Você está na página 1de 93

PEDAGOGIAS

PARTICIPATIVAS
Um guia para (re)pensar as
suas práticas pedagógicas

na Educação Infantil
. . . É tempo de acontecer
@proflualves24
uma nova Educação Infantil
ÍNDICE

ACREDITE NOS SEUS PROCESSOS


para se manter em voo... 04

PEDAGOGIAS PARTICIPATIVAS:
Por onde começar? 10

Você está respaldada pela legislação


EMBASAMENTO 42

4
Compartilhando práticas pautadas nas
PEDAGOGIAS PARTICIPATIVAS 49
Querida professora,
Esse e-book é pra você que deseja mudar a sua prática
pedagógica e acredita no seu potencial de
transformação!
Esse material foi elaborado por uma professora em
desconstrução, assim como você, querida professora!
Acredite, sei quais são suas dificuldades, angústias e
desafios.
Sei que sua vontade de mudar, e de se transformar é
real!
Portanto, não desista de dar os primeiros passos, e de
transformar sua prática com as crianças no cotidiano
na escola das infâncias.
Eu, e você acreditamos que uma nova Educação Infantil
é possível, por isso, estamos aqui estudando e
desejando alcançar novos voos assim como fazem as
borboletas ao sair do casulo.
1. ACREDITE NOS SEUS
PROCESSOS para se
manter em voo...

04
É preciso sair do casulo para se permitir uma verdadeira
transformação.
Ser uma professora das infâncias, exige de nós que busquemos novos
voos, por meio de leituras, estudo e reflexões de nossa prática
diária.

Eu, também passei por uma intensa transformação em 2021, e me


permitir acolher o novo, a reconhecer que aquelas velhas práticas
não faziam mais sentido para mim, e nem para as minhas crianças.

Nesse processo de transformação, é preciso ter humildade para


aprender a reaprender, desconstruir para construir. Na faculdade,
aprendemos teorias, práticas, mas não nos ensinam a viver a prática
com as crianças nas suas jornadas de aprendizagem no cotidiano.

Em 2021, comecei os estudos sobre as Pedagogias Participativas, e


as leituras sobre o trabalho com contextos, e foi paixão a primeira
vista!
.

05
Todavia, é preciso que a gente não desista de defender a prática
pedagógica que acreditamos, que a gente não se cale, ou ache
que pode ser impossível ressignificar o nosso olhar e o nosso
fazer pedagógico docente.
Às vezes, ou quase sempre, seremos julgadas por querermos
mudar, nos transformar, ou por termos escolhido um caminho
diferente...
Mas, não desista!
A educação contemporânea vem passando por mudanças a todo o
momento, os documentos legais ratificam o que digo aqui.
Saiba que, se seus pensamentos juntamente com sua prática
pedagógica, validam o respeito, os direitos das crianças, bem
como o bem-estar delas nas escolas das infâncias, você está no
caminho certo, e não precisa temer por isso!
Mesmo diante da solidão pedagógica, não podemos deixarmos de
nos posicionarmos, de defender nossa prática pedagógica, pois,
elas estão embasadas e amparadas pelos Documentos Legais da
Educação Infantil...
Aqui, é importante conhecermos nossa Legislação Educacional.

06
É preciso nos libertar da solidão pedagógica...

É preciso nos unirmos e mantermos um sentimento de solidariedade


umas com as outras, pois sei, que juntas daremos sempre um jeito das
coisas darem certo...
Nós, educadoras das infâncias, temos um compromisso coletivo,
vivemos em uma pedagogia da participação, da coletividade.
Precisamos nos acolher para sermos acolhidas. Sei que muitas de nós,
temos receio, vergonha de conversar com outras colegas, de se abrir, e
falar sobre nossos desafios, o que move nossas práticas, o que
acreditamos ser melhor para as crianças...
Quantas vezes na caminhada pedagógica nos sentimos sozinhas, quase
invisíveis?
Quantas de nós, sentimos medo de defender à prática pedagógica que
acreditamos por medo de expor o que pensamos, por medo de sermos
julgadas, por medo de não
sermos aceitas...
Quem acolhe a nossa dor enquanto profissionais das infâncias?
Nós, educadoras das infâncias, quase sempre encontramos situações
difíceis nas escolas: ausência de materiais, falta de autonomia, falta de
união das colegas, falta de reconhecimento, ausência dos pais na
escola, falta de sermos ouvidas e acolhidas por coordenadores e
gestores.
Enfim, precisamos sermos corajosas o suficiente para enfrentarmos os
empecilhos do caminho...
07
Tenho pensado 365 dias...
Se nossa prática estiver fincada e embasada nos Documentos Legais
que norteiam e validam a Educação Infantil, não precisamos temer a
nada...
Penso que a defesa da nossa prática pedagógica, é o início para o
caminho de uma práxis com autoral, baseadas em estudos,
perguntas, e reflexões
das crianças, bem como o bem-estar delas nas escolas das
infâncias, você está no caminho certo, e não precisa temer por isso!
Acreditem, desafios pelo caminho sempre iremos encontrar, mas,
não é motivo para desistir!
Não podemos nos permitir viver uma prática com medos e
angústias, por nos sentirmos sozinhas!
É preciso coragem de (des) construir para construir!
É preciso ser resiliente o suficiente para saber lidar com tudo
aquilo que foge do nosso controle, e que não depende de nós;
É urgente, que nós, colegas de profissão, busquemos nos unir,
amparar uma nas outras, buscarmos cúmplices teóricos, apoio
coletivos, parcerias na rede, ou fora dela, para construirmos uma
práxis respeitosa entre crianças, professores, e todos da escola.

08
Vamos acabar com a solidão pedagógica?
É tempo de nos unir...
É tempo de ressignificarmos o nosso olhar para as
infâncias...
É tempo de acolher para sermos acolhidas...
É tempo de partilhar, trocar ideias...
É tempo de criar parcerias capazes de mover a nossa
mente, o nosso olhar...
É tempo de acreditar que uma nova Educação Infantil é
possível!!!
Vamos dar as mãos para crescermos juntas!

09
2. Pedagogias
Participativas: Por
onde começar?

10
O que são as Pedagogias participativas?
As Pedagogias Participativas são uma abordagem de ensino onde, considera a
participação de todos os envolvidos no processo de aprendizagem. A criança é vista
como sujeito histórico e de direitos, como um ser ativo e capaz. Portanto, ela
participante de seu processo de aprendizagem.
Nas Pedagogias Participativas a educação torna-se um desafio complexo e
questionador!
Nessa perspectiva, não cabe atividades com objetivos a serem alcançados, todo o
processo é valorizado, nada é linear...

Então, isso quer dizer que nas Pedagogias Participativas, devemos nos interrogar:
Qual a nossa concepção de criança?
Qual a nossa concepção de infância?
Qual a nossa concepção de Currículo na Educação Infantil?
Quais os direitos das crianças?

Dito isto, as práticas pedagógicas cotidianas nas escolas de educação infantil,


serão concebidas através da nossa imagem de criança, infância...
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, e A Base Nacional
Comum Curricular-BNCC nos apresentam uma criança dotada de direitos: ativa,
potente, ativa, capaz e produtora de cultura que dialoga com as pedagogias ativas e
participativas...

Então, diante uma imagem de criança potente e capaz, tem como a gente
permanecer com práticas pedagógicas baseadas nas pedagogias tradicionais e/ou
transmissivas?
Será que essa pedagogia representa esse novo sujeito, com direitos, que pensa, que
opina?

11
É preciso que a gente reflita sobre as nossas práticas...
É tempo de refletirmos acerca de
velhas práticas, rompendo com velhos pensamentos. A
educação infantil não deve ser um espaço de reprodução,
somente porque sempre foi feito desse jeito, precisamos
alargar nossos olhares.
A educação infantil, deve ser um espaço de reflexão, de
pesquisas, de repensar o currículo, os nossos
planejamentos, a nossa concepção de criança e infância.

Esse post é um convite àqueles que desejam adentrar


nas pedagogias participativas:
Para isso, faz-se necessário:
Repensar nossa concepção de criança, de infância e
currículo na educação Infantil;
Rever a nossa ação educativa, se está pautada em
conteúdos, objetivos, métodos ou nas experiências das
crianças?
É preciso compreender que o currículo na e da Educação
Infantil não é fragmentado, articula os saberes das
crianças com os conhecimentos que fazem parte do
patrimônio da humanidade.

