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DA SÉRIE BEST-SELLER S O B R E F A M ÍL I A

Reformando
o Casamento
A Vida Conjugal Conforme o Evangelho

DOUGLAS WILSON
Reformando
o Casamento
Outros títulos da série:

Futuros Homens
Criando meninos para enfrentar gigantes

O marido federal
A liderança bíblica no lar

O fruto de suas mãos


O respeito e a mulher cristã

Sua filha em casamento


Cortejo bíblico no mundo moderno

Minha vida pela sua


Caminhando pelo lar cristão

Firmes nas promessas


Um manual para a educação bíblica de filhos
Reformando
o Casamento
A vida conjugal conforme o Evangelho

*
DOUGLAS WILSON

®
CURE
© CLIRE 2013. Tradução autorizada da edição americana em Inglês
© 2001,2012 Canon Press
l.a revisão, 2005. 2.a revisão, 2012.
Todos os direitos reservados.

Originalmente publicado em inglês sob o título:


Reforming Marriage: Gospel Living for Couples.
Primeira edição em português, 2013.

Publicado sob permissão de Canon Press,


P.O.Box 8729, Moscow, ID 83843.

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida


por quaisquer meios sem permissão por escrito dos editores, salvo
em breves citações, com indicação de fonte.

ISBN: 978-85-62828-25-6

Editor: Kenneth Wieske


Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Revisão: Rachel van de Burgt c Waldemir Magalhães
Capa: Rachel Rosales
Design do miolo: Laura Storm
Diagramação: Marcos Jundurian

Salvo outra indicação, todas as citações bíblicas foram


extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada, 2.11edição.

Centro de Literatura Reformada


Rua São João, 473, 50020-150, Recife-PE
Contato: +55 81 3223-3642
E-mail: ospuritanos@gmail.com
http://loja.clire.org/
Como não poderia deixar de ser,
este livro é para Nancy.
Foedus amorum est.
In trod u ção.......................................................................... 9

Capítulo 1: Uma teologia prática do casamento


1. Fu ndam entos.............................................................13
2. O pacto.........................................................................14
3. Companhia id ô n e a.................................................. 19
4. Crianças piedosas...................................................... 20
5. Proteção s e x u a l ........................................................ 21

Capítulo 2: Liderança e autoridade


1. Autoridade inescapável.......................................... 23
2. Amor e respeito........................................................ 26
3. Ela foi feita para e l e ................................................. 29
4. Responsabilidade......................................................33
5. O vaso mais f r á g i l ....................................................34
6. Igualdade de condições.......................................... 37
7. Coração de s e r v o ......................................................40
8. O marido evangélico...............................................41

Capítulo 3: Deveres do marido e da esposa


1. Os privilégios do dever m atrim onial................ 45
2. Deveres bíblicos do marido................................... 46
3. Deveres bíblicos da e s p o s a ................................... 50
Capítulo 4: Am or eficaz
1. O amor gera b e l e z a ................................................. 55
2. A questão da beleza fís ic a ..................................... 57
3. Verdadeira beleza...................................................... 59
4. C o r t e s i a ...................................................................... 62
5. Amor r o m â n t i c o ...................................................... 65

Capítulo 5: Acertando as contas sem demora


1. O problema do p e c a d o .......................................... 71
2. R econciliando-se......................................................74
3. Regras da casa para acertos rápidos................... 78

Capítulo 6: Tentações diversas


1. A síndrome do cara legal........................................ 81
2. Diferenças entre homens e m ulheres................ 90
3. Abdicação e dívida....................................................94
4. Pornografia..................................................................96
5. C r ític a s .........................................................................98
6. C iú m e s .........................................................................101

Capítulo 7: Leito digno de honra


1. Em guarda.............. ..................................................... 105
2. A vontade de Deus e a satisfação s e x u a l ......... 106
3. A bênção do leito m atrim onial............................ 110
4. Uma só c a r n e ............................................................. 114
5. A disciplina da fidelidade......................................122

Capítulo 8: Multiplicai e frutificai


1. A benção dos filh o s ................................................. 127
2. A longa estrada...........................................................131
3. Que dizer sobre o controle de natalidade? . . . 134

Capítulo 9: Divórcio e novo casamento


1. D iv ó r c io ...................................................................... 139
2. Bases bíblicas para o divórcio.............................. 142
3. Não eu, mas o S e n h o r ............................................ 146
INTRODUÇÃO

E andai em amor, como também Cristo nos amou e


se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacri­
fício a Deus, em aroma suave (Ef 5.2).

C omo você descreveria o aroma espiritual de seu lar?


Quando as visitas chegam, antes de praticamente qual­
quer coisa ser dita ou feita, qual é a primeira coisa que notam
sobre sua família? Em muitos casos, esse é o arom a . Eles
sentem como se uma má atitude tivesse se enfurnado embai­
xo da geladeira e estivesse apodrecendo ali? Ou pensam que
alguém passou a tarde inteira preparando um pão espiritual
na cozinha?
Talvez alguém que viva na casa não seja a pessoa mais
indicada para responder a essa pergunta. Aroma é um tipo
de coisa com que nos acostumamos. Os moradores geral­
mente não percebem aquilo que de imediato impressiona
um visitante. Então, se houver um aroma desagradável no
lar, às vezes esse pode ser um problema difícil de resolver.
Nenhuma fórmula pronta está disponível. Entretanto, a Bí­
blia tem, sim, algo a ensinar sobre essa questão. O texto
citado acima diz que quando os cristãos andam em amor
eles estão imitando a Cristo, e o sacrifício de Cristo é um
aroma agradável a Deus. D o mesmo modo, um lar com uma
atmosfera cristã produz este tipo de aroma perante Deus e,
consequentemente, perante os homens.
Em outras palavras, guardar a lei de Deus de todo o
coração (que é o que significa amar) é algo que não se vê
apenas através de atos explícitos de obediência. O efeito c o ­
lateral da obediência é o aroma do amor. Esse aroma está
fora do alcance daqueles que possuem o desejo hipócrita de
serem conhecidos como cumpridores da lei de Deus. Muitos
podem simular a obediência aos padrões de Deus, fazendo-o
de forma meramente externa. O que não podemos simular
é a fragrância inconfundível que resulta de agradarmos a
Deus.
Onde essa obediência de todo o coração deve começar
no lar? Onde deve se originar o aroma? Jesus nos ensinou,
com respeito aos indivíduos, que os vasos devem ser limpos
de dentro para fora. Se aplicarmos esse princípio ao lar, de­
vemos ver que o “interior” de uma família é, sem dúvida, o
relacionamento entre marido c mulher, à medida que cons­
cientemente imitam o relacionamento de Cristo e a igreja.
John Bunyan, certa vez exortou os esposos a serem “maridos
tão crentes a ponto de fazerem a esposa crente dizer: ‘Deus
não apenas me deu um marido, mas um marido que é uma
pregação diária de como Cristo trata sua igreja5” A saúde
de todos os outros relacionamentos no lar depende da saúde
desse relacionamento, e a chave se encontra no modo como
o marido trata sua esposa. Ou, para dizer de outro modo,
quando mamãe não está feliz, ninguém está feliz.
Mais adiante no capítulo cinco de Efésios, Paulo diz aos
maridos que amem a esposa como amam seu próprio corpo.
Ele destaca que todos nutrem e cuidam de seu próprio cor­
po. A palavra cuidar nessa passagem significa literalmente
manter aquecido. Consequentemente, um dos deveres fun­
damentais envolvendo o papel do marido é que ele mantenha
sua esposa aquecida. Quando isso é feito, o resto do lar é
aquecido. Mas como ele pode mantê-la aquecida? Perceba
que nosso texto diz que devemos andar em amor. Uma es­
posa não se mantem aquecida no seguro amor de um marido
se ele e inconstante em tal amor. Se é grosseiro ou a ignora,
mas vez por outra mostra-se terno, não está andando em
amor. O tipo de amor que Paulo exige aqui é constante. Ser
um marido piedoso e ser um marido constante.
E, como o contexto deixa claro, o amor de que fala
essa passagem é também algo imitativo. Ele e aprendido de
uma Pessoa; é aprendido observando-se Jesus Cristo. A s­
sim como as crianças aprendem de seus pais ao observá-los,
assim os cristãos aprendem de Cristo. Isso significa que um
marido que ama a sua esposa não é pioneiro no que está
fazendo. Tudo já foi feito antes. Cristo amou a igreja do
mesmo modo como exige que os homens amem a esposa.
Ele assim fez para nos deixar o exemplo. O amor e a afeição
de Cristo estão unicamente sobre o seu povo. D o mesmo
modo, os maridos devem amar somente a esposa. Esse é o
dever que espero explicar detalhadamente no decurso deste
pequeno livro.
Mas já deveríamos saber, por tudo isso, que tal obe­
diência não se limita à conformidade externa às exigências
de Deus. A obediência piedosa sempre trará consigo uma
miríade de coisas intangíveis. Essas coisas constituem o aro­
ma da obediência, c esse aspecto da verdadeira obediência
frustra os métodos de passo-a-passo para aprimorar o casa­
mento. Eis por que temo que este livro não sirva de grande
ajuda àqueles que simplesmente querem uma “fórmula” para
construir um casamento feliz. N o que se refere aos aspec­
tos externos, o mero imitador sempre pode dizer de si mes­
mo aquilo que Saulo, ainda não regenerado, podia dizer de
si: “quanto à justiça que há na lei, irrepreensível” (Ep 3.6).
Contudo, não importa quão arduamente o sujeito se esforce,
não poderá simular o aroma da piedade. Eis por que tantas
pessoas freqüentam eventos sobre casamento e leem livros
sobre matrimônio com tão pouco resultado. A obediência
do homem cristão não se limita a desempenhar novas ações
— ações que, no fim das contas, podem ser copiadas me­
canicamente. E esse não parece ser um equívoco incomum
ou raro; muitas pessoas cujos casamentos são infelizes são
também as que leram todos os livros sobre o que não fazer.
E óbvio que certas ações — a piedosa obediência aos
mandamentos externos — devem estar presentes em todo
casamento saudável; mas para produzir esse aroma distin­
tivo, os atos externos devem proceder de um coração novo.
Com o William Tyndale afirmou, quando Deus “edifica, pri­
meiro derriba. Ele não é um emendador”. D o mesmo modo,
o amor do marido cristão não procede da leitura dos “livros
corretos”, nem mesmo deste aqui, ou de participar dos even­
tos certos. Deus não vai remendar sua graça com alguma
tolice psicológica humanista — ainda que tal tolice esteja
formulada e burilada cm terminologia cristã. Um casamento
piedoso procede de um coração obediente, e o maior desejo
de um coração obediente é a glória de Deus, não a felicidade
de um lar. Sc nos for permitido parafrasear as palavras do
Catecismo, o fim principal do casamento e glorificar a Deus
e gozá-lo para sempre. A razão por que somos infelizes em
nosso casamento é porque o idolatramos. Mas a glória de
Deus é mais importante do que a nossa felicidade doméstica.
N o mundo feito por Deus, se uma criatura adora qual­
quer outra coisa que não o Deus Criador, acabará por perder
o que idolatra e adora. Os maridos devem amar a esposa; não
devem ad orã-la . Quem perder a sua vida achá-la-á; quem
busca achar a sua vida perdê-la-á. Aquele que põe sua es­
posa acima de Deus há de perdê-la. Aquele que glorifica a
Deus irá sem dúvida obedecê-lo por meio do amor sacrificial
por sua esposa. Não resta dúvida de que uma esposa é bem
-aventurada quando seu esposo ama a Cristo mais do que a
ela. Quando um marido busca glorificar a Deus em seu lar,
ele será equipado para amar sua esposa tal como lhe foi or­
denado. E se ama sua esposa como lhe foi ordenado, o aroma
de seu lar será realmente agradável.
C A P ÍT U L O I

*
UMA TEOLOGIA PRÁTICA DO CASAMENTO

1. FUNDAM ENTOS

U ni passeio rápido pela seção de casamento e família


de uma livraria cristã local facilmente demonstra que
os cristãos modernos possuem um tremendo interesse por
esse tema. Mas este negócio matrimonial em auge (livros,
conferências, seminários, aconselhamento para casais) é na
verdade um sinal de doença, não de saúde. Num sentido
muito real, nosso interesse é mórbido, quase patológico. S o ­
mos como um paciente de câncer terminal pesquisando fer­
vorosamente por tratamentos alternativos, na vã esperança
de encontrar algo que funcione. Desesperados por felicida­
de cm nosso relacionamento e descontentes com aquilo que
Deus nos deu, estamos implorando aos especialistas que nos
mostrem a saída.
Deus é o Senhor. Ele c central para a coerência de todas
as coisas, incluindo o casamento. Ele tem a proeminência
sobre céu e terra, e todas as suas criaturas humanas têm
a responsabilidade moral de reconhecer essa proeminência
em tudo que fazem, inclusive no modo como se casam. Um
homem e uma mulher que possuem essa orientação, em um
laço de aliança, desfrutam de um casamento cristão. Se ne­
garem ou ignorarem essa verdade, o farão por seu próprio
risco. Um cristão maduro é alguém que entende ser dever de
toda criatura humana glorificar a Deus em todas as coisas.
E, portanto, evidente que tal cristão maduro também será
um marido maduro. Igualmente, uma mulher cristã madura
será uma esposa madura. A maturidade no Senhor é um pré
-requisito para a maturidade no casamento .
Ao estudar o tema do casamento, devemos começar
com a instrução bíblica sobre a natureza e o caráter de
Deus. Quando chegarmos a compreender que ele é de fato
o Senhor, iremos naturalmente nos voltar para ele a fim de
aprender como sua lei graciosa se aplica ao fundamento e
propósito do casamento.

2. O PACTO

A natureza do Deus triuno nos é descrita na Escritura sob


a figura de um elo entre pai e filho. Deus é o Pai> e Jesus
Cristo é seu único Filho. Antes de firmar os fundamentos
da terra, o Pai já havia escolhido uma noiva para o seu Filho.
Essa noiva é a igreja cristã, revelada no fim da história como
eleita de Deus.

Veio um dos sete anjos... e falou comigo, dizendo:


Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro;
e me transportou, em espírito, até a uma grande e
elevada montanha e me mostrou a santa cidade, J e ­
rusalém, que descia do céu, da parte de Deus (Ap
21.9-10).

Paulo nos ensina que devemos propositalmente pensar


sobre nosso casamento como imagem imperfeita do casa­
mento central, o de Cristo com sua igreja. Esse é um grande
mistério, diz ele, mas quando um homem deixa seu pai c
sua mãe e toma uma esposa, está fazendo uma declaração
acerca de Cristo e a igreja. Dependendo do casamento, essa
declaração poderá ser boa ou ruim, mas sempre será feita.
Podemos, portanto, ver como a base do casamento é
pactuai . O relacionamento de Deus conosco por meio de
Cristo é pactuai — é a Nova Aliança — e nosso casamento
é uma figura dessa verdade. A base de uma vida matrimo­
nial piedosa é a mesma de toda a vida piedosa — buscar a
glória de Deus em tudo que fazemos. Nosso Deus triuno
faz e guarda alianças, e ele escolheu o casamento como um
dos melhores instrumentos pelo qual homens caídos podem
glorificá-lo.
Ao atacar a natureza pactuai do casamento, o erro fe­
minista foi, de fato, de grande utilidade. Através da história
da igreja, heresias destrutivas têm sido usadas pelo Deus
soberano para forçar a igreja a definir aquilo que não estava
claro. Foi o herege Marcião que levou a igreja a definir o
cânon da Escritura, foi o herético Arius que forçou a igreja
a testificar claramente da plena divindade do Senhor Jesus,
e assim por diante. Em nossos dias, o feminismo está pro­
movendo essa mesma oportunidade por meio de sua afronta
ao pacto do casamento.
Sem o desafio do erro, podemos facilmente perder o
foco, fazendo aquilo que parece “natural” ou “tradicional”.
Há muitos que fazem um monte de coisas porque elas “sim­
plesmente parecem ser corretas”. Contudo, quando em al­
gum momento tal prática é desafiada, o tradicionalista se
põe perplexo: “Bem, realmente não tenho muita certeza do
por quê faço isso”. Considere nossa prática de a mulher to ­
mar o sobrenome do marido. Por que fazemos isso? Por que
Maria Tcrcza se torna Maria Tereza de Brito? Acaso a Bíblia
o exige?
Surpreendentemente para alguns, a Bíblia ensina
que Deus chama marido e esposa pelo mesmo nome — o
nome do marido. Isso confere total apoio tanto à nossa
prática específica de a noiva receber um novo nome, como à
verdade pactuai que essa prática representa.
“Este é o livro da genealogia de Adão. N o dia em que
Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem
e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome
deAdãüj no dia em que foram criados” (Gn 5.1-2). Em ou­
tras palavras, Deus criou Adão e sua esposa como homem
e mulher, os abençoou, e os chamou Adão. Ela era, desde
o começo, participante do pacto no nome de seu marido.
Deus não chamou somente ela de Adão, mas a chamou Adão
juntamente com seu esposo.
E depois de dar nom e aos animais que A d ã o se dá c o n ta
da falta de uma ajudadora adequada:

Deu nome o homem a todos os animais domésticos,


às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para
o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora
que lhe fosse idônea. Então, o S h n h o r Deus fez cair
pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; to­
mou uma das suas costelas e fechou o lugar com
carne (Gn 2.20-21).

Ao nomear os animais, Adão não estava simplesmente


pondo epítetos aleatórios. N o mundo antigo, os nomes eram
extremamente significativos e representavam a natureza e
caráter daquele que era nomeado. Essa signilicância fica bem
clara nas narrativas de Gênesis nas quais Adão nomeia sua
esposa. Ao dar nome aos animais, Adão não viu nenhum que
pudesse prestar-lhe ajuda idônea.
Após a criação de sua esposa, Adão a recebe, e a nomeia :

E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos


e carne da minha carne; chamar-se-á varoa [Ishshah,
não EvaJ, porquanto do varão foi tomada. Por isso,
deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher,
tornando-se os dois uma só carne (Gn 2.23-24).

Com o mostra o verso 24, Adão e Ishshah eram um ca­


sal paradigmático. Eles não eram dois indivíduos quaisquer.
Quando o Senhor Jesus ensinou sobre o tema do divórcio,
ele apelou para a ordenação do casamento na Criação en­
contrada nos primeiros capítulos de Gênesis. Ele nos en­
sinou que Deus é quem une um homem e uma mulher em
matrimônio, e que o homem não tem autoridade para .sepa­
rar aquilo que Deus uniu. Tenta-se alegar que, em Gênesis,
Deus estava somente unindo Adão e Eva — dois indivíduos
enquanto indivíduos. Mas esse argumento é contrário ao
ensino de Cristo, que insistiu que Adão e Eva eram um casal
paradigmático — um padrão para todos nós (Mt 19.4-6).
Quando Deus os uniu, ele estava unindo cada homem e mu­
lher que viria um dia a se unir sexualmente em um vínculo
pactuai. .
Outros fatos são igualmente evidentes a partir da orde­
nança do casamento na criação. Porque Deus os criou Adão e
Eva, a homossexualidade está fora de questão. Porque Adão
não pôde encontrar nenhuma auxiliadora que lhe fosse idô­
nea entre os animais, o bestialismo está fora de questão. E
porque Deus criou apenas uma mulher para Adão, o padrão
da monogamia nos é claramente firmado e demonstrado. A
poligamia encontrada no Antigo Testamento entre os santos
de Deus não altera esse fato. A poligamia foi instituída pelo
homem^ não por Deus. O primeiro registro de uma união
poligâmica refere-se a Eamcque (Gn 4.19), sem qualquer
sinal de aprovação divina. Porém, mais importante, a po­
ligamia não se encaixa com a ordenança do matrimônio na
criação ou com a figura apresentada no Novo Testamento,
de Cristo e a igreja.
Assim, na passagem de Gênesis que analisamos, somos
ensinados que o fato de Adão ter recebido sua mulher, e lhe
dado um nome, seria um padrão para todos os casamentos
por vir: “Por isso, deixa o homem pai e mãe” Aqui neste
ponto Adão ainda não havia dado o nome de Eva à sua es­
posa. Adão conferiu à sua esposa dois nomes distintos. O
primeiro foi Ishshah, ou mulher, porque ela fora tomada do
homem. O segundo foi Chavvah — portadora de vida, ou
como facilmente se pode pronunciar em nosso idioma, Eva:
“E deu o nome de Eva [Chavvah] a sua mulher, por ser a mãe
de todos os seres humanos” (Gn 3.20).
Em ambas as passagens onde é nomeada, claramente se
afirma que os dois nomes revelam significados verdadeiros
sobre ela. O primeiro revela sua dependência do homem —
ela foi tomada do homem. O segundo revela a dependência
que o homem tem dela — todo homem desde então c dela
filho. Séculos depois, o apóstolo Paulo nos ensina que de­
vemos recordar dessas duas verdades em nosso casamento.
Cada esposa é uma Ishshah , c cada esposa é uma Chavvah.
Cada uma delas é mulher, e cada uma delas é Eva.
“N o Senhor, todavia, nem a mulher é independente do
homem, nem o homem, independente da mulher. Porque,
como provém a mulher do homem, assim também o homem
é nascido da mulher; e tudo vem de Deus” (iC o 11.11-12).
Note que a seqüência do pensamento de Paulo segue o mes­
mo padrão visto em Gênesis. A mulher “provém do homem
(Ishshah), assim também o homem é nascido da mulher
('Chavvah ); c tudo vem de D eus” (Adão).
Deus é aquele que chamou nossos prim eiros pais
pelo nome coletivo de Adão. O ra, Adão é também um
termo genérico para hom em ou hum anidade. Isso mostra
claramente a prática bíblica de incluir as mulheres sob tal
descrição. N osso uso vernáculo do term o genérico h o ­
mem e hum anidade segue de maneira exata esse exemplo
bíblico. Longe de insultar as mulheres, com o as fem inis­
tas afirmam, isso reflete um padrão bíblico de raciocínio.
A reação feminista a isto, e a rejeição a um novo sobren o­
me (a fim de manter o sobrenome patern ol ), é não apenas
uma demonstração da estupidez moderna: é fundamen­
talmente rebeldia contra Deus. Assim, quando a senhori-
ta Maria Tereza se torna a senhora Pedro de Brito, não é
simplesmente porque “costumamos fazer assim”. Trata-se
de uma garantia pactuai.
Com esse pano de fundo basilar para entender o pacto
matrimonial, podemos agora considerar os propósitos fun­
damentais do casamento. A Bíblia expõe basicamente três
razões terrenas para o casamento. Elas são, pela ordem: a
necessidade de companhia idônea, a necessidade de suscitar
uma semente piedosa, e de se evitar a imoralidade sexual.

3. C O M P A N H IA ID Ô N E A

A Bíblia ensina que Deus colocou Adão no jardim e deu-lhe


uma tarefa para desempenhar. Porém o homem era, sozinho,
incapaz de cumprir a tarefa. Adão precisava de ajuda, e a
mulher foi criada para suprir essa necessidade.

Havendo, pois, o S e n h o r Deus formado da ter­


ra todos os animais do campo e todas as aves dos
céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes
chamaria; e o nome que o homem desse a todos os
seres viventes, esse seria o nome deles. Deu nome
o homem a todos os animais domésticos, às aves
dos céus e a todos os animais selváticos; para o ho­
mem, todavia, não se achava uma auxiliadora que
lhe fosse idônea. Então o S e n h o r Deus fez cair pe­
sado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou
uma das suas costelas e fechou o lugar com carne.
E a costela que o S e n h o r Deus tomara ao homem,
transformou-a numa mulher e lha trouxe. E disse o
homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne
da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do
varão foi tomada. Por isso, deixa o homem pai e mãe
e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só
carne (Gn 2.19-24).

Devemos ser capazes de ver a conexão entre o trabalho


de Adão de nomear os animais e a frase que vem em seguida:
“para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que
lhe fosse idônea”. A mentalidade moderna tende a pensar
no “dar nome às coisas” como a simples atividade mecâ­
nica de pôr rótulos. Mas aqui Adão está nomeando os ani­
mais com um nome adequado à natureza de cada um deles.
C om o mencionei anteriormente, no processo de dar nomes,
ele percebeu que não havia encontrado nenhuma auxiliadora
adequada • — nenhum dentre os animais possuía natureza
comparável à sua. Ele não poderia nomear qualquer um deles
de auxilio idôneo.
No verso imediatamente anterior a essa passagem,
Deus disse que não era bom que o homem estivesse só. Em
todo o decorrer da criação, quando Deus completava uma
obra, ele então pronunciava que ela era boa. Obviamente, tal
pronunciamento feito pelo Criador indica completude. Mas
a afirmação do Senhor de que não era bom que o homem es­
tivesse só é uma clara indicação de que a criação do homem
ainda estava incompleta: “Disse mais o Senhor Deus: não é
bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que
lhe seja idônea” (Gn 2.18). Adão estava incompleto porque
carecia de companhia, daquela que lhe seria idônea auxilia­
dora.
O Novo Testamento aplica essa verdade de modo mui­
to interessante: “Porque também o homem não foi criado
por causa da mulher, c sim a mulher, por causa do homem”
(IC o 11.9). C om o resultado da ordem da criação, homens
e mulheres são orientados um para o outro de modo dife­
rente. Precisam um do outro, mas precisam um do outro de
modo diferente. O homem precisa de ajuda ; a mulher precisa
ajudar. O casamento foi criado por Deus para prover com ­
panhia em meio ao labor do domínio. O mandato cultural,
a exigcncia de encher e subjugar a terra, ainda vigora, e o
marido não pode cumprir essa porção da tarefa de forma
isolada. Precisa de uma auxiliadora à altura na tarefa para
a qual Deus o vocacionou. Ele é chamado para trabalhar e
deve receber dela ajuda. Ela é chamada para o trabalho por
meio do serviço a ele. O marido está orientado para o traba­
lho, c a esposa está orientada para o marido.

4. C R IA N Ç A S P IED O SA S
Uma das coisas que o homem obviamente não pode fazer
sozinho é reproduzir-se, e esse é o segundo propósito do
casamento. Na tarefa de encher a terra, que foi o que Deus
ordenou, um homem sozinho está completamente desam­
parado. Por isso o profeta Malaquias nos diz que outro pro­
pósito declarado do casamento é a bênção de uma semente
piedosa:

Não fez o Sen h o r um, mesmo que havendo nele


um pouco de espírito? E por que somente um? Ele
buscava a descendência que prometera. Portanto,
cuidai de vós mesmos, c ninguém seja infiel para
com a mulher da sua mocidade (Ml 2.15).

Deus nos fala aqui de modo muito claro que um dos


propósitos do matrimônio é a procriação. Além disso, se o
casamento é piedoso, sua descendência também há de ser
santa. Deus declara que deseja uma descendência piedosa. O
profeta Malaquias afirma, como meio para um fim, a impor­
tância de tratar as esposas com honra. Sc um homem trata sua
esposa de forma traiçoeira, isso sem dúvida terá um efeito
negativo sobre os filhos. Não nos é dito que crianças piedo­
sas são um propósito da paternidade, elas são, ao invés disso,
um propósito do casamento.

5. P R O T E Ç Ã O SEXUA L

Adão precisava de uma companhia útil antes da Queda. Ele


também não podia, sozinho, multiplicar seus descendentes
antes da Queda. Assim, os primeiros dois propósitos men­
cionados acima para o casamento não estão necessariamente
relacionados com a presença do pecado. Mas a terceira razão
por que os cristãos devem casar-se está ligada à presença do
pecado e da tentação. O apóstolo Paulo afirma isso deste
modo:

Por causa da impureza, cada um tenha a sua pró­


pria esposa, e cada uma, o seu próprio marido. O
marido conceda à esposa o que lhe é devido, e tam­
bém, semelhantemente, a esposa, ao seu marido
(lC o 7.2-3).
Vivemos em um mundo caído e, como conseqüência,
os cristãos frequentemente lutam com tentações à luxúria,
fornicação, c adultério. A Bíblia não ensina que tais tenta­
ções irão embora facilmente através do misterioso processo
de “confiar em Deus”. Infelizmente, a luta contra os pecados
sexuais para muitos mais parece com uma luta encarniça­
da do que com “descansar e entregar-se a Deus”. A Bíblia
nos ensina que essa experiência não deve nos surpreender.
Pedro nos exorta a que nos abstenhamos “das paixões car­
nais, que fazem guerra contra a alma” (IPe 2.11). Paulo usa
o mesmo tipo de imagem violenta quando diz aos cristãos:
“Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição,
impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é
idolatria” (Cl 3.5).
Ora, Deus provê uma ajuda muito prática aos cristãos
enquanto lutam com as tentações sexuais; essa ajuda se cha­
ma atividade sexual lícita. A fim de fornecer proteção satis­
fatória, as relações sexuais entre cônjuges piedosos devem
ser consistentes e freqüentes. É necessário que haja proteção
constante, particularmente para o marido. Ao mesmo tem­
po, o benefício da relação sexual não deve ser medido me­
ramente cm termos de periodicidade ou quantidade. Deve
haver proteção qualitativa, particularmente para benefício
da esposa.
Se casais cristãos chegam a entender que o propósito
último de seu casamento é glorificar a Deus, já deram um
im portante prim eiro passo. Se então buscam definir o
propósito secundário de sua união de acordo com a E s c ri­
tura, serão equipados para considerar a instrução bíblica
a respeito da atitude que devem ter sobre o casamento,
e receber instrução geral e específica da Palavra de Deus
sobre seus deveres no lar.
C A P ÍT U L O 2

LIDERANÇA E AUTORIDADE

1. A U T O R ID A D E IN ESCAPÁVEL

U
ma rápida lição gramatical pode ajudar a explicar a na­
tureza da autoridade bíblica no lar. Muitas vezes, ao
ler as Escrituras, os cristãos confundem indicativos e impe­
rativos. Um indicativo é uma afirmação de um fato; não há
nenhum dever nele — a cadeira é marrom; o barco é grande;
a neve é encrespada. Um imperativo , por outro lado, é uma
ordem; ele nos diz o que devemos fazer. Feche a porta! Ligue
o computador! Pare! Consequentemente, se alguém dissesse:
“O livro está sobre a mesa”, isto seria uma simples afirmação
de um fato. E um indicativo. Mas se alguém diz: “Ponha o
livro sobre a mesa”, isso é uma ordem — um imperativo.
A razão para realçar essa distinção é que muitos cris­
tãos têm entendido mal o que a Bíblia está dizendo porque
tentam transformar indicativos em imperativos. Quando se
trata do evangelho, o coração carnal adora cometer esse
mesmo equívoco. Que é o evangelho senão um grande indi­
cativo? Pregadores fiéis proclamam aquilo que Deus já fez
na cruz para salvar pecadores, enquanto homens ímpios ten­
tam transformar a mensagem do evangelho em alguma coisa
que possam fazer para conseguir a salvação.
A mesma confusão “gramatical” acontece quando ma­
ridos buscam entender o que a Bíblia ensina sobre liderança
e autoridade no casamento. A Bíblia diz que o “marido é o
cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja”
(Ef 5.23). Está muito claro que Paulo não diz que o marido
deve ser o cabeça da mulher. Ele diz que o marido é o cabeça.
Nesse verso, o apóstolo não está nos dizendo como os casa­
mentos devem funcionar (isso aparece nos versos seguintes).
Antes, ele está nos dizendo o que é a relação de casamento
entre marido e mulher. O casamento é em parte definido
como a autoridade de um marido sobre a esposa. Em outras
palavras, sem essa autoridade, não há casamento.
Isso não significa que Deus não deu nenhum imperati­
vo aos maridos. Nos versos sesuintes
o encontramos um im-
perativo de fato muito básico — o marido é ordenado a amar
a esposa como Cristo amou a igreja. Mas em lugar algum é
ordenado a ser cabeça de sua esposa. E isso porque ele já é o
cabeça da esposa, em razão da natureza mesma do casamento.
Se ele não a ama, é um cabeça medíocre, todavia, cabeça.
Meditar sobre isso é algo de grande valor para os mari­
dos. Por ser o marido o cabeça de sua esposa, ele se encontra
em uma posição de liderança inescapável. Não pode recusar­
-se a liderar sem que isso tenha conseqüências. Se tentar
abdicar de alguma forma, ele pode, por meio de sua rebeldia,
ser um líder fraco. Mas não importa o que faça ou aonde
vá, ele ainda será o líder de sua esposa. Foi assim que Deus
projetou o casamento. Ele nos criou como homem e mulher
de tal modo a assegurar que os homens teriam domínio no
matrimônio. Se o marido é piedoso, então esse domínio não
será severo; será caracterizado pelo mesmo amor sacrificial
demonstrado por nosso Senhor — Dominus — na cruz. Se
um marido tentar fugir de sua liderança, essa renúncia irá
dominar o lar. Se pegar um avião e for para o outro lado do
país e permanecer ah, ele ainda dominará em sua ausência
e por sua ausência. Quantas crianças não cresceram em um
lar dominado pela cadeira vazia na mesa? Se o casamento é
daqueles no qual a esposa “veste calças”, essa falha no caráter
do marido é justamente a coisa mais óbvia sobre o casa­
mento, criando um matrimônio c lar infelizes. Sua renúncia
domina.
Nessa passagem de Efésios, Paulo nos diz que os ma­
ridos, em seu papel como cabeças, fornecem uma imagem
de C risto e a igreja. Cada casamento, em qualquer lugar
do mundo, é uma imagem de Cristo e a igreja. Em razão
do pecado e rebeldia, muitas dessas imagens são mentiras
deslavadas sobre Cristo. Mas um m arido nunca deixa , por
meio de suas ações , de dizer algo sobre Cristo e a igreja. Se é
obediente a Deus, está pregando a verdade; se não ama sua
esposa, está falando apostasia e mentira — mas está sempre
falando. Se abandonar sua esposa, está dizendo que esse é
o modo como Cristo trata sua noiva — o que é mentira. Se
for grosseiro com sua esposa e a machucar, está dizendo que
Cristo age assim com a igreja — o que é outra vez mentira.
Se dorme com outra mulher, é um adúltero, e também blas-
femador. C om o poderia Cristo amar outro alguém que não
a sua própria noiva? E chocante ver a maneira como, por
alguns minutos de prazer, homens infiéis podem caluniar a
fidelidade de Cristo.
Essas são palavras duras. E mesmo especificando o
que estou dizendo, é provável que muitos leitores tenham
reagido mal ao uso inicial da palavra domínio. Esse fato é
simplesmente outro testemunho do quanto a igreja cristã é
influenciada pela propaganda do feminismo — seja do tipo
mundano que odeia os homens, ou do tipo asséptico e “evan­
gélico”. Entretanto, o domínio do marido é um fato; a única
escolha que temos é entre o domínio amoroso e construtivo
ou a tirania odiosa e destrutiva. Argumentar contra a reali­
dade de que o marido é o líder do lar é como atirar-se de um
precipício para contestar a lei da gravidade. Por mais que o
sujeito apresente suas razões enquanto segue em queda livre,
ao fim acabará por ver-se refutado, da pior maneira possível.
Não importa se os cristãos estão fazendo concessões
ao feminismo, tais concessões não poderão anular o indica­
tivo deixado por Deus na criação. E como poderiam? Deus
construiu a liderança do marido na própria estrutura do ca­
samento. Mas o que tais concessões ao feminismo podem
fazer, o fazem muito bem — trazem rebelião e pecado. Tal
rebelião impede que o marido obedeça ao imperativo , que é
amar a sua esposa. E quais as conseqüências? Vemos maridos
negando sua posição como cabeça da esposa e recusando-se
a amá-las como são instruídos a fazer.

