante. A luz das luas gêmeas criou milhões de diamantes dançantes que
refletiam na superfície da água. Amor e medo guerreavam dentro dele
enquanto ele continuava acariciando seu cabelo com ternura.
— Estou feliz por estar aqui também — ele sussurrou, sentando-se para
assistir e esperar a chegada dos outros.
Capítulo Vinte

O sussurro suave de Mike em seu ouvido acordou Marina de um sono


profundo. Ela se sentou e piscou surpresa, sentindo-se mais revigorada do
que em mais de um ano, e…
— Ainda está escuro. — ela sussurrou com espanto, virando-se para
olhar para Mike com olhos brilhantes. — Não sinto o peso que normalmente
me esgota.
Os olhos de Mike brilharam por um momento antes que ele escondesse
sua raiva.
— É todo o chame positivo que eu estava te dando enquanto você
dormia. — brincou ele, mudando de posição e se levantando.
Ela pegou a mão que ele ofereceu e também se levantou. Ambos se
esticaram. Pela primeira vez, Marina podia realmente ver o feitiço de Magna
se movendo como fios finos pelo ar. Os fios recuavam sempre que se
aproximavam de Mike. Curiosa, Marina deu vários passos para longe de Mike.
Ofegando, ela tropeçou de volta contra ele. Mais uma vez, os fios vermelhos
vivos recuaram.
— O que aconteceu? — ele perguntou, segurando-a perto de seu corpo
e olhando ao redor.
— Eu posso ver o feitiço de Magna. — ela disse, inclinando a cabeça.
— Você pode ver…? Você não podia ver isso antes? — ele perguntou,
intrigado.
—Não. Eu posso ver a magia de uma pessoa, mas nunca o feitiço em si.
— ela respondeu.
As suas mãos coçavam para tocar os fios e ver se podia perceber como
o feitiço foi criado. Por alguma razão, o feitiço era repelido por Mike. Virando-
se, ela olhou para Mike. Os seus olhos se arregalaram quando ela viu um
brilho branco cintilante que o rodeava.
— O que foi? — ele perguntou com uma voz inquieta.
Marina ergueu os dedos para traçar o brilho.
— Eu vejo sua magia. — ela respirou.
Mike balançou a cabeça.
— Eu não tenho nenhuma magia. — ele começou a protestar antes de
olhar para seu braço, então o ergueu para ver melhor. Ele soltou uma
maldição suave. — O que…?
— É a sua magia. — ela repetiu.
As cores vívidas da sua magia se espiralaram para fora, tocando e
entrelaçando a dele. A sua magia mudou quando combinaram, tornando-se
mais brilhante e cintilante com a mesma luz das estrelas na água. Curiosa,
ela recuou lentamente para longe dele. Parou quando estava a meio caminho
da água. Ao seu redor, o brilho suave e cintilante da sua magia branca grudou
nela, protegendo-a do feitiço de Magna.
Ela se sentiu mais forte do que nunca. Correndo de volta para Mike, ela
jogou os braços em volta do pescoço dele e o abraçou. Ela não entendia o que
tinha acontecido, ou por que desta vez era diferente, mas ela estava grata.
— Obrigado, Mike. Você realmente me deu um presente inestimável. —
disse ela com uma voz cheia de admiração e alegria.

Mike começou a corrigi-la. O alívio o inundou ao ver o rosto brilhante


de Marina. Ela o assustou quando desmaiou mais cedo.
A emoção o sufocou. Incapaz de expressar os sentimentos avassaladores
que o percorriam, ele inclinou a cabeça e capturou seus lábios. Ele
honestamente não se importava com o que era ou como ela o chamava –
magia, aura, um presente – ele estava apenas agradecido por ela estar a salvo
do horrível dreno do feitiço em seu corpo.
Uma ligeira mudança na cadência das ondas chamou sua atenção e
enviou um clarão de advertência através dele. Soltando os lábios de Marina,
ele instintivamente se virou, colocando seu corpo entre Marina e a praia
enquanto sua mão pegava sua arma. Ele relaxou quando viu Órion e um
grupo de homens emergindo do mar.
A forma escura de Drago de repente apareceu do céu noturno para
pousar na praia próxima. O sorriso aliviado em seus lábios se transformou
em uma carranca quando a risada leve de Drago foi varrida pela brisa.
— Merda! Porra, Drago! Você é praticamente invisível à noite. — Mike
retrucou.
— Não me faria muito bem se meus inimigos pudessem me ver
chegando. — Drago respondeu com um sorriso cheio de dentes.
Mike balançou a cabeça.
— Você tem alguma ideia de como é estranho ouvir sua voz saindo da
boca de um dragão? Inferno, o que estou dizendo?! O fato de eu estar falando
com um dragão é estranho o suficiente. — ele retrucou, passando a mão pelo
cabelo.
— Nali, Koorgan e Ashure chegaram às suas posições designadas no
leste, oeste e sul do reino. Eles começarão a se mover em breve. Se Nali e seus
monstros precisarem de ajuda para proteger as estátuas, Ashure será o mais
próximo e ele me assegurou que poderá chegar aqui rapidamente. — afirmou
Órion.
Marina mordeu o lábio. Mike podia ver uma expressão preocupada em
seus olhos. Estendendo a mão, ele agarrou a mão dela.
— O que é? — ele instigou.
Marina olhou entre Órion e Drago.
— O rei Ashure não deve ser permitido em qualquer lugar perto do
palácio. — ela suavemente os informou.
— Por quê? — Órion perguntou surpreso.
Mike observou enquanto Marina hesitava e olhava para o mar. A
lembrança do aviso de Ladonna passou por sua mente - Guardiã das Almas
Perdidas.
Ashure deve ser a pessoa que Ladonna os alertou. Por alguma razão,
Marina - e obviamente Ashure - não queria que seu talento particular se
tornasse público.
— Você sabe o que normalmente os palácios têm dentro deles. Você
consegue imaginar o que poderia ser deixado depois que Ashure passasse por
lá? — Mike brincou.
— Ouro. — Órion comentou secamente.
— Joias. — Drago riu.
Marina respirou fundo e sorriu.
— Tenho certeza de que minha Rainha e meu Rei gostariam de não
acordar para um tesouro vazio. — ela raciocinou.
Mike conteve uma risada quando sentiu Marina apertar sua mão em
agradecimento.
Uma parte dele sentiu pena de ajudar a arruinar a reputação do Rei dos
Piratas, mas algo lhe dizia que Ashure preferia ser conhecido como um ladrão
do que um colecionador de almas.
— Precisamos nos mexer. Estará perto do amanhecer quando todos
estiverem em posição. Não queremos atacar muito cedo. Não tenho dúvida de
que Magna usaria as vidas inocentes do seu povo para se proteger se tivesse
a chance. — disse Órion.
— Eu posso sentir a magia negra. Tem o mesmo sabor no ar que tinha
durante as guerras. Você deveria ter matado a cadela quando teve a chance,
Órion. — Drago bufou, olhando para o espesso emaranhado de árvores antes
de seu olhar subir a face rochosa do penhasco. — Vou poupar-lhe o trabalho
desta vez. — acrescentou, olhando de volta para Órion.
Órion assentiu sombriamente.
— Eu sinto a magia negra também. Cumpri minhas obrigações para
com as leis do meu povo. Se você quiser matá-la, não vou impedi-lo, mas
esteja avisado de que, mesmo com a morte dela, o feitiço que ela lançou sobre
seu povo pode não ser quebrado. — advertiu.
O grande dragão acenou com a cabeça antes de voltar seu olhar para
Mike. Drago olhou para ele com olhos intensos que brilhavam com um fogo
interno, enviando um arrepio de desconforto por ele. Mike queria gemer
quando Drago arreganhou os dentes em advertência antes de falar.
— Falando em companheiras, quando isso acabar, não tente persuadir
minha companheira a voltar para o seu mundo. Ela não vai, mesmo se ela
tivesse ameaçado se eu não voltasse. Dragões não desistem de seu tesouro, e
Carly é minha. — Drago o informou.
Uma súbita percepção atingiu Mike enquanto ele olhava para o enorme
dragão - Drago tinha medo de perder a mulher que amava. Ele entendeu que
sua repentina aparição nesse mundo havia abalado profundamente Drago e
Orion. Ele não podia acreditar que só agora estava compreendendo que eles
estavam preocupados que sua presença pudesse de alguma forma colocar
Carly e Jenny em risco de voltar para casa.
O pensamento nem tinha passado por sua mente - bem, não por muito
tempo de qualquer maneira. Não demorou muito para ele ver que ambas as
mulheres estavam onde queriam estar.
Além disso, ele raciocinou, quem em sã consciência discutiria com um
dragão?
Depois de ver Carly Tate em sua forma de dragão, ele não gostaria de
pensar no dano que ela poderia causar em casa depois de algumas das
histórias que lhe contaram.
Ele podia imaginar toda a costa oeste pegando fogo se ela pegasse um
resfriado!
— Como eu disse antes, meu trabalho era apenas garantir que ela
estivesse segura. Estou feliz por ela estar aqui e não morta. Eu posso fechar
o caso, isso é tudo que me importa. — Mike assegurou ao dragão.
— Bom. Órion, eu esperarei seu sinal acima do palácio. — Drago
respondeu.
Drago se virou e caminhou vários metros pela praia antes de partir.
— Ele é sempre tão agradável antes de uma batalha? — Mike perguntou
com uma risada hesitante.
— Acho que a melhor pergunta seria se ele é alguma vez agradável.
Claro, ele provavelmente está com medo e não quer admitir. Você viu os três
filhos dele. Drago provavelmente está aterrorizado de ficar sozinho com eles,
especialmente a pequena Jenny-Roo. Drago me disse que ela é muito parecida
com a mãe. Drago teve que tornar à prova de fogo os pássaros de papel da
última vez que Roo ficou doente. — Órion riu.
Marina sufocou sua risada.
— Se você me seguir, Sua Majestade, eu mostrarei a você e seus homens
o caminho para o rio. — ela disse com um suspiro de apreensão.
Mike podia sentir a adrenalina. Era hora do show. Ele se virou e
caminhou de volta para a árvore onde sua jaqueta e o Sr. Bow estavam
deitados na grama.
Pegando sua jaqueta, ele a vestiu, verificou novamente sua arma para
ter certeza de que a trava estava acionada, e pegou o Sr. Bow.
— Eu me sinto normal — Sr. Bow exclamou.
—Deve ser meu charme mágico. — Mike riu com o zumbido animado do
arco. — Eu só espero que você se sinta assim quando chegarmos ao palácio.
O Sr. Bow estremeceu.
— Você fica perto de Marina e eu atiro minhas flechas. — ele prometeu.
— Combinado. Faça o que fizer, certifique-se de proteger meu amor. —
Mike calmamente ordenou.
— Sempre. — Sr. Bow respondeu suavemente.
Ele voltou para Marina onde ela estava conversando calmamente com
Órion. Ela estendeu a mão para o Sr. Bow, sorrindo para Mike quando sentiu
o zumbido familiar de magia na madeira. Ele assentiu em reconhecimento.
— Mike e eu vamos encontrar o Rei e fazer tudo o que pudermos para
mantê-lo seguro. — Marina terminou.
Órion acenou com a cabeça e virou-se para seu Capitão da Guarda em
pé silenciosamente atrás dele.
— Kapian, apenas no caso, faça dois dos homens recuarem e cubram a
retaguarda. Não confio em Magna. Ela pode ter algumas de suas outras
criaturas não naturais patrulhando o perímetro interno do palácio.
— Qualquer coisa feita de magia será enfraquecida. — disse Marina.
Órion franziu os lábios e balançou a cabeça.
— São as criaturas não mágicas que me preocupam. A escuridão escura
que me atacou na sala do trono não foi feita da magia de Magna. Era algo
mais. Ela manterá o que quer que seja perto dela. — Órion respondeu em um
tom conciso.
— Eu sei que os Cães do Inferno não são fáceis de destruir. Eu só vi a
outra criatura uma vez, no dia em que a Bruxa do Mar transformou meu
irmão em pedra. — Marina respondeu com uma voz solene.
— Faremos tudo o que pudermos para detê-la e restaurar seu povo,
Marina. Kapian, certifique-se de que os homens usem carga total em seus
tridentes. — ele ordenou.
— Carga total, homens. — Kapian ordenou aos homens que estavam
atrás deles.
— Mostre o caminho, Marina. Temos apenas algumas horas até o nascer
do sol. — disse Órion.
Capítulo Vinte e Um