12
Um convite àqueles que desejam adentrar nas pedagogias participativas:
Para isso, faz-se necessário:
Repensar nossa concepção de criança, de infância e currículo na educação
Infantil;
Rever a nossa ação educativa, se está pautada em conteúdos, objetivos,
métodos ou nas experiências das crianças?
É preciso compreender que o currículo na e da Educação Infantil não é
fragmentado, articula os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem
parte do patrimônio da humanidade.
Rever o nosso papel enquanto educadores das infâncias, que não somos meros
transmissores de conteúdos, mas o mediador, ou seja, aqueles que participam
ativamente das nossas práticas não devem ser movidas pelo que as famílias
gostam ou por modismos...
Rever nossa forma de planejar, será que o nosso planejamento está centrado na
criança? Será que ele considera os espaços, tempos, materiais, as brincadeiras
e as interações entre os pares? Os grupos? Será que todas as crianças devem
fazer tudo ao mesmo tempo?
Pensar na intencionalidade pedagógica, bem como, no bem-estar das crianças!
Esses são os motivos que me ajudaram a ressignificar a minha prática
pedagógica e adentrar nas Pedagogias participativas!
Seguimos juntas!
É preciso pensamos que o nosso trabalho não pode ser medido pelo tempo
cronológico do relógio.
Precisamos embasar nossas práticas cotidianas na educação infantil nas
interações e na brincadeira, conforme os documentos orientadores.

13
Nossas práticas não devem ser movidas pelo que as famílias gostam ou
por modismos...
Rever nossa forma de planejar, será que o nosso planejamento está
centrado na criança? Será que ele considera os espaços, tempos,
materiais, as brincadeiras e as interações entre os pares?
Os grupos? Será que todas as crianças devem fazer tudo ao mesmo
tempo?
Pensar na intencionalidade pedagógica, bem como, no bem-estar das
crianças!
Esses são os motivos que me ajudaram a ressignificar a minha prática
pedagógica e adentrar nas Pedagogias participativas!
Seguimos juntas!

14
BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DA
EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL
É preciso compreender e refletir sobre a visão da criança como
indivíduo e como era sua educação nos primórdios da história. Na
sociedade medieval tradicional não via a criança com bons olhos.
Nesta época não existia a valorização da família ela existia para a
conservação dos bens; a prática comum de um ofício, a criança
tinha que trabalhar desde cedo. Na verdade, a criança era vista
como um adulto em miniatura, não havia distinção entre crianças
e adultos, usavam os mesmos tipos de trajes e de linguagem, bem
como na questão da educação, não haviam privilégios para a
criança, ambos recebiam os mesmos ensinamentos.
Essa visão que se tinha da criança passa a se modificar social e
intelectualmente após a Idade Moderna, a Revolução Industrial, o
Iluminismo e a constituição de Estados laicos, porém apenas a
criança nobre era tratada melhor, diferentemente da criança
pobre.
De um ser sem importância a criança passa ser um indivíduo de
grande relevância na sociedade, com diretos que precisa ter suas
necessidades físicas, cognitivas, psicológicas, emocionais
supridas.

15
Eis que no início do século XX, houve um
grande avanço....importantes mudanças de
concepção de infância...

A Educação Infantil começa a ser reconhecida no Brasil, ao


ser integrada para a fase da Educação Básica, através da
Constituição Federal em 1988. Antes disso, como foi dito,
a infância era vista apenas como uma fase de
assistencialismo, ou seja, a educação não era voltada para
emancipação e autonomia da criança, mas sim para o seu
cuidado médico, higiênico e de alimentação.

A LDB e a educação infantil


Embora a educação para crianças de zero a cinco anos já
fosse assegurada na Constituição Federal de 1988 e no
Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, a inserção
deste direito na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira (LDB), sancionada em dezembro de 1996,
representa um marco histórico para a educação infantil no
Brasil.

16
Ao reconhecer a educação infantil como a primeira etapa
da educação básica, a LDB 9394/96 reafirma a
importância da aprendizagem nos primeiros anos de vida
como processo fundamental para “desenvolver o
educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável
para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para
progredir no trabalho e em estudos posteriores”.

No século XX, John Dewey foi considerado um dos


maiores pedagogos do seu tempo, pois ele se opunha à
concepção tradicional de formar o individuo para um futuro
melhor, sendo assim, a aprendizagem partiu do
pressuposto da realidade e necessidade da criança, do que
faz parte de seu contexto, meio social.

17
O pensamento de Dewey sobre a educação é que esta é a própria vida,
assim é fundamental que a escola propicie um ambiente o mais
próximo da realidade cotidiana vivenciada pelos sujeitos. Por outro
lado, na contramão dos ideais de Dewey, estavam a Gestão Científica
da Educação, liderados por "Henry Ford" e "Frederick Winslow
Taylor", que se preocupavam apenas em conceber meios para que a
capacidade produtiva dos homens e máquinas atingisse seu patamar
máximo. Para tanto, eles acreditavam que estudos científicos
minuciosos deveriam combater os problemas que impediam o
incremento da produção, ou seja, eles estavam preocupados em
aumentar os lucros, no desempenho das máquinas e do trabalho, e de
como poderiam desenvolver uma indústria, buscando a educação das
massas focados na produção, e nos resultados. E todos começam a
comprar as ideias de Taylor e Ford, infelizmente.

18
Diante da disseminação das ideias de Taylor e Ford, foi
reconhecida pelos governos, a Pedagogia Tradicional para
atender às massas, focada nos resultados. Porém, para se
desenvolver a Gestão Científica, o indivíduo precisa executar
bem as atividades, e não é necessário ser inteligente, reflexivo,
crítico em suas escolhas no decorrer da sua vida, como proponha
os ideias de Dewey.
Em 1988, quando a Educação Infantil entra para a primeira
etapa da Educação Básica, muitas práticas pedagógicas
defendidas no ensino fundamental foram trazidas para a
Educação Infantil, que vigora em muitas escolas das infâncias
até hoje.
Muitas escolas das infâncias, defendem uma Educação Infantil
baseada em metodologias engessadas, sequências didáticas,
mecânicas e nada significativas para as crianças dessa faixa
etária.
Em 2009, surge a Revisão das Diretrizes Curriculares
Nacionais, um documento que regulamenta um novo olhar para
as infâncias, que fala em experiências significativas, espaços,
tempos e materiais, cotidiano, brincadeiras e interações como
norteador das práticas pedagógicas com as crianças, o
planejamento tendo como centro a crianças, e seus interesses, o
professor como mediador da aprendizagem, etc.
19
Em 2017, eis que surge a BNCC- Base Nacional
Comum Curricular.
Foi um grande presente, mais um documento
orientador que nos traz diversas formas de pensar as
práticas na Educação Infantil, baseadas no cotidiano
vivido, os campos de experiências, entrelaçados pelas
Pedagogias participativas, defendidas por Paulo
Freire, John Dewey, Celestin Freinet, Júlia Oliveira
Formosinho, entre outros.
Quantos caminhos a Educação Infantil percorreu para
chegar até aqui...
E ainda, precisamos avançar!
Desconstruir para construir!
Respeitar todo processo vivido pela educação das
infâncias, porém buscar uma Educação
transformadora, respeitosa e significativa nas escolas
das infâncias.

20
Todas nós, professoras de educação Infantil, estamos
impregnadas das teorias e práticas das pedagogias
transmissivas e tecnicistas, onde o professor é o detentor
do saber, ou seja, aquele que somente transmite
conteúdos. Aqui, nas Pedagogias Transmissiva, como o
próprio nome já diz, o professor apenas transmite seus
conhecimentos. A prática por essa linha pedagógica, é
baseada em memorização e exercícios frequentemente
repetitivos, a criança não é vista como protagonista no seu
aprendizado, o planejamento é pautado em conteúdos e
datas comemorativas.

Entretanto, a prática pedagógica alicerçada nas


Pedagogias Participativas ou ativas, a educação é focada
na criança. Considera como fator importante como ocorre o
processo de aprendizagem e como se constrói o
conhecimento. A criança é considerada e respeitada como
sujeito histórico e de direitos. Ela é vista como ser potente
e capaz, professores e crianças caminham de mãos dadas.
21
É PRECISO REPENSAR...
VELHAS PRÁTICAS NA ESCOLA...
O ano é 2023!

Não faça carimbo de mão, isso não


é arte! 22
É URGENTE, REPENSARMOS NOSSAS
PRÁTICAS NO COTIDIANO DA EDUCAÇÃO
INFANTIL PARA NOS MANTERMOS EM VOO
CONSTANTE.

