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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM EDUCAÇÃO CIENTÍFICA E POPULARIZAÇÃO

DAS CIÊNCIAS
ATIVIDADE AVALIATIVA DE FUNDAMENTOS TEÓRICOS E PRÁTICAS DA
EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

BRENO DIAS RODRIGUES

EXPERIÊNCIAS COM A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: O ENSINO POR


INVESTIGAÇÃO EM UM CLUBE DE CIÊNCIAS

CATU
2023
BRENO DIAS RODRIGUES

EXPERIÊNCIAS COM A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: O ENSINO POR


INVESTIGAÇÃO EM UM CLUBE DE CIÊNCIAS

Atividade avaliativa apresentada ao Instituto Federal


Baiano como requisito parcial para obtenção de conceito
no componente curricular Fundamentos Teóricos e
Práticas da Educação Científica do curso de pós-
graduação lato sensu em Educação Científica e
Popularização das Ciências.
Docentes: Prof. Dr. Jacson de Jesus dos Santos e Prof.
Dr. Marcelo Souza Oliveira

CATU
2023
EXPERIÊNCIAS COM A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: O ENSINO POR
INVESTIGAÇÃO EM UM CLUBE DE CIÊNCIAS

Breno Dias Rodrigues (brenodiasrodrigues91@gmail.com)

Na Educação Científica (EC), desenvolver propostas didáticas com abordagem


investigativa é um caminho favorável à formação de alunos que desenvolvam a capacidade de
reconhecer problemas reais, emitir e testar hipóteses, argumentar, entre outras destrezas,
fundamentais para sua instrumentalização e atuação de modo engajado e autônomo em seu
processo de aprendizagem, possibilitando uma aproximação dos objetos do conhecimento
escolar com aspectos da ciência e o trabalho científico, além da compreensão de sua natureza,
concebendo assim, uma cultura científica (Sasseron, 2015).
Diante disso, destaca-se o Ensino por Investigação, uma abordagem didática que centra
o processo de aprendizagem no aluno e o professor atua como um orientador, visando que esses
entendam o conhecimento científico em um processo construtivo. Neste sentido, pode ser
associada a diversas estratégias ou recursos pedagógicos, desde que a investigação seja o
princípio do trabalho. Assim sendo, é indispensável considerar as “habilidades que ajudem os
estudantes a resolver problemas a eles apresentados, devendo interagir com seus colegas, com
os materiais à disposição, com os conhecimentos já sistematizados e existentes” (Sasseron,
2015, p. 58).
À vista desses aspectos, na EC e, em modo particular, no Ensino de Ciências, a
Experimentação Investigativa – aqui entendida como uma atividade prática com fins didáticos
– é uma ferramenta importante e oportuna para que sejam fomentados os pressupostos do
Ensino por Investigação e o desenvolvimento das habilidades supramencionadas nos alunos,
além de aspectos importantes, como a análise de dados e informações, entre outros (Carvalho
et al., 2009). Isso posto, para o gerenciamento do processo investigativo, o professor deve
compreender que nesse modelo de experimentação didática, deve-se propor um problema
experimental e que os alunos manipulem intelectualmente suas ações com liberdade o suficiente
(Souza et al., 2013).
É neste sentido que se apresentam como estratégias sistematizadoras as Sequências de
Ensino Investigativas (SEI), que viabilizam a problematização de fenômenos e objetos do
conhecimento científico para a Educação e Ensino de Ciências. A SEI é um
encadeamento/sequenciamento de aulas que partem de um problema – experimental ou não – a
partir de um tópico do currículo escolar. A partir disso, podem ser abordados outros aspectos
relacionados ao tema base, como de cunho social, para que tenha significado na aprendizagem
dos alunos. O processo, dependendo do objetivo pedagógico, pode ser subsidiado por diferentes
estratégias e recursos de ensino, como a experimentação, textos de divulgação científica, filmes
comerciais com potencial para abordagem de temas e conceitos científicos, entre outros
(Carvalho, 2013; Sasseron, 2015; Carvalho, 2018).
Na SEI, dois pressupostos fundamentais devem ser considerados pelo professor para
com seus alunos: I) a proposição de uma pergunta-problema, de modo que tenha condições que
os alunos emitam e testem suas hipóteses, e que estejam em consonância com o que se pretende
que aprendam; II) a liberdade intelectual oferecida, para que tenham autonomia em suas ações
e interações entre os pares e o professor (Carvalho, 2018).
Nesse processo, o professor não deve dá a resposta ou apressar o raciocínio dos alunos,
mas deixa-los refletir e raciocinar livremente. Diante disso, o erro – que na maioria das vezes
pode ocorrer – deve ser considerado e visto como uma possibilidade de consciência da natureza
do conhecimento científico e de modo que os alunos tenham condições de ampliar suas
perspectivas sobre o fenômeno em estudo, viabilizando o controle de variáveis implicantes nos
resultados, ressignificando ideias e caminhos de resolução do problema. Nisso, as interações
dialógicas entre os pares, assim como as do aluno com o professor, se torna salutar para que a
mediação do processo ocorrer por perguntas e questões estimuladoras que suscite a reflexão
nos alunos (Carvalho, 2013).
É diante desses aspectos que Carvalho (2013), pressupõe algumas etapas de ação e
reflexão realizadas pelos alunos e fomentadas/mediada pelo professor por interações dialógicas
com o problema e os materiais didáticos. Essas ações podem ser observadas em etapas,
conforme sistematizas na Figuras 1.
Figura 1 - Sequência de Ensino Investigativa experimental