Uma hora depois, o pequeno grupo emergiu à beira de uma ravina


estreita, mas profunda. A grande cachoeira alimentava o rio subterrâneo que
emergia do outro lado das muralhas do palácio e desaguava no lago cristalino
nos terrenos do palácio. Marina sabia por experiência que a água era
profunda.
— Por favor, tenha cuidado, Sua Majestade. Isha uma vez disse ao pai
que nadou no rio subterrâneo para ver se era possível. Há muitas cavernas
que não levam a lugar algum. Também há enguias, pedras afiadas e
passagens pelas quais ele disse que mal conseguia passar. Depois que você
entrar, a forte correnteza o impedirá de voltar por aqui. — ela avisou, olhando
para a névoa brilhante brilhando ao luar.
— Você não precisa se preocupar, Marina. Meus homens e eu somos
muito hábeis em lidar com qualquer coisa debaixo d'água. — Órion a lembrou
secamente.
Ela soltou um riso nervoso.
— Sinto muito, Sua Majestade. Esta noite pode ser a única chance que
temos de salvar meu povo. — ela respondeu com uma inclinação de sua
cabeça.
— Não há necessidade de se desculpar. Teremos sucesso. — Órion disse
a ela, tocando seu queixo para que ela fosse forçada a olhar para ele. — Eu
prometo.
Sua expressão suavizou, e ela sorriu.
— Eu acredito em você. — ela murmurou.
Órion deixou cair a mão e acenou para Mike, que estava ao lado.
— Boa viagem. Nos vemos no palácio. — disse ele.
— Boa sorte. — Mike respondeu automaticamente com um aceno de
cabeça.
Marina observou Órion acenar para Kapian antes de mergulhar do lado
do penhasco nas águas turbulentas abaixo. Os outros rapidamente o
seguiram. Ela esperou para ver se eles apareciam, mas não vieram. Ela
esperava que eles fossem bem sucedidos.
Seria uma luta para atravessar as águas, mesmo para o povo do mar.
Uma vez que os homens estiverem dentro do palácio, Órion e seus
homens devem matar qualquer um dos Cães do Inferno que patrulham o pátio
interior enquanto um de seus homens abre o portão para Nali e seus
monstros.
Agora que sua magia foi restaurada, ela poderia buscar a ajuda das
árvores e outras plantas para ajudá-los. Uma vez que Nali e seus monstros
protegessem as estátuas no pátio, Órion, Drago, ela e Mike poderiam entrar
no interior do palácio e descobrir onde a Bruxa do Mar estava segurando o
Rei.
— Vamos. — disse Mike em voz baixa.
— Sim. — Marina respondeu com um leve aceno de cabeça.
Eles abriram caminho pela floresta até a cidade exterior
assustadoramente silenciosa. Ela se virou e seguiu pelo parque que ficava ao
lado dos jardins do palácio.
Correndo pelo mesmo caminho que ela havia percorrido quase um ano
antes, eles serpentearam pela floresta até a parede externa do palácio.
— Por favor, Sr. Árvore, guie-nos com segurança para o outro lado do
muro. — Ela suspirou aliviada quando as vinhas penduradas na árvore se
estenderam. Levantando os braços, ela esperou que as videiras se enrolassem
em seus pulsos. Mike hesitou um momento antes de relutantemente fazer o
mesmo. Ela ouviu a respiração rapidamente inalada de Mike quando as
videiras os levantaram do chão.
Marina empalideceu e cambaleou para trás da parede interior quando
viu a confusão de preto movendo-se ao longo da parede de pedra. Eles haviam
escapado da detecção da criatura por não terem escalado o muro. Marina
podia ver os restos esqueléticos de pássaros, pequenos mamíferos e insetos,
que não tiveram tanta sorte, presos nos tentáculos grossos.
— Eu não entendo. — ela sussurrou enquanto olhava para as videiras
em movimento. — Se a Bruxa do Mar usou sua magia para encantar essas
videiras, elas deveriam ser normais. O feitiço que ela lançou deveria ter
enfraquecido, assim como acontece com os ogros. Acho que isso não é mágica,
mas a mesma criatura que me perseguiu antes.
— Uma criatura? — ele murmurou, dando um passo para trás quando
as trepadeiras se curvaram em direção a ele.
Marina franziu a testa, intrigada.
— Talvez esta seja sua forma natural.
— Seja lá o que diabos for, precisamos ficar fora de seu alcance e chegar
ao palácio. — Mike apontou severamente.
Marina assentiu e olhou ao redor. Ela acenou com a mão para que Mike
a seguisse. Eles se moveram pelo labirinto, ficando no meio onde a luz da lua
brilhava. Várias vezes, eles foram forçados a parar quando viram um
tentáculo preto se estendendo pelo caminho.
— Teremos que ir por outro caminho. — ela sussurrou.
O caminho que levava ao jardim principal estava bloqueado. Os
tentáculos em movimento pareciam uma cama de vermes ou cobras ferventes.
Afastando-se, ela sinalizou para virar à esquerda. Ela começou a se preocupar
que eles estavam demorando muito. Virando à direita, ela podia ver uma
estreita entrada lateral do labirinto. Esta saia perto dos galpões que
abrigavam os suprimentos para os jardineiros.
— Marina, corra. — sibilou Mike.
Ela olhou por cima do ombro e engasgou. Atrás deles, os tentáculos
negros se transformaram em lanças grossas que se moviam pelo labirinto.
Saindo correndo, Marina se concentrou na abertura. Atrás dela, ela podia
ouvir a respiração constante de Mike, o som de seus pés batendo no chão e o
estalo da madeira quando as lanças atingiram os galhos dos arbustos atrás
deles. Ela conteve um grito de frustração porque não conseguiu proteger as
plantas centenárias.
— Segure firme!
O som da voz de Mike penetrou em sua mente um segundo antes de seu
braço envolver sua cintura, e eles voaram pelo ar. Mike se virou, segurando-
a contra ele antes que eles caíssem no chão e rolassem.
Respirando pesadamente, eles olharam por cima dos ombros para a
entrada do labirinto. Pontas irregulares e afiadas a um palmo de distância
selavam a entrada. Eles teriam sido empalados se Mike não a tivesse agarrado
e saltado do labirinto.
— Deve ter sentido que algo estava no labirinto. — ela sussurrou,
observando enquanto os tentáculos mortais se retraíam lentamente.
— Sim. — disse Mike, rolando de costas e olhando para o céu estrelado
por um momento. Acima deles, ele mal conseguia distinguir a silhueta de
Drago enquanto o Rei Dragão voava por uma das luas brilhantes. Rolando de
bruços, ele se levantou do chão e estendeu a mão para ajudar Marina a se
levantar. — Você está bem?
— Sim, acho que sim. — ela respondeu, curvando-se para pegar o Sr.
Bow do chão antes de agarrar a mão de Mike. — O que fazemos agora? Como
podemos lutar contra tal criatura?
Marina não queria admitir que estava apavorada. Essa criatura que a
Bruxa do Mar tinha sob seu controle era muito mais poderosa do que
qualquer coisa com a qual ela teve que lidar até agora. Os Cães do Inferno
eram ruins o suficiente, mas pelo menos ela sabia que poderia matá-los. Esta
criatura era diferente. Mike olhou ao redor. Um sorriso lento e ameaçador
curvou seus lábios. Ele se virou e a puxou junto com ele.
—Vamos. Eu tenho uma ideia. — ele disse, indo para um dos prédios.
Mike contornou a lateral do prédio, certificando-se de que era seguro
primeiro.
Espiando pela janela, ele grunhiu. Ele podia ver uma porta aberta do
outro lado. Mantendo as costas para a parede, ele virou a próxima esquina.
Um grande carrinho estava ao lado do prédio, a poucos metros da porta
aberta. Ao lado dele estavam dois homens petrificados no lugar. Um segurava
uma grande bolsa enquanto outro carregava um feixe de madeira debaixo do
braço. Suas cabeças estavam voltadas para o palácio. Seus rostos de pedra
gravados com expressões de confusão e medo.
— Isso é o que ela fez com toda a população de dragões, exceto o Rei
Dragão. De certa forma, eu me pergunto se teria sido mais misericordioso do
que viver com medo de saber o que poderia acontecer. — Marina disse
calmamente, caminhando até correr os dedos ao longo de um de seus rostos.
— Enquanto houver uma pessoa que possa enfrentar Magna e lutar,
sempre há uma chance de quebrar o feitiço e libertar aqueles que foram
presos. — retrucou Mike bruscamente.
— Como podemos lutar contra ela e aquela criatura? — ela perguntou.
Mike podia ver a desesperança se infiltrando em seus olhos. Avançando,
ele a virou para encará-lo e segurou seu rosto. Eles não desistiriam agora.
— Confie em mim, Marina. Juro que farei tudo o que puder para libertar