2. A M O R E R E S P E IT O
O segundo grande mandamento exige que amemos o nos­
so próximo como a nós mesmos: “O segundo é: Amarás o
teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento
maior do que estes” (Mc 12.31). E, é claro, se perguntarmos
“quem é o nosso próximo”, a resposta que Jesus nos dá é que
a pessoa que está em frente a nós é o nosso próximo. C om o
a parábola deixa claro, isso inclui o estrangeiro do outro
lado da rua, mas também aqueles com os quais vivemos.
Certamente a Escritura exige que marido e esposa amem
um ao outro.
Mas quando a Bíblia dá um mandamento específico
ao marido enquanto m arido , e faz o mesmo com a esposa
enquanto esposa , a ênfase nos respectivos mandamentos é
notavelmente diferente. Por exemplo, as esposas são especi­
ficamente ordenadas a amarem ao marido. Em uma passa­
gem (Tt 2.4), pede-se que as mulheres mais velhas ensinem
as mais jovens a "amarem ao marido”. Mas essa é uma pala­
vra composta (philandros), e a forma da palavra para amor
refere-se a uma calorosa afeição. Nesse verso, o mesmo tipo
de palavra composta é usada com respeito aos filhos. P o ­
deríamos parafrasear a passagem para dizer que as mulhe­
res mais velhas devem ensinar as mais jovens a serem "dos
filhos” e “do marido”. Fora dessa passagem, a atitude que
é exigida das mulheres é de respeito . "A esposa respeite ao
marido” (E f 5.33).
Os homens, por outro lado, são ordenados a amar (aga-
pao) a esposa até às últimas conseqüências. Dois exempios
são dados para os homens, e ambos exigem tremendo sa­
crifício de si. Primeiro, os homens devem amar a esposa do
mesmo modo como amam seu próprio corpo: “Assim tam­
bém os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio
corpo” (E f 5.28). Ninguém jamais odiou a si mesmo, ensina
Paulo, e isso nos provê de um bom padrão para tratarmos o
outro. Um marido deve ser tão pronto na busca pelo bem
-estar da esposa como o é para o seu próprio bem-estar. Isso
é nada menos do que aplicar ao casamento a regra de ouro.
Segundo, homens devem amar a esposa como Cristo amou
a igreja: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo
amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (E f 5.25).
A Escritura aqui claramente apresenta nossos deveres.
As esposas devem respeitar o marido, e os maridos devem
amar a esposa. Porém, ainda há mais. Quando considera­
mos essas exigências e vemos como homens e mulheres se
relacionam, podemos perceber a harmonia entre aquilo que
Deus requer e aquilo que precisamos dar e receber.
Os mandamentos são dados às nossas respectivas fra­
quezas no desempenho de nossos deveres. Os homens pre­
cisam cumprir seu dever com respeito à esposa — precisam
obedecer à ordem de amar. As mulheres, da mesma forma,
precisam cumprir seu dever — precisam obedecer à ordem
de respeitar. Mas os homens são geralmente fracos nesse tipo
de amor. C . S. Lewis certa vez comentou que as mulheres
tendem a pensar no amor como arranjar problemas por cau­
sa de alguém (o que está muito mais próximo da definição
bíblica), enquanto os homens tendem a pensar no amor
como não dar problema a outros. Consequentemente, os
homens precisam trabalhar nessa área, e são instruídos pela
Escritura a um esforço nesse sentido. De modo similar, as
mulheres são plenamente capazes de amar um homem e de
se sacrificar por ele, ainda que acreditem o tempo todo que
o sujeito é um perfeito e completo idiota. As mulheres são
boas neste tipo de amor, mas a exigência central dada às mu­
lheres é que devem respeitar o marido. Quando as mulheres
cristãs se reúnem (p.ex.: para orar ou estudar a Bíblia), elas
muitas vezes falam do marido de um modo extremamente
desrespeitoso. Então saem correndo para casa para cozinhar,
limpar, e cuidar de seus filhos. Por quê? Porque amam o
marido. Ora, não e errado que amem o marido desse modo,
mas é certamente errado substituir o amor pelo respeito que
Deus exige.
Podemos também ver que os mandamentos dados têm
outro tipo de relação com nossas respectivas fraquezas. O
homem tem a necessidade de ser respeitado , e a mulher tem
a necessidade de ser am ada . Quando a Escritura diz, por
exemplo, que os presbíteros de uma igreja devem pastorear
o rebanho, é uma inferência legítima dizer que o rebanho
precisa de alimento. Do mesmo modo, quando a Escritura
enfatiza que as esposas devem respeitar o marido, é uma
inferência legítima dizer que o marido precisa de respeito.
O mesmo, é verdade com as esposas. Se a Bíblia exige que os
maridos amem a esposa, podemos seguramente dizer que a
esposa precisa ser amada.
Mas somos normalmente como o homem que deu uma
espingarda de caça de presente de Natal à esposa porque era
o que ele queria ter. D e igual maneira, quando uma esposa
está tentando consertar um casamento problemático, ela dá
ao seu marido aquilo que ela desejaria receber, e não aquilo
que Deus ordenou ou o que o marido necessita. Ela o ama,
e deixa isso claro para ele. Mas ela o respeita e deixa isso
evidente? .
Temos dificuldades porque não seguimos as instruções
bíblicas. Quando comunica seu amor por sua esposa (de for­
ma verbal ou não), o marido deve buscar comunicar a ela
a segurança inclusa em seu compromisso pactuai. Será seu
provedor, cuidará dela, irá nutri-la, se sacrificará por ela, e
assim por diante. A esposa necessita estar segura do amor de
seu esposo. A mulher precisa receber amor do marido.
Quando uma esposa está respeitando e honrando o
marido, a relação é completamente diferente. Ao invés de se
concentrar na segurança do relacionamento, o respeito é di­
recionado para as habilidades e conquistas dele — quão duro
trabalha, quão fielmente regressa para casa, quão paciente
ele e com as crianças, e assim por diante.
Alguns pontos específicos podem causar problemas a
alguns maridos que pensam que não precisam voltar para
casa, e a algumas esposas que pensam que o sujeito não
arregaça tanto as mangas quanto poderia. Mas o amor deve
ser prestado às esposas e o respeito aos maridos, tal como
Deus o exige, c não porque qualquer esposa ou marido
chegou a merecer. Paulo não diz: “Maridos, amai vossa
esposa se . D e u s diz aos maridos que o façam indepen­
dentemente do que a esposa está fazendo, e diz às esposas
que o façam sem importar a forma como o marido está
agindo. Nossa obediência não depende da obediência de
nossa esposa. E é sempre bom lembrarmos que Deus exige
que nosso cônjuge nos de algo que é muito mais do que
aquilo que merecemos.

3. ELA F O I FEITA PARA ELE

C om o discutido no capítulo anterior, o casamento é uma


ordenança da Criação; ele vigora desde que a humanidade
foi criada. Quando somente meia humanidade havia sido
criada, Deus contemplou a sua obra e disse: “Não é bom que
o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja
idônea” (Gn 2.18). Quando Deus estava criando o mundo,
ele afirmou enfaticamente em várias ocasiões que o que ele
havia criado era bom. Tudo era bom, até que criou o homem
sem a mulher. Nesse ponto Deus diz que algo não era bom
-—•não era bom para o homem estar sozinho.
O Senhor criou Adão e lhe deu uma tarefa (Gn 2.15).
Em adição à tarefa de cuidar do Jardim do Éden, Adão de­
veria também se multiplicar e encher a terra. Havia a ne­
cessidade óbvia de uma auxiliadora, uma vez que, sozinho,
ele não poderia multiplicar sua geração. A tarefa designada
a ele era a de exercer domínio sobre a terra; para cumprir
tal tarefa, eram necessários muitos descendentes. Mas além
desse óbvio auxílio para tornar Adão frutífero, Eva haveria
de acompanhá-lo e apoiá-lo em sua vocação.
Mas o Senhor já sabia que Adão iria precisar dessa aju­
da. Não aconteceu de Deus se dar conta, depois de ter criado
o homem, que a criação da mulher seria uma boa ideia, em­
bora tardia. A razão de a mulher ter sido criada depois teve
o propósito de estabelecer, para todas as épocas, o padrão de
autoridade no lar. Paulo aplica essa lição de maneira muito
clara: “Porque o homem não foi feito da mulher, e sim a
mulher, do homem” (lC o 11.8-9).
Em outras palavras, a ordem da Criação nos diz que
Adão não foi criado para Eva, mas, ao invés disso, que Eva
foi criada para Adão. Além disso, o modo como Paulo aplica
essa verdade demonstra que o relacionamento de Adão e Eva
era único não apenas para eles enquanto casal. C om o men­
cionado anteriormente, eles são um paradigma para todos
os casamentos; esse padrão é normativo para a raça humana.
Trata-se aqui da intenção de Deus na criação — a questão
não se assenta na anterioridade cronológica. Há muitas es­
posas que são mais velhas que o marido (elas chegaram aqui
primeiro!), mas isso não anula o padrão estabelecido pela
criação de Adão primeiro, e depois Eva.
Paulo está fazendo uma aplicação da ordem da C ria­
ção. A aplicação é feita aos homens e mulheres crentes de
Corinto, muitos séculos depois de Adão e Eva. E ainda que
estejamos vivendo muitos séculos depois dos coríntios, per­
manece o fato de que a ordem na qual Adão e Eva foram
criados tinha o propósito de ser um padrão para todas as
gerações subsequentes de maridos e esposas.
Essa ordem da criação significa que todos os maridos
são chamados a uma tarefa específica (de fato, a palavra v o ­
cação vem do verbo latino voco , que significa eu chamo). As
esposas são chamadas ao papel de ajudar e apoiar o marido
na vocação deles. Isso significa, então, que o homem foi es­
tabelecido por Deus como a autoridade no lar. Debaixo da
ordem de Deus, o esposo é definido pelo trabalho para o
qual é chamado, enquanto a esposa é definida pelo homem
para o qual foi chamada. N o desempenho dessa tarefa, uma
vez que dele é a responsabilidade pela obra, ela também está
sob sua responsabilidade.
Isso obviamente conflita com a ideia de que homens e
mulheres têm direitos iguais de buscar carreiras distintas,
enquanto ascendem na escala profissional. Infelizmente,
essa suposição é comum entre os evangélicos hoje. Isto é
totalmente antibíblico, e esse problema foi criado, não pelo
feminismo, mas por maridos que abdicaram do seu papel.
Uma das principais dificuldades que encaramos em nossa
cultura hoje é a covardia geral dos homens cristãos. H o ­
mens que abdicam da força, liderança, e autoridade dadas
por Deus. Não querem assumir o papel masculino; não que­
rem tomar a iniciativa porque escolheram o caminho mais
fácil. O cumprimento do mandato cultural envolve trabalho
duro, e os homens precisam ser firmes para cumprir essa
tarefa. Isso não significa que devam ser duros no trato com
a esposa; significa que devem ser duros em favor da esposa.
Homens e mulheres possuem perspectivas diferentes
do trabalho; portanto, não têm a mesma perspectiva da au­
toridade. E algo que está profundamente embutido na or­
dem criada, e que a doutrina feminista não pode revogar.
O dogma feminista, engendrado por homens ímpios, tem
conseguido levar multidões de mulheres a ingressar como
mão-de-obra fora do lar. Porém isso não mudou a maneira
como homens e mulheres se relacionam um com o outro. E
nem podia. Ainda que o mercado de trabalho tenha muito
mais mulheres agora do que nunca, a autoridade dos homens
permanece firme. Com toda a retórica de igualdade, as mu­
lheres foram enganadas a trabalhar fora de casa; assumiram
um segundo emprego e não conseguiram fazer com que o
marido lhes ajudasse a dividir a carga do primeiro. Elas ainda
lavam as roupas, cozinham, e tudo o mais. E, obviamente, o
homem egoísta é o principal beneficiário de toda essa libera­
ção da mulher; ele consegue dois contracheques pelo preço
de um. C om o contrapartida, ele ainda está disposto a pôr o
lixo do lado de fora.
Devemos admitir que o padrão de Deus faz sentido
para o exercício da piedosa autoridade de um marido sobre
a espovsa. A única alternativa é a ímpia opressão à mulher por
parte do homem.
Em sentido algum isso significa que as mulheres não
sejam competentes em muitas das tarefas que desempenham
fora de casa. Pode-se usar uma chave inglesa para bater um
prego, mas a chave inglesa não foi feita para isso. Há algumas
tarefas fora do lar que as mulheres desempenham de forma
excepcional. Mas só porque uma pessoa é capaz de fazer um
trabalho, não significa que é chamada por Deus para isso.
Uma esposa pode fazer muitas coisas cm casa c encontrar
satisfação nelas. Seu marido, tendo que executar tarefas do
mesmo tipo, também é capaz de fazê-las, mas para ele isso
será difícil. Não achará satisfação nelas, porque não foi cha­
mado para tais tarefas da mesma forma que a esposa.
Então, em ICoríntios 11, Paulo afirma uma verdade que
deve trazer temor e espanto a todos os maridos: a mulher
fo i criada para ser auxiliadora do homem. Mas nada é mais
detestável do que ouvir homens ignorantes fazendo chacota
com essas verdades — fazendo piadas sobre submissão e
assim por diante. Tais gracejos estão em total oposição ao
texto bíblico. Quando um homem entende que foi criado e
chamado para uma missão específica, isso pode ser algo im ­
pressionante em si mesmo (E f 2.10). Porém, se percebe que
precisa de ajuda no desempenho de sua missão, mas não se
encontra, em razão disso, tomado de um santo temor, então
é um estúpido completo.
Portanto, os maridos devem focar em ser fortes visan­
do o bem da esposa. Homens ímpios são fortes por razões
egoístas, não pelo bem de outros. Um marido piedoso utili­
za sua força para dar a esposa, não para tomar dela. Um re­
lacionamento bem ordenado é aquele no qual o marido sabe
que foi criado por Deus para cumprir uma tarefa específica,
e sabe que sua esposa foi criada por Deus para ajudá-lo com
tal tarefa. Ele foi criado para a glória de Deus, e embora isso
possa ser algo chocante de se dizer, ela foi criada para ele
(lC o 11.7-8).

4. R E S P O N S A B IL ID A D E

Dada esta relação ser divinamente ordenada, podemos ver


que o feminismo é uma forma extremamente destrutiva de
falso ensino. Mas devemos também ser capazes de ver que
a verdadeira origem do feminismo não está nas mulheres.
Embora seja verdade que o movimento feminista é repre­
sentado por porta-vozes femininas, elas nada mais são que
maquiadoras de uma mentira masculina. Em sua base, o fe­
minismo é obra das mãos de dois tipos de homens — por um
lado, tipos destrutivos e opressores; e, por outro, homens
frouxos. Por causa do modo como Deus fez o mundo, os
homens são sempre responsáveis por tudo que acontece no
universo feminino — ■quer eles queiram ou não essa respon­
sabilidade, e quer as mulheres queiram ou não saber disto.
Consequentemente, o feminismo não é primariamente pro­
duto de mulheres insatisfeitas; é obra de homens ímpios.
Quando um casal chega para uma seção de aconselha­
mento matrimonial, minha suposição básica é sempre que
o homem e completamente responsável por todos os proble­
mas. Alguns podem se inclinar a reagir negativamente a isso,
mas é importante notar que responsabilidade não c o mesmo
que culpa. Se uma mulher está sendo infiel ao marido, é lógi­
co que a culpa pelo adultério é dela. Mas, ao mesmo tempo,
o marido é responsável por isso.
Com o ilustração, suponha que um marinheiro novato
desobedeça as ordens e, no meio da noite, encalhe o navio.
O capitão e o piloto estavam dormindo e não tinham nada
a ver com a atitude irresponsável do marinheiro. Quem é,
no fim das contas, o responsável? O capitão e o piloto são
os responsáveis pelo acidente. Eles são oficiais de carreira, c
a carreira deles está arruinada. O jovem marinheiro estaria,
de qualquer forma, deixando a marinha após seis meses. Isso
pode parecer injusto para muitos, mas não há dúvidas de
que esse é o modo como Deus fez o mundo. O marinheiro
é culpado; o capitão é responsável.
Sem esse entendimento da responsabilidade, a autori­
dade se torna algo tirânico e sem significado. O s maridos
são responsáveis pela esposa. Eles são cabeça da esposa as­
sim como Cristo c cabeça da igreja. Fazer um voto pactuai
de se tornar um marido envolve assumir responsabilidades
pelo lar. Isso significa que os homens , sejam eles tiranos ou
relapsos, são responsáveis por qualquer problema que ocorra
no lar.
Se os homens cristãos amassem a esposa assim como
Cristo ama a igreja, se guiassem a esposa, se aceitassem dela
a ajuda necessária para cumprir a vocação que receberam de
Deus, jamais haveria espaço para qualquer tipo de pensa­
mento feminista dentro da igreja. Homens cristãos que ab­
dicam da autoridade dada por Deus, ou que se envergonham
dela, estão deixando a esposa sem proteção.

5. O VASO MAIS FR Á G IL

A Bíblia dá instruções muito claras aos homens sobre como


viver com a esposa. Por estranho que possa parecer, a exi­
gência que os maridos devem considerar é expressa de um
modo que inquieta o leitor moderno: “Maridos, vós, igual­
mente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e,
tendo consideração para com a vossa mulher como parte
mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente,
herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrom­
pam as vossas orações” (lPe 3.7). A Bíblia diz que a esposa
é, em certo sentido, o vaso mais frágil. Portanto, o mari­
do deve honrá-la. Não deve abusar dela em razão do papel
subordinado no qual Deus a colocou. “E à mulher, disse:
Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em
meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu
marido, e ele te governará” (Gn 3.16).
O casamento simplesmente amplifica aquilo que a pes­
soa é. C om o conseqüência, os problemas no matrimônio
são geralmente criados muito anos antes da cerimônia de
casamento. Por exemplo, os filhos, enquanto crescem, ob­
servam o relacionamento de seus pais. Eles também podem
ver certos padrões de comportamento na escola. Eles ouvem
muito ensino, boa parte dele falso, sobre como lidar com a
fraqueza. E quando as pessoas recebem falso ensino, seguem
exemplos fracos, e então se casam, os resultados são geral­
mente desastrosos.
Pedro simplesmente assume como fato que a mulher é
o vaso mais frágil cm relação ao marido. O mundo moder­
no, condicionado pelo feminismo, descartará isto como um
equívoco sexista de um livro sexista; e, ao menos parcial -
mente , ele está correto. Se admitirmos que “sexismo” é um
pecado, então a Bíblia é um livro pecaminoso. Mas “sexis-
mo” não é de fato um pecado, porque o pecado só pode ser
definido em termos da lei de Deus — não é determinado pela
lei do homem ou da mulher.
De acordo com a Bíblia, não há pecado no fato de que
os homens são mais fortes do que as mulheres. O pecado,
quando há, reside em essa força estar sendo ou não usada de
acordo com as exigências de Deus. Não devemos esquecer
que, poucos versos antes, Pedro havia dado aos maridos este
exemplo a seguir: “Para isso mesmo fostes chamados, pois
que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos
exemplo para seguirdes os seus passos” (lPe 2.21). E alguns
versos depois, faz esta aplicação: “Mulheres, sede vós, igual­
mente, submissas a vosso próprio marido” (lPe 3.1). Ele en­
tão segue para exigir dos maridos que tenham semelhante
consideração. A palavra-chave é “igualmente”. Marido e es­
posa devem ser ambos igualmente a Cristo no proceder de
um para com o outro. Mas cm razão da posição na qual Deus
o pôs, ao buscar exibir essa atitude de submissão a Cristo, o
homem deve agir de um modo diferente da esposa.
O problema está em que os homens normalmente não
sabem honrar a “fraqueza”. Quando homens estão reunidos,
algum tipo de competição geralmente surge. E quando estão
competindo, os homens buscam explorar a fraqueza onde
quer que pensem vê-la. Se um treinador de futebol desco­
brisse que a lateral esquerda do time adversário é claramen­
te deficiente, ele gastaria os 90 minutos da partida fazendo
com que seus jogadores se infiltrassem ali. Assim, os ho­
mens possuem essa tendência natural; e em alguns países,
esse tipo de competitividade é grandemente admirada.
C om o conseqüência, se há qualquer tipo de problema
no casamento, os homens tendem a entrar cm uma relação
de rivalidade e competição com a esposa. Se discordarem
sobre algo, e a pobre esposa expressar suas inquietações, um
marido com essa mentalidade fundamentalmente competiti­
va vai logo dizer: “Essa é a maior tolice que já ouvi!” Ele está
tratando-a como se ela fosse o time da lateral esquerda. Ao
responder desse modo, está buscando explorá-la. Mas Pedro
não diz que o esposo deve explorar as fragilidades da esposa;
diz que ele deve honrar a esposa em meio a essas fragilidades.
Então vemos uma desobediência muito comum a essa
passagem quando homens vcem as fraquezas da esposa e
então buscam explorá-las. Um homem pode estar atolado no
mais tenebroso pecado, o qual angustia a esposa, e ainda as­
sim intimidar a esposa. Ela então vai embora;, sentindo como
se ela fosse a culpada. Os homens são tentados a explorar a
esposa quando estão com a razão ou não, mas especialmente
quando não estão. De fato, alguns sujeitos são tão domina­
dos por sua competitividade que não são capazes de ouvir
quando Pedro diz que as mulheres são mais frágeis, em certo
sentido, sem com isso concluir que “venceram”. Mas o que
e melhor, uma pesada marreta ou uma xícara de porcelana
chinesa? Quem vencerá a disputa? A resposta depende da­
quilo que você quer fazer. Vai quebrar pedras ou tomar chá?
O s homens naturalmente respeitam a força, mas têm
dificuldade de respeitar a fraqueza. Vemos isso até mesmo
num parquinho de crianças. Dois garotos começam a brigar,
um dá uma surra no outro, e eles viram bons amigos pelo
resto do dia. O que apanhou, respeita o que é mais forte; e
o mais forte pode respeitar a coragem do outro em partir
para a luta.
Para que possam respeitar a fraqueza, os homens de­
vem reconhccc-la como sua própria fraqueza. Esposa e ma­
rido são, juntamente, coerdeiros de uma mesma herança, e
a fraqueza dela é a fraqueza dele. Ela não é um adversário.
A fraqueza está no seu próprio time; está em sua própria
família. Certa vez estive conversando com um homem que
parecia muito satisfeito com o modo como seus filhos o obe­
deciam, em contraste com a desobediência que prestavam à
esposa dele. Ele estava regozijando-se porque quando dizia
para fazer algo, as crianças o obedeciam, mas sempre que sua
esposa dava ordem semelhante eles recusavam-se a obedecer.
Ele estava agindo como se estivesse numa “competição de
disciplina” com a esposa, e pensava estar ganhando.
Mas o fato é que quando as crianças não atendiam à
mãe, mostravam que havia uma deficiência na disciplina do
p a i . O problema dela era problema dele. O marido tem a
responsabilidade de assegurar que as crianças nunca sequer
chegarão a pensar em desrespeitar a mãe sem que vejam a
sombra do pai surgindo atrás dela. A fraqueza dela deve ser
reconhecida como fraqueza dele, a fim de que as forças dele
possam chegar a ser as forças dela. A fraqueza da esposa é
sua força, e pode chegar a ser também a força de seu esposo.
A força dele é sua debilidade, mas, uma vez superada, se
transformará na força dela.

6. IG U A LD A D E DE C O N D IÇ Õ E S

Todas as culturas humanas são hierárquicas. Nem todos


possuem a mesma quantidade de talento, perspicácia, bele­
za, inteligência, ou educação. A Bíblia não exige a submissão
das mulheres aos homens, mas antes a de uma mulher a um
homem. A submissão de uma mulher a um homem, longe
de torná-la submissa a outros homens, a protege das obri­
gações para com outros homens. Isso a põe debaixo de um
guarda-chuva de proteção (isto é, seu marido) com relação a
outros homens. Ela deve ser submissa a seu próprio marido,
e a Bíblia claramente ensina que ninguém pode servir a dois
senhores.
Dizer que o marido é o líder da esposa não é dizer que
todo e qualquer homem é capaz de ser um líder espiritual,
provedor, consolador e protetor de toda e qualquer mulher.
Alguém pode argumentar que a doutrina cristã da submis­
são requer a crença de que qualquer homem pode liderar
qualquer mulher. Isso é mais do que falso; é ridículo.
As mulheres não foram criadas para responder e se
submeter a qualquer homem. Portanto, uma mulher pie­
dosa deve limitar seu leque de opções. Se compreender a
Bíblia, saberá que foi criada para ser dependente e submis­
sa a um homem. Então, quanto mais Deus fizer por ela e a
conceder, mais seletiva ela deve ser. Quanto mais excelente
for uma mulher em suas qualidades, mais seletiva deve ser.
Algumas mulheres inteligentes têm sido tentadas a fingir-se
de ignorantes para não terminar solteiras. Muitas mulheres
talentosas têm cedido à tentação de “se adaptar”. Isso não
é correto; Deus as criou para serem auxiliadoras de um h o ­
mem específico , e as habilidades delas são coisas de que ele
irá precisar — não importando se qualquer outro homem
precise delas ou não. Uma mulher piedosa não deve rebai­
xar o nível de exigência; casar-se com um homem que não
possui a força intelectual ou espiritual para ser o líder de um
lar é simplesmente pedir por problemas. Abigail não se deu
bem com Nabal.
Assim, a Bíblia ensina a submissão de uma mulher a
um homem, não de uma mulher a todos os homens. Uma
mulher pode gentil e graciosamente reconhecer que certo
homem pode ser um piedoso líder cristão, mas que ele não
é capaz de ser este líder para ela. Por outro lado, homens
realmente piedosos devem de boa vontade admitir que há
muitas mulheres no mundo que, num nível individual, são
superiores a eles. Deus as criou para que se submetessem a
seus próprios maridos.
A hierarquia existe apesar do moderno dogma do igua-
litarismo. Há diferenças ordenadas por Deus no mundo,
cada qual com seu valor específico. E melhor ser esperto ou
burro? Rico ou pobre? Espiritualmente rico ou espiritual­
mente pobre? E melhor ser instruído nas Escrituras ou não
conhecer as Escrituras? Uma de nossas expressões modernas
favoritas revela nosso desejo por “igualdade de condições”.
Esse é um claro indicador de inveja e de modo algum reflete
o modo como Deus criou o mundo. Quando aceitamos com
tranqüilidade a falta de igualdade ordenada por Deus, pode­
mos começar a entender como devemos proceder.
Assim, um marido cristão deve respeitar a fraqueza
de sua esposa, tratando-a como Cristo o faz com a igreja,
protegendo-a c cuidando dela sem ser complacente. A fra­
queza que Pedro menciona foi projetada por Deus, não é um
defeito da mulher. Não é defeito de modo algum. A fraqueza
somente é um defeito se não atinge os propósitos para o qual
foi projetada. Uma xícara de porcelana chinesa é mais fraca
do que a marreta que mencionamos anteriormente, mas a
marreta de nada serve na hora de tomar chá.
Isso não significa que a mulher não tenha força. Há
coisas que esposas piedosas são capazes de fazer que causam
espanto ao marido. Entretanto, no relacionamento conjugal,
o marido é quem deve ser a base da força. Sob tal fundamen­
to, a esposa é livre para desenvolver suas forças no serviço
ao seu marido. O marido deve ser a fonte da força da sua
esposa mesmo quando ela sabe algumas coisas muito mais
do que ele. E mesmo quando a esposa é mais forte do que o
marido em determinada área, ele deve ser emocional e espi­
ritualmente forte o suficiente para assumir responsabilidade
cm tal área.
Por exemplo, suponha que um marido tome uma
decisão baseada em informação dada por sua esposa, e a
informação esteja dentro de uma área na qual ela possui
conhecimento. Suponha que, mais adiante, alguma conseqüên­
cia desastrosa sobrevenha como resultado dessa decisão.
Ele entende o princípio em questão aqui se assumir total
responsabilidade pelo problema resultante. Mas se abdicar
de seu papel como líder, irá dizer algo como: “Por que você
sugeriu que...Vy

7. C O R A Ç Ã O DE SERVO

Assim, homens e mulheres devem ser prudentes na hora


de casar. A mulher deve casar-se com um homem ao qual
respeita, e o homem deve casar-se com uma mulher a qual
esteja disposto a amar e guiar com um coração de servo.
Um homem deve exercer sua autoridade visando o bem de
sua esposa, não o seu próprio^ Deve assumir essa autoridade
com um coração de servo. Em João 13.13-17, à medida que
lavava os pés dos discípulos, Jesus lhes disse:

Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem;


porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o
Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar
os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exem­
plo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é
maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do
que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas,
bem-aventurados sois se as praticardcs.

Jesus ensinou que qualquer cristão que queira se tornar


o maior deve ser servo de todos. Isso certamente se aplica à
família cristã. O marido deve tomar a decisão consciente de
utilizar sua força para proteção e benefício da esposa, não de
si mesmo. Ele só pode fazer isso imitando a Cristo. Na fa­
mília cristã, o caminho para um entendimento da verdadeira
autoridade é através do serviço.
8. O M A R ID O EV A N G ÉLIC O
Sc vos parecc mal servir ao Senhor, escolhei, hoje, a
quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos
pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses
dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha
casa serviremos ao S e n h o r (Js 2 4 . 15).

