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FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL
PROGRAMA SAÚDE MENTAL

Thaís Munholi Raccioni

PERSPECTIVAS DE TRABALHADORES DA SAÚDE SOBRE A


RELAÇÃO TRABALHO E MODO DE VIDA

Marília
2014
FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA
RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL
PROGRAMA SAÚDE MENTAL

Thaís Munholi Raccioni

“PERSPECTIVAS DE TRABALHADORES DA SAÚDE SOBRE A


RELAÇÃO TRABALHO E MODO DE VIDA”

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade de Medicina de
Marília requisito para conclusão do
Programa de Residência Multiprofissional
- Saúde Mental.
Orientador: Thiago da Silva Domingos

Marília
2014
Agradecimentos

Ainda que com uma finalização parcial, agradeço destacando algumas pessoas que se
mostraram de extrema importância nessa caminhada, não somente deste trabalho, mas de
todas as 5760h dos últimos dois anos.
Agradeço a todos e todas que estiveram lado a lado de grande parte destas horas
infindáveis. À Bruna, pelo período que esteve ao meu lado, nas horas das angústias, das
explosões de raiva, dos infernos e prazeres cotidianos assim como incentivar as ideias ousadas
e impossíveis, até que se tornaram inevitáveis! Também acrescento as grandes e profundas
parcerias e amizades com Ju, Lari, Bia e a, desde sempre, Isabela, pelo companheirismo
cotidiano, pelas conversas, pelos risos, ideias, apoios, supervisões informais, discussões
teóricas, pizzas, cafés, etc, enfim, toda essa parceria inestimável que se construiu ao longo
desses anos de amizade! Dentre tantas parcerias também destaco, Ju Fanti, que com seu olhar
incrível e humano trouxe tanta força, acolhimento e propostas nos momentos mais
conturbados, colocou-se lado a lado para iniciar um projeto tão ousado e delicado neste
município! Agradeço todas e todos que se dedicaram intensa e apaixonadamente para
construir as I e II Semana Cultural da Luta Antimanicomial, especialmente Marcelle, Ju Fanti,
Rafael Chaaban, Lucas Diniz, Alexandre Siqueira, Isa, Bia, Iotti, Vieira, Ricardo, Bruna,
Marina e tantas outras pessoas que se sentiram parte desta luta!
Ao Darnisson, que entrou no meio deste emaranhado, com seus afetos e observações
teóricas impecáveis, por me acolher tão bem, pela cachaça e pelas tantas boas ideias, tapiocas
e correções! Também agradeço às companheiras e aos companheiros de militância cotidiana
por uma sociedade emancipada de suas amarras e opressões, Alê, Breno, Diego, Clis, Bil,
Ana, Cris, Anderson, Galetti e tantas outras e outros! E claro, agradeço a todas as residentes
multi e médicos com os/as quais foram possíveis boas parcerias, especialmente Amanda,
Samira, Bruna, Camila Thomé, Josi, Daniel, Joana, Janaína, Klyll e Carol! E às preceptoras
que especialmente tiveram disposição e se empenharam em contribuir para nossa formação,
Ju Fanti, Elisa, Rose, Sandra e Renata.
Agradeço à minha família pelas correrias, orações, apoios e incentivos de toda
ordem! Especialmente à minha vó Nair pelas coxinhas confortantes.
Agradeço à Cássia, minha terapeuta, sem a qual não teriam sido possíveis tantas
evoluções, elaborações e organizações mentais e corporais nestes últimos 3 anos. Também
pelo apoio e empréstimos de livros e de sua bagagem em momentos de lacunas ou vazios
teóricos. E claro, por conduzir seu trabalho de forma apaixonada, admirável e cuidadosa.
Agradeço principalmente a todos os trabalhadores do Complexo Famema, que
realizam seu trabalho de forma apaixonada, mesmo nas condições subumanas a que são
submetidos, e por mostrarem a força que tem quando tomam consciência e se unificam,
podendo avançar nas conquistas de seus direitos quando gritaram “GREVE GERAL”,
estivemos juntos por 45 dias e agradeço por todas as aulas de integralidade, auto-organização,
interdisciplinaridade, política e Humanização! Ressalto os grandes amigos Marcinho, Carina,
Ari, Cida e Ritinha. Também destaco meu carinho especial pelas companheiras e
companheiros de trabalho Agentes Comunitárias, especialmente Marlene, e àquelas/es do
HCIII, que tanto me ajudaram nos meus rolos burocráticos e nas situações embaraçosas, e aos
quais de forma tão sutil pude dar alguma voz neste trabalho, o qual espero que se torne mais
uma ferramenta de luta, ao perceberem que seus sentimentos e pensamentos não são
individuais, são parte de uma classe que é explorada e oprimida por outra cotidianamente!
Agradeço infinitamente ao Thiago, meu orientador, escolhido a dedo por sua incrível
capacidade técnica e humana, por ter aceitado o desafio de me orientar sem me diagnosticar e
ter desenvolvido este processo de forma tão singular, respeitosa e acolhedora! Obrigada pelo
olhar, pela paciência e por mostrar possibilidades humanizadas de trabalhar. Tem minha
eterna admiração pela forma como desenvolve seu trabalho, e minha gratidão por este
processo de orientação!
Agradeço de certa forma também a todos que perseguiram, assediaram,
estigmatizaram, desacreditaram, diagnosticaram-me ou barraram processos criativos, por
possibilitarem a afirmação teórico-prática deste trabalho! Agradeço de forma especial àqueles
que conseguiram se desprender deste olhar e permitiram a abertura à experienciação da
relação e se desconstruíram, passando a compreender e respeitar uma forma de trabalho
caótica, destrambelhada, mas apaixonada.
“Aqueles que lutam com mais energia e persistência pelo novo são os que mais sofreram com o
velho”
LeonTrotsky
RESUMO

Esta pesquisa insere-se no campo da saúde do Trabalhador. O Trabalho é compreendido como


um fazer exclusivamente humano, o qual assumiu diferentes formas ao longo da História,
possibilitando aos seres humanos transformarem seu mundo e serem transformados através
deste fazer. Tal concepção implica compreender os processos de trabalho como partes
fundamentais da construção de subjetividades. Socialmente, o trabalho é tido como parâmetro
de normalidade, o que estreita sua relação com saúde mental, a qual pode ser estudada sob
diferentes perspectivas. Os trabalhadores da saúde assumem, simultaneamente, ao papel de
trabalhador o de cuidador, trazendo repercussões subjetivas e emocionais específicas a estes.
Esta pesquisa objetivou compreender a percepção de trabalhadores da saúde em relação às
influências do processo de trabalho em seu modo de vida. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa que utilizou como recurso de obtenção dos dados uma entrevista semiestruturada
aplicada em um serviço de saúde de média e alta complexidade do interior de São Paulo.
Participaram vinte e um trabalhadores de nível fundamental e médio pertencentes às áreas de
apoio e técnica. As entrevistas foram registradas em áudio e transcritas para análise que se
deu através da técnica de Análise de Conteúdo e organizados em categorias temáticas. Foram
construídas duas categorias Percepções acerca do processo de trabalho em saúde e
Identificando ações em saúde do trabalhador. Os resultados dessa pesquisa sustentam a
importância da integração dos trabalhadores ao processo de co-gestão do trabalho em saúde,
demonstrou múltiplas inter-relações entre trabalho e modo de vida ampliando as perspectivas
acerca das ações em saúde do trabalhador e integralidade.
Palavras-chave: Saúde do Trabalhador. Trabalho em Saúde. Subjetividade.
ABSTRACT

This research is part of the field of health worker. The work is understood as a purely human
doing, which took different forms throughout history, allowing human beings to transform
their world and be transformed through this do. This concept implies understand the work
processes as fundamental parts of the construction of subjectivities. Socially, the work is
considered normal parameters, which narrows its relation to mental health, which can be
studied from different perspectives. Health workers take both to the worker role of caregiver,
bringing subjective and emotional repercussions specific to these. This research aimed to
understand the perception of health workers in relation to the influences of the work process
in their way of life. This is a qualitative study that used the data get feature A semi-structured
interview applied to an average of health care and high complexity of the interior of São
Paulo. The participants were twenty a fundamental level workers and middle belonging to the
areas of support and technical. The interviews were audio taped and transcribed for analysis
that was made through the content analysis technique and organized into thematic categories.
Were built two categories Perceptions about the work process in health and identifying
actions in occupational health. The results of this study support the importance of integration
of workers to the co-management of health work, demonstrated multiple interrelationships
between work and way of life a broader perspective about the actions in occupational health
and wholeness.
Keywords: Occupational Health. Work in Health. Subjectivity.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 5
1.1 Conceituação e desenvolvimento do Trabalho ........................................... 6
1.2 Trabalho e Subjetividade ............................................................................ 7
1.3 Produção científica na área .........................................................................9

2. OBJETIVOS ....................................................................................................10
2.1 Objetivo Geral ............................................................................................ 10
2.2 Objetivos Específicos ................................................................................. 10

3. MÉTODO .........................................................................................................11
3.1 Natureza da Pesquisa .................................................................................. 11
3.2 Participantes da Pesquisa ............................................................................ 11
3.3 Coleta de dados ........................................................................................... 11
3.4 Análise de dados ......................................................................................... 12
3.5 Procedimentos éticos .................................................................................. 12

4. RESULTADOS e DISCUSSÃO .....................................................................13


4.1 Perfil sócio-demográfico ............................................................................ 13
4.2 Categorias de Análise ................................................................................. 14
4.3 Categoria I – Percepções acerca do Processo de Trabalho ......................... 15

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 20

REFERÊNCIAS ..................................................................................................21

ANEXOS .............................................................................................................. 25

APÊNDICES ........................................................................................................27
1 INTRODUÇÃO

O movimento pela Reforma Sanitária no Brasil é parte de um processo de intensas


mobilizações por direitos democráticos, combinadas a luta pelo fim da ditadura militar no
Brasil. Em 1988, como fruto destas mobilizações, ocorreu a reabertura democrática e a saúde
passou a ser reconhecida como um direito universal, sendo criado o Sistema Único de Saúde
(SUS). No entanto, também foi criado o sistema complementar, legitimando e fortalecendo o
setor privado, que atualmente se responsabiliza hoje por grande parte da gestão e controle do
SUS (DANTAS, 2010).
Esta abertura e transferência de responsabilidades sociais para o setor privado é
característica da política neoliberal (SOUZA, 2011; GOMEZ; LACAZ, 2005). Modelo no
qual impera a lógica empresarial: a noção de qualidade prioriza aspectos de eficiência e
produtividade com o menor custo. Nesse contexto, em um mesmo serviço de saúde há
diferentes vínculos empregatícios, referentes à gestão pública ou a gestão privada. Aqueles
referentes a empresas privadas apresentam traços mais marcantes da lógica empresarial. Na
literatura é possível encontrar estudos que evidenciam que, as características neoliberais do
mundo do trabalho trazem repercussões psicossociais, podendo produzir degradações na
saúde mental dos trabalhadores que as vivenciam, tais como: flexibilização de direitos e
instabilidade profissional, alta rotatividade, insatisfação profissional, desmotivação e
fragmentação da categoria (SOUZA, 2011; GOMEZ; LACAZ, 2005; SELIGMANN-SILVA,
2001).
Alguns dados estatísticos do INSS auxiliam a reflexão sobre a relevância da relação
entre saúde e trabalho: segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social 2012 (BRASIL,
2012), nos últimos três anos houve uma média de 711.781 acidentes de trabalho/ano, destes
62.997/ano ocorreram na área da saúde, ou seja, em média 8,85% dos acidentes de trabalho no
Brasil, correspondem a trabalhadores da saúde. Ainda de acordo com dados gerais da
Previdência Social: “Em 2011, observamos uma média de 49 trabalhadores/dia que não mais
retornaram ao trabalho devido à invalidez ou morte” (BRASIL, 2011). Vale ressaltar que no
Brasil, os afastamentos por motivos relacionados à saúde mental ocupam o terceiro lugar, no

