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A t A i s e Psicológica (1986).

1 (V): 75-90

Psicologia do desenvolvimento
eognitivo e didáctica das rnaterná4icas.
Um exemplo: as estruturas aditivas (*)

GERARD VERGNAUD (**>

O problema mais difícil para uma inves- ela possui uma identidade própria que é
tigação interdisciplinar como a investigação necessário procurar caracterizar.
em didáctica é desenvolver conceitos e mé- Esta identidade deve-se principalmente à
todos susceptíveis de constituirem uma abor- especificidade dos conteúdos de conheci-
dagem científica. Os psicólogos tendem a mento cuja transmissão e apropriação ela
transportar pura e simplesmente o seu qua- estuda, a originalidade dos fenómenos de
dro de referência habitual, quer se trate da ensino em classe, e necessidade com que
aprendizagem associativa para os empiristas, ela se defronta ao estudar as processos que
de estruturas lógicas para os piagetianos, do se situam em escalas de tempo muito dife-
tratamento de informação para 05 cogniti- rentes: o crescimento dos conhecimentos a
vistas influenciados pelos modelos informá- longo prazo na criança e no adolescente, e
ticos e da psicolinguística para outros. Por a evolução a curto prazo das concepções e
seu turno, os matemáticos e os professores procedimentos do aluno face a situações n e
de matemática tendem a satisfazer-se com vas e às explicações que lhe são dadas: Abor-
o tipo de conhecimentos matemáticos que darei sucessivamente os quatro pontos se-
lhes é familiar e com algumas teorias educa- guintes:
tivas gerais.
Estudar os processos de transmissão e de 1. uma concepção interactiva na forma-
apropriação dos conhecimentos matemáticos ção dos conhecimentos.
como um domínio científico próprio consti- 2. uma abordagem desenvolvimentalista.
tui, actualmente, uma questão científica de 3. os conceitos de teorema-eni-acto e o
grande importância e que não é redutível campo conceptual.
nem a psicologia, nem às matemáticas, nem
a qualquer outra ciência. Não se quer com (**> Este artigo retoma a maior parte dos te-
isto dizer que a didáctica das matemáticas mas e exemplos desenvolvidos num artigo ante-
seja independente das ideias provenientes rior, em inglês: Kognitive and Developmental
Psychology and Research in Mathematica Edu-
das outras ciências, bem pelo contrário; mas cation: some theoretical and methodological
- issues)), For the Learning of Mathem'atics, 3 , 2,
(*) C. N. R. S. 1982, 31-41.

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4. a representação e as relações entre numéricos para saber quais é preciso utilizar
significados e signif icant es. e por que ordem devem ser tratados; mas
constitui também um «problema» para as
1. UMA CONCEPÇÃO INTERACTIVA crianças calcular o efectivo de um conjunto
DA FORMACAO DOS CONHECIMENTOS formado por duas partes sem tornar a con-
tar cada uma das duas partes (se já se coa-
Em primeiro lugar nos seus aspectos prá- tou cada uma delas).
ticos, bem como nos seus aspectos teóricos, I2 um objectivo prioritário, na investiga-
o saber forma-se a partir de problemas a re- ção em didáctica, investigar, analisar e clas-
solver, quer dizer, de situações a dominar. sificar, tão exaustivamente quanto possível,
Constata-se isto na história das ciências e as situações-problema que conferem signifi-
das técnicas, e também no desenvolvimento cação e função a um conceito. Isto permite,
dos instrumentos cognitivos da criança, n e em primeiro lugar, apelar no ensino a uma
meadamente no domínio do espaço e na maior variedade de relações e problemas;
compreensão e categorização dos objectos em segundo lugar, aprofundar a epistemo-
usuais. Isto deveria ser igualmente verda- iogia de um conceito, isto é, principalmente
deiro no ensino das matemáticas, mas não a sua função (a que problemas ele responde)
é o que se verifica. A tendência mais cor- e a sua radicação (em que outros conceitos
rente é a de ensinar ((maneiras de fazer)) ou ele se apoia). As concepções dos alunos são
aigontmos, ligando estes problemas a clas- modeladas pelas situações com que eles se
ses relativamente limitadas. Por ((problema)) depararam. Isto pode levar a grandes des-
entenda-se, no sentido lato que lhe dá o fasamentos entre estas concepções e os con-
psic6log0, qualquer situação em que 6 neces- ceitos matemáticos: por exemplo, se um
sário descobrir relações, desenvolver activi- aluno de 4 éme s6 compreende o conceito
dades de exploração, hipótese e verificação, de fracção como uma quantidade fraccio-
para produzir uma solução: este procedi- nária, numa relação parte-todo (parte de
mento não é necessariamente o mais geral bolo, parte de uma colecção), ele não pode
ou o mais económico; pode mesmo ser falso, aperceber a riqueza e o alcance dos núme-
o que nem por isso deixa de ser procedi- ros racionais. Do mesmo modo para os nú-
mento a estudar em pé de igualdade com os meros negativos, se ele considerar que 06
outros. números representam quantidades: como
Tomando ((problema))no seu sentido mais não há quantidade negativa, os números ne-
geral, constitui para a criança um ((proble- gativos não têm sentido algum.
ma)) comparar os efectivos de duas colec-
ções ou o conteúdo de dois recipientes, Tomemos o exemplo da subtracção
seriar uma sequência de objectos em função
do tamanho ou do peso, ou reconhecer a A primeira concepção da subtracção, para
esquerda e a direita de um personagem que uma criança pequena, consiste na diminui-
se situe de frente para ela; constitui eviden- ção de uma quantidade inicial, por consumo,
temente um «problema» r)rganhar dados perda ou venda, por exemplo:

El o
transformação
O
estado final
estado inicial
Exemplo I : Jean tinha 8 bombons; come 3. Quantos bombons tem agora?