A palavra evangélico costumava ser descritiva, mas em


anos recentes tem sido muito mal-empregada. O que então
significava a lealdade ao glorioso evangelho de C risto é ago­
ra aplicada indiscriminadamente ao moderno conjunto de
praticamente qualquer experiência religiosa no mundo. Al­
guém que use a palavra em seu sentido antigo deve explicar
cuidadosamente do que está falando. Por marido evangélico
estou me referindo a um esposo que entende a sã doutrina
protestante, ortodoxa, e que vive de modo consistente com
esse entendimento.
O mundo evangélico está jogando fora sua herança
teológica p o r causa da infidelidade doutrinária nos lares
cristãos. E verdade que os púlpitos de nosso país são um
pântano e lamaçal de anedotas, grunhidos sentimentalistas,
adoração frívola, e teologia improvisada; mas os cabeças dos
lares cristãos têm sido coniventes com isso. Os homens não
têm feito objeções quanto às exigências cada vez menores
que lhes são feitas no mundo evangélico — têm suspirado
de alívio.
Mas um homem que fala por sua casa, como o fez
Josué, deve ser um homem que ensina a sua casa, e deve
ser um homem que recusa submeter sua família à tolice
da incredulidade — esteja ela vestida de trajes liberais ou
pop-evangélicos, isso faz pouca diferença. Quando Jesus
nos ensinou que suas ovelhas não ouviriam a voz de um
estranho, ele estava supondo que as ovelhas tinham razão
em não ir a lugar algum enquanto a voz do Pastor estivesse
ausente (Jo 10.5).
Assim, a primeira coisa necessária é que o marido deve
estabelecer seu lar como sendo um lar confessional. Isso
significa que deve saber em que ele crê, e deve comunicar
e ensinar essa confissão de fé à sua família. Relacionado a
isso está a necessidade de que a confissão seja detalhada.
Um homem que acaba de ser salvo pode apenas ser capaz
de confessar que Jesus é Senhor — isso é suficiente, muitos
poderiam dizer. Isso é certamente suficiente para a salvação
(Rm 10.9-10), mas não é suficiente para um homem chama­
do a ser instrutor de sua casa: “Com efeito, quando devíeis
ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, nova­
mente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais
são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim,
vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento
sólido” (H b 5.12). A Bíblia ensina que um conhecimento
restrito da doutrina deve ser motivo de vergonha para cris­
tãos mais velhos. O fato de.que muitos hoje se gloriam de
ter uma teologia truncada é algo de dar pena. A questão não
é: “Qual o mínimo que eu posso saber e ainda assim ir para
o céu?” A questão para os maridos é: “Dado meu tempo,
recursos, e habilidades, quanto eu posso aprender, e quanto
posso ensinar à minha esposa e filhos?”
Um homem pode não ter sido vocacionado para te­
ólogo, mas em sua casa ele ainda é o teólogo de ofício . O
apóstolo Paulo, quando exorta as mulheres a que guardem
silêncio na igreja, diz-lhes que “se querem aprender alguma
coisa, interroguem, em casa, a seu próprio .marido” (IC o
14.35). A tragédia é que muitas mulheres hoje se espantam
com o fato de a Bíblia dizer que devem perguntar ao mari­
do: “Ele não sabe!” Mas um marido deve estar preparado
para responder as perguntas doutrinárias de sua esposa,
e se não puder, então deve estar preparado para estudar
a fim de corrigir essa deficiência. Essa famosa passagem
não c tanto um tipo de restrição para as mulheres quanto
uma exigência para os maridos. Se eles não sabem, devem
pesquisar.
Em segundo lugar, ele deve saber por que crê naquilo
em que erê, para que tambcm possa comunicar e ensinar isso
à sua família. Isso é impossível sem uma consistente leitura
da Bíblia, repetidas vezes. Em adição a essa leitura da Bíblia,
um marido evangélico deve estar comprometido com a lei­
tura de livros com sólido ensino doutrinário, escritos por
homens qualificados c liéis. Ele não somente deve refletir
sobre a Palavra de uma forma direta, mas também servir-se
dos mestres que Deus tem dado ao corpo de Cristo.
Enquanto estuda sua Bíblia, ele sem dúvida crescerá
na compreensão da grandeza e soberania de Deus em todas
as coisas. Ao fazer isso, deve ser humilde o bastante para
rechaçar todas as doutrinas erradas cm que cria, deve pedir
perdão a sua família por conduzi-la dessa forma até aquele
ponto, e deve ensiná-la de novo. Em hipótese alguma um
marido evangélico pode acomodar-se no erro, mesmo se as
mudanças tiverem um alto preço.
Em terceiro lugar, devemos buscar cultivar certas vir­
tudes que estão embutidas nessa confissão de fé. Tais vir­
tudes, ou graças, devem ser estabelecidas no lar. A Bíblia
ensina que toda doutrina deve ser posta em prática, e nossa
maneira de praticá-la deve coroar a doutrina.
Em um lar ensinado por um marido evangélico, deve
haver muitas graças que são simplesmente parte de um
aroma que perpassa todo o lar. Tal homem nunca deve
falar a sua esposa sem afeição ou cortesia. Nunca deve
enfurecer-se ao disciplinar as crianças. Ao pecar, deve
fazer toda a restituição devida. Deve ser uma rocha em
seu lar, uma pequena pedra que, pela graça de Deus, re­
presenta a Pedra que é C risto.
C A P ÍT U L O 3

DEVERES DO MARIDO E DA ESPOSA

1. O S P R IV IL É G IO S D O D E V E R M A T R IM O N IA L

Q uando se trata de casamento, tendemos a achar que


ações espontâneas são genuínas enquanto outras,
desempenhadas pelo senso do dever, são simuladas, artifi­
ciais, e forçadas. Raciocinamos dessa maneira especialmente
quando estamos considerando questões “do coração”. Cum ­
prir nossa responsabilidade por um senso de dever seria cer­
cear o verdadeiro amor.
Mas a Bíblia define amor com o guardar os manda­
mentos de Deus de todo o coração. O maior ato de amor
foi certamente a morte de C risto por seu povo, e tal ato de
amor não ocorreu em um ápice emotivo. Foi amargamente
doloroso para C risto beber o cálice da ira de Deus, mas
essa dor não diminui seu amor por nós; pelo contrário, o
aumenta.
Q uando cumprimos nossos deveres com boa vonta­
de, isso nos ajuda a disciplinar nossas em oções. Q uando
cum prim os nossos deveres com o con h ecim en to de que
tais deveres foram planejados por Deus para nós, e que
cie designou todos os deveres m atrim oniais de forma
apropriada, podemos nos regozijar em sua bondade. O
resultado não é negar a e sp on tan eid ad e, mas d iscip li­
ná-la.
2. D E V E R E S B ÍB L IC O S D O M A R ID O

Tanto no hebraico do Antigo Testamento como no grego


do Novo Testamento a palavra para marido é geralmente
apenas a palavra para “um homem”, sendo o contexto res­
ponsável por mostrar que se está tratando de um esposo. E n ­
tretanto, outra palavra relativamente comum em hebraico
para marido é baaly que significa “mestre” ou “senhor” E
no grego, há pelo menos dois exemplos desse tipo de uso:
kurios , que significa “senhor”, e hupandros, que significa “o
homem acima”. A palavra husband, que é marido em inglês,
é maravilhosa porque abarca todas essas descrições bíblicas
do homem casado. Possui a conotação de senhorio, mas um
senhorio que envolve grande cuidado, sacrifício, e ternura.
Um marido deve sempre se lembrar de que, como ma­
rido, é uma pintura viva do Senhor Jesus. Essa lembrança é
seu primeiro dever no casamento. C om o m arido , o homem
está falando constantemente sobre o relacionamento entre
o Senhor e seu povo, e por isso deve buscar transmitir a
verdade sobre essa relação. O modo como o homem trata a
esposa irá determinar se está falando a verdade sobre Cristo
ou não. Mas o marido não tem a opção de permanecer em
silencio; ele está falando a todo tempo. Isso porque o Senhor
é um m aridoy e todos os maridos são, portanto, representa­
ção dele.
O marido deve aprender a imitar o caráter de Cristo
porque seu relacionamento está a todo tempo falando sobre
Cristo e a igreja. Isso aponta para o segundo dever de um
homem casado. A Bíblia é muito clara quando diz que o Se­
nhor é o marido do seu povo: “Porque o teu Criador e o teu
marido; o S e n h o r dos Exércitos e o seu nome” (Jr 54.5; cf.
Jr 31.32; Ap 21.2; E f 5.23). A medida que, em seus deveres,
um homem busca imitar o Senhor, deve ser um provedor
para sua esposa. Isso significa que deve alimentar e cuidar
dela do mesmo modo como cuida de seu próprio corpo (Ef
5.29). A palavra “alimentar” é ektrepho , que significa “nu­
trir, conduzir à maturidade”. A palavra “cuidar” é thalpo> e
significa “manter aquecido, abrigar com cuidado amoroso”
Um homem que não demonstra um cuidado terno e especial
por sua esposa, e que então espera que ela seja frutífera e
amável, de lorma alguma está sendo um verdadeiro marido;
é na verdade um idiota — e a palavra grega para isso deve
ser cabeça oca. Um homem deve amar sua esposa de forma
sacnficial (Ef 5.25), e a menos que cultive seu jardim com
extraordinário cuidado, não deve esperar outra coisa exceto
ervas daninhas.
Isso nos conduz a um terceiro dever, que é o do ciú­
me ou zelo. Talvez isso abale nossa sensibilidade moderna;
estamos acostumados a ver o ciúme como um defeito pes­
soal, ao invés de uma virtude a ser encorajada e cultivada.
Essa opinião, ou reação, é simplesmente outra evidência do
quanto abandonamos as convicções bíblicas a respeito do
casamento. Um marido deve ser zeloso e protetor. Paulo
usa esta imagem de um bom marido para exortar os cristãos
coríntios à fidelidade: “Porque zelo por vós com zelo de
Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar
como virgem pura a um só esposo, que é C risto” (2Co 11.2).
Ao seguir o Senhor, os homens cristãos devem se lembrar
de um dos nomes de Deus: “o nome do S e n h o r é Zeloso;
sim, Deus zeloso é ele” (Ex 34.14). É verdade que o zelo ou
ciúme pode ser errado c destrutivo quando motivado por
amargura, ressentimento, ou malícia. Mas o mesmo pode
ser dito de muitas outras atitudes; se misturadas com peca­
do, elas se tornam pecaminosas! O ciúme não precisa estar
misturado ao pecado. E em diversas circunstâncias não é
pecado ser ciumento.
Mas há também muitos deveres terrenos que envolvem
o ser um marido piedoso. Por exemplo, um marido deve su­
prir sua esposa com o alimento de que ela necessita. Pode­
mos ver isso em uma lei dada ao Israel antigo, na qual não
era permitido ao homem defraudar sua primeira esposa de
certos direitos matrimoniais em razão de poligamia: “Se ele
der ao filho outra mulher, não diminuirá o mantimento da
primeira, nem os seus vestidos, nem os seus direitos con­
jugais. Se não lhe fizer estas três coisas, ela sairá sem retri­
buição, nem pagamento em dinheiro” (Ex 21.10-11). Vemos
aqui que um dos deveres de um marido é ver se a esposa tem
o dinheiro de que necessita para alimentação. Dizendo de
outra forma, o homem não se verá livre de certas obriga­
ções conjugais básicas simplesmente porque arranjou outra
mulher. Entende-se que a provisão de alimento é uma dessas
obrigações. No Novo Testamento, vemos que um homem
que não cuida de seus parentes é pior do que um incrédulo
(lTm 5.8). O que então podemos dizer de um homem que
não cuida de sua família imediata, negligenciando a própria
esposa? Faltar com a esposa nesse aspecto é o equivalente a
apostasia — é negar a Cristo, que alimenta sua noiva. Do
mesmo modo, a Bíblia exige que um marido supra sua esposa
com as roupas necessárias (Ex 21.10).
Um marido deve também suprir as necessidades sexu­
ais da esposa (IC o 7.3-4; Ex 21.10). Quanto a isso, o corpo
dele pertence a ela. Paulo emprega uma linguagem muito
forte a esse respeito; ele diz que essa é uma área na qual a
esposa exerce autoridade sobre seu marido.

O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e


também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido.
A mulher não tem poder sobre o seu próprio cor­
po, e sim o marido; e também, semelhantemente, o
marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e
sim a mulher (IC o 7.3-4).

C om o um desses aspectos, o marido não deve negar


à esposa a oportunidade de ter filhos. “Então, disse Judá
a Onã: Possui a mulher de teu irmão, cumpre o levirato e
suscita descendência a teu irmão. Sabia, porém, Onã que o
filho não seria tido por seu; e todas as vezes que possuía a
mulher de seu irmão deixava o sêmen cair na terra, para não
dar descendência a seu irmão” (Gn 38.8-9). O Senhor tirou
a vida de Onã, não em razão de um ato sexual específico,
mas antes por causa da fraude envolvida no ato. É necessário
lembrar que a atividade sexual não é vista na Bíblia como
meramente uma recreação desportiva. Não é apenas recrea­
ção; é recriação. A obrigação de dar à esposa a oportunida­
de de ter filhos pode parecer “bizarro” para a mentalidade
moderna. Mas isso simplesmente nos mostra quão poucos
maridos hoje cuidam da esposa c a nutrem.
A Bíblia é também muito clara sobre outro dever dos
maridos. O marido deve estar contente com sua esposa (Pv
5.15-23; Mt 5.28). Ele é proibido de cobiçar a esposa de ou­
tro homem. “Não cobiçaras a mulher do teu próximo” (Ex
20.17). E não somente está proibido de desejar a esposa de
outro, mas também, de forma positiva, é ordenado a estar
satisfeito com a que tem:

Bebe a água da tua própria cisterna e das correntes


do teu poço. Derramar-se-iam por fora as tuas fon­
tes, e, pelas praças, os ribeiros de águas? Sejam para
ti somente e não para os estranhos contigo. Seja
bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher
da tua mocidade, corça de amores e gazela graciosa.
Saciem-te os seus seios e embriaga-te sempre com
as suas carícias (Pv 5.15-19).

Especificamente, o homem é ordenado a estar satisfei­


to com os seios de sua esposa e arrebatado com seu amor.
Comparar uma mulher com outra, em silêncio ou em voz
audível, com palavras ou ações, é sempre destrutivo. E
quanto mais se compara, menos o contentamento é pos­
sível. Um marido deve estar contente em todas as áreas;
consequentemente, devem-se evitar comparações em todas
as áreas, quer envolvam beleza, habilidades culinárias, in­
teligência, suposto interesse sexual, ou o que for. Para os
homens é particularmente importante estar contente na
área sexual. Isso se torna mais fácil quando um marido
está fazendo o que deve em suas outras áreas de respon­
sabilidade.
O utro dever do marido envolve a contínua responsa­
bilidade de examinar e aprovar os compromissos feitos por
sua esposa:

Todo voto e todo juramente com que ela se obrigou,


para afligir a sua alma, seu marido pode confirmar
ou anular. Porém, se seu marido, dia após dia, se
calar para com ela, então, confirma todos os votos
dela e tudo aquilo a que ela se obrigou, porquanto se
calou para com ela no dia cm que o soube. Porém, se
lhos anular depois de os ter ouvido, responderá pela
obrigação dela (Nm 30.13-15).

Devemos reconhecer que quando um marido não diz


nada, ele está aprovando e liderando por meio da negligência.
Quer fale ou permaneça silente, um homem não pode deixar
de ser o cabeça do lar. Ele pode fazer isso bem ou mal, mas
não pode escapar da responsabilidade que Deus pôs sobre ele.

3. D E V E R E S B ÍB L IC O S DA ESPOSA

Em qualquer discussão sobre os deveres da esposa, devemos


entender o contexto desses deveres. A seção anterior não
apenas nos deu a “parte do marido”, para nesta seção termos
a “parte da esposa”. Antes, todas as responsabilidades da
esposa listadas adiante podem legitimamente ser acrescenta­
das à lista dc responsabilidades do marido. Ele não somente
é responsável perante Deus por seu próprio trabalho, mas
é responsável perante Deus por assegurar que ela também
realize o trabalho que deve realizar. E sem dúvida ele não
vai conseguir isso com zombaria, mas, pelo contrário, isto é
feito nutrindo-a e apoiando-a.
Primeiro, como se apontou anteriormente, a esposa
deve respeitar o marido (Ef 5.22, 33). O dever fundamental
do marido é amar a esposa. Em contraste, o dever funda­
mental da esposa é respeitar o marido. Homem e mulher
são orientados um ao outro de forma tão diferente que seus
deveres fundamentais um para com o outro são igualmen­
te distintos. O respeito nessa situação implica tanto honra
como obediência . Ora, é claro que as esposas devem amar o
marido porque a Bíblia requer de todos os crentes que amem
ao próximo como a si mesmos. Mas quando a Bíblia trata de
deveres específicos da esposa , a ênfase recai sobre o respeito,
não sobre o amor.
A esposa deve também, conforme a providencia de
Deus a permita, ter filhos: “Todavia, será preservada atra­
vés de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e
santificação, com bom senso” (lTm 2.15). Além disso, deve
nutrir os filhos e cuidar deles com grande ternura: “Nos
tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os
próprios filhos” (lTs 2.7). Isso não aparece apenas como
um exemplo; é uma ordem positiva — “a fim de instruírem
as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos”
(Tt 2.4).
A esposa não deve se queixar de sua fertilidade. A gra­
videz, o nascimento e a criação de filhos é normalmente um
trabalho duríssimo. E como não seria? Entretanto, é obra de
Deus (Gn 3.16), e é obrigação da esposa submeter-se à von­
tade de Deus e, de bom grado, criar filhos para o seu marido.
Além disso, ela não deve tampouco gloriar-se de sua
fertilidade. Toda jactância deve ser no Senhor. Algumas ve­
zes, em reação à mentalidade “antifilhos” do mundo moder­
no, algumas mulheres cristãs têm decidido ter filhos quase
como um ato de obstinação ou rebeldia. Mas não devemos
ser reacionários para com o mundo; antes, devemos todos
viver perante o Senhor. A resposta bíblica à fertilidade é a
alegria .
A Bíblia também dá às esposas o dever de serem di­
ligentes no lar. Paulo instrui Tito a que “as mulheres ido­
sas... sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens
recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem
sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas
ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada”
(Tt 2.3-5). A instrução é que as mais jovens devem ser do­
nas de casa, envolvidas nas atividades domésticas. Elas não
somente devem estar em casa, devem também ser produtivas
em casa. Diligencia no lar significa trabalhar duro limpando,
cozinhando, cuidando de filhos, e assim por diante. Epossí­
vel desobedecer a Deus negligenciando os pratos sujos.
Sem dúvida esse é um trabalho duro, especialmente
quando os pequeninos são ainda muito novos. Muitas espo­
sas, ao passar por essa experiência, são tentadas a achar que
“estar cansada” é um sintoma de ter feito algo errado. Mas,
ao invés disso, é sintoma de ter feito muita coisa certa.
Se uma mulher é competente, e eia deve ser, no devido
tempo sua diligência a levará para fora de casa (Pv 31.10-31).
A Bíblia não ensina que o lugar da mulher é em casa; ela
exige que a casa seja a prioridade dela, mas a mulher não está
limitada somente ao lar.
Outro dever relacionado exige que a mulher mantenha
sua casa bem suprida com comida e roupa: “E como o navio
mercante: de longe traz o seu pão... N o tocante à sua casa,
não teme a neve, pois todos andam vestidos de lã escarlate”
(Pv 31.14, 21). Se seu marido se esmera trabalhando para
supri-la com dinheiro para essas necessidades, como se re­
quer que ele faça, então ela deve ser a administradora res­
ponsável por aquilo que ele obtém. Ela não deve ser frívola.
As compras devem ser encaradas como trabalho, não como
entretenimento c luxo. C om o administradora envolvida no
trabalho, ela deve ser diligente.
A esposa deve suprir as necessidades sexuais do ma­
rido (IC o 7.2-5). Isso envolve mais do que simplesmente
estar “disponível” sempre “que ele quiser”; envolve ser uma
amante responsiva.

Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal c


o meu amado entre os jovens; desejo muito a sua
sombra e debaixo dela me assento, e o seu fruto é
doce ao meu paladar. Leva-me à sala do banquete, e
o seu estandarte sobre mim é o amor. Sustentai-me
com passas, confortai-me com maçãs, pois desfa-
leço de amor. A sua mão esquerda esteja debaixo
da minha cabeça, c a direita me abrace. Conjuro-
-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas
do campo, que não desperteis o amor, até que este
o queira (Ct 7.3-7).

Deus concedeu a relação sexual no casamento como


uma proteção contra a imoralidade. É importante que esse
propósito não seja esquecido, especialmente pela esposa. As
mulheres tem a tendência de se ofender com as tentações
do marido, e uma mulher insultada e ofendida não oferece
proteção alguma.
A esposa deve se esforçar para evitar as queixas e dis­
cussões. Nos c dito que “as contenções da esposa” são “um
gotejar contínuo” (Pv 19.13). Salomão também nos lembra
de que “o gotejar contínuo no dia de grande chuva e a mulher
rixosa são semelhantes; contê-la seria conter o vento, seria
pegar o óleo na mão” (Pv 27.15-16). Deus concedeu às mu­
lheres grande habilidade com a língua, e elas devem usar essa
habilidade para ajudar o marido. A mulher sábia conhece o
poder das palavras, e por isso as conforma à Palavra de Deus.
“Pala com sabedoria, e a instrução da bondade está na sua
língua” (Pv 31.26). A mulher tola simplesmente pensa que
a casa precisa de barulho constante e derruba o lugar com
sua língua.
A Bíblia também ensina que uma esposa deve ser discí­
pula de seu marido: “Conservem-se as mulheres caladas na
igreja, porque não lhes é permitido falar; mas estejam sub­
missas como também a lei o determina. Se, porém, querem
aprender alguma coisa, interroguem, cm casa, a seu próprio
marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja”
(IC o 14.34-35). O marido deve instruir e ensinara esposa.
A esposa não deve tornar esse dever do marido sem sentido
ao buscar instrução em outro lugar. Não há incompatibili­
dade alguma entre submissão e inteligência. A esse respeito,
é bom que as esposas se lembrem de Abigail, uma mulher
linda, submissa, c inteligente (iSm 25.3, 41).
Uma esposa cristã deve dedicar-se com afinco às obras
de caridade. A Bíblia é realmente muito clara a esse respeito.
Quando Paulo está considerando o tipo de viúva que pode
ser sustentada pela igreja cristã, ele estabelece um padrão
alto:

Não seja inscrita senão viúva que conte ao menos


sessenta anos de idade, tenha sido esposa de um
só marido, seja recomendada pelo testemunho de
boas obras, tenha criado filhos, exercitado hos­
pitalidade, lavado os pés aos santos, socorrido a
atribulados, se viveu na prática zelosa de toda boa
obra (lTm 5.9-10).

Também temos o exemplo de produtividade da esposa


ideal de Provérbios. “Abre a mão ao aflito; c ainda a estende
ao necessitado” (Pv 31.20).
Uma mulher que entende todos esses deveres, e tra­
balha fielmente neles, é verdadeiramente mulher de valor
inestim ável . Seu marido — e ele bem sabe disso — rece­
beu uma grande bênção; assim também os filhos, e todos
que entram em contato com esse lar: “ Mulher virtuosa,
quem a achará? O seu valor muito excede o de finas jo ias”
(Pv 31.10).
CA PÍTU LO 4

*
AMOR EFICAZ

1. O A M O R G E R A BELEZA

U ma suposição comum no mundo é que as mulheres de­


vem “se manter cm forma” a fim de manter o marido.
Nesse jogo de atrair e ser atraída, as mulheres são ensinadas a
ver a si mesmas como as responsáveis primeiras por sua pró­
pria atratividade ou beleza. Esse ponto de vista c inculcado
desde cedo. Antes as garotinhas costumavam brincar com
bonecas, imaginando-se no papel de mãe cuidadosa; agora
elas podem ser vistas com bonecas da Barbie, imaginando
serem elas a boneca . E, é claro, a boneca é linda e escultural.
O botão de "pressão” está ligado e permanece aceso.
A perversão não está no fato de as mulheres desejarem
ser atrativas ou belas. A perversão está no moderno divórcio
entre a beleza da mulher e o comportamento de seu pai e
marido. Não há nada de errado em esperar que o jardim seja
bonito; mas há muita tolice em esperar por um jardim boni­
to que se preserve e mantenha sozinho. A Bíblia ensina que
o esposo cristão é responsável pela beleza da esposa. Antes
de casar, o pai dela é responsável por essa beleza. Quando
ela casa, o marido assume essa responsabilidade. O exemplo
para o marido a esse respeito é Jesus Cristo:

Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo


amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para
que a santificassc, tcndo-a purificado por meio da
lavagem de água pela palavra, para a apresentar a
si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga,
nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito
(Ef 5.25-27).

Portanto, Deus requer que os maridos amem a esposa


de forma efetiva. Ao amar nossa esposa, não devemos imitar
o amor sentimental do “jesus amoroso”, esse ídolo moderno;
antes, devemos imitar o amor eficaz do Senhor Jesus Cristo,
que veio à terra para resgatar seu povo, e salvá-los dos pe­
cados deles. Na graça de Deus, Cristo trouxe beleza ao seu
povo; não achou beleza neles.

Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos,


morreu a seu tempo pelos ímpios. Dificilmente, al­
guém morreria por um justo; pois poderá ser que
pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus pro­
va o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter
Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores
(Rm 5.6-8).

Cristo veio, e sofreu, a fim dt garantir a salvação de seu


povo dos pecados deles. Ele não veio para tentar salvá-los.
Então, quando um homem tira uma mulher de casa, to ­
dos que a conhecem devem esperar vê-la florescer e crescer
cm beleza pelos anos vindouros. Se a cerimônia de casamen­
to deles fez de algum modo referência ao quinto capítulo de
Efésios, então não foi isso o que o esposo prometeu fazer?
Quando um marido trata sua esposa de maneira bíblica,
deve esperar que ela se torne cada vez mais bonita. Isso não
porque o marido o mereça, mas porque pela graça de Deus
ele tem sido abençoado. O único capaz de produzir qualquer
tipo de crescimento é o próprio Deus (lC o 3.6). Mas o Deus
soberano usa meios específicos, e esse meio para o cultivo
da beleza na esposa é o amor profundo, sacrificial por parte
do mando.
Nessa passagem de Efcsios, Paulo não exige que os
maridos imitem o Senhor em seus sentimentos para com a
igreja; eles devem imitá-lo em suas ações. E essas ações são
efetivas. Produzem resultado. Nessa imitação, exige-se que
o marido, primeiro, “se entregue por ela”. Ele deve imitar o
modo como Cristo santifica e purifica sua igreja, aplicando
a seu próprio modo o lavar de água pela Palavra. E deve fazer
isso buscando apresentá-la a si mesmo como uma gloriosa
e linda mulher. Nenhum marido tem a capacidade de fazer
isto, contudo a graça de Deus é forte e poderosa, e pode ope­
rar em maridos pecadores, e pode transformar casamentos
pecaminosos. Um reconhecimento do padrão exigido por
Deus para o casamento é o ponto de partida necessário. E
crucial que os maridos percebam que devem assumir total
responsabilidade pela beleza da própria esposa.

2. A Q U E ST Ã O DA BELEZA F ÍSIC A

Irei discutir a importância da beleza interior na próxima


seção. Mas como vivemos em uma cultura obcecada com
a beleza externa, os cristãos têm algumas vezes reagido c
pensado que qualquer consideração pela beleza física é algo
“mundano”, e que devemos nos preocupar tão somente com
as qualidades espirituais. E por vivermos em um tempo de
feroz igualitarismo, outros cristãos têm alegado que perse­
guir certos ideais de beleza feminina é “injusto”. Ambas as
abordagens podem parecer muito espirituais e santas. Mas,
na verdade, isso não é espiritualidade cristã de forma algu­
ma. Por um lado, isso é a depreciação gnóstica do mundo
material; e por outro, é uma rebeldia invejosa contra o modo
como Deus fez o mundo.
Uma breve consideração de muitas passagens da Escri­
tura demonstra existir essa tal coisa chamada beleza femini­
na. Abraão, por exemplo, teve uma linda esposa. “Quando
se aproximava do Egito, quase ao entrar, disse a Sarai, sua
mulher: Ora, bem sei que és mulher dc formosa aparência ”
(Gn 12.11). Quando entrou no Egito, a reação dos egípcios
mostrou que Abraão não estava delirando: “Tendo Abraão
entrado no Egito, viram os egípcios que a mulher e rz sobre­
maneira form osa” (Gn 12.14).
Isaque também se casou com uma linda mulher. “A
moça era mui formosa de aparência , virgem...” (Gn 24.16).
Ela era realmente tão bonita que Isaque sucumbiu a engano
similar ao usado por Abraão a respeito do parentesco com
a própria esposa — para garantir sua segurança (Gn 26.7).
Quanto a esse tema geral, os patriarcas sabiam o que es-
tavam fazendo; Jacó também amou uma bela mulher. Ele foi
enganado ao casar-se com Lia, mas sua primeira escolha foi
Raquel: “Lia tinha os olhos baços, porém Raquel era formosa
deporte e de semblante ” (Gn 29.17). Esse registro bíblico da
beleza impressionante da esposa de Abraão, Isaque e Jacó
é importante de ser lembrado quando chegamos ao ensino
de Pedro sobre o tema da beleza, e as mulheres santas do
passado. A beleza que vem de um espírito manso e gentil
não é o equivalente bíblico a ter uma “personalidade bonita”.
Isso estava ligado à beleza externa — beleza que cativava o
marido, e, às vezes, deixa outros aturdidos.
Deus também se refere à beleza feminina em algumas
das mulheres cativas a Israel. Ele fala desse modo: “...e vires
entre eles uma mulher form osa , e te afeiçoares a ela, e a qui-
seres tomar por mulher...” (D t 21.11).
O registro histórico da Escritura também nos fornece
o relato de um casal que não combinava nem um pouco,
o qual já mencionei anteriormente. Nabal era uma pessoa
estúpida, mas tinha uma esposa que não se parecia em nada
com ele. Abigail era ao mesmo tempo linda e inteligente:
“Nabal era o nome deste homem, e Abigail, o nome de sua
mulher; esta era sensata ç.formosa, porém o homem era duro
e maligno em todo o seu trato” (lSm 25.3).
Davi foi atraído ao adultério e ao assassínio encober­
to porque Bate-Seba era formosa: “Uma tarde, levantou-se
Davi do seu leito e andava passeando no terraço da casa real;
daí viu uma mulher que estava tomando banho; era ela mm
form osa * (2Sm 11.2).
Há também outros exemplos bíblicos. A filha de Absa-
lão, Tamar, era “formosa à vista” (2Sm 14.27). A Escritura
concorda com a afirmação do grande rei da Pérsia; a rainha
Vasti era uma linda mulher (Et 1.11). A mulher que a subs­
tituiu, Hadassa ou Ester, era também formosa e bela (Et
2.7). As filhas de J ó não somente eram bonitas, eram mais
bonitas do que todas as mulheres na terra (Jó 42.15). A noiva
dos Cânticos de Salomão é também “formosa como Tirza,
aprazível como Jerusalém, formidável como um exército
com bandeiras” (Ct 6.4). Deus compara a nação infiel de
Israel a uma mulher linda, seduzida e levada por sua própria
beleza (Ez 16).
Isso pode parecer chocantemente óbvio — “todo mun­
do sabe que existem mulheres bonitas” — mas esse é um
ponto importante para os maridos entenderem. Quando o
esposo assume a responsabilidade de amar sua esposa de tal
modo que ela cresça cm beleza, ele precisa entender que os
resultados serão visíveis . Isso não significa que, com o espo­
so certo, toda mulher pode ser igualmente linda. Algumas
mulheres têm a vantagem de uma maior beleza natural, e
outras tiveram um pai excepcional — homens que trataram
suas filhas corretamente. Mas isso significa que um homem
que casa de modo bíblico deve esperar que sua esposa esteja
visivelmente mais bonita após dez anos — e se ela nao está,
ele sabe que ele é o responsável. Mas como responsável, ele
tem de saber onde a verdadeira beleza começa.

3. V E R D A D E IR A BELEZA

Jesus comparou os fariseus a lindos sepulcros cheios de


corrupção em seu interior: “Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caia­
dos, que, por fora, se mostram belos, mas interiorm en­
te estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!”
(Mt 23 .2 7 ). D o com eço ao fim, a Bíblia nos ensina que
o homem olha para a aparência externa, e que Deus vê o
coração. Mas na Escritura, o coração não é o único ponto
digno de consideração, senão que é o ponto de partida. A
verdadeira beleza feminina não começa e termina com o
coração; antes, começa com o coração e termina com um
verdadeiro adorno exterior.
Então, enquanto não devemos aceitar o conceito pa­
gão de que somente o “espiritual” tem algum valor, devemos
também nos guardar da armadilha pagã oposta. A ideia de
que somente o que é material e externo têm algum valor, e
que a beleza espiritual é irrelevante. A suposição é que se
uma mulher simplesmente usar o hidratante correto, a ma­
quiagem certa, se vestir bem, estiver arrumada, e assim por
diante, ad infinitumy então será bela. A Bíblia ensina que
isso não é necessariamente assim — uma mulher bela sem
discrição é algo tão incongruente quanto se passar batom
num camelo (Pv 11.22). A Bíblia também abundantemente
proíbe as mulheres cristãs de adotar essa abordagem exterior
de beleza.
Paulo, por exemplo, ensina que as “mulheres, em traje
decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com
cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dis­
pendioso ...” (lTm 2.9). E importante notar que ele não está
proibindo o adornar-se; antes, está exigindo que as mulheres
adornem-se de um modo específico. Paulo está proibindo
certo tipo de ostentação. No primeiro século, as mulheres
trançavam joias nos cabelos, ou salpicavam pó de ouro sobre
ele. Esse tipo de “exibição” era ofensivo para Paulo, é ofensi­
vo hoje, e foi igualmente ofensivo para o profeta Isaías. Este
aparentemente viu algumas das filhas de Sião, completamen­
te adornadas, exibindo-se. Eis porque o Senhor diz: “Visto
que são altivas as filhas de Sião e andam de pescoço emproa­
do, de olhares imprudentes, andam a passos curtos, fazendo
tinir os ornamentos de seus pés...” (Is 3.16). Porque eram
orgulhosas e arrogantes em sua beleza exterior, o Senhor
jurou arrancar seus cabelos e dignidade (v. 17), enfeites dos
anéis, toucas, ornamentos (v. 18), pendentes, braceletes, e
os véus esvoaçantes (v. 19), turbantes, cadciazinhas e cintas
(v. 20), caixinhas de perfumes e amuletos (v. 20), sinetes e
joias do nariz (v. 21), vestidos de festa (v. 22), mantos, xales e
bolsas (v. 22), espelhos, camisas finíssimas, atavios de cabeça
e véus grandes (v. 23).
Em outras palavras, quando as mulheres são bonitas e
ímpias, essa beleza é uma afronta ao Senhor: “Será que em
lugar dc perfume haverá podridão, e por cinta, corda; cm lu­
gar de encrespadora de cabelos, calvície; e em lugar de veste
suntuosa, cilício; e marca de fogo, em lugar dc formosura”
(Is 3.24). De Deus não se zomba; Ele odeia a beleza quando
ela é interiormente feia. Além do mais, ele fará com que o
exterior corresponda à degradação interior.
De forma inversa, quando uma mulher é bela cm seu
espírito, essa beleza não pode ser contida. Ela encanta seu
esposo — mesmo um que não teme a Deus.

Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso


próprio marido, para que, se ele ainda não obedece
à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio
do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso
honesto comportamento cheio dc temor. Não seja o
adorno da esposa o que é meramente exteriorycomo
frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de ves­
tuário; seja, porém, o homem interior do coração,
unido ao incorruptível trajo de um espírito manso
e tranqüilo, que e de grande valor diante de Deus.
Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram ,
outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus,
estando submissas a seu próprio marido, como fazia
Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor,
da qual vós vos tornastes filhas, praticando o bem e
não temendo perturbação alguma (lPe 3.1-6).

Pedro exorta as esposas a essa mansidão interior. Mas,


levando todo o ensino da Escritura em conta, podemos ver
que a mulher concentra-se nisto debaixo da amorosa super­
visão de seu marido. À medida que ele a ama, ela dá frutos.
Vendo tais frutos, o marido se deleita. Nesse deleite ele a
ama ainda mais, e ela dá ainda mais frutos. A esposa deve
cooperar completamente, recebendo esse amor que ele é res­
ponsável por dar.

