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Política Fiscal, Dinâmica da Dívida e Regras Fiscais

Marcelo Eduardo A. Silva

UFPE

27 de Fevereiro de 2024

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 1 / 120


1 Dinâmica da Dívida Pública no Brasil

2 Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

3 Equivalência Ricardiana

4 A desagradável aritmética monetarista

5 Monetização da dívida

6 Regras Fiscais

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D INÂMICA E E STRUTURA DA D ÍVIDA P ÚBLICA NO B RASIL

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Gráfico 28 – Projeções da dívida pública (% do PIB)
Fonte: BCB e elaboração própria

100

90 86,9

78,3
80 75,1 76,0 75,5 75,9 75,3
74,7 74,5 73,5
72,9 72,4 71,2
70 74,4

60 65,4
63,0 63,1 62,9 62,6 62,2 61,7
60,2 61,0 61,3 61,2
59,6
57,3 57,4
50

40
2019

2020

2021

2022

2023

2024

2025

2026

2027

2028

2029

2030

2031

2032
DBGG DLGG

A expectativa de aumento da DBGG/PIB em 2,2 p.p. do PIB em 2023 em comparação com 2022 explica-se,
principalmente, pelo nível mais alto dos juros nominais, que pressionam a dívida para cima, além da expectativa
Marcelo Eduardo
de déficit A. Silva
primário para(UFPE) Política
o ano, conforme se observa no Fiscal
Gráfico 29. A evolução do 27
PIBdeéFevereiro de 2024
o principal 5 / 120
fator para
Dívida Bruta do Governo Central como % PIB

Country 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Argentina 43.45 38.94 40.44 43.50 44.70 52.56 53.06 57.11 86.289
Brazil 63.08 61.20 62.19 60.20 62.31 72.57 78.33 84.05 87.877
India 67.46 69.64 69.12 68.55 67.81 69.92 69.02 69.84 69.794
Italy 115.41 116.52 123.36 129.02 131.79 131.56 131.35 131.28 132.085
Japan 207.85 222.09 229.01 232.47 236.07 231.55 236.34 234.98 237.115
Portugal 90.53 111.39 126.22 129.04 130.59 128.77 129.21 124.76 121.435
Russia 10.94 11.20 11.95 13.14 16.09 16.38 16.08 15.52 13.953
South Africa 34.68 38.23 41.00 44.10 46.99 49.34 51.47 53.02 56.71
Spain 60.07 69.46 85.74 95.45 100.37 99.33 98.97 98.12 97.016
United Kingdom 75.24 80.80 84.09 85.15 87.01 87.88 87.91 87.14 86.857
United States 95.41 99.75 103.22 104.76 104.45 104.69 106.87 106.23 105.773
Uruguay 59.41 58.10 58.01 60.18 61.42 64.63 61.58 65.71 69.99

Fonte: World Economic Outlook - Abril 2019 - IMF

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Gráfico 27 – Gasto Líquido com Juros (% do PIB)
Fonte: FMI e elaboração própria

6,8

5,9
5,1
4,4 4,5 4,4 4,3 4,3
3,9 4,1

2,1 2,2
1,9
1,2

0,3 0,3 0,3

2022 2023
-0,4

Chile Russia Turquia Emergentes Emergentes AL Colômbia México África do Sul Brasil

1.7. Dívida Bruta e Líquida do Governo Geral


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Janeiro

Publicado em
28/02/2023

https://www.tesourotransparente.gov.br/publicacoes/
relatorio-mensal-da-divida-rmd

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Estoque da DPF
Composição
Indicadores PAF 2023
Participação no estoque da DPF
Mínimo Máximo As emissões líquidas e a
Prefixado 23% 27% apropriação de juros
Índice de Preços 29% 33% contribuíram para o
Taxa Flutuante 38% 42% aumento da participação
Câmbio 3% 7% de títulos atrelados a
Composição da DPF, por indexador taxa flutuante (de 37,9%
Anexo 2.4 para 38,2%) e de
atrelados a índice de
4,4% 4,4% 4,3% 4,9% 5,3% 4,2% 3,6% 4,0% 4,1% 5,1% 5,0% 4,5% 4,3% preços (de 30,3% para
21,7% 19,1% 18,7% 22,8% 31,7%) em janeiro.
30,1% 28,2% 31,5%
35,5% 38,9% 34,8% 36,8% 38,3% 40,5%
Por outro lado, os títulos
33,9% 34,5% 34,9% 32,5% prefixados e atrelados
28,3% 31,8% 29,6% ao câmbio reduziram
27,5% 26,0% 25,3%
29,3% 30,3% sua participação no
31,7%
estoque da DPF para,
respectivamente, 23,5%
37,2% 40,0% 42,0% 41,6% 39,4% 35,7% 35,3% 33,0%
31,0% 34,8% 28,9% 27,0% e 4,3% em janeiro.
23,5%
2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

2022

jan/23
Prefixado Índice Preços Taxa Flutuante Câmbio Relatório Mensal da
Dívida Pública RMD 6

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Estoque da DPF
Detentores da DPMFi

15,5% 14,9% 14,2% 13,3% 12,5% 14,3% 14,7% 14,9%


Participação relativa 9,2% Instituições Financeiras
12,1% 11,2% 10,4% 10,6% 9,4% 9,8%
dos detentores da 14,3% seguem como os
DPMFi 25,0% 24,9% 22,6% 21,7% 22,8% 23,6% principais detentores,
25,1% 25,5%
Janeiro/2023 com 27,3% de
26,0% 24,0% 24,0%
participação, seguidos
26,7% 24,4%
22,1% 25,2% 26,9% por Fundos (24,4%) e
Previdência (23,6%).
23,1% 24,7% 29,6% 29,5% 29,1% 27,3%
22,3% 22,7%

2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 jan-23

Inst. Fin. Fundos Previdência Não-residentes Demais Grupos


133,6
Variação do Estoque Em janeiro/23, o estoque
dos principais 48,0 de Não-Residentes
detentores da DPMFi 3,6 8,1 aumentou em R$ 8,1
Janeiro/2023 bilhões. O estoque de
(R$ bilhões) -31,7
-14,8 -23,8 Instituições Financeiras
reduziu em R$ 148,0
bilhões no mês.
-148,0

Inst. Fin. Fundos Previdência Não-residentes


em 12 meses no mês Relatório Mensal da
Dívida Pública RMD 7

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Perfil de Vencimentos da DPF
Composição dos Vencimentos - DPF Relatório Mensal da
Dívida Pública RMD 8

Vencimentos da DPF Prazo Médio


Anexo 3.1 Anexo 3.7

7,55 7,39 7,50 7,77


8 7,17 7,38
15,5% 23,6% 18,8% 23,8% 23,3% 7,00 7,01 7,09 7,06
35,7% 34,1% 26,7% 25,4% 24,5% 24,4%
7 6,48 6,61 6,76
21,4% 38,1%
42,0% 37,2% 34,8% 35,3% 34,4% 6

Anos
27,1% 30,3% 40,1% 42,6%
18,9%
15,6% 5 4,42 4,57 4,54 4,26
15,5% 14,0% 20,6% 20,4% 19,3% 18,5% 3,97 4,18 4,11 3,97 3,90 4,03
16,4% 15,0% 17,2%
4
3,62 3,57 3,84
24,8% 21,7% 21,6% 27,6% 21,0% 22,1% 22,6% 4,44 4,44
16,8% 16,9% 16,3% 18,7% 3,84 4,06 4,28 4,14 3,98
3 3,49 3,83 3,39 3,65 3,76 3,89
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 jan/23 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 jan-23
Até 12 meses De 1 a 2 anos De 2 a 5 anos Acima de 5 anos
Prazo Médio DPF Prazo Médio DPMFi Prazo Médio DPFe

Indicadores PAF 2023 Indicadores PAF 2023


% Vincendo em 12 meses - DPF Prazo Médio (anos) - DPF
Mínimo Máximo Mínimo Máximo
19,0 23,0 3,8 4,2

Perfil de Vencimentos da DPF: Aumento da participação dos vencimentos até 12 meses, para 22,6%.

