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Brisa da morte

O céu estava iluminado por uma paleta de cores, era noite de ano novo o que significava
que ninguém conseguiria dormir com o surto de comemorações de turistas e as apresentações
ao vivo que se estenderiam até o sol raiar revelando uma cidade com prédios reluzentes
banhada por uma praia de águas revoltas, Vera Cruz era o lugar perfeito para ter boas
lembranças, mas naquele dia, com a escuridão substituída brevemente por fogos de artifício,
ninguém poderia imaginar o mal que assolaria a todos.

Uma mulher de cabelos cor de neve andava apressada pela rua, com um olhar cortante para
todos os jovens felizes, e ia em direção ao hotel Brisa e Sol, um lugar conceituado á beira mar
que esbanjava luxo e beleza no qual apenas algum socialite podre de dinheiro se hospedaria,
esse era o caso daquela mulher, ela não era a pessoa mais insuportável do mundo, mas era
arrogante: ela exibia um nariz empinado digno da realeza quando estava no elevador indo para
seu quarto majestoso ela lançava um olhar julgador para a adolescente ao seu lado que ria
alto enquanto digitava alguma bestice em seu celular de ultima geração,seria essa jovem uma
das principais testemunhas do caso,ao menos sobre os últimos minutos de vida daquela
mulher.

Ao chegar em seu quarto a socialite preguiçosamente não acendeu as lâminas,preferindo


antes sentar-se no chão exausta enquanto lembrava de que aquele seria o primeiro ano novo
sem seu cachorro,o único ser que ele já amou e que estava nesse exato momento enterrado a
sete palmos no cemitério,lagrimas escorriam pelo seu rosto quando ela sentiu a mais leve brisa
encostar em seu rosto,a varanda estava aberta e as cortinas brancas estremeciam com o
vento,incomodada ela levantou-se para fechar a porta mas naquele momento ela ouviu um
choro estridente,desorientada ela olhou para os lados,curiosa,foi até o banheiro ver se não
havia nenhum invasor mas não havia ninguém,quando se virou percebeu um volume debaixo
do edredom,um volume que se assemelhava a um ser humano.

Sem palavras, ela aos poucos foi indo em direção a cama,seja lá o que fosse parecia estar
respirando, mas ao levantar o lençol nada havia lá,achando que estava alucinando ela foi até a
geladeira, a fraca luz amarelada na escuridão opaca escondia as sombras que de algum modo
pareciam demônios, a água tinha um gosto decrépito como se estivesse podre e ao cuspi-la na
pia saiu sangue, um grito arranhou sua garganta e nesse momento ela a sentiu.

Ela estava ali oculta nas sombras com um vestido branco que possuía belos detalhes espirais
vermelhos- sangue e ela a observava de um ângulo que parecia que seu pescoço estava
torcido, ela foi na direção da mulher a principio andando com seus saltos quebrados mas
depois caiu no chão e foi rastejando até a mulher que gritava ao pegar uma faca de cozinha e
ergue-la desorientada como se seu próprio corpo não obedecesse mas seus comandos,seu
coração batia tão forte que ela nem conseguia ouvir sua própria voz,antes de morrer ela não
viu lembranças ensolaradas com seu cachorro...tudo que ela viu foi o rosto distorcido daquela
jovem.

Capitulo 1-Um céu em cinzas


“Algumas pessoas achariam decrépito ir ao lugar palco de uma morte tão brutal em busca de
uma curiosidade mórbida baseada em falácias populares e no instinto doentio humano pela
morte e o oculto, mas decididamente em Vera Cruz isso era algo cotidiano, milhares de turistas
vinham se hospedar no mesmo hotel em que um dia uma bela jovem se matou ao pular do
décimo andar e cair na varanda do 7 andar,seu nome era Tiffany Miller,uma jovem de alta
sociedade que por conta da... ”e era nessa parte de seu artigo que Mariano Smith empacava e
se questionava seriamente se deveria desistir de ser um repórter investigativo ,de apenas vinte
anos, e arranjar um trabalho mais simples.

Ele estava naquele exato instante no fusca velho caindo aos pedaços de sua irmã Melissa,
como o notebook em seu colo e uma dor de coluna ocasionada por 3 horas ininterruptas na
estrada,Melissa dirigia com sua energia sustentada apenas por um café frio que trouxe de
casa,ela o observava as vezes(possivelmente o julgando,vai saber) mas na maior parte do
tempo encarava a estrada com um olhar vidrado.O céu estava coberto de cinzas naquele
dia,talvez turistas se decepcionassem com isso mas Mariano e Melissa nunca se importaram
com a chuva,em quase todas as viagens que fizeram para Vera Cruz estava num clima frio mas
ambos sempre estavam com seus sorrisos desdentados alegres e ansiosos para encontrar a tia
Suzana na casa de Veraneio.

Verões em uma piscina de cloro minúscula com sua tia mesclavam e se confundiam na mente
deles e todas terminavam nas cinzas jogadas ao mar quando ela se foi para sempre e os verões
tornaram-se frios e distantes, ela morreu quando Mariano tinha 12 anos e Melissa tinha
15,dois jovem perdidos e antes sonhadores.Ao passarem pela casa agora habitada por novos
moradores americanos sem graça eles se encararam brevemente com tantas coisas a dizer
mas sem voz para arrancá-las do cérebro.

A verdade é que estavam de volta a Vera Cruz para o artigo de Mariano, Melissa acreditava
que seu irmão poderia conseguir fama, mas ela também queria lembrar dos momentos com a
tia e se reconectar aquele lugar que lhe trazia tantas memórias e sentimentos
contraditórios,ela esperava que aquelas duas semanas fossem ao menos instigantes e se
hospedar naquele hotel nefasto trouxesse uma experiência inesquecível para os dois.

Vera Cruz estava infestada de turistas

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