4. C O R T E SIA

Um esposo bíblico deve buscar cultivar a beleza de sua


esposa em todas as coisas, quer pareçam grandes ou pe­
quenas. Uma área que parece desprezível para os homens
de hoje é a prática da cortesia para com as mulheres. N o
livro de Romanos, o apóstolo Paulo instruiu todos os cris­
tãos sobre a obrigação de sermos corteses uns para com
os outros: “O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal,
apegando-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos ou­
tros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos
outros ...” (R m 12.9-10).
Pedro requer que os maridos procedam com discerni­
mento e consideração cortês para com a esposa: “Maridos,
vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discerni­
mento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como
parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, jun­
tamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se
interrompam as vossas orações” (lPe 3.7).
Mas os esposos modernos têm caído na armadilha do
nivelamento e do reducionismo. Esse reducionismo m os­
tra-se na tendência igualitária na área do trato ou cortesia.
Todos devem ser os mesmos, c tudo deve ser idêntico. Não
pensamos que nos é exigido tratar com distinção (com al­
guma indicação visível de deferência) em alguma medida a
quem quer que seja. Consequentemente, há muitas pessoas
hoje que nunca demonstram por ninguém qualquer gesto
de deferência ou honra. Em tal clima cultural, não é de sur­
preender que existam tantos esposos que nunca honrem a
própria esposa.
Se um homem cristão é questionado sobre isso, ele
pode dizer que honra e respeita a esposa em seu coração.
Mas a Bíblia não exige que honremos e respeitemos pes­
soas em nosso coração. Ela requer que honremos e respei­
temos. O coração é obviamente o lugar onde tudo deve
começar, mas se isso nunca redundar cm um com porta­
mento exterior, essa não é a honra e respeito bíblicos. A
honra bíblica deve tomar forma em demonstrações ver­
bais e visíveis que procedem do coração, mas não estão
confinadas ao coração.
Porque somos criaturas, e porque Deus nos dividiu em
várias nações e culturas, as marcas de honra c respeito va­
riam de cultura para cultura. Obviamente, não há um pro­
blema bíblico com essas diferenças culturais. Já a exigência
de honra é algo do qual não sc pode prescindir tão facilmen­
te. Por exemplo, no exército britânico há saudações diferen­
tes das que temos em nosso exército. A Bíblia não nos diz
qual forma de saudação deve ser usada, mas ela exige algo tal
como uma saudação. A Escritura exige que demonstremos
nossa deferência. Não existem honra c respeito invisíveis.
Todos somos pecadores e por natureza estamos de­
baixo da ira de Deus. Mas se Deus nos transformou, essa
nova criação deve ser manifesta no mundo, tal como o velho
homem era visivelmente manifesto. Um marido não pode
dizer: “Apesar de todo esse meu procedimento, eu ainda
honro minha esposa, mesmo que eu nunca tenha demons­
trado isso.” O marido deve honrar a esposa.
Essa é uma demonstração, dentro do casamento, de
uma atitude que devemos ver em toda parte na igreja:

E os que parecem menos dignos no corpo, a estes


damos muito maior honra; também os que em nós
não são decorosos revestimos de especial honra.
Mas os nossos membros nobres não têm necessida­
de disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, con­
cedendo muito mais honra àquilo que menos tinha,
para que não haja divisão no corpo; pelo contrário,
cooperem os membros, com igual cuidado, em favor
uns dos outros (lC o 12.23-25).

A Bíblia exige que o forte honre e respeite o fraco. Mas


no mundo, o forte tira vantagem do fraco. N a igreja, o forte
deve respeitar o fraco. Isso não muda o fundamento da au­
toridade criada por Deus. O líder do lar deve ser respeitado
por sua esposa; há uma obrigação bíblica para que a esposa
submeta-se ao seu marido. A Escritura não está invertendo
nossas definições de força e fraqueza. Mas algo que é único
no cristianismo é que honra c respeito são exigidos d t ambos
os lados. E natural para o fraco honrar o forte. Mas para que
o forte honre o fraco ele precisa da graça de Deus.
Ao longo do tempo, nossa cultura foi construindo uma
série de maneiras de demonstrar esse tipo de honra. Muitas
dessas expressões de honra foram quase completamente ex­
tintas nas últimas décadas. As demonstrações culturais de
honra e respeito estão se desintegrando em muitas partes do
mundo contemporâneo. C om respeito ao casamento, é res­
ponsabilidade bíblica do marido cristão resgatar tal prática.
Esse resgate pode ser embaraçoso e difícil, mas é melhor do
que criar alguma demonstração de honra e respeito ex nibilo.
E embora convalescentes, há algumas coisas que estão pro­
fundamente enraizadas em nossa cultura, e quc podem ser
postas novamente em prática com exito. O marido cristão
precisa começar a resgatar os hábitos de cortesia no trato
com a esposa.
Aqui entramos na área da etiqueta ou amor nas ninha­
rias, amor nas pequenas coisas. Os reducionistas irão dizer:
“Não faz diferença alguma se o marido sempre abre a porta
do carro para a esposa.” Certamente, no esquema cósmico
das coisas, Deus não ordena que os maridos abram a porta
do carro. Mas ele ordena que honrem a esposa. E como o
marido obedece a esse mandamento e demonstra a ela e ao
mundo que a honra e respeita, se não pelo que diz e faz} A
Bíblia não exige nenhum padrão de comportamento cultural
específico.
Isso significa que os homens devem honrar a esposa
de maneira tangível. “C om o assim?! Você quer dizer que eu
devo dar a volta inteira no carro?” Sim — e abrir a porta do
carro é só uma pequena parte da questão. O marido deve
honrar a esposa na frente das crianças, e insistir que elas
o imitem nisso. Por palavras e ações, deve constantemente
louvá-la e honrá-la em público (Pv 31.28).
Não podemos começar essa revolução nos modos
exigindo que as pessoas que nos devem respeito e honra
comecem a demonstrá-los. Isso deve começar por nós, ao
mostrarmos respeito e honra sempre que for necessário fazê
-lo. Quando esse tipo de honra é cultivada, os resultados são
belos. Eles são parte do cultivo, feito pelo esposo, da formo­
sura e beleza de sua esposa, pelas quais é responsável. Muito
tem sido perdido; temos problemas em voltar aos padrões
culturais sem uma dose de constrangimento. Entretanto,
devemos nos lembrar de que o cerne da verdadeira cortesia
está no modo como tratamos as outras pessoas. E o melhor
lugar para um homem começar a redescobrir essa compaixão
consistente é no modo como trata a própria esposa.

5. A M O R R O M Â N T IC O
Em seu livro A legoria do Amor , C . S. Lewis comentou
sobre a tradição do amor romântico na cultura ocidental.
Disse ele:

Se a coisa a princípio escapar à nossa percepção, é


porque estamos tão familiarizados com a tradição
erótica da Europa moderna que a tomamos como
natural e universal, e, portanto, não inquirimos
quais as suas origens... Parece natural que o amor
(sob certas circunstâncias) deva ser considera­
do como uma nobre e sublime paixão. Apenas se
nos imaginarmos tentando explicar essa doutrina
a Aristóteles, Virgílio, São Paulo, ou ao autor de
Beowulf é que nos espantaremos com o quanto ela
dista de algo natural.
A seção anterior dirigiu-se à importância do amor cor­
tês dentro do casamento cristão. Isso foi feito em primeiro
lugar porque é algo que a Bíblia ensina (e por isso é impor­
tante), mas também como uma preparação para o campo
minado pelo qual andaremos agora. Esse é o campo minado
do ensino bíblico sobre o amor romântico.
O amor romântico, como comumente se entende, é um
ídolo moderno da mente, das emoções, e do coração. Por­
que muitos maridos e esposas servem a este ídolo, não é de
surpreender que ele cause dentro do casamento grande insa­
tisfação, desesperança, querelas, confrontos, e, obviamente,
divórcios. Idolatria é quando olhamos para algo criado com
a expectativa de que seja e faça aquilo que somente o Deus
vivo pode ser e fazer. Essa idolatria específica é aquela que
confunde uma reação emocional/biológica muito normal
(embora transitória) com o duradouro e obediente amor
que Cristo dá.
Cortesia, honra, c amor visível certamente são exigidos
do esposo na Escritura. Também sc exige que seja afetuoso
e terno para com a esposa. Mas mesmo ao dizer isso, nossa
moderna incompreensão do amor vem à tona. Uma reação
muito comum a frases desse tipo pode ser: “Exigido ? Ter­
nura c afeto podem ser exigidos ? Essas coisas não deveriam
ser espontâneas e naturais?” Não.
Quando um marido obedece a Deus no modo como
trata sua esposa, o seu lar torna-se um lugar agradável, e
sua esposa é nutrida. Mas essa prática consistente da caritas
— o amor custoso — no lar não é igual ao ardor inicial que
chamamos de “apaixonar-se”. E uma coisa completamente
diferente.
Ouvimos, e não de poucos, que os cristãos devem ser
aptos a manter a “faísca romântica” dentro do casamento.
Se isso significar simplesmente que devem ter bons casa­
mentos, a afirmação está correta, e não devemos implicar só
porque a definição pode não parecer muito precisa. Mas isso
geralmente quer dizer que os cristãos devem esperar e exigir
o mesmo nível c intensidade desde aquele romântico frisson
inicial até o último dia do casal; e que se isso não acontece,
alguma coisa está gravemente errada.
Dois problemas básicos mostram a fraqueza desse en­
tendimento. O primeiro e a impossibilidade emocional de
reter as sensações “primeiras” através de todo o curso do
relacionamento. Supõe-se que os relacionamentos devem
amadurecer. Esse amadurecimento significa crescimento e
acréscimo, não o constante frêmito do primeiro encontro.
O segundo problema é que isso não leva em conta os
diferentes papéis na natureza do relacionamento que Deus
construiu entre seus filhos e filhas. A Bíblia ensina que ho­
mem c mulher são orientados um para o outro de maneiras
diferentes: “Porque o homem não foi feito da mulher, e sim a
mulher, do homem. Porque também o homem não foi criado
por causa da mulher, e sim a mulher, por causa do homem”
(IC o 11.8-9). As preposições e conjunções nesses versos são
importantes. A mulher foi criada por causa do homem. O
homem não foi criado por causa da mulher. Ora, Paulo está
nos falando aqui sobre como Deus nos fez. Sua instrução,
em outra parte, sobre como homem e mulher devem agir é
baseada naquilo que somos enquanto homem e mulher, e no
modo como somos orientados. A orientação fundamental de
um homem obediente é ao seu chamado ou vocação dados
por Deus. Em circunstâncias normais, ele não pode cumprir
esse chamado sozinho — precisa dc auxílio. A orientação
fundamental dc uma mulher obediente é prestar esse auxílio.
Outro modo de dizer é que a orientação do homem é fazer o
trabalho com sua ajudadora, enquanto a orientação da mu­
lher é ajudá-lo nesse trabalho. Ele é orientado para a tarefa,
e ela é orientada para ele.
Mas, o que isso tem a ver com romance? Quando um
homem primeiro se compromete a cortejar uma mulher, p a­
rece que ele possui a mesma orientação que ela. O cortejo
e casamento são simplesmente sua tarefa inicial, mas a es­
posa presume que o comportamento do marido reflete uma
orientação permanente e partilhada pelo casal. Pouco tempo
depois de casados, ela se espanta com o que aconteceu com
ele e com toda aquela atenção romântica que ele estava dis­
posto a dar. Mas ele, tendo finalizado a “tarefa” de conseguir
uma esposa, está agora tolamente negligenciando-a e indo a
busca de outras tarefas.
Ela está descontente porque pensa que a orientação dela
deve governar o relacionamento. Ele não enxerga esse des­
contentamento da esposa porque pensa que sua orientação
deve governar a relação. Ambos estão errados. Ela quer que
ele gaste muito mais tempo dedicado diretamente a ela. Ele
quer gastar mais tempo do que deve com o trabalho. Ela
raciocina segundo a tradicional (e equivocada) suposição de
que homens e mulheres foram feitos por Deus com a mes­
ma orientação um para com o outro — aquilo de ficar um
olhando nos olhos do outro ate que a luz da tela do filme
se apague. Ele, por outro lado, quer gastar menos tempo
amando-a do que o que a Bíblia exige.
Em outras eras, as expectativas masculinas para o re­
lacionamento conjugal eram normativas. Em nossos dias, a
expectativa feminina é a normativa. Isso não significa que
as mulheres conseguiram o que queriam, mas simplesmente
que as expectativas femininas governam aquilo que nossa
cultura como um todo chama de “um bom casamento”. Mas
ambas as abordagens estão erradas. C om o cristãos, devemos
nos conformar aos padrões e normas bíblicos. Não deve nos
surpreender que a Bíblia proíba a tirania das expectativas
masculinas, bem como a usurpação das expectativas femi­
ninas — e coloque cada conjunto de expectativas em seu
devido lugar.
Obviamente, essa verdade não deve ser usada por qual­
quer marido cristão como desculpa para negligenciar sua es­
posa e família. A orientação dela para com o marido é dada
por Deus; é isso que a torna tão capaz de ajudá-lo na tarefa
para a qual Deus o chamou. Ao negligenciar sua esposa, ele
está realmente destruindo-se. Aquele que ama sua esposa,
a si mesmo se ama (Ef 5.28). Mas é igualmente importante
para o homem não negligenciar sua vocação — aquilo que
ele tem sido chamado por Deus para fazer.
Assim, marido e esposa não devem estar ombro a om­
bro, saindo para cumprir a mesma tarefa no trabalho. Nem
devem estar ambos em casa o tempo inteiro, face a face,
eterna e perpetuamente “apaixonados”. Pelo contrário, com
homem c mulher entendendo seus respectivos papéis, o
homem segue seu futuro e chamado dados por Deus, e a
mulher, por sua vez, segue ao lado de seu marido, olhando
para ele.
O s homens devem amar a esposa como C risto amou
a igreja — de modo sacrificial. Devem fazer isso sabendo
que o amor, entendido biblicamente, não é um sentim en­
to ou emoção, mas uma série de ações que transformam.
O amor bíblico é eficaz. O marido deve amar a esposa,
sabendo que isso terá um efeito no dom ínio espiritual.
A medida que uma esposa cultiva um espírito manso e
tranqüilo, ela se torna mais bonita. O marido deve tratar
a esposa do mesmo modo que C r is to em todas as coisas,
sejam grandes ou pequenas. Ela cresce em beleza, e essa
beleza é encantadora ao marido. Mas isso não é o mesmo
que a paixão que ambos sentiram quando se encontraram
pela primeira vez — e nem poderia ser. E algo mais ama­
durecido. E , portanto, não deve ser confundido com o
amor rom ântico; é muito, muito melhor.
. U,'/
CAPÍTULO 5

ACERTANDO AS CONTAS SEM DEMORA

1. O PRO BLEM A D O P EC A D O

N osso problema é que maridos e mulheres são peca­


dores. Os problemas no casamento são esmagadora-
mcnte problemas com o pecado — falta de conformidade à
Palavra de Deus em nossos pensamentos, palavras, c ações.
E quando não seguimos o compasso da Palavra, aqueles que
estão próximos a nós, os que são membros de nossa família,
notam os problemas primeiro.
Isso significa que um casamento está em apuros se o ca­
sal não sabe como lidar com a tentação e o pecado. Para que
um casamento seja saudável, marido e esposa devem enten­
der o que é o pecado, qual a provisão de Deus para o pecado
feita na cruz, e o que fazer quando pecam contra Deus no
relacionamento matrimonial. Uma parte importante do mo­
derno distanciamento da compreensão bíblica do casamento
é a minimização do problema do pecado. Consequentemen­
te, uma parte importante da reforma do casamento deve ser
um retorno à confissão bíblica de pecados.
Acertar as contas sem demora significa que um indiví­
duo não deixa para depois a confissão de pecado, quando tal
confissão é necessária. Isso se aplica em primeiro lugar ao
relacionamento com Deus. Se alguém não está confessando
seus pecados a Deus, não será capaz de desculpar-se ade­
quadamente com outros. O pecado deve ser confessado tão
logo entendamos ser ele pecado: “Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos
purificar de toda injustiça” ( ljo 1.9).
A confissão de pecados é como se apanhássemos algo
que caiu no carpete. Quando alguém aprende a apanhar ime­
diatamente, ainda que mil coisas caiam no chão, a casa ficará
limpa. Mas se as coisas só são apanhadas uma vez a cada seis
meses, o resultado será a necessidade de um esforço desco­
munal de limpeza. Para seguir com essa ilustração, há lares
tão desordenados que o responsável pela limpeza não sabe
por onde começar. Não que gostem do modo como as coisas
se encontram, mas é que estão realmente sobrecarregados.
Porém, as coisas foram se acumulando uma de cada vez. Se
as tivesse apanhado rapidamente tão logo caíssem no chão,
a casa teria permanecido limpa.
Do mesmo modo, as “coisas” precisam ser apanhadas
em todos os relacionamentos. A confissão de um procedi­
mento errado sempre deve acontecer imediatamente: “O que
encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que
as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13). Nada
de bom se consegue ao deixar a confissão para depois. Se
alguma coisa caiu no chão agora, deve ser apanhada agora.
O acerto de contas deve acontecer sem demora; nos relacio­
namentos é necessário não postergar a confissão.
Neste ensino sobre a confissão é importante enfatizar
que na conversão nossos pecados são perdoados, e somos
completamente justificados. Nossa justificação, nossa per­
manência como homens e mulheres justificados, nunca é
alterada por nada que façamos ou deixemos de fazer, in­
cluindo se confessamos ou não nossos pecados. Um ver­
dadeiro filho de Deus é perfeito em Cristo não obstante
seu comportamento. Mas recusar confessar o pecado afeta
a qualidade da satisfação que o indivíduo terá de sua justifi­
cação. Quando Davi caiu cm seu grave pecado de adultério
e assassinato, durante todo o tempo, ele foi um homem jus­
tificado. Mas certamente não estava desfrutando da alegria
de sua salvação: “Restitui-me a alegria da tua salvação...” (SI
51.12). Seu relacionamento com Deus não estava ameaçado,
mas sua experiência nesse relacionamento foi de tormento
até que confessasse seu pecado.
D o mesmo modo, muitos cristãos seguem à deriva em
pecados não confessados, e perdem a alegria da salvação. A
medida que continuam em pecado, tornam-se mais e mais
atormentados nessa condição infeliz. Durante esse período,
continuam indo à igreja, aprendendo cânticos c hinos, usan­
do todo seu jargão, sorrindo e cumprimentando as pessoas
hipocritamente, fingindo desfrutar da alegria do Senhor.
Nunca lhes ocorre que metade daquelas pessoas está tam­
bém encenando esse mesmo papel. E, é claro, periodicamen­
te um novo cristão entra borbulhando dc alegria na igreja, c
encontra todos os cristãos antigos e “mais maduros” dando
de ombros e resmungando: “Deixa estar, ele logo vai apren­
der”. H á algo tremendamente errado nisto. Pecados não
confessos roubam do cristão a alegria de um relacionamento
deleitoso com seu Pai celestial. Vemos isso mui claramente
em nosso próprio relacionamento com Deus.
Mas o mesmo princípio se aplica também a todos os
outros relacionamentos, incluindo os relacionamentos den­
tro da família. Se uma criança está em conflito com os pais,
nem por isso deixa de ser iilho deles. A realidade do rela­
cionamento não se altera. Mas o pecado certamente afeta a
qualidade do relacionamento — ele tira a alegria daquela re­
lação. Quando se permite que pecados não reconhecidos se
acumulem, isso interfere mais e mais nos relacionamentos.
O mesmo princípio se aplica ao relacionamento matri­
monial. Suponha que um homem chegue em casa, vindo do
trabalho, e sua esposa o receba alegremente. Ele teve um dia
ruim, por isso nem sequer responde e segue em marcha para
o quarto. Iracundo, folheia o jornal por uns dez minutos.
Nessa hora, não pode se acalmar, entrar na cozinha e dizer:
“O i, querida, o que temos para o jantar?” Não pode agir
como se nada tivesse acontecido. Seu pecado afetou a alegria
do relacionamento. A realidade do relacionamento não foi
afetada — eles ainda continuam marido e mulher — mas a
qualidade da relação foi afetada. Não pode haver comunhão
genuína entre eles até que o pecado seja tratado. Mas como
o pecado deve ser tratado?

2. R E C O N C IL IA N D O -S E

Uma vez tendo entendido que a confissão é necessária, ainda


devemos aprender como confessar e pedir perdão. Tragica­
mente, muitos que precisam se desculpar com seu cônjuge
por numerosas ofensas não fazem nada mais do que roer as
bordas. Mas um pedido de perdão verdadeiro nos faz bem;
ele nos edifica na fé cristã.
Uma das melhores maneiras de nos disciplinarmos a
evitar o pecado é fazer completa restituição. Primeiro, a res­
tituição é necessária cm si mesma. Sc um item é furtado, não
somente o furto deve ser confessado a Deus, o item deve
também voltar à posse de seu legítimo dono. A confissão
de pecados não transfere direitos de propriedade; não faz
com que o roubo seja propriedade do ladrão. Em segundo
lugar, a humilhação resultante da restituição é igualmente
boa para a alma. Restituição é algo tão humilhante que re­
almente nos ensina a pensar duas vezes antes de pecar outra
vez do mesmo modo.
Então, se um homem grita com sua esposa, mas de­
pois de ler o jornal se acalma um pouco, isso não conserta a
situação. Quando Zaqueu foi convertido, jurou fazer resti­
tuição. Dentro do casamento, uma forma muito importante
de restituição é um pedido de perdão contrito. Mas os ca­
sais podem facilmente cair em um padrão de desculpas que
mais serve para salvar as aparências do que acertar-se com
o cônjuge.
Além disso, muitas vezes o outro também consente
com a encenação porque não sabe como dar verdadeiro per­
dão, assim como quem pecou não sabe como desculpar-sc.
Perdão pressupõe que o outro cometeu verdadeira injustiça.
O problema é que temos dificuldade cm perdoar verdadeiras
injustiças. E por isso que as pessoas se desculpam como se o
seu “verdadeiro eu” não fosse o culpado: “Desculpe, eu es­
tava zangado e disse algumas coisas que não queria dizer.” E
relativamente fácil perdoar Isto porque a outra pessoa fez sem
querer . Mas o pecado só pode ser perdoado quando a pessoa
fez por querer — isto é realmente pecado, e pode ser perdoa­
do. Aquele que está se desculpando deveria dizer: “Eu estava
errado naquilo que disse e fiz essa manhã. Estava zangado, e
não deveria ter feito aquilo. Eu disse aquelas coisas porque
queria machucar você. Naquele momento, eu disse aquilo
que queria dizer, e o que eu disse e quis dizer foi ofensivo a
Deus e prejudicial a você. Você poderia, por favor, me per­
doar?” Esse é um pedido verdadeiro de perdão, e prepara o
caminho da verdadeira restauração da comunhão. E também
algo humilhante e difícil de fazer.
Sc marido e mulher vêm brigando por um longo pe­
ríodo, terão de sentar por um tempo e pedir perdão um ao
outro cm detalhes. Isso não significa que cada ocasião de
pecado deva ser mencionada pelo nome, mas significa que
cada área de pecado deve ser tratada. Por exemplo, se um
homem passou anos cobiçando outras mulheres, ele não tem
de dizer à sua esposa: “E então, houve um dia em 1988 em
que...” Contudo, deve confessar a ela sua infidelidade mental
e pedir-lhe que aceite o seu pedido de perdão.
Se um casal está em comunhão com Deus, eles conse­
quentemente irão estar em comunhão um com o outro: “Se,
porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos
comunhão uns com os outros, c o sangue de Jesus, seu Filho,
nos purifca de todo pecado” ( l j o 1.7). Quando um casal
está cm comunhão um com ou outro, não há, em princípio,
nenhum problema grande demais que não possam resolver
juntos. Portanto, é necessário manter o casamento livre da­
queles pecados que são empecilhos à comunhão.
Quando o pecado não tem sido confessado no lar, a
comunhão c prejudicada. A Bíblia diz que os cristãos devem
confessar suas faltas uns aos outros (Tg 5.16). Se alguém está
levando uma oferta ao altar e se lembra dc que seu irmão
tem algo contra ele, deve ir se reconciliar (Mt 5.23-24). Isso
é sempre exigido, mas devemos imediatamente ver quanto
mais importante é viver dessa forma dentro do lar. O peca­
do interrompe os relacionamentos. Ele nunca dá trégua. Sc
a mera passagem do tempo pudesse sanar o problema do
pecado, o Filho de Deus teria morrido em vão. O s homens
cristãos devem confessar seus pecados à esposa. As esposas
cristãs devem confessar seus pecados ao marido.
Se o pecado não tem sido perdoado no lar, a comunhão
também é prejudicada. O problema com a confissão de peca­
dos é que algumas vezes a outra pessoa pode ficar irada com
o pecado revelado na confissão, ou, caso já soubesse sobre
ele, pode, ainda ressentida, recusar-se a perdoar. Antes, ha­
via somente um pecado; agora, existem dois: “Perdoa-nos as
nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos
devedores” (M t 6.12). Quando marido e mulher abrigam
ressentimento, eles estão impedindo a comunhão matrimo­
nial. Não importa o que a outra pessoa faça, aquele que foi
ofendido não tem o direito de não perdoar .
O utro aspecto importante disto é o fato dc que quan­
do o pecado não é confessado e perdoado imediatamente ,
a comunhão é prejudicada. Deus nos diz para confessar, e
perdoar. Ele nos diz para fazer essas duas coisas agora . E
interessante notar que Deus nunca nos diz para fazer a coisa
certa amanhã, ou no domingo, ou após buscar conselhos, ou
depois de seguir doze passos. Devemos sempre fazer a coi­
sa certa imediatamente . Podemos estar resolvidos a fazer a
coisa certa para com nosso cônjuge depois, mas, nesse meio
tempo, nossa comunhão é prejudicada, e uma enxurrada de
outros pecados estará a caminho. Quando adiamos a confis­
são, o resultado é sempre mais pecado para confessar. Não
há nenhuma boa razão para deixar a confissão para depois.
As esposas devem ter o cuidado de não tentar usurpar
a liderança espiritual neste ponto. A Bíblia diz: “C om o a
igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam
em tudo submissas ao seu marido” (Ef 5.24). Também aqui
a esposa deve ser submissa ao marido. Empurrar um homem
para que se torne um líder espiritual não o fará tal líder. Ele
pode até não ser um grande líder, mas é líder o suficiente
para não ser o tipo de sujeito manobrado pela mulher para
assumir um papel de liderança. Obviamente, isso não signi­
fica que o marido tem o direito de continuar negligenciando
seu papel. Quando um homem simplesmente empaca como
um peso morto espiritual, a comunhão do casal é prejudica­
da. O esposo tem a responsabilidade de “alimentar” e “cui­
dar” da esposa (Ef 5.29), e nao se cumpre este mandamento
de Deus sentando-se em frente à tevê esperando a hora de
fazer sexo.
Parte do problema para muitos casais é a dificuldade de
chegar a um acordo sobre qual é o problema. A esposa pode
pensar que há algumas coisas erradas em todas as coisas,
enquanto o marido acha que existem apenas uns poucos pro­
blemas com algumas coisas. Seja o que for, neste casamento
há realmente um caso de pecado inconfesso. Nossa geração
tem testemunhado uma tremenda diversidade de aconselha­
mento matrimonial e “auxílio” para relacionamentos que es­
tão em problemas. Para dizer o mínimo, o aconselhamento
matrimonial é agora uma verdadeira indústria. Mas neste
grande negócio, quase nada é dito sobre o pecado . Pode até
ser que pareça funcionar, mas são conselhos periféricos. Ele­
vação da autoestima não ajuda no lar, onde a ajuda mais é ne­
cessária. Um casamento problemático não exibe os sintomas
de que está enfermo; não é uma síndrome; é simplesmente o
velho egoísmo pecaminoso.
Quando um casal trata dos problemas seriamente, eles
reconhecem seus pecados perante Deus como pecados , e
agradecem a ele pelo seu perdão. Se o pecado chegou a ma­
chucar alguém mais, então a restituição se faz necessária.
Se a esposa berrou com o marido, então ela terá de pedir
perdão. Ela não deve se justificar com um relatório de todas
as coisas que ele fez ou que ele não fez para provocá-la. O
mesmo se aplica ao marido; ele deve confessar seus próprios
pecados, não os dela. Da mesma forma ela deve confessar
os próprios pecados, não os dele. Cada um poderia passar o
dia inteiro confessando os pecados do outro, e a alegria do
casal não seria restaurada. O marido deve confessar se fa­
lou asperamente, cobiçou outras mulheres, gastou dinheiro
de forma irresponsável, não exerceu liderança espiritual, c
gastou tempo demais em frente à televisão. Ela deve con­
fessar se nutriu um espírito crítico e ranzinza, se mostrou
desrespeito a ele em público, se faltou respeito e obediência
em casa, bem como todas as suas tentativas de ser líder es­
piritual do lar.
Aquele que está confessando seus pecados deve fazê-lo
com o propósito de ser específico perante o Senhor. Cada
ocasião deve ser confessada perante Deus e chamada pelo
nome específico. Cobiça é cobiça, malícia é malícia, c assim
por diante. Se o pecado afetou outra pessoa, o que pede per­
dão deve mencionar apenas seu próprio pecado. Um pedido
de perdão não deve ser uma maneira indireta de obrigar o
outro a pedir perdão.

3. R E G R A S DA CASA PARA A C E R T O S R Á P ID O S
A confissão de pecado simplesmente traz o problema à tona.
Bem cedo em nosso casamento, eu e minha esposa deter­
minamos manter certas regras em casa que nos ajudassem
a caminhar juntos. Essas regras tinham o propósito de nos
ajudar a acertar as contas rapidamente, e eram aplicadas
sempre que experimentávamos algum atrito.
A primeira regra que adotados foi nunca se separar até
que as coisas estivessem resolvidas. Marido e esposa devem es­
tar juntos. Ele não deve ir trabalhar, nem ela sair às compras.
Devem resolver o problema na hora em que aparecem. Isso
não significa que o sujeito vai, todo dia, chegar atrasado ao
trabalho. Um casal pode entrar em acordo tão rapidamente
quanto se desentendeu. Tudo o que e necessário é admitir
que se está errado. Se o atrito foi sobre o talão de cheques,
não é necessário fazer um balanço do mês inteiro antes de
saírem para outro lugar, mas o pecado deve ser confessado.
A segunda regra foi nunca receber ninguém em casa
quando não houver harmonia no lar. Não deixe ninguém
entrar em sua casa se vocês não estiverem em comunhão. Se
um casal está no meio de um atrito, e alguém bate à porta,
eles não devem atender até que a comunhão seja restabeleci­
da. Sc lá fora estiver chovendo, é bom que isso seja rápido!
A terceira regra é similar: nunca ira lugar algum quando
estiver sem comunhão . Se o casal tiver um atrito a caminho
da igreja, devem resolver isto no carro, antes de entrar para
o culto. Sc o problema surgiu no caminho para a casa dc um
amigo, não devem entrar lá até que as coisas estejam bem.
A quarta regra pede uma pequena explicação. Muitas
vezes um casal está com amigos, e um dos dois fala alguma
coisa que ofende o outro. Sc o pecado foi óbvio a todos,
então a restituição deve ser feita na presença dc todos. A res­
tituição deve sempre ser tão pública quanto a ofensa. Mas,
muitas vezes, um dos cônjuges se ofende sem que o outro
se dê conta de que algo aconteceu. A explosão visível só
acontece no carro, a caminho de casa. Quando um problema
acontece no momento em que há outras pessoas por perto, o
casal deve ter um sinal manual que significa “me perdoe”, e
uma resposta que signifique “eu te perdoo”. A regra é nunca
esperar para se acertar depois , mesmo quando rodeados por
outras pessoas.
Mais uma regra irá manter um homem e sua esposa
caminhando com o Senhor e um com o outro. Nunca ter
relações sexuais quando não estiverem em comunhão. Isso os
impedirá de tornar hipocrisia aquilo que Deus planejou para
que fosse uma experiência unificadora e maravilhosa.
A aplicação dessas regras terá um tremendo impacto
sobre o relacionamento dc um casal com seus amigos e fa­
miliares. Sem tais restrições, quando um casal enfrenta pro­
blemas, todos os amigos e parentes ficam sabendo. Mas se
praticam estas coisas, ninguém nunca verá o casal, junto ou
individualmente, enquanto não estão em harmonia. Deus
quer que homem e mulher sejam um no mundo, e esse tipo
de ação irá capacitá-los a isto. Não se trata de uma harmonia
hipócrita, porque eles realmente estão em comunhão. A in ­
da lavam a roupa suja, mas em casa. E uma adesão estrita a
essas regras ajudará a evitar que os problemas do pecado se
acumulem.
CAPÍTULO 6

