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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

DEPARTAMENTO DE ESTRUTURAS E CONSTRUÇÃO CIVIL

Notas de Aula

CONCRETO ARMADO

ESCADAS

Prof. Ricardo Nakao


Prof. José Albuquerque de Almeida Neto

Campo Grande
2005
1. DIMENSÕES

No que diz respeito as dimensões usuais das escadas, recomenda-se que seja
verificada a relação: 60 ≤ p+2e ≤ 65 cm, sendo p = passo ou piso e, e = espelho (altura
do degrau). A Figura 1 abaixo apresenta outras recomendações sobre dimensões de
escadas.

p hm = h1 + (e/2)

e = 15 a 20 cm
hm
p = 25 a 32 cm
h1
e

60 cm ≤ p+2e ≤ 65 cm
h
n = lv / e

usual: e=18 cm
37°

p=30 cm

Figura 1 – Dimensões recomendadas para escadas

Para a largura, recomenda-se: 90 cm em geral e 120cm para escadas de edifícios


de apartamentos e escritórios. Sendo usual, executar escadas com 100 cm de largura.
Recomenda-se também, ao projetar-se uma escada, consultar a norma
NBR9050/2004 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos e o código de obras da cidade.

2. CLASSIFICAÇÃO

As escadas podem ser classificadas em razão da sua concepção estrutural, sendo as


mais tradicionais:
- escadas armadas transversalmente;
- escadas armadas longitudinalmente;
- escadas armadas em cruz;
- escadas com patamar;
- escadas com laje em balanço;
- escadas em viga com degraus em balanço;
- e outros.

3. AÇÕES (OU CARGAS ATUANTES)

As ações atuantes que se têm em uma escada, normalmente, são: peso próprio,
sobrecargas, pavimento (piso) e parapeitos (corrimão). ( Ver NBR 6120- cargas para o
cálculo de estruturas de edificações).
 O peso próprio é determinado pela espessura média: g = γ CA .hm
 A sobrecarga será:
 escadas de edifícios residenciais: q = 250 a 300 Kgf/m2;
 escadas de edifícios públicos: q = 300 a 500 Kgf/m2;
 escadas secundárias: q = 200 a 250 Kgf/m2.
 Pavimento (pisos + argamassa de assentamento): 80 a 120 Kgf/m2,
lembrando que no caso de pisos muito “pesados” (como mármore) essa
carga deve ser aumentada.
 Parapeitos (corrimão): quando existirem parapeitos (guarda-corpo e
corrimão) deverá ser considerado uma carga horizontal de 80 Kgf/m na
altura do corrimão e uma carga vertical de 200 Kgf/m.
 Cargas de Muretas ou Paredes descarregando diretamente na escada será
considerada em função do peso específico do material constituinte da
mureta ou parede. E, será feito uma simplificação de modo a considerar
esta carga uniformemente distribuída sobre a laje da escada ou degraus.
 Revestimentos inferiores: caso haja revestimento sob a escada muito
espesso, ou necessite um cálculo mais rigoroso, pode-se calcular o peso do
revestimento a partir do peso específico do material de revestimento
(normalmente varia entre 1900 a 2000 Kgf/m3). Deve ser considerado
também, o peso do forro do pavimento inferior apoiado na face inferior da
escada, quando houver, e seu cálculo pode ser feito da mesma forma.

4. ESCADAS RETANGULARES

4.1. ESCADAS ARMADAS TRANSVERSALMENTE

Trata-se do caso em que os apoios da escadas (degraus) serão vigas ou paredes


situadas longitudinalmente nas faces laterais das escadas. Essas escadas são calculadas
como laje armada em uma só direção com espessura hm. Sendo a carga p, distribuída por
m2 de laje em projeção horizontal.

O momento máximo (conforme indicado na Figura 2) será então dado por:


p.l 2
M = e,
8
p.l
O esforço cortante será: V =
2
Sendo l=distancia entre as vigas ou paredes de apoio

A armadura principal será então calculada desta forma e a armadura secundária


obtida pela armadura mínima preconizada pela NBR 6118:2003 para lajes:
Asmin.= 0,15% bw.hm
Mmáx. (As princ.)
Viga V1

p
Ä

Viga V2

As Secundária

ARMADURA PRINCIPAL

Viga V1 Viga V2
As Principal

ARMADURA DE DISTRIBUIÇÃO
CORTE TRANSVERSAL
CORTE LONGITUDINAL

Figura 2 – Escada armada transversalmente

O espaçamento máximo para a armadura principal será de 20 cm ou 2. hm e para a


armadura de distribuição será de 33 cm. Para obter seções econômicas procura-se
trabalhar com valores mínimos de espessura de laje.
Para a armadura de distribuição, lembramos que esta deve ser maior ou igual a 1/5
de As principal e, simultaneamente, 0,90 cm2/m.