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A partir de uma tal concepção, não 6 -como uma diferença entre estados su-
imediato compreender a subtracção: cessivos
- como um complemento

Exemplo 4: Robert tinha 8 berlindes antes de


jogar com a Isabelle. Agora tem 3 berlindes.
O que é que se passou durante o jogo?

-como uma relação de comparação


Exemplo 2: Há 8 crianças A mesa no aniversá-
rio de Dorothée. 3 são raparigas. Quantos
rapazes há?

-como o inverso de um aumento

Exemplo 5: Suzanne tem 3 francos no bolso.


Berthyl tem 8. Quanto é que Suzanne tem a
menos que Berthyl?
Exemplo 3: Janine acaba de receber 3 francos
da avó. Tem agora 8 francos: Quanto é que -como uma diferença entre transfor-
ela tinha antes? mações

4 - L . . .

I 1
I-..-'

Exemplo 6: Frédéric jogou duas partidas de berlinde. Na segunda ganhou 3 berlindes. Ele já não
se lembra do que se passou na primeira partida. Mas quando ele, no fim. conta os berlindes.
apercebe-se de que ganhou 8 berlindes ao todo. O que é que se passou na primeira partida?

-poderiam ser propostas outras catego- Cada um dos casos atrás evocados supõe
rias de problemas, por exemplo: um cálculo relacional (cálculo sobre rela-
(Ver figura 7 na página segUente) ções) distinto; e, no entanto, todos estes cál-
culos relacionais conduzem it escolha da
Pode-se facilmente imaginar as dificulda- mesma operação aritmética 8-3.
des que as crianças podem encontrar na ex- Os investigadores começam a conhecer
tensão da significação da subtracção a estes bastante bem os meios através dos quais as
diferentes casos, a partir da sua concepção crianças abordam estes diferentes problemas
primitiva da subtracção como ((diminuição)). (Carpenter, Moser & Romberg, 1981) e as

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o Encontrar a segunda
transformação

o Encontrar a
transformação total

Fig. 7 O
etapas por que passam, no decurso dos lon- e não segundo o modelo da lei interna em
gos anos do ensino elementar... e do ensino N, que apenas reflecte bem a composição
secundário. A maior parte das crianças de duas quantidades
depara com dificuldades, na adição e na
subtracção de transformações ou de reia- .
ções,até ao fim do ciclo dos liceus e mesmo
para além dele.
Observam-se conflitos importantes e du-
radoudos entre as concepções das crianças
e os conceitos do professor de matemática.
Por exemplo, num grande número de pro-
blemas, as concepções das crianças são me-
lhor representadas por um modelo de opera- por exemplo n = 6 m = 4
ção unário que pelo modelo da lei de com-
posição binária. Com efeito, a adição pode
muitas vezes ser encarada segundo o modelo As transformações no tempo e as relações
de uma operação externa de Z sobre N (se de comparação não podem ser adequada-
se raciocinar com inteiros). mente representadas por uma composição
de duas quantidades (lei binária interna),
pois elas envolvem números relativos.
Por outro lado, o modelo da operação
unária está mais próximo da concepção pri-
mitiva das crianças (partir de um estado ini-
cial, agir). Veremos outras consequências
deste desfasamento entre concepções do su-
jeito e conceitos matemáticos quando abor-
m 7/ m pode ser positivo ou negativo darmos as representações simbólicas.
Os professores não deveriam ignorar o
por exemplo n = 6 m = + 4 facto de as concepções dos alunos serem