Fonte: Rodrigues e Malheiros (2023).


Diante desses apontamentos, sublinha-se que a discussão levantada até aqui se volta
para o contexto escolar da educação básica, isto é, o espaço convencional (formal) de ensino: a
sala de aula. Entretanto, há estudos no campo da EC e no Ensino de Ciências que
contextualizaram essas propostas para Clube de Ciências, que em geral se constituem espaços
não formais de educação e popularização das ciências, tais como Malheiro (2016) e Rodrigues
e Malheiro (2023), que se voltaram para ações educacionais no Clube de Ciências Prof. Dr.
Cristovam W. P. Diniz, originário da Universidade Federal do Pará (UFPA), campus de
Castanhal-Pará, mas que atualmente está em atividade em Belém, nas instalações do Centro de
Ciências Sociais e Educação da Universidade do Estado do Pará (UEPA). O espaço que é
organizado pelo coordenador e os professores-monitores1 que desenvolvem atividades
experimentais investigativas em vistas a uma iniciação científica infantojuvenil com alunos
clubistas de 5º, 6º e 7º anos do ensino fundamental de escolas públicas locais, próximas à UEPA.
Esse clube de ciências está em atividade no município de Belém desde agosto de 2022,
desenvolvendo suas atividades semanalmente nas manhas de sábado, entre 8h e 10h:30, sendo
que diversas SEI já foram desenvolvidas, com foco no Ensino de Física, Biologia, Química,
Matemática e demais abordagens interdisciplinares, como Educação Ambiental, questões
emocionais, estatística, entre outras. É nesse contexto de discussão, situa-se o autor enquanto
professor de ciências e pesquisador dos processos de ensino e aprendizagem nesse clube de
ciências, devido ao vínculo acadêmico com o mestrado2 e a orientação do coordenador do
presente espaço não formal.
Com disso, descreve-se na sequência o desenvolvimento de uma SEI na perspectiva do
Ensino de Química (EQ) com os alunos clubistas neste clube de ciências, em abril de 2023,
como parte imigrante da pesquisa de mestrado – que se encontra em andamento –, a qual se
volta para a análise das aprendizagens do conteúdo de ciências em sua tridimensionalidade, isto
é, os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais à luz da perspectiva teórica de Cool et
al. (1998), Zabala (1998), Pozo e Crespo (2009), entre outros autores, em articulação aos
pressupostos das SEI. Com isso, destaca-se no Quadro 1 a síntese das ações realizadas na SEI
intitulada “O problema das canetinhas hidrocor”.
Participaram da proposta pedagógica 25 alunos clubistas e 11 professores-monitores,
incluindo o professor-monitor dirigente (pesquisador), cuja proposta se tratou da identificação
qualitativa de pigmentos constituintes das tintas de canetas hidrográficas coloridas a partir do
método de separação de misturas Cromatografia em Papel (CP). O experimento foi inspirado
em propostas de trabalhos presentes na literatura sobre o EQ (LISBÔA, 1998; GONÇALVES

1
Graduandos de diferentes licenciaturas e pós-graduandos da educação em ciências e matemáticas que atuam
voluntariamente no planejamento e desenvolvimento das ações de ensino, pesquisa e extensão do Clube, que
inclusive o presente autor se constitui um dos colaboradores e atualmente desenvolve pesquisas com foco nesse
espaço pedagógico.
2
Mestrando em Educação em Ciências e Matemáticas pelo Programa de Pós-Graduação em Educação em ciências
e Matemáticas 9PPGECM) da UFPA em Belém.
et al., 2013) e no vídeo intitulado “O segredo das cores das canetinhas” disponível no canal
Manual do Mundo na plataforma YouTube3.
Quadro 1 - Etapas da Sequência de Ensino Investigativa “O problema das canetinhas hidrocor”