4.2. ESCADAS ARMADAS LONGITUDINALMENTE

Este esquema estrutural será utilizado quando a escada não se apóia mais em vigas
laterais ao longo do comprimento da escada e sim, em vigas transversais em suas
extremidades (em geral, nos patamares). Nestes casos, devemos transformar a carga
vertical por metro segundo o plano horizontal, em carga normal ao eixo da escada por
metro na direção da inclinação da escada.
Portanto, nestes casos, para cálculo do momento, o vão a ser considerado será o
valor da projeção horizontal longitudinal da escada. Lembramos agora que o cálculo da
laje irá considerar como espessura da laje, apenas a parte da escada que constitui uma
laje inclinada, portanto, de valor h, medido perpendicularmente ao fundo inclinado,
como mostrado na Figura 1. Resumindo, utiliza-se então um valor de espessura de laje
inferior ao utilizado nas escadas armadas transversalmente.
Como mostrado na Figura 3 a armadura principal será posicionada na face inferior
da laje no sentindo longitudinal é claro, e, a armadura de distribuição sobre esta na
direção transversal.
p

Viga V2
Viga V1 Ä

pi

ARMADURA NEGATIVA

Ä
ARMADURA DE DISTRIBUIÇÃO

ARMADURA PRINCIPAL
M máx. (As)

CORTE LONGITUDINAL

Figura 3 – Escada armada longitudinalmente

A ferragem negativa pode ser determinada pela mesma recomendação de


armadura de canto em lajes presente na NBR 6118:2003, que é 20%.As, ou também,
segundo a recomendação de alguns autores baseados na ACI, que utilizam metade do
valor do máximo momento positivo como valor para cálculo da área de aço negativa.
O valor da carga inclinada uniformemente distribuída (pi) será obtida como
mostrado na Figura 4 abaixo, e deste procedimento de cálculo obtêm-se as seguintes
expressões:
l i = l / cos α
P = p.l
Pi = P. cos α = p.l. cos α
pi = Pi / l = ( p.l. cos α ) /(l / cos α ) = p.(cos α ) 2

Figura 4 – roteiro para obtenção da carga inclinada pi


Alguns autores admitem que na ligação da escada com o patamar existe um
pequeno engastamento que pode ser considerado no cálculo, usando os valores
indicados abaixo para momento positivo e negativo.

p.l 2 p.l 2
M = X =−
10 40

4.3.ESCADAS COM PATAMAR

O cálculo deste tipo de escada é muito similar ao mostrado anteriormente para


escadas armadas longitudinalmente. Neste caso o cálculo pode ser feito como uma viga
bi-apoiada com um trecho inclinado (trecho dos degraus) e um trecho horizontal (trecho
do patamar), sendo assim, têm-se apenas momento positivo ao longo da viga
considerada. Este tipo de cálculo têm validade se consideramos a escada deslocável.
Na prática adotaremos a consideração apresentada abaixo que considera a escada
indeslocável, sendo assim, surge um engastamento no encontro da escada com o
patamar. Esta consideração está mostrada na Figura 6. Onde, considera-se o esquema
apresentado abaixo como um pórtico, donde, a resolução deste é feito conforme análise
estrutural (hiperestática), por métodos da hiperestática ou computacionais. Ressaltando
cuidado especial que deve ser dado ao detalhar as armaduras na região que há mudança
de direção, com tendência a expulsão da armadura (Figura 7).

Figura 6 – Diagramas de Momento Fletor em escadas com patamar considerando o


engastamento do patamar
Figura 7 – comportamento estático e tendência a expulsão da armadura

Para a análise estrutural da escada apresentadas nas Figuras 6 e 7, têm-se uma


disposição das armaduras conforme apresentado na Figura 8.

x .-
má As mín.
M As dist.

As dist. As dist.

. M2 + / As mín.
c
pr i
As As dist.

2 0%
As dist.
.+
máx
M1

Figura 8 – Disposição das armaduras em escadas armadas longitudinalmente com


patamar
Em função do projeto arquitetônico, pode-se necessitar de um ou mais patamares
na escada o que resultará nas diferentes composições estruturais apresentadas na Figura
9 abaixo.

C B
C

A B
A
(a) (b)

C D

B C

A A B
(d)
(c)

Figura 9 – escadas com patamar

Escadas com mais de um patamar (d) ou com patamar intermediário (c) serão
sempre consideradas deslocáveis, portanto, estarão sujeitas apenas a momentos
positivos como mostrado na Figura 10.