seu povo. Esta noite é a noite. Acredite nisso. Temos uma equipe incrível com
alguns dos guerreiros mais assustadores que já vi na minha vida. Se alguém
pode derrotar Magna e aquela coisa escura, nós podemos. — Mike
suavemente e apaixonadamente prometeu.
Ele a viu engolir em seco, e seu olhar de dúvida e desespero se dissolveu
em determinação. Ela assentiu, ficou na ponta dos pés e deu um beijo nos
lábios dele. Afastando-se, ela lhe deu um sorriso trêmulo.
— Qual é o seu plano? — ela perguntou.
— Incêndio! Quase tudo odeia fogo. — Mike disse com um sorriso
confiante.
— Exceto dragões. — ela disse.
Mike ergueu uma sobrancelha para ela e fez um som de desaprovação.
— Ok, eu te dou essa. Mas aposto minha coleção de bolas de beisebol
autografadas que aquela coisa não gosta disso. — disse ele.
Ele observou como um brilho de excitação iluminou os olhos de Marina.
Ela mordeu o lábio e olhou para o carrinho. Caminhando até ele, ela começou
a juntar alguns materiais. Ela vasculhou o carrinho, abrindo vários potes até
encontrar o que procurava.
— O que você está fazendo? — ele perguntou, seguindo-a.
Ela olhou ao redor, seus olhos disparando para uma pilha de escombros
ao lado do edifício.
— Eu preciso de várias varas compridas. — ela sussurrou, levantando
o pano e a jarra. — Eu posso fazer tochas.
Mike deu a Marina um aceno afirmativo.
— Vou pegar um pouco. — ele respondeu, virando-se para a pilha.
Ele voltou e assistiu por um momento enquanto Marina colocava os
itens que havia coletado no chão e se endireitava. Olhando ao redor, ela
vasculhou o carrinho novamente, tirando a maior tigela de barro que
conseguiu encontrar.
Ela voltou para os outros itens no chão.
Rasgando o material em tiras, ela as colocou de lado enquanto despejava
o conteúdo da jarra na tigela. Ela olhou para ele quando ele estendeu quatro
varas, cada uma com aproximadamente um metro de comprimento. Na outra
mão, ele segurava uma pequena caixa que estava no chão ao lado da pilha.
— Isso deve funcionar. — disse ela com um aceno de cabeça.
Mike observou enquanto ela pegava uma das varas e rapidamente
enrolava o pano na ponta. Ela prendeu as tiras nos paus restantes e
mergulhou as pontas do tecido no gel espesso.
— Você tem mais desse gel? — ele perguntou, colocando a caixa no
assento do carrinho.
— Sim, há vários outros frascos. Procure aqueles com uma faixa
vermelha. Isso mostra que eles são inflamáveis. O que está na caixa? — ela
perguntou.
— Vou fazer alguns coquetéis molotov. — ele respondeu, tirando vários
dos pequenos frascos e alinhando-os na borda do carrinho.
Mike pegou um dos frascos, arrancou a tampa e encheu-o
cuidadosamente com o gel espesso. Ele continuou fazendo isso até ter
enchido três dúzias de frascos, antes de colocar as tampas de volta. Abrindo
várias caixas, ele descobriu um estoque de cera e pavios.
Enfiando a mão no bolso, ele tirou uma pequena faca e cortou um
pedaço de pavio de cinco centímetros para cada frasco. Ele usou o saca-rolhas
em sua faca para fazer um buraco no topo de cada tampa. Ele
cuidadosamente enfiou o pavio pelos buracos. Ele enfiou a mão na caixa e
tirou uma vela comprida e um tubo redondo de metal que descobriu ser um
isqueiro. Sacudindo a tampa para trás, apontou-a para a cera da vela. Marina
assistiu fascinada enquanto ele selava a tampa ao redor de cada pavio.
— O que esse coquetel molotov faz? — ela perguntou, curiosa.
Mike sorriu.
— Isso faz um grande incêndio. Quando eu era criança, fiquei de castigo
por um mês quando fiz um e joguei em uma pilha de lenha que meu pai tinha
acabado de cortar. Passei o mês cortando lenha para substituir o que tinha
incendiado. Isto não foi tão ruim, no entanto. Meu pai me ajudou e passei a
apreciar o trabalho que dava para cortar tanta madeira. — ele respondeu com
um movimento travesso de suas sobrancelhas.
— A maioria das crianças ficaria ressentida com o pai por fazê-las
trabalhar tanto. — ela respondeu com um brilho de diversão em seus olhos.
— Por que você não ficou?
Mike levantou o braço e o dobrou para mostrar seus músculos.
— A maioria das crianças não acaba com músculos enormes até o final
do verão. — ele respondeu com um sorriso. — Todas as garotas da escola
estavam atrás de mim naquele ano.
Marina deu um resmungo indignado e abaixou a cabeça para se
concentrar em suas tochas.
— Eu posso imaginar que elas já teriam estado, de qualquer maneira.
Eu era popular com os meninos da minha aldeia. Nenhum deles podia lidar
com um arco poderoso como eu podia. — ela retrucou.
Ele riu baixinho.
— Não acho que tenha sido apenas o arco, Marina. — murmurou Mike.
Ela olhou para cima e levantou uma sobrancelha em indagação.
— Por que você diz isso? — ela perguntou, sua respiração travando no
olhar ardente em seus olhos.
Mike se inclinou para frente e segurou o queixo dela com a mão.
— Embora eles possam estar cientes de sua destreza com o arco,
acredito que eles definitivamente estavam cientes da bela mulher que o
segurava.
— Mike, você sabe que eu adoro quando sua voz fica profunda assim.
— Marina respirou antes que suas pálpebras se fechassem quando ele se
inclinou para beijá-la.
Vários segundos se passaram antes que ele relutantemente encerrasse
o beijo. Por mais que quisesse continuar beijando-a, agora não era o lugar
nem a hora. Ainda assim, ele não resistiu em dar outro beijo rápido em seus
lábios quando ela soltou um suspiro suave. Ela abriu os olhos e olhou para
ele com uma expressão ligeiramente atordoada.
— Há realmente magia entre nós. Isso é algo especial, Marina. Quando
isso acabar, quero construir uma vida com você. — ele disse em um tom
gutural.
Marina mordeu o lábio inferior e olhou para ele com uma expressão
sombria.
— Mesmo que isso signifique que você nunca mais verá seu mundo, ou
sua irmã? — ela perguntou.
Mike ficou em silêncio por vários segundos antes de se inclinar para trás
e olhar para baixo. Pela expressão rígida em seu rosto, ela sabia que ele estava
pensando em tudo o que deixaria para trás. Algo lá no fundo dizia a ela que
não poderia ir para o mundo dele. Ela não entendia o porquê, mas era como
se algo a avisasse que ela não seria permitida a existir como era.
— Vamos discutir mais quando isso acabar. — respondeu ele, olhando
para ela. — Mas a resposta é sim. Eu deixaria meu mundo para trás para
permanecer aqui contigo.
Ele viu o alívio passar pelos olhos dela. Sua alegria foi tingida de
arrependimento.
Ela sabia que tomar tal decisão sempre o assombraria.
Mike se virou e terminou de fazer pequenas e poderosas bombas
incendiárias enquanto ela pegava as tochas com uma das mãos. O Sr. Bow
murmurou baixinho que não gostava de estar perto de qualquer coisa que
pudesse fazer fogo.
— Você sabe, eu sou feito de uma das madeiras mais ricas da ilha.
Árvores mais velhas não queimam graciosamente. — Sr. Bow murmurou.
— Você não precisa se preocupar, Sr. Bow. Se tudo correr bem, você
voltará a atirar flechas em breve. — Marina assegurou a seu arco.
— Eu posso fazer isso se Mike estiver por perto. — Sr. Bow a informou.
Marina olhou para Mike com uma sobrancelha erguida.
— Isso é verdade? — ela perguntou.
— Ele disse que se sentia normal quando eu o segurava. — Mike a
informou, colocando os frascos em uma grande mochila de couro e guardando
o isqueiro.
— Eu realmente espero que ele seja. Nós podemos precisar de sua ajuda.
— ela respondeu.
Ele fez uma pausa e olhou para ela.
— Você está pronta? — perguntou Mike.
— Sim.
Mesmo à distância, Mike podia ver a massa de trepadeiras negras
movendo-se contra as paredes do palácio ao luar. Assentindo, ele fez sinal
para que ela mostrasse o caminho. Eles caminhavam pela área aberta perto
do lago e contornavam o pátio da frente e os portões. Olhando para cima,
Mike viu Drago começar sua descida até o lago. Ele respirou fundo quando
viu as sombras escuras de Órion e seus homens emergindo da água.
— Órion e Drago chegaram. — Mike apontou.
— Devemos nos encontrar e avisá-los sobre as videiras. — disse ela,
desviando em direção a um caminho largo que levava em direção aos outros.
Capítulo Vinte e Dois

