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ISSN: 2525-8761
Sebastián Mancuso
Doutorado em Modelagem Computacional pela UERJ
Instituição: Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA
Endereço: UFOPA/Campus Rondon
Avenida Marechal Rondon, s/n – Bairro do Caranazal – Santarém/PA
E-mail: sebastianmancuso@gmail.com
RESUMO
Entender como o aluno compreende conceitos apresentados em situações,
particularmente as que exploram conceitos geométricos com auxílio de objetos concretos
e conexões com o conhecimento prévio do aluno, é importantíssimo. Alcançar essa
compreensão possibilita que o professor possa organizar e/ou reorganizar suas atividades
e mediações para facilitar a aquisição do conhecimento matemático evocados na ação
sobre as situações. Nessa perspectiva, o presente artigo objetivou analisar, com base na
Teoria dos Campos Conceituais (TCC) de Gérard Vergnaud, os conceitos geométricos,
construídos e/ou adaptados, emergentes da ação dos alunos sobre atividades elaboradas à
luz do Modelo do Desenvolvimento do Pensamento Geométrico, proposto por Van Hiele.
O estudo executado é de cunho qualitativo que buscou analisar as produções de alunos da
segunda série do ensino médio, de uma escola da rede estadual de ensino do estado do
Pará, quando submetidos ao ensino dos Poliedros de Platão. A metodologia científica
adotada foi a pesquisa-participante ou observação-participante. A aproximação do
Modelo de Van Hiele da TCC mostrou-se como uma proposta bastante interessante, pois,
por um lado, o Modelo possibilitou a construção e o desenvolvimento organizado das
atividades que foram palco para evocação de conceitos geométricos importantes e, por
ABSTRACT
Understanding how students comprehend concepts presented in situations, particularly
the ones that explore geometrical concepts with the help of concrete objects and
connections with the student’s background knowledge, is utterly important. To reach that
understading makes it possible for teachers to rearrange their activities and interventions
to make the evoked mathematical knowledge aqcuisition in the action about situations
easier. In that perspective, the purpose of this article is to analyse, grounded in Gérard
Vergnaud’s Theory of Conceptual Fields (TCF), the geometrical concepts, built and/or
adapted, emergent from students’s actions about activities ellaborated in the light of
Geometrical Thought Development Model proposed by Van Hiele. The study executed
is qualitative that sought to analyse productions from 2nd-year-high-school students of a
public state school network of Pará, when subject to the teaching of Plato’s polyhedrons.
The scientific methodology adopted was the participant-research or participant-
observation. The approximation of Van Hiele’s Model with the TCF came up as a very
interesting proposal, for, on the one hand, the Model made it possible the organized
building and development of activities that worked as a stage to the evocation of
important geometrical concepts and, on the other hand, the TCF provided theoretical basis
capable to help in the identification and explanation of the evocations that boosted the
teams actions. This article presents a discussion that can help teachers and researchers on
the way of the geometry teaching that provides reflections about dealing with geometrical
concepts, in contexts that value students’s background knowledge.
1 INTRODUÇÃO
O ato de ensinar requer do professor, além dos conceitos específicos da área, o
domínio de metodologias e de recursos didáticos necessários para possibilitar o
aprendizado do aluno. Logo, esse processo deve ser acompanhado de muitas horas de
planejamento que busquem melhores caminhos para aquisição do conhecimento em
estudo. Associados a essa complexa tarefa de ensinar, estão os múltiplos interesses e/ou
desinteresses culturais, econômicos e sociais dos alunos que destoam do processo de
escolarização que acontece de forma lenta. Requerendo dos envolvidos constante atenção,
momentos de introspecção e de comprometimento individual. Essa complexidade
inerente ao ensino, em particular da Matemática, há décadas alimenta debates entre
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de s’attaquer pratiquement, avec tous les moyens dont il dispose, à des problémes que la Science ne veut
ou ne peut encorre prendre em charge.
Esses níveis devem ser construídos com atividades que valorizem experiências
educacionais concretas e adequadas ao nível em que o aluno se encontra. Machado (2011,
p. 57-58), salienta a necessidade de “perceber, na escalada dos níveis, a crescente
complexidade do objeto concreto: dos elementos básicos passou-se às suas propriedades,
às relações entre propriedades, às cadeias de propriedades e às propriedades das cadeias”.
Veja o quadro 1.
Vergnaud (2009) diz que uma categoria de situações reúne um grupo de conceitos
que serão, paulatinamente, adquiridos com a exploração dessas situações que esclarecerão
os conceitos envolvidos. Apenas uma situação não é capaz de conduzir à compreensão de
um conceito. Da mesma forma que um único conceito não é capaz de conduzir o aluno a
solução de uma situação.
