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São José de

Copertino
O Rev. Angelo
Pastrovicchi, OMC

Índice
P REFACE
BIBLIOGRAFIA
eu
A "V OCAÇAO S UPERNAL"
II
"ASG OLD IN AF URNACE"
III
"F ELLOW- C ITIZEN OF THE S ERAPHIC F RANCIS"
4
"C AUGHT UP INTO P ARADISE"
V
"DEUS O DOR DE CRISTO"
VI
E VANGELICAL P ERFECTION
VII
"INH IS L IFE HED ID G REAT W ONDERS"
VIII
"G LORIFICADO NA PERSPECTIVA DE K INGS"
IX
"MYL IFE ISH ID COM C HRIST EM G OD."
X
COMO O "P ARADISE" DE AINT
XI
"O OBTENDO O P RIZE"
XII
A "M EMORIA DE UM SINTIO A ESMAGRAVEL"
São José de
Copertino
O Rev. Angelo
Pastrovicchi, OMC
NIHIL OBSTAT
Fr. Aloysius, OM Cap .
Fr. Felix M., OM Cap .
Censores Deputati .
IMPRIMATUR
Fr. Inácio, OM Cap .
Ministro Provincialis .
NIHIL OBSTAT
Sti. Ludovici, falecido em 27 de abril de 1918
FG Holweck ,
Censor Librorum .
IMPRIMATUR
Sti. Ludovici, morre em 29 de abril de 1918
Joannes J. Glennon ,
Archiepiscopus ,
Sti. Ludovici .
Originalmente publicado por
B. Herder Book Co., St. Louis, Missouri
Copyright © 1918 por Joseph Gummersbach
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Nú mero do Catá logo da Biblioteca do Congresso: 79-91298
ISBN: 0-89555-135-7
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Charlotte, Carolina do Norte www.TANBooks.com

1980

CONTEUDO
P REFACE
B IBLIOGRAFIA

euT HE "S UPERNAL V OCALIZAÇAO"


Infâ ncia e Juventude; - Leigo Capuchinho; Terciá rio Conventual; -
Novato; - Ordenaçã o.

II"A S G OLD IN A F URNACE"


Vida em Grottella; - Aridez; - Morti icaçã o; Fama de Santidade; -
Chamado a Ná poles pela Inquisiçã o.

III"F ELLOW- C ITIZEN OF THE S ERAPHIC F RANCIS"


Viagem a Roma; - para Assis; - Sofrimentos; - Segunda Viagem a Roma; -
Cidadã o de Assis.

4"C AUGHT U P INTO P ARADISE"


Amor de Deus; - Extase e voos em Copertino, Nardo, Monopoli, Ná poles,
Assis.
V"L OOD O DOR DE C hrist"
Oraçã o e Uniã o com Deus; - E icá cia da Oraçã o; - Amor ao pró ximo; -
Devoçã o à Bem-aventurada Virgem Maria.

VIE VANGELICAL P ERFECTION


Castidade; - Pobreza; - Obediê ncia.

VII"I N H IS L IFE H E D ID G REAT W ONDERS"


Sabedoria; - Pesquisa de coraçõ es; - Profecias; - Apariçõ es celestiais; -
Combates com o Diabo; - Milagres.

VIII"G LORIFIED NA S IGHT DE K INGS"


Veneraçã o de Pessoas e Nobreza.

IX"M Y L IFE I S H ID COM C HRIST EM G OD."


Humildade; - com os Capuchinhos em Pietrarubbia, em Fossombrone.

XCOMO O "P ARADISE" DE AINT


Retorne aos Conventuais em Osimo; - Vida em Osimo.

XI"O OBTENDO O P RIZE "


Prediçõ es de morte; - Ultima Doença e Morte; - Enterro.
XIIT HE "M EMORY DE UM A DMIRABLE S AINT"
Beati icaçã o; - Canonizaçã o; - Bası́lica e Santuá rio.

MARIAE IMMACULATAE,
" REGINAE ORDINIS MINORUM "
(Pio X, 8 de setembro de 1910)
" MATRI BONORUM STUDIORUM "
(Pio X, 16 de maio de 1906)

VOO ECTATICO DE ST. JOSEPH OF CUPERTINO


Na presença da Princesa de Sabó ia. A princesa usa o há bito de uma terciá ria
De uma velha impressão

LISTA DE ILUSTRAÇOES
E CStatic F LUZ DO S T. J oseph DE C OPERTINO na presença de Princess de Sabó ia
B ASILICA DE S T. F RANCIS em Assis. Tumba de Sã o Francisco
I nterior DO U PPRA C GREJA, Bası́lica de Sã o Francisco de Assis
T HE S ACRO C ONVENTO em Assis, onde Sã o José viveu, 1639-1653
B RGANISMO DE S T. J oseph DE C OPERTINO como agora preservada na Bası́lica
em Osimo
I NTERIOR DA B ASILICA DE S T. J OSEPH DE C OPERTINO EM O SIMO

PREFACIO
"Algumas pessoas se bene iciam mais da leitura das Vidas dos Santos,
em que abundam o sobrenatural e o extraordiná rio. Eles se deleitam
em ver a maravilhosa demonstraçã o do poder da graça divina em uma
criatura tã o frá gil como o homem. Essas biogra ias, que estã o mais
escritas pela nossa admiraçã o do que pela nossa imitaçã o, fortalece a
nossa fé no sobrenatural e nos inspira uma grande con iança na
bondade e no poder de Deus, e certamente nestes dias precisamos
estimular e fortalecer a vida de fé e con iança na Providê ncia. " 1
Os voos arrebatadores de Sã o José de Copertino di icilmente tê m
paralelo quanto à frequê ncia e duraçã o na vida dos santos. O que se
relata Christina Mirabilis, que viveu 1150-1224, foi suspeito de
exagero, 2 mas a nossa santa, "tendo vivido em tempos mais recentes,
esta sua caracterı́stica milagrosa poderia facilmente ser comprovada
de forma autê ntica". 3
Padre Pastrovicchi escreveu sua vida de Sã o José por ocasiã o da
beati icaçã o do santo, em 1753. O Papa Bento XIV, a quem a obra é
dedicada, desejou que para cada fato relacionado fossem citados os
processos episcopal e apostó lico. Isso foi feito. O Padre Suyskens
observa que a cautela de citar os documentos o iciais foi bem
empregada. “Visto que as palavras do salmista, 'Deus é maravilhoso
nos seus santos' (Salmo 67, 36), foram veri icadas de maneira singular
na vida de Sã o José , era apropriado que os fatos extraordiná rios de sua
vida fossem atestado de tal maneira que o cré dito nã o poderia ser
negado a eles. " 4
O Padre Gattari considera estes milagres 5 como operados em apoio à
doutrina da Presença Real, a autoridade do Papa, a Con issã o
sacramental e a veneraçã o devida aos santos, verdades que no tempo
do santo foram contestadas pelos seguidores de Lutero e outros.
hereges. A fama dos voos de Sã o José se espalhou pela Europa e levou a
conversõ es como no caso do Duque de Brunswick. 6 Outra explicaçã o
oferecida é que esses milagres neutralizavam as artes diabó licas
(bruxaria e necromancia, especialmente no reino de Ná poles) e a
superstiçã o entã o prevalecente. 7
Até certo ponto, nossa biogra ia é um "panegı́rico", com suas
desvantagens de "generalizaçã o" e "superlativos", mas nã o é de forma
alguma "um inventá rio sombrio de virtudes e milagres". Algumas das
narrativas, como nos capı́tulos VI e IX, sã o muito charmosas,
"revestidas de toda aquela terna simplicidade e charme ... que se
manifestam nas poé ticas narrativas dos Fioretti".
Esta primeira extensa biogra ia de Sã o José de Copertino em inglê s foi
feita a partir da traduçã o alemã do pe. A Vida do Santo de
Pastrovicchi. Só depois de anos foi possı́vel obter o original italiano e
veri icar a traduçã o. Nas ediçõ es de Pastrovicchi de 1753 e 1767, o
texto nã o está dividido em capı́tulos; estes (trinta ao todo) sã o
indicados por algarismos romanos no inı́cio dos pará grafos; os tı́tulos
dos capı́tulos e as referê ncias aos Atos estã o impressos na margem. A
divisã o do texto e os tı́tulos dos capı́tulos no presente trabalho sã o
novos. Os tı́tulos marginais originais sã o preservados em parte como
subtı́tulos no Indice. As numerosas referê ncias aos Atos no original
foram omitidas; da mesma forma, no interesse da delicadeza ou da
concisã o, vá rias passagens no corpo da obra. Detalhes da
canonizaçã o, 8 santuá rio, etc., foram adicionados. Outras pequenas
adiçõ es foram feitas ao longo da obra, datas e nomes foram inseridos e
passagens obscuras foram esclarecidas. As ediçõ es usadas para essas
mudanças estã o marcadas na lista bibliográ ica.
Muitos amigos ajudaram na preparaçã o deste livrinho. Os padres
conventuais de Osimo gentilmente doaram um exemplar da primeira
ediçã o de Pastrovicchi. Durante uma visita a Roma, o Rev. AT Ennis
(Concordia, Kansas) adquiriu para mim vá rias obras raras. Alguns dos
detalhes bibliográ icos devo ao Rev. Edward Jannitto, OMC (Osimo), Rev.
Michael Bihl, OFM (Quaracchi), Rev. Pe. Maurice, OM Cap. (Quebec), e
Rev Engelbert Rosenmaier, OM Cap. (Milwaukee). A todos agradeço
sinceramente, como també m, os Padres Franciscanos (Washington) e
os Padres Beneditinos (Atchison) pelo uso dos livros, Rev. Felix M.
Kirsch, OM Cap. (Herman, Pa.) E outros religiosos pelas sugestõ es para
melhorar o manuscrito.
FSL

BIBLIOGRAFIA
(As pá ginas nã o numeradas sã o indicadas em (). As ediçõ es marcadas
com * foram utilizadas na preparaçã o da presente traduçã o.)
“A ú nica có pia na Itá lia da Acta Beati icationis et Canonizationis de Sã o
José de Copertino é a da Congregaçã o dos Ritos. A có pia pertencente à
nossa Ordem [Conventuais] está agora na Biblioteca Nacional de Paris,
para onde foi levada por Napoleã o I. Nó s [Conventuais de Osimo] temos
uma có pia do Summario, publicado em Roma, Typis Reverendae
Camerae Apostolicae, 1688. " (Rev. Edward GM Iannitto, Bibliotecá rio e
Arquivista do Santuá rio de Sã o José de Copertino em Osimo.)
ati icationis et canonizationis Josephi a Cupertino Ord. Min. nova positio
super dubio an, et de quibus miraculis constet in casu et ad effectum de
quo agitur, Romae, 1751, 125 pp. fol ° .
mmarium additionale novae respons. super eodem dubio, Romae, 1751, 74
pp. fol ° . * Positio super dubio an et de quibus miraculis constet in
casu. . . . Romae, Typ. Cam. Apost., 1764. 37, 160, 17, 63, 48 pp. Fol ° .
itio noviss. super dubio an et de quibus miraculis constet in casu, et ad
effectum de quo agitur, Romae, 1766, fol ° .
azione della solenne Canonizzazione dei Beati Giovanni Canzio, G.
Calasanzio, GIUSEPPE da COPERTINO, G. Emiliani, Sera ino do Monte
Granaro detto d'Ascoli, Giovanna Francesca Fremiot de Chantal,
celebrata. . . dalla Santita di NS Clemente XIII. . . il di 16 Luglio,
1767. . . Romae, 1767, 4 ° .
riotti, Josephus Andreas, Acta Canonizationis sanctorum Johannis Cantii,
Josephi Calasanctii. . . . JOSEPHI a CUPERTINO, Hieronymi Aemiliani,
Seraphini ab Asculo et Johannae Franciscae Fremiot una cum apostolicis
litteris. . . . Clementis XIII. Collecta ac Notationibus illustrata a JA Mariotti,
idei subpromotore, Romae, 1769, fol ° .
ti, Roberto, OMC, Vita del servo di Dio P. Giuseppe da Copertino, Palermo,
1678; Viena, Viviani, 1682 . "Este livro foi traduzido para o latim e
boê mio, Vita servi Dei Josephi de Copertino ... In latinum translata per P.
Marianum Unczovsky, Pragae . Disto é retirado (com
omissõ es) Lebensbeschreibung des grossen Dieners Gottes Joseph von
Copertino... Brünn , 1695. " (Daumer, p. 37, nota.)
nino, Domenico, Vita del Padre Fr. Giuseppe da Copertino de 'Minori
Conventuali. . . dedicata al. . . Innocenzo XIII, * Roma, Tinassi & Mainardi,
1722, (XVIII), 544, (XII). pp. 4 °; Veneza, 1724, 4 °; Veneza, 1739, 4
°; Veneza, 1753, 4 °; Roma, 1767; Veneza, 1768, 8 ° .
—, Vie de St. Joseph de Cupertino de l'Ordre des Frères Mineurs Conventuels,
Paris, Poussielgue, 1856; Paris-Auteuil, Oeuvre de la première communion
et des Orphelins apprentis, 1899 . Partes do original, por exemplo,
ch. VIII e XXX, sã o omitidos, outras partes sã o abreviadas nesta
traduçã o. Bernino é seguido por Lé on de Clary, OFM, L'aureole
seraphique, vie des Saints et des Bienheureux des trois Ordres de St.
François, vol. III (Paris, 1882), pp. 439-460; - Traduçã o italiana de
Marino Marcucci, OFM, L'Aureola Sera ica, vol. III (Quaracchi, 1899), pp.
455–477; - Traduçã o para o inglê s, Vidas dos Santos e Bem-aventurados
das Três Ordens de São Francisco, vol. III (Taunton, 1885), pp. 205-221 .
elli, Paolo Antonio, OMC, Vita del Beato Giuseppe di Copertino dell 'Ordine
de' Minori Conventuali di S. Francesco dedicata all 'Altezza Serenissima di
Giuseppe Arciduca D'Austria, Venezia, Recurti, 1753 .
trovicchi, Angelo, OMC, Compendio della vita, virtù e miracoli del B.
Giuseppe di Copertino . . . dedicata al. . . Benedetto XIV ., * Roma, Zempel,
1753 (XII), 108, pp. 4 °; * Roma, Zempel, 1767, XX, 119, pp. 4 ° (Dedicado
a Clemente XIII pelo Pe. Dominic Rossi; o nome de Pastrovicchi nã o
aparece na pá gina de rosto); Osimo, 1804, 8 ° .
Traduçã o latina de Constantine Suyskens, SJ, em Acta Sanctorum,
setembro, tom. V, Paris, Palme, 1868, pp. 1015–1047 .
—, São José de Copertino. . . Abrégé de sa vie. . . . Traduction de M.
Denis, revista por M. Viguier. Avec des addions considerables, Paris, 1820,
XLVIII, 280 pp. 12 ° .
Leben des hl. Joseph von Copertino. . . übersetzt von Michael Sintzel und
einem seiner Freunde, Augsburg, Rieger, 1843 (VIII), 100 pp. 8 ° .
trovicchi, Angelo, OMC, Das tugend- und wundervolle Leben des hl. Joseph
von Copertino, von einem katholischen Priester, Aachen, Cramer, 228 pp.
18 ° . Este reproduz a mais antiga traduçã o alemã da obra de
Pastrovicchi, publicada em Coeln, 1753, 2ª ed. 1768, com mudanças na
disposiçã o da maté ria.
——, Compendio della vita del beato Giuseppe da Copertino, estratto della
vita stampata em Roma e dedicata al. . . Benedetto XIV . [=
Pastrovicchi], Verona, Andreoni, 1753, 32 pp. 8 ° .
uyskenus, Constantinus, SJ, Acta Sanctorum, setembro, tom. V, pp. 992–
1014 . Biogra ia, para a qual Bernino, Agelli e Pastrovicchi foram
usados. O Acta Sanctorum foi seguido por Butler, Lives of the Saints,
setembro, 18 , e Donin, Leben und Thaten der Heiligen Gottes, V. 3 , Graz,
Styria, 1880. pp. 226–232 , e eles sã o a principal fonte de
Stadler, Heiligen-Lexikon, vol. III, Augsburg, Schmid, 1869, pp. 461-464 .
mpendium vitae, virtutum et miraculorum necnon actorum in causa
canonizationis S. Josephi a Copertino, professi Ord. Min. S. Francisci
Conventualium, Romae, 1767, 28 pp. 4 ° .
Montanari, Gius. Ignazio, Vita e Miracoli di San Giuseppe da Copertino,
Fermo, Paccasassi, 1851, XVI, 587, LXXIX pp. 4 ° .
aumer, GF, Christina Mirabilis, das Wundergeschöpf des 12. Jahrhunderts
und der hl. Joseph von Copertino, der Wundermann des 17. Jahrhunderts,
Paderborn, Junfermann, 1864, 102 pp. 32 o . Segue Nuti, Palermo,
1678; pp. 29–102 sã o dedicados a Sã o José .
attari, Filippo, OM C, Vita di S. Giuseppe da Copertino, Osimo, Rossi, 1898
(VIII), 177 pp. 8 ° .
Nove cartas autografadas de Sã o José de Copertino estã o preservadas no santuá rio de
Osimo; outros sã o preservados em Assis, Pá dua, Recanati, Rieti e Ferrara. O texto destas (vinte e
trê s ao todo) e das onze cartas recebidas pelo santo (cinco destas da Princesa de Sabó ia e cinco de
Joã o Casimiro da Poló nia) sã o publicados por Montanari (pp. 81-90, XXIII-XLIII )
Alguns ditos e prové rbios do santo sã o coletados por Bernino (capı́tulo XXX) e Montanari (pp. IX-
XXII).
Montanari també m editou os poemas e cançõ es compostas por ou atribuı́das a Sã o José de
Copertino (pp. XLIII – LXXIX).

