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DOI: 10.

5327/Z0100-0233-2015390300007

ARTIGO ORIGINAL DE TEMA LIVRE

CONSUMO DE PLANTAS MEDICINAIS POR


MULHERES IDOSAS DO MUNICÍPIO DE QUIXERÉ (CE)

Maria Vanessa Freitas Sousaa


Jânia Maria Augusta da Silvab

Resumo
A utilização de plantas medicinais para o tratamento de doenças é uma prática
milenar com repasse de geração em geração. No entanto, esse saber tem sido desvalorizado
com o avanço da medicina convencional. Assim, o presente estudo buscou conhecer as
principais plantas medicinais utilizadas por mulheres idosas, efeitos benéficos e/ou adversos,
além de sua utilização em detrimento do uso de medicamentos alopáticos. O seguinte estudo
teve caráter transversal, quanti-qualitativo e descritivo. Foram entrevistadas 80 mulheres
idosas da cidade de Quixeré (CE) no ano de 2014, por meio de formulários estruturados a
fim de coletar dados sobre: plantas medicinais utilizadas, indicações, efeitos observados e
possível associação com medicação alopática. Os dados foram analisados por frequência, e os
efeitos das plantas mais citadas foram comparados com a literatura vigente. Registraram-se 88
variedades de plantas medicinais utilizadas principalmente como chás (50,43%), objetivando
por vezes o efeito calmante (21,95%) promovido por algumas variedades. Efeitos adversos
não foram apresentados pela maioria das entrevistadas (91,25%), tendo as plantas atendido
ao objetivo almejado em 100% das tentativas (96,25%). As plantas mais citadas foram
capim-santo, malvarisco, cidreira, erva-doce, folha da laranjeira, boldo, limão e romã. A não
associação com medicação alopática foi predominante (58,75%). O conhecimento popular
demonstrou-se rico em vários aspectos relacionados às plantas medicinais, não dispensando a
necessidade de mais estudos.

Palavras-chave: Plantas Medicinais. Mulheres. Idosos. Saúde Pública.

a
Faculdade de Nutrição; Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará – IFCE – Limoeiro do Norte (CE), Brasil.
b
Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará – IFCE – Limoeiro do Norte (CE), Brasil.
Endereço para correspondência: Maria Vanessa Freitas Sousa – Rua José Gonçalves Ferreira Lima, 928 – Centro –
CEP: 62920-000 – Quixeré (CE), Brasil – E-mail: mariavaneza@hotmail.com

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Revista Baiana CONSUMPTION OF MEDICINAL PLANTS BY ELDERLY WOMEN FROM QUIXERÉ (CE) TOWN
de Saúde Pública

Abstract
The use of medicinal plants for treatment of diseases is an ancient practice with
passing from generation to generation. However, this knowledge has been devalued with the
advancement of conventional medicine. Thus, this study sought to know the main medicinal
plants used by older women, beneficial effects and/or adverse, and its use over the use of
allopathic medicines. The following study was transversal, quantitative and qualitative and
descriptive. Eighty elderly women in the city of Quixeré (CE) in 2014 using structured forms
by collecting data were interviewed about: medicinal plants used, statements, observed effects
and possible association with allopathic medication. Data were analyzed using frequencies,
having the effects of the plants most cited compared with the current literature. Eighty-eight
varieties of medicinal plants used primarily as teas (50.43%) were registered, aiming
sometimes the calming effect (21.95%) promoted by some varieties. Adverse effects were
not reported by most respondents (91.25%) and plants reached the desired goal in 100% of
attempts (96.25%). The plants most cited were: lemongrass, malvarisco, citron, fennel, sweet
orange leaf, boldo, lemon and pomegranate. The non-association with allopathic medication
was predominant (58.75%). The popular knowledge proved to be rich in various aspects
related to medicinal plants, not eliminating the need for more studies.
Keywords: Plants, Medicinal. Women. Elderly. Public Health.

CONSUMO DE PLANTAS MEDICINALES POR LAS


MUJERES ANCIANAS DEL MUNICIPIO DE QUIXERÉ, CEARÁ, BRASIL

Resumen
El uso de plantas medicinales para el tratamiento de enfermedades es una
práctica antigua con el paso de generación-generación. Sin embargo, este conocimiento ha sido
devaluado con el avance de la medicina convencional. Por lo tanto, el presente estudio trató
de conocer las principales plantas medicinales utilizadas por las mujeres mayores, suyos efectos
beneficiosos y/o adversos, además de su empleo sobre el uso de medicamentos alopáticos. El
siguiente estudio tuvo carácter trasversal, cuanticualitativo y descriptivo. Se entrevistaron a 80
mujeres ancianas en la ciudad de Quixeré, Ceará, Brasil, en 2014, utilizándose formularios
estructurados mediante la recopilación de datos sobre: plantas medicinales aplicadas,

