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Coluna Comporte-se

Data 18/01/2023

Título: A pessoa mais importante da sua vida.

Olá.

Depois de algumas décadas de trabalho com pessoas, seja no consultório, nas empresas ou
nos treinamentos e oficinas, existem algumas atividades que se tornam meio que lugar comum
para profissionais como eu. São as tais perguntas gatilho, brincadeiras não ofensivas, alguns
truques e trocadilhos que são importantes para que o relacionamento não tome o formato de
uma aula chata, longa e sem propósito.

Uma destas atividades consiste em pedir que as pessoas façam uma breve lista dos seus
defeitos e virtudes. Usualmente a de virtudes tem quatro a cinco itens e a dos defeitos... Ah,
esta tem de dez para mais, pois as pessoas lembram muito mais facilmente dos seus defeitos
que de suas virtudes. Contudo, não é só isso. Existe um fator cognitivo importante que
bloqueia a lista de virtudes e é sobre isso que quero falar com você, meu querido leitor.

Tente se lembrar de sua infância, lá por volta dos cinco aos nove anos. Quantas vezes você
ouviu uma das seguintes frases:

 Não seja egoísta


 Dívida suas coisas com o amiguinho
 Que coisa feia pensar somente em você

Ou diversas variações do mesmo tema, considerando a dinâmica e história de cada família,


evidentemente.

Você ainda pode ter ouvido histórias sobre pessoas egoístas, ter assistido desenhos animados
onde o vilão era egoísta ou mesmo, lido livros e histórias em quadrinhos, sempre com o vilão
egoísta e o herói ou heroína magnânimo e despojado. Ainda que isso custasse o bem-estar
pessoal e dos seus. Toda esta massa de programação comportamental foi instaurada como
elementos de cultura e educação para modificar uma programação natural do ser humano
ligada ao nosso sentido de sobrevivência.

Sim. Somos biologicamente egoístas e isso tem tudo a ver com a nossa sobrevivência como
espécie. Contudo, para viver em sociedade (onde todos são sócios de alguma forma) estes
instintos naturais precisam ser trancafiados no fundo de nossa mente. E agora, cá para nós
nossos pais foram muito eficientes em trancar instintos naturais, não é mesmo?

Antes de explicar esta questão do instinto natural, vale uma defesa para com os pais, e quando
digo pais, estou me referindo a toda a forma de cuidado e amor para com uma criança. Vale
pais, mãe, madrinha, avó, avô, vizinha que toma conta, tia de creche, tio da pipoca etc. Não
seja chato.

Defendendo os pais, vamos pensar em quem se sente confortável em levar seu pimpolho a um
evento social qualquer, desde um almoço de domingo, passando pelo aniversário do
amiguinho e o evento esportivo e pow! O nosso pimpolho demonstra estar preocupado mais
consigo mesmo que com os demais, pula na frente da fila, pega o primeiro pedaço de comida e
demais itens. Não queremos! Este é o motivo e limitar o sentimento ancestral de sobrevivência
e egoísmo. Dito isso, vamos entender por que somos assim.

Segundo a teoria da evolução de Darwin, evoluímos de uma forma primata inicial que andava
sobre uma base de quatro pontos (veja um gorila andando) e isso permitia que as mulheres
tivessem um arco pubiano mais largo o que facilitava o nascimento de criaturas um pouco
mais evoluídas e prontas para o mundo exterior. Veja novamente o ciclo de independência de
um bebê gorila comparado a um humano. Pois bem, quando nossas ancestrais ficaram em pé e
apoiadas em dois pontos, o conjunto pubiano também conhecido como bacia, ficou mais
estreito e os bebês precisaram sair um pouco antes do forno para poder passar.

Fim da aula de biologia.

Esta simples mudança fez com que o sentido de sobrevivência fosse largamente aguçado
criando criaturas muito mais egoístas. Observe como uma criança humana é egocêntrica. Uma
das primeiras palavras que ela aprende é: Meu. Enfim, nascemos assim e com o tempo
aprendemos a não ser assim. Ok, de acordo. Socialmente aceito. Verdade. Mas, e daí?

Daí que agora, adultos e devidamente conscientes de tudo o que acontece, emos uma enorme
dificuldade para exercitar o chamado egoísmo consciente.

Se você já andou de avião deve ter ouvido um trecho da orientação de segurança que diz que
as máscaras de oxigênio cairão do teto e se houver uma criança ao seu lado, coloque a
máscara primeiro em você e depois na criança. Ok, isso é egoísmo consciente.

Cuide bem de você para que você possa cuidar dos outros. É simples!

Você é a pessoa mais importante da sua vida. Sem você a vida não existe. Deixamos de fazer
muitas coisas por nós mesmos para viver esta dinâmica de heroísmo e sacrifício pelos outros.
Seja uma mãe que quer dar conta dos filhos, do marido, do trabalho e da casa e se sente
culpada quando fica um tempinho a mais na cama no domingo. Ou ainda, que se recusa a
contratar ajuda como uma babá para uma noite ou mesmo para uma viagem. Entre homens
então, nem se fala. Homens além de tudo isso ainda são educados para serem os provedores,
responsáveis, exemplares etc. etc. e não são capazes de tirar um tempo para si, desconectar,
desligar e se cuidar.

Não vamos esquecer dos cuidados necessários e que são subestimados como check-up,
alimentação, exercícios, finanças e demais itens de segurança. Enfim, fazemos muito para
sermos reconhecidos e valorizados por uma extensa lista de pessoas que são as nossas partes
interessadas ou se preferir, nossos stakeholders. Mas nesta busca pela aprovação acabamos
nos esquecendo da pessoa mais importante em nossas vidas que somos nós mesmos.

Que tal começar a mudar este comportamento?

Não, não estou pregando a irresponsabilidade nem ou egoísmo desenfreado, mas sim, o
egoísmo consciente. Definir, tempo, recursos e rotinas que sejam para a manutenção do seu
bem-estar, ainda que isso não crie nos outros uma percepção de valor. Mas que para a pessoa
mais importante da sua vida, ah. Esta vai se sentir muito agradecida.

Pense nisso e se precisar, me acione estou aqui para conversarmos!

Edson

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