5
Chile, os afastamentos para tratamentos em saúde mental estão em segundo lugar entre as
licenças-saúde e duram em média 38,4 dias (FRIEDMAN, 2014).
Gomez e Lacaz (2005) trazem a crítica de que no Brasil não há uma Política
Nacional de saúde do trabalhador. Aponta tal debilidade como multifatorial: deficiências
históricas na efetivação de políticas públicas e sociais no Brasil, baixa cobertura e
fragmentação do sistema de proteção social e as mudanças no mundo do trabalho, advindas da
reestruturação produtiva. Nesse sentido, uma política eficaz para a saúde dos trabalhadores
deveria garantir promover saúde, prevenir agravos e atender aos problemas existentes.
Diversos autores (ZAGO, 1988; GOMEZ; LACAZ, 2005; FRIEDMAN, 2014)
apontam que as estatísticas publicadas em geral são imprecisas em todo o mundo. Dentre os
diversos fatores que contribuem para tal imprecisão, refere-se que muitos casos de doenças
relacionadas ao trabalho são contabilizados como acidentes, frequentemente não há
comunicação de adoecimento ou acidente de trabalho, as definições apresentam imprecisões e
desconsideram o processo de trabalho e as determinações socioeconômicas, grande
dificuldade na integração de informações.
Desta forma, inter-relação entre política, economia, relações de trabalho e
subjetividade do trabalhador são refletidas na qualidade da assistência, na continuidade e
desenvolvimento das políticas públicas e na qualidade de vida dos trabalhadores.

Conceituação e desenvolvimento do Trabalho


O desenvolvimento do trabalho é um elemento fundamental na História da
humanidade, através deste processo, os seres humanos se distanciaram dos demais animais e,
dialeticamente, se desenvolveram biológica, psicológica e socialmente. Conforme o trabalho
se aprimorava, novas necessidades surgiam e, assim, também se desenvolviam as habilidades
humanas em seus diferentes âmbitos: motores, sensoriais, sociais e cognitivos.
Desta forma, Engels descreveu como o trabalho assumiu diferentes formas sociais de
organização no decorrer da História, relacionando-se diretamente às necessidades de
sobrevivência e ao modo-de-produção de cada período. O que permite compreender que o
corpo humano não é apenas um „órgão‟ de trabalho, mas também um produto dele. (apud
ANTUNES, 2004).
Como parâmetros de estudo e análise, adotou-se o conceito de “processo de
trabalho”, advindo da teoria marxista, o qual possibilita integrar os diferentes componentes e

6
relações que permeiam a vida dos trabalhadores, através de uma compreensão interdisciplinar,
ampliada e complexa do tema (LACAZ, 2003). Nesse sentido, considera-se não somente a
experiência individual ou elementos isolados, mas a multiplicidade de fatores que envolvem a
concepção e a determinação da saúde combinados aos contextos: histórico, político,
econômico e cultural das relações humanas de forma a superar modelos deterministas e
reducionistas do processo saúde-doença. (NABERGOI; BOTTINELLI, 2004; LACAZ, 2003).
A Saúde Mental e o Trabalho possuem uma relação bastante estreita, pois no atual
contexto histórico a capacidade para o trabalho se confunde com a própria noção de
normalidade mental. Tal pensamento reflete como a divisão social do trabalho repercute na
concepção e desenvolvimento da saúde mental. No entrando, é evidente que o processo de
trabalho organizado de forma simplista, fragmentada e repetitiva traz prejuízos mentais e
emocionais para o trabalhador. (ZAGO, 1988).

Trabalho e subjetividade
O trabalho confronta as contradições entre os mundos interno e externo dos
trabalhadores, por um lado a lógica empresarial, visando lucro e produtividade, impondo
regras, valores e desafios, por outro, a singularidade de cada trabalhador, permeada por
angústias, desejos, medos e que, em meio a essas contradições e confrontos, busca manter sua
saúde mental, o que nem sempre é possível (LANCMAN; GHIRARDI, 2002).
Na vida adulta, o trabalho corresponde a ocupação central do ser humano,
constituindo o espaço em que a maior parte das trocas sociais e afetivas desta fase da vida
ocorrem, configurando sua importância mediadora no desenvolvimento da identidade e do
psiquismo humano. Portanto, infere-se que o trabalho pode ser fonte de prazer ou de
adoecimento (LANCMAN; GHIRARDI, 2002).
Há diferentes perspectivas para estudar a relação entre trabalho e subjetividade:
“Tanto a denominada saúde mental ocupacional como as ciências do comportamento
buscam a gênese dos problemas de saúde mental dos trabalhadores no universo
intra-individual, sendo o trabalho, suas condições e sua organização mero pano de
fundo. Assim, ao abstrair as condições concretas de trabalho e, principalmente, as
relações de trabalho, contribuíram para construir a explicação que „culpabiliza a
vítima‟” (SATO; BERNARDO, 2005:2).

As relações estabelecidas entre os seres humanos e as formas de organização da


produção material influenciam diretamente ao modo de viver. Na concepção materialista
histórica dialética, são compreendidos como determinantes do modo de vida: Acesso à
7
alimentação saudável, à moradia, à educação, ao trabalho, ao lazer, a serviços de saúde, entre
outros. Sendo assim, a doença não pode mais ser pensada ou reduzida ao corpo biológico. É
preciso considerar também o corpo socialmente investido, isto é, verificar como o corpo
humano se dispõe em sociedade como agente de trabalho, pois este define o sentido e o lugar
dos indivíduos na sociedade (LIMA, 2007).
Ao pensar sob tal perspectiva as influências do processo de trabalho no modo de
vida, é preciso ressaltar que o trabalho em saúde, implica que o sujeito assuma além do papel
de trabalhador, o papel de cuidador. Desta forma, Jacques (2003) verifica que em
trabalhadores da área da saúde são frequentes sofrimentos relacionados ao estresse,
associados às contradições afetivas vivenciadas ao assumir ambos os papéis. Há um
movimento contínuo de estabelecimento de vínculos afetivos com os sujeitos atendidos e de
rupturas, que além do próprio desgaste causado por este movimento, há o choque entre os
distintos papéis sociais: o ser cuidador, que se dedica e se vincula para promoção do cuidado e
o ser trabalhador, que implica normas, turnos, imprevistos, transferências.
Nesse sentido, acredita-se que a Terapia Ocupacional pode contribuir para melhorias
na qualidade de vida e de trabalho dos trabalhadores da saúde. Tal ciência é compreendida
como o estudo do fazer humano, utilizando as próprias atividades humanas como recursos de
intervenção desde que significativas para o sujeito atendido.
Dentre os campos de atuação da TO, destaca-se aqui o campo da saúde do
trabalhador da saúde. No qual, Soares (1991) aponta como pressuposto a intervenção na
relação trabalho-saúde, a qual implica compreender os aspectos objetivos e subjetivos do
trabalho, bem como compreender que o trabalho significa a realização da capacidade humana
e inserção do indivíduo à sua realidade material.
Esta pesquisa pretendeu aprofundar a compreensão que os trabalhadores inseridos no
campo da saúde possuem acerca da relação entre o trabalho exercido e o modo de vida, bem
como verificar quais as estratégias de enfrentamento aos possíveis sofrimentos correlatos ao
trabalho. Pretende-se também que a pesquisa tenha um caráter benéfico e disparador de
transformações para os sujeitos envolvidos.
Pelo exposto, a pesquisa tem como questões norteadoras: Quais as características
atuais do processo de trabalho que os sujeitos da pesquisa vivenciam? Quais percepções e
vivências que trabalhadores, inseridos em um serviço de saúde, possuem em relação às
influências do processo de trabalho nos seus modos de vida? Quais as estratégias de

8
enfrentamento utilizadas pelos trabalhadores para lidar com os possíveis sofrimentos
associados ao processo de trabalho em saúde?

Produções científicas da área


Segundo Sato e Bernardo (2005) as pesquisas e intervenções no âmbito da saúde
mental do trabalhador tomam espaço a partir da década de 1980, sendo protagonizadas pelos
serviços públicos de saúde e pelas entidades sindicais.
Existem diferentes perspectivas para o estudo do trabalho, as mais mencionadas na
literatura do campo da saúde: Teorias sobre estresse, Psicodinâmica do trabalho, Abordagens
epidemiológicas e/ou diagnósticas e Estudos em subjetividade e trabalho (JACQUES, 2003).
Essa pesquisa se constrói sob a perspectiva deste último referencial, que compreende a noção
de saúde como resultante dos processos de produção da existência, que envolve as relações
humanas em sociedade e com a natureza.
A produção científica no âmbito das relações entre saúde e trabalho, foram
intensamente desenvolvidas durante as décadas de 70 e 80, tendo um forte protagonismo das
entidades sindicais do setor de serviços. Nas universidades, o tema ganhou importância e
maior relevância na década de 1990, permanecendo até os dias atuais (SATO; BERNARDO,
2005; GOMEZ; LACAZ, 2005). Em relação ao caráter da produção referente a saúde do
trabalhador, Sato e Bernardo, (2005) apontam que as pesquisas provenientes da academia
priorizaram a dimensão teórico-metodológica das abordagens, enquanto no âmbito dos
serviços públicos de saúde e das entidades sindicais, voltaram-se para a busca de respostas
que considerassem a realidade vivida pelos trabalhadores, e para as possibilidades de
compreender, lidar e transformar as condições que culminam nos agravos de saúde. Ainda é
salientado que a produção brasileira nesta área representa apenas 1% das publicações anuais
com enfoque nas relações entre saúde e trabalho (WÜNSCH FILHO, 2004).

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral


Compreender a percepção dos trabalhadores de saúde acerca das influências do
processo de trabalho nos seus modos de vida.

2.2 Objetivos específicos


Identificar as características do processo de trabalho em saúde.
Identificar os sentimentos e situações de adoecimento gerados pelas contradições
inerentes ao processo de trabalho em saúde.
Compreender as formas de elaboração dos conflitos e das contradições inerentes ao
processo de trabalho em saúde na perspectiva dos trabalhadores.
Identificar as formas de enfrentamento utilizadas e/ou visualizadas por estes
trabalhadores.

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3. METODOLOGIA

3.1 Natureza da pesquisa


Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo. Tal abordagem baseia-se em
aspectos subjetivos, relacionais e culturais para desenvolver análises (MINAYO, 2010).
Portanto, busca acessar mais profundamente relações, processos e fenômenos, considerando a
singularidade de cada participante e do espaço que o trabalho se inscreve. Considera-se
fundamental que em todo o trajeto da pesquisa haja um movimento dialético de reflexões
sobre as percepções da realidade expressas pelos participantes, buscando as possíveis
correlações com a teoria que embasa e motiva o trabalho (MALFITANO, 2011).
Considera-se fundamental que os dados produzidos não sejam analisados de forma
não reducionista, nem generalizados para outras realidades de forma mecânica. Desta forma,
acredita-se ser possível conduzir reflexões críticas capazes de pensar e produzir
transformações favoráveis aos sujeitos da pesquisa (FRIGOTTO, 1989).