O caminho de seixos brancos brilhava ao luar. Por mais que Marina


odiasse o som de seus passos ecoando na noite, ela não gostava ainda mais
das manchas escuras na grama macia. Atrás dela, ela podia ouvir Mike
acompanhando-a.
Eles alcançaram a fonte circular ao mesmo tempo que Órion e seus
homens chegaram. Atrás do grupo, ela podia ver Drago em sua forma de
dragão mostrando os dentes para os tufos de tentáculos negros.
— Isso se parece com a magia maligna com a qual Magna se cobriu. —
Órion disse como uma saudação.
— Ela se espalhou demais em um esforço para proteger as áreas
internas e externas do palácio. — observou Drago.
— Por que ela faria isso? Certamente ela percebe que isso enfraqueceria
suas defesas. — disse Kapian.
— Vocês precisam ser cautelosos. Mesmo sendo finas, essas coisas
podem ser mortais. — alertou Mike.
Marina assentiu.
— Viemos pelo labirinto. A névoa negra se juntou em lanças mortais.
Pode existir em muitas formas diferentes. Nós escapamos por pouco. — disse
ela.
— Kapian tem dois homens trabalhando para abrir os portões para Nali.
Devemos entrar no palácio. Sabemos se Koorgan e Ashure foram bem
sucedidos em proteger as aldeias? — Órion perguntou.
— Sim, eu os vi desembarcar. Lembre-me de nunca deixar Koorgan ou
seus homens loucos. Havia alguns Cães do Inferno perdidos à solta que não
conseguiram voltar ao palácio antes do anoitecer. — Drago compartilhou.
— O que aconteceu com eles, se posso perguntar, Vossa Majestade? —
perguntou Kapian.
Drago deu a todos um sorriso de dentes afiados.
— Vamos apenas dizer que eles estouram quando você pisa neles. Os
agricultores vão ter uma grande área de terra fertilizada por um tempo.
— Nojento. Pelo menos com minhas flechas mágicas eles se
desintegram. — Marina respondeu com um estremecimento.
— Vou permanecer ao seu lado por ordem da rainha Jenny. — afirmou
Kapian
Órion balançou a cabeça e riu antes de se virar para Marina. Ela viu
sua expressão se transformar em uma fria determinação e sabia que ele
esperava que ela liderasse o caminho. Marina assentiu e girou nos
calcanhares.
Ela agarrou o Sr. Bow em uma mão e as tochas na outra. Ela manteve
um olhar cauteloso para os tufos negros. Ela não tinha certeza de como eles
estavam ligados à Magna. Seu maior medo era que a Bruxa do Mar já
estivesse ciente de sua presença.
Eles chegaram à frente do palácio. As paredes ao redor estavam cobertas
de trepadeiras negras. Ela ficou surpresa por não terem encontrado nenhum
dos Cães do Inferno até agora. O pensamento mal passou por sua mente
quando ela viu um movimento com o canto do olho.
— Cuidado! — ela gritou, virando-se quando três Cães do Inferno
surgiram entre os cativos de pedra espalhados pelo pátio.
— Proteja as estátuas. — Órion ordenou, apontando seu Tridente para
o Cão do Inferno na liderança.
Marina instintivamente ergueu o Sr. Bow e pronunciou o feitiço mágico
que ela havia usado tantas vezes antes. A corda do arco brilhou levemente
antes de desaparecer enquanto ela tentava puxá-la de volta. Ela estendeu a
mão para ele novamente quando o segundo Cão do Inferno se virou para ela.
Um poder a percorreu quando ela sentiu a mão de Mike em suas costas.
O Sr. Bow ganhou vida, o forte brilho da corda vibrava em suas mãos.
Marina puxou a corda e lançou uma flecha mágica atrás da outra na
fera. A terceira flecha o atingiu na testa e se desintegrou em uma nuvem de
cinzas a poucos metros dela.
Marina se virou para o terceiro Cão do Inferno. Dois dos homens de
Órion estavam disparando raios de eletricidade na fera. Sua flecha atingiu-o
na lateral ao mesmo tempo em que os homens enterravam seus tridentes
nele. A besta brilhou intensamente antes de se dissolver em uma poça de
cinzas.
— Órion! — gritou Mike.
Órion saltou para cima, voando sobre a cabeça de um Cão do Inferno
que estava tentando mordê-lo.
Ele se virou e caiu de costas. Levantando seu tridente acima de sua
cabeça, ele o derrubou no pescoço do Cão do Inferno com tanta força que a
criatura tropeçou antes que sua cabeça fosse cortada e seu corpo rolou para
o lado. Marina se virou e disparou flechas no corpo e na cabeça.
— Tenha cuidado! — Mike gritou, agarrando-a pela cintura e puxando-
a para o chão.
Longos tentáculos de uma videira negra rastejando ao longo das paredes
do palácio atacaram com força mortal. Três dos homens de Orion grunhiram
e caíram no chão enquanto lanças afiadas perfuravam seus corpos. Drago
virou-se e expeliu uma longa chama nas videiras, afastando-as.
— Lá! — Marina suspirou, apontando para um dos guardas de Órion
que lutava contra as trepadeiras em movimento. — Temos que ajudá-lo!
— Fique para trás até eu te dizer. — Mike ordenou, rolando para o lado
e puxando um dos pequenos frascos da mochila. Tirando o isqueiro do bolso,
ele acendeu um dos coquetéis Molotov. — Agora! — ele gritou enquanto jogava
o frasco em chamas nas videiras.
Ambos correram para frente quando o frasco explodiu, enviando
chamas pelas videiras murchas. O guarda recuou vários passos e olhou para
Mike com surpresa. Mike jogou dois dos pequenos frascos para o guarda. O
homem assentiu em compreensão. Jogando o frasco em direção ao topo das
videiras, o guarda apontou seu tridente para ele e disparou um raio de
eletricidade. O líquido inflamável explodiu, fazendo chover fogo do topo das
videiras para baixo.
Mike se virou e jogou mais três frascos enquanto Marina acendia duas
de suas tochas na criatura em chamas que estava mais próxima. Ela deu
uma para Mike. Eles os espetaram nas trepadeiras retorcidas, enviando os
galhos espinhosos em retirada enquanto Órion e seus homens trabalhavam
para matar a meia dúzia de Cães do Inferno que convergiram no pátio para
detê-los.
O grito de angústia de Marina ecoou acima dos sons da luta e do crepitar
do fogo. Um grande Cão do Inferno derrubou duas das estátuas que se
despedaçaram e se transformaram em cinzas. Seus dedos tremeram quando
ela puxou o Sr. Bow. O Cão do Inferno estava indo direto para Isha. O brilho
da corda do arco desapareceu quando ela a puxou de volta.
— Mike! Precisamos de Mike. — Sr. Bow disse freneticamente.
— Mike! — Marina gritou, procurando por ele através da fumaça.
Mike virou-se para ela. Ele correu em direção a ela, mas Marina sabia
que ele não chegaria a tempo. Seus lábios se separaram em um grito de
negação quando o Cão do Inferno levantou uma pata afiada para tirar Isha
de seu caminho. O grito morreu em seus lábios quando o Cão do Inferno foi
subitamente erguido no ar e jogado contra as portas da frente do palácio.
— O que…? — Mike engasgou.
Marina o sentiu agarrá-la pela cintura e puxá-la para o lado enquanto
um enxame de monstros varria o pátio. Os Ciclopes, Minotauros e Centauros
circulavam em torno das estátuas, formando uma parede impenetrável.
— É Nali! — Marina meio chorou, meio aplaudiu enquanto a Imperatriz
se levantava protetora sobre seu irmão.
— Essa é a Nali... e Charlie?! Como diabos Charlie chegou aqui? — Mike
sussurrou em estado de choque, olhando para o monstro que era do tamanho
de um gigante antes de seu olhar baixar para o filhote que estava latindo
animadamente ao lado da estátua de Isha.
Nali levantou a cabeça e rosnou. O chão tremeu com o som.
Marina desviou o olhar de Nali quando Kapian se aproximou deles.
— Rápido! — Kapian ordenou, virando-se e atirando em outro Cão do
Inferno. — Há mais do que pensávamos. Nali e Ashure lidarão com os que
estão do lado de fora.
— Ashure! Ele não deveria estar.. .— Marina começou a protestar.
Ela olhou por cima do ombro quando Mike agarrou seu braço esquerdo
enquanto Kapian segurava o direito. Eles a puxaram para as portas da frente
do palácio que agora estavam escancaradas. Drago queimou todas as videiras
residuais que sobreviveram.
Marina se soltou e agarrou as duas tochas apagadas. Tremendo, ela
seguiu Kapian quando ele entrou no palácio. Atrás dela, Mike seguiu, então
Drago. Ela só podia esperar que eles chegassem a tempo de salvar o Rei e a
Rainha.

Mike olhou para trás quando entraram no palácio. Lá fora, no pátio,


flashes de luz e os gritos dos Cães do Inferno ecoavam pela noite. Ele teve um
vislumbre do corpo dourado de Charlie no círculo protetor dos monstros de
Nali. Com um aceno de cabeça, ele ainda não conseguia acreditar que o
enorme monstro rosnando ordens era a esbelta Imperatriz que ele havia
conhecido.