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indicaciones, efectos observados y posible asociación con la medicación alopática. Los datos
fueron analizados por medio de las frecuencias, y las plantas más citadas tuvieron sus efectos
comparados a la literatura actual. Se registraron 88 variedades de plantas medicinales utilizadas
principalmente como tés (50,43%), con el objetivo a veces del efecto calmante (21,95%),
promovido por algunas de ellas. Los efectos adversos no fueron reportados por la mayoría de los
encuestados (91,25%) y las plantas cumplieron con la meta deseada en el 100% de los intentos
(96,25%). Las plantas más citadas fueron: la hierba santa, el malvavisco, bálsamo, hinojo, hojas
de naranja dulce, boldo, el limón y la granada. La no asociación con la medicación alopática
fue predominante (58,75%). El conocimiento popular se demostró rico en diversos aspectos
relacionados con las plantas medicinales, pero no elimina la necesidad de más estudios.
Palabras clave: Plantas medicinales. Ancianos. Salud Pública.

INTRODUÇÃO
A utilização de plantas medicinais para o tratamento de doenças é uma prática
milenar com repasse ao longo das gerações. No entanto, os conhecimentos aprofundados
em medicina levaram a uma desvalorização desse saber tradicional em detrimento do
tratamento alopático.1
Tal uso, no entanto, ainda é comum entre a população idosa, tendo sido registrado
por vários trabalhos.2 Dessa forma, os conhecimentos associados ao uso dessas plantas, de uma
maneira geral, são repassados entre as gerações por incentivo principal dos indivíduos idosos.
Não obstante a isso, diversas vezes a prática de utilização das plantas medicinais, em associação
inclusive com medicamentos alopáticos, é orientada pelos profissionais da saúde devido as suas
representatividades econômica e cultural, bem como à observação empírica de seus efeitos
farmacológicos positivos na prevenção ou no tratamento de determinadas afecções.3
A necessidade de esclarecimento científico, em virtude da gama de informações sobre
essas plantas, vem dando destaque ao estudo acerca da medicina popular.4 Assim, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) recomenda aos órgãos responsáveis pela saúde pública de cada país que:

• sejam desenvolvidas pesquisas acerca das plantas mais utilizadas na medicina


popular com sua identificação botânica;
• para aquelas com eficácia e segurança terapêuticas comprovadas, é
recomendado e estimulado seu uso;
• para as práticas de medicina popular que forem consideradas inúteis ou
prejudiciais, deve-se aconselhar a não continuidade destas; e

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Revista Baiana • que se desenvolvam programas de cultivo das plantas e utilização com
de Saúde Pública
qualidade, eficácia e segurança, como estratégia para promover maior inclusão
daquelas pessoas com menor acesso aos sistemas governamentais de saúde.5

Em questões funcionais, atualmente, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS),


funciona o programa Farmácia Viva, o qual compreende o cultivo, a coleta, o armazenamento
e o processamento de plantas medicinais, bem como a manipulação e a dispensação de
manipulações magistrais e oficinais de plantas medicinais e fitoterápicas.6 Apesar disso, as
dificuldades encontradas para a utilização de plantas medicinais e até para o desenvolvimento
de fitoterápicos encontram raízes tanto econômicas quanto, até pouco tempo, legislativas.7
Devido a isso, diversas discussões levaram à criação de resoluções com
o objetivo de valorizar essa opção de tratamento médico, estando entre elas a Portaria
nº 971/2006, que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC) de forma que amplie as opções terapêuticas aos usuários do SUS, garantindo acesso
a plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos de forma segura e eficaz, com qualidade e
integralidade da atenção à saúde de todos os brasileiros.8
Assim, a utilização de plantas medicinais de maneira segura, um tipo de
fitoterapia cientificamente orientada, pode contribuir para a melhoria da saúde pública local,
regional ou nacional.
Dessa forma, o presente estudo objetivou conhecer as principais plantas
medicinais utilizadas por mulheres idosas, seus possíveis efeitos benéficos e/ou adversos e,
ainda, a sua utilização em detrimento do uso de medicamentos alopáticos.

METODOLOGIA
Este estudo é de abordagem quanti-qualitativo, do tipo transversal e descritivo
em virtude de sua proposta e das variáveis analisadas. Foi aprovado pelo Comitê de Ética
seguindo os critérios da Resolução 466/12, referente a pesquisas envolvendo seres humanos,
com o parecer de número 436.462.
A pesquisa realizou-se nos meses de janeiro, fevereiro e junho de 2014.
Foram entrevistadas, em domicílio, 80 mulheres idosas residentes na cidade de Quixeré
(CE), usuárias de cinco Unidades Básicas de Saúde (UBS) vinculadas ao SUS, por meio de
amostragem simples casual,9 sendo os aspectos idade, procedência e utilização de plantas
medicinais os critérios de inclusão. Foram excluídas do estudo as participantes que não se
encaixavam nos critérios de inclusão estabelecidos.

