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Sinopse

Na sombra de uma metrópole, vive uma dinastia que está


se desfazendo pelas próprias sementes...

Após a morte súbita e brutal que abalou profundamente a


Chicago Outfit, o equilíbrio da família Rocchetti nunca foi tão
instável. Não só cada Rocchetti está determinado a ganhar mais
poder para si mesmo, mas seus inimigos também estão armados
para a organização.

Sophia Rocchetti está lutando contra a maternidade


precoce, ao mesmo tempo em que lida com o tumulto de sua
família. Junto com seu marido, Alessandro 'The Godless1'
Rocchetti, os dois são forçados a se empenhar ao máximo para
garantir a sobrevivência de sua família.

Com opositores em cada esquina, Sophia deve usar tudo o


que tem e tudo o que aprendeu para garantir seu reinado sobre
Chicago. Será que ela terá sucesso ou será que a Dinastia
Rocchetti finalmente chegará ao fim?

O livro final da trilogia A Dinastia Rocchetti.

1 O Ímpio.
Prólogo

Alessandro nos encontrou primeiro.

Ele derrapou para dentro do quarto, apoiando-se na


parede. Seus olhos varreram o ambiente, alargando-se em
choque. Mas ele não foi para o seu avô, ou para os cacos das
janelas, ou para sua família. Ele veio direto pra mim, suas
mãos segurando minhas bochechas.

— Sophia, — sussurrou. — Sophia, Sophia, minha


Sophia.
Capítulo Um

O funeral foi um mar de preto.

Casacos escuros e guarda-chuvas se estendiam ao longo


do cemitério, centenas de pessoas, todos aglomerados juntos
sobre a grama e sepulturas. Desde os Rocchettis aos
políticos, até os rivais chefões da máfia, todos tinham vindo
para prestar suas condolências. Às margens, pressionados
contra a cerca, os paparazzi esperavam com suas câmeras,
excitados e cautelosos com o funeral do infame Don.

Eu estava com a minha família, segurando meu precioso


filho contra meu peito. Dias de idade e já participava de seu
primeiro funeral.

Infelizmente, haveria muito mais funerais em sua vida.

Meu marido estava ao meu lado, olhos escondidos atrás


de óculos escuros. Mas eu sabia pela tensão em seus ombros,
a pressão de sua mão sobre minha parte inferior das costas,
que Alessandro não estava feliz, e quanto mais cedo o funeral
terminasse, melhor.

Ao lado de meu marido estavam Salvatore e Enrico. Os


filhos do Don. Nenhuma de suas amantes estava presente –
tanto Aisling como Saison não foram autorizadas a estar com
a família em tal evento. No entanto, tenho certeza de que
nenhuma delas ficou chateada com tal coisa.

Meu cunhado estava atrás de seu pai, olhos vazios


percorrendo os enlutados com desinteresse. De vez em
quando, seu olhar repousava sobre Dante em meus braços e
uma estranha expressão tomava conta de seu rosto.

Tantos outros homens poderosos estavam presentes


neste funeral. Desde Patrick McDermott, Don da Máfia
McDermott, até Mitsuzo Ishida, o rei Yakuza de New Jersey.
Os Lombardis, os Chens, os Ó Fiaichs; de Nova Iorque a Los
Angeles, todos tinham vindo prestar seus respeitos para
lamentar o Don de Chicago.

A presença deles era uma das razões pelas quais meu


marido estava tão tenso. Enquanto eu preparava as flores e o
serviço de bufê, Alessandro havia tratado da segurança.
Durante dias, eu havia observado como ele havia trabalhado
para resolver cada problema, cada perigo, antes que eles
acontecessem. Afinal, um encontro com um chefe da máfia
não era brincadeira, e ter mais de uma dúzia deles todos
juntos? Era uma receita para o desastre.

Mas até agora, os reis do crime haviam se comportado.

Eu não estava preocupada com os mafiosos


estrangeiros. Em vez disso, minha atenção estava
concentrada apenas nos meus companheiros Rocchettis.
O padre recuou do túmulo, terminando seu salmo. Ele
havia evocado a Deus com tal paixão que eu sabia que o
pobre homem implorava, demandava, para o Pai Celestial
para deixar Don Piero entrar. Porque, sejamos francos, Don
Piero foi direto para baixo e agora provavelmente estava
fumando charutos com o Diabo.

Em meus braços, Dante fez um barulho suave. Eu olhei


para baixo e fui recompensada com a visão do meu filho
acordando. Seus olhinhos se esforçaram para ficarem
abertos, os azuis deles alarmante, mas temporário. Eu podia
vê-lo lutando para me olhar no rosto, que estava escondido
atrás de um véu de renda preta.

Suavemente acariciei sua testa com o meu dedo. —


Quieto, querido, — eu sussurrei. — Está quase no fim.

Alessandro se inclinou. — Ele está com fome? — Seu


hálito quente fez cócegas ao longo da minha orelha, causando
arrepios na minha espinha.

— Ele deve se alimentar daqui à uma hora. — Eu


pressionei um beijo na pele macia do nosso filho. Dante
coçou o rosto, mas não pareceu descontente. Ele estava
descobrindo seus músculos, brincando com eles até que fez
caras engraçadas que me fizeram bufar um riso.

Eu sorri para Alessandro que já estava me olhando de


cima. Seu olhar negro queimou direto através do véu de
renda, aquecendo minhas bochechas.
Por instinto, estendi a mão e alisei sua gravata. Eu tinha
provavelmente ajustado seu cabelo e seu terno mais de uma
dúzia de vezes e, no entanto, eles continuavam a ficar
amarrotados ou bagunçados, seja pela irritação geral do meu
marido por ter que se vestir para as aparências ou por causa
dos elementos.

Outro velho amigo de Don Piero se levantou para fazer


um discurso suave, sua voz profunda encorajando as
lágrimas da multidão. Eu já havia chorado, teria sido rude se
não tivesse.

Olhei para o céu. Outubro em Chicago era agradável,


mesmo que a ameaça de chuva se aproximasse.
Esperançosamente, a Mãe Natureza nos ajudaria hoje. Eu
não estava com disposição de me afundar na lama.

Finalmente, os discursos acabaram. A família mexeu-se,


alinhados, prontos para prestar nossos respeitos
individualmente.

Os filhos e o irmão de Don Piero foram os primeiros.


Toto jogou a terra sobre o caixão com pouco cuidado,
parecendo quase irritado com toda esta provação. Enrico e
Carlos Sr. mostraram mais contenção, murmurando palavras
silenciosas que desapareceram ao vento.

Alessandro e eu estávamos atrás de seu irmão mais


velho. Eu assisti enquanto meu marido pegava a terra,
agarrando-a em sua mão. Juntos ficamos à beira do buraco,
espreitando o caixão brilhante, onde Piergiorgio Rocchetti
estava finalmente descansando.

— Últimas palavras? — Alessandro disse calmamente


para mim.

Eu considerei o caixão de Don.

A exaustão de ter um recém-nascido não tinha impedido


meu cérebro de pensar nos últimos minutos de Don Piero.
Acordei com o cheiro de sangue metálico em meu nariz, o
som do tiro no ouvido.

Juntos, vocês criaram um Don, um Chefe. Juntos, vocês


serão a Dinastia Rocchetti.

— Não, — eu disse, com a língua pesada. — Você?

Meu marido estendeu a mão, a sujeira caindo para o


buraco.

A escuridão tomou conta de seu rosto, dura e cruel.

— Durma bem, bastardo.

A recepção foi realizada em nossa casa. Os hóspedes


circulavam, zelando por suas taças de champanhe e manchas
em suas bochechas secas. O livro de visitas foi assinado
furiosamente e cada superfície disponível foi ocupada com
um prato que alguém nos havia trazido.

Depois de alimentar Dante e acalmá-lo para dormir,


voltei lá embaixo. Ao descer, acenei para Raul, que se
certificaria de que ninguém se atrevesse a se aproximar de
meu filho adormecido. Alessandro tinha sido muito rigoroso
em suas ordens sobre a proteção de Dante, ao ponto de eu
estar com pena de Raul.

Nina se juntou a mim primeiro, seu véu se foi revelando


seus cachos castanhos.

— Você realmente deve contratar uma babá, Sophia.

— Eu não tive tempo. — Nós nos beijamos nas duas


bochechas. — Você já comeu?

Ela ignorou a pergunta, em vez disso apertou os lábios


com força.

— Qual é o problema, Nina? — Eu perguntei, mesmo


que eu já soubesse.

— Você demitiu Elizabeth.

Eu fiz. Elizabeth Speirs, a enfermeira que trablhava


vinte e quatro horas para Nicoletta, tinha sido demitida.

— Eu mudei Nicoletta para o condomínio fechado, Nina.


Você entende como devemos estar vigilantes com a segurança
aqui. E ela falava demais, você não concorda?
— Eu a contratei porque eu pensei que fosse o melhor
ajuste, — Nina disse, tentando parecer diplomática e
falhando por completo.

Eu sorri levemente e a conduzi pela casa, saudando as


pessoas enquanto eu passava. — Espero que você não esteja
tomando isto como um ataque pessoal, Nina. Estou fazendo o
que é melhor para a família.

Isso pareceu acalmá-la um pouco, ou pelo menos


lembrá-la de não mostrar suas emoções tão prontamente. —
É claro, — disse ela. — O que você achar melhor. Quem vai
substituí-la?

— Eu já enviei Nero para buscá-la enquanto falamos. —


Dei uma palmadinha no braço dela. — Certifique-se de comer
alguma coisa. O luto faz as pessoas gulosas. — Deixei Nina
na porta da sala de estar.

Para um olhar destreinado, isto pode parecer apenas


mais uma recepção. Mas eu podia ver os guarda-costas
vagando em torno das sombras, todos protegendo seus
respectivos chefes. Cada conversa era tensa e estratégica,
cada saudação tinha um propósito. Alianças e casamentos
foram sugeridos, aliados a ameaças e desafios.

Olhos dançavam em torno dos homens Rocchetti,


prevendo quem iria ser o próximo Don, prevendo com quem
eles deveriam fazer a sua aliança.

Eu sorri e entrei na sala.


Alessandro estava no meio dela, acompanhado por um
homem mais velho de cabelos escuros e uma jovem mulher.
Eu o reconheci como o Don dos Lombardis, mas a mulher era
desconhecida.

O olhar sombrio de meu marido se fixou em mim e ele


esticou o braço.

— Senhor, — Alessandro disse, me aproximando mais


dele. O calor do seu toque aqueceu meus ossos. — Posso
apresentar minha esposa, Sophia? Sophia, apresento-lhe
Vitale Lombardi, chefe da máfia Lombardi, e sua filha,
Isabella.

Nova York foi dividida entre cinco famílias, todas elas


lutando ferozmente por fronteiras e portos. Os Lombardis
eram uma das máfias italianas, seu território se estendia
sobre Queens e Manhattan.

Eu não conseguia imaginar socializar com as famílias


inimigas da maneira como faziam em Nova Iorque. A família
mais próxima ao Outfit eram os McDermotts, mas eles
estavam em Milwaukee.

— Você é tão bonita quanto dizem Sra. Rocchetti. —


Pontuou o Don, beijando minha mão estendida.

— Você é muito gentil, senhor. — Respondi.

Apanhei um pequeno rolar de olhos de sua filha e minha


atenção se transferiu para ela. Isabella era uma jovem
mulher alta e esbelta, de cabelos longos e escuros, e pele
oliva. No entanto, bonita era uma palavra muito mansa para
descrevê-la, suas características eram uma coleção de linhas
duras e afiadas que criavam uma beleza marcante. Uma que
eu nunca havia conseguido alcançar.

Ela ergueu seus ombros à minha atenção, o tecido de


seu vestido se agarrava a pele. Ela parecia muito mais
confortável de preto do que eu.

Don Lombardi pôs uma mão nas costas de sua filha. Se


eu fosse uma idiota, teria pensado que era um toque paternal
tranquilizador. Mas eu sabia que era um aviso, e pelo aperto
dos ombros de Isabella, ela também.

Isabella disse: — Meus pêsames pela sua perda.

— Obrigada. Eles são muito apreciados. — Eu dei à


menina um olhar agradecido. Não, não uma menina, eu me
repreendi, ela tem a mesma idade que você.

— É uma pena perder um mafioso tão forte, um membro


da velha guarda, — disse Don Lombardi. — A tradição não é
tão valorizada como era antes, mas Piergiorgio sempre
honrou os velhos costumes. Como nós fazemos em Nova
York.

A expressão de meu marido não vacilou. — A Outfit


nunca cairá nessa porcaria de Nova Era.

De repente, as vozes se levantaram. Eu virei minha


cabeça, tentando distinguir a repentina fonte de excitação.
Fui recebida com a visão do prefeito Alphonse Ericson
passeando pela sala como se fosse dono do lugar.

O prefeito usava um terno simples, com uma pequena


bandeira americana presa ao canto. Seu sorriso sempre
presente e arrogante fez os cabelos do meu pescoço ficarem
de pé.

Eu pedi licença aos Lombardis e agraciei Ericson com a


minha presença.

— Alphonse, — eu o cumprimentei. — Não me lembro de


lhe ter enviado um convite.

— Don Piero era um membro importante de nossa


comunidade. Eu lamento sua morte tanto quanto qualquer
outra pessoa. — Foi sua resposta diplomática.

— É mesmo? — Alessandro apareceu atrás de mim, voz


grave. Ele enrolou um braço ao meu redor, aconchegando-me
a ele.

Eu sorri para meu marido. — Esta deve ser uma nova


opinião dele, meu amor. — Eu cortei meus olhos de volta
para Ericson. — Só um tolo ousaria entrar nesta casa
acreditando em qualquer outra coisa.

Uma cintilação de mal-estar atravessou o rosto do


político. Pelo aperto do braço do meu marido, ele percebeu
isso e ficou encantado em vê-lo.
— Relaxem, — veio uma voz familiar. Voltámo-nos para
ver Salvatore Jr. caminhando em nossa direção, seus olhos
escuros brilhavam. — Eu o convidei.

— E você esqueceu-se de mencionar isso a alguém? —


Alessandro perguntou.

Salvatore Jr. acenou com a cabeça para o prefeito


Ericson em saudação. — Obrigado por ter vindo, Alphonse.
Por favor, sinta-se em casa.

Uma oferta interessante em nome do meu cunhado,


considerando que esta não era sua casa e que ele não tinha o
direito de fazer tal declaração. Mas eu sorri graciosamente,
escondendo meu aborrecimento e gesticulei um braço para as
mesas de comida.

Alessandro estreitou os olhos para mim. Eu encontrei os


dele.

Salvatore Jr estava fazendo sua primeira jogada.


Convidar um inimigo para o território de outra pessoa.
Esperamos que Salvatore Jr. tenha sido esperto o suficiente
para se proteger contra esse inimigo.

Como se pudesse ler meus pensamentos, Alessandro


sorriu levemente, embora não houvesse nada gentil ou
amigável nisso.

Lentamente, Alessandro voltou-se para o prefeito


Ericson. — Meu irmão mostrará o livro de visitas.
Meu marido e eu deixamos o prefeito e Salvatore Jr.

— Não gostei disso. — Disse calmamente a Alessandro


enquanto nos movíamos através da multidão.

— Nem eu, — ele admitiu. — Salvatore parece pensar


que ele tem uma chance real de ser o próximo Don.

— Ele tem?

Alessandro afinou os lábios, o que me deu minha


resposta.

Escondi minha incerteza atrás de uma máscara bonita,


cumprimentando algumas pessoas enquanto meu marido e
eu passávamos. Foi uma pena que eu não estivesse bebendo
no momento, eu poderia passar por isso com um pouco de
champanhe.

— Eu acho que a tentativa dele de construir um


relacionamento com Ericson terminará mal. Talvez
devêssemos deixar que isso se resolva por si mesmo. — Eu
disse, incapaz de deixar o assunto para trás. Salvatore Jr. era
meu Rocchetti menos favorito (com Alessandro, Beppe e
Santino assumindo as posições de liderança) e ele deixou
claro seu desgosto por mim.

Alessandro não havia perdoado seu irmão por suas


várias tentativas contra a minha vida. Embora eu o tenha
convencido a jogar com inteligência, a deixar seu irmão
relaxar, não pude deixar de sentir um leve desejo de ver meu
marido arrancar sua garganta. O único pensamento
reconfortante era que Alessandro havia assumido
completamente a segurança, empurrando devagar seu irmão
para fora.

Chegamos ao bufê. Alessandro passou-me um prato,


mantendo sua cabeça curvada próximo da minha para que
pudéssemos continuar a conversar em particular.

— Por que você pensa isso?

— Ericson não gosta da Outfit. Na verdade, eu acredito


que ele esteja trabalhando com o FBI... bem, com o Agente
Dupont, pelo menos.

Meu marido levantou a cabeça olhando para o outro


lado da sala onde Ericson e Salvatore Jr estavam
conversando educadamente sobre seus copos de bourbon. —
Essa relação pode vir a ser um problema. Meu irmão fará
qualquer coisa a qualquer um para conseguir o que quer.

Adelasia era a prova disso, ele não precisava dizer.

Balancei a cabeça, empilhando comida no meu prato. —


Estive pensando em maneiras de me livrar dele e substituí-lo
por Salisbury. Infelizmente, nunca prestei atenção em
Estudos Sociais, por isso, não encontrei nada.

— Nós sempre poderíamos matá-lo. — Alessandro disse


casualmente.

— Não. Então sua vice assumiria o comando. Ela


também não parece ser solidária com nossa causa. — Passei
a Alessandro um pequeno pãozinho e deixamos a mesa do
bufê.

Alessandro nos encontrou um lugar no sofá para sentar,


bem, por “encontrar” quero dizer que ele deu um olhar sujo
aos convidados anteriores e eles se apressaram para sair dali.
Meu marido equilibrou seu prato no joelho, até mesmo
fazendo tal ato doméstico pareceu ameaçador... E sexy.

Eu me encolhi na minha luxúria crescente. O sexo


estava fora da mesa por seis semanas, ordens do médico! Mas
a contagem regressiva havia causado alguma pequena
ansiedade em mim. Eu sabia, na parte sã da minha mente,
que Alessandro não se incomodaria com as estrias que Dante
havia deixado. Ainda assim... O pensamento incômodo se
recusou a me deixar.

A gravidez e o parto haviam dado um duro golpe na


minha vaidade. E embora Dante fosse o farol da minha vida,
meu corpo sentia... como se não fosse mais o mesmo. Meus
quadris, meu estômago e meus seios estavam irreconhecíveis.
Não mais pertencia somente a mim.

Talvez nunca tivessem pertencido. Mas eu tinha sido


feliz vivendo sob a fantasia de que eram meus.

— O que há com esse olhar estranho? — Alessandro me


perguntou, sua voz áspera cortando a minha autopiedade.

— Nada. — Eu sorri para ele. — Só cansada.


Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, seu
pai veio pisoteando. A bela Aisling o seguindo, seus olhos
encontrando os meus e brilhando em saudação. O vermelho
de seus cabelos era marcante contra o vestido preto que ela
usava, fazendo-a se sobressair entre as morenas e as loiras.

Toto, o Terrível, parecia louco. As sobrancelhas dele


estavam franzidas e os lábios pressionados em uma linha
tensa.

— Seu irmão está pisando no meu último nervo. —


Assobiou Toto.

Aisling chegou ao seu lado, parecendo despreocupada


com sua raiva. — Puxando o saco de um político?

— Hediondo. — Respondeu Alessandro.

Toto empurrou suas mãos em seus bolsos, praticamente


tremendo de aborrecimento. — Quando eu era um menino,
políticos caiam aos pés da Outfit. De onde que eles pensam
que toda a porra do dinheiro vem? Grandes negócios? Porra,
por favor.

— Eles são todos bastardos corruptos, — concordou


Alessandro. — Mas este tem um relacionamento com o FBI.

Uma lasca de prazer passou pelo rosto de Toto. Ele


olhou para Salvatore Jr. e para o prefeito Ericson. — Isso não
vai acabar bem. — Ele parecia quase muito satisfeito com
esse fato. Sua cabeça virou de volta para nós, a maior parte
de sua atenção caindo para mim. — Onde meu pai escondeu
a menina de Salvatore?

Havia apenas uma garota de Salvatore nos dias de hoje.


Adelasia di Traglia, que estava atualmente grávida do bebê do
meu cunhado e em um local não revelado.

Já tínhamos enviado Nero para caçá-la, e embora ele


tenha insistido que poderia estender a busca por todo o país,
os resultados não haviam sido muito promissores. Onde quer
que Don Piero tenha escondido Adelasia e o mais novo
Rocchetti, foi um segredo que ele levou para o túmulo.

— Nós a encontraremos. — Respondi.

Toto bufou. — Eu duvido. Meu pai era bom em esconder


as coisas. — Seus olhos deslizaram para o telhado, olhando
através do gesso e isolamento, tentando ver sua mãe.

— O que vamos fazer com o bastardo?

Aisling olhou para Toto. — Ele não será considerado da


mesma forma que Beppe?

Beppe, claro, era um Rocchetti, filho de Enrico e uma


mulher não nomeada. Mas sua falta de legitimidade
significava que ele nunca poderia ser um “real” membro da
família Rocchetti. Tão longe quanto a vida de um bastardo ia,
Beppe teve uma boa vida na Outfit, mas meu coração ainda
doía por ele.
— Acho que Salvatore pode afogá-lo. — Disse Toto. Ele
fez um esforço para não olhar para Aisling enquanto dizia
isso.

— Essa é à sua maneira distorcida de expressar alguma


preocupação? — Perguntei, não realmente querendo discutir
matar uma criança sobre minha lasanha.

Alessandro parecia estar de acordo comigo. — Caberá ao


Don o que acontece com a criança.

Quem quer que tome o manto a seguir...

Meu olhar se moveu sobre a sala, pegando todos os


candidatos viáveis. Seria um Rocchetti, não havia dúvidas
sobre isso. Mas qual?

Eu me senti como a anfitriã de um show de jogos, todos


os concorrentes alinhados e julgando seus pontos fortes e
fracos.

Carlos Sr. era muito velho e Carlos Jr. muito fraco.


Santino era muito jovem, e Roberto era muito chato.

Resumiria a quatro homens: Toto, o Terrível,


primogênito e respeitado membro da Outfit; Enrico,
encantador e diplomático; Salvatore Jr, competitivo e
implacável... E Alessandro. Meu marido, leal, protetor e
disposto a fazer qualquer esforço para proteger a Outfit.

Todos nós parecemos ter os mesmos pensamentos,


compartilhando olhares, dimensionando uns aos outros.
Quem seria o próximo Don? Quem governaria a Dinastia
Rocchetti?

Eu dei uma dentada no meu pãozinho.

Que comecem os jogos.


Capítulo Dois

O som penetrante do alarme me acordou.

— Merda! — Alessandro rolou da cama, ficando de pé.

— O que está acontecendo? — Perguntei, bocejando.

— Alguém disparou o alarme.

Dante começou a chorar segundos depois, seus soluços


combinando com o som. Eu corri sobre as cobertas, tirando a
manta das minhas pernas.

O som da angústia do meu filho tinha me arrancado de


qualquer estado grogue.

Do outro lado do quarto, meu marido pegou sua arma e


me ordenou: — Fique aqui! — E então ele se foi.

Eu tropecei na cama indo direto para o berço do meu


filho. Seu pequeno rosto estava distorcido em angústia, já
vermelho de lágrimas.

— Shh, shh. — Eu o balancei, segurando-o ao meu


peito. Polpetto corria pelos meus pés quase me derrubando
no chão.

— Polpetto!

Os gritos de Dante cresceram mais alto ao meu grito.


— Quieto, meu querido. — Eu o embalei. — Polpetto,
venha cá! Polpetto...

O pequeno volpino italiano branco desapareceu debaixo


da cama. Eu xinguei suavemente antes de me apressar para
o quarto seguro. Escondida atrás de uma fileira de roupas, a
porta foi instalada dentro da parede do armário.

O alarme parou.

Fiz uma pausa em meu armário, ainda balançando


Dante.

O que tinha acontecido? Alessandro estava bem?


Alguém estava em nossa casa?

A série de perguntas em pânico que corria pela minha


cabeça só me fez apertar mais o meu filho.

Segundos depois, Alessandro gritou: — Está seguro,


Sophia. É o Nero e ele quer falar com você.

Nero?

Eu franzi o cenho saindo do armário. Alessandro ficou


ao lado da porta, ainda segurando sua arma, sem parecer
preocupado, mas ainda não satisfeito.

Dante começou a acalmar quando percebeu que o


alarme tinha desaparecido. Assim que eu fui colocá-lo em
seu berço, ele soltou outro lamento furioso.
— Não chore, meu querido. — Eu o segurei perto de
mim. — O que Nero está fazendo aqui?

— Ele está aqui para ver você.

Uma visita à meia-noite do assassino da Outfit era um


pensamento horripilante por si mesmo. Mas uma visita
surpresa do assassino da Outfit?

Eu engoli. — Você pode segurá-lo?

Alessandro pegou Dante com cuidado, segurando-o em


seu peito nu. Ele colocou uma mão debaixo do bumbum de
Dante, a outra pressionou suavemente nas suas pequenas
costas.

Eu deslizei sobre meu roupão incapaz de arrancar meus


olhos do meu marido e do meu filho.

Para um homem que sempre foi tão rude, tão inquieto,


uma sensação de calma parecia assentar sobre ele quando
ele segurava seu filho. Alessandro fez um esforço consciente
para falar de forma mais suave, para retardar seus
movimentos quando Dante estava com ele.

Se eu afiei Alessandro, então Dante o amoleceu.

Isso fez meu coração derreter.

Quando eu caminhei até a porta, Alessandro passou


Dante de volta para mim. — Eu preciso das duas mãos. —
Foi tudo o que ele disse. Eu não precisava que ele me
explicasse porque ele precisava de mobilidade total, pois a
arma em sua mão me dizia tudo o que eu precisava saber.

Todas as luzes da casa estavam acesas e eu podia ver


vislumbres dos soldati através das janelas. Eles
provavelmente estavam em desordem depois que o alarme da
casa foi disparado. Imaginei que Alessandro teria algumas
palavras com eles amanhã. Nenhuma que fosse apropriada
de repetir.

No saguão, ao fundo das escadas, o rosto familiar do


assassino da Outfit me olhou fixamente. Ele vestia-se todo de
preto, rosto escuro de irritação.

Quase perguntei por que ele estava tão irritado,


considerando que Alessandro e eu éramos os que foram
acordados, quando eu a vi.

Nero estava agarrando o braço de uma jovem mulher


ainda em roupas de enfermeira, com o cabelo louro mel em
um rabo de cavalo baixo. Ela estava dando um olhar furioso a
Nero, puxando seu braço preso e chamando-o de nomes que
me fizeram tapar os pequenos ouvidos de Dante.

— Eu tenho sua enfermeira. — Nero latiu.

A mulher estalou sua cabeça para mim e fez uma pausa.


Os olhos dela se moveram para Alessandro, que estava se
aproximando por atrás, e ela ficou um pouco paralisada.

— Nero, — eu disse. — Você a raptou?


— Ele me raptou! — A mulher assobiou, voltando sua
raiva para Nero.

Nero parecia completamente despreocupado. — Você me


pediu para ir buscá-la, eu a busquei então.

Comecei a descer as escadas, suspirando pelo meu


nariz. Nero tinha acabado de complicar inutilmente toda esta
situação com sua ousadia e agora eu tinha que dar um jeito
nisso, à meia-noite.

— Estou decepcionado que você tenha tropeçado nos


alarmes, — disse Alessandro. Eu lhe dei um olhar, mas ele
estava franzindo o cenho para Nero. — Algum dos soldados o
viu?

— Não, senhor. — Nero parecia endireitar seus ombros à


atenção de Alessandro. — Eu, uh, fui pego pelo alarme perto
do vazo de planta.

Eu franzi o cenho, olhando para Alessandro. — O quê?

Alessandro pareceu satisfeito por seu sistema de


segurança ter tido tanto sucesso. Ele apontou o queixo para
Nero. — Seja pego novamente e eu estarei procurando por um
novo executor. — Ele deslizou seus olhos escuros para mim,
apontando sutilmente para a mulher estranha em nosso
saguão.

Eu olhei para ela. A mulher, para seu crédito, tinha se


acalmado um pouco, embora mais por encenação do que por
bom senso.
— Desculpe Nero, — eu disse a ela, descendo as escadas
enquanto balançava Dante. — Ele foi enviado para lhe dar
um emprego.

A mulher me olhou desconfiada. — Que tipo de


emprego? — De repente, ela ficou paralisada, seus olhos indo
e vindo entre Nero e Alessandro, que estava meio despido. —
Eu sou enfermeira... não sei nada sobre...

— Nada disso, — eu assegurei. — Venha para a cozinha


e eu lhe farei um chá.

Ela não parecia convencida. — Nero vai embora. —


Acrescentei.

Isso a convenceu.

A mulher atirou a Nero um olhar feroz, que não parecia


o incomodar, antes de me seguir até a cozinha. Eu me
perguntei se ela notou a maneira como seus olhos escuros a
seguiram enquanto ela se esgueirava até a cozinha. O calor
em seus olhos era suficiente para me fazer sentir quente.

Eu liguei as luzes e coloquei Dante em sua cadeirinha


de balanço. Felizmente, ele parecia feliz por ter sido colocado
lá.

— Sente-se. — Eu disse enquanto andava em volta da


cozinha.

A mulher olhou ao redor, com os olhos incertos, mas


crescendo mais à medida que observava o estilo mediterrâneo
em volta. — Você tem uma casa muito bonita. — Disse ela,
soando meio surpresa por ter dito isso em voz alta.

— Obrigada. Chá?

Acenou com a cabeça e cuidadosamente tomou um


assento no balcão. — Peço desculpas em nome de Nero. Ele
não é o mais...

— Equilibrado?

Eu ri suavemente. Em nosso mundo, Nero não era


considerado louco, mas para ser justa, também tínhamos
homens como Toto, o Terrível, entre nós.

— Algo assim. Creme?

Ela balançou a cabeça.

— Oh! Que grosseiro. — Estiquei minha mão sobre o


banco da ilha. — Sou Sophia Rocchetti. Sinto muito que isto
seja tão informal. Nero esqueceu-se do horário socialmente
aceitável para visitas.

— Eu sei quem você é, — ela apontou. — Você está a


cargo da instituição “Rocchetti: Apoio ao Alzheimer”.

— Eu estou. E você é... — Eu já sabia, mas era educado


perguntar.

— Ophelia Caprioli. — Seus olhos voltaram para o


saguão, onde as vozes profundas de Alessandro e Nero ainda
podiam ser ouvidas. — Ouvi dizer que você também está
encarregada de algo menos respeitável.

— Supostamente. — Eu lhe passei o chá.

— Nero disse que você tinha uma oferta de emprego?

— Nada menos que respeitável, — disse, tomando um


gole do meu próprio chá e coçando a barriga de Dante. Suas
pálpebras estavam pesadas, mas eu sabia que ele precisaria
se alimentar em poucos minutos, então eu estava tentando
mantê-lo acordado. — Preciso de uma enfermeira 24 horas
por dia e você veio altamente recomendada.

Ophelia franziu o cenho. — Eu não sei nada sobre


bebês...

— Para um paciente de Alzheimer.

— Oh. Quem?

— Você tem que aceitar o trabalho primeiro. — Eu a


lembrei. Depois de Elizabeth Speirs ser tão fofoqueira, eu
estava lidando com Ophelia com muito mais cuidado. Espero
poder confiar em Ophelia para não compartilhar nada sobre
nossa família, sob o disfarce de uma prima falsa que era
amiga de Nina Genovese como Elizabeth tinha feito.

Ophelia não tocou no chá dela. — Meu pai me avisou


sobre me misturar com seu tipo de gente.

— Seu pai sabe que você está com dívidas? — Eu


perguntei.
Ela ficou um pouco tensa, imóvel, mas não pareceu
chocada. Ela respondeu: — Não. Não, ele não sabe.

— Seu trabalho no asilo de idosos está lhe pagando o


suficiente para saldar a dívida?

O silêncio dela respondeu à minha pergunta.

— Não vou forçar você, — disse. — Você veio altamente


recomendada e a enfermeira que cuidar de um de nossos
queridos familiares será cuidada.

Eu vi o interesse começar a crescer em seus olhos.

Eu peguei Dante, dando palmadinhas suaves em suas


costas, tentando mantê-lo acordado. Ele tentou levantar a
cabeça no meu peito, irritado por eu não o deixar adormecer.

— Eu vou buscar o contrato.

Quando voltei, Ophelia não tinha se mexido, mas


parecia mais tensa. Eu sorri em saudação e lhe passei o
contrato.

— Leve seu tempo, — eu disse. — Pense bem nisso.

Ophelia escaneou o contrato, seus lábios se separaram


quando ela viu seu salário anual. Ela olhou para mim de
novo, sua desconfiança foi clara. — Isto é de verdade?

Dante começou a ficar com fome, sua boca começou a


salivar. — Claro que sim. Eu preciso de uma enfermeira 24
horas por dia e você é aparentemente a melhor. — E a única
que está profundamente endividada.

Fui até a mesa de jantar, tomando um assento e


preparando Dante para ser alimentado. Ophelia me observou,
mas não disse nada.

Quando Dante estava em meu peito, eu disse: — É uma


oportunidade de mudança de vida, Ophelia. Você sabe disso.

Ela acenou com a cabeça. Eu podia ver a batalha


interna em sua mente. Ophelia não queria se associar com a
Outfit, não queria estar no nosso radar, mas também não
podia abrir mão da chance de ganhar um bom salário e pagar
suas dívidas.

Não demorou muito para que ela assinasse o contrato.

— Maravilhoso, — eu disse, uma vez que ela me passou


o contrato, seu nome assinado e bem impresso na parte
inferior. — Vou apresentá-la à Nicoletta.

A melodia suave do piano era o único sinal de que


Nicoletta estava acordada.

Eu a examinava com frequência durante o dia,


preocupada com seu silêncio. Exceto por seus talentos
musicais, Nicoletta estava praticamente em silêncio. Ela
estava sempre feliz em falar com Alessandro e eu, ou Beppe,
seu visitante mais querido, mas, além disso, ela ficava quieta.

Uma vez que Dante se alimentou, levei Ophelia até o


quarto de Nicoletta. Segurei Dante no meu peito, dando
tapinhas suaves em suas costas tentando fazê-lo arrotar.

— Você é mais do que bem-vinda a viver aqui, — eu lhe


disse enquanto a conduzia pela casa. — No entanto, entendo
querer seu próprio espaço.

— Eu preferiria isso. — Ela concordou.

— É claro. Planejamos mudar Nicoletta para sua antiga


casa, uma vez que notícias sobre ela... bem, tudo no devido
tempo.

Nicoletta ainda era considerada morta pela Outfit.


Alessandro tinha me deixado encarregada de compartilhar as
notícias e nenhum dos outros homens Rocchetti tinha
contestado isso. Não se tratava de fofoca, na verdade, era
uma notícia surpreendente. Planejar quando compartilhá-la
provou ser difícil.

— Se você precisar de alguma coisa é só me avisar. —


Chegamos à porta do quarto de dormir da Nicoletta. — Agora,
você não é uma idiota, Ophelia, e eu não a trataria como tal.
Não é preciso dizer que o que você ouve, o que você vê, não é
da conta de ninguém, nem mesmo da sua.

Ophelia acenou com a cabeça. — Eu sei.


Eu sorri e lhe dei um tapinha no braço. — Maravilhoso!
Você vai ser uma grande adição à nossa casa. — Eu bati na
porta chamando Nicoletta suavemente.

O piano se acalmou e ela me chamou de volta.

Abri a porta e fui recebida com a visão de Nicoletta


sentada ao seu instrumento. Ela estava vestida com uma
camisola branca, cabelos grisalhos sem amarras e olhos
brilhantes. Quando ela me viu, sorriu em saudação, um
sorriso que se alargou quando notou Dante.

— Oh, você trouxe o bebê. — Disse ela em italiano


apertando as mãos.

Ophelia olhou para mim, mas não disse nada.

— Nicoletta, por favor, conheça Ophelia. Ela estará com


você de agora em diante ao invés de Elizabeth.

— É um prazer conhecê-la. — Disse Ophelia


educadamente, seu italiano misturado com o dialeto
americano.

Nicoletta levantou-se de seu piano, trêmula. — Deixe-me


ver Alessandro, — disse ela. — O pequeno bebê Alessandro.
Onde está seu irmão?

— Dormindo. — Aproximei-me dela, torcendo meu ombro


para o lado, para que ela pudesse ver o pequeno rosto de
Dante.

Ela se iluminou completamente.


Para Ophelia, eu disse: — Alguma pergunta?

— Quando ela foi diagnosticada? — Perguntou Ofélia,


não mais com medo, mas agora clinicamente consciente de
sua paciente.

— É difícil dizer, não há registros reais e a ciência


médica é muito melhor do que era. Mas ela teve suspeita de
ter esquizofrenia muito jovem... talvez no início dos trinta?
Entretanto, recentemente ela foi atualizada para um
diagnóstico de Alzheimer precoce.

Ophelia acenou com a cabeça, expressão calculista. —


Parece bastante avançado.

— Há dias bons e dias ruins, — respondi. — Espero que


você não esteja reconsiderando seu trabalho.

— Não. — Ela sorriu para Nicoletta. — Não, eu não


estou.

Nicoletta estendeu a mão e acariciou levemente a cabeça


de Dante, os cabelos loiros macios espetados para cima. Ela
murmurou algo em italiano que eu não peguei, mas pelo
olhar adorável em seu rosto, eu não podia imaginar que fosse
algo ruim.

— Beppe virá visitá-la com frequência. Mas tirando isso,


me ligue antes de deixar qualquer outra pessoa a visitar, —
eu disse. — E se você sair de casa com ela, eu preciso saber,
e será explicado a você os detalhes de segurança.
— Entendi. O que aconteceu com a garota antes de
mim? Elizabeth, certo?

Eu dei um sorriso a Ophelia. — Elizabeth era um pouco


faladora. — E embora Elizabeth nunca tivesse compartilhado
um segredo, que eu saiba, era mais o princípio do ato.

Além disso, eu estava tentando ganhar o maior controle


possível sobre esta família. E ter um funcionário que era mais
leal a Nina Genovese do que a mim não ia funcionar.

— Você não está cansada? — Perguntei a Nicoletta. —


Estamos no meio da noite.

— Não, não. — Nicoletta se interessou repentinamente


pela minha mão. — Essa é a minha aliança de casamento.

Torci o anel com o meu dedo escondendo-o. Algumas


vezes ela havia notado meu anel de casamento e parecia mais
perplexa do que angustiada com a descoberta. Mas durante
horas depois, ela muitas vezes ficava olhando para o seu dedo
em branco, na faixa vazia de pele onde o anel um dia havia
estado.

— Você não vai tocar para Ophelia? — Eu tentei distrair


Nicoletta.

Funcionou. Nicoletta deslizou para o piano, sentada


como se estivesse tocando para um teatro inteiro. Apesar de
sua memória se deteriorar lentamente, a memória muscular
em seus dedos nunca tinha falhado e ela tocava o
instrumento com talento e perfeição.
Ophelia assistiu a tudo isso com interesse. — Alguma
pergunta? — Perguntei-lhe em inglês.

Ela franziu um pouco o cenho e gesticulou para a porta.


— Será que Nero estará por perto?

— Não com frequência, — respondi. — Eu o avisarei que


você está fora dos limites. — Não que isso provavelmente
impedisse o assassino de reclamar seu prêmio.

Mas Ophelia parecia um pouco aliviada. — Obrigada, —


disse ela. — Homens assim não são nada além de problemas.

Eu ri. Se ao menos ela soubesse...


Capítulo Três

— Você está animado para deixar a casa pela primeira


vez? — Perguntei ao Dante enquanto o amarrava em sua
cadeirinha no carro.

Dante não respondeu.

— Estou empolgada, — eu disse a ele. — Seu pai e eu


vamos levá-lo para o parque. E Polpetto vai se juntar a nós.

— Ele está respondendo de volta? — Veio a voz de


Alessandro.

Eu atirei a ele um olhar por cima do ombro. — Ele não


vai aprender a falar se não falarmos com ele. Eu li isso em
um livro.

Meu marido curvou a cabeça, mas ainda assim parecia


incrivelmente divertido.

Alguns dias haviam se passado desde que Nero


apareceu com Ophelia, marcando exatamente uma semana
desde que Dante tinha vindo ao mundo. Era estranho pensar
que Don Piero estava morto há apenas uma semana, que seu
funeral havia acabado de ser realizado no outro dia.
Especialmente na minha neblina pós-parto, quando o tempo
parecia estar escorregando pelos meus dedos como grãos de
areia.
Hoje estava um dia estranhamente quente para outubro,
a luz do sol saltando das folhas vermelhas e alaranjadas.
Alessandro não precisava trabalhar então ele estava se
juntando a Dante e eu em nossa primeira viagem para fora de
casa. Eu sabia que Alessandro tinha coisas a fazer, mas
depois de expressar minha ansiedade sobre sair de casa com
Dante, ele tinha ficado disponível rápido.

Nossa pequena família entrou na SUV, acompanhada


por uma cesta de piquenique desagradavelmente grande e
dois guarda-costas no veículo atrás de nós. Polpetto sentou-
se no meu colo, não confiava nele no banco de trás com o
bebê.

Meu telefone tocou e eu o verifiquei.

— Por que você está franzindo o cenho? — Alessandro


perguntou enquanto ele dirigia para a rua.

— Chiara di Traglia me mandou uma mensagem. — Ela


tinha me convidado para almoçar, mas eu sabia que não era
a minha companhia que ela procurava. — Os di Traglias não
estão contentes sobre Adelasia. Eles estão desesperados por
informações.

Meu marido esfregou a boca. — Eu sei.

— Nero teve alguma sorte?

— Não. É como se ela tivesse desaparecido no ar.


Cocei a barriga de Polpetto e sua cauda abanou alegre
em resposta. — Seu irmão disse alguma coisa?

— Se ele disser, não será para mim. Imagino que ele


esteja tentando encontrar-la também, para poder se casar
com ela e legitimar o bebê.

Ter um herdeiro daria a Salvatore Jr. mais uma


vantagem na competição. Essa era a única razão pela qual ele
havia voltado suas atenções para a pobre Adelasia.

— Você acha que Salvatore tem uma chance? — Eu


perguntei. — De ser o próximo Don?

Alessandro bateu seus dedos no volante. — Você e eu


seremos o próximo Don. Portanto, não importa.

— Não foi isso que eu perguntei. — Lembrei-lhe


gentilmente.

— O que você acha? — Perguntou ele.

Eu pensei sobre isso. — Bem... Salvatore Jr. está


encarregado da segurança há anos, não é mesmo? Quer dizer
que os soldati provavelmente o conhecem melhor entre todos
os Rocchettis. Eles podem muito bem apoiá-lo.

— Você está certa, — disse Alessandro. — Nós vamos


mudar isso.

Eu sorri incapaz de parar o calor do meu coração


sempre que ele ouvia, e concordava com a minha opinião. —
Vou lidar com as esposas. Eu já conheço a maioria delas. —
Segurei Polpetto, que vibrou em minhas mãos por causa da
excitação. — Não é verdade, meu querido?

Ele latiu de alegria.

Deixamos o condomínio fechado. No espelho retrovisor,


eu podia ver Oscuro e Beppe nos seguindo no Range Rover.

— Tenho uma reunião com a Sociedade Histórica na


próxima semana. Espero que Salisbury mostre seu rosto.

— Ele ainda não saiu de casa?

— Ele tem um ego delicado, — eu ri. — Há alguma pista


sobre quem atirou em Don Piero?

O ambiente no carro se tornou pesado rapidamente. Eu


não tinha a intenção de apontar o fracasso da Outfit, mas
quanto mais cedo descobrirmos quem matou Don Piero,
melhor. Especialmente em termos de ganhar favores com a
Outfit, o que ajudaria nossa ascensão ao poder.

— Não, — disse Alessandro, eventualmente. —


Descobrimos de onde eles dispararam, mas não havia
câmeras ou testemunhas oculares.

Eu podia dizer que isso estava pesando sobre ele. Não


apenas porque seu avô havia sido assassinado, mas porque
Dante e eu tínhamos estado na linha do tiro.

O próprio ato levantou muitas perguntas sobre o quão


forte era a Outfit. Se não conseguíssemos proteger nosso
Don, quem poderíamos proteger?
— Tenho certeza de que eles se revelarão em breve.
Estas coisas nunca ficam em segredo por muito tempo. — Eu
disse.

Alessandro não respondeu.

Eu olhei para ele, abrindo minha boca, quando vi sua


expressão.

Seus olhos estavam grudados no espelho retrovisor,


escurecendo rapidamente. Ele olhou por cima do ombro,
dedos apertando o volante.

O corpo inteiro do meu marido parecia apertar, ficar


pronto. Era o mesmo olhar que eu imaginava que um leão
tinha pouco antes de atacar.

— Coloque seu cinto de segurança. — Ele rosnou.

— Já estou com ele. O que está...

Alessandro acelerou, com o pé até o final do acelerador.

Olhei por cima do ombro a tempo de ver dois carros


desconhecidos acelerando para nós. Um chegou ao Range
Rover, pairando à sua esquerda. Uma janela rolou para baixo
e...

— Eles têm uma arma!

Tão logo as palavras saíram da minha boca, eles


atiraram, quase acertando Oscuro. O Range Rover desviou,
cortando a frente do segundo carro.
Meu estômago caiu.

Virei minha cabeça de volta para Alessandro.

Esta não era uma situação sobre a qual eu pudesse


fazer algo. Eu não sabia como atirar uma arma, como
afugentar estes dois carros. Manipulação e paciência não
fariam absolutamente nada nesta situação.

Tudo o que eu realmente podia fazer era depositar


minha confiança em Alessandro.

Eu me torci em meu assento, espreitando meu filho.


Dante estava... dormindo profundamente. Seus pequenos
punhos estavam enrolados, e as pálpebras dele estavam
fechadas firmemente.

— Sente-se. — Estalou Alessandro, balançando o


veículo. Fizemos uma curva praticamente sobre duas rodas,
que quase me mandou voando pela janela.

Polpetto latiu furiosamente.

Atrás de nós, o SUV dos guarda-costas ficou para trás,


trancado em combate com um dos carros inimigos. Vendo
uma oportunidade, o segundo carro acelerou atrás e começou
a avançar sobre nós.

Escondi Polpetto aos meus pés, que imediatamente


escorregou para baixo do assento tremendo. Então eu tirei
meu cinto de segurança e comecei a rastejar até o assento do
meio.
— Sophia, eu juro por Deus...

Dei um jeito de subir sobre a cadeirinha de bebê de


Dante antes de tropeçar no último segundo e pousar
asperamente sobre um cinto de segurança.

— Merda... Ow...

— Você está bem? — Perguntou Alessandro, virando em


outra curva como um motorista da NASCAR2.

— Tudo bem, — resmunguei, sentando e colocando o


cinto. Dante ainda estava dormindo pacificamente. —
Precisamos proteger Dante.

Meu marido jogou o carro por cima de uma calçada,


quase acertando um poste de luz. Gritos furiosos e palavrões
nos seguiram enquanto acelerávamos. — Eu sei disso!

Eu apoiei minhas mãos de ambos os lados de Dante.

Tive a repentina sensação de não poder proteger meu


filho. Alessandro não podia encostar e nos deixar sair. O que
quer que tenha acontecido estava completamente fora de
minhas mãos. Eu não tinha a oportunidade de decidir o
resultado, não como todo o resto na vida de Dante, na minha
vida.

Olhei para a parte de trás da cabeça do meu marido.

2É uma associação automobilística estadounidense que sanciona e controla múltiplos eventos de


esporte a motor, em especial competições de "stock cars".
Alessandro faria o que fosse preciso para proteger Dante
e eu. Isso mudaria a forma como ele reagiria nesta situação?
Quem tinha decidido atacar tinha escolhido uma época em
que Alessandro estava com sua esposa e filho.

Meu aperto ficou mais forte.

— Sophia, no banco de trás, há um cobertor. Debaixo do


cobertor, há algumas armas. Eu preciso que você...

Eu já estava de joelhos, dobrando-me na parte de trás.


Alessandro não estava brincando, debaixo de um pesado
cobertor cinza havia uma considerável coleção de armas de
fogo.

Eu peguei a primeira que vi.

A última vez que tinha segurado uma arma foi no dia do


meu casamento, eu percebi de repente. Eu havia esquecido o
quanto elas eram pesadas, o quanto eram impetuosas ao
toque.

Arranquei-a, movendo-a para o banco da frente.

Alessandro pegou com uma mão, destravando. —


Precisamos trocar de lugar. — Ele ladrou.

— Você não vai começar um tiroteio com meu filho no


carro! — Eu quase gritei.

— Não temos muita escolha! Agora, pegue o volante!


Eu pulei no banco da frente e no colo de Alessandro. Ele
esperou até que minhas duas mãos estivessem no volante e
meu pé ao lado do dele no acelerador antes de se desprender
de mim e pular no lado do passageiro.

Enquanto eu apertava o cinto, quase acertei uma


senhora de idade empurrando seu carrinho de compras. —
Merda!

Alessandro abaixou sua janela, o vento soprava


apressado para dentro do SUV.

A cidade se aproximava cada vez mais, as ruas cada vez


mais movimentadas e os arranha-céus bloqueando minha
visão.

Alessandro não pareceu notar enquanto se inclinava


pela janela e atirava.

O som ressoava pelo lado de dentro e acordou Dante.

Meu filho deixou um lamento perfurante, tão agudo


quanto o disparo da arma.

Imediatamente, meu peito começou a ficar mais pesado.

Este não é o momento! Eu assobiei para mim mesma.

— Está tudo bem, querido! — Eu disse para ele. — Shh,


shh, está tudo bem... Alessandro!
Alessandro voltou, pouco antes de uma bala perfurar o
ar onde ele havia estado. Ele xingou alto antes de se inclinar
e mirar mais uma vez.

Os gritos dos pedestres começaram do lado de fora,


quase não se ouvia o som do meu filho chorando.

Alessandro disparou mais uma vez.

De repente, houve um estouro de pneus atrás de nós,


depois o som do metal se chocava com o metal.

— Peguei eles! — Disse Alessandro.

Pressionei meu pé no freio com um pouco de


entusiasmo demais e derrapamos por um segundo antes que
o SUV parasse.

No segundo de silêncio, de repente pude sentir todo o


meu corpo. O batimento do meu coração, meu sangue
bombeando, a constrição dos meus pulmões. Um grito, ou
um soluço, estava subindo pela minha garganta.

Dante deixou sair outro lamento.

— Você está bem? — Perguntou Alessandro. Ele agarrou


os dois lados do meu rosto, suas mãos cheiravam a pólvora.
— Sophia!

— Eu estou bem. Vá... vá e veja quem é. Antes que eles


escapem.

Alessandro não se mexeu.


Eu o empurrei levemente. — Vá. Agora. Ou foi tudo em
vão.

Ele beijou minha testa e checou Dante antes de deslizar


para fora do carro e se afastar.

Eu desafivelei Dante, segurando-o ao meu peito. Ele


chorou em meus braços, infeliz e assustado. E pelo cheiro de
sua fralda, ele também se sentia desconfortável.

Do lado de fora do carro, eu podia ver Alessandro


abrindo a porta do carro batido e arrancando quem estava
atirando em nós. O sangue cobria a metade do rosto, a pele
pálida deles quebrada por cortes e arranhões.

Um som crepitante chamou minha atenção e eu vi um


Range Rover familiar acelerando ao virar da esquina, quase
batendo em uma fileira de carros estacionados.

O alívio passou por mim. Ao que parece, Oscuro e Beppe


estavam bem.

Nós estávamos bem. Meu marido, meu filho, Polpetto,


eu.

Enterrei meu rosto na cabeça de Dante. A pele dele era


macia e cheirava a óleo de bebê.

Com cuidado, eu caí de volta no banco do passageiro,


agarrando meu filho, e apenas o segurei. Ele dependia de
mim para tudo, desde a proteção até a alimentação. E pela
primeira vez, eu me perguntei se poderia realmente dar essas
coisas a ele.

Deveríamos ter esperado para trazer um bebê a este


mundo? Não que Dante tivesse sido planejado, de fato,
muitas medidas foram tomadas para garantir que ele nunca
tivesse nascido.

No entanto meu filho tinha vindo ao mundo. Ele havia


nascido no mesmo dia em que Don Piero havia morrido e,
com uma semana de idade, ele havia estado em sua primeira
perseguição perigosa de carro.