Acerca da TCC, Magina et al (2001, p.6) argumenta que “existe uma série de
fatores que influenciam e interferem na formação e no desenvolvimento dos conceitos e
que o conhecimento conceitual deve emergir dentro de situações-problema”. Silva (2016,
p.72), endossa destacando que “qualquer que seja o exercício proposto, este envolve uma
gama de conceitos implícitos que caracterizam o que Vergnaud chama de campo
conceitual”.
Na TCC o processo de construção de um Conceito (C) é o centro da discussão
sobre o desenvolvimento cognitivo. Definido, pelo próprio autor da teoria, como uma
terna composta por três conjuntos: C = (S, I, R). Onde:
• S: conjunto de situações que dão sentido ao conceito;
• I: conjunto de invariantes operatórios que estruturam as formas de organização da
atividade (esquemas) suscetíveis de serem evocados por essas situações;
• R: conjunto das representações linguísticas e simbólicas (algébrica, gráficas,...)
que permitem representar os conceitos e suas relações, e, consequentemente, as
situações e os esquemas que elas evocam.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O trabalho socializado neste artigo abarca estudo qualitativo sobre a produção de
alunos da segunda série do ensino médio, de uma escola da rede estadual de ensino do
estado do Pará, quando imersos em situações que aglutinam conceitos associados aos
Poliedros de Platão. A metodologia científica adotada foi a “pesquisa participante”. De
acordo com Severino (2007, p.120), “é aquela em que o pesquisador, para realizar a
observação dos fenômenos, compartilha a vivência dos sujeitos pesquisados,
participando, de forma sistemática e permanente, ao longo do tempo da pesquisa, das
atividades”.
A escola em que se realizou a pesquisa foi selecionada por atender a alunos de
diversos bairros da cidade, com diferentes níveis sociais e pelos resultados pouco
satisfatórios alcançados por seus alunos na disciplina matemática, em avaliações internas
e externas as quais foram submetidos. Essa escola atende a alunos do Ensino Fundamental
e Médio distribuídos em três turnos, estando localizada em um bairro próximo à orla e ao
centro comercial da cidade de Santarém/PA.
A turma envolvida neste artigo havia estudado em sala de aula durante o terceiro
bimestre, o tópico do conteúdo programático intitulado, nessa escola, como “Geometria
Espacial”. Nesse tópico, o professor da turma realizou revisão sobre conceitos de
“Geometria Plana” e desenvolveu suas atividades dando ênfase, principalmente, ao
cálculo dos volumes de alguns entes geométricos espaciais, a citar: Prismas, Pirâmides,
Cilindros, Cones e Esferas. Ressalta-se que o professor não abordou os Poliedros de
Platão, limitando-se, simplesmente, a sua definição. Sendo esse o motivo que levou a
escolha desse tópico. Sublinha-se que as atividades referentes ao primeiro nível de Van
Hiele foram executadas no quarto bimestre letivo, em 5 horas/aula de 40 minutos cada
uma.
Estavam lotados nessa turma 26 alunos, no entanto devido à infrequência,
somente, 23 alunos compõem este estudo, com idades que variam de quinze a vinte anos.
Ademais, diante da necessidade do professor acompanhar minuciosamente a execução
das atividades, para poder realizar orientações, além de anotações referentes ao
comportamento dos alunos durante as atividades, decidiu-se, na impossibilidade do
acompanhamento individualizado com qualidade, dividir a turma em cinco grupos de no
máximo cinco componentes por grupo.
Com intuito de melhor organizar as atividades, elegeu-se em cada grupo: 1) Um
coordenador: líder do grupo com a função de estimular os membros a participarem das
discussões, além de garantir que o secretário está acompanhando e anotando corretamente
as discussões realizadas; 2) Um secretário: responsável por anotar corretamente as
observações realizadas pelo grupo e, ao final da discussão, ler suas anotações aos demais
5 ANÁLISE
Na fase 1, procurou-se conduzir os envolvidos a reflexões e a associações ligadas
as características das formas percebidas nos objetos manipulados que fossem semelhantes
as formas percebidas em outros objetos do cotidiano ou, em outro momento, já discutidos
em sala de aula. Segundo Magina et al (2001, p.5), “as competências e concepções dos
alunos vão se desenvolvendo ao longo do tempo, por meio de experiências com grande
número de situações, tanto dentro quanto fora da escola”.