Etapa da SEI Descrição das ações


Momento introdutório, em que o professor-monitor dirigente organizou a turma em
pequenos grupos e destinou duplas de professores-monitores para mediar as discussões.
Houve a distribuição do material experimental e a proposição do problema “Como
identificar se cada canetinha possui uma ou mais cores em sua tinta?”. Para resolverem
O professor propõe
o problema, os grupos receberam um kit com os seguintes materiais: 6 canetas hidrocor
o problema
nas cores amarelo, azul, marrom, preto, verde e vermelho, da mesma marca; tiras
retangulares de filtro de papel (para coar café) e de papel sulfite com dimensões de 10
cm de comprimento e 2,5 cm de largura; álcool etílico comercial (70º GL); água, copos
descartáveis transparentes, tesouras sem ponta e fita crepe.
Ao receberem os materiais, os grupos iniciaram o processo de resolução, levantando suas
hipóteses e as testando. Os professores-monitores instigaram os alunos por perguntas em
Resolução do
um processo dialógico. Frente a isso, para o caminho viável e o efeito desejado no
problema pelos
experimento, os alunos tiveram que tomar consciência de que seria necessário pintar o
alunos
papel (filtro ou sulfite) com a canetinha em um traço ou ponto acima do nível do solvente
utilizado (álcool) no recipiente.
Após terem resolvido o problema e identificado a maneira correta de realizar a CP com
Sistematização dos as tintas nas canelinhas hidrográficas, os alunos socializaram suas ideias, experiências,
conhecimentos conhecimentos trabalhados e suas percepções. O professor-monitor dirigente mediou a
discussão, e ao final, abordou os conceitos químicos envolvidos.
Momento de sistematização individual dos conhecimentos, em que os alunos por meio
Escrever e da escrita e do desenho, manifestaram suas aprendizagens, sentimentos e subjetividades.
Desenhar Essa foi a etapa de foco da pesquisa, cujos principais materiais de análise foram os
registros gráficos produzidos.
Fonte: elaboração própria.

Em vista dessa experiência, percebeu-se que o Clube de Ciências é um espaço


pedagógico colaborativo que congrega a diversidade de pensamentos e práticas educacionais
para a formação científica de seus clubistas. Além disso, considera-se que a atividade
experimental investigativa desenvolvida potencializou e instigou voltar-se o olhar para a
importância do erro e das dificuldades de aprendizagem e/ou operações investigativas
realizadas pelos alunos, visto que em alguns momentos da resolução do problema, muitas
equipes seguiram um modo não satisfatório do efeito desejado na CP, mas que durante o
processo dialógico mediado pelos professores monitores, tiveram condições de ressignificar
suas operacionalizações à obtenção do efeito desejado.
Ademais, manipularam livremente os materiais disponíveis, não se detendo
exclusivamente ao aspecto conceitual, mas à mobilização de procedimentos, e
consequentemente atitudes, visto que se tratou de um trabalho coletivo e colaborativo entre os
pares e os professores-monitores. Em um processo dialógico, os professores viabilizaram esse
processo ao mediarem as ações dos alunos clubistas por perguntas estimuladoras.

3
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7vrL-BNcTpw&t=159s. Acesso em: 12 de dez. 2022.
Por fim, valoriza-se a necessidade de atividades experimentais sobre fenômenos
químicos nas práticas desse clube, pois apesar de desafiadora, a CP foi viável para aguçar a
curiosidade e as ações manipulativas e intelectuais dos alunos clubistas e despertar o interesse
em investigar situações desafiadoras e provocativas. Com isso, sugere-se investigações
ulteriores que voltem o olhar para o EQ e da EC, bem como sobre o grau de liberdade intelectual
de investigação nas atividades didáticas no contexto desse Clube de Ciências.

Referências Bibliográficas

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São Paulo: Scipione, 2009.
CARVALHO, A. M. P. O ensino de ciências e a proposição de Sequências de Ensino
Investigativas. In A. M. P. CARVALHO (Org.) Ensino de Ciências por Investigação:
Condições para implementação em sala de aula. 1 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013, pp.
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CARVALHO, A. M. P. Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino por Investigação.
Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências – RBPEC, v. 18, n. 3, p. 765–
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Disponível em: https://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc35_4/08-RSA-100-11.pdf. Acesso em: 05
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LISBÔA, J. C. F. Investigando tintas de canetas utilizando cromatografia em papel. Quím.
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MALHEIRO, J. M. S. Atividades experimentais no ensino de ciências: limites e possibilidades.
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https://periodicos.utfpr.edu.br/actio/article/view/4796/3150. Acesso em: 2 ago. 2022.
POZO, J. I.; CRESPO, M. A. G. Aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento
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SASSERON, L. H. Alfabetização Científica, Ensino por Investigação e Argumentação:
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SOUZA, F. L. et al. Atividades experimentais investigativas no ensino de química. São
Paulo: EDUSP, 2013.
ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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