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modeladas pelas situações da vida quoti- ser utilizados em situações-problema em que
diana e pela sua ((primeira compreensão)) são pertinentes permanecem vazios de sen-
das relações novas com que deparam. Eles tido.
têm de saber com que é que lidam, e conhe- Assim, não existem só problemas práticos.
cer ou reconhecer melhor as concepções Existem também problemas teóricos como,
mais primitivas, os erros e as incompreensões por exemplo, a extensão da multiplicação
que se lhes seguem, o modo pelo qual elas aos números relativos: a multiplicação de
mudam ou podem mudar: através de que dois números negativos não pode ser redu-
situações? De que explicações? De que eta- zida a um problema prático verdadeiramente
pas? significativo da multiplicação, salvo se se
Os problemas de ensino das matemáticas considerar a utilização do cálculo algébrico
não se resolvem por definições, e as concep como um problema prático. Digamos que
ções erradas dos alunos só podem mudar muito mais que a coerência dos cálculos o
verdadeiramente se entrarem em conflito problema eminentemente teórico aparece
com situações que elas não permitem tratar. também como um problema prático. Esta
E essencial que os professores possam pers- dialéctica não é apenas um simples efeito
pectivar e dominar o conjunto de situações retórico: prática e teoria estão em última
susceptívei, que levem e ajudem os alunos a análise indissoluvelmente ligados.
((acomodarem))os seus pontos de vista e os
procedimentos a novas relações (a inversão,
a composição e a decomposição de transfor- 2. UMA ABORDAGEM
mações, por exemplo) ou dados novos (gran- DESENVOLVIMENTALISTA
des números, decimais, fracções...). 33 a úni-
ca maneira de levar os alunos a analisarem
as coisas com mais profundidade e a reve- As Concepções e as Competências desen-
rem ou ampliarem as suas concepções. volvem-se (UE longo de um período de tempo.
Isto não é verdade apenas para as estrutu-
A resolução do problema é a origem e o
ras gerais do pensamento mas também para
critério do saber operatório. Devemos ter
os conteúdos dos conhecimentos. Por exem-
sempre esta ideia em mente e sermos capa-
zes de proporcionar aos aiunos situações plo, os conceitos de fracção e de relação têm
que visem alargar a significação de um con- as suas raízes nas actividades que têm um
ceito e pôr a prova as competências e as significado para os alunos de 7 a 8 anos,
concepções dos alunos. B essencial tanto quando se trata de valores simples como
para uma teoria das situações como para 3 ou ã; e, entretanto, o conceito de número
uma teoria do conhecimento operatório. racional é uma fonte durável de dificuldade
Esta declaração pode parecer excessiva- para os alunos de 15 ou 16 anos e para
mente virada para as aprendizagens práti- muitos adultos. No que concerne as estrutu-
cas, mas não o é; concepçijes e competên- ras aditivas ainda que alguns princípios da
cias são duas faces de uma mesma moeda; adicção e da subtracção sejam compreendi-
as competências estão sempre ligadas a ter- dos pelos alunos de 3 ou 4 anos, 75Vo dos
tas concepções mesmo se são fracas e frag- alunos de 15 anos falham em problemas
mentadas. Não há procedimento que se possa como os seguintes (Marthe, 1982):
desenvolver e sobreviver por si próprio, livre Exemplo1 7 : Jean recebeu 45 francos da
de todas as representações das relações de sua avó. Em seguida vai a um grande arma-
que trata ou que implica. Reciprocamente zém e compra coisas diferentes. Quando
um conceito ou um teorema que não possam conta o seu dinheiro, nota que tem 37 fran-

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cos a menos do que tinha antes de receber bém não é a mesma operação, no exemplo
o dinheiro da avó, Quanto gastou? 3, inverter a transformação
Exemplo 8: O senhor Dupont é viajante
comercial. Conheça por descer ao longo do
vale do Loire, 35 km para Oeste; depois
n
parte para Este. Quando pára, encontra-se
a 47km a Este do seu ponto de partida de
manhã. Qual é a distância percorrida du-
rante a segunda parte do seu trajecto? -3

Ora os mesmos alunos de 15 anos recebe-


ou formular uma hipótese sobre o estado
ram um ensino sobre as relações de Chasles inicial, e corrigi-la depois do ensaio.
em geometria que são directamente perti-
nentes para o exemplo 8.
1- -1
t.3
- ' 4 ; _I___t) 7 4+3=7
AC=AB+BC j BC=ÁC-ÁB I - -
isto não dá
a = alas (B)-abs (A)
assim como um ensino de algebra que ihes $3
deveria permitir resolver qualquer equação I --
' 5- ; -
b 8 5+3=8
da forma: 1 -
isto dá

A evidência, estes dois ((raciocínios))não


têm a mesma força; o segundo tem apenas
Não contando com a dificuldade que um valor local e depende muito dos valores
existe em conceber plenamente as transfor- numéricos tomados pelas variáveis. Os peque-
mações e as relações que estão implicadas nos números inteiros, alguns números re-
nos exemplos 7 e 8. dondos (300-800) permitem resolver certos
A descrição de estadios gerais de desen- problemas através de procedimentos não ca-
volvimento, como os descritos por Piaget OU nónicos. Um meio possível de levar os alu-
por outros psicblogos do desenvolvimento nos a pesquisar e dominar os procedimentos
não permite compreender o desenvolvi- com maior poder e concepções mais gerais,
mento das «competências-conhecimentos)) é justamente mudar os valores numéricos, e
implicados nos problemas de subtracção aci- utilizar, por exemplo, números grandes ou
ma citados. São necessários modelos bastan- números decimais (Brousseau, 1981).
te mais finos, directamente associados ao Evidentemente, que isto não 6 indepen-
contexto matemático dos problemas. dente do desenvolvimento cognitivo dos alu-
nos; e a descrição da complexidade relativa
A primeira prioridade é, portanto, eco^
dos problemas e dos procedimentos assenta
nhecer a variedade das classes de problemas largamente sobre uma abordagem desenvol-
possíveis, de analisar com cuidado a sua es- vimentalista (ou psicogenética) da aprendi-
trutura e as operações de pensamento neces- zagem das matemáticas. E3 de salientar, ao
sárias para as tratar. Por exemplo, não é a mesmo tempo, que esta descrição, para ter
mesma operação de pensamento inverter sentido, não deve considerar um conjunto
uma transformação directa (exemplo 3), en- restrito de problemas, nem um período
contrar um complemento (exemplo 2), ou muito curto do desenvolvimento das crian-
encontrar uma diferença (exemplo 5). Tam- ças ou da escolaridade. Podemos encontrar,