ST. JOSE DE COPERTINO


CAPITULO I
A "VOCAÇAO SUPERNA" (PHIL. 3, 14)
Copertino, a cidade natal do nosso santo, está situada na penı́nsula da
Apú lia, a meio caminho entre o Golfo de Taranto e o Estreito de
Otranto. No sé culo XVII, a cidade pertencia à provı́ncia de Otranto,
Reino de Ná poles.
Mas poucos detalhes sã o registrados a respeito dos pais de Sã o José ,
Fé lix Desa e Frances Penara. Felix era carpinteiro. De bom coraçã o, ele
havia dado segurança para as dı́vidas de outros. Como sempre
acontece, os devedores inadimplentes e os credores con iscaram a casa
de Desa e o teriam mandado para a prisã o se ele nã o tivesse fugido
para um lugar sagrado que gozasse do direito de asilo. Enquanto isso, a
mã e de nosso santo fugiu de sua casa e, nã o podendo chegar à casa de
uma amiga, refugiou-se em um está bulo. 1 Aqui, em 17 de junho de
1603, nasceu uma criança. Foi batizado na igreja de Nossa Senhora das
Neves 2 e recebeu o nome de José Maria. 3
Quando criança, Joseph era um rapaz espirituoso e inclinado à
raiva. Sua mã e se esforçou para reprimir sua exuberâ ncia de espı́rito e
todas as manifestaçõ es de ousadia indevida com severa repreensã o e
amá vel admoestaçã o. Ela era tã o severa que, anos depois, o santo
costumava dizer que nã o precisava do noviciado como religioso
porque havia passado no noviciado com a mã e. 4
Esses esforços da piedosa mã e produziram frutos abundantes. Joseph
adorava visitar as igrejas de sua cidade natal. Em casa, ele ergueu um
pequeno altar, diante do qual passava parte do dia e da noite recitando
rosá rios e ladainhas. Aos oito anos experimentou seus primeiros
ê xtases. Quando, na escola, ele ouvia o ó rgã o ou as cançõ es que o
professor praticava com os estudiosos mais avançados, ele deixava seu
livro cair e permanecia imó vel com os olhos erguidos para o cé u e os
lá bios entreabertos. Por causa disso, seus companheiros o chamavam
de "bocca aperta", "boca aberta". 5
Por volta dessa é poca, 6, Joseph estava sofrendo de ú lceras
dolorosas. Suportou esta prova com extraordiná ria paciê ncia, nã o
buscando outro alı́vio senã o o consolo da Santa Missa. Incapaz de
andar, rogava à mã e que o carregasse nos braços até a igreja todas as
manhã s. Um eremita de alguma fama de curandeiro, que morava perto
da igreja de Nossa Senhora da Graça em Galatone, esforçou-se por
curar a criança empregando os meios cirú rgicos entã o em voga, 7 mas
sem propó sito; a longa negligê ncia aparentemente tornara a doença
incurá vel. Apó s quatro anos de sofrimento, Deus interveio. Um dia,
quando o eremita aplicou nas ú lceras um ó leo retirado de uma
lamparina que ardia diante de uma imagem de Nossa Senhora das
Graças, o menino de repente sentiu-se aliviado de todas as dores. Com
o auxı́lio de uma bengala, ele conseguiu caminhar da igreja de Nossa
Senhora de Galatone até Copertino, uma distâ ncia de 14
quilô metros. Antes de sua cura, ele poderia visitar o eremita apenas
deitado indefeso em um cavalo conduzido por sua mã e. Nem é preciso
dizer que o menino mostrou sua gratidã o aumentando o amor a Deus e
o zelo em Seu serviço.
Em sua juventude, nosso santo foi aprendiz de sapateiro. 8 O cardeal
Brancati registrou muitas das prá ticas piedosas desse perı́odo da vida
de Joseph. Tais eram as suas frequentes visitas a vá rias igrejas, a
assistê ncia na Santa Missa e o uso de um doloroso cilı́cio. Ele se
abstinha de toda carne e se contentava com vegetais, que temperava
com absinto para dar-lhes um gosto amargo. Seus jejuns eram tã o
severos que à s vezes ele se abstinha de qualquer alimento por dois ou
trê s dias consecutivos. Seu corpo estava enfraquecido, mas seu espı́rito
estava tã o elevado a Deus que, quando perguntado por que ele nã o
tinha comido nada, ele respondia com uma graça encantadora: "Eu nã o
pensei nisso."
Com o passar dos anos, cresceu em Joseph o desejo de deixar o mundo
enganoso e unir-se mais a Deus. Sentindo uma grande atraçã o pela
Ordem dos Conventuais, pediu ajuda ao seu tio paterno, Padre
Francisco Desa, religioso daquela Ordem. Este padre, entretanto,
considerava seu sobrinho como impró prio para a exaltada dignidade
do sacerdó cio por causa de sua falta de educaçã o, e nã o estava disposto
a ajudá -lo. Apesar dessa recusa, José perseverou em sua decisã o de se
alistar sob a bandeira do santo patriarca Sã o Francisco, a quem ele se
sentiu chamado por uma inspiraçã o contı́nua de Deus. Por isso, pediu
humildemente ao Padre Antô nio de Francavilla, 9 Provincial dos
Capuchinhos, que o recebesse na Ordem como irmã o leigo. O seu
pedido foi atendido e recebeu o há bito, levando o nome de Estevã o, no
mosteiro de Martina em agosto de 10 1620.
O caminho do noviço foi repleto de di iculdades. Ele trabalhava na
cozinha e no refeitó rio, mas exibia uma lamentá vel falta de
habilidade. As vezes ele nã o conseguia distinguir o pã o de trigo do pã o
de centeio, muitas vezes quebrava pratos deixando-os cair, virava
panelas ao colocar lenha no fogo e cometia outros erros de natureza
semelhante. Alguns atribuı́ram esse constrangimento a um defeito de
visã o. Outra explicaçã o mais verdadeira é que o ambiente o in lamava
com o fogo do amor divino a tal ponto que sua alma icava
continuamente extasiada. Deus, cujos caminhos sã o maravilhosos,
permitiu que apó s uma prova de oito meses José fosse despedido do
noviciado e privado do há bito. Isso o doeu tanto que, anos depois, ele
disse: "Pareceu-me que minha pele havia sido arrancada com o há bito e
minha carne rasgada dos ossos."
Pouco cuidado fora dado à s roupas seculares de Joseph desde seu
investimento. O chapé u, os sapatos e as meias nã o apareceram e, sem a
cabeça e os pé s, partiu para Vetrara, onde seu tio, o padre Francis
Desa, 11 pregava os sermõ es quaresmais. Evitando assim Copertino, ele
pretendia escapar do ridı́culo e da censura.
No caminho, ele encontrou grandes perigos. Vá rios cã es pastores
selvagens atacaram ele. Os pastores vieram em seu socorro, mas,
devido ao seu disfarce incomum, suspeitaram que ele fosse um espiã o
dos bandidos e estavam prestes a lançar mã os violentas sobre ele
quando, felizmente, um deles o reconheceu. Eles entã o falaram
gentilmente com ele e lhe deram um pouco de pã o. Finalmente, um
cavaleiro de forma formidá vel apareceu a ele com uma espada na mã o,
gritando: "Pare, espiã o!" como se ele fosse um espiã o do governo
real. Mal o santo deu alguns passos adiante quando, ao se virar,
descobriu que o cavaleiro havia desaparecido da vasta planı́cie e disse
a si mesmo: "Era Malatasca 12 [nome també m usado por Santa Catarina
de Siena para denotar o maligno], que queria me assustar e me levar ao
desespero. "
Ao chegar a Vetrara, prostrou-se diante do tio e suportou
pacientemente suas censuras de "imprestá vel" e "vagabundo". A
indagaçã o de seu tio sobre seu traje estranho e sua visita, ele
respondeu com humildade simples: "Os padres capuchinhos me
tiraram o há bito porque nã o presto para nada". Movido pela
compaixã o, seu tio o guardou até a Pá scoa (que naquele ano caı́a em 11
de abril) 13 e depois o trouxe secretamente para Copertino. José
suportou com invencı́vel paciê ncia as repreensõ es de sua mã e, que o
tratava com aparente severidade, mas em seu coraçã o o amava
ternamente. Com lá grimas, ela implorou à s autoridades civis que nã o o
prendessem por causa das dı́vidas de seu pai, que havia
morrido. Auxiliada pelo padre Francis Desa, padre John Donatus, 14 e
outros frades do convento de Grottella, ela inalmente obteve sua
admissã o como terciá ria na Ordem dos Conventuais. 15
Para José , o investimento como terciá rio era uma fonte de felicidade,
embora ele se ocupasse em cuidar da mula e em outras ocupaçõ es
servis no mosteiro. Depois de algum tempo, foi nomeado associado de
seu tio materno, padre John Donatus, religioso de grande piedade e
erudiçã o. Seus novos deveres serviram para aumentar em seu coraçã o a
chama do amor divino. Quando foi enviado para recolher esmolas para
as necessidades do mosteiro, o povo comoveu-se com o seu mau há bito,
a sua conduta modesta, o encanto e a simplicidade das suas palavras
amá veis, e assim o deu com liberdade e generosidade. Ao mesmo
tempo, ele despertou neles o horror do pecado, o zelo pela virtude e o
amor a Deus. Dentro do mosteiro, sua vida foi de humilde perseverança
no trabalho humilde e fatigante e de pronta obediê ncia à s palavras, ou
mesmo aos mandamentos, de cada religioso. Para morti icar seu corpo,
ele usava nã o apenas um cilı́cio, mas, alé m disso, uma corrente de ferro
ao redor de seus lombos. Ele jejuou estritamente sem intervalo e, para
ganhar mais tempo para orar, dormiu pouco, e isso em uma cama que
consistia em trê s tá buas, uma pele de urso muito gasta e um catre
á spero de palha.
O desı́gnio de Deus era que José se tornasse sacerdote na Ordem dos
Conventuais. Os religiosos consideraram o piedoso terciá rio com favor,
e no Capı́tulo Provincial celebrado em Altamura, ele foi recebido na
Ordem como um clé rigo em 19 de junho de 1625. Ele manteve seu
nome de batismo, José , e alegremente começou seu noviciado no
mosteiro em Grottella.
Com grande fervor, ele se esforçou para viver apenas para Deus e
adquirir o conhecimento necessá rio para o sacerdó cio. Ele atingiu um
alto grau de perfeiçã o ao se retirar de toda associaçã o com os homens, a
im de ter comunhã o ininterrupta com Deus na meditaçã o. Outros
meios que ele empregou foram humildade, paciê ncia e
obediê ncia. Considerando-se como o pecador mais desprezı́vel da terra,
ele sempre disse que havia recebido o há bito por pura misericó rdia. Ele
suportou pacientemente as mais severas reprovaçõ es por faltas que
nunca havia cometido. Com entusiasmo executou as tarefas mais
difı́ceis e aparentemente impossı́veis, que seus superiores lhe
impunham para provar sua virtude. A esta obediê ncia juntou-se a
severa morti icaçã o da carne, en im, a prá tica de todas as virtudes, o
que com o tempo levou os seus irmã os religiosos a considerá -lo um
modelo de santidade.
Nos estudos, Joseph progrediu pouco e, portanto, muitas vezes foi
duramente repreendido por seu mestre-noviço, a quem ele respondia:
"Tenha paciê ncia comigo, assim você adquirirá mé rito." Apesar de seu
fraco progresso no aprendizado, ele foi admitido aos votos solenes por
causa de sua grande virtude e fez sua pro issã o em meio a lá grimas de
alegria.
Con iando em Deus e em sua santa Mã e, cuja poderosa ajuda ele
freqü entemente implorou, ele recebeu ordens menores sem exame
pré vio, 30 de janeiro de 1627, subdiaconato em 27 de fevereiro do
mesmo ano, e diá cono em 20 de março. passou de maneira
providencial; pois a passagem do Evangelho que começa com as
palavras "Bendito o ventre que te gerou", que o Bispo de Nardo lhe deu
para explicar, foi a ú nica que ele aprendeu com um longo estudo e sabia
interpretar bem. 16 Finalmente foi ordenado sacerdote em 28 de março
de 1628, pelo Revmo. Rev. John Baptist Detti, Bispo de Castro. Este
prelado icou tã o satisfeito com o aprendizado dos frades que ele
examinou primeiro, que considerou os outros, entre os quais estava
José , igualmente bem preparados, e os ordenou sem exame.

CAPITULO II
"COMO OURO EM FORNALHA" (WISD. 3, 6)
Depois da ordenaçã o, José voltou ao mosteiro de Grottella e diante da
imagem, que ali é venerada, agradeceu humildemente a Nossa Senhora
pela dignidade do sacerdó cio. Ele celebrou sua primeira Santa Missa
com grande fervor e fé viva, e foi agraciado com a iluminaçã o
celestial. Ao tocar o corpo sagrado de Jesus Cristo, ele foi tomado por
um pavor santo e, acreditando ser indigno de tã o sublime ofı́cio, orou
por pureza de coraçã o e mã os. Impelido pelo grande amor de Deus, ele
resolveu morrer inteiramente para o mundo e levar uma vida
sobrenatural.
Ter deixado a companhia dos homens por uma cela estreita e escura
parecia ao santo um pequeno sacrifı́cio, e por isso ele també m deixou a
companhia de seus irmã os na religiã o. Freqü entemente, ele se retirava
para uma pequena sala acima da abó bada da igreja ou para uma capela
dedicada a Santa Bá rbara em um olival perto do mosteiro, e ali orava
incessantemente, meditava nas coisas divinas e experimentava doces
ê xtases e voos arrebatadores. Nã o só durante os dezesseis anos de sua
permanê ncia em Grottella, mas durante toda a sua vida, esses ê xtases e
fugas foram tã o freqü entes, como atestam os atos do processo de
beati icaçã o, que por mais de trinta e cinco anos seus superiores nã o
permitiriam que participe nos exercı́cios de coro e refeitó rio ou nas
procissõ es, para nã o perturbar a comunidade.
Para evitar interrupçõ es na narrativa, e por uma questã o de brevidade,
um capı́tulo posterior tratará desses ê xtases. Agora vamos descrever
sua vida virtuosa em Grottella.
Com coragem heró ica José privou-se dos poucos utensı́lios e objetos
que os religiosos podem usar para uso pessoal, dando-os ao seu
superior. Todas as vestimentas supé r luas ele també m se desfez e,
lançando-se aos pé s de um cruci ixo, orou: "Olha para mim, Senhor;
estou despojado de todas as coisas, Tu é s o meu ú nico bem, considero
tudo o mais como um perigo e ruı́na para minha alma. "
Nessa é poca, ele sentiu tanta tristeza de coraçã o e tanta privaçã o do
consolo celestial que sofreu agonias, e essa provaçã o continuou por
dois anos inteiros. Por im, Deus se dignou a confortar Seu servo, que
permaneceu iel a ele em tã o grande provaçã o. Um dia, quando,
sentindo-se afastado de toda ajuda e deitado na cama, gritou, em meio a
muitos soluços e lá grimas: "Meu Senhor, por que me abandonaste?" um
estranho em trajes religiosos, a quem ele acreditava ser um anjo, de
repente apareceu diante dele e deu-lhe um novo há bito. Mal Joseph
tinha adquirido esse há bito, toda a tristeza passou e a alegria do
coraçã o voltou.
O santo castigou severamente seu corpo para submetê -lo ao
espı́rito. Durante sua vida sacerdotal, absteve-se de pã o por cinco anos,
de vinho por dez anos, e comia apenas ervas, frutas secas e feijã o, aos
quais acrescentou um pó , que vá rios religiosos que o provaram
descreveram como de amargo indizı́vel. Os legumes que comia à s
sextas-feiras tinham um sabor tã o repugnante que um frade que os
provava com a ponta da lı́ngua adoecia tanto que durante vá rios dias
toda a comida lhe dava ná useas.
O jejum do santo foi praticamente ininterrupto; pois ele observava os
sete jejuns de quarenta dias cada, praticados por Sã o Francisco, tã o
estritamente que na maioria das vezes ele se abstinha de todos os
alimentos, exceto aos domingos e quintas-feiras. Ele sustentava a vida
com o "Pã o dos Anjos", que era seu alimento diá rio. Nã o importa o quã o
fraco ele se sentisse antes de receber a Sagrada Comunhã o, depois de
receber ele estava forte e de cor saudá vel. Seu estô mago enfraquecido
nã o suportava carne e uma vez, quando comia por obediê ncia, teve que
vomitar. As vezes, sua garganta fechava, de modo que ele só conseguia
comer com di iculdade.
Ele dormia pouco, e isso numa cama que era mais uma cama de dor do
que um lugar de descanso. Ele continuamente lacerava seu corpo com
um lagelo cravejado de agulhas, al inetes e pedaços de aço em forma
de estrela, o que o fez perder tanto sangue que as paredes de sua cela e
os outros lugares, já mencionados, para os quais ele se retirou, icaram
visto a ser aspergido e, por assim dizer, coberto com sangue. Alé m
desses açoites, ele usou um cilı́cio e uma corrente e um grande pedaço
de ferro achatado, que apertava tanto o cilı́cio e a corrente que eles
penetravam na carne. Um dia seu superior o encontrou coberto de
feridas e, percebendo que ele mal conseguia respirar, ordenou-lhe que
renunciasse a esses instrumentos de penitê ncia. Por esse modo de vida,
José se tornou um prodı́gio de todas as virtudes e foi digno de desfrutar
um excesso de favores divinos, ê xtases e voos, milagres frequentes e
outros dons celestiais.
A fama do nosso santo espalhou-se pelo mundo, sobretudo depois de
ter sido nomeado associado do Padre Provincial em todas as suas
viagens à provı́ncia de Bari. Em tais ocasiõ es, as pessoas vinham de
longe e de perto para vê -lo, ouvir seus ensinamentos e implorar suas
oraçõ es. Ele geralmente era chamado de apó stolo do paı́s, e todos os
lugares que visitou experimentaram os efeitos de sua grande caridade.
Um vigá rio-geral, nã o conhecendo a santidade de José , acusou-o
perante a Inquisiçã o em Ná poles. A acusaçã o era que ele procurava
atrair o povo a si mesmo como a outro Messias, e a cada passo realizava
obras que os cré dulos acreditavam serem milagres.
A Inquisiçã o, portanto, instruiu o Padre Guardiã o em Grottella a enviar
o Padre Joseph a Ná poles. Trê s anos antes, um religioso perguntou a
Joseph se ele gostaria de ir a Ná poles, e em resposta o santo previu que
com o passar do tempo ele iria para lá , mas por ordem do Santo
Ofı́cio. Pouco antes de sua convocaçã o para Ná poles, Jesus o avisou de
seu julgamento iminente, aparecendo a ele durante a meditaçã o na
forma de uma criança, mal vestida, e carregando uma grande cruz em
seu ombro. Em outro momento, quando Joseph ergueu vá rias cruzes no
caminho de Grottella a Copertino para estimular a devoçã o, ele ouviu
uma voz que dizia: "Deixe de lado as cruzes mortas e segure os vivos."
Ao receber a carta do Santo Ofı́cio, Joseph humildemente partiu para
Ná poles em 21 de outubro de 1638. 1 Os habitantes de Copertino
lamentaram sua partida e disseram: "Ai de mim, que perda para
nó s". José , poré m, partiu com o coraçã o em paz e semblante alegre e,
em meio a ê xtases e sofrimentos, chegou a Ná poles e ixou residê ncia
no mosteiro de Sã o Lourenço. Aqui ele encontrou os religiosos, que
bem conheciam a causa de sua jornada, em grande consternaçã o. Eles o
receberam de má vontade, e o santo icou muito angustiado por ele,
embora inocente, causar ansiedade a seus companheiros religiosos.
Com o coraçã o triste, ele foi na manhã seguinte com seu companheiro
habitual, o irmã o Louis, ao pré dio da Inquisiçã o, mas no caminho ele foi
acompanhado por um jovem religioso de aparê ncia graciosa e formosa,
que o encorajou e confortou. Quando José estava prestes a entrar no
palá cio da Inquisiçã o, ele nã o viu mais o jovem, e como o irmã o Luı́s
a irmou que nã o o tinha visto, José acreditou que Santo Antô nio havia
aparecido para fortalecê -lo. Foi, portanto, com um espı́rito alegre que se
apresentou perante o tribunal sagrado. Ele foi detido vá rias semanas e
examinado trê s vezes, mas nenhuma sombra de falha foi descoberta e
sua vida foi considerada digna de admiraçã o. Ao vê -lo despedido tã o
cedo e com tanta honra, seus irmã os na religiã o se alegraram muito por
sua santidade ter resistido ao teste e sido considerada pura e livre de
hipocrisia.
Depois disso, sua piedade tornou-se mais conhecida, de modo que
muitas pessoas de Ná poles, mesmo nobres, vieram vê -lo e conhecê -
lo. José sozinho nã o compartilhava dessa opiniã o elevada de sua pessoa,
mas se autodenominava um "pecador, que nã o sabia como viver com
seus irmã os na religiã o e merecia permanecer com os animais de
carga". Isso ele disse à s freiras de Sã o Ligorio em Ná poles. Por ordem da
Inquisiçã o, ele rezou missa na igreja deles, dedicada a Sã o Gregó rio da
Armê nia, e lá foi erguido em ê xtase acima do altar. Esta ocorrê ncia
aumentou tanto a fama de sua santidade que penetrou no palá cio real, e
o vice-rei com sua esposa e corte desejaram que ele celebrasse missa
em sua capela. Di iculdades intervieram, a funçã o foi adiada, entretanto
o santo deixou a cidade e assim fugiu da homenagem contemplada.

CAPITULO III
"COMPANHEIRO-CIDADAO DO SERAFICO FRANCISCO" (SAO JOSE)
Por ordem do Santo Ofı́cio, José partiu de Ná poles para Roma com
mensagens importantes para o Padre Geral da Ordem. Durante essa
jornada, seu espı́rito foi absorvido pela contemplaçã o das coisas
divinas. Ao ver a cidade santa, centro do mundo cató lico, desejou entrar
na pobreza a exemplo de seu santo Padre, Sã o Francisco. Quando,
portanto, chegaram à s muralhas da cidade, ele ordenou a seu
companheiro, o irmã o Louis, que colocasse a ú ltima moeda, uma
pequena moeda de prata, em uma pedra para o benefı́cio do primeiro
que passasse.
Quando José chegou ao mosteiro dos Doze Apó stolos na cidade, o Padre
Geral, Joã o Batista Berardicelli, 1 que nunca o havia conhecido antes,
recebeu-o a princı́pio com grande reserva e semblante severo; pois a
mensagem do Santo Ofı́cio o orientava a enviar José a algum mosteiro
solitá rio. O general teve a sala mais isolada do mosteiro atribuı́da a ele
com a ordem de permanecer lá até que novas disposiçõ es fossem
feitas. O general tinha em mente mandá -lo para um dos menores e mais
isolados mosteiros. Enquanto isso, aprouve a Deus recompensar a
humilde renú ncia de Seu servo em meio a tã o grandes e dolorosas
provaçõ es, revelando sua santidade nã o apenas aos seus irmã os na
religiã o, mas també m aos Cardeais e ao Chefe Supremo da Igreja, o
Papa Urbano VIII. 2 O Papa ordenou ao Padre Geral que enviasse o Padre
José a um mosteiro em que a regra fosse mais perfeitamente
observada. Isso fez com que o padre geral alterasse seus planos e
enviasse José ao mosteiro de Assis. A ordem deu ao santo grande
prazer, pois há muito desejava viver perto do tú mulo de seu santo
Padre, Sã o Francisco. Partiu sem demora com o Irmã o Luı́s e, cheio de
alegria, chegou a Assis no ú ltimo dia de abril de 1639. 3
A alegria de Joseph foi curta; pois Deus desejava provar Seu servo
novamente, e, por assim dizer, pelo fogo, pela retirada da consolaçã o,
pelas perseguiçõ es, tentaçõ es e aridez espiritual que deveriam puri icar
sua alma com mais e icá cia do que as provaçõ es anteriores em
Grottella. Logo apó s a chegada de José a Assis, o Padre Antô nio de Santa
Maure foi nomeado Custó dio do lugar. Embora, como Provincial da
Provı́ncia de Bari, ele tivesse amado Joseph ternamente e o tomado por
seu companheiro, ele agora (certamente nã o sem o desı́gnio do cé u)
mudou sua conduta. Ele tratou o piedoso José a princı́pio com altivez,
depois com desprezo e, por im, ameaçou e puniu-o repetidamente,
chamando-o de hipó crita inú til e reprovando-o publicamente como
tal. O corajoso santo considerou tudo isso uma fonte de mé rito, e nã o só
suportou essas amargas censuras e acusaçõ es em silê ncio, mas
demonstrou ainda maior humildade e maior disponibilidade para
servir ao seu superior.

BASILICA DE SAO. FRANCIS AT ASSIST. TUMULO DE ST. FRANCIS

Alé m dessas provaçõ es por parte do Custó dio, o Senhor começou


gradualmente a retirar as consolaçõ es que até entã o haviam dado
coragem a Joseph. O santo nã o tinha mais ê xtases nem delı́cias
celestiais; pelo contrá rio, experimentou a aridez na leitura espiritual,
na reza do Ofı́cio Divino, no Santo Sacrifı́cio da Missa, en im, em todas
as coisas divinas. Deus parecia surdo à sua voz, indiferente à s suas
lá grimas, insensı́vel aos seus pedidos, de modo que o pobre José era
oprimido por uma profunda tristeza, que parecia partir o seu coraçã o e
manifestar-se nos seus olhos turvos e cansados.
O demô nio freqü entemente assaltava o santo com terrı́veis tentaçõ es,
sugerindo-lhe pensamentos impuros e perturbando seu sono com
sonhos horrı́veis. A esses assaltos, que duraram quase dois anos, José ,
embora aterrorizado, ofereceu resistê ncia contı́nua, de modo que a
cidadela interna de sua alma permaneceu irme e inabalá vel, a graça
superabundante de Deus fortalecendo-o para manter a severidade de
seus sofrimentos.
Lembrando-se das delı́cias do espı́rito que desfrutara quando estava
perto de Nossa Senhora de Grottella, a quem costumava chamar de
mã e, José pensou em voltar para lá . A um colega religioso, ele disse:
"Gostaria de voltar para Nossa Senhora de Grottella, porque ela é minha
mã e." O Padre Geral, no entanto, sabendo da inquietaçã o de José ,
chamou-o a Roma para mantê -lo lá durante toda a Quaresma de 1644. 4
No caminho com o seu companheiro, sentiu grande desejo de voltar ao
seu amado santuá rio da Santı́ssima Virgem e pensou em pedir ao seu
superior que o deixasse partir. Em sua alma, entretanto, ele ouviu a voz
de Deus repreendendo-o por causa desse desejo inocente, mas vã o, e
dizendo: "O que você deseja? O que você busca? O que você exige? Nã o
sou eu o mesmo aqui?" Iluminado por essas palavras, José parou,
ergueu os olhos para o cé u e disse ao companheiro: "Meu irmã o, em
breve retornaremos a Assis". E, de fato, depois de uma breve estada em
Roma, onde Deus novamente abriu para ele Sua mã o generosa e o fez
participar da doçura celestial em ê xtase de amor, José voltou a Assis.
Seu retorno foi motivo de alegria para os religiosos e os cidadã os de
Assis. Ao chegar, foi conduzido para a igreja e, vendo no teto uma
imagem de Nossa Senhora semelhante à de Grottella, gritou: "Ah, minha
querida Mã e, você me seguiu", e foi erguido cerca de dezoito passos
para dentro do ar, como se fosse abraçar a imagem. Vá rios dias depois,
ao ver uma có pia iel da Virgem de Grottella, que o padre Michaelangelo
Catalano, assistente do general, lhe deu, repetiu a exclamaçã o: "Ah,
minha mã e!" apressou-se em direçã o ao quadro e, com os olhos ixos
nele, permaneceu por muito tempo em um ê xtase delicioso.
Joseph foi agora formalmente adotado pela famı́lia dos Conventuais do
Sacro Convento. 5 O conselho da cidade, por unanimidade de votos,
conferiu-lhe a cidadania honorá ria, sendo enviada uma delegaçã o para
lhe apresentar o diploma. 6 O santo recebeu os delegados em sua cela e
icou tã o feliz por se tornar um "concidadã o de Sã o Francisco", como
ele mesmo se expressou, que foi privado do uso de seus sentidos e
erguido em ê xtase quase até o teto .