Nesse processo de mudança, precisamos nos


desprender de práticas do passado para
ressignificar o nosso olhar para as infâncias,
bem como, o que sabemos e o que fazemos
com as nossas crianças.

23
Diga não as
"ATIVIDADES NA
EDUCAÇÃO
INFANTIL QUE NÃO
VALORIZAM A
CRIATIVIDADE E A
SENSIBILIDADE DA
CRIANÇA"!

Acredite na sua capacidade de


buscar uma nova forma de estar
com as crianças na Educação
Infantil em escolas públicas ou
privadas. Se eu consegui, você
também consegue!
Comece hoje!

VAMOS NOS DESPRENDER DAS


VELHAS PRÁTICAS ?
24
Topa ressignificarmos juntas as nossas
práticas na escola das infâncias?

É preciso se desprender dessas velhas


práticas, alegando ser arte, como:

O famoso
CARIMBO DE MÃOS!
É tempo de repensar o que entendemos por criança,
infância, senso estético e Educação Infantil!

25
Educação Infantil não é produção,
produto final!
Tudo é um processo...

VALE LEMBRAR: " Atividades mecânicas", estereotipadas e


que não reconhecem a criança como sujeito histórico e de
direitos, anula os direitos das crianças, bem como, seu
protagonismo, e aprendizagem.
O que os documentos normativos da Educação infantil,
nos orientam:

Na Educação Infantil, temos documentos mandatórios


que respaldam as nossas práticas, nada do que fazemos
com as crianças na escola é por achismo. Observe:

26
"Não são novos nomes
para velhas práticas."
Maíra Braga

27
A Nomenclatura
na Educação infantil

RESSIGNIFIQUE na Educação
Infantil..

ALUNO CRIANÇA

SALA DE AULA SALA REFERÊNCIA


COTIDIANO
ROTINA E/OU
JORNADAS
PROPOSTAS,
ATIVIDADE
EXPERIÊNCIAS,
DO DIA
SESSÃO

CANTINHOS CONTEXTOS

28
A partir da interpretação do documento oficial, é urgente que
repensemos o que proporcionamos as nossas crianças todos os
dias. Será que estamos ferindo os seus direitos previstos em lei?
Estamos valorizando os princípios estéticos? A criatividade da
criança? As suas manifestações artísticas e culturais? Ou será
que estamos ofertando atividades estereotipadas, mecânicas, e
que apaga a singularidade de cada criança na escola das
infâncias?
A famosa
RODINHA
na Educação Infantil.
Todos os dias do mesmo jeito, e de forma mecanizada.
A prática da rodinha, em que todas as crianças têm que esperar
a sua vez de falar, e de se expressar...
Também, precisamos ressignificar!

29
Não é que pararemos de fazer rodinha, a Base nacional Comum
Curricular- BNCC, nos diz sobre a organização das crianças em
pequenos grupo.
Professoras, podemos convidar as crianças em pequenos grupos, ou
no coletivo para conversar de forma tranquila e participativa. Acaso,
alguma criança não queira participar dessa assembleia, desse
momento e queira brincar nos contextos da sala referência, por
exemplo, deixe-a. Em outro momento, a professora pode conversar
com aquela criança, convidar outra criança que nunca participa da
roda interativa para ouvir uma música, uma história, ou opinar sobre
à pesquisa do grupo, ou qualquer outro assunto que possa surgir
naquele grupo de crianças.

Decoração da
sala
referência
com ENFEITES
de E.V.A

30
A sala referência, como o nome mesmo já diz, é lugar de intimidade,
pertencimento, brincadeiras, explorações, descobertas, investigações. É nela
que acolhemos os bebês, as crianças, portanto, deve ser pensada em cada
detalhe com intencionalidade.
É preciso ter em mente, que cada coisa que colocamos nela, tem uma razão de
ser, e tem fundamentos baseados nos princípios: éticos, estéticos e político
que os documentos legais nos orientam, citados nas Diretrizes Curriculares
Nacionais para a EducaçãoInfantil- DCNEI, e no Parecer n.º 20/2009.
Ao adentrar nos estudos das Pedagogias Participativas, nos faz pensar em
ressignificar a concepção de criança, de aprendizagem, de infância, de escola,
de currículo, de prática pedagógica, e nos convida a tecer um novo olhar para a
concepção de espaço.
Agora, será mesmo que a sala referência de educação infantil precisa de
decoração?
Será que precisamos decorar a sala referência com cartazes de E. V. A estampados
com desenhos estereotipados, ou de personagens com cores fortes, como se fosse
uma preparação para um buffet de festa? 31
Faz sentido a gente decorar paredes da sala referência
com cartazes de E.V.A, sendo que as paredes devem ser
usadas para expor as pesquisas e investigações das
crianças?
Como poderemos privilegiar as produções das crianças,
da sua cultura local?
Será que esses enfeites de E.V.A como: calendários,
aniversariantes do mês, do tempo representam as
pesquisas das crianças? Respeitam as preferências das
crianças? Quem habita, quem vive na sala referência? E
o protagonismo infantil?

Os enfeites de E.V.A nas paredes são compostos por temas


variados escolhidos pelos adultos, com personagens de desenhos
animados e estereotipados, e com temas variados.
Mas, o que comunicam esses cartazes?
Qual a concepção de criança e infância essas práticas reforçam?
Há quanto tempo se faz esse tipo de decoração na educação
infantil?
A escola valoriza as construções das crianças?
32
Por que não decorar as paredes da
escola das infâncias com cartazes
de E.V. A?

Decorações em E.V.A não valorizam as produções das crianças, mas as


dos adultos;

Decoração em E.V.A nas paredes das escolas denotam uma concepção de


criança, infância que não dialogam com os documentos legais e com os 6
direitos das crianças;

Decoração em E. V. A nas paredes das escolas não valorizamos processos de


criatividade, e expressão das crianças;
Decoração em E. V.A nas paredes das escolas não valorizam as culturas
plurais e as especificidades das crianças. 33
Então, eu costumava cantar músicas com as crianças para incentivá-las a : lavar
as mãos, lanchar, para se organizar em fila e para ensinar conteúdos, ( higiene,
alimentação). Ex. A cantiga: O que tem na sola do neném?
Será que a música é sempre para ensina algo às crianças?
Quais os ritmos musicais que permeiam as culturas infantis?
É algo do consumo?
E as músicas contemporâneas?
O que é música para a infância, deve ser sempre infantilizada?
Quais os sons, os ritmos? A música é vista somente para entreter a criança?
Não sou contra aqueles que utilizam as canções de consumo com as crianças,
mesmo sabendo que nem tudo que é consumível é de qualidade para elas.
Acredito que o papel do professor, é ampliar o repertório musical das crianças,
não esquecer que em casa as crianças escutam músicas dependendo da cultura
de cada família, e não podemos negar essa cultura quando a criança chega na
escola.
É na escola que a criança terá a oportunidade de ampliar seu repertório musical, de
referências sonoras, diversos tipos de instrumentos de culturas diferentes.
Mas, o que trazer de repertório para as crianças?
Podemos começar a pensar sobre as música presentes no cotidiano da criança, sons
do corpo da criança, do seu entorno, da sua cultura regional. Ex. Aqui na Bahia,
temos diversos tipos de músicas e ritmos musicais: Axé, Samba, músicas da cultura
africana, indígenas, e ainda, podemos expandir para outros gêneros musicais:
músicas clássicas, MPB, entre tantos outros, dependendo da sua região, país.
A criança que defendemos é PROTAGONISTA, ATUANTE, ela experimenta,
pesquisa, investiga!

34
A música como
prática de comando
na Educação
Infantil.

" Meu lanchinho, meu lanchinho,


Vou comer, vou comer,
Pra ficar fortinho, pra ficar fortinho e crescer"...!

Qual o lugar da música na Educação Infantil?