Eu amaciei seus cabelos, beijando sua pequena testa.


Seus gritos haviam se acalmado, agora seu rosto estava
enrugado em aborrecimento.

— Vai ficar tudo bem, bebê, — eu sussurrei. — Papai e


mamãe vão te manter a salvo.

Polpetto colocou sua cabeça para fora do assento. Ele


saltou para cima ao meu lado, enterrando-se em minhas
pernas.

— Oh, meu valente Polpetto. — Eu quase ri.

Alguns minutos se passaram e Alessandro chamou meu


nome. Ele se aproximou do lado do passageiro, com o rosto
intenso. — Você gostaria de vê-los? — Perguntou ele.

Eu segurei Dante mais perto de mim. — Sim.


Alessandro acenou com a cabeça. À distância, eu podia
ouvir sirenes se aproximando cada vez mais, mas meu
marido não parecia minimamente preocupado. O que a
polícia de Chicago ia fazer? Esta cidade pertencia aos
Rocchettis.

Oscuro e Beppe tinham tirado os dois criminosos,


pegado suas armas e empurrando-os para o chão.

Eu dei uma olhada na rua. Ninguém havia tirado seus


telefones ou tentado se aproximar. A maioria das pessoas
tinha começado a se dispersar, com exceção de alguns
poucos curiosos que mantiveram sua distância.

Nenhum dos homens me parecia familiar. Ambos


tinham características pálidas semelhantes, com olhos azuis
pálidos e lacrimejantes e narizes tortos; irmãos, talvez? As
tatuagens saíam debaixo de suas roupas escuras,
prometendo fidelidade à sua organização.

Oscuro atirou duas carteiras para Alessandro. — Nomes


franceses.

Alessandro escaneou as duas carteiras de habilitação,


seu queixo apertado.

— União Corse3? — Eu perguntei.

— Assim parece. — Ele confirmou, seus olhos escuros


dançando para mim. Os carros da polícia começaram a

3A União Corse é uma organização criminosa da máfia da Córsega que opera principalmente na
Córsega e Marselha, França.
chegar, as luzes azuis e vermelhas se lançando sobre o local
do acidente. Alguns oficiais fizeram uma pausa quando viram
Alessandro e olharam para seu superior, inseguros de como
proceder.

— Vamos. — Disse-me Alessandro, embolsando as


carteiras.

— Vamos levá-los, chefe? — Perguntou Beppe.

— Não em plena luz do dia, — eu interrompi. — Deixe a


polícia levá-los, e depois observe, porque quem quer que
venha reclamá-los emitiu um ataque contra nossas vidas.

Alessandro sorriu para mim. Ele instruiu Beppe e


Oscuro: — Deixe-os. — Antes de me levar de volta para o
carro.

Afivelei Dante de volta, que não ficou nada satisfeito,


mas não chorou.

Decidimos renunciar ao piquenique, retornando à


segurança do condomínio fechado.

Quando o chefe da polícia de Chicago ligou para


confirmar quem havia pago a fiança para os dois homens da
União Corse que nos atacaram, Alessandro estava fora de
casa antes mesmo de ter desligado o telefone.

— Alessandro, oh, esse homem! — Eu saí correndo da


cozinha. — Teresa!

Teresa levantou a cabeça por cima do corrimão das


escadas. — Sra. Rocchetti?

— Você pode ficar de olho no Dante por cinco minutos?


Acho que meu marido vai cometer um crime antes do almoço!

— Eu fico com ele, — ela confirmou. Teresa nunca


perdia uma oportunidade de passar algum tempo com Dante.
— Vá, vá. Antes que ele mate alguém.

Eu corri atrás de Alessandro. Ele já estava na metade da


rua, seus longos passos devorando a calçada.

— Quem os pegou? — Perguntei, mas ele parecia não


me ouvir.

Alessandro foi direto para a mansão de Enrico e isso me


atingiu.

Ela tem laços com a União Corse.

— Oh, Saison. — Eu meio que lamentei, esperando que


não fosse verdade.

Cheguei a Alessandro quando ele chegou à caixa de


correio de Enrico. Ele virou seus olhos escuros para mim, não
parecendo surpreso ao me ver.
— Você tem certeza de que deveria estar correndo tão
cedo depois de ter dado à luz? — Foi a primeira coisa que ele
me disse.

— Estou bem. — Uma mentira. Eu estava com uma


quantidade considerável de dores pós-parto. — O que você vai
fazer? Não adianta correr para dentro sem um plano de
apoio.

Meu marido sorriu brevemente. — Esta não é mais uma


situação estratégica. Agora, é hora de tratar disto como um
gângster, que, se você se lembra, é minha especialidade.

— Eu sei, eu sei. Só parece tão impetuoso...

A porta da frente se abriu e Enrico saiu carrancudo. Ele


estava vestido com um simples par de calças caqui e suéter,
mas eu podia ver o contorno de sua arma ao seu lado. Atrás
dele, surgiu um rosto delicado, Saison Ollier. Pela maneira
como seus olhos se arregalaram quando nos viu, soube
imediatamente quem tinha mandado os caras atrás de nós.

Alessandro deu um passo à frente, eu ao seu lado. —


Conhecemos os primos de sua amante, tio, — disse ele. —
Infelizmente, eles não foram muito simpáticos.

Eu liguei meu braço com o de Alessandro. Para um


forasteiro, pareceria que eu estava um pouco assustada e
procurando conforto. Mas pelo olhar rápido que Alessandro
me deu, ele entendeu porque eu fiz isso.
Éramos uma equipe, marido e mulher. Não havia
nenhuma parte do meu parceiro que eu não visse e não
amasse. Fosse o homem que me chamava de bonita quando
eu acordava ou o gângster sanguinário. Este homem era meu
e eu o apoiaria em qualquer coisa.

Incluindo confrontar seu tio faminto por poder e sua


amante.

— Eu não sei do que você está falando, — assobiou


Enrico, — mas eu sugeriria que você saísse da minha
propriedade, garoto.

— Dois membros da União Corse atacaram minha


esposa e meu filho, — rosnou Alessandro. — E adivinhe
quem pagou a fiança deles, tio? Você. Enrico Rocchetti.

Ele rosnou. — Eu não fiz tal coisa. Estive em casa


todo... — Enrico caiu em silêncio, seus olhos perfurando
através da Saison. Saison olhou de volta para ele, sua
expressão ficou cada vez mais pálida. — Você estava com
meu cartão de crédito. — Ele não parecia acreditar nisso.

— Oh, Saison. — Eu disse.

Ela olhou para mim e depois voltou para Enrico. — Eu


fiz isso por você! — Ela disse, sabendo que tinha sido pega e
suplicar era a melhor maneira de sair disto. — Você deveria
ser o Don. Eu estava me livrando da sua concorrência...

Senti uma lasca de pena. Eu vinha andando por aí, tão


concentrada em minha própria ambição, minha própria
incapacidade de me encaixar no molde de uma mulher
mafiosa tradicional, que eu me esqueci das outras mulheres
ao meu redor. É claro que elas também queimavam de
ambição e usavam seus homens como peões neste mundo
patriarcal.

Eu havia aprendido uma lição valiosa ao subestimar as


mulheres ao meu redor. Mesmo aquelas que eu não esperava
ou que nunca haviam sido uma verdadeira parte da Outfit,
ou pareciam covardes demais para fazer algo tão ousado.

Foi uma pena que eu tenha acabado de saber isso sobre


a Saison. Poderíamos ter nos unido ou no mínimo, eu poderia
ter a usado a meu favor. Porque, agora, infelizmente, eu não
pensava que Saison estaria por perto por muito mais tempo.

— Eu não lhe pedi para fazer isso, — advertiu Enrico. —


A violência não é a única moeda neste mundo, especialmente
matar Alessandro, ainda deixaria Sophia.

Eu fiquei meio que lisonjeada por Enrico me considerar


uma ameaça a ser enfrentada.

Saison estava corada. — Por favor, Enrico. Você não


entendeu. Eu te amo. Eu quero que você seja Don, é o que
você merece. Não um idiota louco ou um selvagem bem
vestido - você.

— Chega, — Enrico estalou. Para Alessandro, ele disse:


— Vou lidar com este assunto em particular. Dê o fora da
minha propriedade.
— Este assunto tornou-se público assim que minha
esposa e meu filho foram ameaçados, tio, — advertiu
Alessandro. — Não deixarei que tal insulto fique impune.

Enrico ficou um pouco imóvel. O que apenas confirmou


minhas suspeitas de que ele não seria forte o suficiente para
governar os Rocchettis.

— Muito bem. — Disse Enrico. Saison soltou um grito


de consternação.

Eu apertei o braço de Alessandro. Ele acenou com a


cabeça. — Há uma maneira de Saison ser poupada, — eu
falei. — Alessandro e eu estaríamos dispostos a perdoar o
insulto se... fôssemos devidamente compensados.

Enrico entendeu rapidamente. Ele olhou entre


Alessandro e eu, depois para a Saison. Pude vê-lo
ponderando sua ambição contra seu ponto fraco pela Saison.

Ele engoliu em voz alta. — Eu peço... respeitosamente


que poupe Saison. Em troca, eu lhe darei meu total apoio
como Don da Outfit de Chicago.

Alessandro sorriu lentamente. — Eu aceito a sua oferta.


Sophia? O que você acha?

Surpresa surgiu nos olhos de Enrico. — Também aceito.


Sejamos todos uma família mais uma vez. E se eu voltar a ver
a Saison em Chicago, eu mesma mandarei matá-la.
As palavras saíram da minha boca com uma
surpreendente quantidade de conforto.

Enrico curvou a cabeça, arrastando Saison para longe


da porta da frente.

— Isso correu bem. — Disse para Alessandro.

— Não poderia ter corrido melhor. — Ao contrário de


mim, Alessandro não soou sarcástico.

Quando olhei para cima para encontrar seus olhos, ele


já me olhava fixamente. O orgulho e o triunfo brilharam em
sua expressão.

— Um já foi, — disse ele. — Faltam dois.

Faltam dois, eu disse.


Capítulo Quatro

— Você parece cansada. — Disse Elena.

— Obrigada. — Respondi.

Ela se encolheu. — Eu não quis dizer isso assim.

Dante estava tirando uma soneca, mas ao invés de me


juntar a ele, eu estava entretendo Elena. Elena estava
partindo para Nova York em poucos dias, então ela tinha
vindo para fazer suas últimas despedidas.

Era estranho saber que Elena estaria a quilômetros de


distância. Nós nos conhecíamos a vida inteira. Tínhamos sido
aliadas uma da outra no colegial e confidentes próximas. Não
ter seus comentários afiados e sua honestidade inteligente
seria estranho, mas eu ainda tinha Beatrice, o que era uma
pequena misericórdia.

Eu não precisava atuar para Elena: fazer chá e oferecer


pequenos muffins. Ela estava confortável sentada ao meu
lado no sofá, de pernas cruzadas e apoiando seu prato nas
mãos.

— Ouvi falar da perseguição de carro, — disse ela. Os


seus olhos verdes se voltaram para mim. — Você está bem?

— Estou viva.
Elena inalou. — Oh, bem, agora estou aliviada. — Ela
lambeu algumas migalhas dos seus dedos. — Como está indo
à caridade?

— Eu ainda não estive no escritório.

— Isso é provavelmente o melhor. Acabou de ter um


bebê. — Elena me deu um olhar escrutinador. — Está dando
uma pausa, não está?

— Este não é o momento para pausas. — Murmurei,


fechando os olhos. Apenas alguns minutos... Elena pode nem
notar se eu...

— Como é estar casada?

Eu abri os olhos, olhando para ela. Sempre usou o


atrevimento, sarcasmo e honestidade como escudo. Mas
agora, seus olhos estavam largos e seu rosto pálido.

— Ser casada? — Eu repeti.

— Sim... como é? Quer dizer, Pietro adora Beatrice,


então eles são uma anomalia. Mas todos os outros que eu
conheço, eles se odeiam. Minha mãe odiava meu pai, minha
tia odeia meu tio, minha prima odeia seu marido. — Ela
parecia pensativa. — Você e Alessandro se acostumaram um
ao outro e agora têm um bebê. O casal perfeito.

— Não somos perfeitos, — eu pensei. — E todos adoram


a Beatrice. Pietro não foi exceção.

Elena não sorriu, mas seus olhos brilharam.


— Casamento é... — O que era o casamento? Eu
supunha que significava coisas diferentes para diferentes
pessoas. Neste mundo, os casamentos eram arranjados e
encarados mais como alianças do que como relacionamentos
amorosos. Nosso mundo foi construído com base no dever, na
violência e na lealdade, como nós víamos o casamento
mostrava isso.

Alessandro uma vez me disse que não existia tal coisa


como um verdadeiro casamento. Sua opinião sobre o assunto
havia mudado?

— Somos parceiros, — foi tudo o que pude pensar a


respeito. — Ele é meu companheiro de equipe. Meu coração.
O pai do meu filho.

— Lembro-me de quando você estava aterrorizada com


ele, — disse Elena. — Estava tão assustada no dia do seu
casamento.

— Acho que a maioria das noivas ficam. — Suspirei. —


Eu estava querendo te perguntar, aqui, apenas entre nós... O
que você quer?

— Não me casar.

— Todas querem se casar. — Eu brinquei.

Irritação surgiu sobre suas características de elfo. —


Talvez neste mundo. — Ela devolveu.

A rebelião em sua voz me deixou tensa.


Elena pegou-a imediatamente. — Não se preocupe,
Sophia, — ela quase riu. — Não vou dar uma de fugitiva. Eu
não sou sua irmã.

Eu sorri um pouco, meu único sinal de alívio. — Que


moderada você.

— Por falar em Cat...

— Nós estávamos falando dela? — Tomei um gole do


meu chá, esperando que a cafeína me ajudasse a ficar de
olhos abertos.

Elena não se incomodou em me mostrar piedade. Ela


também tinha crescido com Cat e tinha levado a traição a
sério. Essa era a coisa de Elena; uma vez que você a traia,
não importa quem você fosse, estava morto e ela nunca
perdoava.

O que havia acontecido com o pai dela era prova


suficiente disso.

— Ela tem causado problemas?

Eu havia contado a Elena sobre a última vez que minha


irmã e eu tínhamos falado. Tínhamos nos despedido, ambas
nos preparando para entrar em nossas novas vidas com toda
a força. Tinha sido devastador na época, e me levou a chorar
nos braços de Alessandro, mas o tempo tinha começado a
curar a ferida.

Assim como eu tinha uma distração, que era meu filho.


— Ainda não. Mas só faz uma semana desde que Don
Piero foi baleado.

O FBI estava em um silencio não natural. Nossos


espiões e batedores não tinham visto nada, não tinham
ouvido nenhum movimento.

— Você acha que foi o FBI? — Elena perguntou incapaz


de conter sua curiosidade. — Ou outra pessoa?

Eu belisquei o nariz. — Não tenho ideia.

— Bem, acho que foi sorte não ter sido você ou o Dante.

Você ou o Dante.

Em um movimento inesperado, todo o meu corpo de


repente se convulsionou em um soluço.

Eu me inclinei para baixo em minhas mãos, tremendo.


Incapaz de falar, de pensar...

— Oh, meu Deus, Sophia! — Os braços finos de Elena


me abraçaram, segurando-me a ela. — Shh, ei, está tudo
bem. Eu sou uma cadela. Eu sinto muito. Não deveria ter
falado nisso. Você está bem, seu bebê está bem...

Outro soluço saiu da minha garganta.

— Merda, Cristo. Oh, uh... Seu bebê está a salvo,


Sophia. Dante está bem e está a salvo.

Dante está bem e está a salvo.


Eu pressionei uma mão no meu coração. — Por quanto
tempo? — Eu assobiei. — No dia em que ele nasceu alguém
foi assassinado no mesmo quarto que ele! Então, nem mesmo
com uma semana de idade, ele estava envolvido em uma
perseguição mortal de carro! O que vem depois? Devo esperar
que ele seja sequestrado quando tiver um mês de idade? Ou
uma bomba explodir na sua primeira festa de aniversário?

Elena acariciou meu cabelo, o movimento foi


desajeitado, mas apreciado. Seus olhos me imploraram para
continuar falando, para ser honesta. E pela primeira vez, eu
fui.

— Eu não esperava... Isto, Elena. Eu sabia que eu iria


mudar, sabia que minha vida seria diferente, mas não
esperava ficar irreconhecível para mim mesma. Eu... eu posso
passar dias sem tomar banho ou dormir. Estou esfomeada e
ao mesmo tempo enojada com a ideia de comer. Eu registro
meu corpo como um técnico de laboratório: Quanto leite
estou produzindo? Quanto sangue estou derramando? Eu me
olho no espelho e não vejo Sophia Rocchetti, eu não me vejo.

— Mas eu... estou viciada. Não esperava que meu


cérebro mudasse assim, que minha psicologia fosse virada de
cabeça para baixo. Penso em Dante o tempo todo. O que ele
está fazendo? Ele está feliz? Triste? Ele está confortável?
Respirando? Mesmo quando ele está em meus braços, fico
paralisada de preocupação. Mas... o amo tanto. Dói o quanto
eu o amo. Cada dia acho que não posso amá-lo mais e então
ele olha para mim e eu...
Eu chupei um soluço, limpando meus olhos.
Recomponha-se, Sophia, eu disse a mim mesma, você é a
Principessa da Chicago Outfit.

Depois de me acalmar, eu disse: — Desculpe, Elena. Não


deveria ter quebrado.

Ela me encarou, com os olhos verdes ligeiramente


perplexos. — Sua honestidade é o maior presente de
casamento que você poderia ter me dado.

De todas as coisas no mundo que eu poderia esperar


que ela dissesse, isso certamente não estava na lista.

Olhei para ela. Suas características eram genuínas e


honestas, seus verdadeiros pensamentos nunca se escondiam
do mundo. Elena tinha acabado de me elogiar por minha
honestidade? Com certeza, eu tinha ouvido isso errado...

— O que você quer dizer com isso? — Eu questionei.

Ela sorriu um pouco. — Quero dizer... você sempre teve


tudo calculado, sabe? Mesmo no colegial ou no playground,
você se portava com uma confiança que eu nunca terei. É
bom saber que é tão estressada quanto o resto de nós.

Uma bolha de riso subiu pela minha garganta. — Isso é


verdade?

— Sim, — respondeu Elena. — E em troca de sua


honestidade, porque eu sei o quanto você gosta de acordos,
eu serei honesta com você.
Eu me inclinei para mais perto.

— Estou aterrorizada. — Sua voz se quebrou. —


Aterrorizada em me casar. Acordo coberta de suor dos
pesadelos sobre Thaddeo e todas as maneiras que ele poderia
me machucar. Mas isso não é nem a pior parte. Estou
petrificada em deixar Chicago, porque sei que nunca mais
voltarei.

Eu agarrei sua mão, apertando-a entre as minhas,


tentando segurar minhas lágrimas. — Eu vou falar com
Alessandro. Eu vou parar o casamento.

— E o que, Sophia? Arruinar seu relacionamento com os


Falcones, comprometer seu poder? Por favor. Isso vai
acontecer. — Elena relatou os fatos com facilidade e ainda
amarga. — Realmente acha que meu tio vai deixar este
casamento de lado? Isto é a melhor coisa que aconteceu com
ele desde sua vasectomia.

— Poderíamos arranjá-la com outra pessoa. Alguém


mais poderoso. Seu tio não se importaria com isso.

— Alguém assim existe?

Eu me calei. Na posição atual, não. Os solteiros elegíveis


eram fáceis de achar, mas alguém que tivesse uma posição
alta o suficiente para Elena? Mais alto que um Don de Nova
York? Não havia ninguém.
— Sinto muito, — foi tudo o que pude pensar para dizer.
— Talvez... não seja tão ruim assim. Talvez você goste de
Thaddeo.

— Eu mal gosto da minha família. Não consigo imaginar


que vou ter muita sorte com meu marido. — Murmurou ela.

— Eu gosto do meu marido, — eu tentei. — Algo que


nenhum de nós suspeitava que iria acontecer.

Elena parecia pensativa. — Acho que não preciso de um


parceiro, — disse ela, dirigindo-se ao meu comentário
anterior. — Eu só quero ser deixada em paz. Espero que
sejamos como os Roosevelts e que tenhamos apenas nossas
próprias vidas.

— Ter um companheiro de equipe não é tão ruim assim.


Exceto que ele ronca.

Por fim, Elena abriu um sorriso.

Encontrei meus dois meninos no escritório de


Alessandro.

Alessandro inclinou-se para trás em seu assento, com


os olhos no computador e segurando Dante delicadamente
em seu peito. Dante estava acordado, piscando lentamente e
tentando dar sentido ao seu ambiente, tudo isso enquanto
sugava sua chupeta. Ambos pareciam relaxados, seguros.

Meu marido olhou para mim enquanto eu entrava, seus


olhos escuros notando minhas bochechas inchadas
imediatamente.

— Eu estava chorando, — disse eu antes que ele


pudesse perguntar. — Nada com que se preocupar. Vou
sentir saudades da Elena.

— É por isso que você chorou? — O tom dele implicava


que ele sabia que não era.

Fui ao redor da mesa, de pé ao lado de Alessandro. Com


dedos delicados, varri o cabelo dele para trás, tentando
suavizar os fios furiosos.

— Estou apenas cansada. E estressada. E meus peitos


doem, por isso espero que Dante esteja com fome.

Os olhos de Alessandro amoleceram. — Pode bombear


hoje à noite, e eu me levanto para ficar com ele. Você mal
dormiu a semana toda.

— Não seja ridículo. Você tem que trabalhar. Este...


Suponho que seja o meu trabalho.

Ele levantou uma sobrancelha. — Além de ser a CEO da


Instituição Rocchetti: Apoio ao Alzheimer? Você está mais
ocupada do que eu.
— Sabe que tudo isso está no nome. Eu mal passei no
ensino médio; o que sei sobre Alzheimer? — Mas realmente
queria entrar no escritório e falar sobre o baile de caridade.
Eu tinha que finalizar algumas coisas... Mas não queria
deixar Dante. Nem queria realmente sair de casa com ele, não
depois da última vez.

Alessandro viu tudo isso na minha expressão e agarrou


minha mão, apertando com força. — Sophia, vá tirar uma
soneca. Posso cuidar de Dante por algumas horas.

— Eu sei que você pode. Mas e se...

— Se algo acontecer, eu te acordarei. Ou Dante


acordará. — Eu pressionei minha testa na dele, respirando
seu cheiro.

O calor irradiava da pele dele, esquentando minhas


bochechas.

— Você sabe, Elena e eu estávamos falando sobre o dia


do nosso casamento.

— Você e Elena são casadas? Estou triste por ter


perdido isso.

Eu mordi meu sorriso e ele se inclinou para mais perto


dos meus dentes, rindo.

— Não, — eu disse. — O dia do nosso casamento. Elena


está preocupada com o seu.

— Thaddeo é bom.
— Você o conhece?

Alessandro acenou com a cabeça. — Já nos


encontramos algumas vezes. Ele é jovem para um Don, mas
ele cuidará dela.

Eu relaxei. — Você tem certeza?

— Os Falcones nunca foram conhecidos por serem maus


para suas mulheres.

— Ao contrário dos Rocchettis?

Meu marido não sorriu para a minha piada. — Ao


contrário dos Rocchettis. — Ele respondeu friamente.

Pressionei um beijo na testa dele, depois olhei para a


tela do computador. — Ainda está lidando com o testamento?

— Eu quero matar este advogado.

— Você não pode matar Hugo. Nós desmoronaríamos. —


Acariciei o cabelo dele e fiz uma leitura rápida sobre o papel.

Don Piero tinha decidido deixar um testamento que era


mais complicado do que um cubo mágico. Foram necessários
três advogados, todos dos Rocchettis e de Nicoletta, para
tentar distinguir algum significado do mesmo. Estava escrito
em inglês (com exceção de suas propriedades na Itália), mas
estava tão cheio de jargões e enigmas legais, que era
basicamente indecifrável.
A única parte da vontade que tínhamos conseguido
compreender era a nova propriedade de seus amados cães.
Os cães continuariam a viver na casa de Don Piero, sob os
cuidados de seu treinador e de quem mais trabalhasse com
os animais de estimação. No entanto, eles pertenciam
legalmente a... você adivinhou! Sophia Antonia Rocchetti e
Polpetto Rocchetti.

Quando Salvatore Sr. viu que Polpetto tinha alguma


coisa no testamento, um chifre quase cresceu nele.

Por isso, além de tudo o mais, o testamento de Don


Piero era outra coisa a ser tratada.

Alessandro estava pronto para se tornar homicida por


causa disso.

— Mesmo na morte, ele é um homem difícil, —


Alessandro resmungou. — Quando eu morrer, você pode ficar
com todas as minhas coisas.

— Não diga coisas como essas.

Ele fez um barulho evasivo.

— Você pensaria que tudo iria para Nicoletta. Ela é sua


esposa.

— Ele foi muito esperto com o documento, — disse


Alessandro. — E como Nicoletta está, tecnicamente, morta,
discutir o seu lugar no testamento vai ser outra dor de
cabeça.
Eu segurei a parte de trás de sua cabeça tecendo meus
dedos através de seu cabelo, e sorri para ele. — Falando em
Nicoletta, o que você acha de Ophelia?

Ele levantou as sobrancelhas. — Você está perguntando


como empregadora dela ou como minha esposa?

— Como se você pudesse fazer melhor, — eu o lembrei.


— Estou perguntando por que Nero está interessando nela.

— Ah, você notou isso, — murmurou Alessandro. — É o


suficiente para me fazer sentir pena da pobre garota.

— Diga a Nero para recuar.

Meu marido parecia que ia rir da ideia de dizer a Nero


para fazer alguma coisa.

— Ele o escuta. Eu não vou passar pelo processo de


contratação de outra enfermeira, Alessandro. Ophelia é a
única de quem eu gosto e que está com dificuldades
suficientes para que precise deste trabalho. Onde mais eu
vou achar uma enfermeira desesperada?

Ele curvou sua cabeça. — Como quiser. No entanto,


devo adverti-la que, uma vez que Nero coloca sua mente em
algo, muito pouco pode detê-lo. Isso é o que o torna um
grande executor.

Acariciei o cabelo macio do meu filho. Ele pestanejou


sonolento para mim, contente apenas de ouvir nossas vozes.
Tudo o que pude pensar para dizer foi: — Pobre Ophelia.
Alessandro pegou minha mão, segurando-a com força.
— Estou falando sério sobre você ir e dormir um pouco. —
Ele me disse.

Suspirei, incapaz de levantar um dedo. Uma soneca


seria...

Quando me virei para sair, Alessandro gritou.

— Você sabe que não vou deixar que nada aconteça com
você ou com Dante, não é, Sophia? — Perguntou ele.

Eu olhei por cima do ombro para ele. Meu belo marido,


que havia abandonado Deus e o céu em sua busca de poder,
que caminharia pelo inferno para proteger sua família.

— Eu sei, — murmurei. — Eu sei.


Capítulo Cinco

Não percebi que era o último dia do mês até que


Beatrice gentilmente me lembrou.

Eu estava deixando outra reunião da Sociedade


Histórica, minha primeira após o nascimento de Dante, onde,
ao invés de discutir marcos, todos estavam incrivelmente
interessados em fotos do meu filho. Eu, é claro, sempre tive o
prazer de mostrar meu bebê e me diverti muito.

Quando fui embora, liguei para Beatrice para uma


atualização sobre sua gravidez. Não estava prevista até o
início do próximo ano, mas foi muito bom ter alguém com
quem conversar sobre os bebês. Sempre que ela gemia por
causa de um sintoma de gravidez, eu conseguia arrepiar de
simpatia, porque eu entendia.

— Pietro tem sido adorável. — Disse ela enquanto eu


enrolava meu lenço no pescoço.

— Pietro é sempre adorável.

Beatrice riu suavemente na outra ponta do telefone. —


Ele tem sido muito... protetor ultimamente. Está acontecendo
alguma coisa?

A curiosidade sobre a Outfit de Beatrice era uma coisa


rara. Normalmente, ela gostava de seguir em frente com sua
vida, sem saber os detalhes sombrios por trás do dinheiro
que usava e das pessoas que ela chamava de família. Não era
por ignorância, eu não pensava isso. Beatrice estava apenas
ciente do que ela podia e não podia lidar, e o mapa sempre foi
algo com o qual ela não podia lidar.

— Será que Pietro te disse alguma coisa? — Perguntei.

— Não. — Mas claramente, ele estava fazendo algo que


estava deixando Beatrice preocupada.

— Todos estão no limite após a morte de Don Piero, —


eu lhe disse. — Imagino que Pietro só esteja preocupado com
quem será seu próximo capo dei capi.

Ela fez um barulho de compreensão, mas não perguntou


mais nada.

— Vou sentir falta de Elena, — disse ela de repente. — É


de partir o coração o fato de não termos podido ir ao
casamento.

Quando perguntei a Alessandro se poderíamos ir ao


território Falcone para ver Elena se casar, ele me encarou tão
intensamente que parecia que seu rosto ia se partir. Imagino
que Pietro teve uma reação semelhante ao pedido de Beatrice.

— Eu também, — murmurei. — Eu a fiz jurar que me


ligaria assim que pudesse.

— Não é a mesma coisa que estar lá, — disse Beatrice.


Então suspirou. — Mas o que você pode fazer? Esperemos
que ele seja gentil com ela. Tenho certeza de que ela fará com
que ele a trate bem.

— Alessandro disse que Thaddeo é um bom homem, —


eu lhe assegurei, tentando ajudar a aliviar algumas de suas
ansiedades. — Tenho certeza de que ele será bom para Elena.

Isso fez com que Beatrice se sentisse melhor e ela


expressou sua excitação por todas em nosso pequeno trio
estarmos casadas.

Eu estava ouvindo-a quando vi uma familiar, bela


cabeça cinzenta que se movia na minha direção. Os pombos
voaram furiosamente enquanto o prefeito os perturbou, o
efeito quase cômico.

— Malditos pássaros! — Ele se estendeu, depois


endireitou a gravata e continuou na minha direção.

— Beatrice, tenho que ir. Eu te ligo mais tarde. —


Desliguei, de olho no prefeito que se aproximava. À luz do sol,
emparelhado com seu Botox e seu sorriso ceroso, ele parecia
que podia derreter.

Do canto do meu olho vi Oscuro caminhando em nossa


direção, sua expressão fechada.

— Posso ajudá-lo, senhor? — Perguntei, deixando-o


saber que o havia visto aborrecer os pombos e achado
hilariante.
Ericson suavizou seus cabelos grisalhos, dando-me um
olhar sujo. — Eu não esperava vê-la aqui, Sra. Rocchetti, —
disse ele. — Tínhamos uma reunião que eu perdi?

Oscuro chegou até nós, mas eu levantei uma mão,


dando-lhe sinal para ficar até eu precisar dele. — Estava me
reunindo com a Sociedade Histórica, então não. Nenhum
compromisso esquecido de sua parte.

— Sociedade Histórica? Que sorte. Salisbury ainda está


aqui?

Ericson sabia muito bem que Salisbury não tinha


comparecido a uma reunião da Sociedade Histórica desde sua
própria perda pública. De acordo com sua esposa, o ex-
prefeito ainda estava preso em sua casa, cuidando de seu ego
ferido. Quando eu disse isso a meu marido, ele rolou os olhos
e me disse que todos os políticos eram porra de crianças
inúteis.

Eu estava começando a concordar.

— Salisbury está de férias com sua esposa. Nas


Bahamas, de acordo com seu último cartão postal, — eu
menti. Quem iria contestar isso? Salisbury não ia sair de sua
casa. — Você não recebeu um cartão postal?

Ericson não aprovou a minha tentativa de humor. —


Posso dar-lhe novamente minhas condolências? — Perguntou
ele, seu tom sujo. — Seu cunhado me disse que a família está
levando isso de forma difícil.
Ele disse?

— Chicago está levando isso de forma difícil, — eu disse


a ele. — Don Piero era um... O que foi que você disse? Um
pilar da nossa comunidade.

— Será muito difícil substituí-lo, — disse ele. — Mas não


impossível.

Eu sorri para o prefeito. Seu tom implicava que ele


pensava que poderia ser um encaixe melhor para Chicago.
Aposto que seus contatos do FBI tinham alimentado essa
narrativa em seu cérebro.

Será que Ericson realmente pensou que seria capaz de


substituir Don Piero? O FBI realmente achava isso?

— Não, — eu pensei. — Não impossível. — Mas não vai


ser você. — Eu tenho lugares para ir, Alphonse. Então, se me
der licença...

O prefeito não estava disposto a me deixar partir tão


cedo. — Você deveria valorizar estes últimos momentos em
Chicago, — ele zombou. — Porque agora sou o prefeito,
esposa Rocchetti, e vou fazer sua família implorar por
misericórdia.

Não pude evitar o meu crescente sorriso. — Oh, sério? E


como você planeja fazer isso? Roubar todas as prostitutas?
Causar um surto de DSTs? Eu adoraria ouvir seu plano
diabólico.
— Agora você faz piadas, — rosnou Ericson. — Mas o
FBI sabe mais sobre sua família do que você sabe sobre eles.
E eles estão se preparando para destruir você e sua pequena
organização imunda.

Oscuro deu um passo à frente, mas eu o acenei de volta.


Ericson sozinho não era uma grande ameaça, mas com o
apoio do FBI? E/ou Salvatore Jr? Ele poderia muito bem
provar ser um problema.

O que eu havia dito a ele da última vez que ele me


ameaçou?

Não é com eles que você deveria se preocupar.

— Claro, — eu concordei. — O que você achar melhor.


Você perdoará minha organização se fizermos a mesma coisa.
— Eu pisei para o lado, fazendo um pombo pisar para o lado
para abrir caminho. — Cuide de si mesmo, Ericson. Aproveite
seus últimos dias como prefeito de Chicago.

Afastei-me antes que pudesse ouvir sua resposta


irritante.

A Rocchetti: Apoio ao Alzheimer, ocupava meia dúzia de


andares em um enorme arranha-céu cintilante, situado nos
arredores de Chicago. Os laboratórios eram sempre
preenchidos com conversas e cientistas inteligentes, todos
que desprezavam ser interrompidos, por isso passei a maior
parte do meu tempo nos escritórios, com aqueles de nós que
não eram inteligentes o suficiente para achar a cura.

Meu escritório, chique e moderno, não tinha vista para o


rio. Embora no momento estivesse repleto de mapas e
pranchas. Eu estava na minha mesa, vasculhando a lista de
convidados, enquanto alguns de meus funcionários
vasculhavam a organização dos assentos.

Eu tinha quase ficado entorpecida com a lista de nomes


até que um chamou minha atenção. Pelletier.

Esse nome era horrivelmente familiar. Charles Pelletier


tinha sido o chefe da União Corse nos anos 80, e causou
muitos problemas para a Outfit. Eu ainda não havia nascido,
mas papai nunca havia falado sobre aqueles dias com nada
além de horror.

Até mesmo as esposas haviam temido que a guerra


entre a União Corse e a Outfit voltasse a acontecer. É por isso
que eles tinham estado tão envolvidos com os Gallaghers.

Eu cliquei sobre o nome.

Eloise Pelletier.

Há centenas, muito provavelmente milhares, de Pelletiers


nos Estados Unidos, eu disse a mim mesma. Nem todos eles
são parentes de Charles Pelletier.
Mas não pude evitar a minha pesquisa.

Eloise Pelletier vivia em uma casa de repouso há cerca


de seis anos, diagnosticada com Alzheimer em sua velhice.
Ela não tinha parentes mais próximos, embora isso
provavelmente não estaria nos registros públicos.

Mas o lar de idosos os teria.

— Amy. — Eu chamei.

Minha assistente olhou para mim. — Sim?

— Acrescente outro nome à lista. Eloise Pelletier, da


casa Sunny Days Care.

— Claro que sim. Alguma razão para isso?

Eu olhei o nome, murmurando as sílabas. Pelletier,


Pelletier. — Acho que ela poderia ser uma beneficente para o
baile.

Estava com vontade de ir para casa e ver Dante.


Alessandro tinha me enviado atualizações constantes ao
longo do dia. Pequenas fotos de Dante dormindo, segurando
sua mamadeira ou chupando sua chupeta (ele não fazia
muito mais). Eu sentia falta dele, mas não podia negar minha
curiosidade.
Oscuro suspirou quando lhe disse que ainda não íamos
para casa, mas não discutiu. Ele estava acostumado a que eu
desse uma de detetive agora.

A casa Sunny Days Care estava localizada na periferia


de Chicago, ocupando um belo pedaço de terra verde. O que
eu notei de primeira foi o jardim, uma mistura de belas sebes
bem cuidadas e flores. Aproveitando seu dia na grama, seja
jogando xadrez ou croquete, estavam os moradores de Sunny
Days.

Parecia bastante tranquilo.

Quando me aproximei da recepcionista, ela estreitou os


olhos. — Posso ajudá-la?

— Sim. Estou aqui para visitar Eloise Pelletier.

— Você está na lista dela?

— Eu sou uma velha amiga. Sophia Rocchetti.

Assim que ela ouviu meu sobrenome, a recepcionista


mudou a sua atitude muito rápido. Ela pediu desculpas antes
de me entregar o crachá de visitante. Eloise, ela me disse,
estaria em seu quarto assistindo televisão durante o dia, e
ficaria encantada em ter uma visita. Quando ela viu Oscuro
se aproximando atrás de mim, ela caiu em silêncio.

Eu lhe agradeci antes de partir.

Por dentro, a casa Sunny Days Care era tão luxuosa


quanto o exterior. Belíssimos mármores e pinturas
requintadas, emparelhados com lustres e ornamentos de
gesso no teto.

Quando eu ficasse velha, era provavelmente aqui que eu


seria realocada. Era melhor do que onde Nicoletta tinha sido
escondida.

O nome de Eloise estava impresso em sua porta. —


Fique aqui, Oscuro, você só vai assustá-la.

Ele não ficou satisfeito com minha ordem, mas a


cumpriu.

O quarto era pequeno, mas agradável, com vista para os


jardins verdes e uma cama confortável no canto. Antes de
notar qualquer outra coisa, vi uma bela pintura. Era de um
trecho de terra verde, com uma pequena cabana. No canto da
tela, as palavras JEAN'S BEND podiam ser lidas.

Uma sensação de paz irradiava da imagem, muito


provavelmente reconfortante para Eloise e sua mente
inquieta.

Eu me afastei do quadro e peguei a luz natural


brilhando através das janelas, iluminando uma mulher
pequena, semelhante a um pássaro, sentada em uma
cadeira, com uma refeição preparada na frente dela. A
televisão estava ligada, mas a velha mulher estava mais
interessada em suas ervilhas.

— Sra. Pelletier? — Eu perguntei.


A mulher olhou para mim, com os olhos claros e a pele
enrugada. — Você é a enfermeira? — Ela varreu os olhos para
cima e para baixo do meu vestido, da bolsa as unhas feitas.
— Não parece uma enfermeira.

— Não. Eu não sou enfermeira. Estou aqui para te


visitar. Você se importa?

Eloise Pelletier franziu o cenho. — Eu te conheço?


Nunca consigo me lembrar.

— Compartilhamos amigos mútuos, mas estou aqui


para visitá-la. — Deslizei para dentro da sala, assentando em
uma cadeira perto.

— Eu não recebo muitas visitas, — disse ela. — Na


verdade, nunca recebo nenhuma. Exceto por Albert, do fundo
do corredor. Mas ele é um pouco esquisito.

Eu sorri. — Prometo não ser esquisita. Eu só queria


conversar.

Eloise não parecia convencida. — Como você disse que


se chamava mesmo?

— Eu não disse. Meu nome é Sophia. — Decidi deixar


meu sobrenome de fora. Eu fiz um gesto para o jantar dela.
— Você está gostando da sua comida?

— Não. É uma merda.

Tossi meu riso. — Oh.


Eloise me escrutinou mais um pouco. — Tem certeza
que não nos conhecemos? Você me parece familiar.

— Eu tenho um desses rostos familiares.

— Não, você não tem. — Ela murmurou.

Eu cruzei minhas pernas. Do canto do meu olho, eu


podia ver Oscuro vagando no corredor, provavelmente
assustando o pobre esquisito Albert do fundo do corredor. —
Eu realmente vim para convidá-la para um evento que estou
realizando.

— Eles não me deixam ir. Papai diz que eu não posso


sair.

— Tive a impressão de que você poderia sair quando


quisesse.

Eloise cortou seus olhos para mim. Um azul-marinho,


eu notei. — Nova por aqui, não é?

— Culpada, — disse eu. — Mas eles podem fazer uma


exceção. Estou organizando um baile de caridade para a
pesquisa de Alzheimer. Ficaria honrada se você viesse para
contar sua história ou apenas aproveitar a noite. Com o que
você se sentir confortável.

— Baile de caridade? — Ela franziu. — Já tive minha


cota deles. Eles não passam de uma desculpa para os ricos se
sentirem bem por não fazer nada além de se vestir e passar
um cheque a alguém.
— Talvez. Mas isso não muda o fato de que é para
apoiar a pesquisa e o cuidado.

— Eu provavelmente terei escola.

Fiz uma pausa. Escola? A Sunny Days dava aulas? —


Oh? Quando você não tem escola?

Eloise me deu um olhar esquisito. — Aos sábados e


domingos. De onde você é?

— Não daqui, — eu disse, não de forma indelicada. —


Talvez em outra hora, então. Eu não gostaria que você
perdesse sua aula.

Ela deu de ombros, como se realmente não se


importasse. — Papai diz que a educação é importante, então
acho melhor eu ir.

Meu pai nunca havia dito nada do tipo, mas eu sorri


como se entendesse e me levantei.

— Obrigada por seu tempo, Eloise. Vou deixá-la para o


seu jantar.

Oscuro ouviu minha voz e pisou dentro da porta,


bloqueando a luz do corredor.

Eloise não parecia nervosa. Ao invés disso, ela olhou


para ele, depois para mim e depois para Oscuro novamente.
Seus olhos se prenderam nas tatuagens que espreitavam de
suas mangas, depois o crachá de visitante no meu peito.
Então, como se um interruptor ligasse algo em seu
cérebro, seus olhos se alargaram, e ela gaguejou: —
ROCCHETTI! — Em um piscar de olhos, ela varreu sua
bandeja de jantar para a parede, as ervilhas atravessando o
quarto, como pequenas balas verdes. Ela apontou um dedo
para mim, com olhos ferozes. — Saia, sua cadela Rocchetti
imunda!

— Eloise, não quero fazer mal a você. — Levantei


minhas mãos, tentando não parecer ameaçadora.

— Saia antes que meu irmão te mate, como ele fez com
sua irmã inútil! Fora, fora, fora!

Tentei soar calma, mas estava lentamente recuando. —


Eu não vou te machucar. Só estou tentando ajudar.

— Papai! — Eloise gritou. — Papai! Matem-na! Papai!

Uma enfermeira entra na sala. — Senhorita, você tem


que sair, — ela me disse. — Agora.

Eloise ainda gritava enquanto eu saí correndo, seus


gritos ecoavam pelo corredor. Até os jardins, eu podia ouvir:
— Morra, cadela Rocchetti, morra!
Alessandro estava com raiva de mim. Ele não parava de
me atirar olhares raivosos enquanto eu preparava Dante para
dormir, e quando eu finalmente o coloquei para dormir, meu
marido falou.

— Eloise Pelletier, Sophia. Sério?

Olhei por cima do ombro devido à falta de cuidado,


mantendo minha voz suave. Se Alessandro despertasse
Dante, a União Corse seria a menor de suas preocupações.

— Ela não estava exatamente armada, Alessandro, — eu


lhe disse. — E eu estava curiosa.

Ele se aproximou de mim, obviamente tendo o mesmo


pensamento sobre não acordar o bebê. Sentar e olhar para
cima fez meu marido parecer ainda mais alto e ameaçador.
Seus olhos escuros me olhavam fixamente.

— Você deveria ter me chamado, — disse ele. — Eu teria


ido com você.

— Então, quem teria vigiado Dante?

A raiva se abateu sobre suas feições. Não tanto para


mim, mas mais para minhas ações.

— Eu levei o Oscuro comigo, — acrescentei. — Não


estava fazendo nada de perigoso, Alessandro, você sabe disso.

Alessandro endireitou, ainda irradiando irritação.


Mantendo minha voz calma, eu disse: — Você não
poderá governar esta família sozinho, Alessandro. Ninguém
pode. Don Piero tinha seu irmão e filhos, e você tem a mim.
Não tente me rebaixar para uma esposa e mãe apenas. Eu
sou sua companheira de equipe.

— Minha rainha. — Seus olhos se abriram e ele deixou


cair um beijo no topo da minha cabeça. A simples ação
doméstica fez meu coração começar a correr. — Da próxima
vez, me avise.

— Claro. — Eu disse, sem a intenção de fazer tal coisa.

— Você descobriu alguma coisa? — Perguntou ele.

Continuei escovando meu cabelo, briga evitada. — Não,


nada mesmo. Exceto por sua antipatia por Rocchettis, mas
suponho que isso seja de conhecimento comum.

— De fato. — Alessandro esfregou a boca, os olhos ainda


estão quentes. — Ela disse alguma coisa sobre minha mãe?

Eu inclinei minha cabeça para trás, pescoço exposto. —


Sua mãe? Não. Não me lembro de ela a ter mencionado. Por
quê?

Ele se inclinou para o meu rosto, seu hálito quente


fazendo cócegas na minha testa. — Meu pai costumava dizer
que ela estava com um homem francês. Estava me
perguntando se era um que conhecíamos.

Dita tinha dito a mesma coisa.


Soube pela empregada da casa de Toto, o terrível, que ela
estava envolvida com um homem francês! Quando a Outfit
estava em guerra com a União Corse.

Talvez houvesse mais nessa declaração do que apenas


fofocas mesquinhas.

— Esta família tem décadas de segredos. — Eu disse,


tentando abordar o tema com a maior graça possível. Se eu
tivesse ouvido que minha mãe tinha fugido com um membro
da União Corse, eu ficaria chateada.

Alessandro acenou com a cabeça, com a mandíbula


apertada.

Um raro surto de raiva floresceu dentro de mim. Eu não


senti nada além de fúria pelas ações de Danta. Agora que eu
tinha o Dante, não podia imaginar jamais deixá-lo,
especialmente por algum pau francês. Eu me ressenti dela
por ter deixado Alessandro sozinho. Ele havia passado a
maior parte de sua infância com Don Piero, mas Toto, o
Terrível, não era um pai fácil e havia deixado sua marca em
seus filhos.

Alessandro pressionou seus lábios na minha testa. —


Por que você está com a testa franzida?

Devo ter me esquecido de colocar minha máscara,


esconder minhas emoções. Mas eu não precisava me
preocupar com Alessandro, ele podia ver através das minhas
paredes de qualquer maneira. — Só pensando em sua mãe.
— Não lhe poupe outro pensamento. — Ele murmurou
contra a minha pele.

— Espero que ela não esteja trancada em algum sótão,


como sua pobre avó.

Alessandro bufou. — Meu pai tem uma maneira muito


diferente de lidar com as coisas em comparação com meu
avô.

Eu só podia imaginar.

Meu marido ainda estava posicionado acima de mim,


seus lábios contra a minha testa. O calor que ele sempre
parecia carregar com ele começava a se estender pelo meu
corpo, sobre a minha pele e no meu sangue.

— E como você lida com as coisas, Alessandro? —


Indaguei, minha voz saindo mais grave do que eu pretendia.

Seus olhos escureceram. — Cuidado. Se você acordar


esse bebê...

— Engraçadinho. — Eu disse, meus olhos se levantando


até os lábios dele. Tão perto...

Alessandro se moveu, nossos olhos agora paralelos. A


escuridão profunda de seu olhar parecia querer me engolir
inteira.

Estava crescendo demais, aumentando dentro de mim, o


aperto do meu estômago, o aperto das minhas coxas. Eu já
podia sentir suas mãos cicatrizadas na minha pele, sentir seu
calor entrando nos meus ossos.

Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, eu


peguei os lábios de Alessandro com meus próprios lábios,
desajeitados e de cabeça para baixo.
Capítulo Seis

Alessandro ganhou vida imediatamente.

Ele se separou, me girou, e depois encontrou meus


lábios novamente. Aconteceu tão rápido que poderia ter sido
tudo da minha imaginação.

O beijo foi quente e rápido, um movimento rápido de


nossos lábios contra o do outro e de nossas línguas se
entrelaçando.

As mãos de Alessandro subiram até as minhas


bochechas, segurando-me no lugar. Agarrei a parte de trás de
sua cabeça, segurando seu cabelo.

Uma de suas mãos desceu até meu roupão, desatando a


fita. Soltou com facilidade, revelando minha camisola curta. A
seda se amontoou enquanto Alessandro agarrava meus
quadris, suas mãos quentes se ergueram contra minha pele
sensível.

A pressão de sua mão puxou-me contra ele. Eu podia


sentir a forte pressão de seus músculos contra meu
estômago, contra meus seios.

De repente, Alessandro recuou. Culpa e dor em seu


rosto. — Perdoe-me, Sophia, — disse ele pesadamente. —
Você ainda está se recuperando...
O ar frio soprou contra mim, contando ao meu corpo o
que havia acontecido. Não fez nada para esfriar a crescente
dor entre minhas pernas, a ondulação quente na minha
barriga.

— Alessandro. — Minha boca havia voltado à vida. — Me


foda.

Ele ficou quieto.

Eu estava me movendo na direção dele, sua pele, seu


cheiro e seu calor. Ele não se movia enquanto eu envolvia
meus braços em torno de seu pescoço. Aqueles olhos escuros
estavam largos, com fome e choque crescentes. Eu me
levantei na ponta dos pés, e movi sua cabeça para baixo,
pressionando meus lábios contra os dele.

Por um momento ele era uma estátua, mas então os


braços de Alessandro estavam se unindo à minha volta e me
puxando até ele. Nossos lábios rolaram e se moveram suaves
e nervosos e procurando.

O fogo se arrastava dos meus lábios e mais para baixo...

Eu gemi contra ele.

Alessandro, em um movimento suave, me levantou e


depois caminhou de volta até que eu estava deitada na cama.
Afundamos juntos no colchão.

— Alessandro. — Chorei, minha voz não se comportava


verdadeiramente como deveria.
Alessandro inclinou-se sobre mim, uma presença
dominadora. — O que você quer, Sophia? — Ele perguntou,
aqueles lábios cada vez mais perto e mais perto e mais perto,
apenas para descansar na linha da minha mandíbula. — O
que você quer Sophia?

— Você. Agora.

Isso o fez levantar-se, um olhar de pura fome animal em


seus olhos, e então ele estava em cima de mim, me beijando
na cama. Enrolei minhas pernas em torno de sua cintura e
tirei dele com a mesma fome. Meu corpo estava ficando tão
quente tão rapidamente e eu precisava, precisava tanto dele.

Aqueles sonhos secretos que haviam sido meu único


consolo nestas últimas semanas estavam agora despertando.
E a realidade era muito melhor.

— Alessandro. — Eu mexi na sua camisa, deslizando-a


para cima e jogando-a no chão. Depois fui pegar suas calças,
mas ele prendeu minhas mãos, rindo.

Só para me provocar, ele se esfregou em mim, o que só


me fez apertar. — Tão faminta, Sophia. — Sua língua
escorregou pelo meu pescoço, não ajudando no meu caso. —
Diga-me o que você quer que eu faça com você.

Eu não lhe daria a satisfação de ter todo o controle.


Então, eu disse: — Solte-me.
Ele fez uma pausa e depois foi para trás, desprendendo-
se rapidamente de mim. Aqueles olhos escuros estavam agora
misturados com a preocupação. — Eu a machuquei?

— Não. Eu só estava ficando com muito calor. Preciso


esfriar.

Agarrei a ponta da minha camisola e puxei-a sobre


minha cabeça. Meu corpo nu brilhava no quarto escuro e
quando abri minhas pernas, tornou-se muito óbvio que
Alessandro estava completamente pronto para me ter. Ele
agarrava a cama com tanta força que gemia e seu pau
pressionava contra suas calças com uma força admirável.

Encontrei seus olhos. Deveria saber melhor do que me


enfrentar, meu amor.

Eu podia ver um fantasma de um sorriso na pouca luz.


Ele disse em voz alta: — Sophia.

— Mmm? — Meus dedos estavam descendo pelo meu


corpo, cada vez mais perto da minha dor. Quanto mais me
aproximava, mais energia Alessandro parecia produzir. Ele
vibrava com ela. Então eu toquei no local exato e soltei um
pequeno gemido. Meus dedos estavam contra a umidade,
fazendo meu coração bater e meu estômago torcer.