3.2 Participantes da pesquisa


A presente pesquisa contou com vinte e um trabalhadores de nível fundamental e
médio, que exerciam atividades de apoio e assistenciais em um serviço de saúde de média e
alta complexidade localizado na cidade de Marília. Foram incluídos os participantes que
atendessem os seguintes critérios de inclusão: exercer cargo de ensino médio e fundamental,
trabalhar na instituição há pelo menos um ano e assinar o TCLE. Constituíram os critérios de
exclusão: estar em gozo de férias e estar afastado por licença médica.

3.3 Coleta de dados


A fim de atingir os objetivos propostos, foi utilizada a entrevista semiestruturada,
pois, possibilita apreender a leitura que o sujeito faz da realidade que vivencia, representando-
a de diferentes formas: ideias, crenças, sentimentos, comportamentos, razões conscientes e
inconscientes, opiniões e projeções (MINAYO, 2010).

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Para realização da entrevista foram utilizadas questões norteadoras organizadas em
um questionário (Apêndice I), estruturado com base na "Enquete Operária de 1880" (MARX
apud THIOLLENT, 1982) que busca, simultaneamente, analisar os processos de trabalho e
promover reflexões acerca do mesmo. As entrevistas foram gravadas em áudio e transcritas
para análise.

3.4 Análise de dados


Para análise dos dados foram utilizadas as técnicas de Análise de conteúdo por
modalidade temática (Bardin, 2010), compreendida como um conjunto de técnicas que
permitem buscar os sentidos de um documento. A referida técnica possibilita um olhar
complexo e multifacetado sobre os dados obtidos e busca a pluralidade dos sentidos
atribuídos a determinado tema. A sistematização dos conteúdos das entrevistas irão constituir
núcleos de sentido, cuja presença e frequência têm significado para o objeto analisado
(MINAYO, 2010). Ressalta-se que o processo de análise parte dos conteúdos manifestos, e os
resultados da análise devem estar em consonância com os objetivos da pesquisa (CAMPOS,
2004).
Portanto, a análise de conteúdo será sistematizada na seguinte sequencia: leituras
flutuantes das entrevistas, seleção das unidades de análise temáticas, categorização e
subcategorização (CAMPOS, 2004).

3.5 Procedimentos éticos


A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de
Medicina de Marília, em 21/10/2014, CAAE n.º 37183014.5.0000.5413, sob o parecer n.º
839.659. Consta na seção Anexos o documento de aprovação representado pelo Parecer
Consubstanciado do CEP e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido destinado aos
participantes dessa pesquisa como critério de inclusão.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A entrevista semiaberta teve dois momentos: o primeiro com questões referentes às


características socioeconômicas dos participantes e o segundo com questões abertas versando
sobre suas percepções acerca do processo de trabalho.

4.1 Perfil Sócio-demográfico


Participaram da pesquisa 21 trabalhadores de um serviço de saúde de alta e média
complexidade localizado no interior de São Paulo que exercem cargos que exigem nível
médio ou fundamental.
Dos participantes do estudo 09 eram homens, o que equivaleu a 42,85% da
população e 12 mulheres (57,15%). A idade média de 42,14 anos, sendo similares para a
população masculina (41,22 anos) e a feminina (42,83 anos). A idade mínima foi de 27 anos e
a máxima, 52 anos.
Em relação às profissões entrevistas 05 eram auxiliares de enfermagem (23,80%), 04
auxiliares de serviços gerais (19,05%), 04 porteiros (19,05%), 03 recepcionistas (14,30%), 02
auxiliares de manutenção (9,54%), 01 secretário (4,72%), 01 oficial de serviço de nutrição
(4,72%) e 01 auxiliar de cozinha (4,72%).
A média de tempo de trabalho na instituição é de 09 anos (02-23 anos). Observa-se
que destes, aqueles com mais anos vinculados à Instituição pertencem a uma fundação de
administração pública e têm em média 17 anos de instituição; enquanto os que estão
vinculados a uma fundação de administração privada possuem em média 3 anos de trabalho,
correspondente ao período em que fora criada.
Quanto às características econômicas, a média de salário dos trabalhadores
entrevistados foi de R$1.299,05 (R$990,00 - R$1.800,00). Entre a população feminina, a
renda per capita média foi de R$854,64, enquanto a masculina apresentou um valor
relativamente maior R$1.233,33.

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Em relação ao estado civil dos participantes 08 eram solteiros, 09 casados, 03
divorciados e 01 viúva. A média de filhos para a população feminina foi de 1,5 filho/mulher,
sendo que a masculina, 01 filho/homem.

4.2 Categorias de Análise

Com o tratamento qualitativo dos dados emergidos a partir das entrevistas foram
elaboradas duas categorias de análise: Percepções acerca do processo de trabalho em saúde e
Identificando ações em saúde do trabalhador cada qual com suas respectivas subcategorias,
conforme ilustra o Quadro 1, que estabelecem íntimas relações entre si e configuram a
dialética presente nas perspectivas dos trabalhadores acerca do trabalho com o modo de vida.

Quadro 1 – Apresentação das Categorias e Subcategorias de análise qualitativa acerca da


relação trabalho e modos de vida
Categorias Subcategorias
Sentimentos inerentes ao processo de
trabalho em saúde*
Relações entre trabalho e assistência à
Percepções acerca do processo de trabalho saúde*
em saúde Relações interpessoais no trabalho em saúde
Relações entre processos de trabalho em
saúde e adoecimento
Explorando os sentidos do trabalho em saúde
Necessidades de saúde dos trabalhadores:
boas condições de vida no trabalho
Necessidades de saúde dos trabalhadores:
acesso ao consumo de tecnologias de saúde
Identificando ações em saúde do trabalhador
Necessidades de saúde dos trabalhadores:
criação de vínculos afetivos
Necessidades de saúde dos trabalhadores:
graus crescentes de autonomia
*Subcategorias que serão desenvolvidas na seção Resultados e Discussão, como apresentação
parcial dessa pesquisa.
14
Considerando a densidade dos dados que foram explorados nas categorias
anteriormente listadas, foram selecionadas duas subcategorias para a construção parcial dos
resultados e discussão desse trabalho. Na seção Apêndices, encontra-se disponível todo o
corpus qualitativo que constitui o resultado dessa pesquisa.

4.3 Categoria I - Percepções acerca do processo de trabalho

Esta categoria é composto por quatro subcategorias: Sentimentos inerentes ao


processo de trabalho em saúde, Relações entre trabalho e assistência à saúde, Relações
interpessoais no trabalho em saúde, Relações entre processo de trabalho em saúde e
adoecimento, e Explorando os sentidos do trabalho em saúde. Como apresentação parcial dos
resultados dessa pesquisa, consta a seguir o desenvolvimentos das duas primeiras
subcategorias.
4.3.1 – Sentimentos inerentes ao processo de trabalho em saúde
Essa subcategoria justifica-se pela grande expressão de sentimentos referidos nas
entrevistas, principalmente a partir de uma questão direta: “Quais os sentimentos envolvidos
no seu dia-a-dia de trabalho?”, bem como expressados no decorrer de outras respostas.
Nas entrevistas pôde-se identificar a descrição dos seguintes sentimentos vivenciados
no trabalho: angústia, raiva, realização profissional, tristeza, impotência, solidariedade, amor,
lealdade, perda do entusiasmo, frustração, superação, alteridade. Os quais estão presentes em
algumas das falas:
É angustiante (risos). É, a gente não tem perspectiva, é bem angustiante em relação
a não ter uma mudança, não ter uma melhora, em relação a gente, tanto de material
(...) (Bia)

Ah, eu gosto do meu trabalho. Às vezes da raiva, às vezes...(risos). Mas geralmente


eu sempre tô de bem com a vida, eu nunca tô de mal, pode ver né? É perceptível não
é? Eu saio da minha casa pra trabalhar, como eu saio da minha casa para ir ao
mercado comprar, então eu sou determinada, não saio pra trabalhar? Então vamos
trabalhar. (Cristina)

Defino meu trabalho como agradável (Violeta)

Eu acho que, antes de mais nada, tudo que a gente faz tem que ter amor. (Maria)

Ah, às vezes frustração, um pouco de raiva (pausa) às vezes eu tenho que ter muita
paciência, não sei se tenho que demonstrar isso. Muitas vezes tenho que ter espírito
de mansidão. (Jonas)

15
Observou-se que há predominância de sentimentos negativos, sendo que os mais
citados foram frustração e impotência.
Considera-se de grande importância olhar para os sentimentos envolvidos no
cotidiano destes trabalhadores, bem como relacioná-los aos seus reflexos tanto subjetivos
quanto assistenciais. Para Boff (2005): “Tudo começa com o sentimento. É o sentimento que
nos faz sensíveis a tudo o que está a nossa volta. Que nos faz gostar ou desgostar. É o
sentimento que nos une às coisas e nos envolve com as pessoas.” (Ibid., p. 33).
Os participantes relatam também bons afetos em relação à profissão e ao trabalho
que executam, ficando evidente a contradição gerada pela precariedade das condições de
trabalho e o desejo de realizar a assistência de forma mais qualitativa. O sentimento de
alteridade é bastante presente e move os trabalhadores a buscarem alternativas para realização
do trabalho, o que também lhes conforta e gera bem-estar. Madalena e Clotilde expressam
essa questão a partir de suas falas ao responderem a seguinte pergunta: “Se você fosse definir
seu trabalho em uma palavra, qual seria?”:

Hoje meu trabalho em uma palavra? Eu iria colocar um pouco de solidariedade ou


de amor. Porque se não você não faria, sabe, porque é difícil, você se colocar no
lugar do outro, é meio (pausa) é isso. E também diria frustração. Sabe por quê?
Não porque eu não faço o que eu gosto, mas porque eu não tenho condições de
trabalho adequada pra fazer aquilo que eu escolhi fazer. Aí a gente se frustra.
(Clotilde)

A gente sente de tudo um pouco. Alegria, tristeza, às vezes, não digo raiva, mas
sentimento de impotência (...) é difícil definir numa palavra só, mas (pausa), nossa!
Se referindo aos colegas de trabalho acho que Família, porque aqui a gente temos
um vínculo muito bem, a convivência é boa. E quanto aos pacientes é um sentimento
de querer ajudar, de querer sempre ta fazendo, o que eu posso e o que eu não posso
pra tentar resolver a situação do paciente. Então, é difícil falar isso em uma
palavra. (Madalena)

Observou-se que os sentimentos de frustração e de impotência são gerados pela


impossibilidade de desenvolver o trabalho com qualidade, o que reflete sofrimentos
vivenciados cotidianamente pelos trabalhadores do campo da saúde. De acordo com Ramos
(2010), além do caráter cuidador, lidar diariamente com a dor e o sofrimento humano, bem
como as condições precárias de trabalho são elementos que contribuem para o agravamento
dos sofrimentos psíquicos.
Desta forma, pôde-se inferir que o trabalho possui duas vias de sentido
aparentemente paradoxais, em que por um lado é fonte de prazer e bem-estar e por outro se
torna fator estressor e de desgaste. Segundo Azambuja et al (2007), o trabalho possui uma