80
com efeito, desníveis de vários anos entre 3. OS CONCEITOS
crianças para a mesma competência; e as DE ((TEOREMA-EM-ACTO))
E DE «CAMPO CONCEPTUAL))
condutas observadas para um problema, só
adquirem o seu sentido se as pudermos re-
portar a condutas observadas noutros p r u I3 largamente reconhecido, em educação,
blemas (da mesma categoria ou de categoria que a actividade dos alunos deve ser favo-
diferente). recida porque é o único meio que Ihes per-
Existem fortes correlações, fortes hierar- mite construir ou apropriar-se de um saber
quias e também numerosas situações meta- operatório. No entanto, não se reconhece
fóricas no tratamento dos problemas numé- em que é que esta a q ã o em situação favu
ricos. 53 esta consideração que me conduziu rece a formação do conceito. Neste ponto
A convicção que é necessário, para com- falta-nos clarificar um problema teórico es-
preender o desenvolvimento e a apropriação sencial.
dos conhecimentos, estudar conjuntos bas- Os matemáticos e os professores sabem
tante vastos de situações e conceitos ou seja em geral o que é um invariante: uma pro-
campos conceptuais. Estudar a aprendiza- priedade ou uma relação que é conservada
gem de um conceito isolado, ou de uma téc- sobre um certo conjunto de transformação.
nica isolada, não tem sentido, praticamente. Por exemplo em geometria, a rotação e a
Antes de explicar o que entendo por simetria conservam certas propriedades das
(campo conceptual)) e por ((teorema em figuras, a homotetia não conserva as mes-
acta)), sobre o exemplo das estruturas aditi- mas propriedades bem como a projecção.
vas, queria concluir brevemente este pará- Mas os matemáticos e os professores nem
grafo acerca do desenvolvimento. sempre reconheceram o facto bem estabele-
A lentidão do densenvolvimento dos co- cido pela psicologia cognitiva desenvolvi-
nhecimentos é perigososamente subestimada mentalista (e por Piaget em primeiro lugar)
pelos professores, pelos pais e pelos progra- que existem numerosos invariantes cuja
mas. Por exemplo, considera-se frequente- identificação pelas crianças dá lugar a uma
mente que um capítulo de matemáticas es- laboriosa e progressiva construção, enquanto
tudado deve estar compreendido, pelo menos que o adulto não imagina que isso possa
por uma parte importante dos alunos, pelo constituir um problema.
que no ano seguinte podemos considerá-lo Piaget, identifica o primeiro de alguns des-
como adquirido. Todas as investigações em- tes invariantes e, nomeadamente, invarian-
píricas mostram, pelo contrário, que será tes espaciáveis (Piaget, 1948) e invariantes
muito mais sensato voltar às mesmas coisas quantitativos (Piaget, 1941, 1978):
ano após ano indo um pouco mais profun-
damente, introduzindo situa@es cada vez - o cardinal de uma colecção quando se
mais complexas contendo novos aspectos, muda a disposição espacial.
mais poderosos, de um mesmo conjunto de - a quantidade de sumo de laranja quan-
conceitos, eventualmente um conceito novo. do se transfere de um copo largo para
As actividades de resolução do problema ou um estreito.
do tratamento de novas situações deveriam etc.. ..
ser largamente previligadas, uma vez que é
verdade que existem diferentes categorias de Não é evidente, para a criança pequena, que
problemas, e que apelam ao domínio de pro- há mais sumo de laranja quando este sobe
priedades diferentes de um mesmo conceito. mais alto (no copo estreito)?
.É um aspecto essencial para uma abordagem Os invariantes constituem um tema te6-
desenvolvimentalista. rico recorrente na obra de Piaget, e, este,
por isso não reconheceu plenamente a im- O fim essencial de uma análise cognitiva
portância dos invariantes mais numerosos das tarefas e das condutas é identificar tais
em matemáticas e em física: os invariantes teoremas-em-acto, mesmo se isto não for fá-
relacionais. Por ((invariante relacional)), de- cil, e se não for fácil de chegar a um acordo
signo uma relação que permanece inva- sobre os critérios comportamentais destes
riante para um conjunto de transformações teoremas.
de operações ou de variações. Tomemos o exemplo do terceiro exioma
Tomemos um exemplo nas relaçGes de pa- da teoria da medida.
rentesco: para uma criança não é fácil per-
ceber a ideia que a relação ((filho de» é ver- Y X ,Y m ( x* ) = m(x) m(y) +
dadeira ao mesmo tempo para ele e seu pai,
para ele e sua mãe, o seu amigo Mathieu e
, dado que
a operação seja adequadamente escolhida.
os pais de Mathieu, e até o seu próprio pai
No caso das quantidades discretas e dos
e os seus avós: como é que o seu pai pode
cardinais, este axioma torna-se
ser ao mesmo tempo pai e filho?
Problemas semelhantes são levantados pe-
y x, Y card (XUY)=card (X)+card cy)
las relações espaciais (atrás, a oeste de...),
as relações de ordem entre grandezas e entre dado que a operação de união seja uma
números (maior que, múltiplo de, n maior união dijunta ( X n Y = 0). Um tal axioma
que.. .) e por outras relações. é utilizado necessariamente por uma criança
Ao lado destas relações binárias as crian- quando, para pôr a mesa, conta as pessoas
ças encontram, mesmo em idades precoces, que estão na sala e as pessoas que estão no
relações do mais alto nível lógico a que cha- jardim, depois soma os dois números para
mamos normalmente teoremas: por exemplo saber quantas pessoas há ao todo. É um
se Pedro nasceu antes de Janine e Janine procedimento mais económico (e social-
antes de Robert, Pierre nasceu antes de Ro- mente mais aceite) que juntar todas as pes-
bert; se Joel e André estão face a face, o soas no jardim para contar o conjunto.
braço direito de J&I está em frente do braço Realizaram-se numerosos trabalhos sobre
esquerdo de André; se se conta uma colec- as primeiras aprendizagens da adição que nos
ção A e depois uma colecção B obtém-se o mostram a emergência progressiva de tal
mesmo resultado que se se contar a colec- teorema-em-act o.
ção B e depois a colecção A. O procedimento que consiste em não con-
A criança encontra um grande número tar o todo quando se contou já as partes,
destes teoremas assim que actua sobre o real mas a ((antecipar a contagem)) (counting on)
e que resolve problemas no espaço, no tem- partindo do cardinal do primeiro conjunto
po, no domínio das quantidades e das gran- e contando tantas vezes quantas os elemen-
dezas. Estes (deoremas-em-acton não são, tos do segundo conjunto.
evidentemente, expressos sob uma forma A B
matemática, nem mesmo as vezes sob qual-
quer outra forma. E por esta a razão que eu xxxxx
os chamo ((teoremas-em-acto». A maior
parte das vezes apenas têm uma validade oito
nove..............NOVE
local para as crianças e são associados a cer-
tos valores de variáveis, constituindo isto constitui uma etapa crucial no reconheci-
uma primeira base que poderá ser alargada mento, pela criança, da propriedade das
em seguida. medidas acima enumeradas.