— Sophia. — Ele não parecia mais meu marido. Sua voz


estava eviscerada, uma mistura de luxúria feroz e
necessidade.
Eu me toquei mais forte. — Qual é o problema, meu
capo? O gato comeu sua língua? — Minha provocação teria
resultado melhor se eu não tivesse sido tão quente e
distraída.

— Você esfriou? — Perguntou ele. Ele queria me tocar


novamente.

Encolhi os ombros. — Venha sentir por si mesmo.

Tão rápido quanto uma cobra, Alessandro tinha-me


deitada de costas, ele sobre mim, e seus dedos tinham ido
direto para mim. Eu soltei um grito, especialmente quando
ele começou a esfregar e a puxar e pressionar e... Oh, meu
Deus!

Seus olhos pareciam arder de luxúria e ele se inclinou


para se aproximar de meus lábios. Mas, pouco antes de
alcançá-los, ele levantou sua cabeça para o lado. — Veja
como você gosta disso. — Alessandro ronronou. Depois
puxou seus dedos para longe de mim. Eu soltei outro gemido,
muito involuntário. Mas só me fez ficar mais molhada e mais
quente.

Com um sorriso, empurrou um dedo para dentro de


mim, o que me fez dizer seu nome repetidamente. Uma
oração.

Eu queria a mão dele, eu o queria dentro de mim.


— Oh, porra, Sophia. — Ele pressionou com mais força
dentro de mim, o que me fez agarrar seus ombros com tanta
força que eu sabia que deixaria arranhões.

— Entre em mim, Alessandro, — implorei, as palavras


difíceis de entender. — Agora, agora entre em mim.

Os dedos de Alessandro pararam de repente. — Quatro


semanas. — Ele respirou.

— 28 dias. — Eu pesei de volta.

— 672 horas. — Contra-atacou Alessandro.

Nosso momento parou lentamente, e nos soltamos um


do outro. Pressionei meu braço na testa, tentando recuperar
meu fôlego.

Meu marido respirava com a mesma intensidade, ainda


em posição acima de mim. Mas ele não se deitou. Não, ele
apenas se levantou de joelhos e me observou. Ele estava me
admirando, admirando o que ele tinha feito comigo. Sua
língua lambia seus lábios.

— O que você está olhando? — Eu perguntei a ele.

Alessandro sorriu. — Você. — Ele se inclinou para perto.


Meu corpo estava novamente pronto para... — Sabe, já pensei
em fazer sexo com você mil vezes. Inventei seus ruídos e
como você reagia a certos toques. Mas... nunca fui capaz de
descobrir como você se parece depois. — Seus olhos rolaram
por mim. — E eu ainda não sei.
— Pode adivinhar com exatidão. — Murmurei.

— Adivinhar não é tão divertido, — ele ronronou, sua


mão viajando pela minha pele nua. — Se você se parece com
uma deusa, agora só posso imaginar...

Eu ruborizei. Foi tão vaidoso da minha parte, mas não


pude deixar de dar um pensamento às linhas cor-de-rosa que
me atravessam os seios ou as estrias que me cobriam o
estômago.

Alessandro não pareceu notá-las enquanto se inclinava


para o meu peito, enterrando seu rosto nos meus seios. —
Quatro semanas. — Ele gemeu, seu aperto sobre mim ficou
mais forte.

— Tenho certeza que isso é apenas uma recomendação,


— eu disse. — Aposto que poderíamos ter sexo antes disso.

Ele levantou a cabeça, apoiando-se no queixo. — Ordens


da médica, meu amor.

— Meu grande capo assustador está com medo de


enfrentar uma médica? — Eu brinquei, passando meus dedos
pelos cabelos dele.

Alessandro estalou os dentes para mim, mas seus olhos


seguraram o humor. Eu não pude deixar de sentir a
crescente presunção de ser eu quem o fazia rir, sorrir.
Ninguém mais conseguia fazê-lo, ou estava muito assustado
para tentar.
Meu marido se afastou, deslizando da cama.

— Onde você está indo? — Perguntei, me erguendo nos


cotovelos.

Ele olhou para mim por cima do ombro e gemeu. —


Tenho que tomar um banho frio, — murmurou ele. — E
pensar na minha avó ou algo assim.

Olhei para o berço de Dante, mas meu filho continuava


dormindo profundamente. Graças a Deus, eu pensei. Se
tivéssemos acordado Dante, eu teria começado a chorar.

Novamente.

Vesti-me mais uma vez, continuei minha rotina noturna


antes de me instalar na cama. Alessandro saiu do banheiro
pouco tempo depois, sua pele ainda gelada por estar debaixo
do spray frio do chuveiro.

Ele me aconchegou em seu peito, com os braços


fortemente enrolados ao meu redor.

— Você está tão frio, — murmurei, puxando o cobertor


mais para cima sobre ele. — Como uma barra de gelo.

Ele fez um barulho baixo em sua garganta, antes de


enterrar a cabeça no meu cabelo, respirando fundo.

O sono puxou meu cérebro, mas a adrenalina e a


luxúria dentro de mim não se dissiparam, deixando-me
deitada no escuro, contando a respiração de Alessandro e
verificando Dante a cada três segundos.
As luzes piscaram fora das janelas altas, mal visíveis
através das cortinas. Eu podia ouvir o barulho dos carros
subindo e descendo a rua, provavelmente alguns mafiosos
voltando para casa para passar a noite.

Na mesa de cabeceira, meu telefone zumbia.

A fim de não perturbar Alessandro, manobrei


desajeitadamente sobre a cama, pegando meu telefone e
trazendo-o ao meu rosto.

Uma mensagem de Toto, o Terrivel (listado em meu


telefone como “Sogro Louco”, cortesia de Alessandro) surgiu.

FBI, SWAT, saiam agora!

— O que no mundo, Toto...?

O alarme da casa começou perfurante e repetitivo.

De repente, a porta do quarto se abriu de novo, batendo


no chão com um estrondo. Figuras escuras invadiram o
quarto, armas apontadas e pequenas luzes verdes destacando
seus capacetes.

Eu gritei.

Alessandro tinha sua arma na mão e apontou para a


equipe da SWAT antes mesmo que eu pudesse respirar.

Nem um segundo depois, Dante começou a chorar.


Eu me mexi sobre a cama, arrancando meu filho de seu
berço e rastejando de volta para Alessandro. Meu marido nos
empurrou para trás dele, com a arma ainda apontada.

— Não faça nada precipitado, Alessandro, — veio uma


voz familiar. O agente especial Tristan Dupont deu um passo
à frente, quase irreconhecível sem seus blusões azuis e calças
caqui. Suas mãos estavam erguidas. — Sua esposa e seu
filho estão aqui.

Eu embalei Dante, abafando-o calmamente.

Alessandro não se mexeu. — O que você quer Dupont?


— Ele rosnou, mal soando humano.

Dupont jogou um pedaço de papel sobre a cama.


Nenhum de nós foi tocá-lo. — Um mandado para revistar sua
casa. Você é suspeito de ter ligações com o crime organizado.

— É mesmo? — Rosnou meu marido.

— De fato. — Dupont fez um gesto para mim. — Ambos


são obrigados a vir até a delegacia e responder algumas
perguntas. — Uma maneira chique de dizer que estávamos
presos.

— Sophia fica. — Avisou meu marido.

— Não, de acordo com esse mandado, ela não fica. —


Disse Dupont. Eu coloquei uma mão no braço de Alessandro.
Ele me olhou de relance.
— Está tudo bem, — eu disse calmamente. — Dita
cuidará Dante para nós. — Alessandro acenou com a cabeça
para Dupont. Em um movimento de raiva, ele saltou da
cama. Todas as armas no quarto apontaram imediatamente
para ele, seus pequenos alvos verdes treinados em seu corpo.

Minha respiração ficou presa na garganta, mas


Alessandro não parecia preocupado. Ele segurou suas mãos
para cima, sem armas.

Dupont fez um gesto para mim e eu segui meu marido.


— Algeme-o, — disse Dupont aos homens ao seu redor. — E
a mulher.

— Não, — interrompeu Alessandro, segurando seus


pulsos. — Não, Sophia.

Seu tom calmo fez o agente especial Dupont hesitar. Os


olhos de meu marido estavam completamente negros, mas
sua expressão era quase... relaxada.

Eu sabia naquele momento que aquele era o momento


mais irritado que meu marido já havia estado.

Usando seu bom senso, Dupont cedeu e gesticulou para


que apenas Alessandro fosse algemado. Eu pairava por ele
enquanto ele era algemado, braços atrás das costas. Dante
tinha pausado seu choro, seu pequeno rosto enrugado.

Como um rebanho de animais, a equipe SWAT escoltou


Alessandro e eu para fora do nosso quarto. Todas as luzes da
casa estavam acesas agora e eu podia ouvir as pessoas
mexendo ao redor, procurando em todos os nossos móveis.

Senti um alívio repentino por Nicoletta ter se mudado


para a casa de Don Piero no dia anterior com Ophelia. Todo
este alvoroço a teria perturbado.

Chegamos ao topo da escadaria, revelando o saguão


movimentado. Todos os novos habitantes tinham o FBI
carimbado em seus peitos.

— Está tudo bem, meu querido, — murmurei para


Dante, beijando sua testa. — Você vai voltar a dormir em
pouco tempo.

Fiz uma pausa no degrau de cima, segurando meu filho.


De pé no meio da minha casa, com colete à prova de balas e
cabelos curtos e dourados, estava minha irmã.

Como se ela sentisse meu olhar fixo, Catherine olhou


para mim, olhos castanhos claros brilhando na luz. O rosto
dela estava em pedra, mas sua expressão suavizou-se quando
ela me olhou. Camisola, cabelo desamarrado, descalça e
segurando meu filho recém-nascido.

A casa parecia tranquila enquanto Catherine e eu nos


encarávamos uma a outra. Duas irmãs, ambas em lados
opostos da lei. Éramos como algo saído de um conto de fadas.

— Você não quer fazer isso, Catherine. — Eu avisei.


Ela deu um passo em minha direção, fazendo com que
Alessandro ficasse tenso.

Dupont apertava seu controle sobre ele.

— Você quebrou a lei, Sophia. E agora você será punida.


— Foi a resposta dela.

Eu desci as escadas, de cabeça erguida. A equipe SWAT


me seguiu.

Quando cheguei até ela, os olhos de Catherine desceram


até Dante. Seus olhos estavam abertos e absorvendo tudo ao
seu redor, especialmente o som da minha voz. Um olhar
estranho cruzou seu rosto, como se ela estivesse vendo algo
que não acreditava existir.

Atrás de mim, ouvi o som de um barulho, provavelmente


um pedaço de mobília batendo no chão.

Eu rangia os dentes. — E como a lei vê o bombardeio?


Ou assassinato?

Seus olhos se moveram de volta ao meu rosto. —


Suponho que você vai descobrir, não vai?

Um grito alto chamou minha atenção e eu me virei para


ver um grande agente pisando na sala, um pompom branco
mastigando furiosamente sua perna.

— Cão estúpido! — Gritou ele.

— Polpetto. — Eu chamei.
Instantaneamente, Polpetto soltou-se e veio trotando
para mim. Ele se lamentou e pressionou minhas pernas,
inseguro do que estava acontecendo e de quem eram todas as
pessoas estranhas.

Para Catherine, eu disse: — Tenho que chamar Dita


para olhar Dante. Você pode esperar.

Nem mesmo vinte minutos depois, Dita chegou, cabelo


em desordem. Quando ela viu Catherine, ela fez um barulho
reprovador, como se Catherine tivesse deixado sua toalha
molhada no chão e não tivesse traído a Outfit.

Uma vez que Dante e Polpetto se estabeleceram com


Dita, nós partimos.

Todo o condomínio fechado estava em seus gramados,


os cabelos ainda em rolos e usando chinelos. Vi muitos
mafiosos serem levados para dentro de camburões, com as
mãos algemadas atrás das costas. Toto, o Terrivel, tinha sido
amordaçado, e o agente do FBI que o conduzia tinha um
corte sangrento na lateral do rosto.

Até Salvatore Jr. estava sendo levado para fora de sua


casa, sua máscara gelada mal escondia sua raiva.

Sentei-me ao lado de Alessandro na parte de trás de um


Dodge Charger, Dupont e Catherine na frente.

Vestido apenas com suas boxers, você pensaria que ele


estaria congelando, mas talvez a raiva de meu marido o
estivesse mantendo quente, porque ele ainda estava quente
ao toque. Eu me enterrei dentro dele, tentando me livrar do
frio nos meus ossos.

Pressionei meus lábios até a mandíbula dele, falando


suavemente: — A que crime eles estão tentando nos ligar?

— Ainda não tenho certeza, — ele respirou. — No


momento, eles só têm suspeitas e provas circunstanciais o
suficiente para um mandado, mas não o suficiente para uma
sentença. Vão tentar fazer um de nós falar.

— Você acha que um de nós falaria?

Os olhos de Alessandro se abriram. — Se alguém o fizer,


farei com que ele se arrependa.

— Chega de conversa aí atrás! — Dupont disse da


frente.

— Tristan. — Disse Catherine calmamente, mas forte o


suficiente para que Dupont recuasse.

Eu olhei para trás da cabeça da minha irmã. Talvez eu


não tenha sido a única que tinha encontrado meu par.

A porta da sala de interrogatório bateu fechada quando


Dupont entrou, seguido por um agente familiar do FBI. Era a
mesma mulher que tinha estado no banco com Catherine e a
consolou depois que eu tinha saído, a primeira vez que estive
nesta sala de interrogatório.

Ao meu lado, Hugo del Gatto sentou-se, suas anotações


se desdobraram e sua expressão era dura. Ele não tinha se
tornado o advogado da Outfit por ser um amor, e quanto
mais ele se esquivava de suas perguntas, mais eu começava a
ver seu verdadeiro valor para a organização.

— Aqui está a sua água, — Dupont resmungou


enquanto me passava o copo. — Há mais alguma coisa que
você queira?

Del Gatto olhou para mim. Eu balancei a cabeça.

— Minha cliente está bem, obrigado. — Disse nosso


advogado.

A outra agente do FBI sentou-se, dando-me um sorriso


educado. — Eu sou a agente especial Schulz. O agente
Dupont e eu temos apenas algumas perguntas para você e
então você estará livre para ir. Vamos tentar fazer isso o mais
rápido possível, para que você possa ir para casa, para o seu
bebê.

Eu sorri de volta para ela. — Só espero poder ser útil.

Ficou claro muito rapidamente que o FBI não tinha


nenhuma prova sólida. Eles estavam usando dicas e provas
circunstanciais. Ambos continuavam tentando me pegar em
uma mentira, mas nenhum deles conseguiu. Se chegassem
perto, Del Gatto intervinha e ambos imediatamente
recuavam.

Durante todo o interrogatório, eu só falei umas vinte


palavras.

Quando fui embora, perguntei sobre Alessandro.

— Vamos mantê-lo por quarenta e oito horas.


Legalmente, temos permissão para isso. — Disse-me Dupont,
de forma ríspida.

Apertei meus lábios, infeliz, mas saí sem uma briga.

Enquanto nos preparávamos para partir, Hugo insistiu


para que saíssemos pelos fundos. — Há câmeras lá fora, —
ele me disse. — Saiu a notícia de que metade da Chicago
Outfit, supostamente, é claro, foi presa e detida.

— É mesmo? — Estendi minha mão. — Você se


importaria se eu pegasse seu blazer emprestado?
Capítulo Sete

Dobrei uma manta rasgada jogando-a no lixo.

Já haviam passado dois dias desde o ataque do FBI e


ainda estávamos limpando. Os pobres Palmeros tinham
perdido sua cerca e os Tripolis tinham perdido uma sebe de
rosas, então não tinha muito do que reclamar em
comparação. Os móveis tinham sido tombados, as portas
tinham sido derrubadas das suas dobradiças e armários
completamente esvaziados, mas pelo menos meu jardim
ainda estava intacto.

Minha mente tinha ficado entorpecida, pois eu tinha


limpado a casa e cuidado de Dante. Sempre que ouvia um
carro descendo a rua ou uma porta batendo perto, eu corria
para a janela mais próxima, esperando ver meu marido. Mas
toda vez voltei decepcionada.

Quarenta e oito horas.

O FBI tinha regras burocráticas que eles tinham que


seguir, não poderiam estar fazendo nada com ele. Mas
também... O FBI era conhecido por sua capacidade de olhar
para outro lado.
Eu engoli minha náusea crescente e verifiquei o monitor
do bebê. Dante ainda tinha mais quarenta minutos até que
precisasse se alimentar e se trocar.

Continuei a classificar toda a confusão que a equipe


SWAT tinha deixado, jogando fora os itens danificados.

Do lado de fora, uma porta de carro bateu.

Levantei minha cabeça. Uma familiar cabeça de cabelos


escuros escorregou para fora do lado do passageiro,
expressão furiosa.

— Oh! — Eu desci as escadas, um monitor de bebê


agarrado na palma da mão e Polpetto me seguindo nos
calcanhares.

Antes mesmo de Alessandro entrar no saguão, eu


envolvi meus braços em torno dele, apertando-o firmemente.
Seu cheiro familiar passou por mim, assentando em meus
pulmões.

Os braços dele me rodearam. — Você está bem? —


Perguntou. Eu acenei com a cabeça.

— Vamos lá, — murmurou ele. — Precisamos ter uma


reunião.

Olhei para ele, examinando as manchas escuras sob


seus olhos. — Acho que você deveria descansar. Você... você
deve... descansar.
Seus olhos amoleceram um pouco quando ele captou
meu segundo significado, o leve medo por trás dos meus
olhos. — Eles me deixaram sozinho por um dia e depois me
fizeram perguntas no outro, meu amor. Eu estou bem. —
Alessandro inclinou-se para baixo, escovando meus lábios
com os dele.

— Que nojo, chefe!

Virei minha cabeça para o lado para ver Gabriel


D'Angelo caminhando para o hall de entrada, seu rosto se
iluminou de humor. Ele curvou sua cabeça em respeito
quando me viu. — Sophia. O bebê está acordado?

— Não.

Gabriel pareceu desapontado. — Posso ir acordá-lo?

— Definitivamente não, — disse Alessandro secamente.


— Vá esperar no escritório.

Seguindo Gabriel estavam o resto dos soldati de


Alessandro. Sérgio, em toda a sua glória de executor, Nero, o
assassino negro, e Beppe, o bastardo Rocchetti, que era o
favorito de Nicoletta. Pasquale Schiavone, Anthony Jr.,
Scaletta e Pietro.

Tarantino também estava presente. Eles atiraram em


nós olhares curiosos antes de desaparecerem no escritório de
Alessandro.
Alessandro pressionou sua testa contra a minha,
respirando profundamente. — Você não vai me abandonar
com aqueles homens selvagens, vai?

— Que tipo de esposa eu seria se fizesse isso? —


Perguntei, ainda preocupada com a exaustão em seus olhos.
Talvez eu pudesse adiantar a reunião rapidamente. — Eu
posso ir buscar Dante se você quiser vê-lo.

— Mais tarde, — ele murmurou, escovando uma mão no


meu cabelo. — Quando a corja tiver desaparecido.

Não pude evitar o meu sorriso.

Todos os homens se sentiram confortáveis no escritório


de Alessandro, encostados às paredes, espalhados sobre os
móveis e até ocupando algum espaço no chão. Alessandro
sentou-se em sua mesa comigo encostada a ele, apoiada por
seu braço pesado ao redor de minha cintura.

Gabriel tinha seu telefone para cima, mostrando um


vídeo familiar para os homens na sala.

Eu ainda não tinha visto o vídeo, mas Aisling tinha me


ligado depois, tanto me elogiando quanto me oferecendo
simpatia.

— Quando os políticos agem desta maneira, eles


acreditam que estão acima da lei, — veio minha voz da tela. —
Poucos dias após a morte do avô do meu marido e o
nascimento do meu primogênito, estou longe de casa, no frio, e
tentando provar minha inocência por um crime que ainda nem
sequer ocorreu. Como uma mulher que cresceu nesta cidade e
a chama de lar, estou muito aborrecida por não me sentir mais
orgulhosa das pessoas que nos representam.

Assim que eu fiz uma pausa, os repórteres começaram a


chamar meu nome. — Sra. Rocchetti, Sra. Rocchetti! Por que
você acha que Salisbury perdeu a eleição?

— Bem, eu não sou do meio político, então seria arrogante


da minha parte dizer que entendo a opinião pública, ou a falta
dela. — Os repórteres riram. — Mas eu sei que Bill é um
membro amado de sua comunidade e mesmo sem o título
oficial, ele continuará a apoiar sua cidade. Como todos nós
deveríamos.

Mais vozes se amontoaram, gritando para mim. Alguém


perguntou: — Por que você acha que o FBI está visando sua
família?

— Boatos horríveis nos seguem por toda parte. Fiz as


pazes com isto e só rezo para que não prejudique a vida do
meu filho. No entanto, isso faz uma pessoa se perguntar o
porquê de o FBI estar tão envolvido em rumores quando há
assuntos muito mais importantes por aí, certo? Suponho que
todos nós gostamos de contos de fadas, não?

— Como está a Rocchetti: Apoio ao Alzheimer?

Essa tinha sido a pergunta que eu esperava e minha voz


ressoava claramente: — A caridade sem fins lucrativos tem
experimentado tanto apoio da comunidade, ao qual sou
eternamente grata. Este mês, estamos organizando um baile
de caridade a fim de arrecadar fundos para a pesquisa sobre
Alzheimer. Temos um dos melhores laboratórios dos Estados
Unidos e estou mais do que entusiasmada por fazer parte de
seu trabalho milagroso e por ajudar a facilitar a vida de
milhares.

Antes que mais perguntas pudessem ser feitas, eu disse:


— Muito obrigada a todos por seu tempo, sei que há muito
mais pessoas interessantes para conversar! Tenho que ir para
casa para o meu bebê, mas obrigada novamente pelo seu
tempo.

A entrevista terminou e as vozes dos apresentadores de


televisão tocaram no escritório. — Uma comovente entrevista
com Sophia Rocchetti, CEO da Rocchetti: Apoio ao Alzheimer e
parte da família Rocchetti. Você pode acreditar que ela teve um
bebê há mais de duas semanas e está tendo que lidar com
outra batida da SWAT que não levou a nada? Como mãe, eu
mesma sinto muito por ela.

Gabriel pausou o vídeo, seus olhos brilhando. Ele


ergueu seu telefone para que eu pudesse ver, revelando a
imagem de mim falando com os repórteres. Eu estava enfiada
debaixo do blazer do Del Gatto, com o cabelo desarrumado e
o rosto limpo, mas mantive minha cabeça erguida e falava
bem, por isso não consegui me sentir envergonhada.

Alessandro espremeu meu quadril. — Talvez você


devesse substituir Ericson como prefeito.
— Pareço mesmo uma política, não é? — Disse,
empurrando alguns fios do seu cabelo para trás.

— Assim como um. — Nero cortou.

Eu o olhei para ele, mas foi a expressão de alerta de


Alessandro que o fez calar. Ophelia não o havia mencionado
novamente após a primeira noite, mas pela maneira como os
olhos de Nero vagueavam sobre o antigo quarto de Nicoletta e
a casa de Don Piero, eu sabia que Nero não havia parado de
pensar em Ophelia.

— Por falar em políticos, — Beppe interrompeu,


tentando manter a paz. — Ericson está causando alguns
problemas admiráveis. Ele deve ter encontrado as notas de
Salisbury, descobriu onde nossa mercadoria atraca, e agora
colocou lá um detalhe permanente do FBI.

— Ele também conseguiu que um de nossos pilotos


fosse expulso da pista, chefe, — acrescentou Gabriel. — Se os
patrocinadores começarem a ver seus carros fora da pista,
vamos ter alguns grandes problemas. Como problemas sem
dinheiro.

Eu sabia que Ericson estava causando problemas, mas


não sabia exatamente quantos e quão graves. Eu estava um
pouco fora do circuito desde o nascimento de Dante, mas
talvez estivesse na hora de minha “licença maternidade”
chegar ao fim.

— Acho que deveríamos matá-lo. — Disse Nero.


— Não vamos fazer isso, — interrompeu Alessandro,
esfregando sua boca. — Sophia vai lidar com ele.

Eu vou? Eu levantei minhas sobrancelhas para meu


marido. — Meus métodos podem não ser tão rápidos quanto
os de Nero. — Ou tão violentos.

— Tenho certeza que você vai descobrir algo.

Eu sorri, satisfeita.

Alessandro inclinou-se para trás em sua cadeira, um


trono acolchoado no qual ele reinava sobre a sala. — Nero,
você tem alguma notícia sobre Adelasia?

— Nada. — Em sua defesa, o assassino parecia


genuinamente zangado consigo mesmo por sua falta de
sucesso em encontrar Adelasia. — É como se ela tivesse
desaparecido da face da Terra.

— Impossível. — Disse Sergio.

Nero virou sua cabeça para o executor. — Então, você


procure por ela, hammer4.

— É de senso comum, Nero, — respondeu ele. — Don


Piero a escondeu em um dia. Ele não poderia tê-la tirado do
continente, nem mesmo para outro estado.

— Vasculhei cada centímetro de Illinois, — argumentou


Nero. — A única outra explicação possível é que ela está a
dois metros de profundidade.
4 Apelido de Sergio. “Hammer” significa “martelo” em portugês.
Eu congelei.

Certamente, Don Piero não teria feito isso... Ele não


teria matado Adelasia grávida. Não, ela estava carregando um
Rocchetti. No entanto... eu não tinha certeza absoluta. Talvez
Adelasia tivesse passado para a próxima vida e nos tentando
em vão encontrar o seu rastro.

Pelo menos no Céu, ela estaria a salvo dos homens


Rocchetti.

Alessandro sentiu minha reação e me deu um aperto


reconfortante. — Continue procurando. Quero que ela seja
encontrada, morta ou viva.

Gabriel falou, seu rosto incrivelmente bonito, colocado


em seriedade. — Você acha que seu irmão está fazendo algum
progresso em sua busca?

Nero bufou com a pergunta de Gabriel. — Os olheiros de


Salvatore não seriam capazes de achar sua própria cabeça se
ela não estivesse presa ao pescoço deles.

— Meu irmão tem estado calado sobre a busca, — disse


Alessandro. — Mas eu não o subestimaria.

A sala acenou com a cabeça de acordo.

— Mais algum desafio foi lançado? — Perguntou Sergio.


— Enrico pode ter sido resolvido, mas seu irmão e seu pai
ainda têm suas ambições de se tornarem Don, mesmo que
sejam destruídos dentro de semanas.
— Não, — respondeu meu marido. — Meu pai não vai
planejar o dele. Ele vai ver uma fenda em nossa armadura e
vai atacar. Meu irmão, no entanto, será mais meticuloso.
Cuidado com as costas. — Ele dirigiu seu olhar sombrio para
mim. Incluindo você, sua expressão dizia.

Esfreguei seu ombro. Salvatore Jr. vinha tentando me


matar há algum tempo, eu havia descoberto recentemente, e
duvidava que ele fosse bem-sucedido a qualquer momento.
Mas não me mataria se tivesse cuidado com meu cunhado.
Especialmente porque ele estava se preparando para ser rei, e
se ele usasse a pobre Adelasia para conseguir o que queria,
eu duvidava que me matar seria um grande incômodo.

— Alguma palavra de Tarkhanov? — Desta vez foi Pietro


falando. O marido de Beatrice era um homem calmo e duro,
mas nunca tinha tratado sua esposa com nada além de
cuidado e respeito. Eu sempre gostei dele.

Eu olhei para Alessandro por sua resposta. Eu tinha


visto Konstantin no funeral e recebi um belo buquê de flores
celebrando o nascimento de Dante, mas isso tinha sido o fim
de nossa correspondência nestas últimas semanas.

— Ele está de volta à Nova York, — disse Alessandro. —


Preparando-se para derrubar os Lombardis. Estima que
estará pronto em doze meses.

— O que acontecerá com Isabella quando ele o fizer? —


Eu perguntei.
Meu marido encolheu os ombros. — Muito
provavelmente ele irá propor um casamento, ou ela será
enviada para morar com outros parentes no país. O que mais
o beneficiar.

Pelo menos ela estava a salvo, eu raciocinei. Os homens


de sua família não compartilhariam o mesmo destino gentil.

O monitor do bebê ganhou vida de repente, os pequenos


gritos de Dante alarmando a sala.

Eu me soltei de Alessandro, peguei o monitor e me


desculpei. Gabriel parecia que queria me seguir.

Ao sair, vozes profundas continuaram a falar. Apanhei a


profunda e estrondosa de Sergio: — O Alessandro que eu
conheço teria lutado contra aquela equipe SWAT com unhas
e dentes. Por que você não lutou?

— E arriscar minha esposa e meu filho? — Alessandro


respondeu. — Sem chance no inferno.
Capítulo Oito

Eu me sentia um pouco mais humana do que há três


semanas.

Depois de ser escrava de Dante e de suas necessidades,


me senti bem em ter um longo banho de imersão, ter meu
cabelo e meu rosto feitos e usar um lindo vestido.

O vestido era sedoso e dourado escuro, envolvendo-me


na cintura e nos seios. Detalhes de flores caíam pelas
laterais, desde os quadris até os joelhos. O melhor do vestido
era a facilidade em puxar meu seio para fora para Dante.

O dia do batismo de Dante era muito esperado. Nascido


no mesmo dia da morte de Don Piero, muitos haviam
concluído (apesar da incompatibilidade no tempo) que Dante
era Don Piero e continuaria com seu legado.

Isto, claro, significava que meu filho estava sob muito


escrutínio da Outfit, então o mínimo que eu podia fazer era
garantir que ele estivesse no seu melhor aspecto.

Dante foi obrigado a vestir-se todo de branco, por isso o


colocamos dentro de uma bata de batismo. Todos os outros
Rocchettis tinham usado isto no batismo deles, criado pela
mãe de Don Piero para batizar seus dois filhos, e agora meu
filho a usaria.
Alessandro segurou seu filho em frente à igreja, sorrindo
enquanto Dante dava um pontapé com suas perninhas no
tecido. Meu marido estava vestido com um de seus melhores
trajes e, mesmo tendo se vestido há uma hora, sua gravata já
estava desapertada e seu cabelo estava bagunçado.

Eu rolei meus olhos, mas não consegui ficar com raiva


dele por isso. Meu filho estava sendo batizado hoje, nada
poderia arruinar meu humor.

A igreja havia sido decorada de forma simples para o


batismo, nada tão extravagante quanto um casamento ou
funeral, mas ainda assim uma ocasião importante. Com
flores brancas cobrindo a maioria das superfícies disponíveis,
assim como pequenas orações pelas crianças e suas vezes.

Nós três esperávamos no altar, conversas divertidas com


os convidados e o padre.

Quando meu bebê começou a se agitar, peguei Dante de


Alessandro e o embalei em meus braços.

— Você está entusiasmado para ser batizado, meu


amor? — Eu murmurei.

Dante mal olhou para mim. Ele chutou suas pernas


para cima, puxou seu vestido e eu o puxei de volta para
baixo.

— Não?
Alessandro deu uma risada. — Olhe para seu pequeno
rosto. Ele não quer fazer isso.

Dante não parecia estar onde ele queria estar. — A


última vez que a mamãe esteve aqui, — eu sussurrei para ele.
— Eu estava rezando por você. Por segurança. Mas eu tive
você, assim eu sei que Deus ouviu minhas orações.

Dante estendeu a mão para me agarrar. Eu toquei em


seu punho fechado.

Rostos familiares começaram a encher os bancos. Toto,


o Terrível, parecia surpreendentemente elegante em seu terno
com uma bela Aisling em seu braço. Enrico seguiu
notadamente sozinho, como todos os outros Rocchettis. O
último Rocchetti a chegar foi Salvatore Jr., que deslizou ao
lado de sua família sem um olhar para nós.

O padre gesticulou para Alessandro e eu, e nós


tomamos nossos lugares na frente de todos. A igreja se
acalmou imediatamente.

— Estamos aqui hoje para batizar Dante Antonio


Rocchetti na frente de Deus. — O padre chamou a igreja.

Seguimos o padre enquanto ele nos conduzia através


das orações por Dante. Renunciamos a Satanás e pedimos a
Deus para cuidar de nosso filho. Quando chegou a hora de
ele ser abençoado com óleos, Alessandro estendeu seu filho e
assistiu enquanto o padre fazia uma cruz em sua pequena
testa.
A escolha dos padrinhos tinha provado ser muito difícil,
mas acabamos decidindo por Beatrice e Pietro Tarantino.
Alessandro não queria que ninguém de sua família tomasse
conta de Dante se morrêssemos, e Beatrice era
suficientemente próxima da família para que não causasse
fofoca em escolhê-la.

Pietro e Beatrice estavam orgulhosos diante de nós,


renunciando a Satanás e confessando sua fé. O estômago
inchado de Beatrice a incomodava, mas ela se segurou bem,
não caindo vítima dos sintomas da gravidez, como o resto de
nós fizemos.

Quando o padre tirou Dante de Alessandro, meu


coração se apertou. Além de Dita e Alessandro, Dante só era
segurado por mim. Não sei por que tal possessividade se
levantou em mim tão repentinamente, mas foi a mão
reconfortante de Alessandro nas minhas costas que me
impediu de fazer uma cena.

Dante foi segurado sobre a água abençoada, e o padre


derramou-a sobre sua cabeça três vezes.

Meu filho soltou um grito quando a água fria o atingiu e


quando o padre terminou Dante já estava quase chorando de
irritação. Assim que eu o tive de volta, ele se acomodou, mas
pelo olhar zangado em seu rosto, eu sabia que ele não estava
feliz com o que havia acabado de acontecer.

— Não foi tão ruim assim, foi? — Eu sussurrei, secando


sua cabeça com meu dedo. — Não, não foi.
Meu filho parecia estar em desacordo.

O batismo chegou ao fim, cimentando a alma do meu


filho no céu.

Era triste pensar que um dia ele poderia muito bem


estar prosperando em uma vida que o enviaria diretamente
para o inferno.

Devido ao frio do mês de novembro, a recepção foi


realizada dentro da minha casa. Depois de uma limpeza bem
feita, minha casa finalmente parecia como era antes da
equipe SWAT ter feito sua entrada inoportuna. Tínhamos
também decorado o espaço com flores brancas, fitas azuis e
biscoitos em forma de cruz, todos adoraram os biscoitos.

Eu estava indo na cozinha para descobrir quando a


segunda rodada de aperitivos estaria pronta quando Chiara
di Traglia me parou.

Depois que o escândalo de Adelasia veio à tona, os di


Traglias ficaram furiosos. Eles colocaram muita culpa em
Salvatore Jr. e estavam ficando irritados com o fato de que
Adelasia ainda não tinha sido encontrada.

— Há mais alguma notícia sobre Adelasia? — Chiara


perguntou.
Não me fez sentir bem dizer isso a ela: — Sinto muito,
Chiara, mas não há. Eu lhe prometo que meu marido tem
seus melhores homens no caso. Eles irão encontra-la.

Em vez de parecer desapontada, ela apenas parecia


zangada. — Três semanas e nenhuma palavra, Sophia. Se
você sabe de alguma coisa, você precisa nos dizer.

— Eu não sei nada mais do que você, — eu nivelei. —


Estamos fazendo tudo o que podemos para devolvê-la em
segurança e bem.

— Mas ainda grávida fora do casamento.

Eu pressionei meus lábios. — Um casamento entre...

— Você esteja certa que eles se casarão. Um casamento


é o único caminho para concertar algo como isto! — Chiara
assobiou. — A vergonha que isto causou a nossa família é
intransponível e veio das mãos de um Rocchetti.

— Entendo, Chiara.

— Não, você não entende!

— Mamãe... — veio uma voz familiar. Simona se


aproximou, a bebê Portia no quadril, com os olhos entre nós.
— Mamãe, deixe a Sra. Rocchetti em paz. — Para mim, ela
disse: — Sinto muito se ela a desrespeitou. Ela tem estado
muito cansada...

— Está tudo bem, Simona. Você não precisa pedir


desculpas por ela. — Para Chiara eu disse: — Estamos
fazendo tudo o que podemos para encontrá-la. Assim que
houver sequer uma dica de seu paradeiro, eu lhe direi.

Chiara relaxou um pouco, mas ainda assim parecia


perturbada. Simona escoltou sua mãe para longe, deixando-
me fria até os ossos.

Antes mesmo de eu dar outro passo, Nina Genovese se


aproximava de mim, brilhando em um vestido roxo. Seus
olhos seguiram Chiara e Simona.

— Os di Traglias vão causar alguns problemas se eles


não tiverem Adelasia de volta em breve. — Ela me avisou.

— Eu sei, — suspirei. — E sinto muito por eles.

Nina inclinou sua cabeça. — Assim como eu. — Ela


gesticulou para o meu vestido. — Você está linda, Sophia.
Está cuidando de si mesma?

— Eu tenho tentado. Dante torna isso difícil.

— Sim, e não fica mais fácil, — ela pensou, olhos


brilhando. — Quando podemos esperar outro pequeno?

Quase me engasguei com uma gargalhada, mas me


forcei a conceder-lhe apenas um sorriso. — Não por um ano
ou dois.

— Não há pressa. Você ainda é jovem, — respondeu


Nina. — Como você e Alessandro têm estado? Ter outra
pessoa no relacionamento pode ser difícil.
Sempre foi difícil descobrir de Nina se ela estava
perguntando por cuidado ou porque queria alguma fofoca.
Nina nunca me deu uma razão para acreditar nisso, mas hoje
em dia eu desconfiava de todos.

— Ele tem sido maravilhoso. Ele adora ter um filho.


Tenho certeza de que com Davide foi o mesmo.

Nina e eu conversamos sobre crianças enquanto eu


verificava os aperitivos. Só quando estávamos de volta à sala
de estar, desfrutando de alguns biscoitos com formas
engraçadas, é que a conversa começou a mudar.

Nina avistou Aisling ao lado de Toto e fez um barulho


irritado. Quando ela se lembrou que estava sentada comigo,
acrescentou:— A amante do Toto está linda.

Eu sorri. — Aisling sempre está. — Incapaz de me


ajudar, eu perguntei: — Você não gosta dela?

— Eu não gosto de Toto, — ela me disse. — Nunca vou


perdoá-lo pelo que ele fez com Danta.

— O que ele fez com ela? Pensei que nunca nada foi
confirmado.

Nina travou a mandíbula. — Vivemos na máfia; nunca


nada é confirmado, mas sabemos.

Eu supunha que essa era uma afirmação verdadeira o


suficiente. Mas fez meu coração doer ao pensar que Aisling
poderia estar caminhando para o mesmo destino que Danta.
No entanto, Toto havia me enviado um aviso na noite da
batida da SWAT... Mas poderia ter havido mil razões para ele
ter feito isso, e isso não anulava o fato dele poder ter
assassinado sua esposa.

— Esperemos que, onde quer que ela esteja agora,


Danta esteja feliz.

Nina acenou com a cabeça, olhos brilhantes e


enevoados. Elas tinham sido tão próximas, e eu sabia como
era perder alguém próximo a você, alguém que você
considerava sua melhor amiga. Apertei a mão de Nina em
conforto.

— Você já provou os biscoitos? — Perguntei-lhe. — Eles


estão deliciosos.

Do outro lado da sala, eu pude ver Alessandro


mostrando Dante aos outros. Ele segurava nosso filho na
curva do seu braço, rosto irritado enquanto os homens lhe
apertavam os dedos dos pés e a barriga.

Nina fez um gesto para eles. — Todos estão muito felizes


por você ter tido um filho.

— Eu tive pouca escolha no assunto.

Peguei o brilho em seu olhar. — Como mulher, um filho


é uma coisa muito útil para se ter, — disse-me ela. —
Especialmente quando a liderança está atualmente em tal
desordem. Ter um filho, um herdeiro, não é nada além de
uma vantagem.
O significado oculto sob suas palavras era fácil de
decifrar. Eu sorri e estendi meu copo. — Por mais filhos.

Ela tocou seu copo com o meu: — Por mais filhos.

— Podemos, Alessandro e eu, esperar o apoio de sua


família quando chegar a hora?

— Minha família nunca seria um problema. — Disse-me


Nina.

Ela apontou para a família di Traglia. — Mas essa talvez


seja. — Eu só podia concordar.

A recepção passou sem problemas. Não houve bombas,


nem massacres. Somente nossa família e os outros membros
da Outfit, todos celebrando o batismo do meu filho. Não
percebi o quanto eu esperava que algo corresse mal até a
última pessoa sair, e respirei profundamente aliviada.

Alessandro me encontrou na cozinha, ajudando a equipe


a limpar os pratos. Quando ele entrou, todos os outros de
repente encontraram outro lugar para estar.

— Você os colocou para correr. — Eu ri, enquanto ele


envolvia seus braços ao redor da minha cintura, enterrando
sua cabeça no meu pescoço.

— Eles provavelmente pensam que eu deveria aproveitar


com você.

Eu virei minha cabeça para a dele. — Duas semanas.


— Confie em mim, querida, eu sei. — Ele pressionou
seus lábios na curva do meu pescoço, mandando calafrios
pela minha coluna. — Todos se foram.

— Eu sei. Graças a Deus. Você acha que Dante se


divertiu?

— A única coisa que Dante se preocupa é em fazer cocô


e com seus seios. — Disse Alessandro.

Eu o golpeei de brincadeira com meu cotovelo e ele se


inclinou para fora do caminho, rindo. — Você acha que todos
se divertiram?

— Eu acho. Meu pai comeu uns dez daqueles biscoitos.

— Não pude falar com ele e Aisling, — disse eu. — Eu


vou ver Aisling amanhã com Dante. Falando em Dante, onde
ele está?

Meu marido sorriu contra meu ombro. — Seu filho está


com Dita.

— Oh, ele é meu filho agora. O que ele fez?

— Você vai poder sentir o cheiro.

Nem mesmo um momento depois Dita entrou na


cozinha, segurando Dante longe do corpo. Meu filho parecia
satisfeito consigo mesmo, o que ficou claro quando eu vi suas
costas. Todo o seu traseiro estava coberto de merda verde. O
cheiro invadiu a cozinha, forte o suficiente para fazer nossos
olhos lacrimejarem.
— Seu filho é um bichinho fedorento. — Disse-me Dita
com muita nitidez.

— Ele puxou isso do pai. — Eu cortei meus olhos para


Alessandro. — Eu levantei três vezes ontem à noite para
alimentá-lo. É a sua vez.

Meu marido riu, mas fez o que lhe foi dito.


Capítulo Nove

Encontrei o endereço da Aisling por acidente. Ela nunca


havia me dito, mas eu tinha visto em uma carta uma vez
quando estava vasculhando sua bolsa por um Chapstick5.
Não me dei conta de que ela nunca havia me dado seu
endereço até que eu estava do lado de fora de um condomínio
de apartamentos degradados, com janelas rachadas e tetos
sujos.

— É este o lugar, senhora? — Perguntou Oscuro, tão


confuso quanto eu.

Eu acenei com a cabeça. — Apartamento 22.

Espero que seja Aisling que responda e não outra


pessoa.

Avancei com o carrinho, passando por um gato sem


olhos e um homem fumando junto ao elevador. O elevador
cheirava a mijo e rangia enquanto nos levava para o segundo
andar.

O segundo andar não era melhor, com tapetes


empoeirados e luzes piscando. Oscuro parecia que ia agarrar
Dante e eu e fugir com a gente pela janela. Quando meu pé
pisou em algo molhado, eu quase o deixei fazer isso.

5 ChapStick é uma marca comercial de protetor labial


Chegamos ao apartamento de Aisling, com a porta
recém pintada de vermelho brilhante, fazendo com que ela se
destacasse no corredor.

E bati.

Oscuro mexeu os pés, olhando ao redor, como se uma


das baratas fosse uma ameaça à minha vida.

A porta se abriu e uma vozinha me recebeu: — Quem é


você?

Eu olhei para baixo, piscando rapidamente. Olhando


para cima, com não mais de sete ou oito anos, estava uma
menina ruiva, com grandes olhos verdes e sardas salpicadas
sobre sua pele pálida. Ela usava um uniforme de escola
particular, mas seus sapatos não estavam em lugar nenhum,
deixando-a em meias com desenhos florais.

— Eu sou Sophia. — Foi tudo o que pude pensar para


dizer.

— Nora! — Chamou uma voz familiar. — Querida, o que


eu te disse sobre abrir a porta...? — Aisling veio à tona,
parecendo confortável em jeans desbotado e camisa verde
com buracos no colarinho.

Seus olhos quase saltaram de sua cabeça quando ela


me viu. — Sophia?

Eu acenei. — Oi.
Aisling piscou algumas vezes antes de se apresentar e
descansar uma mão na cabeça de sua... Filha... — Sophia, o
que... você está fazendo aqui?

— Vim fazer-lhe uma visita. É uma hora ruim?

— Não, — Nora disse rapidamente. — Murder She Wrote6


terminou agora.

Aisling acenou com a cabeça, concordando com sua


filha. — Claro que não. Entre, entre. Olá, Oscuro.

Ele acenou com a cabeça. — Srta. Shildrick.

Dentro do apartamento não era nada como o corredor.


Aisling tinha se esforçado muito para fazer esse lugar parecer
um lar. As paredes foram pintadas recentemente e todos os
móveis foram escolhidos com cuidado. Fotos de Nora e
Aisling, emparelhadas com desenhos, estavam espalhadas
pelo apartamento.

Aisling nos levou até a cozinha verde, dizendo-me para


ignorar os pratos sujos empilhados e todo o trabalho escolar
de Nora.

— Aisling, eu realmente não queria incomodar. — Eu


disse.

Nora tinha vindo com a gente e estava espreitando


dentro do carrinho, suas tranças vermelhas caindo para
frente. Antes que eu pudesse adverti-la, a mãozinha de Dante

6 Murder She Wrote é uma premiada série de televisão americana.


se estendeu e pegou seu cabelo. Ela recuou de volta, rindo. —
Bebê bobo! — Repreendeu gentilmente.

Aisling pegou a chaleira, encostando um quadril contra


o balcão. Ela parecia tão diferente do habitual, muito mais
relaxada. Nada como a senhora vistosa que Toto, o Terrível,
desfilava por aí.

— Não é problema, — disse ela. — Nora, querida, por


que você não vai mostrar ao Oscuro seu trabalho de artes?

Nora brilhou. Ela se voltou para meu guarda-costas,


ordenando: — Venha Sr. Oscuro! — Ele seguiu, mas não
antes de verificar as fechaduras nas janelas e portas.

Quando eles se foram, Aisling se inclinou para frente,


com os olhos bem arregalados. — Aconteceu alguma coisa
com Salvatore? É por isso que você está aqui?

— Não, não, nada disso, — eu lhe assegurei. — Eu


deveria ter ligado. Eu... isto é terrivelmente grosseiro.

— Está tudo bem. Apenas... — Aisling olhou de relance


para o corredor onde Nora e Oscuro haviam desaparecido. —
Não diga nada sobre ela. A ninguém.

— Será que os McDermotts sabem...?

— Não. — Ela me serviu um chá. — Ninguém precisa


saber.

Incluindo os Rocchettis, é o que ela não acrescentou,


mas estava implícito. Eu tinha tantas perguntas. Elas
borbulhavam dentro de mim, mas eu mantive minha boca
fechada. Aisling me diria se ela quisesse. — Seu segredo está
seguro comigo. — Então eu acrescentei: — Ela é maravilhosa.

Os olhos de Aisling amoleceram. — Ela é uma boa


garota. A melhor da turma, sempre ganhando prêmios.

— Eu posso ver. — Fiz um gesto a todos os certificados


na geladeira.

Dante gorgolejou do carrinho de bebê.

— Posso? — Perguntou Aisling.

Eu acenei com a cabeça e ela o pegou, balançando-o em


seus braços. — Oh, eles são tão adoráveis quando pequenos,
— ela murmurou. — E cheiram tão bem. Eles não cheiram
assim para sempre, então aproveite.

— Você deveria tê-lo cheirado ontem. — Eu ri.

Aisling sorriu. — É bom quando eles aprendem a usar o


penico. — Ela admitiu, depois olhou para Dante. — Mas você
é tão bonitinho que eu te perdoo por isso.

Dante parecia satisfeito com a atenção e gorgolejou


alegre em seus braços.

Não consegui me conter, então perguntei: — Então, meu


sogro realmente não tem ideia? Será que ele suspeita ou algo
assim? — Toto, o Terrível, não era um idiota. Certamente, ele
teria notado se sua amante tivesse um filho.
— Não. E para mantê-la segura, eu não vou dizer a ele.
— Disse ela.

— Como você guardou um segredo desta importância?

Aisling sorriu brevemente. — Fui treinada para ser uma


amante desde criança. Mentir para os homens ricos é tão fácil
quanto respirar para mim.

Eu não poderia culpar isso. Na verdade, eu estava muito


impressionada. — Bem, estou muito impressionada.

— Obrigada. — Ela se curvou de forma zombeteira. —


Você está com fome? Eu posso te oferecer um sanduíche
PB&J7... Ou um sanduíche com PB&J.

— Ambos parecem deliciosos.

Aisling me devolveu Dante para fazer o almoço. Eu não


pude deixar de notar a escassez de comida na geladeira e nos
armários. Não ia falar disso, isso seria extremamente rude,
mas minha preocupação com ela estava começando a superar
minha delicadeza.

— Onde Nora estuda? — Eu perguntei.

Aisling nomeou uma das escolas acadêmicas mais


prestigiadas da área, que também custava uma bela grana.
Era para lá que todo o dinheiro de Aisling ia?

Ocorreu-me então, com quanto dinheiro a Aisling vivia?


A maioria das amantes eram mimadas, ganhavam joias caras
7 PB&J (Peanut butter and jelly) significa manteiga de amendoim e geleia.
e carro zero. Eu tinha visto Toto dar a ela luxuosos presentes,
mas eu nunca a tinha visto usar a mesma peça de joia duas
vezes. Ela estava penhorando-as? Vendendo-as?

O que quer que ela estivesse fazendo, era claro que


Aisling tinha grandes esperanças para a educação de sua
filha. E no final do dia, a relação de Aisling com meu sogro
não era da minha conta.

— Obrigada pelo chá, — eu disse. — É adorável.

Ela sorriu para mim e me passou um sanduíche. —


Obrigada. — Então ela gritou: — Nora, Oscuro! Almoço!

Nora entrou na cozinha, cabelo ruivo voando. Oscuro


seguiu mais sedosamente, com um adesivo de unicórnio
cintilante agora em sua camisa.

— O que você diz? — Aisling perguntou, enquanto Nora


levava seu almoço.

— Obrigada, mamãe. — Ela disse. Para minha surpresa,


Nora sentou ao meu lado no balcão, empurrando livros de
lado para dar lugar ao seu prato.

Todos nós comemos nosso almoço sem nenhuma


reclamação, principalmente ouvindo Nora falar da escola e
como ela planejava destruir (sua palavra, não minha)
Madison Reed no teste de ciências de amanhã.
— Quem obtiver a maior nota, recebe uma estrela
dourada, — disse Nora. — Madison já tem três estrelas
douradas.

— Quantas você tem? — Eu perguntei.

— Quatro, — disse ela. — E amanhã eu terei cinco.

— É bom compartilhar. — Disse-lhe Aisling, mas o


sorriso em seu rosto me disse que ela não se importava muito
com a competitividade de sua filha.

Quando o almoço terminou, coloquei Dante no chão,


rodeado de brinquedos. Nora deitou-se de costas ao lado dele,
segurando coisas para mostrar a ele. Oscuro pairava junto às
janelas, certificando-se de que estávamos seguros.

Enquanto eu ajudava Aisling a limpar, vi uma fileira


familiar de vitaminas pré-natais. Elas eram difíceis de não
ver, já que eram a única outra coisa que estava na prateleira.

Deve haver algo na água de Chicago, eu pensei.

Ou talvez fossem apenas os homens Rocchetti.

Tentei ignorar eles, oferecer à Aisling um pouco de


privacidade, mas ela não era estúpida.

— Não se preocupe com isso. — Ela me disse.

— Você tem que dizer a ele eventualmente.

Ela suspirou, parecendo cansada. — Eu sei, Sophia. Eu


sei.
Eu estava lutando para imaginar como Toto, o Terrível,
reagiria às notícias. Ele não havia demonstrado muito
interesse em Dante, e toda sua atenção para com seus filhos
dependia do quão entediado ele estava. Será que ele ficaria
louco? Será que ele estaria bem com isso? Não é como se os
Rocchettis não tivessem outros filhos ilegítimos correndo por
aí.