16
rede de significados em que dialeticamente há uma dimensão potencializadora do viver e
outra despotencializadora. Ou seja, dentre os sentidos atribuídos ao trabalho no existir
humano, há uma via em que o trabalho emerge como fonte de remuneração, satisfação das
necessidades materiais básicas, prazer, realização pessoal, transformação social, interação e
reconhecimento social e, paradoxalmente, por outra via é tido como fator de estresse, gerador
de angústias e de sobrecarga, impotência, e se sobrepõe à atividades de lazer e autocuidado
(AZAMBUJA et al, 2007). Nesse sentido, é necessário compreender o trabalho como um
processo complexo e permeado por ambivalências em seus sentidos diversos, os quais a
categoria buscou identificar e refletir.
4.3.2 – Relações entre trabalho e assistência à saúde
Emergiu a partir dos relatos dos participantes em que relacionavam os reflexos dos
processos de trabalho na qualidade da assistência, bem como elaboram tais vivências.
Compreende-se que o ato de cuidar é parte do existir humano, portanto “nós não
temos apenas cuidado. Nós somos cuidado” (BOFF, 2005, p. 23). Outros autores se debruçam
sobre o conceito de cuidado derivado do latim, coera, que se pode traduzir como “cura”,
sendo atribuídos os sentidos de preocupação, desvelo, inquietação, atenção e interesse em
relação ao objeto ou pessoa amada (BOFF, 2005).
Nesse sentido, compreende-se o cuidar como principal referente simbólico do
trabalho em saúde (MERHY; 2010), para tanto o processo de produção de saúde deve ter
como propósito “transformar positivamente as condições de vida ou de atividade do
cliente/usuário” (RAMOS, 2010, p.214).
Através dos relatos, foi possível identificar que os participantes possuem sentimento
de responsabilidade pelos cuidados prestados aos usuários do serviço e pela forma como
desenvolvem suas tarefas e as repercussões das falhas, sejam individuais, da equipe ou das
condições materiais. Em relação a este movimento, Merhy (2010) traz a seguinte reflexão:

“Pois, diferentemente de outros processos produtivos, na saúde, o


trabalhador a qualquer momento poderá ser seu próprio usuário.
Imperativamente, quase que de modo obrigatório, terá que sempre se ver
diante do fazer de si mesmo, porque mesmo inconscientemente tem que
responder para si se seria um usuário do que está fazendo com o outro.”
(MERHY, 2010, p. 200).

17
Através da fala de Jonas ao descrever como se sente ao se omitir em suas atividades é
possível exemplificar tal movimento de identificação com o usuário do serviço e a
consciência de sua responsabilidade enquanto agente do processo de produção de saúde:

Ah, se eu for omisso ao meu trabalho eu sei que tem muitas pessoas que estão lá
fora que dependem. E as pessoas dependem dos serviços e dos profissionais que
muitas vezes eu que acabo controlando a atividade, eu sei exatamente o que eles
fazem aqui dentro. Então, na minha omissão eles acabam deixando por fazer, o que
reflete diretamente no paciente, e isso me pesa lá fora ne, eu fico mal, porque pode
ser meus familiares atingidos, ou pode ser outras pessoas também. (Jonas)

Ao falar sobre seu sentimento de frustração e como lida com as omissões da equipe,
Jonas ilustra de certa forma a percepção da maioria dos participantes da pesquisa,
principalmente o descontentamento em relação aos profissionais de nível superior da equipe
cuja percepção é de que suas omissões fragilizam a assistência:

(...) as minhas maiores brigas e frustrações é com relação a isso, a saber


que tem uma lista gigantesca de pacientes pra ser atendido e a gente saber
que as pessoas não ficam, não cumprem com a sua jornada, o que acaba
muitas vezes prejudicando o serviço. (...) Por isso que eu falo, a parcela de
pessoas que realmente faz não é grande, é pequena. De 100% pode por aí
30%, porque tem um monte de médicos que vêm, faz alguma coisa e vai
embora mais cedo. (Jonas)

Foi observado no decorrer das falas que a necessidade de improvisar cotidianamente


devido à falta de materiais é um dos fatores geradores de sofrimento psíquico. Fato que
Medeiros et al (2006) reafirma ser recorrente entre os trabalhadores da saúde e se refletem em
sentimentos de insatisfação e frustração com a assistência prestada. Em uma de suas falas,
Clotilde, descreve tal percepção, identificando suas condições de trabalho como precárias,
sente implicações negativas na qualidade da assistência e se posiciona:

A gente quer dar um banho e não tem roupa, tem época que entra em falta
sabão. O sabão que a gente usa pra lavar as mãos é da pior qualidade, meus
dedos são todos rachados, ó por causa do sabão, sabe assim, então são
vários fatores. Por isso quando você me perguntou la, como eu me sinto eu
coloquei frustrada, porque quando você faz o curso, você tem uma
expectativa que é uma coisa diferente, e a hora que você cai aqui no dia-a-
dia não é. Às vezes a gente da banho, coloca o paciente na coberta, pra não
deixar ele no xixi. Porque ai você fala, é melhor ele ficar numa coberta que
vai esquentar do que ficar direto no xixi. Tem dia que a gente põe ele na
camisola, que tem costura, que não é adequado pra ele estar. Então assim,
você vai improvisando, e aí mexer com gente no improviso, pra mim não é
qualidade de trabalho. (Clotilde)

18
Nas falas citadas anteriormente, buscou-se ilustrar em três dimensões – individual,
coletiva (equipe) e material – como os participantes da pesquisa percebem os reflexos do
processo de trabalho na assistência ao usuário do serviço de saúde. Nestas falas evidencia-se
um alto nível de preocupação e de consciência destes sujeitos em relação à qualidade da
assistência. Pode-se inferir também que há um forte reflexo subjetivo nesses trabalhadores.
Ressalta-se que nem todos realizam a prestação de cuidados diretamente, mas nas entrevistas
foi possível verificar que trabalhadores de diversos setores expressam percepções semelhantes
em relação ao processo de trabalho e suas implicações na assistência à saúde.
No entanto, os participantes relataram também alternativas que encontram para
contribuir para a melhoria da assistência ou para amenizar seus próprios sofrimentos gerados
pela impotência vivenciada. Maria relata uma situação em que a equipe se mobilizou para
suprir uma demanda:

Ah olha... a falta às vezes de material, às vezes a gente quer atender o


paciente melhor e as vezes a gente não tem assim. Já chegamos a trazer as
coisas uma época, quando tava faltando café. Porque eu ficava com dó
principalmente dos acompanhantes, as pessoas criticam muito os
acompanhantes, mas eu tenho muita dó deles porque ele tá ali... dia e noite
sentadinho naquela cadeira. É desgastante. Tem acompanhante que é chato
é, mas a gente tem que aprender a lidar com eles. É mais, eu fico com dó
muitas vezes deles. (Maria)

Ao refletir sobre o processo de trabalho em saúde Pires (2000, p. 87) expõe o seguinte
pensamento:
"O trabalho em saúde é um trabalho essencial para a vida humana e é parte
do setor de serviços. É um trabalho da esfera da produção não material, que
se completa no ato de sua realização. Não tem como resultado um produto
material, independente do processo de produção e comercializável no
mercado. O produto é indissociável do processo que o produz; é a própria
realização da atividade". (PIRES, 2000, p.87)

Desta forma, se faz necessário refletir que gestão, processo de trabalho e modo de
viver dos trabalhadores estão diretamente relacionados e se influenciam mutuamente.

19
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que a produção científica em relação aos trabalhadores da saúde de


nível médio e fundamental, inseridos nos níveis de média e alta complexidade, é bastante
escassa, tornando estes atores invisíveis no processo de produção de saúde. A pesquisa
demonstra que estes possuem diversas demandas de cuidados, bem como necessidade de
serem ouvidos como co-gestores do processo de produção de saúde, como preconizado
também pela Política Nacional de Humanização (BRASIL, 2004).
As duas categorias apresentadas trazem consigo reflexos dos elementos mais
importantes que caracterizam o trabalho em saúde, que é o ato de cuidar, um princípio
fundamental e estruturante do trabalho em saúde. Tal ato não é próprio apenas do processo de
produção de saúde, mas também do existir enquanto ser humano.
Nesse sentido, observaram-se alguns dos reflexos dos processos de trabalho em
saúde na construção subjetiva e na vida externa ao trabalho dos participantes da pesquisa. O
que possibilita conduzir reflexões em relação à saúde do trabalhador da saúde, inserindo-o
como parte do ato de cuidar, olhando-o também sob a perspectiva da integralidade e não mais
como apenas alguém que operacionaliza a produção.
Tendo em vista que a precarização do trabalho é a precarização da vida, se faz
necessário retomar o que preconiza a atual Política de Humanização da Saúde, em que os três
atores do processo de produção de saúde: usuários, gestão e trabalhadores são tidos como
indissociáveis e devem protagonizar conjuntamente a organização do processo de produção de
saúde para que se coloque em defesa da vida.

20
REFERÊNCIAS

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24
ANEXO I

25
26
APÊNDICE I
FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA
RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL INTEGRADA EM SAÚDE MENTAL
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Resolução 466/2013 – Conselho Nacional de Saúde

Estamos desenvolvendo a pesquisa intitulada “Perspectivas de trabalhadores da saúde sobre a


relação trabalho e modo de vida”, que tem como objetivo Compreender a percepção dos trabalhadores de
saúde acerca das influências do processo de trabalho.
O estudo será realizado no Hospital das Clínicas – Unidade III do complexo FAMEMA, do qual
participarão uma amostra dos trabalhadores.
As entrevistas serão realizadas individualmente e gravadas em áudio. Asseguramos que não haverá, sob
nenhuma circunstância, a divulgação de sua identidade, e que os dados coletados estarão disponíveis somente
para revisão de pesquisadores e para publicações com propósitos científicos. Após a realização deste estudo, os
participantes poderão ser informados acerca dos resultados, se assim o quiserem.
Informamos que os participantes são livres para abandonar a pesquisa, por qualquer razão, sem que haja
prejuízo ou desconforto para os mesmos.
Os participantes desta pesquisa não terão nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que este
estudo proporcione contribuições importantes para o desenvolvimento científico sobre a saúde do trabalhador.

Eu,______________________________________________________________, R.G.___________________,
após ter lido e entendido todas as informações referentes ao estudo proposto, concordo, voluntariamente, em
participar do mesmo. Declaro que recebi as informações necessárias para minha compreensão do estudo e que
receberei uma cópia deste formulário. Declaro, ainda, ter sido esclarecido (a) de que todas as informações
apresentadas por mim têm a garantia de sigilo, assegurando-me absoluta privacidade. Estou ciente, também, de
que tenho liberdade de me recusar a participar ou de retirar meu consentimento, em qualquer fase da pesquisa,
sem penalização alguma.
Assinatura do (a) participante da pesquisa__________________________
Data:_____/______/________.

Nós, pesquisadores responsáveis, declaramos ter disponibilizado, ao participante acima assinado, as informações
necessárias para compreensão da pesquisa.

_________________________________________Data:____/____ /______.
Pesquisadora Thaís Munholi Raccioni, RG 45767158-0, CPF 370359488-80, Terapeuta Ocupacional, residente
multiprofissional do Programa de Saúde Mental da Faculdade de Medicina de Marília, CREFITO-3/15671-TO.
Em caso de dúvida, entre em contato pelo telefone 98146-6298 ou e-mail thaisinha210@hotmail.com.