Aumento do Prazo Médio da DPF para 4,03 anos em janeiro.

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Custo Médio da DPF
Custo médio do estoque e das emissões
Custo médio do estoque
da DPF acumulado em 12
meses: aumento de
16
14
10,21% em dezembro para
Custo médio do 12
10,50% a.a. em janeiro.
estoque da DPF e Taxa % a.a.
10
Selic acumulados em 8 Custo médio do estoque
12 meses 6 da DPMFi acumulado em
Anexo 4.2 e Site Bacen 4 12 meses: aumento para
2 11,00% a.a em janeiro.
0
abr/12

abr/13

abr/14

abr/15

abr/16

abr/17

abr/18

abr/19

abr/20

abr/21

abr/22
dez/11

dez/12

dez/13

dez/14

dez/15

dez/16

dez/17

dez/18

dez/19

dez/20

dez/21

dez/22
ago/12

ago/13

ago/14

ago/15

ago/16

ago/17

ago/18

ago/19

ago/20

ago/21

ago/22
Custo médio do estoque
da DPFe acumulado em 12
Custo DPF DPMFi Selic IPCA meses: aumento de -2,11%
em dezembro para -0,25%
2019 2020 2021 2022 Jan/23 a.a. em janeiro.
Custo médio das
Taxa Média Variação Média
emissões em CME* CME* CME CME CME Custo médio das emissões
de Emissão do Indexador
oferta pública da em oferta pública da
DPMFi DPMFi 6,9 4,4 8,5 12,1 12,2 DPMFi acumulado em 12
acumulado em 12 LTN 7,3 4,3 6,8 12,3 12,4 - 12,4 meses: 12,23% a.a..
meses (% a.a.) NTN-F 8,4 6,9 8,7 11,9 12,1 - 12,1
Anexo 4.3
NTN-B 8,0 7,1 15,4 9,8 5,8 4,0 10,1
LFT 6,0 2,8 5,9 13,3 0,2 13,3 13,5
Relatório Mensal da
* Valores calculados a partir da metodologia antiga. Dívida Pública RMD 9

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D EFICITS O RÇAMENTÁRIOS E D INÂMICA DA D ÍVIDA P ÚBLICA

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública
• Vamos derivar a Restrição Orçamentária do Governo (Blanchard,
2017).
• Deficit, Dt , pode ser definido (em termos reais) como:

Dt = rBt−1 + Gt − Tt (1)

• Onde rBt−1 ≡ pagamento de juros (real) sobre dívida antiga e


Gt − Tt ≡ deficit primário.
• Se ocorre deficit, ele precisa ser financiado com emissão de nova
dívida.
Dt = Bt − Bt−1 (2)

• Estamos ignorando a seignorage.

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• Portanto, (1) e (2) implicam em:

Bt − Bt−1 = rBt−1 + Gt − Tt (3)

• Rearrajando temos nossa ROG:

Bt = (1 + r)Bt−1 + Gt − Tt (4)

• Com base nisso podemos estudar diferentes cenários para a


política fiscal.

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• Efeito de um corte nos impostos:


• Suponha que os impostos caiam por um ano. O quê acontecerá
com a dinâmica da dívida?
• Suposições:
1 Antes do corte: orçamento equilibrado =⇒ Gt = Tt ∀ t < 1 e
B0 = 0.
2 Suponha que em t = 1, impostos caem em R$ 2 bilhões
=⇒ B1 = 2 (assumindo ∆Gt = 0).
3 Em t = 2, governo resolve quitar a dívida. Para isso precisa fazer
B2 = 0.
• Quais os efeitos?

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• Vejamos, em t = 2:

B2 = (1 + r)B1 + (G2 − T2 )
B2 = (1 + r)2 + (G2 − T2 )
0 = (1 + r)2 + (G2 − T2 )
T2 − G2 = (1 + r)2

• Para quitar a dívida, governo precisa gerar superavit primário


equivalente ao montante da dívida mais pagamento de juros.
• Neste caso, ou ↓ G2 ou ↑ T2 ou ambos.
• E se o governo resolvesse esperar até t para quitar a dívida?

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública
• Em t = 2 (supondo orçamento equilibrado):

B2 = (1 + r)B1 + (G2 − T2 )
B2 = (1 + r)2

• Em t = 3 (supondo orçamento equilibrado):

B3 = (1 + r)B2 + (G3 − T3 )
B3 = (1 + r)(1 + r)2
B3 = (1 + r)2 2

• Repetindo o processo até t − 1:

Bt−1 = (1 + r)(t−1)−1 2

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública
• No ano t governo resolve quitar a dívida =⇒ Bt = 0.
• A ROG em t:
Bt = (1 + r)Bt−1 + (Gt − Tt )

• Substituindo o resultado para Bt−1 :

Bt = (1 + r)Bt−1 + (Gt − Tt )
= (1 + r)(1 + r)(t−1)−1 2 + (Gt − Tt )
= (1 + r)t−1 2 + (Gt − Tt )
Impondo Bt = 0
0 = (1 + r)t−1 2 + (Gt − Tt )
(Tt − Gt ) = (1 + r)t−1 2

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• Resultados:
1 Se gastos permanecem inalterados, uma redução nos impostos
hoje precisa ser compensado com mais impostos no futuro.
2 Equivalentemente, deficits fiscais hoje precisam ser compensados
com maiores superavits no futuro.
3 E quanto mais tempo o governo esperar para quitar a dívida,
maior deverá ser o aumento nos impostos no futuro ou a redução
nos gastos.

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• E se o governo resolvesse estabilizar a dívida?


• Suponha que a dívida inicial tenha sido de um bilhão e que a
partir do 2, governo quer estabilizar a dívida =⇒ B2 = B1 = 1.
• Em t = 2 teríamos:

B2 = (1 + r)B1 + (G2 − T2 )
B1 = (1 + r)B1 + (G2 − T2 )
T2 − G2 = r

• Para estabilizar, governo precisa gerar um superavit primário


igual ao pagamento de juros.