— Ele pode ficar empolgado. — Eu disse, mas minhas


palavras não pareciam confiantes.

Aisling me deu a impressão de que ela apreciava o


esforço.

— Sim, talvez, — ela murmurou. — Mas o pai de Nora


não ficou, então veremos.

Eu olhei para Nora, que ainda estava entretendo Dante.


Os dois pareciam contentes. — Você estava...

— Casada? — Ela riu. — Não. Nunca fui casada.


Mulheres como eu não se casam.

Eu corei. — Tenho certeza que Toto ainda vai cuidar de


você. — Não, eu não tinha, e meu tom deixou isso claro.

— Eu posso cuidar de mim mesma, — garantiu-me


Aisling. — Ficarei bem. Em breve, ele vai ficar entediado de
mim e eu serei seduzida por outro mafioso procurando um
bom agrado fora de seu casamento.
— Você poderia vir trabalhar para mim, — eu disse
antes mesmo de poder pensar bem na minha oferta. — Na
Rocchetti: Apoio ao Alzheimer. Ser minha assistente ou algo
assim. Ganharia um salário, teria benefícios.

Ela parecia comovida, mas lamentável. — Eu não posso.


Não deveria estar neste país.

Esse era o caso de muitas amantes e eu abandonei o


assunto, não querendo ouvir nada que pudesse
potencialmente prejudicá-la. — Bem, se vocês duas
precisarem de alguma coisa, é só me avisar.

Aisling baixou a cabeça em agradecimento. Quando


estávamos terminando, ela pegou meu pulso, dizendo: — Este
não é o meu lugar... Mas...

— Mm? O que foi?

Ela mordeu o lábio. — Você sabe o que aconteceu com


Danta?

A pergunta me surpreendeu. — Eu pensava que você


sabia mais do que eu. Você e Toto estão compartilhando uma
cama.

— Ele não me diz coisas assim.

Então do que vocês falam? Eu queria perguntar.

— Eu sei o que todos sabem, suponho, — eu disse. —


Ela fugiu com alguém que não era seu marido e nunca mais
foi vista. Há muitos rumores, mas não há provas de nenhum
deles...

— Que tipo de rumores? — Os olhos verdes de Aisling


pareciam brilhar de curiosidade.

— Uh, não grandes. — Devo dizer a ela que meu sogro


pode ter matado sua esposa? Aisling não era estúpida, mas
mantê-la no escuro parecia errado. — Bem, Dita, a
governanta do meu pai, disse que ela fugiu com um francês,
mas Nina Genovese acredita que tudo era apenas suposição
e, uh, bem, Toto a matou por isso.

Aisling não parecia assustada. Eu imaginava que ela


provavelmente tinha ouvido coisas piores durante seu tempo
com a máfia. — Em que você acredita?

Lembrei-me da pintura de Danta, como seus olhos


haviam sido selvagemente riscados e a palavra PROSTITUTA
havia sido rabiscada em sua testa. Seria esse o
comportamento de um homem que mataria sua esposa? Toto
não era conhecido por sua capacidade de ser razoável, então
eu acredito que ele matou Danta?

Eu não acreditava que ele tivesse matado Danta.

Aisling pegou na minha expressão e suspirou


profundamente. — É tudo apenas especulação. — Ela parecia
estar tentando se assegurar mais do que eu. — Ele nunca me
deu uma razão para pensar que poderia me machucar.
Sério? Eu queria rir, mas me segurei. — Vocês não
são casados, então talvez...

— Ele vai ser brando comigo se eu fugir com um


francês? — Um pouco de humor lhe cruzou o rosto. — Que
alívio.

Eu me forcei a rir. — Fique longe da União Corse. — Eu


brinquei, mas no final não teve esse efeito.

— Eu tento, — ela pensou. Então sua expressão ficou


um pouco sóbria. — Saison... voltou para a União.

— É melhor do que ser morta.

Aisling acenou com a cabeça em concordância.

Meu telefone zumbiu e eu olhei rapidamente para ele.


Era de Elena, dizendo-me que ela estava a horas de seu
casamento e que me ligaria quando pudesse.

— Elena? — Aisling perguntou quando ela viu minha


expressão.

— Sim. Ela vai se casar hoje. — Eu digitei de volta


minha resposta, tentando soar o mais reconfortante possível.

— Vivi em Nova York com os Ó Fiaich por alguns anos,


— disse Aisling. — E eles nunca tiveram uma palavra ruim a
dizer sobre os Falcones.

Apreciei sua tentativa de me fazer sentir melhor, mas ao


invés disso perguntei: — Você viveu em Nova York?
— Quando eu cheguei pela primeira vez nos Estados
Unidos, — disse ela. — Não tinha mais de dezenove anos.

Meu estômago ficou apertado ao pensar na jovem Aisling


nas mãos da máfia irlandesa, sozinha e desprotegida. — Você
era...?

— Uma amante? — Ela não parecia chateada com a


pergunta. — Claro que sim. É tudo o que já fui treinada para
ser.

— Há treinamento envolvido?

Aisling sorriu. — Você foi treinada para ser uma esposa,


não foi? Suponho que meu treinamento foi um pouco menos
católico que o seu, mas sim, o treinamento estava envolvido.

— Quem te treinou?

— Minha mãe, — disse ela. — Ela foi uma amante a vida


toda, assim como minha avó. Não somos inteligentes, nem
ricas, mas somos lindas. Isso era o que ela sempre dizia.

Olhei para Nora, que agora estava lendo para Dante.

— Nora não vai continuar o legado das mulheres


Shildrick, — disse Aisling calmamente. — Ela vai para a
faculdade, ser alguém, e ganhar seu próprio dinheiro. Não vai
ser o brinquedo de um homem rico.

Apesar de suas palavras, não havia amargura em seu


tom. Ela parecia determinada por sua filha, mas aceitava
mais o seu próprio papel na vida. Aisling tinha sido uma
amante durante toda a sua vida adulta, soava como se fosse.
Talvez ela tivesse perdido a esperança de que houvesse algo
mais para ela.

Eu apertei sua mão. — Ela tem sorte de ter você.

Surpresa piscou em seu rosto e suas bochechas


coraram.

Ao invés de dizer qualquer coisa, ela curvou a cabeça em


agradecimento.

Eu olhei para Nora, uma imagem cuspida de sua mãe


com um futuro brilhante pela frente. Ela estava explicando a
Dante o que era um átomo. Meu filho parecia muito
interessado, vendo o cabelo ruivo dela enquanto ela falava.

Volte-me para Aisling, linda e se sacrificando.

Se meu sogro machucar alguma dessas meninas, pensei,


eu vou matá-lo.

Quando voltei para casa, fiquei surpresa em encontrar


Chiara di Traglia fora de minha porta. Ela se aproximou de
mim enquanto o carro parava na entrada da garagem.

— Você quer que eu diga a ela para ir embora? —


Oscuro perguntou.
Balancei a cabeça, suspirando: — Não.

Eu nem tinha tirado Dante da cadeirinha do carro


quando ela chegou. — Você ouviu alguma coisa? —
Perguntou ela.

Eu segurei meu filho, enrolando-o para protegê-lo do frio


de novembro. — Não, não ouvi, — eu disse a ela gentilmente.
— Que tal você entrar e tomar um chá?

Chiara endureceu sua mandíbula, mas aceitou meu


convite.

Dante cochilou em sua cadeirinha de balanço enquanto


Chiara e eu estávamos sentadas na sala de estar, nenhuma
de nós dando um passo em direção ao chá e aos biscoitos.

— Adelasia está em algum lugar lá fora, sozinha e


grávida, — Chiara latiu. — Sua família não teve nenhum
sucesso em encontrá-la. — A dureza no tom dela me fez
engolir minhas palavras, mas manter meu rosto agradável.

— Nós estamos fazendo...

— Você está fazendo tudo o que pode. Poupe-me, — ela


cortou. — Já ouvi de tudo. E mesmo assim, Adelasia ainda
está desaparecida e nossa família ainda está sofrendo.

Eu recuei um pouco. — Chiara, — mantive minha voz


calma. — Entendo que você está chateada, mas não vai falar
comigo dessa maneira. Quando lhe digo: “Estamos fazendo
tudo o que podemos para encontrar sua sobrinha mal
orientada”, você deve acreditar em mim.

Os olhos de Chiara se abriram. — Sem o di Traglias, a


Outfit não seria nada, — ela estalou. — Nada.

Os di Traglias constituíam a maior parte do Outfit. De


todas as famílias, eles eram, de longe, a maior parte.

— A reputação de nossa família foi manchada. Agora,


nossas filhas são párias para o casamento e é improvável que
nossos filhos se tornem Made Man.

— Sinto muito que a reputação de sua família tenha


levado tal golpe, — disse eu. — Especialmente uma família
tão respeitável quanto a sua.

Chiara ignorou minha tentativa de puxar o saco. — Seu


cunhado precisa achar Adelasia e se casar com ela. Reclamar
seu filho bastardo.

— Ou?

— Ou os di Traglias deixarão a Outfit.

Eu não deixei minha reação transparecer em meu rosto.


— Essa é uma ameaça muito calorosa para ser lançada por
aí, Chiara. Esqueçamos esta conversa e, em vez disso,
coloquemos toda nossa energia para trazer Adelasia para
casa.
— Não. Encontre Adelasia ou esqueça de uma vez por
todas ser a Donna. Sem o apoio de minha família, você e seu
marido jamais poderão governar.

A seu modo, ela estava certa. Não ter uma grande parte
do apoio da Outfit tornaria extremamente difícil dirigir a
organização.

— Chiara, você tem minha palavra, nós vamos achar


Adelasia. — Morta ou viva, disse a voz de Alessandro no fundo
da minha mente.

Chiara levantou-se de seu assento. — Espero que sim.


Para o seu próprio bem.

Eu chamei seu nome antes dela sair, não me levantando


do meu assento. — Oh, e antes de ir, — eu disse quando tive
a atenção dela. — Eu seria negligente se não lhe dissesse, se
mais alguma vez falar comigo da mesma maneira que acabou
de falar, Adelasia será o menor de seus problemas. Com
apoio da família ou não.

Ela curvou a cabeça, percebendo que havia ido longe


demais, e partiu rápido.

Quando ela se foi, eu peguei Dante e o segurei no colo.


Ele dormiu pacífico em meus braços, mal se agitando
enquanto eu o movia.

Meu cérebro estava se movendo apressadamente e em


pânico. Se perdêssemos o apoio do di Traglias, Alessandro e
eu teríamos muito mais problemas do que apenas seu pai e
seu irmão. Eles poderiam rasgar a Outfit em dois.

Sozinhos, eles nunca conseguiriam. Mas os di Traglias


poderiam causar sérios danos as minhas próprias ambições
com a saída deles.

Eu beijei a testa de Dante suavemente.

As palavras de Chiara estavam zumbindo pelo meu


cérebro. Um casamento é o único caminho para acertar algo
como isto.

Fechei meus olhos, inalando meu filho. Ele não tinha


nem um mês de idade, e o plano de sua vida estava se
formando à sua frente.

Lágrimas brotaram em meus olhos. Eu sabia o que ia


fazer, o que meu marido ia fazer. Não correríamos o risco de
perder os di Traglias, não correríamos o risco de perder a
Outfit.

Naquele momento, desejei que Dante tivesse pais


melhores, pais cujo sangue não comandava a Cosa Nostra.

Dita nos encontrou no escuro, horas depois, e minhas


bochechas ainda estavam molhadas.

— Descanse um pouco, Sophia, — ela murmurou. — Eu


vou cuidar dele.

Aceitei sua oferta, mas não ia descansar.


Capítulo Dez

A igreja estava congelando.

Eu tremia no banco, com a cabeça abaixada. Sempre


que deslizava em meus pensamentos, no canto de minhas
orações, eu podia jurar que sentia os olhos da Virgem Maria
ardendo em minha pele. Mas quando voltei a levantar a
cabeça, encarando a estátua imóvel, fiquei aliviada e
alarmada ao saber que isso não era nada além da minha
imaginação.

Atrás de mim, as grandes portas se fecharam. Passos


soaram perto de mim, fortes e confiantes.

Oscuro estava esperando na frente e não deixaria


ninguém entrar, então eu sabia quem era imediatamente.

Meu marido deslizou para o banco ao meu lado, seu


calor infiltrava-se em mim.

— Você está bem, meu amor? — Perguntou ele, sua voz


profunda nada mais do que preocupada.

Eu inclinei minha cabeça para o lado, pegando suas


mãos. Cicatrizes grandes e ásperas cor-de-rosa decoravam a
pele oliva. Eram mãos que tinha brutalizado e torturado,
mãos que com apenas quatorze anos de idade tinham
enrolado o pescoço de um homem e o estrangularam até a
morte.

Contudo, nunca se voltaram para mim com raiva, nunca


tive medo delas.

Deslizei meus dedos em volta dos deles e ele os agarrou


imediatamente.

— Você já rezou, Alessandro?

Alessandro pressionou sua mão abaixo do meu queixo,


levantando meus olhos para cima para os dele. Sua
expressão me engoliu; meio feroz, meio adorador. — Só uma
vez.

Essa não era a resposta que eu esperava. Eu esperava


que ele caçoasse da minha natureza supersticiosa, minha
crença em um poder superior.

— Só uma vez? Quando?

Ele moveu seus dedos para o meu queixo, envolvendo


minha bochecha. O calor passou através de mim, lembrando-
me de como o resto do meu corpo estava frio. — Quando ouvi
um tiro no quarto do hospital da minha esposa.

Meu coração saltou. Tudo o que eu conseguia pensar


para dizer foi: — Essa não é a maneira correta de rezar.

— Eu não estava ciente de que havia uma maneira


correta.
— Nós somos católicos. — Eu sorri um pouco. — Há
uma maneira correta de fazer tudo.

O olhar de Alessandro desceu até meus lábios. — Oh?


Você vai me ensinar?

Com as pernas trêmulas, eu me levantei. Alessandro


veio comigo, deixando cair sua palma da minha bochecha e,
em vez disso, pegando minha mão fria. Eu o levei até o altar,
até a estátua de mármore da Virgem Maria. Vermelhos e
azuis e verdes envolvia nós dois, resultado da luz da lua
brilhando através dos vitrais.

Os olhos escuros de Alessandro vagueavam sobre os


arcos e pináculos, um olhar nostálgico em seu rosto. Será
que ele estava se lembrando de nosso casamento? O batismo
de nosso filho? Ou talvez a admissão de Anthony Scaletta?
Talvez ele estivesse se lembrando de um dos muitos funerais
que tínhamos sofrido neste lugar frio e sagrado.

— Em que você está pensando? — Eu perguntei.

Meu marido sorriu possessivo e meio selvagem. —


Quando nos casamos.

— Um dia alegre. — Eu disse.

Uma pequena parte de mim desejou que eu pudesse


voltar e confortar a Sophia do passado. Eu a envolveria em
meus braços, a manteria aquecida e lhe diria: Vai ficar tudo
bem. Ele vai ver tudo e será aterrorizante, mas vai ficar tudo
bem.
— De fato. — Ele lançou seus olhos para o rosto da
Virgem Maria. — Você não ia me ensinar a rezar?

— Você tem que ficar de joelhos.

Os olhos de Alessandro brilhavam. Em um movimento


suave, ele caiu no chão.

Ele olhou para mim, olhos escuros demais, muito


conhecedor.

Minha respiração ficou presa na minha garganta. —


Você tem que pressionar suas mãos juntas.

— Sério? — Ele pegou minhas coxas, pressionando-as


até eu me encostar à estátua, a pedra escavando em minhas
costas.

— Sim. — Eu respirei fundo. O calor das palmas das


mãos dele estava atirando direto para cima, esmagando meus
sentidos.

— Alguma vez lhe disse que sou péssimo em aprender


coisas novas? — Perguntou Alessandro. Ele pode ter ficado de
joelhos, curvando-se diante de mim, mas ficou muito claro
quem estava no comando desta situação.

Eu gaguejava, tentando fazer minha voz soar nivelada,


— Oh?

Seu sorriso só se alargou, os brancos de seus dentes


brilharam. — Todos os meus professores disseram, todos os
meus relatórios. O capo sob o qual servi na minha juventude.
Até mesmo o meu avô. — Eu senti seu hálito quente fazer
cócegas em minha coxa.

— Por quê?

— Aparentemente, eu me distraio muito facilmente.

Eu respiro enquanto as mãos dele envolvem a parte de


trás das minhas coxas, espalhando-as. — Não consigo
imaginar por que. — Foi minha resposta breve.

Os dedos de Alessandro se moveram para cima em


minhas pernas, escorregando para dentro da minha saia.
Senti seu toque elétrico quando ele se aproximou da dor que
crescia. Ele torceu seus dedos nas laterais da minha
calcinha, seu sorriso só se alargou quando meus lábios se
separaram.

O tecido desceu facilmente enquanto ele puxava. — Saia


dela, querida. — Murmurou.

Eu saí da calcinha, mal conseguia pensar em nada além


de suas mãos, seus lábios, sua língua...

Alessandro me empurrou suavemente para trás,


encorajando-me a sentar no pedestal da estátua. As pernas
pedregosas da Virgem Maria pressionaram minha coluna
vertebral, mas eu quase não registrei isso.

Suas mãos ásperas empurraram minha saia para cima,


o tecido se amontoando nos meus quadris. A pressão fria da
estátua de mármore na minha pele exposta me fez chiar. O
barulho ecoou através da igreja.

— Está muito frio? — Perguntou Alessandro. Eu acenei


com a cabeça. — Acho que vou ter que esquentar você. — A
cabeça dele desceu. Eu podia sentir seus lábios no meu
joelho, na minha coxa, cada vez mais alto.

Eu primeiro senti seu hálito quente, depois seus lábios


pressionando contra meu ponto sensível.

A língua de Alessandro se estendeu em movimento de


varredura, a barbar por fazer dele escovando contra minha
coxa, seus dedos cravados em meus joelhos. A pressão entre
minhas pernas começou a se tornar mais forte, mais úmida.
O ar estava deixando meus pulmões; meus mamilos estavam
apertados.

Agarrei sua cabeça, dedos escavando em seu cabelo. —


Por favor... Oh, Deus.

— Não, Deus. Quem? — Ele murmurou contra mim.

Eu teria dito a ele qualquer coisa naquele momento. —


Você, Alessandro, meu marido!

Ele riu roucamente. — Meu amor. — Disse ele enquanto


sua boca descia para mim, a conexão assustadora e quente.

Alessandro mordiscou, lambeu e mordeu até que eu


estava no limite, tão perto, mas tão longe, o polegar dele
raspou meu clitóris, pressionando com força até que não
houvesse nada além da pressão dele em mim, seus dedos
pressionando contra mim, até que meus quadris
empurraram...

Chorei para os céus ao encontrar minha libertação,


minha cabeça pressionada entre as pernas da Virgem Maria e
minhas mãos cavando os cabelos do Godless.

Depois disso, Alessandro me segurou em seu peito, nós


dois encostados à estátua, nossa respiração o único som na
igreja.

— Os di Traglias serão um problema. — Eu sussurrei.

— Eu sei, meu amor, — murmurou ele enquanto corria


uma mão pelo meu cabelo. — Vamos lidar com isso quando
Adelasia for encontrada.

Seu tom implicava que ele esperava um corpo e não


uma futura cunhada.

Quanto mais tempo passamos sem encontra-la, senti


que minhas próprias expectativas começavam a diminuir.

— Acho que vamos ter que amarrar o di Traglias a nós


de alguma forma.
Alessandro pressionou seus lábios contra a minha
têmpora. — Nós teremos.

— Temos apenas uma coisa preciosa o suficiente para


barganhar. — Minha boca estremeceu, mas eu não comecei a
chorar.

— Ele fará o que se espera dele. Como todos os outros


Rocchettis fazem. — Ele não pareceu particularmente
satisfeito com sua declaração. — Como todos os Made Man
fazem.

Fechei meus olhos. — O dever é inescapável.

Alessandro ficou calado por um momento antes de dizer


calmamente: — E ainda assim... Eu encontrei tanta felicidade
no meu.
Capítulo Onze

— Oh, Bill. — Eu disse enquanto eu entrava no quarto


escuro. O cheiro distinto de restos de comida e miséria era
forte o suficiente para fazer meus olhos lacrimejarem.

Sob os cobertores, meio enclausurado nas sombras,


estava o deposto recentemente prefeito Bill Salisbury. Se não
fosse pela suave subida e queda do cobertor, eu teria pensado
que ele estava morto.

Mas o pobre homem estava muito vivo e ainda


mergulhado em sua derrota pública para o prefeito Alphonse
Ericson.

— Vá embora, — ele murmurou de baixo das cobertas.


— Eu estou dormindo.

— Bill sou eu. Sophia Rocchetti.

Muito lentamente, Bill deslocou os cobertores, uma


confusão de cabelos grisalhos e gordurosos apontava para
cima. — Sophia Rocchetti?

Aproximei-me da cama. — A primeira e única.

Seu rosto ficou brilhante quando ele me acolheu. —


Você está aqui para me dizer que apoia Ericson? Se sim, você
não precisava ter ido tão longe. As urnas me disseram o
suficiente.

Eu resisti ao impulso de revirar os olhos. Estes políticos


eram todos tão dramáticos. Tente ser uma esposa da máfia
por um dia.

— Sua esposa me chamou, Bill. Ela está ficando


cansada de... seja lá o que isso for.

Bill suspirou.

— Você não pode continuar assim, — eu o lembrei. —


Chegará um momento em que terá que enfrentar Ericson. E
sua cidade.

— Não, não chegará.

— Sim, chegará, sim. Porque você está convidado para o


baile de gala da Rocchetti: Apoio ao Alzheimer como meu
convidado de honra. Quão tola eu parecerei se você não
aparecer quando eu disse que apareceria?

Salisbury, como todos os políticos, era um homem


arrogante. Ele vinha com o status. Mas, como todos os outros
homens arrogantes, ele não podia deixar passar a
oportunidade de ser um convidado de honra.

Alguém poderia?

O cobertor caiu e seu rosto ficou visível. Sua barba


estava fora de controle, escondendo a maior parte do seu
rosto. Ele parecia ter se perdido em uma ilha deserta por
alguns anos.

Escondi minha reação à sua aparência, sorrindo


graciosamente. — Os membros da Sociedade Histórica
estarão lá. Eles sentiram muito a sua falta nestas últimas
semanas.

— Mesmo?

— Mmhm, — eu acalmei. — Você sabe como todos


ficarão entusiasmados em vê-lo novamente? Especialmente
em um evento tão importante como este.

— Será que Ericson estará lá?

Eu sorri. — Claro, que não.

Isso selou o acordo. Depois de semanas fechado para o


mundo, Salisbury estava finalmente voltando aos olhos do
público.

O que foi para o melhor.

Eu não podia ter o político que eu planejava para


substituir Ericson passando todo o seu tempo escondido
debaixo das cobertas como um garotinho assustado.
Os convidados estavam vestidos com seus melhores
smokings e vestidos de gala em volta das mesas, rindo por
causa do champanhe e dos aperitivos. Cientistas, políticos e
socialites, todos aglomerados no mesmo ambiente, tentando
espremer dinheiro ou informação uns dos outros.

O salão de baile havia sido decorado com perfeição.


Desde as emotivas fotos forrando as paredes até as brilhantes
luzes douradas penduradas no teto. As flores acrescentavam
um toque mais suave, enroladas ao redor das portas e das
cadeiras.

Fiquei ao lado da porta com Alessandro, ambos vestidos


com nossas roupas mais finas e saudando os convidados.

Meu vestido caia até o chão, formado de tecido dourado


e seda brilhante. Quando a luz o encontrava parecia que
tinha sido costurada pelos raios de sol. O corte era modesto o
suficiente, com apenas meus ombros e colo em exposição. Se
não fosse pelo meu penteado de cabelos soltos, eu estaria
sentindo muito frio.

Alessandro tinha parado de se mexer quando o deixei


tirar seu blazer. O flash de suas tatuagens abaixo de suas
mangas parecia equivalente a uma cobra venenosa exibindo
suas escamas coloridas e brilhantes. Pela aparência pálida
dos patronos do baile ao passar por ele, eu sabia que eles
também iriam concordar.

Meu marido tinha ficado entediado rapidamente de


tentar agradar os membros da alta sociedade e, em vez disso,
tinha encontrado outras maneiras de se distrair.
Principalmente brincando comigo.

Um beliscão rápido no meu traseiro, um puxão em um


cacho, um beijo no meu ombro nu.

— Você tem sorte de estarmos em público. — Alessandro


sussurrou no meu ouvido em um intervalo entre as pessoas.

Eu me movi de pé, tentando lavar a dor crescendo no


meu centro. — Oh?

Seus olhos negros brilhavam conscientemente, captando


o vermelho crescente do meu pescoço e bochechas. — Eu
realmente gosto do seu vestido. — Disse-me ele.

— Espero que sim. Custou-lhe o suficiente.

Um sorriso passou por cima de suas feições, mas o


olhar faminto em seus olhos não diminuiu. Se ele
continuasse olhando para mim assim, eu precisaria sentar-
me e me abanar ou levá-lo aos banheiros para um pouco de
paz e sossego.

Uma semana, eu disse a mim mesma. Mais uma


semana.

— Estamos cumprimentando as pessoas, — lembrei


mais a mim mesma do que ele. — Este não é o momento...

— Não é a hora para quê? Para falar com minha esposa?


Tentei esconder meu sorriso, mas falhei. — Não é isso
que você está fazendo, e você sabe disso.

O olhar em seus olhos só se tornou mais intenso.

Voltei-me para saudar mais convidados que chegavam,


mas senti o peso do olhar dele no meu pescoço exposto.
Felizmente, consegui me distrair recebendo as pessoas no
baile de caridade e lisonjeada sob todos os seus elogios.

Um velho político tentou ficar um pouco mais amigável.


Sua mão se afastou devagar demais, seus olhos um pouco
lascivos demais.

Alessandro moveu sua mão, o movimento foi áspero.


Quando o velho político abriu a boca para dizer algo, meu
marido sorriu selvagem.

Eu ri enquanto o político se apressava para sair. — Acho


que você o deixou nervoso.

— Ótimo. — Alessandro beijou minha têmpora, seu


braço contornando minha cintura possessivo. Caiam fora,
seus movimentos pareciam gritar.

— Espero que você não esteja com ciúmes. — Disse eu.

Sua gargalhada vibrou pelo seu peito. — Ciúmes? Eu


não estou com ciúmes. Eu sei que você é minha. Você dá a
eles sua versão filtrada, tentadora e bem vestida. Eu tenho
você quando você acorda pela manhã; eu tenho você quando
você dança na cozinha e canta para nosso filho.
Abandonei toda minha pretensão sobre afeto público e o
beijei, mãos envolvendo sua mandíbula áspera.

Alessandro sorriu contra meus lábios. — Você está


escandalizando seus patronos, meu amor.

— Quando você já se preocupou em ser parte de um


escândalo?

Seu olhar ficou quente. — Nunca.

Ele encontrou meus lábios, quentes e ásperos. Senti as


mãos dele envolvendo as minhas costas, me segurando com
força contra ele.

Os sons da bolha desapareceram ao nosso redor, desde


as vozes dos convidados até a melodia que Nicoletta estava
tocando. Naquele momento, tudo que me importava eram os
lábios de Alessandro nos meus, a força e o calor de seu corpo,
o que poderíamos fazer quando chegássemos em nossa
casa...

Alessandro se afastou, respirando fundo. — Deus, quem


me dera que estivéssemos em casa.

Eu estava prestes a dizer que deveríamos ir e


desaparecer em um armário de suprimentos quando um
grupo familiar de pessoas começou a chegar. Eu tinha
convidado a casa Sunny Days Care, já que eles tinham uma
das maiores porcentagens de pacientes com Alzheimer em
suas instalações, e eram uma parte importante da
comunidade. Eu lhes havia dito que eles poderiam levar
quem estivesse interessado.

Quando vi a pequena Eloise Pelletier, frágil como um


pássaro, choque se lançou através de mim. O que ela estava
fazendo aqui? Será que ela começaria uma cena?

A mão de Alessandro veio para minhas costas e ele


murmurou: — É quem eu penso que é? — Ele sabia que era,
mas estava me dando uma chance de me explicar.

Não tive a chance. O diretor da Sunny Days me pegou


em uma conversa, agradecendo-me por minhas contribuições
à comunidade.

Como se ela estivesse tentando me enervar, Eloise


Pelletier veio para apoiar o diretor, sua expressão lúcida.

— Muito obrigada por ter vindo. — Eu disse ao diretor.

— Muito obrigada por nos convidar. — Esta era Eloise.


Sua voz arejada dividiu a conversa em duas e fez com que
meu marido se posicionar mais alto. — Eu amo uma boa
festa.

— Só espero que você se divirta.

Seus olhos brilhavam. — Eu irei.

Eu não gostei do som disso.

O grupo Sunny Days se espalhou pelo baile, sua equipe


de enfermeiras cuidando bem de seus pacientes.
Do canto do meu olho, eu chequei Nicoletta e Ophelia.
Nicoletta estava sentada ao piano, tocando uma bela melodia,
com Ophelia pairando ao seu lado, olhos alertas para
qualquer coisa que a pudesse perturbar.

A poucos metros de distância, meio-fundido nas


sombras, estava Nero. Ele não se mexia, não se agitava.
Apenas se encostou à parede e observou quase indistinguível
das plantas envasadas ao seu lado.

— Eu não convidei Eloise, — eu disse a Alessandro


assim que ficamos sozinhos. — Ela é uma velha frágil. Que
ameaça ela poderia realmente representar?

Sua postura não relaxou. — Vamos ver, não vamos?

Afinei meus lábios, mas deixei cair o assunto. — Vou


ligar para Dita e ver como está Dante. Seus garotos estão
perto do bar.

No caminho para o banheiro, vi Salisbury. Ele estava


sentado no meio de um grupo de pessoas, suas mãos se
movendo amplamente enquanto ele contava uma história.
Pelo olhar encantado que tinham, devia ser uma boa história.

Eu imaginei que Salisbury precisaria de algum tempo


antes de voltar à sua natureza foleira, mas subestimei o
político que havia nele. Segundos depois de entrar no baile,
ele não tinha comandado nada além de uma atenção positiva
e tinha sido seu eu mais carismático.

Ao menos alguém está se divertindo, eu quase ri.


Levou-me algumas tentativas para ir ao banheiro, já que
eu continuava sendo arrastada para conversas. Todos
pareciam querer falar comigo agora que meu marido
assustador não estava ao meu lado, e enquanto eu estava
contente em me aproximar da elite de Chicago, realmente
queria checar meu filho e me esquivei da maioria deles.

Mais tarde, em um minuto, eu continuava dizendo, quase


desejando que Alessandro estivesse lá para assustá-los.

Meu marido tinha atravessado a sala para o bar e agora


estava de pé com Gabriel e Sergio. Ninguém se atrevia a
aproximar-se deles.

Para minha surpresa, eu encontrei Narcisa Ossani no


banheiro. Ela secava as mãos, não prestando muita atenção
ao seu ambiente.

— Narcisa, querida, como você está?

Ela olhou para mim, mas não pareceu assustada,


apenas surpresa. Quando percebeu que era eu, ela sorriu em
saudação. Sem chorar, sem medo. — Sophia, oi.

— Você está se divertindo? — Nós nos beijamos nas


duas bochechas. — Vejo que seu marido foi para o bar.

Suas bochechas ficaram rosadas, mas ela respondeu: —


Estou me divertindo muito. E sim, Serg decidiu que não
aguenta mais conversa fiada.
Serg? Não Sergio? Eu quase agarrei suas mãos e pulei
de alegria, entusiasmada por ela e seu marido parecerem
estar cada vez mais próximos, mas segurei minha língua.

— Não posso dizer que o censuro. — Eu me afastei. —


Tenho que checar o Dante, mas a verei de novo lá fora.

Fizemos nossas despedidas e eu finalmente consegui


ligar para casa. Dita me assegurou que meu filho estava bem,
ainda dormindo exatamente onde o tinha deixado. Eu queria
trazê-lo esta noite, mas Alessandro desaconselhou, pois
minha atenção já estaria dividida entre os convidados, e
acrescentar meu filho à mistura poderia arruinar a noite.

Talvez eu me sentisse um pouco mais relaxada se Dante


não tivesse sido exigente hoje. Ele tinha dormido mal ontem à
noite, já que o pobrezinho estava lutando contra um
resfriado. Eu havia passado a noite inteira contando suas
inalações e limpando repetidamente o seu nariz, até que
Alessandro assumiu o controle e me deixou dormir algumas
horas inquieta.

— Ele está bem, Sophia, — me lembrou Dita, sua voz


quase desaprovadora. — Vá, divirta-se, tenha uma noite livre.

— Você tem certeza de que ele está bem? — Perguntei.


— Ele vai precisar de mais remédios dentro de quarenta e
quatro minutos.

— Eu sei. Eu tenho sua lista.


Eu sabia disso. Eu sabia que tudo estava sob controle. E
ainda assim não conseguia me livrar da culpa, das cãibras no
meu estômago.

Dita foi quem desligou na minha cara e quando liguei de


volta, ela não atendeu. Eles estão bem, eu disse a mim
mesma. Completamente bem. Raul e Beppe estão com eles.
Nada vai acontecer.

Dizendo minhas garantias, eu saí do banheiro, voltando


para a cova do leão.

Assim que o fiz, fui puxada para quinze direções


diferentes. O tempo passou rapidamente enquanto eu
conversava, ria, e conversava mais um pouco. Todos queriam
falar comigo e não apenas sobre a caridade. As pessoas
queriam ouvir mais sobre meu filho, e Nicoletta, que até
recentemente tinha sido presumida como morta.

Logo me encontrei com Nicoletta e Ophelia.

— Vocês duas estão bem? — Eu perguntei, depois


acrescentei em italiano: — Nicoletta, você tem tudo o que
precisa?

Ela sorriu e acenou: — Eu tenho, eu tenho.

Ophelia concordou. — Estamos bem aqui. Com exceção


do Sr. Assustador nas sombras.

Eu olhei por cima do ombro dela para Nero. Ele pegou


meu olhar e sacudiu a cabeça em aborrecimento, como se eu
estivesse me cumprimentando, não o fato de que ele tinha
1,80 m de ameaça.

Para Ophelia, eu disse: — Devo pedir a um dos meninos


que o expulse?

— Não, está tudo bem, — disse ela rígida. — Nicoletta


está convencida de que ele...

— O que ela está fazendo aqui? — Nicoletta de repente


estalou.

Voltei-me para onde ela estava apontando. Eloise


Pelletier também tinha visto Nicoletta e estava se dirigindo
através da multidão em nossa direção.

Uh, oh.

Nicoletta levantou-se de seu piano, quase como se


estivesse se preparando para uma briga com Eloise. As duas
mulheres mal conseguiam sair da cama sem ajuda, então eu
não conseguia imaginar que elas pudessem fazer qualquer
dano real uma à outra. Mas, mesmo assim, tentei dispersar a
situação.

— Nicoletta, que tal você...

Eloise chegou até nós, cortando-me. — Rocchetti


imunda. — Ela assobiou em inglês.

Voltei-me para Nicoletta, pronta para traduzir, mas em


inglês perfeito, ela disse: — Pelletiers imunda. Como ousa
mostrar seu rosto na cidade do meu marido?
— Você sabe falar inglês? — Era a única coisa em que
Ophelia podia se concentrar. Ela foi ignorada por ambas as
mulheres.

— A cidade de seu marido? — Eloise ladrou uma


gargalhada. — Enquanto eu for dona do Jean's Bend, esta
cidade nunca lhe pertencerá totalmente.

Ele está morto, eu queria ressaltar, mas não o fiz.

— Marque minhas palavras, sua puta francesa, — disse


Nicoletta, com seu sotaque italiano bruscamente forte. — A
cidade pertence aos Rocchettis e nenhum Pelletier voltará a
ameaçar isso, não novamente.

— Vamos ver, — riu Eloise. — Meu irmão levou sua filha


e ele levará o resto de vocês. Ele está fora da cadeia, agora,
seu filho sabe disso?

Nicoletta olhou para mim como se eu pudesse confirmar


esta informação.

A voz de Don Piero derrapou em minha cabeça. O filho


de Pelletier acabou de sair, ele havia dito naquela fita. Ele
recebeu uma sentença reduzida por denunciar a União.

Será que Toto sabe disso? Carlos Sr. havia perguntado.

Você pode dizer a ele, irmão, tinha sido a resposta de


Don Piero.
O que Eloise tinha gritado na hora que nos
encontrarmos pela primeira vez? Saia antes que meu irmão te
mate, como ele fez com sua irmã que não prestava!

As palavras não tinham realmente se encaixado já que


eu estava muito ocupado tentando acalmá-la.

Meu irmão levou sua filha...

Para Eloise, todos nós, Rocchettis, devemos ser iguais.


Eu duvidava que houvesse outros parentes da família em sua
mente. Só pessoas que eram Rocchettis e pessoas que não
eram.

Eu podia sentir as peças começando a encaixar juntas e


a imagem se tornando mais clara.

Ouvi da empregada da casa de Toto, o Terrível, que ela


estava envolvida com um homem francês! Quando o Outfit
estava em guerra com a União Corse, a voz de Dita me
atravessou a cabeça.

Isto não ia terminar bem.

Cheguei até Nicoletta, agarrando-a gentilmente, mas


firmemente pelos ombros. — Já chega senhoras, —
murmurei. — Este é um evento público, não o
estacionamento de um supermercado. Vamos nos separar e
nos acalmar.

Tentei sinalizar para alguns dos empregados da Sunny


Days para vir ajudar, mas nenhum deles pareceu notar.
Eloise deu um passo adiante, mas eu ergui uma mão. —
Guarde suas ameaças, usando o traidor do seu irmão, para
outra pessoa.

Suas narinas ergueram. — Meu irmão não é um traidor.

— Ele é um rato que vendeu a União por uma sentença


reduzida. — Eu lhe disse, não de forma indelicada.
Finalmente, uma das enfermeiras da Sunny Days nos avistou
e veio correndo.

Nicoletta ia dizer algo, mas eu apertei meu controle


sobre ela. — Já chega Nicoletta. — Disse eu.

Seus olhos pousaram em mim, um olhar estranho neles.


— Certo. — Disse ela como se não acreditasse realmente que
ela estava dizendo isso. Seus olhos foram para o meu anel de
casamento e sua testa franziu, mas ela não disse nada.

Escondi minha mão em minhas saias.

— Nonna. — Veio a voz familiar de Alessandro. Seus


olhos encontraram os meus, apesar de ele chamar por sua
avó. Está tudo bem? Eles pareciam perguntar.

Eu acenei com a cabeça. — Nicoletta, que tal você


mostrar a Alessandro sua nova canção?

A enfermeira de Sunny Days estava tentando convencer


Eloise a se afastar, mas a francesa furiosa não estava se
movendo.
Ela travou a mandíbula, olhos em mim friamente. —
Meu irmão não é nenhum rato, — disse ela. — Ele era um
assassino, mas não um rato.

Neste mundo, ser um assassino era muito melhor que


ser um rato.

No momento seguinte, meu assistente veio correndo até


mim. — Ericson está aqui!

Eu larguei Nicoletta. É claro que Ericson estava aqui!


Por que ele não estaria? Todo mundo em Chicago pareciam
estar contentes em aparecer, convidado ou não.

Alessandro foi dar um passo à frente, mas eu peguei seu


braço. — Eu vou cuidar disso. — Apontei meu queixo para
Ophelia. — Não deixe Nicoletta se aproximar de Eloise.

Eloise foi levada por uma enfermeira, mas seus olhos


prometiam retribuição. Ophelia tentou distrair Nicoletta com
seu piano, mas a matriarca da família Rocchetti se recusou a
tirar seus olhos da mulher francesa.

Eu suspirei pelo meu nariz e fui em direção à entrada,


meu marido ao meu lado.

Ninguém ousou se aproximar de mim com Alessandro


ao meu lado. Na verdade, eles se afastaram, baixando os
olhos. Qualquer coisa para impedir que o futuro Don da
Chicago Outfit reparasse neles.
O contraste quase me fez rir. Quando eu estava sozinha,
as pessoas se apressaram para falar comigo, mas com meu
marido, eu poderia muito bem ter sido uma leprosa.

Eu não gostava particularmente de um mais do que do


outro. Mas eu preferia ter a presença calorosa de Alessandro
ao meu lado, grande e protetora. E aterrorizante.

Minha saia rodopiava com meus passos, mas pararam


quando parei sobre meus saltos. Na minha frente, falando
com um dos seguranças, estava o prefeito Alphonse Ericson.

— Não me lembro de tê-lo convidado. — Disse


calmamente. Para minha surpresa, Alessandro ficou quieto,
com a mão pressionada nas minhas costas.

— Sou o prefeito de Chicago. — Disse Ericson


assobiando.

— Você diz isso como se isso significasse algo, —


respondi. — Você não é rei, apenas um representante de
algumas pessoas que decidiram que não tinham outros
planos no dia da votação.

Ericson se enfureceu. — Você não pode me expulsar. O


escândalo pode arruinar este seu pequeno projeto paralelo.

A caridade não era o meu projeto paralelo. Na verdade,


no momento, meu projeto paralelo estava se perguntando
como eu poderia matar Ericson e sair impune.
— Você está aqui sem convite. Eu não acho que minha
reputação seja a que levaria o golpe. — Disse eu.

Alguns curiosos tinham se aproximado, tornando isto


muito mais público do que eu queria que fosse. Não convidar
Ericson causaria alguma fofoca, mas meu apoio a Salisbury
sempre foi público o suficiente para que, esperançosamente,
expulsar o prefeito não despertasse muita atenção.

Esperemos que eles apenas vissem isso como uma


questão política. — Estou...

— Invadindo uma propriedade, — disse Alessandro com


suavidade, sempre preparado para fazer o papel de cara mau
e me salvar de fazê-lo. — Parta por vontade própria ou pela
nossa. Mas você irá.

Ericson pode não ter medo de mim, mas ele tinha medo
do meu marido. Eu o vi um pouco pálido com o tom rude de
Alessandro e começou a contemplar suas opções. De
qualquer forma, ele seria humilhado, deveria ter pensado
sobre isso antes de aparecer sem ser convidado.

Obviamente, Ericson estava demorando demais para


tomar sua decisão. Alessandro acenou com uma mão e os
soldati surgiram das sombras. Eles se aproximaram de
Ericson, mas não deram nenhum passo para agarrá-lo.

A própria segurança do prefeito ficou branca ao vê-los.

O prefeito Ericson se endireitou, tentando reivindicar


um pouco de sua dignidade. — Eu só passei para dizer olá. —
Disse ele rígido. Tudo isto foi apenas para o show; o olhar que
ele me deu ao se virar para sair prometia vingança.

Entre na fila, eu queria me vangloriar, mas segurei


minha língua. Ao invés disso, apenas sorri.

Isso só parecia deixá-lo mais furioso.

Quando Ericson saiu, eu beijei Alessandro em sua


bochecha áspera. — Obrigada, — murmurei. — Isso poderia
ter ficado muito feio e muito público rapidamente, se você
não o tivesse assustado.

Alessandro apertou minhas costas, não fazendo nenhum


movimento para limpar o batom que eu tinha deixado em seu
rosto. — Claro, meu amor, — disse ele. — Espero que, da
próxima vez, fique feio. Estas coisas são chatas ‘pra’ caralho.

Apesar de todas as pessoas espiando, eu ri, o som


ricocheteou as luzes e paredes, quase mais alto do que o som
do piano de Nicoletta tocando.
Capítulo Doze

No dia em que começou a nevar, Alessandro decidiu nos


levar para passear no fim de semana.

— É realmente a hora de sair de Chicago? — Eu


perguntei quando ele me contou a notícia. — Seu pai e seu
irmão ainda estão lutando pelo trono, Ericson está causando
problemas, e o FBI está tão quieto que é assustador.

— Exatamente por isso que precisamos de umas férias,


— disse-me ele. — É só por três dias, meu amor. Se você
realmente não aguentar não ser uma esposa mafiosa por
setenta e duas horas, então voltaremos para casa mais cedo.

— Ha, ha.

No entanto, fiquei feliz pelo intervalo. O final de


novembro marcava o início da temporada de férias. Nunca
tinha passado pela minha cabeça até que Nina me avisou,
mas eu estava encarregada do Natal, do Dia de Ação de
Graças e do Ano Novo. Os Rocchettis os recebiam a todos e
por Rocchettis eu quis dizer eu.

Eu não me importava, não verdadeiramente. Afinal, ser


vista como a anfitriã da Outfit só poderia ajudar Alessandro e
eu a ganharmos mais favores. E com a liderança ainda no ar,
e a Outfit ainda dividida sobre quem eles apoiariam, reunir
todos para celebrar só poderia ser uma coisa boa.

Ao dizer isto, Alessandro tinha se sentado comigo e


discutido a segurança para todos os jantares e festas. Havia
uma chance muito boa de que uma briga começasse em pelo
menos um deles, e meu marido queria ter certeza de que os
danos seriam mínimos.

Talvez eu esperasse que a temporada de férias trouxesse


harmonia a Outfit, mas meu marido estava pronto para o
conflito.

Na mesma sexta-feira, ele me contou seus planos,


arrumamos o carro e saímos. Foi mais fácil ir sem alertar
muita gente. Não só porque nos protegeria melhor, mas
também para não termos que responder a muitas perguntas
ou lidar com os membros da família que se convidariam a
participar.

Seria bom ter algum tempo sozinha com meus


meninos... E com Oscuro e Beppe, que seguiam atrás de nós
em seu Range Rover.

Dante tinha se desenvolvido muito nestas últimas


semanas. Agora, com um mês de idade, ele estava mais
desperto e mostrando mais interesse pelas coisas. Ele podia
se concentrar melhor em seu ambiente e estava se
acostumando mais aos cheiros e sons. Ele havia captado
tanto a voz de Alessandro quanto a minha, agora virando a
cabeça em nossa direção sempre que nos ouvia.
No entanto, a parte ruim, ele estava agitado e chorando
mais. Na maioria dos dias eu mal conseguia sair de sua linha
de visão sem incitar o começo de um berreiro.

Mesmo agora, no carro, eu estendia minhas mãos sobre


a parte de trás de seu assento, lembrando-lhe que eu estava
aqui e não o havia abandonado. Dante continuava agarrando-
as, mas sua habilidade de agarrar não havia realmente se
formado, então ele continuava a se soltar e a tentar
novamente.

Alessandro o examinou pelo espelho retrovisor, seus


lábios formando um sorriso. — Você está mandando em sua
mãe, meu filho? — Ele riu.

Eu dei uma risada. — Você só está com ciúmes porque


ele não se importa quando você sai.

Meu marido me olhou, mas o humor em seus olhos me


disse que ele não estava bravo. — Talvez eu esteja. Eu nunca
direi.

Demoramos algumas horas para chegar ao retiro da


família Rocchetti. Situada no campo, a casa havia sido
comprada para quando os homens da família precisassem de
paz e sossego. Construída de tijolos vermelhos e coberta de
wisteria8 sem folhas, ela parecia quase assombrada,
especialmente coberta por uma espessa camada de neve.

8 É uma planta, uma trepadeira de florescimento muito decorativo.


— Vai estar um gelo. — Eu disse a Alessandro enquanto
ele estacionava na entrada gelada.

— Aquece rapidamente. — Ele me garantiu.

Saímos do carro, Alessandro desafivelando Dante.


Polpetto pulou para fora, depois sentiu o frio do chão e voltou
rapidamente para dentro do carro. Eu ri e o peguei,
segurando-o de forma protetora ao meu peito.

A chave estava embaixo do tapete de boas-vindas e


Alessandro teve que empurrar a porta com seu ombro para
abri-la. Eu não tinha certeza do que esperava lá dentro, mas
a casa surpreendentemente superou minhas expectativas.
Limpo, vintage e caseiro, a casa de férias parecia algo saído
de um filme de Natal.

Eu coloquei Polpetto no chão e ele foi imediatamente


explorar.

— Vou tirar as coisas do carro, — disse-me Alessandro,


passando Dante para mim. Meu filho encostou a cabeça no
meu peito, seus olhinhos olhando ao redor do novo local com
interesse. — Você vai e dá uma olhada ao redor.

Como a maioria das casas que pertenceram a Don Piero


em sua vida, o local foi decorado com belas obras de arte.
Depois de ter dado uma olhada nos livros dos Rocchetti, eu
sabia que muitas delas eram roubadas, algumas até mesmo
sendo ativamente procuradas pela Interpol.
Quando perguntei a Alessandro por que Don Piero havia
se recusado a mostrar as peças em um museu, ele havia rido.
Meu avô gostava de manter as coisas bonitas em exposição,
mas sob seus cuidados.

A declaração tinha chegado um pouco perto de casa.


Don Piero gostava de coisas bonitas, gostava de mostrá-las,
mas somente se elas pertencessem a ele. Eu tinha
experimentado isso, como tinha Nicoletta.

Encontrei o quarto principal e senti um calor intenso


através de mim.

Faltava um dia para acabar o tempo de espera, a corrida


havia sido vencida. Durante as últimas seis semanas, todos
os olhares acalorados e toques roubados finalmente
alcançariam seu clímax, tanto figurativamente como
literalmente.

Dante fez barulho em meus braços.

— Eu sei. — Beijei sua têmpora, fechando a porta da


sala. — Vamos achar a lareira.

Quando toda a bagagem estava dentro, eu já tinha


aquecido a sala de estar. Dante e eu nos sentamos em frente
ao fogo. Meu bebê estava de barriga para baixo, tentando
levantar a cabeça, com meu incentivo e apoio.

— Não o ajude. — Disse Alessandro quando me viu com


Dante.
— Ele só precisa de um pouco de ajuda de sua mãe. —
Eu falei.

Meu marido balançou a cabeça. — Ele vai fazer isso


sozinho ou não vai fazer nada.

Polpetto veio dançando para a sala de estar, indo direto


para Dante. Alessandro o pegou antes que ele se
aproximasse, segurando-o com uma mão como se fosse um
brinquedo estúpido.

Peguei Dante do chão, segurando-o. Ele ainda estava


tentando levantar sua cabeça. — Você está tentando se exibir
para o seu pai? — Eu ri, suavizando parte do cabelo dele. A
cor ainda não tinha escurecido, mas todos os Rocchettis
estavam convencidos de que ele seria moreno, enquanto eu
ainda estava segurando minha esperança de que ele tivesse
minha cor de cabelo. — Meu garoto forte, segurando a cabeça
para cima sozinho.

Os lábios de Dante inclinaram quase se formando em


um...

— Alessandro, ele está sorrindo!

Alessandro se inclinou para mais perto, absorvendo a


expressão do nosso filho. — Acho que é só ele descobrindo
seus músculos faciais, Sophia.

— Não. — Beijei-lhe a bochecha. — Ele está sorrindo


para sua mãe. Meu querido menino, você está dando grandes
sorrisos à sua mamãe, não está?
Dante continuava tentando segurar a cabeça, sem me
dar atenção.

— Vem cá, meu garoto, — Alessandro estendeu as mãos.


Dante não se agitou enquanto ia com seu pai. — Vou deixar
você descobrir seu rosto em paz.

Eu revirei os olhos, mas não pude evitar o meu


crescente sorriso enquanto acolhia meus dois meninos.
Alessandro segurou Dante em seu peito, suas mãos fortes,
mas gentis, com seu filho.

— Para onde Oscuro e Beppe foram?

— Eles estão checando o lugar, — disse Alessandro. —


Depois irão para a casa de hóspedes. Seremos apenas nós.

Só nós.

Polpetto latiu e eu cocei a cabeça dele. — E você


também, meu querido. Nós não te enviaremos para a casa de
hóspedes.

— Nós o colocaríamos lá fora.

— Não. — Eu acenei com o comentário de Alessandro.


Ele ainda estava em negação de que gostava de Polpetto. —
Não faremos tal coisa.

O ambiente estava relaxado e quente enquanto


passávamos nossa noite. Eu cozinhei enquanto Alessandro
balançava Dante por aí, que decidiu no meio do caminho que
odiava isso e vomitou em cima de seu pai.
Eu ri tanto que Polpetto parecia genuinamente
preocupado, enquanto Alessandro se limpava com
repugnância e me dizia que não estávamos tendo mais filhos.

Dante não poderia ter ficado mais satisfeito consigo


mesmo.

Pela janela, eu podia ver as luzes acesas na casa de


hóspedes, assim como as formas escuras de Oscuro e Beppe.

— Eles têm certeza de que não querem entrar para o


jantar? — Perguntei a Alessandro uma vez que ele havia
mudado.