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Para as entrevistas, foram utilizados formulários estruturados para coletar
informações sobre quais plantas medicinais seriam utilizadas (excluindo-se aquelas cujos
nomes científicos não puderam ser encontrados), suas indicações, formas de preparo, efeitos
observados, percepção sobre o uso concomitante destas em relação aos medicamentos
industrializados e dados socioeconômicos.
Os dados foram organizados e analisados de acordo com os relatos e expostos
em tabelas contendo número de citações ou frequência simples e porcentagens ou frequência
percentual com o auxílio do software Microsoft Excel® versão 2013.
Foi observada tanto a associação de plantas medicinais como o seu uso
coadjuvante ou em substituição a medicamentos industrializados. As plantas mais citadas
tiveram seus supostos efeitos relatados comparados com estudos publicados na literatura.

RESULTADOS
Foram registradas 567 citações de plantas medicinais, incluindo 88 variedades.
Para cada planta foi citada, na maioria das vezes, mais de uma forma de utilização quanto
à sua forma de preparo (chá, mel, outras), bem como a utilização de partes diferentes dela
(folha, casca, semente, etc.). Na Tabela 1 observam-se as plantas citadas, suas formas de
preparo predominantes e suas principais razões de uso.
Entre as mulheres idosas entrevistadas, 66,25% (n=53) possuíam renda per
capita de até meio salário-mínimo, 32,50% (n=26), de meio a um salário e 1,25% (n=1), de
um a um salário-mínimo e meio.
Com relação à escolaridade, a maioria, 72,5% (n=58) não havia concluído o
ensino fundamental, enquanto 15,0% (n=12) delas não eram alfabetizadas, 10,0% (n=8)
havia concluído o ensino fundamental e 2,5% (n=2), o ensino superior.
Quanto às fontes de informações e indicações sobre o uso, o conhecimento
popular foi o principal meio de dissipação das plantas medicinais, relatado por 32,63% (n=31)
das idosas como sendo oriundos de suas mães, 24,21% (n=23), de pessoas conhecidas,
20,00% (n=19), por outros familiares (avós, tios) e apenas 3,16% (n=3), por médicos.
As formas mais citadas de utilização das plantas foram: “chás” (50,43%),
especialmente os preparados por decocção, “méis” (13,69%), “lambedores” (10,92%) e “água
das plantas em remolho (7,63%)”.
Os principais motivos que levaram as mulheres idosas a usarem as plantas
medicinais podem ser observados na Tabela 2, enquanto que os motivos citados para
a associação das plantas medicinais/vegetais com os medicamentos alopáticos ou a sua

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Revista Baiana Tabela 1 – Modo de preparo e razão de uso das principais plantas medicinais utilizadas
de Saúde Pública pelas mulheres idosas residentes na cidade de Quixeré (CE – 2014)
Frequência Frequência Modo de preparo Principal razão
Nome popular (Científico)
simples percentual (%) predominante de uso
Capim-santo (Cymbopogon citratus Stapf.) 52 65 Chá Calmante
Combate à
Malvarisco (Plectranthus amboinicus) 39 48,75 Mel
inflamação
Cidreira (Lippia alba) 35 43,75 Chá Combate à insônia
Erva-doce (Foeniculum vulgare) 33 41,25 Chá Calmante
Folha de laranja da terra (Citrus aurantium
32 40 Chá Calmante
L. var amara)
Combate ao mal-
Boldo (Peumus boldus Molina) 31 38,75 Chá
estar hepático
Limão ou folha (Citrus limonum) 28 35 Chá Combate à gripe
Infecção de
Romã (Punica granatum L.) 27 33,75 Mel
garganta
Alho (Allium sativum L.) 21 26,25 Chá Combate à gripe
Mastruz (Chenopodium ambrosioides var.
21 26,25 Vitamina Combate à gripe
anthelmintica)
Casca de laranja da terra (Citrus aurantium Combate ao mal-
20 25 Chá
L. var amara) estar hepático
Chá para inalar ou
Eucalipto (Eucalyptus citriodora Hook.) 17 21,25 Combate à gripe
“cheirar”
Combate ao mal-
Água da planta
Macela da terra (Egletes viscosa) 15 18,75 estar hepático e
em remolho
estomacal
Combate às
Pepaconha (Cephaelis ipepacuanha) 11 13,75 Chá
verminoses
Camomila (Chamomilla recutita) 10 12,5 Chá Calmante
Combate
Babosa (Aloe vera) 9 11,25 Garrafada aos estados
inflamatórios
Combate ao mal-
Mamão (Carica papaya L.) 8 10 Chá
estar estomacal
Combate
Courama (Kalanchoe pinnatum) 7 8,75 Sumo aos estados
inflamatórios
Combate
Noni (Morinda citrifolia) 7 8,75 Suco aos estados
inflamatórios
Combate
Aroeira do sertão (Myracrodruon urundeva
7 8,75 Lambedor aos estados
Allemão)
inflamatórios
Tratamento de
Quebra-pedra (Phyllanthus niruri L.) 6 7,5 Chá
cálculo renal
Combate ao mal-
Gengibre (Zingiber officinale) 6 7,5 Chupar
estar estomacal
Água da baja em Combate às dores
Jucá (Caesalpinia férrea) 6 7,5
remolho em geral
Redução da
Alfavaca (Ocimum basilicum L.) 5 6,25 Chá
pressão
Continua...