_______________________________________ Data: ____/_____/_______.


Orientador Thiago da Silva Domingos, RG 42.019.218-9, CPF 345.954.048-67, Enfermeiro – COREN
250544/SP. UPC – Internação Psiquiátrica. Hospital das Clínicas – Unidade 3. (14) 3402-1744 – ramal 1131. E-
mail: thiagosd7@hotmail.com

27
Apêndice II
Roteiro de Entrevista

I) Dados de identificação:
Identificação:
Gênero:
Idade:
Cargo atual:
Há quanto tempo trabalha na instituição:
Há quanto tempo exerce essa ocupação:
Vínculo de trabalho:
Possui outro trabalho? Qual?
Salário (s):
Renda Familiar (componentes da renda):
Estado civil:
Filhos:
Mora com quem:

II) Questões Norteadoras:

1) Descreva como é o seu trabalho? (características gerais)


2) Como você se sente em relação ao seu trabalho? (sentimentos envolvidos no dia-a-dia)
3) Se você fosse escolher uma palavra para definir seu trabalho, qual seria?
4) Como é sua rotina diária (incluindo finais de semana)?
5) Você acha que o que ocorre no trabalho interfere na sua vida fora dele? Como?
6) Já se afastou por motivos de saúde? Quais? Quantas vezes? Por quais motivos? O que você
buscou para ser tratado? O problema continua? De que forma?
7) Existe algum cuidado promovido pela instituição para os trabalhadores? Se sim, quais?
8) Quais cuidados você pensa que a instituição poderia oferecer?
9) Em sua opinião, quais são os maiores problemas encontrados no seu trabalho? Como você
lida com eles? O que já foi tentado para resolver?
10) Em sua opinião, o que poderia resolver os problemas envolvidos no seu trabalho?

28
APÊNDICE III – Corpus qualitativo segundo categorias e subcategorias de análise

Categorias Subcategorias Discursos

Identificando ações em NS dos trabalhadores – MARIA: Pra tratar a bursite e a coluna eu fui várias vezes lá no Mario Covas ai passou fisioterapia, passou medicamento...tomei mas
assim...resolver, resolver não resolveu muito não.
saúde do trabalhador Acesso ao consumo de MARIA: Olha, eu acho que falta. Eu acho que por exemplo assim os funcionários deviam ter mais assim prioridade, ter médico igual tinha
antes. Não tem, você entendeu? Colocar mais coisas, mais benefícios assim pro trabalhador, fornecer mais coisas né?
tecnologias de saúde MARIA: Ah coitados dos funcionários só foi perdendo, no decorrer dos anos. Porque antes a gente tinha médico, se a gente ficasse
internada, a gente tinha um leito particular lá no HM, é... a gente lá no PS tinha prioridade em atender o funcionário ainda com mais
rapidez. Agora não , agora não tem prioridade de nada. Todo mundo igual. Remédio também a gente pegava na farmácia, depois cortou
tudo você entendeu? Muitas vezes a gente tem dor tem que ir na farmácia comprar os remédios porque não ganha nada mais. E vinha a
preço de custo, vinha bem baratinho já descontado no holerite..
Madalena: Cuidado que eu faça uso nenhum.
ANA: (RISOS) Na hora que a gente chega lá é tratado igual, né? No dia que eu machuquei o joelho mesmo eu me senti... mas o joelho foi
em casa, tive uma lesão. Tipo assim, nossa eu não fui embora porque eu tava com muita dor. Porque você fica lá quatro horas, pensa? Seu
joelho saiu do lugar e você fica quatro horas no HC, sendo funcionária? Aí depois você escuta do médico falar assim; "olha, primeiro ele me
deu três dias, fica três dias de repouso, não fica sassaricando, tipo assim, não fica andando não que é pra poder sarar”. Aí eu falei assim, aí
você fica chateado com uma coisa dessas, tipo com se tivesse de brincadeira eu. Falei como que eu vou andar com o joelho desse jeito? Ou
mesmo passear, né? Como ele me deu três eu falei, eu questionei, eu falei "três dias eu não vou me recuperar", porque já é a segunda vez
que eu tive uma lesão, da outra eu fiquei, como eu tinha unimed, que os cuidados são maiores, lógico que eu fiquei quarenta dias, mas com
trinta eu já estava estável, mas o médico achou melhor mais trinta pelo INSS eu fiquei, mas dessa vez fiquei dez, porque eu não tava em
condições? Não tava! Voltei porque não adianta ficar brigando.
JOÃO GILBERTO: Pras minhas dores só fiz tratamento paliativo mesmo, porque eu tenho que entrar pelo SESMT pra poder ter o
encaminhamento, pra ortopedia na especialidade na coluna. Não fiz isso ainda. Até mesmo por conta do trabalho e o horário deles de
atendimento é um tanto quanto reduzido. (Pausa) (Risos) Se tem ainda não me foi apresentado. Tem do SESMT né, que é uma burocracia
tremenda pra você conseguir, você tem que ir pra fila de espera e tudo mais. Agora, diz que tem uma outra frente pros funcionários que tá
sendo la no HCI, mas ainda não conheço esse trabalho, não posso descrever porque eu ainda não conheço, e o SESMT você tem que ir no
período da manhã para passar pela consulta e agendamento, quer dizer, você tem que ir se consultar e ter o seu tratamento agendado, tem
toda uma agenda pro ambulatório.
CLOTILDE: Cuidado? (ironia) (pausa) que eu perceba assim, não, a instituição até favorece o estresse.
THOMÁS: Não. Não tem. (risos). Existe algum cuidado? Não, não tem. Isso não tem mesmo.
JOÃO: Antigamente eu buscava o serviço nosso mesmo aqui do pronto socorro, ou do ambulatório, mas agora ultimamente eu consulto no
PA, não tenho convênio médico. Me sinto melhor acolhido no PA do que no pronto socorro. Cuidado em que sentido? Eu não vejo isso.
Pelo menos eu não sinto. É, e o pouco que tinha a gente vai perdendo ao longo dos anos. (Pausa) Antigamente a gente tinha remédio mais
barato aqui. Com receita médica você pegava na farmácia a preço de custo, hoje já não tem mais isso.
NS dos trabalhadores – CRISTINA: Cuidados? Ahhh tem... (Ironia), ahh tem (risos ). O pessoal não dá nem uniforme, quanto mais... promover... Você que não é
esperta não que saí apanhado dos loquinho aí.
Boas condições de vida no CRISTINA: Ah, é muita coisa se eu fosse numerar... No momento agora não me vem na cabeça, mas eu acho que precisa fazer uma
reciclagem inteira, precisamos de cursos, acho que a chefia precisa ver mais no ambiente de trabalho, que a Diretora precisa andar mais pelo
trabalho hospital, mas ela nem fica aqui, é do HC, (oh lá, viu?). Eu que... Acho muita coisa errada.. acho que a portaria precisa de curso, reciclagem,
MARGARIDA: Cuidado assim que você fala é dos materiais que a gente usa? EPI, essas coisas? pra não se machucar a gente usa, óculos,
EPI ne? Luvas, bota e agora a gente ta usando uniforme adequado né, porque ...... o duro é a calça, que é muito larga e muito comprida,
quando a gente ta menstruada fica parecendo um balaio ai, mas ta bom. Até que a gente ta acostumando. Ta até acostumando já, mas é

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quente.
BIA: No HC eu acho que tem, pra funcionário, mas acho que não são pra todos, só quando é encaminhado pelo SESMT. Aqui tem a área de
descanso, mas eu acho que é muito pequena ainda pro tanto de gente que tem aqui. Tem dia que você chega la, não tem onde ficar, é bravo!
JOÃO GILBERTO: Dizem que estão tentando contratação ou remanejamento, mas até agora não veio. Nosso setor hoje tem um desfalque
de 10, 12 auxiliares. Até agora eu não vi.

NS dos trabalhadores – Madalena: Ah, as reuniões de equipe que não resolveram nada, falam que tem que haver é, mais integração, mas tem outra palavra, tem que
haver, poxa, tem que ser mais unido, um tem que falar a mesma língua do outro, se eu posso fazer, vamos fazer, vamos pensar no próximo,
graus crescentes de independente se o próximo é conhecido seu ou não, mas vamos fazer! Vamos tentar. Aí, “ah, agente tem que mudar algumas coisas”, mas
fica sempre nas conversas e não muda. Mas isso foi bem no começo, ultimamente não se tem mais espaço pra falar muito.
autonomia Cristina: muitas vezes ninguém leva a gente a sério, mas eu tento fazer.

NS dos trabalhadores – CRISTINA: Nenhum (risos), mas nenhum! Tanto que não te vê como ser humano, te vê como funcionário, você só é funcionário, nada
mais. Você liga e fala: „ó to de licença‟, eles falam: „Quantos dias? Quando você volta?‟, eles não perguntam: como você está? Você está
criação de vínculos afetivos bem? Está sendo bem tratada? Precisando de alguma coisa? Ninguém liga...
Bia: As dificuldades do dia-a-dia de trabalho? como posso explicar, não tem uma preocupação maior da instituição com a gente. Eles não
darem tanta importância pros funcionários.
Ana: E o chefe ainda foi camarada, que eu comuniquei, aí ele falou: "vai no seu limite". Então foi onde eu comecei ver também um lado,
que de repente a gente tem que conhecer na hora da doença, aí que você vai vendo também né?
Percepções acerca dos Relações interpessoais no MARGARIDA: Não. Porque o ser humano, ele é complicado, às vezes ele pode passar por cima e não fazer o serviço direito. É a mesma
coisa quando você entra num lugar, a pessoa vai te ensinar, talvez ela nunca te ensine a fazer direito o certo. Porque eu já passei por isso.
processos de trabalho trabalho CRISTINA: Dos maiores problemas acho que colegas de trabalho querendo prejudicar muitos os outros. Em vez de ter união não tem. Eu
fico indiferente, finjo que não vejo, finjo que não escuto, porque se você for ouvir e ver, você não trabalha. Em canto nenhum, não só aqui
em saúde em lugar nenhum. Então são pequenas coisinhas assim, que não sei, se não vê, se faz de conta que não ve, mas na hora que falha ai vai ve,
mas na hora que vê vai chamar a atenção de quem veio de extra? Vai chamar a atenção de quem fica na ala.
ANTONIO CARLOS: os maiores problemas do trabalho, acho que tem muitas pessoas falsas em volta da gente. As vezes que bate no
ombro como um amigo, te dirige palavras pra te provocar com falsidade, as vezes você acredita na pessoa mas ela não é nada daquilo, as
vezes passa muitas coisas ruins pra você. Se puder te atrapalhar te atrapalha, tem muita gente aqui dentro que é assim, infelizmente. Essas
pessoas, na minha opinião, você tem que procurar fazer o bem pra ele e tentar ignorar esse lado. Fazer despercebido, tal, mas você percebe
que aquela pessoa, tudo que faz pra você não quer te ajudar, sabe? Não quer te ajudar em nada, só quer tirar o que você tem.
MADALENA: É esse. Mas o fórum institucional, uma das coisas que tem la e que é muito dito é humanização, uma das palavras-chave é
humanização porque “temos que ser humanizados, temos que exercer isso, temos que fazer isso, temos que fazer aquilo” (ironia) e aí
quando você precisa, quando você busca, não só pra você mas em prol do paciente, aí você vê que é somente teoria. Falam tanto de
humanização no Fórum, pelo menos é isso nos que eu participei, e é uma coisa que você não vê, claro que toda regra tem excessão, mas é
uma coisa que você não vê. É muito bonito a fala, mas a ação deixa a desejar. [...]As vezes são coisas simples que da pra resolver e depende
do outro, mas não se tem boa vontade, não se tem interesse ou simplesmente. É que nem, essas situações de remarcar paciente, a gente
precisar as vezes ta passando pro médico uma situação e você percebe que a acolhida não é tão boa, então isso tudo é levado também em
reunião, que a gente precisa ter mais companheirismo, falar a mesma língua, mas é complicado. Parece que você ta pedindo um favor pra
você, e não é pra você, é pro paciente, e não é favor nenhum, é uma situação que ele não veio porque ele tem um motivo, claro que de novo,
toda regra tem excessão. Mas você sente bastante descaso por parte de alguns profissionais. [...] Sim, e é muito... e você sente às vezes um
preconceito, uma coisa: ué, porque você ta falando se né, você é só uma auxiliar, você falar? Então, você sente isso na pele. Ou você vai
passar uma situação que nem é da sua função pra pessoa que é da função e a pessoa olha pra você e fala: olha, não posso fazer nada, e aí
você nas suas limitações, vai fazer o seu melhor. Porque eu não vou chegar pro paciente e falar: eu não posso fazer nada. Eu pelo menos
vou tentar, vamos fazer alguma coisa, vamos tentar, ver o que da pra ser feito.
P: E isso gera um desgaste maior?