CAPITULO IV
PEGADA NO PARAISO (II COR. 12, 4)
A calma havia seguido a tempestade, e um amor tã o poderoso e terno
possuiu nosso santo, que sua nobre alma parecia mais unida a Deus do
que ao corpo e, por assim dizer, imersa em um oceano ilimitado de
amor. Por causa desse amor acontecia que, sempre que ouvia cançõ es
ou mú sica na igreja, ou uma conversa sobre Deus, ou os nomes de Jesus
e Maria, icava extasiado e clamava: "O amor, ó amor!" ou cantava
cançõ es sagradas. Entre eles estava um a Santa Catarina de Sena, a
quem ele venerava como sua padroeira especial. Quando, na cançã o, ele
chegava à s palavras "e o amor divino traspassou suas mã os e pé s, e até
mesmo seu coraçã o", 1 ele chorava, tremia todo e, com um gesto
correspondente, dizia: "Abra meu peito, corte este coraçã o. " A
pergunta, o que ele mais desejava, ele respondeu: "Que Deus leve o meu
coraçã o, todo o meu coraçã o." Diante de uma imagem do Salvador
cruci icado, ele frequentemente orava: "Desejo ser dissolvido e estar
com Cristo", ou "Jesus, Jesus, Jesus, atrai-me a Ti, nã o posso icar aqui;
doce Jesus, atrai-me para onde está s. "
Na é poca sagrada do Natal, o santo convidou alegremente a todos para
cantarem com ele a cançã o: "Bambino, meu Bambino, dá , oh, dá -me
apenas uma pequena parte do Teu amor divino." 2 As vezes,
principalmente na Semana Santa, icava triste e, ao encontrar algué m,
lamentava e dizia: “Pense nisso, meu ilho, Jesus foi açoitado, Jesus foi
cruci icado, Jesus morreu e morreu por amor. " Depois de vá rias outras
ejaculaçõ es, ele geralmente concluı́a com as palavras: "Eu sou muito
pior do que os judeus; pois eu sei quem é s e, no entanto, Te
cruci ico." Nesses dias, ele morria de tristeza e caı́a como um morto
desmaiado. Mas quando a Pá scoa chegava, ele cantava e exultava por
horas juntos de alegria, e no Pentecostes ele brilhava com o mesmo
fogo divino e exibia um semelhante jú bilo de espı́rito.
Por tais manifestaçõ es de santo amor, ele despertou sentimentos
semelhantes nos coraçõ es dos outros e se esforçou por estimulá -los
ainda mais, dizendo-lhes: "Amai a Deus; porque aquele que ama é rico
sem o saber." Seu desejo era que o mundo inteiro amasse a Deus. Ele,
portanto, chorou ao ver como os homens ofendem a Deus com tantos
pecados e por isso sentiu tanta agonia que o sangue jorrou de sua
boca. Com alegria ele teria derramado seu sangue no martı́rio e, para
isso, desejava acompanhar algum missioná rio como companheiro e
servo dos pagã os. Desejando que todos tivessem o mesmo desejo, ele
perguntava a cada religioso, até mesmo aos noviços: "Você morreria de
bom grado por Jesus Cristo?" e, quando eles respondessem
a irmativamente, ele exultaria em seu coraçã o e manifestaria uma
alegria incomum.
O amor do santo à s vezes encontra expressã o em palavras que
mostram seu desejo de ser totalmente altruı́sta. 3 "Meu Senhor", disse
ele, "mesmo se eu soubesse que Tu me predestinaste para o inferno na
minha criaçã o, ainda assim Eu Te seguiria de todas as maneiras
possı́veis e Te serviria por todas as obras que foram praticadas pelos
maiores santos de paraı́so." Nesse caso, ele teria desejado icar
sozinho, para nã o ouvir as blasfê mias e maldiçõ es dos outros. Ele,
portanto, acrescentou: "Eu gostaria de estar em um lugar separado,
para nã o ouvir os outros blasfemar e amaldiçoar; naquele lugar
solitá rio eu abençoaria e louvaria a Deus apesar do inferno."
Este amor, do qual Pseudo-Dionı́sio diz que é a causa dos ê xtases, foi a
fonte inesgotá vel da qual o coraçã o de José bebeu e se encheu e, por
assim dizer, embriagado de deleite extá tico.
O amor divino in luenciou a alma de José desde a mais tenra infâ ncia e,
quando menino, ele experimentou os primeiros impulsos de ê xtase, que
mais tarde, quando se tornou padre, atingiu o mais profundo
ê xtase. Eles se repetiram até sua morte e muitas vezes se seguiram em
intervalos tã o curtos que se poderia considerá -los contı́nuos. A menor
coisa pertencente a Deus bastou para fazê -lo clamar e perder o uso de
seus sentidos. Nenhuma dú vida poderia ser entretida quanto à
veracidade e veemê ncia dessa in luê ncia do amor divino; pois, quando
picado com agulhas, atingido com ferro, queimado com uma tocha, ou
tocado na menina dos olhos com a ponta dos dedos, ele nã o se moveu
nem um pouco e só voltou ao uso de seus sentidos quando Deus
permitiu ele uma tré gua ou obediê ncia o chamou. Esses ê xtases eram
tã o assombrosos e frequentes que di icilmente se conhece outro santo
que tenha recebido de Deus tamanha superabundâ ncia a esse respeito.
Para satisfazer a curiosidade do leitor e tornar esta narrativa ao mesmo
tempo breve e clara, vamos agora relatar alguns dos muitos voos
extá ticos na ordem do tempo, conforme ocorreram nos vá rios lugares
onde ele viveu. Começamos com Copertino.
Certa vez, na vé spera de Natal, quando José ouviu o som das gaitas de
foles e lautas de alguns pastores, que havia convidado para
comemorar com ele o nascimento do Menino Celestial, começou a
dançar de alegria excessiva e, com um soluço e um alto grito, voou
como um pá ssaro pelo ar do meio da igreja ao altar-mor, uma distâ ncia
de quase quarenta pé s. 4 Lá ele permaneceu cerca de um quarto de hora
em doce ê xtase, sem, entretanto, perturbar nenhuma das muitas velas
acesas ou queimar suas roupas. Os pastores icaram extremamente
maravilhados.
Grande foi a admiraçã o dos religiosos e do povo copertino por ocasiã o
de uma procissã o na festa de Sã o Francisco. Joseph, vestido com uma
sobrepeliz, subiu ao pú lpito, cerca de quinze palmas do chã o, e
permaneceu muito tempo suspenso em ê xtase com os braços
estendidos e joelhos dobrados. Maravilhoso també m foi seu
arrebatamento durante a noite da Quinta-feira Santa, enquanto orava
com outros religiosos diante do santo sepulcro, que foi erguido sobre o
altar-mor e iluminado com muitas lâ mpadas. De repente ele subiu em
vô o direto para o cá lice, no qual seu Tesouro Divino estava encerrado,
mas sem tocar em nenhuma das muitas decoraçõ es, e somente depois
de algum tempo, quando chamado por seu superior, ele retornou ao seu
antigo lugar.
As vezes, ele fazia voos semelhantes para o altar de Sã o Francisco ou,
enquanto rezava a Ladainha, para o de Nossa Senhora de
Grottella. Muito notá vel foi sua exuberâ ncia de amor quando o santo
ergueu um calvá rio em uma colina entre Copertino e o mosteiro de
Grottella. Duas cruzes já foram colocadas, mas dez pessoas, em
conjunto nã o conseguiram erguer a terceira, que tinha cinquenta e
quatro palmas de altura e era muito pesada. Ao ver este José , cheio de
ardor, voou cerca de oitenta passos desde o portal do mosteiro até a
cruz, ergueu-o tã o facilmente como se fosse uma palha e colocou-o no
buraco preparado para ele. Essas cruzes eram o objeto de sua devoçã o
especial, e de uma distâ ncia de dez ou doze passos, ele, puxado por seu
Salvador cruci icado, subia a um dos braços ou ao topo da cruz. Um dia,
um religioso estava falando com o santo sobre a descida do Espı́rito
Santo sobre os apó stolos. Nesse momento, um frade passou com uma
vela acesa na mã o, ao vê -la Joseph soltou um grito e voou quatro
passos no ar, in lamado com o fogo do Espı́rito Santo. 5 Outra vez,
ouvindo um sacerdote dizer: "Padre José , oh, que lindo Deus fez o cé u",
ele voou para cima de uma oliveira e icou ali meia hora ajoelhado, e foi
uma visã o estranha ver como o galho que o sustentou balançou tã o
levemente como se um pequeno pá ssaro descansasse sobre ele.
Certa ocasiã o, José esteve presente na investidura de vá rias freiras na
igreja de Santa Clara em Copertino. Assim que o coro entoou a antı́fona
"Vem, noiva de Cristo", ele foi visto correndo do canto em que se
ajoelhou em direçã o ao confessor do convento, membro da Ordem dos
Reformados, agarrando-o pelo mã o, levante-o pelo poder sobrenatural
do chã o e dance rapidamente com ele no ar. Seria muito longe recontar
todos os arrebatamentos e voos pelo ar enquanto o santo estava em
Copertino; basta dizer que, segundo os atos de sua beati icaçã o, foram
registrados mais de setenta desses voos, sem contar os que ocorriam
diariamente na Santa Missa e geralmente duravam duas horas.
Depois que o santo deixou Copertino, o mesmo fogo do amor ardeu
dentro dele e se manifestou da mesma maneira milagrosa. Pode
interessar ao leitor devoto saber de alguns dos muitos outros
arrebatamentos que, até o im de sua vida, foram objeto da maior
admiraçã o onde quer que ele tenha vivido. Em Nardo, onde
permaneceu por algum tempo depois de deixar Copertino, foi visto
sendo erguido em ê xtase na igreja de Sã o Francisco, para terror dos
presentes. Outra vez, ao ver uma foto de "Ecce Homo", ele permaneceu
imó vel como uma está tua em uma casa aonde tinha ido para curar um
doente. Em outra casa, ao ouvir uma mú sica, ele se levantou com seu
grito de costume e se ajoelhou na beira de uma mesa. Mais tarde,
quando ele veio a Monopoli a caminho de Ná poles, e foi conduzido por
seus companheiros religiosos à igreja do mosteiro para ver uma nova e
bela está tua de Santo Antô nio de Pá dua, ele se levantou ao vê -la do
chã o e voou uma distâ ncia de quinze passos até a imagem do santo no
altar e retornou da mesma maneira ao seu antigo lugar. Mas ele mal
havia se recuperado de seu primeiro ê xtase quando caiu em um
segundo; pois, enquanto a Ladainha estava sendo recitada, ele voou
para o altar da Imaculada Conceiçã o e de volta pelo ar ao seu lugar
original.
A cidade de Ná poles també m testemunhou seus voos maravilhosos. Um
dia, quando, por ordem da Inquisiçã o, ele celebrou a missa na capela
particular da igreja de Sã o Gregó rio da Armê nia, pertencente à s freiras
de Sã o Ligorio, ele subitamente se levantou com um grande grito de um
canto do capela, onde rezava, voou até o altar, e ali icou parado,
curvado sobre as lores e velas com os braços estendidos em forma de
cruz, de modo que as freiras gritaram: "Ele vai pegar fogo!" Mas,
clamando de novo, ele voltou ileso para o meio da igreja, girou em um
cı́rculo com a velocidade de uma lecha e cantou: "O Santı́ssima Virgem!
O Santı́ssima Virgem!"
Aprouve a Deus glori icar o santo na presença de homens do mais alto
escalã o. Durante sua primeira estada em Roma, ele foi com o Padre
Geral para homenagear o Papa Urbano VIII. Enquanto beijava os pé s do
Pontı́ ice, o santo, cheio de reverê ncia por Jesus Cristo na pessoa de seu
vice-gerente, foi arrebatado e erguido até que a ordem do Padre Geral o
trouxe de volta aos seus sentidos. O Papa icou muito maravilhado e
disse ao Padre Geral que se o Padre Joseph morresse durante o seu
ponti icado, ele pró prio daria testemunho deste acontecimento.

INTERIOR DA IGREJA SUPERIOR, BASILICA DE SAO. FRANCIS AT ASSISI

Quantas vezes, pela graça especial de Deus, tais acontecimentos se


repetiram durante os treze anos de sua estada em Assis, é difı́cil
dizer. Em 1645, o embaixador espanhol na corte papal, o alto almirante
de Castela, passou por Assis com o propó sito de ver Joseph. Ele visitou
o santo em sua cela. Depois de falar com ele, voltou à igreja e disse à
esposa: "Eu vi e falei com outro Sã o Francisco." Ao saber disso, sua
esposa desejou encontrar-se com Joseph e, a pedido dela, 6 o Padre
Custó dio ordenou-lhe que fosse à igreja e falasse com a senhora. Com
as palavras: "Obedecerei, mas nã o sei se poderei falar", o santo
apressou-se em obedecer. Mal tinha entrado na igreja quando,
erguendo os olhos para uma está tua da Imaculada Conceiçã o no altar,
ele voou cerca de doze passos por cima das cabeças dos presentes aos
pé s da está tua. Depois de permanecer ali por algum tempo em oraçã o,
ele voou de volta com seu choro habitual e voltou para sua cela. A
ocorrê ncia surpreendeu o almirante, sua esposa e sua numerosa
comitiva.
Em outra ocasiã o, Joseph aterrorizou vá rios pintores, que comentaram
em sua presença que pretendiam pintar um quadro da Imaculada
Conceiçã o em sua pequena capela. Eles primeiro o ouviram gritar em
grande agitaçã o: "O quê ? A concepçã o da Virgem Maria? A Imaculada
Conceiçã o?" e entã o o viram permanecer por mais de meia hora
privado do uso de seus sentidos e imó vel com os braços abertos e os
olhos erguidos para o cé u, arrebatado na contemplaçã o do misté rio
sublime.
Grande foi o espanto de um padre que, na companhia de Joseph, certa
vez entrou na igreja de uma aldeia. O padre perguntou: "Você acha que
o Santı́ssimo Sacramento está preservado aqui?" Como nã o havia
lâ mpada acesa, o santo respondeu: "Quem sabe?" Mas imediatamente
ele gritou alto e voou em direçã o ao taberná culo, abraçou-o e adorou o
Santı́ssimo Sacramento, que ele milagrosamente sabia que estava
presente. Vá rios religiosos, a quem ele ajudou a limpar um relicá rio e a
dobrar o há bito usado por Sã o Francisco, o viram pairar no ar acima de
suas cabeças. Outros o viram suspenso em uma cornija da capela de
Sã o Francisco, a dezesseis palmas do chã o. Um dia, enquanto um padre
pregava aos ié is na capela de Santa Ursula, José voou de uma varanda
com venezianas, que se projetava em frente ao altar, a alguma distâ ncia
do chã o. Ficou suspenso, ajoelhado e, com o rosto todo radiante como
o de um sera im, ixou os olhos no taberná culo até que, por ordem do
seu superior, voou de volta à varanda. 7 Grande foi a surpresa e terror
do Padre Custó dio em certa ocasiã o, quando as Vé speras solenes foram
cantadas em homenagem à Imaculada Conceiçã o na capela do
noviciado. José implorou ao pai para repetir com ele as palavras: "Linda
Maria". Ele entã o agarrou o pai e, pressionando-o perto e exclamando
com voz mais alta, "Linda Maria, Linda Maria!" subiu com ele no ar.
Para evitar a prolixidade, omitiremos outros ê xtases e, para concluir,
relataremos um dos mais maravilhosos, que foi ocasionado por um
nobre enlouquecido, Baltasar Rossi de Assis. 8 Amarrado a uma cadeira,
este nobre foi levado a Joseph, para que orasse por sua recuperaçã o. O
homem de Deus ordenou que o paciente fosse libertado e forçado a se
ajoelhar em sua orató ria. Ele entã o tocou sua cabeça e disse: "Chevalier
Baltasar, nã o duvide, mas entregue-se a Deus e Sua Santa Mã e." Com
essas palavras e proferindo seu grito usual: "Oh", ele agarrou o nobre
pelos cabelos e o ergueu do chã o enquanto ele se erguia em ê xtase no
ar. O santo segurou-o assim por um tempo para espanto dos presentes,
que com o nobre, agora totalmente restaurado, louvaram e
agradeceram a Deus por operar tantos milagres por Seu servo.