82
Este procedimento implica, de resto, um em adicionar m e n. Para mais detalhes
outro teorema importante podemos reportarmcmos a Fuson (1981).
Assim, há muitos outros axiomas e teo-
m,n m
$1
4
+1
-b
... +1
-b m+n
remas implicados na construção do conceito
.nvezes de número natural como medida de quanti-
dades discretas. Alguns destes são percebi-
Este procedimento de ((antecipar a con- dos e apropriados desde os 3 ou 4 anos de
tagem)) é uma etapa intermediária decisiva idade, outros somente aos 6 ou 7 anos;
entre o procedimento que consiste em con- outros são ainda difíceis para as crianças
tar o todo, e o procedimento que consiste de 9 anos.

quaisquer que sejam os objectos contados


...,-A.
3 4

+2 +1 +1
2- é equivalente a 2 __O Y

...-+3
2 é equivalente a 2 -+P
1 +1
_O
+1
__D

n.+2, é equivalente a n + 1 +l
-+

- ..
__P

m,ta é equivalente a m
+1
__e
+1 . +1(n vezes)
2 s é equivalente a 5 +2

o número de elementos de uma colecção não depende da sua disposição


espaciável (conservação)

cmd (A UB) = card (A) + card (B) (ver acima)


A Cy + card (A) < card (B) (inclusão)
Muitos outros teoremas podem ser iden- tos de tratamento e, veremos mais adiante,
tificados, sendo necessários para resolver os que a diversidade das representaçóes simbó-
problemas de adição ou de subtracção como licas. Isto resulta também da muito progres-
os dos exemplos 1 a 8 mais acima. Será siva e lentíssima compreensão, pelas crian-
fastidioso enumerá-los mas são de uma ças, das propriedades das relações em jogo.
grande diversidade. 33 esta diversidade que me levou a falar
A paisagem das estruturas aditivas é muito
de campo ccrnceptual. Um conceito pode ser
mais complexa do que se espera através de
definido, com efeito, como um tnplet de
um breve olhar. O mesmo se verifica nas
estruturas multiplicativas (Vergnaud, 1983). três conjuntos ( S , I, J):
Isto resulta ao mesmo tempo que a diver-
sidade das situações de adição e de sub- S: o conjunto de situações que dão sen-
tracção, que a diversidade dos procedimen- tido ao conceito;

83
I: o conjunto de invariantes que consti- a maneira como estas concepções e
tuem as diferentes propriedades do competências evoluíram através de uma
conceito; mistura de situações, de definiçijes, de
J: o conjunto das representações simbó- interpretações e de representações sim-
licas que podem ser utilizadas. bólicas.