A aparência de Nali o chocou. Como alguém tão... sei lá... se


transformaria em um monstro que parecia saído de um filme de King Kong
encontra o Abominável Homem das Neves dos anos 30? Bem, ok, com seus
longos cabelos brancos, ela parecia mais uma versão feminina de uma
Adorável Mulher das Neves do que King Kong, mas ainda assim... o que
diabos? Ele se perguntou quais outros talentos a incrível Imperatriz dos
Monstros tinha.
Com um aceno de cabeça, ele se forçou a se concentrar em sua situação
atual. O perigo estava longe de terminar. Se alguma coisa, estava apenas
começando.
— Onde você acha que Magna prenderia o Rei? — Mike perguntou
enquanto entravam no frio saguão.
— Eu suspeito que ela o mantém na sala do trono. Enquanto ele
permanecer no trono, ele mantém seu poder. Magna saberia que se o Rei Oray
abdicasse do trono, ela perderia qualquer chance de usar o presente da Deusa
contra os outros reinos. — ela explicou.
— O que há de tão importante nesse presente? Por que deveria importar
quem o tem? — Mike perguntou, olhando ao redor com uma carranca. Tudo
estava gelado, e ele jurou que podia ver algo se movendo nas sombras.
Provavelmente era mais da merda preta que compunha as videiras.
Ele moveu a mão para o coldre da arma, desfez o fecho e puxou a arma.
— Nosso Rei é um bom líder. A Rainha Magika e o Rei Oray protegem o
Orbe da Luz Eterna. É o que nos dá a nossa magia. Sem os dois, a luz se
apagará e nosso reino também. — explicou Marina.
— Eu não gosto do som disso. Cuidado — sibilou Mike, puxando Marina
para trás quando uma das sombras a alcançou avidamente. — O que é essa
coisa?
— Eu não sei. — Marina sussurrou com a voz trêmula. — Antes de
Magna chegar, eu nunca vi nada parecido.
— Tenha cuidado, eu vejo isso se movendo sobre as paredes. — disse
Kapian.
— Onde está Órion? Inferno, para onde Drago foi? — Mike perguntou,
percebendo que Drago também havia desaparecido.
— Órion procura ter certeza de que a Rainha está segura. Jurei à rainha
Jenny que o protegeria. — disse Kapian, olhando para os dois.
— Vá. Se encontrar eles, avise que estamos indo para a sala do trono.
—disse Mike.
— Tenha cuidado. — Kapian instruiu.
— Você também — avisou Mike, observando Kapian assentir e se virar
para desaparecer no longo corredor. Mike varreu o olhar sobre as sombras.
— É melhor você acender as tochas.
Marina assentiu e rapidamente acendeu as duas últimas tochas. Ela
entregou uma para Mike. Ela observou enquanto ele a balançava em direção
às sombras escuras. A criatura recuou com um silvo alto, encolhendo-se para
longe das chamas.
— Você estava certo. Seja o que for, não gosta das chamas. — sussurrou
Marina.
— Você sabe o caminho para a sala do trono? — ele perguntou.
— Sim, siga-me. — ela murmurou.
Mike seguiu Marina, tomando cuidado para manter os olhos nas
sombras enquanto se moviam pelo longo corredor. Curioso, ele ergueu a
tocha. As sombras recuaram mesmo quando a chama não estava perto delas.
Parece que tinham outra fraqueza.
— Não gosta da luz. — observou.
Eles continuaram a se mover silenciosamente pelo corredor, virando
várias vezes para ver as sombras escuras se movendo atrás deles, mas
mantendo-se longe da luz.
Mike engoliu em seco e agarrou a coronha de sua arma. Duvidava que
sua arma pudesse causar grande impacto no que quer que cobrisse as
paredes, mas isso lhe deu uma sensação de conforto. O suave grito de
advertência de Marina chamou sua atenção para frente quando outra forma
se separou das sombras. Esta não encolheu da luz.
— Um Cão do Inferno. — Marina engasgou, segurando a tocha na frente
dela.
Mike levantou o braço e disparou no momento em que o Cão do Inferno
soltou um rugido e pulou. Ele e Marina mergulharam para o lado e rolaram
quando a criatura pousou e virou. Mike disparou novamente, jogando a
criatura para trás. Ele tropeçou e balançou antes de desmoronar com um
pequeno buraco no centro de sua testa.
— Merda. — Mike murmurou, ficando de pé. — Você está bem? — ele
perguntou enquanto Marina se inclinava para pegar suas tochas.
— Sim. Estou feliz que você tenha sua arma. Segure isso e me toque. —
ela instruiu com uma voz trêmula.
— Eu também — murmurou Mike.
Ele não acrescentou que sua arma tinha apenas uma bala. Ele deslizou
a arma no coldre e pegou as tochas de Marina. Agarrando as duas tochas em
uma mão, ele pegou a mochila com o resto dos coquetéis molotov, colocou a
alça no ombro e colocou a mão esquerda em suas costas.
Marina puxou a corda do arco e disparou várias flechas no Cão do
Inferno. Ele observou enquanto ele brilhava por um momento antes de se
transformar em cinzas.
Entregando as tochas de volta para ela, ele decidiu que gostaria de
manter alguns dos frascos de coquetéis molotov à mão, apenas por
precaução.
Ele abaixou o pacote e tirou dois frascos. Ele colocou a mochila nos
ombros e manteve os dois em sua mão livre. Com um último olhar para onde
o Cão do Inferno morto estava, ele fez sinal para Marina continuar andando
pelo corredor.
Eles estavam quase na sala do trono. Esperançosamente, eles não
encontrariam mais Cães do Inferno, mas ele não iria apostar nisso. Ele parou
atrás de Marina quando eles viraram a esquina.
No final do corredor havia um conjunto de portas elaboradamente
esculpidas que levavam à sala do trono. Dois Cães do Inferno andavam de
um lado para o outro na frente das portas, rosnando, sentinelas impedindo
qualquer um de entrar ou sair da sala.
— Sua arma. — Marina sussurrou, virando-se para olhar para ele.
Mike balançou a cabeça.
— Eu tenho uma bala. — disse ele. — Isso pode retardar um deles, mas
não os dois.
Ele tocou o frasco em sua mão. Ele correu seu olhar sobre as portas da
sala do trono. Estava coberto com o mesmo emaranhado de trepadeiras que
eles encontraram antes.
Seu olhar cintilou para as duas bestas andando de um lado para o
outro. Talvez eles pudessem matar dois Cães do Inferno e tirar as vinhas
espinhosas ao mesmo tempo.
—Segure isso. — Mike ordenou enquanto tirava a bolsa do ombro e se
ajoelhava.
Marina rapidamente pegou os dois frascos e sua tocha.
— O que você fará? — ela perguntou, observando enquanto ele
rapidamente abria a bolsa e começava a amarrar os pavios da meia dúzia de
potes que haviam sobrado.
Mike olhou para Marina e sorriu.
— Vou iluminar este lugar. — ele a informou com uma voz sombria.
Voltando seu foco para o que estava fazendo, Mike terminou de torcer
os pavios e os colocou de volta na bolsa. Ele se levantou e acenou para Marina
enquanto estendia a bolsa aberta para ela. Ele começou a contar devagar uma
vez que ela acendeu o cordão grosso com sua tocha.
Virando-se, ele correu em direção às criaturas rosnantes que ficaram
congeladas em frente às portas. Ele jogou a bolsa neles e se jogou para o lado,
rolando enquanto eles pulavam para pegá-la. No momento em que o fizeram,
explodiu em um inferno flamejante que iluminou o corredor maciço.
Mike parou ao lado de um grande vaso de pedra. Rolando para o lado,
ele olhou para os dois Cães do Inferno que agora estavam envoltos em
chamas. Seus rugidos altos ecoaram quando eles caíram contra as portas. As
criaturas escuras e sombrias nas paredes se contorceram em agonia
enquanto eram incendiadas em chamas. Um dos Cães do Inferno se ergueu
em seus quartos traseiros antes de cair para trás, colidindo com uma das
enormes portas da sala do trono.
— Venha. — Marina gritou enquanto corria para frente.
Mike rolou para seus pés. Marina cobriu o rosto enquanto pulava sobre
o Cão do Inferno morto e pela porta em chamas. Mike fez o mesmo,
aterrissando do outro lado e rolando antes de se levantar e se virar para olhar
para trás. O gel espesso dos frascos continuou a queimar brilhantemente
atrás deles. A luz das chamas afastou as videiras no interior da sala do trono.
Ele se moveu nos pés e olhou ao redor da grande sala. Seus olhos
capturaram os restos de uma refeição na longa mesa. Seu olhar se voltou
para Marina quando ela afastou uma longa mecha de cabelo do rosto. Seus
olhos estavam fixos no trono. Ele seguiu seu olhar, travando-o em um par de
olhos vazios.
— Meu Rei. — Marina sussurrou enquanto ela lentamente começou a
caminhar em direção ao trono. — Meu Rei, devemos tirá-lo daqui. — ela disse
em uma voz mais alta.
— Acho que não. — respondeu a voz rouca de uma mulher. — Você vê,
eu preciso dele também.
Mike observou uma mulher muito bonita, de pele clara, sair de trás do
trono. Seus olhos imediatamente se moveram para a arma na mão da mulher.
A lâmina longa e curva não lhe deixou dúvidas de que, embora ela não
pudesse usar sua magia como Marina, ela ainda poderia destruir o reino
usando a faca.
Instintivamente, sua mão deslizou para dentro de sua jaqueta e ele tirou
a arma. Ele desligou a trava de segurança e a pressionou contra seu lado
enquanto eles continuavam a andar para frente em passos lentos e medidos.
Mike correu seu olhar sobre a mulher. O rico cabelo preto de Magna pendia
em uma onda emaranhada até a cintura. Sua pele era quase translúcida e
brilhava como uma pérola branca. Seus lábios eram pintados de preto, como
seu cabelo, fazendo-os se destacar, mas eram seus olhos que o prenderam.
Havia algo neles; se fosse outra pessoa, ele poderia ter pensado que era
desespero. Seus olhos eram verdes claros com redemoinhos de preto neles
que lembravam Mike das vinhas negras ao longo das paredes.
— Solte-o, Bruxa do Mar. — Marina exigiu. — Nós não estamos
sozinhos. O Rei do Mar, o Rei Drago e os outros governantes se juntaram ao
meu povo para detê-la.
A risada aguda de Magna ecoou por toda a sala. A mão de Mike apertou
a pistola quando ele viu ela levantar a faca e arrastá-la levemente pelo pescoço
do rei. Ela murmurou algo baixo demais para que ele pudesse ouvir antes de
se virar para olhar para Marina com desdém.
— Órion está sujeito às leis de seu povo patético. Ele é fraco e incapaz
de me machucar. — Magna respondeu com um encolher de ombros.
— Ele pode ser, mas eu não sou. — uma voz alta ecoou atrás deles. —
Eu já disse a Órion que ia te matar, vadia. Depois que eu transformá-la em
cinzas, nem mesmo os moradores do fundo das profundezas terão algo para
se alimentar. — Drago rosnou.
— Eu não estou mais preso às leis, Magna. — Órion advertiu, entrando
atrás de Drago.
Os olhos de Magna se ergueram e ela soltou um silvo. Uma longa teia
de aranha de criaturas sombrias escondidas nos recessos do teto formando
uma nuvem, envolveram seus tentáculos espinhosos em torno de Drago e o
levantaram. Mike ouviu Órion gritar para seus homens enquanto mais vinhas
mortais os cercavam.
Ele se virou para encarar Magna. Seus olhos estavam quase
completamente negros enquanto ela se concentrava em Drago, Órion e seus
homens. Ele estendeu a mão e parou Marina quando ela começou a avançar.
—Espere. — ele disse, olhando para o rosto de Magna.