Figura 10 – Escada com dois patamares (considerada deslocável)


4.4.ESCADAS ARMADAS EM CRUZ

O esquema estrutural neste tipo de escada é o de um a laje inclinada, armada em


duas direções e apoiada em vigas no contorno.
Para o dimensionamento destas escadas, na direção transversal, pode-se utilizar
a altura h1 no cálculo da armadura mínima. Já na direção longitudinal utiliza-se a altura
h. Utilizam-se os vãos medidos na horizontal.
Para as vigas, as vigas horizontais não apresentam alterações ao cálculo habitual,
enquanto que para as vigas inclinadas, as ações são admitidas verticais por metro de
projeção na horizontal e os vãos são considerados na horizontal.
Lembramos que independente do tipo da escada com relação a sua concepção
estrutural, em todos os casos os passos se repetem: primeiro, o cálculo das cargas;
posteriormente, análise estrutural da concepção definida; cálculo dos momentos e
traçado do diagrama de momentos fletores; cálculo das armaduras a partir do momentos
encontrados; e, por fim, detalhamento da armadura.
V ig a V 1

Viga V4
Viga V3

V ig a V 2

A s x (m e n o r v ã o)

Asy

Figura 11 - Escada armada em cruz

4.5.ESCADAS EM VIGA RETA COM DEGRAUS EM BALANÇO

Nestas escadas os degraus são isolados e cada degrau trabalha como uma laje
engastada em uma viga central ou em uma viga em uma das laterais.

Figura 12 - escada em viga reta, com degraus em balanços


Estas escadas são sujeitas a esforços consideráveis de torção (mesmo quando a
viga de apoio é central).
Os degraus são armados como pequenas vigas e devido à sua pequena largura
recomenda-se o uso de estribos. Detalhes típicos da armação destas escadas são
mostrados na Figura 13 abaixo.

Figura 13 - Detalhe típico de armação


4.6. Escadas com degraus engastados um a um (escada em “cascata”)

Figura 14 – escadas em cascata

Neste tipo de escada, praticamente cada degrau serve de apoio para o degrau
situado imediatamente abaixo e se apóia no degrau situado acima. De difícil execução, e
custo mais elevado, apresenta a face inferior também em degraus, sendo projetado por
muitos arquitetos pelo seu potencial estético.
4.7.ESCADAS ARMADAS EM L

4.8.ESCADAS EM U

Estruturalmente, estas escadas são variantes das anteriores, pouco diferindo tanto no
cálculo como no detalhamento.
4.9. OUTROS TIPOS DE ESCADAS

- ESCADA EM CARACOL
- ESCADA EM ESPIRAL
- ESCADAS AUTO-PORTANTES

5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo das escadas usuais de concreto é relativamente simples, pouco


diferindo do estudo das lajes maciças. Nos projetos, normalmente as escadas são
calculadas e detalhadas isoladamente do resto da estrutura. Posteriormente, os esforços,
são inseridos no cálculo estrutural da edificação. (Os programas automáticos: TQS e
Eberick ,possuem módulos que permitem incluir as escadas como parte integrante da
estrutura como um todo).
As escadas descarregam suas cargas nas vigas e devem ser levadas em
consideração no dimensionamento das mesmas. As cargas atuantes no trecho inclinado
da escada podem ser decompostas em parcelas horizontais e verticais. Assim, as vigas
dos patamares devem ser verificadas também para o carregamento horizontal, e
detalhadas com armaduras para momentos devido às cargas horizontais e verticais. De
forma aproximada, pode-se fazer um detalhamento baseado no calculo independente nas
duas direções. Lembrar que esses esforços posteriormente serão transmitidos aos
pilares.
O cálculo e dimensionamento de rampas é semelhante ao das escadas, isto é,
uma rampa é uma laje inclinada, ou seja, uma escada sem degraus.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

BOTELHO, M.H.C. & MARCHETTI. Concreto Armado eu Te Amo. Vol.2. 2003

CUSTÓDIO, V.; COIMBRA, A.; Lajes em Concreto Armado e Protendido, 2ª ed., Ed.
EDUFF, 1998.

ISHITANI, H. Notas de Aula - Concreto Armado. EP/USP. 1999

MELGES, J.L.P.; PINHEIRO, L.M.; GIONGO, J.S. Concreto Armado: escadas. São
Carlos: 2004. Serviço Gráfico EESC/USP.

POLLILO, A. Dimensionamento de Concreto Armado. Ed. Científica. 1977. Vol. 4

ROCHA, A. M. Concreto Armado. Ed. Nobel, 25ª ed., 1995. Vol.3

ROGÉRIO, P. Problemas resolvidos em Engenharia estrutural. Ed. Doberman, 1985.

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