— Eu perguntei, e disseram que não.

— Você perguntou ou você perguntou?

Ele franziu o cenho. — Você disse a mesma palavra


duas vezes, Sophia. Quantas maneiras diferentes de
perguntar a alguém se quer jantar existem?

Eu coloquei nossos pratos. — Você insinuou que eles


não eram bem-vindos?

Alessandro colocou uma mão zombeteira em seu peito.


— Meu amor, eu sou a pessoa mais acolhedora do mundo.

Os lábios de Dante se inclinaram novamente.

— Está sorrindo para seu papai? — Eu me agachei.


— Vai estar sempre do lado de sua mãe, não vai? —
Alessandro perguntou-lhe, fingindo estar mal-humorado, mas
falhando miseravelmente.

— Com sorte, o próximo é seu colega de equipe, não? —


Pensei. Alessandro sorriu um pouco, a ação foi suave e
surpreendente.

— Se eu fosse eles, eu também estaria do seu lado.

Quando Alessandro voltou, depois de colocar Dante para


dormir, eu estava de repente com um surto de ansiedade. E
não somente porque esta era a primeira vez em que Dante
não dormiria no mesmo quarto que eu.

Nossas seis semanas tinham chegado ao seu fim,


finalmente. Talvez tivéssemos um dia adiantados mas esperar
não era mais uma opção.

Eu sabia que desta vez seria diferente. Da próxima vez


que dormíssemos juntos, seríamos pessoas diferentes,
teríamos uma relação diferente.

Eu me perguntava se Alessandro também sabia disso.

— Você está com frio? — Ele me perguntou enquanto


entrava no quarto, fechando a porta suavemente atrás dele.
Seus olhos vagueavam por cima da minha camisola curta,
permanecendo sobre minhas pernas nuas.

— Um pouco. — De jeito nenhum. Só conseguia pensar


em seus lábios nos meus, suas mãos na minha pele, como
me sentiria quando ele entrasse em mim...

Sophia!

Pisquei rapidamente, tentando limpar meu cérebro de


todos os pensamentos sujos. — Eu provavelmente vou
dormir.

— Você não quer ficar acordada comigo? — Perguntou


ele.

— O que você vai fazer?

Seu sorriso me disse tudo o que eu precisava saber.

Senti o calor subir pelo meu pescoço. — Não por muito


tempo...

Eu me aconcheguei na cama enquanto Alessandro se


preparava. Apoiei-me nos cotovelos, vendo-o se despir até
ficar apenas com sua cueca boxer. O contorno forte de seus
músculos, os cortes e vincos na pele oliva, me fez corar até as
raízes do cabelo.

Alessandro me olhou de relance. — Você está me


encarando, Sophia?

Eu tinha sido pega. — Não. Só pensando.


Seus olhos brilhavam com malicia. — Em que você está
pensando?

Você, eu, nus. — Nada interessante. Minha mente é um


lugar de pensamentos sem graça sobre nada além das
últimas tendências da moda e fofocas desagradáveis sobre
minhas amigas.

— Eu não estou em sua mente?

— Você é um par de saltos altos Louboutin? Se não,


então não.

Alessandro rondou até o fim da cama. Ele agarrou meu


pé debaixo do cobertor, rápido como uma víbora.

Eu guinchei, rindo, e tentei me soltar dele. Seu aperto


não se soltou. Presa, eu tentei: — E se você estivesse na
minha mente?

— Eu gostaria de saber o que eu estava fazendo. — Os


olhos dele subiam pelo comprimento da minha perna, desde o
tornozelo em seu punho até o ponto entre minhas coxas.
Uma vibração constante havia começado a crescer ali, só se
tornando mais inegável sob seu olhar esfomeado.

Mesmo através do cobertor, Alessandro pôde perceber.


Ele sorriu lentamente, o olhar tão esfomeado, tão feroz, que
meus dedos dos pés se enrolaram.

— Pagando impostos. — Foi a primeira coisa que me


veio à mente e a coisa menos sexy que eu consegui pensar.
Minha resposta o surpreendeu porque seu aperto se
afrouxou. — Pagando impostos? — Ele riu. — Algo mais?

Se eu detalhasse todos os pensamentos sujos que tinha


tido, Alessandro poderia se sentir escandalizado. Eu encolhi
os ombros, sorrindo para mim mesma: — Não, foi só isso.

— Você está mentindo de novo, meu amor? — Sua


expressão escureceu novamente, tornando diretamente meu
núcleo mais apertado. Ele estalou sua língua. — Pensei que
tínhamos concordado em não fazer mais isso.

— Devemos abrir espaço para exceções. — Eu


murmurei.

Alessandro arrancou meu outro tornozelo de debaixo do


cobertor, agora prendendo os dois. Ele não precisava fazê-lo.
Eu não ia a lugar algum.

O porquê de ele querer controle sobre minhas pernas


ficou claro quando começou a separá-las lentamente, o
cobertor se esticando. Apesar de ainda estar protegida por
uma camada de tecido, minha boceta se sentia exposta,
dolorida.

Ensopada.

Alessandro subiu na cama, deslizando entre meus


joelhos, impedindo-os de se fecharem novamente. Ele se
debruçou sobre mim, meio nu, coberto de cicatrizes e
tatuagens.
— Você ainda está cansada, meu amor?

Eu balancei a cabeça.

— Isso é bom. — Alessandro pressionou uma mão em


cada lado da minha cabeça, posicionando-se acima de mim.
Seu cheiro, seu calor, era tão avassalador, me consumia
tanto. Ele enrolou um dedo ao redor de uma mecha de
cabelo, puxando. — Planejo mantê-la acordada por muito
tempo.

— Certo. — Foi tudo o que eu disse, como uma idiota.

Ele se inclinou até meus lábios, nossas respirações se


misturando. Seus olhos eram tão profundos, tão escuros, que
ele parecia quase possuído. Algo em minha expressão o fez
fazer uma pausa. — Podemos esperar até amanhã. Até que
você esteja pronta.

Eu estava pronta agora.

Enrolei uma mão na parte de trás da cabeça dele,


puxando-o para baixo. Nos encontramos em uma colisão de
lábios, dentes e línguas. Pude saborear uma pitada de molho
de tomate picante do jantar.

Alessandro inclinou-se mais para dentro de mim, nossos


corpos ainda separados pelo cobertor. Senti seu peito
pressionado contra o meu, seus quadris contra o meu, sua
pélvis entre minhas pernas.
Eu só ficava mais quente com o toque dele. Toda aquela
força enroscada reinava apenas para mim. Somente para
mim.

Construímos um movimento de balanço lento, nossos


corpos se esfregando um contra o outro, procurando a
liberação que procuravam.

Alessandro ficou frustrado rapidamente com o cobertor,


puxando-o para o lado. Dei-lhe um pontapé nas pernas, rindo
enquanto ele se afastava para jogá-lo na lateral da cama.

O ar frio me bateu, mas em segundos, Alessandro estava


de volta contra mim, pele contra pele. Uma de suas mãos
vagueava pela minha pele agora exposta, desde as coxas até
os braços, como se estivesse verificando se tudo estava lá.
Quando ele encontrou minha camisola, ele a puxou para fora
do caminho, respirando com força.

— Alessandro. — Apertei meu punho no cabelo dele,


tentando puxá-lo de volta aos meus lábios.

— Ah, ah, meu amor. — Alessandro sentou-se de novo


em seus calcanhares, pegando os meus dois joelhos com suas
mãos. Ele os esticou, depois os uniu novamente antes de
esticá-los novamente.

O palpitar entre minhas pernas só se tornou mais


intenso.

— Percebe o que tem errado nesta situação?


— Você não estar me beijando?

Um flash de dentes brancos surgiu no escuro. — Não é


isso. — Suas mãos escorregaram dos meus joelhos,
desaparecendo debaixo da minha camisola de dormir. Eu o
senti puxar nas pontas. — Você está com muita roupa.

Então, rasgou a camisola ao meio em um movimento


suave.

— Alessandro!

— O quê? — Ele disse inocente, afastando o resto da


delicada seda do caminho, revelando meus pesados seios e
estômago.

Puxei o resto, atirando-o para o lado da cama.

Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa,


Alessandro envolveu meus seios, suas palmas das mãos
ásperas contra meus mamilos sensíveis. Ele os amassou
suavemente, olhando para mim enquanto eu ofegava.

— Estes continuam mudando. — Ele não me pareceu


aborrecido, mas encantado. — Será que eles têm o mesmo
sabor?

Alessandro respondeu sua própria pergunta. Ele se


abaixou, levando meu mamilo esquerdo em sua boca.

Estavam muito mais sensíveis agora, e eu gemi ao


contato, pressionando meus calcanhares no colchão. Uma
tentativa de tentar me ancorar do calor crescente, da falta de
controle, da necessidade.

Com sua outra mão, ele envolveu meu seio direito.

— Alessandro. — Eu cavei minha cabeça no travesseiro,


apertando o seu cabelo.

— Mmm? — Ele murmurou ao redor do meu mamilo.

Eu senti os dentes dele puxando levemente, a sensação


acertando diretamente o ponto entre minhas coxas. E soltei
um gemido.

Alessandro ergueu sua cabeça para cima. Seus olhos


escuros ameaçaram me engolir inteira. — Olhe para você, —
disse ele de forma sombria. — Porque eu te amo, vou deixar
você escolher. Seu mamilo direito ou... — Os dedos dele se
arrastaram pelo estômago abaixo. — Ou sua boceta.

Eu não estava pensando.

Levantei meus quadris, encontrando os seus dedos. A


área estava tão pronta, tão molhada, que o primeiro toque
dos seus dedos foi como um relâmpago na minha corrente
sanguínea.

— Oh, porra, Sophia, — Alessandro assobiou quando


me sentiu. — Você vai me matar.

Não se você me matar primeiro, eu pensei.


Alessandro beliscou meu clitóris, meus quadris
sacudindo em resposta. Ele usou dois dedos para delinear
minha boceta, pressionando a carne sensível.

Eu levantei meus quadris. Mais, mais, mais.

— Você gosta disso, meu amor? — Ele disse.

Eu acenei com a cabeça.

— Quero ouvir você dizer isso.

Eu engoli meu orgulho. A única coisa em minha mente


era a sensação de seus dedos contra mim. — Eu gosto disso,
Alessandro. Gosto muito disso.

Ele sorriu. — Meu coração. Que tal se eu... — Ele enfiou


um dedo em mim.

Um gemido escapou dos meus lábios. Eu agarrei seu


pulso, me certificando de que ele não o movesse.

Alessandro riu, facilmente capaz de me dominar, mas


me agradou ao acrescentar outro dedo. Pude senti-lo
pressionando contra minhas paredes, movendo-se
lentamente para dentro e para fora, entrando e saindo,
construindo um ritmo...

— Não, não, ainda não. — Ele murmurou quando sentiu


que meu corpo começava a ficar tenso.

Eu gemi em aborrecimento. — Alessandro!


— Você vai gozar com meu pau dentro de você, — disse
ele com firmeza. — Para que eu possa sentir suas paredes,
seu prazer, ao meu redor. Entendeu?

Ele me mandou um olhar em expectativa.

— Entendi. — Eu respirei.

Alessandro continuou a brincar com meu clitóris,


puxando-me até a borda antes de me esfriar novamente.
Cavei meus dedos dos pés no colchão, agarrei o cabelo dele
em meus dedos, o amaldiçoei algumas vezes, mas mesmo
assim ele não deixou que meu corpo achasse sua libertação.

Ele trouxe seus dois dedos para cima, afastando-os para


me mostrar minha umidade. — Veja como você está molhada,
meu amor.

— Não me provoque. — Disse, trazendo um dos meus


pés para cima, pressionando-o contra a dureza que repousa
contra sua coxa.

Os olhos de meu marido se estreitaram. — Você está


brincando com fogo, Sophia, — ele me avisou. — Tem que me
dizer o que você quer.

Eu me apoiei sobre minhas mãos, seios e cabelos


balançando com o movimento. O olhar de Alessandro se
agarrou a mim.

— Foda-me, — eu gemi. — Foda-me, Alessandro.


Em um único movimento, Alessandro empurrou para
frente, inclinando-se acima de mim, a cueca boxe se foi. Senti
cada pedaço de pele nua contra a minha quente e corada e
pegajosa de suor.

Alessandro moveu seus quadris, posicionando-se. Ele


fez uma pausa mais uma vez, me observando.

Eu me inclinei para cima e peguei seus lábios, o beijo


quente e profundo. Alessandro acompanhou meu ritmo,
minha luxúria.

Lentamente, mas com firmeza, ele pressionou contra


minha entrada, depois se empurrou para dentro.

Eu gemi alto, quebrando o beijo.

Eu o senti em todos os lugares. Seus braços ao meu


redor, sua pélvis contra a minha, seu pênis dentro de mim.
Não havia um centímetro de mim que Alessandro não tivesse,
não fosse dono.

— Porra, Sophia, — ele respirou. — Você é como o céu.


— Alessandro saiu devagar e depois deslizou de volta para
dentro, construindo um ritmo. Seus quadris balançavam
para frente e para trás, movendo-se comigo.

Eu senti seu dedo voltar ao meu clitóris, apertando o


botão sensível.
As sensações foram demais. Eu podia senti-lo entrar e
sair, seu dedo me puxando, sua pélvis balançando contra a
minha.

O mundo poderia ter explodido naquele momento e eu


não teria notado, não teria me importado. Tudo o que
importava era Alessandro e eu e este momento.

O latejar se tornou mais intenso, meus músculos se


contraíram, minhas costas se curvaram. Senti isso chegando,
senti meu corpo me preparando...

— Oh! Deus!

Eu gozei gemendo, contraindo ao redor do pau de


Alessandro. Ele soltou um gemido, seu quadril se contraindo
enquanto me penetrava, combinando orgasmo com orgasmo.
Nenhum de nós querendo ser deixado de fora.

Alessandro perdeu sua força, rolando antes de cair


sobre mim.

Eu respirei fundo, a cabeça ainda nublada do clímax de


prazer. Nós dois estávamos suados e Deus sabia o que mais,
mas nenhum de nós se moveu.

De repente, já não fazia mais tanto frio no quarto.

Eu cobri meus olhos com meu braço, continuando a


respirar fundo.

Sua mão contornou meu quadril, me apertando. — Você


está bem? — Perguntou.
Eu deixei cair meu braço e sorri para ele. Ele estava me
olhando, me escaneando em busca de sinais de desconforto.
— Estou bem, — respondi. — Obrigada.

Suas sobrancelhas se levantaram. — Eu é que deveria


agradecer a você. Deixando The Godless deitar-se com você.
— Ele balançou a cabeça, expressão sombria.

— Eu não sou tão perfeita, — murmurei. — Talvez seja


você quem deveria se preocupar comigo.

— Como regra geral, Sophia, — sussurrou Alessandro.


— Estou sempre preocupado com você.

Nós nos beijamos suavemente, docemente, antes de


Alessandro se inclinar para o lado da cama e puxar o
cobertor de volta para cima. Ele o enfiou sobre nós dois,
apesar da necessidade de calor já atendida.

Adormeci em seus braços, meus sonhos repletos com


cores brilhantes e estrelas rodopiantes.
Capítulo Treze

O fim de semana passou rápido. Quando chegou o


domingo, nenhum de nós queria realmente sair, feliz na
pequena bolha que criamos. Mas tínhamos responsabilidades
e coisas a cumprir, então precisávamos voltar para a cidade.

— Podemos voltar quando as coisas estiverem mais


calmas em casa. — Eu disse enquanto saíamos para ir
embora, Dante agarrado firmemente ao meu peito.

Alessandro acenou com a cabeça. — Eu sei. — Mas ele


ainda não parecia satisfeito.

Enquanto voltávamos para casa, eu vi o Alessandro-


Férias começar a desaparecer e voltar a ser o Alessandro-
Gangster. Eu sabia que ele só podia ser certas partes de si
mesmo quando estava em casa com sua família, e eu,
também seguia esse padrão. Mas mesmo assim, isso me
lembrou que nossa pausa havia terminado e que voltamos a
ser o Príncipe e Principessa de Chicago.

Pressionei minha cabeça na janela, sonolenta depois de


passar horas acordada com Alessandro na noite anterior.

Havia uma agradável dor entre minhas pernas, não


dolorosa, mas apenas um lembrete de que a contagem
regressiva finalmente acabou, nossa relação foi cimentada de
todas as maneiras possíveis.

O campo ficava para trás enquanto voltávamos para


casa. Trechos de campos e árvores, todos vestidos lindamente
com neve e luzes de Natal cintilantes.

Uma pequena cabana solitária em um pedaço de terra,


cinza sob a luz do sol. Havia algo familiar sobre isso...

Passamos por uma placa que dizia: JEAN'S BEND.

— Alessandro! Essa é a terra de Eloise Pelletier.


Encoste.

Meu marido me deu um olhar esquisito. — Por quê?

— Eu quero dar uma olhada. Você não está curioso?

Ele desacelerou o carro, mas não parou.

— Não vai haver nenhum Pelletiers esperando, querido,


— eu disse a ele. — Imagine como seria simbólico se
comprássemos o último terreno da União em Illinois? Vamos
lá, vamos dar uma olhada.

Ele olhou para mim.

— Dante precisa ser trocado. Ele está com a cara de


cocô. — Isso o convenceu.

Alessandro fez uma inversão de marcha, Oscuro e Beppe


nos seguiram confusos. Ele encostou na beira da estrada, a
neve esmagando sob os pneus. Assim que o carro parou, o
frio de dezembro começou a se infiltrar através das janelas e
portas.

Saímos, enrolando nossos casacos em torno de nós


mesmos para afastar o frio.

— Está tudo bem, chefe? — Oscuro perguntou.

— Esta é a terra de Eloise Pelletier. Vamos verificar.

Nem Beppe nem Oscuro pareciam querer fazer isso.

Peguei a bolsa de fraldas do Dante e o troquei


rapidamente no banco de trás. Do canto dos olhos, pude ver
Alessandro e Beppe andando sobre a propriedade, tenso e
alerta. Oscuro ficou ao lado do carro, me observando.

— Vamos ver o que o papai está fazendo, sim? — Eu


embrulhei Dante e coloquei seu pequeno gorro. Ele
imediatamente tentou puxá-lo, então eu prendi suas mãos no
cobertor. — Eu sei, eu sei. Você não gosta de nada em sua
cabeça.

Oscuro nos seguiu enquanto Dante e eu tentávamos


alcança-los, seus passos largos correspondendo à minha
velocidade.

— Alessandro! — Ele estava muito distante para ouvir


meu grito, então eu parei. — Estes homens. — Murmurei.

Dante se entrelaçou em meus braços.


— Não você, é claro, meu amor. Você está isento de toda
a minha irritação em relação ao seu sexo. — Voltei-me para
Oscuro. — Você se lembra da guerra da União Corse?

— Eu era muito jovem. Mas meu pai costumava falar


muito sobre isso.

— O que é que ele dizia?

Oscuro encolheu os ombros. — O que todos diziam. Foi


sangrenta e horrível. E só terminou com os Pelletiers sendo
mandados para a cadeia.

— O filho de Pelletier está fora da cadeia agora.

— Ninguém sabe onde ele está. Eu sempre assumi que


ele tinha sido levado pela União. Eles não gostam muito de
ratos.

Acenei com a cabeça, lançando meus olhos ao redor da


propriedade. — Este é realmente o último pedaço de terra de
propriedade de um Pelletier em Illinois?

— Não há outro.

— Estranho. Por que Don Piero não a comprou?

— Tenho certeza de que ele tinha coisas maiores em sua


mente do que a herança de alguma velha. — Disse-me
Oscuro.

Pisei em direção ao chalé. — Vamos dar uma olhada.


Alessandro e Beppe tinham chegado à linha das árvores.
Eu os vi dizendo algo um para o outro antes de voltar para
trás e virar em nossa direção.

O chalé, por si só, estava terrivelmente mal cuidado,


com madeira apodrecida e ferrugem forrando os vidros das
janelas. Eu não queria chegar muito perto e arriscar Dante,
então andei ao redor da pequena casa, olhando o mofo e
rachaduras.

Meu pé ficou preso em algo afiado e eu guinchei.

— Que diabos...?

Eu olhei para baixo e gritei.

— SOPHIA! — Alessandro veio derrapando pela esquina


da casa, tanto Beppe como Oscuro em seu calcanhar. — O
que... que diabos!

— Isso é? — Perguntou Beppe.

— Sim. Isso é um esqueleto.

Meio enterrado, meio congelado, um esqueleto no chão.

O crânio oco dele me espreitou quase acusatório.

Eu me afastei, segurando meu filho com mais força. —


Não olhe, meu anjo. — Pressionei o rosto dele no meu peito.
— Meu Deus, Eloise matou alguém?

— Pode ser o esqueleto de qualquer um. — Alessandro


soou não convencido do que qualquer outra coisa. — Vamos.
— Não deveríamos tentar identificá-los?

Meu marido parecia que ia dizer não, mas algo na


minha expressão deve tê-lo feito mudar de ideia porque ele
sacudiu o queixo para Oscuro: — Pegue um osso. Vamos
enviá-lo para Li Fonti.

Oscuro aproximou-se do esqueleto com cuidado,


tentando não o perturbar muito, como se a pessoa que
originalmente o possuiu fosse se importar. Ele agarrou um
pequeno osso no braço, puxou-o, e quando não saiu da neve,
puxou-o com força.

O osso saiu em um flash de luz dourada...

— Oh, — Oscuro segurou o osso. O osso de um dedo,


provavelmente o dedo da aliança de casamento, se a faixa
dourada fosse alguma coisa para confirmar. Era uma bela
aliança, gravada com uma mensagem que eu não conseguia
entender. — Eu conheço esse anel. Alessandro, isso não é...

Olhei para o meu marido e dei um passo em direção a


ele preocupada. O rosto de meu marido era grave, todo seu
corpo tenso, e seus olhos tão escuros que parecia quase
possuídos.

— Alessandro... — Pisei em sua direção. Não entendi


sua reação. Dante tentou levantar a cabeça, sentindo a
súbita mudança de humor do seu pai.

Ao lado dele, Beppe também tinha ficado mais sombrio e


murmurava: — Merda, merda, merda. — Baixinho.
Olhei de volta para o esqueleto e senti as peças se
encaixarem no lugar.

— A aliança de casamento da minha mãe. — disse


Alessandro, sua voz era tão fria quanto a geada de inverno
que nos rodeava. — Essa é a aliança de casamento da minha
mãe.

— Por que... — Oscuro disse.

— Presumo que acabamos de encontrar o lugar onde


meu pai escondeu o corpo da minha mãe. — O
comportamento do meu marido havia mudado, escurecido.
Eu sabia que se meu sogro tivesse estado aqui conosco neste
momento, meu marido teria tentado matá-lo.

Coloquei uma mão em seu braço, tentando engolir meu


horror. — Não, nos apressemos em tirar conclusões. Vamos
fazer um teste de DNA nos ossos e partir daí.

Mas eu já sabia o que o teste de DNA diria e meu marido


também sabia.

No dia seguinte, encontrei meu marido no seu escritório.

Ele estava sentado em sua cadeira, olhando para o aro


dourado em sua mesa. Em resposta, eu torci minha própria
aliança. Meu anel de casamento era só meu, mas o anel de
noivado havia sido passado de mulher para mulher, inclusive
para Danta.

Alessandro tinha um olhar de raiva no rosto, duro como


pedra. Enquanto minha raiva parecia me fazer mais
barulhenta, mais volátil, o pior da raiva do meu marido
parecia torná-lo mais calmo, mais aguçado.

Eu sabia qual de nós tinha a raiva mais aterrorizante e


definitivamente não era eu.

— O que disse o laboratório? — Perguntou.

Eu tinha dado os ossos do esqueleto para alguns dos


cientistas da Rocchetti: Apoio ao Alzheimer. Não demorou
muito para que eles voltassem para mim com um resultado, e
a notícia não era boa, mas esperada.

— O DNA corresponde a Danta D'Angelo.

Alessandro olhou para mim, com olhos negros. Eu me


remexi sob sua atenção, não entendendo esta raiva dele, mas
recusando mostrar qualquer medo. Ele era meu marido, meu
coração, o pai do meu filho. E nunca me machucaria.

Ele se inclinou para trás em sua cadeira, sem seu olhar


me deixar. — Então, meu pai a mata e a deixa apodrecer nas
terras de Eloise Pelletier. Por quê?
— Eu... eu não tento descobrir a razão pela qual seu pai
faz alguma coisa, Alessandro, — eu o lembrei. — Mas não
devemos apontar dedos sem provas.

— Todos acreditam que meu pai matou minha mãe.


Você não acredita?

A imagem de Danta cruzou minha mente, só que agora


eles pareciam ocos e vazios. Prostituta, Prostituta, as
palavras soavam no meu cérebro como uma canção.

Eu engoli. — Não. Eu não acredito.

— Bem, — disse Alessandro. — Gostaria que me tivesse


dito isso mais cedo.

Eu franzi o cenho. — Por quê?

— Porque ele está vindo para cá. — Meu marido


levantou-se de seu assento, revelando a arma na cintura que
a escrivaninha tinha escondido. — Vai lá para cima, meu
amor. Você não precisa ver isto.

Eu não me movi. — Você não vai matar seu pai. Não foi
ele, Alessandro. Eu acho que foi a União...

— Este não é o momento para adivinhar ou achar. —


Seu tom não era cruel, apenas factual. — Minha Sophia, só
porque você acredita que ele é inocente, isso não significa que
ele seja. Ele é um homem louco, um mafioso com pouca
honra. Matar a mãe de seus filhos teria sido apenas mais
uma terça-feira para ele.
— É mesmo?

Eu girei, engolindo meu grito de surpresa.

Toto, o Terrível, estava atrás de mim com olhos escuros


lançando dardos ao redor do escritório com um deleite
selvagem. Eles foram até a escrivaninha e avistaram o aro
dourado.

Em um instante, sua expressão mudou.

— Onde diabos você achou isso? — Perguntou ele


sombriamente.

— Sophia. — Alertou Alessandro, sua voz implicando


que ele queria que eu subisse as escadas e me barricasse em
nosso quarto. Eu não saí.

Toto deu um passo à frente, o movimento nada mais que


ameaçador. — Eu lhe fiz uma pergunta, rapaz, — ele
assobiou para seu filho. — Onde você achou esse anel?

— Onde você o deixou. — Disse Alessandro, frio como


gelo.

Uma parte de mim desejava a raiva ardente do meu


marido. Eu entendi muito melhor aquela do que eu conhecia
essa outra raiva dele.

Meu sogro também notou o estranho estado de espírito


de seu filho. — E onde exatamente eu o deixei? — Ele rosnou,
mal conseguindo conter sua própria raiva.
Recuei, pressionando-me mais na estante.

— Não se faça de bobo, — disse Alessandro. Quantas


vezes ele havia me dito isso? Eu quase ri por não ser o lado
que recebia isso, mas fiquei quieta. — Todos sabem que você
matou minha mãe.

— Por que você se importa? — Toto resmungou. — Você


nem se lembra de sua mãe.

Se ele é inocente, estava fazendo um trabalho


espetacular tentando nos convencer do contrário.

— Isso não significa que seu assassinato possa passar


despercebido.

— Ela não teria feito a mesma coisa por você, — meu


sogro disse. — Você sabe que ela te deixou por seu amante.

A expressão de Alessandro piscou, o primeiro verdadeiro


sinal da fúria que se acumulava dentro dele. — Isso não
justifica a morte dela.

A expressão de Toto ficou encantada e ele olhou para


mim pela primeira vez. — Você já deveria estar morta agora,
Sophia? — Perguntou ele. — Você tem saído e convencido
meu filho que isso não termina com você e seu amante
mortos?

— Chega! — Disse Alessandro. — Isto é entre você e eu,


pai. Deixe Sophia fora disso.
Levantei meu queixo, encontrando os olhos loucos de
Toto Rocchetti. — Estou do seu lado, — eu lhe disse. — Não
acredito que você tenha feito isso. Portanto, escolha
sabiamente o que você diz para mim, porque neste momento,
sou a única aliada que você tem.

— Não preciso de sua aliança, Sophia, — disse Toto,


voltando-se para meu marido. — Você realmente acredita que
eu matei sua mãe?

— Nunca me deu uma razão para não acreditar. —


Alessandro encostou-se à sua mesa. — Isso é tão bom quanto
uma confissão.

— É mesmo? — Eu perguntei.

Fui ignorada.

Meu sogro levantou o queixo, estendendo seus braços.


— Então, e se eu tivesse matado Danta? Estrangulado até ela
cair morta? Eu estava no meu direito, rapaz. Eu era seu
marido e ela minha esposa. É assim que este mundo
funciona. Você pode não gostar, mas isso não significa que
ele vai mudar.

Alessandro não concordava com seu pai. — Você não


tinha provas.

— Eu tinha o suficiente. Deixando a casa durante a


noite? Abandonando seus filhos? Sendo fria com o marido? O
que poderia fazer uma mulher ser assim a não ser um pau
estrangeiro?
Meu marido não disse nada.

— Você julga agora, meu filho. Mas um dia você pode


muito bem estar na mesma posição. Mãe de seus filhos, amor
de sua vida, e em vez de se comportar como ambos
concordaram em se comportar, ela sai, esgueira-se durante a
noite. Deixa sua família para enfiar algum pau francês nela...

Alessandro respirou fundo.

Como uma faixa elástica estalando, a raiva de meu


marido ganhou contra seu autocontrole e ele levou seu pai
para o chão. Toto foi pego de surpresa, mas encontrou cada
um dos socos do seu filho com os seus próprios socos.

Eles rolaram para o saguão, já com o sangue escorrendo


deles.

Sem armas, sem facas. Apenas força bruta e raiva.

— Parem com isso! — Eu gritei. — Se vocês acordarem o


bebê, que Deus me ajude.

Nenhum deles parou de tentar matar um ao outro. Eles


foram para os pontos fracos com todas as suas forças, tão
concentrados em atacar que deixaram a outra pessoa passar
um pouco por suas defesas.

Para minha surpresa, os dois lutavam exatamente da


mesma forma. Meio feroz e sujo. Foi como ver dois reflexos
batendo um no outro.

— Chega! Vocês estão sujando o meu tapete de sangue!


Os sons da luta trouxeram Teresa para o saguão. — Oh,
meu Deus! — Ela arfou quando as viu. — Eles vão matar um
ao outro!

Assim que ela disse isso, eu ouvi o crack de ossos. Eles


estavam se movendo muito rápido, muito violentamente, para
que eu pudesse descobrir de quem era a ferida.

Eu não estava entrando ali para tentar detê-los, então


corri para a porta, — Raul! Oscuro! Qualquer um!

Alguns soldati vieram na minha direção, o rosto familiar


de Beppe na vanguarda. Ele me empurrou para dentro de
casa, xingando quando viu Alessandro e Toto, o Terrível.

— Isto é pelo poder? — Perguntou-me ele.

— Oh, por favor, como se eu fosse deixar minha coroa


depender de alguma luta no meu saguão, — Eu rosnei. Não
sei de onde veio a repentina explosão de raiva, talvez tenha
sido uma mistura de exaustão e estresse, mas eu tentei me
acalmar imediatamente. — Alessandro pensa que Salvatore
matou sua mãe.

— Os testes deram sendo Danta?

— É ela. — Eu confirmei.

Beppe pressionou seus lábios e voltou sua atenção para


Alessandro e Toto. Seus olhos vaguearam sobre os dois
homens, tentando achar um ponto fraco, um ponto onde ele
poderia intervir.
Ele esfregou seus lábios. — Eu vou buscar Cesco. Não
deixe que eles se matem.

Vou tentar o meu melhor, murmurei vendo como


colidiram com o cabideiro. O cabideiro caiu, atingindo o chão
com um estrondo.

Se eles quebraram o meu cabideiro, eu pensei, eu


realmente vou ficar homicida.

Alessandro bateu tão forte em Toto que eu vi sangue


voar para o outro lado da sala. Toto respondeu indo direto
para o joelho do meu marido, o som dele batendo no chão
quase equivalente a empurrar em uma lata.

Oscuro e Beppe chegaram exatamente quando meu


marido agarrou o tornozelo do Toto, virando-o. Toto não ficou
em baixo por muito tempo. Ele saltou para cima, jogando-se
diretamente no estômago do meu marido.

Ambos desceram de novo ao chão, punhos voando.

— Eu pego Alessandro, você pega Toto, — Oscuro


instruiu Beppe. — Ao mesmo tempo, um, dois... Três!

Oscuro entrou, Beppe se aproximou.

Durante alguns segundos, parecia que todos os quatro


estavam lutando, jogando socos e acertos. Mas depois houve
um semblante de ordem. Beppe pegou Toto pelo pescoço,
puxando-o de volta em um movimento suave. — Calma lá, tio
Sal!
Oscuro pegou Alessandro, agarrando-o pelos ombros e
atirando-o para o lado.

Para surpresa de ninguém, Toto mordeu o braço de


Beppe.

— Idiota! — Beppe jogou Toto, e ele desceu para o chão.

Em segundos, ele estava de novo em pé e...

Alessandro foi para seu pai ao mesmo tempo em que


Toto foi para ele.

Desta vez, Beppe interveio entre os dois, algo que eu não


teria feito por nenhuma quantia de dinheiro e os empurrou
pelo rosto.

Isso deu a Beppe e Oscuro a oportunidade de agarrar


pai e filho, segurando-os firmemente e prendendo-os ao chão.

Alessandro balançou a cabeça. — Saia de cima de mim.


Eu estou bem, eu estou bem.

Oscuro seguiu a ordem, mas ficou por perto, pronto


para agarrá-lo novamente a qualquer momento. Observei
enquanto meu marido puxava seus ombros para trás,
segurando a cabeça para cima. Seus olhos vagueavam sobre
o hall de entrada, absorvendo o sangue e o cabideiro, antes
de descansar sobre mim.

Dei-lhe um olhar desagradável.


Alessandro baixou a cabeça em desculpas, mas não
parou de olhar para seu pai como se estivesse pronto para
matá-lo.

Toto, por outro lado, não tinha conseguido esfriar a


cabeça.

Ele lutava debaixo de Beppe, expressão furiosa. —


Deixe-me sair. — Ordenou ele.

— Não posso fazer isso, tio Sal, — disse Beppe


conversando.

— Seu estúpido bastardo. — Toto apontou um dedo


para Alessandro. — Venha e lute comigo, seu maricas!

Isso foi o suficiente para que meu marido avançasse


para frente. Desta vez, meus pés se moveram antes do meu
cérebro e eu me vi pressionando uma mão no peito de
Alessandro. Agarrei o queixo dele grosseiramente e puxei seu
rosto na minha direção.

— Não. — Eu sussurrei.

Alessandro me olhou fixamente. Senti mais do que o vi


relaxar. Seus ombros desabaram; seus músculos
amoleceram.

Eu olhei para Toto, que ainda estava furioso.

— Chame Aisling, — disse eu à Oscuro. — Chame-a


agora.
Oscuro arrancou seu telefone e ligou para ela, seus
olhos se movendo para Toto, entendendo porque eu queria
que ele trouxesse Aisling para cá.

Se alguém nesta Terra inteira fosse acalmar Toto, seria


Aisling. Ou, bem, eu pensei que enquanto assistia à luta de
meu sogro, ela teria a melhor chance.

De repente, Toto pegou Beppe pelas bolas, fazendo com


que Beppe o libertasse pela dor. Oscuro deixou cair seu
telefone, movendo-se como um relâmpago pegando Toto pelas
pernas.

Alessandro começou a avançar, mas eu o segurei para


trás. — Não vale a pena. — Eu o lembrei.

Toto estava lutando entre Beppe e Oscuro, que o


seguravam entre eles como um porco assado.

O telefone de Oscuro começou a chamada.

— Olá, Sr. Oscuro!

Não, não, eu olhei para o telefone do Oscuro.

— A mamãe não está aqui agora, — disse a pequena voz


de Nora. — Ela está com o médico e o meu irmãozinho.

Minha cabeça virou-se para o Toto.

Meu sogro tinha ficado completamente imóvel, com a


mandíbula frouxa e os olhos bem abertos. Não mais lutando,
totalmente em choque.
O único pensamento que eu tinha em minha mente era:
Eu estava certa. Chamar por Aisling o acalmou.
Capítulo Quatorze

— Sr. Oscuro? — Nora repetiu sua pergunta e foi


recebida com silêncio.

Engoli, dei um passo à frente e peguei o telefone. Senti o


olhar ardente de Alessandro sobre mim quando disse: — Oi,
Nora, querida. Você pode dizer a sua mãe para me ligar?

— Oi, Srta. Sophia! — Ela cantou. — Eu venci Madison!

— Isso é maravilhoso, querida. Eu tenho que ir. Mas


lembre-se de dizer à sua mãe.

— Ok, ok. — Nora desligou.

Devagar, voltei para os homens. Alessandro não parecia


zangado ou feliz: mais confuso. Toto parecia estar
experimentando todas as emoções conhecidas pelo homem, a
ponto de sua expressão estar distorcida como se tivesse
apenas cheirado um peido muito ruim.

Então, muito lentamente, Toto perguntou: — Quem era?


— Sua atenção foi para Oscuro.

Oscuro não falou.

— Eu te fiz uma pergunta, rapaz, — disse Toto. — Você


vai fazer o que lhe mandam.
— Oscuro não obedece a você. — Este era Alessandro.
Ele enfiou suas mãos em seus bolsos, sem se incomodar com
os crescentes hematomas que se formam em sua pele e o
sangue que escorria de seu nariz. — Ele me obedece.

Oscuro acenou com a cabeça.

Então, meu marido perguntou: — Oscuro, quem era


aquela ao telefone?

— Você estava tentando matar seu pai um momento


atrás. — Eu pisei na direção dele. — E agora vocês são um
par de detetives? Não poderia ter encontrado esta
camaradagem antes de destruir minha casa?

Alessandro olhou para mim, humor brilhante visível em


seus olhos, mas desaparecendo por trás de sua raiva. —
Pensei que tínhamos combinado não mais segredo, Srta.
Sophia.

Mordi minha língua, aproximando-me dele. Oscuro e


Beppe tentaram nos dar uma tentativa de privacidade,
virando a cabeça para longe. Enquanto meu sogro nos via
como seu programa favorito na televisão.

— Aisling me pediu para ficar quieta, — murmurei


suavemente para ele. — Não era um segredo que eu mantive.
Foi a pedido de Aisling.

Seus olhos escanearam meu rosto. — E o médico e o


irmãozinho?
Eu suspirei. — Isso é um pouco mais difícil de explicar.
— Eu olhei para Toto. — Ele merece saber primeiro.

Alessandro apertou sua mandíbula, seus músculos se


contraindo. — Ele matou minha mãe. Por que você tem tanta
certeza de que ele merece saber sobre o bebê de Aisling?

— Acho que foi a União Corse. — Contei-lhe todos os


fatos que tínhamos à nossa disposição, tudo o que eu tinha
ouvido de Don Piero, Dita e Eloise. — Além disso, o fato de
seu corpo ter sido encontrado em terras de Pelletier. Isso não
lhe parece estranho? Por que seu pai a largaria lá?

Ele olhou para seu pai e disse em voz alta: — Se você


não a matou. Por que insinuar que você a matou?

Toto encolheu os ombros. — Eu achei que seria


engraçado.

— Filho da puta, você achou... — Alessandro começou a


ir para frente, mas eu agarrei o braço dele.

— Você conseguirá ver seu rosto quando Aisling lhe


contar as novidades, — eu o lembrei. — Que isso seja
vingança suficiente por ele ser um lunático.

Meu marido relaxou, sorrindo ferozmente. — Você está


certa. — Ele se endireitou, parecendo se recompor mais uma
vez. — Onde ela está agora?
— Presumo que ela esteja no médico, como disse Nora.
Mas vamos esperar ela ligar. — Apertei-lhe o braço, devagar.
— Vamos lá. Eu vou limpá-lo.

— E quanto ao meu pai?

— Ele pode arranjar sua própria esposa.

Alessandro bufou, deixando-me afastá-lo dos homens,


da violência e da dor que todos os homens Rocchetti
mantinham dentro de si até que fosse hora de explodir.

Rapidamente ficou claro que minha experiência médica


não seria suficiente.

Dr Li Fonti, o médico concierge da Outfit, foi chamado à


casa para olhar tanto Alessandro quanto Salvatore Sr. Ambos
tinham sido muito duro um com o outro, deixando Toto com
duas costelas quebradas e meu marido com um joelho
gravemente machucado e nariz quebrado.

Nenhum dos dois queria se sentar e ser tratado, então


tive que pairar sobre eles como se eu fosse sua mãe,
estalando sempre que eles reclamavam dos seus curativos.

Como ambos tinham colocado o pé no chão ao


mencionar o hospital, o Dr. Li Fonti tinha sido forçado a
carregar os dois com opioides e dizer-lhes para irem com
calma durante as próximas semanas. Pela maneira como o
médico havia suspirado, ele sabia que iria receber outra
ligação antes mesmo que a semana acabasse, dizendo que
um deles havia se machucado novamente.

Eu lhe agradeci quando ele saiu, acenando para ele na


rua. O carro de Aisling passou pelo dele, e ela encostou na
minha entrada, cabelos vermelhos combinando com sua
expressão furiosa.

— Eu confiei em você! — Ela bateu a porta do carro.

— Ouça o que aconteceu antes de fazer suposições. —


Disse eu do pátio.

Como Aisling tinha algum senso comum, ao contrário


dos dois homens espancados sentados na minha sala, ela fez
uma pausa e me examinou para obter respostas.

— Alessandro e Toto estavam tentando matar um ao


outro. Eu consegui acalmar Alessandro, mas Toto não estava
se acalmando. Então, eu disse à Oscuro para ligar para
você..., mas Nora atendeu.

As feições de Aisling amoleceram um pouco. — Isso não


é tão ruim quanto eu pensava.

— E ela disse a todos que você estava no médico e com o


seu irmãozinho.
A raiva tomou conta de suas feições mais uma vez. —
Merda, Sophia! Isto é uma má notícia.

Levantei minhas sobrancelhas ao tom dela, mas não


disse nada. Eu realmente me senti culpada por deixar o seu
segredo mais bem guardado torna-se de conhecimento
público.

Ela esfregou o rosto, parecendo mais estressada do que


eu jamais a havia visto. — Maldição! Onde ele está?

— No sofá.

Aisling se adiantou, caminhando através da neve até


minha casa.

Eu a acompanhava, principalmente porque queria ver o


que acontecia entre ela e Toto. Ao mesmo tempo preocupada
e curiosa, preocupada, porque quem saberia como Toto iria
reagir, e curiosa, porque quem saberia como Toto iria reagir.

Toto olhou para cima quando ela entrou. — Você tem


algo que queira me dizer? — Perguntou ele.

— Eu não sei. — Ela cruzou os braços, olhando de


relance para Alessandro sentado na outra ponta do sofá.

Meu marido e eu não íamos a lugar algum, então fiz


sinal para que ela continuasse.

— O que você fez a si mesmo? — Aisling perguntou,


notando o curativo de Salvatore Sr. ao redor de suas costelas.
— Estava sendo estúpido?
As narinas dele ergueram. — Não tente me distrair,
Aisling. — Eu nunca ouvi Toto assumir tal tom. Ele soava
quase... normal. Zangado e chateado, mas normal. — Você
está grávida, não está?

Ela travou a mandíbula, mas respondeu: — Estou.

— De quanto tempo?

— Pouco menos de 20 semanas.

Eu fiz as contas na minha mente. Isso significava que


ela havia engravidado em setembro, apenas um mês depois
de se tornar sua amante.

Toto esfregou sua boca, exatamente como Alessandro fez


e acenou com a cabeça de forma afiada. Ele se levantou,
segurando seu lado. — O que quer que você e o bebê
precisem, me diga.

Aisling parecia suspeita e com razão.

Ele continuou: — Assim como a, uh, a maior.

— A maior? — Eu disse antes que pudesse me deter.

Meu sogro realmente parecia um pouco envergonhado.


Ou talvez eu estivesse imaginando isso. Meu cérebro me
enganando era mais certo do que Toto, o Terrível, mostrando
uma emoção como vergonha.

— Sua menina, sua filha. Eu pagarei por tudo. Você e


seus filhos não passarão necessidades. — Disse ele.
Olhei para Alessandro. Os olhos de meu marido estavam
arregalados e os lábios separados. Obviamente, ele não
esperava que seu pai fosse oferecer financiar a vida de
Aisling.

— Pode voltar para a Irlanda, se quiser, — acrescentou


Toto, quando ninguém falou. — Eu sei que você quer voltar
para casa. Não se preocupe com o custo.

Aisling piscou algumas vezes. — Vou ficar nos Estados


Unidos. A escola de minha filha é aqui. — Ela procurou sua
expressão por algo, mas, pelo olhar desapontado, ela não
achou o que queria. — Vejo você em nosso horário normal.

— Não, — disse Toto. — Nosso acordo está terminado.

Dor, dor real, surgiu no rosto de Aisling, mas ela ergueu


os ombros, manteve seus olhos secos. — Muito bem, — disse
ela com força. — Se é isso que você quer.

— Isso não terá nenhuma influência na relação da


Outfit com os McDermotts.

Porque é por isso que ela está tão chateada, eu queria


estalar. Até mesmo Alessandro olhou para seu pai como se
ele fosse um idiota.

Aisling curvou sua cabeça. Para mim, ela disse: —


Obrigada, Sophia. Agora vou andando.

— Eu te acompanho até a saída.


Enquanto ela saía, ela virou levemente a cabeça: — É
um menino, a propósito, Salvatore.

Toto não respondeu.

Lá fora, na neve que caía, eu abracei-a com força.


Aisling me abraçou com a mesma força, cabeça enterrada no
meu pescoço.

Nenhuma de nós falou por um momento, até que ela


murmurou: — Obrigada por sempre ser gentil comigo,
Sophia. Todas aquelas mulheres que conheci ao longo dos
anos, esposas e amantes, irmãs e filhas, você foi a única que
me convidou para um chá de bebê.

— Se você precisar ou quiser alguma coisa, é só me


avisar.

Aisling se afastou, expressão triste. — Receio que a


única coisa que quero seja inalcançável.

Eu assisti enquanto ela se afastava, deixando os flocos


de neve me congelarem lentamente até os ossos.

Quando voltei para a sala de estar, nenhum dos homens


Rocchetti estava falando um com o outro. Na verdade, os dois
estavam fazendo questão de ignorar o outro.
Fui até Alessandro, descansando minhas mãos sobre
seus ombros e inclinando-me até a sua orelha, — Aconteceu
alguma coisa enquanto estive fora?

— Meu pai é um idiota. Eu simplesmente lhe disse isso.

Apertei um beijo na bochecha dele. — Eu concordo.

Alessandro me beijou de volta, lábios com sabor de


sangue. — Desculpe a bagunça que fizemos, — disse ele. —
Eu lhe comprarei onze cabideiros para compensá-la.

— Só estou disposta a perdoar por doze cabideiros.

— Um preço íngreme, mas muito bem.

Eu sorri contra os lábios dele.

Um movimento repentino de Toto do outro lado da sala


fez meu marido ficar tenso e se virar para ele. Ele segurou um
braço na minha frente, como se Toto fosse atravessar a sala
para chegar até mim. Eu esfreguei seus ombros.

Observei meu sogro subir até a altura máxima,


tremendo levemente, pressionando à mão nas suas costelas.

— Estou preparado para apoiá-lo como Don, meu


menino.

As palavras ricochetearam pela sala, fazendo com que


tanto Alessandro quanto eu fizéssemos uma pausa. Ele
estava falando sério? Ou estava tentando nos levar para uma
sensação de segurança?
Alessandro pegou minha mão que estava em seu ombro,
segurando-a. — É mesmo?

Toto virou-se para nós, os olhos foram diretamente para


nossas mãos interligadas. Ele não escarneceu ou zombou de
Alessandro, apenas acenou com a cabeça como se agora
pudesse ver algo que antes não conseguia. — Com uma
condição.

Aqui estava. A condição. Eu só podia imaginar o que


Toto, o Terrível, havia formado em seu cérebro distorcido, o
que ele considerava suficiente e importante para abrir mão do
poder.

Alessandro apertou minha mão, pronto para barganhar


com seu pai por nosso futuro. O futuro de nosso filho. E o
futuro do filho dele.

— Sim?

Toto lançou seus olhos para o teto. — Os filhos de


Aisling serão reconhecidos publicamente e legalmente como
Rocchettis.

O quê?

Ele nos olhou de volta. — Essa é a única forma de


apoiá-lo, Alessandro. Se o menino e a menina forem
reconhecidos como Rocchettis. Não como Beppe, mas como
você ou eu.
— Legítimos, — Murmurei, as estranhas palavras de
Toto. À sua própria maneira, talvez Toto se importe com
Aisling. — Eles fariam parte do testamento, capazes de
herdar bens.

Toto acenou com a cabeça.

Alessandro não concordou de imediato. — A garota não


tem sangue Rocchetti. O menino eu reconhecerei, mas a
menina não é uma de nós.

— Essas são as minhas condições, Alessandro, — disse


Toto, estendendo seus braços. — É pegar ou largar. Não vou
negociar.

Meu marido olhou para mim.

Eu disse calmamente: — O apoio de seu pai será


inestimável para ganhar favores com a Outfit, meu amor.
Tudo o que você tem que fazer é aceitar mais alguns
membros na família. É um preço pequeno.

Alessandro acenou com a cabeça e disse a seu pai: —


Muito bem. Ambos os filhos de Aisling serão reconhecidos
como Rocchettis legítimos. Eles farão parte desta família,
tanto legalmente como publicamente.

Toto curvou sua cabeça, com a mão no coração, — Meu


Don, minha Donna.

O título repentino me empolgou, mas não o suficiente


para me distrair de perguntar: — Por que, Salvatore?
— Por que o quê, Sophia? — Ele repetiu como se fosse
estúpido.

— Por que nos pediu isso? Nós lhe teríamos dado tudo e
qualquer coisa se isso fosse o seu desejo.

Alessandro me deu um olhar que dizia: Não lhe dê ideia.

Meu sogro encolheu os ombros. — Eu já tenho tudo.


Posso conseguir qualquer coisa. Exceto esta única coisa. É
por isso.

As palavras de Aisling atravessaram meu cérebro. Receio


que a única coisa que quero seja inalcançável.

A tristeza se abateu sobre mim, mas eu aceitei sua


resposta.

Dois já foram, falta apenas um.

Mais tarde naquela noite, sentei-me na beirada da


banheira, conversando suavemente ao telefone com Elena.
Alessandro e Dante estavam ambos dormindo no outro
cômodo então mantive minha voz baixa. Enrolado nos meus
pés estava Polpetto. Ele tinha me seguido até o banheiro, mas
ficou entediado rapidamente e adormeceu.
— Não é tão ruim assim, estar casada, — dizia Elena. —
Ele basicamente faz suas próprias coisas. Exceto o sexo.

Eu segurei o meu roupão. — Como é o sexo?

— Quero dizer, é normal. Dói, mas não dura muito


tempo. Normalmente estou pensando em outras coisas. —
Ela disse.

Eu senti meus próprios lábios se erguerem em resposta.


— Sim? Como por exemplo?

— O que eu quero para o café da manhã, livros que eu


quero ler. Coisas normais. — Foi a resposta dela.

— Até mesmo seus pensamentos sexuais são chatos, —


eu provoquei, e ela riu do outro lado do telefone. — Como é
estar longe de Chicago?

Mesmo se Thaddeo fosse um pesadelo, Elena ainda


preferiria Nova York em vez de Chicago. Pelo silêncio do outro
lado do telefone, era óbvio que ela estava tentando pensar
uma maneira agradável de me dizer que preferia mais lá que
aqui.

— Você está feliz? — Perguntei quando ela não


respondeu.

Elena fez um grunhido suave. — Estou, Sophia. Confie


em mim, estou bem. Não é tão ruim ou tão bom quanto eu
pensava que seria. É... medíocre.
— Tenho certeza que Thaddeo ficaria muito contente
com o elogio.

— Ele realmente não presta muita atenção em mim, —


disse ela, soando feliz com isso. — Oh! Sophia, você deveria
ver a biblioteca.

— Eu só entrei em uma biblioteca uma única vez, Elena.


Quando eu tinha uns quatorze anos e...

— Adam Myles estava te perseguindo com aquele pão


mofado! —Elena riu enquanto me cortava, lembrando-se da
história tão bem quanto eu.

— Não acredito que você está rindo, — eu disse,


sorrindo. — Aquele pequeno merdinha me perseguiu durante
a escola.