Eu, como muitas outras professoras, já usei a música na Educação Infantil como
prática de comando. Hoje, me desconstruindo e tecendo um novo olhar para as
infâncias tenho me libertado de tantos conceitos e achismos. "Todo mundo faz,
vou continuar fazendo", acontece que a gente estuda, a gente desperta, e começa
a se questionar?
O que diz as diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil sobre as
práticas pedagógicas nessa questão:" Favoreçam a imersão das crianças em
diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas
de expressão gestual, verbal, plástica, musical, dramática, p. 25, e acrescenta,
propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e
tradições culturais brasileiras, p. 27.
O que era, e ainda é bastante comum e tradicional, a utilização da música na
Educação Infantil para exercer a prática de comando com as crianças, sem
nenhuma reflexão ou quicá uma contextualização, são também velhas práticas das
Pedagogias Participativas.
Por que tudo na Educação Infantil deve ser infantilizado? 35
A velha prática da
ATIVIDADE DO DIA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL

É urgente e necessário rompermos com velhas práticas nas escolas de Educação


Infantil, neste caso, a prática de 1 atividade do dia. A professora planeja a semana,
ou quinze dias com obrigatoriedade de se oferecer uma atividade a cada dia, a partir
de temas, conteúdos, sequência didática, ou projetos das turmas.
Nas Pedagogias Tradicionais, o momento da "atividade do dia", acontece da seguinte
maneira: enquanto as crianças estão brincando na sala com algum brinquedo ou
colega, a professora vai chamando um a um, para garantir que todos façam aquela
atividade que foi planejada a qualquer custo, TODOS DEVEM FAZER QUERENDO
OU NÃO! Depois, que terminam a tal atividade do dia, a criança volta a brincar.
Vale lembrar, que nos planejamentos, são colocados os objetivos de aprendizagem
como se as crianças tivessem que atingir aquele objetivo a ferro e fogo. Sendo, que
não temos de mensurar se a criança chegará ou não naquele objetivo, ou até mesmo
ultrapassá-lo. Na verdade, nunca saberemos, pois as crianças nos surpreendem a
todo momento.
Precisamos nos interrogar se essas "atividades do dia"
ofertadas de forma mecânica, estão alinhados com
36
documentos legais da Educação Infantil?
As famosas
FILAS para organizar
as crianças na
Educação Infantil.

É preciso repensar a maneira que as crianças devem se deslocar na


escola das infâncias. Até quando iremos disciplinar e engessar seus
corpos?
Sabemos que a fila está no cotidiano, na organização da sociedade.
Claro!
Na vida cotidiana, nós adultos, fazemos filas no banco, em
supermercados, lotéricas, etc.
Todavia, não estou dizendo que a fila é algo ruim, e que devemos
deixar as crianças soltas, empurrar o outro... Pelo contrário, sabemos
que a organização faz parte do nosso cotidiano dentro e fora da escola.
Porém, tenho um olhar sensível em relação a essa à prática dentro da
escola, pois acredito que é um espaço de trocas, interações,
brincadeira. É preciso a troca de ideias entre os seus pares, o
companheirismo, a liberdade, as conversas, os abraços, mão dadas.
Enfim...
Se as crianças estiverem SEMPRE subordinadas as filas, como irão
compreender que podem transitar, caminhar na escola de forma livre e
leve? A escola é da criança, feira para elas! 37
É preciso todo esse CONTROLE dos corpos das crianças, ou será que
estamos reproduzindo práticas tradicionais rígidas para exercer um suposto
controle das crianças?
As filas são limitadoras e as crianças são múltiplas, cada uma tem seu
período de maturação, seus tempos, suas culturas.
Somos todos iguais?
Será que as crianças precisam beber água, ir ao banheiro, ir ao refeitório
sempre em fila?
Precisamos fazer uma reflexão acerca desse assunto. Há séculos, as
crianças se organizam na escola por filas, sendo mandadas, e enformadas.
O que costumo fazer com as crianças, ao invés de enfileirar todas de uma só
vez:
Converso e explico as crianças sobre as suas necessidades e vontades,
tenho oportunizado relações com mais autonomia.
Oportunizo situações reais de resolução de problemas, de exercício da
cidadania: ex. Tenho crianças de 3 anos, que já vão ao banheiro sozinhas, e
quando sentem vontade de fazer alguma necessidade sem que houvesse
algum problema... Aproveito, e fico por ali observando, se acaso, a criança
necessite da minha ajuda.
Deixem que as crianças vivam o cotidiano na escola como viveriam em
qualquer lugar.
Busque dialogar em grupos, ouvi-las nas suas questões.

Segundo Michel Foucault: " As filas servem para


adestrarmos nossos corpos".
Exercer o poder de disciplinar as crianças,
vigiar sem ser visto".
38
Breve explicações sobre: O que nos orienta o CURRÍCULO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL?

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação


Infantil, p.12,

"O currículo da Educação Infantil é concebido como um


conjunto de práticas
que buscam articular as experiências e os saberes das crianças
com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural,
artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover
o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos".
Dito isto, conforme nos orienta as Diretrizes Nacionais para a
Educação infantil, todo o foco é centralizado nas experiências
das crianças, além de definir a criança como sujeito de
direitos.
A concepção de Currículo adotada pelas DCNEI e a Base
Nacional Comum Curricular, consideram o cotidiano como um
catalisador de experiências de aprendizagem vivenciadas pelas
crianças diariamente nas instituições.
Isso porque, nas situações ordinárias da vida, no cotidiano,
ocorrem aprendizagem que serve de vias de acesso para a
compreensão dos funcionamentos sociais que são construídos
e que constroem a relação das crianças com o mundo.
Livro: A Pedagogia do Cotidiano na e da educação infantil.
39
Desse modo, nas vivências cotidianas com as crianças na escola das
infâncias, podemos observar suas culturas plurais, pensar nos espaços, nas
relações, nos materiais, interações, e também nos campos de experiências
de maneira entrelaçada, e podem ser vivenciados pelas crianças através de
suas experiências vividas.
Diante de um Currículo baseado em práticas e experiências, é impossível
que as crianças vivenciem práticas escolarizantes, pautadas em atividades
mecânicas e sem relevância, ou em atividades movidas pelo calendário. Pois
sabemos, que a criança é foco, e não o conteúdo.
No Currículo pautado em práticas que buscam articular as experiências e os
saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio
cultural que permeiam as EXPERIÊNCIAS das crianças, com base nos
campos de experiências, como o próprio nome já indica- vivenciar
experiências de aprendizagens, bem como, garantir que elas exerçam os
seus direitos.
A vida cotidiana vivida na escola das infâncias, traz experiências
significativas e promotoras de aprendizagens, como, por exemplo: A troca
de fralda, o momento de tomar banho, a hora do almoço, a hora do lanche e
toda e qualquer experiência é carregada de aprendizagem!
Não esqueçam que o CURRÍCULO é o cotidiano que pulsa como fio
condutor para organização educativa previstos pelos documentos
mandatórios.

40
É chegada a hora de refletirmos acerca de
velhas práticas, rompendo com velhos
pensamentos. A educação infantil não deve ser
um espaço de reprodução, somente porque
sempre foi feito desse jeito, precisamos alargar
nossos olhares.
A educação infantil, deve ser um espaço de
reflexão, de pesquisas, de repensar o currículo,
os nossos planejamentos, a nossa concepção de
criança e infância.

41
3. VOCÊ ESTÁ RESPALDADA NA
LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO
INFANTIL NO BRASIL

42
NÃO TENHA MEDO DE ADENTAR NAS
PEDAGOGIAS PARTICIPATIVAS,

POIS VOCÊ ESTÁ AMPARADA E


RESPALDADA!

Nós, professoras das infâncias, que estamos adentrando


nas Pedagogias participavas não devemos ter medo, pois
temos documentos norteadores que amparam nossas
práticas. Esses documentos legitimam nossas práticas
pedagógicas pautadas nas Pedagogias Participativas em
escola públicas e privadas.
Portanto, através da Legislação da Educação Infantil, você
pode defender e ter bons argumentos para justificar o que
você faz com as crianças no cotidiano.
Tenho certeza que sabendo que está amparada pela
Legislação, você se sentira mais segura e preparada para
começar a colocar em prática tudo aquilo que você
aprendeu...!

43
O QUE PREVÊ A DOCUMENTAÇÃO?

Devem ser pensadas experiências levando em consideração a concepção de


criança que os documentos norteadores da infância as concebem. Conforme as
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil – DCNEI 2009, p.86,
criança é:
"Sujeito histórico de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas
que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina,
fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona, constrói
sentidos sobre a natureza e as sociedades, produzindo cultura".
Nos diz também que:
“Currículo é um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os
saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio
cultural, artístico, científico e tecnológico.”
Complementa quando diz:
“Em relação a qualquer experiência de aprendizagem que seja trabalhada pelas
crianças, devem ser abolidos os procedimentos que não reconhecem a atividade
criadora e o protagonismo da criança pequena, que promovam atividades
mecânicas e não significativas para as crianças." Cabe à professora e ao
professor criar oportunidade para que a criança, no processo de elaborar sentidos
pessoais, se aproprie de elementos significativos de sua cultura não como
verdades, mas como elaborações dinâmicas e provisórias."
Desde quando comecei a ressignificar minhas práticas das Pedagogias
Transmissivas para as Pedagogias Participativas, muitas vezes tenho sido
questionada, inclusive, até hoje.