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Tabela 1 – Continuação
Frequência Frequência Modo de preparo Principal razão
Nome popular (Científico)
simples percentual (%) predominante de uso
Combate à
Cabelo de milho (Zea mays) 5 6,25 Chá
infecção urinária
Perda de peso
Berinjela (Solanum melongena) 5 6,25 Molho e redução de
gordura circulante
Abacaxi (Ananas comosus L.) 5 6,25 Mel Combate à gripe
Farinha na Combate à
comida, obstipação,
lambedor, água combate
Linhaça (Linum usitatissimum L.) 4 5
da semente em aos estados
remolho, na inflamatórios,
vitamina combate à gripe
Combate
Água da fruta em aos estados
Ameixa (Plunus salicina) 4 5
remolho inflamatórios,
efeito cicatrizante
Redução da
Maracujá (Passiflora edulis) 4 5 Suco
pressão
Água da baja em Combate às dores
Baja de Jucá (Caesalpinia férrea) 4 5
remolho em geral
Na comida
(cozido),
Tratamento de
Quiabo (Abelmoschus esculentus) 4 5 lambedor, água
diabetes mellitus
do vegetal, pó da
semente
Jatobá (Hymenaea courbari) 4 5 Mel (casca) Combate à gripe
Redução da
Colônia (Alpinia zerumbet) 3 3,75 Chá da folha
pressão
Tratamento de
Angico (Anadenanthera macrocarpa) 3 3,75 Lambedor
infecção renal
Água da casca em Combate à gripe
Quina-quina (Chicona sp) 2 2,5
remolho e tosse
Matapasto (Chromolaena maximilianii) 2 2,5 Chá da semente Combate à febre
Tratamento de
Malva-santa (Plectranthus barbatus) 2 2,5 Garrafada
gastrite
Combate ao mal-
Erva mate (Ilex paraguariensis) 2 2,5 Chá
estar estomacal
Tratamento de
Cebola branca (Allium cepa) 2 2,5 Chá
asma e tosse
Redução da
Chuchu (Sechium edule) 2 2,5 Suco
pressão
Emagrecimento
e diminuição
Folha de graviola (Annona muricata) 2 2,5 Chá
de colesterol
circulante
Combate ao
Água da mal-estar hepático
Pau d’arco (Tabebuia serratifolia) 2 2,5 entrecasca em e auxílio na
remolho cicatrização de
ferimentos
Continua...

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Revista Baiana Tabela 1 – Continuação
de Saúde Pública Frequência Frequência Modo de preparo Principal razão
Nome popular (Científico)
simples percentual (%) predominante de uso
Tratamento
Courama branca (Kalanchoe brasillienssis
2 2,5 Suco, lambedor de afecções
Cambess.)
ginecológicas
Combate à gripe,
Para chupar, tosse e tratamento
Cravo (Dianthus caryophyllus) 2 2,5
lambedor de diabetes
mellitus
Tratamento
de afecções
Cajú (Anarcadium occidentale L.) 2 2,5 Mel ginecológicas e
ferimentos em
geral
Combate à
Com mel, gripe e à tosse
Batata de purga (Operculina alata) 2 2,5
lambedor e tratamento de
verminoses
Redução da
pressão, calmante
Canela (Cinnamomum zeylanicum) 2 2,5 Chá
e combate a enjoo
e vômitos
Combate à
infecção na
Sucupira (Pterodon emarginatus) 2 2,5 Lambedor
garganta, tosse e
gripe
Combate à gripe e
Mussambê (Cleome spinosa) 2 2,5 Chá da folha, mel
à asma
Cumaru (Amburana cearenses Allemão) 2 2,5 Lambedor Combate à gripe
Tratamento de
Semente de laranja da terra (Citrus
2 2,5 Chá infecção urinária e
aurantium L. var amara)
combate à dor
Combate ao mal-
Chá verde (Camellia sinensis) 1 1,25 Chá
estar hepático
Hortelã roxa (Mentha piperita L.) 1 1,25 Chá Combate à dor
Tratamento de
Beterraba (Beta vulgaris esculenta) 1 1,25 Mel
anemia
Tratamento de
Alfazema (Lavandula angustifolia) 1 1,25 Chá
infecção urinária
Água da planta Cicatrização de
Quixabeira (Sideroxylon obtusifolium) 1 1,25
em remolho ferimentos
Calmante e
Hortelã japonêsa (Mentha arvensis var.
1 1,25 Chá combate à
piperascens Holmes)
enxaqueca
Cebola (Allium cepa) 1 1,25 Chá Combate à tontura
Tratamento de
Cebola vermelha (Allium cepa) 1 1,25 Chá
labirintite
Combate
ao mal-estar
Trinta-ervas* 1 1,25 Chá
hepático e ação
desintoxicante
Continua...