Abordarei, mais adiante, o problema das 143 um facto que os alunos tentam dar
representações simbólicas. Limitar-me-ei sentido as novas situações e novos conceitos
aqui a três considerações essenciais para a aplicando, adaptando-os, os seus conheci-
compreensão do que é um campo concep mentos anteriores. Como poderiam fazer
tua1 e as razões pelas quais é necessário de outro modo?
estudar os tais campos e não os conceitos A consequência principal destes três pon-
isolados. tos é que os psicólogos e os didácticos não
devem tomar como objecto de estudo objec-
-Uma situação dada não põe, geral- tos muito pequenos, mas, pelo contrário,
mente, em execução todas as proprie- campos conceptuais bastante iargos. A falta
dades de um conceito. Se queremos disto o risco maior é de não poder com-
fazer os alunos encontrar todas estas preender o processo complexo e laborioso
propriedades é preciso fazer, necessa- pelo qual as crianças e os adolescentes domi-
riamente, referência a uma diversidade nam (ou não dominam) as matemáticas.
de classes de problemas. Um campo conceptuel pode ser definido
-Uma dada situação não põe habitual- como wn conjunto de situqões cujo domí-
mente em jogo um único conceito; a nio requer uma variedode de conceitos, de
sua análise requer, a maior parte das procedimentos e de representações simbó-
vezes, vários conceitos, e as dificulda- licm em estreita conexão.
des encontradas pelos alunos derivam, Esta definição não se quer rigorosa; ‘ela
em geral, de vários conceitos. Por reenvia muito mais para um conjunto de
exemplo, os’ problemas da adição e de situações que para um conjunto de contei-
subtracção podem implicar os contei- tos. A descrição de um campo conceptual
tos de medida, de transformação, de requer ao mesmo tempo a análise das situa-
comparação, de diferença, de inversão, ções (ou dos problemas), a análise dos pro-
de operação unária, de operação biná- cedimentos de tratamento utilizados pelos
ria, de número natural, de número re- alunos, os propósitos que têm e suas argu-
lativo, de função, de abcissa e ainda mentações, as representações simbólicas que
de outros. utilizam. O uso de uma representação sim-
- A formação de um conceito, parti- bólica pode ser uma ajuda eficaz, mesmo
cularmente se o considerarmos através crucial, podendo também dar lugar a gra-
das actividades de resolução de pro- ves erros de interpretações.
blema, cobre, em gera1, um período Mas antes de abordar a questão das repre-
de tempo muito longo, com muitas sentações simbólicas, é necessário fazer
interacções e desníveis. Não se pode ainda duas chamadas de atenção:
compreender a significação dos erros -O desenvolvimento dos conhecimentos
ou dos procedimentos de uma criança práticos e teóricos de uma criança faz-se
de 13 anos se não se conhece de que através de campos conceptuais: alguns são
maneira são formadas as suas concep de ordem matemática (as estruturas aditi-
ções e competências na idade de 8 ou vas, as estruturas multiplicativas, o espa-
9 anos, ou mesmo de 4 ou 5 anos, e ço...), outros são de ordem física (a dinâ-

84
mica, a electricidade.. .) ou económica (as dro I mostra uma grande variedade de pro-
compras e os preços, os ganhos e as per- blemas, sobretudo se se considera que, para
das.. .), outros são de ordem lógica (classifi- cada relação, existem várias classes de pro-
cações, lógica de proposições e operações blemas.
booleanas.. .). Estes campos conceptuais não Tomemos a relação 11: ela dá lugar a seis
são independentes mas interagem entre eles. classes de problemas dado que se procura
-Os teoremas-em-acto evocados mais o estado final, a transformação, e o estado
atrás englobam uma grande variedade de inicial, e dado que a transformação é posi-
conteúdos e permitem avaliar e analisar, tiva ou negativa. Quatro destes problemas
de maneira rigorosa, os conhecimentos da apelam para uma subtracção, os dois outros
criança: quais são operatórios e quais não para uma adição. Na relação IV, o número
são? Com efeito, é necessário sublinhar que de classes de problemas é muito maior por-
certos conhecimentos apreendidos e preten- que o signo das transformações intervêm
samente conhecidos dos alunos podem não para cada uma dentre elas assim como o
ser utilizáveis pelas crianças: teoremas que valor absoluto (para mais detalhes ver
não são teoremas-em-acto. Ao contrário Vergnaud, 1981).
existem conhecimentos operatórios cons- A escolha de esquemas facilita a comuni-
truídos espontaneamente pela criança que cação, porque estes permitem distinguir ca-
nunca tomam a forma de verdadeiros enun- sos que os alunos justamente consideram
ciados: teoremas-em-acto que não são teo- como distintos. Uma representação algé-
remas. Um dos problemas do ensino e da brica faz perder muita informação porque
didáctica é favorecer a transformação dos identifica sob o mesmo sinal ( f , -, =)
teoremas em teoremas-em-acto e reciproca- conceitos elementares relativamente dife-
mente. rentes uns dos outros.
Enumeremos algumas das identificações
4. A REPRESENTAÇÃO
pelas quais a álgebra adquire a sua força,
DAS RELACÕES ENTRE e confunde ao mesmo tempo objectos que,
SIGNIFICADOS E SIGNIFICANTES muito frequentemente, permanecem dife-
rentes para os alunos.
Recordemos, em primeiro lugar as prin-
cipais categorias de relações implicadas nas - Identificação dos números naturais aos
estruturas aditivas. inteiros positivos (mesma coisa para os
Os esquemas utilizados no quadro I reme- decimais ou os reais).
tem para símbolos diferentes, para a repre- -Identificação A mesma operação de
sentação das composições binárias, e para adição (representada pelo sinal +) da
transformações e comparações; o mesmo soma de duas medidas, e a aplicação
para a representação dos números naturais de uma transformação positiva, da
(medidas) e dos números relativos (transfor- composição de duas transformações, e
mações, comparações, dívidas ou créditos, a inversão de uma transformação ne-
abcissas.. .). gativa, etc.. .
-Identificação A mesma operação de
(ver Q d r o I na página seguinte) subtracção (representada pelo sinal -)
da aplicação de uma transformação
Os exemplos 1 a 8, propostos neste artigo, negativa, da diferença entre medidas,
não reenviam a nenhuma relação do tipo V entre estados, entre transformações, da
ou do tipo VI. N6s apenas abordamos, aqui, inversão de uma transformação posi-
uma parte das estruturas aditivas. O qua- tiva, etc...