44
A partir do momento, que comecei a colocar em prática tudo que tenho
aprendido até hoje, os trabalhos por contextos e que tipo de proposta
seria essa, que para ser sincera nada tem de novo foram surgindo olhares
de indiferença, questionamentos, perguntas e mais perguntas...
Hoje, ainda sou vítima de julgamentos, tais como:
-Ah, que besteira enfeitar a porta...
— Ah, no papel tudo é bonitinho...
- As crianças ficam muito soltas...
— Tudo isso é invenção, é pedagogia do modismo!

Confesso que não é fácil ouvir esses comentários de colegas de profissão,


e também de outras pessoas.
Quando comecei a transformar o espaço da sala referência, fui percebendo
o quanto as pessoas julgavam, pois, não entendiam o que estava
acontecendo ali...
Na minha escola, tive a oportunidade de mostrar os trabalhos por
contextos numa Formação que ministrei em abril de 2023, oportunizada
pela equipe gestora, e minha coordenadora!
A partir dessa formação, me senti mais segura para continuar, seguir em
frente de cabeça erguida na certeza de que estou fazendo tudo conforme a
Legislação.
Apesar de todos os olhares de desconfiança e comentários maliciosos,
sigo mantendo minhas práticas com as crianças, e tento entregar para elas
o meu melhor todos os dias, incansavelmente!
45
Há quase 3 anos, estou mergulhada nos estudos sobre as Pedagogias Participativas,
e sobre os contextos que colaboram para que eu tenha uma prática mais significativa,
e autoral com as crianças. E acima, de tudo com CONTINUIDADE, sem fragmentar a
aprendizagem da criança.

Fácil não é, e nunca será!

Espero que esse capítulo lhe ajude a caminhar com as crianças de forma
segura. Não tenha medo de ser questionada, de ter que responder
perguntas a qualquer momento!

Não se esqueça, você está amparada na


Legislação.

Em relação à prática com contextos, e sobre o protagonismo da


criança em seus processos de aprendizagem na escola, trago aqui
um trecho do PARECER CNE/CEB n.º 20/2009 para as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil que
diz:
“As instituições de Educação Infantil devem oferecer tanto espaço limpo,
seguro e voltado para garantir a saúde infantil quanto se organizar como
ambientes acolhedores, desafiadores e inclusivos, plenos de interações,
explorações e descobertas partilhadas com outras crianças e o professor.
Elas ainda devem criar contextos que articulem diferentes linguagens e
que permitam a participação, expressão, criação, manifestação e
consideração de seus interesses.” 46
Complementa quando afirma:
“Em relação a qualquer experiência de aprendizagem que seja
trabalhada pelas crianças, devem ser abolidos os procedimentos
que não reconhecem a atividade criadora e o protagonismo da
criança pequena, que promovam atividades mecânicas e não
significativas para as crianças."
Nessa perspectiva, as Diretrizes trazem os três princípios para
as propostas pedagógicas que são: ÉTICOS, POLÍTICOS E
ESTÉTICOS.
Os princípios fundamentais nas Diretrizes anteriormente
estabelecidas (Resolução CNE/CEB n.º 1/99 e Parecer
CNE/CEB n.º 22/98) continuam atuais e estarão presentes
nestas diretrizes com a explicitação de alguns pontos que mais
recentemente têm se destacado nas discussões da área.
Princípios Éticos: valorização da autonomia, da responsabilidade, da
solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às
diferentes culturas, identidades e singularidades. Cabe às instituições
de Educação Infantil assegurar às crianças a manifestação de seus
interesses, desejos e curiosidades ao participar das práticas educativas,
valorizar suas produções, individuais e coletivas, e trabalhar pela
conquista por elas da autonomia para a escolha de brincadeiras e de
atividades e para a realização de cuidados pessoais diários.
47
Princípios Políticos: direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do
respeito à ordem democrática. A Educação Infantil deve trilhar o caminho de
educar para a cidadania, analisando se suas práticas educativas de fato
promovem a formação participativa e crítica das crianças e criam contextos
que lhes permitem a expressão de sentimentos, ideias, questionamentos,
comprometidos com a busca do bem-estar coletivo e individual, com a
preocupação com o outro e com a coletividade.
Princípios Estéticos: valorização da sensibilidade, da criatividade, da
ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais. "O
trabalho pedagógico na unidade de Educação Infantil, em um mundo em que
a reprodução em massa sufoca o olhar das pessoas e apaga singularidades,
deve voltar-se para uma sensibilidade que valoriza o ato criador e a
construção pelas crianças de respostas singulares, garantindo-lhes a
participação em diversificadas experiências".
A Base Nacional Comum Curricular- BNCC, também respalda a prática por
contexto e Pedagogias Participativas, a partir dos DIREITOS DE
APRENDIZAGEM E DOS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS. Tendo em vista os
eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as competências gerais da
Educação Básica propostas pela BNCC, seis direitos de aprendizagem e
desenvolvimento asseguram, na Educação Infantil, as condições para que as
crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel
ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se
provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si,
os outros e o mundo social e natural.
Você, tem alguma dúvida do quanto estamos amparadas pela Legislação de Educação
Infantil? Que podemos ser livres para começar novas práticas com as Pedagogias
Participativas?
48
4. COMPARTILHANDO PRÁTICAS
PAUTADAS NAS
PEDAGOGIAS PARTICIPATIVAS

49
VAMOS COLOCAR EM
PRÁTICA?

Relato de experiência de uma professora


participativa numa escola pública.

50
Compartilho com vocês alguns caminhos para começarem a colocar
em prática tudo que já aprenderam com as Pedagogias
Participativas.
O planejamento de contextos, é o que mais abordamos na nesta
pedagogia.

Vamos começar falando sobre o PLANEJAMENTO DE CONTEXTOS.

A prática por contextos é muito desafiadora, a cada dia vamos lapidando nosso olhar e a
nossa prática no cotidiano, vencendo os desafios que muitas vezes aparece no caminho.
Todavia, algumas questões relacionadas ao trabalho por contextos, é a decisão de manter ou
não um contexto, quando retroalimentar, quais materiais utilizar, tem gerado muitas
dúvidas, inquietações principalmente nas educadoras que estão começando os estudos e a
prática com espaços educadores.
A prática pedagógica por contextos, exige de nós: estudos constantes, buscar formações
constantes, determinação, coragem, olhares para dentro e fora da sala referência,
sensibilidade, compromisso e principalmente escuta, registro e reflexão.

Afinal, o que é contexto de aprendizagem?

"Os contextos são espaços/lugares entremeados com elementos que provocam desafios nas
crianças. Entendemos por contextos de aprendizagem como uma maneira rica de construir
relações, uma relação que investiga, que faz perguntas, que ativa o pensamento, que faz
reconhecer por meio de todos os sentidos, uma maneira de tornar visível a intencionalidade
da educadora" pg.32.
(Trecho do livro: Construção e Construtividade)

Para o professor e doutor Paulo Fochi:


" A ideia de planejamento não está direcionada a um conjunto de aulas ou atividades e,
tampouco, a propostas relacionadas às datas comemorativas. Planejar é fazer um esboço
mais amplo sobre a gestão do tempo, sobre a organização dos espaços, sobre a oferta de
materiais e sobre os arranjos dos grupos. Esses quatro itens (tempo, espaço, materiais e
grupo), aliados ao tipo de intervenção do adulto, resultam no que acredito serem as
grandes categorias da pedagogia da infância (Fochi, 2015). 51
A prática pedagógica por contextos, enquanto as crianças brincam, elas aprendem, se
desenvolvem, fazem descobertas, se relacionam, aprendem novos conceitos, novas ações,
fazem pesquisas, investigam, desenvolvem autonomia, resolvem problemas, etc.
Os contextos devem respaldar os 6 direitos de aprendizagem e também os campos de
experiências.
Mas, como enxergar aprendizagem para alimentar sua curiosidade e pesquisa? Como
compreender como as crianças se apropriam do conhecimento?