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• Em termos genéricos:

Bt = (1 + r)Bt−1 + (Gt − Tt )

• Se Bt = Bt−1 = B̄, logo:

B̄ = (1 + r)B̄ + (Gt − Tt )

• Ou ainda:
Tt − Gt = rB̄

• Vamos olhar agora para a razão dívida-PIB.

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• Um indicador mais interessante é a Razão Dívida-PIB.


• Dividindo ambos os lados da ROG por Yt :

Bt Bt−1 Gt − Tt
= (1 + r) +
Yt Yt Yt
Bt Bt−1 Yt−1 Gt − Tt
= (1 + r) +
Yt Yt Yt−1 Yt

• Suponha YYt = 1 + g e usando a aproximação 1+r


1+g ≈ 1 + r − g,
t−1
obtemos:

Bt Bt−1 Gt − Tt
= (1 + r − g) +
Yt Yt−1 Yt

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• Ou ainda:
Bt Bt−1 Bt−1 Gt − Tt
− = (r − g) + (5)
Yt Yt−1 Yt−1 Yt

• Crescimento da razão dívida-PIB será tanto maior quanto:


1 Maior for a diferença entre taxa de juros real e taxa de
crescimento, r − g.
2 Maior for o deficit primário como proporção do PIB.
• Mais uma vez podemos perguntar: qual o nível de superavit
primário que estabiliza a dívida/PIB?

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública
• Para estabilizar:
Bt Bt−1
− =0
Yt Yt−1

• Logo
Tt − Gt Bt−1
= (r − g)
Yt Yt−1
Bt−1
• Exemplo: Yt−1 = 40% do PIB, r = 7% a.a. e g = 5% a.a.. Logo
Tt − Gt
= (0.07 − 0.05)0.4 = 0.008 ou 0.8%
Yt

• E se g cair para 2%?


Tt − Gt
= (0.07 − 0.02)0.4 = 0.02 ou 2%
Yt

• Dinâmica da dívida é importante. Vejamos isso.


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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública
• Vamos reescrever (5) como:
Bt Bt−1 Bt−1 Gt − Tt
− = (r − g) + (6)
Yt Yt−1 Yt−1 Y
| {z } | {z } | {zt }
∆bt bt−1 dt

• Logo
∆bt = (r − g)bt−1 + dt (7)

• Essa equação dá a evolução da dívida-PIB.


• Podemos traçar a evolução da dívida-PIB num gráfico onde a
equação (7) denota uma reta com inclinação r − g e intercepto
dt .Estamos interessados em dois casos:
1 r > g.
2 r < g.
• Note que quando b > 0 governo é devedor e quando b < 0
governo é credor do setor privado.
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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública
• Note que podemos desenhar (7) no plano (bt−1 , ∆bt ). Suponha
r − g > 0 e d > 0:

∆"#

d>0

'−) >0

" & "#$%

• Onde bA é tal que ∆bt = 0. É possível achar esse valor.


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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública
• Caso: r > g e deficit dt = d > 0.
• Para achar bA é só fazer ∆bt = 0 =⇒ bA = − r−g 1
d. Sinal de bA
depende de r − g e d!
• Agora poderemos nos perguntar como se comportará a
dívida-PIB se a economia começar num ponto diferente.
• Suponha que o nível inicial da dívida é bBt−1 < bA . Qual a trajetória
de bt ? Irá crescer ou cair? Suponha bBt−1 = bA −  para um  > 0.
Logo
∆bBt = (r − g)bBt−1 + dt
 
∆bBt = (r − g) bA −  + d
 
1
∆bBt = (r − g) − d− +d
r−g
∆bBt = −(r − g) < 0

• Portanto, à esquerda de bA dívida-PIB cairá!


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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• E se a economia começasse à direita de bA ?


• Suponha que o nível inicial da dívida é bCt−1 > bA . Qual a trajetória
de bt ? Irá crescer ou cair? Suponha bCt−1 = bA +  para um  > 0.
Logo

∆bCt = (r − g)bCt−1 + dt
 
∆bCt = (r − g) bA +  + d
 
C 1
∆bt = (r − g) − d+ +d
r−g
∆bCt = (r − g) > 0

• Portanto, à direita de bA dívida-PIB crescerá!

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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• Se a economia começa à direita de bA dívida-PIB cresce sem


limites.
• Se a economia começa à esquerda de bA dívida-PIB cairá sem
limites.
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Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública
• Caso: r > g e deficit dt = d = 0.

∆"#

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&' = ) +
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• Se a economia começa à direita de bA


t−1 dívida-PIB cresce sem
limites.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 33 / 120


Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública
• Caso: r > g e deficit dt = d < 0. Isto é superavit de tamanho
s = −d > 0

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d

• Se a economia começa à direita de bA t−1 dívida-PIB cresce sem


limites.
Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 34 / 120
Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública
• Caso: r < g e deficit dt = d > 0.
1
• Como antes ∆bt = 0 quando bA = − r−g d.
• Para um bBt−1 < bA =⇒ ∆bt > 0. Suponha bB = bA −  para um
 > 0. Logo

∆bBt = (r − g)bBt−1 + dt
 
∆bBt = (r − g) bA −  + d
 
B 1
∆bt = (r − g) − d− +d
r−g
∆bBt = −(r − g) > 0

• Para um bCt−1 > bA =⇒ ∆bt < 0. Por exemplo, para


bCt−1 = bA +  =⇒ ∆bCt = (r − g) < 0.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 35 / 120


Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• Caso: r < g e deficit dt = d > 0.

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• Não importa onde comece, dívida-PIB converge para bA


t−1 !

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 36 / 120


Deficits Orçamentários e Dinâmica da Dívida Pública

• Caso: r < g e deficit dt = d < 0 isto é superavit.


∆"#

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• Não importa onde comece, dívida-PIB converge para bA


t−1 !

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 37 / 120


Cenários para a Dinâmica da Dívida Pública

• É possível realizar um análise comparativa.


• Imagine uma situação inicial com: r < g e deficit d > 0.
• Essa é uma situação "boa" não importa onde a economia comece,
dívida-PIB converge para bt 3 ∆bt = 0!
• Valeria a pena se preocupar com o equilíbrio fiscal nesta situação?
• Muitos países desenvolvidos parecem estar nessa situação. Até
quando?

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 38 / 120


Cenários para a Dinâmica da Dívida Pública

• Aumento em r e/ou queda em g 3 r − g > 0

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• Dívida passa a crescer sem limites!

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 39 / 120


Cenários para a Dinâmica da Dívida Pública

• Lição: mesmo em situações favoráveis, governo deveria se


preocupar com o equilíbrio fiscal.
• E quanto maior o deficit primário, maior o custo de ajustamento.
• E se o governo transformasse o deficit em superavit?

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 40 / 120


Cenários para a Dinâmica da Dívida Pública
• Em A, bt está convergindo para bt 3 ∆bt = 0. Se ↑ r e/ou ↓ g
3 r − g > 0 =⇒ ∆bt > 0 (B).
• Imediatamente, governo transforma d > 0 em d0 < 0.

∆"# B

C
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A

d'

• Dívida se estabiliza num patamar superior.


Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 41 / 120
Cenários para a Dinâmica da Dívida Pública

• Lição: mesmo em situações desfavoráveis, governo pode


responder com um ajuste fiscal rápido e estabilizar a razão
dívida-PIB.
• Economia sai de B para C.
• Quão fácil de fazer?
• Em 2019, deficit primário era de d = 1, 6% do PIB. No entanto,
deficit primário que estabilizaria a dívida-PIB era de d0 = −2, 5%.
• Isso implicaria num ajuste fiscal de 4, 1% do PIB!!!
• E se o governo resolvesse esperar?

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 42 / 120


Cenários para a Dinâmica da Dívida Pública
• Movimento anterior de A para B. Com ↑ r e/ou ↓ g
3 r − g > 0 =⇒ ∆bt > 0.
• Governo resolve esperar até D para fazer o ajuste.
D

∆"# B

C
D "#$%
A

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Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 43 / 120


Cenários para a Dinâmica da Dívida Pública

• Lição: O custo de postergar será tanto maior quanto maior for a


espera.
• Economia sai de B para D. Em D o ajuste será mais duro!
• Em D, o tamanho do superavit necessário para estabilizar a
dívida, S2 , será maior que S1 (superavit necessário para estabilizar
a dívida em B).
• Existem situações quando mesmo gerando um superavit, razão
dívida-PIB pode estar numa trajetória insustentável.
• Em tais casos, governo pode agir para mudar o cenário.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 44 / 120


Cenários para a Dinâmica da Dívida Pública
• Mesmo gerando superavits ; ∆bt < 0!
• Em A, gera superavit S0 , mesmo assim ∆bt > 0.

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B
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• E se o governo gerasse um S1 > S0 ? bt se estabilizaria.


• E se o governo gerasse um S2 > S1 > S0 ?
Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 45 / 120
Cenários para a Dinâmica da Dívida Pública
• Ao gerar um superavit S2 > S1 > S0 =⇒ ∆bt < 0 =⇒ bt .
Economia B → C.

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B

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C
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• Em C, voltaria a gerar S0 =⇒ ∆bt = 0.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 46 / 120


Cenários para a Dinâmica da Dívida Pública

• Economia sai de uma trajetória de crescimento da dívida-PIB para


uma de estabilidade com menor nível de dívida de bA para bC .
• Uma consolidação fiscal reduziria o tamanho da dívida-PIB.
• Note que qualquer superavit maior que S1 geraria esse resultado.
• Nem sempre a decisão de gerar superavits dependem da decisão
do governo.
• Deficits podem ser necessários para combater recessões.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 47 / 120


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Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 49 / 120
Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 50 / 120
E QUIVALÊNCIA R ICARDIANA

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 51 / 120


Equivalência Ricardiana

• Deficits muitas vezes são justificados para combater recessões.


• No entanto, se agentes são racionais deficits podem não ter efeito.
• Ideia da Equivalência Ricardiana.

Proposição
Proposição Barro-Ricardo: Uma vez que a Restrição Orçamentária do
Governo é levada em consideração, nem os deficits nem as dívidas tem efeito
sobre a atividade econômica.
• Consumidores não alteram o consumo em resposta a um corte nos
impostos se o valor presente da renda do trabalho líquida dos
impostos não é afetado.
• Menos impostos hoje, mais impostos no futuro.
• Vamos ilustrar isso num modelo com 2 períodos.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 52 / 120


Equivalência Ricardiana

• Restrição orçamentária das famílias:


• Em t=1
C1 + S1 = Y1 − T1 (8)

• Em t=2
C2 = (1 + r)S1 + Y2 − T2 (9)

• Reescrevendo (9):
C2 − Y2 + T2
S1 = (10)
1+r

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 53 / 120


Equivalência Ricardiana

• (10) em (8)

C2 − Y2 + T2
C1 + = Y1 − T1 (11)
1+r

• Produz a Restrição Orçamentária Intertemporal das famílias:

C2 Y2 T2
C1 + = Y1 + − T1 − (12)
1+r 1+r 1+r

• Similarmente podemos obter a ROI do governo.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 54 / 120


Equivalência Ricardiana

• Restrição orçamentária do governo:


• Em t=1
G1 = T1 + B1 (13)

• Em t=2
G2 + (1 + r)B1 = T2 (14)

• Reescrevendo (14):
T2 − G2
B1 = (15)
1+r

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 55 / 120


Equivalência Ricardiana

• (15) em (13)

T2 − G2
G1 = T1 + (16)
1+r

• Produz a Restrição Orçamentária Intertemporal do Governo:

G2 T2
G1 + = T1 + (17)
1+r 1+r

• Hipótese: governo deve eventualmente pagar sua dívida.


• Quem financia o governo?
• Se G1 e G2 permanecem inalterados, um corte nos impostos hoje
precisa ser compensado com mais impostos no futuro.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 56 / 120


Equivalência Ricardiana
• Suponha G1 = G2 = Ḡ e T1 = T2 = T̄ =⇒ Ḡ = T̄ =⇒ ROG do
governo é satisfeita.
• Suponha agora que T10 = T1 − δ, onde δ > 0 e que G1 = G2 = Ḡ.
• Qual será T20 3 ROI do Governo é satisfeita?

Ḡ T0
Ḡ + = T1 − δ + 2
1+r 1+r
T̄ T0
T̄ + = T̄ − δ + 2
1+r 1+r
0
T2 = T̄ + δ(1 + r)

• Para satisfazer a ROI, governo precisa aumentar impostos futuros!


• Qual a implicação desse resultado?

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 57 / 120


Equivalência Ricardiana
• Vejamos a implicação do corte e do posterior aumento nos
impostos.

C2 Y2 T20
C1 + = Y1 + − T10 −
1+r 1+r 1+r
Y2 T̄ + δ(1 + r)
= Y1 + − (T̄ − δ) −
1+r 1+r
Y2 T̄ δ(1 + r)
= Y1 + − T̄ − +δ−
1+r 1+r 1+r
Y2 T̄
= Y1 + − T̄ −
1+r 1+r

• VPD da renda líquida do trabalho permanece inalterada.


• Alternativamente, podemos ver o efeito sobre a poupança das
famílias.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 58 / 120


Equivalência Ricardiana
• Relembre que de (10) antes do corte
C2 − Y2 + T2
S1 =
1+r
C2 − Y2 + T̄
=
1+r

• Depois do corte:
C2 − Y2 + T20
S1 =
1+r
C2 − Y2 + T̄ + δ(1 + r)
=
1+r
C2 − Y2 + T̄
= +δ
1+r

• Famílias poupam exatamente o corte nos impostos para pagar


mais impostos no futuro.
Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 59 / 120
Equivalência Ricardiana

• Equivalência Ricardiana depende dentre outras coisas:


1 Ausência de restrições de liquidez: famílias devem ser capazes de
tomar empréstimo. Famílias não Ricardianas.
2 Taxa de juros e horizonte temporal enfrentado por famílias e
governo devem ser os mesmos.
3 Existência de herdeiros e a incorporação das preferências destes
em suas próprias preferências podem justificar a Equivalência
Ricardiana.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 60 / 120