TENTAÇÕES DIVERSAS

1. A S ÍN D R O M E D O C A R A LEGAL
usana acredita que o homem com quem se casou é um
S sujeito muito legal, por isso ela realmente não sabe por
que está tão frustrada com ele. Quando se irrita com ele,
sente-se culpada — não por causa da ira, mas porque não há
qualquer causa aparente. Ela está profundamente desconten­
te, e, contudo, sente que ninguém pode realmente entender
por que ela está frustrada. C om o outros podem entender,
quando nem mesmo ela entende? Por que será que ela se
sente tão aborrecida com um cara tão simpático?
N o mundo cristão, hoje em dia, incontáveis casamen­
tos não foram realmente consumados espiritualmente. O
pacto do casamento foi feito, e há consumação física, mas
o casamento ainda não vai bem. E não vai bem porque um
casamento não pode se consumar espiritualmente se o ma­
rido age como um cunuco espiritual. Eunuco é aquele que é
impotente em sua masculinidade — algo diferente de ser do
sexo masculino, o que é simplesmente biológico.
Quando um marido tem esse problema, o resultado
para a esposa é a tentação de estar profundamente frustrada
e ressentida. Quando cede a essa tentação, os sintomas dessa
frustração podem se manifestar dc várias maneiras, peque­
nas ou grandes. Algumas das grandes manifestações podem
incluir glutonaria e embriaguez.
A ironia é que tais eunucos espirituais são quase sem­
pre sujeitos legais. E porque os sintomas dessa negligência
espiritual normalmente aparecem na esposa, o mundo que
os assiste geralmente se espanta: “o que aconteceu com ela }”
Com o conseqüência, ela sente-se ainda mais frustrada e res­
sentida. Há tantos exemplos desse padrão de acontecimen­
tos que podemos dar a ele um nome — a Síndrome do Cara
Legal.
Agora, evidentemente, é importante definir isto. Nem
todos os maridos com esposas problemáticas são “caras le­
gais”. A Bíblia alerta os homens a que não sejam duros no
trato com a esposa (Cl 3.19). Mas a Síndrome do Cara G ros­
seiro não é difícil de identificar; quando uma mulher tem
um homem que a trata como lixo, não há mistério em saber
por que ela está infeliz. O propósito aqui é tratar daquelas
situações nas quais uma mulher está claramente frustrada
no casamento com um sujeito simpático — e, consequente­
mente, confusa por isso.
Há inúmeros homens cristãos legais cuja esposa está
neste estado de frustração contínua. E quanto mais frus­
trada a esposa fica, mais simpático o esposo tenta ser. In fe­
lizmente, essa “simpatia” não é a bondade bíblica. Não é o
amor de que tratamos anteriormente; é abandonar, abdicar
de seu papel. Com o passar do tempo, a situação passa a ficar
mais difícil, mesmo para ele, de modo que se descontrola
com a frustração dela. Mas ele sabe que aquilo está errado,
e por isso pede desculpas, e retorna ao velho padrão de ne­
gligência para com a esposa, ao invés de amá-la por meio da
liderança.
C om o Pedro ensina, as mulheres precisam entender
que estão sendo conduzidas por um senhor: “C om o fazia
Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual
vós vos tornastes filhas, praticando o bem e não temendo
perturbação alguma” (lPe 3.6). Infelizmente, muitas mulhe­
res são dirigidas (se é que podemos chamar isso de direção)
por homens que nada mais são do que “desculpas ambu­
lantes”, que comem, falam, vivem, e respiram imposições.
Quantas mulheres cristãs hoje podem se considerar filhas
de Abraão? Quantas delas podem se imaginar chamando seu
marido de senhor sem rir-se? £/e? Mas um marido é alguém
que cuida e cultiva com autoridade.
Falta mencionar que essa autoridade deve ser exercida
por um homem com uma disposição de serviço semelhante a
Cristo. Ele não deve exercer sua autoridade de modo egoísta.
Mas deve exercê-la; pois é marido. E trágico que em nos­
sa cultura a palavra marido seja entendida como nada mais
do que um homem legalmente comprometido (por alguns
anos) com uma mulher específica. A etimologia do termo
em inglês, por sua vez, envolve algo mais do que isso. Ser
marido \husbandry\ é cuidadosamente manejar os recursos
— ser mordomo. E quando alguém decidir ser o marido dc
uma mulher, deve entender que não pode fazer isto a menos
que aja com autoridade.
Ele deve agir como alguém que tem o direito de estar
ali. Ele é o senhor do jardim, e lhe foi ordenado por Deus
cuidar desse jardim para que dê muito fruto. Não se pode
conseguir isso “dando uma volta” no jardim e sendo simpáti­
co. O jardim deve ser administrado, e governado, e mantido,
c cultivado. Para muitos maridos, essa é uma ideia dc outro
planeta; eles certamente gastam todo o seu tempo no jardim,
ajudando a qualquer fruto que casualmente decida crescer,
mas sempre tem aquele olhar dc alguém culpado por entrar
ali ilegalmente.
Nenhum cultivo é necessário quando se quer ter um
jardim cheio de abrolhos. E se alguém deseja uma esposa
cheia de frustração, é só também não fazer nada. Tudo que
um homem precisa fazer é deixá-la sozinha. E os caras sim­
páticos são muito bons em deixar a esposa sozinha.
O homem severo entra no jardim para pisoteá-lo. Ele é
uma presença destrutiva. E, tragicamente, há homens que se
encaixam nessa descrição. Mas na igreja cristã, atualmente,
encontramos muito mais o problema oposto. Homens que
não fazem nada diretamente destrutivo: apenas cruzam os
braços e assistem aos abrolhos crescerem. Não têm certeza
sobre o direito de estar ali, e começar a arrancar os abrolhos
significaria que estão assumindo a responsabilidade pelo
estado do jardim — então é melhor não fazer isso. Tal abdi­
cação é uma abdicação de sua m ordom ia ; é abrir mão do seu
papel de um cultivador cuidadoso. E a esposa está frustrada
porque tem um marido apenas nominalmente, mas na ver­
dade não tem marido algum.
Alguns homens podem contestar dizendo que a esposa
quer mesmo é ficar sozinha, no canto dela. Todos eles esta-
riam respeitando os desejos da esposa. Há duas respostas a
isso. Uma é que exija ou não a esposa ficar sozinha, isso não
altera o fato de que Cristo exige que ela não esteja sozinha.
“Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a
igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). O homem
é cabeça da mulher, e o cabeça do homem é Cristo. F Cristo
ordenou aos maridos que o imitassem — c isto exige um
amor que não retrocede ou permanece em modo de espera.
Em segundo lugar, as esposas precisam ser conduzidas com
mão firme. Uma esposa irá com frequência testar seu marido
em alguma área, e ficar completamente desapontada (e frus­
trada) se ele fizer concessões. E crucial que um marido dê
a sua esposa aquilo que a Bíblia diz que ela precisa, ao invés
daquilo que ela diz que precisa.
Assim, um marido piedoso é um piedoso senhor. Uma
mulher que entende essa verdade bíblica e chama a certo
homem dc marido está também o chamando de seu senhor. E
trágico que a abdicação total da parte dos homens modernos
tenha tornado a ideia de senhorio no lar algo tão risível. Um
homem não pode progredir somente com boas intenções.
Não pode ir adiante simplesmente com uma conduta sim­
pática. Não pode avançar apenas com uma disposição afável.
Não pode chegar a lugar algum apenas com a boa reputação
de que desfruta na igreja ou vizinhança por ser um sujeito
afável. Em um mundo dc eunucos espirituais, é bom encon­
trar um homem que é mais do que simplesmente alguém do
sexo masculino.
Então, esta é a raiz do problema: muitos homens cris­
tãos são sujeitos legais, mas não proveem a força da liderança
que Deus requer e que a esposa necessita: “Quero, entre­
tanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o
homem, o cabeça da mulher, c Deus, o cabeça de C risto”
(IC o 11.3). *
Mas diagnosticar um problema não é o mesmo que
resolvê-lo. Muitos maridos podem prontamente ver que são
negligentes de um modo que não deveriam, mas nem por
isso sabem precisamente o que fazer. A primeira coisa a fa­
zer é confessar o problema geral a Deus como pecado . Deus
estabeleceu certa forma de governo na família e não temos
qualquer autoridade para alterar ou modificar aquilo que ele
estabeleceu. Se a alteração foi feita em rebelião deliberada,
ou simplesmente é fruto de fraqueza, não importa. Se não
se adequa ao padrão estabelecido por Deus, deve ser con­
fessada.
A segunda coisa é identificar áreas específicas de negli­
gência. Uma vez feito isto, devem também ser confessadas
como pecado. Alguns exemplos específicos são dados abai­
xo, mas são apenas exemplos. De modo algum esta lista deve
ser considerada exaustiva.

— Quando a esposa pede conselho : Há muitas ocasiões


cm que a esposa está sentindo-se angustiada com respeito
a alguma dificuldade, então vai até o marido e diz: “O que
devo fazer?” Um marido negligente dirá que não se importa
e que ela pode fazer o que quiser. Mas quando a esposa busca
conselho com seu marido, ela deve sempre receber conselho.
Quando vai até o marido e pergunta qual decisão tomar, ele
deve sempre tomar a decisão.
Quando uma mulher vai até a minha esposa e pede
orientação e conselho, uma das coisas que minha esposa
geralmente pergunta é se o marido daquela mulher sabe e
aprova o fato de ela estar buscando conselho. E então quan­
do estão falando sobre a causa em questão, minha esposa
frequentemente pergunta o que o marido dela diz sobre
aquilo. Ela normalmente ouve respostas do tipo: “Ele disse
que a decisão era minha.” E esse tipo dc “abdicação” não sc
limita às coisas triviais — inclui questões de importância
vital, como o uso do controle de natalidade.

— J á tentei uma vez: Maridos que abrem mão de seu pa­


pel podem dizer em defesa própria: “Minha esposa fez isso
certa vez. Ela me chegou com uma decisão para tomar, e eu
decidi. Mas então ela resistiu à decisão. Concluí que ela não
queria de verdade saber da minha decisão, por isso deixei as
coisas como estavam”. Esse é um erro fácil de cometer, mas
ainda assim é um erro. A esposa nessa situação não precisava
que ele tomasse uma decisão; precisava que tomasse uma
decisão firm e .
Muitas vezes a esposa pede ao marido que assuma a
liderança no lar. Então ela pede uma decisão, e o marido a
toma. Porém a esposa se põe a pensar se aquela é realmente
uma decisão com a qual o marido está comprometido, ou
se decidiu apenas para que ela ficasse tranqüila acerca do
assunto. E por isso ela resiste à decisão. Isso não acontece
porque rejeita a liderança dele, mas porque quer ter certeza
dc que ele está exercendo verdadeira liderança. Se ele então
retrocede, fica claro para ela que o marido não tornou real­
mente decisão nenhuma.

— Eu disse a você: Suponha que uma decisão tenha de


ser tomada, e marido e esposa tenham opiniões diferentes.
Após discutir, o marido entrega os pontos, c iaz aquilo que a
esposa queria fazer. Suponha ainda que, como conseqüência,
seguindo tal decisão, as coisas tenham dado errado. A negli­
gência do marido pode ser vista em sua resposta ao desastre.
Se ele diz (ou pensa): “Veja no que deu fazer as coisas do seu
jeito”, então isso mostra que ele abdicou da liderança.
Ora, um esposo piedoso pode decidir, após levar em
conta as inquietações da esposa, fazer as coisas “do jeito
dela”. Mas em um lar piedoso, tão logo faça desse modo, isso
se torna decisão dele . Ele é inteiramente responsável por isso.
Uma vez tomada a decisão, c decisão dele. Se a esposa tentar
assumir a culpa pelo modo como as coisas ocorreram, ele
deve impedi-la: “Não, querida. A culpa é toda minha”. Pode
até ter sido tudo ideia dela, mas num lar bíblico, foi ideia dele
fazer as coisas desse modo.

— Fazendo suas próprias coisas : Alguns maridos ne­


gligentes podem pensar que são decididos porque saem e
tomam decisões sem consultar a esposa: “Você comprou
aquilo ?” Esse tipo de coisa está muito longe de ser liderança
bíblica; se pensa que alguma coisa a fazer é correta, um ma­
rido piedoso não se furta a discutir o assunto com sua esposa
antes de fazê-lo. Quando um marido age sem consultar a
esposa, normalmente é porque sabe que ela possui na prática
o poder dc veto dentro do lar. E porque essa tal coisa é algo
que ele realmente deseja fazer, então age sem deixar que ela
o saiba com antecedência. Isso não é liderança; é negligência
egoísta.
Com o um homem pode fugir desse padrão? Já demons­
tramos a importância de confessar o problema como pecado.
Enquanto o problema é atribuído a nada mais do que dife­
renças de personalidade ou desculpado como diferenças de
origem cultural entre marido e esposa, o problema perma­
necerá. Mas um homem que não tem sido cabeça do seu lar
deve confessar sua negligência como pecado — deve tratar
isto do mesmo modo como trataria o roubo, ou adultério.
E desobediência.
Tendo confessado todo pecado conhecido associado ao
problema, o próximo passo é analisar e orar a respeito. Um
marido responsável deve fazer uma lista com duas catego­
rias.
A primeira categoria deve conter uma relação de to­
das as áreas nas quais as coisas acontecem no lar de modo
contrário ao desejo expresso do marido. Por exemplo, supo­
nha que ele tenha dito, em várias ocasiões, que pensa que as
crianças não deveriam assistir à televisão. Se elas assistem
mesmo assim, então ele deve pôr esse item na lista. Se pensa
que sua esposa não deve pedir tantos conselhos ao pai, mas
ela persiste, então deve pôr isso na lista. Ele está relacionan­
do aquelas áreas nas quais suas decisões são desrespeitadas.
A segunda categoria deve ser uma lista daquelas áreas
nas quais as ações no lar sucedem em razão da ausência de
liderança de sua parte. Suponha que a esposa estabeleça os
padrões de disciplina para os filhos. Mas suponha que ela
faça isso contra a sua própria vontade ■ —■ela repetidamente
pediu que ele fosse o guia, e ele apenas disse: “Não sei, acho
que vocc está se saindo bem.” Suponha que ela pediu a ele
que passassem tempo lendo a Palavra juntos, mas ele nunca
parece ter tempo para isso. Ele também deve incluir isso na
lista.
Ao organizar essa lista, o marido deve ser cuidadoso.
A primeira categoria conterá aquelas áreas da vida familiar
nas quais sua liderança é ignorada. A segunda irá listar todas
aquelas áreas nas quais sua liderança nunca foi exercida. Ao
pensar sobre essa lista, o marido deve lembrar-se novamente
de sua necessidade de perdão. Deve agradecer a Deus por sua
graça para com pecadores, e descansar no fato de que Deus
nos tem dado a justiça perfeita de seu Filho.
E importante não deixar que sua lista se torne uma lis­
ta de queixas contra sua esposa. O objetivo não é deixar o
pecado da negligencia c cair no pecado da amargura c res­
sentimento. O marido foi quem abdicou de seu papel, c ele
está agora meramente identificando aquelas áreas específicas
nas quais precisa de correção.
Quando tiver terminado a lista, ele deve orar a respeito
dela por vários dias. Nesse tempo, pode acontecer de acres­
centar ou apagar itens. Tomar tempo fazendo isto evitará
um confronto ríspido ou irrefletido com a esposa. Quando
sentir confiança de que a lista descreve de maneira acurada
o problema, ele deve sentar-se e conversar com a esposa.
Provavelmente será necessário separar algumas horas para
discutir o problema com ela a fundo. Se tiverem filhos cres­
cidos (adolescentes), pode ser necessário sentar com eles
para uma conversa similar.
Ele deve dizer à esposa que tem confessado o pecado
de não assumir o papel dado por Deus, e que também deseja
pedir perdão a ela. Não deve atacá-la ou culpá-la . Sua con­
duta deve ser de humildade. Ele ioi injusto com ela, e agora
está fazendo restituição. Se ela também pecou nisto (o que
provavelmente aconteceu), ele ainda não é capaz de servir
para corrigi-la (Gl 6.1).
Marido e mulher devem examinar a lista juntos. A parte
mais importante é a categoria na qual as decisões ou tenta­
tivas de liderança foram ignoradas e o marido não fez nada
a respeito. Ele deve pedir perdão à esposa, e pedir que ela
o auxilie à medida que confronta o pecado. Ao terminar,
devem orar juntos.
Tendo feito isto, é muito provável que ambos sintam-se
bem melhor. Mas o problema ainda não está resolvido. D en­
tro dc uma semana, o marido deve escolher na lista, entre as
áreas relativamente menores, o que tem sido um problema.
Se o antigo padrão de desrespeito começa a se manifestar,
deve falar com sua esposa à parte e lembra-la de que não
quer voltar a cair em seu antigo costume de abrir mão de
seu papel de marido. Não importa o que aconteça, ele não
deve mudar sua decisão. Ainda que a esposa fique chateada,
ele não deve retroceder. Sc ela explica q ue aquela situação é
diferente por conta disto ou daquilo... ele não deve mudar
sua decisão. Isso é crucial.
Obviamente, o marido deve gastar tempo suficiente
em preparação e oração sobre essa decisão para ter certeza
de que não está tomando uma decisão tola ou egoísta. Mas
mesmo que sua escolha não seja a melhor que poderia fazer,
a questão em si não é a sua capacidade de tomar a decisão
perfeita, mas seu direito e responsabilidade dc tomar a de­
cisão. A questão aqui diz respeito a recuperar a liderança
piedosa no lar.
A razão porque ele deve começar com um assunto re­
lativamente menor é simples. Se alguém quiser começar a
fazer levantamento de pesos, não irá começar pondo todos
os pesos do ginásio numa única barra. Se alguém quer c o ­
meçar a correr, não vai começar tentando completar vinte
quilômetros. Seria pedir pelo fracasso, e algo que desencora­
jaria tentativas futuras. O mesmo vale para o assunto de que
estamos tratando. O marido está simplesmente rompendo
um mau hábito. Isso já é difícil o bastante mesmo sem as
complicações adicionais que vem com uma grande decisão.
Consequentemente, ele deve começar com questões sobre
qual restaurante visitar essa noite, e não sobre vender a casa
e ir morar na Ásia.
E depois de tomar uma decisão com êxito, deve tomar
outra . Ele está aprendendo a exercer liderança, e logo irá
descobrir que isso é como aprender a caminhar — deve-se
dar um passo de cada vez.

2. D IF E R E N Ç A S E N T R E H O M E N S E M U L H E R E S
Vivemos em uma cultura igualitária que odeia distinções
“injustas” de qualquer tipo. Embora essa posição possa pa­
recer óbvia para a mente moderna, ela é completamente con­
trária à Escritura. Sc Deus nos criou com certas diferenças
c distinções, e ele dc fato o fez, corremos por nossa conta
os riscos quando desprezamos tais distinções. Esse é o caso
específico quando se trata das diferenças entre homens e
mulheres. '
Mas quando fazemos distinções sobre classes de pesso­
as, é necessário generalizar. Portanto, devemos justificar a
legitimidade de algumas formas dc generalização. Em Tito
1.12, Paulo afirma o seguinte: “Foi mesmo, dentre eles, um
seu profeta, que disse: Crctenses, sempre mentirosos, feras
terríveis, ventres preguiçosos.” Aqui Paulo está generalizan­
do ao dizer que os cidadãos de Creta são sempre mentirosos,
feras terríveis, ventres preguiçosos. Paulo se sentiu livre para
fazer uma generalização mesmo sabendo que não seria ver­
dade em todos os casos específicos. O próprio profeta, sendo
cretense, obviamente não estava sempre mentindo, porque
o que ele disse aqui é verdade. Esse profeta específico é uma
exceção à regra, mas a generalização permanece legítima.
Quando fazemos generalizações sóbrias não estamos
sendo irracionais. Podemos olhar para o mundo e observar
que diferentes tipos de pessoas tendem a seguir certos pa­
drões de comportamento. Tendo feito as observações, po­
demos então buscar entender quais diferenças vêm de Deus
e quais são pecaminosas e por isso precisam ser mudadas. A
característica destacada por Paulo nos crctenses era pecami­
nosa, e o apóstolo estava escrevendo para que Tito conduzis­
se seu ministério com vistas a promover mudanças.
Também podemos generalizar sobre homens e mulhe­
res, maridos e esposas. Por exemplo, os homens são mais
altos do que as mulheres (mas, óbvio, nem sempre). Entre­
tanto, a generalização é legítima. Devemos simplesmente
entender e desfrutar de certas diferenças criadas por Deus
entre homens e mulheres. Outras diferenças, contudo, ten­
dem a produzir reações pecaminosas de um para com o ou­
tro.
Algumas dessas diferenças têm ligação com os papéis
que Deus determinou para homens e mulheres. Por exem­
plo, um martelo e um alicate são diferentes, mas essas dife­
renças não são arbitrárias. Alguém inventou o martelo e o
alicate, cada qual com um propósito específico. As diferen­
ças entre eles são diferenças na característica do modelo. De
modo similar, as diferentes tarefas designadas para homens
e mulheres explicam muitas de suas diferenças. Tais diferen­
ças podem se manifestar de várias maneiras.
Por exemplo, suponha que um marido chegue do traba­
lho, e lhe ocorra (vejam só!) a remota possibilidade de que
sua esposa não tenha tido um dia muito bom. Ele então per­
gunta a ela se há algo de errado. Ela diz que nada está errado.
Mas, com isso, ela quer dizer que tantas coisas estão erradas
que não daria para apontar somente uma, e, além disso, está
dizendo que qualquer um pode perceber que alguma coisa
está errada ali. O marido então responde: “Que bom, então.
Por um momento pensei que algo estivesse errado”, c sai
para assistir ao jornal. No final da noite, é claro, ele desco­
bre seu erro — eis ali uma grande explosão. Ela pensa que
ele deveria ter percebido o fato de que alguma coisa estava
errada, c ele alega que perguntou, e ela disse que nada esta­
va errado. Homens e mulheres manejam de forma diferente
a linguagem. Quando falhamos em traduzir corretamente
nossas palavras c pensamentos, problemas certamente virão.
C om o já discutido anteriormente, homens e mulhe­
res são orientados de maneira diferente (iC o 11.9). Mas um
dos meios fundamentais dc expressarmos nossa orientação
é através da linguagem. Se os casais não se dão conta das
diferentes aplicações do idioma, terão grandes problemas de
comunicação. Quando se dão conta disto, e chegam a perce­
ber esses diferentes usos, podem desfrutar de tais diferenças.
Sc não se dão conta, tais diferenças se tornam uma fonte real
de tentação. A falta de compreensão acerca do que o outro
está tentando dizer é um convite ao pecado de julgar mal os
motivos alheios. E quando fazemos isso, impedimos nossa
comunhão. A Bíblia diz que o amor “tudo sofre, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta” (IC o 13.7). O amor não salta
para as conclusões, e não tenta ler os motivos do coração da
outra pessoa. Quando há algum tipo de conflito, é muito fá­
cil estar errado sobre os motivos pessoais do outro, c muito
difícil estar certo sobre quais são eles.
Homens e mulheres também pensam de maneira dife­
rente. Há vezes em que a esposa está muito perturbada por
alguma razão, c o marido pensa que deve dar-lhe um sermão
sobre o porquê as coisas aconteceram dessa forma. Mas seus
dons dc análise, ainda que aguçados, não são bons para essa
situação. Nessa ocasião, ela não precisa dc informação —
precisa de um abraço. Ele deve dizer-lhe que tudo vai ficar
bem, e depois disso manter a boca fechada. Isso não signi­
fica que suas habilidades analíticas não tenham uso. Se falar
com ela mais tarde, e disser que esteve pensando e orando a
respeito do que aconteceu ontem e que tem algumas ideias
sobre como lidar com aquilo da próxima vez, ela irá agra­
decer bastante.
As diferenças na maneira de pensar se manifestam cm
outras áreas. As mulheres parecem ter uma mente com múl­
tiplas vias, podendo saltar de uma trilha para outra sem per­
der nada. Os homens revelam ter uma mente com uma única
via linear. Uma vez eu e minha esposa saímos de carro para
procurar casas; vimos uma que nos interessou, c falamos um
pouco sobre ela. Trcs dias depois, Nancy continuou nossa
conversa onde havíamos parado, sem que houvesse qualquer
antecedente; é desnecessário dizer que fiquei sem saber do
que ela estava falando. Ao mesmo tempo, é intrigante como
as mulheres podem estar juntas e falar deste modo uma com
a outra sem se confundirem. As mulheres são muito mais
flexíveis no modo como relacionam uma coisa com a outra.
Na mente delas tudo está conectado. C om os homens, e
muito mais fácil desconectar um objeto do outro. C onse­
quentemente, se alguma coisa está incomodando uma mu­
lher em uma determinada área, é muito provável que esse
problema surja em outra área completamente diferente. E o
esposo fica confuso porque está tentando entender como ela
passou de um assunto para o outro.
Por causa disso, as mulheres devem tomar cuidado para
que esse tipo de coisa não se acumule por três meses c então
exploda. Tão logo resista à tentação de pecar cm uma área
específica, ela deve lembrar-se dc falar ao marido sobre isto
na primeira ocasião propícia. Se o pecado se manifesta como
um problema de atitude (alguém se torna indiferente), então
o pedido de desculpas precisa ser feito imediatamente. Se a
tentação de agir mal sobrevêm, deve ser renunciada c discu­
tida na primeira boa oportunidade que surgir.
Além disso, muitas mulheres querem que o marido
faça, espontaneamente , pequenas coisas planejadas, c não
porque alguém o ensinou a fazer. Veja o caso de um marido
que compra flores para sua esposa — os homens não fazem
coisas assim espontaneamente. Se aparentar ser espontâneo,
então isso simplesmente significa que ele foi bem treinado
nisto c ensinado desde cedo. Se um filho é criado correta­
mente e seu pai lhe ensina a fazer tais coisas para sua mãe,
quando se casar isso será para ele algo espontâneo. Ele deve
buscar aprender a espontaneidade , e ela deve aprender a dei­
xar que ele aprenda.

3. A B D IC A Ç Ã O E D ÍV ID A
Não empreste nem peça emprestado; pois quem em­
presta perde dinheiro e amigo; e quem pede emprestado
perde as rédeas do seu cultivo.
(Shakcspeare, Hamlet 1.3)

Embora Deus tenha estabelecido o homem como o m a­


rido da família, muitos homens cristãos tem, na cerimônia
de casamento, assumido esse título sem assumir as respon­
sabilidades e deveres correspondentes.
Deus nos criou macho e fêm ea; consequentemente,
quando o homem abdica de seu papel, ruma contrário ao
modo como fomos criados. C om o resultado, a desobediên­
cia desse tipo no lar produz uma culpa fundamental e mui
profunda por parte do marido. Ora, quando um homem se
sente culpado por seus atos, e não busca o Senhor em arre­
pendimento, sempre irá buscar um meio próprio de expiar
sua culpa. Se não confiar completamente no pagamento que
Cristo realizou pelo pecado, a reação natural é buscar por
algum caminho para pagar por si mesmo. Longe da fé no
Grande Sacrifício, o homem irá inventar e multiplicar várias
outras formas de sacrifício por sua culpa. Esses sacrifícios
alternativos geralmente envolvem dinheiro, e nesse mun­
do de crédito fácil, não é difícil para um marido negligente
meter-sc numa enrascada financeira.
O problema é duplo. Primeiro, os maridos que abdica­
ram do seu papel geralmente também terão a tendência de
abdicar quando chegarem ao seu limite linanceiro. C onse­
quentemente, permitem que a esposa gaste além dos recur­
sos da família; e essa é uma subdivisão do problema maior da
negligencia. Porque o marido teme dizer não sobre qualquer
assunto doméstico, é natural que não possa dizer não sobre
as questões financeiras.
Mas o segundo aspecto desse problema é ainda mais
sério. Os maridos às vezes podem encorajar a esposa a gastar
além dos recursos da família. Esse encorajamento acontece
porque o marido está buscando um paliativo para sua própria
culpa. Quando o marido não está atendendo às necessidades
espirituais de sua esposa por uma liderança forte, ele pode
cair na alternativa fácil de dar a ela coisas em compensação.
O resultado é que maridos culpados, nesse mundo de cré­
dito fácil, se iludem pensando que são melhores provedores
do que realmente são.
Quando um marido negligente dá à sua esposa o car­
tão de crédito, e a manda comprar além do que podem, as
compras que ela faz são o símbolo perfeito dc seu relacio­
namento com o marido — uma provisão de coisa alguma.
Mas em todo caso, quando alguém adquire bens com um di­
nheiro que não possui, é bem provável que o furto habite tal
coração. Entretanto, Deus ainda governa o mundo; ladrões
e gatunos se tornarão escravos. Permanece verdade que se
colhe aquilo que se semeia.
A Bíblia ensina que aquele que toma emprestado se
torna escravo daquele que empresta (Pv 22.7), e que os cris­
tãos não devem se dispor à escravidão (lC o 7.23). Muitos
homens se colocam nessa condição dc servidão fora do lar
porque já estão na mesma posição dentro de casa.
Maridos piedosos de fato servem à esposa, mas fazem
isto com a autoridade do amor e sacrifício próprio. Um ver­
dadeiro marido é aquele que dá de si mesmo à sua esposa
e família com autoridade. Nosso Senhor Jesus tinha esse
coração de servo, mas isso não removeu a autoridade dele;
antes, era a base. A servidão que brota da negligencia é algo
completamente diferente.
Exercer a responsabilidade de cabeça da família requer
diligência, trabalho, e coragem. A Bíblia ensina que cum­
prir um trabalho responsável de liderança no lar é um pré
-requisito para a liderança na igreja. “Se alguém não sabe
governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”
(lTm 3.5). E assim como a responsabilidade no lar prepara
o homem para a responsabilidade em qualquer outro lugar,
a irresponsabilidade no lar conduz à irresponsabilidade fora
dele — neste caso, com os credores.
Devemos tratar o problema em sua origem. E muito
fácil reclamar das contas — como se fossem resultado de
algum fenômeno astrológico. Mas não são; resultam de gas­
tos exagerados. E na situação que estamos discutindo, muito
dinheiro está sendo gasto porque pouca diligência está sendo
gasta no gerenciamento. C om o com todo pecado, a solu­
ção é o arrependimento diante de Deus e o reconhecimento
desse arrependimento para com aqueles que foram por ele
afetados. Neste caso, o marido deve confessar sua negligên­
cia perante Deus como pecado e ter uma longa conversa com
sua esposa sobre como falhou em ser um verdadeiro marido
para ela. Mas isto, por si só, não é suficiente.
O marido não verá nenhuma mudança permanente a
menos que se dedique a estudar a Palavra de Deus — toda
ela. Muitos examinam as páginas da Bíblia do mesmo modo
que folheiam um cardápio. Mas nossa responsabilidade é
sermos instruídos em todo o conselho de Deus (At 20.27).
Para os cabeças do lar, esse estudo certamente deve incluir o
tema das dívidas e finanças. Mas muitos cristãos respondem
que eles não querem uma solução bíblica para seus proble­
mas; e, que não têm o tempo necessário para estudar a B í­
blia. Isso é estupidez e rebeldia. Todos nós, cm qualquer fase
da vida, devemos viver e morrer pela Palavra.

4. P O R N O G R A F IA

Um dos principais problemas com a pornografia é o dano


que causa ao mentir sobre a sexualidade. A mentira central
na pornografia é que ela diz que homens e mulheres têm
corpos diferentes, mas o mesmo tipo de pensamento. Ela diz
que mulheres são tão desejosas de sexo e investidas sexuais
quanto os homens, Essa é a mentira central da pornografia.
Em Os quatro amores , C . S. Lewis disse que quando um ho­
mem, escravizado pela lascívia, diz querer uma mulher, essa
é na verdade a última coisa que ele quer. Ele não quer uma
mulher; quer, em verdade, a sensação específica para a qual
a mulher possui o aparato necessário. Se ele realmente qui­
sesse uma mulher, então iria querer também uma casa com
um jardim na frente, cortinas, três filhos, e passar o resto da
sua vida ao lado dessa mulher. Um homem dominado pelo
desejo sexual quer uma parceira sexual que esteja disposta a
fingir que não é mental e emocionalmente uma mulher. Por
exemplo, uma prostituta flagrantemente age como fêmea,
mas nega sua própria feminilidade. Por qualquer que seja a
razão, ela está disposta a fingir que, no íntimo, não há den­
tro dela uma mulher.
Se entrevistássemos mil homens promíscuos, encon­
traríamos mil homens sem domínio próprio com respeito à
tentação sexual. Se fizéssemos o mesmo com mil mulheres
promíscuas, não encontraríamos mil mulheres com um pro­
blema de luxúria, mas com um problema de segurança. Elas
geralmente não estão buscando por mais satisfação sexual,
e sim por segurança emocional.
Quando eu era um garoto, nossa família visitou alguns
amigos de meus pais. Quando estávamos voltando para casa,
meu pai mencionou à minha mãe que aqueles amigos teriam
sérios problemas com sua filha mais velha — problemas com
homens. Ele disse isso porque tão logo chegou na casa deles,
a garota não o largava. Tristemente, sua profecia se cumpriu.
Se alguém de fora chega em casa, e uma pequena garota sobe
cm seu colo, alguma coisa está muito errada. A garota tinha
um grande vácuo em sua vida — a necessidade de atenção
masculina — que não estava sendo preenchida por seu pai.
Ela estava faminta por atenção masculina; quando entrou na
adolescência, rapidamente descobriu que possuía algo com
o qual podia barganhar essa atenção, e que seria tentada a
começar a negociar. Isso porque tinha necessidade de segu­
rança, e um vazio que ainda precisava ser preenchido com
atenção masculina. Agora todos os garotos estavam volun­
tariamente lhe dedicando atenção. Antes, enquanto peque­
na, ela era um incômodo, perseguindo os homens, mas agora
eles estão correndo atrás dela. E lógico que estão buscando
uma coisa, e ela está buscando outra. A conseqüência é que
fazem uma troca que não deixa nem um nem o outro real­
mente feliz.