Ela não parou de rir, ao invés disso, ficou mais intensa


à medida que ela se lembrava da história.

Balancei minha cabeça, mas não consegui parar minha


felicidade ao ouvi-la rir. Eu estava tão preocupada com ela
em Nova York, sozinha. Mas Elena estava bem, na verdade,
ela soava melhor do que eu.

Quando ela se acalmou, ela perguntou: — Como está


Beatrice?

— Bem. Ela deve ter o bebê dentro de um mês, então ela


não tem saído de casa muitas vezes, — disse eu. — Aposto
que é uma menina. O que você acha?
— Eu vou de menino, pelo pobre Pietro. Imagine viver
com duas Beatrices? Ele iria morrer de fome.

Eu ri. — Não seja tão malvada. Cozinhar é difícil.

— É mesmo? Estou triste por ter perdido o chá de bebê.


Costumávamos falar disso no quarto de casa, você se lembra?

Eu me lembrava. Quando éramos mais jovens e ainda


achávamos que tudo o que os adultos nos diziam era a lei.
Minha vida tinha sido colocada à minha frente: formar-me,
casar-me, ter um bebê, ter outro bebê, morrer. Eu ainda
estava seguindo esse plano, mas com meus próprios
pequenos ajustes.

Eu me perguntava o que a adolescente Sophia pensaria


de mim. Ela ficaria confusa sobre onde sua irmã estava, foi o
primeiro pensamento que me atingiu e era a verdade. A
adolescente Sophia não fazia nada sem sua irmã mais velha.

Eu fechei meus olhos.

— Você ainda está aí, Sophia? — Perguntou Elena.

— Estou aqui. Apenas perdida em memórias.

— A nostalgia pode ser perigosa, — disse ela


razoavelmente. Quando assumia esse tom, qualquer coisa
podia sair de sua boca e soar verdadeiro. — Como você está
indo agora, com a maternidade e tudo mais?

— Está ficando um pouco mais fácil agora que Dante


está ficando um pouco mais velho. Ele não precisa se
alimentar tanto e tem um melhor horário de sono, mas ainda
é... Ainda é difícil.

Elena fez um som simpático. — Esperemos que Thaddeo


não queira crianças por mais alguns anos.

— Oh, eles não são assim tão maus, — eu disse. — Ele


até que é bonitinho.

— Isso é o sangue Padovino nele, — disse ela. — Espere


até que ele comece a crescer em toda a gloria Rocchetti.

— Gloria Rocchetti? Não me diga que você está


zombando agora, Elena, vou começar a assumir que você está
sendo drogada.

Ela bufou. Elena nunca apreciou quando sua


inteligência era posta em questão, mesmo em brincadeira. —
Só estou dizendo.

— Eu sei, eu sei. Só estou brincando. — Estiquei


minhas pernas, esticando os dedos dos pés no macio tapete
do banheiro. Polpetto olhou para o movimento, abanando a
cauda. — Estou feliz por você estar feliz, — eu lhe disse. —
Verdadeiramente.

— Eu sei. Você está feliz, também?

Eu sorri. — Estou.

— Como estão suas tentativas de conquistar Chicago? —


Elena perguntou, fazendo um esforço para falar sobre minha
vida, apesar de odiar a cidade que eu chamava de lar.
Eu ri suavemente. — O FBI está tornando isso difícil.

— Eles estão causando problemas?

— O oposto, na verdade. — Cocei a cabeça de Polpetto,


tomando-o em meus braços. Ele se enrolou no meu colo, de
barriga para cima. — Eles têm estado quietos como ratos.

— Suspeito.

— Isso é o que eu penso, — murmurei. — Talvez,


quando eu for rainha, você considere voltar.

— Haverá algum Agostino?

— Claro que sim.

Elena riu, mas não havia humor nisso. — Então eu


nunca mais voltarei. Viva.

— Tenho certeza que você vai sobreviver a todos nós, —


disse eu. — Você pode tomar conta de Dante e Polpetto.

— Espero que eles gostem de Nova York. — Respondeu


ela.

Eu bocejei, estalando minhas articulações.

— Vou deixar você ir. Obrigada por falar comigo.

— A qualquer momento, — eu disse. — As pessoas estão


conversando com você em Nova York, certo? Esta não é a
primeira conversa humana que você teve?
Eu não conseguia ver o rosto dela, então ficava difícil de
decifrar se a resposta que ela me deu era verdadeira. — Como
eu disse, — ela respondeu. — Eu sou deixada em paz.

Fizemos nossas despedidas e voltei para a cama.


Polpetto foi direto para a sua cama, se acomodando antes de
deitar dramaticamente e cair em um imediato sono profundo.

Eu rastejei sobre a cama, me aconchegando debaixo dos


cobertores.

Imediatamente, o braço de Alessandro me contornou.

— Como está sua amiguinha? — Sua voz estava grogue


de sono.

— Elena está bem. Segura, feliz. — Enterrei meu rosto


em seu pescoço, puxando seu cheiro. — Você estava certo
sobre Thaddeo. Ele não é tão ruim assim.

Alessandro fez um barulho de concordância antes de


sua respiração abrandar, roncos suaves vindos logo em
seguida.

Eu o beijei gentilmente antes de fechar os olhos e deixar


que a elevação e a queda de seu peito me ninasse para um
sono sem sonhos.
Capítulo Quinze

A Sociedade Histórica acolheu Salisbury de braços


abertos, nada além de entusiasmados por terem um de seus
amados membros de volta. Para celebrar, convidei-os para
visitar o sótão do Sneaky Sal, menos o sótão de Nicoletta e os
túneis onde estavam os calabouços.

Eu não podia imaginar como todos reagiriam vendo os


inimigos da Outfit trancados, saber que essa speakeasy
estava abrigando alguns dos piores criminosos do país. Como
o testamento de Don Piero ainda estava no ar, ninguém
desafiou minha reivindicação ao speakeasy ou não permitiu
que as pessoas o visitassem.

Um guia turístico nos guiou, detalhando a era da


Proibição e o que isso significava para a máfia.

Sorri para as histórias do guia turístico, sentindo


orgulhosa dos meus antepassados. Às vezes, infringir a lei era
lucrativo e eles descobriram isso rapidamente.

Eu estava me divertindo, conversando com todo mundo,


rindo ou me gabando de ser proprietária de Sneaky Sal's.
Enquanto isso, eu podia ver o antigo prefeito ficar cada vez
mais irritado. Ele não gostava que eu fosse o centro das
atenções. Por isso, quando Salisbury me desafiou, eu não
fiquei tão surpresa assim. Ele não era nada se não previsível.
— Você sabia disso? — Ele me perguntou em voz alta
em resposta a algo que o guia turístico havia dito. Seu sorriso
malicioso estava delineado em seu rosto. — Que o dono
original deste speakeasy fazia parte da máfia?

— Por que ela não saberia disso? — Perguntou Mary


Inada.

— Sophia é nosso membro mais novo, — respondeu


Salisbury, agindo como se de alguma forma ele tivesse me
pegado desprevenida. — Eu só estava me certificando.

Eu sorri. — Claro que sim. Isso é o que o guia turístico


acabou de dizer. Você sabia que o moonshine era feito de
tinta?

— Sim, — disse ele rigidamente. — Eu sabia.

— Só para ter certeza. — Mantive meu sorriso brilhante,


meus olhos claros, mas meu tom era aguçado. — Oh, vejam
só essa pintura linda!

Todos se viraram e zumbiram sobre a obra de arte que


eu havia apontado. Roubada, mas Don Piero tinha sido
arrogante o suficiente para colocar seus produtos ilegais em
exposição. Quem iria tirá-la dele?

Como Salisbury tinha feito uma jogada de poder, decidi


mostrar a ele o que tinha feito enquanto ele estava amuado
em seu quarto. Entrelacei meus braços com os de Inada e dei
toda a atenção para à festa de aniversário de Esperanza.
Sempre que o peguei prestes a abrir a boca, rapidamente
comecei uma conversa, deixando claro que eu poderia ser o
membro mais novo, mas eu era de longe a mais amada.

Eventualmente, Salisbury caiu para o fundo da alcateia,


mudo. Meu telefone tocou, o nome de Alessandro iluminou a
tela.

Eu me desculpei, desaparecendo em corredores


familiares por alguma privacidade.

— Está se divertindo? — Perguntou Alessandro.

Subi as escadas, rindo. — Muito. E você e Dante?

— Nós estamos bem. Acabei de colocá-lo para dormir.

Verifiquei o horário em meu telefone. — Tão cedo?

— Faltam vinte minutos para sua soneca, Sophia, —


lembrou-me Alessandro gentilmente. — Ele estava pronto
para ir dormir.

Eles estão bem, eu disse a mim mesma. Alessandro não


é estúpido. Desistir do meu controle sobre Dante para meu
marido tinha sido uma coisa inesperadamente difícil de fazer,
mas eu estava tentando dar a ele o benefício da dúvida.
Dante era tanto filho de Alessandro quanto meu.

— Se você está ficando entediada, pode voltar para casa,


— disse Alessandro. — Dante vai dormir por mais uma hora.
Poderíamos nos entreter.
Eu revirei meus olhos. Alessandro era insaciável. — É
isso mesmo? Você seria capaz de me entreter com seu joelho
ruim?

Ele amaldiçoou seu pai. — Eu poderia fazer com que


funcionasse.

Eu ri e entrei no sótão de Nicoletta. Cobertores cobriam


os móveis que sobraram e o pó começava a se formar.

— Você tem notícias do seu irmão? — Perguntei.

— Sempre conspirando... — Alessandro soou como se


estivesse tentando não rir. — Não, não tive, meu amor. Ele
provavelmente está derretendo em algum lugar.

— Estamos em dezembro.

— Ah, bem, então ele se perdeu na neve.

Salvatore Jr. tinha estado muito quieto, quieto demais.


Depois que Toto concordou em apoiar Alessandro e eu, uma
estranha sensação de antecipação começou a surgir na
Outfit. Todos sabiam que antes do fim do mês, eles teriam
seu Don, seu rei.

E depois de meses sem liderança, a Chicago Outfit


estava pronta para acolher uma nova era.

Alessandro ou Salvatore? Todos pareciam estar se


perguntando. O mais velho ou o mais novo?
Eu tinha me esforçado ao máximo para fazer eu e
Alessandro parecermos ser o candidato mais favorável.
Tínhamos um filho, um herdeiro; eu dirigia todos os eventos
sociais da família. Nenhum de nós vacilou, mostrou fraqueza.

Mas, se meu cunhado tiver uma vantagem sobre nós...


se ele conseguir matar meu marido...

Pressionei uma mão no peito e me encostei à parede


mais próxima.

— Meu amor, você está bem? — Perguntou Alessandro


do outro lado da linha. — Você ficou quieta.

— Estou preocupada com seu irmão.

Ele suspirou. — Eu também. — Ele nunca teria


admitido essas palavras a ninguém além de mim, e eu as
segurei com firmeza confortada por sua honestidade.

— Qual você acha que será o próximo passo dele?

— Não tenho ideia, — disse Alessandro. — Mas será


planejado, meticuloso. — Então ele acrescentou: — Oscuro
está com você?

— Ele está lá embaixo.

Meu marido fez um barulho desaprovador. — Deve estar


com ele o tempo todo, Sophia. Estamos em guerra.
— Eu vou buscá-lo agora. — Estava para sair do quarto
da Nicoletta, mas uma pegada na poeira me fez fazer uma
pausa.

Mais para dentro da sala estava um padrão de pegadas.


Elas iam da porta para a parte de trás do sótão, passando por
móveis abandonados.

Isso são apenas suas pegadas, eu disse a mim mesma,


antes de notar minhas próprias marcas de salto alto, que não
se pareciam nada com o conjunto desconhecido.

— Não estou ouvindo você indo buscar Oscuro. — Disse


Alessandro.

— Só um momento, — murmurei seguindo as pegadas.


— Você esteve no quarto da Nicoletta...

Eu gritei antes de terminar minha pergunta.

— Sophia!

O telefone caiu da minha mão, batendo no chão em um


baque.

Não, não, não.

Eu tropecei de volta, meu calcanhar pegando em um


lençol. Minhas mãos vieram à minha boca, cortando a
penetrante vontade de chorar que vinha de mim.

Não podia ser. Não havia como.


A poucos metros de distância, caída como uma boneca
de pano, cercada por uma piscina de sangue seco, estava
Adelasia di Traglia. Ela olhava para o teto, com os olhos
vazios e sem vida. Sua pele já havia começado a ficar cinza.

Tão jovem, tão inocente, e agora deitada sozinha e sem


vida no sótão da speakeasy.

De maneira alguma Don Piero a teria mantido aqui. Não


poderíamos tê-la perdido tão facilmente, nossos batedores
não poderiam ter sido tão inúteis, Salvatore Jr. não era
estúpido o suficiente.

E ainda assim, aqui estava ela.

Houve um estrondo forte atrás de mim e Oscuro veio


derrapando para dentro da sala. — Merda, Alessandro me
ligou, por que... — Ele viu Adelasia e ficou quieto, com a cara
frouxa de choque. — Isso não é bom.

Não, não é bom! Eu queria gritar, mas não podia fazer


barulho que não levasse a outro grito. Eu cobri minha boca,
tentando engolir o pânico e a náusea que se elevava.

Oscuro se abaixou e pegou meu telefone. Alessandro


ainda estava na linha, seu grito de raiva era audível. — Uh,
senhor... sim, ela está bem, mas você precisa vir aqui. Agora.
— Ele olhou para mim. — Por quê? Uh... é melhor não dizer
pelo telefone, senhor. Você precisa ver por si mesmo.
Foi assim que Alessandro nos encontrou.

Oscuro encostado na parede, pálido, enquanto eu estava


sentada em um sofá, com a cabeça nas mãos. Sem me mover,
Adelasia permaneceu onde estava, ainda muito, muito morta.

Eu não conseguia parar de pensar no di Traglias. Como


eu lhes diria que Adelasia tinha falecido? Como eu seria
capaz de diminuir essa dor, esse meu fracasso?

Como impediria que eles rompessem com a Outfit?

Você sabe, disse uma pequena voz sombria em minha


cabeça.

— Sophia! — Alessandro foi direto para mim, cortando


todos os pensamentos sobre o di Traglias. Suas mãos
vagueavam sobre minha cabeça e braços, procurando por
ferimentos inexistentes.

— Eu estou bem. — Murmurei.

Ele avistou Adelasia em seguida e xingou.

Quando Sergio e Nero entraram atrás dele, eles tiveram


reações semelhantes ao seu corpo sem vida. Palavrões e
maldições, impossibilitados de descobrir qual era o próximo
curso de ação.

— Foi seu irmão que fez isso? — Eu perguntei.


Alessandro não poderia me dizer que não. — Meu irmão
está em Evanston, de acordo com meu pai. E... Ele não é
exatamente conhecido por sujar as mãos.

As muitas tentativas contra minha vida provaram isso.


Nem uma vez ele havia sido quem puxou o gatilho. Cada vez
que ele relaxou a segurança, moveu alguns homens e deixou
que aqueles que tinham desejo de vingança contra mim
fizessem todo o trabalho sujo.

O ataque a Adelasia não era seu estilo, mas ele poderia


facilmente ter encorajado outra pessoa a fazer isso por ele.
Ele pode não ter causado suas feridas, mas o sangue estava
em suas mãos.

Para seus homens, Alessandro disse: — Chame Li Fonti.


Quero saber agora a causa da morte.

Sergio se afastou com telefone já no seu ouvido.

Nero se aproximou do corpo, o olhou com frieza. —


Parece um trauma na cabeça, chefe. É de lá que vem o
sangue.

Como o assassino da Outfit, Nero provavelmente tinha a


maior experiência com corpos. Ainda assim, sua natureza
blasé me deixou tensa.

Meu marido me deixou e se aproximou do corpo.


Incapaz de estar longe dele, eu me levantei e me juntei a eles,
tentando não vomitar à vista de seu crânio amassado.
Apesar de suas feridas, Adelasia parecia intocada. O
suéter e as calças que ela usava não estavam amarrotados
nem rasgados, apenas soltos e confortáveis. Tentei não a
imaginar relaxada ou confortável. Ela estava morta agora,
sonhar com qualquer outra coisa além disso só me causaria
dor.

Algo me chamou a atenção em seu braço. Eu me


agachei, ignorando o aroma do sangue e dei uma olhada no
pulso dela.

— Ela está usando uma pulseira de hospital. — Eu não


conseguia acreditar. Quem a havia levado para o hospital?
Alguém a tinha visto? Talvez houvesse câmeras de
segurança...

— Diz qual hospital?

Eu me inclinei mais, beliscando o nariz. — Diz.

Alessandro se agachou ao meu lado, inclinando-se para


perto. — Isso é logo ali.

Olhei para o estômago dela e gentilmente puxei seu


suéter. A pele estava macia e esponjosa, não dura e inchada.

Outra vontade de vomitar surgiu.

— O bebê... — Voltei-me para Alessandro, ele já estava


olhando para mim, com a mandíbula tensa. — Seria
prematuro, mas há uma chance muito boa...
Ele acenou com a cabeça uma vez, levantando-se. Ele
esticou a mão para baixo que eu peguei. Eu liguei meus
dedos nos dele segurando firme.

— Nero, não deixe que nada aconteça com o corpo.


Sérgio, Oscuro, os dois comigo e Sophia.

A estranha raiva de Alessandro havia se instalado


novamente sobre ele. Aquela fúria calma e silenciosa que ele
mantinha. Tanto Oscuro quanto Sérgio lhe deram espaço,
mantendo seus olhos treinados estritamente na estrada e
tentando não respirar muito alto.

Eu me sentei no banco de trás com meu marido,


tentando desvendar esta nova fúria dele.

— Por que você está me encarando, Sophia? —


Perguntou, com olhos escuros me perfurando.

Afastei alguns fios selvagens de seu cabelo. Ele se


inclinou para o meu toque. — Estou tentando entender este
seu novo temperamento. — Eu sussurrei.

As sobrancelhas de Alessandro subiram. — Novo


temperamento?
Será que ele não percebeu? — Você está mais calmo,
mais ou menos. Não está mais gritando e invadindo o lugar,
pronto para decretar violência. Mas... diferente de alguma
forma. É bastante aterrorizante.

— Você não parece muito assustada.

— Você precisa de mim, — eu lhe disse. — O que você


jantaria se eu não estivesse aqui, hmm?

O humor fez seu rosto brilhar. Estava ali e se foi em um


instante.

Eu me inclinei para mais perto dele, criando nossa


própria bolha no banco de trás. — Por que você não fica mais
tão zangado?

— Eu ainda estou zangado. — Alessandro pegou um fio


do meu cabelo, enrolando-o em seu dedo. — Simplesmente
não sou tão volátil mais.

— Por que não?

Ele encolheu os ombros. — Eu não tenho uma boa


resposta para você. Eu só a vejo na minha mente, calma e
paciente, e pareço relaxar.

— Então, a culpa é minha? Seus homens ficarão


contentes em saber.

Alessandro sorriu e se inclinou para um beijo, seus


lábios quentes e macios.
Chegamos rapidamente ao hospital, principalmente
graças à falta de consideração de Oscuro pelas leis
rodoviárias. Felizmente, não era o mesmo lugar onde eu havia
dado à luz a Dante. As lembranças traumáticas em torno
daquele dia eram melhores se deixadas no passado.

A enfermeira na recepção quase desmaiou quando ela


nos percebeu. Foi o choque que a impediu de fugir,
permitindo-me dizer: — Olá, estamos aqui para visitar nossa
irmã. O nome dela é Adelasia di Traglia? Desculpe, não temos
o número de um quarto. — Eu ri como se fôssemos idiotas.

A enfermeira não se mexeu, os olhos ainda enormes.

— Adelasia di Traglia? — Eu repeti.

Lentamente, ela se agachou e digitou no computador. —


Temos apenas uma di Traglia. Ela saiu ontem. — Seu olhar
temeroso encarou os três homens atrás de mim.

Eu acenei com uma mão, chamando sua atenção. — Oh,


não ligue para eles. Ontem, você disse? Devemos ter acabado
de perdê-la.

— Você está aqui para pegar o bebê? — Perguntou a


enfermeira de repente, franzindo o cenho na tela novamente.

Eu acenei com a cabeça. — Nós estamos, nós estamos.


O hospital nos disse para vir.

Ela não pareceu notar a mudança da história. Apenas


acenou com a cabeça, de pé, e acenou com a mão trêmula: —
A enfermeira Farrah lida com todas as coisas de bebê. Ela
estará no berçário.

Seguimos a enfermeira pelos corredores esterilizados,


chegando eventualmente ao berçário. Os pais murmuravam
para os seus recém-nascidos enrugados, enquanto as
enfermeiras se apressavam em volta.

— Não posso acreditar que Dante era tão pequeno


assim. — Eu disse quando vi alguns dos recém-nascidos.

— Ele gosta de comer. — Disse Alessandro de forma


protetora.

Revirei os olhos, ainda espantada com o quanto meu


bebê tinha crescido.

A enfermeira Farrah ficou confusa ao nos ver. Ela era


uma mulher baixa, vestida com bata azul, com pequenos
padrões de patos sobre eles.

— O bebê di Traglia já foi levado sob custódia, — disse


ela. — Quem você disse que era você? Alguém neste hospital?

Tentei não revelar o coquetel venenoso de emoções que


girava dentro de mim. — Você sabe quem pegou o bebê?

— Receio que isso seja confidencial.

Alessandro deu um passo à frente, não mais se


incomodando com conversa fiada e gentilezas. A enfermeira
Farrah ficou paralisada ao vê-lo, reconhecendo-o
imediatamente. — Quem levou a criança? Diga-nos agora.
A enfermeira Farrah agarrou sua prancheta e correu
através das páginas. — Uh... ontem... aqui está! Homem, di
Traglia, foi levado sob a custódia de um... Tristan Dupont.

Eu pisquei os olhos. — Desculpe o quê?

— Um Tristan Dupont? — Ela olhou entre Alessandro e


eu, recuando na visão de nossas expressões. — Você o
conhece? Olhos azuis, cabelos loiros?

— Oh, — eu disse. — Nós o conhecemos.

O FBI tinha finalmente feito seu movimento, após


semanas de silêncio, e era um movimento estratégico. Eles
tinham levado algo que pertencia a Outfit, algo que pertencia
aos Rocchettis. Não tinha como culpar o hospital, eu estava
certa de que o Agente Especial Dupont tinha sido capaz de
convencê-los facilmente de que era o guardião legal da
criança.

A raiva que corria através de mim era indescritível.

Mesmo depois de tudo que tinham feito, desde ajudar os


Gallaghers a atacar meu casamento até bombardear a
recepção do casamento de Narcisa e Sergio, a Outfit não
tinha retaliado. A violência contra uma agência
governamental era muito mais minuciosa do que atacar
alguns companheiros gângsteres.

Mas esta... esta era a gota d'água.


Alessandro ficou em silêncio quando saímos do hospital,
o único sinal de sua fúria ardente era seus punhos
apertados.

— Vou matá-los, — ele me disse suavemente, com um


tom doce o suficiente para ser uma confissão de amor. — Eu
vou matar todos eles.

Pressionei meus lábios na sua bochecha. — Não. Vamos


fazer coisas piores com eles.

Os olhos dele encontraram os meus. — Nós tínhamos


um acordo, meu amor. Eu trato dos gângsteres e vocês dos
políticos.

— Esta agência não está repleta de políticos e colarinhos


brancos? — Perguntei. — Esta é a minha área de
especialização, Alessandro.

Não poderia tê-lo amado mais do que naquele momento,


quando ele me perguntou: — O que você tem em mente?

Atrás de nós, tanto Sergio como Oscuro tinham ficado


mais tensos, incapazes de esconder sua própria fúria
crescente. Eles faziam parte desta organização tanto quanto
Alessandro e eu e tinham levado este insulto tão
pessoalmente quanto nós.

Eu senti meu plano crescer em meu cérebro, formando e


se alinhando. Anos e anos jogando de acordo com as regras,
fingindo e interpretando esse papel, tudo parecia levar até
este momento. Parecia me preparar para esta mesma
circunstância.

Eu precisaria de meu marido. Seus homens. Talvez até


mesmo do meu sogro.

E uma tesoura.

Eu sorri e apertei uma mão na bochecha do meu


marido. — Como você se sente em sair em outras férias?
Capítulo Dezesseis

O vento de Washington D.C. picou a parte de trás do


meu pescoço, tão frio que parecia como se fosse um gelado
individual cavando na minha pele. Eu puxei meu gorro ainda
mais para baixo, tentando minimizar meu desconforto.

A noite havia caído sobre a capital, fazendo com que as


luzes de natal iluminassem as árvores e a neve com vermelho
e verde. Sentei-me embaixo de uma das árvores sem folhas,
envolta em meu casaco de inverno, olhos treinados na
entrada da sede do Federal Bureau of Investigation, FBI.

Faltavam dois dias para o Dia de Ação de Graças, de


modo que a sede estava com menos gente como de costume.
Eles estavam trabalhando com um número mínimo de
empregados, esperando que os criminosos tirassem férias
também.

— Você está bem, Sophia? — Alessandro disse ao meu


ouvido, sua voz um pouco afiada.

Eu me virei ligeiramente para a esquerda, vendo Nero


nas sombras. Meu marido e seu executor estavam a duas
ruas de distância em um carro, prontos para vir e me pegar
em um piscar de olhos, mas era Nero quem seria meu
primeiro escudo de proteção. O rosto de Alessandro era
reconhecível demais para permitir que ele se juntasse a mim.
Eu pressionei o fone de ouvido. — Bem. — Meu hálito
saiu nublado na minha frente. — Não falta muito.

— Se cuide. — Advertiu ele. Mesmo a um quarteirão de


distância, ele ainda conseguia me fazer sentir quente e tonta
como uma adolescente.

Olhei para trás, para a entrada. As portas se abriram e


duas figuras saíram para a neve.

Abaixei minha cabeça, mas mantive meus olhos


treinados neles. Embrulhados em seus casacos, eles eram
mais difíceis de reconhecer, mas eu conhecia aquele andar
como a palma da minha mão.

Catherine.

Minha irmã caminhava ao lado de outro agente, ouvindo


o que ele falava.

Eu olhei para o que eu estava vestindo, quase rindo


para mim mesma. Eu havia escolhido roupas que eu sabia
que Catherine usaria, azul escuro e preto. Eu tinha acertado
em cheio desde a cabeça até a ponta do pé.

Catherine sempre tinha escolhido o conforto ao invés da


beleza, especialmente nos meses mais frios. Ela tinha pouca
paciência para sentir frio, sempre reclamando assim que
sentia um pouco de frio.

Era bom saber que algumas coisas nunca mudaram.


Minha irmã e o outro agente desapareceram no
estacionamento. Não pouco depois, um carro rugiu para a
vida, os faróis brilhavam assustadoramente durante a noite.

— Sua irmã se foi, — disse-me Alessandro alguns


segundos depois. — É a sua vez.

Levantei-me do meu assento, esticando minhas pernas


congeladas, e me dirigi para a entrada.

Você pode fazer isso, eu disse a mim mesma. Pense


como Catherine, pense como sua irmã.

Uma lembrança veio na minha mente de nós duas.


Éramos jovens adolescentes frescas e intocadas pela
escuridão da vida. Era uma noite quente, por isso ficamos
deitadas no gramado, ambas querendo ver insetos brilhantes,
mas não dispostas a ir à procura deles.

Ali está o arqueiro, Catherine tinha dito apontando para


o céu noturno.

Onde? Eu me lembrei de perguntar.

Ela havia agarrado minha mão e apontado para a


coleção de estrelas. Você pode vê-lo agora?

Eu podia. Não, eu menti.

Ela se virou para mim, expressão desaprovadora. Sim,


você pode Soph. Não minta para mim. Eu não sou papai.
Não consigo ver, eu disse novamente, meu riso
borbulhando na garganta.

Ela tinha revirado os olhos. Você é uma mentirosa.

Assim como você, eu devolvi. Eu sei que você escapuliu


ontem à noite.

Seus olhos brilharam no escuro. Então, você estava


acordada! Eu sabia! Ela riu não mais zangada comigo. Da
próxima vez, você pode vir.

O papai vai ficar com raiva.

Somente se ele descobrir. Catherine virou sua cabeça


para mim, olhando bem fundo nos meus olhos. Lembrei-me
da ferocidade de sua expressão, como um leão enquanto sua
mandíbula se envolve ao redor do pescoço da gazela. Você vai
me denunciar, Soph?

Claro que não, Cat. Você é minha irmã.

Ela tinha sorrido. Eu nunca mais te deixarei, ela tinha


dito talvez a primeira mentira que ela já tinha me contado.

Não me importo de ser deixada para trás, desde que você


me diga para onde está indo.

A expressão de Catherine suavizou. Eu não me importo


quando você mente desde que não minta para mim.

Prometo não mentir para você.

Prometo não te deixar.


Nenhuma de nós havia cumprido nossas promessas.

Era essa lembrança que guardei em meu peito enquanto


caminhava em direção à entrada. Aquelas promessas vazias
que tínhamos feito uma a outra naquela noite de verão não
tinham sido feitas com a intenção de quebrá-las, mas
sabíamos que havia uma boa chance de que iriamos.
Catherine queria partir, e eu queria mentir.

Que par nós fizemos.

Ergui o queixo alto, estreitando meus olhos. As pontas


do meu cabelo faziam cócegas no meu pescoço.

Dentro de mim, eu invocava tudo o que sabia sobre


minha irmã. Suas ambições, seus medos e seus sonhos.
Como ela gostava de seu café, como ela lidava com a
decepção.

Prometo não te deixar.

Pressionei minha mão na porta e entrei na sede.

O interior estava quente, mas vazio. Um enorme espaço


aberto com janelas modernas e mais medidas de segurança
do que o necessário. A única outra pessoa era um segurança,
inclinado em sua cadeira, observando todos os que entravam
e saíam.

Seja Catherine, eu disse a mim mesma. Seja sua irmã


mais velha.
Peguei o cartão de identificação que tínhamos feito, uma
réplica exata de como seria o de Catherine.

Acelerei meu ritmo, segurando o cartão, — Esqueci uma


coisa!

O segurança olhou para cima.

Será que eu vou conseguir? Eu consegui passar pelo


segurança, tão perto das escadas. — Padovino! — Gritou ele.

Eu parei. Ah, merda. Ah, merda. Eu me virei e resisti ao


impulso de sorrir. Catherine não sorria, eu disse a mim
mesma. — Sim?

— Você vai ao negócio da Julie na sexta-feira?

Balancei-me nos meus calcanhares, enfiando minhas


mãos nos bolsos. O que Catherine diria? — A coisa da Julie?
Provavelmente não.

— Sim, eu também não. — O segurança recuou em sua


cadeira. — O que você esqueceu?

O que eu esqueci? — Meu telefone. Uh, tenha uma boa


noite!

Fui antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa.

O edifício do FBI era na verdade muito elegante. Em


minha mente, eu havia formado uma imagem de algumas
escrivaninhas em um armazém e uma placa que dizia
"NARCS9 TRABALHAM AQUI", mas a realidade era muito
bonita. Moderno, limpo, caro. Ficou claro para onde os
dólares dos contribuintes estavam indo.

Não havia muitas luzes acesas. Passei por algumas


escrivaninhas acesas, mas as pessoas que trabalhavam nelas
não me pouparam um olhar.

Nero, aparentemente, já havia matado alguém neste


prédio, então ele já tinha um mapa do local. Estranhamente
paciente comigo, ele havia explicado onde estaria localizada a
força de trabalho do crime organizado. Terceiro andar, na
parte dos fundos, ele havia dito. Se você se perder, ache o
banheiro mais próximo. Eles terão um mapa de saída de
emergência, e o use para se localizar.

Para chegar ao terceiro andar, eu teria que entrar no


elevador.

Esta era a parte pela qual eu estava mais nervosa. Se


alguém estivesse lá dentro comigo, a luz brilhante poderia me
trair que eu de fato não era a Catherine Padovino. Eu estava
com meu cabelo cortado e meu lenço para tentar enganar o
máximo possível, mas nós não éramos gêmeas.

Ninguém ao meu redor enquanto eu entrava no


elevador.

Certo, eu disse a mim mesma. Terceiro andar, terceiro


andar.

9 Funcionários da Narcóticos
— Espere! — Um jovem veio derrapando para dentro do
elevador, sua aparência pateta. — Desculpe, desculpe.

Eu me pressionei contra a parede. Quais eram as


chances de ele me reconhecer?

A arma pressionando minhas costas começou a parecer


mais quente. — Terceiro andar? — Ele perguntou, olhando
para o botão aceso que eu tinha pressionado. — Você faz
parte da divisão de Dupont, então?

Pressionei uma mão nas minhas costas, sentindo o


contorno da arma. Seria mais suspeito não dizer nada. — Uh,
sim.

Ele se virou para mim, com o rosto brilhante. — Isso é


tão legal. Eu faria qualquer coisa para trabalhar com Dupont.
Você sabia que uma vez ele atirou em um gângster à queima-
roupa?

— Oh? — Será que agora ele o fez?

— Como ele é? — Perguntou o jovem. — Aposto que ele é


super legal, bebe seu café preto e coisas assim. Coisas legais,
você sabe.

Não pude deixar de sorrir. — Eu não sou muito legal


então. Eu gosto de creme e açúcar no meu café.

— Eu também, — ele riu. O elevador apitou. — Você


poderia me fazer um favor? Indique-me a Dupont. Leo
Morales do TI.
— Claro. Falo com ele. — Sai do elevador, seguida dos
agradecimentos de Leo.

Disfarce ainda não arruinado, eu me dirigi para a parte


de trás do terceiro andar. Este andar não era muito composto
de corredores, mais escritórios com paredes de vidro e
compartimentos com escrivaninhas. Eu vi algumas pessoas,
mas todas elas estavam distraídas em suas tarefas e não me
deram atenção.

Estava preocupada de não reconhecer a área do crime


organizado, mas era muito difícil não achar. Se você olhasse
apenas a coleção de escrivaninhas, emparelhadas com um
quadro branco e um sistema de computador complexo,
pensaria que era um escritório normal.

Mas então você notava as paredes, mesmo parte do


telhado! Havia milhares de fotos coladas na parede, de mapas
a imagens e documentos. Eles até cobriram a janela traseira,
bloqueando completamente a cidade.

Eu não podia tirar meus olhos das imagens. Vi uma


fotografia de Vitale Lombardi saindo de um carro, o
certificado de nascimento de Evelyn O Fiaich neé McDermott,
cópias dos documentos do Cartel Benéitez Anti-Mafia. Havia
até mesmo uma fotografia de Konstantin Tarkhanov, no que
parecia ser uma corrida de cavalos.

Depois encontrei a parede da Chicago Outfit.


Toda minha vida pública estava diante de mim, sem
meu conhecimento. Do meu primeiro Dia dos Namorados
com Alessandro, nós sentados juntos em uma mesa em
Nicoletta, até minha festa de aniversário no Circuito de
Chicago. Até minhas caminhadas com Polpetto foram
catalogadas.

Sentada nos bancos da igreja com Don Piero, rindo com


Mary Inada em uma reunião da Sociedade Histórica,
visitando o túmulo da minha irmã.

Até meu precioso bebê havia sido fotografado. O batismo


de Dante, caminhando pelo parque. Havia até uma foto
desfocada de nós saindo do hospital, eu enfiada sob o braço
de Alessandro enquanto ele nos levava para um lugar seguro.

Cobri minha garganta, engolindo um grito.

Eu já sabia que eles estavam observando. E mesmo


assim... Até este ponto? Tantas vezes, eu havia caminhado
pela cidade de Chicago e todas elas foram gravadas e
penduradas na parede do FBI.

Catherine gostava de manter um registro das coisas,


não é verdade? Os USBs deixados dentro da Dolly tinha sido
prova suficiente disso.

Eu me afastei da parede e olhei para as mesas. Não foi


difícil descobrir qual delas era a dela. Era a mais limpa, com
uma coleção de títulos de livros familiares encostados ao
computador. Suas canetas foram ordenadas, sem poeira.
Nada como minha mesa em casa, o que era um pesadelo
para classificar. Alessandro se encolhia toda vez que a via.

Aproximei-me da mesa da minha irmã, uma imagem me


chamou a atenção. Emoldurada, mas meio escondido atrás
do computador, estava uma fotografia de Catherine e eu.
Ambas estávamos de cócoras, lama cobrindo nossos joelhos,
mal tínhamos mais de quatorze anos.

Eu não estava nem olhando para a câmera, em vez


disso, minhas palmas das mãos estavam em xícaras na
minha frente, um bicho incandescente quase preso entre
elas. A luz verde do bicho iluminava meu rosto.

Catherine estava olhando para a câmera, os olhos


brilhantes. Ela não estava sorrindo, mas estava feliz.

Eu nem me lembrava disso, pensei, mordida por uma


tristeza repentina.

Eu peguei a moldura, virando-a. No verso, ela tinha


escrito, prometo nunca mentir para você; prometo nunca te
deixar.

Coloquei-a de volta onde a tinha encontrado.

— Está tudo bem, Sophia? — Perguntou a voz de


Alessandro. Tínhamos que manter um contato mínimo, caso
alguém ouvisse por acaso.

— Tudo bem. Está quase pronto.


Esta não é a hora de relembrar, eu me avisei. Você
precisa apressar as coisas.

Eu liguei o computador dela, pegando meu próprio USB


do meu bolso. O login dela veio à tona. Desde os quatorze
anos, Catherine usava a mesma senha para tudo.

Mariacristina25111991.

O nome de sua querida boneca, seguido do seu


aniversário.

Sua área de trabalho apareceu, o fundo uma imagem


dela e de Dupont. Ambos estavam sorrindo para a câmera,
felizes à sua própria maneira. Eu ficaria feliz por ela se
Dupont não fosse um grande idiota.

Apressei-me através dos seus arquivos, procurando por


aqueles que pareciam mais privadas. Ou tinha alguma
menção às palavras di Traglia.

Dia 27 de outubro, uma foi nomeada.

Esse era o dia que meu filho nasceu.

Copiei o arquivo inteiro, não me dando ao trabalho de


perder tempo com isso.

— Padovino, você está trabalhando até tarde.

Merda.

Fiz uma pausa e me virei lentamente.


Diante de mim, estava...um homem lindo. Alto, cabelo
preto, pele dourada e olhos azuis brilhantes. Emparelhado
com uma linha de mandíbula afiada, cílios longos e lábios em
forma de arco cúpido. Vestido com uma camisa azul e calças
caqui, ele não podia ter mais de 34 anos e parecia que tinha
acabado de sair da passarela.

E agora mesmo, ele estava me dando um sorriso


amigável.

Eu quase comecei a corar.

Ele lhe fez uma pergunta! Eu disse a mim mesma. — Uh,


oh, sim. — Eu engoli. Fale como Catherine, fale como
Catherine! — Só queria fazer algumas coisas antes do fim de
semana. — Desvie, desvie. — Você também?

O belo homem acenou com a cabeça. — Diana levou as


meninas à casa de seus pais para o fim de semana. Tristan
está voltando esta semana ou ele está prolongando seu tempo
em Chicago?

Não fazia ideia. — Ele ainda não disse. Ele quer ver... Se
alguma coisa acontece.

— Eu sei que é difícil não poder estar com ele, — disse o


homem. — Mas não é seguro para você em Chicago.

— Uh, sim, eu sei.

Ele me olhou com os olhos azuis o suficiente para me


afogar. Quem era este modelo masculino e por que ele
trabalhava para o FBI? Quem quer que fosse Diana, ela
merecia um: ‘toca aqui’ por prendê-lo. — Nenhuma
discussão? — Ele riu. — Você está doente?

Tentei minha melhor imitação do riso de Catherine. —


Só tenho muito trabalho para fazer.

— É claro. Vou deixar você com isso. — O homem se


afastou, indo para um dos escritórios de vidro.

Eu arranquei o USB, fechando o computador. Tinha sido


por pouco.

Quando fui embora, vi a mesa de Dupont. Enraizei meus


calcanhares no chão, incapaz de não parar para olhar. Sobre
meu ombro, pude ver o estranho homem em sua própria
mesa, sua cabeça curvada sobre seu computador.

Rápido, voltei para a mesa da Dupont e a examinei.


Havia duas fotografias, uma dele e de Catherine, uma
segunda de uma mulher velha de olhos azuis-água. Deve ser
a mãe, eu pensei.

Abri uma de suas gavetas de escrivaninha, puxando à


tona a primeira coisa que encontrei com meus dedos. Era um
pequeno livro, um diário. Isso bastaria.

Coloquei-o debaixo do meu braço.

Hora de ir, eu disse a mim mesma. Espero que você


tenha conseguido algo bom o suficiente para usar.

— Catherine?
Eu me virei.

O belo homem estava encostado à porta do seu


escritório. — Você precisa de uma carona para casa?

— Não, obrigada. Eu vou dirigir.

— Oh? Eu não vi seu carro no estacionamento.

Encolhi os ombros. — Eu estacionei mais longe. Estou


tentando... Fazer um pouco mais de cardio. — O quê, Sophia?
Sério? Fazer um pouco mais de cardio?

Cristo, era muita sorte eu ser tão boa em ser esposa da


máfia. Eu teria sido uma espiã terrível.

O homem acenou com a cabeça como se entendesse. —


Até segunda-feira.

— Até segunda-feira. Dê meu amor às crianças.

Eu estava preparada para correr, mas me forcei a me


afastar lentamente, com os ombros erguidos. Tenha calma, eu
disse a mim mesma. Não lhes dê um motivo para te machucar.

— Oh, e Padovino?

E agora? Eu queria gritar, mas me mantive calma.

O belo homem ainda me olhava fixamente, com um leve


sorriso no rosto.

Naquele momento, metade na sombra, expressão


conhecedora, eu poderia ter jurado que ele parecia familiar.
Não familiar da maneira como se eu o conhecesse antes, mas
mais como se eu tivesse crescido ao redor de homens que se
portavam como ele, estava na escuridão da maneira como ele
estava.

Isso é impossível, eu disse a mim mesma afastando o


pensamento.

— Sim, senhor?

— Venho querendo te perguntar se você ouviu mais


alguma coisa a respeito de Tarkhanov. Meus espiões têm
estado calados. Você pensaria que ouviríamos mais,
especialmente com ele se preparando para assumir o controle
dos Falcones. — Ele sorriu levemente. — Supostamente.

Minha irmã também estava espionando Konstantin? Eu


tinha que dizer isso a Alessandro. — Uh, Lombardis, senhor.
Não Falcones.

Suas sobrancelhas se levantaram. — Você não estava


ouvindo na reunião desta manhã, Padovino? Schulz disse que
Tarkhanov fez um acordo com os Lombardis. Ele está de olho
nos Falcones agora.

Não reaja, eu disse a mim mesmo. O que o FBI sabe? —


Os Lombardis têm mais recursos. Não posso vê-lo mudando
para os Falcones.

— Acho que depende do que você quer, — disse o


homem. — Algo nos Falcones deve ter atraído a atenção de
Tarkhanov. Algo que os Lombardis não têm.
— Ele pode não ter sucesso.

— Oh, ele terá.

Algo no tom dele... Eu o vi. — Você soa como se quisesse


que ele derrubasse os Falcones.

— Eu quero? — Perguntou ele. — Tudo que eu quero é


que o crime organizado nos Estados Unidos desapareça. Não
é isso que todos nós queremos Catherine? Especialmente
você?

— Claro que sim, — respondi. — É tudo o que desejo.

Os olhos azuis do homem brilhavam. — As coisas estão


prestes a ficar muito interessantes em Nova York. A Bratva, a
Cosa Nostra. Todos eles lutando pelo poder, indo a extremos
para conseguir o que querem. — Seu sorriso permaneceu
amigável, mas suas palavras fizeram os cabelos na parte de
trás do meu pescoço se levantar. — Chicago vai se tornar
chata agora que reinado do neto de Don Piero e de sua
esposa começou. Nova York é o lugar para ir.

— Eu pensei que Chicago ainda não tinha um Don.

— Você e eu sabemos que isso não é verdade, Padovino.


O que foi que você disse mesmo? Ah... “Não subestime minha
irmã”. Ela está sentada esperando... — O olhar nos olhos dele
deixou meu estômago tenso. — Ela ainda está à espera?
Eu encontrei os olhos dele. Você é Catherine, lembra? Eu
me avisei. — Eu não poderia dizer. Acho que só teremos que
descobrir.

— De fato, nós vamos. — Concordou o homem.

Dei um passo atrás, apontando um polegar por cima do


ombro. — É melhor eu ir andando.

— Boa noite, Padovino. Nós nos veremos em breve.

Tive a inegável sensação de que nos veríamos de novo


em breve. Mas na próxima vez, eu seria Sophia Rocchetti,
Donna de Chicago, e ele não seria um agente do FBI.
Capítulo Dezessete

Assim que o jato particular subiu ao céu, eu me dirigi a


Alessandro e perguntei: — Você sabia que Konstantin mudou
de ideia? Ele planeja remover os Falcones, ao invés dos
Lombardis.

Sérgio, Nero, Toto e Oscuro olharam para o lado.

Meu marido os olhou fixamente, antes de me dizer: —


Konstantin me disse recentemente que ele mudou de ideia.

— Mudou de ideia? Mudou de ideia! Isso é uma coisa


aceitável para se dizer sobre a compra de sapatos,
Alessandro. Não está tudo bem quando se discute a remoção
de famílias do poder, — eu assobiei. — Especialmente quando
uma dessas famílias é aliada a nós por casamento!

— Eu sei que você está preocupada com Elena. — Ele


tentou.

Meu temperamento estava subindo forte e rápido. O


estresse do que acabei de fazer, aliado à minha adrenalina
acabando, havia me deixado mais furiosa do que de costume.

Não queria quebrar na frente dos homens de


Alessandro, mas a opinião deles sobre mim não importava.
Eles tinham que me respeitar devido à minha conexão com
Alessandro. Eles não eram políticos ou socialites de Chicago,
apenas soldati do meu marido.

— Por que você não disse nada? — Exigi. — Nós somos


companheiros de equipe. Você achou que eu não notaria
quando formos visitar Konstantin e há um monte de ossos de
Falcone na entrada? Ou talvez quando Elena me dissesse que
sua família inteira havia sido assassinada, não me ocorreria
que Konstantin tivesse algo a ver com isso? Seria apenas um
bando de coincidências.

Alessandro travou sua mandíbula, depois latiu: — Fora!

Todos os seus homens saltaram e desapareceram mais


abaixo no avião. Meu sogro levantou os polegares enquanto
ele ia.

Se eu estivesse com outro humor, teria rido.

Quando eles se foram, Alessandro me disse: — Eu não


lhe contei porque sabia que você ficaria nervosa para vir a
Washington e entrar sorrateiramente na sede do FBI. Tinha
toda a intenção de lhe dizer depois.

— Não é seu trabalho escolher com o que eu posso e não


posso lidar.

Seus olhos piscaram. — Sim, é. Eu sou seu marido.


Sempre serei seu marido antes de seu parceiro no crime.

Eu apontei um dedo para ele. — Se algo acontecer com


Elena, eu o responsabilizarei pessoalmente.
— Isto é o que é ser rei, Sophia, — advertiu ele. — Você
tem que tomar decisões difíceis. Decisões que ferem as
pessoas que você ama e com quem se preocupa, a fim de
protegê-las de ameaças maiores.

— E de que ameaça maior estou protegendo Elena,


Alessandro? — Eu lhe perguntei. — Os Falcones? Os
Tarkhanovs? De nós?

— Konstantin prometeu não tocar um fio de cabelo em


sua cabeça, — respondeu Alessandro. — Ela será devolvida a
Chicago imediatamente. Ela não será uma viúva rica,
Konstantin levará os bens de Thaddeo, mas ela terá sua vida
e segurança.

Isso me acalmou. Como água sobre o fogo. — E podemos


confiar nele?

— Ele deu sua palavra. Ele também sabe que se ele a


machucar, eu tomarei isso como um ataque direto e agirei de
acordo.

Encostei em minha cadeira, respirando profundamente.


Percebi lentamente que precisava bombear leite, o que era
simplesmente fantástico. Além de tudo mais, eu tinha que
bombear.

Eu suspirei. — Vou sair e me acalmar. Não... — Eu


disse quando ele começou a se levantar. — Me siga. Eu só
preciso de cinco minutos.
Os olhos de Alessandro estavam escuros. — Eu teria
dito a você, meu amor. Nós dois concordamos em não
guardar segredos; eu não quebrei esse acordo.

Eu sabia disso. Eu realmente sabia.

Eu tinha agido de forma irracional, embaraçosa. Ao


primeiro sinal de que Alessandro tinha me deixado de fora,
mantendo-me fora do circuito, tinha me deixado fora de
controle. Depois de anos lutando com minha ambição, eu
finalmente cheguei a uma posição em que eu podia fazer tudo
graças a Alessandro.

Talvez eu não tivesse superado minha infância onde


escondia meu verdadeiro eu tão facilmente como eu pensei
que tinha superado. Ou talvez estar tão perto de minha irmã
me tivesse perturbado de uma maneira que eu não conseguia
identificar.

Para mostrar-lhe que tudo estava perdoado, eu beijei


sua cabeça, passando meus dedos pelos seus cabelos antes
de partir. Eu poderia jurar que o tinha visto visivelmente
relaxar.
Quando voltei, todos os cinco homens estavam
inclinados sobre um laptop. — Alguma coisa interessante? —
Eu perguntei.

Alessandro ergueu a cabeça, com olhos brilhando. Eu


sorri para ele. Nós estamos bem.

Ele acenou com a cabeça. — Estamos vasculhando os


documentos que você roubou do FBI. Há algumas coisas que
nós não sabíamos. Como onde está situado o covil deles em
Chicago.

— Alguma coisa sobre Adelasia? — Vim pelas costas de


Alessandro, enrolando um braço em torno de seu pescoço.
Ele apertou meu pulso.

— Não, nada.

Toto encarou Alessandro segurando casualmente meu


pulso, um olhar estranho que se elevava sobre seus olhos.
Quase invejoso, mas não totalmente. Será que ele sentia
saudades de poder segurar alguém? Toto não era celibatário
de forma alguma, mas uma ligação casual não era o mesmo
que construir familiaridade com alguém, um relacionamento.

Como ele havia tido com Aisling.

Eu ainda estava em contato com Aisling, nossas


conversas eram breves e desajeitadas. Quanto mais tempo eu
ficava sem lhe falar sobre o pedido de Toto, mais pesava
sobre mim.
Não é da sua conta, Alessandro tinha me dito quando eu
o tinha perguntado sobre isso. Deixe meu pai resolver o que
ele quer fazer com sua amante, sozinho.

Eu sei, eu respondi. Sinto que eles estão tentando ser


infelizes de propósito.

Deixe-os.

Malvado.

Os olhos dele tinham brilhado e mergulhado até meus


lábios. Eu sou.

Essa conversa tinha levado a horas de gemidos e suor


e...

Sophia, esta não é a hora, eu mesma me avisei, já me


sentindo ruborizada. Alessandro estando tão perto e
cheirando tão bem não ajudava.

— Havia arquivos com a data de nascimento de Dante,


— disse eu. — Vamos dar uma olhada neles.

— Talvez Catherine esteja se sentindo uma tia hoje em


dia. — Ressaltou Nero.

Sergio bufou.

Alessandro atirou aos dois um olhar duro. Eles ficaram


sérios imediatamente.

Meu marido percorreu todos os arquivos que eu tinha


copiado, uma riqueza de informações. Ele encontrou o
arquivo chamado 27 de outubro e clicou sobre ele. Um único
arquivo apareceu, um vídeo.

A tela se iluminou, mostrando uma imagem granulada.


A câmera estava situada no alto de um prédio, olhando para
as conhecidas ruas de Chicago. Eu podia ver o telhado de um
prédio, bem como um hospital ao lado.

Era de dia.

O vídeo se movia rapidamente, já editado para acelerar a


reprodução. Logo, uma figura surgiu na filmagem carregando
uma mala pesada comicamente rápido. A figura se moveu
pelo telhado algumas vezes, zumbindo de lugar em lugar,
como uma abelha. Ele parecia estar tentando achar o lugar
perfeito. Eventualmente, ele conseguiu.

A figura agachou-se e abriu sua mala. Suas mãos


desapareceram antes de voltar para cima, segurando uma
arma enorme.

Ele se preparou, apontando o fuzil de precisão na


direção do hospital.

Uma sensação de frio começou a crescer dentro de mim.


Eu queria muito me afastar, procurar conforto em Alessandro
ou segurar meu filho nos braços. Senti que estava vendo algo
ruim começar a acontecer, como segundos antes de um
acidente de carro, mas não conseguia me virar.