CAPITULO V
BOM ODOR DE CRISTO (II COR. 2, 15)
Esses ê xtases e fugas foram, sem dú vida, efeitos do amor divino que
ardeu no coraçã o de nosso santo e evidenciou a uniã o de sua alma com
Deus. O padre Jerome Rodriguez, piedoso e erudito sacerdote da
Companhia de Jesus, disse certa vez depois de conversar com José : "Ele
está perfeitamente unido a Deus e seu coraçã o está mais disposto a esta
uniã o do que o pó para ser aceso pela menor faı́sca." Esta uniã o foi
fomentada e encontrou expressã o na oraçã o contı́nua; quase sem
esforço, o santo elevou o seu espı́rito a Deus, que encontrou pronto
para o iluminar, in lamar e atraı́-lo para si. Foi como se ao olhar para o
cé u visse a beleza do paraı́so espalhar-se diante de seus olhos, como
disse certa vez ao cardeal Brancati (falando como uma terceira pessoa):
“Parecia-lhe que estava no meio de uma grande galeria cheia de objetos
belos e raros, e viu em um espelho brilhante lá pendurado, a um ú nico
olhar, as formas de todas as coisas e poderia pronunciar com certeza os
misté rios ocultos que agradou a Deus revelar a ele enquanto durou essa
uniã o sublime. " Seu grito costumeiro era um efeito do fogo interno que
nã o podia ser con inado ao seu peito, mas irrompia forçosamente de
seus lá bios, como ele mesmo disse, - embora novamente como de uma
terceira pessoa, - "como o pó que sai do canhã o boca, causando um
relató rio alto. " Essa grande veemê ncia freqü entemente levantava com
a alma o corpo e qualquer objeto que ele por acaso segurasse. Ele até
cantou e dançou durante esses ê xtases alegres.
Por causa de sua abstraçã o das coisas terrenas, o santo freqü entemente
nã o entendia o que os outros diziam a ele, ou dava respostas que
mostravam claramente que ele usava as coisas naturais apenas como
uma escada para subir à contemplaçã o do sobrenatural. Certa vez, em
uma viagem, ele conheceu vá rias mulheres, e quando um religioso lhe
perguntou se as reconhecia, ele respondeu que talvez fossem a
Santı́ssima Virgem, Santa Clara e Santa Catarina. Outras vezes, quando
questionado sobre outras pessoas, ele mencionou vá rios santos.
Ele foi muito atencioso ao recitar as horas canô nicas ou fazer suas
oraçõ es, como o evidenciam suas muitas lá grimas e a impressã o de
seus joelhos ao pé do altar e no chã o de seu orató rio. Ele orou com fé
viva e esperança irme em Deus e disse aos outros: "Filhos, con iem
somente em Deus; pois somente Deus pode prover para você s; os
homens falham, Deus nunca falha." E novamente: "Aquele que tem fé , é
o senhor da terra." Quanto a si mesmo, disse que con iava em Deus e
que era como um homem lançado por acidente em um recife do oceano,
onde, rodeado de á gua, nã o poderia esperar ajuda, mas somente de
Deus. Se necessá rio, ele removeria montanhas com a força de sua fé , de
um extremo ao outro da terra.
Foi essa fé viva que tornou suas oraçõ es e icazes. Certa vez, ele orou
para que Copertino e seu territó rio fossem poupados de uma forte
tempestade, e o furacã o cessou imediatamente. Em outra ocasiã o, ele
orou enquanto uma forte chuva torrencial assustava os habitantes e
ameaçava os arredores do convento de Grottella. Quando, apó s sua
oraçã o, ele correu para fora da igreja e gritou: "Dragã o, dragã o", as
nuvens fugiram diante dele e o cé u clareou. Certa vez, quando o calor
do sol ressecou os campos pró ximos ao mesmo lugar, uma procissã o foi
realizada para implorar ajuda e, como o santo havia previsto, uma
chuva abundante caiu imediatamente depois. Foi devido à s oraçõ es de
Joseph que Alcide Fabiani, um cirurgiã o, passou despercebido por seis
assassinos que tentaram atacá -lo em seu retorno de Spello para
Assis. Com sua oraçã o, ele salvou o Padre Geral de sua Ordem do perigo
de afogamento em uma trincheira profunda, chamada Cannara, perto
da aldeia de Monte Falco. O pai, com sua mula assustada, havia caı́do de
uma ponte e, ao cair, recomendou-se a José , que entã o ainda vivia. Ao
ver mais tarde o Padre Geral, o santo disse-lhe: “Certamente, meu caro
Padre Geral, você estava em grande perigo; Deus por você . "
A e icá cia de suas oraçõ es é notavelmente demonstrada na conversã o à
fé cató lica de um prı́ncipe luterano, John Frederick, duque de
Brunswick. Durante uma visita à s principais cortes da Europa, no ano
de 1649, o prı́ncipe, entã o com 25 anos de idade, veio de Roma a Assis
expressamente para ver José , de cuja fama ele tinha ouvido falar na
Alemanha. A sua chegada ao mosteiro, foi-lhe alojado nos quartos
reservados a pessoas de posiçã o e, como desejava falar com José e
depois continuar a sua viagem, ele, com dois dos seus lacaios (um
cató lico e outro protestante ) foi conduzido na manhã seguinte para a
porta da capela, onde o servo de Deus celebrava a missa. O santo, que
nã o foi informado da sua presença, foi avisado quando estava prestes a
partir a hó stia sagrada, que tanto lhe custou , que, apesar de todos os
esforços, ele nã o conseguiu rompê -lo, mas teve que recolocá -lo na
patena. Fixando os olhos no an itriã o, ele chorou e com um grito alto se
levantou em postura ajoelhada a cerca de cinco passos no ar. Com outro
grito, ele voltou depois de algum tempo ao altar e quebrou a hó stia
sagrada, embora com grande esforço. A pedido do Duque, o Padre
Superior perguntou-lhe porque havia chorado e ele respondeu: "Meu
caro compatriota, 1 as pessoas que mandaste à minha Missa esta
manhã tê m um coraçã o duro, porque nã o acreditam em tudo. que
ensina a Santa Madre Igreja e, portanto, o Cordeiro de Deus foi
endurecido em minhas mã os para que eu nã o pudesse quebrar a hó stia
sagrada. " O duque, surpreso com o ocorrido, adiou sua partida para
consultar o servo de Deus. Fez isso depois do jantar, permanecendo
com o santo até as completas. Movido pela graça divina, o duque
desejou novamente assistir à Santa Missa do dia seguinte. Na elevaçã o,
a cruz sobre a hó stia apareceu negra a todos os presentes, e o santo,
com o seu grito habitual, foi levantado a uma palma do chã o e
permaneceu cerca de um quarto de hora nesta posiçã o, elevando a
hó stia. Ao ver este milagre o duque chorou, mas seu companheiro, o
luterano, disse com raiva: "Maldito seja o momento em que vim para
este paı́s, pois em casa eu estava muito mais em paz e agora minha
consciê ncia está atormentada pelas fú rias de dú vida." 2 José , iluminado
do alto, assegurou a um de seus amigos a futura conversã o do prı́ncipe
nas seguintes palavras: "Tenhamos bom â nimo, o cervo está ferido." O
prı́ncipe conversou com Joseph até o meio-dia. Ao ver o duque voltar à
sua cela depois das Vé speras, o santo correu em sua direçã o, cingiu-o
com o cinto e disse com grande fervor: "Pelo paraı́so eu te amarro; vai,
venerado Sã o Francisco, assiste à s completas, segue com devoçã o na
procissã o, e faça tudo como você vê os frades fazerem. " O prı́ncipe
obedeceu humildemente, prometeu tornar-se cató lico e com sua
pró pria mã o se inscreveu no livro de registros da Arquiconfraria do
Cordã o de Sã o Francisco. Antes de abjurar publicamente a heresia, ele
voltou para casa para resolver seus problemas. No ano seguinte veio a
Assis e, como havia prometido, ajoelhou-se diante do Santı́ssimo
Sacramento e, na presença dos Cardeais Facchinetti e Rapaccioli, fez
pro issã o de fé nas mã os do Padre Joseph. Depois disso, o duque
permaneceu dedicado ao seu benfeitor.
Muito numerosos sã o os milagres que Deus operou por meio da
intercessã o de Seu servo Joseph. Vamos nos contentar em acrescentar
estas palavras do processo de beati icaçã o: "Sua oraçã o nunca foi em
vã o, mas sempre obteve o que ele implorou para o bem da alma e do
corpo; mesmo aqueles que apenas se recomendaram a ele, receberam o
favor desejado no momento ele orou por eles. " Sabendo que todo o
bem vem da oraçã o e desejando todo o bem ao pró ximo, ele
freqü entemente exortava os outros dizendo: "Ore, ore."
A caridade de José era tal que ele orava sem cessar por todos os
homens, pelos justos, para que pudessem perseverar na graça de Deus,
e pelos pecadores, para que pudessem emendar suas vidas e fazer
penitê ncia. Para tornar sua oraçã o e icaz, ele à s vezes implorava a Deus
que carregasse, como no passado, e també m com os pecados atuais do
mundo; em outras ocasiõ es, punia severamente seu corpo para fazer
expiaçã o, em certa medida, pelos pecados dos outros. Quando outros
se recomendavam à s suas oraçõ es, ele gentilmente respondia:
"Refugie-se em Deus e eu, de minha parte, nã o deixarei de orar por
você ". Quando algué m se sentia perturbado com dú vidas, vinha a ele,
repetia-lhes as palavras: "Escrú pulos e melancolia nã o tolero em minha
casa." 3 Depois de aconselhá -los e confortá -los, ele, em tais casos,
pegava jocosamente uma vassoura, varria-os da cabeça aos pé s e dizia:
"Veja, tirei todos os escrú pulos de suas costas; faça o bem, tenha uma
intençã o pura e rejeite tudo. dú vidas. " Sempre que via ou ouvia falar
em dissensã o, ele desejava muito pô r um im nisso e geralmente
conseguia restaurar a paz.
Sua conversa nã o foi afetada, mas tã o interessante que cativou o
coraçã o de todos que o ouviram. Era seu desejo que todos fossem retos
e gentis em suas relaçõ es sexuais. Ele detestava o engano, o orgulho e a
ostentaçã o, e exortava a todos, até mesmo seus superiores, à
compaixã o, gentileza e amor. Ele freqü entemente repetia frases como:
"Ame, oh, amor; aquele que tem amor é rico e nã o o conhece; quem nã o
tem amor, nã o tem nada; ele é infeliz sem saber. O amor e a caridade
contribuem para a felicidade." Ao ver algué m realizar um ato de
caridade, ele se alegrou e até mesmo abraçou tal pessoa, como fez uma
vez com um religioso que havia acabado com a dissensã o entre certas
pessoas ao apaziguar sua raiva. Disse-lhe: "Deus o abençoe, meu
querido ilho. Sã o Francisco o abençoe; pois você tem agido como um
verdadeiro ilho dele".
Esta terna caridade ele recomendou aos outros e praticou-se, mesmo
para aqueles que o ofenderam. Aquele que o insultou foi recompensado
por um milagre. Outro que o havia ferido com uma faca por causa de
uma reprovaçã o, ele venceu pela gentileza e paciê ncia, ao mesmo
tempo avisando-o de que seu im se aproximava. Ainda outro, que
estava a ponto de atacá -lo com raiva, ele o abraçou com ternura. Outro
fruto de sua caridade foi seu zelo. No mosteiro, ele repreendeu
severamente aqueles que transgrediram a regra e advertiu seus
superiores para icarem vigilantes. As vezes, ele se aproximava
impetuosamente e reprovava os transgressores, como uma vez em
Assis, ao ver duas pessoas engajadas em discursos vã os na Bası́lica de
Sã o Francisco.
O santo procurou curar as feridas secretas da alma, que ele conhecia
pela iluminaçã o celestial. Assim, ele libertou Afonso de Montefuscolo
das tentaçõ es contra a castidade que o assediavam e, em Copertino,
induziu uma senhora de Veglie a queimar um feitiço que estava
fazendo. Uma pessoa distinta certa vez lhe trouxe um jovem nobre que
estava em estado de pecado mortal. O santo disse: "Quem é este mouro
que me trouxeste? Nã o vê s que é negro?" Entã o ele se virou para o
nobre e disse: "Vá , meu ilho, e lave o rosto." Quando o homem voltou
para ele depois de uma con issã o contrita, Joseph disse: "Agora, meu
ilho, você é bonito; lave-se com freqü ê ncia; ontem você era feio como
um mouro." A todos cuja alma ele viu des igurada pelo pecado, ele
disse: "Oh, como você é feio! Vá , ajuste o seu arco!" Por esta ú ltima
expressã o ele quis dizer sua consciê ncia.
Assim como José , com franqueza cristã , revelou suas faltas aos que
haviam caı́do em pecado, para que se arrependessem, ele gentilmente
cuidou daqueles que estavam em perigo de queda ou foram
tentados. Um padre de Spello, que estava prestes a manchar sua alma
cometendo um pecado grave, experimentou os efeitos da caridade de
Joseph. Acossado por uma forte tentaçã o, e em perigo iminente de
consentir, teve a sorte de encontrar o santo, que apertou sua mã o e
gentilmente lhe disse: "Meu ilho, resista a esta tentaçã o com coragem,
pois é a vontade de Deus que você nã o O ofenda; isto eu digo a você
com sinceridade. " Por meio dessa advertê ncia singular, ele ajudou o
padre a conquistar. Aqueles que foram tentados por espı́ritos malignos,
ele aconselhou a receber os sacramentos com freqü ê ncia. "Pois", disse
ele, "onde Deus mora, o inimigo de Deus nã o pode se aproximar
facilmente; e, a longo prazo, Deus sempre vence porque, por Sua graça,
Ele pode fazer mais do que o diabo pelas tentaçõ es."
A caridade de nosso heró i nã o se restringia aos ié is, a quem ele levaria
a Deus, mas estendia a mã o aos in ié is. Ele falou com grande ternura e
compaixã o de seu estado infeliz e teria alegremente empreendido
qualquer coisa para sua conversã o. Aconteceu que certa vez, ao orar
por eles e meditar nos misté rios inescrutá veis da Divina Providê ncia,
icou extasiado por muito tempo. Ao voltar a si, ele chorou
amargamente e disse aos que o cercavam: "Meus ilhos, orem pelos
justos e pelos pecadores, orem pelos hereges, turcos e in ié is; em suma,
orem por todos; pois todos nó s somos redimidos pelos mais precioso
sangue de Jesus Cristo. "
Sua caridade se estendia també m, tanto quanto a obediê ncia permitia,
à s necessidades fı́sicas de seus semelhantes. Mesmo na reclusã o de sua
cela, ele sabia, pela iluminaçã o divina, de suas necessidades e os
ajudava com sua oraçã o. Onde tinha plena liberdade para agir,
apressou-se em socorrer os enfermos dentro e fora do mosteiro,
advertiu-os a se resignar à vontade de Deus e os animou com palavras
de bom conselho. Com semblante alegre, ele gentilmente dizia à queles
que temiam a morte ou estavam tristes por outras razõ es: "Tende bom
â nimo, Deus providenciará para você ." Ele estava sempre pronto para
prestar-lhes os serviços mais humildes. Ele os ergueu, os alimentou e
enfaixou suas feridas. Em suma, seu amor pelos enfermos era tã o
grande que seus companheiros religiosos costumavam dizer: Era
melhor icar doente do que icar bem quando estava com José , pois no
primeiro caso ele vivia apenas pelos enfermos, no ú ltimo apenas para si
mesmo. Sua caridade para com os enfermos era, alé m disso, tã o
agradá vel a Deus que glori icou o santo por meio de curas milagrosas.
O afeto de seu terno coraçã o foi manifestado especialmente durante
uma fome desastrosa em Assis e nas provı́ncias vizinhas. Ele chorou e
orou sem deixar de implorar a ajuda de Deus e, como nã o tinha
permissã o para implorar pelo sustento dos famintos fora do mosteiro,
ele andava ansiosamente dentro do recinto do convento para confortar
e animar pelo menos seus irmã os espirituais .
A gratidã o o levou, em vista de sua pobreza, a recompensar seus
benfeitores, agradecendo e abençoando-os, orando por eles e
prometendo lembrá -los sempre. Certa vez, ele falou de forma vitoriosa
a um cirurgiã o que o ajudara: "Seja bendito pela grande bondade que
me dispensou; Deus o recompensará por isso e nã o me esquecerei de
orar por você quando chegar à morada do abençoado."
A gratidã o de José para com a Bem-aventurada Virgem Maria, a cuja
intercessã o atribuiu todos os benefı́cios que recebeu de Deus, foi
extraordiná ria. Ele procurou mostrar a ela um amor do qual ningué m
poderia ser mais terno e profundo. Na infâ ncia, sua mã e incutiu nele
devoçã o a Maria. Ele estava acostumado a chamar Maria de mã e. E
difı́cil dizer com que entusiasmo ele a serviu e honrou. Ele adornou
suas imagens com lores e dedicou a ela as afeiçõ es mais fervorosas de
seu coraçã o. Ele costumava dizer em tom de brincadeira: "Minha mã e é
muito estranha; se eu levar lores para ela, ela diz que nã o as quer; se
eu trouxer cerejas, ela nã o as levará , e se eu perguntar o que ela deseja,
ela responde: 'Desejo o teu coraçã o, pois vivo de coraçõ es!' "Que seu
coraçã o pertencia a Maria era evidente pelas contı́nuas oraçõ es devotas
que ele recitou em sua homenagem e as palavras ternas que ele aplicou
a ela, chamando-a de sua protetora, senhora, padroeira, mã e e ajudante,
a partir das cançõ es simples e alegres com as quais ele a exaltava,
especialmente pelos frequentes ê xtases e fugas que experimentava
quando via sua imagem ou ouvia seus elogios.
Certa vez, quando a Ladainha de Nossa Senhora estava sendo rezada na
igreja, ele voou sobre seis co-religiosos ao ouvir as palavras "Santa
Maria". Em outras ocasiõ es, tais voos ocorriam com as palavras "Santa
Mã e de Deus", "Mã e da Graça Divina", "Portã o do Cé u". Mesmo ao ouvir
o nome de Maria, ele icava muitas vezes extasiado e erguido do
chã o. Seu coraçã o se derreteu ao pensar na beleza da Rainha dos
Cé us. Um dia, enquanto ele estava celebrando a missa, muitas pessoas o
viram extasiado e erguido no ar e o ouviram exclamar com lá grimas nos
olhos: "Louvai-a, santos anjos, com vossas cançõ es; dela."
Nã o satisfeito com o fato de Maria ser amada e louvada por todos os
santos e anjos do Paraı́so, ele desejou sinceramente que ela fosse
amada e elogiada por todos os homens da terra. Certa vez, alguns
cidadã os de Copertino foram ao mosteiro de Grottella para visitá -
lo. "Por que você veio?" ele disse a eles. "Deseja visitar Nossa
Senhora?" Quando eles responderam a irmativamente, ele continuou:
"E o que você trouxe?" Eles responderam: "O Ofı́cio e o Rosá rio." "Que
escritó rio? Que rosá rio?" ele perguntou, - ele bem sabia que eles tinham
vindo por curiosidade. "Minha Senhora deseja mais, ela deseja o
coraçã o e a vontade." Com essas palavras, ele in lamou seus coraçõ es de
amor por Maria e, ordenando-lhes que se ajoelhassem, rezou a
Ladainha com eles como estava acostumado a fazer com todos que iam
à sua cela. Ele també m advertiu a todos que repetissem freqü entemente
as palavras: "Maria, refú gio dos pecadores, Mã e de Deus, tem cuidado
comigo." Esta oraçã o ejaculató ria, disse ele, agradou muito à Santı́ssima
Virgem, porque ela é justamente chamada de Refú gio dos Pecadores.
José procurou homenagear a Mã e de Deus pela recitaçã o frequente dos
louvores contidos na Ladainha de Loreto. Certa vez, quando os pastores
com quem ele rezava a ladainha todos os sá bados em uma capela perto
do mosteiro de Grottella, foram impedidos de vir, ele chamou em alta
voz as ovelhas que ele podia ver de longe: "Venham aqui, para
reverenciar o mã e do seu Deus e meu Deus. " Diante dessas palavras as
ovelhas, que estavam tã o distantes de José que sua voz nã o poderia
alcançá -las, correram em direçã o à capela, sem atender aos gritos dos
pastorinhos, e quando eles chegaram à capela, o santo começou
alegremente o Ladainha. Os animais respondiam à sua maneira a cada
elogio que ele proferia, de modo que, por exemplo, quando ele dizia
"Santa Maria", todos gritavam "Baa" e assim completavam a
Ladainha. Ao receber a bê nçã o do santo, eles voltaram à s suas
pastagens.
O servo de Deus adquiriu tal con iança em sua Mã e celestial que,
recitando a Ladainha, ele foi capaz de exorcizar demô nios e libertar os
possuı́dos. Em sé rias dissensõ es, ele reconciliou os litigantes dizendo-
lhes: "Vamos para a Mã e, para a Mã e". Em nome da Mã e de Deus, a
quem atribuı́a todo o bem, prometia frequentemente fazer milagres e
ocasionalmente os fazia sem demora. Assim, certa vez, ele curou uma
mulher cega tocando seus olhos e dizendo: "Que a Mã e de Deus te
restaure a saú de." O Vigá rio Geral de Nardo nã o quis abençoar as trê s
cruzes que Joseph tinha erguido perto de Grottella por causa do grande
calor, mas acedeu à s sú plicas do santo quando disse: "Minha Mã e nã o
vai deixar você sentir o calor." Embora a solenidade durasse trê s horas e
meia e o Vigá rio Geral usasse uma capa, nã o sentiu o menor incô modo
com o sol escaldante.
As vezes, a mã e de Joseph, que era pobre, vinha buscar sua ajuda. Para
ela, ele disse: "Nossa Senhora é minha mã e. Nã o tenho nada porque sou
pobre. Refugie-se na Madona, ela cuidará de você ." Na verdade, ela
sempre deu uma ajuda oportuna de alguma forma misteriosa. A um
padre que estava con inado ao leito por ú lceras, ele disse: "Nã o perca a
coragem; quanto tempo faz que você estava em Grottella para ver sua
mã e?" "Ai de mim", respondeu o doente, "você nã o vê em que estado
estou e que mal posso me mover?" O servo de Deus entã o enfaixou suas
feridas e as acariciou dizendo: "Você nã o tem con iança em sua
mã e?" No mesmo momento, as ú lceras secaram e sararam, e logo o
padre se recuperou totalmente. Outro padre hesitou em orar por uma
graça particular. O santo, vendo a causa de sua dú vida, disse-lhe:
"Refugie-se em Maria; ela vai ouvi-lo." A oraçã o foi ouvida. Em outro
momento, o santo abriu os lá bios de um moribundo e, ao lhe dar um
certo lı́quido para beber, perguntou-lhe: "Você se sente melhor
agora?" O homem respondeu: "Sim", e Joseph continuou: "Entã o nã o
diga nada sobre mim a ningué m, mas sim diga que a Mã e de Deus, que é
sua mã e e minha, o curou."
Para ser breve, a santidade de José começou, como ele mesmo atestou,
com devoçã o a Maria. A fama da sua santidade deve-se igualmente à s
muitas graças que as pessoas receberam de Maria com a sua
oraçã o. Durante toda a sua vida o nosso santo chamou a Virgem Maria
de "Mã e", e ao morrer a invocou com aquele doce nome nas palavras da
Ave Maris Stella:
Mostre a si mesmo uma mã e;
Oferece-Lhe os nossos suspiros,
Quem por nó s Encarnado
nã o desprezaste.

CAPITULO VI
PERFEIÇAO EVANGELICA
O amor de nosso santo pela virtude da pureza pode ser medido por seu
amor pela "Mã e purı́ssima". Ele nã o era imune, como alguns santos, das
tentaçõ es impuras, mas, ao contrá rio, severamente molestado por
elas; mas quanto mais veementes as tentaçõ es, mais gloriosa foi a
vitó ria que ele obteve invocando a ajuda de Deus e de BV Maria. No
entanto, ele estava tã o inquieto por dú vidas e medos que certa vez foi
ouvido a exclamar: "Ai, meu Deus, eu sei que Tu izeste todas as coisas
bem e que por Tua graça nã o pecarei nessas tentaçõ es, mas eu gostaria
nã o experimentá -los. " Foi a vontade de Deus, entretanto, que ele nã o
estivesse livre das tentaçõ es, mas permanecesse puro e imaculado. Seus
confessores e muitos outros testemunharam que nunca observaram
nele nem mesmo uma sombra de impureza, mas antes o acharam
totalmente puro de corpo e alma, de modo que seu espı́rito lhes
pareceu mais angelical do que humano.
Em seu amor pela pureza, e para fazer com que os outros a
apreciassem, costumava dizer que a alma pura era como um vaso de
cristal, lindamente polido e cheio de á gua limpa e fresca, que todos
valorizam na hora do calor; mas se apenas uma gota de ó leo fosse
derramada, toda a massa de á gua se tornaria um objeto de repulsa. Com
o mesmo propó sito, ele admoestou todos por palavra e exemplo a fugir
de todo perigo que ameaçasse esta virtude. Somente quando a
obediê ncia o exigia, ele se associava com pessoas do outro
sexo. Costumava dizer: "E perigoso associar-se com mulheres, que
apenas prejudicam aquele que deseja pertencer a Deus. Deve-se evitá -
las e associar-se a elas apenas quando a obediê ncia exige."
Deus recompensou sua pureza imaculada concedendo-lhe o poder de
libertar aqueles que foram molestados pelas tentaçõ es contra a
castidade - à s vezes pelo uso de algum objeto, outras vezes por meras
palavras. Um jovem que estava sofrendo de uma tentaçã o muito
dolorosa foi libertado ao cingir-se com o cinto do santo. Um turco
recé m-convertido à fé cató lica queixou-se ao santo de tentaçõ es mais
veementes do que antes. Joseph respondeu que isso se devia ao fato de
que anteriormente sua falsa religiã o nã o proibia a impureza e que o
diabo nã o se esforça para assegurar o controle do que ele já possui. A
partir de entã o, o homem se sentiu liberto dessas tentaçõ es e
con irmado na fé cató lica.
A evidê ncia mais certa e miraculosa, entretanto, da pureza angelical do
santo era esta, que ele percebia um fedor que emanava dos corpos de
pessoas incontinentes, e que seu pró prio corpo exalava um odor
extremamente agradá vel que era notado por outros. Ao ver uma pessoa
licenciosa, ele a reconheceu como tal por seu fedor. Certa vez, ele
apareceu inquieto e perplexo e, ao ser questionado sobre o que o a ligia,
respondeu que acabara de falar com uma pessoa licenciosa, que enchia
o nariz com um fedor tal que nã o conseguia removê -lo, nem mesmo
com rapé . Para encher os outros de horror ao vı́cio da impureza,
costumava dizer que o impuro fedia a Deus, aos anjos e aos homens.
"A melhor prova da pureza de Joseph", disse o cardeal Brancati, "foi
dada a todos aqueles que se associaram a ele ou apenas tocaram um
objeto que lhe pertencia; pois dele emanava um perfume muito
agradá vel, que se agarrou por muito tempo a todos coisas que ele
usava. Mesmo os cô modos pelos quais ele passou por muito tempo
retiveram esse odor incomum e, para descobrir o caminho que ele
havia seguido, bastava seguir esse odor. " 1 Este perfume que ele
difundiu foi considerado por todos como sobrenatural; pois nã o
poderia ser comparado a nenhum outro perfume senã o aquele que
emanava de um breviá rio de Santa Clara, preservado em Assis, e aquele
do santuá rio no qual os restos mortais de Santo Antô nio sã o colocados
para descansar e que aqueles que o perceberam, chamada de fragrâ ncia
do Paraı́so.
Nosso santo se destacou na pobreza religiosa. Embora aos religiosos
fosse permitido o uso de muitos artigos alimentares e roupas, ele
desejava ser privado nã o apenas de todos os supé r luos, mas até
mesmo da maioria das coisas necessá rias à vida. Seu há bito sempre foi
o pior que ele poderia proteger, e por baixo ele usava uma roupa ı́ntima
á spera que mais merecia o nome de um cilı́cio do que de uma
vestimenta. Suas roupas pequenas eram de linho á spero. Ele nunca se
vestia de outra forma, nem mesmo como proteçã o na estaçã o fria, e
calçava chinelos apenas quando aparecia em pú blico. Questionado, ao
chegar a um mosteiro, se havia trazido suas roupas consigo, respondeu
que certamente o havia feito, referindo-se à s roupas que vestia. Em sua
ú ltima doença, consentiu em levar dois lenços brancos por insistê ncia
do cirurgiã o, mas quando viu que eram de linho disse: "Sã o inos
demais" e os devolveu, levando em seu lugar outros de tecido mais
grosso .
Sua pobreza em todos os outros aspectos era do mesmo molde
heró ico. Ele comia apenas uma vez por dia, e entã o apenas algumas
ervas e vegetais, raramente peixes. Vá rias vezes, quando ordenado,
comia carne, mas, como já mencionado, seu estô mago sempre a
rejeitava. Comia sozinho em sua cela, para que seus frequentes ê xtases
nã o perturbassem o refeitó rio; e depois das refeiçõ es insistia na
remoçã o até dos menores restos de comida. A mobı́lia de sua cela
consistia em um priedieu, duas cadeiras de vime, uma mesinha e vá rias
fotos de santos em papel. Sua cama era composta de vá rias tá buas e um
catre de palha. Esta cama desconfortá vel e pobre era tã o querida para
ele que uma vez, quando ele foi ordenado a usar um colchã o e lençó is
de linho por causa de uma doença, ele nã o suportou esse conforto
incomum, mas disse que sentiu como se todos os seus ossos estivessem
esmagados. Para o satisfazer, o seu superior permitiu-lhe voltar a usar
as suas queridas pranchas.
O santo tinha grande aversã o ao dinheiro. Ele sempre o recusava e,
quando importunado para levá -lo em benefı́cio do mosteiro, pedia aos
doadores que o levassem ao superior. Ele detestou tanto que um dia,
quando vá rias pessoas piedosas colocaram secretamente uma moeda
de prata em seu capuz, ele começou a respirar pesadamente e a suar
como se carregasse um grande peso, e inalmente exclamou: "Nã o
agü ento mais. " Só depois que o dinheiro foi retirado ele voltou a icar à
vontade. Quanto ao resto, ele se considerava rico e, com semblante
alegre, dizia que nã o tinha nada, mas Deus o proveu com todas as
coisas. Ele considerava Deus a fonte de todo o bem e freqü entemente
repetia as palavras de seu Pai Será ico: "Meu Deus e meu
tudo". Quando, em seu leito de morte, ele foi convidado a fazer a
renú ncia costumeira e dar uma lista das coisas que ele tinha em uso, ele
poderia dizer ao seu superior: "Padre Guardiã o, eu faria a renú ncia com
prazer, mas nã o tenho nada para renú ncia."
Pode-se dizer de nosso santo que ele estava totalmente sujeito aos seus
superiores. Ele freqü entemente disse que preferia morrer a
desobedecer. Ele reverenciava seu superior como se ele fosse o pró prio
Sã o Francisco, e nã o veria nele nenhum defeito para que nã o
encontrasse sequer uma sombra de razã o para desobedecer. A cada
superior, ele revelou seu modo de vida e declarou estar pronto para
mudá -lo se assim for instruı́do. Nada queria fazer sem o mé rito da
obediê ncia, de modo que, sem o consentimento do irmã o leigo, seu
companheiro, nem mesmo abria ou fechava a janela de sua cela. Um dia,
enquanto a Extrema Unçã o estava sendo administrada ao padre
Caravaggio, seu confessor, que estava muito doente e abandonado pelos
mé dicos, Joseph foi arrebatado e levantado sobre a cama do padre
doente. Ao regressar a si, desejou regressar à sua cela, mas ao ouvir o
seu superior ordenar-lhe que icasse, permaneceu imó vel no local onde
se encontrava, nã o ousando dar um passo até que o superior lhe desse
autorizaçã o. Se ordenado a fazê -lo, ele comia carne, saı́a de sua cela,
falava com pessoas, permitia que seus pé s fossem beijados, dava a seus
admiradores qualquer objeto que estivesse usando, embora tivesse
grande aversã o a tudo o que resultasse em sua pró pria honra e elogios
. Certa vez, seu superior ordenou que ele comesse um doce e ele o
comeu rapidamente. Quando perguntado por um religioso qual era o
sabor, já que estava acostumado a jejuar a pã o e á gua, ele respondeu
calmamente: "Simplesmente obedeci." Em outra ocasiã o, o Padre Geral
ordenou a um religioso que tirasse o antigo há bito de José para dá -lo à
Princesa de Sabó ia, que tinha grande devoçã o pelo santo e havia
providenciado um novo há bito para ele. No inı́cio, Joseph, nã o sabendo
da ordem de seu superior, objetou, mas assim que soube disso, ele
rapidamente tirou o capuz e o há bito, dizendo: "Se a obediê ncia exige,
estou satisfeito que você nã o tome apenas o meu há bito , mas també m
minha pele e carne. " Em outra ocasiã o, ele disse: "Se ordenado a fazê -
lo, nã o temeria entrar em uma fornalha ardente e con iaria para ser
preservado ileso por causa do mé rito da obediê ncia."
Para induzir os outros a amar e praticar a obediê ncia, ele exaltou seus
mé ritos e chamou-a de "faca que mata a vontade do homem e a sacri ica
a Deus, uma carruagem que leva o homem confortavelmente ao cé u, um
cachorrinho que conduz os cegos". "O santa obediê ncia", ele costumava
exclamar, "Deus mesmo te tem em consideraçã o." Quando arrebatado,
nem os golpes nem a aplicaçã o de fogo o chamaram de volta aos seus
sentidos, mas se a obediê ncia o chamasse, ele voltou imediatamente. Ao
ser solicitado um dia a explicar isso, ele respondeu que nã o ouviu a voz
de seu superior quando arrebatado, mas porque Deus amava tanto a
obediê ncia e desejava que ele obedecesse sem demora, Ele fez a visã o
desaparecer imediatamente. Já registramos as palavras do santo, que
Deus afastou um vé u diante da alma arrebatada e mostrou a ela, como
numa galeria, muitos objetos belos e inefá veis. Referindo-se a essa
comparaçã o, ele acrescentou que, com a palavra de obediê ncia, o
Senhor novamente puxou o vé u e deixou a alma livre para seus deveres.
O mé rito de sua obediê ncia foi tã o grande que por meio dela obteve o
poder de aterrorizar o diabo e sujeitar até animais irracionais à sua
vontade. Quando, a mando de seu superior, ele exorcizava pessoas
possuı́das por espı́ritos malignos, ele ordenava a Sataná s que partisse
de seus corpos, dizendo: "Por obediê ncia eu vim, portanto você deve
partir." As vezes, depois de rezar a Ladainha da Santı́ssima Virgem, ele
dizia gentilmente: "Eu vim, nã o para expulsá -lo deste corpo, mas
apenas para obedecer; se, portanto, você deseja ir embora, faça-o; , faça
como quiser; para mim é su iciente ter obedecido. " Dessa maneira, ele
confundiu o espı́rito orgulhoso e o forçou a deixar sua vı́tima. Ainda
outro meio que Joseph empregou. Durante o exorcismo de uma mulher
possuı́da, o diabo deu-lhe um golpe terrı́vel no rosto. O santo nã o se
assustou, mas, ajoelhando-se, estendeu a ordem escrita de seu superior,
deu-a ao possuı́do e disse: "Aqui, pegue! O santa obediê ncia." Ele entã o
rezou a Ladainha de Nossa Senhora, e o demô nio, incapaz de suportar
essa obediê ncia infantil, partiu imediatamente.
Foi incrı́vel a rapidez com que animais irracionais obedeceram à s
ordens do santo. Um linnet, ao qual ele costumava dizer: "Louvado seja
Deus", louvava o Senhor ou deixava de fazê -lo sob seu comando. Certa
vez, ao libertar um pintassilgo, disse-lhe: "Vai, desfruta do que Deus te
deu; quanto a mim, nada mais exijo de ti do que que voltes quando te
chamo para louvar comigo o teu Deus e o meu . " Obediente a essas
palavras, o pá ssaro voou no jardim pró ximo e, quando Joseph o
chamou, imediatamente veio louvar o Criador. Certa vez, um falcã o
matou um tentilhã o, que o santo havia treinado para dizer: "Jesus e
Maria. Frei José , reze o seu breviá rio". O falcã o voltou ao comando do
santo e, quando ele o repreendeu dizendo: "Tu, ladrã o, mataste meu
tentilhã o e mereces que eu te matasse", ele permaneceu empoleirado
na gaiola como se arrependido de seu delito, permitiu que Joseph
atacasse com a mã o, e só voou para longe quando disse: "Agora vá .
Desta vez eu vou te perdoar, mas nã o faça tal coisa novamente."
Um carneiro que enlouqueceu porque foi mordido por cã es raivosos, foi
con inado no jardim para nã o fazer mal a ningué m. O servo de Deus,
vindo acidentalmente ao local, foi avisado para tomar cuidado com o
animal. Com um sorriso, ele respondeu que con iava em Deus. Ele entã o
se virou para o carneiro, acariciou-o e disse: "Tolo, o que é que você faz
aqui? Volte para o seu rebanho." Ao ser libertado, voltou apressado para
seu rebanho, bem e manso.
As freiras de Santa Clara de Copertino a santa ofereceu um cordeiro
branco para zelar pela disciplina da comunidade. O cordeiro era sempre
o primeiro em todos os exercı́cios, abstê mio, quieto na capela e sempre
alerta para acordar os sonolentos com pancadas e empurrõ es ou para
remover com cascos e dentes qualquer adorno vã o que
observasse. Quando o cordeiro morreu, o santo prometeu enviar à s
freiras um pá ssaro que as levasse a amar a Deus, e assim aconteceu. Um
dia, enquanto as freiras recitavam o Ofı́cio Divino, um cantor da loresta
empoleirou-se na janela do coro e cantou docemente. E assim, dia apó s
dia, o alegre gorjeio do cantor emplumado acompanhava e encorajava o
canto das freiras, até que um dia viu duas noviças brigando e voou
entre elas na tentativa de separá -las com suas asas estendidas e garras
minú sculas. Um dos noviços bateu no pá ssaro, que voou e nã o voltou,
embora já estivesse na comunidade há cinco anos. As freiras icaram
tristes por causa disso e reclamaram com Joseph, mas ele disse: "Está
bem para você ; por que você o provocou e o expulsou? Ele nã o está
disposto a voltar." Mas, a seu pedido urgente, ele prometeu enviar o
pá ssaro novamente. Na primeira convocaçã o para o coro, o pá ssaro nã o
só veio até a janela e cantou, mas, icando mais manso do que antes,
voou para o mosteiro. As freiras amarraram um pequeno sino ao
pé . Quando nã o apareceu na Quinta-feira Santa e na Sexta-feira Santa,
recorreram novamente a José , que lhes respondeu: "Mandei-vos o
pá ssaro para que cantasse, nã o para que tocasse um sino. Ficou
afastado porque durante estes dias que guardou o santo sepulcro. Vou
providenciar para que volte. " E o pá ssaro voltou e icou muito tempo
com as religiosas devotas.
O santo comandou duas lebres perto do convento de Grottella, dizendo:
"Nã o vá muito longe da igreja de Nossa Senhora, pois há muitos
caçadores esperando por você ." Eles obedeceram e lucraram com sua
obediê ncia; pois quando os caçadores o perseguiram, ele fugiu para a
igreja e dali para o mosteiro, onde pulou nos braços de Joseph. O santo
disse-lhe: "Nã o lhe disse para nã o se afastar muito da igreja, para que
nã o lhe custasse a pele?" O santo protegeu a lebre dos caçadores. O
outro coelho, que foi perseguido por cã es e se escondeu sob o há bito de
Joseph, teve a mesma sorte. Quando o marquê s de Copertino, que tinha
organizado a caça, se aproximou e perguntou ao santo se ele tinha visto
o coelho, ele respondeu: "Veja, aqui está , mas nã o faça mal." O santo
disse entã o ao animal: "Vá , pule nesses arbustos e ique lá sem se
mexer." A lebre obedeceu e os cã es nã o a perseguiram, para grande
espanto do Marquê s e de todo o seu grupo.