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MADALENA: Nossa, nem me fale. E aí chega no final do mês e seu salário continua o mesmo, enquanto o dos outros é muito maior, ta
certo? Ta errado? Problema meu que não estudei, mas acho que tem.... (pausa) e as pessoas só te veem quando você faz algo errado, aí você
é notada, mas caso contrario, ninguém chega pra falar: nossa que bacana! Puxa, mesmo não sendo da sua função você ta fazendo. E as vezes
é simples, é uma palavra só e que vai te motivar tanto.
ANA: (risos) Olha, falar verdade. Parece que não, mas a gente tem um convívio bom de pessoa. (
JONAS: É, reforço. Sei la, tem pessoa que faz ta há 10 anos aqui, não aprende sabe, parece que tem dificuldade sei la meu...não sei nem
como por isso. Falta de comprometimento por parte de alguns, que mais? Acho que é mais isso, isso ai que vai me deixando nervoso. P:
Como você lida com isso? Você fica nervoso com isso e como você responde a isso? JONAS: Ah, hoje em dia eu tento me controlar assim.
Antigamente eu irritava de ver a pessoa mesmo, não queria ver ela no dia. Por exemplo, pessoa que eu já sei que era problema eu nem
queria ver ela, distanciava. Não queria nem ver, tentava evitar, hoje não, hoje eu tento solucionar, tento ajudar ela, ver se realmente é um
problema, ver se ela pode aprender, mas é difícil, não é fácil.
MARA: Olha, eu gosto muito de artesanato, gosto de dar presentes, então todo final de ano eu gosto de dar, presente não porque a gente não
da presente, da lembrança, então quero dar lembrancinhas, então, eu dou lembrancinhas pras minhas colegas, ano passado eu fiz 50, daí dei
pras meninas da cozinha, da limpeza, da ala 1, que na época eu tava la, pro pessoal da farmácia, agora esse ano como meu dinheiro ta curto,
eu vou escolher as colegas né. [...] daí tem coisa que ele faz que eu não aprovo, não só comigo, como, eu me doo pelas minhas colegas
também, eu brigo pelas minhas colegas também, então é onde ele pegou pesado comigo e ta na minha cola. É, porque eu briguei por causa
das minhas colega, no fim minhas colegas nem me defendeu ta?! Não me importo, continuo defendendo elas, elas me defendendo ou não,
continuo defendendo elas, que eu to fazendo a minha parte. Eu me sinto bem assim, não importa se eu falei pachorra de pontapé, o
importante é que eu me sinto bem. Porque minhas colegas não são nada legalzinha sabe, porque assim elas são boazinhas, só que elas tem
muito medo do chefe, então tem coisas que elas tem que fazer, por exemplo assim: Mara, porque não quero fazer isso, não quero fazer
aquilo, nhenhe, aí hora que o homem chega: e aí, o que vocês tem pra me falar? Ninguém abre a boca, o homem vira as costas e ó
MARA: não, nada. É isso que eu to dizendo pra você, ninguém falou nada. Porque como eu sou bocuda elas tão esperando que eu fale, mas
eu não vou fazer isso mais, porque como diz agora pra mim tanto faz, o chefe me brigar, não me brigar, me bater, não me bater, me
expulsar, eu não to mais me lixando com nada, pra mim que eu botei na minha cabeça, que em fevereiro eu caio fora. Com emprego ou sem
emprego eu caio fora.
Mara: Ele é o tipo do chefe assim, que se o Dr. Gilson falar pra ele assim: Fala pras suas funcionárias trabalhar um mês de graça sem
receber, ele chega aqui e obriga a gente fazer isso. E eu percebi que ele é um chefe assim. Ele ta um pingo se lixando pros funcionários, ele
é mais diretoria. Então ele é tipo assim „eu mando e acabou‟ se ele cismar comigo ele me põe la no necrotério e me larga la, ele não me
pergunta assim: você quer ir? ele simplesmente manda. Faz um ano já que ele ta. Cada dia pior. No comecinho ele chegou assim, com
aquela, como diz, e ele é pastor, e meu pastor diz assim: “O demônio se transforma em anjo pra conquistar corações” ele pos aquela
mascara de anjo pra conquistar, depois tirou a mascara, agora tirou a máscara. Não tem um que fale bem dele, ninguém gosta dele.
MARA: Então, falei pra uma menina que mandaram embora mas que era da CIPA entrar pra CIPA de novo, porque querem mandar ela
embora assim que acabar a gestão! Entra na CIPA, na brigada, onde você quiser, mas...então eu fico chateada mais pelas colegas, tem
colegas que eu nem conheço, mas só de ficar sabendo o que ele fez com elas la eu fico chateada aqui, porque assim, como eles fazem la,
pode fazer aqui também, é o mesmo chefe de todas as entidades, e como ele ta la no HC e no HC tem mais demanda, então esquece um
pouco de nós, só que quando vem, vem pra detonar, é raro ele vir aqui, muito raro.
Mara: Ah, se tivesse mais união com as próprias colegas né, se as colegas fossem mais unidas, mais corajosas era mais fácil enfrentar essas
coisas né?! Porque eu acredito assim, chefe não é nenhum bicho, nós temos que respeitar o chefe, não ter medo, nós não temos que ter medo
de ninguém. Nós temos que respeitar, até mesmo um coleguinha, até mesmo um cachorro a gente tem que respeitar, não é mesmo?
Mara: A gente entrava num acordo e chamava o chefe e falava, mas não. Sabe assim, picuinha, da a impressão que uma quer puxar o tapete
da outra sendo que todo mundo faz a mesma coisa, todas nós fazemos a mesma coisa, mas uma parece que quer ser mais que a outra, de
repente ta esperando um cargo de chefia né.
Mara: Vou atacar a hora que ele me fuder, e mesmo aquele dia dia la eu...não esperava essa resposta dele, então tem coisas que a gente
releva, fazer o que né? Pra tudo tem o seu tempo, tem o tempo de você bater boa, tem o tempo de você ficar quietinha, tem o tempo de você
engolir o sapo, tem o tempo de você soltar o sapo. Tem tempo pra tudo, a gente tem que discernir esse tempo né. A hora do jogo comigo, eu

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e ele ta chegando e eu já tenho umas par de palavrinha pra falar pra ele ne?! Ai fia, não vejo a hora de falar pra ele
CLOTILDE: Aumenta, vixe! Aí teve um caso que eu pedi pra um outro funcionário pegar um peso pra mim e eu expliquei que quando
menstruo tenho muita dor na coluna, falei que eu tava assim assim e eu gostaria de evitar pegar peso hoje, aí ele falou: Ah, se toda mulher
que tiver menstruada for negar de descer e subir rampa....eu falei: Não, eu não to negando, eu to apenas pedindo se você pode ir no meu
lugar, se você falar que não pode, eu vou fazer o serviço que eu nunca neguei né? Então assim, dependendo se que você for falar, você
ainda se indispõe com o seu colega, então você acaba encarando, tem que fazer né?
Flor: fica martelando na cabeça sabe, os absurdo que a gente ouve. P: dos pacientes ou da equipe? FLOR: Não, da equipe, os pacientes são
os melhor que tem. [...] eu fico estressada, depois quando a gente vira o bicho, fala um monte acha que a gente é ruim.
CRISTINA: A chefia nem é daqui, a chefia nem vem aqui, nem sabe que eu já voltei a trabalhar.
Sentimentos inerentes ao Bia: É angustiante (risos). É, a gente não tem perspectiva, é bem angustiante em relação a não ter uma mudança, não ter uma melhora, em
relação a gente, tanto de material, porque os nossos móveis são horríveis, não tem...
processo de trabalho CRISTINA: Ah, eu gosto do meu trabalho. As vezes da raiva, as vezes...(risos). Mas geralmente eu sempre to de bem com a vida, eu nunca
to de mal, pode ver né? É perceptível não é? Eu saio da minha casa pra trabalhar, como eu saio da minha casa para ir ao mercado comprar,
então eu sou determinada, não saio pra trabalhar?Então vamos trabalhar. Uma vez minha coluna travou, por motivo emocional, minha irmã
tinha morrido. Às vezes ameaça doer de novo, aí já tomo remédio...(risos). Eu não gosto de sentir dor, mas não sou hipocondríaca (risos).
Dor na coluna eu já tomo, porque ô dor insuportável.
Violeta: Ah, eu me sinto realizada (risos), adoro trabalhar, aonde eu trabalho eu amo de paixão. Defino meu trabalho como agradável
Mara: ultimamente eu não to gostando do meu chefe, to ficando muito triste por causa do meu chefe. Não gosto mais dele.
Antonio Carlos: Uma palavra? Deixa eu pensar? Uma palavra pra eu definir meu trabalho? ( pausa) executar com lealdade meu trabalho
sempre, fazer o melhor possível o serviço que eu executo.
Madalena: De tudo um pouco. Alegria, tristeza, às vezes, não digo raiva, mas sentimento de impotência. [...] nossa, é difícil numa palavra
só, mas (pausa), nossa! Se referindo aos colegas de trabalho acho que Família, porque aqui a gente temos um vínculo muito bem, a
convivência é boa. E quanto aos pacientes é um sentimento de querer ajudar, de querer sempre ta fazendo, o que eu posso e o que eu não
posso pra tentar resolver a situação do paciente. Então, é difícil falar isso em uma palavra.
Maria: Sentimentos? Olha por enquanto eu to assim bem satisfeita em trabalhar. Eu gosto do que eu faço... Amor. Que eu acho que antes de
mais nada, tudo que a gente faz tem que ter amor. Eu gosto de trabalhar aqui, me sinto bem. Teve uns dias que eu andei meia... Tipo assim,
perdi sabe, perdi aquele entusiasmo, troca de chefia e tal.
JONAS: Ah, às vezes frustração, um pouco de raiva (pausa) as vezes eu tenho que ter muita paciência, não sei se... tenho que demonstrar
isso. Muitas vezes tenho que ter espírito de mansidão. [..] as minhas maiores brigas e frustrações é com relação a isso, a saber que tem uma
lista gigantesca de pacientes pra ser atendido e a gente saber que as pessoas não ficam, não cumprem com a sua jornada, o que acaba muitas
vezes prejudicando o serviço.
JOÃO GILBERTO: Bom, eu gosto do que eu faço, porém, às vezes, tenho sentimentos assim, de impotência, tenho sentimentos assim,
de...como que eu posso expressar pra você? (pausa) é um sentimento assim, de (pausa)...bom é impotência, porque as vezes você se sente
impotente, é por você ver que você tem uma tarefa pra você desenvolver e você não tem o material adequado pra você desenvolver essa
tarefa, digamos que seja isso. E tem um pouco de frustração também. [...] Porque você tem que se superar a cada dia, com todas essas
adversidades que eu descrevi anteriormente.
CLOTILDE: Frustração. Sabe porque? Não porque eu não faço o que eu gosto, mas porque eu não tenho condições de trabalho adequada
pra fazer aquilo que eu escolhi fazer. Aí a gente se frustra. Hoje meu trabalho em uma palavra? Eu iria colocar um pouco de solidariedade
ou de amor. Porque se não você não faria, sabe, porque é difícil, você se colocar no lugar do outro, é meio (pausa) é isso.
THOMÁS: É, eu gosto de trabalhar aqui, sempre. Eu falo que é emocionante, porque eu gosto de me envolver com todo mundo aqui aqui.
Me dou bem com todo mundo, então é assim aqui, né.
JOÃO: Ah! Aqui são vários sentimentos, hein?! A gente sempre fica alegre, triste, estressado.
FLOR: as vezes eu fico meio angustiada com os absurdos que a gente tem que ouvir da equipe.
Relação trabalho versus  CRISTINA: Só, não vai resolver mesmo, então...Ta tudo muito bom, tudo muito bem... É, aí tem uma intercorrência, alguém vai e te morde,
tenho um monte de amigo que já foi mordido, chutado, quebrado mão, pé, óculos. E alguém fez alguma coisa? Não. Com a polícia mesmo,