5. C R ÍT IC A S
Em uma conversa conjugal, palavras como “nunca” e “sem­
pre” sao expressões de ataque. Suponha que a esposa diga
ao marido que sente como se estivesse trabalhando em casa
sozinha, enquanto ele senta e lê o jornal. Se ela simples­
mente deixar ele à vontade, então logo terão uma briga. Mas
se ela expressar sua preocupação sem palavras acusadoras
como sempre e nunca , ele estará em uma posição melhor para
responder de maneira piedosa. A Bíblia exige que sejamos
rápidos para ouvir, e tardios para falar. Nesse exemplo, se o
marido agir assim, já estará a três quartos do caminho para
resolver uma situação potencialmente perigosa.
A maioria de nós precisa de prática em ser prontos para
ouvir. Suponha que uma esposa apresente suas inquietações,
e faça isso sem ira. Se o marido responde -se defendendo
(se ele está certo ou errado pouco importa), então provavel­
mente não está sendo rápido cm ouvir. Mas se ele a escuta, e
então diz algo como: “Deixe-me ter certeza de que entendi.
Você pensa que...” Após esse ponto, seja qual for sua respos­
ta, a esposa ao menos saberá que ele a escutou e entendeu.
Isso é obediência ao mandamento de ser rápido cm ouvir.
Ouvir deste modo tem duas vantagens. A primeira é
que ajuda a dirimir um possível novo problema. E difícil
lutar com alguém que está ouvindo você de maneira com-
prccnsiva. Segundo, ao ouvir desse modo, fica difícil para a
outra pessoa se sair com afirmações de “nunca”, tais como:
“Você nunca ouve o que eu digo”.
Maridos e mulheres têm problemas entendendo um ao
outro pela mesma razão que as outras pessoas — eles não
escutam um ao outro: “Sabeis estas coisas, meus amados
irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio
para falar, tardio para se irar” (Tg 1.19). A Bíblia exige de
nós que demos importância ao ouvir. Um bom modo de se
autodiscipliriar nisto é repetir aquilo que o outro diz. Isso
deixa claro que você entendeu o que estava escutando. E é
algo particularmente importante para os homens fazerem
porque eles são geralmente mais deficientes do que deve­
riam na comunicação com a esposa. As mulheres são muito
mais interessadas na comunicação com o marido, e são ge­
ralmente melhores do que os homens nisto, embora também
tenham seus problemas. Os homens, por mais perspicazes
que sejam em suas análises, muitas vezes não entendem o
que uma mulher está dizendo. Isso pode levá-los a repetir
duas ou três vezes o que ela disse antes, até que ela possa
confirmar: “Sim, foi isso o que eu disse”.
Quando alguém faz uma crítica, é difícil ser pronto
para ouvir e tardio para falar. Aquele que critica geralmente
irá querer uma resposta imediata; e normalmente não é sábio
tentar responder de pronto porque a resposta tende a ser
defensiva e subjetiva. Suponha que a esposa tenha uma pre­
ocupação básica sobre a disciplina dos filhos (“Sinto como
se eu os estivesse criando por minha conta”). Ela expressa
isto ao marido, e então ele repete o que entendeu. Ora, ele
é culpado ou inocente. Se for culpado, então o Senhor pode
falar à sua consciência imediatamente — ele deve admitir o
problema ali mesmo. Mas se for inocente, não deve defender
sua inocência naquele momento. Ao invés disso, deve ser
tardio em responder e lento em defender a si mesmo.
Mas se o marido possui uma defesa razoável, a última
coisa que deve fazer é apresentá-la naquele momento. Deve
mostrar que entende as preocupações da esposa, repetindo
cada uma delas, e então dizer que gostaria de falar sobre
o assunto depois. Ele precisa de algum tempo para pensar
sobre aquilo e orar a respeito. Isso significa que se concluir
que sua esposa está errada, ele o fez de maneira consciente
e em oração, após um período de tempo. Sc for óbvio que
ela está certa, ele deve admitir imediatamente. De qualquer
modo se evita a querela.
O objetivo não é vencer o debate, mas preservar o rela­
cionamento. Quando o esposo ganha de 15 a 3 nas disputas
entre marido c mulher, ambos estão perdendo. Mas se as
discussões são dirimidas, há boas chances de ambos enten­
derem a legitimidade da perspectiva masculina e feminina, e
de o equilíbrio ser encontrado num meio-termo.
Os recém-casados às vezes pensam que ser íntimo e
próximo um do outro significa partilhar tudo que passa pela
cabeça, inclusive suas tentações. Não há melhor maneira de
perder o rumo e não saber para onde vai do que partilhar
suas tentações um com o outro. Se alguém é tentado a pecar,
e confessa isso a outra pessoa, aquilo representará tentação
para os dois. Não há pecado em ser tentado. Não é neces­
sário pedir perdão por cada pensamento que lhe passa pela
cabeça. Se marido c mulher passam a confessar tentações,
começa um jogo de perseguição.
Ao mesmo tempo, é possível partilhar uma tentação
no momento em que ocorre caso a outra pessoa não esteja
envolvida nas motivações. Suponha que cada vez que o ma­
rido tire suas meias na sala a esposa seja tentada a discutir.
Se ele acaba de fazer isso, e sua esposa está vendo, então
não é hora de dizer nada. Ela pode tomar um curso de ação
diferente. Em outra ocasião, pode dizer: “Querido, posso
lhe falar sobre algo que me aflige?” Ele então consente, o
que significa que pediu para saber. Ela então diz: “Isso não
está me tirando do sério neste instante, mas é algo que me
inquieta”. Não há melhor caminho para tornar uma tentação
cm pecado do que partilhá-la enquanto a experimenta.
6. C IÚ M E S

Maridos cristãos são imitadores do amor do Senhor por seu


povo no modo como tratam a esposa. Devemos fazer isso,
obviamente, com respeito a todos os aspectos. Mas essa imi­
tação nem sempre será previsível. Algumas vezes ela irá nos
conduzir por caminhos que não suspeitávamos.
“Porque não adorarás outro deus; pois o nome do Se­
n h o r é Zeloso; sim, Deus zeloso é ele...” (Ex 34.14). O Se­

nhor a quem servimos é chamado zeloso; ele não somente


espera que seu povo se abstenha do adultério espiritual, mas
também requer que se furtem de flertes e galanteios “ino­
centes”. Deus não tolera nenhuma forma de infidelidade.
Ele é ciumento.
O apóstolo Paulo usa a figura do ciúme no contexto do
casamento humano como uma imagem para a igreja. “Por­
que zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho
preparado para vos apresentar como virgem pura a um só
esposo, que é C risto” (2Co 11.2). A imagem aponta para
algo nobre; não diz respeito a um apóstolo invejoso que de
modo sorrateiro c irracional tenta “controlar” ou “manipu­
lar” os coríntios.
Podemos facilmente nos testar para ver se entendemos
o valor positivo do zelo ou ciúme. Suponha que um jovem
esteja comprometido a se casar com uma jovem e descubra
que ela não é mais virgem. Isso era importante para ele, c por
isso, depois de considerar o caso em oração, resolve romper
o noivado. Se nossa atitude é: “Que idiota!” ou “aposto que
ele mesmo também não é mais virgem!”, ou qualquer coisa
parecida com isso, temos um problema sério. Caímos na ar­
madilha de pensar que embora a virgindade seja uma coisa
boa, isso não necessariamente significa que a falta dela seja
uma coisa má.
Certamente, o jovem não está obrigado a romper o seu
compromisso. Mas se o faz, e logo passamos a acusá-lo, esta­
mos simplesmente demonstrando que não entendemos por
que a Bíblia descreve José como um homem justo (Mt 1.19).
É ccrto que a virtude do zelo ou ciúme pode se desvir­
tuar e degenerar como qualquer outra coisa. O amor pode
deixar de ser amor cm razão da indulgência. A liderança
pode deixar de ser liderança em razão da tirania. O trabalho
pode deixar de ser trabalho em razão da correria. Este é um
mundo caído, e tudo pode se corromper, inclusive a piedosa
necessidade de ser zeloso.
Sendo assim, como é que acontece de o ciúme se ge­
neralizar? Vamos retornar ao exemplo do jovem citado an­
teriormente. Suponha que ele tivesse decidido casar com
aquela jovem, e então casasse. Suponha também que o
passado sexual dela não o tenha afetado durante o noiva­
do, mas pouco depois do casamento fique obcecado com a
fornicação cometida por ela. Ele quer nomes, detalhes, quer
conhecer as atitudes dela para com ele , e assim por diante.
Ele a interroga constantemente por detalhes, e, para usar a
definição de Winston Churchill dc fanático: não muda de
ideia, e não quer mudar de assunto.
Nossa tentação pode ser descrevê-lo como um tonto.
Isso não porque nosso mundo tenha uma alta consideração
pelo ato de perdoar, mas porque claramente tem uma vi­
são muito precária sobre o pecado. Devemos fixar cm nossa
mente que o problema do marido não é ter levado à sério
demais o pecado cometido. Isso, cm si mesmo, é bom. O
problema dele é que está levando a si mesmo muito a sério. O
pecado estava no passado antes de ele se tornar marido, e o
único que pode lidar com o passado é nosso Senhor e Salva­
dor Jesus Cristo. O marido não está equipado para proteger
a esposa do passado. Somente Deus pode perdoar pecados.
A ironia é que ao buscar protegê-la do passado (algo
que ele não pode fazer), está deixando-a desprotegida no
presente. O ciúme piedoso em um marido busca proteger
a esposa agora. Mas a única coisa que a esposa desse sujeito
agora precisa é ser protegida desse marido irracional. Por­
tanto, o ciúme retroativo é pernicioso, não porque há ciúme
envolvido, mas porque diz respeito a um homem finito ten­
tando consertar algo além da sua capacidade. C om o resul­
tado, a pobre esposa é deixada em uma posição de profunda
insegurança. Em contraste, o ciúme piedoso produz segu­
rança. E construtivo — porque guarda c protege alguém que
têm grande necessidade de tal proteção.
O zelo ou ciúme bíblico nos ajuda á entender o valor
da submissão. A Bíblia ensina que a esposa deve ser sub­
missa a seu próprio marido. Não ensina que a mulher tem
de ser submissa a qualquer homem, de modo genérico. E
verdade que quando as esposas são submissas ao próprio
marido isso será evidente num nível cultural, tanto na so­
ciedade como na igreja. Mas uma das coisas mais óbvias
sobre o ensino bíblico é que a submissão a um homem ex­
clui a submissão a outros homens. Cristo nos ensinou que
nenhum homem pode ter dois senhores; a mesma verdade
se aplica às mulheres. Submissão a um homem específico
significa não estar submissa a qualquer outro homem es­
pecífico.
Assim, quando um homem tem zelo por sua esposa
de um modo bíblico, ele a está protegendo da submissão
a outros homens. Quando uma filha tem um pai que zela
por sua pureza, ele está cuidando do bem-estar da filha. E
quando tal pai entrega essa filha cm casamento a um homem
digno dessa posição, o novo marido promete ao pai que irá
ser igualmente zeloso. Assim, quando uma mulher piedosa
se submete a seu marido, ela está sendo liberta por meio da
proteção dc um homem piedoso.
O fato de que essa verdade enfurece as feministas não
deve ser novidade para nenhum de nós. As mulheres têm
inevitável necessidade de proteção; a única diferença entre
feministas c cristãos é que os cristãos põem o dever dc pro­
teção sobre pais e maridos, enquanto as feministas põem o
dever de proteção em vários organismos do governo federal
dominados por homens. A lição deve estar bem clara. Os
homens cristãos são chamados para cultivar a virtude bíblica
do ciúme.
CAPÍTULO 7

LEITO DIGNO DE HONRA

1. EM G UA RD A

E screver sobre as práticas sexuais humanas traz consigo


o constante perigo da expressão imprópria, antibíblica,
ou simplesmente equivocada. Cristãos que leem sobre tal
assunto devem sempre estar em alerta — mesmo quando se
trata de algo escrito por cristãos. Temos, como cristãos, a
infeliz tendência de presumir que qualquer coisa que venha
de uma editora evangélica é conteúdo biblicamente sadio.
Infelizmente, isso nem de longe é verdade.
Muitas vezes os cristãos prestam um desserviço ao ensi­
nar sobre esse assunto (em sermões, livros, seminários, etc.)
porque estão simplesmente seguindo o mundo, respeitando
um atraso de cerca de cinco a dez anos. Quando o mundo
reivindica “progresso” em uma área específica, normalmente
os cristãos seguem a marcha — embora se mantenham atrás,
a uma distância tolerável. E, obviamente, uma das grandes
áreas para a qual se tem reivindicado muito “progresso” diz
respeito ao nosso comportamento sexual. Fomos libertos
do velho moralismo para que possamos desfrutar de tudo
“sem reservas”.
Essa é uma área sobre a qual o mundo não hesita em
ensinar. As doutrinas humanísticas se tornaram aceitas e
gradualmente encontram guarida na igreja. C om o a igreja
não ensina biblicamente sobre essa questão, os cristãos ado­
tam como padrão uma perspectiva humanística. Quando a
igreja finalmente começa a ensinar sobre sexo, vemos que
esse ensino se parece mais com um eco do pensamento mun­
dano do que com uma resposta a ele.
Consequentemente, muitas pessoas resistem a qualquer
tentativa de discutir biblicamente o comportamento sexual.
Restrições nessa área ofendem a muitos, enquanto a falta de
limites ofende aos demais. O que segue aqui é uma tentativa,
feita com o entendimento de que pode ser encarada como
muito “restritiva” por alguns e, por outros, muito “liberal”.
Entretanto, nos é exigido viver, e amar, por toda palavra que
sai da boca de Deus. Para os cristãos, não deve importar se o
instrumento usado pelo Senhor para transmitir sua palavra
foi Salomão ou Paulo. Ambos ensinam aquilo que vem de
Deus e, portanto, o ensino deles está em completo acordo.
Essa doutrina talvez seja um consolo para os cristãos cansa­
dos do bombardeio de mentiras por parte do mundo e das
reações patéticas de outros cristãos.

2. A V O N T A D E DE DEU S E A SATISFAÇÃO SEX U A L


A Bíblia ensina que Deus deseja a pureza sexual de seu povo:
“Pois esta é a vontade dc Deus: a vossa santificação, que
vos abstenhais da prostituição; que cada um de vós saiba
possuir o próprio corpo em santificação c honra, não com
o desejo de lascívia, como os gentios que não conhecem a
Deus...” (lTs 4.3-5). Essa expressão da vontade de Deus c
o que muitos homens cristãos precisam aprender. Muitos
ainda não aprenderam a tratar a esposa dc um modo puro c
honrávcl. Eles se chegam ao leito matrimonial com o mesmo
desejo lascivo característico dos incrédulos. Mas Paulo nos
diz aqui que os cristãos devem ser diferentes em relação não
só a quem amam, mas também no modo como amam.
A modernidade nos levou à busca frustrante pela expe­
riência sexual perfeita, c essa vã procura, essasinistra caçada,
tem enlaçado até mesmo muitos casais cristãos. Ternos ou­
vido, e não apenas de incrédulos, que é nossa obrigação ter
urna vida sexual “dinâmica”. Mas a distorção sutil ventilada
aqui pode ter um de dois resultados: conduzir-nos numa
frenética busca pela melhor experiência sexual possível, ou à
resignação frustrada c ao descontentamento com as relações
sexuais “normais”. Mas os apóstolos modernos do prazer
sexual que empurram esse tipo de prazer dinâmico como
norma têm esquecido dois fatores relacionados: a inflação
emocional e a nossa finitude.
Primeiro, se tudo é especial, então nada é especial. Se
tudo é “dinâmico”, então a dinâmica se torna trivial. Eles de­
vem continuar a buscar alguma nova excitação para que pos­
sam manter o “imperativo dinâmico”. A lei da diminuição,
por sua vez, entra em vigor c outras novidades têm de ser
buscadas para tentar simplesmente manter o mesmo nível de
excitação. Isso porque os homens cristãos não aprenderam
a tratar a esposa de modo puro; eles agem com a frenética
(e frustrada) luxúria dos descrentes. Essa frustrante busca
pelo “orgasmo perfeito todas as.vezes” têm feito naufragar
muitos casamentos cristãos. Essa distorção pode facilmente
conduzir a várias perversões no furor por mais c mais prazer
sexual. Agora alguns leitores podem estar coçando a cabeça
procurando entender se isso significa que os casais casados
não devem desfrutar de sexo “dinâmico”. E claro que devem
— vez por outra. Mas se tudo tiver de ser “dinâmico”, terão
dc sempre buscar novas sensações, geralmente envolvendo
uma boa quantidade de esquisitice, a fim de manter o “im­
perativo dinâmico”.
O segundo problema com essa abordagem é nossa fi­
nitude. Somos criaturas finitas, e, consequentemente, nossa
capacidade de prazer sexual tem limites . Mas a luxúria, por
sua própria natureza, é incapaz de reconhecer tais limites.
A luxúria exige de algo finito aquilo que somente o Deus
infinito pode dar. Portanto, quando alguém dominado pela
luxúria dá de cara com o muro de sua própria finitude, pas­
sa a buscar alternativas. Essa indisposição em submeter-se
à finitude do prazer sexual tem produzido toda sorte de
perversões sexuais. Consequentemente, Paulo nos diz para
guardar o leito matrimonial contra a filosofia de tais perver­
tidos. Tudo que diz respeito à luxúria sexual é futilidade e
correr atrás do vento.
Um homem e uma mulher que aceitam sua finitude e
buscam honrar a Deus através do modo como amam um ao
outro, obviamente, irão deleitar-se nas relações sexuais um
com o outro. Mas esse deleite terá o alcance normal que deve
ser esperado de qualquer prazer físico. Algumas vezes eles
irão desfrutar de um “caviar”, e realmente será extraordi­
nário. Outras vezes será algo bem trivial — um feijão com
arroz — mas ainda assim apetecível. O casal deve desfrutar
de experiências sexuais extraordinárias? Sim, é claro — vez
por outra. Mas em momento algum deve aceitar a mentira de
que o prazer sexual está abaixo do normal a menos que se
adeque aos padrões fixados pelos terapeutas sexuais huma­
nistas. Os cristãos devem reconhecer que os “cientistas” de
crachá e jaleco que observam outras pessoas fazendo sexo
não possuem uma percepção realmente firme do que signi­
fica algo normal.
Essa rebelião contra nossa finitude está ligada à rebe­
lião contra o propósito biológico da união sexual, que é a
procriação de filhos. Ora, reconhecer cs se propósito bio­
lógico não significa que cada ato sexual deve ter em mente
o objetivo de gerar uma criança, nem exige a proibição do
controle de natalidade. (A discussão sobre o controle de na­
talidade se encontra no próximo capítulo). Mas para nossos
propósitos aqui, é importante resistir ao desejo moderno
de estabelecer um divórcio permanente e duradouro entre a
união sexual e a geração de filhos.
O propósito biológico da comida, que é suprir o corpo
com a energia necessária, nos dá um bom ponto de compa­
ração. Essa função biológica da comida poderia ser alcança­
da sem qualquer consideração pelo deleite do paladar. Deus
poderia ter feito todos os alimentos com gosto de mingau de
aveia gelado, e ainda assim bastante nutritivos. Ele não fez, e
agradecemos a ele por isso. Mas não obstante os prazercs do
paladar, o propósito da comida não finda simplesmente por­
que desfrutamos certas sensações prazerosas em nossa boca.
A frustração com a finitude e a rebelião contra os li­
mites biológicos, buscando continuamente suplementar o
sexo com estimulantes e energéticos, fatalmente destruirá
o prazer sexual. Meu argumento aqui, consequentemente, é
uma defesa do prazer sexual, não um ataque a ele. Mas é uma
defesa do prazer sexual do modo que Deus nos deu -—■uma
maravilhosa benção para as criaturas dele. Empurrá-lo para
além de tais limites seria destruí-lo.
E evidente que esse entendimento está sujeito a gran­
des distorções e interpretações equivocadas. Muitos pensam
que pessoas que honram os limites que Deus impôs ao re­
lacionamento sexual são demasiado pudicas, incapazes de
divertir-se e que não desejam que ninguém se divirta tam­
bém. Mas suponha que um cristão esteja falando com um
amigo descrente, e o tema da comida venha à tona. O amigo
pergunta: “Qual vocc pensa ser o propósito da comida?”
O cristão responde que o propósito é suprir o corpo com
a energia necessária. O incrédulo então gargalha dizendo:
“Seu tolo fundamentalista! Você está tentando me dizer que
não desfruta da comida?”
E claro que sim. Mas, por que ele come? Algumas vezes
porque está com fome, outras porque sua esposa preparou
uma refeição fabulosa, e outras só porque a comida está ali.
Mas essas razões para comer não são as mesmas razões para
a existência da comida. Um homem pode ter muitas razões
legítimas diferentes para comer, mas nunca deve condenar
e se insurgir contra o propósito biológico da comida. Se o
faz, fatalmente deixará de desfrutar do ato de comer. Se os
prazeres do gosto estão divorciados da função biológica da
comida, então os prazeres que derivam da comida não per­
manecerão. Todas as coisas criadas deixam de cumprir seu
potencial quando removidas do lugar que Deus designou
para elas. Comer desordenadamente ilustra como as pessoas
podem ser escravas de uma atividade específica e, ao mesmo
tempo, estarem destruindo a própria capacidade de desfru­
tar de tal atividade.
D o mesmo modo, um casal cristão casado pode ter
todo tipo de razão para fazer amor nas ocasiões que deseje,
seja por simples apetite sexual ou por conforto emocional.
Mas nenhuma das razões muda o fato biológico básico, que
é a possibilidade dc filhos, o qual é inalterado por outros
propósitos e benefícios. Aquele que busca servir somente ao
prazer é como um homem que pensa que o objetivo dc tra­
balhar numa fazenda é ficar bronzeado.

3. A BÊN Ç Ã O D O L E IT O M A T R IM O N IA L

Ao montar guarda contra a filosofia da luxúria, o cristão


bíblico também deve guardar-se em outra direção. E m b o­
ra o prazer sexual seja um perigo para os incrédulos, que
poderão chafurdar nele, infelizmente também é ameaçador
às pessoas “decentes” que, honestamente o temem e fogem
cm outra direção. Mas tal reação contra o prazer sexual de­
senvolto está tão distante do claro ensino da Bíblia quanto
o próprio despudor. O leito matrimonial cristão deve ser ao
mesmo tempo disciplinado e libertador. Mas o padrão para
ambos deve vir da Escritura — e somente dela. Não devemos
buscar ser “livres” segundo o mundo e sua luxúria, nem ser
“disciplinados” segundo os padrões moralistas de qualquer
época. Ambos são antibíblicos. •
Já observamos que somos criaturas finitas, e que essa
finitude afeta nossa capacidade de prazer sexual. Há limites ,
não importa o que digam ou exijam aqueles que são domina­
dos pela luxúria. Mas isso não significa dizer que nossa ca­
pacidade dc prazer sexual é pequena. A rejeição da frenética
precipitação em busca de constante êxtase sexual não exclui
o disciplinado cultivo cristão do prazer sexual. Neste ponto,
podemos fixar nossa atenção no claro exemplo do Cântico
dos Cânticos de Salomão.
Ao fazer isto, não pretendo lornecer um comentário
sobre o livro como um todo. O propósito aqui é muito mais
limitado e busca responder a urna questão básica. O que as
imagens de Cantares nos indicam sobre a decência sexual no
leito matrimonial?
Primeiro, o óbvio. O Cântico de Salomão é um poema
de amor erótico. O propósito de examinar certas porções
dele aqui é ajudar os casais cristãos que aceitam os limites
de sua finitude, mas que também querem saber exatamen­
te quais são esses limites. Uma leitura cuidadosa do livro
mostra, quase imediatamente, que os limites não foram de
maneira alguma os estabelecidos por alguma solteirona re­
catada, mas pelo Deus que criou a união sexual. Em algumas
partes, o significado expresso pelo poeta é inconfundível, e
para os cristãos pudicos, a clareza desse ponto é sobremodo
embaraçosa. Mas sentir-se constrangido não é uma resposta
apropriada para os cristãos; toda a Escritura é inspirada, e
útil para nossa instrução.
Em outras partes de Cantares, o sentido é oblíquo o
bastante para ser discutido. Entretanto, mesmo o fato de que
há espaço para discussão é útil. Isso porque o benefício a ser
extraído do Cântico não é uma lista de regras ou técnicas,
mas, antes, uma atitude para com o ato sexual.
Uma das primeiras coisas a se aprender de Cantares é
que é legítimo aprender sobre esse assunto dessa maneira. E
lícito ler e aprender da erótica do Cântico. Essa erótica não é
gráfica, ou obscena, mas é clara e inconfundivelmente sexu­
al. Dizendo de outro modo, a Bíblia contém passagens lite­
rárias que podemos ler, nas quais outro casal está mantendo
relações sexuais arrebatadoras. Apesar disso, somos convi­
dados apenas a observar através de um véu. Parte do motivo
pelo qual tal escrito não pode ser considerado gráfico (ou
pornográfico) tem relação com um problema comum ligado
à sua interpretação. Leitores de Cantares geralmente recla­
mam que é difícil saber quem é quem entre os personagens.
Por exemplo, o amor da mulher é por Salomão ou algum
outro? Mas essa ambigüidade é bastante proveitosa. Seria
indecente entrar no quarto de dois indivíduos específicos;
o que encontramos em Cantares é um casal paradigmático,
nos dando um exemplo que pode ser licitamente estudado
e observado -— e imitado. Mas a imitação não é imitação de
várias técnicas, senão a imitação de uma conduta e atitude.
C om o resultado de tal imitação, aprendemos certos
aspectos importantes do relacionamento sexual bíblico.
Primeiro, o amor no Cântico dos Cânticos é plenamente sen­
sual, significando que envolve bem mais do que o sentido
do tato. Só nos primeiros trcs versos, dois dos sentidos são
mencionados — o paladar e o olfato. “Beija-me com os bei­
jos de tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho”
(Ct 1.2). O cheiro é de doce perfume. “Suave e o aroma dos
teus unguentos, como unguento derramado é o teu nome;
por isso, as donzelas te amam” (Ct 1.3). A fragrância não é
só uma circundante atmosfera agradável, é muito mais uma
parte de sua união íntima. “O meu amado é para mim um
saquitel de mirra, posto entre os meus seios” (Ct 1.13).
E por isso que o ambiente em volta também é impor­
tante. Não só o amante deve ser atrativo, mas as coisas à sua
volta. Homem e mulher não são animais no cio; esse é um
amor civilizado: “C om o és formoso, amado meu, como és
amável! O nosso leito é de viçosas folhas, as traves da nossa
casa são de cedro e os seus caibros, de cipreste” (Ct 1.16-17).
Mas a mulher não somente diz que seu amor é como
o ato de degustar; ela diz que o seu amado é saboroso. Ar­
riscando-me a explicar o óbvio, este sabor não se alcança de
lábios fechados; nem a mulher ou o homem estão bebendo
esse vinho por meio de um canudo: “Qual a macieira entre as
árvores do bosque, tal é o meu amado entre os jovens; desejo
muito a sua sombra e debaixo dela me assento, e o seu fruto
é doce ao meu paladar” (Ct 2.3). O homem, por sua vez,
conhece o mesmo prazer ao saboreá-la; ele sabe que a boca
dc sua mulher é fonte de deleite. Isso é beijar biblicamente.
“Os teus lábios, noiva minha, destilam mel. Mel e leite se
acham debaixo da tua língua, e a fragrância dos teus vestidos
é como a do Líbano” (Ct 4.11).
Na descrição deste livro, a mulher é um jardim, c tam­
bém possui um jardim. Primeiro, vemos que a mulher é um
jardim. “Jardim fechado és tu, minha irmã, noiva minha,
manancial recluso, fonte selada” (Ct 4.12). Mas há também
um jardim no interior desse jardim. Isso é o que ele mais
deseja conhecer, e o que ela mais ardentemente deseja que
aconteça. Ela pede que o vento o traga. “Levanta-te, vento
norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que
se derramem os seus aromas. Ah! Venha o meu amado para
o meu jardim e coma os seus frutos excelentes!” (Ct 4.16).
Ela, obviamente, também desfruta de seu amado.
Em tudo isso se vê a superioridade da descrição bí­
blica das relações sexuais. O liberal moderno, com a testa
franzida de tecnocrata frustrado, quer falar sobre as várias
posições da engenharia sexual, acompanhadas por gráficos,
diagramas, e manuais técnicos — junto com extremas e visí­
veis lições a todos nós reprimidos puritanos. Mas a descrição
bíblica de tais coisas tem a uma só vez a virtude da clareza e
do decoro. Os cristãos devem tanto ler Cantares com o per­
ceber as suas implicações. Sc fizerem isso, não terão neces­
sidade de tomar qualquer conceito mundano como modelo.
O amante deseja todo o corpo de sua mulher:

Que formosos são os teus passos dados de san­


dálias, ó filha do príncipe! Os meneios dos teus
quadris são como colares trabalhados por mãos de
artista. O teu umbigo é a taça redonda, a que não
falta bebida; o teu ventre é monte de trigo, cercado
dc lírios (Ct 7.1-2).

Obviamente é lícito a um marido piedoso admirar, bei­


jar, provar, e acariciar qualquer parte dc sua esposa que o
apraza.
Ele também fala abertamente a respeito dc sua admira­
ção por ela: “Os teus dois seios são como duas crias, gêmeas
de uma gazela, que se apascentam entre os lírios” (Ct 4.5; 7.3).
Então a compara a uma palmeira, e seus seios aos cachos da vi­
deira. Ele resolve subir a árvore a fim de obter tal fruto. Escala
o corpo de sua mulher para obter e provar os cachos. Chega
à sua boca que possui a fragrância das maçãs, c então prova
e bebe o vinho que ali encontra. A mulher está claramente
contente em ser tal árvore, e em que sua boca seja tal copa, e se
alegra em ser tão suave o seu vinho ao paladar do seu amado.

Esse teu porte c semelhante à palmeira, e os teus


seios, a seus cachos. Dizia eu: subirei à palmeira,
pegarei em seus ramos. Sejam os teus seios como
os cachos da vide, e o aroma da tua respiração,
como o das maças. Os teus beijos são como o bom
vinho, [esposa:] vinho que se escoa suavemente
para o meu amado, deslizando entre seus lábios e
dentes (Ct 7.7-9).

C om o amantes cristãos, nosso prazer nas relações


sexuais deve ser profundo e duradouro. A alegria do sexo,
sobre a qual o mundo muito fala e pouco conhece, c urna
bênção dada a nós por Deus. Porque Deus é bom para nós,
homem c mulher concedem e recebem tremendo prazer: “A
sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a direita
me abrace” (Ct 2.6).

4. UMA SÓ CARNE
A união sexual c um aspecto tão íntimo de nossa vida que
deve ser protegida caso queiramos ser protegidos. Deve existir
uma alta cerca do pacto à sua volta. Mas porque a união cm
uma só carne ocorre todas as vezes em que há união sexual,
seja moral ou imoral, devemos santificar e selar a união sexual
com um voto pactuai. Quando a união sexual é selada com
um voto pactuai lícito, é chamada de casamento.
Quando uma nova família se forma, ela é formada em
torno de um relacionamento sexual. A Bíblia nos ensina
que esse matrimônio retrata o relacionamento entre Cristo
e a igreja. Tal como marido e esposa são fisicamente unidos
como se fossem um, assim Cristo e a igreja estão espiritual­
mente unidos. Quando um marido e a esposa desfrutam de
união física juntamente com harmonia espiritual, então esse
é um bom retrato de Cristo e a igreja. Um casal que possua
união física, mas que esteja constantemente brigando está
constantemente mentindo sobre Cristo e a igreja.
Marido e mulher não têm a opção de não dizer coisa al­
guma sobre Cristo e a igreja. Se o marido e a esposa estão de
carro, passa por eles uma mulher que está usando um vestido
que a deixa praticamente nua, e o marido quase bate o carro
olhando para ela, então o mundo inteiro sabe que sua esposa
foi insultada. Mas o mundo realmente não sabe o motivo. O
marido está dizendo que, mesmo apesar de Jesus ter escolhi­
do um povo para si mesmo, e então derramado seu sangue
por sua eleita, ainda está embasbacado por uma estranha. A
mentira diz que Cristo é infiel a sua eleita. Assim, a infide­
lidade física ou mental está contando uma mentira sobre a
fidelidade espiritual de Jesus a seu povo. Os casais cristãos
devem proteger sua harmonia sexual e espiritual, mantendo
essa união livre de todas as interrupções. De outro modo,
mentimos ao mundo sobre Cristo e a igreja.
Quando a mentira está presente, os filhos em casa ge­
ralmente são os primeiros a senti-la. Sc os filhos dessa união
sexual devem ter uma alta visão da igreja cristã, então devem
ser apresentados e ensinados a ter uma alta visão da própria
mãe. Se a mãe é amada e tratada pelo esposo do modo como
C risto ama a igreja, então o pai deles está dizendo-lhes a
verdade sobre Jesus e a igreja. Esse testemunho inclui uma
devoção sexual visível.
A Bíblia nos diz claramente que não temos nada a ver
com a imoralidade sexual. Devemos evitar e não participar
nem mesmo de brincadeiras verbais sobre imoralidade: “Mas
a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer
se nomeiem entre vós, como convém a santos; nem conver­
sação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices, coisas essas in­
convenientes; antes, pelo contrário, ações dc graças” (Ef 5.3).
Contudo, para alguns parece que a instrução bíblica
sobre esse ponto significa também que nunca se deve men­
cionar a moralidade do sexo. Mas a Bíblia diz que na c o ­
munidade cristã não deve haver insinuações de imoralidade
sexual. Devemos ser puros em nossa conversação c em nossa
diversão. Ela não diz “...mas o sexo nem sequer se nomeie
entre vós” A relação sexual entre marido e esposa não é
imoralidade sexual. Não há nada dc errado com as crianças
saberem que o pai delas é homem e que a mãe é mulher e
que eles mantêm um relacionamento sexual. Há algo erra­
do quando não sabem que isso acontece. Tragicamente, há
muitas crianças que podem facilmente imaginar seus pais
sentando-se em frente à televisão e rindo de piadas sujas,
embora não possam compreender que mamãe e papai mante­
nham um relacionamento sexual. Não podem compreender
os pais envolvidos em um procedimento sexual moral , mas
podem vê-los envolvidos em imoralidade. Essa c uma pro­
funda tragédia.
Q ue há um relacionamento sexual no centro do lar é
algo que deve ser evidente a todos que nele vivem — abraços,
beijos, e atenção romântica. Se os filhos sabem que há uma
união fundamental entre marido e esposa, facilmente p o ­
dem entender a analogia espiritual entre Cristo e seu povo:
“Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja”
(Ef 5.32).
O s cristãos geralmente têm uma visão desequilibra­
da das relações sexuais porque assimilaram a propaganda
da indústria do entretenim ento. Mas suponha que uma
noite um vizinho bata na porta de um cristão e diga algo
do tipo:
— “Gostaríamos de fazer um convite a vocês esta noite...”
— “Oh, muito obrigado!”, ele responde, sem suspeitar
do que se trata.
— “Calma, calma, deixe-me terminar dc dizer. Gosta­
ríamos de convidar vocês para entrar em nosso quarto c nos
assistir enquanto fazemos sexo. Isso pode ser algo realmente
excitante para todos nós”.
O cristão recusa horrorizado:

—- “Não podemos! Você sabe, somos cristãos”.
— “Ah, claro”, responde balançando a cabeça. “Isso
poderia ser um pouco demais para vocês. Então, vamos fazer
o seguinte: Nós temos uma câmera de vídeo. Por que não
gravamos tudo, e eu trago aqui pela manhã? Então vocês
podem assistir quando quiserem”.
O cristão explica que isso também não seria possível.
— “Não estou entendendo”, diz o vizinho, com um
olhar perturbado. “Semana passada vocês nos convidaram
para a casa de vocês e nos sentamos todos para assistir a um
filme na tevê. Nele havia umas poucas cenas de nudez. Por
que você está disposto a assistir a mulher de outro homem,
mas não a minha? Minha esposa pode não ser uma miss,
porém...”
Aqui o pobre cristão interrompe e explica que a aparên­
cia da mulher do vizinho não tem nada a ver com a recusa.
E passa a explicar que não são cristãos comuns. Eles perten­
cem a um grupo muito especial — o dos hipócritas.
Hipocrisia é uma palavra muito forte? Penso que não.
Muitos cristãos estão dispostos a assistir, por meio de uma
câmera cinematográfica, aquilo que jamais sonhariam ver
em pessoa. Não entrariam num bar onde há garotas com
seios à mostra, mas assistem alegremente a filmes nos quais
há muito mais. Estaria a maioria dos homens cristãos dis­
posta a dar voltas pela vizinhança, observando as mulheres
na janela? Certamente não. Mas, e se descobrissem uma mu­
lher que tenha percebido a presença deles e esteja disposta
a se despir em frente à janela? Isso seria pior ainda. E se ela
fosse paga para fazer isso? Pior, pior, muito pior. E se ela
estivesse ganhando muito dinheiro, tivesse um produtor e
diretor, e fizesse tudo isso para as câmeras, com milhões de
homens vendo-a pela janela e desejando-a? Isso seria absur­
damente diferente, tornando a questão muito “complexa”,
não é mesmo?
Alguns tentam relevar esse tipo de comportamento
com base nos padrões contemporâneos. Os cristãos não
querem ser diferentes naquilo queassistem. Não querem ad­
mitir que seus discipulados se aplicam nessa área. E também
não querem admitir que a atividade sexual e nudez na tela é
para eles sexualmente excitante.
Mas aqueles que negam que tais coisas têm efeito so­
bre eles estão simplesmente enganando a si mesmos. Não há
como assistir — por diversão -— cenas sexuais e exposição de
nudez sem ser de alguma maneira afetado negativamente.
Mas existem homens que negam que tais coisas os afetem.
Tal negação parte de dois tipos de homens. N o primeiro
grupo estão os mentirosos. Eles estão mentindo para si
mesmos ou para os outros, e muito provavelmente nos dois
casos. O homem é excitado ou despertado sexualmente por
aquilo que vê, mas como cristão, sabe que não é socialmente
aceitável dizer isso. Então vai ao cinema com seus amigos
cristãos, e fala desse modo: “O filme foi realmente muito
bom. Foi lamentável ter tido aquela cena”. Mas em seu cora­
ção, aquela única cena foi a guloseima que ele engoliu.
Há outro tipo de homem que nega que isso o afete, e
está dizendo a verdade. Mas por que aquilo não o desper­
ta sexualmente? Porque seu coração está endurecido, e sua
consciência cauterizada: “Todas as coisas são puras para os
puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro.
Porque tanto a mente como a consciência deles estão cor­
rompidas” (Tt 1.15). Este sujeito tem a consciência tão in­
sensível que seria necessário muito mais do qu e aquilo para
mexer com ele.
Mas o coração pode ser muito enganoso. Há um tercei­
ro modo de pecar neste tipo de coisa. Essa reação reconhece
o impacto que tais conteúdos têm, e tenta fazer uso dele.
As pessoas, mesmo cristãs, frequentemente justificam o ato
de ver ou ler materiais imorais dizendo que isso os ajuda na
vida sexual no lar: “Não importa de onde veio o seu apetite,
contanto que você coma em casa.” Essa abordagem ao me­
nos tem a virtude de ser honesta. Ela admite que material
sexualmente explícito é sexualmente excitante. Mas essa
abordagem é terrivelmente falha.
Primeiro, a Bíblia diz expressamente aos homens onde
a satisfação e a excitação devem estar. Somente em sua pró­
pria esposa. Certa vez estive falando com um homem cristão
sobre o tipo de filmes que ele assistia. Ele se justificou desse
modo: “Quando vejo o corpo de outra mulher em um filme,
imagino o rosto da minha esposa naquele corpo.” A Bíblia
claramente contradiz esse tipo de pensamento: “Alegra-te
com a mulher da tua mocidade, corça de amores e gazela
graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e em­
briaga-te sempre com as suas carícias” (Pv 5.18-19). Isso sig­
nifica que um homem deve assegurar-se de que somente sua
esposa é a base de sua excitação e satisfação sexual. Outras
mulheres, sejam em filmes, livros, ou revistas, não devem
ser fonte de estímulo. Tão logo outras mulheres entrem nos
desejos sexuais de um marido, a clara proibição de Cristo se
aplica: “Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma
mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com
ela” (Mt 5.28).
A segunda resposta é terminantemente negar que esse
tipo dc coisa ajude os casais na vida sexual. A introdução de
outros em um relacionamento sexual (estejam eles cm duas
dimensões ou não) é somente fonte de frustração em longo
prazo. Isso porque é inevitável surgirem comparações, e tais
comparações são destrutivas em um relacionamento pactuai
piedoso.
Isso não implica, em curto prazo, negar a excitação que
tais coisas introduzem. Se não fosse excitante, as pessoas
não o fariam. Mas intensidade e excitação de curto prazo
não justificam a prática. Dez mulheres podem dar a um ho­
mem mais satisfação na cama do que apenas uma — por
um curto período. Mas isso é simplesmente adquirir intenso
prazer em curto prazo a troco de tristeza em longo prazo.
Essas mulheres não poderão ser auxiliadoras, companheiras,
nem criarão os filhos desse homem melhor do que uma só
mulher poderia.
Um casal pode obter estímulos de curto prazo a par­
tir de filmes, livros, ou revistas que variam do sugestivo ao
explícito. Mas isso não torna essa prática lícita. A luxúria
sempre exige mais excitação — sempre mais, e mais! C on se­
quentemente, a luxúria tenta obter de algo finito aquilo que
somente o infinito pode prover. A recompensa por essa ex­
citação é a frustração e o descontentamento cm longo prazo.
A esposa não pode ser tão excitante como algumas dessas
vacas cenográficas de Basã, e o marido não tem a estamina
sexual ou heroísmo que tais materiais supõem que ele deva
ter. Assim, homem e mulher concordaram em comparar-se
a uma mentira. Sexo no mundo real não é como as fantasias
que eles resolveram aceitar do mundo da ficção sexual. Mas
porque consentem com a mentira de que tudo o que pos­
suem “não é o bastante”, irão sempre estar descontentes com
aquilo que Deus lhes deu.
A base é esta: para estar debaixo da bênção de Deus de­
vemos aceitar nossas limitações típicas de criaturas. Quando
aceitas em sabedoria, as próprias limitações são encaradas
como uma bênção.
Quais são algumas dessas limitações? Um homem é
limitado a uma mulher. Um homem é limitado a uma quan­
tidade finita de prazer sexual. Ele é limitado, e todas as suas
limitações são uma grande bênção de Deus. Em resumo, é
bom ser uma criatura. O modo como pensamos tem conse­
qüências no longo-prazo; isso, e somente isso, é defesa contra
a busca pelo prazer sexual ilimitado.
Os homens em rebeldia contra Deus têm problemas
ao entender a importância da distinção entre o Criador c
a criatura. Eis porque toda rebelião contra Deus está en­
raizada, de maneira última, em um desejo de substituí-lo.
Os homens não querem simplesmente fugir da autoridade
dc Deus; querem derrubá-lo. Isso não significa que sempre
exista o desejo consciente de destronar o Criador, Nem que
Deus esteja preocupado com a possibilidade disto ter algum
sucesso. Mas certamente significa que, dc modo conscien­
te ou não, essas tentativas sem sucesso de “se tornar como
Deus” resultarão em caos na vida dos rebeldes. E quando a
natureza da rebeldia é sexual, também a natureza do caos e
sexual.
O problema central com a luxúria é a inabalável recusa
de respeitar os limites. Com o mencionei acima, a luxúria c
o desejo de receber de uma coisa finita aquilo que somente
o infinito pode dar. Ela busca elevar aquilo que é criado
(atividade sexual) ao nível de Deus. Mas porque somos fi­
nitos, nossos prazeres sexuais são também finitos. Isso sig­
nifica que há um fim neles. Porém, a luxúria é incapaz de
dizer “basta” Deve sempre haver algo mais, e depois mais
um pouco. Há prazer — mas nunca satisfação. E por essa
razão que a luxúria irá sempre conduzir a várias perversões.
Uma vez extraído todo o prazer possível dos limites sexuais
finitos dados a nós por Deus, a luxúria demanda novos terri­
tórios. O fato de que o novo território é hostil ao verdadeiro
prazer sexual não detém aquele que é dominado pela luxúria.
Ele vai em frente, sem perceber que está destruindo aquilo
mesmo que elegeu como objeto de culto.
Devemos retornar novamente a lTessalonicenses 4.3-5:
“ Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos
abstenhais da prostituição; que cada um de vós saiba possuir
o próprio corpo em santificação e honra, não com o desejo
de lascívia, como os gentios que não conhecem a Deus.” E
importante notar como Paulo vincula a moralidade sexual
a um conhecimento dc Deus. Se o infinito Deus trino da
Bíblia é negado, então em algum ponto (nem que seja na
mente dos homens rebeldes), se irá buscar alguma coisa para
substituí-lo.
Para os que estão sob o jugo da luxúria, a coisa criada
que idolatram c a sexualidade. E o destino dessa coisa criada
c o mesmo de todas as outras quando elevadas ao status de
“divindade”. Incapaz de se tornar Deus, se transforma em
algo deformado, que passa a ser adorado e servido por seus
devotos — outras criaturas deformadas e distorcidas. Mas
esse ídolo, como todos os ídolos, irá ruir e desmoronar. Ele
tem olhos, mas não vê; ouvidos, mas não ouve; e mãos que
não podem amar.
A Bíblia nos diz para sermos renovados em nossa m en­
te. Devemos aprender a pensar de maneira diferente sobre o
modo como vivemos, e nunca devemos esquecer que nossa
natureza sexual c nossas relações sexuais constituem uma
porção demarcada de nossa vida. Por causa disso, os cristãos
devem evitar qualquer compromisso com o mundo nesse
ponto. Não devemos nos comprometer com o mundo em
sua conduta desenfreada, ou quando ele se torna reacionário
e moralista. Em outras palavras, devemos ser diferentes —
ou como a Bíblia afirma, devemos ser santos. Isso significa
que os cristãos devem perseguir a santidade sexual.

5. A DISCIPLINA DA FIDELIDADE
Deus nos fez homens e mulheres. Isso é óbvio; mas o modo
como ele o fez foi instrutivo. Quando o Senhor Jesus ensi­
nou sobre a questão do divórcio, ele apelou para a ordenança
do casamento na criação, encontrada nos primeiros capítu­
los de Gênesis. Cristo nos ensinou que Deus uniu homem e
mulher em casamento, e que aquilo que Deus uniu nenhum
homem tem autoridade para separar. A tentação é argumen­
tar que Deus, ali em Gênesis, uniu somente Adão e Eva —
dois indivíduos específicos. Mas esse argumento resiste ao
ensino de Cristo, que reafirmou que Adão c Eva eram um
casal paradigma. Quando Deus os uniu, ele estava unindo
cada homem e mulher que alguma vez se uniu sexualmente
em um laço pactuai.
Outros fatos são também óbvios a partir ordenança
do casamento na criação. Porque Deus criou Adão c Eva, a
homossexualidade está excluída. Porque Adão não encon­
trou auxiliadora para si entre os animais, a bestialidade está
excluída. E porque Deus criou somente uma mulher para
Adão, o padrão da monogamia foi estabelecido c demons­
trado.
Portanto, o argumento com respeito à poligamia seria
fácil de tratar, não fosse pela poligamia encontrada no A n ­
tigo Testamento entre os santos de Deus. C om o devemos
entender isto? Primeiro, vemos que a poligamia foi institu­
ída pelo hom em , não por Deus. O primeiro registro de uma
união poligâmica foi de Lameque (Gn 4.19), sem qualquer
indício de aprovação divina. Contudo, ainda tomando em
conta a origem humana da poligamia, vemos que muitos dos
santos de Deus no Antigo Testamento tinham mais de uma
esposa ao mesmo tempo — Abraão, Jacó, Davi, e outros.
Ao tratar dessa questão, devemos primeiro reconhecer
que tal poligamia não era meramente especulativa. Não se
trata de conjectura. Vivemos em uma cultura que engendra
grande assalto à definição bíblica de família. Sc não houver
nenhuma reforma bíblica cm nossa cultura, as uniões poli-
gâmicas logo serão legalizadas nos Estados Unidos. Q u an­
do isso acontecer, qual será a atitude da igreja? E por quê}
Não podemos responder com saudosismos moralistas; nossa
resposta deve ser completamente bíblica. Devemos edificar
uma teologia do casamento que leve toda a Escritura em con­
ta, incluindo a poligamia dos santos do Antigo Testamento.
O primeiro ponto da resposta é lembrar-se da orde­
nança da criação. Deus nos criou para vivermos como casais.
C om o cristãos, nosso desejo deve ser viver desse modo.
Em segundo lugar, no Novo Testamento, aprendemos
que todo casal casado é uma representação de Cristo c a
igreja. Casais que vivem em pecaminosa rebeldia não es­
tão apenas destruindo a própria vida, estão mentindo sobre
Cristo. Cristo é o noivo, e a igreja a sua noiva. Porque Cristo
tem somente uma noiva, o casamento poligâmico é uma re­
presentação defeituosa e deformada de Cristo. Portanto, a
poligamia deve ser evitada por todos os cristãos coerentes;
ela desonra ao Senhor e à fidelidade dele.
Essa compreensão do casamento explica por que um
presbítero na igreja cristã deve ser “marido de uma só mu­
lher” (iTm 3.2; Tt 1.6). Os presbíteros devem ser padrão e
exemplo para os demais santos (H b 13.7, 17). C om o con­
seqüência, a Bíblia proíbe em absoluto a poligamia na lide­
rança da igreja. Ao mesmo tempo, em uma cultura na qual
a poligamia é legalizada, um polígamo pode ser admitido à
membresia na igreja. Por exemplo, se um homem com três
esposas em uma tribo primitiva se converte, o que deve ser
feito? Ao contrário de um adúltero ou homossexual, o polí­
gamo não pode deixar seu pecado para trás. Deve permane­
cer casado com suas esposas. Um homem só pode deixar a
poligamia por meio do divórcio, o qual é outro pecado. Tal
homem não poderá ser líder na igreja porque esse não é o
padrão para o casamento cristão. Entretanto, os exemplos
do Antigo Testamento nos mostram que a poligamia pode
ser tolerada de uma maneira limitada.
Enquanto nos preparamos para esse tempo, os homens
cristãos devem aprender a se disciplinar cm sua fidelidade
para com a esposa: “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa
santificação, que vos abstenhais da prostituição; que cada
um de vós saiba possuir o próprio corpo [vaso] em santifi­
cação e honra, não com o desejo de lascívia, como os gentios
que não conhecem a Deus...” (lTs 4.3-5). Há dois aspectos
claros a esse respeito.
O primeiro é resistir à infidelidade, ou como Paulo
afirma, se abster da imoralidade. Cristo foi contundente
sobre a questão da luxúria, e vivemos em uma cultura que
realmente não encoraja as mulheres a se vestir com muito
tecido. Somos todos circundados por toda sorte de prosti­
tuição visual — em revistas, filmes, livros. Há diariamente
inúmeras tentações à infidelidade. A palavra de Deus aos
homens cristãos é clara — abstenham-se .
O segundo aspecto da instrução de Paulo exige devo­
ta atenção à esposa. Nessa passagem de lTessalonicenses, a
atenção demonstrada é certamente sexual. O modo como o
homem deve possuir a esposa sexualmente deve ser acompa­
nhado em “santificação e honra”. O autor dc Hebreus diz o
mesmo — “Digno de honra entre todos seja o matrimônio,
bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os im­
puros e adúlteros” (H b 13.4).
Há também perigos fora da mente. Muitas vezes os
maridos falham em edificar uma cerca de proteção sufi­
cientemente alta em torno do relacionamento pactuai do
casamento. Fazem isso ao permitir que relacionamentos
um-a-um se desenvolvam com pessoas do sexo oposto fora
da família imediata. Um homem pode permitir que um re­
lacionamento com uma amiga se desenvolva — não sendo
ela sua esposa, mãe, irmã, filha, ou avó. Uma esposa pode
ser próxima dc um homem sem que ele seja seu marido, pai,
irmão, filho, ou avô. Isso é imprudência; quando dois indiví­
duos estão vigiando apenas contra a intimidade física, estão
permitindo que outras formas de intimidade se desenvol­
vam. Para guardar-se contra isso, um casal casado deve fazer
amizades, e funcionar socialmente, como um casal.
O s homens cristãos não devem abster-se das contami­
nações sexuais que nos rodeiam porque se opõem às relações
sexuais; devem abster-se porque se opõe ao desenfreado
vandalismo dessas relações. Nossa cultura está fazendo com
o sexo o que as pessoas que mastigam com a boca aberta
fazem com a comida. A Bíblia nos ensina que fazer sexo
deve ser algo honroso entre os cristãos; honrar significa ter
uma alta estima. Os cristãos que reagem à imoralidade pú­
blica tornando-se santarrõcs pudicos em seu próprio leito
são com certeza uma parte do problema.
CAPÍTULO 8

MULTIPLICAI E FRUTIFICAI

1. A BEN Ç Ã O D O S F IL H O S

e alguém se dispuser a procurar numa concordância pelo


S tema “controle de natalidade”, ficará rapidamente decep­
cionado. Não há nada na Bíblia que dê suporte explícito a
essa questão. Mas isto não significa que a Escritura silencie
sobre o assunto. Controle de natalidade é, no fim das contas,
uma atividade que busca regular o número de filhos, e sobre
filhos a Bíblia tem muito a dizer.
C om o muitos cristãos já reconhecem, nossa cultura
tem uma péssima atitude em relação às crianças. E porque
essa atitude ruim está tão cm voga, alguns cristãos têm re­
agido a este pecado sustentando que famílias grandes são,
indiscriminadamente, não importa como, uma benção. Isto
está, obviamente, muito mais próximo da verdade do que a
mentalidade antifilhos, mas algo ainda precisa ser conside­
rado.
Famílias grandes podem ser uma grande benção. E n ­
tão, até onde a Bíblia deixa claro, quando ouvirmos sobre
uma família com sete filhos, não temos motivo para olhar
dc soslaio c tecer comentários maldosos. “Eles não sabem
como isso acontece?” Tragicamente, tais comentários são
ouvidos com frequência, mesmo na igreja, e por cristãos que
estão completamente comprometidos com a visão hostil do
mundo para com as crianças. Eles estão seguindo com sua
média de 1,7 filhos, pondo-os numa creche com dois meses
de idade, e tocando sua jornada dupla dc trabalho. Mas a B í­
blia apresenta uma visão completamente oposta sobre filhos:
"Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu
galardão. C om o flechas na mão do guerreiro, assim os filhos
da mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava;
não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à
porta.” (SI 127.3-5).
Assim, é bom que mais c mais cristãos estejam conse­
guindo ver o quão horrível é para a igreja cristã ter uma visão
intolerante sobre filhos. Há, no entanto, outro aspecto so­
bre esse assunto que aqueles cristãos reacionários não veem
muito bem. A Bíblia ensina que os filhos são uma benção
— ou uma maldição. O que significa que uma grande quan­
tidade de filhos implica numa grande benção — ou grande
m aldição : “O filho insensato é tristeza para o pai e amargura
para quem o deu à luz” (Pv 17.25). Quando são criados no
Senhor, e andam com ele, ao crescer, trazem bênçãos indi-
zíveis aos seus pais. E quanto mais isso acontecer, melhor.
Famílias grandes e obedientes são uma benção. Mas quando
os filhos são desobedientes, quanto mais filhos, pior. Samuel
não teria sido mais abençoado se, ao invés de dois, tivesse
tido cinco filhos que aceitavam suborno (lSm 8.3). Joel e
Abias foram o bastante.
O trecho do Salmo 127 que aparece acima é frequen­
temente citado por cristãos para falar sobre as bênçãos da
família. Isto é bom, mas devemos notar em que consiste
essa benção. O salmo não está falando sobre o barulho dos
pezinhos em volta da mesa (embora, obviamente, isso seja
encantador). O salmo diz que os filhos são como flechas
para um homem quando ele contende com os seus inimigos
nos portões. A benção que está sendo referida aqui é quan­
to aos filhos crescidos, bem educados, e preparados para a
batalha. Isso é o resultado de alguém se doando durante vá­
rias décadas por seus lilhos. Se um homem tem uma grande
quantidade de filhos e não os cria de forma adequada, terá
uma aljava cheia em todo caso, mas será uma aljava cheia de
dor — com flechas tortas e quebradas.
C om o se faz para ter um grande número de filhos?
Tudo que se necessita é de um homem e uma mulher bio­
logicamente maduros. C om o se faz para ter uma grande
benção? Receber a benção bíblica associada a uma grande
família requer muito mais do que a simples capacidade física
de reprodução. Um compromisso para com a benção de uma
grande famíliasignifica que um homem também deve estar
comprometido a amar, trabalhar duro, ser consciencioso,
sacrificar-se, ser terno, e exercer disciplina por um período
de muitos anos.
Alguns maridos pensam que possuem um compromis­
so com a visão bíblica de família simplesmente porque são
machos, cabeça dura, e não gostam de usar camisinha. Esses
são homens que estão marchando para a dor (tendo filhos
tolos) e conduzindo a esposa à amargura. Nosso Senhor fa­
lou sobre a tolice de um homem que pretende construir uma
torre sem os recursos para completar a tarefa. Quão maior é
a tolice quando a tarefa pretendida diz respeito à nossa pró­
pria família. Presunção sobre a ideia de uma grande quanti­
dade de filhos não é virtude. A menos que o Senhor edifique
a casa, os que a edificam trabalharão cm vão (SI 127.1).
E claro que isto não é promover o controle de na­
talidade. E simplesmente reconhecer que toda doutrina
ou ensino bíblico irá sempre deparar uma dupla ameaça.
A primeira, óbvio, é posta por aqueles que resistem e se
opõem ao ensino de forma direta. Lamentavelmente, mui­
tos cristãos professos resistem às bênçãos da família. Mas
devemos nos guardar contra o erro comum de combater as
tentações de outrem. Se aceitarmos o ensino bíblico sobre
a benção dos filhos, devemos nos perguntar quais serão as
nossas tentações.
Esse questionamento é necessário porque a segunda
ameaça para qualquer ensino é aquela posta pelos que profes­
sam abraçá-lo, mas o fazem naufragar. Aqueles que resistem
à verdade dão menor ocasião de zombaria do que aqueles
que a sustentam, mas fazem aquilo que qualquer tolo, santo,
patife, sábio, ou estudante do ensino médio pode fazer (isto
é, ter um filho), e então falham cm criar esse filho no temor
do Senhor. Fazer filhos é fácil e envolve uma boa dose de
prazer. Conduzi-los no temor do Senhor é difícil e envolve
uma boa dose de sofrimento, sacrifício cristão e amor — em
suma, exercer a mordomia bíblica.
O Senhor disse que se alguém fizesse tropeçar a um
pequenino seria melhor para esse tal ser jogado ao mar com
uma pedra de moinho ao pescoço. O que então deveríamos
dizer dc um homem que gera pequeninos e não os ensina,
pais que não alimentam seus filhos, alguém que não pas­
toreia sua prole? C om o se uma pedra de moinho não fosse
o bastante, ele está pedindo mais. O Senhor é justo e irá
atender seu pedido.
Quando apreciamos a severidade desta situação, nossa
tentação natural é desperdiçar nosso talento e enterrá-lo no
solo. Nosso Senhor pode num primeiro momento aparentar
ser um “severo senhor” Somos tentamos a responder ao en­
sino bíblico sobre família da mesma forma como os discípu­
los dc Cristo responderam ao ensino sobre casamento — “E
melhor que o homem não se case!” Nós dizemos (ou talvez
pensemos), “se esse é o caminho, é melhor não ter filhos!”
Mas irresponsabilidade não é de forma alguma uma saída —
não importa se você é o tipo do irresponsável que não quer
ter filhos ou se é o tipo do irresponsável que quer ter sete
filhos sem pastoreá-los.
Portanto, isto não foi escrito para espantar jovens ca­
sais para longe das bênçãos da família. Ao invés disso, o
objetivo é mostrar que as bênçãos não são fáceis ou auto­
máticas. O Senhor se oferece para nos abençoar grande­
mente através dos nossos filhos; e a quem muito é dado,
muito c cobrado.
2. A LONGA ESTRADA
Levantam-sc seus filhos e lhe chamam ditosa; seu mari­
do a louva, dizendo: Muitas mulheres procedem virtuo­
samente, mas tu a todas sobrepujas (Pv 31.28).

Mais e mais jovens casais têm decidido confiar em


Deus na área do planejamento familiar — prontos a receber
tantos quantos “Deus mandar”. Na hora em que essa decisão
é tomada ambos se sentem bem a respeito dela. Mas depois
de casados por cinco anos, o jovem casal se encontra com
quatro crianças na pré-escola e uma esposa querendo mudar
de ideia.
C om o o marido pode, em tal situação, encorajar sua
esposa? A primeira coisa que deve fazer é buscar determinar
quais as fontes de desencorajamento. A seguir, darei algu­
mas sugestões dirigidas a algumas das tentações encontra­
das pela mulher cristã em sua maternidade.
A principal causa de desencorajamento é a exaustão. Se
uma mãe está cuidando da casa e dos seus pequenos, ficará
mais cansada fisicamente do que costumava ficar antes da
chegada dos filhos. O que o marido pode fazer?
Primeiro, ele pode ajudar de dois modos: auxiliando-a
com as crianças e também evitando agir como se ele mesmo
fosse mais uma criança. Também deve ajudar vigiando as
tropas para que sua esposa possa dar uma volta pelo menos
uma vez por semana. Deve também conseguir uma babá re­
gular para que ele possa sair com a esposa — ela precisa de
um shabat.
Segundo, deve reconhecer que os filhos estão o dia in­
teiro impondo demandas sobre o corpo de sua esposa — eles
querem ser alimentados, querem ser carregados, querem ser
ninados, etc. Isso significa que o marido deve ser sensível
ao modo como se aproxima sexualmente da esposa, a fim
de não ser apenas mais uma voz cm meio ao clamor geral.
Terceiro, deve ensinar sua esposa a olhar para a benção
de longo prazo, tanto nesta vida como na vindoura. O mais
importante retorno da criação de filhos nesta vida não surge
nos primeiros cinco anos. Quando os filhos são pequenos,
temos de investir mais tempo e energia. Mas se forem bem
disciplinados c ensinados, à medida que crescem começam
a contribuir com a família, mais do que a receber algo dela.
Nascemos neste mundo com uma boca e duas mãos. Então,
quando somos obedientes a Deus, produzimos mais do que
consumimos. Porem, inicialmente, enquanto crianças ou
recém-nascidos, os filhos simplesmente contribuem para a
trabalheira.
Assim, o marido deve encorajar sua esposa relembran­
do-a do valor eterno da obra que ela está fazendo. Quando
ela e seus filhos tiverem dez mil anos, c forem brilhantes
como o sol, aquela aparentemente eterna pilha de roupa para
lavar irá finalmente fazer sentido.
A maternidade também pode ser desencorajadora por
conta da hostilidade do mundo e dos assim chamados “cris­
tãos”. Uma vez minha esposa e apenas dois (!) dos nossos
filhos foram parados na rua por uma senhora que disse:
“Oh! Você já ouviu falar na pílula?” A imagem mental que
os incrédulos possuem de uma mulher frutífera é mais ou
menos como se ela fosse uma ama-de-leite com um pequeno
séquito de patetas com o nariz escorrendo pendurados na
bainha de seu vestido esfarrapado. Em face de tal hostilida­
de, está clara a postura que o marido deve adotar. Ele deve
não apenas apreciar a obra que ela está fazendo por ele, mas
deve fazer com que ela saiba, constantemente,.o quanto ele
aprecia essa obra.
Relacionado a isso está a importância de honrar a gravi­
dez. Através da Escritura, vemos a fertilidade exaltada. Uma
das mais valiosas lições que aprendi do meu pai foi tratar
com distinção uma mulher grávida. Então, ao invés de fazer
zombarias e piadinhas, os cristãos devem honrar aquelas que
o Senhor tem abençoado. E também é importante que um
marido cristão honre sua esposa de uma forma concreta.
Algo que ele deve fazer é se dirigir diretamente à tentação
de sua esposa de sentir-se “deselegante”. A Bíblia ensina que
uma das responsabilidades centrais de um marido é vestir
sua esposa (Ex. 21.10). A esposa não precisa ser vestida com
ostentação (de fato, isto é proibido), mas um marido deve
ver que sua esposa pode andar bem vestida todo o tempo, e
particularmente durante a gravidez.
Outra fonte de desencorajamento se encontra em não
ter um entendimento correto da providência de Deus para
o futuro. Temos sido ensinados pela multidão antifilhos que
se um casal com um apetite sexual normal evita fazer con­
trole de natalidade, o resultado necessário c inexorável será
sempre ter aproximadamente 42 filhos até a menopausa. Mas
logo podemos ver que as coisas não são necessariamente as­
sim. E quando há mais do que apenas uns poucos filhos,
Deus permanece fiel — ele nunca trai nossa confiança. Por
exemplo, o Senhor nos abençoou com três filhos dentro dos
cinco primeiros anos do nosso casamento. Em tais circuns­
tâncias, é muito fácil para uma esposa ter em mente histórias
de problemas. (Uma mulher que tem um filho a cada 18-24
meses por quatro anos. Ela ainda tem vinte anos de fertilida­
de. O que há de errado com essa mulher?) O problema com
esse pensamento é que ele está baseado em uma premissa
falsa e antibíblica— i.e., que o universo é um lugar neutro e
que a providência de Deus tem pouco ou nada a ver com as
bênçãos que recebemos. Em nosso caso, embora estivésse­
mos esperando mais filhos, o Senhor não aumentou nossa
família nos últimos quarenta anos.
Alguns casais que não fazem controle de natalidade
têm dez filhos, outros três, e alguns ainda não foram aben­
çoados com nenhum. A Bíblia ensina que a quantidade não
resulta das possibilidades; o Senhor é aquele que abre e fe­
cha os ventres. Não estou dizendo aqui que o controle de
natalidade é ilegal. Mas os cristãos que fazem controle de
natalidade não devem fazê-lo porque aceitam as mentiras
de pagãos que possuem uma visão distorcida a respeito de
filhos.
Assim, para manter sua esposa encorajada, a maior prio­
ridade de um marido deve ser o contentamento espiritual e
emocional dela. Ela deve estar em suas orações, e deve saber
que está. Ela deve ser frequentemente ajudada, confortada,
consolada, e ensinada por seu marido na Palavra de Deus.
Enquanto alguns no mundo podem desprezar seu chamado
e vocação, ela deve ser louvada com frequência por seu amo­
roso esposo. Esse é realmente um alto chamado: “Todavia,
será preservada através de sua missão de mãe, se ela perma­
necer em fé, e amor, e santificação, com bom senso” (lTm
2.15). Ao invés de uma aparência andrajosa e uma grande
quantidade de filhos demonstrarem aos cínicos a frequência
com que ela faz amor, sua linda aparência e seus filhos bem
cuidados devem demonstrar o quanto ela é amada.