CAPITULO VII
EM SUA VIDA ELE FEZ GRANDES MARAVILHAS (ECCLI. 48, 15)
Como foi recontado acima, Joseph nã o era muito talentoso; ele tinha
apenas conhecimento su iciente de latim para usar o breviá rio e o
missal. 1 Deus, entretanto, concedeu-lhe uma medida de sabedoria que
surpreendeu até mesmo teó logos eruditos. Ele penetrou
profundamente no signi icado da Sagrada Escritura, especialmente dos
Salmos, e dizia: "Nenhum livro espiritual melhor pode ser encontrado
do que o Breviá rio; para mim, é a fonte de todo o lucro." Quando
questionado sobre os misté rios mais difı́ceis, por exemplo, a
Santı́ssima Trindade, a Encarnaçã o, a predestinaçã o, a e icá cia da
graça, a justi icaçã o e assuntos semelhantes, ele responderia
prontamente com grande erudiçã o e resolveria as di iculdades
propostas por homens muito eruditos. Em tais ocasiõ es, ele fazia uso
de comparaçõ es do mundo material e explicava todas as questõ es com
tal lucidez que logo convenceu seus ouvintes. Dos muitos religiosos
eruditos que o questionaram, um admitiu: "Ele sabe mais do que
eu". Outro disse: "Agora estou aprendendo uma teologia nova e mais
excelente." Um terceiro a irmou: "Minhas conversas com o Padre
Joseph tê m sido mais ú teis para mim do que muitos anos de
estudo." Um quarto declarou: "Joseph fala mais profundamente sobre
assuntos teoló gicos do que os principais teó logos do mundo." Todos
concordaram que “os dons do Espı́rito Santo, sabedoria, ciê ncia e
intelecto foram manifestados em Joseph”.
A essa luz celestial de sabedoria foi adicionada outra, por meio da qual
Joseph conhecia os pensamentos e segredos de outras pessoas. Quando
algué m manchado com o pecado veio a ele, ele disse, "Vá lavar o rosto
que você sujou com tinta", ou, "Ajuste o seu arco", referindo-se à
consciê ncia culpada da pessoa. Se tal pessoa respondesse que nã o
estava ciente de nenhum pecado em particular, Joseph acrescentaria a
hora, o lugar e as circunstâ ncias do pecado. No retorno de tal pessoa
apó s a con issã o, ele disse gentilmente: "Agora está tudo bem
novamente com você ." Ele até conhecia os culpados sem vê -los. Uma vez
ele disse a algué m que bateu em sua porta: "Vá primeiro à con issã o,
depois volte e entre."
Ocorrê ncias semelhantes sã o registradas dele como confessor. Uma
mulher fez sua con issã o e acrescentou que nã o conhecia nenhum outro
pecado. Mas o santo respondeu: "Confesse os maus pensamentos com
os quais consentiu", citando a ocasiã o e o lugar. A mulher entã o
confessou que realmente tinha sido assim. Da mesma maneira, ele disse
a um noviço, a quem havia aconselhado a escrever sua con issã o geral:
"Meu ilho, aqui você nã o se expressou bem; pois nã o foi como você
escreveu aqui, mas assim e assim". Certa ocasiã o, ele revelou em um
discurso aos noviços seus defeitos mais ocultos, de modo que todos
icaram muito maravilhados.
Se algué m rezava o Ofı́cio Divino, a Ladainha ou o rosá rio com ele, o
Padre Joseph chamava a atençã o para qualquer distraçã o que a pessoa
entretinha. Para um, ele disse: "Permaneça aqui", referindo-se, assim, a
seus pensamentos errantes. A outro ele disse: "Você orou ao Pai Nosso
muito distraidamente." Outro, que ainda nã o havia rezado o ofı́cio do
dia, foi questionado ao anoitecer pelo santo: "Onde está o ofı́cio divino?
O Breviá rio clama contra você ." Conta-se que pessoas que nã o tinham a
consciê ncia limpa ou eram escravas da paixã o, temiam conhecê -lo.
Assim como ele revelava falhas, també m frequentemente revelava a
outros suas boas obras e ansiedades. Assim, agradeceu a uma senhora
chamada Elizabeth, que conheceu vindo da igreja, pelo "Salve Regina"
que ela orou por ele. A um terciá rio que temia revelar a ele algumas
dú vidas que a perturbavam, ele disse: "Por que você tem medo? Conte-
me suas di iculdades." Sem permitir que ela falasse, ele entã o revelou a
ela tudo o que ela desejava dizer a ele. Em outra ocasiã o, ele disse à
mesma pessoa: "Ontem você se lagelou e praticou outra morti icaçã o.
Você alimentou este pensamento. No futuro, você deve fazer isso e
omitir aquilo." Ele revelou ao cardeal Rapaccioli, bispo de Terni, as boas
obras que havia realizado em seu quarto. Outra vez, quando o cardeal
estava muito perturbado com as dú vidas e estava prestes a enviar uma
carta a Joseph explicando-as, ele recebeu uma carta do santo na qual,
para seu espanto, encontrou suas dú vidas resolvidas
detalhadamente. Da mesma maneira, um religioso recebia de José , por
meio de um companheiro, conselhos sobre vá rios assuntos sobre os
quais pretendia consultá -lo. Para outro, que estava muito triste por nã o
ter entrado em uma Ordem mais estrita, José disse alegremente: "Qual é
o problema? Por que você está triste? Você nã o pode praticar o que os
Reformati fazem? Ficar satisfeito na Ordem em que você assumiu votos.
"
Até mesmo pensamentos ocultos foram revelados ao servo de
Deus. Repreendeu gentilmente um noviço que, durante a Terce, pensara
na fruta do jardim, repetindo-lhe verbalmente o que havia dito a si
mesmo, a saber: "Hoje vou subir na igueira e me fartar". Um irmã o
leigo que era seu companheiro de viagem e carregava um pintassilgo,
pensou em diferentes pessoas a quem o santo poderia querer
apresentar o pá ssaro. Joseph de repente virou-se para ele e disse: "Nã o
a nenhuma das pessoas em quem você pensou, vou dar o pá ssaro, mas
vou libertá -lo." Ele entã o abriu a gaiola e deixou o pá ssaro voar.
A distâ ncia nã o era barreira para seu conhecimento. Uma noite,
enquanto Joseph estava orando na igreja de Grottella, uma senhora que
sofria de fortes dores enviou seu servo para pedir que o santo
viesse. Antes que o homem pudesse entregar sua mensagem, o santo
disse: "Filho, vá para casa; a dor cessou e sua senhora está bem."
Uma noite, ao falar com o Guardiã o, ele exclamou de repente: "Oh, que
fedor! Oh, que fedor infernal!" O Guardiã o nã o percebeu nada; mas José ,
sabendo a causa do fedor que sentia, obteve permissã o, correu o mais
rá pido que pô de até Copertino, foi direto a uma certa casa e bateu na
porta até ser admitido. Ele entã o subiu correndo os degraus e
encontrou vá rios feiticeiros, homens e mulheres, com unguentos e
ó leos em vasos e potes no fogo. Em santa indignaçã o, ele quebrou os
vasos em fragmentos com sua bengala, enquanto seu semblante parecia
tã o terrı́vel que os culpados fugiram consternados.
O santo revelou a recuperaçã o de pessoas que estavam doentes em
Roma e a morte de outras, notadamente os papas Urbano VIII e
Inocê ncio X, que morreram na é poca que ele havia predito. Muitos
outros exemplos de seu conhecimento de coisas que haviam acontecido
muito antes ou a uma grande distâ ncia poderiam ser citados com base
em depoimentos juramentados de testemunhas con iá veis.
O santo predisse os eventos de sua pró pria vida até nos mı́nimos
detalhes. Suas profecias a respeito de outros sã o muito
numerosas; iremos, no entanto, contentar-nos em narrar alguns. Uma
mã e trouxe-lhe os seus dois ilhos, para que os abençoasse antes de
partirem para Roma, onde pretendiam estudar para o
doutoramento. "O quê ", disse o santo, "mé dicos? Sim, mé dicos do
cé u." Os dois morreram logo depois. Um nobre jovem polonê s
perguntou-lhe se era melhor casar-se ou receber ordens e recebeu a
resposta: "Nem um nem outro". Poucos meses depois, o jovem
morreu. Um homem doente recomendou-se ao santo, para que ele se
recuperasse a im de sustentar sua esposa e seus pais. O santo replicou:
"Por que você pensa em esposa, em pai e mã e? Você precisa de
paciê ncia, meu ilho, porque Deus quer levá -lo para Si. O Paraı́so, que
lindo é o Paraı́so!" Sua profecia foi cumprida em todos os detalhes; pois
o doente se recuperou, mas morreu repentinamente em um mê s. Da
mesma forma, José previu as circunstâ ncias da morte de muitos outros
e da recuperaçã o dos enfermos.
Certa vez, ao ver uma cortesã vaidosa, disse aos espectadores: "Eis uma
Madalena". Ele entã o se virou para ela e disse: "Deus te chama. Deixe
essas roupas vã s e ame a Deus, madalena". Ela obedeceu a este apelo da
graça e depois de sua conversã o assumiu o nome de Magdalen.
Duas profecias a respeito de um tabeliã o pú blico se cumpriram. Por nã o
ter dado ouvidos à s palavras de José , este tabeliã o foi submetido ao
sofrimento, que o santo havia predito. Ele entã o entrou em estado
clerical, mas sem esperança de se tornar um padre porque seu pai nã o
havia deixado nenhuma fortuna para ele. José , poré m, disse-lhe: "Tende
bom â nimo; quando chegar a hora, Deus providenciará para você ." E, de
fato, ele recebeu o patrimô nio necessá rio de uma pessoa de quem
menos esperava.
Quando Portolongone 2 foi sitiada pelo Rei de Espanha, em 1649, o
nosso santo previu que a cidade cairia na festa da Assunçã o, como de
facto aconteceu. Um mé dico em Assis sempre recomendava-se à s
oraçõ es de José , pedindo que um ilho nascesse para ele. Quando sua
esposa estava quase morrendo de dores de parto, o mé dico correu até
o santo para implorar sua oraçã o, mas este o tranquilizou dizendo que
a vida da senhora nã o estava em perigo. Depois que o mé dico foi
embora, Joseph disse sorrindo a um colega religioso: "Esta noite um
ilho nascerá para o mé dico; nã o queria revelar isso a ele, para que nã o
digam que me poso de profeta". Suas palavras se tornaram realidade.
O casamento foi a ocasiã o de vá rias profecias notá veis. O santo enviou
parabé ns ao pai de uma jovem por causa de uma aliança projetada. O
homem agradeceu a civilidade, mas respondeu que, devido à grande
desigualdade social entre as pessoas em questã o, a realizaçã o de seu
desejo estava muito distante. Em seguida, Joseph disse com um sorriso:
"Mas e se o marido dela já nasceu. O casamento foi feito no cé u e será
celebrado na terra." O casamento aconteceu. A mã e da noiva, temendo
que a bruxaria pudesse ter in luenciado a transaçã o, mandou a José
pedir-lhe que celebrasse missa por sua intençã o, mas sem dar a
conhecer as suas suspeitas. A serva de Deus mandou-lhe a palavra de
que nã o devia temer e, por ele estar doente, mande rezar a missa do seu
pastor. O casamento poderia entã o ocorrer sem demora e, com o tempo,
um ilho nasceria para aqueles que estavam prestes a se casar. A
mulher, espantada e cheia de alegria, principalmente por causa do ilho
prometido, pediu que Joseph fosse o padrinho do menino. O santo,
poré m, respondeu que ela deveria fazer uma escolha melhor porque ele
nã o estaria mais entre os vivos. Todas as palavras do santo foram
veri icadas.
Para um jovem corajoso que estava se preparando para ir para a guerra,
Joseph predisse que ele nã o iria; assim aconteceu. Um religioso que se
destinava à missã o no Congo foi informado pelo santo que nã o iria à
missã o, como de fato aconteceu. Outro religioso foi ordenado a ir a
Perugia para estudar, mas Joseph comentou com ele: "Um está bem em
Urbino també m." O frade foi para Urbino e nã o para Perugia. Joseph
disse ao padre Raphael Palma, Custó dio do mosteiro de Assis: "Oh, que
bela cabeça! Como a mitra a enfeitará !" O padre tornou-se bispo. A
dignidade do cardinalato ele profetizou a Nicholas Albergati (que mais
tarde assumiu o nome de Louis), a Antony Bichi, bispo de Osimo, e ao
padre Lawrence Brancati de Lauria. Todos os trê s receberam a pú rpura
sagrada. O santo predisse a Joã o Casimiro, que mais tarde se tornaria
rei da Polô nia, sua elevaçã o ao trono. Ao cardeal Bento Odescalchi
(mais tarde Papa Inocê ncio XI), que muito desejava a chegada de um
suprimento de grã os para evitar uma escassez em Ferrara, onde era
Legado, ele previu sua chegada antecipada. Os dois Custó dios de Assis
icaram animados com a promessa de José de que a necessidade de seu
mosteiro logo seria aliviada, e eles receberam ajuda abundante. Um
religioso pediu um favor ao recé m-eleito Padre Geral. O santo
profetizou que o receberia, mas nã o até muitos anos depois, e de outro
general; assim aconteceu. Em suma, tudo o que Joseph predisse se
tornou verdadeiro nos mı́nimos detalhes.
Joseph era freqü entemente honrado por visõ es celestiais. O
Santos 3 apareceu para ele e conversou com ele sobre o Paraı́so. Os
anjos, em forma visı́vel, trouxeram-lhe conforto celestial. Jesus Cristo
apareceu-lhe na forma de uma criança terna, na hó stia consagrada e
noutras ocasiõ es, aninhada nos seus braços e com palavras doces e
carinhosas carı́cias encheram-no de inefá vel deleite.
Deus revelou alguns desses favores a outras almas. A irmã Catharine de
Cantu, uma terciá ria, viu José entrar em Assis acompanhado de dois
anjos. Para a irmã Cecilia Nobili de Nocera 4 , foi revelado que o anjo da
guarda de Joseph era de um coro angelical superior ao dos homens
comuns. O santo tinha tanta reverê ncia por seu anjo da guarda que
nunca entrava em sua cela sem convidar o anjo a entrar primeiro. A
mesma venerá vel serva de Deus, Irmã Cecı́lia, viu a alma de José
refugiar-se na ferida do lado de Cristo; e em outro momento ela viu sua
alma no topo de uma montanha muito alta, que signi icava a montanha
da perfeiçã o.
Mais do que por tal testemunho de almas piedosas, a santidade de José
foi atestada pelo diabo, o maior inimigo de toda a santidade. Assim,
Sataná s disse a um religioso que o exorcizava e que prendia um cinto,
que o santo havia abençoado, sobre o possesso: “Se conhecesses a
virtude deste frade e como a sua alma agrada a Deus, icaria espantado.
Devo reconhecer isso porque Deus me obriga a falar. Frei Joseph é o
pior inimigo que temos. "
Os espı́ritos infernais trataram José como seu inimigo. Certa noite, o
servo de Deus estava diante do altar de Sã o Francisco, na Bası́lica de
Assis, quando ouviu a porta se abrir com violê ncia e viu entrar um
homem, que avançava tã o ruidosamente que seus pé s pareciam
revestidos de ferro. O santo o observou atentamente e viu que, ao se
aproximar, as lâ mpadas se apagaram, uma a uma, até que inalmente
todas se apagaram e o intruso icou ao seu lado na escuridã o total. Em
seguida, o diabo, pois era ele, atacou Joseph furiosamente, jogou-o no
chã o e tentou estrangulá -lo. José , entretanto, invocou Sã o Francisco, e o
viu sair de seu tú mulo e reacender com uma pequena vela todas as
lâ mpadas, cujo brilho o demô nio subitamente desapareceu. Por causa
dessa ocorrê ncia, José deu a Sã o Francisco o nome de "Acendedor da
Igreja".
O diabo fez outros atentados contra a vida de José , lançando-o em um
riacho para afogá -lo, agarrando-o para despedaçá -lo e tentando matá -lo
com uma espada, mas sem sucesso. propó sito. Embora o maligno tenha
conseguido atingi-lo de forma tã o terrı́vel que seus companheiros
religiosos icaram horrorizados com o barulho dos muitos golpes e o
barulho das correntes, ele nã o conseguiu cansar a paciê ncia do
santo. Quando questionado por seus companheiros religiosos sobre a
causa dos ruı́dos estranhos em sua cela à noite, Joseph rindo
respondeu: "Foi só diversã o." Tudo o que o diabo realizou com seu ó dio
implacá vel foi dar uma prova inequı́voca da santidade de Joseph.
Nosso santo freqü entemente fazia milagres. Já mencionamos alguns e
agora relacionaremos alguns outros dos muitos que estã o registrados.
Nas mã os de José , ou em sua palavra, pã o, vinho, mel e outras coisas
semelhantes foram multiplicados. Os coxos e aleijados ele curou
dando-lhes um cruci ixo para beijar. Ele restaurou a visã o dos cegos
com o toque de sua mã o, colocando em suas cabeças sua biretta 5 ou
algo que ele havia escrito. Com o sinal da cruz, ele curou muitas das
febres e até trouxe de volta à vida os moribundos.
Certa vez, um nobre de Ná poles entrou na cela do padre José e disse
insolentemente: "Hipó crita ı́mpio, nã o é a sua pessoa, mas a vestimenta
religiosa que você veste, que eu respeito e para ela con io, que se você
izer o sinal do cruze a minha ferida, vai sarar. " Ele entã o descobriu a
ferida. Joseph sorriu e respondeu com expressã o alegre e humilde: "O
que você diz é verdade." Ele abençoou a ferida e ela sarou
imediatamente.
O raro dom da bilocaçã o (estar em dois lugares ao mesmo tempo) foi
dado ao nosso santo em duas ocasiõ es. Morava em Copertino um velho,
Octavius Piccinno, geralmente chamado de "pai". Ele havia pedido ao
santo, enquanto vivia em Grottella, que o assistisse na hora da morte. O
santo prometeu fazer isso e acrescentou: "Vou ajudá -lo, embora eu deva
estar em Roma." Essa promessa foi uma profecia e seu cumprimento
envolveu um milagre. José estava em Roma quando o velho adoeceu,
mas ao se aproximar sua ú ltima hora apressou-se em ajudá -lo. Ele foi
visto por muitas testemunhas, especialmente pela Irmã Teresa Fatali da
Ordem Terceira, que nesta ocasiã o lhe falou e perguntou com espanto:
"Padre Joseph, como vieste?" Ele respondeu: "Eu vim para ajudar a
alma do 'Pai'", e entã o de repente desapareceu.
Enquanto morava em Assis, foi visto em Copertino auxiliando sua mã e
na hora da morte. Ela desejou muito vê -lo e gritou de tristeza: "Ai, meu
querido Joseph, nã o o verei novamente." Logo uma luz brilhante encheu
a sala, e a moribunda, ao ver seu ilho, exclamou alegremente: "O Pai
José ! O meu ilho!" Ao mesmo tempo, o Padre Custó dio em Assis
encontrou José , triste e em lá grimas, prestes a entrar na igreja. O Padre
Custó dio indagou sobre a causa de sua tristeza. Com um soluço, Joseph
respondeu: "Minha pobre mã e acabou de morrer." Os eventos provaram
a verdade de suas palavras; pois uma carta de Copertino logo trouxe a
triste notı́cia. Vá rias pessoas, que viviam com sua mã e e que mais tarde
vieram a Osimo, testemunharam solenemente que o santo havia
ajudado sua mã e em seu leito de morte.
Um milagre incrı́vel foi operado por nosso santo em Copertino. Um
rebanho de ovelhas foi morto por enormes pedras de granizo, e os
pastores imploraram ao santo que os ajudasse. José correu para o
campo, elevou seu coraçã o a Deus e entã o levantou os animais, um a
um, do chã o, dizendo: "Em nome de Deus, levante-se!" Todos os animais
se levantaram e os pastores icaram tã o maravilhados que nã o
conseguiram pronunciar uma palavra para agradecer ao seu benfeitor.