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Tabela 1 – Continuação
Frequência Frequência Modo de preparo Principal razão
Nome popular (Científico)
simples percentual (%) predominante de uso
Combate ao mal-
Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia) 1 1,25 Chá
estar estomacal
Tratamento de
Semente de coentro (Coriandrum sativum) 1 1,25 Chá
rouquidão
Redução de
Carambola (Averrhoa carambola) 1 1,25 Suco colesterol
circulante
Suco (com Redução da
Semente de chuchu (Sechium edule) 1 1,25
maracujá) pressão
Tratamento de
Tamarindo (Tamarindus indica) 1 1,25 Suco
obstipação
Cozida (molho Cicatrização de
Casca de cajueiro (Anacardium occidentale) 1 1,25
para banho) ferimentos
Manga verde (Mangifera indica) 1 1,25 Mel Combate à gripe
Combate de
Vassourinha (Scoparia dulcis) 1 1,25 Refresco da raiz
cólicas menstruais
Tratamento de
Coité (Crescentia cujete) 1 1,25 Mel
neoplasias
Combate à
Jandaíra (Melipona subnitida) 1 1,25 Mel infecção na
garganta e à tosse
Tratamento de
Chambá (Justicia pectoralis) 1 1,25 Lambedor
pneumonia
Água da casca em Tratamento de
Jurema preta (Mimosa tenuiflora) 1 1,25
remolho sinusite
Tratamento de
Carqueja (Baccharis trimera) 1 1,25 Mel
obstipação
Combate à gripe e
Copaíba (Copaifera langsdorfii) 1 1,25 Lambedor
à tosse
Combate à gripe e
Tansagem (Plantago major L.) 1 1,25 Lambedor
à tosse
Combate à gripe e
Urucum (Bixa orellana) 1 1,25 Lambedor
à tosse
Redução de fluxo
Arruda (Ruta graveolens) 1 1,25 Chá
menstrual
Flor de catinga de porco (Caesalpinia
1 1,25 Mel Combate à gripe
Porcina)
Tratamento de
Folha de abacate (Persea americana) 1 1,25 Chá
afecções renais
Água do remolho
Manjerona (Origanum majorona) 1 1,25 Combate à gripe
para banho
Flor de catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tratamento de
1 1,25 Chá
Tui.) diarreia
Total 567 100
*Conjunto de plantas não especificadas.

560
Revista Baiana Tabela 2 – Principais razões de uso das plantas medicinais pelas mulheres idosas
de Saúde Pública residentes em Quixeré (CE – 2014)
Efeitos esperados das plantas medicinais Frequência simples Frequência percentual (%)
Calmante 126 21,95
Combate à gripe e à tosse 71 12,37
Combate à má digestão e ao mal-estar de fundo hepático 53 9,23
Outras 324 56,45

substituição por estas teve como causa principal a necessidade de diminuir a pressão arterial
(32,35%), além da cura de gripes e viroses (14,71%) e do combate de insônia e/ou auxílio
para dormir (11,76%).
Contudo, ao longo da pesquisa houve dificuldade em encontrar público que
atendesse 100% aos critérios de inclusão. Observou-se que muitas das possíveis candidatas,
ao serem questionadas sobre a utilização de plantas medicinais, afirmavam ter abandonado o
uso devido à utilização de medicação alopática, especialmente para tratamento de diabetes
mellitus. Algumas delas também negaram a utilização das plantas medicinais, de forma que
ficou subentendido um possível “receio” de assumirem tal ação diante de uma entrevista
relacionada ao seu acompanhamento de saúde.
As plantas/vegetais utilizadas com fins medicinais com pelo menos 30 citações,
em ordem decrescente, foram: capim-santo, malvarisco, erva-cidreira, erva-doce, folha da
laranjeira e boldo. Devido ao seu significado cultural, notou-se a importância de destaque para
mais duas plantas com menor número de citações (27 e 28, respectivamente): limão e romã.
As principais justificativas do uso do capim-santo foram: ação calmante
(32 citações), combate de insônia e/ou melhora da qualidade do sono (10 citações), promover
redução da pressão arterial sistêmica (5 citações) e manter a saúde intestinal (1 citação).
Com relação ao malvarisco, este foi utilizado principalmente para o combate
de estados inflamatórios em geral (13 citações), seguido por tratamento de gripe e viroses
(16 citações), tratamento de tosse (7 citações), combate e prevenção de problemas
ginecológicos (4 citações), combate à dor (2 citações) e à cólica menstrual (2 citações), assim
como diminuição da produção de secreção respiratória (2 citações).
Já a erva-cidreira seria utilizada pelo seu efeito calmante (dez citações), seguido
de combate à insônia e/ou auxílio para dormir (dez citações), controle da pressão arterial alta
(quatro citações) e combate às cólicas intestinais (duas citações). Melhoramento da memória,
combate de má digestão e diminuição da produção de secreção respiratória ou “catarro”
foram citados uma única vez para essa erva.