Marina se virou surpresa.
— Ela está te enfeitiçando. Nós precisamos destruí-la. — ela sussurrou
em frustração
Mike olhou para Marina e balançou a cabeça.
— Não, é outra coisa. — ele respondeu com uma voz perplexa.
— Eu não serei derrotada. Você condenará seu povo, dragão! — A voz
de Magna aumentou quando Drago mudou para sua forma de dragão para
lutar contra os fios de aço tentando rasgá-lo. — NÃO! — ela gritou como se
estivesse com dor quando Drago lançou uma rajada de fogo no teto.
Mike reagiu quando Magna levantou a faca. Ele levantou a mão e
disparou sua última bala. A bala atingiu Magna no ombro esquerdo, fazendo-
a girar. A lâmina voou de sua mão e caiu a vários metros de distância. Uma
nuvem negra rodopiante subiu de onde ela estava, subindo em direção ao teto
e se reformando.
— Fogo na nuvem negra! — Órion ordenou, levantando seu tridente e
mirando na enorme nuvem.
Mike e Marina correram pelas escadas íngremes que levavam ao trono.
O Rei, livre da ameaça da magia maligna de Magna consumindo-o, caiu para
frente, ofegante e abalado. Mike agarrou o braço esquerdo do Rei enquanto
Marina deslizou seu braço em volta da cintura dele e o levantou. Juntos, eles
meio que o carregaram, meio que o arrastaram escada abaixo. Mike colocou
o homem no chão e voltou-se para Magna. Seu olhar vacilou para a massa
acima dela.
— Não. — Marina advertiu, agarrando seu braço. — Deixe-a. Isso é algo
que não é do nosso mundo.
Mike olhou para trás, dividido. O treinamento dentro dele não o deixaria
simplesmente deixar Magna. Ela estava vulnerável e precisava de ajuda. Ele
se virou para olhar para o local onde Órion e seus homens estavam
disparando intensas rajadas de energia no enxame negro. Ele se ajoelhou
para ver que Drago também estava cuspindo fogo na nuvem rodopiante. Fosse
o que fosse, eles mal estavam fazendo um estrago nele.
—Eu não posso deixá-la. — ele disse, agarrando a mão de Marina e
apertando-a. —Cuide do seu Rei.
— Mike. — Marina gritou, sua mão escorregando de seu braço enquanto
ela tentava detê-lo.
Mike subiu correndo os degraus e deslizou pelos ladrilhos de mármore
até onde estava Magna. Ele tocou seu queixo, virando-o para ele. Seus olhos
se abriram e ela olhou para ele com olhos surpreendentemente claros.
— Vai!— ela sussurrou em uma voz fraca.
—Não sem você. — disse ele com um olhar para cima.
— Não. — ela disse, assobiando de dor quando ele começou a deslizar o
braço ao redor dela.
— Não, eu sei como... como matá-lo agora. Vá — ela disse novamente,
desta vez com uma voz cheia de determinação e tristeza. — O que eu tenho
que fazer irá matar todos vocês se não o fizer. Por favor, me dê essa chance
de corrigir alguns dos erros que fui forçada a cometer.
Mike encarou os intensos olhos verdes de Magna e se virou para Marina.
Ela balançou a cabeça e apontou. Olhando para cima, ele podia ver o
enxame escuro se aglomerando e empurrando para trás contra o ataque de
Órion e Drago. Ele olhou para baixo quando sentiu uma mão esbelta em seu
braço.
— Vá. — Magna sussurrou em resignação. — Não há esperança para
mim. Eu seria condenada à morte de qualquer maneira. Deixe-me pelo menos
ter algum propósito na minha vida.
Mike engoliu em seco e recuou relutantemente enquanto Magna lutava
para se levantar. Ele se virou e rapidamente desceu os degraus enquanto
Magna começava a cantar. Agachando-se, ele levantou o Rei Oray sobre seu
ombro, estilo bombeiro.
— Vamos. — ele instruiu Marina.
Marina olhou para Magna. Seus braços estavam erguidos, e sangue
cobria a frente de seu vestido branco enquanto ela cantava. Seu olhar estava
focado no enxame circulando acima.
— O que…? — Marina começou a dizer.
Mike balançou a cabeça e pegou o braço dela.
— Ela sabe o que está fazendo. — disse ele. — Nós temos que sair daqui.
Órion! Tire seus homens daqui. Magna matará aquela coisa. — ele gritou
enquanto passava apressado pelo Rei do Mar.
— Recuem — Órion ordenou. — Drago, saia daqui!
O grupo continuou a atirar enquanto eles saíam pelas portas
queimadas.
Drago foi o último, mudando de posição ao sair. Órion agarrou o braço
de Drago quando ele parou.
— Pense em Carly e seus filhos, meu amigo. — disse Órion calmamente,
puxando o braço de Drago.
Drago grunhiu e se virou. Eles correram o mais rápido que puderam
pelo corredor. Estavam quase chegando ao final quando uma brilhante
explosão de luz explodiu atrás deles, seguida por uma onda de choque que os
derrubou. Mike tentou proteger o homem em seu ombro enquanto caía.
Levou vários longos minutos antes que eles pudessem recuperar o
fôlego.
Mike rolou para trás, com os ouvidos zumbindo, enquanto estendia a
mão e procurava por Marina ao seu lado. Ele suspirou aliviado quando sentiu
a mão dela segurar a dele. Virando a cabeça, ele encarou Orion. Luto e
resignação brilhavam nos olhos do homem. Mike suspeitava que ele soubesse
que Magna não estava agindo por vontade própria até o fim, quando
finalmente destruiu a criatura.
— O que aconteceu? O que você fez com meu lindo palácio? — Rei Oray
murmurou em choque, olhando para a destruição. — Magika ficará furiosa!
Risadas secas ecoaram no corredor junto com mais do que alguns
gemidos.
Mike se sentou e olhou ao redor. Todas as videiras negras haviam
desaparecido. Havia um enorme buraco no teto da sala do trono. Os primeiros
raios de luz do dia brilhavam sobre as duas cadeiras elegantes que estavam
intactas na plataforma elevada.
—Oray... Onde está meu marido? — Magika exigiu.
Mike observou o rei se virar ao ouvir seu nome. O rosto magro do homem
suavizou e um sorriso curvou seus lábios. Mike se levantou e ajudou Oray a
se levantar.
— Obrigado. — disse Oray, com os olhos colados no rosto frenético de
sua esposa.
— Oh, Oray. — Magika sussurrou, sua voz cheia de lágrimas trêmulas.
— Você voltou.
— Sim, minha amada. Eu sinto muito. — ele murmurou, envolvendo
seus braços ao redor dela e segurando-a perto. — Achei que poderia impedi-
la, mas não era ela.
— Suas Majestades...— uma voz forte chamou.
—Isha!
Mike ouviu o grito de felicidade de Marina. Ele se virou e a viu subir
pelos escombros. Um jovem, apenas alguns anos mais novo que ele,
encontrou-a no meio do caminho. Isha agarrou-a pela cintura e levantou-a
no ar.
As risadinhas encantadas de Marina ecoaram pelos corredores
devastados do palácio.
— Você está bem. Isso quer dizer… — Marina começou a dizer.
— Au!
— Charlie?! Como diabos você...? — Mike exclamou, virando-se
enquanto o filhote corria pelo corredor, pulando sobre os escombros como se
não estivesse lá.
Mike abriu os braços e pegou o corpo voador com um xingamento
murmurado.
— Char... Geoff?
Mike olhou surpreso quando em vez de um cachorro, ele se viu
segurando um adolescente rindo. Geoff sorriu para ele. Mike balançou a
cabeça, fechou os olhos e os abriu novamente.
— Quando o ogro não estava olhando, eu me transformei em Charlie.
Ogros não são as criaturas mais inteligentes. — Geoff riu. — Eu tenho me
escondido perto de Isha. Eu sabia que você viria. Você viu os monstros? Eles
estão em todo lugar!
— Monstros? A Imperatriz Nali está aqui? — Magika perguntou,
acariciando seu cabelo desgrenhado.
— Sim, e Rei Ashure, Rei Koorgan, Rei Drago e Rei Órion.
Geoff respondeu entusiasmado.
— Oh, meu Deus. — Magika murmurou.
— Ah, Drago, você conseguiu. Acho que não serei capaz de encantar sua
adorável esposa e filhos para que se mudem para a Ilha dos Piratas. — Ashure
comentou, cautelosamente pulando de uma seção para outra. — Olá, Magika.
Você está linda como sempre.
— Eu não bani você do palácio, Pirata? — Oray rosnou, virando-se para
que sua esposa ficasse parcialmente atrás dele.
Ashure olhou ao redor das ruínas com desgosto.
— Só nos seus sonhos, Oray. Você parece cansado, velho. — Ashure
comentou.
— Pensei que tivesse sido instruído a ficar longe do palácio, Ashure. —
Drago rosnou, cruzando os braços sobre o peito.
— Ah, bem, sim, mas isso é desnecessário agora. — disse Ashure,
olhando para Marina.
— Suas Majestades, posso garantir que o Rei Ashure não estava nem
perto da sala do tesouro. — Marina disse, levantando a sobrancelha para
Ashure seguir adiante.
— Tesouro... Oh, sim, não. Temo que eu estava muito ocupado para
roubar qualquer tesouro desta vez. — Ashure concordou com um sorriso.
— Então o que você está fazendo aqui?— Oray exigiu.
Ashure voltou seu olhar para Drago.
— Vim dizer que vários dos meus homens relataram ter visto dragões
voando na direção da Ilha dos Dragões. — ele disse.
Todos os olhos se voltaram para Drago. Por um momento, o Rei dos
Dragões não demonstrou nenhuma emoção. Mike não tinha certeza se o
homem havia entendido o que Ashure estava tentando dizer a ele - pelo menos
por um momento.
Os olhos de Drago escureceram para um ouro escuro e brilhante.
Passando por todos, eles observaram enquanto ele fazia um caminho para as
portas de entrada da frente. Ele se mexeu antes de passar pelas portas. Com
um rugido alto que ecoou pelos Sete Reinos, ele se lançou no céu. À distância,
os sons de outros dragões respondendo ao seu rei podiam ser ouvidos.
— O silêncio foi quebrado. — Magika sussurrou.
— Não exatamente, meu amor, mas o povo do Rei Dragão vive
novamente. — Oray respondeu com uma voz cansada.
Mike observou enquanto Magika ajudava seu marido a atravessar os
escombros. Sua mão agitava-se enquanto caminhavam e os pedaços
quebrados do palácio deslizavam de volta ao lugar como se nada tivesse
acontecido. Mike lentamente fechou a boca quando sentiu uma mão delicada
empurrando sua mandíbula para fechá-la.
— Ela é muito poderosa. — Marina disse com um suspiro.
— Você acha? — Mike murmurou com admiração.
— Podemos encontrar Erin e ver se mamãe e papai voltaram ao normal?
— Geoff perguntou, virando-se para olhar para Marina.
— Sim, claro. — respondeu Marina, olhando para Isha.
— Preciso permanecer aqui e ajudar o Rei e a Rainha a restaurar a
ordem. — disse Isha.
— Eu sei. — respondeu Marina.
Isha sorriu para sua irmã e irmão antes de voltar seu olhar para Mike.
Mike podia sentir a confusão do outro homem. Era óbvio que ele não tinha
certeza de qual reino ele veio.
— Meu nome é Mike Hallbrook. É uma longa história. — disse Mike.
— Mas uma muito boa. — Marina respondeu, enfiando o braço no de
Mike.
— Eles estão acasalados. — Sr. Bow informou a Isha.
— Eles estão o quê?! — Isha exclamou surpreso.
Marina suspirou.
— Eu realmente não sei por que o Pai me deu esse arco. — ela
resmungou.
A risada suave de Mike se transformou em uma risada profunda e rica.
Ele envolveu seus braços em torno de Marina e a girou no ar. Afrouxando
seus braços, ele a deixou deslizar pelo seu corpo. Ignorando todos que ainda
estavam parados no corredor, ele abaixou a cabeça para beijá-la.
Deus, eu amo essa bruxa, ele pensou quando ela retribuiu o beijo com
uma paixão que fez seus dedos se curvarem.
Epílogo