CAPITULO VIII
GLORIFICADO A VISTA DOS REIS (ECCLI. 45, 3)
Nã o é preciso se maravilhar que um homem de tã o grande virtude e
enriquecido com tais dons, atraı́sse homens e despertasse em todos o
desejo de colocá -lo entre eles, como fez a Arquiconfraria de Santo
Antô nio de Pá dua em Roma e a Confraria de S. Estê vã o em Assis. Todos
consideraram um privilé gio conhecê -lo e associar-se com ele. Sua
presença era tã o encantadora, suas palavras tã o gentis e sua companhia
tã o agradá vel, que todos foram forçados a amá -lo. Muitas pessoas do
mais alto escalã o vieram visitá -lo. Ele era universalmente chamado de
"santo frade" e considerado como tal. Alé m dos cardeais Facchinetti,
Ludovisi, Rapaccioli e Odescalchi, já mencionados, os cardeais Donghi,
Pallotta, Verospi, Paluzi, Sacchetti e outros admiravam e reverenciavam
o padre Joseph como santo. Ao visitá -lo, eles foram muito edi icados
por suas virtudes, suas palavras sagradas, seus ê xtases e voos, e outros
dons maravilhosos que observaram.
O prı́ncipe Leopoldo da Toscana, que mais tarde foi nomeado cardeal,
foi a Assis com o propó sito expresso de conhecê -lo. Enquanto estava lá ,
ele teve a sorte de vê -lo cair em ê xtase, com os olhos ixos em uma
imagem da Mã e de Deus, quando o Padre Custó dio proferiu algumas
palavras de louvor à Rainha dos Cé us.
A fama da santidade de José se espalhou pela Alemanha, França,
Polô nia e outros paı́ses, de modo que alé m do Duque de Brunswick e do
Alto Almirante de Castela, já mencionado, muitos outros prı́ncipes e
senhores vieram a Assis para visitar o homem santo. Esses visitantes
eram o duque de Bouillon da França, Isabelle, a duquesa de Mâ ntua, da
Austria, os prı́ncipes Radziwill e Lubomirski com suas esposas, o
prı́ncipe Zamoyski e outros nobres da Polô nia. O prı́ncipe real da
Polô nia, John Casimir, visitou o santo vá rias vezes. José , ao saber de seu
desejo de se tornar religioso, aconselhou-o a entrar na Companhia de
Jesus de preferê ncia a qualquer outra Ordem, porque seria forçado a
deixar o estado religioso, o que nã o poderia fazer se entrasse em
qualquer outra Ordem. 1 Em outra ocasiã o, ele aconselhou o Prı́ncipe a
nã o aceitar ordens sagradas e disse que Deus revelaria Sua vontade a
ele explicitamente. Joã o Casimiro foi elevado ao cardinalato pelo papa
Inocê ncio X, mas apó s a morte de seu irmã o Ladislau foi eleito rei da
Polô nia. José , ao vê -lo em Assis em trajes mundanos em sua jornada de
Roma ao seu reino, disse-lhe sorrindo: "Eu nã o te disse? Vá , pois você
irá promover os interesses de Deus mais neste estado de vida do que
no estado religioso. " Ao ouvir isso, o rei saiu, muito satisfeito. Sabendo
da grande santidade de José , ele continuou a consultá -lo por carta e
recebeu dele bons conselhos e até mesmo conhecimento de eventos
futuros na Polô nia.
Uma senhora de posiçã o que, movida pela curiosidade, viera com
outros ver o santo em ê xtase, icou envergonhada. Quando ela entrou e
estava prestes a pronunciar os santos nomes de Jesus e Maria, como
havia sido combinado, a santa censurou-a com as palavras: "O quê ! Será
que algué m deve sair por mera curiosidade? Você nã o sabe que Deus
pode fazer milagres nesta madeira? Vá embora em nome de Deus. "
Maria, ilha de Carlos Emmanuel de Sabó ia e de Catarina de Austria, a
quem já mencionamos, veio a Assis depois de ter visitado vá rios
santuá rios da Itá lia. Esta princesa, que levava uma vida piedosa desde a
tenra juventude e fora investida no há bito da Ordem Terceira pelo
padre Francis Angelus Cavallari, Guardiã o dos Conventuais de Turim,
sentiu-se tã o atraı́da pela santa que relutou em deixar Assis. Ela,
portanto, permaneceu muitos dias em Rivotorto, perto de Assis, e
depois vá rios meses em Perugia, de onde voltava vá rias vezes a cada
semana para discutir com José os assuntos de sua alma e para passar
dias inteiros em conversas sagradas. Sua veneraçã o cresceu de acordo
com os milagres dos quais ela era uma testemunha e freqü entemente o
objeto.
A princesa era um tanto surda e usava um auricular de prata, mas a voz
do santo ela ouvia sem o instrumento e a alguma distâ ncia dele. Ela
enrolou o cinto do santo em um dedo, que havia machucado ao fechar
uma porta, e imediatamente se sentiu livre da dor. Freqü entemente, ela
foi testemunha de ê xtases e voos milagrosos enquanto assistia à Santa
Missa dita pela santa. Uma vez que ela o viu, em sua capela particular,
pairar trê s palmas do chã o enquanto eleva a Hó stia Sagrada. Na capela
do Vé u de Maria, para onde ela havia trazido uma relı́quia da verdadeira
cruz envolta em ouro, ela o viu repetidas vezes em ê xtase durante a
Santa Missa. Depois da Missa, quando ele colocou de lado as vestes, ela
o viu voar sobre o altar e permanecer lá , com os joelhos dobrados, em
doce ê xtase.
Certa vez, quando a princesa teve permissã o para jantar com o padre
Custó dio e o santo na sacristia da igreja superior de Assis, ela
testemunhou um ê xtase. José , por obediê ncia, consentiu em jantar com
a princesa, mas trouxe sua pró pria comida, dizendo que trouxe o jantar
para um pobre peregrino (ou seja, a princesa). Mal tinham começado a
comer, o santo inesperadamente entrou em ê xtase, ajoelhou-se com os
braços abertos e ixou os olhos na princesa. Ela sentiu grande alegria
por isso e pediu ao Padre Custó dio que o chamasse de volta por
obediê ncia. Com a palavra de seu superior, José voltou a si e
apressadamente foi para sua cela, sem dizer mais nada alé m de suas
palavras usuais em tais casos: "Que o meu coraçã o seja imaculado na
Tua justi icaçã o, para que eu nã o seja confundido" (Salmo 118 ,
80). Quando questionado por um religioso sobre esta ocorrê ncia, ele
respondeu: "Temos duas Santa Clara; uma ainda vive na terra, a outra
está no cé u", e acrescentou que tinha visto tal esplendor no semblante
da princesa que podia nã o resistir ao impulso de se ajoelhar. Assim, ele
fez apenas elogios à piedade dela para ocultar sua pró pria santidade.

CAPITULO IX
MINHA VIDA ESTA "ESCONDIDA COM CRISTO EM DEUS" (COL. 3, 3)
(Antı́fona ao Magni icat de I. Vé speras, Escritó rio de Sã o José )
Apesar das honras que lhe foram conferidas, nosso santo permaneceu
humilde. De seus lá bios, ningué m jamais ouviu uma palavra em seu
pró prio elogio. Ele habitualmente se considerava o menor de todos os
homens e se autodenominava um "homem morto e inú til para todos os
propó sitos", ou "burro irmã o" ou o "pecador mais perverso e infame
entre os homens". Certa vez, ele disse que se tinha algo de bom, vinha
de Deus, que geralmente fazia uso dos maiores pecadores para realizar
grandes coisas. Ao ver pessoas e prı́ncipes se aproximarem dele, disse
surpreso: "Nã o sei por que essas pessoas vê m a mim; pois sou apenas
um homem ignorante e um pobre pecador." Apó s a visita de pessoas de
posiçã o ele caı́a de joelhos, beijava o chã o e repetia as palavras: "Nã o a
nó s, Senhor, nã o a nó s, mas ao Teu nome dá gló ria." (Sal. 113, 1.) Ele
entã o bateu repetidamente no peito e chorou amargamente por causa
dessas visitas.
As açõ es do santo condiziam com suas palavras. Ele se humilhava nã o
apenas diante de seu superior, mas diante de todos os seus irmã os,
empreendia com alegria as tarefas mais humildes, detestava todo elogio
e sentia prazer em ser insultado e desprezado. Um dia, enquanto o
santo estava em sua cela, falando a outros religiosos sobre assuntos
espirituais, seu confessor entrou inesperadamente e, para provar a
humildade do santo, disse com desprezo: "O que você disse,
hipó crita?" Joseph, sem mostrar o menor ressentimento, respondeu: "O
que você diz é verdade", e entã o cobriu o rosto com as duas mã os.
Em seus esforços para esconder os dons e graças que recebeu de Deus,
ele atribuiu o perfume sobrenatural que emanava de sua pessoa, à s
substâ ncias aromá ticas que ele intencionalmente carregava
consigo. Veri icou-se, no entanto, que o odor estava presente mesmo
que ele nã o carregasse nada ou mesmo coisas malcheirosas em sua
pessoa. Seus ê xtases e vô os ele chamou de sono, enfermidade,
fragilidade ou fraqueza fı́sica. Freqü entemente, quando sentia impulsos
extá ticos de amor, dizia, para evitar a admiraçã o dos homens: "Basta,
basta, cessa, cessa, nã o mais", e implorava a Deus que o privasse
inteiramente de tais consolaçõ es celestiais.
Ele costumava exaltar a virtude da humildade e admoestar os outros a
praticá -la. Aos noviços, em particular, ele disse: "Alguns de você s serã o
chamados a pregar, mas nã o se alegrem por isso; pois um pregador é
como uma trombeta que nã o produz som a menos que algué m a toque.
Antes de pregar, ore para Deus: 'Tu é s o espı́rito e eu sou apenas a
trombeta, que, sem Teu sopro, nã o pode emitir som.' "
O exemplo a seguir mostra como ele se esforçou para se
humilhar. Enquanto esteve em Copertino foi, por ordem do seu
superior, à casa de uma senhora que era membro da Ordem
Terceira. Enquanto estava lá , outro terciá rio veio visitar seu ilho, de
cerca de trê s anos de idade. Joseph acariciou a criança, colocou-a em
uma cadeira e disse: "Pequena, repita comigo: 'O irmã o Joseph é um
grande pecador e, quando morrer, irá para o inferno'." Mas a criança,
di icilmente capaz de falar distintamente e incapaz de compreender o
signi icado das palavras, respondeu clara e distintamente: "O irmã o
Joseph é um grande santo e, quando morrer, irá para o paraı́so". O santo
respondeu com aparente raiva: "Você nã o falará conforme eu o indico?
Agora, diga como eu: 'O irmã o Joseph é um grande pecador.' "Mas a
criança repetiu suas palavras anteriores:" Irmã o Joseph é um grande
santo. " Joseph, pegando a criança pelas orelhas e pelos cabelos, disse:
"Você nã o dirá como eu?" e novamente solicitado: "O irmã o Joseph é um
grande pecador e, quando morrer, irá para o inferno." Mas a criança
repetiu uma terceira vez: "O irmã o Joseph é um grande santo e, quando
morrer, irá para o paraı́so". Os presentes foram tocados até as lá grimas
e convencidos de que Deus desejava, pela boca de uma criança inocente,
recompensar e exaltar José por causa de sua humildade.
O papa Inocê ncio X, ao saber dos muitos dons raros de José e da
multidã o de pessoas que foram a Assis para visitá -lo, decidiu removê -
lo a im de proteger e preservar sua santidade. Por ordem escrita da
Inquisiçã o Geral ao Padre Inquisidor em Perugia, o Padre Joseph foi
transferido para o mosteiro dos Capuchinhos em Pietrarubbia. Este
mosteiro foi construı́do na encosta do Monte Carpegna, na diocese de
Montefeltro, Ducado de Urbino. A ordem papal foi executada em 23 de
julho de 1653. Embora José , por revelaçã o divina, previsse esse
julgamento, ele manifestou certa ansiedade, porque desejava viver com
seu amado companheiro religioso perto do tú mulo de seu Pai
Será ico. Na verdade, ele estava tã o assustado que o Padre Custó dio
repetidas vezes o tranquilizou. 1 A obediê ncia, entretanto, prevaleceu
sobre seus medos e, beijando os pé s do Padre Inquisidor, ele correu
para a carruagem que estava pronta. 2 Tranquilo de coraçã o, ele
empreendeu a jornada, embora nã o soubesse seu destino.
A viagem foi ocasiã o para novas manifestaçõ es da virtude do santo. Em
uma liteira carregada por duas mulas, que substituiu a carruagem em
Città di Castello, 3 cruzou des iladeiros e rochedos sem contratempos,
para grande espanto de seu companheiro. Ao chegar a Pietrarubbia,
prostrou-se aos pé s do Guardiã o, a quem reconheceu, embora nunca o
tivesse visto antes. Este superior havia recebido ordens estritas do
Padre Inquisidor para impedir Joseph de se associar com outros que
nã o os Capuchinhos e de se corresponder com qualquer pessoa. O
santo era tã o perfeitamente obediente em todas as coisas que nã o dava
nenhum passo sem a autorizaçã o do superior e nunca indagava sobre
as razõ es das restriçõ es a que estava sujeito.

O SACRO CONVENTO EM ASSISI


Onde Sã o José viveu, 1639-1653
Em Pietrarubbia, Joseph continuou a praticar a morti icaçã o, a
paciê ncia e todas as outras virtudes. As vezes, ele chorava
amargamente pelos sofrimentos de Jesus Cristo. Outras vezes cantava
com alegria os seus habituais hinos espirituais, aos quais
ocasionalmente convidava os capuchinhos a aderir. Aqui, també m, ele
foi favorecido por Deus com o conhecimento dos segredos dos outros,
com revelaçõ es de eventos futuros, com milagres frequentes, com
apariçõ es de anjos e santos e do pró prio Jesus Cristo, e com ê xtases
contı́nuos em sua cela ou na jardim, mas especialmente no altar.
A Inquisiçã o pretendia que o santo permanecesse escondido nas
montanhas solitá rias. Deus, poré m, permitiu que ele se tornasse tã o
conhecido que a igreja nã o poderia conter as multidõ es que se reuniam
para assistir à sua missa. 4 Por causa disso, alguns removeram o
telhado, enquanto outros quebraram aberturas na parede da igreja
para ver dele. Para maior comodidade, muitos construı́ram para si
pró prios cabanas perto do mosteiro ou até ergueram estalagens. O
santo icou trê s meses em Pietrarubbia. Em seguida, Roma deu ordem
ao arcebispo de Urbino para removê -lo para o mosteiro capuchinho de
Fossombrone. Mario Viviani, 5 cô nego e arcipreste da catedral, foi
encarregado da execuçã o da tarefa.
Nosso santo, animado pelo pensamento de que Deus está em toda
parte, empreendeu com alegria esta viagem a Fossombrone. Foi
caracterizado por ê xtases e milagres frequentes. Uma mula teimosa,
presa à liteira do santo, e um cavalo usado por um dos
integrantes, 6 que antes se recusava a carregar qualquer fardo, calaram-
se e obedeceram à voz do guia durante a viagem. Uma chuva violenta,
que incomodou muito os demais, nem mesmo umedeceu as vestes do
santo.
Embora o maior sigilo tenha sido observado, sua chegada ao mosteiro
de Fossombrone tornou-se imediatamente conhecida do povo. Eles
vieram em multidõ es para o mosteiro, desejosos de ver o santo e
recomendar-se à s suas oraçõ es; e vieram em tal nú mero que, por medo
da violê ncia, os frades nã o ousaram sair, mas esconderam-se no
convento. Apesar dessa multidã o de pessoas, Joseph estava morto para
o mundo e isolado a tal ponto que celebrou a missa em um altar
particular preparado para esse im. Aqui se veri icou sua resposta ao
Padre Guardiã o, que uma noite lhe perguntou, quando estava para se
aposentar: "O que você está fazendo aqui, Frei Joseph?" O santo
respondeu alegremente: "Estou enterrando aquele que está morto". A
solidã o deu-lhe muito mais liberdade para Deus, com quem conversava
sem interrupçã o. As virtudes do santo mais notadas durante a sua
estada em Fossombrone foram a caridade para com os religiosos
enfermos do mosteiro e a obediê ncia. O santo nem mesmo desceu ao
jardim sem permissã o especial, embora fosse livre para fazê -lo.
Dos muitos ê xtases ocorridos em Fossombrone, trê s merecem mençã o
especial. A primeira aconteceu no jardim do mosteiro, quando um
capuchinho, na presença do santo, falou das gló rias de Maria. Soltando
seu grito alto de costume, o santo correu em direçã o ao orador com os
braços abertos e com tal impetuosidade que ambos caı́ram no chã o. Os
outros capuchinhos, ouvindo o barulho, correram para lá e viram José
imó vel e em ê xtase, condiçã o em que permaneceu cerca de uma hora e
meia.
O segundo arrebatamento ocorreu no mesmo jardim na noite do
domingo em que o evangelho do Bom Pastor é lido. José por acaso viu
um cordeiro no jardim, e montando como de costume das coisas
criadas para a contemplaçã o do sobrenatural, disse alegremente: "Veja,
um cordeiro!" Quando estava prestes a pegá -lo, um frade rapidamente o
ergueu e colocou em seus braços. Depois de acariciar o animal, ele
segurou seus pé s e colocou-o em seus ombros. Absorto na
contemplaçã o do Bom Pastor, começou entã o a correr pelo jardim,
dizendo com alegria ao Guardiã o: "Pai Guardiã o, vê aqui o Bom Pastor,
que traz de volta as ovelhas perdidas". Finalmente, ele jogou o cordeiro
para o alto e voou atrá s dele acima das á rvores mais altas, onde
permaneceu extasiado, ajoelhado com os braços estendidos por mais
de duas horas, para espanto dos religiosos.
O terceiro ê xtase foi experimentado pelo santo no Pentecostes. Quando,
durante a missa, ele chegou à s palavras da sequê ncia, "Veni, Sancte
Spiritus", o fogo do amor divino irrompeu com tanta força em seu peito
que ele se arrancou do altar e, com um ruı́do de trovã o e a velocidade
do relâ mpago girava em torno de toda a capela com tal impetuosidade,
que todas as celas do dormitó rio estremeceram e os religiosos
aterrorizados saı́ram correndo de seus quartos, gritando: "Um
terremoto!" Mas, ao entrar na capela, descobriram que a causa da
perturbaçã o era o santo, que encontraram em ê xtase e absorto na
contemplaçã o do Divino Consolador.
José passou cerca de trê s anos em Fossombrone, com exceçã o dos
poucos dias do capı́tulo provincial, durante os quais foi, por comando
do Santo Ofı́cio, transferido para o mosteiro capuchinho de
Montevecchio. Aqui ele viveu com grande alegria, especialmente em
conseqü ê ncia de uma visã o do "querido velho santo", como ele
chamava de Sã o Fé lix. 7 Apó s seu retorno a Fossombrone, Cristo
apareceu a ele na forma de um peregrino e o fortaleceu. Os
capuchinhos se apegaram a ele e o reverenciaram por causa das
ocorrê ncias que acabamos de relatar, o cumprimento de suas profecias
e sua compreensã o dos pensamentos e segredos dos outros. A um
sacerdote, ele revelou uma tentaçã o que o perturbou na missa. A um
noviço disse: "Filho, você tem uma boa mã e; ela o abençoa diariamente
com o sinal da cruz". O noviço mais tarde soube que sua mã e lhe dava
essa bê nçã o todos os dias de uma varanda. 8 Os religiosos també m se
apegavam a ele por causa das sagradas admoestaçõ es que ele lhes
dava. Um religioso perguntou-lhe se ele sabia que aqueles que
carregavam a regra de Sã o Francisco sobre sua pessoa seriam
abençoados pelo Pai Será ico. Joseph respondeu: "Eu o conheço bem,
mas é muito melhor ter a regra no coraçã o do que segui-la." Por causa
desses e de muitos outros acontecimentos, nã o foi surpresa que esses
religiosos piedosos icassem tristes ao saber que o santo estava para
deixá -los.