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Para a erva-doce também houve predominância da utilização com fins
calmantes (22 citações), contra infecção urinária (8 citações), combate de insônia e/ou auxílio
para dormir (4 citações) e tratamento de gripe e labirintite (ambos com 1 citação cada).
A folha da laranjeira seria utilizada principalmente como agente calmante
(27 citações), para combater a insônia e/ou melhorar a qualidade do sono (3 citações),
combate à hipertensão (2 citações), tosse e febre (ambos com 1 citação). Uma participante
relatou efeito protetor do chá contra alergia ao leite de vaca.
O boldo foi utilizado principalmente para alívio de mal-estar com causa hepática
(“problemas no fígado”) (24 citações), bem como no combate da má-digestão (7 citações) e
na sensação de plenitude estomacal ou “enchimento” (4 citações).
A utilização do limão seria para o combate a viroses (sete citações), tratamento
de diarreias (quatro citações), combate à tosse (três citações), promoção de emagrecimento,
combate à insônia e à inflamação (duas citações cada), combate a dores em geral, no
tratamento de sinusite, no alívio de estado febril e para hidratação (uma citação cada).
Para a romã a principal razão de utilização foi o tratamento de infecções na
garganta (11 citações), combate à inflamação (8 citações), tratamento de gripe (4 citações),
combate à tosse (2 citações), tratamento de afecções ginecológicas, afecções renais e asma
(1 citação cada).
As afirmativas de eficácia das plantas medicinais, segundo os relatos, podem ser
vistas na Tabela 3, bem como a presença ou não de efeitos adversos, na Tabela 4. A maioria
das idosas admitiu eficácia quanto aos efeitos propostos das partes vegetais mencionadas,
quando utilizadas, além da ausência de efeitos adversos.

Tabela 3 – Eficácia do uso e presença de efeitos adversos das plantas medicinais


utilizadas pelas mulheres idosas residentes em Quixeré (CE – 2014)
Eficácia da utilização das plantas medicinais Presença de efeitos adversos
Frequência simples Frequência percentual (%) Frequência simples Frequência percentual (%)
Em 100% das vezes 77 96,25 0 0,00
Algumas vezes 3 3,75 7 8,75
Nenhuma das vezes 0 0,00 73 91,25

Tabela 4 – Principais efeitos adversos relatados pelas mulheres idosas ao fazerem uso de
algumas plantas medicinais utilizadas de diferentes formas na cidade de Quixeré (CE – 2014)
Plantas medicinais /Forma de uso Sintomas
Capim-santo/Chá Mal-estar, tontura
Noni com suco de uva/Liquidificados Mal-estar, tontura, piora da diabetes
Erva-doce/Chá Náuseas

562
Revista Baiana Entre as participantes do estudo, 58,75 % (n=47) afirmaram não fazer
de Saúde Pública associação de uso entre plantas medicinais e medicamentos alopáticos, contrastando
com 41,25% (n=33) que disseram o contrário. Destas, 69,70% (n=23) relataram fazer uso
concomitante ao medicamento, enquanto 30,30% (n=10) afirmaram até fazer a substituição
do medicamento por determinada planta.

DISCUSSÃO
Com relação ao nível socioeconômico das participantes, houve uma
predominância de renda per capita de até meio salário-mínimo, semelhante ao estudo
realizado por Arnous et al.,10 no qual 72% dos entrevistados possuíam baixa renda.
Também foi comparado ao estudo realizado por Souza et al.7 em 2013 com uma população
de faixa etária variada a qual também apresentava baixo poder aquisitivo.
Quanto à escolaridade, houve maior frequência de mulheres com baixa
escolaridade (ensino fundamental incompleto). No estudo realizado por Lima et al.11 em
2011, a baixa escolaridade também prevaleceu, tendo nesse caso prevalência de pessoas
não alfabetizadas em relação àquelas com ensino fundamental completo em uma amostra
composta por 99 homens e mulheres.
Os resultados demonstraram uma predominância da utilização dos chás
preparados por decocção em relação aos outros métodos de consumo de plantas medicinais,
encontrando-se resultados semelhantes em outros estudos, o que demonstra a significância e
proximidade de tal método de preparação das plantas medicinais para com a população que
as consome.10,12
Estudo realizado por Veiga-Júnior13 apontou familiares e amigos próximos como
responsáveis por 90,1% das indicações de uso das plantas, seguido da indicação de médicos
(3,1%) e agentes de saúde (1,1%), dados muito semelhantes ao estudo atual (conhecimento
popular, 80,89%, e 3,1% por médicos).
Com relação às principais indicações de uso das plantas medicinais, no
estudo realizado por Neto et al.14 em 2014 em Catu (Bahia), as doenças mais citadas
foram relacionadas ao trato respiratório e a males ligados ao sistema digestivo, diferente do
encontrado na pesquisa atual (predominância para o efeito calmante e doenças respiratórias
em segundo lugar).
Informações da literatura sobre as plantas mais citadas apontaram ação calmante
do chá ou refresco das folhas do capim-santo devido à presença do óleo essencial rico