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assistência à saúde passou uma AZT. O Kell, ele foi mordido, não sabe o que a pessoa tem, tomando até hoje, coitado fica tomando remédio, outro quebrou o
dedo com um chute que um acompanhante deu, o outro quebrou os óculos no rosto e machucou, e aí fica assim.
 CRISTINA: Eu falo isso em relação não só na minha situação de porteira, eu falo isso em relação a todos, médico é também um
funcionário, e tem médico que só falta apanhar ninguém faz nada, agora o médico sai da casa dele pra ser médico, pra tratar e vai apanhar?
Eu falo isso lá pelo Pronto Socorro, aqui é muito raro ver isso, as pessoas e os usuários são muito sem educação.
 CRISTINA: Também as pessoas de alguns setores são muito sem educação com as pessoas. Ninguém se coloca no lugar do outro.
 CRISTINA: Mas a minha portaria também é assim, falta condições de assistência assim, nem por isso eu vou ser sem educação com as
pessoas.
 CRISTINA: É, eu pensava que antes de ser psiquiatra é médico, antes de ser oftalmo é médico, até o dia em que o bebezinho chegou
engasgado, aí falaram “ah mas eu sou oftalmo”, é mais se formou médico, foi o que eu falei pra médica. Faz o seu papel de médica, pensa
que é seu filho, aí ela foi lá e chamou... a chefe na época disse: “Aí cadê os médicos do hospital?”, aí eu disse: “elas são oftamo não
médico” (risos), e ela ficou muito brava. É assim, primeiro o meu eu, o seu é segundo. Minha dor é maior que a sua. Eu não tenho nem
coragem de pedir nada pra pessoa, entendeu? Então...
 MADALENA: tento deletar algumas coisas e procurando sempre fazer pro paciente o que o outro deveria ter feito e não fez, então o que eu
posso fazer eu faço da melhor forma possível. E aí a gente é tão agradecida, é tão, as pessoas ficam tão, sabe, carinhosas, agradecidas pela
situação que você tentou resolver, e aí acaba que isso faz bem. Se ficar pensando só na parte ruim, você manda tudo pra cima e sai
correndo.
 Maria: Ah olha... a falta às vezes de material, as vezes a gente quer atender o paciente melhor e as vezes a gente não tem assim
 MARIA: Já chegamos a trazer as coisas uma época, quando tava faltando café, eu trouxe. Porque eu ficava com dó principalmente dos
acompanhantes, as pessoas criticam muito os acompanhantes, mas eu tenho muita dó deles porque ele tá ali... dia e noite sentadinho naquela
cadeira. É desgastante. Tem acompanhante que é chato é, mas a gente tem que aprender a lidar com eles. É mais, eu fico com dó muitas
vezes deles.
 JONAS: Ah, se eu for omisso ao meu trabalho eu sei que tem muitas pessoas que estão lá fora que dependem. E as pessoas dependem dos
serviços e dos profissionais que muitas vezes eu que acabo controlando a atividade, eu sei exatamente o que eles fazem aqui dentro. Então,
na minha omissão eles acabam deixando por fazer, o que reflete diretamente no paciente, e isso me pesa lá fora ne, eu fico, porque pode ser
meus familiares atingidos, pode ser outras pessoas também
 Jonas: Por isso que eu falo, a parcela de pessoas que realmente faz não é grande, é pequena. De 100% pode por aí 30%, porque tem um
monte de médicos que vêm, faz alguma coisa e vai embora mais cedo.
 João Gilberto: Aqui, relacionado ao trabalho e a instituição HCIII, falta de roupa, falta de material, a rampa, que acaba com todo mundo
como eu já disse, a falta de funcionários, é um dos motivos também que acaba sobrecarregando, porque por exemplo, no dia que você tem
um lazer, você não pode fazer um lazer porque você tem não obrigação, mas você vai fazer uma cobertura de um período e acaba quebrando
o seu período. Assim não que seja obrigatório, mas como não tem o funcionário, eles vao em quem provavelmente venha pra não deixar o
setor desfalcado.
 Clotilde: a gente quer dar um banho e não tem roupa, tem época que entra em falta sabão. O sabão que a gente usa pra lavar as mãos é da
pior qualidade, meus dedos são todos rachados, ó por causa do sabão, sabe assim, então são vários fatores. Por isso quando você me
perguntou la, como eu me sinto eu coloquei frustrada, porque quando você faz o curso, você tem uma expectativa que é uma coisa diferente,
e a hora que você cai aqui no dia-a-dia não é. Às vezes a gente da banho, coloca o paciente na coberta, pra não deixar ele no xixi. Porque ai
você fala, é melhor ele ficar numa coberta que vai esquentar do que ficar direto no xixi. Tem dia que a gente põe ele na camisola, que tem
costura, que não é adequado pra ele estar. Então assim, você vai improvisando, e aí mexer com gente no improviso, pra mim não é
qualidade de trabalho.
 Clotilde: entra a NR lá, que você não pode usar um brinco, que você não pode usar um relógio, pega no pé com coisas simples e aí falta
uma coisa que é importante. Porque que nem, nossos quartos, nossos quartos estão inadequados, porque se você vai abrir a porta, tem que
empurrar a maca, se você não empurra a maca, você não fecha a porta, aí você vai fazer um procedimento no paciente que você não vai
querer expor ele, tem que fechar a porta você arrasta a maca, fecha a porta, faz o procedimento, depois arrasta a maca, você entendeu? É
tudo inadequado, as paredes aqui são inadequadas, ne?
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 Clotilde: não da pra falar assim, ah, vamos arrumar isso e deixar aquilo e acho que tudo é prioridade porque você mexe com gente né, não
da pra fazer de qualquer jeito, não da pra falar assim: ó eu fiz e não fez, não da pra fingir, é delicado a nossa função. É isso.
 THOMÁS: Eu encontro problemas sim. Com pessoas que vem visitar. Não... não, aceitam assim as normas. As vezes se altera um pouco,
então é uns problemas assim... geralmente com as pessoas que vem aqui, né. Que isso tem mesmo, em todo lugar tem, não tem jeito.
Pessoas que não entendem as normas. Mas eu só altero se ele insistir muito assim, achar que a gente ta errado. Que a gente ta querendo, né,
se aparecer, ser o dono da verdade né. Então, mas no decorrer a gente conversa né, vai explicando, tentando explicar né... e vai indo até que
as pessoas depois chegam até a pedir desculpa, como já me aconteceu várias vezes. Porque as pessoas vem aqui, elas não vem aqui porque
quer vir né, então a gente entende, né?
 JOÃO: Maiores problemas? (Pausa) São tantos que a gente não (pausa)... Acho que a demanda aqui não supre as necessidades. Igual,
paciente que vem procurar, não tem agendamento. Não tem médico suficiente pra mim estar agendando ele próximo. Tem uma demanda
muito grande.
 Flor: colocar gente nova pra trabalhar. Porque aqui é assim: é da fundação, é da autarquia então ninguém precisa saber muito trabalhar não,
monta nos outros, é o que acontece muito aqui.

Relação adoecimento e o MARGARIDA: Não, eu tive problema de dor no ombro esses dias que eu falei pra você, mas ai eu pedi férias e ele me deu férias né, aí deu
pra gente contornar a situação. Fiz fisioterapia, melhorei bastante e graças a deus. Foi tendinite, bursite e o nervo do tendão do braço. Ele
processos de trabalho em falou assim, que eu tenho rompimento no tendão do nervo do braço já, pela tração que eu fiz.
o Tirei licença outra vez só de 2 dias quando fiz os implantes do dente, que por mim nem pegaria, mas disse que é obrigatório.
saúde o MARGARIDA: olha, eu sempre tive a dorzinha, mas nunca fui atrás, mas como a gente ficou em excesso o serviço aqui né, faltando gente,
greve, então eu acho que extrapolei um pouco, trabalhei demais. Eu mesmo me reconheço que fiz demais, e onde acho que inflamou né?
Mas com a fisioterapia a dor melhorou 80%. Ele falou que eu tenho que ir por mim mesma, assim, o que prejudica eu vou amenizando,
levar o braço pra cima eu evito, você faz só o que precisa fazer, no seu limite, não esforça pra não poder prejudicar. E to me dando bem, ta
resolvendo, então o que eu sei que vai prejudicar, então eu não faço, eu contorno a situação da maneira que eu posso, da maneira possível.
 MADALENA: aaah, na minha idade, dói as costas, dói as pernas, dói a cabeça, mas nada que me impeça de exercer, de fazer da minha vida
uma vida normal. Trabalhar, brincar.
 MADALENA: Acho que minha dor na coluna tem a ver com minha falta de disciplina, porque eu tenho uma cadeira que eu posso sentar
adequadamente e eu não sento, né, então é mais relaxo meu. Mas já peguei muito peso, então isso tem colaborado para as costas, quando eu
trabalhava aqui, as vezes no G8, mas quando eu tava nas enfermarias é pegar paciente, é banho, então, paciente dependente você tem que
por força. Mas nada de anormal na minha coluna.
 JOÃO GILBERTO: Já me afastei pela psiquiatria, por causa dessas situações todas que já te falei (elaboração de lutos: óbitos familiares e
óbitos no trabalho), pela ortopedia, por conta de dor na lombar, na coluna, no joelho. Por conta dessa rampa que acaba com a vida de todo
mundo, que sobrecarrega a coluna e você obviamente tem que fazer o peso todo sobre o joelho, então acaba ferrando o joelho e a coluna.
 JOÃO GILBERTO: minhas dores frequentes. Um dia eu to me arrastando, outro dia eu to melhor. Já quase travei.