CAPITULO X
O "PARAISO" DE UM SAO (SAO JOSE)
Na ascensã o do Papa Alexandre VII, uma delegaçã o de oito Provinciais
Conventuais 1 rogou a Sua Santidade que devolvesse José aos
Conventuais. O Santo Padre perguntou para que lugar eles gostariam
que ele fosse enviado. Eles responderam, ao mosteiro de Assis, onde
ele havia estado anteriormente. Mas o pontı́ ice era de opiniã o que nã o
faltaram santos religiosos em Assis, que sempre foi uma escola de
verdadeira disciplina religiosa. Vá rios dias depois, informou aos
superiores que desejava que José fosse mandado para o mosteiro de
Osimo, uma antiga cidade das Marcas, a seis horas de distâ ncia do
santuá rio de Loreto. O sobrinho do papa, Antony Bichi, era entã o bispo
de Osimo.
O documento papal datava de 1656, mas, devido a uma praga que
grassava em algumas partes da Itá lia, só poderia ser executado no ano
seguinte, quando o secretá rio-geral da Ordem foi enviado para levar
José a Osimo. Por revelaçã o divina, o santo sabia de tudo isso e també m
da hora de sua partida. Ele, portanto, contra sua vontade, abriu sua
janela e colocou-se perto dela por volta das oito e meia, 2 da noite de 6
de julho de 1657. Um irmã o leigo, seu companheiro, surpreso com isso,
perguntou-lhe por que ele tinha feito isso. O santo respondeu que
dentro de algumas horas deixaria o mosteiro para regressar à sua
Ordem e que o Padre Secretá rio, que o iria receber de volta, já estava
perto.
O padre secretá rio chegou por volta das nove e meia daquela
noite, 3 apresentou ao Guardiã o o comando de Roma e, para evitar
atrasos, partiu com José naquela mesma noite. O piedoso religioso,
como ú ltimo sinal de afeto, acompanhou José a certa distâ ncia pelo
caminho pedregoso que conduzia à estrada, e com carinho colocou um
sudá rio em seu peito e outro nas costas para que nã o sofresse nenhum
dano ao descer. a montanha, ele deve suar. Antes de deixá -los, ele lhes
devolveu esses panos, que exalavam um odor muito agradá vel. Esse
perfume nã o só se notou no caminho, mas, na volta, permeou todo o
mosteiro.
A alegria dos conventuais com a volta de José foi muito grande. Ele
mesmo, embora sempre resignado à vontade de Deus, icou feliz em
voltar e manifestou sua alegria ao chegar ao primeiro mosteiro de sua
Ordem em Santa Vitó ria delle Fratte. Seus guias, embora familiarizados
com o lugar, perderam-se no escuro e vagaram pelos bosques
vizinhos. O santo, que nunca havia estado naquele lugar, disse-lhes:
"Vã o lá , onde a lua está nascendo". Eles se viraram naquela direçã o e
logo viram a torre do sino da igreja que icava ao lado do
mosteiro. 4 Depois de sua chegada, José soube que o mosteiro havia
sido estabelecido e construı́do pelo pró prio Sã o Francisco e,
prostrando-se, beijou o chã o e agradeceu a Deus por permitir que ele
voltasse a viver entre seus irmã os e morresse no meio deles.
O bispo de Fossombrone e seus criados vieram naquela mesma noite
para receber a bê nçã o do santo. Este prelado designou um de seus
servos para conduzir o cavalo do santo pelo caminho pedregoso
durante a noite seguinte, quando a viagem continuasse. Para melhor
cumprir sua tarefa, o criado segurava com uma das mã os o freio do
cavalo do santo e com a outra uma vela acesa. Embora soprasse um
vento violento, a vela nã o se apagou nem pareceu diminuir, embora
tenha queimado por vá rias horas. O homem sempre preservou a vela
como uma relı́quia.
Para evitar qualquer aglomeraçã o de pessoas, o grupo evitou as cidades
e aldeias maiores e parou apenas em aldeias e fazendas. Em uma dessas
casas de fazenda, uma mulher pobre queixou-se ao santo que os melõ es
da venda, dos quais ela ganhava o sustento para si e sua famı́lia,
estavam sendo destruı́dos por vermes. Joseph, com pena, abençoou o
jardim e naquele ano ele produziu mais e maiores melõ es do que nunca.
Quando o santo inalmente chegou à s muralhas de Osimo, foi obrigado
a esperar até a noite para entrar na cidade. Enquanto avistava o campo
desde a varanda de uma casa, um padre mostrou-lhe a cú pula da Santa
Casa de Loreto. Joseph, ao olhar, de repente exclamou: "Você nã o vê os
anjos que sobem e descem do cé u para aquele
santuá rio?" Imediatamente apó s dizer essas palavras, ele soltou seu
grito de costume e voou em ê xtase da varanda, que estava a doze
palmos do chã o, ao pé de uma amendoeira, uma distâ ncia de quinze
metros. 5
Na noite de 10 de julho de 1657, Joseph chegou ao mosteiro dos
Conventuais em Osimo. Uma sala isolada com uma capela particular e
um jardim foram designados a ele, e um irmã o foi dado a ele como
associado e servo. O Papa Alexandre VII havia ordenado isso, para que o
santo nã o fosse incomodado pelo povo. Durante o resto da vida nã o
teve o menor relacionamento com ningué m, exceto com o Bispo, seu
Vigá rio Geral, os religiosos do mosteiro e, em caso de necessidade, com
o mé dico e o cirurgiã o. Saiu de seu quarto apenas para visitar os
religiosos enfermos do mosteiro e uma vez, à noite, quando todas as
portas estavam cuidadosamente trancadas, para olhar a igreja. Mesmo
assim, estava satisfeito com sua reclusã o e costumava dizer: "Moro em
uma cidade, mas me parece que vivo em uma loresta, ou melhor, em
um paraı́so". Na verdade, ele poderia chamar sua nova morada de
paraı́so; pois sua alma estava quase continuamente extasiada.
Só o cé u conhece todos os doces ê xtases que aqui o uniram a
Deus. Muitos, poré m, icaram conhecidos. Vá rios foram testemunhados
pelo Cardeal Bichi, Bispo de Osimo. Em uma ocasiã o, ele estava sentado
ao lado do santo e conversando com ele, quando o viu se levantar
rapidamente e, com os braços estendidos e olhos abertos, permanecer
privado do uso de seus sentidos, e embora um mosquito rastejasse
sobre a menina de seus olhos, ele nã o moveu as pá lpebras nem um
pouco. As vezes, os religiosos o encontravam em sua capela envolto em
ê xtase e o carregavam como um cadá ver para seu
quarto. Ocasionalmente, esses arrebatamentos duravam seis ou sete
horas. Certa vez, os frades o viram erguer-se a trê s passos e encostar o
rosto no de uma imagem do Menino Jesus, que se erguia sobre o altar
de sua capela. Em sua cela, ele dançou em ê xtase delicioso com esta
mesma imagem de cera da Criança Divina e pressionou-a
violentamente contra o peito, mas sem dani icá -la. No Natal ele
convidava todos os frades para seu orató rio, onde havia erguido um
presé pio. Ele entã o cantava cançõ es que havia composto em
homenagem ao menino Jesus e invariavelmente caı́a em ê xtase. Ele
amava muito o Menino Jesus, e está registrado que Jesus apareceu a ele
na forma de uma criança em Osimo e em outros lugares.
Sua vida em Osimo foi de oraçã o. Suas oraçõ es diá rias incluı́am o Ofı́cio
Divino, o Ofı́cio de Nossa Senhora, o Ofı́cio dos Mortos, o Ofı́cio da Cruz,
o Ofı́cio do Espı́rito Santo, os Sete Salmos Penitenciais com Oraçõ es, a
Ladainha de Nossa Senhora e o Rosá rio . 6 O tempo que lhe restou foi
dedicado à leitura piedosa, à conversa edi icante com os seus co-
religiosos e ao gozo das delı́cias celestes na celebraçã o da Santa Missa.
Certamente era maravilhoso que o santo continuasse sempre a missa
onde havia interrompido, e que durante suas muitas voos de ê xtase,
para cima e para baixo, para a frente e para trá s, suas vestes nunca se
desarrumavam.
Vivendo apenas para Deus, Joseph dormiu apenas um breve tempo em
sua cama de tá buas, e isso de má vontade. Ele comia muito pouco e
apenas alimentos quaresmais. Ele icou satisfeito com o que foi
colocado diante dele e nem mesmo disse uma palavra quando seu
irmã o leigo deixou de lhe trazer comida por dois dias. O diabo nã o
parou de tentá -lo e molestá -lo de vá rias maneiras. Mas o servo de Deus
corajosamente disse: "Nã o temo seus ataques, pois estou com Deus e
longe do mundo."
Embora o santo vivesse em tal reclusã o que nã o tivesse visitado a
cidade de Osimo e nã o conhecesse nenhum de seus cidadã os, ainda
assim falava da cidade e de seus habitantes, de suas casas e de seus
negó cios, pú blicos e privados, como se tivesse visto tudo com seus
pró prios olhos. Os habitantes de Osimo experimentaram muitas graças
e milagres sem saber quem os operou. As vezes, o milagre era realizado
por uma simples palavra. Ele sufocou uma tempestade ameaçadora
com as palavras: "Vá embora em nome de Deus". As vezes, ele operava
milagres por meio de objetos que usava. Com um cinto que usava, ele
libertou um homem das tentaçõ es impuras. Com objetos semelhantes
ele curou, como dores de ouvido, fortes, febres perigosas, hemorragias
ou outras enfermidades.
A luz sobrenatural pela qual Joseph conhecia os segredos e previa o
futuro, aumentava continuamente. Este dom foi especialmente
observado por seus companheiros religiosos. Para um deles, ele relatou
até os menores detalhes de uma viagem que izera. Outro frade que ele
lembrou de ter esquecido de recitar uma oraçã o prometida. Um dia,
quando um padre foi chamado ao confessioná rio, ele revelou-lhe que
um de seus penitentes, movido por uma falsa vergonha, havia ocultado
um pecado em vá rias con issõ es. "Vá , mate o escorpiã o", disse o
santo. O padre confessor entendeu essas palavras ao ver um escorpiã o
sair do penitente depois que ele confessou o pecado. Quando vá rias
pessoas recomendaram à s suas oraçõ es a esposa de um camponê s
gravemente ferido, o padre Joseph tranquilizou-os dizendo: "Ela nã o
morrerá ".
Por esta mesma luz celestial o santo descobriu que vá rios religiosos
haviam deixado o mosteiro uma noite durante o carnaval para se
divertir na casa de parentes. "Onde estã o as tuas ovelhas?" Joseph
perguntou ao Pai Guardiã o, que foi ao seu quarto. Estas palavras foram
comunicadas aos frades e eles voltaram rapidamente e entraram na
cela do santo. O servo de Deus icou tã o feliz com a volta deles que
agarrou um deles pelo braço, levantou-o do chã o com uma das mã os e
girou-o pela cela, como se ele fosse apenas uma palha. Assim, ele
mostrou seu terno amor para com seus companheiros religiosos, a
quem considerava a salvo de todos os perigos quando no mosteiro.

CAPITULO XI
OBTENÇAO DO PREMIO (1 COR. 9, 24)
Ao entrar no mosteiro de Osimo, José predisse que morreria ali,
dizendo: "Este é o meu descanso" (Salmo 131, 14). Falando mais
claramente de sua morte, acrescentou que, se nã o fosse o primeiro,
certamente seria o segundo frade de Copertino a morrer em Osimo. Os
eventos provaram que ele era o segundo. Revelou a aproximaçã o de sua
morte ao padre Sylvester Evangelisti no retorno deste a Osimo de
Monte iascone, onde estivera dois anos. 1 Com ele, o santo concordou
que aquele que deveria morrer primeiro deveria ser assistido pelo
outro na morte. Quando o padre Sylvester chegou a Osimo, Joseph
disse-lhe: "Finalmente você veio? Por que nã o quis vir? Nã o se lembrou
de sua promessa de me ajudar na morte?" Mesmo no dia de sua morte,
ele predisse dizendo a seus irmã os que morreria no dia em que nã o
pudesse receber a carne imaculada do Cordeiro Divino, ou seja, a
Sagrada Comunhã o. Sabendo que seu im estava pró ximo, ele desejou
ardentemente a aproximaçã o do momento feliz em que deveria estar
totalmente unido a Deus. Este santo desejo brilhou em seu semblante e
se revelou em suas palavras. Até fez com que ele detestasse toda
comida que pudesse prolongar sua vida.
10 de agosto de 1663, ele foi atacado por uma febre. Isso o encheu de
grande alegria e ele respondeu, à queles que o aconselharam a pedir a
Deus o dom da saú de: "Nã o, Deus me livre!" O modo de vida rigoroso
conduzido pelo santo havia minado suas forças, enfraquecido seu
estô mago e emaciado seu corpo a tal ponto que ele poderia oferecer
apenas uma fraca resistê ncia à febre. Ele se deitou em seu pobre divã ,
resignando-se inteiramente à vontade dos mé dicos e de seus
superiores. Durante cinco dias a febre foi intermitente e ele podia
levantar-se todas as manhã s para rezar a Santa Missa no seu orató rio
privado, onde experimentou as habituais delı́cias do espı́rito em grau
mais elevado do que nunca. Teve ê xtases e voos milagrosos,
especialmente durante a sua ú ltima missa, que leu na festa da
Assunçã o.
Quando a violê ncia da febre já nã o lhe permitia celebrar os Misté rios
Divinos, pediu autorizaçã o para assistir à Santa Missa e receber a
Sagrada Comunhã o todas as manhã s. Foi comovente vê -lo brilhar de
alegria com a Sagrada Comunhã o; pois, ao receber o Santı́ssimo
Sacramento, exclamava: "Veja, meu deleite!" e entã o desmaiava,
fechando os olhos e empalidecendo como um cadá ver. A medida que a
doença progredia, a chama do amor divino em seu coraçã o tornou-se
tã o intensa que nã o podia mais ser con inada, mas frequentemente
explodia de seus lá bios nas palavras: "O amor, ó amor!" Ao mesmo
tempo, ele pressionava as mã os contra o peito como se fosse abri-lo
para dar vazã o ao fogo interno. Ele entã o se voltava para aqueles que o
ajudavam e os admoestava a orar ou agradecer por sua bondade.
O cirurgiã o maravilhou-se muito ao ver o servo de Deus, por causa de
um ê xtase, insensı́vel ao ferro quente que aplicou para o curar. Ele icou
ainda mais maravilhado quando o santo lhe revelou um pecado antigo e
secreto que ele pró prio havia esquecido.
Quando nã o consegue mais se levantar da cama, por causa da violê ncia
da febre, o santo ainda deseja receber a Sagrada Comunhã o
diariamente. A ú ltima comunhã o, que recebeu como viá tico no dia 17
de setembro, um dia antes de sua morte, revelou o grau e a força de seu
amor. Ao ouvir o som da campainha que anunciava a chegada de sua
Amada, ele subitamente se levantou de sua cama e voou em ê xtase da
porta de seu quarto para a escada acima de sua capela. Ali, de joelhos,
com uma luz sobrenatural difusa em seu rosto, ele recebeu seu Deus
oculto. Depois da Sagrada Comunhã o, ele desmaiou, mais por amor do
que por fraqueza, e foi levado de volta para a cama.
No inı́cio de sua doença, Joseph disse: "O asno [signi icando seu corpo]
começa a subir a montanha." Durante seu progresso, ele observou: "O
asno chegou a meio caminho da montanha." Finalmente, ele disse: "O
asno chegou ao topo da montanha, ele nã o pode mais se mover e vai
deixar seu esconderijo aqui." Com grande fervor, ele freqü entemente
repetia as palavras: "Desejo ser dissolvido e estar com Cristo" (Filipe. 1,
23), ou "Deus seja louvado, Deus seja agradecido, seja feita a vontade de
Deus".
Depois de receber a Extrema Unçã o, ele gritou com alegria: "Oh, que
cheiro agradá vel! Oh, que fragrâ ncia! Oh, que doçura do paraı́so!" Em
seguida, pediu que se lesse a pro issã o de fé , pedia perdã o a todos por
suas faltas e rogava que seu corpo fosse sepultado, sem qualquer
solenidade, em algum lugar remoto e escondido, para que ningué m
soubesse onde Frei Joseph estava sepultado. O Vigá rio Geral pediu
entã o ao Santo agonizante que o abençoasse e a todos os
presentes. Depois de receber a bê nçã o, o Vigá rio Geral disse ao santo
que fora autorizado pelo Santo Padre, por meio do Cardeal Ghigi, a dar-
lhe a bê nçã o papal. Joseph icou maravilhado com o fato de o Vigá rio de
Cristo ter se lembrado de um frade tã o humilde e sem valor e
respondeu: "Esse nã o é um favor que se possa receber na
cama." Embora quase morto, levantou-se e, apoiado pelos presentes,
dirigiu-se ao seu orató rio, onde foi recitada a Ladainha e de joelhos e
com grande devoçã o recebeu a bê nçã o papal. Ele foi entã o levado à s
pressas de volta para a cama, onde se preparou para sua ú ltima viagem
por meio de repetidos atos de amor a Deus.
Um religioso, para animá -lo, falou-lhe das gló rias do Paraı́so. O santo
respondeu: "Eu nã o quero ir para o inferno, porque lá Deus nã o é
louvado." Outro disse a ele: "Frei Joseph, agora é hora de lutar e vencer
o diabo!" Joseph respondeu: "A vitó ria nã o faltará ." Nada restou para
ele, exceto o triunfo glorioso, a aproximaçã o que ele agora contemplava.
O santo sentia-se inquieto, nã o por causa da dor, mas como ele mesmo
dizia, por causa de seu amor veemente, que o impelia a envidar todos
os esforços para libertar sua alma das amarras que ainda a
prendiam. Ao padre Sylvester Evangelisti, 2 que lhe falou desse amor,
disse: "Você entende! Você entende!" Ele expressou esse amor com as
palavras que dirigiu ao cruci ixo: "Pega este coraçã o, queime e parta
este coraçã o, meu Jesus." Para aqueles que sugeriram a ele oraçõ es
ejaculató rias e mencionaram o amor de Deus, ele disse: "Diga mais
uma vez."
Depois de vá rias ejaculaçõ es à sua querida mã e, como ele chamava a
Santı́ssima Virgem Maria, e enquanto o padre que o ajudava rezava o
"Ave Maris Stella", José entregou sua alma a Deus, um doce sorriso e
uma luz brilhante se espalhando em seu rosto . O santo morreu pouco
depois da meia-noite, 3 apó s 18 de setembro de 1663. Ele tinha
atingido a idade de sessenta anos e trê s meses e passou os ú ltimos seis
anos, dois meses e oito dias de sua vida em Osimo.
Joseph era alto e bem construı́do. Sua postura era digna, seus gestos
naturais e despretensiosos. Seus traços eram um tanto caseiros, seus
olhos negros e muito vivazes e, como ele habitualmente os erguia ao
cé u, conferiam-lhe um encanto e uma gravidade peculiares. A
expressã o de seu semblante sempre foi serena e, devido à s suas
habituais recordaçõ es, sé ria e majestosa. Ele usava uma barba longa e
pesada que, originalmente preta, se tornou grisalha mais tarde na vida,
assim como seu cabelo. Embora falasse pouco, sua conversa era cordial
e animada e muitas vezes caracterizada por uma santa alegria. O santo
passou quase metade de sua vida longe de seu paı́s natal, mas sempre
falou seu dialeto nativo com um encanto singular. 4
Ao abrir o corpo do santo para o embalsamamento, veri icou-se que o
pericá rdio estava enrugado, os ventrı́culos do coraçã o sem sangue e o
pró prio coraçã o murcho e seco. Isso foi considerado um efeito do ardor
de seu amor a Deus. O corpo foi lavado com á lcool e deitado sobre um
lençol. De alguma forma desconhecida, o lençol pegou fogo e as chamas
se espalharam por todo o cadá ver. Ao apagar as chamas veri icou-se
que o corpo nã o foi ferido e que a barba e os cabelos nem sequer
estavam chamuscados.