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em citral presente na planta, efeito condizente com os relatos das entrevistadas,15 além da
ação analgésica devido à presença de mirceno, sendo todas essas ações comprovadas por
ensaios farmacológicos.14 Cita-se ainda o alívio proporcionado pela planta a pequenas crises
de cólicas uterinas e intestinais e sua ação protetora gástrica devido à letalidade de seu
óleo essencial contra a bactéria Helicobacter pylori.16 Este ainda possui leve efeito diurético
auxiliando na redução de valores pressóricos,17 o que também condiz com os efeitos citados
pelas entrevistadas.
Acerca do malvarisco, a literatura cita seus efeitos anti-inflamatórios, tal como
demonstrado no estudo realizado por Jia-Ming Chang et al.,18 no qual a planta se mostrou
eficaz no tratamento de artrite reumatoide em ratos. Tal propriedade esteve presente
entre o disposto pelas entrevistadas. Além disso, possui propriedades antioxidantes, contra
atividade bacteriana, inibidoras de agregação plaquetária e antiproliferativas no que
diz respeito a células cancerosas, tendo presente em sua composição fenóis como ácido
rosmarínico, predominantemente, seguido por ácidos cafeico, rutínico e gálico, bem como
quercertina e ácido p-cumárico, demonstrando por meio de tais compostos potencial
aplicabilidade também como ingrediente nutracêutico.19 Há relatos de mulheres cearenses
sobre o sucesso no uso isolado ou em associação do sumo de suas folhas com courama
(Kalanchoe pinnatum) para o tratamento de doenças ginecológicas, porém, com poucos
estudos confirmatórios.15
A erva-cidreira ou cidreira possui mais de uma variedade ocorrente
no nordeste. Entre elas, a cidreira-carmelitana e a cidreira-doce. Possuem teores
altos de citral e limoneno, para a primeira, e carvona e limoneno para a segunda.
Tais substâncias proporcionam o efeito calmante e espasmolítico percebido
pelas pessoas que consomem seus chás. O mirceno, também presente nessas
variedades, possui efeito analgésico, aliviando cólicas intestinais e uterinas.
Além disso, acredita-se que a cidreira-carmelitana possua a mesma ação contra o
vírus da gripe que sua variedade europeia, a Melissa officinalis.15 Assim, observa-se
semelhança entre a maioria dos efeitos citados pelas entrevistadas com o relatado na
literatura. Outro estudo realizado por Sena Filho et al.20 testou a atividade antimicrobiana
dos extratos acetato de etila, metanol e aquoso das raízes de erva-cidreira, os quais se
mostraram eficientes contra Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumonia.
A erva-doce possui duas variedades no Nordeste brasileiro, a mais recorrente
é a Foeniculum vulgare. Já foram comprovados seus efeitos espasmolíticos com ausência de

564
Revista Baiana efeitos adversos em modelos experimentais;15 tais como o realizado em cobaias por Araújo
de Saúde Pública et al.21 em 2013, demonstrando que apenas dosagens de 298 mg/kg conseguiram prover uma
redução significativa de suas contorções abdominais.
Dados compilados de vários estudos farmacológicos in vitro e in vivo
indicaram sua eficácia no que diz respeito às suas propriedades antimicrobianas, antivirais,
anti-inflamatórias, antimutagênicas, antinoceptivas, antipiréticas, antiespasmódicas,
antitrombóticas, apoptóticas, cardiovasculares, quimiomoduladoras, hipoglicemiantes,
hipolipidêmicas, hepatoprotetoras, antitumorais e de reforço de memória. 22
Alguns dos usos
citados se assemelham aos relatados pelas idosas em estudo. Não foram encontrados efeitos
adversos para a erva-doce, apenas a contraindicação do seu chá rotineiro por mulheres
grávidas, devido a sua atividade estrogênica.15 Já os efeitos citados pelas entrevistadas levam
a crer em uma possível alergia aos componentes da planta, não descartando outros fatores
desconhecidos que possam ter influenciado no surgimento desses sintomas.
A utilização das folhas de laranjeira da terra como chá tem sido atribuída
a efeitos sudoríficos, antigripais, carminativos e antiespasmódicos e, ainda, contra
reumatismo e taquicardia.23 Um estudo realizado em 2014 por Choi et al.24 demonstrou
também a eficácia da inalação de óleo essencial da laranjeira da terra para aliviar os
sintomas da pós-menopausa, diminuir o estresse e a pressão arterial e o aumentar a libido
dessas mulheres. Contudo, a eficácia e segurança do uso dos componentes da laranja da
terra ainda não estão sob consenso científico, sendo seu uso contraindicado durante a
gravidez,23 observação também citada pelas entrevistadas. Encontrou-se semelhança entre
os efeitos observados e os relatados pelas entrevistadas e suas precauções com relação ao
uso da folha da laranjeira.
O boldo do Chile, também denominado “boldo verdadeiro”, possui entre
seus princípios ativos alcaloide boldina, antioxidantes naturais e catequinas, os quais
promovem seus efeitos benéficos principalmente no que diz respeito à proteção contra
danos hepáticos.25 Como a principal razão de uso do boldo, citada pelas entrevistadas, foi o
tratamento de doenças hepáticas, percebe-se a riqueza do conhecimento popular acerca da
utilização da planta.
As preparações à base do limão e suas folhas ainda não tiveram sua eficácia
e segurança cientificamente comprovadas, no entanto, atribui-se a este, especialmente
ao seu suco, propriedades diuréticas, antiescorbúticas, antirreumáticas, antidesentéricas,
adstringentes e antipiréticas. Também é comumente utilizado no combate a acidez estomacal,
ácido úrico elevado, varizes, hemorroidas, litíase renal, congestão brônquica, eczema, dor de