o
o Bia: às vezes os móveis são inadequados, as cadeiras são inadequadas. Acabam dando um cansaço no corpo, por causa da cadeira, das
mesas serem inadequadas, então isso vai angustiando a gente no dia-a-dia, não vê uma melhora na nossa situação e não ve a instituição em
si se preocupar com a gente. É isso.
 BIA: Já tirei licença por estresse, daqui, faz muito tempo, mas já.
P: Como você ficou?
BIA: Ah, a pressão vai subindo né? Minha pressão acaba alterando e é onde.
P: E você tem hipertensão também?
BIA: Tem, mas a minha acho que é por causa do estresse. Ela acaba subindo. Tomo remédio, mas não diminui o estresse ne.
 Mara: logo que eu entrei fia, eu peguei uma alergia, que tudo assim, no corpo, aquelas manchonas assim, tudo lugar assim do meu corpo.
Entrei em novembro, em abril aconteceu isso, era meu aniversario, ganhei um monte de perfumes, de cremes não podia usar e até hoje não
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se sabe porque. Porque achava que era do produto, aí tirou todos os produtos, aí foi voltando um a um, não deu nada. Fiz tratamento
também, mudei alimentação, ah eu fiz um tratamento aí, tomei um antialérgico e tal, tal, tal né. Mas como diz, cá entre nós, você não vai
sair falando por aí, também se você acreditar problema seu, se não acreditar também é problema seu, mas eu acredito muito na oração, eu
acho que foi mais a oração porque até então não se descobriu o porquê, não se sabe de onde veio essa alergia.

 BIA: Sim, tenho dor aqui nas costas, na cervical, por causa do mobiliário inadequado. Já travei a coluna uma vez, mas não tirei licença,
porque foi num feriado prolongado, fui no médico, tomei injeção e melhorou, quando voltei tava doendo, mas não tava mais travado igual
tava, e fiz cinco dias de fisioterapia.
 Antonio Carlos: Atestado? A única vez que eu tirei um atestado mais prolongado foi por uma infecção urinária. 14 dias, em todo o tempo
que eu trabalho aqui. Faz 3 anos.
 ANTONIO CARLOS: Ah sim! Tenho dor na coluna sim, tenho. Nunca precisei tratar, mas às vezes ataca uma dorzinha na coluna tal, por
um esforço maior as vezes do serviço né, mas nunca foi caso de tratamento, nada não. Tenho assim, hipertensão, faço tratamento na liga da
hipertensão há 5 anos mais ou menos. Tomo um remedinho só pra controle da pressão.
ANTONIO CARLOS: Risco de saúde da gente ta aí né. Igual ultimamente, eu tive uma perfuração nesse dedo esquerdo, graças a deus, a
gente ta em risco biológico e muitos outros que não sei te dizer com detalhes o nome aí. E até tive esse problema uns dois anos atrás, fui
limpar um ralo aí e perfurei o dedo por incompetência de certos profissionais que a gente tem ai dentro, deixaram cair uma agulha dentro do
ralho do banheiro, não sei por que motivo e razão. E hora que eu fui fazer a limpeza, fui perfurado, infelizmente. O único risco qu eu tive
assim, mais na saúde foi esse aí, mas graças a deus fiz os exames e não deu nada.
ANTONIO CARLOS: E emitiram CAT? Tomou o coquetel?
ANTONIO CARLOS: Com certeza, fizeram, tudo. Você imagina 30 dias tomando, de 12 em 12 horas, foi nessa clinica aqui em cima. Eu
fui fazer um reparo num ralo de um banheiro e eu levei a mão pra fazer uma certa limpeza. E o procedimento da manutenção sempre foi
esse, e justamente quando eu tive que fazer apareceu uma agulha ali, não sei de que forma.
 MARIA: Nossa...deixa eu ver. O meu atestado que eu sei foi de um dia assim, que eu tava com muita dor...dor no braço, dor na coluna mas
é de um dia só, dois dias, mais do que isso eu nunca peguei não.
 MARIA: Ah eu já tive bastante dor na coluna. Teve uma época que meu braço tava muito inchado sabe, bastante bursite, e a coluna
também. Mas ai depois que eu mudei um pouco, sai um pouco do fogão foi onde que aliviou um pouco as dores. Porque era lá no HC e lá é
bem mais quantidade, lá o fogão lá é pesadão mesmo, aí sobrecarregou.
 ANA: Eu tive acidente de trabalho, eu machuquei a testa... Tive um corte.
P: Com o que você machucou?
ANA: Olha até hoje eu não sei explicar como, bateu no tanque e levei três pontos. (?)... Eu vi um ratinho e fiquei com medo, aí no (?) pra
cuidar do rato e me proteger eu não tive noção do espaço.
 ANA: Eu cuido da coluna, mas é mais desvio assim decorrente mesmo do trabalho, né? Da vida, eu faço fisioterapia. Ele pediu trinta
seções, né? Eu tô fazendo dez, aí da o intervalo e mais dez... Ajuda a educar a postura ne? Porque a gente acostuma, né? Ficar relaxadona, aí
vai aguentando tudo e a idade chega.
 MARA: Ultimamente eu ando assim com uma dor, como diz minha mãe, uma dor nos quarto que ta quase chegando na sala de visita, mas,
então não sei se é devido a idade, que to chegando nos 60 né, e eu trabalhei muito na roça e meu serviço sempre foi muito pesado. Eu
nunca, ó só teve um ano que eu trabalhei na recepção de um hospital de Vera Cruz. A maioria foi tudo assim, carregar peso, faxina,
produção de tecelagem, tudo muito pesado, então.
 P: E você tratou a dor na lombar?
 MARA: Não, porque ta pouco tempo, então nem fui pra médico ainda, nem sei do que se trata. Eu procuro, prefiro acreditar que é algum
mal jeito e devido a idade.
CLOTILDE: Eu, eu sou ansiosa, então sinto muita tensão aqui nos ombros quando eu não to legal, e a dor que eu tenho é quando eu vou
menstruar que eu sinto um peso assim na coluna mesmo, assim, no cóccix, nessa região do quadril ó, sinto uma dor terrível, a maioria das
pessoas sente dor pélvica né, eu sinto atrás, um peso, depois passa. Cefaleia também eu tenho.
P: sei, como fica quando você tem dor na coluna antes de menstruar pra pegar peso aqui, com os trabalhos que você faz?

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CLOTILDE: Ó, quando eu to na menstruação que eu pego peso, eu percebo que aumenta, se eu descer uma rampa e subir, aumenta. Agora
fui no gineco porque tava demais, sabe assim, você percebe que descer e subir rampa aumenta o fluxo. Se você tiver no finalzinho da
menstruação que ta parando, e subir e descer rampa, volta como se fosse o primeiro dia, jorra de novo, então não sei se é um problema
hormonal meu ou se é normal pra todos os profissionais que trabalham nessa área.
 Clotilde: Você pode ter a coluna perfeita, mas você acha que aguentar isso a vida inteira?
 FLOR: eu tenho pressão alta e gastrite nervosa. Aí venho, chego aqui, não paro, porque aqui ninguém põe nem agua pra ferver pro café. Aí
faço café, busca pão pros paciente, ferve leite, espera eles tomar o café e já começa a paulera. Corro o dia inteiro, tirando a parte da tarde
que ainda da uma sossegada aqui, por enquanto né, porque já tão querendo mudar.
 FLOR: Nessa ultima vez, eu tava entrando em depressão por causa de pegação no meu pé.
 FLOR: É, e to fazendo acompanhamento com a Cíntia também aqui na psiquiatria, eu vou passar de novo. Ela falou que era uma depressão
leve. Saco cheio agora é depressão leve que chama. (risos)

Explorando os sentidos do
 Margarida: ah, eu gosto de trabalhar Tha! Faço o que faço porque eu gosto do trabalho que eu faço, gosto. (pausa) e faço com amor, eu
trabalho em saúde gosto de fazer bem feito.

 Margarida: Ah, fazer sempre com amor, tudo que eu faço, eu faço com amor.
 Bia: (pausa) eu acabo trabalhando pra ajudar o marido em casa. Que mais que eu posso falar?
 MADALENA: o trabalho pra mim é um complemento né, acho que se eu não tivesse trabalho é como se eu fosse um peixe fora d‟agua,
primeiro porque eu preciso dele pra sustentar minhas filhas, isso já é base, não tem nem o que dizer, segundo que o que eu faço eu adoro, eu
faço com amor, faço porque eu gosto muito mesmo. Puxa, tudo que você pode trocar, você pode aprender, você pode vivenciar, tudo isso é
muito bacana, é uma experiência muito boa. Então acho que é fundamental o trabalho, principalmente esse que eu exerço.
 MARIA: Trabalhar faz parte da vida de todo mundo. Quem não trabalha, eu acho que a tendência é ficar com depressão... o mundo fica
muito pequeno né? O trabalho da gente a gente vê um monte de coisa, isso aqui é ...é lição de vida aqui dentro.
 ANA: Complemento familiar, né? Ajuda bastante (SILÊNCIO)... Que teve um tempo que eu fiquei parada, tem que ficar controlando tudo
fica difícil, né?
 ANA: Mas eu gosto de trabalhar, chega uma hora que começa ficar... Ai sem o que fazer, né? Eu fico meio depressiva, eu tenho que ter o
trabalho para ele evoluir também a minha vida. Psicológica né? Tem pessoas que nascem pra ficar em casa, eu já (risos)... Não dá..
 JONAS: Meu trabalho é Responsabilidade e ... só responsabilidade
 MARA: Ah, é importante porque como diz né, edifica né. A gente é capaz de alguma coisa, não interessa o que, mas a gente é capaz de
alguma coisa ne? Capaz de lavar, passar, cozinhar, ou capaz de só escrever ou de só dançar, desde que seja um trabalho né?
 JOÃO GILBERTO: nossa, o trabalho tem uma importância enorme na minha vida, porque não só pelo lado financeiro, mas porque pela
realização daquilo que você pode fazer pelo outro né, é uma profissão que cuida, uma profissão de cuidados, você é o profissional que vai
cuidar das outras pessoas, e isso acaba sendo prazeroso também ne. Isso é muito importante, pra isso tem que gostar ne?

 CLOTILDE: Pra mim o trabalho é importante, porque se a gente não tiver o trabalho a gente não tem as conquistas também né. Assim, um
só trabalhando hoje em dia não dá. Pensou se fosse pra viver só com o salário do meu marido, R$1500, aí você tira água, luz, telefone, tira a
escola do menino, que você paga perua, é...comida, roupa, os gastos que a gente tem é bastante. Então assim, é muito importante porque
senão... e também tem a questão de você sair da rotina de ficar dentro de casa o dia inteiro. Se você não trabalha você fica preso mais
naquela rotina ali da casa. Meu trabalho? É uma bosta. (risos) é muito trabalho pra pouco dinheiro, muita dor de cabeça, muita bucha sabe?

 MARIA: Ah eu acho que não eu acho que o trabalho é uma dignidade pra pessoa.

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