Como descobrir e alimentar a pesquisa do seu grupo? Se, antes a nossa tarefa era
pesquisar assuntos e expor, transmitir conteúdos para as crianças, aqui nós
estaremos no processo de descoberta com elas. Nos trabalhos por contextos,
saberemos o momento certo de quando e como mediar, permitindo que as crianças
sejam protagonistas de sua aprendizagem.
E como se dá a organização do cotidiano?
Para planejar contextos no início do ano, você deve compreender esses princípios:
CONHEÇA SEU GRUPO DE CRIANÇAS
É importante compreender as preferências das crianças do seu grupo, os interesses
mais profundamente. Porém, todas essas ações só será possível através da
observação e escuta das crianças continuamente.
É preciso estar presente com elas no cotidiano para compreendê-las, e
enxergar o que elas nos trazem através de suas ações, suas brincadeiras e
suas interações com outro.

IDENTIFIQUE E ESTUDE A FASE DE DESENVOLVIMENTO DE


SUA FAIXA ETÁRIA DE CRIANÇAS
Depois, de conhecer os interesses do seu grupo. É hora, de identificar a fase de
desenvolvimento da faixa etária das crianças, buscando aprofundar os
conhecimentos sobre o desenvolvimento na primeiríssima infância. Busquem por
estudos constantes, estudem a BNCC, abordagem Pikler, para embasar os próximos
questionamentos e pesquisas das crianças.
52
Depois, você vai alimentando, mudando, transformando os espaços
conforme os movimentos das crianças e de sua documentação pedagógica.
Planejar contextos não é apenas sobre organizar o espaço. Alguns
aspectos são essenciais para haver harmonia e significado para o espaço.
Exige muita reflexão por parte do educador, que deve estar em parceria
com as crianças e acompanhar o processo vivido pela crianças.
ORGANIZE O ESPAÇO, FAÇA A CURADORIA DOS MATERIAIS

Depois, de conhecer os interesses do seu grupo, identificar a fase de


desenvolvimento da faixa etária das suas crianças. Agora, é hora de se preocupar
com os espaços da sala referência, e com os espaços externos da escola. Em se
tratando do espaço, é preciso se preocupar com a estética, com a organização, com
a curadoria dos materiais que serão oferecidos para as crianças. É preciso
planificar os contextos para ter uma noção da quantidade de contextos com a
quantidade do grupo. Tudo deve ser minuciosamente pensado!
Na abordagem de Reggio Emilia o espaço é o terceiro EDUCADOR!!!!

Tenha INTENCIONALIDADE PEDAGÓGICA em tudo!


Todo contexto dentro da sala referência ou fora dela, deve ser pensado,
planejado com intencionalidade.
Na prática com contextos tudo é criteriosamente planejado e planificado,
bem como, centrado nos interesses e pesquisas das crianças.

TER SENTIDO DE CONTINUIDADE


Todo contexto dentro da sala referência ou fora dela, deve ser
retroalimentado com continuidade nas pesquisas das crianças.
Não tenha medo de oferecer o mesmo material e a mesma organização
de contextos até que cesse o interesse das crianças.
53
Qual o papel do adulto na prática
com contextos de aprendizagem?

O adulto: Observa, registra e reflete as ações das crianças;


Escuta e Comunica. Faz Documentação Pedagógica. Já dizia Loris
Malaguzzi: " O que não se vê não existe."
Realiza curadoria dos materiais e a organização do espaço.

Vou dar um exemplo na


prática de organização do
contexto CONSTRUÇÃO:
É essencial, definir a quantidade de
crianças, a quantidade de material
para cada criança, para que nenhuma
saia em desvantagem. Todas as
crianças precisam ter acesso aos
materiais no contexto. A educadora
deve definir onde será montado esse
contexto: no chão, em cima de um
tapete, em cima de um pallet ou um
emborrachado. Em seguida, definir os
conceitos de aprendizagem que você
imagina que as crianças possam
aprimorar: empilhar, atenção,
autonomia, altura, equilíbrio, etc.
E por fim, definir o que você vai
observar e registrar. Na verdade,
depois que monto todo esse processo,
costumo imprimir a planilha do
planejamento de contexto, e pendurar
próximo do espaço para que as
crianças e adultos possam consultar,
se quiserem!

54
Como organizar o planejamento de contexto?
Na verdade, não existe uma regra para colocar tudo isso no papel, vocês
podem fazer em forma de tabela, tópicos, mapas, ou da forma que mais achar
melhor! Eu costumo fazer o meu planejamento em forma de tabela, pois acho
mais acessível e prático. Nessa tabela, eu escrevo a data, o nome dos
contextos, os materiais, o espaço, o quê será observado, as perguntas que
nortearão a minha observação.

Em suma, PLANEJAR POR CONTEXTOS...

Perguntas
GRUPOS dos adultos

Organização
do espaço

Conceitos

Seleção
dos
materiais

Perguntas Investigação Intencionalidade


das crianças Infantil pedagógica

55
Após, todo esse processo, cabe ao educador enxergar as descobertas, as experiências, os
encantamentos das crianças.
Que possamos ofertar as crianças materiais e espaços adequados e potentes para que as
crianças não abandonem suas pesquisas e suas brincadeiras.
Jamais esqueça de observar e registrar as aprendizagens das suas crianças de forma
tranquila, significativa e respeitosa. É imprescindível realizar a documentação pedagógica.

Como documentar o que as crianças vivenciam na escola?


De que documentação estamos falando? O que é documentar na educação
infantil?
Na educação infantil, é preciso fazer registros, observar as crianças, portanto, a
documentação chega como uma estratégia pedagógica que permite ao professor acompanhar
os processos de desenvolvimento e aprendizagem dos bebês e crianças... Através do
processo de documentar, é possível observar, refletir sobre o vivido no cotidiano com as
crianças e sobre a própria criança, e também sobre as ações do professor. O que isso quer
dizer?
Que tudo que registramos e documentamos tem sentido, nada se dá por acaso.
Na prática, para realizar esse processo documental, é preciso que o professor, observe
muito as crianças, conheça as peripécias das crianças do seu grupo, os interesses das
crianças, o que passa no imaginário das crianças do seu grupo, quais as pesquisas das
crianças, o que elas fazem, do que gostam de brincar, quais narrativas surgem no cotidiano.
Nesse sentido, a Documentação Pedagógica, é algo que vai além de registros esporádicos,
aqui estamos falando dos percursos trilhados pelas crianças sobre suas ações, interação,
brincadeiras, pesquisas.
E esse processo documental, é contínuo, diário. Aqui se faz necessário, OBSERVAR,
REGISTRAR, REFLETIR sobre os caminhos que as crianças resolveram percorrer, bem como,
os materiais, os espaços, ambientes. O professor pensa um caminho, mas muitas vezes, as
crianças nos mostram outros.

56
A DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA, nos dá toda a direção do que propor para as
crianças. Inclusive, como e o que planejar, quais espaços propor, quais contextos
ofertar para as crianças.
Na verdade, é o VIVIDO NO COTIDIANO!
Através dessa documentação do vivido, iremos ter matéria-prima para escrever os
relatórios da turma, sendo eles individuais ou coletivos.
Como eu já disse, é um processo contínuo, autoral, exige refinamento do olhar,
estudo, reflexão, e quem alimenta todo esse DOCUMENTAR, são as crianças.

No trecho do livro: Documentar: Um novo olhar, P.22, 2021 diz:


"A documentação torna visível a teia de relações casuais que ocorrem, talvez em um
momento fugaz, talvez ao longo do processo, na escola. Ao mesmo tempo, permite
mostrá-la, para estabelecer um diálogo com as famílias e aprofundar o sentido de
comunidade."
Para documentar o que as crianças fazem, estejam com elas, observem o que elas
fazem, do que brincam! É complexo, mais vale a pena!
Veja um exemplo abaixo: Uma narrativa da minha turma...

Uma narrativa das minhas crianças no mês maio de 2023. 57


Além, do planejamento de contextos, utilizo
também o planejamento de Sessão, criado pelo
professor doutor Paulo Fochi.

O QUE É O PLANEJAMENTO DE SESSÃO?