A DESAGRADÁVEL ARITMÉTICA MONETARISTA

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 61 / 120


A desagradável aritmética monetarista

• O resultado que deficits são irrelevantes para afetar a atividade


econômica parece ser muito forte.
• Na verdade, a condução da política fiscal é extremamente
importante.
• Isto é particularmente verdade para a política monetária.
• Problema de coordenação.
• Sargent e Wallace (1981) enfatizam que a condução da política
fiscal pode gerar uma situação em que um PM restritiva poderia
causar mais inflação no futuro (e possivelmente no presente).
• Esse resultado ficou conhecido como a desagradável aritmética
monetarista.
• Ideia de que PF pode restringir a eficácia da PM.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 62 / 120


Modelo Simples

• Vejamos um modelo estilizado e simples que mostrará o resultado


de Sargent e Wallace (1981).
• O regime em que esse resultado aparece é chamado de regime de
dominância fiscal.
• Neste regime, a política relevante para combater a inflação é a
política fiscal.
• O regime normal é o de dominância monetária (ao subir juros, BC
faz com que a inflação caia).
• Veremos que, no modelo, a inflação terá origem fiscais.
• Basearemos nossa análise em Andolfatto (2021).

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 63 / 120


Modelo OLG Simples

• Tempo é discreto t = 0, 1, 2, ....


• Duas gerações sobrepostas: jovens e velhos.
• Utilidade é dada por Ut = Ct+1 ∀t ≥ 0.
• Jovem recebe y unidades do produto (exógeno) e tem acesso a
uma tecnologia que transforma kt unidades do produto em t em
yt+1 = xf (kt ) unidades do produto em t + 1.
• x é um parâmetro que mede a produtividade futura e f (kt ) é
crescente e côncava, i.e., f 0 > 0 e f 00 < 0. Além disso, xf 0 (kt ) < 1.
• O jovem tem um problema de portfólio. Precisa poupar recursos
para garantir o mais alto Ct+1 .

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 64 / 120


Modelo OLG Simples
• A autoridade fiscal escolhe Gt (gastos) e Tt (impostos) para todo t.
• Por simplicidade, Gt = 0 ∀t, logo Tt é o superavit e −Tt deficit
primário.
• Seja Dt o estoque de títulos nas mãos do público em t e defina
Rt ≡ (1 + it ), onde it é a taxa de juros nominal.
• A restrição orçamentária do governo no período t é dada por:

Tt = Rt−1 Dt−1 − Dt (18)

• Quando Tt < 0 (ou −Tt > 0) =⇒ governo emite títulos para


financiar deficit.
• Por simplicidade, abstraímos moeda do modelo (cashless model).
• Seja µt ≡ Dt /Dt−1 e pt o nível de preços.
• Defina ainda τt ≡ Tt /pt e dt ≡ Dt /pt .

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 65 / 120


Modelo OLG Simples
• Isto permite reescrever (18) em termos reais como:

Tt Dt−1 Dt
− = −Rt−1 +
pt pt pt
Rt−1 Dt
−τt = − + dt
µt pt
 
Rt−1
−τt = 1 − dt (19)
µt

• A autoridade fiscal escolhe {µt , τt } em dois regimes:


• Ricardiano: escolhe {µt } e ajusta τt 3 equação (19) é satisfeita.
• Não-Ricardiano: escolhe {τt } e deixa que µt se ajuste tal que
equação (19) é satisfeita.
• Já a autoridade monetária escolhe Rt não importa o regime fiscal.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 66 / 120


Modelo OLG Simples

• Estamos interessados em analisar um equilíbrio estacionário - EE


de tal forma que as autoridades fiscal e monetária escolhem
{µ, τ, R}. Isto permite reescrever (19), no EE, como:

− τ = (1 − R/µ) d (20)

• Vejamos como se comportam as famílias.


• Jovens devem decidir como alocar y (dotação em t) entre dt e kt , ou
seja, y = dt + kt .
• A vantagem de dt é que ele rende juros reais em t + 1, Rt /Πt+1 .
• Já a alocação em kt , produz xf (kt ) unidades de produto em t + 1.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 67 / 120


Modelo OLG Simples

• Portanto, devem decidir a alocação de portfólio {dt , kt }, em t, para


maximizar a utilidade.
• Isto nos leva à restrição de que:

Ct+1 = xf (kt ) + (Rt /Πt+1 )dt − τt+1 (21)

• Onde Πt+1 = pt+1 /pt e τt+1 pode ser positivo (imposto) ou


negativo (transferência).
• O consumo futuro depende da alocação entre kt e dt .
• Vejamos como as famílias decidem.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 68 / 120


Modelo OLG Simples
• Problema das famílias:

max Ut = Ct+1
kt ,dt

s.a.

Ct+1 = xf (kt ) + (Rt /Πt+1 )dt − τt+1


y = dt + kt

• CPO
xf 0 (kt ) = Rt /Πt+1 (22)

• Em equilíbrio, se os dois ativos são mantidos em portfólio, então


devem produzir o mesmo retorno.
• Condição de não-arbitragem.
Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 69 / 120
Modelo OLG Simples

• É possível que os retornos não sejam equalizados.


• Portanto, para que exista uma demanda pelo título do governo
quando os retornos forem diferentes, vamos impor que:

dt
> σ,
dt + kt
dt > σy, (23)

• onde 0 ≤ σ ≤ 1 é um parâmetro positivo.


• Esta restrição estabelece uma proporção mínima de títulos do
governo deve ser mantida no portfólio.
• Vejamos o equilíbrio.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 70 / 120


Modelo OLG Simples: Equilíbrio
• Relembre que dt ≡ Dt /pt =⇒ Dt = dt pt =⇒ Dt+1 = dt+1 pt+1 ,
logo:
Dt+1 dt+1 pt+1
=
Dt dt pt
dt+1
µt+1 = Πt+1 (24)
dt

• Reescrevendo (24) como


µt+1
dt+1 = dt
Πt+1

• E usando a condição de otimalidade (22) como Πt+1 = Rt /xf 0 (kt ).


É possível obter:
µt+1 0
dt+1 = xf (y − dt )dt (25)
Rt

• Esse resultado nos dá a dinâmica do estoque de dívida.


Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 71 / 120
Modelo OLG Simples: Equilíbrio
• Considere uma política monetária tal que Rt = R ∀ t (interest rate
peg), então (19) pode ser escrita como:
 
R
− τt = 1 − dt (26)
µt

Definição
Um equilíbrio nesta economia consistirá em um nível de preço inicial
p0 = D0 /d0 e um conjunto de sequências {dt , µt , τt } satisfazendo (23),
(25) e (26) com {µt } ou {τt } determinados exogenamente pela política
fiscal dependendo se o regime fiscal é ricardiano ou não-ricardiano,
respectivamente.

• Um equilíbrio estacionário implica em valores para


{dt , µt , τt } = {d, µ, τ }.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 72 / 120


Modelo OLG Simples: Equilíbrio

• Podemos derivar nosso primeiro resultado.

Proposição
Proposição 1: A taxa de inflação no longo prazo é determinada pela política
fiscal.