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QUADRO 1
Principais relações aditivas

I Composição de medidas
n
O ? O
O- U o
I1 Transformação duma medida 111 Comparação de medidas

O
O 0 O ic
O'
O
IV Composição de transformações V Transformação VI Composição de
duma relação relapes

Legenda:

0 medida: número sem signo

0 transformação ou reíaçgo: número com signo

--.+ transformação (mudança de estado)

4 relação (entre estados)

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- Identificação de diferentes significações Exemplo 12: Thierry acaba de jogar duas
do sinal de igualdade: é o mesmo que, partidas de berlindes. Na segunda partida
dá como resultado, é equivalente a. perdeu 7 berlindes. Quando conta os seus
berlindes, no fim, aperecebe-se que ganhou
Tudo isto é perfeitamente legítimo e ne- 5 berlindes. O que se passou na primeira
cessário mas sob que condições, com que partida?
explicações e a que nível escolar? IÉ interessante saber que o problema «Ro-
A relação I1 é caracterizada por um bert» é resolvido l a 2 anos mais tarde que
aspecto dinâmico (transformação no tem- o problema «Pierre» e que o problema
po), a presença de uma operação unária «Thierry» tem 75 ?do de fracassos na sixiéme.
positiva ou negativa, a presença de uma Isto pode-se explicar pelo facto de que o
relação parte-todo entre estados. Estas são problema «Pierre» consiste em encontrar
duas situaqões relevantes da relação I1 que um estado final.
estão na origem das concepçks primitivas
da criança: a adição, é uma quantidade que
cresce, 0 a subtracção é uma quantidade que
decresce (Starkey e Gelman, 1981). Pode-se, W
portanto, esperar dificuldades assim que as
crianças têm que alargar a outras classes
Pierre r;l ------(>
O
de problemas e a outras relações as suas
concepções da adição e da subtracção. Por enquanto que o problema «Robert» consiste
exemplo, as relações I e I1 não comportam em encontrar um estado inicial
o aspecto temporal. A relação I11 não com-
porta a relação parte-todo.
Estas considerações têm relações estreitas
com o problema das representações simbó-
licas.
Tomemos ainda três exemplos de proble-
mas:
o ______E)

e que o problema «Thierry» consiste em


Exemplo 9: Pierre tem 5 berlindes. Joga encontrar uma transformação. no caso mais
uma partida com os amigos e ganha 7 ber- complexo da composição de duas transfor-
lindes. Quantos berlindes tem agora? mações sucessivas.
Exemplo 10: Robert acaba de perder 7 Representar estes três problemas por
berlindes. Tem agora 5 berlindes. Quantos equações e por diagramas de conjuntos @e
berlindes tinha ele antes de jogar? em evidência dificuldades muito desiguais.

87
Por exemplo, pode-se representar o problema ttPierre)) assim:

equação 5 + 7 = 0
esquema

diagrama de conjunto
5

Estas três representações são aceitáveis e representam ao mesmo tempo o problema


e o procedimento da resolução.
O mesmo não se passa para o problema «Robert».
Representação Representação
do problema da solução

o - 7 =5 5 + 7 =

+ 7
0 5 5 5 - 0

NADA =
5 7
Vê-se que a representação do problema A situação é pior para o problema
«Robert» e a do procedimento de resolução
«Thierry»: as representações correctas do
são diferentes. As crianças têm dificuldade
em representar simbolic&ente o problema; problema são uma equação em
isto raramente Ihes é ensinado. Por outro
lado o problema «Robert» não pode ser x + (-7) = (+ 5 )
representado por um diagrama englobali-
zante, porque este simbolismo não permite e o esquema da composição de transfor-

-
representar as transformações negativas. mações

88
a solução que os alunos dão habitualmente Exemplo 12: Juliette jogou ao berlinde de
manhã e de tarde. De manhã ganhou 14
5+7=12 berlindes. De tarde perdeu 31 berlindes.
(quando eles a encontram). Não tem nada Quando conta (4s berlinds ? noite,
i conta 23.
a ver com a representação do problema. Quantm tinha ela de manhã antes de jogar?
Tomemos um último exemplo (exem-
pio 12): O esquema do problema é o seguinte:

Entre as soluç6es dadas pelos alunos,rete- A solução D que repousa sobre o mesmo
nhamos as quatro seguintes: raciocínio que C, revela uma nova falta ao
nível da escrita: 14-31 = 17. Mas esta
A 23 i- 31 = 54- 14 = 40 falta assenta de facto sobre a pesquisa da
B 23+31 =54 diferença entre uma transformação positiva
54- 14 = 40 ( + 14) e uma transformação negativa
C 31-14=17+23=40 (- 31). Terá, o aluno, direito de ficar con-
D 14-31 = 17 tente com a sua solução?
17 + 23 = 40. Vemos, assim, que existem muitas fontes
de desnfveis entre significantes e significa-
A solução A representa um tratamento dos nas estruturas aditivas. Alguns sistemas
completamente aceitável do problema: par- simbólicos não permitem representar todos
tir do estado final, juntar o que tinha sido os problemas, ou não permitem distinguir
perdido e separar os que foram ganhos. entre a representação dos problemas e a
Mas a escrita viola a simetria e a transiti- representação das soluções. Enfim, alguns
vidade do sinal de igualdade. sistemas simbólicos veiculam significações
A solução B não viola estas propriedades. matemáticas standwd. Como ajudar os alu-
Ela pode ser considerada como melhor. nos a preencher estas lacunas?
Mas, com efeito, é essencialmente o mesmo
procedimento que A. Como A, representa
o procedimento de resolução e não o pro- 5. CONCLUSÃO
blema. O sinal de igualdade é provavel-
mente interpretado como o anúncio do A conclusão será breve. A análise precisa
resultado (isto dá ...) e não como uma rela- dos conteúdos conceptuais dos problemas de
ção de igualdade. adição e de subtracção leva a distinguir
A solução C leva a um outro comentário. várias relações muito diferentes umas das
Ainda que viole também a simetria e a outras, e uma grande diversidade de pro-
transitividade do sinal de igualdade este blemas, de procedimentos, de representações
procedimento assenta sobre um raciocínio simbólicas.
diferente das soluções A e B: primeiro O desenvolvimento das concepções e das
compõem-se as transformações e aplica-se competências da criança é um percurso
depois o inverso da transformação encon- complexo através deste conjunto. Para per-
trando assim o estado final. ceber tal percurso é preciso analisar, em

89
detalhe, as condutas dos alunos em situação, FUSON, K. (1981)-An analysis of the count-
as suas formulações, os seus procedimentos, ing-on solution procedure in addition. In:
Addition and Subtraction: a Cognitive Pers-
os afastamentos entre as exigências do pro- pective, Carpenter, T. P.; Moser, J. M.; Rom-
fessor e as tentativas dos alunos. berg, T. A. (Eds.), Hillsdale, N. J.; Lawrence
A paisagem das estruturas aditivas é com- Erlbaum.
plexa: as dificuldades encontradas pelos alu- MARTHE, P. (1982) - Prohlèmes de type addi-
nos ao nível do «Collége» e mesmo do liceu tif et appropriation par I’élève des groupes
additifs. These de troisikme cycle. Paris, Eco-
são testemunha disso. O percurso neste les des Hautes Etudes en Sciences Sociales.
campo conceptual maciço comporta muitas PIAGET, J. e SZEMINSKA, A. (1941) - Lu ge-
metáforas, incompreensões e mal entendi- nèse du nombre chez I’enfant, Genève, Dela-
dos, e estranhas relações entre significantes chaux et Niestlé.
e significados que se ligam desde a escola PIAGET, J. e INHELDER, B. (1948)-La re-
présentation de l’espace chez l’enfant, Paris,
primária. Se os actos contam mais que as PUF.
palavras e que os escritos, é necessário dar PIAGET, J. e INHELDER., B. (1978)- Le
uma grande importância aos teoremas-em- développement des quantités physiques chez
-acto descobertos ou compreendidos intuiti- I’enfant, Genève, Delachaux et Niestlé.
vamente pelas crianças em situação. Mas STARKEY, P. e GELMAN, R. (1981)-The
development of addition and subtraction abi-
não se explica sem recorrer a palavras e a lites prior to formal schooling in arithmetic.
sinais sobre o papel; as ciladas são inúmeras, In Addition and Subtraction, a cognitive
e reenviam-nas para as múltiplas significa- perspective. Carpenter, T. P.; Moser, J. M.;
ções da adição e da subtracção. Como po- Romberg, T. A. (Eds.); Hillsdale, N. J.; Law-
dem os professores não estarem prevenidos? rence Erlbaum.
VERGNAUD, G. (1981) -L’enfant, la mathé-
matique et Za réalité. Berne, Peter Lang.
VERGNAUD, G. (1981) -A classification of
cognitive tasks and operations of thought
BIBLIOGRAFIA involved in addition and subtraction problems.
In Addition and Subtraction: a Cognitive
BROUSSEAU, G. (1981) - «Probl*mes de didac- Perspective. Carpenter, J. P.; Moser, J. M.;
tique des décimaux)), Recherches en didactique Romberg, T. A. (Eds.); Hillsdale, N. J.; Law-
des mathématiques, 2, 37-125. rence Erlbaum.
CARPENTER, J. P.; MOSER, J. M. e ROM- VERGNAUD, G. (1983) - Multiplicative struc-
BERG. T. A. (Eds.) (1981)-Addition and tures. In Acquisition of Mathematics Concepts
Subfracfion: a cognitive perspective. Hillsdale, and Processes. Lesh, R.; Landau, M. (Eds.).
N. J.; Lawrence Erlbaum. Academic Press.

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