3. Q U E D IZ E R S O B R E O C O N T R O L E D E N A TA LI­
DADE?
Em certo sentido, o fato de o controle de natalidade ser um
tema novamente discutido na igreja é um bom sinal. Já não
são muitos os cristãos que assumem automaticamente que
se uma prática está disseminada no mundo ela deve ser legí­
tima. Ao mesmo tempo, só porque muitos incrédulos estão
fazendo algo não significa, automaticamente, que aquilo é
errado. Então, como devemos abordar a questão?
O primeiro passo é ver se a Bíblia ensina diretamente
sobre o assunto. E, nesse ponto, está claro que certas form as
de controle de natalidade são expressamente proibidas na
Escritura. Começando pelas mais óbvias, podemos excluir
o infanticídio e o aborto. A Bíblia exclui todas essas práticas
da maneira mais direta possível — “Não matarás.” O que
muitos não sabem é que esse mandamento também exclui
certos métodos de controle de natalidade, tais como a “pílu­
la do dia seguinte” ou o “dispositivo intrauterino”. Esses são
métodos que previnem a implantação do óvulo fertilizado
e, consequentemente, tiram ilegalmente uma vida humana
após ela já ter sido gerada.
Mas o que dizer de outros métodos de controle de nata­
lidade? A Bíblia diz algo sobre a permissão para um marido
e esposa espaçarem ou limitarem o número de filhos que
terão? A resposta é sim e não. Não há nada na Escritura que
diga que o ato de praticar o controle de natalidade seja ilegal
cm si. Ao mesmo tempo, muito do controle de natalidade
praticado hoje é pecaminoso em sua motivação e aplicação.
Para entender isso temos de olhar primeiro para o tema cor­
relacionado.
Enquanto a Bíblia não diz nada sobre o controle da
natalidade, como afirmado anteriormente, ela ensina muito
sobre filhos e família. Então, antes de perguntarmos se essa
prática é pecaminosa, devemos perguntar se ela nasce ou não
de um entendimento e submissão ao ensino da Bíblia sobre
a família. C om o as situações variam, algumas vezes, é isso o
que acontece; mas na maior parte do tempo, não.
Vamos começar com um exemplo de uma situação na
qual o uso do controle de natalidade pode não ser piedo­
so. Imagine um casal que está pensando deste modo: “Você
sabe, crianças são uma trabalheira, nossas carreiras estão
indo muito bem nesse momento, o mundo já está povoado
até demais e, além disso, existe agora a pílula do dia seguin­
te.” Nada é mais notável do que o fato de que esse casal está
bebendo suposições mundanas através de uma mangueira
de bombeiro.
Agora um contraexemplo: “O Senhor graciosamente
nos deu seis filhos, e eles são todos deleites para nós. Mas,
recentemente, temos pensado sobre fazer algum controle
porque está ficando cada vez mais difícil provê-los com
o cuidado que a Bíblia requer. Estamos começando a ter
problemas para alimentar todos eles — e o custo de uma
educação bíblica (ou o tempo gasto para educá-los em casa)
realmente aumentou”.
Ora, o segundo casal pode estar enganado em suas su­
posições (sobre a habilidade de cuidar de sete crianças, por
exemplo). Mas essa suposição errada não é a mesma coisa
que a atitude rebelde e pecaminosa exibida pelo primeiro
casal. Pelo contrário, vemos uma família que crê que os fi­
lhos são uma benção, e que tem agido de acordo com esse
pensamento.
Uma vez que a Bíblia não diz nada sobre o controle de
natalidade em si, devemos fazer nosso julgamento pergun­
tando se esse controle é motivado por uma atitude bíblica
para com aquilo que a Escritura recomenda — filhos e fa­
mília.
Alguns têm argumentado que o caso do derramamento
de sêmen de Ona no chão, em Gênesis, é um exemplo do
juízo de Deus sobre um ato de controle da natalidade. E dc
fato foi — o que só fortalece nosso ponto sobre a primazia
da motivação. Aquilo que foi questionável na ação de Onã foi
sua tentativa deliberada de privar seu irmão de uma descen­
dência (Gn 38.9). Em outras palavras, o juízo recaiu sobre ele
porque seus motivos eram maus. Consequentemente, aqueles
que praticam o controle de natalidade com motivos ímpios
estão enveredando pelas sendas de Onã. Mas é preciso muita
ingenuidade para fazer uma conexão entre esse motivo per­
verso de Onã e a motivação de um casal piedoso que pratica o
controle de natalidade para espaçar a vinda dc filhos a fim de
maximizar o número de crianças que poderão ter (e.g., porque
a esposa teve de se submeter a uma operação cesárea). Assim,
quando não há um ensino claro na Escritura sobre um tópico
de conduta ética ou moral, é necessário que nos calemos. Não
podemos condenar algumas coisas como pecaminosas em si
simplesmente baseando-nos no fato de que muitas pessoas
que as praticam são pecaminosas em suas motivações.
Mas isso não significa que um marido e esposa cristãos
que praticam o controle de natalidade estão livres para achar
que estão agindo corretamente. E verdade, como afirmamos
acima, que todo esse tema deve ser entendido à luz dc nossas
motivações c dc nossa submissão à visão bíblica da família.
Também é verdade que, na área das motivações, temos de
prestar contas a Deus e somente a ele. O tema do controle
de natalidade não c algo no qual o magistrado civil ou os
presbíteros da igreja podem se meter. Se uma prática ímpia
para com os filhos e a família é visível e aparente, então essa
prática deve ser tratada pelos presbíteros de uma igreja. Mas
eles devem lidar com isto da mesma forma como tratariam
uma situação análoga (e.g., alguém que tem uma prática ím­
pia para com o álcool — uma substância que não é pecami­
nosa em si mesma, mas da qual se pode abusar).
O s pais são mordomos perante Deus, e Deus confia
filhos a eles. Alguns pais recebem os recursos que Deus lhes
concede e trazem mais filhos para servi-lo. Eles são grande­
mente abençoados. Outros pais podem limitar o número de
filhos, mas creem que os filhos que possuem são uma grande
benção, e eles também os trazem para servir ao Senhor. E s­
ses pais são também abençoados por Deus. Quando Jesus
contou a parábola dos talentos, ele não se referiu a qualquer
querela entre o homem que tinha dez talentos e o homem
que tinha cinco. Aquele que ficou em apuros (com seu mes­
tre, e não com seus conservos) foi aquele único que temeu
ser confiado com qualquer responsabilidade. Ele enterrou
aquilo que tinha e foi condenado pelo seu mestre. E isso é o
que muitos casais cristãos fizeram e estão fazendo. Eles não
querem a responsabilidade que vem com os filhos, embora
Deus tenha dito que os fez um para o propósito dc suscitar
uma semente piedosa (Ml 2.15).
Assim, nosso debate moderno sobre o controle dc na­
talidade infelizmente tem girado em torno dos métodos
usados — como se o servo infiel da parábola pudesse justi­
ficar-se afirmando que a ação dc enterrar dinheiro no chão
não é inerentemente pecaminosa. Isso até é verdade, mas a
questão não é essa.
Em lugar nenhum da Bíblia é dito que o uso do controle
dc natalidade é pecaminoso. E por isso é errado afirmar que
é. A Bíblia diz com todas as letras que filhos são uma benção
do Senhor. E é pecaminoso falar ou agir como quem pensa
o contrário.
CAPÍTULO 9

DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO

1. D IV O R C IO
divórcio é a dissolução dc um casamento. Com o temos
visto, existe casamento quando há união sexual dentro
dc um contexto de um voto pactuai (Mq 2.14). Quando tal
aliança e violada, então o próprio casamento é violado.
Casamento não existe simplesmente porque um casal
se tornou uma só carne. Paulo usa a expressão “tornar-se
um” para descrever o relacionamento de um homem com
uma prostituta (lC o 6.16), o qual, obviamente, não e um
casamento. Um casamento existe quando um relacionamen­
to sexual heterossexual é santificado com um voto. Sendo
assim, o casamento requer que um casal se torne uma só
carne, mas também requer um voto pactuai.
Isso nos ajuda a entender por que Deus odeia o divórcio:
<c<Eu odeio o divórcio’, diz o Senhor, o Deus de Israel” (Mq
2.16a, N V I ) . Deus odeia o divórcio porque um propósito
central do casamento pactuai é produzir uma descendência
piedosa (Mq 2.15). O divórcio dilacera a oportunidade que
os pais têm de criar filhos piedosos para o Senhor. Além
disso, sendo o divórcio uma violação da aliança do casamen­
to, Deus odeia a falsidade envolvida no ato. O Senhor é um
Deus que guarda a aliança, e odeia o que frauda alianças, tal
como o que e desleal no matrimônio.
Visto que Deus odeia o divórcio, não é de surpreender
que alguns concluam que o divórcio c sempre pecado. In ­
felizmente, essa posição não faz justiça ao todo do ensino
bíblico sobre o assunto. Obviamente, o divórcio é sempre
pecado para pelo menos um dos cônjuges. E geralmente pe­
cado para ambos. Entretanto, ele é algumas vezes um ato de
justiça da parte ofendida c inocente.
Isso não significa que o divórcio é automaticamen­
te legítimo para a parte inocente. Pode ser legítimo, mas
com frequência não é. Há uma diferença entre “estar no seu
direito” c agir direito. A parte inocente pode ser inocente
com respeito ao ponto nevrálgico da discussão. Mas isso
não significa que é inocente quanto ao comportamento que
conduziu àquele estado de coisas. Nem significa que a “parte
inocente” irá se conduzir sem amargura ou rancor durante
a disputa. Então, alguém pode ter o direito, ou mesmo a
obrigação de se divorciar de seu cônjuge, mas ainda assim
fazer isto da maneira errada.
Para dar um exemplo concreto, imagine uma mulher
cristã casada há dez anos. O marido dela (que não é cris­
tão) tem vivido na prática homossexual pelos últimos cinco
anos. Ela acabou de descobrir isso, e ele está completamente
impenitente. Tem ela o direito de se divorciar? Sim, e pro­
vavelmente o deve fazer. E se o fizer, então também tem o
direito de casar novamente.
Mas isso não significa que ela está imune à tentação e
ao pecado no modo como procede ao divórcio. Se irá pecar
ou não depende do modo como se conduz. Ela está fazendo
isto porque está preocupada em fazer a coisa certa peran­
te o Senhor? Ou está ressentida, desconfiada c rancorosa?
A tentação sempre será dizer: “Veja o que ele fez comigol”
Mas mesmo cm circunstâncias tão difíceis, ela deve também
olhar para a atitude que Jesus ordenou que seus seguidores
demonstrassem quando fossem maltratados. Verdadeiro
perdão só pode ser dado quando um verdadeiro erro é c o ­
metido. E o comportamento desse marido se encaixa nesse
quesito.
Muitas vezes uma mulher em tal situação se recusa
a perdoar porque presume que se oferecer perdão terá de
permanecer com o marido. Mas isso não é necessariamen­
te assim. Dependerá de outras circunstâncias: se o marido
renunciou ao seu procedimento homossexual, se ele tem
A I D S , se tornou-se cristão, etc. E mesmo assim compete
a ela decidir — conquanto esteja agindo biblicamcntc e
não buscando justificar sua amargura com um versículo-
-chavc.
Ao mesmo tempo, ela deve examinar seu próprio com ­
portamento ao longo dos dez anos de casamento. Ela buscou
ganhar o marido para o Senhor seguindo o modo bíblico
(lPe 3.1-6), ou viveu com ele a seu próprio modo, e nos seus
próprios termos? Sc a resposta for a última opção, então
deve reconhecer esse pecado a Deus^nfes de decidir buscar
o divórcio. D e outro modo, ela não possui um claro enten­
dimento das causas do fracasso do seu casamento e do que
precedeu a violação da aliança.
Alguns irão talvez alegar que isso a fará sentir-se cul­
pada pelo término do casamento, embora fosse o marido o
responsável direto. Ora, é claro que ele era o responsável. O
marido é cabeça de todos que estão na casa e das atividades
do lar. isso significa que é o guardião da aliança, ainda que
não seja cristão e não tenha a menor ideia do que significa
aliança. Entretanto, mesmo assim a esposa deve entender,
como cristã, em que momento cia não foi obediente a Deus.
Isso dc maneira alguma diminui a gravidade do pecado do
marido. Mas a capacita a decidir o que deve fazer tendo ago­
ra a visão clara que procede do perdão.
Sendo o marido o guardião da aliança de casamento,
o gênero da parte inocente é, sim, importante nas decisões
com respeito ao divórcio. A comunidade cristã está cheia dc
mulheres piedosas que têm maridos incrédulos. Contudo,
é mais raro de encontrar homens piedosos com esposas in­
crédulas. Isso ilustra o impacto que o marido tem sobre o
estado espiritual do casamento.
Com respeito ao divórcio, isso quer dizer que é muito
mais provável que as esposas sejam maltratadas por seus ma­
ridos do que o contrário. Se um homem c infiel a sua esposa,
é bem possível que ela esteja sendo o tipo de esposa que
Deus quer que ela seja. Se uma mulher está sendo infiel a seu
marido, é muito pouco provável que ele esteja cumprindo
seu papel de maneira adequada.
Isso não significa que não possa se divorciar dela, mas
significa que deve assumir total responsabilidade por aquilo
que tem feito (ou, melhor, pelo que não tem feito). Se assu­
mir essa responsabilidade, estará muito mais apto para fazer
aquilo que Deus quer que ele faça. Em outras palavras, se a
parte inocente é o marido, é muito provável que o inocente
tenha alguma parcela significativa de culpa.
Essa não é uma lei universal, mas é um padrão geral.
Algumas exceções podem obviamente incluir situações nas
quais o casamento deteriorou-se antes que o esposo se tor­
nasse cristão. Em tal situação, pode ser que o casamento já
estivesse em seus suspiros finais, ou que a esposa não qui­
sesse nada com Cristo. Uma coisa para se lembrar, como
regra geral, é que a parte inocente (homem ou mulher) tem
acesso a muitos recursos cm termos dc ensino bíblico. Esses
recursos raramente são usados.
E incomum ver uma situação na qual a parte inocente
entra no divórcio com uma atitude piedosa. Tenho visto vá­
rias situações em que há razões bíblicas para o divórcio. Mas
não tenho visto muitas nas quais a situação foi conduzida
com uma atitude bíblica. Pela graça de Deus, algumas vezes
as coisas são resolvidas. E geralmente, quando a atitude é
correta, a possibilidade de uma reconciliação piedosa é mui­
to grande.

2. BASES BÍBLICAS PARA O DIVÓRCIO


Antes de tratar dos fundamentos para o divórcio, devemos
reconhecer a distinção feita entre aqueles que entendem
externamente a lei de Deus e os que a entendem profun­
damente. Aqueles que entendem a lei externamente irão
simplesmente usar isto como uma lista: “Ah, veja só. Eu
posso mesmo me divorciar dele”. Mas aqueles que enten­
dem a natureza pactuai do casamento entenderão as razões
pelas quais Deus estabeleceu seus requisitos. Eles estarão
preparados para qualquer possível reconciliação.
Entretanto, há três categorias básicas de requisitos. Em
razão da natureza do caso, há, evidentemente, algumas so­
breposições.
Primeiro, em Mateus 5.31-32, Jesus afirma:

Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher,


dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: qual­
quer que repudiar sua mulher, exceto em caso de re­
lações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e
aquele que casar com a repudiada comete adultério.

A palavra traduzida aqui como “imoralidade sexual” é


porneias. Refere-se à impureza sexual ou fornicação. Não é
a palavra específica para adultério usada mais adiante nes­
ta passagem, embora adultério certamente possa ser inclu­
ído como um tipo d t porneias. Tal comportamento inclui
imoralidade antes do casamento, quando o cônjuge de nada
saiba: “Mas José, seu esposo, sendo justo e não a querendo
infamar, resolveu deixá-la secretamente” (Mt 1.19). Embora
José estivesse enganado sobre os fatos em questão, e embora
o casamento ainda não tivesse sido consumado, a passagem
é ainda assim instrutiva. Se um homem pensa estar casando
com uma virgem, e com três meses de casamento ela aparece
grávida de seis meses de outro homem, a cláusula sobre a
porneias pode ser aplicada.
Porneias é um termo geral. Aplica-se à imoralidade se­
xual antes e depois do casamento. N o Antigo Testamento
grego, a palavra está intimamente ligada à idolatria. Dada a
natureza da idolatria pagã, essa ligação provavelmente não
é de todo figurativa, porque a idolatria frequentemente en­
volvia imoralidade durante o ritual de culto.
Sendo o casamento uma aliança permeada pelo relacio­
namento sexual, a imoralidade sexual ataca o cerne de tal
aliança. Em tal caso, a parte inocente pode, sem incorrer em
pecado, divorciar-se de seu cônjuge. Mas se houver qualquer
oportunidade para uma reconciliação bíblica , isso certamen­
te deve ser encorajado.
A segunda base bíblica para o divórcio é mencionada
em iCoríntios 7.12-16. Paulo diz:

Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão


tem mulher incrédula, e esta consente em morar
com ele, não a abandone; e a mulher que tem ma­
rido incrédulo, e este consente em viver com ela,
não deixe o marido. Porque o marido incrédulo é
santificado no convívio da esposa, e a esposa incré­
dula é santificada no convívio do marido crente.
Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; po­
rém, agora, são santos. Mas, se o descrente quiser
apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica su­
jeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos
tem chamado à paz. Pois, como sabes, ó mulher, se
salvarás teu marido? Ou, como sabes, ó marido, se
salvarás tua mulher?

Essa passagem refere-se à deserção pactuai. Se o cônjuge


incrédulo consente em viver dentro de um entendimento
bíblico do pacto matrimonial (até onde lhe é possível; isto
é, exteriormente), então ele é santificado. Isso significa que
recebe uma bênção externa como resultado da conformidade
externa ao padrão de Deus. Isso não significa que pode ser
salvo sem pôr sua fé em Cristo. Mas se decide abandonar
o cônjuge, este não fica sujeito â servidão. Em verdade, o
cristão é proibido de se opor ao divórcio. Isso significa que
o cristão é livre — livre para casar-se novamente, livre para
ficar solteiro, e livre para se reconciliar com seu cônjuge
(conquanto este não tenha constituído novo casamento du­
rante esse período [D t 24.1-4]). Não estar sujeito à escravi­
dão significa exatamente isso.
A terceira base envolve a violação das leis bíblicas que
levam à pena de morte. Em uma sociedade justa, por exem­
plo, um assassino em massa seria condenado à morte. Em
nossa sociedade, isso não acontece. E o que acontece ao côn­
juge do homicida?
Se o governo civil estivesse cumprindo seu papel desig­
nado por Deus (i.e., punindo o perverso com a espada [Rm
13.4]), então o divórcio ocorreria por meio da execução. Mas
se o governo civil falha em cumprir o papel que lhe cabe,
então os dois governos que restam (a família e a igreja) têm
de tomar uma posição.
O fato de que execuções biblicamente ordenadas não
ocorram não deve deter estes governos que não possuem o
poder da espada. A igreja deve excomungar, e um cônjuge
piedoso pode se divorciar. Ambas as ações não significam
separar do pacto cm questão a parte ofendida. Há um re­
conhecimento legal de que a pessoa já apartou a si mesma.
Isso não é mera teoria. A Bíblia nos dá um exemplo
de famílias e da igreja agindo exatamente desse modo. Em
Esdras 9.1, se afirma:

Acabadas, pois, estas coisas, vieram ter comigo os


príncipes, dizendo: O povo de Israel, e os sacer­
dotes, e os levitas não se separaram dos povos de
outras terras com as suas abominações, isto é, dos
cananeus, dos heteus, dos ferezeus, dos jebuseus,
dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios e dos
amorreus.

Esdras estava horrorizado, e no capítulo seguinte ele


exige que os homens israelitas que tinham pecado desse
modo se divorciem de suas mulheres estrangeiras. E impor­
tante notar que a questão não era a raça das esposas (lembre­
-se de Rute e Raabc). A questão eram as abominações ou
práticas detestáveis. Uma vez que os exilados que retornaram
estavam sob a autoridade legal do império Persa, a penali­
dade civil requerida na lei do Antigo Testamento para tais
práticas não foi aplicada. Mas isso não era motivo para que
a igreja e a família não a aplicassem, c, no livro de Esdras,
vemos exatamente isso acontecer.
Assim, embora seja verdade que os cristãos não devem
se divorciar de seu cônjuge incrédulo, isso somente se aplica
se o incrédulo estiver disposto a permanecer casado debaixo
das exigências de Deus. Mas se o incrédulo é culpado de
escandalosas ofensas (as quais levariam à pena dc morte à
luz da lei bíblica), então o cristão deve reconhecer que tal
coisa já aconteceu .
Até que a igreja reconheça isto, iremos continuar a ter
um padrão sobre o divórcio que é uma vergonha cxcgéti-
ca e teológica. Do jeito que as coisas estão, muitos grupos
permitiriam o divórcio por adultério, mas o proibiriam se o
cônjuge culpado fosse um assassino em massa. Essa miopia
ética é resultado de se estudar as passagens sobre divórcio
isoladamente (excluindo Esdras, por exemplo). Mas, toda a
Escritura deve ser levada cm conta no estudo desse assunto.
Casamento não é um absoluto. Ele é santificado porque
a Palavra de Deus o santificou. Portanto, não pode se tornar
um meio de contradizer a Palavra de Deus. Muitos cristãos
tem tolerado coisas ruins simplesmente porque pensam que
os votos de casamento o exigem. Mas isso não é assim. Os
votos de casamento exigem de nós que deixemos nossa vida
egoísta. O s maridos devem amar a esposa, c as esposas de­
vem respeitar o marido. Devemos negar a nós mesmos, hão
à Palavra de Deus .

3. NÃO EU, MAS O S E N H O R


Em lC oríntios 7.10-11, Paulo diz: “Ora, aos casados, or­
deno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do
marido (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou
que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se
aparte de sua mulher”.
A chave para entender esse trecho é a expressão que
aparece quase de passagem: “não eu, mas o Senhor”. Ela não
significa, como alguns tem pensado, que Paulo está alegando
que este ensino é inspirado, e a passagem que segue no verso
12 (“eu, não o Senhor”) não é inspirada.
Antes, significa que Jesus (durante seu ministério ter­
reno) ensinou diretamente sobre divórcio, e Paulo está apli­
cando esse ensino dc Cristo aqui. O divórcio é proibido, e
se ele ocorrer, alguém está em pecado. O que Deus unir, o
homem não tem o direito dc separar. Isso significa que o
divórcio não pode ser justificado “por qualquer que seja a
razão”. A Palavra de Deus deve regular todos os aspectos
do nosso comportamento.
Mas o ensino de Jesus, embora fundam ental , não c o ­
briu toda e qualquer situação possível. Isso é particularmen­
te evidente à medida que a igreja cristã adentrava o mundo
pagão gentio: “Eu nunca quis o divórcio, mas agora ele me
deixou...” Então Paulo vai e ensina como um cristão deve
reagir em tal situação quando o incrédulo se aparta.
O pecado quanto à aliança do casamento não somente é
motivo de grande sofrimento pessoal, mas também dc mui­
ta controvérsia teológica. O problema está na legitimidade
de um novo casamento. A maioria dos mestres cristãos não
insistiria para que um cônjuge vivesse com outro que sim­
plesmente não deseja estar com ele. Mas alguns diriam ainda
que a pessoa inocente não tem o direito de casar novamente.
Isso é como dizer que roubar é errado, mas que se alguém
roubar o som do seu carro você está proibido de comprar
outro. Isso é ignorar o fato de que o ladrão foi quem come­
teu o pecado. Os que violam o pacto do matrimônio estão
sempre cm pecado. Mas o peso disto tem de recair sobre os
ombros do culpado pela violação, não da pessoa contra a
qual se pecou.
Vemos, então, que o pecado que conduz ao divórcio é
proibido, sem nenhuma exceção. Os que violam a aliança
estão sempre em pecado, e é o violador da aliança que é a
causa do divórcio. Mas a Bíblia ensina que é legítimo reco­
nhecermos legalmente o que os violadores da aliança fize­
ram. É também legítimo para o cônjuge inocente reconhecer
o status do ofensor.
Assim, se a certidão legal de divórcio é um reconheci­
mento bíblico da rebelião de alguém contra Deus, tal certi­
dão não é em si rebelião. Mas se um processo de divórcio é
iniciado sem qualquer amparo na Palavra de Deus, então tal
divórcio é pecado. Para que seja justo, o divórcio deve ser
responsivo — levando em conta Deus e seus preceitos sobre
o pecado do cônjuge.
O fato de que há mestres cristãos conservadores que
discordam disto não significa que essa é uma visão liberal
do divórcio. Há dois meios de adulterar a Palavra de Deus.
Um é fazer acréscimos ao ensino da Bíblia, e o outro é fa­
zer subtrações. Há muitos cristãos bem-intencionados que
possuem padrões sobre esse assunto que são mais restritos
que os da Bíblia, li não é verdadeiramente conservador fazer
restrições além das que Deus faz.
Mas, c quanto àqueles que, no momento em que iccm
este livro, já fizeram tudo errado? Estão agora, digamos, no
terceiro casamento e angustiados pela culpa. A boa notícia
é que Deus nos apanha onde estamos, não onde deveríamos
estar. Há sempre perdão em Cristo. Os que estão em tal si­
tuação devem confessar o pecado, aceitar o perdão de Deus
pela fé, e começar a viver em submissão à Palavra de Deus.
EPÍLOGO

N
ossa cultura c caracterizada por homens que não sa­
bem lidar com sua posição de homens. Em nossa tolice,
nos apartamos do ensino bíblico sobre a masculinidade, e
de sua importância central para o lar cristão. Com a falsa
sabedoria dos tolos, temos tratado de substituir a dureza da
masculinidade pela delicadeza das mulheres. Os resultados
disso cm nosso casamento c famílias — e consequentemente
em nossa cultura — têm sido nada menos que desastrosos.
Os homens estão aturdidos com o mundo que os rodeia
e com as responsabilidades que um homem de Deus deve
carregar em tal mundo. Alguns docilmente se submetem à
nossa rebeldia cultural contra a masculinidade; outros pa­
decem em silêncio, sem saber o que fazer; outros fingem
concordar com o conceito de igualdade para que possam
exercer um domínio perverso sobre as mulheres; ainda ou­
tros se contentam com as migalhas que lhe são lançadas. Eles
não acham que abriram mão de sua masculinidade, porque
gastam uma quantidade generosa de tempo com esportes,
carros, e jogos. Mas a masculinidade deve ser genuína, e
deve convergir para dentro de casa.
A castração dos homens cristãos, e a conseqüente fe-
minilização da família, igreja, e cultura, começaram a serio
no século passado, quando o poder do eficaz evangelho da
graça foi abandonado, dando lugar a um sentimento reli­
gioso. Em nosso desafio doutrinário, a resposta fem inina
da fé foi confundida com a iniciativa masculina de Deus no
evangelho. Maridos, de quem a Escritura exige que imitem o
amor de Cristo, eram então ensinados ao erro de que o amor
de Cristo por seu povo era impotente. A eficácia do am or foi
então abandonada, e o sentimento de am or entronizado. E
os homens se tornaram impotentes cm sua imitação de um
Senhor impotente.
Sobre a cruz, Cristo venceu o pecado e a morte, e res­
gatou um povo a ser chamado pelo seu nome. Em resumo, a
cruz foi eficaz, e a igreja evangélica costumava sustentar um
testemunho consistente dessa verdade. Quando o evangelho
é compreendido, e os maridos são exortados a amar a esposa
imitando o amor de Cristo pela igreja, eles passam a imitar
um amor eficaz. Mas no último século a igreja lentamente
abandonou esse entendimento bíblico da cruz. O poder da
cruz para salvar pecadores começou a ser negado, mas para
os evangélicos a cruz ainda tinha de significar alguma coisa.
E, como resultado, a igreja começou a enfatizar o sentimen­
to do amor de Cristo, ao invés da eficácia desse amor. Jesus
passou a chamar docemente e com ternura, e os evangélicos,
em massa, começaram a deixar o lar.
Com o resultado, os homens, quando eram agora exor­
tados a imitar o amor de Cristo pela igreja, não tinham ou­
tra coisa para imitar senão um ensino errado sobre o amor
de Cristo. As conseqüências nefastas podem ser vistas em
toda parte. Uma pessoa com um nó na garganta pode não
ter experimentado o poder de Deus, mas ainda sente alguma
coisa. Pode ser que anos se passem até que descubra a fraude.
Um bom tempo transcorreu em nossa cultura, e temos des­
coberto que os resultados são de fato amargos — adultério,
esposas desrespeitosas, maridos grosseiros, divórcio, filhos
rebeldes, aborto, sodomia. Apesar disso, ainda não chega­
mos a entender que o fruto amargo vem de uma árvore que
nós plantamos.
Devemos reconhecer e confessar que a revolta da nossa
atual cultura contra o Altíssimo é uma revolta que começou
nas famílias da igreja, entre aqueles que professavam o nome
do Senhor. Se o sal se torna insípido é pisado pelos homens.
Maridos que não imitam o amor eficaz dc Cristo verão a
própria família ser também pisada. Durante o último século,
foi precisamente isso o que pôde ser visto.
Enquanto continuamos orando pela reforma do casa­
mento, devemos também orar para que os maridos cristãos
venham a renovar ou a cumprir alguns requisitos pactuais
básicos perante o Senhor.
O marido deve primeiro decidir que irá se instruir a
fundo no ensino da Bíblia sobre casamento, liderança, e fa­
mília, e que irá de boa vontade submeter-se a tal ensino, e
pô-lo em prática em seu lar. Isso o fará capaz dc, pela pri­
meira vez, dizer com entendimento: Ueu e a minha casa ser­
viremos ao Senhor”.
Ele irá amar sua esposa como Cristo amou a igreja,
entregando-se por ela. Irá assumir a responsabilidade pela
beleza da esposa.
Não irá transferir qualquer responsabilidade pela con­
dição espiritual, emocional, física, c financeira de sua casa
a seus pais, esposa, filhos, igreja, ou sociedade. Irá assumir,
perante o Senhor, toda responsabilidade pelo lar que repre­
senta perante Deus, e rogará por graça para manter-se firme.
Não permitirá que seus filhos sejam ensinados, instru­
ídos, ou criados por homens c mulheres que vivem e ensi­
nam de maneira contrária a Deus. Irá retirar seus filhos das
escolas do governo e educá-los em casa ou cm uma escola
piedosa.
N ão retirará a esposa de suas obrigações primárias
como mãe e da administração do lar. A levará para casa,
para os filhos, o lugar que Deus ordenou para ela estar, e irá
encorajá-la e amá-la nessa vocação. Ele irá estabelecê-la em
um lugar onde possa alcançar grandeza, e quando ela já a
houver alcançado, se levantará e a chamará ditosa.
Não irá confundir o amor que Deus requer que tenha
pela esposa com a falsa “amabilidade” que renuncia à respon­
sabilidade de liderança.
Irá ensinar à esposa a Palavra de Deus, e juntos ensi­
narão aos filhos.
Trabalhará arduamente para que sua esposa seja capaz
de vestir e alimentar a família.
Se devotará à sua esposa sexualmente, tratando-a com
entendimento e sabedoria.
Estabelecerá o caráter do lar por meio de sua paciência,
reverência, dignidade, bondade, e cortesia.
E irá agradecer a Deus pela misericórdia demonstrada
através do Senhor Jesus Cristo.
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Sua Filha em Casam ento — Cortejo bíblico no mundo moderno
Minha Vida pela Sua — Cam inhando pelo lar cristão
Firmes nas Promessas — Um manual para a educação bíblica de filhos

OUTRAS PUBLICAÇÕES:

Adoração evangélica — Jerem iah Boroughs


Adoração reform ada — Terry Johnson
Apostasia do evangelho — John Owen
Bases bíblicas para o batism o infantil. As — D. H. Small
Batism o infantil, O — Anglada, Pipa, Sartelle, Evans
Busca da plena segurança, A — Joel Beeke
Catecism o Maior de W estm inster - Comentado — Johannes
G eerhardus Vos
Ceia do Senhor, A — Thom as Watson
Cheios do Espírito — Augustus Nicodemus
Confissão de Fé de W estm inster - Com entada — A. A. Hodge
Controvésia Não Resolvida, A — lain M urray
Cultivando a santidade — Joel Beeke
Crente tam bém tem depressão — David Murray
Cristianism o e Liberalism o — J. Machen
Cristo dos profetas, O — O. Palm er Robertson
Dia do Senhor, O — Joseph Pipa
Diretório de Culto de W estm inster, O — Assembleia de
W estm inster
Disciplina na igreja: uma m arca em extinção — S. Portela, V.
Santos, G. W. Knight III
• Dissipando a tirania (Série sobre os Huguenotes Voi. 2) — Piet
Prins
• Esperança adiada, Uma: a doutrina da adoção e paternidade de
Deus — Stephen Yuille
• Espírito Santo, O (Esboço de teologia cristã)— Sinclair Ferguson
• Espírito Santo, O (Uma compilação da extraordinária obra do
"Príncipe dos Puritanos") — John Owen
• Estudos no Breve Catecism o de W estm inster - Com entado —
Leonard T. Van Horn
• Evangelho para os filhos da aliança, O — Joel Beeke
• Fam ília na igreja, A — Joel Beeke
• Fazendo a fé naufragar — Kevin Reed
• Fazendo a igreja crescer — William Smith, Solano Portela
• Fuga, A (História da perseguição aos Huguenotes) — A. Van der Jagt
• Glorioso evangelho da graça, O - Sermões no Catecismo de
Heidelberg — Charles Wieske
• Governo Bíblico de Igreja, O — Kevin Reed
• Homem e m ulher e su as atribuições — George W. Knight
• Igreja apostólica, A - Que significa isto? — Thomas Witherow
• Igreja de Cristo, A: um tratado sobre a natureza, ordenanças e
dissiplina da igreja — James Banerman
• Im plicações práticas do calvinism o — A. N. Martin
• João Calvino era assim — Thea B. Van Halsema
• Lei de Deus hoje, A — Solano Portela
• Lei m orai, A — Ernest Kevan
• Livro da vida, O — Valter Graciano Martins
• Modernismo e a inerrância bíblica, O — Brian Schwertley
• Movimento carism ático e as novas revelações do Espírito, O —
Brian Schwertley
• Necessidade de reform ar a igreja, A — João Calvino
• No esplendor da Santidade: redescobrindo a beleza da Adoração
reformada — Jon D. Payne
• Origem e composição do Catecism o Maior de W estm inster —
Chad B. Van Dixhoorn
• Pacto da graça, O — John Murray
• Palavra final, A — O. Palm er Robertson
• Paulo plantador de igrejas —■Augustus Nicodemus
• Pena capital e a lei de D eus, A — Solano Portela
• Perspectivas sobre o pentecostes — Richard B. Gaffin Jr
• Por que devem os cantar os Salm os? — Joel R. Beek, Terry Johnson,
Daniel Hyde
• Presbítero regente, O — Samuel Miller
• Profecia no Novo Testam ento, A — Georde W. Knight III
• Quando o dia nasceu (Série sobre os Huguenotes Vol. 1) — Piet
Prins
• Que é a fé reform ada?, O — J. Richard de Witt T. Johnson, Solano
Portela
■ Que é um culto reform ado?, O — Daniel Hyde
• Reforma ontem , hoje e am anhã — Carl Truem an
• Sola scriptura e o princípio regulador do culto — Brian
• Todo o conselho de Deus — Ryan MacGraw
• Trabalho de am or, Um: prioridades de um pastor puritano —
Stephen Yuille
• Três Form as de Unidade, As — Igrejas Reform adas
• Três hom ens chegaram a Heidelberg: a história por trás do
catecism o de Heidelberg — Thea B. Van Halsema
• Vida religiosa dos estud antes de teologia, A — B. B. Warfield
• Visão Puritana das Escrituras, A — Derek Thom as
ADQUIRA TAMBÉM

O Cristo dos Profetas


Nesta m eticulosa introdução aos
profetas do antigo Israel, o Dr.
O. Palm er Robertson revela
paixão e o propósito dos escritos
extraordinários detes.

Depois de exam inar as origens


do profetismo, o cham ado dos
profetas, e sua proclamação e
aplicação da lei e da aliança, Dr.
Palm er dedica atenção especial
ao significado bíblico-teológico
do exílio e da restauração.
Observando essas experiências
pela perspectiva de vários
profetas, ele conduz nossa
atenção para os sofrim entos e
para a gloriosa restauração do
povo de Deus em Cristo.

Os estudiosos da teologia bíblica


vão apreciar, de modo especial, a
análise que Dr. Palm er faz dessas
profecias, bem como suas firm es
Capa dura contestações às interpretações
16x23 cm liberais e neo-ortodoxas de hoje.
640 páginas

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o aroma espiritual
do seu lar?
A FONTE DESTE A R O M A é o relacion am en to entre m arido e esposa.

M u itos podem sim ular a o bed iência aos padrões de D eu s, cu m p rin d o -o s de m odo
m eram ente externo. O que não podem os sim ular é a fragráncia incon fund ív el que

resulta de agradarm os a D eu s. Eis porque casam entos piedosos p rocedem de

corações obedientes, e o m aior desejo de um coraçáo o b ed ien te é a glória de D eus,

não a felicidade dom éstica.

M u ito s livros sobre casam ento oferecem listas e m étodos de com o m elhorar os

relacionam en tos, sem com preend er que a questão real é sem pre o coração. E m

Reformando o casamento, D ouglas W ilso n ensina os casais a cultivar um lar am oroso,

resolver os con flito s sem dem ora e evitar querelas, fugir de problem as com o a

sínd rom e do cara legal e da arm adilha de exteriorizar tentações. E m sum a, ele

apresenta um a teologia prática do casam ento que tem im plicações em todas as áreas,

desde o sexo e a ad m inistração das finanças, até o ato de largar as m eias na sala.

DOUGLAS WILSON é pastor da C h rist C h u rch em M oscow , Idaho,


Estados U nidos, e ed itor da revista Credencia/Agenda. E le é autor de Futuros
Homens, Fidelidade e Recovering tbe Lost Tools o f Learning. C asado com N ancy,
tem três filhos e um m o n tão de netos.

ISBN 978-85-62828-25-6

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