• Prova: Note que (24) no EE implica que µ = Π. Ou seja, no longo


prazo a taxa de inflação é igual a taxa de crescimento dos títulos
nominais do governo.
• Note que é um modelo sem moeda, na prática, pode depender da
PM (emissão), mas até nisso pode ter origens fiscais.
• Brasil nos anos 80 e 90 (veremos isso mais adiante).
• Isto já nos revela que sem coordenação entre as políticas, política
monetária pode ser ineficaz.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 73 / 120


Modelo OLG Simples: Equilíbrio
• No EE, o valor de d é dado por:
µ 0
1= xf (y − d) se d > σy (27)
R

R
d = σy se xf 0 (y − d) > (28)
µ

• Note que d depende de R, µ, x, σ, logo (26) pode ser reescrita (em


equilíbrio) como:
 
R
−τ = 1− d(R/µ, x, σ) (29)
µ

• −τ é o deficit primário, mas pode ser entendido como a receita da


autoridade fiscal da emissão de títulos (seignorage).

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 74 / 120


Modelo OLG Simples: Equilíbrio

• Seignorage porque apenas o governo pode emitir títulos para


financiar dívida (monopólio).
• Note que se µ ↑ =⇒ (1 − Rµ ) ↑ =⇒ aumento na receita via
aumento na "alíquota".
• Por outro lado, à medida que µ ↑ implica que por (27) d ↓. A base
tributária cai.
• Ou seja, a receita sobe para níveis baixos de inflação, mas cai para
níveis mais altos de inflação.
• Isto produz uma "curva de Laffer"na emissão de títulos nominais.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 75 / 120


Modelo Figure 1
OLG Simples: Equilíbrio
The Laffer Curve

Primary
deficit

0
R Inflation rate

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 76 / 120


Modelo OLG Simples: formas funcionais e valores
• Suponha que a tecnologia seja f (kt ) = ktα , logo a "curva de laffer"é
dada por:
 
R
−τ = 1 − d
µ

• Onde a quantidade de títulos em poder do público (base


tributária) é dada por (27):
 µxα 1/1−α
d=y−
R

• E a "alíquota"é dada por:


 
R
Alíquota = 1 −
µ

• A seguir variaremos µ e veremos como se comportam essas


variáveis. Assuma que α = 0.8, x = 1, R = 1.1 e y = 10.
Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 77 / 120
Modelo OLG Simples: formas funcionais e valores
0.5

0.4
Aliquota do imposto (1 ! R=7)

0.3

0.2

0.1

-0.1
1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9

In.acao 7
Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 78 / 120
Modelo OLG Simples: formas funcionais e valores
10

9
Titulos em poder do publico d

4
1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9

In.acao 7
Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 79 / 120
Modelo OLG Simples: Curva de Laffer
3

2.5
De-cit primario (arrecadacao) !=

1.5

0.5

-0.5

-1
1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9

In.acao 7
Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 80 / 120
Modelo OLG Simples: Regime Ricardiano

• Recorde que, num regime ricardiano, a autoridade fiscal escolhe


µ e deixa τ ajustar-se passivamente para satisfazer a restrição
orçamentária do governo.
• Impondo (23), o valor de d é dado por (28), logo (29) pode ser
escrita como:  
R
−τ = 1− σy (30)
µ

• O quê acontece nesse regime quando BC sobe R?


• Como a autoridade fiscal escolhe µ, −τ tem de cair tal que (30) é
satisfeita.
• Uma PM contracionista é seguida por uma PF contracionista
(redução no deficit primário).

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 81 / 120


Modelo OLG Simples: Regime Ricardiano

• Isto nos leva à seguinte proposição.

Proposição
Proposição 2: Num regime fiscal ricardiano, um aumento na taxa de juros R
leva a uma diminuição do deficit primário, −τ .

• Como (23) é satisfeita com igualdade, quando R ↑, o pagamento


de juros da dívida ↑ =⇒ ou impostos ↑ e/ou gastos ↓.
• A política fiscal age passivamente de maneira a garantir a
sustentabilidade da dívida pública.
• No gráfico, quando R sobe, a curva de laffer se desloca para a
direita.
• Como −τ cai e µ não muda, essa combinação de políticas consiste
num movimento de A para B no gráfico.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 82 / 120


Modelo OLG Simples: Regime Ricardiano
Figure 2
Increase in the Interest Rate

Primary
deficit

–τ A C

B
0
Inflation rate

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 83 / 120


Modelo OLG Simples: Regime Não-Ricardiano

• Num regime não-ricardiano, a autoridade fiscal escolhe τ e deixa


µ ajustar-se passivamente para satisfazer a restrição orçamentária
do governo.
• Impondo (23), o valor de d é dado por (28), logo (29) pode ser
escrita como (30).
• O quê acontece nesse regime quando BC sobe R?
• Neste regime a autoridade fiscal escolhe −τ e suponha que ela
não mude −τ .
• Neste caso, quando R ↑, µ ↑ tal que (30) é satisfeita.
• Uma PM contracionista leva a um aumento da inflação.
• Este é o resultado da desagradável aritmética monetarista de
Sargent e Wallace (1981).

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Modelo OLG Simples: Regime Não-Ricardiano

Proposição
Proposição 3: Num regime não-ricardiano, quando BC sobe R, se a política
fiscal não acomodar a ação, o aumento em R leva a um aumento da inflação, Π.

• A política fiscal age ativamente e, no exemplo, ela não muda.


• Novamente, quando R sobe, a curva de laffer se deloca para a
direita.
• Como −τ é o mesmo, quando R sobe =⇒ µ muda tal que ROG é
satisfeita.
• Essa combinação de políticas consiste num movimento de A para
C no gráfico.

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Modelo OLG Simples: Não-Ricardiano
Figure 2 Fig
Increase in the Interest Rate Incr

Primary Primar
deficit defic

–τ A C

B
0
Inflation rate

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Modelo OLG Simples: conclusão

• Lição: Sem suporte da política fiscal (sem coordenação de


políticas), a ação da política monetária (em combater a inflação)
fica comprometida.
• Em termos gerais, quando o BC ↑ R para reduzir Π =⇒
pagamento de juros ↑ e se política fiscal não acomoda (não reduz
deficit primário), eventualmente leva à monetização da dívida
∆Mt > 0 =⇒ mais inflação.
• Outra possibilidade seria dar calote na dívida (ou as duas).
• Note, no entanto, que gerar mais inflação é uma forma de calote,
já que diminui o retorno real do títulos, R/Πt+1 .
• Veremos a opção da monetização na sequência com mais detalhes.

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M ONETIZAÇÃO DA DÍVIDA

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 88 / 120


Monetização da dívida

• Até agora assumimos que o governo poderia financiar deficits ou


com aumento de impostos ou ainda com emissão de dívida. Mas e
se isso não for possível ou desejável?
• O governo tem o monopólio na emissão de moeda =⇒ receita de
seignorage (senhoriagem).1
• O quê acontece quando o governo usa emissão de moeda para
financiar sua dívida?
• Vejamos isso.

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Monetização da dívida
• Vamos escrever a restrição orçamentária do governo(em termos
nominais):
G + iB ≡ T + ∆B + ∆H (31)

• Onde H ≡ moeda com alto poder de expansão (base monetária).