CORPO DE SAO JOSE DE COPERTINO


Como agora preservado na Bası́lica de Osimo

Os restos mortais foram transportados para a sacristia e aı́ dispostos


em estado. Uma barreira de madeira foi erguida ao redor do esquife, e
vinte e quatro pessoas - oito cô negos, oito nobres e oito religiosos do
mosteiro - foram designadas para guardar os restos sagrados. Essas
precauçõ es foram necessá rias; pois as pessoas vinham em grande
nú mero da cidade e dos arredores e, clamando a uma só voz: "O santo
sacerdote que vivia no mosteiro de Sã o Francisco está morto",
desejavam vê -lo depois da morte, a quem nã o podiam ver durante a
vida. No dia 19 de setembro, todos foram autorizados a entrar na
sacristia para ver os restos mortais; isso continuou até 9:15 da
noite. No dia 20 de setembro foram realizadas as exé quias, nas quais
participaram o Capı́tulo da Catedral, o clero secular e todas as
comunidades religiosas da cidade. Até depois das onze horas da noite, o
corpo permaneceu exposto à veneraçã o pú blica e foi entã o colocado em
um caixã o de madeira para ser enterrado no dia seguinte. Uma
renovada multidã o e clamor do povo fez com que o caixã o fosse
reaberto e o corpo exposto à vista por uma hora, apó s o que os guardas,
por persuasã o e força, induziram o povo a sair. O corpo foi entã o
retirado do caixã o temporá rio e colocado em outro de cipreste, e este
foi colocado em uma caixa de carvalho. No dia seguinte, os restos
mortais foram transportados para a igreja e aı́ enterrados na capela da
Imaculada Conceiçã o.
CAPITULO XII
A "MEMORIA DE UM SAO ADMIRAVEL"
(Clemente XIV, Decreto estendendo a Festa de Sã o José à Igreja
Universal)
Devido aos muitos e surpreendentes milagres pelos quais Deus
glori icou seu servo José apó s a morte, as investigaçõ es informativas
foram iniciadas dois anos apó s sua morte por autoridade dos Bispos de
Nardo, Assis e Osimo. O Papa Inocê ncio XI nomeou uma comissã o para
a introduçã o da causa e autorizou os Bispos das citadas dioceses a
conduzirem novas investigaçõ es pela autoridade apostó lica. Com
Clemente XI, a discussã o usual foi iniciada a respeito do grau heró ico
das virtudes teoló gicas e cardeais do santo. Este processo foi encerrado
favoravelmente com Clemente XII, que na festa da Assunçã o de Nossa
Senhora de 1735, tornou pú blico o decreto solene a irmando a virtude
heró ica de José . A discussã o dos milagres foi entã o retomada. A
primeira congregaçã o (antepreparató ria) foi realizada em 2 de março
de 1751, a segunda (preparató ria) em 16 de novembro do mesmo ano,
a terceira congregaçã o (geral) no aniversá rio da morte do santo, 19 de
setembro de 1752. Na festa de Sã o Francisco, 4 de outubro de 1752, o
Papa Bento XIV publicou o solene decreto de aprovaçã o de dois
milagres, pelo qual agradou a Deus glori icar a morada e o tú mulo do
santo.
Esses milagres foram os seguintes. Um inchaço se formou no joelho
direito de Victor Mattei de Osimo e cresceu ao longo de seis anos a tal
ponto que inalmente icou do tamanho de um pedaço de pã o e muito
duro. Era-lhe impossı́vel ajoelhar-se ou andar livremente e era
torturado por dores incessantes que, cerca de um mê s antes da cura, se
tornaram quase insuportá veis. O cirurgiã o chamado, sabendo que o mal
era crô nico e que por uma incisã o o enfermo icaria exposto a grande
perigo, recusou-se a operar. Mais ou menos na é poca em que Mattei se
desesperou de toda ajuda humana, ocorreu a morte de Joseph. Em
ú ltima instâ ncia, o doente refugiou-se em meios sobrenaturais,
con iando em ser curado por Deus pelos mé ritos do santo, cuja fama de
santidade já se espalhara. Na manhã do dia 19 de setembro, ele se
arrastou até a igreja de Sã o Francisco. O corpo do santo jazia em estado
na sacristia e, nã o podendo se aproximar por causa da grande multidã o,
Victor obteve permissã o para ir ao quarto do mosteiro em que o padre
José havia vivido. Entrou devotamente e por im chegou à capela
privada, onde o santo havia celebrado a Santa Missa. Ali fez um ato de
viva fé e pressionou o joelho contra o degrau do altar que foi derrubado
pelos joelhos do santo durante seu oraçõ es longas e prolongadas. Ao
tocar no degrau, toda a dor e o inchaço desapareceram imediatamente,
de modo que nenhum vestı́gio da enfermidade permaneceu. O joelho
estava perfeitamente curado e podia ser movido como o outro, que
nunca havia sido afetado.
O outro milagre aconteceu em Stephen Mattei, o ilho de doze anos do
citado Victor Mattei, em novembro do mesmo ano de 1663. Enquanto
atirava pedras em uma brincadeira com outros meninos, ele foi atingido
no olho direito. A có rnea e a pelagem uveosa foram cortadas e o humor
misturado com sangue acabou. Todo o olho parecia esmagado e
pressionado contra a ó rbita. O mé dico e cirurgiã o, vendo que a visã o do
olho nã o podia ser restaurada, esforçou-se durante vá rios dias para
curar a ferida e formar uma cicatriz. O menino foi exortado por sua mã e
a con iar na ajuda do Padre Joseph, por cujo poder milagroso seu pai
havia sido curado dois meses antes. Recorreu ao santo, primeiro pela
oraçã o em casa e depois, acompanhado pela mã e, no tú mulo do
santo. Aqui, mã e e ilho se ajoelharam e repetiram devotamente sua
oraçã o. O menino entã o apertou o olho cego para a pedra que cobria o
tú mulo do santo e imediatamente recuperou a visã o.
O Papa Bento XIV publicou o decreto de aprovaçã o destes dois milagres
na festa de Sã o Francisco, apó s ter celebrado a missa no altar deste
santo na Bası́lica dos Doze Santos Apó stolos. A pedido do Geral da
Ordem, Padre Charles Antony Calvi, e por causa do parecer favorá vel do
ilustre Louis Valenti, que foi Promotor Fidei, agradou a Sua Santidade
conceder a dispensa da Congregaçã o Geral. Caso contrá rio, isso é
realizado apó s a aprovaçã o das virtudes e milagres para determinar se
é seguro prosseguir com as solenidades da beati icaçã o. Um rescrito
papal foi publicado, portanto, em 12 de dezembro de 1752, declarando
que, apó s a aprovaçã o dos milagres e virtudes, e em consideraçã o à s
circunstâ ncias especiais do caso, a beati icaçã o poderia ser realizada
sem uma nova congregaçã o. Na festa de Sã o Matias, 24 de fevereiro de
1753, o servo de Deus, José de Copertino, foi solenemente beati icado
por sua Santidade, Bento XIV, na Bası́lica do Vaticano, em meio à s
alegrias de um grande aglomerado de pessoas.
Os milagres operados por intercessã o do Beato José de Copertino
continuaram, de modo que bispos e prı́ncipes, juntamente com os
conventuais, suplicaram a Roma que assumisse a causa da sua
canonizaçã o. Em 17 de julho de 1754, o Santo Padre aprovou a
retomada da causa e por autoridade apostó lica foram investigados trê s
milagres. O Papa Clemente XIII aprovou a decisã o da Congregaçã o dos
Ritos quanto à validade do processo, 7 de março de 1761. Duas
congregaçõ es, 18 de setembro de 1764 e 10 de dezembro de 1765,
consideraram os processos vá lidos e os trê s milagres autê nticos. Na
congregaçã o geral de 22 de setembro de 1766, Sua Santidade ordenou
que oraçõ es pú blicas fossem feitas para implorar a orientaçã o divina, e
no dia 12 de outubro seguinte, ele publicou o decreto estabelecendo a
autenticidade dos novos milagres. Na seguinte congregaçã o geral, foi
decidido por unanimidade que a canonizaçã o poderia ser realizada com
segurança. Um decreto nesse sentido foi publicado logo depois, e em 16
de julho de 1767, o Papa Clemente XIII promulgou na Bası́lica do
Vaticano o decreto que colocava o Beato José na lista dos Santos.
Uma breve narraçã o dos trê s milagres investigados formará um par
apropriado para o relato de uma vida tã o cheia de milagres.
Magdalen Panzironi foi acometida por um tumor abdominal. Este
crescimento era grande e duro como pedra, e aos poucos roubou-lhe
toda a força. Febre, dor de cabeça e outros sintomas se instalaram, de
modo que ela icou con inada à cama e, no inal de outubro de 1753, sua
dissoluçã o parecia pró xima. Ela nã o conseguia falar, seu corpo esfriava
e os mé dicos consideravam o caso sem esperança. Ela recebeu a
Extrema Unçã o em 31 de outubro, e sua morte foi considerada tã o certa
que os servos começaram a costurar sua mortalha. Neste extremo, a sua
sobrinha exortou a moribunda a invocar o Bem-aventurado José e a
depositar nele a sua con iança. Ela entã o trouxe uma relı́quia do santo
de uma sala adjacente e colocou-a nas mã os de Madalena; ao mesmo
tempo, outra mulher colocou uma foto do santo acima do
tumor. Instantaneamente Magdalen abriu os olhos e, declarando-se
totalmente restaurada, levantou-se. Os mé dicos, que voltaram em uma
hora, nã o encontraram nenhum vestı́gio do tumor. Magdalen participou
da refeiçã o noturna com a famı́lia, foi à igreja na manhã seguinte e pô de
cuidar de todas as suas tarefas domé sticas.
Benedicta Pierangelini foi atingida aos trinta e dois anos (1741) com
palpitaçõ es do coraçã o e di iculdade em respirar. Ela suportou isso em
silê ncio por oito anos, mas em 1749, frequentes paroxismos de
natureza severa a forçaram a consultar mé dicos. Eles descobriram um
crescimento nos vasos cardı́acos que interferia na circulaçã o do
sangue. Durante os seis anos seguintes, ela permaneceu sob cuidados
mé dicos. O ú nico remé dio que os mé dicos puderam aplicar foi a
sangria. Esse remé dio era usado repetidamente a cada semana e, à s
vezes, era aplicado mais de uma vez no mesmo dia. Em janeiro de 1756,
ela recebeu os ú ltimos sacramentos. No dia 18, quando a morte parecia
pró xima, a irmã a incitou a recorrer ao beato José de Copertino e
depositou em seu peito uma relı́quia do santo. Os espectadores entã o
rezaram um Pai-Nosso e uma Ave Maria em homenagem ao santo. Um
paroxismo, mais severo do que os anteriores, sacudiu a mulher, e o
mé dico, sentindo-se instigado a fazê -lo, aplicou a lanceta em seu braço
direito. Com o sangue surgiram dois crescimentos e caı́ram no vaso com
á gua, que foi colocado para receber o sangue. Um crescimento tinha
cerca de uma polegada de comprimento, o outro do tamanho e forma
de um ovo de pombo. No mesmo momento Benedicta foi curada, como
se nunca tivesse sofrido.
Desde outubro de 1753, Bernardin Senagogliese, um arrieiro, sofria de
herpes. Coçar agravou as feridas e o homem sofreu muitas dores. Ele
era muito pobre para recorrer a assistê ncia mé dica e foi forçado por
sua ocupaçã o a andar muito durante o dia e à noite, sendo impossı́vel
para ele cavalgar por causa de sua a liçã o. Depois de oito meses, as
ú lceras cresceram tanto que ele só conseguia andar com di iculdade e
nã o conseguia sustentar a famı́lia. Caiu uma febre que o obrigou a
deitar-se, onde durante dois dias nã o conseguiu dormir nem descansar
e foi atormentado por convulsõ es e fortes dores. Durante a noite
seguinte a 17 de junho de 1754, a dor tornou-se quase insuportá vel. Na
manhã seguinte, o marido e a esposa imploraram a ajuda do beato José
de Copertino e a esposa foi à igreja, ainda mais para suplicar ao
santo. Enquanto isso, o enfermo cochilou e viu o Abençoado José em
uma apariçã o. O santo disse: "Venha, vamos recitar a Ladainha de
Nossa Senhora." Beato José , em seguida, começou, e o doente
respondeu a cada invocaçã o, "rogai por nó s." Depois de recitar as
palavras "Saú de do doente", à s quais Bernardin respondeu: "Reze por
nó s", a visã o desapareceu e, ao mesmo tempo, todos os vestı́gios da
doença desapareceram. O homem icou muito maravilhado, assim
como sua esposa, que já havia voltado da igreja. Levantando-se
imediatamente de sua cama e caminhando com facilidade para a igreja,
Bernardin rendeu graças a Deus e seu benfeitor, o beato Joseph. O resto
do dia ele passou contando a muitos em toda a cidade sobre sua
recuperaçã o. Na manhã seguinte, estando totalmente restaurado, ele
voltou ao trabalho. 1
A festa de Sã o José foi ixada pelo Papa Bento XIV no Breve da
Beati icaçã o para o dia 18 de setembro. O Ofı́cio e a Missa foram
concedidos aos Conventuais, Capuchinhos, Observantes, Reformados,
Recoletos, Descalços e Regular Terceira Ordem; à s dioceses de Nardo,
Assis, Fossombrone e Osimo; para Copertino e Pietrarubbia; à
Arquiconfraria de Santo Antô nio em Roma e à Confraria de Santo
Estê vã o em Assis. 2 Em 8 de agosto de 1769, o Papa Clemente XIV
inseriu a festa de Sã o José no Missal Romano e Breviá rio, estendendo-a
a toda a Igreja. 3
Em 1781, o conde Joã o Batista Sinibaldi ergueu um grande altar de
má rmore na igreja de Sã o Francisco em Osimo, para que os restos
mortais fossem colocados abaixo dele. O cardeal Guido Calcagnini,
entã o bispo de Osimo, apó s um trı́duo solene, transferiu o corpo para o
novo altar-mor em 19 de setembro do mesmo ano. Lá permaneceu
desde entã o. Os Conventuais remodelaram a igreja, originalmente
dedicada a Sã o Francisco, e a Sã o José de Copertino. O Papa Pio VI
elevou a igreja à dignidade de uma bası́lica menor. 4
O santuá rio de Sã o José de Copertino em Osimo consiste na capela
onde rezava a missa e em trê s salas, uma das quais servia para receber
pessoas de posiçã o, enquanto a segunda servia pelo santo como
orató rio e a terceira como orató rio. sala de estar e quarto de
dormir. Muitas relı́quias de Sã o José sã o preservadas nestes
quartos. Tais sã o, as roupas que ele usa, o cá lice e a patena, o missal e
as vestimentas por ele usadas para celebrar a missa, seu breviá rio,
livros devocionais, como a Imitaçã o de Cristo, cartas escritas por ele, o
quadro de Nossa Senhora de Grottella apresentado a ele em Assis. Seu
orató rio é hoje uma capela 5
Em uma reuniã o do conselho municipal de Osimo, em 26 de julho de
1664, foi expresso o desejo de que o padre José fosse conhecido pelo
local de sua morte, assim como sã o Santo Antô nio de Pá dua e Sã o
Nicolau de Tolentino. Alé m disso, o conselho declarou o santo frade
cidadã o de Osimo e pediu que ele "implorasse para a cidade todas as
bê nçã os". 6 As solenidades em Osimo subsequentes à sua canonizaçã o
deram um novo ı́mpeto ao culto do santo extá tico e suscitaram uma
"sagrada rivalidade de devoçã o por parte dos habitantes e de toda
espé cie de benefı́cios por parte do santo", que tempo nã o serviu para
diminuir. Pode-se dizer que em todas as necessidades pú blicas e
privadas Sã o José é o refú gio comum. A devoçã o també m nã o se
restringe à s pessoas da cidade. Muitos sã o os peregrinos que vê m a
Osimo para venerar o santo e contemplar com reverê ncia e admiraçã o
mescladas aquele corpo sagrado ao qual o amor divino outrora
concedeu o poder de voar. 7

INTERIOR DA BASILICA DE SAO. JOSE DE COPERTINO EM OSIMO

NOTAS FINAIS
PREFACIO
1 Cardeal Vaughan, The Young Priest, Londres, 1904, p. 108
2 A. Kaufmann, Thomas von Chantimpré , Cologne, 1899, pp. 41-43.
3 J. Gö rres, christliche Die Mystik, Regensburg, vol. II, P. 539.- Daumer, um one-time inimigo
amargo do cristianismo, considera esses fatos milagrosos bem estabelecida em razã o da
"descon iança e suspeita em que St. Joseph foi sujeita durante a vida... E a severidade com que foi
realizado o inqué rito eclesiá stico a respeito dele." A propó sito do P. A biogra ia de Pastrovicchi ele
escreve: "Parece estar em consonâ ncia com justiça e as regras gerais da crı́tica histó rica para
aceitar os resultados de tal investigaçã o." (Christina Mirabilis, etc., pp 7, 38.) .- Observe as seguintes
palavras de Norman Douglas, um protestante, no North American Review (vol CXCVIII, de julho de
1913, pp 100-107:.. Um pioneiro da aviaçã o ):..." pode ser instado que uma espé cie de entusiasmo
por seu distinto monge irmã o pode ter tentado os internos de seu convento para exagerar seus
dons raros Nada disso ele realizou vô os nã o apenas em Copertino, mas em vá rios.. grandes cidades
da Itá lia, como Ná poles, Roma e Assis. e os espectadores nã o eram de forma um conjunto de
personagens ignorantes, mas os homens cuja classi icaçã o e credibilidade teria peso em qualquer
parte da sociedade"(p. 103). Para o resto, este artigo do Sr. Douglas é , na melhor das hipó teses, mas
uma farsa cı́nica. O autor repete este "traço de enganar luz", como ele estilos (p. 160), com adiçõ es,
decididamente estú pido e scurrile, em Old Calabria, Boston, 1915, pp. 68-79. Ele cita a ediçã o de
Pastrovicchi publicada em 1767, que ele denomina a "biogra ia o icial". A dedicaçã o do Padre
Rossi enganou-o a considerar Fr. Rossi como o autor.
4 Acta Sanctorum, setembro, tom. V, p. 993.
5 Sobre o cará ter sobrenatural dos voos arrebatadores, consulte a discussã o: "Existe uma levitaçã o
natural?" em The Graces of Interior Prayer, de A. Poulain, SJ, Londres, 1912, pp. 550–554; Surbled-
Sleumer, Die Moral in ihren Beziehungen zur Medizin und Hygiene, II (Hildesheim, 1909), pp. 174-
181. “A Igreja certamente nã o baseou a canonizaçã o no ú nico fato da levitaçã o, mas sem dú vida a
considera como a mã o de Deus. Ela olha para os há bitos de vida do favorecido e, em particular,
para as circunstâ ncias da pró pria levitaçã o para prova do cará ter sobrenatural desse fenô meno
repetido "(pp. 178-9).
6 Gattari, Prefazione.
7 Gattari, 1. c., Montanari, pp. XIV – XV.
8 O Capı́tulo 30 difere nas ediçõ es de 1753 e 1767, a ú ltima ediçã o substituindo um relato dos trê s
milagres aprovados no processo de canonizaçã o pelo de treze milagres na ediçã o anterior e
omitindo os documentos (pp. 97–108) do primeira ediçã o.
CAPITULO I
1 Gattari, 1.
2 Bernino, 3.
3 Gattari, 2.
4 Bernino, 3.
5 Bernino, 4-5.
6 “Quando pouco mais de sete anos” (Bernino, 5); "de 8 a 14" (Daumer, 45).
7 "Col ferro, e col fuoco"; isso sugeriria cauterizaçã o; de acordo com Daumer (46), a carne doente
foi removida por for ices.
8 Bernino, 8.
9 Bernino, 13 anos.
10 Bernino, ibid.
11 Gattari, 5.
12 Essa palavra també m foi usada por B1. Verô nica de Binasco e Santa Maria Madalena de
'Pazzi. "Malatasca" signi ica literalmente saco do mal (Acta Sanctorum, Set. V, 1017).
13 Acta Sanct., 1, c., 994.
14 Gattari, 6.
15 A data deste investimento é incerta (Acta Sanct., P. 1010).
16 Por causa dessa ocorrê ncia, Sã o José é invocado como patrono dos exames por estudantes na
Itá lia e na França (Gattari, 171-172).
CAPITULO II
1 Bernino, 87.
CAPITULO III
1 Gattari, 29.
2 Gattari, 30.
3 Gattari, 32.
4 Bernino, 127.
5 "Honore di gran distinzione" (Bernino, 134).
6 A redaçã o do diploma, datada de 4 de agosto de 1644, é fornecida por Montanari, pp. 190–192.
CAPITULO IV
1 Esta cançã o foi composta pelo santo; o texto completo é fornecido por Montanari, LII – LIII.
2 Esta é outra cançã o do santo; veja Montanari, LVIII.
3 Ao julgar dessas expressõ es é bom lembrar que a Igreja tem repetidamente (Inocê ncio XI, 1687,
Inocê ncio XII, 1699) condenou a pretensã o de um amor habitual de Deus em que exclui o medo do
inferno e do desejo do cé u nesta vida . Mesmo os santos izeram apenas atos individuais de tal
amor, que sã o ú teis como uma arma em certas tentaçõ es. Sobre este assunto difı́cil ver Jos.
Deharbe, SJ, vollkommene Die Liebe Gottes. . . nach der Lehre des hl. Thomas von Aquin, Ratisbona,
1856, pp. 44-67, 179-200. Em tais atos de cé u amor perfeito, como um motivo de amor imperfeito,
é ignorado (p. 200). "Hell", em tais palavras, "nã o implica a perda da graça e na amizade de Deus ou
a puniçã o do desespero e da separaçã o de Deus" (p. 184). Esta e outras suposiçõ es, que sã o
impossı́veis de realizaçã o porque Deus nã o irá alterar a atual economia da salvaçã o, celebrar esses
atos. Esses atos expressam o desejo transcendente para agradar a Deus e dar-nos um vislumbre da
pureza e sublimidade do amor ao qual santos atingir (66-67, 185). Bossuet cometeu um erro,
negando a actos individuais tais perfeiçã o de desprendimento (192, nota 2). O desejo do cé u em
almas santas surge principalmente de amor perfeito, e, assim, torna-se um ato de amor perfeito
(197). "Sã o José de Copertino declarado que ele serviu a Deus nem de um desejo do paraı́so nem de
medo do inferno, mas porque Ele é digno de amor e serviço, no entanto seu coraçã o queimado com
um desejo ansioso para o cé u, e muitas vezes ele cantou uma cançã o ele tinha composto para
expressar esse desejo"(190).
4 "Più di cinque canne." A medida "canna" variou em diferentes localidades. (Acta Sanct., P. 1041.)
Um equivalente justo seria talvez 7½ pé s.
5 Ver Bernino, 330.
6 Gattari, 45.
7 Gattari, 44.
8 Gattari, 43.
CAPITULO V
1 "Paesano."
2 Henry Julius Blume tornou-se cató lico em 1653. Ver Dr. Andreas Raess, Die Convertiten seit der
Reformation, vol. VI (Freiburg, Herder, 1868), pp. 450–452, 558–571.
3 Um dos ditos favoritos do santo; veja Montanari, X.
CAPITULO VI
1 Nuti dedica um capı́tulo inteiro (41) a esse assunto. - Alguns exemplos desse "odor de santidade"
foram coletados por Goerres, Mystik, vol. II, pp. 39–44; dois exemplos recentes sã o dados nas
biogra ias de Mary Agnes Clara Steiner (falecida em 1862) e Gemma Galgani (falecida em 1903).
CAPITULO VII
1 Gattari, 40.
2 Na ilha de Elba, tomada pelos franceses em 1646.
3 Sã o Boaventura, Sã o Filipe Neri, Sã o Fé lix de Cantalice.
4 Gattari, 60.— Irmã Cecilia morreu no odor da santidade, em 24 de julho de 1655.
5 "Ao contrá rio dos Frades Menores e dos Capuchinhos, os Conventuais usam birettas e
sapatos." (Enciclopé dia Cató lica, IV. 346.)
CAPITULO VIII
1 O santo sem dú vida tinha em mente que depois do noviciado os membros da Companhia de Jesus
emitiam os votos "simples", enquanto nas outras Ordens os votos "solenes" eram emitidos apó s o
tempo de provaçã o. Muitos teó logos a irmavam que o Papa nã o poderia dispensar os votos
"solenes".
CAPITULO IX
1 Gattari, 63–64.
2 Na pressa da partida, o santo esqueceu seu breviá rio, ó culos, manto e chapé u (Montanari, 101).
3 Montanari, 98.
4 Pessoas vieram de Monte Feltro, Fossombrone, Fano, Pesaro, Aricium e Cesena (Daumer, 69).
5 Gattari, 72.
6 Gattari, 73.
7 Sã o Fé lix de Cantalice, beati icado em 1625, canonizado em 1712 (Acta Sanctorum, 1. c., 1039).
8 Gattari, 80 anos.
CAPITULO X
1 Gattari, 83. Isso ocorreu em maio de 1656 (Acta Sanctorum, 1008).
2 "Un 'ora di notte." Este tempo é contado a partir do pô r do sol.
3 "Alle due ore di notte."
4 Gattari, 86.
5 “Sei canne.” - A “amendoeira de Sã o José ” ainda é objeto de veneraçã o (Gattari, 89).
6 Esses detalhes sã o de Gattari, 92.
CAPITULO XI
1 Gattari, 140.
2 Gattari, 149.
3 "Sulle cinqu 'ore, e tre quarti della notte." - O Resumo da Beati icaçã o designa o dia 19 como o dia
da morte, "die decimanona Septembris".
4 Esta descriçã o é dada por Gattari, 151.
CAPITULO XII
1 Positio super miraculis, 1764, pp. 2-3, 13-15, 29.
2 O Brief é fornecido na primeira ediçã o de Pastrovicchi (1753), PP. 97–105.
3 O decreto está impresso no Bullarium Capucinorum, vol. IX (Innsbruck, Wagner, 1884), p. 4
4 Montanari, 583–585.
5 Montanari, 580–583; Gattari, 169; St. Franzisci Gloecklein, vol. IV (Innsbruck, Rauch, 1881-
1882), pp. 357-358.
6 Montanari, 546-548.
7 Gattari, 168.

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