O contato com a situação aliado as experiências dos alunos e as provocações do
professor propiciaram a evocação de conceitos e teoremas implícitos com potencial para
contribuir com o desenvolvimento da atividade. Tais conceitos e teoremas-em-ação
puderam ser percebidos nos registros produzidos pelas equipes que foram entregues por
meio de relatórios e também apresentados oralmente. No nível 1, emergiram e foram
observados nos registros das equipes os conceitos de triângulo, de quadrado, de
pentágono, de diagonal, de aresta, de vértice e de prisma.
Nesse fervilhar de invariantes operatórios percebeu-se que a equipe Ar em todos
os seus registros identificou o que sugere ser o número de diagonais nos poliedros de
Platão, sem embargo, em todos, escreveu entre parênteses - aresta. Como apresentado na
figura 1.
Nesse sentido, Vergnaud (2009, p. 82) destaca que “a cor, a forma, o tamanho, a
presença ou a ausência dessa ou daquela característica são as propriedades que são
utilizadas para reconhecer os objetos, para classifica-los, para designá-los, para
representá-los, enfim para pensá-los”. Assertiva verificada quando a equipe Universo
chama o dodecaedro regular de negrito, remetendo-se a cor do papel com o qual foi
confeccionado. Ou quando a equipe Fogo evoca o conceito bola de hand-bol, um objeto
esportivo diversas vezes manipulado pelos alunos, com características físicas que, para
os envolvidos na exploração, se assemelham ao objeto em estudo. Tais ações permitem
uma análise mais significativa, pois aproximam o dodecaedro regular do mundo real
(figura 5).
para o octaedro. Tal inversão é recorrente e pode ser perfeitamente verificada na coluna
do icosaedro. Nos outros dois poliedros de faces não triangulares, nos quais foram usadas
varetas para deixá-los rígidos (hexaedro – com uma vareta em diagonal por face e
dodecaedro – com duas varetas em diagonal por face), há uma aparente contagem errada.
Sugerindo que a equipe está considerando em sua contagem de arestas as diagonais das
faces dos poliedros, como sublinha-se na figura 7.
O destaque na figura 9 mostra uma correção feita pela equipe Fogo em relação ao
registro feito na figura 6. Aparentemente, configurando um avanço conceitual que pode
ter contribuído para a transformação conceitual que implicava no tratamento dos prismas
como casos particulares de pirâmide. Além disso, a equipe tenta conceituar um tetraedro,
a partir do significado de poliedro apresentado pelo professor, apontando fortemente para
adaptações de conceitos evocados.
Mesmo com equívocos conceituais, os avanços em relação aos seus primeiros
registros, sobre esse objeto, merecem grande destaque, pois apontam para superações
conceituais significativas que contribuíram para a construção do conhecimento
geométrico e superação do nível 1. Segundo Vergnaud (2009, p.305), “um dos fatos
melhor estabelecidos da psicologia cognitiva é o de que o desenvolvimento se faz em
etapas e que certas grandes etapas são caracterizadas pela construção ou aquisição de
novos invariantes operatórios”.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tentar visualizar e compreender o constructo do aluno frente a uma atividade que
reúne um conjuntos de conceitos necessários para sua análise, em hipótese nenhuma,
apresenta-se como uma tarefa trivial. Sendo necessário recorrer a métodos que possa
melhor organizar a execução das atividades propostas. Frente a essa necessidade recorreu-
se ao Modelo de Van Hiele que possibilitou visualizar conceitos geométricos percebidos
pelos alunos, através da mediação que conduz a associação com elementos da natureza e
dos objetos do cotidiano. Além disso, permite identificar o nível de desenvolvimento
geométrico do aluno e, assim, contribuir de forma mais segura para seu avanço, numa
escalada sequencial muito bem definida.
Essa escalada para aquisição do conhecimento não se distancia da vida cotidiana
do aluno que precisa recorrer a conhecimentos que levem a solução de situações reais.
Vergnaud (2009, p.85) diz que “analisar uma situação, representá-la, operar sobre essa
representação para encontrar uma solução e aplicar a solução assim encontrada,
REFERÊNCIAS
DANTE, Luiz Roberto. Matemática 2: contexto & aplicação. 3. ed. São Paulo: Editora
Ática, 2008.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo:
Cortez, 2007.
ZANELLA, Marli Schmitt; BARROS, Rui Marcos de Oliveira. Teoria dos campos
conceituais: situações problemas da estrutura aditiva e multiplicativa de naturais.
Curitiba: Editora CRV, 2014.