Seguem algumas orientações do professor doutor
Paulo Fochi no seu texto: Planejar para tornar visível
a ação educativa, que diz:
"Em um contexto planejado, a outra modalidade do planejamento
é saber propor para pequenos e grandes grupos sessões para
articular os seus saberes com aqueles que a humanidade já
sistematizou". 58
A ideia de sessão está voltada para um espaço de tempo em que um
grupo de crianças está em atividades. Trata-se de um conjunto aberto de
possibilidades que a proposição do adulto pode favorecer aos pequenos.
Essa ideia de planejamento corresponde ao desenho de um percurso
praticável com base em algumas premissas epistemológicas, isto é, se eu
tenho uma imagem de criança capaz de elaborar teorias provisórias, não
estarei preocupado em fazer com que o grupo descubra algo
especificamente, mas que possa dar sentidos pessoais e coletivos para
suas atuações. Por isso, os primeiros passos para reflexão e registro do
professor dizem respeito a dois pontos:

Contexto observado e refletido: significa organizar alguns dados que


indiquem situações, narrativas ou aspectos observados nas crianças em
suas interações no contexto educativo (vale lembrar que estou partindo
da ideia de um contexto que já foi planejado). Os aspectos observados
passam a servir de mote para organizar algumas sessões para que as
crianças vivam experiências intencionalmente planejadas, o que não
significa que estejam fechadas.
2. Hipóteses de aprofundamento e pesquisa: envolve questões
relacionadas ao professor. Por exemplo, ele pode estar se perguntando
que tipos de materiais propõem melhores zonas de aproximação e
produções de narrativas para determinado grupo. Esses dois aspectos do
planejamento de sessão sustentam e tornam coerentes as decisões
diárias que o professor irá propor ao grupo de crianças, evitando, assim,
propostas sem sentido e descontextualizadas.

59
Compartilho com vocês, um sessão na prática:

Neste caso, as crianças do meu grupo se interessam por moradias:


casas, castelos e prédios. A organização do planejamento de sessão,
segue a mesma orientação: A educadora deve se perguntar que tipos de
materiais propõem melhores zonas de aproximação e produções de
narrativas para determinado grupo e de sua pesquisa.
Como assim?
A educadora deve organizar o espaço com sedução estética, pensar nas
curadorias dos materiais, e de que forma acontecerá a sessão.
O planejamento de sessão, vai nos permitir observar, e avaliar os
interesses dos pequenos grupos, exemplo: Todas as crianças do meu
grupo participaram do planejamento de sessão de moradias. 60
Exemplo de planejamento de sessão:
Qual a ideia de moradias vivenciadas pelas crianças?

Durante a sessão, pude observar o que as crianças pensam sobre moradias,


através de suas ações, seus pensamentos, dos materiais que mais manuseavam,
o que elas mais gostam de construir, e sobretudo, quais os grupos de crianças
estavam realmente interessadas na pesquisa sobre moradias. A partir disso,
você irá perceber nas interações com os materiais e com seus pares, os
interesses das crianças, as suas dificuldades, o que precisam avançar, quais
conceitos precisam ser aprofundados.

No planejamento de sessão, utilizo a tabela do Observatório da Cultura Infantil -


OBECI, idealizado pelo professor Paulo Fochi, nessa tabela coloco os seguintes
tópicos:
Dia, Sessão planejada, Organização do grupo e tempo, Organização do espaço e dos
materiais, O que e como será observado, gosto de acrescentar as expectativas de
aprendizagem.

ATENÇÃO: No planejamento de sessão todas as crianças devem


participar, diferente do planejamento de contextos que as crianças
podem escolher para onde querem ir livremente.

Outro planejamento de sessão que realizei com as minhas crianças foi a dos
ROSTOS. Durante as interações no contexto gráfico, as crianças realizavam
desenhos livres, geralmente os rostos de seus familiares com poucos
detalhes, e também sem um critério de proporção, demonstravam
dificuldades na compreensão na localização dos elementos que compõem
nosso rosto.
61
Observem: As crianças realizavam
desenhos livres, porém, quase sempre
se referiam aos seus rostos, os rostos
dos seus familiares, etc.

A partir das observações e registros, ofereci para as crianças uma


sessão com rostos para aprofundamento dos seus conceitos.
Durante a sessão, a professora fala menos e observa mais, e faz as
perguntas certas conforme as possíveis investigações das crianças, ou
de interesses delas. Na sessão, tudo precisa ter sentido, nada deve
ser vazio. Portanto, você vai realizar as perguntas que você planejou e
não perguntas aleatórias que induza as respostas, mas que permita
que a criança reflita sobre o que você disse e possa encontrar suas
próprias soluções dentro do cotidiano.
62
Nessa sessão fiz a seguinte mediação: Vamos criar
nossos rostos?
O que temos no nosso rosto? E como podemos criar os
elementos do nosso rosto utilizando esses materiais?

63
O PLANEJAMENTO DE SESSÃO,
NÃO É SINÔNIMO DE
ATIVIDADE DO DIA!
A forma de planejar, e a valorização do cotidiano na escola das
infâncias está intimamente ligada aos processos que ali acontecem,
todos os dias, todos os momentos. Mas, para que esse cotidiano
possa ser observado e visto, se faz necessário um olhar atento e
sensível aos movimentos dentro da escola, e isso se dará através da
documentação pedagógica.
O planejamento através das Pedagogias Participativas, está ligado
ao todo, ou seja, ao planejamento do próprio cotidiano, tudo o que
acontece na escola, e não apenas na hora da atividade do dia. Todos
os dias, é motivo de registrar, de observar, de se encantar! A partir
do vivido no cotidiano, vamos alimentado nosso processo
documental.

64
Como acontece na prática a
organização do cotidiano?

Em relação aos momentos com músicas ou histórias podem ser oferecidos


diariamente para o grupo que se interessar.
Por exemplo, você pode convidar as crianças a ouvirem uma história
quem se interessar, as crianças que não desejarem ouvir a contação naquele
momento podem continuar nos contextos. Ou a educadora, pode realizar um
planejamento de
SESSÃO, onde todas as crianças participarão do momento de
contação, em pequenos grupos. A prática em pequenos grupos, já vem sendo
defendida na Base Nacional Comum Curricular-BNCC.
Nessa perspectiva das Pedagogias Participativas, as crianças
estarão fazendo coisas diferentes na sala referência.
Enquanto algumas estão no planejamento de SESSÃO, as demais
estarão nos contextos.
Em relação aos horários de café, lanche, almoço e descanso, costumo
seguir os horários definidos pela Instituição.
Segundo Maria Carmen Silveira Barbosa,
A vida cotidiana é a vida mesma; nela estão em funcionamento os sentidos,
capacidades, sentimentos, paixões, ideias, pensamentos. É através das
experiências compartilhadas na vida cotidiana que aprendemos muito daquilo
que usamos para estar no mundo e conviver com os demais, é com essa bagagem
que nos inserimos como copartícipes nos valores e especificidades de nossas
culturas. Construir a experiência, narrar a experiência, aprender da experiência.
Qual o valor de todo o patrimônio cultural, se a experiência não o vincula mais às
crianças?
65
Torna-se necessário, captar os elementos sensíveis da vida cotidiana e
relacioná-los aos processos sociais, históricos e políticos para que os
mesmos façam sentido para as crianças e ofereçam para elas outros
olhares e modos de viver, p.218.
É a partir da vida cotidiana que os bebês realizam suas experiências
iniciais com os objetos, com os amigos, com as pessoas que os alimentam,
com suas brincadeiras e com as histórias que escutam e as músicas que
ouvem. São esses pequenos atos, feitos em conjunto, que dão início à
construção de um mundo real e à formação de um mundo imaginário assim
como à possibilidade de inventar formas dilatadas da vida, ligando as artes
do fazer às artes do viver. Com os adultos e as demais crianças, cada bebê
ou criança aprende maneiras de estar e se relacionar com o mundo, criar
seu estilo de ser p. 219

Se o cotidiano nos traz uma ideia de rotina, daquilo que já é conhecido,


é preciso que nós adultos consiga trazer um certo maravilhamento
desse cotidiano, capaz de levar as crianças a transpor, ir além daquilo
que já está posto.
O cotidiano na escola de infâncias nos convida à reflexão, ao nos mover
num movimento de ir e vir...
Planejar o cotidiano significa, conseguir enxergar uma organização,
capaz de manter um processo de repetição pautado em reflexões de
uma totalidade da vida cotidiana, que considera espaços, tempos,
vivências, relações, ação, experimentação, e acima de tudo
transformação.

66
Segundo a Base Nacional Comum Curricular-BNCC, as
interações e a brincadeira, experiências nas quais as
crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos
por meio de suas ações e interações com seus pares e com
os adultos, o que possibilita aprendizagens,
desenvolvimento e socialização.
A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da
infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e
potenciais para o desenvolvimento integral das crianças.
Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças
e delas com os adultos, é possível identificar, por
exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das
frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das
emoções.
Dito isto, precisamos valorizar o cotidiano,
compreendê-lo em toda sua riqueza, observando as
ações das crianças, através das brincadeiras, das
relações entre elas e os adultos, nas explorações dos
contextos e materiais.