O atirador avistou sua vítima. Com muito cuidado, eles


descansaram seu dedo no gatilho, esperando.
De repente, houve um flash de azul e dourado. Uma
mulher saltou das sombras, mergulhando no atirador.

Ela colidiu com ele quando o dedo dele ia puxar o


gatilho. A arma se moveu com os dois, mudando de direção.

O atirador e a mulher colidiram no chão. Ele levou a


melhor sobre ela rapidamente, revelando ser um homem, seu
rosto era tão familiar, demasiado familiar. Antes que ele
pudesse dar outro soco na mulher, um homem de cabeça
loira apareceu do nada e atirou no atirador.

O atirador fugiu, balançando-se sobre a lateral do


prédio.

Em vez de ir atrás dele, o homem se agachou junto à


mulher, arrastando-a até o peito e esfregando suas costas. O
vídeo terminou com eles fechados nos abraços um do outro,
olhando um para o outro como se não houvesse mais
ninguém no mundo.

Alessandro olhou para mim. — Você está bem?

— Minha irmã me salvou. — Assim que as palavras


foram ditas em voz alta, eu sabia que não poderia levá-las de
volta. — O atirador ia me matar, mas... ela o deteve. E ao
invés disso, Don Piero foi baleado.

— Eu conheço aquele garoto, — disse Toto, os olhos


ainda estavam presos à tela. — Esse é um dos soldati do seu
irmão.
— Raul, — disse Alessandro. — Raul Andolini tentou
matar minha esposa.

Fechei meus olhos, respirando profundamente. Outra


tentativa fracassada de assassinato. Ou fui amaldiçoada ou
muito, muito abençoada.

Meu marido aumentou seu aperto sobre mim, como se


eu fosse desaparecer no passado, nos “e se”.

Tudo o que eu queria fazer era segurar meu filho.

— Por que sua irmã faria isso? — Sérgio me perguntou,


tranquilo.

— Não tenho certeza.

Ele torceu os lábios, mas não disse mais nada. Eu vi


seus olhos descerem para o telefone, como se estivesse
esperando uma mensagem. Mas estávamos em um avião,
então não havia novas mensagens.

Penteei meus dedos pelos cabelos de Alessandro, o ato


reconfortante. — Vamos continuar passando pelos arquivos.
Quero ver se eles têm algo sobre a União Corse ou Adelasia.

Alessandro saiu do vídeo e continuou a rolagem.

Nero me perguntou: — Havia alguma foto de membros


da União na parede do FBI?

— Eu não vi nenhuma. Mas havia milhares de fotos. Eu


poderia tê-las perdido muito facilmente.
— É meio assustador que eles estejam guardando tantas
fotos nossas. — Disse Nero.

— Eles não estão guardando fotos de seu traseiro feio,


Nero. — Brincou Sergio.

Nero empurrou Sergio pelo ombro, mas os dois se


afastaram um do outro quando Alessandro lhes deu um olhar
de alerta. Oscuro parecia que estava tentando não rir.

Era estranho ver o assassino e executor da Outfit mais


relaxados. Mas, novamente, Alessandro não era o Capo o
tempo todo e não era Príncipe de Chicago quando estava
comigo.

Suponho que as máscaras faziam parte desta vida.


Tivemos que agir de certa maneira, executar certas tarefas.
Mas não faziam todos no mundo? Você chorava no metrô ou
andava nu no supermercado? Lugares diferentes, pessoas
diferentes, ditava certas regras, certas ações.

Tive apenas sorte de achar alguém com quem eu não


precisava me preocupar com tudo isso. Alguém que tinha
visto direto através da minha máscara e exigiu que eu a
levasse embora. Não apenas para mostrar a ele, mas para
mostrar a mim mesma. Para me lembrar o que eu tinha
escondido sob a maquiagem e as maneiras e os sorrisos.

Imagens de Dupont e de Catherine me atravessaram a


mente. Como eles haviam sorrido, como eles se olhavam.
E mesmo querendo enrolar minhas mãos na garganta de
Dupont, eu estava feliz por minha irmã. Estava feliz por ela
ter encontrado alguém com quem tirar sua máscara.

Espero que ela não tenha nenhum problema achando


outra pessoa para levar sua máscara, quando tudo foi dito e
feito.

Talvez eu pudesse arranjar-lhe um encontro com o


homem sexy do FBI, pensei, então disse aos homens: —
Encontrei alguém estranho na sede.

Alessandro olhou para mim, expressão acusatória. —


Oh? Quem?

— Um homem. Ele era alto, com olhos azuis e cabelo


preto. Ele parecia no meio dos trinta anos. — Ele também era
lindo, mas isso não era importante para sua descrição. — Eu
poderia ter jurado que ele sabia quem eu era. Ele disse que
Chicago logo se tornaria chata e que Nova York era o lugar
para se estar. — No olhar duro de Alessandro, acrescentei: —
Não de uma forma ameaçadora. Mais como... como se ele
aceitasse nossa liderança?

— A única pessoa em quem consigo pensar com essa


descrição é Giovanni Vigliano, — disse Alessandro. Os outros
homens acenaram de acordo. Ao meu olhar de interrogação,
ele esclareceu. — Ele dirige os portos ao longo da costa de
Maine. Nada entra e sai do Nordeste sem que ele saiba. Não
sei por que ele estaria em Washington, ou como um agente do
FBI.
Oscuro me passou seu telefone. O homem que eu tinha
encontrado me olhou de volta: olhos azuis brilhantes, mesmo
através da tela do telefone. Nesta imagem, o homem estava
atravessando a rua, vestido com um terno elegante, telefone
ao seu ouvido. Dois guarda-costas o seguiam.

— É ele! Exceto que seu cabelo está mais curto.

— Você olhou para ele por um longo tempo? — Toto


sorriu malicioso para mim, mas não tão malicioso quanto no
passado. Ao invés disso, parecia que era sua tentativa de
tentar me provocar.

Em resposta, eu lhe dei um olhar zombador, o que só fez


com que seu sorriso se alargasse. Meu marido observou nos
dois com uma expressão dura.

— Será que Giovanni tem um gêmeo? — Eu perguntei.

— Não que eu saiba. — Disse Alessandro.

— Ele é um dos bastardos de Lorenzo, não é? —


Perguntou Sérgio.

Nero acenou com a cabeça. — Um deles, — ele bufou. —


Lorenzo deixou bastardos em todos os Estados Unidos.
Giovanni é o único com bolas o suficiente para reclamar o
sobrenome Vigliano.

Toto bufou de acordo. — Acho que Lorenzo até deixou


alguns em Chicago. Embora eu tenha certeza de que meu pai
lidou com eles. Ele nunca gostou de Lorenzo Vigliano.
Decidi deixar as palavras arrepiantes de Toto
penduradas no ar sem serem tocadas. Ao meu marido,
perguntei: — Não há nada sobre onde o bebê de Adelasia
possa estar?

Continuamos a classificar através das informações.


Muita coisa já sabíamos ou era sobre outras organizações.
Útil, garantiu-me Alessandro. Mas não era o que queríamos.

A poucos minutos de Chicago, tínhamos percorrido


todos os arquivos que eu havia encontrado. Não havia nada a
respeito de Adelasia e seu bebê.

Não pude evitar meu sentimento de culpa. Eu havia


passado por tudo isso e ainda não havia encontrado uma
pista de onde nosso sobrinho estava.

Eu só esperava, ao contrário de sua mãe, que o


encontrássemos antes de encontrar seu corpo. Tínhamos
falhado com Adelasia; não podíamos falhar com seu filho
também.

Alessandro me disse que seu irmão também não sabia


onde estava o bebê. Eu não tinha estado por perto quando
meu marido contou a notícia ao irmão, mas segundo ele,
Salvatore Jr. tinha mostrado pouca reação.

Mesmo Toto, o Terrível, tinha mostrado algum tipo de


reação quando ele descobriu que Aisling estava grávida. Mas
Salvatore Jr. apenas catalogou as notícias como se
Alessandro falasse com ele sobre o tempo.
Aquela resposta vazia ao mundo ao seu redor me
enervou mais do que eu jamais seria capaz de transmitir.

— Meu amor, você disse que viu uma foto da mãe de


Dupont em sua mesa? — Perguntou Alessandro.

Eu acenei com a cabeça. — Eu vi.

— Nero, ache ela, — ordenou Alessandro. — Se Tristan


quer foder com nossa família, nós foderemos com a dele.

— Você vai ser violento com ela? — Eu perguntei. — Ela


é uma mulher velha.

— Eu não me importo. — Disse Nero. Ele foi ignorado.

Alessandro olhou para mim, com a mandíbula tensa. —


Ameaças nem sempre levam à violência. Se você quiser, você
pode lidar com ela. Eu preciso ter uma pequena conversa
com Raul, de qualquer forma.

Meu sogro parecia muito entusiasmado.

— Ok. Você lida com Raul. — Eu pressionei meus lábios


até o ouvido de Alessandro. — Faça-o pagar por quase ter
machucado meu filho. Quero que todos em Illinois saibam o
que acontece com aqueles que se atrevem a tocar nossa
família.

— Não se preocupe, meu amor, — murmurou meu


marido. — O sangue dele regará o solo de nossa dinastia.
A Sra. Dupont vivia sozinha em uma comunidade de
aposentados entre a fronteira do Canadá e os Estados
Unidos, ao longo do rio St. Clair. Sua pequena casa era limpa
e tranquila, e o único sinal de que tinha alguém morando lá
era o balanço no alpendre.

Eu subi até a porta, batendo forte. Oscuro esperou junto


ao carro, tenso e alerta.

A porta se abriu, revelando uma pequena mulher idosa


de olhos azuis-água e cabelos brancos. Ela piscou para mim
surpresa. — Olá? — Houve um leve toque francês na voz dela.

— Sra. Dupont? — Estiquei minha mão. — É tão bom


conhecê-la finalmente. Eu sou Sophia, uma amiga de seu
filho. Eu poderia incomodá-la para um pouco de chá?
Capítulo Dezoito

Alessandro voltou para casa na calada da noite.

Eu senti seus dedos passarem por cima do meu cabelo


antes dele desaparecer no banheiro. O cheiro de sangue o
seguiu.

Eu deslizei da cama, enrolando meu roupão em volta de


mim. Dante estava dormindo, mas eu me certifiquei de fechar
a porta do banheiro atrás de mim para que a luz não o
perturbasse.

Alessandro já havia tirado sua camisa, não havia um


corte para ser visto, mas ainda assim o tecido estava sujo de
sangue.

— Não é meu. — Ele disse calmamente, dobrando-se


sobre a pia.

Fiquei atrás dele, seguindo meus dedos pela sua coluna.


— Eu sei, meu amor. — Pressionei meus lábios até o braço
dele, um beijo suave. — Raul?

— Morto.

— Seu irmão...

— Por trás disso.


Suspirei profundamente. Era o que esperávamos, mas
as notícias não me trouxeram nenhuma alegria. — Sinto
muito.

— Por que você sente muito? — Perguntou ele.

— Eu esperava por outro resultado. Tanto para você


quanto para seu pai.

Ele pressionou um beijo no topo da minha cabeça. —


Desde criança, eu sabia que Salvi era meu maior adversário.
O que vai acontecer a seguir foi escrito desde o dia em que
nasci.

Deslizei entre o balcão e Alessandro, erguendo-me


contra o seu corpo. Sua dureza me apertou, a fina seda do
meu roupão colocou uma barreira escassa entre nós. A pia
pressionando minhas costas.

Seu olhar percorreu meu rosto, meio iluminado.

— O que você fez com ele?

Alessandro pressionou sua testa contra a minha,


respirando profundamente enquanto ele se lembrava. — O
mesmo que eu faço com todos aqueles que se atrevem a me
opor.

— Ele protegeu Dante, Alessandro. Nós... confiamos nele


para proteger nosso filho. — Não conseguia parar de pensar
nisso. Todas as chances em que Raul poderia ter ferido
Dante, tudo o que ele teria que fazer era passar por Dita e
Teresa.

— Eu sei, meu amor. Mas nosso filho está bem.

Eu pressionei meus lábios contra a clavícula dele,


depois mais baixo e mais baixo.

Alessandro se tensionou enquanto eu descia mais,


raspando meus dentes e minha língua sobre seus músculos
definidos. Tracei suas tatuagens com minhas unhas,
seguindo as linhas dos juramentos que ele havia feito a Outfit
e aos Rocchettis.

— Minha Sophia. — Ele murmurou, voz baixa.

— Mmm? — Os azulejos do banheiro estavam frios


contra os meus joelhos. A mão dele contornou minha cabeça,
deslizando nos meus cabelos.

Desafivelei o cinto dele, deslizando suas calças para


baixo, até que todo ele foi revelado. Tracei seu caminho feliz
para baixo, sorrindo enquanto o sentia tenso debaixo de mim.

— Sophia, — ele rosnou. — Sem brincadeiras.

— É mesmo? — Eu pensei, substituindo meus dedos por


meus lábios. Deslocando-se cada vez mais para baixo... —
Onde está essa regra onde você está no comando?

Ele fez um baixo barulho sombrio passar por sua


garganta.
Em resposta, eu o levei na boca, com as mãos enroladas
no seu comprimento.

— Merda. — Ele assobiou, seu aperto no meu cabelo até


perto da dor.

Este era meu primeiro boquete, mas eu aprendia rápida.


Eu observava e ouvia as reações de Alessandro, ele me
orientava pela forma em que apertava a minha cabeça.

Corri minha língua pelo pau dele, raspando a cabeça


com meus dentes.

— Sem dentes. — Alessandro ladrou, as palavras quase


não eram audíveis.

Eu ri, mas obedeci, levando-o ainda mais abaixo pela


minha garganta. Com os meus dedos, eu gentilmente segurei
suas bolas, esfregando suavemente meu polegar sobre a pele
apertada.

Alessandro gemeu.

Seus quadris balançaram, o corpo dele avisando...

Ele gozou na minha boca, quente e salgado.

— Sophia. — Foi a única palavra de seus lábios, tão


escuro e baixo que eu não tinha certeza se era uma confissão
de amor ou uma ameaça.

Eu o tirei de minha boca, olhando para ele. Gozo pingou


de meus lábios inchados.
Alessandro se agachou, com as mãos nos dois lados do
meu rosto. Ele me beijou profunda e lentamente, a língua
entrelaçada com a minha. — Minha Sophia, — sussurrou ele,
mais para si mesmo do que para mim. — Meu amor, minha
Donna.

Os feriados sempre foram uma parte emocionante da


vida na Outfit. Qualquer chance de passar tempo juntos
como uma família, bebendo e falando uns sobre os outros,
era um evento altamente esperado. Especialmente com a
morte de Don Piero que ainda pairava sobre Chicago,
qualquer chance de celebrar era aproveitada.

O Dia de Ação de Graças passávamos com nossos


familiares, enquanto que o Natal era o evento mais divulgado.
Depois de passar a manhã na Igreja (depois de abrir os
presentes, é claro), tinha a festa de Natal, um dos eventos
mais queridos da Outfit.

Alessandro encontrou Dante e eu na cozinha com a


equipe ao redor, decorando e cozinhando.

— O que você fez com meu filho? — Perguntou ele.

— Ele é uma rena. — Eu segurei Dante de pé. Ele sorriu


um pouco. Eu o tinha vestido com uma pequena gravata de
rena, com chifres na cabeça. — Ele está combinando com
Polpetto.

Alessandro olhou para Polpetto, que na verdade estava


igual a Dante. — Jesus Cristo. Pelo menos espere até que ele
possa lutar de volta.

— Então eu nunca conseguirei vesti-lo.

Alessandro pegou seu filho, segurando-o acima de sua


cabeça. — O que sua mãe fez com você, meu filho? — Ele
pegou a faixa do chifre, atirando-a para o lado. Ele fez um
gesto para que as refeições que estavam sendo preparadas. —
Tudo quase pronto?

— Sim. Só tenho que ir e me vestir. — Beijei a testa de


Dante antes de dar um beijo suave no meu marido.

— Seu pequeno político está vindo? — Perguntou ele.


Salisbury estava se juntando a nós para a festa. — Ele está.

— Você não quer que eu fale com ele?

Alessandro estava se referindo ao fato de que Salisbury


estava se achando o ultimo biscoito do pacote. Ele tinha me
desafiado sucintamente, primeiro na Sociedade Histórica e
agora sempre que nos encontrávamos. Estava esquecendo
que eu estava do seu lado. Eu entendi isso como arrogância,
mas rapidamente isso poderia se transformar em algo mais
perigoso.
— Não. Ainda não tenho certeza de como vou lidar com
isso, — murmurei. — Vamos esperar até depois dos feriados.

Ele curvou a cabeça.

Quando voltei ao primeiro andar, algumas horas depois,


alguns convidados tinham começado a chegar. Meu marido
ficou no hall de entrada, Dante na curva do seu braço,
tentando cumprimentar pacientemente nossos familiares. A
partir dos seus músculos tensos, ele estava ficando agitado
rapidamente.

Como se ele pudesse me sentir, Alessandro virou sua


cabeça para mim, os olhos escurecendo.

— Você gosta do meu vestido?

— Gosto. — Disse ele gravemente.

O vestido em si era longo, um vermelho profundo, o


colarinho alto e as mangas compridas. Apesar do corte
modesto, o veludo se agarrou a mim. Eu tinha torcido meu
cabelo curto sobre o ombro, acrescentando uma fita vermelha
as ondas, mas Alessandro nem notou, sua atenção estava
deslizando pelo vestido.

Eu agarrei o braço dele, apertando para avisá-lo. —


Estamos em público.

— Isso pode mudar muito rapidamente, — disse ele. —


Esta é a minha casa.
Rolei meus olhos, lutando contra meu rubor, e cocei a
barriga de Dante. Alessandro não o havia mudado da
roupinha de rena. — Meu bebezinho, você parece tão
rabugento quanto seu pai. — Dante tinha uma carranca no
rosto. — Onde está o espírito natalino dos meus meninos?

— O meu está lá em cima. — Respondeu Alessandro.

Eu ri. — Vamos lá. Vamos cumprimentar nossos


convidados.

Minha casa havia sido decorada a vida em cada


centímetro. Desde o visco acima da porta de entrada, até as
coroas nas portas e as fitas vermelhas douradas enroladas
em torno das velas. Uma enorme árvore situada na sala,
brilhando em luzes cintilantes com um anjo agarrando a
parte superior.

Lá fora, a neve estava caindo rapidamente, então


acendemos a lareira, o crepitar das chamas foi a canção de
fundo para nossa tagarelice.

À medida que a noite avançava, os presentes eram


trocados e a comida consumida. Eventualmente observei o
meu arredor, meus olhos passando sobre rostos familiares.

No canto, junto à árvore, Nicoletta estava com Ophelia,


folheando através de um livro musical que Alessandro e eu
lhe demos. A alguns metros de distância, Nero observava das
sombras.
Perto da lareira, Sergio conversava com Narcisa, o rosto
dos dois muito próximos. Seu rosto normalmente duro estava
tranquilo, até mesmo brilhante. E Narcisa, geralmente tão
delicada e tímida, sorria e respondia sem medo no rosto.

Gabriel e Oscuro sentaram-se no sofá, rindo de uma


história. Suas bebidas ameaçavam derramar sobre os lados
dos copos, mas eles conseguiram acalmar seus movimentos
antes de manchar meus móveis. Sortudos, pensei.

Mais adiante ao longo do sofá, Beatrice sentou-se, a


semanas de distância de sua data de vencimento. Pietro
trouxe sua comida, observando-a enquanto ela comia e
sorrindo sempre que ela dizia alguma coisa. Eles iam para
casa mais cedo. Beatrice se sentia muito desconfortável para
ficar fora por muito tempo.

Vi Rocchettis parados próximos às paredes, de Santino a


Beppe e Big Robbie. Eles riram de alguma coisa. Enrico e
Toto, o Terrível, estavam em uma conversa profunda, Carlos
Jr. apenas meio-ouvindo, sua atenção treinada em seu prato
de comida.

Falando com Carlos Sr estavam Davide e Nina


Genovese. O neto de Nina e o filho de Angie pressionados
contra as pernas de sua avó, olhos pesados enquanto ficava
tarde.

Dos Palermos aos Tarantinos e aos Schiavones e di


Traglias, o ambiente era quente e comemorativo. Até Chiara
estava sorrindo, recuperando-se das notícias de Adelasia e de
seu bebê perdido.

Junto à janela, olhando para a neve, estava meu pai. Ele


estava se casando novamente em breve, mas sua noiva não
estava nenhum lugar para ser vista. Todos aqueles anos de
expectativas, regras e ressentimentos haviam sido levados
pelo vento, perdoados, mas não esquecidos.

Nossa história havia terminado, havia chegado ao seu


clímax e diminuído até o fim. Eu não era mais uma obrigação
para ele, ou ele para mim.

— Papai, — murmurei vindo para o seu lado. — Posso


lhe oferecer alguma coisa? Uma bebida, um prato?

Ele olhou para mim, os olhos brilhando. — Não,


bambolina. Você pode simplesmente ficar aqui comigo.

Lancei meu olhar pela janela, observando a rua escura e


a neve cintilante.

— Seu garoto é muito lindo. — Disse papai,


eventualmente.

— Ele se parece com o seu pai. — Respondi.

Papai balançou a cabeça. — Eu posso ver você nele.


Sutil, mas está lá.

Eu sorri, lisonjeada. — Obrigada. É muito gentil de sua


parte dizer isso.
— É mesmo? — Meu pai continuou a olhar pela janela,
enfiando as mãos nos bolsos. — Deveria ter dito isto anos
atrás, mas se precisar de alguma coisa, é só me avisar.

— Oh?

— Qualquer coisa. — Ele virou sua cabeça para mim, os


olhos se tornando mais intensos. — Eu sou primeiro um
mafioso, mas ainda sou seu pai. Se você precisar de alguma
coisa, é só me avisar.

A intensidade do tom dele me fez pensar o que poderia


ser qualquer coisa. Mas eu já tinha tudo o que precisava,
então sorri com gratidão. — Obrigada.

— Você é como sua mãe, você sabia disso? — Disse ele


de repente.

— Dita disse que ela era incrivelmente entediante. —


Murmurei.

Papai balançou a cabeça. — Sua mãe... Antonia. Ela...


descobriu muito cedo em sua vida como se manter viva. Ao
crescer, eu não reconheci essa característica em você, talvez
porque eu não queria, ou porque você era boa demais em
escondê-la, mas você carrega essa mesma compreensão. —
Ele parecia pensativo. — A única diferença é, enquanto sua
mãe se fez chata para sobreviver, você escolheu prosperar, ter
sucesso.

— Bem debaixo do seu nariz.


— Bem debaixo do meu nariz. — Ele não pareceu
zangado com este fato. — Assim como Catherine, mas ela
tinha planos diferentes, não tinha?

Isso foi um eufemismo. — Suponho que ela tinha.

Papai sorriu brilhantemente. — Seu marido está


procurando por você. Vá e fique com sua família.

Eu beijei sua bochecha suavemente. — Parabéns por


seu noivado. Será bom ter outra coisa para celebrar.

— Estou celebrando o futuro Don ter matado o homem


que tentou matar minha filha, — disse ele. — Qualquer outra
coisa nunca será tão festiva quanto isso.

Uma bolha de riso saiu de mim, mas eu deixei meu pai


junto à janela, no fundo de seus próprios pensamentos sobre
como ele havia falhado com suas filhas.

Alessandro ainda segurava Dante e estava falando com


alguns de seus homens. Eles se dispersaram enquanto eu me
aproximava, o queixo idiota do meu marido me denunciou.

— O que seu pai queria? — Perguntou ele.

Dante soltou um som gracioso ao me ver. Eu o levei de


Alessandro, segurando-o ao meu peito. Ele se encaixava tão
perfeitamente contra mim, eu poderia segurá-lo para sempre.

— Nada ruim. Tivemos apenas uma conversa. — Eu


beijei a testa de Dante. — Ele parece satisfeito por você ter
matado Raul.
— Isso faz dois de nós.

Dei uma olhada na sala de estar. — Seu irmão


apareceu?

— Ele não se atreveria.

De fato.

Eu não estava reclamando. A falta de interesse de


Salvatore Jr. em eventos familiares apenas beneficiava
Alessandro e eu. Ser rei era muito mais do que governar, algo
que meu cunhado ainda não tinha entendido.

— Vou checar Nicoletta, — disse eu. — Está ficando


tarde.

— Ele já precisa ser colocado para dormir?

Eu verifiquei o rosto do Dante. — Em breve. Vou


mostrá-lo um pouco mais por aí primeiro.

Alessandro balançou a cabeça, mas ele estava sorrindo.

Quando eu me aproximei de Nicoletta, Ophelia olhou


para cima. Ela usava um vestido verde com comprimento até
o joelho, a cor fazia seus olhos parecerem mais brilhantes. Eu
podia ver porque Nero não tinha desviado seu olhar dela.

— Nicoletta, Sophia está aqui. — Disse Ophelia.

Nicoletta olhou para cima, os olhos indo direto para


Dante. Ela se derreteu de alegria: — Ah, pequeno bebê
Rocchetti. Posso segurá-lo?
Eu passei Dante para ela, mantendo minhas mãos
próximas no caso de ela ter esquecido como segurá-lo.
Nicoletta balançou-o em seus braços, cantando para ele.

— Você está se divertindo? — Perguntei a Ophelia.

Ela acenou com a cabeça. — A comida é muito boa e


todos são amigáveis.

Embora ela trabalhasse para nós, ela ainda era


considerada uma forasteira, então a maioria dos meus
convidados se comportava da melhor maneira possível ao seu
redor. Especialmente porque ela falava italiano.

— O único problema é ele. — Ela apontou com o queixo


na direção de Nero. — Qual é o problema dele? Eu não vou
machucar Nicoletta.

Não é por isso que ele está olhando, eu queria dizer, mas
não disse. — A família é muito importante, — eu respondi. —
Vou falar com ele novamente.

Não que isso fizesse algum bem. Nero havia encontrado


algo que despertou seu interesse e, pela primeira vez, eu não
penso que ele planeje assassinar isso.

— Como é viver naquela casa grande com Nicoletta?

— Bom. Ela, na verdade, se lembra da planta da casa,


então eu não me preocupo tanto com o fato de ela se perder,
— disse Ophelia. — Eu me perco mais do que ela.

Eu sorri. — E os cachorros?
— Florence é legal. — O cão pastor Maremma de Don
Piero, um animal adorável que foi autorizado a viver na casa.
— Os outros não param de latir.

— A maioria deles são cães de guarda. — Eu lhe disse


gentilmente.

Ophelia encolheu os ombros. — Isso não torna menos


irritante.

Eu ri, concordando com ela.

Nicoletta cantou uma pequena melodia para Dante. —


Sua mãe logo estará em casa, — ela lhe disse em italiano. —
Já não falta muito. — Ela olhou para mim. — Quando Danta
estará de volta?

— Em breve. — Eu disse gentilmente.

— Ela já se foi há muito tempo. — O rosto de Nicoletta


caiu. — Era para eu ligar para alguém quando ela não
voltasse...

A aflição começou a se formar nas suas feições.

Ophelia falou com ela suavemente, assegurando-lhe que


não havia nada com que se preocupar.

Mas a mente de Nicoletta havia se agarrado a algo. —


Não, não, — disse ela. — Eu disse a ela para não ir. Garota
estúpida, estúpida.
— Disse a ela para não ir aonde, Nicoletta? — Eu
perguntei.

A expressão dela ficou mais forte. — Eu... eu não posso...

— Está tudo bem, Nicoletta, — acalmou Ophelia. —


Danta estará de volta em breve. E se eu lhe trouxesse algo
para comer?

Os olhos de Nicoletta se alargaram. — Pelletier, — ela


percebeu. — Ela está se entregando ao Pelletier. Oh, temos
que impedi-la.

Eu não entendia do que Nicoletta estava falando. — Por


que ela está se entregando a Pelletier?

As pessoas começaram a se dar conta agora, alarmadas


com a voz ascendente de Nicoletta.

Nicoletta agarrou meu pulso, segurando firme. Eu


imediatamente coloquei minha mão debaixo do meu filho,
pronta para agarrá-lo se ela o soltasse.

— Não foram eles, — ela me disse. — Sempre fomos nós.

— Nicoletta...

— Sempre foram as mulheres Rocchetti, Sophia. — Era a


primeira vez que ela tinha dito meu nome. — Nunca foram os
homens; eles nunca trouxeram a paz. Sempre fomos nós.

Eu agarrei Dante assim que Nicoletta apertou as mãos


no rosto, soluçando.
— Danta, oh, Danta! Ela trocou sua vida pela nossa, eu
lhe disse para não fazer isso.

Eu olhei por cima do ombro para meu sogro.

— Pai, — disse Alessandro friamente, agora ao meu


lado. — O que aconteceu na noite em que a mamãe
desapareceu?

Toto, o Terrível, não parecia feliz quando ele disse: —


Brigamos. Ela disse que estava indo, que não me amava. Ela
estava apaixonada pelo filho de Pelletier. Eu... eu a deixei ir.
E nunca mais a vi.

Deixar as mulheres ir parecia ser um hábito


desagradável de Salvatore Sr.

Voltei para Nicoletta, que ainda estava soluçando.

O filho de Pelletier acabou de sair.

Saia antes que meu irmão te mate, como ele fez com sua
irmã que não prestava!

Meu irmão levou sua filha...

Soube pela empregada da casa de Toto, o Terrível, que


ela estava envolvida com um homem francês! Quando a Outfit
estava em guerra com a União Corse.

O corpo de Danta tinha sido encontrado em terras de


Pelletier.
A guerra entre a União Corse e a Outfit havia terminado
nos anos 80, depois de quase destruir Chicago. Só se falava
nisso com medo. Ninguém queria que essa guerra voltasse a
acontecer.

Danta, minha sogra, havia se entregado a Pelletier na


esperança de que a União deixasse a Outfit em paz. Em troca,
ele a havia matado..., mas a guerra havia terminado logo
depois, com a Outfit saindo no topo.

Danta tinha sacrificado sua reputação, sua vida. Ela


havia sido enterrada em um cemitério não católico, havia
sofrido sussurros e rumores. Mas na verdade, ela tinha feito
tudo o que podia para garantir que seus filhos estivessem
seguros.

Apertei uma mão gentil na cabeça da Nicoletta. Ela


olhou para mim.

— Sempre foram as mulheres Rocchetti. — Eu confirmei,


a verdade tão clara quanto a luz do dia.

Mais tarde naquela noite, depois que todos tinham


saído, encontrei meu telefone. Eu o tinha escondido no
quarto antes da festa. A tela estava brilhante com uma
mensagem de voz perdida.
Alessandro veio por trás de mim, carregando um Dante
adormecido em seus braços. — Está tudo bem, meu amor?

— Mmhmm. — Desbloqueei meu telefone, olhando o


número desconhecido. Quando cliquei sobre ele, uma voz
familiar encheu o quarto. — Se você quer o bebê, vá para a
igreja onde você se casou. Venha sozinha ou não vamos
entregá-lo.

Terminou com um clique.

Eu olhei para Alessandro. Ele já me olhava fixamente.

Nós sabíamos o que tínhamos que fazer.


Capítulo Dezenove

A única luz na igreja vinha dos postes de iluminação


pública.

A escuridão projetava-se sobre as estátuas e arcos, as


sombras dos flocos de neve caindo se moviam sobre os
bancos. Lá dentro estava quase tão frio quanto do lado de
fora, meus dedos ficaram dormentes assim que pressionei as
portas pesadas e empurrei para dentro.

No final da igreja, meio escondida atrás da estátua da


Virgem Maria, estava minha irmã. Catherine estava de pé
segurando um embrulho de cobertores em seu peito.

A porta bateu atrás de mim, ecoando.

Ela se virou para mim, com os cabelos dourados


brilhando quando a luz bateu sobre eles.

Meus passos ecoavam pela igreja enquanto eu ia até ela,


firme e devagar. Este não era o momento de mostrar
desespero, sem se apressar. Catherine iria atacar ao primeiro
sinal de fraqueza.

— O que está em suas mãos? — Perguntou ela, com


uma voz assustadoramente alta.

— Eu lhe trouxe um presente.


Catherine sacudiu o queixo. — Coloque-o no chão.

Eu não o fiz.

Em vez disso, eu o segurei, mostrando a fotografia.


Meses atrás, eu tinha descoberto que ela tinha ido
secretamente para a faculdade. Na época, isso tinha sido algo
enorme, mas agora parecia minúsculo. Mesmo assim, eu
tinha guardado a fotografia que pedi incapaz de me desfazer
dela.

Os lábios dela se separaram. — Minha foto de


formatura.

Coloquei-a no chão, aproximando-a dela com meu pé. —


Meu sobrinho?

Ela acenou, passando-me o pacote.

Afastei o cobertor de seu rosto, tentando não deixar que


meu dedo frio o aborrecesse. O filho de Adelasia era lindo e
saudável. Parecia seu pai, o que significava que parecia um
Rocchetti.

Eu o balançava nos braços: — Está tudo bem, meu


querido, — murmurei. — Agora você está a salvo. Você está
com sua família.

— Eu não sabia. — Disse minha irmã, de repente.

Eu olhei para ela.


Ela balançou para frente e para trás em seus
calcanhares. — Eu não sabia que o FBI ia levá-lo.

— Você parece surpresa. — Eu examinei o rosto dela. —


Você sabia que eles também mataram Adelasia?

Catherine piscou os olhos. — Não, nós não a matamos.


Recebemos uma dica do hospital de que ela estava lá e fomos
ver se vocês apareceriam.

— E roubaram o bebê dela?

— Ela já tinha ido embora naquela altura, — disse


minha irmã. — Pensávamos que ela havia abandonado o
bebê. Ela partiu sem ser vista.

Eu olhei para meu sobrinho, tentando ver qualquer


pista de Adelasia nele. Não havia nenhuma. — Por que eu
deveria acreditar em você?

— Eu não sei. Mas eu estou dizendo a verdade.

De repente, houve um estrondo de uma porta batendo.


— Cat!

Voltei meus olhos para os dela. — Dizendo a verdade,


não é?

Os olhos dela se alargaram. — Eu não lhes disse que


estava vindo.
Dupont entrou pela porta dos fundos, com a cara rosada
do frio. Alguns agentes do FBI o seguiram, acenando com a
cabeça para Catherine em saudação.

Dupont caminhou em nossa direção, mas eu disse: —


Dê mais um passo e eu direi ao soldato do lado de fora da
casa da sua mãe para matá-la.

Dupont parou. Ele não se moveu. Ele sabia que


tínhamos visitado sua mãe e ele sabia que eu não estava
fazendo uma ameaça vazia.

Seus olhos desceram para o bebê. — Catherine, o que


você fez?

— Usou o bom senso dela.

Eu me virei quando meu marido entrou na igreja, com


seus homens atrás dele. Ele me escaneou brevemente, sua
expressão foi dura enquanto descia o corredor.

Alessandro parou a alguns metros de distância de nós,


paralelo a Dupont do outro lado de nós. Catherine e eu
ficamos no meio, sob os olhos vigilantes da Virgem Maria.

— Eu lhe disse para vir sozinha. — Disse-me Catherine.

Eu atirei um olhar esquisito nela. — E você pensou que


eu viria?

Ela fez uma careta. — Supus que sim.


Dupont estalou seus olhos azuis gelados para
Catherine, sua expressão furiosa. — Vamos embora. Agora.

— Não tão rápido, Dupont. — Disse Alessandro. Direto


ao ponto, meu marido prosseguiu: — A unidade de crime
organizado do FBI deixará Chicago hoje.

— Por que faríamos isso? — Assobiou Dupont.

— Se você não o fizer, sua mãe pode ficar em uma


situação muito ruim.

Catherine olhou entre o seu homem e meu marido. —


Tristan, talvez esteja na hora.

— Ouça sua namorada, Dupont, — disse meu marido.


— Esta cidade não está mais sob os cuidados do FBI.

— Você não pode reivindicar uma cidade, Rocchetti, —


Dupont estalou. — Seu avô não pôde nos manter fora.

Alessandro sorriu lentamente. — Eu não sou Don Piero.

Dupont deu um passo à frente, sinalizando


inconscientemente as sombras.

Ao nosso redor, os sons de armas sendo destravadas


ecoou, o barulho vulgar em um lugar tão sagrado.

Os agentes do FBI se viraram, avistando as dezenas de


mafiosos instantaneamente. Eles se apoiavam às colunas,
estavam em cima das estátuas, esperando sob as janelas.
Todos apontaram suas armas para os agentes do FBI, com
pequenas luzes vermelhas marcando-os.

Eu vi Dupont ficar pálido. Ele olhou de relance para


Catherine. Uma luz vermelha apontada sobre ela, dançando
sobre sua garganta.

Ele olhou para mim.

Graciosamente, eu me afastei de minha irmã e caminhei


em direção ao meu marido. Alessandro me recebeu no
rebanho, aconchegando-me ao seu lado, bebê ao meu peito.

— Escolha sabiamente seu próximo passo, Dupont, —


disse meu marido. — Meus homens o farão.

Eu olhei para ele, catalogando a escuridão de seus


olhos, a dureza de sua expressão. Do seu sorriso à sua
postura, ficou claro que meu marido estava no controle desta
situação, cumprindo seu direito de nascença, honrando seu
nome. The Godless.

Eu olhei para minha irmã. Ela não tinha se mexido.

— Vá para Nova York, Catherine, — eu falei. — Chicago


não é mais para você.

Os olhos dela encontraram os meus. Décadas de


lembranças e sangue compartilhado pairavam entre nós.

Vi o vídeo desfocado dela empurrando Raul para longe


da arma dele em minha mente.
Foi por isso que Alessandro havia concordado em não a
matar. Ele estava em dívida com ela por salvar minha vida,
ele havia me dito. Eu esperava que ela soubesse disso.
Esperava que ela entendesse que esta foi uma escolha que ele
lhes estava dando, por gratidão e não por fraqueza.

E ele só o ofereceria uma vez.

Catherine acenou com a cabeça lentamente. — Tristan,


vamos. Esta igreja já viu derramamento de sangue suficiente.
Muito de nossas próprias mãos.

Dupont olhou de relance para minha irmã. — Eles são


monstros, Catherine.

— E fizemos coisas hediondas para puni-los por este


fato, — murmurou ela. Mas a igreja estava tão quieta que
pudemos ouvi-la claramente. — Vamos para Nova York ou
Washington. Eu terminei aqui.

Catherine se inclinou para baixo, pegando a foto de


graduação.

A luz vermelha seguiu seus movimentos.

Dupont se deslocou de um pé para o outro, desprezando


meu marido. — Sua espécie não merece piedade. Você caça,
mata e arruína vidas, — disse ele. — Sua conta virá. Pode
não ser pelas minhas mãos, ou pelas de Cat. Mas virá, e você
implorará por misericórdia.
Alessandro parecia inquieto com a ameaça de Dupont.
— Vá e brinque com seus USBs e bombas em outro lugar,
Dupont. Chicago não é cidade para você. — Ele me olhou de
relance, olhos escuros. — Ela vai te comer vivo.

Muito lentamente, o agente especial Tristan Dupont


curvou a cabeça. — Aproveite sua cidade, Rocchetti.
Aproveite sua esposa e seu filho, mas mantenha-os perto.

Eu suguei ar pelos meus dentes. O FBI tinha estado tão


perto de sair ileso. Mas ameaçando Dante e eu?

Dupont havia cometido um erro fatal.

A expressão de meu marido não mudou. Ele levantou a


mão, erguendo um único dedo.

O som do tiro atravessou a igreja, bala atingindo carne.

O grito de Dupont ecoou através da igreja.

Ele bateu no mármore em um estalo, sangue escorrendo


sobre a pedra preciosa.

Catherine engasgou, andando para frente, com as mãos


indo direto para a ferida. O grito dela poderia ter quebrado as
janelas.

— Não sejam estúpidos. — Disse Alessandro quando os


outros agentes do FBI tentaram dar um passo à frente, com
as armas prontas. Eles pararam ao comando em seu tom,
soldados a pé para um rei diferente, mas incapazes de
ignorar uma ordem.
Ele estendeu seu braço para mim e eu o peguei.

— Irmã. — Disse eu.

Catherine olhou para mim, lagrimas manchando suas


bochechas. Ela não disse nada.

— Ericson é nosso.

Seus lábios tremiam. — Tanto faz, tanto faz! Levem-no!


Eu não me importo! — Ela se voltou para Dupont,
murmurando o nome dele repetidamente, mãos pressionadas
no peito dele.

Alessandro e eu deixamos a igreja, de braços dados,


seus homens seguindo como corvos assassinos. Os uivos da
minha irmã nos seguiram até o lado de fora na neve.

— Ele ficará bem, — disse meu marido. — Ele foi


baleado no ombro. Parece pior do que é.

— Você deveria tê-lo matado. — Foi minha resposta.

Enquanto Dante e Adriano dormiam, Alessandro e eu


fomos à prefeitura.

Como de costume, Ericson estava trabalhando até tarde.


E por trabalhar até tarde, eu quis dizer entreter sua amante.
Assim que entramos em seu escritório, ela gritou, abaixando-
se debaixo da mesa, pele nua em exposição.

Ericson parecia furioso com a interrupção, seu pau


pendurado entre suas pernas nuas. — Como você se atreve!

— Diga a ela para sair. — Disse Alessandro.

A mulher não precisava ser avisada duas vezes. Ela


agarrou suas roupas, correndo para fora do escritório,
gritando.

— Vou chamar a segurança...

— Sua segurança está ocupada, — eu interrompi. —


Com nossa segurança.

Ericson empalideceu. Ele sabia o que isso significava. —


O que você está fazendo aqui?

— Oh, não estamos aqui por você, — eu disse, sorrindo


para meu marido em camaradagem. Como se estivéssemos
passeando pelo parque. — Mas ele está.

Salisbury foi empurrado do corredor para dentro,


parecendo um pouco corado e confuso. Atrás dele, Nero
observava, pronto para bloquear a porta, caso ele precisasse.
Os olhos de Bill se alargaram quando ele avistou Ericson e
ele se virou para mim.

— O que está acontecendo? — Perguntou ele.


Alessandro tirou sua arma das costas, colocando-a
sobre a mesa. Os dois políticos ficaram tensos. Eu peguei o
sorriso do meu marido pelo estresse deles, ele não tinha uma
tolerância muito alta com os políticos, mas tinha concordado
em me ajudar.

— Quem matar o outro primeiro, pode ser prefeito da


minha cidade, — disse Alessandro. — Minha esposa confia
que você tomará a decisão certa, mas eu discordo.

Ericson disse: — Isto é ilegal! O FBI...

— Já se foram, — eu interrompi. — Muito recentemente,


na verdade. Eles me permitiram ficar com você, o que foi
muito doce da parte deles.

Ele empalideceu.

Eu me perguntava se ele estava lembrando das palavras


que eu havia dito a ele todos aqueles meses atrás, quando
estávamos no Sneaky Sal's.

Seu marido imundo não está aqui, e seu sogro não


poderia se importar menos com sua vida.

Não é com eles que você deveria se preocupar.

Alessandro me ofereceu seu braço; eu o peguei.

— Pensem no poder, senhores. — Disse de volta


enquanto meu marido me escoltava para fora da sala.

Fechamos a porta suavemente atrás de nós.


Eu tive a ideia quando voltávamos da igreja, lembrando-
me de Anthony Jr. Scaletta e do sangue que ele havia
derramado. Era um ato comum da mafia mandar rapazes
matar para se tornarem sábios. Afinal de contas, se alguma
vez se tornassem muito falantes, a Outfit poderia acusa-los
de assassinato.

Salisbury estava me desafiando com demasiada


frequência. Ele precisava ser mantido em uma trela mais
apertada.

— Você acha que eles vão fazer isso? — Perguntei a


Alessandro.

— Claro que sim, — disse ele. — Nada alimenta um


homem mais do que o poder e a ganância.

Nas sombras, Nero fez um barulho de concordância.

Encostei-me à parede, ouvindo.

Houve um alto estrondo dentro do escritório, o que levou


a alguma luta. Eu podia ouvir gritos e grunhidos.

Depois, um disparo.

Alessandro levantou as sobrancelhas quando a porta se


abriu para um Salisbury sangrento dando um passo à frente,
arma na mão.

— Ninguém jamais saberá o que você fez, — eu lhe


disse. — Será nosso pequeno segredo.
Salisbury empalideceu.

Enquanto passava, Nero bateu-lhe com força nas costas,


rindo. — Você agora pertence a nós, Bill.

Pelo olhar em seus olhos, Salisbury sabia disso. Ele se


virou para mim, com as narinas erguidas. — Por que...

Eu o cortei, estalando minha língua. — Não, não, não.


Não é assim que eu sou abordada. — Eu sorri para ele, nada
amável ou amigável. — Vejo você na segunda-feira, Bill? A
Sociedade Histórica está votando em quem eles querem para
ser seu novo diretor.

Eu já tinha ganhado, nós dois sabíamos disso.

E com esse poder, agora eu era dona de todos os


edifícios históricos de Chicago em tudo menos no nome.
Sempre que um empreiteiro quisesse um pedaço de terra,
eles teriam que vir até mim, tinham que puxar o meu saco.

Eu beijei a bochecha de Salisbury na despedida. Em


resposta, ele desmaiou.

Alessandro grunhiu uma risada. — Políticos são


verdadeiras putinhas.
Capítulo Vinte

Dias depois, eu estava no berçário, encostada ao lado do


berço. Dante e Adriano dormiram lado a lado. Seus pequenos
peitos subiam e desciam em sincronia. Um elefante de
pelúcia os separava, impedindo Dante de rolar sobre seu
primo.

Quando Chiara correu para o berçário, eu pressionei um


dedo sobre meus lábios, pedindo silencio.

Segundos depois, mais di Traglias entraram. Incluindo


Nataniele di Traglia, patriarca da família di Traglia. Um velho
que tinha estado com a Outfit desde que era um menino e foi
tirado das ruas sicilianas por Don Piero. Sua família era vital
para a paz na Outfit, um fato que todos nós sabíamos.

Alessandro veio depois, colocando uma mão em minhas


costas em sinal de conforto. Ficamos juntos, olhando
fixamente para o di Traglia.

— A criança. Adriano. — Disse meu marido,


gesticulando para o berço.

Chiara correu para frente, mas Nataniele agarrou seu


braço, segurando-a gentilmente para trás. Ele não poupou
um olhar para a criança. — Adriano? — Perguntou ele.
— Foi o mais próximo que pude chegar do nome da mãe
dele. — Eu disse.

Ele abaixou a cabeça.

Os olhos de Chiara encheram-se de lágrimas. — Eu


quero Salvatore morto! A reputação de nossa família foi
destruída e agora temos um bastardo!

— Já chega, Chiara, — eu disse suavemente. — Se você


vai ser um problema, você pode ir embora.

Ela caiu em silêncio.

Para Nataniele, eu disse: — Sua família é uma parte


muito importante da Outfit. O que Salvatore Jr. fez é
inaceitável e não foi uma ação que nós apoiamos.

Seu olhar se moveu para Alessandro atrás de mim, mas


meu marido acenou com a cabeça, concordando com minha
declaração.

— Faço parte desta organização há muito tempo. A


morte de seu avô quebrou a Outfit de formas que ainda não
podemos ver, mas sua morte também fez desaparecer velhas
rixas e barganhas, — disse Nataniele. — Devido a um
incidente com meu filho, seu avô declarou que nenhum
Rocchetti e di Traglia poderiam se casar.

Tinha sido uma punição devido ao que aconteceu com


os Ossanis. Um conto assassino que não era meu para
contar. Mas Don Piero tinha sido claro com suas instruções.
— Nós sabemos disso. — Disse Alessandro gravemente.

Nataniele olhou ao redor do quarto, para a girafa de


pelúcia e as paredes verde-oliva. Ele olhou para o fraldário e
para os pequenos sapatinhos de Dante. Até mesmo o móvel,
com pequenos leões sobre ele, chamou sua atenção.

— Minha família é uma família respeitável, — disse


Nataniele, uma vez que ele havia observado o berçário. —
Uma família forte e orgulhosa. A morte de Adelasia e o
nascimento de Adriano nos prejudicaram. Somos incapazes
de organizar casamentos para nossas filhas e nossos filhos
estão lutando para serem aceitos por Capos.

Eu olhava para meu filho, tão jovem e inocente. — Sinto


muito que sua reputação tenha levado um golpe tão grande,
Nataniele. Não nos traz nenhum prazer.

— Obrigado, Sra. Rocchetti, — disse ele, ignorando o


fato de que, ao crescer, ele costumava me chamar de Sophia
e eu o chamava de Zio10 Nataniele. — Só há uma maneira de
garantir que minha família possa voltar a entrar na Outfit.

Alessandro não aguentava mais a enrolação, ficando


entediado com as palavras e comentários manhosos. —
Minha esposa me disse que não há meninas disponíveis.
Portia, sua mais nova, foi prometida ao neto de Tommaso.

— Estaríamos dispostos a desistir desse arranjo. —


Disse Nataniele, não soando convencido.

10 Tio, em italiano.
— Não, — disse eu. — Não arriscarei alienar os
Palermos. — Para Nataniele, eu disse: — A próxima menina
nascida em sua família se casará com meu filho, unindo às
duas famílias.

Nataniele acenou com a cabeça. — Quero que isso seja


declarado publicamente. Nossa reputação está em farrapos.

Promessas antigas corriam pelo meu cérebro.

Eu, Alessandro Giorgio Rocchetti, prometo sobre o meu


juramento omertà nunca concordar com nenhum dos futuros
casamentos de meus filhos sem o consentimento ou aprovação
deles.

Eu, Sophia Antonia Rocchetti, prometo sobre minha


amada bolsa Gucci para nunca vender meus filhos como
moedas de troca.

Lá em cima, no canto do meu quarto, estava a minha


bolsa Gucci queimada. Quando Alessandro me encontrou
queimando-a, ele não reagiu. Ao invés disso, ele havia
segurado minha mão com força, definhando em seu próprio
juramento quebrado.

Não tínhamos outra escolha. Os di Traglias eram muito


importantes para a Outfit e a reputação deles foi muito
atingida.

Sinto muito, meu filho, eu pensei, olhando fixamente


para o meu bebê. Esperançosamente você achará o que seu
pai e eu conseguimos em nosso casamento arranjado.
Alessandro bufou. — Não. Quando a criança nascer, nós
o anunciaremos. — Ele estendeu sua mão. — Quando a
menina fizer 18 anos, ela vai se casar com meu filho.

O outro homem apertou sua mão, cimentando o acordo.


— A próxima menina nascida na família di Traglia casará
com seu filho quando ela fizer dezoito anos.

E assim, o acordo foi feito.

— E Adriano? — Perguntou Nataniele.

— Ele pertence aos Rocchettis, — disse Alessandro. —


Ele não é da sua conta.

O velho acenou com a cabeça, parecendo levemente


aliviado. — Muito bem. E Salvatore Jr... Ele desonrou a
minha família.

— Sua morte será minha, — disse meu marido. — Mas


você é bem-vindo a fazer o que quiser com os restos mortais.

Falando no diabo, Oscuro pôs a cabeça dele no berçário,


semblante sério. — Seu irmão está aqui, Alessandro. Ele veio
buscar seu filho.

Alessandro se inclinou para mim, mão na minha


bochecha.

— Mais um para ir. — Eu sussurrei, sabendo que este


obstáculo final era um obstáculo que meu marido teria que
enfrentar sozinho.
— Meu amor, — ele apertou um beijo na minha testa. —
Vamos aceitar nossa dinastia.

A Chicago Outfit estava de pé sobre os jardins


congelados, envolto em casacos e cachecóis, tremendo, mas
não disposto a ir para dentro. Das crianças até as mulheres
para os Made Men, todos da organização estavam prontos,
esperando. Todas essas pessoas com as quais eu havia
crescido, fornecido e sido fornecida em troca. E aqui estava o
momento final, o clímax.

Hoje à noite, um novo Don seria coroado.

Salvatore Jr. estava no meio da multidão, esperando.

As pessoas deram um passo para o lado, enquanto meu


marido passava entre elas, separando-se como o Mar
Vermelho. Mas ao invés de um profeta de Deus, eles estavam
abrindo caminho para o Godless.

— Onde está meu filho, irmão? — Perguntou Salvatore


Jr., com sua voz fria.

— Adelasia está morta, no caso de você estar


preocupado.
— Eu sei disso, — disse meu cunhado. — Ela não lutou
muito para se salvar.

Eu vi o di Traglias inquietos na multidão.