Duas semanas depois, Mike estava na beira do muro do palácio,


olhando para o oceano. Amanhã, ele retornaria ao seu mundo com a ajuda
da Rainha Magika. Inclinando-se para frente, ele ficou no muro e agarrou a
borda da abertura olhando para o reino. Embora Marina soubesse que ele
havia dito que retornaria ao seu mundo, eles não tinham discutido quando.
Agora, ele precisava descobrir como dizer a ela.
— Aí está você. — Marina riu, ela terminou de subir a última escada e
veio atrás dele. Seu rosto brilhava de felicidade. Ela passou os braços em
volta da cintura dele, entrelaçou os dedos e apoiou o queixo na omoplata dele.
— Eu me perguntei onde você tinha ido. Isso não é maravilhoso? Ainda não
consigo acreditar que a Rainha Magika e o Rei Oray nomearam esta
celebração no Dia Fae!
Mike riu da alegria dela em encontrá-lo. Ele afrouxou as mãos dela o
suficiente para se virar e a puxou contra seu corpo. Curvando-se, ele enterrou
o rosto na curva de seu pescoço. Eles ficaram assim por vários longos minutos
antes de Mike levantar a cabeça para poder olhar nos olhos dela.
— Você merece isso. Sem você, nenhum dos reinos, especialmente este,
teria algo para comemorar. Estou muito orgulhoso de você, Marina. — Mike
disse antes de sua expressão ficar sombria. — Eu tenho algo para te dizer.
Eu queria esperar, mas... nunca haveria um bom momento.
— O que é? — Marina perguntou, olhando para ele.
— A Rainha Magika está abrindo um portal para eu retornar ao meu
mundo amanhã. Eu quero que você venha comigo. Não demorará muito, eu...
eu gostaria que você estivesse lá se for possível. — ele disse de repente.
O sorriso nos lábios de Marina desapareceu. Ela procurou seu rosto. Ele
manteve sua expressão calma. Ele não queria que ela soubesse que ele estava
preocupado com a possibilidade de não poder voltar.
— Eu sabia que você queria voltar. Conversei com papai e mamãe sobre
isso antes de pedir uma audiência com a rainha Magika. Todos acharam que
não seria um problema. Você entende.. .— ela engoliu em seco e olhou para
ele com olhos brilhantes. — Você sabe que eu não posso ficar em seu mundo,
não sabe? A Rainha Magika disse…
Mike tocou os lábios dela com os dedos. Ele sabia o que a rainha havia
dito.
Ela o havia avisado que não se sabia o que poderia acontecer se Marina
fosse para o seu mundo. Ele havia perguntado sobre a possibilidade de
Marina ir com ele, depois descartou, e depois arruinou todos os seus planos
cuidadosamente planejados ao expressar que queria que ela fosse. Ele não
queria estragar a viagem mencionando todas as coisas que poderiam dar
errado. Ele passou a noite pensando nelas.
— Eu só preciso cuidar de algumas coisas. Nós só sairemos por algumas
horas. — ele disse.
— Eu te amo, Mike. O que acontecer, enquanto estiver com você, vamos
superar juntos — ela jurou.
Mike enfiou os dedos pelo cabelo dela e capturou seus lábios. Ele sabia
que ela estava certa. O pai da rainha Magika e Marina o avisaram que se
Marina decidisse voltar com ele para seu mundo e eles ficassem, ela poderia
perder seu dom de magia.
Não havia garantia, mas havia dúvidas suficientes para que ele não
pudesse pedir isso a ela. Em vez disso, eles voltariam para o mundo dele
apenas o suficiente para deixar uma mensagem para sua irmã Ruth, dizendo
que ele estava bem e onde encontrá-lo se ela quisesse. Ele também passaria
pelo escritório e fecharia os arquivos de pessoas desaparecidas para Carly e
Jenny. Ele havia tirado uma foto delas juntas na frente do castelo com seu
celular. Era abstrata o suficiente para ser difícil de localizar onde estavam,
mas tinha uma data e ambas as mulheres com seus filhos - felizmente, os de
Carly não estavam na forma de seus dragões.
— Não demorará muito. — ele prometeu enquanto se afastava.
— Eu estarei lá, ao seu lado, para sempre. — ela respirou. —Eu te amo.
O olhar nos olhos de Mike suavizou.
— Eu te amo, Marina. No momento em que você me tocou, eu sabia que
era um caso perdido. — ele riu, olhando em seus olhos brilhantes.
— Estou feliz. — ela brincou.
Mike ouviu sua risada leve enquanto ecoava no vento. Virando-se,
olharam para a festa festiva que acontecia lá embaixo. As pessoas da Ilha da
Magia, da Ilha da Serpente do Mar e até o relutante Drago, junto com uma
Carly radiante e seus três filhos, estavam aproveitando a celebração do Rei e
da Rainha.
Os pensamentos de Mike se voltaram para Magna. Quando eles
voltaram para a sala do trono após a explosão, não havia sinal dela. Os restos
carbonizados da criatura que estivera dentro dela jaziam espalhados entre as
ruínas do quarto.
Mike esperava que o que quer que tivesse acontecido com Magna, ela
finalmente estivesse livre do parasita que a controlava.
— Vamos. — Marina disse com um sorriso, puxando-o de volta ao
presente.
— Geoff e Erin querem que nos juntemos a eles. Vou ensiná-los a usar
o Sr. Bow.
Mike sorriu quando viu Geoff e Erin acenando para eles. Charlie latiu e
dançou animadamente entre o irmão e a irmã. Parece que Charlie o
abandonou em favor das duas crianças.
— Estou dentro. — ele riu. — Estou ansioso para ver como essa coisa
funciona.

— Você está pronto? — A rainha Magika perguntou, de pé na plataforma


do trono na manhã seguinte.

Mike deu um aceno afiado. Ao lado dele, Marina mordeu o lábio


nervosamente. Seus pais e Isha ficaram de lado observando silenciosamente.
— Lembre-se, vocês terão apenas até os primeiros raios do sol. Se vocês
não estiverem de volta ao lugar onde chegaram assim que o sol cruzar o
horizonte, o portal se fechará, e eu não poderei abri-lo novamente. Vocês
ficarão presos em seu mundo. — advertiu a Rainha Magika, abaixando-se até
que ela estivesse nivelada com eles.
— Nós entendemos. — respondeu Mike, estendendo a mão e segurando
a mão de Marina.
— Marina, você está com as pedras da sua avó? — A rainha Magika
perguntou, virando-se para Marina.
— Pai… — Marina chamou, virando-se para seus pais.
— Sim. — disse Ariness, dando um passo à frente com um pequeno
saco.
— Por favor, coloque-as em um círculo ao redor de Marina e Mike. — a
Rainha Magika instruiu.
A mãe de Marina deu um passo à frente para ajudar Ariness. Assim que
terminaram, Cornélia entrou no círculo e abraçou Marina. Mike podia ver a
preocupação em seus olhos.
—Eu prometo trazê-la de volta. — disse ele.
Cornelia deu-lhe um sorriso irregular e assentiu.
— Eu sei que você vai. — ela murmurou, seus olhos brilhando com
lágrimas não derramadas.
Ariness se aproximou, passou um braço em volta da cintura de sua
esposa e gentilmente a guiou de volta para fora do círculo. A Rainha Magika
olhou mais uma vez para Mike, e ele acenou com a cabeça. A Rainha começou
a cantar, andando lentamente ao redor do círculo até que cada pedra
começou a brilhar.
— Oh! Eu quase esqueci. — Marina disse em uma voz suave, virando-
se para encará-lo.
— O que você esqueceu? — ele perguntou, intrigado.
Marina levantou os braços e os enrolou no pescoço dele.
— De te distrair. — disse ela, capturando seus lábios.
Mike fechou os olhos quando as cores começaram a girar com uma
velocidade vertiginosa.
Ele passou os braços ao redor de Marina e a segurou firmemente contra
ele.
Decidindo que a distração era uma excelente ideia, ele se perdeu em seu
beijo.

Yachats, Oregon
— Onde estamos? — Marina perguntou, olhando ao redor.
Mike empurrou para baixo o turbilhão em seu estômago e respirou
fundo o ar salgado e nebuloso. Ele sabia exatamente onde estavam - na praia
do Parque Estadual Yachats, onde toda essa aventura tinha começado. Agora
a questão era, como ele chegou em casa e depois na cidade. Franzindo a testa,
ele se lembrou que os guardas tinham uma área de serviço não muito longe
dali.
— Estamos na praia onde Charlie e eu estávamos antes de você abrir o
portal. — ele explicou, tentando avaliar em que direção ele precisava ir na
neblina. — Há um pátio de serviço de guarda florestal a cerca de 800 metros
daqui. Se tivermos sorte, poderemos encontrar um veículo que podemos
pegar emprestado.
— A neblina é sempre tão espessa? — Marina perguntou, virando-se
quando ele começou a puxá-la pela praia.
— Dê cinco minutos e ela pode sumir. — ele riu.
Eles caminharam pela praia até a trilha. Não demorou muito para
chegar ao estacionamento. A névoa começou a se dissipar enquanto eles
corriam pela estrada. Quando chegaram à área de serviço, ela já havia
desaparecido. Mike sorriu quando viu a caminhonete estacionada fora do
galpão.
Como o parque fechava à noite, os guardas eram um pouco menos
prudentes em trancar as coisas. Eles correram para a caminhonete. Mike
testou a porta do motorista.
Com certeza, abriu. Ele deu um passo para trás e fez sinal para Marina
entrar.
Sentando-se no banco do motorista, ele fechou a porta antes de verificar
o porta-óculos e o porta-luvas em busca das chaves. Franzindo a testa
quando não encontrou nada, ele pensou por um momento antes de se inclinar
para a frente e sentir debaixo do banco. Ele fechou os dedos em torno das
chaves de metal. Novatos! Se ele fosse ficar, precisaria ter uma conversa com
o Marty.
Deslizando a chave na ignição, ele ligou a caminhonete e deu ré.
Virando o volante, ligou as luzes de estacionamento e puxou até a
estrada principal. Se ele saísse pela entrada principal, teria que passar pela
casa do guarda florestal.
Para sua sorte, ele conhecia uma maneira melhor. Virando à esquerda,
ele acendeu as luzes e seguiu na direção oposta em direção a uma estrada de
serviço para veículos de emergência.
Dentro de vinte minutos, eles estavam entrando na rodovia principal.
Mike verificou a hora no rádio. Era pouco depois da uma da manhã. O nascer
do sol aconteceria por volta das oito menos um quarto, com algumas
variações de minutos. Ele preferia estar de volta aqui com bastante tempo de
sobra. Levantando o telefone, ele pressionou o botão Início.
— Olá Mike. Como posso ajudá-lo? — uma voz suave e feminina
perguntou.
— A caixa fala! — Marina guinchou, falando pela primeira vez desde que
chegaram à rodovia.
— Desculpe, eu não entendi o que você disse. — seu telefone respondeu.
— Defina o alarme para as sete da manhã. — Mike instruiu.
— Ajustei um alarme para as sete da manhã. — respondeu o telefone.
Mike sorriu quando colocou o celular na mesa, e Marina imediatamente
o pegou e começou a virá-lo. Ela o sacudiu e franzia a testa. Ele estendeu a
mão, pressionou o botão Início e o celular acendeu.
— Nós usamos telefones celulares aqui para nos comunicar. — ele riu.
— Você capturou as imagens da rainha Jenny e da rainha Carly nele
também. — disse ela.
— Sim, com a câmera. — explicou ele, estendendo a mão e pressionando
o ícone.
— Pressione o pequeno símbolo na parte inferior e ele olhará para você,
depois pressione o botão redondo.
Marina riu quando viu a si mesma. Pressionando o botão, ela
resmungou quando viu sua foto. Levantando o celular, ela o estudou por um
momento antes de repetir o processo mais de uma dúzia de vezes, olhando
para cada uma e fazendo poses diferentes.
— Você acabou de descobrir uma tendência popular aqui chamada
selfies. — Mike riu.
— Eu nunca percebi que tinha seios tão pequenos. — ela reclamou,
puxando a camisa para baixo para revelar seu decote e tirando uma foto.
— Ok, isso é o suficiente. — disse Mike, pegando o telefone da mão dela
e deslizando-o no bolso do paletó. — E seus seios são perfeitos. — ele
informou a ela em um tom áspero.