67
Algumas pessoas, cometem o equívoco de pensar que as professoras
que trabalham por contextos e com as Pedagogias Participativas,
deixam as crianças fazerem o querem, sem limite algum… o que não é
verdade!

As crianças serão livres para escolher onde desejam estar, em qual


contextos desejam ir, porém, com organização, e espírito de
colaboração!

ATENÇÃO: Nos primeiros dias, as crianças irão ficar agitados, pode ter
bagunças, mas faz parte da exploração livre das crianças... É preciso
tempo para elas se apropriarem dos materiais e dos espaços.

68
A minha sala é composta por 4 contextos, são eles:

1. CONSTRUÇÃO E CONSTRUTIVIDADE

69
2. FAZ - DE- CONTA
( Casinha)

3. CONTEXTO
GRÁFICO

70
4. CONTEXTO DE MASSINHA

Depois de quase 4 meses, o


contexto de Massinha se
transformou em
CONTEXTO DE ARGILA.
As crianças misturam
as massinhas
cotidianamente, devido
a essa ação, resolvi
oferecer um contexto
de argila... que está no
momento montado na
sala referência.

71
O contexto de argila segue sendo explorado pelas crianças na
sala referência, vejam:

72
-PROFESSORA, ESSE
BOLO É PRA VOCÊ,
DISSE MARIA ELISA,
( 3 anos e 6 meses)

73
74
É importante lembrar que contextos de aprendizagens, estão
vinculados aos espaços circunscritos, ou seja, espaços
demarcados. Esse espaço, por si só, passa a mensagem para as
crianças que devem brincar naquele local.
Vejam, as crianças estão nos espaços onde desejam estar de forma
livre.

Breve relato das pesquisas das


crianças
As construções de casas, castelos e prédios fazem parte do
cotidiano do meu grupo de faixa etária 3 há muito tempo.

75
Entre os meses fevereiro e
junho, as crianças
demonstraram muito
interesse nas moradias. Suas
investigações seguiam com
moradias diversas: casas,
castelos e prédios. Um certo
grupo de crianças
permanecem nas suas
pesquisas, fazendo muitas
perguntas acerca dessas
moradias...

76
Mais construções. . .

77
As construções de
moradias, desde o início
do ano fazem parte do
cotidiano do grupo 3 A.
As investigações sobre
moradias, estão
voltadas para altura. As
crianças mantém
interesse em construir
casas que cheguem lá
no topo.

Nas construções das moradias:


prédios, castelos e casas, as crianças
utilizaram vários materiais: cilindros,
cones de linha, conduítes, tomadas,
madeiras, palhas, barro, blocos,
pedras, areia, fita métrica, lupas,
capacete, e algumas ferramentas:
Furadeiras, martelos, chaves de
fendas, lupas, colher de pedreiro,
linha,
78
O que pensam as
crianças do grupo 3
sobre moradias?

" -Prédio é um
amontoado"...
( Lunna, 3 anos)

- Vou fazer uma casa


e um castelo bem lá
no topo...
( Arthur, 3 anos e 10
meses

79
-"Prédio é bem
grandão..."
( Lorenzo, 4 anos)

- "Casa mora muita


gente"...
(Hemilly, 3 anos e 7
meses)

"- Eu gosto muito de


construir castelos"...
Apollo, ( 3 anos e 8
meses)

80
Seguimos retroalimentando as pesquisas das crianças de acordo com seus
interesses. Tenho tentado levar materiais que elas consigam empilhar e
construir casas, castelos bem altos.
Durante esse processo, tentei envolver às famílias, solicitei que às
famílias construíssem suas moradias... algumas crianças, moram em
casas, outras em prédios!
Também, foi pedido que enviassem fotos da fachada das moradias das
crianças. Fizemos vários desenhos coletivos e diversas outras vivências!

Disponibilizei as moradias no contexto de


construção para as crianças brincarem e
manusearem as casinhas construídas por
seus familiares...
81
82
83
84
85
Alguns desenhos das crianças
sobre moradias...

-" Pró Lu, esse aqui


é um castelo bem
alto", diz Arthur!

86
Nesses últimos dias, as crianças vêm mantendo interesse em moradias, em ruas, em
trânsito, pistas, delegacia, bombeiros… enfim, muitos caminhos a serem
analisados, e juntos iremos pensar sobre os possíveis desdobramentos das
pesquisas e pensamentos das crianças.
Todo processo, acontece no seu tempo… as minhas crianças são bem pequenas e, é
preciso tempo e muita calma para observar e compreender o que elas querem e
desejam saber... Qual é o seu pensamento para seguir em uma abordagem projetual.
Entendem? Será que um novo desdobramento surgirá?
Os desenhos das crianças, nos ajudam muito em relação aos possíveis caminhos a
seguir... E seguimos, acreditando na potência das crianças!

87
88
Educadoras das infâncias,
Apesar dos desafios que podemos encontrar por
seguir um caminho diferente, não desistam!
Sei que cada uma tem uma realidade diferente...
Muitas de nós, encontramos dificuldades em
relação às estruturas físicas das escolas, dividir
sala com colegas que acreditam em linhas
pedagógicas diferentes, turmas super lotadas,
salas pequenas, gestão escolar sem diálogos, que
preferem não acolher as pedagogias
participativas, mesmo sabendo que estamos
embasadas nos documentos norteadores da
Educação Infantil.
O que tenho feito nesse sentido de evitar conflitos,
faço a cada 15 dias uma mini-história, que
costumo chamar de narrativas do vivido,
exposições, fotografias e coloco nas paredes da
escola, que pode ser na entrada da escola, no
refeitório das crianças, na porta da sala
referência, ou até no grupo de WhatsApp das
famílias e da escola, também costumo deixar uma
parede da sala para expor as Documentações
pedagógicas.
Enfim, são muitos os motivos para desistir de
seguir o caminho das Pedagogias Participativas.
Mas, acredite em você e siga sempre as crianças!
Quem elegeu a busca não pode recusar a
travessia” - Guimarães Rosa- 89
É tempo de fazer acontecer uma nova Educação
infantil. . .
É tempo de compreendermos que a primeira infância, é
permeada por vivência significativas e respeitosas, ao
mesmo tempo, em que a criança e educador se
relacionam de forma participativa, eles devem
caminhar de mãos dadas, essa relação deve ser movida
por afeto, respeito, compromisso, cooperação,
confiança, protagonismo, profissionalismo,
priorizando os processos de cada um, isto é, de forma
singular, respeitando a sua história, suas culturas,
suas experiências, saberes, tempos, desafios e acima de
tudo, muito respeito com as nossas crianças e suas
infâncias!
Percebam com os olhos de crianças um cotidiano cheio
de maravilhas, para que você continue sendo, como já
dizia Loris Malaguzzi, o profissional do
maravilhamento, do encanto, da alegria, da descoberta
e do amor!
( Professora Luciane ALves) 90
SOBRE MIM...
Sou Luciane Alves, professora de Educação Infantil da rede
pública, ressignificando o olhar para as infâncias, mudando a minha
prática e aprendendo todos os dias com as crianças e com
Pedagogias Participativas!
Acredito que é tempo de acontecer uma nova Educação Infantil no
Brasil e no mundo!
Administradora da página @proflualves24@gmail.com ,
Na página compartilho algumas reflexões sobre infâncias, sobre
escolas das infâncias, Pedagogias Participativas, e práticas com
contextos educativos e materiais potentes. 91
Vamos fazer essa
TRAVESSIA JUNTAS!
Um novo caminho te espera!

A prática baseadas nas Pedagogias


Participativas, é um caminho de
descobertas, de aprendizado, de
participação, de perguntas e menos
respostas!

92
REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. CNE/CEB. Diretrizes


Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.
Brasília, 1999.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional


Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.

Planejar para tornar visível a intenção educativa. Site para consulta:


https://www.researchgate.net/publication/319653821_Planejar_para_tornar_visivel_a_intencao_educativa?enrichId=rgreq-
7e47bd996ccc275868a6c6c28c837c15-
XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMxOTY1MzgyMTtBUzo1Mzc4NzcyODI2NjAzNTJAMTUwNTI1MTM0NTgxMg%3D%3D&el=1_x_2&_esc=public
ationCoverPdf

93

Você também pode gostar