• A quantidade de moeda é dada por: M = κH, onde κ > 0 é o
multiplicador monetário (bancário).
• É possível reescrever (31) como:

(G − T) + iB ≡ ∆B + ∆H (32)

• Em resumo, governo financia deficit primário e pagamento de


juros com nova dívida ou com emissão de moeda.

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Monetização da dívida

• É possível reescrever ainda e obter:

∆B ≡ (G − T) + iB − ∆H (33)

• Emissão de moeda pode reduzir o estoque da dívida.


• BC emite moeda para comprar títulos do governo.
• Dividindo ambos os lados de (33) por PY:

∆B G−T iB ∆H
≡ + −
PY PY PY PY
∆B ∆H H
≡ d + ib −
PY H PY

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Monetização da dívida
• Note que por definição: B ≡ bPY. É possível aproximar essa
expressão como (diferencial total):

∆B ≈ ∆b.PY + ∆P.bY + ∆Y.bP


∆B ∆b.PY ∆P.bY ∆Y.bP
≈ + +
PY PY PY PY
∆P ∆Y
≈ ∆b + b+ b
P Y
≈ ∆b + πb + gb

• Combinando esses dois últimos resultados, obtemos uma


expressão para a evolução da dívida-PIB como:

∆b = d + (i − π − g)b − γH h (34)

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 92 / 120


Monetização da dívida
• Ou ainda:

∆b = d + (r − g)b − γH h (35)

• γH ≡ taxa de crescimento da moeda com alto poder de expansão.


• Como M = κH =⇒ γM = γH .
• Note que pela TQM, no médio prazo, γH = γM = π.
• Logo ao expandir a oferta de moeda para financiar a dívida
(monetização da dívida), governo cria mais inflação.
• Inflação reduz o crescimento da dívida-PIB. Por isso, esse método
de financiar a dívida é chamado de imposto inflacionário.
• Note que estamos tratando de uma dívida não indexada aos
preços.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 93 / 120


Monetização da dívida

• Como vimos senhoriagem se refere ao privilégio do governo por


ter o monopólio na emissão de moeda.
• Senhoriagem é dada pela quantidade real de bens e serviços que o
governo é capaz de comprar com emissão de moeda.

∆H
S=
P
∆H H
=
H P
H
= γH
P

• Existem diferentes formas de medir a senhoriagem (Ver Jaroletto


(2005)).

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Monetização da dívida
• Em equilíbrio (médio prazo):

H
S=π (36)
P

• Ou ainda como proporção do PIB:

S
= πh (37)
Y

• Governo pode usar senhoriagem para financiar suas despesas,


mas para isso o governo causa mais inflação.
• Além do problema da inflação, é possível que as pessoas passem a
demandar menos moeda. Isso é comum em hiperinflações.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 95 / 120


Monetização da dívida
• Relembre que o equilíbrio no mercado monetário implica que:
 s  d
M M
=
P P
= L(i, Y)
= L(r + π, Y) (38)

• Aumento em π reduzem a demanda por moeda.


• Usando M = κH é possível verificar que:
M1
S=π (39)

• Ou seja, ao usar a senhoriagem o governo causa mais inflação,


mas ao mesmo tempo reduz a demanda por moeda.
∆M M
↑ =⇒ π ↑ =⇒ ↓
M P
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Monetização da dívida

• Isso é o mesmo que reduzir a "base tributária" =⇒ para gerar a


mesma receita de senhoriagem de antes, o governo precisará
causar mais e mais inflação!
• Resultado: hiperinflação!
• Resultado que desequilíbrio fiscal e uso da senhoriagem pode
estar por trás de episódios de hiperinflações é bem consolidado na
literatura.
• Sargent (1982) mostra que as hiperinflações dos anos 1920 na
Áustria, Alemanha, Hungria e Polônia tiveram origens fiscais.
• Inabilidade ou não desejar financiar deficits com emissão de
títulos, levaria o BC a emitir moeda levando a mais e mais
inflação.

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Monetização da dívida

• Vejamos a evidência de Fischer et al. (2002) para um grupo de


países.
• E em seguida Ayres et al. (2019) para o Brasil.
• Projeto A Monetary and Fiscal History of Latin America,
1960-2017
https://manifold.bfi.uchicago.edu/projects/
monetary-fiscal-history-latin-america-1960-2017

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 98 / 120


Fonte: Fischer, S., Sahay, R., Végh, C. A. (2002)

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 99 / 120


Fonte: Fischer, S., Sahay, R., Végh, C. A. (2002)

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 100 / 120
Figure 5: Inflation, seigniorage, and money growth, 1960–2016
(a) Money growth and inflation

Fonte: Ayres, J., Garcia, M., Guillén,


(b) Seigniorage D. A., Kehoe, P. J. (2019)
and inflation
https:
//www.nber.org/system/files/working_papers/w25421/w25421.pdf

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 101 / 120
(b) Seigniorage and inflation

Sources: Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Central Bank of Brazil (CBB).
Notes: For the inflation and money growth series, we plot the transformation log(15 + X), in which X denotes the annual
percentage rate. We sum 15 to avoid taking logs of negative numbers. Inflation rates are computed using the General
Price Index, IGP-DI, from Getulio Vargas Foundation. See appendix C for a description of how we compute the
seigniorage and nominal GDP series.

Fonte: Ayres, J., Garcia, M., Guillén, D. A., Kehoe, P. J. (2019)


Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 102 / 120
R EGRAS F ISCAIS

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 103 / 120
Regras Fiscais

Definição: Uma regra fiscal impõe limites duradouros sobre a política


fiscal através do estabelecimento de limites numéricos sobre algum
(alguns) agregados orçamentários.
• Política fiscal não pode ser mudada com frequência.
• O objetivo é evitar pressões para gastar além de um limite
considerado responsável e garantir a sustentabilidade da dívida
pública.
• Além disto, pretende-se evitar "dominância fiscal".
• A Lei de Responsabilidade Fiscal e a Regra do Teto dos Gastos são
exemplos de regras fiscais.

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Regras Fiscais

• Apesar de ser crescente o uso de regras fiscais, muitos países


ainda relutam em implementar algum tipo de regra.
• Uma razão é que a "punição" demora a chegar.

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496 Charles Wyplosz

Table 12.1 Percent years of deficit over 1960–2011

Australia Austria Belgium Canada Germany

Percent (%) 80 82 96 76 78
Last surplus 2008 1974 2006 2007 2008

Denmark Spain Finland France UK

Percent (%) 48 78 20 90 84
Last surplus 2008 2007 2008 1974 2001

Greece Ireland Italy Japan Netherlands

Percent (%) 80 80 100 68 88


Last surplus 1972 2007 1992 2008

Norway New Zealand Portugal Sweden US

Percent (%) 4 46 100 42 92


Last surplus 2011 2008 2008 2000

Sources: Economic Outlook, OECD; and Eichengreen and Wyplosz (1998) for older data.
Note: Sample starts later for Australia (1962), Canada (1961), Spain (1962), and Portugal
(1977).

deficits can be the rule, with few exceptions, for fifty years or more while
these
Marcelo Eduardo countries
A. Silva (UFPE)record
AAA or close
Políticaratings.
Fiscal
1
27 de Fevereiro de 2024 106 / 120
Regras Fiscais

Regras fiscais não são novidade.