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garganta, picada de insetos, gripe e tosse, condizendo com algumas das razões de uso citadas
pelas entrevistadas.23
Para a romã a literatura etnofarmacológica cita a utilização de seu pericarpo no
tratamento de infecções da boca e garganta, sendo a segunda a principal razão de uso citada
pelas entrevistadas. Os ensaios farmacológicos a partir de extratos do pericarpo da romã
demonstraram atividade contra bactérias patogênicas, de inibição superior do crescimento de
tumores e contra o vírus HVS-2 do herpes genital. Entretanto, ainda não existe consenso sobre
a eficácia e segurança das preparações que utilizam a planta.23
Com relação aos efeitos adversos citados para algumas plantas, para o capim-
santo foi visto na literatura a possibilidade de pequenas lesões nas mucosas que revestem
o aparelho digestivo em caso de pequenos fragmentos de folha no chá,15 diferentemente
dos efeitos citados pelas entrevistadas, os quais podem ser resultantes de outros fatores
desconhecidos pelas próprias idosas. Ainda sobre esse tópico, a colônia também pode
produzir efeitos indesejáveis variáveis quando utilizada por longos períodos.26
Com relação ao noni, a literatura relata náuseas, vômitos, diarreia, dor de
cabeça e alergias quando ingerido de forma incorreta.27 Se levado em consideração que os
efeitos adversos citados pelas entrevistadas ocorreram mediante utilização do noni com
suco de uva, possivelmente tal forma de proceder com o uso relacionou-se com os efeitos
apresentados, uma vez que se desconhecem os efeitos da interação dos dois, não se
excluindo, portanto, a possibilidade de acarretar efeitos adversos.
Outra espécie citada, a hortelã-japonesa, possui aplicações medicinais devido
às suas propriedades antidispépticas, antigripais, antiheméticas e como descongestionante
nasal.23 A literatura utilizada não cita efeitos tóxicos quanto à utilização da hortelã-japonesa,28
contudo, esta foi associada pelas idosas como causadora de alergias. Observou-se ainda,
na literatura, que outra variedade de hortelã, a Menta villosa, é correlacionada de fato ao
surgimento de dermatites alérgicas.29
Acerca da utilização de plantas medicinais e medicamentos industrializados,
resultados semelhantes ao deste estudo foram encontrados por Veiga-Júnior,13 para o qual
44,1% dos entrevistados afirmaram não fazer associação entre os dois tipos de tratamento,
contra 8,4% que faziam. O mais importante é que 47,5% dos entrevistados afirmaram associar
plantas medicinais e medicamentos alopáticos sempre que tomavam conhecimento de
alguma planta que poderia ser indicada. Embora em níveis diferentes, também se observou
uma predominância da não associação entre plantas medicinais e medicamentos alopáticos
em ambos os estudos.

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Revista Baiana CONCLUSÃO
de Saúde Pública Apesar das dificuldades encontradas, foi possível obter informações ricas sobre a
utilização das plantas medicinais associadas ao conhecimento popular, além dos relatos sobre
indicações, efeitos adversos e possível associação com medicamentos alopáticos. O consumo dessas
plantas/vegetais mostrou-se amplo tanto em variedade como em formas de preparo, e estas foram
utilizadas principalmente com finalidade calmante, hipotensora, antigripal e analgésica, entre outras.
Percebeu-se, ainda, certa consciência acerca do risco de associação e/ou
substituição de plantas medicinais com medicamentos alopáticos pela maioria das mulheres.
Nesse contexto, observa-se a necessidade de novas pesquisas sobre o assunto, por se tratar
de um tema em expansão, com crescentes pesquisas na área de produtos naturais e suas substâncias
com ação biológica frente à medicina convencional. Faz-se necessário explorar melhor esse campo do
conhecimento devido ao seu impacto na saúde coletiva, na economia e na nutrição, quando se observam
suas influências no consumo de forma geral e/ou associado a medicamentos alopáticos.

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