Três horas depois, Marina caminhou pelo pequeno escritório onde Mike
disse que trabalhava. Eles tinham ido para a casa dele primeiro. Ele andou
pelos quartos, pegando itens e colocando-os em mochilas de cores diferentes.
Ela o observou selecionar e descartar itens antes de embalar cuidadosamente
outras coisas.

Ele havia dado a ela uma série de imagens em molduras e algumas de


suas roupas que ele queria levar.
— Você pode embrulhar estes para que eles não sejam danificados? —
ele perguntou com uma voz um pouco áspera.
Marina viu as linhas gravadas ao redor de sua boca e sabia que ele
estava sentindo a pressão de ter que decidir o que poderia levar e o que não
poderia.
Ela assentiu.
— Claro. — disse ela, levando a pilha para a sala e sentando-se no
tapete.
Pegando as imagens, ela viu que eram de sua família. Ele havia contado
a ela sobre a morte de seus pais. Era óbvio que a morte deles ainda o afetava.
Ela parou na imagem dele com uma mulher. Eles eram tão parecidos
na aparência que tinham que ser parentes.
— Essa é uma foto minha e de Ruth no ano passado em Yosemite. Isso
me lembra que preciso ligar para ela. — disse Mike, virando-se e pegando o
telefone enquanto voltava para o quarto.
— Droga, irmã! Você nunca atende o telefone? Sou eu, o Mike. Eu queria
que você soubesse que estou bem. Ouça, algo incrível aconteceu, mas eu
queria que você soubesse que estou seguro e feliz. Oh, Charlie está comigo,
então não se preocupe com o maldito cachorro. Eu conheci a mulher mais
incrível…
Enquanto embrulhava as fotos, Marina ouviu Mike contar à irmã o que
havia acontecido com ele. Seu coração inchou quando ele disse a Ruth o
quanto a amava e que ele não tinha certeza se eles se veriam novamente, mas
que ele queria que ela soubesse que ele sempre a amaria, não importa onde
ele estivesse.
Levantando a mão, ela enxugou rapidamente uma lágrima do rosto
quando ouviu os passos de Mike descendo pelo corredor estreito. Ele entrou
na sala, com uma expressão de descontentamento no rosto.
— O que há de errado? — ela perguntou.
Ele ergueu os olhos do arquivo que estava segurando.
— Eles decidiram que há um serial killer à solta aqui. Eles até têm
Charlie listado como vítima. Se eles não forem cuidadosos, eles terão todo
mundo comprando armas e correndo como lunáticos. — ele fez uma careta.
— O que você fará? — ela perguntou, caminhando até ele.
— Enviei por fax as informações e fotos de Jenny e Carly, deixei uma
nota detalhada dando minha demissão imediata devido a uma emergência
familiar e enviei uma carta para Ruth dizendo a ela o que fazer com todos os
meus bens aqui. Não há muito mais que eu possa fazer. — ele respondeu com
um suspiro. — Eu disse a eles que Ross Galloway é inocente. Parece que eles
estão tentando atribuir meu desaparecimento a ele também.
— Então, podemos sair agora?— ela perguntou.
Mike fechou o arquivo e caminhou até sua mesa.
— Eu tenho mais um telefonema para fazer. — disse ele, inclinando-se
para roçar um beijo em seus lábios. — Então, vamos embora.
Marina esfregou os braços e sorriu.
— Bom. Está frio aqui. — ela riu.
Ele fez uma pausa e tirou a jaqueta.
— Aqui. — ele disse, envolvendo a jaqueta em volta dos ombros dela.
— Obrigada. — ela suspirou.
— Cinco minutos, eu prometo. — disse ele, andando ao redor de sua
mesa e se sentando.
Abrindo o arquivo novamente, ele pegou o telefone e apertou o teclado.
Seus olhos se moveram para o relógio na parede. Ele fez uma careta. Já
era quase cinco da manhã aqui, então era o mesmo na Califórnia. Ele se
sentou quando o telefone foi atendido no segundo toque.
— Asahi Tanaka. — a voz cumprimentou.
— Agente Tanaka, aqui é Mike Hallbrook do Departamento de Polícia do
Condado de Lincoln. — disse Mike.
— Você não está morto. — respondeu Asahi.
Mike riu e se recostou na cadeira.
— Não, eu não estou morto. — ele concordou, levantando a mão para
passar pela nuca.
— Você encontrou as mulheres desaparecidas? — perguntou Asahi.
Mike ficou em silêncio por um momento. Sua mente repassando tudo o
que havia acontecido. Se Marina não estivesse ali olhando as fotos na parede,
ele teria pensado que tinha sonhado com todo o incidente.
— Sim, eu as encontrei. Carly Tate e Jenny Ackerly estão seguras e
felizes. — Respondeu Mike.
— Você pode me dizer onde elas estão? — Asahi persistiu.
A cabeça de Mike estava balançando mesmo quando ele percebeu que o
Agente Tanaka não podia vê-lo.
— Elas não vão voltar. — ele respondeu com um suspiro.
— E você, detetive Hallbrook. E você? — Asahi perguntou em um tom
cortante.
— Eu também não. — respondeu Mike.
O silêncio saudou sua resposta. Mike sabia que Asahi ainda estava do
outro lado.
Ele podia ouvir o som do tráfego ao fundo.
— Eles são reais?
Mike debateu sobre como deveria responder Asahi. Deveria dizer ao
governo que sim, há mundos alienígenas por aí, mas não tão distantes como
eles pensavam, ou deveria apenas desligar e não dizer mais nada? No final,
ele chegou a um compromisso, a caneta em sua mão fluindo sobre as palavras
que ele havia escrito.
— Sim. — respondeu Mike. — Adeus, Agente Tanaka.
O último som que Mike ouviu foi a respiração de Asahi. Ele desligou o
receptor. Ele tinha certeza de que seria prudente para ele e Marina partirem
apressadamente. Se estivesse no lugar de Asahi, sabia que já estaria ao
telefone.
—Hora de ir. — disse Mike, fechando o arquivo novamente e levantando-
se de seu assento.
Ele caminhou até a porta e apagou a luz. Virando-se para a esquerda,
dirigiu-se para a entrada dos fundos. Ele sabia onde estavam as câmeras,
mas não faria diferença. Quando Asahi descobrisse o que estava acontecendo,
Mike e Marina já estariam longe.
— Vamos para casa? — Marina perguntou, descansando a mão na
barriga.
Mike enfiou os dedos na mão dela e assentiu.
— Sim, estamos indo para casa. — disse ele.
— Bom. Eu não gostaria que nosso filho vivesse neste mundo nebuloso.
— disse ela, seguindo-o porta afora.
Mike estava olhando para a câmera de vigilância, mas rapidamente se
virou para ela, as palavras de Marina ecoando em seus ouvidos. Ela estava
esperando por ele. O som da porta se fechando atrás dele ecoou alto no
nevoeiro da manhã, e uma nova sensação de urgência o encheu. Agarrando
a mão dela, ele a puxou pelo beco.
— Você poderia ter me dito isso quando voltamos. — disse ele, abrindo
a porta da caminhonete e esperando que ela deslizasse pelo banco.
— Que diversão teria sido? Agora, sua selfie ficará assim. — ela riu, se
aproximando dele e fazendo uma cara engraçada. — Além disso, eu queria
ter certeza de que você voltaria antes de te contar.
Mike praguejou e saiu do estacionamento, feliz por não haver tráfego
atrás dele, já que ele se esqueceu de olhar primeiro. Pressionando o
acelerador, ele murmurou para ela apertar o cinto de segurança. A viagem de
volta ao Parque Estadual parecia ter demorado uma eternidade.
Poucos minutos antes das sete, Mike recolocou as chaves sob o banco
da caminhonete e enfiou o bilhete que havia escrito para Marty no pára-sol.
Desta vez eles estacionaram no estacionamento perto da praia.
Deslizando para fora do caminhão, ele se virou para ajudar Marina a
descer. Ele passou os braços ao redor dela e a segurou por um momento. Ele
nunca queria deixá-la ir..
Ela estendeu a mão e tocou sua bochecha quando ele fechou os olhos
por um momento.
— Você tem certeza de que quer fazer isso? — ela calmamente
perguntou.
Mike deu um beijo no centro de sua palma.
— Nunca tive tanta certeza de algo na minha vida. — disse ele. — Como
você está se sentindo?
—Bem. As árvores aqui são muito falantes. — ela disse, tocando sua
testa. — Elas têm muito a dizer.
Mike olhou para ela com uma expressão assustada.
— Você pode ouvi-las? — ele perguntou surpreso.
Marina assentiu.
— Desde que chegamos aqui. Elas se lembram de você. Elas disseram
que você é o homem com o animal que rega muitas árvores. — ela riu.
O olhar de Mike se moveu para as árvores com admiração. Balançando
a cabeça, ele pegou as mochilas na traseira do caminhão, pegou a caixa e
acenou para ela.
— Vamos para casa. — disse ele, colocando a caixa debaixo do braço e
segurando a mão dela com força na dele.

A seguir: A Redenção da Bruxa do Mar:

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