• José do Egito (Livro de Gênesis, 43)
• Relato bíblico diz que o Faraó teve um sonho. Sete vacas gordas,
seguidas de sete vacas magras. Sete espigas de cereal cheias e
boas, seguidas de sete espigas feias e magras.
• Regra fiscal "contra-cíclica":
"O faraó também deve estabelecer supervisores para recolher um
quinto da colheita do Egito durante os sete anos de fartura. Eles
deverão recolher o que puderem nos anos bons que virão e fazer es-
toques de trigo que, sob o controle do faraó, serão armazenados nas
cidades. Esse estoque servirá de reserva para os sete anos de fome que
virão sobre o Egito, para que a terra não seja arrasada pela fome."

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 107 / 120
Regras Fiscais

Problemas na ausência de regras:


1 Governos em geral tem "visão curta", i.e., pesam muito mais o
curto prazo.
• Se o Faraó fosse eleito, teria o incentivo de burlar a regra de José!

2 "Problema do recurso comum": grupos de interesse ou


constituintes não internalizam os impactos totais (sobre o
resultado final) de suas demandas específicas.
• Pode levar a "overspending"(gastos exagerados)!

3 "Voracity Effect"(Efeito Voracidade): muitos grupos que


competem pelo orçamento pode levar a gastos exagerados em
anos de bonança, deixando pouco ou nenhum recurso para ser
utilizado em anos ruins.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 108 / 120
Problemas com as Regras Fiscais

Regras não são uma panacéia para tudo. Precisam ser acompanhadas
de outros arranjos institucionais. Além disto, alguns problemas podem
surgir:
1 Pouco espaço para ajustes diante de choques adversos.
2 Risco para não realização de gastos em áreas estratégicas (meio
versus fim).
3 Redução de transparência → "contabilidade criativa"ou
"pedaladas fiscais". Brasil é um exemplo!

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 109 / 120
Regras Fiscais

Outros propósitos das regras:


1 Estabilização da economia;
2 Impor limites sobre o tamanho do governo;
3 Equidade entre as gerações (intergenerational equity).

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 110 / 120
Tipos de Regras Fiscais

1. Regras de dívida: impõe um limite ou uma meta sobre o tamanho


da dívida pública como proporção do PIB.
• Fácil de entender;
• Ligação direta com a sustentabilidade da dívida (Budina et al.,
2012).
Porém...
• Níveis da dívida levam tempo para serem afetados;
• Elementos fora do espectro de ação do governo: taxa de juros,
taxa de câmbio, etc.
• Não fornece "operational guidance" no médio prazo. O quê fazer?
• Política fiscal pode se tornar pro-cíclica em momentos de recessão!
Exemplo: Estados Unidos.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 111 / 120
Tipos de Regras Fiscais

2. Regras de orçamento equilibrado: impõe restrições sobre o


comportamento do orçamento.
• Fácil de entender e comunicar.
• Fornece "operational guidance".
• Ligação próxima com a sustentabilidade da dívida.
Porém...
• Sem um componente de estabilização.
• Orçamento pode ser afetado por elementos fora do controle do
governo.
• Política fiscal pode se tornar pro-cíclica em momentos de recessão!

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 112 / 120
Tipos de Regras Fiscais

3. Regras de orçamento ciclicamente ajustado


• Qual o nível de gastos que prevaleceria em tempos normais?
• "Operational guidance" relativamente claro.
• Ligação próxima com a sustentabilidade da dívida.
• Permite estabilização (ajuste da política a choques).
Porém...
• Correção para ciclos é complicado.
• Precisa definir ex-ante que tipos de choques são permitidos.
• É mais complexa, o que torna difícil explicar e monitorar!
Exemplo: Chile.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 113 / 120
Tipos de Regras Fiscais

4. Regras de Gastos: limita os gastos primários/correntes, ou


colocando um limite sobre seu crescimento ou sobre como proporção
do PIB.
• "Operational guidance"claro.
• Relativamente fácil de comunicar e monitorar.
• Permite estabilização (ajuste da política a choques).
• Limita o tamanho do governo.
Porém...
• Sem ligação direta com a sustentabilidade da dívida.
Gt
Exemplo: EC 95 → Gt = (1 + πt−1 )Gt−1 . Note que ↑ Yt ⇒ Yt ↓.

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Tipos de Regras Fiscais

5. Regras de Receitas: estabelece tetos ou pisos sobre as receitas do


governo, ou determina o uso de receitas extraordinárias.
• Evita gastos pró-cíclicos
• Limita o tamanho do governo.
Porém...
• Sem ligação direta com a sustentabilidade da dívida, uma vez que
não há restrições do lado das despesas.
• Sem estabilização.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 115 / 120
Budget balance rules and debt rules are most frequently used…

Types of National Fiscal Rules in Use, 2013


(Number of countries with at least one fiscal rule)
70

60

50

40

30

20

10

0
Revenue rules Expenditure rules Balance rules Debt rules

Source: FAD Fiscal Rules database.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 116 / 120
Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 117 / 120
• Evidência é favorável ao uso de regras (Pieschacón, 2012).
• Mundo caminha para regras simples, flexíveis e efetivas (Eyraud
et al., 2018).

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 118 / 120
Andolfatto, David (2021), “Is it time for some unpleasant monetarist
arithmetic?” Federal Reserve Bank of St. Louis Review, 103, 315–332.
Ayres, Joao, Marcio Garcia, Diogo A Guillén, e Patrick J Kehoe (2019),
“The monetary and fiscal history of brazil, 1960-2016.” Technical
report, National Bureau of Economic Research.
Blanchard, Olivier (2017), Macroeconomia, 7 edition. Pearson.
Budina, Nina, Andrea Schaechter, Anke Weber, Tidiane Kinda, et al.
(2012), “Fiscal rules in response to the crisis; toward
the"next-generation"rules: A new dataset.” Technical report,
International Monetary Fund.
Eyraud, Luc, Mr Xavier Debrun, Andrew Hodge, Victor Duarte Lledo,
e Ms Catherine A Pattillo (2018), Second-generation fiscal rules:
Balancing simplicity, flexibility, and enforceability. International
Monetary Fund.
Fischer, Stanley, Ratna Sahay, e Carlos A Végh (2002), “Modern
hyper-and high inflations.” Journal of Economic literature, 40, 837–880.
Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 119 / 120
Pieschacón, Anamaría (2012), “The value of fiscal discipline for
oil-exporting countries.” Journal of Monetary Economics, 59, 250–268.
Sargent, Thomas e N Wallace (1981), “Some unpleasant monetarist
arithmetic.” Quarterly Review (Federal Reserve Bank of Minneapolis.
Research Department), 5, 15–31.
Sargent, Thomas J (1982), “The ends of four big inflations.” In Inflation:
Causes and effects, 41–98, University of Chicago Press.

Marcelo Eduardo A. Silva (UFPE) Política Fiscal 27 de Fevereiro de 2024 120 / 120

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