— Agora, onde está a criança?

— Preocupe-se com você mesmo agora, irmão. — A voz


de Alessandro era profunda.

As feições de Salvatore Jr. não mudaram. — Você está


finalmente me desafiando, irmãozinho?

Todos prenderam a respiração.

Eu empurrei para frente da multidão, ignorando as


palavras reconfortantes e elogios no meu caminho. Os flocos
de neve caiam, grudando no meu cabelo, mas eu não
conseguia sentir o frio.

Alessandro mostrou seus dentes. — Até a morte, irmão.

Seu irmão acenou com a cabeça. — Até a morte, irmão.


O vencedor será Don da Chicago Outfit.

— Don da Chicago Outfit. — Meu marido concordou.

Por um momento, o mundo ficou quieto, imóvel. A


própria neve parecia relaxar e observar.

Quem seria o próximo rei? Quem levaria a Dinastia


Rocchetti a uma nova era dourada? Quem seria o próximo
Don da Chicago Outfit?
Então, como um relâmpago, tanto Alessandro quanto
Salvatore se atacaram.

Eles se encontraram no meio.

Eu nunca tinha visto uma briga como esta. Nem na


igreja onde eu casei, nem quando Alessandro e Toto tinham
destruído meu saguão.

Ambos estavam lutando por suas vidas, por seu futuro.


Salvatore Jr. era mais velho, forte e sem emoções, mas meu
marido foi alimentado pela ira e ambição.

Punhos para cima, joelhos estalando.

Nos momentos em que havia um intervalo, apenas um


segundo em que não tentavam matar um ao outro, eu podia
ver o sangue se acumulando nos dois e o suor cobrindo a
pele deles.

Nenhum deles parecia notar, perdido demais na luta


para se importar. Ambos estavam cheios com tanta raiva e
ódio e necessidade de matar que era fascinante vê-los
lutando.

Eles grunhiram, rosnaram e rugiram. Deram socos,


tapas e golpes. Alguns movimentos foram tão rápidos que eu
não sabia que tinham sido feitos até que ouvi o estrondo, vi o
flash de sangue.

— Você quer brincar assim, irmãozinho? — Perguntou


Salvatore Jr., limpando seu nariz ensanguentado. Ele virou a
mão para o lado, manchando de vermelho a neve branca. —
Você realmente acha que pode ser rei, Alesso?

— Você acha que você pode? — Riu Alessandro,


selvagem e cheio de raiva. — Você não se dedica a nada, não
adora nada.

— E eu suponho que você, sim?

Meu marido sorriu ferozmente. — Oh, sim, eu faço.

Em outro movimento rápido, os dois colidiram, descendo


para a neve. A multidão se moveu para trás enquanto eles se
aproximavam, ofegando com o sangue espalhado, manchando
cachecóis e casacos.

Eu vi Salvatore recuar, batendo em Alessandro direto na


garganta.

Eu ofegava, cobrindo meu pescoço, a dor fantasmagórica


disparando através de mim.

Alessandro virou-se para mim, no meio da luta, como se


tivesse me ouvido e encontrou meus olhos.

O mundo inteiro fez uma pausa.

Aqueles olhos escuros me acolheram.

Só conseguia pensar no dia do nosso casamento.


Quando eu peguei sua mão, aterrorizada pela minha vida, e
olhei para os olhos dele. Os Rocchettis haviam sido monstros
para mim, criaturas de sombras e pesadelos. Mas agora eu
era um deles, eu era casada com um deles, eu tinha dado à
luz a um deles.

Eu estava tão assustada. Mas agora, quando olhei nos


olhos dele, amor feroz e a devoção me seguraram pelo
coração. Este homem furioso havia olhado para a criatura
feia sob meu belo exterior dourado e se apaixonado.

E eu sabia naquele momento, que se Salvatore o


matasse, eu o mataria. Eu abandonaria meus planos e
minhas ambições. Eu caçaria Salvatore todos os dias, o
assombraria e o deixaria louco. Eu o dobraria de dentro para
fora até que ele me implorasse por misericórdia.

Deixei Alessandro saber disso, dizendo-lhe com meus


olhos.

Ele me disse algo.

Então ele voltou para seu irmão, punho balançando,


mais violento do que antes.

A multidão assobiou quando seu punho encontrou em


contato com a carne do outro e aplaudia quando ouvia o
estalido dos ossos. Era difícil saber por quem estavam
torcendo, mas era claro, quem quer que ganhasse, eles
aceitariam como seu Don.

De repente, Alessandro ficou em vantagem, tão


rapidamente, tão abruptamente, que eu nem conseguia
registrar quando ele...
Ele deu um soco em Salvatore bem na têmpora, o som
de seu crânio quebrando soou através do condomínio
fechado.

Meu cunhado desabou.

Alessandro, tão rápido como um chicote, ficou de pé e


veio até mim. Eu não podia dizer nada enquanto ele agarrava
meu pulso, pegava uma arma de Gabriel e me puxava através
da neve ensanguentada, até onde seu irmão estava deitado.

Salvatore olhou para a dele, lutando por sua vida.

Alessandro apertou a arma na minha mão. — É a sua


vida que ele tentou tirar várias vezes. Desde o ataque na
cobertura até o atirador no hospital.

Isso era verdade.

— A morte dele pertence a você, meu amor. A ninguém


mais.

Eu olhei para Salvatore Jr, alarmada que, mesmo na


morte, muito pouca emoção passou por seu rosto.

Pensei em toda a dor e medo que ele tinha me causado.


Ele havia relaxado propositalmente a segurança ao meu
redor, enganou os guarda-costas para pensar que eu estava
bem e me deixou exposta.

Não só Adelasia tinha morrido em suas mãos, mas Don


Piero também.
Eu apertei meu punho na arma.

A última vez que eu tinha matado alguém tinha sido no


meu casamento. Lembrei-me da sensação da faca perfurando
a pele, o fluxo do sangue quente derramado sobre mim.

Desta vez não seria tão feroz, tão vicioso. Era mais
relaxado, mais controlado.

Muito mais meu estilo.

Ao meu marido, perguntei: — Você vai me perdoar por


isto?

Alessandro descansou sua mão na parte de trás do meu


pescoço, ensanguentado e frio, mas familiar e reconfortante.
— Tudo o que você fizer Sophia Rocchetti, já foi perdoado.

Eu segurava a arma sobre meu cunhado, dedo no


gatilho.

— Não tenho certeza se sei como fazer isso. —


Murmurei.

Alessandro veio ao meu redor, segurando meu pulso


firmemente. No meu ouvido, ele disse: — Sim, você sabe. Não
há nada que você não saiba como fazer. Nenhum obstáculo
ou desafio que você não tenha vencido. Você sabe por que eu
estava destinado a me tornar o Don? Porque eu tenho você,
minha Donna, minha rainha.

A força da arma recuou pelo meu braço, só o forte peito


de Alessandro me impediu de recuar.
A cabeça de Salvatore bateu na neve, sangue
acumulando.

Os flocos de neve continuaram a cair, delicados e


pacíficos.

Eu respirei profundamente. — Está feito? Ganhamos?

Alessandro beijou minha bochecha: — Dê uma olhada


você mesma.

Virei-me e encontrei os olhos da Chicago Outfit. Todas


as mulheres com quem eu havia passado horas, todos os
homens que temiam meu marido. Essas pessoas que eu tinha
conhecido como tios, tias e primos, a quem eu tinha chamado
de família.

Vocês caíram nessa? Eu queria perguntar. Minhas belas


palavras o convenceram de que eu deveria ser sua Rainha?
Será que minha autodisciplina me comprometeu? Vocês me
adoram tanto quanto meu marido?

Toto, o Terrível, deu um passo adiante. — Ao Don e


Donna da Outfit! Rei e Rainha de Chicago!

A Outfit rugiu de acordo, torcendo por nosso reinado,


nossa liderança. Neve foi jogada, beijos foram
compartilhados. Seus aplausos eram tão altos que o Céu e o
Inferno poderiam tê-los ouvido, saberiam agora que
Alessandro e eu tínhamos ganho.
Virei-me para meu marido, o amor da minha vida,
pressionando meus lábios contra os dele.

— Aos Rocchettis. — Murmurou ele.

— À nossa dinastia. — Eu murmurei de volta.


Epílogo

Os sons suaves no monitor do bebê me despertaram.

Esfreguei meus olhos cansados, meio que escutando


minha filha. Ela não parecia em apuros, apenas falando e
cantando para si mesma. Virei minha cabeça de volta para o
travesseiro, tentando adormecer de novo.

Então: — Mamaa, — ela começou a cantar. — Mamaaa.

Suspirei e levantei minha cabeça. Dormindo pesado ao


meu lado, estava Alessandro deitado de barriga para baixo,
um braço ao redor do travesseiro e o outro na minha cintura.
Ele respirava com força.

Ele tinha chegado em casa de manhã cedo, cheirando a


pólvora e a sangue.

Eu passei a mão pelo cabelo dele levemente.

— Mamaa, Papaa. — Cantou minha filhinha no monitor.

Eu me virei, agarrei o monitor e o desliguei. Eu não iria


voltar a dormir mesmo e preferia manter as crianças longe de
seu pai para que ele pudesse descansar. Com um último
olhar para Alessandro, escorreguei com cuidado da cama,
enrolei meu roupão ao meu redor e fui em busca da minha
filha.
A porta do quarto do bebê estava aberta, a vozinha dela
podendo ser ouvida do corredor. Espiei pela porta, entrando
no quarto rosa de princesa, com um toldo sobre o berço e
pequenas princesas de brinquedo jogadas ao redor do
cômodo.

Pia estava pendurada na lateral do berço, balançando-se


e cantando. Ela usava um pequeno macacão de borboletas.
Seus cabelos castanhos dourados estavam em dois pequenos
coques, segurados firmemente com faixas rosas. A posição
torta deles me dizia que sua irmã mais velha tinha feito isso
por ela.

— Oi, querida. — Murmurei, entrando no quarto.

Ela se animou ao me ver. — Mama! Bom dia, Mama!

— Bom dia, Pia. — Eu ri.

Ela se esticou, pulando em meus braços antes mesmo


que eu a agarrasse firme. Pia agarrou-se a mim como um
macaco, seu pequeno e quente corpo pressionando-se ao
meu. O cheiro de talco de bebê se apoderou de mim.

— Você dormiu bem, querida? — Perguntei, prendendo-


a no meu quadril e segurando-a em mim. E desfiz seus
coques enrolados.

— Mm. — Ela estendeu a mão, os dedinhos se


contraindo. — Gubby!
— Oh, não podemos esquecer o Gubby. — Inclinei-me
sobre o berço, agarrando seu ursinho de pelúcia cor-de-rosa
que faltava uma orelha e um olho. Ela agarrou Gubby ao
peito. Tentei esconder sua chupeta da sua visão, mas Pia a
avistou e apontou.

Eu o passei para ela, e ela a enfiou alegre em sua boca,


sorrindo ao redor dela.

Pia Salvatrice Rocchetti era a mais nova de todas as


minhas crianças e talvez a mais parecida comigo. Ela era
barulhenta, charmosa e comunicativa, apreciando bonecas e
princesas mais do que tudo. No momento, ela estava
passando por uma fase em que ela deixaria a casa apenas
vestida com um traje de princesa.

— Devemos ir ver seus irmãos? — Perguntei, saindo do


quarto dela.

— Zozo? — Perguntou ela.

Espiei o quarto de Enzo. Ele estava com metade do


corpo na cama, com a perna pendurada no ar e sem roupas
(eu o havia vestido na noite anterior, mas ele conseguia se
despir todas as noites). Sua língua estava para fora e seus
cabelos dourados e castanhos bagunçados.

Fechei a porta suavemente. — O Enzo está dormindo.

Dante também ainda estava dormindo. Ele estava


enfiado em seus cobertores, respirando suavemente.
— Dante ainda está dormindo. Vamos ver como está
Caterina.

— Cat, Cat. — Pia cantou.

Olhei no quarto de Caterina, esperando ver outra


criança dormindo, mas Cat estava aconchegada debaixo da
janela, envolta em seu cobertor, com um livro na frente dela.

— Cat, Cat!

Caterina olhou para nós, sorrindo. — Bom dia, mamãe.


Bom dia, Pia.

Caterina Sofia Rocchetti era minha segunda filha.


Embora sua aparência a fizesse mais parecida com seu pai do
que qualquer um de meus outros filhos, desde seus longos
cabelos lisos e escuros até sua pele oliva, ela era a mais
calma e quieta de todos. Inteligente, atenta e introvertida, era
mais provável que eu a encontrasse lendo um livro do que
brincando com seus brinquedos.

— Bom dia, querida. — Eu me dirigi a ela, dando-lhe um


beijo na cabeça. — Pia e eu vamos fazer café da manhã, você
quer ajudar?

— Tudo bem. — Caterina saiu de baixo de um cobertor.


— Nonno disse que a vovó está ocupada hoje então eu posso
ir com ele para Evanston.

— Vamos ver o que seu pai diz.


Para surpresa de todos, Toto e Caterina eram
extremamente próximos. Desde o dia em que ela nasceu, Toto
a tinha mimado e Cat considerou seu nonno um de seus
melhores amigos. Toto era gentil com meus outros filhos, mas
Cat era a menos infantil, então eu pude ver porque ele a
favorecia.

Na cozinha, Polpetto nos cumprimentou. Ele estava


ficando mais lento hoje em dia e geralmente dormia no andar
principal para não ter que subir e descer as escadas.

— Oi, Petto! — Pia cumprimentou, balançando nos


meus braços.

— Devagar com Polpetto. — Eu lhe disse.

Pia era obcecada por cães. Ultimamente, ela só pedia


um cachorrinho. Alessandro havia sido firmemente contra
uma das raras vezes que ele fez isso com uma de suas filhas.

Já tenho animais selvagens suficientes nesta casa, ele


havia dito quando as crianças o pressionaram sobre isso.
Vocês terão mais sorte em me pedir outro irmão.

Isso foi algo que eu tinha sido firmemente contra.

Minha casa parecia um pouco diferente depois de quase


dez anos. Embora ainda linda, algumas marcas haviam
aparecido nas paredes, brinquedos e sapatinhos foram
enfiados sob os móveis e eu pude ver alguns pequenos
desenhos que Enzo havia deixado para trás nas portas. Os
danos que eles haviam causado não foram a única mudança.
Centenas de fotos revestiam as paredes e todas as
superfícies disponíveis. Todos os nascimentos e aniversários
dos meus filhos. Nós seis em retratos de família, assim como
dos outros Rocchettis e seus entes queridos. Todos nós
sorridentes, felizes. Nada como a casa onde eu tinha crescido,
onde meu marido havia crescido.

Quando Pia se mexendo se tornou demais, eu a abaixei,


deixando-a ir diretamente para o meu cachorro. Polpetto se
desviou dela, indo direto para mim.

— Petto! — Ela chorou.

Caterina foi para sua irmã. — Ele está brincando com


você, Pi.

Pia se alegrava com sua irmã. Como a maioria das irmãs


mais novas em todo o mundo, Pia era obcecada com sua irmã
mais velha. Embora Enzo fosse provavelmente seu favorito
(eles brincavam mais juntos), minhas duas meninas
compartilhavam um laço especial. Um que eu fiquei feliz em
ver, um que me levou a dar Dolly e Maria Cristina à Caterina.

Quando Pia for mais velha, deixaremos ela brincar com


elas, eu disse a minha filha. Ela é muito jovem no momento.

Caterina tinha levado muito a sério o cuidado das duas


bonecas, mantendo-as sem poeira e em uma prateleira alta.

Assim que comecei a fazer as panquecas, e o cheiro


pairava sobre a casa, Enzo desceu as escadas. Ele entrou na
cozinha, selvagem e inquieto como em tudo o que fazia.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele subiu no
balcão, sem qualquer cuidado pela própria vida.

— Oh, Enzo! Você sabe que tem que perguntar antes de


subir.

Enzo Cesare Rocchetti tinha sido uma surpresa


completa, mas esse era apenas meu segundo filho, afinal de
contas. Ele tinha sido de longe o mais propenso a acidentes
de todos os meus filhos, não por causa do azar, mas porque
ele tinha conseguido a natureza imprudente de seu pai. Tudo
o que era perigoso era sedutor para Enzo.

Meu sogro morria de rir sempre que Alessandro


repreendia Enzo. Aparentemente, Alessandro tinha sido tão
mal quanto ele na infância, e só piorou com a idade.

Algo que eu estava aguardando ansiosamente, eu pensei.

Polpetto passou correndo, Pia correu atrás dele.

— Pegue-o, Pi! — Enzo disse animado.

Pia parou quando notou seu irmão, sorrindo bobamente


para ele. — Zozo! — Ela ergueu os braços, querendo sentar-se
ao balcão com ele. — Para cima! Para cima! Mama!

— Você pode sentar-se na cadeira alta ou continuar


correndo por aí.

— Não. — Ela chorou.


Caterina se agachou e Polpetto correu para cima dela.
Ela o segurou delicadamente em seu peito, esperta o
suficiente para saber como segurá-lo sem perturbá-lo. — Pia,
venha fazer carinho em Polpetto.

A atenção de Pia desviou e ela se virou para sua irmã


mais velha, dedos estendidos. — Petto!

Polpetto parecia assustado.

— Mamãe? — Dante entrou na cozinha, esfregando os


olhos.

— Bom dia, meu querido.

Dante, como Caterina, era um pouco mais deliberado


em seu dia-a-dia. Ele era muito sério, ao ponto de estar
quase sempre mal-humorado. Ao contrário de Alessandro e
de mim, Dante não havia pegado um ar para a dramatização
ou para o lado selvagem, ao invés disso, ele se aproximava da
vida sobriamente.

Um dia, ele será um bom Don, era um elogio comum que


recebemos sobre sua natureza dura e responsável.

Ele seria, mas neste momento ele tinha apenas nove


anos e só precisava se preocupar com a escola, com as
brincadeiras e com suas tarefas.

Quando todos os quatro estavam juntos, era fácil dizer


que eram irmãos. Embora Caterina fosse a única com cabelos
castanhos escuros, os outros três conseguiram ter uma
mistura entre a sombra do cabelo de Alessandro e o meu,
criando um marrom dourado, eles compartilhavam
características e atributos.

Todos os quatro também tinham conseguido os olhos do


Rocchetti. Às vezes era assustador quando quatro pares de
olhos quase pretos se voltavam na sua direção.

Os genes do Rocchetti são fortes, Alessandro havia me


dito anos atrás, quando os olhos de Pia escureceram. Eu
queria que pelo menos um deles tivesse meus olhos marrom
uísque.

Ele tinha razão. Todos os quatro carregavam traços e


características muito distintas do Rocchetti, a segunda
geração de nossa dinastia.

Enzo bateu com as mãos no balcão. — Panquecas!

— Como se diz? — Perguntei incapaz de segurar meu


leve sorriso. Eu nunca tinha sido boa em disciplinar,
Alessandro costumava lidar com isso. Especialmente com os
meninos. — Você diz “por favor”, não é mesmo?

Ele sorriu atrevidamente. — Não sei.

— Você não sabe? — Eu questionei. — Eu falhei com


você?

— Sim, sim! — Enzo se esticou por cima do balcão, indo


para a fruteira. Da última vez, ele havia descascado todas as
bananas e criado um mural de comida para nós no chão.
— Oh, não, você não, — eu ri, batendo nas mãos dele
gentilmente. — Você quer ajudar sua mãe?

— Não. — Disse ele.

— Eu te ajudo, mamãe. — Disse Dante, indo buscar os


ingredientes.

— Obrigada, querido.

Assim que ele viu que seu irmão mais velho estava
ajudando, Enzo decidiu que também queria ajudar. Eu o
ajudei a descer da cadeira do balcão para que ele não
quebrasse o pescoço. Assim que seus pés tocaram o chão, ele
correu atrás de Dante, desaparecendo na despensa.

Caterina e Pia vieram para a cozinha.

— Panquecas! — Pia cantou, pulando como um sapo


sobre os azulejos. — Panquecas!

— O que vocês meninas querem em suas panquecas?

— Xarope de bordo. — Respondeu Caterina.

Pia copiou sua irmã, gritando: — Xarope! — O mais alto


que podia.

Eu acariciei seu cabelo, rindo. — Isso não é saudável!


Vocês não querem nenhuma fruta?

— Não! — Pia chorou.

Caterina acenou com a cabeça. — Tudo bem, mamãe.


Pia mudou sua atitude rapidamente. — Nana?

— Sim, você pode comer banana.

Os meninos saíram da despensa. Enzo estava segurando


a farinha, enquanto Dante tinha todo o resto. De alguma
forma, tinha farinha no rosto e no cabelo de Enzo.

— Oh, meu garoto, como isso aconteceu? — Eu lambi


meu polegar e limpei as bochechas dele. Ele se afastou, mas
não antes que Caterina agarrasse rapidamente a farinha dele.

— Eu não sei, mamãe, — disse Dante. — Eu me virei e


ele estava coberto.

— Não é sua culpa, querido. — Alisei o cabelo do meu


mais velho também. Bati minhas mãos juntas,
supervisionando meus quatro filhos. — Muito bem, meus
bebês, quem quer me ajudar com a massa?

Dante e Caterina foram os que mais ajudaram,


enquanto os dois pequenos eventualmente ficaram
entediados, eles se afastaram, rindo como maníacos.

— Não acorde seu pai! — Eu gritei para eles.

Enzo riu de tal forma que eu sabia que eles estavam se


preparando para ir ao nosso quarto. Foi ele rindo na minha
direção que o impediu de ver as pernas de seu pai, colidindo
diretamente com elas.

— Você acordou. — Eu ri.


Alessandro pegou Enzo, balançando-o como um macaco.
— Não são nem oito e meu filho já está causando problemas.

Enzo riu nos braços de seu pai. Mesmo recém-nascido,


ele adorava ser balançado (gentilmente) por Alessandro.
Nenhum dos meus outros filhos havia se importado com isso.

Alessandro o agarrou por cima de seu ombro. — Oh,


agora, para onde ele foi?

Enzo riu tanto que levou um minuto para dizer:— Aqui,


papai!

Meu marido fez um show ao encontrar ele, balançando-o


de volta. Quando ele o colocou de volta no chão, Enzo
reclamou.

— Arrume a mesa e depois eu o balançarei mais um


pouco. — Instruiu Alessandro.

Enzo correu até mim, procurando os pratos.

— Bom dia, papai, — disse Caterina.

Alessandro cumprimentou nossos dois filhos mais


velhos, bagunçando o cabelo de Dante e dando um beijo na
testa de Caterina. — Bom trabalho ajudando sua mãe. —
Disse ele aos dois.

Ambos se alegraram com sua aprovação.

Eu revirei os olhos, mas deixei Alessandro me abraçar,


beijando-o nos lábios.
— Você não me acordou. — Ele disse.

— Eu estava tentando deixá-lo dormir, mas infelizmente,


seus filhos tinham outros planos.

Os olhos de Alessandro brilhavam. — Por falar em meus


filhos, estou sentindo falta de um.

Como se soubesse que estávamos falando dela, Pia veio


rindo para a cozinha. Ela estava usando sapatos.

— Papai!

Alessandro a pegou. — Oh, minha menina! Por que você


colocou sapatos? Você está indo a algum lugar?

Ela riu.

— Vamos lá. Vamos ajudar seu irmão a colocar a mesa.

Logo, eu estava colocando panquecas no meio da mesa


de jantar. Todos os meus filhos avançaram sobre a mesa; os
dedos esticados.

— Há o suficiente para todos, — eu disse quando Enzo


tentou tomar uma garrafa inteira de suco de laranja. — Não
seja ganancioso.

Quando Enzo não parou, Alessandro disse seu nome de


forma advertida. Instantaneamente, nossa criança de quatro
anos congelou.

— Incrível. — Murmurei, tomando meu lugar.


— Como é que vocês têm que dizer? — Perguntou
Alessandro.

Instantaneamente, todos eles falaram: — Obrigada,


mamãe. — Pia até me deu um beijo, fazendo-me rir.

— Obrigada, meus bebês. Agora, o que todos têm


planejado para hoje?

Dante olhou para Alessandro. — O pai está levando


Raffaele, Adriano e eu para o circuito.

Meu marido acenou com a cabeça. — Até a hora do


almoço.

Então Alessandro teria que ir trabalhar. Havia um


carregamento de drogas chegando às 14h, que Alessandro
teria que supervisionar. Era de um novo fornecedor nosso,
então meu marido estava sendo muito crítico.

— Papai, — Cat chamou. — Posso ir com Nonno para


Evanston?

Alessandro encontrou meus olhos sobre a mesa,


sobrancelhas levantadas. Eu acenei com a cabeça. — Tudo
bem, querida.

Ela se iluminou. — Obrigada, papai.

Suas feições suavizaram. Alessandro tinha um ponto


fraco para suas duas filhas, especialmente sua primeira.
Enquanto eu era um pouco mais suave para os meninos,
Alessandro sempre foi mais tolerante com as meninas. Não
sei por que havia sido dessa maneira, mas foi como
aconteceu.

— O que você e seu avô vão fazer em Evanston? —


Perguntou ele.

— O shopping de Evanston é o único em Illinois que


atualmente tem um Dicionário Oxford completo. — Disse ela
casualmente, como se todos nós soubéssemos o que era isso.

Alessandro acenou com a cabeça. — Ah.

Ao nosso olhar em branco, ela acrescentou: — Tem


todas as palavras que existem em inglês gravadas nele.

Todos nós acenamos com a cabeça.

— Isso soa incrível, querida, — eu disse. — Talvez você


tenha que trazer um carrinho para carregá-lo para casa.

Caterina sorriu um pouco. — Sim, talvez.

— E quanto a você, Sr. Enzo? — Eu perguntei.

Enzo estava tentando esmagar todo seu morango em


sua panqueca. Ele sorriu para mim, sabendo que estava
quebrando as regras ao brincar com sua comida. Será que ele
se importava? Não.

— Eu vou comer panquecas. — Ele me disse.

— Muito bem. Algo mais?

— Não! — Ele lambeu sua colher.


— E você, Pia?

Minha filha não estava ouvindo. Ela tinha visto Polpetto


e seus olhos tinham se estreitado. — Petto!

Alessandro olhou por cima do ombro, vendo o cachorro.


— Deixe-o em paz, Pia.

— Cachorrinho! — Gritou ela.

Como se fosse uma palavra de código, todas as crianças


se endireitaram em suas cadeiras.

— Podemos ter um cachorro? — Perguntou Caterina.

— Um legal, — acrescentou Dante. — Como um Mastim


Inglês.

Enzo acenou com a cabeça. — Um que possamos


montar!

— Cachorrinho! — Pia finalizou.

— Sem mais animais de estimação, — alertou


Alessandro. — Se você quer brincar com um cachorro, você
vai para a casa de sua bisavó.

Normalmente era o que fazíamos, apenas os mandava


por algumas horas a casa de Nicoletta para brincar com os
cães. Imagino que Alessandro não se deu conta que isso só os
fazia querer mais um animal de estimação.

— Não. — Lamentou Enzo.


— Nonna Nicoletta nem sequer sabe meu nome. — Disse
Dante.

— Não seja rude, — eu disse a ele. — Ela sabe seu


nome; ela só não conhece seu rosto.

Ele me deu um sorriso, idêntico ao de Alessandro.

Quando o café da manhã acabou, eu relaxei na mesa


enquanto Alessandro e as crianças guardavam os pratos.
Caterina até me trouxe um café, tentando muito não
derramar.

Eu os observava enquanto trabalhavam, meu coração


inteiro se separou em cinco almas individuais. Eles riram e
brigaram, jogando sabão e bolhas um no outro. Quando o
Enzo jogou geleia no cabelo do Caterina, Alessandro parou
com o jogo.

— Você foi longe demais e agora não tem graça. —


Disse-lhes ele, mas seus olhos brilhavam.

Ouvi então a porta da frente se abrir, — Olá?

— Aqui dentro, querido!

Adriano Rocchetti entrou na cozinha, seus olhos


castanhos escuros brilharam. — Oi, tia Sophia.

— Oi, Adriano. Há sobras de panqueca, se você quiser.


Minha filha falou: — Não, não há. — Virei para ver a
Caterina com Enzo. Enzo tinha jogado as sobras de
panquecas dentro do lixo como se brincasse de frisbee.

Dei-lhe um olhar de aviso, mas disse a Adriano: — Você


pode ter alguma fruta.

— Está tudo bem, tia Sophia, — disse ele, empurrando


seus cabelos escuros. — Eu já tomei o café da manhã.

— Está bem, então.

— Vamos embora em um minuto, Adriano. — Disse-lhe


Alessandro.

Adriano se endireitou. — Sim, senhor. — Para Pia, ele


disse: — Aurelia está lá fora.

— Relly! — Pia chiou.

Dante se encolheu.

Aurelia di Traglia foi a primeira garota nascida na


família di Traglia, o que significa que ela estava noiva de
Dante. Ambos eram tão pequenos e gordinhos no momento,
mas um dia eles se casariam. Aurelia era um pouco jovem
demais para entender, mas Dante sabia.

— Você deveria ir dizer oi, Dante. — Eu lhe disse. Ele


não parecia que queria fazer isso.
Poucos momentos depois, meu sogro entrou em nossa
casa como se fosse sua. Raffaele caminhando ao seu lado,
esquivando-se dos ataques lúdicos de seu pai.

— Onde está minha neta? — Toto, o Terrível, chamou


enquanto ele caminhava para dentro.

Caterina acenou. — Oi, Nonno.

— Pronta para ir comprar um grande livro do caralho?

— Linguagem. — Alertou Alessandro.

Toto piscou o olho para sua neta. Para seu filho, ele
disse: — Diga oi para seu irmão e Sophia.

Raffaele nos cumprimentou e eu lhe ofereci algumas


frutas, que ele educadamente recusou.

Tirar os meninos de casa se provou ser uma tarefa


difícil, mas logo eu estava de pé na entrada, Pia e Enzo em
volta dos meus pés. Alessandro levou os três rapazes mais
velhos, enquanto Toto levava Caterina em seus ombros do
outro lado da rua, ouvindo algo que ela lhe dizia.

Quando ele foi embora, Alessandro me deu um beijo


profundo, ignorando os gritos de nojo de nossos filhos.

— Eu te amo. — Ele disse.

— Eu também te amo. Dirija com cuidado.

Ele acenou com a cabeça, deixando-me com um sorriso.


Nosso casamento tinha sido bom, poderoso, durante os
últimos dez anos. Éramos felizes, ainda dedicados um ao
outro. Era estranho pensar assim depois do que eu esperava
quando eu era muito mais jovem e uma esposa recém-
casada.

Eu vi Beatrice em seu gramado, seus dois filhos,


Elisabetta e Stefano, perseguindo-se um ao outro. Sergio
acenou para Alessandro ao passar, segurando sua filha,
Rosanna Ossani em seu quadril. Aurelia di Traglia passou
correndo sendo perseguida por seu pai e suas gargalhadas se
elevaram até as nuvens.

Tão doméstico, tão suburbano, mas lar de alguns dos


gângsteres mais ferozes do mundo.

Durante os dez anos que se passaram desde que me


casei com Alessandro “The Godless” Rocchetti, tanta coisa
havia acontecido. Pessoas haviam se apaixonado e
desapaixonado, filhos haviam nascido e sido abençoados,
casamentos arranjados.

A Outfit mudou, os Rocchettis mudaram. As Máfias fora


de Chicago mudaram. Mais histórias do que eu poderia
contar tinham passado, contos recheados com dor e lealdade,
sangue e dever.

Eu olhei para meus filhos, olhando em seus olhos


escuros.

E tantas outras histórias aconteceriam.


Cenas BônuS

— Srta. Sophia, seu pai deseja vê-la.

Eu olhei para cima a partir da massa que eu estava


preparando. Dita ficou de pé junto à porta da cozinha,
movendo-se lentamente.

— Diga-lhe que estarei lá em um minuto.

— Ele foi bastante... Insistente, Srta. Sophia. — Disse


Dita. Ela olhou por cima do ombro, como se tivesse medo de
alguma coisa.

Eu limpei minhas mãos. — Vou imediatamente. Você se


importaria...

— Claro que não. — Dita ocupou meu lugar na cozinha,


trabalhando a massa com a mão de uma especialista.

Lavei minhas mãos e pendurei meu avental. O papai não


ficaria satisfeito se eu entrasse em seu escritório com farinha
nas mãos.

O escritório do papai era a sala mais importante da


casa, eu sempre tinha pensado assim. Foi onde nossos tios e
primos entravam depois do jantar, fumando muito e
discutindo sobre negócios da Outfit. Sempre que as portas de
mogno estavam fechadas, sabíamos que devíamos nos
afastar. Ser convocados para o escritório era equivalente a ser
enviada para a sala do diretor.

Se papai fosse um rei, então seu escritório seria a sede


de seu poder.

As portas estavam ligeiramente abertas, mas eu ainda


batia. — Papai?

— Entre, bambolina.

Eu deslizei para dentro da sala, fechando a porta


suavemente atrás de mim.

A sala estava pouco iluminada, a única fonte de luz


eram os raios solares que se derramavam sob as cortinas. Se
você espreitasse pelo ar esfumaçado, poderia ver os livros
antigos com suas lombadas não abertas e pinturas de
batalhas sicilianas alinhadas nas paredes. No meio da sala,
estava a grande mesa, com meu pai nela, supervisionando a
sala como um monarca do século XVII.

Papai fez um gesto para mim. — Sente-se, bambolina.

Eu me sentei obedientemente, a cadeira de couro


afundando sob meu peso. — Está tudo bem, papai?

Meu pai não parecia feliz, não que ele fosse um homem
conhecido por sua visão positiva da vida. Mas geralmente, eu
conseguia um pequeno sorriso.

— Tenho algumas novidades, — disse ele.


Novidades? Que tipo de novidades? Boas ou más?

— Oh?

Papai juntou seus dedos na frente dele. — O Don se


aproximou de mim com uma oferta muito... muito generosa.
Mais generosa do que merecemos.

O Don? Meu estômago ficou tenso. Eu não ia gostar


onde esta conversa ia parar.

— Ele ofereceu a nós casamento com um de seus netos.

Todos os pensamentos morreram da minha cabeça e


depois voltaram a cair em uma única onda de ansiedade.
Don? Casar? Neto? Eu mal conseguia formar um pensamento
coerente, mal podia acreditar no que estava ouvindo.

— Você vai se tornar uma Rocchetti. É um bom arranjo,


considerando tudo. — Disse ele.

Eu separei meus lábios, mas não saíram palavras.

— Esperava por alguém mais calmo para você, — disse


papai, pedindo desculpas. — Mas... não há mais homens
equivalentes ao seu status e você tem quase vinte e cinco
anos, minha querida. Velha demais para não ter se casado.

— Tenho apenas vinte e um. — Era tudo o que eu podia


dizer.

Suas palavras ainda estavam se repetindo através da


minha cabeça, sem verdadeiramente se firmarem.
— Você terá vinte e dois anos quando estiver casada. —
Disse ele.

Papai olhou para as fotos alinhadas ao longo de sua


mesa. Fotos de minha irmã e eu. Suas inúmeras esposas
nunca tiveram espaço sobre a mesa, então eu costumava
sentir um tipo estranho de realização por causa disso. Agora,
elas eram um lembrete de que eu já tinha tido uma irmã e
não tinha mais uma.

Eu olhava para a cadeira ao meu lado. Duas cadeiras de


couro estavam em frente à mesa do meu pai. Eu sempre
havia tomado a da esquerda e Cat sempre havia tomado o
assento da direita.

A cadeira vazia zombou de mim silenciosamente.

— Sophia? — Chamou papai.

Eu olhei para ele.

Em sua defesa, papai não parecia muito contente com a


oferta. Mas eu sabia que ele conseguiria poder e dinheiro
aliando-me a alguém, mesmo que ele ficasse apavorado pelo
meu novo noivo e sua família.

— Estou ficando velho, Sophia, — papai tentou. — Esta


é a única maneira de eu saber que você será cuidada. Eu não
estarei vivo para sempre para cuidar de você.
— Claro que não. — Eu sorri para ele. Não me restava
muita família e falar sobre a morte de meu pai não me fez
sentir melhor. — Mas... os Rocchettis?

Até mesmo dizer o nome deles fez o ar na sala ficar mais


frio.

— Você será tratada bem, — disse ele. Depois


acrescentou: — Só não lhe dê um motivo para castigá-la e
você estará a salvo.

Eu tinha vivido minha vida dessa maneira. Evitando


castigos, seja de violência ou de decepção. Seja apenas
comportando-me ou agindo de forma estúpida o suficiente
para escapar de um pouco de rebeldia. De qualquer forma, eu
sabia o que se esperava de mim. Eu sabia que meu pai só me
puniria se eu violasse suas regras..., mas e o meu futuro
marido?

Ele poderia apenas me punir por diversão. A náusea


subiu em mim.

Papai estava ficando impaciente comigo. Eu podia ver


isso em seus olhos. — Você deveria estar muito feliz, Sophia.
Há muitas mulheres mais jovens que foram oferecidas para
os Rocchettis e mesmo assim foi você quem foi escolhida.
Eles são uma família muito poderosa e qualquer casamento
com um deles garantirá luxo e segurança.
As famílias dessas jovens mulheres ficariam chateadas
de não conseguirem o casamento, mas as próprias mulheres
jovens ficariam aliviadas.

Eu me endireitei. — Eu sei papai. Perdoe-me... eu só


estava com medo. Há rumores sobre as mulheres...

— Fará mais bem a você se ignorar essas coisas, —


disse papai. Mas seu tom e a posição de seu corpo me
disseram que ele mesmo acreditava neles. — Eu sei que você
está com medo, minha querida. Mas você é uma boa moça e
será uma boa esposa. O que você tem a temer?

Suas palavras caíram por terra.

Eu tentei sorrir. Se fosse qualquer outro homem, eu


poderia ter sido grata. Embora meu desejo de casar tivesse
diminuído após a morte de minha irmã, entendi que eu
estava envelhecendo e me casando tão rapidamente após
uma morte na família seria visto como bastante inapropriado.
Uma grande parte de mim só queria ficar com meu pai, mas
ele morreria logo, por mais mórbido que isso fosse, e então o
que eu faria?

Mas casar com os Rocchettis...

— Qual Rocchetti? — Eu consegui perguntar.

O papai parecia decididamente desconfortável. —


Alessandro Rocchetti.

Meu sangue esfriou. — O quê?


— Você não diz o quê, Sophia. Isso não são boas
maneiras.

Eu fiquei estupefata. — Mas, mas ele é horrível! Ele é


um monstro! Você nem gosta de falar com ele em eventos,
papai, porque ele é tão aterrorizante!

Papai ficou furioso de repente e eu sabia que eu tinha


ido longe demais. — Você não fala assim comigo, Sophia
Antonia. Casar-se com a família Rocchetti lhe trará uma vida
de luxo.

E ao meu pai muito dinheiro e acordos comerciais.

— Sinto muito, papai. — Eu caí de novo na minha


cadeira.

Alessandro Rocchetti... Era um homem a ser


considerado. Eles o chamavam de The Godless, uma dica não
tão sutil sobre todas as atrocidades profanas que ele havia
cometido ao longo dos anos. Eu não era privada dos negócios
da Outfit, mas isso não significava que eu não tivesse ouvido
as histórias horripilantes que seguiam o irmão Rocchetti mais
novo.

Eu agarrei a cadeira, me firmando.

Papai aparentemente não estava mais confortável e ficou


de pé. Ele se debruçou sobre sua escrivaninha e olhou para
mim. A enorme figura prepotente em minha vida, que eu
havia passado de ressentimento para o amor de volta a
ressentimento em um dia. Às vezes até mesmo várias vezes
ao dia.

Você não deveria odiar seu pai, eu disse a mim mesma.

E eu não odiei, não verdadeiramente. Cat o odiava,


odiava nossas madrastas. Até mesmo as governantas, ela se
ressentira. Mas eu nunca havia encontrado em mim ódio por
elas, afinal de contas, elas estavam apenas fazendo o que
haviam sido treinadas e ensinadas a fazer. Especialmente o
nosso pai Capo.

Mesmo que ele me tenha vendido a um monstro, sem


qualquer cuidado com o meu bem-estar.

— Você tem muita sorte de os Rocchettis terem decidido


deixá-la casar com o filho deles, Sophia. Sei que eles estão
procurando alguém muito diferente para Salvatore. — O que
significa que eles queriam alguém mais jovem e que não
estivesse em um momento de luto.

Eu olhei para a cadeira vazia ao meu lado. Cat teria dito


algo. Ela nunca tinha sido propensa a fazer algo que não
quisesse fazer.

— Eu sei que ele é um homem intenso, — disse papai,


tentando soar suave, mas falhando miseravelmente. — Mas
você é uma boa moça, quando está quieta, e seu bom
comportamento a deixará impune. — Como sempre tinha
feito com ele. — Esperava casar você com alguém... diferente.
Mas não podemos olhar os dentes de um cavalo dado.
Suas palavras me surpreenderam. Houve uma estranha
resignação para elas como se papai não tivesse estado
totalmente a bordo com meu casamento no clã Rocchetti,
apesar das conexões e negócios que ele certamente receberia
dele.

Eu não apontei isso. Ele o negaria.

Papai andava ao redor de sua mesa e colocou uma mão


pesada no meu ombro. — Não quero lhe causar mais tristeza,
Sophia, mas o fato é que não viverei para sempre e gostaria
de garantir que minha filha será bem guardada depois que eu
estiver ido. Por seu marido e depois por seu filho.

Com a forma como os Rocchettis lidavam com as


mulheres, duvidei que eu viveria para ver meu filho.

— Quando é o casamento? — Eu guinchei.

— Está planejado para o dia 25 de janeiro.

Isso não estava nem a seis meses de distância. Os


noivados aconteciam ao longo de anos, décadas até! Mas nem
mesmo meio ano? Não é assim que as coisas eram feitas.

— Vai ter que procurar por um vestido logo, — disse ele.


— Pegue algumas das suas primas e vá escolher um. Você vai
gostar disso.

Acenei com a cabeça, sem realmente ouvir. — Quando...


quando é a festa de noivado?
— Não há tempo suficiente para planejar uma festa de
noivado e um casamento, — disse papai. — Você terá que se
contentar sem uma. Mas Alessandro virá para lhe dar seu
anel. Espero que você esteja no seu melhor comportamento.

Melhor comportamento? Me deu vontade de gritar,


puxar o papel de parede com minhas unhas. Gostaria de
atirar no meu pai e o machucar. Eu queria uivar e gritar e
machucar, mas ao invés disso sorri delicadamente para
papai.

Afinal de contas, ele não desejava meu mal. Eram


apenas negócios.

Meu medo dos Rocchettis apenas aumentou à medida


que o conhecimento do meu noivado começava a se afirmar.

Até mesmo os empregados me deram um ar de piedade e


Dita fez um esforço especial para fazer todas as minhas
comidas favoritas. Havia uma sensação de que eles sabiam
exatamente o que aconteceria comigo quando eu estivesse
aos cuidados dos Rocchettis.

O mesmo que havia acontecido com qualquer outra


mulher que tivesse entrado em contato com aqueles homens
horríveis.
Meu noivado se tornou público logo depois que papai me
contou, levando a centenas de telefonemas de parentes e
associados. Embora um casamento fosse algo a ser
celebrado, eu podia ouvir o leve terror em suas vozes. Aquela
farpa de medo que os Rocchettis tão facilmente atingiam no
coração das pessoas.

Oh, pobre Sophia, eu podia ouvi-los dizer, ela não vai


sobreviver aos Rocchettis.

Primeiro sua mãe, depois sua irmã e agora ela mesma.

Quando chegou o dia, eu sentei no final da minha cama,


os joelhos apertados juntos. Senti-me quase derrotada, de
forma embaraçosa.

Estava pronta há horas, esperando o Godless fazer sua


chegada. Seria este o nosso casamento inteiro? Eu esperando
por ele, perfeitamente vestida? Eu só podia ter esperança.

Se eu tivesse sorte, poderíamos até nos tornar um


desses casais estranhos. Não era raro. Muitas vezes as
esposas se instalavam na casa principal, criando os filhos,
enquanto os maridos passavam a maior parte do tempo em
suas outras residências com mulheres mais dispostas que
suas esposas.

No entanto, isso era se eu vivesse tanto tempo. As


mulheres Rocchetti tinham o estranho hábito de...
desaparecer. Da esposa de Don Piero à mãe de meu marido,
as mulheres... simplesmente desapareciam.
Um dia eu poderia estar muito bem... simplesmente
desaparecer.

A batida na porta me assustou.

— Senhorita Sophia? — Veio a voz de Dita. — O Sr.


Rocchetti está aqui. Hora de se apressar.

Engoli tão alto que tive a certeza de que Dita podia ouvir
do outro lado da porta.

Com mais raiva do que eu sentia, deslizei em meus


saltos, verifiquei duas vezes minha aparência e fui para as
escadas. Ninguém tinha que me dizer que meu pai e o
Godless estavam no escritório. Onde mais eles estariam?

Fiz uma pausa quando cheguei às portas de madeira.


Parte de mim queria fugir gritando, mas o que isso me daria?
Eu seria pega e nomeada uma ameaça. O que não me
beneficiaria em nada.

Eu bati na porta.

— Entre, Sophia.

Respire fundo, Soph, veio a voz da minha irmã. Respire


fundo.

Lentamente, eu abri a porta e entrei no escritório.

Avistei o cabelo escuro de Alessandro primeiro, antes


que ele se levantasse e se virasse.
Meu fôlego foi arrancado de mim, como sempre fazia
quando o via.

Alessandro Rocchetti não sorriu para mim. Apenas


olhou para o papai.

Papai reagiu rapidamente. — Alessandro, minha filha,


Sophia Padovino. Sophia, venha aqui.

Cheguei mais perto, mas descobri que minhas pernas


não estavam dispostas a atender à minha demanda mental.

Papai virou os olhos para mim, apertando a mandíbula.

Alessandro não se deu ao trabalho de beijar minha mão


na saudação. Eu estava muito distante, de qualquer forma.

— Senhorita Padovino, — disse ele em saudação.


Depois, ao papai: — Desejo ter uma palavrinha a sós com ela,
Cesare.

Não houve nenhum pedido em suas palavras.

Papai se levantou e acenou com a cabeça. — É claro.


Estarei lá fora. — Uma maneira amigável de dizer a ele para
manter suas mãos longe até depois de termos nos casados.

Observei impotente enquanto meu pai passava por mim


e fechava a porta suavemente atrás dele, deixando-me
sozinha com a criatura que chamávamos de Rocchetti.

Um movimento chamou minha atenção e eu me virei


para ver Alessandro servindo-se de algo para beber.
O silêncio cresceu.

Alessandro tomou um gole de sua bebida e virou-se para


mim, dando-me toda a sua atenção. Meu coração começou a
bater mais rápido. Eu me sentia como a gazela sob os olhos
do leão faminto.

Apertei fortemente minhas mãos na minha frente. —


Sinto muito se você esperou muito tempo. Se eu soubesse a
que horas você estava chegando, eu o teria saudado.

— Eu tinha negócios com seu pai.

— É claro. — Eu dei uma olhada na bebida em sua mão.


Talvez eu devesse ter pedido uma? Isso poderia ajudar.

Alessandro vagou para as fotos na estante. Ele bebeu


um gole ao ver as fotos da minha irmã e de mim, de bebês a
jovens mulheres. Ele parou em uma de Cat e eu com a tenra
idade de dezenove anos, vestidas lindamente e de pé diante
de uma árvore de Natal.

— A festa de Natal, — disse eu. — Essa foi tirada na


Festa de Natal. — Como se não fosse óbvio.

— Meus pêsames pela morte de sua irmã. — Ele não me


pareceu tão apologético.

Eu sorri rigidamente. — Obrigada. Foi uma perda


difícil..., mas você não é um estranho para elas, não?

Alessandro virou seus olhos para mim.


Devia ter ficado de boca fechada, devia ter ficado de boca
fechada...

— Não, suponho que não sou. — Alessandro tomou


outro gole de sua bebida antes de tirar uma pequena caixa de
seu bolso. — Seu anel de noivado.

— Obrigada. — Eu peguei a caixa de veludo dele e a


abri. Dentro, um belo anel descansava. O anel tinha um
grande diamante no meio, com pequenos diamantes
decorando a borda dele, quase parecendo uma flor. A faixa
era dourada e brilhava na luz do escritório.

— É lindo.

— É uma relíquia de família.

Sorri para ele. — Vou tentar mantê-la segura então. —


Ele não me pareceu divertido.

Rapidamente olhei para baixo e coloquei o anel. Ele


brilhava lindamente e me fazia sentir muito mais velha do
que eu era.

Alessandro pôs seu copo sobre a mesa, vazio.

E me analisou por um momento. Havia algo


acontecendo atrás daqueles olhos quase pretos. Por fim, ele
acenou com a cabeça.

Ele não me deu permissão para usar seu primeiro nome,


apenas andou ao meu redor e saiu. Ouvi papai e suas vozes
profundas fora do escritório, antes que a porta da frente se
fechasse.

Eu fechei minha mão.

Alessandro Rocchetti foi aterrorizante e rude. Se eu


tivesse agido ou tratado alguém da maneira como ele me
tratou, eu teria sido esfolada viva. Mas, para ser justa, se eu
pudesse matar alguém com minhas próprias mãos, talvez não
me preocupasse com os modos da sociedade.

Mas eu não era uma colega que ele teria que suportar
durante o seu turno. Eu ia ser sua esposa.

Eu olhei para o belo anel no meu dedo. Um que todas as


outras mulheres Rocchetti tinham usado.

Oh, que Deus me ajude.

Fim
Agradecimentos

Eu sempre fico tão emocionada escrevendo essas coisas,


mas aqui vamos nós!

É uma loucura e perturbador pensar que a Dinastia


Rocchetti chegou ao fim. Escrever sobre Sophia e Alessandro
me deu muita alegria e felicidade e me levou por esses
tempos tumultuados. Desde o início dessa jornada sozinha e
agora a terminando cercada por amigos, adorei cada segundo
(bem... talvez não a cada segundo!) e mal posso esperar para
continuar escrevendo histórias para todos.

Meu primeiro agradecimento tem que ir ao meu editor,


Sheri da Light Hand Proofreading. Sem sua experiência e
paciência constante, esses livros ainda seriam ilegíveis. Seu
apoio e amor significaram mais do que eu jamais poderia
escrever e estou muito animado por continuar minha jornada
de escrita com você ao meu lado.

Para Harim, meu leitor BETA. Obrigado por todas as


suas anotações e suporte. Sua capacidade de ver a minha
história e me ajudar melhor foi inigualável. Todos os dias sou
grata por você ter me contatado e acreditado tanto nas
minhas histórias! Você realmente é o melhor leitor BETA do
mundo inteiro.
Para Dar Albert, meu designer de capa, e AJ Wolf, meu
formatador / designer gráfico ... nem sei por onde começar! A
arte que você trouxe para a Dinastia Rocchetti conseguiu
escolher as palavras da página e me deixar segurá-las em
minhas mãos! Trabalhar com vocês dois foi incrível e mal
posso esperar para fazê-lo novamente.

Aos meus leitores do ARC ... amo todos vocês e muito


obrigada! Sue, Tahlia, TJ, Theresa, V, Uzma, Maria, Cynthia,
Chloe, Drew, Gurleen, Mihaela, Jen, Chelsea, Tiff any,
Marissa, Liz, Vandana, Miriam, Rhonda, Thilras, Mari,
Chimere, Madhulika, Asena, Shikha, Zara, Deanna,
Alexandra, Emily, SaYa, Tentações Literárias, Sya, Sammy e
Amy! (Ufa, espero que seja todo mundo!)

Para meus colegas autores, JM Stoneback e V Domino,


seu apoio, compreensão e amizade me deixam empolgado em
continuar escrevendo. Amo vocês dois!

Para o Bree Porter's Bookclub, todos vocês significam


muito para mim. Ler seus comentários e teorias me traz
muita alegria - principalmente porque às vezes vocês
chegaram tão perto e eu fico muito preocupada!

É claro, para minha melhor amiga, Imogen, que tem


tentado muito ler meus livros e as tentativas dela significam
mais do que posso dizer.

E para todo mundo que pegou meus livros! Obrigada por


ter chegado tão longe na jornada! Todas as mensagens,
críticas e comentários me levaram a escrever esta série e a
planejar mais. Eu gostaria de poder abraçar cada um de
vocês, mas infelizmente a localização é nosso inimigo. Nunca
haverá palavras suficientes no idioma inglês para eu
agradecer... mas obrigada!

Tchau!

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